COVID-19 deve afetar, mas não abalar empresas brasileiras do setor elétrico

29 de maio de 2020

Considerações principais

ANALISTA PRINCIPAL  Apesar dos fluxos de caixa operacionais mais baixos projetados para as concessionárias de Marcelo Schwarz, CFA energia elétrica brasileiras no curto a médio prazo devido às medidas de distanciamento São Paulo social e à menor demanda de energia decorrente da crise econômica, a S&P Global Ratings 55 (11) 3039-9782 espera que os ratings dessas entidades permaneçam em geral estáveis. marcelo.schwarz @spglobal.com

 Considerando que essas entidades são prestadoras de serviços essenciais que operam sob um marco altamente regulado, acreditamos que sejam mais resilientes do que outras empresas industriais. Também esperamos que resistam à crise econômica principalmente CONTATOS ANALÍTICOS ADICIONAIS devido às suas posições de liquidez relativamente confortáveis e à flexibilidade de cortar Julyana Yokota investimentos e dividendos, se necessário. São Paulo 55 (11) 3039 9731  Em geral, esperamos que as geradoras e transmissoras de energia sejam menos vulneráveis julyana.yokota @spglobal.com às necessidades de capital de giro do que as distribuidoras. No entanto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), órgão regulador do setor, e o governo estão atualmente Vinicius Ferreira elaborando um pacote extraordinário de liquidez para apoiar as distribuidoras. Essas São Paulo 55 (11) 3039 9763 arrecadam receitas para todo o setor, equilibrando o descompasso entre menor demanda e vinicius.ferreira sobras de energia, além de lidar com o aumento das taxas de inadimplência. @spglobal.com

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A S&P Global Ratings espera que as condições econômicas no Brasil piorem à medida que a pandemia do COVID-19 avança no país e as medidas de distanciamento social e a quarentena interrompem a atividade comercial. Esperamos agora que o Brasil entre em recessão em 2020, com o PIB contraindo 4,6% e retornando ao crescimento em 2021. Essa pandemia sem precedentes também afetará, em nossa opinião, o setor de concessionárias de serviços de utilidade pública, que é historicamente resiliente. Isso se deve principalmente à extensão dos danos econômicos que o coronavírus causará, à potencial pressão política para fornecer alívio aos clientes dos serviços de eletricidade endividados e à recuperação econômica assim que os bloqueios forem suspensos. Ainda assim, acreditamos que as concessionárias que avaliamos registrarão fluxos de caixa temporariamente mais baixos. Isso porque a maioria delas apresenta capacidade intrínseca de pagamento (que denominamos perfil de crédito individual [SACP - stand- alone credit profiles]) mais forte, enquanto os ratings soberanos do Brasil limitam os dessas empresas, dada a natureza regulada de seus negócios.

Além disso, o órgão regulador da indústria e o governo já anunciaram várias medidas para atenuar o ônus das contas de eletricidade dos clientes residenciais, incluindo isenções de cobrança para clientes de baixa renda e proibindo desconexões de serviços de clientes residenciais inadimplentes. Esperamos agora uma série de medidas para dar suporte às finanças dos participantes do setor, principalmente das distribuidoras, uma vez que elas arrecadam receitas para todo o setor. Apesar disso, apesar dos riscos de uma crise prolongada, as concessionárias avaliadas dispõem, em nossa opinião, de flexibilidade financeira suficiente. Elas estão cortando custos e despesas e reduzindo investimentos e a distribuição de dividendos para proteger sua capacidade creditícia. Muitas concessionárias também recorreram recentemente a empréstimos bancários para preservar a liquidez.

Principais riscos das concessionárias de energia elétrica

Geradoras: Distribuidoras: Risco de contraparte, Forte queda na demanda. sobretudo no mercado livre. Estão vendendo excedente de Menor demanda por energia e energia a preços muito mais potenciais mudanças nos baixos. termos dos contratos de Aumento da inadimplência. compra de energia. Maiores custos de compra de Atrasos nos pagamentos das energia em dólares (Itaipu) distribuidoras, uma vez que Mais atrasos na estas arrecadam receitas implementação de reajustes para todo o setor. tarifários

Transmissão: Embora as receitas se baseiem na disponibilidade as linhas, a posição de liquidez mais fraca das distribuidoras pode causar atrasos no recebimento dos pagamentos por disponibilidade.

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Distribuidoras sofrerão forte impacto

A profunda recessão e as perspectivas de fraco crescimento econômico para 2021 estão afetando a demanda por energia, sobretudo dos segmentos industrial e comercial, ao passo que aumentarão a demanda dos clientes residenciais à medida que passam mais tempo em casa.

Gráfico 1 Distribuição de consumo por categoria

100% Outros

90% Comercial

80% Industrial

70% Residencial 60%

50%

40%

30%

20%

10%

0% CPFL D EDP Energisa Equatorial Light SESA Neoenergia

Fonte: S&P Global Ratings. Copyright © 2020 por Standard & Poor's Financial Services LLC. Todos os direitos reservados.

Esperamos queda de ao menos 5% na demanda por energia este ano. Segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o consumo de energia em abril foi 13% menor que no mesmo mês de 2019. Em nossa opinião, a demanda por energia levará dois anos para se recuperar aos níveis pré-pandemia. Para as distribuidoras, a menor demanda também se traduzirá em sobras de energia este ano, uma vez que precisam definir com antecedência seus contratos de energia. De acordo com a CCEE, as distribuidoras devem registrar um excedente de energia de 111% a 113% em 2020, dependendo da duração da quarentena. No momento, o preço médio do contrato de compra de energia (PPA - power purchase agreement) é de cerca de R$ 200 por megawatt-hora (MWh). Enquanto isso, os preços spot estão sendo negociados no extremo inferior da faixa regulatória, a R$ 39,68/MWh, devido a uma demanda muito mais fraca e condições melhores de hidrologia, dificultando o potencial de recuperação caso o excedente de energia seja vendido no mercado spot. Portanto, esperamos que o desempenho operacional das distribuidoras seja prejudicado, dado que possuem apenas uma margem regulatória de 5% para repassar os custos relacionados aos consumidores finais.

Além disso, a Itaipu Binacional fornece cerca de 15% da geração de energia do país, cujas tarifas são denominadas em dólares, de acordo com o Tratado de Itaipu. Atualmente, Itaipu abastece as

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distribuidoras nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, que podem repassar o custo da energia comprada, atualmente em US$ 28,41 por quilowatt (kW). Dada a desvalorização do real de cerca de 40% em relação ao dólar desde o início do ano, as necessidades de capital de giro das distribuidoras aumentaram.

A inadimplência está aumentando

Para mitigar as dificuldades causadas pela COVID-19, a ANEEL anunciou uma série de medidas, incluindo:

 As distribuidoras estão temporariamente proibidas de desconectar o serviço os clientes residenciais com contas em atraso;

 Os clientes de baixa renda estão isentos do pagamento de contas de energia elétrica por um período de 90 dias; e

 Os últimos reajustes anuais foram anunciados, mas a implementação foi adiada para julho.

De acordo com as Medidas Provisórias 949 e 950, anunciadas pelo governo no início de abril, os clientes de baixa renda com consumo de eletricidade de até 220 kilowatt-hora (kWh) estão isentos do pagamento de contas de energia elétrica entre 1º de abril e 30 de junho deste ano. Isso não deve ter impacto significativo nas distribuidoras, pois o governo alocará até R$ 900 milhões para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um fundo setorial que tem como objetivo custear diversas políticas públicas do setor elétrico, para cobrir essas contas. Observamos que os clientes de baixa renda representam uma parcela mínima das receitas e margens das distribuidoras, mesmo que tenham mais representatividade na base de clientes das empresas, como mostra a tabela abaixo. As distribuidoras que operam nas regiões norte e nordeste contam com uma maior participação desses clientes. Ainda assim, há riscos de essas isenções serem estendidas e de outros clientes migrarem para o segmento de baixa renda se uma profunda deterioração econômica persistir por um período mais longo.

Tabela 1 Maior exposição a clientes de baixa renda no Brasil

Empresa* % dos clientes % das receitas Neoenergia S.A. 17% 6% Equatorial Energia S.A. 21% 3% Light Serviços de Eletricidade S.A. 2% 1% Energisa S.A. N.D. 1% Enel Americas S.A. 9% 1% CPFL Energia S.A. N.D. < 1%

*Empresas avaliadas pela S&P Global Ratings com informações públicas; N.D. – Não disponível.

Distribuidoras devem ser compensadas pela postergação nos aumentos das tarifas

Nas últimas semanas, a ANEEL anunciou reajustes anuais de tarifas para várias distribuidoras. Mas, para mitigar o impacto da crise, as distribuidoras e a ANEEL concordaram que os reajustes só entrariam em vigor em 1º de julho de 2020, bem como recursos da CDE seriam utilizados nesse ínterim.

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Tabela 2 Próximos reajustes tarifários

Implementado

Distribuidoras Reajuste Data de vigência

EBO -1,78% 4-Fev

Light SESA 6,21% 15-Mar

CPFL Santa Cruz 0,20% 22-Mar Aprovado, mas postergado Distribuidoras Reajuste Pré-COVID-19 Data de implementação CPFL Paulista 6,05% 8-Abr 1-Jul EMS 6,90% 8-Abr 1-Jul EMT 2,47% 8-Abr 1-Jul ESE 1,20% 20-Abr 1-Jul Coelba 5,00% 22-Abr 1-Jul Cosern 3,40% 22-Abr 1-Jul Celpe 5,16% 29-Abr 1-Jul Equatorial Alagoas 9,85% 1-Mai 1-Jul Programado

Distribuidoras Data programada

Cemig D 28-Mai

CPFL RGE 19-Jun

EMG 22-Jun

ENF 22-Jun

ETO 4-Jul

ESS 12-Jul

EDP ES 7-Ago

Equatorial Pará 7-Ago

Elektro 27-Ago

EPB 28-Ago

Equatorial Maranhão 28-Ago

EDP SP 22-Out

CPFL Piratininga 23-Out

EAC 30-Nov

Equatorial Piauí 30-Nov

ERO 13-Dez

Contudo, dentre as medidas acima mencionadas pela ANEEL, a proibição da suspensão de serviços para clientes inadimplentes terá o maior impacto sobre as distribuidoras, em nossa opinião. Isso, combinado com a atividade econômica em rápida deterioração, o aumento do desemprego e a diminuição da renda disponível, está causando um aumento nas taxas de inadimplência. De acordo com o Ministério da Energia e Minas (MME), os níveis de inadimplência

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em abril subiram para cerca de 12%, ante a média histórica de 3%. Portanto, as provisões para contas em atraso podem aumentar significativamente, e a incapacidade das concessionárias de cobrar uma parte das contas pode enfraquecer sua rentabilidade. O impacto será mais severo nas distribuidoras que operam em áreas de concessão com taxas de inadimplência historicamente altas, como a Light Serviços de Eletricidade S.A. e a Cemig Distribuição S.A., em nossa opinião.

Pacote de ajuda financeira deve reforçar a liquidez do setor

As medidas anunciadas recentemente pelo governo também incluem uma provisão para fornecer financiamento ao segmento de distribuição, cujos custos financeiros serão incorporados às tarifas em reajustes futuros. Esse financiamento será muito semelhante ao que o governo implantou em 2014 para dar suporte às distribuidoras que enfrentaram altos custos de energia após uma seca prolongada. Essas entidades tinham maiores necessidades de capital de giro, pois o repasse do custo de energia ocorre apenas mediante os reajustes tarifárias anuais. Em 2014, os maiores bancos públicos e privados do Brasil concederam um empréstimo de R$ 21 bilhões com prazo de cinco anos à CCEE, que por sua vez desembolsou os recursos para as distribuidoras. O empréstimo foi pago com recursos de uma tarifa adicional na fatura mensal do consumidor, aprovada pela ANEEL. Dessa forma, os recursos que as distribuidoras receberam não foram considerados como dívida.

Assim, em 18 de maio de 2020, o Decreto no 10.350 estabeleceu as diretrizes para um pacote financeiro de curto prazo para as distribuidoras de eletricidade, com o objetivo de:

 Cobrir a queda nos fluxos de caixa decorrente da forte redução na demanda e do forte aumento da inadimplência;

 Monetizar não apenas os ativos regulatórios líquidos existentes (as entidades que avaliamos têm um total de R$ 4 bilhões), mas também aqueles que estão sendo formados, por exemplo, devido aos custos mais altos na parte da energia denominada em dólares; e

 Abordar o impacto dos reajustes tarifários mais limitados, que A ANEEL aprovou recentemente, mas que entrarão em vigor em julho.

A CCEE voltará a administrar uma conta específica, desta vez denominada “Conta Covid”, que será financiada por um novo empréstimo de um sindicato de bancos liderado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES; BB-/Estável/--, brAAA+/Estável/--), que deve totalizar R$ 16 bilhões. A CCEE desembolsará recursos para as distribuidoras mensalmente até dezembro de 2020, com base na severidade do impacto no fluxo de caixa do período. O pagamento deste empréstimo exigirá contribuições adicionais das distribuidoras para a CDE, incorporadas nas tarifas a partir de 2021. Em nossa opinião, o custo do pagamento do empréstimo deverá ser menor do que o de 2014, graças à baixa histórica nas taxas de juros no Brasil, que estão em torno de 3,0%. Para receber os fundos, as distribuidoras estarão sujeitas a certas restrições, incluindo a alteração unilateral dos termos de seus PPAs e a distribuição de dividendos acima do mínimo regulatório de 25% em meio ao não cumprimento de suas obrigações financeiras setoriais (como aquelas devidas a geradoras e transmissoras, e taxas regulatórias).

Esperamos que o pacote financeiro seja finalizado e implementado nas próximas semanas, após a proposta preliminar publicada pela ANEEL em 26 de maio receber comentários dos participantes do mercado por meio de uma audiência pública entre 27 de maio e 1º de junho de 2020.

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Medidas adicionais podem estar próximas

Embora acreditemos que o pacote financeiro deva fornecer liquidez oportuna e de curto prazo ao setor, o decreto não aborda todos os desequilíbrios que as distribuidoras provavelmente enfrentarão nos próximos anos, incluindo taxas de inadimplência muito superiores à média histórica, exacerbadas pela proibição de desconectar clientes inadimplentes, o que pode ser visto como acima do risco inerente dos negócios. Ainda assim, essas questões poderão ser abordadas no futuro, principalmente porque o decreto permite que as distribuidoras solicitem reajustes extraordinários de tarifas separadamente.

Além disso, outras medidas podem ser implementadas. Em abril de 2020, A ANEEL publicou um estudo que avalia o impacto da COVID-19 no setor elétrico brasileiro e propôs algumas medidas para lidar com a crise. Além do fundo de liquidez mencionado acima e para evitar um aumento significativo nas tarifas, elas incluem:

 Alterações voluntárias dos termos dos contratos bilaterais de energia, como no caso de geradoras que são remuneradas com base em seus custos de O&M, o que poderia atrasar alguns dos investimentos comprometidos para a melhora de ativos visando impedir que tais custos sejam incorporados nas tarifas; e

 A possibilidade de revisar regras sobre a destinação de fundos setoriais específicos, incluindo os de pesquisa e desenvolvimento e eficiência energética, para fornecer liquidez adicional às distribuidoras.

Em nossa opinião, o marco regulatório brasileiro possui um sólido histórico de manutenção da sustentabilidade econômico-financeira do setor elétrico. Esperamos que um equilíbrio econômico seja negociado assim que a pandemia dissipar, sobretudo porque as distribuidoras arrecadam receitas que são posteriormente distribuídas ao demais participantes do mercado regulado. Continuaremos monitorando a situação, dado que o suporte poderá se tornar vital se a pandemia persistir por um período prolongado, estendendo assim os danos do setor. Ainda assim, em geral, acreditamos que as distribuidoras avaliadas pela S&P Global Ratings tenham flexibilidade financeira suficiente para suportar maiores necessidades de capital de giro e absorver perdas por um período prolongado.

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Gráfico 2 Preços spot mensais

400 373,45 2019

350 317,28 2020 324,54 300 273,89

250 231,32 210,42 219,33 218,98 183,67 200

R$/MWh 148,66 150 158,57 166,88 115,80

100 78,52 89,48

50 39,68

0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

MWh--Mega-watt hora. Fonte: S&P Global Ratings. Copyright © 2020 por Standard & Poor's Financial Services LLC. Todos os direitos reservados.

Geradoras enfrentam maior risco de contraparte

As geradoras geralmente vendem a maior parte de sua energia assegurada (definida pela ANEEL) por meio de contratos de longo prazo (take-or-pay) - cerca de 70% no mercado regulado. Isso reduz o risco de volume e proporciona estabilidade de fluxo de caixa. Embora o prazo médio relativamente longo dos contratos de energia reduza a exposição aos preços atualmente baixos de energia, o risco de contraparte aumentou.

Não esperamos um impacto significativo no mercado regulado, uma vez que as distribuidoras deverão receber apoio financeiro, embora possam ser mutuamente acordadas alterações em alguns contratos, especialmente com geradoras que enfrentam dificuldades para atender aos requisitos de fornecimento de energia. Mas esse não é necessariamente o caso da parcela da energia vendida no mercado livre, dados os baixos preços spot em vigor e o risco de contraparte nos contratos bilaterais de venda de energia. Segundo a CCEE, a demanda de energia no mercado livre caiu 14% em abril de 2020 comparado ao mesmo mês de 2019. Essa queda foi impulsionada principalmente por montadoras e fornecedores de autopeças (queda de 66%) e fabricantes de têxteis (47%), enquanto a demanda de prestadores de serviços caiu 32%.

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Gráfico 3 Mercado regulado

Transmissoras (7%)

Encargos setoriais (8%)

Geradoras (35%)

Distribuidoras (20%)

Impostos (31%)

Fonte: S&P Global Ratings. Copyright © 2020 por Standard & Poor's Financial Services LLC. Todos os direitos reservados.

Os contratos do mercado livre geralmente preveem flexibilidade e contém cláusulas de força maior. Embora a quantidade de energia contratada consumida possa ser ajustada (geralmente dentro de uma faixa de 5% a 15%), o uso da cláusula de força maior para cancelar um contrato pode levar a litígios, o que pode ser um processo moroso e caro, sobretudo pela probabilidade de processos de arbitragem.

Acreditamos que as geradoras avaliadas estão em geral mais bem protegidas desse risco do que as distribuidoras, uma vez que geralmente vendem energia por meio de contratos take-or-pay de longo prazo, com contrapartes sólidas nos mercados regulado e livre. Elas também dispõem de flexibilidade financeira suficiente para enfrentar a situação em meio ao crescente risco de contraparte. Dessa forma, não esperamos ações de rating para essas entidades no momento.

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Gráfico 4 Geradoras

Distribuição de contratos por mercado

100%

90% Spot 30% 21% 80% Mercado livre 30% 70% Mercado regulado 71% 60%

50% 50% 59% 78% 92% 40% 72% 70% 30% 58% 20% 25% 27% 10% 18% 7% 0% 0% CESP Cemig GT CPFL EDP Brasil Light Neoenergia UHE São Energia Simão

Fonte: S&P Global Ratings. Copyright © 2020 por Standard & Poor's Financial Services LLC. Todos os direitos reservados.

O segmento de transmissão é o menos exposto

A crise da saúde pública terá menor impacto nas transmissoras, dadas a natureza de disponibilidade de suas operações. Seus contratos de concessão operam sob o modelo de Receita Anual Permitida. Este estabelece as receitas anuais que uma concessão de transmissão tem direito a receber, com base na disponibilidade das linhas, e não no volume real de energia transmitida. No entanto, o segmento de transmissão pode sofrer em caso de atraso no pagamento por parte de distribuidoras, o que pode ocorrer principalmente se a liquidez desse último segmento se deteriorar.

Liquidez faz a diferença

Apesar das consequências da pandemia na economia e na demanda de energia, as concessionárias de energia elétrica que avaliamos em geral têm flexibilidade financeira para absorver um desempenho operacional mais fraco até que as medidas severas de distanciamento social sejam suspensas e um pacote extraordinário de liquidez seja disponibilizado. As concessionárias tomaram as seguintes medidas para preservar o caixa:

 Recorreram a novos empréstimos bancários, embora com prazos muito mais curtos e custos mais altos. Desde meados de março, as concessionárias avaliadas captaram perto de R$ 6 bilhões em novas linhas de crédito. Além disso, a posição de caixa entre os players do setor já era relativamente robusta, cobrindo cerca de 150% dos vencimentos de curto prazo em base agregada.

 Reduziram investimentos (capex) não obrigatórios.

 Reduziram ou postergaram os pagamentos de dividendos.

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 Várias empresas do setor que possuem empréstimos do BNDES aceitaram a oferta deste de postergar pagamentos de principal e juros por seis meses.

 A ANEEL já autorizou a transferência de recursos de um fundo específico de reserva de energia, em um total de cerca de R$ 2,4 bilhões, dos quais R$ 1,9 bilhão foram desembolsados às distribuidoras.

Esperamos que as métricas de crédito do setor atinjam seu pior nível em 2020 e se recuperem nos anos subsequentes. No entanto, não esperamos que as entidades avaliadas sejam significativamente expostas a quebras de covenants (cláusulas contratuais restritivas). Mas isso também dependerá, por exemplo, do suporte financeiro às distribuidoras, por meio da injeção direta de fundos ou de reajustes tarifários. Além disso, os covenants de dívidas da maioria das entidades que avaliamos são ajustados pelos ativos regulatórios líquidos. Isso deve ajudar a suavizar o impacto nas métricas de crédito dessas entidades.

Principais riscos para concessionárias de eletricidade

Risco mais baixo Risco mais alto

UHE São TAESA Itaipu Eneva Eletrobras CESP EDP ES EDP SP CPFL Neoenergia CEMIG Light Energisa Equatorial Simão Rating em BB- BB- BB- BB- BB- B BB- moeda /Estável/ /Estável/ /Estável/ /Estável/ /Estável/ /Estável/ /Estável/ estrangeira ------

SACP* bbb- bb- bbb- bb+ bb b bb+

Rating na Escala brAAA/ brAAA/ brAAA/ brAAA/ brAAA/ brAAA/ brAAA/ brAAA/ brAAA/ brAAA/ brA+/ brAA+/ brAAA/ brAAA/ Nacional Brasil Estável/-- Estável/-- Estável/-- Estável/-- Estável/-- Estável/-- Estável/-- Estável/-- Estável/-- Estável/-- Estável/-- Estável/-- Estável/-- Estável/--

Sensitibilidade à Covid-19**

Liquidez***

* SACP disponível apenas para ratings na escala global ** Sensibilidade à Covid-19 no setor de energia elétrica, considerando a exposição a distribuição, generação e transmissão *** Liquidez baseada no índice de fontes sobre usos de recursos

Fonte: S&P Global Ratings.

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Tabela 2 Concessionárias de energia elétrica brasileiras reguladas Perfil de risco Perfil de risco Rating na Rating na Escala Entidade Segmentos Liquidez de negócios financeiro escala global Nacional Brasil Transmissora Aliança de Energia Elétrica Transmissão Satisfatório Significativo Adequada BB-/Estável/-- brAAA/Estável/brA-1+ S.A.

Distribuição, Geração, Neoenergia S.A. Transmissão, Satisfatório Agressivo Adequada BB-/Estável/-- brAAA/Estável/brA-1+ Comercialização Companhia de Eletricidade do Distribuição BB-/Estável/-- brAAA/Estável/-- Estado da Bahia

Companhia Energética de Distribuição BB-/Estável/-- brAAA/Estável/-- Pernambuco (CELPE)

Companhia Energética do Rio Distribuição BB-/Estável/-- brAAA/Estável/-- Grande do Norte

Elektro Redes S.A. Distribuição brAAA/Estável/-- Distribuição, Geração, Energisa S.A. Transmissão, Satisfatório Significativo Adequada BB-/Estável/-- brAAA/Estável/-- Comercialização Energisa Paraíba- Distribuidora de Distribuição BB-/Estável/-- brAAA/Estável/-- Energia S.A.

Energisa Sergipe- Distribuidora de Distribuição BB-/Estável/-- brAAA/Estável/-- Energia S.A.

EDP Espírito Santo Distribuição de Distribuição Satisfatório Significativo Adequada BB-/Estável/-- brAAA/Estável/-- Energia S.A.

EDP São Paulo Distribuição de Distribuição Satisfatório Significativo Adequada brAAA/Estável/-- Energia S.A.

Distribuição, Geração, CPFL Energia S.A. Transmissão, Satisfatório Significativo Adequada brAAA/Estável/-- Comercialização Companhia Paulista de Força e Luz Distribuição brAAA/Estável/--

Companhia Piratininga de Força e Distribuição brAAA/Estável/-- Luz

RGE Sul Distribuidora de Energia S.A. Distribuição brAAA/Estável/--

Eletrobras-Centrais Elétricas Brasileiras Distribuição, Geração, Altamente Satisfatório Adequada BB-/Estável/-- brAAA/Estável/brA-1+ S.A. Transmissão alavancado

Companhia Distribuição, Geração, Energética de Minas Altamente Menos que Transmissão, Satisfatório B/Estável/-- brA+/Estável/-- alavancado Adequada Gerais – CEMIG Comercialização

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Cemig Distribuição S.A. Distribuição B/Estável/-- brA+/Estável/--

Cemig Geração e Transmissão S.A. Geração e Transmissão B/Estável/-- brA+/Estável/--

Light Serviços de Eletricidade S.A. Distribuição Regular Significativo Adequada brAA+/Estável/brA-1+

Eneva S.A. Geração Regular Significativo Adequada brAAA/Estável/-- CESP-Companhia Energética de São Geração Regular Modesto Adequada BB-/Estável/-- brAAA/Estável/-- Paulo

Itaipu Binacional Geração Forte Significativo Adequada brAAA/Estável/-- UHE São Simão Energia S.A. Geração Satisfatório Agressivo Adequada brAAA/Estável/--

Equatorial Energia Distribuição e S.A. Regular Significativo Adequada brAAA/Estável/-- Transmissão Equatorial Para Distribuidora de Distribuição Regular Intermediário Adequada brAAA/Estável/-- Energia S.A.

Equatorial Maranhão Distribuidora de Distribuição Satisfatório Modesto Adequada brAAA/Estável/-- Energia S.A.

Equatorial Alagoas Distribuidora de Altamente Distribuição Fraco Adequada brAA/Estável/-- Energia S.A. alavancado

Integração Transmissora de Transmissão Regular Significativo Adequada brAAA/Estável/-- Energia S.A.

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Este relatório não constitui uma ação de rating.

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www.spratings.com 29 de maio de 2020 14