1 Projeto De Irrigação Pirapora: Um Estudo De Avaliação De Impacto Da
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Projeto de Irrigação Pirapora: Um Estudo de Avaliação de Impacto da Política Pública de Irrigação no Norte de Minas Gerais Autoria: Paulo Ricardo da Costa Reis, Suely de Fátima Ramos Silveira, Thiago Heron Mira Adami, Eni Lourenço Rodrigues Resumo Este trabalho busca desenvolver uma avaliação sistemática de resultados, para mensurar os impactos das políticas públicas de irrigação efetuadas na bacia do rio São Francisco. Para tanto foi utilizado como base o estudo de caso do Projeto de Irrigação Pirapora implementado no município de Pirapora-MG. Utilizando-se de um modelo de avaliação de impacto ex-post facto, onde as inferências e resultados foram obtidos a partir da comparação do município beneficiado (Pirapora), com o grupo de controle, municípios não beneficiados que apresentavam características semelhantes ao município beneficiado antes da construção do perímetro irrigado. O grupo de controle foi definido, a partir dos 44 municípios que compunham a região de planejamento do Norte de Minas em 1970. Além disso, utilizou-se a análise de conglomerados ou análise de cluster, técnica exploratória de análise multivariada que permitiu reunir os municípios em grupos homogêneos. Para tanto, realizou-se uma análise em diversas variáveis disponíveis, destacando-se aquelas que possam captar os efeitos da construção de um projeto público de irrigação e mensurar seu impacto expressando o alcance das políticas públicas e suas diretrizes. A pesquisa demonstrou os impactos do projeto sobre a produção, renda e emprego gerados na atividade agrícola. 1 Introdução Em todo o mundo é comum a atenção de governantes e autoridades para o combate a desigualdade social e econômica. No Brasil, tal preocupação está presente nos programas governamentais, pois é o quinto maior país do globo em extensão territorial, com aproximadamente 8,5 milhões de quilômetros quadrados (IBGE). A grande extensão territorial proporciona ao país uma ampla diversidade cultural e grande variedade de recursos naturais e humanos, os quais o destacam na produção agropecuária, mineral e industrial. Entretanto, sua amplitude territorial também provoca altas taxas de desigualdade, seja pelas diversidades sociais e econômicas, ou pela disponibilidade de recursos entre as regiões. Os contrastes nacionais são visíveis entre suas regiões, onde em um mesmo ano há geadas e enchentes em determinado local e, em outros, é a seca que castiga a população e a atividade agropecuária, de forma dramática. Assim, constituem grandes desafios à União a criação, o gerenciamento e a avaliação de políticas públicas, devido às características geográficas e físicas e pela concomitância de diferentes realidades econômicas e sociais, sejam elas regionais, estaduais ou municipais. Foi então, que em meados da década de 1970, o governo federal iniciou o ciclo político da então Política de Irrigação (atualmente Política Nacional de Recursos Hídricos), buscando, através da agricultura irrigada, promover o desenvolvimento regional, especialmente em áreas menos favorecidas economicamente. No escopo dessa política, em 1975, iniciou-se a construção do Perímetro de Irrigação de Pirapora, por meio da Superintendência de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (SUVALE). A primeira experiência de agricultura irrigada no norte de Minas Gerais. Com o objetivo de promover o desenvolvimento regional, gerando emprego, renda, aumento da produtividade e, por conseguinte redução da desigualdade social. No ano de 1986 foi criado o Programa Nacional de Irrigação (PRONI), pelo então Presidente da República José Sarney. O programa tinha como metas o aumento da oferta de alimentos básicos para o abastecimento interno, da eficiência produtiva e a redução do preço dos alimentos, além da melhoria do abastecimento, controle da inflação e o fomento do 1 desenvolvimento equilibrado da economia local, privilegiando as classes menos favorecidas (PRONI, 1986). Por se tratar de um investimento público e diante da escassez de recursos e do elevado volume de demandas da sociedade, os projetos públicos de irrigação na bacia do rio São Francisco, como quaisquer outros que contribuem com políticas públicas de desenvolvimento regional, requerem uma cuidadosa análise e uma rigorosa avaliação para obter informações úteis e críveis sobre a efetividade dos projetos. Este artigo pretende avaliar as políticas públicas de irrigação, respondendo à pergunta: quais os resultados, ou seja, os impactos socioeconômicos diretos e indiretos inerentes à implantação do Projeto Público de Irrigação Pirapora? Para assim identificar os avanços sociais e econômicos no Norte de Minas Gerais, decorrentes da Política Pública de Recursos Hídricos. Realizou-se, então, uma avaliação de impacto ex-post facto, na qual a avaliação ocorre alguns anos após a intervenção ter sido realizada, para que os resultados da política possam ser percebidos. Na seqüência deste trabalho, o próximo tópico apresenta o Projeto Pirapora, bem como sua relação com o município no qual está instalado. O tópico seguinte aborda o referencial teórico abrangendo: (i) Irrigação, (ii) Política Nacional de Recursos Hídricos e seu Gerenciamento, (iii) Políticas Públicas, (iv) Avaliação de Políticas Públicas e (v) Avaliação de Impacto. Na seqüência são explicitados os procedimentos metodológicos. Em seguida, têm-se as análises e discussão dos dados bem como os resultados da pesquisa, e, finalizando o artigo, apresentam-se as considerações finais. 2 O Projeto de Irrigação Pirapora O Projeto de Irrigação Pirapora está localizado no município de Pirapora-MG, a 12 Km do centro da cidade, às margens da BR-365, rodovia que liga o norte de Minas Gerais ao Triângulo Mineiro e Distrito Federal. O município de Pirapora, com população de aproximadamente 50 mil habitantes, ao contrário da maioria dos municípios da região, possui pequena extensão territorial, com cerca de 575km², onde a área rural, bem como a população que vive no campo é muito pequena, aproximadamente 98% da população é urbana. Segundo a Prefeitura Municipal de Pirapora (2005) o município é o segundo maior pólo industrial do norte de minas, possui um distrito industrial com 12 indústrias em atividade, que emprega cerca de 4.075 pessoas, uma rede comercial bastante diversificada com 853 lojas (varejistas e atacadistas) e 6 agências bancárias. Outras atividades que atuam como importantes geradoras de renda e que merecem destaques são a agricultura, com predomínio na fruticultura, a pecuária e a pesca, empregando um número aproximado de 2.175 pessoas. A outra parte da população economicamente ativa, cerca de 7.820 pessoas, encontra-se ocupada em outras atividades. As obras de construção do Projeto Piloto de Irrigação de Pirapora foram iniciadas em 1975 pela SUVALE. Em 1976 a CODEVASF assumiu a implantação do projeto, que fora inaugurado em 24 de novembro de 1978. Segundo o Relatório da Secretaria de Infra- Estrutura Hídrica (2005) o projeto apresentou um custo R$53.383.795,33 (cinqüenta e três milhões, trezentos e oitenta e três mil, setecentos e noventa e cinco reais e trinta e três centavos). O perímetro irrigado de Pirapora é considerado de pequeno porte quando comparado a outros dois importantes projetos da região, Gorutuba e Jaíba. A Tabela 1 apresenta a área total e irrigável dos projetos em hectares (ha), o número de irrigantes e o custo de implantação. Os valores do Pirapora são reduzidos diante dos números do Gorutuba e Jaíba. 2 Tabela 1 - Principais projetos de irrigação do norte de MG Projetos Gorutuba Jaíba Pirapora Ano de Implantação 1978 1975 1975 Área Total (ha) 7.064 32.754 1.642 Área Irrigável (ha) 4.475 23.969 1.236 Número de Irrigantes 445 1.491 34 Custo de Implantação (R$) 412.685.438,46 1.060.466.841,14 53.383.795,33 Fonte: Elaborada pelos autores a partir do Levantamento da Situação dos Perímetros Irrigados em Minas Gerais, publicado pela Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica (2005). Além de ter sido um projeto piloto na região, outra característica peculiar do projeto é possuir apenas lotes empresariais, sendo os proprietários os responsáveis pela gestão do perímetro através da Associação dos Usuários do Projeto Pirapora (AUPPI), que exerce a função que compete aos Distritos de Irrigação, comum à grande maioria dos demais projetos no estado. Apesar do seu tamanho reduzido o projeto é referência nacional na produção de uvas de mesa. A área plantada com uva é de 250 hectares, e a produção foi de 3.370 toneladas no ano de 2006, que geraram uma renda total de R$ 5,1 milhões para os irrigantes. A fruticultura irrigada, no ano de 2005, representou 99% de toda a área plantada, e, desta, as principais foram: uva 28%, banana 27%, tangerina 23%, manga 9% e laranja 7%. Nos anos de 2004 e 2005 a comercialização da produção gerou valores de R$ 9.555.250,00 e R$ 7.811.685,00, respectivamente, aproximadamente 60% da comercialização foi realizada pela Cooperativa Agrícola de Pirapora (CAP), que mantém uma equipe exclusivamente para responder por este setor. Mas há ainda aqueles produtores, cerca de 40%, que preferem fazer a comercialização direta, sem a participação da CAP. O Perímetro Irrigado de Pirapora, por força de Convênio com a Codevasf é atualmente administrado pela Associação dos Usuários do Perímetro Pirapora - AUPPI. A partir do ano de 2006, foi efetivada a transferência da gestão do perímetro para os produtores. Com isso, o perímetro passou a não receber recursos orçamentários do governo, fato que o diferencia da maioria dos projetos públicos de irrigação. 3 Referencial teórico 3.1 Irrigação A irrigação é uma prática agrícola