Nas Fronteiras Da Memória: Guimarães Rosa E Mia Couto, Olhares Que Se Cruzam
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Silvania Núbia Chagas Nas fronteiras da memória: Guimarães Rosa e Mia Couto, olhares que se cruzam Universidade de São Paulo 2006 Silvania Núbia Chagas Nas fronteiras da memória: Guimarães Rosa e Mia Couto, olhares que se cruzam Tese de doutorado apresentada ao Depto. de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Fi- losofia, Letras e Ciências Huma- nas da Universidade de São Paulo, na área de Estudos Com- parados de Literaturas de Língua Portuguesa, para obtenção do tí- tulo de Doutor. Orientador: Prof. Dr. Flávio Wolf de Aguiar 2006 2 Para: Flávio Aguiar e Sílvia Renata 3 AGRADECIMENTOS Em especial: • Ao professor Dr. Flávio Wolf de Aguiar, a quem dedico este trabalho, pela generosidade, paciência com que me orientou e pela persistência, que fez com que eu rompesse com os meus limites e chegasse até aqui. • Aos professores: Dr. Carlos Serrano e Dra. Rita Chaves, pela orientação precisa e indicações bibliográficas na banca de qualificação. • Aos professores: Dr. Alfredo Bosi, Dr. Jaime Ginzburg, Dr. José Miguel Wisnik, Dr. Luiz Roncari e Dra. Rita Chaves, pelas aulas. • À Creuza e à Márcia, funcionárias do Centro de Estudos Portugueses dessa Universidade, pela colaboração e informações precisas, sempre que foram necessárias. • Ao Sr. Jacó do Depto. de Letras Clássicas e Vernáculas, pela colaboração e informações precisas que muito me ajudaram. • Ao professor Pedro Falcão, diretor da Universidade de Pernambuco, pelo apoio e incentivo. • Aos colegas da Universidade de Pernambuco, pelo carinho, apoio e incentivo. • A Francisco Chagas e Analia, meus pais, (in memorian), que infelizmente, a vida não permitiu que pudessem presenciar o resultado de seus esforços. • À Sílvia Renata, minha filha e grande amiga, a quem também dedico este trabalho, pela paciência, dedicação e o carinho para comigo em todas as horas. • À Maria das Graças, minha irmã e amiga querida, por me ajudar a chegar até aqui. • A todos os meus amigos, que aqui deixo de citar os nomes para não cometer injustiça, pelo apoio e incentivo em todos os momentos. 4 RESUMO Este trabalho tece uma comparação entre as obras de João Guimarães Rosa e Mia Couto, contemplando as semelhanças e diferenças entre seus projetos estéticos, tendo como fio condutor a tradição oral. Segundo Walter Benjamin, todos os grandes escritores hauriram da tradição oral e, Ángel Rama parece corroborar com isso, quando diz que os escritores da modernidade recorrem a essa vertente para tecerem as suas narrativas. Rosa e Mia se voltam para o passado e seus olhares se cruzam ao recriarem as lendas, mitos, ritos, provérbios e chistes na elaboração de seus textos. É certo que, a tradição oral em suas narrativas não representa os costumes de seus povos na íntegra, uma vez que, na obra de Guimarães Rosa é retratada como algo evanescente e, mesmo na de Mia Couto, que faz parte do cotidiano, ela já aparece fragmentada. Porém, a preocupação maior é com o processo de recriação, pois este acaba nos remetendo à história de seus países, uma vez que as perspectivas dos autores parecem convergir no mesmo ponto: a “modernização” implantada de maneira brusca naquelas sociedades, relegando a uma “terceira margem”, grande parte de suas populações. Brasil e Moçambique são países que têm em comum a língua portuguesa, herdada do colonizador que foi o mesmo. No entanto, são portadores de culturas distintas, pois, apesar da semelhança entre os elementos que as compõem, os valores são diferentes. As narrativas de João Guimarães Rosa e de Mia Couto não representam a História, mas contam história. Dessa forma, narração, memória e História se entrecruzam de tal maneira, que as fronteiras entre ficção e realidade se tornam muito tênues. PALAVRAS-CHAVE: narração – memória – História. 5 ABSTRACT This work makes a comparison among the workmanships of João Guimarães Rosa and Mia Couto, contemplating the similarities and differences between its aesthetic projects, having as conducting wire the verbal tradition. According to Walter Benjamin, all the great writers exhausted the verbal tradition and, Ángel Rama seems to corroborate with this, when he says that the writers of modernity appeal to this source to make their narratives. Rosa and Mia come back toward the past and their look cross when they recreate legends, myths, rites, beliefs, sayings and jests in the elaboration of their texts. It is certain that, the verbal tradition in his narratives does not represent the customs of the people as a whole, therefore, in the Guimarães Rosa’s workmanship it is portrayed as something that is vanishing and, even in Mia Couto’s, that is part of the daily one, it is already fragmented. However, the biggest concerning is with the recreation process, this sends us to the history of the countries, once these authors’ perspectives seem to converge in the same point: the "modernization" implanted in an abrupt way in those societies, relegating to one "third edge", great part of the population. Brazil and Mozambique are countries that have the Portuguese language in common, inherited from the settler, that was the same in both countries. However, they are carrying distinct cultures because , despite the similarity between the elements that makes them up , the values are different. The narratives of João Guimarães Rosa and Mia Couto do not represent the History, but they tell history. Of this form, narration, memory and History intercross themselves in such way, that the borders between fiction and reality become very tenuous. KEYWORDS: narration - memory - History. 6 SUMÁRIO Apresentação.................................................................................................................09 I.-Memória e literatura ...................................................................................................17 1.1. A tradição oral ...................................................................................................25 1.2. A arte de contar.................................................................................................30 II.- Literatura comparada: confluências e divergências.................................................35 2.1. Intertextualidade e literatura comparada ..........................................................40 2.2. A carnavalização na literatura...........................................................................43 III.- Construção e (re) construção em Guimarães Rosa ...............................................46 3.1. A matéria vertente ............................................................................................49 3.2. Modernização ou modernidade?.......................................................................55 3.3. Tradição e modernidade....................................................................................61 3.4. Tradição e ruptura.............................................................................................64 3.5. A história contada..............................................................................................84 IV.- Narração e memória em MiaCouto.........................................................................88 4.1. A tradição: branca ou negra?...........................................................................93 4.2. As cinzas da memória......................................................................................98 4.3. Entre ontem e hoje: a tradição........................................................................115 4.4. Tradição e literatura........................................................................................132 V.- Por que comparar? (Conclusão)...........................................................................................................134 VI.- Bibliografia ...........................................................................................................137 6.1. Dos autores....................................................................................................137 6.2. Sobre os autores............................................................................................138 6.3. Bibliografia geral............................................................................................146 7 (...) eu acho que não sei se existe isso de dentro e fora, essas fronteiras que nós fazemos entre acontecimento verdadeiro e o acontecimento inventado ou ficcionado. Eu acho que exactamente o segredo de inspiração é quando nós quebramos esta barreira. Quando aquilo que é a realidade (ou verdade) passa a ser alguma coisa que é olhada como se fosse uma coisa inventada e vice-versa. (...) O segredo está exactamente nessa situação de delinear a fronteira enquanto olhamos o mundo, naquele momento que nem é dia nem é noite. (Mia Couto) 8 APRESENTAÇÃO Estudos comparativos entre as obras de Guimarães Rosa e Mia Couto têm se realizado sob várias perspectivas, alguns norteados pela oralidade ou a virtualidade da linguagem; outros pela temática dos excluídos; outros pela questão do sincretismo religioso e outros, ainda, pela questão do narrador, que parece oriundo da tradição oral. Embora, levando tudo isso em consideração, ao aprofundarmos nossas investigações, percebemos que algo maior e mais abrangente prescinde essa comparação: o projeto estético. Os projetos desses dois autores são similares no que se refere à re-criação da tradição oral na estrutura da narrativa. Porém, empreender uma comparação entre suas escrituras, torna-se um trabalho de grande complexidade à medida que a pesquisa evolui e nos faz compreender que estamos