Psol Popular
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
PSOL POPULAR O capitalismo enfrenta uma crise sem precedentes. O “neoliberalismo 2.0” forjado após a crise de 2008 é mais violento, predador e desumano que sua versão original. Os padrões de acumulação do capital nesta etapa são mais dependentes de sua dimensão financeira e mais agressivos contra a humanidade e o meio ambiente. Ao contrário do “mundo dos empreendedores” prometido pelo neoliberalismo, as classes trabalhadoras sofrem com a precarização do trabalho, a catástrofe socioambiental, níveis brutais de concentração de renda e violência contra a pobreza. As revoltas que sacudiram a Europa e os EUA na década passada foram preventivamente contidas com golpes parlamentares e com o aumento do Estado policial na América Latina. Ainda assim, inúmeros processos sociais de massas foram verificados na região (Chile em 2011, México em 2012, Brasil e Colômbia em 2013, Equador e Chile em 2019) demonstrando nossa vocação insurgente. Na Europa, o crescimento da extrema-direita é baseado na promessa da volta a um passado mítico. Ao localizar nos imigrantes a culpa por uma suposta “decadência” ela consegue ganhar base social nos antigos cinturões industriais. Nos EUA, Trump vence a eleição de 2016 cativando esses segmentos sociais. Na Inglaterra, o Brexit conqista maioria no plebiscito também manipulando a ideia abstrata de volta a um passado glorioso. Mesmo com algumas derrotas eleitorais, a força da extrema-direita é um fenômeno estrutural do capitalismo no século XXI. A vitória de Alberto Fernández, na Argentina, rompeu o ciclo de ataques aos direitos do povo argentino e, ao lado da derrota do golpe na Bolívia e a vitória expressiva do MAS, com o retorno de Evo Morales do exílio, melhorou a correlação de forças na região. Na Venezuela, apesar da grave crise, o povo do país resiste à guerra econômica imposta pelo imperialismo e rechaça saídas que representem retrocessos às suas conquistas. No Equador a vitória eleitoral do ultraliberal Guillermo Lasso e a divisão do voto progressista mostra que a retomada de posições pela esquerda não é um processo linear ou livre de contradições. O acelerado crescimento econômico da China nas últimas décadas, tornando este país o maior parceiro comercial de boa parte do mundo, muda a configuração geopolítica global. Da condição de única superpotência mundial, os EUA têm agora na China um rival de enorme peso. Ao contrário de outros períodos, esta disputa tem menos a ver com suprimentos de matérias primas ou com mercados para exportações de produtos industriais. O centro da disputa está na ameaça à hegemonia do dólar como moeda internacional de reserva e nos mercados para a Inteligência Artificial, onde a China tem uma vantagem comparativa inigualável que é o tamanho do seu mercado interno. A maior eficiência com que o gigante asiático respondeu ao desafio da pandemia em comparação às potências imperialistas é um novo elemento de peso na geopolítica em nível mundial. Nosso posicionamento, diante das investidas imperialistas no Oriente Médio, é a de defesa da autodeterminação dos povos, direito à autodefesa e denúncia de qualquer novo ataque à soberania do povo iraniano ou de qualquer país da região. Da mesma forma, reafirmamos nosso compromisso histórico com a causa do povo palestino. O ciclo de lutas em nível mundial, iniciado com a crise econômica de 2008, ainda não se encerrou. O aprofundamento da crise com a pandemia da Covid-19 poderá resultar em novas jornadas de luta nos países periféricos, Por isso, o PSOL deve apoiar todas as manifestações genuinamente populares que expressem rechaço claro ao neoliberalismo e às políticas imperialistas em qualquer parte do mundo. O mundo do trabalho no século XXI O acirramento dos conflitos sociais iniciados em 2008 não diz respeito apenas à crise, mas também à profunda reestruturação das relações de produção provocada pelos avanços tecnológicos e à emergência da China como nova potência global. A posição do país como principal plataforma industrial do mundo e o deslocamento de parte das indústrias do ocidente para a Ásia, acompanhada da crescente robotização da produção, extinguiram empregos industriais de melhor remuneração em larga escala na Europa, EUA e em polos industriais da América Latina. Para gerações de trabalhadoras e trabalhadores o futuro carrega uma enorme insegurança. Revolução digital, automação ou segunda idade da máquina são alguns nomes dados ao processo. A expansão tecnológica prevista para os próximos anos inclui um crescimento exponencial da capacidade de armazenar e processar bases de dados. Essa expansão oferece possibilidades para melhorar a vida pública e privada, mas também implicam riscos substanciais. Enquanto avançamos a passos lentos em relação a limites éticos para uso desses dados, seus potenciais mercadológicos vêm sendo explorados velozmente. Se este processo não for revertido, haverá o acirramento da influência que as grandes corporações sobre os desejos e necessidades da classe trabalhadora. Os desdobramentos da crise econômica, agravada pela pandemia, sugerem que ainda estamos longe de sua superação. Invés de expansão de direitos civis e ganhos econômicos, desde 2008 assistimos a um processo de desmanche de redes de proteção social. As novas gerações são contratadas em condições que não lhes dão acesso a direitos trabalhistas já conquistados. A futura recuperação econômica não trará empregos de volta, visto que uma parcela considerável destes deve ser substituída por máquinas ou mecanismos de inteligência artificial. O impacto da reestruturação produtiva se estende ao setor de serviços. Nele, a automação possibilita eliminar milhões de empregos através da terceirização do trabalho para os usuários, agora de forma não remunerada. Aplicativos bancários eliminam milhares de empregos e transferem para os correntistas o trabalho mais simplificado. O ensino à distância reduz a demanda por professores, plataformas online de vendas diminuem gradualmente o comércio de rua e automatizam serviços médicos. Mesmo o ícone deste processo, o Uber, na forma como existe hoje, também tem os dias contados, uma vez que deve ser substituído por carros sem motorista. Os aparatos construídos pela esquerda a partir da Revolução Industrial, em particular os sindicatos, perdem capacidade de diálogo com o enorme contingente das classes trabalhadoras afetado por essas mudanças. A precarização das relações de trabalho, o enfraquecimento das organizações sindicais e as novas tecnologias digitais têm produzido novas formas de ação coletivas descentralizadas, marcadas pela horizontalidade, sendo exemplos a greve dos caminhoneiros (2018) e as greves dos trabalhadores de aplicativos em 2020, desafiando as hierarquias da luta política tradicional. Enquanto a lógica da sociedade industrial favorecia a solidariedade no chão da fábrica, a sociedade digital estimula o isolamento dos trabalhadores e gera uma força de trabalho marcada pela heterogeneidade. O sentido de pertencimento a grupos sociais, no entanto, continua presente. No vácuo dos aparatos organizados pela lógica de classe, cresce o fanatismo religioso e o nacionalismo, mas também os movimentos feministas, negros, de defesa de direitos dos povos indígenas, das pessoas com deficiência, da população LGBTQIA+, do direito à moradia e demais demandas urbanas. A organização por meio do trabalho de base territorial e nas plataformas digitais devem ser exploradas pela esquerda, pois agem sob importantes redes de sociabilidade. Se a ascensão de uma extrema-direita neofascista é fato, a constituição de uma esquerda revolucionária de massas capaz de disputar o precariado é uma possibilidade. Ao mesmo tempo, como último país a abolir a escravidão negra das Américas, o Brasil edificou uma estrutura social pautada na exclusão das pessoas negras ao direito à cidadania e à existência plena. Por isso é preciso pensar o mundo do trabalho pautando a questão racial e de gênero para criar condições dignas para todas e todos. O Brasil pós-golpe O final do primeiro governo Dilma foi marcado pelo forte acirramento do conflito distributivo entre capital e trabalho: com a manutenção de baixo nível de emprego e crescimento dos salários reais, as taxas de lucro do capital passaram a cair rapidamente. Em 2015, o governo petista cedeu às pressões do empresariado e alterou a política econômica visando à resolução do conflito a favor do capital. Com a grande contração dos gastos públicos, o desemprego subiu fortemente e os salários despencaram. O desemprego, além de diminuir o poder de barganha dos trabalhadores e seus salários, reduziu seu poder de organização como classe. Estes fatores são fundamentais para compreendermos a baixa capacidade de reação ao golpe parlamentar de 2016 e ao aprofundamento da agenda neoliberal conduzida por Temer e, agora, de forma ainda mais radical, por Jair Bolsonaro. Como consequência, aprofunda-se também o processo de desindustrialização do Brasil que perde base industrial tradicional sem perspectiva de crescimento de uma indústria de ponta nacional pelo abandono de qualquer projeto de desenvolvimento científico próprio. Paralelamente, a pandemia do Coronavírus mostra os efeitos da desindustrialização e da quebra do domínio de cadeias produtivas longas no Brasil, dependendo cada vez mais de bens intermediários importados. Parte da inflação ascendente ocorre por desabastecimento em setores industriais que continuam tendo capacidade ociosa mas têm sua produção interrompida pela falta de componentes. O baixo custo da mão-de-obra retardará o processo de robotização no país e determinará velocidades