Plano de Manejo da Reserva Extrativista Marinha de / MA

SÃO LUÍS DEZEMBRO DE 2016

MINISTÉRIO DE MEIO AMBIENTE Sarney Filho – Ministro

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio) Ricardo Soavinski – Presidente

DIRETORIA DE CRIAÇÃO E MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Paulo Henrique Marostegan e Carneiro - Diretor

COORDENAÇÃO GERAL DE CRIAÇÃO, PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Ricardo Brochado – Coordenador Geral

COORDENAÇÃO DE ELABORAÇÃO E REVISÃO DE PLANO DE MANEJO Ana Rafaela D’Amico – Coordenadora

COORDENAÇÃO REGIONAL ICMBio em Belém – CR4 Fernando Barbosa Peçanha Júnior – Coordenador

CHEFE DA RESERVA EXTRATIVISTA DE CURURUPU Eduardo Castro Menezes de Borba

EQUIPE RESPONSÁVEL PELA ELABORAÇÃO DO PLANO DE MANEJO

Equipe de Planejamento do ICMBio

Eng. Florestal Msc.Desireé Barbosa da Silva – COMAN/ICMBio Biólogo Eduardo Henrique Barros – CR4/ICMBio Oceanógrafo Msc. Eduardo Castro Menezes Borba – Chefe da RESEX Marinha de Cururupu

DEICMAR AMBIENTAL

Coordenação

Geógrafa Msc.Vivian Fernanda Mendes Merola

Colaboradores Técnicos Geógrafo Antonio Afonso Cordeiro Jr

Bióloga Ana Cláudia Marera dos Santos

Eng. Ambiental Camila Pratalli

Oceanógrafo Msc. Fabrício Gandini Caldeira

Geógrafa Dra. Marisa Fierz

Geógrafo Dr. Sandro Detoni

São Luís Dezembro de 2016 LISTA DE SIGLAS

AMREMC Associação de Moradores da Reserva Extrativista Marinha de Cururupu APA Área Proteção Ambiental ARPA Programa Áreas Protegidas da Amazônia BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento CAEMA Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão CCDRU Contrato de Concessão de Direito Real de Uso da RESEX CD Conselho Deliberativo CEMAR Companhia Energética do Maranhão Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres - CEMAVE ICMBio COMAN Coordenação de Elaboração e Revisão de Plano de Manejo COP Convention of the Parties CNPT Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade CR Coordenação Regional DATASUS Departamento de Informática do SUS EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ESTATPESCA Estatística do Desembarque Pesqueiro FUNBIO Fundo Brasileiro para a Biodiversidade GEF Global Environment Facility (Fundo Global para o Meio Ambiente) GTZ Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Cooperação Técnica Alemã) IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade IDH-M Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IMESC Instituto Maranhenses de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos IN Instrução Normativa INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ISA Instituto Socioambiental IUCN International Union for Conservation of Nature KfW Kreditanstalt für Wiederaufbau (Cooperação Financeira Alemã) MMA Ministério do Meio Ambiente MME Ministério de Minas e Energia MPA Ministério da Pesca e Aquicultura NC-IUCN The National Committee of The Netherlands - The World Conservation Union ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico OPP Oficina de planejamento participativo PAN Plano de Ação Nacional PAS Plano Amazônia Sustentável PFNM Produtos florestais não madeireiros PNAP Plano Nacional de Áreas Protegidas PNMC Plano Nacional sobre Mudança do Clima Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia PPCDAM Legal PIB Produto Interno Bruto PNDR Política Nacional de Desenvolvimento Regional PNGC Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. PM Plano de Manejo PROECOTUR Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal Fundação de amparo a pesquisa de recursos vivos na zona econômica PROZEE exclusiva RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável RESEX Reserva Extrativista RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural SAAE Serviço Autônomo de Água e Esgoto SEMA-MA Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão SEAP Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca SIG Sistema de Informações Geográficas SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação SPU Secretaria do Patrimônio da União SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste TI Terra Indígena UC Unidade de Conservação UEMA Universidade Estadual do Maranhão UFMA Universidade Federal do Maranhão UFV Universidade Federal de Viçosa UNESCO Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura ZA Zona de Amortecimento ZCIT Zona de Convergência Intertropical ZEE Zoneamento Ecológico Econômico WHSRN Western Hemisphere Shorebird Reserve Network WWF World Wide Found for Nature

APRESENTAÇÃO

Este documento apresenta a versão consolidada do Plano de Manejo da Reserva Extrativista Marinha de Cururupu – RESEX, fruto do extenso trabalho desenvolvido ao longo do ano de 2015. Tal produto é a materialização de um processo de aprendizagem, participação e construção coletiva de uma política de gestão territorial. O Plano de Manejo é um estudo elaborado por uma equipe formada de profissionais com diferentes formações, apoiando-se no conhecimento científico, nos saberes locais e na demanda social – dialogando com os aspectos legais e políticos que envolvem o tema. Para além de um documento técnico, é o reflexo de um processo que soma o conhecimento tradicional, as práticas de conservação ambiental e as possibilidades de desenvolvimento local – trabalhando assim para pertetuar o modo de vida tradicional em harmonia com o meio ambiente. Além de anexos e apêndices, o plano de manejo participativo possui duas dimensões principais, se integram e interagem. A primeira parte, dedicada ao Diagnóstico, discute o contexto no qual a RESEX se insere. Evidencia a relevância e pertinência da preservação dos abundantes e exuberantes manguezais, a sociodiversidade, sua importância ecológica e particularidades culturais. Contempla também a caracterização socioambiental da UC, descrevendo aspectos do relevo, clima, fauna, ecossistemas e parte do conhecimento tradicional associado, além de aspectos socioeconômicos e políticos. A segunda parte do Plano refere-se ao Planejamento, voltado ao futuro, busca traçar os princípios de gestão para a Unidade, cuja finalidade é fornecer os subsídios necessários para se alcançar os objetivos da Reserva Extrativista, isto é, a conservação ambiental em harmonia com o desenvolvimento local das populações praieiras da RESEX de Cururupu. Assim, considerando que tanto o ambiente como a cultura são dinâmicos, a gestão pública também deve ser, assim, entende-se que o planejamento deve ser contínuo, gradativo, flexível e participativo – condições fundamentais para o sucesso do Plano de Manejo. Em números, a elaboração deste documento teve a contribuição de mais de 10 profissionais que visitaram todas as 12 comunidades da RESEX, as 04 localidades, bem como as comunidades do entorno e cidades polo. Essas visitas ocorreram em quase 50 dias de trabalho de campo, sendo que, conforme será detalhado, foram realizadas 15 reuniões abertas e quatro Oficinas de Planejamento Participativo - OPPs com duração média de três dias cada, os processos participativos foram abertos e contaram com a presença dos comunitários que tiveram voz e puderam participar ativamente das discussões. Durante a primeira visita à RESEX, em fevereiro de 2015, as reuniões de apresentação do projeto realizada em cada uma das comunidades/localidades contaram com a participação aproximada de 20 a 40 moradores por encontro. Para segunda visita, ou seja, as OPPs, realizadas em julho de 2015, a equipe técnica definiu previamente a participação de, no máximo, de 40 representantes comunitários, essa limitação foi colocada tendo em vista que, neste momento, os representantes seriam deslocados para as bases onde as reuniões ocorreriam, assim, em decorrência dos desafios logísticos foi necessária a limitação dos participantes. Adicionalmente, para o desenvolvimento e alinhamento do Plano também foram realizadas reuniões técnicas entre as equipes do ICMBio e Deicmar Ambiental, sendo que, em março de 2015 as equipes se reuniram durante três dias na sede do ICMBio, em São Luis, com objetivo de planejar o processo de construção do Plano de Manejo. Após a segunda visita à RESEX, em agosto de 2015, as equipes se reuniram durante quatro dias, na sede da Deicmar Ambiental, em Santos/SP, com o objetivo principal de discutir e sistematizar os dados que seriam utilizados no Volume II – Planejamento do Plano de Manejo, para tanto, foi revisado o modelo conceitual gerado nas Oficinas de Planejamento Participativo e revisitadas as estratégias de conservação. Em outubro de 2015 as equipes reuniram-se na sede do ICMBio, em Brasília, com o objetivo de estruturar o Planejamento e apresentar o Plano de Manejo aos macroprocessos do ICMBio. O encontro ocorreu ao longo de cinco dias, nos quais foram discutidos temas como a revisão do diagnóstico e do modelo conceitual, as estratégias e o zoneamento ambiental. Por fim, além desses encontros, a primeira versão do diagnóstico sócio-ambiental do Plano de Manejo foi apresentada e discutida com o conselho deliberativo da Reserva, durante a décima reunião ordinária, nesta oportunidade os participantes fizeram considerações sobre o Diagnóstico da UC, contribuindo com a ampliação dos entendimentos acerca das espécies da fauna e flora existentes na área e questões sobre a pesca. Adicionalmente, a equipe de coordenação do Plano de Manejo, reuniu-se em 08/12/2015 para apresentar o plano de manejo aos macroprocessos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Nesta reunião estavam presentes a Diretoria de Criação e Manejo de Unidades de Conservação (DIMAN) e a Diretoria de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial de Unidades de Conservação (DISAT), dentre os temas discutidos nesta reunião é importante mencionar o ajuste do limite da RESEX Cururupu, a situação das salinas já existentes, as normas do zoneamento e o acordo de gestão da UC, entre outros assuntos. As atividades citadas nesta apresentação deram os subsídios necessários ao documento aqui apresentado, os detalhes pormenorizados das metodologias empregadas e dados produzidos serão retomados em itens específicos do Plano de Manejo. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...... 2 2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA RESERVA EXTRATIVISTA ...... 5 2.1. ACESSOS ...... 6 2.2. ORIGEM DO NOME E HISTÓRICO DA UC ...... 9 2.3. CONTEXTO INTERNACIONAL ...... 10 2.4 CONTEXTO NACIONAL E ESTADUAL ...... 14 2.5 CONTEXTO MUNICIPAL ...... 24 2.6 ANÁLISE DE REPRESENTATIVIDADE DA RESEX ...... 34 3. CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA RESERVA EXTRATIVISTA DE CURURUPU ...... 36 3.1. COMUNIDADES TRADICIONAIS DA RESEX DE CURURUPU ...... 37 3.2. PESCA – O AMBIENTE, O HOMEM E A PRODUÇÃO ...... 55 3.3. PATRIMÔNIO ...... 96 3.4. USO E MANEJO DOS RECURSOS NATURAIS ...... 102 3.5. SERVIÇOS E CIDADANIA ...... 111 3.6. ACESSO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS ...... 120 3.7. SITUAÇÃO FUNDIÁRIA ...... 124 3.8. PESSOAL, EQUIPAMENTOS E INFRA-ESTRUTURA ...... 126 3.9. AMBIENTE ...... 134 3.10 USO DO SOLO E UNIDADES DE PAISAGEM NO INTERIOR DA RESEX ...... 208 3.11 ATIVIDADES ILEGAIS E CONFLITANTES ...... 213 3.12 PROJETOS DE PESQUISA E ESTUDOS CIENTÍFICOS NA REGIÃO...... 218 3.13 DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA ...... 222 4. PLANEJAMENTO DA RESEX ...... 225 4.1. ANÁLISE ESTRATÉGICA ...... 228 4.2. PROGRAMAS DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E SOCIOECONÔMICA ...... 257 4.3. CRONOGRAMA FÍSICO ...... 279 4.4. ZONEAMENTO ...... 281 4.5. ACORDO DE GESTÃO DA RESEX DE CURURUPU - Portaria Nº 122, de 6 de novembro de 2014 ...... 292 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 302

APÊNDICE I - Lista da Flora

APÊNDICE II – Lista da Fauna

APÊNDICE III - Cartas-Imagem das Praias de Cururupu

APÊNDICE IV – Territórios de pesca

APÊNDICE V – Estratégias de Conservação

APÊNDICE VI – Técnicas de tratamento de água

ANEXO I – Decreto de criação da RESEX

ANEXO II – Portaria 35 de 2011 – Cria o Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista de Cururupu

ANEXO III – Perfil da família beneficiária da RESEX

ANEXO IV - Contrato de concessão de direito real de uso

ANEXO V – Ata da X Reunião do Conselho Deliberativo

ANEXO VI - Ata da 1 Reunião Extraordinária do Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista de Cururupu

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Localização da RESEX Marinha de Cururupu ...... 6 Figura 2: Principais acessos à RESEX ...... 7 Figura 3: Carta Imagem da RESEX ...... 8 Figura 4: Localização dos Sítios RAMSAR no Brasil ...... 11 Figura 5: Presença de maçaricos da Família Scolopacidae em Iguará ...... 12 Figura 6: Grupo de aves limícolas – gaivota-alegre (Leucophaeus atricilla), em Urumaru ...... 12 Figura 7: Guarás (Eudocimus ruber), em Porto Alegre ...... 13 Figura 8 : Colhereiros (Ajaia ajaja) e garça (Egretta thula), em marisma em Retiro ... 13 Figura 9: Municípios formadores do Polo Ecoturístico da Floresta dos Guarás ...... 17 Figura 10: Mapa das Unidades de Conservação do Litoral Maranhense ...... 23 Figura 11: Faixa etária da população de Cururupu em 2010 (em hab.) ...... 25 Figura 12: Faixa etária da população residente em Apicum-Açu em 2010 (em hab.) ... 26 Figura 13: Principais causas de mortes no município de Cururupu (2014) ...... 29 Figura 14: Principais causas de mortes no município de Apicum-Açu (2014) ...... 30 Figura 15: Área de desembarque próxima ao Mercado Municipal de Cururupu ...... 33 Figura 16: Porto de Cururupu ...... 33 Figura 17: Porto de Pindobal, em Serrano do Maranhão ...... 34 Figura 18: Porto de Apicum-Açu ...... 34 Figura 19: Inserção da RESEX de Cururupu no Sistema Nacional de Unidades de Conservação...... 36 Figura 20: Processo de ocupação do estado do Maranhão ...... 40 Figura 21: Formação das Comunidades da RESEX ...... 44 Figura 22: Padrões de Edificações: Alvenaria ...... 45 Figura 23: Padrões de Edificação: Taipa ...... 45 Figura 24: Padrões de Edificações: Fibras ...... 45 Figura 25: Padrões de Edificação: Madeira ...... 45 Figura 26: Comunidade de Peru ...... 46 Figura 27: Comunidade de Bate-Vento ...... 46 Figura 28: Comunidade de Iguará ...... 46 Figura 29: Comunidade de Retiro ...... 46 Figura 30: Distribuição das ocupações por gênero ...... 47 Figura 31: Organização dos entrevistados, segundo estado civil ...... 48 Figura 32: Distribuição da comunidade pesqueira, por faixa etária ...... 48 Figura 33: Distribuição das embarcações no litoral maranhense ...... 49 Figura 34: Distribuição da tipologia das embarcações na RESEX ...... 49 Figura 35: Embarcação tipo casco a remo ...... 50 Figura 36: Embarcação tipo biana motorizada ...... 50 Figura 37: Trabalho familiar – Arrasto de Puçá ...... 52 Figura 38: Trabalho familiar – Arrasto de Puçá ...... 52 Figura 39: Pescadoras e/ou marisqueiras em Beiradão ...... 54 Figura 40: Mulheres em Porto do Meio, reconhecidas como pescadoras habilidosas ... 54 Figura 41: Rendimentos médios da frota de pequeno porte desembarcada em Bragança/PA, em 2000, em relação com taxas de precipitação...... 56 Figura 42: Produção de pescado por município obtida em 2002...... 59 Figura 43: Produção de pescado no estado, por município e arte de pesca em 2005. .... 60 Figura 44: Curral, em São João Mirim ...... 65 Figura 45: Pesca de Caiqueira, em Lençóis ...... 65 Figura 46: Pesca de muruada ...... 66 Figura 47: Pesca de Malhão...... 66 Figura 48: Principais artes de pesca utilizadas na RESEX ...... 67 Figura 49 Reunião Aberta, ocorrida em Caçacueira (24/02/2015) ...... 68 Figura 50 Reunião Aberta, ocorrida em Beiradão (06/03/2015) ...... 68 Figura 51: Comunidade de Peru trabalha no mapeamento pesqueiro...... 69 Figura 52: Comunidade de São Lucas trabalha no mapeamento pesqueiro...... 69 Figura 53: Incidência de uso das artes de pesca na RESEX ...... 71 Figura 54: Uso da Muruada nas Praias da RESEX...... 72 Figura 55: Uso da Caiqueira nas Praias da RESEX...... 73 Figura 56: Uso da Rabiadeira nas Praias da RESEX...... 73 Figura 57: Uso da Tainheira nas Praias da RESEX...... 74 Figura 58: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Mangunça/Taboa ...... 76 Figura 59: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Caçacueira ...... 76 Figura 60: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – São Lucas ...... 77 Figura 61: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Perú ...... 78 Figura 62: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Guajerutiua ...... 78 Figura 63: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Valha-me Deus ...... 79 Figura 64: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Lençóis ...... 79 Figura 65: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Bate-vento ...... 80 Figura 66: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Porto do Meio ...... 80 Figura 67: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – ...... 81 Figura 68: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Beiradão ...... 81 Figura 69: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Iguará ...... 82 Figura 70: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Urumaru ...... 83 Figura 71: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Retiro ...... 83 Figura 72: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Porto Alegre ...... 84 Figura 73: Processo de beneficiamento e conservação do camarão – Secagem ao sol do camarão salgado e cozido ...... 92 Figura 74: Bateção do camarão seco ...... 92 Figura 75: Separação entre o miolo e casca, ambos armazenados em coifas artesanais 92 Figura 76: Camarão seco, pronto para consumo ...... 92 Figura 77: Carta Náutica da RESEX e entorno ...... 95 Figura 78: Tambor de Mina, em Lençóis...... 98 Figura 79: Tambor de Mina, em Lençóis...... 98 Figura 80: Construção do Memorial de’l Rei Sebastião (SILVA, 2010) ...... 99 Figura 81: Memorial do rei Sebastião pronto, em Lençóis ...... 99 Figura 82: Mural do Sebastianismo ...... 100 Figura 83: Bandeira festiva em Lençóis – representações d’O Encoberto ...... 100 Figura 84: Estaleiro Artesanal em Caçacueira – Sr.Vitalino ...... 101 Figura 85: Modelismo Naval desenvolvido em Caçacueira ...... 101 Figura 86: Gado bovino em regime semiconfinado, em Taboa ...... 103 Figura 87: Gado caprino em regime semiconfinado, em Urumaru ...... 103 Figura 88: Extração da madeira para pesca de muruada ...... 106 Figura 89: Lenha destinada à torra do camarão...... 106 Figura 90: Salina sobre apicum, em Iguará...... 111 Figura 91: Sal armazenado pronto para a comercialização ...... 111 Figura 92: Bombeamento manual de água em Mirinzal ...... 114 Figura 93: Sistema de captação de água da chuva, instalado em unidade escolar em Iguará ...... 114 Figura 94: Evidências de vazamento em área utilizada como banheiro ...... 115 Figura 95: Latrina em Iguará ...... 115 Figura 96: Posto de Saúde de Guajerutiua ...... 116 Figura 97: Posto de Saúde de Guajerutiua ...... 116 Figura 98: Lancha Manoel Branco, do ICMBio...... 126 Figura 99: Placa de Identificação da RESEX, em Porto Alegre...... 126 Figura 100: Precipitação Média anual no estado do Maranhão...... 136 Figura 101: Precipitação e temperaturas em Cururupu ...... 137 Figura 102: Mapa da compartimentação do litoral do Brasil ...... 139 Figura 103: Mapa dos Aspectos Morfológicos da RESEX ...... 143 Figura 104: Planície Costeira observada em em Lençóis ...... 146 Figura 105: Planície Intertidal (apicum) em Iguará...... 146 Figura 106: Dunas em Lençóis ...... 146 Figura 107: Dunas em Mangunça ...... 147 Figura 108: Planície aluvial, próx. à Serrano do Maranhão ...... 147 Figura 109: Bacias Hidrográficas do Maranhão ...... 148 Figura 110: Subbacias da região da RESEX ...... 149 Figura 111: Série histórica pluviométrica ...... 151 Figura 112: Dados Hidrológicos Regionais ...... 152 Figura 113: Aspectos físicos e oceanográficos da Região Norte brasileira ...... 154 Figura 114: Mapa apresenta a fito fisionomia da RESEX...... 158 Figura 115: Folhas de Rhizophora sp...... 161 Figura 116: Mangue-de-botão ...... 161 Figura 117: Sítio de pouso e forrageio das aves ...... 161 Figura 118: Mangue-vermelho ...... 161 Figura 119: Mangue Preto ou Siriba ...... 162 Figura 120: Marisma utilizada por colhereiros e garças, próxima à Retiro...... 163 Figura 121: Vegetação psamófila (adaptadas á solos arenosos típicos de restinga) .... 166 Figura 122: Ipomoea sp., auxilia na fixação das dunas...... 166 Figura 123: Cajueiro (Anacardium sp.) e o tucum (Astrocaryum sp.), em Mangunça 166 Figura 124: Mapirunga (Eugenia tinctoria) ...... 166 Figura 125: Vegetação pioneira (pichirri) ...... 166 Figura 126: Restinga em Caçacueira ...... 166 Figura 127: Presenca de babaçu no entorno da RESEX...... 168 Figura 128: Vegetação caracterizada pela família Aracaceae (Palmeiras)...... 168 Figura 129: Presença de Buriti junto às áreas úmidas ...... 168 Figura 130: Presença de palmeiras e vegetação aquática no entorno da RESEX (trecho percorrido em Apicum-açu)...... 169 Figura 131: Vegetação observada entre o município de Apicum-açu e a UC...... 169 Figura 132: Figueira (Ficus sp.) na restinga de Caçacueira...... 172 Figura 133: Gênero Ipomoea, importante para a fixação de dunas...... 172 Figura 134: Manga, alimento para as aves ...... 173 Figura 135: Guajeru, em Mirinzal...... 173 Figura 136: Amendoeira (Terminalia catappa)...... 173 Figura 137: Groselha-branca (Phyllanthus acidus) ...... 173 Figura 138: Mirinzeiro (Humiria balsamifera) ...... 173 Figura 139: Vegetação arbustiva nas restingas da Ilha dos Lençóis ...... 173 Figura 140: Coqueiros, cajueiros e dunas ao redor de Caçacueira...... 174 Figura 141: Predomínio de coqueiros ao redor de Guajerutiua ...... 174 Figura 142: Vista do dossel da vegetação de Mangunça ...... 175 Figura 143: Borda do fragmento de floresta ombrofila, com a presença de gado bovino e um exemplar de Angelim (Hymenolobium petraeum) ...... 175 Figura 144: Tucum (Astrocaryum sp) em Mangunça ...... 175 Figura 145: Barbatimão (Styphnodendron sp.) em Mangunça ...... 175 Figura 146: Tinteira (Laguncularia racemosa) na ilha dos Lençóis ...... 175 Figura 147: Bosque mono-específico de Siriba (Avicennia sp.) na ilha dos Lençóis .. 175 Figura 148: Bosque com dominância de mangue-vermelho no dossel superior - Ilha dos Lençóis ...... 176 Figura 149: Manguezal naturalmente soterrado por bancos de areia devido à ação do vento e maré durante a preamar...... 176 Figura 150: Vegetação arbustiva nas restingas da Ilha de Lençóis. Ajuda na fixação das dunas e constribui para a beleza da paisagem...... 176 Figura 151: Cactácea (mandacarú) presente em Bate-Vento ...... 176 Figura 152: Guaxinim ou Mão-pelada (Procyon cancrivorus) ...... 177 Figura 153: Grupo de guaxinim avistado nos mangues da RESEX ...... 177 Figura 154: Tamanduá-mirim (T. tetradactyla) ...... 179 Figura 155: T. tetradactyla utilizando o estrato arbóreo na ilha de Mangunça...... 179 Figura 156: Serpente encontrada em Mangunça ...... 179 Figura 157: Família Bufonidae (Rhinella sp.) na praia de Caçacueira...... 179 Figura 158: Iguana (Iguana iguana) avistado em Guajerutiua...... 180 Figura 159: Cobra-cipó (Leptophis sp.) fotografada na Ilha de Mangunça Foto: Sidney Ferreira (morador da Ilha de Mangunça)...... 180 Figura 160: Cobra papa-ovo (Drymarchon corais) fotografada na Ilha de Mangunça 180 Figura 161: Crocodiliano fotografado na Ilha de Mangunça Foto: Sidney Ferreira (morador da Ilha de Mangunça) ...... 181 Figura 162: Carrá-carrá (Caracara plancus) ...... 187 Figura 163: Gavião-carrapateiro (Mivalgo chimachima) ...... 187 Figura 164: Guará (Eudocimus ruber) ...... 187 Figura 165: Sabiá-da-praia (Turdus sp.) ...... 187 Figura 166: Mergulhão ou Biguá (Phalacrocorax brasilianus) ...... 188 Figura 167: Batuíra (Charadrius sp.) ...... 188 Figura 168: Urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura) ...... 188 Figura 169: Martim-pescador (Familia Alcedinidae) ...... 188 Figura 170: Garça-branca-pequena (Egretta thula)...... 188 Figura 171: Bem-te-vi (Pitangus sp.) ...... 188 Figura 172: Pica-pau-de-cabeça-vermelha (Campephilus melanoleucos) ...... 189 Figura 173: Maçarico (Numenius sp.) ...... 189 Figura 174: Japó (P. decumanus) ...... 189 Figura 175: Gavião-pichi-pichi (Buteogallus meridionalis) ...... 189 Figura 176: Anu-branco ou Alma-de-gato (G.guira) em Guajerutiua ...... 189 Figura 177: Trinta-réis (Familia Sternidae) ...... 189 Figura 178: Beija-flor (Família Trochilidae) ...... 190 Figura 179: Garça-morena ou Garça-azul (Egretta caerulea) ...... 190 Figura 180: Gaivota-alegre (Larus atricilla) ...... 190 Figura 181: Garça-branca-grande (Ardea alba) ...... 190 Figura 182: Maçarico-de-asa-branca (Tringa semipalmata) em Caçacueira ...... 190 Figura 183: Colhereiro (Platea ajaja) ...... 190 Figura 184: Guarás e Garças utilizando as árvores do mangue como área de descanso...... 191 Figura 185: Raízes do mangue são excelentes pontos para a alimentação dos guarás. 191 Figura 186: Marreca-viuvinha (Dendrocygna viduata)...... 192 Figura 187: Jaçanã (Jacana jacana) ...... 192 Figura 188: Frango d’agua (Porphyrio martinicus) ...... 192 Figura 189: Pomba-do-ar (Patagioenas cayennensis ...... 192 Figura 190: Pipira-preta (Tachyphonus rufus)...... 192 Figura 191: Sanhaçu-cinzento (Tangara sayaca) ...... 192 Figura 192: Gavião mãe d’agua (Buteogallus urubitinga)...... 193 Figura 193: Gurijuba (Sciades parkeri), imagem mostra a coloraçao amarela típica da espécie (Betancur-R et al., 2008)...... 198 Figura 194: Caravela (Cnidário) na praia de Mangunça ...... 199 Figura 195: Medusa (Cnidário) na praia de Guajerutiua ...... 199 Figura 196: Carcaça de tartaruga-marinha em Retiro...... 205 Figura 197: Mapa Unidades de Paisagem ...... 210 Figura 198: Distribuição das Unidades da Paisagem Terrestres na RESEX ...... 211 Figura 199: Distribuição das Unidades da Paisagem Terrestres na RESEX ...... 212 Figura 200: Ciclo da gestão de projetos dos Padrões Abertos para a prática da conservação ...... 226 Figura 201: Oficinas de Planejamento Participativo ...... 229 Figura 202: Comunidades fazem o apontamento das espécies vulneráveis e principais ameaças ...... 229 Figura 203: Modelo Conceitual ...... 231 Figura 204: Ameaças (tarjeta rosa) apontadas nas comunidades de Caçacueira, Peru e São Lucas...... 238 Figura 205: Ameaças (tarjeta rosa) apontadas nas comunidades de Guajerutiua, Valha- me-Deus e Porto Alegre ...... 239 Figura 206: Algumas das ameaças (tarjeta rosa) apontadas nas comunidades Bate- Vento, Lençóis e Porto do Meio...... 239 Figura 207: Apresentação das ameaças junto às comunidades de Beiradão, Iguará, Mirinzal, Retiro e Urumaru...... 239 Figura 208: Promover o uso adequado do recurso florestal com aprimoramento das técnicas de uso – Modelo conceitual ...... 247 Figura 209: Cadeia de resultados da estratégia - Promover o uso adequado do recurso florestal com aprimoramento das técnicas de uso ...... 247 Figura 210: Promover o ordenamento dos animais de pequeno e médio porte – Modelo conceitual ...... 249 Figura 211: Cadeia de resultados da estratégia - Promover o ordenamento dos animais de pequeno e médio porte ...... 250 Figura 212: Implementar e ampliar o ordenamento da pesca – Modelo conceitual ..... 252 Figura 213: Cadeia de resultados da estratégia - Implementar e ampliar o ordenamento da pesca...... 253 Figura 214 - Zoneamento da RESEX ...... 290 ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição da população de Cururupu, 2010 ...... 25 Tabela 2: Distribuição da população de Apicum-Açu, 2010...... 26 Tabela 3: Perfil da Família Beneficiária ...... 38 Tabela 4: Principais entrepostos de desembarque pesqueiro do Maranhão ...... 58 Tabela 5: Produção pesqueira (em tonelada) por município no Maranhão de 1965 a 1975...... 59 Tabela 6: Principais artes de pesca identificadas, associada às espécies-alvo, quantidade de ocorrência e localidades ...... 70 Tabela 7: Espécies mais capturadas nos municípios de Cururupu e Apicum-açu em 2005...... 87 Tabela 8: Esforço de pesca empregado na atividade ...... 93 Tabela 9: Identificação dos pesqueiros existentes na RESEX ...... 94 Tabela 10 – Usos tradicionais de recursos vegetais em Reservas Extrativistas ...... 105 Tabela 11: Informações sobre a durabilidade estimada da madeira nos petrechos de pesca, segundo relatos dos moradores da RESEX ...... 109 Tabela 12: Quantidade média de madeira de mangue utilizada, segundo relatos dos moradores da RESEX ...... 109 Tabela 13: Espécies arbóreas exóticas...... 157 Tabela 14: Principais espécies encontradas no litoral maranhense ...... 164 Tabela 15: Espécies de aves limícolas neárticas registradas nas Reentrâncias Maranhenses e no Golfão Maranhense...... 184 Tabela 16: Síntese das características das principais espécies de crustáceos de interesse comercial da RESEX ...... 202 Tabela 17: Unidades de Paisagem – Quadro de Áreas da RESEX ...... 211 Tabela 18: Unidades de Paisagem Terrestres ...... 212 Tabela 19: Objetivos traçados para cada alvo de conservação ...... 237 Tabela 20: Ameaças diagnosticadas durante o primeiro modelo conceitual ...... 240 Tabela 21: Ameaças priorizadas para a definição das estratégias ...... 243 Tabela 22: Ameaças e estresses ...... 245 Tabela 23: Promover o uso adequado do recurso florestal com aprimoramento das técnicas - Atividades, ações, envolvidos, metas e indicadores...... 248 Tabela 24: Promover o ordenamento dos animais de pequeno e médio porte - Atividades, ações, envolvidos, metas e indicadores...... 250 Tabela 25: Implementar e ampliar o ordenamento da pesca - Atividades, ações, envolvidos, metas e indicadores ...... 254 Tabela 26: Metas e indicadores do Programa de Educação Ambiental ...... 262 Tabela 27: Metas do Subprograma de Organização Comunitária ...... 264 Tabela 28: Metas e Indicadores do Subprograma de Gestão Participativa ...... 265 Tabela 29: Metas e Indicadores do Subprograma de Saneamento Básico ...... 267 Tabela 30: Metas e indicadores do Programa de Fomento do TBC ...... 268 Tabela 31: Metas e indicadores do subprograma de elaboração do Plano de Proteção da RESEX ...... 270 Tabela 32: Metas do subprograma de Retirada dos Bovinos ...... 271 Tabela 34: Metas e indicadores do programa de Comunicação ...... 273 Tabela 35: Metas e indicadores do programa de Gestão e Administração ...... 274 Tabela 36: Metas e indicadores do programa de Pesquisa e Monitoramento ...... 276 Tabela 33: Metas e indicadores do subprograma de Proteção da fauna ...... 277 Tabela 37: Metas e indicadores do programa de Apoio à Navegação...... 259 Tabela 38: Cronograma das Estratégias ...... 280 Tabela 39: Cronograma dos Programas ...... 281 Tabela 40: Quadro de Áreas em função das tipologias de Zona da RESEX ...... 289

VOLUME I

DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO DA RESERVA EXTRATIVISTA DE CURURUPU

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1. INTRODUÇÃO Conforme o artigo 18 da Lei Federal nº 9.985 de 18 de julho de 2000, a Reserva Extrativista “é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade”. A Reserva Extrativista (RESEX) Marinha de Cururupu é uma Unidade de Conservação (UC) Federal de Uso Sustentável, criada em 2004 no estado do Maranhão com o objetivo de assegurar o território tradicionalmente ocupado por pescadores artesanais, assim como promover o uso racional e sustentável dos recursos naturais. É considerada a maior RESEX em ambiente marinho-costeiro do Brasil, com aproximadamente 186.000 hectares de mangues, restingas, apicuns, praias arenosas e vegetação de terras firmes. Seu interior é ocupado por 12 comunidades de pescadores artesanais, que desenvolvem historicamente um modo de vida particular, dito tradicional. Somam-se a essas comunidades, mais 4 localidades onde os extrativistas beneficiários instalam-se temporariamente para exercer a atividades pesqueiras tradicionais. Conciliar a conservação ambiental, respeito às diferenças culturais e o estímulo ao desenvolvimento local é o principal desafio de gestão desta UC. Conforme será amplamente detalhado neste Plano de Manejo, a RESEX está inserida no interior da Área de Preservação Ambiental - APA das Reentrâncias Maranhenses e, em função desta sobreposição de unidades de conservação, não é aplicável a definição de uma Zona de Amortecimento. O presente Plano de Manejo (PM) foi elaborado com base na Instrução Normativa ICMBio 01/2007 e Roteiro Metodológico para Elaboração de Planos de Manejo de Florestas Nacionais (ICMBio, 2009). A empresa responsável pelo estudo é a Deicmar Ambiental, dedicada a projetos de consultoria ambiental, com sede no município de Santos/SP contratada pelo FUNBIO para esta finalidade (contrato no 01/205, segundo o Termo de Referência no 2014.0514.00029-0). A equipe técnica responsável pela elaboração do Plano esteve em campo em dois momentos distintos. Na etapa de Reconhecimento de Campo, entre fevereiro e março de 2015, visitaram-se todas as comunidades da UC, nesta ocasião, as principais ferramentas de diagnóstico foram às reuniões abertas (diagramas comunitários/matriz de problemas), entrevistas semiestruturadas e observações participativas da paisagem

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(travessias). Posteriormente, na etapa de Planejamento da RESEX, em julho de 2015, realizaram-se quatro Oficinas de Planejamento Participativo com representantes de todas as comunidades, utilizando a metodologia dos Padrões Abertos para a Prática da Conservação1 e da cartografia social como instrumento de diálogo, levantamento de dados sobre o território, incluindo o espelho d’ água e troca de informações entre pesquisadores e moradores. Adicionalmente foram realizadas duas reuniões de Estruturação do Planejamento, nas quais os pesquisadores da consultoria contratada puderam alinhar o desenvolvimento do PM junto aos técnicos da Coordenação de Elaboração e Revisão de Plano de Manejo - COMAN e macroprocessos envolvidos (Coordenação Geral de Populações Tradicionais – Coordenação Geral de Uso Público; Coordenação de Consolidação dos Limites). O Plano está estruturado em dois volumes. O primeiro refere-se ao Diagnóstico Socioambiental da UC; o segundo é o Planejamento da RESEX. O primeiro volume apresenta relevantes informações acerca da RESEX, dentre elas sua contextualização global e regional, a caracterização do ambiente físico, da fauna e flora, o passado e o presente de suas comunidades e saberes tradicionais associados. Discorre também sobre os principais conflitos observados ou registrados, assim como projetos e políticas públicas incidentes. O volume II – Planejamento é o documento que norteia o futuro desejado da UC, pois contêm os objetivos específicos, análise estratégica, planos e programas de gestão e o zoneamento da RESEX, com todas as normas e diretrizes que compõe suas zonas.

1 Os Padrões Abertos para a prática da Conservação é um mecanismo de análise desenvolvido pela Aliança para Medidas de Conservação – CMP ( sigla em inglês) e tem foco nos objetivos de conservação.

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Ficha Técnica da Reserva Extrativista

Nome da Unidade de Unidade Conservação: Reserva Extrativista Marinha de Cururupu

Coordenação Regional: CR-4 Belém Unidade de Apoio Administrativo e Financeiro: ARPA Rua das Hortas nº 223, Centro - São Luís/MA Endereço da Sede: CEP: 65020-270 Telefone: (98) 3221-4167 http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades- Site: de-conservacao/biomas-brasileiros/marinho/unidades-de-

conservacao-marinho/2288-resex-de-cururupu.html Superfície da Unidade de 186.053,87(a) Conservação (ha): Perímetro da Unidade de 582,4 Conservação (km): Superfície da ZA (ha):

Perímetro da ZA (km²):

Municípios que abrange e percentual abrangido pela Unidade Cururupu (100%) de Conservação: Estados que abrange: Maranhão (100%) Coordenadas geográficas (latitude e 44°34'26,36"WGr / 1°46'27,90"S longitude): Data de criação e número do Dec. s/nº de 02 de junho de 2004 Decreto: Marcos geográficos referenciais dos Ilhas, manguezais e praias do município de Cururupu limites: Biomas e ecossistemas: Amazônico, Costeiro Atividades ocorrentes Pesca Artesanal, Extrativismo Vegetal, Turismo Projetos Escolares, Limpeza de áreas coletivas e captação Educação Ambiental¹: de água de chuva. Fiscalização¹: Quanto às artes de pesca e malhas de redes Pesquisa¹: Ref. estoques pesqueiros e comunidades tradicionais Visitação2: Principalmente na Ilha de Lençóis Pesca com apetrechos proibidos (rede alta, fuzarcão, Atividades conflitantes³: tapagem, etc.), captura de espécies ameaçadas; criação de bovinos; salinas em apicuns; disputas fundiárias. 1) Qualificar a atividade, 2) Identificar as atividades de visitação que se realizam dentro da Unidade, com Caminhada, banho, Camping, Mergulho, exposições, entre outros; 3) Identificar as atividades conflitantes que existam dentro da Unidade, como caça, pesca, especulação imobiliária, extração de recursos minerais e/ou vegetais, estradas federais, estaduais e/ou municipais, linhas de transmissão, ocupações, plataformas, hidrovias, visitação em categorias de Unidade de Conservação que não se admite. (a) Fonte: sitio eletrônico http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de-conservacao/biomas- brasileiros/marinho/unidades-de-conservacao-marinho/2288-resex-de-cururupu.html, acesso em 21/08/2015.

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2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA RESERVA EXTRATIVISTA A Reserva Extrativista de Cururupu é composta por arquipélagos de ilhas costeiras na região das Reentrâncias Maranhenses. Compõe a zona insular do município de Cururupu, além de tangenciar as franjas dos manguezais continentais de Serrano do Maranhão, Porto Rico, Apicum e Bacuri. Limita-se a sudeste com Porto Rico do Maranhão e a noroeste com Apicoado. Seu limite marinho é dado pela distância de duas milhas náuticas a partir da linha de costa de Cururupu. A Figura 1, a seguir, evidencia localização da RESEX no território nacional. A UC apresenta uma grande representatividade de ambientes de influência flúvio- marinha, como manguezais, restingas, apicuns, lavados2, caracterizados pela alta produtividade pesqueira e diversidade sociocultural. É historicamente ocupada por comunidades pesqueiras, sendo que atualmente abriga 1.2293 famílias, distribuídas em quatro arquipélagos, 12 comunidades4. Existem ainda quatro localidades que não dispõem de serviços e equipamentos da administração pública municipal5. A distribuição espacial dessas comunidades e localidades é descrita abaixo:  Arquipélago Sul ou de Mangunça: localidade Mangunça e localidade Taboa;  Arquipélago Centro-Sul: comunidade Caçacueira, comunidade São Lucas e comunidade Peru;  Arquipélago Centro-Norte – comunidade Guajerutiua, comunidade Valha-Me- Deus e comunidade Porto Alegre;  Arquipélago Norte ou de Maiaú – comunidade Lençóis, comunidade Bate- Vento, comunidade Mirinzal, comunidade Porto do Meio, Retiro, comunidade Iguará, localidade Beiradão e localidade Urumaru. A Figura 3 apresenta a Carta Imagem da Reserva Extrativista de Cururupu, com a localização de todas suas comunidades, principais portos, canais, ilhas e baías.

2 Lavados são planícies de marés inundados na preamar. 3 Termo de Referência - PNUD BRA/08/023 4 Entende-se como comunidade os locais onde existe o estabelecimento de famílias e a presença de serviços públicos, como escolas e postos de saúde. As localidades são entendidas como as áreas que não são contempladas pela administração pública municipal. Contudo é evidente a presença de trabalhadores, sobretudo, nos períodos de pesca. Considera-se a presença de 12 comunidades permanentemente ocupadas: Caçacueira, São Lucas, Peru, Guajerutiua, Valha-me- Deus, Porto Alegre, Lençóis, Bate Vento, Porto do Meio, Mirinzal, Retiro, Iguará. Além destas, Taboa, Mangunça, Urumaru e Beiradão são 4 localidades cuja ocupação se dá sobretudo nos períodos de pesca. Desta forma, a família passa a morar fora dos limites da UC (especialmente nas cidades de Cururupu e Apicum-Açu) mas o chefe da família continua fazendo parte da cadeia produtiva, residindo de maneira periódica porém regular. 5 Embora tais localidades não sejam atendidas pelo poder municipal, segundo relatos dos pescadores duarante a X Reunião do Conselho Deliberativo da RESEX, existem pessoas morando em Urumaru. Ainda relatam que parte dos moradores da ilha tenham migrado para Apicum-açu devido a ausência de serviços públicos.

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Figura 1: Localização da RESEX Marinha de Cururupu

2.1. ACESSOS A RESEX é acessada preferencialmente por via marítima, a partir dos portos de Cururupu, Pindobal e Apicum-Açu. O acesso à cidade de Cururupu pode ser feito das seguintes maneiras:  a partir de São Luís, pela BR-135, BR-222 até Vitória do Mearim, MA-014 até Pinheiro e MA-006 até Cururupu. Este trajeto possui entorno de 450 km;  a partir de São Luís, navega-se no ferry boat da Ponta da Espera à Cujupe, seguindo até Pinheiro e Cururupu, em um total aproximado de 190 km;  Por via marítima direta, partindo do Porto da Praia Grande - próximo ao Centro de São Luís, em uma viagem de aproximadamente 14 horas;

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Partindo de Cururupu, pode-se acessar o porto de Apicum-Açu (86 km por rodovias asfaltadas em bom estado de conservação) ou de Pindobal (30 km por rodovia parcialmente asfaltada em condições precárias, porém transitáveis). Há possibilidade também de fretamento de aviões de pequeno porte, onde pilotos experientes são capazes de pousar em Cururupu, Bate Vento ou Guajerutiua.

Figura 2: Principais acessos à RESEX

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Figura 3: Carta Imagem da RESEX

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2.2. ORIGEM DO NOME E HISTÓRICO DA UC A origem do nome de Cururupu possui diversas versões, sendo citadas por diversos autores (MARQUES, 1870; BARROS, 2002; IBGE, 2015; CRUZ, 2015). A primeira refere-se à lenda que diz “ter o referido nome nascido da junção de Cururu, apelido do cacique Cabelo de Velha, com o som da arma que o matou, daí Cururupu”. A segunda sustenta que a vila tomou este nome de uma fazenda existente a margem esquerda do rio Cururupu, onde fundeavam os barcos a vapor, como o São Luiz (MARQUES, 1870). A terceira é toponímica, onde “cururu” nas línguas tupis refere-se a “sapo grande”, sendo o sufixo “pu” referente a “ruído”, logo “sapo cantando ou coaxando” (BARROS, 2002). A criação da RESEX se dá em um contexto de reconhecimento dos territórios de comunidades tradicionais enquanto parceiros da conservação ambiental. Desta forma, especialmente na Amazônia, diversas populações passaram a reivindicar o direito aos seus territórios ancestrais, sendo a criação de áreas protegidas uma das principais estratégias adotadas. Em decorrência da demanda social, o processo de criação da RESEX articulou também as esferas políticas municipal, estadual e federal, entre 1999 e 2000. O processo teve apoio do então Ministro do Meio Ambiente e do prefeito de Cururupu, que por meio do IBAMA e da IUCN iniciaram os laudos biológicos e antropológicos que embasaram a criação da UC – coordenados por colaboradores do CNPT e moradores das comunidades. Esses laudos foram apoiados por instituições internacionais, comprometidas com a conservação amazônica, como a NC-IUCN (BARROS, 2009). Inicialmente a reserva abrangeria apenas as ilhas de Mangunça até Porto Alegre, face o desenvolvimento dos estudos, viu-se a necessidade de expandir os limites da UC até o arquipélago de Maiaú. Os laudos técnicos e os abaixo-assinados fundamentaram o processo enviado ao Executivo Federal, solicitando que a área se tornasse uma Unidade de Conservação. Por fim, através do Decreto S/N de 02 de Junho de 2004, a RESEX de Cururupu foi oficialmente criada. Sobre a criação da RESEX, diz um líder comunitário de Guajerutiua: “Olha a criação da RESEX veio assim como uma benção do céu, porque na década de 1990, era uma violência muito grande nas ilhas (...) e a gente começou se organizar, a criar um grupo de apoio, grupo de base, aí foi na comunidade São Lucas que criou o primeiro grupo de nível nacional teve uma entrevista pela rádio Globo e isso incentivou muito a gente, com a

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criação da reserva isso veio fortalecer ainda mais as ilhas, ai depois a gente foi se organizando, ‘teve’ a primeira eleição que foi ali na comunidade de Lençóis, né... Nós ‘tava’ quase duzentos sócios, saíram três candidatos e eu fui o vencedor, com noventa e quatro votos e daí a gente começou a trabalhar, começou a sair fora do Estado pra conhecer as realidades de outras reserva pra trazer aquilo de bom pra nossa reserva, levando os companheiros pra ver a realidade, né... não era eu só, a Kátia [Barros] e a... cada comunidade eu levava uma liderança pra gente implantar aquilo de bom dentro da nossa reserva”. (Entrevista com Líder Comunitário, morador da ilha Guajerutiua – 17/05/2013 in REGO, 2013). Conforme descrito na introdução do Laudo Socioeconômico (BARROS, 2002), a proposta de formação da RESEX de Cururupu fundamenta-se pela necessidade das comunidades em continuar utilizando os recursos naturais de forma sustentável e melhorar suas condições econômicas e sociais. Assim, a organização comunitária, apoiada pelo sindicado de pescadores de Cururupu e tecnicamente amparada pelos laudos biológicos e socioeconômicos ratificados por organismos internacionais obteve êxito na criação desta importante Unidade de Conservação.

2.3. CONTEXTO INTERNACIONAL 2.3.1 Sítio Ramsar A Convenção de Zonas Úmidas de Importância Internacional (conhecida por Convenção de Ramsar), em vigor desde 19756, constitui um tratado de cooperação internacional e ação nacional para conservação de zonas úmidas, especialmente enquanto habitat de aves aquáticas. Tal fato ressalta a necessidade de ações de manejo e gestão para a conservação destes grupos da avifauna. Hoje o Brasil possui um total de 12 sítios RAMSAR, cuja extensão total é de aproximadamente 6,5 milhões de hectares7. Destaca-se que o estado do Maranhão apresenta três sítios ao longo do seu litoral ocidental, cujos limites referem-se a três UCs: APA das Reentrâncias Maranhenses, criada em 1993, APA da Baixada Maranhense e Parque Estadual Marinho do Parcel de Manuel Luiz, ambas criadas em 2000. A localização dos Sítios RAMSAR é apresentada na Figura 4, a seguir.

6Em 1992 o Brasil aprovou o texto da Convenção, por meio do Decreto Legislativo n. 33. Tornando-se signatário em 1996, mediante a promulgação, pela Presidência da República, do Decreto Federal n. 1.905. 7http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/27976-o-que-e-um-sitio-ramsar - Acessado em Junho de 2015.

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Observa-se que a RESEX de Cururupu está inserida nos limites da APA das Reentrâncias Maranhenses, declarada oficialmente um sítio RAMSAR, assim, entende- se que o seu território também deve ser compreendido nas ações de gestão e manejo destinadas às áreas úmidas de importância para a conservação das aves migratórias. Os benefícios do reconhecimento da UC enquanto sítio RAMSAR são principalmente políticos e econômicos, pois se reconhece a importância ecológica destas áreas, direcionando investimentos diversos para projetos de desenvolvimento local e conservação.

Figura 4: Localização dos Sítios RAMSAR no Brasil

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2.3.2 Rede Hemisférica de Aves Limícolas – WHSRN A Rede Hemisférica de Reserva para Aves Limícolas (ou Western Hemisphere Shorebird Reserve Network – WHSRN, em inglês) é uma estratégia de conservação global, lançada em 1986 e sediada nos EUA. Sua missão é proteger as espécies de aves limícolas por meio da conservação de suas áreas de descanso, abrigo e reprodução, mediante a formação de uma rede de áreas protegidas chave. Atualmente as áreas que compõe a WHSRN conservam mais de 13 milhões de hectares no continente americano8. Em 1991, definiu-se a APA das Reentrâncias Maranhenses como uma Reserva Internacional da Rede Hemisférica de Reserva para Aves Limícolas, considerando sua importância enquanto área de abrigo e alimentação de mais de 325 mil espécimes de aves migratórias neárticas9. Sua importância global é estudada por pesquisadores de diversas nacionalidades, sendo este um dos principais motivos que atraem estrangeiros à região. A área é destino de mais de 50% dos maçaricos (Pluvialis squatarola); 72% da população dos maçaricos-turco (Arenaria interpres); 50% da população do maçarico- de-asa-branca (Tringa semipalmata) e; 43% do maçarico-galego (Numenius phaeopus) (Morrison e Ross, 1989 apud Serrano, 2011). As Figuras 5 a 8 apresentam algumas das aves limícolas ou costeiras existentes na Reserva.

Figura 5: Presença de maçaricos da Família Figura 6: Grupo de aves limícolas – gaivota- Scolopacidae em Iguará alegre (Leucophaeus atricilla), em Urumaru

8 http://www.whsrn.org/es/red-hemisferica-de-reservas-para-aves-playeras - Acessado em Julho de 2015. 9 Originárias das zonas polares do continente americano.

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Figura 7: Guarás (Eudocimus ruber), em Figura 8 : Colhereiros (Ajaia ajaja) e garça Porto Alegre (Egretta thula), em marisma em Retiro 2.3.3 Metas de AICHI As metas de Aichi são parte do planejamento estratégico da Convenção sobre a Biodiversidade Biológica (CDB) 10, que por sua vez é governada pela Convenção das Partes (Convention of the Parties – COP). Objetivando a proteção da biodiversidade em nível global, nacional e regional, durante o 10º encontro da COP, ocorrido no Japão, na cidade de Nagoya – Província de Aichi, foram definidas 20 metas (com duração até 2020). Essas metas, que tem cinco objetivos em comum e buscam fazer com que as preocupações com a biodiversidade permeiem governo e sociedade11, também procuram relacionar a biodiversidade com: o bem estar humano, os Objetivos do Milênio e à redução da pobreza. Dentre os países da América Latina, o Brasil é um dos poucos que oficialmente adotou uma Estratégia Nacional para a Biodiversidade, a partir da ratificação da Convenção sobre a Biodiversidade Biológica pelo Congresso Nacional em 1994, se comprometendo a cumprir as Metas de Aichi. Vendo a RESEX de Cururupu como uma das maiores Unidade de Conservação do Brasil, onde parte dos objetivos é a proteção das espécies animais e vegetais, bem como de seus ecossistemas, é possível alinhar suas estratégias de conservação e necessidades aos objetivos das Metas de Aichi, de modo a contribuir para que o Brasil alcance os resultados esperados para o ano de 2020. Dessa forma, observa-se que, dentre as metas de Aichi estabelecidas, a nº 06 – Pesca sustentável, se enquadra em uma das principais preocupações e estratégias de conservação da RESEX Cururupu, sendo essa:

10 A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) é o arranjo de colaboração internacional assumido pelas nações para: a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos, mediante, inclusive, o acesso adequado aos recursos genéticos e a transferência adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias, e mediante financiamento adequado. 11 Fonte: http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf2008_dcbio/_arquivos/metas_aichi_147.pdf

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“Até 2020, o manejo e captura de quaisquer estoques de peixes, invertebrados e plantas aquáticas serão sustentáveis, legais e feitos com aplicação de abordagens ecossistêmicas, de modo a evitar a sobre- exploração, colocar em prática os planos e medidas de recuperação para espécies exauridas, fazer com que a pesca não tenha impactos adversos significativos sobre espécies ameaçadas e ecossistemas vulneráveis, e fazer com que os impactos da pesca sobre estoques, espécies e ecossistemas permaneçam dentro de limites ecológicos seguros.” Além dessa, outras metas e seus objetivos estão associados às necessidades e estratégias de conservação da RESEX, como: a restauração e preservação de ecossistemas provedores de serviços essenciais, meios de vida e bem-estar, como os manguezais; conservação de áreas marinhas de destacada importância para a biodiversidade; conservação de espécies ameaçadas de extinção; respeito aos conhecimentos tradicionais de comunidades indígenas e locais; e difusão do conhecimento sobre os valores da biodiversidade para a população humana.12 Assim, evidenciam-se mais uma vez que a proteção dos recursos naturais da RESEX e seus ambientes, bem como o sucesso das suas estratégias de conservação, manutenção e valorização da população local, estão ligados a um importante Plano Estratégico de importância global, que deve vigorar até o ano de 2020.

2.4 CONTEXTO NACIONAL E ESTADUAL 2.4.1 Amazônia Legal A Amazônia Legal é um conceito estratégico, criado para o planejamento e desenvolvimento dos estados da região amazônica, que historicamente compartilham os mesmos desafios econômicos, políticos e sociais, além da maior floresta tropical do mundo. Inclui áreas de cerrados e savanas, pantanais e ambientes costeiros. Representa aproximadamente 60% do território nacional, entorno de 520 milhões hectares e é composta por 775 municípios. Apesar de sua grande extensão territorial, a região tem pouco mais de 21 milhões de habitantes, ou seja, em torno de 12% da população brasileira (MMA, 2009; BRASIL, 2010). A definição de uma “Amazônia Legal” é parte de uma macroestratégia de integração da região à economia nacional e desenvolvimento sustentável, fomentando políticas públicas específicas para todo seu território. Essa estratégia de gestão territorial tem

12 Fonte: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Metas_de_aichi_situacao_2011.pdf

14 condições potenciais de harmonizar os projetos de desenvolvimento para a região, analisando-os de maneira integrada. Um dos seus principais instrumentos de gestão é o Macro Zoneamento Ecológico Econômico da Amazônia Legal (MacroZEE), em vigor desde 2010 e que estabelece 10 Unidades Territoriais (ou zonas) para a região. Neste documento, todo o litoral maranhense, incluindo então Cururupu, compõe a Unidade Territorial de Fortalecimento das capitais costeiras, regulação da mineração e apoio à diversificação de outras cadeias produtivas (BRASIL, 2010). Trata-se da região mais povoada da Amazônia, onde se concentram grandes empreendimentos minerários (ferro, bauxita e manganês) e três capitais costeiras, Macapá, Belém e São Luís. Por esse motivo as estratégias centram-se na regulamentação da mineração e no desenvolvimento urbano. Contudo, é ressaltada a importância da pesca na região, havendo uma estratégia específica para o tema: “Promover a pesca e aquicultura responsáveis, a partir do manejo e de tecnologias sustentáveis, inclusive com a produção de rações alternativas, para a produção de alimentos e divisas” (BRASIL, 2010). Como se observa, o planejamento e a gestão da RESEX é um elemento fundamental ao sucesso da estratégia para a região, uma vez que tem a atribuição de ordenar o manejo dos recursos pesqueiros em Cururupu – que é o maior produtor de pescados do Maranhão. Outro instrumento de gestão territorial para a região é o Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal (PROECOTUR13), que visa à realização de investimentos em áreas estratégicas, especialmente no que tange o estímulo às iniciativas privadas no turismo. O programa coloca Cururupu entre os 57 municípios prioritários para a esta promoção do turismo em bases sustentáveis (BRASIL, 2010).

2.4.2 Polo Ecoturístico da Floresta dos Guarás O Polo Ecoturístico dos Guarás é um dos 15 Polos do PROECOTUR, seus objetivos relacionam-se com a “proteção dos atrativos ecoturísticos, implementação de infraestrutura básica de serviços, capacitação de recursos humanos, estímulo à utilização de tecnologias apropriadas e contribuição na valorização das culturas locais e conservação da biodiversidade” (BRASIL, 2010). Sua estratégia territorial se dá em polos, ou seja, zonas prioritárias nas quais o poder público implantará projetos e normas

13 Coordenado pelo MMA, em conjunto com o Ministério do Esporte e Turismo. Informações obtidas em http://www.mma.gov.br/port/sca/proeco/turverde.html , acessado em Maio de 2015.

15 visando à atração de empreendimentos ecoturísticos particulares. Na primeira fase do Programa foram estabelecidos 15 Polos de Ecoturismo, totalizando 152 municípios. A região da RESEX faz parte do chamado Polo Ecoturístico da Floresta dos Guarás, que compreende os municípios de Cedral, Guimarães, Mirinzal, Porto Rico do Maranhão, Serrano do Maranhão, Cururupu, Bacuri e Apicum-Açu, conforme apresentado na Figura 9. O Polo é descrito como: Meio Amazônia, Meio Nordeste, O Maranhão traz consigo as belezas e sabores de ambos ao mesmo tempo. Um litoral de praias selvagens e dos mais bem preservados manguezais do país, refúgio de guarás, garças e aves migratórias. A paz das ilhas, das vilas e da vida dos pescadores14. Desta forma, observa-se que o planejamento do turismo para a região valoriza especialmente a paisagem natural costeira associada à grande representatividade de aves e comunidades de pescadores. Logo, observa-se a potencial harmonia entre as políticas públicas de desenvolvimento turístico para a região, a conservação ambiental e o desenvolvimento local.

14http://www.mma.gov.br/port/sca/proeco/turverde.html

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Figura 9: Municípios formadores do Polo Ecoturístico da Floresta dos Guarás

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2.4.3 Plano de Ação Nacional - PAN Manguezal Os Planos de Ação Nacionais para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção ou do Patrimônio Espeleológico (PAN) são políticas públicas, elaboradas em conjunto com a sociedade civil, empresas e setores públicos, que buscam proteger, de forma integrada, espécies e ecossistemas ameaçados. Tem como principal objetivo “a troca de experiência entre os atores envolvidos, no sentido de agregar e buscar novas ações de conservação, reunindo e potencializando os esforços na conservação, e racionalizando a captação e gestão dos recursos para conservação das espécies ou ambientes focos dos planos de ação” 15. No ano de 2015, o Plano de Ação Nacional para Conservação das Espécies Ameaçadas e de Importância Socioeconômica do Ecossistema Manguezal (PAN Manguezal) foi regulamentado depois de anos em discussão com o objetivo de “conservar os manguezais brasileiros, reduzindo a degradação e protegendo as espécies focais do PAN, mantendo suas áreas e usos tradicionais, a partir da integração entre as diferentes instâncias do poder público e da sociedade, incorporando os saberes acadêmicos e tradicionais” (Portaria ICMBio nº 9/2015). As ações do PAN serão desenvolvidas em áreas estratégicas, sendo as da região norte: Cabo Orange-Sucuriju (Litoral do Amapá), Marajó (Ilha do Marajó, Estado do Pará) e Cinturão Pará - Maranhão (Litoral dos Estados do Pará e Maranhão) 16. O prazo de vigência no PAN-Manguezal é até o ano de 2020, estando seus objetivos associados aos compromissos brasileiros estabelecidos nas Metas de Aichi. O PAN Manguezal estabelece ações para a conservação de 74 espécies, sendo que:  20 espécies ameaçadas em âmbito nacional, como o Mero (Epinephelus itajara), Cação-espadarte (Pristis sp.), Boto-cinza (Sotalia guianensis), Trinta-réis-real ou Andorinha-real-do-mar (Thalasseus maximus) e boi-marinho (Trichechus manatus).  09 espécies ameaçadas apenas em âmbito regional, como a Ostra-do-mangue (Crassostrea rhizophorae), Guará (Eudocimus ruber) e Caranguejo-uçá (Ucides cordatus), além de;  45 espécies de importância socioeconômica e não ameaçadas, como Gurijuba (Aspistor luniscutis), Siri-azul (Callinectes sapidus), Camurim (Centropomus

15 http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/2742-plano-de-acao-saiba-mais.html - acessado em outubro de 2015. 16 Para este Plano de Manejo, não foi possível o mapeamento das ações que recaem sobre a área da RESEX, tendo em vista a não publicação do livro do PAN Maguezal, conforme sinaliza o site do ICMBIO.

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parallelus), Robalo (Centropomus undecimalis), Pescada-amarela (Cynoscion acoupa), Pescada-olhuda ou Mariamole (Cynoscion guatucupa), Pescada-branca (Cynoscion leiarchus), Pescada-bicuda (Cynoscion microlepidotus), Pescada- cambucu (Cynoscion virescens), Serra (Scomberomorus brasiliensis) Corvina ou Coruca (Micropogonias furnieri), Tainha (Mugil sp.), Sururu-de-dedo (Mytella guyanensis), Linguado (Paralichthys sp.) e Camarão-sete-barbas ou piré (Xiphopenaeus kroyeri), Ostra (Crassostrea brasiliana), Camarão-rosa ou cascudo (Farfantepenaeus sp.), Camarão-branco (Litopenaeus schmitti), Mangue-preto ou Siriba (Avicennia germinans), Mangue-preto ou Siriba (Avicennia schaueriana), Mangue-de-botão (Conocarpus erectus), Mangue branco ou Tinteira (Laguncularia racemosa), Mangue-vermelho (Rhizophora sp.).

2.4.4 ZEE do Estado do Maranhão O estado do Maranhão encontra-se em região chamada de Meio-Norte brasileiro, isto é, seu território está distribuído em uma faixa de transição entre o nordeste, norte e centro- oeste brasileiro, fato que gera uma grande diversidade de paisagens, com destaque à Floresta Ombrófila, a Mata dos Cocais, o Cerrado, a Caatinga e os ambientes costeiros. Entre outros motivos, torna-se fundamental o planejamento de seu território visando o desenvolvimento socioeconômico em harmonia com o ambiente. O ZEE estado do Maranhão define a área da UC como Zona 4, que corresponde “às áreas protegidas de uso restrito e controlado”, legalmente instituídas pelo estado, cuja principal diretriz é garantir a integridade do ecossistema. O documento detalha ainda diferentes subzonas, sendo a RESEX classificada como subzona 4.1: “áreas constituídas por unidades de conservação de uso sustentável”, onde “a utilização dos recursos ambientais deverá seguir legislação, planos e diretrizes específicas”. (EMBRAPA, 2014). Desta forma, o ZEE reafirma a independência da RESEX para definir, de maneira autônoma, suas normas, diretrizes e objetivos, visando o uso sustentável dos recursos e a conservação ambiental.

2.4.5 Mosaicos de Unidades de Conservação Quando existir um conjunto de Unidades de Conservação próximas, justapostas ou sobrepostas, sua gestão deverá ser planejada enquanto um mosaico, de forma integrada, participativa e considerando-se os seus distintos objetivos de conservação. A gestão do mosaico é uma forma a compatibilizar a biodiversidade com a valorização da sociodiversidade em um contexto regional.

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A criação de mosaicos é um instrumento definido no SNUC, cuja principal vantagem é a gestão integrada de ações, paisagens e recursos (BRASIL, 2000). Seu objetivo é compatibilizar e aperfeiçoar as atividades desenvolvidas em cada UC, especialmente em suas bordas, coordenar o acesso, a fiscalização e o monitoramento integrado, assim como a avaliação dos Planos de Manejo. A criação do mosaico, todavia, deverá ser reconhecida em ato do Ministério do Meio Ambiente - MMA, a pedido dos órgãos gestores das UCs (Decreto nº 4.340/2002). Embora não formalmente instituído, o mosaico de Unidades de Conservação do litoral ocidental do Maranhão é composto por quatro UCs de Uso Sustentável e um Parque Estadual Marinho: as Áreas de Proteção Ambiental (APA) das Reentrâncias Maranhenses; APA da Baixada Maranhense; RESEX de Cururupu e do Quilombo do Frexal e Parque Estadual Marinho do Parcel de Manuel Luís. A localização e a sobreposição destas UCs podem ser visualizadas na Figura 10. A seguir é apresentada uma breve descrição de cada UC da região.

2.4.6 APA das Reentrâncias Maranhenses É uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável criada pelo Decreto Estadual nº 9.901/1991, objetivando, “disciplinar o uso e ocupação do solo, a exploração dos recursos de origem animal e vegetal e atividade de pesca” no litoral ocidental maranhense. Estende-se por mais de 250 km do litoral do Maranhão, incluindo uma série de ilhas, baías, enseadas e estuários, desde a Baía de São Marcos Alcântara até foz do rio Gurupi, no limite com o estado do Pará. É composta pelos municípios de Alcântara, Guimarães, Cedral, Porto Rico do Maranhão, Serrano do Maranhão, Mirinzal, Bequimão, Cururupu, Apicum-Açu, Turilândia, Bacuri, Cândido Mendes, Turiaçú, Luís Domingues, e . Abriga predominantemente ecossistemas costeiros, como grandes contínuos de manguezais e restingas, assim como ambientes de transição, como matas de cocais e floresta ombrófila. Seu território inclui diversos portos e comunidades de pescadores associadas à grande produtividade pesqueira. No interior, ressalta-se a presença de comunidades quilombolas associadas a roçados tradicionais, além de cidades e mineradoras17. A APA das Reentrâncias Maranhenses é foco da garimpagem de ouro e outras substâncias, desenvolvida, por exemplo, nos municípios de Domingos Luís e Caratupera. A mineração é caracterizada por uma atividade de alto impacto ambiental,

17 http://uc.socioambiental.org/uc/5154

20 causando a contaminação por metais, o aterro/assoreamento causado pelo despejo de rejeitos de pedra, entre outros. Além dos impactos sociais, apesar das mineradoras argumentarem que a atividade na área promove o desenvolvimento econômico e social (Santos et al., 1999).

2.4.7 APA da Baixada Maranhense É uma UC de Uso Sustentável criada pelo Decreto Estadual nº 11.900/1991 objetivando também disciplinar o uso e ocupação do solo, a exploração dos recursos naturais, as atividades de pesca e a criação de gado bubalino; zelando pela integridade biológica das espécies, dos padrões de qualidade das águas e dos refúgios das aves migratórias. Abrange a Baixada Maranhense ao longo de uma área de 1,7 milhões de hectares, compreendendo 48 municípios e três subáreas: Baixo Pindaré, Baixo Mearim-Grajaú e Estuário Mearim Pindaré. É uma área de ocupação pioneira do estado, caracterizada pela transição entre o bioma amazônico e o costeiro. Possui extensas planícies fluviais e litorâneas, onde se desenvolvem atividades de extrativismo vegetal, pecuária e roçados tradicionais. Abriga grande diversidade de peixes e aves migratórias e residentes.

2.4.8 Parque Estadual Marinho do Parcel de Manuel Luiz É uma UC Marinha de Proteção Integral criada pelo Decreto Estadual n° 11.902 de 199118 com o objetivo de proteger a fauna e flora marinhas, em especial os recifes de corais do parcel. No parque são permitidos apenas os usos indiretos, ou seja, atividades de caráter científico, educativo e/ou recreativo. Possui entorno de 43 mil hectares de espelho d’água, sendo a Ilha dos Lençóis (município de Cururupu) o ponto de terra firme mais próximo do Parcel - distante 45 milhas náuticas (aproximadamente 80 km). O parque abriga a maior formação de corais da América do Sul e é conhecido como “Triângulo das Bermudas Brasileiro” devido à quantidade de naufrágios ocorridos no local – calculado em mais de 20019. Por este motivo é um importante sítio arqueológico e destino turístico nacional. Muitos pesquisadores acreditam que o navio Ville de

18 Informações extraídas de Ministério do Meio Ambiente http://www.mma.gov.br/index.php/comunicacao/agencia-informma?view=blog&id=709 19 http://mma.gov.br/index.php/comunicacao/agencia-informma?view=blog&id=709 – acessado em julho de 2015.

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Boulogne, que levava o poeta maranhense Gonçalves Dias20 tenha naufragado próximo ao parcel, em 1864. Possui grande diversidade de espécies, como peixe-palhaço (Amphiprion frenatus), peixe-borboleta (Pygoplites diacanthus), sargentinho (Abudefduf saxatilis); mero (Epinephelus itajara), garoupa (Epinephelus sp) e a tartaruga-marinha (Cheloniidae).

2.4.9 Reserva Extrativista Quilombo do Frexal É uma UC de Uso Sustentável criada pelo Decreto Federal n° 536/1992, objetivando a proteção e valorização do modo de vida das populações tradicionais associado à conservação ambiental. Abrange uma área aproximada de 9.500 ha, totalmente inseridos no município de Mirinzal. Possui grande significância antropológica, dada as lutas e conquistas históricas das populações quilombolas por seu território tradicional. Segundo levantamentos, existem aproximadamente 280 famílias na UC, distribuídas da seguinte forma entre os três povoados da RESEX: 90 em Frechal, 60 em Rumo e 130 em Deserto (GUERREIRO, 2012). Tais famílias dedicam-se essencialmente às atividades de subsistência, tal como o roçado tradicional, a pecuária e o extrativismo vegetal. Dada à ocupação histórica da região, predominam as fisionomias de vegetação secundária, com destaque para os bosques de palmeiras (família das Arecaceae), como o babaçu e a juçara (ou açaí).

20 Natural de Caxias (MA) é um dos principais poetas brasileiros, autor do famoso poema “Canção do Exílio” – “Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá / as aves que aqui gorjeiam / não gorjeiam como lá” (...). É o patrono da cadeira 15 da Academia Brasileira de Letras.

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Figura 10: Mapa das Unidades de Conservação do Litoral Maranhense

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2.5 CONTEXTO MUNICIPAL 2.5.1 Cururupu e Apicum-Açu Todo o interior da RESEX é parte do município de Cururupu, sendo que os limites da UC apenas tangenciam os municípios de Porto Rico do Maranhão, Serrano do Maranhão, Bacuri e Apicum-Açu. Por este motivo, as informações socioeconômicas da população residente na UC estão majoritariamente vinculadas à Cururupu. Todavia, em função da distância entre as ilhas do setor norte da Unidade e a sede do município, nota-se que tais comunidades são polarizadas por Apicum-Açu – buscando nesta cidade os serviços de saúde, educação e comércio, como a compra de mantimentos. Assim, faz-se necessário o diagnóstico de ambos os municípios, uma vez que significativa parte da população da RESEX possui sua vida vinculada à Apicum- Açu – embora viva em território de Cururupu. Por este motivo, é apresentada uma breve descrição das seguintes temáticas socioeconômicas: Demografia, PIB, IDH- M, Saúde, Saneamento, Educação, Energia, Transporte. As informações socioeconômicas específicas das comunidades da RESEX serão tratadas em item específico deste documento. a) Demografia  Cururupu Possui uma população estimada para 2015 de 30.913 habitantes21, o que representa um decréscimo de 5% em relação a 2010 (32.652 hab.). É considerado o principal centro urbano da região, em função principalmente da presença de equipamentos públicos (hospitais, escolas, prefeitura) e serviços (faculdade, bancos, farmácias, comércio, linhas de ônibus). Em 2010, a população da área urbana era de aproximadamente 22 mil pessoas, enquanto a da zona rural era pouco mais de 10 mil. Na área urbana, a presença das mulheres é ligeiramente maior, enquanto nas áreas rurais predominam homens. O fato se dá por motivos diversos, com destaque para aqueles relacionados com a precariedade dos serviços oferecidos nas comunidades rurais e da necessidade de cuidar dos filhos - que muitas vezes se mudam para a cidade a fim de continuar os estudos. Nesses casos, é comum que o homem da família continue na comunidade, enquanto a mulher e os filhos se mudam para a cidade. Essas informações podem ser observadas na Tabela 1, a seguir.

21 Fonte: Sítio Eletrônico do IBGE - http://www.cidades.ibge.gov.br – Acessado em Julho de 2015

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Tabela 1: Distribuição da população de Cururupu, 201022 Urbano Rural Habitantes % Habitantes % Homens 10896 49 5703 55 Mulheres 11374 51 4679 45 Total 22270 100 10382 100 Fonte: IBGE, 2010 Quanto à faixa etária, a população de Cururupu é relativamente jovem, cerca de 80% dos moradores possuem menos de 50 anos de idade, sendo que praticamente 1/3 da população possui até 14 anos de idade (IBGE, 2010). A análise destas informações corrobora o que se observa na região, isto é, a migração de muitos jovens para cidades maiores (como Pinheiro) ou capitais (especialmente São Luís, mas também Belém). A Figura 11 evidencia a distribuição da população de Cururupu, por faixa etária.

Figura 11: Faixa etária da população de Cururupu em 2010 (em hab.) Fonte: IBGE, 2010  Apicum-Açu Cidade que polariza o setor norte da RESEX, Apicum-Açu é um município mais recente, desmembrado de Bacuri em 1994. Possui população estimada para 201523 de 17.948 habitantes, um acréscimo de quase 20% em relação a 2010 – cuja população recenseada pelo IBGE era de 14.959 habitantes.

22 Fonte: Sítio Eletrônico do IBGE - http://www.cidades.ibge.gov.br – Acessado em Julho de 2015 23 Fonte: Sítio Eletrônico do IBGE - http://www.cidades.ibge.gov.br – Acessado em Julho de 2015

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Cerca de 40% da população vive em áreas rurais, número muito expressivo quando comparado com a média estadual (19%) e nacional (15%). Nota-se grande equilíbrio entre a distribuição de homens e mulheres, tanto na zona urbana quanto na rural, conforme apresentado na Tabela 2. A cidade é um polo urbano, sendo que sua estrutura portuária é o principal fator de atração populacional, uma vez que possui um longo costado concretado, fábricas de gelo, mercados, postos de abastecimento náutico, hotéis e linhas de ônibus. Tabela 2: Distribuição da população de Apicum-Açu, 201024 Urbano Rural Habitantes % Habitantes % Homens 4775 52 3041 52,5 Mulheres 4387 48 2756 47,5 Total 9162 100 5797 100 Fonte: IBGE, 2010

Assim como em Cururupu, aproximadamente 86% da população residente em Apicum- Açu possui menos de 50 anos de idade, sendo que aproximadamente 33% da população total possui até 14 anos (IBGE, 2010). Essas informações podem ser observadas na Figura 12, a seguir.

Figura 12: Faixa etária da população residente em Apicum-Açu em 201025 (em hab.)

24 Fonte: Sítio Eletrônico do IBGE - http://www.cidades.ibge.gov.br – Acessado em Julho de 2015 25 Fonte: Sítio Eletrônico do IBGE - http://www.cidades.ibge.gov.br – Acessado em Julho de 2015

26 b) Produto Interno Bruto (PIB)

 Cururupu

O PIB de Cururupu em 2012 era de R$ 104,2 milhões, distribuídos da seguinte forma:  Valor adicionado bruto da Agropecuária: R$ 26.144 ou 26% do PIB Municipal;  Valor adicionado bruto da Indústria: R$ 11.497 ou 11% do PIB Municipal;  Valor adicionado bruto dos Serviços: R$ 64.136 ou 63% do PIB Municipal; Desta forma, o município possui um PIB per capita no valor de R$ 3.215,55 reais. Em 2014, segundo dados do IBGE, o município produziu:  112 toneladas de açaí;  57 toneladas de carvão vegetal;  9054 m³ de lenha;  85 m³ de madeira em toras;  1 tonelada de amêndoa de babaçu;  557 kg de mel de abelha;  6 toneladas de bananas;  16354 toneladas de mandioca e;  85 toneladas de milho.

 Apicum-Açu

O PIB de Apicum-Açu em 2012 era de R$ 57,7 milhões, distribuídos da seguinte forma:  Valor adicionado bruto da Agropecuária: R$ 12.005 ou 21% do PIB Municipal;  Valor adicionado bruto da Indústria: R$ 5.951 ou 10% do PIB Municipal;  Valor adicionado bruto dos Serviços: R$ 38.779 ou 69% do PIB Municipal; Desta forma, o município possui um PIB per capita no valor de R$ 3.717,65 reais. Em 2014, segundo dados do IBGE, o município produziu:  6 toneladas de açaí;  81 toneladas de carvão vegetal;  14614 m³ de lenha;  60 m³ de madeira em toras;  4 toneladas de amêndoa de babaçu;  6 toneladas de bananas;  196 toneladas de mandioca e;  5 toneladas de milho.

27 c) Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM O IDHM é uma medida composta por indicadores de três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda. O índice varia de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o IDHM médio brasileiro em 2010 é de 0,727 (PUND, 2013), enquanto o índice do Maranhão é de 0,63926.  Cururupu O IDHM de Cururupu para o ano de 201027 era de 0,612, considerado médio (PNUD, 2013).  Apicum-Açu O IDHM de Apicum-Açu para o ano de 201028 era de 0,568, considerado baixo (PUND, 2013). Ressalta-se ainda que o Governo Estadual também possui um Índice de Desenvolvimento Municipal, elaborado com informações de 2010. Neste documento, tanto Cururupu quanto Apicum-Açu apresentam índice 0,386 – considerados assim o 110 e 111 municípios mais desenvolvidos do estado, respectivamente (MARANHÃO, 2012). d) Saúde

 Cururupu De acordo com os dados do Ministério da Saúde (2009) 29, o município de Cururupu possui 28 estabelecimentos de saúde públicos, não sendo descritos outros estabelecimentos particulares. Segundo os dados do DATASUS, em 2014, Cururupu apresentou 52 óbitos hospitalares, dos quais 62% foram do sexo masculino e 38% do feminino, relacionados, sobretudo às doenças do sistema respiratório, digestivo e circulatório. A Figura 13 mostra a proporção de mortes entre homens e mulheres e as principais causas de morte no município.

26 Fonte: Sítio Eletrônico do IBGE - http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=ma&tema=idhm - Acessado em Agosto de 2015. 27 Fonte: Sítio Eletrônico do IBGE - http://www.cidades.ibge.gov.br – Acessado em Julho de 2015 28 Fonte: Sítio Eletrônico do IBGE - http://www.cidades.ibge.gov.br – Acessado em Julho de 2015 29http://cnes.datasus.gov.br/Lista_Es_Municipio.asp?VEstado=21&VCodMunicipio=210370&NomeEsta do=

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Figura 13: Principais causas de mortes no município de Cururupu (2014) Fonte: DATASUS (2014)  Apicum-Açu O município de Apicum-Açu possuía, em 2012, apenas cinco unidades de saúde da rede pública, das quais apenas uma possuía atendimento de emergência – sem, no entanto, oferecer leitos de internação. De acordo com os dados do DATASUS30, no período de 2014 o município registrou 17 mortes, onde as doenças do aparelho respiratório representaram 35% do total, como mostra a Figura 14.

30 http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sih/cnv/nrma.def

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Figura 14: Principais causas de mortes no município de Apicum-Açu (2014) Fonte: DATASUS (2014) e) Educação

 Cururupu

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) 31, em 2012 o município de Cururupu possuía 13.513 alunos distribuídos em 84 estabelecimentos escolares nos níveis da pré-escola, ensino fundamental e médio, sendo:

- 35 unidades de pré-escola (957 alunos), das quais 33 pertencem à rede municipal e dois ao sistema privado;

- 46 unidades de nível fundamental (6.682 alunos), das quais 41 pertencem à rede municipal, três à rede estadual e dois ao sistema privado;

- 3 unidades de ensino médio (1.402 alunos), todas pertencentes à rede estadual. Em Cururupu trabalhavam 431 docentes, sendo que aproximadamente 70% lecionavam no ensino fundamental; 68 no ensino médio estadual e 50 na pré-escola da rede municipal. Embora não existam instituições de ensino superior no município, o Programa Darcy Ribeiro, em funcionamento desde 2009 e vinculado à Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), atua em Cururupu, visando à formação de professores para a educação básica, especialmente nas áreas de ciências e humanidades. Os cursos possuem módulos à distância e aulas presenciais no próprio município.

31 Fonte: http://www.cidades.ibge.gov.br

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 Apicum-Açu No sistema educacional de Apicum-Açu, em 201232 haviam 4.855 alunos matriculados, todos no ensino público, distribuídos da seguinte forma: - 16 unidades de pré-escola (589 alunos), todas da rede municipal; - 23 escolas de ensino fundamental (3624 alunos), sendo 22 municipais e apenas uma da rede estadual; - 1 escola de ensino médio, pertencente à rede estadual, com 642 alunos. Destaca-se que no ano de 2012 não havia estabelecimentos da rede privada de ensino em nenhum dos níveis educacionais. O município também é beneficiado pelo Programa Darcy Ribeiro da UEMA. f) Saneamento

 Cururupu O município de Cururupu possui um Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos, publicado em 2001, isto é, com cerca de 15 anos. O documento previa a oferta de serviços de coleta seletiva, varrição de ruas, coleta de resíduos de serviço de saúde, destinação final em aterro sanitário. Todavia, apesar da precoce elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos do Município de Cururupu, mesmo antes da obrigatoriedade instituída pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei Federal 12.305/2010, ainda observa-se um gerenciamento dos resíduos com baixa eficiência, com a disposição do resíduo em lixão e o não atendimento em áreas rurais, ou nas áreas das de todas as ilhas da RESEX. Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento (2008), Cururupu possui uma empresa autônoma de saneamento básico – o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), ligado com a Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos que atende apenas a área urbana do município. Possui 5400 ligações ativas que consomem aproximadamente 120 m³ de água por dia, sem tratamento. Pouco mais de 60% dos domicílios são abastecidos pela rede pública (MARANHÃO, 2012). Segundo o DATASUS, em 2000, 35% do abastecimento de água de Cururupu era oriundo da captação de poços e nascentes, sendo que a totalidade desses são poços tubulares, em sua maioria, públicos (CORREIA FILHO, 2011). Não há coleta e tratamento de esgotos no município.

32 Fonte: http://www.cidades.ibge.gov.br

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Somente 33% dos resíduos gerados no município são coletados e dispostos de forma minimamente adequada, esse baixo percentual colabora com a destinação inadequada de resíduos em “lixões”, muitos dos quais nos limites da RESEX, junto aos manguezais e apicuns do entorno de Cururupu (MARANHÃO, 2012).  Apicum-Açu A empresa responsável pelo saneamento básico em Apicum-Açu é a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (CAEMA). De acordo a Pesquisa Nacional de Saneamento (2008), o volume total diário de água distribuída à população é de 852 m², sendo que 830 m³ possuem tratamento simples de desinfecção (cloração e outros) e 22 m² não possuem tratamento. A rede municipal é composta de 6.790 ligações ativas. 73% do total de domicílios são abastecidos pela rede pública (MARANHÃO, 2012). Não há o tratamento e/ou disposição adequada dos efluentes, sendo esses lançados diretamente no meio ambiente. A coleta de resíduos sólidos em Apicum-Açu atinge apenas 6% dos domicílios, sendo que a maior parte do lixo é queimada, enterrada ou jogada em terrenos baldios (MARANHÃO, 2012). Ressalta-se que, segundo a Lei de Saneamento Básico33, em 2016 o acesso a recursos orçamentários destinados a serviços de saneamento básico estará condicionado à apresentação do Plano de Saneamento Básico Municipal. Desta forma, é de extrema importância que os municípios entreguem os seus Planos de Saneamento Básico no prazo estabelecido pela legislação, para que possam ter acesso aos recursos financeiros, e consequentemente, para que promovam a melhora da situação do saneamento básico de suas cidades, garantindo a qualidade de vida da população. Observa-se também que a Política Nacional de Resíduos Sólidos34 proíbe o a disposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos e estabelece o encerramento de lixões a céu aberto. Os municípios de forma isolada ou consorciada devem entregar seus planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos. Com relação ao Plano de Gerenciamento de Resíduos do Município de Apicum-Açu, a pesquisa realizada não obteve dados sobre a elaboração do documento, bem como o Plano de Saneamento Básico de ambos os municípios.

33 §2º do artigo 26, do Decreto nº 7.217/2010. 34 Lei Federal 12.305/2010.

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g) Transporte Os municípios de Apicum-Açu e Cururupu apresentam similaridades em relação aos transportes. Ambos estão servidos com linhas de ônibus, vans e lotações que os interligam com os municípios vizinhos e com a capital, São Luís. Da mesma forma, ambos os municípios portuários não possuem qualquer tipo de serviço público e/ou coletivo de transporte marítimo, sendo que o deslocamento entre cidade e as ilhas que compõe a RESEX se dá de maneira informal. As linhas regulares identificadas são as seguintes:  Entre Lençóis e Apicum-Açu (passando por Bate Vento) - três vezes por semana, no valor de R$ 15,00;  Entre Valha-me-Deus e Pindobal, passando por Guajerutiua, Peru, São Lucas e Caçacueira, de segunda a sábado, ao amanhecer, valor R$ 10,00. Do porto de Pindobal até Cururupu, o transporte é feito por ônibus ou vans, cujo valor varia entre R$ 8,00 e R$ 15,00. No mais, é comum o fretamento de embarcações e a prática de “caronas”, meios espontâneos que lidam com a falta de serviços públicos. Ressalta-se que o transporte coletivo é uma atribuição municipal, especialmente em função de se tratar de um trajeto intramunicipal, isto é, no interior dos limites do município de Cururupu. As Figuras 15 e 16 ilustram os dois pontos de atracação em Cururupu, respectivamente o mercado municipal e o porto da cidade. A Figura 17 apresenta o píer de Pindobal, melhor localizado para acessar as comunidades do setor central e norte. As Figuras 17 e 18 mostram a concentração de barcos no porto de Apicum-Açu.

Figura 15: Área de desembarque próxima ao Figura 16: Porto de Cururupu Mercado Municipal de Cururupu

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Figura 17: Porto de Pindobal, em Serrano do Figura 18: Porto de Apicum-Açu Maranhão h) Energia elétrica  Cururupu O município possui 85% de seus domicílios abastecidos com energia elétrica, número significativamente abaixo em comparação com seus vizinhos Bacuri (95,7%), Porto Rico (98,4%) e Mirinzal (97,4%). Tal índice provavelmente está relacionado à quantidade de comunidades insulares do município, que não estão conectadas à rede de energia. Nesses casos, o fornecimento de energia é restrito a algumas horas do dia (geralmente entre as 18h às 22h), por meio de geradores a diesel. O fornecimento de energia em Cururupu e Apicum-Açu depende do Sistema Regional de Miranda, feita pela ELETRONORTE através da CEMAR. O sistema é composto atualmente por 26 subestações, sendo duas na tensão de 138/69/13, 8 KV, 16 na tensão de 69/13, 8 KV, 1 na tensão de 69/34, 5 KV, 6 na tensão de 34,5/13,8 KV e 1 na tensão 230/69 KV. Segundo o IMESC (2010) existem 6.580 ligações de energia elétrica no município de Cururupu (CORREIA FILHO, 2011).  Apicum-Açu Segundo o IMESC (2010) existem 2.075 ligações de energia elétrica no município de Apicum-Açu (CORREIA FILHO, 2011). Este número corresponde à aproximadamente 97% das residências do município (MARANHÃO, 2012).

2.6 ANÁLISE DE REPRESENTATIVIDADE DA RESEX

De acordo com a contextualização apresentada, evidencia-se que a área da UC constitui- se parte de um dos 12 sítios RAMSAR do Brasil e compõe a Rede Hemisférica de Aves Limícolas. Tais condições declaram, oficialmente, sua importância enquanto área úmida de relevância global – especialmente em função da representatividade de ecossistemas úmidos e enquanto sítio de pouso e alimentação de aves migratórias neárticas.

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Quanto à inserção da RESEX de Cururupu no Sistema Nacional de Unidades de Conservação35, observa-se que:  Representa uma das 1940 UCs brasileiras, sendo 954 Federais, 781 Estaduais e 205 Municipais, onde cerca de 70% são de Unidades de Uso Sustentável;  Representa uma das 90 Reservas Extrativistas brasileiras, sendo 62 Federais e 28 Estaduais. Não existem RESEX municipais;  As RESEX Federais protegem uma área total de 124.362 km², onde a RESEX de Cururupu representa cerca de 2% deste total. Essa unidade também compõe o grupo das 60 UCs Federais que protegem o bioma costeiro-marinho, contribuindo para a conservação da maior floresta de manguezal contínuo do mundo – a costa norte brasileira. Dentre essas Unidades de Conservação, é considerada a maior das RESEX marinha nacional, com mais de 180 mil hectares de área total – sendo mais de 59 mil hectares de manguezais (incluindo os apicuns). Além dos serviços ecossistêmicos que oferece como a proteção da costa, produção pesqueira e ciclagem de nutrientes, conforme já citado, a RESEX compõe um mosaico de Unidades de Conservação dos ambientes amazônicos, da baixada maranhense e do litoral de rias e falsas rias que vai do golfão maranhense à foz do Amazonas. Por fim, de acordo com os compromissos firmados pelo Brasil na 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (Metas de Aichi), insere-se também enquanto instrumento de gestão territorial em prol da sustentabilidade da pesca artesanal, da valorização dos conhecimentos tradicionais e na repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos manejados historicamente pelas populações locais. A Figura 19 representa a inserção da RESEX de Cururupu no Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

35 CNUC/MMA - www.mma.gov.br/cadastro_uc - Atualizado em 02/2015 - Acessado em 12/2015

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Figura 19: Inserção da RESEX de Cururupu no Sistema Nacional de Unidades de Conservação

3. CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA RESERVA EXTRATIVISTA DE CURURUPU A caracterização socioambiental da Reserva Extrativista Marinha de Cururupu consiste na compilação de dados e informações primárias e secundárias construídas e levantadas ao longo de 12 meses de trabalho coletivo e interdisciplinar, desenvolvido pela equipe de planejamento do Plano de Manejo, colabores técnicos e comunidades.

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Assim, a construção do conhecimento ora apresentado, se deu por meio do emprego de ferramentas de participação social, cuja aplicação ocorreu ao longo de quase dois meses de trabalho em campo. Além da revisão bibliográfica, ferramentas do Diagnóstico Rural Participativo e observações de campo contribuíram para a construção do conhecimento e dos entendimentos necessários à elaboração da presente caracterização.

3.1. COMUNIDADES TRADICIONAIS DA RESEX DE CURURUPU Comunidade ou populações tradicionais são termos utilizados para descrever os grupos humanos que possuem um modo de vida diferenciado que assim se reconhecem e se autodenominam e que historicamente possuem no extrativismo e na pequena produção agrícola os meios de sua reprodução social. Analisando por um viés ecológico, vivem de forma relativamente sustentável e/ou de baixo impacto no ambiente, garantindo a conservação dos ecossistemas, com formas próprias de organização e visões de mundo (DIEGUES, 2000; ICMBio, 2014). É característica também a ocupação de seus territórios por várias gerações, a reduzida acumulação de capital, a importância das simbologias, mitos e rituais, o fraco poder político e o conhecimento aprofundado da natureza e seus ciclos (DIEGUES, 2000). De acordo com suas características culturais e do ambiente em que se estabeleceram, as populações tradicionais apresentam peculiaridades em função da região onde vivem. Assim, entre caiçaras, babaçueiros, jangadeiros, pantaneiros e quilombolas, descreve-se um grupo de pescadores artesanais, chamados de “praianos”. Segundo Diegues: Os praieiros são moradores da faixa litorânea da região amazônica, compreendida entre o Piauí e o Amapá. São genericamente chamados de pescadores artesanais, mas apresentam características socioculturais que os diferenciam das outras comunidades litorâneas, como os caiçaras e os jangadeiros. Os praieiros são muito influenciados por uma grande diversidade de ecossistemas e habitats que se caracterizam por grandes extensões de mangues, litoral muito recortado e marcado por uma grande amplitude de marés, ilhas e também praias arenosas e dunas (...) (DIEGUES, 2000). As comunidades do litoral de Cururupu se definem como “praias”, isto é, o termo não se refere à faixa de areia no limite com o mar (chamada de lavado), mas à comunidade como um todo. São, portanto, praianos. Desta forma, são consideradas 12 comunidades tradicionais na RESEX e 4 localidades, agrupadas em setores, sendo:

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 Mangunça e Taboa, no setor sul;  Caçacueira, São Lucas e Peru, no setor central.  Guajerutiua, Valha-me-Deus e Porto Alegre, no setor centro-norte e;  Lençóis, Bate-Vento, Porto do Meio, Mirinzal, Retiro, Beiradão, Urumaru e Iguará, no arquipélago de Maiaú, setor norte. Reitera-se que são consideradas como localidades: a ilha de Mangunça, Taboa, Beiradão e Urumaru e como comunidades: as ilhas de Caçacueira, São Lucas, Peru, Guajerutiua, Valha-Me-Deus, Porto Alegre, Lençóis, Bate-Vento, Mirinzal, Porto do Meio, Retiro e Iguará. Em linhas gerais, caracterizam-se como comunidades as praias em que existem a permanência de famílias e a presença de serviços públicos, tais como, escolas, postos de saúde, geradores de energia, entre outros. Já as localidades são entendidas como as áreas não contempladas por serviços ou equipamentos públicos. Segundo o Perfil da Família Beneficiária, definido pela Portaria nº 126 de 04 de dezembro de 2014, para ser considerado um “beneficiário residente” e ter acesso aos recursos da UC ao menos o chefe da família deve morar na reserva e fazer parte da cadeia produtiva do pescado. Desta forma até mesmo se a família mudar para a cidade, não deixa de ser uma beneficiária se o chefe (pescador ou pescadora) continuar residindo e trabalhando na RESEX. Logo, entende-se que todas as comunidades citadas possuem beneficiários residentes, descritos nos casos 1 e 2 da Tabela 3, a seguir. Tabela 3: Perfil da Família Beneficiária

Perfil Casos Definição 1 Mora na comunidade e faz parte da cadeia produtiva Beneficiário O chefe da família faz parte da cadeia produtiva e mora na Residente 2 reserva, mas o restante da família está fora dos limites da reserva. Membro ou família se ausentou da reserva e mantém vínculo 3 familiar Família utiliza a casa em períodos de férias ou eventuais e Usuário Externo 4 participa da cadeia produtiva. Não depende exclusivamente da Direto cadeia produtiva O chefe faz parte da cadeia produtiva e mora fora dos limites 5 da reserva com sua família Família utiliza casa na comunidade somente para lazer, não 6 Usuário Externo deixando vínculo familiar. Indireto Toda a família foi embora e se desfez de seus pertences, não 7 deixando vínculo familiar.

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De acordo com o diploma legal, nos casos 3 e 4, a família pode migrar da condição de Usuário Direito para Beneficiário Residente, garantindo o acesso aos recursos da UC. Nos casos 5, 6 e 7, não há a possibilidade de migração.  Formação histórica do entorno e das praias da RESEX A faixa litorânea entre São Luís e Belém foi habitada originalmente por índios tupinambás – uma das principais etnias nativas que ocupava quase todo o litoral brasileiro. Segundo a historiografia mais aceita, os primeiros homens brancos que estiveram na região foram os franceses, em 1613, e os portugueses, em 1619, em missões de reconhecimento e captura de índios (BARROS, 2002; IBGE, 2015; CARDOSO, 2011; entre outros). Tal investida contra os indígenas expulsou tais povos da região, fato que se evidencia nos traços étnicos da população da região, onde a matriz indígena não é tão evidente. Partindo de São Luís, a colonização portuguesa foi se desenvolvendo por meio do parcelamento de sesmarias e da entrada de expedições de exploração e reconhecimento. A região de Cururupu foi ocupada a partir de Guimarães, cuja influência se estendia até a baía de Turiaçu. O parcelamento das sesmarias permitiu o surgimento de fazendas na região, acessadas exclusivamente por vias marinhas. Cultivavam-se gêneros básicos, de tradição europeia, como o arroz e a cana, além de gêneros de matriz indígena, como a mandioca (conhecida regionalmente como maniva ou macaxeira). Os engenhos possuem importância especial, pois em função deles, foram introduzidas as populações negras escravizadas, oriundas principalmente da costa do Douro e Daomé, na atual Guiné e Togo (BARROS, 2002; IBGE, 2015; CARDOSO, 2011). Em 1864, “contam-se cinco engenhos a vapor, quatro hidráulicos e oito movidos por animais para a fabricação de açúcar, bem como cinco para cachaça em pequena escala, quatro serrarias hidráulicas e muitas fazendas de algodão, arroz, farinha (...) e alguns criadores de gado vacum” (MARQUES, 1870). As ruínas e evidências destes engenhos, hoje, são consideradas parte do patrimônio de Cururupu, que ajudam a registrar e divulgar a rica história da região. Observando os fatos históricos, é evidente a predominância de descendentes portugueses na região. Enquanto território administrativo, a região foi um dos três distritos de São José de Guimarães, sendo conhecido como “3º Distrito de Cabelo de Velha”. Em 1841 passou a chamar-se Vila de Cururupu até o ano seguinte, quando foi elevada à categoria de município (MARQUES, 1870).

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A região possui seus principais vetores de ocupação oriundos de São Luís e da navegação de cabotagem, isto é, em função dos pontos de parada e ancoragem ao longo da costa norte. Outro vetor importante refere-se aos migrantes da seca – populações do nordeste semiárido rural, que se deslocaram nas primeiras décadas do século XX para outras áreas do país, como o norte e sudeste. A Figura 20 apresenta o Processo de ocupação do estado do Maranhão.

Figura 20: Processo de ocupação do estado do Maranhão Existem poucas referências bibliográficas a respeito da formação histórica das praias de Cururupu, sendo que tal conhecimento se construiu a partir dos poucos registros históricos existentes, bem como pelas entrevistas semi-estruturadas com moradores antigos e as dinâmicas de grupo, realizadas junto com as atividades de mapeamento comunitário, durante as Oficinas de Planejamento Participativo ocorridas em julho de 2015. Os primeiros registros de ocupação da região referem-se aos grupos indígenas:

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Acredita-se que Lençóis, como todas as outras ilhas do arquipélago de Maiaú, era frequentada por indígenas, evidenciada pelos vestígios encontrados pelos avôs de alguns dos atuais habitantes. Os vestígios constituem indícios que reforçam a ligação com um passado que antecede o início da ocupação definitiva da ilha por volta de 1900. (...) o Lago do Caco [em Lençóis] é o local onde foram achados pedaços de potes indígenas. (ANDRADE, 2002). Os primórdios da formação das praias Cururupu remontam ao final do século XIX, sendo Caçacueira, Guajerutiua e Bate Vento as comunidades mais antigas da região – fundamentais para a formação das outras comunidades. As famílias pioneiras que ocuparam a região encontram-se na 5º ou 6º geração, fato que indica cerca de 130 anos da presença dessas comunidades. Conforme destacado, a região recebeu populações nordestinas do semiárido que fugiam da seca, durante todo o século XX. Essas populações contribuíram com novos conhecimentos ligados à agricultura (roçados) e força de trabalho para as salinas da região, como em Bate Vento, Porto do Meio, Mirinzal, Iguará e da Ilha das Moças. Tais processos migratórios, somados aqueles de característica local (entre os municípios do litoral maranhense, “de ilha em ilha”), contribuíram de maneira significativa para o incremento populacional das praias. Uma porção da Ilha de Mangunça, denominada na época de Fazenda Boa Esperança foi propriedade da família de Achilles Lisboa desde pelo menos 1920. Segundo palavras do ex-governador do Maranhão, sua intenção era fazer de Mangunça um horto florestal para o manejo de espécies madeireiras e pesquisas sobre a fauna e flora (LISBOA, 1920). A ocupação limitou-se à barra da baía de Mangunça, ponto estratégico para a pescaria interior e de mar aberto, sendo relatada a existência de mais de 100 casas na década de 1960, incluindo Igreja e escola. Todavia, a comunidade se desestruturou nas décadas seguintes, sendo hoje apenas um ponto de apoio/pouso de pescadores. A ocupação do interior da ilha de Mangunça, em especial da localidade de Taboa, se dá em função da criação de gado bovino, realizada de maneira extensiva nas pastagens naturais da restinga. Os primeiros moradores começaram a se estabelecer a partir de 1955, geralmente na condição de pescadores e vaqueiros - cuidadores de gado de terceiros. A ocupação de Caçacueira se inicia com o naufrágio do Navio Piragibe em 1835, e a entrada de “colonos caçadores”, conhecidos por Pedro Aleixo e Agostinho Paiva, em 1838. A história revela que o batismo da Ilha de Caçacueira refere-se a “não

41 encontrarem caça alguma” e pela quantidade de pés de cueira (Crescentia cujete) que lá encontraram. Com a notícia da descoberta da ilha “começaram a chegar famílias para nela fixarem moradia. Tendo como primeiro morador o pescador João Capataz, mais tarde o povoado foi organizado pelos senhores Eugenio José Machado, Vicente Ferreira Barros e Eleotério Ferreira36”. Embora existentes enquanto localidade de ranchos de pesca, as comunidades de São Lucas e Peru se estabelecem em período posterior, na década de 1950, segundo relatado pela comunidade durante a realização das oficinas. Sobre Guajerutiua, o pesquisador Cacionôr Pereira da Cunha diz que os primeiros moradores eram de origem portuguesa, espanhola ou francesa, além de seus descendentes. Todavia, o povoamento se consolidou em 1877, com a imigração de diversas famílias oriundas do Ceará, por consequência da grande seca que assolou o nordeste brasileiro neste ano (CUNHA, 2000). Segundo o autor, em 1916, Guajerutiua “já contava com 46 casas rústicas e alguns ranchos de pescadores (...). A população apresentava 300 habitantes, composta pelas seguintes famílias: Felipe Galibe (italiano), Raimundo P1avão, Joca Gomes, Felinho Ferreira, Miguel Ferreira, Joaquim Ferreira, Manoel Gatinho, João Reis, Romaninha Fogo Azul, Miguel Sousa, Anacleto, Sabino Ferreira, Afra Oliveira, Higino Honorato Cunha, Dionízio Ferreira, Antoninha Pavão, Mariano Carvalho, Juventude negreiros, José Pereira, Antonio Perigoso, Jovita Faustina Pereira, Romão Sousa, Domingos Sousa, Anacleto Sardinha, Antonio Silva, Gonçalo Ferreira, Pio Ferreira, Aninha Moura, Fábio Vieira, Manoel dos Paus, Manoel Tibuúrcio de Sá Nunes, Cassiano ferreira, Porfírio Fonseca, José Joaquim Miranda, Jorge Fonseca, Manoel José, Júlio Ferreira, Lourenço Ferreira, Raimundo Barbosa, Izidório Ferreira, Ângela Ferreira, Manoel Fonseca, Franco ferreira, Carrinho Ferreira e Manoel Caetan. Estas foram as primeiras famílias que iniciaram o povoamento de Guajerutiua” (CUNHA, 2000). Valha-me-Deus ganhou expressão enquanto comunidade com a chegada de um importante comerciante Cururupense, Vasco da Gama Almeida, que fixou residência na praia na década de 1950. Sua antiga residência foi transformada na Igreja Católica de Valha Me Deus.

36 História de Caçacueira – material exposto na comunidade, autor desconhecido – registrado em fevereiro de 2015

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Na parte norte da RESEX, no arquipélago de Maiaú, Bate Vento foi o ponto irradiador da colonização para as demais ilhas. A ocupação seguiu rumo a Lençóis provavelmente no final do século XIX, baseando-se em relatos de viajantes e da memória dos habitantes. As informações disponíveis apontam que até, aproximadamente, 1900 a ilha era utilizada apenas para a salga do peixe, não tendo população fixa (ANDRADE, 2002). Sobre a ocupação de Lençóis, foi possível apurar que a chegada da família de Gabriel Arcanjo de Oliveira, vinda da região de Itacolomi, provavelmente por volta de 1895, deu início ao povoamento da ilha. Nas entrevistas realizadas por Joel Andrade, uma moradora antiga diz: As primeiras pessoas mais velhas? Eu vou já lhe dizer: era o meu avô, o nome dele era Gabriel Arcanjo de Oliveira e o outro era Severino dos Santos, os mais velhos daqui, da praia de Lençol, né? O outro por nome Germano Cirino, o outro, Antônio de Oliveira, que eram os mais velhos daqui da praia... assim diversos que eu já nem me alembro (ANDRADE, 2002). Segundo o relato do Sr. Chico, o Sr. Gabriel estabeleceu-se em Lençóis ainda bem jovem, casando-se com Dona Albertina, natural de Pirajuba-MA (atualmente a região faz parte do município de Apicum-açu). O Gabriel é de Itacolomi, mas quando veio pra cá rapazote né, quando chegou aí ele casou com Albertina Petronília Oliveira, filha de Martinho Costa e Sinhá natural de Pirajuba. Aí não foi mais pra lá, agora ele tinha um filho, ele era o pai do Saturnino, agora filha mulher só tinha uma que era a minha sogra, tinha Nazaré, João, tinha o Zé, e tinha a Maria também37 (ANDRADE, 2002). Nas décadas de 60 e 70 do século XX, desenvolveu-se na vizinha Bate Vento (Figura 27) a maior produção de sal da região. Ainda hoje é possível observar os cortes nos apicuns. A exploração do sal foi aos poucos diminuindo, sendo substituída por projetos de carcinicultura38, financiado pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE. Por motivos incertos, tal projeto não prosperou, restando apenas estruturas e fundações dos tanques (CRUZ, 2012; MUNIZ & FERREIRA, 2014). Também centenária é a ocupação de Porto do Meio, cujos primeiros habitantes se instalaram no norte de Maiaú por volta de 1905. Nesta comunidade se relatou a

37 A região de Itacolomi fica localizada no estado do Maranhão. 38 criação de camarão em cativeiro

43 existência de cinco gerações da mesma família, evidenciando o caráter permanente da ocupação. As comunidades de Iguará, Mirinzal e Retiro datam da década de 1950, quando toda a região viveu um momento econômico muito dinâmico, com a venda do camarão graúdo, embarcado muitas vezes em aviões com destino a São Luís ou Belém, no Pará. Com a pavimentação das estradas rodoviárias e a difusão dos veículos automotivos, a comercialização e serviços voltam-se ao continente, iniciando um longo período de estagnação econômica. Da mesma época é a localidade de Urumaru, que era considerada uma comunidade da região até sua desarticulação, na década de 1980. A localidade mais recente das praias de Cururupu é o Beiradão, cujo primeiro morador, Sr. Vavá, emigrou, na década de 1990, partindo da praia de Porto Alegre para a localidade do Beiradão. Assim como a Taboa, a ocupação inicial tinha por objetivo o manejo do gado bovino criado na ilha de Aracajá – acessada por Beiradão ou Porto do Meio. Contudo, com a notícia da grande produção pesqueira da produção, o local rapidamente se transformou em um importante ponto de apoio terrestre aos pescadores que trabalham embarcados pela região. A Figura 21 indica a data aproximada da formação de cada comunidade da RESEX:

Figura 21: Formação das Comunidades da RESEX

Nas comunidades de Caçacueira, Peru, São Lucas, Guajerutiua e Bate Vento apresentam número mais significativo de construções de alvenaria (Figuras 22, 26, 27, 28, 29), enquanto nas outras comunidades predominam as casas de madeira ou fibra (Figuras 23, 24 e 25). Na comunidade de Mirinzal observam-se muitas casas de taipa, revelando um saber-fazer específico da população – o barreamento das casas utilizando a terra, lama e barro disponível no interior da ilha, preferencialmente aquela de baixa salinidade.

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Nas últimas décadas observa-se uma tendência de êxodo da população em algumas das comunidades, como São Lucas e Perú, emigrando para as cidades mais próximas, como Cururupu e Apicum Açu, em busca de acesso a serviços públicos melhores (saúde, educação, comércio) e emprego. Tal emigração se estende até as capitais regionais, como São Luís e Belém. Já em outras comunidades, como Caçacueira, Mirinzal e Lençóis, segundo o cadastro das famílias, houve um aumento populacional nos últimos anos. As Cartas-Imagem das praias de Cururupu se encontram no Apêndice III e apresentam também os principais pontos notáveis de cada comunidade. Ressalta-se que, em função da cobertura de nuvens não é possível visualizar as áreas de São Lucas, Beiradão e Retiro. A região de Urumaru não possui imagens de acervo de alta resolução.

Figura 22: Padrões de Edificações: Alvenaria Figura 23: Padrões de Edificação: Taipa

Figura 24: Padrões de Edificações: Fibras Figura 25: Padrões de Edificação: Madeira

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Figura 26: Comunidade de Peru Figura 27: Comunidade de Bate-Vento

Figura 28: Comunidade de Iguará Figura 29: Comunidade de Retiro  Aspectos da vida cotidiana nas praias da RESEX Quanto aos aspectos da vida cotidiana da população da RESEX, ressalta-se o importante levantamento censitário realizado pelo ICMBio em 2009. Nesta ocasião, foram levantados inúmeros dados que traduzem, em números, a organização social presente nas praias.

Foram entrevistadas 995 pessoas, das quais 108 eram mulheres e 887 eram homens. Desta amostra, 988 pessoas declararam desenvolver atividades diretamente relacionadas à pesca, sendo 880 do sexo masculino e 108 do sexo feminino. Das mulheres envolvidas com a pesca, 91 se declararam marisqueiras ou donas de trastes. Assim, do total de pessoas que disseram trabalhar na atividade pesqueira, 89,1% são homens, enquanto apenas 10,9% são mulheres.

Esse dado evidencia a baixa participação das mulheres na pesca, que continua sendo uma atividade predominantemente masculina. Entre o grupo de pescadores do sexo masculino, cabe registrar ainda que 40 se denominavam pescadores companheiro, 10 como pescadores aposentados e 13 patrão de pesca.

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Adicionalmente, foram identificadas sete pessoas que declararam ter outras ocupações, como professor, agente de saúde, comerciante, etc. Segundo informações obtidas nas Oficinas de Planejamento Participativo – OPPs, na comunidade de Porto do Meio, homens e mulheres possuem o hábito de pescar em casal, isto é, as mulheres acompanham e auxiliam seus maridos no desempenho das atividades. A Figura 30 mostra a distribuição dos pescadores segundo as atividades efetivamente desenvolvidas na pesca.

Figura 30: Distribuição das ocupações por gênero Fonte: Adaptado do censo de pesca - ICMBio, 2009

Em relação ao estado civil, constatou-se que 560 possuíam relacionamento estável (184 casados e 376 em união estável), 281 eram solteiros e 5 se identificaram como separado/divorciado/viúvo. Pode-se concluir então que mais da metade dos pescadores vivem com parceiro fixo, conforme evidencia a Figura 31. Em relação à estrutura familiar, 2/3 da população pesquisada possuía dependente (665 pessoas), sendo que 330 pessoas afirmaram não possuir filhos.

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Figura 31: Organização dos entrevistados, segundo estado civil Fonte: Adaptado do censo de pesca - ICMBio, 2009

Quanto à idade dos entrevistados, a faixa etária mais recorrente na atividade da pesca é de 30 a 49 anos (482 pessoas); seguida pela faixa mais jovem entre 20 a 29 (236 pessoas) e pela faixa mais velha, entre os 50 aos 69 anos (198 pessoas). Na Figura 32, a seguir, é possível visualizar a distribuição da faixa etária de todos os entrevistados.

Figura 32: Distribuição da comunidade pesqueira, por faixa etária Fonte: Adaptado do Censo de Pesca – ICMBio, 2009

Com relação às embarcações, o estado do Maranhão possuía mais de 9.000 barcos registrados em 2005, dos quais mais de 10% pertenciam ao município de Cururupu (969 barcos) e 5% à Apicum Açu (444 barcos), conforme apresenta a Figura 33. Do total estadual, cerca de 70% referem-se a canoas à vela e a remo, seguido pelas bianas motorizadas com 1.952 unidades (21%).

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Figura 33: Distribuição das embarcações no litoral maranhense Fonte: ESTATPESCA, 2006

Na RESEX, o Censo da Pesca (ICMBio, 2009) registrou existência de 295 embarcações, sendo que os cascos e canoas, ambos de pequeno porte, representam mais de 50% das embarcações. Quanto às embarcações de médio porte, motorizadas e aptas ao transporte da produção pesqueira, nota-se a predominância dos botes e bianas (Figuras 36 e 36), representando cerca de 1/3 das embarcações da UC. A Figura 34, a seguir, demonstra a distribuição destas tipologias. Ressalta-se que dos 995 entrevistados, 502 pessoas não possuem embarcações, 349 possuem e 144 não responderam.

Figura 34: Distribuição da tipologia das embarcações na RESEX Fonte: adaptado de Censo de Pesca (ICMBio, 2009)

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Figura 35: Embarcação tipo casco a remo Figura 36: Embarcação tipo biana motorizada Diante dos dados apresentados, identifica-se que a população pesquisada é predominantemente constituída por homens, pescadores, sem embarcação própria, na faixa etária entre 30 e 49 anos, com relacionamento estável e dependentes – em geral filhos ou avós. Tal perfil corresponde a 50% dos entrevistados.

 Diagnóstico Socioeconômico 2015 – ICMBio

Em 2014 foi realizado novo estudo demográfico e socioeconômico, intitulado “Apoio ao Processo de Identificação das Famílias Beneficiárias e Diagnóstico Socioeconômico em Unidades de Conservação Federais39” realizado pela Universidade Federal de Viçosa – UFV em parceria com o ICMBio. Com base em alguns destes dados sintetizados pela UFV, a pesquisa totalizou um universo amostral de 945 pessoas. As principais considerações decorrentes desta pesquisa são:

 A maioria dos entrevistados é homem, casado ou com companheira, entre 30 e 60 anos. Mais de 70% dos chefes de família não concluiu o ensino fundamental, sendo que 14% destes se declararam analfabetos ou semianalfabetos;  Quase 90% da população local é nascida em Cururupu – incluindo então as ilhas que compõe a RESEX;  90% dos estudantes que responderam ao questionário estudam na própria comunidade, 5% na sede municipal e 2% em outra comunidade. Tal dado provavelmente não inclui as famílias que migram para as cidades para concluir seus

39 Para a citação deste trabalho, foi considerada a apresentação em PowerPoint com a síntese dos resultados, ainda não publicados. Sendo o conteúdo repassado pela equipe de planejamento do ICMBio aos técnicos da Deicmar Ambiental, em reunião realizada em 2015. Ressalta-se que tal estudo não incluiu as comunidades de Mangunça/Taboa, Urumaru e Beiradão – considerando apenas as comunidades cuja ocupação é permanente.

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estudos – uma vez que o ensino médio e superior é quase exclusividade do meio urbano;  Cerca de 80% dos entrevistados já residiam no local antes da criação da RESEX. Da mesma forma, 94% das pessoas afirmaram que já utilizavam os recursos da área antes de 2004.  Ao menos uma vez ao mês mais de 75% dos moradores visitam a cidade, objetivando receber atendimento médico, fazer compras, receber auxílios e pensões, visitar parentes e resolver questões burocrático-financeiras;  Quanto à religião, 61% se declararam católico, 32% evangélicos, 1,8% protestantes e 1,5% sebastianistas. O restante declarou não possuir religião;  88% das residências recebem visita de Agentes Comunitários de saúde, cuja frequência varia entre quinzenal (5%), mensal (65%), bimestral (10%) ou trimestral (9%);  Cerca de 40% dos entrevistados declarou haver pessoas na comunidade que possuem conhecimentos sobre medicamentos tradicionais, sendo procurados em 80% dos casos de doença. Os males mais tratados pelo conhecimento tradicional são: gripes e resfriados, problemas visuais, auditivos e bucais, lesões dos membros e da coluna, doenças infecciosas e sexuais e mau olhado;  Entre os alimentos mais consumidos na semana, destacam-se: peixes (99%), arroz (86%), farinha (75%), feijão (57%), frango (39%), leite (38%), ovos (31%), frutas (25%), carne (21%), legumes e verduras (19%), camarão (14%) e a jussara (14%);  Quanto ao abastecimento de água para consumo, 78% declaram consumir água de boa qualidade, ao passo que 22% pensam o contrário – considerando-a ruim por ser barrenta ou salobra. Cerca de 97% da água é captada em poços ou nascentes e apenas 3% é comprada envazada em cidades;  63,2% dos entrevistados declaram fazer algum tipo de tratamento da água destinada ao consumo, sendo a filtragem, fervura e cloração os métodos mais usuais;  62% dos entrevistados possuem instalação sanitária no domicílio, mas o escoamento destes efluentes é rudimentar – feito em fossas negras, valas ou diretamente nos cursos d’água;  O lixo é queimado (72%) ou enterrado (26%), pois não há qualquer tipo de coleta ou segregação destes resíduos;

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 75% das residências são abastecidas por geradores comunitários, a diesel, enquanto 10% dos entrevistados declaram possuir geradores particulares. Os equipamentos elétricos mais utilizados são: televisão (84%), antena parabólica (72%), rádio (55%), celular (54%), DVD (40%), freezer (30%), telefone fixo (28%) e aparelho de som (18%).

 Estrutura familiar e divisão de gênero no trabalho

Conforme observado em diversos outros estudos com comunidades tradicionais (DIEGUES, 2000), a família é o núcleo fundamental de organização social. Desta forma, o trabalho é dividido entre os integrantes da família em função de gênero, idade e condições físicas. Nas culturas tradicionais existe, geralmente, uma divisão entre as atividades do universo masculino e outras da vida feminina. Certamente não se trata de uma condicionante imposta, mas é um padrão observado amplamente.

Conforme brevemente revelado pelo censo de pesca, em relação à atividade pesqueira, quando esta ocorre embarcada, é majoritariamente desempenhada por homens - muito em função dos riscos e do esforço empregado. Também é parte do universo masculino o remendo das malhas das redes (chamadas localmente de “panos”) e a manutenção das armadilhas de espera (como muruadas, zangarias e currais), que inclui o corte (“torar um mangue”) e a preparação (remoção da casca e galhos, chamada de “limpeza”) das madeiras utilizadas. Geralmente o homem é responsável pela gestão dos recursos financeiros oriundos da venda do pescado, destinado à obtenção dos mantimentos e insumos da família, assim como à sociabilidade comunal.

Figura 37: Trabalho familiar – Arrasto de Figura 38: Trabalho familiar – Arrasto de Puçá Puçá As pescas que se desenvolvem mais próximas às comunidades, sem a necessidade de grandes deslocamentos aquáticos, como a mariscagem e o arrasto de puçá (Figuras 37 e

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38), são geralmente desempenhadas por mulheres e jovens, assim como a catraiagem (disponibilização de parte do pescado sem valor comercial significativo) e a limpeza dos pescados. As atividades domésticas cotidianas, a manutenção dos quintais e o cuidado com os filhos são práticas geralmente femininas. Observa-se que a gestão dos recursos financeiros oriundos dos benefícios sociais (bolsa família, bolsa verde, entre outros) é geralmente responsabilidade da mulher.  As especificidades da mulher no contexto local Embora o Plano de Manejo reconheça a presença feminina em todas as esferas sociais, produtivas e culturais, se faz necessário ainda alguns apontamentos que coloquem luz a importância das mulheres nas sociedades tradicionais – importância esta muitas vezes subdimensionada. As mulheres na pesca estão geralmente associadas à mariscagem e à pesca desembarcada, isto é, às margens dos cursos d’água. Possuem, desta forma, grande conhecimento tradicional associado a essas atividades, conforme observaram diversos autores na Bahia e Piauí (SOUTO et. al. 2009; FREITAS et. al., 2012). A mariscagem é a prática de coleta de moluscos e crustáceos, fundamental para o sustento de muitas populações ribeirinhas. Geralmente destina-se à subsistência familiar e complementação da renda obtida através da pesca comercial. As principais espécies capturadas são o sururu-de-dedo (Mytella guyanensis), sururu-de-pasta (Mytella sp.), sarnambi (Anomalocardia brasiliana), as ostras (Crassostrea sp.) e as siris (Callinectes sp.). O conhecimento tradicional que envolve a mariscagem é amplo, relacionado à localização dos bancos de moluscos, a dinâmica das marés e do ciclo lunar, à ecologia, habitat e hábito alimentar das espécies-alvo e aos períodos de maior ou menor produção, conforme outros registros (SOUTO et. al. 2009; FREITAS et. al. 2012). Para além da pesca, normalmente as mulheres também detém a maior parte do etnoconhecimento associado com a flora e práticas medicinais, reconhecendo-se também enquanto parteiras, benzedeiras e curandeiras. No mais, destaca-se a presença feminina nas instâncias de representação e organização comunitária, desempenhando o papel de lideranças locais na articulação e mobilização da comunidade. As Figuras 39 e 40 representam algumas das mulheres da RESEX.

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Figura 39: Pescadoras e/ou marisqueiras em Figura 40: Mulheres em Porto do Meio, Beiradão reconhecidas como pescadoras habilidosas

 A inserção dos jovens no modo de vida tradicional

As crianças são inseridas gradualmente no modo de vida tradicional, de maneira tão sutil que é comum os pescadores dizerem que “aprenderam a pescar sozinhos”, uma vez que o processo de aprendizagem se dá pela observação e inserção progressiva dos jovens no universo de trabalho. Logo, a partir dos 12 ou 13 anos as crianças começam a ser instruídas na vida adulta, aproximando-se mais das atividades do pai ou da mãe. Assim os meninos são chamados à pesca e aos ambientes predominantemente masculinos, como os ranchos de pesca, o desembarque e às rodas de conversa. Da mesma forma, são atribuídas atividades às meninas, como a limpeza da casa e o cuidado dos irmãos mais novos. A escola possui papel fundamental no ensino de outros valores e conhecimentos.

Embora tenha se observado, em algumas comunidades, a continuidade do êxodo populacional em direção às cidades, ainda é significativa a entrada dos jovens no modo de vida tradicional, especialmente quando esses assumem responsabilidades precocemente, como o cuidado com filhos e/ou familiares idosos ou enfermos. No primeiro caso é comum a construção de uma nova residência para a nova família, geralmente no núcleo da comunidade. Nos outros casos, é mais usual que o jovem vá assumindo gradualmente a função de chefe da família, na mesma residência em que já vivia.

 Organização do Trabalho A organização da pesca varia em função das espécies que se pretende capturar e da arte empregada. Artes embarcadas, como o malhão, espinhel e gozeira, demandam uma tripulação experiente, na qual cada pescador possui uma atribuição específica e

54 complementar. A organização se dá sob a forma de parcerias, prioritariamente entre os membros da mesma família (pais, filhos, primos) e compadres. O resultado da pescaria é dividido em partes, descontados os custos de manutenção da embarcação, combustível e gelo. Por vezes, o “patrão de pesca” (dono dos petrechos, embarcação e/ou financiador) recebe parte dos ganhos. As pescas que ocorrem na linha de costa, sem a necessidade de embarcações, podem ser desempenhadas de maneira individual ou em pequenos grupos, onde é comum observar também a presença dos mais jovens, mulheres e idosos. Assim como se observa em outras áreas litorâneas do Brasil, (Maldonado in DIEGUES, 1997), a venda do pescado é geralmente realizada na própria comunidade, intermediada por terceiros - chamados de “atravessadores”. São geralmente proprietários de embarcações maiores - que possuem condições de transportar grandes quantidades de pescados às capitais e grandes centros consumidores - ou indivíduos já familiarizados com o mercado – pescadores, transportadores e peixarias. Nessa relação comercial, muitas vezes é o “atravessador” que aufere os maiores lucros, pois “compra barato e vende caro”.

3.2. PESCA – O AMBIENTE, O HOMEM E A PRODUÇÃO

 CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE PESQUEIRA ASSOCIADA ÀS REENTRÂNCIAS

MARANHENSES O regime de macro marés no Maranhão explica muito sobre cada tipo de arte de pesca, as espécies capturadas, a engenharia das embarcações e sobre o modo de vida da população local. As marés possuem amplitudes impressionantes da ordem de 7-8 metros, diminuindo gradativamente ao longo da costa brasileira, sem direção leste e sul (Silveira et al., 1994). A região compõe parte do chamado litoral amazônico, que se estende por aproximadamente 1.850 km de costa, incluindo rias e reentrâncias, golfões e planícies de marés fixadas por manguezais, de origens complexas - originadas por flutuações marinhas do Pleistoceno inferior ao Holoceno (Ab'Saber, 2000; 2001). Toda essa região de manguezais está associada a uma rica água costeira fertilizada e reciclada por esses ecossistemas aquático-terrestres. Soma-se a esse complexo a influência da bacia amazônica, a maior do mundo, que está presente na região especialmente no período chuvoso. A Figura 41 demonstra a relação entre a precipitação e a produção pesqueira para o município de Bragança, no Salgado Paraense, entre 2000 e 2001 (Santos, 2002).

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Conforme se observa, a produção tende a ser maior após os períodos chuvosos, diminuindo também em função dos períodos de menor precipitação. Tais condições propiciam uma elevada produtividade biológica e, consequentemente, intensa atividade pesqueira (Paiva, 1992).

Figura 41: Rendimentos médios da frota de pequeno porte desembarcada em Bragança/PA, em 2000, em relação com taxas de precipitação. Fonte: Santos, 2002 O Maranhão possui hoje 26 municípios costeiros, com, aproximadamente, 278 comunidades pesqueiras conhecidas (Fundação PROZEE, 2006). A pesca predominante ainda é a artesanal que, embora menos impactante que a pesca industrial, é um dos fatores que levaram à diminuição das populações de importantes espécies de pescados comerciais.

Os primeiros estudos da pesca artesanal na costa do Maranhão datam da década de 50, realizados por Costa (1954) ao estudar a pesca de curral nas imediações de São Luís. Furtado (1981) cita os relatos feitos por José Veríssimo (1895) em seu trabalho pioneiro “A pesca na Amazônia” que faz, em boa medida, uma espécie de historiografia da pesca na região. Emerenciano (1978) aborda a pesca artesanal e industrial no estado, lembrando a “necessidade de se desenvolver o setor pesqueiro com a preocupação primordial de criar condições para o pescador artesanal” apontando para a necessidade de estruturar entrepostos pesqueiros, ambientes de beneficiamento e apoio logístico.

Segundo Almeida (2008), a pesca predominante nesta região é caracterizada por espécies estuarinas e de águas rasas, sendo que 50% são marinho-estuarinas (espécies marinhas que passam parte do ciclo de vida no estuário), 25% são marinhas (passam

56 todo o ciclo em água salgada), 18% são eurialinas (não tem preferência por ambiente) e 6% são liminco-estuarinas (espécies de água doce que passam parte do ciclo nos estuários).

No litoral maranhense, em linhas gerais, os pescadores não adotam por iniciativa própria ações de manejo em relação à época de reprodução, desova ou maturação ou quanto à forma de pesca. Em algumas comunidades se observa a paralisação da pesca embarcada no período de estiagem - devido às fortes ventanias; assim como outras comunidades adotam um tamanho mínimo de captura para algumas espécies – perfazendo uma forma de controle e manejo dos estoques (ALMEIDA et al. 2009). A estatística pesqueira sistemática no Maranhão possui enormes fragilidades metodológicas e temporais, assim, o que se apresenta neste estudo é uma compilação de diferentes trabalhos. As primeiras estatísticas foram realizadas de 1965-1975 (Emerciano, 1978), com oscilações e descontinuidades nas décadas de 80 e 90, exceto pelo estudo de Paiva (1997), que reuniu dados sobre a pesca de água doce e de salgada entre 1990-1994 (Almeida et al. 2006). Na década de 2000, a Estatística do Desembarque Pesqueiro – ESTATPESCA, liderada pelo IBAMA, foi realizada apenas para os períodos de 2002 a 2003 (PROZEE, 2006), gerando nova lacuna na série histórica de dados estatísticos sobre a pesca maranhense. Na Tabela 5 é apresentada a coleta de dados pesqueiros entre os anos 1965-1975 demonstrando a ascendência da produção pesqueira de Cururupu, que possuía a segunda maior produção do estado até 1971, quando finalmente ultrapassou a produção de São Luís, tornando-se o maior produtor de pescados do estado do Maranhão40. Atualmente, ambos os municípios ainda permanecem no topo desta produção, porém novas localidades se destacam como importantes portos de desembarque, dentre eles cita-se Raposa, Tutóia e Barreirinha (ALMEIDA, 2006; 2008). A Tabela 4 apresenta os principais portos de desembarque pesqueiros do Maranhão.

40 Há de se considerar ainda que o município de Apicum Açu se emancipou de Bacuri apenas em 1994, isto é, parte da produção de Cururupu pode estar contabilizada em municípios vizinhos, dada a distância entre as praias e a cidade.

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Tabela 4: Principais entrepostos de desembarque pesqueiro do Maranhão

ÁREA 1 ÁREA 3 (LITORAL ÁREA 2 (SÃO LUÍS) (LITORAL OCIDENTAL) ORIENTAL) Alcântara São José de Ribamar Araioses Apicum-Açu Portinho Cândido Mendes Quebra Pote Icatu Caratupera Timbuba Cedral Raposa Cururupu Tutóia Godofredo Viana Guimarães Luís Domingues Porto Rico Turiaçu Fonte: adaptado de Almeida et al. (2006). Embora haja uma grande janela temporal na série histórica, observa-se que, em 2002, Cururupu continuava sendo o município com a maior produção pesqueira do estado, com cifras muito semelhantes àquelas verificadas na década de 70 (entorno de 6.000 toneladas), conforme evidencia a Figura 42. Apesar da expressiva produção pesqueira indentificada nos dados ora citados, convém observar que o PIB do município, disponível no site do IBGE e apresentado neste Plano de Manejo para 2012 indica que 26% do produto interno bruto referem-se às riquezas geradas a partir da agropecuária, contudo não consideram a contribuição pesqueira na formação das riquezas do município. O entendimento deste fato caracteriza-se uma inferência, não obstante, pode-se supor que uma eventual ausência de série histórica corrobore para o não dimensionamento da real contribuição da atividade pesqueira no PIB municipal. Nas últimas décadas a cidade de Apicum Açu ganhou destaque regional dado o desenvolvimento e expansão de suas estruturas de apoio náutico, como um longo costado devidamente murado, fábricas de gelo, posto de combustível e mercados, além de pousadas, linha de ônibus, agências bancárias, atravessadores, mecânicos e mão de obra. Embora esteja no entorno da RESEX, Apicum Açu possui relação direta com as praias do arquipélago de Maiaú, uma vez que é significativamente mais próxima que Cururupu. Assim, presume-se que parte do desembarque pesqueiro da RESEX (município de Cururupu) é contabilizada em Apicum Açu, subdimensionando as estatísticas de produção associadas à Cururupu.

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Tabela 5: Produção pesqueira (em tonelada) por município no Maranhão de 1965 a 1975.

Município 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 Cândido 612.260 282.330 282.960 324.100 398.850 439.000 477.300 712.800 706.900 1.088.630 1.454.360 Mendes Carutapera 1.315.800 1.271.200 1.114.400 1.162.000 16.902.000 1.403.300 1.602.700 1.110.800 1.253.000 1.145.600 1.566.870 Godofredo 1.112.700 847.400 1.186.000 1.625.300 1.257.000 1.300.000 1.403.000 527.300 531.200 1.521.600 1.691.900 Viana Luis 159.206 677.500 825.400 977.600 1.105.400 1.147.600 1.190.500 918.800 871.800 861.900 931.000 Domingues Turiaçu 1.579.000 345.000 1.439.100 1.470.600 1.726.200 1.877.000 1.796.500 1.643.350 2.706.000 1.533.000 2.232.700

Alcântara 133.000 140.000 307.200 153.100 149.700 135.000 130.700 132.500 143.900 153.000 154.900

Bacuri 1.400.000 1.645.000 2.130.000 2.072.000 830.000 1.030.000 1.080.000 1.645.000 153.000 1.674.000 1.686.000

Cururupu 4.672.000 5.209.000 4.800.000 4.965.000 6.253.800 6.643.000 5.580.000 5.510.000 5.883.000 6.200.000 6.315.000

Guimarães 988.300 1.039.800 1.341.500 2.039.000 2.388.000 2.658.000 2.667.000 2.566.700 2.343.000 2.379.000 2.307.000 Paço do 190.000 219.000 280.000 246.000 244.500 245.000 250.000 251.050 260.800 291.300 155.000 Lumiar São José de 790.000 745.000 891.000 966.000 667.000 791.500 724.500 831.400 914.400 968.790 355.666 Ribamar São Luis 6.670.160 9.008.758 7.152.227 7.676.507 7.691.000 7.745.200 6.904.000 5.298.100 4.664.146 2.390.300 2.773.600

Barreirinhas 428.000 452.000 524.000 512.000 476.500 467.800 529.300 553.300 532.300 576.600 719.000

Humberto de 1.204.250 1.200.900 1.380.880 1.416.130 1.422.075 1.412.500 1.402.500 1.408.925 1.415.560 1.652.340 1.672.045 Campos

Icatu 327.000 327.500 427.900 430.000 407.000 419.000 420.200 419.550 422.252 440.433 439.026

Primeira Cruz 2.058.800 2.006.750 1.779.180 1.377.180 1.206.900 1.335.700 1.340.100 1.346.270 1.371.350 917.400 912.585

Araioses 50.800 55.400 56.300 70.500 86.500 113.000 139.500 142.200 142.970 164.350 16.900

Tutóia 106.400 106.600 112.100 117.600 269.600 280.400 28.000 375.800 358.700 439.700

Cedral 577.000 66.200 784.000 769.000

TOTAL 23.797.876 25.624.138 26.030.147 27.500.917 28.270.225 29.446.350 27.917.800 25.970.845 26.713.278 25.180.943 26.331.652 Fonte: adapt. de Emerenciano, 1978

Figura 42: Produção de pescado por município obtida em 2002. Fonte: Almeida et al. 2006

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A Figura 43 apresenta, de maneira articulada, a relação entre artes de pesca, produção e localização do desembarque. De acordo com a ESTATPESCA, Cururupu aparece como o segundo maior produtor de pescados do Maranhão, atrás apenas de Raposa, enquanto Apicum Açu está na sexta posição. Cururupu e Apicum Açu compartilham praticamente das mesmas artes, destacando-se a pesca de Curral, Muruada, Puçá, Serreira, Tainheira, Tapagem, Zangaria, Espinhel, Gozeira e Malhadeira. Destaca-se ainda a presença de tarrafa, rede de lanço e fuzarca em Cururupu – artes não registradas para Apicum Açu.

Figura 43: Produção de pescado no estado, por município e arte de pesca em 2005. Fonte: ESTATPESCA, 2006 Ressalta-se que, em decorrência da infraestrutura disponível nos portos de Apicum Açu e Raposa, são desmbarcadas nessas localidades os pescados provenientes do território pertencente ao município de Cururupu, incluindo aqueles obtidos dentro da RESEX de Cururupu. Esse desmbarque é realizado, em sua maioria, por pescadores. Assim, empiricamente, sabe-se que a representatividade da pesca artesanal no município é maior do que o apresentado nos dados das análises estatísticas.

Tal fato corrobora a urgente necessidade de ampliar os controles e valorizar a atividade pesqueira no munípio. Investimentos e iniciativas da municipalidade poderiam dinamizar os processos econômicos oriundos da pesca, adotando medidas que, por exemplo, monitorasse a saída do pescado cururupense, situação que traria importante benefício econômico e social para o município e para os pescadores artesanais.

De toda sorte, os dados acima evidenciam a importância do município de Cururupu para a atividade pesqueira do Maranhão, mostrando números próximos a seis mil toneladas de recursos pesqueiros capturados ao ano, evidenciando-se também que a pesca é uma

60 das mais importantes atividades econômicas do município, embora, este montante não apareça nas pesquisas socieconômicas realizadas no Maranhão. Deste volume, boa parte se dá a partir da pesca artesanal (onde estão incluídos os pescadores da RESEX).

Entretanto, sabe-se, utilizando inclusive a RESEX como exemplo, que a pesca artesanal no município de Cururupu não possui uma cadeia produtiva organizada, sendo dominada pelos atravessadores e recebendo pouco ou nenhum apoio do poder municipal ou estadual. De forma que os pescadores não são devidamente remunerados ou valorizados, inclusive pelo despreparo e/ou falta de contato com compradores locais para a negociação dos produtos. O Ministério da Pesca, agora incorporado ao Ministério da Agricultura e Pecuária - MAPA dispõe de alguns programas que visam à capacitação dos pescadores artesanais, como o Pescando Letras, Pronatec Pesca e Aquicultura, Projeto de Apoio a Pequenos Empreendimentos na Pesca Artesanal, a Parceria Cozinha Brasil e os Telecentros. Tais programas, se aplicados no município de Cururupu, podem ser de grande valia para a pesca artesanal e estruturação da cadeia produtiva. Outro Programa interessante para ser aplicado no município de Cururupu é o Programa Feira do Peixe, que busca favorecer o pescador artesanal a partir da venda direta do produto, por meio de equipamentos chamados de Kit Feira. Para adesão ao Programa, é necessário que o pescador esteja enquadrado no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF. Outra forma de valorizar a produção de pescado artesanal se dá a partir da venda direta do produto para instituições públicas como escolas, programas de nutrição, centros de formação profissional. A venda destes produtos é regularizada pelo Decreto Estadual 31.549/2016 que autoriza o Programa de Compras da Agricultura Familiar PROCAF/MA sem licitação. Observa-se que existem muitos meios de valorização da pesca artesanal, que no caso do município de Cururupu, beneficiaria uma grande parte da população. Aumentando sua renda e capacitando tecnicamente para a melhoria da atividade, incluindo a comercialização do produto. Porém, para tal valorização é necessário que os órgãos municipais e estaduais, incluindo também as colônias e sindicato de pescadores e principalmente a organização de associações ou grupos de apoio dos próprios pescadores assumam seus papéis de facilitadores e busquem o desenvolvimento dessas atividades.

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 CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE PESQUEIRA DENTRO DOS LIMITES DA RESEX Em linhas gerais, a criação de uma unidade de conservação marinha limita o acesso da população aos recursos naturais existentes em seu território, sendo este um princípio da conservação ambiental. As Reservas Extrativistas possuem a peculiaridade de harmonizar a exploração sustentável dos recursos com os seus objetivos conservacionistas. Por esse motivo, o acesso aos recursos é limitado àquelas populações extrativistas locais definidas no Perfil da Família Beneficiária da RESEX (Portaria ICMBio nº 126/2014). Legalmente, a pesca nos limites da RESEX deve ser exclusivamente artesanal e realizada apenas por pescadores beneficiários, devidamente cadastrados junto ao ICMBio, não obstante, esses trabalhadores devem atender a outras condições legais junto aos órgãos e instituições competentes, tais como Marinha, Ministério da Pesca, Colônia de Pescadores. Em 06 de novembro de 2014, foi instituído, por meio da Portaria 122, o Acordo de Gestão da Unidade de Conservação, esse documento, construído de forma participativa, apresenta as normas de uso dos recursos com situações relacionadas aos períodos de pesca, tamanho da malha e tipos de artes, como por exemplo, a restrição do puçá de arrasto durante o recrutamento do camarão, as redes com malhas inferiores às indicadas para as artes de muruada, zangaria ou fuzarca, tarrafa, camaroeira, curral, gozeira, caiqueira, tainheira, malhão, serreira e corvineira. Esse documento se configura como uma importante ferramenta no ordenamento e caracterização da pesca praticada na UC.

 PRINCIPAIS ARTES DE PESCA UTILIZADAS NA RESEX DE CURURUPU As artes de pesca apresentadas a seguir foram identificadas com o apoio da bibliografia disponível, incluindo o Acordo de Gestão, considerando, sobretudo as informações apresentadas pelos pescadores no decorrer das atividades de campo realizadas na Resex.  Camaroeira – Varia entre 70 a 150 metros, com malha não inferior a 36 (trinta e seis milímetros). É lançada na baixa mar, formando um semicírculo, com o centro na parte mais profunda, de onde é puxada para a beira, fechando o círculo. A pescaria é direcionada ao camarão e envolve geralmente entre 2 a 3 pessoas.  Curral – Armadilha fixa na forma de um “V” de esteiras, tecidas com varas e amarradas a mourões com cipó ou linha. É dividido em duas seções: ispia e chiqueiro. A sala é o lugar onde os peixes perdem a orientação e, devido à

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correnteza, não conseguem mais sair, ficando presos no chiqueiro. A pesca é feita na maré vazante e a despesca na baixa-mar, com a participação de 2 ou 3 pessoas. O Acordo de Gestão permite o uso do curral apenas com varas acima de 5 cm na ispia, malhas do chiqueiro a partir de 60 mm e espaçamento mínimo de 50 m entre um curral e outro.  Espinhel – Composição de linha e centenas de anzóis, para a pesca embarcada. Podem ser de fundo ou meia água. Captura pescadas (Cynocion sp. e Macrodon sp.), uritinga (Sciades proops), bandeirado (Bagre bagre) cangatã (Apistor quadriscutis), corvina (Micropogonias furnieri), raia-pintada Aetobatus narinari raia- bicuda (Dasyatis guttata), peixe-pedra (Genyatremus luteus), tubarão-lixa (Giglymostoma cirratum) e outros tubarões. O número de pescadores varia entre 2 e 3, de acordo com o barco. O Acordo de Gestão limita o uso de espinhel com no máximo 3000 anzóis por embarcação.  Gozeira – rede de emalhar de deriva de fundo, variando entre 500 e 1.000 metros de comprimento e 2 a 3 metros de altura. São dispostas no fundo, em mar aberto ou nas baías, dirigindo a pesca à captura da pescada (Cynoscion microlepidotus) e da pescada gó (Macrodon ancylodon). Envolve de 3 a 4 pescadores. O Acordo de Gestão limita o uso de gozeira para malhas a partir de 70 mm e comprimento máximo de 3000 m.  Linha de mão – difusa por todas as comunidades da RESEX, é uma linha de nylon comprida, com um anzol na ponta. Pode levar outros anzóis, bóias e chumbadas. Há poucos lugares onde é a arte de pesca principal. Visa à captura de espécies de peixes pelágicos ou de fundo.  Malhadeira, malhão, pescadeira – Redes de emalhar, que variam entre 100 e 3.000 metros de comprimento e 4 a 6 metros de altura. São mantidas no sentido vertical da coluna d’água. A pesca é realizada em duplas, trios ou quartetos, utilizando botes ou bianas. São lançadas em águas mais profundas, objetivando capturar predominantemente as pescadas, como Cynoscion acoupa, Macrodon ancylodon e uritinga (Sciades proops). O Acordo de Gestão limita o uso de malhão para malhas a partir de 170 mm e comprimento de até 3.000 m.  Manzuá ou Munzuá - uma armadilha de espera com estrutura de madeira coberta por uma malha de polietileno, em formato de caixa. É colocada nos poços e canais de maré. É trabalhada por apenas 1 pessoa.

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 Muruada – armadilha de espera fixa com uma extremidade aberta e outra fechada. Possui em média 5 puçás, que em função da vazante da maré, captura peixes e camarões. Exige a manutenção constante de seus mourões, que sustentam os puçás. O pesqueiro, ou seja, a área de exploração é uma posse, sendo que sua localização e delimitação são definidas, muitas vezes, por herança, pioneirismo ou compra. O Acordo de Gestão limita o uso das redes de muruada para malhas a partir de 24 mm.  Puçá de arrasto – São redes em forma de funil com até 5 metros de comprimento. A rede é amarrada em dois pedaços de madeira, chamados de calões, a fim de que a mesma possa ser arrastada nas bordas dos lavados, igarapés e ao longo da costa. Geralmente é necessária a formação de duplas ou trios de trabalhadores. É uma arte destinada a pescar camarões e peixes, associada à subsistência (“mata fome”, na linguagem local) e à captura de iscas para outros tipos de pescaria, como o espinhel e a linha de mão. Sua presença é difusa em praticamente todas as comunidades. O Acordo de Gestão traz duas restrições quanto a esta arte: o uso do puçá de arrasto é proibido nos meses de abril e maio e só é permitido com malha a partir de 20 mm.  Rabiadeira – rede de espera, perpendicular a linha de costa que possui uma extremidade fixada na praia e outra livre sobre a água.  Rede de lanço – é uma rede utilizada para cercar espécimes que se localizam nos “poços” capturados na baixamar. Apesar da prática, a rede de lanço é proibida através do Acordo de Gestão.  Redinha – Rede de arrasto sem saco, com aproximadamente 50 metros. Arrastada ao longo das margens rasas, praias e bancos de areia na baixa mar. Geralmente direcionada à captura de camarões, especialmente o camarão branco (Litopenaeus schmitti), é trabalhada por 2 pessoas.  Rede de Tapagem ou Tapagem de Igarapé – arte de pesca ilegal e por isso proibida na RESEX, embora ainda muito utilizada. Configura-se por uma rede de seda com comprimento de 20-100 metros, sustentadas por estacas e fixadas nas bocas de cabeceiras. Na vasante da maré todos os pescados são capturados (de forma a não existir possibilidade de fuga) e a despesca ocorre na baixamar. Durante as reuniões abertas, corridas em fevereiro de 2015, a comunidade de Mirinzal citou como espécies capturadas: bagre, tainha e uriacica.

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 Serreira – é uma rede de monofilamento de emalhar de deriva flutuante (embora sejam observadas algumas ancoradas). Varia entre 800 a 1600 metros de comprimento e 4 a 5 metros de altura. Utilizada principalmente na plataforma continental, em águas rasas, objetivando a captura do peixe-serra (Scomberomorus brasiliensis). É operada por entre 2 a 6 pessoas. O Acordo de Gestão limita o uso de serreira para malha não inferior a 100mm (cem milímetros) e comprimento máximo de 3000 m.  Tainheira e Caiqueira – São redes cujo tamanho médio é de 160 metros. A tainheira, utilizada para capturar tainha, é utilizada nos canais de maré próximos ao manguezal. Já a caiqueira, utilizada para capturar a caíca, ocorre na costa. Em ambas, geralmente pescam de 2 a 3 pessoas. Embora o objetivo destas artes seja a captura da tainha e caíca, também são capturados camarões e outros peixes, como a pescada-gó (Macrodon ancylodon), cangatã (Apistor quadriscutis), uritinga (Sciades proops). O Acordo de Gestão limita o uso da tainheira para malhas não inferiores a 60mm (sessenta milímetros) e extensão não superior a 300m (trezentos metros) de comprimento; já a caiqueira é restrita para malhas não inferiores a 30mm (trinta milímetros) e extensão não superior a 200m (duzentos metros) de comprimento.  Zangaria – armadilha fixa em forma de semicírculo. Sustentada por estacas, é colocada uma rede, que fica suspensa. O Acordo de Gestão limita o uso das redes de zangaria para malhas a partir de 50 mm e restringe o distanciamento entre as redes em, no mínimo, 100 m, com altura máxima de 2,5 m e comprimento máximo de 1500 metros. A zangaria, independente da altura da rede, não deve ser utilizada na beirada do mangue.

Figura 44: Curral, em São João Mirim Figura 45: Pesca de Caiqueira, em Lençóis

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Figura 46: Pesca de muruada Figura 47: Pesca de Malhão  PRÁTICA E PRODUÇÃO PESQUEIRA A pesca realizada na RESEX é bastante diversificada e está associada às condições naturais. Desta forma, cada praia possui particularidades na obtenção do pescado, com o predomínio de algumas técnicas, o conhecimento de certos pesqueiros e a captura preferencial de algumas espécies. Os entendimentos acerca das práticas e produção pesqueira na RESEX foram construídos neste Plano de Manejo, a partir dos dados bibliográficos, portanto secundários e primários, produzidos junto aos pescadores da RESEX em dois momentos distintos, conforme será detalhado adiante. Os dados secundários disponíveis sobre os recursos pesqueiros marinhos e estuarinos do Maranhão, publicados em 2008, sinalizam que, em termos gerais, os meses de abril, maio e junho são mais produtivos em relação aos peixes, uma vez que coincidem com o final do período chuvoso e início dos ventos fortes (ALMEIDA, 2008). A presença de ventos fortes no segundo semestre, é, tradicionalmente, a principal causa para a redução das capturas nesse período (MOLINARI et al.,1996) Todavia, conforme se observou nas reuniões abertas e nas oficinas participativas, não há uma regularidade bem definida para tal, variando muito em função da espécie, arte de pesca e aspectos ambientais particulares de cada ano. O Censo de Pesca, realizado em 2009 pelo ICMBio, indicam quais e quantas são as artes de pesca recorrentes na RESEX, esses dados estão graficamente apresentados na Figura 48.

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Figura 48: Principais artes de pesca utilizadas na RESEX Fonte: Adaptado do Censo de Pesca (ICMBio, 2009)

Conforme se observa na Figura 48, a arte de pesca mais comum na UC é o puçá de arrasto, pois é o “mata fome” das comunidades, ou seja, é uma captura destinada à subsistência, dada a facilidade de manuseio e baixo custo. No mesmo contexto se insere a linha de mão – terceira arte mais citada na pesquisa do Censo. As muruadas são a segunda arte mais citada, considerada um dos bens materiais mais valiosos e rentáveis da atividade pesqueira local. É comumente negociada ou adquirida como herança, especialmente aquelas localizadas nos melhores pesqueiros. O Censo também indica que, das 26 artes citadas pelos pescadores, 7 possuem mais de 100 ocorrências nas praias da RESEX. Sendo a Tainheira, Serreira, Sajubeira, Rabadela, Malhão, Linha de mão, Goseira, Espinhel, Corvineira e Camurinzeira são pescarias embarcadas, enquanto que as demais artes, Fuzarca, Rabiadeira, Rede de laço, Curral, Manzuá, Tarrafa, Malhadeira, Caiqueira, Camaroeira, Tapagem, Zangaria, Rede Poitada, Muruada, Puça de Arrasto, coleta de caranguejo e coleta de sururu, são armadilhas de espera e/ou realizadas manualmente sem o uso de embarcações. Esses dados apontam que 38,5% das pescarias ocorrem embarcadas enquanto 61,5% são

67 desembarcadas. Apesar do maior percentual de artes estar relacionadas às práticas desembarcadas, fica evidente também a intrínseca relação com as embarcações e, portanto, a forte dependência de insumos. Especificamente sobre as embarcações, conforme já apresentado no item Aspectos da Vida Cotidiana, deste Plano de Manejo, os dados do Censo da pesca de 2009, sinalizaram para a existência de 295 embarcações, cadastradas no interior da RESEX pelo ICMBio, as mais recorrentes eram do tipo casco, bote e biana. Os levantamentos dos dados primários ocorreram em fevereiro de 2015, quando foi realizada a primeira expedição de campo com a equipe de consultores com o objetivo de reconhecer a área objeto de estudo, comunicar as comunidades da Unidade sobre o trabalho que seria desenvolvido e também obter as informações preliminares acerca da organização comunitária e desenvolvimento social e econômico nas praias. Nesta oportunidade foram visitadas todas as comunidades e localidades no interior da RESEX. Com a realização de reuniões abertas que contou com a participação dos comunitários e com a adoção de técnicas de participação social foi possível levantar as primeiras informações de cunho qualitativo acerca das artes de pesca, os períodos de pesca e as espécies frequentemente pescadas.

Figura 49 Reunião Aberta, ocorrida em Figura 50 Reunião Aberta, ocorrida em Caçacueira (24/02/2015) Beiradão (06/03/2015) Após a sistematização das primeiras informações colhidas, em momento posterior, já nas Oficinas de Planejamento Participativo, realizadas em julho de 2015, a equipe de consultores, também com o emprego de metodologias de participação social, foram dedicadas horas em cada uma das quatro oficinas realizadas para ampliar os dados qualitativos e levantar os dados quantitativos acerca da pesca na RESEX, nesta ocasião, com a ajuda dos comunitários convidados para compor essas atividades, foi possível

68 espacializar as artes de pesca, identificar as quantidades de cada arte nas praias e passar em revista os períodos de captura das espécies de valor comercial.

Figura 51: Comunidade de Peru trabalha no Figura 52: Comunidade de São Lucas trabalha mapeamento pesqueiro. no mapeamento pesqueiro.

O trabalho de espacialização das artes de pesca foi desenvolvido com o auxílio das imagens de satélite para cada comunidade/localidade, os comunitários desenharam as áreas em uma folha de acetato sobreposta à imagem e identificaram por meio de símbolos as artes mais freqüentes em cada praia, em seguida eram marcadas as quantidades de cada arte de pesca existentes.41 Visando corroborar as informações sobre os períodos de captura das espécies, já levantada de forma difusa no primeiro campo, após a espacialização na imagem de satélite, os comunitários relatavam, para cada arte destacada como principal, os períodos de maior ou menor captura de peixes e camarões, sendo a informação inserida mês a mês em uma matriz impressa em papel A3. Essa técnica gerou os gráficos que serão apresentados neste capítulo. Por fim, a junção de todas as informações coletadas em ambas as atividades de campo, culminaram nos dados apresentados a seguir. A Tabela 6 considera os dados primários, tendo sido construída exclusivamente a partir da análise integrada das informações levantadas nas reuniões abertas e das atividades realizadas em julho, quando a pesquisa foi aprofundada. Demonstram quais, quantas são e onde estão as principais artes, destacadas pelos comunitários, bem como quais as espécies que são capturadas.

41 Todos esses esforços, concentrados nos dois momentos distintos, subsidiaram o desenvolvimento do Sistema de Informações Geográficas – SIG, com objetivo de auxiliar a gestão da UC. O APÊNDICE IV apresenta o arranjo de algumas artes de pesca encontradas na RESEX – como malhão, espinhel, tainheira, caiqueira, muruadas e manzuás e suas respectivas áreas de atuação.

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Tabela 6: Principais artes de pesca identificadas, associada às espécies-alvo, quantidade de ocorrência e localidades

Espécies Praias

(6)

Deus

Artes de pesca -

me

-

barbas)

-

inha

camarão piré (sete camarão branco camarão cascudo bandeirado caíca cangatã corvina camurim gurijuba peixe serra peixe pedra pescada amarela pescada gó sajuba ta uritinga Mangunça/Taboa Caçacueira São Lucas Peru Guajerutiua Valha Porto Alegre Lençóis Batevento Mirinzal Retiro Porto do Meio Beiradão Urumaru Iguará Caiqueira x x 6 9 40 8 27 6 5

Camaroeira x x x 2 23 1

Camurineira(1) x x

Curral x x 1 1 1 2 1

Espinhel x x x x x x x 6 4 5 10

Fuzarca x x x 8 5 12

Gozeira x x ≅35 3 5 2 13 1

Linha-de-mão(2) x x x x x x x x x x x x x x x x x x x

Malhadeira x x x x x 3 ≅23 25 1 10 10 1

Muruada x x x 3 6 21 41 12 2 14 10 1 47 16 31

Muzuá x x x x 4 x 15 5 14

Puçá de arrasto(3) x x x 13 X(7) 70 x 35 x 40 x 6 40 x 5 5 5 16 Rabiadeira x 8 ≅23 10 14 30 20

Redinha x 12 15

Sajubeira(4) x

Serreira x 2

Tainheira x 3 ≅35 21 5 1 2 12 4 5 3

Tarrafa(5) x

Zangaria x x x x 12 4 3 5 16 3 5 4

(1)Camurineira – foi citada somente nas reuniões abertas, mas não foi quantificada, desta forma o dado apresentado refere-se à ocorrência, a espécie pescada e a localidade. / (2) Linha de mão – foi citada em ambas as atividades de campo, mas pela ampla ocorrência, não foi quantificada, desta forma o dado apresentado refere-se à ocorrência, a espécie pescada e a localidade. / (3) Puçá de arrasto – foi citada em ambas as atividades de campo, mas pela ampla ocorrência em todas as comunidades, não foi quantificada, desta forma o dado apresentado refere-se à ocorrência, a espécie pescada e a localidade. / (4) Sajubeira - foi citada somente nas reuniões abertas, mas não foi quantificada nem espacializada, desta forma o dado apresentado refere-se somente a espécie pescada./ (5) Tarrafa - foi citada somente nas reuniões abertas, mas não foi quantificada nem espacializada, desta forma o dado apresentado refere-se somente a espécie pescada./ (6) Para a comunidade de Porto Alegre, referente à quantidade de petrechos, são oriundos da 1º Reunião Extraordinária do Conselho Deliberativo (abril/2016). Vendo que, durante as OPPs, a representatividade desta comunidade foi baixa./ (7) Em Caçacueira, a comunidade informou que em torno de 50% das famílias possuem puçá de arrasto, e que atualmente, existem aproximadamente 203 famlias.

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Destaca-se que as artes de pesca e as espécies foram organizadas por ordem alfabética visando facilitar a leitura, enquanto que as praias estão alinhadas conforme os setores sul, centro e norte. Assim, diante das sinalizações apresentadas na Tabela 6, é possível confirmar uma multiplicidade de artes que retrata as espécies mais capturadas. Contudo, há que se observar a captura, vez ou outra, de fauna acompanhante, ou seja, outras espécies que são pescadas pela arte utilizada, mas em menor volume. Conforme quantificado, existem aproximadamente, 808 unidades distribuídas por todas as artes pesquisadas, sendo que a Muruada, seguida pela Rabiadeira, Caiqueira e Tainheira apresentam ocorrência acima de 10%. A Figura 53 a seguir indica o percentual de ocorrência dessas artes, distribuída pela RESEX, segundo os dados coletados nas reuniões abertas e OPPs.

Figura 53: Incidência de uso das artes de pesca na RESEX

Observa-se que, conforme justificado na legenda da tabela 6, as artes não foram quantificadas: linha de mão, puçá de arrasto, camurineira, sajubeira e tarrafa. Destaca-se ainda que, excetuando-se as artes não quantificadas, quando comparamos esses dados primários com aqueles obtidos pelo censo da pesca (ICMBio, 2009) observamos em ambos os casos acentuada contribuição da muruada, da tainheira, contudo, a malhadeira, muito citada no censo de pesca, aparece neste gráfico em menor número, mas também com expressiva incidência. Fato divergente é a presença da rabiadeira, que neste

71 levantamento ocupou o segundo lugar na quantificação, com 103 unidades na RESEX e no Censo foram identificadas somente 59 unidades. As artes menos presentes identificadas no censo foram: curral, corvineira, rede de lançom rabadela, fuzerca e camurimzeira, já nos dados coletados neste plano as menos presentes foram: curral e serreira. Obviamente, pela forma de coleta de dados, pelas variávei dimensionadas, tamanho de amostra e propósitos da pesquisa, seria de se esperar convergências e divergências na ocorrência de algumas artes, sendo uma comparação somente um exercício para confirmação de tendências e padrões. Uma análise pormenorizada desses dados indica que as comunidades localizadas nas barras das baías, isto é, próximas à saída para o mar aberto, como Caçacueira, Guajerutiua, Porto do Meio, Mangunça, Lençóis e Bate Vento concentram as pescas embarcadas de malhão, gozeira, camaroeira e espinhel. As muruadas, importante arte de pesca utilizada para a captura de camarões, se concentram nas comunidades que pescam em áreas abrigadas, sendo mais recorrente em Beiradão, Perú (Igarapé da Menina), Iguará e São Lucas. Contudo ocorre também, em menor proporção em Porto Alegre (costa de Valha-me-Deus), Urumaru, Guajerutiua, Mirinzal, Caçacueira, Mangunça/Taboa, Retiro e Valha-me-Deus, conforme demonstrado na Figura 54.

Figura 54: Uso da Muruada nas Praias da RESEX. Já as comunidades que possuem grandes extensões de praias arenosas, como Lençóis, seguida por Porto do Meio, Bate Vento, Mangunça/Taboa, Urumaru, Iguará utilizam a Caiqueira. Conforme a distribuição apresentada na Figura 55

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Figura 55: Uso da Caiqueira nas Praias da RESEX.

As Rabiadeiras, com 103 unidades na RESEX, estão distribuídas entre as comunidades de Batevento, Caçacueira, Mangunça/Taboa, Porto do Meio e Valha-me-Deus. A Figura 56 indica a distribuição da arte pelas praias.

Figura 56: Uso da Rabiadeira nas Praias da RESEX.

E a Tainheira, que também representa mais de 10% das artes praticadas na RESEX está distribuída entres as comunidades de Caçacueira, que concentra 40% de todas as unidades existentes, seguida por Guajerutiua e Bate vento. Demais comunidades como Valha-me-Deus, Porto Alegre, Lençóis, Mirinzal, Porto do Meio e Iguará, concentram 36% das demais unidades desta arte.

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Figura 57: Uso da Tainheira nas Praias da RESEX.

Já as demais artes, são praticadas pelas comunidades de forma difusa, estando os muzuás concentrados entre Guajerutiua, Iguará e Porto do Meio, a fuzarca foi citada nas praias de Guajerutiua, Valha-me-Deus e Iguará. Já as Camaroeiras estão basicamente concentradas em Guajerutiua e a rede do tipo redinha (utilizada para capturar camarão) ocorre nas comunidades de Bate Vento e Lençóis. As artes de pesca proibidas, como a tapagem, o fuzarcão e a zangaria alta, que ocorrem com maior freqüência nas comunidades de Valha-me-Deus, Mirinzal e São Lucas, assim como, ainda que em menor quantidade, em Peru, Bate-Vento, Mangunça, Guajerutiua e Porto do Meio, a tapagem e o fuzarcão serão discutidas no capítulo que trata sobre os usos conflitantes na RESEX, neste Plano de Manejo. Por fim, observa-se que em Mangunça foi registrada uma considerável quantidade de redes pertencentes a usuários diretos, sendo: 30 redes de malhão, provenientes do município de Porto Rico e da localidade de Cocal (comunidade do entorno da UC); 7 muruadas de pescadores dos municípios de Porto Rico e Cururupu; 40 gozeiras. Destaca-se que para as localidades do entorno da RESEX, incluindo aquelas de Cururupu, conforme estabelecido na Portaria 126, referente ao perfil dos beneficiários, pescadores são reconhecidos como extrativistas locais e podem utilizar a UC, desde que estejam de acordo com as regras da UC. Entretando, os não beneficiários oriundos de outros municípios, essa situação caracteriza-se como conflitante, tendo em vista a restrição de uso oportunamente definida no Acordo de Gestão.

74 A análise dos dados acerca de cada comunidade, além da quantificação das artes e identificação de espécies, considera ainda informações sobre sazonalidade da produção pesqueira. Assim, para esse levantamento, conforme já mencionado, foi desenvolvido junto com os representantes das comunidades o gráfico da produção ao longo de 12 meses. Apesar de esta informação ter sido previamente levantada nas reuniões abertas, durante as atividades de campo ocorridas em julho de 2015 foram novamente investigadas com o intuito de formar a linha de pico e de baixa para a captura das espécies conforme cada arte. A título de composição do entendimento, como padrão de sazonalidade foi considerado a informação produzida no segundo campo, entretanto, foi possível reavaliar aquelas informações obtidas nas primeiras reuniões. As figuras que serão apresentadas sobre cada comunidade trazem uma representação da variação da produção pesqueira percebida ao longo do ano, seguindo os níveis: muito pouco, pouco, médio, razoável e boa. Há que se observar que tanto os dados da primeira atividade de campo (fevereiro/2015) quanto da segunda (julho/2015) consideraram o conhecimento empírico da população. Sendo que durante a coleta dos dados, em alguns casos, os pescadores apresentaram dúvidas quanto aos períodos de produção com relação aos anos anteriores, já que segundo eles, em alguns momentos pode ocorrer uma variação quanto à abundância dos recursos pesqueiros devido à falta de chuva. Esse fato reforça a importância do desenvolvimento de estudos e acompanhamento sistemático ao longo de no mínimo um ano, para o entendimento de quais espécies são mais abundantes em cada período, e quais as condições ecológicas de cada espécie nestas épocas (por exemplo, época reprodutiva). Tais estudos, que serão discutidos no volume II deste Plano de Manejo, serão norteadores para a tomada de ações com relação ao adequado manejo pesqueiro.  Mangunça Sobre Mangunça/Taboa, observa-se que as artes presentes são: caiqueira, camaroeira, malhadeira, muruada e rabiadeira, sendo essa última a de maior representatividade, com 20 unidades. Com relação à prática de pescarias ilegais, a comunidade ainda relatou a existência de 2 zangarias alta, 4 rede poitadas e 5 tapagens de igarapé. A Figura 58 indica a produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca e espécies. Observa-se que pela variedade de artes existentes, a produção permanece em alta durante o ano todo, entretanto, isso não caracteriza abundância de pescado tendo em vista que somente a rabiadeira representa um quantitativo expressivo nesta praia. O pico de produção para essa arte concentra-se entre maio, junho, julho e agosto.

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Mangunça Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Malhão (pescadas, uritinga, camurim,

gurijuba, ) Caiqueira (caica e camarão-branco) Muruada(camarão piré, branco e cascudo) Rabiadeira (camurim) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 58: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Mangunça/Taboa

 Caçacueira Nesta praia observa-se que as artes presentes são: gozeira, malhadeira, muruada, rabiadeira e tainheira, sendo a gozeira e a tainheira, artes mais abundantes, com 35 unidades cada. A comuniudade ainda relatou a existência de 6 fuzarcão, arte proibida nos limites da RESEX. A Figura 59 indica a produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca e espécies. Observa-se que, apesar da variedade de artes existentes, a produção se concentra em níveis médios, satisfatórios em bons a partir de maio de cada ano. Para a gozeira, os picos de produção estão concentrados nos meses de maio/junho a setembro. A pescaria com a tainheira apresenta-se boa durante todo o ano, com pico registrado em maio/junho. Já para a Rabiadeira os melhores meses são janeiro, fevereiro e março, tendo uma forte queda entre os meses de julho a outubro. Por fim, a malhadeira permanece em níveis médio e razoável, durante o ano todo, com queda acentuada entre outubro, novembro e dezembro.

Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Muruada (camarão piré, branco e cascudo) Rabiadeira (camurim) Tainheira (tainha) Gozeira (pescada gó e amarela) Malhadeira (pescadas, uritinga, camurim, gurijuba) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 59: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Caçacueira

 São Lucas Nesta comunidade observa-se que as artes presentes são: curral, zangaria e muruada, sendo essa última mais representativa, com 21 unidades.

76 A Figura 60 indica a produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca e espécies. Observa-se que, as duas principais artes praticadas nessa comunidade apresentam os picos de produção concentradas nos meses de agosto e setembro. Fatalmente, essa comunidade pode apresentar dificuldades de geração de renda em outros meses, assim, o comportamento da pescaria nesta praia deverá ser considerado para o planejamento de ações que valorizem o pescador, como a atividade 5 da estratégia Implementar e ampliar o ordenamento da pesca apresentada no Volume II deste Plano de Manejo.

São Lucas Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Muruada (camarão piré, branco e cascudo Zangaria (camarão piré, branco e cascudo) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 60: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – São Lucas  Perú Em Perú, assim como em São Lucas, observa-se que as artes presentes são: curral, zangaria e muruada, sendo essa última mais representativa, com 41 unidades. Conforme destacado anteriormente, essa comunidade concentra 20% de todas as muruadas presentes na RESEX. Com relação às práticas ilegais, a comunidade relatou a existência de 13 tapagens de igarapé e a ocorrência de rede poitada. A Figura 61 indica a produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca e espécies. Observa-se que, diferentemente do que foi apontado por São Lucas, as duas principais artes praticadas nessa comunidade apresentam os picos de produção diferentes. Sendo que a muruada apresenta um patamar de médio e bom entre os meses de abril e junho, com queda em julho e novo pico entre setembro e outubro. Já a zangaria atinge níveis entre médio e bom entre setembro a novembro, voltando a cair em dezembro. Assim como São Lucas, essa comunidade também pode apresentar dificuldades de geração de renda em outros períodos, sendo necessário acompanhar o comportamento da pescaria nesta praia para o planejamento de ações .

77 Perú Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Muruada (camarão piré, branco e cascudo) Zangaria (camarão piré, branco e cascudo) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 61: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Perú  Guajerutiua Em Guajerutiua, observa-se uma ampla variedade de artes de pesca: gozeira, zangaria, espinhel, fuzarca, muruada, muzuá, tainheira, camaroeira e malhadeira. Sendo as três últimas as mais representativas, com 21, 23 e 25 unidades de cada arte, respectivamente. A comunidade ainda relatou a existência de uma tapagem de igarapé, arte considerada como ilegal. Nesta comunidade a coleta de informações sobre a sazonalidade da produção focou naquela arte de maior representatividade, ou seja, a malhadeira (malhão), assim a figura xx indica que os períodos de pescarias com patamares entre médio e bom ocorrem nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março. Contudo, apesar da queda acentuada entre abril e novembro, ainda é possível obter o pescado.

Guajerutiua Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Malhão (pescadas, uritinga, camurim, gurijuba) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 62: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Guajerutiua Embora o gráfico desenhado com a comunidade de Guajerutiua, represente uma produção baixa para a pesca de malhão nos meses de maio, junho e julho, os conselheiros presentes na 1º Reunião Extraordinária (abril/2014) relatam que a produção aumenta em junho e julho e diminui nos meses de agosto e setembro, melhorando a partir de outubro, relato que corrobora a necessidade de ampliação dos estudos acerca do comportamento da pesca na RESEX, tema discutido no volume II deste Plano de Manejo.

 Valha – me – Deus Em Valha-me-Deus, observa-se a ocorrência das seguintes artes: muruada, fuzarca, tainheira, zangaria e rabiadeira, sendo essa última a mais representativa, com 10

78 unidades. Quanto às artes ilegais, a comunidade realtou na existência de 5 zangarias-alta e a ocorrência de tapagem de igarapé. Para a rabiadeira e malhão, o período de produção média a bom concentra-se entre os meses de maio a agosto. Na zangaria, o melhor período para a pesca ocorre entre entre junho, julho, agosto e setembro.

Valha-me Deus Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Muruada (camarão piré, branco e cascudo) Zangaria (camarão piré, branco e cascudo) Rabiadeira (camurim) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 63: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Valha-me Deus  Lençóis Em Lençóis, observa-se a ocorrência das seguintes artes: caiqueira, camaroeira, malhadeira, redinha, serreira, tainheira e zangaria. Sendo a caiqueira aquela de maior representatividade, com 40 unidades. Os períodos de produtividade enquadrados entre médio e bom são semelhantes para a caiqueira e a redinha, concentrando-se entre junho e agosto. A zangaria apresenta comportamento semelhante, contudo seu pico de melhor produção se estende entre julho agosto e setembro, enquanto as demais findam em agosto.

Lençóis Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Redinha (camarão-branco) Caiqueira (caica e camarão-branco) Zangaria (camarão-piré, branco e cascudo) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 64: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Lençóis  Bate Vento Nesta comunidade, observa-se a ocorrência das seguintes artes: gozeira, caiqueira, malhadeira, tainheira, redinha e rabiadeira. A rabiadeira possui mais unidades, totalizando 30. A counidade ainda relata a ocorrência de 5 tapagens de igarapé. Apesar da ocorrência da rabiadeira, as curvas de sazonalidade foram desenvolvidas para a malhadeira, caiqueira e tainheira. Assim, os comportamentos são bastante difusos, sendo que os picos de produtividade do malhão ocorrem entre dezembro janeiro, fevereiro e março e entre junho e julho. Já a tainheira passa entre janeiro e maio com baixa produtividade, alcançando um estágio mediano entre maio e junho, voltando a apresentar uma melhor situação entre outubro, novembro e dezembro.

79 Por fim, a caiqueira apresenta bons níveis de produção entre abril e setembro, nos demais meses do ano a produção varia entre muito pouca e pouca, conforme a Figura 65.

Bate-vento Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Malhão (pescadas, uritinga, camurim, gurijuba) Tainheira (tainha) Caiqueira (caíca e camarão-branco) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 65: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Bate-vento  Porto do Meio Nesta comunidade, observa-se a ocorrência das seguintes artes: espinhel, tainheira, zangaria, muzuá, gozeira, rabiadeira e caiqueira. A caiqueira concentra o maior número de unidades com 27 no total. Com relação às pescas ilegais, a comunidade relatou a existência de 10 tapagens de Igarapé e 3 redes-estacadas. Além de rede poitada de pescadores não beneficiários. A rabiadeira apresenta oscilações abruptas de produtividades, os melhores meses concentram-se entre janeiro a maio, com forte queda nos meses subsequentes, voltando a apresentar safra satisfatória entre novembro e dezembro. A caiqueira apresenta uma produtividade crescente a partir de junho, atingindo o ápice produtivo entre os meses de agosto a dezembro, conforme a Figura 66.

Porto do Meio Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Caiqueira (caica e camarão-branco) Muzuá (gurijuba, bandeirado, uritinga,cangatã) Rabiadeira (camurim) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 66: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Porto do Meio  Mirinzal Em Mirinzal observa-se a ocorrência das seguintes artes: tainheira e muruada, sendo essa última a de maior representatividade, com 10 unidades. Além dessas, sabendo que a prática é comum na comunidade, considerada até como uma arte tradiconal,foram relatadas 23 tapagens de igarapé. Nesta praia foi citado que a tainheira captura a tainha e também alguns bagres, em períodos diferentes. Assim, a muruada, tem um comportamento crescente ao longo do

80 ano, estando entre janeiro a maio com baixos níveis de captura, já maio setembro a quantidade de camarão capturada aumenta, atingindo o ápice em agosto, retornando a níveis ruins entre outubro e dezembro. Já a tainheira, dedicada à pesca da tainha, apresenta-se o ano todo com comportamento que oscila entre médio, razoável e bom, atingindo esse último patamar entre os meses de novembro e dezembro. Contudo a pesca dos bagres com o uso da tainheira tem um comportamento bastante diferenciado, permanecendo durante o ano todo em níveis que variam entre muito pouco e médio. Tendo a maior safra registrada entre maio e junho, conforme a Figura 67.

Mirinzal Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Muruada (camarão-piré, branco e cascudo) Tainheira (tainha) Tainheira (bagre) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 67: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Mirinzal  Beiradão Nesta localidade, onde se pesca preferencialmente camarão sete-barbas, observa-se a ocorrência das seguintes artes: zangaria e muruada. A muruada é a mais representativa, com 47 unidades pertencentes aos comunitários. A muruada apresenta um comportamento bastante cíclico de produção, inicia o ano com uma produtividade baixa, assume uma posição satisfatória a partir de fevereiro, com o primeiro ápice registrado entre março e abril, de maio a agosto a produção cai significativamente, chegando, no mês de julho na menor produção do ano. Nos meses de setembro, outubro, novembro a produção volta a subir e cai em dezembro, conforme a Figura 68.

Beiradão

Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Muruada (camarão piré, branco e cascudo)

Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 68: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Beiradão

81  Iguará Nesta localidade, onde se pesca preferencialmente camarão sete-barbas, observa-se a ocorrência das seguintes artes de pesca: curral, gozeira, tainheira, caiqueira, espinhel, fuzarca, muzuá e muruada. Tal como em Beiradão, as muruadas em Iguará também são as mais recorrentes. Nesta praia, a muruada e a fuzarca, apresentam um comportamento semelhante, tendo nos meses de janeiro, fevereiro, março e abril os primeiros meses de boa produtividade, entre maio e setembro a produção cai, atingindo o menor patamar entre junho e agosto. Após setembro a pescaria retoma o crescimento, para atingir novamente o seu ápice em janeiro. Os detalhes deste comportamento podem ser visualizados na Figura 69.

Iguará Artes de pesca Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Muruada (camarão piré, branco e cascudo)

Fuzarca (camarão piré, branco e cascudo)

Curral (pescada-amarela e gó) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 69: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Iguará  Urumaru Nesta localidade, onde se pesca preferencialmente camarão sete-barbas, observa-se a ocorrência das seguintes artes de pesca: caiqueira e muruada, que seguindo os comportamentos de Beiradão e Iguará corresponde a maior quantidade de unidades de arte com 15 no total. Nesta praia, a muruada apresenta os meses de baixa produtividade concentrados entre julho a novembro e os de maior produção em novembro a junho. Tendo como ápice o os meses de março, abril, maio e junho. Já a produção oriunda do uso da caiqueira inicia o ano entre os níveis médio, atingindo gradualmente, entre março e abril um nível bom. A partir de junho a produtividade cai, atingido o menor patamar entre setembro e dezembro. Os detalhes deste comportamento podem ser visualizados na Figura 70.

82 Urumaru

Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Muruada (camarão piré, branco e cascudo) Caiqueira (caica e camarão-branco) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 70: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Urumaru  Retiro Em Retiro observa-se uma pequena quantidade de unidades para cada arte de pesca, sendo a zangaria a de maior representatividade, com 3 unidades. As demais, gozeira, malhadeira e muruada também estão presentes. Nesta praia, a safra da zangaria ocorre de forma mais expressiva no mês de setembro, entre janeiro a agosto a pesca é baixa e entre outubro e dezembro verifica-se patamares razoáveis de produção. Os detalhes deste comportamento podem ser visualizados na Figura 71.

Retiro Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Zangaria (piré, branco e cascudo) Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 71: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Retiro

 Porto Alegre Em Porto Alegre, observa-se a ocorrência das seguintes artes: malhadeira, tainheira, curral, espinhel, muruada, sendo essa última a mais recorrente, com 14 unidades de arte entre os comunitários. Além do uso da corvineira. Do ponto de vista da sazonalidade da produção observa-se que em maio a produtividade começa a aumentar, atingindo, entre junho e outubro as melhores produções. Permanecendo bom entre outubro, novembro, dezembro, alcançando níveis ruins entre fevereiro e maio. Já o espinhel permanece, durante todo o ano com uma produção satisfatória. Destaca-se que esse gráfico com a sazonalidade da produção foi realizado na reunião com os conselheiros, ocorrida entre os dias 15 e 16 de abril de 2016 em Cururupu.

83 Porto Alegre Artes Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Espinhel (pescadas, uritinga, bandeirado,

cangatã, corvina) Muruada (camarão piré, branco e cascudo)

Legenda: vermelho = pouco / amarelo = médio / verde = bom Figura 72: Nível da produção pesqueira ao longo do ano em função da arte de pesca – Porto Alegre

A partir dos dados obtidos junto à população da UC, observa-se que nas praias de Mangunça, Caçacueira, Guajerutiua, Bate-vento e Porto-do-meio, os principais recursos explorados são os peixes, com o uso da rabiadeira e caiqueira, seguidas da tainheira, malhão, muzuá, gozeira e espinhel.

Assim, a pressão ocorre sobre determinados recursos pesqueiros como: camurim, caíca, tainha, pescadas (amarela e gó) e uritinga, além de outras espécies capturadas ocasionalmente. A captura de uma variedade de espécies pode ser uma vantagem para estas comunidades, já que possibilita a exploração de um recurso em épocas em que outros se mostram menos abundantes. Para os recursos explorados, o uso de diferentes artes também representa uma vantagem, diminuindo a pressão sobre apenas uma espécie, desenvolvendo uma forma de manejo.

Já as comunidades São Lucas, Peru, Valha-me-Deus, Lençóis, Retiro, Porto Alegre, Beiradão, Urumaru e principalmente Iguará, são voltadas à pesca de camarões, utilizando principalmente a muruada e zangaria, seguidas da fuzarca e redinha, além do puçá de arrasto, utilizado principalmente para a subsistência. Ressalta-se que, embora a sazonalidade da muruada tenha apresentado algumas diferenças entre Beiradão, Iguará e Urumaru, as três comunidades capturam a mesma espécie-alvo (camarão-sete-barbas) e estão localizadas no mesmo arquipélago, pescando em mar aberto, em relevo semelhante. Assim, entende-se que os períodos de safra sejam semelhantes. Dessa forma, considerando que aqui foram utilizados exclusivamente a parcepção dos representantes de cada comunidade, fica mais uma vez evidenciada a necessidade de estudos sistematizados sobre os períodos de safra e desembarque pesqueiro.

Ressalta-se que a muruada, zangaria e fuzarca capturam diversas espécies de peixes, que entram nas armadilhas e não conseguem escapar. Tais espécies são chamadas de fauna acompanhante. Na pesca de zangaria, por exemplo, a sardinha é uma das principais espécies capturadas. Além destas, também é comum encontrar durante a despesca as

84 espécies peixe-pedra (G. luteus), tainha (Mugil sp.), pescada-gó (M. ancylodon), cabeçudo (Stellifer sp.), bandeirado (B. bagre), uritinga (A. proops), entre outras. As espécies da fauna acompanhante são comercializadas, utilizadas para a alimentação das famílias ou descartadas.

Por fim, em Mirinzal parece haver uma homogeneidade entre a exploração dos recursos, vendo que as principais artes utilizadas, tainheiras e muruadas, exploram tanto peixes quanto camarão.

Com relação à produção pesqueira, agora descrita sob um ponto de vista econômico, observa-se um desequilíbrio na distribuição da renda entre os integrantes do modelo de cadeia produtiva da pesca artesanal desenvolvido na UC, o que não é diferente nas demais áreas do litoral brasileiro. Apesar de existir uma riquíssima área abundante em recursos pesqueiros na RESEX, é de amplo conhecimento que a renda das famílias é afetada pela impossibilidade da venda direta do pescado. Essa dificuldade se impõe por variáveis combinadas, dentre elas cita-se, a ausência de infraestrutura para o armazenamento e congelamento do pescado, pela falta de embarcação para o transporte até os portos, ou ainda pela falta de contato com o consumidor final.

Tais variáveis impõem a presença de trabalhadores melhor preparados para a continuidade da cadeia produtiva, sendo os pescadores levados a vender o produto a um preço inferior ao valor praticado junto ao consumidor final.

A venda direta representa, em média, o dobro do valor da venda feita por um pescador ao revendedor. Assim, se houvesse uma organização para a venda direta ou uma forma de distribuição mais equilibrada do recurso, os pescadores poderiam ter acesso a uma rentabilidade mensal duplicada em relação à atual.

Outro problema observado na economia pesqueira é o endividamento dos pescadores com os patrões, já que, por vezes, aqueles ficam com uma parte muito inferior do total de recursos capturados e ainda contribuem para as despesas do barco. Dessa forma, muitos trabalhadores pegam dinheiro emprestado de seus patrões para arcarem com as despesas ou gastos pessoais e recebem um valor pouco significativo na pescaria subsequente.

Assim, é relevante destacar que, a partir da organização comunitária poderá ocorrer o encurtamento da cadeia produtiva, favorecendo os pescadores a partir de maior acúmulo de capital financeiro. Questões referentes à valorização do pescador na cadeia produtiva

85 da RESEX serão amplamente debatidas no Volume II deste Plano de Manejo, contudo, algumas ações foram novamente discutidas pelos conselheiros durante a I Reunião Extraordinária do Conselho Deliberativo, com a sugestão de criarem postos de controle e certificação do pescado nos portos da região, Cururupu e Apicum-Açu, com o objetivo de comprovar a origem do pescado desembarcado, sob a tutela de uma cooperativa da RESEX.

Por fim, ainda sob a perspectiva de mapear os problemas na RESEX, nos últimos três anos, por exemplo, embora não estejam relacionados com a quantidade de recursos, e sim com a dificuldade em se capturar o recurso, os pescadores relatam que mesmo em épocas de safra boa, a produção pesqueira de mostrou baixa. Tal fator se deve a invasão da alga marinha, conhecida localmente como “flor-do-caribe” (Sargassum sp.) nas águas da RESEX, entre os meses de março e abril, principalmente. A alga, trazida pelas correntes vindas do Caribe, enrosca nas redes e impede a captura de peixes e camarão. Esse tema também é entendido neste Plano de Manejo como uma ameaça ao recurso pesqueiro, cuja discussão será colocada no volume II deste documento.

 Espécies de interesse comercial e/ou utilizadas como recurso O Maranhão possui 26 municípios costeiros com 278 comunidades pesqueiras conhecidas (Fundação PROZEE, 2006), porém mesmo com a prática artesanal é possível observar, ao longo dos anos, a diminuição de importantes espécies. Os estudos de Almeida (2008) caracterizaram 21 sistemas de produção na pesca artesanal, distribuídos em 24 municípios do Estado do Maranhão, onde as espécies de maior interesse comercial são: pescada amarela (Cynoscion acoupa) e pescada-gó (Macrodon ancylodon), serra (Scomberomorus brasiliensis), camarão (Litopenaeus schimitti), camarão (Xiphopenaeus kroyeri) e o caranguejo-uça (Ucides cordatus). . A pescada gó (Macrodon ancylodon) é uma das espécies de peixe mais capturadas, geralmente com uso de uma rede específica, a gozeira. Outra espécie muito explorada no litoral maranhense, a pescada-amarela (Cynoscion acoupa) é uma espécie de alto valor comercial, que vai além da comercialização enquanto pescado, mas refere-se também ao comércio da bexiga natatória, popularmente conhecida como grude. A bexiga natatória é utilizada na indústria de bebidas como clarificante e emulsificante, especialmente em cervejas de alto padrão. Conforme citado nos estudos de Araújo (2008), também tem uso na indústria farmacêutica, tendo como destino final os EUA, Japão, China ou outros países asiáticos.

86 Segundo registrado na 3º e na 4º OPP, a grude pode ser vendido por até R$ 400,00/kg – valor muito superior ao quilo do peixe fresco – entorno de R$ 20,00. Outras espécies também são foco, em menor grau de importância, do mercado da grude. Segundo relatos dos pescadores locais a gó, uritinga e corvina-uçu também são procuradas. Sendo seu valor atual de 30 reais o quilo seco da gó e uritinga e 60 reais o quilo da corvina-uçu. Além dos fatores naturais que condicionam uma variação na densidade populacional das espécies de peixes, camarões e outros recursos, como por exemplo, a quantidade anual e épocas de chuva, a disponibilidade de nutrientes, a época reprodutiva e as condições físico-químicas da água, muitos pescadores relatam que a população de recursos tem diminuído, sendo tal diminuição atribuída ao aumento da quantidade de pescadores, da captura em época de desova e ao menor tamanho das malhas utilizadas. O estudo realizado por Zafira et al (2007) com relação à pesca do camarão em Perú e Porto Alegre traz informações semelhantes de acordo com a visão dos pescadores das respectivas ilhas. Segundo o estudo, mais de 77% dos pescadores entrevistados perceberam uma diminuição na quantidade do estoque de camarão capturado, sendo a causa o aumento no número de pescadores e a presença de petrechos que utilizam malhas menores (Zafira et al, 2007). O mesmo estudo relata que, segundo a visão dos pescadores, não houve alteração no tamanho dos camarões capturados. Tais percepções por parte dos pescadores fundamentaram o planejamento das estratégias de conversação do presente Plano de Manejo, que aponta de forma geral, a diminuição de recursos a partir da pesca no período reprodutivo, a maior quantidade de pescadores e o uso de petrechos irregulares como uma das principais ameaças contra os peixes e camarões de interesse comercial. Apesar destes fatores, os comunitários também relatam que a criação da reserva e proibição da tapagem ajudou na proteção dos recursos comerciais. A Tabela 7 aponta as espécies mais capturadas, no ano de 2005, segundo os desembarques dos Municípios de Cururupu (MA) e Apicum-açu (MA), onde ocorre quase a totalidade de desembarque das pescarias da UC. Tabela 7: Espécies mais capturadas nos municípios de Cururupu e Apicum-açu em 2005.

Nome popular Nome científico Bandeirado Bagre sp. Arraia - Bagre - Cabeçudo Stellifer sp.

87 Caica Mugil brasiliensis Camarão-branco Litopenaeus sp. Camarão-cascudo Farfantepenaeus subtilis Camarão-piticaia Xiphopenaeus kroyeri Cambeua Caruaçu -

Camurim Centropomus sp. Cangatã Apistor quadriscutis Corvina Micropogonias furnieri Guaravira Oligoplites saurus Gurijuba Sciades parkeri (sin. Arius parkeri)42 Bagre-jurupiranga Arius rugispinis Mero Epinephelus itajara Pacamão Batrachoides surinamensis surinamensis Peixe-pedra Genyatremus luteus Pescada gó Macrodon ancylodon Pescada-branca Cynoscion leiarchus Pescada-amarela Cynoscion acoupa Sardinha Sardinella brasiliensis e Opisthonema oglinum Peixe-serra Scomberomus brasiliensis Sururu Mytella sp. Tainha Mugil sp. Timbiro Oligoplites sp. Tralhoto Anableps anableps Uriacica Cathorops sp. Uritinga Arius spixii Xareu Caranx hippos Fonte: PROZEE, 2006 Durante as Oficinas de Planejamento Participativo, os seguintes pescados comerciais foram os mais citados: pescada-amarela, pescada-gó, corvina, peixe-serra, tainha, camurim, uritinga, peixe-pedra, bandeirado e cangatã. Todas as dez espécies também

42 A classificação taxonômica de alguns gêneros da Família Ariidae apresenta um conflito quanto ao uso de alguns gêneros, como o Sciades e Arius, sendo ambos encontrados nos estudos científicos. Neste plano, prevendo a facilitação no acesso dos dados, optou-se por considerar a classificação utilizada pela Portaria MMA 445/2014 e da IUCN.

88 aparecem no monitoramento da pesca realizado em 2006 (Tabela 7) e não se encontram classificados em nenhum grau de ameaça de acordo com a Portaria 445/2014. Com relação às espécies de sardinha, é importante destacar o estudo em andamento realizado pela doutoranda Emily Horton (Universidade da Geórgia – EUA) em conjunto com a pesquisadora Draº Zafira da Silva de Almeida que aponta a ocorrência da espécie Cetengraulis edentulus, chamada pelos pescadores da RESEX como “sardinha ou sardinha-boca-torta”. A espécie em questão pertence à família das anchovas, Engraulidae – Ordem Clupeiformes e, segundo sugerido no estudo é confundida com a sardinha-verdadeira, ou apenas sardinha (Sardinella brasiliensis). O conflito com relação a espécie de sardinha ocorrente na RESEX dialoga com um problema relatado entre os pescadores da RESEX, referente a proibição da zangaria de enseada no litoral do Maranhão a partir da publicação da Instrução Normativa 39 do IBAMA. A princípio a IN entrava em conflito com o período de proibição, que segundo a população da RESEX não condiz com o maior período de ocorrência da espécie nas águas da RESEX. Contudo, de acordo com o andamento do estudo citado acima, existe a possibilidade de não ser a S. brasiliensis a espécie ocorrente na RESEX durante o período de proibição, o que inviabiliza a restrição do uso da zangaria de enseada. Convém observar que a motivação da criação da IN 39 foi a grande mortandade de peixes, especialmente sardinhas (devido seu comportamento de deslocarem-se em cardumes), que ocorre em alguns períodos do ano durante o uso da zangaria de enseada. Abaixo observam-se as restrições da IN em relação a área onde encontra-se a RESEX. “Art. 1º Permitir, em todo o litoral do estado do Maranhão, inclusive nas baías e reentrâncias, a pesca com o uso de redes do tipo zangaria, com as características abaixo discriminadas: I- malha igual ou superior a 50 mm (cinqüenta milímetros) entre nós opostos da malha esticada; II- comprimento máximo da rede em operação de pesca de 1.500 m (um mil e quinhentos metros). Art. 2º Proibir, pelo prazo abaixo especificado, em todo o litoral do estado do Maranhão, inclusive nas baías e reentrâncias, a pesca com o uso de redes do tipo zangaria, nas áreas e períodos abaixo discriminados: I- do Município de Araioses (Delta do Rio Parnaíba) até o Município de Alcântara, de 1º de maio a 31 de julho; II- do Município de Bequimão até o Município de Carutapera, de 1º de junho a 31 de

89 agosto.” O tema relacionado aos conflitos quanto ao uso da zangaria é mais bem discutido no item 3.11 – Atividades ilegais e conflitantes - do presente Plano de Manejo. De toda sorte, faz-se necessário a continuação de estudos acerca das espécies de sardinha que ocorrem nas águas da RESEX. Tratando-se especificamente de outras espécies de interesse comercial, observa-se sua relevância para os processos ecológicos, como por exemplo, o equilíbrio da cadeia alimentar. E ainda são essenciais para a manutenção das comunidades na RESEX, seja pela possibilidade de subsistência e ainda pelo comércio gerado a partir da pesca. Além disso, a abundância das espécies comerciais e a caracterização da atividade pesqueira local chamam a atenção para o desenvolvimento de projetos, como a ONG RARE, que atua com pesquisas sobre a pescada-amarela e a valorização da cadeia produtiva do camarão organizado pela UNESCO. Esses projetos ajudam na divulgação positiva da RESEX, contribuindo para a conservação da biodiversidade local e na captação de recursos.

Os camarões representam significativo volume nas capturas, sendo inclusive, o principal recurso comercial em algumas ilhas, como Peru, São Lucas, Porto Alegre, Iguará e Beiradão.

Vendo a importância desses recursos para a vida na RESEX, torna-se essencial entender o ciclo reprodutivo das espécies-alvo, de modo a contribuir com o ordenamento da pesca, subsidiando o respeito aos períodos de reprodução e desenvolvimento dos indivíduos, permitindo assim o equilíbrio populacional. A literatura científica não apresenta muitos estudos com relação a sazonalidade, tamanho e desenvolvimento reprodutivo das principais espécies comerciais. Observam-se alguns estudos sobre a biologia reprodutiva da pescada-amarela, trazendo informações importantes sobre o tamanho corpóreo para a maturidade sexual (53 cm), o período reprodutivo (primavera e verão) e o hábitat dos juvenis (água salobra) (ARAÚJO, 2008; MOURÃO et al., 2009; ALMEIDA, 2008). Em outros estudos são encontrados dados sobre a reprodução da corvina na região sudeste, como tamanho e peso corpóreo antes da desova (aproximadamente 400 kg e 345 mm de comprimento) e atividade reprodutiva da pescada-gó (ARAÚJO & VICENTINI, 2001; AGUIAR, 2005). Contudo, a bibliografia consultada não traz dados mais específicos para estas e outras espécies na região nordeste, vendo que, por vezes, a temperatura e a geografia alteram a fisiologia e

90 comportamento das espécies. Assim, evidencia-se uma lacuna com relação à biologia reprodutiva das espécies comerciais ocorrentes na região nordeste, de forma que tais informações podem, por exemplo, subsidiar propostas de defeso e auxiliar na manutenção desses recursos.

Por fim destaca-se que a exploração dos recursos pesqueiros que utilizam as águas da RESEX não provém unicamente da pesca praticada dentro dos seus limites da UC. Vendo que, em sua maioria, as espécies de peixes e camarões apresentam ampla distribuição geográfica, chegando a outros Estados e até saindo dos limites das águas jurisdicionais brasileiras, observa-se que a pesca, especialmente na modalidade predatória, praticada em outras cidades e países, afeta diretamente nos recursos pesqueiros da RESEX, assim como na biodiversidade e equilíbrio ecológico de outros ecossistemas. Dessa forma, é fundamental, que a pesca predatória seja combatida em outras áreas, sendo que sua total extinção mostra-se como o cenário ideal. Assim, destaca-se a importância de projetos que englobem diferentes esferas estaduais e que trabalhem na conservação das espécies além de seus limites geográficos.

 Outras práticas produtivas associadas à pesca

As práticas produtivas associadas à pesca são atividades complementares que adicionam valor à produção pesqueira, desempenhada também por pescadores e seus familiares. Entre essas atividades, podemos citar:

 Torra do camarão: prática de conservação e beneficiamento do camarão-piré (chamado também de piticaia ou sete-barbas), que é cozido em salmora e seco ao sol (Figura 73). Após seco, pode ainda ser batido, esfarelando-se a casca e se mantendo apenas o miolo (parte carnosa do camarão). O pó da casca é vendido como ração para peixe ou tempero. O camarão branco e/ou o cascudo, se não estiver graúdo ou engrazado (e tornando graúdo) também pode receber semelhante tratamento. As Figuras 74 a 75 ilustram o processo de beneficiamento do camarão.  Mariscagem: Coleta ou cata de mariscos, tal qual o sururu, caranguejo, siri e o sarnambi, realizada de forma não embarcada e nas proximidades das comunidades. Esse alimento é consumido pelas famílias e, por vezes, comercializado;  Consertar o peixe: Limpeza do pescado in natura, da retirada de escamas e vísceras, objetivando o consumo;

91  Remendo de panos: Consiste na manutenção e conserto das redes de pesca, comumente danificadas durante as pescarias. É uma atividade complementar, geralmente executada como fonte complementar de renda ou por pessoas incapacitadas de pescar por períodos maiores;  Calafates/calafetagem: Consiste na recuperação das embarcações dentro das comunidades.  Tecelagem: Consiste na produção das redes de pesca. Atividade geralmente exercida pelas mulheres.

Figura 73: Processo de beneficiamento e conservação do camarão – Secagem ao sol do Figura 74: Bateção do camarão seco camarão salgado e cozido

Figura 75: Separação entre o miolo e casca, Figura 76: Camarão seco, pronto para ambos armazenados em coifas artesanais consumo

3.2.1 Esforço de pesca dos recursos pesqueiros O esforço de pesca empregado na captura das principais espécies de pescados é detalhado a seguir, na Tabela 8.

92 Tabela 8: Esforço de pesca empregado na atividade

Espécie Esforço de Pesca Camarão sete- Há uma pressão de pesca praticada pelas comunidades através de barbas muruadas e puçás de arrasto. Camarão branco O maior esforço de pesca ocorre nos lavados, baixos de maré e no entorno através de muruada, zangaria, puçá de arrasto e redinha/caiqueira. As cabeceiras da Menina e de Nazaré também recebem grande pressão de pesca, mas menor do que em outras áreas. Pescada-amarela Houve um aumento extraordinário no esforço de pesca nos últimos 20 anos, cuja principal participação é de barcos externos da RESEX oriundos do Pará e outras áreas do Maranhão. O esforço de pesca dirigido para espécie já estaria no seu limite para a macrorregião Pescada GO Caçacueira possui a maior frota direcionada para a pescada gó. O esforço de pesca dirigido para espécie já estaria no seu limite para a macro região Corvina Uçu Haveria um pico de captura entre os meses de setembro a outubro de acordo com alguns registros orais. Camurim O uso de rede camurinzeira e rabiadeira “na quebradeira” (zona de arrebentação), além da rede malhadeira captura o camurim. Tainha Sajuba O uso de redes do tipo sajubeira e tainheira captura a espécie. A pesca dirigida a esse recurso é bastante comum para a alimentação não sendo muito comum sua comercialização em escala. Fonte: Dados sistematizados a partir das Oficinas de Planejamento Participativo - OPPs  Territórios de pesca e principais pesqueiros Nas Oficinas de Planejamento Participativo – OPPs foi feito um esforço para identificar os territórios pesqueiros e principais pesqueiros utilizados pelas comunidades da RESEX, de modo a compreender como a população local divide, compartilha e utiliza o território da UC. Os territórios de pesca referem-se aos espaços apropriados por cada comunidade, definidos em função da permanência histórica de cada grupo e nos códigos morais existentes. Tais territórios ajudam a compreender como o espaço da UC é setorizado, em função das artes de pesca e/ou das comunidades que o exploram. Os pesqueiros referem-se às localidades mais usualmente utilizadas pelos pescadores de cada praia, e que por este motivo merecem uma atenção especial para a gestão territorial. A Tabela 9 identifica os principais pesqueiros existentes na UC, em função da comunidade que o explora. A Figura 77 – Carta Náutica da RESEX apresenta a localização dos principais pesqueiros citados.

93 Tabela 9: Identificação dos pesqueiros existentes na RESEX

Praia Pesqueiros mencionados Mangunça Canal do Colégio, Baía da Mangunça, pancada, Baixo do Jonas, Banco do Maracanã Caçacueira Baía de Caçacueira e do Capim, Tucunzal, Mangue Seco, Gagonha, linha de costa. Em mar aberto, até uma distância média de 2 milhas náuticas. São Lucas Canal de Peru e suas cabeceiras, costa de São Lucas, Bocaina, Canal da Peru Boa Esperança e São João Mirim Guajerutiua Baía do Capim e mar aberto, de Lençóis à Caçacueira, em uma distância máxima de 2 milhas da costa; Cabeceiras do Ó, Campelo, Buião, Farol de São João, Buiãozinho e Rio da Ilha. Valha-me Deus Furo de Valha me Deus, Cabeceira da Ilha e do Norato. Da ponta do Zumbi até a Ponta Seca. Porto Alegre Muruadas ao longo da costa da Baía dos Lençóis e na barra do Furo de Valha me Deus. Lençóis Baía de Lençóis, até Porto do Meio e Zumbi. Costa de Lençóis (Serra Pelada), Baliza, Ponta da Aliança, Ponta do Gino e Lavado do Campexá até a Costa da Parida Bate Vento Canal da Barreira, Baía de Lençóis, Baliza, Costa de São João Porto do Meio Baixo grande, Igarapé da Roça, Mucunã, Canal da Barreira, Furo Grande, Costa e Trocate Mirinzal Furo da Parida, Furo Grande, Canal da Barreira, Cabeceiras do Campechá, Criminoso, Mulata, do Boi, do Meio, do Sol e Cajualzinho. Beiradão Ponta do Come Vivo, Costa Grande, Lavado da Pata, Baía de Beiradão Urumaru Barra de Urumaru, Igarapé do Zé Branco, Bico da Ponta e linha de costa Retiro Costa do Retiro, Cajualzinho, Ilha do Imbira Iguará Laminha, Varinha, Igarapé de Iguará, Croa do Berrô, Cadete e Prainha Fonte: Dados sistematizados das OPPs (Julho/2015)

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Figura 77: Carta Náutica da RESEX e entorno

95 3.3. PATRIMÔNIO

Todo patrimônio é, ao mesmo tempo, material e imaterial, afinal todo elemento físico é dotado de simbolismos e significados, assim como as representações e expressões imateriais possuem também uma dimensão material. Desta forma, a distinção entre “patrimônio imaterial e material” é uma abstração, cujo único objetivo é evidenciar, de maneira mais clara, a dimensão do patrimônio na RESEX, que varia desde a confecção de artesanatos a uma visão de mundo particular.

3.3.1. Dimensão Imaterial do Patrimônio do Estado do Maranhão

O patrimônio imaterial refere-se às práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas reconhecidas como parte integrante de seu patrimônio cultural de uma comunidade (UNESCO, 2003). No Brasil é definido como “os saberes, os ofícios, as festas, os rituais, as expressões artísticas e lúdicas, que, integrados à vida dos diferentes grupos sociais, configuram-se como referências identidárias na visão dos próprios grupos que as praticam” 43, construindo assim suas identidades sociais (CASTRO, 2008).

No que se refere à região de Cururupu, podemos destacar as manifestações folclóricas típicas do Maranhão, de matriz portuguesa, negra e indígena, como o Bumba-meu-boi e o Tambor de Mina. Da mesma forma, existem manifestações populares comuns em todo o Brasil, como o Carnaval, a festa do Divino Espírito Santo e as Festas Juninas.  O Bumba-meu-Boi O estado do Maranhão é um dos mais ricos e diversos no contexto da cultura popular, destacando-se, certamente, a “brincadeira” do Bumba-meu-Boi, considerado uma dança dramática brasileira ou um autonordestino (MARQUES, 1996). Festejado no período junino, “transforma São Luis em um grande arraial” - centro dinâmico de manifestações culturais que envolvem danças, músicas, ritmos, cores e simbologias. Os diversos grupos do estado possuem características próprias, que se manifestam nas roupas, instrumentos, cadência da música e coreografias. Os diferentes ritmos de cada região são chamados de “sotaques”. Destacam-se os sotaques de Matraca ou da Ilha, predominante em São Luís, o da Baixada e o de Orquestra, no interior e o de Costa de Mão, originário de Cururupu. O sotaque de Costa de Mão apresenta grandes

43 Decreto nº 3.551/2000-Institui o registro e cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial

96 tambores no estilo atabaques e caixas, batidos com as costas das mãos (SILVA & FERREIRA, 2008).  Festa de São Benedito

Santo popular, sua festa é celebrada no segundo domingo de agosto. São Benedito, o Negro ou o Mouro é um santo venerado especialmente pela população negra, por isso seus festejos são conhecidos por Festa dos Pretos. Embora de matriz católica, há enorme sincretismo e espiritualidades africanas associadas, como o vodu Averequete. Costumam serem homenageadas com ladainhas, procissões, brincadeiras de tambor de crioula, toques de mina e de Umbanda (CMF, 2010).

 DIMENSÃO IMATERIAL DO PATRIMÔNIO DA RESEX CURURUPU

Nas comunidades da RESEX observa-se a expressão do Tambor de Mina (comum também em outros locais do estado do Maranhão e do Pará) na ilha dos Lençóis, da procissão de São Pedro em Guajerutiua, a Festa de São Sebastião também na Ilha dos Lençóis e em Bate Vento, o festejo de Santo Antônio em Caçacueira, o festejo em homenagem à Virgem Maria em Valha-me Deus, Festejo de Nossa Senhora da Conceição em Peru e os Festejos de São Lucas e da Assembléia Evangélica em São Lucas. Abaixo são descritos o Tambor de Minas e a cultura do Sebastianismo da ilha dos Lençóis, expressões culturais muito fortes e foco de estudos culturais e atrativos do turismo.

 Tambor de Mina No contexto do Tambor de Crioula, o Tambor de Mina é típico do Maranhão e Pará. É uma manifestação religiosa de matriz africana (região da Costa da Mina – atuais Togo, Benin e Nigéria) e com influência da pajelança, de matriz indígena. Por esse motivo, é muitas vezes chamada de Encantaria, uma vez que inclui elementos não apenas africanos e indígenas, mas também santos católicos e regionais (os encantados e caboclos). Os maiores centros da encantaria no Maranhão são Codó, Caxias, São Luís e Cururupu. É “uma forma de expressão afro-brasileira que envolve dança circular, canto e percussão de tambores (Figura 78 e 79). Dela participam as ‘coreiras’, tocadores e cantadores, conduzidos pelo ritmo incessante dos tambores e o influxo das toadas evocadas, culminando na punga (ou umbigada) - movimento coreográfico no qual as

97 dançarinas, num gesto entendido como saudação e convite, tocam o ventre umas das outras” (IPHAN, 2006). Na comunidade de Lençóis existe há pelo menos uma centena de anos um Terreiro de Mina, onde se toca o Tambor de Mina, em devoção e homenagem aos santos e encantados da Ilha. Logo, o pajé ou pai de santo presta auxílio espiritual a muitos moradores, que se reúnem no terreiro no momento de devoção.

Figura 78: Tambor de Mina, em Lençóis. Figura 79: Tambor de Mina, em Lençóis.

 Sebastianismo na Ilha de Lençóis Certamente o patrimônio imaterial mais conhecido da região refere-se aos mitos sebastianistas existentes na Ilha de Lençóis, já exaustivamente veiculado na grande mídia. É extensivamente relatado por diversos autores (PEREIRA, 2003; SILVA, 2010; ANDRADE, 2002) e moradores que descrevem a presença do El Rei D. Sebastião em sua forma humana ou animal – um touro negro. No poema de Ferreira Gullar: “Diz a lenda que na praia Dos Lençóis no Maranhão Há um touro negro encantado E que esse touro é Dom Sebastião. (...) (GULLAR, 2002) Segundo os autores, localmente o sebastianismo vincula-se aos rituais de encantaria e pajelança, associados aos terreiros de Mina - embora esses não sejam os únicos espaços, uma vez que o imaginário foi assimilado por muitos moradores. Conforme registra Pereira, o sebastianismo de Lençóis é objeto de interesse de muitos segmentos da sociedade, desde aqueles dedicados a estudar tal patrimônio imaterial até aqueles interessados em explorar o turismo “místico e excêntrico” do local. Conforme observa o autor, várias escolas de samba fazem referência ao mito sebastianista e à lenda do touro encantado na Ilha dos Lençóis, como por exemplo: Os papagaios

98 amarelos nas terras encantadas do Maranhão (Grande Rio, Rio de Janeiro, 2002); O príncipe encoberto ou a busca de Dom Sebastião na Ilha de São Luís do Maranhão (Gaviões da Fiel, São Paulo, 1999); Os tambores da Mangueira na terra da encantaria (Mangueira, Rio de Janeiro, 1996); O rei de França na Ilha da Assombração (Incredo incriuz) – Salgueiro, Rio de janeiro, 1974 (PEREIRA, 2007). O mesmo autor analisa como tal patrimônio é “vendido” pelos projetos e empresas de turismo que atuam na região, inserindo a “mística e os mistérios” de Lençóis como uma das motivações de visita à ilha. Além do sebastianismo, associava-se também à “mística” de Lençóis a presença de elevada porcentagem de albinismo na população - “os filhos da Lua” criação, sobretudo de repórteres e rejeitada pelos moradores locais, pois a consideram uma concepção negativa, que cria um estereótipo de anormalidade (PEREIRA, 2003). Em 14/01/2010 foi fundado o Memorial Rei Sebastião, fruto de uma parceria entre o professor Dr. Claudio Rodrigues e a comunidade de Lençóis. O objetivo do memorial é facilitar a pesquisa sobre a tradição e os mitos sebastianistas na Ilha, assim como reafirmar a identidade dos moradores. O local que desperta a curiosidade e atenção dos visitantes da Ilha, possui uma pequena biblioteca dedicada aos estudos do sebastianismo, materiais elaborados pelos moradores e um livro de visitantes. As Figuras 80 e 81 ilustram a construção do memorial e sua aparência atual. As Figuras 82 e 83 mostram alguns dos materiais existentes no memorial.

Figura 80: Construção do Memorial de’l Figura 81: Memorial do rei Sebastião pronto, Rei Sebastião (SILVA, 2010) em Lençóis

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Figura 83: Bandeira festiva em Lençóis – Figura 82: Mural do Sebastianismo representações d’O Encoberto  Outras manifestações culturais

Entre outras manifestações culturais observadas, conforme registrado por DISCONZI, 2009, destaca-se:  Pastores e Reis: durante os festejos de Ano Novo, relembrando a visita dos Reis Magos ao menino Jesus;  Carnaval: reconhecido como um dos melhores do Maranhão acontece popularmente nas ruas da cidade no mês de fevereiro;  Festa do Divino Espírito Santo: em maio, em louvor ao Espírito Santo;  Festejos Juninos: em devoção a Santo Antonio, São Pedro e São João;  Festa das Férias: no período de férias escolas (janeiro/dezembro e julho), se deve ao fato do retorno de familiares às ilhas em função do período de férias escolares. É um período importante para a convivência social e familiar, sendo comum a ocorrência de festejos que podem se prolongar por dias. Cita-se ainda, enquanto patrimônio imaterial, o conhecimento tradicional dos antigos mestres carpinteiros, que ainda produzem e reparam as embarcações da região (Figura 84) e mesmo aquele conhecimento aplicado à construção de modelos e miniaturas (Figura 85). Em Cururupu existem pelo menos dois mestres navais, em estaleiros que inclusive fabricam embarcações para o sul e sudeste do Brasil.

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Figura 84: Estaleiro Artesanal em Caçacueira Figura 85: Modelismo Naval desenvolvido – Sr.Vitalino em Caçacueira 3.3.2 Dimensão Material do Patrimônio  Produção Artesanal O patrimônio material refere-se aos artefatos físicos oriundos do conhecimento e cultura tradicional das comunidades praieiras de Cururupu. Desta forma, destacam-se os instrumentos para do dia a dia, produzidos de forma artesanal com o trabalho familiar. Observa-se a confecção de cofo, balaios, gamelas, pilões, cestos, esteiras, entre outras. Embora hoje muitas das embarcações sejam adquiridas nas áreas urbanas, observa-se também a existência de “canoas de um pau”, no qual se utiliza uma peça inteiriça, geralmente de guaribela, angelim, copaíba, bacuri, ipê roxo, sapucaia, jatobá, tajuba ou louro (ANDRÈS, 1996).  Patrimônio Arqueológico O principal registro sobre o patrimônio arqueológico na região refere-se ao trabalho de José Silvestre Fernandes na década de 1950, que registrou os sambaquis do nordeste brasileiro e observou a existência de três sambaquis no município de Cururupu, nas localidades de Areia Branca, Ilha das Moças e Mocambo. Tais sambaquis eram explorados de forma intensiva para a fabricação de cal, destacando que durante a construção de uma estrada em Areia Branca foram encontradas muitas ossadas humanas, além de fragmentos de uma cerâmica mal cozida. (Fernandes, 1950 apud BANDEIRA, 2013). Sobre o sambaqui da Ilha das Moças, provavelmente no interior da RESEX, diz o autor: O casqueiro da Ilha das Moças fica à margem oriental da ilha, no apicum formado pelo furo que separa essa ilha da massa aluvial que formou o semi- delta de Guajerutiua [...]. Informaram-me que o casqueiro era muito velho e já ali existia quando se levantaram as primeiras moradias. Há outros casqueiros

101 na própria ilha e que não tivemos tempo de observar. O sambaqui apresente uma extensão média de, talvez, cinquenta metros, com a largura de cinco a seis metros e altura além de um metro e vinte centímetros. Está coberto de vegetação luxuriante, destacando-se grandes árvores de tronco bastante grosso [...]. Ao embate da enxada, o casqueiro de ressoava oco, mostrando sua formação descontínua. Notei que as amostras de cerâmica eram mal cozidas, sem conseguir, entretanto saber, por escassez de maiores exemplares, a fim a que poderiam ter servido. Certo pedaço de louça apresentava delgado debrum [...]. Era tal a mistura de e tão íntima sua agregação que não temos receio de afirmar que aquele amontoado de restos vários à artificial, resultante da cozinha de homens primitivos que ali estiveram por algum tempo (Fernandes, 1950 in BANDEIRA, 2013). Ressalta-se ainda que na Ilha de Lençóis existem muitos relatos sobre pessoas que encontram prataria, joias ou objetos valiosos, de origem europeia e relacionadas com um passado colonial. Embora se admita a possibilidade da existência de tais vestígios, esses relatos aparentam estar mais relacionados à mítica sebastianista, onde tais objetos seriam de propriedade d’El Rei Sebastião e que, portanto, não poderiam ser levados para longe de Lençóis. É certo que não existem registros formais sobre o fato.

3.4. USO E MANEJO DOS RECURSOS NATURAIS a) Práticas Agrícolas e Cultivos Em função dos aspectos naturais das ilhas da RESEX, não é possível o desenvolvimento de culturas agrícolas, dados os limitantes do solo, a influência da salinidade e das intempéries. Logo, as atividades agrícolas estão relacionadas com as áreas continentais, distantes da dinâmica marinha, praticada em solos mais desenvolvidos e com a herança técnica e cultural de tempos passados. Todavia, nota-se a presença de pequenas hortas e pomares nos quintais e nas áreas comuns, destacando-se os temperos e hortaliças, como as pimentas, couve, salsa, cebolinhas e frutas tropicais naturalizadas como o côco, a manga, a melancia, amora e tamarindo. Na ilha de Mangunça, dada a vegetação diferenciada, observa-se em maior proporção a prática agrícola de subsistência. b) Criação de animais Além da pesca, a criação de animais é uma das atividades mais importantes da RESEX, necessitando de ordenamento para que esteja compatível com os objetivos da UC. Nas ilhas de Cururupu se observa amplamente a criação de animais domesticados,

102 especialmente caprinos e suínos (Figura 87). O principal problema relacionado à criação desses animais refere-se à contaminação do solo e da água por suas fezes, disseminando verminoses e doenças de pele. Embora esteja bem definido no Acordo de Gestão que o gado de pequeno porte deve ser criado em regime semiconfinado (preso durante a noite e fora do interior das comunidades), tal situação não é comum na região, havendo sido observada apenas em Taboa e Urumaru. A presença de grandes rebanhos de gado bovino (geralmente de terceiros), em Taboa e Aracajá, e de alguns animais em outras ilhas, é uma situação conflitante com a RESEX, uma vez que pode representar uma fonte de impactos no ambiente, especialmente nas restingas (devido ao pisoteio da vegetação e contaminação através das fezes), além de não gerar grandes vantagens econômicas à população local – uma vez que o gado criado não pertence aos comunitários (que são, em geral, empregados) (Figura 86). Os impactos provenientes da presença do gado bovino não foram sistematicamente estudados, sendo esta uma lacuna de conhecimento sobre as condições ambientais da UC. O zoneamento ambiental definido no presente Plano de Manejo faz referência à presença do gado bovino na RESEX, sendo estes incorporados na Zona de Atividades Conflitantes (ZAC). A ZAC tem como objetivos: “Evidenciar os usos e atividades conflitantes mais relevantes à gestão territorial da UC, visando à resolução dos possíveis conflitos e posterior recuperação ambiental.” E seus limites, com relação à criação de bovinos, referem-se às grandes áreas de criação extensiva de bovinos (parte das restingas de Mangunça/Taboa e de Aracajá).

Figura 86: Gado bovino em regime Figura 87: Gado caprino em regime semiconfinado, em Taboa semiconfinado, em Urumaru

103 c) Extrativismo

 Extrativismo vegetal O conhecimento etnobotânico é importante para o resgate da cultura de populações tradicionais e conhecimento sobre a utilidade das espécies vegetais, gerando ganhos na saúde coletiva e valorizando o saber local (ROCHA, 2014). De modo geral, as espécies vegetais possuem utilidades medicinais e alimentícias, além de serem utilizadas também na construção civil e como combustível (SILVESTRE et al., 2012). Os manguezais são a principal fitofisionomia da RESEX, sendo também a mais explorada para a retirada de madeira. Os principais usos se relacionam com a construção e manutenção de armadilhas de pesca (tal como muruadas, zangarias e currais), edificações, ranchos de pesca, postes e outros (Figura 88), embora também tenham sido registrados usos medicinais, especialmente em relação ao mangue de botão (Conocarpus erectus). São utilizadas todas as espécies lenhosas do mangue, sendo o mangue vermelho (Rhizophora mangle) e o tinteiro (Laguncularia racemosa), mais valorizados em função do tronco retilíneo e de maior resistência as intempéries. Na RESEX os moradores também relataram a utilização da casca do mangue-vermelho para extração de tintas e pigmentos utilizados como conservante de redes de pesca. As espécies de restinga são mais utilizadas para fins medicinais, ingeridas geralmente por infusão – na forma de chá. Algumas das espécies da restinga mais utilizadas são: erva-do-bicho, sete sangria, vassourinha de botão, maçambê, barbatimão, mastruz, capim-limão, hortelã da folha grossa, arruda, cidreira, malva-rosa e pau-angola (CUNHA, 2000). Para a produção de carvão, utilizam-se espécies tanto do mangue quanto da restinga, em função da disponibilidade e facilidade de acesso. O carvão produzido em caieiras é mais comum nas comunidades especializadas na pesca de camarões, como Mirinzal, Iguará e Beiradão, uma vez que o processo de beneficiamento e torra do crustáceo demanda o combustível vegetal (Figura 89). Em função dos diferentes fins de cada espécie vegetal, o saber sobre as madeiras e o corte do mangue está mais relacionado ao universo masculino, dos pescadores. Da mesma forma, o conhecimento sobre as espécies medicinais existentes na restinga é um saber associado ao universo feminino (MENEZES et al., 2010; SILVESTRE et al., 2012).

104 A Tabela 10, a seguir, apresenta os dados obtidos a partir do levantamento bibliográfico e dos dados extraídos nas visitas de campo na RESEX. Onde são resumidos os usos dos principais recursos vegetais identificados em outras comunidades tradicionais da costa norte brasileira, como por exemplo, na RESEX de Cururupu. Tabela 10 – Usos tradicionais de recursos vegetais em Reservas Extrativistas Nome popular/científico Função Uso medicinal Outros usos

Cajueiro Medicinal, Diarreia, feridas, Consumo do fruto (Anacardium occidentale) alimentar inflamações. Miri, Mirim Medicinal, Infecção feminina Consumo do fruto (Humiria balsamifera) alimentar Murici Medicinal, Ferimentos Consumo do fruto (Byrsonima crassifólia) alimentar

Barbatimão (*) Medicinal (*) Chá, garrafada, como (Espécie não definida) antiflamatório

Coco Medicinal, Diarreia, antitérmico, Consumo do fruto (Cocos nucifera) alimentar hepatite, ferimentos e cicatrização de problemas dentários. Salsa, Salsa-da-praia Medicinal Coceiras (Ipomoea pes-caprae) Vassourinha Medicinal Feridas ou coceiras (Comolia villosa) Siribeira, Mangue-preto Medicinal, Dor de dente; arranca o Produção de (Avicennia germinans) construção(*) dente podre. petrecho de pesca Mangue-de-botão* Medicinal, Diarreia, feridas, Produção de (Conocarpus erectus) construção(*) hemorroidas e diabetes / o petrecho de pesca galho. Mangue-branco(*) Construção(*), Carvão e produção (Laguncularia racemosa) obtenção de petrecho de pesca energia. Mangue-vermelho(*) Medicinal, Diabetes, hemorroidas, Obtenção de tinta (Rhizophora mangle) construção(*), dor de dente, problemas para a rede de estomacais. pesca(*), Carvão Mescla, Breu ou Cosmético, Aromática, resina Almecegueira(*) construção natural e (Protium heptaphyllum) calafetagem de embarcações. Fonte: Adaptado de MENEZES et al. (2010); SILVESTRE et al. (2012); ROCHA (2014); SILVEIRA ( 1996) / Os itens da tabela marcados com (*) foram citados\levantados durante as OPP.

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Figura 88: Extração da madeira para pesca Figura 89: Lenha destinada à torra do camarão. de muruada

 Uso da madeira pela população extrativista local Durante as reuniões abertas e OPPs (fevereiro e julho de 2015) foram coletados dados referentes à quantidade de madeira utilizada para as atividades da população, especialmente na pesca. A obtenção dos dados não utilizou de nenhum método estatístico, os dados foram obtidos a partir de questionamentos à comunidade durante as OPPs, registrados em ata. Assim, não foi possível chegar a uma conclusão sobre a real quantidade e durabilidade de madeira utilizada para cada fim específico, inclusive porque existe uma variação de acordo com as atividades desenvolvidas em cada comunidade e com as variações ambientais, como a quantidade de chuvas, força das marés ou infestação de praga. Assim, ressalta-se a necessidade de estudos que identifiquem estatisticamente e temporalmente o volume de madeira retirado do mangue. As artes de pesca que exercem maior pressão às espécies de mangue são a muruada e a zangaria, muito utilizadas com objetivo de capturar camarões e pescados, sendo que na muruada, conforme diz o nome, são utilizados mourões (Figura 88) de mais de 10 metros de altura e na zangaria são utilizadas varas finas (estacas). Nos registros verbais realizados junto às comunidades, observou-se que a mensuração da quantidade de madeira necessária para a manutenção de algumas artes de pesca ao longo de um ano se mostrou muito variada. Além disso, é importante destacar que a salinidade, marés, fauna incrustante (como o turú) e qualidade da madeira são alguns dos fatores que aumentam ou diminuem a vida útil dos apetrechos. Abaixo são descritos os relatos das comunidades do setor norte da UC com relação aos usos, frequência de extração e durabilidade das madeiras. Vendo que os

106 questionamentos realizados nas OPPs eram direcionados a todos os participantes da oficina, não é possível identificar de qual ou quais comunidade(s) específica(s) vieram os comentários. Contudo, sabe-se que na OPPs realizada no dia 20 de julho estiveram presentes as comunidades de Lençóis, Bate-Vento e Porto do Meio, e na OPP do dia 21 de Julho, estiveram presentes as comunidades/localidades de Beiradão, Iguará, Mirinzal, e Urumaru. Mais uma vez, a apresentação dessas informações, extraídas do conhecimento empírico dos moradores da RESEX e que não representam valores exatos, mostra a necessidade de estudos que estimem a quantidade de madeira utilizada do manguezal e que mensure o impacto sobre as florestas de mangue presentes na UC. Os relatos de alguns comunitários do setor norte da RESEX apresentam as seguintes estimativas:  Em uma muruada de 4 puçás, quando “emparzada” (termo utilizado para se referir aos pares de mourões), utiliza-se de 8 mourões e para a muruada de 4 puçás não emparzada utilizam-se 5;  O mangue-vermelho, na muruada, dura aproximadamente 2 a 3 meses, e a siriba e tinteira duram aproximadamente 1 mês a mais. Não é comum trocar todas as madeiras de uma só vez;  A causa da baixa durabilidade da madeira deve-se a ação do turú (molusco que se alimenta madeira úmida);  Algumas comunidades utilizam a madeira de taquipé, espécie encontrada no continente, que apresenta alta durabilidade;  As estacas de zangaria duram mais do que os mourões da muruada;  Na zangaria também se utiliza a madeira de “goiabinha”;  Uma zangaria alta de 800 metros utiliza aproximadamente 200 estacas;  Uma fuzarca de 170 braças utiliza aproximadamente 120 estacas. Se a madeira for de tinteira a durabilidade pode ultrapassar o período de um ano;  A construção de uma casa nova necessita de aproximadamente 30 esteios;  Para reforçar a estrutura da casa são utilizados, aproximadamente, de 10 a 20 mourões;  As madeiras das casas são trocadas, aproximadamente, a cada 5 anos. Outros relatos citam a troca da madeira das casas em um período aproximado de 12 anos;  A troca das madeiras das axas (cercado) ocorre, aproximadamente, a cada 3 anos;

107  Uma zangaria utiliza, aproximadamente, 100 estacas que duram, aproximadamente, um ano a um ano e meio. Para fazer a troca, são substituídas, aproximadamente, 20 estacas por vez;  Para uso como carvão. Durante a 1º Reunião Extraordinária do Conselho Deliberativo, onde estiveram presentes apenas os conselheiros das comunidades, foi realizada a conferência dos dados de extrativismo vegetal obtidos durante as OPPs, obtendo-se as seguintes considerações: Os conselheiros de Mangunça, Caçacueira, São Lucas e Peru apontam a mesma durabilidade para os mourões da muruada. Contudo, indicam que os mourões de tinteira e siriba (este último utilizado ainda verde) podem durar mais de um ano, ou seja, apresentam maior durabilidade do que o mangue-vermelho. Quanto às estacas de zangaria, os conselheiros informaram que para uma zangaria de 800 braças, são utilizados até 400 estacas. Já os conselheiros de Retiro, Lençóis, Guajerutiua, Porto Alegre e Valha-me-Deus informaram que a madeira da tinteira e siriba, na muruada, podem durar até um ano, desde que a siribeira esteja madura. Com relação a zangaria, considerando apenas a zangaria alta, os conselheiros entendem que a representação de uma zangaria de 800 braças se refira à uma zangaria alta de 800 metros, onde são utilizadas aproximadamente 200 estacas. Já com relação à fuzarca, estes conselheiros informaram o uso de 120 estacas para uma fuzarca de 170 braças e consideram o uso de 30 esteios para a construção de uma casa. Assim, observa-se que, embora os relatos não tragam valores exatos, inclusive devido as diferenças ambientais ou culturais de uma comunidade para a outra, observa-se um padrão na quantidade e frequência de madeira necessária para o desenvolvimento das atividades tradicionais da população local. De forma geral, baseado nos relatos acima, faz-se as seguintes considerações: Mais abundante na região, o mangue-vermelho (Rizhophora mangle) é o que apresenta a menor durabilidade sendo preferido para usos menos nobres, como carvão, cercas e axas. A baixa durabilidade do mangue-vermelho também foi associada à ação do turú, molusco bivalve da família Tiranidae que se alimenta da celulose da madeira e a utiliza como abrigo (Mendes e Alves, 1988; Filho et a.l, 2008). A madeira do Taquipé (Metrodorea sp. - Rutaceae) é muito apreciada pelos pescadores de Iguará, em função da alta durabilidade e do tronco retilíneo. Não ocorre na RESEX,

108 sendo necessário buscar em áreas continentais, especialmente nos municípios de Bacuri e Serrano do Maranhão. Embora existam muitas divergências com relação à durabilidade da madeira, assim como diferentes técnicas e condições ambientais, outras percepções são quase unanimidade entre as comunidades. A maioria afirma ter percebido a diminuição da oferta de madeira, assim, os indivíduos arbóreos em condições adequadas para o uso tornam-se cada vez mais escassos. Muitos pescadores relatam que atualmente tem que se deslocar por distâncias maiores, a fim de encontrar bosques mais desenvolvidos para o corte da madeira. Conforme se observou nos mapeamentos participativos, as áreas de retirada de madeira de cada comunidade geralmente se localizam próximas à comunidade, às margens dos furos e canais interiores. Por fim, ressalta-se que as comunidades tradicionais, enquanto extrativistas, possuem direito de retirada da madeira para sua subsistência, assegurado por lei. Tal condição não diminui a necessidade de estudos mais detalhados sobre o manejo e exploração do manguezal, visando garantir o uso sustentável destes recursos por meio da definição de áreas restritas ao corte, do aumento da durabilidade das madeiras e da inserção de novas técnicas, que possibilitem diminuir a pressão sobre o recurso. A sistematização das informações fornecidas pelas comunidades pode ser observada nas Tabelas 12 e 13. Tabela 11: Informações sobre a durabilidade estimada da madeira nos petrechos de pesca, segundo relatos dos moradores da RESEX Arte de pesca Espécie Durabilidade média Mangue-vermelho (R. mangle) 3 meses Muruada Tinteira (L. racemosa) 8 meses a 1 ano Siriba (Avicennia sp.). 4 meses a 1 ano Zangaria Tinteira (L. racemosa) 1 ano Fonte: Relatos dos moradores, colhidos durante as Oficinas de Planejamento Participativo, julho/2015 e na 1º Reunião Extraordinária do Conselho Deliberativo

Tabela 12: Quantidade média de madeira de mangue utilizada, segundo relatos dos moradores da RESEX Uso Quantidade aproximada Construção de casas 30 a 40 toras/casa Manutenção das casas 10 a 20 toras/ 5 a 12 anos Construção de Zangaria Alta 200 estacas/800 metros

109 Construção de Muruada 5 toras/muruada de 4 puçás Construção de Muruada Emparzada 8 toras/muruada de 4 puçás Construção de Fuzarca 120 estacas/170 braças Fonte: relatos dos moradores, colhidos durante as Oficinas de Planejamento Participativo, julho/2015 e 1º Reunião Extraordinária do Conselho Deliberativo (04/2016).  Extrativismo mineral A produção de sal marinho na região é uma atividade antiga e tradicional, transmitida entre as famílias. É realizada de forma rústica e bem adaptada ao meio – onde as salinas são feitas sobre os apicuns, aproveitando o movimento natural de enchente e vazante da maré (Figura 90). Todavia a maior das salinas que existia na região foi desativada, principalmente em função da concorrência com o sal produzido em outras regiões do norte e nordeste. Porém, ainda se observa a presença de duas salinas ativas, a de Iguará e a da Ilha das Moças, sendo que esta última apresenta atualmente uma produção bastante reduzida. A comunidade de Iguará já foi um importante fornecedor de sal para toda a região, sendo que a atividade entrou em declínio com a competição do sal cearense. O uso do sal, especialmente nesta comunidade, é de grande importância para a conservação do camarão, sendo este o principal recurso econômico da comunidade. Na comunidade já houve três salinas ativas, sendo que hoje há apenas uma. A produção é vendida na região e na própria comunidade, destinada a salga do camarão. O trabalho é familiar, envolvendo diretamente mais de 10 pessoas. Grosso modo, o processo de extração do sal se inicia no represamento da água marinha em tanques construídos sobre os apicuns. A água parada seca lentamente, utilizando a radiação solar. O sal precipitado retido é recolhido, limpo, moído e ensacado (Figura 90 e 91). A presença de salinas na UC apresenta-se como uma atividade contraditória, já que é proibida de acordo com o parágrafo 6º do Artigo 18 da Lei 9985 (SNUC), conforme descrito a seguir (com relação às Reservas Extrativistas): “São proibidas a exploração de recursos minerais e a caça amadorística ou profissional.” Contudo, a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais44, em seu Artigo 3º, inciso I, descreve como um de seus objetivos: “garantir aos povos e comunidades tradicionais seus territórios, e o acesso aos recursos naturais que tradicionalmente utilizam para sua reprodução física, cultural e econômica”.

44 Decreto Federal 6040 de 2007.

110 Dessa forma, embora proibidas pelo SNUC, mas considerando as salinas como uma atividade tradicional e necessária para a conservação do camarão em algumas comunidades e logo para o sustento das famílias. E vendo ainda a problemática com a relação à indisponibilidade de energia elétrica nas praias (com exceção da praia de Lençóis), inviabilizando a conservação do produto a partir do congelamento, assim como o impacto ambiental que já foi gerado na área, fica definido neste Plano que: as salinas já existentes poderão ser mantidas, prevendo a manutenção da população dependente dos seus serviços. Contudo, respeitando as restrições do SNUC e prevenindo novos impactos ambientais, fica também definido neste plano, que não será permitida a construção de novas salinas. As áreas onde são mantidas as salinas serão enquadradas na Zona de Uso Populacional.

Figura 91: Sal armazenado pronto para a Figura 90: Salina sobre apicum, em Iguará. comercialização 3.5. SERVIÇOS E CIDADANIA a) Educação A questão educacional foi citada como um dos principais problemas das ilhas de Cururupu, junto com a saúde. Refere-se principalmente à totalidade da questão, desde situações básicas, como a falta de professores e condições das escolas a problemas mais estruturais, como a inexistência de ensino médio e/ou técnico nas comunidades. A falta de escolas de qualidade e do ensino médio/técnico é o principal fator de desagregação das comunidades, uma vez que, para dar continuidade aos estudos, muitas famílias têm que se mudar para as cidades, mesmo que parcialmente. Nestes casos, é comum que mãe e filhos se mudem para a cidade, ficando apenas o pescador na comunidade.

111 Nas comunidades de Caçacueira, São Lucas, Guajerutiua, Valha-me-Deus, Lençóis e Bate Vento existe o ensino fundamental completo – até a 8ª série (9º ano), em Mirinzal, Retiro, Peru, Iguará e Porto Alegre o ensino é somente até a 5ª série (6º ano), embora a comunidade de Peru ressalte a necessidade do Ensino Fundamental Completo, em Porto do Meio o ensino abrange até a 4ª série (5º ano), em classes multisseriadas. Didaticamente, é um problema usual em comunidades tradicionais a não adaptação dos conteúdos disciplinares às peculiaridades locais, fazendo “uma escola distante da realidade”. b) Saneamento O saneamento básico inclui os serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e drenagem das águas pluviais, conforme estabelecido pela Lei nº 11.445/2007. Tais serviços públicos visam melhorar as condições do ambiente de forma a promover a saúde coletiva. Conforme descrito anteriormente, o município de Cururupu possui serviços de saneamento precários, principalmente com relação ao abastecimento de água, coleta de esgoto e de resíduos sólidos. Se na sede municipal este serviço é precário, nas ilhas a presença de equipamentos públicos é nula. Quanto à gestão de resíduos sólidos, observou-se que a queima e o enterramento do lixo ocorre de maneira generalizada na UC, uma vez que não existe serviço de coleta. Destaca-se que a disposição de resíduos sólidos diretamente no solo pode acarretar a contaminação de solo e água subterrânea em função da formação de chorume45. O resíduo gerado é composto, principalmente, por matéria orgânica e materiais plásticos (sacolas, PET, etc.), ressaltando também a presença de embalagens de óleo de motor, pilhas e lâmpadas fluorescentes (todos classificados como resíduos perigosos, de acordo com a NBR 10.004). A disposição inadequada desses rejeitos pode contaminar o solo, as águas subterrâneas e superficiais com substâncias perigosas, como por exemplo, metais pesados. Conforme se observou, significativa quantidade de resíduos chega às comunidades em função da movimentação das marés. Conforme já destacado, o gerenciamento de resíduos se constitui como uma obrigação municipal. Assim, vale ressaltar a importância da atuação comunitária na obtenção deste direito ou na articulação para projetos que viabilizem o gerenciamento de resíduos nas

45 Líquido de coloração escura decorrente da decomposição de matéria orgânica.

112 ilhas. Pode-se usar como exemplo de um bom resultado envolvendo a ação comunitária e parcerias com instituições e o poder público, o mutirão de limpeza na praia de Caçacueira no ano de 2014. Na ocasião, a partir de um projeto do GEDA (Instituto de Gestão e Desenvolvimento Ambiental) e dos moradores de Caçacueira, chamado de “Caçacueira linda e sempre limpa”, foi realizado um mutirão de limpeza dos resíduos que não podem ser queimados, onde a população contribuiu com a organização dos resíduos, e a prefeitura realizou a retirada do montante. Assim, observa-se a viabilidade do melhor gerenciamento dos resíduos, envolvendo tanto as comunidades (que precisam se articular para conquistar tal direito), como a prefeitura. Referente ao abastecimento de água, não existe rede ou captação pública. Desta forma toda a água captada para o consumo humano é oriunda do lençol freático e a população utiliza poços artesianos para a captação (Figura 92). Em função das características hidrogeológicas do ambiente, o lençol freático utilizado pelas comunidades para o abastecimento é ameaçado pela entrada da maré, que em eventos extremos, as marés de sizígia (primavera e outono) podem atingir os poços. Devido as condições climáticas da região, onde é comum um período de estiagem e consequentemente da escassez temporária da água, é comum o rodízio de poços. As condições dos poços de captação não são as ideais, observam-se alguns poços sem qualquer tipo de estrutura ou proteção, outros cimentados e tampados. A presença de animais nas proximidades pode ser um problema, gerando, eventualmente, uma contaminação da água por vermes e patógenos. Em Porto Alegre não existem poços de captação destinados ao consumo humano, sendo que as pessoas se deslocam até comunidades próximas para buscar galões de água ou os encomendam da cidade (especialmente Apicum Açu). Em Iguará há um projeto relativamente simples, apoiado pelo ICMBio, que visa captar a água de chuva, a água que cai nos telhados é drenada para uma caixa d’água, onde fica em decantação até o momento de uso (Figura 93). Observa-se, por parte da população, a adoção de práticas ou técnicas que melhorem a qualidade da água consumida, tal como a fervura, filtragem com areia e cloração.

113

Figura 92: Bombeamento manual de água Figura 93: Sistema de captação de água da em Mirinzal chuva, instalado em unidade escolar em Iguará As comunidades não contam com nenhum sistema de coleta e tratamento de esgotos, sendo comum a existência de latrinas e fossas negras nas comunidades (Figuras 94 e 95). Desta forma, o esgoto sanitário infiltra no solo ou é lançado diretamente nos cursos d’água ou apicuns. Considerando que a falta de esgotamento sanitário e a presença de animais domésticos livres nas áreas comuns são as principais origens da potencial contaminação da água nas comunidades, realizou-se 10 amostragens de água subterrânea para os parâmetros Coliformes Totais e Fecais. Para tal utilizou-se um kit microbiológico de campo - COLIPAPER. A análise de coliformes é usada como indicador das condições sanitárias da água e sua presença pode indicar potencial risco à saúde devido ao grande número de infecções e/ou intoxicações veiculadas por água contaminada, acarretando sérios problemas de saúde pública. Para ambos os parâmetros de coliformes (totais e fecais), a Portaria do Ministério da Saúde 2914/11 estabelece a “ausência de coliformes” como indicativo de qualidade de água para consumo. Destaca-se que as amostras realizadas não podem ser consideradas de cunho científico, visto que não foram realizados testes laboratoriais e que em algumas vezes não houve possibilidade do armazenamento correto das amostras. Das amostras analisadas em nove comunidades/localidades, sendo duas em Guajerutiua, foram encontradas 7 colônias de coliformes totais em Peru, mais de 30 colônias de coliformes totais em Guajerutiua e 2 colônias de coliformes fecais também em Guajerutiua. Estudos demonstram a relação entre a água utilizada no consumo e diarreia e viroses em crianças, onde cerca de 20% destes casos relacionam-se com a presença de patógenos na água (KOSEK et al. 2003 apud SOUSA, 2006).

114

Figura 94: Evidências de vazamento em área Figura 95: Latrina em Iguará utilizada como banheiro c) Saúde Referente aos serviços públicos de saúde, nos dias em que a consultoria esteve em campo, não se observou a presença fixa de médico em nenhuma das comunidades da RESEX. Conforme descrito a seguir, algumas comunidades recebem o atendimento do programa Mais Médico (Governo Federal), que aumentou a quantidade de profissionais da saúde nas ilhas. A questão da saúde foi apresentada como o maior problema enfrentado pela população residente na UC, uma vez que raramente contam com profissionais de saúde e os deslocamentos até a cidade são longos. A busca pelo acesso mais fácil aos serviços de saúde é um dos principais motivos para a emigração das populações das praias. O município de Cururupu foi contemplado com 12 vagas46 para profissionais inscritos no programa “Mais Médicos”, cujo objetivo é enviar médicos aos municípios mais distantes dos grandes centros, onde a demanda por médicos é maior. Hoje o programa atende 167 municípios do Maranhão (cerca de 75%) com aproximadamente 512 profissionais. Algumas comunidades da UC são atendidas pelo programa por meio de campanhas, isto é, períodos onde o médico se desloca até as praias para o atendimento dos pacientes. Contudo, segundo os comunitários, as Ilhas do Arquipélago Norte não foram contempladas no atendimento do programa. Segundo informações da Secretaria de Saúde do município, estão em vigor, para as comunidades da RESEX, os seguintes programas:  Programa Saúde na Escola, que trabalha com a saúde bucal das crianças e oferece kits de higiene bucal;

46 Informações obtidas na página oficial do Governo Federal Brasileiro < http://www.maismedicos.gov.br

115  PSF – Programa Saúde da Família e Núcleo de Apoio a Saúde da Família – NASF, que enviam psicólogos, enfermeiros e nutricionistas com objetivo de orientar os moradores, realizar ou encaminhar para exames clínicos. Os exames são realizados na Santa Casa do município ou em clínicas particulares. Todas as comunidades da RESEX possuem agentes de saúde municipais e postos de saúde, embora, em Retiro e Porto Alegre, os postos encontram-se desativados devido a falta de manutenção. A Unidade de Guajerutiua foi finalizada em 2015, conforme mostram as Figuras 96 e 97, cedidas pela Secretaria de Saúde.

Figura 96: Posto de Saúde de Guajerutiua Figura 97: Posto de Saúde de Guajerutiua

Em Porto Alegre não existe posto de saúde, embora exista uma escola que oferece apoio. Em Urumaru, Beiradão, Taboa e Mangunça não existe qualquer serviço público. d) Transporte Por se tratar de uma RESEX Marinha, onde a totalidade das comunidades é insular, o transporte hegemônico é hidroviário, realizado em embarcações de diferentes formas, tamanhos e condições. O deslocamento entre as comunidades é geralmente feito em barcos próprios ou de terceiros – mediante pagamento. Todos os barcos são particulares, não havendo nenhuma estrutura pública que facilite o transporte de passageiros estabelecido pela Marinha do Brasil. Existem linhas razoavelmente regulares, que facilitam o deslocamento entre as comunidades e as cidades. Algumas praias do arquipélago de Maiaú, como Bate- Vento e Lençóis, são atendidas por uma embarcação que leva à Apicum Açu. Da mesma forma, Valha-me-Deus e Guajerutiua possuem um transporte informal que dá acesso ao porto de Pindobal, geralmente antes do raiar do sol.

116 Em função desta informalidade, às margens do poder público, e da necessidade de levar às comunidades todos os bens adquiridos na cidade, o transporte de carga e passageiros é indissociável. Por este motivo, situações potencialmente perigosas são comuns, como o transporte de combustível, alimentos e animais em uma mesma embarcação. É presumível também que as embarcações não estejam plenamente de acordo com as normas e regras de segurança e transporte de passageiros. No mais, cita-se ainda a presença ocasional de pequenos aviões, que fazem voos fretados às comunidades de Bate Vento e Guajerutiua. e) Lazer e Recreação

De maneira geral, nas comunidades é comum a ocorrência de festividades, sendo as principais as de caráter religioso e aquelas típicas dos períodos de férias, quando muitos familiares retornam às praias. Tais festas podem durar dias e são acompanhadas de bebidas, comidas e as famosas radiolas.

Cotidianamente, observa-se a assiduidade das pessoas com o futebol, disputados em campos e “areiões” geralmente tratados com muito zelo. É praticado por homens e mulheres, onde se reforça a sociabilidade intracomunal e intercomunal – por meio dos torneios disputados com as outras praias. f) Telecomunicações

Assim como os outros serviços públicos, a telecomunicação nas comunidades é precária, observando-se a existência de alguns telefones públicos (orelhões) desativados ou danificados. Apenas a comunidade de Guajerutiua possui acesso à internet.

Quanto às linhas privadas, existem opções como o telefone rural e o celular. O primeiro possui ampla cobertura de sinal, funcionando bem na maioria das comunidades visitadas. Apenas em Caçacueira, devido a sua posição geográfica, não existe telefone rural utilizado com antena de longo alcance.

Embora o celular seja um aparelho amplamente difundido na UC, a cobertura de sinal é precária, restrita a pontos distantes das comunidades, como altos de e pontas de praias. Foi relatado que em Urumaru e Iguará, pela proximidade com Apicum Açu, o sinal é mais estável.

117 g) Energia

Nenhuma praia de Cururupu está conectada ao Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS. Logo, a RESEX se insere no 1,7% da energia elétrica brasileira que se encontra fora do Sistema Interligado Nacional. Com exceção de Lençóis, o fornecimento de energia elétrica para as comunidades é oriundo de geradores movidos a diesel, que funcionam normalmente entre as 18h e 22h. Em ocasiões especiais, especialmente em festejos, o fornecimento de energia é estendido, nos dias de domingo, a energia é ligada as 16h, para que os moradores acompanhem os jogos de futebol. Em boa parte das comunidades o custo para compra do óleo diesel é dividido entre os moradores, algumas comunidades recebem subsídios da prefeitura. Nas localidades de Mangunça, Taboa, Urumaru e Beiradão os geradores são de uso privado. Lençóis é a única praia da RESEX contemplada com o fornecimento contínuo de energia elétrica, cuja força geradora ocorre a partir de um sistema híbrido eólico e solar. O fornecimento ocorre desde o ano de 2008, por meio do Sistema de Geração Híbrido Eólico Solar47. Faz parte de um projeto piloto executado pelo Núcleo de Energias Alternativas da Universidade Federal do Maranhão (NEA/UFMA), com o apoio financeiro do Programa “Luz para Todos” do Ministério de Minas e Energia (MME). O “Luz para Todos” possui objetivos específicos, alguns relacionados ao atendimento de comunidades extrativistas do Amazonas, Pará e Maranhão, cuja prioridade seria a utilização de fontes alternativas, como a solar ou eólica, tal como ocorreu em Lençóis. Inicialmente o projeto seria levado para outras comunidades da RESEX, mas, por motivos desconhecidos, não o foi. A falta de continuidade no fornecimento de energia é um sério problema na UC. Além de se tratar de uma condição básica para o bem estar das populações, a falta de energia prejudica a comercialização dos pescados. Sem a possibilidade de armazenamento da produção pesqueira, os pescadores se veem com poucas alternativas senão a venda nas condições impostas pelos atravessadores. Tal condição assimétrica é geralmente injusta, uma vez que não há a possibilidade de estoque da produção para a comercialização posterior – por preços mais vantajosos.

47 O sistema é composto por três turbinas eólicas de 7.5 kW, montadas em torres de 30 metros cada e por 162 painéis fotovoltaicos com uma capacidade total de 21 kWp. Um sistema com 120 baterias de 150Ah armazena a energia, que é transformada para uso doméstico por dois inversores de 20 KVA cada, desenvolvidos especialmente para o Projeto com tecnologia Brasileira

118 Apesar de inúmeras pesquisas junto à Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL e mesmo na Universidade não foram mapeadas informações acerca de projetos de inclusão das praias da RESEX no Sistema Nacional de Energia Elétrica. h) Turismo

A RESEX possui grande potencialidade para o turismo, dada suas belezas naturais, diversidade cultural das comunidades pesqueiras e possibilidade de uso indireto dos recursos. Assim o Turismo de Base Comunitária entende que as comunidades devem ser protagonistas na gestão do turismo em seus territórios, uma vez que este pode ser uma importante forma de geração de renda, além de possibilitar a conscientização ambiental mútua e elevar a autoestima das comunidades locais a partir da valorização de sua cultura e modo de vida (ALVITE et al., 2015). Na década de 90 o governo do Maranhão elaborou seu primeiro plano de desenvolvimento turístico, o do Polo Ecoturístico das Reentrâncias Maranhenses – Floresta dos Guarás, tendo a ilha dos Lençóis como “principal atrativo”. A regionalização foi mantida pelo PROECOTUR, conforme citado anteriormente. A Ilha dos Lençóis é o local da RESEX que atualmente possui as melhores condições de desenvolvimento do turismo enquanto fonte de geração de renda – havendo sediado um projeto de capacitação em turismo de base comunitária entre 2011-2013, com apoio do ARPA. As etapas concluídas possibilitaram a capacitação de alguns comunitários para atuarem como guias, a partir do intercâmbio técnico na Rede Cearense de Turismo Comunitário e oficinas de boas práticas para recepção de turistas na região48. A ilha é tema frequente de reportagens e publicações, onde é “vendida” para o turismo através de termos como “encantada”, “misteriosa”, “exótica”, “terra d’El Rei Sebastião” explorando ainda a presença de moradores albinos de Lençóis que, perpetuando um imaginário deveras estereotipado – os coloca quase como um “atrativo turístico” da ilha (PEREIRA, 2003; ALVITE et al., 2015). Por este motivo, mesmo o turismo de baixo impacto ambiental deve ser planejado em conjunto com as comunidades, de modo a respeitar suas peculiaridades e harmonizar o contato com as populações urbanas. O turismo na ilha dos Lençóis foi estudado por ALVITE et al. (2015), que analisou os resultados extraídos de 103 questionários, aplicados em 2011 e 2013. Os autores observam que 92% dos visitantes são brasileiros, oriundos principalmente do próprio

48 Informações obtidas a partir de publicação ná página do ICMBio

119 Maranhão, seguido de São Paulo, Pará e Rio de Janeiro. Quanto aos estrangeiros, todos eram provenientes dos países da Europa, tal como Itália, França, Espanha e Portugal. Cerca de 2/3 dos visitantes estavam na faixa etária entre 18 e 39 anos, evidenciando a presença de um turista jovem, sem predominância de gênero. A pesquisa chama atenção ao elevado nível educacional do turista, onde mais de 85% dos turistas possuíam ensino superior (completo ou incompleto). O fato demonstra o interesse das camadas mais intelectualizadas pelo turismo socioambiental. A maioria dos turistas chega a Lençóis por conta própria (75%), oriundos de Apicum Açu (99%). Nesta cidade, cerca de 60% dos visitantes utilizou barcos fretados para a viagem, enquanto pouco menos de 40% “pegou carona” em barcos de pesca. A situação demonstra que a presença de empresas de turismo atuando na região é bem pequena (ALVITE et al. 2015). Os turistas geralmente visitam a ilha em casal ou com amigos, sendo representativa a parcela de “outras configurações”, que inclui grupos de pesquisa, missionários e reportagens. Cerca de 80% dos visitantes ficam até quatro dias no local e 92% dos entrevistados estavam pela primeira na região. A principal motivação da visita é o lazer e a recreação, sendo que pelo menos 1/3 das pessoas também visitaram a ilha com a finalidade de realizar estudos e pesquisas (ALVITE et al. 2015). Por fim os autores analisam as motivações dos turistas para visitar a ilha dos Lençóis. Observou-se que os “atrativos naturais”, “isolamento e tranquilidade”, “meio de vida das comunidades”, “observação de aves” e “lendas, mitos e mistérios” foram os principais motivos registrados. As atividades realizadas envolvem a “apreciação da natureza”, “conversa com moradores”, caminhadas e passeios de barco, banhos de mar e observação da fauna (ALVITE et al. 2015). A pesquisa evidencia um público evidentemente compatível com os objetivos do turismo para a UC, que valoriza e reconhece a diversidade socioambiental da região. Figuram-se como polos de recepção do turismo as comunidades de Guajerutiua e Caçacueira, que possuem mais estrutura para receber visitantes.

3.6. ACESSO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS

Abaixo estão relacionados alguns dos principais programas e políticas federais que podem gerar reflexos positivos para a região da RESEX:

 Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR);

120  Política de Seguro Defeso;  Programa Bolsa Família;  Programa Luz para Todos;  Programa de Apoio à Conservação Ambiental (Bolsa Verde);  Programa de Subvenção Econômica ao Preço do Óleo Diesel.  Criação de assentamentos – INCRA  Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR)

A Política Nacional de Desenvolvimento Regional – PNDR49 cria as novas Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Engloba o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM) e Plano Amazônia Sustentável (PAS), macro políticas que visam combater o desmatamento e promover o desenvolvimento integrado e sustentável na Amazônia.

 Política de Seguro Defeso

O defeso é a paralisação das atividades de pesca, visando proteger as espécies durante seu período de reprodução ou desenvolvimento. Neste período os pescadores que declararam a pesca de determinada espécie recebem o seguro defeso no valor de um salário mínimo por mês de proibição. Assim, é uma das políticas públicas mais importantes para a conservação dos estoques pesqueiros, pois garante a renda do pescador durante a proibição da pesca.

O estado do Maranhão possui cerca de 185 mil pescadores com o Registro Geral de Pesca (RGP) ativos, atrás apenas do Pará. Destes, 137 estão registrados em Apicum Açu e 877 em Cururupu. Tais números são muito inferiores aos registrados para alguns municípios não litorâneos, como nos casos de Pinheiro (6453 pescadores), Pio XII (4607 pescadores), Bom Jardim (3619 pescadores), (2061 pescadores), (945 pescadores), Cantanhede (927 pescadores), entre outros – apenas no estado maranhense. Tal situação reafirma o grande desafio institucional que é o cadastramento autodeclaratório dos pescadores –

Segundo dados do Portal de Transparência do Governo Federal, desde o início da política de Seguro Defeso, o Maranhão recebeu um total de R$ 1,3 bilhão50 de reais,

49 Decreto Federal nº 6.047/2007 50http://portaltransparencia.gov.br/defeso/defesoListaFavorecidosPorMunicipio.asp?UF=MA&codMunici pio=210370

121 sendo que apenas 2 milhões (0,15%) foi destinado à Cururupu. Tal quantia reduzida chama a atenção, pois o município figura sempre como 1º ou 2º maior produtor de pescados do estado. Apesar da alta posição do município com relação à produção pesqueira, não existe nenhum escritório da Superindentencia de Pesca na Região de Cururupu51.

 Programa Bolsa Família

Programa de transferência direta de renda direcionada às famílias em situação de (extrema) pobreza, com renda per capita de até R$ 154 mensais, que associa à transferência do benefício financeiro do acesso aos direitos sociais básicos - saúde, alimentação, educação e assistência social. Entre as contrapartidas que as famílias precisam dar, está a vacinação de crianças, a assiduidade escolar e o acompanhamento médico – especialmente de crianças e gestantes.

Conforme dados do Ministério de Desenvolvimento Social, até maio de 2015 o município de Cururupu possuía 9.243 famílias inscritas no programa, dentre as quais:

 7.163 com renda per capita familiar de até R$ 77,00;  254 com renda per capita familiar entre R$ 77,00 e R$ 154,00;  454 com renda per capita familiar entre R$ 154,00 e meio salário mínimo;  1.372 com renda per capita acima de meio salário mínimo. Segundo a gestão da RESEX, em 2012, cerca de 700 famílias foram beneficiadas pelo programa.

 Programa Luz para Todos

O Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica (Luz para Todos) foi instituído pelo Decreto nº 4.873 de 11/11/2003, constituindo-se em uma política pública que visa levar eletrificação às áreas remotas, cobrando um preço subsidiado pelo governo federal, governos estaduais e distribuidoras. Desde sua criação, o programa já realizou mais de três milhões de ligações, o que corresponde a mais de 15 milhões de pessoas beneficiadas. O programa é coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, operacionalizado pela Eletrobrás e executado pelas concessionárias

51 http://www.mpa.gov.br/files/docs/Ministerios/CONTATO%20DOS%20ESCRITORIOS%20REGIONAI S-2.pdf

122 de energia elétrica e cooperativas de eletrificação rural em parceria com os governos estaduais.

Em julho de 2008, o Sistema de Geração Híbrido Eólico Solar da Ilha de Lençóis, situado no litoral do Município de Cururupu entrou em operação. O projeto foi executado pela UFMA (em convênio com o MME), através do Núcleo de Energias Alternativas (NEA) e financiado pelo Programa Luz para Todos, visando desenvolver soluções de atendimento com energia elétrica a comunidades isoladas. A princípio o convênio previa a extensão do projeto para todas outras comunidades da RESEX, porém, até o momento, tais comunidades não foram contempladas.

 Programa de Apoio à Conservação Ambiental (Bolsa Verde)

O Programa de Apoio à Conservação Ambiental, conhecido como Bolsa Verde, é um programa de transferência de renda do Governo Federal, instituído pela Lei 12.512 de 14/10/2011 e regulamentado pelo Decreto nº. 7.572, de 28/09/2011. A execução do programa é de responsabilidade do MMA, a quem cabe definir as normas complementares do programa e a Caixa Econômica Federal é o agente operador. O Programa concede um benefício trimestral de R$ 300,00 às famílias em situação de extrema pobreza que vive em áreas consideradas prioritárias para conservação ambiental – como RESEX e RDS federais, assentamentos florestais e agroextrativistas instituídos pelo INCRA, territórios de comunidades tradicionais e/ou definidas pelo governo federal.

Possui como objetivos:

 incentivar a conservação dos ecossistemas;  promover a cidadania e melhoria das condições de vida;  elevar a renda da população em situação de extrema pobreza que exerça atividades de conservação dos recursos naturais no meio rural, e;  incentivar a participação dos beneficiários em ações de capacitação ambiental, social, técnica e profissional.

Conforme Relatório Bolsa Verde52, das 74 mil famílias beneficiárias do programa, 585 famílias são residentes na RESEX de Cururupu. Fora da UC, sob gestão da SPU, existem 54 famílias beneficiárias em Cururupu, 17 em Apicum Açu e 14 em Bacuri.

52 http://www.mma.gov.br/desenvolvimento-rural/bolsa-verde/item/9141 - acessado em setembro de 2015

123  Programa de Subvenção Econômica ao Preço do Óleo Diesel

O Programa, gerido pelo Ministério da Pesca e Aquicultura, tem o objetivo de promover a equalização do preço do óleo diesel para a frota nacional ao preço efetivamente praticado na venda às embarcações estrangeiras. O subsídio foi criado pela Lei nº 9.445 de 14/03/199753 e é destinado aos pescadores profissionais artesanais, armadores, industriais que sejam proprietários ou arrendatários de embarcações pesqueiras. O desconto na bomba varia de 12% a 17%, com a isenção do ICMS fornecido pelos estados, e um auxílio pecuniário da equalização de até 25% da diferença do preço do óleo diesel nacional frente ao internacional.

Segundo o sítio eletrônico do Programa54, em 2015 havia 39 entidades cadastradas e 2.366 embarcações habilitadas. Caso o programa contemple o Estado do Maranhão e logo os pescadores da RESEX, haverá um impacto econômico positivo para os pescadores, que pagarão um valor inferior no combustível ao praticado pelo mercado.

 Criação de assentamentos As RESEX são reconhecidas como Projeto de Assentamento para o INCRA. Em 2006 a RESEX de Cururupu passou por uma homologação da relação de beneficiários e, a partir disso, algumas famílias foram beneficiadas com cestas-básica e materiais de pesca.

Os projetos de assentamento são divididos em modalidades, sendo as RESEX parte do Grupo II – Reservas Extrativistas, definidos como:

“Projetos de Assentamento viabilizando o acesso das comunidades que ali vivem aos direitos básicos estabelecidos para o Programa de Reforma Agrária.55“.

3.7. SITUAÇÃO FUNDIÁRIA De acordo com a Constituição Federal as praias marítimas, as ilhas oceânicas e costeiras, que não contenham a sede de município são propriedades da União. De acordo com a Secretaria do Patrimônio da União – SPU, na inexistência de documentação possessória atestando cadeia sucessória ou indicações de venda e locação pelo Poder Público aos antecessores daqueles que se figuram como adquirentes da área,

53 É regulamentado pelo Decreto nº 7.077 de 26/01/2010, definido pela Instrução Normativa nº 10, de 14/10/2011, Instrução Normativa nº 07, de 08/08/2012, Instrução Normativa nº 11, de 05/06/2014, Instrução Normativa nº 14, de 16/07/2014, Instrução Normativa nº 28, de 22/12/2014 – todas do Ministério da Pesca e Aquicultura. 54 http://ssadp.mpa.gov.br/publica/programa - Acessado em Outubro de 2015 55 INCRA - http://www.incra.gov.br/assentamento

124 não há domínio de terras, e que sendo essas áreas “ilhas costeiras”, a propriedade é dada a própria União (DISCONZI, 2009). As Reservas Extrativistas devem ter seu território “de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas tradicionais”, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas. De acordo com a legislação, a posse e o uso das áreas ocupadas pelas populações tradicionais foram reguladas pelo Contrato de Concessão de Direito Real de Uso da RESEX de Cururupu (CCDRU), instituído em 2010. Esse documento garante às comunidades o acesso a seu território tradicional. Ressalta-se que, embora o CCDRU (ANEXO IV) garanta o direito de uso das terras pelos beneficiários, a venda de terrenos é proibida, sem exceções. Já a venda de imóveis é permitida apenas àqueles que também são beneficiários da RESEX (de beneficiário para beneficiário), por intermédio da AMREC. O descumprimento destas normas é passível de punição judicial. Contudo, ainda observam-se conflitos referentes à questão fundiária. Em 2006, os herdeiros de Achilles Lisboa formalizaram, junto ao INCRA e ao Ministério da Fazenda, a disputa fundiária sobre parte da Ilha de Mangunça (processo nº 1020910050618 e NIRF 6.884-900-1, respectivamente), argumentando que a área é uma propriedade particular herdada do antigo governador do estado (DISCONZI, 2009). O processo ainda encontra-se em andamento, sendo informado pela gestão da UC que o ICMBio buscou formas de acordo com a família Lisboa, sem, no entanto chegar a um ponto em comum. Além do caso da família Lisboa existem “proprietários” que não são reconhecidos como extrativistas. Estas pessoas foram notificadas pelo ICMBio para apresentação de documentos para instrução de processos de indenização de bem feitorias, procedimento contido na regularização fundiária de UCs realizado pelo ICMBio. Segundo a apresentação do Diagnóstico Socioeconômico em Unidades de Conservação Federais (UFV, 2015):  94% dos entrevistados se reconhecem como proprietários de suas moradias, enquanto 84% dos mesmos também se reconhecem proprietários da área que utiliza cotidianamente;  93% das pessoas não possuem documentação da área da moradia. A mesma porcentagem de pessoas também não possui conhecimento sobre o CCDRU.

125 3.8. PESSOAL, EQUIPAMENTOS E INFRA-ESTRUTURA A sede administrativa da RESEX localiza-se no centro histórico de São Luís - na Rua das Hortas, 223 - onde também se encontra a gestão da RESEX Quilombo do Frexal e do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sócio-biodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais – CNPT. Por ser uma unidade descentralizada do ICMBio está vinculada a Coordenação Regional 4 do Instituto, em Belém, e recebe apoio administrativo do Programa ARPA e apoio técnico das Diretorias na sede em Brasília. A UC é gerida por um colaborador do ICMBio, destaca-se aqui a dificuldade de realizar a gestão de uma área de mais de 185 mil hectares em apenas um gestor. Além da sede em São Luis, o ICMBio possui um ponto de apoio no município de Pinheiro (antiga sede do IBAMA) e um imóvel desapropriado na ilha dos Lençóis - cedido à administração da UC e utilizado por pesquisadores e funcionários. A RESEX conta também com uma lancha rápida de fibra de vidro (Figura 98), de nome Manoel Branco, utilizada para o deslocamento no interior da UC, duas viaturas 4x4, um bote inflável com motor de popa, gerador a diesel e outros equipamentos para uso de campo. Os limites da RESEX estão sinalizados por 95 placas informativas (Figura 99), distribuídas pelas ilhas, embora, atualmente boa parte deste material encontra-se danificado.

Figura 98: Lancha Manoel Branco, do Figura 99: Placa de Identificação da RESEX, ICMBio. em Porto Alegre.  Estrutura organizacional e instrumentos de Gestão

Atualmente, além do Plano de Manejo (a partir de sua publicação), a RESEX de Cururupu conta, principalmente, com algumas ferramentas e atores de gestão.

Tais ferramentas são trabalhadas de forma participativa, envolvendo tanto a gestão da RESEX (ICMBio) quanto os moradores da UC. Entre essas ferramentas

126 podemos citar: o Contrato de Concessão de Uso, o Perfil do Beneficiário e o Acordo de Gestão.

 Contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU)

O CCDRU, assinado pelo ICMBio como concedente e pela AMREMC como concessionária, tem por finalidade assegurar as condições e os meios necessários à reprodução e melhoria dos modos e da qualidade vida das populações extrativistas, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais do imóvel. Como concedente, o ICMBio tem as seguintes obrigações: convocar o Conselho Deliberativo sempre que necessário, para garantir o cumprimento dos termos do contrato; fiscalizar a execução do contrato; realizar, atualizar e conformar o cadastro dos beneficiários; receber e analisar solicitações sujeitas a autorização; cumprir as obrigações do contrato. Como concessionária, a AMREMC tem as seguintes obrigações: preservar, recuperar e defender o imóvel; zelar pela recuperação do meio ambiente e conservação da natureza; assegurar o uso do imóvel de acordo com as motivações sociais que deram origem ao contrato; assegurar que as intervenções na área tenham aprovação do Concedente; supervisionar a área concedida, assegurando o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis; submeter ao concedente e ao conselho deliberativo as ações e atividades pertinentes ao cumprimento do contrato; garantir às famílias beneficiárias (cadastradas) o direito de uso da área; outorgar reconhecimento de ocupação gratuita de fração ideal a todo morador que expressamente aceitar as condições do contrato de concessão e comprovar que se enquadra como beneficiário da RESEX; emitir e fornecer declarações e outros documentos relativos à execução do contrato somente às famílias beneficiárias; apoiar o concedente no cadastro das famílias; facilitar a supervisão do concedente a fim de fiscalizar o cumprimento da legislação e condições estipuladas no contrato de concessão; não edificar construções que se descaracterizem da área, sem previa autorização do concedente; não fazer uso de espécies ameaçadas ou danificar seu hábitat; não realizar atividades que impeçam a regeneração do ambiente; executar bem e fielmente as normas do Plano de utilização, do contrato de concessão, do Plano de Manejo e outros instrumentos legais.

O Contrato de Concessão de Uso pode ser lido na íntegra no ANEXO IV.

127  Conselho Deliberativo

O Conselho Deliberativo é um órgão colegiado da RESEX de Cururupu, instituído pela Portaria nº 35 de 2011, com a finalidade de contribuir com ações voltadas à efetiva implantação e implementação do Plano de Manejo da Unidade e ao cumprimento dos objetivos de sua criação. Trata-se de um importante instrumento de gestão compartilhada e instância de decisão, presidido pelo ICMBio, e contando com a representação de atores governamentais e da sociedade organizada, que de alguma forma estejam relacionados com a RESEX. O documento define que o conselho seja integrado pelas seguintes representações:

Órgãos governamentais – ICMBio, INCRA, Ministério do Desenvolvimento Agrário do estado do Maranhão, Prefeitura Municipal de Cururupu, Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis do estado do Maranhão, IBAMA do estado do Maranhão, Universidade Estadual do Maranhão, Universidade Federal do Maranhão, Superintendência Federal da Pesca e Aquicultura do Ministério da Pesca e Aquicultura56 - no estado do Maranhão.

Sociedade civil - Sindicato de Pescadores de Cururupu, Comunidade Caçacueira, Comunidade Mangunça, Comunidade São Lucas, Comunidade Peru, Comunidade Guajerutiua, Comunidade Valha-me Deus, comunidade Porto Alegre, Comunidade Bate Vento, Comunidade lençóis, Comunidade de Porto do Meio, Comunidade Mirinzal, Comunidade Retiro, Comunidade Iguará, AMREMC.

As reuniões do Conselho ocorrem semestralmente desde 2011. Entre suas competências estão: a elaboração e revisão do regimento interno; acompanhamento, aprovação e implementação do Plano de Manejo e sua revisão; busca pela integração da RESEX com seu entorno e demais UCs; acompanhar o orçamento destinado à UC; decidir sobre fatores que possam causar impacto ambiental da Reserva; incentivar a participação das comunidades – especialmente os mais jovens. Destaca-se que na Décima Reunião Ordinária aprovou-se a inclusão de Beiradão e Urumaru no Conselho, representando os usuários diretos. Assim, possivelmente, por decisão da coordenação do ICMBio, haverá uma única cadeira para Pescadores Usuários Diretos que vivem fora da UC.

56 Após a publicação do documento, o MPA foi incorporado ao MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)

128 A formação de parte do Conselho por moradores da RESEX destaca a importância da participação comunitária nas decisões e criações de regras da UC. Tal participação permite que as normas e projetos implementados na reserva estejam de acordo com o modo de vida da população. Além de fortalecer a atuação junto ao município diante da busca por serviços públicos.

A Portaria que aprova o Conselho Deliberativo pode ser lida na integra no ANEXO II.

 Perfil do Beneficiário

O Perfil do Beneficiário constitui-se como outro importante instrumento de gestão, que define o enquadramento das pessoas que têm ou não direito sobre o uso das terras e recursos naturais da RESEX. O documento foi aprovado em dezembro de 2014 através da Portaria 126 e identifica a população tradicional da RESEX de Curupu em dois grupos: Beneficiários Residentes e Usuários Externos.

Os beneficiários residentes constituem-se como uma família que mora na comunidade e faz parte da cadeia produtiva, ou no caso do chefe da família fazer parte da cadeia produtiva (morando na RESEX) e ter o restante da residindo fora dos limites da UC.

Já os usuários externos também são caracterizados em dois diferentes perfis. Existem os usuários externos que fazem o uso direto dos recursos naturais da Resex, sendo ainda caracterizados de três maneiras: o membro ou toda família que se ausentou da reserva e mantém vínculo familiar na reserva; a família utiliza sua casa em período de férias ou eventuais e participa da cadeia produtiva, não dependendo exclusivamente desta cadeia; o chefe da família que faz parte da cadeia produtiva e mora fora dos limites da reserva (entorno) com sua família. Além destes, são considerados como usuários externos aqueles que fazem uso indireto dos recursos naturais da RESEX, sendo caracterizados da seguinte maneira: a família utiliza sua casa na comunidade somente para lazer, não deixando vínculo familiar; a família foi embora da Resex e se desfez de seus pertences, não deixando vínculo familiar.

O Perfil do Beneficiário pode ser lido na íntegra no ANEXO III.

 Acordo de Gestão da RESEX de Cururupu:

129 Publicado pela portaria ICMBio 122 de 2014, após seis anos de elaboração, o documento aprova as regras com relação à exploração dos recursos naturais, uso do espaço e convivência a serem cumpridas pelos beneficiários da RESEX. Assim, o Acordo de Gestão funciona como um instrumento de apoio a gestão da UC.

A elaboração foi realizada de forma conjunta entre as comunidades, parceiros e gestão da RESEX, de forma que o conhecimento e opinião da população extrativista foram utilizados para fundamentar as regras a serem aplicadas pelo órgão Gestor, das quais muitas relacionam-se diretamente com o Plano de Manejo, especialmente com o zoneamento ambiental. O Acordo de Gestão é dividido em 14 capítulos onde: o primeiro refere-se à pesca, definindo o que é a atividade, reforçando quem pode ou não pescar nas águas da RESEX, permitindo apenas a pesca artesanal e proibindo artes de pesca predatórias; o segundo refere-se aos apetrechos de pesca permitidos, definindo os tamanhos de malha e restringindo a captura de camarões durante o recrutamento (abril-junho57); o terceiro capítulo refere-se à cata de caranguejos e demais mariscos, proibindo alguns petrechos e períodos, definindo o tamanho de captura do caranguejo e restringindo a extração do sururu-de-dedo apenas para fins de alimentação; o quarto capítulo refere-se à flora, permitindo a coleta de frutos e outras partes das plantas frutíferas, definindo espécies para serem preservadas, permitindo a poda de algumas espécies; e restringindo o corte da vegetação nativa apenas para os beneficiários residentes; o quinto capítulo refere-se ao manguezal, permitindo a retirada da vegetação para fins de subsistência, exceto do mangue-de-frente; o capítulo sexto refere-se aos animais, permitindo o uso de jumentos, burros e cavalos como meio de transporte, permitindo a criação de caprinos e suínos em regime semi e intensivo; proibindo a caça e captura de aves silvestres e seus ovos; o capítulo sete define as zonas de uso restrito; o capítulo oito permite o uso de carvoeiras com algumas restrições; o capítulo nove define as responsabilidades, regras de destinação e cuidados com resíduos; o capítulo dez trata da poluição sonora; o capítulo onze define as regras para a realização de festas; o capítulo doze define as regras para realização de pesquisas científicas na UC, bem como a obrigatoriedade de ser entregue uma cópia ao Conselho Deliberativo e AMREMC; o capítulo refere-se ao uso do solo, proibindo a venda de terrenos e restringindo a venda de casas apenas para

57 O período foi alterado pelo Conselho Deliberativo, através de resolução própria, restringindo o período até maio

130 beneficiários residentes; e por fim, o capítulo quatorze traz a disposição transitória. O Acordo de Gestão pode ser lido na íntegra no item 4.5 deste Plano de Manejo.

Conforme já mencionado, os documentos acima definem as diretrizes a serem seguidas pela Gestão da RESEX, sendo esta considerada tanto o ICMBio, como representantes da população beneficiária. Todos os documentos são de fundamental importância para a segurança da UC, assim como da população ali presente, e são fundamentais para o norteamento e implementação do Plano de Manejo.

 Organização comunitária A principal forma de organização dos comunitários da RESEX é Associação dos Moradores da Reserva Extrativista de Cururupu (AMREMC), chamada de Associação MÃE. Tem o papel de representar, institucionalmente, os moradores das ilhas nas discussões relacionadas ao cotidiano da UC. Atualmente contempla cerca de 700 sócios. Além da Associação Mãe, a RESEX conta com organizações menores não formais, que atuam de forma mais pontual em problemas de cada comunidade (RÊGO, 2013). Em Guajerutiua, por exemplo, foi fundado um grupo de apoio, com o objetivo de fiscalizar a entrada de pescadores de fora da RESEX, protegendo o território da comunidade. Todavia, pelo caráter coercivo e punitivo do grupo, foi recomendada sua dissolução – situação que se mantém desde então. Cita-se também a organização comunitária ao redor do Conselho Deliberativo da RESEX, que se reúne em reuniões ordinárias que ocorrem semestralmente. Observa-se que a Associação MÃE encontra maiores dificuldades para se fazer presente no arquipélago de Maiaú, na porção norte da RESEX, fato este que se dá em função da distância e dos riscos associados à travessia da baía de Lençóis.  Recursos financeiros No Brasil, o orçamento destinado as Unidades de Conservação tem basicamente duas origens: financiamento governamental e financiamento de colaboradores nacionais e internacionais. A RESEX de Cururupu obtém o orçamento a partir de fundos financeiros do ICMBio, que arca com as responsabilidades financeiras de obtenção e manutenção de infraestrutura e pagamento dos funcionários (no caso, o gestor da Reserva), geridos pela Coordenação Regional (CR4) e do financiamento do ARPA que atua nas ações de conservação e pesquisa, aquisição de bens, sinalização e demarcação,

131 integração do entorno, proteção da UC e execução e implementação de Plano de Manejo. Sabe-se que não basta apenas a criação de uma área protegida, para que seus recursos também sejam protegidos. Para isso são necessárias diversas ações que envolvam, sobretudo, aportes de capital humano e financeiro. Nos últimos anos, apesar da criação de novas Unidades de Conservação e áreas protegidas, o que é um importante passo para a conservação ambiental, o orçamento destinado para este fim não aumentou de forma significativa. Observa-se como exemplo o ocorrido entre os anos de 2001 e 2008, onde as áreas de UC Federais aumentaram em 80%, mas o repasse do dinheiro público em apenas 16%58. Assim, levando em conta o valor investido por hectare em unidades de conservação, houve uma diminuição de 40% no valor oferecido pelo poder público (MEDEIROS et al., 2001 apud GODOY & LEUZINGER, 2015). Assim, existem mais áreas protegidas mantidas com o mesmo volume financeiro, criando um déficit na gestão dessas áreas. O Ministério do Meio Ambiente é um dos menos contemplados no planejamento orçamentário federal anual. Comparando-se os valores destinados à área ambiental e outras áreas públicas, se observa que o orçamento público destinado ao MMA está entre um dos menores em comparação com outras entidades do poder público federal (GODOY & LEUZINGER, 2015). Por exemplo, em 2008 o MMA ficou em 18º lugar entre os 23 ministérios ativos no mesmo ano, para o repasse de verbas públicas. Segundo o MMA, em 2008, seriam necessários R$ 543 milhões anuais para o financiamento das Unidades de Conservação Federais, contudo, em 2008 o sistema recebeu apenas R$ 316 milhões59. Em 2011, O ICMBio recebeu aproximadamente R$ 330 milhões do MMA para a gestão das UC Federais, no entanto, limitou-se o uso a apenas R$ 257 milhões. Assim, aproximadamente 23% foram contingenciados. Em 2013, o ICMBio recebeu cerca de R$ 515 milhões, onde R$ 266 milhões já estavam comprometidos com despesas fixas, como o salário dos funcionários. Os outros R$ 211 milhões foram utilizados para pagamentos de contas, como luz e internet, organização de trilhas e serviços em geral (BRAGANÇA, 2013 apud GODOY & LEUZINGER, 2015). A falta de orçamento público reflete outro problema na gestão das unidades de conservação que é a falta de

58 Unidades de Conservação no Brasil - http://uc.socioambiental.org/sustentabilidade- financeira/sustentabilidade-financeira

132 funcionários, fato que culmina na frágil fiscalização e gestão desses territórios. Os dados dão conta de que, no Brasil, existe um funcionário para aproximadamente 18.600 hectares protegidos. Em 2012, o Relatório de Auditoria Anual de Contas realizado pela Controladoria-Geral da União (CGU) junto ao ICMBio, apontou que no mesmo ano, das 312 unidades de conservação geridas pelo Instituto, em 58 delas havia apenas um servidor, em 62 somente dois (BRASIL, 2012a, p. 7 apud GODOY & LEUZINGER, 2015). A RESEX de Cururupu se enquadra no primeiro caso. Assim, com o déficit orçamentário a partir do poder púbico brasileiro as unidades de conservação contam com o financiamento de colaboradores internacionais. Atualmente, o ARPA é o maior programa conservacionista de florestas tropicais do planeta, cujo principal objetivo é a proteção da Amazônia Brasileira60. O Programa já doou aproximadamente 300 milhões de dólares que contribuíram com a criação, gestão e planejamento das Unidades de Conservação Amazônicas. Além do ARPA, as Unidades de Conservação podem receber fundos provenientes de visitação, fundos públicos como multas e condenação judicial e recursos oriundos de compensação ambiental (GODOY & LEUZINGER, 2015).  Programas Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) O ARPA, lançado em 2002 em três fases independentes e continuas, é o maior programa de conservação das florestas tropicais do mundo e o mais expressivo quanto à conservação das unidades de conservação brasileiras. Foi criado pelo Governo Federal, é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, gerenciado financeiramente pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e financiado com recursos do Global Environment Facility (GEF), através do Banco Mundial, do governo da Alemanha, através do Banco de Desenvolvimento da Alemanha (KfW), da Rede WWF e do Fundo Amazônia, através do BNDES. É um programa reconhecido internacionalmente, atuando no planejamento e gestão de UCs, totalizando cerca de 60 milhões de hectares de florestas. O programa beneficia as unidades de conservação a partir do fornecimento de bens, obras e contratação de serviços para a realização de atividades de integração com as comunidades existentes no entorno, formação de conselhos, criação de planos de manejo, fiscalização e outras ações necessárias para o bom funcionamento das unidades.

60 Unidades de Conservação no Brasil - http://uc.socioambiental.org/programas/arpa

133 As atividades do programa são alinhadas com as principais políticas e estratégias do Governo Brasileiro para a conservação da Amazônia, nas quais estão: Plano Amazônia Sustentável (PAS), Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM), Plano Nacional de Áreas Protegidas (PNAP), Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC). A Reserva Extrativista de Cururupu foi incorporada no programa em novembro de 2011, durante a fase II, com execução prevista para o período de 2010 a 2015. Em agosto de 2015, a chanceler alemã Ângela Merkel, em visita oficial ao Brasil, anunciou a continuidade do programa ARPA, garantindo o investimento de mais R$ 200 milhões de reais, destinados à regularização fundiária e auxílio às UCs participantes do programa61.

3.9. AMBIENTE

3.9.1 Clima O estado do Maranhão apresenta a particularidade de se situar em uma área de transição climática, entre o semi-árido típico do interior nordestino e o equatorial úmido de ocorrência amazônica. É influenciado por dois importantes sistemas de circulação atmosférica, fundamentais para o entendimento de seu clima: a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e as “linhas” de Instabilidade Tropical (IT). A dinâmica climática da região também possui influência da Massa Equatorial do Atlântico Norte (MEAN) e da Massa Equatorial do Atlântico Sul (MEAS).

A Zona de Convergência Intertropical é um dos principais sistemas de circulação atmosférica, formada pela confluência de ventos alísios, caracterizado pela elevada umidade, nebulosidade e sazonalidade. A UC se localiza na Zona de Convergência Intertropical, sendo influenciada pela MEAN e MEAS. A dinâmica pluviométrica da região é determinada pelo deslocamento da ZCIT, logo, é condicionada pela maritimidade local. Quando a ZCIT se desloca para linha do equador, diminuem os índices pluviométricos da região. Assim, nos meses de janeiro a maio verifica-se o aumento das precipitações. Nos meses de julho a outubro, a ZCIT desloca-se para próximo da linha do Equador o que explica os fortes ventos de quadrante sul sobre a RESEX gerando condições adversas no mar e prejudicando as pescarias (Molinari et al., 1986).

61 http://www.ebc.com.br/noticias/2015/08/alemanha-destina-mais-de-r-200-milhoes-para-conservacao- da-amazonia - Acessado em Setembro de 2015.

134 Segundo a classificação do IBGE, o Maranhão apresenta três tipologias diferenciadas de clima: na porção leste, divisa com o Piauí, predomina o semiárido com seis meses secos; na porção central do estado predomina o clima úmido com três meses secos e na porção noroeste/oeste ocorre o clima úmido com apenas um ou dois meses secos (IBGE, 2002). Caracteriza-se pelo clima tropical-equatorial com quatro a cinco meses secos. Especificamente, a UC possui influência da maritimidade que condiciona uma regularidade térmica. A partir dos índices pluviométricos é possível definir dois períodos distintos: verão e outono chuvosos e inverno e primavera com poucas chuvas ou secos. A distribuição das chuvas no estado está diretamente ligada às três tipologias climáticas citadas, conforme se observa na Figura 100 - Precipitação Média anual no estado do Maranhão. Os maiores índices pluviométricos são registrados na franja amazônica, especialmente na região da baixada maranhense. À medida que se avança na direção sul, os índices vão diminuindo até os 700 mm, região central do estado e divisa com o Piauí. A precipitação média anual varia entre 700 e 2.900 mm (EMBRAPA, 2013).

135

Figura 100: Precipitação Média anual no estado do Maranhão De acordo com o trabalho Caracterização Climatológica da Zona Costeira do Maranhão, a região das Reentrâncias Maranhenses apresenta, em sua maior parte, clima úmido com três meses secos (set/out/nov), mas na região entre a Baía de Cumã e a Baía de Turiaçu predomina o clima semiúmido com quatro a cinco meses secos (set/out/nov/dez) (GERCO, 1993). Segundo o Banco de Dados Climáticos do Brasil62, a série histórica de dados climatológicos registrados na Estação Meteorológica de Turiaçu (Turiaçu-A219 - distante 50 km da RESEX) no período entre 1976 e 1990 demonstra:  Pouca variação das temperaturas médias, entre 26 e 27ºC;  Precipitação média anual próxima de 2.200 mm; O município de Cururupu é caracterizado pelo Clima Tropical Úmido de Zona Equatorial, onde se observa uma precipitação moderada em janeiro, ampliada nos meses

62 Embrapa Monitoramento por Satélite - http://www.bdclima.cnpm.embrapa.br/ Acessado em agosto de 2015.

136 subsequentes, tendo seu pico registrado entre março e abril. Este período é chamado regionalmente de inverno. A partir de julho a quantidade de chuvas reduz significativamente, sendo setembro, outubro e novembro os meses de menor incidência pluviométrica. Este período é chamado regionalmente de verão. Para o conhecimento tradicional local, o escalonamento anual não segue as quatro estações típicas dos climas temperados, sendo que o inverno se relaciona com o período chuvoso, enquanto o verão está relacionado com o período de estiagem. Conforme se observa na Figura 101, Cururupu apresenta:  temperaturas elevadas durante o ano todo, em torno de 27ºC (sendo as máximas próximas à 32º e as mínimas à 23ºC);  amplitude térmica máxima de 4°C;  pluviosidade variando entre 1.750 a 2.250 mm/ano e;  umidade relativa do ar em torno de 80%.

Figura 101: Precipitação e temperaturas em Cururupu Fonte: climatempo.com.br – acessado em agosto/2015 A região apresenta ventos classificados como: bafagem; brisas leves e ventos moderados. No período chuvoso (janeiro a junho) predominam os ventos alísios de nordeste. Na estação seca (setembro a novembro) os alísios de sudeste sopram com maior intensidade e velocidade (COSTA, 2004). Entre os meses de setembro a novembro, a navegação é dificuldade diante da intensidade dos ventos.

3.9.2 Meio Físico – Geomorfologia, Geologia e Pedologia Para o entendimento de diversas dinâmicas e características ambientais, fundamentais para a gestão da UC, faz-se necessário uma contextualização regional e local,

137 evidenciando os principais aspectos do meio físico relevantes ao entendimento da dinâmica da RESEX, como por exemplo, a movimentação de bancos de areia, a salinização dos poços de água e a formação das ilhas de Cururupu. Aspectos Regionais O litoral brasileiro apresenta expressiva heterogeneidade em sua formação e morfologia. Pode ser compartimentado em cinco unidades, conforme Figura 102 (SILVEIRAS, 1964; REVIZEE, 2000):  Litoral Amazônico;  Litoral Nordestino de Barreiras;  Litoral Oriental;  Litoral Sudeste ou de Escarpas Cristalinas e;  Litoral Meridional ou Subtropical. O litoral amazônico estende-se a partir do limite norte brasileiro até o Golfão Maranhense, fortemente influenciado pela desembocadura do rio Amazonas. Este segmento costeiro é caracterizado por possuir planícies com até uma centena de quilômetro de largura, consistindo principalmente de terras baixas e frequentemente inundáveis cobertas por sedimentos recentes. Além das terras baixas, ocorrem platôs de sedimentos mais antigos (Formação Barreiras) que, em vários lugares, alcançam o oceano, formando falésias. A plataforma continental é a mais larga do país, chegando até 100 km do delta do Parnaíba e atingindo até 330 km em frente ao golfão amazônico (Kempfet al. 1967; Zembruscki, 1972). É recoberta de sedimentos lamosos oriundos do rio Amazonas, em constante movimento – o que significa um risco à navegação costeira (Ab'Saber, 2000; Silveiras, 1964; REVIZEE, 2000). Possui aproximadamente 1.850 km de extensão e inclui as reentrâncias, dominada por tipos de costa baixa, um golfão de origem complexa e diferentes planícies de maré tropicais fixadas por manguezais (Ab'Saber, 2001).

138

Figura 102: Mapa da compartimentação do litoral do Brasil A região das Reentrâncias e do Salgado Paraense apresenta as peculiaridades de um litoral com variações geomorfológicas dominadas pelo regime de macro-marés, evidenciando acentuada dinâmica erosiva e deposicional. Aziz Ab'Saber denominou a região como “Setor de Rias”, sendo uma costa de rias originada no Holoceno Inferior (10.000 anos AP) e retomada por sedimentos argilosos, nas margens de pequenos estuários e a frente das falésias remanescentes (Formação Barreiras) (Ab'Saber, 2001). Quanto à geologia, a zona costeira do Maranhão é composta por estruturas litoestratigráficas de diferentes idades geológicas, variando desde mais antigos, pré- cambriano (4,5 bilhões de anos AP) até mais recentes, Cenozóico (65 milhões de anos AP) (EL-ROBRINI et al., 2001). O preenchimento sedimentar de toda a costa norte brasileira é representado por formações do grupo Barreiras. Segundo Bezerra (2001), os sedimentos Barreiras se constituem na última rocha sedimentar terciária do Nordeste do

139 Brasil formada na história da abertura do Atlântico, representada pela sequência sedimentar ao longo de mais de 4.000 km do litoral.  Depósitos Sedimentares São formados de sedimentos marinhos e fluvio-marinhos, trabalhados por processos eólicos recentes ou pleistocênicos. Constituídos por areias esbranquiçadas, bem selecionadas, de granulação fina a média, quartzosas, com grãos de quartzo foscos e arredondados. Os depósitos recentes referem-se às dunas móveis e fixas, situadas na zona contígua à linha máxima de preamar. As dunas móveis caracterizam-se pela ausência de vegetação e ocorre mais próximo à linha de praia, onde a ação dos ventos é mais intensa. As dunas fixas ocorrem à retaguarda ou entremeadas com as dunas móveis e apresentam incipiente desenvolvimento de processos pedogenéticos, resultando na fixação de um revestimento vegetal pioneiro, que impede ou atenua a mobilização eólica. Essas formações são constituídas predominantemente por areias finas a muito finas (Santos, 1996 apud EL-ROBRINI et al., 2001). Os depósitos pleistocênicos referem-se às paleodunas e ocorrem numa posição afastada da praia. Caracterizam-se por uma coloração amarelo laranjada, fixadas por uma cobertura vegetal exuberante (EL-ROBRINI et al., 2001).  Formação Barreiras A formação Barreiras é representada por camadas areno-argilosas, não ou pouco litificados, de coloração avermelhada, creme ou amarelada, muitas vezes com aspecto mosqueado, mal selecionados, de granulação variando de fina a média, mostrando horizontes conglomeráticos e níveis lateríticos, sem cota definida, em geral associados à percolação de água subterrânea. A rocha matriz possui argila e caulim e o componente que age como cimento argilo- ferruginoso, é, às vezes, silicoso. A estratificação é geralmente indistinta notando-se, apenas, um discreto paralelismo entre os níveis de constituição dos alinhamentos dos diferentes minerais. Nos níveis conglomeráticos, por vezes observa-se uma incipiente organização em estruturas cruzadas e paralelas, bem como o aumento da granulometria em direção à base (granodecrescência), mostrando alguns seixos imbricados. Esses clásticos normalmente são de quartzo e, mais raramente, de feldspato, blocos de laterito e outros tipos de rocha, com diâmetros variados (Branner 1902 apud EL-ROBRINI et al., 2001). Quanto à pedologia, está associada à formação de latossolos amarelos (EMBRAPA, 1986).

140 Aspectos Locais Em termos geológicos, a região tem como característica principal a formação de uma estrutura geológica sedimentar, constituindo vasta bacia cuja formação está ligada aos avanços e recuos marinhos, combinadas com movimentos de rebaixamento do continente e arqueamentos ocorridos desde o início do Paleozóico ao final do Mesozóico. Durante os movimentos de regressão eram depositados sedimentos marinhos, acumulando-se arenitos, folhelhos e calcário, enquanto que durante os movimentos de transgressões marinhas depositaram-se sedimentos basálticos de origem continental - formações arenosas quaternárias (Holocênicas), ou seja, deposições flúvio- marinhas recentes. Quanto ao relevo, a região pode ser definida como uma planície costeira complexa e dinâmica, formada por sedimentos aluvionares, marinhos e fluviomarinhos, recortada em rias ou reentrâncias e dominada por exuberantes bosques de manguezais (EMBRAPA, 1986). Possui morros de origem sedimentar, com topos aplainados e/ou suavemente convexos, intermeados por planícies intertidais, costeiras e vales pouco escavados. Em alguns setores apresentam dunas de altitude mais elevada do que o entorno, como é o caso de ilha de Lençóis, Mangunça e Caçacueira. A formação dessas dunas se relaciona ao período quaternário recente, sendo que a altitude das dunas é condicionada à disposição de sedimentos e à dinâmica eólica. A formação dos solos está intimamente relacionada à dinâmica das marés e coberto por bosques de manguezais. Por este motivo, são chamados de “solos de mangue” (EMBRAPA, 1986). São solos halomórficos63, pouco desenvolvidos, lamacentos, escuros e com alto teor de sais provenientes da água do mar, formados em ambientes de mangues a partir de sedimentos flúvio-marinhos recentes misturados com detritos orgânicos, de natureza e granulometria variada, referidos ao período Holoceno. Tais sedimentos são decorrentes da deposição pelas águas dos rios quando se encontram com as águas do mar, em condição de baixa energia (águas calmas). Esses solos se diferenciam basicamente em função da maior quantidade de argila, areia, matéria orgânica que possuem em sua composição, mantendo sempre o aspecto lamoso característico. Tais solos possuem grande importância na filtração da água superficial que atinge o lençol freático.

63 Possuem elevado teor salino em sua composição.

141 A seguir são apresentadas as unidades morfológicas regionais que compõe o complexo paisagístico da RESEX e seu entorno. Grosso modo, pode ser dividida em função de sua gênese, entre o Tabuleiro Costeiro e a Planície Litorânea. A representação dessas unidades morfológicas pode ser observada na Figura 103.

142

Figura 103: Mapa dos Aspectos Morfológicos da RESEX

143 a. Planície Flúvio-Marinha As várias reentrâncias que recortam o litoral neste setor são formadas por baías flúvio- estuarinas, o que configura um litoral de “falsas rias”, com vales fluviais afogados. Essas “falsas rias” são caracterizadas por ricas comunidades bióticas, que formam um macrossistema de manguezais, bordejando as baías e os canais flúvio-estuarinos. A Figura 104 ilustra a formação de uma Planície Flúvio-Marinha em Cururupu. A planície flúvio marinha pode ser compartimentada em outras unidades geomorfológicas, como por exemplo, a planície aluvial. A planície aluvial é formada por canais fluviais, diques marginais e planícies de inundação, que são áreas acima do nível médio das águas, acima do nível médio das águas, sujeitas ou não a inundações na época de cheia. b. Planícies Intertidais - Manguezais Os manguezais são encontrados em todo o litoral maranhense, ocupando toda a faixa de terras abrangidas pela foz e as margens de rios, até o limite interno da influência de maré, nas reentrâncias maranhenses. Segundo IBAMA/SEMATUR (1991), a área de manguezais no Maranhão foi avaliada inicialmente em 602.300 ha, incluindo-se os 226.600 ha de mangues ocorrentes no Golfão maranhense. De acordo com Rebelo e Medeiros (1988), as áreas protegidas da ação das ondas, associadas ao clima quente e úmido, constituem excelentes condições para esse ecossistema litorâneo, pois as águas calmas e salobras favorecem o surgimento dos depósitos de sedimentos finos (silte argila). Os manguezais da região são formados por diferentes tipos bióticos e por argilas que se acumularam por milhares de anos frente ao enorme volume de água doce amazônica e formam ecossistemas rasos e lodosos fitogeograficamente diferenciados dos manguezais. As franjas, ou rias constituem os manguezais frontais, chamados de “trombetiformes” por Ab'Saber (2001), segundo o mesmo autor os manguezais da região são divididos em duas tipologias, frontais e internos, sendo que os internos são “mascarados” pelos frontais. c. Dunas A planície costeira representa uma extensão ampla na região e ocorre desde as planícies de maré até os cordões duna-praia dominadas pelos processos oceanográficos. Nesta, estão inseridos os subambientes de planícies arenosas, cheniers, dunas costeiras ativas e inativas, deltas de maré enchente e vazante, e praias-barreira (barrier-beach ridge) (Souza Filho, 1995 apud EL-ROBRINI et al., 2001). Com ambientes de pântano salino

144 (interno e externo), planície de maré (manguezais de supra maré, intermaré e inframaré, planície arenosa com baixios de maré) e cheniers64 (Souza Filho, 1995 apud EL- ROBRINI et al., 2001). Sua gênese está associada a depósitos marinhos praiais, muitos destes movimentados pela ação eólica. A maior presença dessas formações ocorre nas ilhas do norte onde estão as comunidades de Lençóis, Bate Vento e Porto do Meio, ocorrendo também em Mangunça. A Figura 104 representa a formação de planícies costeiras na Ilha dos Lençóis. d. Tabuleiros Costeiros Os tabuleiros costeiros não fazem parte da UC, apenas tangenciam seus limites, uma vez que se refere às áreas de terras firmes do continente. Todavia compõe o ambiente de origem dos rios e córregos que deságuam na RESEX. São representados por formas em platôs de origem sedimentar com entalhamento variável, ora com vales estreitos e encostas abruptas, ora abertas com encostas suaves e com amplas planícies fluviais. Os solos são, de modo geral, profundos e de baixa fertilidade. Segundo Ferreira Jr. (1996 apud EL-ROBRINI et al., 2001), o seu contato com o pacote mais recente (quaternário) é marcada também por uma discordância angular e erosiva, acompanhados ou não por um nível laterítico. Esses sedimentos são caracterizados por conglomerados finos, arenitos conglomeráticos, arenitos com estratificação cruzada acanalada, argilitos com laminação plano-paralela, argilitos maciços e arenitos/argilitos com estruturas wavy e flaser65. Finalmente, o mesmo autor descreve três seqüência sedimentares relacionadas à evolução do Holoceno:

64 São paleocorpos arenosos (cordões praias e duna-praia) repousando sobre depósitos lamosos de manguezais, isolados dos processos costeiros por uma planície lamosa subseqüente, implicando geneticamente que a progradação da planície lamosa foi interrompida pela formação do chenier (Otvos e Price apud Augustinus, 1989, Augustinus, op. cit. apud EL-ROBRINI et al., 2001). Os Cheniers são caracterizadas por meio de linhas de areias ou cristas arenosas separados por sedimentos argilosos ou orgânicos. Tal formação decorre da variação do nível do mar que ocorreu na região. Os Cheniers são semelhantes aos cordões litorâneos. Porém, o desenvolvimento do cheniers ocorre em áreas do litoral abastecidas com altas taxas de lama e submetido a fases erosivas associadas a fortes tempestades. O material dos cheniers são areais, cascalhos e fragmentos de conchas.

65 Wavy e flaser: Estruturas de laminação dos arenitos que possuem lentes de lama (pelitos), ou seja, caracterizados como ritmitos. A diferença está na continuidade da camada arenosa. A estrutura flaser apresenta camadas lamosas descontínuas. Já a estrutura wavy apresenta camadas contínuas de lama e areia, caracterizada como uma transição entre a estrutura flaser e a lenticular, onde predomina a descontinuidade das camadas de areia.

145 Holoceno Inferior: representados por fácies de arenitos a argilitos maciços, arenitos e argilitos com estruturas wavy, flaser e lense, argililitos maciços, argilitos com laminação plano-paralela e arenitos maciços; Holoceno Intermediário: grande extensão é caracterizada por conglomerados, arenitos conglomerados, arenitos maciços e argilitos com laminação plano-paralela. Holoceno Superior: representado por sedimentos inconsolidados fluviais, transicionais, dunários e costeiros.

Figura 104: Planície Costeira observada em em Lençóis

Figura 105: Planície Intertidal (apicum) em Figura 106: Dunas em Lençóis Iguará

146

Figura 107: Dunas em Mangunça Figura 108: Planície aluvial, próx. à Serrano do Maranhão 3.9.3 Hidrografia, Hidrologia e Regime de Marés Segundo a Agência Nacional de Águas – ANA, o território maranhense é formado por três Regiões Hidrográficas: Atlântico Nordeste Ocidental, na porção central do estado, Parnaíba a leste e Tocantins-Araguaia a oeste.

Conforme se observa na Figura 109, a Região Hidrográfica do Atlântico Nordeste Ocidental ocupa a maior parte do estado, drenando em direção ao Golfão Maranhense ou diretamente para o oceano. Inclui a Ilha de São Luiz (onde se encontra a capital São Luís) e as bacias dos rios Maracaçumé, Turiaçu, Pindaré, Grajaú, Mearim, Periá, Preguiças e Munim (EMBRAPA, 2013). A região onde se encontra a RESEX é chamada de Litoral Ocidental.

147

Figura 109: Bacias Hidrográficas do Maranhão Em uma escala mais próxima da RESEX, observam-se as subbacias que forma o litoral de rias de Cururupu, sendo que os principais rios da região são: Uru, Cururupu, Liconde, Cabelo de Velha, Santo Antonio, Anajuba, Macuripanã (chamado de canal da Barreira) e Iperara. Ressalta-se que os rios do entorno da RESEX são todos permanentes. No interior da RESEX não existem rios de água doce, uma vez que todo seu território está sobre a influência marinha. Assim, a UC é formada por baías, canais, furos e cabeceiras66, cuja salinidade pode variar em função da proximidade com o continente e horário da maré. A Figura 110 ilustra a disposição das subbacias em relação à UC.

66 Locais onde findam os cursos d’água e enchem somente na preamar, fundamentais para a alimentação, desenvolvimento e reprodução de muitas espécies.

148

Figura 110: Subbacias da região da RESEX

149 a. Hidrologia

Os dados hidrológicos disponíveis para a região referem-se aos municípios de Turiaçu e São Luis (distantes, respectivamente, 50 e 100 km da RESEX), o que oferece condições para uma análise regional. Por extrapolação é possível inferir de que o balanço hídrico na área de estudo está submetido à dinâmica semelhante e, portanto, segue o padrão de quantificação das chuvas nos meses mais ou menos chuvosos. Como se pode observar nas Figuras 111 e 112, o balanço hídrico está diretamente relacionado com a precipitação, sendo a precipitação e o acúmulo hídrico predominante nos meses de inverno (de fevereiro a abril), tendendo à queda contínua a partir do mês de maio. Notam-se pequenas diferenças entre os municípios, onde março é o mês mais chuvoso em Turiaçu e abril em São Luís. A evapotranspiração potencial e a evapotranspiração real seguem um mesmo padrão em ambos os municípios. As retiradas e reposições também são bastante semelhantes, ressaltando pequenas diferenças, como a reposição hídrica em Turiaçu, que ocorre em janeiro e fevereiro, enquanto em São Luis ocorre somente em janeiro. Com relação à deficiência e excedente hídrico, há diferenças insignificantes entre as áreas, cuja variação fica próxima a 100 mm/ano.

150

Figura 111: Série histórica pluviométrica

DADOS HIDROLÓGICOS - TURIAÇU DADOS HIDROLÓGICOS – SÃO LUIS Período 1976-1990 Período 1971 - 1990

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Figura 112: Dados Hidrológicos Regionais Fonte: EMBRAPA, 1986 (Banco de dados climáticos do Brasil) b. Macromarés

De acordo com Tessler & Goya (2005), a amplitude das marés67 é um elemento modelador da linha de costa, em função das velocidades de correntes a ela associadas. Essas correntes de marés são significativas no transporte sedimentar costeiro especialmente onde a variação é expressiva, como na costa norte brasileira. A partir do golfão maranhense até o limite norte brasileiro predomina o regime de macro marés, onde a variação diária do nível do mar pode ser superior a 7 metros. Tal condição modifica e modela toda a linha de costa e a plataforma continental interna, sendo um dos principais elementos que configuram o formato de rias ao litoral. Ao largo da costa das reentrâncias entre a Baía de Cumã e a Baía de Lençóis, a corrente corre WSW-SW perpendicular à costa, durante a enchente e N-NE, na direção recíproca, durante a vazante. Há uma corrente residual para noroeste correspondente à Corrente da Costa Norte Brasileira. Mais ao norte, na altura do Farol de São João, a corrente geralmente flui para NW, mas vira-se para oeste, entrando na Baía de Turiaçu durante a enchente (MARANHÃO, 2003). A análise das tabelas das estações maregráficas brasileiras permitiu observar que as médias das preamares de sizígia (MHWS) e as médias das preamares de quadratura

67 Diferença de nível entre a maré alta (preamar) e a maré baixa (baixa mar).

152 (MHWN) diminuem do litoral noroeste, respectivamente de 6,12 m e 4,79 m na Baía de Mutuoca e 6,65 m e 5,24 m em Turiaçu (FEMAR, 1997). c. Água Preta da Amazônia

Na região onde se encontra a RESEX ocorre, sazonalmente, um fenômeno popularmente conhecido por Água Preta da Amazônia, segundo relatos dos pescadores locais. Essa água tem sua origem nas chuvas que precipitam na bacia do Amazonas e são trazidas pelos rios que deságuam no litoral norte do Maranhão e pelas correntes costeiras. Assim, as condições para atuação desse fenômeno se relacionam à intensidade das correntes de maré e à orientação dos ventos. A cor escura das águas é devido à presença de material orgânico solúvel de coloração marrom ou avermelhada (ácidos húmicos e fúlvicos) produzido pela decomposição da floresta ao ser inundada parte do ano (Sioli, 1965). São águas levemente ácidas e de baixa condutividade elétrica, o que reflete a pobreza em elementos alcalinos e alcalino-terrosos e nutrientes como fósforo livre, nitrito e nitrato (Lopes, 1992). Em geral, as águas pretas têm mais ferro e alumínio em comparação com as águas convencionais; dentre os álcalis, apesar de Sódio, Potássio e Cálcio (Na, K e Ca) terem grande variação de teores, os dois primeiros são normalmente mais elevados, já a concentração de Magnésio (Mg) é mais baixa. A grande descarga de sedimentos, matéria orgânica e nutriente carreados pelos rios, manguezais e sistemas vascularizados de drenagem a partir das áreas inundadas da enorme bacia amazônica determina níveis elevados de produtividade biológica para toda a macrorregião (Dittmar, 1999; Peterson e Stramma, 1991; Schwassmannmet al., 1989; Silveira et al, 2000; Stramma, 1991). O compartimento de Rias retomadas por Manguezais que compreende todo o Salgado Paraense e Reentrâncias Maranhenses é especialmente beneficiado por essa abundância de matéria orgânica e nutriente. (Riley, 1942; Dugdale, 1967; Paiva, 2001). Tal aporte de energia nova de regime sazonal é somado aos processos de produção regenerada (Dugdale e Goering, 1977; Eppley e Petersen, 1979) que igualmente disponibiliza nutrientes para assimilação dos produtores primários. Os elevados rendimentos observados na produção pesqueira da região tem íntima associação com as taxas de precipitação na Costa Norte do Brasil (Molinariet et al., 1986; Góes, 2001; Geyer, 1996). Tendo em vista que a Figura 113 representa as condições na época de chuvas ou “cheia”, que ocorre de dezembro a maio (quadro superior), com maior aporte de águas

153 doces e descarga de sedimentos sobre a plataforma adjacente; ao passo que a época seca ou “vazante” (quadro inferior) ocorre de junho a novembro quando a salinidade próxima a costa é maior e Corrente do Brasil se faz presente com maior intensidade.

Figura 113: Aspectos físicos e oceanográficos da Região Norte brasileira Fonte: Oliveira et al., 2007.

A Figura 114 retrata as principais feições batimétricas e hidrográficas nos períodos de chuva (inverno ou enchente, quadro superior) e de seca (vazante ou verão, quadro inferior) do litoral norte do Brasil. As setas indicam as correntes, ou seja, corrente Equatorial Sul e corrente Norte do Brasil, a área em laranja indica a área de deságue continental, já a linha pontilhada representa a isohalina de salinidade 35.

154 Pode-se observar a haloclina68 se projetando no sentido NE-SW, obedecendo à descarga originada pelo cone amazônico, somada às águas drenadas dos baixos inundados e tomados por manguezais, acarretando o fenômeno da água preta.

3.9.4 Meio Biótico – Flora O capítulo apresenta o diagnóstico dos grupos de animais e vegetais que habitam ou utilizam a área da RESEX, desde o nível de classe até o indivíduo, com informações sobre as interações ecológicas, ameaças e status de conservação. Conforme descrito anteriormente, os dados sobre o meio biótico foram obtidos por diferentes metodologias, sendo:

 Análise de bibliografia por meio de trabalhos que discutem, principalmente, os ecossistemas do litoral amazônico, como SHAEFFER, 2001; REBELO-MOCHEL, 1999;  Inventários, listagens e bases de dados eletrônicas de instituições especializadas, tais como IUCN, TNC, CEMAVE e CI-Brasil;  Observações e registros produzidos pela equipe técnica;  Informações primárias obtidas em campo através de metodologias de participação social, tais como questionários, entrevistas semi-estruturadas, dinâmicas de grupo e cartografia social. O trabalho foi realizado em 2 campanhas: a primeira em fevereiro e a segunda em julho de 2015. A formação vegetal da RESEX é caracterizada basicamente por manguezais - constituindo as mais extensas e principais formações, além de restingas e formações florestais secundárias de terras firmes. O bioma69 é considerado como marinho- costeiro70, com forte influência das formações amazônicas. Conforme mencionado, se insere na Amazônia Legal. Próximo às comunidades (chamadas localmente de “praias”) predominam espécies arbóreas nativas e exóticas (oriundas de outros países/ não naturais do Brasil). Entre as espécies exóticas frutíferas, a mangueira (Mangifera sp.) destaca-se pela forte presença, sendo, inclusive, importante para alimentação da avifauna local. Entre as palmeiras

68 Local com forte gradiente de salinidade indicado pela junção de isolinha de mesma salinidade identificada no mapa através de traço pontilhado

69 Definido pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, resultando em uma diversidade biológica própria (IBGE, 2004). 70 Informação extraída do ICMBio http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de- conservacao/biomas-brasileiros/marinho/unidades-de-conservacao-marinho/2288-resex-de-cururupu.html

155 exóticas, o coqueiro (Cocos nucifera) também se sobressai pela expressiva predominância, sendo considerado como espécie naturalizada71 no Brasil. Algumas espécies exóticas, tanto vegetais como animais, eventualmente, podem ser consideradas como uma ameaça para a biodiversidade local, já que competem por recursos e muitas vezes eliminam as espécies nativas. Quando a espécie apresenta tal comportamento é chamada de exótica invasora e atualmente constitui uma das principais ameaças à biodiversidade. Entretanto, nem todos os organismos apresentam este perfil, no caso de organismos vegetais, as espécies podem se adaptar a um novo ambiente, criar condições de manutenção e reprodução e não competir de forma agressiva com as espécies locais. Quando ocorre a adaptação da espécie, essa passa a ocupar um novo hábitat em harmonia com as espécies locais, sendo, então, classificada como naturalizada ou subespontânea. Já as espécies que foram intencionalmente introduzidas para fins de subsistência ou comercial e se estabeleceram sem induzir uma competição com a flora local são chamadas de cultivadas. Aparentemente as espécies arbóreas exóticas identificadas na RESEX não exercem o papel de invasoras, vivendo em equilíbrio com as espécies locais. Muitas delas, como a mangueira, a acerola (Malpighia glabra) e o coqueiro são comuns em outras regiões do Brasil. Contudo, apenas um estudo detalhado pode afirmar se existe algum tipo de impacto causado por esta flora exótica. A Tabela 30 abaixo apresenta as espécies exóticas identificadas e/ou relatadas pela população local, assim como o perfil de comportamento no ambiente.

71 Espécie naturalizada: espécie exótica altamente adaptada à outra região, porém não compete com as espécies nativas.

156 Tabela 13: Espécies arbóreas exóticas

Nome científico Nome popular Origem/Perfil Fonte Terminalia catappa Amendoeira Naturalizada Sanches, 2009 Mangifera sp. Mangueira Cultivada/Naturalizada Parrotta, 1993 Coco nucifera Coqueiro Naturalizada Araújo et al, 2009; Vanda, 2012 Syzygium cumini Azeitoneira Exótica com baixo Assis, 2012; Santos, potencial invasor 2014

Phyllanthus acidus Groselha-branca Exótica72 tropicos.org Annona sp. Ata Exótica/Cultivada Cordeiro et al., 2000; Brito, 2010 Tamarindus indica Tamarindo Cultivada Flora do Brasil73 Malpighia glabra Acerola Naturalizada Barboza, et al, 1996 Annona muricata Graviola Cultivada Barata et al., 2009; Santos et al., 2014 Haematoxylum Campeche Cultivada Dejean et al, 1995 campechianum Citrus limon Limoeiro Cultivada Jardim Botânico Utad74 Carica papaya Mamoeiro (mamão) Naturalizada Flora do Brasil 75 Cittrulus lanatus Melancia Cultivada Stipp, 2009 Zea mays Milho Cultivada Flora do Brasil 76

A lista contendo as espécies vegetais diagnosticadas para a RESEX está disponível no Apêndice I. a. Aspectos da Vegetação - Fitofisionomias A seguir são descritas as principais feições vegetais encontradas na RESEX e no seu entorno, assim como as espécies características de cada formação e seus principais usos. O mapa com as fitofisionomias da RESEX pode ser observado na Figura 114.

72 A bibliografia consultada não trouxe dados sobre o seu comportamento no meio. 73 Lista de espécies da Flora do Brasil: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/listaBrasil/PrincipalUC/PrincipalUC.do 74 Jardim Botanico Utad: http://jb.utad.pt/especie/citrus_limon 75 Lista de espécies da Flora do Brasil: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/listaBrasil/PrincipalUC/PrincipalUC.do 76 Lista de espécies da Flora do Brasil: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/listaBrasil/PrincipalUC/PrincipalUC.do

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Figura 114: Mapa apresenta a fito fisionomia da RESEX

158  Manguezais O litoral maranhense abriga cerca de 50% dos ecossistemas manguezais de toda a Amazônia. São conhecidos pelo alto grau de desenvolvimento devido à baixa interferência antrópica, embora se observe algum impacto nos polos turísticos e próximo às sedes municipais (MOCHEL, 2011). De acordo com a base de dados georreferenciada da UC, a cobertura de manguezais da RESEX é de, aproximadamente, 56 mil hectares. Os manguezais se encontram nas margens em áreas litorâneas abrigadas, com extensas planícies lamosas - imersas na preamar. Por trás da faixa de manguezais em direção à terra firme é possível identificar marismas hipersalinos, apicuns (SCHMIDT et al., 2013), brejos de água doce e florestas de várzea (MOCHEL, 2011). Em linhas gerais, o litoral do Maranhão é formado por florestas de mangue com até 30 metros de altura, dominados pelo mangue-vermelho (Rhizophora sp.) e mangue-preto (A. germinans). Em áreas alagadas o mangue-preto pode formar florestas anãs com aproximadamente 2,5m de altura (MENEZES et al., 2008). O ecossistema apresenta baixa diversidade vegetal, caracterizado pela presença de espécies halófilas77 e alta produção de matéria orgânica, garantindo alimento e proteção às espécies marinhas e estuarinas (MAIA et al., 2006). A vegetação do mangue também possui outras características particulares que possibilitam a sobrevivência em terrenos lamosos e salinos, dentre as quais se destacam: - raízes aéreas; - dispersão de propágulos (sementes) pela maré; - copa com rápido crescimento; - alta retenção de nutrientes e de água; - eficiência no balanço de carbono. No Brasil os gêneros arbóreos mais comuns são Rhizophora (Rhizophora mangle; Rhizophora racemosa), Avicennia, Laguncularia, Conocarpus e por vezes Hibiscus e Spartina, estes últimos como espécies arbustivas (MAIA et al., 2006). Na RESEX os três primeiros gêneros, caracterizados como arbóreos, ocorrem em formações poli e mono-específicas. O gênero Rhizophora geralmente ocupa as áreas de franja, ficando em maior contato com as marés e exercendo importante função ecológica, em decorrência da formação de galerias utilizadas por espécies de animais, como o

77 Adaptadas à condições de elevada salinidade.

159 caranguejo-uça (LIMA, 2010). Os gêneros Conocarpus e Hibiscus são comuns em terrenos mais secos, na faixa de transição com as restingas. As principais características dessas espécies estão descritas abaixo:

 Mangue-vermelho ou mangue-verdadeiro (Rhizophora sp.) - Raízes aéreas que partem do tronco em formato de arco; alcança até 20 metros; habita a área de baixa e média salinidade na zona estuarina; possui folhas durante o ano todo (MENEZES et al., 2008); as folhas são arredondadas e podem apresentar aspecto desgastado (MAIA et al., 2006); a liberação do propágulo é mais frequente na época de chuva e leva 8 meses entre a polinização e a maturação (MENEZES et al., 2008).  Siriba, Mangue-preto (Avicennia germinans, A. schaueriana) – Ocorre na porção baixa do estuário e no perfil intermaré na posição média a alta; alcança uma altura média de até 11 metros, suas folhas são de coloração verde-clara com formato pontiagudo; raízes subaéreas dotadas de pneumatóforos78 (MAIA et al. 2006). As flores são restritas a estação seca enquanto os frutos nascem na estação chuvosa (MENEZES et al. 2008).  Tinteira, Mangue-branco (Laguncularia racemosa) – Alcança até 12 metros de altura, suas folhas apresentam formato oval com pecíolo79 e nervura central de tom avermelhado, ocorre na porção baixa e média dos estuários e se apresenta como árvore ou arbusto (MAIA et al., 2006). Suas folhas apresentam crescimento o ano todo, os frutos se desenvolvem rapidamente e aparecem durante a estação chuvosa (MENEZES et al., 2008).  Mangue-de-botão (Conocarpus erectus) – Espécie arbóreo-arbustiva robusta mede aproximadamente 10 metros de altura, seu tronco possui formato em “V” também ocorre em terrenos arenosos (MAIA et al., 2006). Além das espécies descritas, o manguezal do Maranhão também apresenta outras tipologias associadas, como os arbustos e trepadeiras do gênero Muerella e Rhabdadenia e a samambaia do mangue - Acrostichum sp. Apesar da grande importância ecológica e proteção legal, os manguezais sofrem pressões diversas, como desmatamentos, aterramentos e o lançamento de efluentes e rejeitos.

78 Extensão aérea da raiz 79 Pecíolo - Parte da folha que a prende ao caule da planta

160 No litoral maranhense a madeira do mangue é bastante utilizada na construção de apetrechos de pesca e moradias, além de fonte de energia e fins farmacêuticos. Em função de sua abundância, a madeira do mangue-vermelho é a mais utilizada, todavia, a madeira do gênero Avicennia é a mais adequada e valorizada para a construção (ALMEIDA, 1996). As Figuras 115 a 119 apresentam os mangues da RESEX.

Figura 115: Folhas de Rhizophora sp. Figura 116: Mangue-de-botão

Figura 117: Sítio de pouso e forrageio das Figura 118: Mangue-vermelho aves

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Figura 119: Mangue Preto ou Siriba  Apicuns e Marismas Os apicuns são uma fisionomia graminóide-herbácea típica de áreas úmidas tropicais, cuja ocorrência está associada aos manguezais. A cobertura vegetal, quando existente, é formada por espécies de pequeno porte adaptadas à hipersalinidade – uma vez que os apicuns ficam imersos na preamar (NASCIMENTO, 1993 apud SCHAEFFER- NOVELLI, 2001). Parte dos moradores da RESEX reconhece tal vegetação pelo nome de “pirrichi”, sendo espécies carnosas encontradas em grande parte da extensão deste ambiente. Ocorre nas áreas interiores dos manguezais, sendo considerado como um importante reservatório nutricional, uma vez que acumulam os nutrientes produzidos pela biota e que são carregados para o mangue pela chuva e/ou marés (NASCIMENTO, 1993 apud SCHAEFFER-NOVELLI). Da mesma forma, se mostram importantes como locais para o forrageio de aves, caranguejos e siris. Pode ser considerada também uma área de transição entre o manguezal e as formações de terras firmes e/ou fora da influência das marés. Em certos locais a vegetação apresenta-se arbustiva, recebendo a denominação de “tezos”. (IBGE, 1962 apud SUDENE, 1977).

162 Por suas características o apicum é considerado uma “salina natural”, sendo comum se observar a interferência antrópica no ambiente com o objetivo de explorar economicamente a substância. Já as marismas são fisionomias também associadas à influência das marés, formadas por vegetação típica - herbácea perenifólia80 e adaptada ao ambiente salino. Assim como os manguezais, as marismas encontram-se associadas às margens de baías, enseadas, desembocaduras de rios, lagunas e reentrâncias costeiras, no contato da água doce com a do mar. São considerados sistemas estáveis, devido a sua alta resiliência e resistência (COSTA & DAVY, 1992 apud SCHAEFFER-NOVELLI, 2001). Algumas espécies são bem características, como a Spartina, que possui significativa importância para a fauna, especialmente, para o peixe-boi marinho e tartarugas-marinha, que se alimentam da vegetação encontrada nas marismas (PANITZ, 1992 apud SCHAEFFER-NOVELLI 2001). A Figura 120 apresenta uma das áreas com a formação de marisma na RESEX.

Figura 120: Marisma utilizada por colhereiros e garças, próxima à Retiro.

 Restingas e formações pioneiras O termo restinga refere-se tanto às planícies costeiras formadas a partir do transporte e deposição de sedimentos pela dinâmica marinha quanto a fitofisionomia associada a esse ambiente. Enquanto fitofisionomia é caracterizada pela presença de árvores de porte médio e baixo associada à vegetação arbustiva. Apresenta adaptações à alta salinidade, aos fortes

80 Perenifólia – espécies que mantém as folhas durante o ano todo; folhas duradouras.

163 ventos e à escassez de nutrientes (LAMEGO, 1940; SUGUIO & TESSLER, 1985; SILVA, 1990 apud SAMPAIO, 2002; CARVALHO et al., 2000). No Maranhão constituem uma significativa formação vegetal na qual é comum encontrar espécies, tais como as citadas na Tabela 14, adaptado de Mochel (2011). Tabela 14: Principais espécies encontradas no litoral maranhense

Espécie Característica Anacardium occidentale – Cajueiro Arbórea Chrysobalanus icaco – Guajuru Arbustiva ou arbórea Axonopus spp Herbácea Gymmopogon sp – Capim mimoso Herbácea Panicum spp - Capim Herbácea Sporobolus virginicus Herbácea Clusia grandiflora Herbácea

Dalbergia ecastophyllum Arbustiva

Byrsonima crassifolia - Muricizeiro Arbórea

Ipomoea pes caprea – Salsa-da-praia Arbustiva

Panicum sp. Capim-do-mangue Herbácea Bacopa monnieri - Bacopa Herbácea Canavalia rosea Herbácea Byrsonima sp. – Murici-de-pomba Arbórea

As restingas81 exercem importantes funções ecológicas, tais como estabilização de dunas, filtragem da água da chuva, manutenção de água doce nos aquíferos e habitat para muitas espécies de animais. Entre as primeiras espécies herbáceas a se desenvolverem em ambiente dunar podemos citar: a jurubeba (Solanum paniculatum), a jurubeba-roxa (Solanum paludosum), o capim-colchão (Digitaria horizontalis), o capim-gengibre (Paspalum maritimum) e o carrapicho (Rhynchelytrum repens) (CARVALHO et al., 2000). Outras espécies importantes na estabilização das dunas e utilizadas inclusive em trabalhos de

81 Ressalta-se que as restingas são definidas como Áreas de Preservação Permanente – APP segundo Código Florestal brasileiro81. Na RESEX, o Acordo de Gestão reforça a importância e as restrições sobre a retirada de madeira deste ambiente.

164 recuperação destes ambientes são: o feijão-oró (Phaseolus panduratus), o capim-serra (Cyperus ligularis), a erva-de-Santa-Luzia (Euphorbia brasiliensis), o murici (Byrsonima crassifolia), o muriri ou curiri ou guriri (Mouriri guianensis), a angélica-do- mato (Guettarda angélica) e o cajueiro (Annacardium occidentale), sendo as quatro últimas espécies arbóreas (SANTOS et al., 1987; SILVA et al., 2006). Muitas dessas espécies são comuns no interior da RESEX, além de outras não citadas pelos autores, mas observadas durante as atividades de campo, tais como o guajeruzeiro, a vassourinha (vassoura-branca) e a salsa-da-praia. A salsa-da-praia (Ipomoea pes capreae) é uma espécie nativa típica da faixa de transição com a praia, sendo muito importante na fixação de dunas devido à presença de raízes que adentram o solo em grandes profundidades. Possui alta resistência a perturbações ambientais (SANTOS et al., 2011). Devido as suas características ecológicas, esta espécie apresenta um grande potencial para utilização em projetos de recomposição da vegetação de dunas (GOMES-NETO et al., 2004). Estudos mostram a eficiência da espécie na recuperação ambiental, conforme dados obtidos por: CORAL, (2009), onde a I. pes capreae foi utilizada na recuperação de restingas e dunas junto com outras espécies, sendo posteriormente encontrada em áreas não introduzidas; e por SCUSSEL (2012), em um projeto de recuperação de dunas em Santa Catarina, onde houve o envolvimento da comunidade para o desenvolvimento do trabalho. Estes e outros estudos podem auxiliar no desenvolvimento de projetos semelhantes na RESEX, com o objetivo de recuperar áreas que vem sofrendo com o deslocamento e soterramento das dunas. As maiores extensões de restingas encontram-se no interior das Ilhas de Mangunça, Caçacueira, Gujerutiua, Valha-me-Deus, Aracajá, Urumaru, Bate Vento, Porto do Meio, Retiro e Lençóis sendo notável sua presença, em menores proporções, nas proximidades de todas as demais comunidades da RESEX. As Figuras 121 a 126 apresentam algumas espécies comuns nas restingas da RESEX.

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Figura 121: Vegetação psamófila (adaptadas á Figura 122: Ipomoea sp., auxilia na fixação solos arenosos típicos de restinga) das dunas.

Figura 123: Cajueiro (Anacardium sp.) e o Figura 124: Mapirunga (Eugenia tinctoria) tucum (Astrocaryum sp.), em Mangunça

Figura 125: Vegetação pioneira (pichirri) Figura 126: Restinga em Caçacueira  Vegetação Secundária de Floresta Ombrófila Apesar da predominância da flora típica de restinga e manguezal, no entorno e dentro dos limites da RESEX é possível observar algumas variações de vegetação secundária82, conforme o mapa de Fisionomias Vegetais da RESEX. Para a definição dessas

82 Vegetação secundária: É aquela que cresceu após intervenção antrópica, retomando as características do ecossistema

166 formações vegetais utilizou-se o Manual da Vegetação Brasileira do IBGE, cujas características estão descritas a seguir: Floresta Ombrófila Densa Aluvial – Conhecida como “mata ciliar” ou formação ribeirinha, ocorrendo ao longo de cursos d’água. A vegetação é constituída principalmente por espécies de crescimento rápido, com a casca lisa, caule em formato de cone e raízes achatadas. Geralmente apresentam dossel emergente uniforme, composto por palmeiras, lianas lenhosas, herbáceas e epífitas (IBGE, 2012). Floresta Ombrófila de Terras Baixas com Palmeiras – Presente nas Planícies Costeiras em toda a Região Nordeste. Os gêneros mais encontrados nessa formação são: Ficus, Alchornea, Handroanthus, Tapirira (IBGE, 2012). No entorno da Reserva é comum a ocorrência do Babaçu (Orbygnya martiana), espécie de palmeira muito apreciada pela fauna, especialmente primatas e aves. A espécie apresenta utilidades alimentícias, medicinais e artesanais e representa extensas formações nos estados do Maranhão, Piauí e Tocantins (PAVLAK, 2007). Mata de Cocais – formada pela dominância da família Aracaceae, fortemente presente no Estado do Maranhão em zonas de transição entre o Bioma Amazônico e a Caatinga. É caracterizada por aspecto florestal fechado com alta densidade de Palmeiras, vegetação arbustiva e subarbustiva abundante e extrato herbáceo escasso (IBGE, 2012). A mata dos cocais apresenta elevada abundância de Arecaceae, principalmente babaçu (Orbygnia sp.), no extrato superior; vegetação arbustiva e subarbustiva abundante e extrato herbáceo escasso (CARVALHO, 2010). A vegetação caracterizada pela presença de Palmeiras também está associada às atividades agropecuárias rústicas. De forma geral, a Floresta Ombrófila densa do estado do Maranhão está presente nas áreas dissecadas e montanhosas, possui espécimes com mais de 50 m de altura, a submata é caracterizada por palmeiras de pequeno porte e grande quantidade de lianas. As famílias Leguminosae, Anonaceae e Apocinaceae destacam-se quanto à ocorrência no litoral (COURA, 1998 apud Disconzi, 2009). Ao percorrer o entorno da RESEX (caminho entre o Município de Cururupu e Apicum- açu) é possível observar uma paisagem caracterizada pela presença da Vegetação Secundária de Floresta Ombrófila. A formação apresenta parcelas compostas pela forte presença de palmeiras (Mata dos Cocais), onde é possível observar a alta ocorrência do babaçu (Orbygnia sp.) e buriti (Mauritiella sp.), conforme Figuras 127, 128 e 129.

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Figura 127: Presenca de babaçu no entorno da Figura 128: Vegetação caracterizada pela RESEX. família Aracaceae (Palmeiras).

Figura 129: Presença de Buriti junto às áreas úmidas

Ao longo do percurso para a RESEX a vegetação apresenta diferentes fisionomias: parcelas de dossel fechado (Figura 131); parcelas com dossel menos denso; parcelas compostas apenas por vegetação arbustiva e parcelas com vegetação aquática flutuante ou semi-aquática (brejos) (Figura 130). Observa-se larga ocorrência das famílias Aracaceae, Myrtaceae e Leguminosae. Como espécies nativas de ocorrência em Vegetação de Floresta Ombrófila, segundo observações de campo e relatos de moradores, na ilha de Taboa e Mangunça ocorrem: embaúba (Cecropia sp.), angelim (Hymenolobium petraeum), maçaranduba (Manilkara huberi), anani (Symphonia globulifera), faveira (Parkia spp.), chichá (Sterculia chicha), palmeira tucumã (Astrocaryum sp.), pião-roxo (Jatropha gossypiifolia). Em Mirinzal, durante as observações de campo, também foi observado, em áreas mais características

168 de terra firme, o curire83, mirinzeiro (Humiria balsamifera), jacaretinga, goiabeira (Psidium guajava) e mangueira (Mangifera sp.84). Já outras espécies, como as frutíferas ocorrem de forma mais distribuída pelas praias da RESEX. A ilha das Moças também é caracterizada pela presença de vegetação de terra firme. É importante destacar que para validação das informações acima, bem como o conhecimento aprofundado da fitofisionomia e espécies vegetais da RESEX, especialmente as não pertencentes ao ecossistema de manguezal, é necessário um estudo detalhado sobre a flora e o desenvolvimento de um inventário arbóreo do local.

Figura 130: Presença de palmeiras e Figura 131: Vegetação observada entre o vegetação aquática no entorno da RESEX município de Apicum-açu e a UC. (trecho percorrido em Apicum-açu).  Cactáceas - grupo ameaçado e a importância da conservação Em função dos solos arenosos, das elevadas temperaturas e da deficiência em nutrientes, a RESEX torna-se um ambiente favorável ao desenvolvimento de cactáceas. A família das Cactáceas é nativa das Américas, apesar de hoje ser encontrada em outros continentes devido à introdução pelo homem ou pela dispersão de sementes através das aves migratórias. O Brasil é considerado como uma das quatro regiões com maior diversidade de cactáceas do mundo, destacando-se, sobretudo o sudeste e o nordeste (CAVALCANTE et al., 2013). A porção nordeste do território brasileiro abriga noventa espécies de cactáceas, sendo que 34 são endêmicas. No litoral do Maranhão os gêneros mais comuns são Cereus, Pereskia, Pilosocereus e Rhipsalis (CASTRO et al.,2014). A presença de cactáceas é importante devido o seu papel na cadeia alimentar da fauna e para a sucessão de outros representantes da flora. As cactáceas fornecem alimento para insetos, aves e mamíferos, especialmente na época das secas, além de serem utilizadas

83A identificação da espécie necessita de estudos mais aprofundados, a ser realizado por botânico. Inclusive para conhecimento da origem (nativa ou exótica) 84 Espécie exótica naturalizada

169 como abrigo para diversos animais. São polinizadas especialmente por morcegos e mariposas. Seus frutos são apreciados por aves e morcegos, sendo que esta interação é essencial para a dispersão das sementes e, consequentemente, para a manutenção desta flora. Outra importante função ecológica das cactáceas é a manutenção do solo sobre rochas, permitindo que outras plantas se estabeleçam no local (CAVALCANTE et al., 2013; ICMBio, 2010). Apesar da grande diversidade e importância no país, as cactáceas são consideradas como um grupo ameaçado, sendo que as principais ameaças, a nível nacional, são: a destruição de habitats para mudança no uso e ocupação da terra; extração desordenada de espécimes e sementes – muitas vezes direcionados ao comércio ilegal (CAVALCANTE et al., 2013). Ambas as situações caracterizam-se como um problema grave para este grupo vegetal, visto que as espécies apresentam ciclo reprodutivo lento (CAVALCANTE et al., 2013). A lista atual das espécies da flora ameaçadas de extinção apresenta 22 gêneros de cactáceas classificados entre “vulnerável” e “criticamente em perigo” (Portaria MMA 443/2014), dos quais três são encontrados no litoral maranhense. Como estratégia de conservação para este grupo botânico, o ICMBio instituiu, em 2010, o Plano de Ação Nacional para Conservação das Cactáceas85. O Plano tem duração inicial de cinco anos, depois deste prazo deverão ser revisadas suas metas e a viabilidade de continuação (ICMBio 2010), onde se observa uma possibilidade de incluir a RESEX nos estudos e metas. Em linhas gerais, o PAN Cactáceas estabelece duas grandes metas: “Ampliação do conhecimento sobre as espécies de Cactáceas” e “Divulgação e proteção de áreas de ocorrência de cactáceas ameaçadas”. Essas metas incluem diversas ações estratégicas com o objetivo de entender a dinâmica das espécies em território nacional e proteger as áreas de ocorrência. Dentre as ações previstas no PAN, caberia para a RESEX o desenvolvimento de cinco delas, contempladas na Meta 1 (Ampliação do Conhecimento sobre as espécies de Cactáceas):  Ação 286 – Elaborar documento (mapa com lista de municípios) com a distribuição de espécies de cactáceas ameaçadas de extinção

85 Portaria ICMBio nº 84/2010 – PAN Cactáceas 86 A numeração das ações descritas seguem os itens do PAN Cactáceas

170  Ação 3 – Sistematizar informações a respeito da localização de espécies ameaçadas em relação às unidades de conservação já existentes  Ação 4 – Compilar todas as informações publicadas sobre distribuição de espécies e sua ocorrência em unidade de conservação  Ação 18 – Inventariar a ocorrência e estado de conservação das espécies no Maranhão  Ação 33 – Realizar estudo etnobotânico das espécies de cactáceas A partir de um inventário florístico do Maranhão, que contemple a área da RESEX, será possível diagnosticar o grau de conservação do grupo e seguir com ações e metas que protejam as espécies mais vulneráveis.  Particularidades da vegetação presente no interior das comunidades da RESEX Com o objetivo de apresentar a fisionomia vegetal de forma mais detalhada, esse item busca descrever as particularidades e similaridades florísticas observadas nas comunidades da RESEX. Tal descrição está de acordo com a Figura 132, que apresentou o mapa das fitofisionomias da UC. Especial atenção cabe à ilha de Mangunça, pois apresenta uma formação vegetal diferenciada, na qual, além dos bosques de manguezal e das restingas, observa-se a presença de vegetação secundária de floresta ombrófila, com a presença de espécies da fauna e flora não encontradas em outras praias da RESEX. A formação é caracterizada por exemplares arbóreos comuns em ambientes de terra firme, com indivíduos de médio e grande porte (até 15 metros), com dossel fechado e muitas clareiras e caminhos, em função do pisoteio do gado bovino em seu interior, além de campos que se tornam lagoas cobertas por vegetação aquática nas épocas de chuva. Destaca-se a presença de palmeiras, como o tucum e babaçu, angelim, lianas, bromélias e epífetas em seu interior. O babaçu também é encontrado na Ilha das Moças, assim como o buriti e bacuri, já que esta apresenta vegetação semelhante às ilha de Mangunça, ou seja, vegetação de terra firma (Floresta Ombrófila Secundária). Com relação à Ilha das Moças, não se sabe se as espécies foram introduzidas ou não. Porém, uma hipótese mais provável é que houve modificação/introdução de espécies, vendo a ocupação histórica e antiga do local. As bordas apresentam-se mais expostas à perturbação antrópica ou naturais, compartilhando mais espécies com as restingas.

171 Segundo relatos e observações de campo, algumas espécies vegetais foram introduzidas e manejadas pelo Sr. Achilles Lisboa, médico, político e cientista cururupense, governador do Maranhão entre 1935-1936 e antigo proprietário da ilha de Mangunça (LISBOA, 1920; 1921). Sobre tais espécies, destacam-se aquelas com alto valor no mercado madeireiro, conhecidas como “madeiras de lei”, como o jatobá (Hymenaea sp.) e a maçaranduba (Manilkara sp.). Em Guajerutiua destaca-se a presença de espécies frutíferas exóticas, como a mangueira, a amendoeira, a azeitoneira, a groselha-branca e o tamarindo. Em Bate Vento e em especial Mirinzal também se destacam as árvores frutíferas como a acerola (Malpighia glabra), graviola (Annona muricata), jacaratinga e curiri. Em ambas as praias também se observa a presença de cactáceas, conforme Figura 151. Assim como em Mangunça, Mirinzal possui grandes extensões de terras firmes, fora da influência da ação direta das marés. Nessas áreas ocorrem espécies arbóreas comumente encontradas no continente, como o mirinzeiro (Figura 138), o cajá, a amendoeira, a graviola, a ata87, a azeitoneira, a mangueira, o murici e o angelim - sendo relatada inclusive a presença de maçarandubas.

Figura 132: Figueira (Ficus sp.88) na restinga Figura 133: Gênero Ipomoea, importante para de Caçacueira. a fixação de dunas.

87 Também conhecida por Fruta do Conde. 88 Devido a falta de material para identificação (flores, semente, fruto) não se chegou ao nível de espécie. Contudo, ressalta-se que é comum nas restingas do norte e nordeste a ocorrência da espécie Ficus cyclophylla, sendo esta uma espécie endêmica do Brasil e classificada como em perigo. A espécie encontrada na RESEX apresenta características foliares semelhantes a F. cyclophylla. Assim, observa-se a relevância do desenvolvimento de inventário florestal nas restingas. De forma que, se houver a presença de espécimes endêmicas/ameaçadas, se torna necessário a implementação de ações para a conservação.

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Figura 134: Manga, alimento para as aves Figura 135: Guajeru, em Mirinzal.

Figura 137: Groselha-branca (Phyllanthus Figura 136: Amendoeira (Terminalia catappa) acidus)

Figura 139: Vegetação arbustiva nas Figura 138: Mirinzeiro (Humiria balsamifera) restingas da Ilha dos Lençóis

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Figura 140: Coqueiros, cajueiros e dunas ao redor de Caçacueira.

Figura 141: Predomínio de coqueiros ao redor de Guajerutiua

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Figura 143: Borda do fragmento de floresta Figura 142: Vista do dossel da vegetação de ombrofila, com a presença de gado bovino e Mangunça um exemplar de Angelim (Hymenolobium petraeum)

Figura 144: Tucum (Astrocaryum sp) em Figura 145: Barbatimão (Styphnodendron Mangunça sp.) em Mangunça

Figura 146: Tinteira (Laguncularia racemosa) Figura 147: Bosque mono-específico de na ilha dos Lençóis Siriba (Avicennia sp.) na ilha dos Lençóis

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Figura 148: Bosque com dominância de Figura 149: Manguezal naturalmente mangue-vermelho no dossel superior - Ilha dos soterrado por bancos de areia devido à ação Lençóis do vento e maré durante a preamar.

Figura 150: Vegetação arbustiva nas restingas Figura 151: Cactácea (mandacarú) presente da Ilha de Lençóis. Ajuda na fixação das dunas em Bate-Vento e constribui para a beleza da paisagem. 3.9.5 Meio biótico – Fauna O presente item apresenta a análise da fauna observada e descrita para a RESEX, separada entre os grupos terrestres e aquáticos. Utilizaram-se dados secundários89 e observações de campo, evidenciando grande diversidade faunística local, assim como a possível ocorrência de espécies raras para a UC. Contudo, é necessária a realização de um inventário faunístico capaz de detalhar tais informações e melhor fundamentar futuras ações de conservação.

A lista da fauna registrada para a UC encontra-se nos APÊNDICE II, organizada por nome popular, classificação científica e categorias de conservação. a) Fauna Terrestre  Mamíferos Especificamente com relação à fauna terrestre, a mastofauna mostra-se pouco abundante na RESEX, sobretudo, quando comparada, por exemplo, com as aves. Informações

89 Além das citações bibliográficas inseridas no texto, para verificação da distribuição geográfica das espécies citadas no texto foram utilizadas as seguintes bases de dados: http://www.iucnredlist.org/; http://www.taxeus.com.br/

176 primárias indicam a presença das seguintes ordens: Xenarthra (tamanduás e tatus), Chiroptera (morcegos), Didelphimorphia (pequenos marsupiais), Carnívora (raposas e cães-do-mato) e Artiodactyla (cervos). Os Cetáceos (botos e baleias) e Sirênios (peixe- boi) serão discutidos posteriormente, no item sobre a fauna aquática. Sobre a presença de mamíferos, sistematizaram-se dados primários relatados ao longo do trabalho de campo, assim como obras de autores que, embora não sejam especialistas, possuíam grande vivência no local, como Cunha (2000) e Lisboa (1920). Nos manguezais é notável a ocorrência do Guaxinim mão-pelada (Procyon cancrivorus), observados em pequenos grupos familiares ou solitários, conforme evidenciam as Figuras 152 e 153.

Figura 152: Guaxinim ou Mão-pelada Figura 153: Grupo de guaxinim avistado nos (Procyon cancrivorus) mangues da RESEX

Em função da presença de florestas de terras firmes e por ser, até o passado recente, uma propriedade privada, a Ilha de Mangunça apresenta a maior diversidade de mamíferos registrada. Foram citados para o local: a catita, a cutia, o tatu, o veado, a raposa e uma espécie de felino. A catita (Família Didelphidae) caracteriza-se como um pequeno mamífero marsupial90 classificado em diferentes gêneros, sendo que Monodelphis, Marmosa e Gracilinanus são registrados nas regiões norte e nordeste do Brasil (ROSSI et al., 2006). A cutia (Dasyprocta sp.) é um pequeno roedor típico de áreas florestadas, importante na dispersão de sementes e na manutenção da floresta, uma vez que tem o hábito de enterrar as sementes visando um consumo futuro, fato que nem sempre ocorre. Com relação à espécie de veado, segundo os moradores da Ilha de Mangunça, a espécie ocorrente é Ozoteceros bezoarticus, conhecido como veado-

90 Mamífero onde parte de seu desenvolvimento embrionário se dá fora do útero da mãe, em uma espécie de bolsa – chamada de marsúpio. Os gambás são as espécies de marsupiais mais comuns no Brasil.

177 campeiro. Contudo, faz-se necessário a identificação, a partir de estudos científicos, do táxon ocorrente. Visto que, embora ocorra no Estado do Maranhão, O. bezoarticus é comum em biomas de cerrado e campo e atualmente é considerado como vulnerável segundo a Portaria MMA 444/2014. Quanto a ocorrência de felinos, também baseado nos relatos dos moradores da Ilha de Mangunça, a espécie ocorrente assemelha-se à jaguatirica (Leopardus pardalis) ou ao gato-maracajá (Leopardus weidii). Sendo que é mais provável a ocorrência do L. weidi, já este é mais comum em ambientes semelhantes ao da ilha de Mangunça. Ressalta-se que o gato-maracajá é classificado como vulnerável segundo a Portaria 444/2014. Os morcegos (Chiroptera), ativos especialmente no período noturno, são fundamentais para a manutenção dos cajueiros e outras árvores frutíferas, pois fazem a polinização e a dispersão de semente de diversas espécies. Destaca-se a existência de morcegos pescadores (Noctilio sp.), que utilizam seu sistema ultrassônico para identificar pequenas turbulências feitas na água pelos peixes, pois se alimentam de pequenos peixes. Evidenciou-se a presença de duas espécies de tamanduás no local, sendo: - tamanduá-mirim ou tamanduá-de-jaleco (Tamandua tetradactyla): ocorre nas áreas de restinga de praticamente todas as comunidades e na floresta ombrófila de Mangunça (Figura 154); - tamanduá-seda ou tamanduaí (Cyclopes didactylus): ocorre no interior dos manguezais da praia de Mangunça e no setor norte. Ambas as espécies não se encontram na atual lista oficial das espécies ameaçadas, contudo sofrem grande pressão antrópica quando ocorrem em regiões mais urbanizadas (MIRANDA, 2010; SUPERINA et al, 2010). Segundo relatado, o tamanduá-seda ainda é ocasionalmente capturado. Chama-se atenção para a importância da ocorrência do C. didactylus na região, uma vez que os dados, além de escassos, podem se referir a populações geneticamente diferenciadas em relação àquelas com ocorrência nas áreas interiores do nordeste do Brasil (MIRANDA et al, 2009).

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Figura 154: Tamanduá-mirim (T. Figura 155: T. tetradactyla utilizando o estrato tetradactyla) arbóreo na ilha de Mangunça. registrado na ilha de Mangunça. Foto: Sidney Ferreira (2015), morador da ilha de Foto: Sidney Ferreira (2015), morador da ilha de Mangunça Mangunça A população também relata a existência de macacos-prego (Cebus sp.) nos manguezais de Guajerutiua e Valha-me Deus.  Répteis e Anfíbios A análise sobre a herpetofauna da RESEX evidencia a ocorrência das ordens Squamata (cobras e lagartos – Figuras 156 e 158), Testudines (tartarugas e cágados), Anura (sapos – Figura 157) e Crocodylia (jacarés). As tartarugas marinhas serão descritas no item sobre Fauna Aquática.

Figura 156: Serpente encontrada em Figura 157: Família Bufonidae (Rhinella sp.) Mangunça na praia de Caçacueira.

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Figura 158: Iguana (Iguana iguana) avistado em Guajerutiua. Em Mangunça, visto a formação da floresta ombrófila, também se observou em Mangunça a maior diversidade de répteis como: jiboia (Boa sp.); cobra papa-ovo (Drymarchon corais) (Figura 159); cobra-preta; cobra coral; falsa-coral; cobra-cipó (Leptophis sp.) (Figura 160); cobra caninana (Spilotes sp.) e jacarés (Família Alligatoridae) (Figura 161), sendo estes últimos comumente observados próximos as lagoas naturais de água doce, formadas na época das chuvas.

Figura 159: Cobra-cipó (Leptophis sp.) Figura 160: Cobra papa-ovo (Drymarchon fotografada na Ilha de Mangunça corais) fotografada na Ilha de Mangunça Foto: Sidney Ferreira (morador da Ilha de Foto: Sidney Ferreira (morador da Ilha de Mangunça). Mangunça)

180

Figura 161: Crocodiliano fotografado na Ilha de Mangunça Foto: Sidney Ferreira (morador da Ilha de Mangunça) Ainda com relação aos crocodilianos, devido a não realização de busca ativa e poucos registros fotográficos, não foi possível afirmar, nesta versão do Plano de Manejo, qual a espécie ocorrente. Contudo, é provável que a ilha de Mangunça seja habitada pela espécie Caiman crocodilus, conhecido popularmente como jacaretinga. Já que, embora outras espécies, como o Melanosuchus niger, sejam comuns em áreas próximas da RESEX, o jacaretinga é encontrado mais amplamente no Estado do Maranhão, sendo comum em áreas periodicamente alagáveis (IUCN, 1998). A espécie habita uma diversidade de ambientes úmidos, sendo tolerante a níveis de salinidade não muito elevados. Nos períodos de seca, a espécie costuma enterrar-se para suportar a falta de água91. Tal comportamento foi descrito por moradores da Ilha de Mangunça.

Tratando-se agora da Ordem Testudines, os cágados habitam áreas de pântano rodeadas de mata. Na APA Baixada Maranhense foram registradas cinco espécies de quelônios aquáticos não marinhos, sendo duas indicativas de qualidade ambiental: muçuã ou jurará (Kinosternon scorpioides) e o cágado (Rhinoclemmys punctularia) (EMBRAPA 2013; RIBEIRO & SOUZA, 2014). Além destes, também se registrou o cágado Phrynops gibbus e cágado-do-nordeste (Mesoclemys tuberculatus) (BARRETO et al.,

91 http://crocodilian.com/cnhc/csp_ccro.htm

181 2010). A espécie K. scorpiodes foi registrada na Ilha de Curupu, em Raposa, e nos municípios de Pinheiro, São Bento, Turilândia e Cedral (BARRETO et al., 2011). A espécie Trachemys adiutrix (jurará ou tigre-d’ água), quelônio endêmico do Maranhão, foi registrado nos Lençóis Maranhenses e também na Ilha de Curupu, ambiente muito parecido com o da RESEX (BARRETO, et al,. 2007). Segundo LIMA, 2002 apud BARRETO et al. 2007; 2011), a espécie apresenta o hábito de enterrar-se durante o período de seca e emergir apenas nos períodos chuvosos. O mesmo comportamento é descrito pelos moradores a respeito do Jurará encontrado na UC. Desta forma, apenas um estudo taxonômico é capaz de identificar qual a espécie que habita a RESEX, sendo este prioritário, uma vez que o táxon Trachemys adiutrix é considerado endêmico. Assim, tal lacuna de conhecimento é contemplada no Programa de Proteção da Fauna descrito no presente Plano de Manejo.  Aves O Maranhão possui aproximadamente 640 espécies de aves identificadas, representadas principalmente pelas seguintes ordens: Anseriformes (patos), Falconiformes (urubus, falcões), Gruiformes (saracuras), Psitaciformes (papagaios e maritacas) e Passeriformes (passarinhos) (OREN, 2011). Na RESEX os principais representantes da avifauna caracterizam-se por espécies marinhas e costeiras, residentes ou migratórias92. A baixa interferência humana e o mosaico paisagístico de florestas de mangue e restingas associados à grande quantidade de lavados, croas e apicuns criam um ambiente propício para a estabilização, migração, reprodução e desenvolvimento da avifauna silvestre. A dinâmica diária das macro marés contribui para a grande ciclagem e disponibilidade de alimento. Diversas espécies constroem seus ninhos ao longo das praias e cordões arenosos, como o piru-piru, o trinta-réis- de-bico-preto e algumas espécies de maçaricos e batuíras. A diversidade registrada aponta um excelente equilíbrio na teia trófica, uma vez que abriga desde espécies frugívoras e também espécies de topo de cadeia, como gaviões e falcões. No geral as aves de rapina ocupam as restingas e áreas próximas à costa, buscando os poleiros mais elevados; as aves límicolas, por sua vez, concentram-se nos lavados e banhados para o forrageio; os passeiriformes, psittaciformes, piciformes e apodiformes são mais encontrados na restinga e próximos às comunidades, onde há maior ocorrência de árvores e outras plantas frutíferas. Os manguezais são amplamente utilizados pelas

92Aves residentes: aquelas espécies que realizam todo seu ciclo biológico na região onde nascem. Aves migratórias: são aquelas que passam períodos de seu ciclo em outra região.

182 aves, especialmente enquanto local de pouso e locais de nidificação, onde se destacam as garças e guarás – que, nos finais de tarde, retornam em bandos aos locais de pouso, proporcionando belíssimo espetáculo natural. As principais aves migratórias neárticas93 que frequentam a região são os maçaricos (família Scolopacidae) e batuíras (família Charadriidae), sendo que estes contribuem com mais de 40% desta biodiversidade. Tais aves migram para as regiões tropicais ao longo dos meses entre dezembro e março. Além destes grupos, a RESEX abriga espécies com ampla distribuição geográfica e/ou típicas de áreas continentais e interiorizadas, como papagaios, periquitos, pica-paus, beija-flores, sabiás, canários e gaviões. A região das Reentrâncias Maranhenses é considerada prioritária para a conservação das aves limícolas neárticas da costa norte brasileira. O Relatório de Conservação de Aves Migratórias Neárticas no Brasil94 coloca a APA das Reentrâncias como a terceira maior em importância no continente. VOOREN & BRUSQUE (1999) a destacam como a de maior importância para conservação das aves costeiras e marinhas no Brasil. RODRIGUES (2007) aponta o município de Cururupu como o local de maior concentração de aves entre as regiões do litoral amazônico. Neste contexto, a RESEX é parte fundamental do território dessas aves, que migram para a região durante o inverno boreal. Em um levantamento realizado entre 1982 e 1986 no continente sul-americano, foi evidenciado que a costa norte do Brasil recebe em torno de 14% das aves neárticas do continente. Deste total, 82% ocorrem nas Reentrâncias Maranhenses, resultando em 11% das aves do continente (MORRISON et al. (1989) apud VOOREN & BRUSQUE (1999)). A Tabela 15 apresenta a diversidade de espécies observada em alguns estudos desenvolvidos na região das Reentrâncias Maranhenses e do Golfão Maranhense.

93 Aves neárticas: Se reproduzem na América do Norte e migram para os trópicos sulamericanos durante o inverno boreal. 94 Programa de Subsídio Financeiro para a Lei de Conservação de Aves Migratórias Neotropicais do Serviço de Pesca e Fauna dos Estados Unidos (2011)

183 Tabela 15: Espécies de aves limícolas neárticas registradas nas Reentrâncias Maranhenses e no Golfão Maranhense.

Locais de aglomeração, diversidade e quantidade de espécies Referência registradas. Principais baias e localidades utilizadas pelos migrantes neárticos são: Lençóis (Ilhas de Maiau, Campecha e Salina de Iguará) Schulz-Neto e Turiacu (Ilha da Croa dos Ovos e Salina do Ingles). Diversidade e Sousa (1995), quantidade não descritas. Ocorrência das seguintes espécies: Batuiruçu (P. dominica), batuiruçu-de- axila-preta (P. squatarola), batuíra-de-bando (Charadrius semipalmatus), maçarico de-costas-brancas (L. griseus), maçarico-galego (N. phaeopus), maçarico-pintado (A. macularius), maçarico-solitário (T. solitaria), maçarico grande-de-perna-amarela (T. melanoleuca), maçarico-de-asa- Serrano, 2011 branca (T. semipalmata), maçarico-de-perna-amarela (T. flavipes), vira- pedras (A. interpres), maçarico-de-papo-vermelho (C. canutus), maçarico- branco (C. alba), maçarico-rasteirinho (C. pusilla), maçariquinho (C. minutilla) e maçarico-de-sobre-branco (C. fuscicollis). Na Croa Alta (interior da RESEX) registraram-se: 4000 maçaricos-rasteirinho (Calidris pusilla); 700 maçaricos-galego (Numenius phaeopus); Serrano, 2011 400 batuiruçus-de-axila-preta (Pluvialis squatarola); 20 maçarico-grande-de-perna-amarela (Tringa melanoleuca) Em São Lucas registrou-se: 1000 maçaricos-rasteirinho (C. pusilla); 500 maçarico de-costas-brancas (L. griseus); Serrano, 2011 20 maçaricos-galego (N. phaeopus); 10 gaivotas-alegre (L. atricilla) Em Mangunça registrou-se: 80 maçaricos-galego (N. phaeopus); 70 batuiruçus-de-axila-preta (Pluvialis squatarola); 50 vira-pedras (A. interpres); Serrano, 2011 50 batuíra-de-bando (Charadrius semipalmatus), 15 maçarico de-costas-brancas (L. griseus), 800 maçaricos-rasteirinho (C. pusilla), Em Porto Alegre registrou-se: 150 maçaricos-rasteirinho (C. pusilla); 100 gaivotas-alegre (L. atricilla); Serrano, 2011 50 vira-pedras (A. interpres); 50 maçarico de-costas-brancas (L. griseus) Em Caçacueira registrou-se: Serrano, 2011 20 gaivotas-alegre (L. atricilla) Entre 1998 e 2005 registrou-se: 9000 Maçaricos-rasteiro (C. pusilla), na Croa Alta e em Maiaú; 1600 Maçaricos-de-asa-branca (C. semipalmatus) e Maçaricos-galego (N. Rodrigues, 2007 phaeopus), na Croa Alta; 1200 Maçaricos-de-costas-branca (L. griseus), na Ponta Seca. Fonte: Adaptado de Conservação Internacional – CI-Brasil (2011) e outros.

184 O trabalho em campo identificou, por avistamento, 20 espécies de aves, enquanto o processo de diagnóstico participativo relatou 36 espécies. As Ordens predominantes são: Ciconiiformes (garças e guarás), Charadriiformes (maçaricos), Passeiriformes (pipiras), Falconiformes (falcões) e Accipitriformes (gaviões). A despeito de todo o esforço empregado na identificação dos indivíduos que ocorrem na RESEX, ressalta-se que alguns animais não puderam ser identificados ao nível de espécie, pois devido a grande diversidade de nomes populares existentes no Brasil, algumas nomenclaturas se referem à mais de um táxon ou não apresenta registros de ocorrência para a região. A seguir são apresentadas algumas destas situações, evidenciando a necessidade de um inventário da avifauna na UC. - Bem-te-vi-rajado – associado ao táxon Myodynastes maculatus, mas devido à similaridade morfológica e área de distribuição, pode se referir também ao Empidonomus varius (conhecido em outras regiões como pitica) ou o Legatus leucophaius (conhecido como bem-te-vi-pirata). - Coruja-orelhuda – duas espécies de coruja popularmente conhecidas como “orelhuda” ocorrem próximo ao estado do Maranhão - Asio clamator e Megascops watsonii. Ambas não possuem registro científico dentro da RESEX; - Urutu ou Urutau – Refere-se às espécies do gênero Nyctibius. Apresenta duas espécies de distribuição em todo o Brasil, classificadas sem nenhum grau de ameaça. Contudo as espécies N. aethereus e N. leucopterus são classificadas como ‘em perigo’ e ‘criticamente em perigo’, respectivamente, e apresentam registros do Amazonas até Belém; - Maria-da-restinga (Phylloscartes kronei) – A espécie apresenta registros apenas para a região sul e sudeste do Brasil (GUSSONI, 2014). Dessa forma sugere-se três possibilidades: ser um táxon do mesmo gênero ainda não registrado; se referir à outra espécie ou possuir área de distribuição diferente daquela registrada na bibliografia consultada; - Bicudinho-do- (Stymphalornis acutirostris) – Situação similar ao Phylloscartes kronei, cuja área de distribuição refere-se apenas ao sul do Brasil (REINERT, 2001). O Stymphalornis acutirostris encontra-se classificado como ‘em perigo’ na lista oficial. - Surucuá-do-peito-vermelho (gênero Trogon) e o Papa-capim (gênero Sporophila) refere-se a mais de uma espécie, com ocorrência no norte e nordeste do país. O gênero Sporophila contém duas espécies classificadas na Lista das espécies ameaçadas, como ‘preocupante’ e ‘vulnerável’;

185 - Pipira-parda (Lanio fulvus) – Apresenta ocorrência registrada apenas no estado do Amazonas e países vizinhos. Seu registro na RESEX abre a possibilidade de revisão de sua área de distribuição. O Apêndice II relaciona as espécies de aves ocorrentes na RESEX, os indivíduos identificados em campo são apresentandos nas Figuras 162 até 185. Já as Figuras 186 a 192 apresentam algumas das espécies relatadas pelas comunidades, a partir de registros fotográficos cedidos por moradores da UC.  Grupos ameaçados De forma geral, as espécies de aves costeiras e marinhas, sejam elas migratórias ou residentes, se encontram ameaçadas em consequência de diversos impactos negativos decorrentes da ação antrópica. Entre as ameaças para as aves costeiras, a perturbação e interferência em áreas de ninhais é um impacto para a conservação do grupo, fato que pede ações educacionais e de manejo dentro de Unidades de Conservação. Além desta, as aves limícolas são significativamente ameaçadas devido à caça, poluição decorrente do lançamento de esgoto doméstico e extração de madeiras dos manguezais (SERRANO, 2011). VOOREN& BRUSQUE, (1999) citam como significativas ameaças: a presença humana que afeta a comunidade de aves pela introdução de animais, destrói os ninhais pelo pisoteio da vegetação, ocasionam acidentes pela pesca de espinhel e a morte por afogamento ou ferimento em aves aquáticas presas aos anzóis, além do problema ocasionado pela poluição de óleo ou outros produtos, seja por derrames acidentais ou “rotineiros”, causando a mortalidade de aves devido à impermeabilização de suas penas ou danos fisiológicos em longo prazo pela absorção de óleo no organismo. As aves neárticas apresentaram um decaimento nas populações durante os últimos anos, em decorrência dos fatores citados acima, além da caça e outros problemas ainda não conhecidos. De forma que se torna necessário um esforço para a identificação desses impactos, trabalho já iniciado pelo Serviço de Pesca e Fauna dos Estados Unidos e Conservação Internacional do Brasil, que mostra a área das Reentrâncias Maranhenses com destaque para o conhecimento e proteção dessas espécies. Por fim, cabe destacar, que esses animais são protegidos na RESEX, através do Acordo de Gestão (cap. VI), que diz: “É proibida a captura de aves migratórias e nativas, incluindo seus ovos, sendo vedado o corte de árvores que abrigam ninhos, ainda que estejam mortas ou velhas, na área da Resex.”.

186 Guará – Espécie Bandeira95 A espécie (Eudocimus ruber) é utilizada nas estratégias de comunicação e conservação na UC. É uma ave de médio porte, da família das garças (Threskiornithidae), com bico longo e fino, adaptado para se alimentar no ambiente lodoso dos manguezais. A sua cor rosada se dá em função de sua alimentação, devido ao alto teor de carotenóide na dieta, composta basicamente por mariscos, crustáceos (em especial o Maracuãnim - Uca thayeri, também conhecido como chama-maré) e pequenos peixes. A espécie já foi considerada ameaçada, principalmente em função da destruição de seu hábitat e da caça. Todavia, atualmente o cenário é mais favorável, sendo que sua categoria de ameaça hoje é ‘pouco preocupante96’. A espécie é comum nos manguezais da costa norte brasileira, ocorrendo também, de forma rara e pontual no litoral sul de São Paulo (SICK, 1984; OLMOS, 2000).

Figura 163: Gavião-carrapateiro (Mivalgo Figura 162: Carrá-carrá (Caracara plancus) chimachima)

Figura 164: Guará (Eudocimus ruber) Figura 165: Sabiá-da-praia (Turdus sp.)

95 “Espécie bandeira” é o termo usado para animais que se tornaram símbolo da conservação, ou seja, bandeiras da conservação. Como por exemplo, o mico-leão-dourado, o panda e a onça pintada. 96 Portaria 444/2014 - Lista nacional oficial de espécies da fauna ameaçadas de extinção

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Figura 166: Mergulhão ou Biguá Figura 167: Batuíra (Charadrius sp.) (Phalacrocorax brasilianus)

Figura 168: Urubu-de-cabeça-vermelha Figura 169: Martim-pescador (Familia (Cathartes aura) Alcedinidae)

Figura 170: Garça-branca-pequena (Egretta Figura 171: Bem-te-vi (Pitangus sp.) thula)

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Figura 172: Pica-pau-de-cabeça-vermelha Figura 173: Maçarico (Numenius sp.) (Campephilus melanoleucos)

Figura 175: Gavião-pichi-pichi (Buteogallus Figura 174: Japó (P. decumanus) meridionalis)

Figura 176: Anu-branco ou Alma-de-gato Figura 177: Trinta-réis (Familia Sternidae) (G.guira) em Guajerutiua

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Figura 178: Beija-flor (Família Trochilidae) Figura 179: Garça-morena ou Garça-azul (Egretta caerulea)

Figura 181: Garça-branca-grande (Ardea Figura 180: Gaivota-alegre (Larus atricilla) alba)

Figura 182: Maçarico-de-asa-branca (Tringa Figura 183: Colhereiro (Platea ajaja) semipalmata) em Caçacueira

190

Figura 184: Guarás e Garças utilizando as árvores do mangue como área de descanso.

Figura 185: Raízes do mangue são excelentes pontos para a alimentação dos guarás.

191

Figura 186: Marreca-viuvinha (Dendrocygna Figura 187: Jaçanã (Jacana jacana) viduata) Foto: Sidney Ferreira (morador da Ilha de Foto: Sidney Ferreira (morador da Ilha de Mangunça) Mangunça)

Figura 188: Frango d’agua (Porphyrio Figura 189: Pomba-do-ar (Patagioenas martinicus) cayennensis Foto: Sidney Ferreira (morador da Ilha de Foto: Sidney Ferreira (morador da Ilha de Mangunça) Mangunça)

Figura 190: Pipira-preta (Tachyphonus rufus) Figura 191: Sanhaçu-cinzento (Tangara Foto: Sidney Ferreira (morador da Ilha de sayaca) Mangunça) Foto: Sidney Ferreira (morador da Ilha de Mangunça)

192

Figura 192: Gavião mãe d’agua (Buteogallus urubitinga). Foto: Sidney Ferreira (morador da Ilha de Mangunça) b) Fauna Aquática Neste estudo nomeia-se de “fauna aquática” todo o grupo que depende do ambiente aquático em sua totalidade ou em grande parte do seu ciclo de vida, ou seja, os peixes, crustáceos (camarões, caranguejos e siris), moluscos, tartarugas-marinhas e mamíferos aquáticos.  Ictiofauna - Peixes A zona costeira maranhense possui uma enorme riqueza quanto à biodiversidade de peixes, representada principalmente pelos Silurifomes (bagres), Carcharhiniformes (cações/tubarões) e Perciformes (pescadas e corvinas), além de significativa biomassa de crustáceos e moluscos. Tal biodiversidade está associada aos manguezais e canais de maré da região, que são o habitat, permanente ou provisório, das espécies que ocorrem na UC. Através da ciclagem de matéria orgânica, os manguezais fornecem grande quantidade de nutrientes para o desenvolvimento e alimentação da biota aquática, além de abrigo contra predadores. Algumas espécies, como muitos cações, utilizam águas abrigadas para o seu desenvolvimento inicial, buscando águas mais profundas em estágios de vida posteriores. Os cavalos marinhos também são espécies que utilizam as águas dos

193 estuários e manguezais como área de vida, utilizando as raízes do mangue como abrigo, além de serem encontrados em recifes de coral. No Brasil ocorrem duas espécies: Hippocampus reidi (cavalo-marinho-do-focinho-longo) e Hippocampus erectus (cavalo- marinho-do-focinho-curto). O cavalo-marinho é uma curiosa espécie de peixe de hábito alimentar carnívoro; são monogâmicos, onde o macho exerce o papel de carregador dos ovos; são excelentes camufladores, utilizando a troca de cores também como comunicação social e sexual e são objetos do mercado ornamental (SILVEIRA, 2005). O fato de serem muito procurados como espécies ornamentais de aquário, aliado com a degradação do hábitat, colocou ambas as espécies como vulneráveis pela classificação da Lista Oficial Nacional da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Portaria 445/2014) e Hippocampus reidi pela classificação da IUCN, sendo esta a espécie mais abundante (OKADA et al., 2015). O contato entre a água doce e salgada proporciona um ambiente salobro, isto é, de menor salinidade que áreas marinhas abertas. Tal característica favorece o desenvolvimento de espécies mais tolerantes a variação de salinidade (BRAGA, 2000). A ictiofuna pode ser dividida entre os peixes que possuem esqueleto ósseo, chamados de Osteíctes97, e aqueles que possuem esqueleto cartilaginoso – os Elasmobrânquios. Os Osteíctes podem ter hábitos Pelágicos ou Demersais. Os Pelágicos vivem na coluna d’água, desde a superfície até cerca de 20 metros de profundidade - embora algumas espécies frequentem áreas mais fundas em busca de alimento, geralmente são encontrados em cardumes, como as tainhas, pescadas e corvinas (Haimovici & Klippel, 1999). Os osteíctes demersais vivem próximo ao fundo (substrato aquático) ou próximos aos recifes e apresentam, em geral, um comportamento solitário (Haimovici & Klippel, 1999). Os peixes elasmobrânquios, como tubarões e arraias, possuem esqueleto cartilaginoso, apresentando tanto hábitos demersais como pelágicos, com comportamento social ou solitário (Lessa et al., 1999; POUGH, 2008). Muitas espécies de tubarões costumam desovar e/ou se desenvolver próximo aos manguezais. Os dados obtidos junto à população da RESEX mostram que as principais famílias e gêneros de peixes encontradas na RESEX são: Haemulidae, gêneros Conodon e Genyatrmu; Mugilidae, gênero Mugil (tainhas); Scianidae, gêneros Menticirrhus, Cynoscion, Macrodon; Micropogonias e Stellifer; Serranidae, gênero Colomesus;

97 Osteichthyes -Também chamados de Teleósteos

194 Tetraodontidae, gênero Sphoeroides; Trichiuridae, gênero Trichiurus; Achiridae, gênero Achirus; Ariidae, gêneros Bagre, Cathrops e Sciades; Carangidae, gênero Oligoplites; Engraulidae, gênero Centegraulis; Ephipidae, gênero Chaetodipterus; Scombridae, gênero Katsuwonus; Haemulidae, gênero Genyatremus. Além destas, o levantamento realizado no desembarque pesqueiro da zangaria (estudo em andamento realizando em parceria com a UEMA) identificou a presença de espécies relacionadas em mais oito famílias. Os táxons identificados no estudo de desembarque e citados pela população estão descritos na Lista da Fauna (APÊNDICE II). Entre as famílias citadas, as mais importantes como recursos comerciais são: Scianidae (pescadas e corvinas), Mugilidae (tainhas), e Ariidae (bagres). Destacando-se os Scianídeos pela captura das pescadas amarela e gó. A pescada-gó (Macrodon ancylodon) e a pescada-amarela (Cynoscion acoupa), relevantes recursos pesqueiros da RESEX não são mencionadas nas listagens de fauna ameaçada. Todavia, alguns trabalhos desenvolvidos na região apontam para a sobre- exploração das espécies – dado o alto valor do pescado e ao comércio do grude98 (ALMEIDA et. al. 2009). No geral, os Scianídeos apresentam elevada taxa reprodutiva e ampla distribuição geográfica. Além desses, as Famílias Mugilidae, Ariidae (bagres), Scombridae (cavala, bonito), e Xiphidae (peixe espada) também representam espécies importantes para a comercialização, mas especialmente para a subsistência da população local. A família Ariidae é muito abundante e diversa na costa norte e nordeste brasileira, sendo as espécies de bagres muito citadas pelos moradores da RESEX. Entre algumas das espécies ocorrentes no litoral maranhense, podemos citar: Arius fissus, Bagre bagre, Catrhrops arenatus, Catrhops agassizii (Marceniuk, 2007), Sciades proops (sin. Sciades proops) (uritinga) e Catrhops spixii (uriacica). Assim, visando o atendimento das metas de Aichi para a pesca sustentável, torna-se fundamental o conhecimento sobre a biologia reprodutiva das espécies comerciais, visando o desenvolvimento de estratégias para exploração ordenada dos pescados, dentro dos limites de reposição dos cardumes. Tais questões são tratadas nas estratégias de conservação do Presente Plano de Manejo. Dessa forma, a seguir estão brevemente descritas as informações reprodutivas de alguns dos principais peixes ósseos de interesse comercial da RESEX:

98 Grude: Refere-se a à bexiga natatória dessas espécies, utilizada na insdustria cosmética e alimentícia, especialmente na composição de cervejas de alto padrão. É destinada quase que exclusivamente ao mercado internacional.

195  Pescada-amarela (C. acoupa) – Apresenta período reprodutivo nos meses mais quentes (outubro a fevereiro); com relação ao tamanho corpóreo, a maturidade sexual ocorre quando o individuo alcança, aproximadamente, 53 cm. Os juvenis vivem exclusivamente em água salobra (ARAÚJO, 2008; MOURÃO et al., 2009). No geral são encontradas em profundidades de até 35m (ALMEIDA, 2008). As populações possuem capacidade de resiliência média (ARAÚJO, 2008; MOURÃO et al., 2009).  Pescada-gó (M. ancylodon) - No geral são encontradas em profundidades de até 60m, próximas a substratos arenosos e lamosos. Apresenta ciclo reprodutivo prolongado, com a desova ocorrendo em diferentes períodos ao longo do segundo semestre do ano. Acredita-se que no Maranhão o principal período seja em julho e em dezembro (ALMEIDA, 2008). Os indivíduos jovens são encontrados nas zonas estuarinas (AGUIAR, 2005).  Peixe-serra (Scombemorus brasiliensis) – Com relação ao tamanho corpóreo, apresenta maturidade sexual entre 41-54 cm para as fêmeas e 44-49 cm para os machos, com idades entre 3 e 4 anos, respectivamente. A reprodução ocorre o ano todo (LIMA, 2004 apud ALMEIDA, 2008).  Corvina (M. furnieri) – Apresenta hábito estuarino durante as primeiras fases do ciclo de vida. As populações possuem baixa resiliência (ARAÚJO, 2008). Com relação aos elasmobrânquios (tubarão, cação e raia) as principais espécies com ocorrência nas águas da RESEX estão classificadas nas Ordens Rajiformes (raias) e Carcharhiniformes (tubarões e cações). As principais espécies de arraias encontradas na UC são arraia-bicuda (Dasyatis sp.), arraia-boi (Rhinoptera bonasus), arraia-de-fogo (Potamotrygon sp.) e arraia-pintada (Aetobatus narinari). Quanto aos cações e tubarões, é relatada a ocorrência do galha-branca (Carcharhinus porosus), cação-ferro (Rhizoprionodon porosus), cação-quati (Isogomphodon oxyrhynchus) e Espadarte (Pristis sp.) (DISCONZI, 2002; 2009). A seguir destacam-se algumas características das espécies de cações classificadas como ameaçadas que constam na Lista Oficial da Fauna Ameaçada (MMA, 2014) e que possuem ocorrência associada à RESEX.  Galha-branca (Carcharhinus longimanus) é uma espécie com hábito geralmente pelágico e com ampla distribuição oceânica. As fêmeas apresentam sistema reprodutor vivíparo e a gestação pode durar até 12 meses (ciclo

196 reprodutivo longo), onde os filhotes nascem com aproximadamente 60 cm e entram em maturidade sexual aos 17099 cm. Segundo a percepção dos pescadores locais, a ocorrência da espécie se torna cada vez mais rara. É classificada como vulnerável;  O cação-quati (Isogomphodon oxyrhynchus) é uma espécie presente na América do Sul, com distribuição restrita, sendo mais sensíveis à extinção, portanto, a pesca/caça torna-se uma ameaça. Assim como o mero, tem uma taxa de reprodução baixa, atingindo a maturidade sexual entre os cinco e sete anos, a gestação dura 12 meses100 e ocorre a cada dois anos101. É classificada como criticamente em perigo;  Espadarte (Pristis sp.) é uma espécie de distribuição tropical, de crescimento lento, reprodução tardia, viviparidade e ciclo reprodutivo anual ou bianual, podendo medir até 5 metros. Utilizam águas abrigadas durante as fases iniciais de vida. Quando adultos preferem águas marinhas e estuarinas. Observa-se que na costa amazônica a espécie é mais abundante, embora seja classificada como criticamente em perigo pela Lista Oficial Nacional da Fauna Ameaçada. Destaca-se que o Espadarte é também conhecido como peixe serra, nome popular que no Maranhão também é atribuído ao Scomberomorus brasiliensis. Alguns peixes ósseos também são citados Lista Oficial da Fauna Ameaçada (MMA, 2014), destacando-se o Mero e a Gurijuba, cujas características são descritas a seguir:  Mero (Epinephelus itajara) – é uma espécie de ambiente marinho, especialmente em áreas de substrato rochoso. Passa os estágios iniciais de desenvolvimento em águas estuarinas (FUKUDA, 2006). Pode atingir mais de 2m de comprimento e viver 40 anos. Começam quando atingem o tamanho de 1,1 a 1,2 metros, entre 4 e 7 anos de idade. Devido ao ciclo reprodutivo lento, a espécie é mais suscetível à pressão da pesca. A espécie se encontra ameaçada de extinção, sendo classificada como criticamente em perigo. É protegido por lei desde o ano de 2002 (Portaria 121 do MMA) e demais diplomas legais que protegem a espécie (Instrução Normativa Interministerial nº 13 de 2012). Em outubro de 2015, a Portaria

99 Informações extraídas de http://www.iucnredlist.org/details/60218/0 100É uma espécie vivípara, ou seja, o desenvolvimento do embrião ocorre dentro do organismo da fêmea, diferente da maioria dos peixes, mas muito comum no grupo dos elasmobrânquios. 101 Informações extraídas de: http://www.iucnredlist.org/details/60218/0

197 Interministerial Nº 13 prorrogou por mais 8 anos a proteção da espécie, proibindo a pesca em águas jurisdicionais brasileiras.  Gurijuba (Sciades parkeri) é uma espécie de bagre (Família Ariidae) encontrado na costa norte da América do Sul, caracteriza-se por ser uma importante fonte alimentar e de renda. A espécie diferencia-se dos outros bagres marinhos devido a coloração amarelada de seu corpo (Figura 193) e por apresentar a bexiga natatória dividida em três câmaras. O animal apresenta hábito demersal, alcançando até 1,9 m. A maturidade sexual ocorre após os dois anos, com aproximadamente 50 a 60 cm (BETANCUR-R et al., 2008; ALMEIDA, 2008). Atualmente, devido à sobrepesca é classificada como vulnerável.

Figura 193: Gurijuba (Sciades parkeri), imagem mostra a coloraçao amarela típica da espécie (Betancur-R et al., 2008). A lista com as espécies de peixe ocorrentes na UC, apresentando seus nomes populares, classificação científica e categoria de conservação, encontra-se no Apêndice II. Nota-se que a ictiofauna representa o principal grupo de animais vertebrados da RESEX.  Invertebrados aquáticos Os invertebrados representam um abundante e importante grupo de animais nos ambientes aquáticos, ocupando nichos ecológicos102 essenciais para a manutenção dos ecossistemas. Os invertebrados aquáticos são representados principalmente pelos Poríferos (esponjas-do-mar), Cnidários (águas-vivas e corais), Platelmintos e Nematódeos (vermes), Moluscos (mariscos, polvo) e Artrópodes (camarões, caranguejos). Desses, os crustáceos e moluscos são tratados também como recursos, uma vez que constituem fonte alimentar e apresentam relevante valor de mercado.

102 Nicho ecológico: Refere-se à função de um organismo do meio ambiente, ao “papel” que ele tem no meio em que vive.

198 Os cnidários são organismos bastante populares, representados principalmente pelas águas-vivas, caravelas e corais. As águas-vivas são conhecidas entre os frequentadores e moradores das zonas litorâneas devido às neurotoxinas que liberam ao contato com outros organismos, enquanto forma de defesa ou como estratégia alimentar. São considerados como de “importância médica” devido aos potenciais acidentes causados ao homem, sobretudo queimaduras (PURCELL et al., 2001 apud MORANDINI et al , 2005). A população da RESEX relata a ocorrência desses animais, bem como eventuais acidentes causados, especialmente, aos pescadores. Ocupam importante nicho ecológico, sendo alimento para tartarugas-marinhas e peixes e abrigo para algumas espécies de peixes na fase juvenil. As Figuras 194 e 195 apresentam cnidários encontrados nas praias de Mangunça e Guajerutiua.

Figura 194: Caravela (Cnidário) na praia de Figura 195: Medusa (Cnidário) na praia Mangunça de Guajerutiua

Outro grupo comum são os moluscos, que embora recebam este nome em função do corpo mole, muitas espécies possuem uma concha calcárea que protege seu corpo, como os mariscos, ostras e mexilhões. São animais de grande importância ecológica, colonizando vários ambientes costeiros e servindo de alimento para muitos vertebrados, como guaxinins, aves e peixes. Assim como alguns crustáceos, os mariscos são responsáveis pela coloração das penas de aves como o guará, o colhereiro e o flamingo, em função da presença de carotenóide103 em seu organismo. Ao final da vida, ainda fornecem nutrientes calcários para os ambientes estuarinos, como o manguezal. Utilizado na alimentação humana, são importantes recursos econômicos em áreas litorâneas.

103 Carotenóide: Substância química presente em alguns animais e vegetais, fornece pigmentação. O carotenóide cantaxantina resulta na pigmentação vermelha ou rosa.

199 As principais espécies utilizadas como recurso alimentar pelas famílias da UC são o sarnambi (Anomalocardia brasiliana) e sururu-de-dedo (Mytella guyanensis), conhecido também como marisco-do-mangue. O sururu-de-pasta (Mytella sp.) já foi abundante, contudo, devido à exploração predatória, a espécie é pouco encontrada na Reserva. O sarnambi (Anomalocardia brasiliana) é uma espécie dióica104 que habita as praias e estuários, apresenta uma concha com de cerca de 30 mm, sendo que a fêmea torna-se madura sexualmente quando sua concha atinge entre 15 e 17,9 mm. O ciclo reprodutivo é contínuo, apresentando uma pausa de julho a agosto (ARAÚJO, 2005 apud ALMEIDA, 2008). O Sururu-de-dedo (Mytella guyanensis) também é uma espécie dioica encontrada no substrato lodoso de manguezais. Pode se enterrar em até 1m de profundidade, geralmente associado às raízes de Avicennia. Os indivíduos adultos apresentam uma concha de até 80 mm, os machos tornam-se maduros sexualmente antes das fêmeas e o pico do período reprodutivo acontece entre agosto e outubro (PATERNOSTER, 2003). Os crustáceos, representantes do Filo Artrópode, são animais caracterizados pela presença de um exoesqueleto105 que protege os seus corpos e pelos variados números de membros, utilizadas tanto para locomoção, quanto para a alimentação, acasalamento e defesa. São fundamentais para os ambientes marinhos e estuarinos, onde desempenham importantes funções ecológicas. O zooplancton marinho, base da cadeia alimentar nos oceanos, é formado basicamente por minúsculos crustáceos, sendo o krill106 o principal alimento dos maiores mamíferos da Terra – a baleia azul, a jubarte e franca. Muitos artrópodes também são detritívoros, isto é, alimentam-se de matéria orgânica em decomposição, colaborando com a ciclagem de nutrientes no ambiente. No mais, ajudam na oxigenação do solo a partir das galerias construídas por caranguejos e siris e servem de alimento para os peixes, as aves, os mamíferos e outros crustáceos. São fonte de alimento e recurso econômico, muito populares na gastronomia mundial, especialmente os camarões, caranguejos, siris e lagostas. Na RESEX, como um dos principais recursos comerciais, são encontrados o caranguejo-uça (Ucides cordatus); camarão cascudo (Farfantepenaeus subtilis); camarão piticaia, piré ou sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri) e o camarão graúdo ou branco (Litopenaeus schmitti).

104 Possui indivíduos machos e fêmeas. Ao contrário de monoico, cujo espécime apresenta os dois sexos (hemafrodita). 105 Esqueleto externo de quitina. 106 O krill é característico de águas frias, isto é, não possui seu habitat próximo à RESEX.

200 O caranguejo-uça (Ucides cordatus) é uma espécie de interesse comercial, mas que, diferente de outras regiões, não é tão valorizada pela população local quanto os camarões. Por este motivo, a exploração do caranguejo é realizada principalmente por pescadores de outros locais107. As três principais espécies comerciais de camarão da RESEX pertencem à Família Penaeidae. Esta composta por 222 espécies, das quais 61 ocorrem no Brasil (COSTA et al., 200 apud FERREIRA, 2013). Os Penaeidae são conhecidos por seu alto valor comercial, sendo os camarões cascudo, graúdo e piré (sete-barbas) algumas das espécies mais exploradas em todo o litoral brasileiro (FERREIRA, 2013). O camarão-cascudo (Farfantepenaeus subtilis) é a espécie com maior valor comercial entre as regiões tropicais e subtropicais do mundo. A espécie utiliza o ambiente estuarino como forma de proteção e sítio de alimentação durante a fase de crescimento, já na fase adulta ocorre a migração para o mar onde se reproduz e desova (CORREA et al, 2009). No geral, as fêmeas são maiores que os machos e se tornam maduras sexualmente a partir dos 13 mm de cefalotórax (CORREA et al, 2009; CINTRA et al, 2004). Segundo CINTRA et al (2004), na costa norte do Brasil, o período reprodutivo ocorre continuamente, principalmente entre os meses de fevereiro a abril e julho a agosto. Já os estudos de ISAAC et al. (1992) indicam o pico de atividade reprodutiva apenas para o segundo semestre. O camarão-piré ou sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri) ocorre desde os EUA até o Rio Grande do Sul e, ao contrário do camarão-cascudo, vive apenas em águas abertas, em fundos lamacento-arenoso com até 70 m de profundidade, sendo mais comum aos 30 m. (BRANCO, 2005; SILVA et al., 2002). A espécie apresenta período reprodutivo contínuo, com picos entre novembro a março, mas com variação de acordo com a região da costa brasileira. Pesquisas indicam que na região nordeste este pico ocorre entre dezembro-abril (SANTOS & IVO, 2000 apud BRANCO, 2005). O camarão-graúdo (Litopenaeus schimitti) ocorre desde as Antilhas até o Rio Grande do Sul. Os adultos habitam o ambiente marinho em uma profundidade de até 30 m, inclusive na época da desova. Os indivíduos jovens preferem os estuários, enseadas e baías durante o período de desenvolvimento (SANTOS et al., 2008). Estudos realizados

107 A captura do caranguejo-uça por pessoas não beneficiárias da RESEX é considerada como atividade ilegal. E a captura da espécie praticada por qualquer pessoa durante a época da andada é proibida por Lei Federal.

201 no nordeste brasileiro com o L. schimitti mostram que os machos apresentam um cefalotórax medindo entre 17 e 46 mm, e as fêmeas entre 18 e 55 mm, apontando que o período da desova ocorre entre setembro e janeiro (SANTOS, 2010). Conforme mencionado, este período varia em função da região. No litoral de São Paulo o período da desova ocorre entre novembro e janeiro (SANTOS et al., 2008). Além das espécies comerciais citadas acima, é comum encontrar uma infinidade de crustáceos na costa e manguezais do litoral norte brasileiro, como por exemplo: o caranguejo-guajá (Calappa ocellata), o Maria-farinha (Ocypode quadrata), o siri-azul (Callinectes exasperatus), e o caranguejo da espécie Hepatus pudibundus, esta última muito comum como fauna acompanhante da pesca do camarão sete-barbas (BRANCO et al., 2005; PORTO et al., 1977, VELOSO & MELO, 2005) . A Tabela 16 apresenta um resumo das principais espécies de crustáceos de interesse comercial da RESEX. Tabela 16: Síntese das características das principais espécies de crustáceos de interesse comercial da RESEX

Espécie/grupo Características Principais uso/importância Ocorre ao longo da costa da América Latina, habitam substratos de lama e Farfantepenaeus subtilis areia, em profundidades inferiores a (camarão-cascudo) 70m. O desenvolvimento se dá em duas fases, uma nos estuários, quando jovens e outra adulta no oceano. Não depende do estuário para o desenvolvimento inicial. De forma que Xiphopenaeus kroyeri Alimentação humana e tanto adultos como os juvenis ocupam a (camarão piticaia, sete da fauna; área costeira. As fêmeas são maiores que barbas ou piré). recurso comercial; os machos e a maturação sexual ocorre ciclagem de nutrientes. quando alcançam cerca de 7 ou 8 mm Habita zonas costeiras e estuarinas, sendo que indivíduos jovens preferem áreas de menor salinidade. As fêmeas Litopenaeus sp. alcançam a maturidade sexual com cerca (camarão branco) de 30 mm e no geral apresentam tamanho corpóreo maior que o dos machos. Animal classificado na Ordem Decapoda, Família Ocypodidae. É comum em regiões de mangue. Apresenta hábito diurno com maior Ucides-cordatus Alimentação da atividade na baixa-maré. Os machos (caranguejo-uça) avifauna apresentam diferença no tamanho dos quelípodos (pinça), utilizando o de maior tamanho na defesa do território e no ritual de acasalamento.

202 Fonte: adaptado de SILVA (2006); ALMEIDA et al. (2008); MOREIRA et al. (2010), CORREA et al (2009). Além dos camarões da família Penaidae, evidencia-se a presença de uma espécie de camarão exótica invasora, conhecido como camarão-da-malásia ou camarão-tigre (Macrobrachium rosenbergii rosenbergii ou Macrobrachium rosenbergii dacqueti), constituindo em uma ameaça contra a fauna aquática nativa, sendo foco do Programa de Proteção da Fauna do presente Plano de Manejo. O camarão-da-malásia (Macrobrachium rosenbergii rosenbergii ou Macrobrachium rosenbergii dacqueti) é crustáceo da família Palaemonidae. Caracteriza-se por um rostro longo com os flagelos antenais (antenas) de coloração azul, as fêmeas atingem o tamanho máximo de 34 cm de comprimento e os machos adultos atingem cerca de 26 cm (CHAN, 1998). Os estudos genético-moleculares de IKETANI et al. (2010) indicam que a espécie ocorrente no Brasil é Macrobrachium dacqueti. A espécie é amplamente cultivada no mundo, devido a facilidade de criar a espécie em cativeiro e seu alto valor comercial (KUMAR et al,. 2015). Segundo relatos locais obtidos durante as Oficinas de Planejamento Participativo (julho de 2015), a espécie já foi encontrada dentro dos limites da RESEX. A introdução de M. rosenbergii nas águas brasileiras data do ano de 1978, ocasionada pelo Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco, que estudava a viabilidade da criação da espécie (CAVALCANTI et al., 1986 apud CINTRA, 2003). A partir da década de 1990, diversas instituições públicas e privadas passaram a criar e introduzir os animais, de forma que a origem da maioria das populações que hoje existe no Brasil é desconhecida (IKETANI et al., 2010). Com relação aos impactos da espécie, estudos indicam que o camarão-da-malásia é classificado como risco médio (Silva, 2015; CEPAN, 2011). A classificação de risco médio ou alto de determinada espécie indica o grau de dificuldade em controlar o nível de invasão ou erradicar a espécie (ZILLER e DECHOUM, 2007 apud SILVA, 2015). O risco causado pela presença do camarão-da-malásia na RESEX Cururupu, assim como em outros locais, ocorre tanto pela ocupação de nichos pela espécie, quanto pela predação de outras espécies de camarão. Além desses problemas, o camarão-da-malásia ainda é transmissor do vírus WSSV (Síndrome da mancha branca), o que pode representar uma ameaça a integridade das populações nativas. O WSSV é um vírus que acomete espécies de crustáceos, porém não é considerada como zoonose. Ou seja, não é transmissível para humanos. Entretanto, pode ser transmitida de um indivíduo para

203 outro pela água, canibalismo ou de forma vertical (da fêmea para os ovos). O vírus causa uma infecção grave nos camarões, capaz de devastar populações em viveiros (Trindade et al., 1988; Guerther, 2010). A infecção é caracterizada pela pausa na alimentação, mobilidade baixa, queda no metabolismo, comportamento alterado na superfície da água, coloração avermelhada no corpo e aparecimento de manchas brancas na cabeça (por isso o nome da síndrome) devido ao acúmulo de cálcio e por fim, a morte dos indivíduos (Trindade et al., 1988; Guerther, 2010). Assim, é evidente a importância do monitoramento e ações de controle da espécie nas águas da RESEX, já que esta ameaça um importante recurso ecológico e econômico.  Quelônios - tartarugas-marinhas As tartarugas marinhas pertencem à classe dos répteis conhecidos como um dos grupos com maior longevidade no planeta. São animais lentos em terra, mas hábeis e furtivos na água. São ainda alvos de caça em muitas regiões, sobretudo para consumo dos ovos e da carne (DAMASIO e CARVALHO, 2010; PROJETO TAMAR108). São espécies bandeira da conservação internacional, existindo diversos projetos de conscientização e educação ambiental. No Brasil, o Projeto Tamar é pioneiro nesta discussão, contribuindo para os estudos ecológicos e para as medidas de conservação desses animais. Atualmente a RESEX não recebe estudos ou campanhas do Projeto Tamar, tal parceria seria interessante com o objetivo de aumentar a conscientização da população local e entender a dinâmica populacional das tartarugas na UC. Cinco espécies de tartaruga-marinha ocorrem em águas brasileiras, sendo: tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-de-couro (Dermochelis coriaceae), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) e tartaruga-verde-pequena ou tartaruga-oliva (Lepidochelys olivaceae) (PROJETO TAMAR, 1999). Essas cinco espécies exploram o litoral nordestino, buscando sítios de alimentação, áreas de nidificação ou apenas como rota migratória (PARENTE et al. 2006). Embora o Atlas da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção em Unidades de Conservação Federais do ICMBio (2011) não aponte a ocorrência de nenhuma destas espécies para RESEX de Cururupu, sabe-se da ocorrência das cinco espécies tartarugas na região. O trabalho de RIBEIRO (et al 2014), por exemplo, registra a ocorrência das cinco espécies no litoral de São Luís.

108 Projeto Tamar – Caça e coleta de ovos - http://tamar.org.br/interna.php?cod=102

204 Muitas são as ameaças globais para esse grupo, entre elas: perturbação antrópica nas áreas de desova; destruição dos habitats; poluição e lançamento de resíduos sólidos e a caça. Adicionalmente, a atividade pesqueira constitui a principal ameaça para a conservação dos quelônios marinhos, onde os acidentes com apetrechos de pesca capturam, matam ou mutilam muitos animais (RIBEIRO et al. 2014, ICMBio, 2011). A Figura 196 apresenta a carcaça de uma tartaruga encontrada na praia de Retiro, em local próximo à intensa atividade de barcos pesqueiros.

Figura 196: Carcaça de tartaruga-marinha em Retiro. O encontro entre os pescadores e as tartarugas é comum, assim como a ocorrência de acidentes. Contudo, observa-se a consciência ambiental de muitos comunitários, que efetuam o salvamento dos animais quando possível, assim como respeitam as áreas e períodos de desova das espécies. A coleta e o consumo de ovos aparentam ocorrer de maneira pontual na UC, relacionado aos antigos hábitos de alguns moradores. Durante as Oficinas de Planejamento Participativo (atividade do mapa falado) relataram-se alguns pontos conhecidos de desova de tartarugas, principalmente ao longo das praias arenosas da RESEX, nas ilhas de Mangunça, Caçacueira, Guajerutiua, Valha-me Deus, Lençóis e Beiradão. Também foi relatada a existência de áreas de desova abrigadas nos interiores dos arquipélagos, como nas proximidades de Mirinzal. As redes de emalhe, os espinhéis e as redes de arrasto motorizado (pesca industrial) são as principais pescarias que capturam tartarugas marinhas, sendo a tartaruga-oliva a espécie com maior registro de captura acidental nas regiões norte e nordeste (CASALE, 2008 apud ICMBio, 2011). Tais ameaças são bastante significativas para o grupo, considerando ainda a tardia maturidade sexual, levando mais de 20 anos para que ocorra a primeira reprodução (ICMBio, 2011). Com o declínio populacional mesmo após as leis de proteção da fauna, foi instituído em 2010 o PAN Tartarugas Marinhas, cujo principal objetivo é “dar

205 continuidade e aprimorar as ações de conservação e pesquisa direcionadas à recuperação e sobrevivência das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, em níveis saudáveis capazes de exercerem seus papéis ecológicos” (ICMBio, 2011). Entre outras coisas, o PAN busca auxiliar na identificação das principais pescarias que interagem com tartarugas marinhas; na redução das capturas acidentais e da mortalidade de indivíduos; no monitoramento das áreas prioritárias de reprodução, desova e sítios de alimentação.  Mamíferos aquáticos São vinte e duas as espécies de mamíferos aquáticos identificadas na costa norte do Brasil, todas como alvos de grande importância para a conservação. No litoral maranhense destacam-se os gêneros Sotalia (boto), Steno (Golfinho-de-dentes-rugosos), Balaenoptera (grandes baleias), Globicephala (golfinho-piloto), Feresa (orca pigméia), Trichechus (peixe boi marinho) (SICILIANO et al., 2008). Porém, de acordo com os registros e informações levantadas, apenas o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus), o boto-cinza (Sotalia guianensis) e o golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) são avistados no interior da RESEX. O peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) é considerado o mamífero aquático mais ameaçado de extinção do Brasil, sendo, portanto, uma espécie bandeira para conservação. Pertence à Ordem Sirenia, Família Trichechidae. Ocorre em todo o litoral Amazônico, possui hábitos sociais e solitários, sendo comum avistar a interação das fêmeas com seus filhotes. Possui coloração cinza ou marrom, com pequenos pêlos sobre o corpo e unhas nas nadadeiras peitorais (SICILIANO et al., 2008). Segundo os estudos de LUNA (2001), as Reentrâncias Maranhenses é a segunda região do Brasil com o maior número de avistamentos de peixe-boi, porém é notável a diminuição da população ou extinção local da espécie. Tal declínio populacional deve- se à caça descontrolada praticada no passado, sendo que hoje as principais ameaças estão relacionadas às parasitoses e patógenos; contaminações e intoxicação por metais pesados e organoclorados109; captura acidental em redes de pesca e outras perturbações antrópicas que afetam seu comportamento alimentar e reprodutivo. Tal declínio também está associado às características reprodutivas lentas e tardias da espécie, limitante da recuperação populacional (LUNA, 2001).

109ICMBio (http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/lista-de-especies/6162- especie-6162.html)

206 A ocorrência da espécie é mencionada para a RESEX, todavia nenhum morador relatou seu avistamento nos últimos anos. Sua ocorrência foi associada apenas ao rio Uru, descrito como último local explorado pela espécie na região. Ressalta-se que a foz do rio Uru faz parte da RESEX, sendo que sua margem oeste tangencia os limites da UC. O animal é classificado como ‘vulnerável’ pela IUCN e como ‘em perigo’ pela Lista Oficial Nacional das Espécies da Fauna Ameaçadas (MMA, 2014). Conta também com o Plano de Ação Nacional para Conservação dos Sirênios – PAN Sirênios - lançado em 2011 como ferramenta para a proteção e manutenção da espécie. O boto-cinza (Sotalia guianenses) é um pequeno cetáceo da Família Delphinidae que mede cerca de 2m, muito comum nas áreas estuarinas do litoral do Brasil (SICILIANO et al., 2008). Apresenta hábito alimentar piscívoro, consumindo principalmente espécies das famílias Sciaenidae, Scombridae, Engraulidae, Pomatomidae, Pristigasteridae, além de camarões penaídeos. A espécie vive em média 35 anos, sendo que os machos atingem a maturidade sexual aos sete anos e as fêmeas entre os cinco e oito anos, com ciclo reprodutivo bianual (ICMBio, 2011). O animal pode ser visto em grupo ou sozinho, sendo comum o avistamento de fêmeas com filhotes (ZAPPES, 2010). Entre os fatores que ameaçam a espécie estão à contaminação e a poluição, somada à pesca intencional e a captura acidental (SICILIANO et al. 2008; MOURA, 2009). Entre os pescadores da RESEX já existe uma consciência quanto à conservação do boto, de forma que, quando capturado acidentalmente, a maioria dos pescadores realiza a soltura do animal. Embora existam relatos sobre o consumo eventual da espécie na UC. O golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) é outro cetáceo também da Família Delphinidae, mede entre 2,4m até 3,8m, apresenta corpo robusto e cor cinza escura no dorso e cinza clara na porção ventral. Podem viver em média 40 anos e alcançam a maturidade sexual entre os 5 e 12 anos para as fêmeas e entre 10 e 13 anos para os machos. Ocorre desde o Caribe até a Argentina (MERMOZ, 1977), em regiões costeiras, estuarinas e ilhas oceânicas. As principais ameaças estão relacionadas às interferências humanas no ambiente aquático, como a poluição e acidentes em redes de pesca, que nos últimos anos têm causado o declínio populacional da espécie (ICMBio, 2011). As espécies também são alvo de medidas de conservação, em nível nacional, como o PAN Mamíferos Aquáticos - Grandes Cetáceos e Pinípedes110 e o PAN Mamíferos

110 PAN Mamíferos Aquáticos - Grandes Cetáceos e Pinípedes - Portaria nº 96/2010

207 Aquáticos – Pequenos Cetáceos111, ambos criados com o objetivo de diminuir o impacto sobre as espécies, aumentar o conhecimento acerca destes mamíferos e estabelecer ações de conservação conjuntas.

3.10 USO DO SOLO E UNIDADES DE PAISAGEM NO INTERIOR DA RESEX

As unidades de paisagem representam a síntese de fatores diversos da realidade, tal como a história geológica, a morfogênese do relevo, a dinâmica biológica e a ação humana na paisagem ao longo dos tempos. A cartografia e análise das unidades de paisagem são ferramentas de síntese complexa da realidade, capaz de evidenciar a representatividade, uso e condição dos ecossistemas associados às populações tradicionais (MARTINELLI e PEDROTTI, 2001).

Contudo, antes da apresentação e descrição das unidades de paisagem que compõem a RESEX e a forma como estas são utilizadas é importante jugar luz à problemática encontrada durante o trabalho cartográfico desenvolvido para esse Plano de Manejo, assim, foi observada relativa incoerência nos limites atuais definidos e cartografados para a UC.

A partir da sobreposição dos mapas criados para o Plano de Manejo (desenvolvido sobre imagens de satélite, na escala 1:50.000 ou superior) e a carta utilizada para a definição dos limites oficiais da UC (elaboradas pela Diretoria de Serviço Geográfico (DSG) do Exército Brasileiro na escala 1:250.000, cuja primeira edição é de 1984), foi evidenciada uma diferença entre as representações cartográficas e as informações bibliográficas.

Resumidamente, no polígono de delimitação atual, baseada nos limites descritos no decreto de criação da UC, verifica-se que algumas comunidades do entorno aparecem sobrepostas aos limites, assim como fisionomias florestais e usos do solo incoerentes com o decreto de criação. Dessa forma, após reuniões com a equipe de Panejamento do ICMBIo, sugeriu-se a revisão dos limites da UC.

A partir dessa observação notou-se a necessidade de uma análise dos limites da UC em campo. Assim, em fevereio de 2016, ocorreu uma expedição, com a participação do Gestor da UC e da Coordenação da Divisão de Consolidação de Limites do ICMBio, com o objetivo de verificar se existem comunidades do entorno da UC que estejam, na realidade, inseridas em seu limite.

111 PAN Mamíferos Aquáticos – Pequenos Cetáceos - Portaria nº 86/2010.

208 Após o trabalho de campo foi evidenciado que os limites terrestres oriundos do arquivo em extensão shapefile da demarcação se estendem além das feições de mangue identificadas em campo, incorporando-se áreas de igapós e matas de galeria. Porém não incorpora as comunidades Aquiles Lisboa, Maracujatiua, Ceará, Arapiranga, Palacete, Cachoeirinha e São Paulo. Contudo, contudo, cabe considerar que a paisagem atual sofreu modificações desde a criação da RESEX, vendo que os limites da UC são influenciados por fatores ambientais, como a maré.

Assim, concomitante à redação deste Plano de Manejo, tramitou a revisão dos limites oficiais da UC sob-responsabilidade da Coordenação da Divisão de Consolidação de Limites do ICMBio.

Contudo, tendo em vista que as questões de limites permanecem em análise, as informações apresentadas nesta seção do documento estarão amparadas na demarcação e limites vigentes para a RESEX e disponibilidado pelo ICMBio.

A Figura 197 apresenta o Mapa das Unidades de Paisagem da RESEX Marinha de Cururupu, estando à distribuição das respectivas áreas e porcentagens de cobertura inseridas na Tabela 17 e a Figura 198, em seguida. Nota-se que mais da metade (61,4%) da área da UC corresponde ao ambiente aquático, o espelho d’água, tal como furos, canais, baías, croas, lavados e poços, totalizando cerca de 115.520 hectares. Quanto às paisagens terrestres, a RESEX possui mais de 54 mil hectares de manguezais, que representam pouco menos que 1/3 da área da RESEX. Os mangues e as águas perfazem cerca de 90% da área RESEX Marinha, valorizando ainda mais sua importância no contexto de conservação regional. De modo a evidenciar melhor as outras paisagens terrestres, a Tabela 18 e a Figura 198 apresentam a distribuição destas unidades excluindo aquelas do ambiente marinho.

209

Figura 197: Mapa Unidades de Paisagem

210 Tabela 17: Unidades de Paisagem – Quadro de Áreas da RESEX

Área Classe de Unidade de Paisagem % (ha) Apicuns e Campos Salinos 4.001,5 2,13 Praias arenosas 1.371,6 0,73 Restingas 7.254,7 3,86 Fragmentos florestais de Vegetação Ombrófila Secundária 1.931,9 1,03 Vegetação Secundária associada ao extrativismo e 2.982,6 1,59 agropecuária Manguezais 54.706,5 29,09 Comunidades Insulares 218,3 0,12 Comunidades Continentais do entorno 62,3 0,03 Área Urbanizada - Cururupu 10 0,01 Poços 674,7 0,36 Croas 19.529,4 10,38 Lavados 1.560,7 0,83 Espelho d'água 93.787,3 49,86 Total Oficial 186.053 100,00

Figura 198: Distribuição das Unidades da Paisagem Terrestres na RESEX

211

Tabela 18: Unidades de Paisagem Terrestres

Área Unidade de Paisagem Terrestre % (hectares) Apicuns e Campos Salinos 4.001,5 5,52 Praias arenosas 1.371,6 1,89 Restingas 7.254,7 10,00 Fragmentos florestais de Vegetação Ombrófila Secundária 1.931,9 2,66 Vegetação Secundária associada ao extrativismo e 2.982,6 4,11 agropecuária Manguezais 54.706,5 75,42 Comunidades Insulares 218,3 0,30 Comunidades Continentais do entorno 62,3 0,09 Área Urbanizada - Cururupu 10 0,01 Soma total 72539,4 100,00

Figura 199: Distribuição das Unidades da Paisagem Terrestres na RESEX As paisagens da RESEX são características do ambiente costeiro, onde as fisionomias vegetais são adaptadas à influência marinha, como os manguezais, apicuns, campos salinos e diferentes restingas. Nas porções próximas ao continente, onde se observa uma transição entre fitofisionomias, assim como no interior da ilha de Mangunça e Ilha das Moças, observa- se a presença de Vegetação Secundária de Floresta Ombrófilas. Referente à área terrestre da UC, os Apicuns e Marismas representam aproximadamente 5,5%; restingas 10% e os manguezais 75%. Os últimos 10% de área terrestre inclui as comunidades, as praias arenosas e trechos de vegetação secundária.

212 As 12 comunidades insulares e 4 localidades representativas da RESEX somam pouco mais de 218 hectares (0,3% da área terrestre), sendo, porém as mais bem trabalhadas pela população, pois, obviamente, se vive no interior destas comunidades. Na mesma lógica estão as restingas, historicamente exploradas e conhecidas – oferecendo alimentos e medicamentos naturais. Por fim, ressalta-se que, conforme descrito anteriormente a sobreposição dos limites oficiais e à imagem de satélite acaba por incluir áreas que, por meio do entendimento do decreto de criação da RESEX, não deveriam compor seu território – como no caso também da área urbanizada de Cururupu e da Vegetação Secundária explorada pelas comunidades rurais continentais. Assim, deve-se definir qual será o limite oficial da RESEX, afim de contemplar o território descrito no seu decreto de criação.

3.11 ATIVIDADES ILEGAIS E CONFLITANTES A seguir são apresentados os principais conflitos e atividades ilegais observados ou registrados na RESEX. a) Conflitos relacionados ao uso compartilhado dos territórios pesqueiros Refere-se à sobreposição ou interferência entre distintas artes de pesca, onde proximidade ou sobreposição das malhas gera prejuízos para um ou mais pescadores. Alguns casos exemplificam a situação, como:  em Guajerutiua, onde um espinhel com cerca de 4.000 anzóis, colocado em “zigue- zague”, que impedia a presença de outras artes;  rede tipo camaroeira que impede a passagem do puçá de arrasto, prejudicando suas capturas;  em Retiro e Beiradão, onde a sobreposição de zangarias gerava prejuízos à zangaria mais próxima à costa;  em Porto do Meio, onde a disputa por pesqueiros geram inclusive ameaças e agressões físicas;  quando os filames das redes tipo malhão se sobrepõe, perturbando ambas as armadilhas (ALMEIDA, 2013). Neste mesmo sentido, registrou-se a queixa dos pescadores de Porto Alegre, que no Reconhecimento de Campo afirmaram que o “malhão também pega o espinhel”. Algumas áreas mais produtivas são compartilhadas por pescadores de diferentes comunidades e que utilizam diferentes artes. Nestes locais existem conflitos potenciais, onde os códigos morais da pesca e a normatização da UC contribuem para a resolução

213 pacífica da situação. Os pesqueiros compartilhados mais citados são a cabeceira da Menina, da Parida, de Nazaré, do Buiãozinho, o Furo do Colégio, o Lavado do Campexá, ilha de São João Mirim, o baixo do Jonas e a ponta do Come Vivo e do Gino. Somam-se a esta situação o furto de material de pesca ou de pescados capturados. Pode ser mediante a invasão de uma propriedade, especialmente no período onde o pescador está ausente de sua residência, ou através do furto do pescado já capturado em redes e muruadas. Alguns conflitos também se originam na divisão dos produtos da pescaria, onde algum pescador pode subestimar o total pescado, levando vantagem indevida na repartição dos lucros (ALMEIDA, 2013). Tais conflitos contam, muitas vezes, com a mediação da gestão da RESEX, sendo, todavia, mais comum a resolução harmônica entre as partes mediada por lideranças locais. b) Conflitos relacionados ao Calendário da Zangaria Registrou-se durante a X Reunião Ordinária do Conselho Deliberativo da RESEX de Cururupu o conflito existente entre a proibição da zangaria (IN nº 39/2004), que visa a proteção dos estoques de sardinhas (Sardinella brasiliensis). No litoral ocidental maranhense, a proibição ocorre durante os meses de junho, julho e agosto. Os pescadores relatam que a proibição da rede ocorre de forma tardia, pois a entrada das sardinhas se dá a partir do mês de abril e maio. Na reunião os pescadores concordaram que o período de proibição da pesca de zangaria deveria ser para os meses de abril, maio e junho. Desta forma, acordou-se, nesta oportunidade, que o Conselho trabalharia na elaboração um documento com as explicações e justificativas relativas ao tema e, em seguida, o material seria enviado para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que atualmente também é responsável pelas questões de pesca. Na décima reunião do Conselho Deliberativo ficou definido que o documento será elaborado, a partir de argumentação técnico-científica, solicitando a alteração do período para os meses de abril até junho. Além da questão sobre a determinação errada do período de defeso, os relatos da comunidade corroborados pela pesquisa da doutoranda Emily Horton (Universidade da Geórgia – EUA) e Profº Doutora Zafira de Almeida, indicam a presença da espécie (Centegraulis edentulus), conhecida como sardinha-boca-torta. Essa informação joga luz a um possível segundo equívoco, já que existe a possibilidade de haver outra espécie de sardinha presente nas águas da UC. O respectivo estudo corrobora com dados sobre a distribuição geográfica da S. brasiliensis no Brasil, que apontam sua área de ocorrência

214 apenas entre os estados do Rio de Janeiro (Cabo de São Tomé, 22º S) e Santa Catarina (ao sul do Cabo de Santa Marta Grande, 28º S), embora seja largamente encontrada em todo o mundo (Cergole & Neto 2011; Castello, 2006). Apesar dessas informações, os estudos de Almeida (2008) citam a ocorrência de um peixe conhecido como sardinha- verdadeira no Maranhão. Contudo, não traz a classificação científica em nível de espécie, sendo apresentado apenas como (Sardinella sp.). c) Conflitos com artes de pesca destrutivas ou ilegais

Referem-se às artes de pesca evidentemente destrutivas e que, por esse motivo, são proibidas, coibidas e mesmo assim praticadas. Inclui artes tradicionais, como “tapagem de igarapés”, de origem indígena, a zangaria alta (ou simplesmente “rede alta") e o fuzarcão, além das redes poitada112. No caso dos dois primeiros, sua utilização é associada às cabeceiras dos igarapés, isto é, as áreas mais a montante dos furos de maré, local preferencial de abrigo e desenvolvimento de diversas espécies em estágio juvenil. A tapagem e a rede alta são vistas como artes predatórias, uma vez que não dão possibilidade ao pescado de escapar, capturando indivíduos imaturos e espécies sem valor comercial. Neste caso, apenas os pescados de interesse são aproveitados, sendo que todo o resto capturado é descartado. Diz um pescador que “quando se vê urubu rodeando a cabeceira, é certo que houve despesca de tapagem”, devido à elevada mortalidade de pescados. A zangaria alta constitui-se como uma arte mais prejudicial e de maior magnitude que a tapagem, que utiliza em média 40 braças de rede. Pois para se realizar a pescaria de Rede Alta, no mínimo, são utilizadas 400 braças de rede com até 8 metros de altura bordejando as raízes do manguezal. A rede é montada de forma a cercar um fragmento de manguezal durante a maré alta, capturando todos os animais que se alimentam no interior da vegetação no momento da vazante. Essas atividades prejudicam tanto as populações de peixes quanto os pescadores, já que muitos peixes de interesse comercial são capturados ainda jovens e pequenos, impossibilitando sua reprodução e desenvolvimento, além de reduzir o valor do quilo. Essa arte de pesca já é proibida na RESEX em função do Decreto Municipal nº 06/2000. Soma-se à situação o conflito evidenciado no reconhecimento de campo, onde a comunidade de São Lucas se mostrou muito preocupada com a proibição do arrasto de puçá pelo Acordo de Gestão, nos meses de abril, maio e junho, com objetivo de proteger

112 Rede chumbada que, com tal peso, estica-se até o fundo da coluna d’água, inviabilizando alternativas de escape para os pescados.

215 o recrutamento do camarão. Contudo, com objetivo de minimizar a este conflito, o Conselho Deliberativo da RESEX reduziu a restrição do uso do arrasto de puçá para o período de 2 meses. Por fim, há que se observar, além dessas pescas irregulares, a captura intencional de espécies protegidas, especialmente o Mero (Epinephelus itajara), que é muito apreciado pela culinária local. Menos representativa, ressalta-se ainda a captura do boto cinza (Sotalia guianensis) e do peixe boi marinho (Trichechus manatus), que mesmo não relatada, é uma ameaça difusa a essas espécies. d) Conflitos com pescadores de fora da RESEX Por se tratar de uma área protegida, a RESEX permite o uso sustentável de seus recursos pelas populações extrativistas caracterizadas no perfil beneficiário da família, conforme Portaria ICMBio 126/2014, que traz as seguintes definições:

 Beneficiários Residentes: são aqueles em que a família mora na comunidade e faz parte da cadeia produtiva, ou, quando o chefe da família faz parte da cadeia produtiva e mora na reserva, mas o restante da família da família está fora dos limites da UC.

 Usuários Externos que fazem uso direto dos recursos naturais da RESEX: são aqueles que se ausentaram da UC, mas mantém vínculo familiar na reserva, ou a família que utiliza a casa na UC apenas eventualmente e participa da cadeia produtiva (não dependendo exclusivamente dela), ou o chefe de família que faz parte da cadeia produtiva e mora com sua família no entorno;

 Usuários externos que fazem uso indireto dos recursos naturais da RESEX: quando a família utiliza sua casa na comunidade somente para lazer, não deixando vínculo familiar, ou quando a família foi embora da Resex e se desfez de seus pertences, não deixando vínculo familiar;

Assim, ocorrem alguns conflitos relacionados com a exploração dos recursos naturais (principalmente pesqueiros) da RESEX por sujeitos não caracterizados como beneficiários da UC, conforme Portaria 126/2014. Como exemplo pode-se citar uma grande apreensão de redes, em 2013. A fiscalização da RESEX apreendeu 4 mil braças de rede do tipo zangaria alta de pescadores oriundos do município de Bequimão. Ao todo foram lavradas 7 infrações, sendo 5 para pescadores de Bequimão e 2 para pescadores de Cururupu.

216 O conflito foi relatado durante o reconhecimento de campo e, especificamente, na 4º OPP – onde participaram as comunidades que mais recebem pescadores não beneficiários. Embora as apreeensões tenham ocorrido na porção sudeste da reserva. Tal ação evidencia a existência de ordenamento e fiscalização legal na RESEX, ainda que seja carente de funcionários, de forma a dificultar a cobertura de toda a área. Por fim, ressalta-se a existência de pescaria realizada por pescadores de outros municípios, porém camuflada pela participação de pescadores beneficiários. Onde o mestre da pescaria é um beneficiário da UC, porém seus companheiros não. Assim, o barco é comandado por um extrativista local, porém parte do recurso e do lucro é obtida para outros municípios. Tais ações também causam a sobre-exploração dos recursos pesqueiros, bem como interferem na economia dos pescadores beneficiários. e) Conflito de posse de terra Quando uma Unidade de Conservação é criada, as propriedades particulares existentes dentro dos seus limites não passam automaticamente para o poder público, sendo necessária a regularização fundiária. Esse processo identifica e transfere a posse das terras para o Instituto Chico Mendes a partir de ações de desapropriação de imóveis rurais e indenização de posses (IN 02/2009). Este processo é chamado de Consolidação Territorial da Unidade de Conservação e faz com que o órgão gestor tenha maior autonomia e legalidade para a gestão da área. Atualmente existe um litígio entre a União e os herdeiros de Achilles Lisboa, em função da propriedade existente na Ilha de Mangunça. A situação ainda encontra-se pendente, havendo a necessidade do levantamento planialtimétrico da área reivindicada, assim como a possível indenização dos antigos proprietários. f) Conflitos relacionados ao (ab) uso de drogas É notável a preocupação dos moradores, especialmente os mais velhos, com a disseminação de uso de algumas drogas na região, especialmente a djamba (cannabis) e a merla (subproduto da cocaína), conforme registrado no reconhecimento de campo. O uso de drogas ilícitas foi associado aos jovens não participantes da pesca, em virtude da perda de valores morais e da associação destes com moradores das cidades (ALMEIDA, 2013). O abuso de drogas lícitas, como o álcool (especialmente conhaque e cachaça) e o tabaco é um problema ainda maior, tornando-se mais evidente nos períodos de festejos e comemorações. A situação conflituosa refere-se às brigas, discussões e desentendimentos potencializados pela embriaguez, não raramente motivo de muitos

217 crimes e agressões evidenciadas. Na maioria dos casos tais conflitos ocorrem entre familiares e/ou conhecidos. O abuso do álcool é mais comum por homens, mas também evidenciado em mulheres e crianças.

3.12 PROJETOS DE PESQUISA E ESTUDOS CIENTÍFICOS NA REGIÃO113. Além dos programas descritos abaixo, devido a sua riqueza natural, a RESEX é um ponto atrativo para o desenvolvimento de estudos científicos. Assim, em parceria com as Universidades públicas do Estado (UEMA E UFMA), a área é utilizada em estudos de graduação e pós-graduação, tendo seu nome relacionado a publicações em eventos científicos, como Congressos e Simpósios. Mais especificamente na área da pesca, a UC se tornou importante nos estudos de pesquisadores renomados, como por exemplo, nas pesquisas sobre recursos pesqueiros da Profº Doutora Zafira da Silva de Almeida. Na área de antropologia, a RESEX é utilizada como sítio de estudo da Profº Doutora Madian de Jesus Frazão Pereira. a. Programa ReviZEE O Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva – ReviZEE, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, iniciou-se em 1995, sendo formado por 26 representantes de diversos Ministérios, Universidades e Forças Armadas. Seu principal objetivo é o levantamento dos potenciais sustentáveis de captura dos recursos vivos na ZEE, de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (assinada pelo Brasil em 1982 e ratificada em 1988). Entre outros estudos, o programa produziu informações fundamentais para a gestão dos recursos naturais na costa norte brasileira, destacando-se os trabalhos sobre a distribuição, abundância, potencial pesqueiro e biologia do Pargo (Lutjanus purpureus Poey), cavala (Scomberomorus cavalla), serra (Scomberomorus brasiliensis) sardinha (Sardinella brasiliensis) e o bonito-listrado (Katsuwonus pelamis). Grande parte do conhecimento estruturado sobre a oceanografia química e física da costa norte brasileira também se deve ao ReviZEE. O relatório executivo de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos (2006) traz uma série de considerações sobre a atividade de pesca no Maranhão, contribuindo para o conhecimento sobre a situação dos recursos pesqueiros no Estado. A bibliografia consultada apresenta alguns estudos realizados na costa do Maranhão, contribuindo para o conhecimento da região. Entre eles podemos

113 Observa-se que parte dos trabalhos produzidos no âmbito do Programa Integrado de Estudos Ecológicos foram amplamente utilizados para compor esse diagnóstico.

218 citar estudos sobre: as esponjas da costa do Maranhão e mais especificamente do Golfão, a frota serreira do município de Raposa, os camarões da plataforma continental do estado do Maranhão, a massa d’água e características hidrológicas da plataforma do estado do Maranhão no período seco, entre outros (SILVA et al., 2007; SANTOS et al., 2006; PONTES et al., 1997; SILVA et al., 2007; SOARES et al, 2006; MOTHES et al., 2004). b. CEMAVE O CEMAVE é um centro de pesquisa gerido pelo ICMBio, atua nacionalmente na coordenação de um Sistema Nacional de Anilhamento de Aves Silvestres – SNA, cuja atividade prioritária é a marcação com anéis numerados (anilhas) de aves na natureza. Esse programa é responsável pela avaliação do estado de conservação das aves brasileiras e pela elaboração e coordenação de Planos de Ação Nacionais (PAN) para conservação de espécies ameaçadas de extinção e das aves migratórias. Na região, o CEMAVE atua no monitoramento das aves encontradas na Croa Alta dos Ovos (Apicum-açu), que embora, fora dos limites da RESEX, muito provavelmente recebe os mesmo indivíduos ou boa parte dos que utilizam a área e recursos da UC. c. Grupo de Estudos Mamíferos Aquáticos da Amazônia - GEMAM Vinculado ao Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), o Grupo de Estudos Mamíferos Aquáticos da Amazônia tem como objetivo obter informações sobre as espécies de botos, baleias, golfinhos e peixes-boi que ocorrem na costa norte. Desenvolvem pesquisas na área de caracterização da pesca e interação com os mamíferos aquáticos, ecologia do peixe-boi, etnoconhecimento, e bioindicadores de qualidade ambiental. d. Cetáceos no Maranhão Projeto Cetáceos no Maranhão - PROCEMA tem como objetivo o monitoramento regular ao longo da costa maranhense e piauiense para registro e informação aos pescadores e comunidades ribeirinhas sobre a importância de preservar não somente os cetáceos, mas todo o ecossistema que engloba a região, tais como restingas, estuários, manguezais e sua fauna acompanhante. Apesar do projeto não apresentar ligação direta com a área da UC, pode ser uma oportunidade de parceria para a produção de conhecimentos acerca dos cetáceos na RESEX. e. Projeto UNESCO – Mapeamento das cadeias produtivas do camarão regional O objetivo do projeto é mapear as cadeias produtivas do camarão regional, do camarão piticaia e do caranguejo, articulando e capacitando pescadores artesanais para que negociem o pescado em melhores condições partir do apoio do desenvolvimento de

219 cadeias produtivas sustentáveis. O projeto foi elaborado em conjunto com representantes do governo federal, dos governos do Pará, Amapá e Maranhão, de prefeituras, universidades, institutos de pesquisa, organizações não governamentais e pescadores e tem um prazo de 7 a 10 anos, com orçamento aprovado até 2017. As primeiras reuniões do comitê gestor do projeto foram previstas para o primeiro semestre de 2015. Segundo a UNESCO, para que o projeto funcione é importante que exista um comprometimento entre os atores envolvidos e que ocorra a formação e legitimação de liderança entre os pescadores114. f. Projeto Pesca para Sempre – RARE A RARE é uma instituição que atua internacionalmente na valorização na exploração dos recursos naturais, a partir do comprometimento das populações locais, a proteção da natureza. Atua em Cururupu, por meio do Projeto “Pesca para Sempre”, que busca promover a pesca sustentável de forma proteger os recursos pesqueiros. Na Reserva Extrativista de Cururupu o objetivo do projeto é propor medidas de conservação e participação social a partir de levantamentos in loco e da realização de campanhas para promover a pesca sustentável da pescada-amarela (C. acoupa). Nos dias 26 e 27 de abril de 2015, o gerente do projeto esteve na Ilha de Valha-me Deus com objetivo de apresentar a metodologia do projeto aos moradores da RESEX. Durante a reunião, o gerente do projeto Pesca para Sempre apresentou a metodologia da RARE que já é trabalhada em outros lugares do mundo e falou sobre os objetivos do projeto. O trabalho conta com o apoio de uma moradora da RESEX, Josenilde Ferreira, que atua como coordenadora de campo do projeto. 115 g. Projeto Turismo de Base Comunitária Coordenado pelo Centro de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais (CNPT) e com apoio financeiro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), teve como objetivo estruturar e estimular o turismo sustentável em unidades de conservação povoadas por comunidades tradicionais. Iniciou-se em 2011 e teve a ilha dos Lençóis como área “piloto” do projeto – uma vez que já possui certo fluxo turístico. Contemplava inicialmente três fases: 1° Realizar um diagnóstico das atividades e pontos turísticos da Ilha de Lençóis;

114 Informações extraídas da página oficial da Unesco < http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this- office/single- view/news/unesco_supports_development_for_artisanal_fishery_in_the_amazon_coast/#.VedjRvlViko> 115 Informações extraídas da página oficial da RARE < http://www.rare.org/pt-br/work#.VedknvlViko> e da página oficial do ICMBio

220 2° Realização de estudos de viabilidade econômica, de suporte da ilha e de marketing; 3° Formalização do trabalho dentro do Conselho da Reserva, através da formação de um grupo para discussão do turismo na ilha, formado pelos moradores, técnicos do ICMBio, pesquisadores de turismo e funcionários da prefeitura. O inventário participativo de ecoturismo no local foi realizado, intitulado “Ecoturismo de Base Comunitária na Ilha dos Lençóis”. O grupo de trabalho formado participou de ações de capacitações junto à Rede Cearense de Turismo Comunitário, com o intercâmbio de moradores e representantes. As etapas 2 e 3 não foram concluídas por problemas na execução dos estudos (MACHADO, 2013). h. Projeto Meros do Brasil O Projeto visa criar estratégias para a proteção da espécie Epinephelus itajara, um peixe da Família Serranidae criticamente ameaçado de extinção. As ações de pesquisa e conservação do mero são aplicadas em sete estados brasileiros de ocorrência da espécie: São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Espírito Santo, Pará, Pernambuco e Bahia. A criação do projeto ocorreu no ano de 2002, a partir da iniciativa de um grupo de pesquisadores de Santa Catarina com objetivo de capitanear recursos para a pesquisa e ações em campo, vendo a situação crítica da espécie. E em 2007, o projeto foi contemplado pelo patrocínio do Programa Petrobras Ambiental. A parceria ampliou o escopo do projeto, de forma que hoje o trabalho não atua apenas com a conservação da espécie (E. itajara), mas também com a conservação e estudos dos ambientes marinho- costeiros associados (manguezais, recifes de corais e costões rochosos). Atualmente o projeto foca suas atividades na biologia pesqueira, genética, conhecimento ecológico local, aquicultura marinha, comunicação, educação ambiental e mergulho científico em nove estados litorâneos do país. Apesar do Maranhão não ser escopo das ações de pesquisa do projeto, a Reserva Extrativista de Cururupu já foi contemplada com algumas ações. Em 2013, o projeto desenvolveu algumas ações das ilhas da reserva. No mês de Setembro a Ilha de Lençóis recebeu a equipe pedagógica do Projeto Meros do Brasil/Coletivo Memórias do Mar e da Associação Socioambiental para a realização de atividades com os alunos da Unidade Integrada São José, escola da Ilha de Lençóis. No mesmo ano o Mero Móvel (ações itinerantes orientadas por um projeto Político Pedagógico) visitou as ilhas de Lençóis e Bate-Vento para uma ação junto á população em parceria com o CNPT e a Reserva.

221 3.13 DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA A RESEX de Cururupu é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável formada por quatro arquipélagos. Representa uma área de mais de 183 mil hectares, servindo de berçário para espécies de peixes e invertebrados aquáticos. Está inserida na APA das Reentrâncias Maranhenses e é classificada como sítio Ramsar (área prioritária para a conservação de aves migratórias). Pelos serviços ecossistêmicos prestados, é mundialmente reconhecida como uma área fundamental para o equilíbrio ecológico de diversas espécies da flora (com mais de 33 Famílias) e fauna silvestre (com mais de 110 Famílias). Embora ocorra o uso da madeira pelas comunidades tradicionais, a RESEX é constituída por uma imensa floresta de manguezal bastante conservada, onde predominam as principais espécies brasileiras de mangue, Rhizophora mangle, Avicennia sp. e Laguncularia racemosa. Os manguezais, ecossistemas de importância global, são fundamentais para a manutenção e perpetuação de uma infinidade de espécies de peixes ósseos, elasmobrânquios, crustáceos e moluscos, sendo áreas ricas em matéria orgânica. Adicionalmente, tal ecossistema fornece as condições de abrigo e alimentação para o desenvolvimento de espécimes juvenis. Além dos extensos manguezais, a UC é ainda caracterizada por outras fitofisionomias, como: as restingas, importantes para a proteção dos lençóis freáticos e como fornecedoras de recursos alimentícios e medicinais, a partir de espécies como o cajueiro (Anarcadium occidentale) e o guajeru (Chrysobalanus sp.); os apicuns e marismas, servindo de sítio de alimentação para a fauna silvestre e a floresta ombrófila, vegetação predominante em duas ilhas da reserva, caracterizadas por abrigar espécies da fauna não encontradas no restante das ilhas e importantes espécies vegetais, como a maçaranduba (Manilkara huberi). Sendo esta fitofisionomia um importante objeto de estudo. Quanto à fauna, embora ainda exista a necessidade de inventários faunísticos, sabe-se que a RESEX de Cururupu serve como hábitat, sítio alimentar ou área de descanso e migração para milhares de espécies da fauna silvestre. Destacando-se com relação à ictiofauna e avifauna, sendo uma das áreas marinhas com a maior abundância de peixes do Brasil, abrigando inclusive espécies altamente ameaçadas, como o mero (Epinephelus itajara) e o espadarte (Pristis sp.) e considerada de importância internacional para a conservação de aves marinhas e costeiras, como os maçaricos. Além de abrigar, entre inúmeras outras, espécies de rapinantes e o símbolo do Maranhão, o guará (Eudocimus ruber). A UC também é área de vida para os ameaçados

222 peixe-boi-marinho (Trichechus manatus), boto-cinza (Sotalia guianensis) e tartarugas- marinhas, sendo que o primeiro já não é observado com freqüência, fato que demanda importantes estratégias de conservação e a necessidade de estudos para a identificação das tartarugas-marinhas ocorrentes. Os manguezais e restinga da RESEX ainda servem de hábitat para tamanduás, primatas, morcegos, lagartos, cobras e anfíbios. As ilhas formadas pela vegetação ombrófila são responsáveis por abrigaram espécies de carnívoros, cervídeos, crocodilianos, entre outras. Por fim, mas não menos importate, cabe registrar que essa UC abriga um importante patrimônio material e imaterial e contribui para a manutenção da cultura e costumes tradicionais das famílias beneficiárias da UC. Para tanto, a RESEX garante o direito de uso do território pelas famílias extrativistas, mantendo assim, seu modo de vida tradicional. As famílias vivem basicamente da pesca tradicional e do uso da madeira para a construção dos apetrechos de pesca, casas e outras estruturas necessárias. O Acordo de Gestão, criado de forma participativa, estabelece os direitos e deveres dos moradores em relação às UC. Assim, a implementação do Plano de Manejo, associada aos estudos que garantam a sustentabilidade das famílias tradicionais e o conhecimento dos recursos naturais e do meio físico são necessários para manter a significância da RESEX de CURURUPU em longo prazo.

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VOLUME II

PLANEJAMENTO DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DE CURURUPU

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4. PLANEJAMENTO DA RESEX O Planejamento da UC fundamenta-se em duas grandes fontes de informação, os dados técnicos e científicos obtidos e sistematizados ao longo do diagnóstico socioambiental da RESEX e nas 4 Oficinas de Planejamento Participativo – OPPs, realizadas junto com as comunidades da UC em julho de 2015 e nas Reuniões de Planejamento, ocorridas em Santos/SP e Brasília/DF com a equipe de pesquisadores e gestores responsáveis pelo PM. A participação comunitária foi inquestionavelmente o fator chave para o entendimento e definição de inúmeras “variáveis” do projeto, como a identificação das principais espécies utilizadas, ecossistemas frágeis e processos naturais que precisam ser protegidos com maior urgência, justificando assim as ações de conservação adotadas. O Planejamento da RESEX foi elaborado com base no método proposto pela Aliança para as Medidas de Conservação (Conservation Measures Partnership - CMP), denominado Padrões Abertos para a Prática da Conservação. Estes padrões são produtos das contribuições, testes de campo, discussões e debates entre os diversos membros da CMP como African Wildlife Foundation (AWF), The Nature Conservancy (TNC), Wildlife Conservation Society (WCS), World Wide Fund (WWF), Fundations of Success, entre outros. Este método está baseado no Manejo Adaptativo, com cinco passos que compreendem o ciclo da gestão de projetos (Figura 200): 1. Conceituar a área e o que se deseja alcançar no trabalho; 2. Planejar as ações e monitoramento; 3. Implementar as ações e monitoramento; 4. Analisar os dados e avaliação de efetividade das atividades desenvolvidas; 5. Documentar e compartilhar o processo. O objetivo do método é “reunir os conceitos, alcances e terminologias comuns para o desenho, manejo e monitoramento dos projetos de conservação, a fim de ajudar aqueles que trabalham neste campo a melhorar a prática da conservação. Em particular, estes Padrões têm o propósito de fornecer os passos e a orientação geral necessária para a implementação bem sucedida dos projetos de conservação” (CMP, 2007).

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Figura 200: Ciclo da gestão de projetos dos Padrões Abertos para a prática da conservação Fonte: CMP, 2007 Objetivo Geral da RESEX De acordo com seu decreto de criação, a Reserva Extrativista de Cururupu tem por objetivo a “proteção dos meios de vida e a cultura das populações tradicionais e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da área”, reafirmando o objetivo das RESEX no SNUC. Em outras palavras, pode-se afirmar que o objetivo da UC é conciliar a conservação ambiental e desenvolvimento local, através do ordenamento da exploração dos recursos naturais e do fomento da qualidade de vida da população beneficiária, sempre respeitando seu modo de vida tradicional. Missão Baseando-se nos objetivos de criação da RESEX, assim como nas sugestões feitas pelos comunitários, pensando em uma missão que dialogue com os propósitos da população local, a missão116 da UC ficou definida como: Garantir, nesta porção do litoral maranhense, onde se insere a Reserva Extrativista de Cururupu, os estoques pesqueiros regionais para a manutenção

116 O Roteiro Metodológico Básico para elaboração de planos de manejo em UCs Federais (ICMBio, 2006) define missão como: “consiste numa declaração curta, direta e explícita da razão de existência da unidade de conservação. Busca definir, em poucas linhas, de forma clara e facilmente compreensível para qualquer pessoa, quais são os propósitos, princípios e compromissos fundamentais que governam a sua gestão. É construída com base nos objetivos legais da UC e nas diretrizes do órgão gestor, e visa estabelecer e difundir um senso comum orientador e unificador das práticas e ações desenvolvidas pela unidade. A sua elaboração final deve envolver os diferentes atores e setores que atuam na gestão da área protegida, para que o seu resultado tenha significado para todos os envolvidos.”

226 do modo de vida da população local117 e um ambiente equilibrado, por meio do uso sustentável dos recursos naturais. Visão de Futuro A visão representa um estado ou condição ideal altamente desejável para o futuro da RESEX em um prazo aproximado de 10 anos. A visão de futuro foi apresentada as comunidades, descrita como “o que esperamos da Reserva no futuro”. Intimamente relacionada com a Missão, tem o objetivo de orientar as ações cotidianas na construção do futuro desejado. Desta forma, a visão de futuro da Reserva Extrativista Marinha de Cururupu: “A Reserva Extrativista Marinha de Cururupu, caracterizada pela diversidade e abundância dos recursos naturais, com um ambiente costeiro equilibrado, que permita a reprodução do modo de vida tradicional e assegure os estoques pesqueiros para usufruto das presentes e futuras gerações”.

Objetivos Específicos O estabelecimento de objetivos específicos orienta a gestão da RESEX, uma vez que tais objetivos são oriundos do processo de planejamento participativo. Desta forma, o planejamento das estratégias, planos e programas desenvolvidos levarão aos objetivos específicos. Sendo assim, os objetivos específicos da RESEX são:  Manter os ambientes costeiros, como manguezais, restingas e praias, para provisão dos serviços ecossistêmicos;  Conservar as espécies marinhas, tais como tartarugas-marinha (Chelonia mydas), (Dermochelys coriácea), (Eretmochelys imbricata) (Lepidochelys olivacea), (Caretta caretta); cetáceos (Sotalia guianensis); mero (Epinephelus itajara); cação espadarte (Pristis sp.), entre outros;  Valorizar e fortalecer os saberes tradicionais relacionados às artes de pesca, carpintaria naval e as manifestações culturais típicas;  Promover o desenvolvimento de programas de pesquisa e monitoramento, tais como avifauna, animais marinhos ameaçados, estoques pesqueiros, manejo do mangue e dinâmica costeira, visando subsidiar a gestão e o manejo da Unidade de Conservação;  Garantir a reposição dos estoques pesqueiros das espécies de camarão e peixes para usufruto da população beneficiária;

117 Extrativista local – são os beneficiários e os usuários diretos definidos pela Portaria ICMBio 126/2014 – Acordo de Gestão

227  Manter os bancos/estoques de mariscos;  Diminuir a mortalidade das espécies acidentalmente capturadas durante as pescarias;  Conservar a biodiversidade da flora nativa, com a manutenção da cobertura vegetal e serviços ecossistêmicos.

4.1. ANÁLISE ESTRATÉGICA A análise estratégica é o processo pelo qual se analisa, interpreta e planeja as ações futuras da RESEX, com base no diagnóstico do ambiente e da participação direta das comunidades envolvidas, visando à adesão das populações ao processo de planejamento e gestão do território comum. As diversas experiências de gestão territorial de grandes áreas mostram que o sucesso das ações está diretamente relacionado à participação e aprendizagem social. Em outras palavras, o processo é determinante nos resultados. Assim, conforme já sinalizado, após a realização do diagnóstico ambiental foram realizadas também quatro Oficinas de Planejamento Participativo118, possibilitando a presença de representantes de todas as comunidades e localidades representativas no interior da UC, o que foi fundamental para a análise estratégica Figuras 201 e 202. Neste processo de aprendizagem mútua se construiu um modelo conceitual estratégico (Figura 203), que sistematiza as questões discutidas, de ordem ambiental, social, política e cultural, trazendo ao planejamento os anseios e necessidades reais da população envolvida e do local onde vivem. O modelo conceitual é um sistema de gestão, em forma de diagrama, que apresenta de maneira sistêmica as relações causais que influenciam o ambiente e as comunidades e que, portanto, são fundamentais para a gestão do território.

118 O diagnóstico participativo da RESEX também identificou demandas sociais, como carência de serviços de educação e saúde, apontando para a oportunidade de desenvolvimento de programas sociais. Contudo, considerando que essas temáticas pertencem à esfera do poder municipal e que a metodologia utilizada para a elaboração do Plano de Manejo enfatiza o trabalho voltado aos recursos naturais, tais demandas não serão discutidas em programas específicos, mas o Subprograma de Organização Comunitária visa alertar os comunitários à importância das populações tradicionais se organizarem para pleitear uma melhor condição de vida.

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Figura 201: Oficinas de Planejamento Figura 202: Comunidades fazem o Participativo apontamento das espécies vulneráveis e principais ameaças

Para entender o desenvolvimento da análise estratégica deve-se registrar o entendimento de alguns conceitos. O foco do modelo conceitual é o alvo de conservação (também chamado de alvo de biodiversidade), que pode ser um ecossistema, processo ecológico ou (conjunto de) espécies que se deseja ou se necessita conservar. Esses alvos de biodiversidade compõem o ambiente da UC, apropriado de maneira concreta ou simbólica pelas comunidades tradicionais que ali residem e/ou realizam suas atividades laborais. Desta forma, a conservação da biodiversidade é condição para a manutenção do modo de vida tradicional, desde que haja harmonia entre o ambiente, comunidade e gestão. Junto com os alvos de conservação, também são identificados os serviços ambientais e de bem-estar-social, definidos, respectivamente, como: produto, regulação de serviços e serviços básicos, oferecidos por espécies ou ecossistemas, que beneficiam a população humana; condições de uma vida digna para população humana, de acordo com os conceitos do Millennium Ecosystem Assessment119, ofertadas a partir da existência dos recursos naturais (alvos de conservação). Para cada alvo são identificadas as ameaças que os afetam, isto é, as ações humanas (ou fenômenos naturais agravados por atividades antrópicas) que, de maneira direta ou indireta, põe em risco o equilíbrio ecológico do alvo. São registrados também os fatores contribuintes das ameaças, isto é, os fatores sociais, políticos ou econômicos que perfazem a ameaça, sendo muitas vezes a sua origem ou vetor. A partir do modelo conceitual é possível desenvolver estratégias de conservação para os alvos de biodiversidade, ou seja, um conjunto de atividades e ações trabalhadas de maneira sistêmica e com um enfoque comum que objetivam a redução das ameaças.

119 Condições mínimas para uma vida digna: saúde; boas relações sociais; segurança e liberdade de escolha.

229 Tais estratégias podem ser avaliadas através de metas e indicadores, onde meta é um resultado intermediário e o indicador é a medida utilizada para avaliar o cumprimento da meta, ou seja, o indicador ajuda a avaliar a evolução do trabalho desenvolvido. Por esse motivo, deve ser mensurável, preciso, consistente e sensível (CMP, 2007). Com tais elementos se constrói um modelo sistêmico e complexo que se propõe a estruturar as informações mais relevantes sobre o território da UC, visando sempre a conservação ambiental e o incremento da qualidade de vida local. Todavia, o desenvolvimento da análise estratégica através da metodologia dos padrões abertos não evidencia os conflitos e questões de ordem social - registradas através de ferramentas do Diagnóstico Rural Participativo (DRP) durante a primeira expedição de campo. Em conjunto com a comunidade, foram definidos oito alvos de biodiversidade que incluem a maior parte dos ecossistemas e recursos explorados na UC. São eles: pescados comerciais; camarão; animais aquáticos ameaçados; mariscos; mangue; restinga; floresta ombrófila e aves. A seleção de alvos amplos e que associam duas ou mais espécies facilita a compreensão e monitoramento das dinâmicas naturais e produtivas da RESEX, permitindo o acompanhamento de muitos processos de origem complexa.

4.1.1 Alvos de Conservação A seguir são apresentados os alvos de conservação definidos e o modelo conceitual no qual se inserem, isto é, vinculados às ameaças, fatores contribuintes e estratégias. Em seguida são apresentadas as principais ameaças que perturbam o equilíbrio de cada alvo e então a cadeia de resultados de cada estratégia, que é definida pela sequencia de resultados esperados para o sucesso da estratégia. Em outras palavras, é uma descrição gráfica que apresenta as hipóteses do projeto (CMP, 2007). Os alvos abaixo foram selecionados devido a sua importância ecológica, econômica ou fragilidade diante de algum fator humano, sendo: pescados comerciais, camarão, animais aquáticos ameaçados, mariscos, manguezais, restinga, floresta ombrófila e aves. A análise dos alvos é seguida da priorização das ameaças, importante para o direcionamento das estratégias. Tal análise mostrou que o alvo aves encontra-se sob ameaças de baixo impacto. Assim, o respectivo alvo foi contemplado apenas nos Programas de Sustentabilidade, de forma que as estratégias foram direcionadas aos alvos que se mostraram, segundo a análise estratégica, mais vulneráveis.

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Figura 203: Modelo Conceitual

231  Pescados comerciais Este alvo considera as espécies de peixes capturados com fins comerciais, representando grande parte da renda da população local. Desta forma, sua conservação é importante não apenas para a manutenção de processos ecológicos, mas também como condição fundamental para o desenvolvimento socioeconômico. Os principais representantes da pesca comercial da RESEX são as espécies das Famílias Scianidae (pescadas e corvinas), Mugilidae (tainhas), e Ariidae (bagres). Destacando-se os Scianídeos pela captura das pescadas amarela e gó. Dentre as espéceis e Famílias mencionadas anteriormente, a pescada-gó (Macrodon ancylodon), a pescada-amarela (Cynoscion acoupa), a corvina-mole (Cynoscion virescens), a corvina (Micropogonias furnieri) e o bandeirado (Bagre bagre), a uriacica (Cathops spixii), uritinga (Sciades proops) e tainhas (Mugil curema e Mugil incilis) são uma das espécies mais exploradas na UC. Muitas dessas espécies utilizam as águas salobras do manguezal para o desenvolvimento das primeiras fases de vida, evidenciando a importância da conservação desses ambientes para a perpetuação das espécies. Devido a grande exploração pela atividade pesqueira, essas e outras espécies de importância comercial necessitam de estudos sobre a densidade populacional e comportamento reprodutivo, dados importantes para entender qual o manejo pesqueiro mais adequado. Na RESEX, os principais fatores que ameaçam os pescados comerciais são: a pesca predatória (realizada com petrechos não permitidos por lei), a pesca durante o período reprodutivo, ou antes, da maturação sexual do indivíduo (prejudicando ou impedindo a perpetuação da espécie no local) e a pesca realizada por pescadores sem o direito de uso sobre o recurso (pescadores não beneficiários/usuários).  Camarão O alvo contempla três espécies, altamente exploradas, da Família Penaeidae: camarão- cascudo (Farfantepenaeus subtilis), camarão-branco ou graúdo (Litopenaeus sp.) e camarão-piré ou sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri). Espécies de grande importância comercial para a população da RESEX, sendo um dos recursos mais comercializados por algumas comunidades. As espécies F. subtilis e Litopenaeus sp. preferem o ambiente estuarino, de baixa salinidade, durante a fase de desenvolvimento. Dessa forma, os manguezais são de extrema importância para o desenvolvimento dos espécimes, já que as cabeceiras são

232 utilizadas como área de desenvolvimento, por ser um local seguro e com riqueza de nutrientes. Já X. kroyeri se desenvolve em mar aberto, não utilizando, necessariamente, as cabeceiras durante a fase juvenil. Assim, as principais ameaças contra essas espécies estão relacionadas com a atividade pesqueira, sendo: pesca no período reprodutivo ou de indivíduos imaturos; aumento da pressão sobre o recurso; pesca com petrechos irregulares ou técnicas predatórias.  Animais aquáticos ameaçados Este alvo considera os animais aquáticos ameaçados de extinção segundo a classificação da Lista Nacional de Fauna Ameaçada (Portaria MMA 444/2014) da IUCN. Assim, mesmo sabendo da ocorrência de espécies como golfinho-nariz-de-garrafa, esta e outras não foram incluídas neste alvo por não estarem inclusos nas relações citadas acima. Assim, os animais aqui considerados são: boto-cinza (Sotalia guianensis), tartaruga- marinha (todas as espécies que ocorrem no Brasil), mero (Epinephelus itajara) e o cação espardate (Pristis sp.). O boto-cinza é um cetáceo da família Delphinidae, encontrado em águas marinhas e salobras, comum em zonas estuarinas. Apresenta comportamento social ou solitário, sendo comum o avistamento de grupos ou fêmeas com filhotes. Na RESEX a principal ameaça está relacionada aos acidentes com redes de pesca, no geral pelas redes que ficam a deriva em mar aberto, como o malhão, a corvineira, a camurineira e a serreira. As tartarugas-marinhas são répteis adaptados quase que exclusivamente ao ambiente marinho, saindo para o ambiente terrestre apenas no momento da desova. As ameaças antrópicas são um agravante para o desenvolvimento e manutenção dessas espécies, já que naturalmente apresentam uma taxa de sobrevivência baixa e ciclo reprodutivo longo, demorando até 20 anos para chegar à maturidade sexual. Na RESEX as principais ameaças identificadas foram os acidentes em redes ou outros apetrechos de pesca. Adicionalmente, o consumo esporádico de ovos, este relatado por alguns moradores da UC, também é considerado uma ameaça. O mero (Epinephelus itajara) é encontrado tanto em áreas oceânicas quando adulto, como em manguezais e estuários nas fases iniciais da vida. A pesca/consumo da espécie é proibida desde o ano de 2002 e atualmente representa a principal ameaça contra a espécie, sobretudo porque apresenta ciclo reprodutivo lento (reprodução bianual), o que é um agravante para animais sob pressão de caça, pois não têm tempo hábil para se reproduzirem e manter as populações estáveis.

233 O espadarte (Pristis sp.) é um peixe de grande porte (alcançando até 5 metros), encontrado em águas tropicais, com desenvolvimento em água estuarina e vida adulta em águas marinhas. A espécie também apresenta ciclo reprodutivo lento, com ciclo de reprodução bianual e maturidade sexual tardia. Assim, a atividade pesqueira também representa uma grande ameaça para a espécie. Na RESEX, a principal ameaça para o mero e o espadarte, vinda da população local, é a pesca acidental. A pesca intencional (caracterizada como atividade ilegal) é praticada de forma mais evidente por pescadores sem direito de uso aos recursos dentro dos limites da reserva.  Mariscos O termo mariscos comumente utilizado para agrupar animais do Filo Moluscos, também é utilizado por moradores da RESEX com relação aos caranguejos e siris, estes do Filo Artrópode (crustáceos). O alvo corresponde a espécies de invertebrados de importância comercial ou de consumo para subsistência, contemplando espécies de molusco-bivalve, o sururu-de-dedo, sururu-de-pasta, sarnambi, ostra; e uma espécie de crustáceo, o caranguejo-uça. O sururu-de-dedo (Mytella guayanensis), sururu-de-pasta (Mytella falkata) e sarnambi (Amalocardia brasiliana) são moluscos encontrados em água salobra ou marinha. Já o caranguejo-uça (Ucides cordatus) é um crustáceo que habita os manguezais de todo o Brasil e é considerado um produto comercial bastante apreciado, exercendo papel importante na economia de populações litorâneas. A espécie é protegida por lei, tendo sua captura proibida durante o chamado período da andada, que é o período em que os machos saem das tocas em busca de fêmeas para reprodução. Neste período, os animais se tornam muito suscetíveis à captura, o que compromete a reprodução e logo a manutenção da espécie. Na RESEX, a principal ameaça ao alvo se configura pela pesca com petrechos irregulares, pesca por não beneficiários ou técnicas predatórias, caracterizadas pela extração insustentável dos moluscos ou pela cata do caranguejo-uça durante a andada.  Manguezais Considerado o ambiente de maior importância ecológica na RESEX, o manguezal é um ecossistema comum em zonas litorâneas tropicais, caracterizado por vegetação adaptada a terrenos lamosos e salinos. De forma geral, o litoral do Maranhão é formado por florestas de mangue com até 30 m de altura, dominados pelo mangue-vermelho (Rhizophora mangle) e mangue-preto (Avicennia germinans). Na RESEX também se

234 observa a forte presença de Laguncularia racemosa. A população local conhece as espécies, respectivamente, como mangue-vermelho ou mangue, siriba e tinteira, sendo essas as espécies focais nas estratégias de conservação e programas de manejo. É notável a erosão nas franjas do mangue em algumas das ilhas da UC, onde a incidência das ondas resulta no soterramento das raízes a partir da migração de bancos de areia. A fauna é representada por todos os grupos de vertebrados, sobrepondo-se as aves, que utilizam a vegetação para descanso e ninhal, e os peixes que utilizam a água próxima da vegetação como berçári o e fonte de nutrientes. A principal ameaça para o ecossistema caracteriza-se pelo uso inadequado da flora nativa, principalmente devido à extração de madeira para construção de apetrechos de pesca, cercados, postes e casas.  Restinga As restingas são formações vegetais características de praias, com vegetação de baixo a médio porte adaptada à alta salinidade, escassez de nutrientes e solos arenosos. A vegetação da restinga exerce uma importante função ambiental, fixando as dunas através da força exercida pelas raízes, além proteger os lençóis freáticos, única fonte de água doce disponível na RESEX, e desacelerar o processo natural de erosão costeira. O ambiente também é importante para a ornito e quiropterofauna120, exercendo papel de abrigo, fonte alimentar e sítio reprodutivo, além de se caracterizar como um atraente componente paisagístico potencial para o turismo. Na RESEX, as principais espécies arbóreas são o mangue-de-botão (Conocarpus erectus), barbatimão (Styphnodendron sp.), guajeru (Chrysobalanus sp.), murici (Byrsonima crassifolia), cajueiro (Anacardium occidentale), além de espécies de palmeira (família Arecaceae). Com relação às espécies rasteiras, entre outras, é possível observar a salsa-da-praia (Ipomoea pes capreae), vassourinha e capins (Paspalum sp). Atualmente as principais atividades consideradas como ameaça dentro dos limites da RESEX são: o uso inadequado da flora nativa, a partir da extração madeireira motivada pela necessidade de carvão, mas principalmente de outros recursos vegetais, como a casca do barbatimão, que realizada de forma incorreta prejudica a saúde da árvore, e a criação de animais sem ordenamento, que prejudica ou destrói a vegetação a partir do pisoteio do gado, além de estimular a queimada para a renovação da pastagem.

120 Aves e morcegos

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 Floresta Ombrófila A floresta ombrófila da RESEX é representada por formações vegetais com espécies menos adaptadas às áreas alagadas do manguezal ou arenosas da restinga. Caracterizando uma fitofisionomia diferenciada em algumas ilhas, como em Mangunça. Aparentemente a flora é representada, principalmente por árvores frutíferas e grande quantidade de palmeiras e a fauna parece abrigar uma diversidade de espécies vertebradas, principalmente aves (passeriformes, psitaciformes, pisciformes e apodiformes) e mamíferos (veado, cuíca, catita, raposa), não encontrados em outros locais da RESEX. Contudo, o inventário da biodiversidade dessa formação vegetal é uma lacuna de conhecimento no diagnóstico da UC. As principais ameaças sobre o alvo são: o uso inadequado da flora nativa, especialmente a extração madeireira de espécies como a maçaranduba e a criação de animais sem ordenamento, que causa impacto devido ao pisoteio na vegetação rasteira e através das queimadas motivadas pela renovação da pastagem. Ressalta-se que, segundo informações, atualmente existem centenas cabeças de gado criadas na ilha de Mangunça, propriedades de moradores do município. Além dessas ameaças a falta de informações sobre quais espécies habitam o local e o estado de conservação também pode representar um grande risco relacionado com este alvo.  Aves As aves121, especialmente as marinhas e costeiras (residentes e migratórias), representam um importante grupo da fauna na RESEX. De forma que, após os peixes, são os vertebrados mais diversos e abundantes nos ecossistemas da reserva. As principais Famílias marinhas e costeiras que utilizam a UC como área de vida ou parte desta são: Charadriidae (por exemplo: batuíras), Laridae (por exemplo: gaivotas), Ardeidae (por exemplo: garças), Anatidae (por exemplo: marrecos), Scolopacidae (por exemplo: maçaricos). Além dessas, a família Threskiornitidae aparece representada pelo guará (Eudocimus ruber), considerado como símbolo do Maranhão, a espécie é facilmente avistada no interior da reserva, contrastando de vermelho, cor característica de suas penas, a paisagem esverdeada do manguezal.

121 As espécies de aves identificadas na RESEX e consideradas nas estratégias de conservação e programas de manejo se encontram no Apêndice II. Espécies ainda não identificadas também devem ser consideradas após identificação.

236 Também é comum avistar espécies passeriformes, psittaciformes, piciformes e apodiformes. Os rapinantes representam um grupo de grande importância, sendo comum avistar o carcará (Caracara plancus), gavião-do-mangue (Buteogallus aequinoctialis), gavião-carrapateiro (Mivalgo chimachima), entre outros. O que evidencia o equilíbrio ecológico da área, já que, sendo topo de cadeia alimentar, os rapinantes exercem o papel de bioindicadores. Atualmente as principais pressões antrópicas para as aves na reserva são a captura, o que evidencia a existência de comércio ilegal, além da ocorrência de caça e domesticação. Conservar o local como área de manutenção destas espécies é de grande importância, já que a reserva é importante para os ciclos migratórios e reprodução de milhares de espécimes por ano, além de ser um ambiente livre de grandes impactos antrópicos, propiciando um hábitat de qualidade para os animais. O ICMBio já desenvolve um trabalho de conservação com este grupo na região, a partir do monitoramento anual das aves na Ilha Croa dos Ovos (município de Apicum-açu). O trabalho faz parte das atividades do CEMAVE (Centro de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres) que ajuda, a partir de subsídios técnicos, na conservação das aves silvestres brasileiras. Para todos os alvos contemplados nas estratégias foi desenvolvido um objetivo a ser alcançado em longo prazo, de forma que a mitigação ou extinção das ameaças é o principal fator para o alcance. Vale lembrar, que devido a priorização das ameaças, as aves foram contempladas exclusivamente nos Programas de Sustentabilidade. A tabela 19 apresenta os objetivos traçados para 07 alvos de conservação. Tabela 19: Objetivos traçados para cada alvo de conservação Alvos de Objetivos específicos conservação Garantir a reposição dos estoques pesqueiros das espécies de pescados Pescados comerciais comerciais para usufruto da população beneficiária Garantir a reposição dos estoques pesqueiros das espécies de camarão Camarão para usufruto da população beneficiária Animais aquáticos Diminuir a mortalidade das espécies acidentalmente capturadas ameaçados Mariscos Manter os bancos/estoques de mariscos Manguezal Manter a cobertura vegetal e serviços ecossistêmicos dos manguezais Restinga Conservar a biodiversidade da flora nativa Floresta Ombrófila Conservar a biodiversidade da flora nativa

237

4.1.2 Ameaças

Os Padrões Abertos para a prática da Conservação define ameaça como:

“ações humanas que afetam direta ou indiretamente um alvo, ou podem ser fenômenos naturais acelerados ou agravados pelas ações humanas.”

Durante a elaboração do primeiro modelo conceitual, junto com a comunidade, foram levantadas 39 ameaças, apresentadas na Tabela 20. Com a priorização, parte dessas foram unidas e outras, de menor significância, desconsideradas para a primeira versão do Plano de Manejo, ficando apenas as ameaças mais significativas, estas apresentadas na Tabela 21.

As Figuras 204 a 205 mostram o levantamento das ameaças realizado durante as Oficinas de Planejamento participativo junto às comunidades.

Figura 204: Ameaças (tarjeta rosa) apontadas nas comunidades de Caçacueira, Peru e São Lucas.

238

Figura 205: Ameaças (tarjeta rosa) apontadas nas comunidades de Guajerutiua, Valha-me-Deus e Porto Alegre

Figura 206: Algumas das ameaças (tarjeta rosa) Figura 207: Apresentação das ameaças apontadas nas comunidades Bate-Vento, Lençóis e junto às comunidades de Beiradão, Porto do Meio. Iguará, Mirinzal, Retiro e Urumaru.

239 Tabela 20: Ameaças diagnosticadas durante o primeiro modelo conceitual

Alvo de Ameaça Descrição biodiversidade Está relacionado com a facilidade em retirar a Uso da moto serra madeira, aumentando a quantidade de árvores cortadas;

O impacto da sintina (latrina) se deve pelo despejo Sintina do esgoto doméstico no ambiente, ligado diretamente com a falta de saneamento; Relacionada com a aceleração do processo natural a

Erosão; Manguezal partir do corte das árvores. Este diretamente ligado Corte da linha de frente com a ameaça do corte da linha de frente. Extração insustentável da madeira para construção Corte acima do necessário de apetrechos de pesca, cercados, postes e casas. Caracterizada pelo ateamento do fogo com algum Queimada intencional propósito, principalmente para a renovação da pastagem para alimentação do gado; É o uso pouco comum da areia presente no Retirada de areia ambiente para fins de construção; Extração insustentável da madeira para fins Corte acima do necessário medicinais ou de construção;

Caracterizada quando não houve o propósito de Queimada acidental queimar o local, como os acidentes com carvoeiras; Refere-se ao impacto causado na vegetação da Criação de animais soltos; Restinga restinga decorrente do pisoteio do gado, o que Retirada da salsa-da-praia consequentemente ajuda na retirada da salsa-da- praia; É o acúmulo de resíduos sólidos e despejo de esgoto doméstico decorrente, principalmente da Esgoto/lixo falta de saneamento básico e coleta de lixo, assim como da falta de cuidado com os resíduos por parte dos comunitários; O corte das árvores com ninho, que consequentemente causa a perda de filhotes de Corte das árvores com aves, está relacionado com o uso da madeira do ninho mangue, da floresta ombrófila e da restinga, sendo proibido pelo Acordo de Gestão. A ameaça dos sons emitidos pelas embarcações e fogos de artifícios, se dá pelo possível Barulho afugentamento das aves e interferência nos comportamentos reprodutivos; Aves A caça e a captura ameaçam diretamente a Caça; manutenção das espécies. É motivada pelo Captura dos ovos consumo casual da carne/ovos na alimentação e como iscas na pesca de espinhel. A captura se deve a uma das atividades ilegais mais impactantes para a biodiversidade: o tráfico de Captura animais silvestres. Parece ocorrer, sobretudo com a curica, pipira-azul e sanhaçu-cinzento.

240 Continuação – Tabela 20 A água preta, vinda dos rios amazônicos, ajuda na

s nutrição dos ecossistemas da RESEX, já que é rica

is e em nutrientes proveniente das atividades da região. Diminuição da água-preta Sua diminuição pode estar relacionada com uma

camarão

Pescados ameaça global, acentuada pela atividade antrópica: comercia a diminuição das chuvas. A ameaça ocorre tanto do esgoto doméstico não tratado produzido na RESEX, como pelo despejo

s de efluentes em larga escala. Assim como a Esgoto/lixo presença de resíduos sólidos, ocasionada, sobretudo

camarão pelo hábito dos pescadores em despejar lixo na

Pescados

comerciais e comerciais água, como pelo descarte de resíduos nos rios e oceano a nível global. Caracteriza-se pela pesca de espécimes jovens ou Falta do defeso no período reprodutivo, o que ameaça a manutenção das espécies. O aumento da quantidade de redes de pesca está diretamente ligado com o aumento no esforço de pesca. Seja ele causado pelo aumento na Aumento da quantidade de quantidade de pescadores (competição), pela redes diminuição do recurso pesqueiro, ou pelo aumento da necessidade de recursos financeiros. O aumento das redes causa a sobreexplotação das espécies. A ameaça pela flor-do-caribe atinge a atividade Flor do caribe (Sargassum pesqueira, já que impede a captura dos peixes. sp.) Assim, ela prejudica a pesca e não o recurso. Por isso foi descaracterizada como uma ameaça. O aumento da pesca artesanal causado tanto pelo aumento na quantidade de pescadores Aumento da pesca (competição), como pela diminuição do recurso artesanal pesqueiro, ou pelo aumento da necessidade de Barcos internos bem equipados recursos financeiros também se caracteriza como s comerciais e camarão comerciais s um aumento no esforço de pesca, ou seja, na sobre exploração das espécies de interesse comercial. As atividades se caracterizam como ameaças Defeso no período errado; Pescados devido à captura de indivíduos no período Pesca durante o defeso reprodutivo, interrompendo a postura de ovos e (defeso vigente nos anos de 2013 e 2014) logo a reposição populacional. O que em longo prazo pode ocasionar a extinção de espécies. O uso de malhas pequenas, que capturam Malha inadequada indivíduos ainda jovens, tem o mesmo impacto que a pesca no período de defeso. A pesca por sujeitos não beneficiários causa o aumento da exploração sobre o recurso, Pescadores não ocasionando naturalmente em uma sobre beneficiários explotação das populações de peixes e camarão da RESEX.

241 Continuação – Tabela 20 A pesca predatória (considerada uma atividade ilegal) consiste no uso de apetrechos ou locais que não oferecem chance de escapatória para nenhum Pesca predatória indivíduo, retirando da água mais do que a natureza Pesca na cabeceira consegue repor, como por exemplo, a pesca na cabeceira. Tais práticas comprometem a manutenção das espécies, podendo levar a extinção em longo prazo. Os “miúdos” são indivíduos ainda jovens. A pesca de espécimes em desenvolvimento interrompe a Pesca de miúdo reposição das populações, já que esses indivíduos são retirados do ambiente antes de se reproduzirem, caracterizando como uma grande ameaça.

O recrutamento consiste no retorno dos espécimes no período pós-larva para os estoques adultos. Pesca durante o Assim, a pesca durante este período impede que recrutamento indivíduos completem o ciclo de vida, impedindo a

Camarão manutenção das populações. A ameaça ocorre tanto do esgoto doméstico não tratado produzido na RESEX, como pelo despejo de efluentes em larga escala. Assim como a presença de resíduos sólidos, ocasionada, sobretudo Esgoto/lixo pelo hábito dos pescadores em despejar lixo na água, como pelo descarte de resíduos nos rios e oceano a nível global. A presença dessas substâncias/objetos no ambiente aquático ocasiona a contaminação dos organismos. A cata por sujeitos não beneficiários aumenta a exploração sobre o recurso, ocasionando Catadores não naturalmente em uma sobre exploração das beneficiários populações de mariscos da RESEX. Neste caso, a

atividade está relacionada, principalmente com a 122 Mariscos cata do caranguejo-uça . Para este caso, a cata irregular assemelha-se com a Catação irregular pesca predatória, impedindo a manutenção das populações. O uso do fogo era uma técnica utilizada para Fogo para atração do pescaria, que por consequência causa a destruição peixe dos bancos de sururu. Assim, a prática desta técnica contribuiu para a diminuição da espécie na RESEX. A xaula, proibida pelo Acordo de Gestão, consiste em um tipo de cata predatória. Onde, com o uso de Uso de xaula uma pá, todo o banco de mariscos (moluscos) é retirado, impedindo a reposição da população. Após o levantamento participativo, de acordo com o orientado pela metodologia dos Padrões Abertos para a Prática da Conservação, foi realizada a priorização das ameaças, com o objetivo de definir as mais significativas e trabalhar, a partir destas, com estratégias que combatam as práticas de maior impacto negativo sobre a saúde dos alvos

122 O caranguejo-uça, apesar de ser um crustáceo, é considerado como um marisco pela população da RESEX.

242 de biodiversidade. Os critérios utilizados para a priorização foram: abrangência, severidade e irreversibilidade. Vale ressaltar que a participação das comunidades no levantamento das ameaças ofereceu dados fundamentais para a definição das estratégias. Já que, com o etnoconhecimento local foi possível identificar de forma prática quais são as espécies, grupos de espécies ou ecossistemas mais vulneráveis na RESEX e o que os levou ou tende a levar a essa vulnerabilidade. Com a priorização, realizada pela equipe técnica e de planejamento, restaram 06 ameaças que reúnem aquelas diretamente relacionadas e com maior potencial de extinguir ou degradar a biodiversidade da RESEX. As ameaças ou problemas identificados que não são contempladas pelo escopo de trabalho do ICMBio, são tratados nos Programas de Sustentabilidade. As ameaças priorizadas, bem como seus estresses123 encontram-se descritos na Tabela 21 e 22. Ressalta-se novamente que as aves, indicadas no primeiro momento como alvo de conservação, devido a baixa abrangência das ameaças, não foram tratadas dentro das estratégias, sendo objeto dos Programas de Sustentabilidade. A partir da priorização foram elaboradas três estratégias, que são descritas no item 4.1.3. Tabela 21: Ameaças priorizadas para a definição das estratégias Ameaças Alvos Descrição Reúne as ameaças: uso da motosserra, corte da linha de frente, corte acima do necessário. O uso

inadequado da flora nativa caracteriza-se por

todas as formas de manejo insustentável dos recursos vegetais, impactando diretamente nos Uso inadequado da flora nativa ecossistemas terrestres da RESEX, através da

Restinga;

Manguezal; perda de biomassa e biodiversidade vegetal, bem como de todos os serviços ambientais

Floresta Ombrófila oferecidos. Foi classificada como uma ameaça de nível baixo dentro dos critérios do Miradi124.

123 Estresse– O efeito causado pela ameaça sobre o alvo de conservação 124 Miradi – Software utilizado para o planejamento de projetos a partir da metodologia dos Padrões Abertos para a prática da conservação. Utiliza os critérios de abrangência, severidade e irreversibilidade para priorizar as ameaças.

243

Continuação – Tabela 21 A ameaça refere-se à prática da pecuária extensiva de gados de pequeno e médio porte

(caprinos e suínos), impactando diretamente sobre a vegetação dos alvos devido ao pisoteio

dos animais, contribuindo também para a Criação de animais sem desestabilização das dunas. Além das queimadas

ordenamento a Ombrófila realizadas para a renovação da pastagem. Os

Restinga; gados bovinos ficaram como objetos do

Florest Programa de Proteção da RESEX. Foi classificada como uma ameaça de nível médio dentro dos critérios do Miradi. Reúne as ameaças: falta do defeso, defeso no período errado, pesca durante o defeso, malha inadequada, pesca na cabeceira, suspensão do defeso do camarão. A pesca no período

reprodutivo ou de indivíduos imaturos foi

classificada como uma ameaça de nível médio, a Pesca no período reprodutivo partir da metodologia aplicada pelo Software ou de indivíduos imaturos Miradi. Tal prática impede a continuação do Camarão ciclo de vida dos espécimes e

Peixes comerciais; consequentemente, a sua a reprodução, interrompendo a reposição dos estoques pesqueiros. Globalmente, é uma das principais ameaças para as populações de peixes e camarões.

Reúne as ameaças: aumento na quantidade de redes, aumento da pesca artesanal e barcos

internos bem equipados. Considerada uma Mais gente pescando ameaça de nível baixo, a partir da análise

Camarão estratégica, o aumento da pressão sobre o recurso afeta as populações de peixes e Peixes comerciais; camarões a partir da exploração insustentável. Classificada como uma ameaça de nível baixo, a pesca acidental impacta principalmente os mamíferos aquáticos e tartarugas-marinhas.

Sendo hoje uma das principais ameaças a nível global para estas espécies. Na RESEX, além dos acidentes com algumas redes de pesca e espinhel atingirem as tartarugas, cetáceos e peixe-boi, também impacta sobre o mero e o espadarte, Pesca acidental duas espécies de peixes criticamente ameaçadas. A pesca acidental, ainda que pontual, afeta as espécies do alvo devido à baixa densidade populacional, situação de conservação, maturidade sexual tardia e ciclo reprodutivo Animais aquáticos ameaçados longo, de forma que o aumento da mortalidade por motivos não naturais representa um alto risco para espécies com diminuição acelerada de indivíduos e baixa taxa de natalidade.

244

Continuação – Tabela 21 Aqui estão reunidas: a pesca predatória, a pesca de cabeceira, a catação irregular, o uso do fogo para atração do peixe e o uso de xaula. A pesca predatória é a ameaça de maior impacto para parte da biodiversidade aquática identificada na RESEX. Com grande potencial de causar a Pesca com petrechos extinção local das espécies alvo e contribuir, em irregulares ou técnicas longo prazo para a extinção em larga escala. A predatórias prática, classificada como nível alto pelos critérios do Miradi, retira do ambiente mais organismos do que o sistema ecológico é capaz de repor, causando um grande desequilíbrio biológico. Assim, deve ser combatida dentro do

Peixes comerciais, camarãomariscos e menor tempo possível e com medidas rígidas e eficazes.

Tabela 22: Ameaças e estresses Ameaças Estresses Perda de cobertura e biodiversidade vegetal; Aceleramento da erosão costeira; Uso inadequado da flora nativa Perda de áreas de usadas como pouso e ninhal pelas aves; Diminuição do acúmulo de água doce; Criação de animais sem Perda de cobertura vegetal; ordenamento Desestabilização das dunas; Pesca no período reprodutivo Diminuição da biomassa de peixes e camarões; ou de indivíduos imaturos Interrupção do ciclo reprodutivo da biodiversidade aquática; Mais gente pescando Diminuição da biomassa de peixes e camarões; Pesca acidental Mortalidade de animais aquáticos; Diminuição do fitness125; Pesca com apetrechos Diminuição da biomassa de peixes e camarões; irregulares ou técnicas predatórias Extinção local de espécies de peixes, camarões e mariscos.

125 Fitness- Capacidade de um indivíduo em se desenvolver, encontrar um parceiro e se reproduzir com sucesso, ou seja, deixar descendentes saudáveis da espécie.

245 4.1.3 Estratégias Os Padrões Abertos para a Prática da Conservação define estratégia como: “Conjunto de ações com um foco comum, trabalhadas em conjunto para reduzir as ameaças, capitalizar as oportunidades ou restaurar os sistemas naturais. As estratégias incluem uma ou mais atividades e estão desenhadas para alcançar metas e objetivos específicos.” Após a priorização dos alvos e ameaças foram elaboradas três estratégias de conservação que lidam com a maior parte da biodiversidade da RESEX e a totalidade do seu território. De forma a contemplar, conforme mencionado, sete alvos de conservação. Sua apresentação é estruturada em três partes: o modelo conceitual, a cadeia de resultados da estratégia e a descrição da estratégia, apresentando seus objetivos, atividades, ações, sujeitos envolvidos, indicadores e metas da estratégia. O modelo conceitual apresenta de maneira sistêmica as correlações entre a estratégia (caixa amarela), alvo (caixa verde), ameaças (caixa rosa) e fatores contribuintes (caixa laranja). Da mesma forma, a cadeia de resultados descreve a sequencia de resultados previstos para a mitigação ou extinção das ameaças e o resultado esperado com o sucesso da estratégia, utilizado para entender os processos necessários para o desenvolvimento da estratégia e validar a eficiência da mesma. Por fim, há a descrição sucinta de cada estratégia, com as respectivas atividades, ações, sujeitos envolvidos, indicadores, metas e objetivos. O Apêndice V apresenta o detalhamento de todas as estratégias traçadas para o Plano de Manejo.  Estratégia - Promover o uso adequado do recurso florestal com aprimoramento das técnicas de uso

A estratégia combate a ameaça uso inadequado da flora nativa já que, a partir do manejo sustentável dos recursos vegetais, sobretudo a extração de madeira controlada, é possível conservar a cobertura vegetal da RESEX, todos os serviços oferecidos pelas espécies vegetais e seus ecossistemas, assim como as práticas culturais da população local, como a construção de casas e apetrechos de pesca feitos de madeira.

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Figura 208: Promover o uso adequado do recurso florestal com aprimoramento das técnicas de uso – Modelo conceitual

Figura 209: Cadeia de resultados da estratégia - Promover o uso adequado do recurso florestal com aprimoramento das técnicas de uso

247 Objetivo: Fazer o uso sustentável da flora nativa, garantindo a manutenção da biomassa e diversidade vegetal em harmonia com as necessidades da população local.

Tabela 23: Promover o uso adequado do recurso florestal com aprimoramento das técnicas - Atividades, ações, envolvidos, metas e indicadores. Atividades Ações Envolvidos Metas Indicadores Gestão da UC-ICMBio 01a - Realizar a identificação das 01a - Identificar as espécies / Pesquisadores / espécies e áreas impactadas 06 01a - Relatório e áreas mais impactadas 1.1. Planejar, junto com a Colaboradores ICMBio meses após o início do trabalho comunidade, o manejo sustentável a 01b - Abordar o assunto com partir da utilização das técnicas 01b - Reforçar a restrição Gestão da UC-ICMBio todas as comunidades em um 01b - Listas de identificadas nas áreas disponíveis. das áreas para o corte da / Pesquisadores / período de 12 meses após a presença madeira Comunidade identificação das áreas impactadas. 01c - Relatórios 01c - Pesquisar e validar Gestão da UC-ICMBio 01c - Obter técnicas para o de técnicas para o manejo / Pesquisadores / manejo sustentável 12 meses após acompanhament sustentável dos recursos Colaboradores ICMBio o início da pesquisa o da pesquisa e florestais relatório final 01d - Capacitar e incentivar 01d - Capacitar todas as os moradores para adoção 01d - Listas de Gestão da UC-ICMBio comunidades em um período de das novas técnicas de presença até 12 meses após a atividade 1.1 1.2. - Promover o manejo manejo florestal sustentável dos recursos florestais 01e - Realizar uma campanha de 01e - Relatório 01e - Monitorar a adesão ao monitoramento para verificar a Gestão da UC-ICMBio de manejo florestal sustentável adesão os comunitários monitoramento capacitados

248  Estratégia - Promover o ordenamento dos animais de pequeno e médio porte

A estratégia combate os estresses causados pela ameaça criação de animais sem ordenamento já que, com o ordenamento da pecuária, os animais utilizarão quantidades menores de áreas e/ou não utilizarão áreas críticas para a desestabilização das dunas. Consequentemente também ajudará na manutenção da cobertura vegetal bem como de todos os serviços ambientais.

Figura 210: Promover o ordenamento dos animais de pequeno e médio porte – Modelo conceitual

249

Figura 211: Cadeia de resultados da estratégia - Promover o ordenamento dos animais de pequeno e médio porte

Objetivo: Minimizar o impacto na vegetação local a partir do ordenamento dos animais de criação

Tabela 24: Promover o ordenamento dos animais de pequeno e médio porte - Atividades, ações, envolvidos, metas e indicadores. Atividades Ações Envolvidos Metas Indicadores Gestão da UC-ICMBio / 02 a - Diagnosticar o impacto da 02 a - Ter o diagnóstico 06 meses após o Pesquisadores / Colaboradores 02 a - Relatório criação de animais soltos início da atividade do ICMBio 02 b - Documento 02 b - Identificar e/ou elaborar Gestão da UC-ICMBio / 02 b - Ter uma relação de técnicas para o indicativo contendo técnicas para o manejo dos Pesquisadores / Colaboradores manejo pecuário 06 meses após o início da 02. Adotar práticas de mínimo as técnicas animais de criação do ICMBio atividade impacto na criação de animais de elaboradas pequeno e médio porte 02 c - Capacitar os criadores de 02 c - Capacitar todas as ilhas da RESEX 02 c - Listas de Gestão da UC-ICMBio / animais para adoção das em um período de até 12 meses após a presença e registro /Comunidades técnicas de manejo identificação das técnicas fotográfico 02d - Realizar uma campanha de 2d - Monitorar a adesão ao 02d - Relatório de Gestão da UC-ICMBio monitoramento para verificar a adesão os manejo monitoramento comunitários capacitados

250  Estratégia – Implementar e ampliar o ordenamento da pesca

A partir da eliminação dos apetrechos de pesca ilegais, que tanto capturam indivíduos juvenis, como retiram do ambiente uma grande quantidade por vez, além de espécies sem interesse comercial e da redução da pesca durante o período reprodutivo, a estratégia contribuirá para a manutenção da biomassa de peixes e invertebrados aquáticos. Com a manutenção ou redução do esforço de pesca, além de também ajudar na manutenção da biomassa, a estratégia também contribuirá para que a principal atividade econômica da RESEX seja praticada e para que a as comunidades também tenham condições de permanecer nas ilhas. Ainda, com a redução da mortalidade na pesca acidental, a estratégia irá ajudar na proteção de espécies ameaçadas, além de fornecer dados que possam ser usados para a proteção dessas e outras espécies em outras Unidades ou Projetos de Conservação.

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Figura 212: Implementar e ampliar o ordenamento da pesca – Modelo conceitual

252

Figura 213: Cadeia de resultados da estratégia - Implementar e ampliar o ordenamento da pesca

253 Objetivo: Garantir a manutenção da atividade pesqueira da população local a partir do equilíbrio ecológico entre a fauna aquática e da proteção das espécies ameaçadas.

Tabela 25: Implementar e ampliar o ordenamento da pesca - Atividades, ações, envolvidos, metas e indicadores Atividades Ações Envolvidos Metas Indicadores 03 a- Fazer busca bibliográfica, levantar e sistematizar informações sobre Gestão da UC- 03 a- Obter um estudo conclusivo sobre as características reprodutivas (ciclo de ICMBio / características reprodutivas no período de 12 03 a- Relatórios vida e tamanho para a primeira Pesquisadores meses após o início da pesquisa 03 - Mitigação da pesca de maturação) de espécies comerciais. indivíduos no período 03 b- Definir tamanho mínimo de 03 b- Definir e oficializar o tamanho de captura reprodutivo ou imaturos Gestor RESEX / 03 b- Documento captura permitido para a pesca na permitido em um período de 06 meses após a sexualmente pelos pescadores Comunidades oficial RESEX conclusão dos estudos da RESEX 03 c - Divulgar aos pescadores os novos 03 c - Divulgar o tamanho de captura permitido tamanhos de captura permitidos e Gestão da UC- 03 c - Listas de para todas as comunidades em um período de até sensibilizar quanto à importância de ICMBio presença 06 meses após a definição do tamanho respeitar o tamanho da maturação sexual 04 - Contribuição para 04- Fornecer as informações dos estudos elaboração de uma proposta de Gestão da UC- reprodutivos para o órgão competente, 04- Realizar pelo menos uma reunião para Defeso objetivando a extinção ICMBio / 04- Pauta reunião como subsídio para o defeso das apresentação dos dados da pesca no período reprodutivo Comunidades espécies. ou de indivíduos imaturos 05 a – Atualizar, de forma sistemática, o levantamento participativo do esforço da Gestão da UC- 05 a - Obter o levantamento em um período de até pesca nas comunidades da RESEX, ICMBio / 05 a - Relatório 12 meses após o início do trabalho possibilitando o acompanhamento da Comunidades atividade na UC. 05. Redução ou manutenção do 05 b Desenvolver o monitoramento do Gestão da UC- esforço de pesca esforço de pesca para avaliação da ICMBio / 05b - Obter um relatório a cada trimestre 05b – Relatórios manutenção ou diminuição do esforço Comunidades Gestão da UC- 05 c - Diagnosticar a cadeia produtiva do 5 c - Obter o diagnóstico da cadeia produtiva no 05 c - Relatórios de ICMBio / pescado período de 24 meses após o início da pesquisa acompanhamento Comunidades

254 Continuação – Tabela 25 Atividades (o que) Ações (como) Envolvidos Metas Indicadores 05 d - Documento 05 d - Definir formas de escoamento, 5 d - Melhorar a negociação do pescado indicativo com os locais e valores de venda para mercado produzido na RESEX no período de 12 meses locais e valores consumidor. após a conclusão da pesquisa sugeridos 05 e - Fortalecer/capacitar a organização 5 e - Melhorar a negociação do pescado comunitária para novas formas de 05 e - Listas de produzido na RESEX no período de 12 meses negociação do pescado, visando maior presença após a conclusão da pesquisa 05. Redução ou manutenção do valoração do produto. esforço de pesca 05 f - Identificar mecanismos para a 05 f - Identificar formas de certificação em um 05 f - Relatórios certificação do pescado Gestão da UC- período de até 12 meses após o início da atividade ICMBio / 05 g - Elaborar protocolos de pesca e AMREMC / 05 g - Elaborar os protocolos em um prazo de até captura visando à obtenção do selo de 05 g - Protocolo Lideranças 06 meses certificação comunitárias 05 h - Capacitar pescadores/marisqueiros /Pesquisadores / 05 h - Capacitar os pescadores em um período de 05 h - Listas de para a adoção de práticas desenvolvidas Colaboradores até 12 meses presença nos protocolos do ICMBio 6 a - Levantar informações sobre 06 a - Obter técnicas em um período de até 12 técnicas mitigadoras da captura acidental 06 a - Relatório meses após o início da atividade e de salvamento de animais aquáticos 06 b - Definir as técnicas preventivas e 06 b - Documento 06. Redução da mortalidade dos 06 b - Técnicas definidas em até 06 meses após a de salvamento para serem utilizadas na indicativo com as animais acidentalmente obtenção de informações RESEX. técnicas selecionadas capturados 06 c- Capacitar os moradores para 06 c - Capacitar todas as comunidades da RESEX aplicação das novas técnicas de 06 c - Listas de em um período de até 12 meses após a definição salvamento e mitigação da captura presença das técnicas acidental 07. Articular, junto aos órgãos governamentais, a proteção e 07 a. Entrar em contato com o órgão ICMBio e 07 a – Realizar ao menos uma ação de manutenção do estoque ambiental estadual e articular atividades Secretaria fiscalização ou sensibilização conjunta com o 07 a - Relatório pesqueiro na área da APA de sensibilização e de fiscalização Estadual de poder público estadual Estadual Reentrâncias conjuntas. Meio Ambiente Maranhenses.

255 Continuação – Tabela 25 Atividades (o que) Ações (como) Envolvidos Metas Indicadores 08 a - Sensibilizar os pescadores quanto 08 a - Trabalhar o tema com todas as 08a - Listas de aos impactos da pesca predatória e seus comunidades em um período de 12 meses presença aspectos ilegais 08 b - Definir medidas para substituição 08 b - Substituir as artes de pesca ilegais em até 08b - Descarte de dos petrechos de pesca ilegais 12 meses após o início da atividade apetrechos ilegais Gestão da UC- 08. Substituição das artes de 08 c - Capacitar e incentivar os ICMBio e 08 c - Capacitar todas as comunidades da RESEX 08c - Listas de pesca e petrecho ilegais pescadores para o registro e denúncia de Comunidades em um período de até 18 meses presença pesca ilegal 08 d - Instituir a sistematização das denúncias sobre o uso de petrechos 08 d - Campanhas de fiscalização baseadas nos 08d – Relatório de proibidos e organizar ações de dados obtidos Autuações fiscalização assertivas

256 4.2. PROGRAMAS DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E SOCIOECONÔMICA Os Programas orientam o desenvolvimento coordenado de atividades e ações, visando à conservação ambiental, a melhoria das condições de vida da população e a valorização da cultura tradicional. Com base na construção do conhecimento sistematizado ao longo da elaboração do Plano de Manejo, contemplam atividades não trabalhadas nas estratégias, mas que também são de expressiva relevância ambiental e de interesse da população local. As lacunas de conhecimento identificadas no processo também são consideradas, uma vez que são subsídios ao planejamento e à tomada de decisão.

O Diagnóstico Participativo da RESEX pôde identificar demandas sociais, tais como carências de serviços de educação e saúde, apontando para a oportunidade de desenvolvimento de programas sociais. Contudo, considerando que essas temáticas pertencem à esfera do poder municipal e que a metodologia utilizada para a elaboração do plano de manejo enfatiza o trabalho voltado aos recursos naturais, tais demandas não serão discutidas em programas específicos, mas o Subprograma de Organização Comunitária visa alertar os comunitários à importância das populações tradicionais se organizarem para pleitear uma melhor condição de vida.

4.2.1 Programa de Consolidação de Limites

Descrição

Durante a elaboração do Plano de Manejo da RESEX Cururupu verificou-se inconsistências nos limites cartográficos na porção continental da RESEX. Posteriormente, a Divisão de Consolidação de Limites (DCOL/ICMBio) revisou o levantamento dos limites da Unidade realizado pela empresa Deicmar Ambiental Ltda, conforme Nota Técnica n° 122/2015/DCOL/CGTER/DISAT/ICMBio.

Dentre as conclusões desta Nota Técnica citada acima, os técnicos da DCOL afirmaram que: a) A demarcação realizada pela empresa corrigiu falhas do limite oficial quanto ao refinamento e do Decreto de criação quanto aos pontos; b) A poligonal da demarcação está materializada corretamente com o descritivo do ato legal e foi considerada coerente com a classificação proposta pela consultoria do plano de manejo em que as categorias das comunidades em “dentro”, “no entorno” e “fora” da RESEX foram atendidas pela demarcação com exceção das comunidades Cachoeirinha e Pindobal.

257 Sendo assim, os técnicos recomendaram que fosse validado em campo se as comunidades Cachoeirinha e Pindobal estão localizadas fora do limite da Unidade, conclusão baseada na descrição de zona terrestre de mangue a partir de imagens de satélite. Posteriormente, a DCOL e a chefia da RESEX Cururupu realizaram levantamento em campo no período de 22 a 26 de fevereiro de 2016, para identificação das feições descritas no memorial descritivo do ato legal de criação da UC (limite terrestre de mangue), com o objetivo de subsidiar a verificação dos limites e a análise da demarcação física realizada em 2012.

Tendo em vista a necessidade de maiores informações para o ajuste dos limites cartográficos na porção continental da RESEX, este Programa visa fornecer subsídios para a revisão dos limites continentais e o ajuste do limite oficial.

Diretrizes

Levantar informações necessárias para o ajuste dos limites cartográficos na porção continental da RESEX.

Objetivos

Subsidiar a revisão dos limites continentais da RESEX de Cururupu para realizar o ajuste necessário no limite oficial desta UC.

Atividades

1. Revisão de Memorial Descritivo – com base nos diagnósticos elaborados e na situação da RESEX de Cururupu e comunidades do entorno, na análise da demarcação física realizada em 2012 e das posições técnicas da equipe de consultoria Deicmar Ambiental e DCOL, elaborar proposta de revisão dos limites, atestando se as comunidades Pindobal e Cachoeirinha estão fora dos limites da RESEX. 2. Revisão do Mapa de zoneamento – com base no Memorial Descritivo revisado, adequar o mapa de zoneamento em conformidade com os ajustes realizados no limite oficial da RESEX. 3. Revisão da Demarcação e Sinalização de Limites – ajustar a demarcação e sinalização dos limites da RESEX após adequação do Memorial Descritivo

258 contribuindo para a implantação de políticas de fiscalização e proteção das áreas protegidas pela UC.

Metas e indicadores

Tabela 26: Metas e indicadores do programa de Apoio à Navegação Atividades Metas Indicadores Memorial Descritivo revisado e SIG onde conste a 1 portariado sistematização dos ajustes necessários no limite terrestre da RESEX. Zoneamento revisado Shape do zoneamento 2 ajustado Limites demarcados e sinalizados Pontos estratégicos 3 devidamente demarcados e sinalizados

4.2.2 Programa de Educação Ambiental

Descrição

O Programa de Educação Ambiental trabalha com a inserção da população nas ações de conservação por meio do entendimento das ameaças e dos impactos ambientais e sociais, do treinamento para a adoção de técnicas pouco impactantes, assim como o abandono de práticas que não sejam ecologicamente corretas, principalmente quando caracterizadas como ilegais pela legislação estadual, municipal, federal ou através do Acordo de Gestão.

A transmissão do conhecimento tem a força de conscientizar e mudar o comportamento da população com relação às questões ambientais, sendo um forte aliado na proteção do meio ambiente e das espécies da fauna e flora. Desta forma, o programa busca atingir, por meio de diferentes tipos de atividades e temáticas, a população residente da RESEX e a população do entorno. Sendo uma ferramenta complementar para outras ações conservacionistas. Além disso, o programa visa trabalhar no fortalecimento das regras do Acordo de Gestão com atividades voltadas especialmente para a população beneficiária da RESEX, com o objetivo de construir um entendimento sobre a importância do cumprimento do Acordo, tanto para os recursos naturais como para as próprias comunidades.

259 Objetivo Capacitar a população local para a mitigação das ameaças diretas e adoção de práticas ou comportamentos que ajudem na conservação da fauna e flora local e do ambiente como um todo, a partir de ações educativas que abordem os assuntos relacionados com a conservação do meio ambiente, assim como o cumprimento das regras do Acordo de Gestão.

Diretrizes

Executar oficinas, encontros, treinamentos e reuniões com as comunidades da RESEX e atividades educativas com a população do entorno.

Atividades relacionadas com a temática da conservação ambiental

1. Elaborar e executar atividades de sensibilização126 a respeito das ameaças diretas identificadas no modelo conceitual e capacitar a população local para a execução de práticas mitigadoras dos impactos causados por estas ameaças. Ressalta-se que alguns dos temas tratados estão diretamente relacionados com as estratégias. Porém, no presente programa os temas são considerados com foco nas ações educativas, por meio de oficinas, palestras, gincanas, entre outros, que por sua vez, serão um incentivo para que as comunidades executem as ações contempladas nas estratégias. Inicialmente os temas trabalhados dentro das atividades educativas serão:  Valorização da avifauna silvestre; impactos da caça; tráfico e captura para domesticação;  Incentivo para a utilização de madeiras secas para produção de carvão;  Impactos ambientais das queimadas motivadas pela criação de bovinos;  Proteção e valorização da fauna silvestre e formas de inibir práticas impactantes ou ilegais;  Impactos ambientais e sociais da pesca predatória e incentivo ao uso de artes de pesca não predatórias;  Impactos da pesca acidental para as tartarugas-marinhas, cetáceos, peixe- boi, mero e espadarte;

126 A sensibilização tem como objetivo a mudança de comportamento, criada a partir da reflexão e do entendimento sobre a importância do tema trabalhado. O trabalho a partir da sensibilização difere da capacitação, já que o primeiro visa a mudança na forma como o sujeito vê e compreende uma espécie/ecossistema, estimulando a proteção deste. Já a capacitação visa fornecer ferramentas para que essa mudança de pensamento seja praticada.

260  Importância da soltura e salvamento dos animais capturados acidentalmente nas redes de pesca; 2. Divulgar, junto às comunidades do entorno, as restrições legais da pesca na RESEX e as características dos beneficiários da UC; 3. Elaborar material informativo sobre a RESEX, para ser afixado nos principais portos de origem dos pescadores externos; 4. Articular parceria com o Projeto Meros do Brasil para a sensibilização contra a captura e o consumo do mero com a população nos principais portos da região e nas comunidades da RESEX; 5. Elaborar material didático para ser distribuído e/ou afixado na RESEX trabalhando especificamente as ameaças identificadas no modelo conceitual.

Atividades focadas no atendimento ao Acordo de Gestão

1. Capacitar os comunitários com relação às normas do Acordo de Gestão e adoção de práticas condizentes com o documento ou que auxiliem na substituição de práticas vigentes e não condizentes com as regras. Os assuntos tratados nas capacitações serão:  Regras para o manejo da flora;  Regras de criação de animais;  Regras de disposição/destinação do lixo e a responsabilidade individual com os resíduos, especialmente em dias de festa;  Destinação adequada do lixo e os impactos causados aos animais aquáticos pelo despejo de resíduos no mar (assunto tratado especialmente com os pescadores);  Proibição de captura de aves e ovos, assim como do corte das árvores que abrigam os ninhos;  Utilização de caixas de som e foguetes e outras regras de emissão de ruído;  Características dos apetrechos de pesca permitidos e as áreas de uso restrito para a atividade pesqueira;  Permissão para o uso dos recursos naturais da RESEX;  Apetrechos de pesca permitidos;  Tamanho mínimo permitido para a captura do caranguejo e as normas de extração de outros mariscos;

261 Metas e Indicadores

Tabela 27: Metas e indicadores do Programa de Educação Ambiental Atividades Metas Indicadores Abordar toda a temática de educação 1 ambiental em todas as comunidades da Lista de presença RESEX. Realizar pelo menos um trabalho que 2 Registro fotográfico contemple os pescadores do entorno. Elaborar e divulgar o material Material elaborado e 3 informativo sobre a RESEX em todos registro fotográfico da os portos da região. divulgação Realizar pelo menos um trabalho de 4 sensibilização sobre o consumo do Registro fotográfico mero, em todos os portos da região. Elaborar e divulgar o material didático 5 Material elaborado em todas as comunidades. Capacitar todas as comunidades da 6 RESEX para o cumprimento do Lista de presença Acordo de Gestão.

4.2.2 Programa de Fortalecimento Comunitário, Gestão Participativa e Qualidade de Vida

Descrição Repousado no tripé - fortalecimento comunitário, participação e incremento na qualidade de vida local - o programa visa estimular a organização comunitária local, criar condições para maior participação dos beneficiários na gestão da UC e, consequentemente, conseguir incrementos na qualidade de vida da população residente. Objetivo Fortalecer a organização social dos pescadores e pescadoras artesanais, valorizando atividades sustentáveis ao mesmo tempo em que se estimula a participação na gestão da UC e o incremento na qualidade de vida local.

262

Diretrizes

Facilitar a implantação de projetos socioambientais na RESEX, articulando-se continuamente com os órgãos competentes, tal como Prefeitura Municipal e instituições federais e estaduais; evidenciar aos comunitários a competência de outros órgãos, de modo a diminuir a pressão sobre a gestão da UC para a resolução de problemas diversos, muitos dos quais fora da atribuição do ICMBio. a) Subprograma Organização Comunitária

Descrição

Considerando que um dos princípios do Plano Nacional de Áreas Protegidas – PNAP é a promoção da participação, da inclusão social e do exercício da cidadania na gestão das áreas protegidas, o subprograma visa fortalecer a organização comunitária local.

O empoderamento comunitário é a alternativa mais viável e legítima para a mudança de contextos desiguais. Neste caso, decisões coletivas construídas pelos próprios moradores viabilizam acesso aos serviços e equipamentos públicos, dão credibilidade à, por exemplo, substituição de uma arte de pesca, ordenamento da criação de animais e restrição de uso de uma área. Da mesma forma, a organização comunitária torna a gestão mais representativa e simétrica. Neste sentido, a organização pode potencializar a gestão da UC, somando forças na defesa de seus interesses comuns. Como principal exemplo desta situação, destaca-se que apenas cerca de 1/3 dos pescadores da UC possuem o Registro Geral de Pesca – RGP, que oficializa sua condição de pescador artesanal e o qualifica a receber seus direitos trabalhistas. No mais se cita ainda a capacitação das atuais lideranças e conselheiros, assim como o estímulo à inserção de novos interessados – fortalecendo a RESEX como um todo. Objetivo O objetivo do programa é fomentar a organização comunitária, dando continuidade e apoio às organizações já existentes. Espera-se assim maior autonomia da comunidade na resolução de conflitos, na proteção dos recursos e na adesão às normas e regras da UC. Atividades 1. Promover o Programa "Jovens como Protagonistas do Fortalecimento Comunitário" na RESEX de Cururupu;

263 2. Estimular e apoiar os pescadores a adquirir a documentação necessária para exercer a atividade pesqueira (RGP) 127; 3. Estruturar projeto com estratégia para mobilização das mulheres e articular atividades específicas com este grupo; 4. Realizar levantamento de demandas e articular a realização de capacitações para as comunidades tradicionais. Metas

Tabela 28: Metas do Subprograma de Organização Comunitária Atividades Metas Indicadores Programa estabelecido e 1 Estabelecer o programa. quantitativo de jovens engajados. RGPs emitidos, para os Aumento no número de pescadores 2 comunitários participantes, após a profissionalmente regulamentados. execução do Programa. Realização de 2 capacitações com Listas de presenças e registros 3 foco específico nas mulheres. fotográficos. Realização de 5 capacitações para Listas de presenças e registros 4 as comunidades tradicionais. fotográficos. b) Subprograma de Gestão Participativa

Descrição O subprograma visa o incremento da participação comunitária na gestão da UC, de forma a promover a gestão descentralizada de diversos aspectos da gestão da RESEX, especialmente capacitando diferentes grupos e promovendo intercâmbios. Objetivo O objetivo do programa é fomentar a gestão participativa da UC, criando formas de desenvolvimento conjunto com as comunidades beneficiárias, incluindo também a troca de experiências com outros comunitários residentes em outras Unidades de Conservação, por meio, por exemplo, de intercâmbios. Diretrizes Fortalecer as instâncias de gestão participativa da RESEX, como o Conselho Deliberativo, grupos de pescadores líderes em cada ilha, comitê da bolsa verde e outros grupos que possam se formar e fortalecer a atuação do Conselho Deliberativo da RESEX e apoiar a formação de novas lideranças.

127 Para retirar o documento, o pescador ou pescadora profissional deve se dirigir ao escritório da Superintendência do MPA no seu Estado. O escritório responsável pelos pescadores maranhenses encontra-se na Praça da República, 147, Bairro Diamante ‐ São Luis.

264 Atividades 1 Fortalecer o conselho da UC junto às suas bases institucionais e comunitárias; 2 Elaborar um plano de ação para o Conselho Deliberativo e realizar o monitoramento mantendo o mesmo atualizado e em execução; 3 Realização de intercâmbios envolvendo os conselheiros da UC; 4 Realização de capacitações para os conselheiros da UC. Metas e Indicadores

Tabela 29: Metas e Indicadores do Subprograma de Gestão Participativa Atividades Metas Indicadores Realização de ao menos 3 atividades junto ao Conselho, visando sua Número de atividades 1 capacitação ou difusão de realizadas e registradas em ata. conhecimentos. Elaborar o Plano de Ação para os 2 conselheiros a partir do início das Plano de Ação elaborado atividades do subprograma. Lista de presença ou registro 3 Ao menos 1 intercâmbio realizado fotográfico Lista de presença ou registro 4 Ao menos 3 capacitações realizadas fotográfico c) Subprograma de Saneamento Básico

Descrição

A criação deste subprograma, diretamente relacionado à qualidade de vida das comunidades, se deve a carência de sistema de saneamento básico e coleta de lixo no interior da RESEX, serviço municipal obrigatório, que não é oferecido nas ilhas. O município de Cururupu, conforme descrito anteriormente, no volume I deste Plano de Manejo, possui uma empresa autônoma de saneamento básico (SAAE) que atende apenas a área urbana do município, de forma que a RESEX não recebe nenhum tipo de coleta de resíduos, fornecimento de água potável ou tratamento de esgoto por parte do município.

Assim esse programa se justifica pelos potenciais impactos ambientais gerados no descarte inadequado de resíduos, que poderão se agravar em longo prazo, sobretudo pela disposição de resíduos perigosos. Dentre estes lâmpadas com mercúrio, pilhas, baterias, embalagens com óleo de motor, que poderá gerar a contaminação do solo e consequentemente do lenço freático, além dos problemas relacionados com a saúde da população, principalmente tratando-se do consumo ou contato com água não tratada e

265 esgoto. Excetuando a água de beber já obtida envazada por alguns, em geral, a captação de água para outros usos ocorre diretamente dos lençóis freáticos, portanto, a disposição incorreta de resíduos e o lançamento dos efluentes sanitários no meio ambiente tornam- se uma ameaça ainda maior comprometendo a potabilidade da água doce encontrada na reserva e logo na saúde da população. Observa-se ainda que a gestão inadequada dos resíduos gerados, sobretudo a queima de materiais como plásticos que liberam toxinas e furanos, substâncias que também podem gerar agravos à saúde comprometendo a qualidade de vida dos moradores da RESEX. Por fim, ressalta-se que o saneamento básico é direito do cidadão e deve ser tratado como dever do município. O presente subprograma está intimamente relacionado com a organização comunitária e empoderamento da população de forma que as comunidades devem ser inseridas na execução das ações que busquem a implantação do saneamento básico na RESEX diante de uma demanda social. Objetivos O objetivo deste subprograma é fomentar as práticas de gestão de resíduos sólidos perigosos e não perigosos e a promoção do saneamento básico nas praias, a partir de projetos sociais ou pelo uso de técnicas baratas e simples de tratamento de água (por exemplo: ferver, cloração, filtração com areia, desinfecção solar). Diretrizes Articular com o poder municipal os programas de fomento para a implantação do saneamento básicos na RESEX, assim como incentivar a adoção de tratamento de água de baixo custo e organizar as comunidades para atividades de gestão de resíduos e limpeza do local. Atividades

1. Contatar a Prefeitura, a partir de representantes da RESEX (associação), para expor as demandas de coleta de lixo e assistência à instalação de fossas sépticas; 2. Articular com planos e programas de fomento ao Saneamento Básico, como por exemplo, a FUNASA ou com instituições de pesquisa para instalação de sistemas alternativos de tratamento de esgotos domésticos e/ou incentivar a adoção de tratamento de água de baixo custo;

266 3. Incentivar a criação de um sistema de separação de resíduos recicláveis no interior das comunidades e organizar o transporte periódico para o local de destinação no município. Metas e Indicadores

Tabela 30: Metas e Indicadores do Subprograma de Saneamento Básico Atividades Metas Indicadores Registro de comunicação, ata No mínimo uma reunião entre 1 ou documento que comprove o representantes da RESEX e prefeitura. contato com a prefeitura Termo de parceria firmado Firmar as parcerias para a instalação de entre a Associação de tratamento de esgoto doméstico com a Moradores e a instituição 2 adoção de técnicas de tratamento de responsável pelo projeto de água de baixo custo (Apêndice VI) em tratamento alternativo de todas as comunidades. esgoto; registro fotográfico. Implantar um sistema de separação e armazenagem temporária de recicláveis 3 e perigosos em ao menos 01 Registro do transporte do comunidade por setor e organizar o resíduo (fotos do processo). transporte para o município por parte dos moradores. 4.2.3 Programa para o fomento do turismo de base comunitária Descrição Este programa visa estimular o desenvolvimento do turismo de base comunitária, entendido como uma atividade potencialmente harmônica com os objetivos da UC e com o interesse da comunidade local. Com motivações ecológicas, culturais e recreativas, o turismo de base comunitária pode ser uma importante forma de geração de renda. Em um cenário de políticas públicas e comunidades tradicionais, é importante destacar que o turismo na RESEX deve ser planejado de modo a valorizar a cultura local. Vale destacar que esse turismo deve respeitar o Zoneamento Ambiental apresentado Item 4.4 do presente Plano de Manejo, de forma que a Zona Primitiva (ZP) 128 não deverá ser contemplada nas atividades turísticas, evitando a perturbação ao ambiente, e que a Zona de Recuperação (ZR) 129 deve ser utilizada, preferencialmente para o

128 ZP - Zona voltada à manutenção do ambiente natural com a menor influência humana possível, visando a proteção dos habitat e dos serviços ecológicos desempenhados pelos manguezais. 129 ZR - Zona voltada à recuperação do equilíbrio do ambiente degradado e/ou modificado, visando o reestabelecimento dos serviços e dinâmicas ambientais originais.

267 turismo científico, que tem como objetivo a realização de pesquisas, buscando a menor alteração possível no ambiente ou espécie estudada. Objetivos Ordenar e planejar a atividade turística que naturalmente se desenvolve na RESEX, de modo a otimizar a geração de renda, atenuar potenciais conflitos e valorizar a cultura local. Diretrizes Capacitar as comunidades para o Turismo de Base Comunitária, especialmente aquelas mais aptas e com melhor estrutura, como Caçacueira, Guajerutiua e Lençóis; ordenar a visitação na UC, por meio do estímulo à criação de sítio eletrônico, material informativo e identidade visual, de modo a ordenar a atividade turística. Atividades 1. Pesquisar junto à população o interesse e aceitação para o desenvolvimento das atividades; 2. Criar ou retomar parcerias para capacitação de moradores como monitores ambientais e para o recebimento e hospedagem dos turistas; 3. Divulgar o ecoturismo da RESEX em mídias eletrônicas, especialmente aquelas dentro da área ambiental – que possui grande interesse em conhecer melhor a UC. Metas e Indicadores

Tabela 31: Metas e indicadores do Programa de Fomento do TBC Atividades Metas Indicadores 1 Realizar a pesquisa em todas as Pesquisa realizada comunidades em até 01 ano após o início do projeto; 2 Capacitar pelo menos 02 moradores de Listas de presença cada comunidade inserida na temática do turismo em até 03 anos após o início do Programa 3 Fazer pelo menos uma divulgação em Divulgação realizada até 04 anos após o início do Programa

4.2.4 Programa de Proteção da RESEX Descrição O programa de Proteção da RESEX evidencia e planeja as atividades de Proteção da RESEX, visando principalmente o combate às ações ilegais que ocorrem na UC, sejam elas executadas por beneficiários ou não.

268 A proteção da RESEX refere-se à manutenção de seu território e recursos associados, garantindo assim a reprodução das práticas tradicionalmente desenvolvidas pela população beneficiária da UC em harmonia com a conservação das espécies da fauna e flora. O programa envolve ações de fiscalização, especialmente em relação à pesca e a catação de mariscos realizada por pescadores não beneficiários e a caça e comércio de animais silvestres, especialmente aves. Objetivo

Objetiva a proteção dos recursos da UC e, consequentemente, a garantia de manutenção desses recursos explorados tradicionalmente pelas populações beneficiárias.

Diretrizes

Contribuir com o cumprimento da legislação ambiental em vigor, enfatizando a condição de área protegida da UC e da dimensão punitivo-criminal da caça, da pesca ilegal e das restrições quanto à criação de bovinos. a) Subprograma de elaboração do Plano de Proteção da RESEX.

Descrição: O subprograma subsidia a elaboração do Plano de Proteção da RESEX, documento este mais detalhado quanto à operacionalização das principais ações de fiscalização e combate às ameaças externas e práticas ilegais ocorrentes na UC.

Objetivos: Elaborar e executar o Plano de Proteção da RESEX

Diretrizes: Mapear as principais épocas, locais e envolvidos nas práticas ilegais ocorrentes na UC e, por meio de ações de fiscalização, combater tais atividades.

Atividades

1. Elaborar o Plano de Proteção da RESEX de modo a subsidiar ações de fiscalização mais assertivas; 2. Empreender as ações de fiscalização, combatendo diretamente as ameaças e evidenciando a presença do Estado no território, de modo a estimular o cumprimento da legislação; 3. Incentivar os moradores para o registro da ocorrência de captura para o comércio130 e caça de aves, sistematizando tais informações; 4. Mapear as rotas de tráfico de aves visando operações de fiscalização; 5. Organizar fiscalizações pontuais para o combate à caça de aves;

130 A captura para domesticação será tratada no âmbito da eudcação ambiental

269 6. Organizar fiscalizações pontuais para o combate à captura de aves motivada pelo comércio de animais silvestres; 7. Incentivar os moradores para o registro da ocorrência da pesca do peixe mero, sistematizando as ocorrências descritas; 8. Articular com órgãos ambientais competentes (EXEMPLO: IBAMA, Polícia Ambiental e SEMA/MA) para a fiscalização do comércio do mero nos portos da região; 9. Fiscalizar de forma assertiva o cumprimento do acordo de gestão a partir de ações organizadas pela gestão da RESEX com auxílio das atividades de monitoramento e denúncia. Metas e indicadores

Tabela 32: Metas e indicadores do subprograma de elaboração do Plano de Proteção da RESEX Atividades Metas Indicadores Elaboração do Plano de Proteção da 1 Plano de Proteção da RESEX RESEX Realizar pelo menos 03 fiscalizações 2 anualmente a partir da elaboração do Relatórios de fiscalização Plano de Proteção Ter informações sistematizadas sobre a Banco de informações sobre a 3 captura e caça de aves após o início do captura e caça de aves Programa 4 Ter o mapeamento das rotas de tráfico Mapeamento do tráfico de aves após o início do Programa realizado Realizar pelo menos uma fiscalização 5 Relatório de fiscalização anual para combater a caça de aves Realizar pelo menos duas fiscalizações 6 anuais para combater a captura e o Relatório de fiscalização comércio de aves 7 Ter informações sistematizadas sobre a Banco de informações sobre a pesca do mero pesca do mero Realizar pelo menos uma fiscalização Relatório de fiscalização e anual para o combate da pesca do mero 8 informações sistematizadas em e a sistematização das informações banco de dados. sobre a pesca Realizar pelo menos uma fiscalização 9 por ano para averiguar o cumprimento Relatório de fiscalização do Acordo de Gestão.

270 b) Subprograma de Retirada dos Bovinos

Descrição A criação de animais de grande porte é uma atividade proibida em Reservas Extrativistas. Sabe-se que os rebanhos bovinos existentes na Ilha de Mangunça e na região de Aracajá, em sua maioria, são de propriedade de terceiros, isto é, não beneficiárias da RESEX. Desta forma, visando à conservação dos ecossistemas de restingas e florestas ombrófilas e consequentemente toda riqueza biológica associada, faz-se necessária a retirada destes rebanhos. Logo envolve a articulação institucional para a análise das alternativas viáveis para a retirada do gado, dada a fragilidade do transporte local. Objetivo Fornecer os subsídios técnicos e legais para a elaboração dos acordos de retirada do gado bovino, como um Termo de Ajuste de Conduta – TAC. Diretrizes Iniciar o processo de retirada dos bovinos da forma mais harmoniosa possível, isto é, por meio da sensibilização da população quanto à legislação vigente. Visando entendimentos, a retirada poderá ser gradual e acordada, de modo a mitigar os conflitos possíveis. Atividades 1. Comunicar as comunidades sobre as ações que serão realizadas com o objetivo de retirar os bovinos da UC; 2. Contatar o Ministério Público para a elaboração do TAC; 3. Iniciar o processo de diálogo e apresentação do TAC, negociando as condições para a retirada do gado; 4. Pesquisar e implementar alternativas de substituição do recurso financeiro originado a partir da criação do gado bovino. Metas

Tabela 33: Metas do subprograma de Retirada dos Bovinos Atividades Metas Indicadores Informar todos os criadores de bovino Registro de comunicação 1 sobre as medidas de retirada dos realizada bovinos após o início do Programa 2 Informar o Ministério Público sobre a Registro da comunicação

271 situação dos bovinos na RESEX em até 3 meses após a comunicação com os criadores. Caso seja redigido o Termo de 3 Ajustamento de Conduta - TAC pelo Registro de comunicação Ministério Público, apresentar o realizada documento para os criadores de bovino Retirar gradualmente os bovinos da Registro de retirada por 3.1 RESEX dentro do prazo estipulado fotografia e banco de dados pelo TAC com os animais remanejados Apresentar técnicas de obtenção de 4 Lista de presença renda 4.2.5 Programa de Comunicação Descrição Considerando que a origem de muitas ameaças identificadas está na exploração dos recursos por pessoas não beneficiárias, faz-se necessária a comunicação da RESEX com seu entorno e também com o contexto nacional. Objetivo Objetiva a difusão das restrições legais do território protegido da UC, de modo a coibir a presença de pescadores de outros municípios, facilitar as ações de educação ambiental com as populações do entorno e divulgar a Reserva para o meio acadêmico e outros interessados, como a demanda turística, através, principalmente, da AMREMC. Para que esta tenha conhecimento das atividades envolvendo a UC e repasse as devidas informações para as comunidades. Diretrizes Comunicar-se assertivamente com os principais municípios onde se originam pescadores que utilizem os limites da UC, de modo a mitigar ameaças identificadas através da comunicação sobre o regramento da área da UC. Estruturar canais de comunicação com os municípios de Cururupu e Apicum-açu, fortalecendo a presença institucional da RESEX enquanto vetor de desenvolvimento local e divulgar a Unidade e sua biodiversidade; Atividades 1. Estabelecer um canal de comunicação com a rede mundial de computador, de modo a valorizar as atividades realizadas, fomentar o encontro de potenciais parceiros; divulgar informações relacionadas à RESEX e as condições para a realização de

272 atividades que necessitem do acesso de imprensa, como gravação de reportagens e documentários; 2. Estabelecer canais de comunicação com as comunidades presentes nos limites da UC (Aquiles Lisboa, Maracujatiua, Ceará, Arapiranga, Palacete, Cachoeirinha e São Paulo), à margem do contexto virtual. Desta forma, devem-se procurar parceiros locais que ajudem a divulgar comunicações da RESEX, tais como festividades, campanhas de educação, notícias e regramentos; 3. Divulgar as demandas de pesquisa para universidades e projetos de conservação.

Metas e indicadores

Tabela 34: Metas e indicadores do programa de Comunicação Atividades Metas Indicadores Elaboração da página da UC e/ou Página da UC disponível na web 1 da Associação de Moradores na web Realizar ao menos 1 atividade de Consolidação dos canais de apresentação da UC para as comunicação entre RESEX e comunidades do entorno, como sociedade, como a afixação de 2 escolas municipais, cursos de material informativo nos graduação ou turma de principais portos do entorno, interessados. centros urbanos e capital estadual. Demandas de pesquisa divulgadas Registro de comunicação com 3 para pelo menos duas Universidades e Projetos de Universidades Conservação; 4.2.6 Programa de Gestão e Administração Descrição Visa otimizar a gestão da RESEX, estruturando os protocolos e procedimentos existentes, assim como sistematizando os procedimentos administrativos conforme normas de gestão do ICMBio, especialmente aqueles relacionados às particularidades da UC em campo. Neste mesmo programa, cabe identificar quais são as outras instituições, públicas ou privadas, que podem ajudar na gestão e desenvolvimento da RESEX. Ainda espera-se evidenciar a necessidade de incremento da mão de obra destinada à gestão do território da UC. Objetivo Visa contribuir para a gestão e administração da UC, de modo a estabelecer procedimentos administrativos fundamentais para a geração de dados sistematizados; identificar parceiros para pesquisas, monitoramento e aprendizagem e; evidenciar a

273 necessidade de incremento de mão de obra especializada na gestão da UC – condição fundamental para a efetividade dos programas e estratégias definidas.

Diretrizes Evidenciar a necessidade de profissionais interdisciplinares junto à gestão da UC para a eficiência do planejamento proposto; Identificar competências institucionais que possam diminuir a pressão sobre a gestão da UC e aprimorar os procedimentos administrativos, assim como a negociação com parceiros. Atividades 1. Elaborar o plano anual de trabalho da Unidade, alinhado com o planejamento estratégico do ICMBio e com o Plano de Manejo; 2. Mapear editais e projetos para a sustentabilidade econômica e financeira da RESEX, incluindo aqueles que ampliem a sua autonomia financeira e a viabilização da infraestrutura necessária à execução de ações requeridas pela Administração da UC; 3. Sensibilizar as instâncias superiores do ICMBio visando a ampliação do quadro de servidores e colaboradores, por meio do concurso público e concurso interno de remoção; 4. Dotar a RESEX com serviços para a manutenção de seus equipamentos; 5. Elaborar e gerir o programa de voluntariado na RESEX de Cururupu; 6. Elaborar um sistema de acompanhamento de gestão; 7. Estabelecer e fortalecer novas parcerias para auxílio na gestão da RESEX. Metas e Indicadores

Tabela 35: Metas e indicadores do programa de Gestão e Administração Atividades Metas Indicadores

1 Plano de trabalho anual elaborado Reunião de Planejamento realizada 2 Projetos de sustentabilidade econômica Projetos e editais e financeira da RESEX elaborados identificados Incrementar a gestão da UC com 4 Número de servidores lotados 3 analistas/técnicos ambientais e 2 na UC analistas/técnicos administrativos 4 Equipamentos da UC em pleno Porcentagem de reparos funcionamento necessários realizado 5 Ao menos 1 voluntário por ano na UC Lista de voluntários

274 6 Sistema de acompanhamento de gestão Sistema de acompanhamento elaborado após o início do programa de gestão elaborado e em uso 7 Ao menos 1 parceira estabelecida Termo de parceria firmado

4.2.7 Programa de Pesquisa

Descrição

O programa está relacionado com o direcionamento e incremento dos estudos científicos e monitoramento ambiental elaborados para a RESEX de Cururupu. Seu desenvolvimento é fundamental para o acompanhamento da gestão da UC, uma vez que são as pesquisas e estudos que fornecem os subsídios necessários para a avaliação do ambiente e seus recursos naturais. Seu ponto de partida são as lacunas de conhecimento identificadas durante a elaboração do volume I deste Plano de Manejo - Diagnóstico da UC e versam sobre o desenvolvimento de pesquisas necessárias para o combate de ameaças identificadas no modelo conceitual, especialmente aquelas relacionadas à fauna e que não foram contempladas nas estratégias.

Objetivo Produzir dados científicos que preencham as lacunas de conhecimento identificadas no Plano de Manejo e que não foram tratadas nas estratégias ou em outros Programas. Diretrizes Apoiar e estimular a elaboração de pesquisas científicas e monitoramentos no interior da RESEX e no seu entorno. Deve priorizar as lacunas de conhecimento identificadas no diagnóstico, tais como: Monitorar a presença do camarão da malásia nas águas da RESEX (Macrobrachium rosenbergii) e os impactos ecológicos causados pela presença da espécie; inventário da fauna e da flora existentes na Floresta Ombrófila da Ilha de Mangunça; identificação botânica das cactáceas existentes na UC; inventário florístico das florestas de manguezais; Identificação e monitoramento do tamanduá-sêda (Cyclopes didactylus131) e do jurará (Trachemys adiutrix); ocorrência e áreas de uso do golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops trucatus); diagnóstico de áreas vulneráveis à erosão costeira; análise dos impactos causados pelas salinas ativas na UC, avaliação do impacto da queima de resíduos na população local e os impactos da área urbana de Cururupu nas franjas ocidentais da RESEX.

131 Sugere-se o contato com o Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás do Brasil (Projeto Tamanduá - www.tamandua.org) que tem como principal objetivo o desenvolvimento de pesquisas e a conservação das espécies de tamanduá existentes no Brasil. O projeto já atua na região norte do Brasil.

275 Atividades Estimular e apoiar o desenvolvimento da pesquisa científica na RESEX, priorizando aqueles temas já identificados enquanto lacunas de conhecimento. Metas e indicadores

Tabela 36: Metas e indicadores do programa de Pesquisa e Monitoramento Atividade Meta Indicador

Realização de pelo menos um estudo Estudos realizados contemplando as seguintes lacunas de conhecimento citadas acima, como: monitoramento do camarão-da-malásia; 1 inventário da fauna e da flora existentes na Floresta Ombrófila da Ilha de Mangunça e Ilha das Moças; inventário florístico das florestas de manguezais e diagnóstico de áreas vulneráveis à erosão costeira. a) Subprograma da Fauna

Descrição O subprograma destina-se ao desenvolvimento de ações ou estudos que ajudem na proteção e conservação de espécies da fauna local que estejam sob pressão de alguma ameaça atual e direta identificada no modelo conceitual, priorizada ou não nas estratégias. Assim, optou-se por incluí-las no Programa de Pesquisa, por entender que a partir da produção de dados quanto à vulnerabilidade de algumas espécies, será possível direcionar as atividades que têm como objetivo principal a proteção da fauna silvestre presente na RESEX. A proteção da fauna pode ocorrer por meio de ações de fiscalização (contempladas no Plano de Proteção), de estudos que forneçam dados para o planejamento ou monitoramento da fiscalização (por exemplo: ciclos ecológicos e densidade populacional), e na elaboração de ações mitigadoras das ameaças. Envolver a população no desenvolvimento deste programa é um processo importante para o sucesso das atividades, já que a partir da ampliação do conhecimento técnico, a população passa a entender a relevância da conservação e assumir o papel de protetora da fauna. Objetivo Conservar as espécies da fauna a partir de ações preventivas ou mitigadoras de ameaças já identificadas.

276 Diretrizes Criar parcerias com Instituições e projetos para o desenvolvimento dos estudos e técnicas que auxiliem na conservação das espécies, incorporar as comunidades locais nas atividades de conservação e organizar fiscalizações para o combate de práticas ilegais voltadas às espécies nativas. Atividades 1. Fomentar parcerias para o levantamento de dados ecológicos sobre as principais espécies traficadas, especialmente a densidade populacional da pipira azul, curica e sabiá da praia e para o mapeamento das áreas de ninhais. Os dados indicarão se existe alguma queda na densidade populacional que possa estar relacionada com a captura, além de indicar os prováveis períodos da captura; 2. Identificar as espécies de tartaruga-marinha que ocorrem na RESEX, principais atividades humanas próximas aos locais de postura e sítios de alimentação utilizados pelos animais, conhecer os locais com maior incidência de captura e quantificar os indivíduos soltos com vida e as taxas de mortalidade (os dados fundamentarão o desenvolvimento da atividade 5); 3. Registrar e mapear, de forma participativa, as principais áreas e épocas de postura de tartaruga-marinha (os dados fundamentarão o desenvolvimento da atividade 5); 4. Estudar a ocorrência, índice de mortalidade, a dinâmica de uso da área, reprodução e cuidado parental do boto-cinza (Sotalia guianensis) (os dados fundamentarão o desenvolvimento da atividade 5); 5. Avaliar a necessidade de limitar o uso das áreas ou atividades nos locais ou períodos de maior mortalidade de animais aquáticos; 6. Avaliar a densidade populacional e condições ecológicas dos bancos de molusco- bivalve; 7. Avaliar a produtividade biológica nas cabeceiras. Metas

Tabela 37: Metas e indicadores do subprograma de Proteção da fauna Atividades Metas Indicadores Obter os relatórios de estudos Relatório de estudos 1 ecológicos e áreas de ninhais de ecológicos e monitoramento de espécies de aves aves Obter a identificação das espécies de Relatório com a identificação 2 tartaruga marinha e suas áreas de uso. das espécies de tartarugas- marinhas e suas áreas de uso

277 Obter o registro das áreas de postura de Mapeamento e relatórios de 3 tartaruga-marinha monitoramento das áreas de desova de tartaruga-marinha 4 Obter os dados de estudo do boto-cinza Relatório com os dados após o início do Programa ecológicos do boto-cinza Avaliar a necessidade de limitar o uso Relatório e avaliação sobre a 5 das áreas de maior mortalidade de ocorrência de acidentes e animais aquáticos após o término dos mortalidade de animais estudos aquáticos Obter os dados de avaliação dos bancos Relatório de avaliação do 6 de molusco-bivalve após o início do banco de molusco-bivalve Programa Obter os dados de avaliação da Relatório de avaliação da 7 produtividade nas cabeceiras após o produtividade das cabeceiras início do Programa 4.2.8 Programa de Apoio a Navegação

Descrição Considerando as peculiaridades do litoral das Reentrâncias, onde se observa a movimentação periódica de bancos de areia, faz-se necessário também o desenvolvimento do conhecimento sobre a batimetria e principais rotas de navegação da UC. Sendo o único meio de transporte acessível da região, a navegação interior deve ser monitorada e otimizada, tanto por segurança dos pescadores (melhoria na qualidade de vida) quanto para visitantes (pesquisadores, técnicos e turistas). Dessa forma, o programa visa fornecer subsídios à navegação por meio da elaboração de estudos batimétricos, cartas náuticas e material de divulgação. Diretrizes Levantar informações necessárias para o conhecimento sobre a movimentação dos bancos de areia, canais, pontos de interesse e perigo para a navegação. Além de avaliar a inserção dos naufrágios da região no contexto ecoturístico da RESEX e incentivar a regularização das embarcações da RESEX. Objetivos Fomentar a elaboração de um mapa de apoio à navegação na RESEX, com informações batimétricas, fisiográficas ou oriundas do conhecimento tradicional da população local; identificar as áreas que oferecem riscos à navegação, como fundos rochosos e naufrágios antigos.

278

Atividades 1. Elaborar um SIG onde constem todas as informações relevantes à navegação, de modo a produzir materiais de apoio oriundos do acúmulo de informações; 2. Levantar, junto à população local, a localização aproximada dos principais naufrágios e pontos de interesse à navegação; 3. Incentivar pescadores para a regularização das embarcações junto com a Capitania dos Portos; 4. Articular parceria com a Capitania dos Portos para o controle do fluxo de Veleiros Internacionais que aportam na Baia de Lençóis. Metas e indicadores

Tabela 38: Metas e indicadores do programa de Apoio à Navegação Atividades Metas Indicadores SIG elaborado a partir do início do SIG onde conste a Programa e ao menos 1 tipo de material sistematização das 1 informativo de apoio à navegação na UC, informações batimétricas e como mapa, cartilha informativa ou fisiográficas da RESEX, relatório. assim como a localização Levantamento participativo dos pontos aproximada dos principais 2 de interesse à navegação acidentes e naufrágios ocorridos no interior da UC. Regularizar todas as embarcações da Documentos de 3 RESEX a partir do início do Programa regularização das embarcações Firmar parceria com a Capitania para o Dados sobre os veleiros 4 controle dos veleiros aportados em Lençóis

4.3. CRONOGRAMA FÍSICO Para melhor gestão de todos os Programas e Estratégias de conservação ficou definido uma temporalidade para o início dos trabalhos, que vai de acordo com a necessidade de mitigação das ameaças ou atendimento a uma necessidade ambiental e/ou social. Para cada ação estabelecida nas estratégias de conservação foi definido um tempo médio para o início, contado a partir da publicação do Plano de Manejo. Para as ações sequenciais, o prazo de uma está associado com o prazo final (meta) da ação anterior. As Tabelas 38 e 39, a seguir, apresentam o cronograma de cada atividade/ação das estratégias e dos Programas de Sustentabilidade Ambiental.

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Tabela 39: Cronograma das Estratégias

Estratégias Ações Início 01a 01b Promover o uso adequado do recurso florestal com aprimoramento das 01c técnicas de uso 01d 01e 02a 02b Promover o ordenamento dos animais de pequeno e médio porte 02c 02d 03a 03b 03c 04 05a 05b 05c 05d 05e Implementar e ampliar o ordenamento da pesca 05f 05g 05h 06a 06b 06c 07a 08a 08b 08c Legenda curto (12 meses) médio (36 meses) longo (60 meses)

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Tabela 40: Cronograma dos Programas

Prazo de Programas de Sustentabilidade início Programa de Consolidação de Limites Programa de Educação Ambiental Programa de Fortalecimento comunitário, Gestão Participativa e Qualidade de Vida Programa Turismo de Base Comunitária Programa de Proteção da RESEX Programa de Comunicaçã o Programa de Gestão e Administração Programa de Pesquisa e Monitoramento Programa de Apoio a Navegação

Legenda curto (12 meses) médio (36 meses) longo (60 meses)

4.4. ZONEAMENTO Um dos principais instrumentos do planejamento é o Zoneamento Ambiental, que se refere ao estabelecimento de setores ou zonas visando ordenar os usos do território e atender os objetivos propostos da UC. Baseia-se principalmente na legislação ambiental, na diversidade e representatividade de paisagens, na situação fundiária, nos usos atuais e pretéritos e na forma como a população local divide, categoriza e utiliza seu espaço (MMA, 2009). No contexto de uma Reserva Extrativista, a efetividade do zoneamento é condicionada à participação social ao longo do processo. Somente por meio da participação ativa dos comunitários é que se pode compreender as dinâmicas socioambientais da UC e as necessidades da população. O zoneamento não deverá ser apenas a determinação de linhas imaginárias, mas uma forma de monitoramento e gestão do território – em harmonia com o ambiente e com o modo de vida tradicional. Desta forma, o Zoneamento é uma síntese do presente e um planejamento para futuro. Desta forma, as principais questões consideradas para o zoneamento foram:  Pressões, ameaças e usos conflitantes do território;  Diversidade e representatividade de ecossistemas;  Locais de nidificação de aves e desenvolvimento dos pescados;  Territórios de pesca e o uso compartilhado dos recursos;

281  Áreas de uso tradicional – extrativismo vegetal e criação de pequenos animais;  Potenciais turísticos e de uso intensivo. Além das questões de ordem técnica, o zoneamento se baseia no Acordo de Gestão da UC (Portaria nº 122/2014) e nas legislações ambientais vigentes. Desta forma, o Zoneamento deverá ser harmônico com os outros instrumentos de regulamentação do território – condição fundamental para o sucesso do planejamento da UC. Por se tratar de uma Reserva Extrativista Marinha, é obvia a necessidade de se ordenar também o espaço aquático, isto é, de estabelecer zonas marinhas, assim como as terrestres. As tipologias definem zonas destinadas à preservação do ambiente; ao uso sustentável dos recursos; à recuperação ecológica e resolução de conflitos. Os subsídios utilizados para a estruturação das zonas foram sistematizados no diagnóstico ambiental da UC, oriundo de fontes secundárias e levantamentos primários, e em 4 Oficinas de Planejamento Participativo - OPPs, realizadas em Julho/2015 com a presença de quase todas as comunidades da RESEX132. Com tais subsídios foi possível desenvolver um Sistema Participativo de Informações Geográficas – SPIG, isto é, integrar a informação oriunda do conhecimento empírico, tradicional, e analisá-la no âmbito de um SIG que possibilite o cruzamento de informações espaciais diversas (RAMBALDI, 2006). Ressalta-se que, em função da dimensão da UC, o zoneamento foi elaborado sobre uma imagem do satélite americano LANDSAT 8, imageada em 2014 e adquirida no catálogo da NASA133. Por se tratar de um satélite de média resolução espacial (30 metros), elementos da paisagem de dimensão reduzida não são postos em evidência, especialmente as cabeceiras dos furos e canais (que se referem às Zonas Marinhas de Proteção – ZMP). Todavia, de acordo com as premissas do Zoneamento, sua definição em campo é simples, pois sua identificação e delimitação são de amplo conhecimento. Assim, a quantificação das áreas foi realizada através da metragem dos polígonos elaborados no SIG, sendo aproximações da realidade. A descrição, objetivos e regramentos de cada zona são descritos a seguir. A Figura 214 é o Mapa do Zoneamento da RESEX. A Tabela 40 apresenta o quadro de áreas das zonas na UC.

132 Apenas a comunidade de Retiro não enviou nenhum representante. 133 Disponível em http://landsat.usgs.gov/ - acessado em junho de 2015.

282

4.4.1. Tipologias de Zonas na RESEX Zona de Uso Primitivo - ZUP a) Definição: Zona voltada à manutenção do ambiente natural com a menor influência humana possível, visando à proteção dos habitats e dos serviços ecológicos desempenhados pelos manguezais. b) Descrição dos limites: Interior dos bosques e franja frontal do mangue não abrigado, se estendendo até o limite terrestre do manguezal; incluiu o entorno das cabeceiras; apicuns; áreas de ninhais e de dormitório de aves. Inclui ainda áreas onde a vegetação é imune ao corte, como na região do Perical ao São João Mirim – conforme descrito no Capítulo VII do Acordo de Gestão. c) Objetivo Geral: Preservação do ambiente natural pouco modificado, considerando ainda os habitats associados – especialmente relevantes enquanto abrigo e local de desenvolvimento de diversas espécies de pescados. d) Objetivos específicos: Conservação da cobertura florestal do manguezal e proteção da linha de costa das ilhas que compõe a RESEX; Proteção das áreas de ninhais identificadas, como a Ilha das Flechas. e) Normas: São permitidos apenas os usos indiretos, tais como a pesquisa científica, educação ambiental e a visitação. f) Área total da ZP: A área total das ZPs soma 54.338 hectares, que representam 29,6% da área total da RESEX, ou 69,8% da área terrestre da UC. Zona de Manejo Florestal Comunitário – ZMFC a) Definição: Zona voltada ao manejo sustentável dos recursos madeireiros e não madeireiros fundamentais para a manutenção do modo de vida tradicional. É constituída por uma franja marginal de 200 metros ao longo das margens dos manguezais interiores da UC - de onde os beneficiários extraem a madeira necessária à manutenção de seu modo de vida tradicional, como a construção de apetrechos de pesca, ranchos e casas. b) Descrição dos limites: Franja marginal de 200 metros ao longo dos canais e furos dos manguezais, excetuando as cabeceiras e franja frontal do mangue – isto é, não é diretamente impactada pelos processos erosivos decorrentes da ação das marés. c) Objetivo Geral: Manutenção de um ambiente natural com mínimo impacto humano, garantindo a reprodução do modo de vida tradicional por meio da retirada de madeira de mangue com finalidade unicamente de subsistência, da exploração de recursos florestais (não madeireiros) e o extrativismo associado.

283 d) Objetivos específicos: Ordenar a retirada de madeira de mangue, com o objetivo de cessar a retirada de madeira nas porções de mangue denominadas mangue-de-frente ou quebra-maré. e) Normas: É permitida, aos beneficiários, a retirada de madeira para subsistência e de Produtos Florestais Não Madeireiros, em acordo com os capítulos IV e V do Acordo de Gestão. É permitida, aos beneficiários, a cata de crustáceos e bivalves, em acordo com o capítulo V do Acordo de Gestão. Estimula-se a visitação, pesquisa científica e educação ambiental. f) Área total da ZUMT: A área total das ZUMTs soma 14.904 hectares, que representam 8,1% da área total da RESEX, ou 19,1% da área terrestre da UC. Zona de Uso Comunitário - ZUC a) Definição: Zona voltada à manutenção do modo de vida tradicional da população extrativista local, correspondendo às áreas exploradas e apropriadas pelas comunidades – constituindo assim parte de seu território. É a zona que reúne as características mais valorizadas pela atividade turística - como praias, dunas e restingas no entorno das comunidades b) Descrição dos limites: Correspondem às restingas, dunas e praias arenosas da UC, excetuando as restingas de Aracajá e Mangunça, onde predominam atividades conflitantes com a RESEX. Refere-se às áreas de terras firmes de uso comum. c) Objetivo Geral: Visa o uso sustentável dos recursos naturais, com respeito ao modo de vida tradicional, buscando promover o desenvolvimento local, o turismo de base comunitária e o incremento da qualidade de vida. d) Objetivos específicos: Promover formas sustentáveis de exploração das restingas, de modo a garantir os usos fitoterápicos de suas espécies e seu conhecimento tradicional associado; manter as possíveis áreas de uso turístico nestes territórios, uma vez que agrupam as paisagens de maior beleza cênica134 e potencial turístico da UC; controle da disposição de resíduos sólidos; ordenamento das áreas comuns. e) Normas: São permitidas as atividades tradicionalmente desenvolvidas, cujo ordenamento está descrito no Acordo de Gestão, como o extrativismo vegetal (Capítulo IV), criação de animais de pequeno porte (Capítulo VI), recreação e lazer (Capítulo VII), visitação (Capítulo IX) e a pesquisa científica (Capítulo XII). Nesta zona será permitido à instalação de infraestruturas públicas não passíveis de licenciamento como

134 Embora trate-se de um juízo de valor, é esperado que as praias, dunas e restingas da RESEX despertem fascínio e admiração nos turistas, sendo portanto, locais tipicamente planejados para a atividade turística.

284 as de apoio à navegação (piers, ranchos de pesca e atracadouros), de abastecimento (poços, cisternas) e de qualidade de vida (postes, torres de telefonia, geradores fotovoltaicos) desde que submetidas à aprovação do Conselho Deliberativo e à chefia da UC. f) Área total da ZUC: A área total das ZUCs soma 7.035 hectares, que representam 3,8% da área total da RESEX, ou 9% da área terrestre da UC. Zona Populacional - ZP a) Definição: Zona correspondente a área ocupada pelas comunidades e localidades povoadas da RESEX, destinada à receber os equipamentos de infraestrutura necessários ao apoio à gestão e incremento da qualidade de vida da população local. b) Descrição dos limites: Corresponde às áreas de ocupação permanente ou sazonal da RESEX, isto é, as comunidades de Mangunça, Taboa, Caçacueira, São Lucas, Peru, Guajerutiua, Valha-me-Deus, Porto Alegre, Lençóis, Bate Vento, Porto do Meio, Mirinzal, Urumaru, Beiradão, Retiro e Iguará. Somam-se a estas as residências isoladas já estabelecidas, que em função da escala do mapeamento, não são representadas na cartografia. c) Objetivo Geral: Harmonizar a área de residência das comunidades tradicionais com o planejamento da UC, estimulando a melhoria da qualidade de vida e da realidade local. d) Objetivos específicos: Estimular a adoção de práticas sustentáveis de baixo custo, especialmente em relação à captação e armazenamento de água doce, disposição de resíduos sólidos, criação de animais de pequeno porte, entre outras. e) Normas: É permitida a prática de atividades tradicionais e/ou daquelas necessárias para a manutenção da população, desde que respeitados os capítulos VII, VIII, IX, X, XI e XIII do Acordo de Gestão. Estimula-se a instalação das infraestruturas indispensáveis à melhoria da qualidade de vida – tal como piers, praças, quadras poliesportivas/campos de futebol, iluminação pública e equipamentos de saúde, desde que submetidos à aprovação da Gestão da RESEX. A abertura de poços artesianos para captação de água só poderá ocorrer em áreas onde não ocorre a influência da maré, sempre após a autorização da Gestão da UC e, para poços em áreas coletivas, após aprovação da comunidade. São permitidas as atividades de pesquisa científica, educação ambiental e turismo de base comunitária. f) Área total da ZP: A área total das ZPs somam 271 hectares, que representam apenas 0,15% da área total da RESEX, ou 0,35% da área terrestre da UC.

285 Zona de Uso Conflitante - ZUCON a) Definição: Zona correspondente às áreas onde são desenvolvidas atividades conflitantes com os objetivos e normas da RESEX, como a pecuária extensiva de bovinos. Esta zona também contempla as áreas de salinas ativas (Iguará e Ilha das Moças) existentes na RESEX, entendo-se que tais salinas correspondem a uma atividade antiga, tradicional e necessária para a subsistência da população (conservação do pescado). Porém, devido à proibição de extrativismo mineral contida no SNUC, a construção de novas salinas torna-se proibida. b) Descrição dos limites: Referem-se às grandes áreas de criação extensiva de bovinos (parte das restingas de Mangunça/Taboa e de Aracajá), as áreas de salinas existentes (Iguará e Ilha da Moça) e os 2 imóveis existentes na UC, cuja origem é anterior à criação da RESEX: uma edificação existente na Ilha das Moças e uma antiga fábrica de beneficiamento de camarão, na Ilha do Tucum. c) Objetivo Geral: Evidenciar os usos e atividades conflitantes mais relevantes à gestão territorial da UC, visando à resolução dos possíveis conflitos e posterior recuperação ambiental. d) Objetivos específicos: Monitorar a situação das salinas ativas existentes; buscar formas de compatibilização das estruturas existentes (antiga fábrica e mosteiro) com a gestão da UC; promover a retirada dos rebanhos bovinos. e) Normas: São permitidas as atividades tradicionalmente desenvolvidas, cujo ordenamento está descrito no Acordo de Gestão, como o extrativismo vegetal (Capítulo IV), criação de animais de pequeno porte (Capítulo VI), recreação e lazer (Capítulo VII e IX), visitação nas áreas das salinas e mosteiro e a pesquisa científica. Nesta zona espera-se também a instalação de infraestruturas públicas de apoio à navegação (piers, ranchos de pesca e atracadouros), de abastecimento (poços, cisternas) e de qualidade de vida (postes, torres de telefonia, geradores fotovoltaicos), desde que submetidos à aprovação da Gestão da RESEX. A construção de novas salinas fica proibida. f) Área total da ZAC: A área total das ZACs somam 1.273 hectares, que representam 0,7% da área total da RESEX, ou 1,63% da área terrestre da UC.

Zona de Recuperação - ZR a) Definição: Zona voltada à recuperação do equilíbrio do ambiente degradado e/ou modificado, visando o restabelecimento dos serviços e dinâmicas ambientais originais.

286 b) Descrição dos limites: Refere-se às áreas de apicuns modificados para a instalação de salinas, atualmente desativadas, localizados próximos a Bate Vento, Ilha do Tucum e Porto do Meio. c) Objetivo Geral: Visa o restabelecimento dos serviços ecossistêmicos e dinâmicas ambientais dos ambientes degradados e/ou modificados. d) Objetivos específicos: Recuperar as funções ecológicas e o equilíbrio ambiental dos apicuns que abrigavam antigas salinas, como em Bate Vento, Porto do Meio (Salina do Sr. Anjo) e da ilha do Tucum; restringir os usos e atividades que possam comprometer a recuperação dos ambientes inseridos nesta zona; e) Normas: É permitida a visitação pública de caráter educativo, visando à adoção de medidas de recuperação de suas características originais.

Após a recuperação, este ambiente deverá ser convertido para Zona de Uso Comunitário, cumprindo todas as suas normas. Não serão instaladas infraestruturas nesta zona, com exceção daquelas necessárias aos trabalhos de recuperação, pesquisa, educação ambiental e visitação. As instalações de apoio aos trabalhos de recuperação serão provisórias, de preferência construídas em madeira. Os resíduos sólidos gerados nestas instalações deverão receber tratamento adequado. Caso sejam identificadas novas áreas degradadas e com necessidade de recuperação estas deverão ficar sujeitas às mesmas regras da Zona de Recuperação, a partir de uma resolução do Conselho Deliberativo. f) Área total da ZR: A área total das ZRs somam 272 hectares, que representam 0,15% da área total da RESEX, ou 0,35% da área terrestre da UC.

Zona Marinha de Proteção - ZMP a) Definição: Zona marinha destinada à preservação ambiental e manutenção dos estoques pesqueiros. b) Descrição dos limites: Referem-se às cabeceiras presentes no interior dos arquipélagos da UC, isto é, os locais onde findam tais cursos d’água e enchem somente na preamar (maré alta). Por este motivo, trata-se de uma zona bem difundida no interior da RESEX - incluindo a totalidade das cabeceiras (muitas das quais não constam no mapeamento, em função da escala apresentada).

287 c) Objetivo Geral: Manutenção do habitat para o desenvolvimento dos organismos aquáticos através da proteção das cabeceiras dos cursos d’água. d) Objetivos específicos: Restringir a atividade pesqueira e a exploração de todos os recursos naturais nas áreas de cabeceiras da RESEX, habitat para o desenvolvimento de muitas espécies de pescados, entre outros animais. e) Normas: O único uso direto dos recursos é a cata de mariscos (sururu, siri, ostra e caranguejo), desenvolvida nas franjas e margens de todos os canais, furos e cabeceiras, respeitando o disposto no Cap. III do Acordo de Gestão. Não é permitido o uso de nenhum apetrecho de pesca, inclusive o puçá de arrasto. Salvo tal exceção, são permitidos apenas os usos indiretos, tal como a visitação, educação ambiental e pesquisa científica. f) Área total da ZMP: A área total das ZMPs somam 846 hectares de espelho d’água, que representam 0,46% da área total da RESEX, ou 0,81% da superfície aquática da UC.

Zona Marinha de Uso Compartilhado - ZMUC a) Definição: Zona marinha destinada ao uso compartilhado dos recursos pesqueiros entre a população beneficiária extrativista local. b) Descrição dos limites: Inclui a totalidade do espelho d’água da RESEX, excetuando as cabeceiras dos furos e canais presentes no interior dos arquipélagos. c) Objetivo Geral: Garantir a manutenção do modo de vida tradicional e o equilíbrio ambiental através da exploração sustentável dos recursos pesqueiros. d) Objetivos específicos: Colaborar com a manutenção da atividade pesqueira e estimular a adoção de boas práticas; apoiar o uso compartilhado do espaço aquático e a resolução de conflitos. e) Normas: São permitidas a atividade pesqueira tradicional praticada pelos beneficiários da UC (Perfil do Beneficiário – ANEXO III), normatizadas nos capítulos I e II do Acordo de Gestão, além de atividades recreativas, navegação, educação ambiental e pesquisa científica. f) Área total da ZMUC: A área total das ZMUC soma 104.160 hectares de espelho d’água, que representam 56,9% da área total da RESEX, ou 99,19% da superfície aquática da UC.

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Tabela 41: Quadro de Áreas em função das tipologias de Zona da RESEX135 Zonas Área (ha) % em relação à RESEX ZUP 54.338 29,68 ZMFC 14.904 8,14 ZUC 7.035 3,84 ZP 271 0,15 ZUCON 1.273 0,70 ZR 272 0,15 ZMP 846 0,46 ZMUC 104.160 56,89 Área total da RESEX 183.099 100,00

135 Esse quadro de áreas considera os polígonos obtidos a partir das técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto, trabalhadas sobre as imagens de satélite disponíveis para a área da RESEX. Diante disso, os hectares descritos nesta tabela caracteriam-se como uma medição indireta que sinaliza um comportamento e uma tendência em números relativos (%) podendo variar em números absolutos.

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Figura 214 - Zoneamento da RESEX

290 4.4.2. Proposta de Zona de Amortecimento – Mosaico das Reentrâncias A Zona de Amortecimento “define e caracteriza uma área no entorno da Unidade”, cujo propósito é “minimizar ameaças e impactos negativos sobre a mesma”. Devem ser estabelecidas normas para o seu uso e ocupação e restrições para atividades impactantes (IN 01/07). É uma área de contato e tensão entre a UC e a região onde se insere, isto é, possui ecossistemas e dinâmicas socioambientais diretamente relacionadas à realidade da RESEX.

Considerando que a RESEX de Cururupu se sobrepõe à APA Estadual das Reentrâncias Maranhenses, seu entorno é um território especialmente protegido pelo poder público estadual – com fins de conservação ambiental. Quando ocorre a sobreposição de áreas protegidas, sejam ou não da mesma categoria, o SNUC determina a criação de mosaicos, conforme Art. 26 da Lei 9985/2006: “Quando existir um conjunto de unidades de conservação de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas, constituindo um mosaico, a gestão do conjunto deverá ser feita de forma integrada e participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional.”

Assim, o mosaico tem como objetivo a ampliação das ações de conservação para além dos limites das UCs.

O SNUC136 estabelece que o conjunto de unidades de conservação só passa a ser tratado como mosaico após seu reconhecimento por ato do MMA, a pedido dos órgãos gestores das unidades.

Vendo que a RESEX Marinha de Cururupu encontra-se sobreposta à APA das Reentrâncias Maranhenses, compartilhando das mesmas espécies e ecossistemas e está situada em área próxima à APA das Baixada Maranhense e Parque Estadual Marinho do Parcel Luis, também compartilhando boa parte da biodiversidade, e seguindo a determinação do SNUC, sugere-se a criação do mosaico incluindo a RESEX de Cururupu e APA das Reentrâncias Maranhenses ou estas duas adicionadas do Parque Estadual Marinho do Parcel Luis e a APA das Baixada Maranhense.

136 Oficializada através de Decreto 4340/2002

291 A criação do mosaico incluindo tais áreas protegidas terá o objetivo de compatibilizar, integrar e otimizar as atividades desenvolvidas nas diferentes UCs, como o controle de acessos, ações de fiscalização, pesquisas e projetos científicos, alocação de recursos e manejo. Além do estreitamento das relações entre a população residente na área do mosaico, as gestões públicas e desenvolvimento sustentável no contexto regional.

Por estes motivos, o presente Plano de Manejo não apresenta a Proposta de Zona de Amortecimento, substituindo esta pela proposta pela criação do Mosaico, onde tal zona estará contemplada nos limites das demais Unidades de Conservação.

4.5. ACORDO DE GESTÃO DA RESEX DE CURURUPU - Portaria Nº 122, de 6 de novembro de 2014

CAPÍTULO I - DA PESCA 1.Todas as embarcações que pratiquem a pesca na área da Resex de Cururupu devem pertencer e ser operadas por pescadores beneficiários da Resex e cadastrados pelo ICMBio. 1.1.Embarcações de não beneficiários ficam restritas a utilizar a área da Reserva apenas para abrigo e abastecimento. 2.Considera-se pesca, além das formas tradicionais de captura de pescados, as atividades de cata de caranguejo e demais mariscos. 3.Na Resex somente será a permitida a pesca artesanal que não utiliza tração motorizada para a captura e cujas embarcações não ultrapassem o peso de 10 toneladas líquidas de arqueamento. 4.Fica proibida a pesca industrial na área da Resex. 5.Ficam proibidos os usos dos petrechos tipo fuzarcão, rede de lanço e rede poitada dentro dos limites da Resex. 5.1.A introdução de nova arte ou tecnologia de pesca na Resex deverá ser submetida ao ICMBio, em primeira instância, com posterior apreciação e aprovação do Conselho Deliberativo. CAPÍTULO II - DOS APETRECHOS DE PESCA PERMITIDOS 6.Fica permitido o emprego dos seguintes apetrechos, equipamentos e métodos de pesca na Resex: 6.1.redes do tipo puçá de arrasto, com malha não inferior a 20mm (vinte milímetros);

292 6.1.1 Fica proibida a pesca com redes do tipo puçá de arrasto nos meses de abril, maio e junho, para proteger o recrutamento do camarão. 6.2.redes do tipo puçá de muruada, com malha não inferior a 24mm (vinte e quatro milímetros); 6.3.redes do tipo zangaria ou fuzarca, com malha não inferior a 50mm (cinquenta milímetros), desde que fixadas a uma distância mínima de 100m (cem metros) uma da outra, com altura máxima de 2,5m (dois metros e meio) e comprimento máximo de 1500m (mil e quinhentos metros); 6.4.redes do tipo tarrafa pesqueira, com malha não inferior a 50mm (cinquenta milímetros) para pescados em geral; e malha não inferior a 15mm (quinze milímetros) para iscas; 6.5.redes do tipo camaroeira com malha não inferior a 36 (trinta e seis milímetros), ou, na linguagem da comunidade, 18; 6.6.espinhel, na área estuarina e costeira, com quantidade de anzóis por embarcação não superior a 3000 (três mil) anzóis, e número compreendido entre 6 e 12; 6.7.currais, com as seguintes especificações: espaçamento entre as varas não inferior a 5cm (cinco centímetros) na ispia, malha de chiqueiro não inferior a 60mm (sessenta milímetros) e espaçamento mínimo de 50m (cinquenta metros) de um curral para outro, de forma a não causar embraço à navegação; 6.8.redes do tipo gozeira com malha não inferior a 70mm (setenta milímetros), equivalente a 35 na linguagem da comunidade; e comprimento máximo de 3000m (três mil metros) da barra para fora; 6.9.redes do tipo caiqueira ou pratiqueira com malha não inferior a 30mm (trinta milímetros) equivalente a 18 na linguagem da comunidade; e extensão não superior a 200m (duzentos metros) de comprimento; 6.10.redes do tipo tainheira, com malha não inferior a 60mm (sessenta milímetros) , equivalente a 30 na linguagem da comunidade; e extensão não superior a 300m (trezentos metros) de comprimento; 6.11.redes do tipo malhão, com malha não inferior a 170mm (cento e setenta milímetros) e extensão não superior a 3000m (três mil metros) de comprimento; 6.12.redes do tipo serreira, com malha não inferior a 100mm (cem milímetros) , equivalente a 50 na linguagem da comunidade; e extensão não superior a 3000m (três mil metros) de comprimento;

293 6.13.redes do tipo corvineira com malha não inferior a 150mm (cento e cinquenta milímetros) e extensão não superior a 3000m (três mil metros) de comprimentos; 6.14.armadilhas do tipo munzuá; 6.15.espinhel do tipo rabadela; 6.16.redes tipo rabiadeira; 6.17.linha de mão ou vara. 7.Considera-se como tamanho da malha, para fins de fiscalização, a medida tomada entre dois nós opostos da malha esticada, em milímetros. 8.A área ocupada por curral zangaria ou fuzarca e muruada que não for utilizada pelo período de três anos consecutivos, configura-se como área abandonada, estando sujeita a reversão a outro beneficiário da Resex, desde que haja comunicação prévia anual, por escrito, ao antigo proprietário. Na impossibilidade de comunicação prévia anual ao antigo proprietário, a reversão da área será decidida pela comunidade. CAPÍTULO III - DA CATA DE CARANGUEJO E DEMAIS MARISCOS 9.É proibido o uso de redinha durante todo o ano. 10.É proibido o uso de gancho no período de outubro a dezembro. 11.A extração do caranguejo é permitida apenas dentro dos seguintes parâmetros: 11.1.Largura mínima da carapaça não inferior a 8 cm (oito centímetros), auferida pela medida tomada pela carapaça de uma margem lateral a outra. 12.A extração de caranguejos nas áreas próximas às beiras das casas ocorrerá mediante permissão dos moradores. 13.É proibido o uso de pás e de fogo na extração do sururude-pasta (Mytella falcata), sendo permitida apenas sua retirada manual exclusivamente por beneficiários da Resex. No ato da extração, devem ser preservados no mínimo 30% da área inicial do banco para a reprodução da espécie. 14.É permitida a retirada de sururu-de-dedo (Mytella guianensis) somente aos beneficiários da Resex, sem fins comerciais. CAPÍTULO IV - DA FLORA 15.É permitida aos beneficiários residentes da unidade a coleta de frutos, casca e outras partes de plantas frutíferas e medicinais, inclusive para a comercialização. 16.Devem ser preservados (proibidas de corte) o muricizeiro, o barbatimão, o cajueiro, o mirinzeiro, o guajeruzeiro, o amesqueiro, a janaúba, o cajazeiro, o mapuí, bem como quaisquer vegetações fixadoras de dunas;

294 16.1.É permitida aos beneficiários a poda de espécies passíveis de rebrota, tais como mapuí e cajazeiro. 17.O corte de vegetação nativa somente é permitido aos beneficiários residentes para consumo próprio; 17.1.O corte das espécies maçaranduba, angelim, jatobá e tucuneiro será permitido somente com autorização do ICMBio. CAPÍTULO V - DO MANGUEZAL 18.Aos beneficiários residentes da Resex é permitida a retirada de madeira de mangue com finalidade unicamente de subsistência. Exclui-se dessa retirada as porções de mangue denominadas de mangue-de-frente ou quebra-maré. CAPÍTULO VI - DOS ANIMAIS 19.É permitido o uso de jumentos, burros e cavalos para tração em meios de transporte, ficando a limpeza das fezes dos animais de inteira responsabilidade dos donos. 20.A criação de animais de pequeno porte na área da Resex é permitida aos beneficiários residentes, mediante as seguintes condições: 20.1.cabritos: devem ser mantidos presos no período da noite. Durante o dia fica proibida a circulação dos animais dentro da comunidade, exceto quando estiverem sendo conduzidos para as áreas de pastagem; 20.2.porcos: devem ser mantidos preso durante todo o tempo. 21.Se necessário, o quantitativo máximo de animais por família será estabelecido em cada comunidade, em assembleias com a participação do ICMBio e apresentado por meio de atas ao Conselho Deliberativo. Aves residentes e migratórias 22.É proibida a captura de aves migratórias e nativas, incluindo seus ovos, sendo vedado o corte de árvores que abrigam ninhos, ainda que estejam mortas ou velhas, na área da Resex. CAPÍTULO VII - ZONAS DE USO RESTRITO 23.São consideradas zonas de uso restrito as áreas onde estão proibidos alguns tipos de práticas específicas: 23.1.Do Perical ao São João Mirim é proibido cortar manguezais, tendo em vista a proteção das praias da comunidade São Lucas; 23.2.Igarapé do Porto, na comunidade de Guajerutiua, é proibida a pesca do tipo arrasto-de-camarão no verão (período de estiagem);

295 23.3.Na frente da praia de Guajerutiua é proibida a pesca com rede do tipo camaroeira nos locais em que se utiliza a rede do tipo puçá-de-arrasto; 23.4.No Igarapé do Porto de Caçacueira é proibida a pesca do tipo zangaria, devido aos transtornos a navegação; 23.5.Em todas as cabeceiras (locais em que findam os rios e enchem somente na preamar), está proibido o arrasto de camarão e a muruada durante todo o ano. Atividades em áreas coletivas 24.Fica proibida a escora (arte de pesca) no igarapé do Porto de Guajerutiua. 25.Fica proibido jogar futebol na praça localizada no centro da comunidade de Guajerutiua. 26.Fica proibida a lavagem de roupas nos lagos e lagoas naturais formados nas comunidades. CAPÍTULO VIII - CARVOEIRAS 27.São permitidas carvoeiras dentro das comunidades da Resex, para consumo próprio e comercialização em pequena escala, de modo a suprir as necessidades básicas da comunidade, e desde que feitas em locais isolados, fora do centro da comunidade e dos apicuns, de forma a não prejudicar a saúde coletiva. CAPÍTULO IX - LIXO 28.Cada morador é responsável pelo seu próprio lixo e pela limpeza da área da sua residência. 28.1.O lixo orgânico (restos de vegetais e alimentos) deve ser enterrado ou usado para compostagem. 29.É permitida a queima de lixo dentro das comunidades da Resex, desde que seja feita no terreno de cada morador a partir das 18h (dezoito horas), ou queimado de forma coletiva, em locais isolados, fora do centro da comunidade a qualquer hora, de forma a não prejudicar a saúde, até que seja determinada outra forma mais adequada para a destinação do lixo local. 30.Fica proibida a colocação de lixo em áreas de apicuns, especialmente em vias transitáveis, no mar e nas lagoas; 31.Todas as embarcações autorizadas para pesca, frete ou para trânsito na Resex devem recolher seu próprio lixo para destinação adequada.

296 CAPÍTULO X - POLUIÇÃO SONORA 32.A utilização de sons em bares e em residências, bem como a atividade de soltar foguetes, são permitidas até o horário limite de 22h, desde que no limite tolerado pela vizinhança e que respeitado o horário de cultos religiosos; 32.1.O funcionamento dos bares é permitido apenas até as 22h30m diariamente, exceto em ocasiões de festejos. CAPÍTULO XI - DAS FESTAS 33.Os pedidos de realização de festas na área da Resex devem ser analisados preliminarmente em reuniões comunitárias convocadas pelos conselheiros de cada comunidade, os quais poderão ser deferidos ou não; 33.1.Os organizadores serão responsáveis pela limpeza do lixo decorrente das festas, tanto em área residencial quanto área coletiva; 33.2.As festas obedecerão aos seguintes limites de horário: início a partir das 10h da manhã; redução do volume do som no máximo à 00:00 e encerramento no máximo às 4h da manhã; sendo ainda respeitados limites que forem determinados por outros órgãos públicos. CAPÍTULO XII - PESQUISA E USO DE IMAGEM 34.Toda pesquisa científica realizada na Resex deve ter seus objetivos e resultados apresentados nas comunidades estudadas e no Conselho Deliberativo, podendo a apresentação ser realizada pelo ICMBio. 34.1.Deve ser entregue uma cópia de todo o material produzido na Resex ao Conselho Deliberativo e uma cópia à AMREMC (Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Marinha de Cururupu) visando o conhecimento do seu conteúdo. CAPÍTULO XIII - USO DO SOLO 35.É proibida a venda ou alineação, em qualquer de suas formas, de terrenos na área da Resex. 36.A venda de casa ou outra benfeitoria imóvel para uso no mesmo local em que está instalada somente é permitida para beneficiários residentes da Resex, desde que aprovada pela comunidade. CAPÍTULO XIV - DISPOSIÇÃO TRANSITÓRIA 37.As normas contidas nesse acordo de gestão e não regulamentadas em outras leis, aplicáveis em toda a área da Resex, terão o prazo de 6 (seis) meses para serem cumpridas a partir da publicação do Acordo de Gestão; 37.1.Após esse período ficam os infratores sujeitos às penalidades cabíveis.

297 GLOSSÁRIO chiqueiro: porção final do curral de pesca em que fica posicionada a malha onde os peixes ficam aprisionados. escora: rede de pesca de espera, fixada por hastes de madeira de forma a impedir o retorno das águas após a enchente da maré. espinhel tipo rabadela: tipo de espinhel de menor tamanho que utiliza até 100 anzóis, possui apenas uma poita posicionada na extremidade da linha, fazendo com que a linha oscile na correnteza. fuzarca: rede de pesca de espera em formato cônico que possui três puçás em sua extremidade. fuzarcão: rede de pesca de espera em formato cônico que possui somente uma puçá de grande dimensão em sua extremidade. ispia: porção lateral do curral de pesca por onde os peixes são direcionados até a extremidade do curral. mangue-de-frente ou mangue quebra-maré: porção do manguezal voltada à zona de incidência de ondas ou voltado à zona mais exposta à erosão marinha. puçá de arrasto: rede manual de formato cônico, com uma extremidade aberta (boca) e outra fechada (rabo), usada por duas pessoas que seguram as hastes de madeira colocadas na boca da rede e assim o arrasta ao caminhar. puçá de muruada: rede de pesca de espera com uma extremidade aberta e outra fechada, fixada por dois mourões posicionados nos canais de maré. rede caiqueira ou rede pratiqueira: rede de deriva destinada à pesca de caica e afins. rede camaroeira: rede de deriva destinada à pesca de camarões. rede corvineira: rede de deriva destinada à pesca de corvinas. rede de lanço: rede de emalhe de fundo, na qual são usadas inúmeras tralhas em seu cabo inferior. Esse tipo de rede é utilizado nas áreas denominadas de poços, aonde os pescadores o cercam no início da vazante e recolhem a rede na baixamar. rede malhão: rede de deriva destinada à pesca de pescadas, camurins e afins. rede poitada: rede de pesca de espera em que são utilizadas inúmeras poitas para fixá- la lateralmente nos canais de forma a impedir a livre circulação da água. rede rabiadeira: rede de pesca de espera perpendicular a linha de costa que possui uma extremidade fixada na praia e outra livre sobre a água. rede serreira: rede de deriva destinada à pesca de serra, cavala e afins.

298 rede tainheira: rede de deriva destinada à pesca de tainhas. tarrafa pesqueira: rede manual de formato circular, lançada individualmente sobre a água. zangaria: rede de pesca de espera, fixada por hastes de madeira na forma de meia-lua posicionadas nas áreas de enseadas.

299 GLOSSÁRIO chiqueiro: porção final do curral de pesca em que fica posicionada a malha onde os peixes ficam aprisionados. escora: rede de pesca de espera, fixada por hastes de madeira de forma a impedir o retorno das águas após a enchente da maré. espinhel tipo rabadela: tipo de espinhel de menor tamanho que utiliza até 100 anzóis, possui apenas uma poita posicionada na extremidade da linha, fazendo com que a linha oscile na correnteza. fuzarca: rede de pesca de espera em formato cônico que possui três puçás em sua extremidade. fuzarcão: rede de pesca de espera em formato cônico que possui somente uma puçá de grande dimensão em sua extremidade. ispia: porção lateral do curral de pesca por onde os peixes são direcionados até a extremidade do curral. mangue-de-frente ou mangue quebra-maré: porção do manguezal voltada à zona de incidência de ondas ou voltado à zona mais exposta à erosão marinha. puçá de arrasto: rede manual de formato cônico, com uma extremidade aberta (boca) e outra fechada (rabo), usada por duas pessoas que seguram as hastes de madeira colocadas na boca da rede e assim o arrasta ao caminhar. puçá de muruada: rede de pesca de espera com uma extremidade aberta e outra fechada, fixada por dois mourões posicionados nos canais de maré. rede caiqueira ou rede pratiqueira: rede de deriva destinada à pesca de caica e afins. rede camaroeira: rede de deriva destinada à pesca de camarões. rede corvineira: rede de deriva destinada à pesca de corvinas. rede de lanço: rede de emalhe de fundo, na qual são usadas inúmeras tralhas em seu cabo inferior. Esse tipo de rede é utilizado nas áreas denominadas de poços, aonde os pescadores o cercam no início da vazante e recolhem a rede na baixamar. rede malhão: rede de deriva destinada à pesca de pescadas, camurins e afins. rede poitada: rede de pesca de espera em que são utilizadas inúmeras poitas para fixá- la lateralmente nos canais de forma a impedir a livre circulação da água. rede rabiadeira: rede de pesca de espera perpendicular a linha de costa que possui uma extremidade fixada na praia e outra livre sobre a água. rede serreira: rede de deriva destinada à pesca de serra, cavala e afins.

300 rede tainheira: rede de deriva destinada à pesca de tainhas. tarrafa pesqueira: rede manual de formato circular, lançada individualmente sobre a água. zangaria: rede de pesca de espera, fixada por hastes de madeira na forma de meia-lua posicionadas nas áreas de enseadas.

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331 APÊNDICE I - Lista da Flora

APÊNDICE II – Lista da Fauna

APÊNDICE III - Cartas-Imagem das Praias de Cururupu

APÊNDICE IV – Territórios de pesca

APÊNDICE V – Estratégias de Conservação

APÊNDICE VI – Técnicas de tratamento de água

ANEXO I – Decreto de criação da RESEX

ANEXO II – Portaria 35 de 2014 – Cria o Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista de Cururupu

ANEXO III – Perfil da família beneficiária da RESEX

ANEXO IV - Contrato de concessão de direito real de uso

ANEXO V – Ata da X Reunião do Conselho Deliberativo

ANEXO VI - Ata da 1 Reunião Extraordinária do Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista de Cururupu