A Cidade Na Fronteira: Comércio Peruano Em Benjamin Constant No Amazonas, Brasil
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A CIDADE NA FRONTEIRA: COMÉRCIO PERUANO EM BENJAMIN CONSTANT NO AMAZONAS, BRASIL Alex Sandro Nascimento de Souza Acadêmico do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas. e-mail contato:[email protected] José Aldemir de Oliveira Docente do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Amazonas. e-mail de contato: [email protected] INTRODUÇÃO Estudar as cidades amazônicas remete pensar lugares que carregam em seu bojo especificidades em diferentes escalas. Áreas que vão além de um limite geográfico, da soberania restrita ou relativa de um país, mas que atendem interesse em contextos geopolíticos. A Amazônia saiu de uma fase de esquecimento e entrou numa fase em que todos falam dela, todos dão opinião sobre ela, porém preferencialmente à distância. Do romantismo sobre as belezas naturais ao utilitarismo. Todos querem protegê-la, se apossando de suas riquezas. Parece que todos olham e falam da Amazônia sem vivenciá-la. Partindo-se da vivência na Amazônia pretende-se estudar Benjamin Constant uma cidade localizada no extremo oeste do estado do Amazonas, na denominada “tríplice fronteira” que engloba Brasil, Peru e Colômbia. A cidade pode ser classificada de acordo com a tipologia elaborada pelo Núcleo de Pesquisas das Cidades da Amazônia Brasileira (NEPECAB), como uma cidade fronteiriça de responsabilidade territorial, pois desempenha papel importante na manutenção da rede em escala diferenciada. Exerce função intermediária, entre os fluxos de transporte e comercialização, entre as cidades médias e pequenas, aglomeradas humanos dispersos nas margens dos rios ou conglomerados que têm a forma de cidade, embora não sejam, existentes no entorno da cidade. Transformam-se em nódulos das diversas redes que perpassam territórios indígenas e as áreas ribeirinhas, (SCHOR e OLIVEIRA, 2011). Para além dessa tipologia as cidades de fronteira também devem ser consideradas formas diferenciadas, pois exercem papel específico na relação com áreas para além do território nacional e constituindo-se como parte da rede de relações próprias de abrangência internacional. O município de Benjamin Constant localiza-se na Mesorregião Sudoeste Amazonense, Microrregião do Alto Solimões e 1ª Sub-Região do Alto Solimões. Sua área territorial é de 8.793,42 km ² representando 0,56 % do Estado, 0,23 % da Região Norte e 0,10 % de todo o território brasileiro, distando da capital Manaus 1.118,60 km em linha reta, sendo o 6º município mais distante da capital. O acesso à cidade de Benjamin Constant ocorre de duas formas, a mais usual pela população local realiza-se via fluvial com aproximadamente cinco a oito dias em barcos de Manaus até a referida cidade (dependendo da sazonalidade do rio Solimões); já a outra forma de acesso ocorre através de dois segmentos, o meio aéreo (Trecho Manaus-Tabatinga) e o meio fluvial em embarcações locais (Trecho Tabatinga-Benjamin Constant), salientando-se que uma passagem pode custar no trecho aéreo Manaus-Tabatinga entre R$ 400,00 (Quatrocentos reais) a R$1.000,00 (Um Mil reais) dependendo da temporada e da antecedência que se adquire a passagem. Figura 01- Localização da área de estudo. Fonte: SEPLAN, 2014. Organização: Souza, 2014. OBJETIVOS: • Identificar, tipificar e analisar as formas do comércio realizado por peruanos na cidade de Benjamin Constant-Amazonas; METODOLOGIAS O presente artigo é resultado de uma dissertação de mestrado (defesa 04.04.2014), intitulado “A cidade na fronteira: expansão do comércio peruano em Benjamin Constant no Amazonas, Brasil”, pelo Programa de Pós-graduação Mestrado em Geografia da Universidade Federal do Amazonas. Parte de um projeto maior desenvolvido pelo Núcleo Estudos e Pesquisas das Cidades da Amazônia Brasileira (NEPECAB), fomentado pelo PRONEX-FAPEAM. A trilha caminhada foi de entender as relações sociais que se concretizam no espaço e produzem conflitos não somente no sentido material, mas nas relações de poder e das práticas sociais que se projetam no território. Para tanto se utilizou de Henri Lefebvre (2001), articular o pensamento a partir do “movimento da transdução”, entendido como um instrumento intelectual que pressupõe a realimentação incessante entre os conceitos utilizados e as observações empíricas. Elaborar um objeto teórico a partir de informações sobre a realidade, que nos possibilitou articular a pesquisa em três momentos distintos e complementares: descrição do visível, com registro de imagens e caderno de anotações; a análise regressiva; e o reencontro com o presente, com produção de relatórios de campo e debates. No primeiro se utilizou muito da experiência de vida do pesquisador para obter informações sobre a diversidade da cidade. No segundo, com aplicação de formulários de entrevistas, se fez um esforço para recuperar as temporalidades pretéritas que não se encontram nas formas espaciais presentes, mas na lembrança de alguns moradores. Finalmente, o reencontro com o presente em que se tentou explicar espacialidades e temporalidades que resultam de encontros e desencontros, pois que mediados por interesses de diferentes sujeitos sociais, gestores e funcionários públicos, órgãos de segurança, comerciantes brasileiros e peruanos, agricultores, populações indígenas. RESULTADOS Os estabelecimentos comerciais peruanos se concentram principalmente na área central da cidade de Benjamin Constant, nas ruas imediatas ao rio. Delimitando-se a área central da referida cidade teremos as seguintes ruas e avenidas principais: Avenida 21 de Abril, Avenida Castelo Branco, Avenida Getúlio Vargas e Rua Praça da Bandeira (compõem três quadras centrais). Os estabelecimentos comerciais se concentram principalmente na área central da cidade de Benjamin Constant, situados da seguinte forma, na Avenida 21 de abril identificaram-se um total de 22 estabelecimentos comerciais, dos quais 10 são de proprietários de origem brasileira e 12 de proprietários de origem peruana; Na Avenida Castelo Branco um total de 19 estabelecimentos, sendo que 06 de proprietários brasileiros e 13 de proprietários peruanos; Na Avenida Getúlio Vargas identificaram-se 19 estabelecimentos, dos quais são 10 de proprietários de origem brasileira e 09 de origem peruana; e na Rua Praça da Bandeira um total de 15 estabelecimentos, sendo que 02 de proprietários brasileiros e 13 de proprietários de origem peruana. Observe na tabela a seguir: Tabela 1: Estabelecimentos comerciais distribuídos nas vias centrais de Benjamin Constant-AM Nacionalidade Avenida Av. Getúlio Av. Castelo Rua Praça Total % 21 de Vargas Branco da Bandeira Abril Brasileiros 10 10 06 02 28 37 Peruanos 12 09 13 13 47 63 Total 22 19 19 15 75 100 Organização: Souza, 2013 Fonte: Autor, pesquisa de Campo, julho de 2013 Verifica-se um total de 75 estabelecimentos comerciais distribuídos nas ruas e avenidas citadas, dos quais 28 estabelecimentos são de proprietários de origem brasileira e 47 são de proprietários de origem peruana. Quanto mais próximo à beira do rio, maior a concentração do comércio realizado pelos peruanos, ou seja, próximo da área portuária, mercadão e feira municipal, maior a predominância dos estabelecimentos comerciais peruanos. Nos últimos anos vem ocorrendo um deslocamento espacial dos estabelecimentos comerciais de origem peruana em direção a outros bairros da cidade, principalmente ao bairro de Coimbra, bairro de maior índice demográfico da cidade de Benjamin Constant. Contabilizou-se no referido bairro um total de 25 estabelecimentos comerciais, dos quais 12 estabelecimentos são de proprietários de origem brasileira e 13 de origem peruana. Ao adentrar na cidade de Benjamin Constant o aspecto marcante é a presença do comércio peruano. Na rua imediata ao porto verifica-se maior concentração desse comércio, com suas variedades de produtos, e cultura. Nesse sentido, podemos citar diversos segmentos oriundos da presença do comércio peruano, como a moeda, o transporte, a vestimenta, a música, os materiais de construção, a hotelaria, a culinária, confecções e produtos agrícolas. Conforme Silva (2012) seja em Tabatinga, Manaus, Boa Vista ou Pacaraima, os peruanos começam como vendedores ambulantes pelas ruas e feiras livres e depois abrem pequenos negócios, voltados, em geral, para o mercado do artesanato e de roupas, CDs, bijuterias, gastronomia, movelaria, hortifrutigranjeiros e serviços em geral. Milton Santos (2004) em sua análise do espaço sugere que a economia urbana dos países em desenvolvimento divide-se em dois setores, um circuito superior e um circuito inferior. Inserimos inicialmente o estudo a partir dessa concepção com ênfase no circuito inferior, ou setor terciário, o comércio. O que na presente perspectiva utilizamos também as noções de rede urbana em Corrêa (1989), bem como de fluxos migratórios na Amazônia em Aragón (2009) e Botía (2008). Nesse sentido para melhor compreensão caracterizamos e tipificamos o comércio realizado pelos peruanos em Benjamin Constant como subinformais, informais e formais. Agrupamos como comerciantes na tipologia subinformal os peruanos que realizaram migração recente, residem e trabalham como ambulantes na cidade Benjamin Constant, ou que, não residem na cidade, porém realizam atividades comerciais esporádicas na referida cidade, em uma migração intramunicipal. Os referidos produtores rurais, identificados pela população local a partir de sua conotação religiosa (grupo israelita peruano), aparecem em Benjamin Constant em períodos regulares, segundas e terças-feiras, ou em dias de feriados festivos (festas de final de ano, dia das mães e outros). Estes