Há vida na política social: representação 143 social de entre senadores brasileiros

| 1 Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, 2 Tatiana Wargas de Faria Baptista, 3 Ângela Maria Silva Arruda |

1 Psicóloga. Mestre em Ciências Resumo: O artigo debate os resultados de uma pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da pesquisa sobre as representações sociais de cidadania FIOCRUZ. Endereço eletrônico: encontradas em discursos emitidos por senadores [email protected] no plenário do Senado Federal, entre os anos de 2 Psicóloga. Doutora em Saúde Coletiva pelo IMS-UERJ. 2003 e 2006. O material analisado compreende os Pesquisadora do Departamento de Administração e discursos de 46 senadores, na temática das políticas Planejamento em Saúde da ENSP-FIOCRUZ. Endereço sociais, e foi investigado com o uso do programa eletrônico: twargas@ensp. fiocruz.br Alceste. E, apesar de diferentes partidos políticos 3 Psicóloga. Pós-doutora em estarem representados, encontramos relativo Psicologia Social pelo ISCTE, Lisboa. Professora adjunta consenso em torno da ideia-chave de cidadania. O do Instituto de Psicologia da campo representacional mostrou a centralidade da Universidade Federal do . Endereço eletrônico: consciência global e a entrada de temas periféricos [email protected] nos debates políticos, como a Renda Básica de Cidadania e a Igualdade Racial, assim como sinalizou a pouca influência do setor Saúde nos problemas abordados pelos senadores, no âmbito da política social, no período estudado.

 Palavras-chave: representações sociais; cidadania; Recebido em: 18/05/2012. Senado; política social. Aprovado em: 21/11/2012. | Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Ângela Maria Silva Arruda | 144 Draibe (2001)Draibe nosso argumento: ilustra de afirmação Aseguinte considerando que fundamentais. as ainda institucionais, regras que das superem alternativas opotencial de explicação procurar também coletivamente históricos.Significa produzidas em eideias processos perspectivas eexplicita interesses, quenos discursos expressa políticas, se a “vida” das analisar de senadores em debates representações públicos sociais as significa Buscar nobrasileiros, 2003a2006. âmbito anos duranteos política social, da de senadores nos discursos de cidadania arepresentação discute social texto Este Introdução: compreender para políticas das avida Physis Revista deSaúde Coletiva, RiodeJaneiro, muito para a compreensão das peculiaridades e transformações das instituições instituições das e transformações muito peculiaridades acompreensão para das pode contribuir no pelos conhecimento parlamentares econstruído usado Ofoco 2007). al., et –enfoque pouco produzidoLegislativo (HOCHMAN GOULART, 1992). JOVCHELOVITCH,2003; 2000; al., et FERNANDEZ 2002; ARRUDA, 2006; políticos (VELOSO, processos sobre a“vida” muito dos bem com análises teoria articula que se mostrado esta tem de representações sociais, em pesquisas identidade ecidadania, nacional desenvolvimento recente, sobre temática nopública, da política, esfera Brasil, 1996). O (BERGER; LUCKMANN, realidade da social construção da psicologia da com social, asociologia, por inserir-sea realidade perspectiva na com elementos os macrossociais subjetividade com do da relacionais cotidiano, estruturas das Moscovici interfaces (1978) as de analisar tem acapacidade emanutenção formação dona coletivo (MOSCOVICI, Ateoria de 2003). tipo de funcionamentocerto cognitivo, epor outro fundamentais lado são própria que emudança permanência de exigem constituição, dinâmica uma sobre pelos grupos, objetos que socialmenterelevantes, possuem compartihadas Este estudo optou estudo Este por concentrar-se no ideias âmbito no das papel do são, explicativas hipóteses basicamente, representações sociais As unânimes, como sabemos. (DRAIBE, 2001, p. 26). (DRAIBE, sabemos. como unânimes, menos muito nem consensuais, são que não perspectivas, suas opções, suas interesses, seus valores, seus segundo fazem-no políticas, as que animam pessoas de grupos os ou pessoas as Ora, pessoas. por eimplementadas gerenciadas são habitat, seu ou ao pessoas às dirigidas são pessoas, por eelaboradas decididas São ealma. corpo têm melhor, eosso, carne contrapartida, em têm, também programas eos políticas As 23 [1]:143-166,2013 políticas do Brasil, que afetam diretamente a noção de cidadania subjacente a 145 nossas políticas, em especial da política de saúde, visto ser esta uma área que preconiza a consolidação de um sistema pautado em princípios universalistas e de justiça social. O texto aborda desde os aspectos metodológicos até a discussão dos principais resultados. A riqueza do material e do método de análise empregado permitiu discutir aspectos relevantes de nosso sistema político, da proteção social e da saúde pública. Assim, abordamos os temas que aparecem no campo representacional encontrado, como a renda básica de cidadania, a solidariedade e a desigualdade social, e a relação entre cidadania, saúde e mudança nas representações.

Aspectos metodológicos O estudo se desenvolveu em três etapas: a) fundamentação teórica, com a discussão das relações entre esfera pública, discurso político e representações sociais; b) análise do contexto de atuação dos senadores, que considerou: a imagem do

Congresso Nacional na mídia, as características do sistema político brasileiro cidadania social: de entre senadores social brasileiros representação política na vida Há e a construção do sistema de proteção, relacionando-o às ideias de cidadania encontradas na literatura; c) pesquisa empírica dos discursos de senadores nos anos de 2003 a 2006. Os dados empíricos analisados nesta pesquisa são oriundos de discursos proferidos nas sessões do plenário do Senado nos anos de 2003 a 2006.1 Os discursos foram extraídos de uma pesquisa na base do Congresso Nacional, o Sistema de Informação do Congresso Nacional (SICON), na qual os filtros utilizados foram as palavras “cidadania” e “política social”, no campo “assunto”. Como resultado inicial, foram obtidos 126 discursos. Após a leitura dos mesmos, foram excluídos os discursos proferidos por pessoas externas ao Senado e alguns outros que não tinham como tema alguma política ou problema social. Além disso, os apartes que tratavam do tema foram transformados cada um em discursos próprios referentes a seus autores. Ao final, reuniu-se para análise um total de 128 discursos, proferidos por 46 senadores. A escolha do período a ser pesquisado deveu-se a ser, na época da pesquisa, o período de uma legislatura completa e o último mandato presidencial cumprido, o que possibilitou analisar as representações sociais que estavam ligadas aos

Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 23 [ 1 ]: 143-166, 2013 | Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Ângela Maria Silva Arruda | 146 coligação do governo intensificariam odebate sociais. políticas em torno das do governocoligação intensificariam eleitoral. Tal na campanha ocorridas de sua fato nos sugeriu mudanças que as oFome propostae que social, de teveuma programa Zero, como carro-chefe foi oprimeirodo presidente mandato eleito de esquerda, Lula, partido por um Poder preponderância este disso, exerceclara Executivo sobre Além oLegislativo. recentes sobre no mais otema, âmbito sistema político de em um quediscursos o Physis Revista deSaúde Coletiva, RiodeJaneiro, ser observado na figura 1. figura na ser observado entre si, como classes pode das earelação classe àsua léxico de cada pertinência a ilustra Descendente Hierárquica (CHD) AClassificação reduzidas. formas das interrelações pelas criadas temáticas), de u.c.e.s (classes em classes resulta análise de contexto elementares unidades ou u.c.e.s). A (chamados do mesmo tamanho em recortes é organizado e o texto reduzidas) ou formas radicais (seus léxicos por agrupadas são palavras As 2004). Teoria (ALBA, Sociais Representações das com princípios os pressupostos epistemológicosseus teóricos têm afinidade da porqueque de representações sociais, tem sido em pesquisas muito utilizado em Reinet 1986 por criado Marx método Ele e éum informatizado Alceste. categorização. essa apresenta 1, O quadro adiante, mais áreas. dessas tem lei aprovada em alguma ou suplente,titular tem se saúde, projetos da e se ou área na social de lei área na oposição, de exerceposição se liderança, blocofederativa, ésenador se ou partido, unidade político, de discursos, quantidade partido variáveis: seguintes com as 1998). (ABRANCHES, presidencialismo de coalizão eblocos políticos, num formato comissões típico de de coligações, formação na 1988). No sistema brasileiro, senadores os exercem estratégicos papéis (BRASIL, do Poder atividades Executivo das eacompanhamento referentes àfiscalização próprias que, de representante além funções no possui dos Congresso, estados Uma análise estatística foi efetuada com o programa de análise textual textual de análise com oprograma foi efetuada estatística Uma análise foi categorização feita dos uma parlamentares, detalhada mais análise Para uma casa, dessa peloA opção deu Senadorepresentatividade se pela política esocial 23 [1]:143-166,2013 2 Quadro 1 – Categorização dos senadores 147 Há vida na política social: representação social de cidadania social: de entre senadores social brasileiros representação política na vida Há

Fonte: Elaboração a partir da pesquisa.

Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 23 [ 1 ]: 143-166, 2013 | Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Ângela Maria Silva Arruda | 148 Figura 1: Classificação Hierárquica Descendente Hierárquica 1: Classificação Figura Physis Revista deSaúde Coletiva, RiodeJaneiro, pesquisa. da apartir Elaboração Fonte: 23 [1]:143-166,2013 Para essa pesquisa, um quadro foi formatado a partir dos dados da Análise 149 Alceste, com as presenças significativas da classe 1 que correspondem aos principais “atores sociais” ou “sujeitos típicos” identificados nos discursos desses senadores. Tal análise também nos permitiu compreender quais interlocutores externos ao Senado contribuem para a formação dessa representação de cidadania.

Acerca dos senadores Os 46 senadores autores dos 128 discursos analisados pertencem a 11 partidos: PT, PSDB, PMDB, PFL, PSB, PDT, PSOL, PCdoB, PL, PPS, PTB. A distribuição pode ser vista na tabela 1. Vinte e quatro unidades federativas, de todas as regiões do Brasil, estão representadas no material de análise. Em termos de quantidade, a Região Norte foi a mais frequente (36 discursos), seguida pela Centro-Oeste (28), Sudeste (26), Sul (24), e por fim, Nordeste (17). Os senadores com maior quantidade de discurso foram: senador (PT-SP), com 17 discursos, senador Paulo Paim (PT-RS) com 11 discursos, senadores Paulo Octavio (PFL-DF) e Romero Jucá (PMDB-RR) ambos com sete discursos cada Há vida na política social: representação social de cidadania social: de entre senadores social brasileiros representação política na vida Há um. Os dois primeiros contribuíram, portanto, com 28 discursos no total de 46 do Partido dos Trabalhadores (PT). Esses dois senadores também foram os únicos que aprovaram lei no período de 2003 a 2006, que contemplaram a área social e a área da saúde. Além deles, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) teve lei aprovada na área da saúde.

Tabela 1: Quantidade de discursos por partido PARTIDO QUANTIDADE PT 46 PMDB 23 PSDB 20 PFL 12 PDT 7 PPS 6 PSB 4 PSOL 3 PTB 3 PCdoB 2 PL 2 TOTAL 128 Fonte: Elaboração a partir da pesquisa.

Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 23 [ 1 ]: 143-166, 2013 | Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Ângela Maria Silva Arruda | 150 Physis Revista deSaúde Coletiva, RiodeJaneiro, de ter sido ministro e de trocar de partido (do PT para o PDT). A oposição o PDT). do para (do PT de partido de edeter trocar sido ministro Ele voltoudiscursos. oposição aexercer aogoverno, seu mandato, fazendo depois do senador Buarque (PT-DF Cristovam à participação /PDT-DF) com quatro deu se principalmente Isso e 6 senadores). no período discursos, (7 seu partido considerando de númerosenadores aquantidade de um alto de discursos, possui mas apresentou não liderança, de (PDT) sua Democrático Trabalhista discurso representados, oPartido De todos um. partidos os apenas cada discurso com um governo, (PT-AC), (PT-SC) como asenadora eosenador Ideli Tião Viana Salvatti líderes do bloco apresentaram-se de disso, apoio Além respectivamente. ao presentes,senador discursos, esete Romero com três estiveram Jucá (PMDB-RR) senadores no período tendência amesma pesquisado, foi observada. nacional. de abrangência que, nosocial dos que dizer refere se àatuação em questões tópicas de política legislativas atividades deputados suas aconcentrar que os induzem importantes institucionais Hábarreiras a questões nacionais. conteúdoleis que expressam abrangente, aprovam ligadas pois eformulam, elas que com frequência o“paroquialismo” dos nas deputados reflete se não afirmam de deputados sobree Santos Nacional. (2003) no Eles aatuação Congresso Neto àconclusãode Saúde de Amorim Tal Pública. pode ser articulado quadro imediato, no âmbito do Sistema noÚnico catálogo inserida de Saúde (SUS), epós-parto parto de parto, duranteotrabalho à presença de acompanhante odireito n.que 8.080, parturientes aLei de altera 19/09/1990, as garantir para saúde”; n. 11.108, aLei de autoria de senadora 07/04/2005, da Ideli Salvatti, à “direito com aexpressão eIdoso, também Estatuto eindexada nos catálogos 01/10/2003, do mesmo autor, sobre que do dispõe Idoso, oEstatuto inserida n. 10.741, aLei como PolíticaPortadora Social; catalogada de Deficiência, de de autoria do senador Paulo oDia Paim, Nacional Pessoa que de Luta da institui “saúde”; com apalavra-chave também n. 11.133, aLei indexada de 14/07/2005, de Política e no e que catálogo está Social de Cidadania, Básica a Renda institui n. 10.835,a Lei de autoria de 08/01/2004, do Suplicy, senador Eduardo que Duas lideranças do governo, lideranças osenadorDuas AloísioMercadante (PT-SP) eo leis no aprovadas período,As seguintes: de autoria senadores,as foram desses 23 [1]:143-166,2013 PDT não pode ser igualada a dos partidos de centro-direita, porque, além de 151 não se aliarem ao bloco da oposição, não tiveram seus discursos classificados juntamente com esses partidos. De fato, a classe temática que mais expressa sua posição está bem próxima da classe expressiva do discurso governista, na qual também encontramos u.c.e.s de parlamentares desse partido.

Acerca das classes temáticas As cinco classes temáticas da análise Alceste podem ser visualizadas na figura 1, divididas em dois grupos que se interrelacionam. A classe 1 (“Cidadania global e políticas focalizadas”) é a mais significativa, conjugando 38% das u.c.e.s aproveitadas pelo processamento. Ela foi o ponto de partida para encontrarmos o campo representacional da cidadania. A classe 1 também se aproxima bastante da classe 3 (“Cidadania dos pobres”) porque ambas discutem políticas sociais, porém com enfoques diferentes, sendo o conteúdo da última mais voltado às políticas de renda e à pobreza. A classe 4 (“Cidadania dos portadores de

deficiências”) também apresenta interação com elas, mas está inserida no cidadania social: de entre senadores social brasileiros representação política na vida Há grupo 2, provavelmente devido ao conteúdo de moções e comemorações, realizadas no Senado Federal, em função da Semana de Valorização dos Portadores de Deficiência. As classes 5 (“Renda Básica de Cidadania”) e 2 (“A voz da oposição”) têm grande proximidade porque têm léxicos semelhantes, que se referem principalmente ao vocabulário institucional dos parlamentares, utilizado para referir-se ao Presidente, aos ministros ou a outros senadores. Mas as duas têm conteúdos diferentes, sendo a classe 2 representativa da oposição ao Governo Lula e ao Programa Fome Zero, enquanto a classe 5 foi formada quase exclusivamente com os discursos do Senador Eduardo Suplicy sobre a proposta da Renda Básica de Cidadania. O Alceste nos permitiu encontrar “sujeitos típicos”, que são os emissores mais representativos de certos temas. A classe 3, por exemplo, pode ser bem representada pela variável que identifica o senador e pela variável de seu partido (PDT). Na classe 1, por outro lado, há senadores de diferentes orientações partidárias, mas o destaque está nas variáveis que indicam

Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 23 [ 1 ]: 143-166, 2013 | Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Ângela Maria Silva Arruda | 152 social encontrada. social representação da aoelemento unificador ligadas sociais de políticas noções dois sujeitos esses apresentam bem específicos, temas de levantarem que apesar dos senadores Paulo Suplicy. eEduardo de Paim discursos Veremos, porém, quantidade àalta devido de cidadania”), básica e5(“Renda de deficiência”) dos portadores 4(“Cidadania classes presentes nas mais estão aoPT associados que oPresidenteainda República sido da tenha eleito pelo PT. discursos Os entre senadores, os de cidadania queideias representações sociais compõem as Portanto, das importante elocais. oPMDBgovernos catalisador estaduais éum Classe 1: Cidadania global e políticas focalizadas focalizadas global epolíticas 1: Cidadania Classe estilo comofisiologismo, e um certo de coalizão, aopresidencialismo ligadas claramente mais características as tereste opartido ao fato de pode ser associada significativa, líderes do governo, mais classe na u.c.e.s classe. nessa de metade suas da tem mais representa oPT. Suplicy, osenador 5, Eduardo está Finalmente, classe na que épropositor.quais Ele éoresponsável por 156 219 das que u.c.e.s variável da que reúne outros em torno senadores de diferentes dos partidos dos estatutos 4, édo odestaque senador isso. Na mostra Paulo classe partido, líder Paim, desse ao governo. do PSDB, variável Virgilio, Aforte presença da edo senador Arthur sujeito um possui 2também típico, àoposição que Aclasse ligado seria classe. senador u.c.e.s desse nesta as Jucá de praticamente apertinência mostra todas de u.c.e.s quantidade do aalta senador disso, Romero Além governista. coalizão a presença forte dos líderes do governo edo PMDB, da dos principais partidos um Physis Revista deSaúde Coletiva, RiodeJaneiro, campo representacional, ilustrado na figura 2. representacional, figura na campo ilustrado Por humana). humanos, isso, foi principalmente ao dela que através chegamos (direito, (humano, direito+ (comunidade ecomunidades), direitos), human+ comunidade+ e sociedades), (sociedade sociedade+ cidadã), cidadão, cidadãos, cidades, (cidade, cidad+ reduzidas: formas porcentagens das maiores encontram as em que se coerência classe interna, com Énessa forte interação entre léxicos. seus A grande influência de discursos emitidos por senadores do de discursos PMDB influência ede A grande A classe 1, éaque de serem amaior u.c.e.s apresenta (38%), A classe apesar maior 23 [1]:143-166,2013 catch all, muito influente nos muito influente Figura 2: Campo representacional 153 Há vida na política social: representação social de cidadania social: de entre senadores social brasileiros representação política na vida Há

A forma comunidade+ está inserida em falas sobre ações de organizações, empresas e governos (como o Projeto Criança Esperança da Rede Globo, as Organizações Bradesco, os conselhos tutelares, os governos municipais) que promovem algum benefício para comunidades ou para jovens e crianças de determinadas comunidades onde as instituições se localizam. Ou, em alguns casos, refere-se à comunidade como um ator na promoção de melhores condições de vida, de segurança e proteção de suas crianças, adolescentes e idosos. Da mesma forma, sociedade+ aparece tanto como beneficiária como promotora de benefícios para os indivíduos. Os seguintes trechos do corpus ilustram isso: [...] abrindo espaço político para reconhecer e estabelecer todos os tipos de parcerias com todas as formas de associações comunitárias, reforçando a solidariedade e mobi- lizando a sociedade para os jogos sociais. (Senador Antonio Carlos Valadares). [...] seu irreprimível crescimento ocorre por diversos motivos. As organizações do terceiro setor possuem, via de regra, maior proximidade com os destinatários de suas ações, são mais ágeis e flexíveis que as instituições governamentais e possuem aguda consciência acerca do caráter social de sua missão. (Senador Romero Jucá).

Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 23 [ 1 ]: 143-166, 2013 | Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Ângela Maria Silva Arruda | 154 Physis Revista deSaúde Coletiva, RiodeJaneiro, que cada cidadão deveexercer resolução na cidadão dos problemasque cada sociais. aresponsabilidade o merecimento melhor, vida justificar de uma para ou ainda de direitos, ou para agarantia para como justificativas humanos” e“humanidade” “seres categorias das pelo uso frequente, mas expressão, desta só pelo não uso areferência disso, direitos aos Além émuito humanos estatísticos. e dados einternacionais, multilaterais referência pela organizações a outros às países, ou global, de seja,comparação diferentes pela setores perspectiva porsociais uma ser interpretadas como elementosser interpretadas de saúde, resultantes apresentam se não da poderem significativas presenças de suas de várias Apesar classe. na significativa “saúde” presença decorrente apalavra éuma não do mas imediato direito àvida, Poderíamos que deduzir odireito nos àsaúde discursos. éum específica definição porém nenhuma direitos recebe não sociais, demais aos ligados argumentos os sobre Odireito embasa diferentes os àvida temas. em discursos empregadas “qualidade de vida”, expressões às “condições de vida” à e“direito vida”, associada está u.c.e.s, apalavra Na das 61 maioria porcentagem de 69%. euma que qui-quadrado vida+, tem um Especialmente classe. da características mais desenvolvimento+ (desenvolvimento, desenvolvimentos) reduzidas formas as são e socialista+) (violência (social, viol+ social+ eviolação), cultural), culturas, não-governamentais. e organizações independentes, comunidades, empresas, entidades religiosas, instituições públicas de cidadãos com aparticipação devem ser estabelecidas, parcerias as nos quais dos governos, éapontado como promotor figura na OEstado, Unidas. de espaços Nações das e adolescentes à Organização crianças desde a diferentesse grupos, Analisando as u.c.e.s da classe 1, u.c.e.s classe percebemos da as que relatados problemas são nelas Analisando Em relação aos direitos e necessidades dos cidadãos, vida+, cultura+ (cultura, (cultura, cultura+ vida+, dos cidadãos, direitos aos enecessidades relação Em referem- classe na significativas presenças pelas identificados atoresOs sociais diferença. (Senador Aloísio Mercadante). Aloísio (Senador diferença. a com aconvivência significa esocial, étnica cultural, àdiversidade reconhecimento pelo humanos, direitos pelos Aluta impostos. que pagam cidadãos dos sociedade, da setores os todos de encontros patrocinar sim, deve, ogoverno [...] no entanto, Buarque). Cristovam (Senador abjeta. pobreza uma para atirados ou são permanecem outros de milhares enquanto globalizacao da benefícios grandes a retirar continuar podem quantos que uns pensar é realista nao estável. verdadeiramente ser pode sociedade nenhuma solidariedade, [...] sem 23 [1]:143-166,2013 políticas ou serviços de saúde, e estão mais associadas a iniciativas e problemas 155 na área de educação e trabalho, e decorrentes de desigualdade e exclusão social.

Acerca do campo representacional A partir da interpretação dos resultados da análise Alceste, foi elaborado o campo representacional (figura 2) com alguns elementos-chave que se interligam na temática “cidadania e a política social”. O elemento unificador do campo é a “consciência global”. Ela consiste no reconhecimento de um mundo globalizado e em seu papel de referência para a discussão dos problemas sociais e definição das funções do Estado e dos cidadãos correspondentes a ele. Assim, é possível destacar elementos emergentes na representação, ligados à consciência global, mas ancorados em aspectos antigos, inseridos nas diferentes formas de cidadania presentes em nossa história política e na literatura. Por essa estrutura abrem-se algumas possibilidades de debates e de visualização de alguns temas, enquanto outros permanecem periféricos ou invisíveis. A renda básica de cidadania e a

igualdade racial são temas periféricos, enquanto o programa Bolsa-família cidadania social: de entre senadores social brasileiros representação política na vida Há articula diferentes atores, pela convocação à solidariedade.

Consciência global e renda básica de cidadania O campo representacional encontrado evidencia o discurso adotado no período do governo FHC para a Reforma Administrativa do Estado, que se baseava na constatação de uma crise frente às demandas urgentes da globalização (ALMEIDA, 2007). Tal argumento teve repercussões também entre os senadores durante o período analisado, associado principalmente à defesa dos direitos humanos, ao fenômeno da globalização, e ao que chamamos de “cidadania global”. A cidadania global pode ser definida como proposta substitutiva à soberania da relação dos indivíduos com os Estados-nação diante da constatação da crise dos Estados Nacionais (VIEIRA, 1999). Ela eleva a importância dos benefícios individuais sobre os contratos coletivos.3 Se a cidadania contratual é firmada sobre o clássico tripé dos direitos, a cidadania global é pautada pelos direitos humanos, que fazem parte de um discurso mais recente na conjuntura mundial, e são arduamente defendidos por alguns e muito criticados por outros (SCHWARTZMAN, 2004). Eles são associados à retórica individualista, por

Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 23 [ 1 ]: 143-166, 2013 | Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Ângela Maria Silva Arruda | 156 pondo em relevo o cotidiano dos pobres, das minorias, dospondo excluídos, minorias, por dos meio pobres, em relevo das ocotidiano baixo’, dos ‘de de discurso qualidade exercesua que popular “a cultura afirma Ele que política, nova do coloque social. e uma forma de fazer acentralidade “novo um para equilíbrio” dê abertura excluídos de trabalho do sistema formal entre que mantida os dovalor Ele aposta dinheiro. aforma de solidariedade do acima humana vida pela pactuação Ouseja, uma aser central. ovalor passe Bolsa-família. do Programa condicionalidades das acerca discussão no mercado de consumo, participação oquee sua intensa na pôde ser observado próprios seus indivíduo autonomia tenha contratoscada traçar de trabalho para que para dodeve ser Estado promovida provisório pelo uso ajuda da financeira Porém, dos senadores, aprópria de acordo social com discursos os integração 1999). (BAUMAN, renda mínima renda da –a chamada o trabalho desvincular e 2002) “mais humana” (SANTOS, aglobalização relacionado de ideias tornar às como projeto social aárea oque do maior Estado, pode ser porse centralizar esforçando- mas no reconhecimento globalização, ancoradas da parecem Elas la. sem superá- herança, com tensão esta do Presidentemandato uma mostram Lula neste primeiro configuradas políticas as Mas públicas. ações efetivamente das ao mercado internacional, do ede convocação terceiro participar setor para dirigida estatal pobres, atuação da de atenção mais aos globalizados nos discursos que ancoram se focalizadas, sociais por de políticas desenhos carregada estava a força ideológica do fenômeno globalização. da projeto amplo.de um a visão ilustra eembaçando mais Isso nacional focalizadas políticas as elevando entre indivíduos relações einstituições, nas como regulador representacional, do governo no campo que atuação apenas sugere uma especial eem Tal nacionais. públicas analisados presente paradoxo está nos discursos políticas inclusãonas maior reivindicar nos direitos para humanos baseiam se minoritários quando grupos em diferentes países, pode ser identificado de Direitos em 1997. Humanos, Especial Secretaria Um movimento paradoxal ao mesmo como tempo no que em Brasil, que nações, criou reverbera nas uma internacionais, dos organismos nos discursos pode ser vista denoção cidadania aforça dessa Mas que podem não ser ignoradas. eculturais regionais diferenças prioritário, avalor oser humano, individual, condição na atravessando elevar Physis Revista deSaúde Coletiva, RiodeJaneiro, Santos (2000) aposta na possibilidade de uma globalização na qual ohomem qual na globalização possibilidade de na uma aposta Santos (2000) que institucional o governoA herança FHC ogoverno deixou para Lula 23 [1]:143-166,2013 da exaltação da vida de todos os dias” (SANTOS, 2000, p. 144). Bauman (1999) 157 sugere a implantação de uma renda mínima para todos os cidadãos, não como compensação para os mais pobres, mas como forma de dissociar renda e trabalho. O argumento é o de que a renda mínima favorece o exercício da liberdade e da cidadania e a formação de um ciclo benéfico para a sociedade toda, partindo do princípio de que ela é um bem social (BAUMAN, 1999). A proposta da renda mínima foi adotada oficialmente no Brasil, mas associada ao Programa Bolsa- família, o que promoveu a sobreposição da focalização sobre a universalização. Assim, a “renda básica de cidadania”, que é o principal conceito da lei que funda o Programa Bolsa-família, permanece como elemento periférico no esquema da representação social. Ela é periférica porque faz parte desses elementos contraditórios, que estão ligados à consciência global, mas que colocam outro projeto de Estado, embasado em outra noção de cidadania que parece incipiente ou em definição, e que não encontra interlocutores no Senado. Neste período do governo Lula, a renda básica conseguiu entrar na agenda política, principalmente

por ter sido vinculada ao Programa Bolsa-família, mas ela não teve um quórum cidadania social: de entre senadores social brasileiros representação política na vida Há de debate relevante. A referência à globalização impõe grandes desafios à tentativa de promover o fortalecimento do Estado-nação e um padrão de distribuição de riquezas que, de fato, encare o problema estrutural da pobreza. Como podemos observar no seguinte trecho de um discurso do senador Eduardo Suplicy, ela tenta se impor como novo caminho para a cidadania no Brasil inserido numa lógica econômica globalizada: [...] a Renda de Cidadania será também um símbolo de solidariedade da nação brasi- leira inserida na economia global. Devido aos seus recursos e à sua posição no mundo, o Brasil tem um imenso potencial para se beneficiar de uma globalização justa [...] Mas nenhum mecanismo de mercado espontâneo irá garantir que esses benefícios atingirão todos os setores e todas as regiões do país. Alguns estão mesmo fadados a sofrer. Neste contexto, uma renda de cidadania pode ser vista como um dividendo federal. É uma maneira de distribuir para todos os brasileiros, como uma retribuição por um esforço aceito por todos, os ganhos de participação em uma economia glo- balizada que, de outra forma, tenderia a ser monopolizada por alguns setores e por algumas regiões. (Senador Eduardo Suplicy).

Solidariedade e desigualdade social Outro elemento que exerce função central no campo representacional é a “solidariedade” (presente principalmente nos discursos em prol da cooperação,

Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 23 [ 1 ]: 143-166, 2013 | Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Ângela Maria Silva Arruda | 158 formulação de políticas públicas. de políticas formulação mesmo sendosociais, representantes políticos eleitores de seus eatores-chave na quanto problemas aos que têm amais não responsabilidade fracas, figuras são cidadão. Portanto, complementase de cada políticos os responsabilização pela Easolidariedade vulneráveis. pontos grupos críticos chamados –os com alguns praticamente sociedade, informe, da eleitores os figura na pesquisa, aparecem nossa peloresponsável Em exercício principal por o país solidariedade. mudar da pública, aomesmo esfera tempo da em quefonte ele eameaça éo corrupção da representações, pois éneledo que seréonúcleodessas brasileiro reside central a mutuamente. Aautora concluiu erefletindo-os híbrido queseparando-os ocaráter ecorrompido fraco caráter do um povo edos brasileiro própriosenfatiza políticos, representação que uma expressam pesquisa de sua participaram que também inclusive, parlamentares Os com questões do direito edos de deveres cidadania. lidar, para adia no como dia recurso epessoais familiares dos laços solidariedade a evocam epor eàidentidade àcoletividade isso pessoal, do individualismo num sentimentoresulta entre eleitores, os de ameaça que temem asobreposição possível etudo épermitido” p. (JOVCHELOVITCH, 103). 2000, Tal conjunto público semonde lei, como social, espaço “terra sem laço um tudo é de ninguém, encontrouno Brasil conjunto um oespaço de representações que definem (pobres), dos idosos de eportadores deficiências. adolescentes ejovens no crianças, critériodos pobres renda), das (baseado da atentos écompostoolhares do vulneráveis resto. dos excluídos O grupo e/ou e dos que dos atores cuidados precisam sociais de alguns ou a vulnerabilidade de classes”. de “lutas Porém, aexclusão reconhece-se radicais assim, visões ainda de amanifestação impedindo do país, políticos esociais conflitos aos diretamente o debate que obscurece de ligam temas se discursos Oapelo desses desigualdade. cidadão, que devem sergovernos, “parceiros” ecada empresas as “luta” na contra a ONGs, as os que famílias, engloba atores, diversos as dentre comunidades, as eles implícita. A“sociedade”como social entidade hierarquia maior, évista com uma eaconvivência de princípiosverticais, e horizontais de relações democráticos (1997), de Matta Da complementar padrão um que análises alimenta próxima às de uma mas igualitária, porém, solidariedade Não trata, se de uma população). e entre instituições empresas, social responsabilidade sociais, ações parceria, Physis Revista deSaúde Coletiva, RiodeJaneiro, O estudo de JovchelovitchO estudo pública sobreesfera representações da as (2000) 23 [1]:143-166,2013 A exclusão dos negros e das mulheres é citada apenas como exemplo extraído 159 do passado, com exceção da postura afirmativa do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e da insistência do senador Paulo Paim (PT-RS) em trazer o Estatuto da Igualdade Racial à discussão. O segundo estatuto, Sr. Presidente, que também está recebendo obstrução, o que também não entendo - e, em relação ao qual o mesmo Senador pediu audiência públi- ca, é o Estatuto da Igualdade Racial, que está em debate há cinco anos no Congresso. [...] Esse estatuto, quando eu estava na Câmara, foi discutido de forma fraternal, organizada, passou na Comissão Especial, mas, infelizmente, está paralisado: na Câ- mara e no Senado. [...] Não vamos evitar o bom debate. No momento da votação, como se faz aqui no plenário, ou mesmo na Comissão, que se vote contra ou a favor. Faça obstrução, retire o quórum, encaminhe da forma que bem entender, mas não proíba que se discuta a matéria. (Senador Paulo Paim).

A desigualdade racial é, assim, um elemento periférico que se ancora na visão da exclusão e da vulnerabilidade, que demandam por políticas focalizadas, para conseguir aparecer na agenda pública. Tal fato confirma a preponderância de uma noção de “harmonia social” em detrimento do enfrentamento dos conflitos que estão na base da desigualdade social no país. Essa nuance não é nova, mas cidadania social: de entre senadores social brasileiros representação política na vida Há está presente também nas representações sociais do Brasil analisadas por Arruda (2002) e econtradas por ela na literatura brasileira. Arruda (2002) afirma que os esforços para se estabelecer uma identidade nacional, desde a independência até meados do século XX, foram perpassados pela natureza como paisagem atemporal e paradisíaca, e pela união simbólica das raças, encobrindo assim os conflitos sociais presentes, como a escravidão. O tom do discurso em torno da mudança, muito presente na campanha eleitoral de Lula em 2002, não ganhou força entre os senadores, mas se associou ao argumento por certa continuidade de um projeto político que está “dando certo” e que garantirá maior “inclusão social”, num “mundo globalizado”. O sucesso do governo Lula é defendido por seus aliados na unificação e no aumento dos investimentos nos programas sociais já existentes e na manutenção da política econômica do governo anterior. Freitas (2007) argumenta que, na ocasião da posse, Lula tinha apoio social suficiente para tomar medidas difíceis, já previstas no programa do PT, mas não tomou. Para a autora, seu primeiro governo foi extremamente eficiente por ter conseguido fazer reformas e aprovar leis que o governo FHC não conseguiu, e por ter mantido o equilíbrio da dívida pública. Mas também afirma que o mesmo optou por manter intocada a política

Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 23 [ 1 ]: 143-166, 2013 | Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Ângela Maria Silva Arruda | 160 mas é fortemente ligada a ela. éfortemente aela. mas ligada no produtivo, processo a inserção que a sociedade, extrapola para dos cidadãos autonomia pela Portanto, de numa espécie ancorado “utilidade” odiscurso está eajudaroutros, aos fomentando eharmonioso.consumir ciclo certo benéfico contribuição que osujeito de produzir, por capacidade àsociedade sua pode dar da àreafirmação vinculada aparece aquiela internacionais. Mas organizações de relacionado oque políticas, está com discursos das objetivo fundamental Aautonomia esportes. eos ainformática como épregada “inclusão”: acultura, epromovendoo setor de serviços recentemente de áreas como vias exploradas doimportante que amanutenção aprodução doampliando sistema, para de bens que omercado ou consumidor étão mais mostraram do capitalismo atual fase ea produtivo abrangente. Ouseja, aglobalização de forma mais éencarado de trabalho”. “carteira pela oprocesso Agora, aqueles caracterizados apenas são que de não outros sociais, grupos demandas possibilidade na de das entrada presente. está Porém,sistema de proteção ainda social, está diferença agrande 1994,(SANTOS, p. 31), origens de nosso eas sobre regulada” a“cidadania queequidade comprometesse, não possíveloesforço ese de ajudasse acumulação” de Santos (1994) sobre de de “uma oideal aimplantação política voltada para como problema possívelsenadores esua solução. encaram social Aconclusão aoque no que os sociais, tange de políticas eformulação de acumulação eaumentou ampliouSaúde, muito oprograma cobertura seu apelo sua eleitoral. inclusivecomo tornou se do federais, orçamento receitas da prioridade as para disso, Além famílias. pelas do benefício e do cumprimento contrapartidas das do ganho respeito à forma de implantação, àfiscalização oposição apenas dizem da que recebe o programa críticas quanto nos As governosno Legislativo locais. eatores dos interesses políticos diferentes partidos envolvidos,de reunir tanto por capacidade sua Bolsa-família, no Programa força sua está sociais, políticas queque, oPoder ainda de opapel condutor exerça Executivo do debate edas pelos opositores“inexistente” demonstra no Senado. Portanto, analisado omaterial eéreferido como dos aliados nos discursos ênfase recebeu não social) área da oenriquecimentopara do setor bancário. contribuindoeconômica social, investimentos em detrimento área na de mais Physis Revista deSaúde Coletiva, RiodeJaneiro, Também podemos destacar que permanece a forte associação entre processo Também aforte associação que permanece podemos destacar Por outro Fome lado, aprioridade oPrograma (que Zero pretendia marcar 23 [1]:143-166,2013 Cidadania, saúde e mudança 161 Nos pontos periféricos do campo representacional é que aparecem poucos elementos para se pensar na cidadania como processo de conquista e luta por direitos. Apesar de ter exercido influência no processo de redemocratização e na Reforma Sanitária, a ideia de uma cidadania em construção não é significativamente presente nos discursos analisados. A Saúde Pública influenciou a entrada de demandas de grupos sociais historicamente excluídos das políticas sociais, mas ela não aparece nos discursos como área própria inserida no debate da proteção. Ao buscarmos os temas discutidos pela subcomissão da saúde e as leis aprovadas no período, por exemplo, percebemos que a pouca atenção com esta área não está só nos discursos, mas também na atuação desses parlamentares. Isso pode ser explicado por duas hipóteses que, devido às limitações do material pesquisado, precisariam ser analisadas em outro momento. Primeiro, a dificuldade em se encarar os conflitos sociais e a preponderância da visão harmônica da sociedade estariam impedindo que uma noção de cidadania como construção social e

o ideário da Seguridade Social exercessem ainda mais influência na agenda, cidadania social: de entre senadores social brasileiros representação política na vida Há produzindo o afastamento da Saúde da discussão sobre os programas sociais em foco. Segundo, uma noção mais ampliada de saúde, incorporando o discurso dos determinantes sociais, estaria convergindo com o foco na diminuição da pobreza e no ganho de autonomia para grupos sociais específicos, deixando para segundo plano a ideia de um sistema universal. Veloso (2006), em estudo de representações sociais com usuários da saúde pública, encontrou duas dimensões da cidadania em relação com a saúde: uma normativa e outra valorativa, que se articulam. A dimensão valorativa da cidadania é composta por virtudes pessoais ligadas ao bom relacionamento com os outros, pela solidariedade e responsabilidade. A dimensão normativa traz a marca da informação, conhecimento dos direitos e das leis. Ela também encontrou uma característica de “naturalização” da cidadania, como se esta nascesse com cada brasileiro e dissesse sobre o caráter de cada indivíduo. A saúde é representada como bem-estar físico, mas ligada a fatores sociais, como acesso à alimentação, educação, e renda. Ela se relaciona com a cidadania pela capacidade do corpo ser ativo em seu meio social, para que o sujeito estabeleça relações de solidariedade, trabalhe e seja útil. A autonomia é, portanto, um elemento-chave para a relação entre saúde, cidadania e política social, e o forte caráter normativo

Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 23 [ 1 ]: 143-166, 2013 | Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Ângela Maria Silva Arruda | 162 ocorra em direção a uma cidadania igualitária, é necessário levar em conta levar énecessário igualitária, cidadania auma em direção ocorra mudança Para que de elementosentrada tal de modificá-la. contraditórios, afim movimento, em franco que a permite de cidadania, ainda representação social da vivendo de reorganização processo assim, um pretendam superá-la. Estamos, de projetos a implantação políticos que entre e dificulta os cidadãos desigualdade por projeto outro, com um que casa-se combate não de Estado efetivamente a dos eleitoresparticipação historicamente excluídos pública; ede grupos esfera na de possibilidades lado, por as um amplia complementares faces eparadoxais: duas apresentada tem de cidadania eterritorial.identidade Arepresentação social social incorporando novas referências de estão princípios eliberdade. Mas de igualdade edos de direitos políticos modernas esociais, ideias civis, com as social hierarquia da associação peculiar na ancoradas de emmudança, processo estão no Brasil lutasde classes. as enxergam se não paradisíaco”, o“Brasil nomundo, permanece qual presente, também está mas movimento, no de ede visibilidade melhores maior de vida condições direção na em país grande longo de um do primeirodo Aimagem governo mandato Lula. no plenário ao relacionado do epolítica social” àpertinência tema “cidadania o tema “Brasil”, ou “brasileiro” Tal “democracia” evocados. são fato pode estar quando relevância têm grande sociais desigualdades que mostra Isso as futuro. no a população para a manutençãoesperança contribui de uma para mas nos discursos, corrupção entra eda pobreza com em apresença contraste da do Brasil paradisíaca que aimagem Éinteressante observar de vida. qualidade na aodesejo de melhoria associada “cidadania” aparece apalavra associação-livre, da Pelo 2003). método AL., et eleição do, (FERNANDES então Lula candidato, com a do país, social realidade na de mudança expectativa mas ambiguidade, revelou-se de ciências humanas, eleições presidenciais comde estudantes 2002 a direitos sociais. que de inclui vida, o acesso entanto, qualidade na ancorado saúde o tema da está comode de quem direitos, quem responsabilidade mas possui ébrasileiro. No como qualidade destaca se não a cidadania quanto em nossa pesquisa, (2006) meios de seus éum de promoção. solidariedade da Tanto de Veloso pesquisa na Physis Revista deSaúde Coletiva, RiodeJaneiro, Assim, podemos dizer que as representações sociais ligadas à esfera pública àesfera ligadas representações que sociais as podemos dizer Assim, às relacionadas sobre representações sociais (2002) as No de Arruda estudo 23 [1]:143-166,2013 especialmente a força dos projetos de solidariedade, da visão centrada na pobreza, 163 dos determinantes sociais da saúde e do fenômeno da globalização.

Considerações finais A interpretação dos resultados propiciou o encontro de relativo consenso quanto à ideia-chave de cidadania entre os senadores. Ou seja, os dados foram coerentes com uma das características peculiares de nosso sistema político, que se refere à pouca consistência ideológica dos partidos reforçada pelo presidencialismo de coalizão. Os discursos mostram que o conflito político mais evidente não se dá em torno de projetos de cidadania e desenvolvimento social diferentes para o país, mas à reivindicação da autoria dos programas sociais, com vistas à manutenção ou alternância do poder. Além disso, não houve debates relevantes sobre as leis de autoria desses senadores aprovadas, apenas discursos isolados ou moções de homenagens a essas leis. A maior parte das falas aborda temas abrangentes, sem intenção de encaminhar alguma contribuição à política ou projeto de lei específicos. cidadania social: de entre senadores social brasileiros representação política na vida Há Tal quadro corrobora o que outros autores já afirmaram acerca da dinâmica entre Executivo e Legislativo no Brasil (CINTRA, 2004; FIGUEIREDO, 2001; PALERMO, 2000; ABRANCHES, 1988), configurada a partir de negociações com as coligações. Ela torna a posição individual dos parlamentares geralmente pouco significante e, portanto, seus discursos no plenário detêm pouca influência decisória. Por outro lado, os discursos podem revelar o contexto mais amplo de sua atuação, por carregar toda a influência dos projetos do governo e do histórico de preponderância do Executivo. Assim, concluímos que a aplicação de um método de análise lexical em uma grande quantidade de discursos para analisar uma representação social no Poder Legislativo é muito positiva, tendo em vista que, além de trazer à tona diferentes temas importantes para o sistema político e mostrar suas inter-relações, produz novas questões para serem exploradas em outros estudos. Além disso, o estudo possibilitou uma compreensão abrangente do debate sobre cidadania articulada ao contexto político-institucional e às diretrizes governamentais do período, sendo este um movimento fundamental para avançarmos na análise de políticas públicas no Brasil, em especial nas políticas setoriais como de saúde. 4

Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 23 [ 1 ]: 143-166, 2013 | Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Ângela Maria Silva Arruda | 164 Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1992. Janeiro, de Rio Cruz, Oswaldo Fundação Pública, Saúde de Nacional -Escola Pública) Saúde em (Mestrado Dissertação saúde de F. einstituições GOULART, Políticas Rev. Katál. C.M. de R. FREITAS, v.44,Janeiro, n.4, p.689-727, 2001. Dados. Revista no controle do Executivo. epolítica Instituições A. FIGUEIREDO, Textos completos.. Janeiro. 1., de Rio SOCIAIS, REPRESENTAÇÕES SOBRE BRASILEIRA CONFERÊNCIA 3; INTERNACIONAL, JORNADA In: Janeiro. de do Rio metropolitana região 2002: em Brasil do república da à presidência candidatos eos Eleições F.S. al. et FERNANDES, 2001. IEE/PUC, Paulo: São sociais. eprogramas políticas de avaliação na perspectivas e Tendências (Orgs.). CARVALHO, M.C.B. M.C.; BANDEIRA, In públicas. políticas em de trabalho metodologia de uma esboço de implementação: Avaliação S.M. DRAIBE, 1997. Rocco, Janeiro: de Rio R. DA MATTA, Stiftung, 2004, p.59-79. Adenauer- Konrad Fundação Janeiro: de Rio introdução. uma brasileiro: político O sistema A.O. (Orgs.). CINTRA, L.; AVELAR, In no de governo Brasil. A.O. O sistema CINTRA, social questão da metamorfoses As R. CASTEL, Constituição Federal(1988). BRASIL. realidade da T. social Aconstrução P.L.;BERGER, LUCKMANN, Globalização Z. BAUMAN, diferença. In: ______. (Org.). a negociando a alteridade. Representando brasileiro: no imaginário habitantes eos Oambientenatural A. ARRUDA, Dados. Revista brasileiros. deputados os aprovam o que e propõem o que revisto: F. ineficiente O segredo NETO, SANTOS, O.; AMORIM 2007, EdUFMG, p.17-31. Horizonte: Belo XXI. século brasileira. A democracia (Orgs.). M.A. SÁEZ, C.R.; MELO, In: história. pela M.H.T. Um Contemporâneo. passeio no Brasil ALMEIDA, O Estado 2004. p.1.1-1.20, Papers on Representations Social Mexico. de Ciudad la de caso el urbano: espacio del sociales representaciones las de estudio ao aplicación ysu ALCESTE método El M. ALBA, Dados. Revista brasileiro. institucional odilema coalizão: de Presidencialismo S.H. ABRANCHES, Referências Physis Revista deSaúde Coletiva, RiodeJaneiro, Rio de Janeiro, v.31, Janeiro, de Rio n.1, p.5-34, 1998. Explorando a representação social de estudantes de Ciências Humanas na na Humanas Ciências de estudantes de social arepresentação Explorando Florianópolis, v.10, Florianópolis, n.1 p.65-74, 2007. Carnavais, malandros e malandros heróis Carnavais, eperspectivas desafios no Brasil: social eaproteção Lula O governo . Rio de Janeiro: UERJ, p. 1515-1532, UERJ, Janeiro: de . Rio 2003. : as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. Jorge Zahar, Janeiro: de Rio humanas. conseqüências : as 23 [1]:143-166,2013 5ª Ed. São Paulo: Ed. RT, Ed. Paulo: São 1988. 5ª Ed. : uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes, 1999. Petrópolis: do salário. crônica : uma . Para uma sociologia do dilema brasileiro. brasileiro. do dilema sociologia uma . Para Rio de Janeiro, v.46, Janeiro, de n.4, Rio p.661-698, 2003. : o vivido, o percebido eorepresentado opercebido : ovivido, Petrópolis: Vozes, p.17-46. 2002,

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Notas 1 Comparando-se a quantidade de discursos entre 2003 e 2006, na base do SICON, com o filtro para os assuntos “cidadania” e “política social”, com a quantidade total existente na base de dados até o ano de 2006 (inclusive), ele nos informa que de 1952 a 2006 há um total de 225 discursos catalogados. Portanto, os anos de 2003 a 2006 representam mais da metade desses discursos na base. 2 Vale ressaltar que as políticas sociais desenvolvidas nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Lula são também expressão de movimentos políticos prévios, bem como resultados de pactos estabelecidos na Constituição Federal de 1988, que ampliou o conceito de proteção social e a responsabilidade do Estado. 3 A sociedade salarial é estruturada pelo contrato de trabalho coletivo, portanto, o coletivo é neste caso um ator social central, marcando a socialização em certos países como a França (CASTEL, 1999). 4 C.F Pombo-de-Barros participou na elaboração da concepção do artigo, análise preliminar e reda- ção do manuscrito. T.W.F. Baptista participou na elaboração da concepção do artigo, discussão da análise e redação do manuscrito. A.M.S. Arruda participou na elaboração da concepção do artigo, discussão da análise e redação do manuscrito.

Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 23 [ 1 ]: 143-166, 2013 | Carolina Fernandes Pombo-de-Barros, Tatiana Wargas de Faria Baptista, Ângela Maria Silva Arruda | 166 Physis Revista deSaúde Coletiva, RiodeJaneiro,  studied. period in politics, social in by senators, raised issues sector health on influence little signaled also and Equality, Racial and Income Basic the as such debates, political in issues input peripherals and awareness of global centrality the showed field representational The of citizenship. idea key on the consensus relative we find represented, are parties political despite different And software. Alceste the using investigated was and politics, of social theme the senators, of 46 speeches includes material analyzed The 2006. and 2003 years between Senate, the in by senators issued speeches in found of citizenship representations social on the of asurvey results the discusses paper The senators representation of citizenship among Brazilian life is There in social social politics: Abstract politics. Keywords: 23 [1]:143-166,2013 social representations; citizenship; Senate; social social Senate; citizenship; representations; social