Em Busca Da História E Das Histórias De Restinga Sêca, Rio Grande Do Sul

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Em Busca Da História E Das Histórias De Restinga Sêca, Rio Grande Do Sul EM BUSCA DA HISTÓRIA E DAS HISTÓRIAS DE RESTINGA SÊCA, RIO GRANDE DO SUL IN SEARCH OF HISTORY AND STORIES OF RESTINGA SÊCA, RIO GRANDE DO SUL Elaine dos Santos1 (Antonio Meneghetti Faculdade) Resumo: Este artigo é um estudo introdutório de uma pesquisa maior que se propõe a estudar a História de Restinga Sêca, Rio Grande do Sul, para buscar informações sobre a sua origem, a sua formação, a constituição da sua identidade, os traços que definiram a sua municipalidade, os eventos adversos que dificultam o seu desenvolvimento econômico. Trata- se de um trabalho de coleta bibliográfica, feita em livros, artigos, dissertações, teses, da mesma forma que é um conjunto de entrevistas orais, ou a coleta da memória oral, com habitantes do município para buscar resgatar informações que não foram consolidadas como História, mas que povoam o imaginário social. Não há ainda estudos conclusivos porque a pesquisa está em andamento e novas fontes estão sendo acrescentadas a ele. Palavras-chave: Restinga Sêca. Memória. História. Abstract: This paper presents a introductory study about Restinga Sêca History, a city in Rio Grande do Sul. This is a larger research, to seek informations about your origin, training, identity’s constitution and a strokes that defined a municipality and na adverse events hamper your economic development. It is a research of collection’ literature made in books, articles, dissertations, theses and the same way is a collection oral interviews or a collection memory’s oral with inhabitants of the municipality to get rescue information were consolidated as History, but who populate imaginary’s social. There are no conclusive studies yet because a research is underway and new sources are being added to it. Keywords: Restinga Sêca. Memory. History. Introdução O presente estudo é parte de um esforço concentrado de um grupo de pessoas, professores licenciados, mestres e doutores, além de membros da comunidade, com o propósito de resgatar a História de Restinga Sêca/RS, um pequeno município no interior do Rio Grande do Sul, haja vista que, de fato, há apenas um livro, escrito por Lacy Cabral Oliveira, Evolução histórica, política e administrativa do Município de Restinga Sêca, publicado em 1983, que procura ser uma síntese dos principais acontecimentos que 1 Professora Doutora em Letras, área de concentração em Estudos literários, pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ano de obtenção do título: 2013. E-mail: [email protected] Mediação, Pires do Rio - GO, v. 12, n. 2, p. 130-142, jul.- dez. 2017. ISSN 1980-556X (versão impressa) / e-ISSN 2447-6978 (versão on-line) 131 SANTOS, Elaine dos. Em busca da História e das histórias de Restinga Sêca, Rio Grande do Sul. engendraram aquele espaço/tempo. Contudo, em face da escassa bibliografia disponível para pesquisa da autora, dos novos e imensuráveis recursos tecnológicos disponíveis e até mesmo pelo desaparecimento compulsório do referido livro (restam menos de 10 exemplares), concluiu-se que era preciso, a partir dos dados constantes ali, buscar novas fontes, o que inclui registros feitos em cartórios e tabelionatos da região desde o século XVIII, assim como material guardado por famílias tradicionais e que contam parte dessa História, agregando-se, além disso, a memória do povo, a memória dos homens comuns que também, de alguma forma, nos dois últimos séculos, participaram da ereção do distrito, da vila e do município. Neste particular, a memória oral, conta-se com vários atores, pessoas na faixa etária de 85 a 92 anos, ainda lúcidas que, permeadas por suas afetividades, podem trazer acréscimos substanciais à História narrada pelos livros, mas também às histórias do povo. Neste sentido, tem-se presente os postulados teóricos de Jacques Le Goff, em História e Memória, Paul Veyne, em Como se escreve a História, Ecléa Bosi, em Memória e sociedade: lembrança de velhos, entre outros, não se pretendendo escrever uma História ou histórias definitivas, mas lançar luzes sobre o passado. As entrevistas, em face do perfil dos entrevistados, tornaram-se necessariamente abertas, sendo apenas balizadas por eventos históricos: processo de emancipação, primeira eleição, golpe militar etc. As entrevistas estão sendo gravadas e, posteriormente, degravadas e copiadas em arquivo do tipo Word (extensão .doc) para análise posterior, sendo reagrupadas em arquivos conforme os debates postos em relevo. Neste aspecto, acredita-se que emergirão outras linhas de análise: a estação ferroviária, o Clube Seco, o cinema, a praia das Tunas, a escola mantida pelas irmãs Calvarianas etc. Para este artigo em específico, escolheu-se uma das principais descobertas que se fez neste estudo ainda inicial. Consagrou-se, ao longo dos anos, a informação que o local destinado ao abastecimento das locomotivas que puxavam os trens de passageiros ou de carga, junto a uma sanga entre as estações de Estiva e Arroio do Só, chamou-se “Caixa d’água” e que, posteriormente, teria sido denominado Restinga Sêca, em decorrência da própria sanga, que se costumava contar, no verão, em tempos de seca, secava em seu nascedouro, que servia para pouso dos tropeiros que faziam a rota até Formigueiro/RS, cidade distante cerca de 20km e referiam-se à parte seca da restinga. A própria professora Lacy Cabral Oliveira, em seu livro já mencionado, desfazia essa informação, afirmando que, provavelmente, os colonos de origem alemã, que chegavam à região através do rio Jacuí, consideravam-na uma restinga por se tratar de uma porção de Mediação, Pires do Rio - GO, v. 12, n. 2, p. 130-142, jul.- dez. 2017. ISSN 1980-556X (versão impressa) / e-ISSN 2447-6978 (versão on-line) 132 SANTOS, Elaine dos. Em busca da História e das histórias de Restinga Sêca, Rio Grande do Sul. terras mais elevada, seca, situada entre rios. Na sequência, os registros do viajante francês vieram corroborar a suposta nova informação, uma vez que também ele dava conta de uma Estância da Restinga Sêca, anterior à existência da estrada de ferro. Assim posto, o artigo é composto por esta introdução, por um breve histórico de Restinga Sêca tendo como base os dados já obtidos – reitera-se que a pesquisa em documentos históricos encontra-se em fase inicial e que se acredita na possibilidade de documentos que registrem a existência da Estância citada por Saint Hilaire ou outras fazendas nas imediações ainda no século anterior. Na sequência, faz-se uma apresentação, ainda que sucinta, do modo de vida que se desenhou ao redor da estação ferroviária, trazendo-se à cena a mais importante figura artística oriunda de Restinga Sêca, o pintor expressionista Iberê Camargo, a tal ponto que a cidade foi cognominada “Terra de Iberê Camargo”. Fica nítida entre os entrevistados a relevância da estação ferroviária para a dinâmica social do vilarejo e, posteriormente, do município. Neste sentido, cumpre agregar que a sede da estação permaneceu fechada durante muitos anos, sob o controle da América Latina Logística, concessionária da via férrea e, em 2017, o governo federal repassou a concessão, isto é, o domínio do prédio para a Prefeitura Municipal de Restinga Sêca, que já tem realizado alguns movimentos com vistas à sua restauração. Ao final, apresentam-se algumas considerações finais sobre este artigo, mas que ainda são incipientes porque não trazem o resultado final dos estudos, o que, com certeza, ainda demandará muito tempo. No entanto, julgamos importante partilhar estes primeiros achados, levá-los ao mundo acadêmico, dar expressão ao pequeno município e uma de suas maiores riquezas: a afetiva ligação com o movimento ferroviário, representado especificamente pela estação. 2. Sobre Restinga Sêca Restinga Sêca é um município situado na região central do Estado do Rio Grande do Sul, que, para fins econômicos, turísticos, políticos, a exemplo de Agudo/RS, integra a chamada Quarta Colônia de Imigração Italiana do Estado. De acordo com Oliveira (1983), a emancipação aconteceu em 25 de março de 1959, conforme a Lei nº 3.730, assinada pelo então governador do Estado, senhor Leonel de Moura Brizola. Em primeiro de janeiro de 1960, ocorreu a sessão solene de instalação do município e a posse dos candidatos eleitos, sendo que o primeiro prefeito foi Eugênio Gentil Muller. Mediação, Pires do Rio - GO, v. 12, n. 2, p. 130-142, jul.- dez. 2017. ISSN 1980-556X (versão impressa) / e-ISSN 2447-6978 (versão on-line) 133 SANTOS, Elaine dos. Em busca da História e das histórias de Restinga Sêca, Rio Grande do Sul. A tradição oral legou-nos a informação, mais tarde confirmada por aqueles que se dedicaram a contar a História de Restinga Sêca, segundo a qual o município teria surgido em virtude da construção da estrada de ferro Porto Alegre/Uruguaiana no final do século XIX e recebido a denominação de Caixa d’água, uma vez que os trens paravam ali para reabastecer a água que alimentava as velhas Maria fumaça, o que nos faz pensar que, antes disso, o local não tivesse qualquer identificação, fosse apenas terras devolutas. Tendo sido encontrado em 1500, o território brasileiro em geral e o Rio Grande do Sul em particular não atraíram os interesses dos portugueses. No tocante ao Estado mais meridional do atual território nacional, somente a expedição demarcatória de Martim Afonso de Sousa foi registrar a sua existência. De acordo com Guilhermino César (1970), a região nasceu, em 1534, para a cartografia no mapa de Gaspar de Viegas sob a denominação de Rio de São Pedro, referência provável à barra do Rio Grande, que teria sido identificada por Martim Afonso. César (1970, p. 50) observa: No Rio Grande de São Pedro, vasta porção de terra contínua, situado entre a capitania de Pêro Lopes de Sousa e o estuário do Prata, nenhuma povoação se fundou, quer na costa, quer no interior, durante o século XVI. Abandonado à própria sorte pelas duas Coroas ibéricas, foi contudo palmilhado, nesse e no século seguinte, por vária casta de aventureiros, que passavam em demanda das possessões espanholas; por escravagistas de São Paulo; por missionários portugueses, que procuraram estabelecer aldeamentos no litoral; pelos Jesuítas espanhóis radicados em Buenos Aires e Assunção do Paraguai.
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