Conflito Territorial No Quilombo Mesquita Localizado Entre Cidade Ocidental (Go) E O Distrito Federal (Df)
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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO CONFLITO TERRITORIAL NO QUILOMBO MESQUITA LOCALIZADO ENTRE CIDADE OCIDENTAL (GO) E O DISTRITO FEDERAL (DF) VINICIUS GOMES DE AGUIAR1 Resumo: O quilombo Mesquita, localizado na fronteira entre o Distrito Federal (DF) e o município de Cidade Ocidental (GO), tem recebido as consequências da polarização da capital federal que expande para dentro do quilombo sua demanda por loteamentos habitacionais. A possibilidade de promoção de um mercado habitacional para a classe média de Brasília nos últimos tempos, tem promovido a especulação imobiliária ainda mais intensa, tanto dentro, quanto nas proximidades do Mesquita. Mas a presença de um território quilombola, que não busca uma exploração fundiária exclusivamente voltada para ganhos financeiros, tem sido considerado um bloqueio ao desenvolvimento econômico local, o que induziu a formação de um conflito territorial ambiental no território de 4.292,93 hectares ocupados por 755 famílias. Assim, o objetivo deste texto é discutir como ocorre o processo de conflito territorial ambiental no território do quilombo Mesquita. Palavras-chave: Mesquita; Quilombo; Conflito. Abstract: The quilombo Mesquita, located on the border between the Distrito Federal (DF) and the municipality of Cidade Ocidental (GO), has received the consequences of polarization of the federal capital that expands into the quilombo their demand for housing building. The possibility of promoting a housing for the middle-class market of Brasília in recent times, has promoted speculation even more intense, both inside, as in the vicinity of the Mesquita. But the presence of quilombola territory, which does not seek a land exploitation exclusively focused on financial gain, has been considered a lock to the local economic development, which induced the formation of a territorial conflict in the territory and environmental of 4.292,93 hectares occupied by 755 families. Thus, the objective of this text is to discuss how the process of territorial conflict in the territory and environmental of the quilombo Mesquita. Key-words: Mesquita; Quilombo; conflict 1 – Introdução Atualmente, as lutas das comunidades quilombolas têm representado a resistência e a defesa dos direitos: a ambientes culturalmente específicos; a proteção ambiental equânime para evitar que se dê a segregação socioterritorial e a desigualdade ambiental; de acesso aos recursos ambientais, incluindo áreas férteis e aos corpos hídricos. Dentre os instrumentos legais que hoje fornecem amparo para as comunidades quilombolas estão: a Constituição Federal de 1988, através do artigo 1 Egresso do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás. E-mail de contato: [email protected] 6888 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 68, que garante o acesso à terra para as comunidades quilombolas; a convenção 169 da OIT – Organização Internacional do Trabalho – que fornece aos quilombolas o direito de ser consultado caso exista uma ação que impacte a comunidade; e também a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais – PNPCT (2007). Sendo que este último instrumento legal destaca que as comunidades tradicionais, incluindo os quilombos, buscam em seus territórios, assim como seus recursos naturais, condições “para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição” (BRASIL, 2007). Outro instrumento legal importante é o decreto presidencial nº 4.887/03, que em conjunto com a Instrução Normativa – IN – nº 57/09 do INCRA, apresenta os procedimentos de identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação de propriedade das terras ocupadas pelos quilombolas e também cria Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID – que se tratada de um documento técnico que atua na identificação dos limites das terras quilombolas, elaborado com base nas indicações da própria comunidade e em estudos técnico- científicos, incluindo os relatórios antropológicos, que deverá conter a caracterização espacial, econômica, ambiental e sociocultural da terra onde está situado o quilombo. Assim, é possível observar que entre os aspectos identificadores de comunidades quilombolas, tanto a questão territorial, quanto a ambiental, possui significativo destaque, pois é no território que se dão as lutas, a reprodução das culturas, o resgate das memórias, além dos modelos de desenvolvimento social, institucional e do modo de produção local. Porém, com busca pela instalação de empreendimentos em territórios tradicionalmente ocupado por comunidades quilombolas, ou nas suas proximidades, impactos ambientais são gerados para as comunidades tradicionais, especialmente os ligados a fragmentação do território e a invisibilização das comunidades atingidas (LEROY e MEIRELES, 2013). Assim, o objetivo deste artigo é apresenta uma compreensão de como o processo de especulação imobiliária produz pressões territoriais no território do quilombo Mesquita localizado na fronteira entre o município de Cidade Ocidental (GO) e o Distrito Federal (DF). 6889 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Para atender o objetivo, foram buscados marcos legais e referenciais teóricos relacionados a questão quilombola, ambiental e da dinâmica urbana, especialmente envolvendo o DF e Cidade Ocidental (GO). Ainda, houve também a utilização do software QGIS 2.6 para a elaboração dos produtos cartográficos que representassem cartograficamente a dinâmica e as pressões urbanas que envolvem o quilombo Mesquita. 2 – DF e Entorno Durante a mudança da capital federal do Rio de Janeiro para o Distrito Federal, ocorria também uma alteração demográfica no Brasil que deixou de ser majoritariamente rural, para ser mais urbano. Todo o processo de implantação de Brasília impactou demograficamente o centro-oeste brasileiro devido a atração de migrantes das mais diversas partes do país (GUIMARÃES e LEME, 2002). Durante este momento, Brasília tinha o Estado como o principal agente de urbanização e o promotor da ocupação de suas terras, pois ele planejava, construía, financiava a ocupação e era o proprietário das terras, logo, a principal forma de se conseguir um lote urbano era via ofertas de lotes pela NOVACAP (Companhia Urbanizadora da Nova Capital). A medida em que se dava a construção do Plano Piloto, uma periferia se formava através da cidades-satélites – atualmente Regiões Administrativas (RAs) – que era ocupada basicamente por operários migrantes trabalhadores da construção civil e funcionários públicos que não tinham acesso aos lotes do “Plano”. Esse processo gerou uma ocupação urbana polinucleada através das cidades-satélites de “Taguatinga (1958), Sobradinho (1960), Gama (1960), Guará (1966) e Ceilândia (1970)” (CAIADO, 2002). Neste contexto, espacialmente Brasília se constituiu envolvendo a parte central da cidade, o Plano Piloto de Brasília, e os outros assentamentos urbanos denominados de cidades-satélites, mesmo não sendo juridicamente entendidas como cidades (PAVIANI, 2007). Como os postos de trabalho, principalmente voltado para a construção civil, foram reduzindo a medida que a construção do Plano Piloto avançava, os migrantes 6890 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO de menor poder aquisitivo que chegavam em Brasília foram se deslocando para áreas mais distantes do Plano Piloto (ARRAIS, 2008). Com as limitações do Governo do Distrito Federal – GDF – em atender a demanda de casas populares, além de haver uma redução contínua do estoque fundiário e também com o avanço da especulação imobiliária nos terrenos recém incorporados a área urbana do DF, as populações de baixa renda foram “empurradas” para fora do DF, onde passaram a ocupar terrenos regularizados ou por terras invadidas (PAVIANI, 1987). Como parte do processo de articulação entre os órgãos públicos e as empresas do ramo imobiliário, os municípios goianos do entorno do DF passaram a ser bastante especulado desde a criação do DF, especialmente Águas lindas, Santo Antônio do Descoberto e Luziânia, sendo que este último teve um aumento da ocupação urbana tão intenso que deu origem a três novos municípios – Novo Gama, Val Paraíso e Cidade Ocidental (PAVIANI, 2009). 3 – RA’s, Entorno Imediato e RIDE-DF Mesmo com a composição metropolitana evidente envolvendo o DF e os municípios goianos do seu entorno, não existe uma Região Metropolitana de Brasília devido à dimensão complexa que envolve ainda mais dois estados diferentes da federação (GO e MG). Apesar disso, para esta realidade a Constituição Federal de 1988 normatiza a integração de regiões em desenvolvimento para fins administrativos, que são as RIDEs – Região Integrada de Desenvolvimento – (IPEA, 2013), envolvendo três unidades da federação, sendo que neste caso envolve o Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais, através dos municípios goianos de Abadiânia, Água Fria de Goiás, Águas Lindas de Goiás, Alexânia, Cabeceiras, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Corumbá de Goiás, Cristalina, Formosa, Luziânia, Mimoso de Goiás, Novo Gama, Padre Bernardo, Pirenópolis, Planaltina de Goiás, Santo Antônio do Descoberto, Valparaíso de Goiás e Vila Boa, além dos municípios mineiros de Unaí, Buritis e Cabeceira Grande. Mesmo com o reconhecimento por parte do governo federal, da