Rem: Revista Escola de Minas ISSN: 0370-4467 [email protected] Escola de Minas Brasil

Sá C. Chaves, Mario Luiz de; Scholz, Ricardo Pegmatito Gentil (Mendes Pimentel, MG) e suas paragêneses mineralógicas de fosfatos raros Rem: Revista Escola de Minas, vol. 61, núm. 2, abril-junio, 2008, pp. 141-149 Escola de Minas , Brasil

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Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto Mario Luiz de Sá C. Chaves et al. Geociências

Pegmatito Gentil (Mendes Pimentel, MG) e suas paragêneses mineralógicas de fosfatos raros

(Gentil Pegmatite (Mendes Pimentel, MG) and their rare phosphate mineral assemblages)

Mario Luiz de Sá C. Chaves Centro de Pesquisa Prof. Manoel Teixeira da Costa IGC/UFMG, . Pesquisador CNPq E-mail: [email protected]

Ricardo Scholz Geoaktivan Ltda, Belo Horizonte E-mail: [email protected]

Resumo Abstract Centenas de corpos pegmatíticos na região nordes- Hundreds of pegmatitic bodies occur in the te de produzem minerais gemológicos e de northern region of the State of Minas Gerais, several of coleção, muitos desses corpos possuindo afinidades com these bodies producing gemologic and collection determinada espécie, grupo ou classe mineral. O Pegma- minerals. Such pegmatites are known by the mineral tito Gentil em Mendes Pimentel, ora descrito, notabiliza- affinity with certain minerals species, groups or classes. se por sua assembléia de minerais fosfáticos, a maior par- The Gentil Pegmatite (Mendes Pimentel county) is te dos quais raros ou raríssimos na natureza. A associa- characterized by the phosphatic mineral assemblage, ção mineral identificada inclui microclínio, quartzo, mus- and some of these minerals are rare or very rare in covita, almandina-espessartita, e trifilita como fos- nature. Primary species are microcline, quartz, fato primário, que foi alterado formando uma extensa pa- muscovite, almandine-espessartine, beryl, and triphylite ragênese de espécies secundárias. Entre essas, desta- as the main phosphate that was altered to an extensive cam-se brazilianita, frondelita, gormanita, huréaulita, la- paragenesis of secondary phosphates. In this list are zulita, litiofilita, purpurita, reddingita, woodhouseíta, za- noted brazilianite, frondelite, gormanite, hureaulite, naziíta e, recentemente descrita nesse corpo, a matioliíta. lazulite, lithiophilite, purpurite, reddingite, woodhouseite, zanaziite, and matioliite, a species Palavras-chave: Pegmatitos, minerais fosfáticos, recently described in the Gentil Pegmatite. Província Pegmatítica Oriental do Brasil. Keywords: Pegmatites, phosphate minerals, Eastern Pegmatitic Province.

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 61(2): 141-149, abr. jun. 2008 141 Pegmatito Gentil (Mendes Pimentel, MG) e suas paragêneses mineralógicas de fosfatos raros 1. Introdução esse mineral como uma nova espécie, O relacionamento estratigráfico entre designada matioliíta (Atencio et al., ambas ainda não se encontra exatamen- A região nordeste de Minas Gerais, 2006). Como as amostras coletadas pe- te definido. A primeira ocorre a nordeste onde se insere a “Província Pegmatítica los presentes autores são de maior ta- e sudeste da região, constituída na mai- Oriental do Brasil”, é mundialmente fa- manho e fazem parte de uma pesquisa or parte por biotita-sillimanita-granada- mosa devido à ocorrência de minerais integrada envolvendo as paragêneses (cordierita) gnaisses, localmente grafito- excepcionais pela raridade e/ou por seus fosfáticas do depósito, acredita-se que sos. A Formação São Tomé, aflorante aspectos visuais, permitindo com que a apresentação dos atuais resultados sobre a faixa central topograficamente sejam comercializados no atrativo mer- complementem o citado estudo, bem mais arrasada da área, destaca-se por cado de minerais para coleção. No con- como ajudem a difundir a imagem do mi- incluir a maioria dos corpos pegmatíti- texto dessa província mineral, a região neral através de fotografia e imagens com cos. A unidade é composta de quartzo- compreendida entre Galiléia, ao sul, pas- MEV de espécimens excepcionais obti- biotita-granada xistos, localmente com sando por e se dos nos trabalhos de campo. estaurolita e sillimanita, além de musco- estendendo até Mendes Pimentel, ao vita e schorlita como produtos de me- norte, destaca-se pela ocorrência de mi- tassomatismo. Intercalações de quartzi- nerais fosfáticos raros ou raríssimos na 2. Localização e tos impuros e rochas calcissilicáticas são natureza, diversos deles descritos origi- contexto geológico freqüentes. A foliação principal possui nalmente na própria região. Nesse caso, direções variáveis com ângulos de mer- incluem-se barbosalita, coutinhoíta, regional gulhos geralmente elevados. faheyíta, frondelita, lindbergita, morae- O Pegmatito Gentil (18°41’21"S/ sita e tavorita em Galiléia; e brazilianita, Intrusivos nesses metassedimentos 41°27’02"W) localiza-se no município de scorzalita e souzalita em Divino das La- ocorrem duas fases de magmatismo áci- Mendes Pimentel, o qual dista cerca de ranjeiras (detalhes sobre descrições e do sintectônico, designadas de Tonalito 80 km a leste de Governador Valadares, depósitos desses minerais encontram- São Vítor e Tonalito Galiléia, bem como nordeste de Minas Gerais (Figura 1 - des- se em Pough & Henderson, 1945, Casse- corpos tardi- a pós-tectônicos, estes úl- taque). A partir de Mendes Pimentel, seu danne, 1983, Atencio, 2000, Chaves et timos não representados no mapa da Fi- acesso pode ser realizado pela rodovia al., 2006), bem como, de recente descri- gura 1 (Féboli, 2000, Vieira, 2000). A Suíte asfaltada MG-417 (que liga a cidade à ção, a matioliíta em Mendes Pimentel Galiléia constitui a maior parte da região, BR-381), de onde, após 5 km, toma-se (Atencio et al., 2006). Esse último mine- formando corpos de dimensões batolíti- uma estrada de terra mal conservada à ral foi encontrado no Pegmatito Gentil, cas de rochas leucocráticas a mesocráti- esquerda em direção à área do Córrego cuja geologia e mineralogia detalhada cas, estrutura gnáissica e textura média Indaiá. Essa estrada alcança a Lavra do constituem o objetivo central do estudo a grossa, localmente porfiroblásticas. Indaiá, ora explorada para feldspato e, ora apresentado. Essa suíte possui composição metalu- a 2 km para leste, em caminho carroçá- minosa a pouco peraluminosa de afini- Fanton et al. (1978) e Cassedanne e vel, alcança-se a Lavra do Gentil (Figura dade cálcio-alcalina e litotipos granitói- Cassedanne (1982) realizaram os primei- 1). Ressalte-se, ainda, que, no mapa ge- des do “tipo-I”, representados por tona- ros estudos de detalhe, enfocando a ge- ológico da região efetuado pelo convê- litos, tonali-granodioritos, granodioritos ologia e mineralogia geral, respectiva- nio COMIG/CPRM (Vieira, 2000), essas e granitos. A Suíte São Vítor, de compo- mente, dos pegmatitos da área. Esses duas importantes não se encon- sição similar, aflora em pequena porção, minerais foram também estudados pelos tram cadastradas. a oeste de Linópolis, e parece corres- autores e equipe em outras ocasiões Na região de Mendes Pimentel - ponder a uma variedade faciológica do (p. ex., Karfunkel et al., 1997, Chaves et Divino das Laranjeiras, afloram rochas Tonalito Galiléia com estrutura fracamen- al., 2001, 2003, 2005, Scholz, 2002, 2006, metassedimentares gnáissicas e/ou xis- te orientada (Féboli, 2000). Scholz et al., 2003). No Pegmatito Gentil, tosas, intrudidas por várias gerações de R. Scholz coletou, em 2003, um mineral rochas plutônicas ácidas (Figura 1), to- de coloração azul-piscina, como agrega- das essas seqüências sendo datadas no 3. Corpos dos de pequenos prismas (2-5 mm), que Neoproterozóico (Netto et al., 1998). Peg- logo foi presumido como uma espécie pegmatíticos da área matitos, associados a tal granitogênese, raríssima ou, então, nova para a ciência. fazem parte do Campo Pegmatítico Gali- e o Pegmatito Gentil Estudos preliminares apontaram que tra- léia-Mendes Pimentel, do Distrito Peg- tar-se-ia, em princípio, de uma burangaí- Na região entre Divino das Laran- matítico de . ta (Bermanec et al., 2004a, 2004b), embo- jeiras e Mendes Pimentel, são conheci- ra os resultados químicos não tivessem As rochas gnáissicas e xistosas dos mais de 30 corpos pegmatíticos de sido inteiramente satisfatórios. Estudos compreendem as Formações Tumiritin- porte maior que 2 m, em um quadrilátero paralelos e mais completos efetuados ga e São Tomé, de natureza metassedi- de, aproximadamente, 100 km² (os 20 mais por pesquisadores da USP determinaram mentar, que integram o Grupo Rio Doce. importantes são representados na Figu-

142 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 61(2): 141-149, abr. jun. 2008 Mario Luiz de Sá C. Chaves et al. ra 1). Esses corpos encontram-se encai- xados nos biotita-quartzo xistos da For- mação São Tomé, geralmente de forma concordante com a xistosidade princi- pal, ou, ainda, condicionados em dire- ções destacadas de fraturamento. Associados à fase tardia da última granitogênese, os pegmatitos se carac- terizam pela presença de uma grande variedade de minerais fosfáticos raros (Chaves et al., 2005), onde se inserem espécies como brazilianita, scorzalita e souzalita, descritas no Pegmatito Cór- rego Frio (Pough & Henderson, 1945, Cassedanne, 1983). A maior parte des- ses pegmatitos possui mineralogia ca- racterística de corpos diferenciados, en- riquecida em minerais de lítio como am- bligonita-montebrasita, trifilita-litiofilita e, mais raramente, lepidolita e espodu- mênio. Os corpos, geralmente, não apre- sentam zoneamento textural pronuncia- do, entretanto possuem porções inter- nas em menor escala com grande varia- ção textural e composicional; nessas porções, aparecem os minerais raros. As dimensões desses corpos variam, em geral, entre 2-30 m de espessura, 10-120 m de comprimento e, para a totalidade dos casos, faltam estudos sobre a pro- fundidade dos corpos. O Pegmatito Gentil aflora encaixa- do de forma concordante no biotita- quartzo xisto da Formação São Tomé, no local com direção NNE-SSW mergulhan- do fortemente para SSE (Figura 2). Esse corpo pegmatítico, diferentemente da maioria dos demais da região, possui zoneamento característico. Nas bordas, a rocha encaixante é metassomatizada (zona marginal), rica em isolados Figura 1 - Geologia da região entre Divino das Laranjeiras e Mendes Pimentel (MG), de schorlita. Uma zona mais interna é com a localização do Pegmatito Gentil nesse contexto. Em destaque, abaixo, a constituída de pegmatito gráfico, onde localização da mesma região em relação à cidade de Governador Valadares, principal já aparecem alguns corpos de substitui- pólo regional de comercialização de minerais gemológicos e de coleção (modificado de ção (pockets). Estes, porém, são mais Vieira 2000). abundantes na zona feldspática, rica em grandes cristais de microclínio, com me- secundária é representada por albita, riáveis entre 0,5 cm e 5 cm incluídos em nor volume de quartzo, muscovita, al- muscovita rica em lítio, elbaíta, além de microclínio e/ou quartzo, bem como mandina-espessartita, berilo e trifilita uma diversificada paragênese de mine- constituindo grandes massas agregadas como outros minerais primários. O nú- rais fosfáticos formados a partir da alte- complexas, em conjunto aos mesmos cleo é de quartzo quase maciço. ração hidrotermal e/ou supergênica da minerais. Em geral, a trifilita encontra-se Além da trifilita, aparece, em quan- trifilita, que estão descritos no próximo parcial ou inteiramente substituída, re- tidade muito menor, a montebrasita. Nos item. A trifilita aparece em cristais eué- sultando em paragêneses secundárias corpos de substituição, a mineralogia dricos a subédricos, com dimensões va- que incluem espécies fosfáticas raras.

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 61(2): 141-149, abr. jun. 2008 143 Pegmatito Gentil (Mendes Pimentel, MG) e suas paragêneses mineralógicas de fosfatos raros 4. Paragêneses minerais fosfáticas Os processos de diferenciação magmática nos pegmatitos da região per- mitiram o desenvolvimento de associa- ções minerais variadas, a maioria das quais envolve fases fosfáticas (Tabela 1). A evolução geral da mineralogia dos fosfatos em pegmatitos constitui três etapas distintas (primária, metassomáti- ca e hidrotermal), responsáveis pela for- mação de assembléias e paragêneses específicas, que ocorrem em função da composição química e temperatura do meio (Moore, 1973). Assim, o processo evolutivo vai depender, tanto de fatores internos, como composição química e mineralogia do ambiente primário, quan- to de fatores externos, como a possível entrada de água meteórica, de modo que fosfatos primários podem ser submeti- dos a estágios de alteração com intensi- dades variáveis. Os processos mais in- tensos são capazes de substituir, com- pletamente, a mineralogia inicial, masca- rando a paragênese primária do corpo, enquanto os de menor intensidade subs- tituem somente parte dela. Os pegmatitos inseridos no Distri- to Pegmatítico de Conselheiro Pena fo- ram, anteriormente, relacionados a seis grupos distintos por Scholz (2002) e Scholz et al. (2003), em função de seus minerais fosfáticos (ou ausência dos mesmos): (I) pegmatitos sem fosfatos primários; (II) pegmatitos pobres em lí- tio, com triplita; (III) pegmatitos ricos em Figura 2 - Seção geológica esquemática levantada no Pegmatito Gentil, ressaltando lítio, com trifilita predominante; (IV) peg- seu zoneamento típico e anômalo para os corpos da região. matitos ricos em lítio, com montebrasita predominante; (V) pegmatitos com apa- tita e (VI) pegmatitos com monazita. Ten- No Pegmatito Gentil, as paragêneses mais comuns verificadas foram (fórmu- do por base tal classificação, descrevem- las químicas segundo o IMA (Mandarino & Back, 2004): se paragêneses presentes em pegmati- • Trifilita [LiFe2+PO ] + fosfossiderita [Fe3+PO .3H O] + purpurita [Mn3+PO ]. Essa tos do “tipo III”, onde se insere o Peg- 4 4 2 4 associação corresponde a agregados de cristais de trifilita de cor verde-escura, matito Gentil, bem como diversos outros corpos nos arredores de Galiléia, ao sul, inseridos no microclínio e com as bordas parcialmente alteradas para fosfosiderita a exemplo das lavras Boca Rica, Cigana, e/ou purpurita (Figura 3). Sapucaia e Boa Vista-1 (Chaves et al., • (Trifilita) + reddingita [Mn2+Mn2+ (PO ) (H O)] + huréaulita 2005). Em todos esses corpos, a trifilita 2 4 2 2 [Mn2+ (PO ) PO (OH) .4H O] + fosfossiderita. Tal paragênese constitui produto ocorre fazendo parte da mineralogia pri- 5 4 2 3 2 2 mária junto com microclínio, quartzo e de alteração da trifilita e está presente em cavidades de substituição/alteração berilo, formando associações com nu- tardias (Figura 4A), ou em substituição total a cristais de trifilita. No primeiro merosos minerais de alteração, alguns caso, cristais de litiofilita apresentam reddingita e huréaulita na superfície ou em destes de origem supergênica. cavidades.

144 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 61(2): 141-149, abr. jun. 2008 Mario Luiz de Sá C. Chaves et al. Tabela 1 - Relação das espécies minerais fosfáticas encontradas em pegmatitos representativos da região de Divino das Laranjeiras - Mendes Pimentel (lavras de 1 até 6), destacando em negrito o Pegmatito Gentil, em comparação aos pegmatitos das proximidades de Galiléia, ao sul (lavras de 7 até 13) (parcial e modificado de Scholz, 2002 e Chaves et al., 2005). LAVRAS 1- Gentil 4 - Piano 4 - 3 – Telírio 9 - Proberil 9 - 12 - Cigana 6 - Pomaroli 11 - Urucum 7 - Sapucaia 2 - Cór. Frio Cór. - 2 8 – RicaBoca 13 - Orozimbo 5 – J. Firmino J. 5 – 10 – B. Vista-1

MINERAIS Ambligonita-montebrasita x xx xx xx Arrojadita x x Autunita x x x x Barbosalita x x Berilonita x x x Brazilianita x xxxxx Cacoxenita x x x Childrenita-eosforita x xxxxxxx x Faheyíta x Ferrisiklerita x x x x Fluorapatita x xxxxxxx xx x? Fosfosiderita x x xxxx x x Fosfouranilita x x x x Frondelita x xx xxxx x Gormanita x xx x x? Heterosita-purpurita x xx xxxxxx Hidroxiherderita x x x x x Huréaulita x xx x? Litiofilita x Matioliíta x Moraesita x x x x Reddingita x x Roscherita-zanaziíta x x xxxx x Scorzalita-lazulita x xx Sicklerita x x Souzalita x x Tavorita x Trifilita x xxx Triplita x Vivianita x xxxxx Woodhouseíta x

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 61(2): 141-149, abr. jun. 2008 145 Pegmatito Gentil (Mendes Pimentel, MG) e suas paragêneses mineralógicas de fosfatos raros

2+ 3+ 2+ • (Triflilita) + frondelita [Mn Fe 4(PO4)3(OH)5] + litiofilita [LiMn PO4] + lazulita sa paragênese, a trifilita encontra-se

[MgAl2(PO4)2(OH)2] + huréaulita. A frondelita aparece recobrindo corpos de subs- inteiramente substituída, verificando- tituição tardios e, sobre esse mineral, ocorrem litiofilita, huréaulita e/ou lazulita. se uma interessante e singular associ- Estão também relacionados à substituição total da trifilita. ação de fluorapatita (secundária), bra- zilianita mal cristalizada, woodhouseí- • (Trifilita) + frondelita + ferrissicklerita [Li(Fe3+,Mn2+)PO ] + purpurita. Essa para- 4 ta em pseudocubos (única ocorrência gênese ocorre como produto de alteração da trifilita, formando blocos maciços. A brasileira do mineral conhecida) e da purpurita é formada a partir da seguinte seqüência de alterações: trifilita-litiofilita recentemente descrita matioliíta, com → sicklerita-ferrissicklerita → purpurita-heterosita. cristais azuis milimétricos em prismas

• (Trifilita) + fluorapatita [Ca5(PO4)3F] + brazilianita [NaAl3(PO4)2(OH)4] + woodhou- longos (Figura 4B).

seíta {CaAl3[(P,S)O4]2(OH,H2O)6} + matioliíta [(Na,Mg)Al5(PO4)4(OH)6.2H2O]. Nes- 5. Química mineral dos fosfatos em geral e da matioliíta do corpo Análises químicas com micros- sonda eletrônica foram efetuadas em amostras representativas de matioliíta (Figura 5A), brazilianita, frondelita, la- zulita e trifilita (Tabela 2), após suas identificações com difração de raios X. As análises com microssonda foram obtidas no Laboratório de Microanáli- ses, Defis-ICEX/UFMG. Na coluna 1 dessa tabela, apresentam-se os dados de amostra coletada em 2003, então considerada como burangaíta - 2+ [(Na,Ca)(Fe ,Mg)Al5(PO4)4(OH,O)6.2H2O] (Bermanec et al., 2004a, 2004b), posteri- ormente reconhecida por Atencio et al. (2006) como nova espécie (matioliíta) compondo uma série isomórfica com a Figura 3 - Pequeno corpo de substituição no pegmatito, mostrando a trifilita verde- primeira. Imagens de microscopia eletrô- escura sendo alterada nas bordas para fosfossiderita azul-clara (borda inferior) e nica de varredura detalham os prismas purpurita roxa (borda superior).

Figura 4 - (A) Cavidade na trifilita, onde esta é substituída por reddingita (preta) e huréaulita (marrom), com raros cristais de fosfossiderita (azul). (B) Prismas de matioliíta (azul) com intercrescimentos de woodhouseíta (pseudocubos brancos) e apatita (prismas amarelos)(Fotografia L. Menezes Filho).

146 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 61(2): 141-149, abr. jun. 2008 Mario Luiz de Sá C. Chaves et al.

Figura 5 - (A) Agregado de cristais prismáticos de matioliíta de excelente qualidade (prismas individuais com até 2-3 mm de comprimento), incrustado em massas disformes de brazilianita (verde) e rara albita (branca). (B) e (C) Fotomicrografias eletrônicas obtidas de cristalitos da mesma amostra, ressaltando os prismas monoclínicos da matioliíta e suas terminações perfeitas em (001). (A - Fotografia de A. Liccardo; B e C - Fotomicrografias obtidas em MEV no Lab. de Microanálises, Defis-ICEX/UFMG).

Tabela 2 - Análises químicas com microssonda eletrônica (% em peso) de amostras de fases fosfáticas secundárias (1 até 6) e primária (7 até 9) representativas do Pegmatito Gentil. (1) Matioliíta; (2) e (3) Matioliíta e uma fase rica em ferro correspondendo a uma composição intermediária entre burangaíta e matioliíta, respectivamente; (4) Burangaíta; (5) Brazilianita; (6) Frondelita; (7) Lazulita; (8), (9) e (10) Trifilita, amostras obtidas de três diferentes pockets. Colunas (2) e (3), dados comparativos de Atencio et al. (2006), e coluna (4) de Knorring et al. (1977). Nas demais colunas, médias agora obtidas de 10 análises em cada amostra. (*) Todo ferro calculado como Fe2+; (Nd) Não determinado; - Abaixo do limite de detecção.

Óxidos (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10)

Li2O Nd Nd Nd Nd Nd Nd Nd Nd Nd Nd

Na2O 1,28 4,07 3,88 2,93 3,37 0,02 - 0,01 0,01 - CaO 0,05 0,06 0,08 1,88 0,15 0,33 0,01 0,01 0,03 0,02

MgO 4,68 4,92 2,76 2,00 0,09 0,05 11,44 1,51 1,47 1,45

MnO 0,06 0,14 0,08 0,4 0,02 10,71 0,01 9,53 9,26 9,12

FeO *2,20 1,10 4,99 6,26 *0,14 *42,07 *1,79 *32,90 *31,64 *30,80

Fe2O3 Nd 1,45 0,55 1,14 Nd Nd Nd Nd Nd Nd

Al2O3 39,82 36,36 34,90 34,35 45,81 - 30,66 0,01 - -

P2O5 42,70 39,79 38,98 37,65 41,67 32,27 48,17 47,20 46,91 46,53

H2O+ Nd 12,19 12,52 11,60 10,36 Nd Nd Nd Nd Nd Total 90,79 98,08 98,74 100,27 101,61 85,45 92,11 91,17 89,32 87,92

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 61(2): 141-149, abr. jun. 2008 147 Pegmatito Gentil (Mendes Pimentel, MG) e suas paragêneses mineralógicas de fosfatos raros alongados extraídos da mesma amostra de Diamantina, embora estas últimas saltando-se importantes processos de (Figura 5B-C). Nas colunas 2 e 3, são ocorram em veios de quartzo (Chaves et substituição. Deve-se, ainda, frisar que fornecidas, comparativamente, as análi- al., 2003). A trifilita, que foi analisada a a matioliíta, recentemente descrita nesse ses pertinentes desses últimos autores partir de amostras de três diferentes cor- corpo, assim como as fases estudadas em relação ao novo mineral e a uma ou- pos de substituição (Tabela 2, colunas quimicamente e que apresentaram dife- tra fase de composição intermediária na 8, 9 e 10), também apresentou anomalia renças consideráveis em relação às com- referida série e, na coluna 4, valores da quanto ao FeO, com 30,8-32,9% contra posições químicas ideais, constitui um burangaíta da localidade-tipo, o Pegma- 45,5% requeridos para valores ideais; campo de pesquisas que pode contri- tito Buranga, em Ruanda (Knorring et entretanto o MnO (não presente na fór- buir para um melhor entendimento da al., 1977). Os dados apresentados indi- mula química teórica) alcançou até ±9,5% evolução da mineralogia fosfática em cam que a matioliíta ora analisada é em- nas análises, indicando um importante pegmatitos. 2+ pobrecida em Na2O e relativamente mais processo substitucional do Fe , pelo 2+ rica em P2O5 e Al2O3. Mn , e resultando numa provável fase Na coluna 5 (Tabela 2), constam os intermediária entre esse mineral e a litio- 7. Agradecimentos dados da brazilianita que se associa à filita. O primeiro autor agradece à matioliíta, apresentados na Figura 5A. A FAPEMIG - Fundação de Amparo à brazilianita, embora descrita desde lon- Pesquisa do Estado de Minas Gerais, ga data (Pough & Henderson, 1945), é, 6. Considerações pelo apoio financeiro concedido através ainda, um mineral pouco estudado. Aná- finais do Projeto de Pesquisa EDT-2244/05. lises desses autores obtidas a partir de O estudo regional da geologia e da amostras da localidade-tipo, Pegmatito mineralogia fosfática primária e secun- Córrego Frio (situado no mesmo municí- 8. Referências dária encontrada nos pegmatitos do Dis- pio - mineralogia geral mostrada na Ta- trito de Conselheiro Pena tem permitido bibliográficas bela 1), possuem valores de Na O da or- 2 a identificação de diversos tipos de peg- ATENCIO, D. Type mineralogy of dem de 8,4%, entretanto o espécime ana- matitos com base em suas constituições Brazil. São Paulo: Museu de lisado também é empobrecido nesse óxi- minerais, além de possibilitar a caracteri- Geociências IG-USP, 2000. 114p. do, com ±3,4%. Tais dados, juntamente zação de modo integrado das assembléi- ATENCIO, D. et alii. Matioliite, the Mg- com os apresentados para frondelita e as e paragêneses minerais com espécies analog of burangaite, from Gentil lazulita do mesmo corpo (Tabela 2, colu- raras envolvidas. A descrição de onze mine, Mendes Pimentel, Minas nas 6-7), demonstram a complexidade novos minerais em pegmatitos dessa re- Gerais, Brazil, and other occurrences. química dos fosfatos secundários encon- gião (barbosalita, brazilianita, coutinho- Am. Mineral., v.91, p.1932-1936, trados, que, muitas vezes, se comportam íta, faheyíta, frondelita, lindbergita, ma- 2006. como misturas de distintas fases e/ou BERMANEC, V. et alii. Associação de tioliíta, moraesita, scorzalita, souzalita e ainda exibem diversos graus de hidrata- burangaíta e brazilianita em pegmatito tavorita), bem como a diversidade de- ção. Assim, a frondelita da coluna 6 des- de Divino das Laranjeiras, Minas monstrada, abre um campo largamente sa tabela, com ±42,1% de FeO contra Gerais. In: CONGR. BRAS. GEOL., 42, potencial para a descoberta de outros ±49,3% requeridos para valores ideais, 2004, Araxá. CD-ROM... Araxá: SBG, novos minerais na mesma. O Pegmatito pode indicar maior hidratação do materi- 2004a, Resumo 25-1009. Gentil, embora com atividades de lavra al analisado. Os outros valores são mui- BERMANEC, V. et alii. Burangaite and paralisadas desde 2004, possui, ainda, to semelhantes aos valores ideais. Os brazilianite association from Divino pilhas de rejeito interessantes de serem baixos fechamentos nas análises desses das Laranjeiras, Minas Gerais, Brazil. exploradas, tendo em vista o encontro dois minerais devem-se à presença da In: INTERNAT. GEOL. CONG., 32nd, de novas associações minerais. hidroxila, não quantificável na micros- 2004, Florence. Scientific Sessions sonda. O estudo desenvolvido nesse peg- Abstracts… Florence, 2004b, Part 1, matito integra-se com os de outros cor- p.215. Quanto às fases primárias do Peg- CASSEDANNE, J.P. Famous mineral pos da região de Mendes Pimentel, o que matito Gentil, ocorre trifilita e, de modo localities: the Córrego Frio mine and deve constituir objeto de futuro traba- raro, ocorre a montebrasita. A lazulita tam- vicinity, Minas Gerais, Brazil. Min. lho. A caracterização química de distin- bém é um fosfato primário característico Record, v.14, p.227-237, 1983. (Moore, 1973), entretanto esse autor lis- tas paragêneses minerais com espécies CASSEDANNE, J.P., CASSEDANNE, ta, ainda, tal espécie como uma possível fosfáticas envolveu análises químicas J.O. Phosphates et arséniures du fase secundária, o que, provavelmente, com microssonda eletrônica na principal basin supérieur du Ribeirão representa a amostra analisada (Tabela fase primária (trifilita) e sobre algumas Laranjeiras (Minas Gerais). An. 2, coluna 7). A mesma possui grande se- fases secundárias presentes (braziliani- Acad. Bras. Cienc., v.54, n.1, p.165- melhança química com lazulitas da região ta, frondelita, lazulita e matioliíta), res- 184, 1982.

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