Compartimentação Geoambiental No Complexo De Campo Maior, PI

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Compartimentação Geoambiental No Complexo De Campo Maior, PI Compartimentação geoambiental no complexo de Campo Maior, PI: uma área de tensão ecológica Geoenvironmental Compartment in Campo Maior Complex, PI: an ecologic tension area Compartimentation Geoambiental dans le complexe du Campo Maior, PI : une aire de tension écologique Compartimentación geoambiental en el complejo de Campo Mayor, PI: un área de tensión ecológica José Sidiney Barros* Antônio Alberto Jorge Farias Castro** Recebido em 5/8/2005; revisado e aprovado em 24/2/2006; aceito em 26/5/2006. Resumo: A região pesquisada, localizada numa área de tensão ecológica, foi submetida a estudos de compartimentação geoambiental de suas unidades, segundo pressupostos da teoria geossistêmica. A vegetação, em manchas ou capões, configura tipos fisionômicos com contatos abruptos ou gradacionais, instalados em solos submetidos a processos de lateritização e ferralitização. Foram analisadas relações entre solo, vegetação, estrutura, florística e diversidade em oito parcelas de 20m x 50m, registrando-se 4 434 indivíduos arbustivo-arbóreos. Palavras-chave: Ecótono; lateritização; microrrelevos. Abstract: The researched region, located in ecological tension area, was subjected to geo-environmental compartmentalization of its units, according to presupposed geo-systemic theories. The vegetation, in “cerrado island around termite hills”, configures physiognomic types with abrupt or gradual contacts, installing themselves in soils subjected to lateritization and ironization processes. The relations between soil, vegetation, structure, floristic and diversity were analysed in 8 parcels (20m x 50m, each). Key words: Ecotone; lateritization; micro-relieves. Résumé: La région étudiée, qui se trouve dans une région de tension écologique, a été soumise à des études de compartimentation de géo-environnement de ses unités, selon la théorie géo-systémique. La végétation, en touffes ou « capões », configurent des types de paysages avec des contacts brusques ou graduels, installés sur des sols soumis à des procédés de latérisation et de ferrilisation. Il a été analysé les relations entre sol, végétation, structure, flore et diversité en 8 parcelles de 20m x 50m, où il a été enregistré 4.434 arbustes et arbres. Mots-clé: Écotone; latérisation; micro-reliefs. Resumen: La región pesquisada, localizada en un área de tensión ecológica, fue sometida a estudios de compartimentación geoambiental de sus unidades, según hipótesis de la teoría geosistémica. La vegetación, en manchas o capas, configura tipos fisonómicos con contactos abruptos o graduales, instalados en suelos sometidos a procesos de ferraliticar y lateritización. Fueron analizadas relaciones entre suelo, vegetación, estructura, florística y diversidad en 8 parcelas de 20m x 50m, registrándose 4.434 individuos arbustivo arbóreos. Palabras claves: Ecótono; lateritización; micro relieves. 1 Introdução dade e vulnerabilidade relacionadas com a declividade dos terrenos, tipologia e estru- A instalação de um processo de com- tura dos solos, condições edafoclimáticas, ao partimentação caracteriza-se pela redução número e freqüência das espécies dominan- na área original e delimitação de manchas tes, ao caráter antrópico ou como resultado remanescentes isoladas com diminuição na da interação de eventos naturais (ROSS, biodiversidade (FRAGMENTAÇÃO DE 1992; GUERRA et al., 2003). Nas baixadas, ECOSSISTEMAS, 2003). A discussão funda- destaca-se, ademais, a importância de dois menta-se numa perspectiva sistêmica, segun- fatores estratégicos para a conservação e rea- do pressupostos teóricos de Sotchava (1962) bilitação da paisagem: a água e o solo. e Bertrand (1968), evidenciando caracterís- O relevo de chapada em formato de ticas diretamente responsáveis pela fragili- mesas (IBGE, 1996), em superfícies que osci- * BIOTEN. Parte da dissertação de Mestrado do primeiro Autor. PRODEMA/TROPEN/UFPI. Rua Adalberto Correia Lima, 1672 – Planalto Ininga. CEP: 64049-680 Teresina – Piauí. ([email protected]). ** Departamento de Biologia/TROPEN/UFPI. Av. Da Universidade 1310 – Ininga CEP: 64049-550 – Teresina – Piauí. ([email protected]). INTERAÇÕES Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 8, N. 13, p. 119-130, Set. 2006. 120 José Sidiney Barros; Antônio Alberto Jorge Farias Castro lam entre 100m a 420m de altitude tem, na cerrado-caatinga presentes na parte central área, cotas inferiores relacionadas a feições da bacia do Parnaíba, distribuindo-se por de interflúvios tabulares. O clima da região, toda uma região denominada de Depressão segundo a classificação de Köppen, enqua- de Campo Maior (CPRM, 2000; VELLOSO dra-se no tropical subúmido (C1WA’4a’), com et al., 2001), esquematizada na figura 1. temperaturas entre o máximo de 35ºC e o Fundamentada na discussão de aspec- mínimo de 23ºC nos meses secos. A precipita- tos relativos à instalação de processos de ção reveste-se de características contrastan- compartimentação geoambiental, ao con- tes no tempo e no espaço, atingindo valores templar o estudo geológico, geomorfológico, anuais de 1.400mm, extremamente elevados pedológico e fitossociológico, estes dois últi- quando se compara com dados de áreas afins mos numa tentativa de inter-relação em áreas com vegetação caducifólia de transição ou com consideradas frágeis, esta pesquisa tem por características vegetacionais semelhantes. objeto de estudo as rochas das formações Essas variações climáticas refletem-se nas di- Longá e Poti e unidades limítrofes, represen- ferentes associações vegetais, com contribui- tantes últimas de um dos mais importantes ção da litologia e do relevo. Como feição pre- ciclos tectono-sedimentares da Bacia do dominante destaca-se um complexo Parnaíba, e a distribuição da vegetação em vegetacional, relacionado a zonas de contato área de ecótono. Figura 1 - Localização da Área de Pesquisa. INTERAÇÕES Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 8, N. 13, Set. 2006. Compartimentação geoambiental no complexo de Campo Maior, PI: 121 uma área de tensão ecológica 2 Material e métodos ta qualitativo e/ou quantitativo. As litologias aflorantes estão representadas por arenitos, Para a estratificação das unidades geo- siltitos e folhelhos cinza-escuros das formações ambientais utilizou-se o método geopedo- Longá e Poti, em camadas sub-horizontais. morfológico, estratificando e identificando as A unidade caracterizada por feições, no ge- características ecogeográficas (rocha-mãe, ral, de caráter erosivo, ocorre na área na for- solo, relevo, vegetação) e os respectivos pro- ma de superfícies estruturais pediplanadas e blemas geoambientais (TRICART e vales pedimentados, com mergulho suave das KEEWITDEJONGE, 1992). As áreas amos- camadas para norte-noroeste (IBGE, 1996), tradas e pesquisadas foram localizadas em de relevo condicionado às formações geológi- sítios ou subambientes com maior homoge- cas e efeitos do intemperismo local como res- neidade geológica e ambiente pedológico de posta à ação de forças endógenas e exógenas. deposição, nos quais foram instaladas qua- O regime de água nos solos é um fator con- tro (4) parcelas segundo o método seletivo, dicionante da distribuição das fisionomias da com dimensões de 20m x 50m (0,1 ha cada). paisagem e depende da localização topográfi- Os sítios amostrados, 32 ao todo, foram ca do sítio na sub-bacia hidrográfica e da pro- georreferenciados com levantamento dos in- fundidade desses solos. Formações mais aber- divíduos arbustivo-arbóreos vivos, incluindo tas instalam-se em áreas mais elevadas com as lianas, com diâmetro de caule ao nível do ≥ drenagem boa em solos rasos; outras fisiono- solo (DNS) 3cm e identificadas, in loco, pelo mias com solos mais profundos ocupam áreas nome vulgar e posteriormente comparados mais baixas. A importância do nível freático, com listas dos herbários ou enviados para e da variação da sua profundidade com as especialistas. As amostras de solo por parce- características físicas do substrato, para o de- la foram analisadas e classificadas, numa ten- sencadeamento de processos de formação de tativa de possíveis inter-relações com as dife- solos, é apontada por autores como Beard rentes fisionomias vegetacionais. Registrou- (1953), Ratter (1992) e Sarmiento (1971) como se, ademais, o número de indivíduos, ou a sua um dos fatores a exercer um controle efetivo densidade, e de espécies, ou sua riqueza. na variação florística das savanas (cerrados) tropicais. Castro et al., (1998) posiciona a 2.1 Situação geológica maioria dos cerrados do Piauí como savana hiper-sazonal de Sarmiento (1971), tendo por A Bacia do Parnaíba, ou Província Se- base dados relativos à variação sazonal do dimentar do Meio-Norte, corresponde à Pro- nível piezométrico, ao longo dos anos, em víncia homônima, com exposição a Norte-No- áreas similares à do Complexo Vegetacional roeste de unidades pré-silúricas e definida por de Campo Maior. Almeida (1972), ao referir-se a uma área de aproximadamente 600.000km2, distribuindo- se pelas regiões nordeste, norte e centro-oeste 3 Geomorfologia local e a compartimen- do Brasil ou porção oriental da Plataforma tação geoambiental Sul-Americana. A área pesquisada, de apro- ximadamente 1.600 km2, é entendida como O estudo da compartimentação geo- de tensão ecológica (IBGE, 1996), por corres- ambiental voltou-se para a caracterização ponder a faixas de transição edafoclimáticas dos elementos interdependentes e indissociá- de dimensões consideráveis, entre dois domí- veis do meio natural, embasado nas relações nios distintos, submetida a condições pedoló- estabelecidas entre os processos de
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