A representação da África na música italiana contemporânea: do após-guerra até hoje Luca Bussotti Doutor em Sociologia do Desenvolvimento (Universita degli Studi, Pisa) Investigador Auxiliar no Instituto Universitário de Lisboa Lisboa, Portugal
[email protected] Este artigo visa analisar como a música italiana contempo- rânea tem representado a África e os Africanos no período Pós-Segunda Guerra Mundial. Numa primeira fase, a música italiana negligenciou por completo a África nas suas canções, provavelmente por causa do seu passado inglório colonial e fascista. Depois de algumas canções “leves” que, ao longo dos anos Sessenta, representaram os Africanos numa maneira folclórica, alguns compositores comprometidos propuseram uma imagem diferente da África: primeiro, como um mun- do longínquo, desejável e “nostálgico”, e depois denunciando as condições dos imigrados na Itália, sobretudo de origem africana. Finalmente, um ponto de vista mais interno emerge graças a jovens rappers Ítalo-Africanos (assim como Ítalo-A- siáticos), capazes de “inverter” a perspetiva com que a música italiana tinha olhado até então para África. O artigo serviu-se de uma metodologia qualitativa, baseada na análise de con- teúdo das canções e usando algumas entrevistas dos cantores presentes na esfera pública. Palavras-chave: imagem, África, compositores, rappers Íta- lo-Africanos, cidadania. Introdução A representação da África e dos Africanos por parte da música italiana tem sido historicamente relacionada com colonialismo e fascismo, expressando um poderoso aparato ideológico de natureza basicamente eurocêntrica e racista ou, na melhor das hipóteses, paternalista (Bussot- ti, 2016). Com a queda do fascismo, a África desapareceu do cenário musical italiano. 202 Soc. e Cult., Goiânia, v.