Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I VOLUME

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

ANTONIA LEONI KOZANDA SILVA

COMO TRABALHAR A LEITURA LITERÁRIA NAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

CURITIBA 2011 COMO TRABALHAR A LEITURA LITERÁRIA NAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Autora: Antonia Leoni Kozanda Silva1 Orientador: Prof. Dr. Juarez Poletto²

Resumo

O presente artigo é resultado da implementação de um projeto de leitura aplicado dentro das orientações do Plano de Desenvolvimento Educacional - PDE, da Secretaria da Educação do Paraná, em desenvolvimento na sua terceira edição. O texto mostra as etapas de preparação e atuação na prática do projeto, assim como o material textual usado e comenta as mudanças ocorridas. Ao longo deste artigo pretende-se oferecer possibilidades para que se promova a leitura literária como um compromisso que deve ser assumido por toda a sociedade, mas principalmente pela escola em parceria com a família. Para isso devem-se criar condições para que a escola e a biblioteca desenvolvam atividades que despertem o interesse pelo livro e assim promover o prazer de ler. O professor ocupa um papel fundamental, como aquele que conduz o aluno ao mundo da leitura e da literatura. Para ler é preciso gostar de ler e tendo um bom educador para incentivar, já é o primeiro passo. Como o próprio significado da palavra sugere, é através do motivo pelo qual se aprende a ler que se tem a motivação para a leitura. O que leva o aluno leitor a ler não é o reconhecimento da importância da leitura, e sim várias motivações, estratégias e interesses que correspondam à sua personalidade e ao seu desenvolvimento intelectual.

Palavras-chave: Leitura; Séries finais do Ensino Fundamental; Adolescência.

Abstract

This article is the result of the implementation of a reading project implemented within the guidelines of the Educational Development Plan - PDE, the Education Department of Parana in development in its third edition. The text shows the stages of preparation and performance in design practice, as well as the textual material used and commented on the changes. Throughout this article we intend to offer possibilities for promotion of the literary reading as a compromise that should be borne by all society, but mainly by the school in partnership with the family. For this

1 Pós-graduada pela Faculdade de Ciências Humanas de Curitiba, graduada em Letras pela FAFIUV, atuante no colégio Estadual Hasdrubal Bellegard.

2 Doutor em Letras pela UFPR(2007), mestre em Letras pela UFPR, graduado pela PUC-PR, professor na UTFPR. conditions must be to created for the school and library develop activities that will arouse an interest in books and thus promote the pleasure of reading. The teacher plays an essential role, as one who leads the student to the reading world and literature. To read It is necessary to enjoy reading and having a good educator to encourage , it is the first step. As the meaning of the word suggests, is through reason that one learns to read what has been the motivation for reading. What takes the student reader to read is not the recognition of the importance of reading, but several motivations, strategies and interests that match your personality and intellectual development.

Keywords: Reading; Series final of Elementary Education; Adolescence.

Introdução

Devido a toda tecnologia existente nos dias atuais, faz-se necessário um trabalho diversificado e criativo para atrair os alunos para as leituras diversas. Muitos alunos estão chegando ao ensino médio com uma grande deficiência na leitura e na interpretação. Essa deficiência, muitas vezes, deve-se ao fato de os professores de Português não estarem priorizando a leitura e sim a gramática normativa. Além disso, muitos professores colocam a literatura em suas aulas de maneira autoritária, fazendo com que seus alunos sejam obrigados a ler determinados livros indicados pelo professor, sem levar em conta o seu gosto, a sua idade, o seu nível, etc. Isto faz com que se crie um distanciamento em relação à literatura. Além de todas essas dificuldades, muitos alunos não têm condições de adquirir livros. A única opção de leitura que têm é na escola e muitas vezes esta oportunidade não é dada, já que o professor tem que cumprir todo o seu cronograma com teorias e normas gramaticais, deixando para segundo plano a leitura literária.

Esse é um objetivo: sabemos que a leitura é uma forma altamente ativa de lazer. Em vez de propiciar, sobretudo repouso e abnegação (daí massificação), como ocorre em formas passivas de lazer, a leitura exige um grau maior de consciência e atenção, uma participação afetiva do recebedor leitor. Seria, pois, muito importante que a escola procurasse desenvolver no aluno formas ativas de lazer, aquelas que tornam o indivíduo crítico, mais consciente e produtivo. (CUNHA, 1985, p.40)

A criança, quando não lê, depende exclusivamente da voz adulta para que fique informada. A habilidade de ler é o primeiro passo para a conquista da liberdade. “Leitura e escola talvez devam recorrer à literatura para retomar o seu rumo e reavaliar seus respectivos propósitos. (ZILBERMAN, 2009, p. 29). A biblioteca assume um papel de suma importância para a promoção da leitura, pois é um local que para muitos se configura como a única oportunidade de ter contato com livros que não são didáticos. Por isso este local deve ser um ambiente dinâmico e acolhedor. Outro fator importante que deve ser levado em conta é a integração dos pais neste processo de leitura. É necessário que todos estejam comprometidos com a formação do leitor para que ele se torne capaz de se posicionar diante da realidade humana e social tão diversificada de maneira crítica. Silva (1983, p. 59) afirma que “é infantilidade atribuir exclusivamente à escola a culpa pela não formação de leitores”.

Referencial Teórico

Constantemente se tem observado assuntos relacionados à prática de leitura a qual está bastante divulgada em revistas, livros e jornais, mas ainda na prática está em estado placentário, esperando a conquista de uma sociedade de leitores, na qual a escola é a principal instituição responsável pela preparação de um leitor assíduo, crítico e competente. O problema da leitura só será resolvido quando as pessoas passarem a ser “leituralizadas”, em vez de alfabetizadas. Para que se tenha um indivíduo autônomo e participativo é imprescindível que a escola assuma um compromisso de preparar seus alunos para terem uma participação maior na vida democrática, para equilibrar o risco do poder tecnológico, que está na mão de poucos. Para isso contribui decisivamente a formação do leitor. Quando se fala da formação do leitor e da leitura crítica, tem-se como objetivo atingir uma espécie de leitura. Leitura que favoreça a promoção individual, e compreenda a realidade e os caminhos da sua transformação. Sendo, pois, a leitura um meio de desenvolvimento intelectual, preocupa-se em defrontar as dificuldades e superá-las. A tarefa de levantar, consolidar e analisar dados e informações pertinentes ao assunto “incentivo à leitura nas séries iniciais do ensino fundamental”, se mostrou deveras desafiante, haja vista não haver consenso sobre como fazê-lo e quais eram os fatores realmente importantes que viessem mostrar, claramente, a face complicada de um país que detém índices alarmantes de analfabetismo básico, de distribuição de renda e de distâncias físicas e culturais de sua população. A escola é o lugar onde a maioria das pessoas aprendem a ler e escrever, e muitos têm sua única oportunidade de contato com os livros, estes passam a ser identificados com os livros didáticos os quais futuramente serão esquecidos e deixados de lado. Inúmeras barreiras surgem no ato de ler, e estão geralmente ligadas às condições de vida e nível pessoal e social. A leitura significa uma conquista de autonomia, permite a ampliação de horizontes, implica igualmente um comprometimento, acarreta alguns riscos, que é bom para a maioria da classe dominante. ( GERALDI, 1996)

Aprender a ler significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios, o que, mal ou bem, fazemos mesmo sem ser ensinados. A função do educador não seria precisamente a de ensinar a ler, mas a de criar condições para o educando realizar a sua própria aprendizagem, conforme seus próprios interesses, necessidades, fantasias, segundo as dúvidas e exigências que a realidade lhe apresenta. Assim criar condições não implica somente alfabetizar ou propiciar acesso aos livros. Enquanto permanecemos isolados na cultura letrada, não podemos encarar a leitura, senão como instrumento de poder, dominação dos que sabem ler e escrever sobre os alfabetos ou iletrados. Essa realidade precisa ser alterada2. (MARTINS: 2007, 117)

Segundo Richard Bamberger é de grande importância o hábito de leitura. Todas as autoridades do estado, da comunidade e das escolas, assim como professores, pais e pedagogos, precisam estar seriamente convencidos, da importância da leitura e dos livros, para a vida individual, social e cultural. Essa mesma convicção deve ser transmitida aos que estão aprendendo a ler, de modo apropriado à fase do seu desenvolvimento. (BAMBERGER, 2001) Antigamente a leitura era de pouquíssimos privilégios, mesmo depois do humanismo, a leitura só era acessível a uma elite culta, pois era tida como um meio de transmitir uma mensagem, hoje em dia é considerada de grande valor no processo mental de vários níveis, o que muito contribui para o desenvolvimento do

2 MARTINS, Maria Helena. O que é Leitura. Editora Brasiliense, 2007, p. 117. intelecto, além de ser um dos meios mais eficazes de desenvolvimento sistemático da linguagem e da personalidade. (BAMBERGER, 2001).

O desenvolvimento de interesses e hábitos permanentes de leitura é um processo constante, que começa no lar, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida afora, através das influências da atmosfera cultural geral e dos esforços conscientes da educação e das bibliotecas públicas, e que um dos os fatores decisivos neste processo é o prazer proporcionado pelos livros, que começa a ser experimentado em idade pré-escolar, através da narração de histórias e da leitura em voz alta, levando em conta as múltiplas possibilidades e necessidades, e o encorajamento de toda a leitura3. (BAMBERGER: 1987, 18)

Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de tudo, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, pois a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquela (BAMBERGER, 2001:22). Por isso, Freire enfatiza que: re-crio, e re-vivo, no texto que escrevo, a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra4.(FREIRE: 1996, 96)

A medida, porém, em que cada um torna-se íntimo de seu mundo, e que melhor o percebe e o entende na leitura que dele vai fazendo, os seus temores vão diminuindo, pois a decifração da palavra flui naturalmente da “leitura” do mundo particular. A compreensão crítica da importância do ato de ler se vem constituindo através de sua prática, na percepção crítica dos textos lidos, não em momentos de lições de leitura, mas em momentos em que os textos se oferecem à nossa inquieta procura.

A regência verbal, a sintaxe de concordância, o problema da crase, o sinclitismo pronominal, tudo isso, era proposto à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva. No corpo mesmo de textos, ora de autores que estudávamos, ora deles próprios, como objetivos e serem desvelados e não como algo parado. Os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua significação profunda, só assim seriam capazes de saber5. (BAMBERGER, 1987, p. 18 A leitura nas séries finais do ensino fundamental.

3 BAMBERG, Richard. Como Incentivar o Hábito da Leitura. São Paulo: Ática,1987, p. 18.

4 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 96.

5 Freire, Paulo, 1921 A importância do ato de ler: em três artigos que se completam / Paulo Freire. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.

O processo de aprendizagem de leitura vem através da curiosidade se transformando em necessidade e esforço para alimentar o imaginário, desvendar os segredos do mundo e dar a conhecer o leitor a si mesmo através do que lê e como lê. O leitor pré-existe à descoberta do significado das palavras escritas; foi-se configurando no decorrer das experiências de vida, desde as mais elementares e individuais às oriundas do intercâmbio de seu mundo pessoal e o universo social e cultural circundante6. (MARTINS, 2007, p. 54)

Desde os primeiros anos escolares até à fase mais adulta, a leitura exerce um papel de suma importância na vida do indivíduo. A leitura estimula a curiosidade e a curiosidade é fonte do saber. Quanto mais estimulado estiver o aluno, mais intensa será a busca pelo conhecimento. É essencial que a escola, muito mais do que acumular conhecimento, ensine a raciocinar, desenvolva a criatividade, a imaginação e o espírito de iniciativa: e consiga entusiasmar o aluno para a aquisição do conhecimento.(MARTINS, 1994) Vivem-se hoje as expectativas da virada do século e do milênio. As exigências emergentes deste momento histórico já se fazem presentes em todos os níveis da nossa vida cotidiana e social. Diante dessas necessidades, fica cada vez mais evidente a importância da literatura como fonte de informação, conhecimento e lazer na formação do cidadão. Um indivíduo bem informado tem acesso às inovações da modernidade. A informação analisada possibilita a aquisição de diferentes pontos de vista, permitindo à pessoa situar-se em relação aos outros e ao mundo. Portanto o bom leitor é aquele que compreende um texto, envolve-se num processo permanente de aprender a aprender, de conhecer o conhecimento, torna-se alguém capaz de definir e de intervir de maneira alternativa. Por isso tudo a leitura é um fator importante, pois faz com que o cidadão se torne o aprendiz permanente interagindo com o meio, conhecendo e fazendo valer seus direitos. A leitura é um hábito que é evidenciado através da repetição de um ato, por este motivo não é um fator hereditário que passa de pai para filho. Seria o ideal que a família conduzisse a criança a adquirir este hábito, mas dificilmente isto ocorre.

6 MARTINS, Maria Helena. O que é Leitura. Editora Brasiliense, 2007.

Tendo a escola a função em desempenhar seu papel na formação de cidadãos, caberá a ela oportunizar os meios para o surgimento de homens-leitores, com a percepção da realidade presente.

A escola deverá dar oportunidades ao aluno para que tenha nos livros uma fonte de prazer, para que suas escolhas com relação a um texto, sejam um meio pelo qual o aluno comece a sentir prazer pela leitura e acabe tendo fixação em diferentes tipos de livros, onde possa confrontar-se com diversas interpretações de uma determinada obra literária7. (ORLANDI, 1993, p. 23)

A criança já nasce com um potencial físico e psíquico para ler o mundo e os símbolos que expressam a cultura; porém, para que haja uma transformação dessa criança em um leitor, depende de estímulos-ambientais com os quais se identifica no transcorrer de sua vida. Caberá aos educadores conceber a leitura em diferentes espaços sociais e com diferentes competências, para que ela possa ser um instrumento de conscientização e libertação necessária à busca incessante da plenitude dos candidatos a leitores verbais, já que leitor de mundo cada pessoa é por princípio. Como o próprio significado da palavra sugere, é através do motivo pelo qual se aprende a ler que se tem a motivação para a leitura. O que leva o aluno leitor a ler não é o reconhecimento da importância da leitura, e sim várias motivações e interesses que correspondam à sua personalidade e ao seu desenvolvimento intelectual. Não se pode esperar que o aluno aprenda a ler, se possui uma idéia errada sobre o valor da leitura. A leitura é comunicação, é a interação do indivíduo com o mundo. Portanto, não é difícil motivar um adolescente para que ele desenvolva a leitura como uma nova forma de comunicação com o mundo. Sem motivo para ler não há interesse, sem interesse não há aprendizado, isto é, não se concretizam os esquemas naturais do processo de leitura.

7 ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e Leitura. Campinas, São Paulo: Cortez, 1993.

Metodologia

Junto aos alunos, no processo de organização do projeto de leitura, foi essencial fazer uma pesquisa sobre o seu interesse por textos literários. Para isso foi elaborado e aplicado um questionário aos alunos de sétimas e oitavas séries. Após esta pesquisa verificou-se que grande parte dos alunos só lê quando o professor diz que fará prova. Daqueles que procuram a biblioteca por conta própria grande parte escolhe o livro pelas figuras, tamanho de letra e também número de páginas. Há também aqueles que leem “Crepúsculo”, “Lua Nova”, “Eclipse”,... por influência de propagandas. Quanto aos clássicos, somente uma minoria demonstra interesse. Para um diagnóstico eficiente, é necessário um questionário amplo e bem direcionado, a fim de contemplar as variadas nuanças em relação à leitura e/ou à sua ausência.

O envolvimento da comunidade escolar é um caminho que parece eficiente e integrador, pois fez os alunos se aproximarem de seus interlocutores, envolvendo toda a comunidade escolar, mas principalmente as pessoas ligadas diretamente à biblioteca. Eles tiveram acesso à biblioteca com mais facilidade para que se sentissem à vontade em fazer a opção por leituras que fossem do seu interesse. Foi fundamental a integração com outros professores, para que houvesse esse processo interdisciplinar na motivação da leitura.

Descrição das Ações

Conhecendo a Biblioteca da Escola

A primeira atividade desenvolvida foi a conscientização do valor que a biblioteca exerce no espaço escolar, promovendo ações em sala que estimularam o seu uso. Foram sugeridas atividades com a finalidade de romper com a visão de que ela é apenas um anexo da escola. Para isso foi necessário o apoio da bibliotecária e o resgate da real função da biblioteca dentro da escola, transformando-a num ambiente dinâmico e acolhedor. Quem atua na escola percebe o distanciamento dos alunos em relação aos livros e a dificuldade de fazer entender

a necessidade da leitura para a aprendizagem, proporcionando o livre acesso de forma dinâmica e interativa. Algumas sugestões de atividades que foram desenvolvidas na biblioteca com alunos das séries finais do ensino fundamental:  Visita dos alunos à biblioteca para conhecerem as regras e normas de funcionamento.  Levantamento e organização do acervo bibliográfico de acordo com o interesse, a idade e o sexo dos grupos de alunos.  Leitura das sinopses das obras com a ajuda da bibliotecária e da professora.  Seleção dos gêneros textuais e das prioridades pelos alunos: poemas, contos, crônicas, narrativas, etc.  Foram elaboradas fichas com perguntas aos alunos, constando sua opinião de leitura e colocados em edital os livros mais lidos durante o mês.  Publicidade interna da biblioteca, mural e cartazes sobre índice de leitura no mês, novos livros adquiridos, obras muito procuradas.

Despertando o interesse pela leitura

Somente a partir de um diagnóstico se pode planejar as estratégias de leitura. A seleção dos textos sempre esteve associada às necessidades e interesses dos alunos por textos literários, assim como aos objetivos específicos do professor na formação dos leitores. O projeto apresentou sugestões de leitura a serem feitas em sala de aula e/ou também em casa, conforme os interesses foram sendo conquistados. As leituras proporcionaram debates e outras atividades envolventes, voltadas para a realidade do aluno, mas também com intenção de ampliá-la, de enriquecê-la. Desse ponto em diante, os alunos foram instigados a procurar obras literárias que extrapolassem os limites até então alcançados, a fim de prosseguirem como leitores livres, capazes de escolhas motivadoras.

● Confeccionaram cartazes com frases chamando a atenção sobre a importância da leitura e de se utilizar a biblioteca.

● Cada aluno escolheu um autor, pesquisou sua vida e obras, elaborando cartazes que ficaram expostos.

Experimentação de leituras literárias em sala de aula

● No primeiro momento foi apresentado o livro para a classe: sendo lido pelo professor em voz alta na sala, motivando os alunos a descobrirem o gosto pela leitura. No início os alunos ficaram agitados, mas logo em seguida foram se acalmando e tomando gosto pela leitura. A reação a uma leitura interessante e bem feita veio logo, bastou começar a ouvir. ● Proporcionou-se aos alunos um momento na aula para que eles pudessem comentar sobre o que estavam lendo, apresentando o livro, o autor preferido, o que mais lhes chamou atenção na história, fazendo assim a propaganda do livro. ● Também foi aplicada a seguinte dinâmica: foi indicado um livro para cada fila. O primeiro aluno da fila levou o livro para casa e leu parte dele. Na semana seguinte contou para os demais alunos o que leu e o segundo da fila ficou com o livro para continuar lendo a história em casa e contar na semana seguinte, e assim sucessivamente até terminar a história. ●Foram feitas leituras silenciosas. Nas leituras foi incentivado o uso do dicionário. Muitas vezes a leitura se torna incompreensível por não se conhecer o significado de algumas palavras. ● Os assuntos mais pertinentes das leituras devem geraram debates visando relações interdisciplinares e transdisciplinares. A leitura também teve sentido útil para outras disciplinas. ● Houve apresentações de dramatizações, murais, contação das histórias, criação de desenhos, pinturas, revistas em quadrinhos, etc.

Atividades Propostas

Em todas essas atividades, foram propostas dinâmicas para que se lesse o livro todo, motivando os alunos a adquirirem o hábito da leitura. Para isso o professor deve verificar antecipadamente a possibilidade de encontrar os livros na biblioteca da escola, nas bibliotecas dos bairros ou levá-los até a sala de aula fazendo a divulgação dos mesmos.

Sugestões de leituras

Ana Maria Machado - Biografia

Autora de quase duzentas obras, publicadas em dezessete países, ganhou o prêmio Hans Christian Andersen, o mais importante da literatura infantil no mundo, em 2000. No ano seguinte a Academia Brasileira de Letras lhe deu o maior prêmio literário nacional, o , pelo conjunto da obra. Foi eleita para a cadeira número 1 da ABL em 2003. Nascida no Rio de Janeiro, em 24 de dezembro de 1942, Ana formou-se em Letras e trabalhou como pintora, professora e jornalista antes de dedicar-se inteiramente à literatura infanto-juvenil, a partir de 1980. A escritora havia sido presa pelos militares durante a ditadura, tendo vivido exilada na Europa de 1969 a 1972. Algumas de suas obras: Amigos secretos, Isso ninguém me tira, Bisa Bia e Bisa Bel, Ponto a Ponto, O Canto da Praça, Dona Baratinha, Beijos Mágicos, Gente bem diferente, entre outras...

Livro: “ISSO NINGUÉM ME TIRA”

Ana Maria Machado As expectativas e as dificuldades de uma jovem, que luta para realizar seus sonhos, são retratadas em toda sua profundidade por esta escritora internacionalmente consagrada. Mas também podemos perceber que nem só de problemas vive a adolescência.

Isso Ninguém Me Tira

Imagine que você comece a gostar de alguém. E essa é justamente a paixão de uma pessoa muito amiga sua. Mas isso não é tudo. Pense ainda que a pessoa de quem você gosta também gosta de você. Como é que fica a situação entre os três? Para complicar, suponha que existe um parentesco entre a concorrência e você. Que caso complicado! Continue lendo a história para descobrir o que aconteceu!

Como tudo começou

VERSÃO DA GABI

Logo da primeira vez que eu vi o Bruno, soube que era o cara mais lindo que eu já tinha visto na minha vida. Foi só bater os olhos nele de longe, andando pela praia devagar em direção a nós duas. Não precisou mais. Um gato. Desses de deixar a gente meio sem fala. Não precisava esforço nenhum para ver que ele era demais. Mas o que não dava para saber assim logo, naquele instante, era que eu já sabia tudo da vida dele. Ou, pelo menos, um monte de coisa. O nome e o sobrenome. O colégio onde ele estudava. A rua onde morava. Que tinha – ainda tem, e acho melhor falar de tudo isso no presente – um irmão chamado Felipe e uma irmã de uns oito anos chamada Cláudia. Que o pai dele é italiano e a mãe é de Mato Grosso. Que ele tem uma bicicleta. Que estuda inglês num curso lá perto da casa da minha tia Carmem. Que joga basquete no clube e treina todo dia no fim da tarde. Que odeia dançar e nunca vai a nenhuma festa. Que nunca leva lanche de casa e todo dia come cachorro-quente com refrigerante na cantina do colégio. Que não tem namorada. Que tudo quanto é menina vive apaixonada por ele. Principalmente a minha prima Dora. Mais que minha prima, minha melhor amiga. Aquela amigona pra quem a gente conta tudo. Aquela pessoa com quem eu sei que posso contar para tudo. A qualquer momento. Por causa dela é que eu sabia tudo do Bruno. Menos a cara que ele tinha. Só faltava encontrar em pessoa. Acho que, desde que ela veio de Livramento para estudar na nossa cidade e foi morar em casada tia Carmem, a gente se falava ao telefone todo dia e se encontrava sempre que podia. E toda vez ela falava no Bruno. Foi assim que eu fiquei sabendo tanta coisa dele. No começo, a gente nem sabia muita coisa. Ela só falava nele como “o menino do sinal”. Porque ele tem um sinal incrível no rosto, uma pinta bem pretinha, pouquinho acima do lado esquerdo da boca. E tem cabelo preto bem liso, comprido, sempre caindo na cara, e ele tem que jogar para trás com um gesto lindo da cabeça, que ele faz toda hora. E o nariz? Sabe o que é perfeito? Pois é, o dele é. Retinho, nem grande nem pequeno, parece desenhado. Nunca vi igual. Os olhos são meio rasgados, mas grandes. E bem pretos. E parecem que chamam mais a atenção

porque os olhos são muito marcados, dão destaque – as maçãs do rosto saltadas, o queixo muito definido, meio quadrado. Os dentes são certinhos, sem nem precisar de aparelho, e se mostram num sorriso muito branco, por causa da pele. Ah, a pele morena é morena mesmo, bronzeada naturalmente. E ainda fica mais dourada pelo sol, claro. Parece um índio. Daqueles bem lindos, de filme, tipo “último dos moicanos”. No meio de todos aqueles surfistas louros que passam carregando as pranchas, ele é o único morenão. Está bem, exagerei. O único, não. Está cheio de menino de cabelo preto. Mas nenhum lindão como o Bruno. O tal “menino do sinal”. Um sinal aberto, pedindo para avançar. Minha prima Dora tinha toda razão. Aos poucos, ela foi descobrindo mais coisas sobre ele. E foi contando. Para mim e para a torcida do Flamengo – como diz meu pai. Mais a do Vasco, do Corinthians, de tudo quanto é time. Todo mundo na família sabia da paixão dela pelo Bruno – tias, tios, primos, avós, madrinhas, amigas da vizinha, acho que até o papagaio da área já devia ter aprendido a repetir “Bruno! Bruno!”. Às vezes eu ficava até com uma espécie de vergonha, porque eu sou muito diferente. Minha mãe diz que eu tenho mania de segredo. Mas não é verdade. Só que eu não gosto que fiquem sabendo da minha vida, não saio por aí contando tudo, que nem a Dora. [...] (Ana Maria Machado – Isso ninguém me tira. São Paulo: Ática)

Clarice Lispector- Biografia

De origem judaica, seu nascimento ocorreu em Chechelnyk, enquanto percorriam várias aldeias da Ucrânia. Clarice Lispector começou a escrever logo que aprendeu a ler na cidade do Recife, onde passou parte da infância. Falava vários idiomas. Faleceu no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57º aniversário. Algumas obras: A hora da estrela, A bela e a fera, Um sopro de vida, O primeiro beijo e outros contos, Felicidade clandestina, Laços de família, A descoberta do mundo, entre outros...

Livro: “O PRIMEIRO BEIJO E OUTROS CONTOS” Clarice Lispector

Doze textos magníficos em que, a partir de histórias do cotidiano, se mergulha nas profundezas do ser.

O primeiro beijo

Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.

- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples: - Sim, já beijei antes uma mulher. - Quem era ela? perguntou com dor. Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer. O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir – era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros. [...] (Clarice Lispector – O primeiro beijo e outros contos)

Ivan Ângelo- Biografia

Um dos destaques da nova geração de escritores brasileiros. Jornalista e autor de livros premiados, contista de mão cheia. Sua linguagem é clara, coloquial, mas extremamente poética. Nasceu em 1936 e é mineiro de Barbacena. Alguns livros do autor: Duas faces, A festa, A casa de vidro, A face horrível, O comprador de aventuras e outras crônicas, O ladrão de sonhos e outras histórias, O vestido luminoso da princesa, entre outros.

O livro: “O LADRÃO DE SONHOS E OUTRAS HISTÓRIAS”

Reúne histórias deliciosas que agradam o leitor de qualquer idade porque captam, com muita sensibilidade, momentos de surpresa, dor, esperança na vida de pessoas como qualquer um de nós.

O ladrão de sonhos - O Gênio. Você ainda não sabe nem a metade das coisas que eu sei sobre ele, nem a metade. Não é porque eu fiquei de rolo com ele, namoro, sei lá. Conheço o Gênio desde menino. Sabe como que ele ganhou esse apelido? Desde bebê. Não, não foi porque ele falou aos seis meses de idade, não. Isso já é lenda. É verdade que ele falou, mas o apelido veio foi do segundo nome dele, Eugênio. Pois é ninguém sabe que ele se chamava Carlos Eugênio. O pai tirou o Eugênio, quando ele tinha oito anos, por causa da numerologia, do número de letras do nome. Superstição. É comum maluco ter filho gênio. Foram outros lances que firmaram o apelido dele. Ele jogou xadrez aos três anos, consertou um telefone aos seis, lia revistas de informática e vídeo como outros meninos liam gibi, passava na escola com dez em todas as matérias científicas e matemáticas, estudou e entendia todo o sistema de medicina computadorizada da clínica neurológica do pai dele aos doze anos, criava programas de computador aos quatorze, montava micros aos quinze, criava chips aos dezesseis e sistemas integrados de multimídia aos dezoito. Gênio mesmo. - Já ouviu falar da máquina dos sonhos que ele inventou? Claro, claro, a sua reportagem é sobre isso. Tem muita história em torno dessa máquina, mas eu sei os fatos. Como começou e como acabou. Ninguém sabe, por exemplo, por que ele quis criar esse negócio. - Não, não. Há muita lenda misturada nessa história. O Gênio nunca admitiu, nunca aceitou que alguém soubesse ou pudesse alguma coisa mais do que ele, no plano intelectual. Tirando a bicicleta dele, se lixava de não ser bom em esportes. Agora, qualquer habilidade maior dos outros na área mental perturbava ele. Foi isso que aconteceu com os sonhos. - Conto. Uma vez a gente, a turma do último ano do colégio, meninas e meninos, a gente alugou uma casa de férias em Ubatuba por uma semana, para zonear um pouco. Uma noite todo mundo ficou em casa tomando tequila com limão e açúcar, esparramados pelo chão, no escuro, e deu uma de contar sonhos. Um contava, outro contava, apareceu cada sonho mais interessante do que o outro, e ele mudo.

Eu estava do lado dele, com a cabeça no colo de um menino com quem eu tinha ficado, e batia uma luz fraquinha de lua minguante na cara dele, do Gênio. Aí eu vi que ele foi ficando quieto, nervoso, e percebi que ele estava com medo de chegar a hora dele. Bateu aquela maldade de adolescente e eu falei: “E você, Gênio, não vai contar nada? Deve ter cada sonho genial.” [...] (Ivan Ângelo –O ladrão de sonhos e outras histórias. São Paulo: Ática)

Luiz Fernando Veríssimo- Biografia

Nasceu em 26 de setembro de 1936, em Porto Alegre, RS. Filho do grande escritor Érico Veríssimo, iniciou seus estudos no Instituto Porto Alegre, tendo passado por escolas nos Estados Unidos quando morou lá, por dois anos. Com dezesseis anos voltou a morar nos Estados Unidos, onde também estudou música. Escritor prolífero é de sua autoria, dentre outros: O nariz e outras crônicas, A grande mulher, O analista de Bagé, O santinho, O gigolô das palavras, Zoeira, Sexo na cabeça...

O livro: “O NARIZ E OUTRAS CRÔNICAS” Com seu humor sutil e sua linguagem deliciosa, o autor revela em cada história um lado engraçado da vida.

O nariz Era um dentista, respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma filha quase na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes mas uma sólida reputação como profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um grande nariz postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um daqueles narizes de borracha com óculos de aros pretos, sobrancelhas e bigodes que fazem a pessoa ficar parecida com Grou Cho Marx. Mas o nosso dentista não estava imitando o Grou Cho Marx. Sentou-se à mesa do almoço – sempre almoçava em casa – com a retidão costumeira, quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço. - O que é isso? – perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos. - Isso o quê? - Esse nariz.

- Ah. Vi numa vitrine, entrei e comprei. - Logo você, papai... Depois do almoço, ele foi recosta-se no sofá da sala, como fazia todos os dias. A mulher impacientou-se. - Tire esse negócio. [...] (Luís Fernando Veríssimo – O nariz e outras crônicas – Para gostar de ler. Ática: São Paulo)

Paulo Venturelli- Biografia

Nasceu em Brusque – SC, vive em Curitiba desde a década de 70. Formado em letras, é doutorado e professor da Universidade Federal do Paraná. Autor dos livros: Admirável ovo novo, O anjo rouco, A casa do dilúvio, No vale dos sentidos, etc.

Livro: O anjo rouco Fala de um jovem em busca de si mesmo que vive aventuras, conhece novas emoções e descobre algo importante para sua vida de adolescente.

O anjo rouco A casa era de madeira, grande e escura. A cada ano nascia outro irmão, e meu pai sempre dava um jeitinho de caber mais um. Existia um rio que sempre brincávamos todo dia, se chamava: Itajaí - mirim. Eu tinha quatro irmãos, eu era o mais-velho. Na época das cheias, o azar era que o rio transbordava. Nós ficávamos no sótão esperando a água abaixar, demorava. Quando a coisa ia apertando, a gente passava pra casa de seu Rui, com uma tábua. A casa dele tinha dois andares, pois ele era rico. Meus irmãos e eu roubávamos algumas latas de vez em quando...

Roberto Gomes- Biografia

Roberto Gomes nasceu em Blumenau, SC, em 1944 e reside em Curitiba desde 1964. Publicou várias obras: romances, contos, crônicas, literatura infantil, além de traduções. Sua primeira obra foi: Crítica da razão Tupiniquim (1977).

Suas obras: Alegres memórias de um cadáver (1979), Antes que o teto desabe (1981), Terceiro tempo de jogo (1985), Os dias do demônio, Carolina do nariz vermelho, Sabrina de Trotoar e de Tacape, Exercício de solidão, O menino que descobriu o sol, etc. O seu romance mais recente é: Todas as casas (2004).

Livro: Terceiro tempo de jogo A fábrica de brinquedos foi fechada e acabaram com o campinho. Edmilson foi embora e Alice veio atrapalhar a cabeça dos garotos. É tempo de guerra total contra o bando do diabólico Luís, o Gordo, que deixou todo mundo pelado e foi embora dando risada. O Estrela tem grandes goleadores, mas o cruel Gordo tem muitos truques.

Poesias

A poesia oferece muitas interpretações, guarda tesouros a serem descobertos. A cada nova leitura de um mesmo poema, encontramos novos significados. Escute e cante a música “DAQUILO QUE EU SEI” de Ivan Lins /Vitor Martins para trocar impressões sobre os sentidos possíveis expressos pela música.

Daquilo que Eu Sei Daquilo que eu sei Nem tudo me deu clareza Nem tudo foi permitido Nem tudo me deu certeza [...]

Para fazer um levantamento das várias personalidades presentes em um único indivíduo, leia com os alunos a crônica “Oito em um” de Carlos Drummond de Andrade. Em seguida estimule uma conversa sobre a presença de muitos “eus” em uma mesma pessoa, deixando que cada um fale o que pensa sobre o assunto.

Oito em um

- O seguinte. Quero fazer análise de grupo, doutor. Não se preocupe com a formação do grupo. Eu formo sozinho, compreende? Posso contar ao senhor uma pá de infâncias que eu tive, uma pá de vidas que vou levando. Até que essa multiplicidade não me encucava. Quer dizer: até. Pois Fernando Pessoa não era muitos e simultâneos? Quando morreu o Alberto Caeiro, o Álvaro de Campos e o Ricardo Reis, sem falar no Bernardo Soares, continuaram sócio-existindo sem briga, mas comecei a me aborrecer quando os meus diferentes eus entraram a exigir de mim funcionamento sincrônico em lugares distantes uns dos outros. [...] (Carlos Drummond de Andrade – De notícias e não notícias faz-se a crônica, p. 125)

Leia o poema “Participação” de Guilherme de Almeida. Poderá ser feita uma leitura dramatizada ou jogralizada. Através do título “Participação” levar os alunos a perceberem a ideia de: ação, atividade concreta, ato de partilhar, compartilhar. O primeiro e último verso mostram a impossibilidade de definir cada um dos “eus”. Poderá ler novamente o poema “Eu” e ouvir a música “Aquilo que Eu Sei”, orientando os alunos para refletirem sobre si mesmos tentando identificar os vários “eus” que existe em cada um de nós. Em seguida, estimule um debate sobre a dificuldade do processo de autoconhecimento.

Participação

Não sei, mas sou eu. Quem acende as conchas, quem nega a folhagem, quem escuta a poeira, [...] (Guilherme de Almeida – Melhores poemas – seleção Carlos Vogt, p.101)

Após essa atividade cada um escolheu um poema para apresentá-lo a turma em forma de declamação, ou lendo com as devidas entonações rítmicas. Em seguida os alunos em duplas elaboraram um poema usando de recursos sonoros que tinham percebido no poema lido e então compararam com o mesmo verificando semelhanças e diferenças. Neste momento demonstraram interesse em buscar novas leituras.

Outros poetas

Pesquise e leia também as obras dos seguintes autores: ● Almir Correia ● Álvares de Azevedo ● ● Glória Kirinus ● João Cabral de Melo Neto ● Mário Quintana ● ● Paulo Leminski ● Vinícius de Moraes

Estas são algumas sugestões de leitura, mas cada professor poderá fazer as adaptações de acordo com a realidade de cada turma.

Discussão dos resultados

Essa prática de leitura em sala de aula para despertar o gosto pela leitura literária foi aplicada no Colégio Estadual Hasdrubal Bellegard, escola pública do Estado do Paraná, em sétimas e oitavas séries do Ensino Fundamental, como parte do Programa de Desenvolvimento Educacional promovido pela Secretaria de Educação desse Estado. O Projeto foi primeiramente apresentado à direção da escola que se colocou à disposição para o que fosse necessário. Em seguida foi feito um levantamento juntamente com a bibliotecária para verificar se os livros sugeridos no projeto faziam parte do acervo da biblioteca da escola e verificou-se que há muitos livros interessantes para serem usados pelos alunos da escola. Houve o envolvimento da direção, parte dos professores e equipe pedagógica, mas principalmente do pessoal da biblioteca que prontamente se colocou à disposição para o bom desenvolvimento do projeto. A primeira atividade realizada foi a visita dos alunos até a biblioteca. Neste momento foi informado como funciona a biblioteca, os títulos que fazem parte do acervo da escola. Os alunos tiveram a oportunidade de manusear os livros, ficando à vontade para emprestá-los e fazer suas leituras também em casa. Ficou acertado com os alunos que uma aula por semana seria de leitura. Foram apresentadas sugestões de livros incluindo autores paranaenses. Neste momento, foram aplicadas diversas dinâmicas para despertar o interesse pelos livros sugeridos. À medida que se liam as obras eram desenvolvidas atividades pelos alunos como: confecção de cartazes com recomendações de leitura, caricaturas de autores, personagens, resumo das obras, frases de incentivo a leitura, etc. Também foi realizada uma exposição de poesias produzidas pelos alunos. No encerramento do ano letivo foi apresentada uma peça de teatro produzida pelos alunos envolvendo também outras turmas e professores de outras disciplinas. Esta peça foi apresentada para toda a comunidade escolar. Após todas as atividades realizadas verificou-se um aumento na procura de livros, junto à Biblioteca, por alunos de oitavas séries. Em sala de aula houve uma disputa dos alunos por determinados títulos, principalmente por temas relacionados aos problemas vivenciados pela adolescência.

A maior dificuldade para o sucesso do projeto de leitura foi o envolvimento dos pais e da comunidade. Este objetivo só pode ser alcançado a longo prazo e com muita dedicação e perseverança. A leitura é um compromisso que deve ser assumido por todos, pois com certeza todos sairão ganhando, só assim estaremos formando cidadãos conscientes e críticos.

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