UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - RELAÇÕES PÚBLICAS

Joice Bissani Bresolin

ESTRATÉGIAS DE RELACIONAMENTO COM A IMPRENSA EM PERÍODO DE REBAIXAMENTO: OS CASOS DO GRÊMIO FOOT- BALL PORTO ALEGRENSE E

Santa Maria, RS 2018 1

Joice Bissani Bresolin

ESTRATÉGIAS DE RELACIONAMENTO COM A IMPRENSA EM PERÍODO DE REBAIXAMENTO: OS CASOS DO GRÊMIO FOOT- BALL PORTO ALEGRENSE E SPORT CLUB INTERNACIONAL

Trabalho de conclusão apresentado ao curso de Relações Públicas, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em ​ Comunicação Social - Relações Públicas.

Orientadora: Profª. Drª Elisângela Carlosso Machado Mortari ​

Santa Maria, RS 2018

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Joice Bissani Bresolin

ESTRATÉGIAS DE RELACIONAMENTO COM A IMPRENSA EM PERÍODO DE REBAIXAMENTO: OS CASOS DO GRÊMIO FOOT- BALL PORTO ALEGRENSE E SPORT CLUB INTERNACIONAL

Trabalho de conclusão apresentado ao curso de Relações Públicas, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em ​ Comunicação Social - Relações Públicas.

Aprovado em 06 de dezembro de 2018:

______Elisângela Carlosso Machado Mortari (UFSM) ​ (Presidente/Orientadora)

______Gilson Luiz Piber da Silva (UFN) ​ ​

______Taisa de Oliveira Ferro Dalla Valle (UFSM)

Santa Maria, RS 2018

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RESUMO

ESTRATÉGIAS DE RELACIONAMENTO COM A IMPRENSA EM PERÍODO DE REBAIXAMENTO: OS CASOS DO GRÊMIO FOOT- BALL PORTO ALEGRENSE E SPORT CLUB INTERNACIONAL

AUTORA: Joice Bissani Bresolin ORIENTADORA: Drª Elisângela Carlosso Machado Mortari ​

Este trabalho tem como propósito contribuir com o conhecimento teórico-prático sobre as estratégias de comunicação no ambiente das organizações desportivas a fim de construir um bom relacionamento com a imprensa em períodos de tensão. A partir do enquadramento midiático de quatro clubes de futebol no período que culminou no rebaixamento de série no Campeonato Brasileiro, buscou-se analisar as diferentes formas de abordagens dos títulos noticiosos veiculadas nos jornais Zero Hora e Folha de S.Paulo. O objetivo é compreender as articulações da imprensa a partir do esquema de publicações de matérias sobre as equipes de futebol Palmeiras, Corinthians, Grêmio e Internacional. A relação com as ações das assessorias de imprensa foram recortadas para as organizações gaúchas, através do enfoque metodológico do estudo de caso. Assim, justaposta ao estudo de caso, as bases metodológicas foram de caráter ​ exploratório explicativa, ancoradas em questionários semi-estruturados aplicados aos profissionais de comunicação do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e Sport Club Internacional. ​

Palavras-chave: estratégia, organização desportiva, assessoria de imprensa

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ABSTRACT

RELATIONSHIP STRATEGIES WITH THE PRESS IN A REDEMPTION PERIOD: THE CASES OF THE GRÊMIO FOOT-BALL PORTO ALEGRENSE AND SPORT CLUB INTERNACIONAL

AUTHOR: Joice Bissani Bresolin ADVISOR: Drª Elisângela Carlosso Machado Mortari ​

This work aims to contribute with theoretical and practical knowledge about communication strategies in the sports organizations environment in order to build a good relationship with the press in periods of tension. From the media coverage of four football clubs in the period that led to the series relegation in the Brazilian Championship, we sought to analyze the different ways of approaching the news titles published in newspapers Zero Hora and Folha de S.Paulo. The objective is to understand the articulations of the press from the publication scheme of matters on the football teams Palmeiras, Corinthians, Grêmio and Internacional. The relationship with the actions of the press offices was cut to the gaucho organizations, through the methodological approach of the case study. Thus, juxtaposed to the case study, the methodological bases were explanatory exploratory, anchored in semi-structured questionnaires applied to the communication professionals of the Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense and Sport Club Internacional.

Keywords: strategy, sports organization, press office

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INTRODUÇÃO 6

1. ORGANIZAÇÕES DESPORTIVAS NO CAMPO DA COMUNICAÇÃO 9

1.1 Cercando o conceito de organizações 9

1.1.1 Clubes de futebol como organizações 14

1.2 A Comunicação no esporte 20

1.2.1 O Marketing esportivo como instrumento de comunicação 23

1.2.2 Relacionamento com a imprensa como estratégia de comunicação 25

2. ORGANIZAÇÕES ESPORTIVAS E OS AMBIENTES DE TENSÃO 28

2.1 Grêmio, Inter, Corinthians e Palmeiras: casos de rebaixamento 30 ​ 2.1.2 Sport Club Corinthians Paulista 31

2.1.3 Sociedade Esportiva Palmeiras 32

2.2 Os enquadramentos da imprensa em períodos de crise 33

2.3 A imprensa como espaço deflagrador da tensão 37

3. GRÊMIO E INTER: AS REAÇÕES ORGANIZACIONAIS 42

3.1 Assessoria de imprensa do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense 42

3.2 Assessoria de imprensa do Sport Club Internacional 46 ​

Referências Bibliográficas 53

APÊNDICE 56

ANEXO 73

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INTRODUÇÃO

Futebol é emoção. É resultado dentro de campo. Emoção que ultrapassa os limites das quatro linhas e preenche páginas de jornais, rádios, programas televisivos, sites e dominam as redes sociais. É entretenimento para a família, pauta das conversas de bar e o sonho de milhares de crianças. Hoje o esporte preferido dos brasileiros vive uma realidade diferente das de décadas passadas. Hoje o futebol não é só entretenimento, passou a ser tratado como um negócio, que movimenta fortunas, além de contar com o apoio e patrocínio de grandes instituições públicas e privadas. Segundo estudo1 elaborado pelo banco Itaú BBA, os vinte e sete maiores clubes do Brasil ​ faturaram juntos R$ 4,930 bilhões em 2017, um aumento de 16% em relação ao ano anterior. Números exorbitantes que comprovam a grande potência do futebol na indústria esportiva e induz a crer em uma evolução na gestão esportiva junto com o aumento do faturamento, o que não acontece. A despreocupação com um planejamento a médio e longo prazo expõe a organização ao risco de enfrentar tensões futuras que podem ser amplificadas pela intensa cobertura da imprensa esportiva. A visibilidade alcançada pela mídia pode gerar tanto resultados positivos quanto ​ negativos de acordo com a função da publicação que, segundo Forni, dependendo da dimensão, ​ “uma reportagem negativa na imprensa pode desencadear um processo desgastante de divulgação e exposição, que acaba por comprometer os negócios e realmente ameaçar estruturas corporativas”(FORNI, 2012, p.389). O que vai determinar o resultado desta exposição é o relacionamento da organização com a imprensa, seguida de ações preventivas ou amenizadoras de situações que possam colocar em risco a imagem do clube. Desta forma, a proposta deste trabalho surgiu com a finalidade de observar se o relacionamento dos clubes de futebol com a imprensa foi adequado durante o período de ​ rebaixamento de série - no campeonato em que o time disputa - análise feita a partir do que é ou foi veiculado na mídia esportiva. O tema proposto visa estudar sobre a importância de se investir

1 Análise econômico-financeira dos clubes de futebol brasileiros - 2018. Disponível em: https://bit.ly/2AnsnjM. ​ ​ ​ Acesso em: 27 de maio. 2018.

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em Comunicação, principalmente em períodos de crise, pois esse é um dos mais importantes pilares no gerenciamento de imagem e a única área que pode trabalhar o fortalecimento dos clubes em meio a opinião pública. Destacamos o papel da Assessoria de Imprensa que tem como ​ uma de suas responsabilidades atender diretamente os veículos midiáticos, gerenciando imprevistos para garantir que a imagem do clube não seja afetada por notícias falsas ou de cunho pejorativo. Este trabalho conta com uma metodologia exploratória explicativa, que busca fornecer os instrumentos necessários para a realização de uma pesquisa qualitativa e quantitativa. A pesquisa envolve um levantamento quantitativo de notícias esportivas com potencial de provocar tensão na organização. O objetivo desta clipagem é analisar o enquadramento midiático de quatro dos principais clubes de futebol do país já rebaixados para a Série B do Campeonato Brasileiro: Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, rebaixado em 2004; Sport Club Corinthians Paulista, rebaixado em 2007; Sociedade Esportiva Palmeiras, rebaixado em 2012 e Sport Club Internacional, rebaixado em 2016. O intuito é realizar um estudo comparativo entre os títulos de notícias jornalísticas publicadas no ambiente midiático com maior circulação nos estados de cada clube e pensar como uma organização procede esses sentidos em diferentes situações. No Rio Grande do Sul, a pesquisa realizou-se no jornal Zero Hora, o mais lido da Região Sul e que está entre os primeiros no ranking nacional, e para os clubes paulista foi realizada a pesquisa na Folha Online, versão eletrônica do jornal Folha de S.Paulo, jornal que desde a década de 80 é o impresso mais vendido do país entre os diários nacionais de interesse geral. A partir do corpus criado, buscou-se olhar para os clubes gaúchos Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e Sport Club Internacional por questões de logística no qual possibilitou o acesso ao Centro de Documentação e Informação (CDI) da RBS2 e aos entrevistados participantes. Para esta etapa da pesquisa, as bases metodológicas foram de caráter exploratório explicativa, ancoradas em questionários semi-estruturados aplicados aos dois profissionais que exerceram a função de assessor de imprensa nos clubes de futebol do Internacional e Grêmio. A partir das falas dos entrevistados discutimos as estruturas dos departamentos de comunicação, o relacionamento com a imprensa e as estratégias de comunicação executadas e/ou planejadas pela Assessoria de Imprensa dos clubes, tendo como pressuposto o que foi veiculado na mídia.

2 Local em que se encontra todo o acervo histórico da Zero Hora.

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Assim, o estudo foi estruturado em três capítulos. No capítulo um tratamos de alguns conceitos de organização e estruturas organizacionais, a fim de melhor compreender o tipo de organização referente no estudo. Com base nas teorias apresentadas, nos direcionamos para as organizações esportivas e o contexto histórico dos clubes de futebol e seu desenvolvimento acompanhado da mídia esportiva. O capítulo dois expõe o ambiente de tensão que afeta os clubes de futebol provocado pela veiculação diária de sua imagem na mídia o que leva ao enquadramento midiático de quatro clubes de futebol. Em seguida, no último capítulo, são apresentados alguns pontos importantes - interpostos ​ com conceitos de estudiosos na área da comunicação estratégica e relacionamento com a imprensa - do ano que levou os clubes gaúchos Grêmio e Internacional para o rebaixamento de série no Campeonato Brasileiro. As bases metodológicas foram de caráter exploratório explicativa, ancoradas em questionários semi-estruturados aplicados aos profissionais de comunicação do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e Sport Club Internacional. A elaboração deste estudo tem como principais autores Richard Hall (1984), Mintzberg (2007), Elio Carravetta ​ (2006), Jorge Duarte (2010) e João José Forni (2010).

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1. ORGANIZAÇÕES DESPORTIVAS NO CAMPO DA COMUNICAÇÃO

A comunicação é um processo que compreende diferentes etapas, várias fases e inúmeros sujeitos que estão envolvidos nas trocas simbólicas e nas negociações instituídas pelo processo. Através da comunicação é possível compreender como se estabelecem relações colaborativas e relações de poder que deflagram cenários mais ou menos competitivos. Neste feixe de relações encontra-se o esporte e suas significações. A atividade esportiva não se restringe ao exercício do corpo ou às disputas que testam o limite da força humana, o esporte foi atravessado pela sistematização de suas práticas, por regramentos e normatizações que o alçaram ao patamar organizacional. As equipes de competição são regidas por organizações que gerenciam um complexo processo comunicacional. E é nesse circuito que o presente estudo se encontra: entre a comunicação, o esporte e as organizações. No esporte, o futebol compreende aspectos humanos, sociais, culturais e comunicativos, relacionados entre si. Estes aspectos o tornam especial para a mídia brasileira que o explora sistemática e rotineiramente. Programas especiais de rádio e televisão, cadernos e editorias de jornais e revistas exclusivas para tratar dos times de futebol. O enquadramento mais recorrente versa sobre os resultados obtidos nas competições que as equipes futebolísticas participam. Por isso, compreender como as organizações que gerenciam os times de futebol e negociam com a mídia em períodos de competição - principalmente em rebaixamento - é importante para que o ciclo inicialmente descrito seja compreensível na totalidade. A primeira abordagem a ser estudada são as organizações: sua natureza e suas implicações. As organizações esportivas comunicam muito além dos resultados numéricos de mercado ou de final de partida, comunicam afetos para públicos fiéis e conectados.

1.1 Cercando o conceito de organizações A etimologia da palavra ‘organização’ remete ao grego ‘organon’ e significa ferramenta ou instrumento. Conforme consta no Dicionário Aurélio (2018), organização constitui em “organismo., Formar (seres organizados), Dispor; pôr em ordem., Constituir., Tomar forma regular”. As organizações são instrumentos desenvolvidos pelos sujeitos a fim de realizar tarefas que eles não podem realizar sozinhos. Na sociedade contemporânea, as organizações, sempre

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estiveram presentes no domínio dos interesses do homem (MOTTA e PEREIRA, apud FILHO, ​ 2003), no qual são planejadas de forma deliberativa para realizar um determinado objetivo. A ampla revisão de estudos realizada por Richard Hall (1984), resultou em uma definição geral de uma organização. Para o autor, uma organização é: ​ Uma coletividade com uma fronteira relativamente identificável, uma ordem normativa, escalas de autoridade, sistemas de comunicações e sistemas de coordenação de afiliação; essa coletividade existe numa base relativamente contínua em um ambiente e se engaja em atividade que estão relacionadas, usualmente, com um conjunto de objetivos. (HALL, 1984, p.23) A Teoria das Organizações, do economista alemão Max Weber (1947), conhecido por suas análises da burocracia e da autoridade, tinha sua atenção com as definições mais gerais das organizações. O autor explana que os indivíduos interagem dentro da organização, onde: envolve um relacionamento social que ou está fechado ou limita a admissão de estranhos por meio de regras, [...] na medida em que sua ordem é imposta pela ação de indivíduos específicos cuja função regular é esta, de um chefe ou “cabeça” e, usualmente, também de uma equipe administrativa”(WEBER, apud HALL, 1984, p.20). Essa definição demonstra que a organização é demarcada e que a ideia de ordem distingue as organizações de outras entidades sociais, pois a interação interna não é espontânea, e sim, imposta pela organização, onde as decisões são tomadas de forma racional. Com a presença de uma hierarquia de autoridade e uma divisão de trabalho para impor a ordem, Weber (1947) aponta o funcionamento eficaz de uma organização: “se os cargos forem atribuídos a indivíduos competentes, que disponham de poderes limitados e saibam bem separar a vida pública da vida privada” (WEBER, 1947 apud, ENRIQUEZ, 2000, p.12). Com o objetivo de identificar os tipos de organizações e assim auxiliar na sua compreensão e para definir formas efetivas de gestão e desenvolvimento, os estudos buscavam nos elementos formais da estrutura organizacional, que, na maioria das vezes, não correspondem ao cotidiano das organizações. O conjunto de regras e normas, a divisão horizontal e vertical do trabalho e as relações de autoridade sustentavam o pensamento unidimensional da estrutura organizacional. Enquanto Weber (1947) enfatiza o sistema, Chester Barnard (1938) se preocupou com os membros do sistema. Sua definição geral é que uma organização é “um sistema de atividades ou forças de duas ou mais pessoas conscientemente coordenadas” (BARNARD, 1938, apud HALL, ​ 1984, p.21). Ou seja, as organizações requerem comunicações, entusiasmo e motivação por parte

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dos membros para tomarem decisões e assim contribuir em um objetivo comum entre eles. Neste pensamento, o autor Robert H. Srour (1998) define as organizações como: Coletividades especializadas na produção de um determinado bem ou serviço. Elas combinam agentes sociais e recursos e se convertem em instrumentos da ‘economia de esforço’. Potenciam a força numérica e tornam-se o terreno preferencial em que ações cooperativas se dão de forma coordenada. (Srour, 1998, p.107) Assim, podemos compreender organização como qualquer coletivo de pessoas para um determinado fim, independente de sua área e finalidade. Neste sentido, hospitais, universidades, ​ escolas, instituições religiosas e outras organizações possuem uma estrutura definida e seguem ​ um sistema de gestão que as mantêm na direção de seus objetivos e resultados. A construção estrutural formada por normas, métodos padronizados e posições ocupadas por indivíduos na organização, é transposto de interação representado nas relações sociais e informais, viabilizando a percepção da dinâmica da estrutura. Mudanças estruturais partem de mudanças cognitivas dos membros organizacionais, de alteração nas relações de poder e de influência do ambiente (FILHO, 2003). A estrutura organizacional nos auxilia a entender como é realizada a gestão na organização e como a difusão do poder influencia na coordenação das atividades envolvidas. Desta forma, para que se encontre um adequado controle de coordenação é preciso um entendimento mínimo da estruturação da organização que segundo Mintzberg (2007, p. p. 186) podem ser resumidas em seis partes básicas: a) Essência operacional - base de qualquer organização. Pessoas que desempenham o trabalho básico de produzir produtos ou de prestar serviços; b) Ápice estratégico - ocupada por um gerente em tempo integral, no qual todo o sistema é supervisionado; c) Linha intermediária - uma hierarquia de autoridade entre a essência operacional e o ápice estratégico; d) Tecnoestrutura - Analistas que desempenham tarefas administrativas; e) Assessoria de apoio - área especializada - terceirizada ou não - apoia a organização fora do fluxo de produção; f) Ideologia - tradições e as crenças de uma organização que a distinguem de outras entidades.

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A autora também elabora seis elementos básicos fundamentais para a coordenação e divisão adequada das tarefas a serem executadas. São eles: a) Ajuste mútuo - processo mais simples de comunicação informal; b) Supervisão direta - uma pessoa coordena ao dar ordens; c) Padronização dos processos de trabalho - especificação/programação do conteúdo do trabalho; d) Padronização de outputs - especificação dos resultados; ​ ​ e) Padronização de habilidades - conjunto de conhecimentos e habilidades ensinados ao funcionário, normalmente, fora da organização; f) Padronização de normas - trabalhadores compartilham um conjunto de crenças em comum. Segundo Mintzberg (2007), à medida que o trabalho organizacional se torna mais complexo, os meios preferidos de coordenação parecem deslocar-se, pelo fato dos elementos aparentarem a possibilidade de encaixar-se em uma ordem aleatória. No entanto, nenhuma organização deve depender de apenas um dos mecanismo apresentados, “todos eles serão normalmente encontrados em qualquer organização razoavelmente bem desenvolvida” (MINTZBER, 2007, p. 187). O poder é o principal elemento da centralização organizacional, que por sua vez, está ligada com a posição de autoridade responsável pelas decisões que afetam as organizações. “A tomada de decisão concentrada no topo hierárquico revela alto grau de centralização, ao passo que um maior grau de participação dos grupos indica menor centralização” (SLACK, 1995, apud FILHO, 2003, p. 46). A centralização estrutural se relaciona com diferentes níveis de complexidade organizacional e com a formalização, uma vez que ela é responsável por conduzir ações e levar os indivíduos a atender determinações organizacionais, e assim, moldar formas estruturais de acordo com alterações na distribuição de poder. Hall (1984) afirma que a “estrutura deve refletir a situação da organização” (HALL, 1984, p.140). Para isso é necessário compreender cada um dos elementos que a formam para após configurar de “maneira lógica em grupos internos consistentes” (HALL, 1984, p.141). Esta configuração envolve uma série de parâmetros que determinam a divisão do trabalho e a obtenção da coordenação que normalmente é retratada em organogramas. Os organogramas de uma organização geralmente mostram a disposição hierárquica de posições de elementos organizacionais de cima para baixo e os sistemas de comunicação entre elas, com a correlação de

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variáveis e dimensões estruturais de características referidas a dimensões do ambiente, além de como a organização irá funcionar. No organograma apresentado a seguir podemos observar uma organização de estrutura vertical com ligação aos mecanismos de coordenação, de cima para baixo. Ao visualizarmos da esquerda para direita notamos diferentes seções dentro de cada departamento ordenadas de forma horizontal por compartilharem recursos e finalidades comuns, onde, de acordo com Mintzberg (2007), “quanto mais rigidamente ligadas forem as posições ou unidades no fluxo de trabalho, mais aconselhável será que sejam agrupadas para facilitar a coordenação” (MINTZBERG, 2007, p.180). O organograma é de uma organização esportiva e representa as unidades de trabalho com vistas à facilitação das rotinas de trabalho em ambientes futebolísticos.

Fonte: Bressan, Lucente e Louzada (2014)

Como podemos observar, uma organização esportiva de futebol profissional tem, a partir da presidência do clube, sua coordenação ligada aos departamentos com suas funções específicas, que no conjunto final trabalham em busca de objetivos comuns que vão desde o bom

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desempenho do time profissional, novos patrocinadores, crescimento do quadro social e o bom relacionamento com a imprensa, resultando no crescimento e desenvolvimento da organização.

1.1.1 Clubes de futebol como organizações

Em 1894, ao trazer para o Brasil bolas de couro e as regras de um jogo já praticado na Inglaterra, Charles Miller provavelmente não sabia o que esse esporte se tornaria simbolicamente para os brasileiros, décadas depois. O esporte que hoje faz parte da cultura popular brasileira se desenvolveu adotado e controlado pela alta sociedade paulista e carioca do século XIX. Desprovido de popularidade, mas sem a adesão das camadas mais pobres, estava fadado à estagnação. Com o tempo o futebol conquistou mais adeptos e chegou nas classes populares. Grupos de trabalhadores das fábricas, imigrantes, associações e grupos de bairros são identificados na base de formação dos clubes de futebol no Brasil. De uma forma geral, o futebol apresentava na sua origem a prática com a finalidade de diversão, lazer e ócio, “que representava a razão central para a aglutinação dos grupos e sinalizava para a adesão a um conjunto específico de valores, que se exprimem no conjunto de relações e atitudes dos seus membros” (FILHO E OLIVEIRA, 2003, p. 48). Foi na década de 1930 que o futebol passou por mudanças radicais. A regulamentação do esporte do amadorismo para o profissionalismo, foi reconhecida pela legislação social e trabalhista do governo Getúlio Vargas, que criou a profissão de jogador de futebol e tornou obrigatória a sua sindicalização. “O futebol passou a ser conduzida por duas entidades, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), representante do amadorismo, e a nova Federação Brasileira de Futebol (FBF), que comandava o profissionalismo” (CARRAVETTA, 2006, p.29). O esporte cresceu e tomou proporções inimagináveis se popularizando em diversos países. Na Europa, iniciou-se na década de 90 a exploração e a promoção de eventos baseados no futebol como uma atividade organizada e lucrativa com finalidade de “melhorar o desempenho esportivo, transformando a organização em clube empresa com lógica de mercado, o que profissionalizaria o esporte e promoveria o equilíbrio entre desempenho esportivo e financeiro. (OLIVEIRA, M. C. de et al., 2018)”. ​ ​

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No entanto, no Brasil, considerado por muitos o país do futebol, a profissionalização dos clubes anda a passos lentos. Encontramos com facilidade gestores não capacitados para as funções que lhes são atribuídas dentro das organizações, que “embora se dediquem ao clube, diretores e conselheiros precisam dedicar-se a outra atividade que lhes dê retornos financeiros, sendo o clube uma atividade acessória” (OLIVEIRA, M. C. de et al., 2018 p.54). Hall (1984) ​ ​ denomina esse cenário como “organizações de voluntários” por haver fronteiras obscuras para seus gestores, que podem “estar em muitas delas sem ter parte ativa em nenhuma delas” (HALL, 1984, p.34). Um modelo arriscado para a organização que, muitas vezes, não contam com a dedicação integral e necessária do colaborador para a manutenção e desenvolvimento do clube. Normas jurídicas foram criadas para auxiliar os clubes de futebol na profissionalização de suas organizações. Com o intuito de dar mais transparência e profissionalismo ao esporte ​ nacional foi promulgada em 1998 a Lei Pelé - que revogou a Lei Zico, sua antecessora - que ​ ​ obrigou os clubes a se transformarem em empresas. Foram instituídos diversos direitos ​ trabalhistas para os atletas, a prestação de contas por parte de dirigentes, a criação de federações e associações, entre outras medidas. Em agosto de 2015, foi sancionada uma lei que criou o Programa de Modernização da ​ Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (PROFUT), que em linhas gerais, trata-se de um programa destinado a incentivar clubes, a adotarem práticas modernas de gestão. Em contrapartida, há uma concessão de parcelamento e redução de débitos tributários e não-tributários aos órgãos federais. As exigências do Programa, como o pagamento de impostos e dos salários e direitos de imagens dos atletas, reflete no principal fator prejudicial na gestão de um clube: suas dívidas. Os clubes de futebol, progressivamente, compreenderam a necessidade de se adaptar às demandas externas e passaram a buscar novas técnicas de gestão e especialização que, segundo Filho (2003), moldam “sua estrutura interna de funcionamento, na adoção de critérios técnicos-científicos no relacionamento com o mercado, no delineamento de planos formais de estratégias e na busca por uma gestão eficiente dos recursos financeiros” (FILHO, 2003, p.51). Uma vez que, requerido pela legislação, os clubes passaram a necessitar de quantias monetárias cada vez maiores para a manutenção de suas atividades. Carravetta (2006) cita o futebol atual como um sistema aberto formado por uma estrutura externa e uma estrutura interna. Na estrutura interna das organizações esportivas de futebol, encontramos três grandes categorias representadas pelos setores políticos, administrativo e

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técnico. “São eles os norteadores funcionais e determinantes do comportamento organizacional das confederações, federações, clubes, equipes, ligas, colegiados, sindicatos e outros.” (CARRAVETTA, 2006, p.43). Já a estrutura externa está relacionada a órgãos superiores que influenciam diretamente no comportamento das organizações esportivas por meio de regulamentos e estatutos, como é o caso da Fédération Internationale de Football Association (FIFA) e a Confederação Brasileira ​ ​ de Futebol (CBF). A Fédération Internationale de Football Association (FIFA), órgão máximo e de ​ ​ expressão mundial na gestão do futebol, fundada em 21 de maio de 1904, em Paris, na França, e ​ ​ com sede em Zurique na Suíça, possui atualmente 211 federações e está presente em mais de 30 ​ países onde desenvolve inúmeros projetos e programas direcionados ao futebol, com recursos formais que permitem regular a prática do futebol. A FIFA transformou o futebol contemporâneo em uma atividade economicamente ativa, que movimenta quantia superior a US$ 225 bilhões por ano, e responde a uma demanda de contínua evolução em que intervém uma grande diversidade de atividades empresariais. É constituída por 204 federações nacionais, milhares de federações estaduais ou regionais, 300 mil clubes filiados e 1,5 milhão de equipes. (CARRAVETTA, 2006, p.43) No Brasil, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é a entidade máxima em termos de futebol, com o objetivo de liderar e promover a prática esportiva no país. Iniciou suas atividades em 20 de agosto de 1916, como parte integrante da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que em 1923, foi admitida ao quadro de confederações filiadas à FIFA. Em 24 de setembro de 1979, surge a Confederação Brasileira de Futebol (CBF)3, oriunda da extinta CBD. Tal como existe hoje, a CBF expandiu sua gama de atividades, sendo atualmente responsável do planejamento, coordenação e execução dos principais campeonatos de alcance nacional, como a , Campeonato Brasileiro nas séries A, B, C e D e a administração das seleções Feminina e Masculina. Ao todo, 17 torneios estão sob gestão da CBF. Em cada estado brasileiro, encontramos as federações estaduais que têm como objetivo dirigir o futebol em seus estados, fomentar e aperfeiçoar o esporte, além de organizar os campeonatos estaduais. Tomamos como exemplo a Federação Gaúcha de Futebol (FGF), que é a entidade máxima de futebol no estado do Rio Grande do Sul, responsável por organizar o Campeonato Gaúcho de Futebol, e representar os clubes gaúchos junto à CBF.

3 Disponível em: Acesso em: 24 Ago. 2018 ​ ​ ​

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Por envolver inúmeros profissionais, movimentar fortunas e somado às normas exigidas pelas Federações esportivas para regulamentar os campeonatos, os clubes esportivos acabam necessitando de uma estrutura interna organizada e preparada para se manter e desenvolver. Equipes de futebol profissionais modernas e bem-sucedidas precisam de uma gestão de alto nível para conciliar e suprir as necessidades de todas as partes interessadas, que aumentam significativamente à medida que o clube se profissionaliza (BÁCS, 2014, apud OLIVEIRA, M. ​ ​ C. de et al., 2017). Essa estrutura interna é definida por Carravetta (2006) como: ​ ​ Responsável pelo processo comunicativo-relacional que sustenta intercâmbios informativos do tipo cultural, educativo, ideológico, técnico, normativo, axiológico e formal. Utiliza a informação que recebe para regular seu funcionamento de acordo com os objetivos a que se propõe. O sistema é evidenciado como adaptativo, pois está em ​ constante ajuste e desajuste com o meio, e é reordenado internamente em função das relações externas que mantém. (CARRAVETTA, 2006, p. 44) Em análise dos estatutos sociais de 20 clubes participantes da Série A do Campeonato Brasileiro em 2016, os autores Oliveira, Borba, Ferreira, Lunkes (2017), observaram que a governança das organizações está estruturada em seis conselhos. Sendo eles: a Assembleia Geral, o Conselho Deliberativo, o Conselho Fiscal, a Diretoria, o Conselho Administrativo e o Conselho Consultivo. Os Conselhos Consultivos e Administrativos são substitutos entre si, alternando-se na estrutura dos clubes. O Conselho Deliberativo é o órgão com maior poder de decisão dentro de um clube. Ele é responsável por fiscalizar as ações da diretoria, propor modificações estatutárias, conceder títulos ​ a associados, investigar diversas irregularidades, entre outras funções. Ele é constituído em Assembleia Geral, por meio de eleição pelo voto de seus associados. Brunoro e Afif (1997, apud Bressan, 2014) , com a finalidade de apresentar uma proposta ​ de estrutura organizacional de um clube de futebol, afirmam que, nos clubes de futebol, devem ser encontrados os seguintes departamentos: a) Departamento Técnico: preocupa-se com a operação do time de futebol e pode ser dividido em setor profissional e amador; b) Departamento Administrativo e de Recursos Humanos: realiza atividades de suporte ao Departamento Técnico como atividades burocráticas (registros, assessoria jurídica etc.), logística interna e externa (reserva de hotéis, alimentação, locais de treinamento, provisão de materiais esportivos etc.), elaboração de política salarial e de carreira, sistemas de recompensa etc.;

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c) Departamento Financeiro: é subordinado ao Departamento Administrativo e tem como função o controle do fluxo de caixa para o cumprimento das diretrizes traçadas; d) Departamento de Marketing: cuida da valorização da marca e a imagem do clube para a maximização e captação de receitas; e) Departamento de Patrimônio: responsável pela gestão do centro de treinamento e do estádio. Organizados de forma conjunta, esses departamentos remetem ao seguinte organograma:

Esta estrutura de um clube de futebol é definida e controlada pelo seu estatuto, que “[...] representam os códigos que resumem os princípios fundamentais, as normas e os textos de aplicação que deverão ser seguidos pela diretoria executiva [...]” (CARRAVETTA, 2006, p.45), assim como os conselhos consultivos e deliberativos, que são órgãos de assessoramento. No entanto, em na análise de OLIVEIRA, M. C. de et al. (2007), concluiu-se que “os estatutos nada ​ mais são que documentos elaborados, como via de regra, para respaldar as ações internas das organizações e não para orientar o comportamento dos envolvidos”. De acordo com Carravetta (2006), o futebol compreende aspectos humanos, sociais, culturais e comunicativos, relacionados entre si. Além das influências externas que provocam ​ modificações na estrutura interna dos clubes esportivos, temos a cultura organizacional como sendo um elemento determinante para o comportamento e a conduta em todos os setores do clube: político, administrativo e técnico. Freitas (1991) reconhece que a cultura organizacional atua suprindo uma função de controle nas organizações, nas quais os valores estabelecidos são reproduzidos e acabam tornando-se naturalizados (FREITAS apud KEGLER4, 2010, p.11). A cultura organizacional é vista como um sistema de símbolos e significados, compartilhado no contexto organizacional, de forma que os indivíduos definem seu meio, expressam suas crenças e fazem julgamentos. (Alvesson, 2003, apud Larentis, Antonello,

4 Segundo Kegler (2010), torna-se possível falar da cultura organizacional como um instrumento de controle nas ​ organizações, produzindo passividade entre seus participantes.

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Slongo, 2018). Assim, podemos entender a cultura organizacional como sendo um conjunto de hábitos e crenças estabelecidos através de normas, valores, atitudes e expectativas compartilhados por todos os membros da organização. Contudo, podemos entender que, para alcançar o desempenho desejado, é necessária a compreensão do comportamento da organização, de como as ações ocorrem em sua estrutura, de como as pessoas estão interligadas através das atividades que executam, e como estas pessoas veem e compreendem o seu espaço de trabalho. Percebe-se, portanto, que a cultura e a estrutura organizacional são o suporte para o desenvolvimento e alcance dos objetivos definidos pela organização. A comunicação tem papel fundamental na manutenção da estrutura organizacional tanto na comunicação entre os departamentos da organização quanto no relacionamento interpessoal dentro das próprias unidades de trabalho para a “padronização das relações comerciais e uniformidade na aplicação de normas e regulamentos” (FILHO, 2003, p.54) a fim de alcançar os objetivos estabelecidos da melhor maneira possível. Da mesma forma, a comunicação com os públicos externos (torcedores, patrocinadores, imprensa…) necessita de uma atenção especial da direção do clube por serem cruciais no crescimento e fortalecimento do clube.

Figura 3 - Organograma do Departamento de Marketing

Fonte: Adaptado de Fred Mourão (2017) Com a intensa cobertura da mídia esportiva, e as exigências do torcedor por resultados em campo, os clubes necessitam de um departamento específico com profissionais especializados para cuidar da comunicação do clube. Na área comumente denominada como Marketing, podemos encontrar o departamento Comercial, de Relacionamento e de Comunicação. Nesta área, encontramos os profissionais responsáveis pelos patrocínios, publicidade, gestão da marca, televisionamento, licenciamento de produtos, estratégias da

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comunicação, redes sociais, site, TV, revistas e assessoria de imprensa. Funções que podem variar de acordo com a realidade de cada clube. Na próxima etapa desta pesquisa, iremos entender um pouco mais sobre o desenvolvimento da comunicação midiática no meio esportivo.

1.2 A Comunicação no esporte O futebom, que nasceu como exclusividade de brancos e ricos, passou a ser elemento da ​ ​ cultura popular, presente na vida dos brasileiros de diferentes classes sociais por grande parte do território nacional. Muito se deve aos meios de comunicação, como rádios, mídia impressa e transmissões televisivas, que possibilitam ao torcedor acompanhar seu clube em qualquer lugar do mundo. Os meios de comunicação muito colaboraram, e ainda influenciam, no crescimento e na espetacularização do futebol que se deu início no ano de 1901 com a primeira veiculação de uma notícia sobre o futebol, até os dias atuais onde, segundo DaMatta (apud Ferraz, 2011, p. 110), “64% de toda a população brasileira têm algum time de futebol e, destes que alegam torcer, 82% acompanham o time diariamente pela mídia”. Foi em 1923 que o Clube de Regatas Vasco da Gama, do Rio Janeiro, atuou com jogadores negros, algo impensável para a elite dominante do esporte. Este feito contribuiu para a democratização do futebol e para maior visibilidade na imprensa escrita e também chamou a atenção de outro veículo de comunicação: o rádio. Gasparino (2013) defende a expansão do futebol para o rádio, como “fundamental para levar o futebol, de uma vez por todas, a todo o Brasil, e também de extrema importância para o alavancamento do rádio como ferramenta de mídia” (GASPARINO, 2013, p.17). A participação da mídia esportiva no futebol brasileiro teve sua ascensão na década de 30 com passagem do amadorismo para o profissionalismo do esporte. Nesse período, a radiodifusão começava a ampliar a transmissão dos jogos para comunidades mais distantes, enquanto a imprensa esportiva já promovia o futebol em todas as suas dimensões. Eram estimulados os encontros entre seleções estaduais, jogos metropolitanos e campeonatos regionais. As competições passaram a ser mais frequentes e eram incluídos e legitimados jogadores de todas as camadas sociais (CARRAVETTA, 2010). O pioneirismo no campo das transmissões esportivas se deu ao paulista Nicolau Tuma, narrador da primeira partida de futebol pelo rádio, em 10 de fevereiro de 1931, pelo microfone da Rádio Educadora Paulista. Já em 1935, Amador Santos surge como o primeiro locutor esportivo atuante no Rio de Janeiro. A partir deste momento, os locutores foram aperfeiçoando a

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linguagem do futebol usando e abusando do metafórico, para transmitir, além da informação com qualidade, toda a emoção possível para o ouvinte sintonizado. Conforme define Capinussú (1997), “A narração de um jogo deve caracterizar-se por uma vibração acima do normal por parte do locutor, a fim de que o ouvinte tenha a impressão de estar assistindo no próprio campo” (CAPINUSSÚ, 1997, p. 36). Capinussú (1997) relata a grande popularidade dos profissionais de rádio, que cativam o torcedor a assistir aos jogos no estádio, acompanhando as transmissões em seu radinho de pilha. Este comportamento fica evidente pela tamanha sensibilidade dos locutores com as palavras e a intensidade usada nas expressões durante a partida que emocionam até mesmo os menos envolvidos com o esporte. Para alcançar este objetivo, o locutor usa a linguagem certa para o público pretendido, sendo o responsável por fazer o torcedor ouvir exatamente aquilo que ele gostaria de estar vendo, provocando a real sensação de estar em uma partida de futebol. Desta forma, Capinussú (1997) afirma que: O comunicador esportivo, em particular o narrador de futebol e até mesmo o comentarista, pode ter um linguajar considerado desviante perante os que cultuam o idioma português ensinado nas escolas. Entretanto, este mesmo linguajar deixa de ser desviante a partir do momento em que a sociedade integrada ao futebol o aceita. (CAPINUSSÚ, 1997, p. 43) Segundo Quartezani (2007), essa influência da linguagem futebolística não se limita apenas ao modo de falar das pessoas. Na década de 1960 até a metade da década de 80, ela também começou a ser notada com maior frequência em publicações como jornais e revistas devido à conquista do primeiro título mundial de futebol brasileiro, obtido em 1958, e depois os títulos mundiais de 62 e 70. O que acabou motivando os profissionais de diversas áreas (jornais e revistas, televisão e na publicidade), a enriquecerem suas expressões idiomáticas criadas pelo comunicador esportivo. Com o advento da televisão, em 1950 com a TV Tupi, houve uma importante modificação no comportamento do torcedor que passou a poder acompanhar notícias e até partidas de futebol na comodidade de sua casa. Segundo Gasparino (2013): Ainda no primeiro dia de transmissões da TV Tupi, o esporte se fez presente com Aurélio Campos comandando o programa pioneiro “Vídeo Esportivo”. A principal modalidade esportiva do país foi destaque um mês depois. Palmeiras e São Paulo duelaram no Pacaembu e, aproximadamente, 200 pessoas puderam acompanhar a partida pela televisão, que ainda era uma tecnologia restrita e cara. (GASPARINO, 2013, p.20)

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A televisão modificou a realidade econômica dos clubes de futebol. Os clubes passaram a ter maior exposição o que possibilitou a comercialização de suas marcas. Segundo Melo Neto (1986, apud CAPINUSSÚ, 1997): O marketing foi introduzido no futebol em 1977, quando o então Conselho Nacional de Desportos baixou uma resolução que permitia ao jogadores usarem publicidade em seus uniformes. Decretou-se a abertura para mais uma tentativa de salvar as já tão combalidas finanças dos clubes, que começaram a explorar outras alternativas aproveitando esta permissividade. (CAPINUSSÚ, 1997, p. 98) Capinussú (1997), complementa que, a partir desta resolução, surgiram formas de promoções como “a venda de espaço publicitários nos estádios, comercialização de camisetas e chaveiros, cujo pioneirismo coube aos clubes gaúchos Internacional e Grêmio, bem como ao São Paulo” (CAPINUSSÚ, 1997, p. 98). Esta forma de promover uma marca através de anúncios expostos em uma partida de futebol, que o autor denomina de “mídia alternativa”, teve, e ainda tem, um impacto bastante positivo por atingir um elevado número de consumidores por um custo inferior aos da mídia convencional. O desenvolvimento tecnológico de comunicação audiovisual impulsionou a popularização do esporte e “revelou-se logo uma fonte excepcional de faturamento publicitário para as emissoras de TV e de estímulo ao consumo massivo de uma infinidade de produtos”(MAGNONI, 2010, apud GASPARINO 2013, p.37). Assim, o futebol, além de ​ ​ entretenimento, é visto como uma lucrativa oportunidade de negócio onde, “a própria rotatividade dos jogadores reflete a lógica capitalista de circulação de mercadorias; e a televisão e a publicidade tornaram-se elementos importantes no aumento do ganho dos jogadores” (QUARTEZANI, 2007, p.18). Em 2017, a BDO5 divulgou6 um valor recorde de mais de R$ 10,2 bilhões atingidos pelos 40 clubes brasileiros analisados na 10ª edição de um estudo de avaliação das marcas. Segundo a pesquisa: O valor é uma clara demonstração que os clubes perceberam o potencial que têm e que o processo de branding pode gerar um rentável ciclo para os negócios dos clubes ao longo ​ dos anos. Falar a linguagem dos seus patrocinadores e se relacionar com qualidade com seus mais variados públicos têm sido cada vez mais debatido internamente nos clubes.

5 Empresa de auditoria e consultoria do Brasil. ​ 6 Disponível em: ​ . Acesso em: 25 de ago. 2018. ​

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A pesquisa conclui, citando como exemplo dessa percepção dos clubes, a exploração nas mídias sociais e a criação de conteúdos específicos para o engajamento do seu público. Para esses feitos, destacamos a importância fundamental da organização em possuir um departamento que trabalhe a comunicação do clube com profissionais capacitados e em condições de atender todas as demandas que o clube necessita, auxiliando, principalmente no monitoramento dos torcedores e da imprensa esportiva, e assim contribuir para uma maior eficiência no planejamento de ações em benefício da organização.

1.2.1 O Marketing esportivo como instrumento de comunicação

Não se concebe hoje uma empresa no mundo moderno sem um departamento de Marketing. Na estrutura organizacional de um clube de futebol, o Marketing possui extrema ​ importância e tem papel vital para a imagem e identidade do clube onde realiza um conjunto de atividades que visa a entender e a atender às necessidades do cliente na busca pela sua fidelização e alavancar receitas. Eis alguns exemplos de ações de marketing esportivo mais praticadas pelos grandes clubes do futebol nacional, segundo estudos realizados por Junior, ​ Andrade e Batista (2017): a) Reforma ou construção de estádio (isso ajuda no aumento de bilheteria e dá uma maior comodidade ao adepto); b) Lançamento do terceiro uniforme (aumentando as vendas nas lojas); c) Lançamento de filmes e livros (apelo à nostalgia); d) Desenvolvimento do memorial do clube (aumentando a afinidade do torcedor com a história do clube); e) Construção de lojas oficiais do clube; f) Patrocinador máster e o programa de sócio torcedor (ações bem representativas no aumento das receitas anuais) Com diferentes tamanhos e diferentes finalidades, os projetos de patrocínios desenvolvidos no Marketing exigem inteligência para mesclar as propriedades da organização. Os profissionais que atuam no departamento de Marketing dos clubes enfrentam o desafio de pensar além do produto quando planejam um projeto de patrocínio. Marcus Duarte7, gerente de marketing do Club de Regatas Vasco da Gama, aponta:

7 Entrevista disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=d0ssPQvv3eM&t=5s>. Acesso em: 30 de out. 2018. ​ ​ ​

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Temos um desafio. As grande empresas não compram mais projetos de patrocínios simplesmente pela visibilidade. Empresas que tem marca como ambev, coca-cola, as grandes telefonias… Essa empresas não querem pagar mais por patrocínio em futebol para estamparem a marca simplesmente no uniforme. Essas empresas querem mais do que isso. Elas querem poder falar com os torcedores. O vasco tem em torno de 11 milhões de torcedores, o fluminense tem em torno de 4,5 milhões, Corinthians e Palmeiras na faixa de 30 milhões. Como eu falo com esse torcedor e esse cliente? Como eu transformo a relação com esse torcedor e cliente em negócio? Como eu fidelizo ele? Não só trazê-lo para dentro do plano de sócio torcedor, mas como eu através do plano sócio torcedor estabeleço uma outra relação onde eu conheço os movimentos comerciais e os movimentos dele em relação ao clube? (MARCUS DUARTE, 2016)

Essas questões levantadas demonstram a necessidade do departamento de Marketing em possuir profissionais capacitados em criar ações onde o clube consiga atender os interesses do ​ seu patrocinador a partir do entendendimento do comportamento e das necessidades do sócio torcedor. No entanto, para se obter sucesso nos objetivos propostos, é fundamental uma organização na estruturação do departamento de Marketing (figura 3) que envolvam o Relacionamento, Comercial e a Comunicação bem alinhados e atentos a todas as oportunidades de atrair o torcedor e investidores para o clube, através do trabalho de cada segmento dentro do departamento. O alto uso das mídias digitais facilita a disseminação de informações, ideias e experiências que permitem aos consumidores colaborarem para a criação de valor das marcas. Marcus Duarte defende a utilização pontual da imagem dos ídolos dos times de futebol em campanhas e promoções com os patrocinadores pois de alguma forma as imagens aproximam o ídolo do torcedor. Tirar uma selfie, fazer uma imagem com o jogador, uma mensagem, participar de algumas promoções que envolvem os atletas (seja o basquete, seja o futebol) é isso que o torcedor muitas vezes espera. Eu tenho que oferecer essas oportunidades para que os meus patrocinadores possam levar os seus clientes a oportunidade de estar junto no esporte. Essa relação que o mercado espera. (MARCUS DUARTE, 2016)

Ao longo dos últimos anos, Kotler (2012) confirma a evolução do marketing que passou a olhar para além do consumidor para a abordagem centrada no ser humano. “Em vez de tratar as ​ pessoas simplesmente como consumidoras, os profissionais de marketing as tratam como seres humanos plenos: com mente, coração e espírito” (KOTLER, 2012, p.16). O Marketing atual das

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organizações esportivas enfatiza desenvolver o lado emocional dos seus torcedores, desenvolvendo ações que não valorizem só a qualidade técnico dos jogos. O foco é para que o “produto” clube seja extremamente interessante além das quatro linhas evidenciando a paixão do torcedor por seu time.

1.2.2 Relacionamento com a imprensa como estratégia de comunicação

Centenas de comunicadores trabalham diariamente para manter o esporte mais popular do país nas manchetes dos jornais, sites, TVs e rádios, com objetivo de atualizar seus torcedores com as últimas notícias dos clubes de futebol e seus campeonatos. O assessor de imprensa é responsável por atender os veículos midiáticos e promover uma visibilidade positiva oferecendo pautas e gerenciando imprevistos para garantir que a imagem do clube não seja afetada por notícias prejudiciais. Dentro das organizações, o assessor deve ir além dos trabalhos operacionalizados pelas intensas demandas da imprensa e não se limitar a função de “apagar incêndios” como são comumente conhecidos. Faria (2010) define pelo menos quatro premissas consideradas indispensáveis para permitir que uma organização aproveite o potencial estratégico oferecido pelos gestores e especialistas em comunicação. São elas: I- amplo acesso das assessorias às instâncias de poder e aos níveis decisórios internos; II- a capacidade de organizações e assessorias suportarem, com naturalidade, os elementos de pressão e os conflitos que permeiam as relações com a imprensa; III- esta de caráter instrumental: a assessoria de imprensa tem uma dimensão maior do que o mero papel de “despachante de releases”; ​ ​ IV- há uma premissa vinculada ao conhecimento teórico no campo da comunicação social. [...] Uma abordagem mais estratégica e ampla requer da assessoria a articulação de um conjunto de ações que contemple públicos diversos (FARIA, 2010, p.138). Por ser a ligação entre a organização e a imprensa, a assessoria de imprensa acaba sendo uma importante ferramenta efetiva do Marketing. Com função estratégica favorável para o fortalecimento da imagem do clube no mercado do futebol, o relacionamento com a imprensa exige que o assessor conviva com a realidade da organização, participando e compartilhando de tomadas de decisões junto aos demais gestores do clube, conforme defende Faria (2010) : Do ponto de vista do profissional de comunicação, o pré-requisito é ter acesso, livre trânsito e portas abertas o tempo todo. Se não for assim, se internamente a assessoria

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não estiver inserida no circuito das decisões e do poder, o trabalho será precário, penoso e, por que não dizer, em vão (FARIA, 2010, p. 138). O envolvimento do assessor de imprensa com a organização se faz necessário para identificar oportunidades de evidenciar a marca do clube além dos veículos esportivos, considerando que os clubes de futebol, estando bem ou mal em campo, sempre estarão pautados nas editorias de esporte. Ser referência no mercado requer ampliar a visibilidade do clube ao atingir outros veículos com uma linha editorial relevante e não necessariamente com grande visualização, para temas especializados como economia, turismo, tecnologia e saúde. O jornalista Ricardo Mituti8 afirma que “o departamento de marketing otimiza os resultados da assessoria na captação, na busca por novos negócios, novas oportunidades, para o mercado perceber o valor real que o clube tem como instituição” (MITUTI, 2018). Um trabalho estratégico que parte de um planejamento bem definido entre os profissionais do departamento junto com os dirigentes do clube, para assim alcançar os objetivos pretendidos, que vão desde a autoestima do torcedor, credibilidade com a imprensa até a conquista de patrocinadores. Mais do que uma ferramenta de fortalecimento de marca, a assessoria de imprensa representa a transparência da organização, pois é uma ponte que liga a organização com a imprensa aproximando-se da sociedade e que, conforme Faria (2010), em “uma abordagem mais estratégica e ampla requer da assessoria a articulação de um conjunto que contemple públicos diversos.” (FARIA, 2010, p.139). Trabalhar a organização e mostrar para outros mercados o tamanho e o trabalho que uma instituição, como a dos grandes clubes de futebol tem fora das quatro linhas, é fundamental para a alavancar as marcas e gerar novos mercados.

8 Entrevista disponível em: . Acesso em: 2 de nov. ​ ​ ​ 2018.

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2. ORGANIZAÇÕES ESPORTIVAS E OS AMBIENTES DE TENSÃO

Na década de 1990 a Europa iniciou a exploração e a promoção de eventos baseados no futebol como uma atividade organizada e lucrativa com finalidade de melhorar o desempenho esportivo “transformando a organização em clube-empresa com lógica de mercado, o que profissionalizaria o esporte e promoveria o equilíbrio entre desempenho esportivo e financeiro” (OLIVEIRA, M. C. de et al. 2017, p.47)”. ​ ​ O desenvolvimento dos clubes, que passaram a ser vistos como clubes empresas por envolver grandes quantias monetárias, exigiu uma estrutura mais complexa com uma gestão preparada para enfrentar momentos de tensões que afetam o crescimento econômico do clube, assim como em qualquer outra organização que visa ao resultado financeiro. Atualmente, a conquista de títulos gera um “efeito cascata” no crescimento de uma organização esportiva, onde, quanto mais títulos conquistados, há um aumento da presença na mídia, no envolvimento de patrocinadores, mais jogadores são revelados, torcedores fidelizados e por consequência, maior crescimento de valor da marca do clube no mercado esportivo. No entanto, para conquistar títulos é preciso investimentos em estrutura e profissionais capacitados, tanto na gestão administrativa quanto dentro de campo. Além do mais, são os resultados dentro de campo que refletem a situação organizacional. Assim como uma empresa percebe uma queda na produção, os resultados negativos nos campeonatos, são um sinal de alerta para a gestão do clube tomar iniciativas que amenizem e previnam uma situação agravante. Abordaremos as tensões que afetam um clube de futebol por serem momentos ou situações que ocorrem na organização e que direcionam para uma possível crise ameaçando a imagem do clube. Como em qualquer outra empresa, gestores precisam lidar com tensões em ​ diferentes esferas organizacionais. Para Smith & Lewis (2011) “o perfil de profissionais ​ contratados influenciará muito nos conflitos entre empoderamento de pessoas e direcionamento de funções e também na rotina sistematizada e processos de mudança”, pois com a diversidade de funções que uma organização complexa, como a dos clubes de futebol, é comum que profissionais não capacitados estejam ocupando cargos inadequados para sua função. Ainda de acordo com os autores: As tensões organizacionais emergem do comprometimento a contrariedade à estrutura da organização, de sua cultura e de suas práticas e processos. São geradas por existirem demandas competitivas e excludentes entre si no processo de tomada de decisão dos gestores (SMITH & LEWIS, 2011, apud BARBOSA, DIAS e ROSA, 2017, p. 4).

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Nos clubes de futebol, momentos de tensão podem envolver a vida pessoal de um atleta, conflitos entre torcidas, dívidas da organização com o governo, entre outros. Essas tensões podem tomar proporções agravantes se mal geridas e dependendo a notoriedade do clube, impulsionada pela repercussão, prejudicar ainda mais a imagem da organização. Um exemplo de tensão nos clubes de futebol que podemos destacar é o do Sport Clube Corinthians Paulista, que, em 2007, o então presidente interino Alberto Dualib foi acusado de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, resultando no afastamento do presidente. Conforme noticiado em 27 julho de 2007 na Folha de São Paulo, ("Caso Dualib" confunde até ​ ​ ​ Conselho Deliberativo do Corinthians), o fato revelou o despreparo do Conselho do clube, em ​ conduzir o processo de afastamento do presidente. Em meio aos problemas políticos e financeiros, o Corinthians deixou a delicada situação da equipe no Campeonato Brasileiro em segundo plano o que resultou no rebaixamento para a Série B do Campeonato Brasileiro em dezembro de 2007. Os motivos de um rebaixamento, muitas vezes, vêm da soma de um conjunto de acontecimentos negativos que podem surgir desde questões administrativas até o desempenho dos jogadores dentro de campo e que fogem do controle dos gestores da organização. A incredulidade de que pequenas tensões podem potencializar um possível rebaixamento é um forte fator da carência de um planejamento organizacional. Como relata Rodrigo Weber, Assessor de Imprensa no ano de rebaixamento do Sport Club Internacional, em entrevista9:

Falta muito esse planejamento, falta totalmente. Muito porque tu acha que não ta em crise. A instituição acha que não está em crise [...] No futebol é aquela coisa, como se tu ganhar no domingo melhora tua situação, fica sempre trabalhando pra amenizar, esperando que domingo tu vai ganhar, até quando não damais. No nosso caso foi até na última rodada, (WEBER, 2018).

Atualmente, no Brasileirão de 2018, há apenas cinco clubes que nunca caíram para Série B: Chapecoense; Cruzeiro; Flamengo; Santos e São Paulo. Desde 1989, quando a CBF decide, ​ pela primeira vez, nomear oficialmente o principal torneio nacional de futebol do país de Campeonato Brasileiro, 48 clubes10 já caíram de divisão ao menos uma vez. São eles: Bangu ​ (1988), Santa Cruz (1988, 1993, 2001, 2006 e 2016), Criciúma (1988, 2004 e 2014), America-RJ

9 Entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta monografia. ​ 10Disponível em: . Acesso em: 3 de out. 2018.

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(1988), Atlético-PR (1989, 1993 e 2011), Guarani (1989, 2004 e 2010), Sport (1989, 2001, 2009 e 2012), Coritiba (1989, 1993, 2005 e 2009), São José-SP (1990), Inter de Limeira (1990), Grêmio (1991, 2004), Vitória (1991, 2004, 2010 e 2014), Náutico (1992, 1994, 2009 e 2013), Paysandu (1992, 1995 e 2005), América-MG (1993, 1998, 2001, 2011 e 2016), Ceará (1993, 2011), Goiás (1993, 1998, 2009 e 2015), Fortaleza (1993, 2003 e 2006), Desportiva Ferroviária (1993), Remo (1994), União São João (1995 e 1997), Bahia (1997, 2003 e 2014), Criciúma (1997), Fluminense (1997), Bragantino (1998), América-RN (1998), Gama (1999 e 2002), Paraná (1999, 2007), Juventude (1999), Botafogo-SP (1999 e 2001), Portuguesa (2002, 2008 e 2013), Palmeiras (2002 e 2012), Botafogo (2002 e 2014), Atlético-MG (2005), Brasiliense (2005), Ponte Preta (2006 e 2013), São Caetano (2006), Corinthians (2007), Juventude (2007), Figueirense (2008, 2012 e 2016), Vasco (2008, 2013 e 2015), Ipatinga (2008), Santo André (2009), Grêmio Barueri/Prudente (2010), Avaí (2011) e 2015), Atlético-GO (2012), Joinville (2015) e Internacional (2016). Considerando esse quadro de recorrência ao estado de crise que leva ao rebaixamento e ao processo de reconquista do lugar da primeira divisão - observa-se que muitos não voltam a ocupar essas posições - é importante o olhar demorado sobre como ocorrem os enquadramentos midiáticos durante o campeonato e que culmina no rebaixamento. Para essa pesquisa monográfica foram escolhidos quatro organizações para que componham o recorte a ser investigado.

2.1 Grêmio, Inter, Corinthians e Palmeiras: casos de rebaixamento Para esse estudo, buscou-se olhar com maior atenção os clubes gaúchos Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e Sport Club Internacional e para os clubes Sport Club Corinthians ​ ​ Paulista e Sociedade Esportiva Palmeiras do estado de São Paulo, pelo fato de serem grandes clubes rivais responsáveis por dois dos maiores clássicos do futebol nacional (Internacional x Grêmio e Corinthians x Palmeiras) conforme a lista dos 50 maiores clássicos do futebol mundial publicada pelo jornal inglês Daily Mirror11 em outubro de 2017. O ano do rebaixamento de cada um dos quatro clubes foi o ano escolhido para analisar como a mídia enquadrou as tensões ocorridas no decorrer do campeonato que levou os clubes para a Série B do Brasileirão.

11 Disponível em: . ​ ​ Acesso em: 3 de out. 2018.

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A seguir, serão apresentadas brevemente a história dos clubes analisados, de acordo com informações disponibilizadas em seus sites oficiais e um pequeno resumo12 informando os principais pontos na temporada que resultou no rebaixamento dos clubes.

2.1.1 Grêmio Football Porto Alegrense13 A trajetória vitoriosa do Grêmio Football Porto Alegrense começou com o paulista ​ Cândido Dias da Silva, trabalhando há algum tempo em Porto Alegre e sua bola de futebol. Nessa época apareceu na capital gaúcha a equipe de futebol do Sport Clube Rio Grande. Os ingleses e alemães que jogavam nos times de Rio Grande haviam sido convidados para uma exibição na cidade. No dia marcado, 7 de setembro de 1903, o campo da várzea ficou rodeado de curiosos. Cândido, com sua bola de baixo do braço, estava entre eles com a atenção redobrada. Em dado momento, a bola dos ingleses esvaziou-se, para desapontamento geral. Cândido, mais do que depressa, emprestou a sua, garantindo o final da demonstração. Em troca, ao final da partida, obteve dos jogadores as primeiras lições sobre futebol e, principalmente, deles ficou sabendo como agir para fundar um clube. Foi então, em 15 de setembro de 1903, que trinta e dois rapazes se reuniram no Salão Grau, restaurante de um hotel da Rua 15 de Novembro, atual rua José Montaury, localizado onde estão agora os fundos da Galeria Chaves e deram início à história de um clube vencedor, disposto a superar todos os desafios. Carlos Luiz Böhrer foi eleito o primeiro Presidente, sem jamais imaginar a projeção mundial que o recém-nascido clube um dia alcançaria. O Grêmio ao longo de sua história soma dois rebaixamentos: 1991 e 2004. Na primeira vez, terminou a primeira fase da competição com 12 pontos em 19 jogos, na 19ª colocação. Depois, em 2004, cheio de dívidas, montou um time fraco e terminou na última posição (24º) com apenas 9 vitórias em 46 rodadas de Brasileirão.

2.1.2 Sport Club Corinthians Paulista14

Às 20h30 do dia 1º de setembro de 1910, à luz de um lampião, na esquina das ruas José Paulino e Cônego Martins, no bairro do Bom Retiro, o grupo de operários formado por Anselmo Corrêa, Antônio Pereira, Carlos Silva, Joaquim Ambrósio e Raphael Perrone fundaram o Sport

12 Disponível em: . ​ ​ ​ Acesso em: 6 de out. 2018 13 Disponível em: Acesso em: 7 de out. 2018 ​ ​ ​ 14 Disponível em: Acesso em: 7 de out. 2018 ​ ​ ​

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Club Corinthians Paulista. Com mais oito rapazes, foi formada a reunião dos primeiros integrantes e sócio-fundadores do Timão, que teve seu nome inspirado na equipe inglesa Corinthian-Casuals Football Club, que fazia excursão pelo Brasil. O presidente escolhido por eles foi o alfaiate Miguel Battaglia, que, já no primeiro momento, afirmou: “O Corinthians vai ser o time do povo e o povo é quem vai fazer o time”. Um terreno alugado na Rua José Paulino foi aplainado, virou campo e foi lá que, já no dia 14 de setembro, o primeiro treino foi realizado diante de uma plateia entusiasmada, que garantiu: “Este veio para ficar!”. Dono da segunda maior torcida do país, o timão foi rebaixado em 2007. Com nome pouco querido entre os torcedores, Fábio Ferreira, Lulinha e Finazzi, o time, além da falta de qualidade técnica, passou por um momento conturbado nos bastidores. Em meio a acusações de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro - por causa do obscuro acordo com a MSI, o então presidente Alberto Dualib deixou o comando do Corinthians pouco antes da queda.

2.1.3 Sociedade Esportiva Palmeiras15

A história da Sociedade Esportiva Palmeiras começa em 1914, quando o sonho de grande parte dos imigrantes italianos na cidade de São Paulo se tornou realidade. Impulsionados pela excursão do Torino e do Pro-Vercelli ao Brasil, no início do século XX, os jovens Luigi Cervo, Luigi Marzo, Vincenzo Ragognetti e Ezequiel Simone divulgaram através do jornal Fanfulla, órgão de imprensa voltado aos oriundi, um convite aos interessados na fundação de uma agremiação esportiva que tivesse a representatividade que a imensa colônia merecia. Após algumas reuniões e discussões acerca do novo clube, em 26 de agosto de 1914, no extinto Salão Alhambra, à época situado na região da Praça da Sé, e na presença de 46 interessados (em sua maioria funcionários das Indústrias Matarazzo), foi fundado o Palestra Itália – a palavra Palestra, de origem grega, significa em tradução livre da língua italiana “academia ou escola onde se pratica atividades físicas”. Até então, havia algumas agremiações de origem italiana na capital paulista, mas nenhuma era grande o suficiente. Como a Itália foi definitivamente unificada apenas no final do século XIX, ainda era perceptível no Brasil o agrupamento de imigrantes oriundos de uma mesma região, com calabrases, sicilianos, vênetos, napolitanos, entre outros, convivendo entre si e até falando seu próprio dialeto.

15 Disponível em: . Acesso em 7 de out. 2018. ​ ​ ​

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O Palmeiras já amargou duas quedas em sua história. A primeira aconteceu em 2002. Depois que retornou à Série A, em 2004, o time não conseguiu nada além de um título estadual (2008), um título da Copa do Brasil (2012), e mais um rebaixamento para a segunda divisão, no ano de 2012. Bicampeão da Série B em 2013, o verdão retorna a Série A em 2014.

2.1.4 Sport Club Internacional16 A origem do Sport Club Internacional está associada a três irmãos da família Poppe: Henrique Poppe Leão, José Eduardo Poppe e Luiz Madeira Poppe. Eles chegaram a Porto Alegre na primeira década de 1900. Acredita-se que foi por volta de 1908. Henrique Poppe logo arranjou um emprego no comércio da capital, no bazar "Ao Preço Fixo", localizado na Rua da Praia. Em seguida, por influência do tio Thomé Castro Madeira, filiou-se ao PRR (Partido Republicano Riograndense - comandado por Borges de Medeiros) e tornou-se funcionário da Secretaria do Conselho da Intendência (prefeitura), além de escrever para "A Federação" (jornal do PRR). Ainda trabalharia nos jornais "Echo do Povo", "O Diário", "Gazeta do Povo", "O Exemplo" e foi diretor de redação do semanário "A Rua". Os irmãos mais jovens da família Poppe, José e Luiz, tinham o desejo de jogar futebol, um esporte muito competitivo e que aprenderam a praticar ainda em São Paulo. Henrique, o irmão mais velho e influente, articulou a criação de um novo clube. Aos 18 anos, João Leopoldo Seferin, que emprestou o porão da casa do pai para a reunião de fundação do Inter, na Rua da Redenção, 141 (atual Avenida João Pessoa, na altura do número 1.025), foi eleito presidente. O colorado começou bem o Brasileirão 2016, chegou a liderar a competição no seu início, mas aos poucos foi caindo e na terceira rodada do returno já estava no Z4. Tendo emprestado o seu melhor jogador e ídolo “D’alessandro” aos argentinos do River Plate, e com um time tecnicamente limitado, o Inter não conseguiu se manter na elite do Campeonato Brasileiro, por tomar decisões equivocadas durante a temporada, a sua diretoria foi talvez a grande culpada pelo rebaixamento do gigante gaúcho.

2.2 Os enquadramentos da imprensa em períodos de crise

Para a presente pesquisa foi definido o ambiente midiático mais significativo e com maior circulação nos estados dos clubes analisados. No Rio Grande do Sul, a pesquisa

16 Disponível em: . Acesso em 7 de ​ ​ ​ out. 2018.

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realizou-se no jornal Zero Hora, também conhecido por ZH, e que, conforme levantamento da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), é também o mais lido da Região Sul e está entre os primeiros no ranking nacional. Para os clubes paulistas, foi realizada a pesquisa na Folha Online, versão eletrônica do jornal Folha de S.Paulo, onde, desde a década de 80, o jornal é o mais vendido do país entre os diários nacionais de interesse geral. Buscou-se realizar um estudo comparativo entre os títulos17 de notícias jornalísticas publicadas nos anos em que os quatro clubes foram rebaixados para a Série B do Campeonato Brasileiro. Nos casos dos clubes Grêmio e Palmeiras, que caíram duas vezes, o ano analisado é o do último rebaixamento. A escolha de avaliar os títulos das matérias se deve pelo fato de ser o elemento do texto jornalístico que informa em uma única frase o assunto da notícia. Segundo Guimarães (2006), os títulos “não são, por conseguinte, meros artifícios publicitários, mas chaves para a decodificação da mensagem, se convenientemente propostos. Enunciados sucintos de qualquer mensagem, sua interpretação deve ser integrada numa leitura global (GUIMARÃES, 2006, p. 51)”. O título assume maior destaque nas folhas de jornais e sites noticiosos. Nos dias atuais, onde o leitor busca consumir informações no menor tempo possível, os títulos têm a importante função de chamar a atenção e despertar o interesse para dar a sequência na leitura. A partir dos títulos das notícias jornalísticas, podemos analisar como impactam o leitor e o torcedor a partir do primeiro enquadramento noticioso, ou seja, o sentido que o jornalista conduzirá o acontecimento. Os títulos foram divididos em três períodos do Campeonato Brasileiro, considerando as suas fases: 1. Fase de entrada no campeonato; 2. Fase crítica em relação aos outros clubes de futebol e 3. Fase de sentenciamento ao rebaixamento. Dentro de cada período, foi feito um levantamento das principais características dos títulos e dividindo-os em três funções da linguagem, são elas:

a) Função referencial - Quando o título tem a função de “produzir uma informação teórica com a finalidade de transmitir conhecimentos acerca de seu objeto de estudos.” (CHALHUB, 1999, p.11), priorizando dados concretos, fatos e circunstâncias. b) Função poética - “A mensagem está voltada para si mesma: as características físicas do signo, seu estatuto sonoro, visual, são privilegiadas, decorrendo um sentido não previsto

17 Material disponível nos Anexos deste trabalho.

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numa mensagem de teor puramente convencional (CHALHUB, 1999, p.38)”. A preocupação está com a estética da mensagem. c) Função conativa - Quando o objetivo da mensagem é influenciar o receptor ou destinatário, com a intenção de convencê-lo de algo ou dar-lhe ordens. Foram compilados 91 títulos de notícias do jornal Zero Hora, no período de abril a novembro de 2004, referentes ao Grêmio Football Porto Alegrense; 113 títulos de notícias da ​ Folha de S.Paulo no período de maio a dezembro de 2007, referentes ao Sport Club Corinthians Paulista; 81 títulos de notícias do Folha de S.Paulo, no período de maio a dezembro de 2012, referentes ao clube Sociedade Esportiva Palmeiras, e 95 títulos de notícias do jornal Zero Hora, ​ no período de maio a dezembro de 2016, referentes ao Sport Club Internacional. A partir deste corpus, é possível chegar aos títulos mais representativos de cada fase e distribuí-los nas três categorias (referencial, poética e conativa) apresentadas.

clube FASE 1 FASE 2 FASE 3 (Entrada) (Crítica) (Rebaixamento) abr-mai-jun jul-ago-set out-nov-dez

GRE REFERENCIAL REFERENCIAL REFERENCIAL 04/06/2004 Clube prepara lista de dispensas 14/07/2004 Protestos voltam com força 04/10/2004 Três jogadores do Grêmio 15/06/2004 Clube não contratará apostas 30/07/2004 Grêmio identifica grupo que no tribunal provocou tumulto no Olímpico 13/10/2004 Rico agride torcedor no 10/09/2004 Plein se demite no ar pátio do Olímpico 26/11/2004 Bilica briga com Cláudio e está fora do Grêmio

POÉTICA POÉTICA POÉTICA 29/04/2004 O Grêmio desencanta 13/07/2004 Perigo à vista 08/10/2004 Tensões e explicações no 04/06 - A longa agonia tricolor 14/07/2004 De volta ao inferno Grêmio 04/06/2004 - Obino não diz nem sim nem não 17/07/2004 Começa a luta para não cair 20/10/2004 Fuga do fantasma 15/06/2004 Aceso o sinal de alerta no Olímpico 16/08/2004 Time confuso leva uma surra 22/11/2004 A lição que foi esquecida 29/06 - A volta da indignação do lanterna no Maracanã 25/10/2004 O inferno do Grêmio 19/08/2004 Grêmio afundado 08/11/2004 As raízes da crise 29/09/2004 O retorno do medo

CONATIVA CONATIVA 18/07/2004 Renuncie, presidente 27/10/2004 Só por um milagre 03/09/2004 Comecem a rezar 23/11/2004 Faltam só o presidente, o técnico e o time para 2005

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COR REFERENCIAL REFERENCIAL REFERENCIAL 22/05/2007 Depois de Roger, outros seis 13/07/2007 Grampos revelam conversas 09/10/2007 Liminares ameaçam ​ jogadores são afastados no Corinthians para impedir rebaixamento do eleições presidenciais no Corinthians 07/06/2007 Corinthians já estipula data para Corinthians 30/10/2007 Após anúncio da Fifa, ​ assumir liderança do Brasileiro 01/08/2007 Dualib pede licença e deixa parlamentares pedem criação da CPI do 30/06/2007 Além de clássico, Corinthians presidência do Corinthians por 60 dias Corinthians encara crise política 25/08/2007 Após derrota, Carpegiani 06/11/2007 Nelsinho admite que crise ​ deixa o comando do Corinthians política interfere no desempenho do 04/09/2007 Polícia Civil faz busca e Corinthians ​ apreensão de computadores no 02/12/2007 Fim da parceria contribuiu ​ Corinthians para rebaixamento do Corinthians

POÉTICA POÉTICA POÉTICA 13/06/2007 Corinthians foca topo da tabela 08/07/2007 Após empate do Corinthians, 01/10/2007 Após trocar farpas com ​ por manutenção do bom clima Carpegiani põe culpa na ansiedade torcida, Édson ganha "folga" no 31/07/2007 Para Carpegiani, apenas Corinthians ​ jogadores podem devolver paz ao 19/10/2007 Presidente pede tempo e diz ​ Corinthians que Corinthians não é "bomba-relógio" 21/09/2007 Às vésperas de clássico, 29/11/2007 Corinthians lamenta chance ​ Corinthians tenta blindar elenco de perdida e vê jogo de "vida ou morte" no problemas Sul

CONATIVA CONATIVA 28/08/2007 Corinthians: crise sem 21/09/2007 Saiba quem é Alberto ​ ​ precedentes Dualib 23/10/2007 Série B não é solução para ​ ninguém

PAL REFERENCIAL REFERENCIAL REFERENCIAL 20/05/2012 - Felipão não pensa em ficar no 04/09/2012 Em má fase, clube baixa 31/10/2012 Palmeiras vai contratar ​ Palmeiras para 2013 ingresso para R$ 20 perito para analisar leitura labial da 20/05/2012 - Habituado a vencer no início, 10/09/2012 Scolari diz que fica em caso arbitragem time joga mal e para na Portuguesa de rebaixamento 05/11/2012 Torcida do Palmeiras picha ​ 30/07/2012 - Palmeiras perde, volta à zona do 14/09/2012 Fim - Perigo de rebaixamento muros do clube e ameaça presidente de rebaixamento e culpa arbitragem faz Palmeiras demitir Scolari depois de morte 26 meses, tensões e só um título 18/11/2012 Empate entre Portuguesa e ​ 29/09/2012 Palmeiras comete mesmos Grêmio rebaixa o Palmeiras à Série B erros da queda de 2002, dizem rebaixados

POÉTICA POÉTICA POÉTICA 07/06/2012 - Palmeiras lamenta erros e vê 16/08/2012 Palmeiras festeja pontos, mas 05/11/2012 Kleina vê evolução do ​ ​ ​ vitória urgente no sábado não saída da zona de rebaixamento Palmeiras e prega crença em milagres 10/06/2012 - Clube amarga seu terceiro pior 28/08/2012 Palmeiras faz contas para 06/11/2012 Palmeiras joga para evitar ​ ​ público no ano fugir da degola e observa reforços na vexame histórico Série B 10/11/2012 Palmeiras tenta afiar sua ​ pontaria para escapar da degola

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CONATIVA CONATIVA CONATIVA 18/07/2012 - Alguma coisa está fora da 31/08/2012 Crise interna pode impedir 24/10/2012 Só briga contra queda resta ​ ​ ordem renovação de Scolari para 2013 ao Palmeiras 02/09/2012 Salvem o Palmeiras

INT REFERENCIAL REFERENCIAL REFERENCIAL 30/05/2016 Inter é 100% fora de casa 11/07/2016 Desembarque sob protestos 14/10/2016 - Anderson e William 13/07/2016 Falcão, o novo técnico do brigam em treino do Inter no Beira-Rio Inter 11/11/2016 Inter abre check-in gratuito 08/08/2016 Paulo Roberto Falcão não é para sócios em jogo contra Ponte Preta mais técnico do Inter 01/12/2016 Inter pede para STJD analisar situação de zagueiro do Vitória 11/12/2016 Inter empata com o Fluminense e está rebaixado para a Segundona

POÉTICA POÉTICA POÉTICA 27/05/2016 Sem encanto mas com eficiência 05/07/2016 A constante mutação do Inter 07/10/2016 Para Iluminar a Série A 02/06/2016 Inter vence, vira líder e da uma 17/08/2016 Dois meses sem gosto de 17/10/2016 Inter acerta um soco no Z-4 secadinha vitória e respira 27/06/2016 Alex x torcedor 29/08/2016 O Z-4 deu as caras. 31/10/2016 O medo volta ao Beira-Rio 31/08/2016 Ataque novo para uma velha 22/11/2016 Inter afunda crise 22/11/2016 Cada vez mais perto da 21/09/2016 Matemática da salvação segundona 19/09/2016 Roth se agarra as raízes para fugir do Z-4

CONATIVA CONATIVA 12/07/2016 O novo técnico precisa ter 22/11/2016 Queda parece questão de estrada tempo

Após observados alguns dos títulos categorizados na tabela acima, trataremos na próxima seção da análise da pesquisa.

2.3 A imprensa como espaço deflagrador da tensão Ao iniciar a análise dos títulos, é importante destacar que é possível identificarmos mais de uma função de linguagem em diferentes níveis na mesma mensagem, a depender do sentido textual no qual o título se refere. Segundo Chalhub (1999), “a emissão, que organiza os sinais físicos em forma de mensagem, colocará ênfase em uma das funções — e as demais dialogarão em subsídio. Assim, um dos fatores prevalecerá, certamente,” (CHALHUB, 1999, p.6). Na relação dos títulos pesquisados é explícita essa coexistência das funções referencial e poética dos títulos por compreender as principais características do jornalismo esportivo: informar e entreter.

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Podemos observar o uso das duas funções citadas em um mesmo título, como mostra os dois exemplos a seguir:

No primeiro título, o autor faz uso do adjetivo “amarga” para enfatizar a notícia, já no segundo, há uso de citação justificando um fato que será explicado no decorrer do texto. As citações frequentemente são usadas e sempre são recortes da fala do indivíduo que impactam o leitor como é o caso do “bomba-relógio” referido acima, e de outros exemplos como: a) Felipão “A coisa está preta para o lado do Grêmio” (Zero Hora, 22/10/2004). b) A solução Cláudio Duarte “Não aceito time covarde” (Zero Hora, 28/10/2004). c) “Temos nossa tragédia pessoal, a fuga do rebaixamento", diz Carvalho sobre adiamento de rodada (Zero Hora, 30/11/2016). É interessante observar que os títulos, nos quais prevalece a função referencial, a mensagem traz dados institucionais, comumente usando o nome da organização esportiva. Informações relevantes e factuais que noticiam casos emblemáticos fora de campo, como conflitos políticos, brigas de torcida organizada e demissões. Os títulos com essa função de linguagem acabam sendo notados com maior volume a partir da fase crítica do campeonato brasileiro, onde ocorre uma maior frequência de tensões envolvendo o clube, como mostram os três títulos a seguir:

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Zero Hora, 13.jul.2016. Caderno de esporte, p. 36

Por outro lado, a função poética é evidente nas três fases do campeonato com constância por enfatizar a notícia que está sendo anunciada onde, “mais que resumir o texto, procuram deixar o leitor em dúvida, seduzem e criam expectativas que o levem à leitura do texto” (PELLIM, 2008, p.4). Devido ao alto grau de entretenimento que o jornalismo esportivo apresenta no Brasil, como indica Messa (apud Pellim, 2008), ao folhearmos os cadernos de esportes, encontramos com facilidade frases curtas com o uso de adjetivos e verbos específicos com o intuito de chamar a atenção do leitor.

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(Zero Hora, 04.jun.2004. Caderno de esporte, p. 59)

(Zero Hora, 17.ago.2016. Caderno de esporte, p. 39)

Observamos, no primeiro exemplo acima, o uso da expressão “nem sim nem não”, que utiliza a aproximação de palavras com idéias opostas, provocando dúvidas e despertando curiosidade no leitor. O autor da notícia poderia ter sido direto, informando no título que “o presidente Obino não definiu nenhuma mudança na direção de futebol”, mas o objetivo é encontrar meios que melhorem a elaboração da própria mensagem, “decorrendo um sentido não ​ previsto numa mensagem de teor puramente convencional” (CHALHUB, 2003, p. 38). Já no título “Dois meses sem gosto de vitória”, o autor utiliza a figura de linguagem para anunciar que o time não vence há dois meses, usando uma expressão comum no futebol que relaciona a “vitória” de uma partida com uma sensação gustativa. Expressões essas que chamam ​ a atenção do leitor e, muitas vezes, levam a subjetividade e induzem a construção de vários sentidos para um mesmo texto. Títulos com função conativa são raros de acordo com a pesquisa realizada. Quando publicados, normalmente, são por colunistas que se posicionam aparentando convencer o leitor sempre a partir de uma série de tensões já divulgadas no caderno de esportes e que, por tanto, aparecem como uma forma de conclusão ou resposta para todas as informações negativas do clube já veiculadas. Desta forma, títulos com funções conativas são identificados na fase crítica do campeonato como observado nos próximos exemplos:

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(Zero Hora, 12.jul..2016. Caderno de esporte, p. 34)

(Zero Hora, 22.nov..2016. Caderno de esporte, p. 37)

As funções da linguagem articuladas nas leituras dos títulos das matérias esportivas indicam, portanto, uma recorrência do enquadramento midiático aos modos de falar sobre o rebaixamento. O sentenciamento realizado pela imprensa, durante o ano de crise, culmina com o desfecho do rebaixamento. Para finalizar a leitura desta parte do estudo, apresentamos uma tabela comparativa que indica o enquadramento da imprensa durante as três fases do processo de rebaixamento:

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1ª fase 2ª fase 3ª fase Total

Grêmio Referencial = 4 Referencial = 10 Referencial = 8 = 22 91 títulos Poética = 10 Poética = 29 Poética = 20 = 59 Conativa = 0 Conativa = 3 Conativa = 7 = 10

Corinthians Referencial = 5 Referencial = 41 Referencial = 32 = 78 113 títulos Poética = 1 Poética = 18 Poética = 14 = 33 Conativa = 0 Conativa = 1 Conativa = 1 = 2

Palmeiras Referencial = 8 Referencial = 21 Referencial = 15 = 44 81 títulos Poética = 2 Poética = 14 Poética = 15 = 31 Conativa = 0 Conativa = 2 Conativa = 4 = 6

Internacional Referencial = 6 Referencial = 12 Referencial = 16 = 34 95 títulos Poética = 3 Poética = 34 Poética = 22 = 59 Conativa = 0 Conativa = 1 Conativa = 1 = 2

É possível verificar que, em comparação ao número de títulos conquistados - portanto com maior presença de mídia durante os anos de vitória, entre as funções da linguagem menos acionadas durante a crise do rebaixamento, foi a conativa. E o recorte editorial do veículo também é notório na tabela acima: o jornal paulista prioriza a função referencial, enquanto que o jornal gaúcho articula a função poética mais recorrentemente. Considerando essa diferença e as formas de relacionamento com a imprensa durante os períodos de crise, optamos por olhar demoradamente para o caso dos times gaúchos. O processo de reordenamento da organização futebolística durante o ano de rebaixamento foi relatado ‘pelo lado de dentro’, ou seja, pelos agentes de comunicação que travaram o diálogo com o veículo de imprensa acima citado (entre outros, claro) e que resultou nos textos mostrados.

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3. GRÊMIO E INTER: AS REAÇÕES ORGANIZACIONAIS

Centenas de profissionais da comunicação trabalham diariamente em programas especiais de rádio e televisão, cadernos e editorias de jornais e revistas exclusivas na cobertura esportiva, com destaque para o futebol, o esporte preferido dos brasileiros. Nos clubes de futebol, o Assessor de Imprensa é o profissional especializado do clube de futebol que atua como “facilitador dos diferentes fluxos de informação” (DUARTE, 2010, p.259). É ele o responsável por manter o relacionamento com os profissionais da mídia esportiva que estão sempre atentos em busca das últimas informações referentes ao clube com o objetivo de informar e entreter os principais responsáveis pela manutenção dos times: os torcedores. Este capítulo pretende apresentar alguns pontos importante do ano que levou os clubes gaúchos Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e Sport Club Internacional para o rebaixamento de série no Campeonato Brasileiro e as possíveis causas que colaboraram no desenvolvimento desta, que é a maior crise que um clube pode vivenciar. Compreender como as organizações dos dois clubes de futebol se relacionaram com a mídia em períodos de grandes e frequentes tensões pode ser uma estratégia para evitar e/ou saber lidar com a publicação de matérias com informações equivocadas e prevenindo graves consequências sobre a imagem do clube.

3.1 Assessoria de imprensa do Grêmio Foot-Ball Fundado em 15 de setembro de 1903, o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense tem em seu histórico dois rebaixamentos para Série B do Campeonato Brasileiro. O primeiro em 1991, quando estreava no Campeonato se candidatando ao título como um dos favoritos mas, meses depois, sob comando de , ao perder por 3 a 1 para o Botafogo em Niterói, o Grêmio caiu para a segunda divisão. Em 2003, com problemas administrativos no Clube a equipe quase foi rebaixada, salvando-se somente na última rodada da competição. No entanto, no ano seguinte, o clube não teve a mesma sorte e sofreu com o segundo rebaixamento com quatro rodadas de antecedência. A soma dos fatores que causaram a segunda queda do Grêmio vão desde a má qualidade técnica em campo até o despreparo da gestão financeira, onde as dívidas do clube chegaram a R$ 95 milhões.

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Em uma publicação na Zero Hora, o jornalista Mário Marcos de Souza relembra a despreocupação dos dirigentes em relação ao conturbado ano de 2003 negligenciando qualquer ação que pudesse modificar e preparar o clube para o ano seguinte. Durante o ano passado, quando a imprensa alertou que o clube estava tomando um rumo crítico e que precisava de medidas emergenciais, os conselheiros se omitiram, como sempre, e só reagiram este ano – tarde demais. Pior: a reação dá a impressão de ter sido muito mais uma disputa de poder político do que um plano para evitar o fundo do poço. [...] O Grêmio não se preparou como devia para a Lei Pelé, gastou mais do que poderia e foi castigado por omissões históricas. O duro preço para os desastres está sendo cobrado agora (Mário Marcos de Souza, ZH Esportes, 08/11/2004, p.11). Podemos observar no relato do jornalista Mário Souza que a relação do Grêmio com a imprensa iniciou conturbada na temporada de 2004. O fato de os conselheiros se omitirem ao alerta da imprensa e não externar em ações corretivas e preventivas relacionadas ao péssimo Campeonato de 2003, pode ter sido um gatilho para a mídia esportiva ficar ainda mais atenta com os acontecimentos do clube e propiciar o cenário ideal para a espetacularização das informações. De acordo com Forni (2010), a organização não deve “omitir-se quando existe uma crise instalada na empresa. A omissão nas pautas negativas dá ao jornalista o direito de escrever o que bem entende” (FORNI, 2003 apud SOUZA, 2008, p. 61), como mostram os títulos de algumas das primeiras publicações no caderno de Esportes do Jornal Zero Hora na fase de entrada do Clube no Campeonato Brasileiro:

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04/06/2004 - A longa agonia tricolor 15/06/2004 - Aceso o sinal de alerta no Olímpico 23/06/2004 - A lista dos “rebaixados” 13/07/2004 - Perigo à vista 14/07/2004 - De volta ao inferno Segundo Molleda (2010), a imprensa tende a buscar informações nas fontes oficiais, independente se a situação é de rotina ou em momento de tensão. Quando a situação é de crise, “as organizações podem ser proativas e prover informações subsidiadas aos meios de comunicação para que suas posições possam ser incluídas na cobertura” (MOLLEDA, 2010, p.159). O presidente Flávio Obino, quando se pronunciava, usava dos elogios ao ônibus e ao site do clube para desviar das questões referentes à crise instaurada na Organização, tornando-se motivo de deboche na mídia. Com poucas informações oficiais da diretoria do Grêmio, a imprensa conquistou a liberdade de produzir as pautas e as matérias publicadas ampliavam e até antecipavam resultados, como mostram os exemplos acima que fazem uso da expressão “rebaixados” já no início do Campeonato. Reconhecemos que há, na maioria das organizações, a impossibilidade de compatibilizar as estrutura (recursos humanos, financeiros e materiais) disponíveis com a diversidade e complexidade das atividades do profissional da Assessoria de Imprensa (DUARTE, 2010). No entanto, devido a má gestão financeira do clube, lamentáveis condições de trabalho resultaram em uma escassez de profissionais capacitados para atender todas as demandas que uma organização da grandeza do Grêmio exigia. Em entrevista18, o jornalista Rafael Pfaifer, estagiário do Grêmio na época, conta como era a estrutura da Assessoria de Imprensa: Em 2004, a gente tinha 4 pessoas [...] uma estrutura onde o Sérgio Schiller (jornalista) era responsável pelo futebol, o Márcio Neves (jornalista) responsável pelo site, eu e o Gustavo Petró (estagiário) responsáveis pelo resto. Sendo que trabalhando junto, eram 2. O Márcio que passava todo o dia, com o estagiário de manhã e com o estagiário de tarde. E o Sérgio Schiller com o time no vestiário.(informação verbal) Gabriel Camargo e Luiz Henrique Benfica, jornalistas que produziram uma série de reportagens publicadas no jornal Zero Hora em dezembro de 2004 com a retrospectiva do ano que levou o Tricolor à Série B do Brasileiro, apontam a falta de planejamento a longo prazo como um dos fatores decisivos para a queda do clube, onde, “não apostar nos associados como fonte de recursos e deixar de investir na construção de um centro de treinamentos foram dois dos

18 Entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice B desta monografia. ​

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piores erros cometidos ao longo das últimas duas décadas” (CAMARGO; BENFICA, 26/12/2004, p.41). O despreparo na gestão do clube refletiu não só financeiramente e tecnicamente como também no comportamento dos atletas. Foram inúmeros os relatos de conflitos internos, incluindo a indisciplina no grupo de jogadores onde se noticiou casos de discussões, festas nos retornos dos jogos e até jogadores flagrados na concentração do Olímpico com bebida alcoólica. Essa falta de comando sobre o grupo de jogadores abriu uma brecha para a imprensa atuar diretamente dos gramados registrando as insatisfações dos atletas após os treinos, como relata o jornalista Rafael Pfaifer, o repórter ele tinha acesso a todos os jogadores depois dos treinos, então ele podia escolher. Hoje a assessoria define quem é quem fala no dia do treino. E é entrevista coletivo hoje, naquela época não tinha. Jogador saia do treino, saia do campo e o repórter ia lá e botava o microfone na cara dele [...] naquela época os jogadores reclamavam muito na imprensa. E me lembro exatamente do Christian, centroavante na época, a cada novo treino o Christian dava uma nova entrevista cada vez mais bombástica, batendo na direção, batendo em todo mundo (PFAIFER, 2018). A partir destas situações, o Grêmio se viu obrigado a tomar a iniciativa de limitar a ligação entre o jornalista e o atleta, que agravava a imagem do clube na mídia. Segundo Rafael, inicialmente “o Grêmio fez um brete onde o jornalista não conseguia chegar perto do jogador e passou a definir que seriam entrevistas coletivas com um jogador escolhido pela imprensa.” A “barreira” criada para impedir o contato dos jornalistas com os jogadores se manteve até 2013, com a saída do Grêmio do Olímpico, sendo uma das poucas ações efetivas realizadas pelo clube. No entanto, mesmo com a péssima administração, endividado e na lanterna do ​ Campeonato desde a 29ª rodada, o Tricolor realizou uma partida histórica no Colosso da Lagoa, em Erechim19. O jogo de número 43 com apenas nove vitórias e oito desfalques, entre eles o centroavante Christian, principal jogador da equipe, resultou em um empate de 3 a 3 contra o líder Atlético-PR e considerado, por muitos jornalistas, como sendo o único triunfo do Grêmio naquele ano. O empate pode não ter garantido a saída do time do rebaixamento, mas demonstrou a paixão do torcedor tricolor, que encontrou forças para apoiar a equipe e se fez presente na partida, mesmo consciente de que apenas a vitória manteria o time na Série A. O time chegou a

19 Partida realizada no Colosso da Lagoa, em Erechim, devido a uma punição do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD)​ por briga de torcedores na derrota para o Inter em 23 de outubro de 2004.

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estar perdendo por 3 a 0, mas conseguiu o empate e, ao final do jogo, para surpresa de muitos, a torcida festejou.

3.2 Assessoria de imprensa do Sport Club Internacional

Foi em 2016 que o Sport Club Internacional enfrentou o pior ano da sua centenária história. No primeiro semestre, conquistou o Campeonato Gaúcho, depois iniciou o Campeonato Brasileiro nas primeiras posições e chegou a ser líder da competição. Foi a partir da vitória sobre o Atlético-MG, em 16 de junho, que o time decaiu, perdendo jogo após jogo até que no final de agosto, “o Z-4 deu as caras” rumo ao rebaixamento para Série B.

Talvez seja impossível identificar com exatidão o porquê de um clube que iniciou a temporada no topo acabou como um dos quatro últimos colocados. Para o colunista Wianey Carlet, “a queda colorada tem vários inícios”, mas um ponto é unânime entre jornalistas e torcedores: o fracasso se deu pela má gestão do presidente Vitório Piffero. Com fama de arrogante na imprensa, consolidada no slogan “clube grande não cai”, o presidente esteve envolvido em uma série de declarações polêmicas que o levou a se afastar da imprensa optando pelo silêncio ao longo do campeonato. Em suas raras declarações durante o ano, Piffero procurava evitar até mencionar a palavra rebaixamento. Segundo Rodrigo Weber, Assessor de Imprensa do Internacional na época, o ​

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presidente não trabalhava diretamente com a Assessoria, “ele não tinha um assessor na ​ presidência, alguém que abastecesse ele e o orienta-se no dia-a-dia. Então, ele adotou pessoalmente uma postura um pouco diferente da do departamento de futebol” (WEBER, 2018). Weber ainda indaga sobre as dificuldades em orientar um dirigente em ser realista com o torcedor, “Na verdade tu tem que trabalhar com a ilusão de que tu tá no controle da situação, até de fato tu perder o controle dela” (WEBER, 2018). Não podemos deixar de observar que havia um distanciamento entre a Assessoria de Imprensa e a diretoria do clube. A “fragilidade nas relações hierárquicas”, como definiu Weber, ​ ​ fez com que as atividades da Assessoria de Imprensa ficassem muito mais voltadas para o ​ futebol e não com a comunicação do clube em geral, demonstrando um certo desprezo com o ​ profissional especializado na comunicação da organização que, como afirma o jornalista Luciano Milhomem (2010), Está prática e teoricamente mais preparado para dizer-lhe quando e como agir em relação aos meios noticiosos de comunicação. Por vaidade ou ignorância, o cliente pode “atropelar” seu assessor de imprensa, ou impedi-lo a fazer algo contrário aos princípios do bom jornalismo. Os resultados costumam ser desastrosos (MILHOMEM, 2010, p.340). Podemos tomar como exemplo da ignorância com o trabalho do Assessor de Imprensa no de 2016, quando no dia 1º de dezembro, jogadores do Inter se manifestaram em uma coletiva de ​ imprensa, sugerindo a suspensão da última rodada do Brasileirão para respeito ao luto da tragédia da Chapecoense. Segundo Rodrigo Weber, isso foi decidido entre os próprios atletas. A direção ficou sabendo depois e concordou e eu que era o Assessor sequer fui consultado, assim 20 min antes eles me chamaram, meio que me comunicaram e eu contra mas era uma decisão que já tava tomada e enfim, acho que se tivessem pelo menos planejado um pouquinho anterior, pensado um pouquinho, talvez adiado dois ou três dias essa entrevista, pudesse ter saído uma coisa mais pensada, menos prejudicial ao clube. Falta muito esse planejamento, falta totalmente (WEBER, 2018). As declarações do presidente Vitório Piffero na entrevista coletiva deram brecha para uma interpretação oportunista do clube. O presidente apoiava a decisão dos jogadores, mas não ​ deixou claro se aceitaria as consequências, que no caso era o rebaixamento do Internacional já que o clube ocupava a 17ª posição na tabela. Após a coletiva à imprensa, repercutiu a manifestação da equipe, com ênfase na infeliz entrevista de Píffero.

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As tensões que cercaram o Internacional atingiram o desempenho dentro de campo, com resultados medíocres e desinteresse escancarado por parte de alguns jogadores. Agressões durante o treino também foram registradas e causaram alvoroço na mídia. A passagem de quatro técnicos durante a temporada demonstrou a instabilidade da equipe e a incapacidade do Departamento Técnico em reverter a situação. Na internet, a pressão só se amplificou, tomando outras proporções, com a intervenção dos torcedores nas redes sociais dos atletas . A soma de todas essas falhas resultou em uma situação caótica para o Departamento de Comunicação e insustentável para qualquer planejamento que visava amenizar a situação. Na impressão de Weber, o clube via o papel do Assessor como sendo o de “bombeiro” da Organização e os planejamentos ficando a cargo de outros setores, e “se não der certo a Assessoria tenta amenizar.”

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De acordo com as afirmações de Forni (2010), “existem ameaças à imagem que são previsíveis.[...] é mito, portanto, admitir que o fator surpresa é determinante nas crises” (FORNI, 2012, p.391), é mais fácil o quadro tensão ter origem em um “cochilo” da empresa do que ter sido provocada por ações de terceiros. Ela pode suceder de sócios descontentes, vazamentos de informações ou até de um despretensioso comentário veiculado. O jornalista Rodrigo Weber confirma que, no ambiente futebolístico, surgem “várias pequenas crises” por inúmeros motivos, que são tratadas com naturalidade diariamente. No entanto, ele reconhece que o planejamento em casos de tensão na Organização é raro, mas possível quando se tem um trabalho conjunto com a direção, como aconteceu no caso de dois jogadores que haviam sido pegos no doping e o clube foi comunicado antes da notícia ser veiculada na mídia Então eu fui chamado, eu participei da reunião com a direção no departamento jurídico, na qual eu consegui colocar para eles várias possibilidades de cenários que poderiam ​ advir daquela informação tornar-se pública. Qual a melhor estratégia, qual estratégia de defesa que eles teriam e que seria bom ser publicizado, que a opinião pública tenderia a concordar com ela e amplificar aquela ideia. [...] Nesse sentido tu consegue ajudar, de forma planejada. Mas não é um planejamento assim que tu já tenha pronto, sabe? é uma coisa que a experiência te dá e no momento (WEBER, 2018). Cuidados como esse seriam fundamentais no gerenciamento de tensões que ocorreram com frequência naquele ano catastrófico do Internacional. Por mais inesperado que sejam as “pequenas crises”, sempre haverá uma ação que contribuirá no controle da tensão imposta pela

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situação. O grande erro dos dirigentes foi se ancorar no passado vitorioso e rotular o clube como sendo invencível e capaz de superar qualquer adversidade e, por fim, ignorar qualquer probabilidade de um possível rebaixamento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos principais fatores que unem o público ao esporte é a emoção. No futebol, não é preciso estar no estádio para se emocionar com a vitória do seu time. Só de ouvir o narrador aumentar a intensidade da voz com a aproximação do jogador na pequena área, o coração já dispara, ou mesmo, só de ter em mãos a capa do jornal impresso com a imagem do seu ídolo vibrando na comemoração do gol, já desperta euforia e orgulho que garantem um olhar um pouco mais demorado que o de costume. Os meios de comunicação influenciam diretamente no crescimento e na espetacularização do futebol. Mas assim como contribuem para a propagação de conquistas e valorização da marca, a mesma mídia pode auxiliar no agravamento de um fato negativo eclodindo em crise. Desta forma, o poder de alcance e agilidade na veiculação das notícias produzidas pela imprensa é um fator decisivo para a construção da imagem do clube. A partir do enquadramento midiático nos jornais - Folha de S.Paulo e Zero Hora - no ano que culminou no rebaixamento das quatro equipes brasileiras - Grêmio, Corinthians, Palmeiras e Internacional - identificamos o uso de diferente formas de linguagem nos títulos veiculados a fim de provocar a atenção do leitor. Na maioria das vezes eles trazem uma função poética, com o intuito de entreter, e a função referencial com a finalidade de informar. A função conativa, normalmente é utilizada por colunistas no sentenciamento do rebaixamento do time. Percebemos o quão negativo foi para a imagem dos clubes - Grêmio e Internacional - as declarações mal expressadas, a omissão de informações e desvios de respostas referentes a atual situação do clube, sendo nítida a necessidade do assessoramento de um profissional da comunicação para orientar seus presidentes. Porém, os assessores de imprensa que pertencem aos clubes têm suas atividades direcionadas para o Departamento de Futebol, com a atenção voltada para a informação dos resultados em campo e não para a organização como um todo. O raro envolvimento dos assessores na participação de planejamentos estratégicos demonstra a carência na contratação destes profissionais, na qual sua função acaba resultando em “apagar um fogo por dia” na relação com a imprensa. É evidente a modernização estrutural e tecnológica dos clubes se compararmos os anos que culminaram no rebaixamento do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense em 2004 e, em 2016, do Sport Club Internacional. Porém, não podemos ignorar o fato de que muitos avanços são mais

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adaptativos com ambiente - como a influência da internet - do que visando ao aprimoramento e profissionalização da gestão. O fato de as chapas eleitas terem um curto período na gestão do clube, resulta em um planejamento de curto prazo que visava apenas a conquista de títulos e, assim, destinam a maior parte dos recursos do clube para o futebol, ignorando as outras áreas da organização e empurrando problemas mais graves para o próximo gestor. ​ Com a base teórica dos primeiros capítulos e das análises finais, percebemos a necessidade de desenvolver novos estudos a respeito da comunicação no cenário das organizações desportivas. Os clubes de futebol precisam de profissionais capacitados para que juntos possam conduzir planejamentos estratégicos com visão a médio e longo prazo que auxiliem no bom relacionamento com a imprensa, contribuindo para bons resultados em campo e assim, fortalecer a imagem da organização.

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APÊNDICE

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APÊNDICE A Entrevista: Rodrigo Weber, ​ ​ Assessor de Imprensa do Sport Club Internacional em 2016

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Entrevista com Rodrigo Weber, jornalista Ex Assessor de Imprensa do S. C. Intenacional ​ ​ Porto Alegre, 11 de agosto de 2018, 16h30

Joice - Quais eram suas funções como assessor de imprensa em 2016? Rodrigo - Então, 2016 foi o meu 7º ano quanto assessor de imprensa do inter no departamento de futebol. Então eu cuidava especificamente dos assuntos relacionados ao departamento de futebol profissional. Ou seja, diretamente jogadores profissionais, treinado, e vice presidente de futebol, diretores. Assuntos relacionados diretamente a eles, que eram da minha alçada. Eu ja estava fazendo isso a muitos anos.

Joice - Como era a estrutura do Departamento de Comunicação? Rodrigo - 2016 foi um ano um pouco atípico porque em 2013 eu consegui colocar uma pessoa a mais comigo. Passamos a ser dois assessores. Em 2015, houve um desentendimento no departamento, eu troquei de setor. Fui pra mídia do clube que era a TV Inter, site do inter… coisas assim. E o meu colega que tinha ficado acabou sendo demitido. E o rapaz que era o fotógrafo do inter acabou assumindo interinamente a condição de assessor. Ficou uns meses sozinho, e no final de 2015 eu voltei a ocupar a função. Então eu tive uns cinco meses que eu fiquei fora. Em 2016 voltamos a ser dois e era eu e o Alexandre que era o fotógrafo e que passou a ser assessor. Junto conosco trabalhava toda a equipe de comunicação do clube, só que como o futebol profissional, vamos dizer assim, ele demanda discrição e muitos assuntos sigilosos são tratados, eles gostam de trabalhar com poucas pessoas diretamente no futebol. Hoje até tem mais, tem três, mas na época que trabalhamos eram dois jornalistas.

Joice - Havia monitoramento do que era veiculado na mídia? Rodrigo - Tudo. Em 2015 a gente contratou uma empresa que presta serviço de clipagem. Porque como é muita coisa que sai sobre o inter na mídia, a clipagem manual ela já não conseguia da conta. Principalmente por causa da internet, site...

Joice - Como era repassado esse serviço? Rodrigo - Três relatórios diários. Um no final da manhã, um no meio da tarde e um no final da tarde, tipo 7h da noite.

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Joice - Como vocês trabalhavam com esses relatórios? Rodrigo - Eu lia tudo, mas o direcionamento do noticiário ele depende muito do perfil da ​ pessoa com quem tu ta trabalhando. Na parte dos treinadores, alguns gostam de saber outros preferem não saber. E os dirigentes também, a mesma coisa. Então depende muito. Em 2016, tb foi um ano atípico porque teve muitas mudanças nesse sentido. A gente começou com o Argel como treinador, e tinha pouco interesse e receber noticiário. Depois teve o Falcão que já tem uma visão diferente, gostava de ler. Então pro Falcão eu preparava, eu pegava essa clipagem que vinha de fora, e eu preparava um relatório do que eu achava que era relevante que ele soubesse e entregava pra ele. E depois o ele já preferia um “relatório informal”, através de conversa. Eu passava as coisas pra ele, baseado em conversa mesmo, e explicando pra ele o que que era relevante. A clipagem na Assessoria de futebol, ela serve muito mais pra tu conseguir prever quais assuntos vão ser abordados no momento que tu tiver o contato com a mídia. E é usado muito na orientação dos atletas, em quem for conceder uma entrevista.

Joice - Foi feito algum planejamento de gerenciamento de crise naquele período? Alguma ação para amenizar aquele momento de tensão? Rodrigo - É muito delicado o processo que o Inter passou, porque na verdade o que que ​ acontece: O ambiente de futebol ele surge várias pequenas crises por diferentes motivos, entende? E na verdade tu demora pra perceber quando tu ta afundado numa crise real, como foi a do rebaixamento. Então, claro, no primeiro momento tu tenta lidar com naturalidade, como tu sempre lida com todas essas pequenas crises que acontecem no período, mas depois de um certo momento tu não tem como escapar, não tem como fugir. E é difícil tu conseguir fazer algo planejado pra tentar modificar um cenário que depende de algo que tu não controla, que é o resultado de campo. Eu posso fazer um planejamento todo moldado para melhorar nossa imagem. Mas se eu perder o jogo, tudo vai por água abaixo. Não resolve. Então, não é que não tenha, mas é uma coisa diária. Cada acontecimento ele gera uma ação ou uma reação nossa, e tenta contornar. Claro, a gente tem toda uma orientação, a gente faz um media training, pros profissionais que chegam, e a gestão de crise ela tá incluída nisso. Só que como eu te disse, como eu não controlo exatamente o teor da crise, eu tenho que dar orientações mais genéricas. E chega um ponto que essas orientações genéricas elas já não funcionam mais, porque ja tá afundado. E nós tivemos ali, em 2016, fases que agravaram. O

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acidente da chapecoense, teve a polêmica do Victor Ramos, no anterior teve o dopping de dois jogadores nossos, troca de treinadores, nossa, era uma avalanche de coisas ruins pro inter.

Joice - A Direção evitava falar do rebaixamento. Foi alguma orientação da Assessoria do Clube? Rodrigo - O presidente, na época não era um cara que trabalhava diretamente com a Assessoria. Ele não tinha um assessor na presidência. alguém que abastecesse ele e orienta-se no dia-a-dia. Então, ele adotou pessoalmente uma postura um pouco diferente da do departamento de futebol. Eu lembro que durante muito tempo ele se recusava em falar a palavra rebaixamento, alguma coisa assim, e garantia que o inter não ia cair e tal. É que na verdade, como que eu vou orientar o dirigente a falar pro torcedor que o rebaixamento é uma realidade? Na verdade tu tem que trabalhar com a ilusão de que o torcedor de que tu ta no controle da situação, até de fato tu perder o controle dela. Mas quando o Fernando Carvalho assumiu como vice de futebol, acredito que melhorou bastante nossa comunicação, nesse sentido, com a torcida de passar pra eles confiança ao mesmo tempo que não, fingir que tinha nada acontecendo.

Joice - E atualmente? Rodrigo - Hoje tá diferente. Hoje ta um pouco mais profissionalizado, tem um coordenador ​ de comunicação no setor que antes não tinha, um assessor e um fotógrafo. Hoje nas viagens, viaja outro jornalista que faz as redes sociais, o clube tem um pouco maior de preocupação com isso. Mas, é muito também devido aos profissionais que tão no comando. Que nem, ali no início, a importância que eles dão para essa área que logicamente que o fato de não estar passando por uma crise semelhante, facilita muito. A gente na verdade, consegue prever tudo o que vai acontecer, só que a gente não consegue controlar. Porque não temos no futebol, um profissionalismo em relação a assessoria de imprensa, que temos em empresas por exemplo, ou em instituições públicas. Por exemplo, tu nunca vai ver um prefeito ou um governador, ou presidente da república ou chefe de estado, fazer um contato com a mídia sem ter orientação do assessor de imprensa. No futebol é quase incontrolável. Porque uma rádio, liga outra, liga um cara do site, fala no whatsapp… Tu não tem muito controle sobre o que ta acontecendo no clube, ele consegue é direcionar. “Ah, esse local vamos evitar atender porque eles tem uma

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política editorial mais de crise, não é o que precisamos no momento”, e chegou um ponto que degringolou total, já não tinha mais controle de nada. As campanhas que a gente faz externamente elas são gerenciadas pelo departamento de marketing. E eu lembro que em 2015 a gente fez aquela campanha “Campanha um é 11” e no ano do rebaixamento também teve outra campanha, que agora não to lembrado o nome, mas são coisas que não são, deveriam mas não são, coordenadas entre os setores para que nos seguissemos uma linha. O futebol ele é meio distante do clube nesse sentido e sem dúvida alguma, não posso te mentira, há uma desorganização, há uma fragilidade nas relações hierárquicas lá dentro, que faz com que a Assessoria de Imprensa fique muito voltada para o futebol, que nem te falei no início, e pouco acompanhando a comunicação do clube em geral.

Joice - Contato com outros clubes? Rodrigo - Com o advento das tecnologias, principalmente o whatsapp, o setor meio que se uniu, e a gente criou um grupo que tem as Assessorias de todos os clubes da Série A. Então ali eu conheci, já conhecia vários porque nos jogos contra tu acaba interagindo.

Joice - Naquele ano do rebaixamento em 2016, já havia esse grupo? Rodrigo - Sim ​

Joice - Houve alguma troca de informações, experiências com outras assessorias que já haviam passaram por uma situação de crise de rebaixamento? Rodrigo - O que acontece é assim, na verdade, a gente não acha que vai ser rebaixado. E mesmo achando que a coisa está ruim, como são teus concorrentes, tu não quer demonstrar fragilidade e perguntar “Bah vocês passaram por isso, como é que fizeram..” A gente teve alguns episódios que são bem pontuais naquele ano que são válidos de serem citados. Por exemplo, não sei se tu lembra, que depois do acidente da Chapecoense, houve uma entrevista coletiva que todos os jogadores do inter subiram lá na.. e o Alex falou dizendo que nao queria jogar, que achava que o campeonato tinha que parar, dizendo que não tinha clima pra jogar. Pra tu ter uma ideia como não funciona ter uma planejamento, isso foi decidido entre eles, a direção ficou sabendo depois e concordou e eu que era o Assessor e se quer fui consultado, assim 20 min antes eles me chamaram, meio que me comunicaram e eu contra mas era uma decisão que já tava tomada e enfim, acho que se tivessem pelo menos

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planejado um pouquinho anterior, pensado um pouquinho, talvez adiado 2, 3 dias essa entrevista, pudesse ter saído uma coisa mais pensada, menos prejudicial ao clube. Falta muito esse planejamento, falta totalmente. Muito porque tu acha que não ta em crise. O clube acha. A instituição acha que não ta em crise. Porque uma crise, num órgão público, ela é muito óbvia. Tu tem uma situação de segurança pública grave, ou saúde pública grave, não tem muito pra onde fugir. No futebol é aquela coisa, como se tu ganhar no domingo melhora tua situação, fica sempre trabalhando pra amenizar, esperando que domingo tu vai ganhar. Até quando não da mais. No nosso caso foi até na última rodada.

Joice - Release? Rodrigo - A gente não trabalha com release no Inter. Porque é uma assessoria inversa eu acho. No sentido de que a Assessoria “normal” o assessor ele busca colocar o seu cliente de uma forma positiva na mídia. No futebol tu já é super exposto midiaticamente. Então na verdade tu tenta fazer não é diminuir, mas é fazer com que apareça mais as coisas boas e menos as coisas ruins. Tentando minimizar a crise e sugerindo coisas boas, só que há uma certa dificuldade da imprensa entender esse trabalho também, então eles não enxergam com muito bons olhos o release ou uma sugestão de pauta. Eles querem ter autonomia de decidir o que vão fazer, o que vão falar.

Joice - E o relacionamento da Assessoria do Clube com a Imprensa? Rodrigo - Tranquilo, respeitoso, cordial. Mas com alguns atritos. Porque inevitavelmente gera um desgaste. A assessoria que ela parte do departamento que na visão de muitos jornalistas ta sempre tentando impediram que eles façam o que eles querem. Que não há como ter uma atuação de liberdade total, entende? A gente que impõe regras e limites, e isso ​ nem sempre é bem visto. O futebol é perigoso no Brasil. Porque é muito dinheiro que gira pra uma gestão pouco profissionalizada assim, claro que vai melhorando ao longo dos anos, mas perto do que já foi, perto do que era quando eu entrei, la em 2009, ta muito melhor. Mas tu comparar, por exemplo, com empresas que tem a mesma receita que os clubes tem a mais de 200, 300 milhões de reais por ano, é incomparável. O profissionalismo é muito inferior. No Departamento de Marketing eles vão poder te falar melhor da ideia de campanha durante o ano, e também de algumas limitações que eles tinham, porque infelizmente na condição que

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eu ocupava, tu tem pouco espaço pra pensar, tu ta sempre executando. Sempre apagando fogo e pensando pouco em tentar evitar que o fogo comece.

Joice - As informações que você recebia eram repassadas para esse departamento? Rodrigo - Eles recebiam as mesmas informações que eu. Eles também tinha acesso a mesma ​ clipagem que eu. Então o que eu recebia eu usava especificamente para o meu trabalho. E eles que também tinham acesso usavam para os interesses deles. Muitas vezes tu consegue propor mais ideias pro teu cliente, que é a torcida, através da mídia, do que através dos personagens que onde a assessoria mais funcionam. Porque no futebol é um pouquinho diferente, eu não trabalhei em empresas, mas eu acredito que em empresas privadas, a assessoria ela seja um pouco maior do que a assessoria de comunicação que os clubes fazem, que é uma coisa muito voltada, muito dia-a-dia, muito de executar ações. A gente se planeja pouco, se pensa pouco. O que eu posso achar e te mandar, é um plano de comunicação pro inter em 2015. E tu vai que não tem nenhuma, nada previsto “na situações ruim vamos fazer isso” um planejamento, uma ideia, uma estratégia, não tem nada. Nunca foi uma demanda.

Joice - Após o rebaixamento, procuraram pensar sobre a prevenção dessa situação? Rodrigo - Eu tendo a te dizer que não mudou muito. Na verdade a minha impressão que o contexto do clube enxerga a assessoria como um bombeiro mesmo, entende? Os planejamentos ficam a cargo de outros setores, e se não der certo a Assessoria tenta amenizar. Mas, por exemplo, a contratação do Guerrero foi a primeira contratação grande que o Inter fez que incluiu a comunicação com o tempo de que haja um planejamento. Então no dia do anúncio vai ta junto o Assessor de imprensa, cai ta o fotógrafo, vai ser preparado todo um material para que o anúncio chegue na torcida mais completo e tal, coisa que o inter nunca fez. A Assessoria era que meio a última a saber, e tinha que trabalhar naquele espaço e naquele tempo que lhe era dado. E agora então eu vejo isso como positivo, eu vejo como um indício, claro que a contratação do Guerrero não é uma crise, pelo contrário, é uma coisa. O que acontece muito é assim, se eu for fazer um exercício “que estratégia tu sugeriria para um clube que ta caindo?” Falar menos na imprensa? falar mais? Colocar menos jogadores pra falar ou colocar mais jogadores? Dar mais liberdade para o conteúdo do que eles falam ou limitar a liberdade? é muito delicado, porque todas as tuas decisões podem terminar sendo

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boas ou ruins. Se eu limito muito, por exemplo, a liberdade do entrevistado em falar, ele deixa de ser interessante para quem tá entrevistando. Então vai diminuir a frequência com que ele vai falar, e o torcedor vai ouvir menos dele. Então na verdade o que eu tentava fazer era sempre tentar escolher os melhor interlocutores. Aqueles que comunicavam melhor o que que o momento exigia. Só que como eu te falei antes é aquela coisa, como tem jogo no domingo, tu vende a ideia de que tu vai ganhar domingo, e tu ta te preparando e ta confiante pra jogar domingo e isso vai te dar um fôlego pra não cair. Se fosse uma coisa assim, “Inter, daqui um ano tu vai cair” aí tu conseguiria planejar. Conseguiria pensar seriamente nisso. As pequenas crises que acontecem no ano tu consegue pontualmente prevê-las. Sei lá, o doping por ex, em 2016 é um bom case para teu tema. O inter recebeu o comunicado de que dois jogadores haviam sido pegos no doping muito antes disso virar público. Então eu fui chamado, eu participei da reunião com a direção no departamento jurídico, na qual eu consegui colocar pra eles várias possibilidades de cenário que poderiam advir daquela informação tornar-se pública. Qual a melhor estratégia, qual estratégia de defesa que eles teriam e que seria bom ser publicizado, que a opinião pública tenderia a concordar com ela e amplificar aquela ideia. Ou o contrário, “olha essa é uma estratégia de defesa que pouca gente vão acreditar que é verossímil, então melhor não falar dela publicamente pra não gerar um efeito contrário. Nesse sentido tu consegue ajudar, de forma planejada. Mas não é um planejamento assim que tu ja tenha pronto, sabe? é uma coisa que a experiência te da e no momento tu O rebaixamento é a crise final. Mas são várias crisezinhas que vêm ao longo do ano.

Joice - Orientações nas entrevistas/ media training? Rodrigo - Não tinha uma orientação específica, “não usa a palavra rebaixamento” mas tinha uma orientação pra tentar manter uma ideia positiva. Mesmo que internamente nós não acreditássemos, e nós acreditamos muito até o final, eu acho que no último jogo pouca gente acreditava, porque a gente tinha que ganhar, tinha que dar uma série de resultados paralelos… No fundo os colorados acreditavam, eu que sou colorado desde pequeno e funcionário, eu acreditava no fundo. Mas tu já tenta colocar uma visão mais realista. Então, enquanto tu acredita, tu também não vai dizer pro torcedor que “ah, realmente a gente tá em uma situação que é inevitável, vai acontecer, faz parte..” tu não consegue conseguir amenizar as coisas. E já não funcionam mais aquelas ideias de estratégias genéricas, por exemplo, eu sempre falo

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pra eles assim, na derrota, não fala o nome do clube. Fala a equipe, fala o clube, fala coisas genéricas. Porque se tu fala o nome do clube, isso pode virar uma manchete depois com o nome do clube, e ai mancha a imagem da instituição naquele momento, ela repercute muito mais. Se tu fala “a equipe foi mal” vai ter que ler toda a matéria pra saber qual equipe, pelo menos no lead. Agora se tu fala “O Inter deu vexame”, bah, imagina. A gente sabe que o maior percentual dos leitores não lê a matéria, lê só a manchete. Coisas que tu pode evitar.

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APÊNDICE A Entrevista: Rafael Pfaifer, ​ ​ Assessor de imprensa do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense em 2004

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Entrevista com Rafael Pfaifer, jornalista Ex Assessor de Imprensa do Grêmio F. P. A. ​ ​ Porto Alegre, 22 de outubro de 2018, 15h30

Joice - Qual era sua função no Clube? Rafael - Eu entrei como estagiário da Assessoria de Imprensa. No meio do caminho trabalhei ​ como auxiliar da ouvidoria, dentro da Assessoria de Imprensa e depois eu fui Assessor de Imprensa.

Joice - No ano do rebaixamento do Clube, em 2004, qual era a sua função? Rafael - Naquela época a estrutura da Assessoria era bem diferente do que é hoje. Então ela ​ era bem pequena. E a minha função básica era fazer radioescuta, clipagem dos jornais e fazer, prestar assessoria ou auxílio para o Sérgio Schiler que era o Assessor do grupo principal. Mas a minha função principal ali era auxiliar. Estagiários, fazia tudo. Mas era uma estrutura bem pequena que a gente tinha na época.

Joice - Era só você que cuidava da clipagem? Rafael - Não. Naquela época tinha ainda um outro estagiário que era o Gustavo Petró, que ​ hoje está morando em São Paulo. Eu entrei no Grêmio em 2001, era eu e o Anderson Leite. O Anderson saiu em 2003 e entrou o Gustavo Petró, aí essa parte de clipagem e rádio escuta ficava comigo e com o gustavo.

Joice - Vocês faziam o que com o material clipado? Rafael - A gente tinha que passar para a direção do grêmio. A gente tinha um grupo de 5 ou 6 ​ vices presidentes, mais uns 10 diretores, mais gerentes… Eles que recebiam o material que a gente fazia. Só que época era muito fácil, era o ZH, Correio do Povo, Diário Gaúcho. E rádio eu era responsável pela programa Apito Final da Bandeirantes e pelo programa Terceiro Tempo aqui da Guaíba, e depois eu fazia o Atualidades Esportiva da Bandeirantes que era às 5h da tarde e o Hoje da Gaúcha que era 6h da tarde. Além disso a gente preparava o material pro jogos. O sério Schiler viajava com o material e a gente tinha que atualizar, nº de jogos de cada jogador, nº de gols de cada jogador… a gente atualizava isso durante a semana.

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Joice - Vocês tinham algum retorno da Direção após repassar o material da clipagem para a Direção do Clubes? Rafael - Depende. Depende daquilo que era dito pela imprensa e aí os dirigentes nos ​ procuravam para saber, pra pedir um pouco mais, as vezes faltava uma frase. No clube de futebol a gente tem aquela coisa “alguém que ouviu a mais e falou que ouviu fulano falou aquilo” e isso não ta na escuta. Aí a gente tinha que escutar de novo o programa e buscar aquela frase que o dirigente queria, mas era raro.

Joice - Existia algum planejamento com ações a partir do material coletado da clipagem? Rafael - O que o Sérgio recebia, ali ele trabalhava a situação. O que é preciso dizer é que ​ naquela época é muito diferente do que é hoje. Naquela época o repórter ele tinha acesso a todos os jogadores depois dos treinos, então ele podia escolher. Hoje a assessoria define quem é que fala no dia do treino. E é entrevista coletivo hoje, naquela época não tinha. Jogador saia do treino, saia do campo e o repórter ia lá e botava o microfone na cara dele, e foi nessa época que o Grêmio tinha muitos problemas internos e o Grêmio acabou diminuindo isso aí. Começou em função do ano do rebaixamento, o Grêmio começou a limitar um pouco a situação. Limitou o acesso da imprensa aos jogadores na área física, o Grêmio fez um brete onde o jornalista não conseguia chegar perto do jogador e passou a definir que seria entrevista coletiva, seria um jogador escolhido pela imprensa. Mas seria um só, não teriam mais como conversar com vários jogadores. Isso se deu porque naquela época os jogadores reclamavam muito na imprensa. E me lembro exatamente do Christian, centroavante na época, a cada novo treino o Cristhian dava uma nova entrevista cada vez mais bombástica, batendo na direção, batendo em todo mundo. Então o que resultou naquela época foi isso, colocar um limite na ligação jornalista - jogador que antes não existia. (durante o ano de 2004) Em 2003 o Grêmio quase caiu, então os problemas já começaram em 2003 e ao longo de 2003 para 2004 o Grêmio tomou essa decisão. Então o que o Grêmio fez primeiro: o jornalista não tinha acesso a porta do vestiário, ele chegava perto da porta mas não chegava na porta. Ao longo do ano o Grêmio colocou outro brete, então não era nem perto do limite anterior, então o cara ficava muito longe da porta do acesso ao campo. E a partir disso se

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manteve, até o Grêmio sair do Olímpico. Enquanto o Grêmio esteve do Olímpico, aquele barreira criada lá em 2004, se manteve até 2013.

Joice - Comparação das estruturas Rafael - Como eu peguei as duas estruturas (antes e depois do rebaixamento) eu vejo dois ​ ângulos completamente diferentes. Porque a gente tinha uma estrutura onde o Sérgio Schiller era responsável pelo futebol, o Márcio Neves responsável pelo site, eu e o Gustavo responsáveis pelo resto. 2005 quando entra o Haroldo Santos, fica o Sérgio no vestiários, o Haroldo como institucional, e o Haroldo criou uma equipe muito grande. Ali o Haroldo começa a gerar muito emprego, porque ele começa a criar um portal de comunicação, ele começa a projetar a Grêmio TV, e aí ele contrata profissionais que iam trabalhar para a TV, ele contrata 4 ou 5 estagiários, aí ele começa a contratar gente pra trabalhar diretamente na categoria de base, que a gente não tinha antes, a gente cobria a categoria de base mas não ia a jogo, a partir daquele momento ele cria o profissional que vai cuidar da categoria de base. Então, a estrutura muda completamente a partir de 2005. A gente chegou a uma época que foi a época mais forte da Assessoria de Imprensa, que a gente trabalhava com mais de 10 pessoas na assessoria, porque a gente trabalhava em conjunto com o Marketing. Era Assessoria de Imprensa e Marketing trabalhando junto. Só que foi a partir de 2008 que a gente tinha quase 10 pessoas na Assessoria, em 2004, a gente tinha 4 pessoas. Sendo que trabalhando junto, eram 2. O Márcio que passava todo o dia, com o estagiário de manhã e com o estagiário de tarde. E o Sérgio com o time no vestiário. Então de uma estrutura de 4 pessoas passou para uma estrutura de 11 pessoas. A gente tava engatinhando com a questão da internet. A gente não tinha ideia do que era a internet. O site tu fazia uma nota “Grêmio contratou fulano”, pronto, ta ali a nota. Se tu atualizar o site daqui dois dias, não vai fazer diferença nenhuma. Ninguém vai notar. Diferente de hoje que tu tem que colocar 5, 6 matérias por dia. Então, a própria questão com a imprensa como eu te falei, a gente tinha a Rádio Gaúcha, Rádio Guaíba, Bandeirante e Pampa, 4 rádios cobrindo o dia-a-dia. A RBS TV, Bandeirantes e era isso. O que temos hoje: Rádio Gaúcho, Rádio Guaíba, Rádio Bandeirantes, Rádio GreNal, Rádio Pachola, to falando no caso do Grêmio, Rádio Web Independente e Rádio Galera; TVs - RBS TV, SBT, Bandeirantes, Pampa, RDC TV, Fox, ESPM, todos os dias; e Sites - Globo Esporte.com, UOL… Hoje é muito diferente, é muita gente. Por isso a estrutura ela precisa de muita gente.

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Naquele época talvez o fato do grêmio ter sido rebaixado lá em 2004 com pouca cobertura, se fosse hoje ia ser um troço grandioso, não que não tenha sido, mas hoje seria muito mais.

Joice - Houve alguma comparação com o primeiro rebaixamento? Rafael - Não, porque em 1991 não tinha Assessoria de Imprensa. A Assessoria no Grêmio ​ ela surge em 97.

Joice - A partir de 2004 houve um planejamento preventivo de possíveis crises? Rafael - A gente não tem que ir atrás da imprensa. Grêmio e Inter tem espaço diário gratuito, ​ não precisa pagar, tá lá. O que acontece, a gente começou a limitar o acesso. Se coloca uma barreira pro jornalista não ter o acesso tão fácil ao jogador. Para falar com o Dirigente, tu tem que passar pelo assessor primeiro, tu começa a agendar, e tu começa a por um assessor junto com o repórter que vai entrevistar. 2003 a gente passou por uma crise seríssima, quando surge o caso das ovelhinhas. O repórter Luis Henrique Benfica da Zero Hora, ligou de noite para o presidente do Grêmio, Flávio Obino. Falaram por 1 min, não sei o que que era a situação, e o presidente deixou o telefone ligado em cima da mesa e ele tava em reunião com o departamento de futebol. E nessa reunião o vice de futebol critica o técnico de futebol que era o Titi, “ah porque ele tem as ovelhinhas dele, ele não vai mudar o time, ele vai mudar só os caras dele, as ovelhinhas dele” Luis Henrique grava a conversa, e estoura na na ZH no dia seguinte. E eu vivi isso tudo de dentro, porque no dia seguinte ele reproduz esse áudio na gaúcha eu escuto e gravo, na nossa velha fitinha cassete, gravo no nosso gravadorzinho la, e no início da tarde eu vou pro vestiário e apresento a fita pro Titi e pra comissão técnica do Grêmio. Eu vivi um momento muito delicado ali, naquele momento, que uma semana depois o Titi foi demitido, caiu o departamento de futebol, os jogadores foram embora porque não aceitaram ouvir o que ouviram na gravação então a gente já veio de um 2003 muito complicado. 2003 já foi muito difícil pra nós como funcionários do clube e como assessor de imprensa. E aí o time quase caí em 2003 com espaça aberto na imprensa, todo dia era uma crise, chega 2004 o time cai num grupo muito complicado de trabalho de jogadores, aí a gente tinha uma crise pra apagar por dia. Só que a crise no futebol quando ela acontece ela já tá no teu colo, tu não tem muito como planejar, tem é que trabalhar depois dela, mas quando tu vê a crise caiu no teu colo. Então o que a gente fez lá a partir de 2004 foi, talvez o grêmio tenha sido um dos primeiros

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clubes a fazer isso, foi não dar tanta liberdade. A partir de 2006 para entrar no estádio olímpico tu tinha que ta identificado, pra ti passar para a área da imprensa tu tinha que ta identificado, se tu não tem o crachá da empresa tu não vai entrar. Então foi isso que a então começou a fazer, começamos a limitar isso aí também a partir de 2006, mas aí o time já tinha voltado pra primeira divisão, já tava tudo diferente e a gente já tava com uma estrutura maior de trabalho.

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ANEXO

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ANEXO

Títulos jornalístico do Campeonato Brasileiro de Futebol - Série A dos Clubes: ​ Grêmio Football Porto Alegrense (2004) ​ Sport Club Corinthians Paulista (2007) Sociedade Esportiva Palmeiras (2012) Sport Club Internacional (2016)

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Período: 23 de abril de 2004 – 19 de dezembro de 2004 Clube: Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense ​ ​ Material: Jornal Zero Hora

ABRIL 29/04 - O Grêmio desencanta MAIO 04/05 - Adilson se defende “Não sou inventor” 14/05 - Michel, titular vaiado 17/05 - Quanta pobreza JUNHO 04/06 - A longa agonia tricolor 04/06 - Clube prepara lista de dispensas 04/06 - Obino não diz nem sim nem não 15/06 - Clube não contratará apostas 15/06 - Aceso o sinal de alerta no Olímpico 18/06 - Um time de emergência no jogo da pressão 21/06 - O medo ronda o Olímpico 23/06 - A lista dos “rebaixados”* 26/06 - A encruzilhada 29/06 - A volta da indignação JULHO 13/07 - Perigo à vista 14/07 - Kroeff prevê mais dois anos sem investimento 14/07 - Protestos voltam com força 14/07 - De volta ao inferno 14/07 - O drama recomeça 15/07 - Grêmio repensa finanças para contratar 17/07 - Começa a luta para não cair 18/07 - Renuncie, presidente (Davi Coimbra) 20/07 - Medo de tumulto

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21/07 - Festa, choro e protesto 23/07 - Cocito: “Às vezes, é melhor um ponto do que nada” 30/07 - Grêmio identifica grupo que provocou tumulto no Olímpico AGOSTO 04/08 - O melhor jogo do ano 06/08 - “O Grêmio ainda pode crescer” 07/08 - A dupla da esperança 12/08 - Noite de decepção 16/08 - Time confuso leva uma surra do lanterna no Maracanã 17/08 - A nova meta do Grêmio 19/08 - Um baile no Olímpico 19/08 - Grêmio afundado 21/08 - Vulnerabilidade 30/08 - À sombra do rebaixamento SETEMBRO 01/09 - Calculadora tricolor 02/09 - Em defesa da honra 02/09 - Emergência 03/09 - Noite de segunda divisão 03/09 - Comecem a rezar 04/09 - Os homens que seguram Plein no comando do time 05/09 - Guerreiro explica o destino dos cheques * 06/09 - Em busca de reação 07/09 - Vinte times diferentes em 20 jogos 10/09 - Plein se demite no ar 11/09 - “Um carrasco não ajudaria” 12/09 - Fé no comandante novo 15/09 - O risco da ilusão 16/09 - A revolta de 16/09 - O desespero de Cuca 17/09 - Cuca fica. Mesmo sem reforços 20/09 - Cuca elogia atitude

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20/09 - Depois de acusações e exclusões, conselho tenta união 28/09 - O esquema é a cautela * 29/09 - O retorno do medo OUTUBRO 04/10 - Com a força da torcida 04/10 - Três jogadores do Grêmio no tribunal 08/10 - Tensões e explicações no Grêmio 09/10 - O melhor treino foi fora de campo 12/10 - Cuca diz que projeção para três jogos é mentirosa 13/10 - Rico agride torcedor no pátio do Olímpico 18/10 - O risco do clube “fundo de quintal” 19/10 - Cuca faz discurso motivador e time busca refúgio na Serra 20/10 - Fuga do fantasma 22/10 - Dia tenso termina em agressão 22/10 - Felipão “A coisa está preta para o lado do Grêmio” 25/10 - Já que o Obino não faz… ... o bicho-extra pode fazer 25/10 - Um dia de fúria. 25/10 - O inferno do Grêmio 26/10 - Ameaça do momento é a nova interdição 27/10 - O limite de Cuca 27/10 - Só por um milagre 28/10 - Claudião é última esperança tricolor 28/10 - A solução Cláudio Duarte “Não aceito time covarde” 28/10 - Grêmio foge da torcida NOVEMBRO 01/11 - Bilica, a imagem do Grêmio 03/11 - Obino: o começo do fim 06/11 - Fábio Koff chama gestão Guerreiro de “perdulário” 07/11 - Confusão em Londrina 08/11 - As raízes da crise 09/11 - Cocito ameaça agredir fotógrafo 13/11 - Paixão gremista no purgatório

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17/11 - Situação inalterada (1%) 22/11 - Obino: “Sou o responsável” 22/11 - A lição que foi esquecida 23/11 - Faltam só o presidente, o técnico e o time para 2005 24/11 - Dureza à vista 26/11 - Bilica briga com Cláudio e está fora do Grêmio 29/11 - Rebaixado

Período: 12 de maio de 2007 – 2 de dezembro de 2007 Clube: Sport Club Corinthians Paulista ​ Material: Folha Online

MAIO 22/05 Depois de Roger, outros seis jogadores são afastados no Corinthians JUNHO 02/06 Fábio Costa se irrita com declarações de jogadores do Corinthians 07/06 Corinthians já estipula data para assumir liderança do Brasileiro 13/06 Corinthians foca topo da tabela por manutenção do bom clima 16/06 Após reclamar, Dinelson deve ser punido no Corinthians 30/06/2007 Além de clássico, Corinthians encara crise política JULHO 01/07 Derrota em clássico faz Corinthians "ligar sinal de alerta" 08/07 Após empate do Corinthians, Carpegiani põe culpa na ansiedade 12/07 Kia tem prisão decretada, e Procuradoria denuncia dirigentes do Corinthians 13/07 Grampos revelam conversas para impedir rebaixamento do Corinthians 13/07 Corinthians e MSI negam acusações e dizem ter agido dentro da lei 14/07 Briga entre torcedores do Corinthians e do São Paulo deixa três feridos 16/07 No Corinthians, Carpegiani comemora volta do time ideal 17/07 Carpegiani pede reforços para a diretoria do Corinthians 20/07 Mal no Brasileiro, Corinthians sofre com problemas fora de campo 23/07 Apesar de pressão, diretoria do Corinthians mantém Carpegiani ​ 23/07 Conselho do Corinthians discute afastamento de Dualib ​

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26/07Conselheiros do Corinthians buscam forma legal para afastar Dualib ​ 27/07 "Caso Dualib" confunde até Conselho Deliberativo do Corinthians ​ 27/07 Carpegiani vê Corinthians "em formação" e diz não pensar em rebaixamento ​ 31/07 Para Carpegiani, apenas jogadores podem devolver paz ao Corinthians ​ 31/07 Corinthians desiste de "projeto Morumbi" e anuncia volta ao Pacaembu ​ AGOSTO 01/08 Dualib pede licença e deixa presidência do Corinthians por 60 dias ​ 01/08 Corinthians empata em Curitiba e completa 10 jogos sem vencer ​ 02/08 Afastamento de Dualib divide oposição do Corinthians ​ 03/08 Contusão afasta Dinelson do Corinthians por até oito meses ​ 07/08 Agora hostil, conselho do Corinthians se reúne para tirar Dualib ​ 08/08 Conselheiros votam a favor de abertura de processo contra Dualib ​ 08/08 Andrés Sanchez diz que vai "fazer de tudo" pela renúncia de Dualib ​ 10/08 Crise política faz presidente interino do Corinthians "esquecer" crise em campo ​ 11/08 Corinthians anuncia saídas de Ilton José da Costa e de vice-presidente ​ 14/08 Clubes franceses aumentam problemas do Corinthians ​ 15/08 Cargo de vice-presidente de futebol do Corinthians fica vago ​ 19/08 Técnico Carpegiani pede reforços no Corinthians após empate ​ 20/08 Corinthians atende a pedido de técnico e tenta contratar mais dois ​ 24/08 Antoine Gebran é o novo vice-presidente de futebol do Corinthians ​ 25/08 Após derrota, Carpegiani deixa o comando do Corinthians ​ 28/08 Corinthians: crise sem precedentes ​ 30/08 Felipe vê "sinal vermelho" e admite que situação do Corinthians preocupa ​ 30/08 Para Betão, Corinthians precisa de ajuda da torcida para afastar má fase ​ 31/08 Dirigente do Corinthians culpa Carpegiani por insucessos da equipe ​ 31/08 Zé Augusto desiste de treinar o Corinthians e entrega cargo após clássico ​ SETEMBRO 02/09 Torcedores do Corinthians são detidos ao atacar ônibus do Santos ​ 02/09 Técnico do Corinthians mantém salário das categorias de base ​ 04/09 Polícia Civil faz busca e apreensão de computadores no Corinthians ​ 05/09 Contra pior time dos pontos corridos, Corinthians busca 2ª vitória consecutiva ​ 09/09 PF comprova fraudes no Corinthians ​

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10/09 Para jogadores corintianos, grave crise política não vai afetar a equipe ​ 11/09 Corinthians prepara estatuto "anti-Dualib" para evitar perpetuação no poder ​ 11/09 Dirigente do Corinthians diz que Zé Augusto recebeu aumento ​ 12/09 Citadini diz que Corinthians/MSI mentia quando realizava negociações ​ 14/09 Corinthians faz Câmara dos Deputados querer investigar futebol ​ 17/09 Jogadores do Corinthians culpam escândalo por fase ruim ​ 17/09 Escutas da Polícia Federal tumultuam a vida do Corinthians ​ 18/09 Impeachment no Corinthians pode sair dia 6 de outubro ​ 18/09 Antes do clássico, Felipe admite temor de rebaixamento no Corinthians ​ 20/09 Após mais de quatro horas de reunião, Dualib e Nesi Curi adiam renúncia ​ 21/09 Envolvido em escândalos, Dualib renuncia à presidência do Corinthians ​ 21/09 Saiba quem é Alberto Dualib ​ 21/09 Tuma diz que saída de Dualib é mais uma "etapa vencida" pelo Corinthians ​ 21/09 Às vésperas de clássico, Corinthians tenta blindar elenco de problemas ​ 21/09 Renúncia de Dualib não melhora sua situação, diz Approbato ​ 21/09 Dualib diz ser "vitorioso derrotado"; confira trechos da carta de renúncia ​ 21/09 Jogadores do Corinthians evitam falar sobre renúncia de Dualib ​ 24/09 Contra temor do rebaixamento, Corinthians fala em reação imediata ​ 25/09 Para Dualib, título de 2005 do Corinthians foi "roubado" ​ 25/09 Goleiro Felipe lamenta excesso de técnicos no Corinthians ​ 26/09 Procurador do STJD vai pedir investigação sobre título de 2005 do Corinthians ​ 28/09 Goleiro Felipe culpa apenas jogadores por posição do Corinthians na tabela ​ 30/09 Torcedores corintianos fazem protesto, hostilizam jogadores e exigem reação ​ OUTUBRO 01/10 Após trocar farpas com torcida, Édson ganha "folga" no Corinthians ​ 03/10 Vitória sobre o Fluminense pode acabar com treinos com torcida no Corinthians ​ 03/10 Aílton descarta medo da torcida, mas vê clima de terror no Corinthians ​ 05/10 Vampeta inicia provocações e diz que São Paulo é "freguês" dele ​ 05/10 Torcedores planejam visita de apoio ao Corinthians antes do clássico ​ 05/10 Pressionado pela torcida, Rosinei deixa o Corinthians ​ 07/10 Torcedores do Corinthians quebram quiosque de sorvete no metrô Carrão ​ 09/10 Liminares ameaçam eleições presidenciais no Corinthians ​

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09/10 Corinthians projeta fuga da zona de rebaixamento contra o Inter ​ 09/10 Andrés Sanchez é eleito novo presidente do Corinthians ​ 11/10 Torcida programa nova visita a treino para incentivar o Corinthians ​ 11/10 Sanchez pede tempo para analisar dívidas e não descarta nova parceria ​ 11/10 Suspeito em escândalo, Andrés promete "limpeza moral" no Corinthians ​ 16/10 Corinthians tenta recuperação diante de seu maior algoz no ano ​ 18/10 Gebran nega prêmio, mas promete churrasco se Corinthians não cair ​ 19/10 Presidente pede tempo e diz que Corinthians não é "bomba-relógio" ​ 20/10 Presidente corintiano promete revelar dívidas do clube em 20 dias ​ 22/10 Nelsinho admite situação perigosa, mas diz que Corinthians está "vivo" ​ 22/10 A seis rodadas do fim, Corinthians ainda evita fazer contas contra queda ​ 23/10 Série B não é solução para ninguém ​ 23/10 Diretoria do Corinthians se isenta de responsabilidade por crise ​ 24/10 Em situação delicada, Corinthians pede apoio de seus torcedores ​ 24/10 Desesperado, Corinthians escancara seus conflitos internos ​ 24/10 Deputado diz que pressão de Ricardo Teixeira adiou CPI do Corinthians ​ 24/10 Corinthians ainda estuda possibilidade de baixar preço de ingresso ​ 24/10 Presidente do Corinthians nega contratação do pai-de-santo Robério de Ogum ​ 26/10 Corinthians descarta premiação extra por permanência na Série A ​ 30/10 Após anúncio da Fifa, parlamentares pedem criação da CPI do Corinthians ​ 31/10 Presidente corintiano pode ser afastado por passado com a MSI ​ NOVEMBRO 01/11/2007 Corinthians lamenta falta de atenção e permanência na zona de rebaixamento ​ 05/11/2007 Corinthians comemora empate, mas vê futuro complicado 06/11/2007 Presidente corintiano adia planejamento de 2008, mas assegura Nelsinho 06/11/2007 Nelsinho admite que crise política interfere no desempenho do Corinthians ​ 08/11/2007 Presidente do Corinthians diz não temer julgamento do caso Brasileiro-05 ​ 08/11/2007 Presidente corintiano vê "caos" e já descarta chance de título no Paulista-08 13/11/2007 Sanches diz que aguarda jogo com o Vasco para definir futuro do Corinthians 20/11/2007 Felipe provoca e prevê festa corintiana maior do que a do São Paulo 28/11/2007 Corinthians desafia inexperiência e estatísticas para fugir da Série B 28/11/2007 Fim de acordo com a MSI prejudicou o Corinthians no Brasileiro

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28/11/2007 Em meio a polêmica sobre juiz, Corinthians tenta pôr fim a martírio 28/11/2007 Felipe dorme mal e sonha com gols em véspera de decisão corintiana 28/11/2007 Corinthians perde para o Vasco, se complica e decide futuro contra o Grêmio 29/11/2007 Corinthians lamenta chance perdida e vê jogo de "vida ou morte" no Sul 30/11/2007 - Torcedores dos times gaúchos planejam se unir contra o Corinthians 30/11/2007 Nelsinho Baptista enaltece seu trabalho no comando do Corinthians DEZEMBRO 01/12 Espinha dorsal do Corinthians veio das Séries B e C ​ 02/12 Com base das Séries B e C, espinha dorsal do Corinthians não evita rebaixamento ​ 02/12 Fim da parceria contribuiu para rebaixamento do Corinthians ​ 03/12 Rebaixado, Corinthians consegue "derrotar" até a torcida ​

Período: 19 de maio de 2012 até 2 de dezembro de 2012 ​ Clube: Sociedade Esportiva Palmeiras ​ Material: Folha Online

MAIO 20/05 Felipão não pensa em ficar no Palmeiras para 2013 ​ 20/05 SÉRIE A Habituado a vencer no início, time joga mal e para na Portuguesa JUNHO 05/06 Daniel Carvalho diz que situação atual do Palmeiras preocupa

06/06 Palmeiras enfrenta o Sport hoje em busca da primeira vitória ​

07/06 Verdão é superado em Recife e segue sem vencer no Nacional ​

07/06 Palmeiras lamenta erros e vê vitória urgente no sábado ​ 09/06 Marcos Assunção está irritado por erros em detalhes do Palmeira ​ 10/06/2012 Clube amarga seu terceiro pior público no ano 11/06/2012 Scolari diz que time se abateu após início ruim no Brasileiro 14/06/2012 Jogadores dão crédito a Scolari por estratégia JULHO 06/07 Atletas palmeirenses exaltam vantagem, mas rechaçam favoritismo ​ ​ 06/07 Após vitória, César Sampaio pede humildade ao Palmeiras ​

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06/07 Crise de apendicite tira Barcos da decisão 08/07 Para Felipão, Palmeiras dificilmente lutará pelo Brasileiro ​ 11/07 Nem taça deve garantir reeleição do presidente palmeirense ​ 12/07 Jogadores do Palmeiras exaltam triunfo da 'família Scolari' ​ 12/07 Senhor Palmeiras 17/07 Valdivia e Felipão são suspensos ​ 18/07 Alguma coisa está fora da ordem ​ 22/07 Reforçado, Palmeiras volta a focar no Brasileiro ​ 30/07 Palmeiras perde, volta à zona do rebaixamento e culpa arbitragem 31/07 Palmeiras faz protesto contra arbitragem para levar à CBF ​ AGOSTO 04/08 Palmeiras testa sua crise com árbitros 05/08 Para Felipão, lesões no Palmeiras chegam a causar pânico ​ 05/08 No Grêmio, Kleber critica ambiente no Palmeiras ​ 08/08 Scolari, 400 jogos no Palmeiras, tem futuro indefinido ​ 16/08 Palmeiras festeja pontos, mas não saída da zona de rebaixamento ​ 25/08 Palmeirenses não sabem explicar derrota para o Santos ​ 28/08 Palmeiras faz contas para fugir da degola e observa reforços na Série B ​ 30/08 Obina admite que situação do Palmeiras é complicada ​ 30/08 Temos que ter um pouco mais de coração na ponta do pé, diz Scolari ​ 31/08 Crise interna pode impedir renovação de Scolari para 2013 ​ SETEMBRO 02/09/2012 Salvem o Palmeiras 02/09 Não estamos jogando bem, diz Felipão ​ 04/09/2012 Em má fase, clube baixa ingresso para R$ 20 10/09/2012 Scolari diz que fica em caso de rebaixamento 11/09/2012 Time diminui acesso da imprensa a treinos 11/09/2012 Cartola afirma que ambiente já é de queda 14/09/2012 Fim - Perigo de rebaixamento faz Palmeiras demitir Scolari depois de 26 meses, tensões e só um título 15/09/2012 Desesperado, Palmeiras sofre para conseguir um novo técnico 17/09/2012 Abismo verde

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18/09/2012 A cara da crise - Após virar alvo principal da torcida, Frizzo deve deixar futebol do Palmeiras 19/09/2012 Por segurança, time vai para refúgio em Itu 21/09/2012 Se fase fosse boa, eu não estaria aqui, diz Kleina 21/09/2012 Clube paga conta de Pacaembu quebrado 29/09/2012 Palmeiras comete mesmos erros da queda de 2002, dizem rebaixados 29/09/2012 Clube perde 4 mandos e comemora pena baixa OUTUBRO 01/10/2012 Protesto da Mancha Verde 01/10/2012 Conselho do Palmeiras aprova eleições diretas por unanimidade 02/10/2012 Para manter o foco 03/10/2012 Inflacionou 03/10/2012 Clube aprova diretas e votará novas normas 04/10/2012 Na tentativa de barrar juiz, clube usa ação de torcedor 06/10/2012 De olho no apito no clássico 07/10/2012 Palmeirense Valdivia tem lesão em ligamento e só volta a jogar em 2013 08/10/2012 Após decepções, Valdivia desfalca Palmeiras na reta final da Série A 08/10/2012 Com lesão na coxa, Juninho desfalca Palmeiras por até 2 semanas 24/10/2012 Só briga contra queda resta ao Palmeiras 30/10/2012 Clube pedirá anulação da derrota no Sul 31/10 Críticas e elogios ​ 31/10 Defesa do Palmeiras apelará até para cor de camisa para anular partida ​ 31/10 Palmeiras vai contratar perito para analisar leitura labial da arbitragem NOVEMBRO 04/11 Palmeirenses tentam invadir gramado e xingam dirigentes ​ 05/11 Kleina vê evolução do Palmeiras e prega crença em milagres ​ 05/11 Marcos Assunção pede união ao Palmeiras e refuta protesto da torcida ​ 05/11 Torcida do Palmeiras picha muros do clube e ameaça presidente de morte ​ 05/11 É como pegar uma mulher divorciada, diz Kleina sobre desafio com o Palmeiras ​ 05/11 Árbitro relata bomba de torcida contra PMs e Palmeiras deve pegar mais uma ​ suspensão 06/11 Palmeiras joga para evitar vexame histórico ​

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06/11 Palmeiras cancela treino e fala em erro de comunicação ​ 06/11 César Sampaio confirma que jogadores do Palmeiras sofrem ameaças ​ 07/11 Por segurança, Palmeiras esconde programação da semana ​ 07/11 Se vamos morrer, vai ser de pé, diz Barcos ​ 07/11 O culpado da crise palmeirense ​ 08/11 Contra todos ​ 08/11 Palmeiras leva 9 a 0 no tribunal, e jogo contra o Inter não é anulado ​ 10/11 Palmeiras tenta afiar sua pontaria para escapar da degola ​ 12/11 À beira do abismo, Palmeiras agora torce por milagre ​ 12/11 "Isso é castigo", lamenta técnico do Palmeiras ​ 13/11 Para evitar queda, Palmeiras precisa de feito inédito nos pontos corridos ​ 13/11 Após ameaças e incêndio, Palmeiras esconde treinos ​ 17/11 Presidente palmeirense diz que não cometeu erro grave para ser crucificado ​ 18/11 Jogadores relatam emoções e angústias de rebaixamentos ​ 18/11 Empate entre Portuguesa e Grêmio rebaixa o Palmeiras à Série B ​

Período: 14 de maio de 2016 até 1 de dezembro de 2016 Clube: Sport Club Internacional ​ Material: Zero Hora

MAIO 23/05/2016 Sasha faz dois e silencia Morumbi 27/05/2016 Sem encanto mas com eficiência 28/05/2016 A 9 gols da meta de 2016 30/05/2016 Inter é 100% fora de casa JUNHO 02/06 Inter vence, vira líder e da uma secadinha 24/06/2016 Liderança mais longe 27/06/2016 Inter bota fora mais três pontos 27/06/2016 Alex x torcedor 30/06 Derrota e preocupação antes do clássico JULHO

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02/07 O áudio de Argel 04/07 Argel sob pressão 05/07 A constante mutação do Inter 11/07/2016 Desembarque sob protestos 11/07/2016 Começa a busca por técnico 12/07/2016 O novo técnico precisa ter estrada 13/07/2016 Falcão, o novo técnico do Inter 14/07/2016 O primeiro time de Falcão 19/07/2016 O Presidente fala 21/07/2016 Com a benção de D’ale 22/07/2016 Paulão e os torcedores 25/07/2016 Inter enroscado 26/07/2016 Sequência decisiva para o Inter 27/07/2016 Meio campo é a dor de cabeça 28/07/2016 Versatilidade de Seija poderá ajudar Falcão AGOSTO 01/08/16 Derrota, protesto e demissão 03/08/2016 Paulo Cesar Tinga para conter a crise no clube 04/08/2016 Clássico do desespero 05/08/2016 Está difícil de acreditar no que se vê 08/08/2016 Até empate é um alívio 08/08/2016 Paulo Roberto Falcão não é mais técnico do Inter 09/08/2016 Falcão pressentiu o fim precoce 11/08/2016 Roth revoluciona 12/08/2016 Nico sobrou 16/08/2016 Roth começa mal 17/08/2016 Dois meses sem gosto de vitória 19/08/2016 Pacotão de urgência 22/08/2016 Nem pênalti a favor entra 26/08/2016 Nico ao pé do ouvido 29/08/2016 O Z-4 deu as caras. 31/08/2016 Ataque novo para uma velha crise

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SETEMBRO 01/09/2016 76 dias depois, o inter reaprende a ganhar 06/09/2016 A luta do inter contra o z-4 08/08/2016 Atenção máxima no Beira-Rio 09/09/2016 Alívio com muito sofrimento 12/09/2016 Só o Inter não se ajudou 16/09/2016 Argel aumenta o drama do inter 15/09/2016 Com cara de mata-mata 19/09/2016 Roth se agarra as raízes para fugir do Z-4 20/09/2016 Inter afunda no Z-4 21/09/2016 Matemática da salvação 23/09/2016 Inter perde, marca gol e segue vivo na copa 23/09/2016 Uma classificação constrangida 26/09/2016 Inter vê esperança em nova derrota 27/09/2016 Ameaças aumentam o tom da crise 28/09/2016 O dia do inter: Reunião, consequência, protestos, mancha 28/09/2016 O desafio dos gringos OUTUBRO 01/10/2016 Operação Série A 03/10/2016 Um degrau vencido 04/10/2016 Fora do CT, Inter treina a confiança 07/10/2016 Para Iluminar a Série A 13/10/2016 Castigo em pênalti discutível 14/10/2016 - Anderson e William brigam em treino do Inter no Beira-Rio 17/10/2016 Inter acerta um soco no Z-4 e respira 20/10/2016 Classificação que não caiu do céu 21/10/2016 Vai ter drama até o fim 25/10/2016 Da punição a uma semifinal 31/10/2016 O medo volta ao Beira-Rio NOVEMBRO 03/11/2016 Eliminado da Copa, focado no Brasileirão 06/11/2016 "Para sair de uma situação dessas, só fazendo o anormal", diz Carvalho

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07/11/2016 Inter entra no modo desespero 07/11/2016 Quem pagou o pato foi o Banhinha 11/11/2016 Inter abre check-in gratuito para sócios em jogo contra Ponte Preta 13/11/2016 Fracasso, confusão e Roth demitido 22/11/2016 Cada vez mais perto da segundona 22/11/2016 Inter afunda 22/11/2016 Queda parece questão de tempo 23/11/2016 Tensão armada 23/11/2016 "Vitória já comprovou que não há irregularidade", diz dirigente sobre caso Victor Ramos 24/11/2016 Prestígio em queda 24/11/2016 Mistério, sossego em hotel, canhotos e estrangeiros 24/11/2016 Tapetão 25/11/2016 De rejeitados a salvadores 25/11/2016 Jurídico deve denunciar inscrição de jogador do Vitória 27/11/2016 - Confundido com dono de drone é colorado e desabafa: "Estavam alucinados" 27/11/2016 Do que o Inter precisa para escapar do rebaixamento na última rodada 30/11/2016 "Temos nossa tragédia pessoal, a fuga do rebaixamento", diz Carvalho sobre adiamento de rodada DEZEMBRO 01/12/2016 Inter pede para STJD analisar situação de zagueiro do Vitória 02/12/2016 Inter encaminhou ao STJD pedido contra o Vitora 02/12/2016 A meia proposta de Vitorio Pífero 05/12/2016 Treino com protesto 07/12/2016 "É preciso retomar a profissionalização" Candidato M. Medeiros 08/12/2016 Não tem irregularidade 09/12/2016 Piffero pede "investigação completa" sobre caso de possível falsificação 11/12/2016 Inter: entre voo fretado e promessa do presidente do Figueirense 11/12/2016 Inter empata com o Fluminense e está rebaixado para a Segundona 12/12/2016 Rebaixado