Trás-os- -Montes

Moncorvo Miranda do Alfândega da Fé

Gabriela Cristina Fernando Draw Vaz-Pinheiro Mateus José Pereira Godmess Sofia Borges Gonçalo MAR R2 Hazul Nuno Pimenta FAHR Miguel Schreck Alunos MADEP Alejandra Jaña Pedro Almeida Thiago Marcial Ricardo Santos Catarina Rodrigues Trás-os- -Montes

Moncorvo ...... 6 Mogadouro ...... 26 ...... 44 Alfândega da Fé ...... 64

Gabriela Cristina Fernando Draw Vaz-Pinheiro Mateus José Pereira Godmess Sofia Borges Gonçalo MAR R2 Hazul Nuno Pimenta FAHR Miguel Schreck Alunos MADEP Alejandra Jaña Pedro Almeida Thiago Marcial Ricardo Santos Catarina Rodrigues O PROGRAMA ARTE PÚBLICA •

Imaginemos que vamos a todas as localidades abrangidas pelo Arte Pública fundação edp e que pintamos as paredes de branco, desmontamos as instalações dos espaços, apagamos do mapa as obras de arte criadas nas várias povoações intervencionadas de norte a sul do País. Que efeito teria na vida destas pessoas?

O Arte Pública fundação edp é um mapa feito de um conjunto de obras de arte concebidas em espaços públicos de pequenas localidades de diversas regiões do País. Um programa desenhado pela fundação edp para proporcionar a comunidades rurais um maior contacto com a arte, provocando, simultaneamente, uma reflexão sobre a sua função na sociedade.

Sinais de trânsito transformados em figuras tradicionais como a da mulher de lenço na cabeça? Duas raízes de árvores entrelaçadas, com pernas e braços? Um moinho em cima de um burro? Um homem em cima de um escadote a apanhar estrelas? Obras “bonitas” e “boas para a terra”, como costumam dizer as pessoas destas comunidades, sem se alongarem a extrapolar significados para lá dos significantes que lhes são apresentados. É neste grau zero, é nesta marca de início, que reside a premência do programa Arte Pública fundação edp.

O Arte Pública fundação edp introduz um contacto concertado por parte das populações com uma ideia contemporânea de cultura visual. Para muitos, o conceito de arte liga-se ainda à noção de artesanato ou a uma ideia de arte-verdade, em que o objeto artístico assume a função de replicação da realidade, numa mimética de embelezamento da mesma, como nos explica o artista plástico Xana, membro do movimento artístico dos anos 80 Homeostética e um dos artistas do projeto Arte Pública fundação edp que deixaram a sua marca nas localidades a barlavento e a sotavento do Algarve.

Em cada região, associações e artistas foram desafiados a apresentar propostas de intervenção pública, que iam da pintura à escultura ou à instalação em vídeo e/ou som. Os artistas partiram para o terreno com duas premissas. A primeira foi 2016. Fé, da Alfândega comunidade, a com Assembleia a de não se colocarem no papel de educador, mas sim de facilitador. O de pôr ferra- mentas à disposição de modo que as populações pudessem inteirar-se de como fun- ciona todo o processo de criação artística, desde o brainstorming à definição de temáticas, ao uso de técnicas, à mão na massa, ao resultado. E a segunda foi a de desmistificar a arte enquanto prática elitista, inacessível. A arte tem, na sua premis- sa, uma matriz política: a de dar liberdade, a de proporcionar caminho e escolha.

Foram envolvidas as instituições locais para definir quais os espaços públicos dis- poníveis, a par dos equipamentos da rede da EDP Distribuição, empresa parceira da fundação edp neste projeto, a serem intervencionados. E, em cada localidade, a população foi convidada a participar em assembleias comunitárias. As pessoas conheceram os artistas e deram a conhecer-se. Expressaram as suas sugestões de temas a serem tratados em obras, contaram as histórias e as tradições da terra, falaram das atividades económicas predominantes e das figuras de relevo.

Aos artistas coube a tarefa de interiorizar as sugestões e integrarem os temas su- geridos no seu trabalho e na sua linha autoral. Foram feitas maquetes das “obras- -que-iriam-ser” que foram depois apresentadas à população.

2 3 O PROGRAMA ARTE PÚBLICA •

Seguiram-se os dias de trabalho, de feitura das obras. Na comunidade, cresce a curiosidade e a proximidade aos artistas. Precisam de alguma coisa? Água? Algo para comer? Momentos de pausa são passados na pastelaria da rua, no convívio com os locais.

O Arte Pública fundação edp é este ponto de encontro no qual se cruzam intencio- nalidade artística e intencionalidade social. É um programa que promove uma sen- sação de pertença, que já não se perde, independentemente de a tinta começar a cair, de a chuva vir a desbotar os tons. Neste caso, trata-se de uma sensação de pertença dupla. Este património artístico é das pessoas, da comunidade. Motivo por que são criadas, em cada região, visitas-percurso com guias locais, que são também elas uma forma de elo, de ligação das populações a quem as visita. E fá-las sentir-se não isoladas do mundo, mas parte de uma ideia de contemporaneidade que vive a cultura visual a uma velocidade estonteante. Se por um lado a arte fixa, fixa a identi- dade de uma povoação, por outro fluidifica-se, permite-se novos usos e abordagens.

Minho Trás-os- Braga -Montes Crespos e Pousada Padim da Graça Alfândega da Fé Merelim (São Paio) Panoias e Miranda do Douro Parada de Tibães Mogadouro Palmeira

Alto , Lérias Associação Cultural, caixas EDP Distribuição de Miranda do Douro, 2016. Ribatejo Alentejo Rio Maior Vila da Marmeleira Campo Maior nuobos Is i bielhos Is Assentiz Degolados São João da Ribeira Ouguela Ribeira de São João Símbolos mirandeses Símbolos Médio Algarve Vila do Bispo Tejo Barão de São João Mexilhoeira Grande Vila Nova da Barquinha Figueira Atalaia S. Bartolomeu de Messines Praia do Ribatejo Alte Tancos Alportel

4 5 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Moncorvo ARTE PÚBLICA •

Rio Douro

N221 N218 20 M 17 Miranda L 19 do Douro J M568 18 IC5

Av. da

Indústria 16 IC5 15

21 N216

N219 22 N221 Q 14 Rio Douro I 23 N315 24 13 Sendim IC5 31 11 32 25 O

30 33 26 G 10 12 IC5

N221 Mogadouro N221-7 29 Alfândega da Fé F H 28 27 IC5 N315 Rio Douro IC5 P N Rio Sabor E

IC5 Moncorvo Parque Natural C do Douro Internacional 1 INVERTIDO, Alunos MADEP Meirinhos A N221 2 PALAVRAS SOLTAS, Alunos MADEP

Rio Sabor Rio Douro 3 UNTITLED [THE UNKNOWN], Nuno Pimenta D Torre de N220 4 A CÉU ABERTO, Sofia Borges Moncorvo IP2 5 HORIZONTE [REFLEX], Gabriela Vaz-Pinheiro B N325 com Diana Baptista

N221 6 HABITADO, Alunos MADEP

7 DESAPARECIDO, Alunos MADEP

Rio Douro img © Rute Ferraz, Torre de Moncorvo, 2017.

Torre de Alfândega Mogadouro Miranda Moncorvo da Fé do Douro Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Moncorvo ARTE PÚBLICA •

algo de novo para lá da- docente, para participa- habituadas a este tipo das Florestas no Parque queles montes. A contem- rem no projeto Voltagem de processos.” Piedade Natural do Douro Interna- Moncorvo plação opera em três mo- em Torre de Moncorvo. Meneses refere também cional. “Os PT eram uns mentos: o do sentimento “Tivemos o privilégio de que nas assembleias fo- mamarrachos, que torna- de isolamento, o da pura ter tido um primeiro pro- ram manifestadas algu- vam a paisagem feia. As- Parceiro: apreciação da beleza da jeto na vila que começou mas “inquietudes” que sim, pintados com símbolos paisagem e o da imagina- muito bem, o que facili- assolam a população. locais, ficam bem melhor. Rede Inducar ção, do desejo de sair à tou muito as coisas”, diz “É necessário combater Em alguns, que não estão o horizonte prolonga-se procura do desconhecido. Gabriela Vaz-Pinheiro. o isolamento e trazer pintados, podiam fazer a na peça de Nuno Pimenta, “A arte não é uma pri- “Tivemos sempre uma equidade para esta re- águia, o abutre-do-egito uma estrutura em ma- Facebook: oridade na vida das pes- receção extraordinária, gião. As pessoas estão – que é um dos símbolos deira que se debruça na soas, mas ajuda a refor- fomos muito bem recebi- ligadas ao mundo exte- do parque –, o grifo”, con- paisagem, a partir de um voltagemtmad çar conceitos. Neste caso, dos. Não fizemos um tra- rior, através das redes tinua Afonso Meneses, ma- pequeno miradouro na o de que aqueles montes balho de fácil leitura, mas sociais, mas é preciso rido de Piedade Meneses. vila de Torre de Moncorvo. estão entre Moncorvo e as pessoas entenderam.” fazer com que o interior “A ideia para os PT É um objeto constituído É muito engraçada a di- o resto mundo, por mais O projeto Palavras Soltas, não seja tão interior”, desdobrou-se a partir dos por dois módulos de ca- nâmica do largo central. que se façam túneis”, re- frases de três vocábulos adverte. “A arte é uma conceitos de «habitado», sas, um deles invertido. A Praça Francisco António fere Gabriela Vaz-Pinheiro, pintadas em caixas de forma de libertação, de «desaparecido» e «inver- E Sofia Borges preencheu Meireles é, na verdade, artista e coordenadora eletricidade através de pensamento – de desen- tido»”, conta Catarina o interior do módulo de uma grande rotunda e, artística do programa um alfabeto criado para volvimento em todos os Rodrigues, aluna do MADEP baixo com material gráfi- em dias sem chuva, vários Arte Pública fundação o efeito, foi a primeira aspetos.” que participou no Arte co alusivo à memória e às idosos ocupam as tardes edp – Voltagem em Torre intervenção feita na vila, Piedade Meneses con- Pública fundação edp – minas de ferro do conce- ali sentados, a observar de Moncorvo. para a qual os alunos do sidera heróica a atitude Voltagem em Torre de lho. “Desde aqueles que os afazeres dos residen- nos serviam todos os dias tes da vila e a acompa- no restaurante ao sítio nhar as tropelias dos fo- onde ficámos, as pessoas rasteiros que chegam de foram muito acolhedoras. carro e não sabem muito O que me fascinou mais bem por que estrada se- nesta experiência foi o guir. Sentados, junto ao facto de, ao longo do tem- edifício do tribunal, fran- po, terem surgido amiza- zem o olhar como quem “Procurámos construir MADEP decidiram fazer dos jovens que permane- Moncorvo. “Nas primeiras des com os locais”, conta Assembleias com a comunidade, Torre de Moncorvo, 2016. Moncorvo, de Torre comunidade, a com Assembleias tenta adivinhar o que os um conjunto de interven- um workshop prévio de cem a viver no concelho. visitas que fizemos ao con- Nuno Pimenta. O artista visitantes querem, na ções que pudessem rela- stencil, com os alunos do E destaca a adesão às celho, as pessoas queixa- convidou amigos – arqui- verdade, fazer e avaliam cionar-se umas com as Agrupamento de Escolas assembleias do Voltagem vam-se dos PT, da sua im- tetos, outros artistas, se será necessário inter- outras, procurámos que Dr. Ramiro Salgado. que decorreram nas al- ponência no espaço, na pai- cineastas – a participa- vir e sugerir uma direção. todas as propostas pu- “A informação que deias, a propósito das in- sagem. O objetivo era sem- rem na construção da Da rua que ladeia o tribu- dessem fazer sentido com tenho é a de que as pes- tervenções feitas em três pre o de disfarçar o PT.” obra, como se estivessem nal pela direita, vê-se, no o contexto daquela terra. soas gostaram”, comenta postos de transformação Gabriela Vaz-Pinheiro em residência artística. horizonte, o recorte dos O fio condutor é o contex- Piedade Meneses, ve- (PT) da EDP Distribuição. concebeu uma estrutura “Isto não é tanto sobre ir- montes a verde no céu. to social e paisagístico. readora de Ação Social “As assembleias nas al- em espelho que colocou mos deixar algo para es- A vila encontra-se Foi o que encontrámos e Espaços Públicos da deias não podiam ter cor- no cimo da parede de sas pessoas, mas mais so- emoldurada por uma pai- quando chegámos. Câmara Municipal de rido melhor. No Larinho, um armazém na Avenida bre o facto de ter havido sagem natural imponente. Desenvolvemos a ideia Torre de Moncorvo. por exemplo, os locais co- dos Combatentes e a que uma partilha, uma troca.” E é esta mesma paisagem e criámos relações.” “As assembleias na vila locaram andaimes, apoia- deu o nome de Horizonte que tem um efeito duplo Gabriela Vaz-Pinheiro podiam ter sido mais par- ram, houve solidariedade.” [Reflex]; a obra é comple- nas pessoas que aqui vi- convidou alunos do Mes- ticipadas. Mas esta ação, “Na minha opinião, os mentada por um pequeno vem. Se por um lado ela trado em Arte e Design com a fundação edp, foi PT são os que sobressaem prado de papoilas em confina a vila e a enclau- para o Espaço Público boa pelo seu caráter ino- mais”, considera Afonso frente com a colaboração sura perante o exterior, (MADEP), na Faculdade vador. Foram dadas re- Meneses, engenheiro flo- técnica de Diana Baptista, por outro, essa barreira de Belas Artes da Univer- ferências às populações, restal do Instituto da Con- arquiteta paisagista. Esta natural sugere que há sidade do , onde é que não estão servação da Natureza e linha simbólica que reflete

8 9 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Moncorvo • SHORT BIOS ARTISTAS ARTE PÚBLICA •

Gabriela Vaz-Pinheiro (1962) Sofia Borges (1971) Coletivo de alunos MADEP Catarina Rodrigues (1990)

Estudou Pintura na Faculdade de Belas- Antonio Cardoso, Beatriz Lima, Catarina Mestre em Arte e Design para o Espaço -Artes de Lisboa e Escultura no Ar.Co Rodrigues, Daniel Sousa, Francisco Leal, Público pela Faculdade de Belas Artes e fez mestrado em Estudos Curatoriais Herlander Alves, Malgorzata Kosmatka- da Universidade do Porto, Catarina pela Universidade de Lisboa/Fundação -Kos, Maria Lourenco, Niccolo Rossi, Rodrigues fez parte do coletivo Disto- Calouste Gulbenkian. Entre 2006 e 2009, Thiago Marcial. O coletivo MADEP va- pia, onde participou em 2015 no mural coordenou e correalizou o projeto “A Festa ria em formação conforme os anos e os de 1400 m2 na Rua da Lionesa, Leça do Diretora do Mestrado em Arte e Design Acabou”, que ligava as narrativas cria- projetos para que os alunos são chama- Balio, Porto. No centro empresarial para o Espaço Público na Faculdade de das pelos habitantes do bairro da Quinta dos. No Voltagem – Torre de Moncorvo, Lionesa encontram-se também alguns Belas Artes da Universidade do Porto, da Vitória, entretanto demolido, ao es- destacaram-se as prestações de Thiago dos seus trabalhos individuais, igual- onde é professora auxiliar desde 2006. paço público. Em 2016, concluiu o filme Marcial e Catarina Rodrigues. mente como nos centros empresariais Licenciou-se em Escultura e Pintura pela Maxamba, que correalizou com Suzanne Ponte da Pedra e AAA, no Parque de mesma universidade, fez mestrado no Barnard, que retrata um casal de costu- Campismo de Braga e nas Caixas EDP Central Saint Martins College of Arts reiros portugueses de origem indiana que Thiago Marcial (1987) do Largo de São Domingos, Porto. and Design, em Londres, e doutoramento viviam no bairro da Quinta da Vitória, e Venceu, em dupla com Thiago Marcial, no Chelsea College of Arts and Design. que foi premiado no festival IndieLisboa. o concurso Street Art Porto – Caixas Foi responsável pelo programa de Arte EDP com o projeto “É um produto por- e Arquitetura da Capital Europeia da tuguês com certeza!”, que foi implemen- Cultura – Guimarães 2012 e tem textos Nuno Pimenta (1985) tado na Rua de Cedofeita e continua editados em diversas publicações. Expõe, a ser explorado pelo coletivo. individual e coletivamente, desde 1985.

Com formação em design e comunica- ção, Thiago Marcial trocou o Rio de Janeiro pelo Porto para vir fazer o mes- trado em Arte e Design para o Espaço Público na Faculdade de Belas Artes da Nuno Pimenta desenvolve uma prática Universidade do Porto. Interessava-lhe transdisciplinar que articula arte e arqui- abdicar do trabalho corporativo em prol tetura, focando o seu trabalho na apro- de um contacto mais direto com as pes- priação e subversão de elementos e téc- soas, através de intervenções no espaço nicas construtivas para a criação de nar- público. Faz parte do projeto “Narrativas rativas de reflexão política e social. Espaciais” juntamente com Catarina Possui um mestrado em Arquitetura pela Rodrigues. Faculdade de Arquitetura da Universi- dade do Porto e um mestrado em Arte e Design para o Espaço Público pela Facul- dade de Belas Artes da Universidade do Porto. Nos últimos anos, tem desenvolvi- do trabalhos em diversas áreas artísti- cas como arquitetura temporária, insta- lação, arte pública e performance.

10 11 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto TRÁS-OS-MONTES na direção do Largo do do Largo do direção na nhar pela Rua da Cabine acami acima, PT. Mais Cabine, encontra-se um da aRua com Campo do Rua da intersecção na na FBAUP. Em Junqueira, Espaço Público (MADEP), o para eDesign Arte em ta docente no Mestrado ticipação de alunos des- apar com contou PT três paisagem?” fazê-los desaparecer na de os realçar, porque não vez em pensámos: “Então Gabriela Vaz-Pinheiro. sidade do Porto (FBAUP), –Univer Artes Belas de professora na Faculdade em Torre de Moncorvo e dora artística do Voltagem tivos»”, conta a coordena- cessem, são muito imposi que estes PT desapare temente «quem nos dera bleias, ouviu-se frequen- assem “Nas Moncorvo. transmontano Torre de – Voltagem no concelho Pública fundação edp customizados pelo Arte PT da EDP Distribuição Desaparecido tos: respondem a três concei em Torre de Moncorvo de transformação (PT) projetadas para os postos artísticas As intervenções Autoria: Invertido O trabalho sobre estes MADEP/FBAUP Alunos Invertido, Habitado, 1

. São os três três os . São -

- - VOLTAGEM •Torre de Moncorvo -

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composta por dois blocos, trutura feita de madeira é límpido de sol. dia num troposfera e de feita de vegetação verde uma ampulheta do tempo fosse se como céu, pelo eaterra terra pela o céu lidades de azul. Trocou-se nas suas diferentes tona- océu pintado está baixo, a linha do horizonte. Em a começar quando acaba correspondentes à terra, sas camadas de verdes diver as estão cima, Em e“o terra”.céu...” na céu no “a omote: terra dão PT [ em Torre de Moncorvo contra na Rua de Santiago Nuno Pimenta, que se en se que Pimenta, Nuno Untitled [The Unknown] vertida faz alusão à obra si. Este PT de paisagem in- forma as sete obras entre pretendido ligar de alguma em Torre de Moncorvo ter fundação edp Pública Arte no vieram grupo de artistas que inter- o de facto do também vém O que significa oInvertido significa O que PT. no MADEP do alunos intervenção feita pelos da oefeito observar se tância otimizada para adis- marca ponto Esse PT. do distância de sos precisamente, a 45 pas – ponto um chão no do Cruzeiro, está assinala- vide A ideia do Invertido do A ideia Duas frases escritas no sinopse nº 3]. Esta es- – Voltagem ad- Alunos MADEP/FBAUP • INVERTIDO Alunos

de de - - -

?

a da SofiaBorges ao faz ligação ao Invertido Pimenta Nuno “A do obra Marcial. Thiago MADEP, refere um dos alunos do forma a criar ligação”, oInvertido surgiu tas artis- outros os com junto con- “Em adentro. calçada pela aentrar océu temos chão. No PT em Junqueira, o afurar otelhado com locada de forma invertida, co- éacasa ooutro direita, blocos é a casa colocada dos um pisos, dois de tura de triângulo. Numa estru- dos se prolonga em forma la dos num que cubo um – casa uma de básica cada um com a forma muito interessante.” trouxe uma experiência uma obra tão grande “A implementação de que participou no projeto. recido Vaz-Pinheiro ao Desapa Habitado estudante do MADEP Catarina Rodrigues, outra ao nível de mancha”, conta Depois é que trabalhámos chão. no ponto um marcar a linha do horizonte, marcar foi sempre fazer “A primeira coisa a ”, explica. e a da Gabriela

, de , de

, - -

•2016

12 13 Invertido, alunos MADEP, posto de transformação EDP Distribuição, Junqueira, 2016. Fica bonito, é melhor do que estar tudo branco. E as pessoas ficam mais abertas. mais ficam pessoas Eas branco. tudo estar que do émelhor bonito, Fica àpaisagem. agradável mais ar um dá diferente, está oedifício que Acho Catarina Vieira, 33 anos, restauração. TORRE DE MONCORVO Concelho: Rua da Cabine, Junqueira. Localização: Rua do Campo,

GPS: Longitude -7.08275 Latitude 41.26977 ARTE PÚBLICA • PÚBLICA ARTE Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto TRÁS-OS-MONTES – Voltagem em Torre de Pública fundação edp nadora artística do Arte ecoorde- FBAUP na trado professora daquele mes Gabriela Vaz-Pinheiro, de distribuição”, refere caixas nas pintadas a ser frases que depois vieram novas letras, compuseram as Com alfabeto. de cie alunos geraram uma espé- os quais dos eapartir tes que achámos interessan unsAdeganha hieróglifos brimos numa igreja em zemos ao concelho, desco- “Nas várias visitas que fi- criar um alfabeto próprio. de Moncorvo, decidiram oito quilómetros de Torre uma freguesia situada a Matriz de Adeganha, encontraram na Igreja dos nas inscrições que foi um alfabeto. Inspira fizeram (FBAUP), Porto – UniversidadeArtes do da Faculdade de Belas Espaço Público (MADEP), o para eDesign Arte em os alunos do Mestrado ao “Património”. O que referem se que as nho eacasta- “Lendas” às relo as quereferem se à “Paisagem”, a ama- referem se que as das A azul estão assinala- Autoria: Soltas Palavras Alunos MADEP/FBAUP MADEP/FBAUP Alunos 2

VOLTAGEM •Torre de Moncorvo - - -

caixa.” na apintar frase café, deu a sugestão da do “A ésócia que Vera, quiteto Telmo Seromenho. sócios da pastelaria, o ar- adotaram”, conta um dos demolidas, que os clientes quando umas casas foram de gato, um aqui “Havia nº 3290. aCE elétrica, romenho, há uma caixa Se- àPastelaria junto to, xas etárias.” pessoas de todas as fai Havia eidosos. a adultos ciparam desde crianças –parti elétricas caixas comunidade, a pintar nas tro histórico da vila, com a cen no dia um passámos stencils com lhar ensinar os alunos a traba workshops de dias três “Começámos por fazer do envolvidas. MADEP drigues, uma das alunas Ro de”, Catarina refere ligação com a comunida- o projeto que teve maior espalhadas pela vila. “Foi tricas da EDP Distribuição nas diversas caixas elé frases as escrever para stencil workshops do, a quem foram dados Dr. Salga Ramiro Escolas dária do Agrupamento de alunos da escola secun os com parceria em feito ma Moncorvo. Na Rua Prior do Cra- O projeto, que se cha se que O projeto, Palavras Soltas , técnica utilizada sobre a arte do do aarte sobre . E depois , foi Alunos MADEP/FBAUP SOLTAS Alunos •PALAVRAS , a , a - - - - -

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um ex-líbris terceira idade. Tornou-se também de pessoas de escola secundária, mas junto dos adolescentes na comunicação privilegiado, de canal um facto, de Foi, tiu em Torre de Moncorvo! fabeto específico que exis- al- um foi que dizer e talvez vai descobrir este alfabeto “No futuro, um arqueólogo de Gabriela Vaz-Pinheiro. no espaço público”, defen geram um certo mistério série de pessoas e elas palavras foi feito com uma ou “vinho migas peixe”. terra”, ouro” “fraga moura roda laços”, “ferro alma como “casa codificadas, com frases para serem des- elétricas existentes na vila caixas as 23 são todo, Ao plica Catarina Rodrigues. serem daquela terra”, ex As pessoas têm orgulho de região. da é amais-valia da paisagem, a cultura cultura e História. “Além três categorias: natureza, acima, distribuem-se por As cores, como referimos pintou. as quem de iniciais xo, estão desenhadas as bai em e, inscritas lavras 3290 a frase “aqui há gato”. visita descobre na CE nº uma das novas letras, quem munir para traduzir cada que os visitantes se podem de folha uma de Através “O levantamento das pa as três sempre São

da vila.”

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•2016 14 15 Palavras Soltas, alunos MADEP, Torre de Moncorvo, 2016. estão mais bonitas assim. caixas As José. o«J», de posto tinham que edisseram-me depois Perguntei está. lá oque ler sabemos nem nós, de um de onome puseram Até bem. correu que Acho Simpatia Tradição Pessoas 8 —0300, Além Monte 7 —4427, Natural Terra Fruto Amêndoa 6 —1423, Torre Vale 5 —1427, Memória Queijo Fumeiro4 —1429, Mel Peixe Migas Vinho 3 —451, Pura Água 2 —007, Fonte Vila da Chave 1 —1445 Caixa nº — armário elétrico nº FREGUESIA José Carvalhais, 73 anos, reformado. Património TORRE DE MONCORVO Concelho: Localização: Casa Roda9 —410, Laços Monte do —s/nº,16 Atrás Xisto Granito —s/nº,15 Serra Douro Azeite Olival —2001, 14 Sabor do Foz —4422, 13 Vida Água Fonte —292, 12 Gato Há Aqui —3290, 11 Terra Boa Vale —411, 10 Caixa nº — armário elétrico nº [vários] Paisagem GPS: 18 — 2003, Árvore Verde —2003, 18 Flor [?] —s/nº,17 Curva do Meão 23 —387,23 Ferro Alma Terra Vida Vila Via —385, 22 Volta Amigo Bom —369, 21 Lenda —370, Mendo Torre20 Corvo Ouro Moura Fraga —1438, 19 Caixa nº — armário elétrico nº Longitude -7.05311 Latitude 41.17521 Lendas ARTE PÚBLICA • PÚBLICA ARTE

Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Torre de Moncorvo • UNTITLED [THE UNKNOWN] Nuno Pimenta • 2018 ARTE PÚBLICA •

“A obra tem dois convencional. No Arte 3 momentos, dois pisos. Pública fundação edp FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: O interior do piso de bai- – Voltagem em Torre de TORRE DE MONCORVO Rua de Santiago Latitude 41.17249 xo é ocupado pela obra Moncorvo, o conceito foi Longitude -7.05327 Untitled da Sofia Borges, que fez interligar as obras em um levantamento exaus- termos conceptuais. Esta [The Un- tivo das memórias desta Untitled [The Unknown] comunidade. O segundo tem uma ligação direta known] piso, por sua vez, é mui- aos PT da EDP Distribuição to flutuante, convida à personalizados pelos alu- introspeção”, descreve nos do Mestrado em Arte Autoria: Nuno Pimenta. “A ideia e Design para o Espaço Nuno Pimenta é criar um diálogo entre Público, da Faculdade de os dois vetores. O de bai- Belas Artes – Universida- xo permite tomar conhe- de do Porto: Invertido, Fica em frente ao cine- cimento acerca das ques- Habitado e Desaparecido. teatro da vila. E debruça- tões identitárias de Torre O piso de baixo desta -se sobre um muro, an- de Moncorvo e o de cima construção feita em ma- corada num recorte de o de olhar para lá dos deira remete para uma calçada um pouco mais limites da vila, de olhar ideia de inversão, de uto- largo. A obra que Nuno para o horizonte.” O obje- pia. O de cima, para o de Pimenta projetou para o tivo é, segundo Pimenta, habitabilidade, de casa, Arte Pública fundação gerar espaço público, de conforto. E a exposi- edp – Voltagem em Torre criar um objeto que possa ção – da autoria de Sofia de Moncorvo precipita- agregar a comunidade. Borges – no interior do -se para a lezíria que se “A reação foi bastante piso térreo aponta para vê em baixo e os montes positiva, para meu espan- a ideia de memória – que que recortam o céu, lá to. É uma coisa nova, mas vem contrariar o desa- ao fundo. “Nas visitas de as pessoas foram sempre parecimento das lendas, aproximação que fiz junto muito curiosas. Durante a património e paisagem da comunidade de Torre construção, ia tendo sem- destas gentes. “A cons- de Moncorvo, era sem- pre muitas conversas com trução foi a parte mais

pre notória esta ideia de os locais, mesmo os das difícil, são materiais mais 2018. Moncorvo, de Torre Pimenta, , Nuno Unknown] [The Untitled fechamento. Mas para es- redondezas”, diz Pimenta. complicados de trabalhar. tas pessoas o horizonte é “Voltamos a esta caracte- O objeto foi construído por também sinónimo de ex- rística muito importante: mim e por uma equipa de pansão, de busca de conhe- a da abertura das pes- colegas com quem costu- cimento”, refere o autor, soas a que coisas novas mo trabalhar – arquitetos, que é arquiteto de forma- possam acontecer.” artistas, cineastas”, expli- ção e cursou belas-artes. A obra é composta ca Nuno Pimenta. “O pro- Na parede lateral do por dois módulos, em cesso de construção foi, módulo superior, a linha que cada um representa na verdade, uma espécie do horizonte da peça de um estereótipo de casa de residência artística.” Gabriela Vaz-Pinheiro pro- – as linhas do chão, das longa-se, reforçando o tra- paredes e do telhado ço dos topos dos montes (em “v”, virado ao con- ao longe. Há uma curiosi- trário). O módulo térreo dade pelo exterior, as pes- encontra-se invertido, o Fiz uma visita guiada aos artistas pela biblioteca, pelo Centro de Memória. soas têm bastante orgulho telhado virado para baixo Eles mostraram-se sempre muito interessados e criaram-se elos. Encontrávamo- na terra onde vivem e na be- e o solo nas vezes do teto. -nos à noite e falávamos sobre o trabalho. O resultado é excelente. leza da paisagem com a O módulo que está por Helena Pontes, Biblioteca Municipal Torre de Moncorvo. qual convivem no dia a dia. cima está na posição dita

16 17 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Torre de Moncorvo • A CÉU ABERTO Sofia Borges • 2018 ARTE PÚBLICA •

e em dois arquivos parti- conjugar aspetos de me- 4 culares, fez levantamen- mória e atualidade; inte- FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: tos de testemunhos de grar o tema do isolamento TORRE DE MONCORVO Rua de Santiago Latitude 41.17249 pessoas que trabalharam do interior, apontado por Longitude -7.05327 A Céu nas minas e viviam na- um antigo trabalhador das quela altura em Torre de minas”, continua. “Como se Aberto Moncorvo e em aldeias vi- pode falar de interior quan- zinhas. “Tentei chegar ao do tem 218 km de maior número de pessoas largura e 561 km de com- Autoria: possível. Já não eram mui- primento? As pessoas são Sofia Borges tos. Encontrei um universo a favor das minas, porque de 15 famílias. E tentei ex- não há trabalho e a po- plorar toda a hierarquia: pulação vai diminuindo, Trata-se da montagem dos trabalhadores que mas a reabertura levanta de materiais fotográfi- usavam martelos para outras questões também cos no interior da obra extrair a pedra aos enge- referidas, de investimento Untitled [The Unknown]. nheiros que trabalhavam financeiro e de impacto “Há 10 anos que tenho no laboratório.” ambiental.” É sobre esta vindo a desenvolver uma Sofia Borges faz ques- linha delicada que Sofia série de projetos no espa- tão de referir que a sua Borges foi construindo o ço público, junto de comu- abordagem ao tema não seu corpo de trabalho. nidades. É uma pesquisa é histórica. “São as pesso- Quando pensou em apre- próxima da etnografia. as com quem me relaciono sentar estes diversos ele- Chego a um sítio, procu- que me vão dando o mate- mentos, teve o cuidado ro compreender o lugar rial.” “A ideia é trazer pa- de não lhes associar uma e tento envolver as pes- ra o espaço público uma ordem. A colagem no soas que lá vivem”, conta série de materiais que têm interior de Untitled [The Sofia Borges, a autora estado a ser reunidos, em Unknown] foi aleatória.

das colagens feitas no que as pessoas contribuem “Dou os elementos e as 2018. Moncorvo, de Torre Borges, , Sofia interior do módulo térreo para a produção desses pessoas interpretam co- do objeto artístico de Nuno mesmos materiais.” mo quiserem. Dou um

Pimenta. “A Gabriela [Vaz- Sofia Borges fez re- índice de leitura, uma fra- A Céu Aberto -Pinheiro, coordenadora colha de imagens e de se no início – para dar o artística do Arte Pública textos, tomou notas, levou ponto de partida ao sig- fundação edp – Voltagem para o terreno um con- nificado de uma imagem em Torre de Moncorvo], junto de questões sobre a – e é só.” Escritas a partir sabendo disso, convidou- relação das pessoas com dos testemunhos que reco- -me para trabalhar no as minas e a sua imagé- lheu, as frases não são as- projeto.” As minas de Torre tica. Depois fotografou, sinadas. Mas um dos car- de Moncorvo, as Ferro- selecionou e agrupou tazes tem o nome de todas minas, estiveram ativas texto e fotografia. “Há as pessoas que participa- de 1951 a 1985. Na vila, há uma fotografia do café ram no projeto, assim co- inclusive o Museu do Ferro. Dallas, o sítio onde os mo a função que desem- “Há anos que se discute antigos trabalhadores penhavam nas minas. se as minas vão voltar a ainda se encontram para abrir. Havendo este debate conviver. É um dos primei- público e uma vasta docu- ros escritórios das minas, mentação, tornou-se um que estão hoje em dia A Sofia Borges trabalhou a ideia de memória a partir das ferrovias. Trata-se das bom ponto de partida para abandonados”, descreve memórias mais marcantes da segunda metade do século XX. No seu auge, aquelas o trabalho.” Sofia Borges. “Tentei ter minas chegaram a dar emprego a cerca de mil pessoas. Sofia Borges fez pes- sempre um olhar o mais Nelson Campos, diretor do Museu do Ferro. quisa no Museu do Ferro abrangente possível:

18 19 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Proj. VOLTAGEM • Torre de Moncorvo • HORIZONTE [REFLEX] G. Pinheiro c/ D. Baptista • 2017 ARTE PÚBLICA •

de muitos recortes de foi uma espécie de aqueci- 5 terra espalhados pela mento”, continua Gabriela FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: vila, devido ao calor Vaz-Pinheiro, professora TORRE DE MONCORVO Avenida dos Comba- Latitude 41.17204 transmontano que se faz do Mestrado em Arte e tentes da Grande Guerra Longitude -7.05251 Horizonte sempre sentir. Se não Design para o Espaço Pú- tivermos curiosidade de blico (MADEP), da Facul- [Reflex] olhar com mais atenção, dade de Belas Artes da não percebemos que exis- Universidade do Porto. te ali uma intervenção “Percebi que a linha - Autoria: artística, o espelho passa gráfica podia ser prolon- Gabriela Vaz-Pinheiro por um motivo decorativo gada pelo armazém. Há c/ Diana Baptista do armazém. Horizonte um ponto em que, se nos [Reflex] vive da subtileza, colocarmos lá, o horizonte convida a que nos demos se prolonga. E o jogo é com- As papoilas são flores que ao trabalho de repa- plementado pelo prado de se encontram um pouco rar. Subtileza essa que papoilas e relva”, continua. por todo o lado em Torre apresenta um segundo “As pessoas têm uma gran- de Moncorvo e arredores. momento: uma linha re- de afetividade para com Tradicionalmente são um fletora na parte lateral do as papoilas, há muitas na dos símbolos da I Guerra módulo superior, da obra zona. E coincide em abso- Mundial, eram a única de Nuno Pimenta, Untitled luto, embora de forma não coisa que conseguia flo- [The Unknown], situada propositada: as papoilas, rescer depois do rasto de na Rua de Santiago, e que símbolo dos combatentes, destruição deixado nos corta aquela construção, estão numa avenida que se campos após as bata- a partir da qual se pode chama dos Combatentes!” lhas. A sementeira que se ver o céu refletido. E, se As peças de arte encontra no terreno em nos dermos ao trabalho pública têm um caráter frente à obra de Gabriela de procurar o ponto exa- efémero. A intervenção Vaz-Pinheiro, Horizonte to onde nos colocarmos de Gabriela Vaz-Pinheiro [Reflex], foi feita com a perante essa linha, conse- tem, no entanto, uma ou- colaboração técnica de guimos ver a Sé Catedral, tra característica: a de Diana Baptista e funciona na sua imponência. uma certa liquidez. Se fi- 2017. Moncorvo, de Torre Baptista, Diana com Vaz-Pinheiro , Gabriela como complemento à “A intenção era «brin- zermos o exercício de nos ideia de paisagem, refor- car» com a ideia do hori- colocarmos por baixo do çando-a, pelo seu caráter zonte. As pessoas falam espelho, e formos olhando de mimese, de duplicação sempre de alguém que para ele enquanto cami- [Reflex] Horizonte do que já temos à dispo- está do lado de lá da mon- nhamos, estamos perante sição quando passeamos tanha. O primeiro concei- uma obra viva – as formas pelas ruas da vila de Torre to foi o de colocar no topo que nos aparecem ao olhar de Moncorvo. Na parede de um monte a palavra vão mudando, como se vís- lateral de um armazém na «Horizonte», como em semos um travelling, em Avenida dos Combaten- Hollywood, fazer uma cinema. Os reflexos do tes, que dá para a vista quimera. Mas depressa que vemos vão mudando sobre a lezíria e os montes chegámos à conclusão de a cada passo. ao fundo, está colocado que era muito dispendio- ao longo do topo supe- so”, refere Gabriela Vaz- rior um espelho, retangu- -Pinheiro, que é também Esta ação poderia ter sido mais participada. As pessoas não estão abertas a este lar e um pouco reclinado. a coordenadora artística tipo de coisas ainda. É mais fácil criticar do que exercer cidadania. E estes proces- O espelho e a semen- do Arte Pública fundação sos com a fundação edp são importantes precisamente pelo seu caráter inovador. teira fazem um díptico. edp – Voltagem em Torre Dão referências às populações do interior. No verão, a sementeira de Moncorvo. “Percebi Piedade Meneses, vereadora da Ação Social da Câmara Municipal Torre de Moncorvo. está seca, à semelhança que este primeiro conceito

20 21 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Moncorvo • HABITADO Alunos MADEP/FBAUP • 2016 ARTE PÚBLICA •

pintado de camadas de 6 verdes e de castanhos FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: – correspondentes à ve- TORRE DE MONCORVO EN 220, Larinho Latitude 41.18634 getação e à terra – e uma Longitude -7.00281 Habitado mancha azul – que cor- responde ao céu. Este PT tem também um ponto Autoria: de onde se pode obser- ser independente, que, Alunos MADEP/FBAUP var de forma otimizada em plena época de luta a obra de arte, em que o contra os mouros, deu nível da vegetação é um guarida a uma moura que Este é o Habitado, o se- prolongamento da linha se encontrava em fuga. gundo posto de trans- do horizonte da paisagem Ele quis convertê-la ao formação (PT) da EDP que se encontra atrás. catolicismo e propôs-lhe Distribuição sobre o qual A existência daque- chamar-se Joana. Apaixo- os alunos do Mestrado em le corvo tão imponente naram-se e ele prometeu Arte e Design para o quase que nos convida a construir uma torre para Espaço Público (MADEP) parar. Do outro lado da morarem quando se casas- na Faculdade de Belas berma da estrada, existe sem. Ela entretanto adoe- Artes da Universidade do um restaurante chamado ceu e, quando soube que o Porto (FBAUP) trabalha- O Ti-Churrascão, um edi- noivo tinha tido uma gran- ram, no contexto do Arte fício em formato de mora- de paixão por uma prima Pública fundação edp – dia com ar de estabeleci- de nome Joana que tinha Voltagem no concelho de mento para banquetes de morrido de doença, empa- Torre de Moncorvo. “Nas casamento. Defronte tem lideceu e acabou por mor- primeiras visitas, as pes- um espaço amplo para rer também. Já a segunda soas queixavam-se dos estacionamento e uma lenda reza assim: um la- PT, da sua imponência, pequena esplanada, co- vrador chamado Mem ou do espaço que ocupa- berta por um toldo. É um Mendo descobriu um te- vam na paisagem”, refe- restaurante de beira de souro enterrado e, antes de re Catarina Rodrigues, estrada, para os viajantes contar à sua mulher, deci- aluna do MADEP. “A nos- aproveitarem e esticarem diu testá-la, para perceber

sa ideia para os PT foi as pernas. De lá, pode fi- se ela conseguiria guardar 2016. Larinho, Distribuição, EDP transformação de posto MADEP, , alunos disfarçá-los. O Habitado car-se a observar o corvo segredo. Disse-lhe que

e o Desaparecido são pintado, que no final de tinha visto um corvo a pa- Habitado idênticos, o Habitado uma tarde de sol aparece rir dois pequenos corvos. tem o corvo.” em contraluz, enfatizado A mulher, pasmada com Vai-se pela Estrada pelos dourados das ervas tal situação, não resistiu Nacional 220 vindo de que por altura do verão e foi contar a uma vizinha. Carviçais na direção de se encontram secas. Daí a ter-se espalhado Torre de Moncorvo e vê- Porquê o corvo? De pela povoação inteira foi -se, à esquerda, já afas- onde vem o nome Torre um ápice. Por isso, decidiu tado da berma da estra- de Moncorvo? A página construir uma torre para da e imiscuído no prado, oficial da Câmara de guardar o seu ouro. um PT que serve de poiso Torre de Moncorvo refere a um corvo gigante pinta- duas lendas para possí- do. O negro do seu corpo veis justificações do no- contrasta com o fundo das me do município. Uma pri- paredes que, à semelhan- meira refere que havia No meu entender, está bonito. Andaram aí a pintar uns dois ou três dias. ça dos PT Invertido [vide um fidalgo chamado Mem Estamos sempre a olhar, não dá para nos desviarmos. sinopse nº 1] e Desapare- Corvo, ainda antes de José Graça, 57 anos, dono do restaurante O Ti-Churrascão. cido [sinopse nº 7], está o condado portucalense

22 23 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Moncorvo • DESAPARECIDO Alunos MADEP/FBAUP • 2016 ARTE PÚBLICA •

também de pedra. No ve- dia de sol, o azul do céu 7 rão, este muro é engolido do PT está radioso, ilumi- FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: por vegetação verdejan- nado. Se não estiver sol, TORRE DE MONCORVO Rua do Prado, Felgar Latitude 41.21013 te e a última camada de esse azul fica mais baço, Longitude -6.95846 Desapa- linhas verdes pintada na mais empedernido. face frontal do PT está Na face do PT que se recido encontra colada ao muro, que tem heras a florescer por entre as pedras, al- Autoria: guém desenhou a marca- Alunos MADEP/FBAUP dor preto uma pequena nave espacial. O PT fica junto ao Largo da Santa O Desaparecido é o con- Cruz, onde está situada trário do Invertido. No uma pequena capela. terceiro posto de trans- precisamente à mesma Ao cimo do largo, já a formação (PT) da EDP altura do muro, prolon- encetar a Rua do Cimo Distribuição, em Felgar, gando-lhe a existência. do Lugar, encontra-se intervencionado pelos É um PT camuflado, co- uma casa senhorial de alunos do Mestrado em mo o vestuário da tropa dois pisos, datada do Arte e Design para o quando se encontra no século XVIII, que contras- Espaço Público (MADEP) ta com a arquitetura mo- na Faculdade de Belas desta à volta. É hoje um Artes – Universidade espaço de turismo rural. do Porto (FBAUP), foram Na parede lateral da ca- usadas as mesmas cama- pela, foi feito um banco das de verdes para simu- de pedra, onde os tran- lar a vegetação da pai- seuntes podem sentar- sagem e de azuis – para -se e desfrutar da vista. simular o céu dessa mes- Ao final de uma tarde de ma paisagem. Mas, desta terreno em operações de sol, veem o PT em contra- vez, na ordem gravitacio- combate. A área reserva- luz, a casa de arrumos nal com que a natureza da ao céu ocupa dois ter- feita de pedra a fazer- 2016. Felgar, Distribuição EDP da transformação de posto MADEP, , alunos se apresenta. Se no PT ços da altura das pare- -lhe companhia mesmo Invertido as camadas de des e está pintada com ao lado. À esquerda, verde começam da linha um azul suave, decorado a Rua do Prado, demar- Desaparecido do horizonte para cima, cada por dois muros de a inundar o céu, e as ca- pedra. O da esquerda madas de azul se sobre- pertence a uma casa põem à vegetação da pai- que tem um portão en- sagem, no Desaparecido cabeçado por um leão a ideia é fundirem-se. de pedra em cada coluna. Fazer o PT desaparecer. Ao fundo, veem-se as Assim, a partir de um pon- linhas do horizonte, ca- to otimizado, é como se não madas de castanho e de víssemos qualquer edifício. com umas nuvens muito verde que tocam o céu. Este PT, situado na ténues, como as de um O PT é uma mimese da Rua do Prado, em Felgar, dia límpido de primavera. paisagem, dilui-se nela, encontra-se ao lado de É a existência – ou não – como numa espécie de Estas iniciativas são válidas. Não podem é ser atos isolados. Estas pequenas coisas um casebre de arrumos, de sol que confere o tipo atitude que lhe confere vão alegrando o ambiente urbano da vila. Devia haver uma continuidade. feito de pedra, do qual se de luminosidade ao azul empoderamento. Telmo Seromenho, 50 anos, arquiteto. prolonga um muro feito da parede. Se estiver um

24 25 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Mogadouro ARTE PÚBLICA •

Rio Douro

N221 N218 20 M 17 Miranda L 19 do Douro J M568 18 IC5

Av. da

Indústria 16 IC5 15

21 N216

N219 22 N221 Q 14 Rio Douro I 23 N315 24 13 Sendim IC5 31 11 32 25 O

30 33 26 G 10 12 IC5

N221 Mogadouro N221-7 29 Alfândega da Fé F H 28 27 IC5 N315 Rio Douro IC5 P N Rio Sabor E

IC5 Parque Natural C do Douro Internacional

Meirinhos A N221 Mogadouro

Rio Sabor Rio Douro 8 O TEU NOME, Cristina Mateus e FAHR D Torre de N220 9 LIVRO DE ARTISTA BIEN-ÊTRE, Vários autores Moncorvo IP2 10 MUSH, Gonçalo MAR c/ comunidade B N325 11 ONDAS DE CHOQUE, FAHR, Cristina Mateus

N221 12 ACERCA DE MOGADOURO, FAHR

13 MÁS CARAS, Gonçalo MAR

Rio Douro img © Mogadouro, Rute Ferraz, 2018.

Torre de Alfândega Mogadouro Miranda Moncorvo da Fé do Douro Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Mogadouro ARTE PÚBLICA •

a Avenida Nossa Sra. do e , que ficou pronta, as pessoas “As temáticas que suge- obrigam a pensar a arte. Caminho, que aglomera compõem o cotovelo mais da vila visitaram o local riram são aquelas com Em Ventozelo, por exem- os principais estabeleci- a nordeste de Portugal. para verem o resultado. as quais convivem no dia plo, queriam que repre-

Moga- mentos comerciais. Existe As máscaras – e as festi- a dia”, continua Virgínia sentássemos vacas, ara- douro lá a loja de eletrodomés- vidades a elas associadas Vieira. “Por exemplo, dos. E não era isso que nós ticos, alguns colocados – desempenham um papel onde há vinhas, queriam queríamos. Isso é o que as diariamente na calçada muito importante na vida uvas, queriam vindimas. pessoas têm todos os dias.” Parceiro: transformada em montra, sociocultural do município. Ou animais, aves. Luís Carlos Fernandes,

existe lá o restaurante Durante as Festas de 2016. Mogadouro, Tudo ligado à sua terra.” secretário da Vereação, Rede Inducar conhecido além-media- Inverno, encontram-se A população queria ver foi quem acompanhou os Assembleia com a comunidade, a com Assembleia ções da vila pelos seus representadas as seis concretizada arte que trabalhos no terreno, tra- grelhados de carne mi- tipologias de máscaras “Eu penso que esta fosse figurativa, que fos- tou da logística. “Disponi- Facebook: randesa feitos na lareira, que podemos encontrar arte pública trouxe para se ilustrativa dos costu- bilizei-me no primeiro dia existe lá a confeitaria em Mogadouro: o choca- Mogadouro algo de novo, mes. Os artistas sentiram para levar os artistas aos voltagemtmad moderna que vende bolos lheiro de Bemposta, os que eventualmente irá necessidade de defender locais e contar a história e pão, existe lá a residên- velhos de Bruçó, o faran- acabar por progredir também as suas ideias. dos espaços por onde cia de estudantes. dulo, o velho chocalheiro além deste projeto”, re- íamos passando. Falei- É também uma boa expe- de Vale de Porco, o careto fere o presidente da câ- -lhes também de algumas riência a de chegarmos a e a velha de Valverde e mara, Francisco Guima- preocupações e necessi- uma localidade transmon- o mascarão e a mascari- rães. E menciona também dades das pessoas”, tana pela noite. Passamos nha de Vilarinho dos Ga- o apreço da população descreve. “Fui à minha

por estradas cuja paisa- legos. No gabinete da 2016. Mogadouro, pela intervenção feita terra, Ventozelo. Acabei

gem é feita de montes a vereadora da Cultura e Mogadouro,2016. no posto de transforma- por ser o mensageiro do Assembleia com a comunidade, a com Assembleia fundirem-se num céu em Turismo, Virgínia Vieira, ção em Duas Igrejas, que se ia passar. Fomos Assembleia com a comunidade, a com Assembleia tons de azul-petróleo bem encontra-se pendurada em Miranda do Douro. “Os artistas foram até aos depósitos de escuro, o verde das ervas A câmara municipal uma máscara represen- O desenho de um gaitei- muito bem acolhidos. água, os locais cantaram- que ladeiam o caminho está sediada no antigo tativa da figura do velho. ro ocupa a fachada do Mas isso faz parte da -lhes uma canção, os ar- fica intenso por causa da Convento de São Francis- De madeira, pintada de edifício que se vê da nossa hospitalidade. tistas sentiram-se à von- luz única do crepúsculo. co, assim como o espaço vermelho e forrada com EN 221. “Como tínhamos Mesmo no final das as- tade e perceberam por O silêncio e as ruas deser- que alberga a Sala Museu esponja, a máscara tem visto os gaiteiros, claro sembleias, a população onde poderiam começar tas de Mogadouro são um de Arqueologia. Lá, po- dois cornos espetados na que imaginámos logo isso ficava a conversar com os a trabalhar. Muitas ideias estado de espírito que se demos encontrar achados parte superior e simbo- para nós no contexto das artistas, acalorava-os”, surgiram nestes primeiros prolonga pelo dia, como se que resultaram de cam- liza o Diabo. Foram estas máscaras. Depois de algu- conta Joana da Silva, ve- dias, surgiam conforme a população encontrasse panhas arqueológicas tipologias de máscaras ma luta, conseguimos ter readora da Educação e caminhávamos.” Luís naquela serenidade a for- efetuadas na década de que o artista Gonçalo aqui uma – e está lindíssi- da Ação Social. “Inclusive, Carlos Fernandes remata: ça da sua existência, que 80 do século passado. MAR pintou nas paredes ma. É um local de romaria.” quando o Gonçalo MAR “Foi uma semente que se lhe permite viver na aridez O castelo, ou o que resta do posto de transforma- começou a fazer as suas lançou. Sempre que al- daquelas terras, tão difí- dele, fica estrategica- ção da EDP Distribuição intervenções na antiga guém chegue a Moga- ceis de trabalhar, mas cu- mente no ponto mais que se encontra junto à central, teve miúdos da douro e pergunte pelo ja beleza funciona como elevado da vila. As suas Rua da Fonte Nova, em escola, professores, que Arte Pública fundação um íman que nos atrai origens são ainda discuti- Mogadouro. “Ali, estão foram para lá e ajuda- edp, as pessoas vão saber

sem sabermos bem como. das, mas a existência em representadas todas as 2016. Mogadouro, ram. As pessoas iam dizer-lhe o que é o progra- O centro de Mogadouro 1145 encontra-se compro- máscaras existentes no passando, iam pergun- ma e onde estão as obras. Assembleia com a comunidade, a com Assembleia é feito de dois largos con- vada. A vista perde-se concelho, que são seis. tando. Mas perceber e Despertou a curiosidade.”

tíguos: a Praça Engenheiro pelos montes, ao fundo. O Gonçalo conseguiu Nas assembleias, deixar mexer naquilo que Duarte Pacheco e o Largo Mogadouro faz parte transmitir aquilo que que decorreram primeiro é deles é mais complica- Trindade Coelho, o escritor da Rota da Terra Fria é a nossa identidade”, em Ventozelo, Tó e Peredo do.” Os artistas sentiram “da terra”, nascido a 18 Transmontana. Este circui- conta Virgínia Vieira. da Bemposta, e depois em essa reserva. “Somos de junho de 1861. Nessa to é feito de 455 quilóme- “De facto, qualquer pes- Meirinhos e Mogadouro, todos artistas com tra- de posto , MAR,

altura, ainda não existia tros e atravessa os municí- soa que chegue ali con- a população sugeriu te- balho autoral forte”, refe- 2017. Mogadouro,

o Parque da Vila, colado pios de Bragança, Miran- segue identificar cada mas para serem traba- re Gonçalo MAR. “Apre- Caras Más à avenida da localidade, da do Douro, Mogadouro, máscara.” Quando a obra lhados pelos artistas. sentamos conceitos que Distribuição, EDP transformação

28 29 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Mogadouro • SHORT BIOS ARTISTAS ARTE PÚBLICA •

Cristina Mateus (1968) Gonçalo MAR (1974) FAHR — F. F. Almeida (1981) H. Reis (1986)

No ano de 2018, terá um dos seus traba- lhos representados, o Pavilhão de Ser- ralves, na 16ª Exposição Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia, intitulada Public Without Rhetoric, que tem curadoria de Nuno Brandão Costa e Sérgio Mah. Os FAHR contam ainda com a fundação de um outro projeto, que visa a intervenção arquitetónica na paisagem em colaboração contínua com outros ateliers criativos, de seu nome HODOS.

Cristina Mateus vive e trabalha no Porto. Centrada na construção de um imagi- Os FAHR 021.3 são um coletivo fundado Entre 1986 e 1991, frequentou o curso de nário que o próprio definiria como “figu- em 2012 por Filipa Frois Almeida e Hugo Artes Plásticas e Pintura da Escola Supe- rativa surrealista”, a obra do lisboeta Reis. São ambos formados em Arqui- Alejandra Jaña (1973) rior de Belas-Artes do Porto, hoje chama- Gonçalo MAR mistura elementos do uni- tetura pela Escola Superior Artística do da de Faculdade de Belas Artes da Uni- verso da banda desenhada e da anima- Porto e os seus percursos foram sendo versidade do Porto, onde é professora. ção com alguns elementos da cultura marcados por intersecções da arte com Alejandra Jaña tem dedicado a sua prá- Nos últimos anos, apresentou as exposi- japonesa ou outros mais ligados aos a arquitetura. tica profissional a projetos de design de ções individuais J. e as Pedras (Espaço códigos da street art. As personagens Filipa Frois Almeida realizou Erasmus comunicação com ênfase em identidade Mira, Porto), ŊOIT (Galeria Fernando centrais multicoloridas são envoltas nu- na Technische Universitãt Berlin e tra- visual e design editorial, com enfoque Santos, Porto) e Répétition (Círculo de ma aura absurda, mostradas em situa- balhou em escritórios de arquitetura em na cultura. Foi cofundadora do atelier Artes Plásticas de Coimbra) e participou ções que parecem saídas de um sonho. Berlim, como LW Architekten e J. MAYER Martino&Jaña, onde teve a oportunidade nas coletivas Lugares de Viagem – Bienal Na parede de um edifício, pode haver H. Em paralelo, estudou fotografia no de desenvolver, ao longo de 15 anos, da Maia 2015, Homeless Monalisa (Colé- uma personagem gigante convidando Instituto Português de Fotografia e mais inúmeros projetos que cruzam múltiplas gio das Artes, Coimbra), Diálogo (Galeria o observador a sair da rotina e a sonhar. tarde na Imago Galerie Berlim. Desde disciplinas adjacentes ao design para Fernando Santos, Porto), Uma (Painel – Além da street art e do graffiti, a obses- 2000, arrecadou vários prémios nacio- clientes como Nike (EUA), NBC (EUA), galeria da FBAUP, Porto), P. – uma home- são pelo desenho e pela riqueza dos nais e internacionais nesta disciplina. Museu de Serralves, Porto (2001), Gui- nagem a Paulo Cunha e Silva, por extenso detalhes de Gonçalo MAR transfere-se Hugo Reis, ainda no decorrer do curso marães Capital Europeia da Cultura (Galeria Municipal do Porto). Realizou também para as telas e para as instala- de Arquitetura, trabalhou no escritório (2012), Centro Cultural , Câmara também em 2015 a cenografia para Las- ções oníricas em contexto de galeria. Arquitectos Anónimos, de 2008 a 2012. Municipal do Porto, entre outros. Foi do- tro da coreógrafa Né Barros e participou Estas incorporam madeira, cartão e ou- Completou em paralelo um conjunto de cente da cadeira de Estudos Aplicados como intérprete no filme A Santa Joana tros materiais reciclados. formações na área da arquitetura digital em Tipografia em 2008 na ARCA, em dos Matadouros de João Sousa Cardoso e tecnologias de fabricação, ferramentas Coimbra, e entre 2009 e 2012 na FBAUP (2014). Em 2016, apresentou a perfor- adquiridas que o levaram mais tarde a – Faculdade de Belas Artes da Univer- mance... de qualquer modo há um ritmo integrar o escritório de renome interna- sidade do Porto, no mestrado de Design forte... e tu sabes o que é. Não dá para cional J. MAYER H. em Berlim. Gráfico e Projetos Editoriais. Em 2012, parar no espaço Maus Hábitos, no Porto. A dupla FAHR tem sido distinguida envolve-se com um coletivo de criadores Em 2017, participou na exposição Them or nacional e internacionalmente por um e investigadores na criação da We Came Us, Um Projeto de Ficção Científica, Social conjunto de projetos que se caracterizam From Space, plataforma de investigação e Política, com curadoria de Paulo Mendes, pela sua abordagem formal e provoca- e troca de conhecimento na área do de- na Galeria Municipal do Porto. É cofun- dora como Hairchitecture, Metamorfose, sign e da produção gráfica, da qual faz dadora da associação cultural Virose. Eclipse e Nappe (2016-19 em Taiwan). atualmente parte da direção.

30 31 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Mogadouro • O TEU NOME Cristina Mateus e FAHR • 2017 ARTE PÚBLICA •

paço do desconhecido, à leitura da paisagem. 8 querem estar no espaço Este trabalho faz-se FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: da identidade”, refere. também pelos FAHR na MOGADOURO Rua da Galiza, Latitude 41.26211 “Foram-nos contadas discussão dos modos de Meirinhos Longitude -6.82217 O Teu histórias mirabolantes, relacionamento com o histórias de contrabando, PT e com o Gonçalo MAR Nome de fronteira. Não é uma numa aproximação ao terra apenas de isolamen- graffiti, aos chamados to, é também uma terra tags (assinaturas dos Autoria: de possibilidade para writers) distribuídos pe- Cristina Mateus se estar no outro lado.” las paredes das cidades. e FAHR E acrescenta que os “Gostava de ser como transmontanos são pes- o Gonçalo, de escrever soas destemidas. “Terá o meu nome nas paredes. “Isto não é poesia/ Escre- havido alguma sensação Estou a escrevê-lo de ou- ve/ As tuas coisas/ Nos de desconfiança. Há mui- tra forma. Estou a escre- montes/ Nas pedras/ O to o sentimento de que as ver o nome na paisagem.” teu nome.” Inscrito numa aldeias estão a morrer e Cristina Mateus convida estrutura metálica no a população que ainda o transeunte que desfrute posto de transformação lá vive não quer que elas da obra a inscrever a sua (PT) da EDP Distribuição morram associadas a própria ideia de nome, de em Meirinhos, este é o outras imagens que não identidade, na paisagem poema que resultou do as da sua identidade. As verde que vê ao fundo, cruzamento de conversas pessoas são cuidadosas.” atrás do edifício. “O nome que Cristina Mateus teve tem que ver com a nossa durante as assembleias ligação às coisas”, extra- com as populações, com pola Cristina Mateus. as pessoas da organi- “O nome é talvez a origem. zação do Arte Pública Como é que isso aconte-

fundação edp no terreno, ce? Nós próprios, quando 2017. Meirinhos, 021.3, FAHR com Mateus , Cristina com funcionários da câ- nascemos, não temos mara que acompanharam controlo sobre isso.” os trabalhos. “Logo na O cunho dos FAHR NomeO Teu primeira assembleia, em nesta parelha sente-se Mogadouro, sentimos um na escolha da assimetria ambiente reativo. E es- com que as letras foram távamos apenas na fase colocadas, desviadas de apresentar, de dar a para a esquerda, e tam- conhecer o nosso traba- Este PT de Meirinhos bém no facto de toda a lho”, começa por contex- está situado na Rua da estrutura sair de quadro. tualizar Cristina Mateus. Galiza, um caminho que Ou seja, vai para lá dos Apesar de os meios rurais fica paralelo à EN 315, limites da parede e proje- terem uma forte tradição mas topograficamente ta-se na paisagem. oral e a ficção ser por mais baixo do que a es- isso muito explorada, trada nacional. As letras através de efabulações, pretas, suportadas por Cristina Mateus explica uma estrutura cor de vi- que os imaginários – os nho igualmente metálica, das populações e os dos foram colocadas à altura Esta rua tem cinco habitantes, eu sou o mais velho. Mas vêm aqui muitas moças artistas – pareciam muito suficiente para que quem de fora visitar. distantes. “As pessoas passa na EN 315 encontre Gualter Prata, 94 anos, reformado. não querem estar no es- ao seu lado um convite

32 33 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Mogadouro • LIVRO DE ARTISTA BIEN-ÊTRE Vários autores • 2018 ARTE PÚBLICA •

“A certa altura surgiu E o terceiro contempla to- 9 um texto escrito por mim da a obra, desde o traba- FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: e que foi apresentado lho exploratório até à mon- MOGADOURO Sala Museu de Arqueo- Latitude 41.3405735 numa das assembleias”, tagem.” O Livro de Artista logia, Rua D. Afonso II Longitude -6.7158408 Livro de conta Cristina Mateus. está exposto para manuse- “Apesar de o texto ter amento na Sala Museu de Artista acabado por não ser usa- Arqueologia, mas há uma do – apenas um excerto edição física de mais 149 Bien-Être dele serviu a intervenção exemplares, 140 dos quais feita no posto de transfor- são cosidos. Há 10, incluin- mação da EDP Distribuição do o que está em exposição, Autoria: em Meirinhos (vide obra que são soltos. Alejandra Alejandra Jaña nº 8) –, a ideia de um li- Jaña refere que a ideia ini- Cristina Mateus vro seria a opção mais cial não era essa, mas que Filipa Frois Almeida amigável para recebê- não se importa que tenha Gonçalo MAR -lo.” Tudo o que os artis- evoluído para a impressão Hugo Reis tas fizeram foi registado. de 150 exemplares. Diz “O processo foi muito fei- que é memória que fica. to de tudo o que se esta- “Quanto à arte gráfi- No fundo, trata-se de um va a pensar e acabou por ca, há apenas pequenos objeto de arqueologia. não acontecer. O livro pormenores. Não quis ser Daí estar assumido como é feito como se fosse um muito interventiva, porque um objeto artístico que arquivo de material.” o próprio livro – o formato pode ser visitado, e con- As folhas deste livro – era já muito interventi- sultado, no sítio que agre- expositivo não estão co- vo”, continua Alejandra ga os achados arqueoló- ladas umas às outras. Jaña. “Há referências à gicos do concelho, a Sala “O livro pode ser aberto atitude que os artistas ti- Museu de Arqueologia de e as páginas ficarem to- veram durante o trabalho Mogadouro. Bien-Être é das espalhadas. No mo- exploratório que fizeram. um livro que documenta mento em que for de novo Eles trabalharam com co- todo o processo criativo montado, pode sê-lo de res, transparências, retân- dos quatro artistas con- formas diferentes”, ex- gulos. Há um pequeno pis- vidados para fazerem plica Cristina Mateus. car de olhos a estas refe- 2018. Mogadouro, artistas, de Livro coletivo de Artista (detalhe), intervenções no espaço “São formatos desen- rências na capa e na so- público de Mogadouro, contrados”, acrescenta breposição dos formatos.” no contexto do programa Alejandra Jaña. “A publi- Este livro é também Arte Pública fundação cação tem três capítulos, um ato político. “Espero que edp. Retrata tudo o que cujo formato tem tama- seja consultado. Gostava Cristina Mateus, Filipa nhos diferentes. No pri- que pegassem nele, o des- Frois Almeida, Gonçalo meiro, temos imagens de montassem e o voltassem MAR e Hugo Reis prepa- enquadramento do terri- a montar à sua maneira. raram, trabalharam e tório – as pessoas com Quase como um ato per- apresentaram às popu- quem os artistas conver- formativo.” lações, mesmo as obras saram, os encontros que que acabaram por não tiveram com a paisagem, se concretizar. Trata-se, os edifícios em que iriam no fundo, de um registo intervir, as memórias da de tudo o que foi criado. própria terra. O segundo Gostei muito das intervenções. É uma boa iniciativa, passámos a ter suportes A arte gráfica do livro é capítulo são textos da elucidativos do que é o nosso património cultural. Deviam fazer mais, porque assinada por Alejandra Cristina, que estão isola- enobrecem o espaço público. Jaña e Cristina Mateus. dos e são depois utilizados. Emanuel Campos, 36 anos, arqueólogo.

34 35 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Mogadouro • MUSH Gonçalo MAR c/ comunidade • 2018 ARTE PÚBLICA •

do cogumelo é uma apren- 10 dizagem que passa de pais FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: para filhos, é preciso sa- MOGADOURO Caminho da Central Latitude 41.33684 ber identificar quais as es- Velha Longitude -6.71806 Mush pécies comestíveis. As pa- redes da antiga central transformaram-se numa Autoria: grande tela na qual todas Gonçalo MAR as pessoas foram convida- Estavam praticamente c/ comunidade das a participar. Juntaram- todas as faixas etárias -se miúdos e graúdos, jun- representadas.” taram-se funcionários da Numa das fachadas la- câmara, juntaram-se os terais da antiga central, as outros artistas. “Os miúdos plantas selvagens crescem adoraram. Associaram ao tão alto que parecem que- graffiti, ao proibido. Alguns rer fazer parte do quadro. nunca tinham pegado nu- Os cogumelos pintados de ma lata de spray. Foi muito tons azuis, rosas, verdes gratificante para eles”, re- e amarelos brotam daque- fere Joana da Silva, verea- las ervas em harmonia, “Viva o capitão Cruz, que dora da Educação e Ação como se a intervenção hu- nos deu água e luz.” Quem Social de Mogadouro. mana e a paisagem tives- lembra o rifão é o atual A técnica de pintura foi sem sido feitas uma para presidente da Câmara aqui invertida. Não foram a outra. Numa outra face de Mogadouro, Francisco pintados cogumelos por do edifício, está pintado Guimarães. O capitão cima de um fundo preexis- um cogumelo especial. Cruz era o presidente tente, o fundo é que foi Não apresenta o formato da autarquia em funções pintado depois a preto por longitudinal dos outros, o aquando da instalação da Gonçalo MAR e definiu os piléu é mais arredondado, primeira central elétrica contornos dos cogumelos. mais parecido com uma 2018. Mogadouro, comunidade, com , MAR na vila, em 1935. Na an- “A cor da intervenção, que cara. No meio, estão pin- Mush tiga central, que fica no formou o corpo dos cogu- tados dois grandes olhos caminho com o seu nome melos, foi dada a quem e a estrutura da porta por e que se encontra desa- quisesse participar”, con- cima da qual foram dese- tivada, pode ver-se a pe- textualiza Gonçalo MAR. nhados confere o nariz e quena inscrição: “CMM “Tentámos fazer com que a boca. O pé do cogumelo 1935.” No descampado à fosse um trabalho de co- faz de pescoço, muito lon- volta do edifício – as ca- munidade.” E explicou que, go e esguio. Este “rapaz” sas estão a alguns metros ao contrário de outras si- é o último de uma sequên- acima do terreno inclinado tuações em assembleias cia de cogumelos na facha- –, estão pousados arados comunitárias, em que nem da que dá para o Caminho e outras alfaias agrícolas. sempre foi entendida a di- da Central Velha e está Pode andar por lá um tra- ferença entre trabalho ar- a olhar para quem passa. tor a fresar o terreno con- tístico comunitário e cunho tíguo, um cão sentado ao autoral de uma obra, es- lado do condutor. ta intervenção serviu pa- Para o edifício, que ou- ra desmistificar essa dife- trora fora branco e agora rença. “Foi muito parti- Eu acompanhei o Gonçalo. Foi o primeiro trabalho a ser realizado. Fizemos questão é colorido e preto, Gonçalo cipado. Havia pessoas de de levar os miúdos das escolas. Teve logo uma enchente de gente. A curiosidade fez MAR inspirou-se numa cul- 70 anos a pintar, havia ou- com que a população se juntasse à atividade. tura muito própria da zo- tras com 8 anos. O espec- Núria Borges, 33 anos, técnica de cultura, antropóloga. na: o cogumelo. A apanha tro etário foi muito lato.

36 37 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Mogadouro • ONDAS DE CHOQUE FAHR, Cristina Mateus • 2017 ARTE PÚBLICA •

as nossas intervenções, Esta opção não avançou, 11 vão no sentido de tentar devido a questões técni- FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: criar alguma inquietude.” cas e de funcionamento MOGADOURO Rua Dr. Casimiro Latitude 41.33917 Filipa Frois Almeida com- do próprio PT, e acabou Machado Longitude -6.71364 Ondas de plementa: “Criar algo por ser a pintura o mé- inesperado que complete, todo usado para criar Choque que com o seu desequilí- esse efeito. “É uma lógica brio traga equilíbrio.” quase de criar um novo Os FAHR trabalham o es- marco, uma nova centra- Autoria: tímulo, no cidadão. E com lidade. E este deixa de ser FAHR, Cristina Mateus isso geram novas memó- suporte [da estrutura] rias, novas identidades. e passa a ser identidade – uma nova identidade”, A arquitetura não tem explica Hugo Reis. “Cri- de ser habitada, pode ámos uma espécie de ser apenas usufruída. acidente nesta nervura, Os FAHR encaram a prá- representámos nela um tica da arquitetura como acidente. Como que uma uma forma de expressão sombra que descolou da e preferem falar em usos estrutura – deixou de ser da arquitetura e não em algo físico, passa a ser função. Um desses usos No posto de transfor- algo bidimensional. É uma é a fruição, e por isso mação (PT) da EDP Dis- onda acidentada que so- interessa-lhes trabalhar tribuição que fica na Rua freu uma provocação.” com os limites tanto da Dr. Casimiro Machado, A frase que serviu o tí- arquitetura como da arte. os FAHR pegaram em duas tulo, da autoria de Cristina Os FAHR, Filipa Frois matérias para trabalha- Mateus, foi a seguinte: FAHR e Cristina Mateus, 2017. Mateus, Cristina e , FAHR Almeida e Hugo Reis, rem: uma frase da auto- “Tramas elétricas são fizeram a licenciatura ria de Cristina Mateus, da ondas de choque.” “Os na Escola Artística Supe- qual retiraram um excer- FAHR apanharam a ideia

rior do Porto. Na facul- to para servir de título à de uma trama”, contex- Choque de Ondas dade, contactavam com obra, e o reticulado feito tualiza por sua vez Cristi- alunos de pintura, escul- de cimento que confere na Mateus. “Gosto muito tura, fotografia, videoar- relevo às quatro faces do quando as coisas não es- te. Ressalvam a diferen- edifício. Essa espécie de tão bem acabadas, é es- ça entre arquitetura grelha sobreposta às pa- sa a impressão que fica temporária e efémera redes foi pintada de verde. nesta intervenção. Esta e dizem agradar-lhes trama é uma trama incom- a forma como a segunda pleta e faz lembrar aquilo envelhece. Atrai-lhes que poderia ser: uma tra- a ideia de arte pública, ma no espaço, no ar, uma pelo caráter que tem de trama feita de choques intervenção na paisagem elétricos, sem matéria.” urbana. “Interessa-nos muito mais a forma co- mo as pessoas vivem o espaço público – que é A ideia inicial era que altamente codificado – e houvesse uma volume- ajudar a quebrar precon- tria que estendesse a ner- A minha opinião é muito positiva. A obra veio reavivar um património arquitetónico ceitos em relação a ele”, vura geométrica e pen- que estava a degradar-se e dar alguma vitalidade à vila. refere Hugo Reis. “Todos saram na colocação de Luzia Salgado, 47 anos, técnica de turismo e cultura. os nossos estudos, todas uma grade em madeira.

38 39 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Mogadouro • ACERCA DE MOGADOURO FAHR • 2018 ARTE PÚBLICA •

limites”, refere Hugo Reis. desenhado sobre boa par- 12 “A dada altura, quando te da superfície. “Quando FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: chegámos aqui a Moga- cá viemos, fotografámos MOGADOURO Rua das Eiras Latitude 41.3435108 douro, os terrenos pare- o tempo. Fotografámos Longitude -6.7207724 Acerca ceram-nos uma manta coisas que estão a desva- de recortes na paisagem. necer-se com o tempo – os de Moga- E há bastantes oliveiras, cartazes antigos, as casas que criam uma métrica, abandonadas”, acrescen- douro um pontuado, texturas, ta Filipa. cores – que são sempre A ideia inicial era a de contrastantes. O concei- fazer uns cartazes com as Autoria: to tornou-se mais forte fotografias sobrepostas FAHR quando nos apercebe- dos trabalhos de todos os mos de que há distâncias. artistas intervenientes no As pessoas deslocam-se Arte Pública fundação edp “É um berro humano numa muito de carro, defendem – Voltagem em Mogadouro. foto só.” Quem o diz é Hugo muito a sua freguesia e, O projeto não avançou, Reis, um dos elementos dos em última análise, defen- mas deu o mote para a co- FAHR. Um painel de lona dem muito o seu terreno lagem com caras de pes- que ocupa a fachada fron- e a sua casa. E sentem-se soas, como se fossem re- tal do posto de transfor- orgulhosas disso mesmo. cortes de terrenos vistos mação (PT) da EDP Distri- Portanto, o território é tu- do céu. Os tons – brancos, buição na Rua das Eiras, do isso.” cinzas, pretos e rosa- a obra resultou da vinda -salmão muito ténues –

ao concelho para fazer dão um efeito de aguarela 2018. , FAHR, pesquisa. “Eu e o Hugo vi- ao conjunto e conferem emos cá umas vezes sozi- à obra uma certa leveza, nhos. Vínhamos muito com um caráter um pouco an- a vontade de fazer umas gelical. Ao longo do tem-

experiências no terreno, po, a tela irá perder a cor. Acerca Mogadouro de perdermo-nos um bocado, A obra está virada a sul, andar de carro, parar e ir apanha sol de manhã à para o meio de um campo Uma senhora idosa, noite. Filipa Frois Almeida qualquer tirar umas foto- vestida de preto, cabelo gosta disso. “Durante a grafias. Explorávamos o apanhado, ocupa a centra- pesquisa que fomos fa- que nos circundava, pará- lidade do quadro, como zendo, havia muitos car- vamos e conversávamos se segurasse as pontas de tazes antigos nos quais com uma pessoa ou outra”, todas as narrativas pos- quase só se notava o pa- conta Filipa Frois Almeida, síveis através da sua fi- pel e umas nuances do que era quem andava de gura. “Eu faço muito estas que é que estava escrito máquina em punho. “Des- composições. Conto uma antigamente. Isso não me de o início do curso de Ar- história a partir de várias desagrada.” Outra nuan- quitetura que comecei a coisas que se foram propa- ce é o facto de a tela não trabalhar muito com a fo- gando no tempo”, explica se encontrar pendurada tografia. É uma ferramen- Filipa Frois Almeida. ao centro da fachada, an- ta de exploração muito im- Existem imagens de ou- tes a uns largos centíme- portante para mim.” tras mulheres sobrepos- tros à esquerda. É uma Os FAHR sempre gosta- tas, de forma difusa, e das características do tra- ram da ideia de trabalhar o trabalho de simulação balho dos FAHR: criar pe- Acho que é muito bom, tanto para a EDP como para o património em Mogadouro. o território. “O território da passagem do tempo quenos desvios para sus- O painel foca as pessoas da aldeia, espalha a cultura do que é nosso. é composto por várias foi feito de um rendilha- citar novas identidades. Diogo Verde, 21 anos, estudante. camadas. E não existem do de manchas brancas

40 41 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Mogadouro • MÁS CARAS Gonçalo MAR • 2017 ARTE PÚBLICA •

dos Galegos. “Mogadouro de cores, diz usar muito os 13 tem uma série de localida- tons de pastilha elástica e FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: des e cada uma tem a sua do algodão-doce. As más- MOGADOURO Rua da Fonte Nova Latitude 41.3454204 máscara”, refere Gonçalo caras pintadas no PT de Longitude -6.7078905 Más MAR. “Fiz um apanhado Mogadouro não foram ex- de algumas mais interes- ceção. Vários tons de rosa, Caras santes e coloquei-as lá.” roxo, violeta, alguns laran- O sucesso junto da popu- jas. Podiam ser chupa- lação foi imediato. As pes- -chupas de criança com Autoria: soas acorreram à Rua da formato de caraços. Ou Gonçalo MAR Fonte Nova para ver o tra- então balões, daqueles de balho pintado a latas de material metalizado que spray no PT. se compram aos mais pe- É o único que não é um Gonçalo MAR faz ques- quenos em dias de festa mascarado no verdadeiro tão de frisar a importân- ao ar livre. Na parede la- sentido da palavra. Um cia de ter insistido em fa- teral ao desenho há, inclu- farandulo é um indivíduo zer esta obra segundo os sive, uma máscara solta – que, no contexto dos ri- traços que são caracterís- fundo branco – com uma tuais e festividades da ticos do seu trabalho. guita presa na base. “São Máscara Ibérica, não “Foi imediato. É a minha cores muito vivas e eu gos- tem um objeto colocado imagem, é a minha marca to de trabalhar o contraste em frente à cara. A cara autoral que está ali, e foi – cores quentes com frias é pintada de preto – com super-reconhecido”, expli- –, de modo a suscitar sen- graxa ou cortiça queima- ca. “Bastou ter uma corzi- sações, de transmitir uma da. Em Tó, uma freguesia nha para fazer ligação.” energia muito positiva.” de Mogadouro, celebra- A contraposição das -se a 6 de janeiro o Dia cores quentes com as frias do Farandulo. Integrada de que Gonçalo MAR fala em rituais pagãos de ce- faz-se, no caso deste PT, lebração do solstício de com a paisagem à volta.

inverno, a festa consiste Os rosas e os violetas da 2017. Mogadouro, Distribuição, EDP transformação de , MAR, posto em o farandulo andar de parede ganham contexto casa em casa a tentar com os verdes das árvores roubar raparigas soltei- em redor e da relva que ro- Caras Más ras. A encenação acaba As principais carac- deia o PT e também com o em frente à igreja, com terísticas do trabalho de azul do céu, em dias de sol. uma atuação de gaiteiros. Gonçalo MAR apontam O preto desempenha tam- Gonçalo MAR representou na direção do figurativo bém um papel importante. as máscaras das fregue- surrealista. “Se estiver É o elemento que nos lem- sias de Mogadouro numa em Amesterdão, sou ca- bra que o assunto é de adul- das fachadas do posto de paz de pintar um ciclista tos, que ficção e fantasia transformação (PT) da com um moinho na cabe- também sabem apresentar EDP Distribuição na Rua ça e os pés são peixes”, o seu lado mais sombrio. da Fonte Nova em Moga- exemplifica. O importan- douro, incluindo o faran- te é ter liberdade total dulo. Estão lá também o sobre o tema. “Faço um chocalheiro de Bemposta, twist ao que é suposto A experiência foi uma maravilha. Os postos de transformação (PT) da EDP os velhos de Bruçó, o velho ser a norma. E depois há Distribuição ficaram muito bonitos. O que está na Rua da Fonte Nova é muito boni- chocalheiro de Vale do a forma como construo as to, as pessoas gabam-no muito. Ainda há uns tempos estiveram lá umas raparigas Porco, o careto e a velha personagens. Uso uma li- a tirar fotos. Eram modelos. Puseram bancos e sofás à frente do PT e tudo. de Valverde, o mascarão e nha muito solta, com mui- Augusto Alves, 53 anos, eletricista da EDP Distribuição – Bragança. a mascarinha de Vilarinho to movimento.” Em termos

42 43 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Miranda do Douro ARTE PÚBLICA •

Rio Douro

N221 N218 20 M 17 Miranda L 19 do Douro J M568 18 IC5

Av. da

Indústria 16 IC5 15

21 N216

N219 22 N221 Q 14 Rio Douro I 23 N315 24 13 Sendim IC5 31 11 32 25 O

30 33 26 G 10 12 IC5

N221 Mogadouro N221-7 29 Alfândega da Fé F H 28 27 IC5 N315 Rio Douro IC5 P N Rio Sabor Miranda do Douro E

IC5 14 GAME OF DRONES - NO PRINCÍPIO ERA O VENTO, Parque Natural C do Douro Internacional Ricardo Santos

Meirinhos A N221 15 PAULITEIROS, Miguel Schreck

Rio Sabor Rio Douro 16 L GUEITEIRO EILECTRICO, Pedro Almeida D Torre de N220 17 SIMBLOS MIRANDESES: IS BIELHOS I IS NUOBOS, Moncorvo IP2 Lérias Associação Cultural B N325 18 POR I, Fernando José Pereira

N221 19 YOU=EU, R2 Design

20 CARTAZES YOU=EU, R2 Design

Rio Douro img © Rute Ferraz, Miranda do Douro, 2017.

Torre de Alfândega Mogadouro Miranda Moncorvo da Fé do Douro Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Miranda do Douro ARTE PÚBLICA •

pessoas que aqui vêm não durante um bocado, o ca- Por entre os visitantes que muito o território, conhe- serem turistas, serem pes- fé fica junto a uma praça percorrem a cidade, ouve- cemos bem as pessoas. Miranda soas com conhecimentos onde aos sábados de ma- (execução), -se falar mais espanhol do Portanto, esse contacto acerca do assunto.” O es- nhã se organiza uma pe- que português. com a população foi sen- do Douro paço é visitado por uma quena feira, e, passados Palaçoulo e Sendim do feito de forma infor- Simblos mirandeses: mirandeses: Simblos caixas EDP Distribuição Distribuição EDP caixas média de 400 estudantes uns largos minutos, a ban- Miranda do Douro, 2016. (e Atenor) são duas das mal, surgiu naturalmen- Envolvimento comunitário, comunitário, Envolvimento Lérias Associação Cultural, Cultural, Associação Lérias de Miranda do Douro, 2016.

por ano. da afasta-se e vai a tocar nuobos Is i bielhos Is 13 de Miranda te. E correu muito bem.” Parceiro: em arruada, praça fora. do Douro, e, juntamente Fernando José Pereira, Momento três. No Café com Duas Igrejas e a pró- artista convidado para fa- e esta metodologia – Rede Inducar Associação dos Pauliteiros pria cidade de Miranda, zer a coordenação artística a de envolver as pessoas de Duas Igrejas, são três (execução), são os locais que acolhem deste núcleo do Voltagem, no processo – foi muito da tarde e vários homens as obras de um dos quatro diz o mesmo. “Correu muito positiva. Eu tive pessoas Facebook: encontram-se encostados núcleos do Arte Pública bem. Não concordo nada que ainda me ligavam no Simblos mirandeses: mirandeses: Simblos

ao balcão, uns a pedir café, Distribuição EDP caixas fundação edp em Trás- com o que estão a fazer Natal”, comenta. “Uma Lérias Associação Cultural, Cultural, Associação Lérias de Miranda do Douro, 2016.

voltagemtmad outros a beber um diges- nuobos Is i bielhos Is -os-Montes, o Voltagem. em muitos sítios, a pintar das coisas que percebe- tivo. O espaço fica à beira A Lérias – Associação Cul- fachadas, a fazer graffiti. mos é que as câmaras Momento dois. Já pas- da Estrada Nacional 221, tural foi o parceiro artístico Considero tratar-se de estão com vontade de dar Momento um na vida do sa da hora de almoço, no que atravessa a localidade local escolhido para fazer poluição visual”, diz o ar- continuidade a este tipo concelho de Miranda do Café Burela, em Palaçou- Duas Igrejas. Pergunta-se a produção no terreno. tista que é também profes- de ações, percebem que Douro. No final da manhã lo, terra de tanoaria e cu- pela obra de arte pública “O Miguel Schreck, o Pedro sor na Faculdade de Belas as intervenções podem de sábado, a Rua da Ermi- telaria, e várias pessoas feita no posto de transfor- Almeida e o Ricardo Santos, Artes da Universidade do trazer outra visibilidade da, uma rua larga que de- estão ainda a comer a so- mação da EDP Distribuição da associação Lérias, fo- Porto. “O que estava em para o concelho.” Reco- semboca no cemitério de bremesa, algumas a beber e aprontam-se a dizer que, ram convidados de raiz. jogo era todo um processo nhecem-lhe o potencial. Sendim, está deserta, as a bica ao balcão. Pelas apesar de estar lá retrata- A associação trabalha colaborativo, com outros “A vantagem que vejo pessoas encontram-se fitas que protegem a por- do um gaiteiro, Duas Igre- muito a cultura local, des- artistas, com a população. num projeto como o Arte recolhidas para o almoço. ta da rua dos insetos, con- jas é terra de pauliteiros. de a música ao teatro e à Queria fazer algo que fos- Pública fundação edp é O Centro de Música Tra- segue ver-se as pessoas “Aqui fica bem, fica bonito. dança”, justifica Patrícia se precário e não ficasse o de poder colaborar com dicional Sons da Terra a deterem-se à entrada, E vê-se bem da estrada”, Costa, da Rede Inducar, a apodrecer juntamente instituições, o que traz encontra-se do lado es- do lado de fora, a formar diz Manuel Afonso, refor- cooperativa que ficou en- com as paredes.” Fernando coisas novas. Misturar querdo. Fundador da as- um ajuntamento espontâ- mado da GNR que chegou carregada pela fundação José Pereira fez uma ins- ideias contemporâneas sociação, Mário Correia neo daqueles que não pre- a ser pauliteiro em Lisboa. edp de implementar o talação visual intitulada com ideias tradicionais apresenta o espaço, uma cisam de palavras para Momento quatro. Numa Voltagem nos quatro con- Por i (vide sinopse nº 18). e sair daí algo inovador”, casa branca de dois pisos, darem significado ao con- tarde de sábado que já vai celhos de Trás-os-Montes. “O princípio era usar os refere Celina Bárbaro o de baixo repleto de ins- vívio. Um rapaz pega numa longa, nos jardins junto à “Por vezes, foi difícil inte- meios que não violentas- Pinto, diretora do Museu trumentos e memorabilia gaita, um homem nos seus Sé Catedral da cidade de grar o projeto, mas não sem a história deste ter- da Terra de Miranda. ligados à cultura e à sono- Miranda do Douro é muito foi o caso de Miranda do ritório, que respeitassem ridade mirandesas, e o de provável encontrarmos um Douro. A assimilação foi a ideia de temporalidade. cima uma mediateca or- casal de noivos em sessões imediata porque a Lérias Há paredes lindíssimas, ganizada por vinis, casse- fotográficas, o fotógrafo já tinha esse trabalho fei- nas quais se reconhece o tes de vídeo, livros. O tra- a dar as indicações para to junto das populações.” tempo, vê-se a humidade. balho desta associação ajeitarem a postura e o Foram realizadas duas A proposta de pintar tudo passa por reunir registos vestuário. Além da impo- assembleias, no salão no- de branco repugna-me, é de gaiteiros e tamborilei- nência da igreja, manei- bre da câmara, uma em apagar a história daque- ros, de cantos tradicionais, rista, datada do século XV, junho de 2016 e outra em las paredes.” de paisagens sonoras e trinta e muitos pega tam- os espaços verdes à volta janeiro de 2017. Patrícia Costa, da Rede “Tenho um feedback mui- coleciona também edições bém numa gaita, um ou- estão rodeados de uma “Foram escolhas por Inducar, fala em desafio. to bom por parte das pes- bibliográficas sobre mú- tro da mesma idade deste muralha, a que separa (execução), amor, os locais onde foram “Trabalhar com a funda- soas. Este projeto cria re- sica tradicional. “Hoje há segundo segura um bongo e protege o alto do mon- feitas as intervenções”, con- ção edp neste projeto foi des, cria sensibilidades uma outra consciência re- e uma mulher, também te onde se situa a cidade ta Miguel Schreck, um dos algo de novo para nós, fi- estéticas. As pessoas ques- Simblos mirandeses: mirandeses: Simblos

lativamente à cultura mi- nos seus trintas, agarra da paisagem que se per- Distribuição EDP caixas artistas do núcleo de Miran- zemos contacto com novos tionaram. E isso, hoje em Lérias Associação Cultural, Cultural, Associação Lérias de Miranda do Douro, 2016.

randesa. Uma coisa inte- num tambor. Começam de em montes e que tem, nuobos Is i bielhos Is da do Douro e membro da artistas, estabelecemos li- dia, é muito importante.” ressante é o facto de as todos a tocar. Estão ali lá em baixo, o rio Douro. Lérias. “Nós trabalhámos gações com estes concelhos

46 47 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Miranda do Douro • SHORT BIOS ARTISTAS ARTE PÚBLICA •

Fernando José Pereira (1961) Miguel Schreck (1978) Ricardo Santos (1982) R2

Começou o seu percurso artístico des- de muito novo. Diz-se autodidata e que aprendeu a desenhar a partir de livros. Ingressou depois no curso de Arquite- tura na Universidade Lusíada do Porto e mudou-se para Design de Interiores na ESAD de Matosinhos. Estudou teatro no Method Studios em Londres e o gosto Licenciou-se em Artes Plásticas/Pintura pela fotografia tem-no acompanhado Músico, professor e antropólogo, Lizá Defossez Ramalho (1971) e Artur na Faculdade de Belas Artes da Univer- ao longo da carreira. Vive desde 2012 Ricardo Santos é licenciado em Antro- Rebelo (1971), licenciados em Design sidade do Porto e doutorou-se em Belas- em Miranda do Douro e está ligado à pologia pela Faculdade de Ciências So- de Comunicação pela Faculdade de -Artes na Faculdade de Belas Artes de Lérias – Associação Cultural na quali- ciais e Humanas, da Universidade Nova Belas Artes da Universidade do Porto Pontevedra, Espanha. É docente na dade de professor e dirigente, na qual de Lisboa. Fez o Curso de Formação de e diplomados em Estudos Avançados Faculdade de Belas Artes da Universi- ajudou a criar o grupo de teatro Tretas. Animadores Musicais da Casa da Música, em Recerca, Disseny, pela Faculdade dade do Porto e investigador no i2ADS, no Porto, e tem formação em gaita de de Belas-Artes da Universidade de Instituto de Investigação em Arte, Design foles pela Associação Portuguesa para Barcelona, fundaram o atelier de design e Sociedade. Recebeu várias bolsas Pedro Almeida (1980) o Estudo e Divulgação da Gaita-de- de comunicação R2, em 1998, no Porto. de estudo e investigação da Fundação -Foles. Foi professor de gaita de foles Trabalham para várias instituições cul- Calouste Gulbenkian e expõe regular- na Escola de Música Tradicional da turais, artistas e arquitetos, em proje- mente em galerias (Graça Brandão, Lérias – Associação Cultural, Miranda tos em áreas como identidade visual, Marta Vidal, João Graça, Adhoc) do Douro, de 2011 a 2016. design editorial, cartazes, sistemas de e instituições museológicas (Museu sinalética, design de exposições, web de Serralves, Centro Cultural de Belém, e motion. O seu trabalho estende-se Museu do Chiado, Culturgest, Fundação ainda à curadoria, publicação de obras Calouste Gulbenkian, Centro Galego e criação de intervenções e instalações. de Arte Contemporânea, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra). Participa em bienais e mostras internacionais e É licenciado em Artes Plásticas na Escola tem obras em coleções públicas em ins- Superior das Caldas da Rainha, frequen- tituições como a Fundação de Serralves, tou o curso de fotografia na escola Ar.Co o Instituto de Arte Contemporânea, e é mestre em Educação Artística na a Fundação Calouste Gulbenkian, Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. o Centro Galego de Arte Contemporâ- Participa, desde 2002, em várias exposi- nea ou a Universidade do Porto. ções de fotografia e pintura a nível naci- onal e internacional e também em inter- câmbios culturais na Turquia, França, Lituânia, Espanha e Índia. Em Miranda do Douro, colabora de forma ativa no pro- jeto educativo da AEPGA (Associação pa- ra o Estudo e Proteção do Gado Asinino) e em projetos de música e teatro com a Lérias – Associação Cultural.

48 49 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Miranda do Douro • GAME OF DRONES Ricardo Santos • 2016 ARTE PÚBLICA •

“A ideia foi fazer uma abor- e depois gravei o segun- 14 dagem contemporânea à do. Quando entra o ter- FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: gaita de foles, fazer uma ceiro, já o primeiro está MIRANDA DO DOURO MP3 disponíveis no Latitude 41.38763 desconstrução do instru- numa frequência mais Sons da Terra, R. da Ermi- Longitude -6.42399 Game of mento. A gaita de foles acima. Foi tudo cronome- da, Sendim; AEPGA, Casa é composta por um tubo trado, o minuto 1, o minuto do Povo, Atenor; e Assoc. Drones melódico, que se chama 2, o minuto 3, o minuto 4. Caramonico, R. da Indús- ponteiro, e por um outro O terceiro ronco bate com tria, Palaçoulo tubo que se chama ronco, os dois primeiros.” Aca- Autoria: que tem sempre uma nota bou por ficar a versão Ricardo Santos pedal, uma nota bastante de 7 minutos e 53 e o som grave, inalterada. O que é acústico e limpo de efei- fiz foi abandonar o meló- tos. Apenas os volumes fo- A vontade primeira que dico e usar três roncos”, ram masterizados. dá ao começar a ouvir- explica Ricardo Santos. -se os sons da instalação “E joguei com as afina- Game of Drones, depois ções e as desafinações. de colocar os headphones O ato de afinar e desafi- nos ouvidos, é a de ir, sim- nar cria um batimento pró- plesmente ir. Permitirmo- prio, através da combi- -nos deambular pela imen- nação destes três roncos. sa paisagem que existe à É, no fundo, uma gaita de volta de terras de Miranda roncos e não de foles.” do Douro, como Sendim, Ricardo Santos cola- O processo viveu mui- Atenor e Palaçoulo. É nas borou também na banda to de experiências que associações destas três sonora para a instalação Ricardo Santos foi fazen- povoações que se encon- de Fernando José Pereira do. “Começa com uma tram os MP3 com a obra (vide sinopse nº 18). Diz arrancada, como se fosse de Ricardo Santos: na Sons que o facto de ter parti- das entranhas da terra, da Terra, em Sendim, na cipado no filme abriu-lhe muito visceral, e acaba

AEPGA, em Atenor, e na perspetivas para este tra- como o desvanecer – 2016. Douro, do Miranda Santos, , Ricardo Caramonico, em Palaçoulo. balho, para esta instala- ronco – da experiência.” ção sonora. “É uma peça O nome, Game of Drones, com princípio, meio e fim. é um trocadilho: ronco Game of Drones Fiz duas versões, uma em inglês tem o nome de de sete minutos e outra “drone” e o artista fez um de 15. Acabou por ser um trocadilho com o Game processo muito matemá- of Thrones, A Guerra dos tico”, refere. “Tinha ex- Tronos, os famosos livros perimentado gravar dois da autoria de George R. roncos ao mesmo tempo R. Martin, a partir dos “A minha participação e fui desafinando ou afi- quais resultou a série de no Arte Pública fundação nando um deles. O ronco televisão. “Drone é simul- edp – Voltagem em Miranda é a base e é essa base que taneamente o nome que do Douro foi apresentar a me dá o conceito de afi- se dá a este tipo de som. gaita de foles, instrumento nação, de aproximação, Quanto ao subtítulo – ao qual me dedico”, conta que dá as frequências”, No início era o vento –, Ricardo Santos, que é tam- explica. O processo foi o vento é o princípio de bém membro da Lérias – feito em estúdio, no Royal tudo. E é também o vento É o tal desassossego. O Game of Drones não pode ser avaliado numa corrente estética Associação Cultural, par- City Studios, em Guima- a passar nos palhões que normal. Trata-se de uma ousadia criativa. É uma belíssima ideia e o objetivo foi cumprido. ceira do Voltagem em Mi- rães. “E funcionou: gravei faz a produção de som.” Mário Correia, 65 anos, Centro de Música Tradicional Sons da Terra. randa do Douro. um primeiro ronco-base

50 51 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Miranda do Douro • PAULITEIROS Miguel Schreck • 2016 ARTE PÚBLICA •

tabuleiro, onde estão dis- 15 postos elementos como os FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: sapatos dos pauliteiros, em MIRANDA DO DOURO Rua da Indústria, Latitude 41.45425 baixo, um pormenor das Palaçoulo Longitude -6.44266 Pauliteiros calças, as vestes coloridas, o chapéu, os paus. O jogo dá-se, também, ao nível Autoria: dos elementos que estão Miguel Schreck que a sua instalação não presentes e dos que estão estava acabada. “«Aquilo ausentes, através dos qua- não está acabado», «fal- driculados que não estão O que as obras Paulitei- tam peças». Era o tipo de preenchidos. Promovem, ros, de Miguel Schreck, comentários que costu- desta forma, um poder e L Gueiteiro Eilectrico mava ouvir”, conta Miguel maior de sugestão. (vide sinopse nº 16), de Schreck. “Foi um diálogo Há também a questão Pedro Almeida, têm de interessante este que se do contexto, do entorno. fascinante é precisamen- criou, acabei por aprovei- O PT fica à beira da estra- te a ideia de troca. A inter- tar e falar sobre o meu tra- da, à entrada de quem venção acerca dos pauli- balho, sobre o que faço.” chega à aldeia e à saída teiros está feita num pos- de quem parte. “A questão to de transformação (PT) era essa, a da estrada. da EDP Distribuição em Escolher o lado oposto à terra de gaiteiros, Pala- face do edifício que traba- çoulo, e a obra sobre os lhei era complicado por- gaiteiros está feita num que havia uns fios a sair PT em terra de pauliteiros, de lá. Optei pela que su- Duas Igrejas. Aquilo que gestiona um cartão de vi- a princípio as populações sita a quem chega.” Miguel das duas localidades não Professor de Pintura Schreck pensou também perceberam – houve vo- e Desenho na Escola de na forma como a obra é zes dissonantes a dizer Artes da Lérias – Asso- percecionada: se por quem que aquilo não fazia sen- ciação Cultural, parcei- passa a pé, se de carro. tido – é o que torna a per- ra local do Arte Pública “Da experiência que tive e

tinência da ideia tão for- fundação edp – Voltagem do que me fui apercebendo, 2016. Palaçoulo, de Distribuição EDP transformação de posto Schreck, , Miguel te: a ideia de aproxima- em Miranda do Douro, quem passa de carro não

ção, a ideia de nos acer- Miguel Schreck assume- tem tempo para apreciar Pauliteiros carmos do outro acolhen- -se um paisagista: gosta a obra. O que também é do o que o outro é ou faz. de pintar paisagens. bom, porque suscita curio- Com esta proposta, Miguel “O que faço é uma des- sidade. Esta intervenção Schreck e Pedro Almeida construção da imagem obriga as pessoas a irem mais não fizeram do que para depois voltar a cons- olhar de perto, a pararem promover uma maior in- truí-la, sob o formato de o carro e a aproximare-se. timidade entre as duas uma grelha. O meu traba- Obriga-as a uma visita.” povoações e de as obrigar lho desenvolve-se muito a colocar-se no papel do a partir disso. E, como sou outro: os gaiteiros no pa- um paisagista, observo pel dos pauliteiros, os pau- muito. Faço uma fragmen- liteiros no dos gaiteiros. tação, depuro a imagem e Outra crítica que Miguel volto depois a reconstruí- Schreck chegou a receber -la com os seus elementos A gente nem repara, não compreende muito bem. É um desenho de sapatos? relativamente à sua obra, identitários.” A grelha é Manuel Martins, 80 anos, reformado. em tom jocoso, era a de uma espécie de jogo, de

52 53 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Miranda do Douro • L GUEITEIRO EILECTRICO Pedro Almeida • 2016 ARTE PÚBLICA •

“As comissões de festas 16 contratam sempre um gru- FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: po de gaiteiros: eles fazem MIRANDA DO DOURO EN 221, Duas Igrejas Latitude 41.4733 a alvorada, às seis da ma- Longitude -6.34801 L Gueiteiro nhã, a anunciar as festivi- dades, fazem o peditório Eilectrico pela aldeia a pedir dinhei- ro para o santo, alguns to- com a contemporaneidade. cam na igreja, todos tocam E dar, também, uma ideia Autoria: na procissão. E depois há de mundo digital. Até por- Pedro Almeida ainda o baile e a passagem que muito do repertório da mordomia. Até para os que o gaiteiro toca é o pauliteiros poderem dan- que ouvia na rádio. Aliás, O poder do conceito desta çar é preciso um gaiteiro.” os miúdos que hoje em dia obra, dissemo-lo no texto A passagem da mordomia tocam gaita interpretam da intervenção artística é a ação em que se define temas como o Despacito anterior a esta (sinopse a comissão de festas do ou músicas dos Xutos nº 15), reside na ideia de ano seguinte. [& Pontapés].” díptico. A possibilidade “Duas Igrejas foi, A coluna representa de pensarmos L Gueiteiro de facto, a primeira a ter também a ideia de proje- Eilectrico, de Pedro Almeida, grupos de pauliteiros a ção de som, uma vez que e Pauliteiros, de Miguel irem para fora, a repre- a gaita de foles é um ins- Schreck, em conjunto – sentarem a arte fora da trumento que foi concebi- uma como o espelho da região”, argumenta Pedro do para tocar na rua, em outra, apesar de estarem Almeida. “Mas também arruada. “Até há poucos em locais diferentes – dota- há gaiteiros. As pessoas anos, estava conotada co- -as de uma carga semân- depois viram e gostaram mo coisa de velhos e tinha tica plena. Em L Gueiteiro do resultado.” má fama – era considerada Eilectrico, situada no pos- Junto à Estrada Nacio- uma atividade de borra- to de transformação nal 221, que atravessa a chões. Mas houve entre- (PT) da EDP Distribuição povoação, o PT está pinta- tanto uma reforma, os mi-

em Duas Igrejas, Pedro do de amarelo-torrado e o údos já aprendem a tocar 2016. Igrejas, Duas de Distribuição EDP transformação de posto Almeida, , Pedro Almeida quis contrariar gaiteiro de castanho, am- na escola.” Para isso, foi o óbvio. “Optei por um bos tons de terra. Ao lado, importante o trabalho das PT na aldeia onde estou estende-se uma enorme associações locais que, há a morar atualmente. quantidade de terra lavra- 10, 15 anos, padronizaram Tem uma grande tradição da. Na face que dá para o ponteiro e afinaram-no Eilectrico Gueiteiro L de pauliteiros e de rancho esse terreno, está desenha- de forma que fosse possí- folclórico. Portanto, se do o gaiteiro, gaita de vel ser tocado com outros dissesse que ia pintar foles ao ombro, a tocar. instrumentos, além do tra- pauliteiros, diziam logo Na perna direita, tem uma balho assertivo de promo- que sim. E já há, na terra, ficha da qual sai um fio. ção e divulgação desta ar- uma escultura de pau- Acompanhamos o fio com te que fizeram em eventos liteiros”, explica Pedro o olhar e seguimo-lo até e festivais. Almeida. Optou pelo gai- à outra face, a que dá pa- teiro, uma figura-chave ra a estrada, e que desem- nas festas e romarias da boca numa coluna de som. região. “É tão importante “Este ligar à tomada tem Acho que é muito bom para a terra haver este tipo de iniciativas. Esta do gaiteiro como o padre. Sem gaitei- que ver com um upgrade. está um espetáculo. Se quiserem vir pintar a fachada aqui da associação, posso ros não há festa. Eles to- Quis relacionar a compo- falar com os associados. cam o repertório religioso nente tradicional da arte André Alves, 50 anos, Café Associação dos Pauliteiros de Duas Igrejas. e o profano”, continua. de tocar gaita de foles

54 55 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Miranda do Douro • SIMBLOS MIRANDESES... Lérias Ass. Cult. • 2016 ARTE PÚBLICA •

A Rua do Mercado Em relação à caixa 17 é uma rua com arcadas elétrica nº 0439, é neces- FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: nos edifícios dos dois la- sária uma explicação pré- MIRANDA DO DOURO Rua do Mercado, Latitude 41.49806 dos da via, repletas de via, uma contextualização. Largo da Moagem, Longitude -6.27205 Simblos todo o tipo de lojas que Em Miranda do Douro, Rua 25 de Abril muitas vezes debruçam existe a lenda do meni- mirande- as mercadorias que têm no Jesus da Cartolinha. para vender além-porta, Rezam duas versões: ses: Is bie- ocupando o espaço públi- a primeira conta que, co das arcadas e promo- durante o cerco espanhol lhos i Is vendo a proximidade do a Miranda, houve um comércio à semelhança jovem a gritar pelas ruas nuobos de um mercado a céu a incitar à revolta, dando aberto. Há lojas de cute- forças à população para laria – uma indústria for- combater e vencer os Autoria: te na região –, há lojas espanhóis; a segunda diz Lérias — Associação de cobertores e lençóis, que, durante esse cerco, Cultural, c/ alunos da há lojas de móveis. Nas houve um jovem oficial Escola de Artes da Lérias caixas elétricas ao longo morto em combate e a da rua, vemos aponta- noiva decidiu doar a sua mentos de cores diversas. farda ao menino Jesus. Foi-lhes pedido que jun- São os stencils aplicados Num dos altares da Sé tassem elementos tradici- pelos alunos da associação Catedral de Miranda, onais, próprios da cultura Lérias. A caixa elétrica pode ver-se um menino mirandesa, com compo- nº 2444 está pintada de Jesus vestido de farda e nentes identitárias da mo- vermelho e, a amarelo, uma cartola na cabeça. dernidade. Dos 6 aos 15 tem desenhada uma gui- A caixa nº 0439 tem re- anos, os alunos da Escola tarra pontiaguda típica presentado um menino de Artes da Lérias, a asso- do hard rock – elemento Jesus da Cartolinha a es- ciação local escolhida para moderno – cujo braço é crever num computador. ser parceira no terreno do a flauta da gaita de foles Os stencils foram Arte Pública fundação edp – elemento tradicional. colocados em dois dias – Voltagem em Miranda A caixa nº 2243 está pin- diferentes. “A rua reagiu do Douro, criaram stencils tada de amarelo e tem de forma fantástica. que foram depois pintados duas vacas – ou serão tou- Até a GNR se apercebeu a spray na Rua do Merca- ros? –, uma azul e outra do que se estava a passar do, mas também no Largo preta, que têm cara de e não levantou problemas”, da Moagem e na Rua 25 bacalhau. Já a caixa nº conta Miguel Schreck.

de Abril. 1826 é azul e tem represen- “Da segunda vez que fo- 2016. Douro, do Miranda de Distribuição EDP caixas Cultural, Associação , Lérias nuobos Is i bielhos Is mirandeses: Simblos “Fizemos, no Museu da tada uma televisão, com mos pintar, havia mais fa- Terra de Miranda, uma as- uma lareira dentro. latório. Até pessoas mais sembleia júnior, digamos as- “Nunca tinha feito sten- velhas puseram luvas e sim. Reunimo-nos com os cils, foi muito engraçado”, máscaras e pintaram.” alunos e pedimos que asso- conta Helena Rodrigues, ciassem tradição e moder- 15 anos, aluna que par- nidade para uma série de ticipou na intervenção. tópicos, como a arquitetu- “Demos ideias para os ra ou o vestuário”, refere stencils, o professor Convidaram-me para fazer desenhos de graffiti e achei que foi uma experiência Miguel Schreck um dos ar- desenhou-as e recortou boa. Nunca tinha trabalhado nisto, foi divertido. Até lá foram os polícias perguntar tistas do núcleo do Volta- os moldes e nós pintámos. se tínhamos licença. gem em Miranda do Douro Sinto orgulho, deu traba- João Rodrigues, 11 anos, estudante. e um dos membros da Lérias. lho, é a nossa marca.”

56 57 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Miranda do Douro • POR I Fernando José Pereira • 2016 ARTE PÚBLICA •

cisão clara com a escola aldeamento feito na al- 18 de montagem da vanguar- tura para os funcionários FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: da russa dos anos 20.” – Barrocal do Douro – MIRANDA DO DOURO [vários] Latitude 41.494331 Ao dividir o filme é um exemplo máximo de Longitude -6.274302 Por i Por i por partes, exibidas arquitetura modernista em diferentes locais, no País. Encontra-se de- Fernando José Pereira sabitado. “Há lá uma pou- Parte 1: de Albuquerque Parte 5: Autoria: conferiu-lhe a liberdade sada impecavelmente re- Museu da Terra de Miranda, Parte 3: Café Cristal, R. 25 de Abril Fernando José Pereira de um percurso. “Embora cuperada, mas está mor- Largo D. João III Casa da Música Mirandesa, Parte 6: não tivesse pintado pa- ta, as senhoras que lá Parte 2: Largo do Castelo Cais de embarque fluvial redes em Miranda, esta trabalham estão em tédio Loja de pronto a vestir Ana Parte 4: Por i tem sentidos vários, peça teve uma relação absoluto, como se estives- Teixeira, R. Mouzinho Posto de Turismo, R. 1º de Maio em mirandês. Pode querer muito mais íntima com as sem à espera de Godot. dizer “por aí”, “aí perto”, pessoas, porque tivemos Depois há um outro lado pode querer dizer “no de negociar com elas. fascinante, o da natureza entanto” e pode até que- E correu muito bem”, a penetrar naquelas ruí- rer dizer “se calhar até conta. “O dono do Café nas, as silvas a saírem dá”. É também o título Cristal é filho de alguém pelas fendas das paredes. da instalação de vídeo que esteve ligado à ci- Trata-se de um contraste da autoria de Fernando dade e à construção absoluto entre ruína e José Pereira, que acumula da barragem [em 1961]. preservação. Não há nin- a função de coordenador Disse: «Quero o filme guém no filme, mas ou- artístico do Arte Pública todo. A única altura em vem-se passos, em planos fundação edp – Voltagem que não estiver a passar a negro; sente-se a pre- no núcleo de Miranda será quando houver jogos sença do homem apenas do Douro. de futebol. De resto, pas- através do som.” A primeira coisa de sará sempre.»” O Café A banda sonora do que nos lembramos assim Cristal, que ia passar a filme ficou a cargo do que olhamos para esta parte 5 do filme, acabou projecto Haarvöl, que so- instalação de Fernando por passá-lo na íntegra. licitou a colaboração de José Pereira, cujo vídeo “As pessoas tinham orgu- Ricardo Santos, membro de 43 minutos se encontra lho em ter aquilo no sítio da Lérias – Associação repartido em seis partes, a passar. A senhora da Cultural e autor da insta- exibidas em televisores loja de pronto a vestir, lação sonora Game of

colocados em diversos íamos já fazer outra coisa, Drones (vide sinopse nº 14). 2016. Douro, do Miranda Pereira, José , Fernando

locais da cidade, é do veio atrás de nós a dizer “Fizemos primeiro uma Por i filmeStalker, do realiza- «a televisão não está a gravação”, conta o músico dor russo Andrei Tarko- funcionar!». ” O vídeo foi que toca gaita de foles. vsky. “Completamente. também exibido na sua “E ficaram bastante curio- É uma referência direta. totalidade durante a ex- sos com o som do ronco. O Stalker é o meu filme posição que decorreu no Eles trabalham muito com preferido dele”, assume verão de 2017 intitulada manipulação sonora e ma- Fernando José Pereira. Voltagem: às voltas com nipularam o som do ronco.” “Toda a escola de Tarko- a(s) memória(s) na antiga vsky, a pesquisa da rela- cadeia de Miranda. ção que a arte tem com Os planos do filme o tempo. Não havendo cristalizam a dualidade tempo para a arte, não natureza/cultura vivida há tempo para pensar. em Picote, uma fregue- Este vídeo [Por i] alia os ícones tradicionais à modernidade. É bom que se faça Em Tarkovsky, o corte sia de Miranda do Douro uma nova abordagem às coisas, que se dê uma nova roupagem. no plano faz-se quando onde foi erguida em 1958 Celina Bárbaro Pinto, 42 anos, diretora do Museu da Terra de Miranda. o tempo o disser, numa uma barragem e cujo

58 59 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Miranda do Douro • YOU=EU R2 Design • 2017 ARTE PÚBLICA •

que «you» em mirandês total perfazem a expres- 19 significa «eu», em por- são “You=Eu”, influencia FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: tuguês. E que se escreve bastante a perceção e a MIRANDA DO DOURO Barragem de Miranda Latitude 41.48916 como em inglês. Isto na interpretação desta obra do Douro, EN 218 Longitude -6.2651 You=Eu altura em que estava de arte pública da R2 a discutir-se o Brexit no Design. Se viermos do la- Reino Unido. O you, o eu, do de Espanha, antes de Autoria: sugere uma relação com atravessarmos a ponte R2 Design o outro.” sobre o rio temos a pla- ca azul com a palavra Portugal rodeada de es- Quando foram convidados trelas a introduzir-nos o a participar, acharam logo mote. Se nos aproximar- o projeto muito interessan- mos demasiado e olhar- te, pelo facto de poderem mos para a superfície trabalhar o território atra- enorme colocados na dia- vés da língua e do texto. gonal, as letras tornam- Lizá Ramalho e Artur -se disformes e abstratas. Rebelo – a R2 Design – Miranda do Douro “A ideia era a de decifrar estudaram a cultura local, situa-se numa zona de o enigma, proporcionar pesquisaram acerca do fronteira, entre Portugal várias leituras. De frente, mirandês e aperceberam- e o resto do mundo. tem uma determinada -se de que se tratava de “Fazia todo o sentido, leitura; se viermos do la- uma língua de tradição tendo em conta este con- do de Portugal, as letras essencialmente oral, com junto de coincidências. tornam-se deformadas algumas publicações so- Desenvolvemos uma es- e só lemos algumas”, bre a mesma a surgirem pécie de slogan, «you explicita Lizá Ramalho. nos anos 90. Na estrutura igual a eu», que tem vá- “Convida a decifrar,

da barragem de Miranda rias leituras: «eu» pode como nós fizemos com , R2 Design, Miranda do Douro, 2017. sobre o rio Douro, no sopé ser também a sigla da o mirandês. É o que fa-

do monte onde fica situa- União Europeia em inglês. zemos quando entra- You=Eu da a cidade, foram dese- Usando algo que é muito mos num novo território. nhadas letras de cerca de local, estamos a evocar É essa a beleza de dife- oito metros – cada uma a e a falar a outro nível.” rentes culturas se reuni- ocupar o quadro formado rem, a da descoberta, entre cada duas colunas a do diálogo.” que sobressaem da estru- A R2 Design não que- tura de betão. ria que a obra fosse intru- “Os conteúdos e a rela- siva. “Pintámos as letras lação do desenho com as de branco, um branco que letras são muito fortes. Es- não tapa completamente sa é muito a nossa aborda- o fundo. Não queríamos gem. Estivemos a ler tex- que fosse uma camada tos, a ouvir música, a mer- As letras foram dese- artificial, não só ao nível gulhar na cultura local e a nhadas especificamente da forma como também perceber a língua”, conta para aquele lugar, advêm do conteúdo”, refere Lizá Lizá Ramalho. “Interessou- do espaço em que se inse- Ramalho. “Não quisemos -nos mergulhar no miran- rem. O ponto em que nos vir de fora e impor-nos. dês. Analisámos o dicioná- colocamos para olhar es- Quisemos dialogar, quise- Voltagem é um projeto de arte urbana num território rural onde a fundação edp rio, como ponto de partida, tas letras, pintadas a bran- mos compreender. Quise- mantém essa luz sempre presente. e, quando chegámos à le- co sobre o cinzento acas- mos dar um contributo.” Artur Nunes, 50 anos, presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro. tra y, apercebemo-nos de tanhado do betão, que no

60 61 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Miranda do Douro • CARTAZES YOU=EU R2 Design • 2017 ARTE PÚBLICA •

rem muito a atenção de “Foi incrível defender, pe- 20 quem passa, com efeito rante um público tão vas- FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: de propaganda, apesar to e que não era quem nos MIRANDA DO DOURO Parede da cadeia Latitude 41.49269 de não terem referências encomendava a obra, o nos- de Miranda, empena Longitude -6.27452 Cartazes a locais ou datas.” O ca- so trabalho”, refere Lizá ao lado da biblioteca ráter efémero do papel, Ramalho, da R2 Design. e miradouro junto à You=Eu deixado na rua e por isso “Foi muito interessante, barragem (EN 218) sujeito às diversas con- as reações foram extre- dições climáticas que se mamente positivas, acho Autoria: fazem sentir ao longo do que pelo facto de traba- R2 Design ano, tornou esse rosa num lharmos com a língua mi- rosa esbatido. “Interessa- randesa, de a escrever- -nos também muito tra- mos. Houve pessoas de vá- balhar os materiais e a rias faixas etárias, todas sua relação com o tempo. muito interessadas e a Com o passar dos dias tentar participar. Notou- e dos meses, vai ficando -se que ficaram sensibili- apenas o preto, que está zadas.” na base.” A ação humana Lizá Ramalho diz ain- é outro dos fatores a mol- da que foi daqueles pro- dar a vida de uma obra jetos em que tudo fluiu Estes são cartazes que que ocupa o espaço pú- de forma tão natural pretendem fazer uma blico. Há cartazes com que se encaixava e fazia chamada de atenção. pontas rasgadas, há graf- sentido, desde a escolha Não remetem para um fiti desenhados na mes- dos locais às descobertas local, nem para uma da- ma parede – tudo a dar que a dupla ia fazendo ta, mas pretendem-se contexto ao que é perce- na pesquisa que encetou propaganda para a exis- cionado pelo espetador. para desenvolver o traba- tência de uma interven- Quando nos aproximamos lho. “Há este tipo de coin- ção artística no espaço dos cartazes, percebe- cidências. A criatividade público em Miranda do mos que a composição é tem, de facto, esse lado Douro (vide sinopse nº formada por quadrados, fantástico, em que tudo (detalhe), R2 Design, Miranda do Douro, 2017. 19), de modo a convocar uns são fotografias, faz sentido. Este foi um You=Eu as pessoas a uma curio- outros excertos de um dos projetos em que isso sidade e a uma procura. dicionário de mirandês. aconteceu”, explica Lizá Os cartazes – feitos pe- No miradouro a cami- Ramalho. “As entidades la R2 Design – evocam nho da barragem, feito a promoverem bem o pro- cada um uma letra que, de uma pala de cimento jeto, existir em Miranda colocados lado a lado, a fazer de abrigo, os la- do Douro uma outra lín- formam ora a palavra dos interior e exterior das gua e nós gostarmos de “you”, “eu” em mirandês duas paredes laterais trabalhar com a língua… e “tu” em inglês, ora a pa- foram usados para fazer começou logo bem, só lavra “eu”. Foram coloca- um jogo de linguagem. podia ter corrido bem.” dos na parede da cadeia Se viermos de baixo, le- de Miranda, na empena mos duas vezes “you”; se ao lado da biblioteca e viermos de cima, “eu”. num miradouro a chegar As assembleias para à barragem, na Estrada apresentação das obras Nacional 218. junto da comunidade lo- Dá uma cor nova, uma nova cara. Acho que deixa a cidade mais bonita e atrai mais “No início, os cartazes cal decorreram no salão as pessoas. eram de um rosa fluores- nobre da Câmara Munici- Leonor Pimentel, 14 anos, estudante. cente. A ideia era chama- pal de Miranda do Douro.

62 63 ARTE PÚBLICA •

Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé

Rio Douro

N221 N218 20 M 17 Miranda L 19 do Douro J M568 18 IC5

Av. da

Indústria 16 IC5 15 Alfândega da Fé 21 N216

N219 21 MATÉRIA PRIMA, Draw, Godmess, Hazul 22 N221 Q 14 Rio Douro 22 MATURAÇÃO, Godmess I 23 N315 24 13 Sendim IC5 31 11 23 FRANCELA E MACHADO, Draw 32 25 O

30 33 26 G 10 12 IC5 24 FÉNIX, Draw, Godmess

N221 Mogadouro N221-7 29 Alfândega da Fé F H 25 TÉTIS, Draw, Hazul 28 27 IC5 N315 Rio Douro IC5 P N Rio Sabor 26 TOTEM, Hazul E

IC5 27 SEMIO, Hazul (c/ Universidade Sénior) Parque Natural C do Douro Internacional 28 LINES, LINES, LINES, Meirinhos A N221 Draw (c/ Universidade Sénior)

Rio Sabor Rio Douro 29 TEMPO, Godmess, Hazul D Torre de N220 30 SARAU, Hazul Moncorvo IP2 31 OLIVA, Hazul B N325 32 O TEU FUTURO SERÁ COMO TU FIZERES!,

N221 Godmess (c/ alunos EB2/3 de Alfândega da Fé)

33 FUTURAMOS, Godmess

Rio Douro img © Rute Ferraz, Alfândega da Fé, 2016.

Torre de Alfândega Mogadouro Miranda Moncorvo da Fé do Douro Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé ARTE PÚBLICA •

Algumas limitam-se a es- turismo e também res- Hazul apenas conseguiu Ferraz, a fotógrafa de ser- tar à ombreira da porta, ponsável pela Casa da juntar-se ao processo mais viço, complementa: “Havia Alfândega ao fresco. À semelhança Cultura Mestre José tarde, após as assemblei- um senhor que já pegava de qualquer meio rural. Rodrigues, cujo edifício as. Entre eles, definiram nas latas e tudo.” A parte da Fé Dando uma primeira vol- é da autoria do arquite- que Draw trabalharia a da experiência que Rute ta por Alfândega da Fé, to Alcino Soutinho. A im- ideia de presente, Godmess achou mais gratificante foi percebe-se o que Berta ponência do centro cul- a de futuro e Hazul a de quando lhe ofereciam uma Parceiro: Nunes quer dizer com a tural, a par da capela ao Tanto a Universidade passado. “Como a lingua- chávena de chá; sentia que ideia de integrar o novo fundo e de alguns cafés, Sénior como o Agrupamen- gem deles é o mural, a pin- era sinal de que estava a Rede Inducar – as intervenções de arte ajuda a compor o Largo to de Escolas de Alfândega tura, dividiram o trabalho fazer o seu trabalho bem. pública ditas urbanas – de São Sebastião como da Fé, que vai do ensino pelos três tempos e fize- Diogo Rego conta ainda nas identidades locais. um dos principais polos pré-escolar ao 3º ciclo, ram uma proposta de iden- que o “Camilo bombeiro” Facebook: Os murais e os postos de de convívio da vila. participaram nas obras tidade para a terra a par- se virou para Godmess transformação (PT) da de arte pública feitas no tir daí”, refere Patrícia com uma proposta curiosa. voltagemtmad EDP Distribuição customi- concelho. Draw, Godmess Costa, da Rede Inducar, “Não queres desenhar umas zados pelos street artists e Hazul usaram a ideia a parceira no terreno pa- chaves de fendas na minha Draw, Godmess e Hazul de tempo como conceito ra a produção do Arte carrinha?” Ao que Godmess “A arte tem perceções encontram-se integrados de base para trabalha- Pública fundação edp nos respondeu: “Faço, claro.” diferentes, depende dos na paisagem; não são dis- rem as propostas feitas quatro núcleos de Trás-os- E desenhou duas ferra- lugares. A valorização sonantes. Eles ajudam à durante as assembleias. -Montes, aos quais foi da- mentas cruzadas. da arte urbana em zonas harmonia do todo, como “Visitámos a zona antes do o nome de Voltagem. “Nunca tinha estado nu- rurais não é feita da mes- se sempre tivessem estado “A dona Laurindinha das assembleias, para ma situação destas. Estes ma forma que na cidade”, ali. Estas obras conferiram- mostrou logo a francela”, definirmos alguns espa- meios não são tão urbanos, começa por frisar a pre- -se a elas próprias uma continua Ana Margarida ços que achássemos ide- mas também não são assim sidente da Câmara de sensação de pertença. Duque Dias, referindo-se ais. Foi importante para tão rurais. Há uma massa Alfândega da Fé, Berta a um instrumento que é que conseguíssemos che- crítica. Em Vales, estiveram Nunes. “Na cidade, está usado para fazer queijo gar ao conceito”, explica 26 pessoas nas assemblei- conotada à rebeldia. artesanal. Além de bons Godmess. “Sentimos que as”, confessa Draw. “Aca- Aqui, no campo, tem de queijos, cuja arte de fa- Alfândega da Fé é um lo- bas por te envolver mais ser encarada como forma brico começa a ser revi- cal um bocado descarac- Em termos de identida- com essas pessoas. Conhe- de inclusão, de espaço talizada, o concelho vive terizado, inclusive em ter- de, o único monumento his- ce-las uma a uma. No Porto, Envolvimento comunitário, Alfândega da Fé, 2016. Fé, da Alfândega comunitário, Envolvimento comum. Aqui, está ligada muito da agricultura – mos históricos. É um local tórico que a vila tem é a na cidade, és apenas mais a dois conceitos: estética da apanha da castanha, de passagem”, continua. Torre do Relógio, um edi- uma pessoa a pintar. Vêm e participação.” Como em todos os nú- da cereja e da azeitona “Ao mesmo tempo, a po- fício envolto em indefini- falar contigo, mas é uma coi- cleos do Arte Pública fun- – e da pastorícia. A corti- pulação é envelhecida. ções quanto à sua origem e sa fugaz.” Draw fala da dação edp, foram promo- ça é também uma fonte O tempo – e a passagem função, e que – também por existência de uma química vidas assembleias prévias, de rendimento relevante. do tempo – preocupa es- isso – motivou os artistas a diferente para com este junto da comunidade, para “O novo está sempre tas pessoas. Foi por este usarem o tempo e a passa- tipo de público. “Em Vales, debater e chegar a conclu- a ser integrado, principal- ponto que nos guiámos gem do tempo como ponto por exemplo. Como sabem sões quanto aos temas a mente pelas novas formas para as ouvirmos. Até foi aglomerador de todo o pro- que estás a fazer uma coi- serem trabalhados pelos de ver dos mais jovens, mais desafiante desta for- cesso criativo. “«Fizeram sa especificamente para artistas. “Foi um processo através da Internet, da ma. Foi bom sentir que as coisas tão bonitas à beira elas, tratam das obras e Chegar a Alfândega muito orgânico. Na primei- televisão, através do en- pessoas se sentiam par- da Torre, façam mais!» Era tratam de ti. Ao fim de dois da Fé numa tarde de ve- ra assembleia, foi logo ex- sino”, refere Berta Nunes. te do projeto. Criámos este o tipo de abordagens dias, já és da casa.” rão, já a puxar para o fi- plicado às pessoas do que “Isto não é uma comuni- em conjunto, com elas.” que a população fazia aos nal do dia, é lidar com o tratava o projeto. Foi tudo dade fossilizada, parada A seguir a cada assem- artistas”, refere Diogo Rego, silêncio da vila, o silêncio muito fluido, as pessoas no tempo. Por vezes, as bleia, iam para casa tra- que documentou em vídeo do descanso após uma trouxeram logo sugestões”, pessoas pensam que é duzir essas ideias em de- todo o processo para o jornada de trabalho, em conta Ana Margarida uma localidade parada senhos para no dia seguin- Arte Pública fundação edp que as pessoas aprovei- Duque Dias, chefe de gabi- há 50 anos. Não há nada te irem pintar. Foi assim – Voltagem. “Em Vales, que- tam para se sentar num binete da câmara para de mais falso. Há renova- com Draw e Godmess. Por riam dar-lhes de comer a café ou numa esplanada. as áreas da cultura e do ção, há integração.” uma questão de agenda, toda a hora.” Ao que Rute

66 67 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • SHORT BIOS ARTISTAS ARTE PÚBLICA •

Draw (1988) Godmess (1988)

Membro do coletivo RUA, Frederico Tiago Godmess é um artista multidis- Draw usa as latas de spray como se ciplinar vocacionado para as áreas fossem lápis com que faz esboços de de ilustração, design gráfico, pintura, rostos de pessoas, normalmente anó- escultura, instalação e arte urbana. nimas. Nas suas palavras, a ideia é Conceptualmente, o seu trabalho tem conferir uma carga de lirismo ao su- muito que ver com a representação de jeito representado, o que faz com que pessoas – com histórias, com momentos. cada parede se assemelhe a um bloco Refere-se muitas vezes a eles como um de esquissos. Draw é também diretor diário visual. O seu trabalho encontra- artístico do coletivo PUTRICA (Propos- -se dividido em duas vertentes: o verme- tas Urbanas Temporárias de Reabili- lho e as personagens; e os amarelos, os tação e Intervenção Cultural e Artísti- verdes e os turquesas – mais poéticos. ca), que vê na arte urbana uma forma de mudar os espaços vazios da cidade, conferindo-lhes novos valores artísti- Hazul (1981) cos e culturais.

Faz parte da primeira geração de graffi- ters do Porto. Não tem formação acadé- mica, começou a pintar na rua em 1997, com 16 anos, e a inspiração advém-lhe de interesses como os arquétipos egíp- cios, celtas, simbologia universal, deci- frações antigas – símbolos que perduram ao longo do tempo. Explora elementos naturais, vegetais, geometrias básicas, a figura humana, feminina. E tem uma paixão por cristais, que se encontram sempre representados no seu trabalho.

68 69 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • MATÉRIA PRIMA Draw, Godmess, Hazul • 2016 ARTE PÚBLICA •

“Foi a assembleia que 21 teve mais gente, mas foi FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: das mais difíceis – pela ALFÂNDEGA DA FÉ Avenida Principal, Latitude 41.44403 descaracterização”, refe- Gebelim Longitude -6.93013 Matéria re Godmess. “As referên- cias são praticamente Prima iguais às dos outros sítios. concelho de Alfândega O elemento de diferencia- da Fé fica na zona a nor- ção que encontrámos foi Autoria: te, mais montanhosa, e o forno da cal. Existe pe- Draw, Godmess, Hazul as estradas em constante dra calcária naquela zo- curva e contracurva não na, com algum poder his- facilitam o acesso. “Po- tórico.” Traduzindo traços “Está um serviço bem fei- dia dinamizar-se mais o específicos do trabalho de to”, dizia uma senhora dos turismo, gostávamos de cada um dos três street seus 60 e muitos a passar explorar as casas da flo- artists, o mural no PT faz apressada em frente ao resta [dos antigos guar- referência à pedra calcá- mural desenhado no posto das-florestais].” ria e ao método de traba- de transformação (PT) da Junto ao PT, no outro lho utilizado para a explo- EDP Distribuição na Ave- lado da rua, há um muro rar. Godmess fez também nida Principal de Gebelim, e, no passeio, há um ban- o logótipo da nova Casa sem dar tempo a que se co de jardim. Nas duas fa- da Cultura de Gebelim. lhe perguntasse o nome. ces laterais do PT, Draw, Diz ter contribuído para Um pouco mais à frente, Godmess e Hazul fizeram que os artistas se sentis- na mesma rua – que de uma intervenção a seis sem mais interligados avenida tem pouco, visto mãos. De um lado, está àquele local e àquelas estarmos numa aldeia pintada uma mão a segu- gentes. com cerca de 150 habi- rar um cristal, que se en- “As pessoas foram , Draw, Godmess e Hazul, Gebelim, 2016. tantes – reúnem-se duas contra sobre uma mancha muito participativas, fala- ou três pessoas, todas de amarelo e apontamen- ram do passado delas, do elas idosas, sentadas em tos vermelhos. Do outro, que faziam antigamente. bancos improvisados no também uma mão a segu- Falaram do forno da cal, Matéria Prima exterior. O presidente rar um cristal, mas sobre da castanha, da água”, da União das Freguesias azul. Um, o fogo. O outro, confirma o presidente de Gebelim e Soeima a água. da União das Freguesias, encontra-se junto delas. “Eu decidi fazer um cris- Hélio Aires. “Aqui há mui- Está uma manhã de do- tal de cada lado. Gebelim ta água, pena não haver mingo soalheira. “Estas tem uma história de extra- barragem.” Começa a iniciativas são sempre ção de pedras, havia uma levantar vento, as folhas saudáveis. Estamos numa que tinha aquele tipo de de árvore secas rodopi- aldeia, numa zona des- textura”, explica Hazul. am pela estrada feita de favorecida”, conta Hélio “Como eu desenho cristais calçada. As nuvens co- Aires. E depressa o jovem com frequência – que meçam a tapar o azul do presidente emenda o que representam para mim céu. “Vem aí chuva.” acabou de dizer: “Não pureza, equilíbrio e har- gosto de chamá-la assim. monia –, optei por fazer Na verdade, temos tudo.” esse símbolo, ligado à Os jovens saem para história daquele local.” O forno da cal tem muito que se lhe diga. Arrancava-se a pedra, queimava-se a cal. o litoral ou para o estran- Hazul desenhou os cris- Ainda andei lá, antes de ir para a tropa. Acho que a cabina [PT] parecia uma coisa geiro, a zona vive da cas- tais, Draw, as mãos, e morta e agora é uma coisa viva. tanha, da azeitona ou da Godmess, os elementos Teodoro Amador Morais, 77 anos, reformado. madeira. Esta área do do fogo e da água.

70 71 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • MATURAÇÃO Godmess • 2016 ARTE PÚBLICA •

rua paralela, num plano 22 mais elevado. Há mora- FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: dias de um lado e do outro ALFÂNDEGA DA FÉ Rua 25 de Dezembro, Latitude 41.40835 e a rua é feita de calçada. Sambade Longitude -6.97143 Matura- Numa das faces do PT, Godmess desenhou a evo- ção lução da castanha em três etapas, desde o ouriço ao Godmess revela que é uma fruto, já na fase de desen- moeda. A castanha é o sus- Autoria: volvimento final. O ouriço tento principal da popula- Godmess é a cápsula de picos que ção de Sambade. “Só tínha- protege o fruto enquanto mos dois jovens na assem- ele cresce. Quando chega bleia. Um deles era um “Foi a primeira assembleia o outono, o ouriço abre e agricultor, que tinha uma que fizemos, o tema tinha deixa cair a castanha no perspetiva muito própria por base a produção de chão. Na parede, em cima, sobre a cultura da cas- castanha. É desde sempre o ouriço está pintado a ver- tanha, defendendo a sua o ganha-pão das gentes de de. No desenho do meio, continuidade”, continua Sambade”, conta Godmess. o fruto está amarelado. Godmess. “Essa imagem “O que está retratado no E o de baixo encontra- é uma referência direta posto de transformação -se já castanho, maduro. a ele, para nos dar uma (PT) da EDP Distribuição Os três estão rodeados perspetiva de futuro.” é uma recolha do que as por folhas do castanheiro. Na quarta face do PT, pessoas foram dizendo. Os tons de verde das fo- está o lado oposto ao da O alerta ecológico, por lhas pintadas na parede esperança, uma árvore exemplo. Hoje já só se con- fazem pandã com a relva sem folhas, pintada de pre- segue plantar castanhei- que enfeita o terreno em to, só ramos secos a con-

ros a partir de um certo declive onde o PT está taminarem a paisagem 2016. Sambade, , Godmess, nível por causa do aqueci- situado. Algumas ervas e a esgueirarem-se para

mento global. Já só é pos- daninhas crescem da as outras faces. Alguns Maturação sível ter castanheiros na relva, como se sugassem troncos estão partidos e serra, porque é uma ár- a força da relva para encontram-se a cair, como vore que precisa de muito crescerem. flocos de neve feitos de car- frio.” O aquecimento glo- vão. Outros invadem a ca- bal fez com que nos últi- misa verde do agricultor, mos anos a plantação do conferindo ao jovem agri- castanheiro subisse uma cultor um caráter de resi- média de 200 metros de liência. Apesar das dificul- altitude. dades, a castanha é a pro- “Por isso, desenhei dução que dá mais dinheiro um castanheiro sem folha, no concelho. Ao lado do PT, desenhei um agricultor Em duas das faces do na relva, estão plantadas de castanheiro com uma PT, Godmess pintou um jo- duas roseiras. Os botões moeda na mão – uma vez vem agricultor: olha para a nascer são cor-de-rosa. que a castanha reflete di- o horizonte e tem a Lua em nheiro”, explica Godmess. quarto minguante por trás O PT fica junto a uma bi- das costas, no canto supe- furcação. Uma das estra- rior direito. Segura na mão das atravessa a localida- algo redondo, uma mistura Os artistas tiveram o cuidado de irem mostrando o que estavam a criar. Houve um de e vai dar a Alfândega de verdes e azuis, com espi- consentimento por parte da população. da Fé. A outra intersecta gas e um núcleo a amarelo, Diamantino Mário Lopes, 56 anos, presidente da União das Freguesias de Pombal e Vales. a principal e forma uma que pode significar ouro.

72 73 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • FRANCELA E MACHADO Draw • 2016 ARTE PÚBLICA •

mais de cem queijos por “O PT estava naquela 23 mês, no inverno. Hoje, já casa. Mas não lhes faço FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: abrandou bastante o rit- o rosto”, refere-se Draw ALFÂNDEGA DA FÉ Rua Principal, Latitude 41.39187 mo, tem 66 anos. A filha a dona Laurinda e ao se- Vales Longitude -6.99692 Francela e da dona Laurinda, que vi- nhor João. E explica por- ve na Alemanha, foi eluci- quê: “Quando trabalhas Machado dada pelo filho enquanto para uma comunidade viam a reportagem sobre – estou habituado a tra- o Arte Pública fundação balhar em bairros sociais, Autoria: edp – Voltagem na televi- por exemplo –, se retratas Draw são: “Ó mamã, não vês que uma pessoa específica, é onde a avó faz o queijo?” dá raia. E não queria que Já o machado, do senhor fossem as pessoas a se- “Ó Fred, não quero que se João, é o instrumento uti- rem representadas. Es- vejam os olhos. E o do ou- lizado para tirar a cortiça tava interessado, sim, no tro lado é o meu marido.” das árvores, outra das que faziam. Queria tra- Laurinda Rodrigues tem fontes de rendimento da balhar atividades da al- o posto de transformação aldeia e do concelho. deia que estivessem ainda (PT) da EDP Distribuição ativas. Das que vi, o queijo a entrar-lhe praticamente e a cortiça foram as que pelo quintal da moradia mais me interessaram.” de dois andares onde vive A proximidade cria- com o marido. Por isso, da com a dona Laurinda para retratar dois ofícios e o marido foi inevitável. típicos da aldeia de Vales, “Já sabia como se abria

Alfândega da Fé, fez sen- o portão, emprestaram- 2016. Vales, , Draw, tido para Frederico Draw -me material, deram-me utilizar a dona Laurinda bebidas. Parecia que es- e o esposo como modelos “Depois da assem- tava a fazer um trabalho das pessoas que retratou bleia, fui dar uma volta privado”, relata Draw. Francela e Machado em duas das faces do PT pela aldeia, fui conhecer Chegou a ficar a pintar que fica na Rua Principal as pessoas quase uma até às duas da manhã. da aldeia. “Os meus filhos a uma. Havia umas que “Uma vez, caiu-lhe uma também gostaram muito, estavam a secar frutos”, lata de tinta, ficou aflito, já tinham visto no jornal. refere Draw. A média de e eu disse-lhe «deixe lá Vão ficar aqui comigo pa- idades em Vales é de 75 isso, pinta-se outra vez»”, ra sempre.” anos, existem apenas conta por sua vez a dona Estes ofícios foram duas crianças na aldeia Laurinda. “Eu costumava mencionados ao artista e são irmãs. A terceira levar-lhe uma cerveja, urbano durante a primei- pessoa mais nova da lo- um bolinho, um queijinho. ra assembleia tida com calidade é a mãe delas. A dona Emília, a vizinha, a população, na qual se “Impressionou-me um fazia o mesmo.” inteirou dos temas que bocado, era um contexto interessavam retratar. de Portugal a que não A produção de queijo e estava tão habituado. a tiragem de cortiça fo- Não há uma loja, nem um ram dois deles. A france- café.” Há uma carrinha la é um instrumento que que passa todos os dias ajuda a fazer queijo, per- pela aldeia para vender Na primeira assembleia, perguntaram-me se ainda tinha este objeto [francela]. mitindo que o soro da co- pão e outra que passa Encantaram-se logo com a «guitarra». Vieram logo cá a casa vê-lo. alhada escorra. A dona de dois em dois dias com Laurinda Jesus Rodrigues, 66 anos, doméstica. Laurinda chegou a fazer produtos de mercearia.

74 75 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • FÉNIX Draw, Godmess • 2016 ARTE PÚBLICA •

Draw pintou a fénix, imponentes, duas letras 24 em cima, Godmess pintou grandes, vermelhas, feitas FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: o bombeiro, em baixo. de metal: B V. Do lado opos- ALFÂNDEGA DA FÉ Rua dos Bombeiros Latitude 41.3435 Usavam o andaime à vez. to ao do espaço de terra Longitude -6.95952 Fénix “Quisemos passar uma batida, existem as gara- ideia de proteção, de gens: várias bocas grandes preocupação”, continua. no edifício com os carros Autoria: “Ainda por cima com aqui- de combate às chamas a Draw, Godmess lo que se tem passado em espreitarem lá de dentro. Portugal, isso representa Ambos os artistas ressal- uma importância acres- tam a prestabilidade dos “Está mal, desenharem cida”, diz, referindo-se bombeiros durante todo aqui uma águia”, disse à situação de calamidade o processo. Uma empresa um senhor, que era adep- em termos de incêndios local, a Ferreira & Bebiano, to do Futebol Clube do que o País tem vivido nos arranjou-lhes uma plata- Porto. Não se trata de últimos anos. forma elevatória e houve uma águia, mas sim de “O Godmess traba- um bombeiro que esteve uma fénix, símbolo mun- lhou um bombeiro, que a manejar o carro com ele- dial dos bombeiros e que está a olhar para cima, vador durante três dias. se encontra pintada na o que indica prosperida- Arranjaram-lhes também torre do quartel dos bom- de”, conta por sua vez os andaimes. “Uma coisa beiros de Alfândega da Draw. “Olhávamos para muito importante era: pa- Fé. “Uma pessoa está a a parede a partir de um ra onde se virava aquela pintar um pássaro verme- banco do jardim que exis- localidade? Fomos sempre lho e é logo conotado ao te em frente ao quartel debatendo muito as ques- Benfica. Tive de explicar e era aí que desenháva- tões do tempo”, explica que era uma fénix”, clari- mos as nossas ideias.” Godmess, referindo-se fica Draw. “Fazia sentido Numa das faces da ao conceito que ele, Draw

desenhar algo ligado aos torre do quartel, Draw e Hazul tinham definido , Draw e Godmess, Alfândega da Fé, 2016.

bombeiros.” Ao que God- desenhou a cabeça de para Alfândega da Fé: o Fénix mess corrobora: “A gran- uma fénix por cima do tempo – passado, presente de maioria das pessoas bombeiro de vestes ver- e futuro. “Há que olhar estava à espera de mais melhas e envolveu-a com para o potencial daquela carros de bombeiros, am- diversos elementos: des- localidade. As pessoas bulâncias, mas a verdade de chamas vermelhas espelham-se sempre em é que a fénix simboliza o e amarelas a troncos de grandes centros comer- bombeiro, todos a trazem árvores. À esquerda, há ciais. Ali, a riqueza natu- ao peito”, conta. “É do gé- um pequeno holofote pin- ral é tão grande e é posta nero: primeiro estranha- tado, que aponta para os de parte, quando é uma -se, depois entranha-se.” olhos da fénix. Ao lado do mais-valia. A obra reflete Godmess e Draw fize- desenho, há um pequeno também isso, o potencial ram uma espécie de subas- espaço em terra batida. natural.” sembleia com os bombei- Estão lá uma palmeira ros. “Debatemos ideias e um castanheiro. Quem sobre o que gostariam de se aproxima da obra vin- ver. Disseram muitas coi- do deste lado observa sas, coisas com que se iden- ramos de ambas as árvo- Não é só dizer «vamos fazer». É necessário aplicar as metodologias certas, envolver tificariam mais facilmente. res a complementarem o as pessoas. Explicar-lhes, com uma linguagem que percebam, o que têm a ganhar Pegámos nessas ideias desenho, como se fossem com isto. e integrámo-las no nosso troncos extras a compor Ana Margarida Duque Dias, 45 anos, responsável pela Casa da Cultura Mestre José Rodrigues trabalho, na nossa ima- o trabalho. A encimar es- e chefe de gabinete da Câmara Municipal de Alfândega da Fé na área da cultura e do turismo. gem”, explica Godmess. ta parede da torre estão,

76 77 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • TÉTIS Draw, Hazul • 2016 ARTE PÚBLICA •

Draw. “Até costumo tra- O espaço em frente 25 balhar pessoas mais ve- à parede intervencionada FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: lhas, mas ali achei que do edifício da junta de fre- ALFÂNDEGA DA FÉ Estrada Nacional 315 Latitude 41.34295 um rosto mais jovial fa- guesia é um pequeno an- Longitude -6.96056 Tétis zia mais sentido. Água fiteatro ao ar livre, com também é vida.” quatro lances de blocos de Hazul diz que não pedra a servirem de ban- Autoria: gosta muito de justificar cada. Ao centro, o palco é Draw, Hazul o seu trabalho, que as ocupado por repuxos que pessoas das belas-artes brotam do chão, o mesmo é que estão habituadas chão que já viu passar por Há uma certa altura do a fazê-lo. “O nosso tra- ali uma ribeira e se man- dia, já pela tardinha, em balho [dos street artists] tém fértil em água no sub- que o Sol só consegue ilu- é muito mais direto.” solo. A mulher retratada, minar parte da parede la- Hazul não pôde participar de expressão jovial mas teral da sede da Junta de nas assembleias com a austera, tem o cabelo apa- Freguesia de Alfândega comunidade para defini- nhado em novelo, em sinal da Fé. As ondas formadas rem os temas a abordar no de lavoura. O olhar é me- pela fronteira luz-sombra Arte Pública fundação edp lancólico e um pouco de- ajudam ao desenho de – Voltagem em Alfândega sesperançado, as sobran- Draw e Hazul, principal- da Fé, mas foi posto ao celhas são grossas e bem mente os motivos curvilí- corrente pelos dois cole- delineadas. neos – azuis – desenha- gas acerca do que se pre- A fachada tem qua- dos por Hazul. tendia explorar na terra. tro janelas, três em cima “Tentámos perceber o e uma em baixo à esquer- que se passava ali. Aque- da, corridas com persia- la praça costumava estar nas, e pequenas janelas- muito associada ao tema -quadrados que servem da água. Acho que havia para ajudar à composição

ali um rio ou uma ribeira da geometria da obra. , Hazul e Frederico Draw, Alfândega da Fé, 2016. Pintados por Hazul, há e umas fontes”, conta Tétis Draw. “Como o meu tra- fluxos de água a esguei- balho é figurativo, inves- rarem-se por entre os tiguei e cheguei a Tétis, “Fui para lá com a ideia potes e o pescoço da que é uma deusa da água. de, através do convívio com mulher, como se fossem Fiz uma reinterpretação as pessoas, perceber qual tentáculos de um polvo e pintei uma figura femi- a identidade daquela ter- à procura do seu espaço nina ligada à água.” ra”, expressa Hazul. “Na de sobrevivência. Draw e Hazul pintaram realidade, a curiosidade a obra ao mesmo tempo. das pessoas não é muito “Eu basicamente repre- diferente da das pessoas sentei a água e os recipi- da cidade. Elas não estão entes da água. O Draw fez é muito habituadas a que a figura e eu o entorno, se vá para lá pintar de for- uma ondulação em tons ma tão visível. A atitude de azul”, refere Hazul. foi de um misto de descon- “A água tem movimento, fiança, primeiro, e de ale- tem uma linha muito orgâ- gria, depois, por a EDP ter Desta gostei muito. Até o meu filho diz que «escolheram a mais gira para a pare- nica. O percurso da água escolhido Alfândega da Fé de da junta de freguesia». Das outras também gosto, mas esta é qualquer coisa. é muito ondulado, quase para fazer intervenções Representa as águas, o mar. sensual – curva, contra- no âmbito do Arte Pública Sandra Rego, 41 anos, administrativa/assistente na Junta de Freguesia de Alfândega da Fé. curva”, diz por seu turno fundação edp.”

78 79 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • TOTEM Hazul • 2016 ARTE PÚBLICA •

Dentro de outro, em ci- um elemento da nature- 26 ma, estão elipses várias za por que Hazul se diz FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: a azul-petróleo, que for- fascinado, também têm ALFÂNDEGA DA FÉ Rua Branco Rodrigues Latitude 41.34285 mam olhos e nos perscru- esse caráter de intempo- Longitude -6.95983 Totem tam de forma enigmática. ralidade. “Se por um lado Mesmo em cima, num qua- as pedras remetem para drado amarelo-banana, construções antigas, para Autoria: está desenhado a verme- totens, por outro, o muro Hazul lho o que parece ser um de pedra, por exemplo, pote, de traços indígenas, é ainda muito utilizado ritualísticos. Em baixo, nesta zona nos dias que Esta obra, no posto de numa caixa de luz colada correm.” transformação (PT) da à parede, Hazul pintou O rendilhado art EDP Distribuição na Rua um cristal. Esta pedra é nouveau é uma represen- Branco Rodrigues, está uma figura muito repre- tação de uma árvore, das muito perto das duas sentada no seu trabalho, que costumam existir anteriores do roteiro, na pelo seu caráter panteís- nos quintais das pessoas. vila de Alfândega da Fé. ta, sacramental. “A oliveira consegue du- Seguindo a rua da sede rar milhares de anos, atra- da junta de freguesia que vessa gerações e gera- passa por este PT, mesmo ções.” Quanto ao cristal, acima encontram-se as Hazul diz fazer coleção traseiras do quartel de deste tipo de pedras. bombeiros. E lá que é fei- Costuma ir apanhá-las ta a entrada para o bar com um amigo num local da instituição. Servem no Gerês cujo nome não petiscos e é costume as quer revelar. “É incrível, pessoas fazerem do local estás no meio do nada , Hazul, Alfândega da Fé, 2016.

ponto de encontro para e de repente encontras Totem verem os jogos de futebol estas pedras límpidas, de cada jornada. lindas”, descreve. “Além Hazul transformou o PT da sua utilização para num totem, através da pin- tecnologia. Tudo o que tura. Vista ao longe, a inter- é tecnologia tem quartzo, venção artística parece bi- como, por exemplo, os dimensional. E, em termos relógios. É o cristal que de relevo, é-o, de facto. regula o batimento.” Mas, ao aproximarmo-nos “Funciona como um O cristal é também um da parede, percebemos o álbum de recordações, símbolo de pureza, como efeito de rendilhado e de como se cada quadrado já referiu. “De pureza e tridimensionalidade com fosse uma foto”, explica de harmonia. A história que Hazul dotou os dife- Hazul. “Estas represen- do próprio cristal é feita rentes motivos que preen- tações fazem alusão aos de nascer no meio da la- chem os diversos quadra- tempos antigos, mas tam- ma, a partir da pedra bru- dos e retângulo desenha- bém ainda presentes. ta, e vir a tornar-se numa dos na parede do PT vira- Em cima, está uma jarra coisa muito cristalina e da para a estrada. Dentro que, além de ser uma coi- transparente. Foi isso que Fiz a receção aos artistas, andei com eles pelo concelho. Fomos às aldeias fazer as- de um, o retângulo hori- sa normal que as pessoas me levou a representá- sembleias e dar conhecimento do que íamos fazer. Criar o elo entre os artistas e as zontal que ocupa toda a usam aqui, até mais do -lo. É um símbolo do meu pessoas. Quando falávamos em graffiti, achavam que as paredes iam ser vandali- largura da parede, pinta- que na cidade, é um obje- trabalho, como que uma zadas. Mas depois ficaram muito agradadas com o resultado. da a azul-bebé, estão pin- to comum ao presente e assinatura.” Sónia Vieira, 36 anos, técnica de turismo. tados motivos art nouveau. ao passado.” As pedras,

80 81 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • SEMIO Hazul (c/ Universidade Sénior) • 2016 ARTE PÚBLICA •

a Universidade Sénior, ce- 27 rejas, e uma estrela, não FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: sei porquê. Eu dei-lhes li- ALFÂNDEGA DA FÉ Parque Verde Latitude 41.34171 berdade para fazerem o Longitude -6.96009 Semio que quisessem.” As cerejas são uma colheita típica da zona, a Torre do Relógio é o Autoria: monumento histórico mais o que se passa no par- Hazul (c/ Universidade representativo da vila. que. São uma espécie de Sénior) Nos sinais restantes, guardiões, de protetores. Hazul colocou a sua pró- Estão sempre ali. pria simbologia, trans- A ligação à natureza Há algo de semiótica versal ao seu trabalho. é um património que Hazul neste trabalho de Hazul. “Basicamente, o que es- diz ser muito vibrante na- Em Semio, o street artist tá nos outros sinais é quela zona e em Trás-os- explora as camadas de co- um conjunto de pedras, -Montes em geral. E é uma municação de um objeto, um vaso, água, uma fi- mais-valia que necessita no caso sinais de trânsito, gura que costumo fazer de ser mais valorizada, vis- e aplica-lhes outras roupa- com frequência”, conta. to tratar-se de uma ques- gens, outras capas de lei- “Há pessoas que dizem tão de tempo até haver tura. Feita em parceria que parece uma santinha. uma consciência plena da- com alunos da Universida- É, na verdade, uma figura quela qualidade de vida de Sénior de Alfândega da humana. Eu, quando re- por parte das pessoas. Fé, Hazul aproveitou sinais presento uma figura huma- de trânsito da câmara que na, costumo representá- estavam sem uso. -la no feminino. É a origem. “Foi muito giro. Uma Mas, neste trabalho, re- das hipóteses que nos de- presentei também uma ram foi o recheio existente figura masculina.” no armazém da câmara, Hazul pediu para os 2016. Fé, da Alfândega Sénior, Universidade com , Hazul tinha lá um monte de si- sinais serem colocados nais de trânsito”, conta de forma separada, ao No parque, há uma pe- Hazul. “Como era esse o longo do jardim, do Parque quena ponte feita em pe- PP 82 e 83: Semio material disponível, decidi Verde. “A minha ideia era dra. Sugere que houve ali pegar num objeto que toda que ficassem junto das em tempos uma ribeira. a gente conhece, um objeto pessoas.” Mas, por ques- Mais abaixo, há um canal do quotidiano, e atribuir- tões de segurança, não de água, uma espécie de -lhe uma simbologia dife- foi possível. Junto a vias riacho pelo meio da vege- rente, para permitir outras rodoviárias poderiam ser tação mais alta porque se interpretações.” confundidos com sinais encontra alagada. Em ter- Artista e cidadãos seni- verdadeiros. Foram colo- mos topográficos, o par- ores da vila tiveram um dia cados juntos, na zona li- que apresenta várias ele- para trabalhar. Os seniores mítrofe do parque oposta vações, ténues, que se tor- pintaram a base, Hazul à estrada, junto ao monte. nam pequenos anfiteatros. pintou as figuras por cima. Os três sinais, as três “Eu depois fiz um sinal figuras humanas – a só para eles. Durante a tar- conjugação das diferen- de, fizemos uma demons- tes geometrias dos sinais Acompanhei a fase inicial, de seleção dos sítios e materiais que iriam utilizar. Fiz tração do que eu iria fa- conferiu-lhes um lado questão. E gostei bastante. Deu mais um roteiro a esta zona, mais um motivo de zer com o resto dos sinais. humano –, estão na posi- interesse para as pessoas passarem por cá. O sinal deles tem represen- ção de voyeurs, de espe- Luís Rocha, 39 anos, informático/designer. tados a Torre do Relógio, tadores, a olhar para

82 83 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • LINES, LINES, LINES Draw (c/ Univ. Sénior) • 2016 ARTE PÚBLICA •

dos traços do homem fos- 28 se aligeirada, iluminada. FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: Ao fundo da rua, exis- ALFÂNDEGA DA FÉ Rua da Escola Prepa- Latitude 41.34227 te o restaurante Bairral, ratória (antiga Rua Longitude -6.96296 Lines, li- propriedade da dona Júlio Manuel Pereira) Ester e do marido. Emigra- nes, lines dos em França, regressa- apreciar o muro. E a sen- ram a Alfândega da Fé tirem-se parte do proces- há 17 anos e montaram um Autoria: so. Por cima do emara- negócio de restauração de Draw (c/ Universidade nhado de palavras e fra- comida portuguesa, mas Sénior) ses de ordem, Draw de- também italiana, pizzas. senhou o rosto de um ido- O Bairral era poiso habi- so, de boina na cabeça, tual dos artistas para as Numa colaboração com a as feições endurecidas refeições. O que mais es- Universidade Sénior, Draw por muitos anos de traba- colhiam para comer eram pintou o muro do parque lho no campo – na apanha francesinhas e pizzas. de estacionamento da câ- da castanha, da cereja, E a mousse de Oreo, uma mara, que dá para a Rua da cortiça. São das prin- especialidade da casa. da Escola Preparatória cipais fontes de rendi- “O Bairral era muitas (antiga Rua Júlio Manuel mento da zona. vezes o escritório deles. Pereira). “Dividimos o tra- “O meu trabalho re- Eles vinham para aqui, balho entre nós. Eu não es- sume-se muito à figura carregavam baterias tava numa de desenhar humana, transposta para [dos aparelhos eletrónicos] umas formas e pôr os seni- a grande escala. O registo e também as baterias de-

ores a pintá-las por dentro. que me é conhecido é o les próprios”, conta Sandra 2016. Fé, da Alfândega , Draw, Pô-los a pintar com latas do esboço, um sketch à Gonçalves, filha da dona de spray também não se- grande escala. Não faço Ester que também traba- ria fácil. Mas queria que propriamente hiper-rea- lha no restaurante. “Fazi- tivessem uma voz ativa”, lismo, faço sobreposição am os desenhos nos guar- explica Draw. “Assim, pro- de linhas de pinceladas, danapos. Temos fotos deles pus que escrevessem frases de tintas”, contextualiza a desenharem. Até se fez PP lines 84 lines, e 85: Lines, que lhes saíssem do cora- Draw. “Trata-se de um uma exposição com isso.” ção. Havia um senhor incrí- emaranhado de linhas que E acrescenta, relativamen- vel que dizia «velhos são os parece um desenho feito te ao impacto que o Arte trapos».” Além desta frase, a caneta, mas na parede.” Pública fundação edp – estão escritas outras como Draw costuma usar Voltagem em Alfândega “não sejas ignorante”, “nun- uma escala de cinzas pa- da Fé teve em si própria: ca se é velho para apren- ra pintar as suas figuras “Quando vou a algum la- der”, “parar é morrer”. “Ha- humanas, conferindo-lhes do e vejo as obras deles, via dezenas de frases des- uma certa austeridade já consigo identificá-las. tas e eu pus uma imagem ao rosto. Em termos téc- Cada um tem o seu estilo, minha por cima. Esta sala- nicos, usa muito o recur- muito próprio.” da de fruta ficou como back- so clássico da grelha pa- ground do meu trabalho.” ra transpor o desenho Draw diz que, no início, do papel para a parede. as pessoas ficaram escan- A figura idosa masculina dalizadas. A parede era retratada nesta obra é Isto só tem um sentido turístico se contar as histórias da cultura local. Os mais antes toda branca e pas- polvilhada por linhas em velhos contam umas histórias, os mais novos, outras. Há uma sobreposição de cul- sou a estar toda rabisca- amarelo-dourado, que turas. E é um contraste interessante. da. Mas, depois da obra criam um efeito de raios Berta Nunes, 62 anos, presidente da Câmara Municipal de Alfândega da Fé. concluída, passaram a de luz. Como se a dureza

84 85 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • TEMPO Godmess, Hazul • 2016 ARTE PÚBLICA •

Godmess. “A torre está re- derrotados e lhes aparece 29 abilitada e neste momento uma virgem a dar-lhes um FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: é um espaço museológico, bálsamo.” ALFÂNDEGA DA FÉ Travessa do Terreiro Latitude 41.34157 no qual a exposição foto- Já Hazul usou o mesmo Longitude -6.96576 Tempo gráfica permanente retra- conceito que na obra Totem, ta a reabilitação deste mo- um conjunto de imagens que numento local.” E acres- funcionam como um álbum Autoria: centa: “A própria história fotográfico. “Fiz imagens Godmess, Hazul da torre é um bocado inde- fragmentadas, separadas finida. Dizem que foi um umas das outras, como se castelo, mas não há vestí- fossem flashes de memória. gios disso. Por isso, é um A parede também puxava bocado mística, parece que a isso. Achei que devia con- não pertence ali. Por outro tinuar na mesma lógica.” lado, não há mais nenhum A obra foi feita a dois mo- monumento que reflita His- mentos. Primeiro pintou tória. É um meio de certo Hazul, depois Godmess. modo descontextualizado.” “Os elementos são basica- Mesmo ao lado da tor- mente os mesmos de Totem: “Eu fiquei mais associado re, branca, na Travessa a figura feminina – aqui ao passado, o Draw ficou do Terreiro, costumava tenho duas –, a jarra. com o presente e o Godmess haver uma pequena casa A justificação é sempre com o futuro. Trabalhámos com quintal. Vivia lá um a mesma, são elementos sempre à volta do tempo, carteiro, chamado Mário que atravessam o tempo”, que era simbolizado pela Damasceno, e tinha muitos continua. “Depois fiz um Torre do Relógio”, conta filhos. Muitos perguntavam- embrião, que tem que ver Hazul. “Tendo em conta -se como é que conseguia com o nascimento – com o conceito do Arte Pública viver ali tanta gente. Hoje a ideia de passado, mas fundação edp, não levámos sobra uma empena de pré- também de futuro.”

ideias fechadas. Apesar dios contíguos, a casa foi Quando Godmess e , Godmess e Hazul, Alfândega da Fé, 2016. de termos cada um uma demolida. Foi nessa empe- Hazul começaram a fazer Tempo linguagem muito própria, na que Godmess e Hazul o mural, no cimo da empe- não quisemos ter à partida fizeram uma intervenção na estava colocada uma imagens muito definidas”, artística conjunta. pedra ornamentada – com refere por sua vez Godmess. “Não fomos por aí, pela volutas – que serviu de “O que fizemos foi chegar casa que existia antes. inspiração à obra e foi in- a um conceito abstrato – Sentimos que aquela pare- clusive desenhada. Dizem a passagem do tempo ou de tinha uma ligação mais que são do tal castelo que o tempo de passagem – importante à torre, por es- supostamente existiu em e trabalhar a partir daí.” tar ao lado dela”, esclarece Alfândega da Fé, cujas Tratou-se de um conceito Godmess. “A pintura que pedras foram aproveita- de base para que pudes- fizemos tem que ver com das pela população para sem ouvir as pessoas da o tempo, com o passar do construir casas e muros. terra e trabalhar com elas. tempo. Há referência a “Essa Torre do Relógio imagens: a mala refere-se foi o único elemento que às pessoas que emigraram, sentimos que era o marco que foram para França. identitário de Alfândega Depois há também a lenda da Fé. Não havia nada de dos Cavaleiros das Esporas Gosto muito do [trabalho] da Torre do Relógio. Gosto de todos, o daqui da escola tão diferente e tão pre- Douradas, alusiva a uma [preparatória] também está muito bonito. Deviam era pintar Alfândega da Fé toda. sente, ao mesmo tempo, batalha com muçulmanos Sabrina Gonçalves, 29 anos, restaurante Bairral. na localidade”, continua da qual os cavaleiros saem

86 87 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • SARAU Hazul • 2016 ARTE PÚBLICA •

figura feminina, tem um vai a Trás-os-Montes e 30 passaroco, tem um cristal. ouve logo os passarinhos. FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: Depois fiz um ser mitoló- Gosto muito de ouvir pas- ALFÂNDEGA DA FÉ Gimnodesportivo da Latitude 41.34534 gico, não sei muito bem sarinhos. Aqui no Porto Escola EB1 Longitude -6.9638 Sarau o que é”, descreve Hazul. não os ouvimos, com mui- “Numa escola, as crianças ta pena minha”, refere. são um bocadinho mais A figura feminina que Autoria: sonhadoras. Passaram diz existir na obra está des- Hazul a tarde toda a perguntar- ta vez representada de for- -me «o que é isto?», «o que ma subtil. É o volume à es- estás a fazer?». Começa- querda, inclinado, ao qual “Esta obra é mais difícil ram a inventar uma série não se vê a cabeça. É ape- de explicar porque foi um de possibilidades para nas denunciada pelo man- trabalho feito pós-projeto, estas figuras. Como não to, em tons de azul, uma foi uma parede extra. são figuras muito exatas, cor grata no trabalho de Voltei a Alfândega da Fé discutiam no recreio o que Hazul. Em cima, pequeni- um mês depois para fazer é que poderia ser e cada no, está representado um esta intervenção na Es- um via coisas diferentes.” bebé; vemos-lhe a cabeça, cola EB1.” Hazul não sabe o corpo enrolado numa co- porque escolheu o nome berta. Esta figura alusiva Sarau. “Fui ver à Internet, ao nascimento está de novo não sei porquê. Os nomes representada, em tamanho costumam ter sempre jus- muito pequeno, em cima da tificações, o que as obras cabeça do pássaro. O cris- nos fazem lembrar, etc. tal está uma vez mais pin- É o oposto do racional. tado, aqui sobre um fundo Mas, apesar de os nomes azul entre o petróleo e o parecerem aleatórios, to- O edifício é composto água. A grande circunfe- dos têm de fazer sentido por dois volumes, um mais rência desenhada por , Hazul, Alfândega da Fé, 2016.

para mim, nem que seja de horizontal e outro mais ele- baixo parece uma grande Sarau forma mais intuitiva. Gos- vado. Foi na empena do vo- bolha de água, prestes to de palavras bonitas.” lume mais alto que Hazul a rebentar. A zona inferior fez a sua intervenção. Quem da parede tem uma faixa vem da zona mais elevada em tijolo, laranja, que aju- da vila vê a pintura ao lon- da na composição de toda ge. Em frente, há um cam- a imagem. A propósito des- po de jogos de piso sintéti- te Sarau, e de todo o seu co, com balizas e cestos de trabalho, Hazul remata: basquetebol. À volta, a de- “Eu gosto de sociabilizar, limitar o perímetro da es- mas não é para estar a cola, existe terreno em ter- discutir o que pintei ou Enquanto pintava ra batida, árido, pautado não pintei. Essa liberda- a empena do pavilhão por alguns pinheiros. de deixo-a aos outros.” gimnodesportivo da O mural está, à semelhan- Escola EB1 de Alfândega ça das intervenções de da Fé, os miúdos passa- Hazul, dividido por várias ram a tarde a interagir esquadrias, quadrados e com o artista, empolei- retângulos, sobre os quais rado no andaime. “Este o street artist do Porto dese- Eu achei que embelezou bastante os espaços que estavam degradados. Foi uma mural tem, mais uma vez, nha figuras. O pássaro, ao mais-valia. Muita gente para e pergunta o que é. elementos transversais centro, ocupa uma posição Ermelinda Salgueiro, 61 anos, provedora da Santa Casa da Misericórdia de Alfândega da Fé. ao meu trabalho. Tem a de destaque. “Uma pessoa

88 89 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • OLIVA Hazul • 2016 ARTE PÚBLICA •

anexo do prédio, pinta- circunferências a ver- 31 do em tons de salmão e melho e branco – como FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: branco, que se encontra se fossem uma sinalética ALFÂNDEGA DA FÉ Rotunda no final da Latitude 41.34615 mesmo ao lado. Na parte para a observação desta Avenida da República Longitude -6.96403 Oliva esquerda do mural, está composição visual. Mar- pintada uma figura que cam um início e um fim, parece um peixe, apesar uma no canto superior Autoria: de Hazul não fazer qual- esquerdo e a outra no Hazul quer referência a isso. canto inferior direito da Podia ser uma sardinha. pintura. Há, ainda, outro A forma oval, os preen- tipo de motivos que indi- Este foi também um traba- chimentos ondulados ciam a ideia de origem. lho extra, mesmo ao lado a sugerirem escamas e É o caso de uma linha do da parede no gimno- guelras, o olho esmore- vertical atravessada por desportivo da Escola EB1. cido. Faz todo o sentido pequenas linhas, uma “O nome Oliva tem que ver que seja um peixe, ligado bola e dois traços em for- com o campo de oliveiras a esta ideia de fruto, de ma de “s”. Assemelha-se que há por todo o lado, nascimento, referida por a uma pintura primitiva, nesta zona. O verde que Hazul, mesmo ao lado da rupestre – uma ligação utilizei é próximo do verde- imensidão de água que o constante entre passado -azeitona”, conta Hazul. artista urbano desenhou e presente, e aqui e ago- “Não é bem um verde- ao centro. ra, que interessa a Hazul -azeitona, mas está perto.” explorar no seu trabalho. Esta intervenção de O artista demorou Hazul está feita num pos- uma hora a pintar este to de transformação (PT) PT. “Como estou habitu- da EDP Distribuição que ado a pintar na rua, es- se encontra na rotunda tou acostumado a pintar rápido. Pinto com spray”,

ao final da Avenida da , Hazul, Alfândega da Fé, 2016. República de Alfândega conta Hazul. “Se não es- Oliva da Fé. A parte do meio da tiver a pintar rápido, não pintura representa, mais À pergunta acerca consigo entrar na fre- uma vez, a água. “É água da importância do azul quência certa das ideias. por nenhum motivo espe- no seu trabalho, Hazul E, se estiver muito tem- cial. Achei que a azeitona responde dizendo tratar- po a pintar, começo a precisava de água”, diz. -se de uma importância pensar muito nas coisas “O desenho por cima não relativa. “Depende. Tenho e a fazer asneira. É a for- é uma azeitona, mas é trabalhado muito o azul ma de puxares a criati- quase. Representa um nos últimos dois anos. vidade até ti. É quase um fruto.” À direita, em cima, Há pessoas que têm uma foco. Se estiveres focado, está representada mais linha cromática muito de- anulas os ruídos exteri- uma vez a figura femini- finida. Eu gosto por vezes ores. É, no fundo, uma na. “Depois há elementos da ideia da continuação performance.” mais abstratos”, como a de cores, apesar de a mi- ondulação existente por nha tendência ser tentar baixo da representação sempre outras composi- da mulher. ções. Acho que não tenho Visto ao longe, o PT muito uma identidade parece uma caixa de fós- cromática.” foros na horizontal, cus- Hazul introduz nesta Nunca se viu este tipo de coisa por cá. É bom. O forte da vila é a cereja e a azeitona. tomizada com muitas co- obra elementos do design Filipe Fernandes, 23 anos, agricultor. res. E é como se fosse um gráfico, estilizações como

90 91 Roteiro TRÁS-OS-MONTES • Projeto VOLTAGEM • Alfândega da Fé • O TEU FUTURO... Godmess c/alunos... • 2016 ARTE PÚBLICA •

fiz um plano, juntamente um mundo, o planeta 32 com os alunos. O plano da Terra – os continentes FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: composição que iríamos são verdes e o oceano, ALFÂNDEGA DA FÉ Escola EB2/3, Rua Dr. Latitude 41.34357 transpor para a parede.” azul. Seguem-se mais Manuel Vicente Faria Longitude -6.96268 O teu fu- Na terceira sessão em prédios, com uma Lua em contacto com este grupo quarto minguante por ci- turo será de alunos, Godmess deu ma e chegamos ao meio um workshop em que lhes do desenho, que tem uma como tu ensinou a lidar com tinta e figura central. É um rosto, sprays e lhes deu dicas so- metade humano (uma mu- fizeres! bre como passar as ideias lher, de lábios vermelhos do papel para o grande e sardas) e metade má- formato. “Era importante quina, robô. Do cérebro, Autoria: dar-lhes essa autonomia saem peças metálicas, em Godmess e predisposição para cri- forma de puzzle. À direita c/ alunos EB2/3 de arem algo singular, que da figura, há mais pré- Alfândega da Fé lhes desse um sentimento dios e também um avião. de pertença. Algo com que Está apontado para uma se identificassem.” circunferência com várias À semelhança de Futura- Esta é a única obra do camadas de azul, como mos, na EB1, esta interven- Arte Pública fundação edp se fosse entrar numa ou- ção de arte pública foi – Voltagem em Alfândega tra dimensão no tempo. também feita numa escola, da Fé que não consegui- Por cima, curiosamente, mas na EB2/3, que aglo- mos ver a partir do espaço estão desenhados um mera os segundo e terceiro público. Temos de entrar relógio e um calendário. ciclos escolares em Alfân- nas instalações da escola. “Eles sentem-se muito dega da Fé. “Este processo O teu futuro será como tu longe dos centros urbanos. foi composto por três ses- fizeres! reza assim, da Percebe-se logo: tem um sões – duas sessões de de- esquerda para a direita: avião, para eles poderem bate, com alunos de vá- começamos por ver de- ir viajar. Coisas que para rias turmas, e uma para senhados uns prédios, de mim são tão simples, para

guiar os alunos a trans- muitos andares, prédios eles fazia-lhes confusão , Godmess com alunos da escola EB2/3 de Alfândega da Fé , Alfândega da Fé, 2016. por as ideias para a pa- esses que, sob diversas não terem. Parecem tão rede”, refere Godmess. arquiteturas, se encon- básicas para nós, não é?”, Para as duas primei- tram replicados várias considera Godmess. “Exis- ras sessões, a diretora da vezes ao longo da parede. tem coisas naquela terra escola falou com uma das Sobre um manto amarelo, que podiam ser potencia- professoras de Educação que pode ser um deserto, lizadas. Há uma riqueza

Visual, para que criasse mas também uma figu- natural e gastronómica in- O teu futuro será como tu fizeres! um grupo de alunos que ra humana devido à sua crível. Almoçámos e jan- juntasse os mais interes- forma e aos adereços que támos sempre em restau- sados pela área e os mais a decoram, está um óvni rantes locais. O sabor é desintegrados, de forma – óvni este que pode fun- diferente, o ar é diferente.” a incentivar estes últimos cionar como chapéu dessa a interessarem-se mais figura (que tem duas es- pela realidade escolar. trelas no lugar dos olhos, Estas sessões, de debate uma Lua cheia enorme no de ideias, decorreram na lugar de nariz – ou será sala de aula. “Propus-lhes uma cratera? – e uma textos, imagens, frases, linha grossa, transversal, Os graffiti estão fixes. É uma iniciativa engraçada. Mal é que não ficam. palavras. Recolhi material que pode servir de boca). Rui Vales, 21 anos, trabalhador na construção civil. dessas duas sessões e Colada a esta figura está

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que ela fosse, se a viam cartazes políticos propa- 33 a ser ou a fazer outra gandísticos de esquerda, FREGUESIA Concelho: Localização: GPS: coisa. A ideia foi recolher com o povo disposto em ALFÂNDEGA DA FÉ Escola EB1, Rua da Latitude 41.34527 testemunhos.” Depois de fileira em sinal de força Escola Preparatória Longitude -6.96351 Futuramos conversar com as crian- e de poder, enquanto mas- ças, Godmess foi para sa, enquanto conjunto. casa desenhar, a partir Como se os ideais por que Autoria: dos contributos dados. se guiassem fossem uma Godmess “Interessou-me misturar estrela no firmamento. as ideias sugeridas por A mulher tem um lenço eles com coisas mais abs- cor-de-rosa na cabeça Como Godmess ficou tratas, com perspetivas e encontra-se de olhos com o futuro, trabalhou de futuro. Este trabalho fechados. Um dos senho- com crianças e jovens. funciona como um jogo: res do meio tem uma No contexto do concei- parece abstrato, mas é cartola. O da direita tem to de tempo debatido muito figurativo.” E con- um avião e um barquinho durante as assembleias tinua: “Tanto aparece um de papel a lançar redes junto da comunidade de símbolo do Batman, por- na sua cabeça. A base do Alfândega da Fé, a pro- que um dos alunos queria mural está preenchida pósito do Arte Pública ver um Batman na vila, com elementos da natu- fundação edp – Voltagem, como aparece um mocho reza em vários tons de Godmess centrou-se no no chapéu de um agricul- verde: folhas, trevos, ra- futuro, enquanto Hazul tor. Aparece também um mos de árvores. Ao pé do se debruçou sobre o pas- avião, uma vez que alguém senhor da cartola, está sado e Draw, o presente, gostava que Alfândega desenhada uma bengala. apesar de no trabalho da Fé tivesse um aero- Esta tem por cima duas dos três artistas de arte porto. Há ainda um caja- cerejas, um dos produtos urbana sediados na cida- do, referente ao facto de que fazem a agricultura de do Porto serem visíveis um aluno ter dito que iria da zona. O lenço rosa da 2016. Fé, da Alfândega , Godmess, as linhas que tratam de ser pastor, quando cres- senhora deixa-se prolon-

construir pontes entre os cesse.” Trata-se de uma gar pela parte de baixo Futuramos três tempos. mistura de abstrato com do desenho e chega a Godmess trabalhou perspetivas de futuro e abraçar a base da cabe- em dois murais, no con- realidades locais. ça do senhor da cartola, texto das escolas: este na Escola EB1 e o outro na Escola EB2/3, ambas parte do Agrupamento de Escolas de Alfândega da Fé. A Escola EB1 é fre- quentada por alunos do pré-escolar e do 1º ciclo do ensino básico. O pro- cesso foi semelhante, em Da rua, consegue ver- aflorando uma ideia ambas as obras. “Para -se a obra, uma vez que de berço, que, tal como este, recolhi informação ela se encontra junto ao no trabalho de Hazul, numa sessão única, com gradeamento da escola. nos remete para a ori- turmas da 4ª classe”, O mural é pautado por gem. A Torre do Relógio, refere Godmess. “Per- quatro figuras, centrais, branca, aqui com telha- As pessoas participaram muito. Vi-os [artistas] a pintar a escola, da minha loja guntei-lhes como é que três cabeças de homens e do – vermelho –, tam- dava para ver. viam Alfândega da Fé, uma de mulher. As quatro bém não foi esquecida. Ester Araújo, 55 anos, proprietária do restaurante Bairral e de uma retrosaria. o que é que esperavam estão de perfil, como os

94 95 Arte Pública fundação edp Agradecimentos:

Roteiro TRÁS-OS-MONTES Torre de Moncorvo: Projeto VOLTAGEM aos alunos e professores do Agrupamento de Escolas Dr. Ramiro Salgado (Moncorvo), a toda Curadoria Arte Pública fundação edp: a equipa do Município de Moncorvo e Freguesias João Pinharanda abrangidas e do Museu do Ferro.

Coordenação Arte Pública fundação edp: Mogadouro: Sandra Santos aos alunos e professores do Agrupamento de Escolas, a toda a equipa do Município e Fregue- Comunicação Arte Pública fundação edp: sias abrangidas, da Biblioteca Municipal, da Sa- Elisabete Sá la Museu de Arqueologia e da Casa da Cultura.

Textos: Miranda do Douro: Cláudia Marques Santos aos alunos e professores do Agrupamento de Escolas, a toda a equipa do Município e Fregue- Fotografia: sias abrangidas, do Museu da Terra de Miranda, Rute Ferraz da Casa da Música Mirandesa, do Posto de Tu- Ricardo Castelo rismo, do Café Cristal, do cais de embarque flu- Município de Mogadouro vial (Europarques) e da loja de pronto a vestir Ana Teixeira. Conceção gráfica: Cláudia Baeta e Paula Dona Alfândega da Fé: aos alunos e professores do Agrupamento de Revisão de texto: Escolas, aos Bombeiros Voluntários, a toda a equi- Joana Ambulate pa da Casa da Cultura, do Município e Fregue- sias abrangidas e à Universidade Sénior. Edição: fundação edp Um especial agradecimento a toda a comu- Lisboa, setembro de 2018 nidade que participou nas assembleias comuni- tárias e apoiou os artistas durante a execução Impressão e acabamento: das obras. Indústria Portuguesa de Tipografia, Lisboa

Nº Depósito legal: 445554/18 ISBN: 978-972-8909-66-6

Parceria:

Com o apoio: “Com este programa, a fundação edp contribui para levar a comunidades rurais um maior contacto com a arte, provocando, simultaneamente, uma reflexão sobre a sua função na nossa sociedade. Tem, ainda, outro mérito: o de conciliar no mesmo programa as duas principais áreas de intervenção da fundação, onde tem um percurso reconhe- cido e consistente: a inovação social e a cultura. Este é um projeto que mobiliza artis- tas e comunidades rurais num diálogo inovador que resultará num roteiro inesperado de arte pública e num motivo de orgulho para todas as partes envolvidas.” Miguel Coutinho Diretor-geral e administrador executivo da fundação edp

Minho Ribatejo Alto Braga Rio Maior Alentejo Crespos e Pousada Vila da Marmeleira Padim da Graça Assentiz Campo Maior Merelim (São Paio) São João da Ribeira Degolados Panoias Ribeira de São João Ouguela e Parada de Tibães Palmeira

Trás-os- Médio Algarve -Montes Tejo Vila do Bispo Barão de São João Alfândega da Fé Vila Nova da Barquinha Mexilhoeira Grande Torre de Moncorvo Atalaia Figueira Miranda do Douro Praia do Ribatejo S. Bartolomeu de Messines Mogadouro Tancos Alte Alportel

ARTE PÚBLICA •