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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO

FACULDADE DE FILOSOFIA DOM AURELIANO MATOS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO CENTRAL

MESTRADO ACADÊMICO INTERCAMPI EM EDUCAÇÃO E ENSINO

DIANA NARA DA SILVA OLIVEIRA

A EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO EM ESCOLA DE ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA EM JAGUARUANA/CEARÁ

LIMOEIRO DO NORTE-CEARÁ

2017 1

DIANA NARA DA SILVA OLIVEIRA

A EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO EM ESCOLA DE ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA EM JAGUARUANA/CEARÁ

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino, Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos, e faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central, da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestra em Educação e Ensino. Área de Concentração: Educação, Escola, Ensino e Formação Docente. Orientador: Luís Távora Furtado Ribeiro

Co-Orientadora: Sandra Maria Gadelha de Carvalho

LIMOEIRO DO NORTE – CEARÁ

2017 2

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Estadual do Ceará Sistema de Bibliotecas

Oliveira, Diana Nara da Silva. Educação do/no campo em escola de assentamento de reforma agrária em Jaguaruana/Ceará [recurso eletrônico] / Diana Nara da Silva Oliveira. - 2017. 1 CD-ROM: il.; 4 ¾ pol. CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho acadêmico com 141 folhas, acondicionado em caixa de DVD Slim (19 x 14 cm x 7 mm). Dissertação (mestrado acadêmico) - Universidade Estadual do Ceará, Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos, Mestrado Acadêmico em Educação, , 2017. Área de concentração: Educação, Escola, Ensino e Formação Docente. Orientação: Prof. Ph.D. Luís Távora Furtado Ribeiro. Coorientação: Prof.ª Ph.D. Sandra Maria Gadelha de Carvalho . 1. Educação do Campo. 2. Práxis Docente. 3. Reforma Agrária. I. Título 3

DIANA NARA DA SILVA OLIVEIRA

A EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO EM ESCOLA DE ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA EM JAGUARUANA/CE

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino, Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos, e faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central, da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestra em Educação e Ensino. Área de Concentração: Educação, Escola, Ensino e Formação Docente. Orientador: Luís Távora Furtado Ribeiro

Co-Orientadora: Sandra Maria Gadelha de Carvalho

Aprovada em: 24/04/2017

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Luís Távora Furtado Ribeiro- (Orientador) Universidade Federal do Ceará- UFC

______Profa. Dra. Sandra Maria Gadelha de Carvalho –(Co- Orientadora) Universidade Estadual do Ceará – UECE

______Profª. Drª. Maria José Albuquerque da Silva 4

Universidade Federal do Ceará- U AGRADECIMENTOS

Inicialmente quero agradecer a Deus por ter me proporcionado a oportunidade de entrar no MAIE e de suportar todas as dificuldades enfrentadas nesse período. Agradecer a minha família, ao meu marido Marcos que soube aceitar a minha ausência em diversos momentos e compreendeu que os desafios enfrentados nesses dois anos foram para que hoje alcancemos essa vitória, aos meus filhos Allan Pierre e Marcos Piêtro que foram meus motivos para continuar quando eu pensei em desistir, ao meu irmão Francisco Antônio que sempre incentivou- me, aos demais irmãos (Gracileide, Graça, José Antônio e Leidiane) que sempre torceram e acreditaram na minha capacidade e aos meus pais Ana e Francisco pela motivação.

Agradecimento especial aos meus orientadores Luís Távora por todas as contribuições, conselhos e pela enorme confiança e disponibilidade, e a Sandra Gadelha como Co- Orientadora acolheu-me como uma orientanda legitima, obrigada pelas contribuições, correções, ensinamentos, confiança e pelas oportunidades ofertadas. Aprendi demais com vocês, sinto-me sortuda por está sendo guiada por dois grandes mestres da educação, referencias para o Estado do Ceará e para o Brasil. Tenho a enorme missão de carregar os nomes de vocês na minha história acadêmica.

A professora Maria José Albuquerque da UFC como examinadora externa contribuiu muito para o engrandecimento desse trabalho a partir das sugestões realizadas.

A todos os professores do MAIE que possibilitaram nosso acesso a conhecimentos desconhecidos até então, em especial ao grande professor Jorge Alberto Rodriguez (in memorian) que partiu em meio a caminhada, mas deixou suas marcas em nossas histórias.

A professora e coordenadora Maria Das Dores Mendes Segundo que tem a árdua tarefa e manter o MAIE funcionando.

A todos os colaboradores da pesquisa, aos lideres do assentamento (Chico do Joaquim, Chico Pacatanha, Raimundo Barbudo, Gislene, Marcelo, Maria Evangelina, Milton) que sempre ficaram a minha disposição, aos professores da Escola que 5

enriqueceram a pesquisa com seus depoimentos, ao secretario escolar Raimundo Rocha por ter fornecido todos os dados sobre a escola e em especial a ex coordenadora Suely por sempre ter ficado a disposição para tirar minhas dúvidas e pelo seu depoimento enriquecendo a pesquisa.

Ao grupo de pesquisa Aspectos Históricos e Atuais sobre as Políticas Públicas de Formação Docente no Brasil da FACED/UFC por ter proporcionado acesso a diversas leituras que serviram como base teórica para produção do texto.

Aos meus amigos conquistados no MAIE João Paulo, Janine, Elenice, Luciana, Renata e Farbênia por ter dividido comigo as angustias, os desafios, incerteza, frustrações, alegrias, risadas e as conquistas. Esses amigos o mestrado deu-me de presente e a vida conservará.

À Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), pelo apoio financeiro à pesquisa.

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“[...]Quando o povo nas ruas sorrir E a roseira de novo florir Eu vou cantar

Quando as cercas caírem no chão Quando as mesas se encherem de pão Eu vou cantar

Quando os muros que cercam os jardins, destruídos Então os jasmins vão perfumar

Quando as armas da destruição destruídas em cada nação eu vou sonhar

E o decreto que encerra a opressão assinado só no coração vai triunfar

Quando a voz da verdade se ouvir e a mentira não mais existir será enfim tempo novo de eterna justiça sem amis ódio sem sangue ou cobiça vai ser assim...”

Utopia (Zé Vicente)

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RESUMO

Este trabalho teve como objeto de estudo “A Educação do/no Campo em Escola de Assentamento de Reforma Agrária em Jaguaruana/Ceará”. Tendo como objetivo geral compreender o papel desempenhado pela EEF. Nossa Senhora do Livramento, localizada no Assentamento Bela Vista, Município de Jaguaruana- CE, analisou sobre o Projeto Politico Pedagógico, a práxis docente e os saberes escolares e suas relações com o Assentamento. Através dos objetivos específicos investigou-se de que maneira a escola contribuiu para a organização social das assentadas, observando se o projeto político pedagógico implementado fortalece a educação do campo e a identidade dos alunos e alunas com o campo; investigou acerca das dificuldades e desafios vivenciados pela comunidade escolar, identificando a evasão e a reprovação na escola e suas causas; desvelar a concepção de escola dos sujeitos os quais compõem a comunidade escolar. Em termos metodológicos a pesquisa foi de cunho qualitativo e estruturada sobre procedimentos fundamentais que misturam técnicas da Pesquisa Bibliográfica, Documental e da Pesquisa de Campo. O estudo teve como base a análise documental e a história oral. Foram realizadas entrevistas com a ex-coordenadora da escola e um grupo focal com os docentes, analisando os principais acervos documentais como o Projeto Politico Pedagógico, Regimento Interno, fichas resumo de matricula, bem como entrevistas realizadas entre os anos 2011 e 2014. Na parte teórica sobre a Educação do Campo utilizamos os autores Caldart (2000, 2002, 2012, 2014), Carvalho (2006, 2017), Fernandes (2012, 2015, 2016), Arroyo (1999, 2004, 2007), Molina (2010), além disso para compreender a questão agrária no Vale do utilizamos Cosme (2015) e Oliveira (2014). A partir da análise das entrevistas foi possível situarmos o Município de Jaguaruana- Ceará, bem como narrar os fatos que deram origem ao Assentamento Bela Vista e a Escola, além de identificarmos os principais desafios enfrentadas pelos docentes no desenvolvimento de suas atividades assim como pela instituição na formação dos sujeitos. Como conclusão da pesquisa realizamos um diagnóstico das principais dificuldades enfrentadas pelos docentes, da importância que a instituição representa para o desenvolvimento do assentamento Bela Vista, diagnosticamos ainda que o ensino ofertado apresenta deficiência no processo de ensino aprendizagens dos discentes, sendo comprovado com a análise das notas obtidas no Spaece. Também 8

percebemos que o modelo de reforma agrária adotado pelo Brasil impossibilita que o assentamento e a escola se desenvolvam. Constatamos ainda que a instituição ao longo de sua história vem lutando juntamente com o assentamento por melhores condições de existência, tornando-se o principal elo entre comunidade e estado, desenvolvendo ações que visam à integração dos camponeses na sociedade, uma vez que mesmo diante dos inúmeros desafios continua lutando para ofertar um ensino de qualidade e transformar as vidas dos camponeses.

Palavras chave: Educação do campo. Práxis docente. Reforma agrária.

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ABSTRACT

This study had as object of study "The Education of the Field in School of Settlement of Agrarian Reformation in Jaguaruana / Ceará". Its general objective is to understand the role of EEF. Nossa Senhora do Livramento, located in the Bela Vista settlement, Jaguaruana-CE municipality within the community, reflected on the Pedagogical Policy Project, teaching praxis and school knowledge and its relations with the Settlement. Through the specific objectives we reflect on the extent to which the school influences the daily lives of the settlers and children, young people and adults; We identify the challenges, difficulties experienced by the school and the school community; We analyze the school conceptions of the subjects that compose the school community. In methodological terms the research was qualitative and structured on fundamental procedures that mix techniques of Bibliographic, Documentary and Field Research. The study was based on documentary analysis and oral history. Interviews were carried out with the former school coordinator and a focal group with the teachers, analyzing the main documentary collections such as the Political Pedagogical Project, Internal Regiment, summary records, and reuse interviews between 2011 and 2014. In the theoretical section on (1999), Molina (2010), and the authors of this paper, we have used the authors Caldart (2000, 2002, 2012, 2014), Carvalho (2006, 2017), Fernandes (2012, 2015, 2016), Arroyo To understand the agrarian question in the Jaguaribe Valley we use Cosme (2015) and Oliveira (2014). From the analysis of the interviews, it was possible to locate the Municipality of Jaguaruana-Ceará, as well as to narrate the facts that gave rise to the Bela Vista Settlement and the School, besides identifying the main difficulties faced by the teachers in the development of their activities and the difficulties faced Institution in the training of subjects. As a conclusion of the research, we performed a diagnosis of the main difficulties faced by the teachers, of the importance that the institution represents for the development of the Bela Vista settlement, we also diagnose that the offered teaching presents deficiency in the teaching process of the students, being proved by the analysis of the Notes obtained at Spaece, we also realized that the model of agrarian reform adopted by makes it impossible for the settlement and the school to develop. We also note that the institution throughout its history has been fighting together with the settlement for better conditions of 10

existence, becoming the main link between community and state, developing actions aimed at the integration of peasants into society, since even with the Countless challenges continues to strive to provide quality education and transform the lives of peasants.

Keywords: Field education. Teaching praxis. Land reform.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Microrregiões do Baixo Jaguaribe e Litoral de ...... 58 Figura 2- Ponte improvisada na estrada do Assentamento Bela Vista...... 71 Figura 3- Sala de aula da Escola Nossa Senhora do Livramento no Assentamento Bela Vista...... 77 Figura 4- Cantina da Antiga Escola...... 77 Figura 5- Nova instalação escolar...... 78 Figura 6- Sala de Aula...... 79 Figura 7- Professores que participaram do grupo focal...... 100 Figura 8- Controle da evasão 1997- 2016...... 100 Figura 9- Controle da reprovação 1997- 2016...... 104 Figura 10- Professora desenvolvendo atividades de leituras com os alunos...... 113 Figura 11- Cantina onde era preparada a merenda na antiga escola..... 113 Figura 12- Comunidade escolar recebendo lanche...... 114 Figura 13- Hora dos intervalos dos professores...... 114 Figura 14- Parte interna da escola...... 114 Figura 15- Comunidade reunida na escola...... 116

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Matrícula escolas do campo de ensino médio da rede estadual, em áreas de assentamento, por crede, município e ano...... 51 Quadro 2- Relação de matriculas escolas do campo- 2011- 2016...... 75 Quadro 3- Professores Participantes do Grupo Focal...... 90 Quadro 4- Resumo Anual de Matriculas- 1997- 2016...... 105 Quadro 5- Avaliação através de cores...... 105 Quadro 6- Acompanhamento Bimestral da turma de 5º ano...... 107 Quadro 7- Avaliação através de cores Spaece Alfa...... 107 Quadro 8- Spaece Alfa 2º ANO – Nossa Senhora do Livramento- 2007 A 2015...... 107 Quadro 9- Spaece 5º ANO – LÍNGUA PORTUGUESA, 2008 a 2015.. 108 Quadro 10- Spaece 5º ANO – MATEMÁTICA, 2008 a 2015...... 109 Quadro 11- Spaece 9º ANO – Nossa Senhora do Livramento- 2008 a 2015...... 109 Quadro 12- Spaece 9º ANO – PORTUGUÊS, 2008 A 2015...... 109 Quadro 13- 9º ANO – MATEMÁTICA 2008 A 2015...... 116

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA Avaliação Nacional da Alfabetização ANEB Avaliação Nacional da Educação Básica ANRESC Avaliação Nacional do Rendimento Escolar BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento CE Ceará CEJA Centro de Educação de Jovens e Adultos CNE/CEB Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação CODEA Diversidade e Inclusão Educacional CPC Centros Populares de Cultura CREDE Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação DCN Diretrizes Curriculares Nacionais DR Doutor EDURURAL Programa de Expansão e Melhoria da Educação no Meio Rural no Nordeste EFA Escolas Famílias Agrícolas EJA Educação de Jovens e Adultos EMATERCE Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Ceará FAFIDAM Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos FEDAF Fundo Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar FETRAECE Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Ceará FHC Fernando Henrique Cardoso FIPE Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação

FUNSESCE Fundação do Serviço Social do Estado do Ceará 14

GPT Grupo Permanente de Trabalho IES Instituições de Ensino Superior IICA Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira JOBRASA Jojoba do Brasil S.A. KM Quilometro LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MAIE Mestrado acadêmico intercampi em Educação e Ensino MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário MEB Movimento de Educação de Base MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra OBA Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronautas OBMEP Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas OCP Operação Carro Pipa P.A Projeto de Assentamento PAC Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal PAIC Programa de Alfabetização na idade certa PCN Parâmetros Curriculares Nacionais PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola PDE Programa de Desenvolvimento da Escola PETECA Programa de Educação contra a Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente PNE Plano Nacional de Educação PNERA Pesquisa Nacional de Educação na Reforma Agrária PPP Projeto político Pedagógico PROCAMPO Programa de Apoio à Formação Superior em Educação do Campo PROFORMA Programa de Formação de Professores em Exercício -ÇÂO 15

PRONAF Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONASEC Programa Nacional de Ações Socioeducativas e Culturais para o Meio Rural PRONERA Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária PRORURAL Programa de Educação para Zona Rural PSF Programa da Saúde Familiar RN Rio Grande do Norte SAEB Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica SECADI Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão SEDUC- CE Secretaria de Educação do Estado do Ceará SEED Secretaria de Educação a Distância SEF Secretaria de Ensino Fundamental SPAECE Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará SPE Saúde e prevenção nas escolas SR Senhor STTR Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais UECE Universidade Estadual do Ceará UFC Universidade Federal do Ceará UFER Universidade Federal Rural do Semi-Árido

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...... 18 2 HISTÓRICO LEGAL DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO BRASIL...... 29 2.1 EDUCAÇÃO NO CAMPO E SUA BASE LEGAL...... 29 2.3 A EDUCAÇÃO DO CAMPO COMO FERRAMENTA DE LUTA...... 37 2.4 ANTECEDENTES DA EDUCAÇÃO DO CAMPO: AS EXPERIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO RURAL NO CEARÁ...... 41 2.5 TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃODO CAMPO NO CEARÁ...... 46 2.6 DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO CEARÁ ATRAVÉS DOS DEBATES...... 52 3 CONTEXTO HISTÓRICO DO ASSENTAMENTO BELA VISTA E DA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO...... 58 3.1 SITUANDO O MUNICÍPIO DE JAGUARUANA- CEARÁ...... 58 3.2 A OCUPAÇÃO DA FAZENDO JOBRASA HOJE ASSENTAMENTO BELA VISTA...... 61 3.3 A LUTA POR EDUCAÇÃO E POR ESCOLA...... 63 3.4 A REALIDADE ATUAL: AS CONQUISTAS DA ESCOLA...... 70 3.5 EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO?...... 73 3.6 DIFICULDADES, PROBLEMAS E DESAFIOS ENFRENTADOS.... 75 3.7 QUESTÃO AGRÁRIA E EDUCAÇÃO NO CAMPO...... 80 3.8 UM OLHAR MAIS DETALHADO SOBRE O PPP DA ESCOLA...... 86 4 PROFESSORES E AS CONCEPÇÕES DA ESCOLA DO/NO CAMPO...... 90 4.1 COSTURANDO HISTÓRIAS ENTRE A TEORIA E A EMPIRIA...... 90 4.2 CONFRONTANDO A REALIDADE NO ENSINO VIVENCIADO NA ESCOLA DO/NO CAMPO...... 103 4.3 RETORNANDO AS RAIZES DA ESCOLA NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO...... 116 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...... 121 REFERÊNCIAS...... 126

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APÊNDICES...... 136

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1 INTRODUÇÃO

A presente dissertação tem como objeto de estudo “A Educação do Campo em escola de assentamento de reforma agrária em Jaguaruana/Ceará”. Embora o conceito e as experiências de educação do/no campo sejam recentes no Brasil, datadas da segunda metade da década de 1990, há um acumulo significativo da produção bibliográfica em torno dessa questão, entre artigos, livros, monografias, dissertações e teses. São vários os prismas de análise. Algumas pesquisas tais como Caldart (2000, 2002, 2012, 2014), Carvalho (2006, 2017), Fernandes (2012, 2015, 2016), Arroyo (1999, 2004, 2007), Molina (2010), que enfocam a educação do campo articulando-a as mudanças que se pretendem no contexto do rural e apresentam, principalmente, estudos que apontam para a necessidade de participação dos movimentos sociais e outros sujeitos históricos, em seu próprio processo de formação.

A abordagem do tema justifica-se, pela contribuição que poderá trazer ao fortalecimento das condições adequadas para a vida no campo, tendo na educação escolar um dos elementos norteadores da prática social. Outro elemento relevante na escolha desta temática são as dúvidas existentes referentes ao tema, essas indagações têm por objetivo compreender se a EEF Nossa Senhora do Livramento, cujo trabalho se desenvolve com crianças e jovens camponeses, norteia suas ações a partir da perspectiva da educação no campo ou da educação do campo? A partir da realização desta pesquisa pretendemos entender as dificuldades enfrentadas por professores e alunos ao implementarem o currículo adotado pela escola. Deste modo, o estudo em questão visa despertar na comunidade a preocupação com uma educação escolar no qual se valorize a vida no campo e colabore com as condições de permanência no mesmo.

Em 2014 realizamos uma pesquisa monográfica intitulada- “A criação do assentamento Bela Vista em Jaguaruana- Ceará (1996-2014)”, requisito necessário a obtenção para o titulo de licenciatura em História pela Universidade Estadual do Ceará. A pesquisa foi motivada pelo grande interesse que me despertou os estudos sobre a questão agrária no Brasil, fato que está ligado a minha história pessoal, visto 19

que morei na comunidade durante toda minha infância e adolescência, sendo filha de assentados e assim acompanhei a construção do Assentamento.

A escolha de continuar a pesquisa na mesma comunidade, dando um enfoque na escola Nossa Senhora do Livramento também deu- se por sentir a necessidade de compreender a educação do/no campo, como ela acontece e qual seu papel para a formação humana, além de motivações pessoais, pois estudei na escola e por ter acompanhado todo o processo de implantação desta unidade escolar, dessa forma reconhecendo a luta do movimento dos trabalhadores sem terra e da comunidade pela educação formal. Após a conclusão da licenciatura cursei especialização em Orientação, Supervisão em Gestão Escolar ofertado pelo Instituto Ieducare, onde pude ter contato com leituras e debates instigando meu olhar para o processo educativo, principalmente na escola.

As pesquisas de conclusão da licenciatura e da especialização apontaram para a importância da escola na vida dos assentados. Desde os dois cursos citados passei a refletir sobre o processo educativo realizado na escola do assentamento Bela Vista, passando a indagar: Qual o papel desempenhado pela E.E.F. Nossa Senhora do Livramento no desenvolvimento e consolidação do Assentamento Bela Vista? Ou seja, a escola é uma instituição de ensino cujo contribuição se torna efetiva para o melhoramento da vida dos assentados? O projeto pedagógico da escola, a práxis docente e os saberes escolares refletem as necessidades dos assentados em especial, das crianças, jovens e adultos que a frequentam? Quais relações a escola mantem com as famílias assentadas e das comunidades que são atendidas por ela?

Assim as questões colocadas revelam a preocupação dessa pesquisa com o papel desempenhado pela educação escolar na territorialização das famílias do Assentamento Bela Vista e comunidades adjacentes que são atendidas pela EEF Nossa Senhora do Livramento. Territorização e território segundo Silva (2009) significam o espaço das experiências vividas, onde as relações entre os atores, e destes com a natureza, são relações permeadas pelos sentimentos e pelos simbolismos atribuídos aos lugares. São espaços apropriados por meio de práticas que lhes garantem uma certa identidade social/cultural (SILVA, C. H, 2009, p. 98- 115). 20

Dessa forma o objetivo geral desta investigação é analisar a função socioeducativa da EEF. Nossa Senhora do Livramento, localizada no Assentamento Bela Vista, Município de Jaguaruana- CE, a partir do projeto politico pedagógico da escola, da práxis docente e os saberes escolares em sua relação com a constituição de uma educação do campo.

Constituem-se como objetivos específicos: identificar de que maneira a escola contribuiu para a organização social das assentadas, observando se o projeto político pedagógico implementado fortalece a educação do campo e a identidade dos alunos e alunas com o campo; investigar acerca das dificuldades e desafios vivenciados pela comunidade escolar, identificando as causas da evasão e reprovação na escola; desvelar a concepção de escola dos sujeitos os quais compõem a comunidade escolar.

Através de estudos teóricos iremos utilizar numa perspectiva critico- reflexiva as categorias Educação do Campo, Currículo e Práxis Educativa com o objetivo de dar fundamentação teórica para a pesquisa, a partir de autores tais como Carvalho (2006); Souza e Reis (2009); Molina (2010); Caldart (2009).

Tentaremos esclarecer ao longo de todo o texto as diferenças existentes entre Educação no campo e Educação do campo, baseado em Caldart (2002), quando ela afirma que os sujeitos do campo devem ser atendidos por políticas de educação que garantam seu direito a uma educação que seja No e Do campo. Conforme esclarece a autora: “No: o povo tem direito a ser educado no lugar onde vive; Do: o povo tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com a sua participação, vinculada à sua cultura e às suas necessidades humanas e sociais” (CALDART, 2002, p. 18.).

A educação no campo ou Educação rural surge com o intuito de fixar o homem no campo, devido as grandes mudanças sociais e econômicas ocorridas no Brasil a partir do processo de industrialização do país, que levou o camponês a migrar para a cidade em busca de emprego. Ela surge como estratégia do capitalismo para prender o homem no campo e preparar as novas gerações para continuar exercendo as atividades agrícolas e sustentar a cidade como afirma Carvalho “Nesta perspectiva, a escola rural contribuiria ao propiciar mais um vínculo 21

do agricultor com sua origem, além de preparar as novas gerações para o trabalho na agricultura” (CARVALHO, 2006, p. 81).

De acordo com (CARVALHO, 2006, p.115), “A educação rural foi permeada por objetivos e ideologias divulgadas pelas classes dominantes, embora nem sempre tenham sido hegemônicos, como demonstram as experiências populares do início da década de 1960”, a educação no campo serve ao capitalismo quando reproduz o modelo econômico vigente em nossa sociedade, ela exclui o sujeito do campo, quando não permite que ele seja construtor do saber.

Ainda de acordo com Carvalho (2006), somente na constituição de 1937, Art. 132 começa-se a falar sobre educação nas áreas rurais, com a criação da Sociedade Brasileira de Educação Rural (SBER) que objetivava desenvolver o ensino. Posteriormente na constituição de 1946, quase 10 anos depois volta- se a pensar em educação rural, porém de forma descompromissada, o estado não se empenhava em seu desenvolvimento.

Nesse período entre 1930 e 1945 durante o governo de Getúlio Vargas, onde houve mudanças nas constituições que favoreceram a educação, caracterizado por processo de formulação da política educacional, posteriormente onde teve inicio a ditadura militar1, o Brasil passa por transformações, algumas dessas transformações ocorreram na educação, dentre as mudanças podemos destacar segundo Bomeny (1999) “[...] A reforma da educação passou pela elaboração de um Plano Nacional de Educação (1962) que teve como base os resultados de um grande inquérito sobre a educação nacional”, onde foi possível conhecer as particularidades da educação do país.

Surgiram outros movimentos no final da década de 1950 e inicio da década de 1960 como o Movimento de Educação Popular (MEP) que teve como principal líder Paulo Freire, Os Centros Populares de Cultura (CPCS) e o Movimento de Educação de Base (MEB), movimentos esses que tinham como objetivo a valorização da cultura e das classes populares, e realizavam esse trabalho através da alfabetização de jovens e adultos tanto na cidade, e em especial no campo como aconteceu em Angico no Rio Grande do Norte.

1Período da política brasileira em que os militares governaram o Brasil (1964- 1985). Marcado pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão. 22

A respeito das politicas educacionais e sociais voltadas para o campo Arroyo (2007), afirma que elas têm o caráter reprodutor, visando privilegiar as demandas da cidade e de seus habitantes, colocando a cidade como lugar desenvolvido e civilizado enquanto o campo um lugar atrasado e sem cultura.

Em conformidade com Santos (2000), a política de Educação Rural desvinculava-se dos propósitos da população campesina, que por meio dos movimentos sociais do campo começaram a reivindicar dentre outros direitos sociais, o direito a políticas educacionais específicas e diferenciadas para o campo.

Segundo as autoras da pesquisa “Educação do campo prática pedagógica”, Souza e Reis (2009), ao longo de todo história da Constituição Brasileira a educação do campo vem sendo esquecida, vem sendo adequada a realidades urbanas, sempre foi deixada de lado. A educação no campo acontece no campo, com sujeitos do campo, porém com um currículo da cidade, onde não existe preocupação com as questões ligadas a terra, ela reproduz os saberes da escola burguesa, exaltando a dicotomia campo/cidade.

É a partir dessa realidade que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra sentiu a necessidade de criar uma educação que atenda as demandas dos sujeitos do campo, que pense a vida no campo, que valorize o desenvolvimento do/no campo. De modo que somente uma educação do campo e no campo seria capaz de fazer.

De acordo com Molina (2010) “[...] somente no início da década de 1980, o MST organiza trabalhadores rurais com a bandeira da Reforma Agrária e da educação diferenciada do campo” (MOLINA, 2010, p. 46.).

O MST acrescenta à sua luta a educação do campo porque entende que os sujeitos envolvidos no processo somente se emanciparão mediante uma educação transformadora que perceba as necessidades do campo e que contribua para o rompimento com a lógica capitalista que norteia a vida na sociedade.

A educação do campo surge da necessidade do camponês de uma formação cidadã no processo de emancipação humana, como destaca Camacho.

A Educação do Campo é construída a partir das necessidades do campesinato e incorpora o conjunto das experiências 23

socioeducativas dos movimentos sócio- territoriais do campo na educação. Partimos da compreensão de que esta é parte integrante de um projeto de resistência cultural e política do campesinato frente às tentativas de sua destruição por parte do agronegócio (CAMACHO, 2010, p. 01.).

Compreendendo que o sistema capitalista é extremamente excludente e dominador, necessitando de uma intervenção por parte da sociedade no processo de desconstrução de sua ideologia liberal, a educação do campo se apresenta como uma ferramenta eficiente para o enfrentamento ao capitalismo, pelo menos referente aos povos do campo.

O autor faz referências à luta dos camponeses nesse processo de desconstrução do capitalismo e também da luta pela sobrevivência do campesinato.

Para continuar existindo os camponeses lutam contra o capital e constroem possibilidades de recriação e reprodução, sendo que essa luta não é apenas por terra e renda, mas também por uma educação que viabilize seu processo de reprodução e que auxilie na resistência contra o processo de desterritorialização (CAMACHO, 2010, p. 01.).

A educação do campo é vista pelos movimentos e camponeses como meio de enfrentamento do sistema de dominação, constituindo-se em uma possibilidade educativa para a emancipação dos sujeitos envolvidos na busca por direitos.

Para Caldart (2009, p. 37), ao considerar que a educação do campo esta diretamente ligada ao trabalho no campo e consequentemente a luta dos movimentos sociais como também na solução dos dilemas enfrentados pelo campo brasileiro, ela ressalta que “esta realidade exige posição (teórica sim, mas sobretudo prática, política) de todos os que hoje afirmam trabalhar em nome da Educação do campo”.

Devemos ressaltar a importância de se compreender a história da educação e sua contextualização na história do Brasil, a importância politica e teórica e compreender também as contradições existentes no processo de educação. Caldart defende essa importância de compreender todo o processo que envolve a educação do campo, desde o campo teórico até a ação. 24

A autora acredita que devemos sair de dentro dos muros das universidades e ir à luta, porque a educação do campo envolve diferentes sujeitos como intelectuais, movimentos sociais e camponeses.

A Educação do campo toma posição, age, desde uma particularidade e não abandona a perspectiva da universalidade, mas disputa sua inclusão nela (seja na discussão da educação ou de projeto de sociedade). Sim! Ela nasce da ‘experiência de classe’ de camponeses organizados em movimentos sociais e envolve diferentes sujeitos, às vezes com diferentes posições de classe. Sim! (CALDART, 2009, p. 38.). Então para que realmente aconteça uma mudança de paradigma na sociedade, temos que romper com a logica do capital, a educação se coloca com uma das chaves para que essa conquista aconteça, como afirma Freire (1979) a educação é um ato político, uma prática de libertação.

Dessa forma, a educação do campo serve como elemento fortalecedor do trabalho e no desenvolvimento do campo, pois trabalha com a valorização dos sujeitos e com a vida no campo.

Arroyo (1999) ao falar sobre educação do campo destaca dois pontos que devemos considerar sobre o campo. Primeiro, ele coloca que existe o movimento social no campo e segundo; Além de ter um movimento dinâmico no campo, também existe um movimento pedagógico que se caracteriza pela educação do campo,

Segundo o autor ao falar sobre a educação básica e o movimento social, partindo de dois fatos: 1º fato- Existe um movimento social no campo...; 2º fato- não só há no campo uma dinâmica social, ou um movimento social do campo, também há um movimento pedagógico (ARROYO, 1999, p. 14.).

Arroyo acrescenta que hoje a sociedade em geral percebe que o campo não está parado, pelo contrário ele está vivo, todos sabem da sua importância para a sobrevivência da humanidade, ainda pontuando que existe um movimento de renovação educativa, renovações pedagógicas espalhadas por vários estados do Brasil.

O direito conquistado por meio da educação do campo coloca o individuo no processo de construção de sua história e de sua cidadania, gerando grandes 25

valores da formação humana. Para Arroyo (1999, p. 18) “[...] a educação básica somente se universalizou acompanhando os avanços dos direitos”. O conhecimento e a conscientização dos direitos por parte de seus integrantes sempre foi o melhor meio para uma educação ampla que atenda as necessidades dos sujeitos, e não as do capital.

A educação do campo se apresenta como meio de enfrentamento ao sistema de dominação que a população pobre sempre enfrentou diante das classes dominantes, ela emancipa os sujeitos fazendo-lhes atores de sua própria história. A educação do campo está ligada a categoria de práxis educativa que embasara teoricamente o presente texto.

O conceito de práxis conforme Coutinho (2012) tem origem grega, e está associada somente a teoria, a atividade teórica, mas quando é reelaborado por Marx (PETROVIC, 2001) passa a fazer parte do materialismo histórico dialético, de modo que a práxis compreende uma ação transformadora realizada pelo ser humano, pela qual transforma o mundo e também se transforma: “o ser humano existe elaborando o novo, através da sua atividade vital, e com isso vai assumindo sempre, ele mesmo, novas características” (KONDER, 1992 apud COUTINHO, p. 106). Assim a práxis é a teoria ou a consciência filosófica e ao mesmo tempo a prática refletida, visando uma transformação da realidade, do homem.

Dessa forma a práxis educativa apresenta-se como uma educação libertadora, humanizadora (FREIRE, 2009) onde esta envolvida tanto aluno quanto professor, onde se trabalha com os conflitos e com as contradições, tem como objetivo desconstruir o opressor que existe dentro do oprimido. Papel de tal práxis educativa é a realização do ser mais, da humanização dos homens e mulheres envolvidos nessa práxis (COUTINHO, 2012).

A educação orientada pela práxis educativa deve caminhar sempre ligada à ação e reflexão dessa prática, objetivando a transformação dos sujeitos envolvidos, assim estará ligada a uma educação crítica. Ao discutirmos sobre educação do campo e sobre práxis educativa faz-se necessário a discussão sobre o que entendemos por currículo, categoria essa que estará presente durante toda a pesquisa já que trataremos de um modelo curricular na escola. 26

De acordo com Moreira (2007) a palavra currículo associa-se a distintas concepções, que derivam dos diversos modos de como a educação é concebida historicamente, bem como das influências teóricas que a afetam e se fazem hegemônicas em um dado momento. Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços pedagógicos desenvolvidos com intenções educativas.

O currículo é em outras palavras, o coração da escola, o espaço central em que todos atuamos, o que nos torna, nos diferentes níveis do processo educacional, responsáveis por sua elaboração. O papel do educador no processo curricular é, assim, fundamental (MOREIRA, 2007). Em concordância com Arroyo (2007) as identidades pessoais vêm sendo redefinidas. Identidades femininas, negras, indígenas, do campo. A identificação de tantas e tantos docentes com os movimentos sociais suscita novas sensibilidades humanas, sociais, culturais e pedagógicas, que se refletem na forma de ser professora-educadora, professor- educador. Refletem-se na forma de ver os educandos, o conhecimento, os processos de ensinar-aprender. É nessa perspectiva que iremos desenvolver esta pesquisa, tentando identificar de que modo se constroem as relações entre as práxis educativas dentro da Escola Nossa Senhora do Livramento no Assentamento Bela Vista.

Para o historiador francês Febvre, a história é feita com documentos escritos, sem dúvida, mas também com tudo o que o engenho do historiador pode permitir-lhe utilizar para fabricar o seu mel, à falta de flores habituais. Portanto, com palavras. Com signos. Com paisagens e telhas. Com formas de cultivo e ervas daninhas. Com eclipses da lua e cangas de bois. Com exames de pedras por geólogos e análises de espadas de metal por químicos. Numa palavra, com tudo aquilo que pertence ao homem, depende do homem, serve o homem, exprime o homem, significa a presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem (FEBVRE, 1985). Essa concepção, digamos, alargada de documento possibilitou o enriquecimento da ciência histórica, tornando possível o estudo dos sem nome, dos vencidos e também dos sofrimentos, frustrações, sonhos e esperanças. Permite, como um candeeiro ou um lampião, iluminar os destroços e entulhos em busca de corpos mumificados ou em estado de putrefação. 27

A história é construída através dos recortes feitos pelo historiador, e Febvre nos indica as diversas possibilidades que temos ao construir uma narração, e pensando dessa forma utilizamos diversas fontes para a elaboração desta pesquisa. Utilizaremos em especial às fontes orais, tendo em vista que há poucas produções sobre a comunidade em questão.

Em termos metodológicos a pesquisa de cunho qualitativo esta estruturada sobre procedimentos fundamentais que misturam técnicas da Pesquisa Bibliográfica, Documental e da Pesquisa de Campo. O lócus empírico da Pesquisa é a Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Livramento e o Assentamento Bela Vista, no Município de Jaguaruana, Ceará.

O estudo teve como base a análise documental e a história oral. Foram realizadas pesquisas de campo e estudos de documentos pertencentes à escola, grupo focal, e entrevistas.

Os principais acervos documentais foram o Projeto Pedagógico da Escola, Regimento Interno e relatórios, fichas resumo de matricula. Também foram realizadas entrevistas com a ex-coordenadora da escola para contribuir na compreensão da práxis educativa desenvolvida pelos docentes. Na coleta dos dados referentes a escola e sobre as notas alcançadas nas avaliações externas encontramos muitas dificuldades, pois a secretaria da escola não dispunha desses dados organizados, assim foi necessário que o secretario escolar realizasse uma pesquisa nos documentos pertencentes a escola para então elaborar as fichas resumos onde contem as informações sobre matrícula de todos os anos, séries, evasão, e reprovação. As notas obtidas pelos alunos, tivemos que buscar junto a Secretaria Municipal da Educação, onde também encontramos muitos desafios, pois as pessoas responsáveis pelos dados se recusavam a entrega-los, somente depois de muita persistência foi possível obtê-los.

Realizamos um grupo focal com os professores/as no intuito de identificar as dificuldades existentes no trabalho docente, bem como compreender quais saberes orientam a prática pedagógica. O grupo focal também teve o intuito de investigar se o projeto político pedagógico e o currículo implementado, fortalecem a educação do campo e a identidade dos alunos e alunas com o campo. 28

Realizamos uma entrevista com a primeira professora da escola servindo como base para ajudar a compor a história da instituição, ainda realizamos uma entrevista com a Coordenadora da Célula Diversidade e Inclusão Educacional (CODEA) pertencente a Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC-CE). Utilizamos entrevistas realizadas entre 2011 e 2014 com líderes do assentamento Bela Vista que serviram como fontes orais para a produção do texto monográfico intitulada “A criação do assentamento Bela Vista em Jaguaruana- Ceará (1996-2014)”, de minha autoria.

A pesquisa iniciou com a coleta de entrevista da professora Gracileide que tratou da implantação da unidade escolar no assentamento, em seguida realizamos pesquisas de campo na escola, observações do cotidiano da vida escolar.

Por último foi feita a interpretação de dados colhidos inicialmente, fazendo uma síntese das questões levantadas durante toda a dissertação. As hipóteses sobre os motivos da evasão da reprovação levantadas durante a pesquisa foram investigadas nas fontes orais e documentais.

Desse modo organizamos o texto em quatro capítulos que abordarão o contexto histórico da comunidade e da escola, passando pelo contexto histórico da educação do campo no Brasil e a situação da Questão Agrária do Brasil, e a analise dos dados coletados e interpretações atribuídas a esses dados.

O segundo capitulo, fizemos uma exposição da história da educação do campo perante a legislação brasileira, tentando dialogar com os objetivos atribuídos pelos movimentos sociais a educação do campo na transformação da sociedade, e como enfrentamento da dominação capitalista. Expondo experiências da educação rural desenvolvidas pelo Estado do Ceará desde a década de 1980 tendo em vista a motivação para os movimentos socias buscarem uma educação que pensasse os povos do campo.

O terceiro capitulo situou o município de Jaguaruana- Ceará, narrou a história que deu origem ao Assentamento Bela Vista e a Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Livramento. Apresentamos a história da instituição escolar que é o objeto de estudo além de abordarmos aspectos do Projeto Politico 29

Pedagógico adotado pela instituição, além disso, realizamos uma analise da questão agrária no Brasil e sua relação com a educação do campo.

Quarto capitulo analisou os sujeitos que compõem a escola Nossa Senhora do Livramento, sujeitos esses que muitas vezes são silenciados pelo sistema educacional que estão imersos. A partir de um grupo focal realizado na escola Nossa Senhora do Livramento do assentamento Bela Vista, e de dados colhidos durante as visitas à escola e a Secretaria da Educação do Município, intercalamos as falas e sentimentos desses profissionais com os dados das avaliações externas realizados pelos discentes. Avaliamos a situação da Educação de Jovens e Adultos na escola nos dias atuais na instituição, tendo em vista que a EJA teve papel fundamental para a consolidação da referida escola. Mostrando os números referentes a matriculas, avanços alcançados pela modalidade e os desafios enfrentados hoje.

Ao final apresentamos as considerações finais, realizando um balanço dos objetivos alcançados ao longo da pesquisa.

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2- HISTÓRICO LEGAL DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO BRASIL

Neste capitulo fazemos uma apresentação da história da educação do campo perante a legislação brasileira, tentando dialogar com os objetivos atribuídos pelos movimentos sociais a educação do campo na transformação da sociedade, e como enfrentamento da dominação capitalista. Apresentaremos as experiências da educação rural desenvolvidas pelo Estado do Ceará desde a década de 1980 tendo em vista a motivação para os movimentos socias buscarem uma educação que pensasse os povos do campo.

2.1- EDUCAÇÃO NO CAMPO E SUA A BASE LEGAL

A educação publica no Brasil é um direito e foi conquistada apenas na Constituição Federal de 1988, reconhecida como a Constituição Cidadã, como afirma no Art. 205, “A educação é direito de todos e dever do Estado”, porém muitos brasileiros ainda não usufruem ou não estão tendo acesso a este direito. De acordo com o IBGE são aproximadamente 1,7 milhão de jovens fora da escola, o equivalente a 16% dessa faixa etária. Essa queda se agrava no campo, onde os índices educacionais são mais sofríveis (IBGE, 2010).

Neste percurso pela instituição do direito à educação tanto na cidade como no campo, podemos destacar marcos constitucionais, conforme a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (BRASIL, 2012) no documento “Educação do Campo: Marcos Normativos”, a Constituição de 25 de Março de 1824 cita apenas dois incisos que abordam sobre a educação, os incisos XXXII e XXIII discorrem apenas a gratuidade do ensino primário, ainda assegurava que os colégios e universidade ensinassem letras e artes, fazendo-nos perceber que não existia nenhuma preocupação com os povos do campo, já que pressupõe que quem poderia receber esses ensinamentos sistematizados certamente seriam a burguesia, nem os proletários da cidade recebiam educação formal, pois não era interessante para a burguesia defender uma escola que atendesse aos menos favorecidos. É preciso imaginar que a dualidade campo-cidade se dará mais efetivamente após a urbanização nos anos de 1920 e 1930. Ou seja, na colônia o Brasil era agrícola e a maior parte da população habitava em zonas rurais. Havia uma compreensão dos governantes que se não havia educação no campo em parte 31

era porque para atividade agrícola o estudo era considerado dispensável. Desta forma, não havia escolas para a população, como sistema, apenas numa fatia pequena era concedida o acesso a leitura, escrita como formação cultural e para as elites oligárquicas.

Outro documento importante segundo BRASIL (2012) que poderia ter incluído a educação do campo é a Carta Magna de 1891, a mesma fala apenas sobre a laicidade nas escolas públicas onde podemos supor que a maioria era frequentada apenas pelas elites do país. Uma das questões que dificultou o amadurecimento de ideias de uma educação nesse período da publicação da Carta Magna, voltada para os sujeitos do campo foi à autonomia dos estados e municípios e a ausência de um sistema nacional de educação onde fossem pensadas todas as particularidades do ensino.

Dessa forma, com o processo de industrialização do país nas décadas iniciais do século XX, foram surgindo as escolas profissionalizantes para atender as demandas do capitalismo, passou-se a formar mão de obra qualificada. O campo considerado pela elite brasileira como atrasado não necessitava de instrução para lidar com a terra.

Mészáros faz referência sobre qual é o objetivo da escola que se voltou para atender as demandas do capital, o autor fala sobre o processo de internalização que a escola formal faz nos indivíduos em favor do capitalismo. De fato, no atual contexto social e econômico, “a principal função da educação formal é agir como um cão de guarda ex-officio e autoritário para induzir um comportamento generalizado em determinados moldes de internalização, de forma a subordiná-los às exigências da ordem estabelecida” (MÉSZÁRIOS, 2008, p.55). Esse processo de internalização mencionado pelo autor forma pessoas para serem seres acríticos, incapazes de questionar a realidade e de perceber que fazem parte do processo de dominação do capital. Esse é a perspectiva nas escolas existentes hoje no Brasil, escolas reprodutoras do capitalismo, muito embora hoje vários movimentos e ações de questionamento e resistência a esse direcionamento.

Apenas no século XX, mais especificamente a partir da década 1980 começou-se a pensar numa educação voltada para o campo. Essa luta se deu através dos movimentos sociais, que tinham como bandeira de luta a educação, o 32

mais importante nessa conquista de mudança de postura da legislação brasileira em relação à educação do campo foi e ainda é o MST, o mesmo tem em seus ideais que a educação é necessário para a emancipação do ser humano, porém ainda temos que conviver com uma baixa oferta de educação do campo em todo o país. Carvalho (2016) esclarece que somente no congresso do MST (1995), a educação foi anunciada como bandeira de luta contra o “latifúndio do saber”. Todavia, desde as ocupações da década de 1980 a educação das crianças, jovens e adultos era um desafio em muitos momentos.

O MST lançou o Boletim da Educação nº1 em 1992 onde descreve qual é a proposta de educação defendida pelos trabalhadores.

Nossa proposta de educação esta sendo construída através da cooperação. Crianças, professores e lideranças, o conjunto de assentados e campados que começa a discutir e a fazer uma escola diferente. Uma escola do nosso jeito, que nos ajude a enfrentar os problemas do dia a dia (MST, 1992, p. 02). Esse documento da instruções de como deve ser o funcionamento da educação nos assentamentos, episódio este que mostra o tamanho da importância atribuída pelo movimento à educação do campo.

BRASIL (2012) faz referência sobre a inserção da educação do campo na legislação brasileira.

Na verdade, a introdução da educação rural no ordenamento jurídico brasileiro remete às primeiras décadas do século XX, incorporando, no período, o intenso debate que se processava no seio da sociedade a respeito da importância da educação para conter o movimento migratório e elevar a produtividade no campo. A preocupação das diferentes forças econômicas, sociais e políticas com as significativas alterações constatadas no comportamento migratório da população foi claramente registrada nos annaes dos Seminários e Congressos Rurais realizados naquele período (BRASIL, 2012, p. 11).

As escolas no período mencionado cumprem muito bem sua função, que é domesticar os trabalhadores a favor das classes dominantes.

Segundo os congressistas, seriam destinadas aos menores pobres das regiões rurais e, pasmem, aos do mundo urbano, desde que revelassem pendor para a agricultura. Suas finalidades estavam 33

associadas à garantia, em cada região agrícola, de uma poderosa contribuição ao desenvolvimento agrícola e, ao mesmo tempo, à transformação de crianças indigentes em cidadãos prestimosos (BRASIL, 2012, p.11).

Com a convocação do primeiro Manifesto dos Pioneiros2 em 1930, no qual Saviani (2008, p. 242.), esclarece que o objeto é “A reconstrução educacional no Brasil”. E os destinatários são o povo e o governo, o documento influenciou bastante nas reestruturações na Constituição de 1934, onde podemos observar um grande avanço quando no artigo 156 obriga os estados e municípios a destinarem 20% da renda para o desenvolvimento de ensino nas zonas rurais.

À Lei, como era de se esperar, não escapou a responsabilidade do poder público com o atendimento escolar do campo. Seu financiamento foi assegurado no Título dedicado à família, à educação e à cultura, conforme o seguinte dispositivo:

Art. 156. A União, os Estados e os Municípios aplicarão nunca menos de dez por cento e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos, na manutenção e no desenvolvimento dos sistemas educativos (BRASIL, 2012, p. 13.). Os artigos 129 e 132 da Constituição de 1937 tratam em especial do ensino profissionalizante voltada para a classe trabalhadora, colocando itens que incentivam o investimento na educação do campo. Destacando as possibilidades que o egresso do curso técnico agrícola possui, como por exemplo, ingressar em uma universidade.

Na constituição Federal de 1937 fica afirmado que o Estado deve assegurar o ensino profissional dos menos favorecidos.

Em 10 de dezembro de 1937, é decretada a Constituição que sinaliza para a importância da educação profissional no contexto da indústria nascente. Esta modalidade de ensino, destinada às classes menos favorecidas, é considerada, em primeiro lugar, dever do Estado, o qual, para executá-lo, deverá fundar institutos de ensino profissional e subsidiar os de iniciativa privada e de outras esferas

2 O "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova" consolidava a visão de um segmento da elite intelectual que, embora com diferentes posições ideológicas, vislumbrava a possibilidade de interferir na organização da sociedade brasileira do ponto de vista da educação. Redigido por Fernando de Azevedo o texto foi assinado por 26 intelectuais, entre os quais Anísio Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles. Ao ser lançado, em meio ao processo de reordenação política resultante da Revolução de 30, o documento se tornou o marco inaugural do projeto de renovação educacional do país. Disponível em http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Educacao/ManifestoPioneiros. Acesso feito em 28 de abr. de 17. 34

administrativas. Essa inovação, além de legitimar as desigualdades sociais nas entranhas do sistema de ensino, não se faz acompanhar de proposições para o ensino agrícola (BRASIL, 2012, p. 14). Posteriormente quando a Carta Magna foi redigida em 1988, como reflexo da democratização do país, deixa claro que a educação é direito de todos e dever do estado como reafirma o Art. 205 da Constituição Federal, Saviani (2008, p. 245) lembra bem esse principio quando fala sobre o Manifesto dos Pioneiros da educação que, o estado deve organizar a escola e torna-la acessível, em todos os seus graus, a todos os cidadãos, independentemente de suas condições econômicas e sociais. Uma velha frase tão repetida pelo senso comum, que nos permite acreditar que todos os cidadãos sem exceção de raça, classe social, lugar onde vive, deve receber uma educação, isso necessitando ser obrigação do estado uma educação do campo que alcance os trabalhadores e trabalhadoras do campo, bem como seus filhos e filhas.

A Carta Magna de 1988, faz menção à educação rural de maneira generica, deixando a cargo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) tratar em especifico da educação do campo.

Quanto ao texto da Carta de 1988, pode-se afirmar que proclama a educação como direito de todos e, dever do Estado, transformando a em direito público subjetivo, independentemente dos cidadãos residirem nas áreas urbanas ou rurais. Deste modo, os princípios e preceitos constitucionais da educação abrangem todos os níveis e modalidades de ensino ministrados em qualquer parte do país.

Assim sendo, apesar de não se referir direta e especificamente ao ensino rural no corpo da Carta, possibilitou às Constituições Estaduais e à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB - o tratamento da educação rural no âmbito do direito à igualdade e do respeito às diferenças (BRASIL, 2012, p. 18).

Nesse sentido veremos mais a frente grandes avanços da educação do campo a partir da instauração da nova LDB em 1996, em relação obrigações do Estado sobre as especificidades do campo.

Em relação ao Estado do Ceará segundo Brasil (2012), a Constituição estadual (1989) deixa claro ser dever do estado instalar em cada microrregião uma escola técnica agrícola que trabalhe currículo, calendário, e cultura dos povos do campo. A constituição destaca o artigo 231 como regulador das escolas rurais. 35

A Constituição do Ceará, no § 6º do artigo 231, determina que as escolas rurais do Estado devem obrigatoriamente instituir o ensino de cursos profissionalizantes. O § 8º do mesmo artigo, norma de característica programática, prevê que, em cada microrregião do Estado, será implantada uma escola técnico-agrícola, cujos currículos e calendários escolares devem ser adequados à realidade local (BRASIL, 2012, p. 22). Isso inclui também profissionais treinados para exercer um trabalho que valorize a vida no campo, bem com ofertar infraestrutura que contemple de forma adequada à comunidade escolar. Mesmo existindo uma legislação que normatize a educação do campo ainda existem muitos profissionais atuando no campo sem formação adequada, sem material didático, materiais pedagógicos disponíveis para o trabalho que deveria ser desenvolvido no campo.

O Artigo 28, também da LDB, reforça que seja respeitada a diversidade do ensino rural.

Art. 28. Na oferta da educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação, às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente.

I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;

II - organização escolar própria, incluindo a adequação do calendário escolar as fases do ciclo agrícola e as condições climáticas;

III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. (BRASIL, 2012, p.25). A LDB viabiliza o suporte legal para o desenvolvimento da educação do campo no Brasil, desde os conteúdos, organização da escolar e questões climáticas de cada região.

Entretanto segundo Nogueira e García (s.n), na prática a educação no campo não tem um currículo específico para atender as necessidades das populações camponesas, encontrado dificuldades em produzir materiais didáticos adequados, muitas vezes utilizam um currículo e material didático criado para as escolas e o ensino urbanos, fazendo com que prejudique a disseminação dos ideais camponeses, os sujeitos do campo não participam do seu processo de aprendizado. Desse modo podemos questionar se a educação tem servido para a ampliação da práxis, ou tem cooperado para fazer progredir a cultura da burguesia? 36

A LDB ainda acrescenta no artigo 26, que seja criada uma base nacional comum de formação no que se refere ao conhecimento sistematizado, conhecimento formal, porque os povos do campo necessitam receber conhecimento elaborado assim como no meio urbano, porém sem deixar de trabalhar com a base diversificada que trabalhe as questões referentes ao campo como, por exemplo, o cultivo de cereais, a história da comunidade e tantos outros assuntos pertinentes à vida no campo. Sobre o Artigo 26, fica claro como deve ser a Base Nacional Comum.

Art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela (BRASIL, 2012, p.26). Os artigos 26 e 28, mostram que devemos sim demarcar o território rural e o urbano, porém sem deixar de ver o nacional, sem deixar de ver o global, como destaca Carvalho (2006).

Assim, a Lei n° 9.324 de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no capítulo II que trata da Educação Básica em seu artigo 28, confere independência às escolas rurais em relação às urbanas, estipulando que os sistemas de ensino tenham organização escolar própria, adequando conteúdos curriculares, metodologia e calendário escolar às reais necessidades, interesses e à natureza do trabalho dos alunos da zona rural (CARVALHO, 2006, p. 96,97).

Além da LDB dispomos das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo em seu artigo 2º fica explicito como deve ser trabalhada a educação do campo mostrando que os saberes dos indivíduos devem ser considerados, bem como suas memórias e culturas.

Deste modo, o currículo da escola do/no campo devera ser orientado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, sobre o artigo 5º da LDB, a educação do campo fica a cargo das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), assim fica estabelecido:

Parágrafo único. Para observância do estabelecido neste artigo, as propostas pedagógicas das escolas do campo, elaboradas no âmbito da autonomia dessas instituições, serão desenvolvidas e avaliadas soba orientação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e a Educação Profissional de Nível Técnico (BRASIL, 2012, p. 34). 37

Ainda sobre as regulamentações para educação do campo, o currículo de uma escola do campo deve ter como base o Plano Nacional de Educação (PNE) que segue as orientações do currículo nacional, de forma que os sujeitos do campo devem ter acesso ao conhecimento formal que é de fundamental importância para a formação intelectual do mesmo, bem como deve ter em seu currículo as disciplinas da base diversificada voltado para cada realidade, tendo como base o aprendizado de técnicas que o auxilie no trabalho do campo.

O plano curricular expõe como deve funcionar o ensino nas escolas do campo.

No desenvolvimento metodológico em que o aluno executa um Plano de Estudo, temos o período das semanas na propriedade ou no meio profissional, oportunidade em que o jovem discute sua realidade com a família, com os profissionais e provoca reflexões, planeja soluções e realiza experiências em seu contexto, irradiando uma concepção correta de desenvolvimento local sustentável; enquanto isso, no período em que o aluno permanece em regime de internato ou semi- internato no centro de formação, isto é, a escola, tem oportunidade de socializar sua realidade sob todos os aspectos, embasada em pesquisas e trabalhos teóricos e práticos que realizam nas semanas em que permaneceram com suas famílias. Tudo isso é desenvolvido com o auxilio de monitores (formadores), de forma que o aluno levanta situações vivenciadas na realidade familiar, busca novos conhecimentos para explicar, compreender e atuar, partindo do senso comum para alcançar o conhecimento cientifico (BRASIL, 2012, p. 43). O aluno tem a possibilidade de compartilhar com seus familiares saberes elaborados e adquiridos na escola podendo ajudar a desenvolver a atividades familiares, seja ela agricultura, pesqueira, quilombola dentre outras, bem como levar seu conhecimento muitas vezes sincrético outras vezes sintético sobre determinando assunto que o aluno domine melhor que o professor, (Saviani, 1983).

2.2- A EDUCAÇÃO DO CAMPO COMO FERRAMENTA DE LUTA

A partir do início da década de 1980, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começou a organizar trabalhadores rurais com a bandeira da Reforma Agrária e de uma educação diferenciada para o campo (MOLINA, 2010). O MST acrescenta a sua luta a educação do campo porque entende que os sujeitos 38

envolvidos no processo de luta somente se emancipam mediante uma educação transformadora que perceba as necessidades do campo e que contribua para o rompimento da lógica capitalista. Conforme Molina (2010) o MST dá início o seu trabalho de educação dentro dos assentamentos e parte em busca de seus direitos.

O movimento inicia um movimento no interior dos acampamentos e dos assentamentos conquistados, por uma educação em novas bases. No conjunto de suas reivindicações por terra, produção, comercialização, agrega o direito à educação básica, que depois se estende à educação profissional e universitária, para o conjunto da população “sem-terra”. Exercita as primeiras experimentações de uma Educação do Campo que reúne componentes políticos, trazendo a relação direta entre educação e direito, entre educação e cidadania, entre educação e modos de vida e cultura, entre educação e trabalho (MOLINA, 2010, p. 46). O movimento entende que a educação dos sujeitos é indispensável para que outras conquistas como a terra venham, e entendendo que a educação também é um dos direitos dos camponeses todos passam pelo processo de ensino desde as crianças, jovens até os adultos.

O campo sempre foi visto de modo atrasado em relação à cidade, desde o período da revolução industrial na Inglaterra no século XVIII serviu de modelo para o desenvolvimento econômico em vários países, assim tivemos a migração de pessoas do campo para a cidade em busca de emprego nas indústrias, surgiu à dicotomia campo/cidade a qual persiste até os dias atuais, fato confirmado com as Constituições citadas onde passa despercebida uma necessidade tão urgente quanto à educação do/no campo.

Destacamos a importância de compreendermos o contexto histórico da educação do campo dentro da educação brasileira, para podemos perceber as incoerências que existem hoje dentro do que dizem as leis que regulamentam a educação e o que se vê na realidade dentro dos assentamentos, em relação a real função da educação escolar em áreas de reforma agrária (CALDART, 2009).

A educação do campo é situada socialmente, ela utiliza a práxis para buscar seus objetivos, na disputa de luta de classes envolvendo latifundiários e camponeses. O modelo de educação surge das experiências entre as batalhas travadas entre classes sociais, e nas organizações em movimentos sociais. Ela tem seu início desde a formação pedagógica radical até as politicas públicas 39

governamentais. Procurando sempre lutar pelo acesso dos trabalhadores ao conhecimento, procurando descentralizar o modelo tradicional de dominação que a escola oferece. Buscando fazer com que os seus participantes tornem-se críticos e possam emancipar-se da reprodução capitalista. Dessa forma ela encontra grandes desafios em cumprir seus objetivos diante do modelo educacional vigente no país. A discussão sobre modelo de uma Educação do Campo faz-se necessário e urgente, levando em conta a demora em sua inserção no sistema de educação brasileiro, além de ser pertinente ao momento atual de crise estrutural da sociedade capitalista, ao qual estamos inseridos, possibilitando fazermos um balanço sobre as politicas vigentes para a educação do campo no Brasil, dessa forma podendo encontrar saídas para seu desenvolvimento. Apresentando papel fundamental no desenvolvimento crítico dos camponeses diante da sociedade que procura a todo custo negar, silenciar, ocultar a liberdade dos oprimidos, deixando-os fora do processo de humanização da sociedade, como podemos perceber pela atrasada legislação criada para atender a educação do campo. A educação do campo representa para os assentados e para os movimentos sociais uma nova forma de organização e de luta, indispensável para o desenvolvimento do campo. O livro “Por uma educação básica do campo” vem trazendo a tona a situação da educação no meio rural. Nos documentos oficiais sobre educação no Brasil, a população rural aparece apenas como dado. São números citados de uma população esquecida. São apenas quantidades ou, no máximo, referências marginais e pejorativas. É como se a diferenciação entre rural e o urbano não fizesse mais sentido, uma vez que a morte do primeiro já estaria anunciada. É preciso entender em que contexto essa compreensão vem sendo formulada e quais as possibilidades que existem de se reverter essa lógica. (ARROYO, 1999, p. 30). O campo ainda é visto de forma arcaica, sem cultura, lugar onde só existem pessoas leigas e que não necessitam receber uma educação formal, sistematizada, mesmo nos documentos oficiais e leis.

Muitas vezes os alunos das zonas rurais têm que se deslocar até a sede da cidade para cursar em especial o ensino médio. Mesmo com as grandes lutas travadas pelos movimentos sociais, ainda tem pouca oferta do ensino médio no campo, contamos apenas com o ensino fundamental I e II, nem as pré-escolas temos oferta, quando esses alunos vão estudar nas sedes são estigmatizados, 40

tratadas como pessoas diferentes, são considerados incapazes de acompanhar o ensino ofertado na instituição, algumas vezes são obrigados a ficarem em salas separadas das outras turmas.

Portanto, discutir sobre educação do campo não se resume em discutir apenas currículo, ensino ou sujeitos do campo. Vai muito além, engloba uma discussão sobre o campo hoje e também sobre seus antecedentes. Na discussão que a educação do campo está inserida deve- se discutir a construção de uma educação que supere a dicotomia entre campo/cidade. Que tenham como finalidade o projeto de desenvolvimento do campo, não nos moldes capitalistas, mas sim numa perspectiva emancipadora dos sujeitos envolvidos.

As palavras de István Mészários no livro “A educação para além do capital” (2008) nos dá uma idéia de qual seria a educação esperada para a classe trabalhadora, segundo o autor apenas a mais ampla das concepções de educação nos pode ajudar a perseguir o objetivo de uma mudança verdadeiramente radical, proporcionando instrumentos de pressão que rompam a lógica mistificadora do capital (2008, p.48.), essa é a ideia de educação defendida pelos camponeses e intelectuais envolvidos nos processo de luta pela educação do/no campo.

O autor ainda deixa bem claro qual é o objetivo da educação junto aos sujeitos envolvidos nessa ação.

Educação não é a mera transferência de conhecimento, mas sim conscientização e testemunho de vida. É construir, libertar o ser humano das cadeias do determinismo neoliberal, reconhecendo que a história é um campo aberto de possibilidade (MÉSZÁRIOS, 2008, p. 13). Quando discutimos educação do campo estamos discutido uma concepção de desenvolvimento tanto do campo como dos sujeitos. Assim se explica no documento “Por uma Educação básica do Campo”.

Esta- se defendendo a reforma agrária e uma politica agrícola para a agricultura camponesa. O propósito é conceber uma educação básica do campo, voltada aos interesses e ao desenvolvimento sociocultural e econômico dos povos que habitam e trabalham no campo, atendendo às suas diferenças históricas e culturais para que vivam com dignidade e para que, organizados, resistam contra a expulsão e a expropriação, ou seja, este do campo tem o sentido do pluralismo das ideias e das concepções pedagógicas. (ARROYO, 1999, p. 28). 41

Defendemos que seja feita uma reforma agrária do Brasil que resolva as desigualdades entre latifundiários e trabalhadores, isso irá se refletir na educação almejada pelos sujeitos envolvidos na luta pela mudança de paradigmas sobre isso Fernandes destaca que:

Um dos argumentos utilizados para declarar que no Brasil não há reforma agrária é o fato de que em torno de 50% das terras dos assentamentos serem resultado de regularização fundiária e não de desapropriação, que corresponde a apenas 31%. A regularização, a compra e a desapropriação são procedimentos que deveriam levar a desconcentração. Todavia, neste sentido, no Brasil a experiência da reforma agrária é extremamente conservadora, pois não há desconcentração exatamente pelo fato de a maior parte das terras terem sido regularizadas, ou seja eram terras de posseiros que passaram a ser assentados ou eram terras públicas ou griladas que foram regularizadas. (FERNANDES, 2012, p. 04). Deste modo o Brasil ainda não fez uma reforma agrária que atenda as expectativas dos camponeses, como afirmam Fernandes e Stedile (2012) membro da coordenação nacional do MST.

Quando se fala em educação do campo estamos falando de um conjunto de trabalhadores e trabalhadoras, camponeses, indígenas, quilombolas e também pessoas vinculadas ao meio rural, assim quando discutimos sobre campo estamos resgatando o conceito de camponês que inclui uma grande diversidade de sujeitos que geralmente está associada a um sujeito atrasado, e sem cultura.

2.3- ANTECEDENTES DA EDUCAÇÃO DO CAMPO: AS EXPERIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO RURAL NO CEARÁ

A história da Educação do Campo no Ceará esta vinculada ao MST, já que para o movimento não é necessário apenas obter a terra, é necessário também que se compreenda o processo de exploração, e de negação que os camponeses vivenciam, deste modo faz parte dos objetivos do movimento lutar pela terra e por direitos sociais entre eles a educação.

Segundo Carvalho (2006) em 1987 o MST pressionado pelas famílias e professores criou um setor de educação, porém somente em 1995 a educação passou efetivamente a ser declarada entre as pautas principais como luta contra o 42

latifúndio do saber. Entretanto é importante salientarmos algumas experiências desenvolvidas pelo Estado do Ceará para a ampliação da educação rural que serviu como base para que a luta pela Educação do Campo existisse no Estado.

De acordo com Ibanez (2017)3 coordenadora da Diversidade e Inclusão Educacional (CODEA) do Ceará existiram alguns programas no estado na tentativa de ampliar o acesso a educação escolar sistematizada tanto para crianças como para formação de docentes da zona rural. A mesma destaca ainda a grande influência exercida pelo Banco Mundial através do financiamento desses programas. Segundo ela na década de 1980 focaram na Educação Rural do Ceará, o Programa de Educação para Zona Rural- 1980-1981 (PRORURAL), Programa Nacional de Ações Socioeducativas e Culturais para o Meio Rural- 1980-1983 (PRONASEC) e o Programa de Expansão e Melhoria da Educação no Meio Rural no Nordeste- 1981- 1985 (EDURURAL). Calazans (1993) além de no mesmo período ter existido ainda o Promunicípio. Segundo a entrevistada existe um silencio muito grande na história da educação rural e do campo no estado.

Realmente é um hiato muito esquisito até. Estranho. Por que, que vozes são tão apagadas da História da Educação do Campo? Ou mesmo em torno da Educação Rural. Por que até o silêncio vai ser uma contação de histórias hein, interessante do Estado, por que. O porquê desse silêncio. Por que não se tem registros (IBANEZ, 2017).

Esses programas foram importantes porque mesmo apresentando limitações tentaram pensar os povos do campo. A coordenadora Ibanez relata a importância desses movimentos que aconteceram na década de 19804 no Estado.

A década de 80, o processo de redemocratização do país, do que aconteceu aqui, ensino rural, e o período da regionalização do livro didático no país. E o Ceará entrou forte nisso. O nordeste todo. Praticamente o Ceará. Então, aquele período que eu tenho um pouco da História, a gente faz articulações com um contexto político, econômico. Então a gente pode contar alguma coisa disso. O Marcelo Farias, hoje Secretário de Educação de Maracanaú, que foi o meu coordenador na área, existia toda aquela estrutura, aquele foco no ensino rural era uma coisa assim impressionante. Na década

3 Entrevista realizada em 12 de janeiro de 2017 com a Coordenadora da CODEA Prof.ª Nohemy Rezende Ibanez na sede da SEDUC-CE.

4 O Banco Mundial é um grupo de instituições financeiras cujo principal objetivo em incentivar o crescimento económico, na década de 1980 suas se voltaram prioritariamente para as zonas rurais do Brasil. 43

de 80, esse Estado do Ceará viveu um momento muito interessante. Para você ter uma ideia, eu entrei em 81 nesse grupo de educação para zona rural e fiquei até 87 aqui. E exatamente quando entrou a professor André Huguette. (IBANEZ, 2017).

O PRORURAL foi uma experiência desenvolvida em diversos Municípios do Estado do Ceará entre os anos de 1980 e 1981. Contou como parceiros a Secretaria de Educação do Estado e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) com o objetivo de oferecer uma formação inicial aos povos do campo.

A coordenadora acrescenta que a década de 1980 se destacou na Educação do Estado do Ceará

Aquele período era de uma efervescência muito grande. Interessante, descobrir o porquê do interesse tão profundo desse Banco Mundial com a Educação Rural. Impressionante! Por que também foi uma década de muito investimento nas estruturas municipais. As estruturas municipais de ensino estarão se formando. Por exemplo, municipalização do Ensino, muitas ações convergentes, logo depois do PRORURAL. Pra você ter uma idéia ainda teve em 1987, ainda em um período de seca. Outra coisa interessante daqueles períodos que gestaram o programa de combate às secas do Tasso Jereissati. Pois eu não sei, só mesmo compreendendo a dialética das coisas e a contradição das coisas (IBANEZ, 2017).

Ela explica como funcionava o PRORURAL e as “políticas públicas” da época.

O estado fez uma experiência de municipalização do ensino, transferindo diretamente os recursos do salário da educação para os municípios. Então foi assim, uma tentativa por que caiu o PRORURAL, foi um negócio brabo por que era muito dinheiro nesse estado. Mas era muito. Nos tínhamos no comecinho do ano nesta secretaria era uma festa. Se fazia uma grande solenidade, se chamavam todas as prefeituras do Estado, especialmente, as que faziam parte do convênio com a Secretaria da Educação. Eu me lembro que o Cariri, todos os municípios do Cariri, grande parte do Sertão Central, grande parte do baixo médio Jaguaribe, não era todos, mas assim a maioria. Boa parte recebia recursos, diretamente recursos do BIRD5, a outra parte era fim social. Outra parte vinha

5 Sugundo Altmann (2002), Desde 1990, o BIRD tem declarado que seu principal objetivo é o ataque à pobreza. Para isso, suas duas principais recomendações são: uso produtivo do recurso mais abundante dos pobres – o trabalho – e fornecimento de serviços básicos aos pobres, em especial 44

pelo PROTERRA, à outra pelo Banco do Nordeste. Ai eles vinham assinar um convênio, sabiam no começo do ano que tinham tanto milhões pra infraestrutura, tanto milhões para isso e para isso. Então no começo do ano este instrumento político e do poder. Assim, vigoroso, robusto demais.

Celebrava-se e durante o ano esse programa de educação para zona rural. Cuidava de que os repasses fossem feitos mensalmente, ou trimestralmente para determinadas ações. Então do começo ao final do ano os municípios eram calçados em suas redes municipais com este belo aporte do BIRD. Então assim foi um período de muito dinheiro. Muita injeção de recursos nos municípios. Isso claro o conteúdo político (IBANEZ, 2017).

A partir da fala da professora podemos perceber que os investimentos tinham sobretudo um viés assistencialista e político, não existia intenção de criar uma politica pública para o campo, uma política pública permanente que realmente pudesse resolver os problemas dos povos do campo. Vimos que o BIRD investiu pesado no campo brasileiro com o intuito de desenvolver os a logica mercantil no campo. Os objetivos do programa PROTERRA eram:

Concorre para promoção do homem no Meio Rural...; Assegurar aos docentes da zona rural a melhoria de seu nível de qualificação conjugando ações e garantindo a manutenção dos níveis atingidos e a melhoria do processo ensino aprendizagem; Elevar o nível de escolaridade da população rural na faixa etária de 07 a 14 anos, proporcionando gradativamente escolaridade até a quarta serie; Promover a formação de profissionais de nível médio para o setor primário, bem como a qualificação de mão de obra, indispensável ao desenvolvimento da zona rural; (CEARA, 1983, p. 17-18).

Outro projeto que apresentava objetivos semelhantes foi o Programa Nacional de Ações Socioeducativas e Culturais para o Meio Rural- 1980-1983 (PRONASEC), o projeto objetivava a descentralização, execução e avaliação das propostas educacionais e propunham um trabalho conjunto envolvendo educadores, educandos, famílias e equipes estaduais e municipais.

Em parceria com o IICA e com Secretaria de Planejamento e Coordenação do Estado do Ceará foi implantado o PRONASEC. No decorrer do programa foram realizados seminários com a participação da Secretaria da Educação, Secretaria da Saúde, EMATERCE, FUNSESCE e INCRA com o intuito de ajudar os trabalhadores rurais ainda não organizados. Foram realizadas reuniões de

saúde elementar, planejamento familiar, nutrição e educação primária. Nesta visão, o BIRD considera o investimento em educação a melhor forma de aumentar os recursos dos pobres. 45

estudo em seis unidades bases (Baturité, Ibiapaba, Cariri, Inhamuns/ Salgado e Litoral) servindo de ponto de apoio para vinte e sete Municípios do Estado (CALAZANS, 1984).

O Programa de Expansão e Melhoria da Educação no Meio Rural no Nordeste- 1981-1985 (EDURURAL) contribuiu com a formação para dos trabalhadores das zonas rurais. De acordo com o DECRETO Nº 85.287 DE 23 DE DEZEMBRO DE 1980, foi criado o EDURURAL - NE e dá outras providências.

Art. 1º - Para dar cumprimento aos compromissos constantes do Contrato MEC /BIRD nº 1867/BR/1980, celebrado em 18 de julho de 1980 entre o Governo da União e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), fica instituído no Ministério da Educação e Cultura o Programa de Expansão e Melhoria da Educação no Meio Rural do Nordeste - EDURURAL-NE. Art. 2º - O EDURURAL-NE terá como objetivo a expansão das oportunidades educacionais e a melhoria das condições da educação no meio rural do Nordeste, bem como o fortalecimento do processo de planejamento e administração educacionais6.

Na década de 1980 com o despertar do direito de uma educação para todos, o Governo Federal se viu pressionado a desenvolver ações na tentativa de ampliar o acesso a educação. O programa foi possível através de empréstimos contraídos ao Banco Mundial. Segundo Gomes Neto o objetivo do era:

Ampliar o acesso das crianças a escola primaria, reduzir o desperdício dos recursos adicionais com a diminuição das taxas de repetências e evasão, melhorando assim o fluxo doa alunos através do sistema escolar, e melhorar o rendimento escolar dos alunos com a oferta de instrução de melhor qualidade (GOMES NETO, 1994, p. 47).

Na segunda metade da década de 1980, a educação rural do Ceará foi contemplada pelo Programa Escola Ativa que foi implementado no Brasil em 1997 e 1998. O projeto foi baseado numa experiência Colombiana, voltado especificamente para as salas multisseriadas e unidocentes, realidade essa que está associada à zona rural. O Programa Escola Ativa foi aplicado às escolas do campo, em especial

6Disponivel em http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=199692&norma=213598. Acesso feito em 06 de fevereiro de 17.

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àquelas situadas na Região Nordeste, compondo as ações da política nacional de Educação do Campo (GOMES, 2016).

Os programas acima descritos nos dão a idéia de quais eram os objetivos da educação rural ofertada para os trabalhadores, um dos principais objetivos era conter a saída de pessoas das zonas rurais e capacitar, ofertar instrução básica na tentativa de aumentar a produtividade do campo, dos grandes latifundiários, ressaltando que os últimos sempre desejaram exercer controle sobre a classe trabalhadora. Mesmo com limitações a Educação Rural ofertada no Ceará foi importante para que, enfim o campo pudesse ser percebido, pudesse fazer parte da luta dos movimentos sociais e, consequentemente, da legislação.

2.4- TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃODO CAMPO NO CEARÁ

O conceito “Educação do Campo” começou a ser pensado a partir de 1998 na I Conferencia Nacional Por Uma Educação Básica do Campo, a partir do qual foi idealizado o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA).

No I Encontro Nacional do MST, que aconteceu no Paraná em 1984, o movimento já começou a se estruturar no Ceará. Desde esse encontro se intensificaram as lutas pela terra e em seguida por educação, ocorrendo em 1989 a primeira ocupação do Estado no Acampamento 25 de Maio, luta muito importante para a história do MST/CE e para a Educação do Campo, onde aconteceram muitos projetos de educação, sendo este o primeiro a receber uma escola do campo no Estado.

Após as primeiras conquistas nos anos 1990, o MST/CE vem se preocupando com as condições da educação nas áreas de assentamento e acampamentos7. Inicialmente essa preocupação era apenas com o analfabetismo,

7 Para (Caldart, 2014; Caume, 2002; Medeiros, 2003 apud, Figueiredo 2014, p. 563) o acampamento é um momento de ruptura na vida dos indivíduos que dele participam, pois indica não somente o ingresso em uma luta, mas o rompimento com uma posição passiva frente à situação de pauperização e marginalização vivida pelo indivíduo. Já o assentamento de trabalhadores rurais tem sido a principal resposta do Estado à pressão exercida pelos movimentos sociais demandantes por reforma agrária, no caso do Brasil. 47

depois passou a ser com os Sem Terrinhas8, ensino médio e posteriormente com o nível superior. Diante dos altos índices de analfabetismo dentro dos assentamentos e das condições do ensino ofertado para as áreas rurais o movimento começou a buscar saídas para sanar esses problemas. Adiante iremos mostrar as conquistas obtidas pelo movimento em relação a educação do campo.

Uma das primeiras conquistas do movimento em relação a educação foi a implantação do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, criado em 6 de abril de 1998, através da Portaria n° 10/98. O PRONERA conforme Carvalho (2006, p. 119) “[...] foi instituído no ápice das lutas por educação do campo e traduz uma demanda de ações educativas concretas em áreas de reforma agrária”.

No Ceará, o PRONERA começou a ser debatido em 1997 e no ano seguinte iniciou os trabalhos, Carvalho (2006) acrescenta que em julho de 1998, quando o PRONERA foi instituído, constituiu-se uma Coordenação Estadual, com a participação de representantes do MST, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Ceará (FETRAECE) e de Instituições de Ensino Superior: Universidade Federal do Ceará, Universidade Estadual do Ceará e Universidade do Vale do Acaraú (Carvalho, 2006.), a participação das universidades foi muito importante possibilitando o acesso aos municípios mais distantes da capital do Estado. Alencar (2010) descreve as inúmeras conquistas obtidas através do programa para os camponeses do Ceará.

Já foram alfabetizados mais de 4 mil jovens e adultos das áreas de assentamentos e acampamentos. O Programa também financia cursos de graduação nas Universidades estaduais e federais. Neste Programa já se formaram mais de 500 estudantes que atuam nas escolas dos assentamentos cearenses. Foram seis turmas de Magistério da Terra, em parceria com a UECE, e duas turmas de Pedagogia de Terra, em parceria com a UFC. Outro curso de nível superior conquistado pelo MST Ceará, foi o curso de Jornalismo da Terra, com a primeira turma iniciando em janeiro de 2010, em parceria com a UFC e o INCRA. Ingressaram no Curso 60 educandos e educandas provenientes dos assentamentos, a duração do curso será de quatro anos e as aulas serão dadas por professores do curso de Comunicação Social da Universidade (ALENCAR, 2010, p. 145).

8 Expressão utilizada pelo MST para designar crianças de 06 a 12 anos filhas dos assentados ou acampados. 48

O programa vem avançando no estado e conquistando espaço, Carvalho (2006) acrescenta que na UECE, o PRONERA9 é reconhecido em 27 de dezembro de 2005, quando foi assinado convênio com o INCRA, para realização de três projetos: Escolarização de Trabalhadores em Área de Assentamento I e II e Magistério da Terra.

Através da luta incansável dos movimentos e dos camponeses em 2003, outra grande conquista foi possível para a Educação do Campo quando criado através do MEC um Grupo Permanente de Trabalho (GPT) que possibilitou a ampliação dos debates sobre a politica da educação do campo. Também foram elaborados as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo através da Resolução nº 1, de 3 de abril de 2002, CNE/CEB. A elaboração das Diretrizes colaborou para a ampliação e consolidação da Educação do Campo no Ceará, no artigo 2º trata da integração as Diretrizes Curriculares Nacionais.

Art. 2º Estas Diretrizes, com base na legislação educacional, constituem um conjunto de princípios e de procedimentos que visam adequar o projeto institucional das escolas do campo às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e Médio, a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Especial, a Educação Indígena, a Educação Profissional de Nível Técnico e a Formação de Professores em Nível Médio na modalidade Normal (BRASIL, 2002).

As Diretrizes Operacionais para Educação Básica nas Escolas do Campo tratam em seu conteúdo completo da identidade, responsáveis financeiros, propostas pedagógicas, organização escolar, financiamentos, formação continuada, remuneração dos docentes dentre muitos outros assuntos que envolvem o processo de ensino e aprendizagem.

Mais uma conquista foi da criação da Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade (SECAD) no MEC, a qual 2004, passaria a chamar SECADI sendo então criada teve como objetivo responsabilizar-se por políticas e programas vinculadas as demandas dos movimentos sociais: Relações raciais e étnicas, da educação de jovens e adultos, da educação do campo, das pessoas com necessidades especiais e a educação na modalidade a distância. Significa a inclusão na estrutura estatal federal de uma instância responsável, especificamente,

9 Inicialmente houve apresentação de projeto de alfabetização em 1998, o qual não prosseguiu devido problemas burocráticos. 49

pelo atendimento dessa demanda a partir do reconhecimento de suas necessidades e singularidades (BRASIL, 2004).

A SECADI (2011) no estado do Ceará fortaleceu muito mais a luta dos movimentos. Em 2007 foi criado na Secretaria de Educação do Estado do Ceará, a coordenadoria da Diversidade e Inclusão Educacional- CODEA que hoje tem como Coordenadora a professora Nohemy Rezende, sediada na SEDUC- CE sendo responsável pela Educação Ambiental, Educação Indígena, Educação do Campo, Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Diversidade Étnico Racial, Diversidade Sexual, e assegurar as crianças, jovens e adultos, o direito a ter direitos e a aquisição de saberes para o exercício da cidadania. Sendo possível criar uma estrutura para debater a educação do campo no Estado, a partir daí começaram a pensar seminários, formações voltadas para a temática, construiu-se uma estrutura física e humana para atender as demandas dos povos do campo, deu-se inicio o processo de luta pela construção de escola do/no campo.

Através da luta constante do MST aconteceu em todo o Brasil a Jornada de Luta pela Reforma Agrária em 2007, onde foram realizadas marchas, ocupações de latifúndios improdutivos, protestos em prédios públicos, fechamento de praças de pedágios e de estradas em 24 estados, resultado da luta a conquista da Resolução CNE/CEB nº 02, de 28 de abril de 2008, iniciando- se concretizar o compromisso de construção de escolas de nível médio para os assentamentos rurais nos Estados. No Ceará mais um passo significativo para os povos do campo no Ceará com criação do Curso de Licenciatura em Educação do Campo, da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM) localizada em Limoeiro do Norte. Fazendo parte do Programa de Apoio à Formação Superior em Educação do Campo através da RESOLUÇÃO Nº 705/09-CONSU, de 22 de dezembro de 2009, uma parceria entre PROCAMPO / SECAD / MEC. A proposta é de um curso regular com duração de quatro anos que formaria professores para a docência nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio nas escolas localizadas em áreas rurais. Também ficando responsável pela formulação de políticas públicas de combate as desvantagens educacionais históricas, enfrentadas pelas populações rurais, e valorização da diversidade nas políticas educacionais. A proposta foi pensada pelos 50

professores da FAFIDAM José Ernandi Mendes, Sandra Maria Gadelha de Carvalho e Lúcia Helena de Brito (UECE, 201010).

Mais uma grande conquista foram as escolas do campo, Conforme a SEDUC o Ceará reconhece11 como legitima a luta do MST por educação e tem projetos de ampliação das escolas do campo.

O Ceará possui em sua rede de ensino 29 escolas de ensino médio regular, localizadas na zona rural, com uma matrícula atual de 10.680 alunos. Destas, cinco escolas estão em assentamentos nos municípios: (Assentamento Maceió); (Assentamento Pedra e Cal); Madalena (Assentamento 25 de Maio); (Assentamento Santana); (Assentamento Lagoa do Mineiro). Essas unidades garantem o direito à educação dos jovens nas próprias comunidades. O Estado reconhece, assim, a luta do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Ceará (Fetraece) por ampliação e qualificação da oferta de ensino médio às populações do campo. Está ainda prevista a construção de sete escolas do campo, das quais três são Escolas Famílias Agrícolas/EFA no modelo da EFA Dom Fragoso, localizada em Independência (CEARÁ, 2013). No Estado do Ceará foi beneficiado no então Governo de Cid Gomes (2007- 2014), a pressão do MST e Fetraece, conquistou o compromisso de construção de 12 escolas do campo. Atualmente apenas sete já estão funcionando e cinco escolas ainda então em construção. A seguir as escolas que estão funcionando, ano de inauguração, assentamento onde estão instaladas, CREDE pertencente, cidade e a relação de matriculas das mesmas de 2011 a 2016:

a) Escola de Ensino Médio Florestan Fernandes, inaugurada em 2010; Assentamento Santana CREDE 13- Monsenhor Tabosa; b) Escola de Ensino Médio Maria Nazaré Flor, inaugurada em 2010, Assentamento Maceió, CREDE 02- Itapipoca; c) Escola de Ensino Médio João dos Santos de Oliveira, inaugurada em 2010, Assentamento 25 de Maio, CREDE 12- Madalena; d) Ensino Médio Francisco Araújo Barros, inaugurada em 2011, Assentamento Lagoa do Mineiro, CREDE 03- Itarema;

10 http://www.uece.br/uece/index.php/noticias/1191-movimentos-sociais-do-interior-ganham-curso-de- licenciatura-plena. 11 A SEDUC-CE reconhece como legitima a luta do MST em sua pagina digital. Disponível em http://www.seduc.ce.gov.br/index.php/205-desenvolvimento-da-escola/diversidade-e-inclusao- educacional/educacao-do-campo/11295-educacao-do-campo 51

e) A escola do Assentamento Pedra e Cal que é organizado pela Fetraece, Escola de Ensino Médio Padre José Augusto Régis Alves, inaugurada em 2012, CREDE 11- Jaguaretama; f) EEM José Fideles de Moura, Assentamento Conceição Bonfim, no Município de Santana do Acaraú, inaugurada em 2016, CREDE 6 – Sobral; g) EEM Patativa do Assaré, Assentamento Santana da Cal, no Município de Canindé, inaugurada em 2016, CREDE 7 – Canindé.

Quadro 1- Matrícula escolas do campo de ensino médio da rede estadual, em áreas de assentamento, por crede, município e ano.

CREDE MUNICIPIO ESCOLA 2011 2012 2013 2014 2015 2016

02 ITAPIPOCA EEM Maria 622 570 400 413 351 325 Nazaré de Sousa 03 ITAREMA EEM 398 380 425 402 287 278 Francisco Araújo Barros 06 SANTANA DO EEM José - - - - - 96 ACARAU Fidélis de Moura 07 CANINDÉ EEM Patativa - - - - - 367 do Assaré

11 JAGUARETAMA EEM Pe. 130 147 133 167 140 120 José Augusto Régis Alves 12 MADALENA EEM João 181 173 174 202 173 166 dos Santos de Oliveira 13 MONSENHOR EEM 155 133 123 115 104 169 TABOSA Florestan Fernandes Fonte: Ceará, 2016 Quadro 2- Relação de matriculas escolas do campo- 2011- 2016

ANO 2011 2012 2013 2014 2015 2016 MATRÍCULA TOTAL 1486 1403 1255 1299 1055 1521

Fonte: Ceará, 2016 52

Os números em relação as escolas do campo vem crescendo significativamente, porém mesmo com as conquistas no Estado do Ceará ainda temos que lutar muito mais para ver todas as escolas em pleno funcionamento, e buscar que outros assentamentos possam também ser beneficiados com escolas do campo de ensino fundamental e pré-escolas.

Em 2014, continuaram as conquistas e foi elaborado o Programa Escola da Terra no Ceará, projeto de aperfeiçoamento e formação de educadores para escolas do campo e de comunidades quilombolas, através de convênio entre o MEC, UFC e SEDUC/CE e os municípios (, Canindé, Cascavel, , , , Icó, Independência, Itapipoca, Itarema, , Orós, , Quixadá, Quixeramobim, Tauá, Tamboril, Santa Quitéria e São Luís do Curu) que aderiram ao Programa. O curso tem como objetivo promover a formação docente crítica, com visão ampliada de mundo, da sociedade brasileira, dos processos sociais contemporâneos e a compreensão do campo, com sua história, seus valores, sua cultura, seus saberes e sujeitos e seus determinantes históricos, políticos, culturais e econômicos (GOMES, 2016).

2.5- AVANÇOS E DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO CEARÁ NA ATUALIDADE

Hoje a educação do campo no Ceará dispõe de uma estrutura estatal que a representa, o que assegura percebê-la como uma politica pública que é. Através dos debates envolvendo os movimentos socias e universidades e camponeses tem- se pensado em maneiras de discutir os problemas vivenciados pela Educação do Campo na prática, dentro das instituições. A partir da demanda criada pelas escolas do/no campo a SEDUC juntamente com CODEA passaram a realizar seminários para discutir a realidade das escolas do/no campo. 12

12 De acordo com Carvalho (2006) aconteceram eventos no Ceará partindo da iniciativa do Ministério da Educação na tentativa de ampliar a discussão e construção da proposta de Educação do Campo no Ceará. Out/2003 – I Seminário Estado da Arte da Educação do Campo. Identidade e Políticas Públicas; Set/2004 – II Seminário Estadual de Educação no Campo; Jan/2005 – II Seminário Articulação por uma Educação do Campo no Ceará; Março/2006 – IV Seminário Estadual de Educação do Campo (MEC/SEDUC). (CARVELHO, 2006, p. 218.) 53

A partir de 2015, iniciou a realização de eventos com a contrapartida do Estado do Ceará sendo realizado o I Seminário de Educação Profissional das Escolas do Campo em Assentamentos que contou com a participação das CREDE 02, 03, 06, 07, 08, 11, 12, 13 e 14, MST e Instituições de Ensino Superior, acontecendo nos dias 29 e 30 de maio na EEM Maria Nazaré de Sousa, no Assentamento Maceió, Município de Itapipoca. O evento teve como objetivo identificar elementos norteadores para elaboração de um projeto de educação profissional para as escolas de ensino médio do campo, nos assentamentos de Reforma Agrária, a partir da reflexão crítica e do diálogo com experiências de educação profissional camponesas em andamento (SEDUC, 2015). 13

Foi realizado nos dias 17 e 18 de novembro de 2016 o III Seminário Estadual da Educação do Campo: a construção social de uma política para o Ceará. O evento foi organizado pelo Núcleo de Diversidade e Inclusão Educacional/Educação do Campo da CODEA e SEDUC. Contando com a participação de representantes das Escolas Estaduais de Ensino Médio localizadas no meio rural, das 20 CREDE, da SEDUC, das Associações Escolas Familiares Agrícolas (EFA), dos Movimentos Sociais e das Instituições de Ensino Superior (IES), totalizando 180 participantes.

O evento teve como objetivos criar um espaço de escuta e registros sobre a educação do campo no Ceará; registrar os desafios e as perspectivas das escolas de ensino médio localizadas no meio rural; apresentar a experiência da educação do campo em construção nas sete escolas de ensino médio, localizadas em áreas de assentamentos e seus principais resultados; mobilizar gestores, professores e alunos das escolas de ensino médio no meio rural da rede estadual, para as politicas de educação do campo e sua legislação; desenvolver coletivamente linhas estratégicas de ação para um processo de construção da politica de Educação do Campo no Estado do Ceará.

Participaram ativamente do evento 9 escolas localizadas no meio rural ou que atendem a alunos que residem no meio rural, e estiveram presentes as sete

13 O II seminário por falta de dados não informamos sobre sua realização.

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escolas do campo do Ceará: E.E. M Dr. José Euclides Ferreira Gomes Jr – Itapipoca (Miraíma); E.E.M. Prof.ª Theolina de Muryllo Zacas- São Gonçalo, () –CE; E.E. M Miguel Carneiro da Cunha- Tianguá – CE; E.E.M. Doutro Andrade Furtado II- São Miguel, Quixeramobim – CE; E.E.M. Filha da Luta Patativa do Assaré- Canindé- CE; E.E.M Florestan Fernandes- Monsenhor Tabosa- Ce; E.E.M Padre José Augusto Regis Alves, além da E.E.E.P de Granja e da Escolas Familiares Agrícolas EFA Dom Fragoso. Representadas pelos seus diretores coordenadores e monitores, além da participação de alunos que contribuíram muito para o debate.

Cada escola teve a oportunidade de apresentar a sua história, dificuldades encontradas no cotidiano e os avanços, também puderam conhecer melhor a politica pública de educação do campo. A partir dos debates podemos perceber que ainda faltam muitas politicas públicas para incentivar o desenvolvimento da Educação do Campo no Ceará e no Brasil, faltam politicas para tornar o campo atraente, que auxilie na convivência com o semiárido na região Nordeste. Falta divulgação, é necessário realizar um processo de sensibilização com as comunidades rurais, ausência de identidade com o campo, identidade camponesa.

O seminário contou com a participação das escolas do/no campo e de professores da UECE, UFC, UFERSA, alunos do Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino- MAIE/UECE, os mesmo contribuíram teoricamente para a discussão para os passos a serem seguidos após o evento. Duas mesas redondas embasaram o debate uma delas com a temática “Dialogando crítica e politicamente com a fotografia da realidade das escolas de ensino médio no meio rural: Cenário socioeconômico do campo brasileiro e cearense”. O professor Paulo Roberto de Sousa Silva membro do MST conduziu sua fala debatendo sobre “O lugar e o papel da educação do campo e da escola do campo”. O professor Paulo elegeu três pressupostos e três questões, que guiaram sua exposição. Os três pressupostos escolhidos foram- Educação do Campo é educação; Educação é humanização; Educação escolar é educação. E as três questões foram- Que campo? Qual a relação da escola com o campo? O que é uma escola do campo? Onde discutiu a ideia de campo que estamos arraigados, o campo como um lugar atrasado, retrógrado e sem perspectivas ou um campo de possibilidades, de futuro. 55

Em seguida a professora Clarice Zientarski (UFC- Escola da Terra) tratou sobre “Conhecendo a legislação vigente e os direitos conquistados pelas lutas dos movimentos sócias da escola e da Educação do Campo”. Destacou que o atual momento de crise que o país e o mundo esta inserido é o momento ideal para discutir sobre Educação do Campo, fazendo uma breve explanação sobre os avanços que a educação do campo alcançou em relação a legislação. Salientando que as políticas públicas assim como os movimentos surgem no bojo dos conflitos. No terceiro momento do seminário aconteceu uma mesa redonda onde as escolas puderam expor suas realidades, a mesa recebeu o nome: “Construindo identidades da escola e educação do campo: As experiências em andamento- Resultados e desafios”. Logo após a coordenação do seminário organizou os participantes em segmentos: Gestores, professores, CREDE/ SEDUC, estudantes e movimentos sociais, onde cada segmento debateu sobre os desafios enfrentados em sua realidade e as proposições encontradas para esses desafios.

DESAFIOS14: a) Transporte; b) Infraestrutura; c) Lotação de professores/matriculas d) Fortalecer a proposta de Educação do Campo; e) Lei específica para EFA. f) Legislação; g) Currículo; h) Formação continuada para gestores e educadores da educação do campo; i) Adequação do PPP das escolas de educação básica da zona rural e educação do campo; j) Financiamento específico para a educação do campo; k) Acesso às escolas do campo; l) Escassez de água m) Preconceito n) Drogas

PROPOSIÇÕES: a) Estadualização;

14Elaborado a partir do relatório do evento - III SEMINÁRIO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: A CONSTRUÇÃO SOCIAL DE UMA POLÍTICA PARA O CEARÁ

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b) Adequar espaço à realidade; c) Portarias específicas; d) Formações, intercâmbios, seminários, unificação das propostas pedagógicas; e) Criação de projeto de lei para gestão das EFAs, no Ceará. f) Momentos de estudos Crede/Codea/Escola/Comunidade; g) Diagnóstico da realidade da escola do campo e formação continuada para adequar o currículo; h) Planejamento estratégico, constituição de uma equipe focada e comprometida, envolvimento da comunidade; i) Melhorar as parcerias Estado e Município com o acompanhamento do MP (TAC). j) Programa estadual de formação experiência da escola da terra e residência agrária; k) Criação de cursos de educação do campo nas universidades públicas; l) Construção de diretrizes estaduais orientadoras assegurando a autonomia das escolas; m) Concurso específico para educadores e gestores das escolas do campo, com participação das comunidades na construção dos perfis; n) Política de financiamento específica da educação do campo/EFAs respeitando a autonomia político pedagógica das escolas (PPP) e assegurando estruturas físicas adequadas. o) Prioridade de reforma e construção de estradas; p) Elaborar e garantir a execução de um plano de segurança hídrica de acordo com a realidade de cada escola. q) Responsabilidade por esfera de poder. r) Mobilização escola/comunidade. s) Formação e Fortalecimento da organicidade. t) Reutilização de água (extensivo e pessoal)/Políticas públicas. u) Subsídio e manutenção.

As escolas do/no campo, SEDUC/CREDE, movimentos socias e universidade apresentaram os principais desafios encontrados no cotidiano escolar, bem como procuraram apontar as saídas para resolução para as questões destacadas. As observações realizadas foram importantes para compreendermos que na esfera da educação do campo é necessário avançar muito, agora é importante pensar nas problemáticas que envolvem o cotidiano, a escola, pensar de que forma está sendo feito a educação do/no campo. Conforme Marcon (2012) é preciso reconhecer os avanços, mas também é necessário discutir os desafios que a educação do campo enfrenta diariamente.

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Os avanços nas políticas enfrentam esses desafios ao reconhecer o campo como um espaço sociocultural com características próprias, e os educadores precisam estar bem preparados para que, conjuntamente com a disponibilidade de materiais didático- pedagógicos adequados, seja possível transformar a escola num espaço democrático e de cidadania.

Os avanços obtidos devem-se muito à participação intensa de movimentos sociais, especialmente os movimentos que surgiram nas décadas de 1980 e 1990. As lutas por direitos sociais e econômicos foram, progressivamente, estendidas à educação. Assim, o Movimento dos Sem-Terra, organizações e movimentos indígenas e afrodescendentes, o Movimento dos Atingidos por Barragens, entre outros, foram colocando em pauta a necessidade de uma educação escolar capaz de empoderar os sujeitos nas lutas por justiça e cidadania (MORGAN, 2012, p. 102).

As conquistas obtidas pela educação do campo só foram possíveis através das lutas dos movimentos sociais, dessa forma é necessário que os movimentos estejam participando das discussões dentro das instituições no sentido de contribuir para o seu desenvolvimento, pensado as questões do cotidiano das escolas do campo. É importante destacar que a formulação das políticas é um passo inicial. Esse passo já foi dado, pelo menos em linhas gerais. O desafio é passar do plano da formulação para o aprofundamento de experiências que não podem ser pontuadas por envolverem relações que também são globais. A contribuição de experiências positivas pode dar um suporte para qualificar as pesquisas necessárias, avançar na metodologia de ensino, na elaboração de materiais adequados, na qualificação da infraestrutura, no desenvolvimento de hábitos alimentares sadios, a partir da merenda escolar produzida na própria comunidade, e na formação de professores comprometidos com a educação do campo (MORGAN, 2012, p.103).

Os seminários que estão sendo realizados pela SEDUC e movimentos tem o intuito de partilhar as experiências que estão dando certo, discutir e encontrar soluções para os problemas enfrentados pelos sujeitos do campo no processo de escolarização.

No próximo capitulo iremos situar o Município de Jaguaruana- Ceará apresentar a história do Assentamento Bela Vista e da construção da Escola Nossa Senhora do Livramento, além disso, discutiremos o projeto político pedagógico adotado pela instituição, tentando articular com a questão agrária brasileira. 58

3. CONTEXTO HISTÓRICO DO ASSENTAMENTO BELA VISTA E DAESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO

Neste capitulo iremos situar o município de Jaguaruana- Ceará, narrar a história que deu origem ao Assentamento Bela Vista e a Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Livramento. Apresentaremos a história da instituição escolar que é o objeto de estudo, além de abordarmos aspectos do Projeto Politico Pedagógico adotado pela instituição, com uma analise da questão agrária no Brasil e sua relação com a educação do campo.

3.1 SITUANDO O MUNICÍPIO DE JAGUARUANA- CEARÁ

Jaguaruana é uma pequena cidade do interior do estado do Ceará que fica localizada na microrregião do Baixo do Jaguaribe, a região do Baixo Jaguaribe está situada a nordeste do estado do Ceará, sendo composta pelos municípios de , Aracati, , Icapuí, Itaiçaba, Jaguaruana, Limoeiro do Norte, , , Quixeré, , São João do Jaguaribe e , como podemos observar a seguir.

Figura 1- Microrregiões do Baixo Jaguaribe e Litoral de Aracati.

FONTE: Scielo, 2013.

A cidade de Jaguaruana foi fundada em 04 de Setembro de 1865 e recebeu o nome de Caatinga do Góis. Sendo construída em torno do Rio Jaguaribe, 59

(assim como deu- se toda a ocupação do estado do Ceará), o rio Jaguaribe foi, assim, sendo considerado um dos principais caminhos para a ocupação e povoamento do sertão cearense (SOARES, 2000). Desde sua origem a cidade é marcada pela presença de grandes latifúndios, tendo em vista que a mesma originou-se a partir da doação de terras feita pela senhora Feliciana Soares da Costa viúva de Simão de Góis em 1761, para a construção de uma igreja que teria como padroeira Nossa Senhora Santana. Posteriormente passou a chamar-se Jaguaruana. É nessa conjuntura de grandes latifúndios e latifundiários que a cidade de Jaguaruana se constituiu, também é nesse cenário que surgiu a exploração e expropriação de camponeses seguida de conflitos por terra.

Em 1996 depois de mais de dois séculos de práticas constantes de concentração de terras em Jaguaruana, com a chegada de líderes do MST cerca de 250 trabalhadores reuniram-se com o objetivo de ocuparem a Fazenda Jobrasa- Jojoba do Brasil S.A. – produtora e exportadora de frutas tropicais, que havia decretado falência há cerca de dez anos, empresa esta que ficava localiza na Chapada do Apodi e onde hoje fica localizado o Assentamento Bela Vista. A chapada do Apodi divide os estados do Rio Grande do Norte (RN) e do Ceará (CE), e no Rio Grande do Norte está espalhada em quatro municípios: Apodi, Baraúna, Felipe Guerra e Governador Dix-Sept Rosado. No estado do Ceará a Chapada do Apodi está distribuída por cinco municípios: Alto Santo, Jaguaruana, Limoeiro do Norte, Quixeré e Tabuleiro do Norte. A chapada faz divisão entre as bacias hidrográficas dos rios Apodi e Jaguaribe.

Após três meses de atividades organizadas pelo MST, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jaguaruana, juntamente com camponeses de diversas localidades de Jaguaruana, Flores em Russas e do Rio Grande do Norte, no dia vinte e quatro de Maio de 1996, reuniram-se pessoas vindas de comunidades do município de Jaguaruana, como Curralinho da Barra, Bairro Tabuleiro, Pacatanha, Gurgel, Açude do Coelho entre outras e também vindos do município de Baraúnas no Rio Grande do Norte. Somente após alguns encontros e com a presença do Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Jaguaruana é que os camponeses sentiram- 60

se seguros para irem buscar o tão grandioso sonho: a Terra. Segundo o depoimento oral de Avani:15

Nos primeiros convites, as pessoas ficaram meio assustadas, o pessoal era leigo, não tinha conhecimento, não incorporou. O povo só veio incorporar mesmo, quando o presidente do sindicado que era Agostinho Hermenegildo, na época junto ao Zé Maria, eles vieram participar das reuniões, aí o povo sentiu mais calor, mais força, mais potência, e quando foi no dia eu batia nos peitos como um louco, já tinha tomado conhecimento que a Jobrasa estava disponível para o Assentamento, já era do governo, ai foi quando o pessoal deu o grito que ia, e foram as 19h30min. Que foi combinado desde a primeira reunião que deveriam sair à noite, que era pra amanhecer o dia lá (OLIVEIRA, 2014, apud ALMEIDA, p. 22).

Os primeiros passos em busca da terra foram seguidos de medo e de esperança, muitas famílias não dispunham de recursos por isso buscaram encontrar uma vida melhor, onde pudessem construir suas residências, trabalhar e criar seus filhos dignamente.

3.2 A OCUPAÇÃO DA FAZENDO JOBRASA HOJE ASSENTAMENTO BELA VISTA

Na conquista pela terra homens, mulheres e crianças saíram do bairro Alto na sede da cidade em caminhada rumo à fazenda Jobrasa, caminharam por cerca de 20 km, até subirem a serra onde ficava localizada a fazenda. Ao chegarem à fazenda Jobrasa os trabalhadores construíram suas barracas de lona, e passaram a viver no acampamento enfrentando muitas dificuldades, passando muita fome e principalmente sede, pois a região não dispõe de água em abundância, somente a cerca de 18 km fica localizado o Rio Jaguaribe, mais conhecido na cidade como Rio Serafim. Durante os primeiros dias o MST forneceu cestas básicas, e a prefeitura de Jaguaruana forneceu água através de carros pipas. Nos dias que seguiram a ocupação chegaram pessoas vinda do Rio Grande do Norte, como da cidade

15 Entrevista utilizada por OLIVEIRA, Diana Nara da Silva. A criação do Assentamento Bela Vista em Jaguaruana – Ceará (1996-2014) /. Limoeiro do Norte, CE, 2014.

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Baraúnas, e de localidades como Piquiestreito, Cajazeiras e outros vilarejos próximos (OLIVEIRA, 2014).

Em seguida os camponeses saíram nas comunidades de Jaguaruana pedindo ajuda para que pudessem sobreviver no acampamento, os comerciantes da cidade também contribuíram com alimentos. Os camponeses ainda não tinham a posse da terra, por isso estavam impossibilitados de exercerem atividades agrícolas nas terras ocupadas.

Além das inúmeras dificuldades para sobreviverem os trabalhadores ainda encontraram muitas pessoas que desconheciam o que era reforma agrária, até mesmo os trabalhadores que já haviam tido contato com o MST não compreendiam a importância desse ato, a importância de ocupar aquelas terras. Muitos munícipes da cidade os acusaram de serem vândalos, bandidos, aproveitadores, fato que contribuiu para que alguns desistissem do sonho de serem donos do seu próprio pedaço de terra.

No estudo monográfico que realizei descrevo como foram os primeiros dias dos camponeses no acampamento.

No inicio os trabalhadores ficaram um pouco assustados, pois não tinham conhecimento do que significava reforma agrária, pois ao longo de suas vidas não haviam experimentados ações de rebeldia contra o latifúndio e seus senhores. Na mentalidade de muitos deles, a exclusão ao acesso a terra era uma coisa quase natural. Durante os primeiros dias sentiram muito medo, corriam boatos que seriam expulsos, de que o governo não permitiria que ficassem nas terras (OLIVEIRA, 2014, p. 20).

A ocupação da fazenda Jobrasa coincidiu com o período do massacre em Eldorado dos Carajás em abril de 1996, onde 19 trabalhadores foram assassinados pela policia militar, cerca de um mês antes da ocupação em Jaguaruana. Esse episódio influenciou muito na ocupação da Jobrasa, dando aos trabalhadores e lideres do MST motivação para a concretização desse ato, mesmo repletos de medo e insegurança os camponeses não desistiram e quebraram as correntes do latifúndio que ditava o ritmo da cidade. Essa ocupação representou um salto na organização dos trabalhadores rurais dentro da conjuntura do capitalismo. 62

A ocupação da fazenda JOBRASA representou uma mudança de atitude dos camponeses em relação aos proprietários de terras e autoridades do município de Jaguaruana que por séculos reinaram absoluto em suas propriedades como verdadeiros “coronéis” e senhores de escravos (OLIVEIRA, 2014, p. 18). Conforme esclarece Cosme (2015) o Vale do Jaguaribe tem um número significativo de assentamentos, oriundos do município de Tabuleiro do Norte.

Nessa microrregião estão espacializados 40 assentamentos rurais, cerca de 9% do total do Estado, em 08 dos 10 municípios que a compõe. Ao analisar o processo de reforma agrária no Baixo Jaguaribe, Silva e Almeida (2008), afirmam que a luta pela conquista da terra teve sua gênese nesta região, a partir das experiências processadas no município de Tabuleiro do Norte, no fim dos anos de 1980. Tendo à frente, liderança dos trabalhadores rurais, mobilizadas no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) deste município (COSME, 2015, p. 72). Dessa forma, o Assentamento Bela Vista assim como em Tabuleiro do Norte, contou com grande participação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, o que deu aos camponeses maior segurança para que o objetivo da ocupação da terra fosse concretizado. Cosme acrescenta que as primeiras desapropriações dos referidos imóveis não só foram as primeiras ocorridas em Tabuleiro do Norte, consequentemente, originando os primeiros assentamentos neste município, como também influenciaram o processo de novas desapropriações em outros municípios do Baixo Jaguaribe (COSME, 2015,p. 73).

Após o primeiro ano de existência de acampamento e de vida sob as lonas,1 ano depois no dia 24 de maio de 1997 os camponeses receberam a emissão de posse, dando-lhes o direito para trabalhar na terra e de constituírem suas famílias.

O Assentamento Bela Vista foi o primeiro assentamento a ser constituído em Jaguaruana e sua luta serviu de inspiração para outras ocupações de terras no município. Hoje sua representação demográfica é de cerca de mil moradores (entre crianças, jovens, adultos e idosos) que compõem mais de cento e setenta e quatro famílias, distribuídas numa área de 4.800 hectares, cada assentado foi beneficiado com 17 hectares para desenvolver suas atividades agrícolas e pecuaristas.

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3.3 A LUTA POR EDUCAÇÃO E POR ESCOLA

Antes mesmo de receberem a posse da terra como parte dos objetivos do MST, o acampamento já demonstrava preocupação com a educação. Como ainda não tinha escola no assentamento apenas os homens moravam na comunidade, permanecendo assim até terem de fato a posse da terra. Somente algumas poucas famílias se instalaram nesse primeiro momento, e algumas crianças que moravam no acampamento tinham que se deslocar para uma comunidade vizinha chamada Pacatanha para estudar sendo que a prefeitura disponibiliza transporte escolar para leva-los e traze-los para o acampamento.

Um dos objetivos do MST é a educação como parte importantíssima para a constituição de um assentamento, assim como afirma Caldart.

Quase ao mesmo tempo em que começaram a lutar pela terra, os sem-terra do MST também começaram a lutar por escolas e, sobretudo, para cultivar em si mesmos o valor do estudo e do próprio direito de lutar pelo seu acesso a ele. No começo não havia muita relação de uma luta com a outra mas aos poucos a luta pelo direito à escola passou a fazer parte da organização social de massas de luta pela Reforma Agrária, em que se transformou o Movimento dos sem terra (2001, p. 25). Com o incentivo do Movimento a comunidade sentiu a necessidade da instalação de uma escola no Assentamento, reuniram-se e foram até a Secretaria de Educação do Município exigir que fosse implantada uma unidade escolar. A partir da criação de um Setor de Educação dentro do MST formaliza o momento em que esta tarefa foi intencionalmente assumida. Isto aconteceu em 1987. E a partir de sua atuação o próprio conceito de escola aos poucos vai sendo ampliado, tanto em abrangência como em significados. Começamos lutando pelas escolas de 1a a 4a série (CALDART, 2001, p. 28).

Assim como aconteceu no Assentamento Bela Vista, os primeiros passos dados sob as orientações do MST resultavam na história dessa comunidade que hoje já tem 20 anos de existência. A escola foi a primeira conquista dos camponeses, em seguida veio a posse da terra e a construção das agrovilas que conta com 174 casas de modelos padrão. A primeira professora da Escola Nossa Senhora do Livramento, fala como foi o processo de implantação da escola no assentamento Bela Vista. 64

Fui morar no assentamento no dia 12 de maio de 1997, quando fui para o assentamento eu já fui para trabalhar, meu marido já estava com um ano morando lá. E começaram a falar na necessidade de uma escola e tal, a própria comunidade foi atrás. Eu fui indicada a trabalhar ai eu tive que ir. As aulas começaram no dia 12 de maio de 1997, eu recebi alguns alunos que iam para o Pacatanha, na comunidade vizinha que saiam do assentamento. Eu fiquei com alunos de 1ª e 2ª serie juntos pela manhã, num dos prédios abandonados e 3ª 16 serie a tarde que só tinha 4 alunos. Em seguida iniciamos também as aulas do movimento com a proposta de ensino para os jovens a adultos (SILVA, 2016).17 Caldart e Benjamin (2001) destacam que a escola faz parte dos objetivos do MST para o desenvolvimento de um acampamento.

O MST incorporou a escola em sua dinâmica, e isto em dois sentidos combinados: a escola passou a fazer parte do cotidiano e das preocupações das famílias Sem Terra, com maior ou menor intensidade, com significados diversos dependendo da própria trajetória de cada grupo mas, inegavelmente, já consolidada como sua marca cultural: acampamento e assentamento dos sem terra do MST têm que ter escola e, de preferência, que não seja uma escola qualquer, e a escola passou a ser vista como uma questão também política, quer dizer, como parte da estratégia de luta pela Reforma Agrária, vinculada às preocupações gerais do Movimento com a formação de seus sujeitos (CALDART, 2001, p. 26).

Dessa forma, a escola emerge como uma das ferramentas de luta para a obtenção dos objetivos do movimento e dos camponeses, assegurando aos sujeitos participantes uma leitura de mundo onde o coloca como ser ativo na história. Ressaltando que as primeiras salas de aula no assentamento foram salas mantidas exclusivamente pelo MST, com mulheres da comunidade, lecionando inicialmente para os jovens e adultos, depois para algumas crianças. Somente depois que iniciaram as aulas pelo movimento embaixo das mangueiras é que as mães e filhos puderam ir morar no assentamento. Dado o primeiro passo, o assentamento teve seu número de moradores ampliado, então a pequena escola que trabalhava o ensino não formal coordenado pelo MST teve que passar a sistematizar a sua proposta educacional.

16 Hoje 1º, 2º e 3º ano do ensino fundamental I. 17SILVA, Gracileide. Entrevista realizada em 27 de março de 2016. Gracileide é ex-professora e ex- moradora do Assentamento Bela Vista, hoje ela reside em Fortaleza. Trabalhou por 10 anos na Escola da comunidade, com as series iniciais com crianças, jovens e adultos. 65

Ao passar dos meses após o início das aulas muitas outras famílias começaram a viver no assentamento, algumas se recusavam a viver no assentamento pelo fato de terem filhos e esses não poderem ficar sem estudar. Somente depois do início das aulas é que passaram a morar na comunidade. Os camponeses sentiram-se muito satisfeitos, pois já dispunham da posse da terra e de uma escola mesmo que improvisada onde durante o dia estudavam as crianças e durante a noite os adultos. A ex-professora Silva descreve com emoção os primeiro passos dados pela comunidade no processo de implantação da unidade escolar. A comunidade se mobilizou e foi atrás da educação, mas na verdade não tinha como ter aula, a gente foi descobrindo as necessidades através das pessoas, não tinha mais porque a gente deixar esse povo ir estudar lá fora se a gente podia abrir uma sala dentro do assentamento então a gente resgatou de fora para dentro do assentamento, e ai foi aumentando o número de alunos e alunas, porque na verdade só quem morava lá dentro eram os homens praticamente, ai foram trazendo suas famílias e aumentando, muitas famílias não vinham morar no assentamento por conta disso. Quando começamos a abrir salas de aula ai às famílias foram se mudando (SILVA, 2016). Os primeiros passos dados em busca de uma educação sistematizada dentro do assentamento foram muito difíceis, as dificuldades foram imensas, e a resistência e persistência dos assentados foram decisivos para que hoje tenham uma história de muitas lutas, mas também de muitas conquistas dentro da comunidade. Apesar do sucateamento da educação como um todo no país, a Escola Nossa Senhora do Livramento vem tentando desenvolver um trabalho de transformação na comunidade, através do acesso de todos os cidadãos, começando pelas crianças até os adultos.

A professora acrescenta que não existiam condições nem físicas e nem humanas para desenvolverem os trabalhos dentro da escola.

Na verdade quando começamos a trabalhar não tinha lousa, cadeira, era tudo improvisado, tinha uma sala que ficava em uma barraca de lona, depois as coisas foram melhorando surgiu a idéia de limpar os alojamentos18, tiramos um lugar para fazer a merenda dos alunos da noite, e os próprios alunos faziam comigo.

A merenda vinha pelo MST e depois pela prefeitura e todo dia dois ou três alunos faziam a merenda.

18 Prédios abandonados pela empresa JOBRASA. 66

Foi nas casas de lona, foi nessas pequenas salas que a gente formou muito cidadão, tenho certeza que cerca de 100 alunos hoje adultos foram meus alunos com 3, 4 anos, sem contar o número de pessoas idosas com mais de 40 anos que aprendeu a fazer o nome depois do assentamento, muitas deles trocaram até os documentos. Quando a secretaria viu que a gente não ia abrir mão ela começou a ajudar (SILVA, 2016). Silva (2016) expõe com sentimento as lembranças vividas por ela e pela comunidade, fala do orgulho sentido ao ver seus alunos que até então eram analfabetos trocarem seus documentos e assina-los, um ato que para os trabalhadores significou muito, significou uma nova maneira de enxergar e participar do mundo. Através de uma educação libertadora que foi capaz de pensar o sujeito e identificar quais eram as suas reais necessidade, uma educação humanizadora, não obstante, talvez, a professora sequer tinha conhecimento de qualquer teoria que desce embasamento a esta prática.

No trabalho monográfico Oliveira (2014) discute sobre as dificuldades que as famílias enfrentaram para se instalarem no acampamento no primeiro ano, em entrevista realizada com o ex, o presidente da Associação Dos Assentados do Assentamento Bela Vista o Sr. Marcelino Gabriel Mesquita.

Para aqueles que trouxeram a família desde o dia da ocupação, esses sofreram muito mais. Os camponeses que deixaram suas famílias onde moravam, ficavam em qualquer lugar, comiam na barraca de um, tomavam água na barraca de outro. Porém, aqueles que vieram com toda família passaram por mais dificuldades. A água era dividida para todos de forma igual. Os camponeses receberam pouca ajuda dos órgãos públicos de Jaguaruana. O Sr. Manezinho que era o prefeito na época fazia doações de 50 litros de gasolina por semana para que o trator pudesse vir até o Rio Jaguaribe e levar água para o acampamento (OLIVEIRA, 2014, p. 23). O Projeto de Assentamento- P.A. Bela Vista recebeu muita ajuda tanto do movimento, da prefeitura e comerciantes da cidade de Jaguaruana, que foram decisivas diante dessas primeiras dificuldades enfrentadas pelos camponeses.

O MST iniciou o processo educativo com os adultos, e a prefeitura com as crianças, as professoras dividiam o trabalho, 1º e 2º juntos na mesma sala e 3º em outra sala, que contava inicialmente apenas com quatro alunos, durante o dia. A noite era a vez dos adultos ainda sob as lonas, depois os trabalhadores resolveram arrumar os prédios abandonados pela empresa. Assim depois mudaram- se para os prédios de alvenaria, tentando oferecer aos alunos o mínimo de conforto. 67

Em seu primeiro ano de funcionamento a Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Livramento contava apenas com 26 alunos, 13 alunos no 1º ano, 09 alunos no 2º ano e 04 alunos no 3º ano. E assim a cada ano o número de alunos foi crescendo. As famílias iniciaram as plantações de diversas culturas (algodão, feijão, milho, melancia, melão, mamona, sorgo) uma das características de campesinato, em que os camponeses começaram a trabalhar com grande variação de culturas. Muitos desses camponeses já tinham sido empregados em empresas do agronegócio e conhecia a prática adotada nessas empresas, sendo uma de suas práticas produzirem Commodities Agrícola19 para exportação. Os camponeses também começaram a criar animais como Ovinos, Caprinos, bovinos e galinhas caipiras, contando com a participação ativa das mulheres e dos filhos para o desenvolvimento de todas as atividades. O que era produzido pelos camponeses servia como base para a sobrevivência da família, somente o algodão era vendido para empresas têxteis da região, em especial a Usina Santana, com sede em Jaguaruana. De acordo com a entrevista realizada com Silva professores e diretor iam diariamente à Secretaria de Educação solicitar recursos para a manutenção da escola, e o que sempre recebiam as sobras, cadeiras velhas vindas de outras unidades, livros usados, pouca merenda e muito esquecimento. A luta dos líderes do assentamento foi de fundamental importância para o desenvolvimento da unidade escolar, foi através de muita luta que obtiveram as conquistas. Na sala de jovens e adultos que era mantida pelo MST, tinha cerca de 50 alunos, pessoas que nunca assinaram o seu próprio nome e jamais imaginaram entrar em uma sala de aula devido às condições financeiras durante a infância e da carga horaria de trabalho depois de ficarem adultos. Ao chegarem ao assentamento Bela Vista os camponeses começaram a sonhar com vidas melhores para suas famílias, iniciaram o sonho de serem seus próprios patrões, de plantarem sem agrotóxicos, de deixarem de ser explorados pelos grandes capitalistas.

19 O termo commodity, que em português significa mercadoria, tem longa tradição de uso tanto na economia política quanto em sua crítica. Diz-se que um recurso, um bem ou um serviço torna-se uma mercadoria quando é comprado e/ou vendido no mercado, adquirindo, portanto, um preço (CALDART, 2012. p.133). 68

O MST fornecia merenda, livros e depois os alunos tiveram direito a consultas oftalmológicas e óculos que os auxiliou no processo de ensino e de aprendizagem. A comunidade contribuía muito, todas as atividades eram realizadas em regime de coletividade, a merenda era feita pelos próprios alunos e pela professora Gracileide que foi convidada para lecionar no programa Alfabetização solidaria20. Tendo como público alvo trabalhadores rurais a grande maioria era analfabeto e os que sabiam alguma coisa sabiam apenas assinar seu próprio nome. Em seguida vieram outros programas para beneficiar a comunidade. Todos os dias eram escolhidos dois alunos que se dirigiam a escola mais cedo para o preparo da merenda, muitas vezes essa merenda servia de jantar para os camponeses e até para seus filhos que acompanhavam os pais por não terem com quem ficar em casa. A merenda era sempre feita em coletividade, cada aluno levava um ingrediente como óleo, verduras, legumes, colorau, alho e outros, para contribuir com o preparo do lanche. A água vinha através de carros pipas e era depositada em caixas d’agua, que servia para beber, cozinhar e lavar a louça. A professora levava água em um balde para a sala de aula e cobria com um pano limpo, para quando os alunos sentissem sede. As aulas eram sempre muito animadas, muitos alunos nunca haviam pegado em um lápis, não haviam desenvolvido a coordenação motora para segurar um lápis. O trabalho com os adultos iniciou desde o aprender a pegar no lápis, aprender cada letra do alfabeto, cada número. O método Paulo Freire foi utilizado em diversos momentos, uma vez que recebiam formação do MST, pois os profissionais desconheciam a experiência de Paulo Freire, o cotidiano dos alunos estava presente na sala de aula, a discussão dos direitos que um assentado tinha não somente dentro do assentamento, mas no país. O MST disponibilizou diversas formações para os profissionais da educação que estavam envolvidos no processo, ressaltando que esses profissionais tinham apenas o nível médio, nenhum tinham se graduado, isso foi acontecendo com o passar dos anos. As formações deram aos profissionais embasamento teórico para trabalhar com a educação, com os sem terrinhas e com os sem terras.

20 Segundo Barreyro 2010 o Programa Alfabetização Solidária manifestava como objetivo reduzir os índices de analfabetismo do país, focalizando nos jovens de 12 a 18 anos. Em 1997, priorizava os municípios com taxas de analfabetismo superiores a 55%: os localizados nas regiões norte e nordeste. 69

Depois de algumas negociações a Secretaria de Educação de Jaguaruana tendo como representante à senhora Claudia Coelho e o senhor Evanildo Pereira, no dia 05 de maio de 1997, na sede da Associação dos Assentados do Assentamento Bela Vista reuniram pais, alunos e os coordenadores pedagógicos, com o intuito de fundarem a unidade escolar da recém-comunidade. A Escola foi inaugurada em 06 de setembro de 1997, com o nome de Escola de Ensino Municipal Nossa Senhora do Livramento, tendo sua instalação ocorrida na referida data de inauguração, recebendo esse nome em homenagem á santa Nossa Senhora do Livramento, que na época da empresa Jobrasa era homenageada pelos donos da empresa e pelos peões. A partir de primeiro de janeiro de 1999, por determinação legal, todas as escolas da Rede Municipal tiverem que executar mudanças na denominação, passando a denominar-se Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Livramento, sendo efetivado em 02 de agosto do mesmo ano, devido á municipalização do ensino. As atividades tiveram inicio com os 1º, 2º, 3º anos do ensino fundamental, apenas duas professoras Gracileide da Silva e Ivanalda Leal do Vale, e como diretor Erasmo José Nogueira21. Ressalta-se que a escola funcionava sem estrutura física, inicialmente embaixo de barracas de lona, as crianças sentadas em cima de pedras, tomando água de balde. Não havendo nada mais precário e inadequado do que tal realidade.

3.4 A REALIDADE ATUAL: AS CONQUISTAS DA ESCOLA

A Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Livramento encontra-se localizada na Zona Rural do Município de Jaguaruana, distante vinte (20 km) quilômetros da sede do município de Jaguaruana, no interior do Estado do Ceará, mais precisamente no Assentamento Bela Vista, uma área reservada ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária- INCRA. A referida Escola é parte integrante da Secretaria Municipal da Educação de Jaguaruana, tendo à frente hoje como Diretor o Sr. Prof. Paulo de Tasso Oliveira da Costa, que conta com a Coordenação Geral da Prof.ª Maria Suely de Oliveira, junto com o Auxiliar

21 Como foi decidido em reunião somente pessoas da comunidade trabalhariam na escola. 70

Administrativo Raimundo Nonato Rocha, e a Secretária Escolar Soraia C. Lemos, forma-se, portanto, o Núcleo Gestor da Escola (JAGUARUANA, 2016, p. 7).

A referida Unidade Escolar conta ainda com um quadro de profissionais com formação superior e especializada, juntamente com outros profissionais de nível médio, nas áreas de monitoria e na prática educativa junto às crianças e adolescentes. Conta com um número satisfatório de funcionários sendo 32 no total (16 professores regentes, 02 professores de reforço, 03 vigias, 07 Auxiliar de serviços gerais, 01 secretária, 01 auxiliar de secretaria, 01 coordenadora pedagógica, 01 diretor) a grande maioria são funcionários públicos municipais, em geral, efetivados por meio de Concurso Público, ainda compondo o quadro alguns professores e funcionários substitutos. O prédio que hoje sedia a escola é recém- construído, entregue à comunidade após quase 20 anos de lutas no ano de 2016.

A respeito da importância da conquista do prédio escolar a ex-professora Gracileide que participou da fundação da mesma sente-se muito feliz pela concretização desse sonho, embora não resida mais na comunidade. Assim como todos os moradores do P.A. tem como uma grande conquista, algo que levou quase 20 anos para ser concretizado. Para a professora a história da escola é muito importante e deve ser lembrada.

Não podemos esquecer a história dessa escola, por que o assentamento tem uma das escolas mais bonitas da cidade? Porque se as pessoas voltarem no tempo e valorizar aquela escola é uma riqueza para a comunidade. De tudo de bom o assentamento tem um pouco. A gente começou lá em baixo levando os alunos para sala de aula, bebendo água coberta com um pano, porque não tinha nenhum filtro, quando veio aparecer 3 filtros na escola foi uma festa medonha, foi melhor que um frízer hoje, a gente tinha que carregar água lá não sei de onde para depois coar e colocar nesses filtros (SILVA, 2016).

A escola está localizada numa área longe de alagamentos, pois situa- se em cima da Chapada do Apodi. Durante grande parte da quadra invernosa (janeiro- abril), são inúmeras as dificuldades de acesso até a escola, pois as estradas não contam com a mínima infraestrutura necessária para o deslocamento até o local de trabalho dos professores. De acordo com a análise realizada para a pesquisa do 71

PPP22 o currículo e o calendário trabalhado na escola reproduz o modelo urbano. Assim a quadra invernosa não é respeitada, gerando diversos prejuízos, em especial no aprendizado dos alunos. Dependendo da intensidade das chuvas, os professores que moram na sede da cidade, ficam impossibilitados de chegarem à escola, bem como os alunos de outras comunidades adjacentes que frequentam a mesma. A imagem a seguir nos permite compreender a real situação da comunidade em épocas de enchentes.

Figura 2- Ponte improvisada na estrada do Assentamento Bela Vista. Enchente de 2009.

FONTE: Próprio Autor

Segundo já afirmado em outro estudo (OLIVEIRA, 2014) em épocas chuvosas as estradas do assentamento Bela Vista ficam totalmente intransitáveis. Na cheia de 2009 em Jaguaruana os assentados ficaram ilhados, só conseguiam chegar até o centro da cidade de bicicletas ou a pé, pois a estrada ficou inteiramente danificada, dessa forma a escola ficou sem aulas cerca de 30 dias, provocando grande atraso no processo de ensino e aprendizagem dos alunos.

A situação dos assentados do Assentamento Bela Vista não se diferencia do restante dos camponeses da região Nordeste, que vivem oscilando entre os períodos de enchentes e secas. Para as populações que vivem da produção de sequeiro, tanto as chuvas em grande quantidade ou a falta delas, prejudicam as atividades produtivas (OLIVEIRA, 2014).

22 O Projeto Politico Pedagógico da escola é reavaliado anualmente, em 2016 passou por modificações, o mesmo foi elaborado com a participação de professores e gestão da escola e representantes do assentamento. 72

De acordo com o PPP da instituição a mesma conta com outro grande desafio: o grande índice de alunos transportados, responsáveis por mais de 60% dos estudantes da Escola, permitindo assim, durante o inverno, um número considerável de dificuldades para garantir o aprendizado, o que culmina em altos índices de repetência e evasão como sendo uma das causas.

A Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Livramento oferece as seguintes modalidades de ensino: Educação Infantil- Creche (02/03 anos), Pré- escola (04/05 anos); Ensino Fundamental I– Anos iniciais – 1° ao 5° Ano – atendendo 81 (oitenta e um) alunos, nos períodos manhã e tarde; Ensino Fundamental II – 6º ao 9º Ano – atendendo 60 (sessenta) alunos, no período da tarde; Ensino de jovens e adultos- séries iniciais (1ª/2ª) e finais (7ª/8ª), atendendo alunos. Em 2016 um total de 14 turmas com 280 alunos.

3.5 EDUCAÇÃO DO/NO CAMPO?

Para as turmas de 1º ao 5º ano segundo o PPP (2016) da escola é preciso enfatizar as questões de aprendizagem, discutindo profundamente os processos de ensinar e aprender, com conhecimentos que serão aplicados em seu cotidiano, tornando sua aprendizagem mais eficiente e prazerosa. Dentro dos eixos abordados nas salas de aulas estão: Vivência de mundo; Objetivos do PAIC; Temas do seu cotidiano; Realidade políticas; econômicas e sociais; Valores e éticas; De acordo com o PPP da instituição os projetos existentes são tentativas de criar novas situações, procurando tornar os temas abordados em sala de aula mais atraentes e que consiga mobilizar os alunos para a aprendizagem. A escola procura parcerias que visem facilitar a aprendizagem do aluno. Recuperação paralela, de conteúdo ou de notas, aulas no contra turno, reforço escolar, o apoio da família, são ações primordiais para o alcance da construção permanente de novos saberes. A instituição ainda desenvolve diversos projetos sob o auxilio e coordenação da Secretaria Municipal de Educação de Jaguaruana, ações essas que 73

já fazem parte dos debates educacionais, levando em conta que há vários anos o estudo sobre Pedagogia de Projetos faz parte do debate acadêmico. 23 Observamos que as escolas estaduais e municipais desenvolvem projetos elaborados pela Secretaria da Educação do Ceará- SEDUC- CE visando o melhoramento do ensino e da aprendizagem dentro das instituições, o desenvolvimento humano das crianças e adolescentes envolvidos no processo, bem como a fim de reduzir ou sanar as dificuldades que possam vir a atrapalhar o andamento de uma educação de qualidade, melhorar as práticas pedagógicas dos docentes, elevando o desenvolvimento cognitivo dos educandos. Como descrito no PPP a escola tem procurando desenvolver projetos seguindo um modelo elaborado pela SEDUC-CE. Dentre os que foram desenvolvidos em 2016 estão:

 O Programa de Educação contra a Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (PETECA), que visa pesquisar situações de risco na região, é desenvolvido através de debates e palestras voltadas ao tema, acontecendo de abril a Novembro;  Semiárido que visa proporcionar a comunidade/escola momentos de estudo, reflexão e atividades, adquirindo conhecimentos e buscando informações e saberes que contenham valores essenciais para construção de cada indivíduo em convivência com o semiárido, sendo desenvolvido entre os meses de Fevereiro a Dezembro;  Africanidades, que objetiva debater e refletir sobre as diferenças raciais e a importância de cada um no processo de construção de nosso país, estado e comunidade, promovido pelo Coordenador Pedagógico e Professor de História juntamente com outros professores de outras áreas através da interdisciplinaridade, é trabalhado entre fevereiro a dezembro;  Saúde e prevenção nas escolas (SPE), o projeto é desenvolvido através de palestras que abordam temas diversos sobre a saúde do da comunidade escolar temas como (Dengue, Drogas, reciclagem do lixo,

23Surgindo no início do século XX, com John Dewey e William Kilpatrick estudiosos norte-americanos e outros representantes da chamada “Pedagogia Ativa”. Mesmo no inicio das discussões o debate estava empenhado em expandir a ideia de que a educação faz parte de processo que envolve a vida, devendo a escola estar presente no cotidiano dos alunos. 74

saúde bucal), realizado por profissionais da saúde com o apoio da coordenação Pedagógica, Professores, aplicado entre os meses de fevereiro a dezembro;  Programa Agrinho24, Desenvolver atividades pertinentes à saúde, Núcleo gestores, Professores e funcionários da escola. De Junho a Outubro (JAGUARUANA, 2016).

A partir na analise do PPP percebemos que trabalhar com projetos é acreditar que o aluno pode estudar e aprender participando, tomando atitudes perante das situações, investigando, formando novos conceitos e informações, e encontrando recursos adequados para a resolução dos problemas. O ensino através de projetos de trabalho enfatiza o aspecto global com atenção à resolução de problemas significativos. Situações problemas são levantadas pelo professor, colocando novas orientações e proporcionando descobertas de novos caminhos, orientando os alunos na captação dos significados, onde são possibilitados a fazer análise na total da realidade, com isso os alunos compõem as suas próprias metodologias. Os alunos apreendem o conceito de projeto para dar vida às suas ideias. A escola defende que os projetos são propostas elaboradas não com os alunos, mas para os alunos onde se caracteriza uma educação de cima para baixo, não levando em contas as necessidades dos sujeitos, particularidade da educação desenvolvida no campo ou rural e não da educação do campo.

3.6 DIFICULDADES, PROBLEMAS E DESAFIOS ENFRENTADOS.

A escola passou a atender comunidades que ficam ao redor do Assentamento Bela Vista, incluindo crianças com necessidades especiais e, famílias diversas, começou a ter contato direto com problemas como venda e troca de lotes da terra, abandonos dos lotes, o uso da droga dentro da comunidade e em torno da escola, questões que afetam diretamente o bom desenvolvimento de uma instituição ligada a educação.

24Projeto desenvolvido nas escolas municipais do Jaguaruana que visam estimular hábitos higiênicos nas crianças. 75

Através da pesquisa de campo tivemos acesso a documentos referentes às fichas de matriculas da Escola Nossa Senhora do Livramento, as quais permitiram elaborar uma tabela com o número de alunos, evasão, reprovação e a partir desses dados podemos levantar diversas questões, referentes á diminuição do número de matriculas, motivos da evasão e se esta associada ao trabalho no campo ou as condições do ensino. Ainda podemos investigar os motivos das altas taxas de reprovação. Questões essas que serão debatidas no texto.

Quadro 3- Resumo Anual de Matriculas- 1997- 2016

ANO MATRICULA EVASÃO % REPROVAÇÃO % INICIAL 1997 35 09 20% 0 0% 1998 65 12 19% 21 32% 1999 120 24 20% 13 11% 2000 217 72 33% 29 13% 2001 161 20 33% 18 13% 2002 220 16 7% 41 19% 2003 366 43 12% 39 11% 2004 314 49 16% 38 12% 2005 359 64 18% 47 13% 2006 326 34 10% 33 25% 2007 330 36 16% 80 14% 2008 335 25 7% 66 20% 2009 404 54 13% 53 13% 2010 325 18 6% 16 5% 2011 285 03 0% 0 0% 2012 264 02 1% 06 2% 2013 254 05 2% 36 14% 2014 249 05 2% 16 6% 2015 280 15 5% 02 1% 2016 280 06 2% 09 3%

FONTE: Secretaria Municipal da Educação de Jaguaruana; Elaborado pelo Próprio Autor. 76

O quadro 3 mostra números referentes á matricula inicial, evasão e reprovação registradas na escola desde a sua fundação até os dias atuais. A partir das informações declaradas no quadro podemos interpreta-los por vários ângulos. Podemos analisar as causas das evasões elegendo problemáticas para a compreensão do número exposto e, ainda analisar os motivos que influenciaram o alto número de reprovação registrado pela Secretaria de Educação. Através dos números apresentados no quadro 3 podemos ter uma noção do impacto que a instituição teve no assentamento Bela Vista, tendo em vista que o número de alunos cresceu quando as famílias passaram a viver efetivamente dentro do assentamento.

Os dados nos permitem perceber a importância que a Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Livramento teve no processo de constituição do assentamento Bela Vista. A partir da implantação da unidade escolar outros serviços básicos passaram a fazer parte da vida dos camponeses, como a saúde, e a sediar urnas para as eleições, por exemplo.

Em outubro de 2010 aconteceu uma assembleia no assentamento Bela Vista para decidir sobre a área que seria destinada para construção de uma escola e de um posto de saúde. Desde a constituição do Assentamento era um desejo de todos os assentados a construção de um prédio escolar, pois os alunos nunca tiveram um conforto, salas adequadas, cantina, nem mesmo um pátio onde as crianças pudessem brincar com segurança.

A escola funcionava em dormitórios que pertenciam à empresa JOBRASA e que não ofereciam condições adequadas ao funcionamento, como mostram as imagens a seguir. As instalações não ofereciam nenhum conforto aos alunos e alunas e professores/as. 77

Figura 3-Sala de aula da Escola Nossa Senhora do Livramento no Assentamento Bela Vista.

Fonte: Próprio Autor

Figura 4- Cantina da antiga escola.

Fonte: Próprio Autor

Depois de muitas lutas e de muitas gestões na Prefeitura Municipal de Jaguaruana, após 19 anos esse projeto da nova escola saiu do papel.

Em 2010 foi requisitada a autorização do INCRA para a construção, foi feita uma solicitação de cinco hectares das terras do assentamento, sendo que desses hectares, ½ hectare será para a construção do Programa da Saúde Familiar- 78

PSF, essas obras foram desenvolvidas pelo Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal- PAC25. Os investimentos disponibilizados para a construção do prédio escolar foram de R$ 935.553,74 (novecentos e trinta e cinco mil, quinhentos e cinquenta e três reais e setenta e quatro centavos). A construção do prédio iniciou em 2012, na gestão do prefeito Antônio Roberto Rocha Silva- PMDB (2009-2012), e foi concluída em 2016, na gestão da prefeita Ana Teresa de Carvalho-PT (2013-2016). Atualmente a escola tem em suas dependências oito salas de aula bastante espaçosas, diretoria, cantina, secretaria, almoxarifado, sala dos professores, arquivo, despensa, vestiário, material de limpeza, dois banheiros para os professores e dois banheiros para os alunos, e um pátio que a comunidade denomina de castelo. Ainda dispõe de espaço, onde as crianças brincam. Nas imagens a seguir podemos observar o prédio escolar que foi recém entregue ao assentamento Bela Vista, o que dispõe de estrutura física para acomodar a comunidade escolar. Figura 5-Nova instalação escolar.

FONTE: Próprio Autor

25Criado em 2007 o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) promoveu a retomada do planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística energética do país, contribuindo para o seu desenvolvimento acelerado e sustentável. Disponível em http://www.pac.gov.br/sobre-o-pac. 79

Figura 6- Sala de aula.

FONTE: Próprio Autor

O novo prédio construído para receber a escola segue os padrões do Ministério da Educação- MEC em termos de estrutura física, oferecendo a comunidade maior conforto e segurança no tocante ao desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem. A instituição é uma reivindicação antiga da comunidade e foi custeada com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e do Tesouro Municipal (JAGUARUANA, 2010).

O novo imóvel dispõe de amplo espaço, onde os alunos, alunas e professores poderão utilizar de diversas formas na tentativa de tornar o ensino prazeroso. É uma grande conquista para o assentamento, pois como já mencionado a escola funcionava numa casa antiga, sem nenhum conforto, e, agora, cerca de 280 alunos vão poder usufruir de espaço próprio, e desfrutarem de um serviço com dignidade.

3.7- QUESTÃO AGRÁRIA E EDUCAÇÃO NO CAMPO

Segundo Cosme (2015) a evasão de camponeses dos assentamentos rurais é uma das problemáticas que mais influenciam no não desenvolvimento de um assentamento, o que anda lado a lado com a escola, pois esta exerce papel fundamental para consolidação de uma comunidade, conforme ocorreu no assentamento Bela Vista. “Salienta-se que a referida problemática é tratada com 80

variadas denominações e/ou processos, tanto pelo Estado, quanto pela academia, os movimentos sociais e os próprios assentados, a saber: “saída”, “desistência”, “evasão”, “rotatividade”, “abandono”, “venda” e “troca de lotes”, visto como processo de expulsão dos camponeses” (COSME, 2015, p. 23).

Sendo essa problemática muitas vezes desconhecida pelos pesquisadores e sociedade em geral, bem como as suas causas são também desconhecidas, ficando quase sempre sobre a responsabilidade do próprio camponês, sem levar em conta a grande parcela que o estado exerce sobre a não implantação de uma reforma agrária que dê reais condições para o desenvolvimento do campo brasileiro.

Cosme (2015) afirma que o estado é peça chave nesse processo de expulsão dos camponeses de suas terras, quando não lhes oferecem estrutura para permanecer na terra conquistada.

Ao optar pelo agronegócio em detrimento do campesinato, o Estado aprofunda e dá continuidade à implementação da histórica contrarreforma agrária neste país. Esta se apresenta com variadas faces, sendo uma delas, as precárias condições impostas às famílias assentadas. Processo degradante que atinge sua maior dramaticidade na expulsão silenciosa de parte considerável dos camponeses assentados da terra (COSME, 2015, p. 27).

O autor continua tratando sobre o abandono dos camponeses frente ao Estado, ressaltando que fica difícil a permanência desses camponeses nas terras adquiridas.

O processo de expulsão de que trata esse trabalho é realizado pelo próprio Estado, que ao abandonar os camponeses assentados à própria sorte numa situação degradante, inviabiliza qualquer possibilidade de permanência na terra de parte destes sujeitos (COSME, 2015, p. 23.)

Diante da realidade apresentada, algumas questões surgiram para tentar explicar os motivos da diminuição do número de alunos a partir 2004, como mostra o quadro 2. Outras tais como: quais as causas da evasão escolar? Quais as causas do alto índice de reprovação? A escola em 2013 apresentou o maior índice de reprovação do município de Jaguaruana. Diante disso a primeira hipótese que surge 81

está diretamente ligada com a problemática defendida por Cosme (2015). O número de desistência dos moradores nos assentamentos é enorme, existindo certo rodizio dos lotes, em virtude dos trabalhadores sentirem-se obrigados a sair do assentamento para buscar emprego muitas vezes em empresas do agronegócio, ou para latifundiários da região.

Cosme (2015) em sua dissertação discorre sobre o relatório denominado “Evasão nos assentamentos rurais” de autoria de Bruno e Medeiros (2000), onde são apontadas pelas autoras as causas que influenciam na expulsão dos camponeses de suas terras.

Com relação aos índices de evasão, elas agruparam de acordo com a origem dos assentamentos. Nesse sentido, sistematizaram os dados obtidos, segundo quatro tipos de origem destes, a saber: 1) assentamento onde o público predominante é o de posseiros, parceiros e antigos moradores do imóvel desapropriado, apresentando baixo índice de evasão, em média 18,9%; 2) assentamentos onde predomina a dinâmica de fronteira, marcada por conflitos, onde apresentou níveis mais elevados nos índices de evasão, 43%; 3) assentamentos constituídos por pressão da organização sindical rural ou através de ocupações de terra. Nestes, segundo as autoras, foi difícil estabelecer uma relação entre processo social que deu origem ao assentamento e as evasões, alcançando em média de 20,3%; e 4) assentamentos criados por iniciativa do INCRA, com níveis elevados de evasão, em média 49,7% (BRUNO; MEDEIROS, apud COSME 2015, p. 55)

O processo que contempla o Assentamento Bela Vista de acordo com a pesquisa realizada por Bruno e Medeiros inicialmente é o processo 3) assentamentos constituídos por pressão da organização sindical rural ou através de ocupações de terra. Nestes, segundo as autoras, o índice de evasão dos assentamentos alcançando em média de 20,3%; Em seguida, o assentamento passa a ser coordenado pelo INCRA, abrindo mão da coordenação do MST, enquadrando-se agora no processo 4) assentamentos geridos por iniciativa do INCRA, com níveis elevados de evasão, em média 49,7%.

Dessa forma no P.A Bela Vista, há um alto índice de desistência interferindo no bom desenvolvimento do trabalho escolar. Com as saídas e chegadas de novos moradores, a Escola Nossa Senhora do livramento trabalha com 82

uma frequente mudança de aluno, havendo uma quebra no processo de ensino e aprendizagem, e no trabalho desenvolvido pela instituição.

Fernandes (2005) ao discutir sobre reforma agrária e a educação do campo, enfatiza a importância da Pesquisa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PNERA), desenvolvida entre 2004 e 2005, que gerou dados muito relevantes para os estudos em inúmeras regiões do Brasil.

Esse trabalho é inédito. Nunca, na história da reforma agrária, foi realizada uma pesquisa com tal amplitude. Seus resultados fornecem informações que possibilitam a realização de estudos mais aprofundados em escalas estadual e microrregional, bem como a criação de políticas públicas para a melhoria da educação nos assentamentos rurais.

Igualmente foi inédito o convênio firmado entre Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) do Ministério da Educação (MEC), para a elaboração do projeto da pesquisa. A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) realizou a pesquisa, de acordo com o projeto, cujo universo pesquisado compreendeu 8.680 escolas; 5.595 assentamentos criados entre 1985 e 2004, onde estão assentadas 2.549.069 pessoas (FERNANDES, 2005).

O objetivo da pesquisa é dar maior suporte para o desenvolvimento da educação do campo, através de levantamento de dados e da compreensão da realidade atual dessa modalidade no país. Dessa forma, pretendem-se dar subsídio às possíveis politicas públicas que possam desenvolver e ampliar a educação do campo. Os dados colhidos buscaram caracterizar a demanda educacional e diagnosticar a situação do ensino oferecido em escolas situadas nos assentamentos ou em seus arredores. Segundo Fernandes (2005) foram recenseados 5.595 assentamentos localizados em 1.651 municípios, totalizando os assentamentos da Reforma Agrária.

O estudo revela dados importantíssimos e inquietantes sobre a situação da educação no campo brasileiro, dados sobre a alfabetização na idade certa que não está ocorrendo em muitos assentamentos. Ainda revela dados sobre a evasão, reprovação a oferta de vagas, e sobre a dificuldade que é um assentado chegar até uma universidade, servindo assim de base para futuros estudos sobre a situação e 83

evolução da educação do campo. Posteriormente, em 2012 e 2013 foi realizada a segunda pesquisa de avaliação do PRONERA, que possibilitou maior compreensão da realidade sobre a educação do campo no Brasil (FERNANDES, 2008).

O autor defende que reforma agrária não é só implantar o assentamento, existem muitos outros pontos que se inserem nessa conquista, como a educação, que pode interferir no desenvolvimento da agricultura familiar, e na estrutura do próprio assentamento, fazendo com que se desenvolvam em torno do processo educacional.

Esse investimento corresponde à visão que o governo federal tem do campo, especialmente da educação nos assentamentos de reforma agrária, de sua importância para o desenvolvimento da agricultura familiar. O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) tem firmado convênios com universidades públicas de todas as regiões criando condições de acesso à educação em todos os níveis para a população assentada, especialmente para projetos de alfabetização de jovens e adultos. Também tem construído junto com diferentes instituições, movimentos sociais e sindicais um conjunto de parâmetros para o desenvolvimento da Educação do Campo. Desde as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, às publicações que subsidiam a construção teórica do paradigma da Educação do Campo e aos encontros regionais, envolvendo prefeituras e governos estaduais, procurando sempre melhorar a qualidade da educação nos assentamentos. Esse trabalho deu bons frutos, mas ainda há muito que plantar (FERNANDES, 2008, p. 41).

Percebemos que ao longo dos anos a situação de acesso à educação do campo vem despertando olhares por parte do governo federal, muitas conquista estão sendo realizadas, em especial, pelas reinvindicações dos movimentos sociais. Mas, não podemos nos contentar, pois ainda há muito que se buscar para melhorar o acesso dos camponeses ao ensino regular. Ainda é muito tímido esse crescimento, necessitando por parte dos estudiosos e do poder público mais atenção para que haja uma expansão significativa do modelo educacional.

Outra hipótese levantada para explicação do índice de reprovação na escola, é o currículo que segue o modelo urbano desenvolvido pela instituição, tendo em vista que apesar da escola funcionar no campo, ela desenvolve o currículo urbano, currículo pensado para a cidade e pela burguesia. Tendo em vista que o 84

modelo atual do sistema educacional brasileiro é um modelo que visa à reprodução das ideias capitalistas.

A partir de 1930 o sistema escolar brasileiro sofreu uma grande expansão com a ampliação do atendimento escolar. Inicialmente a instituição escola passa a adotar a ideia de uma escola para todos os cidadãos, dessa forma o modelo educacional desenvolvido no Brasil se firma sobre as bases da meritocracia, onde o sujeito é responsável pela sua própria ascensão no ensino e consequentemente na vida. Tem-se uma idéia de uma escola única, que beneficia a todos igualmente, porém na prática podemos afirmar que é bem diferente. Na prática a classe trabalhadora não recebe uma escola de qualidade, bem diferente da classe dominante, que tem acesso ás melhores escolas e universidades.

Conforme Machado (1987) a instituição escola em todo o país cresceu de acordo com as intenções do capitalismo, “a ideologia da ‘escola para todos’ instaurou-se numa formação escravista graças à dominância ideológica das formações capitalistas centrais” (p.46). Somente quando a burguesia compreende que a classe trabalhadora necessitaria ir a escola para poder servi-los melhor é que a escola passa a ser pensada para todos.

Assim, a cultura adotada na escola enquanto instituição é a cultura dominante, consequentemente, os oprimidos irão absorver essa cultura e divulgá-la como se fossem sua. Os que fazem parte das culturas dominantes, portanto, terão maior facilidade ao absorver os conhecimentos produzidos pelas classes dominantes.

Na sociedade dominante perante a lei que regulamenta a educação, os alunos são tratados de forma igual, sendo a escola um lugar onde todos devem ter acesso ao conhecimento de qualidade. No entanto, o que acompanhamos na história é a divisão dentro da própria instituição escola: uma parte da escola serve para os que estudam e trabalham a mente; E do outro lado temos os que trabalham a separação entre o trabalho manual e intelectual. Alguns sujeitos recebem instrução para pensar e outros estudam para continuar trabalhando e mantendo o status quo de quem muitas vezes apenas estuda. 85

A idéia de escola pública somente passa a existir quando surge a necessidade imposta pelo capitalismo de qualificar os trabalhadores para servir nas atividades do mercado e as necessidades do capital. Desde então, “a escola tornada pública passa a desenvolver um trabalho de preparação dos contingentes de mão de obra de que o capitalismo industrial necessita” (ROSA, 1991, p. 63). Neste contexto nunca existiu espaço para uma escola em que se pensa no sujeito. No Brasil, Paulo Freire distingue-se nesse percurso ao discutir educação popular, e os movimentos sociais passaram a defender a educação do campo.

Somente a partir da luta das classes trabalhadoras a escola pública vem melhorando consideravelmente, uma vez que para a burguesia não é interessante que exista uma escola de boa qualidade, que pense o sujeito, que pense o mundo para o proletariado, uma vez que o acesso ao conhecimento pode emancipar, lembrando apenas das palavras de Gadotti (2001) que fala que o conhecimento, em si mesmo, não é libertador, o será se estiver associado a um compromisso politico em favor dos excluídos. Na história sempre houve muita tensão e contradição entre os projetos defendidos por trabalhadores e burguesia.

Dessa forma, a partir da resposta as seguintes indagações (Quais as causas da evasão escolar? Quais as causas do alto índice de reprovação?) podem surgir respostas às questões relativas à Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Livramento. Vendramini (2012, p. 56) afirma que “Trabalhamos com escolas públicas e precisamos continuar lutando para que o Estado cumpra seu papel de garantir a todos os trabalhadores, do campo e da cidade, uma escola com as condições básicas de realização de sua tarefa educativa”.

3.8 UM OLHAR MAIS DETALHADO SOBRE O PPP DA ESCOLA

O Projeto Politico Pedagógico (PPP), é um documento de extrema importância dentro de uma instituição, que anda atrelado ao ato de planejar que consiste sempre em processo de reflexão, de tomada de decisão sobre uma ação.

Planejar é uma atividade inerente à educação escolar, levando em conta que esta tem como características básicas: nortear os caminhos, prever o 86

acompanhamento e avaliação, impedir a improvisação e traçar estratégias para o melhor desempenho das ações estabelecidas. O PPP é um instrumento para o dia- a -dia na escola.

Projeto Pedagógico [...] é um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a enfrentar os desafios do cotidiano da escola, só que de uma forma refletida, consciente, sistematizada, orgânica e, o que é essencial, participativa. É uma metodologia de trabalho que possibilita resinificar a ação de todos os agentes da instituição (VASCONCELLOS, 1995, p. 143). Dessa forma um PPP deve ser um documento construído coletivamente (professor, núcleo gestor, funcionários e comunidade escolar), no qual estão definidas as funções de cada membro participante da comunidade escolar, portanto é um documento que está sempre em construção, visando o aprimoramento do ensino-aprendizagem. No PPP deve- se encontrar as informações referentes à instituição, desde localização, histórico da escola, currículo, objetivos, projetos e demais informações.

De acordo com o PPP (2016) da Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Livramento, esta possui alunos com média de 03 anos até acima de 18 anos de idade, atualmente tendo 280 matriculados, ressaltando que a escola já atendeu até 328 alunos em anos anteriores. A escola atende a diversas comunidades do entorno, como os Assentamentos Bom Jesus e Serra Dantas, os Sítios Lagoa da Salsa, Açude do Coelho, e Pacatanha.

O perfil sócio- econômico do publico alvo é o mesmo, tendo em vista que todos os alunos são de comunidades rurais, tendo como fonte de renda a agricultura familiar. A maior parte dos alunos encontra-se situada na renda mínima, aproximadamente 95% são beneficiários do Programa Bolsa família do Governo Federal26.

A escola possui alunos com deficiência, no entanto, a mesma ainda não dispõe de uma estrutura física adequada, nem de estrutura material e humana, não tendo nenhum professor habilitado para desenvolver o trabalho com alunos deficientes.

26 O Programa Bolsa Família foi instituído pelo Governo Federal, pela Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, regulamentado pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004, alterado pelo Decreto nº 6.157 de16 de julho de 2007. 87

Uma vez por ano a Escola recebe a verba do Programa Dinheiro Direto na Escola27- PDDE, e do Programa de Desenvolvimento da Escola- PDE, destinados a compra de materiais permanentes e de consumo. A escola tem como missão principal promover um ensino eficaz de qualidade, desenvolvendo a participação ativa, criativa e crítica dos educandos, para que os mesmos possam interagir conscientemente na formação do meio em que vivem. Tornando a escola um ambiente inovador e de respeito ao próximo.

Sendo uma escola viva voltada para qualidade de ensino, enriquecimento cultural, científico e tecnológico valorizando toda comunidade escolar, a qual servirá como referência no contexto em que o aluno está inserido tem como valores: desenvolver com qualidade todo o trabalho realizado no âmbito escolar; fortalecer os laços de solidariedade, onde a amizade, no sentido de participação e de inclusão predomine; ter uma comunicação aberta, clara, direta e democrática que atinja toda comunidade escolar disseminando o respeito, compreendendo as diferenças, celebrando a vida, a fraternidade e a paz social (JAGUARUANA, 2016).

Assim, faz-se necessário buscar caminhos para uma convivência harmoniosa, para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática, na qual todos são iguais em direitos e deveres.

A escola, assim como qualquer outra instituição de ensino, enfrenta problemas que dificultam o desenvolvimento das ações definidas pelo núcleo gestor. Segundo o PPP alguns pontos considerados frágeis na escola; Baixa participação dos pais nos momentos relevantes para o sucesso escolar dos filhos; Evasão; falta de acompanhamento adequado a alunos com deficiência (faltam pessoas qualificadas); Indisciplina envolvendo relacionamento entre corpo docente e discente; Uso de drogas nos arredores da escola; alto índice de reprovação; sistema de avaliação.

Em conformidade com Fernandes (2013) a educação básica para os camponeses deve ir além dos aspectos de escolarização formal incluir também os aspectos informais, porque a educação não formal tem caráter popular, dessa forma, faz parte do cotidiano da vida camponesa e da construção da Educação do Campo.

27 Programa Dinheiro Direto na Escola foi criado em 1995, e vida financiar escolas publicas da educação básica da rede estadual e municipal além do Distrito Federal, tem o objetivo de dar assistência financeira a essas escolas. O Programa de Desenvolvimento da Escola é um programa que visa auxiliar a escola a desenvolver melhor suas atividades, tendo como objetivo o melhoramento do ensino aprendizagem dos educandos.

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Uma escola que se situa no campo necessita além de uma educação formal, sistematizada, de uma educação popular que veja as necessidades dos sujeitos envolvidos (p.59). No quarto capitulo será analisado os resultados do grupo focal realizado com professores da instituição e de dados colhidos durante as visitas à escola e a Secretaria da Educação do Município, intercalando as falas e sentimentos desses profissionais com os dados das avaliações externas realizados pelos discentes. Iremos avaliar a situação da Educação de Jovens e Adultos na escola nos dias atuais na instituição, tendo em vista que a EJA teve papel fundamental para a consolidação da referida escola. Mostrando os números referentes a matriculas, avanços alcançados pela modalidade e os desafios enfrentados hoje.

89

4 PROFESSORES E AS CONCEPÇÕES DA ESCOLA DO/NO CAMPO

Neste capitulo iremos dar voz aos sujeitos que compõem a escola Nossa Senhora do Livramento, sujeitos esses que muitas vezes são silenciados pelo sistema educacional que estão imersos. A partir de um grupo focal realizado em 29 de agosto de 2016 na escola Nossa Senhora do Livramento do assentamento Bela Vista, com dez professores que atuam na instituição e de dados colhidos durante as visitas à escola e a Secretaria da Educação do Município, iremos intercalar as falas e sentimentos desses profissionais com os dados das avaliações externas realizados pelos discentes. Ainda iremos avaliar a situação da Educação de Jovens e Adultos na escola nos dias atuais na instituição, tendo em vista que a EJA teve papel fundamental para a consolidação da referida escola. Mostrando os números referentes a matriculas, avanços alcançados pela modalidade e os desafios enfrentados hoje.

4-1 COSTURANDO HISTÓRIAS ENTRE A TEORIA E A EMPIRIA

Após algumas idas a Escola Nossa Senhora do Livramento em conversas com a coordenadora Maria Suely de Oliveira28 e com o diretor Paulo de Tasso Oliveira da Costa surgiu à ideia de realizar um grupo focal, assim teríamos como ouvir vários educadores ao mesmo tempo e analisar um pouco do trabalho que vem sendo desenvolvido por eles. Reunimos dez professores efetivos e substitutos em torno de uma mesa no pátio, no intervalo de um turno e outro e conversamos por cerca de uma hora sobre assuntos referentes à escola, comunidade, profissão, história de vida e os desafios enfrentados pelos docentes e pela educação do/no campo, com o objetivo de conhecer e entender os desafios da práxis educativa desenvolvida pelos mesmos.

Morgan (1997) define grupos focais como uma técnica de pesquisa que coleta dados por meio das interações grupais ao se discutir um tópico especial

28Maria Suely de Oliveira, em entrevista realizada em 19 de janeiro de 2017. A coordenadora trabalha na escola desde 2000, e esteve na gestão por oito anos. 90

sugerido pelo pesquisador. Veiga e Gondim (2001) complementam que como técnica, o grupo focal ocupa uma posição intermediária entre a observação participante e as entrevistas em profundidade. Pode caracterizar-se também como um recurso para compreender o processo de construção das percepções, atitudes e representações sociais de grupos humanos.

A ferramenta do grupo focal nos possibilitou identificar pontos considerados repetidos, regulares, diferentes e significativos mesmo que não regulares. Cada participante falou de um assunto através de um ponto de vista e alguns apresentaram questões marcantes que outros não citaram, além de deixar os participantes mais à vontade para falar sobre assuntos que não foram perguntados inicialmente pelo pesquisador.

No decorrer do texto utilizamos nomes fictícios para preservar o anonimato e não deixar os colaboradores incomodados. Através do preenchimento de uma ficha podemos identificar que dos dez professores entrevistados seis são efetivos através de concurso público, dos efetivos tem uma professora que esta á 18 anos trabalhando na instituição, outro há mais de treze anos. O quadro a seguir detalha a situação de cada professor.

Quadro 3- Professores Participantes do Grupo Focal

PROFESSOR VINCUL GRAD. ESP. ENS. TEMPO NA RESIDÊNCIA O MÉDIO ESCOLA ELIANE EFET PEDAG MAT 18 ANOS ASSENT. CARLOS SUBS LETRAS GESTÃO 3 ANOS SEDE CÉLIA EFET LETRAS PSICOPEDAGO 5 ANOS BARAÚNA/RN GIA REGINALDO EFET X 8 ANOS ASSENT. MATHEUS EFET PED EDUC.INFANTI 7 ANOS SEDE L JOSÉ EFET LETRAS LINGUISTICA 13 ANOS SEDE MARIA SUBS PED 16 ANOS ASSENT. JOSEFA EFET PED 3 ANOS SEDE ALICE SUBS PED 4 ANOS ASSENT. CARLA SUBS PED 4 ANOS ASSENT. Fonte: Sec. da Educ. Elaborado pelo Próprio Autor A professora Eliane explicou como chegou até a escola, e nos permitiu entender que os docentes efetivos apresentam uma ligação afetiva com o colégio e com o assentamento, sendo também responsável pelo desenvolvimento de ambos.

Eu comecei aqui na escola desde 1998 na fundação da escola, estou aqui há 18 anos, na época foi à primeira professora Leidinha que 91

mim convidou, pois estava faltando funcionários, também estava prestes a casar e não tinha casa, então vim morar e trabalhar aqui na comunidade. Eu sou a mais experiente na profissão aqui na escola. Quatro profissionais são substitutos estão na escola por meio de contrato temporário, uma professora substituta atual há dezesseis anos. A educadora descreve quais motivos a trouxeram para trabalhar na comunidade, a mesma não mora do assentamento Bela Vista, ela reside no assentamento vizinho Serra Dantas.

Eu vim para cá através do meu pai que é louco por agricultura, e a convite da Leidinha que inicialmente chamou primeiro a minha irmã, iniciei trabalhando com a turma de jovens adultos no assentamento Serra Dantas29 e depois consegui uma vaga aqui na escola e já estou trabalhando há 16 anos aqui. Os outros professores substitutos apresentam certa rotatividade, sendo transferidos com certa constância, tendo em vista que a cidade recebe uma influência politica partidária muito grande. A cada quatro anos com as mudanças no governo local mudam-se também os profissionais, gerando uma quebra no trabalho que vem sendo desenvolvidos dentro das escolas.

A ausência de concursos públicos agrava ainda a situação das escolas públicas, já que com a alta rotatividade dos profissionais acontece uma interrupção no processo ensino e aprendizagem. As escolas rurais são mais afetadas, uma vez que os professores que lecionam não dispõem de uma formação voltada para trabalhar com os povos do campo.

Como explica Nishimura; Jinkings (2012) a precarização do trabalho docente atinge várias esferas.

A precarização do trabalho docente é vista também como parte da expansão/massificação da educação num molde de retirada da autonomia docente no seu processo de trabalho, efetivada na padronização do ensino, através dos livros didáticos, propostas curriculares centradas, avaliações externas (p. 306).

Oliveira (2004) acresce enfatizando como se dá essa precarização dentro da profissão.

O aumento dos contratados temporários nas redes públicas de ensino, chegando, em alguns estados, a número correspondente ao

29Das primeiras turmas de EJA que vieram para o assentamento Bela Vista, foi deslocada uma turma para o assentamento Serra Dantas que é vizinho, na tentativa de facilitar o acesso dos trabalhadores. 92

de trabalhadores efetivos, o arrocho salarial, [...] a inadequação ou mesmo ausência, em alguns casos, de planos de cargos e salários, a perda de garantias trabalhistas e previdenciárias oriundas dos processos de reforma do aparelho de estado têm tornado cada vez mais agudo o quadro de instabilidade e precarização do emprego no magistério público. Diante das condições expostas se torna difícil ser professor na conjuntura atual, especialmente em escolas do/no campo onde as condições de trabalho são precárias. No âmbito da precarização das condições de trabalho é importante levarmos em consideração os aspectos econômicos (relação contratual e salarial) e a intensificação do trabalho, que remete a sobrecarga e novas demandas a que os docentes são submetidos (NISHIMURA; JINKINGS, 2012). Adiante vamos analisar a situação dos professores que participaram do grupo focal.

Dos participantes do grupo focal nove são graduados em diversas áreas da licenciatura (Letras, Pedagogia, Matemática) apenas um não tem graduação esse professor participou do Programa de Formação de Professores em Exercício (PROFORMAÇÂO), programa criado pelo MEC em 1999 com o intuito de acabar com a figura do professor leigo, é um curso de nível médio com habilitação para o magistério.

Segundo Moraes (2011) o programa possibilitou aos profissionais lecionarem nas séries iniciais do ensino fundamental.

Oficializado em 1999 na gestão do ministro da educação Paulo Renato de Souza do governo Fernando Henrique Cardoso - FHC (1995-2002) e continuada, sem alterações, no governo de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010), o Programa de Formação de Professores em Exercício, PROFORMAÇÃO foi um dos programas da Secretaria de Educação a Distância, SEED, em conjunto com a Secretaria de Ensino Fundamental, SEF, voltado para a formação à distância do professor leigo em Magistério de nível médio, que atua nas quatro primeiras séries do ensino fundamental e nas classes de alfabetização e pré- escola nas regiões Norte, Nordeste e Centro- Oeste do Brasil.

Em Jaguaruana, no ano de 2003, uma turma de professores que atuavam em escolas rurais, sem qualificação profissional, foi convidada a participar desse programa, no assentamento Bela Vista, participaram na época o primeiro diretor 93

Erasmo José e a primeira professora da comunidade Gracileide Silva30. Essa formação fez muita diferença na vida desses profissionais e para as comunidades que atuavam, pois puderam dar suas contribuições para o desenvolvimento das mesmas. Apenas quatro professores tem pós-graduação, visto que segundo os mesmos não tem condições de custearem mais uma formação, destacando que todos os entrevistados que possuem graduação, a cursaram em graduação particular e a distância, uma vez que a cidade não dispõe de nenhuma instituição de nível superior pública. Ainda contam com a questão do salário não ser suficiente para esse investimento, muitas vezes também não dispõem de tempo, pois o trabalho ocupa a maior parte de suas vidas.

Durante o grupo focal uma das questões relatadas pelos participantes com grande regularidade foi à forma como foram trabalhar na escola, muitos apontaram o fechamento de escolas rurais como principal fator. Somente nos últimos cinco anos em todo Ceará foram fechadas cerca de 3.399 escolas somente da zona rural, só em 2014 de acordo com o INEP fora fechadas no Ceará 375, e em Jaguaruana o número passou de 33 para 25, sendo que das 25 escolas 19 localizam-se na zona rural, essa ação gerou problemas, como por exemplo, o esvaziamento de algumas comunidades como é o caso do Sitio Pacatanha localizado próximo ao P.A. Bela Vista, e inchaço de outras como o próprio assentamento. Além de dificultar o acesso ao ensino por conta das enormes distâncias que os discentes têm que percorrer para poder chegar à unidade escolar mais próxima, levando em conta que a vida no campo conta com os desafios das constantes secas, cheias, distância e falta de transporte escolar.

A escola Nossa Senhora do Livramento com as nucleações que aconteceram em comunidades vizinhas (Sítios Lagoa da Salsa, Açude do Coelho, Gurgel e Pacatanha) recebeu um grande número de alunos, dificultando o trabalho que estava sendo desenvolvido da instituição. De acordo com a coordenadora Oliveira (2017) acolheram cerca de 400 alunos sem a menor estrutura física e humana, no antigo prédio onde funcionava a escola, e não dispunham de salas

30 Como mencionado no capitulo 3 deste trabalho, Gracileide é ex-professora e ex-moradora do Assentamento Bela Vista, hoje ela reside em Fortaleza. Trabalhou por 10 anos na Escola da comunidade, com as series iniciais com crianças, jovens e adultos. 94

adequadas, carteiras e louças. O que pode ter contribuído para evasão e reprovação.

Quando nuclearam as escolas da zona rural, e escola teve que receber até 400 alunos, foi complicado não tínhamos estrutura para receber esses alunos, foi difícil trabalhar. As salas eram toda esburacada, não tinha cadeira... (OLIVEIRA, 2017) O professore Carlos que participou do grupo focal acrescenta que:

Em 2013, estava numa escola que foi nucleada e fiquei sem trabalho, em seguida fui convidado pelo secretário para vim trabalhar aqui na escola Nossa senhora do livramento. Por conta da distancia poucas pessoas querem trabalhar aqui, eu aceitei e vim para cá e estou aqui desde 2014 até 2016. Ainda se destaca o fator da distancia que dificulta o trabalho na escola, sendo que o assentamento se torna longínquo da sede da cidade Jaguaruana cerca de 20 km. Esse fator também dificulta a vida dos alunos que necessitam se deslocar cerca de 15 km de uma comunidade a outra para ter acesso ao ensino. Para Nishimura; Jinkings (2012) a extensão da jornada de trabalho, vai para além das horas previstas no vinculo empregatício, tem implicação direta no tempo disponível para realização de outras atividades como leitura, festas, passeios, viagens, cinema, descanso, estar com a família, tarefas domesticas etc.

A senhora Célia cita os desafios que enfrenta para poder trabalhar todos os dias, e nos mostra como a precarização da profissão docente as vezes agrava nas zonas rurais. É totalmente absurdo um professor percorrer 140 km todos os dias, sem nenhuma segurança, sem nenhuma qualidade para poder exercer sua profissão, como se pode realizar um bom trabalho com o corpo e mente exausta?

Moro em Baraúnas e venho todos os dias para trabalhar aqui, percorro 70 km, venho de moto. Todo o dia vou embora depois do turno da manhã porque trabalho lá no turno da tarde, repito essa trajetória há sete anos. O senhor Reginaldo teve que se mudar para a comunidade para ficar mais perto do trabalho, ele atribui sua vinda também ao fechamento de escolas.

Eu moro aqui no assentamento, trabalhava em outra escola quando a escola foi fechada eu vim trabalhar e morar aqui no assentamento, já estou há oito anos. A instituição de ensino assim, como todas as outras, passa por problemas que afetam o ensino e aprendizagem, os mais gritantes são: indisciplina dos alunos, 95

drogas, escassez de água, reprovações, evasões e falta de investimentos federais, pois a mesma está inserida numa área de assentamento de reforma agrária. São problemas não somente da instituição, mas também do P. A., tendo em vista que a escola é referência para o assentamento, e tem suas histórias imbricadas.

A respeito da indisciplina dos alunos os profissionais apontam a falta de acompanhamento das famílias como principal fator, como enfatiza o professor Carlos, “hoje nosso maior problema é a indisciplina principalmente dos adolescentes”, a escola não se torna atrativa para os estudantes, reproduzindo um currículo urbano em sua maior parte. José assim como o colega concorda dizendo que.

Com uso das redes sociais e tecnologias, os alunos não querem ler, a questão da falta de limite. Além dos fatores fisiológicos da própria idade, tem a indisciplina, o aluno acha que pode fazer tudo. A questão familiar, os valores familiares não estão sendo cultivados em casa. Já o professor Matheus atribui à indisciplina dos discentes a junção de pessoas de lugares diversos, com culturas distintas.

Aqui é uma comunidade de assentamento, é formada por culturas diferentes, tem gente da Paraíba31, a questão de não ter punição os adolescentes fazem o que querem. Entretanto, não podemos responsabilizar esses jovens ou suas famílias pela falta de perspectiva da vida no campo, sendo que faz parte do projeto do agronegócio e do capitalismo destruir o campesinato e o camponês, deixando-os sem saída, restando-lhes apenas a sua força de trabalho para vender. No caso do assentamento Bela Vista o estado simplesmente desapropriou as terras e não lhes ofereceu condições para sobreviver no campo. Os camponeses são vítimas do sistema capitalista que priorizam as grandes empresas com financiamentos milionários enquanto um pequeno produtor tem que trabalhar esperando apenas pelas chuvas, sem ter uma assistência técnica que o capacite para sobreviver no semiárido, e sem condições financeiras.

Ribeiro (2010) aponta algumas explicações para a indisciplina dos alunos no momento atual dentro das instituições de ensino no Brasil. “Para compreender os

31A expressão é de uso no universo vocabular de Jaguaruana, se refere a pessoa de outro estado com cultura diferentes. 96

fenômenos de rebeldia apresentados podemos iniciar afirmando que: Esses jovens estudantes buscam conquistar respeito e reconhecimento entre seus pares;”

Outra explicação possível é a expressão incontida de sua revolta motivada pelos mais variados problemas familiares e pessoais; nunca nos esquecendo de levar em conta suas precárias perspectivas de futuro, sua pobreza e situação social; uma outra possibilidade seria uma rejeição contra uma escola e seu modelo educacional que provocava, em muitos alunos, uma relevante e notória incapacidade de aprender; outra possibilidade é compreender que a juventude e a adolescências são caracterizadas como um tempo de insatisfações e revoltas contra instituições, as diferenças formas de poder e o exercício da autoridade (RIBEIRO, 2010, p. 241-242). Dos fenômenos citados acima os problemas familiares e as precárias perspectivas de futuro são realidades vivenciadas pelos adolescentes da comunidade, acarretando interferência dentro da escola e consequentemente no processo de ensino e de aprendizagem como analisaremos mais a frente.

Ribeiro (2010) continua mostrando como os jovens da classe trabalhadora vivenciam a educação básica de uma maneira diferente da classe média.

No Brasil atual, as crianças e jovens filhos de famílias das classes médias permanecem na escola durante a educação básica pelo menos durante quinze anos de suas vidas. Os estudos na universidade somam pelo menos mais quatro anos, podendo chegar, em alguns cursos, aos seis anos ou mais. Os filhos das classes populares não podem esperar tanto. Eles necessitam de respostas e alternativas bem mais imediatas. Por outro lado, quando se fala em aproveitamento pedagógico e aprendizagem, os filhos das classes médias, além do tempo diário que passam na escola, têm a oportunidade de relevante apoio educacional através de numerosos e significativos estudos e atividades extracurriculares, sejam elas dedicadas aos esportes, ao estudo de artes ou línguas estrangeiras, além do acesso a outros bens culturais como mais informações e viagens. Todo esse conjunto, no final e no percurso de sua vida escolar, vai fazer uma enorme diferença, nem sempre observada e levada em conta nos sistemas nacionais e internacionais de avaliação ou acompanhamento da aprendizagem (p. 242-243). As condições de estudo de uma escola no campo se difere de muitos aspectos de uma escola situada na zona urbana, à indisciplina revelada pelos docentes pode estar associada ao ócio que o assentamento está entregue, não existem alternativas, os jovens não dispõem de um espaço para praticarem esporte, uma praça para entreter-se, tendo como única forma de socialização a escola. As famílias necessitam sair de suas casas para trabalharem em empresas principalmente nas épocas de seca, pois não têm condições de cultivar seus 97

alimentos, e por uma questão de sobrevivência pais e mães deixam seus filhos sozinhos, sem cuidados.

A educação do/no campo em todo Ceará enfrenta um problema em comum que é a seca, as sete escolas do campo existentes e as escolas rurais passam pelas dificuldades da falta de chuvas, tendo em vista que entre 2012-2016 o estado enfrentou estiagem de chuvas. No III Seminário estadual de educação do campo referenciado no segundo capitulo, realizado em novembro de 2016 no estado do Ceará, esse foi um dos temas mais debatidos pelas escolas que participaram, todas apontaram a seca como principal dificuldade enfrentada no desenvolvimento de suas atividades atualmente. O professor José esclarece que a escola está numa área de reforma agrária, portanto, deveria receber investimentos do governo federal.

O assentamento esta numa área de semiárido, mas aqui não tem condições para produzir e viver no semiárido. A questão da água poderia ter um investimento para cavar poços profundos, para irrigação, assim daria condições para a comunidade se desenvolver. O assentamento se resume a agricultura sequeira32 e hoje estamos vendo que a agricultura sequeira não funciona, porque temos constantes secas, agora, por exemplo, estamos com cinco anos de seca. Muitos moradores precisam trabalhar fora da comunidade para poder sobreviver e isso atrapalha a escola, na questão de avanços. Hoje o agricultor esta aqui e começa a passar necessidade ai tem que sair para trabalhar fora, a comunidade não tem suporte, falta incentivo do governo federal, do INCRA. José denuncia a respeito do não desenvolvimento do assentamento e consequentemente da instituição, que faltam investimentos federais para estruturar a vida desses camponeses, falta criar meios de sobrevivência dentro do Bela Vista. Uma saída seria a irrigação, pois a terra é muito fértil, dessa maneira os trabalhadores viveriam bem, os filhos teriam motivação para continuar a vida no campo.

Carlos nos fala que dentro da sala de aula os profissionais tentam, mesmo que sem uma formação especifica para o trabalho em uma escola do campo, incentivam os alunos a valorizarem a vida no campo, mas segundo o mesmo eles demostram pouca motivação, querem mesmo é sair, querem morar na cidade.

Em sala de aula a gente tenta fortalecer a luta dos pais dos alunos, porém a maioria dos alunos pensam coisas diferentes, a grande maioria não pensa em ser agricultor. A gente pergunta quando os

32 É o sistema de produção agrícola que depende exclusivamente das chuvas como fonte de água. 98

país de vocês morrerem quem vai cuidar desse pedaço de chão? Quem vai plantar uma cultura? Será que a gente vai ter onde comprar uma banana? Será que a gente vai ter um suco natural de goiaba se a gente não cultivar a agricultura? E sem falar que é uma questão de sobrevivência apesar das questões climáticas da nossa região, a gente tem que encontrar maneiras para viver. Como por exemplo: agoação (irrigação), cooperativas. Às vezes o aluno pergunta sobre a profissão de agrônomo, se tem que trabalhar no sol? A gente vai explicar que o agrônomo não trabalha no sol, mas às vezes ele precisa ir ao sol, para esta pesquisando o solo, a semente e etc. É necessário que todas as escolas rurais tenham um currículo específico, que não seja apenas um currículo que reproduza a idéia de que o urbano é que é bom, que é moderno. É necessário um currículo que atenda as necessidades dos sujeitos do campo. Um currículo que seja pensado pelos sujeitos que o compõem, somente dessa forma a visão de que o campo é atrasado, sem perspectiva, vai acabar. Arroyo (2007) defende que o currículo, os conteúdos, seu ordenamento e sequenciação, suas hierarquias e cargas horárias são o núcleo fundante e estruturante do cotidiano das escolas, dos tempos e espaços, das relações entre educadores e educandos, da diversificação que se estabelece entre os professores.

Consequentemente, o currículo é o polo estruturante de nosso trabalho. As formas em que trabalhamos, a autonomia ou falta de autonomia, as cargas horárias, o isolamento em que trabalhamos... Dependem ou estão estreitamente condicionados às lógicas em que se estruturam os conhecimentos, os conteúdos, matérias e disciplinas nos currículos (Arroyo, 2007, p.18). Não basta só os docentes falarem sobre a vida no campo é necessário politicas públicas que enxerguem os povos do campo, politicas que lhes dê condições de sobreviver dignamente com alimentação, trabalho, moradia, educação de qualidade, segurança e direitos. Conforme Melo (1994) na história do Brasil a educação rural sempre sofreu com o descaso da Constituição Federal que por muito tempo ignorou sua existência.

O descaso com a educação dos povos do campo trouxe consequências e deixou marcas constantes, ainda hoje, na precariedade da oferta, no funcionamento das escolas do campo, no que se refere à indisponibilidade de pessoal qualificado especificamente de deslocamento, tanto dos alunos quanto dos docentes; escassas ou inexistentes oportunidades de formação profissional docente, tanto a inicial quanto a continuada e tantas outras carências. A escola rural, a exemplo das outras escolas 99

brasileiras, seguiu o modelo excludente de desenvolvimento implementado no campo, com oferta para atender à elite dominante, deixando à margem a maior parte da população rural, que era formada pelos negros, indígenas, trabalhadores rural de ambos os sexos, considerando-se que para desenvolver o trabalho na agricultura, não precisava ser letrado (MELO,1994, p. 84). A escola no campo, do modo como esta organizada e estruturada simplesmente reproduz a ideologia dominante, cabendo aos docentes à tarefa árdua de tentar mudar essa situação. O professor José complementa a fala do colega dizendo que a escola tem uma parcela de participação nessa sensibilização do aluno;

Nós enquanto escola, temos que trabalhar com o aluno o convívio com o rural, mas eu vejo que desde quando começou a formação do assentamento se fala muito em reforma agrária, INCRA, eu percebo que o Bela Vista não existe investimento federal.

Arroyo (2004) defende que os estados e os municípios ainda insistem em tratar a educação realizada no campo como uma educação rural, por isso é necessário uma redefinição profunda da política educacional para o campo , ou seja, uma politica da educação do campo. Mesmo com as inúmeras dificuldades relatadas pelos educadores, estes percebem que aos poucos e com muita luta estão conseguindo desenvolver um bom trabalho dentro das possibilidades, prova disso são as ações que a escola e o município vêm desenvolvendo para diminuir as evasões e as reprovações, destacando que essas reprovações estão diretamente ligadas a maneira como o estado trata a educação do/no campo. Lima (2011) destaca que a inserção da criança e do adolescente no mundo do trabalho trazem consequências irreparáveis para sua vida.

Os resultados desse processo de inserção precoce de crianças e adolescentes no mercado de trabalho são extremamente prejudiciais ao seu desenvolvimento físico e mental, impedindo-os de participarem de atividades, de acordo com a sua faixa etária, e comprometendo irremediavelmente o seu futuro. Essa situação implica em graves prejuízos para a formação escolar de crianças e adolescentes, configurando um quadro vergonhoso com altos índices de analfabetismo, evasão e repetência escolar (LIMA, 2011, p. 50). A figura 9 mostra dados referentes às taxas de evasão e reprovação da escola. 100

Figura 7- Controle da evasão -1997- 2015.

Evasão 1997- 2015 350 311 328 304 297307 306 300 268 280 274 250 262 271 249247266 200 191 143 150 134 93 100 52 26 50 20% 19%20%33%33% 0 7%12%16%18% 10%16%7% 13%6% 0% 1997 1999 100%2% 2% 2001 2003 5% 2% 0 2005 2007 2009 2011 MATRICULA FINAL 2013 2015 EVASÃO 199 199 199 200 200 200 200 200 200 200 200 200 200 201 201 201 201 201 201 201 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 MATRICULA FINAL 26 52 93 143 134 191 311 268 304 280 297 307 328 306 274 262 249 247 266 271 0 EVASÃO 20%19%20%33%33% 7% 12%16%18%10%16% 7% 13% 6% 0% 100 2% 2% 5% 2%

FONTE: Sec. da Educ. Elaborado pelo Próprio Autor

Figura 8- Controle da reprovação 1997- 2016.

REPROVAÇÃO

REPROVAÇÃO MATRICULA FINAL

0 3% 271 2015 1% 266 6% 247 2013 14% 249 2% 262 2011 0% 274 5% 306 2009 13% 328 20% 307 2007 14% 297 25% 280 2005 13% 304 12% 268 2003 11% 311 19% 191 2001 13% 134 13% 143 1999 11% 93 32% 52 1997 0% 26 199 199 199 200 200 200 200 200 200 200 200 200 200 201 201 201 201 201 201 201 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 REPROVAÇÃO 0% 32%11%13%13%19%11%12%13%25%14%20%13% 5% 0% 2% 14% 6% 1% 3% MATRICULA FINAL 26 52 93 143 134 191 311 268 304 280 297 307 328 306 274 262 249 247 266 271 0

FONTE: Sec. da Educ. Elaborado pelo Próprio Autor

101

Como podemos perceber, as figura 9 e 10 apresentam números referentes a evasão e reprovação, os professores entrevistados atribuíram as dificuldades da vida no campo como principal motivo da evasão escolar, devido o P.A. está localizado numa área de Caatinga no Semiárido, uma região de clima meio árido, marcada pela irregularidade de chuvas, cujo volume varia entre 500 a 700 mm anuais (MALVEZZI, 2007), uma vez que sem chuvas se torna inviável para os camponeses plantarem, o que os leva a procurar trabalho em outros lugares, muitas vezes os próprios filhos também tem que ir junto dos pais. A cobertura vegetal do Semiárido é a caatinga. “No período chuvoso ela fica verde e florida, entretanto, no período normal de estiagem, ela fica seca, adquire uma aparência parda. O Semiárido tem apenas duas estações: a das chuvas e a sem chuvas” (SILVA; LIMA, p. 03).

A coordenadora Oliveira (2017) explica o funcionamento da escola e como as dificuldades de sobrevivência no campo afetam o andamento das atividades na instituição.

Nós recebemos alunos que passam pouco tempo, perdemos alunos que tem que sair para trabalhar com 10 anos, alunos que precisam ajudar os pais, eles necessitam sobreviver. A falta de recursos financeiros nos assentamentos em todo o Brasil são um dos grandes problemas, as famílias assentadas muitas vezes não dispõem de condições financeiras para se fixarem na terra é necessário que junto da desapropriação das terras acompanhe o crédito para custeio, investimento e assistência técnica, falta mecanismos para os camponeses desenvolverem uma agricultura camponesa onde possam suprir suas necessidades básicas.

O assentamento Bela Vista recebeu muitos créditos ao longo de sua história, a seguir citaremos: (Crédito Implantação- 1997 e 1998, Agrícola (custeio)- 2000, Cisternas (fundo perdido)-2005, Pronaf A- 2006, Crédito Apoio-2007, Crédito Fedaf- 2012, Credito emergencial-201333), faltou uma assistência técnica que apoiasse a construção coletiva de um projeto de desenvolvimento para a comunidade.

33Oliveira, Diana Nara da Silva. Monografia: “A criação do assentamento Bela Vista em Jaguaruana- Ceará (1996-2014)” 102

Oliveira (2014) fala como a falta de assistência técnica interferiu no desenvolvimento da agricultura camponesa no assentamento Bela Vista,

O PRONAF no Assentamento Bela Vista não trouxe grandes mudanças e transformações, pois os assentados não receberam um acompanhamento adequado para gerenciar esse crédito. Inicialmente tinham um projeto para irrigação, mas como as lideranças e a assistência técnica não orientaram de forma correta os assentados, eles acabaram investindo o dinheiro em área sequeira34. O crédito foi utilizado na compra de animais, equipamentos para o trabalho e outros itens, dessa forma acabaram investindo em outras coisas que não trariam tantos benefícios para o assentamento, como um projeto de irrigação. Se o destino desse crédito tivesse sido outro, a situação financeira do P.A. seria bem melhor, hoje eles se obrigam a sair para trabalhar em outros locais porque dentro no assentamento em períodos de seca não tem trabalho para o seu sustento. A comunidade não dispõe de água encanada, ainda utiliza meios rústicos para armazenarem água, tem apenas as cisternas, porém em períodos de estiagem elas ficam secas, ou são abastecidas pelo Defesa Civil do estado do Ceará, através da Operação Carro Pipa (OCP), (OLIVEIRA, 2014, p.66).

Ao longo da construção histórica da comunidade a escola esteve sempre ao lado, servindo sempre como referência para as famílias, e passando pelos desafios juntos. Malvezzi (2007) destaca ainda que a convivência com o Semiárido precisa começar dentro das escolas, modificando-se o processo educacional, o currículo escolar, a metodologia educativa e o próprio material didático.

4.2 CONFRONTANDO A REALIDADE NO ENSINO VIVENCIADO NA ESCOLA DO/NO CAMPO.

A Coordenadora Oliveira (2017) continua falando sobre as necessidades básicas que as famílias enfrentam diariamente e que interferem no processo de ensino e aprendizagem. A questão da evasão alguns alunos já adolescentes saem para trabalhar nas empresas do agronegócio que estão instaladas na chapada, porque dentro da comunidade não tem emprego, eles querem comprar uma roupa, um calçado e os pais não tem condições de dar, a gente leva o conselho tutelar até a família, mas não adianta, agente ate entende pois eles precisam sobreviver. A família não tem esclarecimento e não ajuda.

34 Quando esperam apenas pelas chuvas para produzirem sua colheita. 103

A Secretaria da Educação do município trabalha com projetos que tentam combater o trabalho infantil tanto da cidade como na zona rural, como por exemplo, o Programa de Educação contra a Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (PETECA) projeto desenvolvido pelo Ministério Público do Trabalho do Ceará em parceria com as Secretarias Estaduais e Municipais da Educação desde 2008, atualmente cerca de 130 municípios participam, o projeto visando conscientizar a sociedade sobre o tema, reforçar a importância da erradicação das situações de exploração e fortalecer o Sistema de Garantia de Direitos.

Diante da realidade se torna difícil obedecer à regra, principalmente quando se trata de uma questão de sobrevivência, entretanto mesmo com os inúmeros desafios enfrentados pela comunidade escolar os sujeitos continuam lutando, a cada dia uma maneira diferente, algumas vezes fazendo esforços sobre- humanos para continuar, mas como é da natureza do homem transformam-se através do trabalho.

O trabalho desenvolvido dentro da instituição está muito ligado às avaliações externas visto que no Brasil, registra-se desde a década de 1960 o crescimento do uso de testes educacionais. No entanto situa-se nos anos finais da década de 1980 a principal iniciativa de organização de uma sistemática de avaliação do ensino fundamental e médio, em âmbito nacional. Esta sistemática é denominada pelo MEC Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica35 (SAEB). “Este toma como um dos indicadores da avaliação o desempenho em provas de uma amostra de alunos do ensino fundamental e médio, de todas as unidades federadas” (SOUSA, 2003, p. 177).

O Saeb foi modificado e passou a ser composto por duas avaliações: a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), que manteve as características, os objetivos e os procedimentos da avaliação efetuada até aquele momento pelo Saeb, e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), conhecida como Prova Brasil, criada com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino ministrado nas

35 O Saeb foi instituído em 1990, tem como principal objetivo realizar um diagnóstico da educação básica brasileira. O levantamento produz informações que subsidiam a formulação, reformulação e o monitoramento das políticas públicas nas esferas municipal, estadual e federal, visando a contribuir para a melhoria da qualidade, equidade e eficiência do ensino. Além disso, procura também oferecer dados e indicadores sobre fatores de influência do desempenho dos alunos nas áreas e anos avaliados; 104

escolas das redes públicas. Em 2013, a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) foi incorporada ao Saeb para melhor aferir os níveis de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa (leitura e escrita) e Matemática36. Todas as escolas públicas participam das avaliações externas, tendo como objetivo receber investimentos financeiros a partir da obtenção de notas satisfatórias dos discentes.

Através do trabalho que está sendo realizado pela instituição segundo os profissionais, os alunos vêm alcançando resultados satisfatórios principalmente nas avalições externas (ANA, PROVA BRASIL, SPAECE, OBMEP, OBA37) realizadas. A seguir iremos avaliar a quadro 4 que mostra o acompanhamento realizado pela Secretaria da Educação de Jaguaruana na turma do 5º ano, veremos também a quadro 3 de cores utilizada pela secretaria na avaliação dos discentes.

Figura 9- Professora desenvolvendo atividades de leituras com os alunos.

FONTE: Próprio Autor

36Disponível em http://portal.inep.gov.br/saeb. Acesso feito em 20 de fevereiro de 17. 37Avaliação Nacional de Educação (ANA) visa a aferir os níveis de alfabetização e letramento em língua portuguesa e em matemática e também as condições de oferta do ciclo de alfabetização das redes públicas, aplicada aos alunos do 3º ano; Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SPAECE) avaliação externa em larga escala que avalia as competências e habilidades dos alunos do Ensino Fundamental (2º ano, 5º ano, 9º ano) e do Ensino Médio, em Língua Portuguesa e Matemática; Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) é uma realização do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA); Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronautas (OBA).

105

A figura 11 mostra os momentos de atividades desenvolvidas em sala de aula, através da imagem podemos observar que as novas salas oferecem um maior conforto para os discentes, também contam com o apoio do livro didático.

Constatamos que a equipe pedagógica da Secretaria da Educação Municipal de Jaguaruana desenvolve um acompanhamento detalhado da leitura e da escrita dos alunos. A seguir iremos acompanhar um exemplo desses diagnósticos que é realizado em todas as escolas do município enfatizando os 2º anos e 5º anos do ensino fundamental.

Quadro 3- avaliação através de cores.

Muito Crítico Leitor sem Leitor de Intermediário Adequado crítico Fluência frases

Fonte: Sec. da Educ. Elaborado pelo próprio autor.

Quadro 4- Acompanhamento Bimestral da turma de 5º ano

Nº NOME FEV MAR ABR MAI JUN AGO SET OUT NOV DEZ 01 ANA 1 LTSF LTSF LTSF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF 02 ANA 2 LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF 03 ANTONIO LTSF LTSF LTSF LTSF LTCF LTCF LTCF LTCF 04 CARLA LTSF LTSF LTSF LTSF LTSF LTSF LTCF LTCF 05 CARLOS LTSF LPNC LPNC LPNC LF L.F LTSF LTSF 06 EDSON LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF 07 EMENSON LF LF LF LTSF LTSF LTSF LTSF LTCF 08 ERIK LTSF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF 09 FRANCISCO 1 LTSF LTSF LTSF LTSF LTSF LSFT LTSF LTCF 10 FRANCISCO 2 LTSF LTCF LTSF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF 11 FRANCISCO 3 LF LTSF LF LF LTSF LTSF LTSF LTCF 12 FRANCISCO 4 LSC LPC LF LF LF LF LTSF LTSF 13 JOÃO LTSF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF LTCF 14 JOCÉLIO LSC LPC LPC LPC LPC LPC L.F LTSF 15 MARIA LF LTSF LTSF LTSF LTCF LTCF LTCF LTCF 16 THAINARA LF LTSF LTSF LTSF LTCF LTCF LTCF LTCF 17 VINICIUS LTSF LTSF LTSF LTSF LTSF LTSF LTCF LTCF 18 YAGO LF LF LF LF LTSF LTSF LTCF LTCF JOSIANA LTSF LTSF Fonte: Sec. da Educ. Elaborado pelo próprio autor. 106

De acordo com a quadro 4 os diagnósticos realizados bimestralmente são muito importantes, já que a partir deles é possível traçar metas para solucionar as possíveis interrupções que acontecem no processo de ensino e aprendizagem. De acordo com a professora Alexandra hoje os alunos no 1º ano ou até o infantil V já aprendem a lê, tudo isso fruto do trabalho que esta sendo feito em parceria dentro das escolas.

Antes era difícil um aluno aprende a ler na pré-escola, eu38, por exemplo, vim aprender a ler no 2º ano, hoje às crianças já saem ledo da pré-escola, é muito gratificante vê nossos alunos se desenvolvendo, isso nos da motivação de continuar a luta sabendo que nossos alunos vão ter um futuro melhor. Mesmo com os frequentes diagnósticos realizados em parceria com a Secretaria da Educação Municipal percebemos que os discentes não apresentam um rendimento adequando para sua idade. Os alunos de 5º ano segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) tem que mostram autônima, ser capaz de ler e compreender textos dentre outras habilidades, ou seja, de acordo com a quadro 4 somente alguns alunos apresentam no inicio do ano uma noção crítica sobre a língua portuguesa, não sendo capaz de ler e compreender uma frase. Mesmo assim destacamos a relevância dos diagnósticos, pois ao final do terceiro bimestre os mesmos já demonstraram avanços. O quarto bimestre infelizmente não foi cedido pela secretaria da educação para nossa pesquisa.

Segundo Oliveira (2017) a Secretaria da Educação Municipal oferece suporte aos docentes principalmente para o Fundamental I, sendo realizadas bimestralmente avaliações diagnósticas da situação da aprendizagem dos alunos, formações continuadas constantes, e ainda disponibiliza livros didáticos para os alunos da educação infantil, o que segundo os docentes acresce qualidade ao ensino.

Nas avalições externas estamos conseguindo avançar, nós recebemos muito acompanhamento da Secretaria, muito apoio, formação, são feitos diagnósticos todos os bimestres das séries iniciais.

38A Professora Substituta cursou todo o ensino fundamental na escola Nossa Senhora do Livramento, e hoje leciona na instituição. 107

Para o 2º ano é realizado o SPAECE ALFA, onde são avaliadas as competências e habilidades em português. A seguir observamos no quadro 6 onde mostra a evolução da escola de 2007 a 2014 demostrada através de cores.

Quadro 5- Avaliação através de cores Spaece Alfa.

Não Alfabetização Intermediário Suficiente Desejável Alfabetizado incompleta Abaixo de 75 75 a 100 100 a 125 125 a 150 Acima de 150

Fonte: Sec. da Educ. Elaborado pelo próprio autor. A instituição ocupou o décimo terceiro lugar entre dezesseis escolas do município de Jaguaruana em 2015 apresentando um desempenho desejável para na língua portuguesa, porém nos anos anteriores apresentava uma situação muito crítica, sem aprendizado significativo, sem avanços no processo de aprendizado da leitura e da escrita.

Quadro 6- Spaece Alfa 2º ANO – Nossa Senhora do Livramento- 2007 A 2015.

Nº Escola 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 13 Nossa Senhora do 106,3 97,3 83,2 141,4 229,2 123 166,8 154,7 194,1 Livramento Fonte: Sec. da Educ. Elaborado pelo próprio autor.

Partindo também do SPAECE analisamos a situação da Escola Nossa Senhora do Livramento do que diz respeito ao desenvolvimento das competências e habilidades em português e matemática de 2008 a 2015, seguindo mesmo padrão de cores para avaliação do Spaece Alfa acima.

Quadro 7- Spaece 5º ANO – LÍNGUA PORTUGUESA, 2008 A 2015. Nº Escola 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 13 Nossa Senhora do 142 131,6 147,8 165,6 190 171 203,1 212,9 Livramento Fonte: Sec. da Educ. Elaborado pelo próprio autor. 108

Quadro 8- Spaece 5º ANO – MATEMÁTICA, 2008 A 2015. Nº Escola 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 13 Nossa 146,2 135,2 163,7 198,1 195,3 183,3 230,0 241,9 Senhora do Livramento Fonte: Sec. da Educ. Elaborado pelo próprio autor. O que nos chama atenção nos quadros 7 e 8 foi que o rendimento dos alunos diminuiu no 5º ano em comparação com o 2º ano, os discentes apresentaram baixa evolução no processo de ensino e aprendizagem em português e matemática, fato que interfere nas séries posteriores. Um dos temas bastante debatidos pelos gestores e professores das escolas do campo no III Seminário Estadual de Educação do Campo foi que os alunos apresentam pouco conhecimento, ou pelo menos não tem base de conhecimentos adequados para a série em que estão matriculados. Segundo o diretor Francisco José representante da CREDE 3 - E.E.M MIGUEL CARNEIRO DA CUNHA- TIANGUÁ – CE, as escolas do campo do Ceará sofrem porque as escolas rurais apresentam uma baixa qualidade no ensino.

A escola enfrenta dificuldade na aprendizagem dos alunos, pois eles apresentam baixo nível de conhecimento, não dispõem de uma base de conhecimento adequado, faltou um ensino de melhor qualidade nas séries iniciais, eles não compreendem a importâncias da educação na transformação de suas vidas.39 Realidade que podemos comprovar a partir dos dados apresentados acima nas tabelas, os alunos estão matriculados, mas não estão alcançando resultados desejáveis, apenas conseguem ficar numa posição intermediaria, os alunos têm acesso nas dificuldades de permanência na escola.

A seguir concluímos essa análise dos dados com os resultados da turma do 9º ano, de 2008 a 2015, sendo que em 2009 e 2013 a escola não participou da avaliação. Para o 9º ano é aplicada outra tabela também de cores, mas com entendimentos diferenciados.

39 Fala retirada do relatório do evento III Seminário Estadual de Educação do Campo: A construção social de uma política para o Ceará (SEDUC-CE, 2016).

109

Quadro 9- Spaece 9º ANO – Nossa Senhora do Livramento- 2008 A 2015.

MUITO CRÍTICO INTERMEDIARIO ADEQUADO CRÍTICO

Até 200 200 a 250 250 a 300 Acima de 300

Fonte: Sec. da Educ. Elaborado pelo próprio autor.

Quadro 10- Spaece 9º ANO – PORTUGUÊS, 2008 A 2015. Escola 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 E.E.F NOSSA 188,5 211,1 209,1 201,1 231,10 215,2 SENHORA DO LIVRAMENTO Fonte: Sec. da Educ. Elaborado pelo próprio autor.

Quadro 11-Spaece 9º ANO – MATEMÁTICA 2008 A 2015. Escola 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 E.E.F NOSSA 194,5 217,7 219,8 229,5 238,50 221,5 SENHORA DO LIVRAMENTO Fonte: Sec. da Educ. Elaborado pelo próprio autor. A situação do 9º ano é bastante inquietante, os alunos apresentam baixos rendimentos em português e matemática, partindo da posição muito crítica para uma posição crítica, destacando que infelizmente esse quadro atinge todas as escolas municipais de Jaguaruana. Os dados despertam questionamentos a respeito das possíveis causas que levam esses alunos estar abaixo da média nacional, sendo necessário à realização de um estudo aprofundado para descobrir as causas para essa retrocesso em relação às séries inicias do ensino fundamental.

Conforme esclarece Bacha (2006) existem diversas causas para o fracasso escolar, porém o estudante é o que apresenta menos culpa, muitas vezes, sendo o sistema o maior responsável.

Há vários problemas de aprendizagem encontrados dentro das escolas e estima-se que de 10 a 20% destes sejam exclusivos dos sujeitos e 80 a 90% tenham a causa do fracasso escolar ligados a 110

questões culturais, sociais e políticas que regem a instituição escolar. Nestes aspectos deve ser considerada também a postura/atitude do professor na produção do fracasso ou do sucesso escolar (BACHA, 2006, p. 423). O projeto de educação do/no campo que é defendido no Brasil pelos movimentos socias tem grande preocupação com o acesso dos trabalhadores e filhos de trabalhadores aos conteúdos da base comum, é muito importante que os discentes tenham acesso ao conhecimento de qualidade mesmo nas escolas rurais.

Entendendo que a educação do campo busca superar essa logica educativa que, ao longo dos tempos, vem induzindo as massas da classe dos trabalhadores a uma formação escolar alienante, por reproduzir a logica do sistema capitalista que desconhece a dimensão da alteridade, da realidade dos sujeitos do campo, na lógica dos trabalhadores (JUNIOR; MOURÃO, 2012, p. 193). Nessa perspectiva, não cabe mais o termo “educação rural”, já que este subentende uma educação pensada e executada pelas elites dominantes. “O termo “Educação do Campo” pressupõe o redimensionamento da educação do trabalhador no campo, a partir do próprio trabalhador que cria e recria os processos educativos” (FONSECA; MOURÃO, 2012, p. 289).

Como já mencionado no capitulo 2 para Machado a educação do campo defendida pelos movimentos socias e que esta na lei Diretrizes Operacionais para Educação Básica nas Escolas do Campo é:

A educação do campo preconizada pela Resolução CNE/CEB nº 01/2001 Diretrizes Operacionais para Educação Básica nas Escolas do Campo, alia‐se a uma perspectiva de educação crítica, coletiva e emancipatória na medida em que concebe a escola como um espaço social específico em comunicação com o espaço social mais amplo, cujas mudanças precisam refletir as necessidades e as potencialidades sócio‐ econômicas do lugar em que vivem os sujeitos do campo, de modo que ali possam permanecer e se desenvolver (MACHADO, 2010, p. 59). A construção de um currículo voltado para a educação do campo faz-se necessário dentro da instituição como forma de enfrentamento da situação precária que a escola está inserida. A coordenadora da escola do assentamento reconhece que os dados despertam preocupação, porém acrescenta que ainda assim estão conseguindo evoluir nas avaliações.

111

As avaliações externas SPAECE, ANA E OBMEP todos os alunos participam, e durante todo o ano são trabalhados textos, produções voltadas para essas avaliações, isso esta ajudando os alunos a obterem melhores notas (OLIVEIRA, 2017).

Em relação aos baixos rendimentos segundo Borges (2012), podemos associar com a qualidade do ensino que é oferecido nas escolas rurais, o que conta com as mais diversas dificuldades como, por exemplo, falta de profissionais qualificados, falta de recursos materiais, estrutura física, insuficiência de transporte escolar, um currículo que não se volta para os sujeitos do campo, dentre outros fatores, como cita Borges (2012):

Falta de infraestrutura necessária e de docentes qualificados; Falta de apoio a incentivos de renovação pedagógica; Currículo e calendário escolar alheios á realidade do campo; em muitos lugares atendidos por educadores com visão de mundo urbano, ou com visão de agricultura patronal; Na maioria das vezes estes profissionais nunca tiveram uma formação especifica para trabalhar com essa realidade; Deslocamento das necessidades e das questões do trabalho do campo; Alheia a um projeto de desenvolvimento; Alienada dos interesses dos camponeses, dos indígenas, dos assalariados do campo, enfim, do conjunto dos trabalhadores, das Trabalhadoras, de seus movimentos e suas organizações; estimuladora do abandono do campo por apresentar o urbano como superior, moderno, atraente; em muitos casos, trabalhando pela própria destruição, é articuladora do deslocamento dos alunos para estudarem na cidade, especialmente por não organizar alternativas de avanços das series em escolas do próprio meio rural (BORGES, 2012, p. 108).

A escola pública criada pela classe dominante dispõe de todos os meios e artimanhas, como foi citado, para destruir ou evitar projeto de uma educação do campo que possibilite aos sujeitos envolvidos emancipar-se. São muitos os desafios enfrentados pelos povos do campo, da floresta, dos mares, ribeirinhos; Contudo, a educação do campo se mostra como uma ferramenta de enfrentamento ao sistema capitalista que suga inteiramente a força de trabalho do camponês, tirando-lhe seus direitos básicos como a educação.

Ao longo do tempo a Escola Nossa Senhora do Livramento sempre sofreu pelas péssimas condições físicas, por dezoito anos funcionou em prédios 112

abandonados, sem a menor estrutura física, tudo isso foi fator decisivo que interferiu diretamente no processo de ensino e aprendizagem dos alunos.

Durante o grupo focal foi uma das questões recorrentes relatadas pelos professores. O professor José descreve como sentiam- se trabalhando em péssimas condições.

A questão do ensino teve um grande avanço, hoje vejo ex-alunos nossos formados em diversas áreas, na educação básica houve muitos avanços, os professores se formaram em varias áreas e na questão estrutural (física) avançou muito, depois de uma luta de 20 anos, que teve inicio com a Leidinha e o Erasmo. Hoje temos uma escola padrão MEC, uma escola que para nossa realidade, para a realidade do semiárido nordestino é um sonho. Antes a gente improvisava para trabalhar e hoje nós temos todo aparato. Temos quadro, salas confortáveis, cadeiras, temos uma gestão organizada e comprometida.

O professor Carlos complementa descrevendo as condições de trabalho no prédio antigo onde funcionava a instituição.

A escola agora dispõe de cadeiras, antes a gente tinha o problema de ficar carregando cadeiras em outras salas, às vezes as cadeiras eram quebradas, não tinha apoio, suporte, era muito constrangedor. Hoje tem a mesinha, a cadeira que da oportunidade para o aluno abrir o livro melhor. O fardamento que foi disponibilizado pela Prefeitura deu dignidade aos alunos, nós sabemos que nem todas as famílias têm condições financeiras para comprar uma farda nova, todos esses itens são importantes para o ensino aprendizagem. Maria que está na instituição há 16 anos conhece muito bem os desafios enfrentados pelos professores e alunos, para ela embora ainda tenham muito a conseguir, já obtiveram grandes conquistas.

Hoje podemos ver o avanço na estrutura, temos o auxilio de projetos como, por exemplo, o PETECA, o PAIC, temos livros didáticos para os alunos da educação infantil, temos um suporte muito grande, uma acompanhamento pedagógico da Secretaria de Educação, temos o reforço para ajudar o aluno, temos orientação, formações que nos ajudam a trabalhar. As figuras a frente mostram as instalações que a escola utilizou durante anos, e a participação das famílias nas atividades desenvolvidas pela instituição.

113

Figura 10- Cantina onde era preparada a merenda na antiga escola.

Fonte: Gracileide Silva

Figura 11- Comunidade escolar recebendo lanche.

Fonte: Gracileide Silva

Como podemos observar nas figuras 11 e 12 a escola não oferecia nenhum conforto para os alunos e as famílias, a figura 11 mostra a cantina, local onde eram preparados o lanche das crianças e adultos, podemos perceber que a água era armazenada em uma cisterna, realidade que se repete em todo semiárido brasileiro, já que as comunidades não dispõem de água encanada, também podemos ver tijolos servindo como suporte para segurar o fogão. Na figura 12 114

observamos os pais e filhos numa fila recebendo o lanche, percebemos que não existia um pátio, as camponesas e seus filhos comiam sob o sol ou embaixo de uma árvore.

Figura 12- Hora dos intervalos dos professores.

Fonte: Gracileide Silva

A cantina também servia como sala dos professores, local onde entre os intervalos de uma aula e outra os docentes trocavam experiências e angustias. Hoje o estabelecimento dispõe de um prédio padrão MEC que enche de orgulho a toda

comunidade escolar. Figura 13- Comunidade reunida na Figura 14- parte interna da escola. escola.

Fonte: Próprio Autor Fonte: Próprio Autor 115

Um espaço físico adequado trouxe um pouco de decência para os camponeses do assentamento Bela Vista, a escola é utilizada pela comunidade para realizar encontros das associações dessa forma pode caminhar mais próximo dos dilemas enfrentados pela comunidade escolar.

4.3 RETORNANDO AS RAIZES DA ESCOLA NOSSA SENHORA DOLIVRAMENTO

Como descrevemos no terceiro capitulo a educação de jovens e adultos foi responsável pelo início das atividades educacionais na escola Nossa Senhora do Livramento, partindo desse fato vamos analisar a situação da EJA nos dias atuais.

A década de 1960 no Brasil foi muito significativa no tocante a EJA e Educação Popular, contamos com o grande expoente Paulo Freire que liderou uma revolução no modo como se ensinava os menos favorecidos, “É nos anos de 1960, com Paulo Freire, que no Brasil se tem, pela primeira vez, de forma consistente, uma pedagogia anunciada das classes populares” (PALUDO, 2001), tivemos diversas experiências como, por exemplo, Método Paulo Freire, Movimento de Educação de Base (MEB), Centros Populares de Cultura (CPC), a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”. Infelizmente, com o golpe militar de 1964 esses ideias tiveram ações interrompidas, no entanto, deixaram legados importantes para o Brasil e para o mundo. A EJA passou a ser concebida nos paradigmas e pelas ações de Paulo Freire.

No Vale do Jaguaribe a pesquisa “Diagnóstico das Ações de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos no estado do Ceará (2000 a 2011)”40 aponta diversos avanços nas condições de trabalho e processo de ensino aprendizagem na EJA nos últimos anos.

O aumento do financiamento pelo FUNDEB; o recebimento e a qualidade o material didático até o nono ano; a merenda escolar igual

40A pesquisa faz uma análise sobre a educação de jovens e adultos no Vale do Jaguaribe entre 2000 e 2011. Promovida pelos professores da UECE: Mônica Emanuela Maia Nunes, Sandra Maria Gadelha de Carvalho e José Ernandi Mendes.

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para todos; o apoio e presença da diretora da escola; a perspectiva de novos projetos que incluirão a EJA, como a rádio, a Fanfarra, o Laboratório de Informática; a autonomia maior no planejamento didático, em relação ao ensino fundamental; o fato de terem reuniões mensais para “estudo” planejamento, como coloca a Lei do Piso; o trabalho pedagógico de forma compartilhada; a relação de respeito entre escola e comunidade que lhes proporcionam mais tranquilidade em trabalhar (NUNES; CARVALHO; MENDES, 2014, p. 09). Constatamos avanços significativos no trabalho pedagógico, a EJA passou a ser reconhecida como uma Modalidade de ensino na Constituição de 1996, recebendo toda estrutura do ensino regular, porém as dificuldades enfrentadas pelos docentes dentro de sala ainda são imensas, fatores como infrequência, desmotivação dos alunos, baixo conhecimento cognitivos dos discentes, estrutura física, ausência de oferta para o ensino médio, ausência de concursos públicos, salas multisseriadas com diversas faixas etárias. Na escola Nossa Senhora do Livramento a Educação de Jovens e Adultos enfrenta inúmeros desafios também, iniciando pela baixa procura.

Figura 15-Relação de matricula da EJA Nossa Senhora do Livramento

1º/2º

5º/6º 2016 1º/2º

5 7º/8º 201

4 5º/6º 201

3 5º/6º 201 3º/4º Matrícula Final

2012 1º/2º Matrícula Inicial

1 1º/2º 201

0 7º/8º 201 5º/6º 3º/4º

2009 1º/2º 1º/2º

0 5 10 15 20 25

Fonte: Sec. da Educ. Elaborado pelo Próprio Autor. Na figura acima nos possibilita acompanhar a trajetória da EJA de 2009 a 2016, percebemos que a procura e baixa e apresenta evasão. Segundo Oliveira 117

(2017) é complicado trabalhar com EJA, porque requer uma atenção maior em relação aos alunos, principalmente na zona rural que é composta por alunos que trabalham na agricultura.

A EJA é complicada por que tem que ter jogo de cintura, tinha que ser um professor qualificado, que tenha afinidade. Tem que ser um professor que tenha dinâmica, não é só utilizar o material didático, tem que chamar o aluno, conquista-lo.

No inicio do ano fizemos o 1º e 2º, aqui no assentamento é muito difícil trabalhar EJA por que os homens trabalham na roça, às vezes trabalham até em outro lugar, ai faltam muito, o professor tem que ficar indo atrás, ai ele fala que chegou cansado. No final do ano terminamos com poucos alunos, pelo fato também de só temos adultos, nós não temos jovens (OLIVEIRA, 2017). Oliveira (2017) destaca dois pontos importantes, o primeiro é sobre a necessidade dos municípios realizarem concursos específicos para EJA, dessa forma teríamos professores especializados para a área, sobretudo com identidade com a modalidade. O professor substituto sofre muito com as constantes mudanças, muitas vezes está realizando um trabalho bom e necessita sair e ir para outra turma, muitas vezes não tem uma formação adequada para lecionar. O outro ponto destacada é sobre as dificuldades enfrentadas pelos alunos, sabemos que esses são alunos diferenciados, que carregam uma história de vida, uma trajetória em especial sendo todos adultos e agricultores, então é necessário que o seu cotidiano faça parte do processo ensino e aprendizagem.

A coordenadora acrescenta dizendo que os alunos fazem muito esforço para chegarem até a sala de aula.

O aluno de EJA é muito comprometido, porque passar o dia todo trabalhando no pesado, na roça, ou colhendo cebola e a noite vir para a escola, é muita força de vontade, é por isso que é necessário que seja um professor bom, qualificado (OLIVEIRA, 2017). Destaca ainda que existe uma procura maior pela EJA do ensino médio, já que muitos alunos já concluíram o ensino fundamental ou regular ou através da EJA, principalmente as mulheres, têm muitas que sentem vontade de estudar mais, cursar o ensino médio ou até uma faculdade, porém alguns maridos não permitem que elas viajem até a sede da cidade. O diretor Paulo Tasso solicitou junto à Secretaria uma turma de EJA ensino médio, mas a Secretaria da Educação não disponibiliza, restando apenas a opção de se deslocar 20 km para estudar na 118

cidade. A outra opção seria cursar a distância através do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) que tem uma sede em Limoeiro do Norte, contudo se torna inviável também, vez que se torna distante cerca de 100 km do assentamento.

A modalidade ainda é tratada de forma secundaria tanto pela Secretaria, gestores e docentes de Jaguaruana, alguns gestores não aceitam receber turmas de EJA na escola, pois segundo eles é complicado. A maioria das turmas, em especial que funcionam no período diurno, recebem os adolescentes ditos “problemáticos”, fora da faixa etária ou em conflitos com a lei41, geralmente são turmas pequenas que apresentam muita evasão. No assentamento, como tem sido realizado um acompanhamento, não existe crianças fora da faixa etária sem estudar, apenas alguns adolescentes que por algum motivo deixaram de estudar ou que são oriundos de outras comunidades, a grande maioria são adultos.

Percebemos que ao longo da história da EJA no Brasil, ela sempre esteve vinculada á classe trabalhadora levando em consideração que muitos trabalhadores não dispõem de recursos para estudarem, muitos têm sua história de vida ligado venda da sua força de trabalho para sobreviver. A EJA surgiu com o objetivo de alfabetizar pessoas que não tiveram a oportunidade de concluírem seus estudos na idade certa. A história da luta pela educação de jovens e adultos é antiga e surgiu no século XIX e XX para atender à parcela significativa da população que não conseguiu e não consegue concluir o ensino fundamental na idade escolar, nos cursos diurnos. “Ela é fruto da exclusão, da desigualdade social. São demandatários da educação de jovens e adultos aqueles que não tiveram acesso à escola na idade própria, os que foram reprovados, os que evadiram os que precisavam trabalhar para auxiliar a família” (SOARES, 1996, p. 28). Hoje ela além de alfabetizar e também oferece formação de nível médio para os estudantes, podendo aproximar o sonho de cursar uma faculdade.

A grande maioria dos alunos frequentantes da EJA são alunos comprometidos, que tem um objetivo definido, os mesmo enfrentam diversos desafios para chegar até a sala de aula, já que o público da modalidade é composto basicamente por trabalhadores. Fatores como a desmotivação, o cansaço, falta de

41 Adolescentes que cometeram algum delito perante a lei. 119

professores com identidade, baixo conhecimento cognitivo, preconceito são desafios frequentes da modalidade de ensino.

Embora com os desafios enfrentados desde a sua criação a EJA se apresenta como um meio de enfrentamento a exclusão e o fracasso escolar, levando em consideração que essa é a única opção disponível para muitos estudantes.

Posteriormente, apresentaremos as considerações finais da pesquisa, fazendo uma retomada de tudo que foi discutido no decorrer dos quatros capítulos, mostrando os desafios encontrados ao longo dessa caminhada bem como as experiências e aprendizados obtidos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Educação do Campo e Luta de Classe O capital diz latifúndio; Dizemos Reforma Agrária. Com agroecologia venceremos o agronegócio; Suas sementes transgênicas não germinarão; E a vida brotará de nossas crioulas, Produzindo alimentos saudáveis. As cercas não tomarão nossas terras; E a Terra se revigorará em abundância, Livre de venenos. O capital diz Educação Empresarial; Dizemos Educação do Campo. Não será o mercado nosso pedagogo; Nem compraremos educação aos quilos nos shoppings. Nossas escolas, o algoz não fechará; Porque nem muros, nem portas, nem mortos! Não mais corpos-engrenagens para as máquinas da ganância; Porque em nossas escolas, forjaremos homens e mulheres; Lutadores e lutadoras; Construtores e construtoras do futuro! (Paulo Roberto42)

Quando iniciamos a pesquisa deparemo-nos com inúmeras indagações e medos em relação ao caminho a ser seguido, de que maneira poderíamos dar voz aos sujeitos que compõem a escola, de que maneira eu poderíamos vincular os

42 Paulo Roberto de Sousa Silva é poeta e militante do MST do Ceará. Disponível em http://perversando.blogspot.com.br/2016/01/luta-de-classe-no-campo.html. Acesso feito em 25 de fevereiro de 2017. 121

saberes docentes, a práxis educativa desenvolvida pelos professores com a teoria, com os textos acadêmicos de Caldart, Fernandes, Carvalho, Marx e tantas outras referências para a educação do/no campo.

Diante das discussões expostas no decorrer do texto percebemos que a educação do campo foi incluída na educação brasileira tardiamente e somente depois de muita luta através dos movimentos sociais. Entretanto, acompanhamos também seu crescimento na legislação brasileira e na práxis dos movimentos político, socias e pedagógicos.

Hoje temos inúmeros avanços no tocante à educação do campo, nas leis que regulamentam a educação como a LDB, as Diretrizes Operacionais para a educação básica nas escolas do campo (2001), e as Diretrizes Curriculares Nacionais- (DCN) de 2013, dispondo de artigos específicos para atender as particularidades desse modelo de educação. E ainda tivemos o objetivo da educação do campo ampliado. Hoje a educação do campo se apresenta como forma de enfrentamento do sistema de dominação imposto pelo capitalismo, através da mudança de consciência que os indivíduos participantes então expostos.

A educação do campo nasce da luta dos movimentos sociais e com o objetivo de mudar a sociedade que estamos inseridos, rompendo com a lógica capitalista, assim ela se coloca numa perspectiva que vai para além do capital.

A partir das idas à escola e com o contato com a gestão, em especial com os professores, começamos a costurar a trajetória da educação do/no campo em Jaguaruana- Ceará, percebendo questões que inicialmente não faziam parte da pesquisa como por exemplo: A nucleação da escolas rurais no município, os motivos da evasão e reprovação nas escolas no campo, condições de trabalho docente, a necessidade da formação continuada, a importância de um currículo construído pelo sujeito, e a importância e a ausência de políticas públicas para o campo.

Vimos ao longo dos anos o número de alunos aumentando, as famílias crescendo, outras famílias foram se formando no assentamento, a pequena escola pensada para atender agricultores analfabetos não existia mais, existindo apenas a semente deixada por ela, deixada pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terra, a 122

semente que tinha como objetivo a emancipação dos sujeitos envolvidos do processo de luta pela terra.

A instituição pesquisada passou por grandes dilemas desde sua fundação, entretanto vem ao longo dos anos construindo uma trajetória de luta e resistência dentro da conjuntura do campo brasileiro, o assentamento atribui grande valor simbólico à escola, tornando-se o único elo entre comunidade e estado. A mesma enfrenta juntamente com os camponeses os problemas da não realização de uma reforma agrária no país, sofrendo com a ausência de políticas públicas que possibilitem a vida no campo, que tornem o campo um lugar de possibilidades.

A instituição sem dúvidas foi muito importante para o desenvolvimento do assentamento, pois a partir de sua implantação as famílias passaram a viver no P.A, começaram a construir e fortalecer a comunidade, e motivaram muitas outras conquistas, como a ampliação do ensino. A escola hoje oferta todo o ensino fundamental e recebe alunos de comunidades vizinhas e de outros assentamentos, e se tornou um centro formativo. Outras conquistas foi o atendimento médico ofertado pela prefeitura para a comunidade, o agente comunitária de saúde, transporte escolar para levar os alunos que já concluíram o ensino fundamental e têm que se deslocar até a sede da cidade para cursar o ensino médio.

O currículo adotado é organizado a partir das determinações da Secretaria da Educação do Município e não defende os ideais propostos pela educação do campo, porém os professores através do desenvolvimento de projetos como o Semiárido procuram incentivar o vinculo com a vida no campo. Observamos que a infraestrutura da nova escola possibilitou uma melhora no processo ensino e aprendizagem.

Ficando situada no campo, atende 100% de filhos de camponeses, porém reproduz o currículo e as práticas pedagógicas da cidade, o que podemos observar nos índices de aprendizagem analisados no ultimo capitulo. Observamos que os discentes segundo as notas alcançadas nas provas externas vêm apresentando baixos índices de rendimento escolar, o que nos leva a acreditar que o modelo de educação desenvolvida na instituição não esta realizando um processo de ensino e de aprendizagem satisfatório. Dessa forma, apresenta-se como possibilidade a reestruturação do currículo e das práticas adotadas dentro da instituição, 123

introduzindo um currículo que possa pensar as particularidades dos sujeitos e do assentamento, ressaltando que essa transformação deve acontecer coletivamente envolvendo comunidade e estado, uma vez que a construção de um currículo voltado para a educação do campo faz-se necessário dentro da instituição e do P.A. como forma de enfrentamento da situação precária que a escola está inserida.

Através dos resultados das avaliações externas percebemos que os alunos do fundamental II (6º ao 9º ano) apresentam baixos rendimentos em português e matemática, partindo da posição muito crítica para uma posição crítica. Os dados despertam questionamentos a respeito das possíveis causas que levam esses alunos esta tão abaixo da média nacional, sendo necessário à realização de outro estudo aprofundado para descobrir as causas para esse retrocesso em relação às séries inicias do ensino fundamental.

Vimos que os professores que participaram do grupo focal enfrentam dificuldades para exercer sua profissão, tendo em vista que a escola dispõe de reduzidos recursos financeiros e materiais, além da distância que percorrem diariamente para trabalhar variando de 20 km a até 70 km. Encaram também uma carga horária excessiva de trabalho e baixos salários, mesmo tendo diagnosticado que o município paga os docentes conforme o piso salarial estabelecido pelo estado. Em 2016 os professores receberam em média o salário base referente a 40 horas semanais de R$ 2.136.22 (dois mil, cento e trinta e seis reais e vinte e dois centavos).43

Acompanhamos as conquistas obtidas pela Educação do Campo no Estado do Ceará a partir da década de 90, como: PRONERA (1998); Diretrizes Operacionais par Educação Básica nas Escolas do Campo (2002); Grupo Permanente de Trabalho (GPT)- (2003); Criação Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade e inclusão (SECADI)- (2004); Diversidade e Inclusão Educacional (CODEA)- (2007); Criação do Curso de Licenciatura em Educação do Campo, da FAFIDAM- (2008); O Estado foi contemplado com dose Escolas do Campo- (2010-2016); Programa Escola da Terra no Ceará- (2014); Em

43 Informação disponível em http://falecomricardotorres.blogspot.com.br/

124

seguida iniciaram-se as discussões sobre como esta sendo feito Educação do Campo no Estado.

Ao final da pesquisa cremos que os objetivos propostos inicialmente foram respondidos, tendo em vista que extraí o máximo de informações do material recolhido durante a investigação, mas sem esgotar a temática da Educação do Campo que está apenas iniciando as discussões, ainda temos muito a debater.

No decorrer da caminhada de estudo e pesquisa analisamos a história da Educação do Campo e o seu papel dentro da Educação brasileira, além da Educação Rural no Brasil e no Ceará, no intuito de fundamentar teoricamente a pesquisa. Compreendemos que a Educação do Campo é uma luta permanente, onde os financiamentos e as políticas públicas são indispensáveis para seu fortalecimento, fazendo-se necessário a participação dos estados e municípios, movimentos sociais, universidades, camponeses e sociedade em geral, tendo que relacionar as áreas do conhecimento com o trabalho no campo.

Finalizamos esse trabalho recordando algumas palavras de Paulo Roberto um militante do MST Ceará, em relação à Educação do Campo que está sendo construída no estado: “[...] O capital diz Educação Empresarial; Dizemos Educação do Campo. Não será o mercado nosso pedagogo; Nem compraremos educação aos quilos nos shoppings. Nossas escolas, o algoz não fechará; Porque nem muros, nem portas, nem mortos! Não mais corpos-engrenagens para as máquinas da ganância; Porque em nossas escolas, forjaremos homens e mulheres; Lutadores e lutadoras; Construtores e construtoras do futuro!”. Por um campo que tenha futuro, que seja possibilidade, que seja avanço, que seja desenvolvimento humano e não de capital.

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133

APÊNDICES

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Professores participantes do grupo focal.

Fonte: Próprio Autor Professores participantes do grupo focal.

Fonte: Próprio Autor 135

Alunos da Escola Nossa Senhora do Livramento

Fonte: Esc. Nossa S. do Livramento, 2017. Alunos Participando da feira do conhecimento em Jaguaruana

Fonte: Esc. Nossa S. do Livramento, 2017. 136

Entrevista realizada com a Coordenadora da CODEA e a Assessora Técnica da Educação do Campo

Fonte: Próprio Autor

III SEMINÁRIO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO CEARÁ

Participantes do evento

Fonte: Próprio Autor 137

Palestrantes e colaboradores da SEDUC- CE e das IES.

Fonte: Próprio Autor Palestrantes e colaboradores das IES.

Fonte: Próprio Autor 138

Participantes do evento

Próprio Autor

Participantes do evento

Próprio Autor

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Alunos participando do JEPP

Próprio Autor

Alunos participando do JEPP

Próprio Autor

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Inauguração da Escola

Próprio Autor

Próprio Autor