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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO

ANDRÉ RICARDO LIMA

A REDE LEITE COMO ESTRATÉGIA DE REPRODUÇÃO SOCIAL DAS FAMÍLIAS ASSISTIDAS: ESTUDO DE CASO NOS MUNICÍPIOS DE BOA VISTA DO CADEADO, , CONDOR, , ESPERANÇA DO SUL E PEJUÇARA – RS

Ijuí – RS 2018

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ANDRÉ RICARDO LIMA

A REDE LEITE COMO ESTRATÉGIA DE REPRODUÇÃO SOCIAL DAS FAMÍLIAS ASSISTIDAS: ESTUDO DE CASO NOS MUNICÍPIOS DE BOA VISTA DO CADEADO, BOZANO, CONDOR, CORONEL BICACO, ESPERANÇA DO SUL E PEJUÇARA – RS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Agronomia, Departamento de Estudos Agrários da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Orientadora: Profa. Msc. Maria Aparecida de Carvalho Zasso

Ijuí – RS 2018

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ANDRÉ RICARDO LIMA

A REDE LEITE COMO ESTRATÉGIA DE REPRODUÇÃO SOCIAL DAS FAMÍLIAS ASSISTIDAS: ESTUDO DE CASO NOS MUNICÍPIOS DE BOA VISTA DO CADEADO, BOZANO, CONDOR, CORONEL BICACO, ESPERANÇA DO SUL E PEJUÇARA – RS

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Agronomia, para obtenção do título de Engenheiro Agrônomo pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Departamento de Estudos Agrários, aprovado pela banca abaixo subscrita.

Banca Examinadora

______Profa. Msc. Maria Aparecida de Carvalho Zasso Orientadora

______Profa. Dra. Leonir Terezinha Uhde

Ijuí, 16 de junho de 2018

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À minha mãe Ângela, Ao meu pai Dilmar, Ao meu irmão Mateus, À minha esposa Cristiane. Minha família meu sustentáculo em todos os momentos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus pela vida e pela força espiritual para a realização deste trabalho. Agradeço aos meus pais Dilmar e Ângela pelo apoio, orações, compreensão, ajuda, incentivo e pelo grande amor e carinho que sempre me proporcionaram nesta caminhada. Ao meu irmão Mateus agradeço pelo companheirismo, entendimento e paciência em alguns momentos. Aos meus tios, tias, primos pelo apoio, orações, carinho e incentivo proporcionado em muitos momentos. Agradecimento especial aos meus avós pelo imenso amor, incentivo e pela grande força em todos os momentos desta caminhada. Agradecimento especial a minha esposa Cristiane por ser minha companheira, pela paciência e por ser compreensiva em todas as horas me dando força e apoio. Agradecimento muito grande aos meus colegas, amigos e em especial os profissionais da REDE LEITE, que foram protagonistas da realização deste trabalho. Agradeço meus professores pelo aprendizado, por transferir conhecimentos para que fosse possível chegar até aqui. Em especial a minha orientadora professora Maria Aparecida de Carvalho Zasso pelo incentivo, paciência e dedicação para a realização e concretização desse trabalho. À professora Leonir Terezinha Uhde por ter prontamente aceitado fazer parte da banca avaliadora. A todos meu sincero MUITO OBRIGADO!

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“O Senhor é o meu pastor e nada me faltará”.

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RESUMO

Este estudo refere-se ao acompanhamento de seis (6) propriedades participantes da Rede Leite nos seguintes Municípios da região Noroeste do Estado do Rio grande do Sul: Boa Vista do Cadeado, Bozano, Condor, Coronel Bicaco, Esperança do Sul e Pejuçara. Esses municípios fazem parte das microrregionais da EMATER de Cruz Alta, Ijuí e Três Passos. O propósito desse trabalho foi avaliar como o acompanhamento das propriedades e as ações propostas resultaram em melhorias nos processos produtivos e na capacidade de reprodução social das famílias assistidas no período de julho de 2016 a junho de 2017. Para isso utilizamos a Planilha de Sistematização da Produção (PSP) elaborada pela EMATER/EMBRAPA. Das seis unidades de observação, quatro estão atingindo o nível de reprodução social e sua viabilidade econômica se mostra assegurada para os próximos anos. No entanto, duas unidades de observação desse estudo, não conseguem remunerar o trabalho familiar com valor superior ao nível de reprodução social. Para uma dessas propriedades os dados nos informam que os custos de produção são equivalentes às receitas da atividade. Na outra, os custos de produção são superiores às receitas. Dessa forma, é possível perceber que mantidas essas condições ambas as propriedades tendem abandonar a atividade. É necessário aprofundar o estudo, realizar um diagnóstico mais preciso dessas unidades e propor alternativas viáveis para a sua manutenção.

Palavras-chave: Rede Leite. Produção de Leite. Reprodução Social.

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LISTA DE SIGLAS

ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural CCGL – Cooperativa Central Gaúcha Ltda CCS – Contagem de Células Somáticas DEAg – Departamento de Estudos Agrários EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura FEPAGRO – Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária GT – Grupo de Trabalho IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IRDER – Instituto Regional de Desenvolvimento Rural MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário PSP – Planilha de Sistematização do Sistema de Produção UFC – Unidade Formadora de Colônia UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos / States Department of Agriculture

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Área de abrangência da Rede Leite...... 19 Figura 2: Mapa dos municípios que compreendem a região do estudo...... 19 Figura 3: Reunião da equipe coordenadora da Rede Leite ...... 24 Figura 4: Exemplificação do funcionamento da Rede Leite ...... 26 Figura 5: Encontro de UOs ...... 27 Figura 6: 3° Fórum Técnico da Rede Leite, realizado na Unijuí ...... 29 Figura 7: Dia de campo IRDeR – Unijuí ...... 29 Figura 8: Análise da qualidade do leite e preço médio recebido de julho/16 a junho/17 ...... 32 Figura 9: Análise da produção e preço médio recebido no período de julho/16 a junho/17 ..... 33

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Requisitos mínimos de CBT e de CCS do leite cru, de acordo com a Instrução Normativa N° 62/2011 ...... 30 Tabela 2: Requisitos físico-químicos segundo o anexo II da Normativa n° 62 de 30 de dezembro de 2011, do MAPA para leite cru refrigerado ...... 30 Tabela 3: Análise econômica e o nível de reprodução social das UOs ...... 36

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 12 OBJETIVO GERAL ...... 14

1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...... 16 1.1 ATIVIDADE LEITEIRA NO BRASIL ...... 16 1.2 A CADEIA DO LEITE NO RIO GRANDE DO SUL ...... 16 1.3 PRODUÇÃO LEITEIRA NA REGIÃO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL ...... 17

2 METODOLOGIA ...... 18 2.1 TIPO DE PESQUISA DO ESTUDO ...... 18 2.2 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ...... 18 2.3 AVALIAÇÃO E ANÁLISE DO NÍVEL DE REPRODUÇÃO SOCIAL DAS UNIDADES DE OBSERVAÇÃO DA REDE LEITE ...... 20 2.4 COLETA DE DADOS ...... 21

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...... 22 3.1 HISTÓRICO DA REDE LEITE ...... 22 3.2 ESTRUTURA E ABRANGÊNCIA DA REDE LEITE ...... 25 3.3 FORMAS DE ATUAÇÃO ...... 25 3.3.1 Unidades de Observação (UO) ...... 25 3.3.2 Unidades de Experimentação Participativa (UEPs) ...... 25 3.4 A METODOLOGIA DA REDE LEITE ...... 26 3.5 FUNCIONAMENTO DA REDE LEITE ...... 27 3.5.1 Acompanhamento das Unidades de Observação (UOs) ...... 27 3.5.2 Encontros da Rede Leite ...... 27 3.5.3 Grupos Temáticos, Reuniões Ordinárias e Fóruns Técnicos ...... 28 3.5.4 Dias de Campo ...... 29 3.6 INSTRUÇÃO NORMATIVA N° 62 – PROGRAMA NACIONAL DE MELHORIA DA QUALIDADE DO LEITE ...... 29 3.6.1 Qualidade Microbiológica ...... 31 3.6.2 Contagem de Células Somáticas (CCS) ...... 31 3.7 ANÁLISE DA QUALIDADE DO LEITE DOS PRODUTORES E PREÇO MÉDIO ...... 31 3.8 ANÁLISE DA PRODUÇÃO E O PREÇO MÉDIO ...... 32 3.9 NÍVEL DE REPRODUÇÃO SOCIAL DAS UOS DA REDE LEITE ...... 33 3.9.1 A Teoria Neoclássica da Produção ...... 34 3.9.2 Valor Agregado e sua Análise na Reprodução Social dos Agricultores ...... 35

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3.9.3 O Lucro na Análise da Reprodução Social ...... 35 3.9.4 Análise Econômica das Seis Unidades de Observação da Rede Leite ...... 36

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 39

ANEXO ...... 43

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INTRODUÇÃO

A atividade pecuária no Brasil surge com a chegada dos portugueses em nosso território. Entre os ciclos econômicos brasileiros podemos citar o ciclo do ouro, da borracha, da cana de açúcar, do café. A cana de açúcar encontrou na região litorânea do Nordeste brasileiro, clima favorável, solo fértil e mão de obra indígena abundante. Os senhores de engenhos, tão mencionados na literatura, exportavam o produto para a Europa. O gado nessa época era usado como meio de transporte e sua carne, para consumo dos proprietários dos engenhos. A criação de gado não era estimulada pelo governo imperial, pois poderia causar danos aos canaviais. A atividade, apesar dessa resistência do governo português, fortalece-se como de subsistência e se consolida durante os quatros séculos subsequentes (PRADO JUNIOR, 1998; LOPES; CONSOLI; NEVES, 2006). No Rio Grande do Sul a criação do gado bovino é marcada pela vinda dos jesuítas. Pelo Tratado de Tordesilhas, o estado ficou com a Espanha e os espanhóis foram os primeiros a construir edificações, plantar, domesticar animais para fins de utilizá-los nos trabalhos agrícolas e para pecuária de corte. A pecuária leiteira ganhou destaque a partir do século XIX com a vinda de imigrantes europeus, principalmente alemães e italianos que se instalaram mais ao norte do Estado. Com o surgimento das vilas, o leite e os seus derivados ganharam importância econômica. Só em 1946, o Brasil começa a regulamentação da atividade, estabelecendo critérios sanitários de processamento e distribuição do leite e de seus derivados. A intervenção do Estado foi para garantir que o consumidor tivesse acesso a produtos seguros, sem riscos de contaminação. O Estado também definia os preços de comercialização do leite in natura e do leite pasteurizado pago pelo consumidor. Essa ação do Estado tinha como meta garantir o 13 consumo alimentar pela população brasileira (MARION FILHO; REICHERT; SCHUMACHER, [s.d.]). O leite é um alimento importante na dieta alimentar, por seu alto valor nutritivo, fornecendo quase todos os nutrientes em quantidades consideráveis. Segundo a FAO (2013), o leite é considerado o principal alimento fonte de cálcio para a nutrição humana. Vale também lembrar que o leite propicia a geração de emprego e renda para muitas famílias que estão envolvidas com a atividade. Todavia as dificuldades enfrentadas para produzir este alimento vêm crescendo a cada ano. A instabilidade dos preços, o alto custo de produção e as fraudes descobertas nos últimos anos, causaram desânimo nos produtores, fragilizando o setor. Muitos laticínios pequenos foram à falência e por não saldarem suas dívidas com os fornecedores, grande parte dos produtores ficou endividada, mesmo tendo dinheiro para receber. Diante dessa situação vários produtores desistiram da atividade, comprometendo o processo de diversificação instalado a mais de três décadas no Rio Grande do Sul, principalmente nas pequenas propriedades rurais. As fraudes levaram à falência pequenos lacticínios que fecharam suas portas ou foram incorporados às grandes indústrias de lacticínios. A intensificação da fiscalização sanitária junto às indústrias e aos produtores de leite, acelerou o processo de abandono da atividade leiteira. Muitos produtores de leite foram excluídos da atividade por não serem suficientemente eficientes (poucos recursos para investir no melhoramento genético do rebanho, pouca assistência técnica, pouca importância dada à gestão e administração do negócio). Ficaram na atividade aqueles produtores mais organizados que conseguiram acompanhar as exigências do mercado consumidor e das empresas para as quais vendem seus produtos. O leite é uma atividade estratégica para o desenvolvimento do país e do Rio Grande do Sul. O Brasil é o 5º maior produtor de leite em nível mundial, ficando apenas atrás Índia, Estados Unidos da América, China e Paquistão (FAO, 2016). Conforme levantamento realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), referente ao ano de 2014, a produção leiteira chegou a marca de 35,17 bilhões de litros, sendo a região Sul, a maior produtora do país, representando 34,7% do total nacional (MILKPOINT, 2015). O Rio Grande do Sul é um grande produtor nacional de leite: está em 2º lugar, com 13% da produção total do país, com uma média de 4,6 bilhões de litros/ano (IBGE, 2016), ficando atrás de Minas Gerais, historicamente o maior produtor de lacticínios do País. A cadeia do leite gaúcha é considerada umas das mais eficientes em termos de produção do Brasil, respondendo por 7% do PIB do agronegócio do Rio Grande do Sul. A região Noroeste 14 responde por mais de dois terços da produção gaúcha e 8,3% da produção nacional. Hoje é a região maior produtora do país, tornando o leite uma atividade estratégica para o desenvolvimento da região colonial do Estado do Rio Grande do Sul. De acordo com Silva Neto e Basso (2005), o leite é importante para o pequeno produtor familiar, pois ele gera uma produção primária com escala no interior da pequena propriedade rural, produzindo renda mensal, que reforça e equilibra o caixa de sua empresa rural. Essa atividade é importante alternativa para a reprodução social da família e também para o desenvolvimento da agricultura familiar. Conforme Blum (2001), a agricultura familiar aciona diversas estratégias para garantir sua reprodução social e permanência no campo. Esses elementos são centrais à compreensão das transformações da agricultura familiar nos últimos anos como, por exemplo, a diversificação produtiva. A reprodução social da família faz refletir sobre a estrutura, a organização, as dinâmicas sociais, os sistemas de relações sociais, as possibilidades de produção e as lógicas internas (e externas) acionadas no intuito de manter a viabilidade, a sociabilidade e a estabilidade da propriedade como tal. Bourdieu (1994) afirma que a reprodução social é um processo com diversos mecanismos que permite a um grupo (ou uma sociedade) reproduzir-se a si mesmo. Essa reprodução está vinculada à reprodução cultural, uma vez que o grupo utiliza de práticas para sua continuidade ou crescimento de sua posição na estrutura social.

OBJETIVO GERAL

Sabendo-se da importância econômica da atividade leiteira nas unidades familiares da região noroeste, temos como objetivo geral, analisar as ações desenvolvidas pela Rede Leite nas propriedades atendidas pelo programa, visando a viabilidade econômica e sua reprodução social. Como objetivos específicos a pesquisa se propõe: a) como as ações propostas pela Rede Leite auxiliaram no funcionamento e manutenção das unidades familiares e no desenvolvimento da cadeia produtiva do leite na região noroeste do Rio Grande do Sul; b) analisar a qualidade do leite das unidades familiares de acordo com a Normativa 62 e o preço recebido no período da pesquisa (junho de 2016 a julho de 2017); 15 c) analisar a capacidade de Reprodução Social das unidades familiares participantes da Rede Leite na região noroeste no período da pesquisa (junho de 2016 a julho de 2017).

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1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 ATIVIDADE LEITEIRA NO BRASIL

Atividade leiteira no Brasil compõe significante atividade do setor agrícola e desempenha papel relevante no processo de desenvolvimento econômico e social do país. O mercado do leite sofreu nos últimos anos sérias transformações nos aspectos, econômicos, de qualidade e higiene, desde sua produção até a comercialização. De acordo com o IBGE, em 2014 a produção de leite alcançou 35,2 bilhões de litros, representando um aumento de 2,7% em relação à registrada no ano anterior. Segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – States Department of Agriculture), o Brasil apresentou o terceiro maior efetivo de vacas leiteiras, atrás de Índia e União Europeia (IBGE, 2015). Segundo levantamento realizado pela EMATER (2017), em todo o território nacional há produção de leite. São 1,3 milhão de propriedades produzindo leite, ou seja, o leite participa da produção primária de 99% dos municípios brasileiros. O rebanho conta com 23 milhões de vacas ordenhadas, exigindo cerca de 4 milhões de trabalhadores em toda a cadeia do leite, 11 mil só no transporte, seja do leite da fazenda para a indústria, seja dos lácteos processados pelas indústrias até o mercado consumidor. No Brasil o leite está entre os seis primeiros produtos mais importantes da agropecuária brasileira, sendo essencial no suprimento de alimentos e na geração de empregos e renda para a população (EMBRAPA, 2016).

1.2 A CADEIA DO LEITE NO RIO GRANDE DO SUL

O Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor de leite do país com 4,60 bilhões de litros anuais, significando 13% da produção nacional. Em primeiro lugar está o estado de Minas Gerais, com 9,14 bilhões de litros produzidos, cerca de 37% do total brasileiro (FILTER, 2016). A produtividade das vacas ordenhadas do RS é considerada uma das melhores do Brasil, chegando a 2.430 litros/vaca/ano, isso se deve aos investimentos realizados na cadeia leiteira por parte dos produtores de leite nos últimos anos e das ações propostas pela Rede Leite nos municípios da região. O acesso ao crédito com juros mais baratos possibilitou que os produtores investissem na aquisição de matrizes mais produtivas, 17 inseminação artificial e transferência de embriões proporcionando melhoramento genético no rebanho, tornando a atividade mais lucrativa pelo ganho em produtividade. Outro fator positivo da cadeia do leite no Rio Grande do Sul, é a instalação de indústrias de grande porte que investiram no beneficiamento do leite e aumento dos preços pagos pela qualidade desse, incentivando a partir de bonificações os melhores produtores. Segundo levantamento realizado pela EMATER (2017), no Rio Grande do Sul existem 441 mil estabelecimentos rurais e 134 mil produtores de leite. Desses, 70% comercializam menos de 100 litros de leite por dia.

1.3 PRODUÇÃO LEITEIRA NA REGIÃO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL

A região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul é considerada a maior produtora de leite do estado. O rebanho leiteiro dos 229 municípios que compõem a região representa 58,23% do rebanho do estado, razão pela qual empresas como a Nestlé, a Lactalis, a Italac e a CCGL se instalaram na região. Segundo Gomes (2008), essa concentração do rebanho ocorre devido às caraterísticas de solo férteis, forragens de qualidade, boa disponibilidade de água e mão de obra familiar. Podemos afirmar que a atividade leiteira na região noroeste do Rio Grande do Sul, é desempenhada por pequenos proprietários rurais, que utilizam basicamente mão de obra da própria família. Segundo Lamarche (1984), a agricultura familiar não constitui um grupo social homogêneo, pois encontramos dentro dessa categoria, uma diversidade de situações. Porém, pode-se afirmar que é uma unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estão ligados à família. Para Wanderlei (2000), o ponto de partida da agricultura familiar é o trabalho sendo realizado essencialmente pelos membros da família e proprietários da área, mesmo que eventualmente possam ter mão de obra contratada. Tendo em vista a capacidade de aumentar a produção leiteira na região noroeste do Rio Grande do Sul, no ano de 2003, foi criada a Rede Leite, uma rede formada por extensionistas, pesquisadores e agricultores e de organizações sociais relacionadas ao setor agrícola passaram a fazer reflexões conjuntas sobre os problemas da evolução da agricultura familiar na região noroeste do Rio Grande do Sul. Dessas reflexões surgiu a ideia de organizar ações coordenadas de pesquisadores, extensionistas e associação de produtores, no sentido de contribuir para o fortalecimento e viabilidade da agricultura familiar, tendo como foco dos trabalhos a pecuária de leite. Começava então a se constituir o Programa de Pesquisa – Desenvolvimento em Pecuária de Leite – Rede Leite (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016).

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2 METODOLOGIA

2.1 TIPO DE PESQUISA DO ESTUDO

Segundo Gill (2002), o presente estudo foi caracterizado como pesquisa do tipo exploratória, por proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Esse tipo de pesquisa envolve levantamento bibliográfico e análise de exemplos da realidade. Quanto à natureza, a pesquisa pode ser considerada básica descritiva, pois envolve a coleta de dados e descreve as características de uma determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis.

2.2 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

A pesquisa é desenvolvida a partir da análise dos dados fornecidos por extensionistas da EMATER-RS Regional de Ijuí sobre os produtores assistidos pela Rede Leite (figura 1) em alguns municípios da região. Dos 46 municípios atendidos por essa Regional, selecionou-se seis. A saber: Boa Vista do Cadeado, Bozano, Condor, Coronel Bicaco, Esperança do Sul e Pejuçara, sendo uma propriedade por Município. Os municípios selecionados fazem parte das microrregionais da EMATER de Cruz Alta, Ijuí e Três Passos. Os critérios de escolha foram os seguintes: a) área de terra não superior a dois (2) módulos fiscais1; b) arrendamento (se houver) não superior a cinco (5) hectares; c) mão de obra familiar de dois (2) a quatro (4) adultos, ou seja, UTF2 não inferior a dois (2); d) produção maior que 250 litros de leite/dia.

1De acordo com a lei 6.746/79 entende-se por módulo fiscal “uma unidade de medida em hectares, fixado pelo INCRA, que varia de acordo com o Município onde está localizada a propriedade”. No Brasil varia entre 5 e 110 hectares. Na Região Noroeste do Rio Grande do Sul, em média 1 módulo corresponde a 20 hectares. 2UTF – Unidade de Trabalho Familiar.

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Figura 1: Área de abrangência da Rede Leite

Fonte: Rede Leite.

Figura 2: Mapa dos municípios que compreendem a região do estudo

Fonte: Dissertação de Mestrado Pedro Urabatan.

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2.3 AVALIAÇÃO E ANÁLISE DO NÍVEL DE REPRODUÇÃO SOCIAL DAS UNIDADES DE OBSERVAÇÃO DA REDE LEITE

Para a análise econômica dos agricultores das unidades de observação da rede leite seguiu-se os procedimentos recomendados definidos de acordo com: - Produção Bruta (PB): Toda riqueza gerada na unidade de produção. * No cálculo do valor bruto foi considerado o preço médio recebido pelos agricultores no período da pesquisa. - Consumo Intermediário (CI): Valor do consumo intermediário. - Valor Agregado Bruto (VAB): É o valor da produção bruta menos o consumo intermediário. VAB = PB – CI - Depreciação Total (DT): Depreciação dos equipamentos e instalações. * Não foi considerado no cálculo do Nível de Reprodução Social. - Valor Agregado Líquido (VAL): É o valor agregado bruto menos a depreciação. VAL = VAB – DT - Distribuição do Valor Agregado (DVA): São os valores pagos sobre a produção bruta de cada atividade (FUNRURAL 2,3%), juros de custeio e de investimentos, arrendamentos, IPVA, salários e ITR. * Gastos Proporcionais: Dependem do valor da produção bruta. Exemplo: grãos, leite. * Gastos Não Proporcionais: Não dependem do valor da produção. São considerados valores fixos. Exemplo: juros de investimentos e custeio, arrendamentos, IPVA, salários e impostos. - Renda agrícola (RA): É o valor agregado liquido menos a distribuição do valor agregado. RA = VAL – DVA - Produtividade do Trabalho (PW): É o valor agregado liquido dividido pelas unidades de trabalho familiar. Corresponde quanto cada unidade de trabalho familiar gera de riqueza dentro da unidade de produção. PW = VAL/UTF - Remuneração do Trabalho (RWF): É o valor da renda agrícola dividido pelas unidades de trabalho familiar. Valor que se considera quanto cada unidade de trabalho familiar recebe como salario na unidade de produção familiar. 21

RWF = RA/UTF - Nível de Reprodução Social (NRS): É a renda suficiente para manter a unidade de produção familiar em funcionamento. * Para a análise da reprodução social dos agricultores da Rede Leite, foi usado o salário mínimo vigente no período da pesquisa (julho/2016 a junho/2017) de R$ 937,00 por unidade de trabalho familiar. Para realização da análise da reprodução social, as UOs foram consideradas como do tipo Agricultura familiar e classificadas quanto ao sistema produtivo: - Leite/Grãos mecanizada: unidades de produção familiar, com produção de leite e soja. Possui máquinas próprias para desenvolver seu sistema produtivo. Mão de obra familiar. - Leite/mecanizado: unidade de produção familiar, com somente um sistema produtivo leite. Possui máquinas próprias para desenvolver a atividade. Mão de obra familiar.

2.4 COLETA DE DADOS

Os dados foram retirados da planilha PSP (Planilha de Sistematização do Sistema de Produção), elaborada pela EMATER e analisados a partir de referências bibliográficas que permitem perceber a capacidade de reprodução social das famílias participantes do Projeto de Desenvolvimento Rede Leite.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 HISTÓRICO DA REDE LEITE

A Rede Leite teve seu início em 2003, marcada por uma situação de exclusão dos pequenos agricultores da atividade leiteira pelas indústrias, por não atenderem o mínimo de produção exigida, ou seja, 100 litros/dia. Diante dessa situação, agricultores familiares pressionaram as entidades e buscaram ajuda nas instituições de pesquisa e de assistência técnica (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016). Em maio de 2003, extensionistas de campo da EMATER-RS e um especialista do escritório regional, criam um grupo de estudos da cadeia do leite para entender a realidade vivida pelos agricultores e propor estratégias de ação na atividade leiteira da região. O grupo decide que é preciso expandir as discussões e convidar outros atores regionais para participarem do grupo. Em agosto de 2003 é realizada uma primeira reunião com a presença das principais cooperativas tritícolas da região (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016). Em setembro de 2003 o grupo convida pesquisadores da FEPAGRO (Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária) Noroeste e Missões e apresenta propostas de trabalho em conjunto, com visão estratégica de atuação regional: a) instalar unidades agrícolas demonstrativas e de validação de forrageiras-perenes e anuais, de verão e de inverno; b) programar visitas técnicas nas propriedades rurais com a FEPAGRO; c) criar condições para unidade de observação e validação e futuros dias de campo; diagnóstico por parte da FEPAGRO para conhecer as diferentes realidades; d) investigar o problema de compactação mecânica ou manejo da pastagem com resíduo de matéria orgânica. As propostas foram vistas pelo grupo do leite, como uma forma diferenciada de relacionamento com a pesquisa oficial, pois se propunha a aprofundar o diagnóstico da realidade junto com os agricultores e extensionistas. As primeiras ações em conjunto foram visitas às famílias de diferentes sistemas produtivos, onde se diagnosticou a compactação dos solos nas áreas de cultivo de pastagens, principalmente as perenes, o que limitava melhores níveis de produtividade e oferta de forragem (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016). Com o diagnóstico realizado, os pesquisadores propuseram o manejo com resíduo mais alto, como estratégia de descompactação pelo maior desenvolvimento de raízes e pelo acúmulo de matéria vegetal superficial. Esse manejo era contrário às recomendações dos 23 extensionistas que desconsideravam a relação solo-planta (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016). As propriedades acompanhadas pelo grupo deveriam ser “unidades de referência” para outros agricultores de seu entorno, bem como para outros grupos de agricultores e cooperativas assistidos pelos extensionistas. Essas propriedades começaram a ser chamadas de Unidades de Observação (UOs). Em dezembro de 2004 promove-se a primeira reunião com as equipes de extensionistas dos escritórios municipais da EMATER onde estavam localizadas as UOs. O objetivo era de planejar o trabalho com essas UOs dentro das demais atividades de extensão rural previstas para o ano consecutivo (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016). Após a reunião com as equipes, encaminhou-se que como estratégia para 2005, que o escritório Regional da EMATER-RS promoveria a capacitação dos extensionistas na área de produção leiteira, para enfrentar a realidade das UOs em diversas frentes: econômica, social e ambiental. No mesmo ano a UNIJUÍ (Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul) se insere no grupo, capacitando quatro extensionistas do Escritório Regional da EMATER-RS, através de um curso de Especialização em Manejo Sustentável de Agroecossistemas. Esse curso foi oferecido pelo Departamento de Estudos Agrários (DEAg) e os extensionistas acadêmicos puderam conhecer a gênese, as bases metodológicas e teóricas da “pesquisa-desenvolvimento e da abordagem sistêmica” que continua sendo a forma metodológica de atuação da rede nas UOs (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016). O conceito de pesquisa-desenvolvimento é realizado em meio físico real, de acordo com a realidade local, sendo que as unidades de produção são associadas como local de geração e difusão tecnológica, para os laboratórios e as estações experimentais (SEBILLOTTE, 1974; MILLEVILLE, 1987). A partir do ano de 2005, a EMBRAPA/Pecuária Sul, participa do projeto da UOs, dando suporte nas pesquisas de forrageiras de estação fria e quente, recomendadas para a região noroeste. No entendimento sobre a necessidade de um paradigma de pesquisa agropecuária para dar conta da realidade demandada pela região foi determinante a aproximação da EMBRAPA Pecuária Sul e as demais instituições na construção da proposta de trabalho conjunto que desencadeou a formação da Rede Leite (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016). O ano de 2008 marca a consolidação do programa Rede Leite na região Noroeste (figura 3).

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Figura 3: Reunião da equipe coordenadora da Rede Leite

Fonte: Rede Leite (2008).

No ano anterior o grupo inicia a elaboração de um projeto piloto que contemplava a forma de atuação conjunta das entidades e a necessidade de recursos financeiros, estruturais e humanos. Esse documento foi apresentado à diretoria da EMATER-RS e ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em audiência ocorrida em Ijuí (RS), sendo recomendada sua continuidade. O convênio de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) n°152/07 do MDA assinado com a EMATER-RS foi fundamental na estruturação da Rede Leite, pois possibilitou implantar o Programa Pesquisa-Desenvolvimento (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016). Conforme a EMATER (2010), foram desenvolvidas as seguintes ações: a) acompanhamento técnico-ambiental e social de 40 UOs, com realização de 600 visitas; b) implantação de três locais de experimentação de Unidades Experimentação Participativa (UEP), com seminário de avaliação do processo de execução do projeto com 160 participantes, entre agricultores da UOs, técnicos e pesquisadores; c) elaboração de zoneamento agroecológico para produção leiteira e descrição dos principais tipos de sistemas de produção existentes; d) relatório dos principais problemas agroecológicos, sociais e produtivos dos sistemas de produção da região. Através dos encontros da Rede Leite e da apresentação dos resultados nos fóruns técnicos, esse projeto se consolida na região noroeste. Em maio de 2010, ocorreu uma 25 cerimônia no Parque de Exposições de Ijuí (RS), onde estiveram presentes representantes de nove instituições de ensino, pesquisa e extensão rural, além de cooperativas de produtores rurais e lideranças regionais (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016).

3.2 ESTRUTURA E ABRANGÊNCIA DA REDE LEITE

A Rede é formada por pesquisadores de sete instituições de pesquisa e ensino, e de aproximadamente 140 extensionistas que atuam organizados num Escritório Regional e em 46 Escritórios Municipais da EMATER-RS. Além dessas instituições participam representações de produtores de leite, como a Cooperativa Agropecuária dos Agricultores de (Cooperfamiliar) e a Rede Dalacto, que articula um conjunto de doze cooperativas familiares de produtores de leite da região, com aproximadamente 2.000 associados (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016).

3.3 FORMAS DE ATUAÇÃO

3.3.1 Unidades de Observação (UO)

Nome dado às unidades de produção agrícola/familiares atendidas pelo projeto REDE LEITE. Ao todo são 67 famílias envolvidas, distribuídas nos 46 municípios de abrangência da Rede Leite. Nessas unidades os extensionistas da EMATER-RS desenvolvem a abordagem sistêmica, para entender o funcionamento e elaborar proposições. O extensionista através das visitas técnicas faz o diagnóstico dos problemas, discute com a família e encaminha um plano de ação em conjunto com as famílias. A UO é também um espaço de execução de experimentos por parte das instituições de pesquisas, onde são socializados através de dias de campo ou intercâmbios com outros agricultores da região.

3.3.2 Unidades de Experimentação Participativa (UEPs)

Áreas onde são conduzidos os experimentos, podendo ser em campos experimentais das instituições parceiras ou até mesmo nas UOs. As pesquisas são voltadas para o estudo das forrageiras (SILVA et al., 2010), sendo avaliadas as forrageiras anuais e perenes de inverno e verão que mais se adaptam à realidade das propriedades, e possuem mais eficiência na 26 produção de carne e leite. Essas referências técnicas são publicadas pelos pesquisadores e socializadas com os agricultores familiares (SILVA et al., 2011).

3.4 A METODOLOGIA DA REDE LEITE

A metodologia pesquisa desenvolvimento se define como uma experimentação em escala, meio físico e social real, considerando as possibilidades e condições de mudanças técnicas e sociais no meio rural (BILLAS; DUFUMIER, 1980). Em lugar da organização linear e da descendência entre pesquisadores, extensionistas e produtores, propõe-se uma aproximação entre os três atores do desenvolvimento (figura 3). A participação dos agricultores, na geração de tecnologias que vão ao encontro dos problemas nos seus sistemas de produção, facilita a sua adoção e aceitação (GENTIL, 1984). A unidade familiar e os atores envolvidos com as atividades não são mais os destinatários das melhorias agronômicas e estações experimentais, são fontes diretas de problemas, de hipóteses científicas e locais de realização e avaliação de pesquisas (MILLEVILLE, 1987; SEBILLOTTE, 1974).

Figura 4: Exemplificação do funcionamento da Rede Leite

Segundo INRA/SAD (1985 apud WUNSH, 1995), a abordagem sistêmica é um instrumento que tem um olhar mais abrangente sobre a unidade familiar. Leva em conta não só a atividade da unidade de produção, mas também os atores que fazem o sistema funcionar. A partir dessa abordagem se faz o diagnóstico, identificando os problemas ou dificuldades que aquela unidade se encontra, para tomada de ações em conjunto com a unidade familiar.

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3.5 FUNCIONAMENTO DA REDE LEITE

3.5.1 Acompanhamento das Unidades de Observação (UOs)

O acompanhamento é realizado pelo extensionista do Escritório da EMATER localizado no Município de origem da UO. Através da PSP (Planilha de Sistematização do Sistema de Produção) é realizado um cadastro da propriedade (ANEXO A) da família e da atividade. Conforme o Anexo A, são preenchidos o nome do responsável da propriedade, o Município, a localidade, as coordenadas, o período inicial e o período final e a microrregião da EMATER. A cada visita procura-se ir descrevendo o seu funcionamento, em conjunto com a família, promove avaliações e se elabora proposições que vão sendo experimentadas pelas famílias (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016).

3.5.2 Encontros da Rede Leite

São realizados encontros em cada UO, reunindo extensionistas, pesquisadores e produtores das demais UOs de uma mesma microrregião (figura 5).

Figura 5: Encontro de UOs

Fonte: Rede Leite (2017).

O encontro inicia-se com uma caminhada pela propriedade, onde a família que sedia o evento explica o funcionamento do sistema, suas experiências e dúvidas (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016). Na caminhada os produtores aproveitam para troca de experiências com os demais agricultores, metodologia essa que enriquece e produz resultados 28 nas propriedades participantes. Os encontros também acontecem nas URs (Unidades de Referência Técnica), onde se realizam experimentos acompanhados pelos extensionistas e pesquisadores. Uma diferenciação desses encontros é que também são discutidos outros temas, não somente econômicos, mas também sociais. No encontro realizado em Coronel Bicaco (RS), na família Bär, foi abordado a divisão de responsabilidades e o planejamento, pois todos os membros da família estão envolvidos. Nesse encontro o produtor fez a seguinte declaração: “nós estamos vendo que o horizonte é aberto e através desses encontros da Rede Leite, a gente se abastece de argumentos para colocar as coisas boas em prática” (REDE LEITE, 2012). Os objetivos dos encontros da Rede Leite é proporcionar dentro das UOs e das URs um espaço aberto de socialização de resultados, trocas de experiências e de conhecimentos entre os agricultores. A aproximação dos agricultores, extensionistas e pesquisadores de diversas áreas, contribui para que os resultados sejam positivos dentro das propriedades participantes da Rede.

3.5.3 Grupos Temáticos, Reuniões Ordinárias e Fóruns Técnicos

Os Grupos de Trabalho (GTs) são resultantes do levantamento, do debate e da hierarquização de pontos críticos dos sistemas produtivos. Para cada ponto crítico, existe um Grupo de Trabalho que reúne conhecimentos técnicos para encontrar soluções para o problema. Na Rede Leite o grupo é formado por pesquisadores e extensionistas dispostos a enfrentar a temática estabelecida como ponto crítico. Os Grupos de Trabalho são os seguintes: Social, Ambiental, Econômico, Forrageiras, Comunicação, Qualidade do Leite e Sanidade Animal. Existe um GT para “Assuntos de fora da porteira”. As reuniões ordinárias são encontros realizados com os representantes da Rede Leite a fim de avaliar as ações realizadas e planejar os trabalhos no decorrer do ano. Os fóruns técnicos são encontros de nivelamento sobre procedimentos metodológicos e divulgação dos experimentos realizados pela Rede nas UO e UR, acompanhadas pelos extensionistas e pesquisadores (figura 6). Desde o surgimento da Rede foram realizados oitenta fóruns e reuniões em vários municípios que fazem parte da Rede (COSTA; NORONHA; BERTO, 2016).

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Figura 6: 3° Fórum Técnico da Rede Leite, realizado na Unijuí

Fonte: Rede Leite (2016).

3.5.4 Dias de Campo

Os Dias de Campo são espaços de aprendizagem e socialização de conhecimento apresentados pelos extensionistas e pesquisadores da Rede. São realizadas estações com temas diversos ligados a bovinocultura de leite (figura 7).

Figura 7: Dia de campo IRDeR – Unijuí

Fonte: Rede Leite (2014).

3.6 INSTRUÇÃO NORMATIVA N° 62 – PROGRAMA NACIONAL DE MELHORIA DA QUALIDADE DO LEITE

A partir da abertura dos mercados para produtos lácteos, o Brasil começou a competir com outros setores produtivos mundiais, mais organizados e competentes. A 30 produção brasileira apresenta problemas de eficiência produtiva e de qualidade da matéria- prima e, por isso, perde em competividade (RIBEIRO; STUMPF JÚNIOR; BUSS, 2000). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou em 2002 a Instrução Normativa n° 51, que regulamenta a produção, identidade, qualidade e coleta do leite A, do leite B e do leite C, pasteurizado e cru refrigerado. A normativa entrou em vigor em 1° de julho de 2005 na região Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Em 2007 na região Norte e Nordeste. Em 2011 foi publicado a Instrução Normativa n° 62, IN 62, que substituiu a IN 51, alterando o cronograma que rege os parâmetros de qualidade do leite. A normativa IN 51, foi alterada porque 40% dos produtores não atenderiam aos novos padrões de qualidade que entrariam em vigor a partir de 2012. Foi criado um novo calendário de entrada em vigor de requisitos mínimos de qualidade determinada pela IN 62/2011 (Tabela 1) (MILKPOINT, 2014).

Tabela 1: Requisitos mínimos de CBT e de CCS do leite cru, de acordo com a Instrução Normativa N° 62/2011 A partir de Sul, Sudeste e Centro Jul/08 Jan/11 Jul/14 Jul/16 Norte e Nordeste Jul/10 Jan/13 Jul/15 Jul/17 CCC (1000 cel./ml) 750 600 500 400 CBT (1000 ufc/ml) 750 600 300 100 Fonte: MilkPoint (2014).

A qualidade do leite é também avaliada pelas suas propriedades físico-químicas, com testes que vão identificar a capacidade de processamento do produto. De acordo com Fonseca e Santos (2000) destacam-se a densidade, o ponto crioscópico, o pH e a acidez titulável. Para o leite ser considerado um produto para consumo, ou seja, livre de adulteração deve apresentar a composição e as características físico-químicas listadas na Tabela 2, segundo a legislação brasileira (BRASIL, 2011).

Tabela 2: Requisitos físico-químicos segundo o anexo II da Normativa n° 62 de 30 de dezembro de 2011, do MAPA para leite cru refrigerado Requisitos Limites Matéria Gorda g/100 g Teor Original com no mínimo de 3,0* Densidade relativa a 15º C g/mL ** 1,028 a 1,034 Acidez titulável, g ácido lático/100 mL 0,14 a 0,18 Extrato seco desengordurado, g/100 g Mínimo 8,4 Índice crioscópico -0,530º a -0,550º H (equivalentes a – 0,512º C e a -0,531ºC) Proteínas, g/100 g Mínimo 2,9 *É proibida a realização de padronização ou desnate na propriedade rural. **Dispensada a realização quando o ESD for determinado eletronicamente. Fonte: Brasil (2011).

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3.6.1 Qualidade Microbiológica

A qualidade microbiológica do leite indica o nível de contaminação. Ela é expressa em Unidade Formadora de Colônia por mililitro (UFC/mL). A contaminação se inicia na propriedade rural, por problemas de falta de higienização adequada durante ou após a ordenha. As dificuldades de transporte e falhas na estocagem podem interferir diretamente sobre a qualidade do leite. Portanto, para se evitar altas contagens bacterianas é preciso trabalhar com higiene e refrigerar o leite o mais rápido possível após a ordenha, mantendo-o refrigerado na propriedade por, no máximo, 48 horas até o transporte para a indústria (PRATA, 2001).

3.6.2 Contagem de Células Somáticas (CCS)

A contagem de células somáticas é uma medida padrão aceita mundialmente para determinar a qualidade do leite cru. Ela mede precisamente a presença de mastite subclínica em vacas em lactação. A ocorrência pode estar condicionada a tecidos epiteliais de descamação ou de células de defesa enviadas para a glândula mamária para combater infecções (MARQUES; BALBINOTTI; FISCHER, 2002). O leite com alto índice de células somáticas reflete na diminuição de rendimento industrial de derivados lácteos, alteração das caraterísticas sensoriais dos produtos, diminuição da vida de prateleira e menor renumeração por litro de leite entregue a indústria (CORTEZ; CORTEZ, 2008).

3.7 ANÁLISE DA QUALIDADE DO LEITE DOS PRODUTORES E PREÇO MÉDIO

O levantamento da qualidade do leite de acordo com a IN 62 de Padrões de CCS e CBT nas unidades de observação da rede leite no período de julho de 2016 a junho de 2017 teve diferença no preço recebido. Quanto ao padrão estabelecido de CCS pela IN 62 que é de 400.000 (cel./ml), somente as UO n° 2 (379.000 cel.ml) e UO n° 4 (384.000 cel.ml) atendem o padrão estabelecido. No padrão estabelecido de CBT que é de 100.000 (ufc/mL), todas as UOs estão acima da meta estabelecida pela IN 62 (figura 4).

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Figura 8: Análise da qualidade do leite e preço médio recebido de julho/16 a junho/17

Fonte: Elaborada pelo autor.

3.8 ANÁLISE DA PRODUÇÃO E O PREÇO MÉDIO

De acordo com a análise do comparativo de volume de produção entre as UOs e o preço recebido no período de Julho de 2016 à Junho de 2017, verifica-se que a UO de Esperança do Sul produziu mais leite em comparação com as outras, porém não foi a que recebeu mais pelo litro de leite produzido. A UO de Bozano produziu menor quantidade de leite e ganhou mais pelo preço do leite. A qualidade do leite produzido pela UO é o que garantiu maior preço pelo litro de leite, em comparação com as outras UOs da Rede Leite (figura 5).

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Figura 9: Análise da produção e preço médio recebido no período de julho/16 a junho/17

Fonte: Elaborada pelo autor.

3.9 NÍVEL DE REPRODUÇÃO SOCIAL DAS UOS DA REDE LEITE

As transformações da agricultura se constituem em processos dinâmicos e evolutivos, propondo uma abordagem em sistemas agrários (DUFUMIER, 2004; MAZOYER; ROUDART, 1997). Unidades de produção agropecuárias estão longe de se constituir um sistema homogêneo, elas se diferenciam entre o “tradicional” e o “moderno”. Elas são um conjunto de sistemas agrários em evolução, e somente podem ser apreendidas pela análise de suas caraterísticas especificas (SILVA NETO; LIMA; BASSO, 1997). A evolução dos sistemas agrários, portanto, se caracterizam por uma grande diversidade de acumulação, refletindo a diversidade dos processos de diferenciação social que ocorre na agricultura. Assim, num sistema agrário, certas unidades de produção acumulam capital, enquanto outras estão estagnadas, ou mesmo se descapitalizando. Mazoyer e Roudart (1997) denominam esse processo de “desenvolvimento-e-crise”, o qual se constitui numa das principais características da agricultura contemporânea. A pesquisa do Nível de Reprodução Social exige o uso de instrumentos de análise econômica para avaliar a diversidade das unidades de produção existentes, levando em 34 consideração as condições necessárias para a reprodução social3 dos agricultores, de acordo com as suas categorias sociais e os seus sistemas de produção. Sendo assim, o conceito de reprodução social tem sido usado para avaliação econômica de unidades de produção agropecuárias no âmbito da análise-diagnóstico de sistemas agrários (DUFUMIER, 2007). Esse conceito é utilizado na análise-diagnóstico de sistemas agrários por meio de aplicação de categorias econômicas através do conceito de valor agregado, as quais são diferentes das utilizadas nos métodos correntes de análise econômica, baseado nas noções de lucro e custo. Tem-se o objetivo de verificar a aplicação do conceito de reprodução social na análise econômica das UOs da Rede Leite no período de Julho de 2016 a Junho de 2017, identificando as condições para a reprodução social e quais dessas Unidades se mostraram mais adequadas para o estudo da reprodução social dos agricultores numa situação agrária concreta.

3.9.1 A Teoria Neoclássica da Produção

A reprodução social, segundo os economistas neoclássicos, não se constitui propriamente um problema, porque, de acordo com a teoria do valor utilidade, os preços refletem na escassez relativa de recursos, o que permite que o mercado se constitua num eficiente mecanismo de regulação da economia, assegurando automaticamente a sua reprodução (GUERRIEN, 1989). Segundo os neoclássicos, cada agente social, individualmente, deve procurar ser remunerado segundo a produtividade marginal dos fatores de produção de que dispõe (LEFTWICH, 1973; STIGLITZ; WALSH, 2003). De acordo com os neoclássicos, a unidade de produção é considerada “reprodutível” quando todos os fatores de produção estão remunerados a um nível igual ou superior aos seus preços de mercado. Esses preços são contabilizados como “custo de oportunidade”, isto é, custos que, embora não sejam efetivos, pois não correspondem a nenhum tipo de “gasto” (consumo de produtos ou transferência de recursos), representam o que o agricultor detentor dos fatores de produção deixa de ganhar ao aplicar esses fatores na sua unidade de produção. Se todas as unidades de produção estiverem remunerando seus fatores de produção aos preços de mercado, os quais serão iguais as suas produtividades marginais, o sistema econômico estará em equilíbrio, apresentando resultado positivo em seus fatores de produção disponíveis.

3A análise da reprodução social considera a remuneração de todos os fatores de produção, ou seja, da terra (via arrendamento), do capital (rendimento das aplicações financeiras) e da mão de obra (salários). Para fins desse estudo, consideramos apenas a remuneração da mão de obra. 35

3.9.2 Valor Agregado e sua Análise na Reprodução Social dos Agricultores

Uma unidade de produção se reproduz quando fornece uma renda suficiente para que a reprodução social dos agentes econômicos dela dependentes seja assegurada. Assim considera-se que existe um patamar de renda, ao qual denominamos de “nível de reprodução social”, que a unidade de produção deve atingir para que os agentes econômicos dela dependentes diretamente se mantenham na mesma categoria social (produtores familiares, produtores capitalistas). O “valor agregado” é a diferença ente a riqueza gerada na unidade de produção e a riqueza distribuída no processo produtivo, e os gastos correspondentes a repartição desta riqueza entre diferentes agentes econômicos que, direta ou indiretamente, participam da sua geração. Por exemplo, a renda da unidade de produção pode ser calculada pela subtração do valor da produção não apenas das suas despesas com insumos e equipamentos, mas também dos salários de seus empregados, dos juros devidos ao banco e dos impostos que deve pagar ao País (correspondentes à repartição da riqueza).

3.9.3 O Lucro na Análise da Reprodução Social

Segundo Hoffmann et al. (1987), o lucro corresponde à diferença entre a receita (Renda Bruta) e o custo total. A definição de lucro está, portanto, associado ao custo. Conforme Hoffmann et al. (1987), a receita correspondente ao valor dos produtos, considerando custos explícitos e os implícitos. Os custos explícitos são as despesas efetivamente pagas pelos produtores para ter acesso aos meios de produção, gastos com mão de obra, bancos, arrendamentos e os impostos. Os custos implícitos são custos de oportunidade da linha de exploração e são definidos como valor do recurso em seu melhor uso alternativo. No cálculo do lucro de uma unidade de produção agropecuária são considerados os custos de oportunidade do capital, da terra e da mão de obra. O valor do custo de oportunidade do capital corresponde aos juros que o agricultor possivelmente receberia caso investisse o capital imobilizado de sua unidade de produção (como máquinas, equipamentos, instalações e animais) em uma instituição financeira. O valor do custo de oportunidade da terra corresponde ao valor do seu arrendamento e o custo de oportunidade da mão de obra, à remuneração que o agricultor receberia caso trabalhasse em outra atividade. 36

Sendo assim os conceitos de custo de oportunidade e de reprodução social, uma unidade de produção só pode ser reprodutível se for capaz de cobrir os seus custos de oportunidade (ou custos sociais).

3.9.4 Análise Econômica das Seis Unidades de Observação da Rede Leite

Tabela 3: Análise econômica e o nível de reprodução social das UOs

Fonte: Elaborada pelo autor.

Analisando a tabela 3, as condições requeridas para a reprodução social das UOs são significativas. De acordo com o valor agregado bruto (VAB), das seis unidades de produção, cinco unidades vêm obtendo renda superior ao nível de reprodução social. Mesmo obtendo renda superior ao nível de reprodução social, a UO de Pejuçara precisa rever alguns processos produtivos para remunerar melhor seus fatores de produção. Somente a UO de Boa Vista do Cadeado apresenta renda negativa, portanto é provável que abandone a atividade agropecuária em curto prazo, caso as condições se mantenham inalteradas (preço e qualidade do leite, área, mão de obra).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação do Programa em Rede de Pesquisa-desenvolvimento em Sistemas de Produção com Atividade Leiteira na Região Noroeste do Rio Grande do Sul, conhecido como REDE LEITE foi estratégico para o desenvolvimento e a permanência de agricultores familiares na atividade leiteira, nos 46 municípios de abrangência da EMATER Regional de Ijuí. O objetivo proposto pelo programa de envolver extensionistas, pesquisadores, agricultores e instituições parceiras promoveu encaminhamentos e soluções conjuntas para cada agricultor atendido pela Rede. As ferramentas de trabalho da Rede, através das unidades de observação, unidades de experimentação participativa, dias de campo, grupos temáticos e fóruns técnicos oportunizou levar conhecimento prático de acordo com a realidade local vivida pelos extensionistas, pesquisadores e agricultores da região noroeste. O acompanhamento técnico dos agricultores pelos extensionistas e pesquisadores pode ser registrado através da Planilha de Sistematização da Produção (PSP), instrumento fundamental para a gestão da unidade de produção, principalmente aquelas que estavam encontrando dificuldade de permanecer na atividade. O acompanhamento da qualidade do leite nos agricultores da Rede pelos extensionistas e pesquisadores continua sendo uma meta das visitas realizadas com as famílias. Podemos concluir com esse trabalho de pesquisa que a renda agrícola final de cada unidade familiar pode ser significativa quando se atende os parâmetros estabelecidos pela Normativa 62. A permanência das famílias na Unidade de produção depende do resultado final da atividade, ou seja, de quanto cada unidade de trabalho familiar recebe como remuneração. É importante frisar que as decisões da família definem mais que as ações que a Rede Leite propõem, considerando que a conjuntura pode interferir nas decisões das UOs. De acordo com a análise realizada por esse trabalho de conclusão de curso nas seis unidades da Rede Leite, as 38

UOs de Bozano, Condor, Coronel Bicaco e Esperança do Sul ultrapassam o nível de reprodução social. Podemos dizer então que essas quatro unidades têm condições de manterem-se na atividade por longo período, mantidas as condições existentes. No entanto, as UOs de Pejuçara e Boa Vista do Cadeado enfrentam dificuldades para atingirem o nível de reprodução social e manterem-se na atividade. A UO de Pejuçara está no limite da reprodução social e pode, por um acompanhamento mais efetivo, permanecer na atividade, aumentando sua receita. Porém, a UO de Boa Vista do Cadeado exigirá uma análise mais aprofundada em outro momento, visto que essa unidade de produção não está atingindo o nível de reprodução social, ou seja, não renumera de forma adequada seus fatores de produção (nem a mão de obra, nem a terra e nem o capital). Mantendo-se a situação, é provável que essa propriedade abandone a atividade leiteira. Uma alternativa para essas propriedades pode ser a melhoria da qualidade do leite produzido. O manejo das pastagens, o aperfeiçoamento do rebanho via inseminação artificial, práticas de sanidade e bem estar animal, boa higienização dos equipamentos e do local da ordenha constituem-se em elementos importantes para que esse objetivo seja alcançado, melhorando a renda da propriedade. Isso pode ser alcançado na medida em que essas famílias participem efetivamente dos dias de campo, se apropriem das informações recebidas dos técnicos e apliquem esses conhecimentos nas suas propriedades. A Rede Leite tem muitos desafios nos diferentes municípios de atuação, mas deve continuar junto aos agricultores familiares através de suas unidades de observação. Acredita- se que o projeto de pesquisa-desenvolvimento poderá ser levado para outras regiões do estado do Rio Grande do Sul.

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ANEXO

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ANEXO A – Planilha de Sistematização da Produção