REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 1 ISSN 2447 – 990X

50 ANOS DO FIM DAS DISPUTAS DE FRONTEIRAS ENTRE MINAS GERAIS E ESPÍRITO SANTO NA ZONA CONTESTADA: REPERCUSSÕES SOCIOECONÔMICAS E POLÍTICO-TERRITORIAIS

Helcio Ribeiro Campos Dr. em Geográfica Humana pela USP e professor do IF Sudeste MG. [email protected]

RESUMO O artigo versa sobre as repercussões socioeconômicas e político-territoriais oriundas de uma indefinição de fronteiras e, logo, de poder entre Minas Gerais e Espírito Santo, na chamada Região Contestada. Durante a contenda, cresce a migração (de posseiros, camponeses, delinquentes, líderes religiosos etc.) motivada pela expansão da fronteira agrícola cafeeira. Os conflitos e a concentração de terras marcam a região, sendo capazes de afetar os indicadores socioeconômicos, de suscitar a insegurança e a violência, de concentrar a renda, de afetar o nível médio de escolarização dos munícipes, enfim, capaz de impor dificuldades para o desenvolvimento regional. O presente artigo foi dividido em duas seções: 1ª) apresentação metodológica, seguida de uma discussão acerca da ideia de fronteira, além de um breve histórico da contenda em tela; 2ª) análise das repercussões socioeconômicas e político- territoriais do conflito. Palavras-chave: Contestado, indicadores socioeconômicos, fronteira Minas Gerais-Espírito Santo, conflitos de terras.

50TH ANNIVERSARY OF THE END OF BORDER DISPUTES BETWEEN MINAS GERAIS AND ESPÍRITO SANTO IN ZONA CONTESTADA: SOCIOECONOMIC AND POLITICAL-TERRITORIAL REPERCUSSIONS

ABSTRACT The article deals with the territorial-political and socio-economic impacts arising from a blurring of boundaries and thus of power between Minas Gerais and Espírito Santo, the so called Região Contestada. During the feud, migration grows (squatters, farmers, criminals, religious leaders etc.) driven by the expansion of coffee farming frontier. The concentration of land and conflicts mark the area, being able to affect the socioeconomic indicators, to raise the insecurity and violence, to concentrate income, to affect the average level of education of the citizens, ultimately, able to impose difficulties for regional development. This article is divided into two sections: 1st) methodological presentation followed by a discussion about the idea of the border as well as a brief history of the strife; 2nd) analysis of socioeconomic and political-territorial impact of the conflict. Keywords: Contestado, socioeconomic indicators, Espírito Santo-Minas Gerais border, land conflicts. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 2 ISSN 2447 – 990X

1. INTRODUÇÃO

O objeto de análise deste trabalho é indicar e analisar os corolários socioeconômicos e político-territoriais no transcurso de pouco mais de 50 anos do final do conflito sobre a formação das fronteiras no oeste do Espírito Santo (ES) e no leste de Minas Gerais (MG), região da Serra dos Aimorés (chamada, à época, de Zona ou Região Contestada ou Contestado). O conflito entre esses estados brasileiros foi solucionado após várias décadas e episódios, apenas em 1963-1964. Os municípios componentes da Zona Contestada1, em 1960, estão abaixo listados, abrangendo cerca de 10 mil km². Alguns dos distritos foram emancipados (ver Quadro 2).

Quadro 1 - Municípios e Distritos que compunham a Zona do Contestado em 1960 Município Distrito Água Doce do Mantena, Barra do Ariranha, Itabirinha, Santo Agostinho de Mantena-MG Minas e São João do Manteninha Mendes Pimentel-MG Central de Minas Ataléia-MG (parte) Distrito sede (todo), Ouro Verde de Minas (todo) e Fidelândia (parte) -MG (parte) Distrito sede (parte) e Alto Itaúna (todo) Barra de São Francisco-ES Água Doce, Gabriel Emílio, Paulista, Poranga e Santo Agostinho Ecoporanga-ES Cotaxé, Joaçuba, Joeirana e Novo Horizonte -ES (parte) (todo) e parte de Águia Branca, Lajinha e -ES (parte) Distrito sede (todo) e Montanha (parte, inclusive a Vila) Nova Venécia-ES (parte) Parte de Guararema e de Córrego Grande (inclusive a Vila) Fonte: elaborado a partir de IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – Censo 1960, p. VI e VII.

1 Para a confecção do mapa, considerei os municípios que se localizavam totalmente no Contestado e aqueles que tiveram distritos emancipados, mas que também aí se localizavam, (Água Doce do Norte, Alto Rio Novo, Pancas, Montanha, Itabirinha, São João do Manteninha e Ouro Verde de Minas). Por isso, os municípios de Colatina e Nanuque não foram incluídos no mapa, mas com pouco prejuízo, sobretudo em relação à Colatina, cuja área no Contestado está representada através de seus dois ex-distritos, Pancas e Alto Rio Novo. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 3 ISSN 2447 – 990X

Mapas 1 e 2 - Localização geográfica da Região Contestada

Fonte: elaborado pelo autor, 2015.

No transcurso desses 50 anos, a contenda deixou marcas territoriais, políticas e socioeconômicas, as quais serão focadas neste estudo. A indefinição dos limites entre os estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, ao longo de séculos, permitiu uma ocupação conflituosa da Zona Contestada. Além das dificuldades de delimitação, a região foi alvo da presença de posseiros e da criação de um efêmero Estado de cunho religioso. Por isso, houve um resgate geográfico e histórico dessa questão. A questão do Contestado desenvolveu-se a partir da ocupação da região da Serra dos Aimorés, inicialmente de baixa ocupação demográfica e econômica, relacionada com um vazio de poder dos estados litigantes, abrindo espaço para uma escalada de violência e para a luta pela posse de terras, articulada a uma atração de migrantes com perfil fora da lei. Além disso, provocou a ascensão de líderes religiosos e camponeses (PONTES, 2007; CAMPOS, 2013). O presente artigo foi dividido em duas seções: a primeira, com a apresentação dos passos metodológicos seguidos, além de uma discussão acerca da ideia de fronteira, além de um breve histórico da contenda em tela2; a segunda parte do texto versa sobre as repercussões socioeconômicas e político-territoriais do conflito.

2 Para mais detalhes, consultar os trabalhos de Campos (2013), Espíndola (2008), Oliveira (2008), Pontes (2007) e Silveira (sem data). REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 4 ISSN 2447 – 990X

2. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

A consecução deste artigo foi alcançada mediante os trabalhos de revisão bibliográfica, de pesquisa documental e de dados de organismos de pesquisa. Os dados daí oriundos serviram de análise para a questão fronteiriça e de suas repercussões regionais. O referencial teórico acerca da ideia de fronteiras e limites foi apoiado em Raffestin (1993), para quem os limites não são arbitrários e passam a servir a um determinado projeto social, e em Nogueira (2013), ao afirmar que o conceito de fronteira, associado ao tema da formação territorial pode ser entendido como a dimensão espacial que o exercício de um poder sobre determinada porção da superfície terrestre revela, não derivando de características morfológicas distintivas existentes nos lugares, sejam elas de origem natural ou histórica. Nesse caso, a discussão sobre a fronteira pode ser feita associando-a com as noções de território, territorialidade e soberania. Diante dessa realidade, os corolários do Contestado repercutem suas origens, os quais representam o foco central deste trabalho. As principais repercussões político-territoriais e socioeconômicas presentes na ex-Serra dos Aimorés são: 1) Alguns de seus municípios estão entre os mais violentos no ranking brasileiro, segundo estudo empenhado por Waiselfisz (2008) com apoio dos ministérios brasileiros da Saúde e da Justiça. A questão da violência também assola a região quando o assunto são os conflitos no campo. Para chegar a tal conclusão, empreendi uma busca nos 28 relatórios anuais acerca de tal temática emitidos pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) de 1985 até 2012. Dentre os conflitos, estão assassinatos, ameaças de morte, invasões de terras seguidas de embates com latifundiários e seus agentes (como os jagunços, por exemplo). 2) A precariedade das políticas públicas, oriundas desde o tempo da contenda entre Minas Gerais e Espírito Santo, que podem ser depreendidas e seccionadas em duas vertentes: i) indicadores socioeconômicos ruins: todos os municípios da antiga região conflituosa apresentam IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano – Municipal) baixo ou muito baixo, sendo que o extremo negativo ocorreu no Censo de 1991 (IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1991), quando todos eles estavam no nível “muito baixo”, com resultados equivalendo aos países mais pobres do mundo. Para o endosso desses dados, utilizo as informações do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), contidas no Atlas Brasil, e do IBGE. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 5 ISSN 2447 – 990X

ii) dificuldades financeiras: elas são decorrentes da derrocada da produção do café na região (BROGGIO; DROULERS; GRANDJEAN, 1999) impulsionada pela abertura de novos espaços de produção em novas fronteiras agrícolas abertas no norte do Espírito Santo, norte e Triângulo de Minas Gerais, principalmente, dentre outros fatores. Como decorrência, os conflitos no campo estão em alta e afetam gravemente tais regiões dos fronts, que representam ainda novos espaços de migrações. As dificuldades financeiras também incidem sobre os jovens municípios criados a partir de desmembramentos (ex: , 1997). Eles são, em geral, compostos por modestos núcleos urbanos que contam com precária infraestrutura. O equipamento urbano insuficiente é socorrido pelas cidades de maior hierarquia urbana próximas, o que, frequentemente, significa recorrer ao antigo município de origem. Desse modo, replica a condição de distrito e de dependência vivida antes. Ou seja: na prática, os jovens municípios não representam cidades propriamente ditas. Podem não ter hospitais e outros equipamentos urbanos fundamentais, mas são alçados ao posto de cidade pela permissividade da lei brasileira para este tema, originária dos anos 1930 (Decreto-lei 311/38). Interligando todos esses fatores mencionados e dando sentido a esta realidade regional complexa, estão os problemas relacionados com a perversa concentração fundiária instalada (NETO, 2009), capaz de afetar os indicadores socioeconômicos, de suscitar a insegurança e a violência, de concentrar a renda, enfim, capaz de impor dificuldades para o desenvolvimento regional.

3. BREVE HISTÓRIA DA CONTENDA ENTRE MINAS GERAIS E ESPÍRITO SANTO NA ZONA CONTESTADA

No início da exploração das capitanias do Espírito Santo e da Bahia (e quase dois séculos mais tarde, na Capitania de Minas), não havia interesse em delimitar a extensão de suas áreas, sendo estas cheias de florestas tão densas e inacessíveis que foram utilizadas como limites comuns, bem como os rios. Tal demarcação seria necessária apenas mais tarde, quando esses espaços tão fechados passaram a ser utilizados e a jurisdição estatal passou a atuar ali. Com a descoberta das minas de ouro pelos bandeirantes paulistas, numa tentativa de a metrópole administrar a exploração – já que não havia conseguido monopolizá-la (vinha gente de várias partes à procura de ouro) – foi criada a Capitania das Minas Gerais, separando-a de São Paulo e Rio de Janeiro, mas sem a delimitação de seu território a leste. Devido à REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 6 ISSN 2447 – 990X

proximidade do litoral capixaba com as minas, a Coroa Portuguesa temia que houvesse ataques e extravios do mineral e, para evitá-los, transformou a região costeira capixaba num verdadeiro forte militar e proibiu rigorosamente a abertura de estradas do litoral às zonas de extração. O Espírito Santo virou uma barreira contra a penetração para a região das minas, uma salvaguarda para a sua hinterlândia (CAMPOS, 2013, p. 1013). “O Espírito Santo passou a funcionar exclusivamente como uma trincheira de defesa do interior mineiro, evitando qualquer medida ou ação progressiva que atraísse a cobiça estrangeira, que prejudicasse a mineração nas Minas Gerais ou que facilitasse o contrabando do ouro” (OLIVEIRA, 2008, p. 517). O aumento da população e o fim do ouro levaram os governantes de Minas Gerais a incentivar o desbravamento em todas as direções. Com isso, os mineiros transpuseram a serra em direção ao Espírito Santo, cuja população continuava habitando o litoral, onde também era escassa, destacando-se apenas um crescimento colonizador com a introdução do café nas regiões sul e centro, contrastando com o norte, que permaneceu isolado e desocupado. As florestas cobriam 85% do território, até as serras do Caparaó e dos Aimorés (os marcos que findavam a Capitania) e continham o desenvolvimento capixaba (PONTES, 2007, p. 35). A primeira delimitação oficial aconteceu somente no início do século XIX, quando Minas Gerais teve interesse em utilizar o Rio Doce como meio de comunicação com o mar. Foi lavrado o Auto da Demarcação, que definia o limite entre Minas Gerais e Espírito Santo como o divisor de águas entre os rios Guandu e Manhuaçu, ao sul, e, ao norte, a divisão se daria na Serra dos Aimorés (PIMENTEL, 1914, p. 47). A ocupação do interior do território capixaba foi lenta e difícil. Os pequenos povoamentos ocorriam às margens dos rios que levavam ao mar. A mata fechada e os índios botocudos complicavam as passagens, além das doenças – febre amarela, malária, varíola etc. (ESPÍNDOLA, 2008, p. 92). As plantações de café estavam dominando o sul do estado do Espírito Santo. A construção da ponte em Colatina, que transpunha a barreira do Rio Doce, levou a fronteira agrícola até o norte deste rio devido ao contingente de imigrantes do sul do estado em busca de terras para o plantio do café. Nos anos 1930, as fronteiras seguiram em direção às terras isoladas e vazias do norte capixaba, quando as madeiras nobres da floresta começaram a ser derrubadas e comercializadas em outros centros do Brasil (PONTES, 2007, p. 46). REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 7 ISSN 2447 – 990X

A construção das ferrovias que atravessavam os maiores aglomerados de população no sentido Vitória-Minas, favoreceu o surgimento de povoados e de cidades, como Colatina, que, dotada de estradas de rodagem e de ferrovia, tornou-se a capital do café, a atividade agrícola majoritária no estado do Espírito Santo, além de levar à extração madeireira e abrir espaço para mais café e para áreas de pastagem (CAMPOS, 2013, p. 1016). Isso provocou a atração de posseiros e o aumento da violência, já que nenhum dos estados litigantes legislava sobre o território em disputa. Por isso, o vazio de poder foi aproveitado por Udelino Alves de Matos (e outros desbravadores), que era um “misto de fanático religioso e orientador de posseiros, que tentou fundar o Estado União de Jeová” (SOUZA, 1998, p. 174). Apoiado por seu carisma e por cerca de 800 homens, passou a retomar as terras perdidas para os latifundiários, as quais seriam redistribuídas para o campesinato e usadas para a fundação do Estado de Jeová, simbolizado por uma bandeira verde com franja branca (SANCHÉZ, s/d, p. 10). Porém, houve uma forte repressão da Polícia Militar capixaba, trabalhando para a manutenção das terras (inclusive em relação a Minas Gerais). Assim, o bando de Udelino sofreu baixas sucessivas e ele refugiou-se na fazenda de Genuíno da Silva por 5 dias. Depois disso nunca mais seria visto.

O último capítulo na definição de fronteiras entre Espírito Santo e Minas Gerais Com a declaração da Constituição de 1937, no artigo 184, foram revogadas as disputas territoriais, ficando cada estado com o seu território até ali demarcado. Ficou sob responsabilidade do Serviço Geográfico do Exército – SGE (BRASIL, 1941) reconhecer e descrever os limites territoriais dos estados. No artigo, firmava-se o respeito à jurisdição que se aplicava na região e determinava-se por este respeito, fato que levou Minas Gerais e Espírito Santo a imporem suas jurisdições mais a finco na região. A população passava aí a conviver com a dupla fiscalização, o mando de duplos sistemas policiais etc. Em 1940, o SGE iniciou o processo de definição dos limites. A comissão que analisava a definição de fronteiras concluiu que Minas Gerais aplicou jurisdição até 10 de novembro de 1937 sobre muitos pontos das bacias dos rios São Mateus e Mucuri e, portanto, aquele território faria parte de seu estado, por direito de posse. A análise dos engenheiros foi categórica e detalhada, levantando dados até então não trabalhados (BRASIL, 1941). Minas não concorda com o resultado do SGE, pois requeria mais terras. Em 1941, este laudo foi aprovado por Getúlio Vargas e encaminhado ao Ministério da Justiça. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 8 ISSN 2447 – 990X

Porém, não foi levado à publicação e, assim, suas aplicações jurídicas não aconteceram. O laudo dizia que a divisa de Minas Gerais com o Espírito Santo passava pela Serra dos Aimorés e se fechava entre Itabirinha de Mantena e Mendes Pimentel. Pertenciam ao Espírito Santo: Mantenópolis, Ametista, Itabirinha de Mantena, Ariranha, Limeira, Boa União e Divino das Palmeiras. Foram demarcadas as linhas das fronteiras litigiosas onde, até a década de 1960, ocorreu um intenso povoamento da região. Os processos continuaram a se arrastar e só em 1963 firma-se o Acordo de Limites, definindo os limites entre os estados: a linha divisória começa na Pedra do Souza (Serra dos Aimorés), à margem direita do Rio Doce, “segue pelos divisores de água entre vários rios e córregos, confluências, cabeceiras e foz, paralelos e meridianos, até atingir o braço Sul do Rio São Mateus, o Braço Norte do Rio São Mateus e, finalmente, a confluência com o Córrego Palmital, na divisa com o Estado da Bahia”. O Acordo de Limites foi alvo de severas críticas por parte de parlamentares, magistrados e imprensa do Espírito Santo. Após exaustivo debate, a Assembleia Legislativa Estadual o aprovou e sancionou por meio da Lei 2.084, de dezembro de 1964 (SILVEIRA, s/d, p.14-15).

Mapa 3 - Limites propostos para a resolução de fronteiras Minas Gerais-Espírito Santo

Fonte: Andrade; Oliveira, 1958, p.322-D. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 9 ISSN 2447 – 990X

4. UM OLHAR SOBRE A QUESTÃO DAS FRONTEIRAS E SUAS RELAÇÕES COM O CONTESTADO

O vocábulo fronteira é originário do latim “fronteria” ou “frontaria”, a parte do território situada in fronte, isto é, nas margens. O termo “limite” vem do Império Romano, cujas fronteiras eram chamadas de “limes”, cujo significado era o de “confim entre dois campos” e se referia, portanto, à propriedade fundiária individual. André Martin (1991, p. 21 e 47) advoga que o “limite” é reconhecido como linha, e não pode ser habitada, ao contrário da “fronteira” que, ocupando uma faixa, constitui uma zona, muitas vezes bastante povoada. Como se pode depreender dessas noções básicas (mas já esclarecedoras para o conflito em tela), é importante a situação demográfica: de anecumênica, a Região Contestada passou a polo de atração populacional e de disputa por terras, caracterizando o imbróglio interestadual. Para Raffestin (1993), a ideia de fronteira ficou repleta de significação política – relacionada com o seu uso como meio de transmitir pujança econômica e militar – em detrimento do termo limite, o que não seria adequado, já que os limites são uma expressão da coletividade. Nogueira (2013) defende que o conceito de fronteira, associado ao tema da formação territorial, pode ser compreendido como a dimensão espacial que o exercício de um poder sobre determinada porção da superfície terrestre revela. Desse modo, o conceito não deriva de supostas características morfológicas distintivas existentes nos lugares, sejam elas de origem natural, como um rio ou montanha, sejam elas históricas. Nesse caso, “a discussão sobre a fronteira pode ser feita associando-a com as noções de território, territorialidade e soberania, uma vez que, dessa perspectiva, a consolidação das fronteiras interestatais” (NOGUEIRA, 2013, p. 1137). Convertendo isso para o Conflito do Contestado, remete aos episódios em que os estados litigantes buscavam impor suas racionalidades na região disputada, embora a referência ao quadro natural tenha sido de grande importância tanto para originar como para solucionar a questão fronteiriça. Para a definição territorial de Minas Gerais e Espírito Santo, a ideia inicial de fronteira é aquela evocada por Martin (1991, p.11), ao afirmar que a maioria das pessoas pensa em guerra sobre o tema, que, neste caso, realmente envolveu etapas de violência até os anos 1960. Esses discursos levam, dentro do campo científico da Geografia, diretamente ao conceito de território, ao envolver frações funcionais do espaço apropriados por certos grupos REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 10 ISSN 2447 – 990X

sociais que lhe dão atributos e funções de acordo com a técnica e com o período histórico, como fizeram frontistas da Serra dos Aimorés. Nesse sentido, Raffestin (1993, p. 143) diz que o espaço é anterior ao território: “É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator ‘territorializa’ o espaço” e que o território “é uma produção a partir do espaço” e “se inscreve num campo de poder” (1993, p. 144), ou seja, o território é observado no seu uso social e dentro das relações de poder que suscita, configurando sua territorialidade. Ao referenciar a ideia de fronteira em Pedro Geiger (1993, p. 54), observa-se que a disputa Minas Gerais-Espírito Santo é rica em exemplificações para a tipologia de fronteiras apresentada a seguir. Procuro aqui, indicar as relações entre teoria e os fatos sociais e espaciais presentes na contenda em tela: 1) Fronteiras que se apresentam como 'locus' de novas atividades econômicas ou tecnológicas: a Região Contestada ficou conflituosa pelo avanço da cultura do café. O front cafeeiro atraiu migrantes, incluindo foras da lei, posseiros, líderes religiosos e camponeses. 2) Regiões-fronteira clássicas, que dizem respeito ao povoamento de áreas de baixa densidade em atividades e populações: o governo central impôs ao Espírito Santo a tarefa de funcionar como escudo em relação ao caminho para o ouro encontrado em Minas Gerais. Desse modo, a hinterlândia anecumênica formada se transformaria também em um vazio econômico, cuja face mudaria em meados do século XX, por intermédio do avanço da fronteira agrícola. 3) Regiões localizadas sobre limites de estados e cujos desenvolvimentos são marcados por esta condição. 4) Áreas geográficas que foram deixadas de lado quando do avanço do ecúmeno, ou que declinaram, e que estão tomadas por nova fase de desenvolvimento. “No caso do Brasil, tivemos o caso de Mantena, na fronteira de Minas Gerais e Espírito Santo. Nos anos 40/50, esta região apareceu como uma frente pioneira cafeeira tardia, sendo disputada entre os dois estados, que nela queriam colocar suas coletorias” (GEIGER, 1993, p. 59). REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 11 ISSN 2447 – 990X

A região pretendida por mineiros e capixabas é a da Serra dos Aimorés, no atual leste de Minas e noroeste do Espírito Santo, utilizada como divisa3, ou seja, um aspecto visível – a serra. Nestes termos, parece não haver motivos para dúvidas, pois remete ao caráter fixo dos elementos naturais. Em obra consagrada, Raffestin (1993) indica que os limites são ideológicos, expressando territorialmente relações de poder, sejam elas políticas, econômicas ou culturais. Assim, os limites simbolizam a demarcação de um território. Inicialmente são tomados como arbitrários e comumente estão ligados aos aspectos naturais, como a Serra dos Aimorés e os rios da região. Contudo, os limites são expressões de poder, de uma estruturação social ao qual o território foi submetido. De acordo com Costa (1992), a problematização das fronteiras e os estudos que lhe são correlatos, como a questão do povoamento e da expansão das fronteiras agrícolas, são pertinentes ao campo da Geografia Política desde o final do século XIX, desde seu precursor, Ratzel. Assim, o processo de desenvolvimento e constituição das chamadas “fronteiras políticas” formam uma temática clássica para esse ramo do saber. Portanto, a questão fronteiriça da Zona Contestada inclui os ingredientes tradicionais da Geografia Política, interligando-se à sua tradição: a questão dos limites.

5. REPERCUSSÕES SOCIOECONÔMICAS E POLÍTICO-TERRITORIAIS EM 50 ANOS APÓS A DEFINIÇÃO FRONTEIRIÇA ENTRE MINAS GERAIS E ESPÍRITO SANTO

As repercussões socioeconômicas e político-territoriais advindas do conflito na Zona do Contestado são oriundas de algumas características fundamentais: 1ª) a dupla jurisdição sobre a Serra dos Aimorés, o que na prática representou um vazio de poder; 2ª) a formação de uma tardia área de expansão cafeeira abriu uma nova frente pioneira, atraindo pessoas dispostas a ocupar as terras e a lutar por elas; 3ª) dessa forma, houve uma escalada da violência e da concentração fundiária.

3 A divisa é o aspecto visível do limite. “Assim, o marco, a baliza, aparecerão como pontos fixos erguidos pelo homem, os quais alinhavados, expressam o limite de jurisdição dos Estados. A divisa, por fim, é o limite que se apóia geralmente em cursos d’água, cristas montanhosas – para o caso em estudo, a Serra dos Aimorés –, coordenadas geográficas ou outras linhas geodésicas (MARTIN, 1991, p. 48). Outras conceituações correlatas são dadas por Nogueira (2013, p. 1139): limite, que indica a linha fronteiriça politicamente negociada; a borda, que indica a área adjacente a essa mesma linha; e a fronteira, que pode ser utilizada para designar ambos os significados anteriores, bem como as áreas onde se exercita a expansão do povoamento dentro dos limites do Estado. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 12 ISSN 2447 – 990X

Essas poucas, mas importantes, características são reconhecíveis nas repercussões do conflito, ainda que decorridos 50 anos de seu encerramento.

A atração demográfica Começo pela questão demográfica, pois é a chegada de imigrantes que potencializa a ocupação de terras, a violência e o processo de emancipação municipal. Durante o século XIX, a ocupação dessa região foi em parte preterida ante a vivaz cafeicultura da Zona da Mata-MG. “A região permaneceu uma fronteira agrícola para agricultores pobres (gente negra e mestiça), fazendeiros, extrativistas, garimpeiros, aventureiros e oportunistas de todo tipo, jagunços, prostitutas, fabricantes de aguardente, taberneiros, canoeiros, tropeiros, entre outros” (ESPÍNDOLA, 2008, p. 93). As informações a respeito de terras férteis e madeiras nobres na Serra dos Aimorés e adjacências atraíram grande número de migrantes mineiros e baianos, e também do sul capixaba, o que levou a um grande crescimento demográfico daquela região nas décadas de 1940, 50 e 60, (quando a população passou de 66.994 em 1940, para 384.267 em 1960), apresentando a maior taxa de crescimento populacional do país naquela época, cerca de 9% (PONTES, 2007, p. 54). É o que ocorreu, por exemplo, nas cidades capixabas de Colatina, São Mateus e Conceição da Barra. Contudo, a decadência do café e a urbanização acelerada daquela época levaram a um êxodo rural intenso para as capitais dos estados. A região se tornou importante fronteira agrícola, produzindo alimentos para as cidades industriais em expansão e, ao mesmo tempo, recebeu grandes investimentos de capital (siderurgia, mineração e indústria madeireira). A fase de prosperidade durou 20 anos, de 1940 a 1960. Entretanto, os recursos naturais esgotaram-se rapidamente e, na década de 1960, os indicadores econômicos e demográficos inverteram a curva de crescimento. Ocorreu o fim de atividades econômicas, tais como beneficiamento da mica, indústria madeireira, agricultura, agroindústria, entre outros (ESPINDOLA, 2008, p. 94). Nas décadas seguintes, cidades capixabas e mineiras ligadas à Serra dos Aimorés apresentaram significativos decréscimos no ritmo de crescimento populacional (CAMPOS, 2013, p. 1018). REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 13 ISSN 2447 – 990X

Tabela 1 - Crescimento demográfico em municípios escolhidos do Contestado e entorno

Variação Populacional Municípios 1960 1970 Absoluta Percentual Conceição da Barra-ES 32.059 32.078 19 0,06 Aimorés-MG 41.443 38.060 -3.383 -8,16 Ataléia-MG 46.208 33.933 -12.275 -26,56 Mantena-MG 67.629 47.646 -19.983 -29,54 Mutum-MG 36.802 32.910 -3.892 10,57 Fonte: elaborada a partir de IBGE, 1960 e 1970.

A redução demográfica continuou. No Espírito Santo, por exemplo, houve reduções populacionais percentuais, de 1970 para 1980, em Barra de São Francisco (- 4,71), Conceição da Barra (-10,51), Ecoporanga (- 33,90), Mucurici (- 41,86) e Nova Venécia (- 3,78). Pelo lado mineiro, todos os municípios constantes na tabela anterior estavam entre os 50 mais populosos do estado em 1960: Mantena (10º), Ataléia (20º), Aimorés (29º) e Mutum (38º). Nos recenseamentos seguintes perderam posições e, finalmente, em 1991, nenhum deles constava no elenco dos 50 municípios mais populosos de Minas Gerais (IBGE, 1960, 1970, 1980 e 1991).

Tabela 2 - Menores de 1 ano de idade – Espírito Santo: Zonas Fisiográficas escolhidas, 1960 Zonas Fisiográficas e Municípios Total de menores com até 1 ano de vida % do total estadual Estado do Espírito Santo 40.627 100 Zona Norte 4.813 11,84 Conceição da Barra 1.351 3,32 Mucurici 167 0,41 Nova Venécia 1.744 4,29 São Mateus 1.551 3,81 Zona do Baixo Rio Doce 8.031 19,76 Colatina 5.542 13,64 2.489 6,12 Zona de Vitória (capital + 8 cidades) 8.456 20,81 Vitória 2.566 6,31 Fonte: elaborada a partir de IBGE, Censo 1960 – Espírito Santo, p. 58.

A última tabela evidencia o grande crescimento vegetativo, indicado por meio da população com até 1 ano de idade, presente nas cidades do Contestado e seu entorno se REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 14 ISSN 2447 – 990X

comparadas com a capital (Vitória) e mesmo dentro do contexto de todo o estado. Pontes (2007, p. 56) mostra que o contínuo e expressivo crescimento populacional na Serra dos Aimorés devia-se não só aos nascimentos que lá se registravam, mas, essencialmente, em decorrência das grandes correntes migratórias que se deslocavam para a Zona Contestada. O censo de 1940 apurou que dos 66.994 habitantes mais de 90% (61.355) não haviam nascido naquelas serras. Em 1950, este índice perfazia 74%. “Nos anos 1950, um dia de serviço em derrubadas em São Paulo ou Paraná era pago a Cr$ 45,00; este era o preço de um alqueire de posse de terra na mata do norte do Espírito Santo, segundo depoimento de IRC (entrevista, Ataléia, 2001)” (RIBEIRO; GALIZONI; ASSIS, 2004, p. 248). A despeito do forte crescimento demográfico existente na Serra dos Aimorés, o fato é que os municípios adjacentes também foram pólos receptores de migrantes, como Colatina. O uso da terra em sistemas de derrubada e queimada aos poucos reduziu as áreas de matas mais férteis e limitou a produtividade agrícola, desencadeando migrações rumo ao norte capixaba e ao sul baiano. Além disso a fertilidade da terra era pouca: a decoada – a cinza da queimada filtrada pelas chuvas era muito forte e a lavoura não sobrevivia. Embora tenham permanecido terras devolutas quase até os anos 1970, os conflitos violentos desmotivaram quem procurava por terras e empregos (RIBEIRO; GALIZONI; ASSIS, 2004, p. 248). Após a busca pelas fronteiras paulistas e paranaenses, os migrantes mineiros (cujos salários no campo eram dos piores no Brasil) vão para a cidade de São Paulo. A presença de capixabas e mineiros foi marcante na ocupação do oeste do Paraná, em torno dos anos 1950, conforme se depreende de um antigo morador desta região, cujo depoimento consta no livro de Vander Piaia: “Grande parte, [dos jagunços] era do Espírito Santo. Eles trouxeram um know-how na área do 'jaguncismo' daquela região de Mantena. A escola deles foi a divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo [...]”. À medida que os municípios da região encampavam migrantes e que a densificação técnica de seus territórios ganhava corpo, os políticos da região usavam tais fatos como comprovantes do desenvolvimento e já esboçavam a criação de novos municípios, conforme Pontes (2007, p. 56). Por outro lado, a gradativa escassez de terras devolutas freou a expansão do front agrícola regional e, por conseguinte, desacelerou o crescimento demográfico e as imigrações. Vejamos outros fatores: REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 15 ISSN 2447 – 990X

Mapa 4 - Terras devolutas – Brasil, 2003

Fonte: CPT, 2005, p. 30.

Emancipações municipais envolvendo o Contestado O avanço econômico da região, com base na economia primária assentada na cafeicultura, ampliou os interesses políticos, os quais passavam pela luta para a criação de novos municípios. Nesse contexto, Pontes (2007, p. 57) fornece a mensagem do governador capixaba Jones dos Santos Neves enviada à Assembléia Legislativa do Espírito Santo em 19544. Dos quatro municípios de maior área [São Mateus, Linhares, Colatina e Conceição da Barra], apenas Colatina tem uma densidade demográfica superior à média do Estado, com 26 habitantes por quilometro quadrado, tornado-se por base a população estimada para 1953, enquanto êste tem 22. É, sem dúvida alguma, uma decorrência da marcha para o Rio Doce que se processa há muitos anos, entre as populações rurais dos municípios do sul e mesmo de outros estados, em busca de terras novas e mais compensadores para suas atividades. Como conseqüência a sua população que compreendia também a do atual município de Linhares, dobrou praticamente, em dez anos [...] tudo leva a crer no futuro grandioso do norte cujo povoamento esta sendo acelerado, e sobretudo o será agora com a criação dos novos municípios [referindo-se a Nova Venécia, Pancas, São Domingos e Mucuri] (ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, 1954, p. 235).

4 ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Mensagem enviada à Assembléia Legislativa, por ocasião da abertura da Sessão Legislativa de 1954, por Jones dos Santos Neves, governador do Espírito Santo. Vitória, [s.n.], 1954. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 16 ISSN 2447 – 990X

O quadro abaixo apresenta uma síntese do período e da força dos interesses políticos envolvendo ambos os estados e, por essa razão, vários municípios foram criados desde meados do século XX até poucos anos atrás.

Quadro 2 - Emancipação de Municípios na Zona do Contestado Município de Origem Ano de Criação Município Criado Ano de Criação Minas Gerais Ataléia 1943 Ouro Verde de Minas 1962 Mantena 1943 Itabirinha 1962 Mantena 1943 Nova Belém 1997 Mantena 1943 São João do Manteninha 1992 Mendes Pimentel 1953 São Félix de Minas 1995 Espírito Santo Barra de São Francisco 1943 Água Doce do Norte 1988 Barra de São Francisco 1943 Mantenópolis 1953 Colatina 1921 Pancas 1963 Colatina 1921 São Domingos do Norte 1953 Conceição da Barra 1891 Mucurici 1953 Nova Venécia 1953 Vila Pavão 1991 Mucurici 1953 Montanha 1963 Mucurici 1953 Ponto Belo 1994 Pancas 1963 Alto Rio Novo 1988 Fonte: elaborado a partir de IBGE-Cidades.

A questão fundiária e a violência O afluxo populacional decorrente da fronteira agrícola cafeeira atraiu milhares de pessoas para o Contestado e seu entorno, além da sobreposição jurisdicional por parte de Minas Gerais e do Espírito Santo, abriram caminho para a posse de terras, muitas vezes por vias corruptas, violentas e tendenciosas, com benesses para empresários. Pontes (2007, p. 87) assevera que somente a CIMBARRA (Cia. Industrial de Barra de São Mateus) detinha mais de 10% do território capixaba. Com isso, queimadas e derrubadas de matas eram comuns diante de uma frágil fiscalização. Jagunços, travestidos de posseiros e migrantes, podiam ser contratados, intimidando as pessoas da comunidade, que frequentemente compunham os Tribunais de Júri REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 17 ISSN 2447 – 990X

(PONTES, 2007, p.104) Aliás, as florestas do norte do Espírito Santo estimularam a concessão de terras para a silvicultura, incluindo grandes empresas. Nessa região capixaba ainda é marcante a exploração das matas.

Tabela 3 - Percentual de área ocupada segundo os grupos de tamanho das propriedades rurais em Municípios escolhidos do Contestado – Espírito Santo (1996)

Grupos de tamanho das propriedades Município Pequenas (<100 ha) Médias (100 a 1000 ha) Grandes (> 1000 ha) Conceição da Barra 10,18 14,33 75,49 Mucurici 15,08 47,77 37,15 Ecoporanga 16,3 52,91 30,79 Fonte: Neto, 2009, p. 29.

Os dados do IBGE-Censo Agropecuário, 1970 (apud NETO, 2009, p.99-101), indicam que os maiores tamanhos médios de propriedades rurais foram encontrados em municípios relacionados com o Contestado: 1º) Montanha (169,05 ha/propriedade), 2º) Mucurici (136,37) e em 3º) Conceição da Barra (105,67). A violência decorrente da falta de segurança pública pode ser dimensionada nos 28 relatórios da CPT – Comissão Pastoral da Terra – sobre os conflitos no campo entre 1985 e 2012, ou seja, já décadas após a resolução das fronteiras, e também nos mapas subsequentes. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 18 ISSN 2447 – 990X

Quadro 3 - Conflitos no campo: Zona Contestada (1985 a 2012) Data Município Situação ocorrida 15/9/1986 Barra de São Francisco-ES Assassinato de Arlindo Pereira dos Santos, camponês 17/11/1988 São Mateus-ES Tentativa de assassinato de José Rainha Jr., líder do MST 6/5/1989 Barra de São Francisco-ES Ocupação de terras na Fazenda Santos Dumont 1989 Colatina e São Mateus-ES Ameaças de morte 1990 Pancas-ES Assassinato de Homero Patrício Reis, sindicalista 1990 Colatina e Pancas-ES Ameaças de morte: 1 em Colatina, 2 em Pancas Jun. 1991 Pancas-ES Ameaça de morte Conceição da Barra,São Mateus, 1500 pessoas sob trabalho escravo nas carvoarias CEMCO e 1993 Linhares-ES SEMPREL 10/2/1994 São Mateus-ES Ameaças de morte 1994 Pancas-ES 118 pessoas sob trabalho escravo na Fazenda Boa Vista São Mateus, Pedro Canário, 1996 Linhares-ES 172 pessoas sob trabalho escravo em carvoarias Ameaças de morte a José Baioco (deputado), Julmário 15/10/1997 Mucurici-ES Conrado (vereador), Ademílson Pereira (MST) e João Batista Marre (líder sindical) Tentativa de assassinato de Sílvio Bueno da Silva e de Manoel 14/10/1997 Mucurici-ES Ramalho Costa, sem-terra. Assassinato de Saturnino Ribeiro dos Santos, sem-terra 28/9/1997 Ecoporanga-ES Ocupação (por 156 famílias) e conflito, Fazenda Miragem 10/10/1997 Barra de São Francisco-ES Ocupação (50famílias) e conflito, Fazenda Santos Dumont 10/10/1997 Mucurici-ES Ocupação(500 famílias) e conflito, Fazenda Novo Horizonte 19/12/1999 Mantenópolis-ES Ocupação da Faz. Alvorada/Maia por 100 famílias 2/10/2002 Ponto Belo-ES Ocupação (98 famílias) e conflito, Fazenda Ipiranga 12/3/2003 Ponto Belo-ES Idem Ocupações e conflitos na Faz. Ipiranga (194 famílias) e na 23/4/2004 Ponto Belo e Mucurici-ES Fazenda Genilde (70 famílias), respectivamente 13/3/2006 Ponto Belo-ES Conflitos de terras na Fazenda Ipiranga 26/4/2007 Pancas-ES Trabalho escravo 4/4/2009 Ponto Belo-ES Ocupação (98 famílias) e conflito, Fazenda Ipiranga Ocupação (60 famílias) da Fazenda Panorama/Agropecuária, 11/3/2010 Ponto Belo-ES Pedra da Lorena 10/6/2010 Nova Belém-MG 4 pessoas sob trabalho escravo: fins de desmatamento Conflito de terras na Comunidade Quilombola do Córrego 13/12/2011 Ouro Verde de Minas-MG Santa Cruz. Ameaça de morte de Vandeli Paulo, líder quilombola. Fonte: elaborado a partir de CPT, 1985 a 2012. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 19 ISSN 2447 – 990X

Mapas 5 e 6 - Conflitos de Terras: Brasil (2001 e 2010)

Fonte: CPT, 2001, p. 68. Fonte: CPT, 2010, p. 59.

A violência dos municípios do Contestado e região pode ser corroborada com os dados de Waiselfisz (2008, p. 30 a 45) e com os mapas a seguir. Dentre os 556 municípios (10% do total – Brasil) mais violentos, temos: Alto Rio Novo-ES (97ª posição), Barra de São Francisco-ES (172ª), Itambacuri-MG (194ª), Conceição da Barra-ES (246ª), São Mateus-ES (305ª), Ataléia-MG (351ª), Pancas-ES (457ª), Ecoporanga-ES (500ª) e São Domingos do Norte-ES (527ª). Colatina e São Mateus estão listados entre os 200 municípios acima de 70 mil habitantes com mais vítimas juvenis (2004-2006), e também entre os 200 municípios com maior número de homicídios na população total (2006). Neste último ranking figura ainda Barra de São Francisco. A Região Contestada foi transformada em fronteira agrícola em meados do século XX, período de ascensão da produção cafeeira no Brasil (BROGGIO; DROULERS; GRANDJEAN, 1999). Posteriormente, a ampliação da fronteira agrícola na região ocorreu para o norte do Espírito Santo e o sul baiano, acompanhando a crescente produção de papel e de celulose. Daí, o último assassinato por conflitos no campo datar de 1997. Desse modo, a estrutura fundiária da antiga Região Contestada é o espelho da divisão do trabalho, incluindo novos espaços a uma circulação alienígena da produção, o que também explica a urgência, por parte de produtores e governantes, em solucionar os conflitos fronteiriços a fim de não atrapalhar o enriquecimento de latifundiários que se apoderaram das terras regionais. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 20 ISSN 2447 – 990X

Mapas 7 e 8 - Probabilidade de sobrevivência até 40 anos de idade: Contestado, 1991-2000 e 2010

Fonte: elaborado a partir de PNUD – Atlas Brasil

Nesse texto, procuro associar a violência regional com a questão histórica da atração de criminosos para a Zona Contestada e com os consequentes conflitos agrários. Isso está posto para não haver uma relação direta com a pobreza e com a vitimização social. Quanto maior a pobreza, maior a violência. “A violência urbana aparecia então como expressão de lutas entre as classes dominantes e o conjunto dos subalternos. Por conseguinte, também, os criminosos compareciam às representações sociais como vítimas potenciais de um modelo fundado na injustiça social”. (ADORNO, 2002, s/p.). O problema não é a pobreza, mas a criminalização dos pobres. Vejamos. Beato (1998) chega a sugerir que Minas Gerais tem uma diversidade regional associada com os estados vizinhos, como no caso em tela há uma relação com o Espírito Santo. Admite uma intersecção entre os mapas de violência e criminalidade. Contudo, o autor sustenta que a correlação a ser estabelecida para a explicação do crime não é com a pobreza, mas com a riqueza. “Isto porque a prosperidade termina por ensejar um incremento nas oportunidades para a ação criminosa, na medida em que fornece alvos viáveis e compensadores, bem como dificulta os mecanismos tradicionais de controle social e vigilância” (BEATO, 1998, s/p.). REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 21 ISSN 2447 – 990X

Mapas 9 e 10 - Homicídios em Minas Gerais e no Espírito Santo, 2006

Fonte: Waiselfisz, 2008, p. 21. Fonte: Waiselfisz, 2008, p. 19.

O antigo Contestado também é pródigo em outros delitos (DINIZ; RIBEIRO, 2005): crimes violentos contra o patrimônio e contra a pessoa; homicídios e estupros (tentados e consumados); roubos a mão armada; etc. Não por acaso, Pontes (2007, p. 105-106) narra a existência de contos e cantigas que contam a violência presente no cotidiano dos municípios da região: Matá, patrão, não faz má / O que é vergonha, é robá ...

6. INDICADORES SOCIOECONÔMICOS NA ZONA CONTESTADA

Como já foi mencionado, há uma relação entre a pobreza e os conflitos que se estabeleceram no Contestado. Tal fato prende-se ainda a uma tépida ação veiculada pelas políticas públicas. Assim, os dados apresentados mostram problemas socioeconômicos de décadas passadas ecoando na atualidade da região. Apesar de possíveis lacunas encontradas nos indicadores socioeconômicos, incluindo o IDH, pois não indicam questões como a liberdade individual, o contato familiar etc. (CAMPOS, 2013), adoto-os aqui como base visando a comparação e a demarcação da intensidade da pobreza na região. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 22 ISSN 2447 – 990X

Tabela 4 – IDH-M em municípios do Contestado e seu entorno: 1991, 2000 e 2010 Posição no ranking nacional e IDH-M Município 1991 2000 2010 Ataléia-MG 4.457 (0,283) 3.771 (0,464) 4.444 (0,588) Itabirinha-MG 3.071 (0,363) 2.597 (0,544) 3.055 (0,653) Mantena-MG 2.116 (0,421) 2.160 (0,570) 2.545 (0,675) Mendes Pimentel-MG 3.303 (0,348) 3.359 (0,448) 3.561 (0,626) Nova Belém-MG 5.257 (0,222) 4.150 (0,437) 4.331 (0,592) Ouro Verde de Minas-MG 4.941 (0,253) 3.714 (0,464) 4.255 (0,595) São João do Manteninha-MG 3.377 (0,343) 2.683 (0,539) 3.291 (0,640) Água Doce do Norte-ES 3.260 (0,351) 2.866 (0,527) 3.070 (0,652) Alto Rio Novo-ES 3.058 (0,364) 2.263 (0,564) 2.802 (0,664) Barra de São Francisco-ES 2.503 (0,400) 2.245 (0,565) 2.359 (0,683) Ecoporanga-ES 2.554 (0,397) 2.633 (0,542) 2.846 (0,662) Mantenópolis-ES 2.897 (0,374) 2.844 (0,528) 2.964 (0,657) Montanha-ES 2.083 (0,423) 2.383 (0,558) 2.738 (0,667) Mucurici-ES 2.762 (0,383) 2.976 (0,519) 2.759 (0,666) Pancas-ES 3.128 ((0,359) 2.866 (0,527) 2.738 (0,667) Ponto Belo-ES 2.210 (0,415) 2.551 (0,547) 2.691 (0,669) Minas Gerais 10 (0,478) 8 (0,624) 9 (0,731) Espírito Santo 7 (0,505) 7 (0,640) 7 (0,740) Brasil 0,493 0,612 0,727 Fonte: elaborada a partir de PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

A conturbada evolução do IDH-M – com subidas e quedas no ranqueamento – pode ser mais bem compreendida face a uma observação de outros indicadores. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 23 ISSN 2447 – 990X

Mapas 11 e 12 - Proporção de pessoas extremamente pobres no Contestado: 1991 e 2010

Fonte: elaborado a partir de PNUD – Atlas Brasil.

Mapas 13 e 14 - Mortalidade infantil no Contestado: 1991-2000 e 2010

Fonte: elaborado a partir de PNUD – Atlas Brasil. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 24 ISSN 2447 – 990X

Mapas 15 e 16 - Coleta de Lixo no Contestado: 1991 e 2010

Fonte: elaborado a partir de PNUD – Atlas Brasil.

Usei uma diversificação de informações sobre os problemas sociais, mas que convergem para o mesmo ponto: as políticas públicas ausentes ou insuficientes rondam o Contestado e entorno desde o período conflituoso. Espírito Santo e Minas Gerais não têm, agora (há 50 anos!), que dividir o poder e, no entanto, ainda não apagaram as cicatrizes socioeconômicas criadas. E o pior: não apagaram, em conjunto com o governo central, as cicatrizes éticas da população da Zona Contestada. O poder público deve muito a essa gente.

7. CONCLUSÃO

A questão do Contestado desenvolveu-se a partir da crescente ocupação da região da Serra dos Aimorés relacionada com um vazio de poder dos estados litigantes que, ao exercerem uma dupla jurisdição, abrem espaço para a ascensão de líderes religiosos e camponeses, e para uma escalada de violência e luta pela posse de terras. As fronteiras foram definidas em 1963 e 1964, mas gravíssimos problemas socioeconômicos subsistiram na região. REVISTA PLURITAS, V. 1, N. 1, 2016. 25 ISSN 2447 – 990X

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