Universidade Estadual de Instituto de Geociências Departamento de Geografia

FELIPE FACCI INGUAGGIATO

ANÁLISE DO CRESCIMENTO URBANO NO MUNICÍPIO DE (SP) COM AUXÍLIO DE GEOTECNOLOGIAS

Campinas

2015

Universidade Estadual de Campinas Instituto de Geociências Departamento de Geografia

Felipe Facci Inguaggiato

Análise do crescimento urbano no município de Engenheiro Coelho (SP) com auxílio de geotecnologias

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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Geografia

Orientador: Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias

Campinas

2015

Ficha catalográfica Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Geociências Márcia A. Schenfel Baena - CRB 8/3655

Inguaggiato, Felipe Facci, 1992- In49a IngAnálise do crescimento urbano no município de Engenheiro Coelho (SP) com o auxílio de geotecnologias / Felipe Facci Inguaggiato. – Campinas, SP : [s.n.], 2015.

IngOrientador: Lindon Fonseca Matias. IngTrabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

Ing1. Geotecnologia. 2. Urbanização - Engenheiro Coelho (SP). I. Matias, Lindon Fonseca,1965-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações adicionais, complementares

Título em outro idioma: Analysis of urban growth in the municipality of Engenheiro Coelho (SP) with the help of geotechnologies Palavras-chave em inglês: Geoprocessing Urbanization - Engenheiro Coelho (SP) Titulação: Bacharel Banca examinadora: Cinthia de Almeida Galindo Danubia Caporusso Bargos Data de entrega do trabalho definitivo: 10-12-2015

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaria de agradecer aos meus pais e à toda minha família, aos que estão presentes e aos ausentes, que me deram suporte todos estes anos, que lutaram e se esforçaram para me auxiliar a concluir esta etapa de minha vida. Em segundo lugar, aos professores da graduação que lecionaram e auxiliaram para a expansão do aprendizado, e em especial ao professor Lindon Fonseca Matias, que me orientou desde agosto de 2014.

Por fim, agradeço aos amigos, tanto aos dentro quanto aos fora da faculdade, que me apoiaram nos momentos ruins e não fizeram desistir desta jornada. Também aos amigos que, me auxiliaram por toda a graduação, em momentos de dúvidas, e por todos os pequenos momentos que me fizeram chegar até o fim desta etapa.

Aprendi muito nesta etapa de minha vida, e garanto que nunca irei esquecer cada momento que passei. A partir de agora é uma nova etapa de minha vida, e como geógrafo buscarei atingir todos os meus objetivos.

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Análise do crescimento urbano no município de Engenheiro Coelho (SP) com auxílio de geotecnologias

RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso

Felipe Facci Inguaggiato

Desde a década de 1960, mesmo antes do município de Engenheiro Coelho ser emancipado em 1991, a área que hoje constitui seus limites administrativos vem sofrendo um significativo crescimento populacional e urbano. Em 1960, ainda enquanto uma colônia da Fazenda São Pedro no município de Arthur Nogueira, contava com 0,27 km² de área urbanizada. Atualmente, dados obtidos através de técnicas de geoprocessamento revelam uma área urbanizada de 8,27 km², e que o número de habitantes em pouco menos de 60 anos chegou a 18.343 habitantes. Com isto, é possível observar que o município passou por processo de urbanização com consequente expansão de sua mancha urbana, que inclusive demonstra os primeiros sinais de espraiamento, evidenciados pelo recente surgimento de loteamentos fechados encontrados em parcelas mais distantes da mancha urbana principal. Vale ressaltar que, mesmo com urbanização em pleno crescimento, a agricultura ainda é um setor forte no município, na qual são predominantes as produções de citrus e cana-de-açúcar, todas estas voltadas para as grandes indústrias alocadas no município e na região. Neste contexto, o principal objetivo deste trabalho de conclusão de curso é buscar o entendimento da expansão urbana no município de Engenheiro Coelho, bem como diagnosticar como ela vem ocorrendo, ou seja, suas tendências, a partir da análise dos usos e ocupação da terra com detalhamento intraurbano. Desta forma, intenciona-se que este estudo auxilie futuramente em tomadas de decisões no âmbito da gestão e do planejamento urbano, sempre em benefício da sociedade.

Palavras chave: Engenheiro Coelho, urbanização, geotecnologias.

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Analysis of urban growth in the municipality of Engenheiro Coelho (SP) with the help of geotechnologies

ABSTRACT

Felipe Facci Inguaggiato

Since the decade of 1960, even before the municipality of Engenheiro Coelho had been emancipated in 1991, the area which today constitutes its administrative limits has been subjected to a significant population and urban growth. In 1960, still as a colony of São Pedro farm at the municipality of Arthur Nogueira,it counted with 0,27km² of urban area. Nowadays, from data obtained through techniques of geoprocessing, it shows a urban area with 8,27 km², and the population, in less than 60 years, reached 18.343 inhabitants. Therefore it is possible to observe that the municipality suffered a process of urbanization with an expansion of its urban sprawl, that even show us its first signs of spreading, evidenced by the recent emergence of closed allotments localized far away from the main sprawl. It is noteworthy that even under a urbanization in full growth, the agriculture is still kept as a strong sector of economical activity at the municipality, with a predominance of production of citrus and sugar cane, all of them focused on the big industries allocated at the municipality and the region. Within this context, the main purpose of this course conclusion work is to seek the understanding of the urban expansion at the municipality of Engenheiro Coelho and how it has been occurring as well, that is, its trends based on the analysis of the uses and the land occupation with intraurban detailing. Thus, it is expected that such study may be helpful in future decision- making of the management and urban planning, always for the benefit of the society.

Keywords: Engenheiro Coelho, geoprocessing, urban space.

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Índice de Tabelas

Tabela. 1. Crescimento absoluto populacional, crescimento vegetativo e saldo 17 migratório de Engenheiro Coelho, Campinas e RMC de 2000 a 2007 Tabela 2. Taxa Geométrica de Crescimento Anual da População (Em % a.a.) 21 de Engenheiro Coelho, Campinas e da RMC Tabela 3. População Total de Engenheiro Coelho, Campinas e da RMC 23 Tabela 4. Grau de urbanização a partir dos anos 2000 dos municípios de 23 Engenheiro Coelho e Campinas, e da RMC em % Tabela 5. Classificação intraurbana GEOGET 31 Tabela 6. Área urbanizada do município de Engenheiro Coelho (1965-2015) 34 Tabela 7. Área total dos usos rural e urbano do município de Engenheiro 36 Coelho (2015) Tabela 8. Usos da terra no município de Engenheiro Coelho (2015) 37 Tabela 9. Usos intraurbano do município de Engenheiro Coelho (2015) 40

Índice de Figuras

Figura 1. População urbana nas Grandes Regiões, comparação 1940 e 2000 7 Figura 2. Mapa da evolução da área urbanizada da Região Metropolitana de 13 Campinas (1965-2010) Figura 3. Vetores de expansão urbana da Região Metropolitana de Campinas 14 Figura 4. Localização do município de Engenheiro Coelho 22 Figura 5. Modelo de Elevação Digital (MDE) do município de Engenheiro 27 Coelho Figura 6. Bacias Hidrográficas presentes no município de Engenheiro Coelho 28 Figura 7. Fluxograma dos procedimentos metodológicos 29 Figura 8. Classe de uso e ocupação da terra identificadas no município de 32 Engenheiro Coelho Figura 9. Mapa da expansão urbana do município de Engenheiro Coelho 35 Figura 10. Mapa de uso e ocupação da terra do município de Engenheiro 38 Coelho Figura 11. . Residências na Área Central do município de Engenheiro Coelho 39 Figura 12. Residenciais Fechados do município de Engenheiro Coelho 39 Figura 13. Gráfico dos usos intraurbano do município de Engenheiro Coelho 41 (2015)

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Figura 14. Uso da terra intraurbano do município de Engenheiro Coelho 42 Figura 15. Conjunto Habitacional Horizontal 43 Figura 16. Indústria TRW Automotive, Engenheiro Coelho 44 Figura 17. Igreja no município de Engenheiro Coelho 45 Figura 18. Praça no município de Engenheiro Coelho 46 Figura 19. Rodoviária de Engenheiro Coelho 46 Figura 20. Lotes Desocupados e em Construção próximos aos residenciais do 47 município de Engenheiro Coelho

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Sumário

1. Introdução 1 2. Fundamentação teórica 4 2.1 Geografia Urbana 4 2.1.1Urbanização e Planejamento Urbano 4 2.1.2 Região Metropolitana de Campinas e Engenheiro Coelho 10 2.2 Geoprocessamento Aplicado ao estudo do urbano 17 3. Engenheiro Coelho e seu papel na RMC 21 3.1 Caracterização do Município de Engenheiro Coelho 21 3.2 Aspectos históricos 23 3.3 Aspectos físicos-territoriais 26 4. Procedimentos metodológicos 29 5. Análise da Evolução Urbana em Engenheiro Coelho 34 6. Considerações Finais 48 7. Referências bibliográficas 50

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1. Introdução

O município de Engenheiro Coelho localiza-se a nordeste no Estado de e compõe o grupo dos 20 municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC)1. Este distante 144 km da capital (São Paulo) e apresenta taxa de urbanização de 74,38% (SEADE, 2014), em uma área total de 109,94 km² (SEADE, 2015), com 18.343 habitantes, tendo uma densidade populacional de 166,85 habitantes por km² (SEADE, 2015).

O município é um reflexo dos processos de urbanização e metropolização que ocorrem nas últimas décadas na Região Metropolitana de Campinas. No percorrer da monografia, serão apresentados mapas, tabelas e gráficos indicando este crescimento, além de buscar explicar os possíveis motivos dessa expansão. Dentre os fenômenos urbanos ocorridos na região, pode ser citado o início do processo de espraiamento, que ocorre juntamente à expansão da Região Metropolitana de Campinas, acarretando na modernização da agricultura e no desenvolvimento tecnológico regional, que faz da RMC um polo importante de desenvolvimento do Estado de São Paulo.

O município foi emancipado apenas no ano de 1991. Anteriormente era apenas um Distrito de Arthur Nogueira, que por sua vez, foi emancipado de no ano de 1948. Contudo, a análise de sua evolução começa a ser feita desde a década de 1960, antes de Engenheiro Coelho ser instituído de fato como um município, portanto considerando o início da urbanização da área em que hoje se situa seus os limites administrativos. Logo, nota-se que ele sofreu consideráveis alterações em sua configuração territorial durante o período mencionado, principalmente no que vem ao propósito da Geografia Urbana. Dessa maneira, Engenheiro Coelho desde a década de 1960 sofre alterações em sua malha urbana, com acréscimos significativos durante as décadas subsequentes. E a partir dos anos 2000 se tem o início da formação de loteamentos fechados no município, reflexo da relação centro-periferia, uma vez que estes loteamentos de alto padrão buscam distância de bairros mais populares.

1 Outros 19 municípios da RMC: Americana, Arthur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, , Hortolândia, , , Jaguariúna, , Morungaba, , Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d’Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, e . 1

Em relação à agricultura ressalta-se a grande produção de citrus e cana-de- açúcar, que predomina em toda á área do município. É possível verificar nos mapas apresentados no presente trabalho sua importante representatividade no uso da terra municipal. Estas culturas servem para abastecer grandes indústrias: a cana-de- açúcar, assim como em grande parte do Estado de São Paulo, tem a finalidade da produção de combustíveis, e o citrus, principalmente, para a indústria alocada na cidade, a empresa Citrus Kiki.

O objetivo geral deste trabalho é analisar geograficamente o crescimento urbano da cidade de Engenheiro Coelho (SP), com seus principais vetores e tendências da distribuição espacial para melhor planejamento de gestão e território, utilizando geotecnologias para assim buscar compreender a expansão e o desenvolvimento do processo de urbanização do município e sua participação na RMC. Para tanto, como meio de obter dados para análise, foi construída uma base de dados georreferenciados sobre a expansão urbana do município, que propiciou o entendimento e quais são os principais agentes responsáveis pelas transformações do espaço urbano.

Com o intuito de facilitar o entendimento do trabalho proposto, a monografia está estruturada da seguinte maneira:

O primeiro capítulo, intitulado Fundamentação Teórica, aborda as principais questões voltadas às teoria e conceitos pertinentes à Geografia Urbana. Também são apresentadas informações referentes à urbanização da Região Metropolitana de Campinas e de como Engenheiro Coelho se insere neste contexto. E ainda neste capítulo, propõe-se o entendimento da relação entre o geoprocessamento e sua importância nos estudos de urbanização, isto é, entender a contribuição dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) no planejamento urbano, tanto no contexto atual quanto no contexto histórico.

O segundo capítulo recebeu o título de Contextualização do Município de Engenheiro Coelho, dedica-se a caracterização de aspectos físico-territoriais do município, descrevendo aspectos como o clima, a vegetação, os solos, a rede de drenagem etc. Ainda neste capítulo, expõem-se os aspectos históricos de Engenheiro Coelho, comentando todo o processo histórico que levou à criação do

2 município e os principais aspectos econômicos da cidade, com dados estatísticos retirados de fontes como o IBGE e o SEADE.

O terceiro capítulo, intitulado Procedimentos Metodológicos explana a metodologia utilizada no presente trabalho ao relatar as principais fontes de referências bibliográficas utilizadas no trabalho, a realização do levantamento de dados, o papel do trabalho de campo e o processo das atividades de geoprocessamento.

O quarto capítulo, chamado de Análise da Evolução Urbana em Engenheiro Coelho, apresenta os resultados obtidos através do trabalho de campo e das atividades de geoprocessamento. Estes, embasados no aporte teórico construído, concebem a análise final deste trabalho.

Por fim, o último capítulo, Considerações Finais, tem como objetivo fazer algumas considerações em relação aos capítulos anteriores, além de buscar sintetizar a contribuição geográfica deste trabalho.

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2. Fundamentação Teórica

2.1 Geografia Urbana

2.1.1 Urbanização e Planejamento Urbano

A definição dos conceitos de cidade e de urbano são amplamente complexos e podem partir de diferentes conceituações e autores, assim é importante frisar que a definição de um conceito é marco fundamental para realizar um estudo ou pesquisa. Para entender a ideia de cidade e urbano, deve-se primeiramente entender o ponto de partida para a formação destas palavras.

Podem ser considerados, por exemplo, dois pontos de partida para as definições adotadas neste trabalho. A primeira, definir a “cidade” como um substantivo, e “urbano” um adjetivo, onde o “urbano” se torna um adjetivo do termo ”cidade”. O segundo ponto, parte da etimologia das palavras, onde se considera o período em que cada palavra foi criada. No dicionário de 1712, por exemplo, já existiam diferentes definições para a palavra “cidade”, enquanto a palavra “urbano” vem do latim urbe, que tem o mesmo sentido de cidade. Contudo, a palavra urbe data do início do século XX, então o conceito de “cidade” é muito anterior ao de urbano (LENCIONI, 2008).

Portanto, para buscar uma definição para estes conceitos, é necessário escolher um referencial teórico. Lencioni (2008) adota como marco inicial um território e uma sociedade específica: o Brasil. Então, a cidade é conceituada como um conglomerado sedentário, que é caracterizado pela troca de mercadorias e também com a presença de administração pública.

A ideia de “cidade” e “espaço urbano” também parte da ideia da utilização de áreas e da diferenciação do uso das mesmas. Essas diferenciações geram justaposições de diferentes usos no mesmo território. A concepção do termo “cidade” varia de cada país, onde cada um adota seus próprios critérios oficiais para definir uma cidade e um núcleo urbano (SOUZA, 2005). Para Correa (1989):

Tais usos definem áreas, como o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviços ou de gestão, áreas industriais, áreas residenciais distintas em termos de forma e conteúdo social (...). Este complexo conjunto de usos de terra é, em realidade, a organização espacial da cidade, ou simplesmente o espaço urbano. (p. 7)

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É importante mencionar o fato de o espaço urbano ser extremamente fragmentado e articulado (CORREA, 1989). As diferentes formas de relações no espaço, ainda que fragmentadas, são responsáveis pela integração entre diferentes lugares da cidade.

Antes de tudo, o espaço urbano também pode ser definido como um produto social, sendo um reflexo das relações entre diferentes agentes, afetando e alterando o meio em que atuam. Essas relações se modificam através dos tempos, gerando alterações na configuração da paisagem com estas mudanças, entre elas a fragmentação e articulação, gerando a segregação social. Estas mudanças levam a uma constante alteração na reorganização espacial, que consequentemente acarretam na alteração do espaço urbano, desencadeando em desigualdades sociais (diferenças entre classes econômicas). Pode-se destacar que estas diferenças sociais levam à segregação do espaço, sendo reflexo da materialização das desigualdades sociais (CORREA, 1989). Sobre estas afirmações, Correa (1989) afirma:

Ao se constatar que o espaco urbano é simultaneamente fragmentado e articulado, e que esta divisão é a expressão espacial de processos sociais, introduz-se um terceiro momento de apreensão do espaço urbano: é um reflexo da sociedade. (...) Mas o espaço urbano é um reflexo tanto de ações que se realizam no presente como também daquelas que se realizaram no passado e que deixaram suas marcas impressas nas formas do espaço presente. (p.8)

Em uma escala nacional, Santos (2003) destaca a grande evidência e importância que o capital tem sobre o planejamento urbano. Esta relação entre o capital e o planejamento territorial leva a instituição uma série de projetos, dentre eles a projeção de grandes obras de infraestrutura, a implantação de indústrias de base, investimentos em meios de transporte e comunicação, e por fim, a modernização das áreas rurais, que muda toda a configuração do espaço, e implica numa alteração em todo o padrão da construção das cidades, além de refletir em alterações socioeconômicas. A entrada de capital nas áreas urbanas e rurais leva um fluxo populacional muito grande às cidades.

As transformações do espaço acarretam em diversos processos dentro do mesmo, e entre eles, a urbanização. Assim, para o entendimento da urbanização é 5 necessário não só analisar as relações socioespaciais, mas também que esta seja uma análise da história territorial, do papel que desempenham as classes sociais na estruturação territorial urbana, da relação entre os movimentos dos diversos elementos das estruturas territoriais urbanas (bairro, centro, transporte) e os de outras estruturas articuladas. Todavia, estes registros de transformações espaciais não são suficientes para caracterizar uma estruturação ou reestruturação. É necessário também mostrar que mudanças em um elemento de uma estrutura pode provocar mudanças em outros elementos (VILLAÇA, 2001).

Assim, destaca-se o conceito de espaço intraurbano, que pode ser estruturado pelas condições do ser humano, onde este pode ser tanto portador da mercadoria força de trabalho (deslocamento de casa-trabalho), como consumidor (reprodução da força de trabalho). Assim, conseguimos observar o poder estruturador intraurbano das áreas comerciais de serviços, dentre eles o próprio centro urbano. Estas áreas são as que geram e atraem maior quantidade de deslocamentos, pois nelas se acumulam os deslocamentos da forca de trabalho, com os de consumidores. Para Souza (2005), isto também está vinculado às atividades econômicas decorridas nestas áreas, vinculadas a renda dos habitantes de determinada área e a seu tamanho demográfico.

Nota-se, portanto, que ocorre uma relação entre diferentes localizações urbanas, gerando a necessidade de maiores condições de deslocamento (como a acessibilidade e mobilidade). Desta maneira, isto se relaciona com o processo de urbanização, em diversas escalas, sendo elas municipais (com a acessibilidade entre diferentes regiões da mesma cidade), quanto regionais (com a acessibilidade entre diferentes municípios). Isto é fator fundamental para o processo de urbanização, e também no de metropolização de regiões. Para Villaça (2001):

(...) uma terra jamais poderá ser considerada urbana se não for acessível – por na pior das hipóteses, mesmo não havendo infra-estrutura, meio do deslocamento diário de pessoas – a um contexto urbano e a um conjunto de atividades urbanas... e isso exige um transporte de passageiros. (p. 23)

Pode-se partir do princípio que a cidade é um espaço de produção não agrícola, e sim um centro de comércio e serviços. Contudo, podemos afirmar que ocorre uma complexidade entre as relações destes meios, onde conforme maior a

6 cidade, maior a complexidade destas relações (SOUZA, 2005). Ainda dentro desta ideia, destaca-se a citação de Souza, em relação a urbanização e a lógica urbana:

A lógica urbana é a do solo enquanto um simples suporte para atividades que independem de seus atributos de fertilidade: produção industrial (indústria de transformação e produção civil), atividades terciárias, habitação e circulação (ruas, avenidas, etc.) (SOUZA, 2005, p. 27). Portanto, compreende-se que na relação entre o espaço e o homem o segundo é determinante para a formação do espaço que conceituamos como cidade, pois impõe seus interesses, sejam eles sociais, econômicos ou políticos e etc.

No Brasil, a partir do século XX ocorre foi um desenfreado processo de industrialização-urbanização das cidades (FANTIN, COSTA e MONTEIRO, 2007), em conjunto com os movimentos de migração no território brasileiro. Pessoas de todos os lugares do país, de grande maioria de áreas pobres e rurais migraram às cidades de grande e médio porte em busca de emprego e melhores condições de vida. Com o gráfico a seguir (Figura 1), do IBGE, é possível observar esta alteração na concentração nas cidades através dos censos de 1940 e 2000, respectivamente:

Figura 1. População urbana nas Grandes Regiões, comparação 1940 e 2000.

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Durante o período de 1930 a 1980 o governo buscou medidas infraestruturais em ampla escala nacional, criando cidades eficientes e funcionais, buscando planos de integração social e econômica nacional. Contudo, estas medidas foram utópicas, e não conseguiram suas metas e objetivos. Entretanto, este período foi marcado pelo grande nível de mudanças ocorridas, além das expansões ocorridas nas cidades, com seu principal marco na década de 50, com o Plano de Metas, que foi responsável pela aceleração da urbanização das principais cidades do país, apresentando o planejamento urbano em formato de Plano Diretor (VILLAÇA, 1999).

Contudo, Villaça (1999) defende que os planos diretores ficaram somente no papel. Durante as décadas de 1940 a 1990, estes planos não surtiram efeito, e o que se tinha eram projetos urbanos que visavam apenas o interesse da burguesia. Sobre o planejamento urbano:

o planejamento urbano no Brasil tem sido fundamentalmente discurso, cumprindo missão ideológica de ocultar os problemas das maiorias urbanas e os interesses dominantes na produção do espaço” (VILLAÇA, 1999, p. 222) A partir da década de 80, a ideia de planejamento urbano nacional acabou sendo deposto, e os princípios deste planejamento, que eram integração, união, e formação nacional conjunta acabaram sendo postas de lado.

A partir da década de 90, o cenário que temos é semelhante ao da década de 80, com uma visão neoliberal, o que rompeu as propostas de desenvolvimento integrado de todo o estado brasileiro. Temos então uma abertura as multinacionais, que contribuiu para a não integração do território, e gerou disputas entre regiões, oferecendo sempre melhores condições de alocação para estas empresas estrangeiras.

Mesmo dentro deste contexto, de multinacionais entrando no Estado e alterando a configuração do planejamento urbano, começou-se a repensar as cidades, relacionando sua formação histórica prévia com as atuais mudanças do planejamento urbano, tanto na escala global quanto local, e conclui-se que o Estado não é a única forma de poder capaz de alterar o espaço e de planejar o território (VILLAÇA,1999).

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Conseguimos observar então, que no Brasil da década de 90, houve uma ruptura nas questões relacionadas a planejamento. Souza (2002) afirma que planejamento é uma ideia que tem o intuito de buscar criar ações e políticas desejadas, visando o futuro (sempre necessitando de pactos políticos). Observamos então esta quebra de planejamento territorial que acontece no Brasil, onde durante as décadas anteriores se tinham planos e metas visando metas futuras, e, neste período, com a política neoliberal adotada ela foi rompida. Ainda em relação sobre essa mudança no planejamento territorial no Brasil, podemos destacar Souza (2002):

À disso, a cidade produto dos processos sócio-espaciais que refletem a interação entre várias escalas geográficas, deve aparecer não como uma massa passivamente modelável ou como uma máquina perfeitamente controlada pelo Estado (tecnicamente instruído por planejadores racionalistas e tecnocráticos) mas como um fenômeno gerado pela interação complexa, jamais plenamente previsível ou manipulável, de uma miríade de agentes modeladores do espaco, interesses, significações e fatores estruturais, sendo o Estado apenas um dos condicionantes em jogo (ainda que seja um condicionante crucial nas modernas sociedades capitalistas). (p.52) A ideia de planejamento remete também ao pressuposto da necessidade de existir pactos políticos mais duradouros e também estruturas mais amplas de ação. Ainda sobre a questão do planejamento e a mudança desta visão na década de 90 no Brasil, conseguimos destacar a não neutralidade do planejamento territorial. Sobre este ponto, Souza (2002) afirma que o planejamento e sua prática já contradiz a ideia de que seja algo de origem conservadora e neutra, pois sua implementação para a sociedade, regida por diferenças de classes, geralmente não será voltada ou de agrado de todas essas classes por uma gestão ou planejamento estar tomando decisões com um sentido, por vezes, que agradam mais uma classe do que a outra. Isto está ligado ao que observamos no planejamento no território brasileiro, assim como Santos (2003), que afirma o fato do capital manipular o planejamento, vemos que no Brasil, na década de 90, o planejamento voltado ao interesse do capital e de empresas multinacionais e das privatizações.

O que temos então neste contexto é uma mudança na utilização do espaço, com o que Santos (1999) define como “território usado”. Este configura-se como objetos e ações dos agentes dentro do espaço, onde ocorre uma interação formada de lugares contíguos e lugares em rede, criando relações verticais e horizontais com

9 diferentes funcionalidades. Estas interações estão em constante transformação e mudança. Mais uma vez, Santos (1999) afirma que o governo nunca se preocupou com o planejamento independente da escala adotada, voltado apenas para o capital e o desenvolvimento do mesmo. Sobre o espaço usado, Santos (1999) afirma:

Essa ideia de território usado, ao meu ver, pode ser mais adequado à noção de um território em mudança, de um território em processo. Se o tomarmos a partir de seu conteúdo, uma forma-conteúdo, o território tem de ser visto como algo que está em processo. E ele é muito importante, ele é o quadro de vida de todos nós, na sua dimensão global, na sua dimensão nacional, nas suas dimensões intermediárias e na sua dimensão no local. Por conseguinte, é o território que constitui o traço de união entre o passado e o futuro imediatos (...) Ele tem de ser visto (...) como um campo de forças, como o lugar do exercício, de dialéticas e contradições entre o vertical e o horizontal, entre o Estado e o mercado, entre o uso econômico e social dos recursos. (p.19).

2.1.2 Região Metropolitana de Campinas e Engenheiro Coelho

Em relação à urbanização e a relação com regiões metropolitanas, pode-se destacar que em nenhum caso, uma cidade é uma entidade isolada, que não possui interações com cidades próximas. Os municípios são tão próximos uns dos outros que a interação entre eles ocorre de maneira natural. Isto significa que não ocorrem somente na troca de mercadorias, ou na relação entre os habitantes entre as cidades para buscar serviços mais especializados. Tem-se então uma aproximação tão intensa que estes vínculos e fluxos “costuram” uma cidade na outra, dando a ideia das cidades existirem como se fossem uma só (SOUZA, 2005). Estas relações, junto com o que Villaça propõe (com a importância das vias e dos fluxos), dão a ideia da urbanização de regiões metropolitanas.

Em relação as regiões metropolitanas, deve-se salientar que para de fato considerarmos elas como tal, essas devem ter uma grande complexidade, e uma grande área de influência. Caso isto não ocorra, a região sofreu apenas aglomeração. (SOUZA, 2005).

Na década de 1970 havia apenas 9 regiões metropolitanas no Brasil, na época era incumbência da União definir tais regiões. Contudo, a partir da constituição de 1988, este dever é repassado aos Estados. Isto foi um marco determinante para a definição de áreas metropolitanas. De acordo com Souza

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(2005):

Essa mudança representou e representa uma oportunidade positiva, pela flexibilidade para a adoção de soluções mais adaptadas a cada realidade local e regional. (p. 36) Neste contexto surge a Região Metropolitana de Campinas, que até a década de 1980 era considerada apenas uma aglomeração, e posteriormente a nova constituição, nos anos 2000 é instituída como uma região metropolitana.

Na região sudeste, pode-se observar que o começo da concentração industrial se inicia na década de 1970 com a alocação de grandes empresas e indústrias na região, além de grandes investimentos do Estado em locais como Campinas, São José dos Campos e Paulínia. Contudo, a cidade onde teve maior desenvolvimento e concentração industrial e de capital foi Campinas. Sobre isto, Quiroga e Benfatti (2007) afirmam:

Desde a economia cafeeira do século XIX, Campinas se tornara o maior polo do interior paulista. A partir do último quartel do século XIX, Campinas possuía o maior entroncamento rodoviário do Estado de São Paulo, excetuada a capital, permitindo nuclear uma grande rede de cidades (...). Com o declínio do transporte ferroviário e a ascensão do transporte rodoviário, Campinas passa a contar com um importante sistema de rodovias (...) Criava-se no território campineiro e em seus arredores as condições infra-estruturais, econômicas e demográficas para o estabelecimento de uma rede urbana que assumiria paulatino caráter metropolitano (p. 43, grifo nosso).

A concentração industrial e de capital foi um dos motivos da grande expansão metropolitana que ocorreu em Campinas e aos seus arredores. Em geral, a expansão industrial e urbana no Estado de São Paulo chamou a atenção de migrantes de todo território brasileiro, devido as diversas oportunidades de emprego e do grande desenvolvimento econômico. Isto levou estes migrantes a se instalarem em regiões periféricas dos núcleos do Estado, e levaram então a conurbação, que representa o desenvolvimento de cidades próximas umas das outras, se unindo econômica e socialmente, refletindo em novas metrópoles.

Ainda hoje, a Região Metropolitana de Campinas, é um dos principais centros urbanos do país. Conseguimos atribuir isto ao fato da acessibilidade e a mobilidade na região ser de fácil acesso se comparado a outras regiões metropolitanas, e a alta capacitação técnica encontrada no local, devido a existência

11 de instituições como a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) capacitadas para a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e o polo industrial de Campinas (QUIROGA e BENFATTI, 2007).

Além disto, pode-se observar que as principais cidades destas regiões metropolitanas tem uma influência que transpõe seus limites administrativos, com sua influência atingindo as cidades vizinhas, formando um conglomerado das cidades (CAIADO, PIRES, 2006). Observa-se então, a inter-relação destas cidades, conectando-se por conta de aspectos físico-sociais, e também, a influência que a cidade-sede tem sobre as outras ao seu redor.

A urbanização encontrada na região de Campinas é caracterizada pela urbanização dispersa, que é ancorada em empreendimentos imobiliários vinculados ao aumento da acessibilidade da população, que faz com que ocorra um aumento nas relações cotidianas entre os municípios (CAIADO, PIRES, 2006). Uma das características é o grande fluxo pendular desta região, ou seja, as pessoas que moram em cidades ao redor de Campinas, mas que buscam serviços como educação e saúde, se deslocam para consumir, além daquelas que efetivamente trabalham efetivamente no município de Campinas. Sobre isto Caiado e Pires (2006) apontam que:

A tendência do crescimento da população nos anos 90 evidencia o processo de redistribuição no interior da RMC, revelando a direção da expansão metropolitana. Municípios mais distantes, não envolvidos diretamente no processo de periferizacão nos anos 70 são alcançados, como é o caso de , Santo Antonio de Posse, Pedreira, Indaiatuba e Vinhedo. O crescimento populacional destes municípios e a elevação de seus saldos migratórios na última década demonstram a intensificação das trocas intrametropolitanas e a configuração de novos espaços da migração no interior da RMC. (p. 280)

Sobre a evolução da urbanização na RMC, o mapa retirado da tese de doutorado de Ederson Nascimento, intitulado As Desigualdades Socioespaciais Urbanas Numa Metrópole Interiorana: Uma Análise da Região Metropolitana de Campinas (SP) a Partir de Indicadores de Exclusão/Inclusão Social oferece uma ideia da evolução da urbanização na RMC (Figura 2):

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Figura 2. Mapa da evolução área urbanizada da Região Metropolitana de Campinas (1965-2010)

Fonte: NASCIMENTO (2013)

Em relação ao processo de urbanização da Região Metropolitana de Campinas, Caiedo e Pires (2006) destacam que foram sete os vetores responsáveis por este crescimento, todos estes acompanhando os eixos rodoviários e partindo do centro metropolitano. As relações entre estes crescimentos são diferenciados conforme a região que expandiu, e sofre alteração conforme o local de sua expansão. Por exemplo, um destes vetores partiu da região central para sudoeste e noroeste (municípios de Monte Mor e Hortolândia), processo de urbanização que foi amplamente vinculado à precariedade dos assentamentos urbanos. Já ao longo da via Anhanguera, a ocupação urbana se dá até Americana interruptamente. Especialmente sobre o eixo que passa por Engenheiro Coelho, destaca-se que pela Rodovia Milton Tavares – SP 332 ligam-se à Campinas os municípios de Paulínia, Cosmópolis, Artur Nogueira e Engenheiro Coelho. A localização da Refinaria do Planalto – Replan, da Petrobrás, e do pólo petroquímico em Paulínia parece ter tido impacto mais direto na expansão urbana, de característica predominantemente popular, de Paulínia e Cosmópolis, isto é, na direção oposta à divisa com Campinas.

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Atualmente, observa-se a abertura de vários loteamentos “fechados” nas proximidades da divisa com Campinas, entre a SP 332 e a Estrada da Rhodia. Estes empreendimentos, de médio padrão, parecem atender uma demanda reprimida em Campinas, tanto dos loteadores, pela legislação urbanística, quanto dos potenciais moradores, pelo preço.

No vetor 3 (Figura 3), que é direcionado ao município de Engenheiro Coelho, destaca-se que a expansão urbana ocorre de forma espraiada e o processo de ocupação apresenta dinâmica diferenciada em relação as outras duas ditas anteriormente (os vetores 1 e 2 no mapa). Isto ocorre devido à presença de grandes áreas institucionais, a existência de áreas agrícolas ainda produtivas, e também ao alto preço da terra, fator que limita uma ocupação da área mais intensa. (CAIADO e PIRES, 2006).

Figura 3. Vetores de expansão urbana da Região Metropolitana de Campinas

Fonte: CAIADO e PIRES (2006)

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Pode-se dizer então, que o crescimento da RMC ocorreu de maneira espraiada, relacionando-se com a ideia de urban sprawl. Este termo surge na década de 1960 nos Estados Unidos, e significa a expansão descontrolada de aglomerações urbanas, que tem um padrão de ocupação urbano de baixa densidade (OJIMA, 2008). Observa-se que ocorre uma significativa desconcentração da população local, devido ao deslocamento da população, que se dispersa por todo um território, gerando uma expansão do espaço físico das cidades de das regiões metropolitanas. Ainda sobre o termo espraiamento, vale ressaltar que este é um fenômeno de expansão horizontal de uma forma descontínua, rumo à regiões periféricas (BECHELLI, et al., 2010). Portanto, nota-se que o urban sprawl atuante na RMC está vinculado aos principais vetores da expansão da RMC.

Desde o século XVII, Campinas se destaca no contexto estadual por conta de seu dinamismo econômico, servindo entre elo do interior com a capital. Em 1790 a indústria açucareira se instala na região, sendo o marco inicial da prosperidade econômica e populacional (PUPO, 1973). Juntamente à produção de cana de açúcar, se dá a cultura do café, iniciada na primeira década de 1800 (PESTANA, 1923). Neste período se tem então, o início do processo de urbanização na região de Campinas, devido também à facilidade para locomoção na região. Entre as décadas de 1860-1870, Campinas era considerada a maior produtora de café da província, além de ser o município paulista mais rico (MELLO, 1991). Contudo, a crise de 1929 afetou a produção destes produtos, o que acarretou no desenvolvimento da industrialização da região (CANO, 1977). Isto refletiu numa mudança na configuração estrutural da região, que passa a ser industrial ao invés de agrícola, o que justifica o início da aglomeração da região, fazendo dela uma região metropolitana.

Esse dinamismo refletiu um intenso crescimento populacional, com um intenso crescimento migratório, especialmente a partir da década de 1950. Neste período, a migração representava cerca de 40% do incremento da população. (BAENINGER, 1996). A partir deste período, se apresentam características metropolitanas na região, tanto no âmbito econômico quanto social, sendo Campinas um eixo-descentralizador do eixo metropolitano de São Paulo. Devido a este fator, Campinas se torna área metropolitana (CANO, 1988).

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Sobre esta migração na RMC, podemos observar que a participação do componente migratório chega a 60% nos anos 1970, 48% entre 1980-1991 e 43% entre 1991-1996. Essa migração é um dos elementos fundamentais para a configuração desta nova espacialidade (BAENINGER et. al, 2000). Em relação estes saldos migratórios, podemos citar Baeninger (2000):

O início dos anos 90 consolidaram o papel do Entorno regional na absorção da migração. Enquanto o Município de Campinas apresentou um saldo migratório anual de 1.978 pessoas entre 1991-1996 (para o período 1980- 1991, este saldo anual era de 2.802 pessoas), Hortolândia registrou um saldo anual de 4.316 e Indaiatuba de 2.480 pessoas. Na realidade, houve a expansão dos espaços da migração para os municípios do Entorno metropolitano, contribuindo para que ainda nos anos 90 esse componente da dinâmica demográfica respondesse por mais de 70% do crescimento absoluto dos recém-criados municípios de Engenheiro Coelho e Hortolândia, assim como o de Artur Nogueira; e ainda, por mais da metade do crescimento absoluto da população de Vinhedo, Sumaré, Paulínia, Indaiatuba, Pedreira e, mesmo, Itatiba. (p.18)

O processo de industrialização da Região Metropolitana de Campinas ocorreu de forma diferente se comparada às outras metrópoles nacionais. As transformações ocorridas devido ao processo de interiorização da industrialização não se restringiu somente ao município de Campinas, mas sim em todo o seu entorno, gerando então uma importante aglomeração urbana. Devido a isto, tanto Campinas quanto os municípios ao seu redor conseguiram estabelecer bases econômicas, industriais e sociais, fazendo uma nova configuração na estrutura da região, sendo esta diferente da configuração das regiões metropolitanas no geral, com cidades dormitórios cercando um município rico (CANO, 1998).

Na tabela abaixo (Tabela 1), referente ao crescimento populacional, vegetativo e saldo populacional, é realizada é realizada uma comparação dos municípios de Engenheiro Coelho, Campinas e da RMC em geral. Este foi um dos elementos que motivaram a realização desta pesquisa, pois apesar do crescimento absoluto ser menor comparado a campinas e a RMC, em termos relativos nota-se que o crescimento vem ocorrendo de forma muito rápida, fato que consequentemente impulsiona a expansão urbana. Sendo assim, outra intencionalidade do trabalho é contribuir para o conhecimento do município já em

16 seu estágio inicial de crescimento urbano, para que num futuro próximo ou mais distante possa auxiliar nas decisões dos gestores e planejadores urbanos.

Constata-se que no período de 2000 a 2007 o saldo migratório de Engenheiro Coelho compôs 66,27% do total do crescimento absoluto do município, ou seja, mais do que a metade do crescimento populacional da cidade no período deve-se as migrações.

Tabela 1. Crescimento absoluto populacional, crescimento vegetativo e saldo migratório de Engenheiro Coelho, Campinas e RMC de 2000 a 2007

Municípios Crescimento Crescimento Saldo Absoluto Vegetativo Migratório 2000//2007 2000/2007 2000/2007 Engenheiro Coelho 2.968 1.001 1.967 Campinas 82.128 59.157 22.971 RMC 331.820 163.655 166.165

Fontes: IBGE, censo demográfico de 2000 e SEADE projeção populacional de 2007. Adaptado de: DEDECCA, C.; MONTALI, L.; BAENINGER, R. (2009)

Por fim, cabe ressaltar que os movimentos pendulares que ocorrem na RMC modificaram o espaço, gerando o processo de periferização da população. Baeninger (2000). Nesse contexto, torna-se ainda mais evidente, a importância da migração intrametropolitana, determinando os vetores de crescimento metropolitano, bem como indicando as formas de reorganização da população nessa nova territorialidade, com os movimentos intraregionais contribuindo significativamente para o crescimento dos demais municípios da região.

2.2 Geotecnologias Aplicadas ao Estudo do Espaço Urbano

Almeida (2007) evidencia que o planejamento urbano sempre coexistiu com a abstração da realidade urbana, e cita alguns exemplos, como assentamentos hindus, e cidades da Grécia antiga e Roma. Todavia, a ênfase no planejamento urbano ocorre apenas no sec. XIX, com a gênese nas reformas sanitárias em Londres. Estas reformas tinham como objetivo principal diminuir precarização dos lares das cidades e das metrópoles europeias, além de enfrentar problemas como

17 aglomeração populacional (HALL, 2005).

Contudo, a relação entre geotecnologias e o estudo da geografia urbana é considerada algo relativamente novo quando analisado todo o contexto em que a geografia atua na área urbana. Isto ocorre devido à tecnologia e o advento dos computadores ocorrer apenas no início da década de 1950, que tinha sua utilização voltada para quantificar problemas sociais e econômicos (BATTY, 2007). Esta quantificação, leva ao armazenamento de dados e não só a armazenar dados, como também a simular sistemas de transportes e também fazer previsões de uso da terra em cidades. Ou seja, o computador e sua funcionalidade auxiliaram no planejamento e possíveis previsões em relação ao urbano.

Hoje em dia, os computadores evoluíram e possuem melhores capacitações e auxiliam o estudo das cidades no que se refere a banco de dados, análise espacial, entre outros. Pode-se destacar o fato da acessibilidade a estes dados e informações serem cada vez mais significativos. Ainda em relação a isto, Batty (2007) aponta que:

Nos últimos 20 anos, o foco da representação de cidades moveu-se quase inteiramente para o âmbito digital por meio dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), nos quais os dados podem ser inseridos, armazenados, analisados, visualizados, e disseminados. Embora os SIGs constituam a base para tais aplicações, a coleta de dados passou a ser auxiliada de modo crescente por dispositivos remotos (...) (p. 8) É possível constatar através dessas afirmações, que os SIG foram de extrema importância nos estudos sociais e ambientas, além de analisar as estruturas espaciais econômicas e, o mais importante para esta pesquisa, analisar o desenvolvimento espacial e urbano das cidades, através de ferramentas e recursos facilitando que o planejamento e a gestão urbana, para que estes sejam mais eficientes.

Batty (2007) e Almeida (2007) se entrelaçam ao afirmar que este advento do computador nos anos de 1950/1960 auxiliaram o planejamento territorial. No mesmo período ocorre a Revolução Quantitativa, com o intuito de introduzir rigor e qualidade em disciplinas como a Geografia e as Ciências Sociais.

Com o tempo, a demanda sobre os SIG foi aumentando cada vez mais, ampliando seu ramo de atuação, como por exemplo, ao adquirir competências para

18 o estudo da distribuição espacial e dos usos intraurbanos, através do mapeamento de uso e ocupação da terra, revelando os tipos predominantes, possibilitando a análise da espacialização dos usos, que pode revelar distribuição não homogênea de serviços públicos, como de saúde, educação, lazer, infraestrutura e etc., e por fim possibilitando a extração de dados quantitativos. Atualmente, as temáticas urbanas são amplamente estudadas através de SIG, e Almeida (2007) destaca os principais usos:

Na atualidade, um amplo rol de temáticas urbanas tem sido abordado em ambiente de SIGs. Questões sobre exclusão/inclusão social e segregação socioespacial têm sido tratadas a partir de medidas obtidas por métodos de estatística e análise espacial. (p. 20) Contudo, é necessário uma infraestrutura geoinformacional, para que assim se tenha dados para melhorar a gestão publica, melhorando então a análise e a espacialização (FANTIN, COSTA e MONTEIRO, 2007). A partir da década de 1970 as geotecnologias passaram a se voltar para o planejamento territorial, com fins de modelar o espaço urbano, devido ao surgimento de imagens de satélite, que é de extrema importância para a utilização de geotecnologias para o planejamento territorial (SILVA, 2003). Com o passar das décadas a computação gráfica evoluiu, o que auxiliou cada vez mais o planejamento urbano. Contudo, em um primeiro momento, as aplicações dos SIGs eram voltados para questões ambientais regionais, e somente após o melhoramento na resolução espacial destas imagens de satélite que foi possível atuar mais frequentemente no espaço urbano (ALMEIDA, 2007). Caracterizando os diferentes procedimentos abrangidos pelo geoprocessamento, constata-se que a cartografia digital adota a metodologia de construção de cartas temáticas, onde as análises e sínteses destas cartas exigem a interpretação das relações complexas que existem no espaço, o que exige então os recursos oferecidos pelos SIGs (MOURA,1993 apud FERREIRA et. al, 2011). Hoje em dia as prefeituras se interessam cada vez mais, investindo no planejamento territorial, pois a organização e a qualidade de vida da população está intrinsecamente ligada a este ponto. Isto leva então à procura por ferramentas que possibilitem esta análise de dados que sejam condicionantes para este planejamento (FERREIRA, MOURA e QUEIROZ, 2001). Observamos então a

19 importância de instrumentos como o GPS, o sensoriamento remoto e os SIGs dentro deste planejamento urbano. Dentro do emprego das técnicas de geoprocessamento, podemos destacar que os SIGs permitem aos profissionais que trabalham com o espaço urbano uma nova maneira de analisar o espaço, conseguindo observar e à cidade através de novas perspectivas. (PEREIRA e SILVA, 2001 apud FERREIRA, 2008). Não só isso, conseguimos constatar que os sistemas de informação geográfica possibilitam o processamento computacional dos dados geográficos, oferecendo ao gestor uma visão imediata da área de trabalho, onde todas as informações da região desejada estão facilmente a seu alcance (FERREIRA, 2008). As geotecnologias, que incluem a Cartografia Digital, o Sensoriamento Remoto, os Sistemas Globais de Navegação por Satélites e os Sistemas de Informação Geográfica, e são instrumentos que formam um indispensável integral componente da vida cotidiana, conforme aponta Matias (2001): Os Sistemas de Informação (SI), sua produção e utilização em larga escala, caracterizam a sociedade atual na qual a aquisição, o gerenciamento e a produção de informações sobre os mais diversos fatores (econômicos, sociais, políticos, ambientais, etc.) tornou-se uma questão estratégica, portanto, vital para o processo de reprodução das relações sociais de produção. Não se trata, porém, somente de suprir a importância da informação para a tomada de decisões bem abalizadas, mas sim, que a informação, ela própria, é um componente fundamental dos novos meios de produção. Mais do que em qualquer outro momento da história da civilização humana, o acesso à informação em condições privilegiadas, tornou-se uma base da diferenciação dos atores sociais, quer seja no contexto individual, institucional ou, ainda mais significativo, empresarial. A posse de informação de um jeito cada vez mais rápido e preciso, tornou-se uma condicionante da vida moderna. (p.69)

Através disto se obtém informações que representam aspectos e características do espaco geográfico. (MARTINS, 2014). Para complementar esta afirmação, Matias (2005) destaca:

se enquadra (...) à medida que fazem parte da tendência de construção de uma infra-estrutura voltada para aquisição, processamento e análise de informações sobre o espaço geográfico que busca racionalizar o processo de tomada de decisão. (p.88-87)

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3. Engenheiro Coelho e seu papel na RMC

3.1 Caracterização do Município de Engenheiro Coelho

Criado em 1991, Engenheiro Coelho é um município paulista localizado a nordeste do Estado de São Paulo, participante da Região Metropolitana de Campinas (Figura 4). Possui uma área total de 109.94 km² (SEADE, 2015)2 e 18.343 habitantes (SEADE, 2015), sendo um dos municípios com menor população da RMC, com número maior apenas do que Holambra. É também o município menos urbanizado, com uma taxa de 74.38% (SEADE, 2014).

Segundo o SEADE (2012), o PIB do município é de 299,21 (em milhões reais correntes) e o PIB per capita é de 17.933,77 reais. Apresenta 3.594 empregos formais, do quais 462 voltam-se à agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, 523 para o comércio, 1.547 para os serviços, 1.021 para a indústria e 21 para a construção civil (SEADE, 2014). Em termos de valor adicionado sua indústria apresenta índice de 82,04 (SEADE, 2012). O setor agrícola é fortemente concentrado na produção de laranja e cana-de-açúcar, seguidos por milho e mandioca. Alguns de seus empreendimentos importantes são um centro educacional, a Unasp (instalada em Engenheiro Coelho no ano de 1983), uma multinacional (TRW) e a Citrus Kiki (instalada em Arthur Nogueira em 1961), processadora de suco de laranja. Além do avanço nas áreas agrícola, industrial, de serviços públicos e infraestrutura, a cidade apresenta a maior taxa de crescimento (Tabela 2) da RMC. De acordo com os dois últimos censos realizados pelo IBGE, a cidade de Engenheiro Coelho foi a segunda cidade que mais cresceu na RMC e a oitava no Estado de São Paulo.

Tabela 2. Taxa Geométrica de Crescimento Anual da População (Em % a.a.) de Engenheiro Coelho, Campinas e da RMC.

Crescimento Populacional Áreas 1991/2000¹ 2000/2010² 2010/2015² Engenheiro Coelho 4,03 4,59 3,21 Campinas 1,54 1,09 1,01 RMC 2,53 1,82 1,5 ¹ Censos Demográficos 1991 e 2000 ² Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticae Fundação SEADE (2015)

2 Através das atividades de geoprocessamento, constatou-se que de acordo com a base cartográfica do IGC (2002), o município de Engenheiro Coelho possui 110,34 km² de área total, portanto os resultados desse trabalho de conclusão de curso estão baseados neste dado. 21

Figura 4. Localização do município de Engenheiro Coelho

De acordo com Brandão e Cano, em 1980 a população do Distrito de Engenheiro Coelho era de 4.126 habitantes (sendo 2.852 habitantes na área rural e 1.274 na área urbana), que representava apenas 0,32% da população total da RMC. Já em 1991, no momento que Engenheiro Coelho já era considerada cidade o número de habitantes subiu para 6.051 habitantes (sendo 4.818 habitantes na área

22 rural e 1.683 na área urbana, o que representa 25,89% no grau de urbanização). Em 2000, o número de habitantes se elevou para 10.025 habitantes, e houve uma mudança no quadro da população em relação a 1980, no qual 7.004 habitantes estavam na área urbana, e 3.021 na área rural. (Tabela 3)

Tabela 3. População Total de Engenheiro Coelho, Campinas e da RMC

População Áreas 2000 2010 2015 Engenheiro Coelho 10.000 15.662 18.343 Campinas 968.160 1.079.140 1.134.546 RMC 2.019.329 2.792.855 3.021.313

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Fundação SEADE (2015).

Atualmente, nota-se que houve um expressivo aumento na taxa de urbanização do município nos últimos anos, devido ao incentivo de políticas públicas que promovem movimentos migratórios, além da emancipação do município (Tabela 4)

Tabela 4. Grau de urbanização a partir dos anos 2000 dos municípios de Engenheiro Coelho e Campinas, e da RMC em % Grau de Urbanização Áreas 2000 2010 2014 Engenheiro Coelho 69,86 73,14 74,38 Campinas 98,33 98,28 98,28 RMC 97,07 97,43 97,48 Fonte: SEADE (2015)

3.2 Aspectos Históricos-Geográficos

O município de Engenheiro Coelho de fato foi emancipado apenas em 1991 (BRANDÃO e CANO, 2002). Anteriormente ele passara por diversos processos políticos e administrativos, pois num primeiro momento, o município era parte do município de Artur Nogueira, o qual, por sua vez, fora desmembrado de Mogi Mirim.

Mogi Mirim foi fundado por bandeirantes que buscavam pedras preciosas nas regiões de e Goiás, e a elevação deste povoado como vila aconteceu em 1769. O povoado que constituía esta abrangia um grande território, com os limites entre o rio e no rio Grande (limites entre o estado de

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Minas Gerais e São Paulo). Com o passar do tempo, esta enorme porção de área passa a abranger diversos povoados, que deram origem a municípios como Mogi Guaçu, , Casa Branca, São João da Boa Vista, dentre outros. Em 1849 o presidente da província de São Paulo eleva a vila de Mogi Mirim à condição de município, se tornando sede da Comarca (PREFEITURA DE MOGI MIRIM, 2015).

Arthur Nogueira teve sua origem associada à produção de cana-de- açúcar na região no início do século XX, mais precisamente em 1907. Seu território foi constituído a partir de doação da Usina Ester (o proprietário da usina se chamava Arthur Nogueira) (BRANDÃO e CANO, 2002). Contudo, apenas no ano seguinte os verdadeiros fundadores chegaram à cidade, ocupando os lotes de terra, e se estabelecendo na região (PREFEITURA DE ARTHUR NOGUEIRA, 2015).

Em 1916, pela Lei nº 1.542 foi criado o Distrito da Paz, sendo este comarca de Mogi Mirim. Este distrito constituía-se nos atuais territórios de Arthur Nogueira e Cosmópolis. Isto permanece até 1938, quando o governador Adhemar de Barros divide estes territórios em dois Distritos distintos, que então se tornam comarca do município de Campinas. Alguns anos depois, em 1948, ocorre o processo de emancipação do Distrito de Arthur Nogueira, onde houve um plebiscito entre os habitantes locais, e obteve-se o direito de emancipação (PREFEITURA DE ARTHUR NOGUEIRA, 2015).

As origens do município estão relacionadas à implantação da Estrada de Ferro Funilense (1891) – ramal da Sorocabana, entre campinas e Pádua Sales- que atravessava as terras da Fazenda Guaiquica, terras que pertenciam à Joaquim Cardoso de Moraes. Como reflexo disto, em 1901 chegaram diversas famílias de imigrantes que impulsionaram a consolidação do povoado que ali já existia. Um destes imigrantes, Pedro Herman, adquiriu estas terras e passou a chamá-la de Fazenda São Pedro. Neste período, já se destacava a região como uma grande produtora de laranja, algodão, mandioca e café (BRANDÃO e CANO, 2002). A cada ano que passava, o proprietário produzia mais na fazenda, o que levou a instalação de cada vez mais imigrantes, e dando-lhes equipamentos necessários para a manutenção da área.

Devido a isto, em 1912 Herman autorizou a instalação de uma Estrada de

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Ferro na Colônia de Guaiquica, que passou a ser chamada de Estação de Engenheiro Coelho do Bairro de Guaiquica. Com o progresso, o povoado cresceu, e passou a ser chamado de Engenheiro Coelho. O nome da cidade foi dado devido a uma homenagem ao engenheiro José Luiz Coelho, que na época era inspetor da estrada de ferro e representante da Fazenda Estadual. No final da década de 20, foi instituído o cargo de juiz de paz e subprefeito para ele.

Em 1936, Engenheiro Coelho era uma colônia da Fazenda São Pedro. Contudo, foi construída uma estrada que ligava Mogi Mirim à , e isso intensificou o desenvolvimento da colônia. Logo, em 1938 foi instalada a primeira rede elétrica na região, e com passar dos anos também ocorreu à construção de residências, armazéns, farmácias, postos de gasolina, escolas. Segundo Brandão e Cano (2002), em 1940 foi aberto o primeiro loteamento e fundado um time de futebol, o que criou raízes locais.

Durante as décadas seguintes, a área passou a crescer mais ainda, novos loteamentos foram criados. O vínculo da população com o lugar foi ficando mais intensos, fixando a população, e criando a necessidade de desenvolvimento, isto é, instalação de redes de esgoto e de água, iluminação pública e asfaltamento de vias. Neste contexto, em 14 de Maio de 1980, Engenheiro Coelho foi elevado a condição de distrito pela Lei Estadual nº 2.343, o que representava o primeiro passo a sua emancipação político-administrativa.

Em 1988, começa o processo de emancipação de Engenheiro Coelho, sob o amparo da Constituição de 1988. Avalizada por plebiscito em 1991 foi considerada cidade, e em outubro de 1992 foi eleito seu primeiro prefeito.

A partir de 1991, a cidade passa a apresentar um aumento na taxa de urbanização, assim como crescimento no ponto de vista econômico. Com a emancipação, Engenheiro Coelho manteve relações estreitas com Cosmópolis e Limeira, articuladas ao cultivo de laranja e cana-de-açúcar, onde a produção é enviada para indústrias ali localizadas (Usina Ester, Sucos Kiki).

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3.3 Aspectos físicos-territoriais

O clima do município é do tipo Tropical com Estações secas (Aw), com variações de temperatura média entre 30,4ºC e 19,1ºC, encontrando-se a 550 metros de altitude média acima do nível do mar. Estas características definem as estações com um inverno seco e verão úmido (CEPAGRI, 2015). Em relação ao seu relevo, destacamos uma suave ondulação na porção leste-nordeste, enquanto na porção sul, oeste e central apresenta características mais planas.

Sobre a geomorfologia, segundo Ross e Moroz (1966), o município de Engenheiro Coelho se encontra na divisa entre as seguintes unidades morfoesculturais do Estado de São Paulo: a Depressão Periférica Paulista, que tem como características ser totalmente esculpida por sedimentos da Bacia do Paraná (ROSS, 1990 apud ROSS e MOROZ). (Figura 5)

Sobre as características do solo, destacam-se que os solos predominantes da região são do tipo Latossolo Vermelho Escuro, Vermelho Amarelo com fases arenosas e Podzólicos (SPAROVEK e COSTA, 2009). Estes solos apresentam características importantes para a agricultura local, pois são solos ricos em ferro e outros nutrientes, além de uma porosidade alta, o que facilita a drenagem (EMBRAPA,2015). Estas características apresentam uma alta fertilidade ao solo, o que facilita o manejo do solo e produtividade para agricultura local.

Os principais biomas referentes ao município de Engenheiro Coelho são o bioma Cerrado e o bioma Mata Atlântica (IBGE, 2015). O bioma Cerrado apresenta um mosaico de vários tipos de vegetação, desde fisionomias campestres, savânicas e até florestais, como as matas secas e as matas de galeria. Apresenta também uma alta biodiversidade de espécies, com plantas herbáceas, arbustivas, arbóreas e cipós, totalizando 12.356 espécies que ocorrem espontaneamente e uma flora vascular nativa. O outro bioma característico do município é o da Mata Atlântica, que tem como características principais ser formada por um conjunto grande de formações onde as principais são as florestas do tipo Ombrófila Densa; Ombrófila Mista; Estacional Semidecidual; Estacional Decidual e Ombrófila Aberta, além de ecossistemas associados como as restingas, manguezais e campos de altitude (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2015).

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Figura 5. Modelo de Elevação Digital (MDE) do município de Engenheiro Coelho

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A hidrografia do município de Engenheiro Coelho é composta por três microbacias, que são elas: Ribeirão Guaiquica, que é pertencente à bacia do Mogi Guaçu, apresentando uma área de 6.026 ha, microbacia do Córrego dos Correia, com área de 2.553 ha e microbacia do Mato Dentro, com 1.001 ha de área, ambas pertencentes à Bacia do (SPAROVEK e COSTA, 2009). (Figura 6)

Figura 6. Bacias Hidrográficas presentes no município de Engenheiro Coelho

De acordo com o Instituto Geológico (IG) (2009) o município de Engenheiro Coelho abrange dois tipos de terrenos geológicos, que seriam a oeste Rochas da Formação Itararé (de formações geológicas pertencentes à bacia do Paraná), e a leste rochas ígneas das Suítes Graníticas Jaguariúna e Morungaba e metamórficas do complexo , que são definidos como granitos e gnaisses pré-cambrianos.

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4. Procedimentos Metodológicos

Este trabalho de conclusão de curso fundamentou-se na revisão bibliográfica, nas atividades de geoprocessamento e no trabalho de campo. A seguir apresenta-se um fluxograma (Figura 7) sintetizando as etapas percorridas:

Figura 7. Fluxograma dos procedimentos metodológicos

Org.: autor

Para a revisão bibliográfica referente ao tema pesquisado nas bibliotecas da Universidade Estadual de Campinas, periódicos online e artigos, além de dados de instituições como IBGE, SEADE e das secretarias municipais de Engenheiro Coelho, para assim constituir fundamentação teórica.

Utilizou-se recursos do Laboratório de Geografia Urbana da Universidade Estadual de Campinas (no Instituto de Geociências) para a construção de base de dados georreferenciados, análise espacial das informações e mapeamento temático com aporte dos softwares de geoprocessamento ArcGIS 10.3.1 e o Google Street View (recursos do software Google Maps e Google Earth), para assim, se elaborar

29 mapas temáticos, para a comparação da malha urbana da cidade de Engenheiro Coelho em diferentes períodos históricos. Além disto, para elaboração de tabelas e gráficos foi necessário à utilização do Microsoft Excel.

Foi utilizada a base de dados do Instituto Geográfico e Cartográfico (IGC) do Estado de São Paulo (2002), disponibilizada em formato shapefile, com os seguintes temas, na escala 1:20.000: limite do município, hidrografia, sistema viário, obras e edificações, estradas pavimentadas, estradas férreas, corpos d’água, curvas de nível e pontos cotados. Além da base cartográfica, foi também utilizadas ortofotos do ano de 2010, em escala 1:10.000 também disponibilizadas pelo IGC.

Foi fundamental a utilização da tese de doutorado de Ederson Nascimento (2013), observando a evolução da mancha urbana nos anos de 1960, 1979, 1989, 2001, 2010, através da base de dados construída pelo autor, que foi membro do grupo de pesquisa GEOGET (Geotecnologias Aplicadas à Gestão do Território). O processo de análise da evolução constituiu-se na sobreposição das manchas urbanas que foram mapeadas e da análise dos dados obtidos das áreas em quilômetros quadrados.

Na elaboração do mapa de uso da terra intraurbano e do município do ano de 2015 foram utilizadas ortofotos do ano de 2010, com base na classificação de mapeamento intraurbano elaborado pelo grupo de pesquisa GEOGET (Tabela 5).

Os temas da evolução da mancha urbana, o uso da terra e o uso intraurbano foram submetidos ao procedimento de digitalização em tela (on screen), que é a construção de entidades (ponto, linha ou polígono), neste caso polígonos, que representarão as feições da realidade, as quais são observadas na imagem raster; neste processo busca-se fazer a representação da maneira mais próxima possível da realidade. Para atualização dos dados para o ano de 2015, utilizou-se o Google Earth, que utiliza imagens recentes, para que assim seja possível a correção de eventuais mudanças que ocorreram na tipologia.

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Tabela 5. Classificação intraurbana GEOGET

UNIDADE SUBUNIDADE ATIVIDADE 1.1 Residencial 1.1.1 Residencial horizontal (casa/sobrado) 1.1.2 Residencial vertical (prédios) 1.1.3 Condomínio ou loteamento fechado horizontal 1.1.4 Condomínio ou loteamento fechado vertical 1.1.5 Conjunto habitacional vertical 1.1.6 Conjunto habitacional vertical 1.1.7 Favela 1.1.8 Chácara 1.1.9 Outros 1.2 Comercial 1.2.1 Comércio varejista 1.2.2 Comércio atacadista 1.2.3 Hipermercado 1.2.4 Shopping 1.2.5 Outros 1.3.1 Educação (escolas, universidades, faculdades, bibliotecas, etc.) 1.32 Saúde (clínica, postos, hospitais, etc.) 1.3.3 Esporte, lazer (clubes, centros esportivos, teatros, etc.) 1.34 Promoção e assistência social 1.3.5 Segurança (delegacias, quartéis, presídios, etc) 1.3.6 Institucional (Executivo, Judiciário, Legislativo) 1.3.7 Hotelaria 1.3.8 Estacionamento 1.3.9 Oficina, lava-rápido 1.3.10 Religioso (Igrejas, templos, etc.) 1.3.11 Telecomunicação (antena de celular, rádio, televisão, etc.) 1.3.12 Comunicação (rádio, tv, jornal, etc.)

1.3.13 Transporte (rodoviária, estação, terminal de carga, transportadora, etc.) 1.3.14 Condomínio empresarial 1.3.15 Cemitério 1.3.16 Aviação (aeroporto, campo de aviação, aeroclube, etc.) 1.3.17 Outros 1.4 Indústria 1.4.1 Indústria 1.4.2 Distrito ou condomínio industrial 1.4.3 Extração mineral (mineração) 1.5 Misto 1.5.1 Residencial + Comercial 1.5.2 Residencial + serviço 1.5.3 Residencial + Indústria 1.5.4 Comercial + Serviço 1. Áreas antrópicas não agrícolas não antrópicas Áreas 1. 1.5.5 Comercial + Indústria 1.5.6 Serviço + Indústria 1.5.7 Outros 1.6 Espaço livre 1.6.1 Praça 1.6.2 Parque 1.63 Jardim 1.6.4 Área verde 1.6.5 Outros 1.7 Vazio 1.7.1 Lote desocupado Urbano 1.7.3 Terreno baldio 1.7.3 Outros 1.8 Chácara 1.8.1 Horta 1.8.2 Granja 1.8.3 Pomar 1.8.4 Recreio 1.8.5 Outros 1.9 Via de 1.9.1 Avenida ou rua pavimentada Circulação 1.9.2 Avenida ou rua não pavimentada 1.9.3 Estrada ou rodovia pavimentada 1.9.4 Estrada ou rodovia não pavimentada 1.10 Corpo 1.10.1 Rio d'água 1.10.2 Lago, lagoa 1.11 Solo 1.11.1 Atividade de terra planagem Exposto 1.11.2 Aterro sanitário 1.11.3 Lixão 1.11.4 Processo erosivo: natural ou induzido 1.11.5 Outros 1.12 Outros 1.12.1 Outros

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Sobre mapa de uso da terra foi utilizado um tema elaborado previamente por membros do GEOGET, baseado na legenda do Manual Técnico de Uso da Terra do IBGE (2006), com posterior união ao uso da terra intraurbana, que gerou um maior detalhamento. Desta maneira, a classificação do IBGE foi complementada a classificação do GEOGET (Tabela 5). Para possibilitar este processo, foi necessário que os limites do perímetro urbano se compatibilizassem com o perímetro da zona rural.

Também foram realizados trabalhos de campo, no dia 12 de novembro de 2015, para a compreensão empírica do tema, com a realização de trabalho de campo, para reconhecer o tema, além da averiguação e coleta de dados, utilizando câmera digital para registro fotográfico e receptor GPS para localização.

Ainda em relação aos processos metodológicos utilizados neste presente trabalho, foram identificadas classes no uso e ocupação da terra municipal, que seguem na figura abaixo (Figura 8):

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Figura 8. Classe de uso e ocupação da terra identificadas no município de Engenheiro Coelho:

A- Urbano; B- Culturas alimentares de subsistência; C- Culturas alimentares comerciais; D- Cana-de- açúcar; E- Plantações abandonadas; F- Culturas comerciais; G– Pecuária bovina em campo antropizado; H-Pecuária bovina em pastos plantados; I-Reflorestamento; J- Floresta (sem uso identificado; K-Corpo d’água (sem uso identificado); L– Captação para abastecimento agrícola; M- Aquicultura; N- Área de várzea (sem uso identificado); O- Campestre (sem uso identificado); P-Corpo d’água (uso diversificado); Q-Estação de tratamento de esgoto. Org.: autor 33

5. Análise da Evolução Urbana em Engenheiro Coelho

O município de Engenheiro Coelho teve uma expansão significativa desde a década de 1960 até o ano de 2015. No mapa abaixo é possível observar toda a evolução desta mancha, passando dos anos de 1965, 1979, 1989, 2001, 2010 chegando até o ano de 2015 (Figura 9).

É possível notar que o crescimento da área urbanizada do município se estendeu ao longo do traçado das rodovias Engenheiro João Tosello (SP-147), Professor Zeferino Vaz (SP-332), e a Estrada Municipal Pastor Walter Boger. Sobre isso, cabe ressaltar que o período onde se teve maior acréscimo na área urbanizada, foi entre o período de 1989 até 2001, com um avanço de 3,49 km² de área urbanizada. Esta maior taxa de evolução está intrinsecamente ligada ao momento histórico que ocorria no município no período, no qual Engenheiro Coelho foi emancipado como município, juntamente com políticas públicas que visavam expandir a área da cidade. (Tabela 6)

Tabela 6. Área urbanizada no município de Engenheiro Coelho (1965-2015) Ano Área em km² % 1965¹ 0,27 0,24 1979¹ 0,40 0,36 1989¹ 2,03 1,84 2001¹ 5,52 5,0 2010¹ 6,16 5,58 2015² 8,27 7,5 Fonte: Nascimento (2013)¹, Inguaggiato (2015)² Org.: Autor

Nota-se também que o crescimento da cidade acompanha toda a evolução da Região Metropolitana de Campinas, e este crescimento da área urbanizada também está ligado a movimentos pendulares na RMC, uma vez que muitas pessoas buscam serviços e comércio em outras cidades, além das que possuem seu local de trabalho fora de suas cidades de origem, nesse cenário, o movimento pendular para Campinas destaca-se.

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Figura 9. Mapa da expansão urbana do município de Engenheiro Coelho

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Por fim, conclui-se que, embora Engenheiro Coelho tenha tido um acréscimo considerável em sua área urbanizada, a área rural configura a maior parte do município (Tabela 7), sendo a maioria de citrus e cana-de-açúcar, onde estas plantações são voltadas para as indústrias locais e usinas situadas ao seu redor.

Tabela 7. Área total dos usos rural e urbano do município de Engenheiro Coelho (2015) Uso Área em Porcentagem km² (%) Rural 102,07 92,5 Urbano 8,27 7,50 Total 110,34 100 Org.: Autor Sobre o uso geral dentro do município, destacamos que a maioria de sua área é destinada a plantação de cana-de-açúcar e de culturas comerciais, na qual destacam-se as plantações de citrus. O uso com essas duas culturas compõem aproximadamente 64,33% de toda a área do município, onde 42,04% é referente a plantação de citrus e 22,90% é cana-de açúcar. Esta grande área de produção de citrus, aproximadamente 46 km² está ligada a Indústria Kiki, produtora de suco de laranja. Enquanto a produção de cana-de- açúcar, que representa aproximadamente 24,50 km², está voltada às usinas de cana da região, principalmente a Usina Ester, localizada em Cosmópolis.

Vale ressaltar que a área urbanizada do município representa apenas uma área de 8,27 km², o que significa 7,50% da totalidade da área, o que mais uma vez demonstra como a urbanização, que embora tenha aumento significativo em relação à décadas anteriores, ainda ocupa uma área pequena em relação a todo o território do município.

Outras áreas significativas dentro de Engenheiro Coelho que valem a pena serem ressaltadas é o caso das florestas, que ocupam uma área de 8,84 km² (sendo aproximadamente 8% do território) e a pecuária bovina em pastos antropizados, com 9,43 km² de toda a área (com 8,5% da totalidade).

O mapa da Figura 10 mostra os demais usos da terra do município, e a Tabela 8 apresenta as demais porcentagens e áreas do uso da terra de todo o município de Engenheiro Coelho.

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Tabela 8. Usos da terra no município de Engenheiro Coelho (2015) Uso da terra Área em m² Porcentagem (%) Culturas comerciais (citrus) 46.342.109 42,04 Cana de açúcar 24.570.000 22,29 Pecuária bovina em pastos antropizados 9.431.974 8,55 Floresta 8.840.000 8,02 Urbanizado 8.043.000 7,50 Culturas alimentares comerciais (Mandioca) 5.864.000 5,32 Campestre 4.608.000 4,18 Captação de água 1.067.000 0,97 Pecuária bovina em pastos plantados 959.600 0,87 Área de várzea sem uso identificado 127.400 0,12 Corpo d'água sem uso identificado 86.663 0,08 Plantações abandonadas 58.531 0,05 Silvicultura 57.887 0,05 Corpo d'água com uso diversificado 38.682 0,04 Aquicultura 14.956 0,01 Culturas de subsistência (Mandioca) 4.373 0,00 Pesca 2.587 0,00 Estação para tratamento de esgoto 1.496 0,00 Total 110118257 100,00 Org.: Autor

Embora represente apenas 7,50% de todo uso da terra no município, a mancha intraurbana apresenta diferentes configurações ao longo de seu território. Percebemos que até o fim da década de 1980, as áreas urbanas se instalavam ao longo da rodovia Engenheiro Tosello (SP-147). Este cenário muda a partir dos anos 2001, com a formação de áreas urbanas relativamente distantes das rodovias.

A partir deste período, se tem a formação de loteamentos fechados, dentre eles os Residenciais Lagoa Bonita I e II e o Residencial Esparta Park, que estão localizados em uma área diferente do centro da cidade e do restante das áreas residenciais. Na comparação entre a ocupação nas áreas centrais e dos condomínios fechados percebe-se, além da evidente diferença na estrutura das casas, que o acesso à estas residências são completamente diferentes. Enquanto na primeira, o acesso se dá de forma mais fácil, a segunda conta com muros altos e o acesso ocorre apenas se em contato à portaria.

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Figura 10. Mapa de uso e ocupação da terra no município de Engenheiro Coelho

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Figura 11. Residências na área central de Engenheiro Coelho

Fonte: Inguaggiato, 2015

Figura 12. Residenciais fechados em Engenheiro Coelho

Fonte: Inguaggiato, 2015

Atualmente, os residenciais representam cerca de 19,11% do total da área intraurbana do município, com 1,58 km² de área. Para efeito de comparação, a classe definida como “residencial horizontal” possui 14,75% da totalidade, com aproximadamente 1,22 km² (Tabela 9) (Figura 12)

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Tabela 9. Usos intraurbano do município de Engenheiro Coelho (2015)

Uso Intraurbano Área em m² Porcentagem (%) Condomínio ou loteamento fechado 1.584.517 19,11 Residencial horizontal 1.224.635 14,75 Estrada ou rua pavimentada 1.036.180 12,58 Avenida ou rua pavimentada 758.999 9,19 Chácara (outros) 526.473 6,41 Indústria 424.050 5,08 Lote desocupado 412.028 4,96 Educação (escolas, faculdades, universidades, 347.815 4,23 biblioteca, etc.) Vazio urbano (outros) 342.293 4,11 Outros 301.054 3,63 Chácara 233.001 2,78 Espaço livre (outros) 176.409 2,18 Serviço (outros) 137.150 1,69 Área verde 126.364 1,57 Esporte, lazer (clubes, centros esportivos, 124.243 1,45 teatros, etc.) Distrito ou condomínio industrial 122.798 1,45 Misto 100.466 1,21 Avenida ou rua não pavimentada 98.525 1,21 Residencial outros 40.998 0,48 Conjunto habitacional vertical 36.408 0,48 Comércio varejista (lojas, bares, supermercados, 22.282 0,24 farmácias, etc.) Comércio atacadista (depósitos, centros de 23.387 0,24 distribuição, etc.) Praça 22.648 0,24 Conjunto habitacional vertical 7.754 0,12 Chácara (outros) 5.671 0,12 Religioso (igrejas, templos, etc.) 7.116 0,12 Transporte (rodoviária, estação, terminal de 8.678 0,12 carga, transportadora, etc.) Terreno baldio 13.577 0,12 Lagoa 13.880 0,12 Lote desocupado 1.234 0,00 Conjunto habitacional horizontal 4.145 0,00 Comércio (outros) 3.126 0,00 Saúde (clínicas, postos, hospitais, etc.) 1.848 0,00 Segurança (delegacias, quartéis, presídios, etc.) 1.637 0,00 Institucional (executivo, judiciário, legislativo) 1.967 0,00 Total 8.293.353 100,00 Org.: Autor

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Figura 13. Gráfico dos usos intraurbano do município de Engenheiro Coelho (2015)

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Figura 14. Uso da terra intraurbano do município de Engenheiro Coelho (2015)

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Em relação à habitação, destaca-se a construção de novos conjuntos habitacionais na região (este próximos a áreas já urbanizadas décadas anteriores), onde irá servir de moradia para a população de baixa renda. (Figura 15).

Figura 15. Conjunto habitacional horizontal

Fonte: Inguaggiato, 2015

Próximo a esta região onde estão localizados os residenciais, se tem a Unasp (Centro Universitário Adventista de São Paulo), fundada em 1983 (UNASP, 2015). O centro universitário possui, além de áreas educacionais, dormitórios para estudantes e professores, além de áreas verdes, bibliotecas e teatros. Junto a escolas de ensino fundamental e médio no centro de Engenheiro Coelho, a área de educação representa 4,23% da área intraurbana do município.

Em relação ao comércio local, destaca-se que não tem nenhum grande comércio ou empresas de porte nacional (como Pão de Açúcar). O que se encontra apenas são comércios locais, como supermercados, bares, farmácias e lojas, todas estas voltadas a atender uma quantidade pequena de pessoas. Isto mostra o fato do comércio (somado o atacadista, o varejista e outros) representar apenas aproximadamente 0,6% da totalidade intraurbana, com uma área de 0,04 km² (aproximadamente 48.795 m²). Estes comércios estão atrelados à região central do

43 município, sempre distantes dos residenciais e loteamentos fechados, conforme mostra a Figura 11.

A indústria tem uma parcela significativa da totalidade intraurbana. Se somar a área da indústria com os distritos industriais da região, ela representa aproximadamente 0,54 km² (540.000 m²). As empresas que têm destaque no município são a TRW Automotive, uma empresa automobilística, e a Citrus Kiki, indústria voltada para a produção de suco, o que justifica o grande porcentual de citrus plantado em Engenheiro Coelho (Figura 16).

Figura 16. Indústria TRW Automotive, Engenheiro Coelho

Fonte: Inguaggiato, 2015

Encontra-se no município também a presença de muitas chácaras, tanto voltadas à moradia quanto à plantação de subsistência. Na figura 10 fica evidente sua concentração em áreas próximas as rodovias, onde elas se encontram agrupadas em apenas a porção oeste do mapa. Observa-se também que as chácaras aparecem na evolução da mancha urbana entre 1989 e 2001, que 44 evidencia mais uma vez a importância da emancipação do município para o seu crescimento urbano. As chácaras representam 0,240 km² da totalidade intraurbana e 2,90% do total da área.

Observa-se também no município uma grande concentração urbana ao redor de igrejas (Figura 17), praças (Figura 18) e da rodoviária (Figura 19). Isto remete ao que ocorre no início da grande maioria das cidades pequenas, onde ela se inicia sempre em volta de uma igreja e uma praça, e a cidade se desenvolveu a partir destes pontos. Estes pontos estão atrelados também, a como dito anteriormente, a proximidade das mesmas rodovias SP-147 e SP-332.

Figura 17. Igreja Matriz de São Paulo no município de Engenheiro Coelho

Fonte: Inguaggiato, 2015

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Figura 18. Praça Central Antonio Bastisttella no município de Engenheiro Coelho

Fonte: Inguaggiato, 2015

Figura 19. Rodoviária de Engenheiro Coelho

Fonte: Inguaggiato, 2015

Por fim, temos uma quantidade significativa de lotes desocupados, representando 0,410 km² e 4,96% da área total intraurbana. Isto remete as políticas 46 públicas relativas à habitação, e estes lotes estão localizados tanto próximos à região central da cidade, quanto à região próxima aos residenciais. Na figura 23 observamos algumas construções e lotes desocupados situadas próximos aos residenciais.

Figura 20. Lotes desocupados e em construção próximos aos residenciais em Engenheiro Coelho

Fonte: Inguaggiato, 2015

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6. Considerações Finais

A evolução do município de Engenheiro Coelho ao longo de cinquenta anos aconteceu de forma significativa, atrelado juntamente ao crescimento da Região Metropolitana de Campinas, vinculado também ao movimento pendular que ocorria neste período. Destaca-se também o crescimento urbano no município, que primeiramente ocorreu nos arredores das rodovias que cruzavam a cidade (SP-147 e SP- 332).

A partir do momento da emancipação do município, no início dos anos 1990, a evolução urbana passa a se comportar de forma diferente. O crescimento urbano foi maior do que em qualquer outro período, o que indica que medidas públicas foram tomadas para atrair novos habitantes. Atrelado a isso, no início dos anos 2000 começa a formação de chácaras e residenciais e loteamentos fechados, que representa uma segregação das classes sociais. As pessoas com renda maior não buscavam habitar áreas centrais, já habitadas e com alta concentração populacional, onde ocorre o espraiamento pela cidade. Atrelado a isto, destaca-se a instalação da Unasp nessa região, o que atraiu também para área uma população de renda mais alta.

Contudo, nota-se um município dependente da agricultura, principalmente à cana-de-açúcar e citrus, estas vinculadas às grandes indústrias, onde no caso da cana-de-açúcar a sua produção é voltada à Usina Ester, e ao citrus a Sucos Kiki. Na atividade de campo, se percebeu em chácaras pequenos produtores com produções de culturas diversificadas, contudo estas eram voltadas apenas para o mercado local. A parte industrial é basicamente voltada a Sucos Kiki e TRW Automotive, o que nos mostra uma industrialização concentrada em duas empresas.

Observamos a importância dos instrumentos geoprocessamento, como o ArcGis, para a elaboração de mapas temáticos, o que facilitou entendimento da evolução urbana no município, além de esclarecer e mostrar os diversos usos da terra e usos intraurbanos.

Por fim, podemos constatar que a tendência pro futuro no município de Engenheiro Coelho é a continuidade das construções de loteamentos fechados, 48 assim como foi no início dos anos 2001, afim de cada vez mais segregar as diferentes classes sociais, e quanto a agricultura, o citrus e a cana de açúcar continuarem dominando o uso da terra do município, onde foi observado em campo que há diversas lotes de terras no início do cultivo destas duas culturas.

A partir de todas as considerações feitas neste trabalho, espera-se ter elucidado alguns questionamentos em relação a urbanização e o uso da terra no município, com o intuito de que se possa incitar novas discussões sobre este tema, tanto no município de Engenheiro Coelho quanto em outros municípios do território brasileiro.

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