COVID-19 Deve Afetar, Mas Não Abalar Empresas Brasileiras Do Setor Elétrico
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COVID-19 deve afetar, mas não abalar empresas brasileiras do setor elétrico 29 de maio de 2020 Considerações principais ANALISTA PRINCIPAL Apesar dos fluxos de caixa operacionais mais baixos projetados para as concessionárias de Marcelo Schwarz, CFA energia elétrica brasileiras no curto a médio prazo devido às medidas de distanciamento São Paulo social e à menor demanda de energia decorrente da crise econômica, a S&P Global Ratings 55 (11) 3039-9782 espera que os ratings dessas entidades permaneçam em geral estáveis. marcelo.schwarz @spglobal.com Considerando que essas entidades são prestadoras de serviços essenciais que operam sob um marco altamente regulado, acreditamos que sejam mais resilientes do que outras empresas industriais. Também esperamos que resistam à crise econômica principalmente CONTATOS ANALÍTICOS ADICIONAIS devido às suas posições de liquidez relativamente confortáveis e à flexibilidade de cortar Julyana Yokota investimentos e dividendos, se necessário. São Paulo 55 (11) 3039 9731 Em geral, esperamos que as geradoras e transmissoras de energia sejam menos vulneráveis julyana.yokota @spglobal.com às necessidades de capital de giro do que as distribuidoras. No entanto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), órgão regulador do setor, e o governo estão atualmente Vinicius Ferreira elaborando um pacote extraordinário de liquidez para apoiar as distribuidoras. Essas São Paulo 55 (11) 3039 9763 arrecadam receitas para todo o setor, equilibrando o descompasso entre menor demanda e vinicius.ferreira sobras de energia, além de lidar com o aumento das taxas de inadimplência. @spglobal.com www.spratings.com 29 de maio de 2020 1 COVID-19 deve afetar, mas não abalar empresas brasileiras do setor elétrico A S&P Global Ratings espera que as condições econômicas no Brasil piorem à medida que a pandemia do COVID-19 avança no país e as medidas de distanciamento social e a quarentena interrompem a atividade comercial. Esperamos agora que o Brasil entre em recessão em 2020, com o PIB contraindo 4,6% e retornando ao crescimento em 2021. Essa pandemia sem precedentes também afetará, em nossa opinião, o setor de concessionárias de serviços de utilidade pública, que é historicamente resiliente. Isso se deve principalmente à extensão dos danos econômicos que o coronavírus causará, à potencial pressão política para fornecer alívio aos clientes dos serviços de eletricidade endividados e à recuperação econômica assim que os bloqueios forem suspensos. Ainda assim, acreditamos que as concessionárias que avaliamos registrarão fluxos de caixa temporariamente mais baixos. Isso porque a maioria delas apresenta capacidade intrínseca de pagamento (que denominamos perfil de crédito individual [SACP - stand- alone credit profiles]) mais forte, enquanto os ratings soberanos do Brasil limitam os dessas empresas, dada a natureza regulada de seus negócios. Além disso, o órgão regulador da indústria e o governo já anunciaram várias medidas para atenuar o ônus das contas de eletricidade dos clientes residenciais, incluindo isenções de cobrança para clientes de baixa renda e proibindo desconexões de serviços de clientes residenciais inadimplentes. Esperamos agora uma série de medidas para dar suporte às finanças dos participantes do setor, principalmente das distribuidoras, uma vez que elas arrecadam receitas para todo o setor. Apesar disso, apesar dos riscos de uma crise prolongada, as concessionárias avaliadas dispõem, em nossa opinião, de flexibilidade financeira suficiente. Elas estão cortando custos e despesas e reduzindo investimentos e a distribuição de dividendos para proteger sua capacidade creditícia. Muitas concessionárias também recorreram recentemente a empréstimos bancários para preservar a liquidez. Principais riscos das concessionárias de energia elétrica Geradoras: Distribuidoras: Risco de contraparte, Forte queda na demanda. sobretudo no mercado livre. Estão vendendo excedente de Menor demanda por energia e energia a preços muito mais potenciais mudanças nos baixos. termos dos contratos de Aumento da inadimplência. compra de energia. Maiores custos de compra de Atrasos nos pagamentos das energia em dólares (Itaipu) distribuidoras, uma vez que Mais atrasos na estas arrecadam receitas implementação de reajustes para todo o setor. tarifários Transmissão: Embora as receitas se baseiem na disponibilidade as linhas, a posição de liquidez mais fraca das distribuidoras pode causar atrasos no recebimento dos pagamentos por disponibilidade. www.spratings.com 29 de maio de 2020 2 COVID-19 deve afetar, mas não abalar empresas brasileiras do setor elétrico Distribuidoras sofrerão forte impacto A profunda recessão e as perspectivas de fraco crescimento econômico para 2021 estão afetando a demanda por energia, sobretudo dos segmentos industrial e comercial, ao passo que aumentarão a demanda dos clientes residenciais à medida que passam mais tempo em casa. Gráfico 1 Distribuição de consumo por categoria 100% Outros 90% Comercial 80% Industrial 70% Residencial 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% CPFL CEMIG D EDP Energisa Equatorial Light SESA Neoenergia Fonte: S&P Global Ratings. Copyright © 2020 por Standard & Poor's Financial Services LLC. Todos os direitos reservados. Esperamos queda de ao menos 5% na demanda por energia este ano. Segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o consumo de energia em abril foi 13% menor que no mesmo mês de 2019. Em nossa opinião, a demanda por energia levará dois anos para se recuperar aos níveis pré-pandemia. Para as distribuidoras, a menor demanda também se traduzirá em sobras de energia este ano, uma vez que precisam definir com antecedência seus contratos de energia. De acordo com a CCEE, as distribuidoras devem registrar um excedente de energia de 111% a 113% em 2020, dependendo da duração da quarentena. No momento, o preço médio do contrato de compra de energia (PPA - power purchase agreement) é de cerca de R$ 200 por megawatt-hora (MWh). Enquanto isso, os preços spot estão sendo negociados no extremo inferior da faixa regulatória, a R$ 39,68/MWh, devido a uma demanda muito mais fraca e condições melhores de hidrologia, dificultando o potencial de recuperação caso o excedente de energia seja vendido no mercado spot. Portanto, esperamos que o desempenho operacional das distribuidoras seja prejudicado, dado que possuem apenas uma margem regulatória de 5% para repassar os custos relacionados aos consumidores finais. Além disso, a Itaipu Binacional fornece cerca de 15% da geração de energia do país, cujas tarifas são denominadas em dólares, de acordo com o Tratado de Itaipu. Atualmente, Itaipu abastece as www.spratings.com 29 de maio de 2020 3 COVID-19 deve afetar, mas não abalar empresas brasileiras do setor elétrico distribuidoras nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, que podem repassar o custo da energia comprada, atualmente em US$ 28,41 por quilowatt (kW). Dada a desvalorização do real de cerca de 40% em relação ao dólar desde o início do ano, as necessidades de capital de giro das distribuidoras aumentaram. A inadimplência está aumentando Para mitigar as dificuldades causadas pela COVID-19, a ANEEL anunciou uma série de medidas, incluindo: As distribuidoras estão temporariamente proibidas de desconectar o serviço os clientes residenciais com contas em atraso; Os clientes de baixa renda estão isentos do pagamento de contas de energia elétrica por um período de 90 dias; e Os últimos reajustes anuais foram anunciados, mas a implementação foi adiada para julho. De acordo com as Medidas Provisórias 949 e 950, anunciadas pelo governo no início de abril, os clientes de baixa renda com consumo de eletricidade de até 220 kilowatt-hora (kWh) estão isentos do pagamento de contas de energia elétrica entre 1º de abril e 30 de junho deste ano. Isso não deve ter impacto significativo nas distribuidoras, pois o governo alocará até R$ 900 milhões para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um fundo setorial que tem como objetivo custear diversas políticas públicas do setor elétrico, para cobrir essas contas. Observamos que os clientes de baixa renda representam uma parcela mínima das receitas e margens das distribuidoras, mesmo que tenham mais representatividade na base de clientes das empresas, como mostra a tabela abaixo. As distribuidoras que operam nas regiões norte e nordeste contam com uma maior participação desses clientes. Ainda assim, há riscos de essas isenções serem estendidas e de outros clientes migrarem para o segmento de baixa renda se uma profunda deterioração econômica persistir por um período mais longo. Tabela 1 Maior exposição a clientes de baixa renda no Brasil Empresa* % dos clientes % das receitas Neoenergia S.A. 17% 6% Equatorial Energia S.A. 21% 3% Light Serviços de Eletricidade S.A. 2% 1% Energisa S.A. N.D. 1% Enel Americas S.A. 9% 1% CPFL Energia S.A. N.D. < 1% *Empresas avaliadas pela S&P Global Ratings com informações públicas; N.D. – Não disponível. Distribuidoras devem ser compensadas pela postergação nos aumentos das tarifas Nas últimas semanas, a ANEEL anunciou reajustes anuais de tarifas para várias distribuidoras. Mas, para mitigar o impacto da crise, as distribuidoras e a ANEEL concordaram que os reajustes só entrariam em vigor em 1º de julho de 2020, bem como recursos da CDE seriam utilizados nesse ínterim. www.spratings.com 29 de maio de 2020 4 COVID-19 deve afetar, mas não abalar empresas brasileiras do setor elétrico Tabela 2 Próximos reajustes tarifários Implementado Distribuidoras Reajuste Data de vigência EBO -1,78% 4-Fev Light