Pedro Vasconcellos Eisenlohr1 Rita Maria De Carvalho-Okano2 Milene Faria Vieira2 Fernanda Regis Leone2 Ângela Cristina Oliveira Stringheta3
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
Flora fanerogâmica do campus da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais 317 55(4): 317-326, 2008 revistaCeres ISSN 0034-737X Flora fanerogâmica do campus da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais Pedro Vasconcellos Eisenlohr1 Rita Maria de Carvalho-Okano2 Milene Faria Vieira2 Fernanda Regis Leone2 Ângela Cristina Oliveira Stringheta3 RESUMO O campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa, Minas Gerais (20o35’ a 28o50’S e 42o45’ a 43o00’W) sempre primou, desde 1926, pelo cuidado com seus jardins, mas não existem levantamentos de sua composição florística. Os objetivos do presente trabalho foram identificar as fanerógamas ornamentais no campus-sede da UFV; calcular a freqüência de plantio de espécies arbóreas; verificar quais táxons são nativos do Brasil e quais são exóticos; e comparar os resultados de alguns levantamentos florísticos realizados em universidades brasileiras. Foram realizadas caminhadas para coleta dos espécimes vegetais (herbáceas, subarbustivas, arbustivas, arbóreas, trepadeiras e as palmeiras) e contagem de indivíduos arbóreos. No total, foram identificadas 110 espécies, pertencentes a 92 gêneros e 51 famílias (duas das quais, gimnospermas). As arbóreas, se incluídas as palmeiras, corresponderam à 42,73% do total amostrado. As famílias mais ricas em espécies foram Leguminosae (11 espécies), Arecaceae (nove) e Agavaceae (oito). Licania tomentosa (oiti), nativa do Brasil, e Michelia champaca (magnólia), asiática, foram as espécies arbóreas com maior freqüência de plantio. Espécies exóticas (68%) predominaram em relação às nativas. Disseminação de espécies invasoras e a existência de plantas tóxicas são características desfavoráveis do paisagismo da UFV. Por outro lado, espécies nativas ameaçadas cultivadas na localidade, como Caesalpinia echinata Lam. (pau-brasil), contribuem para a educação ambiental e para a conservação biológica “ex situ”. Por fim, diferentes campi universitários mostram particularidades em sua ornamentação florística, provavelmente relacionadas ao histórico e ao tipo de construção que possuem. Palavras-chave: Plantas ornamentais, paisagismo, campus UFV. ABSTRACT Phanerogamic Flora of the Campus of the Federal University of Viçosa, Viçosa, Minas Gerais The campus of Federal University of Viçosa (UFV), Viçosa, Minas Gerais state (20o35’ to 28o50’S and 42o45’ to 43o00’W), has been maintaining its gardens since 1926, but there is a lack of floristic surveys. We aimed to produce a checklist for phanerogamic species at UFV campus; calculate the frequency of cultivated tree species; verify which taxa are Brazilian and which are not; and compare our results with surveys of other campi in Brazil. Plant specimen collection (herbs, shrubs, trees, lianas and palms) and counting of trees were accomplished. Taxa survey totalized 110 species, belonging to 92 genera and 51 botanical families (two gymnosperms families). Trees, if including palms, corresponded to 42.73% of total survey. The richest families were Leguminosae (11 species), Arecaceae (nine) and Recebido para publicação em setembro de 2007 e aprovado em junho de 2008. 1 Universidade Estadual de Campinas, Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Rua Monteiro Lobato, 970, Cidade Universitaria “Zeferino Vaz”, 13083-970 Campinas, SP, Brasil. Autor para contato: [email protected] 2 Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Biologia Vegetal, Av. PH Rolfs, s/n, Campus UFV, 36570-000 Viçosa, MG, Brasil. 3 Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Fitotecnia, Av. PH Rolfs, s/n, Campus UFV, 36570-000 Viçosa, MG, Brasil. 55(4): 317- 326, 2008 revistaCeres 318 Pedro Vasconcellos Eisenlohr et al. Agavaceae (eight). The tree species with greater number of cultivated individuals were Licania tomentosa (“oiti”), a Brazilian species, and Michelia champaca (“magnolia”), Asian. Exotic species (68%) were in larger number than native species. Dissemination of invasive and toxic species are inappropriate characteristics of UFV campus landscaping. On the other hand, threatened native species, such as Caesalpinia echinata Lam. (‘pau-brasil’) contribute to environmental education and “ex situ” biological conservation. Brazilian campi have presented particularly choices on floristic composition, probably related with historical and construction aspects. Key words: ornamental plants, landscaping, UFV Campus. INTRODUÇÃO do podas drásticas que prejudicariam a estética destas plantas (Brandão et al., 1997). Algumas árvores decíduas A composição florística de uma localidade ou área pode que possuem folhas e/ou folíolos de tamanho reduzido desempenhar importante papel na melhoria da qualidade podem, durante o período de estiagem, causar entupimento de vida das pessoas (Cavalcanti et al., 2004). Com o cres- da rede pluvial e, embora tenham grande valor ornamen- cimento das cidades brasileiras, a arborização urbana bem tal, deveriam ser plantadas somente em parques e praças conduzida e planejada pode funcionar como uma obra de (Brandão et al., 1997; Chamas & Matthes, 2000). sinalização, de amenização climática e de enriquecimento Na arborização urbana, inserem-se ai, as instituições estético (Stringheta, 2005). Esta ornamentação pode fazer acadêmicas; o espaço universitário, peculiar pela capaci- da admiração pela natureza uma experiência cotidiana do dade que possui de produzir ciência e recursos humanos, ser humano, estabelecendo um íntimo contato com as plan- pode se tornar um espaço para projetos florísticos que tas e favorecendo o desenvolvimento do senso de con- levem em consideração os diferentes aspectos que favo- servação e preservação. Silva & Bortoleto (2005) afirma- recem e desfavorecem a utilização de espécies vegetais, ram que, por vezes, o planejamento urbano não contem- sendo estas nativas ou exóticas. Apesar deste potencial, pla a arborização, perdendo-se com isto a capacidade que poucos estudos que apresentam resultados de levanta- a ornamentação possui de transmitir conforto físico e psí- mentos florísticos em campi universitários vêm sendo quico ao homem. publicados (como no caso de Moura et al., 1997; Lombardi Brandão et al. (1997) ressaltaram que uma das princi- & Morais, 2003; Paiva et al., 2004; Kurihara et al., 2005), e pais qualidades das plantas usadas no paisagismo é a não se tem investido esforços no sentido de se comparar beleza cênica obtida, uma vez que prédios e demais cons- os levantamentos já realizados nesses ambientes. truções acarretam monotonia visual. Assim, segundo es- O local escolhido para o desenvolvimento deste tra- ses autores, árvores de folhagem e/ou de flores plantadas balho foi o campus-sede da Universidade Federal de Vi- em espaços urbanos tendem a quebrar essa monotonia e, çosa (UFV), onde sempre houve preocupação com a apa- adicionalmente, agem como fornecedoras de sombra para rência dos jardins no seu interior desde sua fundação em pedestres e veículos. Stringheta (2005) afirmou que, no 1926. Particularmente, com a criação do setor de Parques ambiente urbano, os projetos de arborização podem in- e Jardins da Divisão de Manutenção do campus, a ativi- corporar espécies notáveis por sua floração, pela arquite- dade de jardinagem tornou-se mais efetiva e sistematiza- tura da copa, queda estacional das folhas, resistência às da visando à manutenção estética. Deve-se ressaltar, ain- pragas e doenças e pela durabilidade. As árvores de fo- da, a provável influência dos estrangeiros, muito presen- lhas grandes, desde que cultivadas em locais apropria- tes nas primeiras décadas da UFV, na ornamentação dos, podem absorver tanto a poeira como os ruídos florística que desde então vem sendo mantida. (Brandão et al., 1997). As árvores também podem abrigar No entanto, não existe um levantamento florístico que a fauna e contribuir para a melhoria física e mental do possibilite à comunidade o reconhecimento dos táxons homem da cidade, tornando-se agradáveis aos sentidos utilizados na ornamentação do campus. Diante disso, fo- humanos (Costa & Higuchi, 1999; Rocha et al., 2004). ram objetivos deste estudo: realizar a identificação das O cultivo de espécies vegetais em uma localidade deve fanerógamas ornamentais presentes no campus-sede da atingir objetivos de ornamentação e de melhoria micro- UFV; calcular a freqüência de plantio de espécies arbóreas; climática, fundamentada em critérios técnico-científicos verificar quais táxons são nativos do Brasil e quais são (Cavalcanti et al., 2004). A escolha inadequada de espéci- exóticos, informando, no caso dos últimos, sua origem; e es ornamentais em projetos de paisagismo pode causar comparar os resultados de alguns levantamentos acidentes e danificar a rede elétrica e de telefonia, exigin- florísticos realizados em universidades brasileiras. revistaCeres Jul/Ago 2008 Flora fanerogâmica do campus da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais 319 MATERIAL E MÉTODOS RESULTADOS E DISCUSSÃO O campus-sede da UFV localiza-se no município de No total, foram identificadas 110 espécies de Viçosa (20o35’ a 28o50’S e 42o45’ a 43o00’W), estado de fanerógamas ornamentais, distribuídas em 92 gêneros e Minas Gerais, a uma altitude de 649 m, compreendendo 51 famílias (Tabela 1). Apenas três espécies pertencem área total de 47.787.696,00 m². O clima da região é do ao grupo das gimnospermas: Araucaria angustifolia tipo Cwa (subtropical moderado úmido), segundo a clas- (Bertol.) Kuntze, o pinheiro-do-paraná; A. columnaris sificação de Köppen, com a temperatura média entre Hook., o pinheiro-de-natal; e Cupressus sp., o cipreste. 18o e 22oC,