Historia Caribe ISSN: 0122-8803 [email protected] Universidad del Atlántico Colombia

Brandi Aleixo, José Carlos ANTÔNIO DA FONTOURA XAVIER DIPLOMATA E ESCRITOR Historia Caribe, vol. VI, núm. 18, enero-junio, 2011, pp. 31-49 Universidad del Atlántico Barranquilla, Colombia

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ANTÔNIO DA FONTOURA XAVIER DIPLOMATA E ESCRITOR*

José Carlos Brandi Aleixo

RESUMEN Ancestrales, nacimiento y formación de Fontoura Xavier. Misiones diplomáticas en: Cuba, América Central, Panamá, México, España, Gran-Bretaña y Portugal. Trabajos publicados en numerosos periódicos. Ediciones del libro ‘Opalas’, con más de 100 poesías. Comentarios de Alfredo Bosi, Antônio Cândido, Regina Zilberman, Rubén Darío y José Santos Chocano (traductor de ‘Opalas’ al español). Homenajes póstumos. Palabras clave Fontoura Xavier, ancestrales, formación, diplomático brasileiro, Brasil, Caribe, escritor brasileiro, Ruben Darío.

Abstract Fontoura Xavier’s Ancestors, birth and education. Diplomatic missions in: Cuba, Central America, Panama, Mexico, Spain, Great-Britain and Portugal. Published works in numerous periodicals. Editions of the book ‘Opalas’, with more than 100 poetries. Comments of Alfredo Bosi, Antônio Cândido, Regina Zilberman, Rubén Darío and José Santos Chocano (‘Opalas’ translator into Spanish). Posthumous Homages. Key words Fontoura Xavier, ancestors, education, Brazilian diplomat, Brazil, Caribe, Brazilian writer, Ruben Darío.

* Artículo recibido Marzo de 2011; Aprobado Mayo de 2011. Artículo de investigación científica Profesor emérito de la Universidad de Brasilia. Ex-Profesor del Instituto Río Branco (Academia Diplomática de Brasil). Presidente de honor del “Instituto Brasileiro de Relações Internacionais”

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I. Ancestrais, nascimento e Entre os vários antepassados ilustres formação do nosso diplomata e poeta, mere- ce particular relevo seu avô materno O fausto centenário da apresentação Antônio Vicente da Fontoura (1806- de credenciais de Antônio Vicente 1860). Nascido na Vila de da Fontoura Xavier ao Presidente de (RS), fixou-se, por volta de 1826, em Cuba, General José Miguel Gomez, e aí se destacou no ocorrida em 12 de outubro de 1910 comércio e na vida pública. Em 1829 — a primeira de um brasileiro na his- casou-se com Dona Clarinda Francis- tória das relações entre os dois países ca Pôrto2. Teve papel destacado na — é ocasião propícia para um estudo Revolução Farroupilha (1835-1845), sobre a vida e obra desse eminente inclusive como Ministro da Fazen- diplomata e escritor. da da República Rio-Grandense, em 1841. Como emissário da Repúbli- Em suas memórias, João Neves da ca Rio-Grandense, foi escolhido por Fontoura (1889, Cachoeira do Sul unanimidade para negociar com o – 1963, Rio de Janeiro), grande di- Governo Imperial o fim das hostili- plomata, político e escritor brasileiro dades. No Rio de Janeiro foi recebido ressalta: por Ministros de Dom Pedro II e as- sinou o Tratado de Paz. Foi denomi- A árvore genealógica dos Fontoura, nado com justiça “Embawixador dos no Brasil, está mais que bem estu- Farrapos”3. dada sobretudo por Aurélio Porto (1879, Cachoeira do Sul – 1945, Aurélio Porto assim resume seu Rio de Janeiro). Todos descendem conceito sobre Antônio Vicente da de João Carneiro da Fontoura, na- Fontoura: tural de Chaves, que veio para o nosso país em 1737, indo morar no Vida austera, cheia de ensina- Rio Grande. Meu avô Fontoura era mentos, alma extraordinária de bisneto de João Carneiro. Os Fon- puritano, caráter inatingível, infi- toura são, assim, parentes uns dos bratura de homem superior, quer outros.1 dirigindo, com parte saliente, os negócios da República, quer fazen- do da paz o mais memorável dos 1 Fontoura, João Neves da. Memórias: Bor- ges de Medeiros e seu tempo. Vol. 1. São acontecimentos políticos de todo Paulo, Rio de Janeiro e : Glo- bo, 1958, p. 149 de 401 p. Na Península 2 Originais de cartas suas dirigidas à esposa Ibérica, o núcleo urbano de Chaves foi ele- encontram-se no acervo do museu Júlio de vado à categoria de município no ano 79 Castilhos, em Porto Alegre. d.C., no tempo do Cesar Tito Flavio Ves- pasiano. Em 1801 possuía cerca de 31 mil 3 Schuh, Angela Shumacher et. al. Antônio habitantes. Essa cidade no norte de Portu- Vicente da Fontoura: o Emissário da gal forma com sua vizinha espanhola Verín República Rio Grandense. Cachoeira do uma eurocidade. Sul: Editora Coopecom, 5 ago. 1985, 10 p.

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o País, quer dirigindo seu parti- estudos iniciais na cidade natal e do — que nem por meio do crime em Porto Alegre, frequentou, no era vencido — Antônio Vicente da Rio de Janeiro, o colégio Barão de Fontoura destaca-se no Rio Grande Tautphoeus, antigo Colégio Marinho, do Sul como poucos. e a Escola Central. Em 1876, em São Paulo, ingressou na famosa Faculda- A história há de um dia colo- de de Direito. Por motivo de saúde, cá-lo no pedestal que merece retornou ao Rio de Janeiro em 1877 quando, estudada à luz da verda- sem concluir seu curso superior. Em de a sua grande vida de mártir, 1892 casou-se com a baiana, descen- transparecer clara e brilhante na dente de ingleses, Ana Sofia Mee, conhecida como “Baby Mee”. Deles nebulosidade dos tempos, essa é a filha Ana Margarida da Fontoura figura admirável de homem e de Xavier. patriota.4

Avô paterno de Antônio Vicente da II. Vida consular e diplomática Fontoura Xavier e veterano da Cam- panha na Península Ibérica, Antônio Xavier da Silva radicou-se no Rio O fato de Fontoura Xavier abraçar Grande do Sul em 1808. Os pais e professar pública e mordazmen- de Antônio Vicente foram Clarinda te ideais republicanos não impediu Amália da Fontoura (Lindoca) e o que iniciasse no Império sua vida de Major Gaspar Xavier da Silva, fa- funcionário do Brasil no exterior. zendeiro no distrito de Caparré, em Serviu consecutivamente nos con- Cachoeira do Sul. sulados de Baltimore (1885), Porto (1891), Genebra (1893), Buenos Em 7/6/1856, Antônio Vicente da Aires (1893-4) e Nova York (1894- Fontoura Xavier nasceu no municí- 1906). pio de Cachoeira do Sul, RS5. Após Fontoura Xavier foi um dos membros da Delegação do Brasil na 3ª Con- 4 Resumo histórico. In: PORTO, Aurélio. ferência Internacional Americana que Relatório de estatística apresentado ao ocorreu no Rio de Janeiro em julho Intendente Isidoro Neves da Fontoura, e agosto de 1906. Esta experiência, 20 set. 1910, p. 13 de 104 p. assim como a de Cônsul do Brasil em 5 CORRÊA, Lile. Cachoeira do Sul RS Nova Iorque, ampliaram seus conhe- Capital Nacional do Arroz. Segunda- cimentos relacionados com os povos -feira, 4 fev. 2008. Disponível em: . Acesso em: 16 dez. 2010. Ver tam- bém: ORTIZ, Mírian da Silva. Fontoura Xavier: resgatando as origens. Porto (Personagens históricos — 14.1 Antônio Alegre: Imprensa Livre, 2008, Cap. XIV Vicente da Fontoura Xavier), p. 131-138.

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Missão em Cuba, America Central denciais junto ao Governo do Brasil e Panamá. Pelo Decreto n° 1.561, de antes que o do Brasil o fizesse nas 10/11/1906, assinado pelo Presidente cidades de Guatemala e de Havana.8 Afonso Augusto Moreira Pena e pelo Ministro de Relações Exteriores José Missão no México. Fontoura Xavier Maria da Silva Paranhos, o Barão do foi nomeado em 15/7/1910, em Mis- Rio Branco, o Brasil criou uma Le- são Especial, EEMP, para represen- gação em Cuba também incumbida tar o Brasil nas festas do Centenário das repúblicas de Costa Rica, El Sal- da Independência do México9. Em vador, Honduras, Nicarágua e Pana- 3/9/1910, os representantes especiais má. Em 13/12/1906 Fontoura Xavier foi designado para ser o Enviado Ex- 13/1/1909, o então Chefe da Represen- traordinário e Ministro Plenipoten- tação do Brasil em Washington, Joaquim ciário (EEMP) do Brasil junto a esses Nabuco, assistiu, como Embaixador Extra- seis países e, a partir de 16/1/1908, ordinário e Ministro Plenipotenciário, em Missão Especial, à restauração do Gover- também ante o Governo da Guate- no Nacional em Cuba, no dia 28/1/1909, mala. Fontoura Xavier foi dos pou- quando José Miguel Gómez assumiu a Pre- cos diplomatas brasileiros, se não o sidência da República. Manuel Marquez único, a ser o primeiro a apresentar Sterling (1872-1934), representou seu país credenciais junto a Governos de sete também no Peru, no México e nos Estados Unidos. Foi membro das delegações de países, a saber: Panamá (22/5/1907), Cuba, à 5ª Conferência Internacional Ame- Nicarágua (12/6/1907), Costa Rica ricana de 1923 em Santiago do Chile e à 6ª (21/6/1907), El Salvador (14/9/1907), em Havana, em 1928. Honduras (30/9//1907), Guatemala 8 O livro O Brasil e a América Central, do (12/1/1909) e Cuba (12/10/1910). É autor do presente trabalho, publicado em relevante realçar que dos primeiros Brasília em 1984 pela Câmara dos Depu- representantes destes sete Estados tados apresenta, no anexo IX, a “Relação dos Chefes de Missões Diplomáticas do somente os de Guatemala (Eduar- Brasil na América Central” e no anexo X a do Poirier6, 29/12/1905) e de Cuba “Relação dos Chefes de Missões Diplomá- (Manuel Marquez Sterling y Loret de ticas dos países Centro-Americanos junto Mola7, 15/1/1910) apresentaram cre- ao Governo do Brasil”. 9 Em 15/9/1810, o Padre Miguel Hidalgo y Costilla, pároco na aldeia de Dolores, fez 6 Chileno, nascido em Valparaíso, em 1860, dobrar os sinos e organizou um levante ar- foi escritor e diplomata. Publicou com mado contra as autoridades espanholas do seu amigo Rubén Darío, em 1887, a no- Vice-Reinado do México (Nova Espanha). vela Emelina. Representou Guatemala Em março de 1825, em Londres, o Gover- no Terceiro Congresso Científico Latino no do México reconheceu a independência Americano ocorrido no Rio de Janeiro em do Brasil. Houve, então, troca de Notas 1905. Sendo EEMP da Guatemala junto ao entre o mexicano José Mariano Michelena Governo do Chile, e aí residindo, repre- e os brasileiros Caldeira Brant e Gameiro sentou, concomitantemente, o mesmo país Pessoa. PALÁCIOS, Guillermo. Intimida- centro-americano no Brasil até 1928. des, Conflitos e Reconciliações: México 7 O Brasil reconheceu a independência e Brasil, 1822-1993. São Paulo: Edusp, de Cuba em 24/7/1902. Designado aos 2008, p. 22 de 487 p.

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Embaixadores e Ministros, o Chefe de Estado do país asteca referiu-se especialmente aos EUA, ao Brasil e à Argentina. Muito importante foi a presença do navio-escola Benjamin Constant nas festas do centenário.12 Com cadetes alemães e argentinos, uns trinta segundos-tenentes brasilei- ros alojaram-se na escola militar do México. Cerca de 200 cadetes bra- sileiros participaram da parada de 16/9. No dia 19/9, Fontoura Xavier ofereceu memorável banquete ao go- verno mexicano. Compareceram altas autoridades astecas, assim como di- plomatas e oficiais militares, quer re- sidentes no México, quer em missão Apresentação de Credenciais de Fontoura Xavier especial por motivo do centenário, ao Presidente de Cuba General José Miguel Gómez. num total de 118 pessoas13. Na coluna “La Recepción de Ayer”. Diário de La Mañana. Habana, Cuba, jueves, 13 oct. 1910 “Notas Editoriales” do El Diario, de 21/9/1910, saiu o artigo “El Brasil y la República Mexicana”. Comen- da Itália, da Alemanha e do Brasil fo- tou comprazido a presença do Brasil ram recebidos no porto de Vera Cruz nas festas do Centenário e concluiu: com estrondos de canhão e ecos mar- “Eso prueba que por encima de todos ciais de bandas de música.10 Em 6 de los vínculos materiales y a pesar de setembro, Fontoura Xavier entregou la distancia que nos separa, las dos sua credencial ao Presidente Porfirio 11 Dias. Em seu discurso dirigido a Antônio Vicente da Fontoura. Opalas. Edição organizada por Regina Zilberman. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Ca- 10 El Imparcial. México, domingo, 4 set. tólica do , 1984, p. 122 1910. de 130 p. 11 “Recepción Diplomática”. Diário Oficial. 12 “El Crucero Benjamin Constant en las fies- México: Secretaria de Relaciones Exterio- tas del centenario”. El Imparcial. México, res, Poder Ejecutivo, martes, 6 sept. 1910. quinta-feira, 18 ago. 1910. O mesmo jor- Fontoura Xavier foi nomeado 1° Secretário nal informa no seguinte dia 21: “Vienen a da Missão Especial do Brasil no México México los cadetes brasileños”. O navio em 14/9/1901 e exonerado em 20/12 do brasileiro esteve nos portos de New Castle mesmo ano. Na capital asteca ocorreu a e Nova York antes de chegar a Vera Cruz. Segunda Conferência Internacional Ame- ricana de 22/10 a 31/1/1902. Fontoura 13 Em discurso, o Ministro brasileiro afir- Xavier representou o Brasil no Congresso mou: “Se a eterna vigilância é o preço da Postal realizado no México em 1906. Diá- liberdade, a eterna negligência é o custo da rio Popular, 7 jun. 1911. Apud XAVIER, servidão”.

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Grandes Repúblicas latinoamericanas Rothshield.17 Por nota do seguinte 4 han formado un convenio tácito de de junho Fontoura informou o Go- amistad y de confraternidad”.14 A lei- verno de Londres que o Brasil deixou tura dos telegramas oficiais assinados sua atitude de neutralidade no con- por Fontoura Xavier, sobre sua Mis- flito mundial. Em 26/10/1917 o Pre- são Especial no México em setembro sidente do Brasil anunciou o Estado de 1910, comprovam sua seriedade, de Guerra com a Alemanha. Após o competência e brio profissionais. armistício entre Inglaterra e Aleman- Teve ele o cuidado de anexar nume- ha, conseguiu a libertação de José Pa- rosos recortes de jornais mexicanos trocínio Filho (1885-1929), que, em com notícias e comentários sobre o 1917, havia sido condenado à morte histórico evento.15 Em 1911 Fontoura na forca, sob a acusação de espio- Xavier foi o EEMP do Brasil junto ao nagem a favor de Berlim. Fontoura Governo do México. Xavier e José Patrocínio (pai) foram contemporâneos no Rio de Janeiro Missão na Espanha. Fontoura Xa- e vários jornais cariocas publicaram vier foi transferido do México para artigos de ambos. Madri em 1912. Missão em Portugal. Em outubro de Missão na Grã-Bretanha. Desde 1919 Fontoura Xavier foi nomeado 20/5/1914 Fontoura Xavier che- para chefiar a Representação do Bra- fiou Representação do Brasil junto sil em Lisboa. No dia 17 de outubro ao Governo da Grã-Bretanha.16 Aos ele foi considerado “Persona Grata” 31/5/1917 Fontoura Xavier apresen- pelo Governo português.18 Em 1921 tou, em nome do Governo do Brasil, tornou-se o primeiro diplomata brasi- condolências à família Rothshield leiro a receber o título de Embaixador pelo falecimento do Barão Leopoldo junto ao Governo de Portugal. Aos 31/31922 Fontoura Xavier faleceu 19 14 “El Brasil y la República Mexicana”. El em Lisboa , quando estava prepa- Diario. México, miércoles, 21 sept. 1910. 15 O esplendor e o clima fraterno das come- 17 Jornal do Commercio. Rio de Janeiro, morações não facilitavam uma correta ano 91, n° 151, capa, 1 jun. 1917. avaliação da força crescente dos mexicanos inconformados com o longo regime autori- 18 Jornal do Commercio. Rio de Janeiro, tário do país. Porfírio Dias, após mais de ano 93, n° 289, capa e p. 3, sábado, 18 out. três décadas de Presidência, renunciou em 1919. maio de 1911 e faleceu exilado em Paris 19 “Morre em Lisboa o Embaixador Fontoura em 1915. Xavier”. Jornal do Commercio. Rio de 16 “Foi removido da Legação Madri para a Janeiro, ano 96, n° 90, capa e p. 3, sába- Legação em Londres Enviado Extraor- do, 1 abr. 1922. A árvore genealógica do dinário e Ministro Plenipotenciário, Sr. Embaixador, com as respectivas armas, Antônio da Fontoura Xavier”. Jornal do está registrada na Biblioteca Nacional de Commercio. Rio de Janeiro, ano 88, n° Lisboa (Manuscrito n° 377). O artigo de 141, p. 6, 22 maio 1914. Julio Heinzlemann Petersen “Antonio da

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rando uma grande comemoração Besouro,20 Gazeta de Notícias,21 Jor- do Centenário da Independência do nal do Comércio,22 Repórter, Revis- Brasil, que ocorreria no seguinte 7 ta Americana,23 Revista Brasileira,24 de setembro. Revista Ilustrada,25 A Semana,26 Al- manaque Popular Brasileiro,27 etc.; 2. o folheto O Régio Saltimbanco; 3. o livro Opalas, com mais de cem

20 Besouro, 1878-1879. Semanário ilustrado por Bordalo Pinheiro e redigido por José do Patrocínio. 21 Gazeta de Notícias, 1875-1877. Diário fundado por Ferreira de Araújo, Manoel Carneiro e Elísio Mendes 22 Jornal do Comércio (Cachoeira do Sul). Publicou poesias suas em 1919 e 1923. En- contram-se no acervo do Museu Municipal de Cachoeira do Sul, RS. 23 Revista Americana: publicação cien- tífica, artística e literária, set./out. 1878. Nela colaboraram também Alberto D’Oliveira e José do Patrocínio. Outra Re- vista Americana circulou de 1909 a 1919, na qual Fontoura Xavier publicou um arti- go que será comentado mais adiante. Embaixador Antônio Vicente da Fontoura Xavier, [em Lisboa], com dedicatória de 21/1/1921 a dois 24 Revista Brasileira. Houve vários perió- sobrinhos dicos com este nome. Fontoura Xavier foi um dos colaboradores da que circulou no Rio de Janeiro de 1879 a 1881, editada por N. Midos. Houve dez volumes. Nela saí- ram da autoria de Machado de Assis, em III. Vida Literária primeira mão, “As Memórias Póstumas de Brás Cubas”, e, em dezembro de 1879, o A diversificada produção literária de artigo de crítica intitulado “A Nova Gera- ção” (Revista Brasileira. Rio de Janeiro, Fontoura Xavier abrange: 1. escritos Primeiro Anno, tomo II, p. 373-413, 1° em numerosos periódicos, tais como: dez. 1879), que comenta escritos de Fon- toura Xavier. 25 Revista Ilustrada, 1876-1998. Acolheu os simbolistas desde 1890. Fontoura Xavier: Um Poeta Ilustre e Sua 26 A Semana. Janeiro de 1885 a junho de Obra “ (Correio do Povo. Porto Alegre, 1895. ano 84, nº 207, sábado, 9 jun. 1979, Ca- derno de Sábado, p. 16. Capa final), inclui 27 Almanaque Popular Brasileiro. 1894- palavras do conceituado escritor português 1908, organizado por Alberto Ferreira Júlio Dantas sobre Fontoura Xavier. Rodrigues.

Volumen VI N° 18 - Enero - Junio 2011 pp 31-49 37 Antônio da Fontoura Xavier diplomata e escritor composições poéticas; 4. o estu- Distinguiu-se como tradutor de fa- do acadêmico sobre A História da mosos autores, tais como: Charles Diplomacia Europeia pelo antigo Baudelaire (Spleen), Edgar Allan Embaixador D. J. [David Jayne] Poe (O Eldorado), Heinrich Heine Hill, publicado na excelente Revista (Intermezzos), Jean Moreas (Agha Americana, Rio de Janeiro, [volume] Veli e D. Ana), Ramon de Campo- VII, jan./fev./mar., p. 185-199, 1912; amor (Paulo e Francesca), Thomas 5. discursos, ofícios, relatórios e tele- Foley (A Guitarrilha), e William gramas, exarados no serviço exterior Shakespeare (Sonetos). do Brasil. Vale também ressaltar que composi- Com Artur Azevedo (1855-1908) e ções suas foram editadas em outros Aníbal Falcão, fundou A Gazetinha, idiomas. Assim o livro Opalas, com em 1880.28 Em Porto Alegre redigiu o título de Ópalos — traduzido ao A Federação, com Assis Brasil, Jú- espanhol pelo poeta peruano José lio de Castilho, Ramiro Barcelos, Santos Chocano (autor do prólogo) Venâncio Ayres, e outros. —, foi publicado, em 1914, em Paris, como «Edición de la Librería Vda. Dedicou poesias suas a renomados de Ch. Bouret”. Segundo o Visconde escritores, tais como: Afonso Celso de São Boaventura, seu poema Brin- Júnior, Aluísio de Azevedo, Barros de foi editado em alemão, espanhol, Cassal, José do Patrocínio, Lopes francês, inglês e italiano.30 Trovão, Luiz Delfino, Mariano de Oliveira, Silvestre de Lima, Teófi- Em 1877, aos 21 anos, Fontoura Xa- lo Dias, Urbano Duarte e Valentim vier adquiriu notoriedade com a pu- Magalhães. Conviveu também com, blicação de O Régio Saltimbanco. entre outros, Lúcio de Mendonça, Vários comentaristas atribuíram o Ezequiel Freire, Carvalho Júnior e teor e o tom irreverentes aos ardores Múcio Teixeira. exacerbados da juventude do autor. Embora injusta em vários aspectos Artur Azevedo dedicou a Fontoura em relação a Dom Pedro II, a sátira Xavier a comédia, em um ato, A Pele deve ser entendida no contexto da do Lobo, “escrita em 1875 e repre- discussão, frequentemente acalora- sentada pela primeira vez no Rio de da, entre os partidários da República Janeiro, no Teatro Fênix Dramática, em 10/4/1877”.29 média). Tomo 1. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Artes Cênicas - Inacen, 1983, p. il. (Coleção Clássicos do Teatro Brasi- 28 A Gazetinha. Circulou, em três fases, de leiro, v. 7). novembro de 1880 até 15/4/1883. SODRÉ, 30 “Fontoura Xavier”. In: XAVIER, Antô- Nelson Werneck. História da imprensa nio Vicente da Fontoura. Opalas. Edição no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999, p. organizada por Regina Zilberman. Porto 246 de 506 p. Alegre: Pontifícia Universidade Católica 29 AZEVEDO, Artur. A Pele do Lobo (co- do Rio Grande do Sul, 1984, p. 13.

38 Revista Historia Caribe José Carlos Brandi Aleixo e os da Monarquia, como formas de pregue o seu belo verso em dar vida governo. Em 1870 já havia no Brasil, nova às metáforas caducas; fique um Manifesto, um Clube e um Jornal isso aos que não tiverem outro meio republicanos. de convocar a atenção dos leitores.32

Escreveu José Paulo Paes: Notável poliglota, Fontoura Xavier compôs poesias, total ou parcial- Mas foi em 1877 que um jovem mente, em outros idiomas33. São estudante gaúcho, Antônio da Fon- exemplos: Rosita34, em espanhol, toura Xavier, então cursando a dedicada, no México, à filha do Em- Faculdade de Direito de São Paulo, baixador peruano Calderón; e Baby num desses repentes de Jacobinis- Toast, em inglês. mo em que é fértil a mocidade, deu à estampa O Régio Saltimbanco magro folheto no qual verbera- 32 ASSIS, Machado de. “A nova geração”. va, em alexandrinos clangorosos, Revista Brasileira. Rio de Janeiro, Primei- a figura veneranda do Imperador, ro Anno, Tomo II, dez. 1879, p. 373-413. chamando-lhe: Acrobata, truão, Esta crítica também se encontra em: AS- SIS, Machado de. “A nova geração”. In: frascário, rei e mestre, D. Juan, Obra Completa. Vol. III. Rio de Janeiro: Robert, Falstafe e Benoiton Nova Aguilar, 1992 p. 822-824 de 1.198 p. equestre.31 Defesa de Fontoura Xavier foi feita pelo médico Fernando Dias Campos Neto, so- O libelo recebeu prefácio encomiás- brinho bisneto do autor, em: AZEREDO, Iuri J. “Nome famoso, mas pouco conhe- tico do ardoroso tribuno republica- cido, Fontoura Xavier era cachoeirense, no Lopes Trovão. Mas Machado de baudelairiano, tradutor de Shakespeare e Assis, com restrições amistosas, es- viajou o mundo entre os séculos 19 e 20”. creveu no memorável ensaio A Nova Y Otras Cositas Más. [S.l.], 8 mar. 2009. Geração: Disponível em: http://iuriaz.blogspot. com/2009/03/me-chamou-dias-atras-aten- cao-uma.html. Acesso em: 20 set. 2010. Não digo ao senhor Fontoura Xavier que rejeite suas posições políticas; 33 Falando de Fontoura Xavier, Rubén Da- río disse: “Fontoura Xavier ha llegado a por menos arraigadas que lhas jul- compenetrarse de tal manera de la vida gue, respeito-as. Digo-lhe que não norteamericana, que su musa, que aprendió se deixe abafar as qualidades poéti- a cantar ‘donde canta el sabiá’, se expresa cas, que exerça a imaginação, alteie hoy con igual maestría portugués que en inglés. Esta es una notable particularidad, e aprimore o estilo, e que não em- pues el dominio del verso es el extremo de la posesión de un idioma”. “Semblanzas”: “Fontoura Xavier”. In: Obras Completas. 31 “O régio saltimbanco”. In: PAES, Jose Tomo II [5 tomos]. Madrid: Ediciones de Paulo. Armazém Literário: ensaios. São Afrodísio Aguado, 1950, p. 859. Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 144-181 de 373 p. Observa o mesmo autor 34 A poesia “Rosita” encontra-se em: XA- que “é próprio do tempo aparar as arestas e VIER, Antônio da Fontoura. Opalas. Porto espiritualizar as linhas mais grosseiras da Alegre: Pontifícia Universidade Católica realidade histórica”, p. 145. do Rio Grande do Sul, 1984, p. 97-98.

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Fontoura usou vários pseudônimos, Em 1979, o bibliófilo gaúcho Júlio tais como: Pereira Lemos, Poff e A.X. Petersen (1918-2002) elaborou o es- merado texto “Antônio da Fontoura Muitos autores comentaram a obra de Xavier: um poeta ilustre e sua obra”36. Fontoura Xavier. Merece particular Além de valiosas informações sobre destaque o nome da professora Regina a produção literária de Fontoura Xa- Zilberman, que organizou primorosa- vier, contém eloquente página de sau- mente, em 1984, a “quinta” edição de dade do famoso poeta e teatrólogo Opalas, publicada inicialmente cem lusitano, Júlio Dantas (1876-1962).37 anos antes em Porto Alegre. O volu- Diz o mesmo autor sobre a hipotética me de 130 páginas contém, da lavra edição de Opalas de 1922: da organizadora: apresentação; nota bibliográfica; o estudo Fontoura Xa- Embora mencionada em distintos vier: sua época e seus poemas; 181 artigos e em algumas obras, até a notas explicativas; sugestões de ativi- data presente não conseguimos lo- dades de pesquisa; bibliografias sobre o autor (33 referências); e bibliogra- calizar um único exemplar desta fia consultada (31 referências). Enri- publicação. A origem desta possí- quecem também o livro: a introdução vel (!) edição é atribuída ao artigo de Aníbal Falcão, de 1884; o estudo inserido na Revista da Semana, Fontoura Xavier, do Visconde de do Rio de Janeiro, exemplar de São Boaventura; e várias referências 20/05/1922, onde se acha anuncia- críticas na imprensa, inclusive uma do o lançamento, para breve, de 3ª de Machado de Assis. A professora edição preparada pelo autor, prova- Regina Zilberman cita as seguintes velmente o responsável financeiro edições da obra Opalas: a de 1884, junto à editora. Morria Fontoura dedicada à memória do pai do poeta e Xavier, em Lisboa, a 1º de abril de publicada em e Porto Alegre 1922, sendo assim, possivelmente pela Editora Carlos Pinto; a de 1905, sem patrocinador, perecia também dedicada à memória dos pais do poeta o intento desta publicação, razão e publicada em Lisboa pela Editora pela qual sua inexistência em livra- Viúva Tavares Cardoso; a de 1928, rias e bibliotecas especializadas. publicada no Rio de Janeiro pela Este é o meu julgamento e opinião Gráfica Sauer, com estudo de Rubén Darío escrito em Madri em junho de 1912 (p. 199-209), e com o Prólogo 1984, p. XIII e XIV. de José Santos Chocano para a tradu- 35 36 Correio do Povo. Porto Alegre, 9 jun. 1979, ção castelhana Ópalos. Caderno de Sábado, p. 16 (última capa). 37 Sobre a personalidade de Julio Heinzle- 35 XAVIER, Antônio Vicente da Fontoura. mann Petersen, ver: VICILI, Mariana. Opalas. Edição organizada por Regina “PUC-RS adquire acervo de Julio Peter- Zilberman. Porto Alegre: Pontifícia Uni- sen”. PUC-RS Informação. Porto Alegre, versidade Católica do Rio Grande do Sul, n. 127, p. 37, nov./dez. 2005.

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sobre esta edição, até hoje descon- Fontoura Xavier foi talvez o mais hecida. interessante dos baudelairianos bra- sileiros. O seu livro Opalas (1884) De modo geral e em grau e frequên- contém uma primeira parte quase cia variáveis, os comentaristas assi- toda panfletária, Musa Livre, onde nalam na obra de Fontoura Xavier a a marca de Baudelaire já aparece no presença dos seguintes elementos: poema A Morte de Gerard Nerval. republicanismo, antirromanticismo, A segunda, Clowns, é humorística cosmopolitismo, crítica das injustiças e joga a semente do tipo de poesia sociais, positivismo, poesia científica frívola e funambulesca que culti- e libertária, evolucionismo, parnasia- varia mais tarde (nela se encontra nismo e realismo38. o citado Roast-beef). A influência de Baudelaire aparece em pelo me- Vale a seguinte citação: “A passagem nos oitos dos dezessete poemas da do estilo romântico para o realista é terceira parte, denominada Ruínas; dada pela poesia científica e libertária sobretudo de uma espécie de trans- de Silvio Romero, Fontoura Xavier formação do tédio romântico, com e Valentim Magalhães. Instala-se o laivos de perversidade que aguça o realismo com sua vertente naturalista, censo da decomposição do corpo tentando corrigir a espiritualização e empurra a violência carnal para 39 excessiva.”. o lado do sadismo. Os aspectos mais dilacerantes da série sobre o Escreveu Antônio Cândido: spleen As Flores do mal já apare- cem no soneto de abertura Flor da 38 Talvez certas imagens incorretas de Deus Decadência.40 recebidas por Fontoura Xavier no decorrer dos anos tenham influenciado sentenças suas que questionam sua existência. Pos- Diz Alfredo Bosi: sivelmente, outrossim, um imperfeito conhecimento da hagiografia explique A ponte literária entre o último ro- certas afirmações, como as presentes no mantismo (já em Castro Alves e poema O Velho Deus, que ignoram o em Sousândrade41 marcadamente trabalho de numerosos santos junto aos en- fermos e aflitos. Na análise da obra literária de Fontoura Xavier, cabe a observação do grande Horácio: “Pictoribus atque poetis 40 “Os primeiros baudelairianos”. In: CÂN- quidlibet audendi semper fuit aequa po- DIDO, Antônio. A educação pela noite testas” (“os pintores e os poetas sempre e outros ensaios. 3ª ed. São Paulo: Ática, tiveram, da mesma forma, o poder de ousar 1989, p. 35-38 (temas 1) de 244 p. o que quisessem”). HORATIUS FLAC- 41 Joaquim de Sousa Andrade, mais co- CUS, Quintus. Epistula ad Pisones (Ars nhecido por Sousândrade (Guimarães, poetica), 9-10. Maranhão, 9/7/1833 — São Luís, Mara- 39 SOARES, Thiago Silva et. al. Realismo nhão, 21/4/1902) foi republicano militante, e Modernismo. Disponível em: http://por- escritor e poeta brasileiro. Formou-se em talliterario.sites.uol.com.br/realismo.htm. Letras pela Sorbonne, em Paris, onde fez Acesso em: 21 set. 2010. também o curso de Engenharia de Minas.

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aberto para o progresso e a liber- Reconhecidamente Fontoura Xavier dade) e a cosmo visão realista será atingiu alto patamar no domínio da lançada, como a seu tempo se verá, métrica. A propósito, escreveu o Vis- pela “poesia científica” e libertária conde de São Boaventura: “Quanto à de Silvio Romero, Carvalho Júnior, forma, Fontoura Xavier é primoroso Fontoura Xavier, Valentim Magal- na versificação e brilhantíssimo no hães e menores. De qualquer forma, estilo, cheio de petulâncias, quase só o estudo atento dos processos so- sempre felizes; ama a sonoridade dos ciais desencadeados nesse período ritmos e procura — para a vencer — a fará ver as raízes nacionais da nova dificuldade da rima”.45 literatura, raízes que nem sempre se identificam com a massa de in- Entre os muitos literatos estrangeiros fluências europeias então sofridas. e cosmopolitas amigos de Fontoura Xavier, ocupam lugar de destaque o Para Bosi, os mestres dessa objetivi- nicaraguense Rubén Darío e o perua- dade eram: 1. Na França: Flaubert, no José Santos Chocano. Maupassant, Zola, Anatole, esses na ficção; os parnasianos na poesia; O cenário do encontro do ilustre Comte, Taine e Renan, no pensamen- centro-americano com o diplomata to e na história. 2. Em Portugal, em brasileiro foi a 3ª Conferência In- segunda plana, Eça de Queiróz, Ra- ternacional Americana, ocorrida no malho Ortigão e Antero de Quental.42 Rio de Janeiro nos meses de julho e agosto de 1906. Ambos eram mem- O mesmo autor inclui o nome de Fon- bros das Delegações de seus países.46 toura Xavier na boa messe da nova poesia, observando: “presente em todos, além dos ritmos hugoanos, o 45 BOAVENTURA, Visconde de São. “Fontoura Xavier”. In: XAVIER, Antô- ideário do grupo de Coimbra, cuja nio Vicente da Fontoura. Opalas. Edição versão poética encontravam na Visão organizada por Regina Zilberman. Porto dos Tempos, de Teófilo Braga (1864) Alegre: Pontifícia Universidade Católica e nas Odes Modernas, de Antero de do Rio Grande do Sul, 1984, p. 11. Quental”.43 Bosi afirma que também 46 A Delegação do Brasil era presidida por os parnasianos “menores”, entre os Joaquim Nabuco, Embaixador do Brasil quais Fontoura Xavier, merecem ser junto ao Governo dos Estados Unidos. lidos, pois nem sempre se limitaram Em seu Diário, registra Joaquim Nabuco na data de 20/9/1905: “Jantar no St. Re- 44 a repetir os modelos consagrados. gis aos Fontouras com os Pederneiras e os Chermonts [...]”. Estavam eles em Nova York. NABUCO, Joaquim. Diários. vol. 42 BOSI, Alfredo. História concisa da litera- II (1889-1910). Rio de Janeiro: Bem-te- tura brasileira. 43 ed. São Paulo: Cultrix, -vi Produções Literárias; Recife: Editora 2006, p. 181 de 528 p. Massangana – Fundação Joaquim Nabu- co, 2005, p. 340 de 557 p (Organização 43 Idem, Ibidem, p. 244. de Lélia Coelho Frota; prefácios e notas 44 Idem, Ibidem, p. 257. de Evaldo Cabral de Mello). Na obra de

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Pode-se afirmar que esse evento ilus- ram logradouros e praias. Pouco mais tra a interação entre as relações mul- tarde, em 1907, o Brasil recebeu, por tilaterais e as bilaterais dos estados. esta razão, durante Congresso Sani- Pela primeira vez o Brasil recebeu tário realizado em Berlim, medalha conjuntamente representações gover- de ouro oferecida pela Imperatriz da namentais de dezoito nações, entre Alemanha.48 Fruto em grande parte as quais as de Costa Rica, Cuba, El do Chanceler Barão do Rio Branco, Salvador, Guatemala, Honduras, Ni- as dez fronteiras do Brasil estavam carágua e Panamá. E com estes países bem definidas. No Consistório de o Brasil começa relações diplomáti- 11/12/1905, vale mencionar que o cas bilaterais pelo Decreto nº 1.561, Papa Pio X criou Cardeal Arcebispo de 22 de novembro do mesmo ano do Rio de Janeiro, D. Joaquim Ar- de 1906. coverde de Albuquerque Cavalcan- ti, sendo ele o primeiro prelado da O Rio de Janeiro gozava de ótimas América Latina a receber tão elevada condições para ser a anfitriã. Estava investidura.49 saneada graças a Osvaldo Cruz e sua equipe, que conheciam e admiravam É muito relevante o comentário do o pioneirismo, no combate à malária, renomado autor mexicano Jaime do médico e cientista cubano Carlos Torres Bodet: “Rio de Janeiro fue un Finlay47. Reformas urbanas melhora-

exemplo concreto ilustra como o temor Joaquim Nabuco Cartas aos amigos (vol. da febre amarela dificultava a presença de II, São Paulo: Instituto Progresso Editorial, diplomatas estrangeiros no Rio de Janeiro. 1949, 640 p.), há referência a uma carta di- Em julho de 1890 o governo do México rigida a Fontoura Xavier, em 1/12/1905, p. nomeou Juan Sánchez Azcona como 228-229. representante do país ante as repúblicas 47 Após a independência em 1822, a primeira sul-americanas do lado atlântico. Estando grande epidemia de febre amarela chegou em Buenos Aires, retardou sua viagem ao ao Rio de Janeiro quando um navio norte- Rio de Janeiro por causa da notícia de que -americano, depois de passar por Havana, nesta cidade grassava epidemia de febre atracou no porto da capital do Brasil, em amarela. PALACIOS, Guillermo. Intimi- fins de 1849. Mas em 14/8/1881, o grande dades, Conflitos e Reconciliações. São médico cubano apresentou à Academia de Paulo: Editora da Universidade de São Ciências de Havana um mosquito chamado Paulo (Edusp), 2008, p. 84 de 496 p. (Cole- “Culex”, depois “Stegomii fasciata” e final- ção Ensaios Latino-Americanos). mente “Aedes Aegypti” como responsável 48 SILVA, Hélio; CARNEIRO, Maria Ce- intermediário necessário na transmissão da cília Ribas. Rodrigues Alves: Estadista febre amarela. Em 1900 a tese científica de de dois regimes, 1902-1906. São Paulo: Finlay foi comprovada por rigorosas expe- Grupo de Comunicação Três, 1983, p. 97- riências. Ver: TEIXEIRA, Luiz Antonio. 101 de 156 p. (Coleção Os Presidentes). “Da transmissão hídrica à Culicidiana: a febre amarela na sociedade de medicina e 49 CARVALHO, Afonso de. Rio Branco: cirurgia de São Paulo”. Revista Brasilei- sua vida e sua obra. Rio de Janeiro: Bi- ra de História, Ciência e Sociedade. São blioteca do Exército, 1995, p. 217-218 de Paulo, vol. 21, nº 41, p. 217-241, 2001. Um 310 p.

Volumen VI N° 18 - Enero - Junio 2011 pp 31-49 43 Antônio da Fontoura Xavier diplomata e escritor oasis para Darío. Nabuco, Fontoura e a inconsciência das modas literá- Xavier, Eliseo de Carvalho y otros rias. Escrito em grande parte antes escritores brasileños lo acogieron no das moderníssimas correntes esté- solo con fraternal simpatía sino con ticas, que com tanto acerto estudou respeto y con entusiasmo”.50 em seu país Elísio de Carvalho, lê- se hoje com o mesmo prazer que Rubén Darío escreveu belo artigo so- quando apareceu pela primeira vez. bre Fontoura Xavier. Nele se lê: É que a forma e a maneira valem pelo que encerram do poder criador Conheci-o no Rio de Janeiro, na do poeta, pelo que vem de dentro, reunião da segunda Conferên- do fundo da alma. No verdadeiro cia Pan-americana51. Estava nesse poeta prevalece a vontade de eter- meio intelectual brasileiro, que nidade. Por isso é que Luciano de com justiça orgulhava, perante os Samosata [125-192], Píndaro [518- estrangeiros, o nobre Embaixador 438 a.C.], o Arcipreste de Hita Nabuco. No âmbito oficial foi dos [1280-1350], Villon [1875-1963], meus amigos mais íntimos, jun- Heine [1797-1856] e tantos outros, tamente com o grande novelista no plano superior da arte, serão Graça Aranha e do ativo, vibrante, sempre contemporâneos.52 cordial e harmonioso Olavo Bi- lac. Fontoura Xavier ocupava na Um episódio relacionado com uma época o cargo de cônsul geral em das agruras financeiras de Rubén Nova Iorque e acompanhava o Em- Darío demonstra a admiração de baixador à Conferência [...] Afável, Fontoura Xavier por ele. Amigo do garboso, cerimonioso como quase General José Santos Zelaya, Rubén todos os seus compatriotas cultos, o poeta granjeou de imediato a minha simpatia. Depois soube, e 52 DARÍO, Rubén. “Fontoura Xavier”. In: Presença do Brasil na obra de Rubén Da- isto me cativou ainda mais, que o río. Organização de Ernesto Gutiérrez. correto funcionário e o impecável Brasília: Embaixada da Nicarágua, 1985, diplomata, que prestou verdadeiros p. 26-30. Angel Augier, no livro Cuba serviços a seu país, “foi, quando es- en Darío y Darío en Cuba (La Habana, tudante, um rapaz endiabrado” [...] Cuba: Editorial Letras Cubanas, 1989, 339 p.), informa que “Darío le dedicó un artí- Opalas é um livro de elegância e culo encomiástico ‘Diplomáticos Poetas: harmonia e que mostra a inutilidade Fontoura Xavier’, que publicó El Fígaro. La Habana, [Cuba], año XXVII, n. 14, p. 214, 1911” (AUGIER, Angel. Cuba 50 TORRES BODET, Jaime. Rubén Da- en Darío y Darío en Cuba. La Habana, río: Abismo y Cima. México: Fondo de Cuba: Editorial Letras Cubanas, 1989, p. Cultura Económica – Letras Mexicanas, 239). DARÍO, Rubén. “Fontoura Xavier”. Universidad Nacional de México, 1966, p. In: Semblanzas. Madrid: Ediciones de 192 de 361 p. Afrodísio Aguado, 1950, p. 865. (Obras 51 Trata-se da 3ª Conferência Internacional Completas, tomo II, p. 857-865, de um to- Americana. tal de 5 tomos).

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Darío foi nomeado por seu sucessor a Europa, con el carácter de urgen- na Presidência da Nicarágua, Dou- tísimos. Aparece, por fin, el cordial tor José Madriz, para representar seu y talentoso Carrasquilla vencedor, país nas festividades do centenário en toda la línea. Fontoura remitía al da Declaração da Independência do poeta quinientos dólares y una fina México, em setembro de 1910. Após esquela, lamentando no ser más ex- a deposição do Presidente, apoiada tenso en la dádiva que tanto honor pelo Governo dos Estados Unidos, a le proporcionaba.55 designação foi cancelada. Darío via- jou de Havana à cidade mexicana de Diz Rubén Darío em sua autobiografia: Vera Cruz, mas não pôde ir à capital do país. Regressou à Havana. No dia Se me concluyeron en aquella ciu- 8/11/1910, véspera de seu embarque dad carísima los pocos fondos que em Havana, no navio alemão Ipi- me quedaban y los que llevaba el ranga, com destino ao porto francês enviado del mismo Sierra56… pude, do Havre, Darío encontrava-se em después de dos meses de ardua per- apuros para o pagamento da passa- manencia, pagar crecidos gastos y gem. Conta Osvaldo Bazil, cônsul volverme a Paris, gracias al apoyo da República Dominicana na capital pecuniario del diputado mexica- cubana: no Pliego, del ingeniero Enrique Fernández, y, sobre todo, a mis [Darío] pule admirablemente una cordiales amigos Fontoura Xavier, breve carta para Fontoura Xavier, ministro del Brasil, y general Ber- como Cellini su joya predilecta nardo Reyes, que me envió por […]. A las nueve de la mañana lo cable, de Paris, un giro suficiente.57 encontré en El Fígaro53, esperando nervioso, intranquilo, la llegada de Conhece-se o amigo certo na hora Carrasquilla54, portador de la carta incerta. de Fontoura Xavier. El pasaje es- taba ya apartado para el vapor en puerto, que debía partir a las dos de 55 AUGIER, Angel. Cuba en Darío y Darío en Cuba. La Habana, Cuba: Editorial Le- la tarde. Como Carrasquilla tarda- tras Cubanas, 1989, p. 242 e 243. O autor ba, Rubén disparaba nuevos cables cita: BAZIL, Osvaldo. Como era Rubén Darío. In: Vidas de iluminación. Habana, Cuba: J. Arroyo, 1932, 76 p. (Conferencia pronunciada en el Lyceum de Señoritas el 53 Nome de importante jornal cubano da épo- día 11 de marzo); y en: Rubén Darío y sus ca. amigos dominicanos. Bogotá: Ed. Espiral, 54 Eduardo Carrasquilla Mallarino nasceu 1948, p. 163 de 284 p. em Bogotá, em 1887, e faleceu em Bue- 56 Justo Sierra (1848-1912) foi notável escri- nos Aires, em 1925. Para Darío, ele era “el tor, pedagogo e político mexicano. Quevedo Americano”. Cônsul do Panamá em Cuba em 1910, era casado com a es- 57 DARÍO, Rubén. Autobiografía. Managua: critora cubana Mercedes Borrero y Pierrá Ediciones Internacionales, 2002, p. 136 de (1892-1980). 140 p.

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Outra manifestação do apreço de La representación diplomática de su Rubén Darío por Fontoura Xavier é a gran patria en las repúblicas ístmicas, bela poesia intitulada “La Niña Anna me permitió conocer personalmente Margarida da Fontoura Xavier, hija a Fontoura Xavier: su figura breve del Ministro del Brasil”,58 composta y nerviosa, sus ojos imperativos que em Paris em 1912. confirman cuanto dicen sus labios, lo hacen un tipo recalcitrante de intelec- Testemunho também eloquente sobre tual latino, que a poco de platicar se Fontoura Xavier é o do poeta José anima y pone en su mano de amigo Santos Chocano (1875-1934).59 Em un calor de sinceridad que le sale del 1909, no início do prólogo da tradu- corazón. Espíritu mundano en el buen ção, que ele mesmo elaborou, da obra sentido, juega con múltiples idiomas Opalas — com o título em espanhol y se muestra acorazado con una sóli- de Ópalos — escreveu: da cultura tomada de todas partes: ha- bla de cifras y de letras; y en el sabor Cuando Rubén Darío enarboló, como de sus paliques, mezcla la fuerza de epígrafe de sus hexámetros al Águila una educación práctica y la gracia de norteamericana, el primer verso del una idiosincrasia artística, que acusan canto a la misma que, en años ante- al hombre de sus tiempos, flexible y riores, diera al público latino el poeta complicado como una tabla pitagó- brasileño Fontoura Xavier, no podía rica en que la verdad aparece bella. imaginarse que, en la misma época yo andaba en tierras de Centro América Este tipo de poeta resulta ilógico para y vendría mi diestra a estrechar la del quienes añoran las melenas román- noble compañero. ticas y los, deshabillés bohemios; pero, la verdad, consuela un poco el ver que, en efecto, “un poeta puede 58 Revista Americana. Rio de Janeiro, Tomo II, Fasc. 1, p. 641. abr. 1912. Com o títu- servir para cuanto sirven todos los lo de “Balada de la Bella Niña del Brasil”, hombres y además, para hacer poe- encontra-se em: DARÍO, Rúben. Obras sía, que no todos los hombres saben Completas – Poesias. Buenos Aires: Edi- hacer. ciones Anaconda, 1948, 410 p. Manuel Bandeira traduziu essa poesia como “Bala- da da Linda Menina do Brasil”. A Manhã. Firmar un alegato, estipular un trata- Rio de Janeiro, 4 dez. 1941, Pensamento do, celebrar una transacción econó- da América: Suplemento Pan-Americano, mica y entre los folios caligráficos p. 7. de las documentaciones deslizar los 59 Nascido na capital do Peru, viveu tam- pétalos sueltos de una poesía sincera, bém no México, Guatemala, Cuba, Porto es vivir la verdad de la vida, sentirse Rico, Honduras, Colômbia, Estados Uni- dos e Chile, onde morreu. Diplomata, pleno y producirse íntegro, abarcando político e poeta, é autor de: Alma Amé- zodiacalmente el giro incesante del rica (com prólogo de Rubén Darío); mundo moderno. El poeta ha de ser Poemas Indo-Españoles, de 1906; Fiat múltiple como hombre: Dante es fi- Lux, de 1908, etc.

46 Revista Historia Caribe José Carlos Brandi Aleixo lólogo, Goethe naturalista, Hugo po- Sabidamente a Revista Americana, lítico, Camoens soldado, Espronceda estampada de 1909 a 1919, foi no financista. Brasil o periódico mais importante para fomentar o conhecimento do Tal me complace reconocer que Fon- Brasil em outros países da Améri- toura Xavier tiene bien puesto su co- ca e vice-versa. Muitos dos maiores razón de poeta y bien firme su cabeza nomes literários da região enrique- de hombre.60 ceram-na com suas contribuições. É assim significativo que a Revista Em carta de 1/12/1910 escrita na Americana tenha publicado o artigo Guatemala, José Santos Chocano diz de Fontoura Xavier “A História da a Rubén Darío que obteve seu ende- Diplomacia Europeia pelo antigo Embaixador D. J. Hill”. Trata-se de reço através de Fontoura Xavier.61 um comentário ao livro do autor in- titulado, no idioma original, “History Em 1900, o conhecido escritor ar- of Diplomacy in the International gentino Martín García Merou coloca Development of Europe, embracing Fontoura Xavier entre 12 exemplos A Struggle for Universal Empire brasileiros de artistas distinguidos, de (1905)”63, desse diplomata norte-ame- poetas refinados e pensadores emi- ricano. Fontoura Xavier demonstra 62 nentes de sua geração. profundo conhecimento crítico do período (do ano 30 a.C. até 1318 da nossa era) analisado pelo diplomata norte-americano e também de épocas 60 XAVIER, Antônio da Fontoura. Ópalos. Tradução, ao espanhol, de José Santos anteriores, desde os faraós do Egi- Chocano. Paris: Librería de la Viuda. de to. Ilustra com versos de Gonçalves Ch. Bouret, 1914, Prólogo, p. 1-8 de 167 p. Dias a mui antiga inviolabilidade Essa citação encontra-se também no final do enviado governamental: “É sa- da edição em português, Opalas, de 1928. grado entre nós guerreiro inerme. Rio de Janeiro: Gráfica Sauer, p. 211-217 de 222 p.; e na Revista Americana. Rio de E mais sagrado mensageiro estran- Janeiro, vol. V, p. 334-341, jan./fev./mar. ho”. Explana pormenorizadamente 1911. A mesma Revista Americana publi- a hospitaleira e sagaz diplomacia de cou também as poesias de Santos Chocano: Bizancio. Comentando depois a evo- “Noches Antíguas”, vol. IX, p. 338-341, lução das repúblicas italianas, elogia jan./fev./mar. 1913; e “Oda Continental”, vol. XV, p. 58-67, jan./fev./mar. 1917. a diplomacia de Veneza, que muito aprendeu no contato permanente com 61 GHIRALDO, Alberto. El Archivo de Ru- Bizancio. Veneza tornou-se conheci- bén Darío. Buenos Aires: Lozada, 1943, p. 236 de 508 p. Colaboração de Pedro Henri- da como “a escola e a pedra de toque ques Ureña, no aspecto literário. 62 GARCÍA MEROU, Martín. El Brasil In- telectual: impressiones y notas literárias. Buenos Aires: Felix Lajouane, 1900, p. 3 63 Revista Americana. Rio de Janeiro, vol. de 10 p. VII, p. 185-199, jan./fev./mar. 1912.

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dos Embaixadores”.64 Veneza logrou Se não mais vezes, certamente em ou- muito cedo organizar seus Arquivos: tubro de 1906, Fontoura Xavier re- pactos ou tratados; “commemoriali” gressou à sua cidade natal. Visitou-a ou notas diversas; instruções prepara- na companhia do senador cachoeiren- das pelo Estado; “avvisi” informando se Ramiro Barcelos, e hospedou-se ocorrências; despachos dos agentes na casa do seu irmão, na rua 7 de se- diplomáticos aos seus governos; tembro nº 9. 66 Era então Cônsul Geral conselhos sobre as ocorrências no do Brasil em Nova York. A viagem exterior; relatórios de missões cum- ocorreu após a Terceira Conferência pridas. Ao final escreveu Fontoura: Internacional Americana, realizada “tais são os pontos capitais debatidos em julho e agosto de 1906 no Rio de com superioridade na obra do antigo Janeiro e na qual foi membro da dele- Embaixador Americano, cuja impor- gação do Brasil. É eloquente o seguin- tância registramos”. te testemunho sobre Fontoura Xavier: “O insigne poeta, amigo e patrício não olvida jamais o seu modesto berço — IV. Considerações finais Cachoeira — honrando-lhe de vez em Várias foram as merecidas homena- vez a imprensa com valiosíssima cola- gens prestadas a Antônio Vicente da boração, o que prova ser o seu coração Fontoura Xavier. Em 1902 ele foi tão delicadamente afetivo quão fino o constituído Patrono da Cadeira nº 14 seu espírito de eleição. Desvanecidos da Academia Rio Grandense de Le- e gratíssimos pela magna oferta, aos tras. Em 1955 o nome de Fontoura nossos leitores recomendamos o ma- gistral soneto ‘Imperator et rex’ do Xavier foi dado a uma das ruas de 67 Cachoeira do Sul, sua cidade natal. conterrâneo ilustre”. Pela Lei 4.974, de 9/7/1965, foi cria- do o município de “Fontoura Xavier”, 66 AZEREDO, Iuri J. “Nome famoso, mas a 200 km de Porto Alegre. pouco conhecido, Fontoura Xavier era cachoeirense, baudelairiano, tradutor de Shakespeare e viajou o mundo entre os Fontoura Xavier conseguiu ser emi- séculos 19 e 20”. Y Otras Cositas Más. nente na Diplomacia e nas Letras, [S.l.], 8 mar. 2009. Disponível em: http:// conforme os votos do grande Rubén iuriaz.blogspot.com/2009/03/me-chamou- Darío: “Aproveite meu bom amigo -dias-atras-atencao-uma.html. Acesso em: Fontoura a terra da América Central 20 set. 2010. Também Carlos Magalhães registrou essa viagem de Fontoura Xavier e faça bons tratados e muitos bons ao Rio Grande do Sul, transcrevendo em O 65 versos”. Dia artigo publicado no Petit Journal (Por- to Alegre, 10 out. 1906). Apud: XAVIER, Antônio Vicente da Fontoura. Opalas. 64 Idem, Ibidem, p. 195. Edição organizada por Regina Zilberman. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Ca- 65 DARÍO, Rubén. Presença do Brasil na tólica do Rio Grande do Sul, 1984, p. 118 e obra de Rubén Darío. Organização de 119 de 130 p. Ernesto Gutiérrez. Brasília: Embaixada da Nicarágua, 1985, p. 30 de 57 p. 67 O Comércio. Cachoeira do Sul, 1 jan. 1912.

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Nem os pagos do Rio Grande do Sul Mas, nesse instante, a voz do vento, esqueceram-se dele, nem eles saíram Como acenando num lamento, da memória de Antônio da Fontoura Chegou dizendo: Adeus! Adeus! [...] Xavier, como ilustram seus versos a E desde então, desse momento, seguir: Não mais fitei o mar e os céus Que não ouvisse a voz do vento, Como acenando num lamento, “ADEUS!” A soluçar no mesmo acento, Antônio Vicente da Fontoura Adeus! Adeus! Adeus! Adeus! [...] 68 Xavier Como o Barão do Rio Branco — Terras da pátria. Adeus. Adeus, “ubique patriæ memor” —, levou Terras da pátria! [...] E num momento sempre consigo a preocupação de Não vimos mais que mar e céus. servir bem ao Brasil.

68 Correio do Povo. Porto Alegre, 1979, Caderno de Sábado, 16. Ver também: XAVIER, Antônio Vicente da Fontoura. “Adeus!”. Internet Archive, Full text of “Opalas”, nº 132. Disponível em: . Acesso em: 25 set. 2010.

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