Contribuição da Arqueologia Para a História do Litoral Sul Fluminense: do Caminho do Ouro ao Caminho da Serra

CAPÍTULO VIII CONTRIBUIÇÃO DA ARQUEOLOGIA PARA A HISTÓRIA DO LITORAL SUL FLUMINENSE: DO CAMINHO DO OURO AO CAMINHO DA SERRA

Nanci Vieira de Oliveira & Dorita Maria da C.R.do Amaral · 131

Contribuição da Arqueologia Para a História do Litoral Sul Fluminense: do Caminho do Ouro ao Caminho da Serra

CONTRIBUIÇÃO DA ARQUEOLOGIA PARA A HISTÓRIA DO LITORAL SUL FLUMINENSE: DO CAMINHO DO OURO AO CAMINHO DA SERRA

Nanci Vieira de Oliveira1 & Dorita Maria da C.R.do Amaral2

RESUMO the discovery of gold in the region of . Despite the difficulties imposed by the relief, this road A antiga trilha conhecida como dos Guaianases ou became the main outlet of gold and transformed the Caminho Velho do , alcançou importância life of . The transport of gold included a route com a descoberta de ouro na região das Minas Gerais. by sea from Paraty to Rio de Janeiro, which resulted Apesar das dificuldades impostas pelo relevo, este caminho in increased exposure to pirate attacks. Due to these se tornou o principal escoadouro do ouro e transformou a problems, the authorities encouraged the opening vida de Paraty. O transporte do ouro incluía um percurso of another road that became known as “New Path”. por mar de Paraty até o Rio de Janeiro, o que resultava However, Paraty continued interconnected with the em maior exposição a ataques de piratas. Devido a estes mines region through the Old Way, used by descending problemas, as autoridades incentivaram a abertura de and ascending troops and wayfarers, becoming known as outro caminho que ficou conhecido como “Caminho Sierra Highway. This work is the result of archaeological Novo”. Entretanto, Paraty continuou interligada à studies on the RJ-165, State of Rio de Janeiro. The efervescência das minas através do Caminho Velho por research had the objective to identify archaeological onde desciam e subiam tropas e viandantes, passando a sites in areas directly affected by the paving, as well as to ser conhecido como Estrada da Serra. analyze the relationship of these with the paths described Este trabalho é o resultado de estudos arqueológicos in the past. realizadas na estrada RJ-165, Estado do Rio de Janeiro. As pesquisas tiveram por objetivos a identificação de Keywords: Paraty, Old Path, cartography, sítios arqueológicos nas áreas diretamente afetadas pelas Historical Archaeology obras de pavimentação, bem como analisar a relação destes com os caminhos descritos no passado. INTRODUÇÃO

Palavras chave: Paraty, Caminho Velho, cartografia, O presente trabalho resulta dos estudos para a Arqueologia Histórica. pavimentação da RJ 165 (Paraty-Cunha), que teve por objetivo identificar estruturas arqueológicas, bem como ABSTRAT obter subsídios para discutir as dinâmicas ao longo dos séculos XVIII e XIX que afetaram o chamado Caminho The ancient trail known as Guaianases or Old Velho e a Cidade de Paraty. Desta forma, pretendemos Path of Rio de Janeiro, achieved significance with abordar as fontes documentais e cartográficas, como base

1 Professora Adjunta, Laboratório de Antropologia Biológica, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier 524, Maracanã, CEP 20 550- 900 - [email protected] 2 Arqueóloga colaboradora, Laboratório de Antropologia Biológica, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier 524, Maracanã, CEP 20 550-900 - [email protected]

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para as interpretações dos registros arqueológicos. madeira atravessados (estiva). Os calçamentos que A descoberta de ouro na capitania de São Paulo, são encontrados nos dias de hoje foram construídos depois na região das Minas Gerais, em Cuiabá e Goiás, em períodos posteriores ao auge da mineração, em tornou a cidade do Rio de Janeiro a maior beneficiária sua maioria no século XIX, melhorias necessárias para deste processo, por onde embarcavam e desembarcavam atender a rede de abastecimento e as atividades cafeeiras pessoas e mercadorias, mas principalmente por onde (STRAFORINI, 2006). escoavam o ouro para a metrópole. No século XVIII, o Os caminhos oficiais por onde passava o ouro, sob Rio de Janeiro começava a se assumir como articulador o controle das autoridades coloniais através de guardas da região centro-sul, isso acontecia em grande parte pela e/ou casas de registro, foram três, de acordo com sua importância da mineração, o que aumentava o interesse ordem cronológica: Caminho Velho do Ouro - de Paraty da coroa portuguesa pela segurança e conservação da até Minas Gerais, passando por São Paulo; Caminho capitania, bem como na abertura de novos caminhos que Novo do Ouro ou Caminho de Garcia Rodrigues permitissem o escoamento do ouro de forma a evitar os Paes - do Porto do Pilar, hoje Duque de Caxias/RJ, até “descaminhos”. Minas Gerais; Variante do Caminho Novo ou Variante Os traçados destes caminhos obedeciam, sobre- do Proença - do Porto Estrela, atualmente Magé, até tudo, às próprias características ambientais, “procu- encontrar o Caminho Novo na região do rio Paraíba do rando evitar as serranias, as corredeiras, a transposi- Sul. ção de leitos profundos, os encharcados, entre outros” Pela Estrada Real além dos metais preciosos, atra- (STRAFORINI, 2006). A abertura de tais caminhos vessavam toda sorte de alimentos, armas, pólvora, aguar- também condicionava a ocupação do sertão e de terras dente, ferramentas, roupas, remédios, correspondên- em seus limites para o controle do quinto real e dos cias, informações e produtos trazidos da Europa, car- demais impostos que recaíam sobre a produção e cir- regados pelas tropas de muares, guiadas pelos tropeiros culação de mercadorias, como também para garantir a (MAGALHÃES, 2007). O comércio colonial por tais manutenção da mesma e apoio de pousos para os vian- vias acabou por ser responsável pelo surgimento de ou- dantes e tropas. Tornando-se estrada oficial, ou seja, tras redes de distribuição, a partir da abertura de novos Estrada Real, durante longos períodos foram as únicas caminhos e da criação de novos mercados, interligando a vias autorizadas de acesso à região mineradora e eram região Sudeste com a região Sul do Brasil. colocados postos de fiscalização e controle, denomi- nados de registros, em locais estratégicos das estradas MATERIAL E MÉTODOS como desfiladeiros e às margens dos rios. As técnicas empregadas na abertura dos caminhos Os estudos arqueológicos foram realizados em eram muito rudimentares e os responsáveis por tais etapas que consistiram em levantamento sistemático de empreitadas deviam possuir um grande conhecimento superfície, prospecções intensivas ao longo da RJ-165 e do meio natural, seja através de expedições ou por escavações sistemáticas. conhecimento cotidiano. Em todos os casos, sempre se Tendo por base as informações documentais e as utilizava de trilhas indígenas ou as abertas pelos primeiros pesquisas de campo realizadas na fase de Levantamentos moradores, informações passadas pela tradição oral. de Superfície e Prospecções intensivas (2010), ficou de- De acordo com Prado Jr (2000, p.262-263), a finida a importância da preservação dos testemunhos ar- definição do traçado “não escolhia outro critério senão a queológicos através de um projeto de resgate e acompa- economia de esforços na construção, e o limite extremo nhamento das obras de engenharia (2013). do justo trafegável.” A largura do traçado se limitava Os levantamentos sistemáticos de superfície e de “ao extremo necessário”, ou seja, as tropas de animais subsuperfície (GPR e prospecções) permitiram identificar sempre caminhando em fila indiana. As pontes eram apenas dois setores com pavimentação correspondentes a raras, obrigando a desvios consideráveis em busca de períodos distintos, calçamentos de pedra pé de moleque leitos mais rasos ou ao uso de canoas para a travessia das e da década de 1920 (Figuras 1 e 2). cargas e pessoas, enquanto os animais atravessavam a Através da análise de fontes escritas (carta, relatórios nado. No que se refere ao calçamento, os de pedra eram e outros documentos) e cartografia buscamos conhecer raros, o que se fazia na maioria das vezes era revestir as estradas da Serra de Paraty, identificar as diferenças, os solos mais alagadiços e os atoleiros com pedaços de principalmente com relação aos seus traçados. Assim,

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Figura 1 Levantamento de subsuperfície/Prospecção Figura 2 Levantamento de subsuperfície/GPR foram selecionadas cartas dos séculos XVIII e XIX de Depois de percorrer a região por mais 20 dias chegou forma a identificar as modificações relatadas nas fontes a um grande monte (Quebra Cangalha) e do outro lado escritas e informações arqueológicas. em terras baixas (região de Taubaté) encontrou aldeias de índios Puri (KNIVET, 1875: 183- 271). No século XVII, O CAMINHO VELHO Salvador Correia de Sá e Benevides, como governador do Rio de Janeiro, ordena a abertura do caminho da Vila de Todo o processo de interiorização foi iniciado pelos Paraty para o sertão da Capitania de São Paulo, para que bandeirantes paulistas que se deslocavam com o objetivo desça o ouro das minas (RIHGB, 271, 1966: 347-348). de obtenção de escravos indígenas e na descoberta O caminho do Rio de Janeiro seguia por mar até de metais preciosos. Como conhecedores das trilhas Paraty, subia a serra do Facão, nas cercanias da atual indígenas (peaberus) através do Vale do Paraíba do Sul, cidade de Cunha, e em Taubaté entroncava na Estrada foram responsáveis pela abertura de caminhos para o Geral de São Paulo (Figura 3). De acordo com a descrição sertão, conhecidos como Caminho Velho de São Paulo de Antonil,em 1711, o percurso do Rio de Janeiro às ou Caminho Geral do Sertão, bem como o Caminho Minas levava em torno de 90 dias e partindo de São de Fernão Dias, por onde era comum implantarem Paulo entre 50 a 60 dias (POLLIG, 2012). pequenas roças ao longo destes, de forma a sustentar suas Artur de Sá e Meneses (1699-1702) ao se dirigir para empreitadas pelo interior. O Caminho Velho de São Paulo as minas por este caminho considerou que o trajeto além era alcançado pelo Rio de Janeiro através de uma antiga de difícil era perigoso, pois deixava os carregamentos de trilha indígena, conhecida como Caminho dos Guaianá, ouro que iam para o porto do Rio de Janeiro vulneráveis que da Vila de Paraty, atravessando a Serra do Mar na parte marítima aos ataques de piratas, facilitando (Paranapiacaba), alcançava o Vale do Paraíba do Sul. Este também o contrabando. Desta forma, o governador caminho foi amplamente utilizado por Martim de Sá em solicitou autorização de abertura de um novo caminho e suas incursões para aprisionamento de índios. Anthony a resposta da Coroa portuguesa foi rápida e positiva. Knivet, em 1597, descreve sua viagem pelo Caminho A abertura do Caminho Novo por Garcia Rodrigues Velho de Paraty, levando três dias para subir a serra, Paes se inicia em 1698 e, embora a picada entre a alcançando uma região de campos com muitos pinheiros região da atual Barbacena e o Rio de Janeiro estivesse (mata de araucária na região de Cunha), percorrendo aberta em 1702 (Figura 4), o transporte somente era tais campos por 40 dias e atravessando o rio Paraibuna. possível a pé e a carga carregada nas costas de escravos

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Figura 3 Mapa da capitania de S. Paulo, e seu sertão em que devem os Figura 4 Localização do Caminho Novo de Garcia Pais e Variante do Proença descobertos, que lhe forão tomados para Minas Geraes, como tambem o caminho de Goyazes, com todos os seus pouzos, e passagens / delineado por Francisco Tosi Columbina. [17--]. Biblioteca Nacional, cart1033415,

(POLLIG, 2012:96). A ligação entre as Minas Gerais e caminho em carta de 24 de maio de 1715 (ARAÚJO, o Rio de Janeiro pelo Caminho Novo somente teria sido 1820(3), p.55). Cabe lembrar que o ouro das minas de concluído por volta de 1704 (NOVAES, 2003/2004). São Paulo continuava a descer pelo Caminho Velho de Esse novo itinerário era percorrido em 10 a 12 dias, com Paraty ou pelo porto de Santos, assim como o proveniente 80 léguas ou 494 Km (CARVALHO, 2011). Entretanto, das recém descobertas minas de Cuiabá e Goiás. os carregamentos de ouro continuavam a descer pelo Apesar da abertura do Caminho Novo, o “caminho Caminho Velho de Paraty, tanto que em 1704 houve a velho” continuou em pleno uso pelas tropas de muares transferência da Casa dos Quintos da Vila de Taubaté e viajantes que demandavam para as regiões das Minas, para a Vila de Paraty, que alcança posição de destaque bem como ligação privilegiada entre o litoral fluminense e no controle e fiscalização das riquezas auríferas. A Vila o Vale do Paraíba Paulista. (ANTONIO FILHO, 2011). de Paraty, por sua posição geográfica, pelo seu porto e Os comerciantes de Paraty utilizavam este caminho por estar situada no início da Estrada Real, ampliou suas para levar produtos e mercadorias para as cidades de funções comerciais, tanto na ligação com as localidades Guaratinguetá, Lorena, Taubaté e vice-versa. do Vale do Paraíba, como aos novos centros urbanos Os relatos de viagem indicam a importância de que foram surgindo ao longo do caminho, em território alguns pousos devido as dificuldades do Caminho Velho, mineiro. ou seja, o alto declive da Serra do Mar e o clima que Com a abertura do Caminho Novo houve a limitava o período de seu percurso. Assim, ao subir a proibição de uso do Caminho por Paraty com o objetivo serra para evitar percorrê-la à noite se recorria ao pouso de impedir os descaminhos do ouro. Isto afetou a vila do Souza (RJ), da mesma forma antes de descer a serra há de Paraty cujos moradores suplicaram a liberação do informação sobre o de Aparição (SP).

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A estrada readquire importância com a expansão traçado, com uma extensão de 18.700 metros e um forte cafeeira (1820/1830), o que tornou as cidades do litoral declive, resultaram em suspensões e retornos das obras. sul fluminense em importantes portos de exportação do Em 1855, o governo provincial determinou análise Brasil meridional. Através dos Relatórios da Presidência do chamado “Atalho do Governador” na serra de Paraty, de da Província se pode observar a importância da estrada forma a estudar uma possível modificação na estrada com já que a maior parte do café de vilas de São Paulo (São objetivo de permitir o transito de carroças e carruagens. Luiz de Paraitinga, Guaratinguetá, Pindamonhangaba, Entretanto, as dificuldades apresentadas pelo estudo e o Lorena, Cunha e Taubaté, bem como de Areias) descia fato da inexistência de quem executasse tal obra, a nova para o porto de Paraty. estrada acabou abandonada. Apenas em dezembro de 1857 os negociantes “Vieira, Pedroso e Ca”, da cidade A ESTRADA NOVA DA SERRA DE PARATY do Rio de Janeiro, assumiram a construção do “atalho do governador” e as melhorias na estrada de Paraty até A situação da Estrada Velha, apresentada através de a picada do Miranda. Assim, a obra ficou dividida em documentos da Câmara de Paraty (RAMECK e MELLO, três seções: 1. Aterrado da várzea, do Largo do Rócio da 2004), é de necessidades urgentes de consertos, estreita e cidade de Paraty até a ponte do Bananal; 2. Da ponte sombria devido a vegetação, com o registro totalmente do Bananal até a ponte da Casseveira do registro velho, abandonado. Assim, nas primeiras décadas do século XIX conhecida como picada do Miranda; 3. O atalho do a câmara aponta a necessidade de construção de uma governador que ia do lugar denominado “Estiva Preta” nova estrada, ou seja, um novo traçado. até o alto da antiga picada nos limites com a província A construção de uma nova estrada somente era de São Paulo. possível com a disponibilização de recursos da Província Entretanto, são contestados os gastos com uma do Rio de Janeiro, pois os rendimentos da barreira da estrada que não correspondia aos interesses econômicos Estrada Velha não eram suficientes. A partir de 1836 o da província, já que a produção transportada por ela governo provincial destina recursos para consertos da não gerava recursos capazes de realizar a manutenção estrada velha, que em conjunto com os rendimentos da da estrada e nem contribuía de forma significativa para barreira, financiam as obras administradas pela câmara os cofres provinciais. O contrato foi rescindido e as e executadas por engenheiro indicado pelo governo. chuvas de 1861 e 1862 acarretaram desmoronamentos As análises dos relatórios da Presidência de Província de terras sobre o leito da estrada e nova arrematação ( 1836 até 1864) nos permite verificar as intervenções para continuação das obras. Com as obras finalizadas e dificuldades na construção de uma nova estrada e em 1864, nos anos seguintes as referencias da Estrada manutenção da que já existia na serra de Paraty. da Serra de Paraty desaparecem nos relatórios oficiais da Entre 1838 e 1839 foram realizados estudos e Província. as obras de uma estrada nova iniciadas, enquanto se Apenas na década de 1920, a estrada da serra de faziam consertos através de estivas, aterros e calçadas Paraty reaparece nos relatórios oficiais como Estrada na velha para garantir o fluxo de tropeiros que desciam Paraty-Cunha, com o objetivo de transformá-la em uma e subiam a serra. Entretanto, as obras da nova estrada estrada de rodagem. As obras, sob a responsabilidade foram suspensas em 1840. Aos poucos os tropeiros do Departamento Nacional de Obras e Saneamento abandonaram a estrada velha, por ser intransitável, e o (DNOS), foram iniciadas em 1921 com a reconstrução comércio de Paraty começou a decair. dos 6 km da cidade de Paraty até a Raiz da Serra. A A retomada das obras, em socorro à Vila de Paraty construção ( 11 Km) e reconstrução (9 Km) do trecho que dependia do comércio, somente ocorre na década de da Ponte do Bananal até a divisa com São Paulo foram 1850. Assim, na estrada velha foram aterrados os atoleiros iniciados em 1925 (Relatórios da Presidência do Rio de da várzea, calçadas e cavas construídas em diversos Janeiro, 1921 até 1929). locais, bem como foram retiradas árvores em cerca de quase quatro quilômetros. No ano seguinte (1851), foi OS REGISTROS ARQUEOLÓGICOS aberto um atalho com 4.719 metros que representou uma diminuição de 1.540 metros no traçado original O Sítio Histórico do Caminho do Ouro, da estrada velha, atravessando um terreno considerado localizado no bairro do Penha, com pavimentação ainda melhor, que passou a ser utilizado antes de receber algum preservada, se encontra interrompido em vários pontos tipo de calçamento. Entretanto, as dificuldades do novo por deslocamento das pedras e, em alguns locais se

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pode observar que se encontra coberto por sedimento de rocha utilizados na pavimentação também variam de e vegetação (Figuras 5 e 6). A largura da pavimentação tamanhos (Figuras 7 e 8). O traçado do Caminho segue apresenta variações, sendo mais estreito em alguns setores pela parte alta dos morros (Figura 9) (2,20 metros) e mais largo em outros (4 metros). Os blocos

Figura 5 Trecho do Sítio Histórico do Caminho do Ouro coberto por Figura 7 Blocos de rocha formando escada no Sítio Histórico do Caminho sedimento do Ouro

Figura 6 Trecho do Sítio Histórico do Caminho do Ouro coberto por sedimento Figura 8 Estiva em madeira

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Figura 9 Sítio Histórico do Caminho do Ouro Figura 10 Escavação sistemática – Pavimentação de pedra pé-de-moleque

Nas proximidades do Sítio Histórico está localizado o O setor junto ao córrego estava coberto por espessa sítio arqueológico identificado como Casa da Provedoria. camada de aterros, devido às obras de drenagem e De acordo com Ribas (2003) os vestígios da edificação construção da estrada RJ 165. Abaixo desta camada de correspondem a fundações em pedra seca, onde se podem aterros encontramos o limite desta pavimentação, com identificar três cômodos, além do que poderia se tratar vestígios de uma fogueira sobre a mesma e dois fragmentos de uma pequena varanda. A área apresenta um muro de ferraduras de mula, indicando a passagem de tropeiros de pedra cerca em seu entorno, estando bem próxima a (Figura 12). estrada calçada. Os três cômodos identificados estariam De acordo com as informações dos Relatórios destinados um para o provedor, outro para o escrivão da Presidência de Província este trecho preservado de e o terceiro que deveria funcionar como escritório para calçamento de pedra pé de moleque corresponderia ao verificação da documentação e pagamento de impostos. antigo “atalho do governador” construído no século XIX, A presença dos muros, provavelmente, destinava-se ao referente às obras da Estrada Nova da Serra de Paraty. resguardo dos muares durante a verificação das cargas e No século XX, com a necessidade de transformação pesagem. das estradas para veículos motorizados, foi construída a A presença de faiança inglesa das marcas Davenport, estrada RJ 165, que se sobrepõe sobre a Estrada Nova W. Adams & Sons e Copeland (RIBAS, 2003, p. 87), da Serra na maior parte do seu traçado (Figura 13). bem como garrafas em grés inglesas e holandesas, indicam Da pavimentação original desta estrada, construída no funcionamento após 1808, quando com a abertura dos período de 1925-1929, foram identificados vestígios em portos o Brasil passou a receber uma imensa quantidade apenas um setor com a utilização de pequenos blocos de produtos da Inglaterra. Além dos fragmentos de irregulares de granito. louça e vidros, há registros de objetos metálicos, alguns correspondentes a pesos de chumbo, com datas de 1808 ARQUEOLOGIA E CARTOGRAFIA a 1844. (RIBAS, 2003, p. 88). HISTÓRICA­ Os estudos de Arqueologia Preventiva identificaram vestígios arqueológicos relacionados a estrada com Embora a cartografia seja uma “representação do calçamento “pé de moleque”, localizados a 1447 processo cognitivo de um espaço físico”, influenciada por metros de altitude, ao lado da RJ-165 (Figura 10). As diferentes processos sociais e culturais (GUIMARÃES, escavações arqueológicas evidenciaram 18 metros de 2009, p.2), ela contem alguma rigidez ao indicar acidentes calçamento, com 2,20 m de largura, apresentando leve geográficos e vilas, cuja materialidade permite identificar curva interrompida pela construção da atual estrada referenciais para nossas interpretações. Os mapas, (Figura 11). Conforme se aproxima do córrego local o como produto, buscam atender a objetivos e públicos calçamento apresenta um desnível de 10 cm, como um específicos, por isso são eloqüentes não somente no que degrau. registram como também no que ocultam.

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Figura 11 Localização da pavimentação de pedra pé-de-moleque

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A primeira carta analisada foi a de Manuel Vieira Leão intitulada “Cartas topographicas da capitania do Rio de Janeiro: mandadas tirar pelo Illmo. e Exmo. Sr. Conde da Cunha Capitam general e Vice-Rey do Estado do ”, folha 8, de 1767. Nesta carta o traçado do Caminho Velho está bem definido, bem como a topografia da região, onde visualizamos as vilas, paragem, marco e o registro do Boqueirão (Figura 14). O Marco da Boa Vista do Campo está localizado sobre uma linha vermelha indicativa da divisa das capitanias do Rio de Janeiro e São Paulo, após uma cadeia de montanhas, para além das nascentes do que ele denominou rio Jacui. O termo indica que não se trata de visualização da baía de Paraty, mas provavelmente os campos de Cunha, e próxima a esta linha há indicação de uma paragem denominada Aparição. O registro do Boqueirão do inferno está indicado em um ponto na cadeia de montanhas mais altas, próximo a nascente de um rio, tributário do “Parati guaçu” (Perequeaçu). Podemos observar dois outros rios tributários do “Parati guaçu”, onde há ocupações coloniais, provavelmente a área de Bananal Velho que aparece nos registros de terras de 1855. Também se pode

Figura 12 Pavimentação de pedra pé-de-moleque com vestígios de fogueira

Figura 13 Comparação do traçado da Paraty – Cunha na área do Sítio Estiva Preta em 1937 com o traçado atual

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Figura 14 Cartas topographicas da capitania do Rio de Janeiro : mandadas tirar pelo Illmo. e Exmo. Sr. Conde da Cunha Capitam general e Vice-Rey do Estado do Brazil - Manuel Vieira Leão - Folha 8 – 1767 - BN (Brasil) - cart512339

observar que a montante do “Parati guaçu” está sinalizado tido preocupação em assinalar a cadeia de montanhas, o que, provavelmente se refere ao rio do sertão (a Oeste) e onde está assinalado o registro do Boqueirão e, o Marco o Carrasquinho como seus formadores. da Boa Vista encontra-se após estas montanhas em A segunda carta selecionada foi a “Planta em q. se direção a Cunha (Figura 15). mostrão as guardas e registos q. há na capitania do Rio de A terceira carta do século XVIII é intitulada “Carta Ianeiro”, de autor desconhecido, também datada de 1767. Corographica da capitania do Ryo de Janeyro, capital Como o titulo indica a preocupação foi a localização dos dos estados do Brasil”, de Francisco João Roscio, datada registros e guardas, talvez por isso o autor apenas tenha de 1777 (Figura 16). A sequência da serra está bem

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Figura 15 Planta em q. se mostrão as guardas e registos q. há na capitania do Rio de Ianeiro 1767 -BN (Brasil) cart534307

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Figura 16 Carta corographica da capitania do Ryo de Janeyro, capital dos estados do Brasil, de Francisco João Roscio - 1777 BN (Brasil) - cart534317

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demarcada, onde estão as nascentes dos rios, bem como as capitanias do Rio de Janeiro e São Paulo. Podemos uma linha amarela obedecendo ao mesmo traçado do observar que após as nascentes do rio Jacui está o mapa de Vieira Leão (1767) parece indicar o limite entre marco da Boa Vista. Próximo a nascente de um grande

Figura 17 Detalhe da Carta Geographica da Provincia do Rio de Janeiro copiada no Real Archivo Militar - Lisboa - 1823 - BN (Brasil) - cart. 171 000

Figura 18 Partie du Bresil. Amer. Merid. no. 28. (Dresse par Ph. Vandermaelen, lithographie par H. Ode. Cinquieme partie. - Amer. merid. Bruxelles. 1827) - http:// www.davidrumsey.com/maps1010013-25267.html

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tributário do “Parati Guaçu” está assinalado o Registro assinalar a presença de uma guarda do Boqueirão no do Boqueirão do Inferno. As nascentes deste tributário alto da serra, não mais um registro, entre as nascentes estão na direção Noroeste, enquanto a nascente do dos rios que dão origem ao Jacui e as que dão origem ao “Parati guaçu” está para Oeste. Estão assinalados dois Carrasquinho. Podemos perceber que o conjunto de serras outros tributários no lado esquerdo do “Parati guaçu”, e da subbacia do Carrasquinho define o denominado onde se encontram ocupações coloniais. Boqueirão (do Inferno). Aparece uma guarda nova mais Assim, podemos observar que o traçado do abaixo, na margem direita, o que parece corresponder à Caminho Velho segue pela margem esquerda de um dos mudança de local indicado nas fontes escritas. principais tributário do Perequeaçu, o rio Carrasquinho, Já a segunda carta, devido à escala utilizada, apenas com preferência em seguir pela parte alta do relevo. nos informa a existência de uma única estrada e destaca Nos mapas a localização indicada para o Registro do a subida íngreme da serra para se alcançar o território Boqueirão reforça o próprio nome, ou seja, localizado em paulista, bem como a da Serra Quebra Cangalhas para a uma garganta estreita na serra. Em todos somente está região de Guaratinguetá. representado um caminho em direção a São Paulo e as Para o período em que as autoridades provinciais Minas. relatam obras para uma nova estrada foram selecionadas As cartas do século XIX foram selecionadas de a “Carta Chorographica da província do Rio de Janeiro acordo com os períodos indicados nas análises das fontes mandada organisar por Decr. da Assemblea Prov. de 30 de textuais, isto é, anterior a elaboração de projeto de Out. de 1857” , encarregada aos Engs. Pedro d’Alcantra construção da Estrada Nova e após a conclusão das obras. Bellegarde e conrado Jacob de Niemeyer - 1858-1961 Assim, selecionamos para o primeiro período a (Figura 19), a “Nova Carta Chorographica da Província “Carta Geographica da Província do Rio de Janeiro do Rio de Janeiro, organizada sobre os trabalhos de Pedro copiada no Real Archivo Militar” de 1823 (Figura 17) D’Alcantara Belegarde e Conrado Jacob de Niemeyer” e a “Partie du Bresil. Amer. Merid. no. 28.” de Ph. de 1867 (Figura 20) e a “Nova Carta Chorographica da Vandermaelen de 1827 (Figura 18). Província do Rio de Janeiro” de G.W. and C.B. Colton & Na primeira carta a preocupação do autor foi Co, datada de 1866 (Figura 21).

Figura 19 Carta chorographica da província do Rio de Janeiro mandada organisar por Decr. da Assemblea Prov. de 30 de Out. de 1857 ... Encarregada aos Engs. Pedro d’Alcantra Bellegarde e conrado Jacob de Niemeyer - 1858-1961 - BN (Brasil) - cart173951

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Figura 20 Nova carta chorographica da provincia do Rio de Janeiro... G.W. and C.B. Colton & Co - 1866 - BN (Brasil) - cart 537126

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Em todas as cartas estão assinaladas duas estradas, ou Caminho Velho do Ouro e a Estrada Nova da Serra. ou seja, mesmo não estando a nova totalmente concluída, Os sérios problemas da estrada velha levou a esta permitia o trânsito de tropeiros e passageiros, embora solicitação, por parte dos habitantes de Paraty, na a presença da velha indique que ainda era utilizada pelos construção de uma nova estrada. De acordo com o moradores locais. Em todas se encontra sinalizado o Relatório da Presidência de Província de 1840 (p.28) a atalho que teria diminuído o percurso da Estrada Velha, construção da estrada nova foi abandonada quando já construído na área denominada Bananal. haviam sido construídas 1085 braças de calçadas com 20 Uma estrada sobe a serra pelo lado direito, palmos de largura e 319 de cavas. Em 1843, as autoridades acompanhando o rio Carrasquinho, de forma similar provinciais indicam que o transito de tropeiros e pessoas ao observado nas cartas do século XVIII, indicando continuam pela estrada velha, onde a manutenção ocorria tratar-se da Estrada Velha. Já a outra estrada segue pela através de estivas, aterros e pequenas calçadas, com esquerda, acompanha o Perequeaçu e o rio do Sertão, recursos da barreira de Paraty e dos cofres provinciais. transpassando o alto da serra em ponto distante da antiga A situação das estradas da Serra de Paraty entre 1846 e estrada. O ponto de divergência das estradas ocorre na 1850 não havia se modificado, ou seja, a velha em estado região denominada Bananal, sendo coincidentes no intransitável e a nova com as obras interrompidas. Entre trecho entre esta e a vila de Paraty. os anos de 1854 e 1855 foram realizados os estudos da abertura do chamado “atalho do Governador”, de forma DISCUSSÃO a dar continuidade à construção da estrada nova. O contrato estabelecido com os responsáveis pela obra no Como já foi apresentado anteriormente, são duas final da década de 1850 indica que calçadas largas de estradas que atravessam a Serra de Paraty, a Estrada Velha pedra foram construídas em terrenos firmes, enquanto

Figura 21 Nova carta chorographica da provincia do Rio de Janeiro, organisada sobre os trabalhos de Pedro D’Alcantara Belegarde e Conrado Jacob de Niemeyer... 1867 - BN (Brasil) - cart 173948

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que nos terrenos baixos e nos com pouca solidez as FONTES DOCUMENTAIS IMPRESSAS calçadas de pedra possuíam cerca de 2,40 metros de largura, em outros pontos o leito da estrada foi coberto 1660 – 21/08 – Documento de cascalho e pedra fortemente comprimido (\relatório Salvador Correia de Sá e Benevides sobre abrir do Vice Presidente de Provincia, 1859, anexo AI1-4). caminhos da Vila de Paraty para as do sertão da capitania As análises da cartografia da década de 1850 de São Paulo. Transcrição. Revista do Instituto Histórico confirmam que o traçado da Estrada Nova da Serra de Geográfico Brasileiro, 271, 1966, p.347-348 Paraty era coincidente com a Velha apenas no trecho entre 1717 - Diário a Vila e a região do Bananal, portanto, na área de várzea. Diário da jornada que fez o Exm.º senhor Dom A partir deste ponto estas seguiam traçados distintos, a Pedro desde o Rio de Janeiro até a cidade de São Paulo, e velha seguindo pelo rio Carrasquinho e a nova pelo rio desta até as Minas - ano de 1717 (cópia fiel do manuscrito Perequeaçu. 382-8 da Academia de Ciências). In: Revista do Serviço do A partir de tais informações documentais, a Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, identificação de trechos de pavimentação de pedra pé n.3, pp. 295-316, 1939. de moleque ao lado da RJ 165 e no Sítio Estiva Preta 1725 – 03/07 – Carta indicam tratar-se da Estrada Nova, especialmente ao O Governador do Rio de Janeiro Luiz Vahia antigo “Atalho do Governador”. Monteiro informa que Angra pertence a jurisdição do Rio de Janeiro e Paraty ao governo de São Paulo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Governadores do Rio de Janeiro. Correspondência activa e passiva com a Corte. Livro II, Publicação do Arquivo A partir das informações documentais e cartográficas Nacional, XV, 1915, p. 15 podemos definir que até as primeiras décadas do século 1725 – 6/07 – Carta XIX havia apenas uma estrada que ligava Paraty ao Vale Carta para Ayres de Saldanha Albuquerque sobre a do Paraíba do Sul, a Estrada Velha ou Caminho Velho do abertura de um novo caminho pelo Sarg,mor Bernardo Ouro. A dificuldade deste traçado aliada aos constantes Soares de Proença que diminuiria o tempo e evitaria a acidentes climáticos característicos desta região levou a serra. Governadores do Rio de Janeiro. Correspondência elaboração de projetos para uma nova estrada. activa e passiva com a Corte. Livro II, Publicação do O traçado da Estrada Nova da Serra de Paraty era Arquivo Nacional, XV, 1915, p.223 coincidente com a Velha apenas no trecho entre a Vila 1725 – 10/07 - Carta e a região do Bananal, portanto, na área de várzea. A O Governador do Rio de Janeiro Luiz Vahia partir deste ponto estas seguiam traçados distintos, a Monteiro informa sobre o Rendimento dos escravos velha seguindo pelo rio Carrasquinho e a nova pelo que da cidade do Rio de Janeiro que vão para as Minas, rio Perequeaçu. Assim, o trecho de pavimentação em para as vilas de Paraty, Santos, Paranaguá e São Paulo. pedra pé de moleque evidenciado pelas intervenções Governadores do Rio de Janeiro. Correspondência activa arqueológicas corresponde a Estrada Nova construída no e passiva com a Corte. Livro II, Publicação do Arquivo século XIX. Nacional, XV, 1915,p.23-24 1726 – 10/ 07 - Carta AGRADECIMENTOS Descaminhos do ouro. Governadores do Rio de Janeiro. Correspondência activa e passiva com a Corte. Agradecemos aos pesquisadores, técnicos e discentes Livro II, Publicação do Arquivo Nacional, XV, 1915, p. que de alguma forma contribuíram para a este trabalho, 88 -89 em especial a André Argolo de Aguiar, Maria Antonieta 1726 – 05/07 - Carta da C. Rodrigues, Lelia Maria de Araujo Kalil Thiago, Envio de capitão pela estrada das minas de forma a Sergio Bergamaschi, Miguel Angelo Mane, Douglas examinar todos os passageiros, ao mesmo tempo todas as Bastianon, Ivan Francisco da Silva, Guilherme Vieira de embarcações vindas de Paraty, que havia passado para a Souza, Claudia de Sá Matos, Jaqueline Gomes Santos, jurisdição do Rio de Janeiro em 16 de janeiro de 1726. . Luciana Vasconcelos da Paz, Edmar Carlos Gomes da Governadores do Rio de Janeiro. Correspondência activa Silva Cavalcanti, Alexandre Guilherme Silva Braucks e passiva com a Corte. Livro II, Publicação do Arquivo Vianna e Larissa Lima da Silva. Nacional, XV, 1915, p. 143

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1726 – 07/11 - Carta Guardas nas enseadas, rios e na picada do caminho Ordem para construção de um ”cais flanqueado” em para a estrada que vem de São Paulo, por onde ocorrem Paraty. Governadores do Rio de Janeiro. Correspondência os maiores descaminhos. Vistoria nas embarcações na activa e passiva com a Corte. Livro II, Publicação do baia de Ilha Grande, principalmente as que vêm da Arquivo Nacional, XV, 1915, p.158 -162 costa de Santos, S Sebastião e Ubatuba onde não há 1726 -14/10 - Carta guardas e regimentos, os que vem pela estrada de Paraty Carta recebida por Vahia Monteiro, escrita por que se afastam da mesma antes da guarda do registro. Antonio Roiz da Costa e Joseph de Carvalho e Abreu. Governadores do Rio de Janeiro. Correspondência activa Resposta do governador de São Paulo, Rodrigo Cezar e passiva com a Corte. Livro II, Publicação do Arquivo de Meneses, de ter dado conta da ordem de abertura Nacional, XV, 1915, p.415-416 do caminho para o Rio de Janeiro, não tendo concluído 1732 - Documento por embaraço causado por requerimento de alguns Itinerário Geografico com a verdadeira descrição dos moradores de Paraty. Governadores do Rio de Janeiro. caminhos, estradas, roças, sitios, povoações, lugares, vilas, Correspondência activa e passiva com a Corte. Livro II, rios, montes e serras, que há da cidade de S. Sebastião do Rio Publicação do Arquivo Nacional, XV, 1915, p.191 de Janeiro até as Minas do Ouro, Composto por Francisco 1727 – 06/07 - Carta Tavares de Brito. Sevilha, Officina de Antonio Sylva, Resposta de Vahia Monteiro informando que os MDCCXXXII. moradores de Guaratinguetá, responsáveis pela abertura 1751 – Documento deste caminho, petição de moradores de Angra e Paraty. Conde de Azambuja. Relação da viagem que fez da Governadores do Rio de Janeiro. Correspondência activa cidade de São Paulo para a vila do Cuiabá no ano de 1751. e passiva com a Corte. Livro II, Publicação do Arquivo Biblioteca Nacional de Portugal, dispon´vem em http:// Nacional, XV, 1915, p. 192-193 purl.pt/16750 1727 – 18/07 – Carta 1835 – 1863 Documentos Entrada de escravos para SP e as Minas Geraes Relatórios de Presidência da Província do Rio de pelo porto de Santos e, para Taubaté e Guaratingueta Janeiro - Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, disponível pelo porto De Paraty. Governadores do Rio de Janeiro. em http//www.crl.edu/brazil Correspondência activa e passiva com a Corte. Livro II, 1921 - 1929 – Documentos Publicação do Arquivo Nacional, XV, 1915, p. 212 Relatórios de Presidência do Estado do Rio de Janeiro 1727 -31/07 – Carta - Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, disponível em http// Descaminhos do ouro pelo caminho velho que vai www.crl.edu/brazil para São Paulo e as Minas Gerais pelas vilas de Taubaté e Guaratinguetá. Governadores do Rio de Janeiro. FONTES CARTOGRÁFICAS Correspondência activa e passiva com a Corte. Livro II, Publicação do Arquivo Nacional, XV, 1915, p. 221 1767 - Carta topográfica da capitania do Rio de 1728 – 25/11 – Carta Janeiro. Por: Leão, Manuel Vieira.. Biblioteca Nacional Abertura de um caminho por terra, maior segurança (Brasil)- cart512339 para transporte do ouro de São Paulo, das dificuldades Século XVIII Mappa da capitania de S. Paulo, e seu que teria que passar pelas terras dos jesuítas e outros sertão em que devem os descobertos, que lhe forão tomados poderosos no Rio de Janeiro. Governadores do Rio de para Minas Geraes, como tambem o camiho de Goyazes, com Janeiro. Correspondência activa e passiva com a Corte. todos os seus pouzos, e passagens Por Columbina, Francisco Livro II, Publicação do Arquivo Nacional, XV, 1915, p Tosi.. Biblioteca Nacional (Brasil) cart1033415 382/383 1767 Planta em q. se mostrão as guardas e registos q. 1729 -13/02 – Carta há na capitania do Rio de Ianeiro.. Biblioteca Nacional Registro de ouro vindo de SP e de Minas Gerais (Brasil) cart534307 pelo caminho velho de Paraty. Governadores do Rio de 1777 Carta corographica da capitania do Ryo de Janeiro. Correspondência activa e passiva com a Corte. Janeyro, capital dos estados do Brasil. Por Francisco João Livro II, Publicação do Arquivo Nacional, XV, 1915, p Roscio. Biblioteca Nacional (Brasil) cart534317 322 1823 Carta geographica da Provincia do Rio de 1729 – 09/08 – Carta Janeiro. Biblioteca Nacional (Brasil) cart171000.

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