Anexo – Documentação

I – Documental

A) Arquivos particulares

I.1 – Espólio Carlos de Azevedo, Pasta Comissão de Arte Sacra (documentação não tratada arquivisticamente).

[Lisboa, 1963, 2 de Abril]

D. Manuel IX, cardeal presbítero da Santa Igreja Romana, do título dos santos Marcelino e Pedro, por mercê de Deus e da santa Sé Apostólica Patriarca de Lisboa.

Prevendo que o ritmo de construção e restauro das igrejas no Patriarcado se intensifique nos próximos anos, e na intenção de que os respectivos projectos e trabalhos obedeçam a mais rigorosos critérios de arquitectura, liturgia e pastoral; sabendo que, apesar das depredações que as vicissitudes dos tempos e a incúria dos homens causaram no património artístico do Patriarcado, este ainda conta grandes valores em móveis e imóveis que importa inventariar, conservar e valorizar; reconhecendo que, para mais eficiente cumprimento das disposições canónicas, especialmente das referidas nos cânones 1164 § 1º, 1192 § 1º e 1280, e das contidas nos documentos pontifícios e dos dicastérios romanos, especialmente na encíclica “Mediator Dei” e na circular do Santo Ofício de 25 de Fevereiro de 1947 sobre Arte Sacra, se torna necessário constituir um corpo de consultores competentes a quem possamos pedir pareceres, informações e certos serviços em matéria de Arte Sacra; considerando que, por graça de Deus, é possível encontrar em número suficiente, entre o Nosso clero e laicado, de pessoas competentes e com um mínimo de disponibilidade para constituírem o referido corpo de consultores;

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HAVEMOS por bem criar no Patriarcado a Comissão de Arte Sacra, dando-lhe as seguintes atribuições:

1ª. elaborar o inventário artístico do Patriarcado;

2ª. defender o património artístico do Patriarcado, velando pela sua conservação, nomeadamente recolhendo em museus as peças de maior valor que não estejam habitualmente ao culto e por segurança se possa temer;

3ª. dar parecer sobre a alienação de objectos de valor, a teor de Direito;

4ª. dar parecer sobre projectos, decoração e equipamento de igrejas a construir e sobre restauro de lugares de culto, alfaias litúrgicas e imagens preciosas (cf. cân. 1280);

5ª. estabelecer os contactos necessários ou convenientes com a Direcção dos Monumentos Nacionais, Museus e outras entidades ligadas aos assuntos da sua competência;

6ª. contribuir para a formação artística do clero e dos fiéis.

Designamos para constituírem esta Comissão: Monsenhor Cónego D. João de Castro, presidente, Padre João de Almeida e Padre João Trindade; e ainda os seguintes Consultores: Padre José da Costa Ferreira, Dr. João Couto, D. Maria José de Mendonça, Engenheiro João Santos Simões, Dr. Carlos de Azevedo, António Medeiros de Almeida, Charles Vere Pilkington, Arquitecto Fernando Peres Guimarães e Arquitecto Sebastião Formosinho Sanches.

Dado em Lisboa, no Nosso Paço de Sant’Ana, aos 2 dias de Abril de 1963.

M. Card. Patriarca

Cón. Honorato Carlos Nunes Monteiro, Chanceler

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B) Arquivos e bibliotecas públicos

ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO, Lisboa

I.2 – Avulsos, Índia, n.º 7, doc. 82: Petição de Isabel Coelha, viúva do capitão João Rebelo de Azevedo, escrita pelo irmão, João Coelho, para tomar posse de objectos enviados pelo filho para o marido, entretanto falecido

[s.l. 1623, 16 de Março]

Dis Isabel Coelha viuua do Capitão João Rebello de Azeuedo, Caualeiro do habito de Cristo, moradora em Oleiros, vila do priorado do Cratto, que seu filho Jacyntho Rebello de Azeuedo, estante nas partes da India mandou ao sito seu marido, e pai, (que heia falecido) na nao, nossa Senhora do Pariso [sic], que o anno atras ueo das ditas partes huma Alcatiffa de Odias, huma corjja de canequins, duas pessas de corte de Ouro e pratta brancas, huma colcha de cottonia de seda, de marca meãa, huma imagem do menino Jesus, de marfim, duas pessas de guingão roxo de S. Thome, e outros brincos de cristais, bossetas da china, pentins e abbanos, tudo metido em huma trouxa engumada, entregue a Antonio pinheiro, que ueo na dita nau ueio [sic] e dirigida ao doutor Viçente Caldeira de britto desembargador do passo; e mandando ella supplicar cobrar a dita encommenda, se achou que por uir dirigida ao ditto doutor estaua embargada por ordem de V. Magestade no liuro da descarga da casa da india, por onde se lhe não entregou. E todauia a dita trouxa, ainda que tinha dirigida ao dito doutor, era para elle a enuiar ao dito Joam Rebello seu marido, de Oleiros villa do priorado do cratto que dista, desta cidade, trinta legoas, pella terra dentro, porque o dito doutor he natural da Sertãa, quatro legoas da dita Villa, oleiros, e amigo do dito João Rebello e por sua ordem seria sabedor com brevidade, da dita encommenda, o que tudo a supplicante quer instificar por cartas, que o dito seu filho jacyntho rebello de Azeuedo enuiou ao dito seu pai, e ao dito doutor, e por conheçimento da pessoa a quem, na india a encommenda se entregou, e outros documentos. Pede a V. Magestade lhe nomee juiz diante do qual faça a dita instificação, para que assim se lhe entregue sua encommenda, e por Mercê.

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Como procurador João Coelho

I.3 – Secretaria de Estado da Marinha e Ultramar, Direcção Geral do Ultramar: Índia, 1860-1861, pasta 25, nv. 1911: Correspondência do Governador, Junta da Fazenda Publica do Estado da Índia, 1860

[Nova Goa, 1860, 17 de Março]

Pelo motivos ponderados na parte da Acta da sessão desta junta de 29 de Fevereiro ultimo por copia junta, resolveo a mesma Junta que se comprassem por conta da Fazenda Publica as duas cadeiras de marfim marchetadas de sandalo e madreperola, que appareceram na nossa Exposição industrial, aberta no corrente anno na Cidade Velha de Gôa, para serem offerecidas á Sua Magestade El Rei o Sr D. Pedro 5.º, não só por serem as referidas cadeiras mui apreciaveis pela sua perfeição, mas tambem dignas de figurarem no Palacio Real, como objectos da India, entre outros primorosos que desafiam a attenção publica, e espera a mesma Junta que V. Exª haja de levar o exposto ao respeitavel conhecimento do Nosso Augusto Soberano e sollicitar do Mesmo Senhor a Sua Real Approvação.

Deos Guarde a V. Exª Nova Gôa, em Junta da Fazenda Publica, 17 de Março de 1860.

[Junto anexa cópia da Portaria ao ofício n.º 7 do ano de 1860]

Copia duma parte da Acta da sessão da Junta da Fazenda de vinte e nove de Fevereiro de 1860.

Tendo S. Exª Governador Geral Presidente desta Junta feito ver a conveniencia de se comprar por conta do Estado as duas cadeiras de marfim marchetadas de sandalo e madreperola que apparecerão na nossa Exposição industrial, aberta na Cidade Velha de Gôa no dia doze de Janeiro do corrente anno, para serem offerecidas a Sua Magestade El Rei o Senhor D. Pedro 5.º, resolveo a mesma Junta não só em ordem a animar as futuras exposições, mas tambem para poder ser devidamente apreciada em Lisboa a mesma exposição (a qual poso que fosse a primeira que teve lugar nas nossas Possessões da India, apparecerão com tudo nella muitos objectos que pela sua perfeição chamarão a attenção, assim dos Nacionaes como dos Estrangeiros que vizitarão a casa

4 da mesma exposição) que se comprassem para a Fazenda as referidas duas cadeiras pelo preço de mil e quinhentas rupias chirinas ajustado pela Commissão da referida exposição com o Expositor, Hormusjee Canjee, para terem o destino indicado por S. Exª.

Eu Luis Maria d’Araujo Contador Geral na ausencia do Escrivão Vogal, a fiz escrever e sobscrevi. Visconde de Torres Novas Lorena Collaço.

Esta conforme Secretaria da Junta da Fazenda Publica 17 de Março de 1860.

BIBLIOTECA NACIONAL DE , Lisboa

I.4 – Colecção Jorge Moser, 332, ns. 3, 7 e 8: Conjunto de cartas trocadas entre António da Gama de Pádua, agente do arcebispo de Goa em Lisboa, e Nicolau Pereira Coutinho, em Lamego, a quem o religioso mandava uma série de objectos.

332, n.º 3: [Lisboa, 1682, 22 de Dezembro]

“Meu senhor. Ao mesmo tempo Reçebo duas de vossa merce huma de des, e outra de doze do corrente que troixe o morgado, e por ellas cujo fiar vossa merce com preffeita saúde que muito estimo, e a com que fio he muito pronta para seruir a vossa merce em tudo o que me mandar.

Logo que recebi os de vossa merce tratei de acomedar o fato em seis Baus que pera esse efeito comprei quattro grandes e dous mais pequenos, e lhe não comprei emserados por se me o obrigar o almocreue Ferreira hey los comtudo o resguardo cubertos com as suas cubertas, vão cozidas em sarapilheiras e enleados com cordas, e eu mesmo fui o que oz acomodei como he boa testemunha o senhor frei francisco de Meneses que a poco se achou nesta casa, e o Morgado e almocreue estimarei muito que chegue tudo são e e saluo pea que vossa merce tenha o gosto de o possuir.

Em cada Baul vai dentro hum rol do que leua de que me ficão copias para mandar a vossa merce sábado pelo correio com as chaues de todos tudo fechado e lacrado entregue ao correio com obrigação de o emtregar a vossa merce em lamego ou a seu

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Criado. E daqui athe sábado comfferirei estes Rois do que vai nos Baus com os Rois que me remeteo o senhor Arçebispo porque ficarão ainda algumas miudezas, ainda que poucas, que se não puderão acomodar nos ditos Baus por hiren cheios, e estes hirão ou nos contadores, ou caixão.

Os contadores nesseçitauão de grande comserto que ainda se lhe não acabou e me parece que athe oito de janeiro estará tudo feito, e como he empossiuel hirem em cargos ditos contadores come dira o Morgado e almocreue vão sem outro remedio se não hirem por mar o que remeterei na primeira carauelha ao Porto juntamente com o caixão com a louça que vossa merce me pede que tudo hirá em causa em em (sic) reposta desta sequer lhes segure a quantia de duzentos mil reis pellos ditos comtadores pelo risco que correm daqui ao Porto. E me pareçe custara este seguro de duzentos mil reis oito mil reis, assim que vossa merce me acuzara o que quer que faça que eu aponto a vossa merce todos os caminhos que emtendo e assi pertence o resolver.

Vossa Merce me diga se chegou tudo isto são e saluo pera eu ter este gosto que estimarei lusiçe a pressa com que isto se negosseou. Vossa Merce me não agradeça o que nestes particulares obro, porque faço o que deuo com o fazer o contrario se me estranharia muito o senhor Arçebispo está na India e vossa merce em soutello e como ambos se comffião tanto em min estimarei muito que assim ditos senhores como vossa merce se dem por bem seruidos no que se me emcarrega.

Ao Almocreue dei sinco mil reis a conta com declaração que vossa merce lhe satisfaria o restante das tres cargas. O Morgado me emtregou o seo (?) pello que lhe beijo a vossa merce mil vezes a mão agradesendo lhe a merçe e reconheçendo as nouas obrigacoins em que me poem que protesto saber mereçer.

Os diamantes lhe não posso acabar de dar saída pello empase em que estão, do que ouuer darei auiso a vossa merce.

Estimo que vossa merce cobrasse os mil crusados a Nuno Fernandes, o qual ainda não vi nesta cidade sem embargo que me disem heja chegado, hoje obrycarei e a que vem para Sebastiam de Carvalho emtregarei de que mandarei reposta e a da de João de Almada ficando sempre prontíssimo para obedeçer/

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Assi em tudo o que me mandar a quem Deos guarde muito a vossa merce e dé mui alegres festas, lixboa 22 de Dezembro 1682.

Assino em serviço de vossa merce a) António da Gama de Padua

[Noutra letra]

Miguel tauares de moraes caualeiro profeso da ordem de Cristo tabalião de notas por sua Magestade na Cidade de lisboa e por termo certifiquo o sinal daquela (?) carta asima he de António da gama de padua contheudo nela vi em vinta tres de novembro de seissentos e outennta e tres.

Em fé (?) e verdade. b) Miguel tauares de moraes

332, n.º 7: [Lisboa, 1683, 24 de Janeiro]

Meu senhor. Dois Correios ha que me acho sem cartas de vossa merce que me tem cauzado grande cuidado, queira Deos não seião por falta de saúde conseda lha Deos a vossa merce tam prefeita como todos seus Criados lhe dezeião em companhia de todos esses Vossos (?) a com que fico lembrando para seruir a vossa merce.

Athe gora não tiue netícia nem auizo da chegada dos seis Baus estimarey mo dê vossa merce porquanto não podião leuar milhor tempo do que leuarão. os Contadores estão acabados e bem consertados e a loiça prompta tudo para se embarcar na próxima ocazião que sera dentro de 15 dias.

Sebastiam de Carvalho não há quem lhe possa tirar reposta daquella carta tendo muitas uezes mandado buca la, com que determino hir peçoalmente.

Veia vossa merce o que me ordena em seu serviço que le servo lhe hei de obedeçer com aquella vontade que vossa merce me mereçe. Deos guarde a vossa merce.

Lixboa, 24 de Janeiro 1683 a) António da gama de Padua

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332, n.º 8: [Lisboa, 1683, 30 de Janeiro]

Receby A de vossa merce de 19 deste uinda no Correio de hoje, e me deixou com bem grande cuidado dizer me vossa merce que lamego me hauia escrito, a qual carta me não hauia chegado a mão, repeti diligençias no Correio pera uer se a estaua o que não comssegui. Agora estando pera responder a vossa merce me manda o senhor frei francisco de Menezes dita carta, e dezeiando eu tanto que ella me chegaçe a Mão milhor fora que se ouueçe perdido pelo sentimento que me causou a estrago com que este Caso chegou a presença de vossa merce pondo eu tudo o cudado em elle hir no milhor comando possiuel, porem he serto que quanto mais se dezeia huma couza, tanto se não alcança, e (?)beba dos os que nestas viagens andão que não sabem a pena que dá semolhante ruina estimara eu peder remedear tudo pera que vossa merce não sentice este dissabor, comtudo estes Meninos Pastoris e o mais de marfim que foçe quebrado aqui se conçertam façilmente querendo vossa merce remeter alguma couza para se conçertar. Estimasadu (?) fica o erro das colchas e foçe tudo ajustádo. Achando vento. Em tendo eu huma destes contadores com que com a sua chegada o abrira vossa merce; e por não hauer athe gora ocasião de embarcação para o Porto os não tenho mandado, aqui ho leia que já auisei a vossa merce que dizem parte, mas athe gora o não há feito no prazo(?) que for hirão e caixão comteudo o mais seguindo a desposição de vossa merce que nesta me dá em que se não folgara a mínima circunstançia e farei segurar tudo com a milhor dita que tenha a profia e grande comodo. E de tudo auizarei largamente. He sem pede vossa merce hir escrevendo para o senhor Arcebispo por que as Naos hão de partir os de 20 de maio, as duas pequenas, vossa merce me fara fauor dizer lhe o gosto que me causou a honrra que me premitio desta comrespondençia e lhe escreuera vossa merce por duas uias e me uirão as cartas por uia de João Duarte que basta estarem aqui athe 20 de Março sem falsa e sempre estou aqui para seruir a vossa merce em tudo aquilo que vossa merce me mandar com huma pronta vontade, Deos guarde a vossa merce muitos annos lixboa 30 de Janeiro de 1683.

No negocio em que vossa merce me fala darei reposta no Correio que uem a) António da gama de Padua

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I.5 – Fundo Geral, Cód. 1527: Lista das encomendas que vão neste anno de 740 na Nao Nossa Senhora da Conceição, fs. 420v.º-421

[s.l. {Goa}, 1740]

Caixão da Iaqueira n.º 4

Item 36 bulles de chumbo com chá.

Item 1 caixotinho com hum apparelho bom para chá [riscado], e leva, o n.º de 21 que o mesmo, que leva o caixote de S. Eminência.

Item 4 laminas em quatro caixinhas.

Item 2 pratos dourados e rendados.

Item 16 Taboleirinhos de charão de Japão.

Item mais 2 usados.

Item 10 persolanas de pao prateadas.

Item 2 dusias e meia de chicaras com seos pires de pao dourado, e prateadas.

Item 2 copos da Abbada, e mais dous pequeninos.

Item 1 caixinha de charão de china fechado com chave, em que vão 3 bulles de cha.

Item Alguns pedaços de christal.

Item 4 Imagens de marfim, duas de N. Sr.ª, huma de S. José, e a outra do Menino Jesus.

Item Humas pontas de Abbada.

Item 1 Bico de prata (?) [borrado].

Item hum copinho de sândalo.

Item hum copo de pedra de Maysser.

Item 2 pontas de meizinha do Sul.

Item Huma bocetinha de charão vermelho com algumas medicinas.

Item 9 corjas [medida] de lenços pretos.

Item 1 esteira de Manilla.

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CASA-MUSEU REINALDO DOS SANTOS E IRENE QUILHÓ, Parede

I.6 – Fundo Reinaldo dos Santos, Viagens: Viagens Fora da Europa. Notas e Apontamentos, Viagem à Índia e Ceilão [pasta com apontamentos manuscritos]

[1954]

[Esta documentação revela um tratamento difícil uma vez que foi reunida em cadernos e folhas esparsos, muitas vezes sem datação nem ordem geográfica, reflectindo a opção pelo registo de notas de viagem que iam respondendo às questões de há muito elaboradas pelo autor. Ainda assim, por se tratar de documentação não tratada e inédita, optei por deixar o registo das notas e citações que fiz da mesma]

* Numa das pequenas folhas de agenda, furadas em dois lotes de três buracos, manuscritas escreve, nitidamente em preparação da conferência que irá proferir:

“As artes decorativas na Índia portuguesa, A arte indo-portuguesa.

O que é? Como se define?

Não falo de arquitectura (Chicó) […]

Falo das artes decorativas

Os retabulos

A ourivesaria e joias

O mobiliario

Os bordados – Paramentos

Os marfins”

[…]

* Noutra folha: “Os nomes em Ceylão: Silva, Pereira, Correia, Vaz, Almeida, Pires, Afonso, Vilas, Fonseca, Paulo, António, Fernando, João, Sousa”

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* Noutra folha: “referências bibliográficas

Ceylon and Portugal, Pieris & Fitzler (?) 1927 (?) Verlag der Asia Major (?)

The early history of Ceylon by J.C. Mendis (?), Calecutte, 1935 [trata-se do livro de G. C. Mendis, Early History of Ceylon, 1.ª edição de 1932]

The Portuguese in Ceylon 1505-1658, P.C. Pieris, Cambridge [trata-se do livro de Paulus Edward Pieris, Ceylon and the Portuguese, 1505-1658, Tellippalai, 1920]

* As 5 últimas folhas são notas tiradas no museu no Ceilão (não diz qual) [muito confuso, escrita difícil, mera referência que mistura português, holandês e inglês]

[…]

* “Extraido da Presse Lusitania 7-3-1954: referência à sessão solene promovida pela Escola Médica no salão dos vice-reis sob presidência do Governador Geral; Doutor Pacheco Figueiredo «discursou saudação fino recorte literário fez belo retrato Reynaldo Santos mestre dos mestres cirurgião português investigador renome historiador e critico arte consagrado conferencista e prosador rara elegância (...)»

* Documentação do Ministério do Ultramar – Direcção-Geral do Ensino, datada de 5 de Fevereiro de 1954, assinada pelo Director-Geral, Braga Paixão, com o itinerário da viagem ao Oriente: Sairia de Lisboa a 19 de Fevereiro, via Roma e Bombaim (de 21 a 25), onde apanharia navio para o porto de Mormugão, com chegada prevista a 26 de Fevereiro. À referência expressa a um bilhete de navio de 1ª classe no trajecto Colombo-Nápoles [o trajecto foi alterado:]

* Carta de Geraldo Lorenzo da Trans World Airlines, datada de 6 de Março de 1954 a confirmar os vôos Bombaim – Colombo – Roma – Lisboa.

[A ideia era a de sair de Goa de barco para Bombaim; itinerário: 18.3.1954 Bombaim- Colombo; 24.3.1954 Colombo-Roma; 29.3.1954 Roma-Lisboa]

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* Carta de Augusto de Seabra, juiz na comarca de Salsete em Margão, datada de 9-3- 1954; dactilografada em papel do Tribunal Judicial da Comarca de Salcete, Gabinete do Juiz particular: Apresenta-se e desculpa-se com os inúmeros afazeres para não o ter feito pessoalmente; vai direito ao assunto: “Como mestre e superior critico de arte, que V. Exa. indiscutivelmente é, venho trazer ao seu conhecimento de que sou possuidor, nesta casa de Margão, duma interessante, valiosa, numerosa e variada colecção d’objectos de arte, na sua maioria muito antigos, e da mais variada procedência, devendo ter especial interêsse para V. Exa uma velha tela a óleo representando a visita de Vasco da Gama ao Samorim de Calicut, numa versão bem diferente da que se vê nas pinturas existentes na Sociedade de Geografia (Lisboa) e no Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Aquele quadro foi adquirido em Bombaim, vindo de Haiderabad, e tem uma (inscrição numa [à mão com tinta azul]) placa metálica na moldura a referir a cena que representa, em inglês, sem indicação do seu autor.

(...) V. Exa. poderá ser elucidado sôbre o que aqui possuo e acabo de referir pelo Dr. Carneiro Allen, Director da Administração Civil, ou o Dr. Alvaro Colaço, professor da Escola Médica de Goa.”

* Viagem à Índia. Roma: recortes de jornais locais com referência à sessão solene de homenagem (grande destaque e dimensão dada ao assunto nos jornais. Interessante é o facto de o outro tema grande comum ser a questão dos Fredom Fighters e da oposição/concordância com a independência de Goa ou a manutenção sob administração portuguesa); facturas da viagem em Goa e Roma.

* Arte – Viagem à Índia: folhas de agenda quadriculadas, manuscritas.

“Sta Monica (...) – azulejo persa – de varios tipos. Decoração azul, verde e branco.”

Faz uma descrição sumária e um desenho do motivo dos azulejos.

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“Sta Catarina (Sé)

[faz uma descrição sucinta da igreja] Mas para nós agora, importante é o Tesouro nele há peças de ourivesaria – de ouro, prata dourada e prata – umas claramente indianas – outras de tipo português (embora talvez feitas em Gôa). Bandejas, navetas, caldeirinhas, galhetas, anforas, [?], cálices, custódias, lanternas, [?], cruzes, relicários – lamparinas há de tudo – sem marcas – aparte uma naveta? com marca inglesa – Ha que fotografar muita coisa.”

* Referências ao Patriarca e a Mártires Lopes, para que este o acompanhe; também com o Dr. Ismael Gracias; Constâncio de Mascarenhas.

Referências constantes a coisas que tem que fotografar.

Referências a livros: Bragança Pereira, Etnografia; Pissurlencar, Regimentos das fortalezas e Agentes da diplomacia; Oriente Português (nova série); Boletim do Instituto

* Para além do interesse na ourivesaria, preocupa-se essencialmente com a arquitectura.

Santa Ana; – Raulu Xette, Sep. do Boletim do Instituto Vasco da Gama, 31, 1936; – Túmulo S. Francisco Xavier, Sep. Boletim do Instituto Vasco da Gama, nº 25, 1935 / toma nota de ver, p.e., a Monumenta Xaveriana para saber mais sobre o túmulo, ou Schurhammer; menciona várias referências bibliográficas e parece ter retirado apontamentos das mesmas; “Igreja de Vernã: Um cadeiral [?] – Bom retábulo (fot.) altar mór – Púlpito – Cadeira do bispo (fot.)

Na sacristia – paramentos e ourivesaria sacra. Paramentos – Casula, Pavilhão [?], capa, e frontal de altar bordado a ouro, lhama e fio de ouro, com aplicações de veludo vermelho em crescente.”

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN – BIBLIOTECA DE ARTE, Lisboa

I.7 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Comissão de Arte Sacra, n.º 1904: Ficha informativa exemplificada

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[Lisboa, 1963, 26 de Junho]

A “Ficha informativa exemplificada” mostra no canto superior esquerdo, dactilografado, “Comissão de Arte Sacra do Patriarcado de Lisboa / 1ª Sub-Comissão: Inventário Artístico”.

No lado direito, consta um campo para “Números [não preenchido] / Data da informação: 26/6/63 / Distrito: Lisboa / Concelho: Torres Vedras / Vigararia: [divisão eclesiástica] Torres Vedras / Paróquia: Carvoeira”.

Seguia-se a informação de inventário propriamente dita, com campos para a:

Localidade: Carvoeira.

Localização e acesso: E.N. n.º 9.

Classificação canónica: Igª Paroquial; Orago: Nª Srª da Luz.

História: Não tenho elementos. Consta que data dos primeiros tempos da monarquia, mas se assim é, não restam vestígios de tal antiguidade.

É monumento nacional ou imóvel de interesse público? Não.

Guarda da chave: na residência paroquial, junto à Igreja.

Descrição sumária: Igreja relativamente grande para a região, de uma nave, sem transepto, com altares laterais, com edícula baptismal, com torre sineira fora do alinhamento do corpo, com grande alpendre, sacristia, tribuna de côro. No exterior é de notar o portal antigo, sendo o resto sem valor artístico. Capela mor de abóbada de alvenaria e corpo forrado de madeira pintada.

Decoração Imóvel – Altares de talha dourada e pintada, tanto na capela mor como nas laterais. Tem azulejos antigos na capela mor e na nave.

Mobiliários – Na sacristia tem um grande arcaz de nove gavetas e dois armários, com ferragens modestas.

Imaginária – A maior parte é moderna. Tem uma Santana antiga. Numa capela lateral tem um quadro pintado em madeira representando Nª Srª e S. João Evangelista, obra antiga e que parece ser parte de uma pintura maior.

Paramentaria – Só há paramentos modernos e vulgares.

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Outras alfaias – As alfaias de culto são modernas ou pelo menos não têm indicação de ser antigas.

Sinos – há três sinos sendo um grande e parece que antigo. Não tem inscrição de data. / Memórias funerárias ou históricas: Não tem túmulos ou pedras com brazões. No pedestal do arco da capela mor tem a data de 1797.

Arquivo: tem alguns livros de assentos modernos e um missal de aspecto antigo, fora de uso.

Conservação: Foi arranjada há pouco tempo. A tribuna do côro de madeira com boas pinturas ameaça ruína. Torna-se indispensável uma reparação urgente pois que está escorado com traves de madeira. Deseja-se também ornamental o batistério [sic] que é muito pobre e desdiz da Igreja.

Outras observações: Na freguesia há mais cinco capelas que não parecem ter valores artísticos; são elas: na Zibreira, a Capela de Nª Srª. da Glória, a da Serra e de S. Julião e duas particulares.

O informador.

Assinatura:

Nome bem legível.

I.8 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Comissão de Arte Sacra, n.º 1904: Instruções Normativas para os Informadores

[Lisboa, s.d.]

A fim de normalizar as informações que os Rev. Párocos deverão prestar na Ficha Informativa, estabelecem-se as seguintes directivas.

(a) – Números, os espaços serão preenchidos ulteriormente pela C.A.S.; deverão portanto ser deixados em branco pelos informadores, os quais no entanto deverão indicar a data da Informação e bem assim o Distrito, Concelho, Vigararia e Paróquia a que pertence o núcleo artístico.

(b) – Ficha informativa, Deverá ser preenchida uma Folha Individual Por Cada núcleo artístico existente sob a sua jurisdição imediata: Igreja, capela, convento, etc.

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(c) – Localidade, Indicação do nome da localidade (Cidade, Vila, Aldeia, lugar) ou agregado populacional mais próximo. Nos casos de núcleos menos conhecidos ou mais afastados das vias de comunicação acessíveis a transporte automóvel,

(d) – Acesso indicar o acesso mais prático a partir da estrada ou estação de caminho de ferro. Referir-se tanto quanto possível à numeração e marco quilométrico da estrada.

(e) – Classificação canónica: Usar-se-ão os termos consagrados para identificar os edifícios religiosos: Igreja Paroquial (ou Matriz); Igreja Conventual (por vezes “Igreja do antigo convento de…): Igreja da Misericórdia (quando ainda sob a jurisdição administrativa de uma Santa Casa); Capela privada (ou oratório particular); Capela devocional (podendo ser Ermidas quando isoladas ou não, com culto ocasional por ocasião de festividades locais ou Santuários, quando mais importantes não só no porte como na sua projecção regional).

(f) – Orago, Indicar o orago actual do templo. Quando tenha havido outra invocação, ou quando seja conhecido por apelidação popular ou tradicional indicar estas entre parêntesis. Ex: Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Rosário de Fátima (antes Capela de S. Miguel ou das Almas).

(h) – Monumento nacional ou imóvel de interesse público, Se o núcleo está classificado em qualquer destas categorias, riscar a que não interessa e escrever a palavra sim. No caso de não ter qualquer destas classificações escrever apenas não.

(i) – Chave, Informar onde se encontra guardada a chave ou chaves para facilitar a visita dos membros da Comissão Inventariante, com o nome da pessoa responsável. (Se esta tiver telefone deverá indicar-se o respectivo número).

(j) – Descrição sumária, O informador deverá apenas chamar a atenção para os aspectos que se lhe afigurem mais importantes sob o ponto de vista artístico ou arqueológico referindo-se particularmente aos seguintes pontos: Arquitectura – Grandeza ou imponência relativa do edifício, tipo de planta (uma ou três naves, sem ou com transepto, sem ou com altares laterais, sem ou com capelas laterais salientes do corpo do edifício; sem ou com capela ou edícula batismal [sic] fora do alinhamento do corpo; sem ou com torre ou torres; alpendre ou galilé; sacristia ou sacristias; edificações anexas; tribuna de coro alto; tribuna de confraria (no caso de Igrejas de Misericórdia). Quanto ao exterior anotará se tem torre ou torres sineiras, porta principal ou laterais trabalhadas, janelas ornamentadas, rosáceas, cúpula de transepto, etc. /

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Tipo de cobertura interna: de abóbada de alvenaria (em geral nas capelas mor e laterais), de madeira aparelhada ou forro simples.

Decoração imóvel ou seja a que foi feita directamente sobre o edifício e que não é fácil transferir: talha de madeira dourada ou pintada (indicar onde); azulejos (onde); estuques; pintura aplicada sobre as paredes (frescos); ferros em gradeamentos ou suportes, etc.

Mobiliários: Cadeiral, cadeira paroquial, bancos, credencias, arcazes, arcas, armários, confessionários, andores, ambões, etc.

Imaginária: indicar apenas as imagens antigas (não industriais ou de pasta pintada), tanto as de vulto (esculturas) como as pintadas em tela ou madeira colocadas nos retábulos e altares ou mesmo retiradas do culto e arrecadadas. No caso de dúvida quanto à antiguidade ou valor artístico das imagens, é preferível indicar as duvidosas. Paramentaria: Indicar primeiro as peças ainda a uso e em bom estado, depois as retiradas de uso com indicação do seu estado de conservação e local onde se encontram arrecadadas.

Outras Alfaias: Ourivesaria – indicar as meterias e antiguidade, quando conhecida ou facilmente reconhecível. Interessa indicar a quantidade total das peças: custódias, cálices, turíbulos, navetas, píxides, galhetas, etc.

Luminária: indicar a existência de lâmpadas, faróis, lanternas, tocheiros pascais, lustres, etc.

Sinos: quantidade, antiguidade quando conhecida pelas próprias inscrições.

Instrumentos de música: Orgãos, harmónios e outros.

1) Memórias – Indicar se no templo existem túmulos ou lages tumulares, sepulturas e, em caso afirmativo, se têm inscrições, emblemas heráldicos (brazões de armas), esculturas ou baixos-relevos, etc. Incluir aqui a existência de cruzeiros, passos de procissão e outras memórias consideradas como pertencentes à área do templo. Também se deverão indicar outras memórias que possam ter interesse histórico: inscrições de instituição de capelas, brazões, etc. m) Arquivo – Se o templo (ou confrarias que lhe estejam anexas) tiver arquivo ou pelo menos, alguns livros de assentos, litúrgicos, etc., dever-se-á indicar: tem livros antigos, tem arquivo, tem um livro de cantochão, etc.

17 n) Conservação – Indicar muito sumàriamente o estado de conservação e quais as obras mais necessárias para garantir a integridade do edifício e a salvaguarda do seu conteúdo. Não interessa, para efeitos de Inventário, conhecer as necessidades de obras culturais ou paroquiais.

No preenchimento da ficha, particularmente na parte descritiva, convirá seguir a ordem de parágrafos indicada, sublinhando ou destacando os sub-títulos: assim se facilitará a transcrição desta ficha para outras analíticas, trabalho a ser feito na Comissão de Arte Sacra.

A fim de abreviar o trabalho torna-se indispensável remeter o mais ràpidamente possível a Ficha Informativa. Se por qualquer impossibilidade ou até por falta de tempo as fichas informativas não poderem ser integralmente preenchidas basta preencher as linhas c), d), e), f), h) e i), limitando ao mais importante a parte referente à descrição (j).

I.9 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Comissão de Arte Sacra, n.º 1904: Carta de D. João de Castro dirigida a António Manuel Gonçalves, anexo

[Lisboa, 1968, 12 de Julho]

Entre Janeiro e Junho de 1968 foram visitadas as seguintes igrejas, por freguesias, a que se segue o número de fichas realizadas: Oeiras (capela de Porto Salvo – 36); Barcarena (Igreja paroquial – 70, e capela de S. S. Sebastião – 10); Chamusca (Igreja paroquial – 59, e capelas do Bom Fim – 10, e da Piedade – 6); Pinheiro Grande (Igreja paroquial – 35, e capelas do Arrepiado – 19, e da Carregueira – 13); Vila Nogueira de Azeitão (Igreja paroquial – 73, e capelas de Oleiros – 17, e de Aldeia de Irmãos – 11); Vila Fresca de Azeitão (Igreja paroquial – 61); Loures (Igreja paroquial – 66, e capelas de A dos Cães – 28, A dos Calvos – 8 e do Tojadinho – 3). A estes números juntavam-se as fichas da freguesia dos Olivais (feitas durante 1967) e as da Charneca do – 56 – cujo nome está acrescentado a lápis e à mão na folha.

I.10 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Comissão de Arte Sacra, n.º 1904: Carta do pe. Albino Cleto dirigida a António Manuel Gonçalves, anexo

[Lisboa, 1968, 4 de Dezembro]

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Entre Julho e Dezembro de 1968, as seguintes freguesias: Tornada (Capelas de Chão de Parada – 5, Reguengo de Parada – 5, do Campo – 3); Alvorninha (continuação) (Capelas do Pego – 3, S. Clemente – 1, Santana – 5, Almofala (nada a registar); Landal (Igreja paroquial – 16 e capela de Santa Susana – 3); Santa Catarina (Igreja paroquial – 36, e capelas do Peso – 2, Quinta da Ferreira – 1, Granja Nova – 2, - Casal da Marinha – 1. As capelas de Casal da Coita e Cumieira, nada tinham a registar); Couto (Igreja paroquial – 12); Salir de Matos (Igreja paroquial – 15); Carvalhal Benfeito (Igreja paroquial – 13, e capela de Santana – 1); Atouguia da Baleia (Igreja paroquial ou de S. Leonardo – 45, Igreja da Conceição – 30, e capelas de S. José – 9, do Baleal – 2, de Ferrel – 10, da Consolação – 4 e da Estrada – 12); Almada (Seminário Patriarcal – 26); num total de 288 fichas feitas e 28 capelas e igrejas visitadas.

I.11 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Comissão de Arte Sacra, n.º 1904: Carta do pe. Albino Cleto dirigida a António Manuel Gonçalves, anexo

[Lisboa, 1969, 22 de Dezembro]

Entre Janeiro e Junho de 1969: Arrentela (Igreja paroquial – 37); Paio Pires (Igreja paroquial – 31); Seixal (Igreja paroquial – 103); Amora (Igreja paroquial – 41); Aveiras de Cima (Igreja paroquial – 16, e capela de Valparaíso – 20); Aveiras de Baixo (Igreja paroquial – 11); S. Bartolomeu (Lourinhã) (Igreja paroquial – 24, e capelas de Pena Seca – 7, de Reguengo Pequeno – 6, e de Feteira – 6); Moledo (Lourinhã) (Igreja paroquial – - 23); Reguengo Grande (Igreja paroquial – - 30); Olhalvo (Igreja paroquial – 121, e capela do Senhor dos Aflitos – 8); Maxial (Igreja paroquial – 35, e capelas da Ermigeira – 8, da Lobagueira – 8, e da Aldeia Grande – 6); Monte Redondo (Igreja paroquial – 11); Alfeizerão (Igreja paroquial – em revisão, e capelas do Valado de Santa Quitéria – 2).

I.12 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Comissão de Arte Sacra, n.º 1904: Carta de D. João de Castro dirigida a António Manuel Gonçalves, anexo

[Lisboa, 1971, 30 de Março]

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Entre Julho e Dezembro de 1969: Óbidos (Igreja paroquial de Santa Maria – 107, Igreja de S. Tiago – 49, e Igreja paroquial de S. Pedro – 114). Em carta de D. João de Castro para António Manuel Gonçalves, datada de 5 de Junho de 1970. Entre Janeiro e Junho de 1970: Óbidos, freguesia de S. Pedro (Igreja do Senhor da Pedra – 55 e capela da Ordem Terceira – 22), freguesia de Santa Maria (Capelas de Santo Antão, Santa Iria, S. João Baptista e S. João Mucharro – 16); Nazaré / Alcobaça, Famalicão da Nazaré (Igreja paroquial – 12); Torres Vedras, freguesia de Runa (Igreja paroquial de S. João Baptista – 52), freguesia de S. Mamede da Ventosa (Igreja paroquial e capelas da Senhora da Piedade / Cadoiço e da Senhora de Lurdes / Fernandinho – 35; Barquinha / Golegã, freguesia de Tancos (Igreja paroquial – 40); Cartaxo, freguesia de Pontével (Igreja paroquial – 46); Almada, freguesia de Costa da Caparica (Igreja paroquial – 21); Lisboa, freguesia dos Olivais (Igreja paroquial – 53), freguesia do Lumiar (Igreja paroquial de S. João Baptista – 156, e capela de S. Sebastião – 21), freguesia da Charneca do Lumiar (Igreja paroquial de S. Bartolomeu – 35).

I.13 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Comissão de Arte Sacra, n.º 1904: Carta de D. João de Castro dirigida ao Director do Serviço de Belas-Artes, anexo

[Lisboa, 1972, 30 de Janeiro]

Entre Julho e Dezembro de 1970: Óbidos, freguesia do Vau (Igreja paroquial – 13), freguesia de A-dos-Negros (Igreja paroquial – 15 e Capela do Santíssimo Sacramento – 12), freguesia de Sobral da Lagoa (Igreja paroquial – 34 e Capela de Nossa Senhora da Conceição – 2); freguesia de Santa Maria (igrejas do Pinhal – 12, da Uceira – 7, do Arelho – 9, de Dagorda – 19, de Gaeiras – 6 e de Trás-do-Outeiro – 6); Caldas da Rainha, freguesia de Salir do Porto (Igreja paroquial – 12); Santarém, freguesia de Salvador (Igreja paroquial ou da Piedade – 134), freguesia das Abitueiras (igrejas Paroquial – 40, e Moçarria – 17) Cartaxo, freguesia de Valada do Ribatejo (Igreja paroquial – 36); Setúbal (Igreja paroquial ou de Santa Maria – 88 e Capela do Bonfim – 28); Palmela (Igreja paroquial – 60, e capelas de S. João de Malta – 6, e da Quinta do Anjo – 5); Lisboa (Sé – 405).

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I.14 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Comissão de Arte Sacra, n.º 1904: Carta de D. João de Castro dirigida ao Director do Serviço de Belas-Artes, anexo

[Lisboa, 1972, 31 de Julho]

Entre Janeiro e Junho de 1971, foram vistas em: Loures, freguesia de Odivelas (Igreja paroquial – 100); Sintra, freguesia de Belas (Igreja paroquial – 136, e capelas de Idanha – 9 e de Venda Seca – 1), freguesia de Montelavar (Igreja paroquial – 38, e capelas do Espírito Santo – 6, e de Morelena – 6), freguesia de Almargem do Bispo (Igreja paroquial – 75, e capela do lugar da Serra – 8); Vila Franca de Xira, freguesia de Cachoeiras (Igreja paroquial – 38), Alcobaça, freguesia de S. Martinho do Porto (Igreja paroquial – 34, e capela de Santo António – 1); Cascais, freguesia de S. Domingos de Rana (capela de Abóbada – 19); Mafra, freguesia de Encarnação (Igreja paroquial – 58, capelas de Azenhas – 3, do Barril – 5 e de S. Lourenço – 6); Setúbal, freguesia de S. Julião (Igreja paroquial – 98, e capela de Nossa Senhora da Conceição da Pedra – 24), freguesia de S. Sebastião (Igreja paroquial – 86).

I.15 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Comissão de Arte Sacra, n.º 1904: Documento assinado por D. João de Castro

[Lisboa, 1973, 8 de Janeiro]

Entre Julho e Dezembro de 1971: Tomar, freguesia da Serra (Igreja Paroquial – 22, e capelas de Santo António – 8, de Castelo Novo – 2, e de Chãos das Maias – 1), Alcobaça, freguesia de Évora (Igreja Paroquial – 25, e capelas da Misericórdia – 8, e do Capucho – 10), freguesia de Cós (Igreja Paroquial – 13, igreja do Mosteiro de Santa Maria – 49, e Capela de Nossa Senhora da Luz – 19); Bombarral, freguesia da Roliça (Igreja Paroquial – 29, e capelas de Columbeira – 16, Azambujeira dos Carros – 9, do Pó – 5, de Baraçais – 12, de Delgada – 8, de S. Mamede – 10, de S. Lourenço – 28); Loures, freguesia de Lousa (Igreja Paroquial – 72); Caldas da Rainha, freguesia das Caldas de Rainha (Igreja Paroquial – 48, e capelas do Espírito Santo – 25, e de S. Sebastião – 6); Cascais, freguesia de Cascais (Igreja Paroquial – 112, e capela de Nossa Senhora dos Navegantes – 34); Oeiras, freguesia de Carnaxide (Igreja Paroquial – 69,

21 capela de Linda-a-Pastora – 27), freguesia de Algés (antiga Capela dos Anjos – 7); Lisboa, freguesia do Campo Grande (Igreja Paroquial – 81), Sé – 199. E para o ano de 1972: “Igrejas e Capelas inventariadas: 49”.

I.16 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Comissão de Arte Sacra, n.º 1904: Documento assinado por D. João de Castro

[Lisboa, 1973, 30 de Julho]

Entre Janeiro e Junho de 1972: Alcobaça, freguesia de Cós (igrejas de Santa Marta – 18, Póvoa – 10 e Monte do Bom Jesus – 18); Alenquer, freguesia de Ventosa (igrejas de Atalaia – 18, Cortegana – 23, e Labrugeira – 27); Mafra, freguesia Póvoa de S. Estêvão das Galés (Igreja paroquial – 99); Tomar, freguesia da Madalena (igrejas Paroquial – 16, Cem soldos – 30, e de Santa Margarida – 2), freguesia de Bezelga (Igreja paroquial – 11); Moita, freguesia da Moita (igrejas Paroquial – 50, Rosairinho – 13, Sarilhos Pequenos – 6, e S. Sebastião – 13); Setúbal, freguesia de Azeitão (Igreja de S. Pedro – 7), freguesia do Castelo de Sesimbra (Igreja paroquial – 37, e capela do Castelo – 8), freguesia da Anunciada (Igreja paroquial – 57, e capela da Saúde – 31), Capela de Nossa Senhora do Carmo (não menciona qual a freguesia) – 47; Lisboa, Sé – 273.

I.17 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Comissão de Arte Sacra, n.º 1904: Documento assinado por D. João de Castro

[Lisboa, 1974, 28 de Janeiro]

Entre Agosto de 1973 e Janeiro de 1974: Alcanena, freguesia de Bugalhos (Igreja paroquial – 15), freguesia de Malhou Igreja paroquial – 14), freguesia de Monsanto (Igreja paroquial – 8); Alcobaça, freguesia de Bárrio (Igreja paroquial – 4), freguesia de Vestiaria (Igreja paroquial – 24); Caldas da Rainha, freguesia de S. Gregório da Fanadia (Capela de S. Gregório – 12), freguesia de Vidais (capelas do Cemitério – 4, e de Criastos – 4); Bombarral, freguesia do Bombarral (Igreja paroquial – 1), freguesia de Vale Covo (Igreja paroquial – 1, e capela Nossa Senhora dos Aflitos – 5); Cadaval, freguesia de Pêro Moniz (Igreja paroquial – 10); Lourinhã, freguesia da Lourinhã

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(Igreja paroquial – 37), freguesia da Marquiteira (Igreja paroquial – 6); Mafra, freguesia de Arneira / Livramento (igrejas Paroquial – 30, e de S. Pedro – 24), freguesia de Sobral da Abelheira (Igreja paroquial – 27); Santarém, freguesia de Abrã (Igreja paroquial – 5); Cartaxo, freguesia de Cartaxo (Igreja paroquial – 25), freguesia de Vale da Pinta (Igreja paroquial – 11), freguesia de Vila Chã de Ourique (Igreja paroquial – 11); Vila Franca de Xira, freguesia de Alhandra (Igreja paroquial – 106, e capela do Portal – 3), freguesia de S. João de Montes (capelas de Trancoso – 14, e de S. Romão – 8); Lisboa, freguesia da Ameixoeira (Igreja paroquial – 58, Sé – 105).

I.18 – Arquivo COOP, Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique, processo n.º M184/93: Parecer

[Lisboa, 1966, 28 de Setembro]

Parecer

Mobiliário e outros obejctos à Venda na Ilha de Moçambique, na Cabaceira Grande e na Cabaceira Pequena (nesta especialmente):

Julgo ser da maior vantagem e urgência a aquisição destes objectos, principalmente o mobiliário indo-português

1.ª – Porque se trata de um tipo de arte indo-portuguesa até hoje completamente desconhecida e que vem revelar um novo aspecto, o da arte indo-portuguesa não destinada a ocidentais, mas realizada para uso dos próprios indianos, no campo da arte não religiosa

2.º – Porque umas peças têm valor artístico incontestável e outras têm valor etnográfico da maior importância

3.º – Por agora se comprarem, em condições económicas extremamente vantajosas, a preços quase irrisórios

4.º – Para evitar a deterioração de mobiliário precioso que, a continuar cas casas onde se viu, dentro de poucos anos está completamente desfeito. E trata-se de peças únicas.

5.º – Para não sair do País onde também têm importância histórica e documental da acção civilizadora e cultural dos portugueses na Índia, peças tão valiosas.

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6.º – É urgente a aquisição para evitar a subida de preços ocasionada pela procura de comerciantes, turistas e outras pessoas interessadas.

Observação: Todo o mobiliário necessitará de tratamento e, quase todo, de restauro.

Lisboa, 28 de Setembro de 1966

Assinatura: [Maria Madalena de Cagigal e Silva]

I.19 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Bolsas de Estudo para Estagiários de Especialização e Investigação no País e no Estrangeiro, Ferrão (Eng.º Bernardo), n.º 2049: Programa circunstanciado de trabalho para que é solicitada a bolsa

[Porto, 1969, 26 de Março]

Programa circunstanciado de trabalho para que é solicitada a bolsa

O predecionário propõe-se proceder ao inventário, que tem iniciado, da imaginária indo- portuguesa, nomeadamente de marfim, em todo o país, tratando-se nesta 1.ª fase da colheita de fotografias e elaboração de fichas das imagens existentes no Porto e na região do Porto-Douro e Minho, deslocando-se às principais cidades e locais onde existam imagens do tipo indicado, nomeadamente à Régua, Vila Real, Matosinhos, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Guimarães, Mirandela, Barcelos, Braga, Viana do Castelo, Chaves, Bragança, Caminha, etc. (deslocando-se a partir do Porto, onde reside).

Tratando-se de assunto pouco ou nada tratado pelos nossos especialistas da arte indo- portuguesa, propõe-se executar o trabalho de inventariação dentro de critérios próprios que pode esclarecer com apresentação do material já recolhido.

Nenhum trabalho de fundo se podendo realizar sem uma informação cuidada e exaustiva (que tem de alargar-se aos elementos recolhidos nas colecções particulares, de sumo interesse) indispensavel se torna a inventariação tão completa quanto possível e urgentemente, sabido que grandes colecções estão em vias de dispersar-se e é intensa a exportação dos nossos marfins para o estrangeiro onde começam a ser citados aliás um pouco indiscriminadamente, dada a falta de bibliografia nacional sobre um assunto de tanto interesse.

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I.20 – Arquivo do Serviço de Belas-Artes, Bolsas de Estudo para Estagiários de Especialização e Investigação no País e no Estrangeiro, Ferrão (Eng.º Bernardo), n.º 2049: Indicação dos projectos de trabalho do candidato após a conclusão da bolsa de estudos que solicita

[Porto, 1969, 29 de Outubro]

Indicação dos projectos de trabalho do candidato após a conclusão da bolsa de estudos do que solicita:

Ampliação do inventário da imaginária indo-portuguesa a todo o país e, se possível, a colecções que se encontram em museus e colecções particulares das províncias ultramarinas e do estrangeiro.

Publicação de monografias e artigos sobre as espécies, ou grupos de espécies de maior interesse ou qualidade; publicação de um inventário geral sobre a imaginária indo- portuguesa, que possa servir a estudos monográficos e a trabalhos de síntese ou de apreciação geral e, nomeadamente, a trabalhos de fundo sobre a arte indo-portuguesa; publicação de notícias em revistas de arte estrangeiras, tratando dos mais representativos e belos espécimes da nossa imaginária de marfim.

MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA – ARQUIVO, Lisboa

I.21 – Arquivo de Secretaria, Cópias da correspondência remetida (copiador), Janeiro a Dezembro, 1932 e 1933, L.º 5.º, n.º 281-A, 1932: Carta de José de Figueiredo a Carlos Roma Machado, Secretário-Geral da Sociedade de Geografia de Lisboa

[Lisboa, 1932, 29 de Janeiro]

Com os meus agradecimentos pelo que ele significa, venho dizer a V. Exª que não é uma conferencia de propaganda colonial que me proponho fazer neste museu por ocasião da “Semana das Colonias”, que essa Sociedade patrioticamente promove.

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A minah [sic] iniciativa é diversa e de maior alcance, porque, em vez de fazer ouvir a minha descolorida e desautorisada vóz, trago a publico a reunião de diversas obras que traduzem, de maneira superior, as influencias orientaes na nossa arte e a nossa influencia nas artes do Oriente. Elas por si só saberão dizer muito mais e muito melhor do que eu poderia dizer.

É possivel que, aproveitando a oportunidade da exposição, que será acompanhada de um catalogo guia ilustrado, faça alguns comentarios ás obras expostas, mas esses comentarios só terão o valôr que lhes trará a lição viva que aqueles objectos constituem.

É claro que não deixarei de convidar essa Sociedade para a exposição, para o que espero só a afixação da data dependente da conclusão do catalogo.

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VICTORIA & ALBERT MUSEUM – ARQUIVO, Londres

I.22 – Asian Department, File Indo-Portuguese Embroideries (documentos avulsos): Carta de Madalena de Cagigal e Silva para John Irwin

[Leiria, 1956, 16 de Fevereiro]

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II – Biografias

II.1 – Biografia de Madalena de Cagigal e Silva

Maria Madalena de Cagigal e Silva (1920-1964)1

Nascida em 27 de Setembro de 1920 em Penafiel, Madalena era uma das quatro filhas de um casal formado por uma doméstica e um militar. As raparigas foram educadas para se apoiarem mutuamente, tendo frequentado estudos de forma a puderem escolher profissões – excluindo a mais velha, Maria Vitória, que ficou como “cabeça de casal” da família aquando da morte do pai –; para além de Madalena, uma das irmãs foi enfermeira e a outra guia turística com formação específica.

Em 1946 Madalena de Cagigal e Silva licenciou-se em Ciências Históricas e Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa com dissertação sobre “Relações artísticas entre Portugal e a China: séculos XVI-XVIII”2, pré-anunciando um interesse pelo contacto com a arte de origem asiática que iria manter durante toda a vida. Entre os anos lectivos de 1953 e 1955 frequentou o nono curso do estágio para conservadores no Museu Nacional de Arte Antiga (doravante MNAA)3. Todavia, segundo o curriculum vitae que a própria assinou em Novembro de 1979, trabalhou neste museu entre Outubro de 1946 e Novembro de 1950, “gratuitamente até Janeiro de 1948”, altura em que recebeu uma bolsa concedida pelo Instituto de Alta Cultura.

Nestes primeiros anos no MNAA, entre 1946 e 1949, procedeu ao inventário das gravuras provenientes da Biblioteca Nacional e reuniu material para a escrita de um trabalho intitulado “Alguns motivos decorativos orientais na arte indo-portuguesa” (não

1 Para a escrita desta biografia foi fundamental a disponibilidade e profissionalismo com que fui recebida pela Dr.ª Ana Maria Matos (com quem conversei demoradamente sobre Madalena de Cagigal e Silva) e pela Dr.ª Sílvia Bessone, técnica e directora do Museu Nacional dos Coches, respectivamente. A ambas deixo o meu público agradecimento. 2 De que existem exemplares dactilografados nas bibliotecas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e no Museu Nacional de Arte Antiga (daqui em diante MNAA). 3 Conforme despacho em Diário do Governo, n.º 267, II.ª série, 1953, 22 de Dezembro. Os dados biográficos e curriculares aqui fornecidos constam de documentos existentes nos arquivos do MNAA e do Museu Nacional dos Coches, Lisboa (doravante MNC) – Arquivo, Processo pessoal de funcionário: Madalena de Cagigal e Silva, n.º 1.46, cx. 16: Curriculum Vitae, 1974, 7 de Março e Curriculum Vitae, 1979, 16 de Novembro; e MNAA – Arquivo, Estágio para conservadores – IX (1953-54-55), pasta Maria Madalena de Cagigal e Silva, salvo especificação em contrário.

28 publicado mas do qual existe um exemplar dactilografado e com 60 fotografias na biblioteca do museu), e depois, já como bolseira do Instituto, fez, nas suas palavras, a “Recolha de elementos sobre S. João de Deus na Iconografia e na Arte. Fez-se deles uma relação com alguns dados bibliográficos organizou-se uma colecção de estampas e fotografias que foram expostas em Montemor-o-Novo por ocasião das festas do Centenário daquele Santo, em 1950”4.

Entretanto, por razões que não consegui apurar, entre Novembro de 1950 e Março de 1953 encontrava-se em Bragança como professora do liceu local, mas no dia 11 desse mês o seu cv já a dá como “Segunda Conservadora dos Palácios e Monumentos Nacionais da Zona de Leiria” (onde se manteve até 1 de Fevereiro de 1958), tendo optado igualmente por voltar ao MNAA, ao inscrever-se no final desse ano no já mencionado curso de conservadores. A verdade é que independentemente das circunstâncias da sua vida pessoal que possam ter condicionado a ída para Bragança, Madalena nunca se desvinculou completamente da sua opção museológica, uma vez que enquanto esteve no liceu procedeu também à organização do inventário de pintura, gravura e desenho do Museu Regional de Bragança durante a direcção de Raúl Teixeira, entre os anos de 1952 e 1953.

Pelo pormenorizado relatório do segundo ano de estágio (sem data, mas provavelmente do Inverno de 1954-55) sabemos que aquele se desenrolou no MNAA e no “Museu Etnológico do Dr. Leite de Vasconcelos”, e que a par com as “lições” etnológicas, epigráficas e etnográficas, se desenvolviam actividades naquele museu, bem como se preparava a “organização e apresentação de uma tese”. Como trabalho final de curso foram realizadas duas tarefas: uma, datada de 30 de Junho de 1955, foi sobre o “Interêsse Artístico das Moedas Portuguesas”, a outra, também de 1955 mas sem data específica, foi sobre “Faiança Portuguesa de Influência Oriental. Sécs. XVII- XVIII. Catálogo”, o que atesta a variedade dos tópicos formativos que era fornecida neste curso, espelhando o leque de oportunidades que se oferecia aos seus frequentadores.

4 No resumo biográfico que inicia a notícia da entrevista que concedeu ao jornal Notícias de Setúbal em 1964, encontra-se escrito que “foi Conservadora Adjunta do Museu Nacional de Arte Antiga”, ainda que em nenhum outro lado tenha encontrado igual menção. Ver Gomes, Maria Manuela David (dir.) – “Página Feminina: A obra a que mais completamente me entreguei foi, sem dúvida, a «Arte Indo- Portuguesa» agora em vias de publicação. Afirmou-nos a Dr.ª Maria Madalena de Cagigal e Silva conservadora do Museu de Arte Popular, em Lisboa”. Notícias de Setúbal. Ano 3. N.º 121, 20 Agosto 1964, pp. 2 e 5 [5].

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No processo do estágio encontram-se também alguns documentos avulsos que dão conta da dificuldade que Madalena de Cagigal e Silva sentiu em coordenar a sua função profissional em Leiria e a frequência do curso em Lisboa. A questão que colocava não era tanto do ponto de vista da execução das tarefas – uma vez que se percebe pela documentação e pela quantidade de artigos (de maior ou menor fôlego e formato que foi publicando) que foi toda a vida uma incansável trabalhadora, fundamentada numa ética familiar e deontológica de rigor e método5 – mas mais no que dizia respeito à possibilidade de manter uma assiduidade às aulas, o que a penalizava, pelo que tentou obter nova bolsa do Instituto de Alta Cultura6.

Tê-la-á recebido, durante cinco meses (de Agosto a Dezembro de 1955), provavelmente para lhe facilitar a conclusão do curso, mas nem assim abrandando o volume de trabalho a que se propunha, tendo procedido à realização da sua tese do estágio de conservadora – com um trabalho sobre o “Subsídio para o Estudo da Organização de Museus Anexos aos Mosteiros de Alcobaça e da Batalha” (do qual se

5 Veja-se a este propósito o parágrafo que escreveu na carta de aceitação da assessoria proposta pela Fundação Calouste Gulbenkian (daqui em diante FCG) para o Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique: “Como conservadora do Museu de Arte Popular dependerei, está claro, de uma autorização do meu serviço para realizar a viagem e o trabalho. (…) Mas, parecia-me, de facto, preferível, se V. Ex.ª estivesse de acordo, estudarem-se primeiro as condições e o sistema de viagem e, se tudo conviesse a V. Ex.ª, eu informaria os meus superiores sobre o assunto e apresentar-se-ia então o pedido oficial.”, Fundação Calouste Gulbenkian – Biblioteca de Arte, Lisboa (daqui em diante FCG – BA), Arquivo COOP, Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique, processo n.º M184/93: Carta de Maria Madalena de Cagigal e Silva para Victor de Sá Machado, 1966, 4 de Abril. 6 “I – A minha situação perante o estágio. Antes de entrar pròpriamente no assunto deste Relatório, pretendo definir aqui a situação em que me encontrava no estágio, justificando assim a minha ausência a grande parte das suas actividades. Estando colocada em Leiria como Conservadora dos Palácios e Monumentos Nacionais, tornava-se-me impossível vir a Lisboa todos os dias destinados a lições, tanto mais que estas eram dadas em dias alternados. Expuz, portanto, o meu caso ao Exmº Senhor Dr. João Couto, Digmº Presidente do Conselho de Estágio que concordou em que eu frequentasse assistindo às lições ou a qualquer outra actividade um dia por semana – aos Sábados vulgarmente – e além disso, estivesse presente sempre que pudesse. Apresentaria depois um trabalho de compensação das faltas dadas. Aproveitando-se desta concessão, eu assisti às lições o mais que pude, procurando pôr-me a par de tudo quanto se passava quando faltava e vindo para Lisboa de maneira a poder trabalhar nos museus também ao Sábado da parte da manhã, além de um ou outro dia da semana. Ao passar o estágio para o Museu Nacional de Arte Contemporânea, não frequentei sem prèviamente obter a adesão do seu Director, o Exmº Senhor Escultor Diogo de Macedo que, como trabalho de compensação me deu a relação de algumas obras de arte existentes no Museu das Caldas da Rainha onde pretendeu que eu orientasse os estagiários e dissesse algumas palavras sobre os autores escolhidos. Pela minha parte, procurei também como trabalho de compensação, apresentar aqui no meu relatório o problema dos monumentos nacionais.”, MNAA – Estágio para conservadores – IX (1953-54-55), pasta Maria Madalena de Cagigal e Silva: Relatório do primeiro ano de estágio [1954, 8 de Julho, conforme anotação escrita à mão por João Couto dando conta da recepção do relatório]. Madalena de Cagigal e Silva terá recebido uma bolsa do Instituto de Alta Cultura entre Agosto e Dezembro de 1955 [MNC – Arquivo, Processo pessoal de funcionário: Madalena de Cagigal e Silva, n.º 1.46, cx. 16: Curriculum Vitae, 1974, 7 de Março, p. 12]; “(…) lembrei-me de perguntar ao Senhor Doutor se não era possível o Instituto de Alta Cultura voltar a dar-me uma bolsa de estudos no País a partir de Janeiro”, e MNAA – Estágio para conservadores – IX (1953-54-55), pasta Maria Madalena de Cagigal e Silva: Carta dirigida a João Couto, Leiria, 1954, 10 de Novembro.

30 fizeram pelo menos três exemplares, um deles entregue a João Couto) –, ao inventário das obras de arte (Alcobaça: escultura – 1 a 187; pintura – 1 a 39; diversos – 1 a 12; Batalha – 1 a 289) existentes nos mesmos mosteiros e, entre Dezembro de 1956 e final de 1957, ao tratamento da (importante) organização do cadastro do Ministério dos Negócios Estrangeiros, trabalho que não “chegou a ser terminado por se ter deixado a Direcção-Geral da Fazenda Pública ao tomar-se posse do cargo de Conservadora do Museu de Arte Popular”7.

Conforme é notório quer pelos trabalhos desenvolvidos durante o curso de estágio para conservadores quer pelos outros desempenhados em funções profissionais, uma das características da carreira de Madalena de Cagigal e Silva foi o ecletismo8. Não lhe será, certamente, exclusiva mas, seja pelo percurso profissional que percorreu seja pelas oportunidades temáticas que lhe foram surgindo, a verdade é que o cv mostra uma considerável variedade de interesses que vão desde os têxteis aos azulejos, passando pelo mobiliário e carros. Porém, tematicamente, as suas duas grandes áreas de interesse e actuação foram a arte popular e o indo-português9.

Madalena começou a construir a sua carreira cedo e esteve, por exemplo, presente no XVI Congresso Internacional de História da Arte que se realizou em 1949 (e cujas sessões de trabalhos decorreram em Lisboa, Coimbra e Porto), nos congressos luso-espanhóis para o Progresso das Ciências (em 1950 e 1956), no I Congresso Nacional de Arqueologia (Lisboa em 1958) e em várias reuniões de Conservadores dos Museu e dos Palácios e Monumentos Nacionais, durante a década de 60 do século XX, tendo apresentado comunicações em muitos deles. Foi, a par de muitos colegas de outros museus, colaboradora da revista Panorama e do jornal Comércio do Porto, e

7 MNC – Arquivo, Processo pessoal de funcionário: Madalena de Cagigal e Silva, n.º 1.46, cx. 16: Curriculum Vitae, 1979, 16 de Novembro, p. 19. 8 “– Conhecemos a maior parte dos seus trabalhos e as suas investigações a que se tem dedicado. Diga- nos, por favor, de todas as suas obras, aquela que mais a interessou e à qual se consagrou inteiramente?; – Por circunstâncias da vida e porque tudo quanto é letra e especialmente história de arte me interessa – o mesmo não posso dizer a respeito das ciências – nunca consegui dedicar-me «inteiramente» a nenhum assunto. Mas a obra a que mais completamente me entreguei, foi sem dúvida, a «Arte Indo-Portuguesa» agora em vias de publicação.”, Gomes, Maria Manuela David (dir.) – “Página Feminina”, p. 2. 9 Tendo chegado a fazer uma síntese das mesmas numa conferência proferida no Congresso Internacional de Etnografia, realizado em Santo Tirso, entre 10 e 18 de Julho de 1963, intitulada “Aspectos da relação entre a arte oriental e os objectos denominados de arte popular portuguesa”, e publicada nas Actas do Congresso Internacional de Etnografia. Promovido pela Câmara Municipal de Santo Tirso de 10 a 18 de Julho de 1963. Porto: Imprensa Portuguesa, [1963], 6 vols., vol. IV: Colóquio de Etnografia Comparada, pp. 181-5. Por outro lado, é interessante verificar que, para além da ligação à Associação Portuguesa de Museus e aos Amigos do MNAA, toda a filiação de Cagigal e Silva se relaciona mais com as organizações de folclore e etnografia que com as artísticas.

31 escreveu inúmeros artigos para a Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, e para o Dicionário de História de Portugal (dir. Joel Serrão).

Cagigal e Silva, que esteve na conferência de Georges-Henri Rivière sobre eco- museus realizada na FCG em 1978, revelou igual interesse pelas problemáticas inerentes à museologia, nomeadamente, sobre a constituição de colecções e sobre a relação dos museus com a educação e o turismo.

Embora mantendo a diversidade de interesses, os últimos vinte e seis anos de vida de Madalena foram dedicados especialmente a dois museus: o de Arte Popular e o dos Coches.

No primeiro, permaneceu por onze anos, tendo ingressado no dia 1 de Fevereiro de 195810. Esta escolha teria sido motivada pelos conhecimentos museológicos da técnica e pelas relações profissionais que foi criando. Com efeito, foi na sequência da nomeação de Manuel de Melo Correia – chefe da “brigada de decoradores” das pousadas nacionais – como director-interino do museu, e com quem Madalena já trabalhara em Leiria e Alcobaça nas recepções feitas aquando da visita de Isabel II (Fevereiro de 1957), que surgiu a sua nomeação. Acima de tudo, o novo director e o museu precisavam de um profissional da museologia, com conhecimentos em conservação, gestão de colecções e preparação de exposições e catálogos11.

Cagigal e Silva começou por elaborar relatórios nos quais identificou os problemas e necessidades mais prementes do museu (que deveriam passar a curto prazo por obras de conservação dos interiores do edifício, criação de novos espaços – biblioteca e gabinetes técnicos –, substituição e restauro das principais peças, e, a longo,

10 Inaugurado no dia 15 de Julho de 1948, foi um projecto pessoal de António Ferro que pretendia construir um Museu do Povo (à imagem de iguais projectos museológicos europeus) onde se reunissem objectos expressivos da arte popular de norte a sul do país. O projecto, que congregou à sua volta um escol de artistas modernistas de renome, acabaria por ser bem mais modesto mas reuniu, ainda assim, um número significativo em qualidade e quantidade de objectos (cerca de 13 000) que ainda se mantêm em reserva. Sobre este assunto ver Maria Micaela Deyris de Barthez de Marmourières de Bragança – Museu de Arte Popular: antecedentes e consolidação (1935-1948). Lisboa: Dissertação de mestrado em Museologia e Património apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2007, 2 vols. A mesma autora encontra-se a ultimar uma tese de doutoramento com o título Museu de Arte Popular em Contexto Internacional (1936-1948). Para uma informação de carácter sucinto mas abrangente ver Ana Machado, “O Museu de Arte Popular mudou de casa”. Público, 2009, 9 de Julho: http://www.publico.pt/cultura/noticia/o-museu-de-arte- popular-mudou-de-casa-1391000 (consultado em 2012.11.28). 11 Ver Alexandre Oliveira, “Uma abordagem preliminar a 60 anos do Museu de Arte Popular”: https://www.google.pt/search?sourceid=navclient&aq=&oq=Uma+abordagem+preliminar+a+60+anos+d o+Museu+de+Arte+Popular&hl=pt-PT&ie=UTF-&rlz=1T4MXGB_pt- PTPT545PT545&q=Uma+abordagem+preliminar+a+60+anos+do+Museu+de+Arte+Popular&gs_l=hp.... 0.0.0.477...... 0 (consultado em 2012.11.28).

32 pela elaboração do inventário das colecções e a constituição de um arquivo fotográfico) e depois passou à acção, tendo feito a catalogação das peças da sala Entre-Douro-e- Minho e deixando uma biblioteca e um arquivo fotográfico substancialmente bem conseguido12. Outro passo importante na afirmação do seu papel de conservadora prendeu-se com a inscrição do Museu de Arte Popular (daqui em diante MAP) no ICOM – o que lhe permitiu participar em encontros internacionais e projectar, assim, o museu além-fronteiras – e a colaboração atenta e sempre que possível, presencial, nas reuniões e projectos da Associação Portuguesa de Museologia.

Também enquanto directora do MNC (1969-1984), Madalena de Cagigal e Silva desenvolveu uma série de actividades com bastante critério e mesmo alguma novidade, como, por exemplo, a publicação da série “Ensaios” (começada em 1976, e na qual procurava divulgar as colecções do próprio museu através de monografias temáticas mais ou menos genéricas), o desenvolvimento das funções do Serviço Educativo ou a inclusão do museu no circuito internacional de encontros e comunicações sobre temáticas com as quais se relacionava13.

Para além de inúmeros outros labores (de que a cronologia em baixo é espelho) Madalena foi professora na Escola Superior de Turismo do Instituto Superior de Línguas e Administração, desde 1965 e, quer devido à sua extensa actividade quer por causa da sua grande capacidade de trabalho, manteve e cultivou amizade com inúmeras personalidades com quem foi trabalhando: Luís da Silveira, John Irwin, Guilherme Felgueiras14, etc.

Ao longo da vida, fez o périplo das cidades (e país) que eram, no Portugal das décadas de 60 e 70 do século XX, as referências do mundo artístico – Londres, Paris, Madrid e Itália –, normalmente com bolsas do Instituto de Alta Cultura e da FCG, e foi visitando as cidades e países que as solicitações profissionais propiciavam. Com efeito, Madalena estava atenta ao que se ia passando fora de Portugal; ou pelo menos, ao que se ia passando em Londres, sendo, por exemplo, a representante portuguesa na exposição londrina Art and the East India Trade realizada entre Outubro e Dezembro de 1970.

12 Quero ainda deixar um público agradecimento a Maria Barthez pela disponibilidade na partilha de informação sobre o museu e sobre a actuação de Madalena de Cagigal e Silva no mesmo. 13 Ver Gomes, Maria Manuela David (dir.) – “Página Feminina”, p. 2 e 5. 14 Veja-se a este propósito o catálogo Leilão de Livros, Manuscritos, Gravuras, Postais e Cartazes. Palácio do Correio Velho: Leilões e Antiguidades, S.A. Lisboa. N.º 272 [18 a 22 Dezembro 2011], lote 45, p. 29.

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Para além destes países europeus, Madalena foi ainda a Moçambique duas vezes; uma, no âmbito da classificação das colecções e montagem do Museu de Arte Sacra da Ilha com o mesmo nome e, uma segunda, anteriormente, em data e por razões que não me foi possível especificar15. Por razões que se prendem com a importância para o entendimento do indo-português demorar-me-ei um pouco mais neste tema.

A relação da FCG com o Governo-Geral de Moçambique, designadamente no que diz respeito ao financiamento de equipamento e actividades culturais, era já anterior mas, pelo menos desde 1964, que a instalação de um “museu sacro, na capela do Palácio de S. Paulo” se encontrava pendente. O subsídio já fora entregue pela Fundação mas o bispo de Nampula levantava algumas objecções sobre a localização proposta, e e não autorizava a transferência das peças da igreja da Ilha de Moçambique para a mencionada capela, pelo que se procurava aquiescência da instituição lisboeta para alterar o local do futuro museu (o que foi aceite em 30 de Outubro do mesmo ano)16.

O processo teve um rápido desenvolvimento, e logo em 8 de Janeiro de 1965 informava-se a Fundação de que a instalação se encontrava sob a alçada da Comissão dos Monumentos e Relíquias Históricas e que conforme as instruções do bispo de Nampula, “o Sr. Arquitecto Pedro Quirino da Fonseca escolhe[ra], no dia 21/12/64, as dependências da Igreja da Misericórdia [para] ser instalado o referido Museu”17; em Agosto, seguiam igualmente os planos (r/c e 1.º andar), a relação das peças a expor (já devidamente numeradas e inseridas nas plantas enviadas) e uma informação pormenorizada sobre o andamento dos trabalhos, as obras necessárias e as exigências da Igreja moçambicana.

15 “Mas, como, embora já tenha passado dois anos na Província de Moçambique, desconheço as condições de vida actuais”, FCG – BA, Arquivo COOP, Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique, processo n.º M184/93: Carta de Maria Madalena de Cagigal e Silva para Victor de Sá Machado, Lisboa, 1966, 4 de Abril. 16 FCG – BA, Arquivo COOP, Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique, processo n.º M184/93: Carta do Chefe de Gabinete do Governador-Geral de Moçambique, Artur Rodrigues Consolado, para o Presidente da Fundação, José de Azeredo Perdigão, Lourenço Marques, 1964, 15 de Maio, e Apontamento, Inf.º N.º 104/64 de Victor de Sá Machado, Lisboa, 1964, 21 de Julho. 17 FCG – BA, Arquivo COOP, Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique, processo n.º M184/93: Carta do Chefe de Gabinete do Governador-Geral de Moçambique, Rui da Costa Cesário, para o Presidente da Fundação, José de Azeredo Perdigão, Lourenço Marques, 1965, 8 de Janeiro. Sobre este assunto ver ainda Vera Félix Mariz, “A musealização de monumentos e o restauro arquitectónico em Moçambique”, comunicação ao VI Encontro das Comunidades de Língua Portuguesa – ICOM, realizado na Fundação Oriente em Lisboa, 26-27 de Setembro de 2011 (resumo), https://www.academia.edu/1110681/_A_musealizacao_de_monumentos_e_o_restauro_arquitectonico_e m_Mocambique_ (consultado em 2013.11.24).

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Data do mesmo mês um relatório intitulado “Pedidos à Fundação Calouste Gulbenkian”, assinado por Nuno Vaz Pinto, Secretário Provincial de Obras Públicas e Comunicação, sob cuja tutela se encontra a Comissão dos Monumentos e Relíquias Históricas. Nele se apresentavam cinco propostas – “Estudos e restauro das peças de arte religiosa existentes na Igreja da Misericórdia da Ilha de Moçambique”; “Restauro dum «Astern pattern plate»”; “Criação dum «Museu histórico-militar» na Fortaleza de S. Sebastião da Ilha de Moçambique”; “Biblioteca da Comissão de Monumentos e Relíquias Históricas”; “Criação de museus de conchas e etnografia” – para as quais se pedia financiamento à instituição. Particularmente relevante para o tema aqui em apreço, pretendia-se, em várias das propostas, estudar, classificar e restaurar os objectos, pelo que se pedia também o envio de um especialista para os diversos temas abordados18.

Foi na sequência deste relatório que surgiram os dados que nos interessa aqui aprofundar (uma vez que, de novo, este é um tema que merece atenção e estudo mas que ultrapassa o âmbito dos objectivos desta tese): por um lado, a nota interna assinada por Artur Nobre de Gusmão que considerava que se “o que se t[inha] em vista [era] que a Fundação Calouste Gulbenkian d[esse] a sua aprovação ao que v[inha] projectado, quer quanto à selecção das obras, quer quanto ao critério para apresentação das mesmas, quer ainda quanto ao esquema de circulação e quanto às obras de adaptação, afigura[va]-se- [lhe] que manifestamente o problema [tinha] a sua delicadeza” uma vez que não era possível “com os elementos disponíveis verificar em todos os casos se as soluções preconizadas” eram as melhores19.

Pelo que, Victor Sá Machado escrevia a Azeredo de Perdigão num “apontamento”, passados oito dias, que a “dificuldade com que [ali] normalmente se depara[va] quando se pretend[ia] resolver o problema resid[ia] na variedade de peças a estudar e classificar, o que exig[ia] a presença de especialistas das várias artes. Todavia, no caso em exame, o problema est[ava] em parte simplificado visto tratar-se de peças de arte indo-portuguesa e existir no país um especialista nes[s]e sector: trata[va]-se da Sr.ª

18 FCG – BA, Arquivo COOP, Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique, processo n.º M184/93: Província de Moçambique. Secretaria Provincial de Obras Públicas e Comunicações: Pedidos à Fundação, [Lourenço Marques], 1965, Agosto. 19 FCG – BA, Arquivo COOP, Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique, processo n.º M184/93: Nota N.º 61/66, Lisboa, 1966, 2 de Fevereiro.

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D. Maria Madalena de Cagigal e Silva, ex-bolseira da Fundação, Conservadora do Museu de Arte Popular (…)”20.

O nome da conservadora teria sido sugerido por Artur Nobre de Gusmão, conforme se infere por uma carta sem destinatário expresso, mas que pelo conteúdo possibilita tal assunção21.

Em 2 de Março desse mesmo ano, o Presidente da Fundação exarava um despacho no qual autorizava a consulta a Madalena Cagigal e Silva sobre a possibilidade de se deslocar ao território e fazer a assessoria técnica solicitada; em 23 do mesmo mês Madalena anuía, em reunião tida com Victor Sá Machado. Em 7 de Julho a conservadora partiu para Moçambique e apenas uma semana depois já estava a dar conta, por carta, do trabalho que havia a fazer, concluindo que era demais para o mês programado.

Regressada a Lisboa e enquanto elaborava o extenso e pormenorizado relatório sobre a viagem e o “Inventário dos objectos existentes na Igreja da Misericórdia, destinados ao futuro Museu da Ilha de Moçambique”, Cagigal e Silva escreveu nova carta a Victor Sá Machado pedindo que lhe fosse marcada uma reunião pois “desejava agora, duplamente, falar com V. Ex.ª. Est[ava] em Lisboa o Senhor Engenheiro Vaz Pinto que tinha interesse e urgência em tomar parte na entrevista por assuntos de grande importância para Moçambique”22.

Ainda que no dossier consultado na FCG não haja informação sobre esta reunião, a documentação que se segue à missiva permite-nos ter uma ideia de qual o assunto e a sua urgência; dois documentos (mais a cópia dactilografada) datados de 28 de Setembro de 1966 dão-nos conta do que se passava. Num, sob o título de “Mobiliário à Venda em Moçambique”, Cagigal informava que na Cabaceira Grande (na antiga feitoria árabe que fora depósito de escravos) e em vários locais na Cabaceira Pequena se vendiam todos os tipos de móveis indo-portugueses (camas, arcas, cómodas, escritórios,

20 FCG – BA, Arquivo COOP, Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique, processo n.º M184/93: Apontamento. Inf.º N.º 40/66, Lisboa, 1966, 10 de Fevereiro. 21 A carta que é dirigida a “Exmo. Senhor e meu bom Amigo” mencionava Victor Sá Machado na terceira pessoa e solicitava a intervenção do “bom amigo” no acelerar do processo de assessoria em Moçambique junto da Fundação. Assim, concluo que não poderia ser dirigida a um qualquer membro da direcção ou presidência da instituição, mas antes a alguém do Serviço de Belas-Artes e que, igualmente, fazia parte das relações pessoais de Madalena. FCG – BA, Arquivo COOP, Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique, processo n.º M184/93: Carta de Maria Madalena de Cagigal e Silva para Artur Nobre de Gusmão (?), Lisboa, 1966, 7 de Junho. 22 FCG – BA, Arquivo COOP, Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique, processo n.º M184/93: Carta de Maria Madalena de Cagigal e Silva para Victor de Sá Machado, Lisboa, 1966, 19 de Setembro.

36 cadeiras, etc.) com preços irrisórios, uns, e acessíveis outros. A autora propunha a aquisição de peças destas, bem como, pela “maior importancia porque se trata[va] de peças de ourivesaria antiga, puramente indianas e as colecções portuguesas nos museus são pobríssimas”, de objectos indianos cujo valor de transacção era “caro, mas muito barato para aquilo que as peças são. Inclusivamente, melhor dizendo, seriam até mais preciosas numa colecção da Metrópole do que numa do Ultramar, embora lá ficassem muito bem, porque a arte indiana é aqui muito desconhecida”. Seguia-se o “Parecer” com considerações interessantíssimas como o facto de a presença daquele mobiliário em Moçambique ter proporcionado a percepção à autora de nem toda a dita arte indo- portuguesa ser feita para ocidentais “mas realizada para uso dos próprios indianos, no campo da arte não religiosa” ou o facto de arte e etnografia estarem no pensamento de Cagigal, e nestes objectos também, sempre a par23.

Voltando ao relatório (pormenorizadíssimo e excedendo largamente o que lhe fora inicialmente pedido) e ao inventário efectuado por Cagigal e Silva em Moçambique (que merece só por si atenção e estudo, pecando apenas, e do meu ponto de vista, por não ter fotografias das peças) foram alvos de uma série de comunicações internas na Fundação e de divulgação junto das entidades museológicas em Moçambique, sendo o inventário usado na criação do Museu de Arte da Ilha.

Madalena de Cagigal e Silva não terá sido uma personalidade fácil. Moldava-a, a um tempo, a origem e a formação, a outro, a sociedade em que vivia. A fortíssima ética familiar e profissional que possuía não conseguiriam ultrapassar os constrangimentos sociais e financeiros de uma família de cinco (e depois quatro) mulheres num país espartilhado em convenções morais e de género conformes à época e ao regime político24. Morreu aos 64 anos, vítima de doença, no seu posto de directora de museu.

23 FCG – BA, Arquivo COOP, Museu de Arte Sacra da Ilha de Moçambique, processo n.º M184/93: Mobiliário à Venda em Moçambique, Lisboa, 1966, 28 de Setembro e Parecer, Lisboa, 1966, 28 de Setembro (ver anexo documental, I.18, para este último documento). Estas considerações, agora partilhadas com a Fundação, tinham sido discutidas com as entidades locais, pelo que se encontra incluída neste dossier uma carta assinada em Lisboa em 5 de Outubro pelo Major Nuno Vaz Pinto, Secretário Provincial de Obras Públicas e Comunicações, referindo o mesmo assunto e solicitando apoio para aquisição dos móveis. 24 Vejam-se as suas palavras na entrevista concedida em 1964: “- Devido à larga experiência que possui como Conservadora do Museu, o que pensa desta profissão como meio de realização da Mulher?; – Acho- a completa porque, embora seja uma profissão exigente sob o ponto de vista intelectual , contrabalança esta intelectualização com um serviço que, sob muitos aspectos, é trabalho de dona de casa e até de mãe de família quando se atendem crianças e se olha pelo pessoal.” (Gomes, Maria Manuela David [dir.] – “Página Feminina”, p. 2) que espelham bem atavismos de género e de identidade e, ao mesmo tempo, as imensas concessões que as mulheres tinham que fazer ao optar por uma vida profissional.

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Era conhecida pela exigência do trabalho que pedia aos outros mas a que também se sujeitava. Essas razões pessoais e outros motivos, de carácter geral que colocam o seu trabalho num período de inevitável caracterização político-cultural ligada à ideologia do Estado, não podem contudo servir de desculpa para o enorme desconhecimento a que a sua vida e actividade estão votadas hoje em dia. Sobre a sua resiliência, vejam-se as palavras de Alexandre Oliveira sobre a dificuldade que foi gerir um museu onde os funcionários eram maioritariamente provenientes da Legião Portuguesa sem o ensino primário completo25; sobre o seu trabalho, particularmente no que diz respeito à historiografia do indo-português, dei aqui o contributo possível dentro dos parâmetros do que é o objectivo desta tese e do material a que tive acesso.

Cronologia26

Data Acontecimento 1920 (09.27) Nasceu em Penafiel 1942?-1946 Licenciatura em Ciências Históricas e Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa com tese sobre as Relações artísticas entre Portugal e a China (séculos XVI-XVIII) 1946 (10) Trabalhou no MNAA (gratuitamente): inventário das gravuras 1948 (01) provenientes da Biblioteca Nacional de Lisboa (1946-49; poderá haver uma cópia na biblioteca do museu; não publicado) 1948 (01) Bolseira do Instituto de Alta Cultura (trabalha no MNAA): “Recolha 1950 (11) de elementos sobre S. João de Deus na Iconografia e na Arte” (poderá haver uma cópia na biblioteca do MNAA) 1949 “Alguns motivos decorativos orientais na arte indo-portuguesa”,

25 Ver Alexandre Oliveira, “Uma abordagem preliminar a 60 anos do Museu de Arte Popular”: https://www.google.pt/search?sourceid=navclient&aq=&oq=Uma+abordagem+preliminar+a+60+anos+d o+Museu+de+Arte+Popular&hl=pt-PT&ie=UTF-&rlz=1T4MXGB_pt- PTPT545PT545&q=Uma+abordagem+preliminar+a+60+anos+do+Museu+de+Arte+Popular&gs_l=hp.... 0.0.0.477...... 0 (consultado em 2012.11.28). 26 Esta cronologia foi feita com base nos dois curricula (1974 e 1979) que a própria Madalena de Cagigal e Silva elaborou (ver nota 3 neste texto). Pensei esta cronologia como instrumento de trabalho, todavia, face à grande dificuldade em encontrar informação disponível sobre a conservadora, por os ditos documentos terem uma elaboração extremamente confusa e de difícil leitura e, por fim, por me concentrar essencialmente na ligação de Cagigal e Silva à invenção do indo-português (e haver muito mais para explorar na sua vida profissional), optei por inclui-la no final do texto, como forma de arrumar informação que merece estudos futuros. Assim, e para assegurar a manutenção de um padrão, fiz o mesmo no que diz respeito às duas outras biografias que compõem o material de apoio à realização desta tese.

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trabalho apresentado ao Instituto de Alta Cultura (do qual existe um exemplar dactilografado e com 60 fotografias na biblioteca do MNAA27; não publicado) 1949 Assiste ao Congresso Internacional de História da Arte 1950 (11) Professora no Liceu de Bragança 1953 (03) 1950 (06) - Conferência no MNAA sobre “Análise de alguns motivos decorativos na arte indo-portuguesa”, dia 1 (texto dactilografado na biblioteca do museu); - XIII Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências com comunicação “Elementos para o estudo e influência oriental na decoração da cerâmica portuguesa: séculos XVI-XVIII”; - Elementos para o estudo e influência oriental na decoração da cerâmica portuguesa: séculos XVI-XVIII. Sep. do T. VIII, 7º secção Ciências Históricas e Filológicas do XIII Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências. [Porto: Imp. Portuguesa] 1952-53 Organização do inventário de pintura, gravura e desenho do Museu Regional de Bragança (dir. Raul Teixeira) (segundo o cv de 1979 haverá uma cópia no MNAA) 1953-55 Curso de conservadores de museu (MNAA): tese de estágio sobre “Subsídio para o estudo da organização de museus anexos aos Mosteiros de Alcobaça e da Batalha” (trabalho entregue na Repartição de Património da Direcção-Geral da Fazenda Pública do Ministério das Finanças) 1953 “A arte indo-portuguesa”, in Arte portuguesa. As Artes decorativas. Dir. João Barreira. Lisboa: Edições Excelsior, [s.d.], vol. 1, pp. 245- 64 1953 (11.03) Segunda Conservadora dos Palácios e Monumentos Nacionais da 1958 (01.02) Zona de Leiria 1955 (08-12) Bolsa para estudar azulejos do distrito de Leiria 1955 - “As Composições Marítimas na Arte Indó-Portuguesa”. Lusíada.

27 Esta informação foi retirada da base de dados da biblioteca do MNAA. Existem outros trabalhos dactilografados pela autora que não se encontram na base de dados mas dos quais poderão ainda existir exemplares em documentação não catalogada.

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Vol. 2, N.º 7, Outubro, pp. 188-92 1956 XXIII Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências, Coimbra, com comunicação “Uma composição da arte Indo- Portuguesa” 1956 Organização do cadastro do Ministério dos Negócios Estrangeiros 1957 1957 Uma composição da arte Indo-Portuguesa. Sep. Publicações do XXIII Congresso Luso-Espanhol, tomo 8, n. 1-15 1958 (01.02) Segunda conservadora do MAP 1969 (02.01) 1958.12 I Congresso Nacional de Arqueologia, com comunicação “José Leite de Vasconcelos e a arte popular portuguesa”, Lisboa, dias 15 a 20 1959 “José Leite de Vasconcellos e a arte popular em Portugal”. Actas e memórias do I Congresso Nacional de Arqueologia. Vol 1, pp. 63-75 1960 (10-11) Bolsa da FCG para ir a Paris e Londres 1960 “O lótus na arte indo-portuguesa”. Lusíada. Vol. 3. N.º 12, Maio, pp. 370-4. 1960-61 Oratórios indo-portugueses: o oratório do Museu de Évora. Sep. A Cidade de Évora. Anos XVII-XVIII. Ns. 43-44 1961 (10-11) Bolsa da FCG para ir a Paris e Londres 1961 “Pintura”. In Arte Popular em Portugal. Dir. Fernando de Castro Pires de Lima. Lisboa: Editorial Verbo, 3 vol. vol. II, pp.85-178 1962 - Júri no Festival de Folclore, Lisboa; - 3.ª reunião de conservadores dos Museu e dos Palácios e Monumentos Nacionais, Porto, com comunicação “Os museus de Arte Popular (espécies e papel desempenhado)”; - Jornadas Vitivinícolas em Lisboa com comunicação sobre “As actividades vitivinícolas e os objectos do Povo Português” 1962-63 Colabora com a escrita (e, por vezes, apresentação) de textos para programas da RTP 1963 - 4.ª reunião de conservadores dos Museus e dos Palácios e Monumentos Nacionais, Coimbra, com as comunicações “Uma colcha indo-portuguesa do Museu Nacional de Arte Antiga” e “Ex-

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votos do Museus de Arte Popular”; - “Os museus de Arte Popular (espécies e papel desempenhado)”. Museus. Porto; - Aspectos das relações entre arte oriental e os objectos denominados de arte popular portuguesa. Sep. Actas do Congresso Internacional de Etnografia. Promovido pela Câmara Municipal de Santo Tirso de 10 a 18 de Julho de 1963. Porto: Imprensa Portuguesa, [1963]: Vol. IV, pp. 181-5. 1963 (10) Comunicação sobre “Aspectos das relações entre arte oriental e os objectos denominados de arte popular portuguesa”, no Congresso Internacional de Etnografia realizado em Santo Tirso, 10-18 Julho 1964 (03-04) Forneceu lições de Etnografia no Curso de Recepcionistas de Turismo do SNI 1964 (03) Conferência sobre “Alguns aspectos e problemas da arte indo- portuguesa”, no MNAA, Lisboa, dia 10 1964 (07) II Colóquio de Matosinhos, com comunicação “O mar e alguns aspectos da etnografia portuguesa (a poesia, os ex-votos e a pintura popular)” 1964 (10) Secretária na secção de Defesa de Paisagens, Monumentos, Museus e Colecções de Objectos de Arte e o seu aproveitamento turístico no I Congresso de Estudos Turísticos, Lisboa, com comunicação “Os museus e o desenvolvimento turístico – Museus de Arte Popular” 1964 - III Colóquio Portuense de Arqueologia; - A arte religiosa indo-portuguesa e os crucifixos em colecções alentejanas. Sep. “A Cidade de Évora”, n.º 47; - “As actividades vitivinícolas e os objectos do Povo Português”. Panorama. IV série, n.º 11, Setembro; - “Etnografia e folclore no Madeirense”. Lisboa Courier. N.º 224-225, Dezembro; - Alguns bordados de Castelo Branco e Arraiolos em colecções estrangeiras. Porto. Sep. revista Etnografia. N.º 2; 1965 (10) Professora da Escola Superior de Turismo do Instituto Superior de Línguas e Administração

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1965 Reunião de Escritores, Porto 1965 - “Notas para o estudo de alguns azulejos do distrito de Leiria, atribuídos à Fábrica do Juncal”. Arqueólogo Português. Nova série. Tomo 3, pp. 211-20; - “Etnografia e folclore no Alentejo”. Lisboa Courier. N.º 228, Março; - “Etnografia e folclore no Algarve”. Lisboa Courier. N.º 231-232, Julho; - “Relações artísticas entre Portugal e o Oriente”. Notícias de Setúbal, n.º 173, 19 de Agosto; - “Aspectos da artesania portuguesa”. Revista de Turismo, IV série, n.º 14, Setembro/Outubro; - “Azulejos portugueses”. Revista de Turismo, IV série, n.º 15, Novembro/Dezembro. 1966 - A convite da FCG e do Governo de Moçambique desloca-se ao território para inventariar e classificar peças da Igª Misericórdia na Ilha de Moçambique, de Maputo e de Nampula (arte e etnografia); - V Colóquio Portuense de Arqueologia; - A Arte Indo-Portuguesa. Lisboa: Edições Excelsior 1966 (10) Colóquio Internacional de Estudos Etnográficos Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim com comunicação (não com segui apurar qual o título) 1967 - Comunicação à Sessão de Etnografia da Sociedade de Geografia de Lisboa sobre arte indo-portuguesa existente no “Distrito de Moçambique”; - “O Museu de Arte Popular, de Lisboa”. Jornal O Educador, 10 de Julho; - “A Índia e Portugal: aspectos das suas relações artísticas”. Heraldo, n.º especial de 18 de Dezembro 1968 (08) Membro correspondente da Associação Brasileira de Folclore (dia 22) 1968 - “O mobiliário indo-português”. Jornal O Educador, 10 de Janeiro; - “Ornatos indo-portugueses: Garuda”. O Comércio do Porto, 12 de Agosto;

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- “Arte indo-portuguesa: portas de Moçambique e da Índia”. O Comércio do Porto, 10 de Dezembro; 1968 (03) Direcção do colóquio “Pintura Popular” no Clube do Turismo do Atlântico, Lisboa, dia 6 1969 (03.01) Toma posse como Directora do MNC (Diário do Governo, n.º 299, 1984 II.ª série, 1968, 20 de Dezembro) 1969 (06) Conferência sobre “Mobiliário indo-português” no Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto, dia 12 1969 (07) Bolsa do Instituto de Alta Cultura para ir a Londres preparar a exposição Art and the East India Trade, Victoria and Albert Museum, Londres (daqui em diante V&A) 1969 “Os museus e o desenvolvimento turístico (museus de Arte Popular)”. O Comércio do Porto, 10 de Junho 1970 (03-04) Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências, Lisboa, 31 Março a 4 Abril, com comunicações “Os coches: sua conservação e restauro” e “Casula indo-portuguesa de Paderborn” 1970 (07) Conferência no MNC sobre “Colecção e Museu dos Coches” 1970 (10-11) Bolsa do Instituto de Alta Cultura para ir participar na exposição e levantar material para estudo das colecções do MNC;

1970 (10-12) Representante de Portugal na Comissão Internacional Organizadora da exposição Art and the East India Trade, V&A 1970 - Uma porta indo-portuguesa da Ilha de Moçambique. Sep. Etnográfica. Porto. Vol. 14, tomo 2. N.º 28, Julho, pp. 303-14.; - “Coches espanhóis pertencentes ao Museu Nacional dos Coches”, Panorama, 4.ª série, Ns. 35-36, Setembro-Dezembro; - “Casula indo-portuguesa em Paderborn”. Comércio do Porto 1971 (04-05) Forneceu lições de História das Artes Decorativas no Curso de Guias de Arte promovido pelo Centro Nacional de Formação Turística e Hoteleira 1971 (12) Reunião de directores de museus, dia 2 1971 - “Introdução”. Silhuetas [catálogo]. Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga;

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- “Arte indo-portuguesa. A exposição de Londres «Art and the East India Trade»”. O Comércio do Porto 1972 (03) Conferência no MNC sobre “Carros de Gala: evolução técnica e artística” 1972 (09) Equiparação a bolseira pela Direcção-Geral dos Assuntos Culturais para ir a Turim e Milão participar na conferência da International Association of Transport Museums (12 a 15) 1972 (09) Equiparação a bolseira pela Direcção-Geral dos Assuntos Culturais para ir a Madrid levantar material para estudo das colecções do MNC (16 a 23) 1972 (10) Participação no congresso International Institute for Conservation of Historic and Artistic Works (IIC), Lisboa (9 a 14) 1972 - Obras de Arte Indo-Portuguesas de Carácter Mongólico. Sep. Garcia de Orta. Número especial comemorativo do 4.º Centenário da publicação de “Os Lusíadas; 1973 (03) Seminário da Associação Portuguesa de Museologia no MNAA: “Actividades e expansão da APOM”, dia 13 1973 (04) Congresso internacional de Estudos em Homenagem a André Soares – A Arte em Portugal no século XVIII, com comunicação sobre “O trajo do século XVIII através das colecções do Museu dos Coches”(6 a 11) 1973 (12) Colóquio sobre artes decorativas indo-portuguesas realizado no Palácio Galveias e incluído na programação da exposição Índia Portuguesa, organizada pelo Comissariado para os Assuntos do Estado da Índia (Ministério do Ultramar), dia 17 1974 (11) Reunião de directores de arquivos, bibliotecas e museus, com comunicação “Quadros de pessoal” e “Horários de funcionamento para o público e para os funcionários” (25 a 29) 1974 - A divulgação do estilo inglês e a carruagem da corôa”, Panorama. 4.ª série. Ns. 46-47; - O trajo do século XVIII através das colecções do Museu Nacional dos Coches. Sep. “Bracara Augusta”. Vol. XXVII, fasc. 64 (76), Braga;

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- “Quadro da evolução dos estilos de mobiliário em Portugal em relação com os quadros da evolução do mobiliário nos outros países europeus”. In Grande Livro da Decoração. Lisboa: Reader’s Digest. 1975 (03) - Conferência sobre “Aspectos artísticos da colecção de arreios do Museu Nacional dos Coches”, na sede dos “Amigos de Lisboa”, dia 7; - Visita guiada ao MNC aos “Amigos de Lisboa”, dia 9 1975 - “Museu Nacional dos Coches”, in APOM Informações: Maria José de Mendonça e a Museografia em Portugal. Ns. 7-8, Janeiro-Abril, pp. 11-3; - “Índia Portuguesa”, in A Arte Popular em Portugal ilhas adjacentes e ultramar. Dir. Fernando de Castro Pires de Lima. Lisboa: Editorial Verbo, 1970, vol. 2, pp. 248-361 1976 “Museu Nacional dos Coches”, in Tesouros Artísticos de Portugal. Dir. José António Ferreira de Almeida. Lisboa: Edições do Reader’s Digest 1977 (07) Representante da Direção-Geral do Património Cultural na Comissão para o Concurso de Obras de Arte para o Salão Nobre do Teatro D. Maria II 1977 (10) Colóquio APOM, Açores (2 a 9) 1977 O Museu Nacional dos Coches. Col. “Álbuns de Arte Portuguesa”, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda 1978 (04) Visita guiada ao MNC aos vogais da Secção de História da Sociedade de Geografia de Lisboa, dia 1 1978 (10) Colóquio para os membros da The Asia Society Inc. sobre arte indo- portuguesa, Lisboa, dia 2 1978 - Participação na conferência anual da International Association of Transport Museums, em Viena com comunicação sobre “The Educative Services of the National Museum of Coaches in ” (19 a 24) (publicado no Boletim da Associação); - Congresso internacional para a investigação e defesa do património; - Alcobaça/78, com comunicação “A escultura barroca no Mosteiro de Alcobaça”

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- Assiste ao colóquio na FCG – Georges-Henri Rivière, Ecomuseus. 1979 Membro da Comissão Executiva para a realização em Lisboa da conferência da International Association of Transport Museums/1979 (realizada em 6 de Outubro de 1979) 1979 (01) Reunião de directores de museus, com comunicação “O Museu e o Turismo” (29 a 31) 1979 (01 e 02) Comunicação à sessão de História da Sociedade de Geografia de Lisboa, apresentada em duas sessões diferentes 11.01 e 23.02: “O Museu Nacional dos Coches, as suas colecções e a sua vida” 1979 “A charamela real”, Ágora. Boletim do Sindicato dos Profissionais da Informação Turística, Intérpretes, Tradutores e Profissionais Similares. N.º 1, Fevereiro 1984 Morre em Lisboa

II.2 – Biografia de Luís Keil

Luís Cristiano Cinatti Keil (1881-1947)

Terceiro filho de Alfredo Cristiano Keil (1850-1907) e de Cleyde Maria Margarida Cinnatti, e tio do arquitecto Francisco Keil do Amaral (que era filho da sua irmã mais velha Guida Maria Josefina Cinatti Keil), terá provavelmente nascido em Lisboa no ano de 1881. Casado com Mary de Brito, filha de uma família de origem portuguesa emigrada nos Estado Unidos, teve uma filha de nome Alfreda que morreu, com ele e a mãe, num trágico acidente de automóvel na tarde de 17 de Outubro de 1947, segundo a família, “quando tentavam dar saída clandestina do País ao noivo de Alfreda, um oficial do Exército Republicano espanhol, fugindo de Franco, que se salvou”, uma aventura com desfecho igualmente irónico já que Keil manteria “alguma simpatia pelas potências do «Eixo»”28.

28 Todas as citações in Moita, Irisalva (com. cient.) – Keil do Amaral. O arquitecto e o humanista. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, [1999], p. 24, salvo indicação em contrário.

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Estudou em Lisboa até à conclusão do ensino liceal, tendo depois rumado à Bélgica de onde voltou “diplomado e vocacionado para o estudo e preservação das obras de arte”.

Comummente considerado muitíssimo culto, João Couto reconhecia-lhe também os “profundos conhecimentos práticos e uma intuição pouco vulgar” que em muito o teriam ajudado no desempenho das funções museológicas29, designadamente aquando do início da formação das colecções dos museus nacionais. Foi um grande viajante (em Portugal e no estrangeiro), visitando museus por toda a Europa e criando fortes relações pessoais e profissionais com os técnicos e directores dos mesmos30, o que lhe permitiu não só publicar em revistas estrangeiras de renome, como também referir nos seus trabalhos inúmeros objectos artísticos que não seriam de fácil acesso para a maioria dos seus contemporâneos, mesmo entre os colegas.

Para além da erudição, do domínio das línguas alemã, francesa e, possivelmente, inglesa (no exame para conservador de museu era pedido uma prova em inglês), Keil beneficiava ainda do traço, livre e nervoso, que lhe terá permitido recolher impressões de viagem, paisagens, pormenores de objectos e registo in loco de outros tantos, certamente reutilizados nos seus trabalhos31.

Luís Keil viveu, por circunstâncias da cronologia, um dos momentos mais ricos e atarefados da história museológica em Portugal. Nove anos mais novo que José de Figueiredo trabalhou com esse desde 1915 contribuindo, portanto, de forma activa e empenhada para a reunião das colecções nacionais. A profissão deu-lhe o ofício e a especialidade ecléctica que era, como já se viu para o caso de Madalena de Cagigal e Silva, norma nesta (e, pelo menos, na seguinte) geração de conservadores criados e formados em e a partir do Museu Nacional de Arte Antiga (daqui em dianta MNAA). Nas palavras de Couto que lhe escreveu um sentido in memoriam aquando da morte

29 Couto, João – “Luís Keil”. Boletim do Museu Nacional de Arte Antiga. Vol. I. N.º 4, Janeiro-Dezembro 1947, pp. 175-6 [175]. 30 Keil, Luís - A tapeçaria de D. João de Castro. Lisboa: Centro Tipografico Colonial, 1928. Na pág. 8, nota 1, refere-se ao Prof. Dr. Hermann, director principal do Kunsthistoriches Museum e ao Prof. Dr. Ernst Kris, conservador da secção de artes decorativas “que por vezes me acompanharam em Viena”; “Opinião do meu amigo Prof. Dr. Heinrich Gobel, auctor da obra Wandteppich – vol. 2. Leipzig 1927-28, na qual pela primeira vez, no estrangeiro, se escreve sobre as antigas fábricas de tapeçarias portuguesas.” (pág. 9, nota 1). 31 Para um exemplo do seu traço ver Luís Keil – O «Império» do Penedo. Sep. da Águia, n.º 67-68 [Porto], 1917, extra-texto.

47 precoce, “ocupou-se da elaboração e da revisão de alguns inventários, publicando estudos a peças neles descritas”32.

Com efeito, para além dos inventários museológicos, Keil colaborou igualmente no mapeamento e arrolamento do imenso património (imóvel e) móvel que se encontrava espalhado pelo país, elaborando, por exemplo, o inventário do distrito de Portalegre (o primeiro volume da série, publicado em 1943) no âmbito da tarefa levada a cabo pela Academia Nacional de Belas Arte e que se estendeu por cinco décadas.

Fez também o inventário e ajudou a organizar o Museu de Abrantes. Segundo um artigo publicado no Jornal de Abrantes na altura da morte de Keil por Diogo Oleiro (um abrantino que se bateu pela conservação do património local), o então director do Museu Nacional dos Coches (daqui em diante MNC) era um “espírito brilhante, de requintada sensibilidade artística”.

Neste artigo transcreve-se uma carta dirigida ao Museu de Abrantes, escrita em Londres no Coburg Court Hotel em 22 de Junho de 1921, pela qual ficamos a saber que Luís Keil se havia deslocado àquela cidade em 1917 “para inventariar os objectos artísticos”. Como foi comum em muitos outros episódios, esta situação havia suscitado o motim popular, e tomara tais proporções que o conservador se vira obrigado a passar a noite no quartel de Artilharia. O técnico respondia agora a um pedido para que se deslocasse novamente a Abrantes para continuar o seu trabalho. Keil prometeu fazê-lo logo que pudesse – e cumpriu, quer escrevendo e diligenciando para a publicação do regulamento quer ajudando na nomeação do director do novel museu –, enunciando ainda de memória uma série de objectos, dando conselhos para a sua manutenção e conservação, bem como para a salvaguarda dos importantes recheios documentais das fábricas e igrejas paroquiais.

Por fim, deixava uma advertência que era também uma confissão de gosto e de posicionamento face à arte, certamente moldada pelo seu papel de historiador e conservador de museu, mas que se reflectia também na colecção que reuniu: “ Deve atender ao caracter do Museu. Não se vá prender por coisas banaes nem modernas” 33.

32 Couto, João – “Luís Keil”, p. 176. 33 Conforme informação consultada em http://porabrantes.blogs.sapo.pt/1023346.html (2013.08.07). Diogo Oleiro mencionava ainda ter-se deslocado a casa de Keil, na , n.º 77 “interessantissimo museu de preciosidades que o seu requintado gosto artístico e vastos conhecimentos souberam seleccionar e juntar.”

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Luís Keil é igualmente um nome de relevo na história da museologia em Portugal. Foi, por exemplo, o responsável pela sessão de artes decorativas no curso de museologia que Maria José de Mendonça (1905-1984) frequentou (o 2.º) e director interino do MNAA após a saída de José de Figueiredo34. Não é assim de estranhar que lhe tenha sido confiada a missão de recriar o MNC, primeiro como “conservador adstrito” (desde 1938) e depois como director (1943). Registe-se ainda que, pesasse embora a tarefa complicada e demorada que foi inventariar, transportar, sujeitar a múltiplos processos de restauro que exigiram trabalho especializado (muito dele quase em vias de extinção), montar, estudar e dispor os carros e outros objectos da colecção do museu, Luís Keil manteve-os a par da investigação e publicação de textos que revelavam os interesses temáticos de sempre (por exemplo, o interesse pela faiança e tapeçaria e que fora, também, tema da sua dissertação aquando da obtenção do lugar de conservador do MNAA35).

A propósito, note-se que a importância que dava à palavra impressa ao lado da profissão de conservador de museu se encontra bem sintetizada na publicação quer do discurso inaugural de abertura do MNC, que proferiu em 1944, quer do catálogo do museu cuja primeira edição data de 1943 (o que constituí algo relativamente raro no panorama da publicação de catálogos monográficos dedicados às colecções museológicas portuguesas36) – incluindo planta do edifício, fotografias, texto introdutório e entradas para as peças em exibição –, e que foi grosso modo reimpresso em 1950, 1956 (com acrescentos por parte de Augusto Cardoso Pinto [1901-196237) e 1964 (com nota à 4.ª ed. por Maria José de Mendonça e já depois do início das obras de remodelação em 1962)38.

Luís Keil foi também vice-Presidente da Academia de Belas-Artes.

34 Sobre este assunto veja-se, Sofia Lapa – “Como se forma uma museóloga? Contributos para o estudo de Maria José de Mendonça (Museu Nacional de Arte Antiga, 1933-1938)”. In IV Congresso História da Arte portuguesa – Homenagem a José-Augusto França, Novembro 2012, pp. 216-27 (texto em suporte CD-PDF). 35 Ver cronologia anexa (1916, 1919, 1928, 1931, 1938, 1942, 1947). 36 Keil, Luís – Palavras proferidas na inauguração das novas instalações do Museu Nacional dos Côches, em 29 de Abril de 1944. Lisboa: Bertrand. Texto que continua a ser a mais rica e completa informação sobre a história da formação e reunião das colecções do museu. 37 Sobre a biografia de Augusto Cardoso Pinto ver, Rocha, Ema Ramalheira – O Estágio/Curso de Conservadores do Museu Nacional de Arte Antiga. O papel educativo do MNAA na Museologia Portuguesa Lisboa. Dissertação de Mestrado em Museologia apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2013, pp. 43-44. 38 Keil, Luís – Catálogo do Museu Nacional dos Côches. Lisboa: Bertrand, 1943.

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Cronologia

Data Acontecimento 1881 Nasceu em Lisboa (?) 1915 Nomeado conservador do MNAA (portaria de 11.01) 1915 Uma visionária seiscentista. Coimbra: Tipografia Reis Gomes 1916 (06) Provas do concurso para conservador do MNAA sobre faianças e tapeçarias (impressa em 1919, Elvas), dias 21, 23 e 2439 1917 Desloca-se a Abrantes para inventariar objectos artísticos na zona 1917 O «Império» do Penedo. Sep. da Águia, n.º 67-68 [Porto] 1918 (11) Nomeação efectiva como conservador do MNAA (decreto de dia 30) 1919 - Faianças e tapeçarias. Dissertações de concurso ao lugar de conservador do Museu Nacional de Arte Antiga. Elvas: Typographia e Stereotypia... de Antonio Jose Torres de Carvalho; - Tratado da cidade de Portalegre e de suas antiguidades e fundação, bispos que nela residiram, e outras antigualhas, e curiosidades / feito pello padre Diogo Pereira Sotto Maior... dirigido a Dom Rodrigo da Cunha, Bispo de Portalegre, &. &. ; agora dado á luz, pela primeira vez. Elvas: Offs. de Antonio Jose Torres de Carvalho (pref. De Luís Keil) 1928 A tapeçaria de D. João de Castro. Lisboa: Centro Tipografico Colonial 1931 “Une pièce de Céramique des Mings avec une inscription en portugais datée de 1541”. La Revue de l’Art. Vol. LX, n.º 329, p. 1931 1933 Jorge Álvares: o primeiro português que foi à China (1513). Lisboa: [s.n.] 1934 As assinaturas de Vasco da Gama: uma falsa assinatura do navegador português. Lisboa [s.n.] 1938 - Conservador adstrito do Museu Nacional dos Coches (despacho de 26.05); - Participa na 2.ª sessão do I Congresso da História da Expansão

39 O grosso da documentação oficial sobre as provas e a nomeação encontra-se transcrito em Faianças e tapeçarias. Dissertações de concurso ao lugar de conservador do Museu Nacional de Arte Antiga. Elvas: Typographia e Stereotypia... de Antonio Jose Torres de Carvalho, 1919, pp. I-III.

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Portuguesa no Mundo com comunicação sobre 2 Alguns exemplos da influência portuguesa em obras de arte indianas do século XVI” 1938 - Alguns exemplos da influência portuguesa em obras de arte indianas do século XVI. Sep do Primeiro Congresso da História da Expansão Portuguesa no Mundo – 2ª secção. Lisboa: Sociedade Nacional de Tipografia; - “Influência artística portuguesa no Oriente: três cofres de marfim indianos do século XVI”. Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. N.º 3, pp. 39-43; - “A faiança de Hamburgo e as suas analogias com a cerâmica portuguesa do século XVII”. Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. N.º 3, pp. 44-47; - “A espada e o relicário do Condestável D. Pedro, filho do Regente”. Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. N.º 3, pp. 58-61. 1939 “Os quadros do altar-mór da Sé de Évora”. Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. N.º 5, pp. 45-6 1940 - Exposição da ourivesaria portuguesa dos séculos XII a XVII. Catálogo-guia (com Vergílio Ferreira e Aarão de Lacerda). Coimbra/Lisboa: Bertrand; - “Uma ficha do inventário artístico de Portugal”. Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. N.º 6, pp. 37-43; - “A Arte Portuguesa e a Arte Oriental”. In Congresso do Mundo Português: Memórias e comunicações apresentadas ao Congresso de História dos Descobrimentos e Colonização (III Congresso). III Seccção: Consequências dos Descobrimentos. Lisboa: Comissão Executiva dos Centenários, Vol. 5, tomo 3, pp. 159-72 1941 “O paramento inglês da Sé de Portalegre”. Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. N.º 9, pp. 20-8 1942 - “Porcelanas chinesas do século XVI com inscrições em português. As escudelas de Pero de Faria, 1541. A garrafa de Jorge Anriques, 1557”. Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. N.º 10, pp. 18- 69; - Luís Keil, Gustavo de Matos Sequeira e Luís Ortigão Burnay (com.

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org.) – Personagens portuguesas do século XVII: exposição de arte e iconografia (catálogo). Lisboa: [Academia Nacional de Belas Artes] 1943 Director do Museu Nacional dos Coches (21.12) 1943 “Algumas considerações históricas e artísticas ácerca dos coches e do seu Museu: origens, ampliações, restauros”. Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. N.º 12, pp. 36-55; - Catálogo do Museu Nacional dos Côches. Lisboa: Bertrand 1944 Palavras proferidas na inauguração das novas instalações do Museu Nacional dos Côches, em 29 de Abril de 1944. Lisboa: Bertrand 1945 “Um retábulo de Hans Daucher, executado em 1520 para a rainha D. Leonor, mulher de D. Manuel”. Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. N.º 14, pp. 41-7; - “Alguns dados para a biografia de Pierre-Léonard Mergoux, fundador da fábrica de tapeçarias de Tavira”. Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. N.º 14, pp. 55-60 1946 “Os retratos de personagens portuguesas da colecção do arquiduque Fernando do Tirol”. Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. N.º 15, pp. 18-22; - “Uma notável bordadora portuguesa”. Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. N.º 15, pp. 42-6 1947 Exposição de faianças artísticas portuguesas e de ferros artísticos (com Sebastião Pessanha). Lisboa: Imp. Barreiro 1947 (17.10) Morre em Lisboa 1948 Alice Correia apresenta faianças artísticas portuguesas e ferros artísticos. (com A. Nogueira Gonçalves e Sebastião Pessanha). Coimbra: Imp. de Coimbra [1949] Luís Keil – Les tapisseries de Flandre au Portugal pendant les XVe et XVIe siècles. Sep. Miscellanea Leo van Puyvelde. Bruxelles, [1949], pp. 309-311.

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II.3 – Biografia de Bernardo Ferrão

Bernardo Ferrão de Tavares e Távora (1913-1982)40

Nasceu no dia 17 de Abril de 1913 († 23.12.1982) em Guimarães, concretamente no ancestral solar de família, a Casa do Costeado, e era filho de D. José Ferrão (1882- 1964) e de Dona Maria José Lobo Ferrão (1892-1964).

Aprendeu com os jesuítas do Colégio de La Guardia na Galiza e concluiu os estudos superiores na Faculdade de Engenharia do Porto, licenciando-se em engenharia civil (1938). Funcionário da Direcção Hidráulica do Douro até 1948, deixou o serviço público para fundar e gerir uma empresa de construção civil, tendo inclusive publicado inúmeros trabalhos nessa área41.

Bernardo Ferrão revelou desde tenra idade uma enorme apetência para o estudo e um gosto particular pela arte. Gosto este que alimentava, considerando-se um “simples, mas interessado, amador de arte” que, todavia, escrevia e publicava os seus trabalhos42. Possivelmente, os escrúpulos profissionais não o deixariam assumir outra coisa, mas a verdade é que dificilmente poderia ter escapado ao desenvolvimento de um olhar atento sobre os objectos artísticos, face ao ambiente familiar e social em que

40 Esta biografia, quando não assinalado em contrário, foi escrita com base em Oliveira, Manuel Alves de – “Engenheiro D. Bernardo Ferrão”. Boletim de Trabalhos Históricos. Guimarães. Vol. XXXIV, 1983, pp. 109-11. Refira-se que este texto tem algumas imprecisões, designadamente no dia natalício de Bernardo Ferrão (que, segundo o próprio, seria o dia 17 e não 14 de Abril) e nos apelidos dos parentes directos. Ver Távora, Bernardo Ferrão de Tavares e – “O Costeado, a sua gente e os jarrões da «menina» assassinada”. Gil Vicente. Guimarães. 2.ª série. Vol. XXIV. Ns. 7-8, Julho-Agosto 1973, pp. 137-60 [152 e 151]. Este artigo informa-nos ainda da história e genealogia de herança da casa até chegar a pertença de Bernardo Ferrão. O registo memorialista do texto é ainda visível na transmissão de testemunho aos nove filhos, do casamento com Dona Isabel Maria de Vilas Boas Queirós Montenegro, a quem “compete assegurar, sem deslustre, a continuidade tradicional da Casa do Costeado” (p. 152), e na descrição do edifício e arrolamento dos objectos artísticos que completavam o seu recheio, publicando inclusive fotografias. Bernardo Ferrão tinha um grande orgulho em ser vimaranense “por nascimento, pelo sangue – que não enjeit[ava] – por inato sentido de tradição e da portugalidade, pela forma de estar na vida e maneira de ser”, Távora, Bernardo Ferrão de Tavares e – Elementos para o estudo histórico-iconográfico da imagem de “Santa Maria de Guimarães”. Sep. vol. IV das Actas do Congresso Histórico de Guimarães e sua Colegiada, 1981, pp. 299-335 [299]. 41 Foi, por exemplo, o autor do projecto da estrada marginal do rio Douro, a montante da ponte D. Luís, do muro de suporte da marginal do mesmo rio, a montante da ponte da Arrábida, e do túnel urbano da Ribeira. Foi, ainda, um dos precursores na utilização de pavimentos betuminosos, e publicou, também, várias colectâneas de legislação. Ver Oliveira, Manuel Alves de – “Engenheiro D. Bernardo Ferrão”, p. 109. 42 Ferrão, Bernardo – “Imaginária de marfim Indo, Singalo, Sino, e Nipo-Portuguesa”. MVSEV. Porto. 2.ª série. N.º 11, 1967-1969, pp. 9-26 [9]. Refira-se que este texto está datado pelo autor de Julho de 1969.

53 nasceu e em que se movia. Bernardo Ferrão era o filho varão dos Tavares e Távora, irmão de Fernando Távora (um dos mais importantes arquitectos da escola do Porto, mestre, por exemplo, de Álvaro Siza e Eduardo Souto Moura) e herdeiro de uma casa recheada de peças artísticas ancestrais43. Os seus gostos – a arte, as antiguidades, a caça, o convívio ilustrado – denunciavam uma formação de elite.

O seu nascimento e o meio social do Porto para onde se mudou quando ingressou na Universidade proporcionavam-lhe um convívio erudito que foi estimulado através da conjugação de interesses intelectuais e artísticos: Ruben Andresen Leitão (1920-1975; a quem, como escreveu, o “[unia] o Porto, onde, viv[iam], e relações familiares, (…): o amor por tudo quanto o nosso génio artístico criou na maravilhosa sumptuária nacional e uma paixão absorvente pela faiança portuguesa”44), Maria Emília do Amaral Teixeira (conservadora de museu), Flávio Gonçalves (1929-1987; historiador de arte e professor universitário;), António Lencastre e Eduardo Rangel (antiquários). Ou, noutras cidades, Santos Simões (1907-1972), Robert Smith (1912- 1975), Luís Reis Santos (1898-1967)45. E, por fim, na Guimarães natal onde manteve uma série de contactos e ligações próximas, sendo o próprio a nomear o rol de amigos e intelectuais com quem privava: Alfredo Guimarães, Alfredo Pimenta, Alberto Vieira Braga, A. L. de Carvalho, o escultor António de Azevedo, Eduardo e Jerónimo de Almeida, o Pe. Gaspar Roriz, Manuel Alves de Oliveira, Duarte Amaral46.

Era também um homem sensível que estaria atento ao panorama editorial nacional e internacional. No arrolamento da sua biblioteca na casa da Foz do Douro (feito no Verão de 2011) estão descriminados quase seiscentos títulos que abarcam temas variados mas onde a presença da escultura e da cerâmica é notória47; estranhamente, não constam dessa lista alguns dos títulos estrangeiros que seriam

43 Távora, Bernardo Ferrão de Tavares e – “O Costeado”, p. 138-9. 44 Távora, Bernardo Ferrão de Tavares e – “O significado iconográfico e mítico dos Bons Pastores indo- portugueses”. In In Memoriam Ruben Andresen Leitão. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1981, vol. II, pp. 147-53 [147]. 45 Excluindo Luís Reis Santos, todos foram mencionados como referências no boletim de inscrição a uma bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian (daqui em diante FCG) em 1969 (tendo Flávio Gonçalves e Santos Simões escrito cartas de recomendação), Fundação Calouste Gulbenkian – Biblioteca de Arte, Lisboa, Arquivo do Serviço de Belas-Artes (daqui em diante FCG – BA, ASBA), Bolsas de Estudo para Estagiários de Especialização e Investigação no País e no Estrangeiro, Ferrão (Eng.º Bernardo), n.º 2049: Boletim de inscrição, Lisboa, 1969, 26 de Março. 46 Távora, Bernardo Ferrão de Tavares e – Elementos para o estudo histórico-iconográfico, p. 300. 47 Um agradecimento público é devido desde já aos filhos do Engenheiro Bernardo Ferrão que me receberam, me facultaram informação e me permitiram o generoso acesso ao espólio de seu pai; e, particularmente, a António Ferrão, que serviu de interlocutor, e a quem entrevistei no dia 10 de Fevereiro de 2012. Agradeço ainda, por me ter facilitado o contacto inicial com a família Ferrão, a Álvaro Sequeira Pinto. Sem eles esta biografia não seria possível.

54 expectáveis face à rapidez da sua utilização por parte do investigador na escrita dos artigos48. É possível assim que a tertúlia que mantinha diariamente com amigos e antiquários do Porto, designadamente, os já referidos António Lencastre e Eduardo Rangel, servisse também para a troca de livros e a actualização de ideias.

A partir de altura que não consegui precisar, passou igualmente a frequentar congressos e simpósios onde apresentava o fruto do seu trabalho, construindo, também, um grupo de amizades relacionadas com o estudo da arte em Portugal – entre estes, contava-se Robert Smith, o importante historiador americano do barroco brasileiro e português, que lhe cedeu fotografias para ilustrar alguns dos seus artigos49 – e aproveitando as (não muitas) viagens (quer no território nacional quer no estrangeiro) para visitar e fazer pesquisa em museus.

Foi no final da década de 60 do século XX que começou a publicar artigos sobre arte. Era um trabalhador dedicado, apaixonado pelas artes decorativas e, em particular, pela faiança (da qual reuniu uma vastíssima colecção de exemplares provenientes das Fábricas de Viana e do Rato, e designadamente, uma muito estimada colecção de paliteiros), pelo mobiliário e pela escultura, onde se englobava a predilecção pelo “luso- oriental”. Ironicamente, a grave e debilitante doença que o acometeu desde início da década de 1970 ter-lhe-á reservado mais tempo para essa actividade já que se viu progressivamente incapacitado para o desempenho das funções profissionais50.

48 Por exemplo, o título de Philip Rawson, Indian Sculpture [London/New York: Studio Vista/Dutton, 1966]. Registe-se, todavia, que na mesma constam obras como as de Heinrich Robert Zimmer, The Art of Indian Asia, its Mythology and Transformations (na versão inglesa editada em [New York]: Pantheon Books, [1955]. 1890-1943; indiólogo e historiador de arte de origem alemã. Detido pelos nazis em 1938, refugiou-se em Inglaterra onde permaneceu até 1942, altura em que aceitou um cargo de professor na Universidade de Columbia nos Estados Unidos), a de William Fagg, Afro-Portuguese Ivories (1959), a de René Grousset, L’Inde (1930. 1885-1952, historiador francês especialista na Ásia) ou de Yoshitomo Okamoto, The Namban Art of Japan (New York/Tokyo: Weatherhill/Heibonsha, 1972), entre outros. Note-se ainda que nesta lista consta o título de Maria Madalena de Cagigal e Silva, A Arte Indo- Portuguesa, num rol onde pontuam também obras de Santos Simões, Reinaldo dos Santos, Roberth Smith, Luís Reis Santos, Maria Helena Mendes Pinto, e outros autores consagrados da história da arte em Portugal. E, ainda, livros como Velha Goa e Seus Monumentos: Breve memória histórica dos seus actuais edifícios religiosos e civis. Para os visitantes da Velha Cidade de Caetano Gracias (1922) ou os inventários artísticos da Academia Nacional de Belas Artes. 49 E a quem Bernardo Ferrão oferecia os textos que ia editando, sempre com dedicatória. Este espólio encontra-se hoje na FCG – BA, formando o conjunto mais completo das publicações do autor disponível em bibliotecas. 50 Ainda que excessivamente modesto, uma vez que começara realmente a escrever sobre arte bem mais cedo, Bernardo Ferrão admitia em Dezembro de 1978 que “Só agora, porém, quando o tempo me foge diante do sonho e circunstâncias penosas ligadas à saúde e à profissão alteraram o ritmo da minha vida, pude pensar em dedicar-me à investigação e estudo da Arte, cujo interesse dentro de mim crescera, lentamente, como uma velha árvore, da semente lançada por tão ilustres varões.”, Távora, Bernardo Ferrão de Tavares e – Elementos para o estudo histórico-iconográfico, p. 300.

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Bernardo Ferrão, cujo primeiro motivo de interesse coleccionador foi de facto a faiança portuguesa, e que como vimos também se dedicou longamente ao estudo do mobiliário, começou tarde, com 54 anos, a escrever sobre marfins produzidos em territórios não-europeus e, aparentemente, de forma pouco programada. Com efeito, o seu primeiro artigo surgiu na revista Colóquio. Artes e Letras em Abril de 1967 numa rubrica chamada “Notas sobre a arte inddo-portuguesa”.

A Colóquio. Artes e Letras foi um título de referência no panorama editorial português. Paga integralmente pela FCG, foi criada em 1959 por José de Azeredo Perdigão (1896-1993; presidente do Conselho de Administração da Fundação entre 1955 e 1993), Reinaldo dos Santos e Hernâni Cidade (1887-1975), que também dirigiam o título (na vertente artística, o primeiro, e na literária, o segundo). A revista era, no que às artes dizia respeito, uma publicação com preocupações de “carácter histórico” ainda que incluísse informação sobre arte contemporânea51. A sua índole genérica fora enunciada desde a criação, nas palavras de Perdigão, que a pretendia capaz de “interessar o público ledor, tanto no movimento artístico e literário nacional, como nas grandes correntes e problemas da cultura estrangeira” procurando-se “oferecer sínteses claras, quanto possível variadas, de quanto constitui um aspecto notável da actividade literária e artística e possa estimular nos seus leitores o enriquecimento do espírito e o apuramento do gosto”52. A revista, que era distribuída gratuitamente por museus, arquivos e universidades nacionais e internacionais, permitia, por conseguinte, uma ampla divulgação dos textos dos autores publicados.

Qual a razão para a criação de uma rubrica sobre arte indo-portuguesa no já consolidado título editado pela FCG? Tratar-se-ia de uma mera diversificação de assuntos – uma vez que por esta altura as polémicas de finais da década de 50 sobre o que deveria ser o conteúdo da revista já tinham sido diluídas na espuma dos dias –, uma consequência indirecta do lançamento do livro de Madalena de Cagigal e Silva sobre arte indo-portuguesa ou um uma nova demonstração de força face à perda dos territórios indianos em 1961?

51 Alves, Margarida Brito – A revista Colóquio. Artes. Lisboa: Edições Colibri, 2007, p. 37 e p. 17 e Perdigão, José de Azeredo – “Reynaldo dos Santos e o «Colóquio»”. Colóquio. Artes e Letras. Lisboa. N.º 59, Junho, 1970, p. 5. 52 Ver José de Azeredo Perdigão – Relatório do Presidente. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1961, p. 162 cit. in Alves, Margarida Brito – A revista Colóquio. Artes, p. 37.

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Por outro lado, até que ponto terá sido a relação entre Reinaldo dos Santos e Bernardo Ferrão a determiná-lo? Segundo os filhos do último, esta não era uma relação de proximidade, além de que Ferrão se movia em círculos completamente diferente, numa geografia de “reclusão” imposta por viver e a trabalhar no Porto, com pouca possibilidade de se deslocar devido à doença e, de alguma forma, colocado à margem pelas circunstâncias da sua formação académica e profissional, que não era nem na área das Humanísticas nem da museologia.

Sabe-se que era admirador do labor documental e arrolador de Sousa Viterbo, Santos Simões, Flávio Gonçalves e, igualmente, de Reinaldo dos Santos, enfatizando o papel dos amadores (que era também o seu) com os quais se podia contar “em tarefas de inventariação, para as quais est[ivesse]m naturalmente preparados não só por inclinação, intuição, cultura artística, entusiasmo e dedicação, mas ainda por disfrutarem de preciosa rede de ligação com coleccionadores, antiquários, restauradores ou simples detentores de herdadas preciosidades, méritos e vantagens que, não raro, escasseiam nos oficiais do ofício, cuja preparação e actividade intelectual se têm de dispersar em tarefas comezinhas, ou limitar pelos cuidados e necessidades absorventes de sobrevivência que as circunstâncias lhes impõem”53.

De igual modo, a profusa epistolária que alimentava era em Ferrão, também, um método.

Reinaldo dos Santos faria parte do seu círculo de conhecidos e tê-lo-á convidado para escrever na Colóquio. Artes e Letras sobre arte “indo-portuguesa” numa altura em que “as dolorosas condições em que viv[ia] a Índia Portuguesa alarga[v]am ao âmbito

53 Ferrão, Bernardo – “Imaginária de marfim Indo”, p. 12. Não consegui reunir informação documental que esclarecesse cabalmente esta relação. O arquivo da Casa-Museu Reinaldo dos Santos e Irene Quilhó na Parede dispõe de vários documentos relacionados com a revista Colóquio, todavia, encontra-se em tratamento e não foi possível localizar qualquer informação directamente relacionada com Bernardo Ferrão. Note-se que o facto de ter sido escolhido para director da Comissão Executiva da Exposição de Ambientes Portugueses dos séculos XVI a XVIII (que se realizou no Porto em 1969) logo em 1967, não deve ser alheio a esta relação. Por outro lado, já sobre o fim da colaboração com a revista Colóquio, foi o próprio autor a elucidar-nos: “Eu próprio esquecera, entre a papelada, um artigo sobre a cama, destinado à série de notas sobre a arte indo-portuguesa que ía publicando na revista «Colóquio», pois não tendo sido redigido com o propósito de levantar problemas estéticos e sociológicos postos no quadro histórico da dita arte pela existência e tipo do móvel em causa, deixara, entretanto, de poder integrar-se dentro da nova orientação que foi dada à revista.”, ver Távora, Bernardo Ferrão de Tavares e – A propósito duma “cama imperial” dos Marqueses de Cadaval. Sep. Gil Vicente. 2.ª s. Vol. XXIII. Ns. 11-12, Novembro-Dezembro 1972, pp. 9-29 [10 e 11]. Ou seja, com a mudança na direcção da revista e a alteração da linha editorial (em Fevereiro de 1971, quando se iniciou a edição da Colóquio. Artes sob a direcção de José-Augusto França), os artigos de Bernardo Ferrão haviam deixado de fazer sentido.

57 do grande público o interesse pelo estudo da sua arte”54. Seis anos depois da integração do estado de Goa na República da Índia, portanto, não se furtando a um posicionamento de índole política que era partilhado com o director da revista.

Na curta introdução que antecedia o título-tema do seu artigo, Bernardo Ferrão fornece-nos algumas pistas. Escrevia então que os mais “fecundos e cultos” historiadores e críticos de arte portugueses se haviam dedicado desde há muito à arte indo-portuguesa. Recuando aos trabalhos de Joaquim de Vasconcelos, mencionava um “recrudescimento” do tema do qual era prova “os meritórios trabalhos devidos a investigadores e bolseiros nacionais”55.

Esta afirmação de Bernardo Ferrão mostra bem como estava informado e a par do panorama da investigação científica e museológica nacional, pronunciando-se sobre o mesmo: “nota-se, porém, (não falando já na escassez verificada da colheita de dados históricos e na quase ausência de sistematização e atribuição regional das peças) que mesmo nos trabalhos de certo fôlego não são tratados, ou são-no muito modestamente, alguns dos ramos mais interessantes da arte indo-portuguesa. (…) É de crer que o facto se deva menos ao desinteresse dos estudiosos do que à dispersão dos elementos de estudo, sabido que muitas peças indo-portuguesas, algumas reconhecidamente fundamentais, se encontram em mãos de particulares nacionais e estrangeiros e são, por isso, mal conhecidas”56. E, ainda que de forma tímida e cuidadosa (apresentando razões para a ausência dos estudos de síntese, salientando a importância das colecções particulares, preocupando-se essencialmente com a escultura), a realidade é que nestas frases estão já condensadas as grandes propostas programática do trabalho levado a cabo por Ferrão: a “sempre trabalhosa tarefa da inventariação e colheita de elementos- base”57.

54 Ferrão, Bernardo – “Notas sobre a arte indo-portuguesa: 1 – Cinco imagens indo-portuguesas de virgens «em majestade»”. Colóquio. Artes e Letras. N.º 43, Abril 1967, pp. 26-31 [26]. Nos seus textos é recorrente o uso da expressão “nossa Índia”. 55 Idem, p. 26. O que igualmente atesta a hipótese que atrás coloquei de que o convite a Ferrão para escrever na Colóquio tivesse também a ver com a publicação da obra monográfica de Madalena de Cagigal e Silva. 56 Ibidem, p. 26. 57 Ver Ferrão, Bernardo – “Imaginária de marfim Indo”, p. 9. 1969, o ano em que começou a colaborar com a Colóquio, foi também aquele em que Bernardo Ferrão pediu uma bolsa à FCG para fazer o “Inventário da imaginária luso-oriental” (FCG – BA, ASBA, Bolsas de Estudo para Estagiários de Especialização e Investigação no País e no Estrangeiro, Ferrão [Eng.º Bernardo], n.º 2049: Boletim de inscrição, [Lisboa], 1969, 26 de Março) que foi recusada por ser “desejo da Fundação (…) que o estudo em causa fosse levado a efeito em condições diferentes das solicitadas”. Condições essas que se encontravam ainda em estudo no Serviço de Belas-Artes quando o engenheiro foi

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Como atrás ficou implícito, Bernardo Ferrão era um leitor compulsivo e interessado que reuniu uma biblioteca com centenas de exemplares. Para além de uma sólida formação no campo da arte portuguesa em particular, e ibérica em geral, leu os autores consagrados (quase todos franceses), sabia latim, francês bem, e inglês e italiano “razoavelmente”58. As leituras não se resumiam à arte, história e culturas europeias, procurando igualmente saber factos e interpretações da história, cultura e religião indianas; a prová-lo está a bibliografia que citava nos artigos que escreveu59.

Bernardo Ferrão tinha ainda uma excelente rede pessoal de contactos que lhe permitiu conhecer (talvez como mais ninguém) as preciosas colecções de arte indo- portuguesa reunidas, maioritariamente, acima do Rio Mondego. Isto não quer dizer que não conhecesse as de Lisboa e designadamente a de Ernesto de Vilhena que considerava notável e à qual se referiu por mais de uma vez60. Consciente da sua vantagem, o autor, que também dominava o mundo das velharias e antiquários, colocava nela, não o fundamento para um qualquer benefício privado mas antes, uma certa mágoa pela existência de “algum menosprezo por peças das colecções particulares que, embora de nível reduzido relativamente às obras primas colectadas, sempre serão indispensáveis

avisado por carta datada de 17 de Setembro de 1969 (e cuja referência se encontra no mesmo processo), pelo que houve troca de correspondência entre o organismo e o interessado (ver anexo documental, n.º I.19). Com efeito, desde cedo que se percebe que a intenção era alargar o projecto às colecções estrangeiras. Em 27 de Março de 1970 Bernardo Ferrão faria novo pedido pretendendo “proceder à inventariação sistemática da imaginária indo-portuguesa nos museus, colecções particulares e pertencentes a entidades civis e religiosas, em Portugal e no estrangeiro, com vista à constituição de um «corpus» que permita a publicação de monografias, no decorrer da mesma, e dum trabalho final ou parcelar de síntese.”, conforme se lê em FCG – BA, ASBA, Bolsas de Estudo para Estagiários de Especialização e Investigação no País e no Estrangeiro, Ferrão (Eng.º Bernardo), n.º 2049: Boletim de inscrição, [Lisboa], 1970, 27 de Março. 58 Conforme consta em FCG – BA, ASBA, Bolsas de Estudo para Estagiários de Especialização e Investigação no País e no Estrangeiro, Ferrão (Eng.º Bernardo), n.º 2049: Boletim de inscrição, Lisboa, 1969, 26 de Março; no ano seguinte, em igual boletim de inscrição datado de 27 de Março de 1970, acrescentaria o espanhol que, aliás, e como já se viu aprendeu na infância durante os estudos na Galiza. 59 Veja-se por exemplo as referências bibliográficas em Ferrão, Bernardo – “Notas sobre a arte indo- portuguesa: Uma «Árvore de Jessé» de marfim, do séc. XVII”. Colóquio. N.º 48, Abril 1968, pp. 25-32 [31-2]. 60 Entre outras menções, quando se insurge contra a “tragédia no desfazer das grandes colecções de arte”, (Ferrão, Bernardo – “Imaginária indo-portuguesa de marfim”. Panorama. 4.ª s. N.º 32, Dezembro 1969, pp. 76-83 [77]) ou referindo-se à qualidade e quantidade de peças “indo-portuguesas” da colecção: “só na impenetrável colecção do falecido Comandante Ernesto de Vilhena existia um importante núcleo de peças singalo-portuguesas” (Ferrão, Bernardo – “Imaginária de marfim Indo”, p. 17). Ainda sobre a chamada “colecção Vilhena”, encontra-se em preparação uma tese de doutoramento a ser defendida na Universidade Nova de Lisboa em 2014 da autoria de Maria João Vilhena de Carvalho intitulada “A colecção de escultura do Comandante Ernesto Vilhena; A constituição de uma colecção nacional”, e na qual se aguardam novidades sobre este assunto.

59 como base dos estudos gerais, ainda por fazer, de grande parte dos ramos das nossas artes decorativas”61.

Com efeito, Ferrão era crítico de “tantos amadores mais ou menos endinheirados e cobiçoso interesse de outros tantos negociantes”62. Demonstrando o seu mal-estar, era incisivo na forma como admoestava, por um lado, “leilões e antiquários (encartados ou não) [que] foram alegremente dispersando, nos últimos anos, pelos ávidos coleccionadores espanhóis e brasileiros, centenas de espécimes do maior interesse, enquanto os grande museus londrinos, franceses, alemães e italianos adquiriram, com oportunidade e consciência incontestáveis, aqueles que consideravam elementos fundamentais à história das relações artísticas da Europa com o Oriente, que, parece, a nós de sobremaneira deveria interessar” e, por outro, os “novos-ricos que agora compr[ava]m por qualquer preço, mas a coberto dum anonimato pelintra que imped[ia] ulterior detecção e estudo.” 63. As suas palavras não poderiam ser mais eloquentes.

Bernardo Ferrão só entendia o coleccionar e não o acumular. E, por isso, estudou, descreveu, escreveu sobre e fotografou todas as peças que pode. Não que desdenhasse a actividade da “caça de antiguidades”, como se lhe referiu; mas essa caça (palavra que não tinha um conteúdo necessariamente depreciativo, não esqueçamos que o estudioso era um entusiasta praticante da caça às aves) era feita de acordo com as regras, o bom gosto e o bom senso de uma actividade que preenchia necessidades lúdicas e culturais. Situando em 1963 a sua “idade de ouro” de procura de antiguidades pela província, expunha o seu empenho e programa no assumir sem receio da emoção que lhe provocava a descoberta nos bricabraques e armazéns de velharias: ficara

61 Ferrão, Bernardo – “Imaginária de marfim Indo”, p. 12. Um pouco mais à frente neste mesmo texto, Ferrão acabaria por se contradizer: “E contudo toda a gente sabe que, no tocante a marfins luso-orientais, eles [os museus nacionais] se encontram pràticamente desguarnecidos de imagens com real interesse.” (p. 17). A contradição explica-se pela posição de combate constante na salvaguarda do património em geral, e do indo-português em particular. Por um lado, revelava um certo cuidado na forma como expunha as ideias, por outro mostrava incapacidade para perceber a posição do Estado português perante a venda inopinada (mas, sobretudo, o não arrolamento e estudo, como adiante veremos) das peças da colecção que não integraram os fundos do Museu Nacional de Arte Antiga (daqui em diante MNAA). No mesmo ano, 1969, reforçaria noutro texto igual ideia: “Nem se pense, sequer, no tocante a imagens indo-portuguesas de real valor, sejam ricos os fundos dos nossos museus”, Ferrão, Bernardo – “Imaginária indo- portuguesa”, p. 79. 62 Idem, p. 77; “Pensa-se quanta dedicação, persistência e cultura foram precisas para acumular, peça a peça [referindo-se à “colecção Vilhena”], durante uma vida, tanta riqueza artística, nos tempos em que menos valia o dinheiro do que a antevisão esclarecida da sua raridade e valor, meritória porque então era geral a abundância das espécies e sistemático o desinteresse do público.”, ibidem. 63 Ibidem, p. 79 e 78.

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“siderado” perante a descoberta, por exemplo, de uma “cama imperial” indo- portuguesa64.

De resto, e como já vimos, Bernardo Ferrão era também crítico quanto às condições e ao desempenho dos museus bem como à política que os dirigia (ou pelo menos, que os justificava65). Referia-se aos “méritos e vantagens que, não raro, escasse[av]am nos oficiais do ofício” e a “uma apatia da acção artística e cultural dos nossos museus, defraudados inglòriamente nos seus meios aquisitivos normais, nas dotações especiais, – que cada vez se tornariam mais necessárias – e, o que é pior, nos próprios corpos directivos e de conservação, por razões de sobejo conhecidas. E o problema [era] tão agudo que causaria pasmo e preocupação aos interessados, conhecer- se o número relevante de vagas por preencher naqueles corpos”. Considerava, genericamente, que havia que congregar esforços de todos os interessados (técnicos/as, estudiosos/as, colecionadores/as e “amadores de arte”) no sentido de ultrapassar o “estado letárgico” em que se encontravam os museus, “túmulos de preciosidades expostas, ou inutilmente armazenadas nas arrecadações” 66, e que o Estado descurava comummente o património artístico e, em particular, o de origem “indo-portuguesa”67.

A sua angústia fundamentava-se no profundo conhecimento que detinha do funcionamento do mercado de arte e, por isso, “tem[ia] que [as peças] [fossem] parar ao estrangeiro”, ao mesmo tempo que expressava o desalento pelo esboroar do “velho sonho da instalação dum museu das artes luso-orientais que recolhesse o que est[ava] disperso pelas colecções de entidades públicas e do Estado (tanta vez jazendo nas

64 Citações e referência em Távora, Bernardo Ferrão de Tavares e – A propósito duma “cama imperial”, p. 9. 65 “A situação tem razões fundas que não são, creio, apenas circunstânciais, pelo que não se compadecem com panaceias nem com retórica fácil” (Ferrão, Bernardo – “Imaginária de marfim Indo”, p. 13), ou ainda, “Isto num país em que tal [o arrolamento de peças artísticas] tem sucedido aos mais incríveis e díspares objectos de época, raridade e valor ultra-duvidoso, que as laudas do «Diário do Governo» displicentemente promovem ao interesse público, não raro com descrição e justificação perfeitamente pitoresca, para não dizer anedóticas!”, Távora, Bernardo Ferrão de Tavares e – A propósito duma “cama imperial”, p. 10. 66 Todas as citações em Ferrão, Bernardo – “Imaginária de marfim Indo”, pp. 12 e 13. 67 “São do conhecimento público a aquisição, ultimamente feita pelo Estado, de grande parte das imagens de madeira e pedra da colecção Vilhena (oportunamente expostas em Lisboa), e a inventariação de que foi objecto, com fins de arrolamento das espécies julgadas de interesse para o património artístico nacional. Desconhecemos os resultados deste procedimento, mas no leilões realizados, e no tocante à referida imaginária de marfim indo-portuguesa, não se tomou conhecimento de que o Estado tivesse arrolado qualquer dos raros exemplares vendidos, ou optado pela sua aquisição na praça.”, Ferrão, Bernardo – “Imaginária indo-portuguesa”, p. 77, ou ainda, “e nem sequer mereceu a graça do arrolamento pelas entidades responsáveis pela defesa do nosso património artístico [a propósito da “cama imperial” da antiga colecção Cadaval]”, Távora, Bernardo Ferrão de Tavares e – A propósito duma “cama imperial”, p. 10.

61 arrecadações), promovesse doações e depósitos dos particulares, e estivesse atento às vendas que cá e no estrangeiro se fossem realizando, [que] parec[ia] não mais se objectivar”68.

Pese embora estas considerações, Ferrão comissariou pelo menos duas exposições que, igualmente, sintetizavam as suas duas grandes paixões: o mobiliário (e os “ambientes”) e a escultura.

A Exposição de Ambientes Portugueses foi um episódio relevante na vida cultural da cidade do Porto e pessoalmente gratificante para Bernardo Ferrão. Por um lado, o estudioso teve oportunidade de comissariar um evento museológico do princípio ao fim – e mostrar que se poderia alterar o “clima de marasmo” que se vivia nos museus nacionais –, por outro, deixou-nos um testemunho muito interessante da forma como pensava o trabalho que levava a cabo. Realizada com a colaboração museográfica do irmão Fernando Távora, esta exposição merece um estudo mais aprofundado.

Em poucas palavras, pretendia-se recriar os ambientes históricos de diferentes épocas e temáticas, fazendo para tal um trabalho de pesquisa demorado e encenação superlativa dos objectos. Note-se que não obstante o propósito e especificidade que estava por trás desta construção, a recriação de ambientes era ainda o modelo seguido em muitas instituições museológicas de forma mais perene e sem o conforto acolhedor de algumas das salas que a exposição permitiu reviver69.

A exibição esteve patente ao público durante vinte e três dias e recebeu cerca de 11 000 visitantes “com grande percentagem de professores, alunos e pessoas normalmente afastadas de manifestações artísticas”. O interesse do público pode reconhecer-se no facto de se terem vendido em duas semanas as 1 300 cópias do catálogo da exposição “cujo preço não era, pròpriamente, acessível a todas as bolsas” 70, os 700 exemplares do roteiro e uma série de objectos do que hoje se chamaria merchandising associado à realização da exposição.

Este aspecto é particularmente interessante por revelar a actualização e a concepção bastante moderna (e pouco usual nos meios museológicos nacionais coevos) do tipo de comunicação que facilita a mediação em e de uma exposição. Com efeito, e

68 Ferrão, Bernardo – “Imaginária indo-portuguesa”, p. 78. 69 Veja-se a título meramente de exemplo a exposição temporária realizada no MNAA em 1979 e dedicada às “Artes decorativas portuguesas” de que existem inúmeras fotografias em Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Arquivo Fotográfico: Artes decorativas portuguesas, aspectos. 70 Ferrão, Bernardo – “Imaginária de marfim Indo”, p. 13.

62 como se acabou de ler, o autor construiu dois instrumentos de análise da exposição (colocados à venda durante a realização da mesma): um catálogo e um roteiro71.

Seis anos mais tarde, Ferrão realizaria no MNAA uma exposição sobre escultura de Malines, em estreita colaboração com Sérgio Guimarães de Andrade (que assinou a folha de abertura). Conforme nos diz na mesma, fora “solicitada a colaboração do Eng.º Bernardo Ferrão, então em trabalho de inventariação das mesmas imagens existentes em Portugal, a fim de elaborar o presente estudo”72. Ou seja, fosse na escultura flamenga fosse na indo-portuguesa, a proposta de Bernardo Ferrão era a mesma: inventariar, estudar, apresentar.

Aliás, era também o que se propunha fazer nos móveis. Trabalhador incansável, (segundo os filhos) tiraria do prazer que lhe dava tratar das coisas de que gostava, a força que o corpo já não tinha. Quando morreu, entre inúmeros outros trabalhos que permanecem desconhecidos e mereciam maior atenção, preparava a obra monumental sobre mobiliário (Mobiliário Português. Dos primórdios ao maneirismo. Porto: Lello & Irmão, Editores) saída postumamente com edição elaborada pelos filhos. Nas palavras de Pedro Moura Carvalho, que dedicou uma tese de doutoramento pioneira no panorama nacional à história do mobiliário indo-português, aquele ainda era “currently the most relevant and considered work on the subject”73.

Cronologia

Data Acontecimento 1913 (17.04) Nasceu em Guimarães 1938 Licenciou-se em engenharia civil na Faculdade de Engenharia do Porto

71 Exposição de Ambientes Portugueses dos sécs. XVI a XIX. Catálogo. Porto: Museu Nacional de Soares dos Reis, 1969 e Exposição de Ambientes Portugueses dos sécs. XVI a XIX. Roteiro. Porto: Museu Nacional de Soares dos Reis, 1969. 72 Sérgio Guimarães Andrade, nota de abertura in Távora, Bernardo Ferrão de Tavares e – Imagens de Malines. Colecção. Museu Nacional de Arte Antiga. Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga, 1976 (texto que já tinha sido publicado em “Imagens de Malines em Portugal”. MVSEV. 2.ª s. Ns.16-17, 1975, pp. 81- 131). 73 Carvalho, Pedro Diniz de Moura – Indo-Portuguese Furniture. London. Tese de doutoramento apresentada à School of Oriental and African Studies, 2003, p. 47.

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1938?-1948 Funcionário da Direcção Hidráulica do Douro

1964 “redigiu o catálogo da Exposição de Ourivesaria Maio Florido, Porto”74 [Exposição de Ourivesaria “Maio Florido”. Porto: SNI, 1964]

- “Notas sobre a arte indo-portuguesa: Cinco imagens indo- portuguesas de virgens «Em magestade»”. Colóquio. N.º 43, Abril, pp. 26-31; 1967 - “Notas sobre a arte indo-portuguesa: Uma camilha de Menino Jesus, indo-portuguesa, da época de D. Pedro II”. Colóquio. N.º 45, Outubro, pp. 13-5;

“Imaginária de marfim Indo, Singalo, Sino e Nipo-Portuguesa “. 1967-69 MVSEV. 2.ª s. N.º 11, pp. 19-26 “Notas sobre a arte indo-portuguesa: Uma «Árvore de Jessé» de 1968 marfim, do séc. XVII”. Colóquio. N.º 48, Abril, pp. 25-32; - “tem preparado para entregar à editora «ATENA», do Porto, um ensaio extenso e muito ilustrado com o título: "Os Bom-pastores indo-portugueses de marfim”75; - Pede uma bolsa à FCG para fazer o Inventário da imaginária luso- oriental - “Notas sobre a arte indo-portuguesa: Uma imagem seiscentista da Imaculada Conceição, do tipo «Tota Pulchra»”. Colóquio. N.º 52, 1969 Fevereiro, pp. 19-25; - “Imaginária indo-portuguesa de marfim”. Panorama. IV.ª s. N.º 32, Dezembro, pp. 76-83; - Exposição de Ambientes Portugueses dos sécs. XVI a XIX. Catálogo. Porto: Museu Nacional de Soares dos Reis; Exposição de Ambientes Portugueses dos sécs. XVI a XIX. Roteiro. Porto: Museu Nacional de Soares dos Reis;

74 FCG – BA, ASBA, Bolsas de Estudo para Estagiários de Especialização e Investigação no País e no Estrangeiro, Ferrão (Eng.º Bernardo), n.º 2049: Boletim de inscrição, [Lisboa], 1969, 26 de Março. 75 FCG – BA, ASBA, Bolsas de Estudo para Estagiários de Especialização e Investigação no País e no Estrangeiro, Ferrão (Eng.º Bernardo), n.º 2049: Boletim de inscrição, [Lisboa], 1969, 26 de Março.

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“Notas sobre a arte indo-portuguesa: A arte indo-portuguesa na 1970 exposição de «Ambientes Portugueses dos sécs. XVI a XIX», realizada no Porto”. Colóquio. N.º 57, Fevereiro, pp. 34-8; “Uma rara placa de marfim cingalo-portuguesa de motivo alegórico”. 1971 Gil Vicente. 2.ª s. Vol. XXII. N.º 7-8, Julho-Agosto, pp. 126-32 Comunicação na conferência integrada no ciclo de estudos comemorativos do V Centenário do nascimento de Vasco da Gama sobre “Imaginária de marfim luso-oriental nas colecções do Porto” realizada no Porto - Imaginária de marfim luso-oriental nas colecções do Porto. Porto, 1972 Sep. volume “O Porto e os Descobrimentos”; - “Um tríptico seiscentista sino-português de marfim”. Gil Vicente. 2.ª s. Vol. XXIII. Ns. 5-6, Maio-Junho, pp. 83-92; - “A propósito duma «cama imperial» dos Marqueses do Cadaval”. Gil Vicente. 2.ª s. Vol. XXIII. Ns. 11-12, Novembro-Dezembro, pp. 198-217 Congresso Internacional A Arte em Portugal no séc. XVIII – I Secção: Belas Artes, de homenagem a André Soares com comunicação sobre “Imaginária indo-portuguesa setecentista”, realizado em Braga, 6 a 11 de Abril - “Imaginária indo-portuguesa setecentista”. Bracara Augusta. XXVII. N.º 63, pp. 213-31; 1973 - “Imaginária indo-portuguesa seiscentista na Indonésia”. Gil Vicente. 2.ª s. Vol. XXIV. Ns. 3-4, Março-Abril, pp. 49-66; - “Portuguese Faience of the eighteenth century”. Apollo. Vol. XCVII. N.º 134, Abril, pp. 388-95; - “O Costeado, a sua gente e os jarrões da «menina» assassinada”. Gil Vicente. 2.ª s. Vol. XXIV. Ns. 7-8, Julho-Agosto, pp. 137-60; - O “presépio” na arte indo-portuguesa. Sep. Gil Vicente. 2.ª s. Vol. XXV. Ns. 3-4, Março-Abril; 1974 - Imaginárias hispano-filipina e indo-portuguesa. Sep. Gil Vicente. 2.ª s. Vol. XXV. Ns. 5-6, Maio-Junho 1975 Imagens de Malines em Portugal. Sep. MVSEV. 2.ª s. Ns. 16-17

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(texto igual ao do título seguinte) Imagens de Malines. Colecção. Museu Nacional de Arte Antiga. 1976 Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga - Palestra sobre “O ciclo português da arte namban” na ANTIQUA. 78 – 1.º Salão nacional de móveis antigos, dia 14 de Setembro; - Comunicação ao Congresso Histórico de Guimarães e sua Colegiada 1978 sobre “Elementos para o estudo histórico-iconográfico da imagem de “Santa Maria de Guimarães - “Virgens sino-portuguesas de marfim”. Boletim de Trabalhos Históricos. Vol. XXIX VII Congresso Mariológico Internacional de Saragoça, com comunicação sobre a “Imaginária mariana quinhentista cingalo- portuguesa” - “Uma extraordinária peça de marfim de arte indo-portuguesa”. Boletim de Trabalhos Históricos. Vol. XXX; 1979 - “Meninos Jesus cíngalo-portugueses e seus prováveis protótipos flamengos”. Universitas. Salvador. N.º 25, pp. 85-124; - “Imaginária mariana quinhentista cingalo-portuguesa”. In Actas [do VIII Congresso Mariológico Internacional de Saragoça]. Saragoza: s.l., vol. II, pp. 421-60 - “Mrs. Jack e o seu cofre namban”. Boletim de Trabalhos Históricos. Vol. XXXII, pp. 121-54; - “O significado iconográfico e mítico dos Bons Pastores indo- portugueses”. In In Memoriam Ruben Andresen Leitão, vol. 2, pp. 1981 147-53; - Elementos para o estudo histórico-iconográfico da imagem de “Santa Maria de Guimarães. Sep. vol. IV das Actas Congresso Histórico de Guimarães e sua Colegiada 1982 Morre no Porto 1983 Imaginária luso-oriental. Lisboa: Imprensa Nacional–Casa da Moeda Mobiliário Português. Dos primórdios ao maneirismo. Porto: Lello & 1990 Irmão, Editores, 4 vols. ? “faz parte de idêntica comissão para a realização da exposição da

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Câmara Municipal do Porto: «Três séculos de faiança do Porto e Gaia»”76

III – Quadros

III.1 – Quadro comparativo das freguesias e paróquias de Lisboa77

Freguesias Viga- Paróquias Freguesias Viga- Paróquia Históricas rarias e oragos após a lei n.º rarias [oragos] (até 56/2012 (desde 2006) (08.11) 07.07. 2011) {53} {6} {7178} {24} {4} {72} III Nossa Senhora Ajuda III Ajuda da Ajuda [Nossa Senhora da Ajuda] Alcântara III São Pedro de Alcântara III Alcântara Alcântara [São Pedro] Alvalade V Santa Joana Alvalade IV Santa Joana, Princesa; Princesa [Santa Joana] Alto do Pina VI Espírito Santo IV Espírito Santo Ameixoeira V Nossa Senhora IV Ameixoeira da Encarnação [Nossa Senhora da Ameixoeira da Encarnação] Anjos I Nossa Senhora I Anjos [Nossa dos Anjos Senhora dos Anjos] Beato II São Bartolomeu Beato II Beato [São Bartolomeu]

76 FCG – BA, ASBA, Bolsas de Estudo para Estagiários de Especialização e Investigação no País e no Estrangeiro, Ferrão (Eng.º Bernardo), n.º 2049: Boletim de inscrição, [Lisboa], 1970, 27 de Março. 77 A divisão em vigararias não corresponde necessariamente à divisão geográfica concelhia; por exemplo, na vigararia II incluem-se paróquias do concelho de Loures. Por outro lado, cada freguesia pode ter mais do que uma paróquia (separadas por ponto e vírgula). Com cores estão as freguesias que foram agrupadas na reforma de 2012. 78 Uma vez que a opção geográfica da amostra teve por base o concelho de Lisboa (por ser a unidade geográfica com maior coerência [urbana e com características que se mantêm há séculos] e menor dimensão e, portanto, susceptível de encontrar menos dificuldades quer no meu acesso às instalações quer quanto à possibilidade de ver e estudar as peças), é esta a ideia que preside a execução deste quadro. Esta nota serve de advertência para o facto de as vigararias não coincidirem necessariamente com as divisões administrativas; a título de exemplo, a vigararia IV tem igrejas da freguesia da Pontinha, concelho de Loures.

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Nossa Senhora do Amparo de [Nossa Senhora Benfica; do Amparo]; Benfica IV Sagrada Família Benfica III Calhariz do Calhariz de de Benfica Benfica; São [Sagrada José de Bairro Família]; Bairro da Boavista; São da Boavista [São Tomás de José]; Luz Sul Aquino da Luz- [São Tomás de Sul Aquino] Campo V Santo Anjo de Alvalade IV Santo Anjo de Grande Portugal; Reis Portugal; Magos Campo Grande [Reis Magos] IV Santo António Campolide III Campolide de Campolide [Santo António] São Lourenço de ; Nossa Carnide Senhora de [São Lourenço]; Carnide IV Fátima do Carnide III Bairro do Padre Bairro do Padre Cruz [Nossa Cruz Senhora de Fátima] Castelo I Santa Cruz do Santa Maria I Castelo Castelo Maior [Santa Cruz] Charneca V São Bartolomeu Santa Clara IV Charneca [São da Charneca Bartolomeu] Coração de I Santíssimo Santo António I Coração de Jesus Coração de Jesus Jesus [Santíssimo Coração de Jesus] Encarnação I Nossa Senhora Misericórdia I Encarnação da Encarnação [Nossa Senhora da Encarnação] Graça I Santo André e São Vicente I Graça [Santo Santa Marinha André e Santa Marinha] Lapa III Nossa Senhora III Lapa da Lapa [Nossa Senhora da Lapa] Nossa Senhora Alto do Lumiar do Carmo do [Nossa Senhora Alto do Lumiar; do Carmo]; Lumiar V Nossa Senhora Lumiar IV Telheiras [Nossa da Porta do Céu Senhora da (Telheiras); São Porta do Céu]; João Baptista do Lumiar [São Lumiar João Baptista]

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Madalena I Santa Maria Santa Maria I Madalena Madalena Maior [Santa Maria Madalena] Mártires I Nossa Senhora Santa Maria I Mártires dos Mártires Maior [Nossa Senhora dos Mártires] Marvila [Santo Santo Agostinho Agostinho]; de Marvila; São Chelas Marvila II Félix de Chelas; Marvila II [São Félix]; Santa Beatriz da Santa Beatriz da Silva; São Silva [Santa Maximiliano Beatriz]; Vale Kolbe de Chelas [São Maximiliano Kolbe] Mercês I Nossa Senhora Misericórdia I Mercês das Mercês [Nossa Senhora das Mercês] Nossa Senhora V Nossa Senhora Avenidas IV Fátima de Fátima da Fátima; Novas [Nossa Senhora Nossa Senhora de Fátima]; das Dores Nossa Senhora das Dores Pena I Nossa Senhora Arroios I Pena da Pena [Nossa Senhora da Pena] Penha de IV Nossa Senhora Penha de IV Penha de França França da Penha de França [Nossa Senhora França da Penha de França] Prazeres III Nossa Senhora Estrela III Prazeres dos Prazeres; [Nossa Senhora São Francisco dos Prazeres]; de Paula São Francisco de Paula Sacramento I Santíssimo Santa Maria I Sacramento Sacramento Maior [Santíssimo Sacramento] Santa Catarina I Santa Catarina Misericórdia I Santa Catarina do Monte Sinai [Santa Catarina do Monte Sinai] Santa Engrácia I Santa Engrácia São Vicente I Santa Engrácia Santa Isabel III Santa Isabel Campo de III Santa Isabel Ourique Santa Justa e Rufina (São Santa Justa I Santa Justa e Santa Maria I Domingos) Rufina Maior [Santa Justa e

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Rufina] Santa Maria III Santa Maria de Belém III Belém de Belém Belém [Santa Maria] Santa Maria dos Olivais; Nossa Olivais [Santa Senhora dos Maria]; Olivais Santa Maria II Olivais-Sul; Olivais II Sul [Nossa dos Olivais Nossa Senhora Senhora da dos Navegantes Conceição]; do Parque das Santo Eugénio Nações; Santo Eugénio da Encarnação Parque das II Parque das Nações Nações [Nossa Senhora dos Navegantes]; Santiago I São Tiago e São Santa Maria I Santiago Martinho Maior [São Tiago e São Martinho] Santo III Santo Campo de III Santo Condestável Condestável Ourique Condestável Santo Estêvão I Santo Estêvão Santa Maria I Santo Estevão Maior Santos-o- III Santos Estrela III Santos-o-Velho Velho Veríssimo, [Santos Máxima e Júlia Veríssimo, de Santos Máxima e Júlia] São Cristóvão I São Cristóvão e Santa Maria I São Cristóvão e e São São Lourenço Maior São Lourenço Lourenço São Domingos IV São Domingos São Domingos III São Domingos de Benfica de Benfica de Benfica de Benfica [São Domingos] São Francisco III São Francisco Belém III São Francisco Xavier Xavier Xavier São João VI São João Penha de IV e I São João Evangelista; São França Evangelista; São Francisco de Francisco de Assis Assis São João de V São João de Alvalade IV São João Brito Brito de Brito São João de V Doze Apóstolos Areeiro IV Doze Apóstolos; Deus São João de Deus São Jorge de VI São Jorge de Arroios IV Arroios Arroios Arroios; [São Jorge]; Imaculado Imaculado Coração de Coração de

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Maria Maria São José I São José Santo António I São José São Mamede III São Mamede Santo António III São Mamede São Miguel I São Miguel Santa Maria I São Miguel Maior São Nicolau I São Nicolau e Santa Maria I São Nicolau São Julião Maior [São Nicolau e São Julião] São Paulo I São Paulo Misericórdia I São Paulo São Sebastião V e IV São Sebastião da Avenidas IV e III São Sebastião da da Pedreira Pedreira; São Novas Pedreira [São Vicente de Sebastião]; São Paulo do Bairro Vicente de da Serafina Paulo São Vicente I São Vicente de São Vicente I São Vicente de de Fora Fora, São Tomé Fora [São e Salvador Vicente de Fora, São Tomé e Salvador] Sé I Santa Maria Santa Maria I Sé Patriarcal Maior Maior [Santa Maria Maior] Socorro I Nossa Senhora Santa Maria I Socorro [Nossa do Socorro Maior Senhora do Socorro]

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