Rodolfo Walsh, O Criptógrafo

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Rodolfo Walsh, O Criptógrafo DEPARTAMENTO DE LETRAS MODERNAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA ESPANHOLA E LITERATURAS ESPANHOLA E HISPANO-AMERICANA RODOLFO WALSH, O CRIPTÓGRAFO. Relações entre escrita e ação política na obra de Rodolfo Walsh. Silvia Beatriz Adoue Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutor em Letras . Orientador: Profa. Dra. Valeria De Marco São Paulo 2008 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS MODERNAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA ESPANHOLA E LITERATURAS ESPANHOLA E HISPANO-AMERICANA RODOLFO WALSH, O CRIPTÓGRAFO. Relações entre escrita e ação política na obra de Rodolfo Walsh. Silvia Beatriz Adoue São Paulo 2008 2 A Trini e Lilia, insurgentes de 1956. A Olavo, sempre. Aos compas. 3 Gracias Este trabalho aqui redigido é resultado de anos de trabalho. Mas ele não está redigido como um diário que registra essas jornadas de labuta. Se assim fosse, cada parágrafo estaria povoado de innúmeros nomes, daqueles que participaram das dúvidas e das descobertas e dos que deram as condições materiais para ir em frente. Quero deixar aqui registrados alguns desses nomes, sem explicar os motivos. Eles sabem. E nunca é um motivo só. Os nomes: Christina Diniz Leal, Valeria De Marco, Marilúcia Santos Teles, Cleide Santos Sá Teles, Murilo Leal Pereira Neto, Gladys Beatriz Barreiro, Lucía García, Darío Pignotti, Pedro Ortiz, Marco Fernandes, Lisandra Guedes, Héctor López Girondo, Lilia Santiago, Pablo Alabarces, Miguel Croceri, Olavo Adoue Leal, Susana Marta Lui, Adriana Brugués, Beatriz Collado, Silvana Lopes Zamproneo, Claudete Bassaglia, Giovanni Augusto Vieira, Ana Claudia da Silva, Heloisa Helena Reinert, Luciana Pinsky, Thaís Moll, Camila Moraes, Clóvis Zanettin Pereira, Heloísa Fernandes, Maria Dolores Aybar, Sergio Adoue, Tatiana Merlino, Dafne Melo, Augusto Juncal. Para todos eles, minha imensa gratidão. 4 RESUMO O presente trabalho é um estudo da poética do escritor, jornalista e militante argentino Rodolfo Jorge Walsh. Tradutor, editor e autor de relatos policiais, soube fazer da atividade literária um ato de reflexão sobre a história do seu país e da própria ação militante. Os procedimentos de escrita utilizados dentro da sua obra procuravam a eficiência persuasiva, mas também a eficiência na representação dos problemas que estavam colocados para o escritor na sua ação política. São objeto de estudo deste trabalho: a passagem do policial de enigma para o hard-boiled e o posterior abandono do subgênero; a opção pela forma breve do conto e não do romance; o abandono da escrita estritamente literária que seria retomada só nos últimos meses da sua vida -processos que coincidiram com o desenvolvimento de investigações sobre crimes de Estado e seu ingresso na militância- e a retomada da autoria, pouco antes de morrer, para a produção de uma série de cartas pessoais no contexto da ditadura que se iniciou em 1976 e da polêmica do autor com a direção da organização Montoneros, na qual militava. Palavras-chave: Rodolfo Walsh; literatura argentina; jornalismo militante; literatura policial; literatura e testemunho. 5 ABSTRACT The present work is a study of Rodolfo Jorge Walsh's poetry. He was an author, a journalist and an activist. Also a translator, editor an author of police short stories. He knew how to transform the literary activity into an act of reflexion about the history of his country and the activist action itself. The writing procedures used inside his works searched not only for a persuasive efficiency, but also the efficiency in representing the problems faced by the author in his political action. They are object of study: the passage from police enigma to hard-boiled and the following desertion of the sub gender; the option for the brief form of the short story and not the novel; desertion of the writing strictly literary that would be taken up again in the last months of his life - processes that coincided with the development of State crime investigations and his participation in an activist life - and getting back the authorship, shortly before his death, into a production of personal letters in a dictatorship context that began in 1976 and the controversy of the author in relation to the direction of the Montoneros organization, for which he was an activist. Key words: Rodolfo Walsh; Argentinian Literature; Activist Journalism; Police Literature; Literature and Testimony. 6 SUMÁRIO Resumo ........................................................................................................... 5 Abstract ........................................................................................................... 6 Introdução ....................................................................................................... 9 Capítulo 1: A literatura policial. Entre Hunter e o profeta Daniel ................... 17 Las tres noches de Isaías Bloom . O policial de enigma ................................ 17 La aventura de las pruebas de imprenta. A imersão nas fontes ................... 28 Zugwang. Transposición de jugadas. En defensa propia. Um ponto de inflexão: do policial de enigma ao hard-boiled .............................................. 37 Do relato policial ao relato testemunhal ........................................................ 48 Capítulo 2: A trilogia de investigação. Jornalismo, testemunho e militância . 53 As particularidades da obra investigativa de Walsh ...................................... 62 Operación Masacre ....................................................................................... 68 Caso Satanowsky ......................................................................................... 78 ¿Quién mató a Rosendo? ............................................................................. 84 A poética da investigação e da escrita .......................................................... 95 Capítulo 3: Literatura: “un avance laborioso a través de la propia estupidez” ......................................................................................................................100 Los ojos del traidor . Como narrar a violência? ............................................ 105 7 La máquina del bien y del mal. A escrita como um ofício e a captura da voz do não letrado como ato político ...................................................................... 110 Nota al pie. A batalha pelo sentido............................................................... 114 A “série dos irlandeses”. As relações de poder e o fim do herói individual ..123 Imaginaria. Astúcia como inteligência de pobre .......................................... 127 Esa mujer. Obra literária e peça de inteligência ......................................... 131 Os contos como espaço de experimentação .............................................. 135 Capítulo 4: As cartas pessoais .................................................................... 138 Carta a Vicky. Carta a mis amigos .............................................................. 142 Carta abierta a la junta militar ..................................................................... 150 Considerações Finais ................................................................................. 162 Referências Bibliográficas .......................................................................... 169 Obra do autor .............................................................................................. 169 Bibliografia geral ......................................................................................... 175 Anexos ........................................................................................................ 188 Carta a Vicki ................................................................................................ 189 Carta a mis amigos ..................................................................................... 191 Carta abierta a la junta militar ..................................................................... 196 8 INTRODUÇÃO No es un arma guardada que rememora los disparos, sino un hacer violento, en los cuales la escritura agrede la molicie y espanta los oropeles. Daniel Camels . Argentino de família irlandesa, nascido em 1927, educado na fé católica, escritor de relatos policiais e jornalista primeiro, militante depois, Rodolfo Jorge Walsh aproxima-se da realidade com o olhar indagador do detetive e do exegeta. Para ele, os fatos escondem e insinuam, dão pistas. Há uma verdade ocultada pelo relato hegemônico e que é preciso que venha à tona. A principal tarefa de Walsh será revelá-la. Aos procedimentos ideológicos que constroem o relato hegemônico, o militante/escritor oporá uma série de procedimentos literários que constituem as ferramentas do seu ofício de “criptógrafo” e inauguram um registro estético, uma poética. Estudar essas ferramentas, balizar esse registro, reconhecer essa poética são os objetivos deste trabalho. §§§§§ No dia 10 de junho de 1956, em Buenos Aires, uma mulher viaja no banco do fundo de um ônibus urbano. O motorista tem o rádio ligado. O locutor do informativo anuncia que o levantamento cívico-militar que pretendia restaurar o governo peronista derrubado com um golpe militar no ano anterior foi debelado e muitos dos seus quadros presos ou fuzilados. A mulher também está envolvida no putch . Tem, num
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