CAMPO E CIDADE: UMA ANÁLISE DO MUNCÍPIO DE DAVINÓPOLIS (GO)

Diego Emanoel Rodrigues Núcleo de Estudos e pesquisas Socioambientais (NEPSA/CNPq) Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão. [email protected]

Idelvone Mendes Ferreira Núcleo de Estudos e pesquisas Socioambientais (NEPSA/CNPq) Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão. [email protected]

Resumo

Este texto visa dar contribuições para a discussão rural/urbano e campo/cidade, tendo como parâmetro a peculiar configuração campo-cidade no pequeno município de Davinópolis. Nesse sentido, são apresentadas as características fundamentais da organização socioeconômica deste município. Contudo dá se ênfase aos processos de modernização da agricultura e de industrialização no Brasil, pois considera que estes processos imbricados são responsáveis, em grande parte, pela atual configuração do campo-cidade no país.Especificamente, em Davinópolis há menor intensidade da urbanização deve-se a diminuta participação destes processos.

Palavras-chave: rural/urbano. Davinópolis. modernização da agricultura. industrialização.

Introdução

O debate a respeito do tema rural/urbano e campo/cidade no Brasilintensificou-se, principalmente, a partir das últimas décadas do século XX, devido as permutações ocorridas no cenário nacional em função do avanço do capitalismo no campo, representado pela modernização da agricultura,e pela consolidação daindustrialização nos centros urbanos. Resultando na urbanização acelerada.Cabe salientar que esses processos citados ocorrem de forma diferenciada nas diversas partes do país, entende-se assim que existe uma vasta gama de configurações campo/cidade. O decreto-lei 311 de 1938 padroniza essas múltiplas realidades de campo e cidade nos diversos municípios. Dessa forma, este texto visa dar contribuições para a discussão rural/urbano e campo/cidade, tendo como parâmetro a configuração campo-cidade em um município de pequeno porte, que apresenta peculiaridades fundamentais em sua organização socioeconômica, constituindo o desafio em pensar o rural e urbano nessa região, em que o espaço citadinoestá em estrita relação com o campo.

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Ressalta-se que o espaço é construído por hábitos, costumes, crenças, forma de relacionamento e modo de vida das pessoas que os habitam. O campo como a cidade são espaços socialmente produzidos e reproduzidos. Nesse sentido, considera-se pertinente para ciência geográfica compreender como esses segmentos, campo e cidade se inter-relacionam, no intuito de apreender a complexa trama espacial das localidades. Assim, a geografia estará apta a contribuir para o desenvolvimento das regiões, no aspecto ambiental, econômico e social.

Proposições sobre campo/cidade e rural/urbano

Para pensar campo e cidadeno Brasil é preciso reportar ao processo de formação socioespacial deste território, que ocorreu desigualmente, gerando áreas densamente povoadas em oposição a outras que tiveram povoamento incipiente, demonstrando a complexidadedo tema campo/cidade no país.De forma geral, pode-se dizer que a cidadeno Brasilaté metade do século XX se encontrava isolada em relação àsáreas campestres. Realidade que vai alterar-se com o processo de industrialização nos centros urbanos combinado com o processo denominado de modernização da agricultura, ocorridos a partir da metade do século XX, reestruturando as funções desses espaços diante do interesse capitalista. A industrialização no Brasil tomaimpulso a partir da década de 1930 no período Varguista, sendo que no governo Juscelino Kubitschek a partir dos anos de 1950, o processo de industrialização continua em ritmo acelerado - permitindo inclusive a instalação de transnacionais em território brasileiro. Um fator imprescindívelà indústria é haver a disposição, contingente populacional para trabalhar nessas incipientes indústrias. Assim, os trabalhadores do campo passaram ser de interesse para as indústrias localizadas na cidade. Agindo em consonância com a industrialização nas áreas urbanas, tem-se o processo de modernização da agricultura, que introduz uma série de inovações tecnológicas para as áreas campestres. Porém, essa modernização apresenta-se conservadora e parcial (GRAZIANO DA SILVA, 1998), ao passo que conserva a injusta estrutura agrária brasileira e à medida que o acesso ao credito é viável apenas para os produtores maior porte, acarretando em dificuldades de reprodução para o segmento dosagricultores

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familiares e trabalhadores rurais.Assim, o êxodo rural origina do duplo processo de modernização do campo e da industrialização na cidade, economizando a força de trabalho no primeiro e despendendo a mesma para o último. O processo de urbanização acelera-se com a modernização agrícola e a industrialização. À cidade agora permeada pela indústria assume novas funções no contexto brasileiro. Segundo Mendonça (2005/2006, p. 19) “[...] desde a revolução industrial o termo urbanização tem sido analisado em íntima relação com a indústria. Muito estes não sejam sinônimos, deve se reconhecer que compreender a relação entre urbanização e a indústria é fundamental para entender a cidade no capitalismo.” Nessa perspectiva, a partir do processo urbanizador a cidade passa a ser o local das luzes, intensificando seu poder político-econômico, ao mesmo tempo em queirradia seu modo de pensar para as outras localidades, principalmente através do desenvolvimento dos meios de comunicação. Mas,dentro da conjuntura dos espaços urbanos, as cidades assumem importância político-econômica diferenciada constituindo uma “hierarquia urbana”.No caso brasileiro São Paulo assumiu essa posição de concentrador de bens e pessoas, a partir do pioneirismo industrial, formado, o que Silveira e Santos (2006) denominaram de região concentrada. Procurando explicitar o desenvolver do processo de industrialização e os desdobramentos dessa na realidade social, Lefebvre (1999) analisa a transformação/permutação da cidade a partir da aglomeração industrial.Para isso, o autorfaz o retrospecto histórico da edificação da cidade, destacando distintos períodos históricos, marcados portrês tipos de cidade, são elas: a política, comercial, e a industrial.1) Inicialmente têm o surgimento da cidade política, que encontrava-se ilhada por um mar campestre. A essência da cidade nesse contexto dava-se pela função politico-administrativa, consistindo em organizar as atividades rurais. 2) A cidade comercial marca o momento em que ocorre “a expansão da troca e do comércio e o surgimento de uma nova classe social - a burguesia - a cidade política foi paulatinamente substituída pela cidade mercantil e o espaço urbano se firmou com o lugar de trocas.” (NEVES, 2009, p. 6). 3) Com a indústria,a função da cidade vai além da política-administrativa ou de comercialização, passando também a ser o espaço da produção de mercadorias.

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Tendo isso em vista,este autor lança à hipótese da urbanização completa da sociedade.Segundo o autor,a tendência da humanidadeseria a constituição da sociedade urbana. Na verdade, de acordo com Lefebvre (1999), esse processo ocorre com a implosão-explosão da cidade. Primeiramente a cidade passaria a ser concentradora de pessoas, de coisas, de objetos, de instrumentos e dos meios de produção, reelaborando as formas de produção espacial, e a explosão indica a expansão do tecido urbano- industrial para o restante da sociedade. Desta maneira, esse momento histórico seria marcado por uma realidade urbana baseada na mercadoria e no valor de troca. O conceito de urbano de Lefebvre, “não nega o rural, nem é sinônimo de cidade” (SOBARZO, 2006, p. 58), de fato este autor não se prende a dicotomia rural/urbano. Esse conceito traduz uma perspectiva em relação ao caminho da sociedade, quecada vez mais esta parametrizada pelovalor da troca, sendoa realidade social balizada pelo aspecto da mercadoria. Graziano da Silva (1998), ao estudar as recentes transformações ocorridas no campo brasileiro, constatou que apartir da última década do século XX houve a redução da migração campo-cidade, quando comparada aos decênios de 1960, 1970 e 1980. No entanto, o autor identificouque um número maior de pessoas residentes nas áreas campestres está deixando de ter como atividade principal a agricultura, isso significa, que cada vez mais a população rural está dependendo das ocupações citadinas para manter a sua sobrevivência no campo.

[...] Em resumo, o que manteve as pessoas no campo brasileiro não foram as atividades agropecuárias, mas, sim, tanto as ocupações não- agrícolas – pois cerca de 1,5 milhão de pessoas residentes em áreas rurais encontram novos postos de trabalho em ocupações não- agrícolas entre 1981 e 1999 – como a ampliação da cobertura da previdência social para as áreas rurais. (SILVA; GROSSI; CAMPANHOLA, 2002, p. 45).

Graziano da Silva; Grossi; e Campanhola(2002) observam que apesar da migração campo-cidade ter se amenizado, o êxodo agrícola, ainda, resiste como reflexo do agravamento, da histórica desigualdade no campo, advindo dos desdobramentos da modernização da agricultura.Pois, a partir desta passou a exigir do produtor um padrão tecnológico elevado, que por sua vez culminou em dificuldades de inserção do agricultor familiar no mercado agrícola.

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Assim, o uso das ocupações não-agrícolas - que caracterizam o êxodo agrícola – constitui-se em estratégia de complementação da renda familiar, ou mesmo torna-se atividade principal,garantindo a reprodução do grupo familiar no campo, como é o caso do turismo rural, que vêm sendo atividade de crescente geração de empregos nas áreas campestres. Esse gradativo aumentono número de ocupações não-agrícolas no campo, conjuntamente com o elevado número de cargos administrativos que vieram a compor o meio rural e as mudanças nas relações sociais de produção, a partir da modernização da agricultura, são argumentos que fundamentam a teoria de Graziano da Silva (1998) sobre a urbanização do campo. Este sustenta a ideia de que haveria uma continuidade entre a cidade e o campo, no qual o espaço urbano e as práticas urbanas permeadas pela indústria e pela lógica da produção e reprodução do modo de produção capitalista invadem o campo, e o urbaniza. Nesse sentido, o campo e a cidade continuam como dois espaços, porém ambos urbanizados, sendo diferenciados pelo estágio de urbanização. No entanto esta teoria é alvo de criticas de outros estudiosos, por configurar-se economicista e/ou reducionista, ao passo que reduz as práticas culturais, modo de reprodução da vida dos habitantes do campo ao aspecto agrícola. Nesta análise, o rural é definido a partir de números estatísticos relativos à produção agrícola.Contudo há também a hierarquizçãodos espaços, já que o campo não é visto como um espaço propício à transformação e inovações, mas sim a urbanização. Contrapondo a ideia de urbanização do campo, Abramovay (2000) elucida o conceito de desenvolvimento rural, refutando a imagem de rural como o residual do urbano - como inclusive é definido peloDecreto-lei 311 de 1938 que define o espaço rural no Brasil a partir daquilo que não é urbano.O autor questiona essa visão de rural como algo intocável, que ao passo que passa ter interações com o espaço urbano torna-se urbanizado,rompendo com essa hierarquização dos espaços, horizontalizando a relação na medida em que o rural pode ser visto como espaço propício ao crescimento econômico -sem necessariamente se tornar urbano.

[...]Se o meio rural for apenas a expressão, sempre minguada, do que vai restando das concentrações urbanas, ele se credencia, no máximo, a receber políticas sociais que compensem sua inevitável decadência e pobreza. Se, ao contrário as regiões rurais tiveram a capacidade de preencher funções

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necessárias aos seus próprios habitantes e também as cidades – mas que estás próprias não podem produzir – então a noção de desenvolvimento poderá ser aplicada ao meio rural. (ABRAMOVAY, 2000, p.3, grifo do autor).

A partir desse pressuposto é colocada a possibilidade de pensar o rural não apenas como agente passivo na relação campo-cidade. Inclusive Abramovay (2000), influenciado pela perspectiva da Organização de Cooperação e de DesenvolvimentoEconômico (OCDE), sugere que haja uma classificação diferenciando as regiões rurais e urbanasde acordo com a dinâmica econômica regional. Nessa classificação, poderiam existir osmunicipios rurais, e nestesse encontrariam as cidades cujosua dinâmica esta associado ao meio rural. Ambas as perspectivas, tanto a do Graziano da Silva (1998), quanto do Abramovay (2000) são contribuições para a discussão que tange principalmente as transformações e perspectivas no/do campo brasileiro. Apesar dos estudos de Graziano da Silva, Grossi e Campanhola (2002) constatarem a presença intensiva do êxodo agrícola, indicando novas configurações ocupacionais para o campo, esse fato isoladamente não configura uma urbanização do campo, como salienta Abramovay (2000). No entantosão colocados novos desafios para pensá-lo. Assim, destaca nas teorias citadas anteriormente, que ambas não fazem ou pouco fazem a distinção entre termos rural/urbano, campo/cidade. Na abordagem territorial de Abramovay (2000), o campo e a cidade estão implícitos na denominação de urbano e rural, bem como ocorre na definição oficial utilizada pelo Instituto Brasileiro de geografia e estatística (IBGE). Já Graziano da Silva (1998), não se prende ao aspecto cultural e ao modo de vida da população rural. Sua teoria está baseada no âmbito das funções econômicas de cada espaço. Essas concepções não se focaram na avaliação de questões relativas a valores culturais e costumes. Sendo esses elementos imprescindíveis para se compreender a relação rural/urbano e as transformações que essa interação projeta sobre o espaço, tanto no urbano como no rural. Nessa perspectiva, a utilização dos termos urbano e rural vem sendo trabalhada fora da delimitação territorial da cidade ou do campo, buscando a subjetividade das relações. Trazendo a discussão para o aspecto cultural, Carneiro (1998), contrapõe-se a ideia de subversão do rural para o urbano. Na concepção desta autora,o rural não é diluído a

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partir da disseminação do urbano, mas sim transformado e reconstruído. Nessa dimensão, o rural não é concebido enquanto cultura congelada, mas algo que ao longo do processo capitalista de produção recebe novos elementos, que por sua vez influem na sua dinâmica, no entanto não há a substituição de uma cultura por outra, o que ocorre é a produção de algo novo nem urbano nem rural. Como salienta Carneiro (1998).

Esse conjunto de reflexões nos leva a pensar a ruralidade como um processo dinâmico de constante reestruturação dos elementos da cultura local com base na incorporação de novos valores, hábitos e técnicas. Tal processo implica um movimento em dupla direção no qual identificamos, de um lado, a reapropriação de elementos da cultura local a partir de uma releitura possibilitada pela emergência de novos códigos e, no sentido inverso, a apropriação pela cultura urbana de bens culturais e naturais do mundo rural, produzindo uma situação que não se traduz necessariamente pela destruição da cultura local mas que, ao contrário, pode vir a contribuir para alimentar a sociabilidade e reforçar os vínculos com a localidade. Desse encontro, como observa Rambaud, nasce uma cultura singular que não é nem rural nem urbana, com espaços e tempos sociais distintos de uma e de outra. (RAMBAUD, 1969 apud CARNEIRO, 1998, p. 62).

Para compreender o rural é necessário ir além da agricultura. Este espaço é construído por pessoas através do seu modo de pensar, agir, e se relacionar com os outros e o meio. Épreciso aceitar o mundo rural dentro do modo de produção capitalista assumindo feições e facetas diferenciadas no tempo e no espaço. Assim, como a cidades vêm assumindo variedades de formas em diferentes regiões desde a sua origem, o espaço campestre também é reestruturado de acordo com os interesses capitalistas. Nesse ponto de vista concorda-se com Rua (2006), quando diz que o capitalismo reorganiza o espaço geográfico como solução parcial para suas crises e seus impasses, construindo e reconstruindo uma geografia de acordo a sua necessidade de produção e reprodução. Para o autor, ocapitalismo

[...] constrói uma paisagem geográfica distintiva, um espaço produzido de transportes e comunicações, de infra-estruturas e organizações territoriais, o que facilita a acumulação do capital durante uma fase de sua história, apenas para ter de ser destruído e reconfigurado numa fase posterior. (RUA, 2006, p. 96).

Assim, com o surgimento de novas técnicas e tecnologias, barreiras físicas de difícil transposição foram superadas, comprimindo o distanciamento entre o campo e a cidade. Por isso o desafio da delimitação de rural/urbano parece impreciso e de difícil assimilação, mesmo porque esta dentro de um processo mais geral e complexo em

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constante transformação, permutando campo e cidade. Nesse aspecto, observa-se a pertinência da noção de espaço hibrido (RUA, 2006) gestado na interação horizontal dos dois ambientes,em que o rural interfere na produção espacial da cidade, como o urbano se reproduz em meio ao campo. Isolar,no intuito de definir separadamente,campo e cidade significa perder a dimensão da totalidade das relações e fragmentar demasiadamente a realidade.É necessário compreender que campo e cidade são imbricados, o que ocorre no campo está sutilmente atrelado com os acontecimentos na cidade e vice-versa, por isso a discussão sobre esse tema necessita ser embebida da dinâmica dos processos que criam, recriam e transformam o espaço geográfico. Dessa forma, o que ocorre no campo bem como na cidade isoladamente são apenas fragmentos da realidade que somente pode ser entendida a partir das relações entre esses espaços. Ressalva-se que o espaço não é dissociado, e sim uno e diferenciado.

O desafio de pensar o rural e o urbano em município de pequeno porte: uma análise da realidade de Davinópolis (GO)

Neste item, busca-se elucidar a apreensão da relação cidade/campo a partir da realidade de um pequeno município,em que segundo os critérios oficiais do IBGE a sua sede é considerado espaço urbano, representado territorialmente pela cidade. Nesse sentido, procura-se investigar a dinâmica espacial do município de Davinópolis (GO), tendo por base dados populacionais derivados de censos realizados em 1980, 1991, 2000 e 2010, bem como informações socioeconômicas da atualidade,disponibilizados pela Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento(SEGPLAN) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, observando as peculiaridades da relação entre campo/cidade neste município. Davinópolis está localizado a sudeste da Unidade Federativa de Goiás,especificamente na Microrregião Geográfica de Catalão com uma área de 481,296km2(IBGE, 2010), limita-se de nordeste a leste com omunicípio de Catalão e a Oeste com omunicípio de , sendo estes pertencentes ao Estado de Goiás, já quanto à divisa sul-sudesteo Rio Paranaíba éa fronteiracom a Unidade Federativa de . As Coordenadas

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Geográficas de Davinópolis correspondem ao intervalo dos paralelos de 17º57’ e 18º15’ de latitude Sul e os meridianos de 47º45’ e de 47º27’ de longitude Oeste. Davinópolisteve sua formação político-territorial derivada dodesmembramento de Catalão (GO), recebendo o título de município no dia 14de novembro do ano de 1963. Segundo Melo (2008), o princípio desua formação data de por volta da década de 1950, com a doação de uma área de 10000m2 próxima á confluência do Rio São Marcos com o São Bento, realizada precisamente no ano de 1948 pelo senhor José David de Souza e sua esposa, á prefeitura de Catalão com o objetivo de se construir uma escola rural naquele espaço (SILVA, 2000). Com a edificação deste centro de ensino começaram a surgir nos arredores algumas residências que foram gradativamente formando o povoado, que inicialmente recebeu a denominaçãode Grupo, tendo como referência o grupo escolar.Posteriormente houve a construção das pontes dos Rios São Marcos e São Bento, respectivamente em 1950 e 1952, impulsionando a inserção do incipiente povoado na economia regional, que nesse momento também passou a ser chamado de Barra, devido à proximidade que este se encontra da margem do Rio São Bento. Aliás, comumente este termo ainda é utilizado para designar a cidade de Davinópolis. Passados 48 anos de sua emancipação, o município de Davinópolis possuisegundo o Censo 2010 (IBGE) uma população de 2056 habitantes, dispersos por uma área de 481,296Km2.A densidade demográfica do município corresponde a 4,27 habitantes por Km2(SEPLAN, 2010). Já no âmbito da distribuição populacional entre campo e cidade,os dados do SEPLAN revelam que desdeo ano 1980 o município tem apresentado acréscimo dapopulaçãono espaço citadino e perda gradativa do contingente populacional no campo. Em 1980 eram 2450 habitantes ao total no município, a população rural representava o percentual de 75,4%, enquanto a população urbana detinha 24,6% do total.Três décadas após, no ano de 2010 a população rural da região despencou para o índice de 31,8%, em oposição aos 68,2% de população urbana. A Tabela 1 demonstra detalhadamente essas oscilações percentuais.

Tabela 1- Município de Davinópolis: Evolução da população rural, urbana e total (%). População/ano 1980-91 1991-2000 2000-10 População rural -36,5% -19,2% -19,5% População Urbana 56,8% 58,7% 8,1%

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População Total -13,5% -0,4% -2,5%

Fonte: Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (SEGPLAN-GO) – 1980,1991, 2000, 2010. Org.: Rodrigues (2011).

Observando as variações dos dados da demografia rural e urbana, pode-se afirmar que ouve urbanização no município nas duas últimas décadas do século XX,alinhando-se com a tendência geral de urbanização brasileira que tomou impulso a partir do último terço do século XX. Porém,destaca-se no caso davinopolinomenor intensidade deste processo,(ver Gráfico 1)e a acentuada emigração ocorrida no município, atingindo no intervalo de 1980 a 1991 uma taxa de decréscimo da população de 13,5%.Segundo alguns autores como Melo (2008), em grande parte,essa migração intermunicipal,se deve a perspectivada população – inclusive dos habitantes do campo – desse município em melhorar suas condições de vida,encontrar-se alinhadas com a migração para as cidades vizinhas que apresentam maior dinamicidade econômica.Sendo os jovens a faixa etária com mais ímpeto para realizar tais migrações.Em decorrência dessa constatação Melo (2008), em seu estudo sobre as pequenas cidades da Microrregião Geográfica de Catalão, verificou o envelhecimento da população nestes municípios, dentre os quais está Davinópolis. Segundo a autora

oenvelhecimento populacional, nas pequenas cidades da microrregião de Catalão, tem relação com a migração de jovens e pessoas economicamente ativas para centros maiores, em função da baixa capacidade de reter essa população [...] (MELO, 2008, p. 473).

No tocante á distribuição de população rural e urbana no município davinopolino, pode se observar através do Gráfico 1 que este município, em relação as médias microrregional, estadual e nacional apresenta menor índice de urbanização, em termos demográficos. Enquanto o estado de Goiás apresenta um índice de 90,2% de população urbana, Davinópolis apresenta o índice de 68,19%. Com relação à urbanização da Microrregião de Catalão e da República Federativa do Brasil, a diferença está no patamar de 16,2% e 16,17% respectivamente.

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Gráfico 1–Davinópolis comparada às médias Microrregional, Estadual e Nacional: diferenças entre população urbana e rural em % em 2010

100% 90,20% 84,39% 84,36% 90%

80% 68,19% 70% 60% 50% 40% 31,80% 30% 15,60% 15,64% 20% 9,71% 10% 0% Davinópolis Microrregião de Goiás Brasil Catalão

população urbana População rural

Fonte: Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (SEGPLAN-GO) – 2010 e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – 2010 Org.: Rodrigues (2011).

Este Gráfico demonstra as escalas territoriais a qual Davinópolisestá submetido. Constatando em ambas as escalas (regional, estadual e nacional) que a quantidade de pessoas nas áreas citadinas é proporcionalmente maior em relação ao município davinopolino. Isso demonstra que a distribuição populacional entre campo e cidade e Davinópolis élhe peculiar, e que isso se deve a sua a dinâmica interna e sua rede de relações no âmbito regional. Nesse sentido, realizou-se uma análise pormenorizada da distribuição populacional entre campo e cidade na Microrregião de Catalão. Para issocomparouos percentuais de população urbana do município de Davinópolis comasdos demais municípios que compõem a Microrregião de Catalão, pôde constatar que o referido município é o que apresenta o menor índice de população urbana.Sendo assim, Davinópolis proporcionalmente é o município com maior índice de pessoas no campo dentro do contexto da Microrregião de Catalão. O gráfico 1elucida essa verificação.

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Gráfico 2 – Microrregião de Catalão: diferenças entre população urbana e rural em % 2010

100% 93,90% 93,55% 90,86% 86,21% 86,22% 88,04% 88,24% 81,69% 74,19% 77,20% 80% 68,19%

60%

40%

20%

0%

população urbana População rural

Fonte: Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (SEGPLAN-GO) – 2010 e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – 2010. Org.: Rodrigues (2011).

Entender as causas que levam Davinópolis a ser comparativamente, em relação aos demais da Microrregião, o demaior equilíbrio entre as populações urbana e rural,perpassa pela compreensão do desenvolvimento dos processos que contribuíram diretamente para o êxodo rural, são eles: a industrialização e a modernização da agricultura. Em relaçãoa este último cabe ressaltar a sua menor participação no campo davinopolino em comparação a outros municípios da Microrregião de Catalão. Pode-se utilizar o quantitativo de maquinários na região para respaldartal observação,segundo o IBGE (2006),o município de Davinópolis apresentavaem 2006 o número total de 38 tratores, sendo que estes estavam presentes em 3,84% dos estabelecimentos agropecuários, enquanto a Microrregião de Catalão e o Estado de Goiás apresentavam, respectivamente, os índices de 15,46% e 18,12% de estabelecimentos com posse de tratores. Quanto à industrialização apresenta-se incipiente, não há no município quantidade significativa de empreendimentos industriais, sendo que Mello (2008, p. 235) registrou “[...] em 2005, a existência de apenas dois estabelecimentos industriais no município, uma cerâmica (produção de telhas e tijolos), e um laticínio que produz queijo mussarela.”

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Assim, a economia do município é majoritariamente advinda da produção agrícola. Sendo desenvolvida, de modo geral, a agropecuáriaé baseada em técnicas tradicionais, inclusive observa-se o número elevado de estabelecimentos que têm como atividade principal a pecuária. Esse fato pode ser comprovado com base nos dados do SEPIN (2006) quando se demonstra o elevado percentual de pastagens existentes no município, sendo inclusive um dos municípios da Microrregião de Catalão com maior área de terras disponibilizadas para essa atividade.Como pode ser observado no Quadro 1. Quadro 1 – Utilização de terras: percentual de terras ocupadas com pastagens– 2010

Munícipio Pastagens em % do total de terras utilizadas

Anhanguera 71,9%

Campo Alegre de Goiás 39,0% Catalão 49,2% Corumbaíba 71,4% 75,9% Davinópolis 74,9% 68,9% 53,1% Nova Aurora 58,0% Ouvidor 90,4% Três Ranchos 82,5%

Microrregião de Catalão 56,2% Goiás 61,1%

Fonte: Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (SEGPLAN-GO) – 2006 Org.: Rodrigues (2012)

Apesar de Davinópolis está entre os municípios que mais utilizam terras para pastagens, como pode ser observado através do Quadro número 1, omunicípio acaba por não apresentar produtividade alta com relação á atividade pecuarista, em comparação aos outros municípios. Fazendo-seuma correlação da quantidade de animais com o total de pastagens do campodavinopolino, o município possui o índice de 0,95% de hectare por animal. Enfatiza que este dado considera o fato de Davinópolis apresentar em sua predominância a atividade da pecuária extensiva,e ainda consideraos animais presentes na região habituados a pastagem como forma de alimentação, sendo estes da família Bovidae (bovino, bubalino, ovinos e caprinos), e Equidae(equino, muares e

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asininos).Com isso,ressalta-seque a pecuária apesar de apresentar-se fundamental na dinâmica econômica do campo davinopolino, ela não é realizada intensivamente. Quanto à organização do espaço agrário brasileiro Melo (2008) exibe a configuração fundiária do munícipio, a partir dos registros de propriedades noInstituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) no ano de 2005,segundo a autora, 70,67% das propriedades registradas possuíamsua área no intervalo de 0 á 120 ha, enquanto 24,8% estão entre 120 a 450ha, e 4,63% apresentam número de ha superior a 450ha. Esses números apresentado por Melo (2008) não demonstram estrondosa desigualdade fundiária - apesar dela existir- como podem ser percebidos em outras regiões. Com os dados e as considerações de Melo (2008) pode-se observar que Davinópolis dentro,no contexto da Microrregião de Catalão, em termos econômicos, não apresenta efetiva participação, tendo na agropecuária a base da economia da região. Sendoa pecuária extensiva a principal atividade, percebe-se que issose deve ao fato da pecuária apresentar-se mais viável para os pequenos produtores, que geralmente despedem de poucos recursos financeiros e humanos para investir nesta atividade. No entanto, destaca-se no âmbito social que o município davinopolino não demostra desigualdades sociais avultantes, secomparado aos municípios com maior desempenho econômico na microrregião de Catalão, isso pode ser averiguado através do índice de Gini, que é um dado utilizado para avaliar as desigualdades sociais, e vai de 0 (nenhuma desigualdade social) até 1 (extrema desigualdade social). Davinópolis apresenta o índice de 0,38 (SEPIN, 2000) e em comparação aos outros municípios da Microrregião de Catalão, Davinópolis ocupa a terceira posição no quesito município mais igualitário. Tendo em vista que Davinópolispossui proporcionalmente no campo ainda quantidade significativa de sua população, onde boa parte desses são agricultores familiares,crê-se que o crescimento econômico para a região está imbricado com a melhoria das condições técnico-financeiras para o campo. Contudo, entender o campo e a cidade em Davinópolis perpassa por toda essa dinâmica agrária do Munícipio. A cidade têm como função assegurar a população alguns serviços básicos como saúde e educação. Quanto ao nível do comércio e da indústria que nela se desenvolvem são relacionadas basicamente a satisfação das necessidades sociais e econômicas da região, dessa forma os estabelecimentos que se apresentam presentes são mercados, restaurantes, Lan House, posto de gasolina, bares e estabelecimentos que

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vendem produtos agropecuários e de construção. De acordo com esta proposição, Melo (2008, p. 313-314) afirmaque

asatividades econômicas realizadas nas cidades de Cumari, Davinópolis, Goiandira, e Nova Aurora são pouco complexas, assim como na maioria das pequenas cidades da área em estudo. São basicamente compostas por um comércio de produtos básicos para o atendimento de necessidades elementares dos residentes urbanos e do entorno rural, pouco especializado; a indústria existente é de pequeno porte, baixo investimento e receita; os serviços são de baixa complexidade, quase que se limitando aos prestados por órgãos e ou vinculados à administração estatal. [...] (MELO, 2008, p. 313- 314).

Com relaçãoà questão da administração estatal, percebe-se que na ausência da efetividade do setor de serviços e indústria, o Estado, representado pela prefeitura municipal, aparece como importante agente dinamizador da economia urbanade Davinópolis. A mesma autora coloca que o Estado

[...]tem papel central nas pequenas cidades e nas vidas de seus moradores, pela atuação em políticas de assistência social e de complemento de renda. Há, inclusive, relações de dependência da população local em relação ao poder público. Além desses aspectos, a centralidade do poder público é reforçada pela oferta de emprego, visto que, nessas cidades, os órgãos estaduais e municipais são, em geral,as principais fontes de empregos. (MELO, 2008, p. 479).

Tendo em vista a dinâmica estrutural de campo-cidade em Davinópolis averígua-se que estes espaços são muitos próximosno sentido que um complementa o outro, nocaso da cidade há elevada influência do meio campestre na vida cotidiana.Isso demonstra que a pequena cidade de Davinópolis apresenta características que lhes são próprias, lembrando-se de Rua (2006), parece nos apropriado o conceito de hibridezdo espaço para compreender o espaço citadino deste município.

Considerações finais

Este texto buscou elucidar uma fração da diversidade de teorias que discutem a questão do rural e do urbano, destacando a influência dos processos de modernização da agricultura e industrialização. Sendo que estes imbricados contribuíram significativamente para o poder concentrador da cidade, que a partir da industrialização passou a ser o local de concentração de pessoas e objetos, assumindo a posição de lócus

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da produção e reprodução.Todavia é preciso compreender que a cidade não é algo padronizado.Quando se pensa em cidades no contexto brasileironão é possível conceber um modelo pré-definido pela complexidade e diversidade dos aglomerados urbanos. E o mesmo se aplica ao campo que não pode ser visto enquanto o residual da cidade. Tendo em vista, as noções de cidades politica, comercial e industrial colocada por Lefebvre,se observa que a configuraçãocidade-campo foi sendo modificada ao longo do tempo e do espaço. Assim, atualmentepodese encontrar todas essas configurações cidade-campo.Na verdade, com a crescente compressão do espaço, por meio do advento dos meios de comunicação e transportes, os municípios cada vez mais vão assumindo feições peculiares derivadas da sua relação em âmbito regional, estadual ou mesmo nacional, bem como da relação entre campo e cidade.

Nesse sentido, destaca-se a complexatrama rural/urbanopresente em municípios de pequeno porte. No caso de Davinópolis a cidade apresenta incipiênciano que tange as características urbano-industriais. Porém,averígua-se que a economia do município estápautada na atividade agrícola, assimo espaço produzido na cidadedessa região resulta da íntima relação com o campo. Por fim, considera-se imprescindível,para o planejamento de politicas públicas para o desenvolvimento econômico, social e ambiental das localidades, entender a interdependência entre campo e cidade, assim sendo possível averiguara dinâmica do município como um todo.No caso deDavinópolis, algumas constatações são preocupantes como é o caso do processo de diminuição populacional, que está em curso no município desde fins do século XX. Crê-se que a mitigação desse problema em Davinópolis está intrincada com politícas que busquem melhorias para o campo davinopolino, já que as atividades campestres são á base da economia davinopolina.

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