MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria-Geral da República

RECLAMAÇÃO Nº 36.542/PR RECLAMANTE: Guido Mantega RECLAMADO: Juiz Federal da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR PETIÇÃO GTLJ/Nº 369525/2019

Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes,

O Ministério Público Federal, por intermédio do Sub-Procurador-Geral da República, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, vem interpor AGRAVO REGIMENTAL contra a decisão monocrática datada de 03 de setembro de 2019, por meio da qual o Ministro Relator julgou procedente a Reclamação para, somente em relação ao reclamante, declarar a incompetência da 13ª Vara da Subseção Judiciária de Curitiba/PR e determinar a imediata remessa dos autos da Ação Penal n. 5033771- 51.2018.4.04.7000 para a Justiça Federal do Distrito Federal.

Em: 22/11/2019 - 08:47:08

Impresso por:I –087.638.319-37 Breve resumo Rcl 36542

Trata-se de reclamação ajuizada por Guido Mantega, com pedido de liminar, contra decisão proferida pelo juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR, nos autos do pedido de prisão preventiva n. 5039848-42.2019.4.04.7000/PR, instrumental à Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/PR, por suposta ofensa à Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

autoridade do acórdão proferido pela Segunda Turma desse STF nos autos da Petição n. 7.075.

Na origem, o reclamante, junto a vários outros corréus, foi denunciado pela prática dos crimes de corrupção ativa e passiva e de lavagem de dinheiro, consubstanciados nas tratativas para a edição das Medidas Provisórias n. 470 e 472, conjunto legislativo denominado “Refis da Crise” e relativas a parcelamentos tributários de interesse da Braskem Petroquímica, com a contrapartida do pagamento de R$ 50.000.000,00 ao Partido dos Trabalhadores.

Posteriormente, o juízo de primeiro grau decretou medidas cautelares pessoais em desfavor do reclamante e pessoas associadas.

Segundo sustentado na presente Reclamação, a autoridade reclamada fundamentou a imposição das medidas cautelares em transações bancárias no exterior feitas por Victor Sandri, corréu de Guido Mantega em ação penal que tramita na Seção Judiciária do Distrito Federal, no âmbito da “Operação Bullish”.

Ao assim agir, teria violado a autoridade do acórdão proferido pela Segunda Turma desse STF na Pet. n. 7.075, na qual foi determinada a remessa dos Termos de Depoimento n. 1, 2 e 9 de Joesley Mendonça Batista e n. 2 de Ricardo Saud para a Justiça Federal do Distrito Federal, juízo aparente para processar e julgar os fatos narrados, nos quais estão implicados o reclamante e Victor Sandri.

Aduz o reclamante, ainda, a incompetência do juízo de primeiro grau para a causa, pois o STF, em outros julgados, tais como na Pet. n. 6.664 e no Inq. n. 4.325, teria assentado que fatos de competênciaEm: 22/11/2019 da Justiça - 08:47:08 Federal que não tenham relação direta com a devem ser processados perante o juízo territorialmente competente – no caso da ação penal em trâmite perante o juízo reclamado, a Seção Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 Judiciária do Distrito Federal.

Requer, liminarmente, o sobrestamento do trâmite da Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/PR e do cumprimento das cautelares decretadas nos autos n. 5039848-42.2019.4.04.7000/PR e, ao final, o reconhecimento da incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR para processar e julgar a ação penal, com a remessa dos autos para a Seção Judiciária do Distrito Federal.

Em 28 de agosto de 2019, o reclamante peticionou nos autos da Reclamação em epígrafe, requerendo a suspensão da decisão reclamada até a apreciação do pedido liminar, em vista do constrangimento a que seria submetido caso, após se deslocar de Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

São Paulo/SP para Curitiba/PR para colocar a tornozeleira eletrônica, recebesse pronunciamento favorável nestes autos.

O Ministro Relator acolheu esse pedido posterior, nos seguintes termos:

Em juízo de cognição sumária, configura-se a plausibilidade jurídica da tese apre- sentada na presente reclamação, uma vez que esta Suprema Corte possui preceden- tes, inclusive em decisões relativas ao reclamante, em que se afirma que a competência da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR cinge-se a “fraudes e desvios de recursos no âmbito da Petrobras” (Pet 7075, Redator p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 15/08/2017, Dje 06-10-2017). Percebo ainda que, na hipótese de ser deferido o pedido de liminar apresentado nesta reclamação, a aplicação imediata das medidas cautelares decretadas na deci- são reclamada, sobretudo a colocação da tornozeleira eletrônica junto ao corpo, prevista para acontecer em 29 de agosto de 2019, poderia causar dano de difícil re- paração ao reclamante, consubstanciado nas restrições à liberdade que passaria a sofrer. Ademais, ressalta-se que a apreciação do pedido liminar nesta ação pende ainda da apresentação de informações pelo Juízo de Origem (eDOC 21), não podendo o re- clamante sofrer eventuais limitações indevidas às suas garantias individuais pela demora na instrução do feito. Sendo assim, defiro a suspensão da decisão reclamada no ponto em que deter- minou a apresentação do reclamante em Juízo, em 29 de agosto de 2019, para colocação da tornozeleira eletrônica, até a devida apreciação do pedido liminar na presente reclamação.

Na sequência, a defesa de Maurício Roberto de Carvalho Ferro requereu a extensão dos efeitos dessa decisão, em síntese, por estar na mesma situação fática de Guido Mantega.

Na sequência, o Relator julgou procedente a Reclamação, para, apenas em relação a Guido Mantega, declararEm: a22/11/2019 incompetência - 08:47:08 da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR para a Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000 e determinar a remessa dos autos para a Justiça Federal do Distrito Federal, bem como suspender as medidas Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 cautelares impostas nos autos n. 5039848-42.2019.4.04.7000 até serem apreciadas pela Justiça Federal do Distrito Federal.

Em face dessa decisão é que se interpõe o presente agravo regimental. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

II

II.1 Da improcedência do pedido deduzido na presente Reclamação.

Inicialmente, cabe destacar a improcedência prima facie da Reclamação. Esse exercício será necessário para demonstrar a flagrante burla ao processo penal ora engendrada, bem como a inviabilidade de extensão dos efeitos da liminar ao requerente Maurício Ferro. Os fatos narrados por Joesley Mendonça Batista, em seus Termos de Depoi- mento n. 1, 2 e 7 e por Ricardo Saud, no Termo de Depoimento n. 2, são referentes ao pagamento de vantagens indevidas aos ex-Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e , com a participação do reclamante como contrapartida a favorecimentos imple- mentados no âmbito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BN- DES) e dos fundos de pensão Petros e Funcef, visando benefícios ao Grupo J&F, por meio de transferências em contas no exterior na ordem de U$ 50.000.000,00 e U$ 30.000.000,00, respectivamente.

Na Pet. n. 7.075, foi dado provimento a agravo regimental interposto pelo reclamante de decisão monocrática proferida pelo Ministro , que determinou a remessa de cópias de tais termos de depoimento para as Seções Judiciárias do Distrito Federal e do Paraná. O voto-condutor do acórdão, proferido pelo Ministro Gilmar Mendes, entendeu ser devida a remessa apenas para o primeiro destino, pelas seguintes razões: Em: 22/11/2019 - 08:47:08 No caso específico, parece-me, a mim, que tem razão o agravante. Porque, se os fatos não guardam relação, a partir de precedentes vários que temos - inclusive da relatoria deImpresso Vossa Excelência, por: 087.638.319-37 em tempos mais recentesRcl 36542 -, com a questão da "Lava Jato", o tema não deveria ser encaminhado a Curitiba, mas sim às varas competen- tes do Distrito Federal. Então, essa é a questão que me parece estar posta. Não se trata de simplesmente fazer-se um desmembramento e se encaminhar cópias para 2 varas - ou daqui a pouco 3 ou 4 -, para que os juízes definam quem será "compe- tente para", gerando, portanto, um conflito indesejado e provocando insegurança jurídica. Sei que o pedido do Ministério Público é nesse sentido, mas me parece que isso amplia a perplexidade.

A decisão reclamada, por outro lado, decretou medidas cautelares pessoais em desfavor do reclamante e a prisão preventiva do requerente em autos instrumentais à Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/PR, cujo objeto, conforme já relatado, é o pagamento de vantagens indevidas pelo grupo Odebrecht, mediante a

instrumentalização do patrimônio da Braskem, ao Partido dos Trabalhadores, por Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

intermédio de Guido Mantega e de Antônio Palocci, em razão da edição das medidas provisórias n. 470/2010 e 472/2010. Parte da vantagem indevida, ainda, foi entregue aos publicitários Mônica Moura e João Santana.

O reclamante afirma que o ato reclamado fundamentou a aplicação de medidas cautelares em elementos de convicção que apontam a prática de crimes já objeto de denúncia perante a Seção Judiciária do Distrito Federal. Tal procedimento evidenciaria o desrespeito à determinação desse STF, ao implicar invasão de competência alheia.

A insurgência, como se vê, é absolutamente despropositada.

Não há confusão alguma entre o objeto da Ação Penal n. 5033771- 51.2018.4.04.7000/PR, que é claro e delimitado, e a mera referência, no ato reclamado (decisão de decretação de prisão preventiva), a elementos de prova extra-processuais que servem para demonstrar a presença dos requisitos autorizadores da aplicação de medidas cautelares, nos termos dos arts. 282, I e II, e 319 do CPP.

A referência a inquéritos policiais e ações penais em andamento distintas do processo principal para fundamentar o decreto de prisão preventiva para a garantia da ordem pública, ou para a aplicação de medidas cautelares alternativas, não destoa da jurisprudência desse STF. Nesse sentido:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PRISÃO EM FLAGRANTE. TENTATIVA DE FURTO QUALIFICADO. ROM- PIMENTO DE OBSTÁCULO E MEDIANTE FRAUDE, ESCALADA OU DES- TREZA. ART. 155, §4º,Em: I 22/11/2019E II, C/C ART. - 08:47:08 14, II, AMBOS DO CP. PRISÃO PREVENTIVA. DECISÃO CALCADA EM ELEMENTOS CONCRETOS. RE- GISTROS DE INQUÉRITOS POLICIAIS E AÇÕES PENAIS EM ANDA- MENTO.Impresso NECESSIDADE por: 087.638.319-37 DA CUSTÓDIA PREVENTIVA. Rcl 36542 COMPROVAÇÃO. AVERIGAÇÃO DE ANOTAÇÕES CRIMINAIS PELO JUIZ DA CAUSA. ATU- AÇÃO EX OFFICIO DENTRO DOS LIMITES JURISDICIONAIS. ART. 156 DO CPP. NÃO CONHECIMENTO DO WRIT. 1. Não se admite habeas corpus substitutivo de recurso extraordinário, sob pena de ofensa ao regramento do sistema recursal previsto na Constituição Federal. 2. A periculosidade do agente pode ser aferida por intermédio de diversos ele- mentos concretos, tal como o registro de inquéritos policiais e ações penais em andamento que, embora não possam ser fonte desfavorável da constata- ção de maus antecedentes, podem servir de respaldo da necessidade da impo- sição de custódia preventiva. 3. Diante do disposto no art. 156 do CPP, não se reveste de ilegalidade a atuação de ofício do Magistrado que, em pesquisa a banco de dados virtuais, verifica a pre- sença de registros criminais em face do paciente. 4. Writ não conhecido, com revo- gação da liminar anteriormente deferida. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

(HC 126501, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, julgado em 14/06/2016, PROCESSO ELE- TRÔNICO DJe-211 DIVULG 03-10-2016 PUBLIC 04-10-2016) – Original sem grifo

Com efeito, a referência, no ato reclamado, às contas de titularidade do reclamante mantidas no exterior não se deu em decorrência da aduzida investigação clandestina em inobservância ao paradigma invocado, mas sim porque os órgãos persecutórios obtiveram tais elementos de prova de modo independente ao longo da investigação criminal. O juízo reclamado bem ilustrou o ponto nas informações prestadas nos autos:

Para fundamentar o cabimento das medidas cautelares, foram utilizados, dentre vários outros elementos probatórios vinculados à ação penal 5033771- 51.2018.4.04.7000, informações transmitidas espontaneamente pelas autoridades da Suíça a respeito de duas contas mantidas no exterior por Guido Mantega. Guido Mantega teria uma conta em nome próprio, de n.º 89419. Outra conta esta- ria no nome da off-shore Papillon Company. Ambas teriam sido abertas no Ban- que Pictet & Cie S/A. Uma delas teria recebido valores provenientes de conta controlada por Victor San- dri. Transcreve-se: "Descoberto, ainda, que Guido Mantega é titular e benefíciário final de pelo menos duas contas bancária na Suíça, com ativos milionários. Tais informações vieram ao Brasil por meio de transmissão espontânea das autoridades suíças (evento 1, anexo112). O procedimento de transmissão espontânea de informação, que consiste ba- sicamente na transmissão da prova colhida na Suíça para o Brasil sem soli- citação prévia, encontra apoio expresso no art. 29 do Tratado de Cooperação Jurídica em MatériaEm: Penal 22/11/2019 entre Brasil - 08:47:08 e Suíça promulgado pelo Decreto nº 6.974, de 07/10/2009. No processo 5014724-91.2018.4.04.7000, autorizou-se, a pedido do MPF, o envio de pedido de cooperação jurídica internacional para obter informações maisImpresso detalhadas por: sobre 087.638.319-37 as contas e Guido MantegaRcl 36542 teria uma conta em nome próprio, de n.º 89419. Outra conta estaria no nome da off-shore Papillon Company. Ambas teriam sido abertas no Banque Pictet & Cie S/A (evento 1, anexo46). As investigações iniciadas na Suiça em 14/07/2017 levaram ao bloqueio provisório dos saldos das contas pelas autoridades suíças. A conta em nome próprio teria um saldo de USD 143.608,00 e estaria blo- queada provisoriamente pelas autoridades suíças. A conta em nome da off-shore Papillon Company teria um saldo de USD 1.777.213,00 e também estaria bloqueada provisoriamente pelas autoridades suíças. Embora as informações não estejam completas, é informado que a conta em nome da off-shore Papillon recebeu em 08/01/2007 um crédito de USD 645.532,00 proveniente de conta em nome da off-shore Jasmin International Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

(anteriormente Orquidea Limited), no Credit Suisse, e que teria por contro- lador a pessoa de Victor Garcia Sandri. Guido Mantega, mesmo tendo exercido o cargo de Ministro da Fazenda en- tre 27/03/2006 a 01/01/2015, não declarou a titularidade dessas contas e destes ativos no exterior, como se verifica nas declarações de rendimento juntadas no evento 20 do processo 5055732-52.2015.4.04.7000 e no qual foi decretada a quebra de sigilo bancário e fiscal dele. Apenas em 29/05/2017, Guido Mantega, representado por seu advogado, apresentou petição a este Juízo, admitindo que teria conta no exterior em nome de off-shore (evento 235 do processo 5035133-59.2016.4.04.7000). Isso só ocorreu quase um ano depois de ter sofrido diligência de busca e apreensão domiciliar autorizada pelo Juízo nestes mesmos autos (diligência em 22/09/2016). As informações prestadas na petição não eram verdadeiras. Consta na peti- ção a informação de que a conta estrangeira teria recebido "um único de- pósito no valor de USD 600 mil dólares como parte de pagamento pela venda de imóvel herdado de seu pai". Ocorre que as próprias autoridades suíças informam que Guido Mantega tem USD 1.777.213,00 somente na conta Papillon e mais USD 143.608,00 em conta pessoal. Posteriormente, em 04/06/2018, a Defesa de Guido Mantega peticionou no- vamente no processo 5035133-59.2016.4.04.7000, com novas informações sobre a conta (eventos 254 e 256). Desta feita, foi informado que seriam dois depósitos de cerca de USD 650 mil cada um. Os depósitos teriam por origem um negócio imobiliário reali- zado com Victor Garcia Sandri. Informou ainda a Defesa que, em 21/07/2017, Guido Mantega aderiu ao programa de regularização cambial e tributária aprovado pela Lei nº 13.254/2016, tendo declarado, ainda que ex- temporaneamente, os ativos no exterior à Receita Federal (evento 254, anexo3, do processo 5035133-59.2016.4.04.7000). Releva destacar que Victor Garcia Sandri foi denunciado juntamente com Guido Mantega na assim denominada Operação Zelotes perante a 10ª Vara Federal de BrasíliaEm: (Inquérito 22/11/2019 policial - 08:47:080684/2015). É possível que esses de- pósitos estejam relacionados ao crimes em apuração perante a 10ª Vara Fe- deral de Brasília". Visível, portanto,Impresso que por: a fonte 087.638.319-37 probatória, informações Rcl 36542 transmitidas espontanea- mente por cooperação jurídica internacional, é absolutamente independente aos termos de depoimento de Joesley Mendonça Batista e Ricardo Saud. Este Julgador não se declarou competente para processo e julgamento de fatos re- lacionados a pagamentos realizados por Victor Sandri a Guido Mantega no exte- rior, relacionados à eventuais benesses indevidas concedidas pelo BNDES ao Grupo J&F. Inclusive, na decisão de medidas cautelares, consignei que seria possível que os depósitos fossem relacionados a crimes em apuração perante a 10ª Vara Federal de Brasília, não havendo pretensão alguma de usurpação de competência nem agora e nem em fase ulterior do processo. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Não há plausibilidade alguma no argumento de desrespeito à autoridade da decisão proferida por esse STF na Pet. n. 7.075, razão pela qual esta Reclamação é ma- nifestamente improcedente.

II.2 Da burla às regras de competência para apreciar Habeas Corpus e à prevenção do Ministro Edson Fachin para os feitos pertinentes à “Operação Lava Jato”

Como demonstrado, a presente Reclamação é manifestamente improcedente.

Independentemente da controvérsia relativa à amplitude da competência da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR – fundamento para a decisão proferida pelo Ministro Gilmar Mendes –, é fato que o pedido deduzido é flagrantemente improcedente, por não haver qualquer simetria entre o ato reclamado e o paradigma. Evidenciado que a decisão reclamada não representa qualquer ofensa à deci- são paradigma, percebe-se que a pretensão do reclamante, na verdade, é submeter a análise da legalidade do seu decreto de prisão diretamente ao STF, mais precisamente ao Ministro Gilmar Mendes, num típico Habeas Corpus travestido de Reclamação.

Noutras palavras, busca-se nesta Reclamação um atalho ao STF, inclu- sive com a escolha do Ministro julgador.

Tanto é assim que, na fundamentação da reclamação, Guido Mantega de- fende a prevenção do Ministro Gilmar Mendes para a causa por ser a Pet. n. 7.075 “a mais recente decisão desrespeitada pelo juízo reclamado, referente especificamente aos termos de colaboração da JBS”. Em: 22/11/2019 - 08:47:08 Como já demonstrado, não há simetria entre o ato reclamado e o paradigma. Ocorre que o reclamante, além de procurar demonstrar uma (inexistente) violação à au- Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 toridade da decisão proferida por esse STF na Pet. n. 7.075, argumenta ainda que o juízo reclamado teria um “histórico de insubordinação às decisões deste e. STF”, citando, para tanto, além do paradigma, a Pet. n. 6.664 (julgada em 14/08/2018) e a Pet. 6.986 (julgada em 10/04/2018).

Segundo essa tese, a tramitação da Ação Penal n. 5033771- 51.2018.4.04.7000/PR perante o juízo de primeiro grau implica violação a todas essas decisões, pois “os fatos que formam a ação penal em curso em Curitiba são parte de um grande todo, tanto no caso da denúncia por organização criminosa que tramita no DF (malsinado “Quadrilhão”), como no caso da Operação BULLISH (especificamente falando dos depósitos recebidos no exterior de VICTOR SANDRI).” Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Além disso, “no julgamento do agravo na Pet. 6.664, examinando especifi- camente a delação da ODEBRECHT, inclusive a compra das Medidas Provisórias 470 e 472/09 – ponto central da denúncia de Curitiba – este e. STF voltou, como já assinalado, a reafirmar a competência da Justiça Federal do Distrito Federal”.

Como se vê, a pretensão de se ver reconhecida a incompetência do juízo e, consequentemente, a ilegalidade das cautelares deflagradas na 63ª fase da “Operação Lava Jato” – e não, propriamente, o desrespeito ao acórdão proferido na Pet. n. 7.075 – é flagrante. O próprio teor da decisão do Ministro Relator que suspendeu os efeitos do ato reclamado, por outro lado, evidencia ser esse o ponto fulcral da controvérsia.

O quadro exposto, delimitado pela própria defesa e chancelado pelo Relator, não autoriza a conclusão de que o Ministro Gilmar Mendes é prevento para a presente causa. Afinal, se a atuação do juízo de primeiro grau implica violação a todas as deci- sões referidas acima, não é lícito ao reclamante pinçar apenas uma delas, por qualquer critério que seja, para eleger o Ministro julgador.

Apontar o acórdão proferido na Pet. n. 7.075 teve o claro propósito de, a um só tempo, permitir ao reclamante trazer sua pretensão – de Habeas Corpus travestida de Reclamação, cujas hipóteses de cabimento são estritas – diretamente ao conhecimento desse STF e eleger o Ministro Relator dos presentes autos, em violação às normas de distribuição previstas no Regimento Interno desse STF e à prevenção do Ministro Edson Fachin, a quem, sabidamente, cabe relatar os feitos inseridos no âmbito da “Operação Lava Jato”.

Ademais, não se está Em:diante 22/11/2019 de hipótese -em 08:47:08 que cabível a impetração de Ha- beas Corpus diretamente ao STF.

Com efeito, apesar de a Reclamação ser manifestamente improcedente, poder- Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 se-ia imaginar ser juridicamente viável ao STF, ainda assim, conceder Habeas Corpus de ofício em favor de Guido Mantega e estender os efeitos de tal decisão a Maurício Ferro, uma vez que esse órgão jurisdicional, ao se deparar com situação que reputa ilegal envol- vendo investigado ou réu, sempre pode – e deve – agir para fazer cessá-la.

Essa premissa é válida apenas na aparência, sendo inválida ao ser examinada mais de perto. E isso por que, embora seja certo que ao STF – estando no topo do Poder Judiciário - é dado conceder Habeas Corpus de ofício quando se deparar com situação de ilegalidade, é igualmente certo, por outro lado, que isso não pode se dar em flagrante des- respeito às regras de competência. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Seguindo esse raciocínio, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Reclamação n. 25.509 em 15 de fevereiro de 2017, concluiu que, embora a Suprema Corte esteja no ápice do Poder Judiciário nacional, ela apenas pode conceder Habeas Corpus ex oficio nas ocasiões em que também é competente para deferir a ordem a pedido, nos termos do art. 102, I, ‘i’, da CF/88, segundo a qual compete ao STF processar e julgar originaria- mente “o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdi- ção do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância”.

Confira-se a ementa do acórdão proferido no recente julgamento da Reclama- ção n. 25.509, que retrata situação idêntica à subjacente aos presentes autos:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. PROCESSO PENAL. DECI- SÃO MONOCRÁTICA. INEXISTÊNCIA DE ARGUMENTAÇÃO APTA A MO- DIFICÁ-LA. MANUTENÇÃO DA NEGATIVA DE SEGUIMENTO. OFENSA A PRONUNCIAMENTO DA CORTE. INOCORRÊNCIA. PEDIDO DE CONCES- SÃO DE HABEAS CORPUS DE OFÍCIO. DESCABIMENTO. AGRAVO RE- GIMENTAL DESPROVIDO. 1. A inexistência de argumentação apta a infirmar o julgamento monocrático con- duz à manutenção da decisão recorrida. 2. Diante da ausência de pronunciamento desta Corte nas Ações Cautelares 4.070 e 4.175 quanto aos requisitos autorizadores da prisão preventiva do ora recla- mante, a imposição da aludida medida gravosa pelo Juízo singular não configura usurpação da competência ou desrespeito à autoridade deste Tribunal. 3. Afigura-se inviável o recebimento de reclamação como habeas corpus, ainda que a pretexto de analisar a possibilidade de concessão da ordem de ofício, se a suposta ilegalidade não é atribuída a autoridade diretamente su- jeita à jurisdição destaEm: Corte. 22/11/2019 Inconformismo - 08:47:08 que deve ser solucionado pelas vias próprias, sem que se reconheça ao interessado o direito subjetivo de, per saltum, socorrer-se da via reclamatória a fim de alcançar a submissão imedi- ata da matéria ao crivo da Suprema Corte. 4. AgravoImpresso regimental por: desprovido 087.638.319-37 (Rcl 25509 AgR/ Rcl 36542PR, Relator Min. Edson Fa- chin, Tribunal Pleno, publicado em 18-08-2017). - Original sem grifo

Do entendimento firmado no recente julgamento acima mencionado, profe- rido pelo órgão colegiado máximo do STF, extrai-se claramente a orientação de que não se reconhece “ao interessado o direito subjetivo de, per saltum, socorrer-se da via re- clamatória a fim de alcançar a submissão imediata da matéria ao crivo da Suprema Corte”, exatamente tal como fez Guido Mantega nos presentes autos, em pretensão que acabou, por ora, sendo acolhida pela decisão agravada.

Em decisão posterior ao julgamento acima referido, a 1a Turma do STF tam- bém entendeu que a concessão de Habeas Corpus de ofício pela Suprema Corte so- Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

mente é possível se essa mesma medida puder, a luz do art. 102, I, “i”, da CF/88, ser concedida a pedido, ou seja, se a suposta ilegalidade é atribuída a autoridade diretamente sujeita à jurisdição do STF, sob pena de indevida supressão de instância. Confira-se:

AGRAVO INTERNO. RECLAMAÇÃO.ALEGADA OFENSA À SÚMULA VINCULANTE 24. INEXISTÊNCIA NO CASO CONCRETO. 1. A instauração de inquérito policial para apurar outros crimes, além do previsto no art. 1º da Lei 8.137/1990, não ofende o estabelecido no que enunciado pela Súmula Vinculante 24. 2. Reclamação, cuja finalidade tem previsão constitucional taxativa, não ad- mite o aprofundamento sobre matérias fáticas. 3. A concessão de habeas corpus ex officio pelo STF somente é cabível nas hipóteses em que ele poderia con- cedê-lo a pedido (art. 102, I, ‘i’, da Constituição Federal), sob pena de su- pressão de instância. 4. Agravo interno a que se nega provimento. (Rcl 24768 AgR/SP, Relator Min. , Julgamento: 21/08/2017, Órgão Julgador: Primeira Turma). - Original sem grifo

No caso dos autos, a autoridade reclamada, a saber, o juízo da 13a Vara Fe- deral Criminal de Curitiba/PR, não faz parte do rol elencado no art. 102, I, ‘i’, da Consti- tuição Federal. Daí que a concessão de HC de ofício para, nos autos da presente reclamação, favorecer Guido Mantega e os demais investigados representa flagrante burla às normas procedimentais previstas na Constituição e nas leis (rectius, ao devido pro- cesso legal), e à distribuição de competências, consistindo, acima de tudo, em indevida supressão de instâncias.

Por fim, ainda que se considere que o STF possui competência para, em sede de Reclamação, apreciar Habeas Corpus em favor de Guido Mantega ou de Maurício Ferro, voltado a afastar a ilegalidade de decisão proferida por Juízo de 1º Grau – o que se admite apenas a título de argumentação -, é certo que não é dado ao Reclamante simples- mente escolher o Ministro que apreciaráEm: 22/11/2019 sua pretensão, - 08:47:08 como ocorreu no presente caso.

Ora, como não é caso de Reclamação, esta deveria ter sido recebida como Ha- beas Corpus e distribuídaImpresso ao Relator por: 087.638.319-37prevento para as causas Rcl 36542 conexas à “Operação Lava Jato”, que é o Ministro Edson Fachin.

Assim, na prática, Guido Mantega, sob o pretexto de que a sua prisão desres- peitou decisão proferida pelo STF, de relatoria do ministro Gilmar Mendes, submeteu dire- tamente e especificamente a este pretensão típica de Habeas Corpus, em supressão de instâncias e ofensa ao princípio constitucional do Juiz Natural. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

III- Mérito

III.1 Decisões do STF sobre o âmbito de abrangência da competência da 13a Vara Federal da SJ/PR

Caso tais argumentos sejam rejeitados por essa Segunda Turma, ou, julgada improcedente a ação, o colegiado vislumbre ser cabível na hipótese a concessão de ordem de Habeas Corpus de ofício, cabe adentrar na análise do mérito da Reclamação, relativa ao quão abrangente é a competência da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR para os fei- tos relacionados à “Operação Lava Jato”.

Sobre o ponto, sabe-se que o Plenário desse STF fixou, no julgamento da Questão de Ordem no Inq. n. 4.130, que os fatos a serem reputados conexos com feitos da Operação Lava Jato são os relativos a fraudes e desvios de recursos no âmbito da Petro- bras.

Esse entendimento foi reafirmado, não sem alguma resistência do MPF, em outros julgados da Corte, dos quais se destaca o julgamento de agravos regimentais no Inq. n. 4.327, em que o Plenário determinou a remessa de cópia dos autos à Seção Judiciária do Distrito Federal1, para o processamento dos investigados que não detinham, àquela altura, foro por prerrogativa de função, precisamente em razão da imputação feita naquele pro- cesso (de pertinência a organização criminosa) não se inserir no conjunto de fatos de com- petência da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR.

O Ministro Relator anotou, na decisão ora agravada, que os fatos objeto de im- putação na origem não têm relação com a Petrobras, como o seguinte trecho elucida: Em: 22/11/2019 - 08:47:08

Conforme se depreende, é incontroverso que os fatos apurados na Ação Penal 5033771-51.2018.4.04.7000 limitam-se a denúncias de corrupção relacionadas à aprovaçãoImpresso do Governo por: 087.638.319-37Federal dos parcelamentos Rcl 36542 especiais previstos nas Medidas Provisórias 449/2008 e 470/2009, e depois na Lei 12.249, de 11.6.2010, de conversão da Medida Provisória 472/2009, no que foi, à época, denominado de “Refis da Crise”. O objeto da apuração penal pelo Juízo reclamado, portanto, cinge-se a uma suposta relação de corrupção entre o Governo Federal, do qual o reclamante era membro, e a construtora Odebrecht, tendo sido mencionada a questão do chamado Refis da Crise, que estaria maculado e teria beneficiado, principal- mente, a empresa Braskem Petroquímica. (eDOC 5, p. 13). Verifica-se que tais fatos não possuem nenhuma relação com o parâmetro de definição da competência da Justiça Federal de Curitiba sobre a Operação Lava Jato, qual seja “ a apuração de fraudes e desvios de recursos no âmbito

1Entendimento aplicado, posteriormente, a todos os desmembramentos de inquéritos relativos ao núcleo político da organização criminosa – especificamente no tocante à imputação do crime previsto no art. 2º da Lei n. 12.850/2013. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

da Petrobras ”. (PET 7.075, Redator para o acórdão Ministro Gilmar Men- des, Segunda Turma, DJe 6.10.2017). Além de os fatos imputados não dizerem respeito aos escândalos investigados no âmbito daquela empresa estatal, não se verifica qualquer relação de conexão (art. 76, CPP) ou continência (art. 77, CPP) que pudesse atrair a apuração para a Seção Judiciária de Curitiba, “ainda que os esquemas fraudulentos investigados possam eventualmente ter um operador comum e destinação semelhante (repasse de recur- sos a partido político ou candidato a cargo eletivo” (INQ 4.130 QO, Rel. Min. , Tribunal Pleno, Dje 3.2.2016). A empresa Braskem Petroquímica – e não a Petrobras – teria sido a figura central dos fatos imputados ao reclamante na Ação Penal 5033771- 51.2018.4.04.7000, e aquela empresa seria “a principal beneficiada pelo acerto de corrupção e que também teriam provindo dela, segundo a denún- cia, os recursos que geraram o crédito de cinquenta milhões de reais para Guido Mantega, o que sugere o conhecimento e a participação ativa deles no crime”. (eDOC 5, p. 11). A única relação que pode se cogitar entre as duas empresas reside no fato de a Pe- trobras possuir participação acionária na Braskem, sem qualquer relação de con- trole societário. Tal circunstância, no entanto, não tem o condão de estabelecer um liame entre os fatos investigados na Ação Penal 5033771-51.2018.4.04.7000 e aqueles objeto de apuração nas ações da Operação Lava Jato. Em uma apreciação atenta da denúncia, fica claro que, na realidade, a questão da Petrobras é mencionada muito mais no sentido de uma reconstrução geral dos pri- meiros fatos e processos da Operação Lava Jato do que em um contexto ligado aos desdobramentos específicos que ensejaram o oferecimento da denúncia em desfa- vor do reclamante. (eDOC 4, p. 5 e ss)

Além disso, vislumbrou haver violação a julgados dessa Segunda Turma em que foi reputada a incompetência do juízo de primeiro grau para a causa, quais sejam, os relativos ao Inq. n. 4.325 e à Pet. n. 6.664. Confira-se:

Além de não possuir qualquer relação com as fraudes no âmbito do Sistema Petro- bras, verifica-se aindaEm: que 22/11/2019 os fatos apurados- 08:47:08 na Ação Penal 5033771- 51.2018.4.04.7000 pelo juízo reclamado – suposta compra de Medidas Provisórias envolvendo a ODEBRECHT e suposto pagamento da propina por meio dos mar- queteiros JOÃO SANTANA e MÔNICA MOURA – parecem coincidir, ainda que parcialmente,Impresso com fatos por: que087.638.319-37 também estão Rcl sendo 36542 apurados na Ação Penal 1007965-02.2018.4.01.3400, a qual tramita na 10ª Vara Federal do Distrito Fede- ral. Esta ação penal foi processada a partir do recebimento de denúncia de lavra da Procuradoria-Geral da República (PGR) originalmente apresentada ao STF no âm- bito do INQ 4.325 (o chamado “Quadrilhão do PT”). Especificamente em relação ao reclamante, a exordial imputara a prática de corrupção por fatos também relaci- onados à suposta compra de medidas provisórias de refinanciamento de créditos tributários com o alegado fito de beneficiar a empresa Braskem. […] Percebe-se, portanto, que os fatos apurados pelo Juízo reclamado de Curi- tiba no bojo da Ação Penal 5033771-51.2018.4.04.7000 possuem relação di- reta com os fatos hoje apurados na Ação Penal 1007965- 02.2018.4.01.3400, que tramita na 10ª Vara Federal do Distrito Federal. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

A definição da competência da 10ª Vara Federal do Distrito Federal para processar a denúncia apresentada em face de Guido Mantega pelos mesmos fatos investiga- dos pelo Juízo reclamado foi expressamente fixada por decisão do STF, o que mais uma vez configura o desrespeito à autoridade de decisão desta Corte. […] A decisão do relator fixando a competência da Justiça Federal do DF para apurar os fatos descritos na denúncia do INQ 4.325, dentre eles a compra de medidas pro- visórias envolvendo Guido Mantega, data de 6 de março de 2018. É, portanto, an- terior à decisão do então Juiz Federal Titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Fernando Moro, que recebeu a denúncia em relação ao reclamante e aos de- mais corréus nos autos da Ação Penal 5033771-51.2018.4.04.7000, ora em trâmite em Curitiba. Com base nesse mesmo precedente, a Segunda Turma do Supremo, no julgamento da PET 6.664 – a qual também tinha como como requerente o próprio reclamante e como objeto fatos intimamente ligados àqueles apurados na Ação Penal 5033771-51.2018.4.04.7000 –, mais uma vez, reafirmou que ilícitos não relacio- nados à apuração de fraudes na Petrobras não atraem a competência para Curitiba. Na PET 6.664, o ora reclamante pleiteava, em suma, o reconhecimento de inde- vido bis in idem com relação aos fatos narrados nos termos da delação premiada da empresa Odebrecht, especialmente no tocante à planilha denominada Pós Itália, uma vez que já seriam objeto dos INQ 4.437 e 4.430, em trâmite nesta Suprema Corte. Em tal ação, o reclamante sustentava a conexão com esses fatos e requeria subsidi- ariamente a remessa dos termos da delação premiada da empresa Odebrecht para Brasília ou São Paulo, locais onde os crimes teriam supostamente ocorrido, e não para a Justiça Federal de Curitiba, como intentava a Procuradoria-Geral da Repú- blica, já que o objeto das delações, principalmente a planilha denominada Pós Itá- lia, não guardaria nenhuma relação direta com a questão central da Petrobras. Em que pese a tese do indevido bis in idem não ter sido acolhida pela Segunda Turma do Supremo, o julgado afirmou mais uma vez o restrito espectro de atração de competência para Curitiba em casos da Operação Lava Jato, tendo sido dado provimento ao agravo regimental para determinar a imediata remessa dos termos da delação premiada da Odebrecht para a Seção Judiciária de Brasília, acolhendo- se, portanto, o pleito subsidiárioEm: 22/11/2019 do reclamante. - 08:47:08 A razão determinante para tal decisão foi justamente a comprovação de que os fatos em análise não teriam uma ligação explícita e direta com a Petrobras. Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

A despeito do MPF entender ser a competência do juízo de primeiro grau para os feitos conexos à “Operação Lava Jato” mais ampla do que o STF tem enunciado23, a controvérsia não se faz presente no caso sob análise, como ficará demonstrado a seguir.

Para tanto, argumentar-se-á que (i) os fatos denunciados na Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/PR têm relação direta com “as fraudes e desvios de recur- sos no âmbito da Petrobras”, bem como que (ii) o recebimento da denúncia não impor- tou violação aos julgados dessa Segunda Turma referenciados na decisão agravada.

III.2 A Braskem é integrante do grupo econômico de fato “Sistema Petrobras”

O Ministro Relator, na decisão agravada, destacou que a “única relação que pode se cogitar entre as duas empresas reside no fato de a Petrobras possuir participação acionária na Braskem, sem qualquer relação de controle societário”.

Depura-se da afirmação que, no entender do Relator, a relação de controle so- cietário estabelecida entre uma dada sociedade empresária e a Petróleo Brasileiro S/A, em- presa matriz do grupo “Sistema Petrobras”, seria fator relevante para se considerar eventuais crimes praticados no âmbito dessa dada sociedade empresária no espectro da competência da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR para os feitos relacionados à “Operação Lava Jato”.

Nesse sentido, essa competência não estaria limitada unicamente à pessoa ju- rídica Petrobras, mas incluiria outras pessoas jurídicas que guardem um determinado tipo de relação com a sociedade de economia mista. No entender do Relator, um dos fatores – ou o único fator, dado o caráter restritivoEm: 22/11/2019 do decisum -– 08:47:08 para se aferir a existência dessa re- lação seria o controle societário exercido pela Petrobras sobre a dada pessoa jurídica.

Com efeito,Impresso não parece por: adequado 087.638.319-37 considerar-se Rcl que 36542 o Plenário desse STF, no julgamento do Inq. n. 4.130-QO, tenha pretendido restringir a competência do juízo de pri- 2Ao modo de ver do MPF, a competência do juízo de piso para os feitos conexos à “Operação Lava Jato” abarca, além daqueles relativos à Petrobras, pelo menos os que envolvem o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht e aqueles cujos fatos em apuração tenham ocorrido na Seção Judiciária do Paraná. 3Não é rígida a tese de que apenas os crimes relativos a “fraudes e desvios ocorridos no âmbito da Petrobras” inserem-se na competência do juízo de piso para os feitos conexos à “Operação Lava Jato”. Com efeito, todos os inquéritos e ações penais que tramitaram perante o juízo de piso ou perante esse STF cujo objeto era a prática de crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro no contexto das diversas Comissões Parlamentares de Inquérito ou Comissões Mistas Parlamentares de Inquérito instauradas para apurar os ilícitos cometidos em desfavor da Petrobras foram reputados conexos à “Operação Lava Jato”. O fato da relação de tais crimes com aqueles ocorridos em desfavor da Petrobras não ser patrimonial, mas apenas teleológica, não foi impeditivo para tanto. E nem deveria servir, na medida em que as hipóteses eram (ou são, no caso dos inquéritos e/ou ações penais ainda em tramitação) as previstas no art. 76,II, do CPP. Todavia, o exemplo contribui para demonstrar que o critério eleito por esse STF para configurar a competência do juízo de piso admite exceções, desde que se verifique que tais exceções atendam às regras de conexão ou continência previstas na legislação processual penal. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

meiro grau apenas aos crimes praticados em desfavor da matriz do “Sistema Petrobras”. Se assim o fosse, nenhum dos crimes praticados em detrimento das subsidiárias da estatal ou das demais sociedades integrantes do grupo econômico “Sistema Petrobras” seriam de competência do juízo de primeiro grau ou, por simetria, sujeitas à prevenção do Ministro Edson Fachin.

Veja-se que, apenas no âmbito desse STF, o Ministro Edson Fachin foi repu- tado prevento para investigações relativas a crimes praticados em prejuízo de subsidiárias da Petrobras nos Inqs. n. 4.215 (Transpetro), 3.883 e 4.112 (BR Distribuidora) – que origi- naram a AP n. 1.025 –, 3.990 (BR Distribuidora) – que originou a AP n. 1.019 –, bem como de controlada em conjunto, no Inq. n. 4.118 (Petrocoque) – que originou a AP n. 1.032.

O alcance normativo de “Petrobras” na tese firmada por esse STF para delimi- tar a competência da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR, portanto, não se limita à pessoa jurídica Petróleo Brasileiro S/A, mas deve abarcar, pelo menos, todas as demais pessoas jurídicas que integram o denominado “Sistema Petrobras”.

Por essa razão, não apenas os processos relativos a crimes praticados no âm- bito da matriz da petrolífera são entendidos enquanto integrantes da “Operação Lava Jato”, mas também aqueles em que se apura delitos ocorridos no âmbito das demais integrantes do grupo econômico, como a Petrobras Transporte S/A (Transpetro), a Petrobras Distribui- dora S/A (Br Distribuidora), a Petróleo Gás S/A (Gaspetro), dentre outras4.

Como se pode perceber, não há perfeita congruência entre a decisão recorrida e o entendimento desse STF acercaEm: da extensão 22/11/2019 da competência - 08:47:08 do juízo de primeiro grau. Isso porque o poder de controle e o grupo societário são categorias jurídicas distintas, conquanto inter-relacionadas. Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 O poder de controle é definido de modo reflexo pelo art. 116 da Lei n. 6.404/1976, o qual dispõe acerca do acionista controlador, nos seguintes termos:

Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que: a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; e b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia.

4http://www.petrobras.com.br/pt/quem-somos/principais-subsidiarias-e-controladas/outras-empresas- controladas-do-sistema-petrobras/. Acesso em 14/10/2019. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender.

A despeito da existência de definição da categoria jurídica feita pelo legislador, há profunda controvérsia doutrinária acerca da extensão desse conceito. Enquanto certos autores entendem só se configurar o poder de controle quando há acionista (ou grupo de acionistas vinculados por acordo de voto) majoritário, para outros a questão é menos for- mal que casuística, e a identificação do acionista controlador depende do exame efetivo da direção das atividades sociais.

Por outro lado, grupo de sociedades é a concentração empresarial que se via- biliza mediante a aquisição de participações acionárias por uma pessoa jurídica em outras sem que haja a completa integração de patrimônios e personalidades jurídicas.

Essa categoria é gênero composto de duas espécies distintas, os grupos de fato e os de direito.

O grupo de fato é aquele constituído por um conjunto de sociedades coligadas, controladoras e controladas, cujo tratamento legal se encontra no Capítulo XX da Lei das S/A, fundamentalmente preocupado com a publicidade da situação de fato, a atribuição de responsabilidade aos administradores e à sociedade controlada e a disciplina de operações societárias entre partes relacionadas.

Já o grupo de sociedades de direito, regulado pelo Capítulo XXI da Lei das S/ A, é aquele constituído mediante negócio jurídico convencional celebrado pela sociedade Em: 22/11/2019 - 08:47:08 controladora e suas controladas.

Assim, os grupos de sociedades de direito e de fato diferenciam-se pela exis- Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 tência de negócio jurídico formal que qualifica o primeiro, bem como pela natureza das re- lações societárias estabelecidas entre as pessoas jurídicas integrantes dos grupos.

Com efeito, a existência de relação de controle societário entre duas ou mais sociedades empresárias implica a configuração de grupo de fato, mas a recíproca não é ver- dadeira, ou seja, é possível o pertencimento a grupo de fato independentemente de haver poder de controle, na forma de sociedades coligadas, caracterizadas como aquelas na qual a investidora detenha influência significativa (art. 243, § 1º). O grupo de sociedades de di- reito, por outro lado, só comporta em seu âmbito sociedades interligadas mediante a rela- ção de controle. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Feita a distinção entre as duas espécies de grupos de sociedades existentes no direito brasileiro, é preciso determinar em qual delas o “Sistema Petrobras” se insere.

Em primeiro lugar, enquanto anotação mais geral relativa à realidade da orga- nização empresarial brasileira, o grupo de sociedades de fato deve ser tomado com prima- zia para o exercício de identificação de relações entre sociedades empresárias, para o fim de atribuição de responsabilidade.

Isso porque esse é o modelo organizativo dominante na prática societária brasi- leira. Sobre o ponto, cabe citar o magistério de Modesto Carvalhosa5:

O nosso legislador de 1976, traduzindo o sonho, à época, de aceleração exponencial de nossa microeconomia, visando à criação da Grande Empresa (como explicita- mente previa o II PND, 1973-1975), descurou-se de um princípio fundamental, que é o da antecedência do fato que o direito quer regular. E, em 1975, não existia o fato, não preexistia o Zaibatsu brasileiro, o Konzern brasileiro. Não podendo, portanto, institucionalizar o que não havia, o legislador, cioso dos planos de política econô- mica em voga (II PND), resolveu fazer com que a lei criasse entre nós o Zaibatsu com roupagem de Konzern. E por se tratar de direito sem fato, o “instituto de sociedades” tratado no presente Capítulo XXI, pela sua notória artificialidade, não logrou instalar-se no mundo ju- rídico-empresarial brasileiro. Interessante notar, ainda, que alguns grupos empresariais, à época, quiseram experi- mentar a novidade importada de um contexto histórico totalmente diverso. Desde logo, desistiram e regressaram ao sistema de grupo de fato (art. 243).

Não fosse tal observação suficiente, cabe salientar que não existe convenção de grupo de sociedades relativa ao “Sistema Petrobras”, precisamente em razão de sua impres- tabilidade.

O que existe é autorizaçãoEm: 22/11/2019legal para que - a 08:47:08 Petrobras constitua subsidiárias, as quais podem associar-se, majoritária ou minoritariamente, a outras empresas (art. 64 da Lei n. 9.478/1997). Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 Essa breve digressão serve para demonstrar que o critério da decisão re- corrida para qualificar que tipo de relação societária entre uma dada pessoa jurídica e a Petrobras enseja a competência do juízo de primeiro grau para a causa é mais restritivo que o eleito pelo Pleno desse STF, no julgamento do Inq. n. 4.130-QO.

Afinal, não é necessário que exista relação de controle societário para a carac- terização de um grupo econômico de fato.

Nesses termos, a leitura adequada da tese firmada por esse STF no julgamento do Inq. n. 4.130-QO exige reconhecer que, independentemente da configuração de relação

5CARVALHOSA, Modesto. Comentários à lei de sociedades anônimas. 4º volume: tomo II. 4ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2011, pp. 358/359. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

de controle societário estrito, uma empresa na qual a Petrobras detenha participação acioná- ria significativa é integrante do grupo econômico de fato “Sistema Petrobras”. Nesses ter- mos, eventuais crimes praticados pela organização criminosa desbaratada pela “Operação Lava Jato” em desfavor dessa empresa são de competência do juízo da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR.

Com efeito, a Braskem é reconhecida pela própria Petrobras como sua coli- gada. A estatal também consolida em suas informações financeiras anuais os dados da Braskem, nos termos dos arts. 247 e 248 da Lei das S/A.

Por essas razões, entende-se ser a decisão recorrida dissonante do entendi- mento desse STF sobre a matéria, razão suficiente para ensejar sua reforma e manter a tra- mitação da Ação Penal relativamente ao réu Guido Mantega no juízo de primeiro grau

Não obstante, ainda que se entenda ser adequado o tratamento dado pelo Mi- nistro Relator à matéria, no que concerne à configuração da competência do juízo de pri- meiro grau, ainda assim a conclusão da decisão agravada deve ser revista.

III.3.b A Braskem é conjuntamente controlada pela Petrobras e pela Odebrecht

Independentemente de como a Braskem e a Petrobras nomeiam a relação soci- etária existente entre ambas, sabe-se que a Braskem é sociedade empresária controlada conjuntamente pela Petrobras e pela Odebrecht, desde o tempo dos primeiros fatos crimi- nosos até os dias atuais.

Com efeito, ao tempo das tratativas narradas na denúncia para a edição das Medidas Provisórias n. 470 e 472,Em: a dinâmica 22/11/2019 da relação - 08:47:08 societária existente entre a estatal e a construtora no capital social com direito a voto da Braskem era regulada por Acordo de

6 Acionistas firmado emImpresso 30 de maio por: de 087.638.319-37 2008 , posteriormente Rcl 36542substituído por novo acordo em 08 de fevereiro de 20107, ainda vigente.

Na nomenclatura desse primeiro Acordo de Acionistas, a Odebrecht e sua sub- sidiária Nordeste Química S/A – Norquisa – eram as “Acionistas Controladoras”, pela cir- cunstância de deterem, conjuntamente, 60,34% do capital social da Braskem8. O “Controle”, por sua vez, era definido como “deter, direta ou indiretamente, 50% (cinquenta por cento) mais uma ação do capital votante de determinada sociedade”9.

6DOC. 01. 7DOC. 02. 8Cláusula 1.4. 9 Cláusula 1.2: (xii). Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Não obstante, o Acordo de Acionistas vigente ao tempo dos fatos narrados na denúncia continha diversas disposições que evidenciavam o controle conjunto da Braskem pelas partes.

As principais delas eram as dispostas nas Cláusula 2, 3 e 5, relativas ao direito de voto, à administração da Companhia e a reuniões prévias, respectivamente.

A Cláusula 2, relativa ao direito de voto, prescrevia, além de diretrizes gerais acerca do seu exercício contidas na Cláusula 2.1, 24 matérias sujeitas à convenção prévia de voto (Cláusula 2.2), a serem deliberadas nas Reuniões Prévias objeto da Cláusula 5. Em razão desse mecanismo, tais matérias deveriam ser objeto de decisão por consenso entre as Partes Acordantes, e esse conjunto abrangia a deliberação relativa a toda sorte de temas sensíveis aos rumos da Braskem, incluindo o regime das ações preferenciais, a emissão de debêntures conversíveis em ações ordinárias, a criação ou outorga de opções de compra e de venda de ações da Braskem, redução do dividendo mínimo obrigatório, participação da Braskem em sociedades diversas ou em grupo de sociedades, aumento ou redução do nú- mero de membros do Conselho de Administração, aumento do capital social, transforma- ção, fusão, cisão ou incorporação da Braskem ou de suas ações em outras sociedades, fechamento de capital, aquisição ou alienação, cessão ou transferência de bens do ativo permanente relevantes para as operações da Companhia, requerimento de falência e recupe- ração judicial ou extrajudicial, celebração de contratos de grande monta, revisão ou altera- ção da Política de Gestão Financeira da Braskem, escolha ou substituição dos auditores independentes e exercício do direito de voto pela Braskem em suas Controladas, dentre ou- tras. Em: 22/11/2019 - 08:47:08 Além disso, a Cláusula 2.4 estabelecia, em hipótese de diluição acionária da Petrobras e da Petroquisa, a obrigação da Odebrecht e da Norquisa (“Acionistas Controla- doras”, na terminologiaImpresso desse primeiro por: 087.638.319-37 Acordo de Acionistas) Rcl 36542 garantirem-nas o direito de manter a participação no capital social da Braskem, mediante diversos mecanismos.

A Cláusula 3, como já destacado, era relativa à administração da Braskem. Previa, além de disposições gerais sobre governança, regras para a eleição dos membros da Diretoria e do Conselho de Administração, observada a proporcionalidade entre as partici- pações da Odebrecht e da Norquisa, de um lado, e da Petrobras e da Petroquisa, de outro.

Finalmente, a Cláusula 5 regulava a sistemática das Reuniões Prévias, cujo propósito era o acordo entre as partes para o exercício do direito de voto nas matérias pre- vistas na Cláusula 2.2. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Conforme disposto na Cláusula 5.1, as reuniões seriam realizadas com a pre- sença de no máximo três e no mínimo um representante de cada uma das Partes Acordan- tes. Além disso – e aqui tem-se talvez a disposição mais representativa do controle compartilhado da Braskem disciplinado no Acordo –, dispunha que cabia nas reuniões pré- vias um voto para cada uma das Partes, as “Acionistas Controladoras”, conjuntamente, e a Petrobras e a Petroquisa, também conjuntamente.

Como se vê, o Acordo de Acionistas estabelecia que as matérias mais funda- mentais para o desenvolvimento do objeto social da Braskem seriam decididas pelo grupo Odebrecht e pela Petrobras, conjuntamente. Era efetivamente um acordo de controle, meca- nismo disciplinado no art. 118 da Lei n. 6.404/1976, e cuja eficácia fazia recair sobre as acordantes as regras dos arts. 116 e 117 da mesma Lei.

Ressalta mais ainda o controle compartilhado como objeto desse Acordo de Acionistas a já examinada Cláusula 5.1. A reunião prévia é a expressão máxima do exercí- cio do controle comum, pois ela substitui a Assembleia Geral como o ambiente em que são decididas as questões mais fundamentais atinentes às funções sociais da companhia.

Assim sendo, é de supor-se que o exercício do direito de voto nessas reuniões prévias observaria a proporção da participação acionária de cada uma das acordantes. Não obstante, no caso do Acordo de Acionistas da Braskem, tanto a Odebrecht quanto a Petro- bras tinham um voto cada uma. Essa circunstância evidencia o alinhamento de interesses entre as duas acordantes.

Importante anotar que a terminologia desse primeiro Acordo de Acionistas, no qual constam como controladoras Em:apenas 22/11/2019 as sociedades - 08:47:08vinculadas ao grupo Odebrecht, em nada afasta tais conclusões.

O poder de controle deve ser aferido a partir da titularidade de direitos de só- Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 cio, individualmente ou mediante acordo de voto, que assegurem ao acionista, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembléia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia, bem como no uso efetivo desse poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia.

Essa era exatamente a situação observada com relação à Petrobras no primeiro Acordo de Acionistas celebrado com a Odebrecht e a Norquisa. Tanto é assim que no se- gundo Acordo de Acionistas, vigente ao tempo do segundo conjunto de fatos narrados na denúncia e relativos ao pagamento de R$ 15.100.000,00 aos réus João Santana e Mônica Moura, já não há o emprego dessa terminologia, e é evidente no texto o exercício conjunto Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

do controle da Braskem por ambas as partes, ainda que as disposições desse segundo acordo fossem fundamentalmente semelhantes às do primeiro10.

Diante de tais fatos, tem-se que a Petrobras era, ao menos desde a celebração do primeiro Acordo de Acionistas com a Odebrecht, em 30 de maio de 2008, controladora da Braskem, tivesse ou não essa denominação no Acordo ou nos balanços registrados na CVM e no mercado de balcão em que seus valores mobiliários estão sujeitos à negociação.

Essa circunstância é suficiente para caracterizar a relação direta entre a Petro- bras (junto à Odebrecht) e a Braskem, apta a configurar a conexão da Ação Penal que tra- mita na origem à “Operação Lava Jato”.

III.3.c Da conexão intersubjetiva e instrumental da Ação Penal n. 033771- 51.2018.4.04.7000/PR com os feitos conexos à “Operação Lava jato”

A denúncia narra que, da vantagem indevida acordada entre os réus em razão das tratativas para a edição das MPs n. 460, 470 e 472, foi acordado com Guido Mantega o pagamento de R$ 50.000.000,00 em benefício do Partido dos Trabalhadores, descontados do caixa da Braskem; desse montante, R$ 15.150.000,00 foram destinados ao casal de pu- blicitários Mônica Moura e João Santana.

Os mecanismos pelos quais recursos financeiros da Braskem – aos quais a Pe- trobras tinha direito, na proporção de sua participação acionária à época – serviram ao pa- gamento de vantagens indevidas, operacionalizado pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, foi assim descrito na denúncia11:

O Setor de Operações Em:Estruturadas 22/11/2019 da Odebrecht - 08:47:08 formava um caixa geral de pro- pina da ODEBRECHT. Todos os pagamentos ilícitos realizados pelo Grupo ODE- BRECHT, entre estes os realizados pela BRASKEM, eram feitos exclusivamente por meio de tal setor, valendo-se da complexa estrutura financeira constituída de diversas “camadas”comoImpresso por: forma 087.638.319-37 de dissimular os Rcl pagamentos. 36542 De um modo geral, para a operação deste esquema, em um primeiro momento, eram realizados diversos depósitos financeiros a partir de contas relacionadas às empresas do Grupo Odebrecht, tais como as contas da CONSTRUTORA NOR- BERTO ODEBRECHT, da ODEBRECHT SERVICOS NO EXTERIOR, da BRASKEM, da OSEL ANGOLA DS ODEBRECHT SERVICOS NO EXTE- RIOR em contas controladas pela Odebrecht, mas mantidas no exterior em nome de offshores e não declaradas às autoridades brasileiras, tais como as já conhecidas contas SMITH & NASH ENGINNERING COMPANY INC., GOLAC PRO- JECTS AND CONSTRUCTION CORP. e ARCADEX CORP., contas essas das

10As únicas diferenças significativas, dentre as disposições relativas ao controle da sociedade, estavam na Cláusula 3, da administração, pois nesse segundo Acordo a Petrobras, em geral, tinha a prerrogativa de indicar quantidade singelamente maior de membros do Conselho de Administração e da Diretoria. 11 Fls. 104/108 da denúncia. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

quais a CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT figura como beneficiária econômica. Em operações de lavagem subsequentes, depois de as empresas do Grupo ODE- BRECHT já terem depositado os valores sujos nas contas bancárias situadas na chamada primeira camada da lavagem, em nome de offshores nas quais a empre- sas do Grupo Odebrecht figuravam como beneficiárias econômicas, os valores, via de regra, eram transferidos para outras contas bancárias no exterior, também em nome de pessoas jurídicas interpostas (offshores), estabelecendo-se uma terceira camada de lavagem de dinheiro, para que, a partir dessa terceira camada, fossem feitas novas transferências71 às contas dos beneficiários dos valores ilícitos ou dos doleiros que eram utilizados para efetuar a entrega de valores em Reais no Brasil, para pagamentos ilícitos também determinados pelo Setor de Operações Estruturdas. Dessa forma, distanciava-se ainda mais a origem ilícita dos recursos, em uma engrenagem extremamente complexa de lavagem de ativos. […] Conforme certificado em controles financeiros que estavam de posse de FER- NANDO MIGLIACCIO, a BRASKEM destinou altas somas de recursos para as contas mantidas e utilizadas pelo Setor de Operações Estruturadas, contas essas que, como já referido, eram utilizadas para o pagamento de propinas e para os bô- nus não contabilizados dos altos executivos do grupo empresarial. No ponto, cabe salientar que essas remessas ilegais foram admitidas pela BRASKEM em seu Acordo de Leniência, estando devidamente demonstradas do- cumentalmente, tendo a empresa, em razão desta conduta, realizado as comunica- ções necessárias à Receita Federal e se submetido às imputações decorrentes. A fim de que não reste dúvidas, reproduz-se o teor da planilha de controle finan- ceiro intitulada “Controle Conta Corrente BRK – Base 30 de Junho 2014 em US$”, identificada dentre o material apreendido com FERNANDO MIGLIAC- CIO:

Em: 22/11/2019 - 08:47:08

Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Em: 22/11/2019 - 08:47:08

Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Conforme demonstra a Planilha “Controle Conta Corrente BRK”, a empresa BRASKEM (referida pelas letras BRK) remeteu, entre os anos de 2008 e 2014, certamente a quantia de, pelo menos, USD 175.282.354,73 para o Setor de Opera- ções Esturutradas (gerido por FERNANDO MIGLIACCIO), contribuindo efetiva- mente para os pagamentos de propina concretizados por meio do Setor de Operações Estruturadas. A respeito da Planilha “CONTA CORRENTE BRK”, FERNANDO MIGLIAC- CIO esclareceu que tal planilha efetivamente se referia ao controle de contabili- dade de geração de “caixa 2” realizado pela BRASKEM para o Setor de Operações Estruturadas, sendo que, na rubrica “Remessa”, eram anotados os valores que a BRASKEM aportava no Setor de Operações Estruturadas. Nesse sentido, os valores aportados pela BRASKEM para o caixa geral de pro- pina, além de se misturarem com os demais recursos ilícitos para subsidiar os pa- gamentos ilícitos de todo o grupo, iria, obviamente, também custear o repasse dissimulado de valores de propina pagos no interesse dos negócios da Braskem, como é o caso dos valores de propina objeto da presente ação penal.

Como se vê, o prejuízo causado à Petrobras em razão das práticas crimi- nosas que envolveram a Braskem é evidente.

Houve, ao longo dos anos de 2008 e 2014, a remessa para o exterior de, pelo menos, US$ 175.282.354,73 para contas administradas pelo Setor de Operações Estrutura- das, os quais foram utilizados para o pagamento de vantagens indevidas não apenas no caso sob análise, mas também em diversas outras circunstâncias, devidamente relatadas no acordo de leniência firmado pela Companhia e também nos acordos de colaboração premi- ada firmados pelos executivos ligados ao grupo Odebrecht cuja atuação se dava na petro- química.

Esses crimes praticados no âmbito da Braskem, por outro lado, davam-se com a plena anuência dos integrantes da Diretoria e do Conselho de Administração indicados Em: 22/11/2019 - 08:47:08 pela Petrobras.

Desses, destaca-se o colaborador e ex-Diretor de Abastecimento da Petrobras, Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 Paulo Roberto Costa, que foi Vice-Presidente do Conselho de Administração da Braskem nesse período. Sobre seu efetivo engajamento no direcionamento de recursos da Braskem para o pagamento de vantagens indevidas, é ilustrativo o relato do colaborador e ex-Presi- dente da Braskem, Carlos Fadigas12:

COMPROMISSO COM O PARTIDO PROGRESSISTA Após minha nomeação para diretor presidente da Braskem, em dezembro de 2010, fui informado por Alexandrino Alencar e sobre a existência de promessas de pagamentos, feitas por meus antecessores, a políticos ligados ao Partido Progressista. Fui também informado que esses pagamentos estavam em sua fase final e as últimas remessas seriam feitas nos meses seguintes. Nesse con-

12 Anexo Temático n. 3 da Colaboração Premiada, DOC. 03. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

texto, a empresa deveria continuar a disponibilizar recursos para o Partido Pro- gressista, que seriam repassados a políticos da agremiação. Assim, eu teria que sinalizar a Paulo Roberto Costa que a substituição de Ber- nardo Gradin na presidência da Braskem por mim não afetaria os pagamentos, nem significaria mudança quanto aos compromissos assumidos. Para isso enviei e-mail no dia 12 de dezembro de 2010, propondo uma conversa com Paulo Roberto Costa, no Hotel Deville na Bahia, para o dia 14 de dezembro, algumas horas antes do jantar de fim de ano do Conselho de Administração da Braskem. Naquela oportunidade, discutimos temas técnicos relativos às operações da Braskem e, ao final, garanti a ele que os compromissos “de toda natureza” as- sumidos anteriormente seriam honrados. Durante todo o ano de 2011 e até abril de 2012, tive várias reuniões de trabalho com Paulo Roberto Costa no edifício sede da Petrobras no Rio de Janeiro e na sede da Braskem em São Paulo, afinal, além de diretor da Petrobras ele era o Vice- Presidente do Conselho de Administração da Braskem, ao qual eu me reportava. Nas primeiras reuniões de trabalho Paulo Roberto Costa não tratou comigo do compromisso financeiro. Entendo que os pagamentos a Paulo Roberto Costa/Partido Progressista funciona- vam da seguinte forma. O presidente da Companhia, em alinhamento com Alexan- drino Alencar, acionava Hilberto Silva e sua equipe, que providenciavam o pagamento por meio de empresas de fachada no exterior. Essa sistemática já exis- tia antes de que eu assumisse a Presidência da Braskem. A partir das informações que possuo hoje, acredito que esses pagamentos eram a contrapartida para a obten- ção de preços mais favoráveis no contrato de nafta assinado em 2009. No início de 2011, foram realizados, por essa sistemática, repasses de cerca de 2,3 milhões de dólares para contas no exterior, registradas no Drousys. Entendo que esses repasses já haviam sido autorizados anteriormente e, como minha chegada na presidência era recente, a programação financeira foi cumprida sem minha in- terferência. Fiquei sabendo dos detalhes desses repasses recentemente, dentro do processo de pesquisa de informações para o processo de colaboração. Por volta de maio de 2011, em uma sala de reunião do andar da diretoria no edifí- cio sede da Petrobras no Rio de Janeiro, Paulo Roberto Costa me cobrou o que se- ria o último pagamento pendente do compromisso previamente assumido, no valor de 10 milhões deEm: reais. 22/11/2019 Naquele momento - 08:47:08 estavam em curso importantes questões comerciais entre a Braskem e a Petrobras (envolvendo por exemplo pro- peno, etano, propano e gasolina, entre outros) e imaginei que o descumprimento do acordo preexistente poderia trazer prejuízos relevantes à Braskem. Posterior- mente converseiImpresso com por:Alexadrino 087.638.319-37 Alencar, na sede Rcl da 36542 Braskem no Eldorado Busi- ness Tower em São Paulo para me certificar do valor. De posse dessa informação, liguei para Hilberto Silva o autorizando a realizar o pagamento, sendo que a equipe liderada por Hilberto já tinha as informações referentes às contas para esses pagamentos, visto que eles já vinham ocorrendo anteriormente. Esse último paga- mento foi programado pela área liderada por Hilberto Silva em julho de 2011 e de- sembolsado de forma parcelada nos dois meses seguintes, para contas no exterior registradas no Drousys. Paulo Roberto permaneceu como Diretor de Abastecimento da Petrobrás e como Vice-Presidente do Conselho de Administração da Braskem até abril do ano se- guinte, quando deixou a Petrobras. Nesse período, nenhum tema relacionado a esse apoio político voltou a ser tratado e também não ocorreram outros pagamen- tos. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Veja-se que a imbrincada relação entre a Petrobras e a Braskem se dá não ape- nas na relação formal de controle societário e na instrumentalização de ambas, pelos mes- mos atores, para a prática de crimes, mas também em suas próprias atividades operacionais, sendo a sociedade de economia mista a principal fornecedora dos insumos que a petroquímica utiliza em suas atividades.

Exatamente por essa razão, a prática de crimes no âmbito da Petrobras foi fun- damental para a consolidação do setor petroquímico brasileiro na figura da Braskem, con- forme relatado pelos colaboradores Emílio Odebrecht, Alexandrino Alencar e Carlos Fadigas13.

Como se vê, os atos ilícitos praticados pelos réus na Ação Penal n. 033771- 51.2018.4.04.7000/PR estão umbilicalmente ligados às fraudes e desvios ocorridas na Petrobras.

Diversos elementos de prova colhidos perante o juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR serão úteis na elucidação dos fatos de que cuida o processo que tramita na origem, como aqueles que permitem compreender melhor a influência exercida por agentes da Petrobras na Braskem e como essa influência foi determinante para permitir o uso da petroquímica no pagamento de vantagens indevidas. Dentre esses agentes, além do já citado Paulo Roberto Costa, destaca-se o próprio Guido Mantega, membro do Conselho de Administração da Petrobras ao tempo dos fatos narrados na denúncia.

Não há, portanto, apenas a evidente conexão intersubjetiva entre o processo de origem e a “Operação Lava Jato”, tampouco mera identidade de operadores financeiros e destinação semelhante (repasse deEm: recursos 22/11/2019 a partido político- 08:47:08 ou candidato a cargo eletivo). Existe efetiva conexão probatória na hipótese, dado que as relações entre os agentes envol- vidos e as pessoas jurídicas lesadas era intensamente imbrincada. Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 A reunião das causas perante um mesmo juízo, como se vê, terá no caso efeti- vamente o potencial de maximizar a eficácia da instrução processual e evitar a prolação de sentenças contraditórias, escopos máximos das normas de concentração de competência.

Por fim, registre-se que esta não é a primeira oportunidade em que o juízo de primeiro grau julgou ação penal na qual desvios praticados em sociedade empresária na qual a Petrobras era detentora de participação acionária e poder de controle e cujas ativida- des eram diretamente imbrincadas às da petrolífera terminaram por importar em prejuízo à sociedade de economia mista.

13Cujos respectivos depoimentos foram declinados, por meio da Pet. n. 6.743, à Seção Judiciária do

Paraná. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Esquema semelhante foi praticado no âmbito da empresa Sete Brasil, objeto das Ações Penais n. 501340559.2016.404.7000 e 5050568-73.2016.404.7000.

Na Ação Penal n. 501340559.2016.404.7000, já sentenciada, e que também ti- nha João Santana e Mônica Moura no polo passivo, desvios praticados no âmbito da Sete Brasil serviram para, em último grau, permitir o pagamento de vantagens indevidas em de- trimento da Petrobras. Da denúncia que originou aquele processo colhe-se o seguinte tre- cho:

A respeito da sistemática de pagamento de propina implementada a partir da criação da SETE BRASIL, PEDRO BARUSCO esclareceu que havia um acerto firmado entre os Estaleiros, o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (JOÃO VACCARI), os Diretores da SETE BRASIL e o então Diretor de Serviços da Petrobras, RE- NATO DUQUE, para que 0,9% do valor de contratação das sondas pela PETRO- BRAS fosse destinado ao pagamento de propina, sendo que, deste montante, a distribuição das vantagens indevidas, conforme determinação de JOÃO VAC- CARI14, ocorria da seguinte forma: a) 2/3 do valor global da propina seriam repas- sados ao Partido dos Trabalhadores, conforme determinação e orientação de JOÃO VACCARI NETO, então Tesoureiro do Partido dos Trabalhadores; b) 1/3 seria divi- dido entre: b.1) os altos funcionários da Diretoria de Serviços da Petrobras, referidos nos controles de pagamento de propina como “Casa 1” - correspondente a RENATO DUQUE e ROBERTO GONÇALVES, aquele Diretor de Serviços e este Gerente Executivo de Engenharia - e b.2) a Diretoria da SETE BRASIL, referida como “Casa 2” - JOÃO CARLOS DE MEDEIROS FERRAZ, então Presidente da em- presa, EDUARDO MUSA, Diretor de Participações, e PEDRO BARUSCO15 . Conforme será melhor explicitado, a utilização da SETE BRASIL como empresa in- termediadora da contratação dos Estaleiros com a PETROBRAS terminou por se constituir em uma verdadeira extensão do sistema de corrupção que já estava imple- mentado e arraigado na Petrobras, em especial no que se refere à contratação de son- das. A formação da SETE BRASIL permitiu a continuidade do recebimento de vantagens ilícitas pelos funcionários corruptos e também assegurou continuidade da simulação de efetiva concorrência por parte das empreiteiras, sempre em prejuízo à Petrobras. Em: 22/11/2019 - 08:47:08 Em vista de todas essas considerações, tem-se por demonstrada a relação di- reta dos fatos denunciadosImpresso na Ação por: 087.638.319-37Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/PR Rcl 36542 com “as fraudes e desvios de recursos no âmbito da Petrobras”.

III.3.d Da inocorrência de violação aos julgados dessa Segunda Turma

Como demonstrado acima, não é correta a conclusão no sentido da incompe- tência do juízo de primeiro grau para a causa em razão de, no ver do Ministro Relator, não haver relação entre os fatos narrados na denúncia e os desvios e fraudes ocorridos na Pe- trobras.

Além disso, como relatado, a decisão agravada também anota que a tramitação da Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/PR perante o juízo de primeiro grau im- Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

plica o descumprimento das decisões tomadas por esse STF no Inq. n. 4.325 e na Pet. n. 6.664, fator que também conduziria à incompetência da 13ª Vara Federal Criminal de Curi- tiba/PR para a causa. Ocorre que, também quanto a esses argumentos, a decisão mono- crática deve ser reformada.

Quanto à vislumbrada coincidência parcial da imputação deduzida na denúncia ofertada perante o juízo de primeiro grau e aquela oferecida pela Procuradoria-Geral da Re- pública no Inq. n. 4.325, cabe destacar a amplamente reconhecida autonomia entre o crime de pertinência à organização criminosa e os crimes em espécie praticados pelos integrantes do grupo.

A referência aos fatos objeto da Ação Penal n. 5033771-51.2018.4.04.7000/ PR na denúncia de organização criminosa dos membros do Partido dos Trabalhadores deu-se apenas para ilustrar o modus operandi do grupo. Não há confusão entre as impu- tações.

Nesse sentido é o entendimento desse STF, conforme recentemente assen- tado por essa Segunda Turma no julgamento de admissibilidade da denúncia ofertada nos autos do Inq. 3.989:

2. O Plenário deste Supremo Tribunal Federal assentou a inexistência de conexão necessária entre o delito de organização criminosa e os demais eventualmente pra- ticados no seu contexto, permitindo a tramitação concomitante das respectivas propostas acusatórias perante juízos distintos e atestando a não ocorrência, em tais hipóteses, do vedado bis in idem. […] (Inq 3989, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em 11/06/2019, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-184 DIVULG 22-08-2019 PU- BLIC 23-08-2019) Em: 22/11/2019 - 08:47:08

Também não houve inobservância da decisão proferida na Pet. n. 6.664.

Na oportunidadeImpresso referenciada por: 087.638.319-37 na decisão agravada, Rcl 36542 a Segunda Turma do STF manifestou-se unicamente acerca do juízo aparente para a remessa de termos de depoi- mento de colaboradores premiados do grupo Odebrecht, sem que houvesse fixação de competência.

Naquele julgado, também não havia elementos que permitissem a análise da imbrincada relação entre a Petrobras e a Braskem, como feito nesta oportunidade.

De todo modo, não há de se falar em descumprimento do decisum, na medida em que ficou registrado na própria ementa do acórdão não haver fixação de competência no caso: Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Agravo regimental no agravo regimental na petição. Impugnação da decisão em que se determinou a remessa à Seção Judiciária do Paraná de cópia de termos de depoimento colhidos no âmbito de acordo de colaboração premiada celebrado en- tre o Ministério Público Federal e integrantes do Grupo Odebrecht. Aventado bis in idem. Alegação de que os fatos relatados coincidiriam com o objeto do Inq nº 4.437 e do Inq. 4.430, em trâmite no Supremo Tribunal Federal. Não ocorrência. Pretendida fixação da competência da Seção Judiciária de São Paulo ou do Dis- trito Federal para conhecer de supostos ilícitos penais noticiados nos termos de colaboração. Plausibilidade jurídica da tese defensiva. Narrativa que faz referên- cia a fatos supostamente ocorridos em São Paulo e em Brasília que, a princípio, não se relacionam com os ilícitos ocorridos no âmbito da Petrobras, alvo de apu- ração na Operação Lava a Jato, não se justificando, portanto, a competência do Juízo de Curitiba/PR. Núcleo político que deverá ser processado na Capital Fede- ral, na linha de precedentes. Agravo regimental ao qual se dá provimento tão so- mente para determinar a remessa dos termos de colaboração premiada à Seção Judiciária do Distrito Federal. Determinação que não firma, em definitivo, a competência do juízo indicado. Investigação em fase embrionária. Impossi- bilidade, em sede de cognição sumária, de se verticalizar a análise de todos os aspectos concernentes à declinação de competência. Precedentes. (Pet 6664 AgR-AgR, Rel. Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 14/08/2018, ACÓRDÃO ELE- TRÔNICO DJe-259 DIVULG 03-12-2018 PUBLIC 04-12-2018) – Original sem grifo

Diante de tais considerações, defende-se que, também quanto a esse ponto, a decisão agravada comporta reforma.

II.4 Da inexistência de similitude fática entre as situações de Guido Mantega e de Maurício Ferro

Finalmente, ainda que todos os argumentos expostos acima sejam considera- dos insuficientes para que seja dado provimento ao agravo regimental e a Reclamação seja julgada improcedente, ainda assim não é possível estender a Maurício Ferro a de- Em: 22/11/2019 - 08:47:08 cisão que suspendeu os efeitos do ato reclamado com relação a Guido Mantega.

Isso porque as situações de ambos não guardam similitude fática. Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 Com efeito, o ato ora apontado como paradigma é o acórdão proferido pelo STF na Pet. n. 7.075, que tinha por objeto os Termos de Depoimento n. 1, 2 e 9 de Joes- ley Mendonça Batista e n. 2 de Ricardo Saud, nos quais narraram o pagamento de van- tagens indevidas aos ex-Presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, com a participação do reclamante como contrapartida a favorecimentos implementados no âm- bito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos fun- dos de pensão Petros e Funcef, visando benefícios ao Grupo J&F, por meio de transferências em contas no exterior na ordem de U$ 50.000.000,00 e U$ 30.000.000,00, respectivamente. Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

A alegação central do reclamante é de que o ato reclamado, por ter feito menção a contas de titularidade de Guido Mantega sediadas no exterior, nas quais rece- beu depósitos de Victor Sandri, teria violado a autoridade da decisão proferida por esse STF na Pet. n. 7.075, em que determinada a remessa dos termos de depoimento para a Seção Judiciária do Distrito Federal, para que lá os fatos narrados fossem processados.

Maurício Ferro, ex-Diretor da Braskem, não tem relação alguma com tais fatos.

Para a aplicação do disposto no art. 580 do CPP na espécie, não importa a sustentada bilateralidade dos crimes de corrupção ativa e passiva, na medida em que o fato ensejador da presente Reclamação diz respeito unicamente a Guido Mantega.

III

Ante o exposto, o Ministério Público Federal requer que seja conhecido e provido o agravo regimental, com o reconhecimento da inexistência de prevenção do Ministro Relator para o feito e sua redistribuição para o Ministro Edson Fachin. Subsidiariamente, requer:

a) a reforma da decisão agravada, para que a Reclamação seja julgada improcedente, com a revogação da decisão que suspendeu os efeitos do ato reclamado com relação a Guido Mantega; e Em: 22/11/2019 - 08:47:08 b) o indeferimento do pedido de extensão formulado por Maurício Ferro.

Impresso por: 087.638.319-37 Rcl 36542 Brasília, 18 de novembro de 2019.

José Adonis Callou de Araújo Sá Subprocurador-Geral da República Documento assinado via Token digitalmente por JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA, em 18/11/2019 14:27. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0771B1EF.7C90EC16.098602DA.CBC11B93