Figuras De Silêncio a Tradição Cultural Portuguesa No Japão De Hoje

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Figuras De Silêncio a Tradição Cultural Portuguesa No Japão De Hoje © Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor. © All rights reserved. ARMANDO MARTINS JANEIRA FIGURAS DE SILÊNCIO A TRADIÇÃO CULTURAL PORTUGUESA NO JAPÃO DE HOJE 1981 AOS GRANDES PORTUGUESES DO JAPÃO Intérpretes da Civilização do Ocidente – Ao Pedro e à Beatriz, que no Japão pela primeira vez foram à escola, onde aprenderam estranhas canções de infância, enquanto eu lhes ensinava cantigas da nossa terra trasmontana – esta lembrança de anos muito felizes da nossa vida familiar; – À Ingrid, que, pela sua compreensão da vida japonesa – aprendendo a arte das flores, ikebana, do chá, cha-no-yu, da pintura a tinta-da-china, sumi-e, da aspiração do incenso, kô, da dança clássica japonesa, juta-mai –, tanto me ajudou a penetrar no ambiente japonês e a ganhar a amizade dos Japoneses; – Ao Paulouro, ao Rui e ao Midorikawa, comigo obreiros anónimos de uma obra que nos ultrapassa e que na pedra e no bronze levará ao futuro o nome de Portugal; – À memória saudosa de João Abranches Pinto, que no Japão viveu meio século a enaltecer o lustre do seu país; – Aos cinco Companheiros sem os quais não teria sido ganha esta cruzada – entrego este livro, escrito com amor. 2 ÍNDICE Prefácio 5 Confissão, a servir de intróito 7 PARTE I O PASSADO E O PRESENTE 1. Encontro 12 2. Actualização do Passado 17 3. Os Portugueses na pintura japonesa 22 4. Temas portugueses na cultura japonesa de hoje: a) Influência ocidental na cultura japonesa actual; b) Temas portugueses no romance, no teatro, no cinema, na dança e noutras artes tradicionais japonesas 29 5. Evocação das glórias do passado: Portugal na Exposição Mundial de Osaca 43 PARTE II AS CIDADES 6. A pequena ilha japonesa onde os «Bárbaros» Portugueses aportaram a primeira vez 49 7. Maus começos do cristianismo no Japão 61 8. Uma segunda Sodoma 65 9. A cidade do chá e da cruz 69 10. Os «Bárbaros» em Quioto, capital imperial e uma das mais famosas cidades do mundo 76 11. Primeiros êxitos do cristianismo no Japão 85 12. Oita, a cidade onde existem mais evocações portuguesas 88 13. Uma cidade assassinada 90 3 14. Pérolas verdes do mar japonês 95 15. Quando os Portugueses fundaram a cidade de Nagasáqui 98 16. Martírio branco 106 17. Kobe e o primeiro cônsul português no Japão 108 18. A cidade onde alegremente se canta e dança aos mortos 112 PARTE III AS FIGURAS 19. Figuras de silêncio 119 20. O capitão-do-mar Jorge Álvares 121 21. Francisco Xavier, sonhador de uma grande empresa malograda 128 22. O descobridor literário do Japão: Fernão Mendes Pinto 136 23. O introdutor da medicina ocidental no Japão: Luís de Almeida 147 24. Um grande clássico por descobrir em Portugal: Luís Fróis 151 25. Um precursor da Sociologia: João Rodrigues 160 26. Um mártir: Diogo de Carvalho 166 27. O último dos grandes aventureiros lusíadas: Wenceslau de Moraes 172 EPÍLOGO 28. Avaliação do Passado: os modernos estudos luso-japoneses 178 29. O Passado e o Futuro 183 4 PREFÁCIO Foi à volta de quatrocentos anos, no século XVI, que o longínquo Japão teve o seu primeiro encontro com a Europa Ocidental. Até então, «país estrangeiro» significava para os Japoneses apenas a Coreia, em primeiro lugar, e a seguir a China e a Índia. De facto, esses são os três principais países de onde o Japão recebeu maior influência, tanto espiritual como cultural. A sua cultura era baseada no budismo. Foi uma surpresa para os Japoneses tomarem contacto com a cultura e a civilização da Europa Ocidental, baseadas no cristianismo. O primeiro país que o Japão conheceu, entre as nações da Europa, foi Portugal. Nesses dias, Portugal e Espanha encontravam-se em plena Era das Grandes Navegações e procuravam estabelecer o comércio com o Oriente. Ao mesmo tempo enviavam missionários para Goa e Macau. Esses missionários vieram para o Japão, de Macau, para propagar a fé. Por conseguinte, os primeiros europeus que o povo japonês conheceu foram os Portugueses e os Espanhóis; a primeira religião ocidental foi o cristianismo, que os missionários portugueses e espanhóis ensinaram. Assim, a vossa cultura foi a primeira cultura ocidental de que o Japão recebeu influência. Por outras palavras, o Japão, entre os países europeus, no século XVI, esteve mais fortemente ligado a Portugal. Isto pode ser retraçado historicamente pela língua japonesa contemporânea, pois existem várias palavras portuguesas introduzidas no japonês. Ao mesmo tempo, algumas palavras japonesas, tais como chá, são usadas na vossa língua. O acontecimento mencionado foi para os Japoneses muito revolucionário. Os Japoneses foram educados no pensamento e na religião da China e da Coreia. Conhecer o pensamento e a religião ocidentais, inteiramente diferentes do que até aí haviam conhecido, foi para os Japoneses de um grande impacto. Este impacto foi alargando, e provocou problemas políticos, e foi a causa de muito derramamento de sangue e da morte de muita gente no Japão. O Japão fechou-se ao contacto com o estrangeiro, e durante duzentos anos esteve completamente isolado do resto do mundo. Deste modo, Portugal foi a origem de um choque muito importante na história do Japão. Infelizmente, poucos portugueses parecem conhecer este facto. Não é conhecido porque, desde o isolamento do Japão, as relações entre Portugal e o Japão foram completamente cortadas por longo tempo, e passaram muitos anos até que os dois países pudessem de novo falar como amigos. 5 Todavia, conheço dois portugueses que são profundamente versados no Japão. Um é o vosso escritor Wenceslau de Moraes, que viveu muitos anos no Japão, e aqui morreu. Não preciso de vos dizer quem ele é. O outro é o autor deste livro, Martins Janeira. Martins Janeira desempenhou o importante posto de embaixador no Japão por muito tempo. Entre os embaixadores de outros países, ele era o diplomata mais querido. A sua casa estava sempre cheia dos seus íntimos amigos japoneses; não eram apenas políticos e homens de negócios, eram também escritores, calígrafos, actores, etc. Havia ali a atmosfera de um salão de cultura. Amava o teatro tradicional, mesmo o Nô e o Kabuki, que são raramente compreendidos por estrangeiros – e introduziu-os na Europa. Eu próprio sou um dos romancistas por ele introduzidos na Europa. Por ter escrito este livro sobre as relações entre o Japão e Portugal, quero enviar-lhe as minhas cordiais felicitações e exprimir-lhe o nosso apreço, em nome de todos os Japoneses. Shusaku Endo 6 CONFISSÃO A SERVIR DE INTRÓITO A herança cultural que Portugal deixou no Japão, que vem, em grandeza, logo a seguir àquela que nos países de língua portuguesa criou, embora tendo influído profundamente na evolução histórica japonesa, é hoje apenas visível. Foram erguidos ali, neste meio século, duas dezenas de monumentos dedicados a portugueses ou ligados a Portugal. Este livro vem procurar tornar conhecida em Portugal uma grande herança construída por dois povos que, tão afastados, rasgaram um caminho comum e pela primeira vez na História realizaram o verdadeiro encontro entre o Ocidente e o Oriente. Um dia, passando em Oita, bela cidade da ilha de Kyushu, deparei num caminho com uma inscrição gravada em ripas de madeira tosca, que dizia que naquele lugar Luís de Almeida erigira o primeiro hospital do Japão. Aquele moimento, precário e pobre, que comemorava um grande feito histórico – a introdução da medicina ocidental pela primeira vez em todo o Extremo Oriente –, comoveu-me. E concebi a ambição de reavivar no Japão a valiosa herança cultural que Portugal ali ergueu nos séculos XVI e XVII. Hoje existe em Oita um grande hospital com o nome de Luís de Almeida, um grandioso monumento à obra missionária de São Francisco Xavier, um monumento representando um missionário a tocar rabeca diante de três meninos que o seguem de boquitas abertas a cantar, um monumento de Luís de Almeida curando um doente, e até uma vaquinha a ser ordenhada para as crianças de uma creche (que Luís de Almeida foi o primeiro a fundar no Japão). Ajudei a erguer no Japão quinze monumentos comemorativos da grande obra portuguesa, um museu a Wenceslau de Moraes (outro a Portugal, em breve, em Nagasáqui), uma escola infantil com um nome português, um cortejo histórico que anualmente celebra a chegada dos Portugueses ao Japão na ilha onde primeiro desembarcaram – além da difusão da desconhecida obra de Wenceslau de Moraes, levantamento de pilares, cruzes, inscrições a lembrar a actividade portuguesa e a amizade entre os dois povos (sem que o Governo Português despendesse um centavo). O significado da vida e da felicidade – todos os sábios do Oriente e do Ocidente nos ensinam – só se encontra quando o homem se dedica a uma grande tarefa, se 7 entrega inteiramente a uma missão e se dissolve no poder imenso que o transporta para além da existência individual. Na modéstia das minhas possibilidades, ajudei a reviver, e continuei, uma herança valiosa que se ia perdendo. Foi uma luta combatida e vivida num fervor de cruzada, não para ressuscitar um legado histórico, mas para inserir a História na vida de hoje e de amanhã. Isto só no Japão poderia ter sido conseguido. Oxalá um dia em Portugal igual eco se levante, para que assim a obra portuguesa no Japão desça da leniente seara dos eruditos para o campo da cultura geral, e aí tome um significado vivo e universal, hodierno e criador – para que o amor entre os dois povos se engrandeça. Neste Japão, cujo ultramodernismo deixa muito atrás a conservadora Europa, sinto-me ao mesmo tempo cidadão do mundo que explora o espaço e português das Descobertas, que foi às longes terras procurar, no pensamento e na acção, a maior dimensão humana que lhe é possível atingir.
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