O Papel Dos Intelectuais Piauienses Na Divulgação Da Escrita Da História Do Piauí
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O papel dos intelectuais piauienses na divulgação da escrita da História do Piauí 1IARA CONCEIÇÃO GUERRA DE MIRANDA MOURA Inspirados pelo clima de efervescência político-cultural dos anos 1950, e acreditando no papel de Teresina como centro dinâmico e propulsor do desenvolvimento econômico e da evolução cultural, uma nova geração de intelectuais piauienses constituída por Manoel Paulo Nunes, 2 José Camillo da Silveira Filho, 3 Raimundo Nonato Monteiro de Santana, Odilon Nunes, 4 Joaquim Chaves, dentre outros, procurou renovar as formas de produção histórica e literária piauiense, ajudando, direta e/ou indiretamente, na criação de algumas instituições culturais, como: a Academia Mafrensiana de Letras (AML), 5 o Centro de Estudos Piauienses (CEP), 6 o Movimento de Renovação Cultural (MRC) 7 e o Círculo Literário Piauiense (CLIP) 8. 1 Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí. Email: [email protected] 2 Manoel Paulo Nunes nasceu em 11.10.1925, em Regeneração (PI). Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Piauí, foi professor de português dos colégios Demóstenes Avelino, São Francisco de Sales, Estadual Zacarias de Góis, de Literatura Portuguesa da Faculdade Católica de Filosofia e da Universidade Federal do Piauí. Foi secretário da Cultura, presidente da Fundação Cultural do Piauí, e presidente do Conselho Estadual de Cultura desde 1992. Livros publicados: A geração perdida : ensaios e notas críticas, Modernismo e Romancede 30 no Nordeste , A província restituída : ensaios e estudos, dentre outros. 3 José Camillo da Silveira Filho nasceu em 18.12.1927, em Teresina (PI) e faleceu em 22.01.2004 na mesma cidade. Bacharel em Direito, foi Professor Universitário, Historiador, Reitor da Universidade Federal do Piauí, Secretário de Interior, Justiça e Segurança Pública, dentre outros cargos. Dentre os vários trabalhos que publicou, figuram os seguintes livros: A rebelião de Pinto Madeira no Piauí ; O Piauí na II Guerra Mundial; O Piauí na Guerra dos Canudos; Pequena História do Piauí. 4 Odilon Nunes nasceu em 10.10.1899, em Amarante (PI), e faleceu na cidade de Teresina em 29.08.1989. Atividades exercidas: professor e diretor do Departamento da Educação. Foi membro do Conselho Estadual de Cultura do Piauí, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí, da Academia Piauiense de Letras. Livros publicados: O Piauí nahistória (1931), Súmula de história do Piauí (1963), Pesquisas para a história doPiauí (1966), Umdesafioda historiografia do Brasil (1979), etc. 5A Academia Mafrensiana de Letras, idealizada por Fabrício de Area Leão Carvalho, foi criada em Teresina, a 8.01.1955. Fizeram parte da organização da Academia, Álvaro Alves Ferreira, Clemente Fortes, José de Arimathéa Tito, Raimundo de Brito Melo, Raimundo Nonato Monteiro de Santana e Simplício de Sousa Mendes. 6 O Centro de Estudos Piauiense foi criado em Campo Maior (PI), no início da década de 1950, sob a iniciativa de Raimundo Santana e Olímpio Castro, contando com a colaboração de outros intelectuais como Artur Passos, Odilon Nunes e Pe. Joaquim Chaves. Teve vida curta, não conseguindo chegar à década de 1960. 7O Movimento de Renovação Cultural surgiu em Teresina, no começo da década de 1960, tendo como principais participantes: Raimundo Nonato Monteiro de Santana, José Camillo da Silveira Filho, José Miguel de Matos, Raimundo José dos Reis, José Ribeiro e Silva e Nerina Pessoa Castelo Branco. 8 O Círculo Literário Piauiense (CLIP) foi instalado oficialmente em Teresina, em 9.04.1967, com a eleição e posse da primeira diretoria: presidente - Herculano Moraes; vice-presidente - Osvaldo Lemos; secretário geral - Francisco Hardi Filho; tesoureiro geral - Francisco Miguel de Moura. 2 Esses espaços de saber, dotados de intelectuais interessados na produção da história e da memória para a sociedade da qual fazem parte, seriam, de acordo com a concepção de Jacques Le Goff, os “verdadeiros lugares da memória,” isto é: [...] aqueles onde se devem procurar não a sua elaboração, não a produção, mas os criadores e os denominadores da memória coletiva: Estados, meios sociais e políticos, comunidades de experiências históricas ou de gerações, levadas a constituir os seus arquivos em função dos usos diferentes que fazem da memória. (LE GOFF, 2003:467.) Neste contexto, a Academia Piauiense de Letras (APL-1917), a Faculdade de Direito (FADI-1931) e a Faculdade Católica de Filosofia (FAFI-1957), transformaram-se nos centros de idealização e propagação das instituições citadas anteriormente, locais onde muitos desses intelectuais aperfeiçoaram o seu ofício de produtores culturais. Sobre os dois últimos estabelecimentos, percebemos que vários homens de letras, ali exerceram a atividade de docente e/ou de discente, como Raimundo Santana, que se tornou titular da cadeira de Economia Política da Faculdade de Direito e de História Econômica da Faculdade Católica de Filosofia, de Manoel Paulo Nunes, José Camillo da Siveira Filho, Raimundo José Reis e Wilson de Andrade Brandão, que se formaram no curso de bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais da FADI, sendo que o último, além de professor, também foi diretor da instituição na década de 1960. Outros locais onde esta intelectualidade também se reunia, considerados na década de 1950 como os espaços de sociabilidade importantes em Teresina, onde se discutia de maneira mais informal sobre a política, a economia e cultura do Estado eram o Bar Carvalho e o Café Avenida, ambos localizados nos arredores da praça Rio Branco. Sobre esses espaços que oportunizaram inúmeros debates, Raimundo Santana afirmou: Vim a Teresina, e me disseram: - Santana, você vai ao Bar Carvalho, na Praça Rio Branco; lá se reúne a intelectualidade, se discutem problemas. E eu fui. Ao chegar, encontrei o Professor Martins Napoleão (foi quando o vi pela primeira vez), o Professor Clemente Fortes, o Celso Barros (recém-saído do seminário, acho, e já ingressando no magistério, no Ateneu), Professor Paulo Nunes, Camillo Filho [...], enfim, todos os professores de Língua Portuguesa. Sabe o que eles estavam discutindo, e que me deixou escandalizado? As trinta e quatro funções do Que . [...] Pois bem, simpatizei com o Celso Barros, na época muito novinho, e o chamei, dizendo: Celso, que história é essa? Pelo amor de Deus! [...] Será que vamos resolver problemas a partir das funções do Que ? E ele: - Não, respondeu felizmente. (ANAIS, 2000: 259-260) (Grifos do autor) 3 Ao concluir o curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade Federal do Ceará, Santana regressa em 1949 a Teresina, não mais com aquela mentalidade de jovem sonhador, mas agora como homem ativo, que quer contribuir para o crescimento de seu Estado, tão carente de iniciativas e projetos que o fizessem deslanchar. Desta forma, candidatou-se a prefeito de sua cidade natal Campo Maior (PI), exercendo o mandato de 1950 a 1954, após vencer a eleição contra Sigefredo e Cláudio Pacheco, através da coligação com a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Na mesma época, Raimundo Santana começou a atuar na vida artística e cultural do Estado, criando, juntamente com outros pesquisadores, o CEP, “convidando intelectuais de Teresina para pronunciar conferências no interior do Piauí, realizando desta forma, intercâmbio cultural entre a capital e as demais cidades do Estado”. (SANTANA, 1972: 36) O Centro de Estudos Piauienses (CEP), idealizado por Raimundo Santana, presidente desta instituição, e por Olímpio de Castro em 1953, na cidade de Campo Maior, foi constituído por diversos intelectuais, dentre eles, Pe. Joaquim Chaves e Odilon Nunes, que representavam a instituição cultural em Teresina. Assim, além de ter propiciado o desenvolvimento do trabalho historiográfico de Joaquim Chaves, o CEP, também contribuiu para que Odilon Nunes voltasse a residir em Teresina. Sobre isso, Raimundo Santana conta que: [...] Odilon foi [...] Secretário de Educação e Cultura do Piauí, naquele tempo, tinha um nome diferente [...] Diretor da Instrução [Pública]. Ele ficou desgostoso porque quando as coisas iam melhorando, o Estado [o] deixou de lado. E então foi embora. [Mudou-se para Timon, levando, então, uma vida humilde]. Quando voltei de Campo Maior eu perguntei Monsenhor Chaves, eu não encontro Odilon. [E ele responde] Santana encontra, é fácil [Depois disso] passei a [visitá-lo aos domingos] [...]. E eu disse Magnólia [esposa de Santana] você vai me ajudar em uma coisa, [...] eu quero trazer o Odilon pra cá, pra Teresina, pra ele continuar as pesquisas dele. (SANTANA, 2008: 15) O CEP era uma instituição cultural que tinha como objetivo “pesquisar e escrever sobre assuntos piauienses, de modo a revelar o que ainda era inédito ou aprofundando aquilo que já se sabia.” (SANTANA, 1994: 5) De acordo com Fernando Lopes e Silva Sobrinho, o CEP procurava contribuir com o desenvolvimento econômico e cultural do Piauí, através da implantação de programas que foram caracterizados como: 4 [Um] programa em que se procura, não apenas imprimir-lhe um cunho de sadio municipalismo, [...], mas, também, [...] com espírito de objetividade, contribuir para a integração do Piauí na realidade contemporânea brasileira, pelo estudo de seus problemas vitais, de suas necessidades sociais e econômicas, ao mesmo tempo em que trabalhando ao lado das demais entidades culturais do nosso Estado, pela nossa reabilitação no seio da civilização brasileira: despertando entusiasmo e fé e coragem entre os estudiosos da nossa terra e da nossa gente, tão necessitadas, como nunca, de uma