Campo E Cidade: Uma Análise Do Município De Davinópolis (Go)
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CAMPO E CIDADE: UMA ANÁLISE DO MUNCÍPIO DE DAVINÓPOLIS (GO) Diego Emanoel Rodrigues Núcleo de Estudos e pesquisas Socioambientais (NEPSA/CNPq) Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão. [email protected] Idelvone Mendes Ferreira Núcleo de Estudos e pesquisas Socioambientais (NEPSA/CNPq) Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão. [email protected] Resumo Este texto visa dar contribuições para a discussão rural/urbano e campo/cidade, tendo como parâmetro a peculiar configuração campo-cidade no pequeno município de Davinópolis. Nesse sentido, são apresentadas as características fundamentais da organização socioeconômica deste município. Contudo dá se ênfase aos processos de modernização da agricultura e de industrialização no Brasil, pois considera que estes processos imbricados são responsáveis, em grande parte, pela atual configuração do campo-cidade no país.Especificamente, em Davinópolis há menor intensidade da urbanização deve-se a diminuta participação destes processos. Palavras-chave: rural/urbano. Davinópolis. modernização da agricultura. industrialização. Introdução O debate a respeito do tema rural/urbano e campo/cidade no Brasilintensificou-se, principalmente, a partir das últimas décadas do século XX, devido as permutações ocorridas no cenário nacional em função do avanço do capitalismo no campo, representado pela modernização da agricultura,e pela consolidação daindustrialização nos centros urbanos. Resultando na urbanização acelerada.Cabe salientar que esses processos citados ocorrem de forma diferenciada nas diversas partes do país, entende-se assim que existe uma vasta gama de configurações campo/cidade. O decreto-lei 311 de 1938 padroniza essas múltiplas realidades de campo e cidade nos diversos municípios. Dessa forma, este texto visa dar contribuições para a discussão rural/urbano e campo/cidade, tendo como parâmetro a configuração campo-cidade em um município de pequeno porte, que apresenta peculiaridades fundamentais em sua organização socioeconômica, constituindo o desafio em pensar o rural e urbano nessa região, em que o espaço citadinoestá em estrita relação com o campo. 1 Ressalta-se que o espaço é construído por hábitos, costumes, crenças, forma de relacionamento e modo de vida das pessoas que os habitam. O campo como a cidade são espaços socialmente produzidos e reproduzidos. Nesse sentido, considera-se pertinente para ciência geográfica compreender como esses segmentos, campo e cidade se inter-relacionam, no intuito de apreender a complexa trama espacial das localidades. Assim, a geografia estará apta a contribuir para o desenvolvimento das regiões, no aspecto ambiental, econômico e social. Proposições sobre campo/cidade e rural/urbano Para pensar campo e cidadeno Brasil é preciso reportar ao processo de formação socioespacial deste território, que ocorreu desigualmente, gerando áreas densamente povoadas em oposição a outras que tiveram povoamento incipiente, demonstrando a complexidadedo tema campo/cidade no país.De forma geral, pode-se dizer que a cidadeno Brasilaté metade do século XX se encontrava isolada em relação àsáreas campestres. Realidade que vai alterar-se com o processo de industrialização nos centros urbanos combinado com o processo denominado de modernização da agricultura, ocorridos a partir da metade do século XX, reestruturando as funções desses espaços diante do interesse capitalista. A industrialização no Brasil tomaimpulso a partir da década de 1930 no período Varguista, sendo que no governo Juscelino Kubitschek a partir dos anos de 1950, o processo de industrialização continua em ritmo acelerado - permitindo inclusive a instalação de transnacionais em território brasileiro. Um fator imprescindívelà indústria é haver a disposição, contingente populacional para trabalhar nessas incipientes indústrias. Assim, os trabalhadores do campo passaram ser de interesse para as indústrias localizadas na cidade. Agindo em consonância com a industrialização nas áreas urbanas, tem-se o processo de modernização da agricultura, que introduz uma série de inovações tecnológicas para as áreas campestres. Porém, essa modernização apresenta-se conservadora e parcial (GRAZIANO DA SILVA, 1998), ao passo que conserva a injusta estrutura agrária brasileira e à medida que o acesso ao credito é viável apenas para os produtores maior porte, acarretando em dificuldades de reprodução para o segmento dosagricultores 2 familiares e trabalhadores rurais.Assim, o êxodo rural origina do duplo processo de modernização do campo e da industrialização na cidade, economizando a força de trabalho no primeiro e despendendo a mesma para o último. O processo de urbanização acelera-se com a modernização agrícola e a industrialização. À cidade agora permeada pela indústria assume novas funções no contexto brasileiro. Segundo Mendonça (2005/2006, p. 19) “[...] desde a revolução industrial o termo urbanização tem sido analisado em íntima relação com a indústria. Muito estes não sejam sinônimos, deve se reconhecer que compreender a relação entre urbanização e a indústria é fundamental para entender a cidade no capitalismo.” Nessa perspectiva, a partir do processo urbanizador a cidade passa a ser o local das luzes, intensificando seu poder político-econômico, ao mesmo tempo em queirradia seu modo de pensar para as outras localidades, principalmente através do desenvolvimento dos meios de comunicação. Mas,dentro da conjuntura dos espaços urbanos, as cidades assumem importância político-econômica diferenciada constituindo uma “hierarquia urbana”.No caso brasileiro São Paulo assumiu essa posição de concentrador de bens e pessoas, a partir do pioneirismo industrial, formado, o que Silveira e Santos (2006) denominaram de região concentrada. Procurando explicitar o desenvolver do processo de industrialização e os desdobramentos dessa na realidade social, Lefebvre (1999) analisa a transformação/permutação da cidade a partir da aglomeração industrial.Para isso, o autorfaz o retrospecto histórico da edificação da cidade, destacando distintos períodos históricos, marcados portrês tipos de cidade, são elas: a política, comercial, e a industrial.1) Inicialmente têm o surgimento da cidade política, que encontrava-se ilhada por um mar campestre. A essência da cidade nesse contexto dava-se pela função politico-administrativa, consistindo em organizar as atividades rurais. 2) A cidade comercial marca o momento em que ocorre “a expansão da troca e do comércio e o surgimento de uma nova classe social - a burguesia - a cidade política foi paulatinamente substituída pela cidade mercantil e o espaço urbano se firmou com o lugar de trocas.” (NEVES, 2009, p. 6). 3) Com a indústria,a função da cidade vai além da política-administrativa ou de comercialização, passando também a ser o espaço da produção de mercadorias. 3 Tendo isso em vista,este autor lança à hipótese da urbanização completa da sociedade.Segundo o autor,a tendência da humanidadeseria a constituição da sociedade urbana. Na verdade, de acordo com Lefebvre (1999), esse processo ocorre com a implosão-explosão da cidade. Primeiramente a cidade passaria a ser concentradora de pessoas, de coisas, de objetos, de instrumentos e dos meios de produção, reelaborando as formas de produção espacial, e a explosão indica a expansão do tecido urbano- industrial para o restante da sociedade. Desta maneira, esse momento histórico seria marcado por uma realidade urbana baseada na mercadoria e no valor de troca. O conceito de urbano de Lefebvre, “não nega o rural, nem é sinônimo de cidade” (SOBARZO, 2006, p. 58), de fato este autor não se prende a dicotomia rural/urbano. Esse conceito traduz uma perspectiva em relação ao caminho da sociedade, quecada vez mais esta parametrizada pelovalor da troca, sendoa realidade social balizada pelo aspecto da mercadoria. Graziano da Silva (1998), ao estudar as recentes transformações ocorridas no campo brasileiro, constatou que apartir da última década do século XX houve a redução da migração campo-cidade, quando comparada aos decênios de 1960, 1970 e 1980. No entanto, o autor identificouque um número maior de pessoas residentes nas áreas campestres está deixando de ter como atividade principal a agricultura, isso significa, que cada vez mais a população rural está dependendo das ocupações citadinas para manter a sua sobrevivência no campo. [...] Em resumo, o que manteve as pessoas no campo brasileiro não foram as atividades agropecuárias, mas, sim, tanto as ocupações não- agrícolas – pois cerca de 1,5 milhão de pessoas residentes em áreas rurais encontram novos postos de trabalho em ocupações não- agrícolas entre 1981 e 1999 – como a ampliação da cobertura da previdência social para as áreas rurais. (SILVA; GROSSI; CAMPANHOLA, 2002, p. 45). Graziano da Silva; Grossi; e Campanhola(2002) observam que apesar da migração campo-cidade ter se amenizado, o êxodo agrícola, ainda, resiste como reflexo do agravamento, da histórica desigualdade no campo, advindo dos desdobramentos da modernização da agricultura.Pois, a partir desta passou a exigir do produtor um padrão tecnológico elevado, que por sua vez culminou em dificuldades de inserção do agricultor familiar no mercado agrícola. 4 Assim, o uso das ocupações não-agrícolas - que caracterizam o êxodo agrícola – constitui-se em estratégia de complementação da renda familiar, ou mesmo torna-se atividade principal,garantindo a reprodução do grupo familiar no campo, como é o caso do turismo rural, que vêm sendo atividade de crescente geração de empregos nas áreas campestres. Esse gradativo aumentono número de