Pró-Reitoria de Graduação Curso de Direito Trabalho de Conclusão de Curso Documentário Jurídico em Vídeo Memorial Descritivo

A AUSÊNCIA DE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA DA “BARRIGA DE ALUGUEL" NO BRASIL

Gabriela Silva Ribeiro Luana Barbosa Serpa Rogério Ricardo Scherolt Pizzato Rosirene Martins Rocha Orientador: Prof. MSc. Júlio Edstron Secundino Santos

Brasília 2015

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA ESCOLA DE DIREITO

GABRIELA SILVA RIBEIRO LUANA BARBOSA SERPA ROGÉRIO RICARDO SCHEROLT PIZZATO ROSIRENE MARTINS ROCHA

A AUSÊNCIA DE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA DA “BARRIGA DE ALUGUEL” NO BRASIL

Documentário Jurídico em vídeo apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito.

Área de concentração: Direito Constitucional.

Orientador: Professor Msc. Júlio Edstron Secundino.

Brasília 2015

AGRADECIMENTO

Agradecemos primeiramente a Deus por nos ter concedido os dons da paciência, força, fé, perseverança e sabedoria para que pudéssemos concluir mais esta etapa tão importante de nossas vidas. Aos nossos familiares, por todo amor, compreensão, incentivo e apoio durante todos esses anos. Estes que são tão essenciais e nunca nos deixaram desistir de nossos sonhos, estando a todo o momento conosco. A nosso Orientador Júlio Edstron, por estar sempre à nossa disposição, nos auxiliando e nos orientando com toda paciência e sabedoria. Aos entrevistados, que contribuíram para o desenvolvimento acadêmico do nosso trabalho, nos doando um pouco de seu tempo concedendo as entrevistas, tendo nos recebido gentilmente e dando todo o apoio necessário para a finalização deste trabalho. Aos amigos, que compartilharam conosco este ciclo de nossas vidas e permaneceram ao nosso lado nos encorajando principalmente nos momentos difíceis. Por fim, a todos aqueles que nos ajudaram com o progresso e a devida conclusão deste trabalho, nossos sinceros agradecimentos.

O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem o que são.

(Aristóteles)

Dedicamos este documentário а todas as crianças na vida intra uterina e todas aquelas que estão por vir. À elas nossa dedicação e respeito afim de que durante a gestação e a vida, seja respeitado o seu direito à dignidade da pessoa humana. Aos nossos familiares, que nos incentivaram e apoiaram com todo carinho. A nosso orientador Júlio Edstron, por toda paciência e apoio nas orientações para a realização deste projeto.

RESUMO

Referência: RIBEIRO, Gabriela Silva; SERPA, Luana Barbosa; PIZZATO, Rogério Ricardo Scherolt; ROCHA, Rosirene Martins. A ausência de legislação específica da “barriga de aluguel” no Brasil. 2015. 32 f. Documentário (Graduação) – Curso de Direito, Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2015.

O presente documentário tem por tema a ausência de regulamentação da Barriga de Aluguel no Brasil e a "coisificação" do feto. Busca-se nesse trabalho reconhecer as formas de gestação em útero substitutivo, diferenciar a barriga de aluguel onerosa da barriga solidária, conhecer a resolução nº 2.013/2013 do Conselho Federal de Medicina que regulamenta a reprodução assistida, comprovar a ausência de uma legislação especifica brasileira para os casos em questão e constatar a coisificação do feto nos casos de “barriga de aluguel”. Foram realizadas entrevistas exploratórias com uma médica, especialista em reprodução humana assistida com a intenção de saber um pouco mais sobre as formas possíveis de reprodução humana, uma entrevista com uma promotora do Ministério Público a fim de conhecer os direitos da criança e do feto gerado, uma entrevista com um membro do Conselho Federal de Medicina especialista em bioética e relator da resolução do Conselho de Medicina, uma entrevista com o Deputado relator do projeto de Lei n° 1184, e por fim, uma entrevista com uma família que viveu um caso real sobre útero de substituição no intuito de saber porque o casal escolheu essa modalidade de reprodução e as dificuldades enfrentadas, tanto jurídicas como sociais.

Palavras-chave: Barriga de aluguel. Reprodução Humana. Bioética. Útero de Substituição.

ABSTRACT

References: RIBEIRO, Gabriela Silva; SERPA, Luana Barbosa; PIZZATO, Rogério Ricardo Scherolt; ROCHA, Rosirene Martins. The lack of regulation of "surrogacy" in and the objectification of the fetus. 2015. 32 p. Documentary (Graduation) – Studied law, Catholic University of Brasília, Brasília, 2015.

This documentary is to subject the lack of regulation of surrogacy in Brazil and the "commodification" of the fetus. Seeks to recognize this work forms of gestation in the womb substitute, differentiate costly surrogacy of solidarity belly, knowing the resolution No. 2013/2013 of the Federal Medical Council which regulates assisted reproduction, show the absence of specific legislation Brazilian for the cases in question and verify the objectification of the fetus in cases of "surrogacy". Exploratory interviews were conducted with a medical specialist in assisted human reproduction with the intention to know more about the possible forms of human reproduction, an interview with a promoter of the prosecution in order to meet children's rights and generated fetus, an interview with a member of the Federal Council of Medicine expert in bioethics and rapporteur of the Council resolution of Medicine, an interview with the Deputy Rapporteur of the draft law No. 1184, and finally, an interview with a family who lived a real case on replacement uterus in order to know why the couple chose this mode of reproduction, and the difficulties faced, both legal and social.

Keywords: Surrogacy. Human Reproduction. Bioethics. Replacement uterus.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 9 REFERENCIAL TEÓRICO...... 10 1. A evolução e o conceito das técnicas de reprodução humana ...... 10 2. Da gestação de substituição ...... 11 3. Da necessária regulamentação jurídica, as normas do Conselho Federal de Medicina – Resolução n° 2013/13 ...... 12 4. O Projeto de Lei n° 1.184/2003 ...... 14 5. Aspectos bioéticos e de direitos humanos ...... 14 DOCUMENTÁRIO ...... 16 5.1. Sumário Executivo ...... 16 5.1.1. Objetivo ...... 16 5.1.2. Viabilidade ...... 16 5.1.3 Estratégia ...... 16 5.2. Roteiro ...... 16 DIÁRIO DE BORDO ...... 22 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 26 ANEXOS ...... 28

9

INTRODUÇÃO

O presente estudo é um projeto de pesquisa, elaborado para atender ao requisito de conclusão do Curso de Direito oferecido pela Universidade Católica de Brasília. O objeto de investigação versará sobre a maternidade substituta e ausência de legislação específica da chamada "Barriga de Aluguel" no Brasil. A Barriga de Aluguel e a venda de sêmen e óvulos são proibidos no País. Porém, este comércio existe e segundo reportagem da revista CONSULEX1, há suspeitas de que a maior parte das gestações por substituição ocorridas até o momento têm se dado de forma onerosa, ignorando por completo as várias implicações de natureza moral, jurídica, psicológica e social que pode advir dessa prática. No Brasil, não há uma norma específica reguladora da reprodução assistida. O único amparo legal que tem servido de orientação é uma resolução do Conselho Federal de Medicina, nº. 2003/03 que busca delimitar a ética na prática médica da reprodução assistida. A Resolução dispõe em seu artigo 1º, da Seção VII: " As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família da doadora genética, num parentesco até o segundo grau, sendo os demais casos sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina". Tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei n°1184/2003, o qual pretende definir normas para a realização de inseminação artificial e fertilização "in vitro". A principal proposta do projeto, quanto a barriga de aluguel, é criminalizar tal prática com pena de reclusão de 1 a 3 anos e multa, quem participar do procedimento de gestação de substituição, na condição de beneficiário, intermediário ou executor da técnica. Até que uma lei passe a vigorar, a realidade é que estas formas alternativas de gestação continuam ocorrendo, e nos casos como da barriga de aluguel onerosa, a vida destes fetos está sendo discutida sob um viés de negócio jurídico, onde as partes interessadas, estabelecem verdadeiros contratos, em detrimento da dignidade da pessoa humana.

1 GONÇALVES, Fernando David de Melo. A maternidade substituta no Brasil. Revista Jurídica Consulex, São Paulo, p. 22-26, 28 fev. 2009. 10

REFERENCIAL TEÓRICO

1. A evolução e o conceito das técnicas de reprodução humana

Surrogate mother (Inglaterra), mietmutter (Alemanha) e mãe hospedeira (Portugal) são nomes adotados por estes países para denominar o que nós chamamos de mãe de aluguel, mãe substituta, mãe subrogada ou mãe portadora, estas são mulheres que locam seus úteros para gestar crianças de mulheres com problemas de fazê-lo2. Essa modalidade de procriação humana somente foi possível através dos avanços tecnológicos na área de reprodução humana. Atualmente segundo Maria Helena Diniz3, pai não é inexoravelmente o doador do material genético e a mãe não é indiscutivelmente aquela que cedeu o óvulo, o útero ou que deu a luz. Conforme afirma, Patrícia Lourenzon4 a utilização de técnicas de reprodução medicamente assistida, especialmente da gestação de substituição enseja, problemas de diferentes ordens, constatando-se de pronto, a questão atinente à falta de regulamentação jurídica do tema. Ainda segundo a autora, a gestação de substituição, acaba modificando o próprio conceito de maternidade, que passa pela necessidade de uma nova definição. A presunção jurídica (mater semper certa est) mostra-se insuficiente, haja vista essa modalidade de procriação está dissociada entre a maternidade biológica e a gestacional. O Código Civil tenta se adequar a essas novas modalidades de concepções humanas, no art. 1.597 se extende a presunção de filiação, conforme bem exemplifica Aldrovandi e França,

“O Novo Código Civil menciona algumas técnicas de reprodução assistida, mas não vai além, visto que a matéria deverá ser tratada futuramente por lei específica. O art. 1.597, que trata da filiação, é um exemplo, pois além das hipóteses de presunção de paternidade previstas no código vigente, com a inserção dos incisos III, VI e V, também se presumem concebidos na constância do casamento os filhos havidos de fecundação artificial homóloga, inclusive a post

2 ALMEIDA, Aline Mignon de. Barriga de aluguel. Bioética e biodireito. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000. p. 45. 3 DIAS, Maria Berenice. Direito das Famílias. 5. Ed. São Paulo: RT, 2009, p. 325. 4 LOURENZON, Patrícia Miranda. Contrato de gestação de substituição: proibi-lo ou torná-lo obrigatório. Revista de Direito Privado: Rdpriv, 2010, p.106. 11

mortem, de fecundação in vitro (homóloga), e inseminação artificial heteróloga, com a prévia autorização do marido.” Assim, a reprodução humana assistida pode ser conceituada, como basicamente a intervenção do homem no processo de criação natural, com o objetivo de possibilitar que pessoas com problema de infertilidade e esterilidade satisfaçam o desejo de alcançar a maternidade ou a paternidade5. Para a doutrina6, “A reprodução assistida, que pode ser entendida como um conjunto de técnicas que favorecem a fecundação humana a partir da manipulação de gametas e embriões, objetivando principalmente combater a infertilidade e proporcionando assim o nascimento de uma nova vida humana. Tal procedimento pode-se dar através da inseminação artificial, da fecundação artificial in vitro (FIV), da transferência intratubária de gametas (GIFT), da transferência de zigoto nas trompas de falópio (ZIFT) e da transferência em estágio de pró-núcleo (PROST). Também pode ser classificada como homóloga e heteróloga, sendo a primeira àquela que se dá quando não há interferência de material genético de terceiro na formação do embrião, e a segunda na qual há doação do material genético de terceiro.”

Percebe-se de pronto que as variantes da subrogação de útero (gestação de substituição) baseiam-se na fecundação homóloga (material genético dos pais intencionais – socioafetivos) e heteróloga (material genético de terceiros doadores)7.

2. Da gestação de substituição

Devido ao fato da chamada “barriga de aluguel” possuir várias designações, nesta pesquisa é adotada a terminologia gestação de substituição, por entender ser a mais adequada. A gestação de substituição, ocorre quando uma mulher concorda em ser inseminada artificialmente, ou receber embriões transferidos, com a compreensão de que criança que irá gestar, ao nascer, será criada pelas pessoas que propuseram este procedimento8.

5 ALDROVANDI, Andrea; FRANÇA, Danielle Galvão de. A reprodução assistida e as relações de parentesco. Revista Jus Navigandi, 2002, Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 6 PAIANO, Daniela Braga; FERRARI, Geala Geslaine; ESPOLADOR, Rita de Cássia Tarifa. A cessão de útero e suas implicações na ordem contratual. São Paulo, 2013. 7 CAMARGO, Juliana Frozel de. Reprodução humana: Ética e Direito. Campinas, 2003, p. 124. 8 GOLDIM, José Roberto. A maternidade Substitutiva. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 12

Para o doutrinador Eduardo Leite9, a gestação substituta como uma técnica de reprodução assistida em que se apela a uma terceira pessoa para assegurar a gestação quando o estado do útero materno não permite o desenvolvimento normal do ovo fecundado ou quando a gravidez apresenta um risco para a mãe. Já para a doutrinadora Juliana de Camargo10, existem duas formas de gestação de substituição, “A gestação de substituição pode dar-se através da mãe substituta, suplente portadora – quando a mulher alberga o embrião, levando a termo a gravidez; e a maternidade subrogada, gestação de substituição, que ocorre quando, além de ser a gestadora do embrião, a mulher é também a doadora do óvulo, ou seja, do material genético.”

Entende-se, então, que a gestação de substituição é uma variante da fertilização in vitro, ou seja, o procedimento de fecundação é realizado em laboratório, mas ao invés de introduzir na mãe genética, implanta-se o embrião no útero de uma mulher escolhida pelo casal.

3. Da necessária regulamentação jurídica, as normas do Conselho Federal de Medicina – Resolução n° 2013/13

Anota-se que o Brasil ainda não possui legislação específica que regule a reprodução assistida, e os julgados que tratam sobre o tema ainda são raros no país11. Diante da falta de legislação específica sobre a reprodução assistida, o Conselho Federal de Medicina produziu a Resolução n° 2013/13 a qual visa orientar os médicos quanto às condutas a serem adotadas diante dos problemas decorrentes da prática da reprodução assistida, normatizando as condutas éticas a serem obedecidas nestes casos12.

9 LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações artificiais e o direito: aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo, 1995, p. 66. 10 CAMARGO, Juliana Frozel de. Reprodução humana: Ética e Direito. Campinas, 2003, p. 123. 11 ALDROVANDI, Andrea; FRANÇA, Danielle Galvão de. A reprodução assistida e as relações de parentesco. Revista Jus Navigandi, 2002, Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 12 ZARA, Gladys. Barriga de aluguel ainda não possui regulamentação no Brasil. Consultor Jurídico. [s.l.], 2013. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 13

Frise-se que a Resolução mencionada é uma norma a ser obedecida pelos médicos, não possuindo força de lei13. A resolução estabelece que esta modalidade de gestação é admissível quando se constate a existência de um problema médico que impeça ou contraindique a gestação por meios ordinários. Vedando assim a utilização da gestação de substituição por mera vontade ou discricionariedade14. Nos casos de gestação substituta, conforme Resolução deve haver um laço de parentesco até o 4º grau, com a doadora genética, dentro do limite etário de 50 (cinquenta) anos. De acordo com Goldim15 a obrigatoriedade do vínculo familiar entre a mãe social e a mãe gestacional, tem por base manter este procedimento entre pessoas previamente ligadas, eliminando a possibilidade de exploração comercial. Esta proposta de maternidade substitutiva, contudo, irá gerar confusão e ambiguidade de papéis familiares. A Resolução reitera, ainda, que a gestação não pode apresentar caráter lucrativo ou comercial. Aliás, a comercialização do corpo ou parte dele é proibida constitucionalmente pelo §4° do art. 199 da Constituição Federal16. À respeito da filiação, em curiosa determinação a Resolução estabelece que a clínica tenha uma garantia de que a criança venha a ser registrada em nome dos “pais genéticos”, que mais tecnicamente haveria de se entender como os contratantes da gestação de substituição17. Para Cunha e Domingos, parte do que consta do conteúdo da Resolução está relacionado a aspectos jurídicos que vão muito além do escopo da normativa da entidade de classe médica, vez que atinge aspectos jurídicos de suma relevância.

13 SOUZA, Marise Cunha de. As técnicas de Reprodução Assistida. A barriga de aluguel. A definição da Maternidade e da Paternidade. Bioética. Revista da EMERJ, 2010, p. 357. 14 CUNHA, Leandro Reinaldo da; DOMINGOS, Teresinha de Oliveira. Reprodução humana assistida: A resolução 2013/13 do Conselho Federal de Medicina – CFM. Revista de Direito Brasileiro, 2013, p. 283. 15 GOLDIM, José Roberto. A maternidade Substitutiva. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 16 SOUZA, Marise Cunha de. As técnicas de Reprodução Assistida. A barriga de aluguel. A definição da Maternidade e da Paternidade. Bioética. Revista da EMERJ, 2010, p. 357. 17 CUNHA, Leandro Reinaldo da; DOMINGOS, Teresinha de Oliveira. Reprodução humana assistida: A resolução 2013/13 do Conselho Federal de Medicina – CFM. Revista de Direito Brasileiro, 2013, p. 285. 14

4. O Projeto de Lei n° 1.184/2003

O projeto de Lei 1.184 foi apresentado ao Plenário do Congresso Nacional em 3 de Junho de 2003 porém, ainda hoje não foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e já possui mais de oito projetos apensados à ele. Em 2012, o atual relator Dep. João Campos (PSDB-GO) apresentou requerimento àquela comissão, na tentativa de requerer a realização de audiência pública para debater o referido projeto que define normas para a realização de inseminação artificial e fertilização in vitro, proibindo a gestação de substituição (barriga de aluguel) e os experimentos de clonagem radical. Em relação à gestação de substituição, o projeto prevê que: Art. 3° É proibida a gestação de substituição. Art. 19 Constituem crimes: (...) III – participar do procedimento de gestação de substituição, na condição de beneficiário, intermediário ou executor da técnica: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa;

5. Aspectos bioéticos e de direitos humanos

A bioética é um neologismo que significa ética da vida, adequação da realidade da vida com a da ética, para Camargo18. “(...) a bioética é hoje, também, uma disciplina voltada para o biodireito e para a legislação, com a finalidade de garantir mais humanismo nas ações e relações médico-científicas. A bioética apresenta-se, ao mesmo tempo, como reflexão e ação. Reflexão, porque tem o diferencial de realmente parar para refletir sobre as consequências psicossociais, econômicas, políticas e éticas advindas dos avanços da ciência; e Ação, porque, após a reflexão, é capaz de posicionar-se de forma a assegurar o sucesso desse tipo de relação, impondo limites e ditando regras que estabeleçam um novo contrato social entre povo, médicos, governos, etc”

A utilização das técnicas de reprodução assistida, deve-se levar em conta a proibição de toda e qualquer conduta que sugira a possibilidade da pessoa humana ser tratada como coisa, em respeito ao princípio da dignidade humana. Para Sarlet19, um indivíduo, pelo só fato de integrar o gênero humano, já é detentor de dignidade. Esta é qualidade ou atributo inerente a todos os

18 CAMARGO, Juliana Frozel de. Reprodução humana: Ética e Direito. Campinas, 2003, p. 62. 19 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988. 9.ed. rev. Atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. 15 homens, decorrente da própria condição humana, que o torna credor de igual consideração e respeito por parte de seus semelhantes. Segundo Badalotti20, o princípio da dignidade humana deve ser observado principalmente nos casos que envolvem a maternidade de substituição, tendo em vista que a instrumentalização da pessoa humana pode fazer com que ela seja tratada como meio e não como fim em si mesma. A doutrina nos ensina que21, Todas essas tecnologias, associadas ao discurso psicanalítico, filosófico e jurídico, nos remetem hoje à compreensão de que filiação, paternidade e maternidade são funções exercidas. Em outras palavras, não interessa tanto quem gerou ou forneceu o material genético, prova isso o milenar instituto da adoção - pai ou mãe é quem cria. Daí a expressão já absorvida pelo ordenamento jurídico brasileiro: parentalidade socioafetiva, que é também geradora de direitos e obrigações.

Ainda segundo o autor, quem sabe no futuro próximo, nesta mesma esteira da evolução do pensamento, alugar um útero para gerar o próprio filho, para aqueles que não querem adotar, passará da clandestinidade para uma realidade jurídica? Eis aí uma ética que se deve distinguir da moral estigmatizante e excludente direitos.

20 BADALOTTI, Mariangela. Aspectos bioéticos da reprodução assistida no tratamento da infertilidade conjugal. Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 2010, p. 483. 21 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Barriga de aluguel: o corpo como capital. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 16

DOCUMENTÁRIO

5.1. Sumário Executivo

5.1.1. Objetivo Entendermos a ausência de legislação específica da “barriga de aluguel” no Brasil, analisarmos a Resolução 2003/03 do Conselho Federal de Medicina e demonstrarmos as consequências sociais e morais dessa modalidade de reprodução humana.

5.1.2. Viabilidade O documentário é voltado para o meio acadêmico, principalmente aos estudantes do curso de Direito, o público em geral e para aqueles que se interessam e querem saber mais sobre o tema “barriga de aluguel”, como funciona e qual a regulamentação atinente.

5.1.3 Estratégia Convidamos todos àqueles interessados, os nossos colegas e colaboradores da Universidade Católica de Brasília, bem como as pessoas envolvidas no presente trabalho para assistirem à apresentação do documentário.

5.2. Roteiro Sequências Fontes Pesquisa/ Imagens/Vídeo/

(BREVE HISTÓRICO) Personagens/ Fotos/ Arquivos Locações

Entrevistados Iconográficos

ABERTURA

Imagens de 1. Imagens de barrigas Imagens – Fonte: barrigas de de mulheres grávidas. Internet grávidas

2. Vinheta de abertura Imagem de uma Vinheta – Fonte: com o tema do barriga de grávida 17

documentário. Internet com a frase Aluga- se e o tema do documentário.

3. Narração do sonho Narração em áudio do casal ter filhos e com imagens encontrar dificuldades Narração em áudio retiradas da para gerá-los. internet.

4. Relato da Fernanda sobre seu problema de saúde que impossibilitou a gestação e a Vídeo com possibilidade de ser Entrevista com a GO entrevista da mãe pelo método da Fernanda (mãe) reprodução assistida Fernanda. no Hospital das Clínicas em São Paulo.

Narração em áudio 5. Narração acerca do Narração em áudio com imagens conceito de Gestação com imagens DF retiradas da em útero substitutivo retiradas da internet internet

6. Relato da Dr° Carla Entrevista com a Drª sobre o procedimento Vídeo com a Carla (médica de da reprodução entrevista da Dr° DF reprodução assistida. Carla. assistida)

7. Narração sobre a Resolução 2013/2013 do Conselho Federal Narração em áudio de Medicina que Narração em áudio com imagens da DF autoriza a gestação internet em útero substitutivo e as clínicas do país. 18

8. Relato da Dr° Carla sobre o útero de Vídeo com a substituição e os Entrevista com a Drª entrevista da Drª casos que a resolução Carla (médica de Carla. autoriza o reprodução procedimento. assistida)

9. Relato da Dr° Carla Entrevista com a Drª Vídeo com a sobre quem pode Carla (médica de entrevista da Drª DF realizar o útero de reprodução Carla substituição. assistida)

10. Relato da Fernanda sobre a escolha da mãe para ser a barriga de Vídeo com a Entrevista com a GO aluguel e a emoção entrevista da Fernanda (mãe) quando pegou o Fernanda. resultado do exame confirmando a gravidez.

11. Relato do Dr° Hiran sobre o útero Entrevista com Dr. Vídeos com a substitutivo ser um ato Hiran (especialista entrevista do Dr. DF sublime e não oneroso em bioética) Hiran que poderia ocorrer demandas judiciais.

12. Relato da Dr° Entrevista com Dra. Vídeo com a Carla acerca de países Carla (médica de entrevista da Dra. DF que, diferente do reprodução Carla Brasil, autorizam o assistida) útero substitutivo oneroso.

13. Depoimento do Dr. Entrevista com Dr. Vídeo com o Hiran sobre o que a Hiran (especialista depoimento do Dr. Bioética diz acerca 19

dessas questões. em bioética) Hiran

14. Narração sobre a possibilidade da Imagens da reprodução assistida Narração em áudio DF internet para casais homoafetivos.

15. Relato da Dra. Carla explicando como Dra Carla, médica Vídeo com o ocorre a reprodução especialista em depoimento da Dra GO assistida com casais reprodução humana Carla homoafetivos

16. Narração da doação de útero deve Imagens com Imagens dos ser não onerosa, e dos anúncios de anúncios anúncios de comércio comércio de útero ilegal na internet. substitutivo. Fonte:

17. Relato do Dr. Hitan Vídeo com a sobre que por dinheiro Entrevista com Dr. entrevista do Dr. DF faz se tudo. Hiran (especialista de Hiran. bioética)

18. Narração de citação da doutrinadora Maria Helena Diniz. Sobre Narração em nem tudo que é Narração em áudio DF áudio. cientificamente possível é juridicamente admissível.

19. Relato da Dra. Raquel sobre a Entrevista com Dra.

insegurança jurídica Raquel (promotora Vídeo com a da falta de legislação de justiça do entrevista da Dra. DF na gestação de Ministério Público) Raquel. substituição.

20

20. Relato do Dr. Hiran Entrevista com Dr. Vídeo com a sobre os princípios da Hiran (especialista entrevista do Dr. bioética. em bioética) Hiran.

21. Relato da Dra. Raquel sobre a Entrevista com a Dra. preocupação do Vídeo com a Raquel (promotora Ministério Público nos entrevista da Dra. DF de justiça do casos de barriga de Raquel. Ministério Público). aluguel é defender os direitos da criança.

22. Narração sobre a ausência de lei Narração em específica para a Narração em áudio DF áudio. gestação em útero substitutivo.

23. Relato da Dra. Carla sobre os Entrevista com a Dra. Vídeo com avanços da tecnologia Carla (especialista entrevista da Dra. e o direito não em reprodução Carla. acompanhar esses assistida) avanços.

24. Narração sobre o projeto de lei Narração em áudio 1184/2003 que proíbe Narração em áudio com imagens do GO a gestação de projeto de lei substituição.

25. Relato do Deputado João Entrevista com o Vídeo com a Campos sobre a Deputado João entrevista do necessidade de uma GO Campos. (Deputado Deputado João lei para regular os Federal – PSDB/GO) Campus. casos de barriga de aluguel.

26. Vídeo das crianças Emanuelle e Júlia que Imagens das Vídeo das crianças nasceram da barriga crianças solidária da avó

27. Relato da Vídeo da Fernanda Vídeo da Fernanda GO Fernanda 21

agradecendo a mãe com sua mãe. com sua mãe. por ter gerado as suas filhas.

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DIÁRIO DE BORDO

A ideia de produzir este documentário partiu de uma integrante do grupo, quando a mesma assistiu uma reportagem em comemoração aos 25 anos do Superior Tribunal de Justiça que tratava do tema “Barriga de Aluguel”. A formação do grupo se deu quando a idealizadora do projeto Luana Serpa, em uma conversa informal a respeito do tema, convidou aquela que seria a primeira a integrar o grupo, Gabriela Ribeiro. Mais tarde o convite foi estendido ao Rogério Pizzato e a Rosirene Martins, assim nascia o grupo. A partir desse momento começamos a amadurecer a ideia do documentário. Nota-se que a grande problemática do tema é a falta de legislação específica, que abre brechas para a comercialização do útero. A escolha do tema ficou delimitado, como: “ A ausência de legislação específica da “barriga de aluguel” no Brasil”. Nesse estágio escolhemos como nosso orientador o professor Júlio Edstron que em primeiro contato já nos incentivou a realizar o documentário, enviando material sobre o tema e também nos colocou em contato com o primeiro caso de útero substituto no Brasil. Com relação à pesquisa de campo, o foco era encontrar um caso real em que houvesse ocorrido o pagamento do útero para a gestação da criança (“barriga de aluguel”), houve muitas dificuldades, haja vista tal caso ser vedado pela Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), assim nenhum casal ou barriga nos concederia uma entrevista. A ajuda do nosso orientador Júlio Edstron foi muito importante nessa etapa, pois sempre que surgia alguma dúvida entrávamos em contato com ele. Ele por sua vez, muito solícito e acessível, não mediu esforços para nos orientar. Na etapa seguinte, nos reunimos para a elaboração das perguntas que seriam feitas aos entrevistados. Optamos por fazer perguntas que mostrassem a dificuldade jurídica e social dessa modalidade de reprodução humana. Em seguida, começamos a selecionar as pessoas que seriam entrevistadas. Foi o momento mais importante do trabalho e o que encontramos maior dificuldade. Deparamos-nos com várias negativas. 23

Em meio a muita dificuldade, a primeira entrevista que conseguimos foi a do Deputador João Campos, relator da PL 1.184/2003. Em seguida realizamos a entrevista com a Promotora Raquel Tiveron. Logo após, também conseguimos marcar com a médica especialista em reprodução humana, Dra. Carla. Uma das últimas entrevistas foi com o Dr. Hiran, especialista em bioética, indicado através do Professor Diaulas, diretor do curso de Direito da Universidade Católica de Brasília. Para coroar nosso trabalho fomos em busca da entrevista de um caso real de útero de substituição. Em pesquisas realizadas encontramos um caso em Santa Helena do Goiás, em que a avô gerou suas netas. Assim, primeiramente conseguimos o contato da advogada do caso que depois nos passou o telefone da Fernanda (mãe genética). Com todas as entrevistas concluídas, demos início a montagem do vídeo junto com o restante dos materiais coletados. E por fim, realizamos a produção do roteiro definitivo. Quando optamos pela modalidade de documentário para nosso trabalho de conclusão de curso, sabíamos que os custos para a produção do mesmo não seria barato, o grupo gastou o valor de dois mil e novecentos reais para a confecção do documentário, além dos gastos com mobilidade e recursos para para Santa Helena do Goiás, localizada a 600 (seiscentos) quilômetros de Brasília. Acreditamos que todo investimento e esforço foram válidos, pois almejamos um bom desfecho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os avanços tecnológicos na área de reprodução humana, viabilizou que casais que não pudessem ter filhos devido a algum problema, pudessem tê-los com a transmissão de suas cargas genéticas, isso é o que possibilita a gestação de substituição. Essa técnica de reprodução traz consigo conturbadores problemas de diferentes ordens, principalmente no que diz respeito a família, novos conceitos são introduzidos para explicar a filiação decorrente da gestação de substituição. Entende-se, que a gestação de substituição é uma variante da fertilização in vitro, ou seja, o procedimento de fecundação é realizado em laboratório, mas ao invés de introduzir na mãe genética, implanta-se o embrião no útero de uma mulher escolhida pelo casal. Do ponto de vista jurídico, o grande problema enfrentado por casais que optam por essa modalidade de gestação é a falta de legislação específica. Esse contexto acaba por dar margens a diferentes interpretações do que pode e do que não pode acontecer na gestação de substituição. Nesse ponto, a Resolução n° 2013/13 do Conselho Federal de Medicina, a qual visa delimitar parâmetros científicos e éticos para as modalidades de reprodução assistida. Ocorre que, como tal resolução não possui o condão de lei, ela é muitas vezes descumprida, como por exemplo acontece de mulheres cederem seu útero mediante pagamento. Em verdade, o que se propõe não é criar barreiras ao desenvolvimento científico e sim, ter como base o respeito ao ser humano, pois, seria incoerente pensar sob o contexto da humanidade e de outro lado agredir a dignidade humana. Assim, a necessidade de legislação jurídica dos valores bioéticos torna- se imprescindível para a tutela dos valores humanos fundamentais, principalmente em relação ao feto que é a parte mais frágil da situação. Devemos, lutar para que a dignidade da pessoa humana seja respeitada pelas ciências médicas e através de legislação própria, definir conceitos, estabelecer limites e regulamentar tais práticas. 25

Diante de tais fatos, percebe-se que o direito deve repensar os modelos de maternidade, paternidade e os vínculos de filiação. Deve ainda, o legislador estabelecer normas sobre essa nova realidade fática que está posta na nossa sociedade, com o intuito de resolver possíveis conflitos e estabelecer limites que permitam um controle mais efetivo da vida.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ZARA, Gladys. Barriga de aluguel ainda não possui regulamentação no Brasil. Consultor Jurídico. [S.L.], 2013. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015.

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ANEXOS

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REFERENCIAL TEÓRICO

(Rosirene Martins)

O desejo de ter filhos não é apenas resultante do instinto de reprodução; atualmente, ninguém o contestaria, este desejo é reconhecido como uma aspiração legítima do casal. Quando esta aspiração não pode ser atingida naturalmente, através da procriação carnal, entra em cena a procriação artificial.22

1.1 Reprodução Humana Assistida

O recurso às terapêuticas da luta contra a esterilidade corresponde a um desejo profundo e perseverante do casal estéril, desejo este que é mantido pela evolução espetacular da ciência e alimentado pelas descobertas dos métodos motivadas pelas novas perspectivas e novos progressos que surgem ininterruptamente. A mãe de substituição aparece como o derradeiro recurso, quando todos os demais tratamentos fracassaram e como a solução mais rápida e a menos constrangedora ao casal que procura um remédio.23 Esse percurso feito pelo casal até tomarem a decisão de recorrer a uma mulher para gerar o tão sonhado filho, leva consigo uma carga excessiva de emoções e dúvidas. Na mesma proporção que cresce o número de centros de reprodução e a utilização das técnicas de fecundação em laboratório, aumenta a preocupação dos filósofos e juristas, a possibilidade legal dessas técnicas, que ampare não somente as pessoas que recorrem a esses meios para gerar, como aos nascidos através desses métodos. Conforme diz Léo Pessini “A discussão ética e jurídica em relação à RMA no Brasil começa a se tornar mais necessária à medida que as práticas vão se multiplicando”.24 O conjunto da intervenção das técnicas clama, quer da parte dos médicos, quer da parte de outras pessoas, uma decisão que era outrora, reservada à intimidade do casal. Provocar um nascimento através destas técnicas de

22LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações Artificiais e o Direito: Aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.p.146. 23Idem,p.188. 24SILVA, Reinaldo Pereira e Silva. Bioética e direitos humanos/Reinaldo Pereira e Silva, Fernanda Brandão Lapa. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2002.p.174. 30 reprodução artificial é um ato que gera interrogações éticas. Não pelo fato de tratar-se de algo artificial, mas em decorrência da indefinição do direito da criança, do direito da família, do direito dos pais e do direito do embrião, até o presente momento aguardando um posicionamento legal preciso.25

1.2 Aspectos Éticos

A ética na reprodução assistida se faz necessária em todo o processo de procriação. Segundo Eduardo Leite: “A moral e o direito positivo estão suficientemente aptos a enfrentar estas novas questões? Ou as novas técnicas estão a exigir novas regras capazes não só de contornar os problemas daí decorrentes, como também estabelecer limites de aplicação dos novos conhecimentos?” 26 Uma das grandes questões que se faz presente no momento, é em relação ao útero substitutivo que, a priori, é visto pela sociedade com certa aceitação quando se trata de ato de altruísmo, ou seja, a gestação é levada a termo por uma parente de até 4° grau da mulher infértil. Já quando se “paga” para outra mulher gerar o filho, essa forma de “aluguel” de útero é que demanda grandes questionamentos éticos e jurídicos quando o casal recorre a ela para ter o filho.

2. ÚTERO SUBSTITUTIVO

A maternidade de substituição faz, assim, uma forma de exploração do corpo da mulher (quando há remuneração), que a evolução dos costumes tinha reduzido ao nada. Porém, pode acontecer que esta substituição ocorra por simples solidariedade, não de forma comercial, como é o caso de uma mulher emprestar seu corpo para carregar o filho de sua irmã.27 As indicações do empréstimo de útero são essencialmente médicas: infertilidade vinculada a uma ausência (congênita ou adquirida) de útero, ou a uma patologia uterina de qualquer tratamento cirúrgico, ou contra-indicações

25LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações Artificiais e o Direito: Aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.p.137. 26LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações Artificiais e o Direito: Aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.p.131. 27 CAMARGO, Julia Frozel de. Reprodução humana ética e direito. Campinas, São Paulo: Edicamp, 2003.p.128. 31 médicas a uma eventual gravidez: insuficiência renal severa, ou diabetes grave insulino-dependente.28 Como foi visto, no Brasil, esta é a forma de mãe de substituição prevista no art.1º da Seção VII sobre a gestação de substituição (doação temporária do útero), resolução CFM nº 2.013/2013, que assim se manifestou: “As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família de um dos parceiros num parentesco consanguíneo até o quarto grau (primeiro grau – mãe; segundo grau – irmã/avó; terceiro grau – tia; quarto grau – prima), em todos os casos respeitada a idade limite de até 50 anos.”.29 Dessa forma, segundo o entendimento de Eduardo Leite:

A grande censura endereçada ao procedimento continua sendo o aspecto comercial do “aluguel de útero”. Não parece compatível com a dignidade humana que a mulher utilize seu útero para tirar proveito financeiro e, muito menos, que se preste como incubadora para a criança de uma outra mulher.

Diante de todos os conflitos surgidos com a utilização dessa forma de fertilização, a proibição da sua prática em nosso país se faz necessária. Conforme diz Heloisa Helena Barbosa, “O atendimento do desejo de um casal ter filhos não justifica a gestação por uma estranha, usando seu corpo e ensejando um provável conflito que a todos fará sofrer e terá como maior prejudicado aquele que vier a nascer”.30

2.1 Bioética e Direito Humanos

Ademais, faz se necessário que ao realizar as técnicas da reprodução assistida, a bioética esteja inserida em tudo o processo para que os direitos humanos não sejam violados. Portanto, surgindo a partir da ética nas ciências biológicas, a bioética é hoje, também, uma disciplina voltada para o biodireito e para a legislação, com a finalidade de garantir mais humanismo nas ações e relações médico- cientificas. A bioética apresenta-se, ao mesmo tempo, como reflexão e ação. Reflexão, porque tem o diferencial de realmente parar para refletir sobre as

28 LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações Artificiais e o Direito: Aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.p.67. 29 RESOLUÇÃO CFM Nº 2.013/2013 (Publicada no D.O.U. de 09 de maio de 2013, Seção I, p.119) 30 SILVA, Reinaldo Pereira e Silva. Bioética e direitos humanos/Reinaldo Pereira e Silva, Fernanda Brandão Lapa. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2002.p.182. 32 consequências psicossociais, econômicos, políticas e éticas advindas dos avanços de ciência; e ação, porque, após a reflexão, é capaz de posicionar-se de forma a assegurar o sucesso deste tipo de relação, impondo limites e ditando regras que estabeleçam um novo contrato social entre povo, médico, governo, etc.31 É claro que a bioética não significa estagnação e, portanto, estará sempre em transformação, guiada pela evolução da ciência e pela transformação da sociedade. E deverá acompanhar estes avanços, tendo como principal objeto a garantia da integridade do ser humano; e como linha mestra, o princípio básico da defesa da dignidade humana.32

2.2 Resolução CFM nº 2.013/2013

Atualmente, a comunidade médica científica tem como parâmetro na Reprodução Assistida a resolução nº 2.013/2013 do Conselho Federal de Medicina que regulamenta o uso dessas técnicas. Uma dessas alterações veio a ampliar o grau de parentesco para a gestação em útero substitutivo. Diante deste contexto, a grande problemática e, sem dúvida, o descompasso entre o desenvolvimento das técnicas e as regras jurídicas, ou seja, quanto mais cresceram as soluções para casos de esterilidade, maior se torna o problema jurídico. Comprova-se a lacuna jurídica, a incompletude da ordem jurídica nesta matéria.33

3 PROJETO DE LEI 1184/2003

Nesse sentido, em 3 de Junho de 2003, foi apresentado ao Plenário do Congresso Nacional o projeto de lei n° 1184, de autoria do Senado Federal, que dispõe sobre a Reprodução Assistida, definindo normas para a realização de inseminação artificial e fertilização in vitro, proibindo a gestação de substituição e os experimentos de clonagem radical.34

31 CAMARGO, Julia Frozel de. Reprodução humana ética e direito. Campinas, São Paulo: Edicamp, 2003.p.65. 32 CAMARGO, Julia Frozel de. Reprodução humana ética e direito. Campinas, São Paulo: Edicamp, 2003.p.7. 33 CAMARGO, Julia Frozel de. Reprodução humana ética e direito. Campinas, São Paulo: Edicamp, 2003.p.154. 34 FERNANDES, Silvia da Cunha. As técnicas de reprodução humana assistida e a necessidade de sua regulamentação jurídica. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. P. 123. 33

No entanto, o desejo de ter um filho, por diversos motivos, é inato à natureza humana. Porém, devido algumas patologias, ocorre a infertilidade tornando o sonho da maternidade algo impossível. Nesses casos, o casal poderá recorre à reprodução assistida. O que se vislumbra no momento, é o grande descompasso entre a ciência e o direito. As novas situações geradas pelo avanço da biotecnologia, como no caso do útero substitutivo, demanda com urgência de uma legislação que venha a resguardar a dignidade humana da criança e trazer segurança jurídica, visto que, a resolução é ato normativo e não supre a falta da legislação.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMARGO, Julia Frozel de. Reprodução humana ética e direito. Campinas, São Paulo: Edicamp, 2003.

FERNANDES, Silvia da Cunha. As técnicas de reprodução humana assistida e a necessidade de sua regulamentação jurídica. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.

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SILVA, Reinaldo Pereira e Silva. Bioética e direitos humanos/Reinaldo Pereira e Silva, Fernanda Brandão Lapa. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2002.

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REFERENCIAL TEÓRICO

(Gabriela Silva Ribeiro)

1. A barriga de aluguel na reprodução assistida

A Barriga de aluguel é uma expressão popularmente conhecida, a qual pode ganhar outras denominações como sub-rogação do útero, maternidade sub-rogada ou ainda, maternidade substituta e doação provisória do útero. A reprodução assistida através da sub-rogação do útero consiste em uma mulher, ceder seu útero para gestar e dar à luz a uma criança e posteriormente, entregá-la a outro casal. Pelas regras constantes na resolução nº. 2.013/2013 do Conselho Federal de Medicina, a mesma deve ter caráter altruístico, ou seja, não deve visar o lucro. Para aprofundarmos nestes conceitos, precisamos primeiro definir a reprodução assistida. Nas palavras Paiano, Ferrari e Espolador (2013): "(...) A reprodução assistida, que pode ser entendida como um conjunto de técnicas que favorecem a fecundação humana a partir da manipulação de gametas e embriões, objetivando principalmente combater a infertilidade e proporcionando assim o nascimento de uma nova vida humana. Tal procedimento pode-se dar através da inseminação artificial, da fecundação artificial in vitro (FIV), da transferência intratubária de gametas (GIFT), da transferência de zigoto nas trompas de falópio (ZIFT) e da transferência em estágio de pró-núcleo (PROST). Também pode ser classificada como homóloga e heteróloga, sendo a primeira àquela que se dá quando não há interferência de material genético de terceiro na formação do embrião, e a segunda na qual há doação do material genético de terceiro."

Esta forma de reprodução humana possui uma grande importância social, pois garante àqueles que por alguma razão são estéreis o direito de procriar e constituir uma família junto de seus descendentes. No caso da gestação em útero substituto Frediani (2000) a define como: “Trata-se de técnica através da qual, terceira pessoa se propõe a gestar embrião nela implantado, fecundado "in vitro", com material de outra mulher, ou seja, da mãe biológica, com o propósito de entregá- lo à mesma, finda a gestação, encontrando amparo legal na regra prevista no art. 9.º, da Lei 9.434/97, desde que a título gracioso”.

Quanto as causas e formas possíveis de gestação em útero substitutivo, nas lições de Paiano, Ferrari e Espolador (2013): "O empréstimo de útero pode ocorrer em três situações, primeiro pela impossibilidade de produção de óvulos e útero saudável; segundo 36

quando há incapacidade de produção de óvulos e ausência de útero ou lesão uterina incompatível com a gestação e por fim quando há a cumulação das duas incapacidades, por exemplo, no caso dos casais homoafetivos masculinos.”

No Brasil, nos casos da reprodução assistida para a gestação em útero substitutivo, de acordo com a regra do Conselho Federal de Medicina, as mulheres que irão gestar o embrião, devem ter, um laço de parentesco até o 4º grau, com a doadora genética, salvo se houver autorização do Conselho Regional de Medicina para os demais casos em que não haja o parentesco consanguíneo, por exemplo, casos de casais homoafetivos masculinos.

2 - Da resolução nº 2.013/2013 do Conselho Federal de Medicina

Conforme relata Paiano, Ferrari e Espolador (2013), a maternidade de substituição não está devidamente regulamentada pelo ordenamento jurídico brasileiro. Esse vazio normativo gera uma real insegurança. A única regulamentação existente a respeito da maternidade de substituição vem do Conselho Federal de Medicina, que é a resolução nº 2.013/2013. Seu objetivo é propiciar o uso das técnicas de reprodução assistida embasado em padrões técnicos como também em princípios éticos e morais. Segundo ela, o médico está autorizado a praticar a gestação por substituição nos casos em que um problema de saúde impeça ou contraindique a gestação da mãe que tem o projeto parental. Para isso, a doação de útero deve ser não lucrativa ou não comercial e a doadora deve ser parente de até 4º grau com aquela que pretende ser mãe, respeitada a idade limite de até 50 anos. Importante ressaltar, que essa resolução não tem força de lei, porém tem sido o único respaldo aos magistrados para bem aplicar a justiça aos casos da maternidade de substituição.

3 - O projeto de lei 1.184/2003 - Dispõe sobre Reprodução Assistida

O projeto de Lei 1.184 foi apresentado ao Plenário do Congresso Nacional em 3 de Junho de 2003 porém, ainda hoje não foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e já possui mais de oito projetos apensados à ele. 37

Em 2012, o atual relator Dep. João Campos (PSDB-GO) apresentou requerimento àquela comissão, na tentativa de requerer a realização de audiência pública para debater o referido projeto que define normas para a realização de inseminação artificial e fertilização in vitro, proibindo a gestação de substituição (barriga de aluguel) e os experimentos de clonagem radical. Em relação à gestação de substituição, o projeto prevê que: Art 3° É proibida a gestação de substituição.

Art. 19 Constituem crimes: (...) III – participar do procedimento de gestação de substituição, na condição de beneficiário, intermediário ou executor da técnica: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa;

4 - Do princípio da dignidade da pessoa humana

Apesar da resolução do Conselho de Medicina que proíbe a gestação por substituição de forma onerosa, há no Brasil, um comércio ilegal oferecido livremente na internet. Um comércio clandestino onde são negociados, óvulos, sêmens e barrigas de aluguel. Otero (2010) quando se refere aos doutrinadores que defendem a gratuidade da cessão do útero diz que: “Com efeito, segundo eles, a atribuição de caráter econômico ao contrato de gestação por outrem violaria o princípio da dignidade da pessoa humana, já que o objeto da contratação está atrelado à personalidade dos contratantes e da própria criança, e, por conta disso, não admite contraprestação, representativa de uma mercantilização destas personalidades. A gestante e principalmente a criança estariam reduzidas a condição de objeto.”

Tratar a criança como objeto de mercancia, é um ato totalmente abominável, além disso, outros problemas podem advir dessa contratação, como alerta Silvio de Salvo Venosa ( 2006) "O embrião de um casal pode ser transferido para o útero de outra mulher, para possibilitar a gestação, impossível ou difícil na mãe biológica. Esse fenômeno traz á baila a questão ética, moral e jurídica das mães de aluguel ou mãe sub-rogada, conforme estas aceitem o encargo sob pagamento ou sob motivos altruístas. Essa matéria traz a baila à discussão sobre a declaração de maternidade ao lado da paternidade que a legislação também não contempla, colocando mais uma vez na berlinda o princípio mater est. Imposta saber, em cada caso, se houve o consentimento da mulher que cedeu o útero e se reconheceu a maternidade alheia."

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Para Fabriz (2003), a dignidade da pessoa é própria dela mesma, e diz respeito a qualquer indivíduo, sendo que o ser (liberdade) deve prevalecer sobre o ter(propriedade). Ainda segundo ele, a liberdade científica não deve ser censurada, o que não importa dizer que a sua atuação possa ir às raias da transgressão aos princípios do direito à vida e da dignidade da pessoa humana.

4 - Da bioética

Afim de definir primeiramente o que é a bioética, Maria Helena Diniz (2002), traz que a bioética seria, em sentido amplo, uma resposta da ética às novas situações oriundas da ciência no âmbito da saúde, bem como um conjunto de reflexões filosóficas e morais sobre a vida em geral e sobre as práticas medicas em particular. Já para Fabriz (2003) a bioética além de ser uma resposta da ética, ela preenche os vazios deixados pela legislação: “Assim, a bioética deve preencher esses desvãos da legislação junto aos princípios que norteiam os direitos humanos. (...) vem no sentido de preencher os desvãos que emergem dos limites expressos na falta de regulamentação específica e impossibilidade de sanção aos casos inéditos”.

Enquanto de um lado o direito deixa vazios legislativos, de outro a biotecnologia avança espantosamente, neste sentido Fabriz (2003), acrescenta: “As novas biotecnologias representam um desafio para o direito, tendo este por tarefa primordial não somente assegurar o direito à vida e a dignidade humana, mas também a de garantir a integridade das gerações futuras."

Para as questões do útero substitutivo, a bioética proporciona, com seus princípios, um direcionamento ético, de tal forma que proteja mães e em especial o feto em suas dignidades. No entendimento de Maria Helena Diniz (2002 p. 13): "A bioética deve ser um estudo deontológico, que proporcione diretrizes para o agir humano diante dos dilemas levantados pela biomedicina, que giram em torno dos direitos entre a vida e a morte, da liberdade da mãe, do futuro ser gerado artificialmente [...] da necessidade de preservação de direitos das pessoas envolvidas e das gerações futuras" . Ainda segundo a autora (2002), o maior paradigma a ser seguido é a dignidade da pessoa humana, fundamento contido no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal, do qual decorre o fato de que a bioética e Biodireito não 39 podem admitir conduta que venha a reduzir a pessoa humana a condição de coisa, retirando dela seu direito a uma vida digna. Neste sentido, Maria Helena Diniz (2002) ainda explicita: “A ciência é poderoso auxiliar para que a vida do homem seja cada vez mais digna de ser vivida. Logo, nem tudo que é cientificamente possível é moral e juridicamente admissível”. O que sabemos é que o direito não tem conseguido acompanhar os avanços da medicina, e a sociedade brasileira carece da intervenção deste, afim não de impedir os avanços da ciência mas de limitar e o uso de tais descobertas pautado em critérios morais, culturais e éticos. Para Maria Helena Diniz (2002): "A realidade demonstra que os avanços científicos do mundo contemporâneo têm enorme repercussão social, trazendo problemas de difícil solução, por envolverem muita polêmica, o que desafia a argúcia dos juristas e requer a elaboração de normas que tragam respostas a abram caminhos satisfatórios, atendendo às novas necessidades ora surgidas e defendendo a pessoa humana da terrível ameaça da reificação." . Otero (2010) conclui ainda que a sociedade brasileira encontra-se extremamente despreparada para enfrentar essas questões, além disso a ausência de respaldo jurídico adequado e eficaz, e de parâmetros éticos que possam limitar os avanços tecnológicos empregados na reprodução assistida, que estão cada vez mais inovadores, ocasionando legislações obsoletas, conseqüentemente, abrem espaço para a clandestinidade.

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REFERENCIAL TEÓRICO

(Rogério Pizzato)

1. Os avanços na área de reprodução humana

Segundo a Organização Mundial da Saúde, entre 8% e 15% dos casais têm algum problema de infertilidade, que, com o empreprego de algum dos procedimentos de procriação artificial, poderá ser sanado, possibilitando a desejada gravidez35. Os avanços tecnológicos na área de reprodução humana atingiu o direito de família, modificando a concepção de maternidade e filiação. A procriações artificiais surgiram como alternativas para atender ao desejo do casal estéril de ter filhos36. O tema alcança uma dimensão interdisciplinar envolvendo noções morais, jurídicas, médicas, tecnológicas, religiosas e éticas, bem como o fato de que a utilização dessas novas técnicas afeta diretamente os conceitos de paternidade e maternidade37.

2. A gestação de substituição na reprodução assistida

A Reprodução Humana Assistida é um tema polêmico e atual, que desencadeia debates éticos e questionamentos jurídicos, visto que interfere no processo de procriação natural do homem, fazendo surgir situações até pouco tempo inimagináveis, que desafiam o direito, principalmente no que tange às relações de parentesco, fazendo com que o conceito de filiação seja repensado38. As principais técnicas de reprodução assistida são: a inseminação artificial (homóloga, post mortem ou heteróloga), a fecundação in vitro e as chamadas "mães de substituição".

35 SOUZA, Marise Cunha de. As técnicas de Reprodução Assistida. A barriga de aluguel. A definição da Maternidade e da Paternidade. Bioética. Revista da EMERJ, 2010, p. 349. 36 LOURENZON, Patrícia Miranda. Contrato de gestação de substituição: proibi-lo ou torná-lo obrigatório. Revista de Direito Privado: Rdpriv, 2010, p.107. 37 SOUZA, Marise Cunha de. As técnicas de Reprodução Assistida. A barriga de aluguel. A definição da Maternidade e da Paternidade. Bioética. Revista da EMERJ, 2010, p. 349. 38 ALDROVANDI, Andrea; FRANÇA, Danielle Galvão de. A reprodução assistida e as relações de parentesco. Revista Jus Navigandi, 2002, Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015.

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A reprodução humana assistida pode ser conceituada, como basicamente a intervenção do homem no processo de criação natural, com o objetivo de possibilitar que pessoas com problema de infertilidade e esterilidade satisfaçam o desejo de alcançar a maternidade ou a paternidade39. Para a doutrina40, “A reprodução assistida, que pode ser entendida como um conjunto de técnicas que favorecem a fecundação humana a partir da manipulação de gametas e embriões, objetivando principalmente combater a infertilidade e proporcionando assim o nascimento de uma nova vida humana. Tal procedimento pode-se dar através da inseminação artificial, da fecundação artificial in vitro (FIV), da transferência intratubária de gametas (GIFT), da transferência de zigoto nas trompas de falópio (ZIFT) e da transferência em estágio de pró-núcleo (PROST). Também pode ser classificada como homóloga e heteróloga, sendo a primeira àquela que se dá quando não há interferência de material genético de terceiro na formação do embrião, e a segunda na qual há doação do material genético de terceiro.” Percebe-se de pronto que as variantes da subrogação de útero (gestação de substituição) baseiam-se na fecundação homóloga (material genético dos pais intencionais – socioafetivos) e heteróloga (material genético de terceiros doadores)41.

3. Gestação de substituição

Devido ao fato da chamada “barriga de aluguel” possuir várias designações, nesta pesquisa é adotada a terminologia gestação de substituição, por entender ser a mais adequada. A gestação de substituição, ocorre quando uma mulher concorda em ser inseminada artificialmente, ou receber embriões transferidos, com a compreensão de que criança que irá gestar, ao nascer, será criada pelas pessoas que propuseram este procedimento42. Eduardo de Oliveira Leite43 conceitua, a gestação substituta como uma técnica de reprodução assistida em que se apela a uma terceira pessoa para

39 ALDROVANDI, Andrea; FRANÇA, Danielle Galvão de. A reprodução assistida e as relações de parentesco. Revista Jus Navigandi, 2002, Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 40 PAIANO, Daniela Braga; FERRARI, Geala Geslaine; ESPOLADOR, Rita de Cássia Tarifa. A cessão de útero e suas implicações na ordem contratual. São Paulo, 2013. 41 CAMARGO, Juliana Frozel de. Reprodução humana: Ética e Direito. Campinas, 2003, p. 124. 42 GOLDIM, José Roberto. A maternidade Substitutiva. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 43 LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações artificiais e o direito: aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo, 1995, p. 66. 43 assegurar a gestação quando o estado do útero materno não permite o desenvolvimento normal do ovo fecundado ou quando a gravidez apresenta um risco para a mãe. Para a doutrinadora Juliana de Camargo44, existem duas formas de gestação de substituição, “A gestação de substituição pode dar-se através da mãe substituta, suplente portadora – quando a mulher alberga o embrião, levando a termo a gravidez. E a maternidade subrogada, gestação de substituição, que ocorre quando, além de ser a gestadora do embrião, a mulher é também a doadora do óvulo, ou seja, do material genético.”

Desse modo, entende-se a gestação substituta como uma modalidade de reprodução assistida que consiste em uma mulher ceder seu útero para gestar e dar a luz a uma criança e posteriormente, entregá-la a outro casal. Tal modalidade deve seguir as regras constantes na resolução nº. 2013/13 do Conselho Federal de Medicina, a mesma deve ter caráter altruístico, ou seja, não deve visar o lucro.

4. As normas do Conselho Federal de Medicina – Resolução n° 2013/13

Anota-se que o Brasil ainda não possui legislação específica que regule a reprodução assistida, e os julgados que tratam sobre o tema ainda são raros no país45. Diante da falta de legislação específica sobre a reprodução assistida, o Conselho Federal de Medicina produziu uma resolução - Resolução CFM 2013/13 - para orientar os médicos quanto às condutas a serem adotadas diante dos problemas decorrentes da prática da reprodução assistida, normatizando as condutas éticas a serem obedecidas nestes casos46. Outra regra para usar as técnicas de reprodução é de que a doadora temporária do útero deverá pertencer à família de um dos parceiros num parentesco consanguíneo até o quarto grau (primeiro grau – mãe; segundo grau – irmã/avó; terceiro grau – tia; quarto grau – prima), respeitada a idade

44 CAMARGO, Juliana Frozel de. Reprodução humana: Ética e Direito. Campinas, 2003, p. 123. 45 ALDROVANDI, Andrea; FRANÇA, Danielle Galvão de. A reprodução assistida e as relações de parentesco. Revista Jus Navigandi, 2002, Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 46 ZARA, Gladys. Barriga de aluguel ainda não possui regulamentação no Brasil. Consultor Jurídico. [s.l.], 2013. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 44 limite de até 50 anos, sendo terminantemente proibido qualquer caráter lucrativo ou comercial. De acordo com Goldim47 a obrigatoriedade do vínculo familiar entre a mãe social e a mãe gestacional, tem por base manter este procedimento entre pessoas previamente ligadas, eliminando a possibilidade de exploração comercial. Esta proposta de maternidade substitutiva, contudo, irá gerar confusão e ambiguidade de papéis familiares. Ainda segundo o autor, a confusão de papéis ocorre quando duas pessoas desempenham o mesmo papel, ou seja, a criança gerada irá ter, no mínimo, duas mulheres desempenhando dois papéis familiares: tia-mãe, avó- mãe, mãe-prima. A Resolução reitera, ainda, que a gestação não pode apresentar caráter lucrativo ou comercial48. Aliás, a comercialização do corpo ou parte dele é proibida constitucionalmente pelo §4° do art. 199 da Constituição Federal49. Para Cunha e Domingos50, parte do que consta do conteúdo da Resolução está relacionado a aspectos jurídicos que vão muito além do escopo da normativa da entidade de classe médica, vez que atinge aspectos jurídicos de suma relevância.

5. Aspectos bioéticos

A utilização das técnicas de reprodução assistida, deve-se levar em conta a proibição de toda e qualquer conduta que sugira a possibilidade de a pessoa humana ser tratada como coisa, em respeito ao princípio da dignidade humana. Segundo Badalotti51, o respeito ao princípio da dignidade humana deve ser observado principalmente nos casos que envolvem a maternidade de substituição, tendo em vista que a instrumentalização da pessoa humana pode fazer com que ela seja tratada como meio e não como fim em si mesma.

47 GOLDIM, José Roberto. A maternidade Substitutiva. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 48 CUNHA, Leandro Reinaldo da; DOMINGOS, Teresinha de Oliveira. Reprodução humana assistida: A resolução 2013/13 do Conselho Federal de Medicina – CFM. Revista de Direito Brasileiro, 2013, p. 283. 49 SOUZA, Marise Cunha de. As técnicas de Reprodução Assistida. A barriga de aluguel. A definição da Maternidade e da Paternidade. Bioética. Revista da EMERJ, 2010, p. 357. 50 CUNHA, Leandro Reinaldo da; DOMINGOS, Teresinha de Oliveira. Reprodução humana assistida: A resolução 2013/13 do Conselho Federal de Medicina – CFM. Revista de Direito Brasileiro, 2013, p. 285. 51 BADALOTTI, Mariangela. Aspectos bioéticos da reprodução assistida no tratamento da infertilidade conjugal. Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 2010, p. 483. 45

A doutrina nos ensina que52, Todas essas tecnologias, associadas ao discurso psicanalítico, filosófico e jurídico, nos remetem hoje à compreensão de que filiação, paternidade e maternidade são funções exercidas. Em outras palavras, não interessa tanto quem gerou ou forneceu o material genético, prova isso o milenar instituto da adoção - pai ou mãe é quem cria. Daí a expressão já absorvida pelo ordenamento jurídico brasileiro: parentalidade socioafetiva, que é também geradora de direitos e obrigações.

Ainda segundo o autor, quem sabe no futuro próximo, nesta mesma esteira da evolução do pensamento, alugar um útero para gerar o próprio filho, para aqueles que não querem adotar, passará da clandestinidade para uma realidade jurídica? Eis aí uma ética que se deve distinguir da moral estigmatizante e excludente de direitos.

52 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Barriga de aluguel: o corpo como capital. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 46

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS

ALDROVANDI, Andrea; FRANÇA, Danielle Galvão de. A reprodução assistida e as relações de parentesco. Revista Jus Navigandi, 2002, Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015.

BADALOTTI, Mariangela. Aspectos bioéticos da reprodução assistida no tratamento da infertilidade conjugal. Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 2010.

CAMARGO, Juliana Frozel de. Reprodução humana: Ética e Direito. Campinas, 2003.

CUNHA, Leandro Reinaldo da; DOMINGOS, Teresinha de Oliveira. Reprodução humana assistida: A resolução 2013/13 do Conselho Federal de Medicina – CFM. Revista de Direito Brasileiro, 2013.

GOLDIM, José Roberto. A maternidade Substitutiva. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015.

LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações artificiais e o direito: aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo, 1995.

LOURENZON, Patrícia Miranda. Contrato de gestação de substituição: proibi-lo ou torná-lo obrigatório. Revista de Direito Privado: Rdpriv, 2010.

PAIANO, Daniela Braga; FERRARI, Geala Geslaine; ESPOLADOR, Rita de Cássia Tarifa. A cessão do útero e suas implicações na ordem contratual. 2013. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Barriga de aluguel: o corpo como capital. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015.

SOUZA, Marise Cunha de. As técnicas de Reprodução Assistida. A barriga de aluguel. A definição da Maternidade e da Paternidade. Bioética. Revista da EMERJ, 2010.

ZARA, Gladys. Barriga de aluguel ainda não possui regulamentação no Brasil. Consultor Jurídico. [s.l.], 2013. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015.

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REFERENCIAL TEÓRICO (Luana Serpa)

1. A evolução e o conceito das técnicas de reprodução humana

Surrogate mother (Inglaterra), mietmutter (Alemanha) e mãe hospedeira (Portugal) são nomes adotados por estes países para denominar o que nós chamamos de mãe de aluguel, mãe substituta, mãe subrogada ou mãe portadora, estas são mulheres que locam seus úteros para gestar crianças de mulheres com problemas de fazê-lo53. Essa modalidade de procriação humana somente foi possível através dos avanços tecnológicos na área de reprodução humana. Atualmente segundo Maria Helena Diniz54, pai não é inexoravelmente o doador do material genético e a mãe não é indiscutivelmente aquela que cedeu o óvulo, o útero ou que deu a luz. Conforme afirma, Patrícia Lourenzon55 a utilização de técnicas de reprodução medicamente assistida, especialmente da gestação de substituição enseja, problemas de diferentes ordens, constatando-se de pronto, a questão atinente à falta de regulamentação jurídica do tema. Ainda segundo a autora, a gestação de substituição, acaba modificando o próprio conceito de maternidade, que passa pela necessidade de uma nova definição. A presunção jurídica (mater semper certa est) mostra-se insuficiente, haja vista essa modalidade de procriação está dissociada entre a maternidade biológica e a gestacional. A reprodução humana assistida pode ser conceituada, como basicamente a intervenção do homem no processo de criação natural, com o objetivo de possibilitar que pessoas com problema de infertilidade e esterilidade satisfaçam o desejo de alcançar a maternidade ou a paternidade56.

53 ALMEIDA, Aline Mignon de. Barriga de aluguel. Bioética e biodireito. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000. p. 45. 54 DIAS, Maria Berenice. Direito das Famílias. 5. Ed. São Paulo: RT, 2009, p. 325. 55 LOURENZON, Patrícia Miranda. Contrato de gestação de substituição: proibi-lo ou torná-lo obrigatório. Revista de Direito Privado: Rdpriv, 2010, p.106. 56 ALDROVANDI, Andrea; FRANÇA, Danielle Galvão de. A reprodução assistida e as relações de parentesco. Revista Jus Navigandi, 2002. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 48

Para a doutrina57, “A reprodução assistida, que pode ser entendida como um conjunto de técnicas que favorecem a fecundação humana a partir da manipulação de gametas e embriões, objetivando principalmente combater a infertilidade e proporcionando assim o nascimento de uma nova vida humana. Tal procedimento pode-se dar através da inseminação artificial, da fecundação artificial in vitro (FIV), da transferência intratubária de gametas (GIFT), da transferência de zigoto nas trompas de falópio (ZIFT) e da transferência em estágio de pró-núcleo (PROST). Também pode ser classificada como homóloga e heteróloga, sendo a primeira àquela que se dá quando não há interferência de material genético de terceiro na formação do embrião, e a segunda na qual há doação do material genético de terceiro.”

Percebe-se de pronto que as variantes da subrogação de útero (gestação de substituição) baseiam-se na fecundação homóloga (material genético dos pais intencionais – socioafetivos) e heteróloga (material genético de terceiros doadores)58.

2. Gestação de substituição

O doutrinador Leite59, conceitua a gestação substituta como uma técnica de reprodução assistida em que se apela a uma terceira pessoa para assegurar a gestação quando o estado do útero materno não permite o desenvolvimento normal do ovo fecundado ou quando a gravidez apresenta um risco para a mãe. Para a doutrinadora Juliana de Camargo60, existem duas formas de gestação de substituição, “A gestação de substituição pode dar-se através da mãe substituta, suplente portadora – quando a mulher alberga o embrião, levando a termo a gravidez. E a maternidade subrogada, gestação de substituição, que ocorre quando, além de ser a gestadora do embrião, a mulher é também a doadora do óvulo, ou seja, do material genético.”

Entende-se, então, que a gestação de substituição é uma variante da fertilização in vitro, ou seja, o procedimento de fecundação é realizado em laboratório, mas ao invés de introduzir na mãe genética, implanta-se o embrião no útero de uma mulher escolhida pelo casal.

57 PAIANO, Daniela Braga; FERRARI, Geala Geslaine; ESPOLADOR, Rita de Cássia Tarifa. A cessão de útero e suas implicações na ordem contratual. São Paulo, 2013. 58 CAMARGO, Juliana Frozel de. Reprodução humana: Ética e Direito. Campinas, 2003, p. 124. 59 LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações artificiais e o direito: aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo, 1995, p. 66. 60 CAMARGO, Juliana Frozel de. Reprodução humana: Ética e Direito. Campinas, 2003, p. 123. 49

Outro ponto de questionamento é em relação à determinação da maternidade, surge o questionamento de quem seria de fato a mãe da criança gerada por gestação de substituição, assim preleciona Goldim61,

“Uma questão já discutida inclusive quanto aos seus aspectos legais em vários países é a que diz respeito a quem de fato é a mãe. A mãe genética, doadora do óvulo, a mãe substitutiva, que gesta o bebê, ou a mãe social, responsável pelo desencadeamento do processo e pela futura criação da criança. Em algumas legislações a mãe substitutiva pode optar por criar o não o bebê, no período imediatamente posterior ao parto. Na maioria, contudo, não existe esta possibilidade, os pais sociais são sempre os responsáveis pela criação do bebê gerado. Em algumas situações, muito peculiares, tem ocorrido problemas, tais como abandono dos bebês gerados, por problemas genéticos ou por separação do casal durante o período gestacional.”

Em resposta a indagação, para Moreira62,

“O pai ou a mãe, pela atual orientação doutrinária, não é definido apenas pelos laços biológicos que tenha com o menor e sim pelo querer externado de ser pai ou mãe, ou seja, de assumir, independentemente do vínculo biológico, as responsabilidades e deveres da filiação mediante a demonstração de afeto e de querer bem ao menor.(...) Atualmente cresce na doutrina pátria um entendimento de que a mãe biológica é a que merece a maternidade da criança, pois entendem que a mãe de substituição é apenas a hospedeira daquele ser gerado sem a contribuição de suas células germinativas.”

Contudo, em meio a vários questionamentos, não existe posição doutrinária pacífica sobre quem realmente seria a mãe do bebê, na jurisprudência também não há consenso.

3. Da necessária regulamentação jurídica, as normas do Conselho Federal de Medicina – Resolução n° 2013/13

Nota-se que o tema é rodeado de muitas problemáticas no campo jurídico e ético, grande parte disto devido a falta de regulamentação legal, isso acarreta o comércio do útero, inúmeras mulheres se valem do sonho de casais de terem filhos para obter vantagem financeira, alugando seu útero, para quem estiver disposto a pagar.

61 GOLDIM, José Roberto. A maternidade Substitutiva. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 62 MOREIRA FILHO, José Roberto. O direito civil em face das novas técnicas de reprodução assistida. Revista Jus Navigandi, 2002. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 50

Anota-se que o Brasil ainda não possui legislação específica que regule a reprodução assistida, e os julgados que tratam sobre o tema ainda são raros no país63. O Código Civil tenta se adequar a essas novas modalidades de concepções humanas, no art. 1.597 se extende a presunção de filiação, conforme bem exemplifica Aldrovandi e França,

“O Novo Código Civil menciona algumas técnicas de reprodução assistida, mas não vai além, visto que a matéria deverá ser tratada futuramente por lei específica. O art. 1.597, que trata da filiação, é um exemplo, pois além das hipóteses de presunção de paternidade previstas no código vigente, com a inserção dos incisos III, VI e V, também se presumem concebidos na constância do casamento os filhos havidos de fecundação artificial homóloga, inclusive a post mortem, de fecundação in vitro (homóloga), e inseminação artificial heteróloga, com a prévia autorização do marido.”

Como não há regramento legal a respeito, o que se usa como parâmetro moral e ético aos procedimentos deste tipo é a Resolução n° 2013/13 do Conselho Federal de Medicina, que trata especificamente da gestação de substituição no item VII. Frise-se que a Resolução mencionada é uma norma a ser obedecida pelos médicos, não possuindo força de lei64. A resolução estabelece que esta modalidade de gestação é admissível quando se constate a existência de um problema médico que impeça ou contraindique a gestação por meios ordinários. Vedando assim a utilização da gestação de substituição por mera vontade ou discricionariedade65. Nos casos de gestação substituta, conforme Resolução deve haver um laço de parentesco até o 4º grau, com a doadora genética, dentro do limite etário de 50 (cinquenta) anos.

63 ALDROVANDI, Andrea; FRANÇA, Danielle Galvão de. A reprodução assistida e as relações de parentesco. Revista Jus Navigandi, 2002, Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015. 64 SOUZA, Marise Cunha de. As técnicas de Reprodução Assistida. A barriga de aluguel. A definição da Maternidade e da Paternidade. Bioética. Revista da EMERJ, 2010, p. 357. 65 CUNHA, Leandro Reinaldo da; DOMINGOS, Teresinha de Oliveira. Reprodução humana assistida: A resolução 2013/13 do Conselho Federal de Medicina – CFM. Revista de Direito Brasileiro, 2013, p. 283. 51

A Resolução reitera, ainda, que a gestação não pode apresentar caráter lucrativo ou comercial. Aliás, a comercialização do corpo ou parte dele é proibida constitucionalmente pelo §4° do art. 199 da Constituição Federal66. À respeito da filiação, em curiosa determinação a Resolução estabelece que a clínica tenha uma garantia de que a criança venha a ser registrada em nome dos “pais genéticos”, que mais tecnicamente haveria de se entender como os contratantes da gestação de substituição67. Para Cunha e Domingos, parte do que consta do conteúdo da Resolução está relacionado a aspectos jurídicos que vão muito além do escopo da normativa da entidade de classe médica, vez que atinge aspectos jurídicos de suma relevância.

4. Aspectos bioéticos

A bioética é um neologismo que significa ética da vida, adequação da realidade da vida com a da ética, para Camargo68. “(...) a bioética é hoje, também, uma disciplina voltada para o biodireito e para a legislação, com a finalidade de garantir mais humanismo nas ações e relações médico-científicas. A bioética apresenta-se, ao mesmo tempo, como reflexão e ação. Reflexão, porque tem o diferencial de realmente parar para refletir sobre as consequências psicossociais, econômicas, políticas e éticas advindas dos avanços da ciência; e Ação, porque, após a reflexão, é capaz de posicionar-se de forma a assegurar o sucesso desse tipo de relação, impondo limites e ditando regras que estabeleçam um novo contrato social entre povo, médicos, governos, etc”

Apesar da realização em poder realizar um sonho de ter um filho, através da gestação de substituição, percebe-se a mudança nos conceitos de maternidade e paternidade. É exatamente nesse ponto que começam os problemas, com o número de casais estéreis suge uma indústria da vida que comercializa óvulos, sêmen e úteros substitutos. É nesse ponto, que a bioética surge como um fundamental instrumento para analisar as implicações morais e sociais das técnicas resultantes dos avanços nas ciências, dos quais o ser humano é simultaneamente ator e espectador.

66 SOUZA, Marise Cunha de. As técnicas de Reprodução Assistida. A barriga de aluguel. A definição da Maternidade e da Paternidade. Bioética. Revista da EMERJ, 2010, p. 357. 67 CUNHA, Leandro Reinaldo da; DOMINGOS, Teresinha de Oliveira. Reprodução humana assistida: A resolução 2013/13 do Conselho Federal de Medicina – CFM. Revista de Direito Brasileiro, 2013, p. 285. 68 CAMARGO, Juliana Frozel de. Reprodução humana: Ética e Direito. Campinas, 2003, p. 62. 52

Diante do que foi visto, percebe-se um descompasso entre a evolução dos métodos de reprodução humana e a legislação brasileira atual, a qual não acompanhou a rapidez inigualável das descobertas tecnológicas. Por fim, é fundamental que se discuta a questão da gestação de substituição, haja vista ser uma realidade posta no nosso cotidiano, gerando problemas morais relativos ao ser humano desde sua concepção.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALDROVANDI, Andrea; FRANÇA, Danielle Galvão de. A reprodução assistida e as relações de parentesco. Revista Jus Navigandi, 2002, Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015.

ALMEIDA, Aline Mignon de. Barriga de aluguel. Bioética e biodireito. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000.

CAMARGO, Juliana Frozel de. Reprodução humana: Ética e Direito. Campinas, 2003.

CUNHA, Leandro Reinaldo da; DOMINGOS, Teresinha de Oliveira. Reprodução humana assistida: A resolução 2013/13 do Conselho Federal de Medicina – CFM. Revista de Direito Brasileiro, 2013.

DIAS, Maria Berenice. Direito das Famílias. 5. Ed. São Paulo: RT, 2009.

LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações artificiais e o direito: aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo, 1995.

LOURENZON, Patrícia Miranda. Contrato de gestação de substituição: proibi-lo ou torná-lo obrigatório. Revista de Direito Privado: Rdpriv, 2010.

PAIANO, Daniela Braga; FERRARI, Geala Geslaine; ESPOLADOR, Rita de Cássia Tarifa. A cessão do útero e suas implicações na ordem contratual. 2013. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015.

SOUZA, Marise Cunha de. As técnicas de Reprodução Assistida. A barriga de aluguel. A definição da Maternidade e da Paternidade. Bioética. Revista da EMERJ, 2010.

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ESCALETTA

Entrevistados/narrações Aúdio Música instrumental. Imagens de diversas “Barrigas de mulheres grávidas”

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VINHETA DE A ausência de legislação específica para a “barriga de ABERTURA aluguel” no Brasil. 00:17 – 00:28 OFF1 Muitos casais sonham em ter filhos, porém, alguns 00:28-00:36 deles encontram algumas dificuldades. SRA. FERNANDA “Eu menstruei aos doze anos de idade e foi uma serie 00:47-2:37 de problemas que eu tive após a menstruação, cólicas sem parar, ia para o hospital e voltava, os médicos achavam que eu estava com manha, que toda mocinha tem cólica, chegou a um ponto que acho que uma terceira vez que eu internei, o médico disse que enquanto eu não descobrir o que essa menina tem ela não sai daqui, Nos vamos fazer os exames e vamos descobrir o que ela tem, Ela tá sentindo essa dor, ai foi quando fizeram um ultrassom, né, em mim, abdominal e viram que eu tinha bastante bolinhas, eles falaram que era cisto, você esta com muitos cistos e a gente vai ter que fazer uma cirurgia para retirar estes cistos. Dai eu entrei para a sala de cirurgia para fazer uma cirurgia para retirar cistos, um ovário, mais ou menos assim que a gente imaginou que fosse, só que quando eles abriram a minha barriga eles viram que eu tinha nascido com uma deficiência uterina, então o meu útero que estava funcionando ele era entupido, eu mestruava para dentro e para fora, então muito sangue ficou por fora de minha barriga e eu tinha tipo três peças de útero emendadas, era era um útero deformado, então eles tiraram o útero né, tirou tudo, limpou, mas eu permaneci com os ovários, só o útero que eu tive que tirar, só que assim como eu era uma criança que já gostava de criança, desde pequena eu brincava na escola, eu lembro de eu com oito anos eu já pegava menino para cuidar e aquela coisa instinto materno muito forte, já conversava com a minha mãe em ter filho já, viu a primeira reportagem, falando é sobre a barriga de aluguel, né que é gravidez de substituição, né útero de substituição e ai aquele dia que passou aquela reportagem tanto minha mãe quanto minha sogra viu porque o dia que a gente viu foi uma sogra que tinha gerado para nora, então elas 55

já ficaram tudo falando para mim, olha se você quiser, ai eu comecei a ficar animada comecei correr atrás, só que fazia só em São Paulo, eu comecei a mandar e-mail para hospital, peguei alguns dados lá fui conversando por e-mail com o pessoal.” OFF 2 A sub-rogação do útero consiste em uma mulher, 2:40 – 2:52 ceder seu útero para gestar e dar a luz a uma criança e posteriormente, entregá-la a outro casal. DRA. CARLA “Quando um casal vai utilizar a gestação de GINECOLOGISTA substituição pra como forma de engravidar na técnica 02:54-03:20 de reprodução assistida o que acontece a mãe ou seja a mãe doadora a doadora genética ela vai ter os óvulos dela captado em laboratório vão ser unidos com o sêmen do seu esposo e o embrião com um determinado tempo de evolução ele vai ser transferido para o útero da doadora;”

OFF 3 A resolução nº. 2013/2013 do Conselho Federal de 03:21-03:36 Medicina autoriza no Brasil, que clínicas de reprodução humana, realizem a gestação em útero substitutivo, observadas algumas regras. DRA. CARLA “Em relação ao útero de substituição a o antigo barriga GINECOLOGISTA de aluguel, a resolução nos orientada que ela pode ser 03:37-04:25 realizada em casos que a mulher tenha alguma dificuldade para gestar, ela apresenta alguma doença. Algum problema de saúde que a impede que esse útero seja utilizado pela gestação. Entre essas condições nos temos pacientes esterectomizados, são as pacientes que retiraram o útero, as pacientes que tem algum problema de saúde, como diabete, problemas cardíaco, problema pulmonar que pode se agravar com a gestação ou que mesmo que ela tenha útero mas esse útero não tenha a capacidade de gestar, porque ele tem algum problema anatômico ou problema genético ou alguma aderência que não pode ser desfeita.” DRA. CARLA “Quem pode realizar o útero de substituição, ne, a GINECOLOGISTA doadora genética é a paciente vai registrar e vai ser a 04:26-04:56 mãe desse bebe e nos vamos ter a doadora de útero né a doadora de gestação de substituição. Essa paciente pode ser qualquer parente até quarto grau , mãe irmã, tia sobrinha, mas esse parentesco pode ser de qualquer um dos cônjuges, então por exemplo, a cunhada esta autorização a servir de doadora temporária de útero.” SRA. FERNANDA “Em 2005 a gente teve a questão de ter visto né então 04:58-06:07 minha sogra, minha mãe até a colega de faculdade, ela me falava, Fernanda não se precisar eu vou gerar para você todo mundo falava, mas assim dentro de mim eu sentia que tinha que ser minha mãe até por eu 56

ter irmãs também, na época eu conversei com a irmã também mas é eu tive orientação de algumas pessoas que me falaram sobre o que é ter um filho gerado na sua barriga, o que você ter toda admiração em cima de você e depois aquilo ser transferido para a criança, ter que ser uma pessoa muito bem psicologicamente não poder ser uma pessoa que tenha depressão ou que tenha alguma tendência a depressão. Então assim como eu sabia que a minha mãe era a pessoa mais indicada para força que ela tem e saber que você, eu sabia que eu podia contar com minha mãe e minha mãe era a pessoa ideal para isso, sentia isso Na hora que eu peguei o resultado do exame, pela internet que eu peguei, foi uma alegria muito grande. Assim, lá no meu serviço todo mundo começou a chorar de alegria, porque todo mundo viveu comigo, as pessoas que estavam junto comigo ali todo mundo começou a chorar aquela alegria grande de mais.” DR. HIRAN “Porque nos colocamos a parte afetiva, a parte da 06:08-07:03 afetividade porque é aquela pessoa que vai gestar, ela vai fazer um ato sublime e nos preocupados que lá na frente ocorra demandas judiciais em relação ao útero de substituição eu gestei então sou a mãe, não a mãe é a mãe genética e o pai genético, jamais poderá ser aquela que esta fazendo um ato sublime. Nós condenamos qualquer tipo de transação pecuniária em relação ao útero de substituição. Este é um ato sublime, é um ato afetivo que ela vai ter que ter muito amor para aquela criança. Ela acaba entrando também no rol das mães que gestou aquela pessoa que esta ajudando. Com certeza vai ser eternamente grato”. DRA. CARLA “Cada Pais tem uma regulamentação diferente em GINECOLOGISTA relação ao útero de substituição a esse tipo de 07:05 – 08:20 gravidez se a gente olhar na literatura o Brasil tem essa resolução do conselho mas na Itália, na França, nos Estados Unidos nos temos outras modalidades, em alguns Países você pode adquirir mediante compra óvulos e espermatozoides por exemplo para fazer as técnicas de reprodução assistida, em determinados países e proibido e outros é liberado para qualquer mulher frente um comercio frente a venda desse útero, durante a gravidez ela receba uma compensação monetária para que ela possa realizar essa gravidez esses procedimentos o que no Brasil não é permitido. Um dos pontos que o conselho federal coloca bastante é que essa cessão temporária de útero ela não deve ter caráter comercial.” 57

“O que que a bioética diz: eu tenho que ter convencimento, são conceitos que eu tenho que te convencer que estou certo mas isto não quer dizer que aquilo que eu quero dizer esta certo. Então a bioética surgiu em 1970 pelo Potter em 1970, e ela é uma ciência muito bonita, mas é de convencimento. Eu posso te convencer e posso não te convencer. Se em chegar aqui e reunir 500 católicos e dizer que o casal homo afetivo tem o direito de ter a sua família, eu vou apanhar com certeza de 90 por cento. Mas eu tenho que ter a minha convicção que aquilo que eu estou defendendo esta correto.” OFF 4 A resolução do Conselho federal de Medicina permitiu 08:21 – 08:28 também, o uso das técnicas de Reprodução assistida para relacionamentos homoafetivos e pessoas solteiras, respeitado o direito da objeção de consciência do médico. DRA. CARLA “A resolução também contempla os casais GINECOLOGISTA homoafetivos. Nos casais homoafetivos femininos e 08:29-09:38 que normalmente a gente vê é uma das mulheres cedendo o útero para gestação e com os óvulos de sua parceira, né, em relação ao casal masculino é mais difícil, então nos temos o sêmen, mas não temos o ovulo então como normalmente é feito o semên é de um dos parceiros o ovulo vem de um banco de óvulos e um parente até o quarto grau de um dos dois cede o útero para que essa gestação seja feita.” OFF 5 Em todas essas situações, a doação de útero deve ser 09:39-09:52 não lucrativa ou não comercial. Porém, um comércio ilegal, é oferecido livremente na internet. DR. HIRAN “Mas lamentavelmente, por dinheiro faz-se tudo, não 09:53-10:44 pode ser assim.”

OFF 6 Neste sentido, Maria Helena Diniz explicita: “A ciência 10:45-11:00 é poderoso auxiliar para que a vida do homem seja cada vez mais digna de ser vivida. Logo, nem tudo que é cientificamente possível é moral e juridicamente admissível.” DRA. RAQUEL “Mas a gestação de substituição enquanto ela não for 11:00-11:20 regulamentada ela traz muita insegurança jurídica a todos envolvidos, traz ao casal que optou por ela, a mãe que vai emprestar provisoriamente seu útero e a própria criança. Então essa insegurança decorre de algumas coisas naturais, por exemplo, a mãe não tem como se posicionar de ante mão como ela vai proceder em relação a esse filho depois do nascimento da gestação como se ela de fato vai querer doar ou não permanecer, se houver a quebra desse vinculo, então a regulamentação seria importante para colocar parâmetros aspectos. Outro 58

aspecto e se essa criança nasce com um problema, com algum defeito genético ela pode ser rejeitada por ambas as mães. Ambas as famílias então como é que seria feito nesse caso, quem vai resguardar o direito desse sujeito de direito”. DR. HIRAN “Né eu sempre digo o seguinte os quatro princípios 11:21-11:53 básicos da bioética são: um autonomia, é você ter autonomia sobre seu corpo, mas você não tem a autonomia de um ser indefeso, Beneficência, a beneficência que o estado tem que dar para estas adolescentes e para aquelas pessoas que estão a mercê, Não maleficência isso é maleficência, eu estou causando um maleficio quando as autoridades brasileiras não olham para essas crianças e justiça. São esses quatro princípios da bioética. Se você seguir esses princípios, o pessoal acha que a autonomia, a mulher tem autonomia sim para escolher o tipo de parto a mulher tem autonomia de cortar o cabelo de pintar seu cabelo de raspar a cabeça, mas a mulher não tem a autonomia de atacar um ser indefeso. Eu não quero dizer com isso que sou favor ou contra o aborto”. DRA. RAQUEL “Como membro do Ministério Publico o que nos 11:54-12:15 preocupamos mais quando se trata desse questão chamada comumente chamada barriga de aluguel ou geração de substituição o melhor interesse da criança desse feto que vem de barriga de aluguel que não há nenhuma regulamentação a respeito, há uma resolução do conselho de Medicina que ela apenas de caráter mais ético ela não ter valor legal ou impositivo mas ela serve de guia de parâmetro para os magistrados na hora de decidir estas questões; É uma realidade que nos esta posta, que devemos que enfrentar. O direito infelizmente não pode se antecipar a estes fatos, mas nos podemos nos colocar ai par e passo com a sociedade em sua evolução.” OFF 7 Apesar de comum, não há ainda na legislação 12:16-12:24 brasileira, uma lei especifica que regule a gestação em útero substitutivo, somente a resolução do Conselho Federal de Medicina. DRA. CARLA “Todos esses procedimentos diferentes esses GINECOLOGISTA situações diferentes acontecem e a gente ainda não 12:25-12:56 tem uma regulamentação porque a tecnologia anda mais depressa no seio da sociedade eles são mais rápidos do que o direito pode acompanhar do que nossos legisladores conseguem regulamentar. Então com isso nos temos procedimentos com alta tecnologia extremamente complexos, situações familiares das mais diversas e que a gente segue muitas vezes poucas resoluções que dão margem a 59

varias exceções que a gente tem que discutir caso a caso.”

OFF 8 O projeto de lei número 1184 de 2003 se propõe a 12:57 – 13:13 regular a reprodução assistida no País, definindo normas para realização de inseminação artificial e fertilização "in vitro". Este projeto proíbe a gestação de substituição e incrimina com pena de reclusão, de um a três anos, e multa, quem participar do procedimento na condição de beneficiário, intermediário ou executor da técnica. DEPUTADO “Na medida que nos tivermos uma lei, nos portando JOÃO CAMPOS teremos um marco legal então isso vai gerar 13:15-14:10 segurança jurídica para as pessoas que desejam usar alguns dos expedientes que a ciência hoje disponibiliza. A outra questão além da segurança jurídica é a gente estabelecer termos do ponto de vista ético, não é porque a ciência tem avançado tudo tanto que tudo que a ciência disponibiliza seja razoável cada sociedade tem conceitos de valores e princípios que regem esta sociedade. A barriga de aluguel em todas as suas variáveis é algo absolutamente razoável a sociedade brasileira e dentro do contexto de família é uma resposta que precisa ser dada, não é, sem paixão, com pé no chão, respeitando aquilo que é natural do povo brasileiro conjugando isso com a ciência com aquilo que a ciência disponibiliza eu acho que essas coisa de fato vão ser objeto dessa audiência publica. Mas o importante é exatamente isso primeiro segurança jurídica, segundo, a gente estabelecer limites éticos a ciência avançou, continua avançando mas quais são os limites da ética nessa área nos iremos estabelecer isso nesse projeto.” VÍDEO DAS CRIANÇAS Vídeo das crianças Emanuelle e Julia correndo. CORRENDO 14:11 – 14:51 SONORA “Então eu já tinha isso esse agradecimento pela mãe SRA FERNANDA que eu tenho depois ela ser disposta a fazer esse 14:53-15:25 procedimento para mim para ficar dois anos da vida dela ficar por conta desse procedimento que tinha alimentação, tinha que ir para Goiânia para fazer o tratamento, gerar as crianças, sabendo que era de risco, gravidez de gêmeos, mas ela assumiu tudo para que eu fosse mais feliz ainda do que eu era .” OFF 9 A sociedade como um todo, ainda encontra-se 15:26 – 16:02 despreparada para enfrentar essas questões, sem um respaldo jurídico adequado, que possa limitar e orientar os avanços tecnológicos empregados na reprodução assistida. O direito não acompanha a medicina, e até que uma lei passe a vigorar, a barriga 60

de aluguel onerosa, continua ocorrendo. A vida destes fetos está sendo discutida sob um viés de negócio jurídico, onde as partes interessadas, estabelecem verdadeiros contratos, "coisificando" o feto como objeto contratual, em detrimento da dignidade da pessoa humana. SONORA “Se você tem um sonho você tem que correr atrás SRA FERNANDA deles porque não é a toa que você tem um sonho o 16:03-17:14 sonho foi colocado por Deus em seu coração então não importa se você vai ser mae biológica ou se vai ser adotado Se você tem esse desejo e você tem confiança que é uma coisa sua porque eu lembro que a psicóloga me disse você que ser mãe porque para quem, porque existe pessoas que querem ser mãe para agradar a mãe, agradar a sogra, agradar o marido e muitas vezes quando começa os conflitos familiares ela joga a criança para outra pessoa cuidar agora você tem noção de que você é a mãe a responsabilidade é sua. Eu já tinha isso comigo se a pessoa sonha as vezes floreia há vou resolver o problema de meu casamento, vou ter filho porque vai resolver, não resolva o problema de casamento para depois ter filho porque a criança é muito preciosa, precisa de atenção, precisa de amor de educação e isso tudo a pessoa tem que estar preparada para poder dar isso para a criança mas se a pessoa tem um sonho, tem isso, esta preparada e tem um sonho, corre atrás do sonho porque Deus abre as portas.”