UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

SINARA ARAÚJO ABREU PEDROSA

A APLICAÇÃO DA TEORIA DO INADIMPLEMENTO EFICIENTE AOS CONTRATOS DE TRABALHO DESPORTIVO DE ALTO RENDIMENTO NO BRASIL

VIÇOSA - MG 2020

SINARA ARAÚJO ABREU PEDROSA

A APLICAÇÃO DA TEORIA DO INADIMPLEMENTO EFICIENTE AOS CONTRATOS DE TRABALHO DESPORTIVO DE ALTO RENDIMENTO NO BRASIL

Monografia apresentada ao Departamento de Direito da Universidade Federal de Viçosa como requisito para aprovação na disciplina DIR 499 – Trabalho de Conclusão de Curso e obtenção do título de bacharel em Direito.

Orientador: Daniel de Pádua Andrade.

VIÇOSA - MG 2020

Dedico este trabalho aos meus pais, Elismar e Edno, cujas lições de força e trabalho foram fundamentais para chegar até aqui.

AGRADECIMENTOS

O desenvolvimento de uma monografia não se dá de forma completamente individual, ao longo da produção deste trabalho percebi o quanto algumas pessoas foram essenciais no processo. Assim, agradeço a Deus pelo dom da vida e por minha saúde, fundamentais para conseguir realizar meus sonhos e propósitos; e também por ser a minha âncora em momentos difíceis. Aos meus pais, por todo o suporte para realizar o sonho de estudar na Universidade Federal de Viçosa, pelas instruções e pelos valores ensinados e por serem exemplos de força, determinação e trabalho. A todos os meus familiares, em especial, tias Marta, Rita, Edna e minha Avó Maria Geralda, por toda a torcida, pelas orações e conselhos sobre o futuro. À minha irmã, Sofia, aos meus amigos de Ipatinga, Danielli, Luiza, Letícia, Juliana, Karini, Matheus, Isaac e Gabriel, e aos meus primos, Samir e Gabriel, por se fazerem presentes mesmo com a distância, por apoiarem meus sonhos, por acreditarem e comemorarem junto todas as minhas conquistas. A todos os meus amigos de Viçosa, em especial às meninas da turma de Direito 2016, às veteranas do Direito 2015 e a Anthonelly, por serem verdadeiras irmãs, por todo o apoio, cuidado, companhia, conselhos e vivências compartilhadas. Ao professor Daniel de Pádua Andrade, pela orientação neste trabalhado, por confiar na proposta inicial, pelo apoio e pelos ensinamentos preciosos. A todos que, de alguma maneira, contribuíram para que eu chegasse até aqui, o meu muito obrigada.

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a teoria do inadimplemento eficiente aplicada aos contratos especiais de trabalho de atletas de alto rendimento do Brasil após a promulgação da Lei nº 9.615/1998. Dessa forma, parte-se da premissa do futebol atual como um verdadeiro ramo empresarial regido por importantes vínculos jurídicos e econômicos. A princípio, foram expostos o conceito, os pressupostos e os óbices enfrentados pela teoria da quebra eficiente dos contratos, além de uma análise em perspectiva comparada da recepção da efficient breach em sistemas de Common Law e Civil Law. Logo após, foram elucidados conceitos atinentes ao contrato especial de desporto e foi feita breve exposição do histórico da legislação desportiva nacional quanto a alguns aspectos civis da relação entre atleta profissional e entidade desportiva. Por fim, foram explorados os motivos que garantem a ampla adoção da quebra eficiente dos contratos no cenário desportivo frente ao conservadorismo existente no direito empresarial típico do Brasil que ainda persiste em não recepcionar a teoria. Para tanto, a metodologia utilizada foi a descritivo-exploratória, visto que se objetivou trabalhar com conceitos da teoria do inadimplemento eficiente e dos institutos desportivos em estudo, além de analisar as circunstâncias determinantes para a aplicação de cada fenômeno jurídico. Como conclusão, percebeu-se que o cenário jurídico e mercantil criado no âmbito desportivo, caracterizado pela presença obrigatória das cláusulas indenizatória e compensatória esportiva, além da grande valorização da eficiência esportiva e empresarial, da maior dinamicidade, volatilidade e competitividade, em comparação com o ramo empresarial brasileiro típico, são fatores determinantes para a ampla recepção e aplicação da teoria das quebras eficientes dos contratos no desporto.

Palavras-chave: Teoria do inadimplemento eficiente. Contrato especial de desporto. Lei Pelé. Cláusula indenizatória desportiva.

LISTA DE ABREVITURAS E SIGLAS

CC – Código Civil CDC – Código de Defesa do Consumidor CF – Constituição Federal CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas CPC – Código de Processo Civil FIFA – Federação Internacional de Futebol PIB – Produto Interno Bruto

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 7 2 A TEORIA DO INADIMPLEMENTO EFICIENTE ...... 12 2.1 O conceito, os fundamentos e os requisitos da teoria do inadimplemento eficiente ...... 12 2.2 A evolução da efficient breach theory em perspectiva comparada ...... 16 2.3 Os óbices enfrentados pela teoria da quebra eficiente dos contratos no Brasil ...... 19 3 O CONTRATO ESPECIAL DE DESPORTO NO BRASIL ...... 23 3.1 A profissionalização do desporto no Brasil e os aspectos básicos do contrato desportivo ...... 23 3.2 A evolução da Legislação Desportiva brasileira: a superação do instituto do “passe” ...... 25 3.3 O advento das cláusulas indenizatória e compensatória desportiva ...... 28 4 A TEORIA DO INADIMPLEMENTO EFICIENTE APLICADA AOS CONTRATOS ESPECIAIS DE DESPORTO NO BRASIL ...... 32 4.1 A percepção do futebol como atividade empresarial ...... 32 4.2 A presença marcante do inadimplemento eficiente na prática desportiva 35 4.3 Motivos que garantem a aceitação e adoção da teoria do inadimplemento eficiente em contratos especiais de desporto de atletas de alto rendimento ...... 38 5 CONCLUSÃO ...... 43 REFERÊNCIAS ...... 47

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1 INTRODUÇÃO

O desporto representa importante papel em diversos setores do Brasil, influenciando na economia, no entretenimento social e no direito. A legislação desportiva nacional foi historicamente construída centrada no futebol, principalmente em razão de o esporte ter assimilado protagonismo não só na prática de participação, como também na prática de rendimento. A profissionalização dos jogadores de futebol é datada da década de 1930, sendo motivada pela tentativa de frear as transações de jogadores brasileiros para o exterior, sem que esse movimento deixasse de garantir às entidades desportivas brasileiras o retorno financeiro desejado. Com a evolução dos institutos contratuais desportivos, os vínculos jurídicos de jogadores profissionais de futebol de alto rendimento1 no Brasil passaram a representar negócios altamente lucrativos, envolvendo enormes quantias de dinheiro advindas de diversos setores da economia (KOLLER; ANDRETTA, 2016). Inicialmente, a “Lei do Passe” (Lei nº 6.354/1976) regulamentava o liame existente entre atleta profissional e clube, dando a este vínculo natureza jurídica principal frente ao vínculo empregatício, que possuía caráter acessório. À época, mesmo com o fim do prazo contratual, o jogador continuava ligado ao clube que detinha seus direitos esportivos. Para que o atleta conseguisse se transferir para outra entidade era necessário a compra e liberação de seu “passe”, mesmo que não houvesse mais um contrato de prestações desportivas vigente. A Lei Pelé (Lei nº 9.615/1998) foi responsável por revolucionar o cenário nacional do esporte, por influência global do Caso Bosman, extinguindo o passe e regulamentando, a princípio, a cláusula penal desportiva. Inclusive, em função deste momento histórico relevante, tem-se a promulgação da Lei nº 9.615 em 1998 como o marco teórico da presente monografia. Ademais, o fim do sistema do passe trouxe aos jogadores profissionais uma maior autonomia e liberdade quanto à própria carreira desportiva, já a regulamentação da cláusula penal foi necessária para garantir

1 O presente trabalho se voltará apenas para os cenários contratuais de atletas de alto rendimento. Por “alto rendimento” entende-se a “alta competição” inserida na classificação constitucional do desporto de rendimento (art. 217, CF/1988). Faz-se esse recorte, porque esses tipos de contrato - de jogadores profissionais da série A do Campeonato Brasileiro, por exemplo - apresentam uma maior facilidade e qualidade de informações, reportagens jornalísticas e estudos acadêmicos. 8 equilíbrio entre as partes do contrato especial de desporto, viabilizando que a entidade desportiva fosse reestabelecida pelos investimentos feitos ao atleta. Atualmente, quebras contratuais praticadas livremente por clubes são um fenômeno cada vez mais marcante e costumeiro no cenário desportivo. Com a atuação de terceiros ofensores/aliciadores ao contrato especial de desporto, as entidades desportivas utilizam frequentemente a teoria do inadimplemento eficiente em busca de eficiência esportiva e empresarial e, dessa forma, impactam diretamente a economia a nível nacional e internacional. Essa recepção da efficient breach theory no âmbito desportivo brasileiro desencadeou certa inquietação e interesse acadêmico quanto às implicações jurídicas dessas práticas, haja vista que no cenário empresarial típico existe o princípio da primazia da tutela específica da obrigação. Dentro do contexto do incumprimento contratual eficiente, tem-se o direito privado, com ênfase no direito contratual, como uma das áreas mais dinâmicas e adaptáveis do mundo jurídico. Iolovitch (2016) cita os contratos como institutos de maior interação da sociedade com o direito, sendo um tema de estudo sempre atual. Na seara contratual, insere-se a teoria do inadimplemento eficiente, conceituada pela doutrina brasileira2 como o direito da parte de quebrar o contrato a que se vincula em caso de o lucro advindo dessa quebra exceder o lucro que obteria se prestasse a obrigação. Relevante mencionar que o direito à justa indenização da parte frustrada fica garantido, devendo a contraparte ser reestabelecida monetariamente em condições similares ao cumprimento total da avença. Para trazer aclaramento inicial quanto à teoria em estudo, tem-se o seguinte exemplo: Maria Geralda é dona de empresa local especializada na venda e instalação de vidros. Por trabalhar com funcionários reduzidos, a empresa é capaz de assumir apenas um grande contrato por vez. Maria Geralda é contratada por Joaquim para instalar 6.000 m² em vidros do modelo “8 milímetros, transparente” na fachada de um prédio fase final de construção. O preço por metro quadrado desse vidro “8 milímetros, transparente” foi estipulado em R$ 200,00 (duzentos reais), com o lucro por m² fixado em R$ 40,00 (quarenta reais), sendo que o cumprimento dessa avença renderá à

2 Como “doutrina brasileira” faço alusão aos autores utilizados como bibliografia para o presente trabalho. A saber, Marcos Iolovitch, Cláudia Perri, Fernando Morais, Koller e Andretta, Juliana Pela, José Inácio Prado Filho, César Fiuza, Victor Almeida, Maria Helena Diniz, Marinilce Sakahida, entre outros. 9 empresária o lucro de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais). Entretanto, antes do início do cumprimento obrigacional, Maria Geralda recebe proposta de Raimundo, oferecendo pagar R$ 590,00 (quinhentos e noventa reais) por metro quadrado do vidro de modelagem “laminado e refletivo”, solicitando a compra de 10.000 m². Acontece que a empresária consegue obter maior lucro sobre esse tipo de venda que Raimundo precisa, considerando o preço de custo/preço de venda. A nova proposta renderia à empresária um lucro de R$ 750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais). Diante da situação, para alocar seus recursos de forma mais eficiente, seria necessário que Maria Geralda rompesse o contrato celebrado com Joaquim, calculando previamente o ressarcimento e os danos morais devido à parte frustrada no montante de R$ 350.000,00 (trezentos e cinquenta mil reais). Assim, comparando as hipóteses à sua disposição, a empresária concluiria que o inadimplemento lhe geraria uma eficiência maior, auferindo R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) com o segundo contrato, mais vantajoso. Dentro do cenário do esporte, um atleta profissional ao longo da sua carreira pode se encontrar por vezes em situações parecidas com a vivenciada acima por Maria Geralda. Nesse sentido, o atleta profissional, ao cumprir contrato de trabalho desportivo com um clube, se destacando em campeonatos, acaba despertando o interesse de outra entidade desportiva. Esta última atua como sujeito ofensor ao contrato inicial, propondo oportunidade negocial mais vantajosa ao atleta. Assim, por se tratar de uma prestação de serviços desportivos personalíssima, o jogador profissional teria que escolher entre uma das ofertas, realizando uma provável quebra contratual eficiente. Importa mencionar que normalmente a teoria do inadimplemento eficiente é estudada com ênfase no direito empresarial3, sendo imprescindível informar que toda análise jurídica acerca da viabilidade de adoção da teoria deve ser realizada com atenção às circunstancias sociais, mercantis e jurídicas do seu meio de inserção. Essas circunstâncias, como a confiabilidade e reputação das partes no mercado, maiores ou menores custos de transação, épocas de crise nacional, instabilidade

3 Isso se explica pelo entendimento de que nesse ramo (direito empresarial) existe uma maior paridade de informações e poder de negociação entre as partes, além da ciência quanto às consequências de se praticar as quebras eficientes (IOLOVITCH, 2016). 10 política e a morosidade judicial, a depender do cenário indicam uma maior ou menor receptibilidade às quebras eficientes. Considerando essa exposição inicial, o objetivo geral da presente monografia é analisar a aceitação e aplicação da teoria da quebra eficiente em contratos especiais de desporto de jogadores profissionais de alto rendimento do futebol brasileiro após a entrada em vigor da Lei nº 9.615/1998. Ademais, como objetivos específicos o presente estudo visa: apresentar a teoria do inadimplemento eficiente, seus pressupostos e óbices; analisar, brevemente, o princípio da primazia da tutela específica da obrigação de fazer, sob a luz do artigo 497 do Código de Processo Civil, além de estudar também a boa-fé objetiva, sob a luz do artigo 422 do Código Civil; analisar, de forma suscinta, os aspectos civis4 do contrato especial de desporto de atletas profissionais de alto rendimento do Brasil; analisar a influência dos regramentos da Lei nº 9.615/1998 na ampla recepção das quebras eficientes nos contratos especiais de desporto; e, identificar os motivos que levam o direito desportivo a encontrar maior aceitabilidade e adequação com a teoria do inadimplemento eficiente, em comparação com a seara do direito empresarial típica. Como problema de pesquisa, tem-se as seguintes indagações: o que leva o direito desportivo a ser menos conservador que o direito civil e assimilar uma visão mais mercantilista da resolução contratual fazendo com que a teoria do inadimplemento tenha maior aceitabilidade dentro dos contratos de desporto se em comparação com contratos empresariais típicos? Quais os aspectos jurídicos, econômicos e sociais levam à aplicação do inadimplemento eficiente dentro dos contratos especiais de atletas profissionais de alto rendimento no Brasil? Importa ressaltar que esta monografia tem sua justificativa pautada no relevante impacto social e jurídico, na medida em que estuda a evolução da liberdade profissional do jogador de futebol evidenciando as mudanças trazidas pela entrada em vigor da Lei nº 9.615/1998 em detrimento da antiga Lei do Passe (Lei nº 6.354/1976), e impacto econômico, haja vista que, atualmente, o futebol representa 0,72% (zero vírgula setenta e dois por cento) do PIB brasileiro (CBF, 2019). Ademais, o presente estudo inova ao analisar os aspetos jurídicos da quebra eficiente aplicada

4 Importante ressaltar que o presente estudo não pretende analisar os aspectos trabalhistas do contrato especial de desporto, visto que o seu estudo foge do escopo principal desta monografia. 11 aos contratos especiais de desporto no Brasil, sendo os questionamentos ora levantados bastante atuais e pertinentes no cenário brasileiro. Ademais, parte-se das hipóteses de que a alta globalização e a capitalização do futebol no Brasil levam à relativização da proteção dos contratos desportivos e suas partes negociais, fazendo com que a função social do contrato e a vedação ao aliciamento de prestadores de serviço não sejam aplicados dentro dos contratos de desporto. Assim, o princípio da quebra eficiente dos contratos, aliado à grande mercantilização do futebol e à teoria da barganha, tem maior aceitabilidade dentro do direito desportivo. Além disso, a promulgação da Lei n° 9.615/1998, trouxe maior liberdade profissional para os jogadores de futebol. A extinção da antiga Lei do Passe fez com que o vínculo existente entre o jogador profissional e o clube se findasse juntamente com o término do contrato de trabalho, o que antes não acontecia. Atualmente, o jogador profissional pode decidir os próprios rumos da sua carreira, aplicando a teoria da quebra eficiente dos contratos quando o inadimplemento contratual for mais vantajoso a ele do que o cumprimento do contrato em sua totalidade. A metodologia utilizada no presente estudo versa sobre procedimentos técnicos teóricos, utilizando-se os tipos de pesquisas descritivo e exploratório. Ademais, quanto à abordagem do problema de pesquisa, esta se dará de forma qualitativa, buscando explicar de forma clara os conceitos trazidos para o trabalho de conclusão de curso, sem a utilização de dados meramente quantitativos. O método dedutivo de pesquisa foi utilizado para realizar análises de conceitos de forma sistêmica, levando em consideração teses, pensamentos e conceitos que se relacionam no direito civil, empresarial e desportivo. No que diz respeito à organização do texto, a segunda seção do trabalho apresentará a teoria do inadimplemento eficiente e seus pressupostos, passando-se posteriormente à uma análise em perspectiva comparada da efficient breach em sistemas de Common Law e Civil Law, bem como aos óbices da teoria em comento. Logo após, na seção três, a presente monografia detalhará o contrato especial de trabalho desportivo no Brasil, analisando os aspectos civis pertinentes do contrato desportivo, realizando também uma breve análise do histórico da profissionalização do desporto e elucidando o advento das cláusulas indenizatória e compensatória desportiva. Em momento seguinte, na secção quatro, a partir de uma visão ampla e 12 interdisciplinar, será possível dar início à análise do inadimplemento eficiente aplicada aos contratos especiais de desporto, apontando, ao final, os motivos que garantem maior receptibilidade das quebras eficientes no meio desportivo em comparação com o cenário empresarial típico. Com isso, almeja-se atingir a finalidade acadêmica do presente trabalho de conclusão de curso.

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2 A TEORIA DO INADIMPLEMENTO EFICIENTE

Feita introdução aos temas interdisciplinares que compõem este trabalho, passa-se à exposição da teoria das quebras contratuais eficientes. Primeiramente, é pertinente salientar que a teoria em comento se insere na ciência jurídica da análise econômica do direito ou Law And Economics. Resumidamente, a análise econômica do direito é estudo que integra direito e economia, voltando-se para uma análise da alocação de recursos tidos com escassos e possuindo o objetivo de prever os efeitos das normas e decisões jurídicas, visando promover a eficiência (IOLOVITCH, 2016). Ademais, tem-se que atualmente a teoria do inadimplemento eficiente é apoiada por parte minoritária dos estudiosos e doutrinadores brasileiros, pois o instituto vai de encontro ao princípio da primazia da tutela específica da obrigação ao defender a possibilidade do descumprimento de avença estipulada em contrato nos casos em que o inadimplemento for mais vantajoso que o cumprimento das disposições contratuais. Importante mencionar que teoria leva em consideração o cálculo prévio de justa indenização devida à parte lesada e demais consequências reputacionais cabíveis. Assim, em linha gerais, caso o inadimplemento seja hipótese eficiente, mesmo diante dos valores indenizatórios devidos, prevalecerá o direito da parte de romper o contrato e se vincular à oportunidade negocial mais vantajosa (PERRI, 2017).

2.1 O conceito, os fundamentos e os requisitos da teoria do inadimplemento eficiente

A teoria do inadimplemento eficiente é um instituto de direito contratual com origem na tradição de Common Law (PERRI, 2017). Como conceito, o inadimplemento eficiente “consiste na ideia geral de que as partes de um negócio jurídico contratual devem ser livres para descumprirem o contrato quando os custos com o cumprimento forem superiores às consequências do inadimplemento, uma vez que arquem com os danos gerados.” (FIUZA; ALMEIDA, 2017, p. 347). Nesse sentido, a teoria da quebra eficiente do contrato é possível quando, com o inadimplemento, a parte inadimplente fica em situação melhor do que se o contrato fosse cumprido e a parte frustrada não fica em situação pior se comparada com o cenário do cumprimento total do contrato (FIUZA; ALMEIDA, 2017). 14

Importante ressaltar que, o conceito de “eficiência”5, dentro do inadimplemento eficiente, assume critérios coletivos e não individuais (IOLOVITCH, 2016). Dessa forma, para que a quebra do contrato aconteça de maneira eficiente, considera-se necessário, além da parte inadimplente tenha benefícios com o inadimplemento, que a parte frustrada seja adequadamente indenizada com base em parâmetros de cumprimento total do contrato. Marcos Brossard Iolovitch (2016, p. 125) aponta que

após a conclusão do contrato, mas antes ou durante o seu cumprimento, é possível que haja uma alteração de circunstâncias atinentes ao pacto, de modo que a alocação original de recursos se revele não mais vantajosa [...]. [Nesse sentido], é possível que, após a celebração da avença, sobrevenha uma oportunidade negocial mais vantajosa a uma das partes, e que demande aqueles mesmos recursos já destinados à prestação contratual original, de modo que seria impossível efetuar as duas prestações, tendo-se de optar por uma delas. Assim, a quebra será eficiente se o lucro obtido com o novo negócio for suficiente para indenizar o contratante original (ou ’comprar-lhe a liberação’ do contrato) e, ainda assim, o resultado ser positivo, gerando excedente econômico.

Ademais, partindo-se da premissa de sociedade atual caracterizada como plural, dinâmica e em constante evolução, “oportunidades negociais mais vantajosas a uma das partes [já vinculada a um primeiro contrato], e que demande aqueles mesmos recursos” como citado anteriormente, são cada vez mais comuns (IOLOVITCH, 2016, p. 127). Nesse contexto, faz-se importante apresentar ao presente trabalho a ideia do “terceiro cúmplice” ou “terceiro ofensor”, conceito em estreita ligação com a teoria da quebra eficiente dos contratos. O “terceiro ofensor” não é participante da formação de um contrato inicial. O negócio jurídico não contou com a vontade deste terceiro em sua gênese, sendo este completamente alheio à eficácia interna do contrato. “A

5 O vocábulo em questão segue o conceito de dois autores diferentes. Para Pareto, a eficiência exige que, além dos benefícios da parte inadimplente com quebra eficiente, que a parte frustrada seja adequadamente indenizada com base nos lucros auferidos caso o contrato fosse cumprido na íntegra. Perri (2017, p. 40) afirma que, “há eficiência, de acordo com Pareto, sempre que a transação melhora a situação da pessoa, sem que a de outra pessoa seja piorada.” Já para Kaldor-Hicks, a eficiência pode viabilizar um possível prejuízo a uma das partes, desde que os lucros da outra parte sejam superiores à soma dos danos. Isso porque, para estes economistas, a eficiência poderia ocorrer de maneira concentrada, resultando ainda assim em uma melhor alocação de recursos (IOLOVITCH, 2016). Perri (2017, p. 41) afirma que “[o] modelo de eficiência em Kaldor- Hicks tem por marco zero o princípio de que o sistema normativo deve ter por finalidade promover o máximo de bem-estar ao maior número de indivíduos possível e, nesse passo, os ganhos globais devem compensar perdas eventualmente experimentadas (ainda que individualmente) por alguns.” 15 posição jurídica do terceiro assenta-se em um alheamento material e formal a determinada e particular relação jurídica.” (RODRIGUES JUNIOR, 2004, p. 4). Assim, por oferecer melhores condições negociais, o “terceiro ofensor” ou “terceiro cúmplice” acaba gerando vantagens para que uma das partes do negócio jurídico opte pelo fim do contrato. Entretanto, os sistemas de Common Law e Civil Law tem adotado diferentes posicionamentos quanto à responsabilidade civil de terceiros frente à quebra contratual, como será elucidado em subseção posterior. Segundo Iolovitch (2016), a teoria da quebra eficiente dos contratos tem como requisitos de aplicação a previsibilidade das consequências do inadimplemento, a justa indenização e, por óbvio, a eficiência, sendo que todos requisitos buscam alcançar a segurança jurídica, mesmo diante da quebra contratual. Quanto ao requisito da previsibilidade, esse é tido como um aspecto essencialmente matemático. Para colocar a teoria da quebra eficiente do contrato em prática é necessário que a parte tenha conhecimento das consequências do descumprimento, inclusive dos custos transacionais, custos da barganha e demais perdas inerentes ao descumprimento, como perdas subjetivas e o prejuízo reputacional (IOLOVITCH, 2016). A previsibilidade das consequências geradas pelo inadimplemento depende então de fatores jurídicos, políticos, sociais e mercadológicos. Questões como os custos transacionais, a instabilidade política e econômica, a morosidade judicial, a confiabilidade das partes e a reputação perante o mercado interferem neste cálculo. Importa salientar que uma quebra contratual realizada por impulso pode até vir a ser eficiente, porém quanto maior for a previsibilidade, mais segurança jurídica terá o inadimplemento eficiente. Marcos Iolovitch (2016, p. 147) argumenta que

[s]eja de uma ou outra maneira, mesmo que se questionasse a imprescindibilidade da previsibilidade, certamente não se poderia negar que a mesma é altamente desejável, já que favorece a aferição pretérita à quebra da sua conveniência e, consequentemente, eficiência, cujo cálculo meticuloso se manifesta com ainda maior intensidade quando consideramos a racionalidade dos agentes envoltos aos contratos mercantis.

Em relação à aferição da justa indenização, esta se desdobra tanto em requisito para a aplicação da quebra eficiente quanto em uma possível barreira prática à execução da teoria. Isso porque as dificuldades para se fixar a extensão da indenização à parte lesada não são poucas. 16

Dentro da doutrina da responsabilidade contratual destaca-se a divergência entre autores que defendem a necessidade de indenização por

(i) restitution, que seria o retorno da parte inadimplente ao status quo, devolvendo ao credor quaisquer bens ou valores que já tenha recebido por conta do contrato e ainda os ganhos advindos do descumprimento; (ii) reliance, consistente no retorno da vítima do descumprimento ao status quo ante; [ou] (iii) expectation, em que se colocaria o credor da obrigação na mesma posição que estaria caso o contrato tivesse sido regularmente cumprido, o que o tornaria indiferente entre o cumprimento ou a quebra da contraparte. (MAHONEY, Paul G, 2011 apud IOLOVITCH, 2016, p. 68).

Ou seja, observa-se uma divergência existente quanto à necessidade de indenização com base apenas nos danos emergentes ou, também, nos lucros cessantes. Nesse ponto, faz-se relevante destacar que o ordenamento brasileiro em seu artigo 402 do Código Civil dispõe que “[s]alvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.” (grifo nosso). Além disso, em contratos onde há estipulação de cláusula penal compensatória, o cálculo da indenização, em tese, se dá de forma mais fácil, pois “o conceito almejado é o de ‘justa indenização’, não podendo ser esta mais justa do que o valor atribuído livremente pelas próprias partes [...].” (IOLOVITCH, 2016, p. 149). Já quanto ao requisito da eficiência, os estudiosos da efficient breach apontam duas perspectivas, a de Pareto e a de Kaldor-Hicks, sendo que, de acordo com Iolovitch (2016), a essência da teoria do inadimplemento eficiente se sustenta em premissas paretianas6 de eficiência, mesmo que a doutrina majoritária não indique expressamente qual dos conceitos foram adotados em seus trabalhos. Dessa forma, o requisito da eficiência é cumprido quando, ao aferir os custos e ganhos advindos do cumprimento do contrato em contraposição ao cenário da quebra contratual (e todas as consequências advindas do rompimento), o inadimplemento se mostrar a decisão mais lucrativa à parte interessada, sem que a parte lesada fique em situação pior se comparada com as circunstâncias do cumprimento da avença.

6 Para Iolovitch (2016) a eficiência da Pareto é “critério que, além de poder ser considerado mais conservador e também socialmente aceitável, seria o mais recomendável, especialmente ao se considerar que a quebra eficiente é um tema de fronteira no direito civil, encontrando resistência entre contratualistas ortodoxos.” 17

2.2 A evolução da efficient breach theory em perspectiva comparada

Oliver Holmes, no final do século XIX, por meio de uma visão pragmática obteve protagonismo quanto às ideias iniciais da efficient breach. O autor defendia a separação entre ética e moral afirmando que, em países de Common Law¸ o cumprimento de um contrato é, na verdade, a possibilidade de se pagar indenização ao optar pelo inadimplemento, e nada além disso (IOLOVITCH, 2016). Robert Birminghan é citado por diversos estudiosos7 como o autor responsável pela criação da teoria do inadimplemento eficiente, em 1970. Birminghan, mesmo sem dar nome à teoria, defendeu exatamente o conceito atual da efficient breach, apresentado na subseção anterior desse trabalho. Apenas em 1977 a teoria do inadimplemento eficiente adquiriu seu nome atual, com Goetz & Scott (GOETZ; SCOTT, 1977, v. 77 apud MORAIS, 2019, p. 28) que, por meio de conceitos puramente holmesianos, defendiam a ideia de que a parte que estivesse disposta a suportar os danos do inadimplemento contratual, poderia romper com o contrato antecipadamente. Relevante pontuar que a teoria da efficient breach é um “tema de fronteira” que rompe pensamentos clássicos do direito contratual, como a pacta sunt servanda já foi considerada antes de obter ampla aceitação, sendo que a evolução da sociedade nos contextos econômico, político e social é o que permite que novas doutrinas jurídicas se desenvolvam8. Ademais, Iolovitch (2016) afirma que em países originários do sistema de Common Law, onde juízes não são fortemente vinculados a códigos e disposições legislativas, inegavelmente há maior abertura à aplicação explicita da quebra eficiente dos contratos. Isso porque é certo que a aplicação da teoria do inadimplemento eficiente não depende apenas de condições legais, mas também de amparo do mercado em que será aplicado e do caso concreto. Dessa forma, a doutrina aponta que sistemas Common Law são efetivamente mais propícios à aplicação da teoria, justamente pelo

7 Como exemplo, tem-se os estudos de: IOLOVITCH, Marcos Brossard. MORAIS, Fernando Vinícius Tavares Magalhães. PERRI, Cláudia Haidamus. 8 Nesse sentido, Iolovitch (2016, p. 131) menciona a cláusula rebus sic standibus: “a qual também desafiou institutos contratuais clássicos, inclusive a própria força vinculante dos contratos, e hoje é uma realidade jurídica consolidada, inclusive no Brasil; seu desenvolvimento deu origem ao que se chama de ‘teoria da imprevisão’.” 18 fato de o aplicador da lei se amparar nos critérios que acredita ser mais pertinentes para julgar o caso concreto. Entretanto, nem mesmo nesses países a teoria está consolidada (IOLOVITCH, 2016). A relação entre a violação eficiente dos contratos e a “tutela externa do crédito” é exemplo claro da maior receptividade da efficient breach em sistema de Common Law em comparação com Civil Law. Cláudia Perri (2017) pontua que, inicialmente, nos Estados Unidos, a responsabilização do terceiro que interferia no contrato alheio ocorria quando essa interferência se dava sem motivos justos. Entretanto, a partir dos anos oitenta, os tribunais norte-americanos passaram a exigir outras condições para que o aliciamento do terceiro fosse reconhecido como ato ilícito.

Nesse sentido, ao que nos parece, quanto mais os tribunais acrescentam requisitos para o reconhecimento do ato ilícito por interferência na relação contratual, ou seja, quanto mais limitado for o âmbito da responsabilidade civil por interferência de terceiro na esfera contratual, menor será o desestímulo às violações. Assim, cada vez o sistema americano será ainda mais favorável às violações eficientes. (PERRI, 2017, p. 167).

Perri (2017) afirma que o Common Law anglo-americano possui uma abundância de elementos favoráveis à aplicação da quebra eficiente dos contratos que parecem não existir na mesma proporção em sistemas de Civil Law. A lei alemã traz dispositivos expressos que dispõem sobre a reparação dos danos gerados pelo terceiro ofensor que intencionalmente interfira em uma relação contratual alheia. No Brasil, a mais recente “doutrina do terceiro cúmplice” vem sendo fortemente consagrada pela jurisprudência com o objetivo de frear certa imoralidade e o ato ilícito do terceiro que intervém no contrato alheio (PERRI, 2017).

As diferenças aqui parecem ser em grau e não em espécie. A legislação brasileira e a germânica têm uma ‘visão restritiva’ a respeito da responsabilidade de terceiros, [...] especialmente quando o terceiro mostra um comportamento imprudente em face da parte contratante que é prejudicada pela quebra do contrato. A lei norte-americana, com todas as suas variações, é mais favorável a que se permita interferência de terceiros nos contratos. Assim, mais uma vez o jurista alemão e o brasileiro, confrontados com a teoria da violação eficiente, encontrariam um impedimento em seus sistemas, pois que se tornaria mais caro violar um ajuste mediante proposta de terceiros que tenham conhecimento do contrato a ser violado. (PERRI, 2017, p. 173).

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Dessa forma, é inconteste que os países de sistema Civil Law são, de certo modo, dependentes de criações legislativas mais “permissivas” e voltadas à eficiência dos contratos para que a efficient breach theory seja colocada em prática. É a existência de cláusulas gerais, que admitem certo subjetivismo e que comportam mais de um tipo de solução para um mesmo caso concreto, que abrem espaço para gradual aceitação da quebra eficiente dos contratos em sistemas Civil Law. Cita-se a boa-fé e a função social. Nesse sentido é o que entende Marcos Brossard Iolovitch (2016, p. 133, grifo nosso),

pode-se falar que, diante destas modificações na seara contratual verificadas nas últimas décadas, a quebra eficiente insere-se dentro da chamada função social dos contratos, pois é uma medida que gera ganhos além das partes na medida em que promove uma eficiência coletiva. Não se pode olvidar que, conforme se extrai da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, ‘A função social inflingida ao contato não pode desconsiderar seu papel primário e natural, que é o econômico’.

Assim, é por meio da evolução social, política e mercadológica que a teoria do inadimplemento eficiente ganha espaço em sistemas de Civil Law, existindo inclusive alguns relatos de aplicação indireta da teoria na França e Alemanha (IOLOVITCH, 2016).

Com relação ao Brasil, pelo fato de o estudo do tema ser recente, ainda não se tem notícia de julgados que aplicaram ou discutiram a aplicação da teoria sob o prisma do direito brasileiro. Todavia, esse fato não deve ser tido como um indício de que a teoria não seria aqui aplicável, sendo que mesmo no direito norte-americano, (...) levou-se mais de uma década entre o início dos estudos da teoria com Robert Birminghan e sua aplicação pelas cortes. (MORAIS, 2019, p. 42).

A expansão e o enriquecimento do tema da efficient breach no Brasil, ocorre, em grande medida, graças aos estudos acadêmicos e publicações. Tem-se os 20 exemplos9 de José Prado Filho10, Marcos Brossard Iolovitch 11, Juliana Krueger Pela12, Cesar Fiuza e Victor Almeida13, Cláudia Perri14 e Fernando Morais15.

2.3 Os óbices enfrentados pela teoria da quebra eficiente dos contratos no Brasil

Inicialmente, é relevante destacar que os óbices para a aplicação da efficient breach no Brasil vão além dos critérios jurídicos. Aspectos econômicos e sociais são tão relevantes quanto os aspectos legais para se determinar a viabilidade e as condições de aplicação da teoria do inadimplemento eficiente. O presente trabalho analisará a seguir somente os óbices tratados de forma majoritária – e quase unânime16 - por estudiosos brasileiros, a saber, a execução específica da obrigação e a boa-fé objetiva, haja vista a impossibilidade de analisar (para fins do trabalho de conclusão de curso) a totalidade dos obstáculos17 apontados pelos doutrinadores da teoria. Nesse contexto, o direito da parte frustrada, garantido pelo artigo 497 e seguintes do Código de Processo Civil, de suscitar o cumprimento forçado da obrigação é a primeira barreira prática a ser apontada pelo presente trabalho e, segundo alguns autores como Fernando Morais (2019) e Juliana Pela (2016), seria o mais importante obstáculo enfrentado pela teoria no Brasil e em países de Civil Law.

9 Faz-se relevante destacar que estes não são os únicos atores a discutir sobre a efficient breach no Brasil. 10 Autor do estudo “A Teoria do Inadimplemento Eficiente (Efficient Breach Theory) e os Custos de Transação” da Universidade Berkeley. (2007). 11 Dissertação utilizada como referência no presente trabalho: IOLOVITCH, 2016. 12 Autora do estudo “‘Inadimplemento Eficiente’ (Efficient Breach) nos Contratos Empresariais” de 2016. 13 Autores do estudo “Apontamentos acerca do inadimplemento eficaz” de 2017, publicado pela Revista Meritum, Belo Horizonte. 14 Autora utilizada como referência “PERRI, 2017.” 15 Autor utilizado como referência “MORAIS, 2019.” 16 Os autores utilizados como fontes bibliográficas – Iolovitch (2016), Pela (2016) e Morais (2019) - concordam ao apontar a boa-fé e a execução específica da obrigação como óbices à teoria do inadimplemento eficiente, sendo que apenas Perri (2017) não cita a boa-fé como um possível obstáculo à teoria em estudo. 17 Nesse sentido, Iolovitch (2016) aponta também a moralidade e a inviabilidade de cálculo como barreiras práticas à quebra eficiente dos contratos. Perri (2017) destaca ainda os danos imprevisíveis, o momento de avaliação dos danos e a ausência de dever de mitigar prejuízos, a tutela externa do crédito e a incerteza quanto aos custos do litígio como óbices. Já Pela (2016) e Morais (2019) se referem às cláusulas penais, à não estipulação de obrigação alternativa e o abuso de direito como potenciais obstáculos à teoria do inadimplemento eficiente. 21

[Já] em sistemas de ‘Common Law’ anglo-americanos, é axiomático que o principal – se não o único – remédio para os danos causados pelo não cumprimento dos contratos é uma ação de indenização em face da violação, não havendo, portanto, qualquer empecilho para a recepção do inadimplemento eficiente. (PERRI, 2017, p. 138).

O ordenamento jurídico brasileiro18 dispõe que a parte lesada pode postular pelo cumprimento da obrigação pactuada se assim preferir, sendo importante citar a existência e prevalecimento jurisprudencial do “princípio da primazia da tutela específica”. Nesse sentido é o que entende Toscan (2019, p. 9) ao afirmar que

há que se acentuar a prevalência da tutela específica [...] dos direitos sobre a tutela pelo equivalente, reconhecendo-se o valor intrínseco dos bens e direitos, cuja conversão em pecúnia em geral deve ser aplicada apenas de forma subsidiária, i.e., quando não restar alternativa. Destarte, sempre que se revelar concretamente possível, as formas de tutela específica terão preferência sobre a tutela pelo equivalente.

Nesse contexto, o Judiciário, por meio da fixação de astreintes e multas diárias, além da expedição de mandados de busca e apreensão, pode forçar o cumprimento do contrato19 em favor da parte lesada. Essas medidas coercitivas são adotadas principalmente quando se trata de obrigação personalíssima e infungível, haja vista que os meios substitutivos da obrigação não são facilmente encontrados. “Assim, embora o descumprimento fosse eficiente, a parte inadimplente fica sujeita às ações da contraparte para concretizar o desejável rompimento do vínculo.” (IOLOVITCH, 2016, p. 209). A superação do óbice acima se dá nos casos em que houver previsão resilitória ou resolutória expressa, visto que por meio delas o vínculo entre as partes pode ser rompido voluntariamente e sem justificativa ou por previsão expressa. Nesse caso, há apuração de qual das partes foi a responsável pelo rompimento contratual, devendo- se analisar a necessidade de reparação das perdas e danos (IOLOVITCH, 2016).

18 Tem-se, no Código Civil, tanto o artigo 947, que prioriza a execução específica, quanto o artigo 475, que deixa ambas as possibilidades em aberto. Cita-se: “CC, art. 947. Se o devedor não puder cumprir a prestação na espécie ajustada, substituir-se-á pelo seu valor, em moeda corrente.” “CC, art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.”; Tem-se ainda artigo 499 do CPC: “A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.” E, artigo 84, §1º do CDC, “A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.” 19 O artigo 536 do CPC dispõe dobre as medidas voltadas à efetivação da tutela específica. 22

Ademais, o artigo 422 do Código Civil20, por meio de cláusula geral, dispõe sobre a boa-fé objetiva. Esta é apontada pela doutrina majoritária como outra possível barreira prática ao exercício do inadimplemento eficiente, por serem, aparentemente, incompatíveis entre si. O instituto da boa-fé objetiva pressupõe deveres de transparência, cooperação, informação, honestidade e lealdade entre as partes contratuais, entretanto, esses deveres são frutos de interpretação doutrinária, não sendo expressamente mencionados em lei, o que faz a boa-fé ser entendida como um instituto dotado de ampla margem de conformação prática. Entretanto, por ser uma cláusula geral, deve-se ter cautela quanto à aplicação irrestrita da boa-fé objetiva, o princípio precisa ser observado de forma imersa ao ambiente de sua aplicação, inclusive, parte da doutrina brasileira defende que entre pessoas habitualmente comerciantes e entre não comerciantes, por exemplo, a aplicação do instituto da boa-fé deve se dar de formas diferentes21. Dessa forma, parte minoritária da doutrina reforça que o dever geral de cooperação, por exemplo, tido como grande empecilho à quebra eficiente dos contratos – já que o conceito de “cooperação” pressupõe que ambas as partes devem zelar por uma boa execução do contrato - precisa ser relativizado em contratos tipicamente empresariais e mercadológicos. Esse é o caso de Iolovitch (2016), que defende a “proteção à confiança” como o fim último da boa-fé. Assim, na prática empresarial e de mercado, os deveres de boa-fé das partes contratuais se materializam na credibilidade, na previsibilidade e na segurança jurídica dos contratos.

Subsistiriam deveres como o de informação, o qual deve ser interpretado de acordo com o dever de probidade e razoabilidade nas relações contratuais, já que informações estratégicas estão naturalmente excluídas. A este respeito, a doutrina italiana salienta que, durante a formação dos contratos, entre os principais deveres decorrentes da boa-fé, está o de comunicar à contraparte dados e informações relevantes; porém, não se trata de um dever absoluto [...]. (IOLOVITCH, 2016, p. 176, grifo nosso). Intimamente ligados ao dever de informação estão os deveres de conduta pautados pela lealdade e honestidade, corolários da

20 Nesse sentido, tem-se que: CC, art. 422. “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.” 21 Nessa perspectiva, tem-se enunciado nº 29 da I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justiça Federal: “Aplicam-se aos negócios jurídicos entre empresários a função social do contrato e a boa-fé objetiva (arts. 421 e 422 do Código Civil), em conformidade com as especificidades dos contratos empresariais.” 23

transparência. Isso porque a parte leal deve comunicar prontamente à contraparte circunstâncias e fatos relevantes que podem influenciar os rumos da execução do contrato e o próprio interesse na manutenção do mesmo. Assim, especificamente no caso da quebra eficiente, verificadas as circunstâncias e condições para a sua prática – as quais, por certo, alheias à vontade das partes – e admitindo-se a inexistência de dispositivo liberatório, caberia ao pretenso executor da quebra comunicar à contraparte tal fato, bem como a sua intenção de não cumprir o contrato [...] tão logo tenha conhecimento das mesmas, inclusive como uma forma da mitigar eventuais danos decorrentes da demora. (IOLOVITCH,2016, p. 177, grifo nosso).

Marcos Iolovitch completa afirmando que,

ainda que se considerasse que a quebra eficiente seria atentatória à boa-fé – debate meramente hipotético, pois já se mostrou falsa a premissa –, a cláusula geral não teria o condão de invalidar o ato praticado, na medida em que a questão teria de ser resolvida em perdas e danos, na extensão destes (...), os quais seriam idênticos, à toda evidência, aos que seriam apurados na própria via indenizatória pela extinção do vínculo. (IOLOVITCH, 2016, p. 178).

Notadamente, parte da doutrina brasileira22 adota a postura de que a cláusula geral da boa-fé objetiva e seus deveres correlatos não podem ser assimilados como institutos que obrigam as partes a se manter em um contrato contra a própria vontade, sendo que a teoria da quebra eficiente dos contratos e a cláusula geral da boa-fé não são necessariamente conflitantes (IOLOVITCH, 2016). Concluída a análise dos possíveis óbices práticos da quebra eficiente dos contratos no Brasil - e suas respectivas soluções apontadas pelos estudiosos da teoria do inadimplemento eficiente no Brasil, o presente trabalho de conclusão de curso abordará na seção à frente a seara do Direito Desportivo, com foco em aspectos correlacionados ao Direito Contratual e à efficient breach.

22 Nesse sentido entendem Morais (2019), Pela (2016) e Iolovitch (2016). 24

3 O CONTRATO ESPECIAL DE DESPORTO NO BRASIL

Feito o detalhamento sobre a teoria do inadimplemento eficiente, a presente seção se volta ao estudo de institutos da seara do direito desportivo, visando analisar a legislação desportiva brasileira, mencionando momentos históricos e atuais, além de elucidar alguns aspectos civis pertinentes ao contrato especial de desporto, instrumento responsável por materializar e oficializar o vínculo entre atleta profissional e entidade desportiva.

3.1 A profissionalização do desporto no Brasil e os aspectos básicos do contrato desportivo

Data-se do início da década de 1930 os primeiros indícios do processo de profissionalização dos jogadores de futebol no Brasil. O movimento se deu de forma natural, motivado pelo grande êxodo23 de atletas nacionais para entidades esportivas da Europa, sem que houvesse uma contraprestação financeira para os clubes brasileiros formadores dos atletas (VEIGA, 2020). Maurício Veiga (2020) aponta que o remédio encontrado para controlar esse êxodo de jogadores para outros países foi justamente a profissionalização do esporte. Ademais, relevante destacar que esse foi um período marcado por influências políticas, visto que o futebol já havia se popularizado por todo o país por meio do rádio e do jornalismo esportivo. O governo Vargas interveio diretamente24 na institucionalização do sistema profissional e os anos seguintes foram determinantes para edição de leis e decretos que regulamentaram as atividades desportivas25.

O contorno de profissionalismo que começava a ganhar a prática do futebol contribuiu para iniciar o reconhecimento de situações jurídicas especialíssimas que por volta de 1950 ainda não estavam definidas, apesar

23 Nesse sentido, salientou Maurício Veiga (2020, p. 55): “Em 1931, algo em torno de 39 jogadores brasileiros foram para a Itália, fato esse que foi explorado pelos defensores da profissionalização do esporte que seria adotada no país em 1933.” 24 Apenas com a Constituição Federal em 1988 houve o fim do controle estatal no âmbito desportivo, elevando o desporto ao patamar de Direito Social e fundamental (VEIGA, 2020). 25 A título de exemplo, foram publicados os Decretos nº 47.978/1960, nº 51.008/1961 e nº 53.820/1964, além das Leis nº 6.251/1975 e nº 6.269/1975 (VEIGA, 2020). 25

de inúmeras leis trabalhistas voltadas para outras atividades. (VEIGA, 2020, p. 61)26.

A relação de emprego entre o atleta profissional e a associação desportiva, entretanto, somente passou a ser regulamentada em 1976 com a edição da Lei do Atleta Profissional de Futebol ou Lei do Passe - Lei nº 6.354/1976 (VEIGA, 2020). Além disso, apenas com a Constituição Federal, em seu artigo 217, o desporto assimilou natureza de direito fundamental de cidadania, passando a ser dever do Estado fomentar as práticas desportivas, assim como disciplinar sobre as principais normas especiais que irão regulamentar o setor (DINIZ; SAKAHIDA, 2019). Em relação ao contrato especial de desporto, inicialmente, tem-se que é o “negócio jurídico celebrado entre uma pessoa física (atleta) e o clube, disciplinando condições de trabalho, algumas delas pré-fixadas na lex sportiva, de forma onerosa e sob orientação do empregador.” (VEIGA, 2020, p. 72). A Lei nº 9.615/1998 (Lei Pelé) em seus artigos nº 28 ao 38 (com redação alterada pela Lei n. 12.395/2011) é a principal norma jurídica que dispõe sobre o contrato especial de desporto atualmente. Como classificação, o contrato especial de desporto no Brasil é contrato típico, sinalagmático, oneroso e intuitu personae (VEIGA, 2020). Além disso, relevante mencionar que algumas peculiaridades do contrato especial de desporto fogem da sistemática da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A saber, trata-se obrigatoriamente de um contrato escrito, de prazo determinado27 e com cláusula indenizatória e compensatória desportiva expressas, sendo que apenas com essas características a contratação pode ser considerada válida. A doutrina majoritária e a jurisprudência, mesmo com as características que destoam da CLT, consideram o contrato especial de desporto pertencente à seara trabalhista “por pressupor subordinação, dependência econômica por haver remuneração pactuada contratualmente e estabilidade do jogador.” (DINIZ; SAKAHIDA, 2019, p. 88). Entretanto, para fins do presente trabalho de conclusão de curso, seguir-se-á a linha de pensamento de Maria Helena Diniz e Marinilce Sakahida (2019, p. 91) ao afirmarem que

26 Maurício Veiga (2020, p. 62) completa: “naquela época, os jogadores mais precavidos procuravam uma segunda profissão, pois o fato de serem atletas não lhe asseguravam direitos trabalhistas, que eram devidos a qualquer trabalhador.” 27 Nunca inferior a 3 (três) meses nem superiores a 5 (cinco) anos. 26

[p]or sua fisionomia própria e por ser um contrato especial, parece-nos, contudo, que a sua natureza jurídica mais se aproxima da prestação de serviços profissionais às entidades desportivas, sobrevivendo nesta configuração jurídica, não obstante possam ser-lhe aplicadas analogicamente normas de direito do trabalho e de seguridade social. É contrato típico e específico do direito do desporto.

Dessa forma, serão explorados no presente trabalho aspectos civis do contrato especial de desporto28, como o antigo instituto do “passe” e as atuais cláusulas indenizatória e compensatória desportiva.

3.2 A evolução da Legislação Desportiva brasileira: a superação do instituto do “passe”

O instituto do passe foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro por meio da Lei nº 6.354/1976, intitulada por parte da doutrina como “Lei do Passe”, e foi extinto com o advento da Lei nº 9.615/1998. O artigo 11 da antiga Lei do Passe dispunha que “entende-se por passe a importância devida por um empregador a outro, pela cessão do atleta durante a vigência do contrato ou depois de seu término, observadas as normas desportivas pertinentes.” Dessa forma, tem-se que

o passe desportivo representava uma cessão de direitos para o clube formador que havia investido na formação do atleta, bem como para apresentá-lo para o mundo do esporte. Desta forma, o clube formador era o cedente do direito ao passe desportivo para outro clube que seria o cessionário, assim, com esse negócio jurídico, o passe desportivo representava uma espécie de direito patrimonial para a entidade formadora que, com a venda do passe do atleta para clubes estrangeiros ou interessados pela cessão da arte futebolística do atleta brasileiro, lhe rendia bom lucro. (DINIZ; SAKAHIDA, 2019, p. 87).

A saber, o “passe” funcionava como uma espécie de licença ou permissão concedida ao atleta para que este pudesse prestar serviços desportivos para outro clube por meio do pagamento de indenizações, valores ou até trocas de atletas. Nesse sentido, o passe “representava o vínculo desportivo existente entre atleta e clube –

28 Importa ressaltar que não serão abordadas a totalidade os aspectos civis do contrato de desporto. O presente trabalho se restringirá aos aspectos que possuem certa ligação ou proximidade com a Teoria do Inadimplemento Eficiente, abordada anteriormente. 27 sendo totalmente independente do vínculo empregatício, eis que perdurava mesmo após a extinção do contrato de trabalho.” (CALEGARI, 2016, p. 60). Assim, vínculo desportivo existente entre a entidade desportiva e o atleta era tido como principal, já o vínculo empregatício possuía natureza acessória, sendo que, o fim do contrato de desporto de prazo determinado não significava o fim do vínculo entre atleta e associação desportiva29, visto que esta última permanecia como a detentora do “passe” do atleta. Notadamente, o “passe” era um grande ônus para o jogador profissional de alto rendimento30 que não possuía liberdade para decidir os rumos de sua carreira. Rodrigues (2007, p. 139) afirma que “o passe retirava do jogador a propriedade de sua força de trabalho, tornando ele uma mercadoria- trabalho.” O artigo 26 da antiga Lei do Passe disciplinava que o atleta profissional adquiriria “passe livre” – que significava à época o fim do vínculo desportivo - apenas ao fim do contrato de desporto quando atingisse 32 (trinta e dois) anos de idade, tendo como requisito ter prestado 10 (dez) anos de serviço efetivo ao seu último empregador. Ante o exposto, parte da doutrina desportiva chega a comparar o instituto do “passe” a uma espécie de escravidão, por aprisionar o atleta e por privá-lo do preceito constitucional do livre exercício do trabalho (CALEGARI, 2016). Já em relação às entidades desportivas, o sistema do “passe” garantia negócios lucrativos31 e propiciava uma maior permanência dos atletas de alto rendimento dentro do território nacional, como afirma Diniz e Sakahida (2019, p. 87):

[n]esse modelo de relação jurídica havia, portanto, um sistema de retroalimentação, ou seja, a cessão de crédito e débito do passe desportivo do atleta, além de representar bons negócios para os clubes brasileiros, representava também, a retenção de talentos e desenvolvimento de novos talentos em território nacional e com isso, a fomentação do desenvolvimento da prática do desporto futebolístico no Brasil.

29 Nesse mesmo sentido é o que discorre Francisco Xavier, afirmando que a Lei n. 6.354/76, por meio do instituto do passe, “vinculava o atleta ao clube, sem receber salários, mesmo depois de terminado o contrato de trabalho.” (RODRIGUES, 2007, p. 189). 30 A doutrina aponta que o passe, em certa medida, trazia uma segurança de emprego e estabilidade profissional, aspectos importantes para atletas menos renomados no desporto a nível nacional. (RODRIGUES, 2007). 31Xavier concorda afirmando que “o passe sempre se constituiu no grande suporte financeiro dos clubes de futebol do Brasil. O passe fazia com que o clube que possuía o vínculo com o atleta pudesse exigir do clube interessado neste, uma importância para que pudesse usufruir dos serviços do atleta.” (RODRIGUES, 2007, p. 190, grifo nosso). 28

A superação do instituto do “passe” por meio da promulgação da Lei Pelé (Lei nº 9.615/1998), de acordo com a doutrina majoritária, aconteceu sob a influência do revolucionário “caso Bosman”32, que transformou globalmente o desporto profissional. Por um lado, Rodrigues (2007) aponta que, ao revogar o instituto do passe, o legislador não se preocupou com os clubes menores e sem grande expressão no cenário nacional, isso porque, como já mencionado, a negociação do passe dos atletas profissionais era a principal fonte de recursos das entidades desportivas. Da mesma forma, para atletas sem muito prestígio, o fim do passe pode ser encarado como sinônimo de desemprego, haja vista que ao fim do prazo contratual, esgota-se o vínculo empregatício e desportivo entre clube e atleta. Por outro lado, ao citar a dissertação de mestrado de Rodrigues Filho, Francisco Xavier mostra a perspectiva de que

[n]uma linguagem simples, pode-se dizer que esta lei [Lei nº 9.615/1998] veio rever a condição de mera mercadoria a que estava submetido o jogador de futebol. Este deixa de ser um patrimônio do clube para se tornar um empregado legalmente livre, um trabalhador da bola. De agora em diante, o futebolista vende apenas sua força de trabalho no mercado, e não sua própria pessoa. (RODRIGUES, 2007, p. 142).

Nesse sentido, a doutrina desportiva salienta que a revogação do instituto do “passe” trouxe autonomia e liberdade profissional33 aos atletas, que perderam em segurança e estabilidade profissional. Outras repercussões da revogação do “passe” podem ser citadas34, como o fim de muitas categorias de base e escolinhas formadoras de atletas35, que deixaram de

32 Resumidamente, Jean Marc Bosman possuía contrato desportivo com clube da primeira divisão belga em fase de vencimento. O clube ofereceu proposta de renovação com redução salarial de 75% (setenta e cinco por cento). O jogador não aceitou a proposta e iniciou negociação para se transferir para outra entidade desportiva. Entretanto, Liège, o clube detentor do passe de Bosman, fixou o passe do atleta de forma exorbitante para inviabilizar a transferência. Em 1990, o jogador belga ingressou com ação no Tribunal de Justiça europeu requerendo a anulação do preço do seu passe em face do clube belga (Liège), recebendo, em 1995, parecer favorável para se desvincular do clube, haja vista o fim do vínculo empregatício. Assim, pode-se afirmar que a Corte acabou por extinguir o “passe” na Europa (RODRIGUES, 2007). 33 Para complementar, Francisco Xavier, em observância aos estudos de Rodrigues Filho, analisa “a fase de livre mercado no futebol como uma era pós-moderna, marcada por benefícios como liberdade de trabalho, aumento na renda dos jogadores e na consciência política dos atletas profissionais.” (RODRIGUES, 2007, p. 141). 34 Nesse ponto, faz-se apenas citação breve das consequências, por não ser ponto central do presente trabalho de conclusão de curso. 35 A doutrina aponta o fim do “passe” como fator importante para a elitização do futebol. Atualmente, para que as categorias de base e escolinhas formadoras de atletas sejam mantidas faz-se necessário o pagamento de mensalidades, o que diminui o acesso de atletas de baixa renda (RODRIGUES, 2007). 29 ser lucrativas financeiramente, além do aumento da exportação de atletas brasileiros para o futebol internacional - graças a globalização do futebol surgiram novos mercados além do tradicional europeu, como o russo, japonês e chinês. Para além das consequências já apontadas, a Lei Pelé promoveu importante inversão entre os vínculos desportivo e empregatício, sendo que o vínculo desportivo assimilou natureza acessória frente ao vínculo empregatício. Assim, atualmente, a relação entre atleta profissional e entidade desportiva se dissolve com o término ou rescisão do contrato (DINIZ; SAKAHIDA, 2019).

3.3 O advento das cláusulas indenizatória e compensatória desportiva

Inicialmente, Rodrigues (2007) aponta que a cláusula penal surgiu nos contratos de desporto no ano de 1993, através da Lei nº 8.672/1993. Em 1998, a Lei Pelé dispôs sobre a obrigatoriedade de o contrato especial de trabalho desportivo conter a cláusula penal e, por meio da Lei n° 9.981/200036, estabeleceu os primeiros parâmetros legais para a aplicação dessa cláusula. O texto original da Lei nº 9.615/1998, disciplinava em seu artigo 28 que

[a] atividade do atleta profissional, de todas as modalidades desportivas, é caracterizada por remuneração pactuada em contrato formal de trabalho firmado com entidade de prática desportiva, pessoa jurídica de direito privado, que deverá conter, obrigatoriamente, cláusula penal para as hipóteses de descumprimento, rompimento ou rescisão unilateral.

Ao citar Zainaghi, Veiga (2020, p. 122), aponta que “com a extinção do passe, buscou-se um mecanismo jurídico de valorização dos clubes, sob a pena de uma verdadeira e irreversível falência destes e com a consequente exterminação do futebol brasileiro”, ou seja, a cláusula penal é tida, de certo modo, como um verdadeiro substitutivo do “passe”. Assim, sabe-se que cláusula penal nos contratos de desporto tem origem na revogação do instituto do “passe”, porém, por alguns anos a interpretação da legislação desportiva se deu de forma ambígua. Maurício Veiga aponta que “até o ano

36 À época, “substituiu-se [...] o passe pela cláusula penal, que veio a limitar no máximo de cem vezes a remuneração anual avençada entre atleta profissional e entidade desportiva e a acatar um redutor para cada ano do contrato vigente, permitindo a livre estipulação da multa em caso de haver transferência internacional.” (DINIZ; SAKAHIDA, 2019, p. 97) 30 de 2008, a jurisprudência trabalhista oscilava no tocante a aplicação da cláusula penal. Alguns juízos entendiam que a multa era devida apenas pelo atleta e outros diziam que em razão do princípio isonômico, a sua aplicação seria bilateral.” (VEIGA, 2020, p. 122).37 Destaca-se que “a relevância e as peculiaridades de que se revestia a cláusula penal na esfera desportiva afastavam38 o teto máximo fixado pelo art. 412 do Código Civil, pois seu valor não podia exceder ao da obrigação principal.” (DINIZ; SAKAHIDA, 2019, p. 98). A Lei nº 12.395/2011 incluiu à Lei Pelé (Lei nº 9.615/1998) nova redação em que a cláusula penal passou a denominar-se “cláusula indenizatória desportiva” e, além disso, houve a criação da “cláusula compensatória desportiva”:

art. 28. A atividade do atleta profissional é caracterizada por remuneração pactuada em contrato especial de trabalho desportivo, firmado com entidade de prática desportiva, no qual deverá constar, obrigatoriamente: I - cláusula indenizatória desportiva, devida exclusivamente à entidade de prática desportiva à qual está vinculado o atleta, nas seguintes hipóteses: a) transferência do atleta para outra entidade, nacional ou estrangeira, durante a vigência do contrato especial de trabalho desportivo; ou b) por ocasião do retorno do atleta às atividades profissionais em outra entidade de prática desportiva, no prazo de até 30 (trinta) meses. II - cláusula compensatória desportiva, devida pela entidade de prática desportiva ao atleta, nas hipóteses dos incisos III a V do § 5º. § 1º O valor da cláusula indenizatória desportiva a que se refere o inciso I do caput deste artigo será livremente pactuado pelas partes e expressamente quantificado no instrumento contratual: I - até o limite máximo de 2.000 (duas mil) vezes o valor médio do salário contratual, para as transferências nacionais; e II - sem qualquer limitação, para as transferências internacionais. [...] § 3º O valor da cláusula compensatória desportiva a que se refere o inciso II do caput deste artigo será livremente pactuado entre as partes e formalizado no contrato especial de trabalho desportivo, observando-se, como limite máximo, 400 (quatrocentas) vezes o valor do salário mensal no momento da rescisão e, como limite mínimo, o valor total de salários mensais a que teria direito o atleta até o término do referido contrato.

Nesse sentido, a cláusula indenizatória desportiva é estipulada exclusivamente em favor do clube e tem como objetivo resguardar a entidade desportiva frente ao

37 Divergência solucionada com a atual redação da Lei Pelé, incluída pela Lei nº 12.395/2011. 38 Relevante destacar que as peculiaridades e a autonomia da cláusula penal desportiva também afastam a sua substituição pela indenização prevista no artigo 479 da CLT, por possuírem natureza diversa e fins específicos (CAMPOS; MONTEIRO, 2010 apud CALEGARI, 2016, p. 66). 31 descumprimento ou rescisão contratual, haja vista todos os investimentos direcionados ao atleta, feitos para possibilitar a prática desportiva profissional. Diniz e Sakahida (2019) afirmam que a importância da obrigatoriedade da cláusula indenizatória no contrato especial de desporto consiste no equilíbrio entre a liberdade de transferência – nacional ou internacional - do atleta profissional e a garantia de restituição pelos investimentos e gastos do clube-empregador. Relevante destacar a substancial modificação na extensão máxima da antiga cláusula penal, que previa o limite de 100 (cem) vezes o valor da remuneração salarial anual e, atualmente, com a vigência da Lei nº 12.395/2011, passou a prever o limite de 2.000 (duas mil) vezes o valor médio salarial do jogador. De acordo com Veiga (2020, p. 125), “para a compreensão de tal alteração, inevitável analisar o ambiente econômico do mercado do futebol.” A justificativa para a majoração do limite da cláusula indenizatória desportiva está na desigualdade existente entre entidades desportivas nacionais e estrangeiras. Veiga (2020) afirma que a majoração foi importante para conquistar maior potencial econômico e competitivo. Mesmo com o elevado limite estipulado para a cláusula indenizatória desportiva e com a não estipulação deste limite para transferências internacionais, é necessário certo grau de proporcionalidade e razoabilidade para que se chegue a um valor real de indenização devida à entidade desportiva frente aos investimentos direcionados ao atleta profissional. Nesse âmbito, existem critérios chancelados pela FIFA (Federação Internacional de Futebol) que, em caso de judicialização de demanda, servem como parâmetro para uma limitação indireta do valor estipulado em cláusula indenizatória (VEIGA, 2020). Outro ponto a ser destacado é o fato de que a responsabilidade pelo pagamento da cláusula indenizatória desportiva ser solidária entre o atleta profissional e a nova entidade de prática desportiva empregadora39, assim, tanto o clube quanto o profissional podem honrar a dívida, conforme estipula artigo 28, § 2º da Lei Pelé. Já em relação à cláusula compensatória desportiva, esta é devida exclusivamente pela entidade desportiva em favor do atleta profissional, nos casos de

39 Caso contrário, a nova cláusula indenizatória permaneceria como um grande limitador da liberdade profissional do atleta, em razão do expressivo limite fixado de duas mil vezes o valor anual do salário do atleta. 32 dispensa imotivada ou rescisão indireta, conforme estipulado nas hipóteses do artigo 28, § 5º, incisos II a V da Lei Pelé, com texto incluído pela Lei nº 12.395/2011. A cláusula compensatória desportiva, assim como a indenizatória, possui suas peculiaridades, sendo autônoma em relação ao que dispõe os artigos 479 e 480 da CLT, conforme dispõe expressamente o artigo 28, § 10 da Lei Pelé40. Inclusive, a Lei Pelé é evidentemente mais favorável ao atleta-empregado se em comparação com artigo 479 da CLT, seja pelo valor máximo - de até 400 (quatrocentas) vezes o salário no momento da rescisão - ou pelo mínimo fixado. Nesse sentido, Maurício Veiga afirma que,

[a] garantia mínima do pagamento integral dos salários faltantes impede eventual pressão dos clubes quando da assinatura dos contratos pela fixação de baixos valores a título de cláusula compensatória, bem como confere tranquilidade aos jogadores quanto a garantia de subsistência no período avençado no contrato. (VEIGA, 2020, p. 128).

Fica claro, então, o zelo da legislação desportiva em garantir ao atleta a totalidade dos salários até a data final do contrato, assim, mesmo com a fixação mínima da cláusula compensatória, o jogador profissional terá direito ao dobro do que receberia caso fosse aplicada a CLT (VEIGA, 2020). Superada a aclaração quanto às questões civis do contrato especial de desporto que importam para o presente trabalho de conclusão de curso, passa-se à seção seguinte, com foco na interdisciplinaridade dos temas já abordados.

40 Nessa toada, para aclaramento, tem-se: Art. 28, § 10. “Não se aplicam ao contrato especial de trabalho desportivo os arts. 479 e 480 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943”. 33

4 A TEORIA DO INADIMPLEMENTO EFICIENTE APLICADA AOS CONTRATOS ESPECIAIS DE DESPORTO NO BRASIL

Tendo como base as seções anteriores, responsáveis por elucidar aspectos fundamentais da teoria do inadimplemento eficiente e da seara do direito desportivo, o presente capítulo tem como propósito realizar um paralelo entre a teoria das quebras eficientes e os contratos especiais de desporto no Brasil. Como se sabe, na grande maioria das vezes, a quebra eficiente dos contratos é analisada inserida ao ramo empresarial ou mercantil. De certa forma, inova-se ao pensar na hipótese da quebra eficiente aplicada ao ramo do direito desportivo, tendo como foco os contratos especiais de desporto.

4.1 A percepção do futebol como atividade empresarial

Inicialmente, tem-se a possibilidade de análise da teoria do inadimplemento eficiente aplicada aos contratos especiais de desporto com base na percepção do futebol como negócio. Nesse sentido, faz-se necessária breve explanação sobre a transformação gradual do esporte em atividade empresarial. Segundo Márcia Silva (2008), o futebol foi introduzido no Brasil em 1894 por Charles Miller que retornava de Londres com uniformes, materiais e regras do esporte. Nessa época, o futebol era praticado apenas pela elite da sociedade brasileira, assim como no exterior. A existência de clubes, como o São Paulo Atlhetic Club, fundado em 1895, o Fluminense, em 1902, ou o Grêmio FootBall Porto Alegre, em 1903, não traduziram a democratização do futebol. Apenas em 1910 surgiu o primeiro clube de massa no Brasil, o Corinthians Paulista, criado por pequenos grupos de funcionários e artesãos. Essa democratização do futebol ocorreu justamente pelo surgimento dos “times do povo”41, momento em que o futebol brasileiro deixava de ser atividade específica da alta sociedade e começava a se espalhar como um modo de diversão da classe operária e também como espaço para a divulgação dos produtos das empresas.

41 Na época surgiram “times do povo” por todo o país, como o Vasco, o Atlético, o Internacional, o Santa Cruz, o Palestra Itália e a Ponte Preta de Campinas. 34

Entre a década de 20 e 30, o amadorismo perdurou entre os clubes e os jogadores, sendo datado de 1930 o início da profissionalização do futebol no Brasil.42 Durante a Era Vargas, o futebol ganhou apelo nacionalista, atraindo atenção dos meios de comunicação e sendo fortemente regulado pelo Estado. Nessa época, o Decreto-Lei nº 3.199/1941 regulamentava em seus artigos 48 e 50 “expressa vedação à obtenção de lucro pelas entidades desportivas e explicitada a função de caráter patriótico das mesmas” (SILVA, 2008, p. 116). A autonomia do desporto quanto a essas questões organizacionais foi garantida com a promulgação da Constituição Federal em 1988 e com a Lei nº 8.672/1993 (Lei Zico) que consolidou a possibilidade de percepção do futebol como negócio.

[A] Lei Zico, marco deste novo enfoque dado ao esporte de rendimento, traduz a intenção de estabelecimento do domínio privado e afastamento do Estado, vislumbrando em seus artigos a possível finalidade lucrativa das entidades esportivas: ‘Art. 10. As entidades de prática do desporto são pessoas jurídicas de direito privado, com ou sem fins lucrativos, constituídas na forma da lei, mediante o exercício do direito de livre associação’. (SILVA, 2008, p. 117, grifo nosso). O enfoque ao esporte como negócio, para o Professor Carlezzo, foi registrado no artigo 11 da Lei Zico, que facultava aos clubes e às confederações a transformação em sociedade comercial com finalidade desportiva, a constituição de sociedade comercial com finalidade desportiva, controlando o clube a maioria do capital desta e com direito a voto ou ainda, a contratação de sociedade comercial para gerir suas atividades desportivas. (SILVA, 2008, p. 119).

A Lei Pelé, de 1998, foi responsável por equiparar o torcedor pagante de ingressos comercializados ao consumidor e, em sua redação original, regulamentou a obrigatoriedade do clube se transformar em sociedade civil de fins econômicos, sociedade comercial ou entidade de prática desportiva que constituírem sociedade comercial.43 Frente à esta imposição legal, foi suscitada a autonomia organizacional do desporto, garantida pela Constituição Federal, e em 2000 foi editada Medida Provisória, convertida na Lei nº 9.981/2000, que garantia a faculdade de transformação dos Clubes de futebol em empresa (SILVA, 2008).44 Assim,

42 Como já exposto em seção 3.1. 43 Era o que regulamentava artigo 27 da Lei nº 9.615/1998. 44 Importa mencionar que posteriormente à Lei nº 9.981/2000 houver outros institutos legais que obrigaram a transformação da entidade desportiva em empresa, sendo que atualmente o que vigora ainda é a faculdade da referida transformação. 35

o jogo, antes uma atividade de lazer, de ócio e de liberação de tensões do trabalho, transforma-se em ‘espetáculo’ e oportunidade de negócio, tendo como ‘mercadoria’ os jogadores. Nesse ‘negócio extremamente lucrativo, que envolve entre outros agentes a mídia como elemento central, os clubes encontram uma forma de ampliar suas fontes de financiamento e a exposição da sua imagem. [...] O ‘futebol-arte’ no qual prevaleciam o espetáculo, a recreação e as relações pessoais entre os participantes, cede lugar ao ‘futebol-negócio’, baseado em relações impessoais e comerciais, no qual os clubes procuram explorar suas ‘mercadorias-jogadores’ e seus potenciais ‘consumidores-torcedores’ através da criação dos espaços de entretenimento. (GONÇALVES; CARVALHO, 2006, p. 19-20, grifo nosso).

Inegavelmente, a “lógica de mercado” é o que move o futebol atual, tanto os procedimentos de formação dos atletas quanto a relação contratual entre jogador profissional e clube, além da relação com investidores, patrocinadores, entre outros. Os princípios da prática mercantil regem todo o mercado desportivo. “O futebol se tornou um verdadeiro campo de investimentos45 valorizado pelo setor privado.” (GONÇALVES; CARVALHO, 2006, p. 16). Ademais, segundo Giglio (2019, p. 8 apud ABAD; CABRAL, 2013), dados da Comissão Europeia apontam que

a atividade esportiva em geral impacta diretamente o seguinte conjunto de setores: artigos esportivos (roupas, calçados e equipamentos), espetáculos (ingressos), programas (TV por assinatura), transmissões (direitos de transmissão), trabalho (renda dos atletas profissionais), publicidade e patrocínio, ensino, imprensa, construção, obras públicas (equipamentos), medicina, alimentação suplementar, seguros e produtos farmacêuticos. No início dos anos 2000, o fluxo monetário nessa cadeia já correspondia a cerca de 3% de todo o comércio mundial.

Evidentemente, o futebol atual é percebido como um ramo empresarial, onde o retorno financeiro dos investimentos realizados e o lucro também são o propósito dos responsáveis por sua gestão, além dos resultados esportivos. É neste contexto de busca por eficiência em gestão desportiva que a teoria do inadimplemento eficiente se insere. Assim, torna-se viável estudar a teoria do inadimplemento em contratos especiais de desporto, além de analisar a maior aceitação da quebra eficiente dos contratos na seara do direito desportivo em comparação com o direito civil e empresarial.

45 Tem-se os exemplos de empresas investidoras do ramo de material esportivo, como Nike, Adidas, Reebok, Umbro, além de empresas do ramo financeiro, alimentício, marketing esportivo, que investem por meio de contratos de patrocínio com as entidades desportivas. 36

4.2 A presença marcante do inadimplemento eficiente na prática desportiva

A ocorrência de quebras contratuais eficientes no cenário do desporto são um fato incontroverso. Costumeiramente46, um clube, alheio ao contrato original atua como terceiro ofensor oferecendo proposta mais vantajosa ao atleta, que está com prestígio no mercado por seu bom desempenho desportivo, assim, o clube ofensor em questão assume o pagamento da cláusula indenizatória desportiva e compra os direitos federativos do jogador. Inúmeros são os exemplos fáticos que respaldam a afirmação inicial de que a teoria do inadimplemento eficiente no desporto é adotada frequentemente. A começar, tem-se a maior transação do futebol mundial, datada do ano de 2017, em que o clube Paris Saint-Germain desembolsou US$ 273,5 milhões (cerca de R$ 952 milhões de reais) para comprar os direitos federativos de Neymar Júnior frente ao Futbol Club Barcelona (RIOJA, 2018). À época, o contrato do jogador tinha o fim de sua vigência estipulado para junho de 2021, a multa de rescisão era tida como “impagável” e foi estipulada com fins de dificultar a saída do grande jogador da equipe espanhola. Entretanto, sem negociação ou barganha prévia, o clube francês simplesmente bancou o montante necessário para pagar a cláusula indenizatória desportiva, comprando a liberação do jogador. O portal de notícias esportivas ESPN afirmou à época que “é a terceira vez que uma cláusula de rescisão é usada por um clube rival para chegar ao Camp Nou e sair com um trunfo precioso.” (MARCOTTI, 2017). No cenário brasileiro é possível citar a maior transação da história nacional, ocorrida em 2019, quando o Clube de Regatas do Flamengo pagou ao cerca de € 15 milhões de euros (R$ 63,7 milhões de reais) pelos direitos federativos do atleta Giorgian De Arrascaeta (COM... 2019). O contrato do jogador profissional com o clube mineiro iria até dezembro de 2021, podendo o vínculo ser prorrogado por mais um ano, porém foi rompido por meio de barganha iniciada pelo Flamengo.

46 Coutinho Filho (2020, p. 45) salienta que “formalmente, caso o atleta, com contrato de trabalho vigente, receba a proposta de outro clube que considere mais vantajosa, deverá arcar com a multa para rescisão de seu contrato de trabalho para indenizar seu empregador pelo dano sofrido pela quebra de contrato. Evidente que, na prática, a dinâmica é diferente. O clube interessado na contratação que formalmente ocupa posição de coadjuvante, materialmente é o principal ator. Efetivamente é ele que, com a concordância do atleta, arca com a multa rescisória para contar com seus serviços”.

37

Relevante mencionar que no contrato do atleta Arrascaeta com o Cruzeiro a cláusula indenizatória desportiva foi fixada em R$ 120 milhões de reais, entretanto, por meio de acordo com as partes envolvidas, a negociação foi finalizada em R$ 63,7 milhões de reais (MADUREIRA, 2018). Por meio do presente exemplo é possível perceber importante característica inerente ao mercado do futebol: os expressivos valores estipulados em cláusulas indenizatórias desportivas evidenciam uma grande expectativa de quebra contratual por parte do clube que detém os direitos federativos do atleta. As quebras contratuais além de se adequarem à teoria do inadimplemento eficiente, são desejadas pela parte frustrada na obrigação, ou seja, os contratos dentro do cenário desportivo são pactuados com uma menor expectativa de cumprimento total da avença. Na grande maioria das vezes, as multas rescisórias – cláusula indenizatória desportiva - são estipuladas com planejamento estratégico concreto de uma quebra contratual vir a ocorrer. A multa é fixada alta, de forma que fique interessante para a parte frustrada sofrer o inadimplemento eficiente. Outra transação a nível nacional que envolveu grande aporte financeiro foi a transferência de Leandro Damião do Sport Club Internacional para o Santos Futebol Clube, em dezembro de 2013. À época, foram desembolsados € 14,5 milhões de euros, cerca de R$ 46,7 milhões de reais, para romper contrato especial de desporto que possuía prazo final estipulado para setembro de 2017. Reportagem do jornal GZH destaca que “durante a temporada de 2013, o centroavante não rendeu o esperado pelo clube e chegou a ser posto no banco [de reservas] pelo técnico.” (INTER... 2013). Além disso, reportagem da plataforma “Terra” afirmou que “o Inter já admitia a possibilidade de vender o atacante. O clube desejava fazer dinheiro e, por isso, temia nova desvalorização caso o seu camisa 9 não vá para a Copa do Mundo [...].” (SANTOS... 2013). Nesse contexto, o exemplo fático em questão apresenta outra característica inerente ao mercado futebolístico: os clubes de futebol, insatisfeitos com o rendimento desportivo de seus atletas, ao invés de acionarem a cláusula compensatória desportiva estipulada em contrato para romper o pacto desportivo por iniciativa própria, optam por colocar o atleta na vitrine mercantil do esporte. Assim, os clubes passam a receber propostas de outras entidades desportivas com poderio financeiro para bancar a multa rescisória estipulada em contrato ou com interesse em realizar acordo para a compra dos direitos federativos do atleta. 38

Com relação à atuação do terceiro ofensor frente aos contratos especiais de desporto em andamento, são raros os casos de judicialização no mercado desportivo motivadas pelo assédio de um clube desportivo ao outro. Isso porque, no mercado do futebol, esse assédio aos contratos em vigência é considerado natural e saudável no âmbito desportivo. É o que evidencia a plataforma de notícias OneFootball, ao citar o exemplo do time Clube de Regatas Flamengo, que vive bom momento desde o ano de 2019, quando conquistou seis títulos, de oito disputados.

Com os títulos conquistados, o Flamengo ganhou cada vez mais destaque no mercado da bola, inclusive, espaço no futebol do exterior. Após a brilhante campanha de 2019, inúmeros jogadores do clube carioca foram especulados no futebol europeu. Diante disso, [...] Benjamin Back ressaltou que o assédio com os jogadores do Rubro-Negro deve ser visto como algo normal por conta das inúmeras conquistas recentes (JORNALISTA... 2020).

Ademais, reportagem da plataforma GZH, datada de 30 de março de 2020, ressaltou a alta volatilidade do mercado do futebol, que assim como o ramo empresarial e mercantil típico, também está sofrendo com a crise advinda com a pandemia do COVID-19. Nesse sentido, a matéria desportiva destacou, como aspecto negativo da pandemia, a diminuição do assédio de clubes sobre jogadores de futebol, afirmando que o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense precisou se reorganizar financeiramente, tendo em vista que o clube esperava propostas por alguns jogadores em destaque.

O futebol também sofre os impactos mundiais provocados pela pandemia do coronavírus. [...] As grandes negociações devem ser as primeiras a sentirem o efeito. Acostumado a vender jogadores para o mercado europeu nas últimas temporadas, o Grêmio já relata diminuição em contatos por seus atletas, [...] (EM MEIO... 2020).

No cenário desportivo, diferente do que ainda ocorre no direito civil e empresarial, não existem impedimentos sobre a atuação do terceiro ofensor frente aos contratos em plena vigência. Pelo contrário, as multas rescisórias são fixadas com certa expectativa de quebra contratual e negociação, trazendo oportunidade negocial mais vantajosas para as partes e concretizando aplicações práticas da eficient breach theory. Importante ressaltar, então, que apesar da resistência criada no Brasil para a aplicação da teoria do inadimplemento eficiente, ela existe na prática, cabendo a este trabalho realizar uma análise jurídica, social e econômica das razões que levam à adoção das quebras eficientes no desporto. 39

4.3 Motivos que garantem a aceitação e adoção da teoria do inadimplemento eficiente em contratos especiais de desporto de atletas de alto rendimento

A teoria do inadimplemento eficiente, como já evidenciado, não tem grande aceitação em sistemas de Civil Law, incluindo o ordenamento jurídico brasileiro. Entretanto, no futebol, quebras contratuais eficientes são bastante habituais, mesmo que o nome da teoria não seja utilizado de forma explicita. Nesse sentido, esta seção do trabalho pretende apontar possíveis motivos para essa maior receptibilidade da teoria em estudo nos contratos especiais de desporto em comparação com o ramo empresarial tradicional. Alguns aspectos sociais, econômicos e jurídicos podem estar atrelados a essa maior receptibilidade da teoria do inadimplemento eficiente em contratos especiais de desporto. Quantos aos aspectos jurídicos, o fato de os requisitos da eficiente breach theory estarem presentes no cenário desportivo e os óbices à aplicação da teoria serem facilmente superados nos contratos de desporto é questão relevante e facilitadora à prática das quebras eficientes. Assim, quanto aos requisitos da teoria tem-se a previsibilidade, a justa indenização e a eficiência como pressupostos presentes na execução do inadimplemento eficiente. A previsibilidade das consequências de se praticar a quebra eficiente dos contratos são fundamentais no cenário desportivo. Nesse âmbito, questões como os custos transacionais, a reputação das partes perante o mercado, além da expectativa de rendimento esportivo e econômico do atleta devem ser observadas na busca por maior segurança jurídica. Dessa forma, a previsibilidade das consequências da quebra contratual é, provavelmente, o requisito mais delicado para se alcançar dentro do cenário desportivo. Isso porque os contratos especiais de desporto envolvem prestações de serviços desportivos de caráter personalíssimo, tratando-se de uma carreira profissional marcada pela imprevisibilidade. Questões como estrutura desportiva, trabalho com preparadores físicos, sistema de prevenção contra lesões, trabalho de fortalecimento muscular e nutricional são de grande importância, além do entrosamento do time e com o treinador que são determinantes para aumentar a segurança de uma negociação frutífera. Em questão de meses o atleta pode sair do auge profissional para meras participações sem muito 40 destaque dentro de uma equipe. Inclusive, contratos baseados na performance47 são cada vez mais comuns, justamente para diminuir certos riscos e aumentar a segurança e eficiência. Nessa lógica, a estrutura de uma entidade desportiva e a gestão administrativa do clube são fundamentais para aumentar a previsibilidade das consequências de se realizar quebras contratuais. Quanto à justa indenização, como já exposto, os contratos especiais de desporto são obrigatoriamente dotados de cláusulas indenizatória e compensatória desportiva e, graças a estes institutos, a parte frustrada pela quebra eficiente do contrato desportivo fica devidamente assegurada. Já com relação à eficiência, dentro do cenário desportivo, mais uma vez as cláusulas indenizatória e compensatória desportiva propiciam a devida averiguação de vantagem em nova oportunidade negocial. Isso porque a eficiência de uma quebra contratual pressupõe a observância do lucro auferido após o abatimento da justa indenização à parte frustrada. No desporto, costumeiramente, essa quebra eficiente acontece por meio de um terceiro ofensor, que oferece oportunidade negocial mais vantajosa ao atleta profissional. Por meio do pagamento da cláusula indenizatória desportiva o clube- ofensor libera o jogador para realizar um segundo contrato especial de desporto. Nesse cenário, fica a cargo da gestão administrativa e financeira do clube-ofensor medir a eficiência da quebra contratual, cálculo este que envolve questões como direito de imagem, luvas, salário e demais bonificações que passarão a ser devidos ao atleta almejado. Estes gastos podem ser compensados com lucros advindos do ganho em produtividade esportiva, aumento da popularidade do clube, engajamento dos torcedores, venda de matérias esportivos do atleta em questão, além do montante de venda futura dos direitos federativos do jogador. Assim, o cenário apresentado pressupõe-se que o atleta profissional obteve oportunidade profissional mais vantajosa, o clube “frustrado” obteve a justa indenização e o clube-ofensor perquiriu saldo positivo, sendo consubstanciado todos os requisitos da quebra eficiente do contrato.

47 São comumente denominados de contratos de produtividade. Segundo Santos (2002), “a ideia é utilizar a performance do atleta como parâmetro para sua remuneração. Quanto melhor jogar, quanto mais próximo chegar às metas pré-estabelecidas, maiores serão seus ganhos na temporada. [...] Além disso, esse critério serve também para estimular o jogador a render mais em campo.” 41

Feita a apreciação dos requisitos da teoria do inadimplemento eficiente em âmbito do desportivo, tem-se próximo motivo apontado como facilitador para a adoção da efficient breach. Os óbices enfrentados pela teoria no Brasil48, estão mais fracos no setor desportivo, sendo facilmente superados. Como evidenciado49, a aplicabilidade da teoria do inadimplemento eficiente deve ser aferida de forma imersa ao cenário de sua utilização e em consonância com aspectos jurídicos, sociais e econômicos desse cenário. Nesse sentido, quanto ao óbice da boa-fé objetiva, é relevante mencionar que dentro do direito desportivo, os contratos são formados com uma menor expectativa quanto ao cumprimento total da avença. Essa expectativa é construída com base em costumes regionais e nacionais de marcado e, inclusive, as cláusulas indenizatórias são fixadas em altos valores e com planejamento de rompimento contratual futuro por meio de assédio de um terceiro ofensor, para que assim a parte frustrada receba valores monetários advindos dessa rescisão. Dessa forma, como no cenário desportivo as expectativas contratuais são de um mercado mais dinâmico e volátil, os deveres de transparência, informação, honestidade e confiança são devidamente observados, mesmo em ocasiões de quebra eficiente dos contratos. Assim, quando o executor da quebra eficiente comunica à contraparte, sem demora, sua intenção de não cumprir o contrato, em razão do recebimento de proposta mais vantajosa recebida, a boa-fé está sendo devidamente observada (IOLOVITCH, 2016). Quanto ao óbice da execução específica da obrigação, considerada por Juliana Pela (2016) como o principal óbice à aplicação da teoria do inadimplemento, tem-se que o ordenamento brasileiro, em diversos dispositivos do CC, CPC e CDC, prioriza a tutela específica da obrigação, fortalecendo o “princípio da primazia da tutela específica”. Entretanto, Iolovitch (2016) deixa claro que não há motivos para se preocupar com a possibilidade da execução específica da obrigação quando as partes convencionam em contrato a possibilidade de desenlace do vínculo por meio da fixação de cláusula resilitória ou outra faculdade liberatória. Dessa forma, a seara dos contratos especiais de desporto de imediato supera o óbice da execução específica

48 Análise restrita aos óbices mais citados pela doutrina brasileira, em conformidade com seção 2.3 do presente trabalho. 49 Como afirmado em seção 2.3 deste trabalho. 42 da obrigação, haja vista expressa previsão legal que obriga a estipulação de cláusulas indenizatória e compensatória desportiva nos contratos entre atleta e clube. Nesse sentido, inclusive, Iolovitch comenta que

Desde o advento da Lei nº 9.615/98 (Lei Pelé), que acabou com a figura do “passe”, a solução adotada pelos clubes brasileiros para manter o vínculo de um atleta foi a celebração de contratos longos e a fixação de multas para a hipótese de rompimento unilateral do pacto, sendo vulgarmente chamada de “cláusula rescisória”. [...] A função do dispositivo é permitir que o contrato seja rompido mediante o pagamento de um valor pré- liquidado. (IOLOVITCH, 2016, p. 56-57, grifo nosso).

Assim, percebe-se que a maior barreira prática à adoção da efficient breach é facilmente superada no âmbito desportivo. Ademais, terceiro motivo apontado como facilitador da adoção da efficient breach pelo direito desportivo diz respeito às características sociais, culturais e mercantis específicas do futebol. A começar, a curta carreira do atleta profissional e a globalização do futebol são determinantes para a prática das quebras eficientes. De acordo com artigo 29, caput da Lei Pelé, o atleta profissional de futebol pode firmar seu primeiro contrato aos 16 anos de idade, já o auge profissional, estima-se acontecer aos 27 anos50 e o fim de sua carreira, normalmente, aos 35 anos51 ou alguns anos a mais para os casos de goleiros. Dessa forma, trata-se de uma carreira profissional de aproximadamente 19 anos, duração extremamente curta52. Nesse contexto, a busca por ascensão, prestígio e conquistas pessoais e coletivas na carreira do atleta acontecem em máxima potência. Quando o profissional não está sendo bem aproveitado em um time, rapidamente procurará oportunidades em outra equipe. Além disso, no que tange à globalização do futebol, Coutinho Filho (2020, p. 45) entende que “é evidente que, com o aumento da desterritorialização, da interconectividade social e da velocidade

50 Estudo feito pelo Bancada, aponta que o prémio , de melhor jogador do mundo, por exemplo, tem a média de idade de seus vencedores em 27 anos, sendo que 64% (sessenta e quatro por cento) dos ganhadores tinha entre 25 e 29 anos de idade. Ademais, “a média de idades dos 640 jogadores de campo que estiveram presentes no Mundial 2014 foi de 26,6, sendo que o que havia mais eram jogadores com 27 anos. Esse é mais um sinal de que será por volta dessa idade que se atinge o ponto mais alto no futebol.” (JOGADORES... 2017). 51 De acordo com Marco e Luiz Filho (2013), em “Causas e efeitos do encerramento da carreira futebolística”. 52 Em comparação com a maioria das profissões existentes. (MARCO; LUIZ FILHO, 2013). 43 das atividades sociais, as transferências53 se tornaram muito mais frequentes, formando um verdadeiro mercado global [...].” Assim, as negociações dos direitos federativos de jogadores são cada vez mais frequentes, o futebol é marcado por alta volatilidade. Ademais, quanto a um aspecto negocial, a grande utilização da barganha54 no mercado futebolístico é fator que precisa ser evidenciado. Giglio (2019, p. 14) aponta que há “concordância na literatura em torno da importância do poder de barganha dos clubes compradores e vendedores na determinação dos preços das transações”. Nesse âmbito, a utilidade das prestações desportivas oferecidas pelo jogador assume aspecto central. A performance desenvolvida pelo atleta pode não interessar mais ao clube que detém seus direitos federativos ou essa performance torna-se de grande interesse para outra entidade desportiva, o que favorece em grande medida a ocorrência das quebras contratuais eficientes. Assim, os aspectos expostos evidenciam um melhor contexto jurídico, econômico e social para aplicação da teoria do inadimplemento eficiente no cenário futebolístico. É justamente em decorrência desses fatores levantados que se faz possível apontar para uma maior a receptibilidade das quebras contratuais eficientes em contratos especiais de desporto em comparação com os demais contratos empresariais típicos.

53 Para o Autor, o vocábulo “transferência” faz parte da linguagem popular e da mídia. A expressão “transferência entre clubes” refere-se, normalmente, a “comprar” ou “adquirir” as prestações desportivas de um atleta. (COUTINHO FILHO, 2020). 54 Importa dizer que a barganha “é um diálogo sobre valor para chegar a um acordo quanto ao preço”. (COOTER; ULEN, 2010, p. 202). 44

5 CONCLUSÃO

A partir do desenvolvimento do presente trabalho de conclusão de curso, tornou-se possível estudar institutos relevantes da efficient breach, teoria ainda pouco difundida no Brasil e sem histórico de aplicação explícita. A teoria da quebra eficiente dos contratos parte da premissa de que as partes envolvidas em uma avença são livres para descumprirem o pacto firmado quando os custos com o cumprimento forem maiores que às consequências de se suportar inadimplemento e seus danos correlatos. Como pressupostos do inadimplemento eficiente, tem-se a previsão das consequências inerentes ao inadimplemento, a justa indenização à parte frustrada e a eficiência das medidas de quebra contratual. A previsibilidade das consequências é critério matemático diretamente relacionado às circunstâncias culturais, sociais, mercadológicas e jurídicas da adoção da effient breach. A justa indenização é devida à parte frustrada no inadimplemento e percorre, de acordo com o artigo 402 do Código Civil, além do que efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Em casos de estipulação de cláusula penal compensatória, o cálculo desta indenização fica facilitado, pois subentende-se que o valor estipulado em comum acordo pelas partes da avença é montante justo e adequado. Quanto ao requisito da eficiência, importa ressaltar que existem dois conceitos doutrinários distintos que podem ser utilizados como base para estudo do inadimplemento eficiente. A eficiência de Pareto, mais restritiva, exige, além dos benefícios da parte inadimplente com quebra eficiente, que a parte frustrada seja adequadamente indenizada com base nos lucros auferidos caso o contrato fosse cumprido na íntegra. Já a eficiência de Kaldor-Hicks, mais abrangente, viabiliza um possível prejuízo a uma das partes, desde que os lucros da outra parte sejam superiores à soma dos danos. Isso porque, para estes últimos economistas, a eficiência poderia ocorrer de maneira concentrada, resultando ainda assim em uma melhor alocação de recursos. Pode-se perceber atualmente certo receio e conservadorismo da doutrina majoritária quanto à aceitação e aplicação da teoria da quebra eficiente no âmbito empresarial e mercantil típico. O princípio da primazia da tutela específica das obrigações, garantido pelo artigo 497 e seguintes do Código de Processo Civil, ainda assume aspecto central na doutrina e jurisprudência brasileira, sendo esse o principal 45

óbice enfrentado pela teoria do inadimplemento. As circunstâncias sociais, mercantis e jurídicas em que as quebras eficientes se inserem são fundamentais para a sua aceitação, exemplo disso é que o óbice acima é facilmente superado nos casos em que se observa uma previsão resilitória ou resolutória expressa, visto que dessa forma o vínculo entre as partes pode ser rompido sem justificativas ou por previsão expressa. Cabe citar também o óbice da boa-fé objetiva (estabelecida de forma geral no artigo 422 do Código Civil), que pressupõe deveres de cooperação, lealdade, informação e transparência entre as partes, deveres esses que, para a doutrina majoritária seriam contrários à adoção do inadimplemento eficiente. Já a parte minoritária da doutrina salienta que a boa-fé se materializa na credibilidade, na previsibilidade, na proteção à confiança e no zelo pela segurança jurídica dos contratos. Assim, verificadas as condições para a prática da quebra eficiente caberia ao pretenso executor do inadimplemento comunicar a outra parte tal fato, bem como a sua real intenção de não cumprir o contrato, por ter percebido oportunidade mais vantajosa. Nesse sentido, a boa-fé e o inadimplemento eficiente não seriam incompatíveis entre si. Quanto aos aspectos do desporto, o futebol chegou ao Brasil em 1894, sendo inicialmente um esporte restrito às elites sociais. Em 1910, o esporte passou por um processo de democratização e sucessiva profissionalização – que teve início na década de 1930, com fulcro primário em frear o êxodo de atletas brasileiros para o exterior sem que houve contraprestação financeira para as equipes desportivas brasileiras. Somente em 1976, com a promulgação da “Lei do Atleta Profissional de Futebol” ou “Lei do Passe” (Lei nº 6.354/1976), a relação empregatícia existente entre jogador profissional e entidade desportiva passou a ser regulamentada. À época, o passe era instituto que funcionava como uma espécie de carta de licença pertencente ao clube desportivo e concedida ao atleta como uma liberação para prestar serviços desportivos a outra entidade. A Constituição da República, em seu artigo 217, foi responsável por dar ao esporte o status de direito fundamental, disciplinando o dever estatal de estimular e fomentar as práticas esportivas de qualquer modalidade, além de prever a autonomia organizacional desportiva, princípio basilar do direito desportivo. A Lei Zico, de 1993, foi a legislação responsável por atribuir viés 46 econômico ao futebol, dando enfoque ao esporte de rendimento e possibilitando às entidades desportivas possuir finalidade lucrativa em suas atividades. A Lei Pelé, atualmente a principal fonte legislativa do futebol nacional, foi a legislação responsável por romper com o grande paradigma do sistema de “passe”, tornando o vínculo desportivo de natureza acessória ao vínculo empregatício. Nesse contexto, foi regulamentada a obrigatoriedade das cláusulas indenizatória e compensatória desportiva como meios necessários para reequilibrar a relação existente entre clube desportivo e atleta profissional. Ademais, importante salientar que o contrato desportivo é classificado pela doutrina como contrato típico, sinalagmático, oneroso e intuitu personae. Outrossim, o contrato especial de desporto foge da sistemática comum da CLT, possuindo diversas peculiaridades, como a necessidade de conter prazo determinado, além de ser obrigatoriamente escrito. Frente à multidisciplinariedade dos contratos em estudo, o presente trabalho de conclusão de curso segue parte minoritária da doutrina, ao assimilar os contratos especiais como de natureza jurídica de prestação de serviços profissionais desportivos. Nesse âmbito, funcionamento das cláusulas indenizatória e compensatória desportiva assumem aspecto central nos estudos, sendo a primeira, estipulada em favor do clube, perquirindo o objetivo de indenizar a entidade frente aos investimentos estruturais feitos ao atleta, tendo como valor máximo o limite de 2.000 (duas mil) vezes o valor médio salarial do jogador para transações nacionais e sem limites para transferências internacionais. Já a segunda, é devida exclusivamente ao atleta profissional em casos de quebras contratuais motivadas pela entidade desportiva. A cláusula compensatória é autônoma frente aos institutos da CLT, e tem como máximo o valor de 400 (quatrocentas) vezes o salarial do jogador no momento da rescisão e como mínimo, o restante das remunerações devidas até o prazo final do contrato. Inegavelmente, o futebol atual é assimilado como atividade empresarial, se constituindo como um robusto campo de investimentos do setor privado e atingindo diversos setores da economia, o que torna pertinente as análises jurídicas construídas sobre a eficiência na gestão desportiva e sobre a ampla aceitação da teoria do inadimplemento eficiente no cenário desportivo. Existe, atualmente, a presença marcante da teoria do inadimplemento eficiente nos contratos especiais de desporto e essa afirmação está devidamente comprovada 47 com evidências fáticas exploradas pela presente monografia. Os motivos que garantem essa maior receptibilidade às quebras eficientes no cenário desportivo em comparação com os demais contratos tipicamente empresariais perpassam por circunstancias inerentes ao cenário específico do futebol. Diante do exposto, tem-se que as circunstancias jurídicas, mercantis e sociais típicas do desporto são as razões que levam à costumeira aplicação da efficient breach theory. Quantos aos aspectos jurídicos, os requisitos da teoria em estudo estão claramente presentes no cenário desportivo e os óbices à aplicação da teoria são facilmente superados nos contratos de desporto. Além disso, a atuação do terceiro ofensor, normalmente, fruto de judicialização e penalização no âmbito civil, é considerada natural e desejada no âmbito desportivo. Ademais, as circunstâncias sociais e mercantis, como a curta carreira do atleta profissional, a alta volatilidade e globalização do mercado da bola, são responsáveis por impulsionar a prática da teoria do inadimplemento eficiente. Conclui-se, portanto, pela confirmação da hipótese inicial de que todos esses fatores peculiares fundamentam e legitimam a maior receptibilidade das quebras contratuais eficiente em contratos especiais de desporto em comparação com os demais contratos empresariais típicos.

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