Agricultura Familiar E Alimentação Escolar No Estado Do Paraná
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Agricultura Familiar e Alimentação Escolar no Estado do Paraná: uma análise das chamadas públicas Family-based Farming and School Meals in Paraná State: a scope on public tender Agricultura Familiar y la Escuela en el Estado de Paraná: un análisis de convocatorias públicas Rozane Marcia Triches*, Leiridiane Priscila Barbosa** e Fernanda Silvestri*** RESUMO O PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar tem avançado continuamente desde sua criação, em 1955. Entre os mais recentes avanços, estão aqueles trazidos com a sanção da Lei n.º 11.947/2009, a partir da qual foi garantido o investimento de no mínimo 30% dos repasses federais para a aquisição de produtos da agricultura familiar. O objetivo do presente estudo é examinar as chamadas públicas e as prestações de contas de municípios paranaenses quanto à adequação à agricultura familiar e ao atendimento à legislação. Os municípios foram escolhidos de forma a contemplarem pelo menos 10% do alunado das escolas municipais do Estado e estratificados por população. A maioria das chamadas públicas analisadas possuía um valor final que ultrapassava os 30% previstos na legislação para a compra da agricultura familiar, porém nem todas chegaram a efetivar estas aquisições usando o recurso federal. Os alimentos mais requeridos quantitativamente foram hortaliças, seguidas das frutas. Contudo, em relação aos valores, os grupos de leite e derivados e de carnes, ovos e peixes, respectivamente, foram aqueles produtos com maior valor agregado. A agricultura familiar vem ganhando cada vez mais importância e espaço no mercado institucional e, desta forma, a produção local passa a ser mais valorizada e apoiada. No entanto, é possível observar diversas falhas nesse processo, como é o caso da adequação das chamadas públicas dos agricultores familiares e o incentivo à produção orgânica, a qual, apesar de ter reconhecida importância, ainda não está sendo efetivada nos municípios. Palavras-chave: Alimentação Escolar. Agricultura Familiar. Desenvolvimento Rural. Segurança Alimentar e Nutricional. Aquisições Públicas. * Graduada em Nutrição pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil. Mestre em Epidemiologia e doutora em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Realeza. Professora adjunta da Universidade Federal da Fronteira Sul. Campus Laranjeiras do Sul. E-mail: [email protected] ** Graduada em Nutrição pela Universidade Comunitária da região de Chapecó, Chapecó, Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: [email protected] *** Graduanda em Nutrição pela Universidade Federal da Fronteira Sul. Campus Realeza, Paraná, Brasil. E-mail: [email protected] Artigo recebido em jul./2015 e aceito para publicação em mar./2016. REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, v.37, n.130, p.29-43, jan./jun. 2016 29 Agricultura Familiar e Alimentação Escolar no Estado do Paraná: uma análise das chamadas públicas ABSTRACT The PNAE has been continuously advancing since its creation in 1955. Among the most recent ones there are the advances brought to the enactment of Law No. 11.947/2009, in which was ensured the investment of at least 30% of federal funds for the family-based farming procurement. The purpose of such endeavor was to examine the public meals tender as well as the accountability of municipal districts in regard to the family agriculture and proper legal compliance. The given municipalities were chosen in order to display at least 10% of the students from municipal schools in the state and accounted by population. Most of the reviewed public tender had evidenced a final value which exceeded 30% of the acknowledged by proper legislation for the family-based procurement, although not all from the given range were performed upon these acquisitions rendering federal resource. The most required meals in quantity wise were vegetables, followed by fruits. However, in connection to the values, milk and its dairy and the group of meats, eggs and fish, respectively, were the products with higher added value. Family-based farming is gaining more and more importance and space in the institutional market and thus local production becomes even more sponsored. Thus, it is still possible to see several flaws in the process, such as the adequacy of public tenders in respect to family farmers, then encouraging organic production, in which despite being well renowned relevance, is not being carried out by the municipalities yet. Keywords: School Meals. Family-based farming. Rural development. Food and Nutritional Security. Public Tenderng. RESUMEN El PNAE ha avanzado ininterrumpidamente desde su creación en 1955. Entre los más recientes son los avances llevados a la promulgación de la Ley Nº 11.947/2009, garantizando por lo menos el 30% de los fondos federales para la adquisición de productos de la agricultura familiar. El objetivo de esta investigación fue examinar los procesos de contratación pública y rendición de cuentas municipales en cuanto a la adecuación de la agricultura familiar y el cumplimiento legal. Los municipios fueron escogidos para contemplar, al menos, el 10% de los alumnos de las escuelas municipales en el estado y estratificados por población.La mayoría de las convocatorias públicas tuvieron un valor final que superó el 30% previsto por la ley, pero no todos efectuaram estas adquisiciones mediante lo recurso federal. Los alimentos más buscados eran cuantitativamente verduras, seguido por las frutas. Sin embargo, en relación con los valores, la leche y derivados y el grupo de carnes, huevos y pescado, respectivamente, fueron los productos con mayor valor agregado. La agricultura familiar está ganando cada vez más importancia y espacio en el mercado institucional y por lo tanto la producción local se hace más valorada y apoyada. Sin embargo, todavía es posible ver varias fallas en el proceso, tales como la adecuación de las convocatorias públicas a agricultura familiar y la producción orgánica, que a pesar de tener reconocida importancia, aún no se está llevando a cabo en los municipios. Palabras-chave: Alimentación Escolar. Agricultura Familiar. Desarrollo Rural. Seguridad Alimentaria y Nutricional. Adquisiciones públicas. 30 REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, v.37, n.130, p.29-43, jan./jun. 2016 Rozane Marcia Triches, Leiridiane Priscila Barbosa e Fernanda Silvestri INTRODUÇÃO A alimentação escolar é garantida a todos os alunos da educação básica de escolas públicas e filantrópicas através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), atendendo às necessidades nutricionais durante a permanência em sala de aula e contribuindo para o crescimento, o desenvolvimento, a aprendizagem e o rendimento escolar, além de promover a formação de hábitos alimentares saudáveis. O Programa foi criado em 1955 e até 1994 funcionava de forma centralizada, priorizando-se a distribuição de alimentos formulados e industrializados para todo o território nacional, sem respeitar as culturas locais. Essa prática reforçava tendências elencadas por Mintz (2001), como o crescente deslocamento de pessoas e alimentos, o distanciamento entre produtores e consumidores, a maior propensão ao consumo de alimentos preparados e a perda do hábito de cozinhar entre as classes médias. Com as políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), a partir de 2003, passa-se a pensar as compras institucionais de alimentos, no sentido de viabilizar mercados para a agricultura familiar e, ao mesmo tempo, proporcionar alimentos de qualidade a públicos vulneráveis. Com este propósito, foi criado neste mesmo ano o Programa de Aquisição de Alimentos e, posteriormente, com a Lei nº 11.947/2009, tornou-se obrigatório o investimento de no mínimo 30% dos repasses do FNDE na aquisição de produtos da agricultura familiar pelo PNAE (BRASIL, 2009). Com isso, as aquisições públicas alimentares para o PNAE surgem como uma possibilidade de integração entre as políticas de direito à alimentação, relacionadas à saúde e à nutrição dos escolares, e as políticas de incentivo à produção agrícola, criando mercados para os agricultores familiares onde não existiam ou eram muito débeis (TRICHES; SCHNEIDER, 2010). Turpin (2009) ressalta que a alimentação escolar tornou-se um fator determinante no apoio à agricultura familiar, por meio de três fatores: respeito à vocação agrícola e hábitos alimentares locais, compras dentro dos limites geográficos regionais e uso de produtos in natura, característicos dessa produção. Embora haja muitos benefícios nessa vinculação entre agricultura familiar e alimentação escolar, não se pode menosprezar as complexas relações que precisam ser estabelecidas e os entraves que devem ser superados, como sublinham Triches e Schneider (2012, p.8): Por um lado, há todas as barreiras de entrada relacionadas aos aspectos burocráticos, fiscais, ambientais, estruturais, organizacionais, sanitários, exigidos aos agricultores para a formalização de seus estabelecimentos e de seus produtos. Por outro, encontram-se as exigências do próprio mercado consumidor – e aqui, especificamente, do PAE [Programa de Alimentação Escolar] – que prevê a necessidade de obter garantias de inocuidade dos produtos adquiridos, além da padronização, regularidade, transporte e quantidade suficiente para abastecer todas as unidades de ensino sob sua jurisdição. Portanto, com a criação de leis que obrigam as Entidades Executoras (EE) a adquirir produtos da agricultura familiar para a alimentação escolar, torna-se essencial verificar as dificuldades