Mestres do Agroextrativismo no Mearim Volume 23

Dona Beta e seu Matias pela preservação da vida e do solo Estrada da Vitória, Poção de Pedras, MA

Roberto Porro Aline Souza Nascimento Francinaldo Ferreira de Matos Ronaldo Carneiro de Sousa Diana Nathaly Monroy-Piratoba

Promovendo o Agroextrativismo Sustentável e Solidário

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão

Mestres do Agroextrativismo no Mearim Volume 23

Dona Beta e seu Matias pela preservação da vida e do solo Estrada da Vitória, Poção de Pedras, MA

Roberto Porro Aline Souza Nascimento Francinaldo Ferreira de Matos Ronaldo Carneiro de Sousa Diana Nathaly Monroy-Piratoba

Embrapa Brasília, DF 2020 Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Embrapa Parque Estação Biológica (PqEB) Parque Estação Biológica (PqEB) Av. W5 Norte (final) Av. W3 Norte (final) 70770-917 Brasília, DF 70770-901 Brasília, DF Fone: (61) 3448-4700 Fone: (61) 3448-4236 Fax: (61) 3340-3624 Fax: (61) 3448-2494 www.embrapa.br/fale-conosco/sac/ www.embrapa.br

Embrapa Amazônia Oriental Unidade responsável pela edição Trav. Dr. Enéas Pinheiro, s/n° Embrapa, Secretaria-Geral Caixa postal 48 66095-903 Belém, PA Coordenação editorial Fone: (91) 3204-1000 Alexandre de Oliveira Barcellos Fax: (91) 3276-9845 Heloiza Dias da Silva Nilda Maria da Cunha Sette Unidade responsável pelo conteúdo Supervisão editorial Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Waldir Aparecido Marouelli Comitê Local de Publicações Revisão de texto Presidente Maria Cristina Ramos Jubé Marília Lobo Burle Lara Aliano Farias da Silva Pereira Secretária-executiva Normalização bibliográfica Ana Flávia do N. Dias Côrtes Ana Flávia do N. Dias Côrtes Membros Rejane Maria de Oliveira (CRB-1/2913) Antonieta Nassif Salomão; Bianca Damiani Projeto gráfico e ilustrações Marques; Diva Maria Alencar Dusi; Francisco Sília Moan Guilherme V. Schmidt; João Batista Teixeira; João Batista Tavares da Silva; Maria Cléria Vala- Diagramação e arte-final da capa dares-Inglis; Rosamares Rocha Galvão; Tânia Leandro Sousa Fazio da Silveira Agostini Costa 1ª edição Editores técnicos da coleção 1ª impressão (2020): 500 exemplares 500 Roberto Porro exemplares Anderson Cássio Sevilha

Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei n° 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Dona Beta e seu Matias pela preservação da vida e do solo : Estrada da Vitória, Poção de Pedras, MA / Roberto Porro ... [et al.]. – Brasília, DF : Embrapa, 2020. 62 p. : il. ; 16 cm × 22 cm. – (Mestres do agroextrativismo no Mearim, 23) ISBN 978-65-87380-01-8 (obra compl.). – ISBN 978-65-86056-76-1 (v. 23) 1. Médio Mearim. 2. Extrativismo sustentável. 3. Manejo. 4. Boas práticas. 5. Agricultura familiar. I. Porro, Roberto. II. Nascimento, Aline Souza. III. Matos, Francinaldo Ferreira de. IV. Sousa, Ronaldo Carneiro de. V. Piratoba, Diana Nathaly Monroy. VI. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. VII. Coleção. CDD (21 ed.) 630.5 Ana Flávia do N. Dias Côrtes (CRB-1/1999) © Embrapa, 2020 Autores

Roberto Porro Engenheiro-agrônomo, doutor em Antropologia Cultural, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA

Aline Souza Nascimento Cientista social, mestranda da Universidade Federal do Pará, Belém, PA

Francinaldo Ferreira de Matos Administrador de empresas, mestre em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável, assessor do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco-Babaçu, São Luís, MA

Ronaldo Carneiro de Sousa Técnico em agropecuária, assessor da Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão, Pedreiras, MA

Diana Nathaly Monroy Piratoba Bióloga, mestre em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável, consultora da Fundación Neotropical, Tunja, Colômbia

Agradecimentos

Agradecemos o apoio institucional e financeiro concedido pela Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (Assema), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).

Aos diretores e técnicos da Assema, que apoiaram a produção desta coleção, e especialmente às famílias que compartilharam conosco valiosas informações.

A todos aqueles que contribuíram na edição dos 30 volumes da coleção, especialmente à equipe de editoração da Embrapa. O apoio e engajamento de Nilda Sette e Waldir Marouelli foram fundamentais. E também ao Cláudio Quinto Filho, da Assema, e Renan Matias, do projeto Bem Diverso, pela elaboração dos croquis dos estabelecimentos rurais.

Esperamos que as publicações geradas contribuam para dar visibilidade aos objetivos de desenvolvimento e bem- -estar das comunidades agroextrativistas do Território do Médio Mearim, no estado do Maranhão.

Apresentação

Promover o desenvolvimento local e conservar a biodiversidade brasileira é um dos objetivos do projeto Bem Diverso, implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). Com foco nesse objetivo, foi elaborada uma coleção de 30 publicações, intitulada Mestres do Agroextrativismo no Mearim, em parceria com a Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (Assema).

As publicações trazem experiências e iniciativas locais consideradas bem-sucedidas no manejo sustentável da agricultura e do extrativismo da palmeira babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng.).

A apresentação dessas experiências nesta coleção, realizada em conjunto pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e a Embrapa Amazônia Oriental, marca mais uma etapa do trabalho desenvolvido pelas Unidades no projeto Bem Diverso, e reúne capacidades técnicas de inovação em biomas tão importantes como a Amazônia, o Cerrado e a Caatinga, que se cruzam no Território da Cidadania do Médio Mearim. Tendo como base as iniciativas para o manejo sustentável da palmeira babaçu, a coleção aborda temas como reflorestamento, sistemas agroflorestais e cultivos perenes diversificados para restauração de áreas degradadas; cultivos anuais intensificados sustentáveis que demandam menos mão de obra e/ou menos área; cultivos anuais tradicionais com menor impacto ambiental; comercialização de hortaliças produzidas de forma sustentável; pecuária em pastagens produtivas integradas em babaçuais; inovações na criação de pequenos animais; processamento local de frutas, mandioca ou leite e processamento do babaçu para produção de azeite, carvão, mesocarpo e confecção de artesanato.

Essa diversidade de temas mostra que estabelecer parcerias, como esta entre a Embrapa e diversas entidades, valoriza o trabalho de centenas de famílias agroextrativistas que realizam atividades exitosas no manejo sustentável e ajuda a manter e divulgar os princípios que são tão caros para a unidade familiar de produção, preservando o passado e antecipando o futuro, com os saberes tradicionais e as tecnologias de ponta em um só compasso.

Maria Cléria Valadares-Inglis Chefe-Geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Prefácio

Mais de 130 mil pessoas vivem na área rural do Território do Médio Mearim, sobretudo agricultores familiares, assentados e comunidades quilombolas. O Médio Mearim encontra-se numa zona de transição entre a Amazônia, o Cerrado e a Caatinga. Ao longo dos anos, o território perdeu boa parte da sua cobertura florestal nativa, por conta do desmatamento para formação de pastagens e agricultura extensiva. A palmeira babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng.), que sempre esteve presente na rica composição da vegetação originária que cobria o território, passou a dominar a paisagem em sucessão, tornando-se a espécie florestal predominante, cobrindo vastas áreas chamadas de babaçuais, que se tornaram a base do sustento de milhares de famílias no Médio Mearim.

Por essa razão, as comunidades lutam pela proteção das palmeiras, que sofrem pressão graças à tendência de sua eliminação por pecuaristas. Essa luta é protagonizada principalmente por mulheres, as quebradeiras de coco, que, além de coletar e processar o coco-babaçu, se organizam em movimentos sociais para garantir o acesso livre aos babaçuais, tanto em áreas públicas como privadas.

No início de 2017, a Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (Assema) iniciou uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), por meio do projeto Bem Diverso, para viabilizar a disseminação e replicabilidade de boas práticas de manejo agroextrativista realizadas no Território da Cidadania do Médio Mearim, Maranhão.

Um dos objetivos da atividade consistia em reconhecer e dar visibilidade ao esforço concreto do dia a dia das famílias agroextrativistas da área de atuação da Assema.

Com base em processo conduzido pela Assema, foram selecionadas 30 famílias entre as unidades produtivas agroextrativistas, em nove municípios do território. A seleção levou em conta o destaque das famílias na condução de uma ou mais das seguintes atividades: 1) reflorestamento, sistemas agroflorestais e cultivos perenes diversificados para restauração de áreas degradadas e conservação da biodiversidade; 2) cultivos anuais intensificados sustentáveis que demandam menos mão de obra e/ou menos área; 3) cultivos anuais tradicionais com menor impacto ambiental; 4) cultivo comercial de hortaliças; 5) pecuária em pastagens produtivas integradas em babaçuais; 6) inovações na criação de pequenos animais; 7) processamento de frutas, mandioca ou leite; 8) processamento do coco-babaçu para produção de azeite, carvão, mesocarpo e confecção de artesanato.

A sistematização e a apresentação das iniciativas locais bem- -sucedidas das famílias selecionadas, no manejo sustentável da agricultura e do extrativismo da palmeira babaçu, bem como os principais componentes do modo de vida de unidades familiares de produção no Médio Mearim são apresentados nos 30 volumes da coleção. Cada publicação retrata, portanto, o trabalho muito mais amplo realizado por centenas de famílias no território. Este volume consiste na sistematização das iniciativas e práticas de manejo realizadas no estabelecimento rural da família de Matias Sousa Nascimento e Isabel Beta de Lima, na Estrada da Vitória, município de Poção de Pedras, MA. A família se destaca pelas inovações no processamento de frutas e na restauração ambiental.

É importante destacar que, em praticamente todos os casos sistematizados, a iniciativa das famílias não se restringe a apenas uma atividade principal. É comum que duas ou três atividades predominantes sejam integradas no estabelecimento rural, onde também são executadas diversas outras atividades complementares.

Em cada caso, identificam-se as dimensões do caráter exitoso observado pela equipe de pesquisadores, técnicos e agentes de desenvolvimento que conduziram este trabalho ao longo de 18 meses, colhendo depoimentos, imagens e gerando textos que poderão ser utilizados em processos de aprendizado e compartilhamento do conhecimento, contribuindo, assim, para a divulgação do esforço desses mestres e mestras do agroextrativismo no Médio Mearim.

Convidamos, assim, leitores e leitoras a conhecer e compartilhar essas histórias.

Raimundo Ermino Neto Coordenador-Geral da Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão

Sumário

Breve trajetória 15

Estabelecimento familiar 21

Preservida: preservando a biodiversidade 27

Se trabalha com frutas, pensa duas vezes antes de colocar fogo 33

Meios de vida 39

Lições aprendidas e desafios 45

Referências 51 Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

O casal Matias Sousa e Isabel Beta com Matias Filho. Breve trajetória

atias Sousa Nascimento (55 anos) e Isabel Beta de MLima (56 anos) são casados há 30 anos e possuem três filhos: Raul Aurélio, Débora Cíntia e Matias Filho. Os três filhos residem na cidade de Poção de Pedras com suas famílias. Matias Filho, apesar de residir na cidade, trabalha na propriedade com os pais. O casal mora, desde 1991, na Estrada da Vitória, antigo povoado de mesmo nome, no qual, atualmente, vivem 22 famílias, e que, em 2015, passou a ser considerado zona urbana, distante apenas 3 km da sede do município.

Dona Beta é filha de pais cearenses que se deslocaram para o Maranhão, em 1958, impulsionados pela possibilidade de encontrarem terras livres e férteis para implantação de suas lavouras. Instalaram-se, inicialmente, no povoado de Serra do Aristóteles, em Poção de Pedras, formado por um contingente de retirantes nordestinos que migraram movidos pela mesma esperança. Dona Beta nasceu no povoado e, em 1973, se mudou para a sede do município de Poção, lugar no qual uma de suas irmãs residia e onde conheceu seu Matias.

15 Natural do município de Itainópolis, no estado do Piauí, seu Matias chegou ao Maranhão em 1970, então com 7 anos, juntamente com seus pais, Adão e Maria Leila, e seis irmãos, fugindo da seca que assolava seu estado naquele período. Ao chegar ao Maranhão, estabeleceram-se em Poção de Pedras, onde residiam dois irmãos de dona Leila. A família comprou uma casa na cidade e, para colocar roça, arrendava terras na zona rural. Além das atividades de roça, seu Adão passou a se dedicar à carpintaria e à construção civil. Como essas atividades aconteciam principalmente no verão, no inverno cultivava a roça nos povoados de Boa Fé, Piçarra e Centro do João Pedro. À medida que os filhos foram crescendo, por conta da distância da área de cultivo, passaram a se dedicar integralmente à construção civil. O envolvimento nessas habilidades contribuiu para que seu Matias construísse a moradia atual da família.

Seu Matias foi estudante e, em seguida, monitor da primeira Escola Família Agrícola (EFA) do estado do Maranhão, a EFA de Poço de Pedras. Apos concluir o ensino fundamental em Poço de Pedras, Matias foi estudar na Escola Familia Agricola de Riacho de Santana, na Bahia, onde no ano de 1987, formou-se tecnico em agropecuaria. Ao retornar a Poção de Pedras, passou a trabalhar como monitor na EFA, desempenhando atividades de ensino e acompanhamento técnico. Na época em que Matias trabalhava como monitor, a EFA, que possuía uma área de 3,0 ha (hectares) para as aulas práticas, obteve recursos para adquirir uma propriedade mais ampla, colocando a venda a outra area, que foi comprada por Matias. Em razão de problemas administrativos, a EFA de Poção de Pedras está desativada desde 2005.

A partir de 1991, Matias atuou por 15 anos como técnico na Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura (Acesa), realizando trabalhos de extensao e acompanhamento tecnico em comunidades na Diocese de .

16 Escola Família Agrícola (EFA) Após a conquista da terra e a criação dos assentamentos no Médio Mearim, organizações representativas dos agricultores, apoiadas pela Igreja Católica, buscaram um modelo de educação diferenciada que estimulasse os filhos desses agricultores a permanecerem no campo e trabalharem na terra na perspectiva de desenvolvimento local sustentável.

Como resultado dessa mobilização, a implantação das escolas de alternância no Maranhão iniciou em 1984, com a fundação da Escola Família Agrícola (EFA) de Poção de Pedras. A criação dessa EFA surgiu da iniciativa de diferentes comunidades que se inspiraram no modelo de escola desenvolvido pelo Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (Mepes) e Associação das Escolas Comunidades Famílias Agrícolas da Bahia (Aecofaba).

Seguindo a Pedagogia da Alternância, os alunos das EFAs passam 15 dias na escola (tempo escola) quando cursam disciplinas e aulas práticas, e 15 dias em casa (tempo comunidade) para aplicar o que foi aprendido nos setores produtivos da escola.

Dica de leitura: Ribeiro (2008).

Durante sua atuação na Acesa, seu Matias participou de cursos, capacitações e viagens de estudo, como o Mutirão Nordeste, realizado anualmente com a presença de entidades apoiadas pela Misereor, agência alemã de cooperação mantida pela Igreja Católica. O local do encontro variava, possibilitando intercambios. No Maranhão, o evento foi realizado em Poço de Pedras e no Sitio das Bagens, localizado em Lago Verde, onde vivencias agroecologicas desenvolvidas pela Acesa foram visitadas. Além da formação técnica, seu Matias credita sua formação política também a esses espaços, onde adquiriu uma consciência mais crítica e humanizada.

17 Acesa A Acesa surgiu na década de 1980 em meio a grandes conflitos de terra, atuando como serviço de extensão rural com foco nas questões organizativas. Por considerarem que a conquista da terra não garantiria o desenvolvimento no campo, os frades franciscanos estabeleceram, em 1986, numa iniciativa do frei Klaus Finkam, uma equipe técnica para atuar na melhoria das condições de vida das comunidades rurais, atuando na formação em prevenção de doenças e importância da alimentação para a saúde. O trabalho promove a busca da saúde integral e de uma agricultura adaptada ao meio e às condições das famílias lavradoras da região. Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Seu Matias e dona Beta em sua residência, na estrada da Vitória, Poção de Pedras.

18 Ao conhecimento adquirido durante a atuação na Acesa, soma-se o apoio financeiro da associação à família, por meio de fundos rotativos para criação de aves e para implantação da fábrica de polpas, contribuindo para a diversificação da produção no sítio.

Desde 2013, seu Matias desempenha a função de Secretário de Agricultura do município de Poção de Pedras, sendo membro do Comitê de Bacias do Rio Mearim e do Núcleo Diretivo do Território da Cidadania do Médio Mearim. Essa destacada atuação política ocorre paralela à condução das atividades em seu estabelecimento, o Sítio Preservida.

19

Estabelecimento familiar

terra onde a família reside era a antiga área de trabalho Ada EFA de Poção de Pedras, adquirida em 1988. Seu Matias comprou os 3,0 ha e se mudou em 1991, com dona Beta e os filhos. Visando à criação de uma área de reserva ambiental, em 2000, adquiriu 25,0 ha de um vizinho. Contudo, parte dessa terra foi vendida em 2015 para a compra de um veiculo, e a área atual do sítio é de 26,5 ha.

O sítio da família, identificado como Preservida, está distribuído no que seu Matias chama de setores. Dentre esses setores está uma área de conservação florestal, que inclui 8,6 ha de floresta secundária, com mais de 30 anos, e um capoeirão de 0,7 ha, com menos de 15 anos de regeneração. Essa área é frequentemente visitada por estudantes e agricultores que percorrem o sítio para conhecer o manejo integrado ali realizado.

Uma area de 1,5 ha e destinada ao plantio de arroz. Trata-se de um terreno baixo, proximo a um igarape, que, durante o periodo chuvoso, traz sedimentos que mantem a fertilidade do solo, permitindo colheitas satisfatorias. O plantio de arroz e realizado por outros agricultores, que nao utilizam fogo ou agrotoxicos, e pagam o arrendamento em produto [280 kg (quilogramas) de arroz por hectare].

21 Maranhão

Poção de Pedras

Fruteiras (1,4 ha) ± Capoeirão (0,7 ha) Pomar (2,5 ha) 0 40 80 Floresta secundária (8,6 ha) Roça (1,5 ha) m Construções (350 m²) Pasto com babaçu (baixa densidade) (11,7 ha) Açude (0,1 ha)

Localização e croqui do estabelecimento familiar. Fonte: Adaptado de Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (2018). 22 Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Plantio de arroz em área alagada no Sítio Preservida.

O espaco da roca na area baixa e permanente, utilizado ha cerca de 20 anos. Em virtude disso, “nao ha mais toco, e a plantaço ocorre na palhada mesmo. Tem uma area que se planta arroz, tira o arroz e planta melancia a partir de maio. Tem outra que planta somente o arroz, e o feijao na palhada”.

O estabelecimento inclui uma area de cerca 4,0 ha, onde estao localizados o pomar e o plantio de arvores frutiferas, assim como a horta domestica e o local de criaço de suinos e aves, alem da residência e da unidade de processamento de frutas.

23 Uma área de 11,7 ha do sítio é formada com pastagens, num total de seis piquetes: dois tercos com capim-jaragua (em quatro piquetes) e um terco com capim-mombaca e andropogon (em dois piquetes). A família cria bovinos da raca girolanda, adquirindo matrizes no próprio municipio. O gado, que e criado em parceria com Renato, cunhado de Matias, passa cerca de 30 dias em cada piquete. Na epoca da entrevista, o rebanho era constituido por um touro, seis vacas, quatro garrotes, três novilhas e três bezerros. As vacas sao ordenhadas por volta das 5 horas da manha e em media produzem um total de 15 L (litros) por dia.

Os subprodutos do beneficiamento de frutas, e o milho plantado na roca, sao utilizados na alimentaço do gado de leite, juntamente com farelo de soja e trigo, estes adquiridos no mercado local. Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Rebanho leiteiro em pastagem próxima à residência da família.

24 Foto: Ronaldo Carneiro Foto:

Ordenha das vacas, realizada todas as manhãs.

A criaço de ovinos foi interrompida ate que as pastagens sejam divididas em maior numero de piquetes para um melhor manejo do capim. A decisao foi tomada por seu Matias quando verificou que as ovelhas nao permitiam o adequado desenvolvimento da pastagem.

25 Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Suínos criados em galpão rústico.

Vizinho a pastagem, um cercado foi separado para a criaço de suinos, e, no momento da entrevista, eram criadas duas matrizes e quatro leitoes. Proximo a residencia, ha um pequeno tanque no qual eram criados cerca de 200 peixes (das especies tilapia, tambaqui e curima), assim como o local onde sao criadas 150 aves (entre galinhas, patos e capotes). Os pintos de caipirao sao comprados com 1 dia de nascimento e deixados por 15 dias em um espaco separado, e sao entao liberados no quintal ate completarem 90 dias.

26 Preservida: preservando a biodiversidade

eu Matias sempre sonhou em desenvolver um sistema Sprodutivo diversificado, ambientalmente sustentável e economicamente viável. Esse espaço foi denominado Sítio Preservida, refletindo o desejo da família de “preservar a vida, o solo, a reserva e a fauna”, de acordo com seu Matias. No Sítio Preservida são desenvolvidas de forma integrada as seguintes atividades agropecuárias: bovinocultura, avicultura, suinocultura, ovinocultura, fruticultura (incluindo um viveiro de mudas), horticultura e culturas anuais (arroz, milho, feijão). O sítio conta com uma área de conservação e regeneração florestal, além de um quintal, no qual está implantado um sistema agroflorestal com árvores frutíferas.

No sítio, foram plantadas espécies madeireiras como ipê, jatobá, mutamba, maçaranduba, angico-branco, aroeira, mogno, paricá, angelim, consorciadas com árvores frutíferas como cajazeira, cupuaçuzeiro e açaizeiro. No entorno da casa, predominam cajazeiras e as palmeiras de babaçu.

27 Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Copa de árvore de paricá plantada por seu Matias. 28 Seu Matias reconhece que as técnicas empregadas no manejo da área, sem uso do fogo, realizando consórcios e incorporando leguminosas, como o feijão-guandu, feijão-de-porco, calopogônio e outras espécies como o margaridão, contribuem para repor a matéria orgânica e aumentar a fertilidade do solo.

Quando seu Matias adquiriu a area do antigo proprietario, preservou uma capoeira de 12 anos e passou a enriquece-la com outras especies, numa regeneraço que já alcança 30 anos. As mudas das espécies introduzidas são, na sua maioria, produzidas diretamente pela família. As especies são selecionadas pelo seu potencial econômico, sendo priorizadas aquelas cujas madeiras e cipós podem ser utilizados no estabelecimento ou comercializados.

A família construiu um viveiro para produzir mudas, cuja sementeira possui areia de rio. Segundo Matias, por não apresentar matéria orgânica, a areia facilita a germinação. Algumas sementes, como as de paricá e mogno, foram compradas. Quando a germinação é satisfatória e a plântula já está com tamanho adequado, a muda é transplantada para uma sacola plástica com terra preta, obtida a partir da decomposição de matéria orgânica coletada no quintal e que passa por peneiras de dois crivos que separam apenas a terra mais fina.

As mudas são irrigadas durante o verão e plantadas em local definitivo no período chuvoso. No momento do plantio na reserva florestal, as mudas são adubadas com composto orgânico formado por esterco de gado e biomassa vegetal decomposta. Esse mesmo composto é utilizado como fertilizante natural na horta doméstica.

As espécies madeireiras de destaque são identificadas com placas nas quais é apresentado o nome comum e, em alguns casos, o nome científico, para que os visitantes tenham conhecimento da diversidade florestal.

29 Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Matias Filho verificando o viveiro de mudas da família.

Desde o ano 2000, o Sítio Preservida é utilizado como local de capacitações. Nele sao realizados cursos de criaço de galinhas, de ovelhas, silagem, horticultura e fruticultura, dos quais participam lavradores, alunos das EFAs, de escolas publicas e universidades. Seu Matias afirma que

[...] essa ideia foi da Acesa, de que a propriedade de cada sócio fosse uma vitrine para outras pessoas. Foi uma metodologia que nós descobrimos que daria mais resposta, pois somente o técnico indo na comunidade não daria muito efeito, então resolvemos fazer propriedades com experiências práticas.

30 Composto orgânico O composto orgânico é um adubo de uso rotineiro nas propriedades orgânicas, especialmente nas de pequeno porte. Apresenta-se como excelente forma de aproveitamento dos restos vegetais e animais oriundos da atividade agropecuária. Pode ser elaborado apenas com resíduos vegetais ou em mistura com resíduos animais. Entretanto, para obtenção de um composto de qualidade, é necessário combinar resíduos ricos em carbono, como os capins, com outros materiais ricos em nitrogênio, como palhada de feijão ou esterco animal. O composto orgânico é aplicado para adubação de canteiros, covas ou sulcos, durante o plantio, bem como em processos de cobertura.

Assista à vídeo-aula sobre como produzir composto orgânico disponível em: .

Fonte: Embrapa (2018).

Esse trabalho contou com o apoio de Bert Milker, um amigo holandês que, em 1996, trabalhou como voluntário na EFA de Poção de Pedras. Após a desativação da escola, durante suas ferias, Bert permanecia uma semana no sítio, contribuindo na construção de viveiros e em outras atividades que se fizessem necessárias.

31

Se trabalha com frutas, pensa duas vezes antes de colocar fogo

fruticultura é a principal atividade econômica no ASítio Preservida. No pomar cultivado pela família, encontram-se 58 cajueiros, 32 cajazeiros, também conhecido como taperebazeiro, 25 aceroleiras, 15 goiabeiras, além de quantidades menores de laranjeiras e outras fruteiras cítricas (13), mangueiras (8), gravioleiras (6), cupuaçuzeiros (6), pitangueiras (4), coqueiros (3), ateiras (3), tamarindeiros (2), jaqueiras (2), jabuticabeira e serigueleira.

Até 2003, o processamento de polpa de frutas era realizado de forma manual pela família. Naquele ano, foi feito um empréstimo no Banco do Nordeste por meio da modalidade Pronaf C, visando melhorar essa atividade. Em 2013, o bom rendimento da iniciativa proporcionou à família o Prêmio do Banco do Nordeste em Agricultura Familiar, na categoria Agroindústria.

Atualmente, o processamento é realizado com duas despolpadoras, uma para frutos de sementes maiores e mais duras, como açaí, cajá, tamarindo e buriti, e a outra

33 Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Árvores de acerola no pomar da família.

para frutos com maior quantidade de polpa, como goiaba, maracujá, manga, caju, acerola e abacaxi. Antes do processamento, as frutas são colhidas no estabelecimento ou compradas de produtores das proximidades, lavadas e congeladas, até que se obtenha uma quantidade consideravel de matéria prima para processamento.

34 Seu Matias percebeu que o trabalho desenvolvido pela sua família tem despertado o interesse nos vizinhos, que também iniciaram o plantio de frutíferas. Considera que,

[...] quando se trabalha com frutas e se planta um pé de caju dentro da pastagem, sobretudo para nossa cultura que tem costume de trabalhar com fogo, ele [o agricultor] vai pensar duas vezes antes de colocar fogo dentro da pastagem, além de pensar no próprio aproveitamento, porque é uma fonte de renda que pode estar indo embora. Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Rede que coleta a produção de frutos abaixo das cajazeiras.

35 Na família, quem dedica mais tempo a atividade de processamento é o filho mais novo do casal, Matias Filho (25 anos). Dona Beta, além do trabalho doméstico, participa da colheita das frutas, que foi facilitada depois de terem instalado algumas redes abaixo dos pés de cajá. Em virtude da quantidade produzida de cajá, a família, por vezes, não consegue aproveitar todas as frutas.

O processamento de frutas acontece, praticamente, todos os dias. Inicialmente, pela manhã, Matias Filho retira as frutas do congelador e, enquanto estas descongelam, ele efetua a limpeza das máquinas, realiza o descascamento de outras frutas ou participa da colheita, na época de safra.

As frutas são, então, processadas no período da tarde, nas duas máquinas que atualmente estão instaladas em área coberta e azulejada anexa à residência. Matias Filho produz diariamente 60 kg de polpa, atingindo uma média mensal de 1.200 kg.

36 Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Matias Filho processando acerolas na despolpadora da família. 37

Meios de vida

salário recebido por seu Matias enquanto funcionário Opúblico e a aposentadoria recebida por dona Beta contribuem efetivamente para os investimentos produtivos no sítio, constituindo pouco menos de metade da renda monetária anual obtida pela família.

Como verificado no gráfico a seguir, elaborado com base nas informações fornecidas pelo casal sobre as fontes de renda monetária obtidas no ano anterior à entrevista, realizada em maio de 2018, a agricultura se constituiu na atividade produtiva mais expressiva para a família, e corresponde a 38% da renda monetária total. Desse total, uma pequena parte resultou da venda de 2.500 kg de melancias, comercializadas a R$ 1,00 por quilograma. Mas a maior parte da contribuição da agricultura para a renda monetária familiar provém do processamento de frutas em polpa.

A família vende bananas, e, sobretudo, fornece polpa de frutas para a Secretaria de Agricultura de Poção de Pedras, e diretamente para escolas do estado, por meio do acesso aos mercados públicos institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

39 1%

11%

Agricultura 38% Criações

Salários

35% Programas sociais Outras fontes

15%

Fontes de renda monetária familiar. Fonte: Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (2018).

Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) A Lei n° 11.947, de 16 de junho de 2009, determina que no mínimo 30% do valor repassado a estados, municípios e Distrito Federal pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) deve ser utilizado na compra de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e as comunidades quilombolas. A aquisição dos produtos da agricultura familiar poderá ser realizada por meio de chamada pública, dispensando-se, nesse caso, o procedimento licitatório.

Fonte: Brasil (2018c).

40 Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Criado em 2003, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é uma ação do governo federal para colaborar com o enfrentamento da fome e da pobreza no Brasil e, ao mesmo tempo, fortalecer a agricultura familiar. Acessam o programa agricultores familiares, assentados da reforma agrária, comunidades indígenas e demais povos e comunidades tradicionais ou empreendimentos familiares rurais portadores da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP).

Fonte: Brasil (2018b).

Matias Filho também vende polpas em sua residência, na sede do município, e disponibiliza a mercados locais. Quando as frutas produzidas no estabelecimento são insuficientes para o atendimento da demanda de polpa, a família adquire frutas de terceiros.

Outro produto comercializado com o rótulo do Sítio Preservida é o pão caseiro natural feito por dona Beta, cuja receita lhe foi repassada por Dirce, uma freira franciscana. A partir dos seus experimentos, retirou ingredientes e acrescentou outros. Sua atual receita não leva ovos, somente trigo, óleo, açúcar, sal, fermento, leite, e, quando faz integral, enriquece com uvas passas, granola, gérmen de trigo, aveia, linhaça, extrato de soja e gergelim. O pão é vendido nas feiras da agricultura familiar que acontecem em Poção de Pedras, Lago do Junco e Esperantinópolis, e para clientes em Pedreiras.

A criação animal representa 15% da renda monetária anual, e o gado é vendido somente quando a família pretende fazer um novo investimento ou pagar dívidas. No ano em questão, a família comercializou bovinos, suínos, aves e ovos. Por vezes, também realiza a troca, por exemplo, de um leitão por um caprino, em sistema de reciprocidade. O leite das vacas é usado no pagamento da pessoa que faz a ordenha, mas sempre 1,0 L é deixado para a família.

41 Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Polpa de fruta de cajá em embalagem do Sítio Preservida.

A madeira das arvores da leguminosa sabia que crescem na área de pastagem é geralmente aproveitada para a construção de cercas no estabelecimento e, eventualmente, comercializada quando houver excedente, como ocorreu no ano pesquisado.

Com relação aos gastos familiares, o gráfico a seguir, elaborado com base nos registros da família para o mês anterior ao da entrevista, indica que as maiores despesas foram realizadas com mão de obra (43%), que inclui o pagamento de diaristas para o

42 cuidado da área, pois são muitas as atividades do estabelecimento. Dois funcionários diaristas assumem o manejo e o cuidado dos animais. Os gastos com alimentação representam 13% do total mensal, seguido dos gastos com eletricidade (12%) e saúde (11%).

A produção obtida no estabelecimento em muito contribui para que a despesa com alimentação não pese tanto no orçamento familiar. No ano agrícola de 2017/2018, por exemplo, foram colhidos 2.625 kg de arroz, 3.240 kg de milho, 540 kg de feijão, além de cerca 2.500 kg de melancia. O arroz obtido por meio do aluguel da área também é destinado ao consumo familiar, assim como as hortaliças plantadas (alface, coentro, cebola, couve e tomate), o que diminui a dependência de compra desses produtos.

15% Alimentação

Saúde

11% Transporte 43% Eletricidade

6% Lazer

Higiene

12% Mão de obra

7% 6%

Gastos familiares. Fonte: Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (2018).

43 Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Matias Filho preparando canteiro suspenso para produção de hortaliças.

44 Lições aprendidas e desafios

s dificuldades enfrentadas pela família estão ligadas Aao pouco tempo que seu Matias tem disponível para dedicar ao sítio. Sua participação no cargo público diminuiu o tempo de dedicação às atividades produtivas. Em virtude disso, apenas os finais de semana e algumas tardes são dedicadas ao monitoramento das mudas e dos plantios.

O abastecimento de água para uso doméstico foi prejudicado em virtude de o poço que utilizavam ter sido danificado pelas raízes de mangueiras próximas, comprometendo a qualidade da água e obrigando a perfuração de outro poço.

Quanto a planos para o futuro, a expectativa do seu Matias e de dona Beta é que Matias Filho dê continuidade ao processamento de frutas, visto que a atividade possui forte demanda. A família pretende ampliar a produção de polpas. Para tanto, iniciaram a construção de um novo espaço separado da residência e pretendem adquirir uma despolpadora maior e uma câmara fria, porque perdem muitas frutas, visto que não há espaço para estocá-las, além de deixarem de comprar de algumas pessoas que costumam oferecer na residência. Sobretudo, com a efetivação do novo espaço, estão se adequando às exigências sanitárias para a produção de polpa de frutas.

45 Lei n° 13.648 (11/4/2018) Dispõe sobre a produção de polpa e suco de frutas artesanais em estabelecimento familiar rural.

• A polpa e suco de frutas produzidos em estabelecimento familiar rural devem utilizar matéria-prima produzida exclusivamente no estabelecimento familiar rural. • O procedimento para registro do estabelecimento e requisitos de rotulagem dos produtos serão simplificados. • A denominação dos produtos disciplinados por esta lei pode ser acrescida de uma das seguintes palavras: artesanal, caseiro ou colonial. • Devem constar do rótulo da embalagem do produto: I) denominação do produto; II) nome do agricultor familiar e endereço do imóvel rural onde foi produzido; III) número da DAP (Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar); IV) outras informações, conforme norma regulamentadora.

Fonte: Brasil (2018a).

Outros desejos da família incluem plantar mais frutíferas, principalmente goiabeira, cajueiro e cupuaçuzeiro, continuar com o reflorestamento na área da reserva e da vegetação ciliar do igarapé, plantando mudas de jatobá do lago e açaizeiros. Soma-se a isso o desejo de começar a “plantar milho irrigado para vender verde e aproveitar as palhas para dar para o gado”.

46 Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Plantios ornamentais na entrada do Sítio Preservida.

Além das funções ambiental e ecológica, o Sítio Preservida tem uma função social importante no território do Médio Mearim, pois as experiências produtivas ali desenvolvidas têm contribuído muito com o processo de construção do conhecimento agroecológico. O sítio é um espaço de repasse do conhecimento para estudantes de cursos técnicos agrícolas e agropecuários da região, tendo recebido estagiários e visitas técnicas das Escolas Famílias Agrícolas de Lago do Junco, , São Luís Gonzaga, Poção de Pedras e da Associação do Centro Familiar de Formação por Alternância de Ensino Médio e Profissionalizante (Acemep), além de outras escolas da região.

47 Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Frutos de acerola sendo lavados para processamento. 48 Além disso, o sítio recebe visitas de agricultores familiares que pretendem ou que já iniciaram processo produtivo alternativo. É, portanto, também espaço de intercâmbios de experiências. Conta ainda com uma estrutura física, que oferece condições para realização de eventos, contribuindo para a integração da fundamentação teórica com a vivência prática, além de ser um espaço de referência para as famílias da região e suas organizações, que praticam e discutem a produção familiar de base agroecológica. Foto: Aline Nascimento Aline Foto:

Placa identificando árvore de mogno no Sítio Preservida.

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Referências

ARAÚJO, J. C. de; BERNARDES, R. H.; MOTTA NETO, J. A. Impactos da pedagogia da alternância na formação de jovens e no desenvolvimento rural sustentável nas regiões de e Lago do Junco-MA. Disponível em: . Acesso em: 18 dez. 2018.

ASSOCIAÇÃO EM ÁREAS DE ASSENTAMENTO NO ESTADO DO MARANHÃO. Diagnóstico socioeconômico da agricultura familiar no Médio Mearim: agosto-novembro 2017. [Pedreiras, MA: Assema], 2018. Relatório não publicado.

BRASIL. Lei n° 13.648, de 11 de abril de 2018. Dispõe sobre a produção de polpa e suco de frutas artesanais em estabelecimento familiar rural e altera a Lei n° 8.918, de 14 de julho de 1994. Diário Oficial da União, 12 abr. 2018a. Disponível em: . Acesso em: 19 dez. 2018a.

BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Especial do Desenvolvimento Social. Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Disponível em: . Acesso em: 19 dez. 2018b.

51 BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Disponível em: . Acesso em: 19 dez. 2018c.

EMBRAPA. Soluções Tecnológicas. Fabricação de composto orgânico. Disponível em: . Acesso em: 19 dez. 2018.

RIBEIRO, M. Pedagogia da alternância na educação rural/do campo: projetos em disputa. Educação e Pesquisa, v. 34, n. 1, p. 27-45, 2008.

52 Coleção Mestres do Agroextrativismo no Mearim

Reflorestamento, sistemas agroflorestais e cultivos perenes diversificados para restauração de áreas degradadas e conservação da biodiversidade Volume 1 O novo reforço na produção agroflorestal de Domingos Mariano e Ivanilde Quilombo São Bento do Juvenal, Peritoró, MA

Volume 2 A produção da família Alves de Sousa aliada à recuperação do solo Centro do Bertolino, Lago do Junco, MA

Volume 3 A roça agroecológica da família de dona Sibá e seu João Valdeci Centrinho do Acrísio, Lago do Junco, MA

Volume 4 As vivências da família Sousa Lopes na construção da diversidade Pau Ferrado dos Procópio, Lago do Junco, MA

Volume 5 A preservação da biodiversidade pela família Santos Povoado de Mangueira, , MA

53 Cultivos anuais intensificados sustentáveis que demandam menos mão de obra e/ou menos área Volume 6 A tradição da família de dona Belinha no cultivo do feijão abafado Povoado do Lago do Sigismundo, Esperantinópolis, MA

Volume 7 A recuperação da roça por meio de capoeiras de sabiá da família Soares Povoado de São Manoel, Lago do Junco, MA

Volume 8 As vivências da família Martins na produção agroecológica Povoado Nova Olinda, Lima Campos, MA

Cultivos anuais tradicionais com menor impacto ambiental Volume 9 As boas práticas da família Pereira Santana Sítio Novo, Lago do Junco, MA

Volume 10 Alcimar e Maria de Fátima e a tradicional prática da roça no toco Vila Nova, São Luís Gonzaga do Maranhão, MA

Volume 11 As boas práticas de produção sustentável da família Araújo Povoado Palmeiral, Esperantinópolis, MA

Cultivos comerciais sustentáveis de hortaliças Volume 12 As boas práticas na produção agroecológica da família Furtado Centro da Zozima, São Luís Gonzaga do Maranhão, MA

54 Volume 13 O exemplo da família de Josilene e Mizael no cultivo da horta Povoado de Três Poços, , MA

Volume 14 As inovações de Rosa e Tião para uma boa produção em pequenas áreas Centro dos Passarinhos, Lago dos Rodrigues, MA

Pecuária em pastagens produtivas integradas em babaçuais Volume 15 As boas práticas dos Sousa na criação bovina em babaçuais Povoado de São Manoel, Lago do Junco, MA

Volume 16 A integração de cultivos, criações e extrativismo pela família Cordeiro São José dos Mouras, Lima Campos, MA

Volume 17 A experiência da família Meneses no manejo do babaçu em pastagens Serra do Aristóteles, Poção de Pedras, MA

Inovações na criação de pequenos animais Volume 18 A diversidade da criação animal da família Monteiro Povoado Canafístula, Esperantinópolis, MA

Volume 19 A integração das atividades produtivas da família Sousa Povoado Baixinha, São Luís Gonzaga do Maranhão, MA

Volume 20 Sebastião e Maria de Fátima: produção aliada à conservação Povoado Jenipapo, Esperantinópolis, MA

55 Volume 21 A vivência dos Freitas no manejo da roça e na criação de aves Povoado de Alto Alegre, , MA

Processamento local de frutas, mandioca e leite Volume 22 A diversificação da produção de dona Lila e seu Toinho Comunidade Centro dos Cocos, São Luís Gonzaga do Maranhão, MA

Volume 23 Dona Beta e seu Matias pela preservação da vida e do solo Estrada da Vitória, Poção de Pedras, MA

Volume 24 As boas práticas de produção e processamento da família de Lúcia e Chico Fartura Povoado Serrinha, Igarapé Grande, MA

Volume 25 A qualidade da produção tradicional de queijo por Francisca e José Meneses Serra do Aristóteles, Poção de Pedras, MA

Processamento do babaçu para produção de azeite, carvão, mesocarpo e confecção de artesanato Volume 26 Os saberes da família Rego da Silva e o artesanato com babaçu Centro do Coroatá, Esperantinópolis, MA

Volume 27 As boas práticas de dona Alódia na produção do sabonete de babaçu da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais Comunidade Ludovico, Lago do Junco, MA

56 Volume 28 A tradição do coco-babaçu na família de Francilene e Antônio Adão Povoado São João da Mata, Lago dos Rodrigues, MA

Volume 29 A produção artesanal de azeite de babaçu da família Santos Serra Quebrada, Poção de Pedras, MA

Volume 30 Francisca e Miguel e a beleza na produção do pacará Centrinho da Aparecida, Lago do Junco, MA

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O projeto Bem Diverso visa contribuir para a conservaço da biodiversidade brasileira em paisagens de múltiplos usos, por meio do manejo sustentável de espécies e de sistemas agroflorestais (SAFs), de forma a assegurar os modos de vida das comunidades tradicionais e dos agricultores familiares, gerando renda e melhorando a qualidade de vida.

Fruto da parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaria (Embrapa) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o projeto e executado com o apoio de organizações do governo e da sociedade civil com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). As atividades tiveram início em 2016 e vão ate 2020. Os principais eixos são a promoço do desenvolvimento sustentável de seis Territorios da Cidadania (TCs), por meio do uso da biodiversidade e de sistemas agroflorestais, e a geração de subsidios para aperfeiçoar as politicas publicas sobre uso sustentável e conservaço da biodiversidade.

O Bem Diverso atua nos biomas Cerrado, Caatinga e Amazonia, reconhecidos pela importância socioambiental, mas ameacados pelo desmatamento e aumento de práticas agrícolas insustentáveis. Nesses biomas, o projeto trabalha diretamente em seis TCs: TC Alto Rio Pardo (MG) e TC Médio Mearim (MA) no bioma Cerrado;

59 TC Sobral (CE) e TC Sertão de Sao Francisco (BA) no bioma Caatinga; e TC Alto Acre e Capixaba (AC) e TC Marajó (PA) no bioma Amazônia.

Os TCs são caracterizados por elevada biodiversidade; pela presença de espécies de plantas de importância economica, manejadas por comunidades locais; pelo potencial para melhoria da qualidade dos produtos da biodiversidade, desde a coleta, passando pelo processamento ate o consumo; e pela possibilidade para desenvolver ações com SAFs.

Contato Parque Estação Biológica (PqEB), s/nº 70770-901 Brasília, DF Fone: (61) 3448-4912 E-mail: [email protected] www.bemdiverso.org.br

60 Promovendo o Agroextrativismo Sustentável e Solidário

A Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (Assema) e uma organização privada sem fins lucrativos de caráter regional, criada e liderada por agricultores(as) familiares e extrativistas do coco-babaçu. Fundada em 1989, a Assema tem sede na cidade de Pedreiras, localizada na parte central do estado do Maranhão, e tem por missão promover a melhoria da qualidade de vida das famílias agroextrativistas. Instituição parceira do projeto Bem Diverso no Território da Cidadania do Médio Mearim, no Maranhão, a Assema promove a produção familiar, utilizando e preservando os babaçuais.

Os objetivos estratégicos da Assema incluem combater as desigualdades de gênero e geração; contribuir para a produção de alimentos seguros e diversificados destinados ao autoconsumo e mercados; gerar renda por meio da organização dos processos comerciais cooperativistas e associativos no mercado justo e solidário; apoiar ações de educação contextualizada em escolas publicas rurais e de alternância; e empoderar os sujeitos para a intervenção nos espacos de tomada de decisao em politicas publicas destinadas a agricultura familiar.

A Assema e uma entidade plural que incorpora segmentos e ações diferenciadas, o que tem possibilitado amadurecimento na

61 forma de gestao participativa em que a orientaço de suas açoes parte das organizaçes de base. Para atender a essa dinâmica, conta-se com uma estrutura organizacional composta por áreas de Governanca e Gestão Programática, Mobilização e Visibilidade.

Contato Rua da Prainha 551 Bairro São Benedito 65725-000 Pedreiras, MA Fones: (99) 3642-2061 / (99) 3624-2152 / (99) 3634-1463 www.assema.org.br

62

Impressão e acabamento

Patrocínio

ISBN 978-65-86056-76-1

CGPE 15728