Apontamentos Sobre a Avaliação De Perigos Geológicos Nas Ilhas Do Faial E Pico Na Sequência Do
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Estudos Desenvolvidos Capítulo 33 Apontamentos sobre a avaliação de perigos geológicos nas ilhas do Faial e Pico na sequência do sismo de 9 de Julho de 1998 Carlos Sousa Oliveira, João Carlos Nunes, Notes on the geological hazards assessment Mónica Amaral of Faial and Pico Island on the event of the July 9th, 1998 earthquake Ferreira Carlos Sousa Oliveira (1) , João Carlos Nunes (2) , Mónica Amaral Ferreira (1) (1) Instituto Superior Técnico, UTL, (2) Universidade dos Açores Abstract de perigos geológicos nas ilhas do Faial e Pico, que levaram à edição de cartas de condicionantes/de The geological hazard assessment was one of the riscos geológicos para as principais freguesias afec- th major tasks preformed after the July 9 earthquake, tadas pelo sismo. aimed at the definition of preventing measures and Com o presente trabalho pretende-se, de um the production of geological risk maps for the dama- modo resumido e simplificado, apresentar alguns ged areas. This chapter presents a brief description of apontamentos sobre a feitura destes estudos e sobre the methodology applied on such studies, the main as principais cartas de riscos produzidas, na medida land use legal instruments produced therein and the em que trata-se de tópico de importância inquestio- geological risk maps done for the rural counties of nável no contexto da reconstrução das ilhas afectadas Horta municipality (Faial Island). pelo sismo de 9 de Julho de 1998. Por outro lado, o presente trabalho visa constituir-se como uma alter- 1. Introdução nativa válida para a inclusão da temática dos riscos/ perigos geológicos na presente obra, tendo o Centro A crise sísmica iniciada a 9 de Julho de 1998 de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos devastou o património edificado da ilha do Faial, (CVARG), da Universidade dos Açores, que coorde- atingindo com particular incidência freguesias rurais nou e participou nestes estudos, declinado o convite do concelho da Horta. No sentido de repensar o oportunamente formulado para o efeito. desenvolvimento territorial das zonas afectadas, impôs-se a criação de instrumentos reguladores que traduzissem correctas políticas de ordenamento do 2. Metodologia Geral território, em detrimento de uma ocupação edificada Para além da consulta e análise de toda a infor- indisciplinada e descaracterizadora destas áreas. mação disponível no CPR- Centro de Promoção de Adicionalmente, de modo a definir a aplicação de Reconstrução, mormente do estado das diferentes medidas eficazes para a minimização dos riscos asso- habitações de acordo com a percentagem de danos hazard ciados aos perigos ( ) geológicos realizaram-se resultantes do sismo de 9 de Julho e réplicas associa- estudos de natureza geológica, incluindo a avaliação das, os trabalhos realizados incluíram a identificação 380 Carlos Sousa Oliveira, João Carlos Nunes, Mónica Amaral Ferreira no terreno e localização, nas bases cartográficas 3. Tabelas classificativas e Cartas de disponíveis, das edificações sinistradas (Gaspar et Condicionantes al. , 1998). Numa segunda fase, foi efectuada uma ava- liação da situação do edifício em termos de perigos A metodologia seguida permitiu a elaboração geológicos, caracterizando-se os diferentes elementos de tabelas classificativas, nas quais as edificações presentes, sob o ponto de vista qualitativo, tendo em sinistradas foram objecto de uma abordagem atenção a possibilidade de ocorrência de um deter- individualizada relativa aos perigos inerentes aos minado fenómeno em função do enquadramento diferentes fenómenos de ordem geológica passíveis geológico da área em análise (cf. principais estruturas de ocorrerem na zona, atribuindo-se as letras E, M geomorfológicas e geológicas presentes). e R, respectivamente, aos níveis de perigosidade A análise do contexto geológico em que se Elevado, Moderado e Reduzido (Quadro I – Nunes et al. desenvolve as freguesias objecto de estudo, com- , 1998) plementada com dados relativos a acontecimentos Quadro I – Exemplo de tabela classificativa dos perigos históricos, permitiu identificar os perigos geológicos geológicos identificados na ilha do Pico (adaptado de presentes (Gaspar et al. , 1998), que de uma forma Nunes et al. , 1998). sucinta são: i) perigo sísmico (cf. sismos mais energé- ticos e presença de falhas activas); ii) perigo vulcânico Refª Rua Nome Perigo Geológico Observações 084 Trav. Manuel José Sísmico M/E (cf. estruturas morfovulcânicas e diferentes tipos de Torta António Vulcânico E produtos vulcânicos/estilos eruptivos presentes); iii) Mov. Massa * perigo de movimentos de massa (cf. tipologia de Outros n.i. arribas e escarpas e materiais vulcânicos constituintes) 085 Trav. António Manuel Sísmico M/E Torta José Vulcânico E e iv) outros perigos (os quais correspondem, essen- Mov. Massa * cialmente, à possibilidade de ocorrência de cheias/ Outros n.i. enxurradas em linhas de água). 162 Trav. José Manuel Sísmico M/E A aplicação desta metodologia permitiu identificar Direita António Vulcânico E Mov. Massa * e delimitar áreas de maior perigo geológico para as Outros n.i. construções existentes em cada uma das freguesias E: elevado; M: moderado; R: reduzido; *: perigo inexistente; n.i. : rurais da ilha do Faial e nos lugares de Almagreira e não identificado Valverde na ilha do Pico. Esta delimitação, aliada à adopção de normas rígidas de reabilitação e recons- Adicionalmente, foram produzidas cartas de con- trução do edificado (cf. construção anti-sísmica), con- dicionantes para os principais elementos de perigo forme preconizado por Carvalho et al. (1998) como geológicos identificados, para os quais foram defini- meio para ultrapassar os problemas associados à má das áreas afectas de acordo com o tipo de elemento et al. qualidade da construção tradicional dos Açores, veio presente (Porteiro , 2008): contribuir para a redução do risco inerente a futuras – Falha/Áreas Afectas ao Risco Sísmico: todas as ocorrências sísmicas e veio, seguramente, contribuir áreas que se encontram a menos de 50 metros para um mais eficaz ordenamento do território. de uma falha cartografada, independentemente do tipo de falha e material que afecta; – Movimentos de Massa/Áreas Afectas a Movi- mentos de Massa: áreas situadas na base de arribas, escarpas e taludes (cf. Figura 1) cujo Apontamentos sobre a avaliação de perigos geológicos nas ilhas do Faial e Pico na sequência do sismo de 9 de Julho de 1998 381 na ilha do Pico (Nunes et al. , 1998 e França et al ., Figura 1 1998). Mapa de declives – Ribei- rinha. Assim, para cada uma destas freguesias e lugares foi elaborado um relatório técnico-científico (cf. França et al. , 1998), com a avaliação dos perigos geológicos edifício a edifício, onde foi avaliada, nomeadamente, a sua proximidade a falhas cartografadas e activas, a linhas de água e a taludes/escarpas. Ademais, estes relatórios incluem um conjunto de recomendações acerca dos riscos potenciais existentes nas áreas afec- tadas e sugerem a adopção de medidas cautelares, designadamente ao nível das fundações dos edifícios, da qualidade de potenciais aterros a efectuar e de uma fiscalização rigorosa de todas as obras. 4. Decreto Regulamentar Regional declive acentuado favorece a ocorrência de Nº 13/2006/A escorregamentos ou outros movimentos de massa de vertente a uma distância horizontal Os estudos de avaliação de perigos geológicos igual ao dobro do seu desnível; e as cartas de condicionantes produzidas foram parcialmente vertidos em legislação da responsabi- – Linha de Água/Áreas Afectas às Linhas de Água: lidade da Região Autónoma dos Açores, o Decreto área situada a menos de 10 metros das margens Regulamentar Regional nº 13/2006/A, como meio de de linhas de água que correm sobre mantos/ assegurar a minimização dos riscos e a adopção de escoadas lávicas, ou a uma distância inferior a medidas preventivas adequadas. 20 metros das margens de linhas de água que Com efeito, verificou-se que o Plano Director correm sobre materiais piroclásticos ou outros Municipal (PDM) da Horta, entrado em vigor através materiais detríticos, área esta passível de ser do Decreto Regulamentar Regional nº 30/2000/A, de inundada durante cheias/enxurradas. 22 de Setembro, logo se mostrou desajustado relati- A avaliação de perigos geológicos nas ilhas do vamente às novas premissas de ocupação espacial, Faial e Pico, com vista à decisão de reconstrução ou não se coadunando com as necessidades de oferta demolição das moradias afectadas e/ou construção de solo urbano decorrentes do fenómeno pós-sismo de novas habitações (Fraga, 2008) foi levada a cabo e de uma nova realidade emergente, do ponto de em conjunto pelo CVARG da Universidade dos Aço- vista económico, social, ambiental e cultural. res e o LREC – Laboratório Regional de Engenharia Deste modo, por iniciativa do Governo Regional, Civil dos Açores, permitindo a identificação das áreas foram elaboradas, e assumidas pela Câmara Municipal de maior perigosidade em 10 freguesias da ilha do da Horta, normas provisórias para as áreas territoriais Faial (Ribeirinha, Praia do Almoxarife, Pedro Miguel, das freguesias rurais afectadas pelo sismo de 9 de Flamengos, Salão, Feteira, Castelo Branco, Capelo, Julho, publicadas através do Decreto Regulamentar Cedros e Praia do Norte – Fraga, 2008) e nos lugares Regional nº 34/2000/A, de 29 de Novembro, que de Almagreira (Lajes do Pico) e Valverde (Madalena), permitiram perspectivar objectivos estratégicos para 382 Carlos Sousa Oliveira, João Carlos Nunes, Mónica Amaral Ferreira as freguesias rurais do concelho da Horta. Com a afectadas pela crise sísmica de 9 de Julho de 1998 e caducidade