Globoplay: Do Espectador Ao Usuário1
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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 Globoplay: Do Espectador ao Usuário1 Larah Camargo Barbosa2 Prof. Dr. Cesar Augusto Baio3 Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP RESUMO O presente artigo tem como objeto de estudo o Globoplay, plataforma de streaming com vídeos sob demanda do Grupo Globo, como um produto do ciberespaço atrelado à televisão broadcast. A partir da literatura sobre o tema e da entrevista realizada com a diretora de conteúdo do Globoplay, Ana Carolina Lima, mapeou-se e investigou-se as experimentações e estratégias de posicionamento, produção e distribuição de conteúdos audiovisuais do Globoplay que caracterizam a produção televisiva do Grupo Globo em um contexto de convergência midiática corporativa. Foi possível identificar na plataforma um modelo de negócios cada vez mais independente da programação televisiva, mas que se aproveita do alcance e do acervo da televisão broadcast para expandir o contato com os consumidores. PALAVRAS-CHAVE: broadcast; convergência midiática; streaming Televisão e ciberespaço: convergência midiática corporativa Para que possamos assistir à televisão, há uma organização interna desde o estágio inicial da produção televisiva, que leva em consideração a marcação do tempo dentro de um fluxo ininterrupto (WILLIAMS, 2016), sem que a tela jamais fique sem programação. Os enunciados televisivos se apresentam de forma única e singular dentro de uma esfera de intencionalidades que se utiliza dos códigos televisuais e seus recursos expressivos, relacionadas à recepção caracteristicamente dispersiva da televisão. Os produtos adequados a este modelo de difusão não buscam assumir uma forma linear progressiva com efeitos de continuidade rigidamente amarrados como no cinema, de modo a incorporar o intervalo comercial à estrutura da obra (MACHADO, 2000). A lógica temporal e linear da televisão é atravessada pela emergência do ciberespaço e sua potencialidade interativa em relação a 1 Trabalho apresentado na IJ05 – Comunicação Multimídia, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Estudante de graduação do Curso de Comunicação Social - Habilitação em Midialogia do IA - UNICAMP e bolsista de Iniciação Científica CNPq, e-mail: [email protected]. 3 Orientador do trabalho. Professor do Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação do IA - UNICAMP, e-mail: [email protected] Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Poços de Caldas - MG – 22 a 24/05/2020 outros meios. Concebida sob o modelo de broadcast - tecnologia caracterizada pela transmissão de conteúdo a partir de um ponto para vários pontos, em sentido único (RIBEIRO, 2007) - a televisão encontra no ciberespaço um tempo diferente do seu eterno ao vivo. A fruição das formas textuais televisivas delineadas por um fluxo contínuo passa a operar sob a demanda do usuário; é estabelecido um fluxo isolado caracterizado pela atenção ampliada e direcionada para um único texto (MASSAROLO, MESQUITA, 2017). Nas plataformas de streaming com vídeos sob demanda (os chamados VOD), como Netflix e Amazon Prime, os conteúdos são transmitidos através de dados pela internet e se ordenam por acervos e diferentes possibilidades de fluxos, orientados a partir das escolhas do interator da plataforma. As produções audiovisuais concebidas para um consumo sob demanda apresentam mudanças na fruição e nas estruturas narrativas, em comparação com o sistema broadcast, uma vez que dispensam os intervalos comerciais e os demais códigos televisuais característicos. O processo de convergência dos meios de comunicação “altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos e altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual consumidores processam a notícia e o entretenimento” (JENKINS, 2009, p. 43). Neste contexto, as dinâmicas produtivas das emissoras de televisão passam por um processo de reestruturação e faz com que as formas que a televisão tem construído sua relação com o telespectador sejam reavaliadas sob novas condições de circulação e de transformações na geração do vínculo com o usuário, expandido o contato para o ambiente digital (PEDROSO, SGORLA, 2018). Estas alterações de produção e distribuição de conteúdos integram o que Jenkins (2009) entende por convergência midiática corporativa: A indústria midiática está adotando a cultura da convergência por várias razões: estratégias baseadas na convergência exploram as vantagens dos conglomerados; a convergência cria múltiplas formas de vender conteúdos aos consumidores; a convergência consolida a fidelidade do consumidor, numa época em que a fragmentação do mercado e o aumento da troca de arquivos ameaçam os modos antigos de fazer negócios (JENKINS, 2009, p. 325) 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Poços de Caldas - MG – 22 a 24/05/2020 Neste sentido, mostrou-se relevante realizar um estudo de caso do Globoplay, plataforma de streaming com vídeos sob demanda do Grupo Globo, enquanto uma interface do ciberespaço atrelada a televisão broadcast. Como um produto que exemplifica a convergência midiática corporativa, entender as estratégias de consolidação do modelo de streaming do Globoplay em concomitância aos canais de televisão broadcast permite analisar o consumo e a recepção do modelo de streaming no Brasil e compreender como se dá este processo de convergência no caso do maior conglomerado de mídia e comunicação do país4. Partindo deste caso, mapeou-se e investigou-se as experimentações e estratégias de posicionamento, produção e distribuição de conteúdos audiovisuais do Globoplay que caracterizam a produção televisiva do Grupo Globo para formatos digitais Para entender como se dá essa reconfiguração do programação tradicional televisiva para plataformas de streaming, debruçou-se sobre pesquisas já realizadas sobre o Globoplay, como as de Massarolo e Mesquita (2017), que traz uma categorização das estratégias de distribuição da plataforma empregada nesta pesquisa, e de Mungioli, Ikeda e Penner (2018). Esta última levanta e analisa dados sobre as estratégias de exibição de séries ficcionais do Globoplay entre o período de 2016 a 2018 e serviu como uma premissa para a expansão do levantamento realizado. Além disso, foi feita uma entrevista com a diretora de conteúdo do Globoplay, Ana Carolina Lima, para agregar uma perspectiva institucional à pesquisa. A partir destes estudos, foi possível destacar as especificidades da dinâmica de produção e consumo de conteúdos para diferentes mídias e discutir se de fato existe uma reconfiguração estética nos produtos audiovisuais do fluxo televisivo para plataformas de streaming. Do Globo Media Center ao Globo TV+ O movimento para sustentar o padrão Globo de qualidade faz com que o Grupo Globo, enquanto um conglomerado de mídia, precise buscar constantemente atualizar sua estrutura tecnológica e reforçar sua presença em diferentes meios de comunicação. Em um contexto de convergência midiática corporativa (JENKINS, 2009), o grupo passa por 4 Disponível em: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2020/09/18/aos-70-anos-televisao-brasileira-investe-em-novas-experiencias -e-possibilidades.ghtml. Acesso em 20 set. 2020. 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Poços de Caldas - MG – 22 a 24/05/2020 diferentes processos que visam expandir as possibilidades de exploração das produções originais da Globo para além do broadcast (MUNGIOLI, IKEDA, PENNER, 2018), de modo a reforçar seu vínculo com o consumidor - que é, ao mesmo tempo, telespectador e usuário. O ciberespaço torna-se, portanto, mais um território a ser explorado para sustentar a fidelidade desse consumidor em diferentes janelas. A inserção do Grupo Globo na internet é marcada pela criação do website O Globo On em julho de 1996. A partir de março de 2000, a página passa a ser incorporada ao portal Globo.com - desenvolvido inicialmente para abarcar a produção dos jornais, revistas, rádios e canais de televisão da então Organizações Globo em uma nova plataforma (FISCHER, 2008, p. 118). Naquele momento, o portal já oferecia aos usuários a visualização de trechos de vídeos da programação da TV Globo, mas é em 2003, com a criação do Globo Media Center que o grupo passa a disponibilizar e estruturar um acervo amplo de conteúdos para seus assinantes, com 50 mil vídeos cadastrados em sua base de dados na fase de seu lançamento, entre conteúdos da TV Globo e dos canais Globosat. Integrado ao portal e provedor Globo.com, o Globo Media Center funcionava como uma central de conteúdo de vídeo por streaming, representando a primeira iniciativa de estruturação de uma plataforma de vídeos sob demanda do grupo Globo. Os conteúdos eram, em sua maioria, associados à televisão, incluindo íntegras de telejornais e novelas, programas esportivos e infantis, minisséries e reality shows. Em 2006, o Globo Media Center passa a ser Globo Vídeos, com alterações pontuais na interface em decorrência desta nova versão, mas com conteúdos ainda associados majoritariamente