Urubici E O Turismo Estudo Das Relações Urbanas E Rurais Com O Turismo Por Paula Soldi
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URUBICI E O TURISMO ESTUDO DAS RELAÇÕES URBANAS E RURAIS COM O TURISMO POR PAULA SOLDI SUMÁRIO 1. Introdução 2. História 3. Desenvolvimento Econômico 3.1 Ciclo da madeira 3.2 As Semestes do Vale do Canoas 3.1.1 “Terra das Hortaliças” 3.1.2 Maçã 3.1.3 Cooperativismo 3.1.4 Criação Bovina 3.1.5 Leis Sanitárias 3.3 Urubici como polo Turístico 4. Análise Urbana 5. Realidade Social 6. Bibliografia 1. INTRODUÇÃO “A cidade, compreendida aqui como a maior configuração espacial de relações sociais, constitui-se num palco de disputa territoriais de diferentes naturezas: econômicas, políticas, religiosas. O território urbano expressa seus interesses e conflitos por meio de uma complexidade de ações e objetos das mais diversas configurações e simbologias. O turismo compõe esse quadro de complexidade socioespacial e tam- bém deixa suas marcas no território urbano. Normalmente aliadas a interesses econômicos ou mesmo políticos, as atividades de natureza turística se impõem aos interesses locais, criando territórios delimitados ou mesmo territorialidades claramente percebidas.” (SOTRATTI, 2014) Nos últimos dez anos Urubici têm ganho as mídias nacionais devido ao inverno rigoroso com temperaturas negativas e assim conquistado milhares de admiradores. São pessoas que vêm à cidade a fim de sentir o frio intenso na pele e de brinde depara-se com a natureza exuberante e o ecoturismo em ascensão. São muitos visitantes a cada ano, que acabam justificando por parte da prefeitura o cresci- mento desordenado e acelerado. São mais de 3000 leitos criados desde então (estimativa da Prefeitura Municipal de Urubici). O que o poder público deixa de explicar são os números altos de famílias que vivem na pobreza ou pobreza extrema. São duas faces do mesmo município que não se correspondem e são extremamente contraditórias. Enquanto uma abusa de tudo que a cidade pode oferecer, a outra permanece esquecida a mercê dos programas de auxílio do Governo Federal. A agropecuária e o turismo são, hoje, as principais atividades econômicas, sendo a agricultura a primeira e principal desde a descoberta das terras férteis do vale do Rio Canoas. Urubici já foi conhecido pelas suas lavouras de hortaliças. Atualmente não é o principal produtor do estado, mas ainda assim muitas famílias vivem do trabalho com a terra. Novos produtos foram trazidos e se adaptaram bem nos últimos anos, enriquecendo ainda mais a oferta de itens. Mesmo com esses investimentos, pe- quenas propriedades e o trabalho familiar domina o cenário da região. Sendo assim este trabalho não pretende negar a realidade turística e sim vir a integrar todo esse potencial como forma de desenvolvimento econômico e social para a população. A partir da premissa do turismo sustentável, observando sempre uma distribuição mais igualitária, principal- mente aos moradores que vivem a margem da sociedade. Para tal, constatou-se que retomar as raíz- es do povo urubiciense a partir das suas relações com a terra, ou seja, uma maior valorização das produções e dos próprios agricultores gera a uma identidade que atraia mais visitantes. Segundo Santos (2014), a identidade territorial é uma característica cada vez mais importante na valorização dos lugares e destinos turísticos, pois o que o visitante procura consumir hoje em dia são experiênc- ias, arreigadas a práticas de lazer, diversão e sociabilidade. A partir do minucioso estudo da cidade, levando em conta sua história, desenvolvimento econômico, análise urbana e realidade social, acredita-se que muito pode ser feito para que haja um efetivo desenvolvimento humano e social a partir do turismo. As localidades rurais podem ser incor- poradas dentro de uma rede de turismo a partir da exploração sustentável do território onde estão inseridas, sendo cada uma peculiar a sua maneira. Dentro da cidade o investimento precisa ser feito para que não só o turista, mas como também toda a população possa desfrutar de novas áreas de la- zer e atividades culturais. A valorização do agricultor e dos produtos locais pretende ser a chave para a retomada dessa identidade. Ao mesmo tempo em que não se deseja que essas novas ações urba- nísticas, promovidas pela atividade turística e política, deixem toda a diversidade histórica, social e cultural, a fim de construírem uma cidade com imagem estereotipada de moderna, viva e reciclada como diz Sotratti (2014). 2. HISTÓRIA DE URUBICI Há 3000 anos foram registrados os primeiros habitantes da serra catarinense. Eram indígenas descendentes da tribo Jê, Xokleng, Kaygang e em quantidade menor, os Guaranis. O nome da pequena cidade localizada no vale já tinha sido dado por eles, e segundo a lenda quer dizer “ave assada” – URU, ave e BICI, assado. Dentre muitas tradições locais deixadas por nossos antepassados, podemos encon- trar inúmeros sítios arqueológicos, entretanto, apenas 39 deles estão registrados no IPHAN, isso se deve principalmente pela má conservação dos mesmos, uma vez que a maioria está localizada em terra par- ticular, destinada a outro fim. À medida que as expedições de desbravadores portugueses avançavam para o planalto catarinense, eram os Guaranis que os guiavam. A partir da abertura desses caminhos, começaram a se instalar os mais diversos descendentes nas terras serranas, também usadas pelos tro- peiros que vinham do sul. No século XVIII a mineração tornou-se a principal fonte de renda da colônia portuguesa, e para abastecer os trabalhadores foi necessário criar os caminhos das tropas que levavam o gado do sul até o sudeste. Devido aos altos custos de levar o rebanho pelo litoral brasileiro, foi necessário abrir caminhos por dentro do planalto: “... partia dos campos de Viamão (RS), seguia rumo ao norte até alcançar os cam- pos de Vacaria, atravessava o rio Pelotas, dirigia-se aos campos de Lages e aos campos de Curitibanos, cruzava os rios Negro e Iguaçu, passava por Curitiba ou Ponta Grossa (PR) e chegava a Sorocaba (SP), onde era negociado.” (Buratto et al., 2010) Os acampamentos estabelecidos ao longo do caminho das tropas, para descanso e invernada do gado, foram onde surgiram os primeiros moradores permanentes. Por volta de 1771, o capitão-geral da Capitânia de São Paulo fundou a povoação de Lages. Nessa época, houve uma preocupação em povoar as terras que iam do litoral até o planalto, mesmas terras que faziam parte do território Xokleng. O desinteresse econômico da população que habitava no li- toral, fez com que os índios permanecessem até 1824 sem nenhuma interferência branca. Nesse ano chegaram às “... frentes de colonização alemã e italiana, que se estabeleceram simultaneamente no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. A ocupação se estendeu e não demorou muito para que os índios Xokleng fossem cercados por todos os lados e confinados a uma área insuficiente para sobreviver.” (Buratto et al., 2010) Dessa forma desencadeou uma série de conflitos entre os indígenas e os colonizadores devido à falta de alimentos, em razão da demarcação segundo a Lei de Terras de 1850. Para impedir a evasão dos colonizadores, o governo interviu criando as guardas militares, os bugreiros, que exterminavam os índios e expandiam a colonização. “Especializados na captura e no extermínio de indígenas, os bugreiros eram pagos pelo governo, pelas companhias de colonização ou pelos próprios fazen- deiros para realizar “batidas” de modo mais bárbaro e assassinando centenas de índios.” (Paula 1924, citado em Santos 1970) A proclamação da República desencadeou diversos conflitos políticos que culminaram na Revolução de 1893. As cidades do sul do Brasil ficaram divididas entre: “... ‘maragatos’, federalistas opositores ao governo de Floriano, e ‘pica-paus’, denominação dada às tropas legais, florianistas e republicanas.” (Buratto et al., 2010) Na cidade de Tubarão (SC) não foi diferente, levando Manoel Sa- turnino de Souza e Oliveira, um maragato, a abandonar sua cidade natal, dominada por pica-paus. Na sua jornada para encontrar terras seguras, deparou-se com as margens do rio Urubici e constatou que seria um bom lugar para construir seu rancho. No ano seguinte, sua família se mudaria para a região e com eles outros primeiros moradores também viriam. A notícia das novas terras férteis se espalhou e muitos interessados chegaram, dentre eles criminosos fugitivos a procura de esconderijo, escravos recém libertos que fundaram as primeiras roças no atual bairro de Águas Brancas, e bugrei- ros oferecendo seus serviços. “ Nos anos seguintes, a ocupação efetiva de Urubici prosseguiu com a chegada de pessoas até então residentes em São Joaquim e de imigrantes procedentes principalmente do litoral e das encostas do sul catarinense. Os pioneiros, como Manoel Saturnino, eram luso-brasileiros. Diferentemente das cidades do litoral, onde a colonização foi promovida pelo Estado e por empresas privadas, em Urubici a ocupação aconteceu por livre iniciativa.” (Buratto et al., 2010) Depois de 1920 chegaram os colonos de origem alemã e italiana vindos de outras regiões de Santa Catarina, a maioria era composta por descendentes de imigrantes, que vieram para o Brasil duran- te a campanha de colonização do século XIX. Cinco anos mais tarde, grupos de imigrantes de origens le- tos começaram a ocupar o bairro Esquina e arredores, dedicando-se a produção de hortifrutigranjeiros. “Atualmente, Urubici é formado por descendentes de diferentes grupos étnicos, tais como portugueses, espanhóis, italianos, alemães, letos, africanos e indíg- enas. Diferentemente de outros municípios de Santa Catarina, que construíram sua imagem em torno da colonização europeia, como é o caso de Joinville, Blu- menau e Brusque, a colonização de Urubici contou com participação significati- va de afrodescendentes e indígenas, gerando uma população étnica e cultural- mente miscigenada. O fato de a cidade ter servido de destino secundário para imigrantes já abrasileirados e residentes em outras regiões do Estado ajuda a explicar por que Urubici não manteve muitas das tradições europeias de seus antepassados.” (Buratto et al., 2010) O município de São Joaquim foi criado em 1887, recebendo do governo do Estado uma gran- de parcela de terras da serra catarinense, dentre as quais estava localizado Urubici.