O Comitê De Gerenciamento Da Bacia Hidrográfica Do Lago Guaíba
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O Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba Teresinha Guerra Centro de Ecologia Instituto de Biociências/UFRGS A descentralização e a participação da sociedade são pilares fundamentais do modelo sistêmico de gestão de recursos hídricos em implantação no Brasil. A adoção da bacia hidrográfica como unidade básica de planejamento e gestão determina o espaço e a dinâmica assumido pela participação e envolvimento da sociedade da bacia, via sistema de representação. Essa representação ocorre na forma de grupos da sociedade civil, governo e usuários da água, organizados em Comitês de Gerenciamento de bacias hidrográficas. No Estado do Rio Grande do Sul, um dos principais Comitês de Gerenciamento instalados e atuantes é o Comitê do Lago Guaíba. A bacia hidrográfica do Lago Guaíba localiza-se na porção leste do Estado do Rio Grande do Sul, entre os meridianos 50º e 52º de longitude oeste e os paralelos 30º e 31º de latitude sul (Figura 1). A área da bacia hidrográfica do Lago Guaíba (BHLG) tem cerca de 1.700 km2, nos quais estão inseridos 14 municípios, quais sejam: Barão do Triunfo, Barra do Ribeiro, Canoas, Cerro Grande do Sul, Eldorado do Sul, Guaíba, Mariana Pimentel, Nova Santa Rita, Porto Alegre, Sentinela do Sul, Sertão Santana, Tapes, Triunfo e Viamão, totalizando uma população de, aproximadamente, 2.200.000 habitantes (Tabela 1). Desses municípios, cinco possuem suas áreas urbanas totalmente dentro da bacia. Merecem destaque os municípios de Porto Alegre, pois além de ser a capital do Estado, é o município que contribui com a maior porção de área na bacia (cerca de 400 km2), equivalente a 83% da área do município, enquanto que o município de Guaíba tem sua área totalmente inserida na bacia. Barão do Triunfo, Cerro Grande do Sul, Eldorado do Sul, Canoas, Nova Santa Rita, Tapes, Triunfo e Viamão têm menos de 30% de sua área na bacia (Figura 2). Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Gauíba Figura 1. Área de abrangência da Baicia Hidrográfica do Lago Guaíba Tabela 1. Bacia hidrográfica do Lago Guaíba: municípios integrantes, área territorial e população urbana e rural. Sede da área Área da urbana na Área População Município Municípios Bacia bacia km2 % urbana rural Barão do Triunfo não 10,8 2,7 - 2.573 Barra do Ribeiro sim 704 95,7 9.369 - Canoas parcial 36,3 23,0 120.808 - Cerro Grande do Sul não 48,7 15,0 - 976 Eldorado do Sul sim 141,0 31,0 22.220 2.774 Guaíba sim 377,0 100,0 97.772 1.806 Mariana Pimentel sim 152,0 49,8 666 1.635 Nova Santa Rita não 6,1 9,9 - 221 Porto Alegre parcial 410,0 68,4 1.167.000 - Sentinela do Sul não 88,8 31,8 - 1.187 Sertão Santana sim 233,0 91,3 1.059 3.956 Tapes não 139,0 17,8 - 327 Triunfo não 4,0 0,6 - Viamão parcial 135,0 8,9 - 2 Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Gauíba Municípios Sub-bacias Figura 2. Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba Guaíba (RS). A condição de ser o exutório das bacias que compõem a Região Hidrográfica do Guaíba (Alto Jacuí, Vacacaí, Pardo-Pardinho, Baixo-Jacuí, Taquarí, Caí, Sinos e Gravataí), cujas águas drenam para o Lago Guaíba, está associada à dependência do seu regime de escoamento e ao comportamento hidráulico, condicionado por fatores climáticos. Esses fatores, principalmente os ventos predominantes na região, conferem ao Lago um regime hidrológico atípico. É comum a ocorrência de “vazões negativas” (o escoamento se dá no sentido inverso - de jusante para montante) com reflexos nos seus afluentes, especialmente nos rios Gravataí, Sinos e Caí, elevando o tempo de residência das águas que afluem ao Guaíba. A característica de ser receptor das águas drenadas pelas bacias a montante faz com que a qualidade das águas do Lago Guaíba seja dependente, não somente das ações existentes no seu entorno, mas também daquelas havidas nas bacias dos rios que a ele afluem. O aporte de carga dos rios formadores, principalmente dos rios Gravataí e Sinos, bem como o contínuo lançamento de efluentes doméstico e industrial provoca um progressivo decréscimo da qualidade das suas águas, associados a situações de conflito, provocando problemas de disponibilidade hídrica, nas regiões agrícolas que integram a bacia hidrográfica do Lago Guaíba. 3 Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Gauíba Os principais usos da água que ocorrem nos arroios da margem direita são a irrigação de arroz na parte baixa, e a cultura de fumo na parte alta. Também são identificados usos relacionados com a ocupação urbana dos municípios de Guaíba, Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel e Sertão Santana. A porção da bacia na margem esquerda do Lago Guaíba contém 70% da população de Porto Alegre que é a Capital, e 30% de Canoas, o segundo Município com maior população do Estado, o que caracteriza a demanda por recursos hídricos fortemente relacionada à ocupação urbana. Neste contexto, a maioria dos arroios da margem esquerda possuem grande parte de sua extensão em zonas urbanas, excetuando-se aqueles localizados ao sul de Porto Alegre e no distrito de Itapuã, pertencentes ao município de Viamão. O processo de formação do Comitê Lago Guaíba teve início em um Seminário promovido pelo programa Pró-Guaíba, desenvolvido pelo Estado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, no dia 02 de abril de 1997. Somente após um ano e seis meses de discussões, reuniões, fóruns para divulgação da legislação, visitas aos municípios e muita articulação política, o Comitê foi instalado e eleita sua primeira diretoria. O trabalho da comissão provisória do Comitê Lago Guaíba mobilizou a sociedade da Bacia, a partir da divulgação da lei estadual 10.350/94 e apresentação da situação dos recursos hídricos, utilizando a informação técnica disponível. Além disso, a perda das condições de qualidade das águas e o crescente número de conflitos entre os usos, aliado à carência de informações básicas e técnicas dos arroios formadores da Bacia imediata do Guaíba, auxiliou a formação do Comitê de Gerenciamento do Lago Guaíba. A primeira gestão do Comitê do Lago Guaíba consolidou um grupo coeso de trabalho, centrando os debates na estruturação do regimento interno, previsto pelo Decreto Lei nº 37.034/96, aprovado pelo Plenário em junho de 1999. Em seu primeiro ano o Comitê formou Comissão Permanente de Assessoramento (CPA), prevista no mesmo decreto, em agosto de 1999 e foram estruturados três grupos de trabalho: um para estudos e montagem de uma proposta de construção do enquadramento dos cursos d’água, outro de comunicação social e educação ambiental e outro de relações institucionais, todos com composição e programa de trabalho aprovados pelo Comitê em outubro de 1999. O processo de planejamento dos usos e preservação dos recursos hídricos iniciou na gestão 1999/2000 com a identificação das demandas de informação técnica e o início de um 4 Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Gauíba processo de mobilização social para a construção de uma proposta de enquadramento dos recursos hídricos. Nesse período, o Comitê da Bacia do Lago Guaíba lançou o Caderno de Informações 1, com o objetivo de divulgar informações aos membros representantes do Comitê e à comunidade sobre o sistema de recursos hídricos e qualidade das águas superficiais, ecossistemas significativos e problemas ambientais existentes na área de abrangência da bacia. Na gestão 2001/2002, em função de uma política estabelecida pelo Departamento de Recursos Hídricos da SEMA/RS – DRH, o Comitê do Lago Guaíba, em conjunto com o próprio DRH e a FEPAM, detalharam a demanda existente do Comitê e elaboraram o Termo de Referência para a compilação da informação técnica disponível e suporte técnico para o processo de mobilização da sociedade. Esse Termo de Referência foi objeto de licitação pública e a execução dos trabalhos iniciou em novembro de 2002, encerrando-se em março de 2005, com a apresentação de informações técnicas sobre disponibilidades, demandas hídricas e pré-enquadramento na bacia do Lago Guaíba. Entretanto a Direção do Comitê, acompanhada de sua Comissão Permanente de Assessoramento (CPA) identificou a necessidade de provocar uma reflexão mais sistemática sobre o processo, com o objetivo de fazer os ajustes necessários. Neste sentido foram identificadas lacunas que deverão ser supridas por iniciativa das instituições da bacia, articuladas pelos membros do Comitê, visto que o apoio do Estado está vinculado a um contrato de consultoria com cláusulas e prazos previamente estabelecidos. Uma das lacunas identificadas é a de aproximar a sociedade da bacia das informações técnicas disponíveis, após a execução do termo de referência “Estudos preliminares para subsídios ao plano de bacia do lago Guaíba: Avaliação das demandas e disponibilidades de água e enquadramento dos recursos hídricos superficiais”, visando a divulgação dos dados sobre a bacia e a gestão dos recursos hídricos. Até o presente momento, os estudos realizados tiveram como preocupação principal a caracterização e o diagnóstico das condições da bacia hidrográfica do Lago Guaíba. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul participou e acompanhou este processo através da representação na categoria Instituições de Ensino, Pesquisa e Extensão, junto ao Comitê, desde o período de sus formação. Fórum Nacional de comitês de Bacias Hidrográficas no período de ocorrido no período de 06 a 10 de julho de 2004 em Gramado/RS, no seminário sobre “O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água” os especialistas salientaram 5 Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Gauíba a importância do enquadramento como elo entre os Sistemas de Recursos Hídricos e o de Meio Ambiente e que o enquadramento é um instrumento importante para a participação social e descentralização da tomada de decisão sobre os recursos hídricos; que as questões ambientais em áreas urbanas devem ser consideradas de modo singular para compatibilização dos interesses sociais frente ao enquadramento; necessidade de maior participação no processo de discussão do enquadramento, por parte dos usuários, para que estejam mais próximos das decisões e participem ativamente da elaboração do Plano de Bacia.