W ANAIS DO IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA E DO I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina - Piauí, 2017: Novas Fronteiras, Novos desafos

Editoração e organização Wedson Medeiros Silva Souto (DBIO/ UFPI) • Nélson Leal Alencar (DBIO/UFPI) • Aníbal da Silva Cantalice (Biologia/ UFPI) • Valber Couto Luz Junior (Biologia/ UFPI)

Realização do Evento Publicado pela S ociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE) e pela Universid ade Federal do Piauí

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DIRETORIA DA SBEE 2017-2018 Presidência: Gu stavo Taboada Soldati (UFJF) Vice-presidência : Reinaldo Duque Brasil (UFJF) 1º Secretário: Em manuel Duarte Almada (UEMG) 2º Secretário: B ernardo Tomchinsky (UNIFESSPA) 1º Tesoureiro: Eraldo Medeiros Costa Neto (UEFS) 2º Tesoureiro: É rika Fernandes Pinto (ICMBio) Conselheiros: M aria das Graças Pires Sabloyrolles (UFPA), Rumi Regina Kubo (UFRGS) e Reinaldo Faria s Paiva Lucena (UFPB) Representações regionais: (SE): Lin Chau M ing (UNESP) (S): Natália Han azaki (UFSC) (S): Kátia Mara Batista (UNESC) (CO): Carolina J oana da Silva (UNEMAT) (NE): Edna Mari a Ferreira Chaves (IFPI)

Sugestão de cita ção para um resumo: Autor(es). Título do resumo. In: Souto, W. M. S.; Alencar, N. L.; Cantalice, A. S.; Luz Junior, V. C. (Org.). Anais e Memórias doIX Encontro Nordestino de Etnobiologia e Etnoecologia e do I Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia do Piauí. Teresina-PI: Cadernos de Etnobiologia e Etnoecologia (CEE) da Revista Ethnoscientia - Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia , 2017, p. x x. ISBN: 978-85- 53002-00-9

FICHA CATALOGRÁFICA Serviço de Processamento Técnico da Universidade Federal do Piauí Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco

E56 Encontro Nordestino de Etnobiologia e Etnoecologia (9. :2017); Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia do Piauí (1.: 2017; Teresina, PI). Novas fronteiras, novos desafios: Anais do IX Encontro Nordestino de Etnobiologia e Etnoecologia e I Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia do Piauí, 01 a 04 de novembro de 2017, Teresina, Piauí / organização, Wedson Medeiros Silva Souto ... [et al.]. – Teresina: Editora da SBEE /UFPI, 2017. 359 f.; Il.

Evento realizado pela Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia - SBEE. ISBN: 978-85-53002-00-9

1. Etnobiologia. 2. Etnoecologia. 3. Etnobotânica. 4. Etnozoologia. 5. Conhecimento Tradicional. I. Título

CDD 574.52

Anais e Memórias do IX Encontro Nordestino de Etnobiologia e Etnoecologia e do I Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia do Piauí

Editoração e Organização

Wedson Medeiros Silva Souto Departamento de Biologia, Universidade Federal do Piauí, Teresina - PI

Nélson Leal Alencar Departamento de Biologia, Universidade Federal do Piauí, Teresina - PI

Aníbal da Silva Cantalice Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, Teresina - PI

Valber Couto Luz Junior Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, Teresina - PI

sbee SOCIEDADE BRASILEIRA DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA COMISSÃO ORGANIZADORA DO IX ENEE/ I E3PI

Prof. Dr. Wedson de Medeiros Silva Souto (UFPI) PRESIDÊNCIA DIVULGAÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO

Prof. Dr. Alyson Luis Santos Almeida (UFPI) VICE-PRESIDÊNCIA REGIONAL

Prof. Dr. Nélson Leal Alencar (UFPI) VICE-PRESIDÊNCIA EM TERESINA, TESOURARIA DIVULGAÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO

Prof. Dr.a. Érika de Araújo Abi-chacra (UFPI) SECRETARIA

Prof. Me. Willian Mikio Kurita Matsumura (UFPI) SECRETARIA

Prof.a. Dr.a. Clarissa Gomes Reis Lopes (UFPI) DIVULGAÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO, INSCRIÇÕES

MSc. Mirna Andrade Bezerra INSCRIÇÕES

Anibal da Silva Cantalice (Biologia - UFPI/CMPP) GESTÃO DE MÍDIAS E WEBSITE; HOSPEDAGEM

Francisco Igor Ribeiro dos Santos (Biologia - UFPI/CMPP) HOSPEDAGEM, LOGÍSTICA E SUPORTE MATERIAL; GESTÃO DE MÍDIAS

Vitória de Freitas Paulo (Biologia - UFPI/CMPP) HOSPEDAGEM, LOGÍSTICA E SUPORTE MATERIAL

Prof. Dra. Maria Jaislanny Lacerda e Medeiros Nogueira (UFPI) DIVULGAÇÃO

MSc. Felipe Sousa Almeira Barbosa DIVULGAÇÃO

Natália Araújo Silva COORDENAÇÃO DE MONITORIA

Prof. Dra. Edna Maria Ferreira Chaves REPRESENTANTE DA SBEE NO NORDESTE COMISSÃO CIENTÍFICA

Prof. Dr. Wedson de Medeiros Silva Souto (UFPI) Coordenação, Revisão de Trabalhos

Prof.a. Dra. Maria Jaislanny Lacerda e Medeiros Nogueira (UFPI) Coordenação, Revisão de Trabalhos

REVISÃO DE TRABALHOS

Prof.a. Dra. Roseli Farias Melo de Barros (UFPI)

Prof.a. Dr.a. Clarissa Gomes Reis Lopes (UFPI)

Prof.a. Dra. Érika de Araújo Abi-chacra (UFPI)

Prof. Dr. Jesus Rodrigues Lemos (UFPI)

Prof. Dr. José Ribamar de Sousa Júnior (UFPI)

Prof. Dr. Julio Marcelino Monteiro (UFPI)

Prof.a. Dra. Patrícia Maria Martins Napólis (UFPI)

Mestrando André Bastos da Silva (PRODEMA/UFPI)

Prof. Dr. Alexandre Nojoza Amorim (IFPI)

Prof. Dr. Felipe Silva Ferreira (UNIVASF)

Prof. Dr. Hugo Fernandes Ferreira (UECE)

Prof.a. Dra. Maria Franco Trindade Medeiros (UFCG)

Dr. Raynner Rilke Duarte Barboza (Consultor independente)

Prof. Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves (UEPB)

Prof.a. Dra. Taline Crisitina Silva (UNEAL) Prof. MSc. Maurício Eduardo Chaves e Silva (UESPI)

MSc. Ethyênne Moraes Bastos (PRODEMA-UFPI)

MSc. Karen Veloso Ribeiro (PRODEMA-UFPI) MONITORES

Adrianne da Vera Cruz Leite (Biologia - UFPI) Andressa Kelly Moreira Amorim (Biologia - UFPI) Andressa Vieira da Rocha (Biologia - UFPI) Bruna Dias Pontes (biológa, ZUCON-UFPI) Cláudia Maria Silva Sobrinho (Biologia - UFPI) Cleiton Silva Pereira (Biologia - UFPI) Daniel Pereira Monteiro (Biologia - UFPI) Francisca dos Santos Borges (Biologia - UFPI) Francisco Johnatan Rodrigues Carvalho (Biologia - UFPI) George Henrique Reis e Sousa (Biologia - UFPI) Iasmin Raiza Nascimento Gomes (Biologia - UFPI) Joanice Costa Amorim (MDMA-UFPI) Lilian Vanessa Teles Vieira (Biologia - UFPI) Luana Emídio Soares (Biologia - UFPI) Marcus Eugênio Oliveira Briozo (Biologia - UFPI) Marina Barros Abreu (Biologia - UFPI) Michelly de Deus Felipe Araújo (Biologia - UFPI) Mônica Maria Nazaré Rodrigues de Sousa (Biologia - UFPI) Rafaela Cristina Coelho Canedo (Biologia - UFPI) Tárcio Williams Carvalho Fernandes (Biologia - UFPI) Valber Couto Luz Junior (Biologia - UFPI) Vanessa Cristina da Silva (Biologia - UFPI) Realização

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Apoio/ Patrocínio

Laboratório de Zoologia, Uso e Conservação da Fauna Ecotonal da América do Sul (ZUCON - UFPI)

LEEV - UFPI Sumário

Página Bem-vind@s...... 24

Sedes do IX ENEE e I E3PI...... 27

Mapa do evento...... 28

Programação………………………………………………………………………………………………………………………………………….. 29

Prêmios Professor Dr. Alberto Kioharu Nishida [IX ENEE] & Professora Dra. Roseli Farias Melo de Barros [I E3PI]...... 30 Trabalhos premiados……………………………………………………………………………………………………………………….. 31

Resumos expandidos...... 32 Educação Ambiental Ana Carolina Sabino de Oliveira et al. PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES RIBEIRINHOS DO BAIRRO JARDIM OÁSIS NO MUNICÍPIO DE IGUATU/CE EM RELAÇÃO À ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DA LAGOA DA BASTIANA…..…………………………………………………………...... 33

Anderson Felipe Teixeira da Silva et al. IMPORTÂNCIA AMBIENTAL DAS AVES E OS IMPACTOS NEGATIVOS DA CAÇA, NA PERSPECTIVA DOS MORADORES DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DO BURITI DO MEIO, CAXIAS-MA, BRASIL…...……………………………………………...... ………….. 39

Etnobotânica Jorge Izaquiel Alves de Siqueira et al. ASPECTOS ETNOBOTÂNICOS LIGADOS A PLANTAS ORNAMENTAIS EM QUINTAIS RURAIS NO SEMIÁRIDO PIAUIENSE (NORDESTE DO BRASIL)…….……………...... ………… 45

Josiene Maria Falcão Fraga dos Santos et al. RELAÇÕES ENTRE POPULAÇÕES HUMANAS, CONHECIMENTO E USO DE HERBÁCEAS: UMA REVISÃO A LUZ DA ETNOECOLOGIA….…………………………...... …… 52

Leilane de Carvalho e Sousa et al. USO E MANEJO LOCAL DE (Copernicia prunifera) [MILLER] H. E. MOORE NA REGIÃO DE BARÃO DE GRAJAÚ, LESTE MARANHENSE……………………………………………...... …… 61 Maria Lindalva Alves da Silva et al. USO DE PLANTAS MEDICINAIS EM COMUNIDADES TRADICIONAIS DO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DAS MESAS, MARANHÃO, BRASIL…….……………...... …………. 65

Sara Tavares de Sousa Machado et al. AS PLANTAS E O TRATAMENTO PARA DIABETES E HIPERTENSÃO EM COMUNIDADES NÃO TRADICIONAIS……………………………………………………...... ……… 71

Sara Tavares de Sousa Machado et al. LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO SOBRE O MANEJO DA DOR EM UMA COMUNIDADE TRADICIONAL NO MUNICÍPIO DE BARBALHA, CEARÁ……….……...... …… 75

Waldileia Ferreira de Melo Batista et al. LEVANTAMENTO DE PLANTAS ORNAMENTAIS NATIVAS NOS JARDINS DE UMA COMUNIDADE RURAL NA REGIÃO NORTE DO PIAUÍ…….………………………...... …………… 79

Etnoconservação Leonardo Mesquita Pinto et al. RECURSOS PESQUEIROS EXPLORADOS EM ÁREAS DE USO COMUM EM ESTUÁRIO NO NORDESTE DO BRASIL……………………………………...... ……………. 84

Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho et al. OS PESCADORES ARTESANAIS CONHECEM A “NOVA” LISTA DAS ESPÉCIES DE PEIXES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO (PORTARIA 445) NO BRASIL?…………………...... …. 88

Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho et al. “...PORQUE SE NÃO FOSSE A RESEX HOJE EM DIA AQUI...”: PERCEPÇÕES DE PESCADORES ARTESANAIS DA PRAIA DE CARAÍVA, BAHIA, BRASIL, A RESPEITO DA EFETIVIDADE SOCIOAMBIENTAL DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO CORUMBAU………………………………………………………………………………………...... 92

Thaís Chaves da Silva et al. IDENTIFICAÇÃO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO PESQUEIROS PRATICADOS EM COMUNIDADES DO LITORAL LESTE DO CEARÁ……………………………………...... …… 96

Etnoecologia

Antonio Alves da Cunha Filho et al. PERCEPÇÃO DE MORADORES DE FLORIANO-PI QUANTO AO USO DE TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS E DE BAIXO IMPACTO AMBENTAL SOBRE OS RECURSOS NATURAIS……………………………………………………...... ………………...... …….. 100 Aparecida Barbosa de Paiva et al. PERSPECTIVA ETNOECOLÓGICA ACADÊMICA COM MORADORES DO DISTRITO DE POTI (CRATEÚS-CE) SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS MADEIREIROS…...... ……. 105

Brendo Barbosa Moura et al. A VISÃO DA POPULAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO PERMANENTE DAS MATAS CILIARES URBANAS EM FLORIANO – PI………...... …………. 111

Elisa Pereira dos Santos & Rogério Nora Lima OS CONHECIMENTOS DE UMA COMUNIDADE RURAL DE FLORIANO – PI QUANTO À ECOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES………………………………………...... ………… 115

Julia Santos Jardim et al. ATIVIDADES DO PROJETO DE EXTENSÃO TECER JUNTO À COMUNIDADE DOS ÍNDIOS PITAGUARY DE MONGUBA, PACATUBA-CE……………………………...... ………….. 120

Karoline Veloso Ribeiro et al. UM OLHAR QUE NADA FALA, MAS TEM MUITO A DIZER: UMA ABORDAGEM ETNOGEOMORFOLÓGICA POR MORADORES DE UMA COMUNIDADE RURAL NO NORDESTE BRASILEIRO…………………………………………………………………...... …… 126

Marciléia Wanzeler de Souza Vasconcelos & Francivaldo Alves Nunes O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA ILHA DA CONCEIÇÃO A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS DE TRABALHO EM PERSPECTIVA ETNOECOLÓGICA…………...... ……. 132

Etnofarmacologia e Etnomedicina Ana Lúcia de Oliveira Borges et al. ESTUDO ETNOFARMACOLÓGICO RELACIONADO AO USO DE PLANTAS NA TERAPIA DE ENFERMIDADES EM ANIMAIS DE PRODUÇÃO NO SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO………………………………………………………………………...... …………. 137

Denisy Trigueiro do Santos et al. ANÁLISE DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS COM POTENCIAL ABORTIVO…...... ………… 144

Fabrício Nicácio Ferreira & Laura Jane Gomes PERCEPÇÃO DOS FÁRMACOS-NATURAL SOBRE PLANTAS MEDICINAIS E SUAS INTERFACES COM A SAÚDE PÚBLICA……………………...... ………………………………….. 149

João Bosco da Silva Júnior et al. POTENCIAL ANTIOXIDANTE DOS EXTRATOS METANÓLICOS DE Tarenaya spinosa (Jacq) Raf. (Cleomaceae)...... ……………………………………………………………...... …..….. 155 João Bosco da Silva Júnior et al. POTENCIAL CITOTÓXICO DE PARTES AÉREAS Tarenaya spinosa (Jacq) Raf. (Cleomaceae) In vivo EM NAUPLIOS DE Artemia salina…….……………………………………………..……………….. 160

Etnomicologia Santina Barbosa de Sousa et al. PERCEPÇÃO ETNOMICOLÓGICA POR COMUNIDADE RURAL NO PIAUÍ, BRASIL……...... 165

Etnozoologia Francisco Afonso de Azevedo Neiva et al. A CAÇA E USOS DE VERTEBRADOS SILVESTRES EM UMA ÁREA ECOTONAL NO MEIO-NORTE BRASILEIRO……………...... ………………………………………………………… 170

Francisco das Chagas Vieira Santos et al. ETNOORNITOLOGIA EM UMA COMUNIDADE NA REGIÃO DO DELTA DO PARNAÍBA, UMA IMPORTANTE ÁREA DE BIODIVERSIDADE NEOTROPICAL NO NORDESTE DO BRASIL…………………………………………………………………………………………...... …… 181

José Carlito do Nascimento Ferreira Junior et al. ETNOICTIOLOGIA DO RIO PERICUMÃ, SÍTIO RAMSAR - APA DA BAIXADA MARANHENSE: ASPECTOS RELACIONADOS À ETOLOGIA DAS ESPÉCIES………...... …. 195

Márcio Luciano Pereira Batista et al. PERCEPÇÃO ETNOZOOLÓGICA DO TERMO “INSETO” PELOS MORADORES DA COMUNIDADE JOSÉ GOMES, CABECEIRAS DO PIAUÍ, NORDESTE, BRASIL………...... … 200

Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho et al. CONHECIMENTOS ETNOZOOLÓGICOS E ETNOECOLÓGICOS DOS PESCADORES DA VILA DE CARAÍVA, BAHIA, BRASIL, A RESPEITO DO ARIOCÓ (Lutjanus synagrys PERCIFORMES, LUTJANIDAE)………………………………………………………...... …………. 204

Maria Lindalva Alves da Silva et al. A CRIAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DAS MESAS/MA COMO ESTRATÉGIA DE CONSERVAÇÃO FAUNÍSTICA NUMA REGIÃO ECOTONAL DO BRASIL………………………………………………………………………………………...... …….… 209

Maria Nazaré de Sousa Pereira et al. EXPLORAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES PARA FINS ALIMENTÍCIOS E ZOOTERÁPICOS NO MUNICÍPIO DE NAZARÉ – PI……………………………...………...... …. 214 Muryllo dos Santos Nascimentos et al. AVES E LINHAS DE TRANSMISSÃO: A PERCEPÇÃO DE UMA COMUNIDADE RURAL NO NORDESTE BRASILEIRO……………………………………………………………...... ……… 224

Rebeca Mascarenhas Fonseca Barreto et al. PERCEPÇÕES POSITIVAS PARA CONSERVAÇÃO NÃO IMPEDEM A CAÇA POR COMUNIDADE EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NA CAATINGA PERNAMBUCANA...... … 235

Suely Silva Santos et al. ETNOORNITOLOGIA EM UMA COMUNIDADE NA REGIÃO DO DELTA DO PARNAÍBA, UMA IMPORTANTE ÁREA DE BIODIVERSIDADE NEOTROPICAL NO NORDESTE DO BRASIL……………………………………………………………………………………………...... … 241

Resumos simples

Educação Ambiental Aline Wanessa Pinheiro da Silva et al. NO RASTRO DA JIBOIA: A CAMINHO DA CONSERVAÇÃO DA FAUNA OFÍDICA POR MEIO DE UM JOGO DIDÁTICO………………………………...... ………………………………….. 254

Ana Letícia Lima da Silva et al. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE COMBATE AO TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES EM ESCOLAS DO INTERIOR NORDESTINO…………..……………...... ………. 255

Bruna Dias Pontes & Victor Leandro-Silva CONHECIMENTO DA AVIFAUNA URBANA POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DE UMA ESCOLA PÚBLICA……………………………………………………………………...………...... … 256

Carlos Augusto Tenório Cândido et al. CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2017: UM MEIO DE SENSIBILIZAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL………………………………………………………………………………………...... … 257

Eulina da Silva Lima et al. IMPLEMENTAÇÃO DE MINI-PROJETOS RELACIONADOS AO MEIO AMBIENTE, DESTACANDO PROBLEMÁTICAS AMBIENTAIS…………………………………………...... ….. 258

Eulina da Silva Lima et al. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: NARRATIVA DE EXPERIÊNCIA NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO…………………………………………………………………...... …………….. 259 Gisele do Lago Santana & Davi Lima Pantoja INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PERCEPÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE OS ANUROS EM UMA COMUNIDADE NO SUL DO PIAUÍ, BRASIL……………………………………………………………………………………...... … 260

José Alex da Silva Cunha & Roseli Farias Melo de Barros USO DE MAPAS MENTAIS DE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE AS ARANHAS NO DELTA DO PARNAÍBA, MUNICÍPIO DE ILHA GRANDE, PIAUÍ, BRASIL………….. 261

Lara Matias Freitas et al. A FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PRÁTICA DE PROMOÇÃO DA ECOPERCEPÇÃO……………………………………………………………...... …………………… 262

Marcela Eringe Mafort & Marcelo Nocelle de Almeida EDUCAÇÃO ESCOLAR E A ETNOICTIOLOGIA: SABERES TRADICIONAIS COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL………………...... ………………………. 263

Maria Auricélia Cardoso de Moura & Laísa Maria de Resende Castro PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) NA UNIDADE ESCOLAR TEREZINHA NUNES, PICOS-PI………...... …………………… 264

Marlos Dellan de Souza Almeida et al. PERCEPÇÃO AMBIENTAL: O QUE PENSAM OS MORADORES LOCAIS SOBRE O RIO JAGUARIBE NO MUNICÍPIO DE IGUATU, CEARÁ……………………………………...... ……… 265

Etnobiologia Histórica

Dennis Bezerra Correia et al. REVISÃO DE ESTUDOS ETNOBIOLÓGICOS NUMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NO NORDESTE BRASILEIRO……………………………………………………………..……...... ……. 266

Leidimar Lustosa Alves Feitosa & Zafira da Silva de Almeida ESTUDOS ETNOBIOLÓGICOS COM PESCADORES ARTESANAIS REALIZADOS NO PIAUÍ……………………………………………………………………………………...... …………… 267

Etnobotânica

Ana Letícia Lima da Silva & Yedda Maria Lobo Soares de Matos ESTUDO SOBRE A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO DAS PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NAS FEIRAS LIVRES DA CIDADE DE CRATO-CE………………………………………………………………………………………...... …. 268 Ariane Rayara de Sousa Mineiro et al. USO POPULAR DE ESPÉCIES MEDICINAIS DA FAMILIA CONVOLVULACEAE NO NORDESTE DO BRASIL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA…………………………………...... 269

Arianny Bélis da Silva et al. CHÁS DO CERRADO: ESPÉCIES MEDICINAIS UTILIZADAS PARA CHÁ EM DE UMA COMUNIDADE NA REGIÃO SETENTRIONAL DO ESTADO DO PIAUÍ………………...... ….. 270

Aytana Vasconcelos dos Santos et al. LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS DA CAATINGA UTILIZADAS NO TRATAMENTO SINTOMÁTICO DE ACIDENTES COM ESCORPIÕES NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DA TAPERA– AL……………………………………………………………...... … 271

Beatriz da Silva Rodrigues et al. UM CERRADO RUPESTRE QUE EDIFICA: ESPÉCIES MADEIREIRAS UTILIZADAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICIPIO DE CASTELO DO PIAUÍ, NORDESTE DO BRASIL...... 272

Camilla Belmiro Soares & Odara Horta Boscolo ASPECTOS ETNOBOTÂNICOS DOS QUINTAIS DA COMUNIDADE DO ENGENHO DO MATO, NITERÓI, RJ…………………………………...... …………………………………………….. 273

Daniela Aguiar Santos et al. USO POPULAR DE ESPÉCIES MEDICINAIS DA FAMÍLIA BIGNONIACEAE NO PIAUÍ, BRASIL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA…………………………………………………...... …… 274

Danielly Lima da Silva et al. QUINTAIS URBANOS: PLANTAS ALIMENTÍCIAS MEDICINAIS CULTIVADAS EM RESIDÊNCIAS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, PERNAMBUCO…………...... … 275

Eduardo Otavio Silva et al. LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DAS PLANTAS UTILIZADAS NO TRATAMENTO SINTOMÁTICO DE ACIDENTES OFÍDICOS NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DAS FLORES– AL…………………………………………………….……………………………………………...... …. 276

Ethyênne Moraes Bastos et al. OS RECURSOS NATURAIS E A ETNOBOTÂNICA EM QUINTAIS DE UM ASSENTAMENTO RURAL NO SEMIÁRIDO PIAUIENSE……………………………...... ……….. 277

Ethyênne Moraes Bastos et al. INVENTÁRIO ETNOBOTÂNICO NO SEMIÁRIDO NORDESTINO: RESGATANDO CONHECIMENTOS ACERCA DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO MUNICIPIO DE SÃO MIGUEL DO TAPUIO/PI……………………………………………………...... ……………….. 278 Etielle Barroso de Andrade et al. FORMAS DE UTILIZAÇÃO E IMPORTÂNCIA RELATIVA DAS PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE PICOS-PI...... ………………………… 279

Etielle Barroso de Andrade et al. LEVANTAMENTO DAS PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE PICOS, SUDESTE DO PIAUÍ………………...... …………………………………. 280

Francielson da Silva Barbosa et al. LEVANTAMENTO DAS PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE JAICÓS, SUDESTE DO PIAUÍ………………………………...... ……………… 281

Francielson da Silva Barbosa et al. PLANTAS MEDICINAIS DA CIDADE DE JAICÓS-PI: MODOS DE USO E IMPORTÂNCIA RELATIVA……………………………………………………………………………………...... ……… 282

Francielson da Silva Barbosa et al. USO MEDICINAL DE ESPÉCIES VEGETAIS COMERCIALIZADAS EM FEIRAS LIVRES DO MUNICÍPIO DE JAICÓS, SUDESTE DO PIAUÍ……………………...... ………………………. 283

Gisele do Lago Santana et al. ESTUDO ETNOBOTÂNICO SOBRE Poincianella bracteosa (Tul.) L. P. Queiroz EM UMA COMUNIDADE RURAL NO SUL DO PIAUÍ, BRASIL…………………………...... ………………. 284

Idaiany da Silva Costa et al. FOLHA, CASCA OU RAIZ? CONHECIMENTO POPULAR DE DUAS COMUNIDADES DO MARANHÃO E PIAUÍ……………………………………………...... ……………………………. 285

Idaiany da Silva Costa et al. FAMÍLIAS BOTÂNICAS IMPORTANTES: USO MEDICINAL ENCONTRADO NA COMUNIDADE CAPIVARA, ARRAIAL, PIAUÍ………………………………………...... …………. 286

Jéssica Pereira da Cruz et al. CONHECIMENTO ETNOFARMACOLÓGICO SOBRE UMA IMPORTANTE ESPÉCIE VEGETAL ARBÓREA DO SUL DO PIAUÍ, A CATINGA DE PORCO (TERMINALIA BRASILIENSIS (CAMBESS EX. A. ST.-HIL.) EICHLER), COM O AUXÍLIO DE ESTÍMULOS VISUAIS………………………………………………………………...... …………….. 287

Joanice Costa Amorim et al. PLANTAS CULTIVADAS PELOS PESCADORES ARTESANAIS DE CASTELO DO PIAUÍ, BRASIL…………………………………………………………………………………...... …… 288 Jonathan Ferreira Lisboa et al. VARIÁVEIS SOCIECONÔMICAS COMO FATORES DE INFLUÊNCIA NO CONHECIEMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS PELOS MORADORES DE UMA COMUNIDADE RURAL NO MUNICIPIO DE PÃO DE AÇÚCAR-ALAGOAS…...... …………… 289

Jorge Izaquiel Alves de Siqueira et al. IMPORTÂNCIA DO CONVIVER COM A COMUNIDADE EM PESQUISAS ETNOBOTÂNICAS: REFLEXÕES SOB OLHAR ETNOBIOLÓGICO…………...... ….…………… 290

Jorge Izaquiel Alves de Siqueira et al. ‘SE NÃO FOSSEM ESSAS PLANTINHAS NÃO HAVÍAMOS CHEGADO ONDE CHEGAMOS’: REFLEXÕES SOBRE O RESGATE DA MEMÓRIA BIOCULTURAL EM ESCALA LOCAL………………………………………………………………………………...... …… 291

Juliane de Sousa Silva & Washington Soares Ferreira Júnior INVESTIGANDO A INTERAÇÃO ENTRE SISTEMAS MÉDICOS EM UM GRUPO HUMANO NO NORDESTE DO BRASIL……………………………………………...... …………… 292

Lara Costa et al. COMPOSIÇÃO DE QUINTAIS DE SETE MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE – PE………………………………………………………………………...... ………...… 293

Márcio Luciano Pereira Batista et al. CHECKLIST DAS ESPÉCIES DE PLANTAS MELITÓFILAS CONHECIDAS PELOS MORADORES DA COMUNIDADE JOSÉ GOMES, CABECEIRAS DO PIAUÍ/PI……...... …….. 294

Maria do Espirito Santo Ribeiro Reis et al. PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS PELO POVO TEMBÉ DA ALDEIA SÃO PEDRO: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS…………………………………………...... ……. 295

Maria Luíza Lino da Silva et al. CONHECIMENTO E USO DE PLANTAS ALIMENTÍCIAS NO SUL DO MARANHÃO: UM ESTUDO DE CASO…………………………………………………………………...... ………… 296

Micheli Véras dos Santos et al. PROSPECÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O CONHECIMENTO TRADICIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS PARA TRATAMENTO DE PROBLEMAS GASTROINTESTINAIS NO PIAUÍ, BRASIL…………………………………………………………………………………………...... …… 297

Naldo Carneiro Tembé et al. ETNOBOTÂNICA INDÍGENA: PLANTAS ÚTEIS NA VIDA DO POVO TEMBÉ DA REGIÃO DO GURUPI……………………………………………………………………………...... …………… 398 Raquel Maria da Conceição Santos et al. LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO SOBRE A ANADENANTHERA COLUBRINA (VELL.) BRENAN NA COMUNIDADE GRUTA BELA…………………………………………...... 299

Ricardo Alexandre de Araujo Monteiro Lobo et al. ESTUDO ETNOBOTÂNICO DE DUAS FAMÍLIAS CIGANAS QUE VIVEM NO ESTADO DE PERNAMBUCO……………………………………………………...... ………………………….. 300

Rita de Cássia Silva et al. CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS E TRATAMENTOS DE SINTOMAS E DOENÇAS DE INTERESSE VETERINÁRIO NO ASSENTAMENTO DOM HÉLDER CÂMARA – GIRAU DO PONCIANO – AL…...... ………………………………………………………………….. 301

Sâmia Caroline Melo Araújo et al. IMPORTÂNCIA RELATIVA E AS ESTRUTURAS DE PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE PAULISTANA-PI……………...…………………...... ……. 302

Sâmia Caroline Melo Araújo et al. PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE PAULISTANA, SUDESTE DO PIAUÍ……………………………………………………...... ……….. 303

Sâmia Caroline Melo Araújo et al. USO MEDICINAL DE PLANTAS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE PAULISTANA, SUDESTE DO PIAUÍ………………………………………………...... …………….. 304

Sara Tavares de Sousa Machado et al. ESTUDO ETNODIRIGIDO SOBRE O USO DE PLANTAS PARA O TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA……………………………………………...... …………… 305

Silvio Felipe Barbosa Lima et al. SHRUB AND TREE SPECIES INTRODUCED IN THE URBAN AREA OF THE CITY OF AURORA (CEARÁ) AND ETHNOBOTANICAL ASPECTS…………………………...... …………. 306

Taciella Fernandes Silva et al. DIVERSIDADE E ETNOBOTÂNICA DE ESPÉCIES ARBÓREAS NATIVAS OCORRENTES EM QUINTAIS AGROFLORESTAIS DA COMUNIDADE ROZALINA, VARGEM GRANDE- MA………………………...... ………………………………………………….. 307 Thâmara Kaliny Bezerra da Silva et al. DESMANCHA DA MANDIOCA (Manihot esculenta CRANTZ): UMA ATIVIDADE FAMILIAR E TRADICIONAL…………………………………………………………...... …………… 308

Vanessa Meyla da Silva & Washington Soares Ferreira Júnior COMO TEMOS TRABALHADO O CONCEITO DE PREFERÊNCIA? UM ESTUDO SOBRE OS MÉTODOS DE ACESSO DA PREFERÊNCIA EM ESTUDOS ETNOBIOLÓGICOS……………………………………………………………...... ………………….. 309

Vitoria Caroline Rodrigues da Costa & Alyson Luiz Santos de Almeida EXTRATIVISMO DE CARNAÚBA (COPERNICIA PRUNIFERA (MILL.) H.E.. MOORE- ARECACEAE) AO LONGO DO TRECHO FLORIANO – OEIRAS DA BR 230…...... 310

Yago Luís Pessoa Barbosa et al. SOCIALIZAÇÃO DE SABERES POPULARES SOBRE O USO DE PLANTAS SILVESTRES EMPREGADAS NA ALIMENTAÇÃO………………………………………...... …. 311

Etnoconservação

Clarissa Lobato da Costa et al. CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL DOS PESCADORES ARTESANAIS E O PROCESSO DE CRIAÇÃO DA RESERVA EXTRATIVISTA DE TAUÁ-MIRIM, SÃO LUÍS, MARANHÃO…………………………………………………………………………………...... …….. 312

Elinelma Ribeiro Monteiro et al. AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOCIOAMBIENTAL DOS PESCADORES ARTESANAIS DO RIO PERICUMÃ, ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BAIXADA MARANHENSE……………………………………………………………………………...... ……… 313

Hanna G. P. Gonçalves et al. ETNOBIOLOGIA DO BOTO-CINZA (Sotalia guianensis, Van Benédén, 1864) E SUA INTERAÇÃO COM A PESCA NO MUNICÍPIO DE RAPOSA – MA………………...... …………… 314

Irlaine Rodrigues Vieira et al. VALORES FLORESTAIS PERCEBIDOS POR EXTRATIVISTAS SOBRE BURITIZAIS DA REGIÃO DOS LENÇÓIS MARANHENSES, BRASIL………………………………...... …………. 315

Marcelo D. Vidal et al. IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS PARA OBSERVAÇÃO DE CETÁCEOS NO PARQUE NACIONAL DE ANAVILHANAS BASEADAS NO CONHECIMENTO DE GUIAS E CONDUTORES DE TURISMO………………..……………………………………………...... ……. 316 Maria Daniela Santos Gonçalves et al. IMPLANTATION OF A CREOLE SEED GERMPLASM BANK IN THE MICROREGION OF PICOS CITY IN BRAZILIAN STATE OF PIAUÍ……………………………………...... …………….. 317

Marina Silva dos Santos et al. TUBARÕES PODEM SER VISTOS COMO ANIMAIS CARISMÁTICOS?…...... …..………………… 318

Maria Elisabeth de Araújo & Paulo Wanderley de Melo PROJETO ETNOBIOLÓGICO BASEADO EM DEMANDA DA COMUNIDADE PESQUEIRA DE RIO FORMOSO (PE): VIVÊNCIA E SABER...... 319

Etnoecologia

Anna Rafaella Simplício de Oliveira et al. CONHECIMENTO DE ALUNOS DA ZONA URBANA E RURAL SOBRE O BIOMA CAATINGA DE UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE SANTANA DO IPANEMA, ALAGOAS……………………………………………………………………………...... … 320

Cledinaldo Borges Leal & Eliesé Idalino Rodrigues ETNOECOLOGIA NA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ECOLOGIA DA UFPI……...... …. 321

Cledinaldo Borges Leal & Eliesé Idalino Rodrigues ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA NO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DO CEAD / UFPI……………………………………………………………………………………...... ….. 322

Elisa Pereira dos Santos et al. PERCEPÇÃO DE MORADORES LOCAIS SOBRE A MASTOFAUNA DA REGIÃO DE BARÃO DE GRAJAÚ – MA…………………………………………………………………...... …….. 323

Maria Rayete Monteiro Lopes et al. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA ATIVIDADE DE PESCA DO RIO PERICUMÃ, SÍTIO RAMSAR – ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BAIXADA MARANHENSE………………………………………………………………………...... ……………. 324

Taiane Novaes do Carmo et al. COMIDA DO RIO: A PESCA E AS PRÁTICAS ALIMENTARES NA RESERVA EXTRATIVISTA IPAÚ-ANILZINHO-BAIÃO/PARÁ………………………………………...... ………. 325 Etnofarmacologia e Etnomedicina

Hytala Ravena Rodrigues de Sousa et al. EFEITOS DO EXTRATO METANÓLICO DE urens NO CRESCIMENTO E NA ADESÃO DE Candida parapsilosis………………………………………………...... …… 326

Júlia Maria Rodrigues Ribeiro et al. AVALIAÇÃO DO EFEITO DO EXTRATO METANÓLICO DE Cnidoscolus urens no CRESCIMENTO E NA ADESÃO DE Candida albicans…………...... …...... …………………. 327

Orianna dos Santos et al. AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE DO EXTRATO ETANOLICO DE Turnera ulmifolia L. ATRAVÉS DO BIOENSAIO DE LETALIDADE FRENTE À Artemia salina Leach……...... ….. 328

Roseane Bittencourt Tavares et al. ETNOCONHECIMENTO SOBRE O PARIRI (Arrabidaea chica): USOS TERAPÊUTICOS E EFEITOS INDESEJÁVEIS………………………………………...... ……………………………… 329

Siomara Elis da Silva Lima et al. AVALIAÇÃO HEMOLÍTICA DOS EXTRATOS DE FOLHAS DE CAESALPINIA PYRAMIDALIS TUL……………………………………………...... ………………………………….. 330

Siomara Elis da Silva Lima et al. TRIAGEM FITOQUÍMICA DO EXTRATO METANÓLICO DAS FOLHAS DE CAESALPINIA PYRAMIDALIS TUL……..…………………………………………………………………...... ….…… 331

Joanna Rayelle Pereira de Lima et al. O IMPACTO DA VIDA ACADÊMICA NO JOVEM UNIVERSITÁRIO E O USO DA ETNOMEDICINA NA POSSÍVEL CURA DA DEPRESSÃO E ANSIEDADE……...... …..…………. 332

Alycia Kayla da Silva Pinheiro et al. USO DE PRODUTOS EXÓTICOS NO ASSENTAMENTO DOM HÉLDER CÂMARA EM ALAGOAS………………………...... …………………………………………………………………… 333

Etnozoologia

Ana Letícia Lima da Silva et al. COMÉRCIO ILEGAL DE AVES SILVESTRES NA REGIÃO DO CARIRI………...... ………….. 334 Antônia Silvana de Moura Romão et al. ETNOCONHECIMENTO DO POVO INDÍGENA TEMBÉ: OS VERTEBRADOS DA TERRA INDÍGENA ALTO RIO GUAMÁ………………………………………...... …………………………… 335

Breno Fernando Cunha de Freitas Sousa et al. ASPECTOS GERAIS DA CAÇA NO MUNICÍPIO DE NAZARÉ, ESTADO DO PIAUÍ…...... ……. 336

Francisca Adriana Ferreira de Andrade et al. PERCEPÇÃO DA FAUNA NATIVA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DA REDE ESTADUAL DE SÃO PEDRO DO PIAUÍ…...... ………………………………………………………………………… 337

Geovania Figueiredo da Silva et al. HERPETOFAUNA: CONHECER PARA CONSERVAR – UMA CAMPANHA PARA CONSTRUÇÃO CIVIL……………………………………………………………………………...... 338

Heitor Tavares de Sousa Machado et al. O USO MEDICINAL E MISTICO-RELIGIOSO DE RÉPTEIS NO ESTADO DO CEARÁ: UMA REVISÃO…….……………………...... ………………………………………………………….. 339

José Alex da Silva Cunha & Roseli Farias Melo de Barros ETNOBIOLOGIA DE ARACNIDEOS (ARACHNIDA; ARANEAE) NO MUNICÍPIO DE ILHA GRANDE, DELTA DO RIO PARNAÍBA, PIAUÍ, NORDESTE DO BRASIL……...... ………. 340

José Alex da Silva Cunha & Roseli Farias Melo de Barros CARACTERIZAÇÃO DO CONHECIMENTO ETNOBIOLÓGICO DE ARANHAS NO MUNICÍPIO DE ILHA GRANDE, PIAUÍ, NORDESTE DO BRASIL……………………………………………………. 341

Juan Carlos Ferreira Paulino et al. ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS NO MUNICÍPIO DE IGUATU/CE……...... …….. 342

Márcio Luciano Pereira Batista et al. ABELHAS SEM FERRÃO: COLETA E USO DO MEL NA COMUNIDADE JOSÉ GOMES, CABECEIRAS DO PIAUÍ/PI……………………………………………………………...... …………. 343

Maria Nazaré de Sousa Pereira et al. ASPECTOS DO COMÉRCIO DE ANIMAIS SILVESTRES NO MUNICÍPIO DE NAZARÉ, ESTADO DO PIAUÍ………………………………………………………………………...... ………… 344

Thatiany de Sousa Pereira et al. ASPECTOS ACERCA DAS PUBLICAÇÕES ETNOZOOLÓGICAS NO NORDESTE DO BRASIL………………………………………………………………………………………………...... 345 Whandenson Machado do Nascimento et al. A IMPORTÂNCIA DE ESPÉCIES DO GÊNERO Macrobrachium BATE, 1868 PARA AS COMUNIDADES RIBEIRINHAS E INDÍGENAS DO BRASIL……………...………………...... … 346

Memórias visuais (IX ENEE: Um evento vivo, um evento de integração)……...... 347

O Artista do IX ENEE e I E3PI………………………………………………………………………………………………………………… 357

A carta de Teresina…………………………………………………………………………………………………………………………………. 358

Encaminhamentos e a sede do X ENEE……………………………………………………………………………………………….. 359 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Bem-vind@s.

Prezad@s Participantes,

Obrigado pela vinda ao Piauí!, Obrigado por sua participação no IX ENEE & I E3PI!

Encontro Nordestino de Etnobiologia e Etnoecologia é um importante evento da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE). A saber, é o principal Oe mais consolidado evento regional da SBEE. O evento chegou pela primeira vez ao Piauí. O Estado é ímpar na Região Nordeste pela ocorrência de um diversificado número de domínios fitogeográficos e de intersecções desses (ecótonos). Aqui ocorrem caatingas, cerrados, matas úmidas, regiões estuarinas e diversos encontros deles. Nessas áreas, não apenas uma rica diversidade está presente, mas uma igualmente rica diversidade e complexidade de culturas que incluem pescadores, grupos quilombolas, agricultores, catadores/as de babaçu, vaqueiros/vaqueiras e mesmo os residentes urbanos que, em última instância, são a cadeia final da extração e comércio de muitos produtos naturais regionais. A vinda do ENEE ao Piauí representou um desafio assumido por um grupo de docentes. Inicialmente o ENEE no Piauí surgiu de um processo de construção do I Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia do Piauí (I E3PI) que seria realizado em Floriano-PI (Campus Amílcar Ferreira Sobral, CAFS) na primeira quinzena de novembro de 2016. Após discussões no âmbito do Departamento de Biologia da UFPI no Campus Ministro Petrônio Portella, em acordo com etnobiológos do CAFS, ficou decidido que o evento seria transferido para Teresina e teria início a construção do Encontro Regional. A decisão foi comunicada ao então presidente da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, professor Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto, e a representante da SBEE no Nordeste brasileiro, professora Dra. Edna Maria Ferreira Chaves. A comissão organizadora foi estabelecida em dezembro de 2016, sob minha presidência, professor Wedson de Medeiros Silva Souto. O lançamento oficial do site do IX ENEE (ixenee.org) fora realizado já em janeiro de 2017. Em uma estrada com menos de um ano de trabalho, com a organização do evento enfrentando diretamente ou indiretamente os efeitos dos cortes recentes nos orçamentos do Ensino e Pesquisa no Brasil, a conclusão do produto ENEE passou de algo trabalhoso, porém relativamente tranquilo, para uma atividade desafiadora. Mesmo uma equipe com experiências acumuladas em realização de eventos se deparou com a incerteza persistente de recursos e dificuldades na captação de apoios.

24 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Enfim, a chegada do ENEE ao Piauí deve ser traduzido como uma conquista daqueles que persistentemente acreditaram na realização desta edição do ENEE. Gostaria de, em nome da comissão organizadora do evento, agradecer a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI) pelo apoio concedido, assim como à administração da Universidade Federal do Piauí, na pessoa do Magnífico Reitor Professor Dr. José Arimatéia Dantas Lopes, pelo apoio ao evento, dentro das possibilidades vigentes da UFPI. Também foi essencial o apoio da administração do Centro de Ciências da Natureza (CCN) da UFPI, na pessoa do diretor Dr. Edmílson Miranda de Moura. Gostaria de agradecer ao Departamento de Biologia (DBIO) da UFPI, campus Ministro Petrônio Portella, representado na pessoa do professor Dr. Nélson Leal Alencar, também membro da comissão organizadora do IX ENEE, pelo apoio disponível e pela seção dos espaços físicos do Departamento para atividades do evento. Igualmente importante a compreensão dos docentes deste departamento de que o IX ENEE é uma etapa adicional no fortalecimento de pesquisas no DBIO. O ENEE atinge Novas fronteiras e Novos desafios. O evento teve por objetivos alcançar novas fronteiras geográficas e permitir a divulgação da Etnobiologia e Etnoecologia para um público cada vez mais seleto e organizado. Devemos lembrar que o Nordeste brasileiro já se consolidou como um polo internacional em Etnobiologia e Etnoecologia, com grupos de pesquisa dessa região demonstrando excelência em produção científica de muitas obras básicas da área partindo dessa porção do Brasil. Dentre muitos trabalhos cuja a organização partiram do Nordeste brasileiro, destacamos os livros “Introduction to Ethnobiology”, “Methods and Techniques in Ethnobiology and Ethnoecology”, “Evolutionary Ethnobiology” e “Ethnozoology: Animais in Our Lives”, todas publicadas por importantes editoras internacionais. Esta calorosa primavera piauiense, também conhecida como BR-Ó-BRÓ, constituiu dias quentes em esforços e integração da comunidade de etnobiólogos do Nordeste e de outras partes do Brasil. O IX ENEE foi concluído com expectativas de aprendizados e integração para realização dos próximos eventos da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, especialmente o XVII Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia - a ser realizado em 2018 na cidade de Belém-Pará, concomitante ao XVI International Congress of Ethnobiology (Belém +30) – e o X ENEE, cuja previsão de organização é para 2019. Além disso, o ENEE deixa aos etnobiólogos do Piauí a mensagem da capacidade de organização e articulação dos pesquisadores e estudantes desse estado na organização de eventos científicos de grande porte. Um marco desta edição foi a elaboração de um documento por pesquisadores da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia: A carta de Teresina. O documento conclama às Instituições de Ensino Superior para inserirem nos Planos Pedagógico- Curriculares (PPCs) de seus cursos de graduação, em especial as licenciaturas e bacharelados em Ciências Biológicas, o componente curricular Etnobiologia. A carta de Teresina será disponibilizada no endereço eletrônico da SBEE (etnobiologia.org) e a SBEE estimula a todos os docentes que realizam pesquisas etnobiológicas a procurarem os setores competentes de sua instituição para discutirem a viabilidade de implementação do componente curricular mencionado.

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A comissão organizadora do ENEE espera verdadeiramente que o IX ENEE tenha contribuído em diferentes aspectos com a formação de novos etnobiólogos da região Meio-Norte do Nordeste, sobretudo no aprendizado proporcionado pelo conhecimento de pesquisas etnobiológicas vigentes na região Nordeste e no estabelecimento de redes de contatos e colaborações com diferentes grupos de pesquisa, sobretudo da região Nordeste. Sem mais, desejo votos de agradecimentos aos participantes do IX ENEE e de toda a entusiasmada comissão que contribuiu com esse inédito evento nas terras do Meio- Norte do Nordeste.

Saudações cordiais,

Professor Wedson de Medeiros Silva Souto

Presidente da Comissão Organizadora do IX ENEE – I E3PI Departamento de Biologia – UFPI/CMPP

26 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Sedes do IX ENEE e I E3PI

O evento foi integralmente organizado nas dependências da Universidade Federal do Piauí. Toda a estrutura foi planejada para ficar em um raio máximo de 600 m.

Cluster 1 – Cerimônias

Local: Espaço Integrado Noé Mendes (UFPI). Atividades: Cerimônias de abertura e encerramento

Cluster 2 – Biologia

Locais: Departamento de Biologia e Coreto da Reitoria Atividades: Palestras, Mesas-redondas, Apresentações orais e em painéis (banners).

Cluster 3 – CCN 1

Locais: Auditório Afonso Pena (Física), Espaço Integrado e Restaurante Universitário Atividades: Palestras e Mesas-redondas (Auditório Afonso Pena), Alojamento – 200 pessoas (Espaço Integrado), Refeições (almoço/jantar – dias 1 e 3) (Restaurante Universitário).

27 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Mapa do evento

28 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Programação 01 de novembro de 2017 Credenciamento 08h – 16h: Local – Departamento de Biologia da UFPI/CMPP 17h – 18h30: Local – Espaço Noé Mendes

Abertura – Espaço Noé Mendes 18h: Composição da Mesa de abertura 18h30 – 20h: Palestra de abertura “O futuro da Etnobiologia ou a Etnobiologia sem futuro?” - Prof. Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque (UFPE) 20h – 0h: Festa de abertura

02 de novembro de 2017 8h – 10h30m - Minicursos (Local: Departamento de Biologia - DBIO) Bioestatística no R (Prof. Dr. Leonardo Castelo Branco – UFPI), Coletas e Análises de dados Etnobiológicos (Prof.a. Dr.a. Edna Maria Ferreira Chaves – IFPI e Prof. MSc. José Rodrigues de Almeida Neto - PRODEMA-UFPI), Etnofarmacologia e Etnomedicina (Prof. Dr. Thiago Antônio de Sousa Araújo – UNINASSAU-PE), Aspectos Etnobotânicos nos Estudos dos Sistemas Socioecológicos (Dr. Ernani Machado de Freitas Lins Neto – UNIVASF-Senhor do Bonfm-BA), Etnozoologia aplicada à conservação da Fauna (Dr. Hugo Fernandes- Ferreira – UECE-Quixadá-CE), Teorias aplicadas aos estudos etnobiológicos (Dr. Washington Soares Ferreira Júnior – UPE-Petrolina) 10h30m – 12h Palestra A (Auditório do DBIO) – Por que ser Etnobiológo? (Dr. Hugo Fernandes-Ferreira, UECE), Palestra B (Auditório Afonso Sena) – Ameaças nacionais e internacionais aos povos e comunidades tradicionais (Dr. Gustavo Taboada Soldati, UFJF, SBEE) 14h – 16h30m Mesa-redonda 1 (DBIO) – A Etnobotânica para conservação dos domínios ftogeográfcos nordestinos (Prof. Dr. Reinaldo Farias Paiva de Lucena, UFPB; Prof.a. Dra. Josiene M. F. F. dos Santos, UNEAL; Prof.a. Dr. Elcida Lima; UFRPE); Mesa-redonda 2 (Afonso Sena) – Uso e Conservação da Fauna no Nordeste Brasileiro (Prof. Dr. Rômulo Nóbrega Alves, UEPB; Prof.a. Dr.a. Kallyne Machado Bonifácio, PRODEMA-UFPB) 16h30 – 18h – Painéis e Comunicações orais (Coreto da Reitoria e DBIO)

03 de novembro de 2017 8h – 10h30m - Minicursos (Local: Departamento de Biologia – DBIO) 10h30m – 12h Palestra C (DBIO) – Etnobiologia e Conservação (Prof. Dr. José Ribamar de Sousa Júnior, UFPI-CAFS), Palestra D (Afonso Sena) – Aspectos Éticos da Pesquisa com seres humanos (Prof. Dr. Herbet de Sousa Barbosa, UFPI) 14h – 16h30M – Mesa-redonda 3 (DBIO) – Etnobiologia e potenciais bioprospectivos (Prof. Dr. Felipe Siva Ferreira, UNIVAS; Prof. Dr. Thiago Pereira Chaves, UFPI; Prof. Dr. Thiago Antônio Sousa Araújo, UNINASSAU-PE) 16h30 – 18h – Painéis e Comunicações orais (DBIO)

04 de novembro de 2017 8h – 10h30m - Minicursos (Local: Departamento de Biologia – DBIO) 10h30m – 12h Mesa-redonda 4 (DBIO) – Etnobiologia em ecossistemas litorâneos do Nordeste (Prof.a. Dr.a. Priscila Fabiana Macedo Lopes, UFRN; Prof. Dr. José da Silva Mourão, UEPB); Mesa-redonda 5 (Afonso Sena) – Recursos naturais e alimentação humana (Profa. Dra. Edna Maria Ferreira Chaves, IFPI; Prof. Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto, UEFS). 14h – 16h – Palestra F (DBIO) – Bases biológicas e evolutivas da percepção humana sobre o ambiente natural (Prof. Dr. Taline Crisitina Silva, UNEAL); Palestra G (Afonso Sena) – Black Markets: A Etnozoologia na Investigação do comércio ilegal da fauna silvestre (Prof. Dr. Wedson de Medeiros Silva Souto, UFPI) 16h30m - 17h30m– Afonso Sena Mesa de Encerramento e Premiação de trabalhos (Prêmios Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida e Prof.a. Dr.a. Roseli Farias Melo de Barros), Escolha da Sede do X ENEE. 18h – Palestra de Encerramento (Afonso Sena) – A Etnobiologia não conserva a natureza, assim como a educação não transforma o mundo (Prof. Dr. Ângelo Giuseppe Chaves, UFRPE)

ATIVIDADES CULTURAIS: Dias 2 e 3 de novembro, logo após a exposição de painéis e comunicações orais.

29 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Prêmios Professor Dr. Alberto Kioharu Nishida [IX ENEE] & Professora Dra. Roseli Farias Melo de Barros [I E3PI]

Professor Alberto Kioharu Nishida, falecido em julho de 2016, representou um dos pioneiros em pesquisas etnobiológicas no Nordeste brasileiro. Docente do Departamento de Sistemática e Ecologia (DSE) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), foi responsável pela formação de uma produtiva geração de etnobiólogos, zoólogos e ecólogos. Foi docente dos programas de Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), o qual atuou como coordenador do subprograma UFPB/UEPB no período entre 2008 e 2010. Esta edição do ENEE teve a honra de premiar os três primeiros trabalhos apresentados em comunicação oral com o prêmio Alberto Kioharu Nishida. A professora Dra. Roseli Farias Melo de Barros é atualmente docente da Universidade Federal do Piauí, instituição a qual atua desde 1993. A professora Roseli foi pioneira em pesquisas etnobiológicas no Piauí e responsável pela formação de expressivo número de etnobiólogos que hoje atual em instituições de ensino superior e pesquisa em diversas partes do Brasil, sobretudo nos Estados do Piauí e Maranhão. Em reconhecimento a atuação profissional, o IX ENEE e I E3PI confere o prêmio prof. Dra. Roseli Farias Melo de Barros as três melhores comunicações orais apresenadas por discentes ou pesquisadores vinculados à Instituições do Piauí.

30 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Trabalhos Premiados

Prêmio Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida (ENEE)

Primeiro Lugar PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES RIBEIRINHOS DO BAIRRO JARDIM OÁSIS NO MUNICÍPIO DE IGUATU/CE EM RELAÇÃO À ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DA LAGOA DA BASTIANA Autores: Ana Carolina Sabino de Oliveira, Bruna Letícia Pereira Braga, Marlos Dellan de Souza Almeida, Juan Carlos Ferreira Paulino, Alzeir Machado Rodrigues

Segundo Lugar PERCEPÇÃO DOS MORADORES ACERCA DOS IMPACTOS DA AGRICULTURA IRRIGADA SOBRE A AVIFAUNA EM UMA ÁREA DE CAATINGA NO NORDESTE BRASILEIRO Autores: Suely Silva Santos, Muryllo dos Santos nascimento, Arthur Serejo Neves Ribeiro, Francisco das Chagas Vieira, Santos, Francisco Eduardo Dos Santos Sousa, Wedson de Medeiros Silva Souto, Anderson Guzzi

Terceiro Lugar IMPORTÂNCIA AMBIENTAL DAS AVES E OS IMPACTOS NEGATIVOS DA CAÇA, NA PERSPECTIVA DOS MORADORES DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DO BURITI DO MEIO, CAXIAS-MA, BRASIL Autores: Anderson Felipe Teixeira da Silva, Hilda Raianne Silva de Melo, Daiane Chaves do Nascimento, Ana Priscila Medeiros Olímpio, Shirliane de Araújo Sousa, Domingos Lucas dos Santos Silva

Prêmio Prof.a. Dr.a. Roseli Farias Melo de Barros (E3PI)

Primeiro Lugar PERCEPÇÃO DOS MORADORES ACERCA DOS IMPACTOS DA AGRICULTURA IRRIGADA SOBRE A AVIFAUNA EM UMA ÁREA DE CAATINGA NO NORDESTE BRASILEIRO Autores: Suely Silva Santos, Muryllo dos Santos nascimento, Arthur Serejo Neves Ribeiro, Francisco das Chagas Vieira Santos, Francisco Eduardo Dos Santos Sousa, Wedson de Medeiros Silva Souto, Anderson Guzzi

Segundo Lugar UM OLHAR QUE NADA FALA, MAS TEM MUITO A DIZER: UMA ABORDAGEM ETNOGEOMORFOLÓGICA POR MORADORES DE UMA COMUNIDADE RURAL NO NORDESTE BRASILEIRO Autores: Karoline Veloso Ribeiro, Karen Veloso Ribeiro, Emanuel Lindemberg Silva Albuquerque, Roseli Farias Melo de Barros

Terceiro Lugar ETNOORNITOLOGIA EM UMA COMUNIDADE NA REGIÃO DO DELTA DO PARNAÍBA, UMA IMPORTANTE ÁREA DE BIODIVERSIDADE NEOTROPICAL NO NORDESTE DO BRASIL Autores: Francisco das Chagas Vieira Santos, Wedson de Medeiros Silva Souto, Suely Silva Santos, Arthur Serejo Neves Ribeiro, Muryllo dos Santos Nascimento, Reinaldo Farias Paiva de Lucena, Anderson Guzzi

31 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Resumos Expandidos

32 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES RIBEIRINHOS DO BAIRRO JARDIM OÁSIS NO MUNICÍPIO DE IGUATU/CE EM RELAÇÃO À ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DA LAGOA DA BASTIANA

Ana Carolina Sabino de Oliveira1*, Bruna Letícia Pereira Braga1, Marlos Dellan de Souza Almeida1, Juan Carlos Ferreira Paulino1, Alzeir Machado Rodrigues2

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), Iguatu – CE; 2Professor do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), Iguatu – CE. *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

Diante da crise ambiental, sobretudo hídrica, que o planeta tem enfrentado nas últimas décadas, a Educação Ambiental emerge com o papel de mediadora entre o homem e o meio. Diante disso, na Cidade de Iguatu, região Centro-Sul do Ceará o crescimento urbano ocorreu de forma intensa degradando diversos ecossistemas, dentre eles a Lagoa da Bastiana, Área de Preservação Ambiental de importância significativa devido à sua riqueza de fauna e flora e outros fatores. Diante disso, o objetivo deste trabalho é conhecer a percepção ambiental dos moradores de seu entorno sobre a preservação e estado da mesma. Com isso, foi possível perceber que uma parte dos moradores possuem uma real dimensão do problema e que, aliado a uma educação ambiental e orientação sobre o manejo adequado da área, diversos prejuízos poderiam ser evitados tanto a curto como a longo prazo.

Palavras-chaves: Educação Ambiental, lagoa da Bastiana, preservação.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas a crise ambiental que afeta todo o planeta vem se alastrando de forma conside- rável, afetando o mundo inteiro, gerando desequilíbrios que muitas vezes se tornam irreparáveis ao longo do tempo e tornando as condições de vida cada vez mais escassas (Bortolozzi & Filho, 2017). Diante deste dilema, observa-se que parte considerável surge a partir de ações antrópicas, onde o ser humano se coloca como um “ser superior” em meio ao contexto vivenciado e a biosfera sofre as consequências, sendo em sua maioria quase que irreversíveis. Dentro desta crise ambiental generalizada uma das mais preocupantes que ganha destaque é a crise hídrica, conforme exposto por Matsushita e Granado (2017). Neste contexto, a Educação Ambiental (EA) surge com o papel de mediadora entre a comunidade e o ambiente, e, ainda, de sensibilizadora com relação às ações antrópicas e a sua influência direta na vida dos diversos seres vivos. A mesma emerge em um contexto marcado pela crescente e constante degrada- ção do meio ambiente devido a diversos fatores advindos da ação humana, sendo necessárias reflexões so- bre estas práticas que tanto afetam ecossistemas em sua totalidade e também articulações que possam chegar de forma transitável na sociedade e seja capaz de sensibilizar esses indivíduos. Com relação a estes papéis exercidos pela EA Jacobi (2003, p. 193) afirma que ela “assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a co-responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável”. A partir desta premissa de que os indivíduos são corresponsáveis pelo lugar que habitam, entende-se que os mesmos ne- cessitam acompanhar o andamento no qual a sociedade moderna ultrapassa e diante disso, no curso do de- senvolvimento, é possível observar um intenso processo de urbanização. No Município de Iguatu, localizado na região Centro-Sul do estado do Ceará, este processo foi in- tensificado em um curto período de tempo e a urbanização desordenada acabou trazendo sérios prejuízos

33 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 que afetam de forma considerável os diversos ambientes urbanos, tendo em vista que a cidade possui um alto potencial hidrológico e uma grande riqueza de ecossistemas, podendo-se citar os ecossistemas lacus- tres da cidade, ambientes estes que tornaram-se símbolo da mesma desde o seu topônimo, significando água boa. A cidade é rodeada por lagoas, sendo cinco delas localizadas na área urbana e seis na área rural. Dentre estas uma que ganha destaque devido ao seu potencial hídrico e a sua rica biodiversidade é a La- goa da Bastiana, onde o processo de ocupação vem sendo intensificado a cada dia e os impactos ambien- tais crescendo constantemente devido a diversos fatores naturais e, principalmente, antrópicos por causa da urbanização, incluindo as construções que invadem a Área Proteção Ambiental (APA), que constitui o ecos- sistema, importunando assim nas condições socioambientais do local. De acordo com Freitas e Freitas (2015, p. 120): “Atualmente os principais impactos detectados resultantes de ações degradantes na lagoa da Bastiana, são: aterramentos, desmatamentos, poluição hídrica, assoreamento, deposição de sedimentos, redução da biodiversidade, dentre outros”. Diante desse cenário, observa-se que em muitas situações a população que reside nas proximida- des desse ecossistema não possui uma real compreensão acerca dos desequilíbrios ecológicos acarretados por essas intervenções. Por este motivo emerge a necessidade de conhecer as percepções destes morado- res com relação a estas interposições de origem externa que afetam diretamente os processos ecológicos do ecossistema. Com isso, este trabalho objetiva conhecer a percepção ambiental dos moradores do bairro Jardim Oásis no município de Iguatu, Ceará no que se refere à APA - Área de Preservação Ambiental da La- goa da Bastiana.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa se trata de um estudo exploratório com os moradores ribeirinhos da APA Lagoa da Bastiana sobre a sua importância, aspectos de conservação e fauna e flora local. Gerhardt e Silveira (2009, p. 35) explicitam que “este tipo de pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses”. Para a realização da mesma foi utilizada uma pesquisa qualitativa, que ainda segundo Gerhardt e Silveira (2009), esse tipo de pesquisa direciona-se aos aspectos da realidade, que não podem ser quantificados, tendo como foco principal o entendimento e a explicação do dinamismo das relações sociais. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário semiestruturado com um roteiro de perguntas objetivas e discursivas acerca da temática abordada. A pesquisa semiestruturada possui importante papel, uma vez que “[...] tem o objetivo de construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa, e abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes com vistas a este objetivo” (Minayo, 2011, p. 64). Este questionário foi aplicado para 15 moradores do bairro, com faixa etária entre 13 e 51 anos. Anteriormente à aplicação do questionário, foi entregue aos participantes da pesquisa um “TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO”, que informava sobre o teor do estudo e deu a liberdade de escolha ao entrevistado de participar ou não. A RESOLUÇÃO Nº 466/16 do Conselho Nacional de Saúde - CNS dispõe dos aspectos éticos e legais da pesquisa com seres humanos nas áreas de ciências humanas e sociais, sendo a lei atual responsável por esse tipo de pesquisa científica e o artigo 1° parágrafo I diz que se faz necessário o reconhecimento da liberdade e autonomia de todos os envolvidos no processo de pesquisa, inclusive da liberdade científica e acadêmica. (BRASIL, 2016). Toda pesquisa de caráter exploratório deve obedecer à legislação atual vigente, em todos os seus aspectos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a análise dos dados coletados através do questionário semiestruturado foi possível identificar algumas visões e paradigmas com relação à Lagoa da Bastiana, como também se encontrou moradores que tinham uma real dimensão do problema enfrentado pelo ecossistema. Antes da aplicação do questionário mencionado foi realizado um levantamento socioeconômico básico de cada morador para embasar a pesquisa proposta. À vista disso, foram investigadas algumas informações dos participantes

34 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 antecedendo as perguntas relacionadas ao objetivo central da pesquisa, foram elas a faixa etária dos moradores (Tabela 1) e a média de tempo com que os mesmos residiam nas proximidades da Área de Preservação Ambiental estudada (Tabela 2).

Tabela 1. Faixa etária dos moradores

FAIXA ETÁRIA PORCENTAGEM 10 a 25 anos 53,3% 26 a 40 anos 20% 41 a 65 anos 26,7%

Tabela 2. Média de tempo que os moradores entrevistados residem próximos à Lagoa

FAIXA DE TEMPO PORCENTAGEM Até 7 anos 26,7% Entre 7 e 14 anos 46,6% Entre 14 e 21 anos 26,7%

Com isso, é notável que a maior parte dos participantes tinham até 25 anos, e o segundo grupo em representação foram os moradores acima de 40 anos. Também se observa que a maior média de tempo dos moradores nas proximidades da Lagoa é entre 7 e 14 anos, mostrando que os mesmos possuem uma visão apurada dos impactos que o ecossistema vem sofrendo ao longo do tempo principalmente por terem acompanhado de perto o seu processo de urbanização. A partir deste levantamento foi possível a iniciação da análise dos dados coletados. Quando os moradores foram indagados sobre a visão dos mesmos da importância da Lagoa da Bastiana para a população do entorno, algumas respostas obtidas foram:

“A importância seria se fosse bem preservada para ter turistas e algumas aves”

“Por ela ser tão poluída para os moradores não vejo nenhuma importância. É importante para os animais que vivem na lagoa. Por incrível que pareça ainda existe vida lá”

“É fundamental para o equilíbrio ecológico da região, além de promover a termo regulação, contribui para o equilíbrio hídrico”

Diante disso, é possível perceber que por causa da destruição ecológica e visual a qual passa a Lagoa da Bastiana, parte dos moradores entendem que a mesma não é importante para a população, mas reconhecem a sua importância para a fauna existente no local, como é notado na segunda fala. Também pode-se observar no início da primeira fala um discurso que se aplica a sociedade criada a partir do mundo globalizado, onde é possível observar em muitas ocasiões a natureza dando espaço à um paisagismo estético com a finalidade de gerar renda e transmitindo esta ideia como sendo a ideal para a conservação. De acordo com Penna (2016, p. 126): “tanto a natureza quanto a totalidade do ambiente urbano, transformam-se em espaços políticos, inseridos nas estratégias de ocupação e de expansão da cidade”, com isso, é possível destacar a necessidade de ver os ecossistemas presentes no meio urbano como aliados ao processo de urbanização e enaltecer as contribuições que estes podem trazer, como citados na última fala. Também foi perguntado aos participantes da pesquisa se os mesmos conheciam algum projeto ou ação tanto independentemente quanto do poder público de preservação da Lagoa da Bastiana, e a

35 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 unanimidade das respostas foi de que não havia nenhuma ação voltada para este local, em seguida estes foram indagados se eles achavam que a falta de cuidados com a Lagoa poderia ocasionar prejuízos no futuro, e se sim, quais seriam tais prejuízos, algumas das respostas coletadas foram:

“Um risco de contaminação maior e possíveis alagamentos em tempos chuvosos, tendo em vista que o lixo causa entupção nas redes de esgoto”

“Sim. O aquecimento das águas secando a lagoa, e principalmente a morte das espécies que vivem na lagoa ou em torno”

“Pode sim. A dengue, asma (por os moradores irresponsáveis tocarem fogo), isso também acaba prejudicando os moradores”

De acordo com a primeira fala observada é notável algo que ganha destaque que é a questão dos alagamentos. Este fenômeno em tempos muito chuvosos se torna um risco devido a diversos fatores, um deles é a poluição excessiva tanto no ecossistema como no seu entorno, sendo uma característica quando o manejo do próprio local e do solo não é realizado adequadamente. Tonetti, Nucci, Souzan e Valaski (2014, p. 44) trazem em um dos seus estudos uma reflexão acerca das consequências do uso intensivo ou inadequado de um solo que sofreu processo de urbanização e que não é manejado da forma correta, uma destas consequências são alagamentos. Em sua fala, ele diz:

“O uso intensivo e muitas vezes inadequado do solo urbanizado, juntamente com a falta de uma visão sistêmica, entre outras questões, provoca alterações no ciclo hidrológico que por sua vez acarreta inúmeros problemas sociais, econômicos e ambientais, tais como: alagamentos, problemas no abastecimento de água, contaminação do lençol freático e de cursos d`água, entre tantos outros. ”

A terceira fala faz referência a questão das queimadas que é muito frequente na Lagoa da Bastiana, este fenômeno acarreta tanto prejuízos a curto como a longo prazo, afetando tanto a população como a fauna e flora existentes no local e a segunda fala traz uma questão que demonstra ainda uma falta de conhecimento acerca do dinamismo e funcionamento deste ecossistema, enfatizando a necessidade de uma construção da educação ambiental como forma de preparar a sociedade para lhe dar tanto com o crescimento populacional através da urbanização como o tratamento adequado para a natureza remanescente e sobrevivente deste processo. De acordo com Albuquerque (2010, p. 182):

“A Educação Ambiental crítica, impregnada da utopia da construção de um mundo mais humano e justo, põe-se decisiva na politização necessária da espécie humana para mudar o paradigma de desenvolvimento capitalista dominante, que exaure nossos recursos naturais e humanos ”

Ao final, os moradores foram indagados a respeito de suas visões sobre o que poderia ser feito para preservar a Lagoa da Bastiana e trazer benefícios para o bairro, diante disso, alguns dos comentários obtidos foram:

“Preservar a vegetação local e evitar o acúmulo de lixo poderia evitar o mal cheiro, o acúmulo de animais, etc.”

“Retirar os esgotos que são jogados na lagoa, respeitar a margem da lagoa, criar projetos que envolvam a lagoa na vida da população”

“Primeiramente um saneamento básico adequado e eficiente e posteriormente um projeto de revitalização da lagoa”

Através das respostas obtidas é possível notar que uma parte dos moradores possuem uma visão do real problema e possíveis formas de amenizá-los, tanto por parte da população como do poder público, que possui um papel relevante neste processo. Um dos pontos mencionados que chama a atenção é quando um dos participantes cita a questão do acúmulo de animais. Tais problemas são ocasionados como

36 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 consequência da invasão do ser humano ao espaço pertencente a fauna do local, e consequentemente os animais procuram novos refúgios, muitas vezes causando incomodo. Ainda de acordo com Penna (2016, p.126) o espaço da sociedade urbana não pode ser entendido apenas economicamente, ela também necessita ser um espaço de produção social, política e cultural, em meio ao processo de urbanização, fato este enfatizado pelos participantes da pesquisa.

CONCLUSÕES

A partir dos achados com as respostas obtidas e analisadas dos moradores ribeirinhos da Lagoa da Bastiana, é possível ultimar que os mesmos possuem uma compreensão apurada do problema, tendo em vista que eles possuem um convívio diário com este, mas, diante da realidade encontrada faz-se necessário uma educação ambiental crítica que atenda as demandas deste ecossistema e dos prejuízos que um manejo inadequado pode trazer tanto a curto como a longo prazo. Esta educação ambiental necessita estar atrelada a diversas esferas da sociedade. Tanto a população como o poder público possuem um papel fundamental para esta construção do desenvolvimento ambiental da sociedade e a Universidade também possui um papel fundamental neste processo, pois o conhecimento gerado só se torna útil quando ultrapassa as barreiras físicas e se materializa no desenvolvimento comum da sociedade.

AGRADECIMENTOS

Para a realização desta pesquisa, o agradecimento vai para a população que atenciosamente entendeu o propósito do estudo e concluiu que este poderia ser o início de novas perspectivas relacionadas ao futuro da única Unidade de Conservação da cidade, a Lagoa da Bastiana.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

IMPORTÂNCIA AMBIENTAL DAS AVES E OS IMPACTOS NEGATIVOS DA CAÇA, NA PERSPECTIVA DOS MORADORES DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DO BURITI DO MEIO, CAXIAS-MA, BRASIL

Anderson Felipe Teixeira da Silva1*, Hilda Raianne Silva de Melo1, Daiane Chaves do Nascimento2, Ana Priscila Medeiros Olímpio3, Shirliane de Araújo Sousa4, Domingos Lucas dos Santos Silva5

1Graduados em Ciências Biológicas Licenciatura, Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Centro de Estudos Superiores de Caxias, Caxias-MA; 2Mestre em Ciência Animal, Universidade Estadual do Maranhão, Centro de Ciências Agrárias, São Luís-MA; 3Mestranda do Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Biodiversidade, Ambiente e Saúde, Universidade Estadual do Maranhão, Centro de Estudos Superiores de Caxias, Caxias-MA; 4Mestre em Zoologia pela Universidade Federal do Pará, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará; 5Mestre em Biodiversidade, Ambiente e Saúde, Universidade Estadual do Maranhão, Centro de Estudos Superiores de Caxias, Caxias-MA *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

Sabe-se que as aves desde os tempos antigos, são parte do cotidiano dos seres humanos. Apesar deste fato, dentre os estados brasileiros, o Maranhão apresenta um cenário de desconhecimento quanto a pesquisas voltadas a importância natural e usual destes animais. Desta maneira objetivou-se conhecer, a importância e os impactos negativos das atividades de caça sobre as aves na concepção dos moradores da Área de Proteção Ambiental do Buriti do Meio, Caxias-MA. Para isso aplicou-se um questionário com 74 moradores, seguindo-se as normas previstas na Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Observou-se que para os entrevistados, as aves apresentam um papel ecológico na natureza, na manutenção ambiental, entretanto, existe a caça e possivelmente o comércio ilegal destes animais, o que demanda atividades de cunho conservacionista envolvendo educação ambiental, uma vez que os danos provenientes dessas atividades podem prejudicar, em longo prazo, tanto esses animais como o ambiente que estas habitam.

Palavras-chave: Caça de aves no Maranhão, Utilização de aves, Educação Ambiental

INTRODUÇÃO

Quando a fauna se torna importante para uma determinada comunidade, ela passa a fazer parte de sua rotina e de sua cultura, estabelecendo-se então, diversas relações com os animais, sejam elas utilitárias (alimentação, vestuário, medicinal, mágico-religioso, etc.), simbólicas (lendas, mitos), ou de comercialização (Corona, 2011). Desde os tempos mais antigos os animais, em especial as aves, exercem grande fascínio sobre povos de todo o planeta, sendo parte do cotidiano do ser humano onde adquirem múltiplos significados e usos, que vão desde a predição de acontecimentos naturais até o uso na alimentação (Oliveira-Júnior, 2005). Deste modo, a compreensão destes valores permite um melhor entendimento sobre a importância biológica e cultural da avifauna regional para as diferentes populações humanas (Oliveira-Júnior, 2005; Farias & Alves, 2007; Santos-Fita & Costa-Neto, 2007). Apesar desta importante compreensão acerca das relações das aves com as populações humanas, no Brasil e em especial para o Estado do Maranhão, estudos envolvendo as relações destas com os seres humanos, são quase inexistentes, ainda mais quando se relacionam a importância ambiental das aves e os impactos negativos que as mesmas sofrem dentro de áreas de proteção ambiental. Neste contexto, objetivou-se conhecer qual a importância ambiental das aves

39 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 e os impactos negativos das atividades de caça das aves na perspectiva dos moradores da Área de Proteção Ambiental do Buriti do Meio, buscando-se elaborar medidas que viabilizem a preservação e a conscientização dos moradores a respeito da avifauna e o ambiente no qual estão inseridas.

MATERIAL E MÉTODOS

A Área de Proteção Ambiental (APA) Buriti do Meio possui uma área de 58.347,30 ha e está situada a 35 km do perímetro urbano da cidade de Caxias-MA. Foi criada pela Lei nº 1.540/2004 de 25 de março de 2004, e abrange o Projeto de Assentamento do Buriti do Meio e Santa Rosa, na zona do 2º Distrito da cidade de Caxias-MA (Caxias, 2004). A pesquisa foi realizada com 74 moradores em três povoados dentro da Área de Proteção Ambiental Buriti do Meio, sendo eles: Buriti do Meio, Vitória e Engenho D’água. Para a obtenção dos dados entrevistou-se os moradores, com o uso de um questionário que foi composto de cinco perguntas que abrangem assuntos sobre a importância ambiental das aves descritas em Lara, França & Pereira (2009) e caça das aves descritas por Nobrega, Barbosa e Alves (2011). Antes do início de cada entrevista, um termo de consentimento foi assinado pelos moradores ao concordarem em participar da pesquisa, desta forma o estudo em questão está de acordo com a metodologia descrita na Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Após as entrevistas, foi pedido aos moradores que fossem feitos registros fotográficos de instrumentos de caça que são utilizados para captura de aves e também, registros fotográficos de aves aprisionadas em gaiolas ou que estivem soltas nos domicílios, porém domesticadas pelos moradores, para tanto utilizou-se uma câmera da marca Sony modelo DSC-H400 e uma câmera de um celular da marca Motorola modelo XT1600. As aves fotografadas foram identificadas ainda no local, através do uso do aplicativo Ave: Digital field guide v. 3.7.7 (Florit, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistados 74 moradores com idades entre 18 e 77 anos, durante os meses de outubro a novembro de 2016. Quando questionados sobre a importância das aves para a natureza, 26% (n=19 ) não informaram qual a relevância que as aves apresentam dentro da natureza; 28% (n=21) informam que, as aves são dispersoras de sementes, contribuindo para a continuidade da floresta, como mencionado por um morador: “Elas comem as frutas e cai as sementes deles e reproduz as plantas”; 20% dos entrevistados (n=15) atribuíram a importância das aves na cadeia alimentar como consumidores de insetos (como formigas e lagartas) ou como consumidores de carniça, atribuindo essa função ao urubu Coragyps atratus; 14% (n=10) informam que as aves são integradas à natureza, pois foram criadas por Deus. As informações anteriores são corroboradas nos estudos de Jordano (1994), Barbosa (1999) e Francisco e Galetti (2002) e também por Sick (1997), os quais ressaltam que “as aves são de grande importância para a natureza, ‘pois fazem parte das intrínsecas relações com ambiente, tanto no contexto cultural, histórico e religioso, como também no contexto econômico das comunidades humanas’”. Devido ao uso das aves no cotidiano das comunidades humanas, perguntou-se aos entrevistados se caçavam aves, destes 70% (n=52) informaram não caçar aves e 30% (n=22) informam que sim. Quanto a utilidade das aves, 47% dos entrevistados (n=35) informam que as aves são utilizadas na alimentação, 25% criação (domesticação n=18), 12% para o bem-estar do homem (n=9), 4% venda (comercialização n=3), 4% para aprisionamento em gaiolas (n=3) e 8% (n=6) não souberam informar utilidades para as aves. Apesar de alguns entrevistados informarem caçar e vender aves, outros mostraram-se contrários a tais atividades, mencionando que isso é algo ruim para estes animais como observado nas seguintes citações: “Pra fazer malvadeza, pra fazer dinheiro com o que num deve” “Pra fazer maldade mantendo eles presos”. Outros justificam a caça das aves para obtenção de alimento, quando este encontra-se em falta: “Serve pra comer quando não tem”, já outros mencionam que a venda e o aprisionamento das aves têm seus benefícios, quando estes são voltados para a contemplação do seu canto: “Pra criar em gaiola por causa do canto bonito como o do sabiá”. Em relação aos resultados anteriores sobre a caça das aves e seus benefícios, como também a discordância deste tipo de atividade pelos entrevistados, esse trabalho apresenta resultados similares aos

40 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 obtidos por Silva, Olímpio, Araújo & Melo (2015), pois estes autores encontraram utilidades semelhantes para aves, onde as mesmas são usadas pelos moradores para ornamentação, criação e venda, sendo que também reportaram o descontentamento por parte de alguns moradores referente aos hábitos de caça e aprisionamento das aves em gaiola. Quanto ao conhecimento acerca dos métodos utilizados na caça das aves, 7% (n=5) informaram não conhecer nenhum método, e as demais, 93% (n=69), informaram métodos usuais para a caça das mesmas, afirmando ensiná-los a outras pessoas, como por exemplo, sobrinhos e/ou filhos. Dentre os métodos citados, a gaiola (n=20, Figura 1A), o visgo (n=15, Figura 1B) e a arapuca (n=28, Figura 1C) foram os mais mencionados pelos moradores.

Figura 1. Métodos de caça registrados na área de estudo. A - Gaiola, B - Linha para o visgo e C – Arapuca. Direito autoral: Imagens A - B (Silva, A. F. T., 2016) e C (Melo, H. R. S., 2016).

Alguns entrevistados também atribuíram parte desses métodos de caça para a captura de espécies, a exemplo tem-se o assaprão, que segundo os moradores são colocadas iscas como frutas ou milho para que a ave seja atraída e capturada. Para a jurití Leptotila sp. e a rolinha C. squammata se utiliza o visgo ou a arapuca com algum atrativo alimentar para capturá-las. Outros informaram que para captura e venda de aves, são feitas procuras em ninhos das mesmas, a exemplo, tem-se o papagaio Amazona aestiva e a curica E. aurea, podendo ser observado na seguinte citação: “Papagaio e curica pego eles no ninho pra vender”, outros métodos também citados foram a baladeira, rede, arma-de-fogo, o bate (também chamado de quebra) e o uso de animais para perseguição dessas aves. Com exceção do visgo, os mesmos métodos de caça foram citados durante o estudo de Silva et al. (2015). Takekawa (2000) e Alves, Mendonça, Confessor, Vieira & Lopez (2009) afirmam que, essa variedade de técnicas está relacionada à diversidade e ecologia das presas, fatores abióticos, sazonalidade, entre outros. Segundo Tynsong, Tiwari & Dkhar (2012), muitas dessas técnicas são tradições passadas de geração em geração, sendo ensinadas e passadas adiante dentro de grupos ou comunidade humanas locais. Registrou-se também, algumas aves aprisionadas em gaiolas ou em poleiros dentro das casas durante as visitas nos domicílios (Figura 2). Dentre estas, foram registrados por fotografia filhotes de curica- estrela E. aurea (Figura 2A), o papagaio A. aestiva (Figura 2B) e o sabiá T. leucomelas (Figura 2C). Algumas destas mesmas espécies foram mencionadas em outros estudos como o de Araújo, Kanieski, Longhi, Behr & Menezes (2010), Moura-Santos et al. (2011) e Silva et al. (2015), com destaque para o bigode, pertencente ao gênero Sporophila, que segundo Rocha et al. (2006) aves deste gênero são as mais procuradas, pois, além de possuírem um belo canto, são de fácil manutenção em cativeiro. Segundo Nobrega et al. (2009), “as aves compreendem 71% dos animais contrabandeados, sendo que estas ‘representam um dos maiores e mais conhecidos grupos de organismos afetados também pelo caráter cultural e econômico dos usuários exploradores’”. Sekercioglu, Daily & Paul (2004) afirmam “que o ‘status de conservação de todas as espécies exploradas precisa ser avaliado de maneira mais intensa, sendo necessárias práticas de cunho conservacionistas para viabilizar a proteção tanto das aves como também a preservação dos seus hábitats naturais’”.

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Figura 2. A - Filhotes de curica-estrela E. aurea; B - Papagaio A. aestiva em um poleiro; C - Sabiá T. leucomelas; D - Pipira-verde T. palmarum; E - Bigode S. lineola e F - Guriatã E. violacea. Direito autoral: Silva, A. F. T. (2016).

CONCLUSÕES

Observou-se que os entrevistados compreendem a importância das aves na natureza, onde as mesmas desempenham de maneira geral, um papel direto na manutenção do ambiente. Apesar desta perspectiva e o eventual descontentamento de alguns moradores sobre a caça das aves, notou-se que a captura ilegal para o comércio e criação destes animais está ocorrendo na comunidade, sendo evidenciado através de fotografias tanto dos métodos de caça, pelo registro de as aves engaioladas ou pela própria afirmação dos entrevistados que informam realizar tais atividades. Diante desta situação, são necessárias implementação de medidas conservacionistas e de educação ambiental através de palestras e atividades educativas, ressaltando-se a importância desses animais para o meio ambiente e os possíveis impactos negativos que o tráfico e a caça das aves podem causar diretamente para ambos, o que muitas vezes pode ser difícil, pois tais hábitos já são práticas culturais comuns dentro das populações humanas, nesta perspectiva demais trabalhos envolvendo o conhecimento e uso das aves são necessários tanto para o Estado do Maranhão, como para demais estados do Brasil, uma vez que podem ser ferramentas importantes pra a compreensão da importância cultural, aspectos históricos e atribuições naturais e sobrenaturais creditadas a diversificada avifauna presente em nosso país, bem como para sua conservação ambiental.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos moradores que aceitaram participar da pesquisa, pois sem os mesmos, os resultados aqui obtidos nunca seriam divulgados ou mesmo conhecidos.

REFERÊNCIAS

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44 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

ASPECTOS ETNOBOTÂNICOS LIGADOS A PLANTAS ORNAMENTAIS EM QUINTAIS RURAIS NO SEMIÁRIDO PIAUIENSE (NORDESTE DO BRASIL)

Jorge Izaquiel Alves de Siqueira1*, Edna Maria Ferreira Chaves2, Jesus Rodrigues Lemos3

1Estudante de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Reis Velloso (CMRV), Parnaíba - PI; 2Coordenadora do Curso de Gastronomia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), Campus Teresina Zona Sul, Teresina - PI; 3Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, UFPI, Campus Ministro Reis Velloso (CMRV), Parnaíba - PI. *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

Os quintais são importantes espaços provedores de recursos que satisfazem necessidades familiares. Nesses espaços são cultivadas espécies com várias finalidades, entre elas espécies ornamentais. O presente estudo objetivou compreender a dinâmica sociocultural sobre o cultivo de plantas ornamentais na comunidade Franco, Cocal-PI. Foi entrevistada uma pessoa por cada residência que possuía quintal com plantas ornamentais por meio de formulários semiestruturados (Parecer nº 1.408.907). Em adição, calculou- se o Valor de Uso (VU) para cada espécie. Os informantes (27) citaram 33 espécies ornamentais, distribuídas em 27 gêneros e 18 famílias botânicas, com destaque para a família Araceae (5 spp.). As espécies com maiores VU´s foram Erythrina variegata L. e Sesbania punicea (Cav.) Benth. (VU = 2,00; cada). As plantas ornamentais na comunidade são importantes agentes na melhoria do bem-estar entre os informantes, além de serem cultivadas com múltiplas finalidades, inclusive funcionando como uma estratégia de adaptação frente às mudanças climáticas.

Palavras-chave: Conhecimento popular, Vínculo ambiental, Adaptação às Mudanças Climáticas.

INTRODUÇÃO

O quintal pode ser compreendido como o espaço do terreno localizado ao redor da casa, onde é cultivada uma diversidade de plantas e inclusive onde são criados animais domésticos (Amorozo, 2002). Esses espaços são reconhecidos em escala mundial e possuem um importante papel como sistemas alternativos de complementação da demanda alimentar (Soemarwoto, Soekartadiredja, & Ralam, 1985), podendo exercer um importante elo na preservação de espécies ameaçadas (Saikia, Choudhury & Khan, 2012), satisfazendo inclusive necessidades familiares (Maroyi, 2013). No Piauí, estudos etnobotânicos sobre quintais se apresentam sob vários enfoques e temáticas (Aguiar & Barros, 2012; Silva et al., 2014; Amorim, Carvalho & Barros, 2015; Pereira, Vieira, Alencar, Carvalho & Barros, 2016), no entanto se configuram incipientes quando considerados a outros estudos etnobotânicos no Nordeste brasileiro, principalmente quando o enfoque são as plantas ornamentais (Santos, Vieira & Barros, 2013). Pelo exposto, o presente estudo teve como objetivo compreender a dinâmica sociocultural relacionada a plantas ornamentais em uma comunidade rural no semiárido piauiense.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo - O presente trabalho foi realizado na comunidade Franco, município de Cocal (03º28’15”S - 41º33’18”O), Piauí, distando 268 km de Teresina, capital do Estado. O município possui 26.036 habitantes e densidade demográfica de 20.51 hab./km² (IBGE, 2010). A área estudo está inserida na Área de Proteção Ambiental-APA da Serra da Ibiapaba, setor norte do Planalto da Ibiapaba e sua criação se deu em meio a vários objetivos, entre eles o de preservar as culturas e tradições locais (Brasil, 1996).

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O clima é classificado como Tropical, Aw’ na classificação de Köppen, caracterizado com máximos pluviométricos no verão (Medeiros, 2004). A vegetação da região se caracteriza por sua fisionomia densa, pela perda de folhas em certo período do ano e por ser arbustiva, com distribuição em todo o município, podendo ser encontrada em altitudes de até 500 metros, o que a carateriza como vegetação do tipo carrasco (Chaves & Barros, 2012). A comunidade apresenta uma carência de recursos financeiros, não dispondo de escola e os alunos têm de frequentar escolas na zona urbana e/o em outras comunidades próximas. O local não dispõe de saneamento básico e as estradas são de piçarra e/ou areia e os moradores não contam com uma Unidade Básica de Saúde, no entanto são acompanhados por um Agente de Saúde. Procedimentos Éticos - Antes de iniciar-se, o presente estudo foi submetido e aprovado (Parecer nº 1.408.907) pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Reis Velloso, obedecendo à Resolução Nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (Batista, Andrade & Bezerra, 2012.). Coleta e Análise de Dados- Foi aplicada a metodologia de listagem livre, a qual objetivou identificar percepções e conceitos compartilhados (Bisol, 2012). Foi entrevistada uma pessoa de cada residência, com idade superior a 18 anos, sendo responsável por cuidar do quintal. Os dados etnobotânicos foram coletados mediante visitas aos informantes para documentar os conhecimentos locais sobre plantas ornamentais cultivadas e/ou mantidas nos quintais da comunidade, o gênero dos informantes e aspectos socioculturais. Foram realizadas conversas informais (aquela norteada pela convivência com os moradores) e formais, discussões e entrevistas por meio de formulários semiestruturados, bem como visitas de campo (Albuquerque & Lucena, 2004; Martín, 1995). O valor de uso, um método quantitativo que demostra a importância relativa das espécies conhecidas localmente, foi calculado de acordo a fórmula VU = S (U/n), onde, VU refere-se ao Valor de Uso de uma espécie; U para o número de citações por espécie; E n corresponde ao número de informantes que citaram a etnoespécie (Silva, 1997). A coleta e o processamento do material botânico foram realizados de acordo com Silva et al. (1989). A lista florística foi ordenada alfabeticamente por família, seguindo a proposta do Angiosperm Phylogeny Group III (APG III, 2009). As sinonímias botânicas foram atualizadas, utilizando-se a base de dados disponível na Lista de Espécies da Flora do Brasil (Brasil, 2017). As informações referentes ao hábito das espécies seguiram Font Quer (1977). Quanto à origem das plantas, seguiu-se Lozano, Araújo, Medeiros e Albuquerque (2014) e ainda Lorenzi e Souza (2001).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistados 27 informantes (21 pessoas do gênero feminino e seis pertencentes ao gênero masculino), os quais mostraram cultivar 33 espécies (dois taxa foram identificados somente a nível de gênero) com função ornamental nos quintais da comunidade, distribuídas em 27 gêneros e 18 famílias botânicas (Tab. 1). Os informantes são caracterizados por baixa renda, baixos níveis de escolaridade e vivem em geral da agricultura de subsistência e criação de pequenos animais. O excedente da produção é vendido na feira livre da cidade de Cocal, Piauí.

Tabela 1. Diversidade de plantas ornamentais cultivadas na comunidade Franco, Cocal, semiárido piauiense. Hábito: Arv - árvore; Arb - Arbusto; Sub - Subarbusto; Erv - Erva. Origem: N - Nativa; E - Exótica; C - Cultivada; G - Naturalizada. VU: Valor de Uso. Família/Espécie Nome Vulgar Hábito Origem VU Agavaceae Agave angustifolia Haw. - Sub E 1,00 Agave attenuatta Salm-Dyck - Sub E 1,50 Agave sp. - Sub E 1,00 Chlorophytum comosum (Thunb.) Jacques - Sub E 1,20 Amaranthaceae Gomphrena globosa L. Perpétua Erv G 1,00 Apocynaceae Allamanda blanchetii A.DC. Alamanda Arb N 1,00

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Catharanthus roseus (L.) G.Don Boa-noite Sub C 1,00 Plumeria pudica Jacq. Buquê-de-noiva Arv E 1,20 Plumeria rubra L. Jasmim-manga Arv N 1,57 Araceae Anthurium sp. Antúrio Erv E 1,00 Caladium bicolor (Aiton) Vent. Tinhorão Erv N 1,00 Caladium bicolor (Aiton) Vent. Erv N 1,00 Dieffenbachia picta Schott Comigo- Erv N 1,40 ninguém-pode Zamioculcas zamiifolia (Lodd.) Engl. - Erv E 1,00 Asparagaceae Sansevieria trifasciata hort. ex Prain Espada-de- Erv E 1,00 São-Jorge Sansevieria masoniana Chahin. - Erv E 1,00 Asteraceae Helianthus annuus L. Girassol Arb C 1,14 Boraginaceae Cordia trichotoma (Vell.) Frei Jorge Arv N 1,00 Cactaceae Acanthocereus tetragonus (L.) Hummelinck Cacto Sub N 1,00 Opuntia cochenillifera DC. Palma-doce Sub N 1,60 Cannaceae Canna x generalis L.H. Bailey - Sub N 1,00 Celastraceae Euonymus japonicus L. - Arb E 1,50 Commelinaceae Commelina erecta L. - Erv N 1,00 Tradescantia pallida (Rose) D.R.Hunt Coração roxo Erv E 1,00 Tradescantia spathacea Sw. - Erv E 1,00 Fabaceae Erythrina variegata L. Pau-brasil Arv E 2,00 Sesbania punicea (Cav.) Benth - Arv N 2,00 Lamiaceae Solenostemon scultellarioides L. Coração- Erv E 1,28 magoado Malvaceae Hibiscus rosa-sinensis L. Hibisco Sub E 1,00 Portulaceae Portulaca grandiflora Hook. Onze-horas Erv N 1,62 Rosaceae Rosa x grandiflora Lindl. Rosa Erv E 1,33 Rubiaceae Gardenia jasminoides Retz. Jasmim branco Arb E 1,75 Turneraceae Turnera subulata Sm. Xanana Arb N 1,00

As famílias botânicas que mais se destacaram (Fig. 1) foram Araceae (5 spp.) seguidas por Agavaceae e Apocynaceae (4 spp. cada) e Commelinaceae (3 spp.). Sobre o hábito das espécies, destacou-se o herbáceo (42,42%), seguido pelo subarbustivo (27,28%), arbustivo e arbóreo (15,15%, cada). O destaque para o hábito herbáceo se relaciona à facilidade de cultivo em jarros e acomodação no ambiente das residências, além do uso de pouca água para cultivo. Enquanto à origem, destacaram-se as espécies exóticas (51,52%), seguidas pelas nativas (39,39%), cultivadas (6,06%) e naturalizadas (3,03%). Na comunidade, as plantas que surgem naturalmente na vegetação nativa ou nos quintais, quando vistosas pelas cores ou características são removidas do local de origem e plantadas em vasos ou pequenos sacos plásticos, podendo contribuir com o processo de domesticação de espécies por atividade humana. Reportes sobre a domesticação de plantas em quintais agroflorestais não são recentes, Harris (1986) argumenta sobre a hipótese que os quintais agrloflorestais tenham funcionado como importantes espaços de

47 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 domesticação de plantas por ação e seleção humanas. Segundo Brito e Coelho (2000) e Murrieta e Winklerprins (2003) as mulheres desempenham um importante função nesse processo, sinalizando que o gênero feminino está mais envolvido no processo de manejo dos quintais do que o gênero masculino (Voeks, 2007).

Fig. 1 - Famílias botânicas com maior destaque em número de espécies ornamentais na comunidade Franco, Cocal, Piauí.

O número de espécies ornamentais reportadas nesse estudo etnobotânico é considerado menos diverso quando comparado com outros estudos etnobotânicos sobre plantas ornamentais em quintais urbanos. Segundo Moura e Andrade (2007), tal situação pode estar relacionada ao processo de modernização e implicações inseridas no contexto, sugerindo que há um aumento da diversidade de espécies ornamentais no sentido rural-urbano. As espécies mais frequentes nos quintais foram Catharanthus roseus, Dieffenbachia picta, Sansevieria trifasciata, Acanthocereus tetragonus, Opuntia cochenillifera e Portulaca grandiflora. Muitas espécies são cultivadas com vários propósitos, além da finalidade ornamental, algumas delas (D. picta e S. trifasciata, por exemplo) são cultivadas para proteção do ambiente, como inseticida e usos místico-religiosos. Martins (1998) argumenta que o cultivo de plantas com múltiplos usos é uma das principais características no momento de escolha de espécies que compõe um quintal. Além disso, a diversidade de espécies na comunidade é influenciada pelos recursos hídricos, a qual, segundo os informantes, o número de espécies na comunidade está diminuindo como resultado da pouca água disponível. Assim, preferem evitar a competição do uso de água, utilizando-a em outras atividades consideradas mais importantes, como o preparo de alimentos, lavagem de roupas e outras utilidades diretamente relacionadas à sua sobrevivência. Quanto à disposição das espécies nos quintais, essas apresentam uma disposição regular, localizando-se principalmente ao redor da casa e aos lados da residência, com função estética. Alguns informantes salientaram também que tal organização espacial ameniza o clima, tornando o ambiente residencial mais ameno frente às altas temperaturas e ao calor excessivo. Neste sentido, tornou-se perceptível que as populações rurais são detentores de um rico conhecimento empírico, as quais têm aplicado tal saber como modo adaptativo frente às mudanças climáticas (The Nature Conservancy, 2015). Entre os informantes, há um consenso quanto aos benefícios do cultivo de plantas ornamentais nos quintais rurais. “Bem-estar, espaço bonito, ambiente e clima agradáveis” são as palavras que mais lhes vêm à mente ao falarem dos benefícios das plantas ornamentais nos quintais. Entre alguns, há a prática de “falar” com as plantas quando estão com alguma dificuldade pessoal e/ou como um diálogo rotineiro que se vê presente na vida de muitos, contribuindo ao bem-estar interior. Segundo Diniz e Koller (2010), relações

48 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 entre a pessoa e o ambiente podem gerar vínculos, entre elas o afeto, resultado de cognições positivas (Giuliani, 2004). As espécies com maiores VU´s foram E. variegata e S. punicea (VU = 2,00; cada). No entanto, os altos valores VU´s encontrados para as espécies não sugerem um potencial ornamental e econômico, uma vez que houve um grande número de citações de usos para ambas as espécies e um baixo número de informantes que citaram as etnoespécies, gerando VU´s altos. Contudo, discussões sobre o VUpotencial e VUatual (Rossato, Leitão-Filho & Begossi, 1999) para as espécies aumentariam as possibilidades de uso e manejo sobre essas na comunidade, não somente com propósitos ornamentais, mas também como recursos medicinais e outros.

CONCLUSÕES

Os quintais na comunidade Franco são espaços de cultivo de plantas ornamentais, a diversidade se vê influenciada por diversos fatores, entre eles a disponibilidade de água. A variedade de espécies contribui ao bem-estar dos informantes através de suas práticas tradicionais, funcionando inclusive como uma estratégia de adaptação frente às mudanças climáticas. Em adição, esses espaços podem atuar como verdadeiros ambientes de domesticação de espécies mediante seleção humana.

AGRADECIMENTOS

Aos moradores da comunidade Franco pelas valiosas informações compartilhadas, pela atenção e receptividade ao longo da pesquisa, à UFPI pela Bolsa de Iniciação Científica Voluntária-ICV concedida ao primeiro autor e pela possibilidade de uso de sua infraestrutura no CMRV.

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ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

RELAÇÕES ENTRE POPULAÇÕES HUMANAS, CONHECIMENTO E USO DE HERBÁCEAS: UMA REVISÃO A LUZ DA ETNOECOLOGIA

Josiene Maria Falcão Fraga dos Santos1*, Bruno Ayron de Souza Aguiar2, Ulysses Paulino de Albuquerque3, Elcida de Lima Araújo2

1Núcleo de Biologia, UNEAL, Rodovia Eduardo Alves da Silva, Km 3, Bairro Graciliano Ramos, Palmeira dos índios, Alagoas, Brasil; 2Departamento de Biologia, Programa de Pós-Graduação em botânica, UFRPE, Rua Manoel de Medeiros s/n, Recife, Pernambuco; 3Departamento de Biologia, Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, UFPE, Av. Prof. Moraes Rego, Recife, Pernambuco. *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO As florestas secas estão sendo gradualmente convertidas em áreas antropogênicas alterando suas características biológicas. Estas florestas detêm elevada riqueza de herbáceas com alto potencial de uso. Todavia, a forma como o homem se relaciona com os recursos herbáceos, seja nas florestas naturais ou antropogênicas, tem sido pouco disseminadas no meio científico, gerando lacunas neste conhecimento. Assim, pretendeu-se mostrar um panorama sobre conhecimento e uso de herbáceas, realizando um levantamento bibliográfico resgatando trabalhos de florestas secas publicados entre 2000 e 2012. Como critério de seleção 25 trabalhos foram selecionados, a maioria com distribuição no Brasil e México. Entre as famílias herbáceas mais conhecidas e utilizadas estão Fabaceae e Poaceae, que possuem elevado número de espécies distribuído nas florestas tropicais secas quentes. A subestimação na diversidade botânica das herbáceas úteis, diante de sua elevada diversidade, pode estar relacionada à falta de identificação das espécies ou divulgação de listas com nomes vernaculares. Palavras-chave: semiárido, ervas, homem-recurso vegetal INTRODUÇÃO

As florestas secas têm sido bastante alteradas devido às ações antrópicas. Essas formações são consideradas as mais ameaçadas do planeta (Janzen, 1997) estando erroneamente associada à ideia de improdutividade, e como menor fonte de recursos (Albuquerque & Andrade, 2002). No entanto, são detentoras de uma elevada riqueza florística (Sampaio et al., 2002), sobretudo de herbáceas (Araújo et al., 2007), com elevado potencial de uso (Santos et al., 2009). Nessas formações vegetacionais, a regeneração natural tem apontado ocorrência de alterações nas características das comunidades vegetais, principalmente em termos de composição de espécies que afetam as atividades produtivas humanas (Drumond et al., 2004; Sá & Silva, 2009; Duarte et al., 2009). Essas atividades podem ser as únicas fontes de recursos ou fazem parte da cultura da comunidade que reside no entorno desse conjunto vegetacional. Assim, os estudos etnoecológicos são importantes para entender as relações entre a comunidade humana e a dinâmica de uso dos recursos vegetais (Araújo et al. 2007). Muitos trabalhos mostram a importância dessa relação homem – recurso vegetal em zonas semiáridas, a maior parte destes se concentram no estrato lenhoso da vegetação. Os raros estudos etnobotânicos que consideram as herbáceas, geralmente têm foco no potencial terapêutico (Fret et al., 2000; Amorozzo, 2002; Almeida, 2004; Ayyanara & Ignacimuthu, 2005; Albuquerque, 2006; Khan & Khatoon, 2008; Alencar et al., 2010; Simbo, 2010; Ayyanara & Ignacimuthu, 2011; Balcazar, 2012; Shanmugam et al., 2012), negligenciando o potencial que o componente herbáceo tem em outras categorias de uso (Albuquerque & Andrade, 2002; Florentino et al., 2007; Schmidt et al., 2007; Santos et al., 2009; Massaroto, 2009). Embora exista uma relação direta entre as comunidades rurais de ambientes secos e o componente herbáceo, a ciência não tem dado importância merecida nesse campo de investigações que possam auxiliar

52 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 na compreensão dos fatores envolvidos. Assim, cria-se uma grande lacuna relacionada à falta de conhecimento sobre a forma como as pessoas exploram os recursos herbáceos disponíveis. Por isso, nesta revisão, pretendeu-se mostrar um panorama sobre o conhecimento, uso de herbáceas e como esses recursos estão sendo utilizados.

MATERIAL E MÉTODOS

Para o desenvolvimento desta revisão, avaliou-se o conhecimento e uso de plantas herbáceas em florestas tropicais sazonais secas. Nestas áreas a temperatura média anual ultrapassa 17ºC e precipitação entre 250 a 2000 mm (Murphy & Lugo, 1986). Ema dição, considerou-se a classificação de Mooney et al. (1995), sendo estes ambientes tropicais possuindo vários meses de seca severa inferior a 100 mm de chuva (Pennington et al., 2006). Essas florestas secas recebem diferentes nomes e classificações regionais. No Brasil foram consideradas a caatinga, cerrado sensu lato, as florestas estacionais deciduais e algumas semideciduais. Não foi adotada uma classificação climática ou vegetacional única para abordagem dos trabalhos, pois os critérios, no método de classificação existente, transmite uma ideia de uniformidade nas variáveis ecológicas, sendo muito difícil que um modelo universal defina ou represente fielmente uma tipologia vegetacional. Uma vez que, as paisagens apresentam variações e particularidades locais e regionais. Inicialmente, o levantamento bibliográfico consistiu na busca de artigos, dissertações, teses, livros e capítulos de livros, com o objetivo de formar um banco de publicações, a partir das seguintes palavras- chaves em diferentes combinações: “etnobotânica”, “ervas”, “plantas medicinais”, “uso e conhecimento de herbáceas”, “seleção de plantas”, “forrageiras”, “plantas úteis”, “caatinga”, “semiárido”, “zonas antropogênicas”, “áreas antropizadas”, “conhecimento tradicional”, “comunidade rural”, “categorias de uso”, “conservação da biodiversidade”, “plantas alimentícias”, “florestas secas”, “etnobotânica quantitativa”, “etnobotânica qualitativa”, “ecologia humana”, “biodiversidade florística”, “floresta secundária”, “produtos florestais não madeireiros”, “etnofarmacologia”, “uso sustentável”, “valor de uso”, “cerrado” e “savana”. Posteriormente essas palavras foram utilizadas no inglês e espanhol a fim de aumentar as chances de encontrar novos trabalhos. Em seguida, os trabalhos foram filtrados verificando quanto à presença de plantas herbáceas. No entanto, algumas publicações não informavam o hábito das plantas contidas em seu estudo, por isso, tiveram suas listas florísticas investigadas para detectar a presença de pelo menos uma herbácea. As publicações sem herbáceas foram excluídas do banco. Foram considerados os trabalhos publicados entre os anos 2000 e 2012, pois a partir dos anos 2000 ocorreu um aumento considerável no número de estudos em etnobotânica. A busca dos periódicos disponíveis na internet foi realizada através dos seguintes bancos de dados: Biological Abstract, Scirus, Scielo, Web of Science e Google. Esta revisão trouxe um panorama geral dos trabalhos que abordam o uso e conhecimento de recursos herbáceos, com a finalidade de ressaltar as regiões onde esses estudos estão sendo desenvolvidos. Além de versar sobre as principais famílias botânicas reconhecidas e utilizadas nessas regiões.

DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS ETNOBOTÂNICOS HERBÁCEOS Foram considerados 25 trabalhos sobre diversidade de herbáceas e sua importância como recursos para comunidades humanas (Tabela 1). A maioria dos artigos realizou uma abordagem em nível de comunidade vegetal (n=23; 92%), onde apenas dois focaram exclusivamente no componente herbáceo. A maioria das publicações sobre uso e conhecimento de plantas que englobaram herbáceas, em vegetação semiárida de clima quente, foi registrada na América do Sul. Essas publicações foram concentradas no Brasil (n=14; 56%), com destaque para a região nordeste, tornando o país o maior detentor dos avanços sobre o conhecimento científico nessa área. Por seguinte, o México apresentou maior publicação sobre uso, conhecimento de herbáceas e suas pesquisas concentradas em Oaxaca (Fret et al., 2000; Blanckaert et al., 2007; Pérez-Negrón & Casas, 2007; Jiménez-Valdés et al., 2010). Todos os países alvos são conhecidos por possuírem variedade de grupos étnicos ou comunidades distantes de grandes centros urbanos, denominadas de comunidades rurais (Albuquerque et al., 2012). O interesse dos pesquisadores em focar no conhecimento e uso de plantas tropicais pode ser movido pela proximidade das comunidades com as

53 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 matrizes vegetacionais, que possuem uma vegetação diversa à disposição (Caldwell, 2007). Por exemplo, em uma revisão sobre ecologia e conservação de caatinga, Albuquerque et al. (2012) ressaltam que a maioria dos estudos etnobotânicos foram realizados em comunidades próximas ao fragmento de vegetação nativa. Essa vegetação serve como fonte de coleta de espécies vegetais com diversas finalidades. Assim, esses estudos têm contribuído na compreensão das demandas locais de recursos naturais necessários a sobrevivência. É importante destacar que, embora a região tropical concentre a maioria dos estudos sobre o uso de recursos vegetais para subsistência humana, as investigações sobre o componente herbáceo ainda são ínfimas. Em ambientes que exibem clima semiárido quente extratropical esse cenário é preocupante, pois foi resgatado apenas o trabalho realizado por Khan e Khatoon (2008), desenvolvido no Paquistão. Na América do Norte houve registro apenas no México (Pérez-Negrón & Casas, 2007). Na Oceania, com vegetação típica de savana, não houve registro de estudos etnobotânicos envolvendo o componente herbáceo. Publicações afirmam que o uso de medicamentos à base de plantas é uma alternativa em comunidades urbanas providas de infraestrutura bem desenvolvida, no entanto, não é a preferida. Nesse caso, as pessoas preferem medicamentos fornecidos pela indústria farmacêutica, pois acreditam que eles são avançados, eficientes, e fáceis de serem administrados, em virtude da falta de conhecimento sobre plantas medicinais (Caldwell, 2007). Assim, é provável que essa ideia seja um reflexo do comportamento de pessoas de países desenvolvidos, que também não fazem uso de plantas pelos mesmos motivos, entre outros. Esses dados apresentam um panorama geral dos locais onde estão concentradas as publicações científicas sobre o uso e conhecimento de plantas herbáceas. No entanto, estamos cientes que existem limitações no panorama apresentado, principalmente por que os bancos de dados na internet não disponibilizam gratuitamente alguns artigos. Além disso, algumas universidades não disponibilizam suas teses online, impedindo a divulgação de resultados valiosos para a evolução do conhecimento científico. Outro ponto é a ausência de identificação de espécies registradas nos levantamentos florísticos, sendo os trabalhos retirados da amostra.

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Tabela 1. Pesquisas etnobotânicas desenvolvidas em florestas tropicais secas que englobaram pelo menos uma espécie herbácea organizada de acordo com a localidade. Foi considerada apenas a riqueza florística das plantas úteis, com exceção dos trabalhos que forneceram apenas informações da diversidade florística local.

Local da pesquisa Riqueza Famílias mais importantes Referência Ásia Tirunelveli (Índia) 54 Asteraceae Ayyanara & Ignacimuthu (2005) Vale do Gilgit (Paquistão) 98** Lamiaceae Khan & Khatoon (2008) Tirunelveli (Índia) 90 Fabaceae Ayyanara & Ignacimuthu (2011) Sivagangai (Índia) 71** Amaranthaceae Shanmugam et al. (2012) África Orome – Etiópia 248 Poaceae Gemedo-Dalle et al. (2005) Gana (Leste da África) 144 Não informado Caldwell (2007) Babungo (Camarões) 107 Asteraceae Simbo (2010) América Norte Oaxaca (Centro-México) Não informado Não informado Fret et al. (2000) Oaxaca (Centro-México) 161 Poaceae Blanckaert et al. (2007) Oaxaca (Centro-México) 252 Fabaceae Pérez-Negrón & Casas (2007) Oaxaca (Centro-México) 1 Agavaceae Jiménez-Valdés et al. (2010) América do Sul Alagoinha - PE (Brasil) Não informado Não informado Albuquerque &Andrade (2002) Alagoinha - PE (Brasil) 75 Fabaceae Albuquerque & Andrade (2002) Santo Antonio do Leverger – MT (Brasil) 228 Fabaceae Amorozzo (2002) Região de Xingó (Brasil) 187 Fabaceae Almeida (2004) Alagoinha - PE (Brasil) 34 e 30*** Albuquerque et al. (2005) Alagoinha - PE (Brasil) 48 Não informado Albuquerque (2006) Caruaru - PE (Brasil) 84 Euphorbiaceae Florentino et al. (2007) Tocantins (Brasil) 1 Poaceae Schmidt et al. (2007) Goiás (Brasil) 358 Fabaceae Massaroto (2009) Altinho (Brasil) 79 Fabaceae e Poaceae Santos (2009) Altinho (Brasil) 79 Fabaceae e Poaceae Santos et al. (2009) 55 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Altinho (Brasil) 61 Fabaceae e Lamiaceae Alencar et al. (2010) Altinho (Brasil) 231** Não informado Silva et al. (2011) Araripe - Flona - CE (Brasil) 222** Não informado Balcazar (2012)

*Considerando o uso especificamente de espécies herbáceas. **Foram consideradas as etnoespécies. ***O valor representa a riqueza florística da área, sendo 34 na área preservada e 30 na antropizada.

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FAMÍLIAS DE HERBÁCEAS CONHECIDAS E UTILIZADAS

As famílias Fabaceae e Poaceae foram representativas, com nove e cinco citações, respectivamente (Tabela 1), amplamente distribuído nas florestas tropicais secas quentes (Costa et al., 2004; Carvalho et al., 2008; Santos, 2010). No Brasil, receberam sete e três citações, respectivamente. Estas apresentam elevado número de espécies nos inventários que consideram apenas o componente herbáceo, independente das características climáticas da floresta. As famílias botânicas mais importantes citadas do ponto de vista utilitário para as comunidades rurais são Asteraceae e Lamiaceae (Monteiro et al. 2010). Geralmente, essas duas famílias possuem muitos representantes de porte herbáceo e nos inventários etnobotânicos recebem indicações de usos populares, como recurso medicinal. Os trabalhos que consideraram exclusivamente o componente herbáceo (Tabela 1) retrataram parcialmente a realidade acima e revelaram a existência de uma grande diversidade entre as famílias úteis. As Poaceae, Agavaceae, Amaranthaceae e Lamiaceae receberam citações de uso. De acordo com Santos et al. (2009), Poaceae recebe destaque como forrageiras, informação importante do ponto de vista econômico para a região semiárida do Brasil, favorecendo a pecuária local, pois é comum a presença de animais domésticos, como bovinos, caprinos e ovinos (Giulietti et al., 2004). Uma revisão sobre produção de forragem utilizando herbáceas da caatinga reconhece o potencial pastoril das gramíneas, dentre essas, Poaceae e dicotiledôneas herbáceas (Pereira-Filho & Bakke, 2010). Se por um lado, Poaceae é amplamente utilizada em diversas regiões semiáridas (Gemedo-Dalle et al., 2005; Blanckaert et al., 2007), Agavaceae não tem a mesma notoriedade no cenário etnobotânico. No entanto, Agave marmorata é usada para satisfazer necessidades básicas, tais como alimentação e moradia nos estados mexicanos de Puebla e Oaxaca (Jiménez-Valdés et al., 2010). Os autores procuraram avaliar o impacto do manejo tradicional sobre a dinâmica de Agave marmorata, visando proporcionar bases para o gerenciamento e conservação da espécie dentro de seu habitat natural. Já Lamiaceae faz parte do grupo rico em espécies úteis, com compostos ativos associados ao tratamento de doenças (Stepp & Moerman, 2001), nos mais variados ambientes em áreas perturbadas (Bennet & Prance, 2000; Almeida, 2004). Nenhum artigo específico sobre uso de herbáceas registrou Asteraceae como a família mais importante. Entretanto, apenas Blanckaert et al. (2007) registraram Asteraceae como a segunda família com o maior número de espécie de importância utilitária, dentre elas, forrageira, medicinal, comestível, ornamental, doméstico. Quando foi considerado todo o universo de artigos considerados nessa revisão, os que trazem levantamentos etnobotânicos que consideraram também espécies lenhosas (Ayyanara & Ignacimuthu, 2005; Simbo, 2010), a família Asteraceae recebeu o maior número de citação de uso. Cabe aqui deixar claro que nesses trabalhos, as Asteraceae foram compostas basicamente por plantas herbáceas. Esses trabalhos consideraram apenas as plantas de uso medicinal (Ayyanara & Ignacimuthu, 2005; Simbo, 2010) e possuem atividade antibacteriana, tripanocida, antifúngica, citotóxica, anti-inflamatória, anti-malárica e antimicrobiana já relatada em várias comunidades (Monteiro et al. 2010). Muitas dessas propriedades são explicadas pela presença de terpenos específicos e lactonas sesquiterpênicas nas espécies de Asteraceae (Mathekga et al., 2000; Abdin et al., 2003; Drewes et al., 2006; Cheriti & Belboukhari, 2007). Um problema diagnosticado durante a revisão que pode contribuir para a subestimação na diversidade botânica das herbáceas úteis pode ser a falta de identificação de muitas espécies que os trabalhos apresentam. Alguns não trazem a informação porque realmente houve dificuldade na identificação, outros divulgam a lista de espécie com os nomes vernaculares.

CONCLUSÕES Relativamente, poucos trabalhos sobre conhecimento e uso de herbáceas foram encontrados. Os trabalhos encontrados, em sua maioria, destinam-se a avaliar o uso medicinal, enquanto as categorias de uso “forrageiro”, “alimentício” e “tecnológico” têm recebido menos atenção. Esse registro pode sinalizar para um conhecimento limitado, sobretudo com o desenvolvimento das cidades que tem dado lugar cada vez maior a comunidades urbanas substituindo as comunidades rurais. Assim, o grande desafio dos

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 pesquisadores é encontrar maneiras de ajudar as comunidades a conservar a identidade cultural e o conhecimento tradicional sem comprometer a capacidade de compreensão global e comunicação.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq, FACEPE e CAPES pelo auxílio financeiro para execução do trabalho. Todos os autores são gratos à UFRPE por todo apoio logístico.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

USO E MANEJO LOCAL DE (Copernicia prunifera) [MILLER] H. E. MOORE NA REGIÃO DE BARÃO DE GRAJAÚ, LESTE MARANHENSE

Leilane de Carvalho e Sousa1,2*, Thâmara Kaliny Bezerra da Silva1,2, Alyson Luis Santos de Almeida2,3, Júlio Marcelino Monteiro2,3, José Ribamar de Sousa Júnior 2,3

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano – PI; 2Laboratório de Etnobiologia e Conservação (LECON), 3Professor do Curso de Ciências Biológicas, UFPI, CAFS. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Objetivou-se investigar a relação das pessoas com a carnaúba (C. prunifera) a partir de uma perspectiva etnobotânica, em uma comunidade da região do Barão de Grajaú-MA. Por meio de roteiros semiestruturados, foram entrevistados vinte e cinco coletores locais da carnaúba, os quais compuseram a amostra por serem considerados especialistas locais. Os resultados indicaram que a folha foi a parte mais utilizada, seguida pelo uso madeireiro do caule e fruto, o qual é usado na alimentação. A extração das folhas para obtenção do pó produção da cera são as principais formas de beneficiamento da carnaúba. Isso está relacionado com a grande importância econômica da espécie. Esta pesquisa, portanto, caracterizou os aspectos etnobotânicos do uso e manejo de C. prunifera, indicando, portanto, a forte relação que as pessoas locais vêm mantendo ao longo do tempo com a espécie, a qual está expressa na importância cultural e econômica da carnaúba.

Palavras-chave: etnobotânica, conhecimento local, carnaúba

INTRODUÇÃO

O uso de recursos vegetais por populações humanas é uma prática que pode envolver vários fatores tais como culturais, econômicos, ecológicos etc. Nesse contexto, o conhecimento botânico local pode contribuir para o acesso e identificação dos fatores relacionados ao uso de plantas por populações humanas. Vários estudos etnobotânicos têm demonstrado a importância do conhecimento botânico local para diversas finalidades a partir da análise de categorias de uso. Dentre as várias categorias de uso que podem ser consideradas, o uso alimentício tem sido o mais recorrente em estudos com plantas arbóreas frutíferas. Santos et al. (2009) indicaram que a Acca sellowiana [Berg] Burret possuem frutos de grande importância de usos para populações humanas locais, sendo um recurso potencial para uso alimentício. Estudo etnobotânico realizado por Lins Neto et al. (2010) sobre umbu (Spondias tuberosa Arruda) apontou a categoria alimentícia como a mais importante para o uso. De acordo com Sousa Júnior et al. (2013) o fruto do pequizeiro (Caryocar coriaceum Wittm) também se destaca quanto a categoria de uso alimentício. No entanto, nem sempre o fruto é a parte da planta que se destacada em detrimento dos demais usos. Algumas espécies, embora não arbóreas, apresentam estrutura vegetativas (como folhas e raízes, por exemplo) como a parte mais utilizada por populações humanas locais. Neste cenário, entender quais motivos levam ao uso de determinada estrutura vegetal em relação aos demais pode ajudar na compreensão dos fatores culturais relacionados à seleção de plantas para uso. Diante disso, a carnaúba (Copernicia prunifera) [Miller] H. E. Moore se apresenta como um adequado objeto de estudo etnobotânico. A carnaúba é uma palmeira nativa do Nordeste do Brasil, cujo extrativismo é intenso em especial pelo uso artesanal da folha da carnaúba (Sousa et al., 2015).

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Assim, objetivou-se caracterizar o conhecimento, usos e manejo de C. prunifera (carnaúba), além de investigar a relação entre populações humanas locais e esta espécie.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi realizado na comunidade rural Bem Quer, na região do município de Barão de Grajaú, leste do estado do Maranhão, situada nas proximidades da margem maranhense do rio Parnaíba e abriga várias famílias extratoras da carnaúba. Com altitude de 108 metros e vegetação de caatinga, a região de Barão de Grajaú tem aproximadamente 18 mil habitantes e tem como cidade vizinha o município piauiense de Floriano. Para caracterizar o conhecimento, uso e manejo local de C. prunifera, métodos de investigação et- nobiológica foram utilizados, a partir de abordagens quantitativas e qualitativas. Assim foram realizadas, a priori, reuniões com membros da comunidade alvo desta pesquisa, a fim de esclarecer quais as intenções do estudo a ser desenvolvido, a partir da técnica rapport (Amorozo e Viertler, 2010). Metodologias participa- tivas, tais como reuniões e mapeamento comunitário (Sieber e Albuquerque, 2010), foram aplicadas para acessar os locais de coleta e manejo de carnaúba na região pelos grupos humanos locais. Neste contexto, para acessar o conhecimento local sobre as principais formas de uso e manejo da espécie foi requerida jun- to aos colaboradores (pessoas das comunidades) suas devidas anuências por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), de acordo com as resoluções Nº 466/12 e 510/2016. Assim, este trabalho de pesquisa foi submetido à plataforma Brasil (CAAE, 17128213.9.0000.2) para os procedi- mentos éticos relacionados à pesquisa com seres humanos, seguindo as resoluções supracitadas da Co- missão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Considerando que as pessoas entrevistadas são aquelas que tiverem maior contato (especialistas) com a carnaúba (C. prunifera), foi aplicada uma amostragem não probabilística do tipo intencional, isto é, os entrevistados que compuseram a amostra para as entrevistas foram os que fazem uso direto de alguma es- trutura da carnaúba. Quando necessário para complementar a amostra, a técnica da bola de neve (Bailey, 1994) foi aplicada ao final de cada entrevista, perguntando se o entrevistado conhecia outra pessoa da co- munidade que detinha um conhecimento mais abrangente sobre a palmeira em estudo. As entrevistas foram feitas com base em roteiros semiestruturados (Albuquerque et al., 2010). Para complementar essas informa- ções, os participantes foram questionados se percebem diferenças fenotípicas em relação às estruturas da carnaúba usadas e conhecidas, tais como frutos, folhas, raízes, etc. Um total de 25 pessoas foi entrevistado, sendo todos do gênero masculino. As entrevistas foram ta- buladas e analisadas no Laboratório de Etnobiologia e Conservação, o qual está inserido no Laboratório de Biologia Aplicada (LABAP) da UFPI, campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano-PI. Para análise dos dados foi utilizado o software Excel. Este estudo é parte do trabalho de Iniciação Científica do primeiro au- tor.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Todos os entrevistados citaram a utilização de carnaúba, sendo a folha (palha) a estrutura vegetal com mais indicações de uso, seguido pelo caule (estipe) e fruto. Dentre as citações de uso da folha, 100% dos entrevistados indicaram a retirada do pó a partir da palha, sendo esse o principal beneficiamento da carnaúba, de acordo com os informantes. O pó serve para produzir um tipo de cera, que por sua vez é utilizada para fabricação de velas, chips, cápsulas de remédios, dentre outras aplicações. Além desse beneficiamento, as folhas servem também, de acordo com as entrevistas, para confecção de vassouras (70% das citações), adubação (11%), artesanato (9%) e cobrir casas (8%). A madeira é tradicionalmente utilizada na construção de casas, especialmente taipa de mão. Contudo, segundo os informantes, esse uso está em decadência. O fruto, por sua vez, serve de alimento para os animais (2% das citações). Quanto às formas de manejo, a coleta das palhas (folhas) de carnaúba é a principal e de acordo com os entrevistados não há a prática de plantio da espécie na localidade. As populações de C. prunifera da região ocorrem naturalmente. O período de coleta das palhas vai de julho até setembro e envolve pelos

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 menos cinco pessoas nessa atividade, segundo as entrevistas. Foi possível ainda obervar que as pessoas percebem diferença entre as folhas maduras e as folhas jovens da carnaúba (estas últimas chamadas de “olho”) quanto à produção de pó, sendo as folhas jovens mais produtivas, mais caras que as demais e preferida pelos compradores. A quantidade coletada por ano varia entre 100 mil a 500 mil folhas, dependo do esforço de coleta do extrator e da atividade de coleta do ano anterior. O mesmo vale para a quantidade de palhas coletadas por dia, que varia entre 10 a 20 mil. Para se extrair 1 kg de pó é necessário 1.000 palhas, de acordo com 60% dos entrevistados. O valor do pó varia entre R$ 2,50 a 6,00 e todos os produtos derivados dele são produzidos por fabricantes locais, o que aponta os coletores como primeiro elo da cadeia produtiva do pó da carnaúba. Atualmente a produção de cera está centrada em alguns fabricantes da região, mas no passado as pessoas locais realizam tal produção. A importância econômica de C. prunifera é o fator preponderante para o forte extrativismo e manejo dessa espécie. CONCLUSÕES

Com base nesses resultados foi possível identificar que os coletores locais de carnaúba estabelecem relações estreitas com essa planta. A prática de coleta das palhas da carnaúba é uma atividade importante para as pessoas locais, apesar de ser trabalhosa. A importância econômica da espécie é o fator que mantém o uso e manejo da carnaúba. Os dados dessa pesquisa poderão subsidiar estratégias de manejo e conservação de populações de C. prunifera, bem como estudo etnobiológicos futuros.

AGRADECIMENTOS

Aos moradores da comunidade Bem Quer que participaram do presente estudo. À direção do campus Amílcar Ferreira Sobral (UFPI-CAFS), pelo apoio logístico.

REFERÊNCIAS

Amorozo, M. C. M., Viertler, R. B. (2010) A abordagem qualitativa na coleta e análise de dados em etnobiologia e etnoecologia p.67-82 in: ALBUQUERQUE, U. P., LUCENA, R. F. P.; e CUNHA, L. V. F. C., (Eds.). Métodos e técnicas na pesquisa Etnobotânica e Etnoecológica. Editora NUPEEA. Recife, Brazil.

Albuquerque, U. P., Lucena, R. F. P., Alencar, N. (2010.) Métodos e Técnicas para coleta de dados etnobiológicos p. 41-64 in: ALBUQUERQUE, U. P., LUCENA, R. F. P.; e CUNHA, L. V. F. C.,(Eds.). Métodos e técnicas na pesquisa Etnobotânica e Etnoecológica. Editora NUPEEA. Recife, Brazil.

Albuquerque, U.P., Ramos M.A.; Lucena R. F. P., Alencar N. L. (2014). Methods and techniques used to collect ethnobiological data. In: Albuquerque U.P., Cunha L.V.F.C., Lucena R.F.P., Alves R.R.N. (eds) Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology, 1st edn. Springer, New York, pp 15–37. doi:10.1007/978-1-4614-8636-7.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Cidades@ (2016). Acesso em 27/07/2017 http://cod.ibge.gov.br/4JS

Lins Neto, E. M., Peroni, N., Albuquerque, U. P. (2010) Traditional Knowledge and Management of Umbu (Spondias tuberosa, Anacardiaceae): An Endemic Species from the Semi–Arid Region of Northeastern Brazil. Economic Botany, 64(1), 11-21.

Santos, K. L., Peroni, N., Guries, R. P., Nodari, R. O. (2009) Traditional Knowledge and Management of Feijoa (Acca sellowiana) in Southern Brazil. Economic Botany, v63(2), 204-214.

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Sousa, R. F.; Silva, R. A. R.; Rocha, T. G. F.; Santana, J. A. S.; Vieira, F, A. (2015) ETNOECOLOGIA E ETNOBOTÂNICA DA PALMEIRA CARNAÚBA NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO. CERNE. 21(4),587-594.

Sousa Júnior, J.R.; Albuquerque, U. P.; Peroni, N. (2013) Traditional Knowledge and Management of Caryocar coriaceum Wittm. (pequi) in the Brazilian Savanna northeastern Brazil. Economic Botany 67, 225– 233.

Sieber, S. S., Albuquerque, U. P. (2010) Métodos Participativos na Pesquisa Etnobiológica. Páginas 85-106 in U. P. Albuquerque, R. F. P. Lucena, e L. V. F. C. Cunha, eds., Métodos e técnicas na pesquisa Etnobotânica e Etnoecológica. Editora NUPEEA. Recife, Brazil..

Sousa Júnior, J.R., Collevatti, R.G., Lins Neto, E. M. F., Peroni, N., Albuquerque, U. P. (2016) Traditional management affects the phenotypic diversity of fruits with economic and cultural importance in the Brazilian Savanna. Agroforestry Systems, p. 1-11,. doi 10.1007/s10457-016-0005-1

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ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

USO DE PLANTAS MEDICINAIS EM COMUNIDADES TRADICIONAIS DO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DAS MESAS, MARANHÃO, BRASIL

Maria Lindalva Alves da Silva1,*, Maria de Fátima Veras Araújo2, Gonçalo Mendes da Conceição3

1Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ambiente e Saúde (UEMA), Centro de Estudos Superiores de Caxias - MA; 2Centro de Ciências da Natureza (CCN),UESPI, Campus Poeta Torquato Neto, Teresina - PI;3Programa de Pós- Graduação em Biodiversidade, Ambiente e Saúde (UEMA), Centro de Estudos Superiores de Caxias - MA e-mail: [email protected]

RESUMO

O Parque Nacional da Chapada das Mesas foi criado para suprir demanda socioambiental e preservar atri- butos naturais e belezas cênicas, sendo delimitado em áreas onde tem a presença de comunidades tradicio- nais. Nesta perspectiva, o objetivo desta pesquisa foi realizar o levantamento de espécies vegetais de uso medicinais utilizadas pelas comunidades tradicionais. A pesquisa é do tipo descritiva com abordagem quanti-qualitativa. Como procedimento metodológico, utilizou-se aplicação de formulário com questões fe- chadas e abertas. O resultado apontou que as espécies botânicas indicadas pelos moradores foram consul- tadas em checklist de sites especializados para identificação do nome científico e família botânica. Os mora- dores informaram 57 espécies botânicas medicinais, divididas em 31 famílias com destaque para família Fa- baceae com 10 espécies. O levantamento mostrou que a cultura das gerações passadas se mantém viva na região seguida pelos seus descendentes com a prática de uso de plantas medicinais no tratamento de en- fermidades.

Palavras-chave: Espécies vegetais, Fabaceae, Levantamento

INTRODUÇÃO

O Parque Nacional da Chapada das Mesas (PNCM) foi criado a partir da mobilização de seguimentos sociais do município de Carolina/MA, que reivindicavam a preservação de atributos naturais, entre elas, as cachoeiras da Prata e do São Romão, as belezas cênicas do lugar (morrarias) e a diversidade de espécies florísticas e faunísticas. A região onde foi instituída a Unidade de conservação (UC) tem a presença de moradores que vivem na região da Chapada das Mesas antes da instituição da referida UC, conhecidas como comunidades tradicionais. Segundo Neste contexto, Amorim et al. (2003), o uso de plantas na medicina popular ou fitoterápica sofreu a influência cultural dos europeus, indígenas e africanos, povos responsáveis pela colonização do território brasileiro. Neste contexto, faz-se necessário realizar o levantamento de espécies vegetais de uso medicinais pelos moradores das comunidades tradicionais do interior e entorno do Parque Nacional da Chapada das Mesas, Maranhão.

MATERIAL E MÉTODOS

O Parque Nacional da Chapada das Mesas (Figura 1), está localizado sob as Coordenadas 7º19’0’’ S e 47º 20 ’06’’ W. Abrange os municípios de Carolina, Riachão e Estreito na Mesorregião Sul do estado do Maranhão. É uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, criada pelo Decreto Federal s/n de 12 de dezembro de 2005. Segundo Silva et al. (2003) e Goes (1995), o Parque está localizado na Província de Parnaíba/PI de acordo com seus aspectos geológicos.

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A pesquisa foi submetida ao Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO) com o número 54126-1, ao Comitê de Ética e Pesquisa do Centro de Estudos Superiores da Universidade Estadual do Maranhão (CEP/CESC/UEMA) com o número 57683316.5.0000.554, além Anuência de Consentimento Livre e Esclarecido junto aos moradores. A metodologia constou-se de uma abordagem quanti-qualitativa de cunho descativa junto a 40 dos 130 domicílios do entorno e interior do PNMC de acordo com a Nota Técnica nº 001/2016. Com aplicação de formulário com questões fechadas e abertas com base nos estudos de Boente, Braga (2004) e Marconi, Lakatos (2009). O formulário continha as seguintes informações: Se os moradores utilizam plantas no tratamento de doenças; indicar o nome vulgar das plantas usadas como medicinais; frequência do uso das plantas; quais as partes da planta mais utilizadas e as principais formas de uso. As espécies botânicas indicadas pelos moradores foram consultadas em checklist de sites especializados para identificação do nome científico e família botânica.

Figura 1. Mapa de localização do Parque Nacional da Chapada das Mesas, Maranhão, Brasil. Direito auto- ral: MMA, 2015. Organização: SILVA, W.F.N., 2016.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 40 domicílios pesquisados, 38 estão localizados no município de Carolina e dois no município de Riachão. Durante a realização da pesquisa foram indicadas pelos moradores do Parque Nacional da Chapada das Mesas, 57 espécies vegetais distribuídas em 31 famílias botânicas. As famílias mais repre- sentativas foram: Fabaceae (10 spp.), Arecaceae, Lamiaceae (5spp.), Myrtacea e Rutaceae com (3 spp.), respectivamente.

Tabela 1. Lista de espécies vegetais nativas e cultivadas em quintais usadas no tratamento de doenças pelos moradores do Parque Nacional da Chapada das Mesas, Maranhão, Brasil.

Família Nome científico Nome vulgar Myracrodruon urundeuva Allemão Aroeira Anacardiaceae Mangifera indica L. Mangueira Apiaceae Pimpinella anisum L. Erva doce Apocynaceae Hancornia speciosa Gomes Mangabeira

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Oenocarpus bacaba Mart. Bacaba Butia capitata (Mart.). Becc. Coquinho azedo Arecaceae Mauritiella armata (Mart.). Burret Buritirana Cordia ecalyculata Vell Café-de-bugre

Cordia trichotoma (Vell.). Arráb. ex Steud. Boraginaceae Pau loro

Chenopodium ambrosioides L. Amaranthaceae Jacarandá Asphodelaceae Aloe vera (L.) Burm.F. Babosa

Tabebuia roseoalba (Ridl.). andwith Pau d’arco Bignoniaceae

Jacaranda cuspidifolia Mart Jacarandá Amaranthaceae Chenopodium ambrosioides L. Mastruz Melocactus bahiensis (Britton & Rose) Cactaceae Cabeça de frade Luetzelb. Caryocaraceae Caryocar coriaceum Wittm Pequi Clusiaceae Platonia insignis Mart. Bacuri Cucurbita pepo.L. Abóbora Cucurbitaceae

Combretaceae Terminalia argentea Mart. Capitão do mato Euphorbiaceae Sebastiania brasiliensi Spreng. Pau-de-leite Hymenaea courbaril L. Jatobá Caesalpinia pyramidalis Tul. Catinga de porco Erythrina velutina Willd. Mulungu Copaifera coriacea Mart. Copaibeira Parkia pendula (Willd.) Benth. Ex. Walp. Fava de bolota Anadenanthera macrocarpa (Benth.). Brenan Angico

Tamarindus indica L. Fabaceae Tamarindo

Bowdichia virgilioide Kunt Sucupira Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville Barbatimão

Tartarema Sclerolobium aureum (Tul.) Baill.

Krameriaceae Krameria tomentosa A. St. Hil. Carrapicho-de-boi Lamiaceae Mentha arvensis L. Hortelã Plectranthus barbatus Andrews Boldo

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Rosmarinus officinalis L. Alecrim

Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm. Umburana

Vitex cymosa Bertero ex Spreng Tarumã

Laurus nobilis L. Loro

Lauraceae Cinnamomum verum J. Presl. Canela

Asphodelaceae Aloe vera (L.) Burm. F. Babosa Malpighiceae Byrsonima basiloba (L.) Kunth Murici Malvaceae Luehea divaricata Mart. Açoita-cavalo Meliaceae Cedrela fissilis Vell. Cedro Brosimum gaudichaudii Trécul. Inharé Moraceae Ficus adhatodifolia Schott ex Spreng. Gameleira Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. Myristicaceae Mucuíba Caryophyllus aromaticus (L.) Merr. & L.M. Cravo-da-índia Perry

Psidium guajava L. Goiabeira Myrtaceae Plinia cauliflora (DC.) Kausel Jabuticaba

Pedaliaceae Sesamum indicum L. Gergelim Cymbopogon citratus (DC.) Staph Capim santo Poaceae Zea mays L. Milho Proteaceae Roupala montana Aubl. Carvalho Rubiaceae Cinchona calisaya Wedd. Quina Citrus reticulata Blanco Tangerina Citrus aurantium L. Laranjeira

Citrus limettioides Tanaka Rutaceae Limoeiro

Erva cidreira Lippia alba (Mill.) N. E. Br. Caninana Resaceae Rosa canina L.

Zingiberaceae Zingiber officinale Roscoe Gengibre

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Curcuma longa L. Açafrão

Fonte: Silva, M.L. A (2016).

De acordo com as comunidades pesquisadas, 100% dos investigados informaram que fazem uso de plantas medicinais no tratamento de enfermidades, sendo uma prática recorrente de todos os moradores, quando sentem algum mal-estar. Segundo Lima et al. (2017), o uso de plantas no tratamento de doenças se tornou um instrumento muito utilizado pelas populações humanas há varias gerações. Sobre a frequência de uso contínuo das plantas medicinais, 33 (82,5%) afirmaram que sempre utilizam e sete (22,5%) responderam às vezes. Em estudo realizado por Carvalho, Conceição (2015), em áreas de atenção à saúde em bairros periféricas do município de Caxias/MA, revelou que 92,8% dos pesquisados fazem o uso contínuo de plantas medicinais no tratamento de doenças. Estes dados vêm corroborar com os da pesquisa, onde se constatou que a cultura de se utilizar plantas é uma alternativa ao tratamento de doenças em populações tradicionais. Segundo Amorozo (2002), essas práticas de utilização de plantas medicinais se tornam uma alternativa para a população de comunidades tradicionais no tratamento de doenças. O uso de plantas medicinais nas comunidades do Parque Nacional é uma cultura herdada pelos seus colonizadores da etnia indígena, uma vez que a crença dos moradores é que as plantas medicinais têm um grande potencial de cura. Quantos as principais formas de preparos, os investigados responderam que 77,5% utilizam a garrafada e 50% o chá. Para Hamilton (2004), Lorenzi e Matos (2008), o uso das plantas medicinais ajuda na recuperação da saúde das pessoas desde a sua forma mais simples até ao processamento da forma farmacológica. Os moradores relataram que a garrafada e o chá são formas são receitas simples de fazer. As comunidades do interior da Unidade de Conservação mantêm a tradição da fabricação de garrafadas no tratamento de algumas enfermidades como bronquites, asma, problemas intestinais, estomacais, mau funcionamento renal, entre outras doenças e o uso de chás como medida de primeiros socorros quando algum membro de seu grupo familiar sente mal-estar. Os moradores utilizam a folha, raiz, casca, semente na forma de garrafa ou chá. Segundo Balbinot et al.(2013) e Messias et al. (2015), a diversidade nas plantas de uso medicinal conhecidas por pessoas com mais idade nas comunidades tradicionais que as usam na produção de medicamentos fitoterápicos são usados por inúmeras pessoas com menos poder aquisitivo para adquirir medicamentos comprados na farmácia.

CONCLUSÕES

A realização do levantamento de espécies botânicas de uso medicinal pelas comunidades tradicionais no Parque Nacional da Chapada das Mesas demonstra a valoração da cultura repassada pelas gerações que povoaram a região ainda se mantém viva e seguida pelos grupos sociais que atualmente habitam o lugar. O trabalho mostrou que a cultura de uso de plantas contribui preservação de espécies botânicas nativas da região contribuindo para manutenção dos sistemas ecológicos presentes na região da Chapada das Mesas.

AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ambiente e Saúde/PPGBAS ao Centro de Estudos Superiores de Caxias/Universidade do Maranhão (CESC/UEMA), ao Laboratório de Biologia Vegetal/LABIVE, ao Instituto Chico Mendes da Conservação e Biodiversidade (ICMBIO) pelo apoio logístico e aos moradores das comunidades do Parque Nacional Chapada das Mesas que participaram da pesquisa.

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REFERÊNCIAS

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Amorin, E. L. C., Lima C. S. A., Higino, J. S., Silva, L. R. S., Albuquerque, U. P. (2003). Fitoterapia: instrumento para uma melhor qualidade de vida. Infarma-Ciência Famacêutica. v. 15, n. 1, p. 66-69.

Boente, A. N. P. & Braga, G. (2004). Metodologia Científica Contemporânea para Universitários e Pesquisadores. Rio de Janeiro: Brasport, 175p.

Balbinot, S.; Velasquez, P.G.; Düsman, E. (2013). Reconhecimento e uso de plantas medicinais pelos idosos do Município de Marmeleiro-Paraná. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.15, n. 4, p. 632 -638.

Carvalho, A. P. da S. & Conceição, G. M. da C. (2015). Utilização de plantas medicinais em uma área da estratégia de saúde da família, Caxias, Maranhão. Enciclopédia Biosfera. Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21, p. 347-348. Góes, A. M. A. (1995). Formação Poti (Carbonífero Superior) da Bacia do Parnaíba. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo: São Paulo, 204f.

Hamilton, A. C. (2004). Medicinal plants, conservation and livelihoods. Biodiversity and Conservation. v.13, p.1477-1517.

ICMBIO/MMA. Nota técnica nº 001/2016. Carolina/MA, janeiro de 2016. p. 46. Disponível em: https://d1ij67glom3ric.cloudfront.net . Acesso em: 20/09/2016.

Lorenzi, H. & Matos, F. J. A. (2008). Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2ª ed. Nova Odessa. Instituto Plantarum, 512p.

Lima, C. A. A.de, Silva, D.M. da, Vilar, E. L. da S., Rocha, M. O, Júnior, W.S. F.; Batista, J.S., Silva, A.S. (2017). A etnobotânica aplicada à úlcera gástrica e avaliação farmacológica de Solanum stipulaceum. Acta Brasiliensis. n.1; v.1; p1-7.

Marconi, M. A.; Lakatos, E. M. (2009). Fundamentos da metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 282p.

Messias, M.C.T. B, Menegatto, M.F., Prado, A.C.C., Santos, B.R., Guimarães, M.F.M. (2015). Revista Brasileira de Plantas Medicinais. v.17, n.1, p.76-104.

Silva, A. J. P., Lopes, R. C., Vasconcelos, A. M., Bahia, R. B. V.(2003). Bacias sedimentares paleozóicas e meso-cenozóicas interiores. In: Bizzi, L. A., Schobbenhaus, C., Vidotti, R. M., Gonçalves, J. H. Geologia, tectônica e recursos minerais do Brasil: texto, mapas e sig. Brasília: CPRM – Serviço Geológico do Brasil. p. 55-85.

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ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

AS PLANTAS E O TRATAMENTO PARA DIABETES E HIPERTENSÃO EM COMUNIDADES NÃO TRADICIONAIS

Sara Tavares de Sousa Machado1*, Luanna Gomes da Silva2, Maysa de Oliveira Barbosa2, Izabel Cristina Santiago Lemos3, Gyllyandeson de Araujo Delmondes2, George Pimentel Fernandes4, Marta Regina Kerntopf5.

1Curso de Ciências Biológicas,2Curso de Enfermagem,3Doutoranda- UFRPE, 4Doutor em Educação Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus Pimenta, CRATO - CE; Laboratório de Farmacologia de Produtos Naturais, Departamento de Química Biológica5. E-mail: [email protected]

RESUMO

O uso de plantas para o tratamento de não doenças, tais como a Hipertensão e o Diabetes, é uma prática recorrente, em especial, em comunidades tradicionais. Objetivou-se analisar os principais aspectos sociodemográficos de pessoas com hipertensão e/ou diabetes, que residem em comunidades em torno da Chapada do Araripe-CE, bem como identificar as plantas e os preparos tradicionais mais utilizados nessas comunidades. Pesquisa realizada com 23 participantes, mediante entrevista semi-estruturada. Os dados foram analisados segundo os métodos estatísticos de freqüência simples e porcentagem. Os resultados demonstraram que a maioria dos entrevistados era do sexo feminino, com pouca escolaridade, agricultores e usuáios de plantas como adjuvantes no tratamento, sendo o chá a principal forma de utilização. Os resultados atentam para uma reflexão sobre os aspectos culturais no tratamento de enfermidades e a importância dos profissionais de saúde conhecerem práticas tradicionais de cuidado.

Palavras-chave: Hipertensão Arterial; Diabetes Mellitus; Medicina Tradicional.

INTRODUÇÃO

O perfil epidemiológico das principais doenças no Brasil tem sofrido grandes mudanças ao longo dos anos. Hoje, não são mais as infectocontagiosas que afetam indiscriminadamente a saúde pública e sim, as chamadas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Nesta classe, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e o diabetes mellitus (DM) se apresentam como os principais motivos de preocupação dos dias atuais, pois direta ou indiretamente causam o maior número de óbitos no país (ARAÚJO & PAES, 2013). A HAS e a DM são condições que ainda não possuem cura definitiva. Os fatores de risco para o desenvolvimento, em geral, apresentam semelhanças e, de acordo com Santos e Moreira (2013), incluem a idade, a hereditariedade, sedentarismo, obesidade, e maus hábitos alimentares. O tratamento de ambas se baseia em terapias medicamentosas associadas às mudanças de hábitos e à prática de exercícios físicos, a depender do estágio diagnosticado. Enfatizando-se, ainda, a questão da terapêutica, um assunto que vem sendo bastante discutido atualmente diz respeito à implantação da medicina tradicional, “práticas médicas originárias da cultura de cada país”, ou práticas médicas complementares. Dentre estas práticas, pode-se citar a utilização de plantas medicinais como forma de tratar ou auxiliar no tratamento de diversas enfermidades. Considera-se que no Brasil o uso dessas plantas é amplamente difundido como medida terapêutica, inclusive para doenças crônicas (SOUSA et al., 2012). Assim, considerando a relevância epidemiológica da HAS e da DM e seus impactos na qualidade de vida dos portadores, e o contexto de incentivo ao fomento do conhecimento popular e ao uso de plantas no

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 tratamento dessas e de outras patologias (BRASIL, 2015), objetivou-se com a presente pesquisa identificar os principais aspectos sociodemográficos de pessoas com hipertensão e/ou diabetes que residem em comunidades entorno da Chapada do Araripe-CE, bem como as espécies e os preparos tradicionais mais comuns utilizados como fonte de tratamento ou adjuvante ao tratamento farmacológico.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado na região da Chapada do Araripe, localizada na cidade do Crato-CE, tendo como amostra 23 participantes que residem em duas comunidades da Chapada (Sítio Luanda e Lameiro) e realizam acompanhamento de hipertensão e/ou diabetes em uma unidade básica de saúde, também localizada na região. A Chapada localiza-se na região central do Nordeste brasileiro, apresentando uma área total de 313.908,8039 ha, aproximadamente 180 km, distribuídos entre os municípios de Ceará, Pernambuco e Piauí (Silva Neto, 2013). O período de coleta de dados deu-se entre os meses de julho a agosto de 2015. Utilizou-se um roteiro de entrevista semiestruturada, contendo aspectos pertinentes à identificação de dados sociodemográficos dos entrevistados, aspectos referentes à hipertensão arterial e a diabetes, e identificação do possível uso de plantas no tratamento. Os dados obtidos foram organizados em planilhas, por meio do programa Excel 2007. Em seguida, foram analisados segundo os métodos estatísticos de frequência simples e porcentagem e correlacionados com a literatura. Cabe ressaltar que esse trabalho atendeu aos requisitos previstos na Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde/ Ministério da Saúde (CNS/MS), sobre pesquisas envolvendo seres humanos. Todas as informações pertinentes ao objetivo e natureza do estudo foram transmitidas aos participantes e a autorização da participação foi concedida mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A pesquisa foi aprovada sob parecer: 1.485.333.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pessoas compreendidas na faixa etária de 63-86 anos, agricultores e com ensino fundamental incompleto representaram 65,22%; 26,09% e 78,26% da amostra, respectivamente. A maioria dos casos de hipertensão e de hipertensão com diabetes estava relacionada ao sexo feminino – maioria entre a população entrevistada (60,87%). No entanto, dados epidemiológicos afirmam que a incidência de casos de hipertensão arterial é mais prevalente entre homens (Antonio de Sá et al., 2014). Os indicadores de mortalidade por complicações também são maiores entre o sexo masculino (Carvalho et al., 2015). Além disso, demonstram-se mais resistentes quanto a atitudes preventivas de cuidados com a saúde e adoção de tratamentos (Brito & Santos, 2011). Outro ponto relevante é que a quantidade de participantes com associação de hipertensão e diabetes (26,1%) é maior em relação ao diabetes isolado (8,68%). Alessi et al. (2013) consideram que a hiperglicemia crônica e a resistência a insulina são as responsáveis por levarem os diabéticos a serem hipertensos. No que concerne ao uso de plantas como tratamento ou adjuvante, observou-se que foi referida por 56,52% dos entrevistados, o chá foi o tipo de preparo mais comum, sendo mencionado por 92,31% dos entrevistados. As espécies vegetais mais relatadas foram Colônia (Alpinia zerumbet), Cidreira (Lippia alba), Malva do reino (Plectranthus amboinicus) e destaque para o Alho (Allium sativum). Sobre o A. sativum, testes feitos com ratos anestesiados demonstraram a diminuição considerável da pressão arterial média (PAM) de 124/20 mmHg para 108/20 mmHg (controle), no intervalo de 15 s após a administração (SING et al., 2005). Outras análises também buscaram evidenciar ações antidiabéticas do A. savitum, por meio da utilização de compostos aquosos e etanólicos de alho fresco em humanos e animais diabéticos e não diabéticos. Os resultados constataram melhora na tolerância do teste de glicose via oral, bem como na glicemia de jejum (CARVALHO, DINIZ, & MUKHERJEE, 2005).

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Desse modo, destaca-se que o uso de plantas medicinais, além de ser prática muito antiga entre a população mundial, apresenta diversas peculiaridades que perpetuam sua utilização, tais como: os fatores culturais e de identidade e a eficácia percebida a partir do uso e constatação empírica. Além disso, é uma fonte mais acessível em comparação aos medicamentos sintéticos (REIS, 2013).

CONCLUSÕES

Os resultados deste trabalho corroboram para importância do saber popular na construção do conhecimento cientifico, merecendo ser fortalecido e difundido. As evidências científicas sobre os recursos naturais podem possibilitar o seu manejo adequado, o preparo correto e quantidade a serem utilizadas, bem como o desencorajamento do uso, quando atividades que possam provocar prejuízos à saúde dos usuários forem comprovadas. Além disso, podem reforçar o pensamento e atitude de conservação das espécies. Reflete-se, também, a necessidade do conhecimento por parte dos profissionais de saúde envolvidos na assistência as pessoas com hipertensão e diabetes, principalmente os que trabalham na atenção básica, sobre a identificação do uso das plantas medicinais pelos pacientes e principais formas de uso. Dessa forma, pode-se promover orientações mais adequadas e adaptadas à realidade de cada usuário.

AGRADECIMENTOS

Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FUNCAP.

REFERÊNCIAS

ALESSI, A.; BONFIM, A. V.; BRANDÃO, A. A.; FEITOSA, A. et al. I posicionamento brasileiro em hipertensão arterial e diabetes mellitus. Arquivo Brasileiro de Cardiologia. Rio de Janeiro, v. 100, n. 6, p. 491-501, 2013.

ANTONIO DE SÁ, C.; CORRALO, V. S.; FACHINETO, S.; SCHMIDT, C. L.; CEZAR, M. A.; RIBEIRO, C. G. Obesidade, condição socioeconômica e hipertensão arterial no Extremo Oeste de Santa Catarina. Revista de Salud Pública. Bogotá, v. 16, n. 2, p. 184-194, 2014.

ARAÚJO, I. M.; PAES, N. A. Qualidade dos dados antropométricos dos usuários hipertensos atendidos no programa de saúde da família e sua associação com fatores de risco. Texto Contexto Enfermagem. Florianópolis, v. 4, n. 22, p. 1130- 1140, 2013.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. 2° ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.

BRITO, R.S.; SANTOS, D. L. A. Percepção de homens hipertensos e diabéticos sobre a assistência recebida em Unidade Básica de Saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem. Goiânia, v. 4, n. 13, p. 639- 647, 2011.

CARVALHO, A. C. B.; DINIZ, M. F. F. M.; MUKHERJE, E. R. Estudos da atividade antidiabética de algumas plantas de uso popular contra o diabetes no Brasil. Revista Brasileira de Farmácia. v. 86, n. 1, p. 11-16, 2005.

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CARVALHO, C. A.; FONSECA, P. C. A.; BARBOSA, J. B.; MACHADO, S. P.; SANTOS, A. M.; SILVA, A. A. M. Associação entre fatores de risco cardiovascular e indicadores antropométricos de obesidade em universitários de São Luís, Maranhão, Brasil. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 479- 490, 2015.

REIS, E. F. Plantasmedicinais: um estudo da suautilização popular no município de Rubim (MG). Ambiência – Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais. v.9, n. 3, p. 627-640, 2013.

SANTOS, J. C.; MOREIRA, T. M. M. Fatores de risco e complicações em hipertensos/diabéticos de uma regional sanitária do nordeste brasileiro. Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, v. 5, n.46, p.1125-1132, 2013.

SILVA NETO, B. Perda da vegetação natural na Chapada do Araripe (1975/2007) no estado do ceará. Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual Paulista. Rio Claro, 2013.

SING, G.; DAMASCENO, D. D.; D'ANDRÉA, E. D.; SILVA, G. A. Efeitos agudos dos extratos hidroalcoólicos do alho (Allium sativum L.) e do capim-limão (Cymbopogon citratus (DC) Stapf) sobre a pressão arterial média de ratos anestesiados. Revista Brasileira de Farmacognosia. João Pessoa, v. 15, n. 2, p. 94- 97, 2005.

SOUSA, I. M. C.; BODSTEIN, R. C. A.; TESSER, C. D.; SANTOS, F. A. Z.; HORTALE, V. A. Práticas integrativas e complementares: oferta e produção de atendimentos no SUS e em municípios selecionados. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 28, n.11, p. 2143- 2154, 2012.

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ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO SOBRE O MANEJO DA DOR EM UMA COMUNIDADE TRADICIONAL NO MUNICÍPIO DE BARBALHA, CEARÁ

Sara Tavares de Sousa Machado1*; Denise Bezerra Correia1; Joice Barbosa do Nascimento1; Ana Deyva Ferreira dos Santos2; Jéssica Pereira de Sousa3; Izabel Cristina Santiago Lemos4, Marta Regina Kerntopf5

1Curso de Ciências Biológicas,2Curso de Enfermagem, 3Mestranda- UFRPE, 4Doutoranda- UFRPE Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus Pimenta, CRATO - CE; Laboratório de Farmacologia de Produtos Naturais, 5Departamento de Química Biológica/Orientadora. E-mail: [email protected]

RESUMO

A dor é um fenômeno multifatorial que envolve aspectos físicos, emocionais, ambientais e socioculturais. Além do tratamento farmacológico, o uso de terapias complementares são métodos adjuvantes no tratamento dessa condição, destacando o uso das plantas medicinais. Objetivou-se conhecer os saberes da população residente na comunidade Santo Antônio, Barbalha (CE), acerca das plantas utilizadas para o tratamento de dores. Foi realizada uma entrevista semiestruturada onde foram elencadas as espécies mais utilizadas para tal enfermidade. Foram indicadas 60 espécies vegetais pelos entrevistados, onde 7 receberam maior número de citações, destacando-se a Ruta graveolens L. (Arruda). As partes mais utilizadas foram a folha (50%), casca (17,1%), raiz (12,5%) e semente (10,9%). A decocção (31%) foi o modo de preparo mais usado seguido de infusão (27%), maceração (17%) e de molho (15%). Conclui-se que a comunidade local tem um vasto conhecimento sobre a utilização das plantas medicinais.

Palavras-chave: Dor; Comunidade tradicional; Plantas medicinais.

INTRODUÇÃO

A dor é um fenômeno multifatorial que envolve aspectos físicos, emocionais, ambientais e socioculturais (SANTOS et al., 2015). Este processo tem um papel importante na manutenção da homeostase do organismo, uma vez que serve para alertar que a integridade de algum tecido do indivíduo está ou irá ser comprometida (OLIVEIRA, 2003). A dor, seja ela aguda ou crônica, é um dos principais fatores que causam a automedicação em várias comunidades brasileiras (SANTOS et al., 2013; SILVA et al., 2012). Onde por sua vez, muitos desses medicamentos utilizados no manejo da dor apresentam efeitos indesejados como sonolência, constipação, problemas gastrintestinais, náuseas, entre outros, e, dependendo do grau de instrução e informação do paciente quanto a sua condição de saúde, benefícios e malefícios do medicamento, essa prática se torna cada vez mais perigosa (ARRAIS et al., 1997; PIOTTO et al., 2009). Além do tratamento farmacológico, o uso de terapias complementares são métodos adjuvantes no tratamento da dor (BRASIL et al., 2008). Dentre estas destacamos o uso das plantas medicinais, as quais são utilizadas pela população devido ao fácil acesso e por conter um baixo custo (HAEFFNER et al., 2012). Nesse contexto os estudos etnodirigidos, tais como os etnobotânicos e etnofarmacológicos, são de suma importância porque tornam possível realizar o resgate do conhecimento tradicional, bem como a identificação das diversas formas de uso de espécies vegetais para o tratamento de enfermidades (HAEFFNER et al., 2012). Além disso, a valorização e registro do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais é também objetivo de políticas públicas nacionais (Brasil, 2006). Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivos principais: a) obter informações sobre o uso de plantas medicinais para o tratamento da dor em comunidades tradicionais do estado do Ceará; b)

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 promover a utilização racional dos recursos oriundos da flora da Chapada do Araripe pela população, através da realização de palestras e/ou oficinas.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida na comunidade Santo Antônio (Sítio Sto. Antônio), localizada no distrito do Arajara, pertencente ao município de Barbalha (CE). Todas as etapas da pesquisa foram realizadas durante os meses de novembro de 2015 a novembro de 2016. Para a seleção da amostra da pesquisa foram estabelecidos critérios de inclusão e de exclusão. Desse modo, a população do estudo consistiu apenas de pessoas residentes na comunidade Santo Antônio com idades entre 21 e 90 anos. No primeiro momento, foi realizada uma visita à comunidade, onde o pesquisador foi apresentado ao líder comunitário, mediante atuação de um intermediador. Com finalidade conquistar a confiança pois a mesma é indispensável na obtenção de informações, técnica conhecida como “rapport” (ALBUQUERQUE, LUCENA e CUNHA, 2010). Posteriormente, no segundo momento, após autorização pelo líder comunitário e contando com a colaboração dos demais membros da comunidade, iniciou o processo de coleta de dados (condicionado ao parecer favorável dos órgãos legais competentes), onde foram contatados os primeiros sujeitos que atenderem aos critérios estabelecidos para a pesquisa e desejarem participar do estudo, através da indicação inicial do líder comunitário. Em seguida foi aplicado um questionário fechado para caracterização socioeconômica dos sujeitos da pesquisa. Logo após o preenchimento desses dados, foi aplicado a entrevista semiestruturada. Esse tipo de entrevista permite ao entrevistado expor o seu pensamento, a partir de um roteiro pré-estabelecido de perguntas selecionadas e/ou formuladas para o estudo, oriundas das teorias que fomentam a ação do pesquisador, bem como das informações levantadas referentes ao assunto investigado (NOGUEIRA- MARTINS e BÓGUS, 2004). Para compor a amostra total, foi aplicada a técnica “SnowBall” (bola de neve), onde um participante indica outro (s) que atenda (m) aos critérios estabelecidos pela pesquisa e assim por diante (ALBUQUERQUE, LUCENA e CUNHA, 2010). Para a composição da amostra foi aplicado o critério de saturação das respostas, ou seja, reconhece-se que a coleta deveria ser finalizada quando as novas entrevistas realizadas apresentam repetições recorrentes do conteúdo dos discursos coletados anteriormente (FONTANELLA et al., 2008). Para análise de dados foram elencadas as espécies mais citadas pelos informantes, como também as partes e o modo de preparo mais utilizados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através do levantamento etnobotânico foi possível conhecer a propriedade terapêutica de 60 espécies vegetais indicadas pelos entrevistados. Deste total 7 espécies receberam maior número de citações pela comunidade, entre elas destaca-se arruda (Ruta graveolens L.), marcela (Egletes viscosa Less.) e boldo (Gymnanthemum amygdalinum,(Delile) Sch.Bip. ex Walp.). Em relação às partes da planta utilizadas, folha recebeu o maior número de citações de uso (50%) seguida de casca (17,1%), raiz (12,5%) e semente (10,9%). O uso preponderante das folhas pode estar relacionado com o fato das espécies citadas pela comunidade serem de fácil cultivo (MEDEIROS et al., 2004). No modo de preparo, decocção apresentou maior número de citações (31%), seguida de infusão (27%) e de molho (15%). Outros enfocam formas de preparo semelhantes como as mais citadas (MORAIS, 2011; PINTO et al., 2006; MEDEIROS et al., 2004).

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CONCLUSÕES

Os resultados mostraram um considerável conhecimento popular em relação as plantas medicinais. As informações adquiridas neste levantamento podem servir também de referencial para novos estudos, como ampliar esse expressivo conhecimento, além de maiores possibilidades de uso das espécies indicadas, ou mesmo comprovar a eficácia ou impropriedade de sua utilização.

AGRADECIMENTOS

Pró-reitora de Extensão.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, U. P.; LUCENA, R. F. P.; CUNHA, L. V. F. C. (org.). Métodos e Técnicas na pesquisa Etnobiológica e Etnoecológica. Recife: NUPEEA, p.559, 2010. ARRAIS, P. S. D.; COELHO, H. L. L.; BATISTA, M. C. D. S.; CARVALHO, M. L.; RIGHI, R. E.; ARNAU, J. M. Perfil da automedicação no Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 31, n. 1, p. 71-7, 1997. BRASIL, V. V.; ZATTA, L. T.; CORDEIRO, J. A. B. L.; SILVA, A. M. T. C.; ZATTA, D. T.; BARBOSA, M. A. Qualidade de vida de portadores de dores crônicas em tratamento com acupuntura. Rev. Eletr. Enf., v. 10, n. 2, p. 383-394, 2008. FONTANELLA, B. J. B.; RICAS, J.; TURATO, E. R. Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde: contribuições teóricas. Cad. Saúde Pública, v. 24, n. 1, 2008. HAEFFNER, R.; HECK, R. M.; CEOLIN, T.; JARDIM, V. M. R.; BARBIERI, R. L. Plantas medicinais utilizadas para o alívio da dor pelos agricultores ecológicos do Sul do Brasil. Rev. Eletr. Enf.,v. 14, n. 3, p. 596-602, 2012. MEDEIROS, T.F.M.; FONSECA, S.V.; ANDRETA, P.H.R. Plantas Medicinais e seus usos pelos sitiantes da Reserva Rio das Pedras, Mangaratiba, RJ, Brasil. Acta Botânica Brasileira. V.18,. 2004. MORAIS, V.M. Etnobotânica nos Quintais da Comunidade de Abderramant em Caraúbas – RN. Tese (Doutorado em Fitotecnia: Área de concentração em Agricultura Tropical) Universidade Federal Rural do Semi-Árido, 2011. NOGUEIRA-MARTINS, M. C. F.; BOGUS, C. M. Considerações sobre a metodologia qualitativa como recurso para o estudo das ações de humanização em saúde. Saude soc., São Paulo, v. 13, n. 3, 2004. OLIVEIRA, A. S.; BERMUDEZ, C. C.; SOUZA, R. A.; SOUZA, C. M. F.; DIAS, E. M.; CASTRO, C. E. S.; BÉRZIN, E. Impacto da dor na vida de portadores de disfunção temporomandibular. Journal of Applied Oral Science, v.11, n. 2, p. 138-143, 2003. PINTO, E. P. P.; AMOROZO, AMOROZO, M. C. M; FURLAN, A. Conhecimento Popular sobre Plantas Medicinais em Comunidades Rurais de Mata Atlântica- Itacaré, BA, Brasil. Acta Bot. Brasileira. V.20. n.4, p. 751-762, São Paulo, 2006. PIOTTO, F. R. S. B.; NOGUEIRA, R. M.; PIRES, O. C.; PELÓGIA, N. C. C.; POSSO, I. P. Prevalência da dor e do uso de analgésicos e anti-inflamatórios na automedicação de pacientes atendidos no Pronto-Socorro Municipal de Taubaté. Revista Dor, v. 10, n. 4, p. 313-317, 2009. SANTOS, F. C.; DE-MORAES, N. S.; PATORES, A.; CENDOROGLO, M. S. Chronic pain in long-lived elderly: prevalence, characteristics, measurements and correlation with serum vitamin D level. Rev Dor., v. 16, n. 3, p. 171-5, 2015.

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SANTOS, T. R. A. et al. Consumo de medicamentos por idosos, Goiânia, Brasil. Rev. Saúde Pública, v. 47, p. 94-103, 2013. SILVA, R. C. G. et al. Automedicação em acadêmicos de medicina. Medicina, v. 45, p. 5-11, 2012.

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ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

LEVANTAMENTO DE PLANTAS ORNAMENTAIS NATIVAS NOS JARDINS DE UMA COMUNIDADE RURAL NA REGIÃO NORTE DO PIAUÍ

Waldileia Ferreira de Melo Batista1,*, Roseli Barros Farias Melo de Barros1,2, Santina Barbosa de Sousa1

1Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN). Programa de Pós- Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Universidade Federal do Piauí (UFPI). 2Centro de Ciências Naturais. Departamento de Biologia, Curso de Ciências Biológicas, Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina/PI, Universidade Federal do Piauí (UFPI). *Autor para correspondência *[email protected]

RESUMO

As plantas ornamentais são importantes na cultura e no bem estar dos moradores das comunidades rurais. Embora com a grande quantidade de plantas exóticas utilizadas no paisagismo na atualidade, as comunidades rurais mantém o costume de cultivar plantas nativas em seus pequenos jardins. Com o objetivo de resgatar essa cultura valorizando a utilização destas plantas para que não haja aculturamento, realizou-se o levantamento das plantas ornamentais nativas utilizadas nos jardins da comunidade rural Novo Nilo, região norte do Piauí. Este trabalho foi realizado no período de julho de 2012 a julho de 2013, através de observação direta e com o auxílio de formulários semiestruturados, turnê-guiadas e projeção fotográfica para obtenção dos dados. Entre as famílias ornamentais nativas registradas, aquelas que mais se destacaram foram Apocynaceae e Cactaceae e os gêneros Allamanda e Ipomoea. O cultivo de plantas ornamentais nativas nos jardins da comunidade auxilia na ambiência da residência e melhoria da paisagem, contribuindo para a conservação de recursos genéticos.

Palavras-chave: Etnobotânica, Ornamental, Comunidades rurais, Paisagismo.

INTRODUÇÃO

A Etnobotânica é o estudo do conhecimento e dos conceitos desenvolvidos por qualquer população em relação ao mundo vegetal, englobando tanto a forma de classificação das plantas, como a finalidade que dá a elas (Amorozo, 2006). Davis (1995) defende que a Etnobotânica contemporânea procura agregar conhecimentos nas áreas de uso e manejo de plantas, agroflorestas e manejo das paisagens, entre outros. Nesse sentido, os estudos etnobotânicos sobre plantas ornamentais são muito importantes, pois mantidas nos jardins das residências favorecem a melhoria da qualidade de vida dos moradores, visto que, além da sua função paisagística, melhoram a qualidade do ar e do ambiente, promovendo beleza, bem estar e aconchego. Apesar de a comunidade estudada encontrar-se numa região de coqueiral, esta, no entanto, apresenta uma rica flora, com usos potenciais diversos, inclusive, para fins ornamentais e de paisagismo. O uso de plantas ornamentais nativas deve ser valorizado especialmente no Brasil onde se encontra a flora mais rica do mundo (Gotlieb et al., 1996), sendo um patrimônio vegetal estimado em 16,5 milhões de genes (Ramos, 2000), o que representa um grande campo a ser explorado. O levantamento de plantas nativas utilizadas nos jardins de comunidades rurais é uma maneira de preservar a nossa flora e manter vivas as culturas tradicionais preservando o patrimônio vegetal e os saberes populares.

MATERIAL E MÉTODOS

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A pesquisa foi desenvolvida na comunidade Novo Nilo, localizada no município de União /PI localizada à margem direita do rio Parnaíba O clima é Tropical Quente com uma vegetação de transição entre Cerrado e Mata dos Cocais. (CEPRO, 2011). A coleta de dados foi procedida por entrevistas individuais usando-se formulário semiestruturado (Bernard, 1988) seguidas de observação direta e registro fotográfico. Com os moradores citados como conhecedores da vegetação local e suas finalidades, foi realizada a técnica de turnê-guiada (Bernard,1988), técnica que consiste em caminhadas no campo guiadas por esses moradores e que, durante as quais foram coletados exemplares botânicos. A amostra total foi de 202 pessoas da comunidade, selecionados pela técnica de amostragem e seleção de informantes, denominada “bola de neve” (Bailey, 1994), que consiste em conversar com algumas pessoas da comunidade em seus domicílios e durante as entrevistas, estas indicaram outras pessoas a serem entrevistadas. O período de coleta foi entre os meses de julho de 2012 a julho de 2013, estes foram coletados após a submissão e aprovação do projeto de pesquisa no Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, aprovado com parecer número 912.195. As entrevistas foram realizadas mediante permissão dos entrevistados através de aceite, conhecimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A coleta e herborização do material botânico foram realizadas segundo a metodologia preconizada por Mori et al. (1989), e após a herborização, todo o material foi incorporado ao acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí. As identificações das espécies foram realizadas tomando como referência a bibliografia especializada e comparações com exsicatas identificadas. O sistema adotado foi o de Cronquist (1981), com exceção da família Leguminosae que obedeceu a Judd et al. (1999). Todos os dados foram transcritos em laboratório, tabulados em tabelas e gráficos e analisados por meio de estatística descritiva básica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas residências amostradas identificou-se a presença de 12 espécies distribuídas em 10 gêneros e em seis famílias botânicas. As famílias mais representativas em número de espécies citadas foram Apocynaceae (04) e Cactaceae (03) (Tabela 1). Com relação às primeiras, os resultados são semelhantes com os obtidos por Masulo et al. (2009), que observaram que esta família era também utilizadas pela Comunidade Puraquequara em Manaus – AM. Os gêneros mais comumente encontrados foram Allamanda e Ipomoea, cultivadas pela presença de flores coloridas, as quais apresentavam as mais variadas cores e tamanhos. O hábito de crescimento mais encontrado entre as espécies foi o arbustivo, seguido de herbáceo e nenhum arbóreo. Isto se deve provavelmente à facilidade do cultivo na área da frente da casa associadas com outras espécies. Quanto ao uso de adubo, foi citado apenas o uso de adubos orgânicos, geralmente coletados na própria residência. O espaço considerado como jardim representa o espaço sem cobertura (telhado), geralmente sem pavimentação e localizado na frente ou nas laterais de uma residência. Nesses espaços são organizadas as espécies ornamentais associadas ou não a gramados, com a função de ornar a frente da residência. Isso reflete o interesse pela estética, como foi evidenciado em muitos trabalhos (Lamont et al., 1999; Murrieta e Winklerprins, 2003; Wezel e Bender, 2003). O costume de cultivar estas plantas está diretamente relacionado com presença feminina nas residências, demostrando que estas apresentam maior interesse e preocupação com a estética da casa do que os homens (Voeks, 2007). Esse fato foi verificado especialmente entre as mulheres mais idosas que manifestaram maior participação no cultivo dessas plantas. Isso reflete a transmissão de conhecimento, visto que, todas afirmam ter aprendido a cultivar as plantas com a mãe e avó. Quanto à obtenção geralmente ocorre por meio de troca entre vizinhos, reforçando as relações sociais na comunidade. (Winklerprins e Oliveira, 2010).

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Tabela 1. Lista das espécies ornamentais nativas utilizadas nos jardins da Comunidade Novo Nilo, União, PI. Legenda: NV = Nome Vulgar; HAB = Hábito: erv = erva; sub = subarbusto; arb = arbusto; arv = árvore; trep = trepadeira; NC = número de coletor (il - identificada no local, não coletada).

Família/espécie NV HAB NC

Apocynaceae

Allamanda blanchetti A.DC. Pente-de-macaco arb 29.790

Allamanda cathartica L. Cálice-de-ouro arb 29.792 Catharanthus roseus (L.) G. Bom-dia erv 29.801 Don Thevetia peruviana (Pers.) Dedal-de-ouro arb il Merr.

Araceae

Comigo-ninguém- Dieffenbachia picta (Lodd) erv il Schott pode

Cactaceae Cereus jamacaru DC. Mandacaru arb 29.850

Melocactus zehntneri Coroa-de-frade erv 29.789 (Britton & Rose) Luetzelb. Pereskia grandiflora Haw. Rosa-madeira arb 28.856

Convolvulaceae

Ipomoea asarifolia (Desr.) Salsa sub 29.765 Roem & Schult Ipomoea SP Jitirana sub 29.852

Nyctaginaceae Bougainvillea glabra Choisy Buganville arb 29.800

Portulacaceae Portulaca gradiflora Hook. Nove-horas erv 29.841

Diante dos resultados apresentados verifica-se que a comunidade mantém uma tradição do cultivo de plantas ornamentais nativas em seus jardins, agregando beleza aos espaços residenciais. Isso reflete um paisagismo único das comunidades rurais. Sob o ponto de vista ecológico e cultural, isso se relaciona ao fato de que as espécies encontradas são de fácil cultivo, baixo custo, relativa beleza e que manifestam a manutenção dos conhecimentos tradicionais.

CONCLUSÕES

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O cultivo de espécies ornamentais nativas em comunidades rurais é uma importante ferramenta para a conservação da biodiversidade. Além disso, apresentam consequências sociais amplas, visto que, aumentam relações familiares e agregam a vizinhança, podendo ainda, resultar em desdobramentos econômicos, pois o paisagismo é uma realidade crescente sobretudo, em países como o Brasil, detentor de uma megabiodiversidade. A possibilidade de um mercado consumidor para plantas nativas poderia ser considerada a partir da criação de novas oportunidades de mercados e empregos, representando uma alternativa de produção para populações rurais. Sendo assim, os saberes de comunidades humanas merecem olhares múltiplos, pois estas, instaladas em diferentes ambientes, trazem em si grandes conhecimentos e a possibilidade de respostas para muitos problemas socioambientais e econômicos.

AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal do Piauí (UFPI) e aos colaboradores que auxiliaram para a realização da pesquisa e aos moradores da comunidade Novo Nilo-União-Piauí.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

RECURSOS PESQUEIROS EXPLORADOS EM ÁREAS DE USO COMUM EM ESTUÁRIO NO NORDESTE DO BRASIL

Leonardo Mesquita Pinto¹*, Silmara Costa Loiola¹, Roberto Kiyoshi Kobayashi², Jorge Iván Sánchez Botero³, Danielle Sequeira Garcez¹

¹ Laboratório de Ecologia Pesqueira, Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR. Programa de Pós-graduação em Ciências Marinhas Tropicais. ²Centro de Estudos em Ambientes Costeiros. ³Laboratório de Ecologia Aquática. Universidade Federal do Ceará (UFC). *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

O presente estudo tem por objetivo caracterizar a exploração de recursos pesqueiros praticada em um estuário do Nordeste brasileiro, com foco em duas práticas: a captura de cavalos marinhos e a coleta de moluscos. Embora bastante distintas, essas duas atividades estão inseridas dentro do mesmo contexto socioambiental e, portanto, devem ser igualmente consideradas em iniciativas de conservação da área. Um total de 30 entrevistas foram aplicadas, sendo 13 para os coletores e 17 para os pescadores. Foram identificados apenas 2 pescadores de cavalo-marinho em toda a região, ao passo que a coleta de moluscos tem o incremento cada vez maior de usuários esporádicos que frequentam as áreas de mais fácil acesso no estuário. Os diferentes tipos de uso e exploração, assim como os diferentes atores sociais envolvidos devem ser considerados para o adequado manejo do ecossistema manguezal e seus recursos.

Palavras-chave: pesca artesanal, manguezal, cavalo marinho, mariscos

INTRODUÇÃO

Historicamente, as áreas estuarinas e de manguezal tem servido de fonte de recursos para as populações humanas que se estabelecem em seus entornos. A relação entre humanos e os organismos encontrados nesses ambientes proporciona o desenvolvimento de técnicas e saberes que vão se acumulando ao longo de gerações (Alves & Nishida, 2002). Porém, esses ecossistemas são hoje dos mais afetados por atividades antrópicas, o que pode pôr em ameaça também os modos de vida das populações que tradicionalmente ocupam essas áreas e delas se utilizam. Cada vez mais os estudos sobre conservação de recursos pesqueiros incluem informações sobre os sistemas de pesca e seus usuários, uma vez que a abordagem focada simplesmente nos estoques nem sempre é bem sucedida (Hilborn, 2007). Assim, o objetivo do presente estudo foi caracterizar o uso dos recursos pesqueiros praticados por uma população humana estabelecida adjacente a um estuário, com foco em duas modalidades: a captura de cavalos-marinhos para aquariofilia e a coleta de moluscos, para fins de consumo e comercialização. Duas atividades que, embora distintas, se inserem no mesmo contexto socioambiental. No Brasil, os moluscos representam um dos grupos de recursos com maior relevância econômica para os agrupamentos humanos próximos a manguezais (Nishida, Nordi & Alves, 2004). De acordo com Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2008), diversos gastrópodes e bivalves marinhos comercializados em toda a costa brasileira estão sobrexplotados, ainda assim, são praticamente inexistentes medidas ou regulamentos que norteiem a sua captura. No Brasil há a ocorrência de três espécies de cavalos-marinhos: Hippocampus reidi, Hippocampus erectus e Hippocampus patagonicus (Silveira et al., 2014), todas elas categorizadas como “Vulnerável” de acordo com a lista brasileira de espécies ameaçadas (Portaria MMA 445/14). No estado do Ceará é descrita a ocorrência apenas de H. reidi (Nottingham, 2003; Osório, 2005; 2008; Osório et al. 2011), que

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 também está no Anexo II da Instrução Normativa nº 5 do Ministério do Meio Ambiente, de 28/5/2004, que lista as Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes Sobre-Explotados ou Ameaçados de Sobre- Explotação. Segundo dados oficiais do Ibama, de 2006 a início de Setembro de 2015, 28.314 cavalos- marinhos vivos (H.reidi e H. erectus) foram exportados pelo Brasil, sendo o Ceará o principal Estado exportador. Os cavalos-marinhos, em uma perspectiva socioeconômica, representam uma importante fonte de renda, porém, do ponto de vista conservacionista, são peixes ameaçados de extinção. As populações naturais desses animais estão globalmente ameaçadas devido à degradação de seus habitats naturais; captura incidental em aparelhos de pesca (bycatch); sobre-exploração na captura destinada para uso em medicina tradicional, aquariofilia; souvenir ou amuletos (Foster & Vincent, 2004; Lourie et al., 2004; Vincent et al., 2004; Rosa, 2005; Rosa et al., 2005; Alves & Rosa, 2006). Ambos recursos citados, moluscos e cavalos-marinhos, são explorados a partir de regimes de livre acesso, em áreas de uso comum no mesmo estuário, o que contribui para a complexidade das ações de manejo.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo é o estuário do rio Pacoti, Estado do Ceará, o qual pertence a Bacia Metropolitana de Fortaleza, e está inserido na Área de Proteção Ambiental - APA do Rio Pacoti, unidade de conservação de uso sustentável, criada por meio do Decreto Estadual nº 25.778, de 15 de fevereiro de 2000. A coleta dos dados, entre os anos de 2015 e 2016, foi feita com a realização de entrevistas semi-estrutradas, já que esta confere flexibilidade, ficando o informante à vontade para se expressar em seus próprios termos e permite aprofundar questões que podem surgir no decorrer dos relatos. Também utilizou-se a metodologia “snowball” (Goodman, 1961), na qual pede-se que o entrevistado dê indicações sobre outras pessoas que também possam fazer parte do escopo da pesquisa. Além disso, foram feitas observações in loco usando a metodologia da “Observação Participante” (Amorozo & Viertler, 2002) sobre as características da atividade de coleta (instrumentos e formas de captura, locais de coleta, espaço social). Uma vez que a pesquisa foi baseada em informações adquiridas a partir do conhecimento de seres humanos, a mesma foi realizada de maneira a atender o que preconiza a Resolução nº 466 do Conselho Nacional de Saúde, de 12 de dezembro de 2012. Portanto, o projeto foi previamente submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Ceará, via Plataforma Brasil, e possui CAAE nº 61047016.9.0000.5054

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao todo foram realizadas 13 entrevistas com coletores de moluscos e 17 com pescadores artesanais atuantes no estuário do rio Pacoti. Apesar do relato de todos eles sobre a avistagem de cavalos marinhos durante a execução de suas atividades, apenas dois entrevistados realizam a captura intencional desses animais. Uma vez que não houve citações novas de possíveis entrevistados (método snowball), assume-se que esse número é uma amostra representativa da população total que explora este recurso. As duas atividades tem caráter sazonal e são realizadas apenas nos meses da estação seca(junho a dezembro). Uma vez que os pescadores afirmam que no período chuvoso é difícil encontrar esses animais no estuário. Durante o inverno, os coletores entrevistados alternam para a exploração de outros recursos locais (peixe, siri, camarão e caranguejo). A média de 53 anos de idade dos coletores entrevistados demonstra o fato mencionado por eles de que as novas gerações na comunidade não se interessam mais com a atividade pesqueira como uma forma de trabalho. O tempo de experiência e vivência dos entrevistados aumenta a credibilidade das informações adquiridas durante esse estudo. Chama a atenção o fato dos mais jovens não estarem envolvidos com a atividade pesqueira na região, o que pode comprometer o futuro da profissão na localidade. Essa característica também foi observada em outro estuário cearense por Basílio & Garcez (2014). Em paralelo,

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 no caso da coleta de moluscos, a percepção dos entrevistados é de que há cada vez mais usuários esporádicos desses recursos. A redução da atividade de pesca pode trazer respostas positivas relacionadas à conservação dos cavalos-marinhos na região. Porém, outras ameaças, como o uso desordenado dos ambientes, podem ser igualmente ou mais prejudiciais para os cavalos-marinhos, extremamente sensíveis a alterações ambientais. Talvez essa descaracterização ou abandono da profissão de pescador no Pacoti possa levar a uma falta de atenção referente à conservação dos ecossistemas do estuário, já que teoricamente, os moradores do entorno não mais dependeriam dos recursos para sobreviver. Ao todo são exploradas seis espécies de moluscos pelos coletores, das quais três delas são mais intensamente visadas: Crassostrea mangle (ostra), Mytella guyanensis (sururu) e Anomalocardia brasiliana (búzio). As três, na ordem anteriormente citada, são as mais demandadas comercialmente. A única espécie de cavalo marinho registrada para a área de estudo é Hippocampus reidi. Ressalta-se que no período desse estudo, a coleta de cavalos-marinhos era permitida segundo a Instrução Normativa (IN) IBAMA nº 202/2008. Atualmente essa atividade é proibida pela Portaria MMA 445/14, tornando-se proibida a captura, transporte, armazenamento, guarda, beneficiamento e comercialização desses animais (ressalta-se que a Portaria ficou suspensa por um ano e voltou a vigorar em meados de 2016). Essa incerteza sobre a legitimidade da captura dos cavalos-marinhos, bem como a dificuldade de encontrá-los em seu ambiente natural nos últimos anos, possivelmente contribuiu para a diminuição de coletores na região, A atividade de coleta de moluscos vem passando por transformações nos últimos cinco anos (2012- 2016). A maioria dos coletores (85%) percebe uma diminuição na abundância das espécies utilizadas. Entre os motivos citados pelos entrevistados para explicar essa variação estão: o maior número de pessoas utilizando-se dos recursos e as condições de seca nos últimos anos. Embora seja unânime a percepção de que o número de pessoas que vivem exclusivamente de recursos pesqueiros na região diminui, os entrevistados relatam um aumento no número de usuários esporádicos. Tal fato acaba por se refletir também no critério que os coletores usam para definir seus locais de coleta, pois 54% tem preferência por locais menos frequentados onde a abundância e tamanho dos recursos é, segundo eles, maior. Isso mostra que pode haver um certo conflito de uso entre esses dois perfis de coletores: em que os mais frequentes precisam se deslocar para locais mais afastados para terem uma boa produtividade. Parte dos coletores afirmou realizar um rodízio entre os locais de coleta, alternando margens ou se deslocando para pontos mais distantes do último lugar em que coletaram. Tal estratégia é justificada pelo fato de que, assim, os recursos tem mais tempo para se estabelecer. Embora os coletores não percebam ou denominem assim, trata-se de forma de manejo dos recursos que pode auxiliar na dinâmica de populações das espécies exploradas.

CONCLUSÕES

Os resultados encontrados tornam visíveis algumas práticas que são desempenhadas no estuário do rio Pacoti, e relevantes para a socioeconomia local. Portanto, para o adequado manejo do ecossistema manguezal e seus recursos, é preciso considerar as práticas locais de uso e exploração, bem como os diferentes atores sociais envolvidos.

AGRADECIMENTOS

À Capes, pela bolsa concedida ao primeiro autor. Ao CNPQ pela bolsa concedida ao segundo autor. Ao programa de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais da UFC. Às pessoas da comunidade, que concederam o seu tempo para a realização desse estudo.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

OS PESCADORES ARTESANAIS CONHECEM A “NOVA” LISTA DAS ESPÉCIES DE PEIXES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO (PORTARIA 445) NO BRASIL?

Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho1.*, Rebeca M. F. Barreto2, José da Silva Mourão3

1Programa de Pós-graduação em Etnobiologia e Conservação da Natureza, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife-PE, Brasil; 2Colegiado de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina-PE, Brasil; 3Departamento de Biologia, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande-PB, Brasil. *Autor para correspondência: [email protected].

RESUMO

Objetivando-se avaliar os conhecimentos de pescadores artesanais a respeito das espécies proibidas de se- rem pescadas pela Portaria 445, foram realizadas entrevistas semiestruturadas a 20 pescadores da Vila de Caraíva, Bahia, entre abril e julho de 2017. Os pescadores não reconheceram as recentes espécies aloca- das como ameaçadas e desconhecem a Portaria 445. Apenas o mero (Epinephelus itajara) foi reconhecido por todos os pescadores como em moratória. Estes demonstraram reconhecer as possíveis penalidades ad- vindas da captura destas espécies e Reclamam da falta de comunicação com o órgão governamental que publica a lista. Salientam, assim, a necessidade de intervenções na comunidade para informá-los a respeito da temática. A ação de esclarecimento realizada na comunidade por meio da doação de um banner informa- tivo poderá proteger os pescadores locais do risco de penalidades e as populações locais de espécies ame - açadas. Ressalta-se a necessidade de apresentar aos pescadores artesanais brasileiros as espécies da Portaria 445.

Palavras-chave: Pesca artesanal, recursos pesqueiros, Portaria 445, Nordeste do Brasil.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o governo brasileiro revisou o estado de conservação de todas as espécies da fauna, da flora e de principais grupos de invertebrados existentes em território nacional. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) foi o responsável por este processo que resultou nas Portarias MMA 443, 444 e 445/2014, com as Listas Nacionais de Espécies Ameaçadas de Extinção, lançadas em 17 dezembro de 2014 (Pinheiro et al., 2015). Estas foram elaboradas a partir do processo iniciado em 2008, que contemplou a realização de dezenas de oficinas nas quais colaboraram mais de 1.000 pesquisadores de diversos ór- gãos brasileiros que atuam na conservação da natureza (Escobar, 2015). A Portaria 445/2014, especificamente, é responsável por normatizar as capturas, os usos e o comér- cio de 66 espécies de invertebrados aquáticos e 409 espécies de peixes considerados ameaçados no Brasil (Brasil, 2014). Ao se publicada a Portaria MMA 445, entidades ligadas à pesca industrial iniciaram um pro- cesso de contestação da legitimidade desta Portaria, questionando a metodologia aplicada no processo de definição sobre o que vem a ser uma espécie ameaçada de extinção e argumentando que a lista representa um empecilho ao desenvolvimento do setor pesqueiro nacional (Di Dario et al., 2015). Assim, em 2015, dian- te de uma ação penal impetrada por pescadores industriais organizados, a Portaria 445 foi revogada e só em 25 de janeiro de 2017 e foi reestabelecida (Buckup, 2017). O setor pesqueiro artesanal do Brasil, cuja capacidade de articulação institucional e política é histori- camente baixa (Cordell, 1989; Vasconcelos et al., 2007), apesar de ser responsável por gerar trabalho e ali- mentação a pelo menos 250.000 brasileiros (Diegues, 2006), pouco se envolveu nas discussões a respeito da Portaria 445. Além disso, é provável que o desinteresse e incapacidade do poder público brasileiro em di-

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 alogar com o setor pesqueiro artesanal tenha culminado para um quadro de pouco conhecimento dos pes- cadores em relação a quais espécies de peixes têm suas capturas proibidas no Brasil. Diante deste contexto, o presente trabalho figura como um estudo de caso que objetivou analisar se pescadores artesanais marinhos da Praia de Caraíva, Bahia, reconhecem a existência da Portaria 445 e o fato dela acarretar na moratória da pesca de diversas espécies de peixes com as quais interagem. Desta forma, as seguintes hipóteses científicas foram avaliadas: 1 – Não foram realizadas iniciativas pelo poder público juntos aos pescadores da localidade no intuito de informá-los a respeito da recente proibição de determinadas espécies de peixes marinhos.; e 2 – Os pescadores não sabem quais espécies de peixes marinhos estão atualmente em moratória no Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo representa o extremo norte do Banco Oceânico dos Abrolhos, no estado da Bahia. Essa região caracteriza-se pela elevada complexidade ecossistêmica e riqueza de recursos naturais, sendo encarada como uma zona de altíssimo interesse biológico e social pelo governo brasileiro (MMA, 2002). A pesca na região é essencialmente multiespecífica e em um programa de monitoramento pesqueiro realizado no município de Porto Seguro foram identificadas 53 espécies de peixes (Costa et al., 2003). O presente estudo foi realizado junto a pescadores da Vila de Caraíva, em Porto Seguro. Essa locali- dade atualmente é habitada por uma população descendente de indígenas Pataxó e por pessoas de outras regiões do Brasil e do mundo que chegam atraídas pela beleza cênica do local e pelas oportunidades decor- rentes do mercado turístico ali estabelecido. Seu litoral está inserido na parte norte da Reserva Extrativista Marinha do Corumbau, Unidade de Conservação implementada no ano de 2000 e que ocupa uma área total de 900 km2 (Previero et al., 2013). As principais atividades econômicas exercidas pelos beneficiários da REMC habitantes da Caraíva são o turismo, a construção civil, a agricultura familiar e a pesca. No ano de 2016 foi protocolado um pedido no Comitê de Ética em Pesquisas envolvendo seres hu- manos da Universidade de Pernambuco, pelo site da Plataforma Brasil. Este foi liberado com o seguinte código CAAE: 65458016.0.0000.5207. Pelo fato da pesquisa ser realizada na REMC, este projeto foi cadas- trado no Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO), uma exigência do Instituto Bra- sileiro Do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para a realização de pesquisa em Unidades de Conservação Federais (IN Nº 154, de 2007). Seu código de autenticação é o seguinte: 33794187. Somente após a aprovação da pesquisa pelos Órgãos supracitados, a coleta dos dados junto aos pescadores foi iniciada. Foram aplicadas entrevistas semiestruturadas (Drumond, 2002) a 20 pescadores. A seleção dos en- trevistados se deu por amostragem probabilística estratificada (Albuquerque et al., 2014), uma vez que os critérios de inclusão de participantes foram: ser beneficiários da REMC, ter mais de 18 anos e pescar peixes no interior da UC. Nas entrevistas foi utilizado um formulário, de modo a permitir uma amplitude de respos- tas não induzidas a estes pescadores. Dentre as questões existentes no formulário, 14 se relacionam aos conhecimentos destes em relação à proibição da pesca de determinadas espécies de peixes marinhos. Os dados foram analisados quantitativamente por meio de técnicas da estatística descritiva. O pesquisador principal elaborou no programa Power Point uma arte gráfica contendo as fotos, no- mes comuns e científicos de 30 das principais espécies de peixes marinhos constantes na Portaria 445. Um banner foi impresso em lona com o tamanho total de 140 centímetros de comprimento por 120 centímetros de altura e oferecido aos pescadores da comunidade em julho de 2017.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Todos os pescadores conhecem ao menos uma espécie cuja captura seja proibida. O mero (Epinephelus itajara) foi citado por todos os participantes, como explicitado da Tabela 1.

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Tabela 1. Etnoespécies citadas como proibidas pelos pescados da Caraíva (n=20). Etnoespécie Correspondente científico F. A.* F. R.** (%) Mero Epinephelus itajara 20 100 Badejo Mycteroperca bonaci 5 25 Budião Scarus trispinosus 5 25 Cação Selachii 3 15 Arraia Batoidea 3 15 Tartaruga Reptilia 2 10

As etnoespécies “ariocó”, “bagre” e “beijupirá” foram citadas apenas uma vez, cada. O reconhecimen- to do mero (E. itajara) se deu pois a situação ecológica da espécie é a mais emblemática, a proibição se ini- ciou há 15 anos e esta é a única espécie de peixe marinho no Brasil cuja moratória foi estabelecida por uma portaria específica (Hostim-Silva et al., 2005). De fato, o badejo (M. bonaci) e o budião (Scarus trispinosus) constam na Portaria 445 como Vulnerável e Em Perigo, respectivamente. Os pescadores que relataram o status de proibição dos cações e das arraias salientaram que todas as espécies destes grupos zoológicos estariam ameaçadas, fato que não correspondem à realidade. De fato, no total 31 espécies de cações e 24 de arraias encontram-se sob o status de conservação de ameaçadas (Brasil, 2014). O número de etnoes- pécies citadas variou entre um e três, média de 1,8 citações por pescador. Esta é uma quantidade ínfima, dado que a mais de quatro centenas de espécies de peixes encontram-se sob proteção pela Portaria 445. Quando questionados se conheciam uma “Lista nova do IBAMA” na qual constavam novas espécie de peixes cujas capturas se encontram proibidas, onze pescadores disseram conhecê-la e nove deles que não tinham ouvido nem ao menos falar desta. Os que ficaram sabendo, ou ouviram comentários de conheci- dos (n=7) ou assistiram notícias de telejornais (4). Contudo, em geral, estes apenas ouviram falar da proibi - ção sem muitos detalhes, sendo que alguns acreditam que a lista ainda está para entrar em vigor. Quase to- dos os pescadores (n=18) reconhecem que a comunicação entre o órgão governamental e os pescadores não é adequada, uma vez que este não foram informados por tais órgãos sobre as novas proibições. Argu- mentam ainda que um modo adequado de intervenção seria a realização de palestras de esclarecimento nas Colônias de Pescadores, na comunidade ou mesmo que os gestores da Resex de Corumbau apresen- tassem a lista em uma reunião do Conselho Deliberativo da UC. A maioria dos participantes (n=16) sabe das recomendações dos órgãos competentes para que os exemplares de espécies ameaçadas sejam soltos quando fisgados. Contudo, apenas seis entrevistados re- conhecem que os pescadores devem soltar os animais ainda que já estejam mortos quando descobertos em seus materiais de pesca. Em relação ás possíveis penalidades no caso de pescadores serem flagrados com exemplares de espécies proibidas em suas embarcações, os entrevistados salientam que pode haver a prisão (n=11), a aplicação de multas (7), a perda da embarcação (1) ou dos equipamentos de pesca (1). Contudo, quase todos argumentaram que é injusta a aplicação de penalidades sem que os pescadores tenham sido previamente informados a respeito da proibição de novas espécies. De fato, este panorama se configura como uma ameaça aos pescadores. Diante deste contexto, como forma de esclarecer os pescadores locais em relação à proibição de espécies de peixes marinhos, o pesquisador principal doou um banner com fotografias e nome popular e científico de 30 diferentes espécies aos pescadores da vila. Este banner foi afixado em um trapiche onde os pescadores da vila Caraíva costumam se encontrar, em frente ao Rio Caraíva. Assim, os pescadores agora estão informados a respeito de quais espécies não podem capturar, fato que poderá beneficiar o ambiente marinho e eles mesmos.

CONCLUSÕES

Em sua maioria, os pescadores não reconheceram as espécies que constam na Portaria 445. Apenas o mero (E. itajara) foi reconhecido por todos os pescadores, dado que a espécie já se encontra sob status de ameaçada há 15 anos. Os pescadores demonstraram desconhecer a existência da mais recente

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 lista de espécies de peixes ameaçadas do Brasil. Estes atores sociais reconhecem algumas das possíveis penalidades advindas da captura de espécies proibidas. Os pescadores reclamam da falta de comunicação com o órgão governamental que publica a lista, salientando a necessidade de intervenções na comunidade para informa-los a respeito da temática. A ação de esclarecimento realizada na comunidade poderá proteger os pescadores locais do risco de penalidades por capturar espécies em moratória. Faz-se necessário que estudos em outras regiões do país sejam realizados no intuito de investigar se os pescadores artesanais conhecem a Portaria 445 e as espécies de peixes constantes nela.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela bolsa do primeiro autor. A dona Ana Lúcia Jandaia Pataxó, por todo apoio dado ao primeiro autor no trabalho de campo. Especialmente aos pescadores de Caraíva pela boa vontade em compartilhar seus conhecimentos.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

“...PORQUE SE NÃO FOSSE A RESEX HOJE EM DIA AQUI...”: PERCEPÇÕES DE PESCADORES ARTESANAIS DA PRAIA DE CARAÍVA, BAHIA, BRASIL, A RESPEITO DA EFETIVIDADE SOCIOAMBIENTAL DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO CORUMBAU

Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho1.*, Rebeca M. F. Barreto2, José da Silva Mourão3

1Programa de Pós-graduação em Etnobiologia e Conservação da Natureza, Universidade Federal Rural de Pernambu- co, Recife-PE, Brasil; 2Colegiado de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina-PE, Brasil; 3Departamento de Biologia, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande-PB, Brasil. *Autor para corres- pondência: [email protected].

RESUMO

Reservas Extrativistas Marinhas visam à melhoria de vida de populações tradicionais em consonância à conservação do meio ambiente. Este trabalho analisou as percepções dos pescadores da Caraíva, Porto Seguro, Bahia, a respeito da Reserva Extrativista Marinha do Corumbau (REMC) e possíveis influências da Unidade de Conservação nas suas próprias vidas e no meio ambiente como um todo. Foram realizadas en- trevistas semiestruturadas a 21 pescadores entre abril e julho de 2017. Todos os entrevistados demonstra- ram satisfação com a existência da UC. Relatam que a maior contribuição da Resex foi ter impedido que barcos de outras regiões invadissem seus territórios tradicionais. Argumentam também que, por isso, atual- mente os pescados estão voltando e pescarias rendem mais peixes. Outra melhoria apontada é o direito ex- clusivo dos nativos trabalharem com o turismo náutico. Tais resultados devem servir de bandeira em favor desta modalidade de UC no Brasil.

Palavras-chave: Áreas Marinhas Protegidas, pesca artesanal, gestão pesqueira, Nordeste do Brasil.

INTRODUÇÃO

Mundialmente, o estabelecimento de Áreas Marinhas protegidas (AMPs) destaca-se como um dos principais modelos empregados na conservação do ambiente marinho. No Brasil, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) estabelece a existência de AMPs de Uso Restrito e AMPs de Uso Sus- tentável, sendo as Reservas Extrativistas Marinhas enquadradas no segundo caso. Estas são implementa- das em territórios ancestralmente utilizados por populações litorâneas extrativistas e objetivam proteger seus meios de vida e garantir a reprodução da sua cultura, além de conservar os recursos naturais (Brasil, 2000). Assim, qualquer instrumento que vise a avaliar a efetividade deste tipo de UC deve, necessariamen- te, analisar as percepções dos beneficiários a respeito das alterações socioambientais decorrentes destas. A Lei do SNUC (Brasil, 2000) estabelece os Planos de Manejo como o documento que baliza todas as atividades que ocorrem em Reservas Extrativistas. No ano de 2000, a Reserva Extrativista Marinha do Co- rumbau (REMC), sul da Bahia, Brasil, foi estabelecida em um hotspot de biodiversidade marinha do Oceano Atlântico Sudoeste: o Banco dos Abrolhos. Essa região, historicamente, representa uma rica e relevante zona de pesca recifal (Moura et al., 2013). O Plano de Manejo da REMC foi lançado em 2003 e, dentre as principais estratégias de manejo, destacam-se as restrições no esforço de captura dos recursos, a existên- cia de áreas de restrição a determinadas artes e também o estabelecimento de zonas de exclusão de pesca (No-Take Zones), além do monitoramento da pesca (Moura et al., 2007). Além disso, este Plano de Manejo restringe a realização de atividades comerciais e de subsistência no interior da Resex aos nativos e àquelas pessoas que habitem nas localidades do entorno da UC há pelo menos quatro anos.

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O presente trabalho se propõe a responder a seguinte pergunta científica: “Quais são as percepções dos beneficiários a respeito da efetividade da Reserva Extrativista Marinha do Corumbau?”. Informações transmitidas em conversações informais realizadas com os pescadores da Praia de Caraíva no ano de 2016, permitiram a avaliar a hipótese científica: “Os pescadores estão satisfeitos com a Resex de Corumbau por perceberem melhorias socioambientais decorrentes desta UC.”. Assim, o presente estudo objetivou ava- liar as percepções dos beneficiários sobre a REMC afim de contribuir para a gestão desta UC.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo localiza-se no sul da Bahia e representa o extremo norte do Banco Oceânico dos Abrolhos, região que apresenta as maiores formações recifais do Brasil (Dutra et al., 2005). Diante deste ce - nário, o Banco dos Abrolhos abrange a primeira rede de Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) do Brasil (Mou- ra et al., 2013), com destaque para as seguintes Unidades de Conservação (UC) Federais: o Parque Nacio- nal Marinho dos Abrolhos, a Reserva Extrativista Marinha de Cassurubá e a Resex Marinha do Corumbau. A REMC foi instaurada em setembro de 2000, ocupa atualmente uma área total de 900 km2 (Previero et al., 2013) e se estende por 62 km de costa, entre a região norte do município de Prado e sul de Porto Se - guro. Esta UC foi estabelecida em resposta a uma demanda dos pescadores de sete comunidades pesquei- ras destas duas cidades (Caraíva, Aldeia Barra Velha, Aldeia Bugigão, Corumbau, Veleiro, Cumuruxatiba e Imbassuaba), que se sentiam prejudicados pelos impactos ambientais advindos do que denominavam de “invasão dos barcos de fora” (Dutra et al., 2011). Em sua maioria, estes pescadores artesanais são indíge- nas da Etnia Pataxó ou descendem destes (Moura et al., 2009). As principais atividades econômicas verifi- cadas na área de estudo são o turismo, a agricultura familiar e a pesca. A Praia de Caraíva atualmente é ha - bitada por uma população descendente de indígenas e pessoas de outras regiões do Brasil e do mundo que se mudaram atraídas pela beleza cênica do local e pelas oportunidades decorrentes do mercado turístico ali estabelecido. Foi protocolado um pedido no Comitê de Ética em Pesquisas envolvendo seres humanos Universida- de de Pernambuco, via o site da Plataforma Brasil. Este foi liberado com o seguinte código CAAE: 65458016.0.0000.5207. Pelo fato da pesquisa ser realizada na REMC, este projeto foi cadastrado no Siste- ma de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO), uma exigência do Instituto Brasileiro Do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para a realização de pesquisa em UCs Federais (IN Nº 154, de 2007). Seu código de autenticação é o seguinte: 33794187. Somente após a aprovação da pesquisa pelos Órgãos supracitados, a coleta dos dados em campo foi iniciada. Foram aplicadas entrevistas semiestruturadas (Drumond, 2002) a 21 pescadores da REMC e que mo- ram na Praia de Caraíva. A seleção dos entrevistados se deu por amostragem probabilística estratificada (Albuquerque et al., 2014), uma vez que os critérios de inclusão de participantes foram: ser beneficiários da REMC, ter mais de 18 anos e pescar peixes no interior da UC. Nas entrevistas foi utilizado um formulário, de modo a permitir uma amplitude de respostas não induzidas a estes pescadores. Dentre as questões existen- tes no formulário, 17 se relacionam às percepções dos pescadores a respeito da REMC e possíveis altera - ções socioambientais decorrentes do estabelecimento desta UC. Os dados foram analisados quantitativa- mente por meio de técnicas da estatística descritiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A maioria (90,5%; n=19) dos participantes nasceu no município de Porto Seguro e suas idades variaram entre 21 e 88 anos, com média de 42 anos. O tempo de experiência na pesca regional variou entre 6 e 70 anos, média de 27 anos e seis meses. Todos os participantes realizam a pesca em embarcações com no máximo 7,5 metros, capturam peixes com linhas de mãos em pescarias denominadas localmente de “bate e volta”, ou seja, não chegam a passar as noites no mar. Entre os pescadores, apenas um não soube responder se a Resex mudou em sua vida. Todos os outros afirmaram que suas vidas melhoraram pela existência da UC. Os principais motivos apontados se relacionam ao aumento na quantidade de peixes (80,1%; n=17), pela melhoria na realização do turismo

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(71,4% n=15) e pela exclusividade dos nativos em realizar a pesca (52,4%; n=11), além de outros direitos conquistados e que estão atrelados ao papel de beneficiários de uma UC. Não obstante, inúmeros desafios em relação à gestão da Resex e à qualidade de vida dos beneficiários ainda podem ser verificados. Por exemplo, Moura et al. (2009) apontam distorções no processo de comercialização do pescado e afirmam que até aquele momento o estabelecimento da REMC ainda não havia sido traduzido em melhoria nos indicadores econômicos dos beneficiários. Além disso, 52,4% (n=11) dos participantes argumentou que alguns beneficiários da REMC e até mesmo pescadores “de fora” ainda pescam nas áreas protegidas estabelecidas. Assim, a maioria (66,7%; n=14) salientou que a fiscalização dentro da UC é “fraca”. Durante as entrevistas uma expressão emergiu recorrentemente. Quando questionados se a REMC mudou alguma coisa em suas vidas ou na proteção da natureza, os pescadores costumam repetir que “se não fosse a Resex hoje em dia aqui...” com algumas variações que denotam a situação caótica em que se encontrava o ambiente marinho na fase anterior à implementação da UC. Por exemplo, a conclusão das frases variava entre: “...já não existia mais peixe.”, “...a pesca aqui já tinha acabado.”, “...o pescador tava perdido.” ou ainda “...tudo já teria sido destruído.”. Os entrevistados argumentam que a atuação de centenas de barcos de grande porte de outras cidades da Bahia e até de outros estados brasileiros, que realizavam a pesca com redes de arrasto de camarões, destruía o ambiente marinho local e desperdiçava uma grande quantidade de filhotes de peixes de inúmeras espécies. Ainda segundo estes, esse fato foi o principal responsável pela diminuição na pesca de uma infinidade de espécies de peixes, incluindo o desaparecimento de algumas delas dos desembarques. De fato, para a região sul da Bahia, alguns trabalhos têm apontado o impacto negativo da pesca de arrasto de camarão sobre a própria pesca, o assoalho marinho e também sobre diversos grupos animais (Alarcon & Schiavetti, 2005; Moraes et al., 2009; Barbosa-Filho & Costa-Neto, 2016). Quando o assunto são as áreas de uso restrito e aquelas protegidas e o recife do Tatuaçu é o mais reconhecido (80,1%; n=17) como zona de uso restrito, uma vez que está localizado próximo à Praia de Caraíva. As denominadas “pedras próximas à Corumbau” também foram apontadas por 24% (n=5). Os entrevistados também se mostraram favoráveis à tal configuração de proteção e a maioria (85,7%; n=18) percebe que estas áreas acarretam em melhorias na qualidade de vida dos beneficiários e no ambiente. Por exemplo, a maior parte deles (85,7%; n=18) argumentou que elas estão dando certo na proteção à natureza, além de melhorarem o rendimento da pesca nas regiões de entorno (76,2%; n=16). Francini-Filho e Moura (2008), em um monitoramento recifal que comparou o antes e o depois da implementação da zona de proteção em relação à diversidade íctica do Recife de Itacolomis, que fica no litoral em frente à Vila da Ponta do Corumbau, identificou um incremento na abundância e na biomassa dos peixes no interior e no entorno deste recife.

CONCLUSÕES

Os pescadores demonstram reconhecer os impactos socioambientais positivos advindos da UC. Diante de uma situação de crise financeira e política no Brasil, que coadunam em um panorama de perda de direitos pelos brasileiros, sobretudo pelas populações tradicionais, os resultados do presente estudo devem servir como uma bandeira em favor da implementação e manutenção das Reservas Extrativistas Marinhas.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela bolsa do primeiro autor. A dona Ana Lúcia Jandaia Pataxó, por todo apoio dado ao primeiro autor no trabalho de campo. Especialmente aos pescadores de Caraíva pela boa vontade em compartilhar seus conhecimentos.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

IDENTIFICAÇÃO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO PESQUEIROS PRATICADOS EM COMUNIDADES DO LITORAL LESTE DO CEARÁ

Thaís Chaves da Silva1,*, Leonardo Mesquita Pinto1, Jorge Iván Sánchez Botero2, Danielle Sequeira Garcez3

1Mestrandos pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Marinhas Tropicais, Instituto de Ciências do Mar (Labomar), Universidade Federal do Ceará (UFC); 2Professor Associado, Doutor em Ecologia, Laboratório de Ecologia Aquática, Departamento de Biologia (UFC). 3Professora Adjunto IV, Doutora em Ciências, Laboratório de Ecologia Pesqueira, Labomar (UFC). *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

O estudo buscou identificar os sistemas de produção pesqueiros praticados em quatro das 16 comunidades distribuídas ao longo de 46 km de costa do município de Icapuí (CE). A área é importante para a produção pesqueira do estado do Ceará e possui um longo histórico de conflitos relacionados aos territórios marinhos, no uso e captura de recursos pesqueiros. O caráter qualitativo da pesquisa motivou a adoção do método etnográfico, com a aplicação de entrevistas semiestruturadas a pescadores ativos e residentes nas comunidades. Um total de dez sistemas de produção pesqueiros foram identificados, envolvendo combinações de cinco tipos de embarcações e nove aparelhos de pesca. A diversidade de sistemas encontrada é um dos aspectos que reflete a complexidade da atividade na região. Tal característica deve ser considerada pelas iniciativas de conservação na área, priorizando abordagens que incluam os diferentes atores envolvidos em todos os sistemas de produção pesqueira.

Palavras-chave: comunidade costeira, pesca, conservação.

INTRODUÇÃO

A complexidade é uma característica intrínseca da pesca, dada a diversidade de aparelhos utilizados na captura de espécies (seletivos ou não), pela extensão geográfica onde a atividade pode ser realizada, e pela diversificada cadeia produtiva. Nesse contexto, o saber empírico sobre o mar e a pesca é essencial na arte de explorar o ecossistema marinho e de capturar pescados (Soares, Salles, Lopez, Muto, & Giannini, 2009). Para Vasconcellos, Diegues e Sales (2007), a insuficiência de informações estatísticas pesqueiras é um fato conhecido, motivado pelas características peculiares da atividade que dificultam a coleta de dados e sua supervisão; assim, os métodos de avaliação e gestão dos estoques precisam ser adequados às condições de limitação de informações, buscando diversificar as fontes e incluir o conhecimento dos pescadores. Além disso, a necessidade de se obter dados precisos sobre o desenvolvimento da atividade não consiste somente em conhecer a real situação dos estoques de espécies comerciais exploradas, mas abrange a importância da pesca para inúmeras famílias inseridas em comunidades costeiras, como fonte de renda, segurança alimentar e manifestação de suas culturas. Nesse sentido, é preciso conhecer também as relações sociais desenvolvidas, ligadas à atividade, e a forma como esta é praticada, reunindo informações potenciais para gestão de recursos pesqueiros (Gasalla & Ykuta, 2015). No Brasil, algumas iniciativas de gestão pesqueira têm incentivado a participação dos usuários de recursos nas tomadas de decisão a respeito do manejo como alternativa ao modelo centralizado no Estado. E, na legislação brasileira há disposições que possibilitam essa participação, seja por meio de consulta pública ou do protagonismo dos usuários nas tomadas de decisão sobre uso de recursos pesqueiros (Vieira, Santos, & Seixas, 2015).

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O município de Icapuí apresenta uma produção pesqueira relevante para o estado do Ceará. Ao longo dos 46 km de extensão da sua costa estão localizadas 16 comunidades (Santos, 2014). A área apresenta um longo histórico de conflitos em torno dos recursos pesqueiros, que remonta à década de 1980 (Marinho, 2010; Brasil, 2013; Rodrigues, 2013). Os principais atores envolvidos nessa disputa são: de um lado os pescadores que utilizam manzuás e do outro os mergulhadores que utilizam compressores (observação pessoal). No entanto, a maioria dos estudos sobre sistemas pesqueiros desenvolvidos até o momento concentram-se em apenas uma comunidade (Almeida, 2010; Marinho, 2010). Existe, portanto, a necessidade de se incluir e caracterizar os sistemas de outras comunidades do município. Desta forma, este estudo tem por objetivo identificar e descrever sistemas de produção pesqueiros praticados em quatro comunidades distribuídas ao longo de 8 km da costa de Icapuí (CE), a fim de permitir visualizar a diversificação de usos do espaço marítimo-costeiro ligados à pesca.

MATERIAL E MÉTODOS

Os procedimentos para coleta e análise de dados foram selecionados de forma a atender o caráter qualitativo da pesquisa. Desta forma, optou-se por utilizar o método etnográfico, modalidade de investigação naturalista que tem como base a observação e a descrição (Marconi & Lakatos, 2009), e coletas de dados de forma participativa (Albuquerque, Lucena & Alencar, 2010). A pesquisa foi baseada em informações adquiridas a partir do conhecimento de seres humanos, assim, é importante explicitar que a mesma foi realizada buscando atender aos fundamentos éticos e científicos pertinentes expostos na Resolução nº 466 do Conselho Nacional de Saúde, de 12 de dezembro de 2012. Desta forma, o projeto foi previamente submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição, via Plataforma Brasil, e possui CAAE nº 65388017.7.0000.5054. Após parecer do CEP, tiveram início os procedimentos para a pesquisa em campo, divididos em duas fases: pedidos de autorização aos pescadores e realização de entrevistas pelo método da entrevista semiestruturada. Esta técnica permite trazer questionamentos de interesse a pesquisa e simultaneamente oferece espaço para que estes possam ser redefinidos à medida que novas dúvidas surgem, direcionando o diálogo (Pieve, 2009). A técnica utilizada para definir o universo amostral foi o método bola-de-neve, onde um primeiro entrevistado indica mais dois pescadores, e assim sucessivamente até que comecem a aparecer indicações repetidas. De acordo com Albuquerque, Lucena e Lins Neto (2010) esta técnica é utilizada para uma seleção intencional de informantes, o que justifica a escolha, já que o objetivo é descrever os sistemas de produção pesqueiros existentes em uma área determinada; logo optou-se por trabalhar apenas com especialistas locais, ou seja, pescadores. Assim, foram realizadas 15 entrevistas, entre os meses de abril e junho de 2017, com pescadores profissionais maiores de 18 anos residentes e atuantes nas comunidades Vila Nova, Barreiras de Baixo, Barreiras de Cima e Barrinha, localizadas em Icapuí, litoral leste do Ceará. Os dados das entrevistas foram somados às informações adquiridas pelo método de observação participante e sistematizadas em um diário de campo, o que permitiu ao pesquisador participar do cotidiano dos grupos envolvidos e adquirir elementos que ajudassem a compreender o modo de vida nas comunidades e as relações desenvolvidas. Essas duas técnicas são muito utilizadas por pesquisadores qualitativos, pois possibilitam ao investigador vivenciar o dia-a-dia do grupo social e trabalhar dentro do sistema de referência dos observados (Marconi & Lakatos, 2009). A análise dos dados foi apoiada no método de triangulação, por ser uma forma de confrontar ou complementar informações provenientes de diferentes fontes de pesquisa utilizadas. Este procedimento assegura que o fenômeno seja tratado a partir de diferentes pontos de vista e que exista uma imagem mais ampla da realidade, pois consiste na combinação de todos os métodos utilizados para coleta de dados, e possibilita maior explicação e compreensão do caso estudado (Verdejo, 2006).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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A triangulação de dados permitiu identificar, pelo menos, dez sistemas de produção pesqueiros na área estudada, contemplando combinações diferentes entre cinco tipos de embarcações e nove aparelhos de pesca. Essas pescarias ocorrem desde profundidades baixas (≅2 m) próxima a linha de costa até profundidades mais elevadas (acima de 100 m). Os sistemas envolvem petrechos não seletivos, destinados a peixes diversos, pelágicos ou demersais, e seletivos, destinados a recursos específicos, no caso, principalmente, lagosta vermelha (Panulirus argus) e lagosta verde (Panulirus laevicauda). As embarcações utilizadas são jangadas, paquetes e botes, de menor porte, com propulsão à vela ou motor, além de “lanchas” (bote a motor com cabine na popa) e “navios” (embarcação a motor, maior que 10 m, com cabine na proa). As artes de pesca empregadas, citadas e descritas pelos pescadores englobam técnicas ativas e passivas, sendo: linha e anzol, rede de espera boieira (pelágicos), rede de espera aprofundada (demersais), viveiro para peixe, curral, arpão, tarrafa, manzuá e rede de fundo. Os equipamentos acima citados são utilizados por pescadores e mergulhadores, diferenciando assim pesca tradicional de pesca alternativa, como é denominada nas comunidades. Esta última pode ser praticada com auxílio de compressor de ar (mergulhos mais profundos) ou em apneia (mergulho livre em profundidades rasas). Existem, ainda, as “marambaias”, recifes artificiais construídos preferencialmente com tambores de ferro ou pneus, utilizadas como pontos de pescarias marcadas. A diversidade de sistemas de pesca identificada é um reflexo da multiplicidade de usos e interesses em relação aos recursos pesqueiros na região. Também é importante destacar esse fato ao lado do histórico de conflitos existentes no local. Assim, qualquer iniciativa de conservação para a área deve levar em conta essa complexidade e procurar incluir e incentivar o diálogo entre os diferentes atores. Vieira et al. (2015) apresentam uma revisão do conjunto de documentos legais federais que possibilita a participação e cooperação entre os diferentes usuários nos processos de tomada de decisão e elaboração de diretrizes. E concluem que, de sete arranjos institucionais identificados, tanto no âmbito de políticas ambientais quanto no desenvolvimento do setor pesqueiro, apenas um afirma maior autonomia às organizações locais e, portanto, possibilita a participação dos usuários de forma decisória na deliberação sobre uso e acesso aos recursos pesqueiros. No caso, a Instrução Normativa do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA nº 29 de 2002 (IBAMA, 2002), que regulamenta os acordos de pesca.

CONCLUSÕES

Este estudo torna visível a diversidade de sistemas pesqueiros no litoral leste do Ceará, evidenciando, assim, a complexidade de usos e interesses em relação aos recursos. Para a gestão pesqueira na região é fundamental considerar esta diversificação de usuários e formas de exploração, priorizando propostas que incentivem o diálogo entre os diferentes atores sociais envolvidos.

AGRADECIMENTOS

À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pela concessão de bolsas e auxílios, que permitiram a execução do projeto.

REFERÊNCIAS

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Instituto de Ciências do Mar – Labomar, Fortaleza, Brasil). Disponível em http://www.repositoriobib.ufc.br/000008/000008F9.pdf Brasil, E. P. (2013). Guerra na terra e no mar: um conflito socioambiental entre pescadores de lagosta em Icapuí-CE (Dissertação de Mestrado em Antropologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil). Disponível em http://repositorio.ufpe.br:8080/xmlui/handle/123456789/11910 Gasalla, M. A. & Ykuta, C. (2015). Revelando a pesca de pequena escala. São Paulo, Brasil: Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo (PRCEU - USP). Instrução Normativa IBAMA n. 29. (2002, 31 de dezembro). Disponível em http://www.icmbio.gov.br/cepsul/legislacao/instrucao-normativa/341-2002.html Marconi, M. A. & Lakatos, E. M. (2009). Metodologia Científica. (5ª ed.). São Paulo, Brasil: Atlas. Marinho, R. A. (2010). Co-gestão como ferramenta de ordenamento para a pesca de pequena escala do litoral leste do Ceará- Brasil (Tese de Doutorado em Engenharia de Pesca, Universidade Federal do Ceará - Departamento de Engenharia de Pesca, Fortaleza, Brasil). Disponível em http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/1418 Pieve, S. M. N. (2009). Dinâmica do conhecimento ecológico local, Etnoecologia e aspectos da resiliência dos pescadores artesanais da Lagoa Mirim- RS (Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Rural, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil). Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/22674 Rodrigues, D. V. (2013). Análise dos conflitos entre pescadores artesanais de lagosta no município de Icapuí, Ceará (Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil). Disponível em http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/16665 Santos, A. M.F. (2014). Geotecnologias para a Gestão Pública: uma aplicação em Icapuí/CE (Tese de Doutorado em Geografia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará). Disponível em http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/20236 Soares, L. S. H.; Salles, A. C. R.; Lopez, J. P.; Muto, E. Y.; Giannini, R. (2009). Pesca e produção pesqueira. In: V. Hatje & J. B. Andrade (Orgs.), Baía de todos os santos: aspectos oceanográficos (pp. 158-206). Salvador, BA: EDUFBA. Vasconcellos, M.; Diegues A. C.; Sales R. R. (2007). Limites e possibilidades na gestão da pesca artesanal costeira. Pp. 15-84. In: A. Costa (Org.), Nas redes da pesca artesanal (pp.15-84). Brasília, DF: IBAMA, PNUD. Verdejo, M. E. (2006). Diagnóstico Rural Participativo: guia prático DRP. Brasília, Brasil: MDA/Secretaria da Agricultura Familiar. Vieira, M. A. R. M.; Santos, C. R.; Seixas, C. S. (2015). Oportunidades na legislação brasileira para sistemas de gestão compartilhada da pesca costeira. Boletim do Instituto de Pesca, 41(4), 995-1012.

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ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

PERCEPÇÃO DE MORADORES DE FLORIANO-PI QUANTO AO USO DE TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS E DE BAIXO IMPACTO AMBIENTAL SOBRE OS RECURSOS NATURAIS

Antonio Alves da Cunha Filho¹, Brendo Barbosa Moura¹, Elisa Pereira dos Santo¹, Rogério Nora Lima²*

1. Graduandos em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí – CAFS. *2. Professor do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus Amílcar Ferreira Sobral – CAFS. E-mail: [email protected]

RESUMO

Por conta do crescimento populacional a cada dia que passa há uma maior utilização dos recursos naturais de forma insustentável para suprir as necessidades da população, isto acarreta diversos problemas ambientais. Desta forma se faz necessário pensar em tecnologias de baixo custo, baixo impacto ambiental e de fácil acessibilidade e que podem contribuir para a economia familiar e industrial que, em conjunto, minimizam os impactos negativos causados pelo homem na natureza, tais como climatizadores de ar, lâmpadas solares, biodigestores, dentre outros. O presente trabalho teve como objetivo identificar o nível de conhecimento das pessoas com relação a existências de invenções tecnológicas que podem contribuir para a economia de uma residência e mostrar a viabilidade de tais invenções. Com este intuito realizou-se uma visita a alguns bairros e comunidades da cidade de Floriano-PI. Na zona urbana foram realizadas visitas de forma aleatória nos seguintes bairros: Campo Velho, Via Azul, Pedro Simplício, Rede Nova, Manguinha, Irapuá II, Filadélfia, Coradouro. Participaram um total de 16 pessoas, sendo 9 (56,25%) do sexo masculino e 7 (43,75%) do sexo feminino, a faixa etária dos entrevistados varia de 19 a 63 anos. Já na zona rural de Floriano, foram visitadas as seguintes comunidades: Paracatí, Pé da Ladeira, Cajueiro, Ilha de Guaribas. Participaram um total de 12 pessoas, sendo 6 (50%) do sexo masculino e 6 (50%) do sexo feminino, a faixa etária dos entrevistados varia de 21 a 68 anos. Quase 90% dos entrevistados desconhece ou nunca usou qualquer dessas tecnologias. Sobre a produção de biogás em digestor biológico 50% sequer ouviu falar dessa possibilidade e, mesmo os que conhecem nunca a utilizaram. Situação semelhante ocorre com a aplicação da lâmpada solar, dos climatizadores de ar e da reciclagem de resíduos sólidos. Quanto à existência de outras tecnologias dessa natureza 75% responderam que não conhecem e, dos que disseram saber, 11% citaram apenas a energia solar fotovoltaica. Por outro lado, 93% dos respondentes concordaria em utilizar as tecnologias expostas nesse estudo caso tivesse oportunidade.

Palavras-chave: Recursos naturais, Pegada ecológica, Economia ambiental.

INTRODUÇÃO

Face ao cenário de rápidas e imprevisíveis mudanças ambientais que estão se concretizando nos últimos anos vem à tona novamente a questão de como conciliar desenvolvimento econômico e os limites de uso dos recursos naturais e dos sistemas ambientais nos quais esses recursos estão inseridos. Nesse sentido, a ideia de desenvolvimento ambiental (MILLER & SPOOLMAN, 2013) que permeia o imaginário coletivo remete muito mais à proteção da natureza do que aos estudos necessários para que se conheçam os limites naturais a serem respeitados na exploração econômica dos mesmos. Entretanto, apesar da distorção imediatista do sistema capitalista predominante preocupar-se predominante com a liquidez proveniente das alterações introduzidas nos sistema de suporte à vida, visando acúmulo de capitais voláteis e concentrados para uma pequena parcela da sociedade, há uma

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 contradição gritante nessa visão, a qual é, em última análise, a causadora da quase totalidade dos descontroles e alterações ambientais que estão precarizando as condições de vida na Terra: A economia, que em sua origem surgiu com a proposta de gestão administrativa da natureza e dos recursos ambientais, distanciou-se no curso de sua evolução para uma ciência imediatista ligada ao lucro de sua co-irmã científica, qual seja, a Ecologia que em sua síntese propõe a compreensão da natureza e do funcionamento dos sistemas naturais (SATO, 2005). Assim, como seria viável a uma ciência ou atividade que se propõe a gerir recursos naturais, fazê-lo de forma sustentável (compreenda-se isso como perpetuar essa atividade pela manutenção dos recursos que a mantem) se a ciência que dá suporte a essa gestão com os conhecimentos básicos necessários está afastada e não fornece esse suporte científico citado? A conclusão não poderia ser outra que não um caminho percorrido erroneamente no uso e gestão dos recursos naturais finitos, associados à degradação dos sistemas naturais nos quais esses são retirados, seja pela exploração excessiva, seja pela sua utilização concomitante como depósito de resíduos, os quais não conseguem ser reciclados devido à quantidade acumulada ou à natureza estranha de substâncias alóctones e/ou recalcitrantes aos componentes metabólicos desses sistemas de ciclagem (ODUM, 2012). Nesse paradoxo, o mesmo ente que retira sua “riqueza” econômica desses sistema, inviabiliza, em nome de lucros imediatistas e mal distribuídos, a continuidade dos sistemas de vida e dos serviços ambientais que garantem a sobrevivência da espécie humana. Dentre esses sistemas de vida e serviços ambientais vitais temos a produção de água potável, a produção de oxigênio pela fotossíntese por autótrofos, a produção de solo rico em matéria orgânica, o tamponamento climático em nível local e de paisagem, dentre outros (DE GROOT, 2016). Por outro lado, a literatura tecnológica e/ou tecno-ambiental é rica em exemplo de soluções viáveis, de baixo custo e de fácil execução (MILLER & SPOOLMAN, 2013), que podem mitigar os impactos da presença humana ou pegada ecológica (SATO, 2005) sobre os sistemas naturais e seus serviços ambientais, tais como iluminação alternativa, hortas sem pesticidas e adubadas com compostagem, aero- climatizadores de ar, energia produzida com a força da gravidade ou pela tração animal, dentre outras, as quais precisam ser testadas para aferir a possibilidade prática da sua implantação e posteriormente esses conhecimento necessitam difusão multiplicadora para que porção maciça da sociedade para a adotá-las. Nesse contexto é importante identificar e testar as potencialidades de soluções tecnológicas alternativas e de baixo impacto negativo ecológico, visando a divulgá-las na sociedade para que a sua aplicação torne-se cada vez mais conhecida e comum, contribuindo para conciliar iniciativas produtivas com a preocupação de conservação dos recursos naturais e dos sistemas de suporte à vida. Dessa forma, foram objetivos do presente estudo Identificar, testar e divulgar as potencialidades de soluções tecnológicas alternativas e de baixo impacto negativo ecológico, visando a compatibilizar o uso dos recursos naturais e dos ecossistemas com a sua conservação. Nesse momento do estudo objetivou-se especificamente O presente trabalho teve como objetivo identificar o nível de conhecimento das pessoas da área de estudo com relação a existências de invenções tecnológicas que podem contribuir para a economia de uma residência e mostrar a viabilidade de tais invenções.

MATERIAL E MÉTODOS

A região de estudo é constituída pelo município de Floriano – PI, localizada na porção centro-oeste do estado do Piauí, no núcleo do curso médio do rio Parnaíba, abrangendo áreas de Cerrado e Caatinga ecotonais (IBAMA, 2015). Inicialmente o bolsista realizou levantamento bibliográfico sobre as possibilidades de aplicação de ideias sustentáveis a serem aplicadas nessa região do Piauí e posteriormente serão organizadas as informações para construção dos protótipos (etapas e materiais necessários). A seguir foram iniciadas as respectivas preparações dos materiais, com as respectivas adaptações que se fizerem necessárias para que o funcionamento dos protótipos seja adequado às condições ambientais locais, bem como para que se garantam os critérios de viabilidade dos mesmos (uso de materiais de baixo custo e/ou recicláveis) visando à sua adoção pelas comunidades alvo.

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Na sequência houve uma pesquisa prévia de conhecimento de moradores locais, visando à estimar o conhecimento da população quanto a essas possiblidades de minimizar os impactos ambientais pelo uso cotidianos de recursos naturais de primeira necessidade, como água, energia e outros, visando também à multiplicação dessas ideias. Com este intuito realizou-se uma visita a alguns bairros e comunidades da cidade de Floriano-PI. Na zona urbana foram realizadas visitas de forma aleatória nos seguintes bairros: Campo Velho, Via Azul, Pedro Simplício, Rede Nova, Manguinha, Irapuá II, Filadélfia, Coradouro. Já na zona rural de Floriano, foram visitadas as seguintes comunidades: Paracatí, Pé da Ladeira, Cajueiro, Ilha de Guaribas. A autorização para obtenção desses dados via entrevistas foi submetida ao Conselho de Ética e está amparada pelo CAAE 48703515.0.0000.5660.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na região urbana de Floriano participaram, nessa fase inicial, 16 pessoas, sendo 9 (56,25%) do sexo masculino e 7 (43,75%) do sexo feminino. A faixa etária dos entrevistados varia de 19 a 63 anos. Por outro lado, na zona rural participaram 12 pessoas, sendo 6 (50%) do sexo masculino e 6 (50%) do sexo feminino, com faixa etária dos entrevistados variando de 21 a 68 anos. Apesar das diferenças ambientais entre as áreas urbanas e rurais que geralmente ocorrem nos municípios brasileiros foi observado que em ambas as regiões investigadas quase 90% dos entrevistados desconhece, conhece apenas superficialmente ou nunca usou qualquer dessas tecnologias (Fig. 1), demonstrando que existe necessidade de intervenções educativas ambientais indistintamente em ambas as situações investigadas.

Figura 1. - Número de respondentes que conhecem ou utilizaram alguma invenção tecnológica que contribui para a economia em uma residência ou para suas práticas cotidianas.

Nesse contexto, e corroborando a necessidade de divulgação das ideias que podem contribuir para minimizar os impactos ambientais humanos sobre a demanda cotidiana de recursos naturais, foi constatado que, quanto à produção de biogás em digestor biológico 50% sequer ouviu falar dessa possibilidade e, mesmo os que conhecem nunca a utilizaram. Situação semelhante ocorre com a aplicação da lâmpada solar, dos climatizadores de ar e da reciclagem de resíduos sólidos. E ainda, quanto à existência de outras tecnologias dessa natureza 75%

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 responderam que não conhecem e, dos que disseram saber, 11% citaram apenas a energia solar fotovoltaica. Os resultados obtidos demonstram que a população amostrada conhece muito pouco sobre potencialidades tecnológicas que podem auxiliar na mitigação de impactos ambientais causados pelo modo de vida atual, o qual é altamente predatório e empobrecedor dos ecossistemas naturais e dos serviços ambientais a eles associados (DE GROOT, 2016).

Por outro lado, 93% (Fig. 2) dos respondentes concordaria em utilizar as tecnologias expostas nesse estudo caso tivesse oportunidade, evidenciando que se forem oportunizados conhecimentos e condições para aplicação dessas tecnologias pode ocorrer gradativamente uma redução dos impactos ambientais sobre o uso dos recursos naturais vitais para a sobrevivência humana. Dessa forma, o reconhecimento que é possível utilizar menor quantidade de recursos naturais, ou utilizá-los de forma alternativa, promovendo menor desperdício ou menor impacto sobre os sistemas naturais, só poderá ser alcançado pela efetiva divulgação de conhecimentos tecnológicos já existentes e comprovados cientificamente. E assim, a Educação ambiental visando à divulgação de tecnologias menos impactantes dos ambientes naturais é uma necessidade premente para a manutenção da qualidade de vida humana e até mesmo da economia (SANTOS & SATO, 2001; SATO 2005; MILLER & SPOOLMAN, 2013).

Figura 2. Número de pessoas que concordam com a utilização destas técnicas e as utilizaria em sua casa ou atividades cotidianas.

CONCLUSÕES

Os dados apresentados, embora sejam preliminares, evidenciam fortemente o desconhecimento da população da área de estudo quanto às potencialidades de aplicação das tecnologias que podem ajudar a diminuir os impactos antrópicos cotidianos ou pegada ecológica sobre os recursos naturais vitais, dos quais dependemos para manter condições de vida saudáveis e dignas. Nesse contexto, a educação ambiental é uma ferramenta da máxima importância para divulgar e multiplicar esse conhecimento, visando a manter ecossistemas naturais com níveis aceitáveis de impactos, que não comprometam os serviços ambientais por eles produzidos e dos quais dependemos, tanto ecológica quanto economicamente.

REFERÊNCIAS

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De Groot, R. S. 2016. Functions of nature. Wolters-Noordof: The Netrherlands. 316p. IBAMA. Ecossistemas brasileiros. Acessado em 20/12/2015. Disponível em: www.ibama.gov.br Miller, G. T. & Spoolman, S. E. 2013. Ecologia e sustentabilidade. 3ª Ed. Cengage Learning. 377p. Odum, E.P. & Barrett, G. W. 2012. Fundamentos de Ecologia. Cengage Learning. São Paulo. 612p. Primack, R.B. & Rodrigues, E. 2001. Biologia da conservação. Ed. Midiograf. Londrina. 328 p.

Santos, J.E. & Sato, M. 2001. A contribuição da Educação Ambiental para a esperança de Pandora. Rima: São Carlos. 604 p. il. Sato, M. et al. 2005. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Artmed. 232 p. Turner, M. G. & Gardner, R. H. 2014. Landscape ecology in theory and practice: Pattern and process. 2nd ed. Spring-Verlagg, New York. 314p.

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ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

PERSPECTIVA ETNOECOLÓiGICA ACADÊMICA COM MORADORES DO DISTRITO DE POTI (CRATEÚS-CE) SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS MADEIREIROS

Aparecida Barbosa de Paiva1,*, Maria Arlete de Paula Costa1, Adervan Fernandes Sousa2

1Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Ceará/Faculdade de Educação de Crateús, Crateús- CE; 2Doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Estadual do Ceará e Professor Adjunto do Curso de Ciências Biológicas/Faculdade de Educação de Crateús/Universidade Estadual do Ceará.

RESUMO

A madeira, possui importância econômica e usual, contudo o padrão predatório de extração, preocupa muitos pesquisadores. Assim, a problemática deste trabalho, é mensurar a utilização deste recurso pela perspectiva etnoecológica dos moradores do distrito de Poti, localizado na cidade de Crateús-CE, com o objetivo de investigar a finalidade da extração, bem como a percepção dos impactos dessa atividade. A mensuração e documentação dos dados foi feita por entrevistas e questionário semiestruturado, abordagem qualitativa do tipo estudo de caso e estudo de frequência. Foram entrevistados 10 famílias selecionadas pelo método “bola de neve”. A Mimosa tenuiflora (jurema-preta), foi indicada como uma das espécies mais extraídas, e utilizada na produção de carvão, que é destinado a venda tanto no distrito quanto em Crateús- CE. As informações obtidas, permitiram constatar o caráter itinerante e utilitarista desta prática, e a necessidade de apoio técnico no intuito de instruir novas práticas de manejo aos moradores.

Palavras-chave: entrevistados, madeira, extração

INTRODUÇÃO

O uso das plantas para diversos fins já é sabido, porém, a madeira das árvores, é, hoje o componente estrutural mais explorado e extensivamente comercializado atualmente (Mellado, 2013). Isso é decorrente de sua versatilidade, que vai desde a construção de habitações, delimitação de áreas territoriais por meio de cercas, confecção de móveis e utensílios, produção de papel, até o uso para a produção de carvão vegetal, que é uma das atividades mais rentáveis para pequenos agricultores, e que, normalmente comercializam esse produto em sua região, sem fazer uso de certificação (Santos et al., 2011). Apesar da expressiva importância econômica para o pais, a extração dos recursos madeireiros, ainda mantém o padrão predatório, e isso só cresceu com o advento da agricultura, que gerou cada vez mais práticas de manejo irracionais e insustentáveis para a proporção da demanda de produtos advindos desse recurso natural (Sousa, Silva, Rocha, Santana & Vieira 2012). É inquestionável o saber das populações advindas desse sistema, a despeito do conhecimento acerca dos fins dos recursos madeireiros e suas utilidades. Estes detêm informações sobre espécies vegetais úteis e sobre a dinâmica da vegetação local. Segundo Camargo, Souza e Costa (2014) é necessário examinar em que proporção estas populações são capazes de reconhecer e identificar os benefícios e danos causados por essa constante interferência antrópica nos processos ecológicos locais, bem como sua relação com a atividade extrativista. Essas populações constituem-se como uma variável nos processos ecológicos, isso porquê exercem influência direta na modificação da fisionomia vegetal e na composição das espécies daquele ambiente, sendo assim, os estudos etnoecológicos são importantes ferramentas na aquisição de informações sobre o uso dos recursos madeireiros e suas implicações para a sustentabilidade local (Medeiros, 2010). Na última década, a etnoecologia tem emergido como uma área que tem tido avanços teóricos e metodológicos acerca da compreensão do uso e manejo de recursos madeireiros, sejam de grande porte ou

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 não.Esse conhecimento tem sido fundamental para a implantação de estratégias de conservação enfocadas na sustentabilidade desta atividade comercial (Prado & Murrieta, 2015). Contudo, os trabalhos nessa área ainda são incipientes e imprecisos, sendo a maior parte voltados a investigação de plantas medicinais e suas aplicações, e isso pode estar aliado a alguns fatores, tais como: o receio em falar sobre a comercialização desses produtos, as espécies extraídas, que muitas vezes ocorre em desacordo com o conteúdo normativo do Art. 1°do Código Florestal Brasileiro (instituído pela Lei n° 4.771/65), que se posiciona de forma intervencionista ao se referir as florestas como; “... as florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, ..., são bens de interesse comum a todos os habitantes do País...” (Ahrens, 2013), instituindo assim a necessidade de preservação, sobretudo das espécies ameaçadas de extinção. Neste sentido, para que seja proposto um molde sustentável de uso destes recursos, é necessário conhecer detalhadamente a vegetação local e como a população se utiliza desta.O conhecimento tradicional é de suma importância, para que se possa saber quais recursos madeireiros são utilizados, a sua comercialização e as formas de manejo empregadas, e assim, inferir sobre uma forma de gestão mais apropriada destes (Mello, 2013). A problemática deste trabalho, se configura em avaliar o padrão da utilização comercial dos recursos madeireiros do distrito de Poti, pelos próprios moradores, bem como as práticas de extração e manejo empregadas nessa atividade e a compreensão destes acerca da vulnerabilidade deste recurso natural. Por isso, a presente proposta de pesquisa, buscou investigar questões referentes à utilização local de madeira e as pressões geradas por esta utilização para os moradores do distrito de Poti, localizada no Municipio de Crateús-CE, tais como; i) as espécies mais utilizadas; ii) a destinação destes recursos; iii) valor comercial; e as iv) implicações sociais e ambientais dessa atividade para a localidade em questão, segundo a perspectiva etnoecológica.

MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

O presente estudo foi realizado no distrito de Poti localizado a 23 km da sede do município de Crate - ús - CE.O referido município está, aproximadamente, a 370 km de distância da capital Fortaleza, e faz fron- teira com os municípios que compreendem o território de Ipaporanga, Independência, Novo Oriente e o es- tado do Piauí. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o distrito conta com uma população de 1.411 habitantes. Essa área foi escolhida mediante relatos de alguns estudantes do cur- so de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Ceará (UECE), que são moradores da região, onde está pesquisa teve início, sobre a intensa utilização antrópica dos recursos faunísticos e comercialização deste.

COLETA DE DADOS

Para coleta dos dados, durante o mês de julho de 2017, foram realizadas entrevistas e, simultaneamente, o preenchimento de questionários semiestruturados, por meio destes, através de abordagem qualitativa do tipo estudo de caso indicado por Albuquerque, Lucena e Alencar (2010) obtivemos informações referentes aos nomes populares das espécies mais utilizadas, formas de coleta e as principais finalidades. Para a obtenção de informações como o tempo de regeneração das espécies observada pelos moradores e a frequência da retirada deste recurso, utilizamos um estudo de frequência também indicado pelos autores para quantificar através do número de citações feitas pelos entrevistados o tempo de regeneração mínimo para as espécies utilizadas por eles e a frequência com que retiram cada uma, baseado em suas experiências pessoais. No total, foram entrevistados 10 famílias, selecionadas pelo método “bola de neve”, sugerido por Vinuto (2016). Esse método consiste em determinar o grupo de amostra, por meio de indicações sucessivas dos próprios entrevistados. Neste caso, o primeiro entrevistado (Denominada “semente”). Além de

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 responder as perguntas, indicou pessoas na comunidade com o perfil desejado. E cada entrevistado teve a oportunidade de fazer essa identificação, até completar o número desejado. O levantamento de dados foi feito por meio de investigação descritiva de abordagem qualitativa (Guerra, 2006), onde aplicamos um questionário semiestruturado, e entrevista gravada em áudio, acompanhado de um termo de consentimento livre e esclarecido sobre os objetivos de nossa pesquisa e a destinação desta apenas para fins acadêmicos com os moradores da localidade de Poti, analisando se estes fazem uso dos recursos madeireiros e a intensidade dessa utilização. Além disso, averiguamos durante essa abordagem a despeito da comercialização destes produtos, a implicação econômica sobre a renda e sobre a importância ecológica da mata para o local.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados versam sobre questões como as espécies mais utilizadas pelos moradores, os fins da utilização destas tanto para atividades pessoais e comerciais, e sobre a frequência com que a atividade extrativista ocorre, bem como o tempo de regeneração de algumas espécies, observadas pelos moradores ao longo da prática com a utilização destes recursos. Percebeu-se, inicialmente, resistência dos moradores em responder as perguntas, devido ao receio de pertencermos a órgão público de fiscalização, o que Segundo Eloy, Vieira, Lucena e Andrade (2014) é um comportamento comum das populações tradicionais que são submetidas a esse tipo de abordagem. No entanto, após um dos moradores explicar que se tratava de um trabalho de cunho acadêmico, os demais se dispuseram a responder o questionário sem receios.Por meio dos dados obtidos, foi possível inferir que os entrevistados possuem renda indireta das atividades extrativistas, e de como a população local percebe e utiliza os recursos madeireiros da região. Atividades como a extração de madeira para cercas e para produção de carvão, sempre foi uma atividade exercida pelos moradores no distrito de Poti, que são utilizados nas suas propriedades ou comercializados, quando há excedentes. A retirada de madeira, normalmente está associada à agricultura, onde o agricultor escolhe a área, corta a vegetação e retira toda madeira, queima o que restar da vegetação e, quando chove, planta milho, feijão, capim e sorgo. Assim, a ocupação central é a agricultura, tendo a extração da madeira como atividade complementar, como constatado pora Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS, 1997). Na Tabela 1, podemos ver a principais espécies citadas, as formas e valores que são comercializadas. Das espécies citadas, a Mimosa tenuiflora (jurema-preta) foi indicada pelos entrevistados como a melhor madeira para a produção de carvão. Para um dos entrevistados “o carvão que a gente faz com a jurema-preta é mais forte, mais resistente, bem pouquinho e você faz um monte de comida” (E6).Outros entrevistados também relataram outras características:

“ a jurema-preta dá em muita quantidade aqui sabe, quanto mais corta ela, mais ela rebrota mais forte, se você não cortar, quanto mais vai passando os anos, ela vai secando os galhos, ai se você cortar ela, ela rebrota” (E8)

“eu nem fazia carvão, mais quando broca pra plantar, ai ela ficava perdida lá, ai a gente aproveita pra fazer um ‘carvãozinho’ né?” (E5)

Tabela 1. Espécies citadas pelos entrevistados, sua utilidade, forma de venda e preço. ESPÉCIES MAIS EXTRAIDAS PELOS MORADORES NOME NOME CIENTIFICO UTILIDADE FORMA DE VENDA PREÇO POPU LAR Jurem Mimosa tenuiflora Carvão Saca R$ 12,00 a R$ a-preta 15,00 Pau Auxemma oncocalyx Carvão Saca (carvão) R$ 12,00 a R$

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branco Caibro e linha Unidade (caibros e 15,00 (Saca de linhas) carvão) R$ 1,00 (caibros)

Angico Anadenanthera colubrina Carvão Saca (carvão) R$ 11,00 a R$ Linha para casas, Unidade (linhas para 12,00 (saca de mourão para casas e mourão para carvão) cercas cercas) R$ 3,00 (mourão) Marme Cydonia oblonga Caibro, cerca de Unidade R$ 0,50 leiro faxina Sabiá Mimosa caesalpiniaefolia Estaca para cercas Unidade R$ 2,00 a R$ 5,00 Algaro Prosopis juliflora Carvão, Saca R$ 12,00 a R$ ba Mourão para cerca Unidade 15,00 (saca de carvão)

Muitos entrevistados apontaram que a atividade de retirada da madeira surgiu como atividade secundária, durante o processo de retirada da vegetação para o plantio de seus roçados. Quando perguntados sobre o período de rebrota dessas espécies, os entrevistados pontuaram sobre o tempo observado por eles para a regeneração das espécies utilizadas, estas foram quantificadas através do número de citações feitas por eles (Albuquerque, Lucena e Alencar, 2010) destacando algumas espécies como a Mimosa tenuiflora (jurema-preta) que demora em média cerca de 2 a 3 anos, 1 a 2 anos para a Mimosa caesalpiniaefolia (sabiá), e que as demais espécies como Auxemma oncocalyx (pau branco), Anadenanthera colubrina (angico), Cydonia oblonga (marmeleiro) e Prosopis juliflora (algaroba), demoram em média 1 ano. No entanto, os moradores afirmam não esperar o período de rebrota, optando por outras áreas para as atividades agrícolas e extração de madeira. Em algumas situações, a vegetação é retirada totalmente, eliminando a possibilidade de rebrota como afirma Pimentel, Pareyn, Pinto, Rabelo e Silva (2016). Como podemos perceber na fala do entrevistado E3, onde ele disse que, “se a área for pra plantar, ai a gente broca né, arranca os tocos e deixa o campo limpo pra plantar”, afirmando que não há rebrota da vegetação nessa área. A comercialização dos produtos é feita por saca no caso do carvão (Tab. 1), chegando ao preço de R$ 15,00 durante os meses de junho a dezembro, pois segundo eles são meses com maior procura, sobretudo pelos donos de bares e restaurantes no município de Crateús-CE.Também abastecem os moradores do distrito de Poti, pois muitos não trabalham mais nessa atividade por medo de fiscalizações e penalidades por parte dos órgãos fiscalizadores. No caso da comercialização da madeira para a construção de cercas, estes destacam que não existem uma demanda muito alta como o carvão, concomitante as pesquisas de Júnior, Soares, Lisi e Ribeiro (2017), e que costumam vender apenas para produtores e moradores que pretendem cercar suas áreas, no próprio distrito. Por exemplo, uma das moradoras comprou 500 varas de marmeleiro por R$ 100,00, a qual considerou que o custo é baixo, mediante ao trabalho necessário para retirada da madeira. Preocupante é a constatação de que os moradores acreditam que essa pratica não trará problemas para a comunidade no futuro, ignorando, por exemplo, a relação entre a cobertura vegetal e a disponibilidade de forragem para os animais. Acreditam que a vegetação é um recurso infinito, mas sabem que o esgotamento desse recurso afetará a atividade extrativista. Essa visão Segundo Mattos et al (2007) é preocupante, pois a retirada da vegetação sem um manejo que vise a sustentabilidade, pode comprometer o fornecimento desse recurso em médio ou longo prazo. Vale ressaltar, que a retirada da vegetação implica em outros impactos ambientais, como desiquilíbrio populacional de algumas espécies animais, por afetar a cadeia alimentar e abrigo para outras espécies, diminuição de chuvas, erosão do solo, dentre outros (Arruda, 1999). Todavia, foi possível constatar, mesmo que de forma imprecisa, que os moradores reconhecem as inter-relações ecológicas estabelecidas na natureza, como pode ser constatada nessa fala: “eu tenho pra

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 mim, que as arvores interfere nas chuvas né, assim, porque quanto mais a área tem mata, mais atrai chuva né e fica ruim de nascer as plantas”. Sobre a atuação de fiscais na região, os moradores relatam que no ano de 2016 foram feitas frequentes visitas ao distrito, mas ninguém nunca foi multado. Ao pergunta-lhes sobre apoio técnico em suas produções, muitos disseram, que só receberam a visita de um técnico em agropecuária uma única vez, devido à participação de alguns moradores em programas de apoio à agricultura, fornecidos pelo governo. Mas o técnico se limitou a observar o tamanho de suas propriedades e as culturas que estavam cultivando, sem dar nenhuma orientação sobre o manejo destes produtores.

CONCLUSÕES

Podemos constatar através dos métodos adotados para alcançar os objetivos propostos, a saber, entrevistas com aplicação de questionário semiestruturado, abordagem qualitativa do tipo estudo de caso e estudo de frequência, onde podemos inferir, que os moradores do distrito de Poti, adotam o caráter utilitarista, itinerante e predatório do recurso vegetal. Mesmo indicando um pouco de conhecimento de processo ecológico, ainda predomina a visão de que a vegetação é um recurso infinito, e de que não existe uma relação entre os diferentes recursos naturais. Diante disso, os moradores não adotam práticas conservacionistas de manejo da vegetação, visando a preservação dos recursos existentes na região.É notória, diante do contexto, a necessidade de apoio técnico especializado para a condução de suas práticas.

AGRADECIMENTOS

Agrademos todos os entrevistados do distrito de Poti que participaram da pesquisa; a Faculdade de Educação de Crateús pela oferta da disciplina de Ecologia de Recursos Naturais, onde nasceu esta pesqui- sa e a Universidade Estadual do Ceará.

REFERÊNCIAS

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Mattos, A. D. M. D., Jacovine, L. A. G., Valverde, S. R., Souza, A. L. D., Silva, M. L. D., & Lima, J. E. D. (2007). Valoração ambiental de áreas de preservação permanente da microbacia do Ribeirão São Bartolomeu no município de Viçosa, MG. Medeiros, P. M. D. (2010). Uso de produtos madeireiros para fins domésticos em uma área de Floresta Atlântica no nordeste brasileiro. Mellado, R. E. C. E. (2013). Contribuição ao desenvolvimento tecnológico para a utilização de madeira serrada de Eucalyptus grandis (Hill Ex Maiden) na geração de produtos com maior valor agregado. Mello, A. J. M. (2013). Etnoecologia e manejo local de paisagens antrópicas da floresta ombrófila mista, Santa Catarina, Brasil Nodari, E. S. (2012). “Mata Branca”: o uso do machado, do fogo e da motosserra na alteração da paisagem de Santa Catarina. História ambiental e migrações. São Leopoldo: Oikos Pimentel, D. J. O., Pareyn, F. G. C., Pinto, A. D. V. F., de Carvalho Rabelo, F. R., & Silva, R. J. N. (2016). Manejo florestal sustentável no assentamento batalha, santa maria da boa vista/pe: uma reflexão socioambiental. South American Journal of Basic Education, Technical and Technological, 3(1). Prado, H. M., &Murrieta, R. S. S. (2015). A Etnoecologia em perspectiva: origens, interfaces e correntes atuais de um campo em ascensão. Ambiente & Sociedade, 18(4), 139-160. Santos, R. C. D., Carneiro, A. D. C. O., Castro, A. F. M., Castro, R. V. O., Bianche, J. J., Souza, M. M. D., & Cardoso, M. T. (2011). Correlações entre os parâmetros de qualidade da madeira e do carvão vegetal de clones de eucalipto. Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental- SPVS. Relatório de pesquisa do Projeto Co-gestão de Manejo Ambiental e Desenvolvimento Comunitário na APA de Guaraqueçaba: Populações Tradicionais da APA de Guaraqueçaba, Paraná. Curitiba: IBAMA, 1997, 65 p. Vinuto, J. (2016). A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Temáticas, (44).

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

A VISÃO DA POPULAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO PERMANENTE DAS MATAS CILIARES URBANAS EM FLORIANO - PI

Brendo Barbosa Moura¹, Antonio Alves Filho¹, Elisa Pereira dos Santos¹ & Rogério Nora Lima²*

1. Graduandos em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí – CAFS. *2. Professor do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus Amílcar Ferreira Sobral – CAFS. E-mail: [email protected]

RESUMO

Objetivando estudar a percepção de moradores sobre a conservação de zonas ripárias urbanas, o presente trabalho foi realizado em áreas com residências próximas a riachos no município de Floriano, Piauí. Foram realizadas 21 entrevistas com moradores ao longo de 3 riachos próximos a zona central da cidade. Observou-se que quase todos os entrevistados possuem baixa escolaridade, desconhecem a importância da conservação da água e costumam joga lixo diretamente nos riachos. A baixa escolaridade, idade avançada e baixa renda da maioria dos entrevistados juntamente com a ausência de fiscalização, remete a ideia de falta de conscientização dos moradores. Mesmo com o aumento da divulgação sobre a importância da conservação da água, isso é algo novo para a sociedade. Conclui-se que esses pontos associados à inércia do poder público em educar e fiscalizar essas áreas torna ainda mais importante as iniciativas de educação ambiental com vistas à proteção dos recursos hídricos.

Palavras-chave: Recursos hídricos, Rio Parnaíba, Cerrado, Serviços ambientais.

INTRODUÇÃO

O uso cada vez maior e descontrolado dos recursos hídricos já apresenta problemas para a sociedade humana atual, concretizado na escassez mais marcante a cada ano, seja por efetiva falta dos mesmos nos meses mais secos, seja pela impossibilidade de utilizar o que ainda existe, mas está degradado em sua qualidade, impossibilitando o uso direto ao ser humano e às suas atividades cotidianas, inclusive as de cunho econômico (Lima, 2008). No caso do estado do Piauí, o contexto ainda é relativamente favorável pela presença de um curso d’água de abundante volume em seu curso principal, o rio Parnaíba, embora seus afluentes já não apresentem a mesma vitalidade de outrora nas épocas de estiagem. Associado a esse cenário está há expansão da agricultura, notadamente da soja no MAPITOBA e o crescimento urbano de suas cidades, mesmo as que possuíam menor porte (Castro, 2000). Dessa forma, é importante que, para ocorrer o devido planejamento dos recursos hídricos, vitais ao ser humano e à sua economia, sejam realizados diagnósticos de localização e da situação dos mesmos. Esse aspecto pode ser especialmente atingido pelo monitoramento e mapeamento por geoprocessamento nas diferentes unidades de paisagem e regiões do curso hídrico. Nesse contexto, esse estudo visou diagnosticar variáveis da paisagem associadas à bacia hidrográfica do rio Parnaíba em seu curso médio na ótica proposta por Turner (2014), aplicada também por Forman e Godron (2014) que busca entender o efeito dos padrões espaciais geográficos nos processos ecológicos, com vistas a produção de proposta de gestão de paisagem e de biorregiões. Para atingir esse objetivo, aspectos mais restritos devem ser concretizados, dentre eles: o mapeamento da bacia do rio Parnaíba na região de seu curso médio, a identificação de situações de conflitos na área de estudo pela agressão à seus componentes naturais, especialmente por aqueles associados aos recursos hídricos, o diagnóstico da situação dos componentes da paisagem na área de

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 estudo e a compreensão de aspectos da percepção dos moradores locais quanto ao uso dos recursos naturais, especialmente dos recursos hídricos, que é objeto específico do presente resumo.

MATERIAL E MÉTODOS

A região de estudo é constituída pela bacia hidrográfica do rio Parnaíba, em sua porção média, nas proximidades do município de Floriano – PI, localizado na porção centro-oeste do estado do Piauí, abrangendo áreas de Cerrado e Caatinga ecotonais (IBAMA, 2015). Como parte do aspecto principal desse trabalho o discente foi treinado em técnicas geoprocessamento e sensoriamento remoto com vistas à construção de base cartográfica da área de estudo para depois aplicar os trabalhos de campo relativos a esse mapeamento. Nessa fase serão utilizados os softwares IDRISI Selva, ArcMap 8.0, ERDAS 4.0 e SPRING. Os recursos hídricos e os impactos identificados serão classificados de acordo com as teorias ecossistêmicas de Odum & Barrett (2012) e quanto à análise da paisagem pelo critério de Lima (2008). Esses aspectos são necessários para o reconhecimento dos principais impactos ocorrentes na malha hídrica principal e secundária do rio Parnaíba, visando à construção de mapa diagnóstico dos pontos agredidos por natureza dos impactos causados, para ao final elaborar um texto diagnóstico com os principais impactos identificados, associados às propostas para sua recuperação, manejo e gestão ambiental. Entretanto, nesse contexto, é importante conhecer a opinião da população local quanto aos usos dos recursos hídricos e ecossistemas a eles associados, bem como dos aspectos que originam os impactos observados, principalmente a degradação das áreas riparias por práticas degradadoras. Dessa forma, selecionamos 3 riachos urbanos e realizamos 21 entrevistas a fim de coletar informações sobre o conhecimento da população em relação a conservação da água e desmatamento, existência ou não de fiscalização ambiental, a forma como são dispensados os resíduos sólidos nessas áreas e, se existe algum tipo de aviso proibindo dos cursos d’água. Toda a área visitada possui construções nas margens dos cursos d’água. A autorização para obtenção desses dados via entrevistas foi submetida à Conselho de ética e está amparada pelo CAAE 48703515.0.0000.5660.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Predominaram na amostragem, os respondentes com escolaridade de ensino fundamental e médio, com idade de 41 a 80 anos e renda familiar até um salário mínimo. Foi observado que, quanto à distância dos cursos d’água 52% dos entrevistados vive de 0 a 50m de distância dessas áreas (Fig. 1), ou seja, são áreas muito próximas dos cursos d’água, o que já demonstra a ocorrência de uma ocupação irregular das áreas de proteção permanente (APPs) destinada às Matas ciliares (Brasil, 2012) e que deveria ser combatida pelas autoridades municipais. Esse aspecto de buscar a proximidade dos recursos hídricos, denominado “hidrofilia”, sempre acompanhou a humanidade, pela facilidade de acesso que esse aspecto trouxe ao desenvolvimento das civilizações. Entretanto, a mesma população que faz uso dos recursos naturais para suas atividades vitais diárias também degrada esse recurso em qualidade e quantidade, ao enxergá-lo como área de depósito imediato de seus resíduos metabólicos e culturais (Dias, 2008), demonstrando assim uma desconexão entre homem e ambiente no sentido de perceber a necessidade da proteção desses recursos para manutenção da vida e da economia humanas (Miller & Spoolman, 2013).

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Figura 01. Distância média entre a residência dos respondentes e as áreas ripárias (APPs).

Esse aspecto da dissociação homem-ambiente fica bastante patente nos dados obtidos por entrevistas, já que quase 90% dos respondentes relataram que costumam jogar lixo nesse local e 67% não possui conhecimento algum sobre a importância da conservação da água para o bem da sociedade, nem sobre a importância ecológica desses ecossistemas (90%) e sequer sobre os problemas associados à poluição dos recursos hídricos (71%). Da mesma forma, 90% não sabe dizer se há proibições quanto ao desmatamento desse ecossistema, nem se há fiscalização municipal nessa área (Fig. 02).

Figura 02. Conhecimento dos respondentes sobre a importância das áreas ripárias e das Matas ciliares para a qualidade da água, saúde humana e economia.

Desse modo, a correlação entre uma população de baixa escolaridade, baixa renda familiar e idade relativamente avançada e que construiu ou mora nessas regiões ripárias há muitas décadas pode ser um dos fatores que contribuem para esse quadro, haja vista a disseminação dos princípios ecológicos relacionados à conservação é algo relativamente novo na sociedade brasileira (Primack & Rodrigues, 2001). Esses aspectos, associados à inércia do poder público em educar e fiscalizar áreas chave nos ecossistemas urbanos, torna ainda mais importante as iniciativas locais, informais e não formais, de educação ambiental (Santos & Sato, 2001; Sato et al., 2005), com vistas à proteção dessas áreas fundamentais na proteção dos recursos hídricos e dos serviços ambientais (De Groot, 2016) que essas áreas propiciam a todos, especialmente a produção de água em quantidade e qualidade para a sobrevivência humana e para a economia (Odum & Barrett, 2012; Miller & Spoolman, 2013).

CONCLUSÕES

As áreas ripárias ou ribeirinhas, onde estão estabelecidas as Matas ciliares, são consideradas Áreas de proteção permanente e, devido à hidrofilia humana em ocupar essas áreas, principalmente nas regiões

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 urbanas, talvez sejam um dos ecossistemas mais ameaçados atualmente pelas ações antrópicas. De outro lado, elas proveem uma série de serviços ambientais vitais à sobrevivência humana, dentre os quais está a manutenção de água em condições de ser utilizada para dessedentação e para outras atividades humanas, além de minimizar a eutrofização artificial dos ecossistemas a elas associados. Nesse âmbito, a presença disseminada das moradias humanas nessas áreas, associadas com práticas culturais de utilizá-las como depósitos de resíduos humanos, vem degradando essas áreas e, por conseguinte, a qualidade dos recursos hídricos. No presente estudo, encontramos a maior parte dos respondentes residindo em até 50 metros dessas áreas protegidas, havendo uma quase total ignorância da importância dessas áreas pelos mesmos associada à prática da deposição de resíduos orgânicos nas margens dos rios. Tal contexto releva fortemente a necessidade de implantação de práticas de educação com essa população, a fim de reverter a presente tendência de degradação dos ecossistemas ripários e dos recursos hídricos.

REFERÊNCIAS

Brasil. Leis, Decretos. Código Florestal. Lei n° 12.651 de 25 de maio de 2012. Castro, A. A. J. F. 2000. Cerrados do Brasil e do Nordeste: produção, hoje, deve também incluir manutenção da biodiversidade. In: Benjamin, A. H. & Sícoli, J. C. M. (Org.). Agricultura e meio ambiente (Agriculture and the environment). São Paulo: IMESP: 79 - 87. De Groot, R. S. 2016. Functions of nature. Wolters-Noordof: The Netrherlands. 316p. Dias, G. F. Educação ambiental: princípios e prática. São Paulo: Gaia, 2008. 467p. Forman, R.T.T. and M. Godron. 2014. Landscape ecology. John Wiley & Sons, New York. 744 p. IBAMA. Ecossistemas brasileiros. Acessado em 20/12/2015. Disponível em: www.ibama.gov.br Lima, R.N. 2008. Comparação de cenários de paisagem obtidos com avaliação por critérios múltiplos visando ao manejo da bacia hidrográfica do Ribeirão dos Negros, São Carlos - SP. In: II Simpósio Internacional de Savanas Tropicais, 2008, Brasília. Anais do II Simpósio Internacional de Savanas Tropicais. Brasília: EMBRAPA Cerrados, 2008. v. único (CD-ROM). Miller, G. T. & Spoolman, S. E. 2013. Ecologia e sustentabilidade. 3ª Ed. Cengage Learning. 377p. Odum, E.P. & Barrett, G. W. 2012. Fundamentos de Ecologia. Cengage Learning. São Paulo. 612p. Primack, R.B. & Rodrigues, E. 2001. Biologia da conservação. Ed. Midiograf. Londrina. 328 p. Santos, J.E. & Sato, M. 2001. A contribuição da Educação Ambiental para a esperança de Pandora. Rima: São Carlos. 604 p. il. Sato, M. et al. 2005. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Artmed. 232 p. Turner, M. G. & Gardner, R. H. 2014. Landscape ecology in theory and practice: Pattern and process. 2nd ed. Spring-Verlagg, New York. 314p.

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

OS CONHECIMENTOS DE UMA COMUNIDADE RURAL DE FLORIANO – PI QUANTO À ECOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

Elisa Pereira dos Santos¹, Rogério Nora Lima²*

1. Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí – CAFS. 2. Professor do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus Amílcar Ferreira Sobral – CAFS. *E-mail: [email protected]

RESUMO

Os humanos sempre têm manejado os recursos naturais para atender as suas demandas energética, medicinal e cultural. Na questão alimentar diversas fontes são utilizadas, dentre elas, estão itens da Classe Mammalia. Estudos quanto ao conhecimento local sobre a mastofauna são de grande importância, pois permitem compreender como os grupos humanos percebem esse recurso e a sua relação com a natureza, incluindo o impacto das ações humanas sobre eles. Esse trabalho objetivou caracterizar o conhecimento de moradores da localidade “Bem Quer” sobre os mamíferos dessa região. Realizou-se entrevistas semiestruturadas com 24 moradores para analisar se os mesmos conhecem a diversidade da mastofauna local, seus hábitos, condições ecológicas associadas e quais são os usos antrópicos dessa fauna. A amostragem foi do tipo intencional, incluindo apenas as residências que aceitaram participar da pesquisa. Houve predomínio de pessoas do sexo feminino, com escolaridade predominante de “primário” e ensino fundamental. Dentre aqueles que informaram a renda familiar, destacam-se os ganhos até um salário mínimo. Todos responderam que não caçam, nem criam animais silvestres, mas oito entrevistados relataram utilidades do uso de mamíferos na alimentação humana. Foram relatadas 19 espécies, dentre as quais as mais citadas foram Pseudalopex vetulus (raposa), Mazama gouazoubira (veado), Callithrix jacchus (soin), Didelphis albiventris (gambá ou mucura). Quanto à frequência de observação da fauna, a maioria respondeu que o avistamento nas proximidades é raro e geralmente está associado a uma época específica ou à frutificação. Os locais de ocorrência mais citados foram matas ciliares, chapadas e matas em geral. Sobre a extinção dessa fauna, quase todos relataram perceber que parece estar havendo uma diminuição da mesma. Apesar de ser uma comunidade rural, de um município pequeno e ainda com bastante cobertura vegetal, os dados não evidenciam um amplo conhecimento dessa população sobre a fauna local, podendo já ser um reflexo do processo de distanciamento entre homem-natureza que já vem ocorrendo em áreas urbanas mais populosas. Tal aspecto indica que, mesmo em localidades mais afastadas são importantes as iniciativas de educação ambiental visando a esclarecer sobre a importância da conservação da biodiversidade para a qualidade de vida e manutenção dos serviços ambientais.

Palavras-chave: Biodiversidade, Cerrado, Mamíferos.

INTRODUÇÃO

O conhecimento sobre a biodiversidade e sobre a sua influência nos diversos setores da vida humana ainda é bastante superficial. Surpreendentemente, um dos grupos mais afeitos ao homem, os mamíferos silvestres, são ainda pouco conhecidos, principalmente aqueles de pequeno porte (Bianchi et al, 2015). Esse aspecto se torna ainda mais crítico em certas regiões do Brasil, como norte e nordeste, em que as pesquisas possuem defasagem em relação às demais regiões (Castro, 2000). Os mamíferos são um grupo de interesse diferenciado no que tange aos mecanismos de controle das comunidades, pois muitos deles influenciam bastante a vida humana, atuando na regeneração das

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áreas florestais, por meio da sua interação com aspectos da polinização, da dispersão de sementes e do nível de herbivoria (Burnie et al., 2005).

No Brasil a diversidade de espécies de mamíferos possui números expressivos, constituindo-se numa das maiores do mundo. Porém, até 1996, das 22 ordens de mamíferos no mundo, apenas indivíduos de poucas delas eram bem estudados no Brasil, sendo que ocorrem aqui 11 ordens desse grupo animal (Fonseca et al., 1996). São necessários estudos mais completos de várias ordens, principalmente Rodentia, Chiroptera e Didelphimorphia, que além de tudo ainda possuem taxonomia mal definida (Sabino & Prado, 2005; Reis et al, 2006; Santos-Filho et al., 2008; Modesto et al., 2008; Moreira et al., 2008). Diversos estudos têm apontado que 26,8% do total de primatas e 34,5% do total de carnívoros brasileiros estão em perigo de desaparecer. Considerando que os primatas possuem uma íntima relação com as grandes florestas como controladores de outras populações e dispersores de sementes, esses números podem significar uma redução perigosa da biodiversidade nos ecossistemas naturais (Barros, 2008). Os carnívoros, por sua vez, são grandes reguladores herbívoros que exercem grande pressão de pastagem sobre os vegetais e a sucessão dos ecossistemas (Leite-Pitman et al., 2006; Forero-Medina et al., 2009). Associado a isso há o grupo de pequenos mamíferos que tem grande importância no controle das síndromes ecológicas envolvendo cadeias alimentares, como predação e dispersão de sementes (Bezerra et al., 2007; Asfora & Pontes, 2009). Segundo o MMA (2002) o Cerrado foi o terceiro bioma em número de espécies (195), seguido pela Caatinga com 148 espécies. Nesse contexto, os Cerrados marginais (ecotonais) do Nordeste e a Caatinga são tidos como áreas de poucos estudos, nas quais os inventários biológicos precisam ser incrementados, principalmente pela rápida expansão da agricultura e silvicultura sobre os espaços naturais remanescentes (Castro, 2000). No caso do estado do Piauí, o contexto ainda é relativamente favorável à conservação, porque apesar da expansão da agricultura, notadamente da soja, ainda existem áreas com potencial para conservação, seja por sua extensão, seja por qualidade dos seus ambientes. Uma situação especial nesse Estado ocorre porque nele se encontram regiões que abrigam diversas conformações ecotonais, muitas delas significativas por apresentarem elevada diversidade biológica (Castro 2000; Lima, 2008). Dessa forma, a atualização do inventário de diversidade de mamíferos da região de estudo poderá embasar estratégias de conservação da biodiversidade, visando a conciliar usos econômicos diretos e proteção dessa região. Nesse contexto, foi objetivo do presente estudo identificar, na região de Floriano – PI, as espécies de mamíferos terrestres (riqueza específica e dominância), seus hábitos e de vida e demais aspectos da sua ecologia.

MATERIAL E MÉTODOS

A região de estudo está localizada na porção centro-oeste do estado do Piauí, no núcleo do curso médio do rio Parnaíba, abrangendo áreas de Cerrado e Caatinga ecotonais (IBAMA, 2015). Realizou-se entrevistas semiestruturadas com 24 moradores da localidade “Bem Quer” para analisar se os mesmos conhecem a diversidade da mastofauna local, seus hábitos, condições ecológicas associadas e quais são os usos antrópicos dessa fauna. A amostragem foi do tipo intencional, incluindo apenas as residências que aceitaram participar da pesquisa. A autorização para obtenção desses dados via entrevistas foi submetida à Conselho de ética e está amparada pelo CAAE 48703515.0.0000.5660.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos resultados obtidos a partir das informações fornecidas pelos respondentes houve predomínio de pessoas do sexo feminino, com escolaridade predominante de “primário” e ensino fundamental. Dentre aqueles que informaram a renda familiar, destacam-se os ganhos até um salário mínimo.

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Todos os moradores entrevistados responderam que não caçam, nem criam animais silvestres, mas oito entrevistados relataram utilidades do uso de mamíferos na alimentação humana. Foram relatadas 19 espécies (Figura 1), dentre as quais as mais citadas foram Pseudalopex vetulus (raposa), Mazama gouazoubira (veado) e Callithrix jacchus (soin).

Quanto à frequência de observação da fauna, a maioria respondeu que o avistamento nas proximidades é raro e geralmente está associado a uma época específica ou à frutificação. Os locais de ocorrência mais citados foram matas ciliares, chapadas e as matas em geral. Já quanto ao aspecto de da extinção local dessa fauna, quase todos relataram perceber que parece estar havendo uma diminuição da mesma (Figura 2).

Figura 1. Espécies de mamíferos silvestres relatadas por moradores locais.

Apesar de ser uma comunidade rural, de um município pequeno e ainda com bastante cobertura vegetal, os dados não evidenciam um amplo conhecimento dessa população sobre a fauna local, podendo já ser um reflexo do processo de distanciamento entre homem-natureza que já vem ocorrendo em áreas urbanas mais populosas.

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Figura 2. Percepção de moradores quanto às alterações na abundância de espécies da mastofauna nativa.

Tal aspecto indica que, mesmo em localidades mais afastadas são importantes as iniciativas de educação ambiental informais e não formais, de educação ambiental visando à esclarecer sobre a importância da conservação da biodiversidade para a qualidade de vida humana por meio dos serviços ambientais que elas realizam (Sato et al., 2005). Nesse contexto, as inciativas de educação ambiental, associadas aos estudos visando ao maior reconhecimento sobre a biodiversidade da região permitirá propor estratégias de mitigação dos efeitos antrópicos nas populações silvestres e nos efeitos dessas interações com humanos, evitando desequilíbrios ambientais e consequências indesejáveis para a própria população humana local, tal como maior disseminação de doenças por vetores silvestres em meio urbano pela destruição dos seus habitats e deslocamento para outros, dentre outras perdas associadas à depleção dos serviços ambientais (De Groot, 2016) .

CONCLUSÕES

A biodiversidade vem constantemente sofrendo diversas ameaças devido ao aumento da afluência de recursos naturais para sustentar o modo de vida predominantemente predatório imposto pelo sistema econômico predominante atualmente. Nesse âmbito, uma das consequências desse modo de vida humano é o constante e progressivo avanço da civilizações sobre áreas naturais, diminuindo os espaços de habitats silvestres. Outro aspecto bastante destacado nesse padrão é o distanciamento ou desconexão entre homem e natureza, o qual pode ser observado pelo conhecimento cada vez menor das pessoas, mesmo aquelas que residem em área periurbanas ou rurais, sobre informações relativas à biodiversidade e seus ecossistemas associados. Esse trabalho pôde evidenciar essa situação de distanciamento de uma comunidade rural quanto ao seu seu conhecimento da mastofauna silvestre local, pois todas as respostas demonstraram um conhecimento superficial quanto à esse grupo e à sua ecologia, com exceção talvez das espécies ocorrentes na região e onde são encontradas na natureza. Esse aspecto demonstra a importância das iniciativas de educação ambiental que trabalhem o conhecimento de forma contextualizada e voltada para a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais, considerando as peculiaridades locais e os conhecimentos tradicionais.

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REFERÊNCIAS

Asfora, P.H. e Pontes, A.R.M. Os pequenos mamíferos da altamente impactada Floresta Atlântica do Nordeste do Brasil, Centro de Endemismo Pernambuco. Biota Neotropica Jan/Mar 2009 vol. 9, no. 1 http://www.biotaneotropica.org.br/v8n4/pt/article+bn00409012009. Barros, R. S. M. 2008. Levantamento e estimativas populacionais de mamíferos de medo e grande porte num fragmento urbano de Mata Atlântica no sudeste do Brasil. Dissertação. UFJF. 68p. Bezerra, A.M.R., da Silva Jr, N.J. and Marinho-Filho, J. O rato-de-bambu Dactylomys dactylinus (Rodentia: Echimyidae: Dactylomyinae) no Cerrado do Brasil central. Biota Neotropica. Jan/Apr 2007 vol. 7, no. 1 http://www.biotaneotropica.org.br/v7n1/pt/bn03507012007. Bianchi, R. C.; Lima, R. N.; Silva, L.G.L. Conservação e métodos de estudos de mamíferos continentais. p. 280-317. In: Lima, M. S. C. S.; Carvalho, L. S.; Prezoto, F. (Org.). Métodos em ecologia e comportamento animal. 1ed.Teresina: EDUFPI, 2015, v. único. 317p. Burnie, D. 2005. Mammals. Elsevier. The Netherlands. 384p. Castro, A. A. J. F. 2000. Cerrados do Brasil e do Nordeste: produção, hoje, deve também incluir manutenção da biodiversidade. In: Benjamin, A. H. & Sícoli, J. C. M. (Org.). Agricultura e meio ambiente (Agriculture and the environment). São Paulo: IMESP: 79 - 87. De Groot, R. S. 2016. Functions of nature. Wolters-Noordof: The Netrherlands. 316p. Fonseca, G. A. B. et al. 1996. Lista anotada dos mamíferos do Brasil. Ocasional papers in conservation biology. V.4. Washington – DC. P. 1 – 38. Forero-Medina, G., Vieira, M.V., Grelle, C.E.V. and Almeida, P.J. Tamaño corporal como factor de amenaza en carnívoros brasileros. Biota Neotropica. Jan/Mar 2009 vol. 9, no. 2 http://www.biotaneotropica.org.br/v9n2/pt/article+bn00509022009. IBAMA. Ecossistemas brasileiros. Acessado em 20/12/2015. Disponível em: www.ibama.gov.br Lima, R. N. 2008. Levantamento de pequenos mamíferos da fazenda Boqueirão, Canavieira – PI. Relatório final do projeto de pesquisa financiado pela FAPEPI. 16p. Ministério do Meio Ambiente (MMA). 2002. Biodiversidade brasileira: avaliação e identificação de ações prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade nos biomas brasileiros. Brasília: MMA/SBF. 404 p. Modesto, T.C., Pessôa, F.S., Enrici, M.C., Attias, N., Jordão-Nogueira, T., Costa, L. de M., Albuquerque, H.G. and Bergallo, H. de G. Mamíferos do Parque Estadual do Desengano, Rio de Janeiro, Brasil. Biota Neotropica Oct/Dec 2008 vol. 8, no. 4 http://www.biotaneotropica.org.br/v8n4/pt/article+bn01408042008. Moreira, D.O., Coutinho, B.R. and Mendes, S.L. O status do conhecimento sobre a fauna de mamíferos do Espírito Santo baseado em registros de museus e literatura científica. Biota Neotropica Jan/Mar 2008 vol. 8, no. 2 http://www.biotaneotropica.org.br/v8n2/pt/article+bn02108022008. Reis, N. R. et al. 2006. Mamíferos do Brasil. UEL: Londrina. 437p. Santos, J.E. & Sato, M. 2001. A contribuição da Educação Ambiental para a esperança de Pandora. Rima: São Carlos. 604 p. il. Santos-Filho, M., da Silva, D.J., e Sanaiotti, T.M. Variação sazonal na riqueza e na abundância de pequenos mamíferos, na estrutura da floresta e na disponibilidade de artrópodes em fragmentos florestais no Mato Grosso, Brasil. Biota Neotropica Jan/Mar 2008 vol. 8, no. 1 http://www.biotaneotropica.org.br/v8n1/pt/article+bn02508012008. Sato, M. et al. 2005. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Artmed. 232 p.

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ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

ATIVIDADES DO PROJETO DE EXTENSÃO TECER JUNTO À COMUNIDADE DOS ÍNDIOS PITAGUARY DE MONGUBA, PACATUBA-CE.

Julia Santos Jardim1*, Andrieli Lima da Silva1, Victor Ramalho Barbosa1, Lucília Siqueira Aguiar1, Antonia Pauline Valeska B. de Paula Florindo¹, Patricia Limaverde Nascimento²

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus Itaperi, Fortaleza-CE; 2 Professora do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus Itaperi, Fortaleza-CE *e-mail: [email protected]

RESUMO

O fazer científico convencional muitas vezes estabelece uma relação dogmática com a realidade, restringindo-se a um método hiperespecializado e fragmentado. O projeto de extensão TECER (Transdisciplinaridade, Ecologia de Saberes, Currículo, Educação e Resistência), que é vinculado a Universidade Estadual do Ceará (UECE), vem atuando desde 2016 juntamente à comunidade dos índios Pitaguary de Monguba com o intuito de identificar os saberes tradicionais, desenvolver materiais didáticos e retorná-los à comunidade, contribuindo, desta forma, com a tessitura entre os saberes tradicionais e os saberes científicos e escolares. Informações foram coletadas por meio do método de observação ativa e de entrevistas semiestruturadas. Foram produzidos dois vídeos didáticos da série “Saberes Pitaguary”, que retratam aos mais novos como eram os costumes antigamente e como a qualidade de vida mudou a partir do distanciamento do ecossistema local. Acredita-se que tais iniciativas favorecem a convivência na diversidade e o fortalecimento do pensamento livre, crítico, sistêmico e, sobretudo, ecológico. Palavras-chave: Etnobiologia, Transdisciplinaridade, Ecologia de saberes, Saberes tradicionais, Pitaguary.

INTRODUÇÃO

O ser humano tem constantemente ameaçado a biodiversidade do planeta através de suas ações, desde o extrativismo predatório até as consequências ecológicas da poluição por derivados químicos e biológicos. Como afirma Torres, Oliveira, Alves, e Vasconcellos (2009, p. 623), “Ao longo da história, a interação homem-natureza evoluiu numa perspectiva crescente de exploração e degradação dos recursos naturais.” Observando essa problemática, surgiu a necessidade de resgatar conhecimentos tradicionais, também conhecidos como etnoconhecimentos, em busca da preservação do meio ambiente. Estes são caracterizados como os saberes e as tradições populares de uma comunidade, aprendidas no cotidiano pelo convívio direto com seu meio social e ambiental, os quais são transmitidos através das gerações por diversos métodos, como histórias e cantigas (Nascimento, 2013). A etnobiologia, ou seja, os conhecimentos tradicionais acerca dos processos naturais e a relação de determinada comunidade com a natureza, oferece subsídios para a conservação da biodiversidade, como afirma Arruda (1999): As populações tradicionais são caracterizadas por apresentar um modelo de ocupação do espaço e uso dos recursos naturais voltado principalmente para a subsistência, com fraca articulação com o mercado, baseado em uso intensivo de mão de obra familiar, tecnologias de baixo impacto derivadas de conhecimentos patrimoniais e, normalmente, de base sustentável (p. 79).

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Os conhecimentos tradicionais biológicos, altamente difundidos nas comunidades indígenas, continuam desvalorizados por não seguirem os padrões científicos, pois não são empiricamente testados, porém, como afirmam Peterson, Hanazaki, e Simões-Lopes (2005), “Estudos sobre o conhecimento etnobiológico podem gerar dados que contribuam para o estabelecimento de diretrizes para os planos de gestão e manejo dos recursos naturais [...]”. A Ciência, por muitos, é considerada como imparcial. Porém, é sabido que essa realidade não é genuína. A escolha do campo a ser pesquisado e a forma como o pesquisador-cientista vê esse campo, já demonstra a sua, embora não total, parcialidade. Santos, Azevedo, Costa, e Medeiros (2011) afirmam que “[...] a forma como um cientista vê um aspecto de seu mundo orienta o paradigma em que está trabalhando, e vice-versa, consubstanciando-se em critério de julgamento daquilo que é verdadeiro e real.” (Santos et al., 2011, p. 834). A extensão universitária é uma excelente forma de retornar à sociedade o fruto do saber científico, que muitas vezes se restringe ao campo acadêmico, além disso, deve estimular o diálogo entre os conhecimentos teóricos, obtidos em sala de aula, e os conhecimentos das comunidades tradicionais, obtidos de forma vivencial e prática. A partir da promoção de práticas integradas entre várias áreas do conhecimento é possível facilitar espaços que favoreçam a aproximação de diferentes sujeitos, esse contato sociocultural é capaz de desenvolver um senso crítico, formando assim cidadãos éticos e preocupados com a qualidade de vida da sociedade. Todos os envolvidos, pesquisadores, comunidade e sociedade, se beneficiam dessa relação e o conhecimento gerado coletivamente assume seu caráter transdisciplinar (Rodrigues et al., 2013; Fernandes et al., 2012; Castro, 2004). O projeto de extensão TECER (Transdisciplinaridade, Ecologia de Saberes, Currículo, Educação e Resistência), que é vinculado a Universidade Estadual do Ceará (UECE), se propõe a atuar juntamente às comunidades indígenas, contribuindo com a tessitura entre os saberes tradicionais e os saberes científicos e escolares, favorecendo o pensamento livre, crítico, sistêmico e, sobretudo, ecológico. Ao identificar os saberes genuínos de determinada etnia, a maneira como são construídos, transmitidos e transformados, pretende-se elaborar materiais didáticos, como vídeos, álbuns de fotos, cartilhas, etc. a fim de aplicar esses projetos dentro das aldeias. A escola indígena, desta forma, torna-se um espaço de extrema importância e resistência cultural à medida que inclui em seu currículo os conhecimentos próprios de seu povo e território, empoderando alunos e professores frente a reivindicação de seus direitos, dentre estes o acesso à uma educação bilíngue, intercultural e diferenciada (Brasil, 1999). A nível local, onde atualmente são realizados os estudos, a comunidade indígena dos Pitaguary está localizada ao pé da serra da Aratanha entre os municípios de Maranguape, Pacatuba e Maracanaú, a aproximadamente 26 Km de Fortaleza e se subdivide em três comunidades: Santo Antônio, Olho d’água e Monguba (IBGE, 2010; Galdino, 2007; Pinheiro). Desde os anos 1980 e 1990 o povo Pitaguary passa por um processo de reterritorialização que busca não somente a demarcação e legalização da Terra, mas também resgatar sua identidade através da oralidade. Esta descaracterização da etnia foi resultado de um intenso processo de exploração por parte de empresários da agropecuária e de complexos industriais que se instalaram em suas terras e das consequentes movimentações do povo no território, como Lyra (1998) descreve que os ancestrais se localizavam primariamente nas imediações do bairro Mondubim e se deslocaram para a Serra de Pacatuba (Galdino, 2007). A comunidade conserva manifestações culturais características, como a “Festa da banana” e a “Festa do caboclo”. Além disso sua relação com o território e com a natureza vai além do uso para subsistência, é algo cultural, social e afetivo ligado à suas crenças e conhecimentos, incorporando em sua cultura aspectos de misticidade que envolvem sua relação com elementos naturais. Atualmente a comunidade ainda luta para resgatar e transpassar sua cultura para os mais jovens e vê nas escolas de ensino diferenciado um dos principais locus de atuação. Baseando-se nos fatores e perspectivas apresentados, o projeto de extensão TECER teve como principal objetivo a aproximação da comunidade Pitaguary para a produção de vídeos didáticos com os saberes da comunidade relacionados à alimentação, ao consumismo, à saúde e ao meio ambiente, através de relatos de integrantes da aldeia.

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MATERIAL E MÉTODOS

O grupo TECER - Transdisciplinaridade, Ecologia dos Saberes, Currículo, Educação e Resistência, atua na aldeia dos Pitaguary de Monguba desde o ano de 2016. Um de seus principais focos de atuação é a escola de ensino diferenciado Ita-Ara, uma das três escolas situadas dentro do território indígena. O projeto já foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos e obtém aprovação pelo Parecer CEP/UECE nº.1.584.582 e CAAE 56074416.0.0000.5534. Atualmente o grupo é composto por 5 integrantes, todos estudantes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Ceará, embora já tenha recebido contribuições de alunos da Enfermagem, Medicina e Matemática, fato que contribui com seu caráter transdisciplinar. Encontramos na etnopesquisa um caminho metodológico de compreender e explicitar “[...] a realidade humana tal qual como é vivida pelos atores sociais em todas as perspectivas possíveis” (Silva & Cabral, 2010, p.3). Para isso, o contato direto do investigador com o contexto social e a relevância dos saberes genuínos são importantes para a construção do conhecimento. Diferente das pesquisas quantitativas, que mensuram e interpretam dados por meio de números, esta é realizada por meio do convívio e da participação do pesquisador na comunidade, como uma experiência emancipatória. Os dados da pesquisa foram gerados por meio da convivência, observação direta e de entrevistas semiestruturadas entre os pesquisadores e os Pitaguary, incluindo ao todo cinco atores sociais, entre eles, agricultores, professores, xamãs, lideranças e o pajé. As conversações foram gravadas e transcritas para uma melhor interpretação das informações. Foram investigadas as principais referências tradicionais da cultura Pitaguary em relação ao uso das plantas medicinais, ao cultivo de hortaliças e ao manejo do plantio, bem como suas concepções e relações com a biodiversidade local. Buscou-se compreender, ainda, como tais conhecimentos são formados, conservados e transmitidos, com o intuito de confeccionar materiais didáticos a serem aplicados nas escolas de ensino diferenciado. Para os dois primeiros vídeos didáticos da série “Saberes Pitaguary” foram gravadas e selecionadas entrevistas com lideranças locais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir das entrevistas realizadas, aferiu-se que existe uma divergência entre os costumes de “antigamente” e os costumes atuais. A tabela 1 aborda os principais temas de mudanças expressos pelas lideranças indígenas durante as gravações utilizadas para os vídeos.

Tabela 1. Costumes Pitaguary Antigamente Atualmente

Mão de Obra Autônoma, na própria terra. Assalariada em fábricas e indústrias.

Alimentação Alimentos oriundos da agricultura, caça e Alimentos industrializados. coleta.

Infância Brincadeiras na mata. Possibilitava Equipamentos eletrônicos inúmeros aprendizados a partir da vivência (Celulares, televisão) e a no ambiente natural. escola.

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Estilo de vida Ativo. Integrado ao meio ambiente. Sedentário. Distanciamento do meio ambiente.

Fonte: autoral

Percebe-se que o intenso contato com a sociedade industrializada desencadeou uma série de problemas socioambientais na comunidade dos índios Pitaguary. Como nos aponta Cohn (2001) o processo de transformação é inerente a qualquer cultura, porém deve-se atentar para a perda da diversidade cultural proveniente da imposição do estilo de vida hegemônico da sociedade globalizada, um dos principais fatores identificados para a rápida mudança no estilo de vida dos indígenas Pitaguary, que não tiveram escolhas frente às pressões dos interesses privado. Atualmente, dentro da comunidade, um importante agente influenciador é a escola indígena, onde diferentes metodologias podem integrar os saberes tradicionais aos conteúdos curriculares, diminuindo assim a perda dos valores indígenas e promovendo a inclusão social. Essa transdisciplinaridade, como mencionado anteriormente, é característica da extensão, que busca a integração de diferentes sujeitos e culturas, com o objetivo de promover a transformação social. A presença dos saberes indígenas no ambiente escolar permite e é permitida pela integração de várias áreas de conhecimento, contribuindo para a preservação da história Pitaguary e formação cidadã dos alunos (Fernandes et al., 2012; Castro, 2004). A metodologia dos vídeos possibilita que a presença dos saberes tradicionais da comunidade sejam vivenciados simultaneamente aos conteúdos do currículo escolar, utilizando-se de uma linguagem adaptada ao público infanto-juvenil e animações para incentivar o interesse dos alunos. Desta forma, o conhecimento não é visto como algo fragmentado, mas sim integrado às práticas cotidianas (Trindade, 2013). Até o momento foram produzidos dois vídeos didáticos protagonizados pelos próprios integrantes da comunidade, intitulados “Saúde e Alimentação” e “Consumo e Meio Ambiente”, estes, além de abordarem temáticas dentro da Biologia, possuem narrativas que constroem a história e a cultura do povo Pitaguary sendo, sobretudo,de extrema atualidade por trazerem questões tão urgentes como a forma em que os altos padrões consumistas vem prejudicando o equilíbrio da natureza, a diversidade de seres e de saberes e a qualidade de vida dos nativos da aldeia, que não estão dissociados do ecossistema local. Ao fazermos atividades de extensão com engajamento na melhoria da qualidade de vida da comunidade e visando promover seu fortalecimento e pensamento crítico (Fernandes et al, 2012) buscamos valorizar o saber cultural Pitaguary e diminuir as distâncias existentes os saberes acadêmicos e populares (Macedo, 2002). Outros resultados do projeto durante este primeiro ano de atividades incluem a defesa de uma monografia intitulada “Currículo indígena na escola Ita-Ara: Saberes Pitaguary sobre plantas medicinais”, apresentações de trabalhos na XXVI Semana Universitária da UECE, na 35ª Reunião Nordestina de Botânica e no X Congresso Brasileiro de Agroecologia, assim como o estabelecimento de uma parceria para o desenvolvimento de uma horta agroecológica no espaço escolar.

CONCLUSÕES

Vivemos em uma sociedade que valoriza a hiperespecialização do conhecimento, os resultados imediatos e a imposição de costumes homogêneos. Tais valores muitas vezes contribuem para a fragmentação da diversidade ambiental e humana. O trabalho de resgate dos saberes genuínos de um determinado grupo étnico contribui para a convivência da diversidade de saberes e para a valorização dos padrões sistêmicos, observados tanto no modo de organização da natureza como de diversas sociedades humanas. Tendo como premissa básica a Ecologia dos Saberes, o Pensamento Sistêmico e a Transdisciplinaridade, o projeto TECER vem realizando atividades junto aos Pitaguary de Monguba com o intuito de promover essa tessitura entre os distintos saberes e fazeres científicos, contribuindo, desta

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 maneira, para o resgate dos etnoconhecimentos Pitaguary, principalmente aqueles ligados à etnobiologia e à etnoecologia. Através da convivência étnica e dos vídeos didáticos realizados, evidenciou-se que as mudanças no estilo de vida dos indígenas foram acentuadas à medida em que houve a incorporação de hábitos e crenças da sociedade dominante, gerando o distanciamento da população ao ecossistema e saberes locais. Os vídeos didáticos, protagonizados por lideranças da aldeia, foram uma das formas encontradas pelo projeto para incentivar o resgate dos conhecimentos etnoecológicos por parte das novas gerações. Neste contexto, destaca-se a importância que a escola indígena assume frente a questões tão importantes quanto o fortalecimento da identidade cultural e à integração dos saberes científicos aos tradicionais. Desta forma, o projeto de extensão TECER cumpre seu papel social que é tramar um elo entre a Universidade e as comunidades tradicionais, de modo a permitir a expansão dos espaços de discussões e reflexões, tendo em vista as distâncias socioculturais que normalmente separam esses espaços.

AGRADECIMENTOS

À Universidade Estadual do Ceará pelas bolsas concedidas, ao núcleo gestor da escola Ita-Ara e à todo o povo Pitaguary pela hospitalidade e confiança.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

UM OLHAR QUE NADA FALA, MAS TEM MUITO A DIZER: UMA ABORDAGEM ETNOGEOMORFOLÓGICA POR MORADORES DE UMA COMUNIDADE RURAL NO NORDESTE BRASILEIRO

Karoline Veloso Ribeiro1*, Karen Veloso Ribeiro2, Emanuel Lindemberg Silva Albuquerque3, Roseli Farias Melo de Barros4

1Discente do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 2Discente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 3Professor do Curso de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 4Professora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI. *Karoline Veloso Ribeiro: [email protected]

RESUMO

Ao considerar que a Etnogeomorfologia estuda o conhecimento que populações têm acerca dos processos geomorfológicos, considerando os saberes sobre a natureza e os valores da cultura e da tradição local, objetivou-se verificar a geomorfologia predominante na bacia hidrográfica do rio Mulato, sob a ótica dos moradores da comunidade Furnas, situada no município de Jardim do Mulato, estado do Piauí. Os procedimentos metodológicos pautaram-se pelo viés da etnogeomorfologia, sendo que as informações foram analisadas qualitativamente. Diante do trabalho realizado, constatou-se que: i) os planaltos rebaixados/planaltos tabulares correspondem as Chapadas; ii) os morros testemunhos referem-se as Costaneiras/Morros; iii) as planícies fluviais referem-se ao Baixão e; iv) a Baixa contempla os vales interfluviais. Conclui-se que o etnoconhecimento dos moradores pesquisados se aproxima do conhecimento científico, não obstante a identificação e a caracterização das formas de relevo se dá pelas terminologias locais.

Palavras-chave: Etnoecologia, Relevo, Paisagem, Conhecimento local.

INTRODUÇÃO

O relevo como componente do estrato geográfico, no qual vive o homem, fornece não apenas conhecimento sobre os aspectos e a dinâmica da topografia atual, mas contribui de forma significativa para compreender a análise das formas e dos processos, além de exercer uma enorme influência na dinâmica socioambiental (CASSETI, 1991). Ao considerar a importância que o relevo assume nos estudos geomorfológicos, este manifesta fisionomias distinguíveis e compartimentáveis de acordo com os elementos que o modelam, sendo assim passíveis de familiarização pelo conjunto de “aparências” que adquirem nas paisagens (SOUZA, 2013). Ao partir dessa premissa, a Etnogeomorfologia, como foco de abordagem etnoecológica, estuda o conhecimento que populações apresentam acerca dos processos geomorfológicos, levando em consideração os saberes sobre a natureza e os valores da cultura e da tradição local (RIBEIRO, 2012). Vista como essencial na análise das realidades ambientais, parte do princípio de que o ambiente, constituído de seres, saberes, relações e culturas, busca na reconstrução histórica da relação sociedade/natureza, obter um diagnóstico vernacular para a compreensão de padrões de ocupação e organização espacial (DIEGUES, 1996).

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A análise científica do conhecimento tradicional tem sido uma referência importante para avaliar os saberes, seja pela validação de terminologias pela comunidade científica ou pela sociedade (RIBEIRO, 2012). Diante desta constatação, a Etnogeomorfologia surge com o objetivo de incluir e compreender o papel do homem como um agente ativo dentro desse sistema geomorfológico, pautando-se sob a ótica do entendimento e práticas de uso e manejo que as comunidades exercem sobre a paisagem (LOPES; RIBEIRO, 2016). Dentro desta perspectiva, o estudo do relevo, como parte essencial na análise integrada da paisagem, unido ao saber tradicional do ambiente, vem sendo visto como essencial na abrangência das realidades ambientais locais, sendo este crucial para o potencial sucesso ou fracasso de qualquer tipo de desenvolvimento e/ou atividades realizadas pelo produtor rural (RIBEIRO, 2015). Diante do ineditismo de pesquisas etnogeomorfológicas no Piauí e tendo em vista as variadas formas de relevo contidas no referido Estado, objetivou-se verificar a geomorfologia predominante na bacia hidrográfica do rio Mulato, sob a ótica dos moradores da comunidade Furnas, situada no município de Jardim do Mulato, estado do Piauí, no intuito de identificá-las, diferenciá-las e classificá-las. Com isso, passou-se a vislumbrar esta comunidade como um espaço geográfico propício ao desenvolvimento dessa pesquisa, tendo em vista um padrão geomorfológico diversificado na área em epígrafe. Portanto, o recorte espacial adotado, contemplando a comunidade mencionada, permite no estudo comparar as terminologias e verificar suas similaridades e diferenças, bem como aproximar o conhecimento científico ao conhecimento vernacular da cultura tradicional, além de conhecer seus processos e formas correlatas.

MATERIAL E MÉTODOS

A bacia hidrográfica do rio Mulato (Fig. 1) engloba, no todo ou em parte, oito municípios piauienses, a saber: Amarante, Angical do Piauí, Hugo Napoleão, Jardim do Mulato, Palmeirais, Regeneração, Santo Antônio dos Milagres e São Gonçalo do Piauí. Diante da abrangência e extensão da bacia hidrográfica mencionada, e seguindo o critério das maiores cotas altimétricas no referido setor espacial em análise, a qual é considerada de extrema importância para esse estudo, optou-se pela escolha do município de Jardim do Mulato, particularmente na comunidade Furnas, para o desenvolvimento da pesquisa.

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Figura 1. Mapa de localização da comunidade Furnas, município de Jardim do Mulato (Piauí, Brasil)

Vale salientar que esta pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, sob nº do parecer 2100118, obedecendo aos critérios éticos da Resolução Nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). A coleta de dados se deu por entrevistas semiestruturadas (BERNARD, 2006) com agricultores que possuíam faixa etária igual ou superior a 18 anos, por meio de formulários, contendo questões abertas e fechadas sobre relevo e paisagem; observação participante (BOGDAN; TAYLOR, 1975) e; mapeamento comunitário (BERNARD, 1988). Fotografias também foram utilizadas para consubstanciar e enriquecer a pesquisa. Todas as famílias residentes na comunidade Furnas foram entrevistadas, seguindo o universo amostral definido por Begossi (2009). As informações foram analisadas qualitativamente e a partir da comparação de dados entre o saber popular etnogeomorfológico com o saber científico, foi possível realizar a construção do perfil topográfico da área estudada e, assim, verificar as similaridades e diferenças referentes às terminologias. Bases cartográficas foram produzidas em ambiente de Sistema de Informação Geográfica (SIG), utilizando o software de geoprocessamento ArcGis10.2, com licença registrada na Universidade Federal do Piauí, por meio do Laboratório de Geomática, bem como pela utilização da plataforma Google Earth, permitindo, assim, uma diagnose acerca da caracterização topográfica/espacial da área em estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A área de abrangência da bacia hidrográfica do rio Mulato apresenta dois domínios geológicos distintos (CPRM, 2017): as estruturas sedimentares datadas do fanerozoico (Formação Corda, Formação Pastos Bons, Formação Pedra de Fogo e Formação Piauí) e a estrutura cristalina (Formação Sardinha). De acordo com Lira Filho (2011), a atual estrutura e morfoescultura das unidades de relevo da bacia hidrográfica em destaque são resultantes da ação tecnosedimentar e climática pretérita, além dos agentes endógenos e exógenos que atuam na estrutura geológica.

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Na proposta de classificação geomorfológica de Lima (1987), a bacia hidrográfica do rio Mulato encontra-se inserida no compartimento regional do relevo que compreende os Baixos Planaltos do Médio- Baixo Parnaíba, com altitudes que variam de 80 a 160 metros nas proximidades da foz dos rio Mulato e Parnaíba e de 300 a 400 metros nos planaltos rebaixados e morros testemunhos do tipo mesa no alto curso fluvial. Vale ressaltar, também, que as cotas altimétricas aumentam no sentido oeste-leste, estando o município de Jardim do Mulato inserido nas cotas de maior expressividade. A comunidade rural Furnas, situada no município de Jardim do Mulato/PI, consta atualmente com quatro famílias residentes, conforme os dados informados pelo Agente Comunitário de Saúde da presente localidade. A pesquisa foi realizada com um agricultor de cada família, sendo três do gênero masculino e um do gênero feminino (n=4). A idade dos informantes variou de 56 a 69 anos e o tempo de moradia na localidade de 15 a 69 anos. Dos quatro entrevistados, três (75%) frequentaram o ensino fundamental (incompleto) e apenas um (25%) concluiu o Ensino Médio. De acordo com os saberes dos entrevistados a partir da diferenciação das formas e altura do terreno (relevo), chegou-se à seguinte classificação das morfoesculturas, sendo assim denominadas: I) Costaneira ou morro (área inclinada); II) Chapada (área plana correspondente ao topo da costaneira); III) Baixa (área plana no “pé” da costaneira). Vale ressaltar, ainda, que a área rebaixada onde há acúmulo de água, é por eles denominada de baixão. No que diz respeito à análise da paisagem, todos relataram perceber uma variação altimétrica em relação às formas de relevo que foram identificadas e mencionadas. Ao partir dessa premissa, as terminologias etnogeomorfológicas vernaculares foram confrontadas ao saber científico, possibilitando, assim, um diagnóstico acerca do etnoconhecimento da comunidade. No intuito de espacializar e validar as informações colhidas em campo, considerando a escala adotada (comunidade Furnas) foi realizado um mapeamento hipsométrico da área, a partir de dados da missão SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e da plataforma Google Earth e, em seguida, elaborou-se um perfil topográfico (Fig. 2) no qual possibilitou uma visualização mais nítida da classificação do relevo regional e local.

Figura 2. Perfil topográfico da comunidade Furnas, município de Jardim do Mulato (Piauí, Brasil)

Ao considerar o perfil topográfico da comunidade em consonância com a compartimentação geomorfológica local e área de entorno, identificou-se que: i) os planaltos rebaixados/planaltos tabulares correspondem as Chapadas; ii) os morros testemunhos referem-se as Costaneiras/Morros; iii) as planícies fluviais referem-se ao Baixão e; iv) a Baixa contempla os vales interfluviais, Apesar da altitude constituir fator preponderante dentro dessa escala de análise, a temperatura ambiente e os cursos d’água, ali presentes, foram outros fatores que levaram os agricultores a distinguirem as morfoesculturas. Desta forma, no intuito de relatar com maior clareza as questões abordadas, os produtores rurais relataram que a chapada apresenta características distintas da baixa, sendo a primeira quente e seca e a segunda, fria e úmida. A partir da elaboração desses perfis topográficos, assim como da relação que os produtores rurais fazem da análise da paisagem, estes possibilitaram traçar de forma nítida a classificação etnogeomorfológica da bacia hidrográfica do rio Mulato, de acordo com os saberes dos entrevistados e, articular estes conhecimentos ao viés científico, sistematizado pela ciência geomorfológica.

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Por sua vez, todos os produtores rurais entrevistados são nascidos e criados no município de Jardim do Mulato, especificamente, na comunidade Furnas, onde têm nas suas práticas agrícolas seu maior conhecimento etnogeomorfológico, referente à análise da paisagem. Apesar de estarem em uma área predominantemente plana, associado às áreas de relevo acentuado e/ou declivosos, as formas de relevo puderam ser identificadas pelos entrevistados. Isso demonstra as diferenças no tocante às variadas formas de relevo ali existentes. Observou-se, ainda, que essas áreas são ocupadas para criação de animais (bovinos, caprinos e ovinos) e cultivos agrícolas. Em conformidade com os entrevistados, caprinos e ovinos possuem preferência por áreas de morro, diferentemente dos bovinos, que são criados em área de baixão. Isso ficou evidenciado na fala a seguir: “Bode não gosta de chapada porquê é reto” (Informante 1, 57 anos). Relativo ao plantio, este se dá tanto nas áreas altas, quanto nas baixas, entretanto é mais próspero na baixa, em virtude da umidade. Ainda segundo os informantes, as costaneiras ou morros só se tornam viáveis para o plantio se o “inverno” (verão chuvoso) for bom. A chapada foi designada como um local desfavorável para plantação, sendo considerada pelos entrevistados uma área mais seca que a costaneira ou morro, precisando a terra ser arada, adubada e corrigida com calcário para tornar propício ao cultivo. Tais resultados podem ser observados nas menções abaixo: “O baixão segura mais água, tem mais prosperidade, dá mais legume” (Informante 2, 67 anos). “Terra plana não dá nada, mas se adubada dá tudo” (Informante 4, 69 anos). Também ressaltaram a importância da temperatura local, uma vez que, segundo os produtores, futuramente, esta tende a ser alterada, em função do desmatamento que vem ocorrendo nesta última década, em decorrência do agronegócio, onde os entrevistados enfatizam ser a costaneira ou morro e a chapada como áreas quentes e o baixão e a baixa relativamente frios, como demonstrado no discurso subsequente: “Com o tempo, daqui a pouco, não tem mais lugar frio por causa do desmatamento” (Informante 1, 57 anos). Com isso, pode-se inferir que o fator temperatura e, consequentemente, a disponibilidade de água, logo deixarão de serem considerados aspectos relevantes para as características de diferenciação entre as formas de relevo, tendo em vista a tendência de uniformização.

CONCLUSÃO

Diante da pesquisa realizada, foram observados quatro tipos de unidades geomorfológicas da paisagem local (Costaneira ou morro; Chapada; Baixão e Baixa), segundo o etnoconhecimento dos produtores rurais, onde todos eles trabalham em terras próprias ou da família, e nenhum deles exerce outra profissão, apenas a de lavrador. Dessa forma, o ambiente, em geral, é bem percebido pelos entrevistados, uma vez que, foram nascidos e criados na comunidade onde se tem o contato direto com o ambiente que os rodeiam, possibilitando, assim, identificar e classificar as formas de relevo. Portanto, a partir dos dados altimétricos, a identificação, diferenciação e caracterização das formas de relevo, por meio da realidade visual deles, puderam ser constatadas pela observação do perfil topográfico gerado e comparado ao saber científico.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pelas bolsas concedidas as primeiras autoras. Todos os autores são gratos à UFPI, pelo apoio e incentivo às pesquisas científicas.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA ILHA DA CONCEIÇÃO A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS DE TRABALHO EM PERSPECTIVA ETNOECOLÓGICA

Marciléia Wanzeler de Souza Vasconcelos1,*, Francivaldo Alves Nunes2.

1Mestrado em Educação e Cultura, Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus de Cametá, Cametá – PA; 2Coordenador do Campus de Ananindeu-Pa. Universidade Federal do Pará(UFPA).

RESUMO

As ideias apresentadas são o resultado da pesquisa de campo realizada em 2016 e 2017 na Ilha da Conceição como parte da atividade para compor a tese de mestrado da autora. A Ilha da Conceição é formada pelas comunidades de Santana, São Joaquim e Costa de Santana, localizadas no município de Mocajuba na região Nordeste do Estado do Pará. A análise Etnoecológica ajuda na percepção e compreensão da estrutura fundiária construída no interior desses espaços resultantes de colonização mais tradicional, que se remete ao período colonial da História da Amazônia. O objetivo dessa pesquisa foi compreender que através dos saberes do homem ribeirinho produziu-se os espaços de trabalho terra, floresta e rios como os elementos que subsidiaram a ocupação territorial.

Palavras-chave: Saberes, Experiência, Ocupação, Etnoecologia.

INTRODUÇÃO Os habitadores dessas comunidades tradicionais da ilha da Conceição conseguiram aprender e a conhecer o meio natural e a partir desses conhecimentos criaram habilidades na confecção dos instrumentos utilizados na captura de crustáceos e também para o manuseio de sementes nativas coletadas na floresta. A etnoecologia analisará como o homem amazônico se percebe como parte integrante da natureza, o sentimento de pertencimento, ele pode ter nascido em muitos outros lugares, mas as experiências criadas na ilha da Conceição a partir do seu envolvimento com os elementos naturais e sociais constituíram e constituem a identidade local. O saber reproduzido nesses espaços que produzem as experiências que foram passadas através da oralidade para outras gerações, que são objetos de estudo da Etnoecologia, e que são importantes quando analisamos populações tradicionais, entendemos que para a percepção do meio ambiente o homem criou laços de pertencimento a terra, criando os aspectos culturais inerentes ao homem ribeirinho da Amazônia tocantinense.

MATERIAL E MÉTODOS

Esses métodos possibilitaram a análise das atividades laborais realizadas na ilha, o manejo da floresta, da terra e do rio e que estão proporcionalmente ligados ao processo de ocupação territorial da ilha da Conceição. A metodologia utilizada foi a visitação in locus, com a observação dos moradores em seus locais de trabalho e também de entrevistas semiestruturada. A utilização da fonte imagética e também de análises de documentos oficiais de órgãos estaduais e federais. A fonte oral “tem sido útil, cúmplice e necessária na reconstituição de saberes, experiências, improvisações e lutas cotidianas vividas no âmbito de uma cultura onde a oralidade predomina” (Pinto, 2004, p. 23). É a base da reconstrução do processo de ocupação e da formação dos saberes, a memória do ribeirinho ajuda a compreender as experiências e os saberes compreendidos e apreendidos ao longa da história desses povos. A fonte imagética tem como finalidade perceber o cotidiano da sociedade em um tempo e espaço específico, possibilitam uma análise dos conhecimentos e comportamentos reproduzidas pelo cotidiano dos habitantes da ilha da Conceição. Já a análise documental de instituições públicas, ajuda na percepção do nível de organização das

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 comunidades, pois o ato de acionar o poder público é diretamente proporcional ao nível de organização social dessas comunidades.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Thompson (1998), ao trabalhar com a categoria costume entendendo a Inglaterra do século XVIII, mostra que os costumes podiam ser utilizados em interfaces das leis agrárias, pois está pautado na práxis, entendido no cotidiano das pessoas mais comuns, vulgares consutudies, apresentando-se como algo que tem seu uso em comum e um tempo imemorial, assim o costume é lex loci, ou seja, é local. A partir desta ideia de costume procuro entender as experiências que se constrói pela concepção, percepção e conheci- mento da natureza, permitindo que se produzir e reproduzir, dando condições materiais e espirituais, apre- sentando como um elemento que foi motivador no processo de ocupação das terras. (Toledo, 1990). Chassot (1994) se reportar ao conhecimento que as populações tradicionais adquiriram ao longo de suas gerações, como algo que está longe do universo acadêmico, essas experienciais são fruto do relacio- namento direto com a natureza, nesses espaços se constrói um universo cultural, envoltos por “cosmologi- as, ideologias, crenças, além de um considerável corpo de conhecimento” (Souto, 2008, p. 16). É esse co- nhecimento que analisado neste trabalho são chamados de experiências, foi um método condicionante para a ocupação territorial e também para o trabalho realizado pelos ribeirinhos. Essas experiências caracterizadas pelo manejo das terra, das florestas e dos rios foram passadas de geração a geração e produziram a interação e integração do meio social e natural, criando valores no uso da terra, e também na construção da própria identidade do homem ribeirinho e na consolidação da ocupação da Ilha da Conceição. O processo de ocupação produziu uma singularidade na formação das comunidades desta ilha, nesses espaços a interação homem-natureza sofrem simbiose, pois a floresta e os rios não são apenas um espaço de produção alimentícia, ou fonte de renda, agrega-se valores culturais e sociais ao meio ambiente. Nestas comunidades a relação é diretamente proporcional a seguridade do território, se refutarmos que desde o período colonial a Coroa Portuguesa preocupa-se em povoar um imenso território e teoricamente não povoado e nem desenvolvido. As políticas de desenvolvimento e de ocupação para a Amazônia sempre foram desenvolvidas pelo mesmo discurso, ou seja, um vasto território sem desenvolvimento econômico e com uma taxa populacional muito baixa. A densa floresta amesquinhava o homem que aqui residia com sua imensidão. No entanto, quando se analise essas experiências de vivência do homem amazônico, percebe-se que ele criou em meio a um local com tantas especificidades, uma resiliência, ou seja, criou uma resistência a partir de sua interação com meio ambiente, proporcionando a formação de uma saber local que se utiliza dos recursos doados pela natureza para efetivar o processo de permanência na ilha. O homem que reside na ilha da Conceição trabalha no “complexo rio-mata-roça-quintal”, extraindo assim sua subsistência (Loureiro, 2014, 22). O saber local são as experiências de manejo da floresta e dos rios. A pesca, as atividades de coleta de açaí, de cacau, da coleta de andiroba (Carapa guianensis aubl) e do muru-muru (Virola aurinamensis) são exemplos dessa experiências, transformadas em saberes locais por uma rede de ensinamento. Esses conhecimentos adquiridos pelos ribeirinhos ao longo de sua vida é chamado de etnoconhecimento, que dispõe de uma qualidade de aprendizado único dos povos tradicionais. Trata-se de conhecimento com uma carga cultural difundida através dos saberes entre os povos nativos e os estrangeiros, que está pautada na elucidação da lógica produtiva do extrativismo vegetal e animal, pois “o conhecimento tradicional é o resultado da soma das experiências de cada indivíduo. A vivência, a relação entre homem e natureza” (Santos, Pereira & Andrade, 2007, p. 70). Os domínios das técnicas de pesca do camarão como, a pesca com o pari e com o matapi, são exemplos pertinentes de como o ribeirinhos usa os recursos naturais e transforma em tecnologias que aumentem sua adaptabilidade ao meio natural, criando domínio e também valores que constroem sua identidade. A paisagem humanizada que foi transformada ao longo dos séculos na região do baixo Tocantins, a partir da construção social e cultural estabelecida pelas relações históricas, políticas, sociais e culturais entre os povos que habitaram e compuseram a população da ilha da Conceição e a natureza. Isto

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 significa que o cotidiano produzido foi circunscrito dentro do campo de interesse e de necessidade da população local (Cunha & Moraes, 2012, p. 94). O ecossistema da ilha está circunscrito pela dinâmica das águas e da floresta, a produção e reprodução da fauna e da flora estão definidos pela própria natureza. Não é algo manipulável pelo homem, mais foi compreendido e aprendido pelos homens, e ensinado as novas gerações através da interação familiar. Cada sistema ambiental funciona de forma única e integrada aos meios de trabalho do homem ribeirinho. Isso quer dizer que a floresta e o rio funcionam como um território de domínio público e privado. Este conhecimento experimentado pelo conviver social da unidade familiar de produção se estende aos produtos da floresta e dos rios. O ribeirinho conhece o tempo de amadurecimento de cada fruto e o momento para coletá-los na floresta, assim como conhece as marés, e esse aprendizado é passado de pai para filho. As crianças de 10 anos em diante acompanham os adultos na andanças na floresta, podendo desenvolver uma atividade ou outra este processo de aprendizado está ligado principalmente à linguagem e oral e corporal. Outro elemento importante é o espaço de convivência social, a floresta e o rio, ganham características peculiares, podendo possuir ou não fronteiras, essa delimitação se dá pelo viés documental, ou seja, o documento de posse da terra, mais pode ser considerado sem fronteira a partir da atividade econômica desenvolvida. Cada Unidade de produção familiar, é delimitada por uma fronteira natural, delimitada pela memória dos ribeirinhos, sendo estes podendo ser documentados ou não. No entanto, a essa delimitação pode ser considerada particular ou comunal, a partir do produto coletado. A exemplo disso está a coleta do açaí, do cacau, da andiroba e do muru-muru. A propriedade é privada para a coleta do açaí e do cacau, ou seja, apenas a família está autorizada a coletar esses produtos, enquanto, que para a coleta das semente de andiroba e de muru-muru, a floresta não tem uma fronteira definida pelos homens, isso ocorre por que essas sementes são levadas para além dos pés de suas árvores matrizes, sendo uma das formas naturais de dispersão dos frutos pela floresta realizada pela água dos rios que inunda as terras de várzeas em horários das marés altas. A tapagem e uma das outras experiências de trabalho existente na ilha, é uma espécie de armadilha para capturar peixe e consiste em construir uma barreira em igarapés, se utilizando dos paris. Trata-se de um exemplo dos saberes que ao longo da história tornaram-se as experiências de trabalho, para capturar alimentos que irá abastecer as casas das famílias ribeirinhas. Esse saber é adquirido entre as gerações. As etapas requer do ribeirinho várias habilidades. Consistia primeiramente na tecelagem de uma espécie de tapete confeccionado com tala de miriti e cipó - comum às plantas lenhosas, trepadeiras, características das matas tropicais, de ramos delgados e flexíveis, que se fixam por meio de acúleos, de gavinhas ou por se enrolarem aos caules e ramos de árvores e arbustos. Geralmente esse processo de tecelagem era realizado pelas mulheres da família, e demandava pelo menos de um a dois dias de trabalho, dependendo do tamanho do pari que era confeccionado na largura do igarapé. Na maré alta, a família (homens, mulheres e crianças, em média entre 9 a 10 anos) deslocam-se de canoa até o ponto definido, o lugar com menor profundidade. Nesse ponto, coloca-se o pari - Espécie de tapete tecido pelos artesãos ribeirinhos de tala de miriti -, criando uma espécie de barragem, devidamente prendida em suas extremidades. Amarradas com cipó as varas que estrategicamente são colocadas. Feito a barragem, espera-se a vazante da maré, diminuindo os leitos e a profundidade dos igarapés. Com paneiro retira-se camarão e peixes que ficaram presos na tapagem. Essa prática é analisada pela etnoecologia como uma apropriação de conhecimento do meio ambiente e a interação com o homem, ou seja, o conhecimento dos materiais utilizados na confecção do pari e do paneiro, as técnicas de tecelagem, sendo que essa técnica é passada de geração a geração, ainda possui o conhecimento do tempo, o momento exato de tapar e o de ir verificar a tapagem, todos esses elementos demonstram o nível de percepção deste homem com a natureza, isto “é um saber sobre as formas de apropriação do mundo e da natureza” (Leff, 2012, 16). Mais esses espaços e os modos de produção das diversas culturas existentes nas ilhas são claramente um reflexo de um processo de dominação capitalista influenciadas pelos hábitos do continente. Mesmo se mantendo na região insular o ribeirinho não se empodera da multiplicidade da divisão das atividades na comunidade, como também, há claramente uma desvalorização da mão-de-obra feminina

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 repetindo o quadro existente também nos centros urbanos, no entanto, a unidade de produção familiar, destaca-se por uma divisão do trabalho, entre mulheres, homens e crianças, mesmo que haja, atividades que teoricamente deveriam ser desenvolvidas pelos homens, as mulheres aprenderam a manusear apetrechos de pesca e assim, também realizam as atividades condicionadas pelo sexo masculina. Outra questão importante é entender que o tempo despendido para determinada atividade laboral, é condicionado pelo valor comercial que esse produto tem no mercado. Sendo assim as culturas com maior valor agregado são comercializados pelos homens. Outra questão relevante é a falta de tecnologias sociais que possibilitem a valorização financeira dos produtos da floresta e dos rios, a exemplo disso está na comercialização dos produtos in natura. E por Tecnologias Sociais entende-se que são produtos e técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas em interação com a comunidade, em que representem efetivas soluções de transformação social. São experiências inovadores que contribuem para resolver grandes problemas sociais. (Samonek, 2016, p. 14).

CONCLUSÕES

Conclui-se então que os saberes produzidos ao longo da constituição e formação dessas comunida- des foram adquiridas pelo processo de observar os mais velhos e assim, as práticas foram perpassadas para as gerações seguintes, e isso promoveu a consolidação da ocupação territorial da Ilha da Conceição. Esse processo de ocupação está pautado nas experiências desse povo, no uso das tecnologias sociais, seja no manejo da floresta, do rio, ou nos elementos que serão inseridos ao longo da sua história. E essa ocupação é feita de forma familiar e a divisão territorial é conduzida pelo patriarca da família referente ao número de filhos que possui, no entanto, alguns casos foram norteados pelas mulheres. E as áreas não possuem demarcação físicas. O fato é que, a etnoecologia ao analisar esses elementos evidencia a impor- tância do espaço e dos atores sociais e sua interação produz e reproduz um conhecimento que é provenien- te das condições materiais e imateriais dos povos ribeirinhos, em meio à conservação da natureza produ- zem as condições materiais de trabalho.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a primeiramente a Deus pelo dom da vida e da sabedoria em poder lidar com tantas adversidades, a minha família meu filho esposo pela compreensão e atenção nas horas de estudos. Ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura do Campus de Cametá/Pá. Ao meu orientador prof. Francivaldo Alves Nunes e meu co-orientador prof. Nino Soubreiro.. Pai Nosso que estás no céu, santificado seja vosso nome. Venha nós o vosso reino.

REFERÊNCIAS

Chassot, A. (1994). A ciência através dos tempos. Ed. Moderna. São Paulo.

Cunha, Alessandra Sampaio & Moraes, Sérgio Cardoso de. (2012). Fragmentos de Território de Pesca na Amazônia. In: SOBRINHO, Mário Vasconcelos et al; (Orgs.). (pp. 93-125). Gestão dos Recursos Naturais e Desenvolvimento Local. Belém: NUMA-UFPA.

Leff, Enrique. (2012). Aventuras da epistemologia ambiental: da articulação das ciências ao diálogo de saberes. São Paulo: Cortez.

Loureiro, Violeta Refkalefsky. (2014). Amazônia: Estado, homem, natureza. Belém: Cultural Brasil.

Marques, J. G. 2001. Pescando pescadores: ciência e etnociência em uma perspectiva ecológica. 2. ed. NUPAUB, USP, São Paulo, Brasil, 258pp.

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Pinto, Benedita Celeste de Moraes. (2004). Nas Veredas da sobrevivência: memória, gênero e símbolos de poder feminino em povoados amazônicos. Belém: Paka-Tatu.

Samonek, Francisco. (2016). Encauchados 20 anos – do Acre para o mundo. Belém: Supercores.

Santos, André Luiz da Silva. Pereira, Eugênia C. Gonçalves & Andrade, Laise de Holanda Cavalcanti. (2007). A construção da paisagem através do manejo dos recursos naturais e a valorização do etnoconhecimento. In: Albuquerque, Ulysses P. de. Alves, Ângelo G. Chaves & Araújo, Thiago A. de Souza. (Orgs). (pp. 61-73). Povos e Paisagens: Etnobiologia, etnoecologia e biodiversidade no Brasil. NUPEA/UFRPE. Recife.

Souto, Francisco J. B. (2008). A Ciência que veio da lama: etnoecologia em área de manguezal. NUPEA. Recife.

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Thompson, (1998). E. P. Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras.

Toledo, Victor M. (1990). La perspectiva etnoecológica cinco reflexiones acerca de las “ciencias campesi- nas” sobre la naturaleza con especial referencia à México. Ciências. Especial 4.

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ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

ESTUDO ETNOFARMACOLÓGICO RELACIONADO AO USO DE PLANTAS NA TERAPIA DE ENFERMIDADES EM ANIMAIS DE PRODUÇÃO NO SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO

Ana Lúcia de Oliveira Borges 1,*, Flávia Cartaxo Ramalho Villar2, Vitor Prates Lorenzo2, Rodolfo de Moraes Peixoto2

1 Bolsista PIBIC, Graduanda em Engenharia Agronômica, Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão Pernambucano); 2 Professor Doutor, IF Sertão Pernambucano. Rodovia BR 235, km 22, Projeto Senador Nilo Coelho – N 4, CEP: 56.300-000, Petrolina – PE. *[email protected]

RESUMO

O presente trabalho objetivou conhecer as principais espécies de plantas utilizadas na terapia de enfermidades nos animais de produção na região Submédio São Francisco. Foram realizadas visitas a 17 famílias voluntárias de comunidades rurais de Sobradinho/BA e quatro famílias de Juazeiro/BA. As principais enfermidades citadas foram: verminoses (90,5%), gripe/tosse/catarro (57,1%), o mal do caroço (19%), entre outras, 4,8%. Foram coletados 36 indivíduos da flora medicinal, distribuídos em 17 famílias, 34 gêneros e 39 espécies. A família mais representativa foi a Fabaceae com 11 espécies, seguida por Euphorbiaceae (4) e Lamiaceae (3). O estudo etnofarmacológico realizado nas zonas rurais dos municípios de Juazeiro-BA e Sobradinho-BA demonstrou que o uso de plantas medicinais da caatinga é comum em várias comunidades, seus empregos terapêuticos e preparos são os mais diversos nas criações de animais de produção. Estudos desta natureza garantem a preservação do conhecimento popular e podem subsidiar a descoberta de novos fitoterápicos.

Palavras-chaves: etnofarmacologia, ruminantes, pequenos animais, fitoterapia.

INTRODUÇÃO

A região Nordeste é conhecida pela sua vegetação savana estépica (Caatinga), apresenta resistência a altas temperaturas, pluviosidade baixa, com espécies vegetais, pouco estudadas e conhecidas pela população local por seus efeitos curativos em tratamentos de enfermidades em pessoas e animais (MMA, 2006). O emprego de plantas medicinais como instrumento de cura tem passado por diferentes paradigmas. Inicialmente, a utilização de plantas era realizada basicamente de forma empírica, sendo o conhecimento repassado entre as gerações. Ao longo do tempo, as plantas medicinais tornaram-se alvo de interesse para pesquisas científicas, aliando diferentes percepções sobre esse instrumento terapêutico (Leite, 2009). O conhecimento sobre a ação das plantas no tratamento de animais em áreas rurais tem sido alvo de pesquisa para a academia (Albuquerque & Hanazaki, 2006), baseada na cultura local ou no aperfeiçoamento dos criadores de animais que muitas vezes desenvolveram métodos próprios (Berg, 2010; Maciel, Pinto & Veiga, 2002), para tratar de seu rebanho utilizando as plantas disponíveis no bioma caatinga ou cultivadas em suas áreas, viabilizando a atividade de criação de animais para sobrevivência da família, como atividade comercial. O presente trabalho teve por objetivo, conhecer as principais espécies de plantas utilizadas na terapia de enfermidades nos animais de produção na região submédio São Francisco.

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MATERIAL E MÉTODOS

Após a submissão e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos e Animais - CEPHA do IF Sertão-PE (Plataforma Brasil - CCAE 62166616.5.0000.8052 e parecer 1916343). Foram realizadas visitas a 17 famílias voluntárias de comunidades rurais de Sobradinho/BA e 04 famílias voluntárias de Juazeiro/BA, respectivamente localizados nos seguintes pontos geográficos: 9° 27' 34'' S e 40° 49' 31'' W e 9° 26' 18'' S e 40° 30' 19'' W (CIDADE-BRASIL, 2017). Na cidade de Sobradinho/BA, participaram 17 famílias, distribuídas em 9 comunidades (Zona Urbana, Algodões Velho, Canaã, Santa Maria, Lagoa Grande, Tataui I, II, III e IV). Em Juazeiro/BA, no Distrito de Massaroca, participaram 4 famílias, das comunidades de Canoa (1 família) e Saquinho (03 famílias). A pesquisa foi realizada através de entrevista, com questionário semiestruturado contendo as informações necessárias para o estudo etnofarmacológico. Após a entrevista e indicação do uso das plantas pelos participantes para terapia animal, era realizada a coleta botânica da espécie indicada e marcada a coordenada geográfica. A coleta botânica foi realizada seguindo as normas tradicionais da taxonomia vegetal. Os exemplares coletados foram depositados no herbário do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental – NEMA da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Petrolina/PE. A identificação das espécies foi realizada utilizando material bibliográfico especializado.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Foram coletados 36 indivíduos da flora medicinal, distribuídos em 17 famílias, 34 gêneros e 39 espécies. A família mais representativa foi a Fabaceae com 11 espécies, seguida por Euphorbiaceae (4) e Lamiaceae (3). As demais famílias apresentaram apenas 1 ou 2 espécies. Os voluntários se declararam ovinocultores, 21 pessoas (100%), 19 caprinocultores (90,5%), 08 bovinocultores (38,1%) e suinocultores/criadores de galinha (1%), 5 pessoas (23,8%) praticam agricultura de sequeiro combinada com a criação de animais, com exceção, de duas pessoas (9,52%) que desempenhavam atividade empregatícia, mantendo a criação como atividade secundária. Todos eram proprietários das terras que vivem, 9 aposentados (42,85%). Em relação a escolaridade, 11 pessoas (52,38%) cursaram o ensino médio. Do total de entrevistados, sete eram 7 mulheres (33,3%) e 14 homens (66,7%), com faixa etária de 36 a 75 anos. O período de moradia nas suas propriedades, oscilou entre 2 a 73 anos. As principais enfermidades citadas no plantel dos entrevistados foram: a verminose (90,5%), 12 relatos para infecções respiratórias (57,1%), 4 relatos para o mal do caroço (19%), além do botulismo. A Aloe vera (babosa), obteve a maior indicação nos questionários, sendo mencionada como milagrosa por 7 voluntários (33,3%) e utilizada como remédio por 14 participantes (66,6%), no tratamento de vermes, ferimentos, infecções, limpeza no pós-parto e usada como energético, sendo bem recebida pelos animais. O uso das raspas dos caules de Mimosa tenuiflora (jurema preta) citada por 13 pessoas (61,9%) é comum nas propriedades e em seu entorno, utilizada para tosse/gripe, infecção, cura de umbigo, ferimentos, limpeza de pele, sendo a segunda espécie mais citada. A Commiphora leptophloeos (umburana de cambão) mencionada por 12 (57,14%), além do uso artesanal da madeira, sua aplicação medicinal é uma pratica diária para muitos camponeses, apontada como alívio para problemas gastrintestinais. A Spondias tuberosa (umbuzeiro), obteve 10 citações (47,61%), com cada vez menos árvores, nas zonas rurais, segundo os relatos, atua contra broncopneumonias, diarreia e cicatrizante. O Cnidoscolus quercifolius (favela), planta vista com facilidade na região do Submédio São Francisco, tem sido utilizada para ferimentos, suas raspas inseridas na pele promovem a cicatrização, possuindo ação repelente e de molho, após algumas horas pode auxiliar na resolução de problemas gastrintestinais. A Anadenanthera colubrina (angico), muito conhecida nas comunidades, é utilizada para tosse, infecções respiratórias,

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ferimentos, fraturas, cura de umbigo, segundo os participantes tem diminuído sua oferta a cada ano, devido a utilização para fins madeireiros. O Myracrodruon urundeuva (aroeira) é uma das plantas normalmente utilizada no tratamento de enfermidades em humanos, empregada para animais, tem proporcionado controle de tosse, infecções diversas, cicatrização e no pós-parto. Nas preparações, são acrescentadas outras substâncias como água 19 citações (90,2%), sal 8 declarações (38,1%), além de álcool/suco de limão/alho 4 (19%), sendo que a composição dos preparados se dá através de chás, infusões, in natura, melaço e pomadas. Os órgãos vegetais citados na pesquisa foram: caule (cascas e entre casca), tanto para uso interno e uso externo (aplicação em ferimentos). O tratamento com folhas também ocorre pelos seus exsudados, a exemplo do molíssima (pinhão brabo) que é referenciado como eficaz, sendo o consumo de sua seiva, para tratar envenenamento e limpar manchas oculares, quando usado nas ceratoconjuntivites. Outras partes citadas foram as flores, frutos e sementes, conforme (Tabela 1).

Tabela 1. Levantamento etnofarmacológico de plantas medicinais utilizadas na terapia de enfermidades em animais de produção nas comunidades rurais de Juazeiro/BA e Sobradinho/BA. Número de citação da espécie pelas comunidades e seu uso como fitoterápico.

Número Parte da Táxon Nome vulgar de Frequência planta Usos citação utilizada Acanthaceae Folhas, Ruellia paniculata melosa/amargosa 1 0,64 Ferimentos em geral flor Amarantaceae Vermífugo, eliminação da Dysphania Folhas e mastruz 2 1,28 placenta, ambrosioides caule cicatrizante

Tosse, cicatrização, Myracrodruon Raspas aroeira 7 4,48 eliminação da urundeuva Fr. Allem. do caule placenta Anacardiaceae Cicatrizante para Raspas Anacardium occidentale cajueiro 4 2,56 ferimentos do caule Gripe, diarreia, Raspas Spondias tuberosa umbuzeiro 10 6,41 cicatrizante, catarro do caule e hemorragia Asphodelaceae Aloe vera babosa 14 8,97 Geleia Vermífugo, cicatrizante, infecções,

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eliminação da placenta Burseraceae Commiphora umburana de Raspas Disenteria, dores 12 7,69 leptophloeos cambão do caule abdominais Convolvulaceae

Operculina macrocarpa batata de purga 2 1,28 Fruto Vermífugo

Cucurbitaceae

Apodanthera sp. batata de teiú 3 1,92 Fruto Sarnas melão de são Momordica charantia L. 2 1,28 Fruto Repelente caetano

Euphorbiaceae

Continua...

Continuação da Tabela 1.

Número Parte da Táxon Nome vulgar de Frequência planta Usos citação utilizada Cicatrizante, Raspas repelente, dor de Cnidoscolus quercifolius favela 9 5,76 do caule barriga

Disenteria, Raspas eliminação da Croton echioides Baill. quebra faca 5 3,2 do caule placenta

Em Folhas, Jatropha molíssima pinhão brabo 6 3,84 envenenamentos, flor, seiva ceratoconjuntivite Fabaceae Falta de apetite, umburana de Amburana Cearensis 5 3,2 Sementes indigestão cheiro Tosse, ferimentos, Anadenanthera Raspas angico 7 4,48 fraturas, cura do Colubrina var. Cebil do caule umbigo Bauhinia cheilantra mororó 1 0,64 Folhas Broncopneumonia Caesalpinia pyramidalis Raspas Eliminação da pau de rato 2 1,28 Tul. do caule placenta, dores

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abdominias, disenteria Hymenea martiana Raspas Jatobá 2 1,28 Energético Hayne do caule Infecções diversas, Libidibia férrea pau ferro 2 1,28 Folhas cicatrização Mimosa sp. calumbi 3 1,92 Folhas Cicatrizante, tosse Tosse, cura de Mimosa Raspas jurema preta 13 8,33 umbigo, cicatrizante tenuiflora (Mart.) Benth do caule Vermífugo, diarreia, Raspas infecção urinária, dor Poincianella microphylla catingueira 6 3,84 do caule, abdominais e flor empanzinamento Senna martiana (Benth) Folhas, canafístula 1 0,64 Empanzinamento H.S. Irwin & Barneby flor Raspas Infecção diversas, Tamarindus indica tomarindo 1 0,64 do caule laxante e fruto Lamiaceae Mesosphaerum samba caeta 1 0,64 Folhas Inflamações suaveolens (l.) Kuntze Infecções Plectranthus malvão 1 0,64 Folhas amboinicus respiratórias

Continua ...

Continuação da Tabela 1. Número Parte da Táxon Nome vulgar de Frequência planta Usos citação utilizada Plectranthus ornatus boldo 2 1,28 Folhas Indigestão Infecções diversas, Folhas e algodão crioulo 7 4,48 eliminação da Gossypium hirsutum L. sementes placenta, febre Pseudobombax Raspas Infecções simplicifolium A. Robyns umburuçú 4 2,56 do caule respiratórias Nyctagenaceae Raspas Inflamações Maytenus rigida Mart. pau de colher 2 1,28 do caule diversas

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Inflamações Guapira cf. graciliflora pau piranha 1 0,64 Folhas diversas Rhamnaceae Cicatrizante, dores Zizyphus joazeiro juazeiro 4 2,92 Folha abdominais, tosse Rutaceae Ceratoconjuntivite, Zanthoxylum L. limoeiro 5 3,2 Fruto tosse Sapindaceae Cardiospermum Caule, xeque xeque 1 0,64 Intoxicações corindum L. folha, flor Turneraceae

Turnera subulata Sm. flor amarela 1 0,64 Flor Analgésica

Verbenaceae

erva cidreira 2 1,28 Folhas Dores abdominais Lippia alba (Mill) Infecções Folhas e respiratórias, Lippia origanoides alecrim do campo 2 1,28 caule repelente

CONCLUSÕES

O estudo etnofarmacológico realizado nas zonas rurais dos municípios de Juazeiro-BA e Sobradinho-BA demonstrou que o uso de plantas medicinais da caatinga é comum em várias comunidades, seus empregos terapêuticos e preparos são os mais diversos nas criações de animais de produção. O tratamento com plantas medicinais é repetido uma ou duas vezes, sendo o objetivo alcançado (cura ou resolução do problema) na maioria das vezes. Estudos desta natureza garantem a preservação do conhecimento popular e podem subsidiar a descoberta de novos fitoterápicos.

AGRADECIMENTOS

Ao IF SERTÃO-PE, pela concessão da bolsa PIBIC, além da Secretaria Municipal de Agricultura de Sobradinho-BA e Juazeiro-BA e IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada) pela mediação junto aos criadores e ao NEMA (Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental), pela cedência do espaço físico e orientação técnica para identificação botânica.

REFERÊNCIAS

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Berg, M.E.V.D (2010). Plantas medicinais na Amazônia: contribuição ao seu conhecimento sistemático. 3. ed. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi.

Brasil-cidade (2017), Cidade Brasil / Estado de Bahia / Município de Sobradinho» Informação geral disponível em http://www.cidade-brasil.com.br/municipio-sobradinho.html

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143 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

ANÁLISE DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS COM POTENCIAL ABORTIVO

Denisy Trigueiro do Santos¹*, Débora Caroline do Nascimento Rodrigues¹, Mariana Rodrigues Lustosa Mendes¹, Lucas Gustavo Galiza¹, Sérgio Emílio dos Santos Valente²

¹Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina-Pi; ²Laboratório de Genética e Biologia Molecular, Departamento de Biologia, UFPI, CMPP. *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

O uso de plantas com propriedades medicinais faz parte da cultura humana desde os tempos mais remotos, essa prática aparece como uma alternativa a medicamentos sintéticos, sendo amplamente empregados para as mais diversas finalidades, que vão desde a cura, tratamento ou prevenção de doenças ao aborto. O seu uso é favorecido pela crença de que não apresentam nenhum risco para saúde, facilidade de obtenção e cultivo, levando assim, ao seu uso indiscriminado. Com base nisso, o presente trabalho objetiva a análise do uso de plantas medicinais potencialmente abortivas. Foi possível evidenciar que muitas plantas medicinais presentes na medicina tradicional apresentam potencial abortivo, dentre as quais podemos destacar a Arruda (Ruta graveolens L.), Sene (Senna alexandrina Mill.), Boldo (Vernonia Condensata Baker.), Chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus Kunth. Micheli) e Gengibre (Zengiber officinalis R.). É necessário promover a conscientização da população sobre o uso adequado de plantas medicinais, riscos tóxicos e seus efeitos adversos.

Palavras-chaves: Etnofarmacologia, medicina tradicional, aborto.

INTRODUÇÃO

“Desde os tempos imemoriais, o homem busca, na natureza, recursos que melhorem sua condição de vida para, assim, aumentar suas chances de sobrevivência pela melhoria de sua saúde. Em todas as épocas e culturas, ele aprendeu a tirar proveito dos recursos naturais” (Brasil, Ministério da Saúde, 2006, p. 09). Neste contexto, o uso de plantas medicinais foi amplamente empregado na medicina tradicional, sendo utilizadas na cura ou tratamento de enfermidades e em vários outros procedimentos clínicos. “O surgimento do conceito de ‘natural’, em muito contribuiu para o aumento do uso das plantas medicinais nas últimas décadas. Para muitas pessoas esse conceito significa a ‘ausência de produtos químicos’, que são aqueles que podem causar algum dano ou, de outra forma, representam perigo. Assim, produtos naturais passaram a ser sinônimo de produtos saudáveis, seguros e benéficos” (Mengue et al., 2001, p. 21). Veiga et al. (2005) considera que a popularidade da utilização de plantas medicinais estar associado aos obstáculos básicos impostos a populações carentes que vão desde a dificuldade do acesso aos centros de atendimento hospitalares à obtenção de exames e medicamentos, além de ter seu uso favorecido pela facilidade na obtenção e tradição popular. Assim, todo esse cenário leva ao uso indiscriminado de plantas com propriedades medicinais ignorando a possibilidade de toxidade e efeitos adversos. Em seu estudo, Oliveira et al. (citado em Vasconcelos et al., 2009) descreve que os casos de intoxicação por plantas medicinais em adultos estão vinculados ao uso indevido de plantas medicinais ou plantas com propriedades entorpecentes e abortivas. O uso de espécimes vegetais com propriedade medicinal que possuem potencial abortivo são amplamente utilizadas na medicina tradicional com a crença de que não possuem efeito tóxico, teratogênico, embriotóxico ou mutagênico. Muitas pessoas se quer possuem conhecimento sobre o

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 potencial abortivo que tal espécime vegetal possui, outras, embora cientes de tal potencial utilizam-na ignorando os possíveis riscos ou, em casos de aborto incompleto, a possibilidade de defeitos congênitos em recém-nascidos (Moreira et al., 2001; Rodrigues et al., 2011; Souza et al., 2013). Com base nisso, o presente trabalho enfoca no uso de plantas medicinais com potencial abortivo, podendo o seu uso ser motivado pelo intuito de abortar ou proveniente de outras finalidades, como cura, tratamento ou prevenção de doenças.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi elaborado a partir de uma revisão de literatura nas bases de dados Google, Google acadêmico, Lilacs e Scielo, com preferência por trabalhos nacionais, além da consulta de periódicos referenciados nos trabalhos analisados. As palavras-chaves utilizadas foram “plantas medicinais”, “plantas abortivas”, “aborto induzido”. No Google foi possível utilizar frases completas, exemplo, “plantas para abortar”, “toxidade de plantas medicinais”, “plantas medicinais usadas para tratamento ou prevenção de doenças”. O nome popular das espécies vegetais também foi usado nas buscas. Foram critérios de exclusão: trabalhos publicados antes dos anos 2000 ou que tratam dos efeitos tóxicos ou abortivos de plantas medicinais que não são populares no uso tradicional.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O abortamento é um assunto bastante polêmico que consiste na interrupção da gravidez até a 20a ou 22ª semana e com produto da concepção pesando menos que 500g. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, metade das gestações é indesejada, com uma a cada nove mulheres recorrendo ao abortamento para interrompê-las. No Brasil, apesar da sua ilegalidade, estima-se a ocorrência de mais de um milhão de abortos inseguros ao ano. O artigo 128 do Código Penal de 1940 prevê o abortamento legalizado apenas para gestações resultantes de estupro e para caso de risco de morte para a mulher. Há legalização também para o caso de anencéfalos, a hipótese em julgamento não configura aborto, que pressupõe potencialidade de vida do feto (Arcanjo et al., 2013; Bakke et al., 2008; Brasil, 2011). De acordo com o Brasil (2011): O abortamento representa um grave problema de saúde pública, com maior incidência em países em desenvolvimento, sendo uma das principais causas de mortalidade materna no mundo, inclusive no Brasil. Sua discussão, notadamente passional em muitos países, envolve uma intricada teia de aspectos legais, morais, religiosos, sociais e culturais. Vulnerabilidades como desigualdade de gênero, normas culturais e religiosas, desigualdade de acesso à educação, e múltiplas dimensões da pobreza – com a falta de recursos econômicos e de alternativas, a dificuldade de acesso a informação e direitos humanos, a insalubridade, dentre outros – fazem com que o abortamento inseguro atinja e sacrifique, de forma mais devastadora, mulheres de comunidades pobres e marginalizadas. (p. 07) Os métodos mais usuais para induzir o aborto consistem em chás ou infusões de plantas medicinais, inserção de preparos herbais ou objetos perfurantes na vagina, saltos de escadas ou telhados, além do Misoprostol, análogo sintético da prostaglandina E1, comercializado com o nome de Cytotec® (Brasil, 2011; Moreira et al., 2001). Muitas são as plantas medicinais utilizadas na medicina tradicional que possuem efeito abortivo, vale ressaltar que muitas destas são usadas desconhecendo-se tal propriedade. Tais espécies vegetais podem ser utilizadas para as mais diversas finalidades, como calmantes, para mal-estar, cólicas fortes ou dores abdominais, para “descer” a menstruação, como digestivos ou para resfriados. É sabido que mulheres em período gestacional sofrem de frequentes enjoos e prisão de ventre, fazendo o uso de medicamentos ou até mesmo de plantas medicinais para aliviar os sintomas, o que se caracteriza como um risco devido ao potencial abortivo que muitas plantas possuem (Bakke et al., 2008; Barros & Albuquerque, 2005; Souza et

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 al., 2013). No entanto, o emprego de plantas medicinais como método abortivo é uma prática que persiste no Brasil, e muitas mulheres cientes de tal propriedade fazem o seu uso. Dentre algumas espécies vegetais com potencial abortivo amplamente empregadas no uso popular destacam-se: Arruda (Ruta graveolens L.): Arruda está entre as plantas com propriedades medicinais mais utilizadas na medicina popular, e é indicada “para vir a menstruação”, como calmantes, contra piolhos e contra mau olhado. (Mengue et al., 2001). Matos, em seu estudo sobre plantas medicinais usadas em fitoterapia no Nordeste e Sousa et al. em seu trabalho sobre os constituintes químicos ativos e propriedades biológicas de plantas medicinais brasileiras (citados em Rodrigues et al., 2011) descrevem que a arruda possui atividade anti-helmíntica, anti- hemorrágica abortiva, carminativa, antiespamódica e estimulante. Indicada para reumatismo, hipertensão e verminoses. O seu uso é popular como método abortivo por exercer fortes contrações no útero ocasionado a morte do feto. Sene (Senna alexandrina Mill.): De acordo com Robbers e Tyler (citado em Silva & Rau, 2012) o sene é o laxante antranóide mais utilizado mundialmente. Muito utilizado por mulheres para aliviar problemas intestinais, espécies do gênero Senna têm sido consideradas popularmente como estimulante da menstruação, abortiva e estimulante da musculatura do útero (Silva & Rau, 2012). Boldo (Vernonia condensata Baker.): O principal uso da planta se dá pelas folhas, contra problemas gastrointestinais, tais como diarreia, constipação, dor de estômago, vermes intestinais e infecções bacterianas. A planta também é frequentemente usada para o tratamento de infecções urinárias, inflamação, diabetes e malária (Brasil, 2014). Seu uso também é popular como método abortivo. Chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus Kunth. Micheli): É utilizada na medicina popular para tratamentos de doenças renais, reumatismo, afecções cutâneas e problemas no fígado. Seu uso está associado ao aumento no número de cistos e de abortos em ratas Wistar prenhas (Toledo et al., 2004). Gengibre (Zengiber officinalis R.): O gengibre possui ação estimulante digestiva, antimicrobiana, antivomitiva, anti-inflamatória, antirreumática, antiviral, antitussígena, antitrombose, cardiotônica, antialérgica, colagoga e protetora do estômago. É indicada nos casos de dispepsia, como carminativo das cólicas flutuantes e para combater rouquidão e inflamação da garganta. Seu uso é muito popular para problemas do estômago, garganta e fígado, assim como para enjoos, náuseas e vômitos (Brasil, 2014). O gengibre é potencialmente abortivo por estimular a motilidade uterina (Veiga et al., 2005). Outras espécies potencialmente abortivas comuns na medicina tradicional são, o Hortelã (Mentha pulegium L.), Romã (Punica granatum L.), Alecrim (Rosmarinus officinales L.), Quebra-Pedra (Phyllanthus niruri L.), Cabacinha (Luffa Operculata L.), Quina-verdadeira (Cinchona calisaya Wild.), dentre outras (Moreira et al., 2001; Rodrigues et al., 2011; Souza et al., 2013). Com base na análise da literatura foi possível evidenciar que muitas plantas medicinais apresentam potencial abortivo, sendo contraindicado o seu uso durante a gestação. No entanto, como foi evidenciado na pesquisa realizada por Souza et al. (2013) na Unidade Básica de Saúde (UBS), São Paulo, plantas potencialmente abortivas são amplamente utilizadas por mulheres, mesmo durante a gravidez, principalmente para dores estomacais ou como digestivos, desconhecendo os seus riscos. Em contrapartida, cientes de tal potencial e com o intuito de provocar o aborto, foi constatado na pesquisa realizada por Moreira et al. (2001) o uso frequente de plantas medicinais como recurso abortifaciente.

CONCLUSÕES

O aborto é uma prática ilegal no Brasil, assim, acaba assumindo um forte caráter clandestino. Entre os métodos mais comuns para provocar o aborto destacam-se o uso de plantas medicinais, devido facilidade de obtenção e cultivo, visto que o aborto é mais frequente entre mulheres carentes. Neste

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 contexto, é importante a promoção de debates que tratem sobre o aborto e atenção humanizada a essas mulheres. É necessário a conscientização sobre o uso indiscriminado de plantas medicinais, muitas podem se apresentar tóxicas quando ingeridas em altas quantidades, além, de que muitas mulheres grávidas podem usá-las para mal-estar sem saber do seu potencial abortivo. O período gravídico caracteriza-se como uma fase sensível para a mulher e requer atenção redobrada na ingestão de qualquer medicamento ou chás de plantas medicinais, por isso faz-se de extrema importância à procura de orientação médica. É necessário que toda informação advinda do meio científico que explicite as propriedades medicinais, riscos tóxicos e efeitos adversos das plantas chegue a toda população, e o meio mais propício para essa divulgação está na realização de palestra em escolas e unidades básicas de saúde.

AGRADECIMENTOS

Todos os autores são gratos a Universidade Federal do Piauí (UFPI) por favorecer e incentivar a produção científica.

REFERÊNCIAS

Arcanjo, G. M. G., Medeiros, M. L. F. S., Azevedo, R. R. S., Griz, S. A. S., Rocha, T. J. M., & Mousinho, K. C. (2013). Estudo da utilização de plantas medicinais com finalidade abortiva. Revista Eletrônica de Biologia, 6(3), 234-250. Disponível em https://revistas.pucsp.br/index.php/reb/article/view/13347 Bakke, L. A., Leite R. S., Marques, M. F. L., & Batista, L. M. (2008, Junho) Estudo comparativo sobre o conhecimento do uso de plantas abortivas entre alunas da área da saúde e da área de humanas da Universidade Federal da Paraíba. Revista eletrônica de Farmácia, 5(1), 24-31. Disponível em https://revistas.ufg.br/REF/article/download/4611/3933 Barros, F. R. N., & Albuquerque, I. L. (2005, Setembro). Substâncias e medicamentos abortivos utilizados por adolescentes em unidade secundária de saúde. Revista Brasileira em Promoção de Saúde, 18(4), 177-184. Doi: 10.5020/18061230.2005 Bento, A. (2012, Maio). Como fazer uma revisão de literatura: Considerações teóricas e práticas. Revista JÁ (Associação Acadêmica da Universidade da Madeira), 65(7), 42-44. Disponível em http://www3.uma.pt/bento/Repositorio/Revisaodaliteratura.pdf Brasil. Ministério da Saúde. (2006). A Fitoterapia no SUS e o programa de pesquisas de plantas medicinais da central de medicamentos, Brasília, DF: Autor. Brasil. Ministério da Saúde. (2011). Atenção humanizada ao abortamento: Norma Técnica (2ª ed.). Brasília, DF: Autor. Brasil. Ministério da Saúde & Anvisa. (2014). Monografia da espécie Vernonia condensata (“Boldo-Baiano’’), Natal, RN: Autor. Brasil. Ministério da Saúde & Fundação Oswaldo Cruz. (2014). Introdução ao uso das plantas medicinais em Petrópolis, Petrópolis, RJ: Autor. Mengue, S. S., Mentz, L. A., & Schenkel, E. P. (2001). Uso de plantas medicinais na gravidez. Revista Brasileira de Farmacognosia, 11(1), 21-35. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0102- 695X2001000100004 Moreira, L. M. A., Dias, A. L., Ribeiro, H. B. S., Falcão, C. L., Felício, T. D., Stringuetti, C., & Ferreira, M. D. S. (2001, Setembro). Associação entre o Uso de Abortifacientes e Defeitos Congênitos. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 23(8), 527-521. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0100- 72032001000800006 Rodrigues, H. G. I., Meireles, C. G., Lima, J. T. S., Toledo, G. P., Cardoso, J. L., & Gomes, S. L. (2011). Efeito embriotóxico, teratogênico e abortivo de plantas medicinais. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 13(3), 359-366. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S1516-05722011000300016 Silva, L. A., & Rau, C. (2012, Outubro). Potencial abortivo e teratogênico de plantas medicinais. 7a Amostra de Produção Científica da Pós-Graduação Lato Sensu da PUC Goiás, Goiânia, GO, Brasil, 7. Disponível em http://www.cpgls.pucgoias.edu.br/7mostra/Artigos1c.html

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Souza, M. N. C. V., Tangerina, M. M. P., Silva, V. C., Vilegas, W., & Sannomiya, M. (2013). Plantas medicinais abortivas utilizadas por mulheres de UBS: Etnofarmacologia e análises cromatográficas por CCD e CLAE. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 15(4), 763-773. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S1516-05722013000500018 Toledo, M. R. S., Moreles, L. A., Conci, M., Olivo, A. M., Simplício, T. T., Valério, D., ...Lima, Z. V. (2004). Comparação da fitotoxicidade dos extratos aquosos de Echinodorus macrophyllus (Kunt) Mich em ratas prenhes. Revista Horticultura Brasileira, 22(2), 493. Disponível em http://www.abhorticultura.com.br/biblioteca/arquivos/Download/Biblioteca/44_717.pdf Vasconcelos, J., Vieira, J. G. P., & Vieira, E. P. P. (2009). Plantas tóxicas: Conhecer para prevenir. Revista Científica da UFPA, 7(1), 1-10. Disponível em http://www.cultura.ufpa.br/rcientifica/artigos_cientificos/ed_09/pdf/rev_cie_ufpa_vol7_num1_cap11.pdf Veiga, V. F. J., Pinto, A. C., & Maciel, M. A. M. (2005, Fevereiro). Plantas medicinais: Cura segura? Revista Química Nova, 28(3), 519-528. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0100-40422005000300026

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ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA E ETNOMEDICINA CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY AND LÍNGUA: Português ETHNOMEDICINE LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PERCEPÇÃO DOS FÁRMACOS-NATURAL SOBRE PLANTAS MEDICINAIS E SUAS INTERFACES COM A SAÚDE PÚBLICA

Fabrício Nicácio Ferreira1*; Laura Jane Gomes2

1 Pós-graduando em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Universidade Federal de Sergipe (UFS), Cidade Universitária Professor Aloísio de Campus, Curso de Bacharelado em Enfermagem, Universidade Federal de Sergipe (UFS), Campus Professor Antônio Garcia Filho (CPAGF), Lagarto - SE; 2 Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Sergipe. Orientadora no Programa de pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Campus UFS, São Cristóvão - SE. *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

A utilização de plantas medicinais pela população proporcionou debates e a elaboração de políticas públicas de saúde no Brasil. Assim, o estudo objetivou analisar a percepção dos “fármacos-natural” 1 quanto ao seu conhecimento e uso de plantas medicinais e as interfaces com a saúde pública. Trata-se de uma pesquisa transversal, descritiva e exploratória realizada com 09 fármacos-natural do município de Arauá-SE. As informações foram obtidas por entrevista semiestruturada e analisadas pelo método Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Observou-se que adquiriram conhecimento sobre plantas medicinais com familiares e/ou amigos. Indicam e utilizam de produtos da natureza como forma terapêutica complementar, mesmo incertos quanto aos seus efeitos e pouco se dialoga com os profissionais de saúde.

Palavras-chave: Medicina Popular, Biodiversidade, Conhecimento

INTRODUÇÃO

O uso de recursos da natureza como forma complementar e/ou única alternativa de cuidado a saúde perpassa limites territoriais. No Brasil, fatos históricos expressam a grandiosidade da natureza e a contribuição dos povos que aqui habitavam, mais especificamente dos índios precursores desta atividade que ao contemplar a natureza retiravam das plantas a cura dos males do corpo e do espírito. Além disso, atualmente a utilização de plantas medicinais pela população tem proporcionado debates e a elaboração de políticas públicas de saúde (GIRALDI & HANAZAKI, 2010) Nas últimas décadas, o meio científico e o olhar de pesquisadores para questões socioambientais, tem-se buscado novas informações quanto o consumo, utilização e indicação desses produtos que por possuírem maior acesso à população acabam por ser uma ou até a primeira alternativa de tratamento a saúde de pessoas vulneráveis socialmente (FERNANDES, 2004). Após discussões e incentivos da Organização Mundial de Saúde para adoção de práticas alternativas, sobretudo de produtos vegetais no tratamento a saúde o Ministério da Saúde Brasileiro lançou no ano de 2006 a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos definindo dentre suas diretrizes a adoção de novas alternativas terapêuticas entre elas a prescrição de plantas medicinais, especificamente os fitoterápicos por profissionais dos serviços públicos de saúde (BRASIL, 2006). Nesse sentido, mesmo que sucintamente, o conhecimento empírico encontra-se evidenciado principalmente quando se trata do uso, consumo e manuseio de produtos da natureza para o cuidado

1 O termo “fármaco-natural” é um conceito elaborado pelos autores e estar sendo empregado como o indivíduo que manipula plantas extraídas do ambiente para “curar” doenças, ou seja uma espécie de curandeiro que trata da saúde humana manuseando objetos da natureza.

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 individual e da coletividade. Por outro lado, existem aspectos que devem ser priorizados como: conhecimento das plantas especificas para determinadas doenças, o modo de uso desses produtos, a forma de preparo, as contraindicações e os efeitos indesejados. Indicar plantas medicinais sem o conhecimento necessário a outras pessoas pode gerar riscos à saúde, por vezes irreversíveis, dessa forma o diálogo entre a população local e profissionais de saúde, sobre o conhecimento e uso de plantas medicinais, podem compor a estratégia saúde da família, e proporcionar em espaço de troca de saberes e experiências, além do envolvimento popular nas decisões e co-responsabilidade de sua saúde. Assim, é necessário a participação dos detentores locais do etnoconhecimento sobre plantas medicinais como colaboradores para qualidade da saúde pública comunitária de forma a garantir maior segurança individual e coletiva. Desse modo, este trabalho teve como objetivo analisar a percepção dos “fármacos-natural” quanto ao seu conhecimento e uso de plantas medicinais e suas interfaces com profissionais da saúde pública.

MATERIAL E MÉTODOS

Delimitação da área de estudo

A cidade de Arauá está situada na região sul do estado de Sergipe, há 99 km de distância da capital, Aracaju. Possui uma população estimada de 10.477 habitantes. Sua base econômica é a agropecuária. Apresenta vegetação predominantemente caatinga e capoeira, além de áreas do bioma Mata Atlântica que sofrem constantemente com a ação antrópica (IBGE, 2010). A fig. 1 destaca a área de estudo. Figura 01- Localização da área de estudo, município de Arauá - Sergipe.

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Fonte: ATLAS/SRH, 2014.

Critérios metodológicos da pesquisa

Trata-se de um estudo transversal com abordagem descritiva e exploratória realizado com fármacos-natural residentes nas comunidades rurais Colônia Sucupira, Progresso, Poços e Sapé município de Arauá-SE. Os critérios de escolha destas comunidades foram: formarem uma mesma área adstrita de saúde, utilizarem de produtos da natureza para fins medicinais e não possuir estudos em relação a temática. A seleção dos sujeitos ocorreu por meio da técnica não probabilística “snowball sampling” (VINUTO, 2014). Assim, partiu-se inicialmente de um sujeito já conhecido na comunidade, considerado como “fármaco-natural” detentores do conhecimento sobre plantas medicinais e se ampliou quando este incluiu novos nomes de conhecedores do objeto pesquisado. Quando os nomes dos entrevistados já constavam no grupo de amostragem e não foram observadas novas indicações utilizou-se deste aspecto para conclusão amostral. Como critérios de inclusão dos sujeitos adotou-se: ser residente em uma das comunidades, expressar conhecimento em relação ao uso e/ou indicação de plantas medicinais e ser indicado por outros participantes conforme técnica amostral. Foram excluídos aqueles que mesmo sendo indicados por outros sujeitos afirmaram não possuir conhecimento acerca das plantas medicinais e não desejaram participar da pesquisa. Conforme os aspectos estabelecidos os fármacos-natural foram convidados a assinar o termo de livre consentimento esclarecido (TCLE). Aqueles que se dispuseram participar do estudo responderão a um formulário de entrevista semiestruturada composta por perguntas abertas quanto o conhecimento sobre plantas medicinais e suas interfaces com a saúde pública. Cabe destacar que todas as entrevistas foram individuais e realizadas no domicilio dos participantes. A análise dos dados ocorreu por meio do método Discurso do Sujeito Coletivo – DSC (LEFEVRE & LEFEVRE, 2014), além da transcrição na integra das falas. Observados os critérios de inclusão no estudo 09 pessoas foram identificadas como fármaco-natural do conhecimento empírico sobre plantas medicinais e para garantir o anonimato receberam uma nomenclatura, FN (1) para fármaco-natural 1, FN (2) para fármaco-natural (2), respectivamente. O pesquisador iniciou os trabalhos pela comunidade rural Colônia Sucupira orientado por conversas informais com pessoas da comunidade e profissionais de saúde para identificar uma ou mais pessoas que possuíssem conhecimentos sobre plantas medicinais. Nas outras comunidades supracitadas também foram adotados o mesmo processo. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe sob nº. CAAE 69372817.0.0000.5546 e parecer nº. 2164593 e encontra-se de acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Identificou-se exclusivamente mulheres como fármacos-natural detentoras do conhecimento sobre plantas medicinais, com idade mínima de 28 anos e a máxima 80 anos. Para melhor compreensão os tópicos temáticos foram grafados em negrito. Em relação à utilização das plantas medicinais conforme o método de análise Discurso do Sujeito Coletivo (DSC):

DSC 1 “Utilizo para consumo próprio, de minha família e para alguém que me procura, indico a planta e ensino como consumi-la, também faço lambedor, chá, xarope, sabonete, shampoo para melhorar minha saúde e de outras pessoas por isso planto no quintal de casa” DSC 2 “Consumo no momento em que não preciso utilizar de um medicamento” DSC 3 “Eu indico as plantas para outras pessoas, mas muitas delas não acreditam”

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O primeiro discurso foi expresso por 77,7% (n.7) dos entrevistados já o segundo DSC 11,1% (n.1) e o terceiro 11,1% (n.1). Assim, observa-se que 1) Existe a utilização e prescrição de produtos da natureza. 2) detém o conhecimento, porém utilizam plantas medicinais esporadicamente quando não fazem uso de medicamentos. 3) Apesar de serem procurados pelos fármaco-naturais as pessoas não observaram a grandiosidade da natureza como meio terapêutico à saúde. O estudo de Oliveira, Machado e Rodrigues (2014) identificaram que dos 59 entrevistados 83,05% utilizavam algum tipo de planta medicinal como terapêutica à saúde o que corrobora com os dados encontrados nesta pesquisa. Nascimento, Delmondes e Fratari (2014) concluíram ao avaliar o conhecimento de moradores do município de Pontal-MT que a maioria dos atores não substituem um medicamento alopata por plantas medicinais e que estes as utilizam ou fizeram uso desses produtos em algum momento da vida como forma terapêutica complementar ao tratamento de doenças. Cabe destacar que a Organização Mundial de Saúde (OMS,1978) incentiva o uso seguro e evidencia a importância da preservação do saber popular sobre plantas medicinais que contribuem para prevenção e tratamento alternativo de agravos a saúde. Acerca da aquisição do conhecimento sobre plantas medicinais evidencia-se que FN (1) “Desde pequena aprendi com minha mãe ela fazia para nós, o none eu vi na internet minha neta me mostrou”. FN (3) e FN (9) aprenderam com a mãe. FN (2) expressa que possui “dois livros sobre plantas medicinais na medicina doméstica”. FN (4) “Aprendi com minha avó e uma enfermeira também”, FN (6) “Meu pai que fazia chá para gente, aprendi com ele”, Já FN (5) “Participando de cursos pela pastoral da criança, e o conhecimento vivido do tempo de trabalho além do familiar passado de pai para filho”. FN (7) “Com minha avó e meu avô. E o curso que fiz no NAT (Núcleo de Apoio ao Trabalhador) da farmácia viva aprendi fazer xarope, pomada, sabonete. Tenho até hoje as apostilas” e FN (8) “O povo me dizia e eu gravava, também tenho um livro que olho sempre que tenho dúvida”. Nota-se que o conhecimento transmitido por familiares (pai, mãe, avô e avó) foram os mais evidenciados como identificou-se no estudo de Gonçalves et al (2011) em que 79% dos 485 entrevistados relataram a tradição familiar como influenciadora no uso de plantas medicinais. Observa-se também, o uso da literatura e meios midiáticos como a internet para aquisição de conhecimentos ou até dirimir dúvidas. No que diz respeito a indicação (prescrição) de plantas ou produtos naturais observou-se que para FN (1) “Não só quando vejo que a pessoa tá doente eu digo olhe isso é bom mais eu faço para minha família” e FN (6) “Não indico. Tenho medo que elas passem mal. As vezes a pessoa ensina e o povo não faz direito, tem medo”, FN (2) “Sim. Indico sim, tem pessoas que gostam outras nem acreditam”, FN (3), FN (4) e FN (8) já indicaram para amigos. FN (5) “Indiquei para população que acompanho pela pastoral”. FN (9) “Já indiquei, muitas pessoas vêm atrás e eu passo” e FN (7) afirma que “já indicou”. Evidencia-se que 88,8% (n.8) dos participantes indicam as plantas medicinais a outras pessoas, no entanto uma delas utilizam das plantas mas não as indicam, talvez por medo que não sejam utilizadas de forma correta e causem algum mal à saúde das pessoas. Desse modo, o Programa de Plantas Medicinais e Fitoterápicos expõe três aspectos basilares no uso de plantas medicinais: a eficácia, segurança e qualidade para serem priorizados (BRASIL,2006). Quando indagados acerca do uso dos medicamentos de farmácia e plantas medicinais. Neste aspecto foram observados os discursos do sujeito coletivo (DSC)

DSC 4 “Sim utilizo para auxiliar o medicamento não existe contraindicação no uso das plantas medicinais com medicamentos de farmácia” DCS 5 “Não misturo não, pra mim não dá certo acho que faz mal à saúde, tenho medo. Primeiro eu uso o da farmácia, depois eu faço meus xaropes e uso minhas ervas” DCS 6 “Não as plantas é só paliativo tem que tomar o remédio de farmácia” DCS 7 “Dizem que não é bom mas eu faço uso”

Os entrevistados que se enquadraram no DCS 4 correspondem 33,3% (n.3), outros 44,4% (n.4) se enquadraram no DCS 5, 11,1% (n.1) expressou o DSC 6, 11,1% (n.1) o DSC 7. Observamos assim que 4) a utilização de plantas medicinais e medicamentos está presente no cotidiano das comunidades que fazem

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 uso da natureza por considerar que todo produto natural não traz danos à saúde mas contribuem para o bem-estar. 5) por não se sentirem seguros talvez pelo desconhecimento dos reais efeitos colaterais e contraindicações das plantas não as utilizam com medicamentos. 6) defende o uso do medicamento sintético para cura de doenças e observa as plantas medicinais apenas de forma complementar por não possuir o efeito terapêutico esperado. 7) mesmo incerto quanto aos efeitos das plantas medicinais para saúde utilizam das espécies vegetais. Em pesquisa realizada por Silveira, Bandeira e Arrais (2008), evidenciaram que existe uma crença cultural que tudo proveniente da natureza é natural e não faz mal à saúde, mas é uma inverdade. As autoras destacam que o uso concomitante dos produtos naturais com medicamentos alopáticos podem ocasionar interações benéficas ou não, fato que dependerá da forma de preparo, local de coleta da planta, dosagem utilizada e outros aspectos.

No tocante ao diálogo com profissionais de saúde sobre os conhecimentos das plantas medicinais foi possível identificar nos DSC. DSC 9 “Não converso com eles pois nunca me perguntam, eles não acreditam” DCS10 “Já vi um profissional de saúde ensinando a outras pessoas ai eu aprendi” DSC 11 “Sim conversei com um profissional de saúde”.

O DSC 9 foi citado por 55,5% (n.5) dos entrevistados, o DSC 10 por 22,2 % (n.2) pessoas e o DCS 11 também por 22,2% (n.2) pessoas. Nota-se que há pouco diálogo entre profissional de saúde e população relacionado à está temática mesmo com o incentivo do Ministério da Saúde para adoção de novas práticas alternativas como meio terapêutico no Sistema Único de Saúde (SUS). Bittencourt, Caponi e Falkenberg (2002), encontraram resultados em parte semelhantes em que alguns dos profissionais médicos não acreditam nas plantas medicinais como meio terapêutico. Outros profissionais da saúde utilizam e indicam produtos da natureza por encontrarem-se envolvidos com a população em um espaço de troca de conhecimentos por meio do diálogo de saberes. CONCLUSÕES

A utilização de plantas medicinais por pessoas das comunidades rurais é uma realidade, haja vista que a maioria (77,7%) dos fármacos-natural consomem e indicam esses produtos a familiares e outras pessoas que os procuram uma vez que possuem as espécies de plantas medicinais no quintal do seu domicílio. O conhecimento popular da natureza está relacionado a transmissão de saberes familiar que ultrapassam gerações. Outro aspecto importante diz respeito a inexistência sobretudo do uso desses preparos concomitante a medicamentos sintéticos no entanto estes são considerados ainda como primeira opção no tratamento terapêutico de doenças. Cabe destacar que o diálogo entre os profissionais de saúde, mais especificamente dos que possuem nível superior, não ocorre no local pesquisado uma vez que nem os fármaco-naturais informam que conhecem e utilizam desses produtos naturais tampouco os profissionais indagam essas questões durante as consultas realizadas nas Unidades de Saúde da Família. É importante a capacitação profissional para obtenção do conhecimento sobre essas novas terapêuticas não convencionais. Bem como os gestores de saúde darem condições, mas especificamente para prescrição desses produtos da natureza com potencial medicinal o que ampliará o diálogo de saberes e troca de experiências entre usuários e profissionais, além do cuidado à saúde seguro e livre de intercorrências.

REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (2009). Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos – Brasília: Ministério da Saúde.

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Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica (2006). Política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos – Brasília: Ministério da Saúde. Brasil. Resolução n. 466, (2012, 12 de dezembro). Dispõe sobre diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília DF: Conselho Nacional de Saúde. Bittencourt, S.C; Caponi, S; Falkenberg, M.B (2002). O uso das plantas medicinais sob prescrição médica: pontos de diálogo e controvérsias com o uso popular. Revista Bras. Farmacogn., 12, supl., 89-91. Fernandes, T.M (2004). Plantas medicinais: memória da ciência no Brasil. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 260. Giraldi, M; Hanazaki, N (2010). Uso e conhecimento tradicional de plantas medicinais no Sertão do Ribeirão, Florianópolis, SC, Brasil. Revista Acta bot. bras. 24, (2),395-406. Gonçalves, N.M.T. et al. (2011). A tradição popular como ferramenta para a implantação da fitoterapia no município de Volta Redonda – RJ. Rev. Bras. Farm. 92, (4), 346-351. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sergipe cidades. Informações completas do município de Arauá/Se 2010. Histórico do município. 2017. Disponível em: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=280040. Lefevre, F; Lefevre, A.M.C (abr-jun, 2014). Discurso do sujeito coletivo: representações sociais e intervenções comunicativas. Revista Texto Contexto Enferm, 23, (2), 502-7. Nascimento, C.S; Delmondes, P.H; Fratari, P.C (2014). Uso de plantas medicinais na percepção dos moradores do município de pontal do Araguaia/MT. Revista eletrônica UNIVAR. 2, (12),137- 140. Oliveira, L.A.R; Machado, R.D; Rodrigues, A.J.L (2014). Levantamento sobre o uso de plantas medicinais com a terapêutica anticâncer por pacientes da Unidade Oncológica de Anápolis. Rev. Bras. Pl. Med.,16, (1), 32-40. OMS. Organização Mundial da Saúde (1987). União das Nações Unidas. Cuidados primários em saúde. In: Relatório da conferência internacional sobre cuidados primários de saúde. Alma-Ata: Ministério da Saúde; 64-6. Silveira, P.F; Bandeira, M.A.M; P.S.D, Arrais (out-dez, 2008). Farmacovigilância e reações adversas às plantas medicinais e fitoterápicos: uma realidade. Rev. Bras. Farmacogn. Braz J. Pharmacogn.18, (4),618-626. Vinuto, J (ago-dez,2014). A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Revista temáticas, 22, (44), 203-220.

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ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

POTENCIAL ANTIOXIDANTE DOS EXTRATOS METANÓLICOS DE Tarenaya spinosa (Jacq) Raf. (Cleomaceae)

João Bosco da Silva Júnior, Antônio Fernando Morais de Oliveira1, João Victor de Oliveira Alves2; Márcia Vanusa da Silva2;

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Campus Recife, Recife – PE; 1Centro de Biociências (CB), Departamento de Botânica, Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal (PPGBV), Laboratório de Ecologia Aplicada e Fitoquímica, UFPE, CB.2Centro de Ciências da Saúde (CCS), Departamento de Bioquímica, Programa de Pós- Graduação em Bioquímica, Laboratório de Química de Produtos Naturais, UFPE.

RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar a atividade antioxidante dos extratos metanólicos e hexânico de Caules e folhas e inflorescências de Tarenaya spinosa (Jacq) Raf. (Cleomaceae), planta conhecida popularmente como mussambê, mussambê de espinho e sete marias. Folhas e inflorescências são usados por povos tradicionais do Nordeste em forma de infusão e chás para o tratamento de doenças do sistema respiratório, febres e tosses. O método usado foi o do DPPH em triplicata, e os resultados foram expressos em médias de inibição e CE50. Apenas o extrato metanólico de inflorescências teve inibição do DPPH maior que 50%; mesmo assim, os valores de CE50 ficaram abaixo de 1000 µg/ml, exceto o de caule. Podemos concluir que houve fraca, mas significativa atividade antioxidante.

Palavras-chave: Atividade antioxidante; Tarenaya spinosa; Mussambê; bioprospecção; planta medicinal.

INTRODUÇÃO

O oxigênio é uma molécula essencial a vida; contudo, reações com este átomo e suas moléculas podem produzir espécies reativas (conhecidas popularmente por radicais livres); e estes podem trazer problemas de saúde tanto para as plantas quanto para os animais. Os radicais livres possuem elétrons independentes não pareados gravitando em sentido oposto aos outros elétrons e fora do nível orbital do átomo de oxigênio; tendo vida longa, são instáveis e extremamente descartáveis do organismo; onde são provenientes da respiração celular, de inflamações; e podendo escapar de peroxissomos, e/ou de enzimas do citocromo P450(Oliveira et al, 2015). No entanto os mecanismos de eliminação das espécies reativas de oxigênio, via peroxissomo, podem falhar e à medida que os radicais livres tentam tornar-se estáveis, danificam lipídios, proteínas e ácidos nucléicos; levando ao longo do tempo a problemas de saúde como: arteriosclerose, câncer, diabetes e inflamações. Mais de 50 doenças estão relacionadas ao excesso de radicais livres (Araújo,2012). Algumas moléculas que ocorrem naturalmente em plantas e vegetais podem eliminar estes radicais livres do organismo. Os compostos fenólicos são produzidos pelas plantas para eliminar os radicais livres. e Analisar metabólitos secundários de plantas são um bom caminho para a formulação de novos cosméticos, antioxidantes naturais, fitoterápicos e fármacos (Oliveira et al,2015); sendo os compostos secundários antioxidantes uma alternativa viável aos antioxidantes sintéticos, cujo uso em cosméticos, alimentos, remédios e suplementos para evitar a mudança no cheiro e odor devido ao estresse oxidativo podem provocar efeitos colaterais e intoxicações sobre quem os manipula e consome tais produtos (Gurib-Farkim, 2006; Haberman et al 2016). O uso de antioxidantes naturais é relevante uma vez que o homem atualmente encontra-se exposto a radiação UV e outras fontes de radiações, drogas, poluentes atmosféricos e compostos tóxicos presentes nos alimentos, tais como: defensivos agrícolas, aditivos e conservantes, cujos

155 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 os efeitos são potencializados pelo excesso de espécies reativas de oxigênio no corpo (Vakarelska- Popovska e Velkov, 2016). Além disso a bioprospecção de metabólitos secundários em plantas com potencial antioxidante entra como aliada também para a indústria de biocombustíveis, reduzindo custos e doenças sobre o proletariado. Neste contexto, a família Cleomaceae possui 200 espécies descritas, nos trópicos e Subtrópicos. São plantas de porte herbáceo, arbustivo ou arbóreo, nativas da América Tropical, mas podem ser encontradas na Ásia, Europa e África, e algumas são usadas como ornamental e medicinal (Leal et al , 2007). Dentro da família, o gênero Cleome é o mais conhecido, importante e de ampla distribuição. Segundo a literatura, foram isolados compostos secundários de vinte e nove espécies deste gênero, das quais, doze espécies possuem comprovada ação medicinal. O gênero Tarenaya é representado no Brasil por 3 espécies sendo ainda relacionadas como Cleome. O mussambê (Tarenaya spinosa (Jacq) Raf.) é uma planta semi arbustiva conhecida no Brasil como mussambê ou sete marias. No Nordeste Brasileiro é usado suas folhas e flores na medicina tradicional, sendo a infusão de folhas usada no tratamento de asma, tosse e bronquite, enquanto a infusão de flores tem o seu uso contra a febre (Silva et al, 2015); e usada por comunidades populares do Nordeste (flores e folhas) no tratamento de doenças do sistema respiratório geral e males da garganta (Albuquerque, 2005). Da espécie, foram isolados os seguintes compostos: glucosinolatos (Ahmed et al 1972; diterpenos (Collins et al 2004); outros terpenóides, flavonoides (Collins et al 2004; Leal et al, 2007); flavonóis, flavonas, glicosídeos, catequinas, chalconas, sais de amônia quaternários, leucocianidinas (Leal et al, 2007) e saponinas (Silva et al 2015). A presença de compostos pode ser um indicativo de bioatividades variadas, inclusive a atividade antioxidante. O objetivo deste estudo foi avaliar a capacidade antioxidante dos extratos metanólicos e hexânicos usando o radical livre DPPH.

MATERIAL E MÉTODOS

Partes vegetais (Caules, folhas e inflorescências) foram coletadas em agosto e setembro de 2016, no bairro da Várzea, em Recife; e no bairro de Bultrins, em Olinda, respectivamente; estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Para a confirmação botânica amostras foram herborizados e depositados no Herbário Dárdano de Andrade Lima, (IPA), onde cujo números das exsicatas são: 91449(FIB Nº 65/2016) e 91433 (FIB Nº84/2016), respectivamente. Caules, folhas e inflorescências, separadamente, foram pesados a fresco, desidratados, pesados a seco para obtenção do rendimento dos extratos e submetido a extrações com metanol por 72 h (maceração e rotaevaporação). Foi separado 1 mg de cada extrato para o bioensaio e restante dos extratos foi reservado e armazenado em freezer para outros estudos de bioatividade e para o perfil fitoquímico. O teste de atividade antioxidante seguiu os mesmos parâmetros adotados por Bloise (1958), com adaptações. Inicialmente foi diluído 0,008g do DPPH em 100ml de metanol e lido no leitor de Elisa no comprimento de onda de 517nm, cuja absorbância ficou entre 0,600 e 0,700, sendo ideal para este estudo. Foram feitas diluições seriadas dos extratos em metanol, respectivamente (concentrações de extrato: 4000; 3000; 2000; 1000 e 500 µg/ml). O branco foi feito em uma placa colocando 40 µl de cada diluição de cada extrato adicionado a 250 µl de metanol em um poço de fundo chato e feito a leitura à 517nm.Foi adicionado nos poços 40 µl em triplicata de cada diluição, nos quais foram distribuídos da menor diluição para maior. Foram feitos três poços como controle adicionando 40 µl do solvente utilizado para diluir as amostras; adicionados 250 µl do reagente DPPH em todos os poços, sendo esta parte feita em ambiente escuro ou mal iluminado. As placas 96 poços com o teste foi guardado no escuro por 40 minutos e lido no Elisa a 517 nanômetros. Os parâmetros observados foram: Médias aritméticas das absorbâncias de cada triplicata e controle; e a habilidade em reduzir o Radical DPPH, que é feito segundo esta equação:

SRL(%) =

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Foi feita análise a de Probitos, a partir do SRL, com P<0,05, para obtenção da CE 50(Concentração efetiva que inibe 50% do DPPH.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 1 mostra a atividade antioxidante, calculada a partir da equação acima. Apenas o extrato metanólico de inflorescências apresentou atividade antioxidante significativa e na concentração maior.4.000 µg/ml. A tabela 1 informa os valores de CE 50. Foi feito um ensaio preliminar de DPPH usando microdiluição seriada com concentrações inferiores dos mesmos extratos, mas não houve atividade antioxidante significativa. Por isso aumentou-se as concentrações até 4000 µg/ml. Os resultados abaixo presentes no gráfico foram submetidos ao Teste de Tukey, sendo considerados satisfatório (P<0,05).

Tabela 1. Valores de CI50 segundo a análise de probitos, para a atividade antioxidante. Extrato CE 50 (µg/ml) EMC 1071 EMF 571 EMI 309

EMC-Extrato metanólico de caule; EMF-Extrato metanólico de folhas; EMI-Extrato metanólico de inflorescências; CE50- Concentração efetiva que inibiu 50% dos extratos, com P<0,05.

Figura 1. Médias de Inibição do DPPH (SRL), expressos em porcentagem.

Os valores de CE50 obtidos neste estudo discordam dos resultados obtidos por Leal e colaboradores (2007), nos quais analisaram extratos hidro alcóolicos de partes aéreas da espécie misturados num sistema de microemulsão encapsulada, no qual houve CE50 variando de 224 a 248 µg/ml. Inibição abaixo de 70%, mostrados na Figura 1, indica uma fraca atividade antioxidante. Os controles negativos não apresentaram atividade antioxidante significativa. Valores de CE50 acima de 500 µg/ml são considerados como não

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 significativos (Orlanda e vale, 2015). Assim somente o extrato metanólico de inflorescências apresentou valor menor, estando relacionado com a atividade antioxidante maior que 70% demonstrada pelo mesmo extrato na concentração de 4.000 µg/ml, mostrada na Figura 1. Outro detalhe que influenciou nos valores de CE50 foi que em menor concentração teve as menores médias de SRL. Assim, o extrato metanólico de folhas apresentou CE50 maior que 500 µg/ml, sendo fracamente antioxidante; e o extrato metanólico de caules não teve atividade antioxidante significativa. Há uma possibilidade de que o metanol talvez não seja suficiente para arrastar todos os compostos fenólicos da planta; mas outros fatores, como sazonalidade (o material vegetal foi colhido no final da estação chuvosa), horário e temperatura no momento possam ter influenciado nos resultados acima. Fatores abióticos podem interferir na produção de compostos secundários nas plantas (Gurib-Farkim, 2005). Devido a floração, o mussambê provavelmente pode alocar compostos com atividade antioxidante para as inflorescências. Compostos fenólicos tem a função de proteger as plantas contra o ataque de herbívoros e patógenos, tanto quanto os terpenos (Vakarelska-Popovska e Velkov, 2016) e talvez seja uma estratégia da espécie para resistir a herbivoria e competição. A atividade antioxidante aqui demonstrada pode apresentar relação com outras bioatividades. Poucos são os estudos com a espécie e suas bioatividades, mesmo com a importância da mesma para a população.

CONCLUSÕES

Podemos concluir que o mussambê apresentou fraca atividade antioxidante, porém significativa no extrato de inflorescências, justificando o uso popular das inflorescências em infusões para o tratamento de doenças do sistema respiratório. Talvez a oxidação-redução possa ser um mecanismo envolvido nas bioatividades relatadas pela literatura e relacionada com o uso popular da espécie. O metanol talvez não tenha conseguido arrastar todos os compostos fenólicos, que poderiam ter potencializado a atividade antioxidante. Porém isto não isenta de haver esta bioatividade. Os resultados sugerem novas análises utilizando extratos de maior polaridade (água, etanol) e avaliação da sazonalidade na produção dos metabólitos secundários na espécie.

AGRADECIMENTOS

A CAPES pelo auxílio financeiro do primeiro autor e dos demais, ao CNPq pelo auxílio ao terceiro e quarto autores, ao Centro de Biociências e de Ciências da Saúde e os laboratórios aqui relacionados, pela parceria e suporte que nos foi dado; e ao Instituto Pernambucano de Agronomia (IPA) pela identificação e confirmação da identidade botânica do material coletado.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

POTENCIAL CITOTÓXICO DE PARTES AÉREAS Tarenaya spinosa (Jacq) Raf. (Cleomaceae) In vivo EM NAUPLIOS DE Artemia salina

João Bosco da Silva Júnior, Antônio Fernando Morais de Oliveira1,, Taciana Michele de Lima Moura, Ivone Antônia de Souza2

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Campus Recife, Recife – PE; 1Centro de Biociências (CB), Departamento de Botânica, Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal (PPGBV), Laboratório de Ecologia Aplicada e Fitoquímica, UFPE, CB ;2Centro de Ciências da Saúde (CCS), Departamento de Antibióticos, Programa de Pós Graduação em Patologia, Laboratório de Farmacologia e Cancerologia Experimental, UFPE, CCS. *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

Os chás e infusões de folhas e inflorescências do mussambê (Tarenaya spinosa (Jacq.) Raf.) São usados popularmente pela população do Nordeste para o tratamento de doençasdo sistema respiratório. Havendo esta utilização pela população, o objetivo deste estudo foi verificar a toxicidade de extratos metanólico e hexânico de partes aéreas da espécie frente aos nauplios de Artemia salina. Os protocolos usados foram os mesmos adotados por Meyer et al. (1982), com adaptações. Os extratos hexânicos e os controles com metanol, hexano, etanol e controle negativo não apresentaram toxicidade; porém os extratos metanólicos tiveram CL50 abaixo de 100 µg/ml, sendo potencialmente tóxico. Podemos concluir que o uso da espécie pela população deve ser feito com cautela; no entanto, este estudo pode abrir novos caminhos para a prospecção de novos metabólitos em plantas do gênero com propriedades quimioterápicas.

Palavras-chave: Tarenaya spinosa, Mortalidade, Toxicidade, Artemia salina, Uso medicinal.

INTRODUÇÃO

Os metabólitos secundários vegetais se originam a partir de vias metabólicas produtoras de metabólitos primários. As funções dos metabólitos variam desde a atração de polinizadores, proteção contra a radiação ultravioleta e defesa contra predadores e patógenos. As principais classes de metabólitos são os terpenos, compostos fenólicos, proteínas e açucares secundários e alcaloides e estes compostos são motivo de pesquisas de busca de novos medica mentos (Gurib-Farkim, 2005; Floss, 2008).

Essa procura por medicamentos começa pelas comunidades tradicionais. As plantas podem ser usadas pelo homem nas mais diversas maneiras: como alimento, medicinal, lenha, etc; mas talvez o uso que mais chama a atenção seja na forma medicinal (Gurib-Farkim, 2005). Só para se ter uma ideia, o mercado global de medicamentos derivados de plantas foi estimado em cifras de aproximadamente 30,69 bilhões de dólares na última década. Compostos secundários, como terpenos e esteroides, representam uma maior significância no mercado, como um comércio que gera valores estimados de 12,4 bilhões de dólares por ano no mundo (Mufller et al, 2011).

Assim, a bioprospecção de metabólitos secundários em plantas medicinais atrelada ao conhecimento popular ajuda a promover a inclusão social, pois o uso de plantas por comunidades tradicionais passa a ser registrados e justificados por bioensaios; evita a extinção da flora, auxiliando projetos de conservação da biodiversidade (Albarello et al, 2013); além de promover o desenvolvimento da biotecnologia na indústria de medicamentos (Gurib-Farkim, 2005).

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Algumas espécies são usadas pela população, tendo compostos tóxicos, como glicosídeos, que provocam intoxicações geralmente crônicas, pois os efeitos toxicológicos das plantas geralmente são vistos de acordo com a concentração e com o tempo de uso das mesmas (Lorenzi 2011). Contudo, estudando-se estes compostos usando protocolos de toxicidade em cobaias e in vivo pode nos informar não só se a planta é tóxica e qual é a concentração letal, mas também os sintomas e os efeitos no organismo.

Neste meio, a família Cleomaceae possui espécies com metabólitos secundários que apresentam propriedades biocidas, antivirais, antimicrobianos, antitumorais e antioxidantes. A família possui mais de 200 espécies descritas, distribuídas nos trópicos e Subtrópicos, com usos medicinal e ornamental (Leal, 2008). O principal gênero é o Cleome. No Brasil, Segundo a Lista de flora do Brasil (Reflora, 2016), existem no país 29 espécies desta família, distribuídas em 8 gêneros (Tabela 1). Destas, 13 são endêmicas. No entanto, as mais conhecidas espécies deste gênero são: Cleome spinosa, C.rosea, C. droserifolia, C. viscosa e C. gynandra. Já o Gênero Tarenaya apresenta três espécies encontradas no Brasil e uma delas é objeto de estudo deste trabalho.

O mussambê, mussambê de espinho ou sete marias (Tarenaya spinosa Jacq.), também conhecida pela sinonímia Cleome spinosa Jacq. é uma espécie nativa da América do Sul. Pertence a família Cleomaceae. Pode ser encontrada em margens de rios ou em ambientes degradados. Apresenta porte semiarbustivo ou herbáceo, pouco ramificada, com ramos e pecíolos novos, revestidos por pelos glandulares, de 1,0 a 1,5 de altura, propagando-se apenas por sementes (Lorenzi & Matos, 2008).

Segundo Albuquerque (2006), a espécie é usada por diferentes populações do Nordeste Brasileiro para o tratamento de males do sistema respiratório, principalmente para tosses. Apresenta como principais compostos bioatividades: repelente de insetos e inseticida (Melo et al 2015), antimicrobiana (Mc Neil et al 2004; Silva, 2012); antinflamatória (Albarello et al, 2013, Silva et al, 2016), antiviral e neuroprotetora (McNeil. Porter, Williams & Rainford, 2004). Os principais compostos já identificados foram: glucosinolatos (Ahmed et al 1972), diterpenos (Collins, Reynolds & Reese 2004); flavonoides (Collins, Reynolds & Reese 2004; Leal, 2008); flavonóis, flavonas, compostos fenólicos, glicosídeos, catequinas, chalconas, terpenos, sais de amônia quaternários e leucocianidinas (Leal, 2008). Alguns destes compostos podem apresentar toxicicidade. Diante deste espectro de substâncias, o objetivo deste estudo foi verificar a toxicidade de extratos metanólico e hexânico de partes aéreas da espécie frente aos nauplios de Artemia salina.

MATERIAL E MÉTODOS

As plantas foram coletadas no Bairro da Várzea, no Recife, e em Rio Doce, Olinda. Exemplares foram depositados no Herbário Dárdano de Andrade Lima (IPA) para a confirmação botânica e cujos números de tombo são, respectivamente: 91449(FIB Nº 65/2016-Recife) e 91433 (FIB Nº84/2016-Olinda). Cinquenta miligramas de Caules, folhas e inflorescências anteriormente desidratadas em estufa durante 5 dias e trituradas em moinho de facas foram maceradas com 500 ml de metanol e hexano durante 2 dias, separadamente, tanto por solvente, quanto por parte aérea. Os extratos macerados foram reduzidos em rotaevaporador, sendo reservados 2 mg para os testes com artemias e os restantes armazenados para bioensaios posteriores e estudos fitoquímicos. Cistos de Artemia salina foram obtidos em abril de 2017 no Mercado da Encruzilhada, Recife e colocados para eclodir em água do mar e luz artificial direta durante 48 horas. Esta água do mar foi obtida da praia de Conceição, localizada em Paulista, no Grande Recife, estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Os testes foram feitos usando os procedimentos adotados por Meyer et al (1982), com adaptações. Os extratos metanólicos foram diluídos com 2.000 µl de água destilada e separados as seguintes alíquotas: 1000, 500, 100 e 50 µg/ml de cada extrato dissolvido. Com os extratos hexânicos, foram feitos o mesmo; diferenciando apenas que foi adicionado uma gota de Tween 80 antes de dissolver em água destilada.

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Foram usados por extrato 12 tubos de ensaio e usado 4 concentrações das alíquotas acima por extrato e controles. Os testes foram feitos em triplicata. Em cada tubo foi colocado 9 ml de água do mar e 10 nauplios de artemias, totalizando 30 artemias por concentração. De cada alíquota de cada extrato, foi retirado 10 µl de extrato e colocado em cada tubo, obedecendo cada concentração. Os controles dos solventes (etanol, metanol, hexano) foram feitos da seguinte forma: 2µl de metanol ou etanol para 2µl de água (proporção 1:1); e 1 µl de hexano, 1 µl de etanol e 1 µl de água (1:1:1). Estes controles foram feitos para saber se a mortalidade foi devido aos solventes ou não. Os controles negativos consistiram de doze tubos com dez nauplios e água do mar. As alíquotas foram as mesmas dos extratos-teste. O controle negativo continha água do mar e as salinas em 12 tubos. Depois os tubos foram colocados em luz direta. A taxa de mortalidade foi calculada usando a seguinte fórmula: TM (%)= M/(V+M)*100, onde: M- Número de artemias mortas e V-número de artemias vivas. Com este dado foi possível calcular a CL50, usando a análise de probitos com os programas: GraphPadPrism 7, Statplus e Microsoft Office Excel.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os extratos hexânicos de caules, folhas e inflorescências da espécie não apresentaram toxicidade frente as artemias e 100% dos nauplios sobreviveram, bem como foram não significantes no teste de Tukey. Todos os controles tiveram 100% de sobrevivência. A figura 1 apresenta a CL 50 dos extratos metanólicos (P<0,01). Todos os resultados foram considerados satisfatórios. Dentre os extratos metanólicos, o de inflorescências apresentou maior mortalidade (93 e 96% respectivamente; e a sobrevivência foi menor que 10% neste tratamento. Os resultados confrontam com os estudos de Collins, Reynolds & Reese (2004), nos quais eles relataram a existência de diterpenos cembranos isolados de extratos da espécie, com atividade citotóxica e anti-HIV. Estes diterpenos foram isolados em plantas de outras espécies do gênero e outros grupos vegetais. Os extratos metanólicos de caule apresentaram sobrevivência variando entre 60 e 66%; e o de folhas teve sobrevivência variando entre 66 e 74%, respectivamente. Embora que o metanol seja potencialmente tóxico e letal para os modelos, sobreviveram 100% dos nauplios, não havendo toxicidade significativa nos controles dos solventes, tanto com o hexano, etanol e água destilada; etanol e água destilada; e Tween 80 e água destilada, respectivamente; tanto que não foi incluído neste estudo. Para extratos de plantas, valores de CL 50 maior ou igual a 500 �g/ml são indicativos de baixa toxicidade; entre 500 a 100 �g/ml são indicativos de toxicidade moderada e < 100 �g/ml são indicativos de alta toxicidade (Mesquita et al, 2015). De acordo com esta classificação, a espécie é considerada potencialmente tóxica. De uma fora geral, os extratos metanólicos apresentaram alta mortalidade (Tabela 1) e baixa sobrevivência, com relação dose-dependente: quanto maior a concentração, maior a mortalidade. Os resultados corroboram com Mesquita e colaboradores (2015), onde analisaram o extrato metanólico de folhas de plantas do gênero Ferdinandusa (Família Rubiaceae), e apresentaram baixíssima sobrevivência e

CL50<100 �g/ml sobre A. salina, enquanto que os extratos diclorometânicos (que é apolar) apresentaram uma atividade moderada CL50= 324 �g/ml)

Tabela 1. Valores de CL 50 e mortalidade dos extratos metanólicos de Tarenaya spinosa (Jacq.) Raf. Mortalidade (%) por Concentrações (µg/ml) Extrato CL (µg/ml) 50 1000 500 100 50 EMC 70,49 41 33 33 33 EMF 72,44 33 33 33 26 EMI 94,66 96 96 93 93 Legenda: EMC-Extrato metanólico de caule; EMF-Extrato metanólico de folhas; EMI-Extrato metanólico de inflorescências; EHC-Extrato hexânico de folhas; EHF-Extrato hexânico de inflorescências; CL50- Concentração letal que mata 50 % dos nauplios, em µg/ml.

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Figura 1. Médias de mortalidade dos extratos metanólicos de Tarenaya spinosa frente aos nauplios de Artemia salina. (P<0,01). Todos os tratamentos foram estatisticamente diferentes em relação ao controle. Controles iguais a zero (100% de sobrevivência), indicando que não houve influência dos solventes e da água no resultado

CONCLUSÕES

Os resultados mostraram que os compostos apolares (terpenos) presentes na espécie não apresentaram toxicidade; e compostos melhor extraídos com metanol podem apresentar toxicidade. O uso do mussambê pela população para o tratamento de doenças respiratórias deve ser feito com cautela até a realização de estudos de toxicidade aguda dos extratos do Mussambê e seus compostos bioativos. A presença de toxicidade nesses compostos pode indicar novas moléculas com potencial quimioterápico.

AGRADECIMENTO

A CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela bolsa do primeiro autor, ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pelo auxílio financeiro as pesquisas do segundo e quarto autores, ao Centro de Biociências e de Ciências da Saúde e os laboratórios aqui relacionados, pela parceria e suporte que nos foi dado; e ao Instituto Pernambucano de Agronomia (IPA) pela identificação e confirmação da identidade botânica do material coletado.

REFERÊNCIAS

Ahmed, Z. F.; Rizk, A. M.; Hammouda, F. M.; Seif El-Nasr, M. M. Naturally occurring glucosinolates with special reference to those of family Capparidaceae.(1972) Planta Med: 21(2):35–60. Albuquerque, U.P. (2006) Re-examining hypothesis concerning the use and knowlegde of medicinal plants: a study in the Caatinga vegetation of NE Brazil. Recife: J. Ethnobiol. Ethnomed: 2 (30), 1-10. Albarello, N; Simões-Gurgel, C; Castro, T,C; Gayer, C.R.M; Coelho, M.G.P; Mourair, S; Mansur,E. (2013). Antiinflammatory and antinociceptive activity of field growth plants and tissue culture of Cleome spinosa (Jacq.) in mice. Rio de Janeiro: J. Med. Plant. Resear:7 (1), 1043-1049. Collins, D.O; Reynolds, M.G.P; Reese, P. (2004). New cembranes from Cleome spinosa Nat. Prod. J: 67 (1)179-183.

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Floss, E. L (2008). Fisiologia das plantas cultivadas: o estudo do que está por trás do que se vê (2 nd). Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo. Gurib-Farkim A.(2005) Medicinal plants: traditions on yesterday and drugs of tomorrow. Mol. Asp. Med: 27 (1) 1-93. Leal, R.S.(2008) Estudo Etnofarmacológico e fitoquímico das espécies medicinais Cleome spinosa Jacq., Pavonia varians Mouric e Croton cajucara Benth.(Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/17694? mode=full Lorenzi, H. (2011). Plantas tóxicas do Brasil (1nd). Nova Odessa: Instituto Plantarum. Lorenzi, H.; & Matos, F.J. (2008). Plantas medicinais do Brasil (2 nd). Nova Odessa: Instituto Plantarum. McNeil M.J; Porter R.B; Williams L.A; Rainford, L.(2010). Chemical composition and antimicrobial activity of the essencial oil from Cleome spinosa. Nat. Product. Communic: 5 (8), 1301-1306. Melo, B.A… (2015) Repellency and bioactivity of Caatinga Biome plant powders against Callosobruchus maculatus (Coleoptera: Chrysomelidae: Bruchinae). Flor. Entom: 98 (2)417-423. Muffler, H. (2011). Biotransformation of triterpenes. Proc. Bioch: 46 (1), 1-15. Silva, A.P.S; Silva,L.C.N; Fonseca, C.S.M, Araújo, J.M;Correia, M,T,S,; Cavalcanti, M.S…(2016) Antimicrobial Activity and Phytochemical Analysis of Organic Extracts from Cleome spinosa Jacq. Front. Microb: 7,(1),1-10.

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ÁREA: ETNOMICOLOGIA CATEGORY: ETHNOMICOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

PERCEPÇÃO ETNOMICOLÓGICA POR COMUNIDADE RURAL NO PIAUÍ, BRASIL

Santina Barbosa de Sousa1,*, José de Ribamar de Sousa Rocha1,2, Roseli Barros Farias Melo de Barros1,2, Waldileia Ferreira de Melo Batista1

1Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN). Programa de Pós- Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Universidade Federal do Piauí (UFPI). 2Centro de Ciências Naturais. Departamento de Biologia, Curso de Ciências Biológicas, Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina/PI, Universidade Federal do Piauí (UFPI). *Autor para correspondência [email protected]

RESUMO O domínio fitogeográfico da caatinga possui macrofungos que despertam curiosidades e interesse. A pesquisa foi realizada na comunidade Zabelê, região sul do Piauí, com objetivo de levantar os conhecimentos etnomicológicos, a fim de coletar informações de como é percebida ambientalmente a ação fitopatogênica dos fungos. Foi utilizadas entrevistas com formulários semiestruturados, turnê-guiadas e projeção fotográfica para obtenção dos dados. Os fungos foram determinados pertencentes ao Complexo Ganoderma applanatum, Ganoderma lucidum e, Phellinus sp. As plantas hospedeiras determinadas foram Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir, Mimosa verrucosa Benth e Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz. A percepção da ação patogênica dos fungos relatada pela comunidade foi validada pelos estudos de campo e em laboratório, evidenciando que a população pesquisada possui saber sobre a ação patológica dos fungos em plantas hospedeiras, semelhante à literatura pesquisada. Este é o primeiro estudo etnomicológico de percepção da ação fitopatogênica de fungos em áreas de caatinga no Piauí.

Palavras-chaves: Parasitismo. Cogumelos. Fitopatologia INTRODUÇÃO

A Etnomicologia é o ramo da Etnobotânica que se dedica ao estudo do papel dos cogumelos para humanidade (Wasson, 1980). No Brasil, estudos nesta área são reduzidos e voltados para povos indígenas e, raramente, para populações rurais e ribeirinhas (Cardoso, Queiroz, Bandeira, e Ges-Neto, 2010; Vargas- Isla, Ishikava, & Py- Daniel, 2013). Observa-se poucos relatos etnomicológicos no Nordeste brasileiro, mesmo sabendo que o domínio fitogeográfico da caatinga possuem uma diversidade de macrofungos, os quais propiciam a convivência do homem com estes seres, chamando a atenção pelas cores e formatos, despertando a curiosidade e a aproximação (Amazonas & Siqueira, 2003). O Ganoderma Karsten (Ganodermataceae) é o maior gênero na ordem Aphyllophorales com mais de 300 espécies (Bhosle et al., 2010). Espécies do gênero Ganoderma são geograficamente cosmopolitas, conhecidos por causar podridão branca radicular em diversas espécies de árvores, o que lhe atribui um caráter fitopatógeno (Torres-Torres, Guzmán-Dávalos, & Villalobos-Arámbula, 2009; Moreno-Rico et al., 2010). Porém, possui uso medicinal no continente asiático (Sliva, 2006). Espécimes desse gênero utilizam a madeira como fonte de recurso nutricional, como saprófito ou como parasita. Muitas espécies são responsáveis por podridão radicular de culturas economicamente importantes, como seringueira (Hevea brasiliensis Muell. Arg.), coqueiro (Cocos nucifera L.), chá (Camillia sinensis (L.) Kuntzel) e outras plantas tropicais (Singh, 1991; Patersen, 2007; King, Jin, & Lew, 2012). Semelhante ao Ganoderma, espécies de Phellinus Quel. Causam podridão branca na planta hospedeira, com surgimento de cancros e cavidades nos ramos, podendo ocasionar a morte e destruição da planta (Dawner, 2001).

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O conhecimento autóctone do uso de fungo ou da ação desses no ambiente não é conhecido no Nordeste brasileiro. Portanto, este trabalho representa a primeira investigação etnomicológica de percepção da ação dos fungos no ambiente, contribuindo para o conhecimento da biodiversidade em domínio fitogeográfico da caatinga assim como os hospedeiros dos fungos fitopatógenos percebidos. Nesse contexto, o objetivo da pesquisa foi relatar sobre a ação fitopatógena dos cogumelos percebida ambientalmente por uma comunidade rural.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida na comunidade Zabelê, localizada no município de São Raimundo Nonato/PI, sul do Piauí. O clima é Tropical Semiárido Quente, com duração do período seco de sete a oito meses e a vegetação é de caatinga arbórea e arbustiva (Cepro, 2013). A coleta de dados foi procedida por entrevistas individuais usando formulário semiestruturado (Apolinário, 2006) com 48 sitiantes da comunidade (29 mulheres e 19 homens), seguidas de quatro excursões, duas no período de estiagem (agosto e outubro 2014) e duas durante o período chuvoso (dezembro 2014 e fevereiro 2015). As entrevistas foram auxiliadas com utilização projetiva de álbum seriado de fotografias (Medeiros, Almeida, Lucena, & Souto, 2010) das espécies de macrofungos locais, a fim de identificar os saberes etnomicológicos. Os entrevistados concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em atendimento a Resolução 466/2012 do Conselho nacional de Saúde. Este estudo foi submetido ao CEP da Universidade Federal do Piauí CAAE 36066214.4.0000.5214, aprovado com parecer número 912.195. Seguindo ainda com coleta de dados qualitativos, aplicou-se a técnica da “Turnê-Guiada” (Bernard, 1988), referida também por alguns autores como método informante de campo (Albuquerque, Lucena, & Alencar, 2010), técnica que consiste em caminhadas no campo guiadas por moradores que possuíam maior conhecimento sobre o local. Dessa forma, obteve-se confirmação dos nomes vernaculares dos macrofungos correspondendo com seus respectivos atributos na natureza, objetivando validar e fundamentar os saberes citados nas entrevistas (Albuquerque et al., 2010). Durante as turnês foram coletados exemplares do material fúngico, conforme procedimentos utilizados como instruções de coleta descrita por Vargas-Isla, Ishkawa, e Py-Daniel (2014). No Laboratório de Micologia da Universidade Federal do Piauí, identificou-se o material, com observação macro e microscópica, comparando com literatura especializada (Steyaert, 1972). Para analisar os dados, elaborou- se matriz básica com descrição qualitativa contendo táxon e etnotaxon, relacionando com os saberes reportados. As plantas citadas como hospedeiras foram identificadas e depositadas no Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente foi examinado morfologicamente um total de 43 amostras de macrofungos e comparada aos relatados de observação da fitopatogenia dos fungos, verificou-se que as amostras se tratavam de espécies do gênero Ganoderma Karsten e Phellinus Quel. A morfologia comparativa não permitiu uma identificação mais específica, devido ao polimorfismo observado nos espécimes estudados, concordando com Mocalvo e Ryvarden (1997) e com Douanla-Meli e Langer (2009) que ressaltam a alta variabilidade das características morfológicas do gênero. As espécies estudadas para o gênero Ganoderma, na maioria, foram identificadas e agrupadas em complexos com afinidades em duas espécies, Complexo Ganoderma applanatum (Pers.) Pat. e no Complexo Ganoderma lucidum (W. Curt:Fr.) Karst. Os sintomas característicos de parasitismo por Ganoderma Karsten e Phellinus Quel. foram observados com maior frequência em plantas hospedeiras da família Fabaceae, especificamente nas espécies Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir (Jurema-preta), Mimosa verrucosa Benth (Jurema-branca) e Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz (Pau-de-rato). A vegetação identificada é de ocorrência

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 predominante do domínio fitogeográfico da Caatinga, sendo de fácil percepção dessa relação parasita/hospedeiro por parte dos informantes. A formação de cogumelos (basidiomas) na base (colo) do caule de várias plantas evidencia o parasitismo, que pode progredir com amarelecimento e queda das folhas, chegando a diminuição, tamanho e apodrecimento dos ramos e dos outros tecidos, podendo levar a planta hospedeira à morte (Rossomanno, Coutinho, Kruppa, & Porto, 2012). A percepção ambiental da ação patogênica dos fungos relatada pela comunidade foi validada pelos estudos de campo e em laboratório Tab. 1.

Tabela 1. Percepção etnomicológica da fitopatogenidade na comunidade rural Zabelê, município de São Raimundo Nonato/PI. FITOPATOGENICIDADE Percepção ambiental Sintomas “Chupa o sumo, se demorar muito” A podridão radicular interrompe (“chupa”) a (Informante 3) circulação da seiva progressivamente (Rossomanno et al., 2012) “Porque adoece a planta” O parasitismo debilita (adoece) a planta. (Informante 10) (Flood, Hagan, & Foster, 2003) “Quando cria muito, mata a planta O parasitismo intenso mata a planta. (Informante 07) (Moreno- Rico et al., 2010) “Quando a orelha aparece, a planta está A produção de basidioma (cogumelo) indica esfraquecendo” (Informante 30) que a podridão radicular é intensa e interrompe a circulação da seiva enfraquecendo a planta. (Rossomanno et al., 2012) “Quando a orelha dá no tronco, a planta vai A produção de basidioma (cogumelo) na base morrer; quando dá na metade a parte de cima do caule é sintoma de podridão do colo e morre” interrompe a circulação da seiva, a planta (Informante 37) morre. Quando a produção do basidioma é na parte superior do caule, os ramos superiores (parte de cima) morrem primeiro. (Floody et. al, 2003) “A planta tá pra morrer porque tá criando orelha-de-pau” A formação de cogumelo (basidioma) na base (Informante 36) do caule indica o parasitismo avançado e “Quando a orelha-de-pau aparece, a planta prenuncia a morte da planta. está condenada a morte”. (Floody et al., 2003) (Informante 24) “Quando nasce no tronco, a planta morre”. (Informante 27)

“Quando cria muito, mata a planta. Mas, a Observação da dualidade do fungo que, orelha que nasce no pau-de-rato serve para enquanto é patogênico para as plantas, é de remédio” uso medicinal para a população. (Informante 01) (Sliva, 2006) “Quando o pau quer morrer, nasce a orelha”. Projeção de atitude humanizada para a planta (Informante 19) “quando quer morrer” em linguagem figurativa, significando que quando parasitada por fungo (orelha) a planta morrerá.

Verificamos pelos relatos que a população entrevistada tem percepção sobre a ação fitopatológica do Ganoderma em plantas hospedeiras, evidenciando semelhança à literatura pesquisada. Percebe-se

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 também que existe uma visão de dualidade da ação do fungo, demonstrado nas ações parasitária e medicinal, sendo a última associada às plantas utilizadas na medicina popular.

CONCLUSÕES

A percepção do parasitismo dos cogumelos nas plantas hospedeiras percebidas pelos informantes foi relatada mediante a apresentação dos sintomas, correspondendo ao descrito na literatura. Isso evidencia que o homem em contato com a natureza percebe a relação dos seres vivos no ambiente natural. Portanto, é de grande importância trabalhos nessa linha temática, para que seja conhecida a biodiversidade de macrofungos no estado do Piauí, visto que pesquisa dessa natureza, evidencia conhecimento de parasitismo por comunidades rurais sendo descrita pela primeira vez. Este trabalho se constitui também no primeiro estudo etnomicológico realizado no estado do Piauí.

AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal do Piauí (UFPI) e aos colaboradores que auxiliaram para a realização da pesquisa.

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ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

A CAÇA E USOS DE VERTEBRADOS SILVESTRES EM UMA ÁREA ECOTONAL NO MEIO-NORTE BRASILEIRO

Francisco Afonso de Azevedo Neiva1,2, Fernanda Rayanne Fonseca Mendes1,2, Aníbal da Silva Cantalice3,4, André Bastos da Silva4,5, Wedson Medeiros Silva Souto2,*

1Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portella (CMPP), Teresina – PI; 2Laboratório de Zoologia, Uso e Conservação da Fauna Ecotonal da América do Sul (ZUCON), UFPI, CMPP; 3Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, UFPI, Campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano – PI; 4Laboratório de Etnobiologia e Ecologia Vegetal (LEEV), UFPI, CMPP; 5Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), UFPI. *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

O objetivo do presente estudo foi identificar as principais espécies de caça e a dinâmica de caça em uma região de ecótono do Centro-Sul do Piauí (Regeneração), área com diversidade faunística e cultural, mas com alta vulnerabilidade socioeconômica. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas. A riqueza de espécies cinegéticas foi estimada com do estimador não-paramétrico Chao2. O Valor de Uso também foi calculado para cada espécie-alvo. Um total de 33 espécies foi registrado, sendo 27 utilizadas para fins de alimentação e 11 na medicina tradicional local. A atividade de caça no Centro-Sul do Piauí é uma atividade cultural que atende diferentes perfis de pessoas, residentes em áreas urbanas e rurais. Localmente caçadores empregam modernas técnicas e estratégias de caça consorciado com a incorporação de veículos motorizados, o que amplia o raio de exploração por caçadores e, possivelmente, confere um caráter insustentável da caça para a maioria das espécies.

Palavras-chave: Etnozoologia, Conservação da fauna, Caça no Piauí.

INTRODUÇÃO

A caça é uma das atividades mais antigas realizadas por humanos (Kalof & Resl, 2007). Diferenças nos métodos e propósitos de exploração da fauna variam em função dos períodos de tempo, da cultura local e questões econômicas (Davies & Brown, 2007; Staley, 2009). Registros da caça e usos de animais silvestres terrestres são abundantes nos repertórios fósseis e arqueológicos. Apesar de antiga e das mudanças nos determinantes da caça, a atividade está presente em praticamente todas as partes do mundo, com variações na riqueza de espécies e tipos de grupos da fauna explorados (Barboza, Lopes, Souto, Fernandes-Ferreira, & Alves, 2016; Effiom, Nuñez-Iturri, Smith, Ottosson, & Olsson, 2013; Pangau- Adam & Noske, 2010). No Brasil a caça constitui uma atividade culturalmente associada a grupos indígenas, como também perpetuada por colonizadores europeus, os quais encontraram na caça um recurso tanto para subsistência quando para obtenção de dividendos financeiros (Fernandes-Ferreira, Mendonça, Albano, Ferreira, & Alves, 2012; Robinson & Redford, 1991; Strong, Fragoso, & Oliveira, 2010). Atualmente esta atividade persiste em todo o Brasil, apesar das proibições legais (leis federais 5.197/67 e 9.605/98, além de diversas leis estaduais e municipais) (Alves & Souto, 2011). As proibições baseadas em dispositivos legais consistiram uma das tentativas governamentais para gerenciar as práticas cinegéticas de mitigar os impactos da exploração direta sobre muitas espécies, com objetivos de evitar a extinção. Por desconsiderar realidades locais e aspectos culturais, o modelo top-down de conservação da fauna no Brasil não impediu que incontável número de pessoas de diversas comunidades nas mais variadas partes e ecossistemas do Brasil

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 continue mantendo essa prática de maneira rotineira em suas vidas por motivos diversificados (Miranda & Alencar, 2007; Souza & Alves, 2014; Trinca & Ferrari, 2006; van Vliet et al., 2014). No Nordeste brasileiro, a atividade de caça tem por finalidades principais: a obtenção de alimento (bushmeat), a utilização de partes de animais na medicina tradicional; controle de pragas agrícolas ou predadores de animais de rebanho, além da obtenção de animais para fins de estimação, principalmente, as aves (Alves, Leite, Souto, Loures-Ribeiro, & Bezerra, 2013; Barboza et al., 2016; Bezerra, Araujo, & Alves, 2012; Fernandes-Ferreira et al., 2012; Nascimento et al., 2017; Souto et al., 2011). Entretanto, praticamente todo o conhecimento sobre a caça e captura de animais foi registrado nas porções mais orientais do Nordeste, domínios da Caatinga e Mata Atlântica (Alves, Lopes, & Alves, 2016; Alves et al., 2010; Barboza et al., 2016; Dantas-Aguiar, Barreto, Santos-Fita, & Santos, 2011; Souto, 2014). Informações em outras partes dessa região são escassas e quase sempre abordam exclusivamente a captura e comércio de animais para fins de estimação (Fernandes-Ferreira, Mendonça, Albano, Ferreira, & Alves, 2010; Souto et al., 2017). O objetivo do presente estudo foi identificar as principais espécies de caça em uma região ecotonal do Centro-Sul do Piauí (Regeneração), área com diversidade faunística e cultural, mas com alta vulnerabilidade socioeconômica. Nós investigamos a influência de aspectos sociais nas atividades de caça e avaliamos a dinâmica de captura e comércio da fauna cinegética.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

A pesquisa foi realizada no município de Regeneração, localizado na microrregião do Médio Parnaíba Piauiense, no Estado do Piauí, Brasil (PNUD-ONU, 2013) (Figura 1). O município possui uma população de aproximadamente 17.700 pessoas, das quais quase 80% reside na zona urbana (IBGE, 2017; UN-PNUD, 2013). Regeneração está situada em uma região que apresenta temperatura média de 27,5 ºC, precipitação anual de 1250 mm e com clima tropical com monções chuvosas (Am) na classificação de Köppen (Aguiar, 2004; Alvares, Stape, Sentelhas, Gonçalves, & Sparovek, 2014).

Figura 1. Área de Estudo (Regeneração-PI)

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O Estado do Piauí tem uma extensa zona ecotonal com interseções da Floresta Amazônica, Cerrado (Savana Neotropical) e Caatinga (vegetação decídua, seca e espinhosa), correspondendo ao maior domínio fitoecológico da Bacia do Rio Parnaíba (Sousa, Castro, Farias, Sousa, & Castro, 2009). Regeneração está uma área de ecótono cujas unidades fitoecológicas encontradas são áreas de florestas (estacional semidecidual e dicótilo-palmácea com babaçu – Attalea speciosa Mart. ex Spreng.) e de transição (ecótono) de Cerrado para florestas e Caatinga (Jacomine et al., 1986).

Coleta e análise de dados

Os dados foram coletados no período compreendido entre dezembro de 2016 e fevereiro de 2017. Semelhante a outros estudos etnozoológicos (Alves et al., 2016; Souto et al., 2017), informações foram obtidas por meio de entrevistas semiestruturadas, complementadas por entrevistas livres e conversas informais (Bernard, 2006). Os questionários foram aplicados a caçadores locais e englobavam tópicos sobre a atividade de caça (finalidade, métodos de captura, transporte utilizado, entre outros), além de aspectos socioeconômicos. A amostra total consistiu de 15 caçadores (todos homens), com média de idade de 39,2 anos. Devido à ilegalidade da caça e dificuldade para obtenção de participantes, a amostra foi obtida principalmente de maneira oportunista. A relação de confiança (rapport) foi estabelecida para possibilitar a coleta de dados. Estratégias adotadas para isso incluíram a participação em atividades para consumo da carne de caça ou acompanhamento de atividades cinegéticas, durante turnês-guiadas (Spradley & Mccurdy, 1972) e por técnicas de observação direta (Appolinário, 2006) e de participante do tipo não membro (Stebins, 1987). A riqueza de espécies cinegéticas utilizada para fins medicinais e como fonte de carne de caça foi estimada com do estimador não-paramétrico Chao2. Este estimador é baseado em dados de incidência e tem sido aplicado com sucesso em estudos etnozoológicos (Ferreira, Fernandes-Ferreira, & Léo Neto, 2013; Souto et al., 2017). A estimativa de riqueza de espécie foi analisada pelo programa EstimateS© versão 9.1.0 (Colwell, 2013). Nós calculamos o Valor de Uso para cada espécie-alvo utilizando a equação de Phillips et al. (1994) adaptada por Rossato et al. (1999). Onde: VU = ΣU/n, no qual U = número de citações por espécie e n = número de informantes. O VU permite demonstrar a importância relativa de cada espécie citada (Alves & Rosa, 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A fauna cinegética registrada para a área estudada foi representada por 33 espécies, distribuídas em 28 gêneros e 24 famílias. Aves (n=15; 45,5%) e mamíferos (n=13; 39,4%) foram os grupos mais representativos, seguidos por répteis com apenas cinco (15,1%) espécies reportadas (Tabela 1). Esses dados ratificam a maior importância da avifauna como grupo-alvo de caçadores na região Nordeste (Bezerra et al., 2012; Souto, 2014). No entanto, a riqueza praticamente equitativa entre aves e mamíferos situam o cenário de caça do Centro-Sul do Piauí como intermediário entre o semiárido do Nordeste, onde caçadores exploram uma riqueza muito maior de aves do que mamíferos (Alves, Gonçalves, & Vieira, 2012; Souto, 2014), e a região Amazônica, área onde a riqueza de mamíferos e aves é relativamente equitativa ou há maior exploração de espécies da mastofauna do que da avifauna (Souza-Mazurek et al., 2000; Strong et al., 2010). Esses dados são reflexos tanto de preferências locais quanto da composição faunística regional, uma vez que na localidade de estudo ainda existe uma riqueza de grandes e médios mamíferos das ordens Cingulata, Pilosa e Rodentia, grupos que na região Neotropical fornecem uma maior quantidade de carne do que a maioria das aves. Do total de espécies registradas, 27 (81,81%) são caçadas para fins de alimentação, ao passo que 11 (33,33%) foram reportadas por caçadores como animais explorados na medicina tradicional local. Chao2 estimou uma riqueza de aproximadamente 35 espécies da fauna local exploradas para consumo da carne. A curva de rarefação do estimador apresenta tendência à estabilização e, portanto, nosso esforço amostral para o inventário de espécies fontes de carne cinegética foi de 77,14% (Figura 2A). No caso da riqueza

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 explorada medicinalmente,nosso esforço amostral de espécies medicinais foi de 100%, uma vez que as curvas de Chao2 e da riqueza registrada atingiram a assíntota (Figura 2B).

Figura 2. (A, esquerda) Curva de acumulação de espécies cinegéticas exploradas para fins alimentício e (B, direita) curva de acumulação de espécies usadas medicinalmente.

As famílias da avifauna com maior número de espécies citadas foram Columbidae (5), Tinamidae (4). Entre os mamíferos destaca-se a família Dasypodidae com três espécies citadas, e entre os répteis, Testunidae, com uma espécie. Razões para importância dessas famílias na riqueza de espécies são variadas, mas incluem, por exemplo, alto rendimento em termos de desfrute da caça, preferência local pelo sabor da carne ou riqueza de partes utilizadas na medicina tradicional, conforme sugerido em outros estudos (Barboza et al., 2016; Barboza, Mourão, Souto, & Alves, 2011; Ferreira et al., 2013). Os Valores de Uso (VU) para os animais usados para a alimentação variaram de 0,07 a 1, já os utilizados para fins medicinais variaram de 0,07 a 0,4. Algumas espécies utilizadas para a alimentação tiveram VU acima de 0,5, por exemplo: Dasypus novemcinctus (VU=1); Euphractus sexcinctus (VU=1); Tamandua tetradactyla (VU=0,73); Crypturellus tataupa (VU=0,73); Dasyprocta prymnolopha (VU=0,73); Leptotila rufoxilla (VU=0,6); Leptolila verreauxi (VU=0,6) e Penelope superciliaris (VU=0,53). Entre os utilizados para fins medicinais, vale a pena destacar: Euphractus sexcinctus (VU=0,4); Cuniculus paca (VU=0,4); Dasypus novemcinctus (VU=0,33); Tamandua tetradactyla (VU=0,2) e Cerdocyon thous (VU=0,2) (Tabela 1).

Tabela 1. Lista de espécies da fauna utilizadas para consumo da carne e uso na medicina tradicional na região de Regeneração, Centro-Sul do Piauí. Legenda: VU=valor de uso; LC=pouco preocupante; LR=baixo risco; IUCN=União Internacional para a Conservação da Natureza. VU ali- VU medici- IUCN Red Classe/Ordem/Família/Espécie Nome-popular mento nal List 2017-2 AVES Accipitriformes Accipitridae gavião-pega-pinto (ga- Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) 0,07 vião-carijó) LC Anseriformes Anatidae

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VU ali- VU medici- IUCN Red Classe/Ordem/Família/Espécie Nome-popular mento nal List 2017-2 Dendrocygna viduata (Linnaeus, marreco 0,07 1766) LC Cariamiformes Cariamidae Cariama cristata (Linnaeus, 1766) sariema 0,13 LC Columbiformes Columbidae Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 juriti-pupu 0,60 LC Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, juriti-gemedeira 0,60 1792) LC Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) avoante 0,07 LC Columbina talpacoti (Temminck, rolinha-sangue-de-boi 0,27 1810) LC Columbina squammata (Lesson, rolinha-fogo-pagô 0,27 1831) LC Galliformes Cracidae Penelope superciliaris Temminck, jacu 0,53 1815 LC Gruiformes Rallidae Porphyrio martinicus (Linnaeus, 1766) frango-d'água-azul 0,20 LC Passeriformes Corvidae Cyanocorax cyanopogon (Wied, cancão 0,13 1821) LC Tinamiformes Tinamidae Rhynchotus rufescens (Temminck, perdiz 0,07 1815) LC Crypturellus tataupa (Temminck, lambu-pé-roxo 0,73 1815) LC Crypturellus undulatus (Temminck, jaó 0,07 1815) LC Nothura boraquira (Spix, 1825) codorniz 0,13 LC MAMMALIA Carnivora Canidae Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) raposa 0,20 LC Felidae Puma concolor (Linnaeus, 1771) onça-parda 0,07 LC Cetartiodactyla Cervidae Mazama gouazoubira (G. Fischer veado-catingueiro 0,47 [von Waldheim], 1814) LC Tayassuidae

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VU ali- VU medici- IUCN Red Classe/Ordem/Família/Espécie Nome-popular mento nal List 2017-2 Pecari tajacu (Linnaeus, 1758) caititu 0,07 LC Cingulata Chlamyphoridae Euphractus sexcinctus (Linnaeus, tatu-peba 1,00 0,40 1758) LC Dasypodidae Dasypus novemcinctus Linnaeus, tatu-verdadeiro 1,00 0,33 1758 LC Dasypus septemcinctus Linnaeus, tatu-china 0,20 1758 LC Dasypus sp. tatuí 0,20 Pilosa Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla (Linnaeus, mambira 0,73 0,20 1758) LC Primates Callitrichidae Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758) sagui 0,07 LC Rodentia Dasyproctidae Dasyprocta prymnolopha Wagler, cutia 0,73 1831 LC Cuniculidae Cuniculus paca (Linnaeus, 1758) paca 0,27 0,40 LC Erethizontidae Coendou prehensilis (Linnaeus, 1758) cuandu 0,07 LC REPTILIA Crocodylia Alligatoridae Caiman crocodilus (Linnaeus, 1758) jacaré 0,13 LR/LC Squamata Teiidae Salvator merianae Duméril & Bibron, teiu 0,13 0,20 1839 LC Boidae Eunectes murinus (Linnaeus, 1758) sucuri 0,13 Viperidae Crotalus durissus Linnaeus, 1758 cascavel 0,20 LC Testudines Testudinidae Chelonoidis carbonarius (Spix, 1824) jabuti 0,13

Para as espécies utilizadas medicinalmente, os principais produtos utilizados dos vertebrados terrestres foram a vesícula biliar, cascos, banhas (gorduras), sangue, cauda e, em menor frequência, a carne. Nossos resultados estão em acordo com outros estudos tropicais os quais indicaram que as espécies

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 ou partes de animais usadas na medicina tradicional são animais ou produtos geralmente não consumidos com propósito básico de alimento ou que seriam descartados (Alves & Rosa, 2013). O repertório de técnicas e estratégias de caça no Centro-Sul do Piauí incluem a coleta ativa manual (para quelônios), a caça ativa com cão (para tatus, tamanduá-mirim, cutia, teju, cuandu (porco-espinho)), o jequi (para tatus), a espera com arma de fogo (para columbídeos, tinamídeos, aves aquáticas, gavião pega- pinto, jacu, cutia, onça parda, paca e veado catingueiro), a baladeira (estilingue) (para columbídeos e cancão) e a arapuca (empregada para diversas aves). Destas técnicas, destacaram-se a caça com cão e o uso do jequi, sendo mencionados por todos durante a pesquisa. Em geral, o uso das técnicas e estratégias de caça na área de ecótono estudada seguem um padrão observado no semiárido do Nordeste por Alves et al. (2009), com influência do habitat da espécie-alvo e do clima regional sobre as técnicas de caça localmente utilizadas. Por exemplo, cães são apontados como eficiente recurso para perseguir e cercar tatus em buracos, assim como a espera é vantajosa em períodos secos, quando animais procuram lagoas ou barreiros para obtenção de água (Alves et al., 2009; Ayres & Ayres, 1979; Barboza et al., 2011). Distâncias reportadas pelos caçadores entre o local de residência deles e as áreas preferenciais de caça variaram de menos de 5 km a mais de 20 km. O uso de veículos motorizados foi reportado pela maioria dos entrevistados (n=10; 66,66%). O acesso às áreas preferenciais de caçadores está sendo viabilizado graças ao uso de motocicletas, forma preferencial de deslocamento para essas áreas reportada por igualmente 10 entrevistados (66,66%). A escolha deste tipo de veículo possui relação com a popularização de motocicletas na região estudada ao longo da última década, o baixo custo para manutenção, além da vantagem desse veículo conseguir acessar áreas fontes de fauna de difícil acesso (Souto, 2014). O uso de veículos motorizados sugere que uma transformação do caráter da caça puramente de subsistência para um com viés mais comercial e/ou esportivo (Souto, 2014; Souto et al., 2017). Entretanto, somente quatro entrevistados reportaram comercializar frequentemente animais silvestres. Esse dado, assim como observação do pesquisador, deve ser interpretado de maneira cautelosa, uma vez que no Brasil existe receio por parte dos entrevistados em fornecer informações detalhadas da atividade de caça em decorrência de eventuais implicações legais, conforme destacado por Alves & Souto (2015). Dos animais registrados, 30 espécies estão na lista vermelha da IUCN de espécies ameaçadas (IUCN, 2017), sendo que todos estão na categoria pouco preocupante (Least Concern) ou baixo risco (Lower Risk) de ameaça. Isso não implica dizer que a caça acarreta efeito desprezível sobre as populações das espécies-alvo. Pelo contrário, nós registramos uma percepção generalizada dos entrevistados de que algumas espécies são mais raras quando comparadas há 10 anos passados, incluindo o caititu Pecari tajacu (Linnaeus, 1758), o veado-catingueiro Mazama gouazoubira (Fischer, 1824) e tatus do gênero Dasypus. Além disso, a busca por áreas mais distantes da área periurbana e a incorporação de veículos motorizados para acesso das áreas escolhidas por caçadores possivelmente são um indicativo de depleção faunística das espécies-alvo ao menos em um raio próximo (e.g., 10 km) da cidade de Regeneração. Estudos ecológicos das populações das espécies caçadas no Centro-Sul do Piauí são urgentemente necessários. Novas estratégias de fiscalização, educação ambiental e desenvolvimento de planos de manejo e produção de espécies-alvo são necessárias para garantir que os estoques populacionais da fauna cinegética não sejam comprometidos.

CONCLUSÕES

A atividade de caça no Centro-Sul do Piauí é uma atividade cultural que atende diferentes perfis de pessoas, residentes em áreas urbanas e rurais. A despeito de melhorias econômicas nacional e regional na última década, assim como estratégias de fiscalização e controle, a caça no Meio Norte do Brasil é uma atividade popularizada. O cenário de caça da região estudada em termos de aspectos da caça indica ser intermediário entre o semiárido do Nordeste e a Amazônia, sobretudo em termos da composição faunística em nível de grandes grupos de vertebrados. Localmente caçadores empregam modernas técnicas e estratégias de caça consorciado com a incorporação de veículos motorizados, o que amplia o raio de exploração por caçadores e, possivelmente, confere um caráter insustentável da caça para a maioria das espécies.

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AGRADECIMENTOS

A todos os entrevistados que participaram do estudo e ao Laboratório de Zoologia, Uso e Conservação da Fauna Ecotonal da América do Sul (ZUCON) pela oportunidade de estágio ao primeiro autor desta pesquisa.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ETNOORNITOLOGIA EM UMA COMUNIDADE NA REGIÃO DO DELTA DO PARNAÍBA, UMA IMPORTANTE ÁREA DE BIODIVERSIDADE NEOTROPICAL NO NORDESTE DO BRASIL

Francisco das Chagas Vieira Santos*1, Wedson de Medeiros Silva Souto2, Suely Silva Santos1, Arthur Serejo Neves Ribeiro1, Muryllo dos Santos nascimento1, Reinaldo Farias Paiva de Lucena3, Anderson Guzzi4

1Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil. E-mail: [email protected] University of Piauí, Laboratory of Zoology, Use and Conservation of Ecotonal fauna from South America (ZUCON), Department of Biology Campus Ministro Petrônio Portella, s/n, Bairro, Ininga, 64049-550 - Teresina, PI, Brasil.3Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais, Laboratório de Etnoecologia, Universidade Federal da Paraíba, 58397-000 - Areia, PB, Brasil.4Curso de Ciências Biológicas, Departamento de Ciências do Mar, Campus Ministro Reis Velloso, Universidade Federal do Piauí. Parnaíba/PI, Brasil. *Autor para correspondência

RESUMO

A população apresenta um rico conhecimento sobre a avifauna de uma região, identificando a maioria das espécies locais, além de reconhecer aspectos etológicos e ecológicos de aves. Neste sentido, o presente estudo teve por objetivo registrar o conhecimento local dos residentes de uma comunidade situada na Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba. Um total de 76 pessoas do sexo masculino (51% da amostra) e 74 do sexo feminino (49%) foi entrevistado. Residentes locais indicaram a ocorrência de 97 espécies de aves pertencentes a 21 ordens e 40 famílias. Homens conhecem mais espécies da avifauna local do que as mulheres. Os resultados poderão fornecer estratégias que permitam a conservação da avifauna regional, não obstante retratar a cultura etnoornitológica tradicional.

Palavras-chave: aves, conhecimento tradicional, conservação, comunidade Labino.

INTRODUÇÃO

Humanos têm utilizado a avifauna desde tempos imemoriais (Kalof, 2007; Uncan, Blackburn, & Worthy, 2002) e as aves estão em praticamente todos os habitats onde há grupos humanos (Sodhi, Şekercioğlu, Barlow, & Robinson, 2011; Weller, 1999). Não é surpresa, portanto, que povos locais tenham vasto conhecimento sobre a riqueza das espécies de aves que os cercam e sobre aspectos etológicos e ecológicos desses animais, além de identificarem a importância das aves para a manutenção da integridade dos ecossistemas (Alves, Leite, Souto, Loures-Ribeiro, & Bezerra, 2013; Araujo, Lucena, & Mourão, 2005; Bonta, 2010). As aves têm enriquecido a vida da humanidade ao longo de milhares de anos, suportando a sobrevivência humana graças ao papel delas no meio-ambiente e possibilitando o sustento de pessoas graças a exploração da avifauna para o provimento de recursos essenciais, tais como alimento, remédios, ornamentos e, em última instância, dinheiro (Alves, Nougueira, Araujo, & Brooks, 2010; Nascimento, Czaban, & Alves, 2015; Silva & Strahl, 1991). Aves desempenham um papel fundamental para manutenção dos ecossistemas neotropicais e para suporte da sobrevivência e economia de grupos humanos residentes nos Neotrópicos (Sodhi et al., 2011; Van Vliet et al., 2014). Na Bacia Amazônica grupos indígenas obtém da avifauna cerca de 20% do rendimento de caça (Souza-Mazurek et al., 2000). Todavia, existe notável variação em função da disponibilidade de mamíferos e répteis, grupos com biomassa maior. Para os Macuxi de Roraima, por

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 exemplo, em quatro meses aves representaram 42% do número de espécimes capturados, mas somente 3% da biomassa colhida (Strong, Fragoso, & Oliveira, 2010). Por sua vez, no Nordeste do Brasil a avifauna possivelmente representa o principal recurso de caça, dado a grande riqueza de aves em inventários de usos da fauna, a ausência ou quase extirpação de mamíferos de grande porte (Alves, Gonçalves, & Vieira, 2012; Peres, 1997). Além disso, em todas as partes dos Neotrópicos a captura e comércio de aves vivas movimenta milhões de dólares por ano, com virtualmente todos os Psittaciformes sendoalvos do mercado ilegal, suportado por direcionadores culturais locais e uma demanda internacional que mantém uma cadeia de comércio organizada e extremamente ramificada (Daut, Brightsmith, Mendoza, Puhakka, & Peterson, 2015; González, 2003; Thomsen & Brautigam, 1991). A região do Delta do Parnaíba corresponde a um importante reduto de diversidade biológica (Cardoso, Santos, Gomes, Tavares, & Guzzi, 2013; Guzzi et al., 2012). Paralelamente, a área tem sido alvo da construção de parques para geração de energia eólica (Guzzi et al., 2015a; Guzzi et al., 2015b). Considerando o potencial de aumento da fragmentação de habitat e da captura de espécies da fauna, além da redução da riqueza de espécies (Fa, Currie, & Meeuwig, 2003; Van Vliet et al., 2011; Williams et al., 2012) em decorrência das intervenções humanas no Delta do Parnaíba, a região consiste em um local com demanda para pesquisas etnobiológicas e ecológicas com objetivo de compreender o conhecimento local acerca dos recursos faunísticos. Neste sentido, o presente estudo teve por objetivo determinar os conhecimentos dos residentes de uma comunidade no Delta do Parnaíba acerca da importância e usos da avifauna silvestre. Espera-se que possamos fornecer dados essenciais para medidas de manejo e desenvolvimento sustentável que considerem tanto o bem-estar humano quanto a conservação da fauna.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo A comunidade do Labino está localizada próxima ao Complexo Eólico Delta do Parnaíba no município de Ilha Grande-PI e limita-se com o município de Parnaíba-PI, separado deste apenas pela rodovia estadual PI-116. As coordenadas da localidade são 2°51'2.56" S/ 41°46'26.46" O (Fig. 1). O município de Ilha Grande possui uma uma população aproximada de 9.211 pessoas no ano de 2015 (IBGE, 2015). De acordo com dados da Associação de Moradores local, a comunidade do Labino possui 200 famílias e um total de 400 residentes. A comunidade está situada em Área de Proteção Ambiental (APA) do Delta do Parnaíba, a qual foi criada pelo Decreto Federal de 28 de agosto de 1996 e cuja área de abrangência envolve todo o litoral do Piauí e partes do Maranhão e Ceará. O clima da região é do tipo Aw pela classificação de Koeppen, com estação úmida nos meses de janeiro a junho e estação seca de julho a dezembro (Bastos, 2011).

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Fig. 1. Localização da área de estudo - comunidade do Labino entre os Municípios de Ilha Grande e Parnaíba/PI. Fonte: Pesquisa direta.

Coleta e análise dos dados Dados foram coletados no período compreendido entre novembro de 2015 e janeiro de 2016. Semelhante a outros estudos etnozoológicos (Alves et al., 2013; Alves et al., 2015; Van Den Bergh, Kusters, & Dietz, 2013), os dados foram obtidos com auxílio de formulário semiestruturado. O fomulário englobou questões como: aspectos socioeconômicos dos entrevistados, percepção de importância da avifauna local, identificação de espécies locais e de períodos com maior abundância de aves. Calculou-se o tamanho amostral com um erro de 5% e confiabilidade de 95% (Bernard, 2006). Deste modo, foram entrevistados 150 (cento e cinquenta) moradores, (51%) do sexo masculino e (49%) do sexo feminino, utilizando-se como critério de seleção serem maiores de 18 anos de idade. A fim de evitar enviesamento de informações (Albuquerque, Cunha, Lucena, & Alves, 2014), todas as entrevistas foram realizadas individualmente. Antes de cada entrevista, os entrevistados locais foram convidados a assinar o Termo de Consentimento Livre e Entendimento (TCLE). O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Universidade Federal do Piauí – Campus Parnaíba (registro CAAE 48477215.2.0000.5669).

Identificação das espécies Aves reportadas pelos entrevistados foram identificadas a nível de espécie utilizando guia de campo (Sigrist, 2009). Os nomes taxonômicos seguem a lista de aves brasileiras do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (Piacentini et al., 2015). Nomes populares seguiram os vernáculos fornecidos na comunidade pesquisada. Dados foram analisados por meio de estatística univariada para verificar a existência de influência de fatores socioeconômicos no conhecimento etnoornitológico local. Análises estatísticas foram realizadas no programa SPSS© versão 23 e para todos os casos o nível de significância adotado foi de 5% (p<0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Aspectos socioeconômicos

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A população amostrada foi composta por 150 entrevistados, destes 51% pertencem ao sexo masculino (n = 76) e 49% ao sexo feminino (n = 74). A idade variou entre 18 a 87 anos. No geral, a escolaridade dos entrevistados foi baixa, com 11,33% (n = 17) dos indivíduos analfabetos e 40,67% com ensino fundamental completo ou incompleto. A renda familiar na comunidade do Labino variou entre 1 e 4 salários mínimos (Brazilian minimum wage in May 2016: ~ USD $248), mas a maioria dos informantes (n=92;61%) sobrevive com cerca de 1 a 2 salários mínimos. O município de Ilha Grande possuía um médio desenvolvimento humano em 2010 (IDH = 0,563, em 2010). A distância entre o IDHM do município e o limite máximo do índice (valor igual a 1) foi reduzido em 73,45% entre 2000 e 2010 (ADHB, 2013). O Delta do Parnaíba ainda consegue manter uma avifauna rica e diversificada, pois foram mencionadas 97 espécies de aves pelos entrevistados da comunidade Labino no município de Ilha Grande/PI. Embora o conhecimento tradicional possa fornecer o registro de novas espécies (Cozzuol et al., 2013), todas as espécies mencionadas no levantamento etnoornitológico já haviam sido registradas nos levantamentos científicos anteriores (Guzzi, Gomes, et al., 2015; Guzzi, Tavares, et al., 2015), mas o que se destaca é que cerca de 60% das aves registradas nas pesquisas científicas (de um total de 161 espécies), fazem parte do cotidiano dos moradores da comunidade Labino.

Esforço amostral e espécies localmente conhecidas Residentes reportaram conhecer 97 espécies da avifauna (média de 8,68 ± 4,87 (desvio-padrão, d.p.) na área da comunidade do Labino e entorno, incluindo a região do Complexo Eólico Delta do Parnaíba. As aves conhecidas pelos residentes são pertencentes a 85 gêneros, 40 famílias e 21 ordens (Tabela 1). Esse total representa 60 % de aves já registradas na região (Cardoso et al., 2013; Guzzi et al., 2012; Guzzi et al., 2015). As famílias mais representativas foram Columbidae e Traupidae (8 espécies); Ardeidae e Icteridae (6 espécies); Cuculidade e Picidae (5 espécies); Rallidae, Scolopacidae e Psittacidae (4 espécies). Columbina picui (n = 109; 73%), Pitangus sulphuratus (n = 97; 65%), Turdus rufiventris e Icterus jamacaii (ambas, n = 71; 47%); Bubulcus ibis e Coragyps atratus (n = 55; 37%) e Passer domesticus com 36% das citações (n = 54) foram as espécies com maior número de citações. Algumas das famílias mencionadas como maior riqueza de espécies reportadas no presente estudo, foram expressivas em levantamentos ornitológicos realizados na região do Delta do Parnaíba (Guzzi et al., 2012; Guzzi et al., 2015), principalmente as famílias Scolopacidae, Ardeidae e Icteridae, as quais figuraram entre as mais representativas em riqueza de espécies no inventário de aves do Delta do Parnaíba.

Conhecimento local da avifauna e aspectos sociais Homens conhecem mais espécies da avifauna local do que as mulheres (média homens = 9,76 ± 5,11; média mulheres = 7,57 ± 4,37; mediana homens = 9, mediana mulheres = 6). Tal diferença foi extremamente significativa (Mann-Whitney U = 3.613,5; g.l. = 1; p = 0,002; postos médios (homens = 86,05; mulheres = 64,67) (Fig. 2A).

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Fig. 2. Influência de aspectos sociais no conhecimento da riqueza de espécies. Em 2A, 2C e 2D a linha tracejada é a mediana da riqueza de espécies reportada por todo o conjunto amostral. Em 3B a linha tracejada é a linha da equação da relação entre idade e o conhecimento de espécies da fauna local. Pontos externos aos boxplots em 2A, 2C e 2D re- presentam valores extremos (outliers), mas que não alteraram sensivelmente a mediana.

O fato dos homens conhecerem mais espécies de aves do que mulheres, não é surpresa, uma vez que as atividades cinegéticas que envolvem as aves são frequentemente realizadas exclusivamente ou majoritariamente por homens ao longo dos trópicos, aumentando a chance de que eles utilizem ou conheçam mais recursos cinegéticos e aspectos etnoecológicos das espécies de aves (Alves et al., 2012; Alves, Mendonça, Confessor, Vieira, & Lopez, 2009; Van Vliet et al., 2014). Homens têm um maior conhecimento local sobre as aves limícolas e migratórias do que as mulheres, o que pode estar relacionado com a maior participação masculina na atividade pesqueira praticada próximo ao ambiente de alimentação e descanso das aves (Andrade et al., 2016). A difusão transgeneracional do conhecimento etnozoológico tem sido previamente destacado (Alves et al., 2015; Santos Fita, Costa Neto, & Schiavetti, 2010; Souto, Barboza, Rocha, Alves, & Mourão, 2012), e nós registramos indiretamente este fenômeno em relação ao conhecimento etnoornitológico local. Em geral, indivíduos mais velhos conhecem mais espécies do que pessoas mais jovens da comunidade, embora essa correlação foi extremamente fraca (correlação de Pearson = 0,164; p = 0,05) (Fig. 2B). O maior nível de conhecimento de indivíduos mais velhos corrobora estudos sobre captura e uso de comércio da fauna nos trópicos (Lindsey et al., 2013; Pangau-Adam, Noske, & Muehlenberg, 2012; Robinson & Bennett, 2000; Souza & Alves, 2014), os quais sugerem que o conhecimento local acerca das espécies da fauna silvestre é diretamente influenciada por uma cinergia de fatores, incluindo principalmente a transmissão de parentes mais velhos para mais jovens. Adicionalmente, a escolaridade influenciou no conhecimento local sobre aves (Kruskal-Wallis H = 14,21; g.l. = 2; p < 0,001) (Fig. 2C). Essa diferença foi encontrada entre os indivíduos com baixa escolaridade (analfabetos ou com ensino fundamental incompleto) e os residentes do Labino com maior nível de formação (ensino médio completo ou superior) escolar (test post-hoc de Dunn, p<0,05), com

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 indivíduos de menor formação escolar conhecendo uma riqueza de espécies superior aos de escolaridade mais elevada (Posto médio baixa escolaridade = 88,32 e mediana = 10; posto médio elevada escolaridade = 58,5 e mediana = 6). Os resultados demonstram que o baixo nível de escolaridade não implica necessariamente no desconhecimento das espécies da fauna local, semelhante ao que fora indicado para aspectos reprodutivos de Psittacidae (Saiki, Guido, & Cunha, 2009) e praticamente toda a ecologia do caranguejo-uçá Ucides cordatus (Cortês, Zappes, & Di Beneditto, 2014), o que pode ser reflexo do processo de ensino-aprendizagem, pois a maioria das vezes nos livros didáticos são apresentadas características e ilustrações de uma fauna exótica, aliado a um menor contato desses indivíduos com a avifauna local. O tempo de residência não influenciou no conhecimento da riqueza de espécies (Kruskal-Wallis H = 7,22; g.l. = 3; p = 0,065).

CONCLUSÃO

As informações obtidas no estudo demostram que os moradores da comunidade Labino possuem conhecimento acerca da avifauna local. Os resultados sugerem que a comunidade deveria ser incluída em estratégias para a conservação das aves da região, elaboradas a partir de comunicação entre instituições educacionais e governamentais, buscando meios que minimizem impactos sobre as espécies, assim como novos estudos com listas e ilustrações das espécies locais como forma de conteúdo complementar nas escolas da região e curso de capacitação da avifauna local para os professores, já que a maioria dos livros didáticos não mencionam informações como o nome científico das espécies e se estas são nativas ou não de biomas locais ou do Brasil, sendo assim, dificilmente serão trabalhadas por professores e alunos. Outra opção seria um projeto de educação ambiental nas escolas, com foco na observação de aves como ferramenta pedagógica. Cabe destaque a região do Labino, importante principalmente para as aves migratórias, que buscam ali um local para descanso e alimentação.

AGRADECIMENTOS

À coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo auxílio financeiro. A todos os participantes da pesquisa da comunidade do Labino, município de Ilha Grande, PI, pela colaboração para a realização desta pesquisa.

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Tabela 2. Classificação das espécies de aves silvestres identificadas como ocorrentes na comunidade do Labino, zona rural do Município de Ilha Grande (Piauí, Brasil) segundo informantes locais. Taxa (Piacentini et al. (Informantes) n % 2015) Tinamidae Gray, 1840 Crypturellus undulatus (Temminck, 1815) Undulated Tinamou Jaó 10 7% Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) Small-billed Tinamou nambú 7 5% Anatidae Leach, 1820 Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) White-faced paturi 12 8% Whistling-Duck Anas bahamensis Linnaeus, 1758 White-cheeked Pintail marreca 35 23% Cracidae Rafinesque, 1815 Penelope superciliaris Temminck, 1815 Rusty-margined Jacupemba 4 3% Guan Ortalis superciliaris (Gray, 1867) Buff-browed Aracuã 1 1% Chachalaca Podicipedidae Bonaparte, 1831 Tachybaptus dominicus (Linnaeus, 1766) Least Grebe mergulhão- 6 4% pequeno Podilymbus podiceps (Linnaeus, 1758) Pied-billed Grebe pecaparad 3 2% Phalacrocoracidae Reichenbach, 1849 Nannopterum brasilianus (Gmelin, 1789) Neotropic Cormorant Biguá 1 1% Ardeidae Leach, 1820 Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) Rufescent Tiger- socó 1 1% Heron Nyctanassa violacea (Linnaeus, 1758) Yellow-crowned tamatião 21 14% Night-Heron Butorides striata (Linnaeus, 1758) Striated Heron Socozinho 25 17% Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) Cattle Egret garça-pequena 55 37% Ardea alba Linnaeus, 1758 Cattle Egret garça-grande 5 3% Egretta caerulea (Linnaeus, 1758) Little Blue Heron garça-parda 3 2% Threskiornithidae Poche, 1904 Eudocimus ruber (Linnaeus, 1758) Scarlet Ibis Guará 9 6% Theristicus caudatus (Boddaert, 1783) Buff-necked Ibis Curicaca 4 3% Cathartidae Lafresnaye, 1839 Cathartes aura (Linnaeus, 1758) Turkey Vulture urubu-de-cabeça- 3 2% vermelha Cathartes burrovianus Cassin, 1845 Lesser Yellow- urubu-de-cabeça- 2 1% headed Vulture amarela Coragyps atratus (Bechstein, 1793) Black Vulture urubu-de-cabeça- 55 37% preta Accipitridae Vigors, 1824

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Taxa (Piacentini et al. (Informantes) n % 2015) Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817) Snail Kite gavião- 22 15% caramujeiro Urubitinga urubitinga (Gmelin, 1788) Great Black Hawk gavião-preto 1 1% Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) Roadside Hawk gavião-carijó 1 1% Falconidae Leach, 1820 Caracara plancus (Miller, 1777) Southern Caracara Carcará 15 10% Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, Laughing Falcon Acauã 2 1% 1758) Aramidae Bonaparte, 1852 Aramus guarauna (Linnaeus, 1766) Limpkin carão 28 19% Rallidae Rafinesque, 1815 Aramides cajaneus (Statius Muller, 1776) Gray-necked Wood- siricora 30 20% Rail Gallinula galeata (Lichtenstein,1818) Common Gallinule frango-d'água 23 15% Porphyriops melanops (Vieillot, 1819) Spot-flanked capote-d'água 11 7% Gallinule Porphyrio martinicus (Linnaeus, 1766) Purple Gallinule frango-d'água 6 4% Charadriidae Leach, 1820 Vanellus chilensis (Molina, 1782) Southern Lapwing tetéud 22 15% Scolopacidae Rafinesque, 1815 Numenius phaeopus (Linnaeus, 1758) Eurasian Whimbrel pirão-gordo 4 3% Tringa melanoleuca (Gmelin, 1789) Greater Yellowlegs maçarico-grande 2 1% Calidris alba (Pallas, 1764) Sanderling maçarico-branco 21 14% Calidris minutilla (Vieillot, 1819) Least Sandpiper maçarico-pequeno 4 3% Jacanidae Chenu & Des Murs, 1854 Jacana jacana (Linnaeus, 1766) Wattled Jacana jaçanã 9 6% Laridae Rafinesque, 181 Chroicocephalus cirrocephalus (Vieillot, Gray-hooded Gull gaivota 11 7% 1818) Phaetusa simplex (Gmelin, 1789) Large-billed Tern trinta-réis-grande 2 1% Columbidae Leach, 1820 Columbina talpacoti (Temminck, 1811) Ruddy Ground-Dove rolinha-sangue-de- 24 16% boi Columbina squammata (Lesson, 1831) Scaled Dove fogo-apagou 1 1% Columbina picui (Temminck, 1813) Picui Ground-Dove rolinha-branca 109 73% Columbina passerina (Linnaeus, 1758) Common Ground- rolinha-cinza 20 13% Dove Columba livia Gmelin, 1789 Rock Pigeon Pombo 3 2%

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Taxa (Piacentini et al. (Informantes) n % 2015) Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) Picazuro Pigeon asa-branca 2 1% Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 White-tipped Dove Juriti 3 2% Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) Eared Dove avoante 17 11% Psittacidae Rafinesque, 1815 Eupsittula cactorum (Kuhl, 1820) Cactus Parakeet periquito-da- 6 4% caatinga Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) Blue-winged Parrotlet tuim 6 4% Thectocercus acuticaudatus (Vieillot, 1818) Blue-crowned periquito-de-testa- 6 4% Parakeet azul Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) Turquoise-fronted papagaio 8 5% Parrot Cuculidae Leach, 1820 Piaya cayana (Linnaeus, 1766) Squirrel Cuckoo alma-de 4 3% Coccyzus euleri Cabanis, 1873 Pearly-breasted papa-lagarta 2 1% Cuckoo Crotophaga major Gmelin, 1788 Greater Ani gorgoró 17 11% Crotophaga ani Linnaeus, 1758 Smooth-billed Ani anu 47 31% Guira guira (Gmelin, 1788) Guira Cuckoo piririguá 21 14% Tytonidae Mathews, 1912 Tyto furcata (Temminck, 1811) American Barn Owl coruja 10 7% Strigidae Leach, 1820 Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) Ferruginous Pygmy- Caburé 11 7% Owl Nyctibiidae Chenu & Des Murs, 1851 Nyctibius griseus (Gmelin, 1789) Common Potoo mãe-da-lua 1 1% Caprimulgidae Vigors, 1825 Nyctidromus albicollis (Gmelin, 1789) Common Pauraque Bacurau 1 1% Podager nacunda (Vieillot, 1817) Nacunda Nighthawk Corucão 1 1% Trochilidae Vigors, 1825 Amazilia leucogaster (Gmelin, 1788) Plain-bellied Emerald beija-flor-de- 21 14% barriga-branca Alcedinidae Rafinesque, 1815 Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766) Ringed Kingfisher martim-pescador- 2 1% grande Chloroceryle amazona (Latham, 1790) Amazon Kingfisher martim-pescador- 8 5% verde Bucconidae Horsfield, 1821 Nystalus maculatus (Gmelin, 1788) Spot-backed Puffbird bico-de-latão 2 1%

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Taxa (Piacentini et al. (Informantes) n % 2015) Picidae Leach, 1820 Melanerpes candidus (Otto, 1796) White Woodpecker pica-pau-branco 1 1% Veniliornis passerinus (Linnaeus, 1766) Little Woodpecker pica-pau-anão 16 11% Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788) Green-barred pica-pau-verde 2 1% Woodpecker Celeus flavescens (Gmelin, 1788) Blond-crested pica-pau-amarelo 2 1% Woodpecker Campephilus melanoleucos (Gmelin, 1788) pica-pau-de-topete- pica-pau-vermelho 3 2% vermelho Thamnophilidae Swainson, 1824 Taraba major (Vieillot, 1816) Great Antshrike choró-boi 2 1% Furnariidae Gray, 184 Furnarius rufus (Gmelin, 1788) Rufous Hornero joão-de-barro 1 1% Tyrannidae Vigors, 1825 Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) Great Kiskadee bem-te-vi 97 65% Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 Tropical Kingbird severina 11 7% Fluvicola nengeta (Linnaeus, 1766) Masked Water-Tyrant lavadeira- 7 5% mascarada Corvidae Leach, 1820 Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) White-naped Jay cancão 5 3% Troglodytidae Swainson, 1831 Troglodytes musculus Naumann, 1823 Southern House Rouxinol 2 1% Wren Turdidae Rafinesque, 1815 Turdus rufiventris Vieillot, 1818 Rufous-bellied sabiá-verdadeira 71 47% Thrush Mimidae Bonaparte, 1853 Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) Chalk-browed sabiá-da-mata 13 9% Mockingbird Mimus gilvus (Vieillot, 1807) Tropical Mockingbird sábia-da-praia 5 3% Thraupidae Cabanis, 1847 Coryphospingus pileatus (Wied, 1821) Pileated Finch tico-tico 5 3% Tangara sayaca (Linnaeus, 1766) Sayaca Tanager sanhaçú 2 1% Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758) Red-cowled Cardinal galo-de-campina 18 12% Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) Saffron Finch canário-da-terra 1 1% Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) Blue-black Grassquit Tiziu 1 1% Sporophila lineola (Linnaeus, 1758) Lined Seedeater Bigode 12 8% Sporophila bouvreuil (Statius Muller, 1776) Copper Seedeater Caboclinho 1 1%

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Taxa (Piacentini et al. (Informantes) n % 2015) Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) Bananaquit Sibiti 2 1% Cardinalidae Ridgway, 1901 Cyanoloxia brissonii (Lichtenstein, 1823) Ultramarine Azulão 1 1% Grosbeak Parulidae Wetmore, Friedmann, Lincoln, Miller, Peters, van Rossem, Van Tyne & Zimmer 1947 Basileuterus culicivorus (Deppe, 1830) Golden-crowned pula-pula 3 2% Warbler Icteridae Vigors, 1825 Procacicus solitarius (Vieillot, 1816) Solitary Black Iraúna 1 1% Cacique Cacicus cela (Linnaeus, 1758) Yellow-rumped xexéu 29 19% Cacique Icterus pyrrhopterus (Vieillot, 1819) Variable Oriole primavera 7 5% Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) Campo Troupial corrupião 71 47% Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) Chopi Blackbird chico-preto/graúna 26 17% Sturnella superciliaris (Bonaparte, 1850) White-browed papa-arroz 2 1% Meadowlark Fringillidae Leach, 1820 Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) Purple-throated vim-vim 4 3% Euphonia Passeridae Rafinesque, 1815 Passer domesticus (Linnaeus, 1758) House Sparrow pardal 54 36% Total = 97 Species

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ETNOICTIOLOGIA DO RIO PERICUMÃ, SÍTIO RAMSAR - APA DA BAIXADA MARANHENSE: ASPECTOS RELACIONADOS À ETOLOGIA DAS ESPÉCIES

José Carlito do Nascimento Ferreira Junior1*, Elinelma Ribeiro Monteiro1, Erisson George Ribeiro1, Jhoyseph Gerard Nunes da Silva1, Arkley Marques Bandeira2, Leonardo Silva Soares2.

1Curso de Licenciatura em Ciências Naturais, Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Campus de Pinheiro, Pinheiro – MA; 2Professor da Universidade Federal do Maranhão, Campus de Pinheiro – MA *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

A etnoictiologia busca compreender o fenômeno das interações socioculturais estabelecidas entre humanos e peixes. Nesta perspectiva, o objetivo deste trabalho foi investigar o conhecimento e a percepção etnoictiologica dos pescadores artesanais do Rio Pericumã, município de Pinheiro, Maranhão, Nordeste do Brasil. Para tanto, optou-se pela utilização do método de pesquisa de campo denominado de Bola de Neve, pelo qual foram aplicados questionários com 26 perguntas estruturadas e semiestruturadas sobre o conhecimento dos pescadores em relação a ictiofauna local. Os resultados evidenciaram categorizações tróficas, comportamentais e a época de reprodução. Além disso, os pescadores relataram as modificações no ambiente relacionadas ao estado atual da cultura pesqueira das comunidades estudadas, percebendo a importância de manter as tradições. Neste contexto, as informações geradas podem subsidiar o delineamento de estratégias voltadas para a gestão pesqueira e ambiental do rio Pericumã, importante corpo hídrico do Sítio RAMSAR da Baixada Maranhense.

Palavras-chave: Etnoictiologia, Rio Pericumã, Pesca artesanal, Sítio RAMSAR, Baixada Maranhense

INTRODUÇÃO

As comunidades tradicionais, diferentemente das sociedades urbanas industriais, de um modo geral, retiram diretamente da natureza os recursos necessários para a sua subsistência. Estas sociedades são detentoras de um rico e complexo conjunto de conhecimentos e estratégias de uso dos recursos naturais presentes em seus territórios (Barros, 2012). Por sua vez, a etnoictiologia busca compreender a relação entre o homem e o peixe sob os mais diversos aspectos, como as formas de manejo, tática de pesca, dieta e, em particular, a nomenclatura dos peixes (Almeida, 2013). Estudos sobre o conhecimento popular em comunidades pesqueiras fornecem informações sobre as interações que os grupos sociais mantêm com os ecossistemas aquáticos (Abreu, 2011). No Estado do Maranhão, existem uma diversidade de sistemas pesqueiros artesanais complexos (dulcícolas, estuarinos e marinhos), dentre os quais destacam-se àqueles localizados na Baixada Maranhense. Nesta unidade ambiental existe um mosaico de ambientes (rios e lagoas) onde ocorre a atividade pesqueira de modo tradicional e secular, que rementem a ancestralidade indígena e quilombola, dentre os quais está inserida a bacia hidrográfica do rio Pericumã. A importância deste sistema é reconhecida internacionalmente pela Convenção sobre as Áreas Úmidas Mundiais, conhecida como Tratado RAMSAR, que considerou como de importância estratégica para o futuro do planeta algumas regiões. O Maranhão possui três zonas categorizadas como RAMSAR: Baixada Maranhense, Reentrâncias Maranhenses e o Parcel do Manoel Luís. A chancela como sítio RAMSAR recomenda que os entes federados e a sociedade em geral realizem diagnósticos, inventários e monitoramento em diferentes áreas

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 do conhecimento, com vistas a fornecer subsídios técnico-científicos para a gestão e o uso sustentável dos recursos oriundos destas regiões. Este estudo tem como objetivo investigar o conhecimento e a percepção etnoictiologica dos pescadores artesanais do Rio Pericumã relacionados a ictiofauna local, mostrando que estas informações podem ser uteis para os estudos de conservação e preservação do rio Pericumã, Sítio RAMSAR e Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo refere-se ao Rio Pericumã, um dos principais recursos hídricos localizado no Sítio RAMSAR da Baixada Maranhense, estado do Maranhão (Figura 1). O Maranhão possui três zonas categorizadas como RAMSAR: Baixada Maranhense, Reentrâncias Maranhenses e o Parcel do Manoel Luís. A chancela como sítio RAMSAR recomenda que os entes federados e a sociedade em geral realizem diagnósticos, inventários e monitoramento em diferentes áreas do conhecimento, com vistas a fornecer subsídios técnico-científicos para a gestão e o uso sustentável dos recursos oriundos destas regiões. Como procedimento metodológico e para a coleta dos dados foram realizadas 26 entrevistas orientadas às comunidades localizadas no Sítio RAMSAR da Baixada Maranhense, com base em aplicação questionários semiestruturados que foram construídos com base na fundamentação de Begossi e Garavello (1990) e Begossi e Figueiredo (1995). Foram abordados aspectos relacionados ao conhecimento tradicional dos pescadores sobre as caraterísticas e a ecologia da ictiofauna local. (Figura 2).

Figura 1: Localização da APA Baixada Maranhense Figura 2: Entrevista com pescadores

Fonte: os autores, 2017. Fonte: os autores, 2017.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Brasil, as pesquisas etnoictiológicas que envolvem conhecimento tradicional abordam diferentes dimensões do conhecimento (Barboza & Pezzuti, 2011). Segundo os autores na última década foram produzidos trabalhos acerca de hábito alimentar, movimentos migratórios, uso de hábitats, etologia, reprodução e mudanças ecológicas nos sistemas aquáticos em diversos ecossistemas do país. Verifica-se que o conhecimento dos pescadores constitui importante fonte de informação para o gerenciamento pesqueiro de sistemas aquáticos. No rio Pericumã, os resultados coletados possibilitaram construir conhecimento inédito acerca do tema na área de estudo.

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Em relação ao gênero dos entrevistados, 84,6% foram do masculino e 16,4% foram do gênero feminino. Os resultados indicam que a atividade de pesca no rio Pericumã é prioritariamente realizada por homens. Quando foram questionados sobre as possíveis regras para a realização das atividades de pesca, a maioria das associações relaciona as respostas com os efeitos da lua (40%). Dentre as relações descritas pelos pescadores destacam-se os seguintes relatos: “as pescarias são realizadas de acordo com a fase da lua”...”não pesca com chuva e lua clara”...”de acordo com a fase da lua”...”quando a lua está fraca”...”com a lua clara não pesca”. Outras relações citadas pelos entrevistados estão relacionadas com o conhecimento dos pesqueiros do rio (16%) e com a necessidade de revezar os locais de pesca (4%). Com relação ao local de pesca, 50% dos entrevistados citaram às margens do rio como principal local para realização das capturas. Sobre o período, 42,3% citaram que o período de estiagem é a época com maior concentração de peixes no rio, sendo a mais propícia para obterem sucesso nas pescarias. Sobre os peixes capturados, os pescadores citaram a ocorrência de 15 espécies. Segundo Costa- Neto (1996) os campos inundáveis do rio Pericumã apresentam elevada produtividade de peixes, principal base alimentar e econômica. As principais espécies capturadas são a traíra (Hoplias malabaricus) (84,5%), piaba (Leporinus sp) (65,38%), camurim (Crenicichla sp) (61,53%), acará (Pterophyllum sp) (53,84%), bagrinho (Trachelyopterus galeatus) (50%) e curimatã (Prochilodus lineatus) (23,07%). As outras espécies citadas foram o jejú (Gymnorhamphichthys hypostomus), piranha (Pygocentrus piraya), cabeça gorda (Leporinus friderici), jandiá (Rhamdia quelen), pampa (Trachinotus sp), tripudo (etnoespécie não identificada), bucho de sarro (etnoespécie não identificada), tilápia (Tilapia rendalli) e o cascudo (Hypostomus sp.). Com relação a ocorrência das espécies, 50% dos entrevistados citaram que a piaba e a traíra são àquelas que ocorrem durante o período de estiagem e chuvoso. Quanto a ocorrência de espécies novas, que não ocorriam no rio há 10 anos atrás, a curimatã foi citada por 46,1% dos entrevistados, sendo seguida pelo tambaqui (34,6%) e tilápia (23,07%). Embora, 46,15% responderam que não existe nenhuma espécie nova, 34,61% e 23,07, respectivamente, responderam que o tambaqui e a tilápia, são espécies novas no rio. Ambas as espécies não são originarias da bacia do rio Pericumã, segundo Sampaio e Schmidt (2013) quando espécies exóticas são identificadas em Unidades de Conservação é necessário que ações de controle sejam implementadas de forma urgente, especialmente onde há riscos iminentes de extinções locais devido à competição entre espécies filogeneticamente próximas. Quando questionados sobre a ecologia trófica dos peixes, os pescadores do rio Pericumã conseguiram caracterizar os hábitos alimentares de algumas espécies, dentre as quais destaca-se a piranha, onde 46,15% dos entrevistados responderam que a mesma “é um peixe que come outro peixe” ou seja, trata-se de uma espécie piscívora. O cascudo foi caracterizado como “peixe que come lodo” por 23% dos entrevistados (iliófagos) e a piaba (23%) como “peixe que come tudo” (omnívoro). Outras espécies mencionadas foram a cabeça gorda como “ o peixe que come limo” (iliófagos) e o bagre que “come frutas” (omnívoro). Os resultados demonstram que por meio do conhecimento dos pescadores artesanais é possível caracterizar a dinâmica trófica da ictiofauna, nos estudos realizados por Costa-Neto, Dias e Melo (2002) no rio São Francisco e por Ramires, Molina e Hanazaki (2007) em comunidades Caiçara no Estado de São Paulo foi possível identificar o hábito alimentar com base no conhecimento tradicional dos pescadores. Ao serem questionados sobre o tamanho dos indivíduos capturados e o volume das pescarias, 50% dos entrevistados relataram que estão diminuindo ao longo do tempo. Para os pescadores a pesca predatória é a principal causa da diminuição do pescado no rio Pericumã. Para Silva (2014), a ação antrópica contribuiu significativamente para profundas modificações nos estoques e, consequentemente, da atividade pesqueira. Na Baixada Maranhense, Costa-Neto et al. (2002, p. 21) ressalta que “Essa extrema complexidade determina elevada fragilidade desses ecossistemas, acarretando-lhes alto grau de vulnerabilidade diante de quaisquer agressões antrópicas”. Com relação ao Sítio RAMSAR, nenhum dos entrevistados sabia que o rio Pericumã pertence a essa categoria de área protegida. Quando foram questionados sobre a Área de Proteção Ambiental (APA) da Baixada Maranhense, Unidade de Conservação a qual o ambiente pesquisado está inserido, verificou-se

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 que 46,15% dos pescadores sabiam da existência da APA, no entanto, nenhum soube explicar do que se tratava e qual era a importância da unidade de conservação. Este aspecto negativo do ponto de vista de funcionalidade das áreas protegidas aponta para a necessidade doe desenvolvimento de amplo programa de educação ambiental voltado para as comunidades locais, especialmente os pescadores e suas famílias Embora a região seja abundante em recursos naturais, seus residentes são muito necessitados e inexistem políticas básicas de infraestrutura de abastecimento e saneamento básico, além da assistência médica e educacional serem precárias. Isto contribui para a grande insipiência destas populações acerca de seus direitos e deveres como cidadãos e como habitantes de uma APA e Sítio RAMSAR.

CONCLUSÕES

O conhecimento ictioetnoecológico dos pescadores artesanais do rio Pericumã indicaram que no ambiente são pescadas 15 espécies de peixes, dentre as quais: a traíra, a piaba, o camurim e o bagrinho são mais frequentes nas capturas. Os pescadores identificaram os hábitos alimentares das espécies mais importantes da atividade pesqueira do rio Pericumã. Uma informação relevante é que a atividade pesqueira é exclusivamente artesanal, sendo a captura de peixes considerada de maior importância socioeconômica local. Neste contexto, os entrevistados demonstraram uma compreensão intuitiva na diminuição dos peixes, tanto em tamanho quanto no volume do estoque de pescados, relacionando-a com o aterramento do Rio, e principalmente, com a pesca indiscriminada, proveniente do uso de rede de malha muito fina, que impede as espécies de peixes de alcançarem a maturidade e o tamanho biologicamente natural. Pelo exposto, é necessário o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à gestão pesqueira do rio Pericumã e demais sistemas hidrológicos e ecológicos do Sítio RAMSAR da Baixada Maranhense, visto que a maioria dos pescadores desconhece o período reprodutivo das espécies e os conceitos relacionados a defeso e sobre as áreas de restrição a pesca. Sugere-se a realização de amplo programa de Educação Ambiental para capacitação das comunidades locais sobre a importância do Sítio RAMSAR da APA da Baixada Maranhense e do uso sustentável dos seus recursos ambientais pelas populações pesqueiras tradicionais do rio Pericumã.

REFERÊNCIAS

Abreu, A. M. & Gherardi, D. F. M. (2011). Etnoictiologia de pescadores artesanais da Praia ao Sono, Paraty, RJ. Anais do X Congresso de Ecologia do Brasil, São Lourenço, MG. Resumo disponível em: http://www.seb-ecologia.org.br/xceb/resumos/371.pdf Almeida, D. M. (2013). A etnoictiologia dos pescadores artesanais da comunidade da Praia da Penha, João Pessoa, Paraíba, Brasil. (Monografia, Universidade Estadual da Paraíba). Disponível em: http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/123456789/5239 Barboza, R. S. L. & Pezzuti, J. C. B. (2011). Etnoictiologia dos pescadores artesanais da RESEX Marinha CaeTé- Taperaçu, Pará: aspectos relacionados com etologia, usos de hábitat e migração de peixes da família Sciaenidae. Sitientibus série Ciências Biológicas, 11, 133-141. Disponível em: periodicos.uefs.br/index.php/sitientibusBiologia/article/download/104/133 Barros, F. B. (2012). Etnoecologia da pesca na Reserva Extratrivista riozinho do Anfrísio - Terra do Meio, Amazônia, Brasil. Amazônica, 4, 286-312. Disponível em: http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/amazonica/article/view/958/1424 Begossi, A. & Garavello, J. C. (1990). Notes on the ethnoichthyology from Tocantins River. Acta Amazonica, 20, 341-351. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0044- 59671990000100341&script=sci_abstract Begossi, A. & Figueiredo, J. L. (1995). Ethnoichthyology of southern coastal fishermen: cases from Búzios Island and Sepetiba Bay (Brazil). Bull. Mar. Sci., 56(2), 682-689. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/263499171_Ethnoichthyology_of_Southern_Coastal_Fisher men_Cases_from_Buzios_Island_and_Sepetiba_Bay_Brazil

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Costa-Neto, E. M.; Dias, C. V. & Melo, M. N. (2002). O conhecimento ictiológico tradicional dos pescadores da cidade de Barra, região do médio São Francisco, Estado da Bahia, Brasil. Acta Scientiarum, 24(2), 561-572. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciBiolSci/article/view/2360 Costa Neto, J. P. (1996). Maranhão: Um Estado que precisa ser criado para a cidadania. Desenvolvimento & Cidadania, 18, 7-11. Costa Neto, J. P.; Barbieri, R.; Ibañez, M. S. R.; Cavalcante, P. R. S. & Piorski, N. M. (2002). Limnologia de três ecossistemas aquáticos característicos da Baixada Maranhense. Boletim do Laboratório de Hidrobiologia 14(15), p. 19-38. Disponível em: Limnologia de três ecossistemas aquáticos característicos da Baixada Maranhense Sampaio, A. B. & Schmidt, I. B. (2013). Espécies Exóticas Invasoras em Unidades de Conservação Federais do Brasil. Biodiversidade Brasileira, 3(2), 32-49. Disponível em: http://quintalflorestal.com.br/wp-content/uploads/2017/05/Especies-Exoticas-e-Invasoras-em- Unidades-de-Conservacao-Federais-no-Brasilpdf.pdf Silva, A. P. (2014). Pesca artesanal brasileira. Aspectos conceituais, históricos, institucionais e prospectivos. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento. Palmas: Embrapa Pesca e Aquicultura. Ramires, M.; Molina, S. M. G. & Hanazaki, N. (2007). Etnoecologia caiçara: o conhecimento dos pescadores artesanais sobre aspectos ecológicos da pesca. Biotemas, 20(1), 101-113.Disponível em: http://ecoh.ufsc.br/files/2011/12/Ramiresetal2007.pdf

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ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PERCEPÇÃO ETNOZOOLÓGICA DO TERMO “INSETO” PELOS MORADORES DA COMUNIDADE JOSÉ GOMES, CABECEIRAS DO PIAUÍ, NORDESTE, BRASIL

Márcio Luciano Pereira Batista1,*, Paulo Roberto Ramalho Silva2, Roseli Farias Melo de Barros3, Eraldo Medeiros Costa Neto4

1Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 2Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PPGDM), UFPI, CMPP; 3Licenciatura em Ciências Biológicas; UFPI, CMPP; 4Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Feira de Santana - BA. *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

Objetivou-se identificar e interpretar como os moradores da comunidade José Gomes, Cabeceiras do Piauí, Nordeste do Brasil, obtêm a percepção etnoentomológica sobre os insetos. Entrevistas semiestruturadas foram aplicadas a 43 proprietários de moradias locais, sendo 39 homens e quatro mulheres, com idade média de 51 anos. Dos seres vivos percebidos como “insetos”, a maioria (60%) pertence à classe Insecta, enquanto outros foram: Amphibia (4%), Arachnida (16%), Diplópoda (4%), Mammalia (12%) e Reptilia (4%). Os organismos percebidos como “insetos” foram definidos como feios, nojentos e perigosos. Pressupõe-se que pela falta de conhecimento de seus aspectos positivos, a percepção dos “insetos” pelos moradores está relacionada, principalmente, ao fato das supostas ameaças que esses animais podem causar às pessoas e seus pertences, provocando reações de agressividade (matança) assim que encontrados no ambiente.

Palavras-chave: Etnoentomologia, Etnotaxonomia, classificação etnozoológica

INTRODUÇÃO

A Etnozoologia, Etnobotânica e Etnoentomologia são ramos da Etnobiologia nos quais suas inquirições se baseiam em registrar os conhecimentos biológicos de um grupo étnico em particular, bem como obter o domínio cultural sobre plantas e animais e como a população interage com o meio ambiente (Anderson, 2011). A maneira pela qual os indivíduos percebem, identificam, categorizam e classificam a diversidade faunística induz na maneira como eles pensam, agem e expressam emoções com relação aos animais. As posturas direcionadas aos animais são formadas tanto por nossos valores, conhecimentos e percepções, quanto pela natureza das relações que os seres humanos mantêm com os animais (Drews, 2002). Ellen (1998) diz que a Etnoentomologia busca compreender a maneira que diversas culturas têm de entender, classificar, identificar, nomear e utilizar os insetos em suas respectivas línguas, enquanto que Berlin (1992) a define como o estudo de interações realizadas pelo homem com os insetos. Seja por seu grande número de espécies e de indivíduos por espécie presentes em diversos ambientes, por sua importância enquanto vetores de doenças, pragas agrícolas e urbanas, ou por sua ação como polinizadores, inimigos naturais de pragas agrícolas e fonte direta ou indireta de alimento, os insetos estão em constante interação com os seres humanos. Atribuem-se aos insetos inúmeros significados que podem variar entre os sistemas culturais existentes, apresentando papéis distintos nestas sociedades (Fairhead & Leach, 1999; Silva & Costa Neto, 2004; Costa Neto & Rodrigues, 2006; Costa Neto & Magalhães, 2007). Desta forma, o presente estudo objetivou identificar e interpretar como os moradores da comunidade José Gomes, Cabeceiras do Piauí, Nordeste, Brasil, percebem os insetos.

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MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado na comunidade José Gomes, localizada nas coordenadas 04º27’34,7” S e 42º20’58” W, município de Cabeceiras do Piauí, no Nordeste brasileiro, mesorregião Norte Piauiense e microrregião do Baixo Parnaíba Piauiense. O município possui área de 608,525 km2 e população estimada de 9.928 habitantes, sendo 1.657 na zona urbana e 8.271 na zona rural, com uma densidade demográfica de 16,31 habitantes por km2 e um IDHM de 0,583, limitando-se ao norte com o município de Barras; ao sul com os municípios de Campo Maior, José de Freitas, Nossa Senhora de Nazaré e Boqueirão do Piauí; a leste com o município de Boa Hora e a oeste com os municípios de Lagoa Alegre e Miguel Alves (IBGE, 2010). A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí, CAAE 63776117.0.0000.5214. Entrevistas semiestruturadas foram aplicadas a 43 proprietários de moradias locais, sendo 39 homens e quatro mulheres. Inicialmente, foi estabelecido Rapport (Bernard, 1988) como forma de adquirir confiança, credibilidade, concordância e harmonia com os moradores da comunidade e, posteriormente, a proposta da pesquisa foi apresentada à comunidade em uma reunião. Antes do início da entrevista foi solicitada a permissão do entrevistado mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os dados foram obtidos por meio de formulários semiestruturados padronizados (Bernard, 2006), entrevistando-se um morador por residência (Begossi et al., 2009). Foram entrevistados 39 homens e quatro mulheres, cuja idade média foi de 51 anos. O tratamento dos dados quantitativos foi realizado por meio de tabulação, organizados a partir do programa Microsoft Office Excel® 2016, e o resultado dado em porcentagens.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos seres vivos percebidos como “insetos” pelos entrevistados, a maioria (60%) pertence à classe Insecta, enquanto outros animais foram citados: Amphibia (4%), Arachnida (16%), Diplopoda (4%), Mammalia (12%) e Reptilia (4%) (Tabela 1).

Tabela 1. Animais percebidos como “insetos” pelos moradores da comunidade José Gomes, Piauí. Classe Inseto Citações Amphibia Sapo 20 Aranha 15 Escorpião 06 Arachnida Caranguejeira 08 Carrapato 02 Diplopoda Piolho-de-cobra 12 Morcego 10 Mammalia Mucura 09 Rato 20 Insecta Abelha 31 Cupim 02 Formiga 21 Lagarta 11 Mosca 08 Mosquito 24 Barata 24 Besouro 13 Borboleta 10

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Cascudo 13 Muriçoca 09 Maruim 03 Pernilongo 03 Potó 07 Pulga 11 Reptilia Cobra 20

Para a maioria dos moradores da comunidade José Gomes, o termo “inseto” foi empregado para se referir àqueles animais que são percebidos como feios, sujos e perigosos: “É um bicho ruim, que só presta para adoecer a gente” (A. 45 anos); “Só serve para viver no mato e maltratar as pessoas” (G. 70 anos); “Alguns até faz bem a gente, mais a maioria até mata” (R. 78 anos); “Vixe, é um animal ruim, quero é distância” (B. 56 anos); “Tenho horror a cobra, aranha e caranguejeira. Se estes insetos morder a gente, até morremos” (A. 49 anos). De fato, tal percepção é corroborada por outros estudos etnoentomológicos os quais citam que os animais tidos como “insetos” são vistos pela população como nojentos, nocivos, perigosos, ou que podem causar algum dano à saúde humana (Silva & Costa Neto, 2004; Posey, 1983; Ribeiro & Marçal Júnior, 1996; Laurent, 1995; Costa Neto & Pacheco, 2004). Desse modo, os moradores entrevistados da comunidade José Gomes incluem diferentes animais no etnogrupo inseto.

CONCLUSÕES

Pressupõe-se que pela falta de conhecimento de seus aspectos positivos, a percepção dos “insetos” pelos moradores entrevistados está relacionada, principalmente, ao fato das supostas ameaças que esses animais podem causar às pessoas e seus pertences, provocando reações de agressividade (por exemplo, matança) assim que encontrados no ambiente.

AGRADECIMENTOS

Universidade Federal do Piauí – UFPI Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES

REFERÊNCIAS

Anderson, E. N. (2011). Etnobiology: overview of a growing field. In: Anderson, E. N., Pearsall, D., Hunn, E., & Turner, N. Etnobiology. New Jersey: WileyBlackwell. Begossi, A., Lopes, P. F., Oliveira, L. E. C., & Nakano, H. (2009). Ecologia de pescadores artesanais da Baía de Ilha Grande. IBIO/Ministério da Justiça. Apoio: Capesca: Preac/CIS-Guanabara/Lepac/CMU [UNICAMP] & IDRC, Canadá. Rio de Janeiro. Berlin, B. (1992). Ethnobiological classification: principles of categorization of plants and animals in tradition societies. Editorial Reviews, Nova jersey. Bernard, H. R. (2006). Research methods in anthropology: qualitative and quantitative approcaches. 4th edc. USA: SAGE Publication. Berrnard, H. R. (1988). Research methods in cultural anthropology. Newbury Park, CA, SAGE Publication. Costa Neto, E. M., e Magalhães, H. F. (2007). The ethnocategory “insect” in the conception of the inhabitants of Tapera County, São Gonçalo dos Campos, Bahia, Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 79(2), 239-249. Costa Neto, E. M., & Pacheco, J. M. (2004). A construção do domínio etnozoológico “inseto” pelos moradores do povoado de Pedra Branca, Santa Terezinha, Estado da Bahia. Acta Scientiarum. Biological Science, 26(1), 81-90.

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ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

CONHECIMENTOS ETNOZOOLÓGICOS E ETNOECOLÓGICOS DOS PESCADORES DA VILA DE CARAÍVA, BAHIA, BRASIL, A RESPEITO DO ARIOCÓ (Lutjanus synagrys PERCIFORMES, LUTJANIDAE)

Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho1.*, Rebeca M. F. Barreto2, José da Silva Mourão3

1Programa de Pós-graduação em Etnobiologia e Conservação da Natureza, Universidade Federal Rural de Pernambu- co, Recife-PE, Brasil; 2Colegiado de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina-PE, Brasil; 3Departamento de Biologia, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande-PB, Brasil. *Autor para corres- pondência: [email protected].

RESUMO

No Brasil, o ariocó (Lutjanus synagris) é uma espécie-alvo da pesca costeira e estudos apontam a espécie como sobreexplotada em diversas regiões do país. O objetivo do presente estudo foi analisar informações etnozoológicas e etnoecológicas de pescadores de Caraíva, cujo litoral encontra-se na Reserva Extrativista Marinha do Corumbau, Bahia, sobre L. synagris para contribuir na gestão da pesca da espécie. Foram reali- zadas entrevistas semiestruturadas a 21 pescadores entre abril e julho de 2017. Os hábitats preferenciais de L. synagris, as regiões que costumam se desenvolver ontogeneticamente, os itens alimentares que compõem sua dieta e os animais que os predam foram reconhecidos pela maioria dos participantes. A maior parte deles reconheceu que a espécie forma grandes cardumes sazonalmente mas, em sua maioria, não vislumbram a possibilidade destes comportamentos estarem relacionados à reprodução. Diante deste con- texto, estudos locais sobre a biologia populacional de L. synagris tornam-se prioridade.

Palavras-chave: Conhecimento Ecológico Local, cogestão, agregações reprodutivas, Lutjanidae, Nordeste do Brasil.

INTRODUÇÃO

No Brasil, a maioria dos peixes recifais comercialmente relevantes apresentam crescimento lento, maturação tardia e são vulneráveis à sobrepesca, a exemplo dos vermelhos (Lutjanidae) (Begossi et al., 2011). Para a região Nordeste, entre os anos entre 1996 e 2000, os peixes lutjanídeos representaram 40% dos desembarques, estando as capturas concentradas sobre cinco espécies principais (Ocyurus chrysurus, Lutjanus analis, L. jocu, L. vivanus e L. synagris) (Fredou et al., 2006). Cientistas da pesca têm o desafio de colaborar na conservação desse grupo de peixes cuja biolo- gia os torna intrinsecamente vulnerável à exploração comercial e que representa um dos principais recursos explotados. Begossi et al. (2012) pontuam como principais limitações para a conservação dos peixes lutjaní- deos no Brasil: a) o fato de serem alvos valiosos capturados por pescadores pobres; b) a não existência de políticas específicas para a conservação do grupo; c) o histórico de estabelecimento de áreas protegidas que excluíram populações nativas de seus territórios ancestrais sem se monitorar a eficácia destas e d) o número limitado de pesquisas que buscam entender as motivações e os processos de tomada de decisão dos pescadores em relação a estes peixes. A espécie Lutjanus synagris apresenta distribuição geográfica que corresponde ao oeste do Oceano Atlântico, da Carolina do Norte ao sudeste do Brasil, incluindo o mar do Caribe e o Golfo do México (Doncel & Paramo, 2010). Quedas substanciais nos desembarques pesqueiros da espécie foram registradas para o litoral Atlântico dos Estados Unidos, na região do Golfo do México, em Cuba, no México e no Brasil, sendo L. synagris alocado como Quase Ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (Lin- deman et al., 2016). O fato da espécie realizar agregações reprodutivas em regiões de recifes de corais é

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 um atrativo substancial aos pescadores, tornando-a particularmente vulnerável à sobrepesca (Lindeman et al., 2016). Em contrapartida, pescadores artesanais podem ser incluídos nos processos de gerenciamento pesqueiro e os conhecimentos etnobiológicos que detêm podem ser utilizados como uma ferramenta efetiva no desenvolvimento de políticas para a conservação desse grupo de peixes (Begossi et al., 2011). Para o Brasil, L. synagris representa uma das principais espécies-alvo da pesca de pequena escala e estudos apontam que populações desses peixes se encontram sobreexplotadas em diversas regiões do país (e. g. Fredou et al., 2006; Klippel et al., 2005). Para a costa central brasileira, por exemplo, um elevado número de pescarias tem-se concentrado sobre as agregações reprodutivas da espécie (Freitas et. al., 2011). Francini-Filho e Moura (2008) apontam que, para a região do Banco Oceânico dos Abrolhos, L. syna- gris se destaca como a terceira espécie com maior biomassa entre as espécies de peixes lutijanídeos. Em um relatório sobre o monitoramento participativo do desembarque pesqueiro na Reserva Extrativista Mari- nha do Corumbau (REMC), onde está localizada a Vila de Caraíva, foco do presente estudo, foi apontado que L. synagris é a principal espécie de peixe marinho capturada (Minte-Vera & Souza-Junior, 2014). Diante deste panorama, esse estudo objetivou obter informações etnozoológicas e etnoecológicas sobre o ariocó (Lutjanus synagris) junto aos pescadores da Praia de Caraíva, Bahia, no intuito de colaborar no processo de gestão da pesca da espécie na Reserva Extrativista Marinha do Corumbau.

MATERIAL E MÉTODOS

Localizada na Bahia, a área de estudo representa o extremo norte do Banco Oceânico dos Abro- lhos. Na região ocorrem as maiores formações recifais do Brasil (DUTRA et al., 2005). O Banco dos Abro- lhos se destaca também pela acentuada relevância para a pesca recifal , uma vez que abriga populações relativamente grandes de espécies com alto valor comercial como badejos, garoupas, vermelhos, lagostas, camarões e caranguejos (Dutra et al., 2011). Tendo sido implementada no ano de 2000, a REMC ocupa uma área de 900 km2 (PREVIERO et al., 2013) e se estende por 62 km de costa, entre o norte do município de Prado e ao sul de Porto Seguro. Em geral, as beneficiárias e beneficiários da REMC pescam e/ou realizam a mariscagem e são indígenas da Etnia Pataxó ou descendem destes (Moura et al., 2009). Antiga vila de pescadores, Caraíva atualmente é habitada por uma população descendente de indígenas e também por pessoas de outras regiões do Brasil e do mundo que chegam atraídas pela beleza cênica do local e pelas oportunidades decorrentes do mercado turístico ali estabelecido. As principais atividades econômicas exercidas pelos beneficiários da REMC habi- tantes da Caraíva são o turismo, a construção civil, a agricultura familiar e a pesca. A comunidade encontra- se localizadas às margens do Rio Caraíva, que encontra o mar no limite norte da localidade. No ano de 2016 foi protocolado um pedido no Comitê de Ética em Pesquisas envolvendo seres humanos da Universidade de Pernambuco, pelo site da Plataforma Brasil. Este foi liberado com o seguinte código CAAE: 65458016.0.0000.5207. Pelo fato da pesquisa ser realizada na REMC, este projeto foi cadas- trado no Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO), uma exigência do Instituto Bra- sileiro Do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para a realização de pesquisa em Unidades de Conservação Federais (IN Nº 154, de 2007). Seu código de autenticação é o seguinte: 33794187. Somente após a aprovação da pesquisa pelos Órgãos supracitados, a coleta dos dados junto aos pescadores foi iniciada. Foram aplicadas entrevistas semiestruturadas (Drumond, 2002) a 21 pescadores. A seleção dos entrevistados se deu por amostragem probabilística estratificada (Albuquerque et al., 2014), uma vez que os critérios de inclusão de participantes foram: ser beneficiários da REMC, ter mais de 18 anos e pescar peixes no interior da UC. Nas entrevistas foi utilizado um formulário, de modo a permitir uma amplitude de respostas não induzidas a estes pescadores. Dentre as questões existentes no formulário, 16 se relacionam às seguintes temáticas da biologia e ecologia da pesca da espécie: distribuição espaço-temporal, comportamento, alimentação e reprodução. Os dados foram analisados quantitativamente por meio de técnicas da estatística descritiva.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A maioria (90,5%; n=19) dos participantes nasceu no município de Porto Seguro e suas idades variaram entre 21 e 88 anos, com média de 42 anos. O tempo de experiência na pesca regional variou entre 6 e 70 anos, média de 27 anos e seis meses. Todos os participantes realizam a pesca em embarcações com no máximo 7,5 metros, capturam a espécie com linhas de mãos em pescarias denominadas localmente de “bate e volta”, ou seja, não chegam a passar as noites no mar. Os participantes, em sua maioria (90,5%; n=19), apontam que esses peixes costumam ser en- contrados “nas pedras”, contudo, três pescadores salientaram que esses peixes preferem ficar no “casca- lho”, ao redor das pedras. Três deles apontaram também capturar esses peixes “na lama”. A indicação de tais etnohábitats pelos pescadores está em concordância ao que é relatado pela literatura científica a res- peito da espécie (Bortone & Williams, 1986). Apenas três pescadores apontaram que já ouviram falar de exemplares de L. synagris no interior do estuário do Rio Caraíva. Os demais relataram que estes peixes não costumam adentrar o rio. Com pouca variação entre os meses apontados como os principais em capturas da espécie, os pescadores apontaram que agosto, setembro, outubro e novembro “é a época que dá mais ariocó”. Apenas três pescadores não souberam responder a esta questão. Um total de nove participantes (43%) relatou que o ariocó “é um peixe que viaja” e cinco (23,8%) argumentaram que estes são “peixes de moradia”. Aparentemente, a variação sazonal das capturas contribui para diferentes percepções em relação a estes hábitos comportamentais de L. synagris, como relatado nesse depoimento: "Quando ele tá num lu- gar, é só do lugar. Mas as vezes viaja.". Todos os participantes relataram que L. synagris costuma formar cardumes. Não obstante, a maioria (57%; n=12) salientou que justamente nos meses em que a espécie é mais capturada os maiores cardumes são verificados. Oito pescadores (38%) apontaram que entre agosto e novembro as fêmeas estão ovadas ou desovando. Um deles relatou capturar muitas fêmeas “ovadas” no mês de janeiro. Freitas et al. (2011) apontaram que para a região do Banco Oceânico dos Abrolhos fêmeas com gônadas maduras são preponderantemente encontradas entre os meses de setembro e março. No presente estudo, a maioria dos participantes (62%; n=13) relatou desconhecimento em relação à época de desova de L. synagris. Esta situ- ação, em concomitância ao fato de que as capturas, aparentemente, se concentram na sua época da agre - gação reprodutiva, podem ter implicações negativas para a conservação da espécie. A maioria dos partici- pantes (76,2%; n=16) relatou que os filhotes “se criam” (se desenvolvem ontogeneticamente) nas “pedras”, um deles argumentou que também utilizam a lama e outro não soube responder a esta questão. Quando questionados sobre o que o ariocó come, em um primeiro momento, os participantes argumentam que estes peixes “comem tudo o que vive na pedra”. Na Tabela 1 consta a relação de itens e a frequência em que estes foram apontados quando pedido para os participantes detalharem a respeito da ali- mentação da espécie:

Tabela 1. Principais itens alimentares do ariocó (L. synagris) segundo os pescadores (n=21) da Caraíva. Item Alimentar Frequência Absoluta Frequência Relativa (%) Peixes 18 85,7 Camarão 16 76,2 Siri 13 62 Lula 7 33,3 Sardinha 4 19 Guaiázinho 3 14,3 Caranguejo de pedra 3 14,3 Gajé do mar 3 14,3 Manjuba 3 14,3 Peixes que vêm no arrasto 2 9,5 Algas 2 9,5

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Os itens “plantas”, “crustáceos”, “búzio”, “tainha”, “moréia”, “peixinha branquinha”, “pescadi- nha” e “guaricema” foram citados apenas uma vez, cada. A verificação do predomínio do item “Peixes”, com algumas etnoespécies citadas (sardinha, manjuba, moréia, por exemplo), a frequente citação de diferentes etnoespécies de crustáceos (camarão, siri, guaiázinho, caranguejo do mar, gajé do mar) e o item “lula” (Cephalopoda) está em consonância em relação aos itens alimentares que costumam predominar na dieta de L. synagris (Claro & Lapin, 1971; Doncel & Paramo, 2010). Os itens apontados também foram semelhan- tes àqueles apontados por pescadores de Ilhabela no estudo de Ramires et al. (2015). Em relação aos predadores de L. synagris, um participante não soube responder à questão e sete etnoespécies de peixes foram citadas pelos demais entrevistados, com suas frequências absoluta e re- lativa demonstradas na Tabela 2:

Tabela 2. Predadores do ariocó (L. synagris) segundo os pescadores (n=20) da Caraíva. Predador Frequência Absoluta Frequência Relativa (%) Mero 13 65 Barracuda 8 40 Cação 7 35 Badejo 4 20 Cavala 2 10 Caramuru 1 5 Peixe espada 1 5

Para a região estudada, os pescadores costumam relatar que estas etnoespécies, além de predarem L. synagris em situações corriqueiras, costumam roubar estes peixes de suas linhas. Claro e Lindeman (2008), apesar de apontarem pouca informação científica sobre os predadores de L. synagris, apontam ataques oportunistas do teleósteo Sphyraena barracuda (barracuda) em exemplares de L. synagris fisgados em linhas de pesca. Claro e Lindeman (2008) relatam um número significativo de tubarões (cações) na área em que a espécie se agrega para desovar.

CONCLUSÕES

Os hábitats preferenciais de L. synagris, as regiões que costumam se desenvolver ontogenetica- mente, os itens alimentares que compõem sua dieta e os animais que os predam foram reconhecidos pela maioria dos participantes. Também, a maior parte deles reconheceu que estes animais formam grandes car- dumes sazonalmente, mas, em geral, não vislumbram a possibilidade destes comportamentos estarem rela- cionados à reprodução. Nesse sentido, pelo fato das capturas, aparentemente, se concentrarem na época da agregação reprodutiva da espécie, estudos locais sobre a biologia populacional de L. synagris tornam-se prioridade. Projetos de extensão junto aos pescadores locais também são necessários para que o adequado manejo do estoque pesqueiro desta espécie seja implementado.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela bolsa do primeiro autor. A dona Ana Lúcia Jandaia Pataxó, por todo apoio dado ao primeiro autor no trabalho de campo. Especialmente aos pescadores de Caraíva pela boa vontade em compartilhar seus conhecimentos.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

A CRIAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DAS MESAS/MA COMO ESTRATÉGIA DE CONSERVAÇÃO FAUNÍSTICA NUMA REGIÃO ECOTONAL DO BRASIL

Maria Lindalva Alves da SILVA (*), Maria de Fátima Veras ARAÚJO, Gonçalo Mendes da CONCEIÇÃO

1Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ambiente e Saúde (UEMA), Centro de Estudos Superiores de Caxias - MA; 2Centro de Ciências da Natureza (CCN),UESPI, Campus Poeta Torquato Neto, Teresina - PI;3Programa de Pós- Graduação em Biodiversidade, Ambiente e Saúde (UEMA), Centro de Estudos Superiores de Caxias - MA e-mail: [email protected]

RESUMO

O Parque Nacional da Chapada das Mesas (PNCM) é de uso de proteção integral e tem a presença de moradores que ainda não tiveram suas terras indenizadas. Este estudo teve o objetivo observar as relações entre as comunidades tradicionais e a fauna local, bem como, a prática da caça como questão cultural ou a caça ilegal e os impactos negativos para a Unidade de Conservação. Os dados foram coletados por meio de conversas informais e um formulário semiestruturado aos moradores das comunidades tradicionais do PNCM. O resultado apontou as famílias Dasypodidae, Cebidae, Cervidae, Canidae e Felidae, com maior número de espécies. Pelos resultados amostrados, inferiu-se que a região era utilizada para caça de animais silvestres pelos moradores como base de sua alimentação e por caçadores para o tráfico de animais silvestres.

Palavras-chave: Animais silvestres, Unidade de Conservação, Preservação

INTRODUÇÃO

Quando se refere a conservação de ambientes naturais, Pereira e Diegues (2010), ressaltam a importância do manejo dos recursos naturais aliados aos conhecimentos tradicionais, enfatizando que os mesmos contribuem para a conservação in situ em áreas de preservação. De acordo com os autores, essa configuração é um novo caminho para os países em desenvolvimento que estão em fase de expansão da política de criação de áreas protegidas no mundo. Para Pereira e Diegues (2010), a etnoconservação vislumbra como uma nova ciência que corrobora com preservacionismo destes espaços. Neste contexto, Cultimar (2008), considera que o manejo dos recursos naturais pelas comunidades tradicionais está relacionado a mitos, valores e a conhecimentos e podem ser considerados como elementos culturais. Nesta perspectiva, as comunidades tradicionais mantêm uma relação muito íntima com a natureza, nas proposições de Diegues (2008). A convivência harmoniosa com os elementos naturais por estas comunidades é uma maneira de conservação das espécies biológicas em áreas protegidas. Com esta visão, o presente trabalho teve como objetivo observar as relações entre as comunidades tradicionais e a fauna local, bem como, a prática da caça como questão cultural ou a caça ilegal e os impactos negativos para a Unidade de Conservação (UC).

MATERIAL E MÉTODOS

O Parque Nacional das Chapadas das Mesas foi criado em 12 de dezembro de 2005, abrange os municípios de Carolina, Estreito e Riachão, ao sul do estado maranhense, localizado sob as coordenadas 7º 19’0” S e 47º20’06” W (Figura 1). De acordo com Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (MMA/IBAMA, 2007), a região onde está incluído o PNCM é considerado um dos 25 “hot spots” mundiais com potencial para

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 abrigar altos níveis de riqueza e abundância de espécies da flora e fauna, além abrigar o corredor ecológico Araguaia-Bananal.

Figura 1 – Mapa de localização do Parque Nacional da Chapada das Mesas, Maranhão, Brasil. Direito Autoral: MMA, 2015. Organização: SILVA, W.F.N., 2016.

O estudo teve como procedimentos metodológicos um formulário aplicado junto aos moradores de comunidades tradicionais que ficam situadas no interior e entorno da Unidade de conservação. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa do Centro de Estudos Superiores de Caxias (CESC/UEMA) cujo número de protocolo CEP/CAAE foi o de nº 57683316.5.000.554, ao Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO) com o número de protocolo 54126-1 e o Termo de consentimento Livre Esclarecido aos pesquisados. Aplicou-se o formulário no primeiro semestre de 2016 a 40 moradores das comunidades tradicionais do Parque Nacional sobre as espécies de animais silvestres que tem na região do PNCM.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A criação do PNCM surgiu do anseio da sociedade civil organizada dos municípios de Carolina, Riachão e Estreito que abrangem a área de preservação, pela preservação das cachoeiras do São Romão e da Prata, que seriam utilizadas para construção de duas pequenas hidrelétricas. De acordo com Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (MMA/ICMBIO, 2017), a região onde foi instituída a UC tem a presença de grande número de atributos naturais com destaque para o rio Farinha, beleza cênica com formações de morrarias chamadas de “mesetas” e grande diversidade de espécies florísticas e faunístico. Entre os animais ameaçados de extinção se destaca o gato-do-mato, mutum-de-penacho, tamanduá-bandeira, águia cinzenta e a onça parda. Sendo a última área de preservação criada no Bioma Cerrado, o referido Parque Nacional contribuiu para a manutenção de várias espécies de animais mamíferos e de aves que eram retiradas se seu hábitat natural, utilizadas no tráfico de animais silvestres, por caçadores profissionais. No levantamento foram indicadas pelos moradores 17 espécies silvestres, distribuídos em 16 gêneros, 12 famílias, sendo o grupo dos mamíferos o mais lembrado pelos pesquisados com as famílias Cebidae, Cervi- dae, Canidae, Dasypodidae e Felidae com dois representantes respectivamente, conforme Tab. 1.

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Tabela 1. Lista de espécies de animais silvestres informados pelos moradores do Parque Nacional da Chapada das Mesas, Maranhão, Brasil. Família Nome científico Nome vulgar Tayassuidae Pecari tajacu (Linnaeus, 1758) Caititu Canidae Lycalopexvetulus (Lund, 1842) Raposa do campo Dasyproctidae Dasyprocta aguti (Illiger, 1811) Cotia Cervidae Mazama gouazoubira (Fischer, 1814) Veado catingueiro Agoutidae Agout Cuniculus paca (Linnaeus, 1766) Paca Dasypodidae Tolypeutes tricinctus (Linnaeus, 1758) Tatu bola Hydrochoeridae Hydrochoerus hydrochaeris (Linnaeus, 1766) Capivara Myrmecophagidae Myrmecophaga tridactyla (Linnaeus, 1758) Tamanduá bandeira Canidae Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815) Lobo guará Felidae Puma concolor (Linnaeus, 1771) Onça suçuarana Cervidae Mazama americana (Erxleben, 1777) Veado mateiro Cariamidae Cariama cristata (Temminck, 1823) Siriema Rheidae Rhea americana (Linnaeus, 1758) Ema Cebidae Alouatta caraya (Humboldt, 1812) Macaco guariba Dasypodidae Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) Tatu peba Felidae Panthera onca (Linnaeus, 1758) Onça preta Cebidae Cebus libidinosus (Linnaeus, 1758) Macaco prego Direito autoral: Silva, M.L. A (2016).

De acordo com a Tab. 1, inferiu-se que os animais silvestres citados pelos moradores do Parque Nacional, constituiu fonte de alimento para as famílias que utilizavam a caça de animais silvestres como base alimentar, os identificando como comunidades tradicionais, como ressalta Alves e Souto (2010), quando se refere a caça como uma das atividades mais remota da humanidade. Conforme o Sistema de Unidades de Conservação – SNUC (2000), a UC constitui uma área de ecótono, pois além do Bioma Cerrado, tem-se a presença da Floresta Amazônica e manchas da Caatinga, vegetação que serve de hábitat de muitos animais como mamíferos e aves atraindo, portanto, muitos caçadores. Esta atividade gerava impactos negativos para biodiversidade do lugar. De acordo com os estudos desenvolvidos pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2007), apontaram durante o Seminário de Ações Prioritárias para criação de UCs na região de Cerrado e Pantanal, ocorrido em 1998 com a participação de entidades governamentais e não governamentais, considerou a região de Carolina de importância Extremamente Alta para conservação da biodiversidade. Dessa forma, o estudo serviu de base para chamar atenção da sociedade local quanto ao risco da caça desenfreada de animais e colaborou para criação da área de proteção. Através de conversas informais, os moradores relataram que a prática da caça por alguns moradores não era somente para sustento familiar, também era uma forma de garantia de renda, pois a mesma era comercializada de duas maneiras: a carne e o animal vivo. Nesta perspectiva, Ferreira, Campos, Sá-Oliveira e Araújo (2007), ressalta que a herança cultural de algumas populações tradicionais quanto à utilização da prática da caça pode impactar e contribuir como fator de ameaça para extinção das espécies, colaborando com o autor, Marques (2002), enfatiza que o estudo de etnozoologia corrobora com a forma de manejo sustentável dos recursos naturais, em particular

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 os de origem faunísticos, quando se tem seres humanos convivendo em ambientes de áreas de preservação. Outro aspecto observado, diz respeito a outras classes de animais que não foram mencionados pelos investigados. O que pode inferir que a relação de animais informados pelos pesquisados eram os que sofriam maior impacto quanto. Porém, salienta-se que o uso de animais silvestres serve a várias finalidades, desde a base alimentar das famílias até a comercialização, sendo vivos ou mortos, conforme Alves e Rosa (2006) e Alves e Pereira - Filho (2007). Entretanto, observou-se através das falas dos pesquisados, a sensibilização para o não uso da caça indiscriminada, contribuindo para manutenção das espécies. Neste contexto socioambiental, Leff (2001), infere sobre a necessidade da mudança de paradigma e da conservação de ambiente como estes para que as gerações futuras tenham direito de usufruir e convier nestes ambientes.

CONCLUSÕES

O estudo apontou que a região da Chapada das Mesas constituía um reduto de caçadores que praticavam a caça de forma ilegal, pois capturavam animais silvestres para comercialização como fonte de renda. Os moradores realizavam a atividade de caça para base do sustento familiar, prática esta que faz parte da cultura de povos que habitam áreas rurais, embora em alguns depoimentos, evidenciou que alguns dos moradores exerciam tal atividade lucrativa. A criação da Unidade de Conservação colaborou para redução do ataque de caçadores e sensibilizou os comunitários quanto à conservação destas espécies para manutenção da biodiversidade.

AGRADECIMENTOS

Ao Laboratório de Biologia Vegetal (LABIVE), pelo apoio técnico-científico na coleta e análise dos dados e ao Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) pelo apoio logístico e aos moradores das comunidades tradicionais pela participação na pesquisa.

REFERÊNCIAS

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FERREIRA, D.S.S.; CAMPOS, C.E.C.; SÁ-OLIVEIRA, J.C.; ARAÚJO, A.S. (2007). Atividades de caça de animais silvestres no assentamento rural nova Canaã, Amapá, Brasil. Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil, Caxambu/MG. Disponível em: http://www.seb-ecologia.org.br/viiiceb/pdf/490.pdf LEEF, H. (2001). Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade e poder (2ª Ed.). Petrópolis – RJ: Editora Vozes. MMA/IBAMA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis. (2007). Parque Nacional da Chapada das Mesas. Plano operativo de prevenção e combate aos incêndios florestais do Parque Nacional da Chapada das Mesas, 2007. Disponível em: http://www.ibama.gov.br/plano_operativo_parna_da_chapada_das_mesas MMA/ICMBIO, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. (2017). Unidades de Conservação. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/portal/parna-da-chapada-das-mesas. MARQUES, J. G. W. (2002). O olhar (des) multiplicado. O papel da interdisciplinaridade e do qualitativo na pesquisa etnobiológica e etnoecológica. In: Amorozo, M. C. M.; Ming, L. C.; Silva. S. M. P. (Org.). Métodos de coleta e análise de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas (p.31- 46). Rio Claro: UNESP/CNPq. PEREIRA, B. E; DIEGUES, A. C. (2010). Conhecimento de populações tradicionais como possibilidade de conservação da natureza: uma reflexão sobre a perspectiva da etnoconservação. Desenvolvimento e Meio Ambiente. Editora UFPR. n. 22, p. 37-50.

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ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

EXPLORAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES PARA FINS ALIMENTÍCIOS E ZOOTERÁPICOS NO MUNICÍPIO DE NAZARÉ - PI

Maria Nazaré de Sousa Pereira1,2*, Breno Fernando Cunha de Freitas Sousa1,2, Rogério Nora Lima5, Wedson de Medeiros Silva Souto2,3,4

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano – PI. 2Laboratório de Etnobiologia e Conservação (LECON), UFPI, CAFS; 3Laboratório de Zoologia, Uso e Conservação da Fauna Ecotonal da América do Sul (ZUCON), UFPI, CMPP; 4Professor do Departamento de Biologia da UFPI, Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 5Professor do Curso de Ciências Biológicas, UFPI, CAFS; *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

No Brasil a caça de animais é motivada, principalmente, pela necessidade para obtenção de carne e confecção de medicamentos, ocorrendo em todos os biomas e praticada por pessoas de diferentes origens culturais. Estudos sobre a caça no Brasil foram principalmente realizados em áreas de caatinga. O presente estudo foi realizado na área urbana do município de Nazaré – PI, região ecotonal entre cerrado e caatinga. Objetivou-se registrar as razões de caça, técnicas de captura, espécies-alvo e assinalar as implicações para a conservação. Os dados foram coletados entre novembro/2016 e abril/2017 por meio de questionários semiestruturados e conversas informais. Um total de 50 caçadores foram entrevistados e 31 espécies citadas. Mamíferos foram os animais mais citados, seguidos pelas aves e répteis. Constatou-se a existência de atividades de caça no município, influenciada por fatores biológicos, sociais, econômicos e culturais, e o comércio ilegal de animais silvestres ainda é uma atividade popular na região.

Palavras-chave: Fauna cinegética, carne de caça, zooterapia, comércio ilegal, etnozoologia.

INTRODUÇÃO

A caça de animais silvestres por humanos é uma atividade antiga, os nossos ancestrais obtinham carne por meio da caça, configurando-a como uma das atividades extrativistas que se perpetuam até os dias atuais (Kümpel et al., 2007). Porém, essa atividade tem aumentado cada dia mais, devido a fatores como o rápido crescimento da população dos países em desenvolvimento, a maior urbanização e a invasão humana de áreas silvestres (Lindsey et al., 2012; Nasi, Taber & Vliet, 2011). Interligado à atividade de caça existe também o comércio de animais silvestres, e juntos são considerados uma das maiores ameaças a biodiversidade nos trópicos (Lyons, Natusch & Shepherd, 2013). Várias são as razões que levam pessoas à caçarem animais, utilizando-os como alimentos, remédios tradicionais (zooterapia), artigos de luxo ou animais de estimação (Lyons, Natusch & Shepherd, 2013; Van Vliet, 2011). No Brasil, a caça, principalmente para a obtenção de carne, ocorre em todos os biomas, sendo praticada por pessoas de diferentes origens culturais (Becker, 1981; Hanazaki et al., 2009). Além da caça para consumo de carne, muitos animais são utilizados para a confecção de remédios tradicionais, prática conhecida com zooterapia, que consiste no uso de produtos de origem animal para o tratamento de doenças (Benítez, 2011), sendo considerada umas das características mais importante da medicina popular brasileira (Moura & Marques, 2008). Porém o uso de animais para fins medicinais acarreta consigo implicações econômicas, culturais e ecológicas (Alves & Rosa, 2005). Muito do que se conhece acerca da captura e comércio de animais silvestres no Nordeste do Brasil tem sido obtido de pesquisas utilizando dados de apreensões (Destro et al., 2012; Gogliath et al., 2010;

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Lopes, 2000; Pagano et al., 2009) ou de pesquisas conduzidas em mercados públicos (Alves et al., 2010; Regueira & Bernard, 2012). Apenas recentemente, de acordo com análises bibliográficas, que começaram a surgir as primeiras pesquisas investigativas sobre a caça exploratória no estado do Piauí. Levando em consideração que no Nordeste brasileiro a caça possui forte influência cultural, social e econômica (Alves et al., 2009), e a visível necessidade de mais pesquisas sobre o tema no estado, que o presente estudo foi idealizado, sendo o primeiro a ser realizado sobre a caça e comercialização de animais silvestres na área urbana do município de Nazaré (PI). Objetivou-se identificar os motivos e razões que levam pessoas à caçarem, como também analisar as técnicas e estratégias atualmente utilizadas pelos caçadores, identificar as espécies cinegéticas destinadas ao consumo de carne e uso como medicamentos, investigar a dinâmica de comercialização das espécies na região e assinalar as implicações para a conservação das espécies reportadas na pesquisa.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado na área urbana do município de Nazaré do Piauí, situada na mesorregião do Sudoeste Piauiense (Figura 1). A população total é estimada em 7321 habitantes, distribuídos em uma área total de 1.315,84 km², situando a cidade na 87º posição dentre os 224 municípios do estado (IBGE, 2010). O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Nazaré do Piauí em 2010 era de 0,576, colocando o município na faixa de Desenvolvimento Humano Baixo (ONU-PNUD, 2013).

Figura 1. Área de estudo

Os dados foram coletados entre os meses de novembro de 2016 e abril de 2017. As informações foram obtidas por meio de um questionário semiestruturado e complementadas com entrevistas livres e conversas informais, baseadas no método de Huntington (2000), e utilizando a técnica de bola-de-neve (Bailey, 2004). Os questionários foram aplicados somente aos moradores da área urbana identificados como caçadores ativos. Antes da execução, a pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CMPP (CAAE 47887015.9.0000.5214). Os nomes dos espécimes caçados foram anotados assim como citados pelos entrevistados e identificados com o auxílio de pesquisadores familiarizados com a fauna da área de estudo (WMSS, BFCFS) e também por meio de literatura especializada (Sigrist, 2009) e fonte digital confiável (WikiAves, 2017). A classificação e nomenclatura utilizada seguiu a lista de aves do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO) de 2015 (Piacentini et al., 2015), da Sociedade Brasileira de Herpetologia para répteis

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(Costa & Bérnils, 2014), além do “Catalogue of Life” versão 2016 (Roskov et al., 2016) para mamíferos. O status de conservação das espécies registradas seguiu a Lista Vermelha da IUCN, versão 2017.1 (IUCN, 2017). Nós utilizamos o Valor de Uso (VU), um índice etnobiológico (Albuquerque et al., 2014) adaptado de Phillips & Gentry (1993) por Rossato e colaboradores (1999), para elucidar a importância relativa de cada espécie reportada por caçadores. O VU é calculado como: UV = ∑U/n, onde U é o número de citações por espécies e n é número de entrevistados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um total de 50 caçadores foram entrevistados, cuja maior parte (98%) pertencia ao sexo masculino, e a média de idade foi de 40,6 anos. Quando interrogados sobre a forma como principiaram nas atividades de caça, 88% informaram que começaram a caçar antes dos 20 anos de idade, e que aprenderam a caçar com os pais (30%) ou amigos (46%), sendo importante destacar que 68% alegaram ter começado a caçar por esporte e 32% por necessidade. Baseado nas informações obtidas, foi possível inferir que a caça ocorre basicamente por três direcionadores principais: subsistência (34%), razões esportivas - entretenimento (62%) e comerciais (4%), sendo tal resultado corroborado por Alves e colaboradores (2009) que também obtiveram resultados semelhantes no semiárido stricto sensu do Nordeste brasileiro, sendo a caça por esporte a mais representativa. Em relação à frequência de caça, 38% dos entrevistados afirmaram caçar uma vez por mês e 30% uma vez por semana, com ampla preferência pelo período noturno (n=40, 80%) para realização das atividades de caça. Elevada preferência pela caça noturna está associada a diferentes fatores, incluindo estratégias para burlar fiscalização e evitar apreensões (Lindsey et al., 2012) ou ainda uma estratégia para consorciar as práticas de caça com outras ocupações diurnas dos entrevistados (Souto, 2014). O uso de veículos motorizados em atividades de caça é uma prática comum na região, cuja maioria dos entrevistados informaram ir de motocicleta (52%), porém, outros indicaram ir a pé (38%), de bicicleta (6%) e carro (4%). Observou-se que o uso de meios de transporte é motivado principalmente pelo fato de que grande parte das espécies-alvo são capturadas em áreas rurais, sobretudo em matas distantes da área urbana. A maioria dos caçadores (n=28, 56%) informaram que se deslocavam por distâncias superiores à 20 quilômetros para chegar às áreas preferenciais de caça. Em relação às técnicas utilizadas para a caça e captura dos animais, foram citados o uso do faro de cachorro (98%), armas de fogo (70%), armadilhas (jequi, rede) (36%) e instrumentos de trabalho (pá, enxada) (6%), porém, o uso de cachorros associado à utilização de armas de fogo foi a estratégia mais popular, citada por 68% dos caçadores. Corroborando esse resultado, Koster (2009) elencou que cães são comumente usados para caça em toda a região Neotropical e são considerados uma ferramenta muito eficaz para a captura de mamíferos de pequeno e médio porte (Souza-Mazurek et al., 2000; Altrichter, 2006). A fauna cinegética registrada foi representada por 31 espécies, distribuídas em 13 ordens, 20 famílias e 29 gêneros. (Tabela 1), onde observou-se que os mamíferos constituíram o grupo mais representativo em relação ao número de espécies caçadas (n= 16 spp.; 51,61%), seguido pelas aves (n= 13 spp.; 41,93%) e pelos répteis (n= 2 spp.; 6,45%).

Tabela 1. Fauna cinegética, valores de uso, status de conservação e preços de mercado.

IUCN Red Classe/ Ordem/ Família/ Espécie - VU VU Preço Preço List 2017- nome popular alimento medicinal Alimento Zooterápico 1

RÉPTEIS

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Ordem Testudines Família Testudinidae Chelonoidis carbonarius (Spix, 1824) 0,02 --- LC ------Jabuti Ordem Squamata Família Teiidae Salvator merianae (Duméril & Bibron, Geralmente 1839) --- 0,18 LC --- doado Teiú, “Teu” AVES

Ordem Galliformes Família Cracidae Penelope superciliaris (Temminck, Indivíduo 1815) 0,22 0,04 LC --- R$ 10 – 35 Jacu Penelope jacucaca (Spix, 1825) Jacu- 0,02 --- VU ------verdadeiro Ordem Cariamiformes Família Cariamidae Cariama cristata (Linnaeus, 1766) 0,06 --- LC ------Seriema Ordem Columbiformes Família Columbidae Leptotila verreauxi (Bonaparte, 1855) 0,06 --- LC ------Juriti Patagioenas picazuro (Temminck, Indivíduo 1813) 0,02 --- LC --- R$ 5 Pomba-de-asa-branca Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) Indivíduo 0,04 --- LC --- Pomba-de-bando, Pombinha R$ 2,50 Ordem Struthioniformes Família Tinamidae Nothura boraquira (von Spix, 1825) 0,06 --- LC ------Codorniz ou Curtinis Crypturellus tataupa (Temminck, 1815) Indivíduo 0,36 --- LC --- Lambu-do-pé-roxo R$ 4 - 5 Rhynchotus rufescens (Temminck, 1815) 0,04 --- LC ------Perdiz Ordem Anseriformes Família Anatidae Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) Indivíduo 0,02 --- LC --- Marreca R$ 10 Cairina moschata (Linnaeus, 1758) 0,02 --- LC ------Pato-cigano Netta erythrophthalma (Wied, 1833) 0,02 --- LC ------Pato-preto

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Sarkidiornis sylvicola (Ihering & Ihering, 1907) 0,02 --- LC ------Pato-verdadeiro MAMÍFEROS

Ordem Primates Família Atelidae

Alouatta ululata (Elliot, 1912) --- 0,04 EN ------Guariba, “capelão”, “bugio”

Ordem Cetartiodactyla Família Cervidae Mazama gouazoubira (Fischer, 1824) Quilograma 0,46 0,12 LC --- Veado catingueiro R$ 12 – 30 Família Tayassuidae Pecari tajacu (Linnaeus, 1758) Indivíduo 0,36 0,08 LC --- Caititu ou Porco do Mato R$ 10 - 30 Ordem Carnivora Família Mephitidae Conepatus semistriatus (Boddaert, Geralmente 1785) 0,08 0,36 LC --- doado Gambá Família Canidae Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Banha 0,02 0,96 LC --- Raposa R$ 5 - 60 Família Procyonidae Procyon cancrivorus (G.[Baron] Cuvier, 1798) 0,02 0,12 LC ------Guaxinim Ordem Cingulata Família Dasypodidae Vendido como Dasypus novemcinctus (Linnaeus, Indivíduo alimento, 1758) 0,94 0,74 LC R$ 40 - cliente retira a Tatu-verdadeiro 130 parte medicinal Dasypus septemcinctus (Linnaeus, Indivíduo 1758) 0,84 --- LC --- R$ 10 – 40 Tatuí ou Tatu-china Vendido como Euphractus sexcinctus (Linnaeus, alimento, Indivíduo 1758) 0,76 0,22 LC cliente retira a R$ 20 "Tatu-peba" parte medicinal Família Chlamyphoridae Cabassous unicinctus (Linnaeus, 1758) 0,02 --- LC ------Tatu-rabo-de-couro

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Ordem Rodentia Família Cuniculidae Indivíduo Cuniculus paca (Linnaeus, 1758) Paca --- 0,18 LC --- R$ 25 Família Caviidae Kerodon rupestris (Wied-Neuwied, 1820) 0,04 0,04 LC ------Mocó Galea spixii (Wagler, 1831) 0,04 0,04 LC ------Préa Família Dasyproctidae Dasyprocta prymnolopha (Wagler, Indivíduo 1831) 0,64 --- LC --- R$ 15 - 50 Cutia Família Erethizontidae Coendou prehensilis (Linnaeus, 1758) 0,02 0,04 LC ------Porco-espinho Ordem Pilosa Família Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla (Linnaeus, Indivíduo Banha 1758) 0,72 0,48 LC R$ 15 - 35 R$ 15 - 30 Tamanduá, "Lapixó"

Os mamíferos foram os animais mais citados e isso ocorre, sobretudo, devido ao maior porte, quantidade de partes disponíveis e a maior probabilidade de retorno energético, principalmente para uso alimentício, por isso são os alvos preferenciais dos caçadores (Carpaneto et al., 2007; Strong et al., 2010, Alves et al., 2012a; Alves et al., 2012b; Fa et al., 2013; Ferreira et al., 2013). Igualmente se constatou que as aves tiveram uma significativa representação nos resultados, sendo o segundo grupo mais citado em número de espécies, contanto, esse resultado ainda difere do padrão observado em algumas áreas do Nordeste brasileiro, nos quais as aves compõem o grupo mais caçado (Alves et al., 2012b; Bezerra et al., 2012). Em relação aos répteis, somente duas espécies foram citadas (Chelonoidis carbonarius e Salvator merianae). É válido salientar que a utilização do Salvator merianae está relacionada ao seu tamanho, pois é considerada a maior espécie de lagarto do semiárido (Vanzolini, 1980), e também por possui uma relevante importância cinegética tanto para o Brasil (Alves et al., 2012b) quanto para outros países da América do Sul (Fitzgerald, 1994). No Nordeste, os lagartos do gênero Salvator (Duméril & Bibron, 1839) são considerados iguarias da culinária local (Alves et al., 2012b), e a nível de Brasil, o consumo de lagartos (iguanas e teiús) tem sido registrado tantos em áreas urbanas quanto rurais (Alves et al., 2009; Alves et al., 2011; Marques & Guerreiro, 2007). Mamíferos e aves foram os principais animais cinegéticos de importância alimentar, sendo que Alves e colaboradores (2012b) relataram que a carne é o principal produto animal usado como alimento. As espécies mais importantes reportadas pelos caçadores para uso alimentício foram o Dasypus novemcinctus (VU = 0,94), Dasypus septemcinctus (VU = 0,84), Euphractus sexcinctus (VU = 0,76) e Tamandua tetradactyla (VU = 0,72). Estudos anteriores demonstraram que os tatus (ordem Cingulata) são os animais mais caçados da região neotropical (Smith, 1976; Barboza et al., 2011; Alves et al., 2012b; Peres, 1997), e são muito utilizados para uso alimentício devido a palatabilidade de sua carne (Becker, 1981; Altrichter, 2006; Koster, 2008; Hanazaki et al., 2009). Importante destacar a citação do Tamandua tetradactyla, pois de acordo com outros estudos (Becker, 1981; Fernandes-Pinto & Krüger, 1999; Souza-Mazurek et al., 2000; Hill et al., 2003; Dantas-Aguiar et al., 2011), essa espécie não é constantemente caçada na região neotropical,

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 possivelmente devido a sua carne não ser tão saborosa quanto a de outros mamíferos. Porém, a captura do Tamandua tetradactyla pode estar relacionada a caça com o uso de cães, pois Souza & Alves (2014) observaram que tamanduás são constantemente atacados por cães durante caçadas para captura de tatus. As espécies mais representativas citadas para uso medicinal foram Cerdocyon thous (VU = 0,96) e Dasypus novemcinctus (VU = 0,74), onde observou-se que o valor de uso das espécies utilizadas para fins medicinais foi inferior ao das espécies caçadas para consumo da carne. Muitos caçadores (64%) informaram que não vendem animais ou partes destes para uso medicinal, sendo que os produtos retirados de animais são extraídos para uso próprio ou então doadas a outras pessoas que estão necessitando do “medicamento”. Poucos entrevistados (n=2, 04%) assumiram que comercializam carne de caça, entretanto, todos (100%) afirmaram preferir consumir do que vender. A maioria dos entrevistados (n=48, 96%) relataram que caçam para própria subsistência, não participando do comércio da fauna silvestre ou subprodutos, porém souberam informar os preços e detalhes importantes acerca do comércio da carne de caça na região. Quando interrogados sobre quem compra os animais capturados, 14% dos entrevistados (n=7) revelaram que são moradores da comunidade e/ou da cidade e 8% (n=4) são pessoas que compram para revender, possivelmente feirantes de mercados públicos ou proprietários de bares/mercadinhos. Os caçadores não informaram a quantidade de animais que capturam, porém, citaram como as espécies mais caçadas Dasypus novemcinctus e Mazama gouazoubira. Dentre as 31 espécies registradas, todas encontram-se na lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN (IUCN, 2017), sendo que a maioria (n=29, 93,5%) está na categoria Pouco Preocupante (LC), contanto tal situação não demonstra que as espécies citadas sofram pouca pressão de caça na área pesquisada. Por exemplo, os tatus são constantemente afetados com pressão de caça, porém, a alta taxa reprodutiva aliada a vasta distribuição geográfica faz com que os mesmos não estejam ameaçados de extinção (IUCN, 2017). Duas espécies encontram-se em situação mais séria, o Jacu-verdadeiro (Penelope jacucaca) considerado em risco Vulnerável (VU), e a Guariba (Alouatta ululata) situado em risco de Extinção (EN), e o que tem levado ambas as espécies para uma situação tão crítica é o elevado efeito cinegético da caça e o crescente desmatamento do cerrado e caatinga nordestinos (Myers et al., 2000; MMA, 2007) que caracteriza a perda do habitat natural dessas espécies e de muitas outras.

CONCLUSÕES

Os resultados demonstraram que a caça e captura de animais no município de Nazaré é motivada, sobretudo, para fins alimentícios de subsistência e uso como zooterápicos. Presumivelmente, há uma demanda local elevada que estimula a retirada persistente de espécimes silvestres da natureza para tais propósitos. Também se constatou que o comércio ilegal de animais silvestres ainda é uma atividade popular no município, porém, houve grande dificuldade para a obtenção de maiores informações acerca da cadeia de comercialização. Tal resultado possivelmente está associado com o caráter ilegal das atividades da caça no Brasil, de acordo com a Lei de Crimes Ambientais (Art. 29 da Lei Federal 9605/98) Verificou-se que a existência de atividades de caça no município é influenciada por fatores biológicos, sociais, econômicos e culturais, como também não existe um contato entre os caçadores e os órgãos ambientais. Tal situação demonstra a necessidade do uso da Educação Ambiental como ferramenta fundamental na sensibilização dos residentes locais acerca dos problemas ecológicos gerados por essa prática ilegal e nociva à natureza. Estimular uma reflexão na população é o caminho mais apropriado para obter mudanças de atitude, pois cada pessoa pode desempenhar um papel importante na preservação e conservação do ambiente, permitindo a modificação dessa realidade.

AGRADECIMENTOS

A Francisco de Sousa Pereira pelo apoio logístico.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

AVES E LINHAS DE TRANSMISSÃO: A PERCEPÇÃO DE UMA COMUNIDADE RURAL NO NORDESTE BRASILEIRO

Muryllo dos Santos Nascimentos1, Anderson Guzzi2, Wedson de Medeiros Silva Souto3, Suely Silva Santos1, Iasmin Martins Elias Lera dos Santos4, Arthur Serejo Neves Ribeiro1, Francisco das Chagas Vieira Santos1

¹Programa de Mestrado em Desenvolvimento de Meio Ambiente (PRODEMA), Universidade Federal do Piauí Teresina, PI, Brasil; 2Centro de Ciências do Mar, Universidade Federal do Piauí Av. São Sebastião, 2819, Planalto Horizonte, 64202-020, Parnaíba, Piauí, Brasil; ³Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portela. Bairro Ininga. CEP 64049-550, Teresina, Piauí, Brasil; 4Graduada em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí - Campus Ministro Reis Velloso (UFPI/CMRV). *Autor para correspondência: [email protected].

RESUMO

Apesar dos benefícios que as linhas de transmissão proporcionam para as pessoas, elas afetam negativamente o meio ambiente. As aves estão entre os vertebrados mais afetados por estes empreendimentos. Diante disso, o objetivo deste estudo foi registrar a percepção dos moradores de uma comunidade rural sobre potenciais impactos na avifauna causados por uma linha de transmissão no nordeste do Brasil. Os dados foram coletados por meio de formulários semiestruturadas aplicados aos residentes locais (CAAE 66902117.1.0000.5214). Os moradores da comunidade Alto do Batista citaram 111 espécies de aves. A grande maioria dos entrevistados (63%; N=17) relatou que a linha de transmissão afetou de alguma forma a avifauna local. Houve muitos relatos sobre o impacto de aves nas estruturas do empreendimento. No entanto, os mesmos reportaram que a quantidade de aves continua a mesma após a chegada do empreendimento na comunidade.

Palavras-chave: Avifauna; Colisão; Etnoornitologia.

INTRODUÇÃO

Distribuídas por todo o mundo e habitando os mais diversos ambientes, as aves compreendem um grupo bastante heterogêneo em relação à forma, coloração e sonoridade. Considerando os números, só na América do Sul são cerca de 2.645 espécies (Sick, 1997; Hickman, Roberts & Larson, 2004). De acor- do com Piacentini et al. (2015), o Brasil agrupa grande parte da avifauna do continente, já que são 1.919 espécies de aves distribuídas pelos mais diversos biomas nacionais. Segundo Marini e Garcia (2005), a perturbação antrópica e a perda e fragmentação de habitats es- tão entre as principais ameaças para a avifauna brasileira. Estes tipos de impacto estão intimamente rela- cionados à construção de grandes empreendimentos, como é caso das linhas de transmissão (LTs), pois segundo Campos (2010), durante a implantação de uma LT, ao passar por áreas florestais ou arbustivas, a supressão da vegetação se faz necessária para a criação de faixas de servidão, praças de lançamentos de cabos, canteiro de obras, entre outras atividades. Considerando que os centros de geração de energia são normalmente distantes dos centros de consumo, as LTs percorrem longas distâncias atravessando os mais diversos ambientes, sejam ambientes urbanos, áreas antropizadas e campos abertos, como também florestas, rios e áreas de preservação am- biental (Tabout & Santos, 2014). A interferência na vegetação afeta diretamente a fauna (Campos, 2010), principalmente as aves (Biasotto, 2017), que são indivíduos que, no geral, possuem uma relacionamento bastante íntimo com seu habitat (Sick, 1997; Stotz, Fitzpatrick, Parker III, & Moskovits, 1996).

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A falta de estudos sobre as espécies da avifauna ainda é um dos maiores desafios para a conserva- ção destes indivíduos. Além disso, os poucos estudos sobre este grupo animal ainda são mal distribuídos pelo território nacional (Marini & Garcia, 2005). Neste contexto, a etnoornitologia torna-se uma importante aliada na obtenção de conhecimento a respeito da avifauna, pois segundo Cadima e Maçal júnior (2004), esta ciência aborda o conhecimento empírico das pessoas em relação à avifauna, compreendendo aspec- tos ecológicos, comportamentais e específicos. O conhecimento sobre a caracterização da avifauna é um fator de fundamental importância para avaliar a qualidade ambiental de uma região (Argel-de-Oliveira, 1993; Regalado & Silva, 1997; Serrano, 2008), e os saberes tradicionais humanos são ferramentas imprescindíveis para obter informação impor- tantes à respeito de comunidades bióticas (Albuquerque, Lucena, & Cunha, 2010). Diante disto, o presente estudo tem como objetivo registrar a percepção dos moradores da comuni- dade Alto do Batista, no município de Parnaíba, Piauí, sobre a implantação de uma linha de transmissão que atravessa a comunidade investigando possíveis impactos sobre a avifauna local. Além disso, registrar o conhecimento etnoornitológico dos moradores, incluindo percepções de uso e importância das aves.

MATERIAL E MÉTODOS

Localizada no município de Parnaíba, região norte do estado do Piauí, a linha de transmissão (LT) de 138 kV Delta-Tabuleiros interliga a subestação Coletora Delta, que está localizada na Central de Geração Eólica (CGE) Porto Salgado, à Subestação Distribuidora Tabuleiros, localizada próxima à BR 343, na entrada da cidade. Se estendendo por 34,5 km, a LT atravessa diversos ambientes dentro do município, abrangendo áreas abertas e antropizadas, como também regiões de mata fechada, dunas, rios e lagoas temporárias. Localizada em uma área de influência direta da linha de transmissão Delta-Tabuleiros (02°55'18"S/41°47'45"O), a comunidade Alto do Batista está inserida dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba, e possui, segundo dados dos agentes de saúde locais, cerca de 90 famílias (Fig.1).

Figura 1. Pontos amostrais do levantamento de avifauna na Linha de Transmissão Delta - Tabuleiro.

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De acordo com a classificação proposta por Santos-Filho (2010), a região, uma área de restinga, possui três fisionomias vegetais básicas (formação campestre, arbustiva e arbórea) que podem ser subdivididas de acordo com o grau de cobertura, regime de inundação, localização e espécies predominantes. A vegetação presente na comunidade possui características semelhantes à formação arbustiva do tipo Fruticeto Aberto Inundável, caracterizada pela presença de depressões com acúmulo de águas pluviais influenciadas por lenções freáticos superficiais. No entorno destas lagoas forma-se ilhas vegetacionais com presença maciça de cajueiros (Anacardium occidentale L.) e espécies associadas como, por exemplo, Mandacaru (Cereus jamacaru DC.) e Muricis (Byrsonima spp.). Ainda na área de estudo, destaca-se a presença do Rio Igaraçu, nome dado à um braço do Rio Parnaíba. A coleta de dados, que teve início no mês de maio de 2017, se deu com o auxílio de formulários semiestruturados, semelhante a outros estudos etnoornitológicos (Alves, Leite, Souto, Loures-Ribeiro, & Bezerra, 2013; Alves et al., 2015). Entre os critérios para a seleção dos entrevistados, considerou-se a idade (maiores de 18 anos) e o tempo de residência na comunidade (mais de 2 anos). Antes de cada entrevista, foi apresentado aos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) com informações básicas sobre o objetivo do estudo e aspectos sobre a divulgação dos dados. A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana da Universidade Federal do Piauí (CAAE 66902117.1.0000.5214). Entre os assuntos abordados nas entrevistas destacam-se os aspectos socioeconômicos, a identificação de espécies locais, a biologia destes indivíduos, como também a percepção dos moradores a respeito de possíveis impactos da linha de transmissão sobre a avifauna. Uma lista de espécie foi elaborada através de checklist e com o auxílio de pranchas com ilustrações de aves locais (Rodrigues, 2009; Medeiros, Almeida, Lucena, Souto, & Albuquerque, 2010). As aves citadas pelos entrevistados foram identificadas à nível de espécie com a utilização de guias de campo (Sigrist, 2009) e da Lista de Aves do Brasil (Piacentini et al. 2015). Os dados registrado foram/serão organizados em planilhas eletrônicas e analisados usando estatística univariada com o objetivo de verificar a possível influência de fatores socioeconômicos, de idade e sexo, no conhecimento etnoornitológico dos moradores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando que o levantamento de dados ocorre em duas fases, na primeira foram entrevistados 27 moradores, abrangendo 50% das residências da comunidade. Entre os moradores entrevistados, 63% (N=17) pertencem ao gênero feminino, enquanto 37% (N=10) ao gênero masculino. A idade dos entrevistados variou entre 18 e 71 anos. Entre os participantes desta pesquisa, 63% (N=17) nasceram e vivem até hoje na comunidade. Quanto à escolaridade, a maioria dos entrevistados (51,8%; N=14) possui apenas o Ensino Fundamental Incompleto, e em relação às atividades exercidas pelos moradores, os homens geralmente trabalham na agricultura e/ou com a pesca, enquanto as mulheres se autodenominam “donas de casa”. Os entrevistados citaram 111 espécies de aves que, segundo os mesmos, são comumente vistas na área da comunidade Alto do Batista (Tabela 1). As espécies mencionadas pelos moradores pertencem a 37 famílias e 20 ordens (Tabela 1). Considerando os indivíduos reportados, a ordem Passeriformes foi a mais representativa, abrangendo 35 espécies. Em relação às famílias, Columbidae, Tyrannidae e Icteridae foram as que abrangeram mais espécies. Icterus jamacaii, Pitangus sulphuratus, Columbina squammata, Columbina talpacoti e Coragyps atratus foram as espécies mais citadas pelos entrevistados. A presença da família Tyrannidae entre as mais citadas não é surpresa visto que esta é a maior família de aves do ocidente, ocupando os mais diversos tipos de ambiente e agrupando a maioria das espécies encontradas no país (Sick, 1997; Sigrist, 2007). O mesmo vale para Pitangus sulphuratus, espécie onívora que pode ser encontrada em ambientes com vegetação bastante preservada como também em ambientes urbanos (Sick, 1997; Sigrist, 2009), principalmente por apresentar uma dieta bastante variada, expandindo sua área de forrageio (Vogel & Metri, 2008).

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Ao serem questionados sobre possíveis impactos da linha de transmissão Delta-Tabuleiros sobre a avifauna, após sua instalação e operação, a grande maioria dos entrevistados (63%; N=17) relataram que a LT afetou de alguma forma a avifauna local, como é citado, por exemplo, por um dos moradores: “Eu acho que a desmatação [sic] que foi feita prejudicou” (Morador E; 31 anos). Segundo Campos (2010), a construção da faixa de servidão, a limpeza de áreas para a montagem de torres e a construção de praças de lançamento de cabos condutores, são as principais atividades que causam o desatamento das regiões por onde passam as linhas de transmissão. Nesse contexto, o desmatamento a maior fator de impacto sobre a fauna, através da redução de espécies/espécimes e da descaracterização das comunidades locais. Apesar disso, ao serem questionados sobre a redução do número de espécies na região, 78% (N=21) relataram que a quantidade de aves continua a mesma após a chegada do empreendimento na comunidade. Ainda sobre o impacto da LT sobre as aves, 48% (N=13) dos participantes afirmaram ter presenciado algum indício ou o momento exato da colisão e/ou eletrocussão de aves em algum componente do empreendimento. A colisão de indivíduos nas estruturas que compõe as linhas de transmissão é recorrente, principalmente por estudos realizados no exterior, visto que no Brasil, são mínimos as pesquisa nesta área (Di Maio, Vecchi, & Gomes, 2010). Entre os relatos, o urubu (Coragyps atratus) é a espécie que mais se envolveu em acidentes com a linha de transmissão, como exemplifica as citações seguintes: “Agora pouco mesmo eu vi um urubu morto e tenho certeza que ele bateu nos fios e morreu.” (Morador J; 54 anos). “Eu já vi urubu morto debaixo dos fios. Quando o urubu toca em dois fios ele morre. Já cai morto” (Morador J; 70 anos). Acidente envolvendo outras aves também foram relatadas pelos entrevistados: “Avoante bate também. Passarin pequeno eu creio que não” (Morador A; 53 anos). Os moradores também foram questionados sobre a existência de atividades praticadas por parte dos moradores que poderia, de alguma forma, prejudicar a avifauna local. 52% (N=14) dos entrevistados relataram que não há qualquer tipo de ação humana que prejudique as aves da região. Apesar disso, 44% (N=12) afirmaram que existe diversos tipos de atividades na região que prejudicam estes animais, como citado pelo morador E, de 31 anos: “Esse negócio de roça, porque eles desmatam e toca fogo”. Já segundo a entrevistada R, 55 anos: “Eu que ando muito pelas casas, eu vejo que tem muitos pássaros presos. Quando eles pegam pra vender, pra negociar. As vezes chegam a morrer por falta de cuidado”. Entre as atividades prejudiciais à avifauna, citada pelos entrevistados, destacam-se a caça e criação de aves em gaiolas, a venda de espécies e o desmatamento. A sonoridade das aves é umas dos principais fatores que despertam o desejo de muitas pessoas em tê-las como animais de criação, como é observado no trabalho de Cadima e Maçal Júnior (2004), onde os moradores de Miraporanga, Belo Horizonte, classificavam como “cria de casa”, aves canoras, como Curió, sabiá e canário. Vale destacar que a abertura de acessos em áreas de mata fechada, pode propiciar a atividade de caçadores que encontram nestas novas vias, oportunidade de captura de espécies (Campos, 2010; Santos, 2012). Em relação aos projetos educativos e de preservação das aves, 67% (N=18) dos entrevistados afirmaram que nunca houve nenhuma atividade deste tipo na comunidade. Apenas 19% (N=5) relatam alguma atividade com este objetivo, como observa-se na citação que segue: “No mês de abril o povo da igreja veio aqui falar da campanha da fraternidade que fala sobre a natureza” (Moradora V; 56 anos). O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) também foi bastante citado pelos moradores quando se comentava sobre preservação das aves na região: “O IBAMA já passou por aqui [...] aconselhando a não pegar” (Morador J; 50 anos). Outros ainda citam que o órgão já apreendeu espécimes na comunidade: “O IBAMA chegou aqui e levou o bixim tudo. Até o Xexéu da vizinha” (Moradora M; 37 anos). Por fim, ao questionar se as aves possuíam alguma importância para os moradores do Alto do Batista, obteve-se 100% (N=27) de confirmação. Muitas das respostas envolveram questões religiosas: “Porque tudo que Deus criou é importante” (Moradora N; 25 anos); “Eles são coisas de Deus” (Moradora E; 52 anos). Alguns entrevistados citaram também a importância da sonoridade das aves: “Porque eu acho tão bonito o canto de um passarim. Da mais vida” (Moradora R; 38 anos). Enquanto isso, alguns moradores

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 comentaram sobre a importância ecológica destes indivíduos: “São importantes para a natureza. Eles transportam sementes” (Morador G; 31 anos). É notório o aumento das pesquisas etnoornitológicas no Brasil, contudo, considerando a importância do conhecimento popular sobre a biologia das aves, a miríade de aspectos culturais da população e a diversidade biológica do país, estes estudos ainda são insuficientes (Cadima & Maçal Júnior, 2004; Farias & Alves, 2007).

CONCLUSÕES

Os relatos dos moradores da comunidade Alto do Batista apresentaram riqueza de detalhes sobre a avifauna local e sua relação com a linha de transmissão Delta-Tabuleiros. Considerando estes relatos, a região possui uma avifauna rica e diversa, e que está sendo afetada pelo empreendimento, principalmente pela colisão de espécimes com os fios de alta tensão. Considerando que há escassez de estudos no país sobre a colisão de aves em linhas de transmissão, e que estes empreendimentos distribuem-se por todos o território nacional, é necessário amplificar os estudos sobre o tema com o objetivo de encontrar melhorias para o procedimento de condução e distribuição de energia elétrica, além de mitigar os impactos causados neste processo.

REFERÊNCIAS

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Piacentini, V. Q., Aleixo, A., Agne, C. E., Maurício, G. N., Pacheco, J. F., Bravo, G. A., Brito, G. R. R., Naka, L. N., Olmos, F., Posso, S., Silveira, L. F., Betini, G. S., Carrano, E., Franz, I., Lees, A. C., Lima, L. M., Pioli, D., Schunck, F., Amaral, F. R., Bencke, G. A., Cohn-Haft, M., Figueiredo, L. F. A., Straube, F. C.,Cesari, E. (2015). Annotated checklist of the birds of Brazil by the Brazilian Ornithological Records Committee / Lista comentada das aves do Brasil pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Revista Brasileira de Ornitologia, v. 23(2), 91–298. Regalado, L. B., & Silva, C. (1997). Utilização de aves como indicadoras de degradação ambiental. Revista Brasileira de Ecologia 1: 81-83. Rodrigues, A. S (2009). Metodología de la investigación etnozoológica. In: Costa-Neto, E. M., Santos-Fita, D., & Vargas-Clavijo, M. (Org.). Manual de Etnozoología: Uma guia teórico-práctica para investigar La interconexíon del ser humano com los animales(pp. 253-252). Valencia: Tundra. Santos, C. R. R. (2012). Alteamento de torres de linha de transmissão de energia para minimização de impactos ambientais. 2012. 81f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) – Instituto de Eletrotécnica e Energia Universidade de São Paulo, São Paulo. Santos-Filho, F. S., Almeida-Jr, E. B., Soares, C. J. R. S., & Zickel, C. S. (2010). Fisionomias das restingas do Delta do Parnaíba, Nordeste, Brasil. Revista Brasileira de Geografia Física, 3: 218-227. Serrano, I. L. (2008). O anilhamento como ferramenta para o estudo de aves migratórias. In: De La Balze, V. N., & Blanco, D. E. (Eds.). Primer taller para la Conservación de Aves Playeras Migratórias en Arroceras del Cono Sur (pp.1-6). Wetlands Internacional. Bueno Aires, Argentina. Sigrist, T. (2009). Avifauna brasileira: descrição das espécies. São Paulo. Avis Brasilis. 305p. Sigrist, T. (2009). Avifauna brasileira: pranchas e mapas. São Paulo. Avis Brasilis. 492p. Sick, H. (1997). Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 912p. Stotz, D. F., Fitzpatrick, J. W., Parker III, T. A., & Moskovits, D. K. (1996). Neotropical birds: ecology and conservation. University of Chicago Press, Chicago, EUA. Tabout, A. K., & Santos, V. L. P (2014). Impactos ambientais causados na implantação de linhas de transmissão no brasil. Caderno Meio Ambiente e Sustentabilidade. vol.4, n.3, p.184-199. Vogel, H. F., & Metri, R. (2008). Estratégias alimentares do Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus Linnaeus, 1766) em diversos ambientes. Luminaria v.1, n.9.

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ANEXO

Tabela 1. Lista das espécies de aves citadas pelos moradores da comunidade Alto do Batista, Parnaíba, Piauí, Brasil. Nome do Táxon Nome em Português Nome local

TINAMIFORMES Huxley, 1872 TINAMIDAE Gray, 1840 Crypturellus tataupa (Temminck, 1815) inambu-chintã nambú Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) inambu-chororó nambú Nothura maculosa (Temminck, 1815) codorna-amarela codorna/nambú-capote ANSERIFORMES Linnaeus, 1758 ANATIDAE Leach, 1820 ANATINAE Leach, 1820 Anas bahamensis Linnaeus, 1758 marreca toicinho marreca SULIFORMES Sharpe, 1891 PHALACROCORACIDAE Reichenbach, 1849 Nannopterum brasilianus (Gmelin, 1789) biguá pato-mergulhão PELECANIFORMES Sharpe, 1891 ARDEIDAE Leach, 1820 Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) socó-boi socó Butorides striata (Linnaeus, 1758) socozinho socó Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) garça-vaqueira galça Ardea alba Linnaeus, 1758 garça-branca galça Egretta thula (Molina, 1782) garça-branca-pequena galça THRESKIORNITHIDAE Eudocimus ruber (Linnaeus, 1758) guará guará CATHARTIFORMES Seebohm, 1890 CATHARTIDAE Lafresnaye, 1839 Cathartes aura (Linnaeus, 1758) urubu-rei/urubu- urubu-de-cabeça-vermelha camiranga Coragyps atratus (Bechstein, 1793) urubu urubu ACCIPITRIFORMES Bonaparte, 1831 ACCIPITRIDAE Vigors, 1824 Gampsonyx swainsonii Vigors, 1825 gaviãozinho gavião Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817) gavião-caramujeiro paparuá Buteogallus aequinoctialis (Gmelin, 1788) gavião-caranguejeiro gavião Heterospizias meridionalis (Latham, 1790) gavião-caboclo gavião Urubitinga urubitinga (Gmelin, 1788) gavião-preto gavião Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) gavião-carijó gavião GRUIFORMES Bonaparte, 1854 ARAMIDAE Bonaparte, 1852 Aramus guarauna (Linnaeus, 1766) carão carão/garça-parda RALLIDAE Rafinesque, 1815

230 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Tabela 1. Lista das espécies de aves citadas pelos moradores da comunidade Alto do Batista, Parnaíba, Piauí, Brasil. Nome do Táxon Nome em Português Nome local Aramides cajaneus (Statius Muller, 1776) saracura-três-potes siricora Gallinula galeata (Lichtenstein,1818) galinha-d'água galinha d'agua Porphyrio martinicus (Linnaeus, 1766) frango-d'água-azul frango d'agua CHARADRIIFORMES Huxley, 1867 CHARADRII Huxley, 1867 CHARADRIIDAE Leach, 1820 Vanellus chilensis (Molina, 1782) quero-quero tetéu Pluvialis squatarola (Linnaeus, 1758) batuiruçu-de-axila-preta maçarico Charadrius semipalmatus Bonaparte, 1825 batuíra-de-bando maçarico SCOLOPACI Steijneger, 1885 JACANIDAE Chenu & Des Murs, 1854 Jacana jacana (Linnaeus, 1766) jaçanã jaçanã LARI Sharpe, 1891 STERNIDAE Vigors, 1825 Sternula superciliaris (Vieillot, 1819) trinta-réis-pequeno trinta-réis Phaetusa simplex (Gmelin, 1789) trinta-réis-grande gaivota RYNCHOPIDAE Bonaparte, 1838 Rynchops niger Linnaeus, 1758 talha-mar nome não informado COLUMBIFORMES Latham, 1790 COLUMBIDAE Leach, 1820 Columbina talpacoti (Temminck, 1811) rolinha rolinha/sangue-de-boi Columbina squammata (Lesson, 1831) fogo-apagou fogo-pagô Columbina picui (Temminck, 1813) rolinha-picui rolinha Columbina passerina (Linnaeus, 1758) rolinha-cinzenta rolinha Columbina minuta (Linnaeus, 1766) rolinha-de-asa-canela rolinha/capoeirinha Columba livia Gmelin, 1789 pombo-doméstico pombo Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 juriti-pupu juriti Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) avoante avoante Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792) juriti-de-testa-branca juriti CUCULIFORMES Wagler, 1830 CUCULIDAE Leach, 1820 CUCULINAE Leach, 1820 Coccyzus melacoryphus Vieillot, 1817 papa-lagarta papa-lagarta CROTOPHAGINAE Swainson, 1837 Crotophaga major Gmelin, 1788 anu-coroca gorgoró Crotophaga ani Linnaeus, 1758 anu-preto anu Guira guira (Gmelin, 1788) anu-branco piririguá TAPERINAE Verheyen, 1956 Tapera naevia (Linnaeus, 1766) saci nome não informado STRIGIFORMES Wagler, 1830 TYTONIDAE Mathews, 1912 Tyto furcata (Temminck, 1827) suindara rasga-mortalha STRIGIDAE Leach, 1820 Megascops choliba (Vieillot, 1817) corujinha-do-mato coruja/caburé-de-oreia

231 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Tabela 1. Lista das espécies de aves citadas pelos moradores da comunidade Alto do Batista, Parnaíba, Piauí, Brasil. Nome do Táxon Nome em Português Nome local Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) caburé coruja Athene cunicularia (Molina, 1782) coruja-buraqueira coruja NYCTIBIIFORMES Yuri, Kimball, Harshman, Bowie, Braun, Chojnowski, Han, Hackett, Huddleston, Moore, Reddy, Sheldon, Steadman, Witt & Braun, 2013 NYCTIBIIDAE Chenu & Des Murs, 1851 Nyctibius griseus (Gmelin, 1789) mãe-da-lua mão-da-lua/coruja CAPRIMULGIFORMES Ridgway, 1881 CAPRIMULGIDAE Vigors, 1825 Hydropsalis parvula (Gould, 1837) bacurau-chintã bacurau Hydropsalis torquata (Gmelin, 1789) bacurau-tesoura bacurau Nannochordeiles pusillus Gould, 1861 bacurauzinho bacurau Chordeiles acutipennis (Hermann, 1783) bacurau-de-asa-fina bacurau/corujão APODIFORMES Peters, 1940 TROCHILIDAE Vigors, 1825 PHAETHORNITHINAE Jardine, 1833 Anopetia gounellei (Boucard, 1891) rabo-branco-de-cauda- larga beija-flor TROCHILINAE Vigors, 1825 Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura beija-flor Chrysolampis mosquitus (Linnaeus, 1758) beija-flor-vermelho beija-flor Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812) besourinho-de-bico- vermelho beija-flor Thalurania furcata (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura-verde beija-flor Amazilia leucogaster (Gmelin, 1788) beija-flor-de-barriga- branca beija-flor Amazilia fimbriata (Gmelin, 1788) beija-flor-de-garganta- verde beija-flor CORACIIFORMES Forbes, 1844 ALCEDINIDAE Rafinesque, 1815 Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766) martim-pescador-grande martim Chloroceryle amazona (Latham, 1790) martim-pescador-verde martim Chloroceryle americana (Gmelin, 1788) martim-pescador-pequeno martim GALBULIFORMES Fürbringer, 1888 BUCCONIDAE Horsfield, 1821 Nystalus maculatus (Gmelin, 1788) rapazinho-dos-velhos torovo/bico-de-latão PICIFORMES Meyer & Wolf, 1810 PICIDAE Leach, 1820 Picumnus pygmaeus (Lichtenstein, 1823) picapauzinho-pintado pinica-pau Melanerpes candidus (Otto, 1796) pica-pau-branco pinica-pau Veniliornis passerinus (Linnaeus, 1766) pica-pau-pequeno pinica-pau Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788) pica-pau-verde-barrado pinica-pau Celeus ochraceus (Spix, 1824) pica-pau-ocráceo pinica-pau

232 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Tabela 1. Lista das espécies de aves citadas pelos moradores da comunidade Alto do Batista, Parnaíba, Piauí, Brasil. Nome do Táxon Nome em Português Nome local Campephilus melanoleucos (Gmelin, 1788) pica-pau-de-topete- vermelho pinica-pau Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766) pica-pau-de-banda-branca pinica-pau FALCONIFORMES Bonaparte, 1831 FALCONIDAE Leach, 1820 Caracara plancus (Miller, 1777) carcará carcará PSITTACIFORMES Wagler, 1830 PSITTACIDAE Rafinesque, 1815 Thectocercus acuticaudatus (Vieillot, 1818) aratinga-de-testa-azul periquito Eupsittula cactorum (Kuhl, 1820) periquito-da-caatinga periquito Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) tuim curica/papagaio Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) papagaio papagaio PASSERIFORMES Linnaeus, 1758 THAMNOPHILIDAE Swainson, 1824 Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764) choca-barrada não informado Thamnophilus pelzelni Hellmayr, 1924 choca-do-planalto não informado Taraba major (Vieillot, 1816) choró-boi choró-de-olho-vermelhor FURNARIOIDEA Gray, 1840 DENDROCOLAPTIDAE Gray, 1840 FURNARIINAE Gray, 1840 Furnarius rufus (Gmelin, 1788) joão-de-barro joão-de-barro Furnarius figulus (Lichtenstein, 1823) casaca-de-couro-da-lama joão-de-barro SYNALLAXIINAE De Selys-Longchamps, 1839 (1836) Pseudoseisura cristata (Spix, 1824) casaca-de-couro casaco-de-couro TYRANNIDA Wetmore & Miller, 1926 TYRANNOIDEA Vigors, 1825 RHYNCHOCYCLIDAE Berlepsch, 1907 RHYNCHOCYCLINAE Berlepsch, 1907 Tolmomyias flaviventris (Wied, 1831) bico-chato-amarelo TODIROSTRINAE Tello, Moyle, Marchese & Cracraft, 2009 Hemitriccus margaritaceiventer (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) sebinho-de-olho-de-ouro TYRANNIDAE Vigors, 1825 ELAENIINAE Cabanis & Heine, 1860 Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824) risadinha Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) guaracava-de-barriga- amarela TYRANNINAE Vigors, 1825 Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi bem-te-vi Philohydor lictor (Lichtenstein, 1823) bentevizinho-do-brejo bem-te-vi Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) neinei bem-te-vi

233 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 Tabela 1. Lista das espécies de aves citadas pelos moradores da comunidade Alto do Batista, Parnaíba, Piauí, Brasil. Nome do Táxon Nome em Português Nome local Myiozetetes similis (Spix, 1825) bentevizinho-de-penacho- vermelho bem-te-vi Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 suiriri bem-te-vi / severina FLUVICOLINAE Swainson, 1832 Arundinicola leucocephala (Linnaeus, 1764) freirinha não informado Cnemotriccus fuscatus (Wied, 1831) guaracavuçu não informado PASSERI Linnaeus, 1758 CORVIDA Wagler 1830 CORVIDAE Leach, 1820 Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) gralha-cancã Quem-Quem PASSERIDA Linnaeus, 1758 HIRUNDINIDAE Rafinesque, 1815 Tachycineta albiventer (Boddaert, 1783) andorinha-do-rio andorinha TROGLODYTIDAE Swainson, 1831 Troglodytes musculus Naumann, 1823 corruíra rouxinol TURDIDAE Rafinesque, 1815 Turdus rufiventris Vieillot, 1818 sabiá-laranjeira sabiá ICTERIDAE Vigors, 1825 Psarocolius decumanus (Pallas, 1769) japu reis-congo Procacicus solitarius (Vieillot, 1816) iraúna-de-bico-branco boé Icterus pyrrhopterus (Vieillot, 1819) encontro primavera Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) corrupião corrupião Chrysomus ruficapillus (Vieillot, 1819) garibaldi papa-arroz Agelaioides fringillarius (Spix 1824) asa-de-telha-pálido nome não informado Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) chupim chico preto Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) pássaro-preto graúna Cacicus cela (Linnaeus, 1758) xexéu xexéu THRAUPIDAE Cabanis, 1847 Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758) cardeal-do-nordeste galo de campina Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) canário-da-terra canário Sporophila lineola (Linnaeus, 1758) bigodinho bigode FRINGILIDAE Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) fim-fim vivin PASSERIDAE Rafinesque, 1815 Passer domesticus (Linnaeus, 1758) pardal pardal TOTAL: 111 espécies

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ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PERCEPÇÕES POSITIVAS PARA CONSERVAÇÃO NÃO IMPEDEM A CAÇA POR COMUNIDADE EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NA CAATINGA PERNAMBUCANA

Rebeca Mascarenhas Fonseca Barreto¹*, Bárbara Cristina Vieira da Silva 2, Áurea Ariele Silva Lôbo 2, Márcio Luiz Vargas Barbosa Filho3, Dídac Santos-Fita4

1Laboratório de Zoologia dos Vertebrados (LABVERT), Colegiado de Ciências Biológicas (CCBIO), Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Campus Ciências Agrárias (CCA), Petrolina - PE; 2Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, UNIVASF, CCA, Petrolina - PE; 3Programa de Pós-graduação em Etnobiologia e Conservação da Natureza, Campus Dois Irmãos, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife – PE; 4Centro de Investigación en Ciencias Biológicas Aplicadas, Universidad Autónoma del Estado de México. Av. Instituto Literario nº 100, Colonia Centro, C.P.50000, Toluca, Edo. de México, México. *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

Apesar da caça de subsistência ser legalizada no Brasil, ela pode ocorrer insustentavelmente por populações sem práticas adequadas de manejo. Objetivou-se descrever a caça e discutir como as percepções da população do entorno da Floresta Nacional de Negreiros pode colaborar no manejo da fauna cinegética desta Unidade de Conservação (UC). A maioria dos participantes se mostrou relutante em admitir que caçam, situação contornada ao longo das entrevistas. Os participantes caçam independentemente de fatores socioeconômicos e a finalidade e a frequência da caça também não são influenciadas por outras variáveis socioeconômicas. O valor da Escala de Likert em relação às percepções de conservação dos participantes foi de 0.86, denotando uma alta sensibilidade ambiental. Verificou-se que o grau de escolaridade influencia nas percepções para conservação dos entrevistados (χ2 = 14.99; df = 3; p-value = 0.002). Estes resultados podem indicar um alto potencial de sucesso de iniciativas que visem o manejo participativo na UC.

Palavras-chave: Atividades cinegéticas; Floresta Nacional de Negreiros, manejo participativo, Escala de Likert, Nordeste do Brasil.

INTRODUÇÃO

As atividades cinegéticas são aquelas em que há a retirada de animais silvestres do seu ambiente natural para diversos fins desde alimentação, atividades culturais e religiosas e o comércio (Bennet e Robinson, 1999). No Brasil, a fauna silvestre é ainda utilizada por diferentes grupos étnicos como as sociedades indígenas, quilombolas, de pescadores e rurais, as quais detêm amplo conhecimento da flora e da fauna (Ribeiro, 1995; Costa-Neto, 1999, 2000). A seleção da fauna cinegética, as técnicas de caça, a frequência e a finalidade do uso são elementos importantes para entender a dinâmica de utilização e até que ponto a atividade cinegética representa uma ameaça sobre a fauna silvestre (Robinson e Redford, 1991). As atividades cinegéticas ocorrem em cerca de 90% das Unidades de Conservação (UCs) do Brasil, sendo que nas UCs da Caatinga, a caça apresenta o maior índice de criticidade, constituindo, desse modo, uma de suas maiores ameaças (ICMBio/WWF-Brasil, 2011). É provável que a pressão das atividades de caça seja mais problemática em UCs que não permitirem o uso direto dos recursos naturais. Já para nas UCs de uso sustentável, as atividades de caça só exercem maior pressão naquelas onde não há Plano de Manejo e/ou monitoramento dessas práticas (ICMBio/WWF-Brasil, 2011). Apesar da caça de subsistência ser legalizada no Brasil, ainda pode ser desenvolvida indiscriminadamente e de modo insustentável por comunidades que não detêm conhecimentos sobre o manejo da fauna silvestre (Bodmer, 2000). A partir dessa linha, os animais sofrem impactos negativos, a

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 caça provoca diminuição das populações de espécies cinegéticas e podem modificar o funcionamento dos ecossistemas. Do ponto de vista socioeconômico, a diminuição da abundância de presas pode minimizar ainda mais a qualidade de vida das comunidades tradicionais (Oliveira et al., 2005). Devido à crescente urbanização, a caça de subsistência não é mais vital para algumas sociedades, sendo uma mera ferramenta comercial e/ou de entretenimento (Dantas-Aguiar et al., 2011). Diante desse contexto, a caça comercial e insustentável constitui um grande problema, uma vez que depois da perda de habitat, ela é considerada a maior ameaça à fauna silvestre brasileira, podendo tornar as florestas vazias (Redford, 1992). Nesse sentido, perceber a real finalidade da atividade de caça é crucial para determinar ações conservacionistas, educativas e de manejo sustentável. A caça esportiva e comercial é considerada crime no Brasil, demandando cautela por parte dos cientistas que abordam a temática da caça de animais silvestres (Pieve et al., 2010). Segundo Verdade (2004), a legislação brasileira que regulariza o uso da fauna silvestre é considerada extremante conservadora, fazendo com que haja um maior investimento em fiscalização em detrimento do manejo. A Lei n.º 5.197, que dispõe sobre a proteção da fauna, proíbe “a utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha de qualquer espécie, em qualquer fase do desenvolvimento” e considera a caça como crime punível, podendo a reclusão variar de 2 a 5 anos (Brasil, 1967). Entretanto, a caça é descriminalizada não apenas para subsistência, mas também quando espécies invadem as plantações (Brasil, 1998). Cabe ressaltar que apesar da legislação brasileira promover medidas que assegurem a caça de subsistência, a caça ilegal é praticada, com o tráfico de animais silvestres a terceira atividade ilícita mais lucrativa do mundo e tendo o Brasil como um dos principais fornecedores de flora e fauna para o mercado mundial (Vidolin, 2004). Logo, abordar os conhecimentos e os usos que as comunidades rurais detêm sobre a fauna em pesquisas científicas de base é a chave para desenvolver o manejo dos recursos naturais de forma exequível (Andriguetto-Filho et al., 1998). Trabalhos que diagnostiquem esses usos são necessários para auxiliar formas de manejo sustentável como fator de manutenção da biodiversidade (Costa-Neto, 2000; Torres et al., 2009) e fundamentais na aquisição de informações para a gestão de uma UC (Sayre et al., 2000). O objetivo do presente trabalho foi descrever como ocorre a caça e discutir como as percepções da população que vive no entorno de um importante remanescente da Caatinga localizado na Unidade de Conservação de uso sustentável Floresta Nacional de Negreiros pode colaborar no manejo da fauna desta UC.

MATERIAL E MÉTODOS

Os dados foram coletados no entorno da UC Floresta Nacional de Negreiros (Flona-Negreiros), inserida no Nordeste do Brasil, no Domínio morfoclimático e fitogeográfico das Caatingas (Ab’Saber, 1977). Esta UC foi criada em 11 de outubro de 2007 e sendo uma área de proteção de Uso Sustentável, o que implica que a exploração manejada dos seus recursos naturais está aberta para a comunidade local. A Flona-Negreiros apresenta uma área total de cerca de 3000ha e abrange dois municípios: Parnamirim (207ha, 7% da UC), e Serrita (2.810ha, 93% da UC). Estes municípios foram fundados no século passado por emigrantes de regiões assoladas pelas secas na região do Cariri-CE, que encontravam na região terras para o cultivo agrícola e pastagens para a criação de rebanhos (IBGE, 2013). No entorno da Flona- Negreiros existem nove assentamentos humanos (Localidades, Figura 01), onde vivem cerca de 70 famílias, sendo que em duas localidades existem famílias com moradias dentro da UC. No local não há associação de moradores ou qualquer outra organização comunitária. Os moradores dessas localidades usam a Flona- Negreiros para coleta de lenha, dos frutos de umbú (Spondias tuberosa) e pescam nos açudes (reservatórios feitos com o represamento de rios temporários) existentes na reserva. O projeto foi submetido para análise do Comitê de Ética e Deontologia em Estudos e Pesquisas (CEDEP) da UNIVASF, e apresentou parecer positivo (nº 0007/190313 CEDEP/UNIVASF). Antes de cada entrevista, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi apresentado aos participantes. As entrevistas foram identificadas com nomes de animais silvestres da caatinga, preservando a identidade de cada entrevistado.

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Foram realizadas entrevistas estruturadas, de cunho socioeconômico (Ficha da Família) e semiestruturadas contendo as questões socioambientais (comportamentos de caça e percepções para conservação). Todas as nove localidades no entorno da Flona-Negreiros foram percorridas. Foram entrevistados apenas os chefes de família e/ou seus cônjuges, ambos maiores de 18 anos. Escala Likert de três fatores foi usada para verificar as percepções dos entrevistados quanto à Conservação da Unidade de Conservação e da caatinga (Likert, 1932). Para verificar a confiabilidade da escala, o índice de Confiabilidade Composta (Composite reliability index) foi calculado, o qual é baseado nos pesos fatoriais em uma análise fatorial confirmatória (Raykov, 1997; Geldhof et al., 2014). A fim de verificar se os indicadores de percepções para conservação e as comportamentos de caça são influenciadas pelas características socioambientais de cada família foram realizados testes estatísticos. O teste Kruskal-Wallis foi realizado entre os indicadores de percepções e o grau de escolaridade, renda familiar, benefícios governamentais e ocupação. O mesmo teste foi realizado para verificar a relação entre os comportamentos de caça (ação de caçar, finalidade da caça e frequência da caçada) e os aspectos socioeconômicos. Análise de Correlação de Pearson foi realizada para verificar se existe relação entre os indicadores e o tempo em que a família está assentada no local, idade do entrevistado e número de filhos. Todas as análises foram realizadas em ambiente R versão 3.4.0 (R Core Team, 2017). Como controle, para avaliar os conhecimentos dos participantes a respeito da fauna local, foram mostradas imagens de animais autóctones da Caatinga e de espécies que não existem no Brasil. Além disso, no intuito de confirmar a validade das respostas, as entrevistas foram repetidas em situações sincrônicas e diacrônicas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre o total de 70 famílias do entorno da Flona-Negreiros, 54 foram entrevistadas, sendo que 94% (n= 51) delas estão assentadas na região há mais de dez anos. Dentre os informantes, 42 (78%) deles eram os chefes das mesmas, possuindo entre 20 e 60 anos de idade (número de informantes ni = 39, 72%) e de 01 a 05 filhos (ni = 27, 50%). Quanto ao nível de escolaridade, é importante frisar que 35% (n = 19) deles são analfabetos, e 51% (n = 28) frequentaram apenas cinco anos a escola. A maioria dos chefes de família são agricultores (n = 37, 68.5%), tendo como renda familiar total de um a dois salários mínimos (ni = 26, 48%), a qual é complementada pelas bolsas de programas governamentais (ni = 35, 65%). O índice de confiabilidade composta foi igual a um, indicando 100% de confiabilidade. O valor da Escala de Likert em relação às percepções de conservação dos participantes foi igual a 0.86, o que denota uma alta sensibilidade em relação ao meio ambiente onde estão inseridos (Figura 02). Entretanto, cerca 65% dos entrevistados não percebem a efetividade da UC na proteção dos animais e do meio ambiente. Verificou-se que o grau de escolaridade influencia nas percepções para conservação dos entrevistados (χ2 = 14.99; gl = 3; p-valor = 0.002), sendo que os menores indicadores correspondem àqueles que nunca foram à escola. Nenhuma outra variável socioeconômica influencia nas percepções para conservação (Tabela 01). Quando perguntados aos entrevistados se eles caçavam 30% (n= 16) respondeu que sim, 59% (32) negaram e 11% (6) se recusaram a responder. Entretanto, ao longo da entrevista, ao realizar as perguntas sobre frequência, finalidade, artefatos e animais da caça, 50% dos entrevistados transpareceram o fato de realizar ou já terem realizado a caça. A maioria dos entrevistados afirmou que o pai e/ou o avô caçavam (56%, ni = 30) e que os mesmos relatam o desaparecimento de diversas etnoespécies outrora abundantes. Dentre estas, destacam-se o “bola” (Tolypeutes tricinctus) (15%, ni = 8), o “prego” (Cebus sp. (11%, ni = 6) e a “pintada” (Puma concolor) (9%, ni = 5). A maioria dos caçadores (37%, ni = 31) caça para alimentação, e 15 deles (28%) realizam a atividade ao menos uma vez por semana. Contudo, 22% (ni = 12) afirmaram caçar apenas uma vez por semestre. Geralmente, estes reportaram realizar a atividade com uma finalidade lúdica. Quando questionados qual a época de maior consumo de carne de caça a maioria se negou a responder (66%, ni = 36), contudo, 26% (n = 14) deles afirmou que é o período correspondente à estação seca. Alves et. al (2009), relatam que as atividades de caça na caatinga da Paraíba, em uma área mais próxima do litoral, ocorrem com finalidades lúdicas/esportivas. Os animais mais caçados para subsistência são o “peba” (Euphractus sexinctus) (40%, n = 22), seguido do “veado” (Mazama gouazoubira) (22%, n =

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12) e do “tatu” (Dasypus novencinctus) (20%, n = 11). Corroborando com a importância dada à carne de mamíferos na dieta em trabalhos com caça, especialmente na Caatinga (Dantas-Aguiar et al., 2011)

Tabela 01. Resultados do Teste de Kruskal-wallis para ações de caça e atributos socioeconômicos dos informantes. Kruskal-wallis test Atitude da caça Atributos socioeconômicos χ2 df p-value Ação de caçar Renda 6.81 6 0.34 Benefícios 0.84 3 0.84 Ocupação 7.15 4 0.13 Tempo que mora no local 39.52 36 0.32 Idade 31.28 35 0.65 Número de filhos 19.65 15 0.19

Finalidade da caça Renda 0.86 6 0.99 Benefícios 1.24 3 0.75 Ocupação 2.00 4 0.74

Frequência da caça Renda 9.07 6 0.17 Benefícios 0.21 3 0.98 Ocupação 3.62 4 0.46

Os informantes costumam caçar esses animais com ferramentas de trabalho da roça (22%, n = 12) ou arma de fogo (20%, n = 11), sendo que 48% deles utilizam cachorros nas atividades (48%, n = 26). Contrariando estudos que indicam que a caça está associada a questões socioeconômicas (Pianca, 2004), os resultados mostram que os entrevistados caçam independente de sua atitude para conservação ser positiva (χ2= 3.52; gl = 5; p-valor = 0.62). Além disso, os caçadores executam essa atividade independente de fatores socioeconômicos, sendo que a finalidade e a frequência da caçada também não são influenciadas por qualquer variável socioeconômica analisada (ver Tabela 01). Ainda que existam outras atividades produtivas e que eles tem uma percepção positiva sobre conservar a fauna silvestre, fora ou dentro da UC (Ribeiro e Schiavetti, 2009), eles continuam caçando por subsistência e por lazer. Assim, essa prática possui um aspeto social e cultural importante para a comunidade, o que determina a continuidade desta atividade (Figueiredo & Barros, 2016).

CONCLUSÕES

Os habitantes da região caçam independentemente de fatores socioeconômicos. O valor da Escala de Likert em relação às percepções de conservação dos participantes foi de 0.86, denotando uma alta sensibilidade ambiental, independentemente da idade dos entrevistados. Os resultados alcançados podem indicar um alto potencial de sucesso de iniciativas que visem o manejo participativo das espécies cinegéticas existentes na UC e, consequentemente, à conservação destas.

AGRADECIMENTOS

Ao NEMA/UNIVASF (Núcleo de Ecologia e Monitorameto Ambiental da UNIVASF) pelo apoio logístico (transporte e hospedagem) à RMFB. À PROEX/UNIVASF pela bolsa dada aos estudantes de graduação.

REFERÊNCIAS

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ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PERCEPÇÃO DOS MORADORES ACERCA DOS IMPACTOS DA AGRICULTURA IRRIGADA SOBRE A AVIFAUNA EM UMA ÁREA DE CAATINGA NO NORDESTE BRASILEIRO

Suely Silva Santos1*, Muryllo dos Santos nascimento1, Arthur Serejo Neves Ribeiro1, Francisco das Chagas Vieira Santos1, Francisco Eduardo Dos Santos Sousa2, Wedson de Medeiros Silva Souto3, Anderson Guzzi4

1 Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil. E-mail: [email protected]; 2Biólogo – Graduado pela Universidade Federal do Piauí, 3Departamento e Biologia, Campus Ministro Petrônio Portella, s/n, Bairro Ininga, 64049-550 - Teresina, PI, Brasil. 4Curso de Ciências Biológicas, Departamento de Ciências do Mar, Campus Ministro Reis Velloso, Universidade Federal do Piauí. Parnaíba/PI, Brasil. *Autor para correspondência RESUMO

Etnoornitologia, estuda as inter-relações entre aves e humanos. Esta pesquisa objetivou registrar o conheci- mento da comunidade km 16 situada acerca dos impactos na avifauna ocasionados pela implantação do pe- rímetro irrigado tabuleiro litorâneo. Foram realizadas entrevista semiestruturadas e para a identificação das espécies foram utilizados guias de campo. Os resultados consistiram em 60 pessoas entrevistadas que identificaram 75 espécies de aves distribuídas em 13 famílias. Cerca de 50% dos entrevistados reportou que o desmatamento foi o principal fator para a redução das aves na região. Em relação à implantação e amplia- ção do projeto, os entrevistados apontaram aspectos positivos como geração de renda, no entanto, conside- rando os aspectos ambientais, os moradores reconhecem a degradação que esse crescimento ocasiona. Esse estudo permitiu o resgate dos saberes etnoornitológicos da comunidade, e pode fornecer estratégias para novos projetos que permitam a conservação da avifauna local.

Palavras-chave: Aves, degradação, tabuleiros litorâneos, quilômetro 16.

INTRODUÇÃO O Brasil é considerado como o “país das aves”, por ser o lar de uma das mais ricas faunas de aves do mundo, com 1.919 espécies (Alves, Nogueira, Araújo, 2010; Piacentini et al., 2015), tornando este um dos países mais importantes para os investimentos na conservação, devido seu número significante de en- demismo (Sick, 1997). Entretanto, a medida que se destaca por sua riqueza de espécie, o país também tem o maior núme- ro de espécies ameaçadas na região Neotropical (Collar, Wege, & Long, 1997). No total, 189 espécies de aves estão presentes na lista global de espécies ameaçadas (International Union for Conservation of Nature [IUCN], 2017), e 160 na lista nacional (Ministério do Meio Ambiente [MMA], 2014). Este cenário preocupante segue o mesmo panorama geral de outras áreas nos trópicos, onde enorme perda de habitat e utilização in- discriminada de aves levou muitas espécies à extinção (Sodhi et al., 2011). A degradação ambiental é um dos fatores que provoca, o impacto direto nesse ecossistema causan- do a redução de seus recursos naturais (Leal; Tabarelli & Silva, 2003). A agricultura sem controle reduz o número de espécies e afeta a dinâmica de comunidades da fauna e flora, comprometendo a regeneração natural e, consequentemente, a sustentação destas florestas (Dario; Vincenzo, & Almeida, 2002). Os pro- cessos de intensificação da agricultura ameaçam alterar ainda mais os ecossistemas, ocasionando declínios na população de várias espécies (Foley et al., 2005). Nesse sentindo, estudos etnoornitológicos são importantes para a conservação destes animais, uma vez que, para proporcionar o uso sustentável da avifauna, se faz necessário entender a relação

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 existente entre a população e as aves e suas diferentes finalidades (Alves; Souto; & Morão, 2010). Deste modo, objetivou-se registrar o conhecimento local dos moradores da comunidade km 16 sobre a importância e uso da avifauna, bem como avaliar os possíveis impactos causados pela agricultura irrigada sobre estes individuos.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado no município de Parnaíba (3º 02’ 17.18’’ S e 41º 46’ 06.79’’ O) na comunidade km 16, localizada na região norte do estado do Piauí, nordeste do Brasil, (Fig. 1). A comunidade está situada em área de influência do Perímetro Irrigado Tabuleiros litorâneos do Piauí (DITALPI).

Figura 1. Localização da área de estudo -comunidade Quilometro 16, no Município de Parnaíba/PI.

A pesquisa foi realizada entre os meses de Abril a Julho de 2017, no primeiro momento foi feito o rapport (Bernard,1988; Barbosa, 2007), com finalidade de apresentar a proposta do trabalho para a comunidade. Em seguida, os dados de campo foram obtidos com auxílio de formulário semiestruturado semelhante a outros estudos etnozoológicos (Bernard, 2006; Alves, Leite, Souto, Loures-Ribeiro, & Bezerra, 2013; Van Den Bergh; Kusters; & Dietz, 2013; Alves et al., 2015), somadas por entrevistas livres e conversas informais, bem como por técnicas de observação direta (Appolinário, 2006). O formulário abordou questões que pudessem aferir aspectos socioeconômicos, importância da avifauna local, os impactos causados pelo Perímetro Irrigado sobre a avifauna. Antes da realização de cada entrevista, foi explicado o objetivo da pesquisa, em seguida foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE- 66836217.3.0000.5214). A identificação avifaunística foi realizada através da técnica checklist (Bernard,1988), seguida da utilização de estímulos visuais (Pranchas/fotos) de aves da região, para apontassem aquelas que conheciam (Rodrigues, 2009; Medeiros et al., 2010). As aves reportadas pelos entrevistados foram

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 identificadas a níveis de espécies utilizando guia de campo Sigrist (2009a; 2009b) e Ridgely e Tudor (1994). A classificação e nomenclatura taxonômica seguiu o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (Piacentini et al., 2015), e os nomes populares seguiram os vernáculos fornecidos na comunidade pesquisada. Para o status de conservação das espécies registradas foi verificado na Lista Vermelha (IUCN, 2017) e na Lista Vermelha do ICMBIO (MMA, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 60 entrevistados 60% pertencem ao sexo masculino (n=36) e 40% ao sexo feminino (n=24). A idade variou entre 18 a 85 anos. A maior parte da população local (73%; n=44) possui como escolaridade o fundamental incompleto. A renda familiar na comunidade do quilômetro 16 variou entre um a quatro salários mínimos, sendo que a maioria dos informantes (n=94%) vivem com cerca de um a dois salários mínimos. Foram contadas 1183 aves, que corresponde a 20 ordens, 13 famílias e 75 espécies (Tab. 1). A riqueza de espécie observada pelos informantes, associado com levantamentos ornitológicos, poderá contribuir para um melhor conhecimento sobre a avifauna local. Importante ressaltar que houve significativa diferença entre as respostas quando considerados o gênero dos entrevistados, homens conhecem mais espécies da avifauna local do que as mulheres. Essa diferença é considerada comum em estudos que tratam do conhecimento popular sobre os seres vivos que os rodeiam (etnobiologia), pois os homens geralmente conhecem mais dos hábitos dos animais na natureza, principalmente os de caça uma vez que seu trabalho apresenta-se mais na forma de pesca ou agricultura e assim maior contato com estes seres (Alves; Gonçalves; Vieira, 2012; Andrade et al., 2016). A classificação das etnoespécies pelos entrevistados baseou-se em aspectos morfológicos (cor, forma, tamanho), seguidos de hábitos comportamentais (vocalização, alimentação, reprodução), e hábitat. Esse tipo de classificação serve como um registro do valor cultural local, uma vez que um nome popular antigo, transmitido através de gerações ganha valor de identidade local não se modificando nunca (Sick, 1997). No mesmo sentido, os nomes populares são transferidos por tradição oral, consagrando-se através do uso, mesmo que represente várias espécies de aves ou que uma espécie seja representada por dezenas de nomes comuns (Andrade, 1985). A ordem Passeriformes foi mais representativa entre as espécies reportadas pelos entrevistados, compreendendo um total de 27 espécies, seguida de Columbiformes (n=9) e Pelecaniformes (n=5). Este resultado possivelmente está relacionado a preferências de utilização, representatividade das ordens na diversidade da avifauna local, assim como influência da abundância ou tamanho das espécies pertencentes as principais ordens. As famílias mais representativas foram Columbidae (n=9) seguido de Thraupidae (n=7); uma terceira categoria resultou em um mesmo número de espécies (n=5), representadas pelas famílias Ardeidae e Icteridae. Dentre as espécies mais citadas pelos entrevistados, destacam-se algumas devido o interesse como animais de estimação (Paroaria dominicana, Procacicus solitarius), recurso trófico (Zenaida auriculata, Columbina squammata e Columbina talpacoti), e pela influência nas crendices locais (Gallinago undulata). Das etnoespécies apresentadas, pardal (Passer domesticus) foi a espécie com maior número de citação com 54,7%. Esses animais sofrem com a pressão da caça, servindo principalmente como recurso trófico, sendo os mais representativos no comércio ilegal, decorrente das suas características intrínsecas, como canto, beleza, e da sua ampla distribuição (Sick, 1997). Dentre as espécies reportada pelos informantes, Penelope jacucaca (VU), Hemitriccus mirandae (VU) e Penelope superciliaris (CR) estão categorizadas em algum nível de ameaça segundo (IUCN, 2017; MMA, 2014). Os resultados demonstraram que a eficiência da amostragem foi adequada para amostrar a área, pois a curva atingiu a assíntota por volta do 40º questionário. A riqueza de espécies estimada, foi de aproximadamente 76 espécies segundo Chao2 e Jackknife de segunda ordem (Jack2) estimou cerca de 78 especies. A estabilidade da curva ao atingir a marca de 75 especies durante as entrevistas na comunidade km 16 (Fig. 2), aponta que foi possivel registrar praticamente todo o inventário de aves conhecidas pelos residentes locais. As curvas de ambos os estimadores atingiram a assíntota, os valores de riqueza obtidos permitem inferir que poucas espécies possivelmente ainda serão registradas. Estes estimadores forneceram

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 evidências de que os estudos etnoornitológicos constituem uma boa ferramenta para compreensão das interações estabelecidas entre os habitantes locais e a avifauna presente no entorno.

Figura 2. Curva de acumulação de espécies conhecidas registradas mencionadas (Sobs) e esperadas que sejam conhecidas (Chao2 e Jackknife2).

Percepção de impactos sobre a avifauna Com relação as principais causas que pode ameaçar e diminuir à avifauna da região, o desmatamento (n= 30) foi o principal fator apontado para explicar a redução das aves na localidade: “Com as queimadas, os bichinhos sumiram e foram para lugares onde a mata ainda está boa” (Entrevistado 17; F. 48 anos); “Depois que cortaram as arvores, eles não têm mais lugar para viver” (Entrevistado 53; M. 34 anos).; “Os pássaros sofrem muito com o desmatamento causado pelo projeto, hoje quase não tem mais aquela cantaria que tinha antigamente, era nosso despertador” (Entrevistado 58; A. 85 anos). O desmatamento é um dos pilares da degradação ambiental da caatinga, somado a substituição da vegetação nativa pela agricultura de ciclos diferentes, acarretando na descaracterização da vegetação e favorecendo o processo de erosão do solo, provocando à perda de sua fertilidade, em cultivos irrigado (Sampaio & Sampaio, 2004). Outros fatores, menos expressivos também foram citados como, a criação de aves em gaiolas (n=20), comércio ilegal de aves vivas ou mortas (n=19) a contaminação por agrotóxicos usados na plantação da agricultura irrigada (n=11). São aspectos que afetam a redução das espécies, perda do habitat e qualidade do ambiente. Ao serem indagados sobre a diminuição ou desaparecimento de aves na região, 22 espécies foram indicadas como tendo uma acentuada diminuição sendo as principais o bigode, galo campina, avoante e carcará, entretanto, a maioria dos entrevistados não sabiam dizer quais as espécies que estariam diminuindo. A redução de floresta em decorrência de uma agricultura desenfreada diminui exponencialmente o número de espécies e afeta a dinâmica de comunidades da fauna e flora, comprometendo a regeneração natural e, consequentemente, a sustentação destas florestas. A riqueza de aves encontrada em um ambiente depende do tamanho da vegetação, do estado de conservação do habitat e da distância das fontes de povoamento (Dario; Vincenzo; Almeida, 2002). Quando indagados se houve a redução de alguma atividade da comunidade com a ampliação do projeto de irrigação, cerca de 70% dos entrevistaram responderam que sim, dando destaque para categorias: diminuição do acesso ao local (n=50%) e o Perigo, devido a migração de pessoas

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017 desconhecidas que trabalha no projeto (n=20%). Foi possível observar a que muitos moradores se sentem insatisfeito com a presença de pessoas desconhecida na área, conforme ressaltado por um morador: “Sinto que tiraram nossa segurança, antes podíamos andar por toda a mata sem ter medo, agora com esse povo de fora, ficamos com medo, não deixamos mais nossa criança andar sozinhas”, (Entrevistado 37, T. 83 anos). Em relação a implantação e ampliação do projeto, os entrevistados apontaram que teve aspectos positivos como geração de renda, pois através do empreendimento boa tarde da população consegue suprir suas necessidades básicas. No entanto considerando os aspectos ambientais, os moradores reconhecendo a degradação que esse crescimento ocasiona, como o declínio na quantidade de algumas aves e ausência de outros animais na região. A agricultura irrigada é uma atividade com alto potencial degradador (Santos, 2006). A avaliação dos impactos ambientais desse tipo de empreendimento é essencial para promover o entendimento dos processos de degradação dos recursos naturais, bem como no delineamento de medidas corretivas que permitam suprir as necessidades sociais com o mínimo de danos ambientais (Rodrigues; Irias, 2004). Portanto a expansão e intensificação da agricultura ameaçam alterar ainda mais os ecossistemas (Foley et al., 2005). Uma vez que possuem efeitos negativos em larga escala sobre a biodiversidade em função da perda de habitat e da falta de manejo (Balmford et al., 2012; Geiger et al., 2010; Green et al., 2005). Além disso, tem sido associado à degradação dos serviços ecossistêmicos, como a polinização e controle biológico de pragas, fornecidos pela biodiversidade (Kremen et al., 2007; Tscharntke et al., 2007; Power, 2010) No que se refere a projetos que visam a recuperação ambiental na região, dos 60 moradores entrevistados, 55 citaram não existir nenhum projeto com essa finalidade, desconhecem qualquer trabalhos que visem o desenvolvidos na área, para fins ecológicos e preservacionistas, e que nunca participaram de alguma atividade para fins de preservação do meio ambiente, entretanto, cinco moradores mencionaram trabalhos desenvolvidos na escola como semana do meio ambiente e educação ambiental sobre a fauna em geral. Ao serem questionados se eles realizam alguma atividade para proteger as aves da região, somente 5% responderam que sim, justificando: “Não deixo ninguém em minha casa prender esses animais, então já faço minha parte” (Entrevistado 49, N. 45 anos); “jogo sementes no quintal e eles veem come e depois vão embora, prender eu não deixo” (Entrevistado 31, J. 62 anos).

CONCLUSÕES

Constatou-se que a comunidade km 16 possui conhecimento da avifauna da região, uma vez que foi registrada um número expressivo de citação de aves e outros aspectos como biologia e ecologia foram bem retratados durante a entrevista. Mesmo os moradores reconhecendo a existência do declínio na quantidade de algumas aves, como também a ausência de outras espécies na região principalmente causado pelo desmatamento, eles relatam que a instalação do projeto trouxe vários benefícios, só estão insatisfeitos por conta do aumento de pessoas que migram para a comunidade para se beneficiar do projeto. Diante das informações levantadas neste estudo e considerando que os padrões observados quanto ao impacto do empreendimento sobre as aves, é necessário ampliar os estudos sobre o tema para compreender a relação do uso da agricultura, buscando propor medidas mitigatórias que reduzam o impacto desse projeto sobre as populações de aves ali residentes.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela bolsa do primeiro e segundo autores.

REFERÊNCIAS

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Tabela 1. Classificação das espécies de aves silvestres identificadas como ocorrentes na comunidade quilometro 16, Parnaíba/PI, segundo informantes locais. IUCN/MMA: LC: Pouco preocupante; NA: não ameaçada; VU: Vulnerável; CR: Criticamente ameaçada; N: número de indivíduos. Nome do Táxon Nome em Português Nome vernáculo N

TINAMIFORMES Huxley, 1872 TINAMIDAE Gray, 1840 Crypturellus undulatus (Temminck, 1815) jaó nambu 9 Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) inambu-chororó nambu pé roxo 14 ANSERIFORMES Linnaeus, 1758 ANATIDAE Leach, 1820 ANATINAE Leach, 1820 Anas bahamensis Linnaeus, 1758 marreca toicinho marreca 13 GALLIFORMES Linnaeus, 1758 CRACIDAE Rafinesque, 1815 Penelope superciliaris Temminck, 1815 jacupemba jacu 7 Penelope jacucaca Spix, 1825 jacucaca jacu 21 PELECANIFORMES Sharpe, 1891 ARDEIDAE Leach, 1820 Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) socó-boi socó boi 17 Butorides striata (Linnaeus, 1758) socozinho socó 3 Nycticorax nycticorax (Linnaeus, 1758) socó-dorminhoco dorminhoco 8 Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) garça-vaqueira garça 16 Ardea alba Linnaeus, 1758 garça-branca garça grande 20 CATHARTIFORMES Seebohm, 1890 CATHARTIDAE Lafresnaye, 1839 Cathartes aura (Linnaeus, urubu-de-cabeça- 1758) vermelha Urubu camiranga 23 Cathartes burrovianus Cassin, urubu-de-cabeça- 1845 amarela urubu tinga 3 Coragyps atratus (Bechstein, 1793) urubu urubu 57 ACCIPITRIFORMES Bonaparte, 1831 ACCIPITRIDAE Vigors, 1824 Gampsonyx swainsonii Vigors, 1825 gaviãozinho gavião 6 Heterospizias meridionalis (Latham, 1790) gavião-caboclo caboquinho 19

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Nome do Táxon Nome em Português Nome vernáculo N Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) gavião-carijó carcará 29 GRUIFORMES Bonaparte, 1854 ARAMIDAE Bonaparte, 1852 Aramus guarauna (Linnaeus, 1766) carão carão 3 RALLIDAE Rafinesque, 1815 Aramides cajaneus (Statius Muller, 1776) saracura-três-potes siricora 10 Porphyrio martinicus (Linnaeus, 1766) frango-d'água-azul frango d' gua 7 CHARADRIIFORMES Huxley, 1867 CHARADRII Huxley, 1867 CHARADRIIDAE Leach, 1820 Vanellus chilensis (Molina, 1782) quero-quero tetéu 8 JACANIDAE Chenu & Des Murs, 1854 Jacana jacana (Linnaeus, 1766) jaçanã jaçanã 4 COLUMBIFORMES Latham, 1790 COLUMBIDAE Leach, 1820 Columbina talpacoti (Temminck, 1811) rolinha sangue de boi 53 Columbina squammata (Lesson, 1831) fogo-apagou fogo pagou 61 Columbina picui (Temminck, 1813) rolinha-picui rolinha pequena 54 Columbina passerina (Linnaeus, 1758) rolinha-cinzenta rolinha cinza 21 Columbina minuta (Linnaeus, rolinha-de-asa- 1766) canela copoeirinha / pé de anjo 25 Columba livia Gmelin, 1789 pombo-doméstico pombo 37 Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 juriti-pupu juriti 41 Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) avoante avoante 63 Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792) juriti-de-testa-branca juritizinha 2 CUCULIFORMES Wagler, 1830 CUCULIDAE Leach, 1820 CUCULINAE Leach, 1820 Piaya cayana (Linnaeus, 1766) alma-de-gato alma de gato 14 CROTOPHAGINAE Swainson,

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Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Nome do Táxon Nome em Português Nome vernáculo N 1837 Crotophaga major Gmelin, 1788 anu-coroca gorgoró 13 Crotophaga ani Linnaeus, 1758 anu-preto anu 13 Guira guira (Gmelin, 1788) anu-branco pipirigua 25 STRIGIFORMES Wagler, 1830 STRIGIDAE Leach, 1820 Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) caburé caburé 14 Athene cunicularia (Molina, 1782) coruja-buraqueira coruja 16 NYCTIBIIFORMES Yuri et al 2013 NYCTIBIIDAE Chenu & Des Murs, 1851 Nyctibius griseus (Gmelin, 1789) mãe-da-lua mae da lua 3 APODIFORMES Peters, 1940 TROCHILIDAE Vigors, 1825 TROCHILINAE Vigors, 1825 Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura terourinha 11 Chrysolampis mosquitus (Linnaeus, 1758) beija-flor-vermelho beija flor vermelho 7 Thalurania furcata (Gmelin, beija-flor-tesoura- 1788) verde tesourão 11 Amazilia fimbriata (Gmelin, beija-flor-de- 1788) garganta-verde beija flor 15 TROGONIFORMES A. O. U., 1886 TROGONIDAE Lesson, 1828 Trogon curucui Linnaeus, surucuá-de-barriga- papa lagarta do peito 1766 vermelha vermelho 2 CORACIIFORMES Forbes, 1844 ALCEDINIDAE Rafinesque, 1815 Chloroceryle americana martim-pescador- (Gmelin, 1788) pequeno martinho pescador 3 GALBULIFORMES Fürbringer, 1888 BUCCONIDAE Horsfield, 1821 Nystalus maculatus (Gmelin, rapazinho-dos- 1788) velhos tororo 9 PICIFORMES Meyer & Wolf, 1810 PICIDAE Leach, 1820 Melanerpes candidus (Otto, 1796) pica-pau-branco pica pau branquim 4 Veniliornis passerinus pica-pau-pequeno pinica pau 11

250 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Nome do Táxon Nome em Português Nome vernáculo N (Linnaeus, 1766) FALCONIFORMES Bonaparte, 1831 FALCONIDAE Leach, 1820 Caracara plancus (Miller, 1777) carcará carcará 9 PSITTACIFORMES Wagler, 1830 PSITTACIDAE Rafinesque, 1815 Eupsittula cactorum (Kuhl, periquito-da- 1820) caatinga curica 11 Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) papagaio papagaio 6 PASSERIFORMES Linnaeus, 1758 THAMNOPHILIDAE Swainson, 1824 Taraba major (Vieillot, 1816) choró-boi choró 10 TYRANNIDA Wetmore & Miller, 1926 RHYNCHOCYCLIDAE Berlepsch, 1907 TODIROSTRINAE Tello, Moyle, Marchese & Cracraft, 2009 Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) ferreirinho-relógio sibiti/ sebinho 6 Hemitriccus margaritaceiventer (d'Orbigny & Lafresnaye, sebinho-de-olho-de- 1837) ouro sebim 21 Hemitriccus mirandae (Snethlage, 1925) maria-do-nordeste mariazinha mosca 8 TYRANNIDAE Vigors, 1825 TYRANNINAE Vigors, 1825 Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi bem-te-vi 50 Myiozetetes similis (Spix, bentevizinho-de- 1825) penacho-vermelho bem-te-vi pequeno 7 Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 suiriri severina 1 PASSERI Linnaeus, 1758 CORVIDA Wagler 1830 VIREONIDAE Swainson, 1837 Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) pitiguari bravim 3 PASSERIDA Linnaeus, 1758 POLIOPTILIDAE Baird, 1858 Polioptila plumbea (Gmelin, balança-rabo-de- 1788) chapéu-preto sibite 6 TURDIDAE Rafinesque, 1815 1

251 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Nome do Táxon Nome em Português Nome vernáculo N Turdus rufiventris Vieillot, 1818 sabiá laranjeira/peito sabiá-laranjeira vermelho 11 MIMIDAE Bonaparte, 1853 Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) sabiá-do-campo sabiá da mata 4 ICTERIDAE Vigors, 1825 Procacicus solitarius (Vieillot, iraúna-de-bico- 1816) branco chico preto 12 Icterus pyrrhopterus (Vieillot, 1819) encontro primavera 9 Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) corrupião currupião 8 Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) pássaro-preto pássaro-preto, graúna 5 Cacicus cela (Linnaeus, 1758) xexéu xexeu 19 THRAUPIDAE Cabanis, 1847 Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) cambacica chupa caju 11 Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758) cardeal-do-nordeste galo de campina 35 Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) canário-da-terra canario 7 Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) tiziu titi 3 Sporophila lineola (Linnaeus, 1758) bigodinho bigode 16 Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) baiano bigodim papa capim 19 Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823) coleirinho bigode 8 CARDINALIDAE Ridgway, 1901 Cyanoloxia brissonii (Lichtenstein, 1823) azulão azulão 7 FRINGILIDAE Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) fim-fim vim vim/ fim fim 10 PASSERIDAE Rafinesque, 1815 Passer domesticus (Linnaeus, 1758) pardal pardal 41 TOTAL 75 espécie 1183

252 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Resumos Simples

253 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

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ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

NO RASTRO DA JIBOIA: A CAMINHO DA CONSERVAÇÃO DA FAUNA OFÍDICA POR MEIO DE UM JOGO DIDÁTICO

Aline Wanessa Pinheiro da Silva1,2, Taiane Novaes do Carmo1,2, Thaise Costa Macedo1,2, Sinaida Maria Vasconcelos3, Paulo Henrique Gomes de Castro4, Hilton P. Silva2,5,6

1Mestrandas do Programa de Pós-graduação em Antropologia, Universidade Federal do Pará (UFPA), 2Laboratório de Estudos Bioantropológicos em Saúde e Meio Ambiente, 3Diretora do Centro de Ciências e Planetário do Pará, 4Médico Veterinário e Diretor do Centro Nacional de Primatas, 5Professor Doutor da Universidade Federal do Pará, 6Coordenador do Laboratório de Estudos Bioantropológicos em Saúde e Meio Ambiente. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

A imagem que elaboramos sobre os animais perpassa por uma construção social. As serpentes historica- mente estão presentes no imaginário popular como perigosos e amaldiçoados. Esta aversão resulta do pou- co conhecimento sobre seu nicho ecológico, considerando as influências culturais e as questões estéticas (são considerados "feios", "úmidos", "lisos") que influi em como se estabelece a sua relação com os huma- nos. As serpentes, no entanto, desempenham importante função no sistema natural, atuando como controle biológico de outras espécies, que podem oferecer riscos sanitários e econômicos. Nesta pesquisa-ação o objetivo foi incentivar nos estudantes o exercício de refletir sobre alguns temas apontados na literatura como fundamentais ao trato com as serpentes como, por exemplo: acidentes ofídicos, distinção entre peçonhen- tos e não peçonhentos e, especialmente na região Amazônica, o uso dos recursos faunísticos como ele- mentos de "crença". O público alvo da pesquisa foram alunos do ensino médio de uma escola particular no município de Santa Izabel, no Estado do Pará. Em sala de aula os alunos responderam a um questionário para verificação de suas informações prévias, em seguida realizou-se uma visita ao Sítio Xerimbabo, que apesar de seu caráter comercial também desenvolve práticas de educação ambiental. Na visita, foi realiza- da uma palestra dialogada abordando os temas supramencionados. O sítio configura-se como um espaço de educação informal, uma vez que seus objetivos não estão somente pautados na comercialização legali- zada de animais, mas na disponibilidade de consolidar parcerias para que ensino e práticas conservacionis- tas sejam efetivados. Para a consolidação das informações foi criado o jogo “No Rastro da Jiboia” (esta é a principal espécie comercializada pelo Sítio) em formato de tabuleiro, como um instrumento metodológico pa- radidático, uma vez que é reconhecido que jogos e brincadeiras podem ser importantes ferramentas auxilia- res para o desenvolvimento de conscientização ambiental. Nós constatamos via observação direta resultou em uma mudança de concepção em relação às serpentes e o jogo permitiu avaliar e reforçar a correta assi- milação dos conceitos. O conhecimento ainda é o principal meio para que o equilíbrio e convívio harmônico entre as espécies se estabeleçam, pois não se protege o que não se conhece.

Palavras-chave: Educação Ambiental, jogo, serpentes, etnoherpetologia.

254 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

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ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE COMBATE AO TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES EM ESCOLAS DO INTERIOR NORDESTINO

Ana Letícia Lima da Silva1,*, Isaac Feitosa Araujo1, Dennis Bezerra Correia1, Ricardo Gomes dos Santos Nunes1, Leonides Azevedo Cavalcante1, Whandenson Machado do Nascimento1, Jennifer Katia Rodrigues2.

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Regional do Cariri (URCA), Crato – CE; 2Professor do Curso de Ciências Biológicas, URCA. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

A educação ambiental pode proporcionar a formação de cidadãos críticos e atuantes. Entende-se que a prática da educação ambiental nas escolas é de extrema importância, não somente como um componente curricular ao aluno, mas como um método de transformação, uma vez que os estudantes de hoje serão os futuros adultos da nossa sociedade, possuindo deste modo o poder de molda-la. O presente trabalho levou como objetivo a conscientização dos alunos da rede pública de ensino da cidade do Crato, sul do Ceará. Como ferramentas para a conscientização dos alunos foram realizadas palestras, sendo abordados temas que tiveram como foco, os danos causados pelo tráfico ilegal de animais silvestres à fauna local. Desta forma, tendo o intuito de proporcionar aos educandos a compreensão de tais riscos e norteando os ouvintes de modo a instigar uma mudança futura da atual realidade. Para a obtenção dos resultados foram aplicados questionários antes e após as palestras, para assim compreender o que os educandos já entendiam sobre o assunto e qual mensagem foi captada. Com as palestras expositivas, foi retratada a atual realidade do tráfico de animais no Brasil, para leva-los ao alto questionamento sobre o seu papel nesse movimento, quer seja direta ou indiretamente. Com base na avaliação das respostas dos questionários prévios, observamos que os educandos têm um conhecimento básico sobre o assunto, a ponto de entender que é crime. No entanto, este conhecimento não se encontra de forma aprofundada. Após a aplicação das palestras, a análise das respostas cedidas da segunda aplicação dos questionários, mostrou um novo contexto, em que os alunos entenderam que é possível mudar a atual realidade através da conscientização coletiva, citando alternativas elaboradas para barrar o tráfico ilegal de animais silvestres. Deste modo, conclui-se que os alunos conseguiram aumentar seu campo de percepção e compreender os danos que são causados pelo tráfico ilegal à fauna da região, de tal modo que a palestra instigou o senso crítico dos mesmos, que citaram soluções para contribuir com a mudança na atual sociedade. Assim o presente trabalho mostrou ser de grande importância, na conscientização dos alunos.

Palavras-chave: Construção social, fauna do Cariri, escolas públicas.

255 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

CONHECIMENTO DA AVIFAUNA URBANA POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DE UMA ESCOLA PÚBLICA

Bruna Dias Pontes1* e Victor Leandro-Silva ²,³

1Universidade Federal do Piauí, 2Universidade Federal Rural de Pernambuco, 3Observadores de Aves de Pernambuco,*Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

É de grande importância pedagógica aquilo que o aluno previamente já sabe ou pensa a respeito de determinado assunto, este conhecimento prévio sobre aspectos da natureza pode auxiliar o ensino de ciências praticado na escola, exercendo importante papel na formação do indivíduo. Na busca por uma aprendizagem significativa, os conhecimentos formais sobre qualquer assunto podem se tornar mais expressivos se os alunos puderem compartilhar previamente os seus conhecimentos com o(a) professor(a) e com colegas. Objetivou-se com esse trabalho identificar quais e quantas espécies de aves os alunos conheciam no ambiente urbano. A escola fica localizada na Região Metropolitana do Recife, o trabalho foi realizado no mês de Maio de 2016. Foi aplicado um questionário semiestruturado aos alunos, em 3 turmas do 3º ano do ensino médio, de ambos os sexos e com idade variando entre 15 anos e 19 anos, onde eles respondiam quais espécies de aves eles tinham o conhecimento que vivam na cidade do Recife. Um total de 95 alunos respondeu ao questionário. A partir das informações obtidas foram identificadas 33 espécies de aves. Outras 2 espécies não foram possíveis de identificar através dos nomes mencionados pelos alunos, que foram “joão-pinto” e “macaquinho”, o nome joão-pinto, realmente representa um táxon reconhecido pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), contudo, esta espécie é encontrada no Pantanal e Amazônia (Icterus croconotus (Wagler, 1829)), as espécies estavam dispostas em 3 ordens e em 7 famílias de aves. As aves mais citadas foram “Pombo” com 36 citações, “Gavião” com 35 citações e “Urubu” com 35 citações, que juntos representaram mais de 50% das citações dos alunos. 80% dos alunos conheciam mais de 15 espécies de aves. Alguns nomes não foram possíveis chegar a um nível de identificação de espécie, chegando apenas a um nível taxonômico de família ou gênero. O conhecimento prévio que os alunos demonstraram sobre a diversidade de aves é elevado. Ter ciência desse conhecimento dos alunos possibilita uma ponte de aproximação entre o conhecimento popular e cientifico.

Palavras-Chave: Etnoconhecimento, Cultural, Educação Ambiental

256 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2017: UM MEIO DE SENSIBILIZAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Carlos Augusto Tenório Cândido1,*, Joanna Rayelle Pereira de Lima1, Aline Tenório Cândido2, José Valberto de Oliveira

1Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campus I, Campina Grande – PB; 2Curso de Licenciatura em Geografia, Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campus I, Campina Grande – PB; Professor do Departamento de Biologia da UEPB. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Anualmente, a Igreja Católica por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança uma campanha de conscientização e reflexão sobre temas sociais, eclesiais, políticos, culturais e ambientais sob a ótica filosófica cristã com objetivo de conscientizar os fiéis e a sociedade em geral. "Fraternidade: Biomas brasileiros e defesa da vida" é o tema recorrente da 52ª edição da Campanha da Fraternidade e também o escolhido para ser analisado neste estudo. Objetiva-se neste trabalho, avaliar se o texto base da campanha pode ser um instrumento de conscientização e educação ambiental não formal. Para isso, a metodologia de pesquisa consistiu-se na revisão bibliográfica do texto base da Campanha da Fraternidade de 2017. O do- cumento é organizado em quatro capítulos (sendo apenas os três primeiros de interesse no estudo), o pri- meiro cita a colaboração eclesial aos biomas brasileiros além de apresentá-los na ótica cristã, geográfica, politica, social, histórica e ambiental. No segundo capítulo, a contextualização dos biomas é embasada litur- gicamente com citações bíblicas e de grandes nomes da Igreja. No terceiro capítulo, o mais importante para este estudo, ressalta a obrigação de todos e principalmente dos cristãos em cuidar e preservar a natureza, para isso, o texto sugere algumas ações e práticas de conscientização, preservação, educação e participa- ção popular em defesa do meio ambiente, caracterizando uma poderosa ferramenta de educação ambiental não formal. Logo, a Igreja Católica de abrangência inquestionável no Brasil, por meio da Campanha da Fra- ternidade de 2017, tem um alto potencial de conscientizar boa parte da sociedade sobre a responsabilidade ambiental gerando mudanças de hábitos e promovendo ações práticas para proteção dos biomas do país.

Palavras-chave: Educação ambiental, campanha da fraternidade, biomas.

257 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

IMPLEMENTAÇÃO DE MINI-PROJETOS RELACIONADOS AO MEIO AMBIENTE, DESTACANDO PROBLEMÁTICAS AMBIENTAIS

Eulina da Silva Lima 1,*, Camila Iorrane Costa Santana 1, Cheylla Jayna Silva Nascimento Leite 1, Evellyne de Sousa Oliveira 1, Carolina Pereira Nunes 2

1 Graduandas do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, IFMA – Campus Timon; 2 Professora Mestra do Curso de Ciências Biológicas, IFMA – Campus Timon. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O trabalho trata-se de um relato de experiência que aborda a realização de um projeto intervenção realizado no Centro de Ensino Jacira de Oliveira e Silva, na cidade de Timon – MA, em uma turma de 1º ano do Ensi - no Médio, durante a realização do Estágio Supervisionado III. O projeto se deu devido a necessidade de co - nhecimento acerca de problemáticas ambientais e conscientização a respeito das mesmas. Seguindo esta temática objetivou-se, estimular a atitude de conscientização dos alunos e promover a aprendizagem acerca dos problemas ambientais através de práticas educativas. Foi realizado considerando o conteúdo geral abordado em sala de aula: Ecologia. O qual apresenta diversos vieses que podem ser trabalhados, sendo considerado neste projeto o fator ação do homem no meio ambiente. Tendo em vista a participação coletiva dos alunos, inicialmente os mesmos foram divididos em 4 equipes, as quais foram responsáveis por realizar um mini projeto acerca de um determinado problema ambiental pré-estabelecido. A escolha dos mini proje- tos para cada equipe foi feita através de sorteio, sendo eles: I- Tratamento de água, II- Desperdício de água no ambiente escolar, III- Efeito estufa e IV- Reciclagem. Os resultados obtidos foram consideramos positi- vos, tendo em vista que todos os 4 mini projetos foram desenvolvidos no prazo estabelecido. Porém, faltou criatividade e interesse por parte dos alunos. Durante a primeira etapa do projeto onde o mesmo foi apre- sentado aos estudantes, várias ideias foram colocadas em questão para o melhor desenvolvimento de cada projeto, além das ideias iniciais disponibilizadas. O que foi perceptível foi que os alunos ficaram presos ao projeto entregue a eles já elaborado como base para seu desenvolvimento. Tal dificuldade encontrada pelos alunos, segundo a professora de Biologia que acompanhou o estágio, se deu por desinteresse dos alunos. Contudo houve enriquecimento multo, pois alunos puderam adquirir novos conhecimentos através da práti- ca com a execução dos mini projetos e os professores envolvidos conhecerem novas metodologias que po- dem ser utilizadas em sala de aula.

Palavras-chave: Problemáticas ambientais, práticas educativas, meio ambiente.

258 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: NARRATIVA DE EXPERIÊNCIA NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO

Eulina da Silva Lima 1,*, Camila Iorrane Costa Santana 1, Cheylla Jayna Silva Nascimento Leite 1, Evellyne de Sousa Oliveira 1, Carolina Pereira Nunes 2

1 Graduandas do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, IFMA – Campus Timon; 2 Professora Mestra do Curso de Ciências Biológicas, IFMA – Campus Timon. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O artigo trata-se de um relato de experiência que apresenta um projeto sobre Educação Ambiental realizado na disciplina Estágio Supervisionado III do curso Licenciatura em Ciências Biológicas- IFMA- Campus Timon, no período de abril a maio de 2017, no Centro de Ensino Anna Bernardes, em Timon- MA, com jovens do Ensino Médio. O projeto intitulado “Reciclando e Reutilizando hoje, Utilizando amanhã”, tinha o objetivo de estimular a criatividade para a transformação do lixo em objetos úteis, despertando nos alunos a conscientização e a sensibilização em relação ao destino do lixo. Foi realizado debates sobre ações relacionadas à diminuição do lixo no qual questionou-se aos alunos sobre as consequências do lixo jogado em locais indevidos e sugeriu-se a confecção de materiais reciclados e reutilizados. Na confecção destes materiais utilizou-se papéis variados, cola, tesoura, revistas, jornais, livros, giz de cera, lápis de cor, tintas, garrafa pet, caixa de papelão, CD, palito de picolé, tampinha de refrigerante, enfim, tudo o que poderia ser reaproveitado. Os alunos confeccionaram os materiais reciclados e reutilizados e exporão no pátio da escola. Além destes, foram expostos materiais informativos relacionados ao tema lixo. O projeto foi relevante para a escola, pois os alunos refletiram sobre a localidade em que vivem e se sensibilizaram em relação ao destino do lixo e os malefícios que este causa a população e ao meio ambiente.

Palavras-chave: Educação Ambiental, sensibilização, materiais reciclados.

259 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PERCEPÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE OS ANUROS EM UMA COMUNIDADE NO SUL DO PIAUÍ, BRASIL

Gisele do Lago Santana1*, Davi Lima Pantoja2

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Professora Cinobelina Elvas (CPCE), Bom Jesus – PI; 2Professor do Curso de Ciências Biológicas, UFPI, CPCE. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

As populações humanas estão frequentemente em contato com os anfíbios anuros, mas muitas vezes reagem de forma repulsiva. A partir desta constatação buscou-se avaliar a percepção de estudantes do Ensino Fundamental sobre estes animais, assim como contribuir para a conservação dos anfíbios através de práticas educativas. A pesquisa está sendo realizada na Escola Municipal José Francisco Santana, localizada na comunidade Brejo da Conceição, zona rural do município de Currais, Piauí, tendo como público-alvo 26 estudantes distribuídos nas séries de 5ª, 6ª e 7ª, com idades entre 11 e 18 anos. A percepção dos estudantes foi avaliada por meio da aplicação de questionários, abordando conhecimentos gerais a respeito dos anfíbios anuros, e reações causadas nas pessoas, atitudes, opiniões e possíveis crenças. Inicialmente, observou-se muita dificuldade dos estudantes em responder as questões sobre os conhecimentos gerais. Quando questionados se gostavam de sapos, rãs e pererecas a maioria disse não gostar, sob as seguintes alegações: “são nojentos, feios, maléficos, seu xixi pode cegar, muitos são venenosos e trazem doenças sem cura. Apenas, dois estudantes disseram que talvez gostam porque esses bichos lhes chamam atenção, tendo sido considerados como inofensivos. Ao serem questionados sobre suas atitudes diante dos anuros a maioria assinalou a alternativa “jogar sal e empurrar com a vassoura para afastar”, sendo que apenas dois estudantes disseram não fazer nada com o bicho. Em relação à pergunta que aborda a importância dos anfíbios para a natureza, nove estudantes apresentaram respostas positivas, afirmando que os anfíbios “nos protegem de insetos, fazem bem para a natureza, e consomem outros animais perigosos, entre outros”. Três estudantes não reconheceram a importância dos anfíbios, respondendo que “são nojentos e não fazem bem pra natureza, e causam problema na natureza comendo outros insetos”. Quatorze estudantes disseram não saber responder. A partir dos resultados preliminares obtidos, percebe-se a importância deste trabalho para que os estudantes venham a adquirir conhecimento sobre os anfíbios, na expectativa de que o conhecimento passado aos estudantes possa ser a base transformadora para uma melhor relação com os anfíbios anuros.

Palavras-chave: Ensino Fundamental, anfíbios, atitudes.

260 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

USO DE MAPAS MENTAIS DE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE AS ARANHAS NO DELTA DO PARNAÍBA, MUNICÍPIO DE ILHA GRANDE, PIAUÍ, BRASIL

José Alex da Silva Cunha1 *, Roseli Farias Melo de Barros2

1Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Teresina – PI. 2Professora da Universidade Federal do Piauí, UFPI, departamento de Biologia, Teresina-PI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

O estudo da percepção ambiental serve de base para a melhor compreensão das inter-relações entre o homem e o ambiente. Pesquisas envolvendo a percepção ambiental apresentam diversas abordagens metodológicas, dentre estas o uso de mapas mentais. O presente trabalho tem como objetivo verificar quais relações perceptivas os estudantes do ensino fundamental da Escola Municipal Dom Paulo Hipólito de Souza Liborino no município de Ilha Grande - PI, possuem em relação às aranhas. A amostragem ocorreu no mês de junho de 2017 sendo entregue a cada aluno uma folha de papel A4 com o seguinte comando: Faça um desenho sobre aranha no Delta. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CEP (CAAE 70052017.1.0000.5214). Participaram 14 alunos do 5º ano, 12 alunos do 6º ano e 13 alunos do 7º ano, perfazendo um total de 39 alunos amostrados. Após a triagem, as ilustrações foram agrupadas em três categorias: aranha mais natureza (56,4%), aranha apenas (28,2%) e aranha e outros (15,4%). A categoria aranha mais natureza foi subdividida gerando respostas diferentes para a interpretação, sendo estas: aranha em comportamento alimentar, e aranha em seu habitat (igarapés, manguezais, carnaubais e dunas de areia). As ilustrações referentes a aranha apenas, estão ligadas à maior facilidade em desenhar apenas o animal sozinho, sem detalhes de contextualização. No entanto, ficou claro o conhecimento dos alunos acerca do modo de vida das aranhas, gerando respostas diferentes para a interpretação dos desenhos sendo encontrado aranhas cursoriais e tecedoras. Já em relação a categoria aranha e outros, foram geradas interpretações relacionadas com: aranha e homem sem expressão, em que apenas foram desenhados o homem e aranha na natureza sem nenhum tipo de interação, e aranha e homem com modificação do meio, cuja a presença de (barco, casa, igreja, pessoas e aerogeradores de usina eólica) destacando aqui a importância da relação de antropização com a natureza. A maioria dos estudantes percebem as aranhas através de uma visão naturalista como peça importante da fauna local, destacando aspectos de interação com a biodiversidade. Por outro lado, foi destacada a presença de intervenções humanas nas áreas de ocorrência.

Palavras-chave: Conservação, percepção, educação ambiental.

261 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

A FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PRÁTICA DE PROMOÇÃO DA ECOPERCEPÇÃO

Lara Matias Freitas 1,2,*, Mychelle de Sousa Fernandes1,2, Elayne Bezerra Ribeiro 1,2, Francisca Neiliane Bezerra 3,4.

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Faculdade de Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), Universidade Estadual do Ceará (UECE), Iguatu-CE; 2Projeto de Extensão “Resgate Histórico e Socioambiental dos Ecossistemas Lacustres de Iguatu-CE”- Iguatu-CE; 3Professora do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, FECLI-UECEI; 4Coordenadora do Projeto de Extensão “Resgate Histórico e Socioambiental dos Ecossistemas Lacustres de Iguatu- CE”. * Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O meio ambiente tem seu espaço comprimido pelo processo de urbanização, tornando um sistema insustentável e distanciando o homem de seu convívio direto. Dessa forma, atitudes e ações que promovam a aproximação e vinculação do homem ao restante da natureza se faz necessário, principalmente no meio escolar, visto o alcance que tem aos disseminadores, além de compor a formação cidadã dos estudantes. Nessa vertente, a Educação Ambiental vem sendo trabalhada através de ações do projeto “Resgate histórico e socioambiental dos ecossistemas lacustres de Iguatu-CE”, cidade localizada a 380 km da capital cearense, conhecida pela grande quantidade de lagoas. Para tanto, objetivou-se neste trabalho analisar a aplicabilidade da formação executada em educação ambiental, como propulsora da ecopercepção e mudança de atitudes. A formação foi realizada no SESC da cidade, a equipe do projeto executou uma formação com seus professores, buscando a ecopercepção dos mesmos para posteriormente ser passada aos seus alunos. O conteúdo da formação foi dividido em quatro eixos temáticos: Recursos Hídricos, Resíduos Sólidos, Biodiversidade e Mudanças Climáticas, os quais foram relacionados ao cotidiano e realidade local, com propostas de atividades práticas/lúdicas a serem reproduzidas em salas de aula. Em relação ao primeiro eixo foram propostas atividades de trilhas nos mananciais hídricos da cidade, adaptações de instalações com reuso de água e captação de água de chuva; Sobre a temática do lixo, foi proposta a implantação da coleta seletiva, bem como a comercialização de produtos, além da oficina de produção de papel reciclado; Em relação à biodiversidade, foi idealizado passeio fotográfico e plantio de mudas nativas. No último eixo foi abordado a questão da influência antrópica no clima, bem como as previsões, cientificidade e saber popular. A atividade logrou êxito no posicionamento dos professores espectadores, que apontaram, em suas intervenções, a reflexão sobre suas ações, além de despertar nos mesmos a preocupação com as problemáticas ambientais e o planejamento de ações efetivas para mudanças de atitude. Vale ressaltar a assiduidade e troca de experiências em relação às atividades, o que suscitou planos suplementares e subjetivos para execução da educação ambiental nesse âmbito escolar.

Palavras-chave: professores; meio ambiente; problemas ambientais.

Suporte financeiro: PROEX- UECE

262 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

EDUCAÇÃO ESCOLAR E A ETNOICTIOLOGIA: SABERES TRADICIONAIS COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Marcela Eringe Mafort1,*, Marcelo Nocelle de Almeida2

1Mestrado em Ensino, Instituto do Noroeste Fluminense de Educação Superior; Universidade Federal Fluminense; *Autor para correspondência, e-mail: [email protected] 2Departamento de Ciências Exatas, Biológicas e da Terra, Instituto do Noroeste Fluminense de Educação Superior, Universidade Federal Fluminense, e-mail: [email protected]

RESUMO

O conhecimento dos ecossistemas locais pelas comunidades se faz necessário na atual sociedade, uma vez que vivemos um momento em que os recursos naturais são utilizados de forma inadequada causando danos irreparáveis para os diversos ambientes. Entender as relações entre o homem e o ambiente, a etnobiologia, é o primeiro passo para que possamos preservar e conservar o meio que estão inseridos. Sendo assim, valorizar os conhecimentos de determinada região e estimular sua disseminação para toda comunidade torna-se uma ferramenta de preservação e conservação imprescindível. Esse trabalho objetivou conhecer a etnoictiologia de alunos do segundo segmento do ensino fundamental da Escola Estadual São José, localizada em Cisneiros, distrito do município de Palma/MG. Os dados foram obtidos entre março e junho de 2017, por meio da evocação livre de palavras (ELP), uma aula passeio ao Projeto Piabanha e rodas de conversa. Foram evocadas 23 espécies de peixe, que segundo os alunos, ocorrem no rio Pomba. As espécies mais evocadas foram Carpa (36), dourado (19) e tilápia (18). Essas espécies foram evocadas por possuírem valor comercial, e são as principais capturadas por pescadores profissionais e artesanais. Durante a aula passeio foram apresentados aos educandos a Piabanha (Brycon insignis) e o Surubim-do-Paraíba (Steindachneridion parahybae) ambas espécies praticamente extintas do ambiente, foram discutidos também os ciclos de vida, alimentação e período de defeso, para que os mesmos pudessem ser disseminadores destes conhecimentos para a comunidade onde moram. Nas rodas de conversas os alunos mencionaram que desconheciam a existência das espécies ameaçadas de extinção demostradas na aula passeio, assim como as consequências para o ambiente de introduções de espécies exóticas, uma vez que as espécies mais evocadas são todas introduzidas naquele ambiente. Entender que a ciência começa com o olhar do indivíduo sobre o meio e suas reflexões, implica em dizer que o estudo científico vai muito além de somente métodos de investigações e questionamentos, principalmente quando falamos de ecologia, preservação e conservação, torna-se imprescindível entender e mesclar os saberes tradicionais com os conhecimentos adquiridos pela comunidade científica para que possamos traçar alternativas que visem conscientizar e amenizar os danos causados pelo homem a natureza.

Palavras-chave: Etnoictiologia, saberes tradicionais, conservação.

263 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) NA UNIDADE ESCOLAR TEREZINHA NUNES, PICOS-PI

Maria Auricélia Cardoso de Moura¹*, Laísa Maria de Resende Castro².

1Curso de graduação Licenciatura em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Senador Hélvideo Nunes de Barros-(CSHNB), Picos-PI; Cursando Especialização em Educação e Gestão Ambiental pela Universidade Estadual do Piauí-(UESPI); ²Curso de graduação em Licenciatura em Ciências biológicas pelo Instituto Federal do Piauí –(IFPI) E Mestre em Botânica pela Universidade Federal de Viçosa. email: [email protected]

RESUMO

A educação ambiental é importante na transformação da sociedade, na construção do inter-relacionamento do homem e a natureza. Visando a problemática meio ambiente, e seus desafios, este trabalho buscou analisar a percepção ambiental dos alunos assíduos do (Ensino Fundamental e Médio) da Educação de Jovens e Adultos da Unidade Escolar Terezinha Nunes, através de questionário semiestruturado aplicado no mês de novembro 2014. Observou-se na pesquisa que 24% dos discentes conceituam meio ambiente inadequado, 28,5% conceitua apropriado, e 46% discorrem harmonizados, porém, veem o meio ambiente como algo distante. Quanto à temática lixo os participantes lembram 68,5% de doenças, 23% limpeza, 68,5% desequilíbrio ambiental 17% equilíbrio ambiental, e 20% preservação. Corroborando com Ribeiro et.al. (2010), o lixo desprezado inadequado contamina o solo, rios e lençóis freáticos, facilitando a proliferação de parasitas e doenças. Quanto às disciplinas que aborda educação ambiental em sala de aula 23% Ciências, 17% Geografia e 2% História. Estas abordam as temáticas regionais 77% rio seco, 80% poluição do ar, 8,50% mineração, 85% deficiência na rede de esgoto, 40% barulho, 51% desmatamento, 71% queimadas, 28% enchentes e 2,85% nenhum, 8,50% urbanização, 11,50% outros. Questionou algum método praticado para minimizar os impactos ambientais, quais. A maioria (97%), afirmaram que (sim), citaram o tratamento da água, enfatizando a sua importância para os seres vivos no semiárido, e principalmente para a cidade de Picos. As temáticas que despertam interesses aos discentes são 31,50% animais, 26% vegetação, 57% água, 17% solo, 28,50% ar, 26% camada de ozônio, 6% todos. 80% dos participantes incomodam com o descarte incorreto do lixo, 63% com a poluição das águas. Desta forma, percebe-se a sensibilização dos alunos com as temáticas ambientais no cotidiano, seus problemas e impactos causados pela ação do homem como as queimadas. Braga et al. (2003) ressalta a necessidade da educação permanente, a partir de ações, para sensibilizar os indivíduos sobre as boas práticas na formação de uma nova sociedade consciente, e que podemos modificar o destino dos problemas globais que assolam o planeta, sendo a água uma questão primordial, portanto a educação e sensibilização da sociedade é primordial para promovermos um ambiente sustentável.

Palavra-chave: Educação Ambiental, discentes, sustentável, desequilíbrio.

264 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL CATEGORY: ENVIRONMENTAL EDUCATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PERCEPÇÃO AMBIENTAL: O QUE PENSAM OS MORADORES LOCAIS SOBRE O RIO JAGUARIBE NO MUNICÍPIO DE IGUATU, CEARÁ

Marlos Dellan de Souza Almeida1,4,*, Juan Carlos Ferreira Paulino1,2, João Neto da Silva1,3, Elayne Bezerra Ribeiro1, Marcos Vinicius Ribeiro Bezerra1, Ana Carolina Sabino de Oliveira1,5, Liana Mara Mendes de Sena6

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), campus da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Iguatu – CE; 2Bolsista de Monitoria Acadêmica, UECE, PROMAC; 3Bolsista de Extensão Universitária UECE PROEX; 4Bolsista de Iniciação Científica PIBIC-CNPq, UECE; 5Bolsista de Iniciação à Docência PIBID–UECE; 6Doutoranda da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Nas últimas décadas vem crescendo a quantidade de pessoas morando próximo a rios, graças a expansão urbana e ocupação irregular de áreas naturais. No entanto, algumas famílias se estabeleceram há décadas próximas a esses mananciais, usando dos recursos naturais para sobrevivência e renda. O objetivo dessa pesquisa foi entender a percepção ambiental sobre a importância do Rio Jaguaribe para os moradores locais da zona urbana da cidade de Iguatu, Ceará. Foi aplicado um questionário estruturado com perguntas sobre a importância do Rio e o conhecimento sobre a água de uso doméstico. Foram entrevistadas 106 pessoas, sendo 63,2% mulheres e 35,8% homens, com idade entre 12 a 86 anos. Nos dados apresentados, 59,43% dos entrevistados disseram que o Rio Jaguaribe atualmente não possui nenhuma importância, pois está sujo e cheio de lixo, 29,96% disseram que o Rio é importante para lavar roupas e utensílios domésticos, 7,54% não souberam ou não responderam e 3,77% dos entrevistados citam que o Rio serve para a criação de animais. Sobre a pergunta de onde vem a água que se utiliza em casa, 50% do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), 34% disseram que a água vem do Açude Trussu, 12,3% de outro lugar e 5,7% da CAGECE. A maioria dessa população não reconhece o Rio como importante e uma pequena parte diz servir na criação de animais e uso doméstico. Um Rio devidamente protegido e com sua mata ciliar preservada torna-se um recanto para várias espécies nativas da fauna e flora da caatinga, além de ser fonte de sobrevivência e renda. Nas respostas não foram citados aspectos históricos, ecológicos, econômicos ou até mesmo afetivos. Diante do exposto, percebe-se que a não atribuição de valores de importância ao Rio, por parte dos moradores das margens, vem a ser um dos fatores que contribuem para a sua degradação. Dessa forma, se viu a necessidade de ser implementado e se intensificar ações de Educação Ambiental visando a tomada de consciência dos moradores das margens sobre a importância ambiental e preservação do rio Jaguaribe.

Palavras-chave (Keywords, if english; Palabras-clave, si español): Conservação, Mata Ciliar, degradação.

265 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBIOLOGIA HISTÓRICA CATEGORY: HISTORICAL ETHNOBIOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

REVISÃO DE ESTUDOS ETNOBIOLÓGICOS NUMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NO NORDESTE BRASILEIRO

Dennis Bezerra Correia1,*, Denise Bezerra Correia2, Ana Letícia Lima da Silva1, Whandenson Machado do Nascimento2, Hemerson Soares Landim3, Allysson Pontes Pinheiro4

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus Pimenta, Crato – CE; 2Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus Pimenta, Crato – CE; 3Mestre em Bioprospecção Molecular, Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus Pimenta, Crato – CE; 4Professor do Curso de Ciências Biológicas, URCA; 4Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC/URCA, Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus Pimenta, Crato – CE; *Autor para correspondência, e- mail: [email protected]

RESUMO

A etnobiologia é definida como o estudo do conhecimento e das conceituações desempenhadas e desenvolvidas por populações tradicionais, estando relacionada direta e indiretamente com a ecologia humana. A Área de Proteção Ambiental Chapada do Araripe, criada em 1997 circunda a Floresta Nacional do Araripe-Apodi, abrangendo territórios de 33 municípios dos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí Nordeste do Brasil. A ideia geral do trabalho foi reunir a produção científica voltada aos estudos etnobiológicos nesta Unidade de Conservação no período entre 1997 e 2017. Para realização do presente trabalho, tomou-se como fonte a base de dados Google Scholar. A pesquisa incluiu as seguintes palavras- chave conjugadas: “Etnobiologia+Apa Araripe”, “Etno+Apa Araripe”, “Etnobiologia+Chapada do Araripe”. Obteve-se 28 trabalhos distribuídos nas seguintes áreas: Etnobotânica (7), Etnoconservação (1), Etnoecologia (3), Etnofarmacologia (7), Etnoherpetologia (2), Etnomastozoologia (3) e Etnoornitologia (5). Pôde-se constatar que as áreas de Etnobotânica e Etnofarmacologia foram as mais representativas (50% dos trabalhos), devido, possivelmente, aos seus valores comercial e econômico, como a produção e patenteamento de novos fármacos pelas indústrias farmacêuticas e em especial pelos estudos de prospecção molecular das Universidades que circundam a Unidade de Conservação. Dessa forma fica clara a necessidade desses trabalhos dentro da UC, uma vez que é feito o levantamento do uso etnobiológico por comunidades tradicionais e o órgão responsável por geri-la (ICMBio) pode melhor trabalhar estratégias de conservação e educação ambiental, assim como avaliar com mais rigorosidade possíveis empreendimentos próximos aos locais de valor econômico para essas populações. É evidente a necessidade de buscas do estado atual do conhecimento etnobiológico para que pesquisas futuras na Unidade possam ter suas autorizações bem delimitadas, aumentando a eficiência de estratégias de uso e consumo sustentável.

Palavras-chave : Etnobiologia, APA Chapada do Araripe, FLONA do Araripe-Apodi.

Suporte Financeiro: PIBIC/URCA

266 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBIOLOGIA HISTÓRICA CATEGORY: HISTORICAL ETHNOBIOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ESTUDOS ETNOBIOLÓGICOS COM PESCADORES ARTESANAIS REALIZADOS NO PIAUÍ

Leidimar Lustosa Alves Feitosa1 *, Zafira da Silva de Almeida2

1Bióloga. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ambiente e Saúde, Universidade Estadual do Maranhão, Centro de Estudos Superiores de Caxias – CESC/UEMA; 2Departamento de Química e Biologia, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, Cidade Universitária Paulo VI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

No Brasil várias pesquisas etnobiológicas têm se destinado a evidenciar o conhecimento que populações tradicionais possuem a respeito do ambiente em que vivem, mais notadamente estudos que abordam o conhecimento tradicional de pescadores artesanais têm experimentado um crescimento bastante significativo, em razão da significância do saber que essas populações possuem dos recursos ambientais. Dessa forma, este estudo objetivou elencar e analisar estudos etnobiológicos desenvolvidos com pescadores artesanais no Estado do Piauí, evidenciando aspectos significativos como campos de conhecimento, áreas de estudo, metodologias e contribuições. Os trabalhos foram selecionados a partir do banco de dados do Google e Google Acadêmico utilizando combinações de palavras e o nome do Estado em estudo. Os resultados evidenciam um total de 8 estudos publicados entre 2007 e 2016, desenvolvidos em cinco cidades, a saber: Miguel Alves, Teresina, União, Cajueiro da Praia e Ilha Grande, com cinco (62,5%) trabalhos desenvolvidos nas duas últimas. Cajueiro da Praia e Ilha Grande situam-se na pequena faixa litorânea piauiense, onde vivem comunidades de pescadores, o que justificaria o maior interesse na área. As temáticas foram semelhantes às abordadas nas demais regiões brasileiras destacando-se o conhecimento etnozoológico de peixes (n=7; 87,5%) e moluscos (n=4; 50%) e o etnobotânico das espécies úteis (n=3; 37,5%), incluindo as que são utilizadas na construção e reparo de embarcações, observando ainda, o interesse na diversidade cultural, socioeconômica e religiosas desses povos. Mais de um método etnobiológico de pesquisa foi empregado em cinco (62,5%) estudos, destacando-se a entrevista semiestruturada aliada ao Bola de Neve, observação, registro fotográfico e diário de campo, métodos estes também utilizados em estudos desenvolvidos nas demais regiões brasileiras. No geral, essas pesquisas justificavam-se por considerarem que o registro do saber tradicional auxilia na preservação e conservação dos recursos naturais, contribuindo para o desenvolvimento sustentável, valorização da biodiversidade e da cultura tradicional desses povos. Diante dos estudos analisados, percebeu-se que o Estado do Piauí também tem contribuído para o aumento das pesquisas etnobiológicas desenvolvidas no Nordeste.

Palavras-chave: Estudos etnobiológicas, pescador artesanal, Piauí.

Apoio: UEMA

267 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÃNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

ESTUDO SOBRE A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO DAS PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NAS FEIRAS LIVRES DA CIDADE DE CRATO-CE

Ana Letícia Lima da silva1,*; Yedda Maria Lobo Soares de Matos2.

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Regional do Cariri(URCA), Crato – CE; 2Professor do Curso de Ciências Biológicas. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Feiras livres municipais são locais onde comumente se observa a comercialização de plantas para fins medicinais. Nesses locais, os vendedores que as comercializam apresentam conhecimentos populares sobre a sua utilização no tratamento de várias doenças. Conhecimentos estes, que são passados de geração a geração, se tornando parte da própria identidade dos comerciantes. Muitas vezes, como o sistema de saúde pública não abrange amplamente todas as comunidades de baixa renda, os conhecimentos populares sobre as plantas medicinais são amplamente utilizados como ferramentas complementares, pois nas plantas são encontradas alternativas para diversos problemas de saúde. O objetivo da pesquisa foi realizar um levantamento preliminar das plantas comercializadas para fins terapêuticos nas feiras livres de Crato, Ce. As informações foram coletadas entre 2016 e o primeiro semestre de 2017, através de entrevistas semiestruturadas utilizando-se de um formulário para anotações, onde foram coletados dados dos nomes populares das plantas e a indicação de uso. Foi obtido como resultado, a identificação de mais de 30 plantas medicinais, sendo as principais plantas medicinais utilizadas, pertencentes em sua maioria às famílias Anacardeaceae e Fabaceae, dentre as quais estão Ameixa, Alecrim, Caju, Jatobá, Janaguba, Aroeira, Imburana de Cheiro, Quina-quina, Unha de gato e Jurema preta, todas pertencentes à flora da Chapada do Araripe. Um exemplo é a Janaguba – Himatanthus drasticus (Mart) Plumel, da Família Apocynaceae, indicada como laxativo, no combate ao câncer, tratamento de tumores, furúnculos, edemas, artrite e vermífugo. Mostrando assim, a riqueza da cultura popular sobre o conhecimento e uso de plantas medicinais, principalmente da flora local, que todos os moradores do sopé da Chapada do Araripe têm acesso e que posteriormente podem ser estudadas para comprovação da eficácia sobre os tratamentos indicados.

Palavras-chave: Etnobiologia, conhecimento popular, Chapada do Araripe.

268 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÃNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

USO POPULAR DE ESPÉCIES MEDICINAIS DA FAMILIA CONVOLVULACEAE NO NORDESTE DO BRASIL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Ariane Rayara de Sousa Mineiro¹, Daniela Aguiar Santos¹*, Micheli Veras dos Santos¹, Tais do Nascimento Lima¹, Irlaine Rodrigues Vieira², Ivanilza Moreira de Andrade³.

1 Estudante do curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, Av. São Sebastião, 2819, Campus Ministro Reis Velloso CEP 64202-020, Parnaíba, Piauí, Brasil. UFPI; 2Bióloga, Campus, Ministro Reis Velloso, doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), UFPI, 3Teresina,Docente do curso em Ciências biológicas, UFPI, Campus Ministro Reis Velloso. *Autor da correspondência: [email protected]

RESUMO

A etnobotânica é uma importante linha de pesquisa que esclarece a relação entre o homem e as diversas utilidades dos recursos vegetais, como os usos madeireiros, nos rituais religiosos, ornamentação e finalidade medicinal. Este conhecimento é transmitido oralmente, geralmente pelas pessoas mais velhas, mas vem se perdendo devido ao desinteresse dos mais jovens. Na família Convolvulaceae há diversas espécies com importância alimentícia, ornamental, e medicinal, revelando a necessidade de registros etnobotânicos para esta família. Objetivou-se realizar o levantamento bibliográfico das espécies de Convolvulaceae utilizadas na medicina popular Nordestina brasileira. Buscaram-se pesquisas científicas no Google acadêmico, utilizando-se as palavras chaves “Convolvulaceae” + “Uso medicinal” + “Nordeste”. Os dados foram avaliados quanto aos estados do Nordeste onde foram realizadas as pesquisas, espécies, parte da planta utilizada e indicações de uso. Foram registrados 23 estudos, abrangendo os Estados do Piauí (nove), Paraíba (quatro), Maranhão (três), Rio Grande do Norte (três), Pernambuco (dois), Bahia (um) e Ceará (um). São citadas 17 espécies, distribuídas em seis gêneros. Ipomoea asarifolia (Desr.) Roem & Schult., I. batatas (L.) Lam. e Operculina macrocarpa (L.) Urb. destacaram-se como espécies com maior número de citações, sete, oito e 11, respectivamente. As folhas e raízes são as partes mais utilizadas. Dentre as 49 categorias de indicações de uso, as mais citadas estão relacionadas ao tratamento de enfermidades no sistema digestivo e respiratório. Conclui-se que a família Convolvulaceae no Nordeste brasileiro é utilizada para fins fitoterápicos na medicina popular, ressaltando a necessidade de estudos bioquímicos das espécies Ipomoea asarifolia (Desr.) Roem & Schult., I. batatas (L.) Lam. e Operculina macrocarpa (L.) Urb. com relação as suas propriedades fitoterápicas.

Palavras-chave: conhecimento tradicional, cultura, fitoterapia.

Suporte financeiro: financiamento próprio.

269 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

CHÁS DO CERRADO: ESPÉCIES MEDICINAIS UTILIZADAS PARA CHÁ EM DE UMA COMUNIDADE NA REGIÃO SETENTRIONAL DO ESTADO DO PIAUÍ

Arianny Bélis da Silva 1,, Tony César de Sousa Oliveira,2,*, Vanessa Fernanda da Silva Sousa2, Beatriz da Silva Rodrigues, 3, Ruth Raquel Soares de Farias4, Ivanilza Moreira de Andrade5 Antônio Alberto Jorge Farias Castro6

1 Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI ; 2Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 3 Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 4Laboratório de Fitossociologia 5 Professora do Departamento de Ciências do Mar da UFPI, CMRV 6 Professor do Departamento de Biologia da UFPI, CMPP; *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e possui uma ampla diversidade florística, incluindo espécies com propriedades medicinais. Em estudos etnobotânicos no Brasil, o chá é a principal forma de uso dessas espécies no tratamento terapêutico comunidades locais. Baseado nisso, objetivou-se neste estudo identificar as espécies vegetais com potencial medicinal e suas formas de preparo por uma comunidade na parte setentrional do estado do Piauí. O estudo foi realizado no povoado Lagoa de Barro, Castelo do Piauí – PI. A coleta aconteceu mediante um questionário semiestruturado. O índice do Valor de Uso (VU) foi utilizado para determinar a importância relativa das espécies. Foram analisadas também a forma como as espécies são manuseadas pela população no preparo dos chás. O trabalho foi aprovado pelo comitê de ética da UFPI-CMPP (CAAE 66578317.4.0000.5214). Os 18 entrevistados indicaram oito espécies com propriedades medicinal utilizadas para chás, são elas: Terminalia fagifolia Mart (VU 0.83), Krameria tomentosa A.St.-Hil (VU 0.66), Myracrodruon urundeuva Allemão(VU 0.66), Copaifera elliptica Mart (VU 0.5), Combretum mellifluum Eichler (VU 0.5), Hymenaea tigonocarpa Mart. ex Hayne (VU 0.33), Psidium myrsinites DC (VU 0.16) e Bowdichia virgilioides Kunth (VU 0.16). As formas de preparo dos chás utilizadas foram, decocção (59 citações) e a infusão (32 citações). Quanto às partes das plantas mais utilizadas pela comunidade, destacam-se as folhas com 62 citações, também utilizam-se raízes (25 citações), cascas (15 citações) e entrecascas (2 citações). Entende-se, que o amplo conhecimento sobre as plantas utilizadas pelos moradores dessa comunidade dar-se através da necessidade de uma medicina alternativa, talvez pela falta de recursos e acessibilidade ao Sistema Básico de Saúde e também à propagação do conhecimento entre a família e comunidade. Estudos podem ser desenvolvidos com essa população na perspectiva conservacionista dessas espécies medicinais.

Palavras-chave: Cerrado, conhecimento, medicina popular.

Suporte financeiro: CAPES

270 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS DA CAATINGA UTILIZADAS NO TRATAMENTO SINTOMÁTICO DE ACIDENTES COM ESCORPIÕES NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DA TAPERA– AL

Aytana Vasconcelos dos Santos¹,4*; Solma Lúcia Souto Maior de Araújo Baltar²,6; Eduardo Otavio Silva¹,5; Cledson dos Santos Magalhães³,6.

¹ Curso de Licenciatura Ciências Biológicas – Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Campus Arapiraca- AL; ²Professora do Curso de Ciências Biológicas – Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Campus Arapiraca- AL; ³ Licenciado em Ciências Biológicas – Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Campus Arapiraca- AL; 4 Bolsista PIBIC- UFAL; 5Bolsista PIBIC-CNPq; 6 Núcleo de Estudos Etnobotânicos e Ecológicos-NEEE; *Autor para correspondência, e- mail: [email protected]

RESUMO

No sertão alagoano, os acidentes causados por escorpiões se constituem num sério problema de Saúde Pública podendo resultar em sequelas, caso a vítima não seja socorrida a tempo. As picadas de escorpião são tratadas com preparos caseiros, feitos com plantas medicinais regionais e esta prática é utilizada pela população como alternativa complementar a soroterapia tradicional. Neste sentido, esse estudo teve o obje- tivo de investigar as plantas da caatinga com potencial medicinal que são utilizadas pela população para neutralizar o efeito tóxico dos envenenamentos causados por escorpiões no município de São José da Ta- pera. A pesquisa foi realizada no período de 2015 a 2016, através da aplicação de questionário semiestrutu - rado utilizando-se o método bola de neve. Os participantes assinaram o TCLE - Termo de Consentimento Li- vre e Esclarecido. Os dados foram sistematizados em planilhas do Microsoft Excel e apresentados por meio de gráficos e tabelas. Foram constatados 39 casos de acidentes com escorpiões. As vítimas foram tratadas em suas residências com preparo caseiro de diferentes espécies vegetais. De acordo com a frequência de uso, as espécies mais utilizadas foram: Fumo - Nicotiana tabacum (40%); caju - Anacardium humile (20%), hortelã - Mentha spicata (12%), alho - Allim sativum L. (8%), pinhão - Jatropha gossypiifolia (8%), capim santo - Cymbopogon citratus (8%) e sambacaitá - Hyptis pectinata L. Poit (4%). Os métodos mais utilizados para obtenção das substâncias fitoterápicas foram maceração (38,46%), chá (23,08%), compressa (30,77%) e (7,69%) fizeram uso de garrafada. No que se refere às partes das plantas utilizadas nos preparos, às fo - lhas foram citadas em 45,45% dos casos, a planta inteira em 36,36% e os frutos em 18,19%. A partir dos dados obtidos, pode-se evidenciar que o tratamento alternativo para picada de escorpião com plantas medi- cinais apresentou resultado positivo para este tipo de enfermidade, uma vez que a maioria (56,41%) das vítimas foram curadas, (10,26%) apresentaram sequelas e (33,33%) foram subnotificados. No entanto, este tratamento complementar, não substitui a soroterapia tradicional, sendo recomendado o atendimento emer- gencial e diagnóstico médico.

Palavras-chave: Caatinga. Etnobotânica. Plantas medicinais.

Suporte financeiro: UFAL, Suporte logístico: UFAL (transporte).

271 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

UM CERRADO RUPESTRE QUE EDIFICA: ESPÉCIES MADEIREIRAS UTILIZADAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO DE CASTELO DO PIAUÍ, NORDESTE DO BRASIL

Beatriz da Silva Rodrigues1,, Tony César de Sousa Oliveira,2,*, Vanessa Fernanda da Silva Sousa2, Arianny Bélis da Silva,3, Ruth Raquel Soares de Farias4, Ivanilza Moreira de Andrade5, Antônio Alberto Jorge Farias Castro6

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 2Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 3Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 4Laboratório de Fitossociologia, 5 Professor do Departamento de Ciências do Mar da UFPI, CMRV 6 Professor do Departamento de Biologia da UFPI, CMPP; *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

A biodiversidade é fonte de imenso potencial de uso econômico. No final do século XIX e início do século XX, a utilização desses recursos alavancou o desenvolvimento do país, em um processo baseado no uso desses recursos com objetivo de fornecer matéria-prima para construções e geração de renda com a venda de madeira. Apesar dessa riqueza e do potencial que ela representa, a biodiversidade brasileira é ainda pouco conhecida e sua utilização tem sido muito negligenciada, principalmente na potencialidade de espécies das consideradas matas secas, que inclui o cerrado. Portanto o trabalho objetivou conhecer as espécies de cerrado rupestre de baixa altitude, utilizadas por uma comunidade rural na construção civil. Antes da realização da pesquisa, houve a liberação do comitê de ética da UFPI-CMPP (CAAE 66578317.4.0000.5214). Os dados foram levantados entre março a julho de 2017 na comunidade Lagoa de Barro, município de Castelo do Piauí. A coleta ocorreu através de questionário semiestruturado. O índice do Valor de Uso (VU) foi utilizado para determinar a importância relativa das espécies. Para analisar o potencial de uso, cada espécie foi distribuída em categorias de utilidade madeireira. Foram entrevistados 18 moradores, que indicaram 17 espécies utilizadas na construção civil. As espécies com maiores valores de uso foram: Aspidosperma multiflorum A. DC. Com VU de 0,72 e Simarouba versicolor A.St.-Hil, Platymenia reticulata Benth, Hymenaea tigonocarpa Mart. ex Hayne, Handroanthus (Vahl) S.Grose, Bowdichia virgilioides Kunth, todos com VU de 0,56. A principal utilização dessas espécies é para construção de cercas (estacas) e de telhados (caibros e ripas). S. versicolor foi indicada como útil para a fabricação de portas e janelas. Apesar do cerrado rupestre de baixa altitude apresentar uma fisionomia de porte médio e pouca diversidade, o estudo mostrou que ele possui muitas espécies uteis na construção civil, na comunidade estudada. Sugere-se que em futuras estratégias de conservação as espécies mais utilizadas pela comunidade sejam prioridades.

Palavras-chave: Diversidade, uso, vegetação.

Suporte financeiro: CAPES

272 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ASPECTOS ETNOBOTÂNICOS DOS QUINTAIS DA COMUNIDADE DO ENGENHO DO MATO, NITERÓI, RJ

Camilla Belmiro Soares1,2*, Odara Horta Boscolo3,2

1Graduanda em Ciências Biológicas, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói – RJ; 2Laboratório de Botânica Econômica e Etnobotânica (LABOTEE), UFF; 3 Professora Doutora, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói - RJ. *Autora para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O quintal, área próxima à casa, desempenha importante papel no complemento da dieta alimentar, no tratamento de enfermidades, além de apresentar valor estético e cultural. A comunidade do Engenho do Mato está localizada na Região Oceânica de Niterói, RJ, e foi formada a partir da antiga Fazenda do Engenho do Mato. Essa comunidade é rodeada pelo Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET), uma Unidade de Conservação criada para proteger o remanescente de Mata Atlântica da especulação imobiliária. Tal região, apesar de urbanizada, ainda apresenta resquício de meio rural com sítios e quintais com vegetação. Assim, o trabalho tem como principais propósitos o registro do conhecimento local sobre as plantas cultivadas e, a comparação desses quintais com os sítios da mesma comunidade focando nas espécies mais representativas e nas categorias de uso. A pesquisa foi aprovada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em conformidade com o processo nº 01450.011671/2014-74. Os informantes foram selecionados pelo método Bola de Neve, tendo o primeiro indicado por um morador local conhecido das pesquisadoras, e as informações obtidas por turnês guiadas e por entrevistas não estruturadas. As plantas coletadas foram identificadas e depositadas no Herbário da Universidade Federal Fluminense. Houve 52 citações e foram coletadas 17 espécies de 12 famílias, sendo as mais representativas Asteraceae (17,64%) e Lamiaceae (11,76%). As duas categorias de uso que mais apareceram foram: Medicinal (52,94%) e Alimentícia (47,05%). Tanto as duas famílias mais representativas, quanto as duas categorias de uso que mais apareceram nos quintais estudados são iguais às encontradas em uma outra pesquisa realizada nos sítios da comunidade. Assim, podemos concluir, que apesar de serem sistemas distintos, os sítios e os quintais aproximam-se quanto a presença e conhecimento sobre as plantas. A utilização das mesmas famílias em ambos os sistemas, assim como o destaque das mesmas categorias de uso podem ser explicados pela aproximação geográfica desses moradores, o que pode ter facilitado a troca e transmissão do conhecimento.

Palavras-chave: Etnobotânica, Quintais, Parque Estadual da Serra da Tiririca, Mata Atlântica, Conhecimento tradicional

273 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

USO POPULAR DE ESPÉCIES MEDICINAIS DA FAMÍLIA BIGNONIACEAE NO PIAUÍ, BRASIL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Daniela Aguiar Santos1*, Maria Francilene Souza Silva4, Micheli Véras dos Santos¹, Rosana Maria dos Santos Sousa¹, Irlaine Rodrigues Vieira², Ivanilza Moreira de Andrade³.

1Estudante do curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, Av. São Sebastião, 2819, Campus Ministro Reis Velloso CEP 64202-020, Parnaíba, Piauí, Brasil. UFPI; 2Bióloga, Campus Ministro Reis Velloso, doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), UFPI, 3Teresina,Docente do curso em Ciências biológicas, UFPI, Campus Ministro Reis Velloso. 4Universidade Federal do Ceará-UFC, Núcleo de Pesquisas de Desenvolvimento de Medicamentos, Rua Coronel Nunes Melo, 1000, Rodolfo Teófilo, Fortaleza, Ceará. *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

Os estudos etnobotânicos são importantes, pois permitem avaliar como os moradores de uma determinada região usam a flora e para que finalidades são extraídas. No Brasil, estes têm crescido principalmente na região Nordeste, focando as plantas medicinais. A família botânica Bignoniaceae possui grande importância econômica e florística, apresentando-se como um potencial fármaco. Diante disso, objetivou-se compilar as espécies de Bignoniaceae conhecidas e utilizadas para fins medicinais citadas nos trabalhos etnobotânicos realizados no Estado do Piauí, Brasil. Os trabalhos adotados para essa pesquisa foram selecionados por meio de busca no Google acadêmico, utilizando as palavras chaves “Bignoniaceae” + “Uso” + “Piauí”. Os dados foram avaliados quanto a parte da planta e espécies utilizadas, indicações de uso e número de trabalhos abordando determinada espécie. Foram registradas dez publicações indicando nove espécies distribuídas em seis gêneros. A espécie com maior número de citações foi Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos, com nove registros. Das plantas descritas nos estudos, a casca foi a parte mais usada. Dentre as 28 categorias de indicações medicinais, tiveram destaque às relacionadas ao tratamento das doenças respiratórias e inflamações. Conclui-se que principalmente a casca do caule da família Bignoniaceae é utilizada na medicina popular piauiense para o tratamento de diversas doenças como, o tratamento de doenças respiratórias e inflamatórias, se destacando a espécie H. impetiginosus (Mart. ex DC.).

Palavras-chave: Comunidade, Conhecimento popular, Levantamento.

Suporte financeiro: Financiamento próprio.

274 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

QUINTAIS URBANOS: PLANTAS ALIMENTÍCIAS MEDICINAIS CULTIVADAS EM RESIDÊNCIAS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, PERNAMBUCO

Danielly Lima da Silva1*, Lara Costa 2, Antônio Fernando Morais de Oliveira3, Laise de Holanda Cavalcanti3

1Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas com Ênfase em Ambientais, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Campus Recife – PE; 2 Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, UFPE, Campus Recife – PE; 3 Departamento de Botânica, UFPE, Campus Recife – PE; *Autor para correspondência,e-mail: [email protected]

RESUMO

Nas grandes e pequenas cidades ainda são encontrados espaços em torno da área construída das casas denominados quintais, onde uma variedade de plantas é cultivada principalmente pelo seu valor ornamental, alimentício e/ou medicinal. Tais espaços garantem o cultivo de alimentos e fitomedicamentos aos moradores, permitindo contato com a natureza e amenizam o impacto urbano sobre suas vidas. Considerando que o nordeste do Brasil, como as demais regiões do país, possui um vasto patrimônio cultural que ainda não se encontra bem explorado, pesquisou-se o conhecimento sobre plantas alimentícias e medicinais cultivadas em quintais urbanos situados na Região Metropolitana do Recife, Pernambuco. As residências visitadas, escolhidas aleatoriamente, estão localizadas nos municípios de Recife, Cabo de Santo Agostinho, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Moreno e Abreu e Lima. Entrevistas foram realizadas com os mantenedores dos quintais (20 mulheres, e 12 homens), que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Foram utilizados formulários semi-estruturados, visando obter informações sobre: O dono ou cuidador do quintal com os respectivos dados (nome, faixa etária, sexo, local de nascimento, estado civil, tempo que reside), área e localização do quintal, modo de consumo das plantas, indicações terapêuticas, sistemas envolvidos e as partes das plantas neles cultivadas. A maioria dos entrevistados (70,8%) são mulheres com mais de 50 anos, sendo poucos jovens (16,7%), entre 18 e 25 anos. No total de 32 quintais entrevistados, houve o registro de 359 plantas, tendo como famílias mais citadas Myrtaceae e Lamiaceae com 21,4%. Levando em consideração os sistemas do corpo humano, como alvos do caráter medicinal das plantas as indicações para tratamento de problemas corriqueiros dos Sistemas Digestório obteve 39%, Respiratório com 26%, e 10% indicadas para doenças dos Sistemas Nervoso e Circulatório. Este trabalho é importante para contribuir no conhecimento das etnoespécies presentes nos quintais da Região Metropolitana do Recife, que serão listadas.

Palavras-chave: Quintais, RMR, Etnoespécies Alimentícias Medicinais, Sistemas do corpo Humano.

275 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DAS PLANTAS UTILIZADAS NO TRATAMENTO SINTOMÁTICO DE ACIDENTES OFÍDICOS NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DAS FLORES – AL

Eduardo Otavio Silva¹,4*; Solma Lúcia Souto Maior de Araújo Baltar ²,6; Aytana Vasconcelos dos Santos¹,5; Cledson dos Santos Magalhães³,6.

¹ Curso de Licenciatura Ciências Biológicas – Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Campus Arapiraca- AL; ²Professora do Curso de Ciências Biológicas – Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Campus Arapiraca- AL; ³ Licenciado em Ciências Biológicas – Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Campus Arapiraca- AL; 4 Bolsista PIBIC- UFAL; 5Bolsista PIBIC-CNPq; 6 Núcleo de Estudos Etnobotânicos e Ecológicos-NEEE; *Autor para correspondência, e- mail: [email protected]

RESUMO

O uso de plantas medicinais no tratamento de acidentes ofídicos é uma prática muito antiga que a humanidade utiliza para minimizar os sintomas causados por este tipo de enfermidade. Buscando conhecer e valorar o conhecimento popular, esta pesquisa teve o objetivo de realizar o levantamento das plantas utilizadas como recurso medicinal, no tratamento sintomático e alternativo dos acidentes ofídicos. A pesquisa foi realizada no município de Olho D’Água das Flores-AL, no período de 2015 a 2016. Para coleta de dados, foi aplicado o método bola de neve com aplicação de questionário semiestruturado. Os dados foram sistematizados em planilhas do Microsoft Excel e apresentados por meio de gráficos e tabelas. Foram identificados 59 casos de acidentes ofídicos ocasionados pelos gêneros Caudisona (35,42%), Thamnodynastes (14,73%), Liophis (10,32%), Bothrops (8,90%), Micrurus (5,63%), Lachesis (2,95%) e em (22,05%) dos casos, o agente tóxico não foi reconhecido pelas vítimas. Para o tratamento dessas ocorrências foram empregadas as seguintes espécies vegetais: Nicotiana tabacum (22,23%), Dysphania ambrosioides (22,23%), Anacardium humile (29,62%), Ruta graveolens (7,40%) e Jatropha gossypiifolia (18,52%). De acordo com os entrevistados os métodos utilizados para obtenção do extrato fitoterápico foram: (74,08%) maceração, chás (7,40%) e compressas (18,52%). Em relação as partes da planta utilizada, prevaleceu o uso das folhas (48,15%), seguido dos caules (29,62%) e frutos (22,23%). Embora a população utilize os recursos medicinais naturais e obtenha resultados favoráveis no combate e controle das intoxicações causadas pelo veneno das serpentes, é importante que a população acometida desta enfermidade não hesite em buscar atendimento médico especializado, uma vez que o tratamento alternativo não substitui o soro antiofídico e dependo do tipo de acidente, do tempo da picada e do agente tóxico causador do acidente, pode ser necessário procedimentos médicos específicos para garantir a sobrevivência da vítima.

Palavras-chave: Peçonha. Etnobiologia. Plantas medicinais. Medicina popular.

Suporte financeiro: CNPq, UFAL (transporte)

276 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

OS RECURSOS NATURAIS E A ETNOBOTÂNICA EM QUINTAIS DE UM ASSENTAMENTO RURAL NO SEMIÁRIDO PIAUIENSE

Ethyênne Moraes Bastos1*, Mauricio Eduardo Chaves e Silva1, Fábio José Vieira2, Patrícia Cristina Sousa Alves3, Roseli Farias Melo de Barros4

1 Doutorandos em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Rede Prodema da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina-PI; 2Professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Campus Prof. Barros Araujo, Picos-PI; 3 Licenciada em Ciências Biológicas, UFPI, Teresina-PI; 4Professora do Departamento de Biologia, e do Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Os quintais são sistemas tradicionais que resultam dos conhecimentos acumulados e repassados através de gerações, os quais podem ser encontrados junto às populações rurais e fundamentais na manutenção da biodiversidade. Objetivou-se conhecer o uso dos recursos naturais que constituem os quintais dos núcleos urbanos de um assentamento rural no semiárido piauiense, buscando demonstrar o conhecimento local decorrente da população assentada, representada pelas plantas com as quais se relacionam. Posteriormente a aprovação do projeto no Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí, por meio do CAAE nº 0425.0.045.000-10, estabeleceu a metodologia de pesquisa, abrangendo as seguintes técnicas: observação direta, entrevista semiestruturada, história de vida e turnê-guiada. As entrevistas e turnês-guiadas foram realizadas com os mantenedores dos quintais de 40 residências, sendo 30 mulheres e 10 homens, cuja faixa etária compreendeu 20 a 77 anos. Gerou-se um banco de dados com as informações obtidas nas entrevistas. Para a análise utilizou-se o programa Microsoft Office Excel® 2007, sendo realizada a estatística descritiva a partir da codificação por tabulação simples, distribuição de porcentagens, análise de frequências e tabelas. Levantaram-se 58 espécies vegetais, distribuídas em 35 famílias botânicas, sobressaindo-se: Anacardiaceae, Poaceae e Solanaceae (4 espécies). Distribuíram as espécies inventariadas em etnocategorias: alimentícia (39%), medicinal (28%), ornamental (14%), mágico- religiosa (10%) forrageira (6%), construção (1%), cosmético (1%) e veterinário (1%). As plantas de destaque quanto a Frequência Relativa: Anacardium occidentale L. e Psidium guajava L. A maior parte do quintal está disposta aos fundos da residência, delimitados por cerca, onde cultivam as plantas em canteiros suspensos e no chão. Apresentam tamanhos variados, os informantes não souberam definir a área do quintal. Em relação ao manejo usam insumos agrícolas naturais e as regas são feitas ao amanhecer ou no final da tarde. Os quintais dos moradores são espaços destinados principalmente ao cultivo dos recursos vegetais, criação de pequenos animais e como local de convivência, sendo mantido majoritariamente pelas mulheres. Dessa forma, foi possível constatar o conhecimento sobre o uso de plantas presentes nos quintais, tanto pelo conhecimento em si como pelo sentimento de carinho e respeito para com o meio a sua volta.

Palavras-chave: Comunidades Rurais. Agroecologia. Recursos Vegetais.

Suporte financeiro: CNPq.

277 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

INVENTÁRIO ETNOBOTÂNICO NO SEMIÁRIDO NORDESTINO: RESGATANDO CONHECIMENTOS ACERCA DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO MUNICIPIO DE SÃO MIGUEL DO TAPUIO/PI

Ethyênne Moraes Bastos1*, Mauricio Eduardo Chaves e Silva1, Fábio José Vieira2, Patrícia Cristina Sousa Alves3, Roseli Farias Melo de Barros4

1Doutorandos em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Rede Prodema da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina-PI; 2Professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Campus Prof. Barros Araujo, Picos-PI; 3 Licenciada em Ciências Biológicas, UFPI, Teresina-PI; 4Professora do Departamento de Biologia, e do Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPI., *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

A humanidade faz uso das plantas medicinais desde o início da existência. Na zona rural a utilização das plantas medicinais sempre existiu onde os povos que aí vivem mantêm uma relação bastante harmoniosa com a natureza, pois dela retiram alimento, abrigo e, principalmente, remédios para aliviar as dores ou se curar de algum mal. Este trabalho teve como escopo: realizar o inventário das plantas medicinais de um assentamento rural no semiárido piauiense, analisando o valor de uso das espécies, bem como apontar as partes vegetativas mais indicadas e as suas formas de utilização. Os dados foram coletados logo após a aprovação do projeto no Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí, por meio do CAAE nº 0425.0.045.000-10. Utilizou-se metodologicamente aplicação de entrevistas semiestruturadas, por meio de formulários padronizados, abrangendo aspectos socioeconômicos, culturais e etnobotânicos. Das 65 espécies indicadas, as cascas foram às partes mais citadas para a elaboração dos remédios (39,2%), seguidas das folhas (37,6%), sementes (7,8%), raízes (5,6%), flores (3,6%), frutos (3,5%) e resinas (2,5%). Para as formas de preparo sobressaíram os chás: infusão e decocto (48,6%), seguidas de garrafada (18,9%), xarope (16,3%), maceração (9,8%), pó (3,8%), banho (1,5%), infusão em álcool (0,6%) e in natura (0,4%). O modo de preparo dos remédios utilizados nos procedimentos terapêuticos apresenta uso combinado de plantas para tratamentos variados, sendo utilizados também outros ingredientes, como vinho, leite e açúcar, e outros. Ximenia americana L. despontou como a mais versátil, usada para o trato de inflamações uterinas, cicatrizante e para gripe. As entrevistas com os assentados permitiram demonstrar o quanto é amplo o conhecimento sobre o uso de plantas medicinais. A abordagem etnobotânica mostrou que os assentados não perderam a tradição de cultivar plantas medicinais em suas residências, contribuindo assim, para a conservação destas plantas. O estudo revela ainda a importância de pesquisas voltadas ao levantamento etnobotânico para entender a relação do uso e a importância que essas plantas desempenham para as comunidades rurais, bem como valorizar o conhecimento que vai repassando de gerações, contribuindo para a história cultural regional e logo com a do nosso país.

Palavras-chave (Keywords, if english; Palabras-clave, si español): Tradições populares. Ruralidade. Plantas medicinais

Suporte financeiro (Financial support, if english; apoyo financiero, if español): CNPq.

278 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

FORMAS DE UTILIZAÇÃO E IMPORTÂNCIA RELATIVA DAS PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE PICOS-PI

Etielle Barroso de Andrade1, Francielson da Silva Barbosa2 *, Sâmia Caroline Melo Araújo1, 3, Cledinaldo Borges Leal4

1Professor (a) do Instituto Federal do Piauí, IFPI, Campus Paulistana, Paulistana – PI; 2Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões – PI; 3Curso de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Saúde, Faculdade Evangélica do Meio Norte, FAEME, Teresina – PI; 4Professor da Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões – PI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

A utilização de plantas medicinais tem sido vista como uma alternativa à medicina tradicional. O interesse e comercialização de medicamentos fitoterápicos vem aumentando em todo o mundo, principalmente no Brasil. O presente trabalho objetivou apresentar a importância relativa, as estruturas comercializadas e modos de preparo das espécies de plantas medicinais que são comercializadas na feira livre da cidade de Picos, sudeste do Piauí. A amostragem aconteceu de junho a julho de 2017, utilizando questionários semiestruturados e conversas informais junto aos feirantes, contabilizando na pesquisa apenas produtos de origem vegetal com indicações terapêuticas. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CEP (CAAE 70052017.1.0000.5214). Calculou-se a importância relativa (IR) para determinar a versatilidade na utilização de cada espécie. As doenças foram agrupadas em categorias segundo classificação de doenças da Organização Mundial de Saúde. Nove feirantes participaram da pesquisa, totalizando 83 espécies vegetais com finalidades terapêuticas. As partes das plantas mais comercializadas foram folha (24,72%), casca (24,70%), sementes (21,35%), seguido de raiz, caule, flor e frutos e/ou partes deles (5,62%). Destaca-se que algumas espécies possuem utilização de mais de uma parte: Chia (Salvia hispanica L.) - folha/semente; Pau-ferro (Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L. P. Queiroz) e Imburana-de-cheiro (Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.) - semente/casca; Batata-de-purga (Operculina macrocarpa (L.) Urb.) - raiz/semente; pimenta-caiena (Capsicum annuum L.) - casca/semente; e Açoita-cavalo (Lamanonia ternata Vell.) - folha/casca. A forma de utilização mais indicada é o chá com 64,49% dos casos, seguido de garrafada 24,30%. As demais formas apresentaram poucas indicações, como: xarope e ingestão (4,67%), banho e suco/sumo (1,87%), gorgarejo, lambedor e uso tópico foram poucos representativos (0,93%) de indicação. A espécie canela (Cinnamomum verum J. Presl.) apresentou valor máximo de importância relativa (IR = 2). Isso indica que esta espécie apresenta maior versatilidade, tanto em relação aos sistemas corporais, quanto às indicações de tratamento. A maioria das espécies (n = 21) apresentou importância relativa baixa (IR = 0,73). As demais espécies apresentaram valores de IR variando de 0,90 a 1,63. Assim, o conhecimento das espécies, formas de comercialização e de uso é fundamental para auxiliar futuras pesquisas em bioprospecção.

Palavras-chave: Etnobotânica, fitoterápicos, conhecimento tradicional.

279 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

LEVANTAMENTO DAS PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE PICOS, SUDESTE DO PIAUÍ

Etielle Barroso de Andrade1, Francielson da Silva Barbosa2 *, Sâmia Caroline Melo Araújo1, 3, Cledinaldo Borges Leal4

1Professor (a) do Instituto Federal do Piauí, IFPI, Campus Paulistana, Paulistana – PI; 2Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões – PI; 3Curso de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Saúde, Faculdade Evangélica do Meio Norte, FAEME, Teresina – PI; 4Professor da Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões – PI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

A utilização de plantas com fins fitoterápicos tem origens muito antigas, remontando aos primórdios da medicina. Seus usos e prescrições se baseiam no acúmulo de informações transmitidas de geração a geração. O presente trabalho tem por objetivo identificar as principais espécies de plantas medicinais comercializadas na feira livre da cidade de Picos, sudeste do Piauí. Os dados foram coletados entre junho e julho de 2017 na feira livre da cidade de Picos PI, mediante a aplicação de questionário semiestruturado e conversas informais junto aos feirantes. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da UFPI- CEP (CAAE 70052017.1.0000.5214). A partir dos nomes vernaculares fornecidos e de material coletado (cascas, sementes, inflorescências, folhas, caules), realizou-se a identificação das famílias e das espécies, utilizando para consulta o banco de dados do Missouri Botanical Garden (disponível em http://www.tropicos.org), Herbário Vale do São Francisco (disponível em http://www.univasf.edu.br/~hvasf/) e da Lista de Espécies da Flora do Brasil (disponível em http://www.floradobrasil.jbrj.gov.br). Foram entrevistados nove feirantes, totalizando 83 espécies, distribuídas em 48 famílias, destas as famílias com maior representatividade foram: Fabaceae, com 13 espécies (16,5%): Imburana-de-cheiro (Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.), Jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.), Mulungu (Erythrina velutina Willd.), Angico (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan.), Angico-branco (Pityrocarpa moniliformis (Benth.) Luckow & R. W. Jobson.), Mororó (Bauhinia sp.), Pau-ferro (Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L. P. Queiroz.), Jatobá (Hymenaea sp.), Sucupira (Pterodon emarginatus Vogel.), Catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul.), Alfafa (Medicago sativa L.), Coronha (Acacia farnesiana Wall.), Sene (Senna alexandrina Mill.); e Asteraceae com 6 espécies (7,6%): Girassol (Helianthus annuus L.), Dente-de-leão (Taraxacum sp.), Carqueja (Baccharis trimera (Less.) DC.), Alcachofra (Cynara scolymus L.), Marcela (Egletes viscosa (L.) Less.) e Camomila (Matricaria chamomila L.). As demais espécies citadas pertenceram às famílias Apiaceae, Amaryllidaceae, Caprifolicaceae, Aristolochiaceae, Anacardiaceae, Arecaceae, Bignoniaceae, Boraginaceae, Brassicaceae, Cactaceae, Compositae, Celastraceae, Caryocaraceae, Cunnoniaceae, Cucurbitáceae, Convolvulaceae, Erythroxylaceae, Equisetaceae, Euphorbiaceae, Illiciaceae, Liliaceae, Labiatae, Lamiaceae, Lauraceae, Linaceae, Leguminosae, Annonaceae, Mimosaceae, Moraceae, Myristicaceae, Myrtaceae, Malvaceae, Meliaceae, Olacaceae, Passifloraceae, Poaceae, Rubiaceae, Rhamnaceae, Sapotaceae, Simaroubaceae, Solanaceae, Theaceae, Violaceae, Punicaceae, Lamiaceae e Zingiberaceae. Estudos etnobotânicos são de grande importância para preservação do conhecimento tradicional e a conservação das espécies.

Palavras-chave: Plantas medicinais, fitoterápicos, feira livre.

280 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

LEVANTAMENTO DAS PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE JAICÓS, SUDESTE DO PIAUÍ

Francielson da Silva Barbosa1 *, Sâmia Caroline Melo Araújo2,3, Etielle Barroso de Andrade3, Cledinaldo Borges Leal4

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões – PI; 2Curso de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Saúde, Faculdade Evangélica do Meio Norte, FAEME, Teresina – PI; 3Professor (a) do Instituto Federal do Piauí, IFPI, Campus Paulistana, Paulistana – PI; 4Professor da Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões – PI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O conhecimento etnobotânico é uma forma de preservação da memória das comunidades tradicionais. No presente trabalho é apresentado as espécies de plantas com propriedades medicinais comercializadas em feiras livres da cidade de Jaicós, sudeste do Piauí. A coleta de dados ocorreu entre junho de 2017 e julho de 2017, em feiras que relataram a venda de produtos vegetais com fins medicinais. A coleta de dados ocorreu através da aplicação de questionário semiestruturado e conversas informais junto aos feirantes. Antes da execução, a pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CEP (CAAE 70052017.1.0000.5214). A partir dos nomes populares fornecidos e a coleta de material (cascas, sementes, folhas, flores, caules), foi feita a identificação das famílias e das espécies, utilizando para consulta o banco de dados do Missouri Botanical Garden (www.tropicos.org) e a Lista de Espécies da Flora do Brasil (www.floradobrasil.jbrj.gov.br). Foram entrevistados oito feirantes livres, resultando em um total de 34 espécies distribuídas em 20 famílias. A lista das espécies é apresentada a seguir: açafrão (Curcuma longa L.), alfazema (Lavandula sp.), alho-do-mato (Eleutherine bulbosa (Mill.) Urb.), angico (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan), anis (Illicium verum Hook.f.), batata-de-purga (Operculina macrocarpa (L.) Urb.), batata-de-teiú (Operculina sp.), boldo (Peumus boldus Molina), buriti (Mauritia flexuosa L. f.), camomila (Egletes viscosa (L.) Less), canela (Cinnamomum verum J. Presl.), canina (Chiococca alba (L.) Hitchc.), coentro (Coriandrum sativum L.), copaíba (Copaifera sp.), cravo (Syzygium aromaticum (L.) Merr. & L. M. Perry), endro (Anethum graveolens L.), erva doce (Pimpinella anisum L.), gengibre (Zingiber officinale Roscoe), gergelim preto (Sesamum indicum L.), imbiriba (Xylopia aromatica (Lam.) Mart.), jatobá (Hymenaea sp.), mamona (Ricinus communis L.), marcela (Egletes viscosa (L.) Less), mororó (Bauhinia sp.), mostarda (Brassica juncea (L.) Czern.), noz-moscada (Myristica fagrans Houtt.), pau d’arco (Tabebuia sp.), pequi (Caryocar sp.), pixuri (Licaria puchury-major (Mart.) Kosterm.), sene (Senna alexandrina Mill.), sucupira (Pterodon emarginatus Vogel), umburana de cheiro (Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.) e pau-chapada (não identificada). Apesar da maioria das plantas comercializadas serem exóticas, é fundamental o registro dessas espécies para auxiliar futuras investigações científicas, como estudos sobre o status de conservação e as propriedades farmacológicos e toxicológicos das mesmas.

Palavras-chave: Etnobotânica, fitoterápicos, conhecimento tradicional.

281 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PLANTAS MEDICINAIS DA CIDADE DE JAICÓS-PI: MODOS DE USO E IMPORTÂNCIA RELATIVA

Francielson da Silva Barbosa1 *, Sâmia Caroline Melo Araújo2,3, Etielle Barroso de Andrade3, Cledinaldo Borges Leal4

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões – PI; 2Curso de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Saúde, Faculdade Evangélica do Meio Norte, FAEME, Teresina – PI; 3Professor (a) do Instituto Federal do Piauí, IFPI, Campus Paulistana, Paulistana – PI; 4Professor da Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões – PI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O uso de plantas medicinais como terapia alternativa tem eficácia comprovada pela Organização Mundial de Saúde. Levantar informações sobre a comercialização e formas de uso dessas plantas é fundamental em regiões pouco conhecidas como o sul do Piauí. O presente trabalho tem como objetivo apresentar a importância relativa, as estruturas comercializadas e modos de uso das espécies de plantas medicinais comercializadas em feiras livres da cidade de Jaicós, sudeste do Piauí. A amostragem ocorreu entre junho de 2017 e julho de 2017, utilizando questionários semiestruturados e conversas informais junto aos feirantes. Apenas produtos de origem vegetal com indicações terapêuticas entraram no levantamento. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CEP (CAAE 70052017.1.0000.5214). A Importância Relativa (IR) foi utilizado para determinar a versatilidade na utilização de cada espécie. As doenças foram agrupadas em categorias segundo a classificação das doenças da Organização Mundial da Saúde. Oito feirantes livres participaram da pesquisa indicando um total de 34 espécies vegetais com fins terapêuticos. As partes das plantas mais comercializadas são as sementes (31,43%), casca (22,9%), flor e fruto ou parte deles (11,43%), seguida de folhas e caule (8,57%) e raiz (5,71%). No caso da umburana-de- cheiro (Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.) é utilizado tanto a semente, quanto a casca. A forma de utilização mais indicada é o chá com 79,41% dos casos, as demais formas apresentaram poucas indicações, como: imerso em água (8,82%), garrafada, adicionado à cachaça e infusão (5,88%), óleo, inalação, gargarejo e uso direto (2,94%). Algumas espécies tiveram mais de uma forma de utilização. As espécies copaíba (Copaifera sp.), pixuri (Licaria puchury-major (Mart.) Kosterm.), endro (Anethum graveolens L.) e noz-moscada (Myristica fagrans Houtt.) apresentaram os valores máximos de importância relativa (IR = 2). Isso indica que estas espécies apresentaram maior versatilidade, tanto em relação aos sistemas corporais, quanto às indicações de tratamento. A maioria das espécies (n = 13) apresentou importância relativa baixa (IR = 0,5). As demais espécies apresentaram valores de IR variando de 0,75 a 1,75. Assim, o conhecimento das espécies, formas de comercialização e de uso é fundamental para auxiliar futuras pesquisas em bioprospecção.

Palavras-chave: Etnobotânica, fitoterápicos, conhecimento tradicional.

282 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

USO MEDICINAL DE ESPÉCIES VEGETAIS COMERCIALIZADAS EM FEIRAS LIVRES DO MUNICÍPIO DE JAICÓS, SUDESTE DO PIAUÍ

Francielson da Silva Barbosa1 *, Sâmia Caroline Melo Araújo2,3, Etielle Barroso de Andrade3, Cledinaldo Borges Leal4

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões – PI; 2Curso de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Saúde, Faculdade Evangélica do Meio Norte, FAEME, Teresina – PI; 3Professor (a) do Instituto Federal do Piauí, IFPI, Campus Paulistana, Paulistana – PI; 4Professor da Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões – PI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O uso de plantas para fins terapêuticos é uma prática bastante antiga e difundida entre as diferentes sociedades. Esta prática vem se valorizando nos últimos anos, deixando de ser um costume apenas das comunidades rurais e ganhando espaço também nas cidades, se constituindo como uma forma de auxiliar a medicina tradicional através da utilização saudável dos produtos naturais. Apesar desse crescimento, há pouca informação sobre as espécies comercializadas em feiras livres do estado do Piauí. O presente trabalho teve por objetivo identificar as principais indicações de uso medicinal das plantas comercializadas em feiras livres do município de Jaicós, localizada na região sudeste do Piauí. Dados foram coletados no mês de julho de 2017, por meio de questionário semiestruturado, complementados com entrevistas livres e conversas informais com os feirantes. Participaram da pesquisa todos os feirantes que relataram a venda de produtos vegetais com fins medicinais. Antes da execução, a pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CMPP (CAAE 70052017.1.0000.5214). O Valor de Uso (VU) foi utilizado para determinar a importância relativa de cada espécie. As doenças foram agrupadas em categorias segundo a classificação das doenças da Organização Mundial da Saúde. Foram entrevistados oito feirantes livres, resultando em um total de 34 espécies vegetais comercializadas com fins medicinais. Mais da metade das espécies (n = 19; 55,9%) foram citadas por mais de um feirante, as demais espécies (n = 14; 41,1%) tiveram apenas uma citação. As espécies com maior número de citação foram a noz-moscada (Myristica frangans Houtt.), indicada por seis feirantes (VU = 0,75) para dores no corpo, enjoo, vômito, hipertensão, derrame e dor de cabeça, e marcela (Egletes viscosa (L.) Less.), indicadas por cinco feirantes (VU = 0,63) para indigestão, vômito e calmante. A categoria “Sintomas, Sinais e Achados Anormais de Exames Clínicos e de Laboratório” apresentou 24 citações, seguida de “Doenças do Aparelho Respiratório”, que apresentou 19 citações. Foi observado uma grande diversidade de plantas comercializadas nas feiras livres, evidenciando a importância dessa prática na manutenção do conhecimento tradicional sobre uso medicinal dessas espécies.

Palavras-chave: Plantas medicinais, propriedades terapêuticas, conhecimento tradicional.

283 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ESTUDO ETNOBOTÂNICO SOBRE Poincianella bracteosa (Tul.) L. P. Queiroz EM UMA COMUNIDADE RURAL NO SUL DO PIAUÍ, BRASIL

Gisele do Lago Santana1*; Wanessa Santos Ferreira da Silva1; Thiago Pereira Chaves2; Marcelo Sousa Lopes2

Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Professora Cinobelina Elvas (CPCE), Bom Jesus – PI; 2Professor do Curso de Ciências Biológicas, UFPI, CPCE. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Poincianella bracteosa (Tul.) L. P. Queiroz, conhecida popularmente como catinga-de-porco, é uma árvore da família Fabaceae característica da região Nordeste. A população nordestina apresenta diversos usos para a espécie, no entanto, existem poucos estudos que resgatem o conhecimento sobre sua potencialidade. Objetivando-se verificar o conhecimento da população sobre P. bracteosa e o uso que estes fazem da mesma, realizou-se este estudo etnobotânico na comunidade Gruta Bela, localizada na cidade de Bom Jesus, Piauí. A pesquisa foi realizada no período entre maio e junho de 2017 com 15 informantes, 5 homens e 10 mulheres, chefes de família, com idades entre 30 e 75 anos, escolhidos pelo método bola de neve. Foram citados diversos usos para P. bracteosa distribuídos nas categorias forragem, combustível, construção, com destaque para o uso medicinal. Os informantes afirmaram que seus animais como bois e cabras comem qualquer parte de planta, não ocorrendo intoxicação. Na categoria combustível foi indicado o uso da planta para lenha, enquanto que na categoria construção os informantes indicaram o uso da mesma principalmente para a construção de cercas, havendo apenas uma indicação na construção de casas, pois segundo a maioria dos entrevistados, a madeira é fraca com muitos nós. O uso medicinal foi indicado em especial no tratamento de problemas no intestino, diarreia, dor de barriga e febre. As partes da planta utilizadas para esta finalidade foram a folha e a casca, sendo que esta última é preferida na forma fresca e utilizada principalmente na forma de chá. Não foi indicado pelos informantes contraindicação quanto ao uso da planta, no entanto, relatou-se que o uso deve ser feito com cautela, podendo haver intoxicação em doses mais elevadas. A maioria dos informantes disse ter adquirido o conhecimento com familiares mais velhos como avôs e pais. A partir dos resultados obtidos pode-se considerar que P. bracteosa apresenta grande importância para a população estudada, a qual conhece bem as potencialidades e aplicações desta planta. Fazem-se necessárias outras pesquisas sobre esta espécie visando o resgate e preservação do conhecimento tradicional, bem como estudos que avaliem suas atividades biológicas, a fim de se obter moléculas bioativas.

Palavras-chave: Etnobotânica, comunidade tradicional, Uso medicinal.

284 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

FOLHA, CASCA OU RAIZ? CONHECIMENTO POPULAR DE DUAS COMUNIDADES DO MARANHÃO E PIAUÍ

Idaiany da Silva Costa1 *, Juciara Sousa Santana1, Karla Patrícia Lima de Sousa1, Julio Marcelino Monteiro2

1Acadêmica do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano– PI; 2Professor do Curso de Ciências Biológicas, UFPI, CAFS. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O conhecimento nativo sobre a utilização de plantas medicinais tem sido bem documentado em várias partes do mundo. Tais estudos têm como objetivo registrar recursos vegetais, seus usos e tipos terapêuticos, fornecendo subsídios para o descobrimento de novas e promissoras drogas. O estudo objetivou um levantamento acerca das plantas terapêuticas e suas partes utilizadas pelos entrevistados. A pesquisa foi realizada em duas comunidades, Lagoa do Tabuleiro, São João dos Patos/MA e Capivara, Arraial/PI, no período de setembro de 2015 a janeiro de 2016, para a obtenção de informações utilizou-se entrevistas (62) empregando-se a técnica de questionário semiestruturado. Todos os informantes, após conhecerem os objetivos da pesquisa, receberam convite para assinar um termo de consentimento livre e esclarecido. O trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFPI (CAAE: 0191.0.045.000-11). Foram citadas pelos participantes 32 plantas no Assentamento Lagoa do Tabuleiro, sendo que a parte do vegetal mais utilizada na medicina caseira local é a folha (60%), seguida da casca (50%) e raiz (25%); e 63 vegetais na Comunidade Capivara, as partes mais utilizadas foram as folhas com (85,7%), cascas e entrecascas do caule (83,3%), raiz (45,2%), frutos (4,7%), sementes (4,7%), caroço (4,7%) e resina (2,3%). Diante dos resultados apresentados, notou-se que a primeira comunidade apresenta uma menor variação dos órgãos vegetais utilizados, enquanto que a segunda demonstra um aumento considerável. Observa-se que o conhecimento popular acerca das plantas e partes utilizadas se faz muito importante para o progresso, tanto da saúde humana quanto da botânica aplicada, visto que, muitos desses estudos já trouxeram contribuições valorosas para a ciência a partir da sabedoria popular.

Palavras-chave: Etnobotânica, etnoconhecimento, plantas medicinais.

Suporte financeiro: Não houve.

285 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

FAMÍLIAS BOTÂNICAS IMPORTANTES: USO MEDICINAL ENCONTRADO NA COMUNIDADE CAPIVARA, ARRAIAL, PIAUÍ.

Idaiany da Silva Costa1 *, Juciara Sousa Santana1, Karla Patrícia Lima de Sousa1, Julio Marcelino Monteiro2

1Acadêmica do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano– PI; 2Professor do Curso de Ciências Biológicas, UFPI, CAFS. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O uso popular de plantas medicinais é uma arte que acompanha o ser humano desde os primórdios da civilização, sendo fundamentada no acúmulo de informações repassadas oralmente através de sucessivas gerações. O objetivo da pesquisa foi fazer um levantamento das famílias botânicas medicinais mais utilizadas por moradores da comunidade Capivara, Arraial, Piauí. Para a execução da pesquisa foram realizadas entrevistas semiestruturadas (42) na comunidade Capivara, no período de setembro de 2015 a janeiro de 2016, no primeiro momento foram esclarecidos os objetivos do estudo e em seguida os mesmos foram convidados à assinar um termo de consentimento livre e esclarecido. Os vegetais citados pelos entrevistados foram coletados, herborizados e enviados ao Herbário Graziela Barroso da UFPI, para identificação. O trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFPI (CAAE: 0191.0.045.000-11). Foram citados pelos entrevistados, 63 plantas com potencial medicinal, distribuídas em 24 famílias botânicas: Fabaceae (13 espécies), Anacardiaceae (5 espécies), Euphorbiaceae (5 espécies), Asteraceae (4 espécies), Myrtaceae (4 espécies), Boraginaceae (3 espécies), Lamiaceae (3 espécies), Malvaceae (3 espécies), Bignoniaceae (2 espécies), Cactaceae (2 espécies), Combretaceae (2 espécies), Rubiaceae (2 espécies), Arecaceae (1 espécie), Chrysobalanaceae (1 espécie), Convolvulaceae (1 espécie), Cucurbitaceae (1 espécie), Dilleniaceae (1 espécie), Lythraceae (1 espécie), Nyctaginaceae (1 espécie), Olacaceae (1 espécie), Polygonaceae (1 espécie), Solanaceae (1 espécie), Turneraceae (1 espécie) e Verbenaceae (1 espécie). Tais resultados demonstram a importância da vegetação arbórea para a comunidade, cujas cascas do caule são um dos principais recursos medicinais da população local.

Palavras-chave: Etnobotânica, plantas medicinais, população local.

Suporte financeiro: Não houve.

286 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

CONHECIMENTO ETNOFARMACOLÓGICO SOBRE UMA IMPORTANTE ESPÉCIE VEGETAL ARBÓREA DO SUL DO PIAUÍ, A CATINGA DE PORCO (TERMINALIA BRASILIENSES(CAMBESS EX. A. ST.-HIL.) EICHLER), COM O AUXÍLIO DE ESTÍMULOS VISUAIS.

Jéssica Pereira da Cruz¹*, Maria Luiza Lino da Silva¹, Tauana Almeida da Silva¹, Júlio Marcelino Monteiro²

1Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano– PI; ²Professor do Curso de Ciências Biológicas, UFPI, CAFS; *Autor para correspondência, e- mail: [email protected]

RESUMO

O presente trabalho visa capturar o conhecimento de uma comunidade tradicional a cerca de uma importante espécie arbórea e que tem como objetivo registrar os usos, as vias de administração, parte usada e as formas de preparo da T. brasiliensis, na comunidade Bem Quer – MA além de verificar a eficiência do uso da exsicata como estímulo visual, para obtenção das informações. As informações foram obtidas por meio de entrevistas semiestruturadas no método checklist. E utilizando o estimulo visual o entrevistado fazia ou não o reconhecimento da espécie arbórea. As diferenças significativas foram verificadas em função do número de citações da planta para o gênero e idade, com base no Teste de Kruskal-Wallis a 5% processadas pelo programa BioEstat 5.0. Foram descritos quatro usos mais comuns para a T. brasiliensis que são diarreia, dor de barriga, infecções intestinais e constipação. Ao todo foram entrevistados 17 informantes, dos quais 14 eram mulheres e três homens, que afirmaram ter utilizado a planta em algum momento da vida. Com relação ao estímulo visual utilizado, o reconhecimento da exsicata ocorreu somente por parte de três informantes, aos quais todos são homens, não ocorrendo assim o reconhecimento por parte das mulheres, o que pode ser explicado, tendo em vista que os homens são quem costumam ir até a mata e fazer a coleta de tal espécie que muitas vezes implica no uso da força física como na busca de recursos madeireiros, por exemplo. De acordo com os resultados apontados, o estimulo visual utilizado foi eficaz para as entrevistas realizadas com homens apenas, para a espécie em estudo. O que cabe também o uso de outros estímulos e de outras espécies medicinais, e só assim verificar se há ou não eficácia no uso das exsicatas para o sexo feminino.

Palavras-chave: Etnobôtanica. Plantas medicinais. Estímulos visuais.

Suporte financeiro: CNPq, Suporte logístico: CAFS-UFPI (transporte)

287 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PLANTAS CULTIVADAS PELOS PESCADORES ARTESANAIS DE CASTELO DO PIAUÍ, BRASIL Joanice Costa Amorim1,3,*, Roseli Farias Melo de Barros2, José Rodrigues de Almeida Neto3, Tony César de Sousa Oliveira1 Ivanilza Moreira de Andrade2

1Mestrando(a) em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 2Professor da Pós Graduação Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 3Bolsista CAPES. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected].

RESUMO

A agricultura é importante tanto para a economia como para a sobrevivência das comunidades de pescadores tradicionais. O pescador-lavrador é aquele que pesca e planta para o consumo e comercialização de seus produtos. O cultivo garante a subsistência na época em que a pesca não é favorável. O objetivo do estudo foi identificar as espécies vegetais cultivadas pelos pescadores/lavradores da colônia de Pescadores Z-09, município de Castelo do Piauí, Piauí. O estudo foi realizado com 29 pescadores artesanais durante os meses de outubro de 2016 a maio de 2017. Foram feitas entrevistas com formulários semiestruturados e uso de máquina fotográfica e gravador. Dos pescadores entrevistados, 75,9% responderam que fazem cultivo de plantação temporária no período de chuvas (no inverno), o que coincide com a época da piracema. Quanto ao cultivo das espécies de plantas, 100% fazem o cultivo de Vigna ungulata L. (feijão), 90,9% de Zea mays L. (milho), 45,5% de Citrellus lanathus (Thunb.)Mansf. (melância), 31,8% de Cucurbita moschata L. (abóbora) e 27,2% de Cucurbita pepo L. (jerimum). A família com maior número de espécies foi Cucurbitaceae (três), seguido da Euphorbiaceae (duas). Quanto ao tipo de plantação 81,8% fazem em cercados, 13,6% em roças e 4,6% em quintais. O pescador/lavrador mantém a profissão para ajudar no sustento de sua família, principalmente quando a atividade pesqueira não garante o seu sustento. Dessa forma, o cultivo de plantas é importante para complementar a renda da família e garantir a subsistência do lavrador-pescador.

Palavras-chave: Lavrador, Pescadores artesanais, Plantas cultivadas.

Suporte financeiro: CAPES

288 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

VARIÁVEIS SOCIECONÔMICAS COMO FATORES DE INFLUÊNCIA NO CONHECIEMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS PELOS MORADORES DE UMA COMUNIDADE RURAL NO MUNICIPIO DE PÃO DE AÇÚCAR-ALAGOAS

Jonathan Ferreira Lisboa*1; Taline Cristina Silva2; Janilo Ítalo Melo Dantas1

1Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), Campus II – Santana do Ipanema, Santana do Ipanema – AL.2 Professora Adjunta do Departamento de Ciências Biológicas, UNEAL, CSI, Santana do Ipanema – AL *Autor para correspondência, e-mail: [email protected].

RESUMO

O estudo da relação entre o homem e o recurso é importante para entender os fatores que influenciam na aquisição e manutenção desse conhecimento nas comunidades rurais. Nessa perspectiva, o presente trabalho teve por objetivo verificar se variáveis socioeconômicas: idade, gênero e escolaridade interferem no conhecimento sobre plantas medicinais pelos moradores da comunidade rural de Lagoa de Pedra, Pão de Açúcar-AL. Foi acessado o conhecimento sobre plantas medicinais através de entrevistas semi estruturada e levantamento de dados socieconômicos com 81 mulheres e 60 homens desta comunidade. Os dados foram inseridos em planilhas do Microsoft® Exel® 2007 para correlacionar aos fatores de Idade, Gênero e Escolaridade dos informantes; Foi calculado o erro amostral e verificação de significância relativa ao tratamento do gênero pelo programa estatístico BioEstat 5.3®. Os dados demonstraram uma variação entre as idades, afirmando que as pessoas adultas, com idade entre 39 e 48 anos (20,8 %) e maior representatividade por mulheres (67,3%), detêm um maior conhecimento sobre o uso de plantas medicinais, com 686 citações (65,39%). A escolaridade resultou em um maior conhecimento entre os que os informantes que apresentavam o ensino fundamental completo, com 562 citações (53,57%). Sobre o Gênero, a grande maioria são mulheres, 64 citações (64,25%). O conhecimento acessado nesta comunidade verificou que existe uma relação entre os fatores socioeconômicos com o uso de plantas, e os dados corroboram com outras pesquisas, que justificam essa representatividade da mulher na responsabilidade ativa na guarnição da informação terapêuticas da saúde da família, e o papel do homem e a mulher nas atividades do lar e agrícola. Conclui, desta forma, que a mulher é a principal detentora do conhecimento sobre plantas medicinais, segundo as variáveis avaliadas, e esse conhecimento está em maior presença entre os adultos e em menor escolaridade nesta comunidade.

Palavras-chave: etnobotânica, conhecimento local, etnomedicina.

289 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

IMPORTÂNCIA DO CONVIVER COM A COMUNIDADE EM PESQUISAS ETNOBOTÂNICAS: REFLEXÕES SOB OLHAR ETNOBIOLÓGICO

Jorge Izaquiel Alves de Siqueira1*, Edna Maria Ferreira Chaves2, Jesus Rodrigues Lemos³

1Estudante de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Reis Velloso (CMRV), Parnaíba - PI; 2Coordenadora do Curso de Gastronomia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), Campus Teresina Zona Sul, Teresina - PI; 3Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, UFPI, Campus Ministro Reis Velloso (CMRV), Parnaíba - PI. *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

A etnobiologia é o estudo científico da dinâmica de relações entre pessoas e seus grupos culturais, biota e meio ambiente, desde o passado distante até o presente imediato. Compreender a dinâmica sociocultural sobre o uso de plantas desde o ponto de vista etnobiológico não é tarefa simples, pois exige conhecimentos e adaptação das técnicas usadas por parte do etnobiólogo. O presente estudo teve como objetivo gerar uma reflexão acerca das características e aspectos positivos do conviver com a comunidade Franco, Cocal (03º28’33”S - 41º33’28”O), Piauí, Nordeste do Brasil estudada ao longo de uma pesquisa etnobotânica, com caráter eminentemente qualitativo. Foram aplicados formulários semiestruturados (Parecer nº 1.408.907) com perguntas de caráter socioeconômico e etnobotânico sob duas situações: a primeira, sem a convivência com a comunidade e, a segunda, em convivência com esta, calculando o número de indicações de espécies por quintal. Foram entrevistados 28 informantes, os quais indicaram 139 etnoespécies, distribuídas em 54 famílias botânicas. As plantas são cultivadas nos quintais agroflorestais com vários propósitos, entre eles como alimentícias, medicinais, forragem, ornamental, combustível, tecnológico e outros usos. Na primeira situação, o número de citações por quintal agroflorestal variou irregularmente (7 ≤ X ≥ 19), não se tinha as condições ideais e/ou favoráveis para compreender a dinâmica sociocultural no povoado sobre as práticas etnoagroflorestais, eram muitas as variáveis envolvidas. Na segunda situação, o número de citações por quintal agroflorestal esteve mais regular (21 ≤ X ≤ 128). O conviver com a comunidade em estudo gerou condições mais favoráveis à compreensão da dinâmica e práticas socioculturais sobre as espécies vegetais cultivadas nos quintais agroflorestais, permitiu observar diretamente e conhecer mais sobre a rotina dos informantes e uso de plantas na comunidade. De fato, foram geradas relações de confiança, o que garantiu a documentação de mais dados etnobotânicos. O conviver com a comunidade em estudo pode ser uma exitosa ferramenta de adaptação com a finalidade de aproximar-se mais à comunidade em estudo e garantir condições de confiança que permitem a compreensão sobre os critérios de escolha e uso de plantas em quintais agroflorestais.

Palavras-chave: Memória Biocultural, Quintais Agroflorestais, Conhecimento Empírico, Etnobiologia.

290 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

‘SE NÃO FOSSEM ESSAS PLANTINHAS NÃO HAVÍAMOS CHEGADO ONDE CHEGAMOS’: REFLEXÕES SOBRE O RESGATE DA MEMÓRIA BIOCULTURAL EM ESCALA LOCAL

Jorge Izaquiel Alves de Siqueira1*, Edna Maria Ferreira Chaves2, Jesus Rodrigues Lemos³

1Estudante de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Reis Velloso (CMRV), Parnaíba - PI; 2Coordenadora do Curso de Gastronomia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), Campus Teresina Zona Sul, Teresina - PI; 3Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, UFPI, Campus Ministro Reis Velloso (CMRV), Parnaíba - PI. *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

O Resgate da Memória Biocultural Local (RMBL) corresponde a estratégias e/ou ações desenvolvidas com o objetivo de garantir ou contribuir para que práticas empíricas sobre a natureza se mantenham intactas e/ou preservadas entre seu grupo cultural de existência. É um tema de contexto atual que gera muitas discussões, uma vez que os conhecimentos empíricos locais sejam perdidos já não poderão ser recuperados. O presente estudo teve como objetivo gerar uma reflexão sobre a importância do RMBL. Esta pesquisa foi desenvolvida na comunidade Franco, Cocal (03º28’33”S - 41º33’28”O), Piauí, Nordeste do Brasil, onde foram aplicados formulários semiestruturados (Parecer nº 1.408.907) com questões de caráter socioeconômico e etnobotânico. Foram entrevistados 28 informantes, os quais indicaram 139 espécies distribuídas em 54 famílias botânicas. As plantas são cultivadas nos quintais agroflorestais para preparar diversos pratos, remédios caseiros, combustível, construção, ornamental, entre outros usos. Os informantes são caracterizados por baixos níveis de escolaridade, vivem em geral da agricultura para sua subsistência e da criação de pequenos animais. Observou-se que o conhecimento botânico local está mais concentrado entre as pessoas de maior idade, documentando-se um desinteresse entre os jovens. Entre eles o uso de plantas para diversas finalidades, principalmente como lenha e para preparo de remédios caseiros, está relacionado ao estado de pobreza. Na atualidade, muitas são as estratégias desenvolvidas para contribuir com o RMBL, as quais, em sua maioria, trabalham com materiais impressos (cartilhas, livros, informes, cópias do trabalho) distribuídos nas comunidades. No entanto, estes povoados são caracterizados por baixos níveis de escolaridade, os quais em sua maioria predominam pessoas que não sabem ler. O RMBL deve atingir toda a comunidade em 100%, deve ser pensado da comunidade à comunidade. Sugere-se que as estratégias devem ser em sua maioria orais, como palestras, feiras de produtos naturais locais, reuniões informais e formais, estratégias lúdicas entre as crianças, contribuindo à valorização dos saberes locais. A parte impressa também é indispensável, mas não deve ser o ponto-chave nesse contexto. Assim, o RMBL pode contribuir à preservação dos saberes empíricos à medida que consiga alcançar toda a comunidade.

Palavras-chave: Memória Biocultural, Semiárido Piauiense, Quintais Agroflorestais, Conhecimento Empírico, Etnobotânica.

291 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

INVESTIGANDO A INTERAÇÃO ENTRE SISTEMAS MÉDICOS EM UM GRUPO HUMA- NO NO NORDESTE DO BRASIL.

Juliane de Sousa Silva1,3*, Washington Soares Ferreira Júnior 2,3.

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade de Pernambuco UPE-Campus Petrolina, 2 Professor adjunto do curso de Ciências Biológicas na Universidade de Pernambuco UPE- Campus Petrolina.3 Laboratório de investigações Bioculturais no Semiárido, Universidade de Pernambuco (UPE), Campus Petrolina. * email: [email protected]

RESUMO

Grupos humanos têm desenvolvido ao longo do tempo um conjunto de conhecimentos e práticas relacionadas ao significado e tratamento de doenças, que podem ser denominados como sistemas médicos. Porém pouco se sabe sobre a dinâmica de uso estabelecida pelas pessoas com relação a utilização destes. O presente trabalho tem por objetivo investigar a frequência de interação existente entre o uso cotidiano dos sistema biomédico e médico local. Os dados estão sendo coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, utilizando também a técnica de lista livre. O ambiente de pesquisa é uma comunidade rural denominada Sítio Coelho, localizada no distrito de Izacolândia, município de Petrolina-PE, nordeste do Brasil. A pesquisa foi submetida para o comitê de ética da Universidade de Pernambuco-UPE (CAAE: 72715316.2.0000.5207). A coleta de dados está baseada em uma primeira etapa de entrevistas, realizadas pelos integrantes do Laboratório de Investigações Bioculturais no Semiárido da Universidade de Pernambuco. Para investigar como funciona o uso das duas modalidades, estão sendo coletados dados sobre a percepção de uso dos dois sistemas. Até então foram realizadas 20 entrevistas, onde nelas foram encontradas diferenças significativas entre as proporções de uso, indicando que 14 pessoas usam apenas um dos dois sistemas, sem misturar, uma pessoa usa plantas e medicamentos em conjunto para pelo menos uma doença e 5 pessoas usam de ambas as formas (X²= 13,3; P= 0,0013). Isso significa que para as pessoas que conhecem das duas estratégias de tratamento (plantas e fármacos) a maioria em proporção utiliza as modalidades de tratamento separado. Um achado interessante do nosso trabalho, aponta que a questão de intermedicalidade, envolve um nível maior de complexidade. De acordo com as análises apresentadas, o comportamento dos indivíduos variam no tratamento de uma mesma doença, as vezes as pessoas utilizam os sistemas de tratamento em conjunto ora usam separado, indicando que a forma com que elas associam e utilizam os sistemas de tratamento, pode depender da doença, da planta ou até mesmo do fármaco utilizado. Entretanto maiores afirmações só poderão ser empregadas na conclusão da pesquisa, assim sendo poderemos indicar o quanto que essas estratégias podem estar frequentes na comunidade.

Palavras-chave: Intermedicalidade, sistemas médicos, dinâmica de uso.

Suporte financeiro: Não houve suporte financeiro.

292 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

COMPOSIÇÃO DE QUINTAIS DE SETE MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE - PE

Lara Costa1; Danielly Lima da Silva2, *; Laise de Holanda Cavalcanti Andrade3

1Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Campus Recife, Recife – PE; 2Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas com ênfase em Ambientais, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Campus Recife, Recife – PE; 3Laboratório de Etnobotânica, Departamento de Botânica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Campus Recife, Recife – PE. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Quintais urbanos correspondem à área externa de uma residência, porém dentro dos limites territoriais da propriedade, regularmente manejada por uma ou mais pessoas da casa. O cultivo de plantas para diversos fins, como alimentício, medicinal, ornamental, e místico-religioso, pode ser administrado nestes espaços de convívio social. Muito do conhecimento popular acerca das categorias utilitárias dos vegetais ainda é passado, em áreas urbanas, pelas gerações, sendo importante para pesquisas etnobotânicas. O objetivo deste estudo visa relatar o perfil dos moradores, caracterizando sua relação com o quintal, e comparar a composição de quintais entre sete municípios da Região Metropolitana do Recife. Formulários semi- estruturados foram aplicados com moradores adultos de 32 residências selecionadas aleatoriamente, desenvolvido entre o período de 2016 e 2017. Foram entrevistadas 20 mulheres e 12 homens, com 70,8% enquadrando-se na faixa etária maior de 50 anos, com tempo de moradia entre 10 e 50 anos. A maioria dos entrevistados foram mulheres, sendo 69,2% dos perfis analisados caracterizadas como donas de casa. Isso pode refletir o legado de uma sociedade patriarcal, evidente em décadas passadas, onde mulheres eram majoritariamente cuidadoras da residência. Parâmetros acerca da manutenção e dos ensinamentos sobre quintais demonstraram que 87% dos entrevistados cuidam do próprio quintal, e os métodos de aquisição do conhecimento variaram entre passados por gerações da própria família, na escola, ou com autoaprendizagem. 359 espécies de plantas foram nomeadas, divididas entre: destinadas à ornamentação dos quintais (6,1%), preparo de alimentos (79%) e remédios caseiros (9,9%) e, mais raramente, de uso místico-religioso (1,7%), e outras categorias. De acordo com o Coeficiente de Similaridade entre quintais, foi visto que, quanto às famílias de etnoespécies encontradas, Arecaceae e Asparagaceae foram encontradas em 86% dos municípios. Já quanto às categorias de uso, a menor similaridade entre municípios foi de 66%, e a maior 100%, englobando todas as categorias básicas analisadas. Desta forma, este trabalho contribui para o maior entendimento da relação dos homens com os limites de suas residências, na Região Metropolitana do Recife, e os usos mais recorrentes das plantas dentro de suas fronteiras.

Palavras-chave: Quintais; Etnoespécies; Região Metropolitana do Recife

293 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

CHECKLIST DAS ESPÉCIES DE PLANTAS MELITÓFILAS CONHECIDAS PELOS MORADORES DA COMUNIDADE JOSÉ GOMES, CABECEIRAS DO PIAUÍ/PI

Márcio Luciano Pereira Batista1*, Paulo Roberto Ramalho Silva2, Roseli Farias Melo de Barros3, Eraldo Medeiros Costa Neto4

1*Aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, E-mail: [email protected], 2Orientador, professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente/ Universidade Federal do Piauí, E-mail: [email protected] 3Co-orientadora, Professora do Departamento.de Biologia/Universidade Federal do Piauí, E-mail: [email protected], 4Co-orientador, Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, Email: [email protected]

RESUMO

O etnoconhecimento das populações tradicionais sobre os vegetais melitófilos é importante para a implementação e o desenvolvimento de práticas de manejo sustentáveis em prol da conservação ambiental e da elevação do bem-estar das populações tradicionais. O Conhecimento Ecológico Tradicional é um corpo cumulativo de conhecimento sobre as relações entre os seres vivos e o meio ambiente, que evolui e é repassado por gerações através da cultura. Assim, objetivou-se amostrar os tipos de espécies de plantas visitadas pelas abelhas sem ferrão, conhecidas pelos moradores da comunidade José Gomes/Pi. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), parecer nº 1.895.391. Antes de cada entrevista foi solicitada a permissão do informante por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), preconizado pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Para tanto, empregou-se o método de rapport, estabelecendo previamente contatos com os moradores da comunidade por meio de conversas informais e, depois, a proposta de pesquisa foi apresentada em reunião. Ademais, para coletar as informações foram realizadas entrevistas com auxílio de formulários padronizados semiestruturados a 43 pessoas, sendo uma por residência, que detinham o maior conhecimento sobre plantas melitófilas. Foram listadas pelos entrevistados 35 etnoespécies de plantas com destaque para o caju (Anacardium occidentale L.), a melancia (Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai), o murici (Byrsonima crassifólia L. Kunth), a laranja (Citrus sinensis (L.) Osbeck,), o limão azedo (Citrus limonum risso (L.) Osbecko), o pequi (Caryocar coriaceum Wittm), a carambola (Averrhoa carambola L). a manga (Mangifera indica L.), a cajá (Spondias mombin L.), o babaçu (Attalea speciosa (Mart. ex Spreng)) e outros. Logo, verificou-se que as espécies inventariadas são relevantes para a prática da apicultura e meliponicultura realizadas na comunidade José Gomes. Nesta perspectiva, a conservação dos agentes polinizadores e seus habitats são fundamentais para assegurar serviços ambientais eficientes e fomentar base econômica autossustentável para moradores da comunidade exposta.

Palavras-chave: Etnoconhecimento, ecologia, etnobiologia, meio ambiente, abelhas sem ferrão.

Suporte financeiro: Capes

294 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS PELO POVO TEMBÉ DA ALDEIA SÃO PEDRO: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS

Maria do Espirito Santo Ribeiro Reis1; Maria Lúcia dos Santos Batista1; Claudio Emidio-Silva2*; Vânia Lobo-Santos3

1Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará – UEPA, Belém - PA; 2Docente do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará – UEPA, Biólogo, Mestre em Ciências Biológicas e Doutor em Educação, Belém – PA; 3Docente do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará – UEPA, Química e Mestre em Química, Belém – PA. *Autor para correspondência, e- mail: [email protected]

RESUMO

Este estudo é um relato da experiência sobre o projeto desenvolvido na aldeia São Pedro onde foram levantados os saberes das mulheres mais velhas com relação as plantas medicinais cultivadas. Durante o projeto foi realizada uma pesquisa sobre as principais plantas medicinais cultivadas e para que serviam. Com os dados foi construída uma cartilha ilustrada com o título: “Receitas que curam: plantas medicinais utilizadas pelos Tembé da aldeia São Pedro”. Após a confecção da cartilha com as plantas levantadas e saberes associados foram realizados os procedimentos de herborização produzindo 21 exsicatas com etiquetas de identificação. As exsicatas foram fotografadas para posterior utilização, pois com o tempo poderia se deteriorar. Com os materiais didáticos em mãos realizou-se a aplicação para os alunos do terceiro ano da EIEEFM Francisco Magno Tembé. Além das atividades realizadas em sala e aula com os materiais didáticos (cartilha e exsicatas), foram realizadas aulas-passeio, aulas-prática com a preparação dos remédios e aulas-teórica dialogada sobre o assunto. Tudo foi registrado em caderno de campo. Com essas atividades o projeto foi concluído com sucesso. Os objetivos do projeto foram atingidos, pois as professoras indígenas conseguiram construir materiais didáticos a partir do conhecimento etnobotânico e etnofarmacológico das mulheres mais velhas da aldeia. Também conseguiram sistematizar uma parte do conhecimento sobre a utilização das plantas medicinais. Entre as plantas mais utilizadas pela comunidade estão: Abacate (Persea americana), Açaizeiro (Euterpe oleracea), Alho (Alium sativa), Andiroba (Carapa guianensis), Arruda (Ruta graveolens), Babosa (Aloe arborescens), Cabacinha (Luffa operculata), Chicória (Chicorium intybus), Cipó-d’alho (Adenocalymna alliaceum), Cipó-de-verônica (Veronica officinalis), Copaiba (Copaifera langsdorfii), Cuieira (Crescentia cujete), Cuúba (Plumeria spp.), Erva-cidreira (Melissa officinalis), Favaquinha (Alfavaca), (Ocimum basilicum), Goiaba (Psidium guayava), Hortelã (Mentha piperita), Laranja- da-terra (Citrus sp), Limão (Citrus limon), Malícia (Mimosa humilis), Mastruz (Chenopodium ambrosioides), (Mucuracá (Petivera alliacea), Pariri (Arrabidaea chica), Pião-roxo (Jatropha gossypiifolia), Pimenta- malagueta (Piper rubra), Pirarucu (Bryophyllum calycinum), Quebra-pedra, (Phyllanthus niruri), Unha-de- gato (Bignonia spp.), Urucum (Bixa orellana) e Verônica-da-terra-firme (Dalbergia subcymosa). O projeto desenvolvido se mostrou muito positivo, tanto para as professoras que o desenvolveu quanto para a comunidade que viu seus conhecimentos sistematizados e valorizados.

PALAVRAS-CHAVE: Etnobiologia; Etnobotânica; Plantas Medicinais; Material Didático; Povo Tembé- Tenetehar.

Suporte financeiro: Universidade do Estado do Pará - UEPA; Núcleo de Formação Indígena - NUFI.

295 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

CONHECIMENTO E USO DE PLANTAS ALIMENTÍCIAS NO SUL DO MARANHÃO: UM ESTUDO DE CASO

Maria Luíza Lino da Silva¹*, Jéssica Pereira da Cruz¹, Elisa Pereira dos Santos¹ & Júlio Marcelino Monteiro²

¹Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano – PI; ²Professor do Curso de Ciências Biológicas, CAFS; *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O estudo teve como objetivo registrar o conhecimento e usos dos recursos vegetais alimentícios na comunidade Bem Quer, MA, visando revelar o número de espécies úteis para consumo local e os seus produtos derivados. Identificar e analisar, de forma qualitativa e quantitativa, as formas de uso das plantas pela comunidade estudada, e também documentar as técnicas de processamento e consumo. Foram utilizadas entrevistas semiestruturadas para a coleta de dados objetivando registrar o conhecimento de plantas de uso alimentício não convencional na comunidade. Calculou-se o valor de uso (VU) para as espécies citadas e diferenças foram verificadas entre as citações dos informantes de acordo com o grau de instrução, gênero e idade. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí (CAAE: 0191.0.045.000-11). Foram entrevistados 17 informantes sobre o uso das plantas alimentícias não convencionais seus respectivos usos e formas de preparo, e de todos os informantes foram adquiridos tais conhecimentos com os mais velhos (pais ou avós). Foram citadas 43 etnoespécies de interesse alimentício, que segundo os informantes são encontradas, em sua maioria, nos quintais e regiões circunvizinhas. Dentre as partes mais utilizadas o fruto destacou com 100% das citações. Não houve quantidade coletada e consumida apontada pelos informantes e preferência de horário ou de local para realizar as coletas. Na comunidade os moradores utilizam as plantas quando necessitam, apenas para consumo próprio, não utilizando para estocar ou obter renda. Foram citadas quatro formas de consumo, totalizando 159 citações. Em geral 48,43% é consumido in natura, 37,73% é consumido em forma de suco, 11,32% eram feitos doces do fruto e 2,51% o fruto era consumido cozido. Das plantas citadas, obtiveram destaque por seu VU alto, a Guabiraba (Campomanesia aromática Aubl. (Griseb.) VU = 0,8; Bacuri (Platonia insignis Mart.) VU = 0,41; Cajá (Spondias mombin L.) VU = 0,35. Não houve diferença significativa entre os valores de uso entre os gêneros, idade ou de instrução. Na comunidade estudada, as variáveis acima parecem não influenciar o conhecimento acerca de plantas alimentícias. A comunidade estudada apresentou bom conhecimento sobre plantas alimentícias não convencionais, assim, estudos futuros são interessantes para aprofundar algumas questões como o uso passado e presente dessas plantas, quantidade consumida e o manejo associado à produção de algumas espécies.

Palavras-Chave: Etnoconhecimento; plantas úteis, semiárido

296 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PROSPECÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O CONHECIMENTO TRADICIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS PARA TRATAMENTO DE PROBLEMAS GASTROINTESTINAIS NO PIAUÍ, BRASIL

Micheli Veras dos Santos1*, Daniela Aguiar Santos1, Irlaine Rodrigues Vieira2, Ivanilza Moreira de Andrade3

1Estudante do curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, Av. São Sebastião, 2819, Campus Ministro Reis Velloso CEP 64202-020, Parnaíba, Piauí, Brasil. UFPI; 2Bióloga, Campus, Ministro Reis Velloso, doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), UFPI, 3Teresina,Docente do curso em Ciências biológicas, UFPI, Campus Ministro Reis Velloso. *[email protected]

RESUMO

Há séculos, os produtos vegetais são a base para cura de diferentes doenças no mundo. Muito desse co- nhecimento vem se perdendo, o qual pode ser resgatado por meio dos estudos etnobiológicos. Objetivou-se realizar prospecção científica dos estudos etnobotânicos abordando o conhecimento tradicional sobre as plantas utilizadas para o tratamento de doenças gastrointestinais no estado do Piauí. Foram pesquisados no "Google acadêmico" os termos "plantas" + "medicinais" + "etnobotânica" + "Piauí". Os dados foram avalia- dos quanto às famílias botânicas mais representativas, indicações de uso e partes da planta mais utilizada. Constatou-se o registro de 20 trabalhos científicos abordando 65 famílias botânicas, dentre as quais a Faba- ceae abrangeu a maior indicação de usos para a cura de enfermidades gastrointestinais (47 indicações), se- guindo de Euphorbiaceae (32), Lamiaceae (32) e Anacardiaceae (27). A doença mais tratada foi a diarreia com (101) citações, seguida de gastrite (70) e dor de barriga (48). A parte da planta mais utilizada foi a folha com (174), seguida de casca (137) e raiz (37). Quanto às espécies mais citadas, se destacaram o boldo (Plectranthus barbatus Andr.) com 10 notificações, aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão) (oito), cajuí (Anacardium microcarpum Ducke), mamão (Carica papaya L.), marmeleiro (Croton sp) e goiabeira (Psidium guajava L.) (sete). Conclui-se que no estado do Piauí, principalmente a família botânica Fabaceae é destina- da ao tratamento de doenças gastrointestinais, se destacando o uso das folhas e a cura da diarreia. Estas informações podem contribuir com estudos futuros sobre táxons utilizados na cura de problemas gastroin- testinais, com possível potencial para o descobrimento de novos fármacos, além de nortear o desenvolvi- mento de medidas que contribuam com a exploração racional e conservação de espécies medicinais.

Palavras-chave: Cultura, etnobotânica, fitoterápicos.

297 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ETNOBOTÂNICA INDÍGENA: PLANTAS ÚTEIS NA VIDA DO POVO TEMBÉ DA REGIÃO DO GURUPI

Naldo Carneiro Tembé1; Claudio Emidio-Silva*2; Rita de Cássia Almeida-Silva3

1Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará – UEPA, Belém - PA; 2Docente do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará – UEPA, Biólogo, Mestre em Ciências Biológicas e Doutor em educação, Belém - PA; 3Docente do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará – UEPA, Letras e Mestre em Literatura, Belém – PA; *Autor para correspondência, e- mail: [email protected]

RESUMO

Este trabalho descreve o percurso de um projeto desenvolvido na aldeia Cajueiro, povo Tembé da região do Gurupi, sobre o conhecimento das plantas úteis para a comunidade daquela aldeia. Pela perspectiva da etnobotânica foi construído um livro ilustrado sobre as plantas nativas que são utilizadas tanto no passado como na atualidade pelos indígenas da aldeia Cajueiro. O trabalho se pautou em pesquisa de campo e entrevistas com os mais velhos para a construção do livro onde 30 espécies de plantas foram relacionadas, feitas uma breve descrição e suas principais utilidades. Cada espécie foi desenhada segundo a perspectiva indígena tanto a planta em si quanto o seu fruto, quando possível. As plantas selecionadas abrangeram as seguintes categorias: Árvores (andiroba - Carapa guianensis, cupiuba - Goupia glabra, jatobá - Hymenaea courbaril e etc.); Palmeiras (açaí - Euterpe oleracea, tucumã - Astrocaryum aculeatum, babaçu - Attalea speciosa e etc.); Cipós (titica – Heteropsis sp.); Arbustos (urucum - Bixa orellana, cuieira - Crescentia cujete e embaúba – Cecropia spp.); e Gramíneas. As utilidades das plantas foram arroladas em sete categorias: para uso medicinal; para uso em construções; para usos nas tradições culturais como em festas e danças; para uso nos alimentos; como alimento dos animais de caça; para uso nos utensílios de caça; e para a confecção de artesanatos. O estudo possibilitou não só a construção do TCC do primeiro autor como também contribuiu para o aprendizado dos alunos onde foi aplicado e ainda percebemos que o projeto possibilita uma valorização do conhecimento tradicional do povo Tembé, uma vez que o livro traz um peso maior para uso desses conhecimentos na escola. PALAVRAS-CHAVE: Etnobiologia, Etnobotânica; Material Didático; Povo Tembé-Teneterar do Gurupi.

Suporte financeiro: Universidade do Estado do Pará - UEPA; Núcleo de Formação Indígena - NUFI.

298 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO SOBRE A ANADENANTHERA COLUBRINA (VELL.) BRENAN NA COMUNIDADE GRUTA BELA.

Raquel Maria da Conceição Santos1*, Hellen Cristina Cabral1, Marcelo Sousa Lopes2, Thiago Pereira Chaves2

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Professora Cinobelina Elvas (CPCE), Bom Jesus – PI; 2Professor do Curso de Ciências Biológicas, UFPI, CPCE; *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Anadenanthera colubrina (Fabaceae) é uma árvore nativa da região nordeste, conhecida popularmente como Angico, encontrada nas matas ciliares desta região. É considerada muito importante, sendo inserida em diversas categorias de uso etnobotânico no Nordeste do Brasil. O presente trabalho teve como objetivo realizar um levantamento etnobotânico buscando coletar o conhecimento e uso de A. colubrina na comunidade Gruta Bela, município de Bom Jesus-PI. A coleta de dados ocorreu durante os meses de Maio e Junho de 2017 por meio de questionário semiestruturado. Para a seleção dos entrevistados foi utilizado o método Snowball (bola de neve). Avaliou-se os usos ditos reais, nos quais os informantes utilizam a planta de maneira concreta e os usos potenciais, que são aqueles que os entrevistados conhecem, mas não utilizam. Foi entrevistado um total de 14 moradores, sendo 05 mulheres e 09 homens, com idade entre 25 e 82 anos, com predomínio de pessoas mais velhas devido ao fato dessas pessoas possuírem mais conhecimentos sobre o uso da fitodiversidade na comunidade. Constatou-se a utilização da A colubrina para 7 categorias tais como: Forragem, combustível, construção, veterinária, veneno abortivo, medicinal e alimentação. Destas, a categoria com maior destaque foi a categoria medicinal onde todos os entrevistados citaram a utilização da planta para cura de diversas enfermidades, especialmente gripes e infecções. Todas estas citações foram de uso real. Outra categoria de destaque foi Construção, sendo a madeira empregada para a obtenção de cercas e móveis. Neste caso, todas as citações em uso potencial. O uso de A. colubrina é bastante popular no local investigado, porém a maior parte dos usos é potencial, indicando que tal planta não sofre uma pressão de uso muito intensa. Estudos complementares são necessários para avaliar a real situação da pressão de uso sobre A. colubrina.

Palavras-chave: Conhecimento popular, Angico, Medicinal, Piauí.

299 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA:ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ESTUDO ETNOBOTÂNICO DE DUAS FAMÍLIAS CIGANAS QUE VIVEM NO ESTADO DE PERNAMBUCO

Ricardo Alexandre de Araujo Monteiro Lobo1*, Antônio Fernando Morais de Oliveira1,2,3, Laise de Holanda Cavalcanti Andrade1,2,

1Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Campus Recife; 2Departamento de Botânica da UFPE, Campus Recife; 3Laboratório de Ecologia Aplicada e Fitoquímica; *Autor para correspondência, e-mail:[email protected]

RESUMO

Na literatura científica, um extenso número de publicações nas áreas de Antropologia e Etnobiologia trata dos povos indígenas e afro-descendentes que vivem no Brasil. No entanto, outras minorias encontram-se pouco estudadas, como é o caso das comunidades ciganas. Visto que o Brasil é mundialmente conhecido pela sua biodiversidade e pela pluralidade étnica de seu povo, supõe-se que a comunidade cigana faça uso dessa riqueza adaptando-a de acordo com suas tradições culturais. Todavia, até o momento, não foram desenvolvidas pesquisas etnobotânicas sobre as comunidades ciganas que habitam o país. O presente estudo caracteriza, do ponto de vista etnobotânico, duas famílias ciganas da etnia Calon: os Alves, que vivem nos municípios de Altinho, Caruaru e Feira Nova, região Agreste do estado de Pernambuco e os Dantas, residentes no município de Itambé, região da Zona da Mata do estado de Pernambuco. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética sediado na Universidade Federal de Pernambuco e obteve a autorização 57999516.2.0000.5208. Foram entrevistadas 23 pessoas, de ambos os gêneros, correspondendo a 85,2% dos membros na faixa etária acima dos 40 anos. Para a amostragem foi utilizada a técnica “bola de neve” e as entrevistas foram realizadas com formulários semi-estruturados. Foram citadas 140 espécies de plantas, pertencentes a 63 famílias, com um total de 446 citações de uso, classificadas em seis categorias: medicinal (339), ritualística (32), cosmética (31), tecnológica (11), alimentar (20) e outros (13). Dentre as utilizações medicinais (121 espécies), foram citadas 53 indicações terapêuticas para as plantas, de acordo com o Código Internacional de Doenças (CID). Destaca-se a utilização diferencial de algumas plantas, como Heliotropium indicum L. (Boraginaceae) para uso veterinário em aves. Utilizando o índice de similaridade de Sorensen comparou-se os resultados obtidos para cada família cigana e observou-se uma semelhança de 0,47 entre os relatos das mesmas, enquanto os valores variavam de 0,25 a 0,49 quando comparadas com comunidades não ciganas que vivem na mesma região. Há evidências de uma cultura passada oralmente entre as gerações, fruto de experiências próprias ou adquiridas com comunidades não ciganas, principalmente na época do nomadismo.

Palavras-chave: Etnobotânica, ciganos, Heliotropium indicum L.

300 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS E TRATAMENTOS DE SINTOMAS E DOENÇAS DE INTERESSE VETERINÁRIO NO ASSENTAMENTO DOM HÉLDER CÂMARA – GIRAU DO PONCIANO - AL

Rita de Cássia Silva1*, Maria Liris Barbosa da Silva2, Janeide da Silva3, Daniele Cristina de Oliveira Lima da Silva4, Henrique Costa Hermenegildo da Silva5

¹Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Campus Arapiraca, Alagoas – AL. 4Professora da Faculdade Regional da Bahia – UNIRB, Unidade Arapiraca 5 Professor Adjunto da Ufal, Campus de Arapiraca *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Há muito tempo as pessoas usam as plantas no cuidado da saúde do homem e de animais. Assim, o objetivo do trabalho foi avaliar o conhecimento sobre plantas usadas para tratar sintomas e doenças que acometem os animais no assentamento Dom Hélder Câmara, Girau do Ponciano,– AL. Também conhecido como Assentamento Rendeiras, este é o maior do estado, possui cerca de 154 famílias, está organizado em 6 agrovilas e apresenta duas Áreas de Reserva Legal. Para coleta de dados foram feitas entrevistas semiestruturadas com um habitante de cada casa, sendo estes maiores de 18 anos e que tinham animais de criação. Dentre as perguntas feitas se incluem: “Quais animais você tem? ”; “Quais doenças você identifica/conhece que acomete nesses animais? ”; “Quais os sintomas observados? ”; “Quais plantas podem ser utilizadas para essas enfermidades: ” e “De que forma elas são preparadas? ”. Ao final das entrevistas, as informações foram organizadas em uma planilha do programa MS Excel®, em que se contabilizou 48 informantes. Avaliou-se a saliência cultural e a frequência de citação, por meio do programa Anthropac®. As plantas mais salientes foram: A Aloe vera (L.) Burm. F. (Babosa - S=0,261), estando relacionada ao tratamento de Verme, Gogo, Gripe e Febre; seguida por Lippia alba (Mill) N.E. Br.) (Erva Cidreira – S=0,078), usada para tratar Febre, Impanzinado e dor de barriga; Citrus limon (L.) Burm. F. (Limão – S=0,69), usado para tratar Gogo; Allium sativum L. (Alho – S=0,047), para Verme, Gogo e Raiva; Jatropha mollissima. (Pinhão – S=0,063), usado contra Cólica, Carrapato e Feridas; Coronopus didymus (L.) Sm. (Mastruz - S=0,052), para tratamento de Dor de barriga e Gogo; Hyptis pectinata (L.) Poit. (Sambacaitá – S=0,063), usado para tratar a Sarna. O uso alternativo das plantas para esta finalidade pode ser compreendido ao passo que a população tem acesso facilitado às plantas e não há a necessidade de gastar com esses tratamentos.

Palavras-chave: Etnobotântica. Saliência cultural. Saúde animal.

301 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

IMPORTÂNCIA RELATIVA E AS ESTRUTURAS DE PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE PAULISTANA-PI

Sâmia Caroline Melo Araújo1,4, Francielson da Silva Barbosa2, Cledinaldo Borges Leal3, Etielle Barroso de Andrade4 *

1Curso de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Saúde, Faculdade Evangélica do Meio Norte, FAEME, Teresina – PI; 2Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões - PI; 3Professor da Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões - PI; 4Professor (a) do Instituto Federal do Piauí, IFPI, Campus Paulistana, Paulistana – PI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O uso de plantas medicinais para fins fitoterápicos tem origem muito antiga, remontando aos primórdios da medicina, sendo fundamentada no acúmulo de informações que se passa de geração para geração. Devido ao seu constante uso pelas comunidades tradicionais, a fitoterapia foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como forma alternativa para tratamento de doenças. O presente trabalho tem como objetivo apresentar as estruturas comercializadas, os modos de uso e a importância relativa de plantas medicinais comercializadas em feiras livres da cidade de Paulistana, sudeste do Piauí. A amostragem ocorreu entre junho de 2017 e julho de 2017, utilizando questionários semiestruturados e conversas informais junto aos feirantes. Foram incluídos no levantamento apenas espécies vegetais com indicação fitoterápica. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CEP (CAAE 70052017.1.0000.5214). A versatilidade no modo de utilização de cada espécie foi dada a partir do cálculo da Importância Relativa (IR). As doenças foram agrupadas em categorias segundo a classificação das doenças da Organização Mundial da Saúde. Foram entrevistados cinco feirantes livres, resultando em um total de 64 espécies vegetais comercializadas com fins medicinais. As partes das plantas mais comercializadas foram a casca (34,40%) as sementes (26,56%). As demais partes foram menos citadas: flor, fruto ou parte deles (9,38%), folhas (7,81%), caule e raiz (6,25%). No caso da umburana-de-cheiro (Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.) é utilizado tanto a semente, quanto a casca. Apenas umburana- de-cheiro (Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.) apresentou o valor máximo de importância relativa (IR = 2), indicando maior versatilidade em relação aos diferentes sistemas corporais tratados e às indicações de tratamento. A maioria das espécies (n = 36) apresentou importância relativa variando de 0,33 a 0,83, as demais espécies (n = 25) apresentaram valores de IR variando de 1,00 a 1,83. Levantamentos etnobotânicos na região nordeste, principalmente no semiárido, são de grande importância na manutenção do conhecimento tradicional e fundamental para auxiliar no desenvolvimento de futuras pesquisas sobre o uso medicinal dessas espécies.

Palavras-chave: Etnobotânica, fitoterápicos, feiras livres, Piauí.

302 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PLANTAS MEDICINAIS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE PAULISTANA, SUDESTE DO PIAUÍ

Sâmia Caroline Melo Araújo1,4, Francielson da Silva Barbosa2, Cledinaldo Borges Leal3, Etielle Barroso de Andrade4 *

1Curso de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Saúde, Faculdade Evangélica do Meio Norte, FAEME, Teresina – PI; 2Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões - PI; 3Professor da Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões - PI; 4Professor (a) do Instituto Federal do Piauí, IFPI, Campus Paulistana, Paulistana – PI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Plantas medicinais beneficiaram povos primitivos, quando estes as usavam no tratamento de doenças e ainda continuam beneficiando a sociedade atual por apresentarem uma melhor relação custo/benefício quando comparados aos produtos sintéticos. O interesse por medicamentos fitoterápicos e suas comercializações vem aumentando intensamente em todo o mundo, principalmente no Brasil. Assim, o presente trabalho apresenta as espécies de plantas com propriedade medicinais comercializadas em feiras livres na cidade de Paulistana, sudeste do Piauí. Os dados foram coletados entre os meses de junho e julho de 2017, ocorrendo através da aplicação de questionário semiestruturado e conversas informais com os feirantes. Antes da execução, a pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CEP (CAAE 70052017.1.0000.5214). A partir dos nomes populares fornecidos e a coleta de material (cascas, sementes, folhas, flores, caules), foi feito a identificação das famílias e das espécies, utilizando para consulta o banco de dados do Missouri Botanical Garden (www.tropicos.org), a Lista de Espécies da Flora do Brasil (www.floradobrasil.jbrj.gov.br) e do Herbário Vale do São Francisco (www.univasf.edu.br/~hvasf/). Foram entrevistados cinco feirantes livres, resultando em um total de 64 espécies distribuídas em 28 famílias. Destas, as famílias com maior número de espécies citadas foram: Fabaceae, com 13 espécies (Stryphnodendron adstringens (Mart.), Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz, Senna alexandrina Mill, Pterodon emarginatus Vogel, Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm., Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir, Bauhinia sp., Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong, Erythrina velutina Willd, Hymenaea courbaril L., Acacia farnesiana Wall, Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L. P. Queiroz) e Apiaceae, com 8 espécies (Cuminum cyminum L., Anethum graveolens L., Coriandrum sativum L., Pimpinella anisum L., Mauritia flexuosa L. f., Matricaria chamomila L., Egletes viscosa (L.) Less, Baccharis trimera (Less.) DC. As demais famílias citadas foram: Lamiaceae, Annonaceae, Adoxaceae, Anacardiaceae, Bignoniaceae, Brassicaceae, Caryocaraceae, Celastraceae, Convolvulaceae, Cucurbitaceas, Equisetaceae, Erythroxylaceae, Euphorbiaceae, Illiciaceae, Lamiaceae, Liliaceae, Lythraceae, Malvaceae, Mimosaceae, Myristicaceae, Myrtaceae, Olacaceae, Piperaceae, Rubiaceae, Sapotaceae e Zingiberaceae. Estudos etnobotânicos são importantes para proporcionar o entendimento e conservação da cultura do uso local de plantas medicinais, sendo importante mais estudos para o estado do Piauí.

Palavras-chave: Povos primitivos, estudos etnobotânicos, feirantes.

303 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

USO MEDICINAL DE PLANTAS COMERCIALIZADAS NA FEIRA LIVRE DA CIDADE DE PAULISTANA, SUDESTE DO PIAUÍ

Sâmia Caroline Melo Araújo1,4, Francielson da Silva Barbosa2, Cledinaldo Borges Leal3, Etielle Barroso de Andrade4 *

1Curso de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Saúde, Faculdade Evangélica do Meio Norte, FAEME, Teresina – PI; 2Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões - PI; 3Professor da Universidade Federal do Piauí, UFPI, Centro de Educação Aberta e à Distância do Brasil, CEAD, Polo de Simões, Simões - PI; 4Professor (a) do Instituto Federal do Piauí, IFPI, Campus Paulistana, Paulistana – PI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Plantas medicinais são usadas desde a antiguidade para cura e prevenção de diversas doenças. Tanto em regiões pobres como em cidades grandes, essas plantas são comercializadas em feiras livres, mercados, além de serem encontradas nas residências. Devido ao uso de plantas para fins terapêuticos, a fitoterapia foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como forma alternativa para tratamento de doenças. O presente trabalho teve como objetivo identificar as principais indicações de uso medicinal das plantas comercializadas na feira livre do município de Paulistana, localizada na região sudeste do Piauí. Os dados foram coletados por meio de questionários, entrevistas livres e conversas informais com os feirantes. Antes da execução, a pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CMPP (CAAE 70052017.1.0000.5214). O Valor de Uso (VU) foi utilizado para determinar a importância relativa de cada espécie. As doenças foram agrupadas em categorias segundo a classificação das doenças da Organização Mundial da Saúde. Foram entrevistados cinco feirantes livres, resultando em um total de 64 espécies vegetais comercializadas com fins medicinais. As espécies mais citadas com VU entre 0,80 e 1,00 foram indicadas para inflamação nos ovários (barbatimão); gastrite (barbatimão e sucupira); pressão alta, calmante e doenças renais (camomila); derrame e convulsão (mostarda); dor de cabeça (mostarda, anis estrelado e noz-moscada); verme (sene e batata-de-purga); intestino preso (sene, noz-moscada e marcela); dor no corpo (ibiriba, sucupira e pixuri); bronquite (batata-de-purga); indigestão (boldo, umburana e marcela); perda de memória (anis-estrelado); AVC (pixuri e noz-moscada); diabetes (boldo, marcela e mororó); colesterol (mororó); febre (sucupira e quina-quina); gripe (sene, ibiriba, pequi, batata-de-purga, umburana e quina-quina); sinusite (quina-quina); problemas no fígado (boldo); dor na coluna (sucupira); enxaqueca, dor de urina e tosse (ibiriba); dor de estômago (boldo e anis-estrelado); vômito, derrame e diarreia (umburana). A categoria com maior número de indicações foi “Doenças do Aparelho Respiratório”, com 46 citações. Observou-se uma grande diversidade de plantas medicinais comercializadas nas feiras livres, atendendo de diversa forma seus consumidores. No entanto, ainda existe uma carência de levantamentos etnobotânicos na região nordeste, principalmente no semiárido, mostrando a importância dessa prática de manutenção do conhecimento tradicional sobre o uso medicinal dessas espécies.

Palavras-chave: Feiras livres, fitoterapia, conhecimento tradicional.

304 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ESTUDO ETNODIRIGIDO SOBRE O USO DE PLANTAS PARA O TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA

Sara Tavares de Sousa Machado*1; Andressa Gabrielli da Silva Rosa1; Vitória Faustino Martins1; Maysa de Oliveira Barbosa2; Cicero Damon Carvalho de Alencar2; Lucas Alves Lima2; Marta Regina Kerntopf3

1Curso de Ciências Biológicas ; 2Curso de Enfermagem, Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus Pimenta, CRATO – CE; Laboratório de Farmacologia de Produtos Naturais- LFPN, 3Departamento de Química Biológica/ orientadora. e-mail: [email protected]

RESUMO

A utilização de plantas com fins medicinais, para tratamento, cura e prevenção de doenças, é uma das mais antigas formas de práticas medicinais da humanidade. Define-se planta medicinal como sendo todo e qualquer vegetal que possui, em um ou mais órgãos substancias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos semissintéticos. Objetivou-se com esse estudo tomar conhecimento sobre as plantas usadas pela comunidade Santo Antônio (Sítio Sto. Antônio), localizada no distrito do Arajara, Barbalha (CE), no tratamento da hipertensão arterial sistêmicas (HAS). Foi realizado um levantamento etnobotânico sobre plantas utilizadas como meio fitoterápico no tratamento da hipertensão. A metodologia utilizada envolveu atividades de campo e entrevistas que foram realizadas entre os meses de julho e agosto de 2017. Os dados foram obtidos por meio de um roteiro de entrevistas semiestruturado aplicado aos moradores da comunidade, foram entrevistadas pessoas da comunidade com idade entre 46 e 92 anos, todas com grande tempo como residente naquela área. Todos os entrevistados alegam utilizar as plantas para o auxílio do tratamento da hipertensão, mas apenas 25% desses substituem o uso do fármaco pelo uso das plantas. O trabalho resultou na coleta de 10 plantas, pertencentes a 10 famílias, a espécie mais utilizada pelos integrantes da comunidade é a Saccharum officinarum. As partes das plantas mais utilizadas foram as folhas e as partes aéreas, sendo o chá a principal forma de utilização, o conhecimento sobre os usos e modos de preparo é proveniente em geral dos familiares. Em suma, verifica-se que a interação da população local com a flora e utilização das plantas como alternativa medicinal está diretamente relacionada com aspectos sociais, econômicos e principalmente culturais.

Palavras-chave (Keywords, if english; Palabras-clave, si español): Plantas medicinais, hipertensão, fitoterápico.

Suporte financeiro (Financial support, if english; apoyo financiero, if español): Pró-reitoria de extensão.

305 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Inglês LANGUAGE: English

SHRUB AND TREE SPECIES INTRODUCED IN THE URBAN AREA OF THE CITY OF AURORA (CEARÁ) AND ETHNOBOTANICAL ASPECTS

Silvio Felipe Barbosa Lima1,2*, Marina da Silva Moreira3, Francisco Carlos Pinheiro da Costa1, Wedson de Medeiros Silva Souto4,5

1Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Formação de Professores, Unidade Acadêmica de Ciências Exatas e da Natureza, Cajazeiras – PB; 2Universidade Federal da Paraíba – Campus II, Departamento de Ciências Biológicas, Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Areia – PB; 3Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Formação de Professores, Unidade Acadêmica de Ciências Exatas e da Natureza, Cajazeiras – PB; 4Laboratório de Zoologia, Uso e Conservação da Fauna Ecotonal da América do Sul (ZUCON), UFPI, CMPP; 5Professor do Departamento de Biologia da UFPI, CMPP. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

ABSTRACT

The present work aims to document the heterogeneity of exotic vegetation of the urban area of Aurora (Ceará) and the ethnobotanical knowledge of the population. The work was carried out between April and August of 2017. Prior to execution, the research was approved by the Ethics Committee of the UFCG-CFP (CAAE: 66289417.2.0000.5575). Samplings of exotic vegetation were performed in Aurora with the aim of cataloging the species. Ethnobotanical data were obtained from formal/informal interviews. The data were analyzed qualitatively and quantitatively by the union of the different competences. Six families, eight genera and nine exotic plants were identified. The most representative families were Fabaceae and Malvaceae. Most interviewees demonstrated partial understanding of the meaning of native/exotic species. Less than half of the respondents (46.7%) mentioned exotic species in the afforestation of the region. The exotic plants mentioned by the informants were Mangifera indica (popularly known as “mangueira”), Ficus benjamina (popularly known as “figueira”) and Azadirachta indica (popularly known as “nim indiano”). Nim indiano was the most cited in the interviews. Respondents said had never used exotic plants in any way. It was observed that there is no significant importance for attributions of use of the exotic plants in the region, except in the afforestation. Informants have recognized that exotic plant roots damaging the sewage and deforming walls/sidewalks. Most of the informants considered to be more relevant the use of the native plants in the afforestation. In this study, the age and the monthly income of the interviewees did not influence ethnobotanical knowledge.

Keywords: Exotic plants, Fabaceae, Malvaceae, afforest, Northeastern Brazil.

306 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

DIVERSIDADE E ETNOBOTÂNICA DE ESPÉCIES ARBÓREAS NATIVAS OCORRENTES EM QUINTAIS AGROFLORESTAIS DA COMUNIDADE ROZALINA, VARGEM GRANDE- MA

Taciella Fernandes Silva¹*, Jeane Rodrigues de Abreu², Klayton Antonio do Lago Lopes¹, Andréa Martins Cantanhede²

1Curso de Bacharelado em Agronomia, Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA), Chapadinha – MA; 2 Professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA), Chapadinha – MA. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Os quintais agroflorestais constituem uma forma de uso e manejo sustentável da terra onde espécies vegetais nativas são conservadas em associação com plantas cultivadas e/ou criações de animais. Por meio das relações estabelecidas com os quintais, os moradores satisfazem suas necessidades econômicas, sociais e culturais. Com o objetivo de contribuir com o conhecimento sobre o uso e conservação das plantas, desenvolveu-se pesquisa para identificar as árvores nativas presentes nos quintais agroflorestais da Comunidade Rozalina, localizada no município de Vargem Grande, Maranhão, em área de cerrado. O trabalho de campo foi realizado no período de Janeiro a Maio/2017. Foram visitados, para realização do levantamento florístico, os quintais da comunidade que apresentaram características de um sistema agroflorestal típico, totalizando sete. As plantas foram coletadas, herborizadas e identificadas taxonomicamente. Posteriormente, realizou-se revisão na literatura etnobotânica para conhecer a utilização das espécies arbóreas encontradas. Totalizou-se 25 espécies, distribuídas em 15 famílias botânicas. Destacaram-se quanto ao número de espécies as famílias Arecaceae e Fabaceae, com cinco espécies cada. As espécies que obtiveram destaque quanto à diversidade de uso, incluídas em quatro ou mais categorias, foram: Copernicia cerifera (carnaúba), Astrocaryum jauari (tucum), Attalea speciosa (babaçu), Euterpe edulis (juçara), Mauritia flexuosa (buriti), Tabebuia sp. (ipê amarelo), Hymenaea courbaril (jatobá), Caesalpinia ferrea (jucá) e Byrsonima intermedia (murici). De acordo com a bibliografia analisada, as plantas estudadas apresentam usos diversos: medicinal (96%), comestível (64%), madeireiro (44%), uso doméstico/tecnologia (36%), sombra (20%), forragem (12%), ornamentação (4%), veneno (4%) e repelente de insetos (4%). Os resultados da pesquisa demonstraram que os moradores da comunidade Rozalina mantêm espécies nativas nos quintais agroflorestais, contribuindo para preservação da flora local. A conservação das espécies pode estar relacionada à variedade de usos que apresentam, principalmente aqueles destinados a atender as necessidades básicas de saúde e alimentação.

Palavras-chave: Etnobiologia, cerrado, plantas úteis, florística, conservação.

307 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

DESMANCHA DA MANDIOCA (Manihot esculenta CRANTZ): UMA ATIVIDADE FAMILIAR E TRADICIONAL

Thâmara Kaliny Bezerra da Silva1,2, Leilane de Carvalho e Sousa1,2*, Alyson Luis Santos de Almeida2,3, Júlio Marcelino Monteiro2,3, José Ribamar de Sousa Júnior2,3

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano – PI; 2Laboratório de Etnobiologia e Conservação (LECON), 3Professor do Curso de Ciências Biológicas, UFPI, CAFS. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O manejo tradicional de plantas é uma atividade humana que pode envolver vários fatores tais como culturais, ecológicos e sociais. Nesse contexto, algumas espécies de planta vêm sendo manejadas ao longo do tempo, como a mandioca (Manihot esculenta Crantz), por exemplo, que é um recurso alimentício substancial para muitas famílias da região árida no Nordeste brasileiro. O objetivo deste trabalho foi caracterizar a “desmancha”, um processo tradicional e artesanal do beneficiamento da mandioca no sul do Piauí, na comunidade Chapada das Flores. Para tanto, 10 famílias especialistas foram entrevistadas a partir de roteiros semiestruturados e observação participante. Como a desmancha é uma atividade familiar, mais de uma pessoa foi entrevistada por família, totalizando 25 participantes. De acordo com as entrevistas, a desmancha ocorre entre os meses de Junho a Agosto e envolve a participação de cerca de 30 pessoas, por família. Todos os informantes indicaram o uso da mandioca para o preparo de farinha e puba. 30 % dos entrevistados indicaram o uso da tapioca para forragem. Todos os entrevistados indicaram a existência de tipos diferentes de mandioca, sendo que as diferenças observadas por eles se dão nas folhas e na casca. De acordo com os informantes, essas diferenças estão relacionadas com as estratégias de manejo que cada família mantém sobre a mandioca. Todos os informantes afirmaram que para realizar a desmancha, a mandioca deve ser mantida plantada por dois anos, depois dos quais ela é colhida e se inicia a desmancha, processo que se estende por vinte e quatro horas seguidas, não podendo ser interrompido. Todos os informantes apontaram a desmancha como uma prática agrícola cultural, que vem por mais de 100 anos sendo desenvolvida na região.

Palavras-chave: Etnobotânica, Agricultura familiar, manejo tradicional.

Suporte financeiro: Suporte logístico: CAFS-UFPI (transporte)

308 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

COMO TEMOS TRABALHADO O CONCEITO DE PREFERÊNCIA? UM ESTUDO SOBRE OS MÉTODOS DE ACESSO DA PREFERÊNCIA EM ESTUDOS ETNOBIOLÓGICOS

Vanessa Meyla da Silva1,2,*, Washington Soares Ferreira Júnior2,3

1Curso de Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental Para o Semiárido, Universidade de Pernambuco (UPE), Campus Petrolina, Petrolina – PE; 2Laboratório de Investigações Bioculturais no Semiárido (LIB), UPE, Campus Petrolina; 3Professor do Curso de Ciências Biológicas, UPE, Campus Petrolina; *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

A literatura demonstra que não parece haver uma padronização nos métodos e na interpretação de preferência em estudos etnobiológicos. Nesse sentido, buscou-se avaliar como os trabalhos têm aplicado a ideia de preferência e as questões de conceito e método aplicados em estudos etnobiológicos. Foram selecionados 156 artigos das bases Scopus e Science Direct devido a sua importância no meio acadêmico, através das palavras-chave: ethnobotany + preference, ethnobiology + preference, ethnoecology + preference e “medicinal plants” + preference. Os trabalhos analisados foram classificados quanto ao nível de contribuição para o entendimento da preferência humana: nível 4, trabalhos com maior grau de contribuição, avaliando diretamente a preferência (quando na metodologia era perguntado o que as pessoas preferem), no nível 3 quando a preferência é deduzida apenas através da avaliação do uso das pessoas, o nível 2 quando a preferência é deduzida apenas através da avaliação do conhecimento das pessoas, e no nível 1, não identificamos o método que os autores deduziam a preferência. Utilizamos o teste de Qui- quadrado de aderência para comparar as proporções de trabalhos para cada nível. Para avaliar nossos resultados, separamos em dois cenários. No cenário 1 a preferência está associada ao uso, dessa forma consideramos o nível 3 e nível 4 de contribuição como um único nível, no segundo cenário em que a preferência é distinta do uso tratamos preferência apenas como nível 4. Assim, os trabalhos de nível 2 (60 trabalhos) foram superiores em número quando comparados com os trabalhos de nível 1 (42 trabalhos), 3(21 trabalhos) e 4(33 trabalhos) (X² = 20, 769; p = 0,0001). Podemos dizer então, que nossos achados sugerem que a maioria dos trabalhos não contribuem com o entendimento da preferência, pois mesclam os critérios de preferência tornando-se difícil chegar a um consenso do termo.

Palavras-chave: Preferência humana; Seleção de plantas; Métodos de acesso.

Suporte financeiro: Não houve suporte financeiro.

309 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

EXTRATIVISMO DE CARNAÚBA (COPERNICIA PRUNIFERA (MILL.) H.E.. MOORE - ARECACEAE) AO LONGO DO TRECHO FLORIANO – OEIRAS DA BR 230.

Vitoria Caroline Rodrigues da Costa1*, Alyson Luiz Santos de Almeida 2

1Acadêmica do curso de Biologia do CAFS-UFPI. 2Professor do curso de Biologia do CAFS-UFPI.*autor para correspondência, e-mail:[email protected]

RESUMO

O extrativismo vegetal é uma atividade herdada pelos primórdios da civilização, a extração de carnaúba no nordeste do Brasil tem prestado importante contribuição para a economia local, além de desempenhar funções ambientais para o equilíbrio ecológico. Porém, muitas informações acerca da extração dessa espécie e suas repercussões ecológicas ainda permanecem no âmbito do campo anedótico. No Piauí o pó da carnaúba é um dos três principais produtos de exportação do estado, gerando muitos sub-empregos, mas eventuais fontes de renda para famílias rurais de algumas regiões. O presente trabalho terá como objetivo avaliar e identificar as áreas de ocorrência de extração da carnaúba copernicia prunifera, levando em consideração os aspectos políticos, econômicos, sócias e sua distribuição geográfica. O estudo será submetido ao comitê de ética em pesquisa da UFPI para que, após aprovação, possa ser desenvolvido. A pesquisa será realizada ao longo do trecho Floriano – Oeiras da BR 230, localizado na região centro sul do semiárido nordestino, onde a atividade predominante é a extração de folhas de carnaúba para diversas atividades. Primeiramente serão realizadas visitas às áreas onde serão realizadas as atividades extrativistas. Nestas oportunidades realizaremos contatos e convidaremos os potenciais participantes a fazerem parte do estudo. Suas aceitações serão homologadas via assinatura do TCLE especificamente construído com base nos objetivos do presente estudo. Conhecimentos, formas de uso e outras informações referentes aos locais de coleta, manejo, comercialização e preços sobre a espécie farão parte do roteiro de investigação do tipo “focused interview”. Tal modalidade permite aprofundar os tópicos por meio de questões que emergem durante a realização das entrevistas possibilitando a busca de conhecimento com os moradores, coletores, atacadistas locais e empresários. A amostra será não- probabilística, selecionada por julgamento, pois os entrevistados serão escolhidos segundo a participação no processo e/ou por apresentarem alguma importância (evidenciada por indicações locais) para o estudo em questão, ou ainda que estivessem predispostos a fornecer informações. Diante o exposto, o presente estudo apresenta um pressuposto básico, afirmando que a extração de carnaúba no nordeste do Brasil tem prestado importante contribuição para a economia da sociedade local, além de desempenhar funções ambientais para o equilíbrio ecológico.

Palavras-chave: Recursos Naturais. Carnaúba. Populações locais. Economia.

310 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOBOTÂNICA CATEGORY: ETHNOBOTANY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

SOCIALIZAÇÃO DE SABERES POPULARES SOBRE O USO DE PLANTAS SILVESTRES EMPREGADAS NA ALIMENTAÇÃO

Yago Luís Pessoa Barbosa1*, Ana Alice Coelho Carvalho1, Edna Maria Ferreira Chaves1,2

1Curso de Tecnologia em Gastronomia, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), Campus Teresina Zona Sul (CTZS), Teresina – PI; 2Professor do Curso de Tecnologia em Gastronomia, IFPI, CTZS; *Autor para correspondência, e-mail: yagoluis.barbosa@hotmail

RESUMO

Este trabalho aborda como foi produzido um livro sobre práticas alimentares comuns a comunidades do interior do Piauí. Tal livro teve como objetivo em sua produção socializar conhecimentos sobre plantas silvestres que podem ser utilizadas na alimentação, a partir da divulgação de informações de seus usos, buscando assim auxiliar estas comunidades a mitigar dificuldades de acesso ao alimento. Informações sobre as espécies vegetais e suas formas de aplicação na alimentação foram identificadas na pesquisa de doutorado“Plantas silvestres e práticas alimentares populares em áreas de carrasco, semiárido do Nordeste do Brasil”realizado pela primeira autora. Tendo parecer consubstanciado do CEP sob o n.º 484.201. Ao todo o livro aborda 14 espécies (Ximenia americana L., Mandevilla tenuifolia (J.C. Mikan) Woodson, Batata-gorda (N.I), Batata-de-ovelha (N.I), Croton grewioides Baill, Poincianella bracteosa (Tul.) L. E Queiroz, Melocactus zehntneri (Britton &Rose) Luetzelb, Swartzia flaemingii Raddi, Hymenaea martiana Haine, Bromelia laciniosa Mart. ex Schult.f., Cereus jamacaru DC, Eugenia pisiforme Cambess, Astrocaryum vulgari Mart, Pilosocereus gounellei (EA.C.Weber) Byles &G.D. Rowley) com imagens pra facilitar sua identificação e caricaturas como um meio de atrair a atenção para o conteúdo abordado, e receitas que indicam formas de empregar as partes comestíveis de frutos, folhas e outros órgãos das plantas na produção de semberebas, infusões e outros derivados. Para a elaboração do livro, inicialmente foram criados os desenhos caricaturais, a partir de fotografias de plantas; as receitas, foram transcritas, e por fim, todas essas informações e imagens foram diagramadas e formatadas para a elaboração do livro, que foi distribuído em reuniões em comunidades rurais piauienses, uma forma de explicar como o usar e facilitar a socialização de saberes sobre o uso das espécies. Em síntese o livro intitulado ”Práticas alimentares com plantas silvestres: socializando saberes” foi produzido como um meio para que informações sobre o uso de plantas alimentícias fossem transformadas em conteúdo de ensino, para ser empregado em debates, em comunidades onde esse conhecimento é necessário, para ser utilizado com uma forma para diminuir dificuldades advindas da escassez de alimentos assim como a manutenção destes costumes.

Palavras-chave: Etnobotânica, plantas alimentícias silvestres, hábitos alimentares.

Suporte financeiro: Fomento para publicação de livro: FAPEPI

311 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

Conhecimento ecológico local dos pescadores artesanais e o processo de criação da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim, São Luís, Maranhão

Clarissa Lobato da Costa1*; Zafira da Silva de Almeida2; Horácio Antunes de Sant´Ana Júnior3; Victor Lamarão4; Danielle Sequeira Garcez5

1 Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA). Dra. pelo Programa de Pós- graduação em Ciências Marinhas Tropicais / Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR. Universidade Federal do Ceará.; 2Profa. Adjunto III da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Laboratório de Pesca e Ecologia Aquática; 3Prof. Associado III do Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Coordenador do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente – GEDMMA; 4Mestre em Saúde e Ambiente (UFMA); 5Profa. Adjunto IV do Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Laboratório de Ecologia Pesqueira. Programa de Pós-graduação em Ciências Marinhas Tropicais.*Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

A Etnoictiologia incorpora estudos relativos à ecologia de peixes, incluindo a dinâmica de populações e a influência das variáveis ambientais, fornecendo informações para o manejo e conservação dos recursos pesqueiros, e, consequentemente, do ambiente. A pesquisa foi realizada em comunidades próximas a uma área estuarina maranhense, proposta para a criação da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim, onde predomina o ecossistema manguezal. Na região há um anseio popular para que a área se torne Reserva Extrativista (Resex), no sentido de preservar a história e cultura das comunidades, que sofrem pressão devido ao avanço de empreendimentos industriais e portuários. Entre agosto/2016 e março/2017 foram realizadas 122 entrevistas (questionários semiestruturados), com pescadores artesanais moradores na região de estudo. A pesquisa encontra-se cadastrada na Plataforma Brasil e foi aprovada pelo Comitê de Ética sendo registrada com o número CAAE 57291616.1.0000.5054. As experiências dos pescadores são apreendidas por meio de práticas tradicionais, simbolismos e oralidades repassadas ao longo das gerações, e representam um amplo conhecimento sobre a dinâmica do ambiente onde pescam e sobre os recursos pesqueiros da região. Os pescadores iniciaram a atividade pesqueira ainda crianças, com cerca de 11 anos, ajudando os pais ou avós, contribuindo para a renda na família; os mais antigos, já aposentados, afirmam que continuam trabalhando com a pesca por gostarem da atividade. A tecnologia das artes de pesca e embarcações são consideradas relativamente simples, não havendo grandes mudanças pelo menos nos últimos 20 anos. Entrevistados afirmam que a questão da diminuição de peixes e outros recursos pesqueiros da região está mais relacionada à vinda de indústrias para o local, do que à atividade da pesca artesanal. Intervenções como dragagens e mudança na profundidade dos corpos hídricos são ocasionadas por esse tipo de empreendimento. Neste cenário, a legalização da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim seria estratégica: atenderia ao anseio da comunidade, garantindo formas de manejo dos recursos naturais  que visam a reprodução social e cultural. Isto, pois, suas atividades permaneceriam atreladas à manutenção da diversidade socioambiental, bem como poderia a Resex contribuiria para a manutenção da biodiversidade na ilha do Maranhão, conhecida como ilha de São Luís.

Palavras-chave: pesca artesanal, conhecimento tradicional, unidade de conservação.

312 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOCIOAMBIENTAL DOS PESCADORES ARTESANAIS DO RIO PERICUMÃ, ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BAIXADA MARANHENSE

Elinelma Ribeiro Monteiro1*, José Carlito do Nascimento Ferreira Junior1, Maria Rayete Monteiro Lopes1, Terezinha Rosa Lopes dos Santos1, Arkley Marques Bandeira2, Leonardo Silva Soares2

1Curso de Licenciatura em Ciências Naturais, Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Campus de Pinheiro, Pinheiro – MA; 2Professor da Universidade Federal do Maranhão, Campus de Pinheiro – MA *Autora para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi caracterizar a percepção ambiental dos pescadores artesanais do rio Pericumã, localizado no Sítio RAMSAR da APA da Baixada Maranhense. A pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2017, enfocando as comunidades locais, entre as quais foram realizadas 26 entrevistas com pescadores (as) artesanais da região, por meio da aplicação de questionário semiestruturado e, respectivo Termo de Consentimento Prévio e Esclarecido. O questionário abordou aspectos relacionados ao nível de percepção ambiental dos pescadores artesanais do rio Pericumã, com questões relativas aos impactos ambientais, quantidade e tamanho do pescado, órgãos fiscalizadores, gestão pesqueira e áreas protegidas. Quando questionados sobre os impactos ambientais, 24% citaram que o principal problema se trata da “poluição”, contudo, os entrevistados não souberam especificar o tipo de poluição existente. Outro impacto citado foi o assoreamento do rio, que totalizou 20% das respostas. Outras indicações foram o descarte indevido de lixo (12%), a criação de búfalos (12%) e a construção de casa às margens do rio Pericumã (8%). Com relação a abundância de peixes, não houve consenso nas respostas, pois 44% responderam que a oferta está aumentando, 44% que está diminuindo e 8% relataram que continua do mesmo jeito. No entanto, 52% dos pescadores relataram que o tamanho dos peixes capturados está diminuindo, sendo que a percepção dos entrevistados indicou que as principais consequências se deram em função dos seguintes aspectos: “pesca fora do tempo”; “muitos pescadores não soltam os peixes menores” e “não estão deixando o peixe crescer”, ou seja, referem-se à pesca predatória. Foram citadas duas espécies novas no ambiente, a tilápia (Tilapia rendalli) e o tambaqui (Colossoma macropomum), sendo que estas espécies são exóticas para o rio Pericumã. Em se tratando dos órgãos fiscalizadores, 56% citaram o IBAMA, 4% a polícia ambiental e 40% não souberam indicar uma resposta para este tema. Com relação a conceitos relacionados à gestão pesqueira, observou-se que parcela significativa dos entrevistados não possui concepção correta sobre defeso, tamanho mínimo de captura e áreas restritas de pesca. A mesma dificuldade foi observada nas respostas relativas as áreas protegidas, onde nenhum entrevistado soube explicar o que é Sítio RAMSAR e APA da Baixada Maranhense.

Palavras-chave: Percepção ambiental, Pesca, Baixada Maranhense, Sítio RAMSAR.

313 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ETNOBIOLOGIA DO BOTO-CINZA (Sotalia guianensis, Van Benédén, 1864) E SUA INTERAÇÃO COM A PESCA NO MUNICÍPIO DE RAPOSA – MA

Hanna G. P. Gonçalves¹, Júlia B. Almeida1, Talita C. Feitosa1, Marcelo D. Vidal2,3*

1Programa de Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, 2Programa de Doutorado em Biodiversidade e Biotecnologia da Rede Bionorte – PPG/Bionorte, 3Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais / ICMBio. *Autor para correspondência, email: [email protected]

RESUMO

Pescadores artesanais geralmente realizam suas atividades de pesca nas regiões costeiras e estuarinas e, devido a esse fato, acabam interagindo com a fauna aquática local. Considerando que trabalhos envolvendo o conhecimento local de pescadores artesanais sobre o comportamento e as ameaças aos pequenos cetáceos são escassos no litoral do Maranhão e não aprofundam as questões etnobiológicas e conservacionistas, o presente estudo descreve o etnoconhecimento de pescadores do município de Raposa sobre a biologia do boto-cinza (Sotalia guianensis) e suas interações com a pesca. O estudo foi realizado no porto de desembarque pesqueiro do município de Raposa-MA. A coleta de dados foi realizada de abril a junho de 2015 utilizando um questionário contendo questões semiestruturadas. As entrevistas foram relacionadas ao perfil do pescador, à atividade de pesca, ao conhecimento etnobiológico sobre o boto-cinza e sobre as interações e conflitos com a pesca. Foram entrevistados 30 pescadores, todos do gênero masculino. A faixa etária da maioria foi de 38–47 anos (30%). Aproximadamente 64% dos pescadores não concluíram o ensino fundamental e 23% eram analfabetos. 50% dos entrevistados pescam na região há mais de 20 anos. A maioria (54%) pesca em áreas próximas à costa, 45% pescam em mar aberto e somente 1% pesca em estuário. As redes mais utilizadas pelos pescadores são a serreira (50%) e o malhão (30%). Todos os entrevistados afirmaram avistar Sotalia guianensis principalmente ao longo da costa e 87% dos entrevistados o conhecem localmente como boto. Segundo os pescadores, a coloração da espécie pode ser preta (46%), cinza (33%) ou rosada (17%) e o comprimento do corpo variar entre 1,5–3,0 m (90%). Segundo os entrevistados, os botos alimentam-se principalmente de bagres (80%) e sardinhas (33%). Quanto à conservação dos cetáceos, os pescadores relatam diminuição do boto-cinza ao longo do tempo e que estes animais sofrem com a poluição e com a captura acidental nas redes de pesca. Todos os entrevistados afirmaram que o boto-cinza é uma espécie importante na natureza. As informações obtidas são de extrema relevância para o conhecimento da biologia de Sotalia guianensis e para o estabelecimento de medidas de preservação da espécie.

Palavras-chave: Ameaças, Captura acidental, Conhecimento local.

314 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

VALORES FLORESTAIS PERCEBIDOS POR EXTRATIVISTAS SOBRE BURITIZAIS DA REGIÃO DOS LENÇÓIS MARANHENSES, BRASIL

Irlaine Rodrigues Vieira¹*, Kelly Polyana Pereira dos Santos², Micheli Veras dos Santos¹, Jefferson Soares de Oliveira¹, Fábio José Vieira³, Roseli Farias Melo de Barros².

¹ Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Reis Velloso, Parnaíba- PI, Brasil.; ²Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí, Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Teresina- PI, ³ Universidade Estadual do Piauí, Campus Picos, Picos-PI. *[email protected].

RESUMO

Pesquisas de percepção ambiental explicitam o contexto extrativista e auxiliam na elaboração de políticas ambientais. No estado do Maranhão, Nordeste do Brasil, é crescente a exploração da palmeira buriti (Mauritia flexuosa L.f.) para abastecer o mercado local e nacional de produtos produzidos com insumos desta palmeira. Apesar dos benefícios sociais e econômicos, a intensificação do extrativismo traz alterações na percepção dos valores florestais conservacionistas. Diante disso, objetivou-se avaliar a percepção ambiental de extrativistas sobre os buritizais dos municípios de Barreirinhas, Paulino Neves e Tutóia, Maranhão, Brasil. Utilizando a técnica “Bola de Neve” foram entrevistados os extrativistas das principais comunidades extrativistas de cada município. As entrevistas semiestruturadas foram realizadas entre agosto de 2014 e dezembro de 2015. A todos os entrevistados foi solicitado a assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido(TCLE). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, com o número de permissão 886.193. Os dados foram avaliados quanto aos tipos de valores florestais percebidos pelos testes Kuskal Wallis e análise de regressão linear multivariada binária. Como resultado, foram entrevistados 271 informantes. Constatou-se maior frequência de citação para valores relacionados à categoria econômica. Nesta categoria, o valor fonte de renda foi maior nos municípios que mais extraem fibras da palmeira: Barreirinhas e Paulino Neves. Conclui-se que predomina a percepção econômica e priorização da floresta como fonte de renda entre os extrativistas dos buritizais maranhenses.

Palavras-chave: Gestão ambiental, Unidades de Conservação, Renda.

Suporte financeiro: CAPES.

315 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS PARA OBSERVAÇÃO DE CETÁCEOS NO PARQUE NACIONAL DE ANAVILHANAS BASEADAS NO CONHECIMENTO DE GUIAS E CONDUTORES DE TURISMO

Marcelo D. Vidal1,2*, Priscila M. da C. Santos3, Josângela da S. Jesus4, Rafael R. de Lima5, Fábio P. da Conceição6

1Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais / ICMBio, 2Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal, 3Parque Nacional de Anavilhanas / ICMBio, 4Parque Nacional do Jaú / ICMBio, 5Universidade Federal do Maranhão, 6Sem vínculo institucional. *Autor para correspondência, email: [email protected]

RESUMO

O tucuxi (Sotalia fluviatilis) e o boto (Inia geoffrensis) são dois pequenos cetáceos endêmicos da bacia amazônica. No Parque Nacional de Anavilhanas, em Novo Airão-AM, o turismo para alimentar os botos é o principal atrativo. No entanto, desde sua implementação, a atividade era realizada sem normas que garantissem o bem-estar dos animais e a segurança dos turistas, o que ocasionou problemas como aumento da competição e agressividade intraespecífica, acidentes envolvendo mordidas em seres humanos e oferecimento de alimentos de qualidade duvidosa ou que não faziam parte da dieta dos cetáceos. Buscando estimular outras formas de interação turística menos impactantes, este trabalho teve por objetivo identificar participativamente as principais áreas para observação embarcada de botos e tucuxis e seus tipos de uso pelos cetáceos no Parque Nacional de Anavilhanas. Para isso, foi realizada uma oficina envolvendo 22 guias/condutores de turismo locais. Utilizando adesivos vermelhos (botos) e azuis (tucuxis), os participantes identificaram em mapas georreferenciados impressos em papel A0 (Escala 1:100.000) as principais áreas para avistamentos dos cetáceos no Parque, e numeraram ainda cada adesivo de acordo com a seguinte legenda: 1=área de alimentação, 2=área de reprodução, 3=área de descanso, 4=área de diversão. Foram identificadas 19 áreas para observação de botos e 17 para tucuxis. A região sul do Parque foi a menos apontada para observação dos cetáceos. Este fato pode ser explicado por esta ser a área mais distante do núcleo urbano de Novo Airão (de onde partem as excursões turísticas) e menos visitada pelos guias/condutores. Mas, esta é também a área com menor presença de ilhas, lagos, paranãs e remansos, ambientes favoráveis à presença dos cetáceos. A foz do rio Apuaú foi identificada como a área onde os cetáceos exercem diferentes atividades como alimentação, reprodução, descanso e brincadeiras. O conhecimento dos guias/condutores locais pode ser utilizado para o oferecimento do turismo embarcado voltado para observação dos cetáceos fluviais, sem oferta alimentar, bem como para o estabelecimento de zonas aquáticas de diferentes intensidades de uso turístico, contribuindo assim para o ordenamento do uso público na Unidade de Conservação e para o bem-estar dos animais.

Palavras-chave: Ameaças, Captura acidental, Conhecimento local.

Suporte financeiro: ICMBio, Programa Arpa.

316 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LÍNGUA: Inglês LANGUAGE: English

IMPLANTATION OF A CREOLE SEED GERMPLASM BANK IN THE MICROREGION OF PICOS CITY IN BRAZILIAN STATE OF PIAUÍ

Maria Daniela Santos Gonçalves¹, Laura Feitosa da Rocha¹, Marlucia Marlene da Costa Sousa¹, Raimundo do Vale Azevedo²; Victor de Jesus Silva Meireles ³, Melise Pessôa Araújo Meireles ⁴; Michelli Ferreira dos Santos ⁴,*

¹Rural Education/Natural Sciences (PROCAMPO) student at Federal University of Piauí (UFPI), in Senador Helvídio Nunes de Barros (CSHNB) Campus, Picos - PI; ²Caritas Brasileira Regional Piauí; ³Professor of Biology at Federal University of Piauí, Senador Helvídio Nunes de Barros (CSHNB) Campus, Picos – PI (Biological Sciences); ⁴Professor of Biology at Federal University of Piauí (CSHNB), Picos - PI; (Rural Education/Natural Sciences).* Author for correspondence: [email protected]

ABSTRACT

Seed germplasm bank is characterized as a bank ex situ, and its main function is the conservation of genetic variability. Creole seeds are usually stored in small plastic or glass jars, highlighting the low cost and small spaces. Another advantage is the long period for which the seeds can be stored, and the great genetic diversity that this type of practice provides in relation to living collections, and the little impact that the seeds collection causes in populations of endangered species. The objective of this work is the implantation of a creole seed bank in the microregion of Picos city in the Brazilian state of Piauí, with the purpose of rescuing and preserving the creole seeds as a conservation strategy of the genetic patrimony. A survey carried out of the creole seeds stored in seed houses and in the properties of family farms in the microregion of Picos city, and other municipalities of the Brazilian state of Piauí, where creole seeds are preserved. These seeds used in the study were collected and registered with the following descriptions: common name, guardian farmer, community and storage time, and they will be identified and stored a posteriori, so that they can be later morphologically characterized and cataloged inside the bank. The total number of seeds collected to initiate the implantation of the bank were 83 species of seeds of the most diverse varieties of occurrence in the microregion of Picos city and other municipalities of Piauí. From this total, the great quantity of variety are: 26 bean species; 17 maize species; 7 fava species (broad beans); 3 sesame species; 3 rice species and 2 watermelon species. Being also obtained species of chili pepper, okra, sunflower, urucum, ironwood, pumpkin, white fava, cotton, peanut, faveiro, mustard, soy, smoke, jatobá, pitombeira and Chestnut, all creole seeds cultivated by farmers and passed down from generation to generation. Thus, the implantation of the bank is being carried out according to adequate methods of storage of seeds, so that they are conserved and do not lose their genetic identity.

Keywords: Creole, conservation, genetic heritage.

Logistic support: CSHNB / UFPI, Technical support: Caritas Brasileira Regional Piauí.

317 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

TUBARÕES PODEM SER VISTOS COMO ANIMAIS CARISMÁTICOS?

Marina Silva dos Santos1*, Jorge Iván Sánchez Botero2, Danielle Sequeira Garcez3

1Curso de Bacharelado em Ciências Ambientais, Universidade Federal do Ceará (UFC); 2Professor Associado, Doutor em Ecologia, Laboratório de Ecologia Aquática, Departamento de Biologia (UFC); 3Professora Adjunto IV, Doutora em Ciências, Laboratório de Ecologia Pesqueira, Labomar (UFC). *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O desenfreado desenvolvimento da costa, juntamente com a destruição de habitats e a sobrepesca têm induzido ao declínio exacerbado da população mundial de tubarões e, ainda, remetido ao risco de extinção de diversas espécies. A influência de filmes e noticiários tendenciosos sobre os tubarões têm contribuído para a construção de uma imagem negativa do público a respeito do grupo. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo caracterizar aspectos do conhecimento do público em geral, maior de 18 anos, em relação aos tubarões e sua conservação. A pesquisa, de caráter quali-quantitativo e de opinião, foi realizada na cidade de Recife (PE) em julho 2017, por meio de entrevistas semiestruturadas, utilizando um questionário semiaberto, com 20 perguntas relativas a aspectos bioecológicos, conservação e visão do público a respeito de tubarões, e sobre incidentes com humanos, aplicado a 32 pessoas. Mesmo demonstrando uma imagem negativa a respeito do animal, a maioria dos entrevistados não acredita que a matança de tubarões seja uma solução para diminuir a incidência de ataques e ainda, admitiram que os tubarões precisam ser protegidos, mesmo desconhecendo as principais ameaças sofridas pelo animal. Foi também identificado um baixo nível de conhecimento sobre aspectos da bioecologia dos tubarões, e desconhecimento do público sobre quem seriam os responsáveis por evitar os incidentes. Nenhum dos entrevistados afirmou ter participado de campanhas ou ações de educação ambiental anteriormente, que tratassem sobre os tubarões. Essa medida, juntamente com sinalização de placas e divulgação de informações sobre o risco de ataques, foram as alternativas mais citadas como soluções para diminuir os incidentes. Por meio da pesquisa foi possível concluir que existe a necessidade de elaboração de programas e ações de educação ambiental para informar ao público sobre os aspectos bioecológicos e conservação dos tubarões, e desmistificar a imagem negativa associada ao grupo, buscando garantir assim, a preservação destes animais. Ao final da entrevista, os participantes receberam um folder com informações gerais sobre tubarões, a fim de promover a educação ambiental, ressaltando aspectos de sua importância para o equilíbrio de ecossistemas marinhos.

Palavras-chave: conservação, percepção, elasmobrânquio.

Apoio: Pro-Reitoria de Assuntos Estudantis, da Universidade Federal do Ceará.

318 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOCONSERVAÇÃO CATEGORY: ETHNOCONSERVATION LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PROJETO ETNOBIOLÓGICO BASEADO EM DEMANDA DA COMUNIDADE PESQUEIRA DE RIO FORMOSO (PE): VIVÊNCIA E SABER

Maria Elisabeth de Araújo1,3,* & Paulo Wanderley de Melo2,3

1Professora Titular do Departamento de Oceanografia da UFPE 2Graduando do Curso de Ciências Biológicas - Bacharelado da UFPE 3Grupo de Ictiologia Marinha Tropical (IMAT) *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

O Grupo de Ictiologia Marinha Tropical (IMAT) realiza pesquisas ecológicas, buscando estreitar as relações entre pesquisadores e estudantes com pescadores artesanais para a partilha do conhecimento acerca do ambiente costeiro. Os pescadores costumam se queixar por não ter seus saberes reconhecidos pelos pesquisadores que deles necessitam. Sensibilizado com este apelo, o IMAT realizou um projeto etnobiológico que resultou na publicação de livro intitulado “Histórias de Pescadores: meio ambiente, recursos pesqueiros e tradição em Rio Formoso - Pernambuco”. O objetivo desse resumo é apresentar os resultados das informações ecológicas - relacionadas à pesca e aos recursos pesqueiros - a partir da vivência dos pescadores. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da UFPE-CET (CAAE 34814314.2.0000.5208), tendo participado pescadores experientes (10 quilombolas e 15 da comunidade urbana). Para as coletas de dados, utilizou-se o método “bola de neve”, mantendo a linguagem popular, direcionada aos pescadores, sem perder o viés acadêmico da pesquisa. A pesca de subsistência inclui os peixes e camarões, coletados pelos homens, enquanto os moluscos e caranguejos são pescados pelas mulheres. Os pescadores reconhecem nomes comuns de peixes, que correspondem a 22 gêneros e 28 espécies, cujo status de conservação corresponde ao conhecimento científico. Dentre os recursos pesqueiros mais citados estão o Camurim e a Tainha; peixes importantes para a pesca local e que são sobrepescados, e o Camarão-vila-franca que desapareceu devido à poluição. Os impactos mais citados são: pesca predatória, turismo desordenado, poluição oriunda da cana-de-açúcar e carcinicultura, descarte de resido sólido e saneamento, e a destruição do manguezal. Esses pescadores se entristecem com o desinteresse dos filhos na pesca e nas suas tradições culturais, sendo a comunidade quilombola a mais resiliente. A constatação gerada através destes resultados provocou, neste ano, uma reunião na Colônia de Pescadores que pediram aos integrantes do IMAT para investigar a poluição dos seus rios e manguezais que mata os recursos pesqueiros. Todos os impactos antropogênicos aqui relatados, fazem parte da realidade atual da localidade e exigem uma nova forma de ação por parte da sociedade e órgãos gestores, para promover mudanças positivas para as atividades pesqueiras em defesa da natureza.

Palavras-chave: Pescadores artesanais, conhecimento popular, recursos pesqueiros, academia, cidadania.

Suporte financeiro: Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEXC) - UFPE

319 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

CONHECIMENTO DE ALUNOS DA ZONA URBANA E RURAL SOBRE O BIOMA CAATINGA DE UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE SANTANA DO IPANEMA, ALAGOAS

Anna Rafaella Simplício de Oliveira¹*, Vitoria Aparecida Joaquim da Silva¹, Taline Cristina da Silva²

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), Campus II, Santana do Ipanema - AL; ²Professora do Curso de Ciências Biológicas, UNEAL, Campus II – Santana do Ipanema - AL;. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

A etnoecologia é uma ciência que busca entender as ligações entre conhecimento e comportamento do homem e o meio ambiente. Sendo assim, este trabalho objetivou avaliar se o conhecimento sobre o bioma Caatinga dos alunos de uma instituição pública de ensino no município de Santana do Ipanema, Alagoas, sofre influencia de fatores como a idade e a localidade em que esses alunos residem. Para esta pesquisa, foram selecionados de forma aleatória três turmas do ensino médio, tentando abranger o máximo do corpo estudantil, totalizando 65 alunos. A técnica utilizada para a coleta de dados foi a Lista Livre, onde os alunos foram convidados a elaborar uma lista de plantas e animais que eles conhecessem e que pertencesse ao bioma Caatinga. Do total de alunos participantes, 21 são da zona urbana, 42 são da zona rural e apenas 2 não identificaram o local de residência. Os alunos da zona rural foram os que mais citaram espécies de fauna e flora (111 e 69, respectivamente) do que os alunos da zona urbana (71 espécies da fauna e 44 espécies da flora). Quando relacionamos as citações com as idades dos alunos, a fauna novamente se destaca da flora, apresentando um total de 318 citações de fauna e 200 citações de flora para alunos entre os 14 e 19 anos, 15 citações de fauna e 17 citações de flora para os alunos entre 20 e 24 anos e 16 citações de fauna e 10 citações de flora para aluno com 25 anos ou mais. Dessa forma, podemos afirmar que o conhecimento dos alunos sobre o bioma caatinga sofre a influencia da idade e do local onde residem, assim como alguns autores afirmam que a proximidade e interação com o meio ambiente faz com que eles sejam capazes de conhecer e citar mais espécies do que os demais alunos.

Palavras-chave: Conhecimento, bioma caatinga, alunos, zona urbana, zona rural.

320 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ETNOECOLOGIA NA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ECOLOGIA DA UFPI

Cledinaldo Borges Leal¹*, Eliesé Idalino Rodrigues¹

¹Curso de Pós-graduação lato sensu em Ecologia, Universidade Federal do Piauí, Centro de Educação Aberta e a Distância. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O curso de Pós-graduação lato sensu da UFPI desenvolve atividades desde o final de 2014 com formação de ecólogos especialistas em inúmeras cidades do estado, através de cinco turmas nas cidades de Bom Jesus, Canto do Buriti, Picos, Simões e Teresina. O curso qualificou cerca de 130 profissionais, sendo que a formação envolveu inúmeras áreas da Ecologia, dentre elas a Etnoecologia, trabalhada nas disciplinas de Conservação Biológica, Ecologia de Populações e Comunidades, Ecologia de Ecossistemas e Ecologia Teórica. Inúmeros trabalhos de pesquisa foram propostos e analisados em projetos desenvolvidos em parceria com os orientadores e os membros da coordenação. Dentre os trabalhos propostos, oito são específicos de etnoecologia, mais especificamente cinco de etnobotânica, dois de etnoecologia teórica, inclusive sobre etnoecologia de paisagens, e um de etnozoologia ou etnoherpetologia (répteis e anfíbios). Os de etnobotânica são principalmente sobre o uso de plantas medicinais nos quintais de casas em comunidades tradicionais ou em cidades e a forma de utilização e conhecimento dos membros dessas comunidades. O curso de Ecologia tem colaborado consideravelmente com o conhecimento sobre a etnoecologia no Estado, com trabalhos em localidades diferentes por ter seus polos distribuídos estrategicamente, além de propor a modificação da disciplina de Conservação Biológica, com a inclusão de conteúdos de etnoecologia, e assim ser denominada Conservação Biológica e Etnoecologia, para as próximas turmas, aumentando consideravelmente o conhecimento específico dos alunos sobre o tema e permitindo contribuir mais com o aumento do conhecimento etnoecológico no estado e em estados vizinhos.

Palavras chaves: conhecimento popular; conhecimento científico; estado do Piauí.

Suporte financeiro: UAB/CAPES, suporte logístico: CEAD/UFPI.

321 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA NO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DO CEAD / UFPI

Cledinaldo Borges Leal¹, Eliesé Idalino Rodrigues¹

¹Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, Centro de Educação Aberta e a Distância. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O curso de Ciências Biológicas ofertados pelo Centro de Educação Aberta e a Distância (CEAD) da UFPI desenvolve atividades desde 2006, com formação de profissionais em inúmeras cidades do estado, abrangendo inclusive alunos em cidades da Bahia e Maranhão. O curso de Ciências Biológicas está presente nas cidades-polo de Gilbués, Inhuma, Buriti dos Lopes, Canto do Buriti e Simões, porém com alunos provenientes de inúmeros municípios. A etnobiologia e etnoecologia podem ser vivenciadas em várias disciplinas do curso como Ecologia Geral, Ecologia I, Ecologia de Populações e Comunidades, Ecologia de Ecossistemas, sendo que foi inclusa recentemente a disciplina de Etnobiologia como uma das optativas, mas com intenção de oferta em todas as turmas. Há o desenvolvimento de trabalhos de conclusão de curso em inúmeras áreas do conhecimento das Ciências Biológicas e Ensino de Ciências e Biologia, inclusive com muitos englobando tópicos sobre etnobiologia e etnoecologia, dentre outros temas, e oferecem uma gama de possibilidades de pesquisa aos alunos sobre temas biológicos e ecológicos em comunidades tradicionais, com as mais variadas temáticas. A maioria dos projetos com a temática etnobiológica (30 trabalhos) aborda assuntos sobre meio ambiente; com a etnobotânica especificamente foram desenvolvidos cinco trabalhos, inclusive de plantas medicinais e seu uso nas escolas, em hortas e nos quintais de casas e sua forma de utilização e conhecimento pelos membros das comunidades. Outras áreas mais específicas da etnoecologia (matas ciliares, impactos ambientais etc.) tiveram sete trabalhos nas últimas turmas. Além desses 42 trabalhos citados, há ainda propostas menos convencionais por parte dos pesquisadores do curso a serem implementadas, como a etnoherpetologia (conhecimento sobre répteis e anfíbios), dentre outros como aves, mamíferos e etnobotânica em ambientes alagados na caatinga. O curso supracitado tem muito a contribuir com o conhecimento sobre a etnobiologia e a etnoecologia no Piauí e em outras localidades de outros estados, por ter sido implantado em polos bem distribuídos em todo o estado além de aumentar o conhecimento específico dos estudantes sobre o tema com a inclusão da disciplina optativa Etnobiologia e assim permitir contribuir mais com o aumento do conhecimento sobre os temas citados.

Palavras chaves: conhecimento popular, matriz curricular, trabalho de conclusão de curso.

Suporte financeiro: UAB/CAPES, suporte logístico: CEAD/UFPI.

322 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PERCEPÇÃO DE MORADORES LOCAIS SOBRE A MASTOFAUNA DA REGIÃO DE BARÃO DE GRAJAÚ - MA

Elisa Pereira dos Santos¹*; Antônio Alves da Cunha Filho1; Brendo Barbosa Moura¹; Rogério Nora Lima²

¹Acadêmicos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amílcar Ferreira Sobral, CEP 64800-000, PI, Brasil. ²Professor do Curso de Lic. em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus Amílcar Ferreira Sobral, CEP 64800-000, PI, Brasil. Endereço eletrônico: [email protected]*

RESUMO

Estudos quanto ao conhecimento local sobre a mastofauna são de grande importância, pois permitem compreender como os grupos humanos percebem esse recurso e a sua relação com a natureza, incluindo o impacto das ações humanas sobre eles. Esse trabalho objetivou caracterizar o conhecimento de moradores da localidade “Bem Quer” sobre os mamíferos dessa região. Realizou-se entrevistas semiestruturadas com 24 moradores para analisar se os mesmos conhecem a diversidade da mastofauna local, seus hábitos, condições ecológicas associadas e quais são os usos antrópicos dessa fauna. A amostragem foi do tipo intencional, bola de neve, a qual consiste em um informante indicar outro, considerado especialista sobre o tema abordado. Houve dominância de pessoas do sexo feminino, com escolaridade predominante de “primário” e ensino fundamental. Dentre aqueles que informaram a renda familiar, 9 citaram que os ganhos são de até um salário mínimo. Todos responderam que não caçam, nem criam animais silvestres, mas oito entrevistados relataram utilidades do uso de mamíferos na alimentação humana. Foram relatadas 19 espécies, dentre as quais as mais citadas foram Pseudalopex vetulus(raposa), Mazama gouazoubira (veado), Callithrix jacchus (soin), Didelphis albiventris (gambá ou mucura). Quanto à frequência de observação da fauna, 83% dos entrevistados indicaram que o avistamento está associado a uma época específica ou à frutificação. Os locais de ocorrência mais citados foram matas ciliares, chapadas e matas em geral. Sobre a extinção dessa fauna, quase todos relataram perceber uma diminuição da mastofauna local. Apesar de ser uma comunidade rural, de um município pequeno e ainda com bastante cobertura vegetal, os dados não evidenciam um amplo conhecimento dessa população sobre a fauna local, podendo já ser um reflexo do processo de distanciamento entre homem-natureza que já vem ocorrendo em áreas urbanas mais populosas. Tal aspecto indica que, mesmo em localidades mais afastadas são importantes as iniciativas de educação ambiental visando esclarecer sobre a importância da conservação da biodiversidade para a qualidade de vida e manutenção dos serviços ambientais.

Palavras-chave: Biodiversidade, Cerrado, Mamíferos.

323 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA ATIVIDADE DE PESCA DO RIO PERICUMÃ, SÍTIO RAMSAR – ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BAIXADA MARANHENSE

Maria Rayete Monteiro Lopes1*, Erisson George Ribeiro1, Jhoyseph Gerard Nunes da Silva1, Terezinha Rosa Lopes dos Santos1, Arkley Marques Bandeira2, Leonardo Silva Soares2

1Curso de Licenciatura em Ciências Naturais, Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Campus de Pinheiro, Pinheiro – MA; 2Professor da Universidade Federal do Maranhão, Campus de Pinheiro – MA *Autora para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Os recursos pesqueiros do rio Pericumã, importante sistema hídrico do complexo ambiental categorizado pela Convenção sobre as Áreas Úmidas Mundiais como Sítio RAMSAR da Baixada Maranhense constituem a principal fonte de subsistência para diversas comunidades locais. Este trabalho objetiva caracterizar os aspectos socioeconômicos dos pescadores artesanais do rio Pericumã, na cidade de Pinheiro, estado do Maranhão. A pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2017, enfocando as comunidades locais, entre as quais foram realizadas 26 entrevistas com pescadores (as) artesanais da região, por meio da aplicação de questionário semiestruturado e, respectivo Termo de Consentimento Prévio e Esclarecido. O questionário abordou aspectos relacionados a idade, escolaridade, tempo na atividade pesqueira, período de trabalho, características pesca e seus aspectos comerciais. A análise dos dados foi procedida de forma quali- quantitaviva por meio da interpretação das respostas geradas pelos questionários. Os resultados evidenciaram que a faixa etária predominante dos entrevistados está compreendida entre 38 a 63 anos (68%), os demais possuem idades entre 25 e 30 anos (20%) e 69 e 79 anos (12%). Com relação a escolaridade, 8% não foram alfabetizados, 60% não concluíram o ensino fundamental e apenas 20% possuem o ensino médio completo. Sobre o tempo na atividade pesqueira, 80% dos entrevistados relataram que estão pescando a mais de 20 anos, e 20% atuam a mais de 50 anos como pescadores do rio Pericumã. Quando indagados se a pesca é a principal e única fonte de renda que possuem, 52% relataram que sim, sendo que os demais responderam que associam a pesca com outros ofícios, a exemplo de pedreiro, padeiro, agricultor, açougueiro, carpinteiro, artesão e aposentado. Sobre as áreas de pesca, os entrevistados indicaram que no rio Pericumã existem 29 pesqueiros, sendo o rio Grange, Vesgueiro e Comporta os mais citados. As espécies de peixes mais capturas são a Traíra, Piaba, Camurim, Cara e Bagrinho, no entanto, além dessas, outras 11 espécies foram identificadas por meio do etnoconhecimento dos entrevistados. Outro aspecto relevante refere-se ao objetivo comercial das pescarias, onde 84% dos pescadores relataram que exercem a atividade para venda e para o consumo próprio.

Palavras-chave: Etnoconhecimento, Pesca, Baixada Maranhense, Sítio RAMSAR.

324 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOECOLOGIA CATEGORY: ETHNOECOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

COMIDA DO RIO: A PESCA E AS PRÁTICAS ALIMENTARES NA RESERVA EXTRATIVISTA IPAÚ-ANILZINHO-BAIÃO/PARÁ

Taiane Novaes do Carmo1,2,6*, Aline Wanessa Pinheiro daSilva1,2, Hilton Pereira da Silva2,3,4 Flavio Bezerra Barros3,5,6

1Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus Belém- PA; 2Laboratório de Estudos Bioantropológicos em Saúde e Meio Ambiente (LEBIOS/UFPA); 3Professor Doutor da Universidade Federal do Pará/UFPA; 4Coordenador da Casa Brasil-África da Universidade Federal do Pará (UFPA); 5Professor Adjunto e Diretor do Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural (NCADR/UFPA); 6Grupo de Estudos Interdisciplinares sobre Biodiversidade, Sociedade e Educação na Amazônia (BIOSE/UFPA) *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

As práticas alimentares se apresentam como fatores importantes, que tanto delimitam costumes quanto mostram os níveis de acesso aos bens alimentícios disponíveis localmente, ressaltando as peculiaridades ambientais e a estrutura social compartilhada pelos diversos grupos humanos. O presente trabalho se originou de um levantamento e análise de referências bibliográficas no acervo integrado de bibliotecas da Universidade Federal do Pará (Pergamum), e na plataforma virtual livre dos periódicos da Capes, afim de buscar referências sobre as atividades relacionadas à pesca e a alimentação proveniente dessa atividade, praticada na comunidade quilombola da Reserva Extrativista Ipaú-Anilzinho, do distrito de Joana Peres situada no município de Baião, nordeste paraense. A pesquisa demonstrou que mesmo havendo uma vasta produção sobre práticas alimentares em diversas comunidades quilombolas amazônicas, ainda há uma incipiente produção acadêmico-científica quanto à essas atividades relacionadas à pesca na Resex Ipaú- Anilzinho, onde das cinco obras encontradas no acervo universitário da UFPA, apenas uma se aprofunda na temática alimentar da localidade, se atentando apenas nos relatos para fins alimentares provenientes da caça. Nos achados do periódico Capes, se reforça a lacuna da escassez de informação sobre a abordagem em questão, onde os trabalhos levantados que fazem referência direta à localidade, não entram no viés alimentação e pesca, salvo três publicações do mesmo autor encontrado no acervo da IES federal paraense, que ainda assim, não retratam os atributos provenientes da pesca local. Com isso, consiste em se achar mais comumente sobre a região, investigações e publicações sobre a sociobiodiversidade local, assim como bibliografias de documentos legais sobre a implementação da área em Unidade de Conservação (lei, decretos e portarias) e os direcionamentos jurídicos relacionados à UC. Observou-se assim, a carência de produções cientificas direcionadas à valorização dos saberes tradicionais empregados na manutenção social local, presentes na diversidade das técnicas passadas entre gerações, nas crenças e costumes respeitados para a subsistência dessas famílias quilombolas, assim como nas relações desenvolvidas pelo grupo para a preservação dos recursos naturais nativos, evidenciando a necessidade de ampliação das pesquisas sobre as particularidades das comunidades tradicionais e áreas protegidas das diversas “Amazônias”, ainda por muitos desconhecidas, mas que ainda (r)existem.

Palavras-chave: Áreas protegidas. Alimentação. Saber local. População negra.

325 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA E ETNOMEDICINA CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY AND LÍNGUA: Português ETHNOMEDICINE LANGUAGE: Portuguese

EFEITOS DO EXTRATO METANÓLICO DE Cnidoscolusurens NO CRESCIMENTO E NA ADESÃO DE Candidaparapsilosis

Hytala Ravena Rodrigues de Sousa1; Rosiane Pereira Souza2, Ana Lúcia Dias de Queiroz2, Eloisa Assunção de Souza Cunha2, Luizângela da Silva Reis3, Érika de Araújo Abi-chacra4*

1Curso de Bacharelado em Enfermagem,Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amilcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano – PI;2Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amilcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano – PI; 3Campus Amilcar Ferreira Sobral (CAFS),Floriano – PI; 4Professora do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da UFPI, Campus Ministro Petrônio Portella (CMPP); *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Com o grande aumento nas últimas décadas de pacientes imunocomprometidos surgiram também infecções por micro-organismos que antes não tinham relevância clínica e hoje são considerados oportunistas. Essas espécies pertencentes ao complexo Candida não-albicans exibem resistência aos antibióticos utilizados na clínica. A medicina popular vem trazendo inúmeros conhecimentos sobre a ação de diferentes plantascontra micro-organismos patogênicos. Estudos utilizando o gênero Cnidoscolus demonstraram seu efeito antioxidante, hepato protetor e anti-inflamatório. Este trabalho apresenta como objetivo geral avaliar a ação do extrato metanólico de C. urens sobre o crescimento e a adesão de Candida parapsilosis. O efeito do extrato metanólico no crescimento foi avaliado através da interação de 10 6 leveduras com diferentes concentrações do extrato (10, 25, 50 e 100µg/ml) por 18 e 24h. A inibição do crescimento foi mensurada através da contagem de unidades formadoras de colônias. Após, as leveduras tratadas com o extrato metanólico (10, 25, 50 e 100µg/ml) interagiram com o vidro por 2h. A avaliação do crescimento fúngico demonstrou que C. parapsilosis apresentou crescimento significativo após 24h de incubação em meio BHI. O extrato metanólico inibiu o crescimento de C. parapsilosis em todas as concentrações testadas (0, 10, 25, 50 e 100µg/ml) após 18h de tratamento (39,52%, 51,23 e 36,35 nas concentrações de 10, 25 e 50 µg/ml) apresentando elevada inibição do crescimento na concentração de 100 µg/ml(99,6%). Do mesmo modo, após 24h de tratamento o extrato metanólico de C. urens inibiu o crescimento de C. parapsilosis em todas as concentrações testadas, (29,16%, 37,68 e 37,51 nas concentrações de 10, 25 e 50 µg/ml) e 93,04% na concentração de 100 µg/ml. Além disso, o extrato metanólico foi capaz de diminuir a interação de C. parapsilosis com o substrato vidro nas concentrações de 25, 50 e 100µg/ml (média: 70,46; 100 e 34,51respectivamente) após 18h de tratamento. Após 24h de tratamento somente as concentrações de 50 e100µg/ml diminuíram a interação de C. parapsilosis com o substrato vidro (média: 25,13 e 9,6 respectivamente). Nossos dados são promissores e apresentam grande importância pois podem contribuir na busca de novos alvosterapêuticos para o tratamento de infecções por C. parapsilosis.

Palavras-chave: Cnidoscolus urens, Candida parapsilosis, crescimento, adesão.

Suporte financeiro: UFPI, Suporte logístico: CAFS-UFPI.

326 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA E ETNOMEDICINA CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY AND LÍNGUA: Português ETHNOMEDICINE LANGUAGE: Portuguese

AVALIAÇÃO DO EFEITO DO EXTRATO METANÓLICO DE Cnidoscolus urens NO CRESCIMENTO E NA ADESÃO DE Candida albicans

Júlia Maria Rodrigues Ribeiro1; Rosiane Pereira Souza1, Flávia Soares da Rocha1, Yara Duarte Santos1, Eloisa Assunção de Souza Cunha1, Luizângela da Silva Reis2, Érika de Araújo Abi-chacra3*

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amilcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano – PI; 2Campus Amilcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano – PI; 3Professora do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da UFPI, Campus Ministro Petrônio Portella (CMPP); *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Cnidoscolus urens é uma planta conhecida popularmente como urtiga, cansanção. Espécies do gênero Cnidoscolus têm sido utilizadas na medicina popular para o tratamento de várias doenças. A incidência de infecções causadas por fungos do gênero Candida tem aumentado nas últimas décadas. Esses fungos apresentam resistência aos principais agentes antifúngicos utilizados na clínica. Neste intuito, este trabalho tem por objetivo geral avaliar a ação do extrato metanólico de C. urens no crescimento e na adesão de C. albicans. Inicialmente foi realizada a avaliação do crescimento celular através da contagem em câmara de Neubauer por 4 dias a 37°C. O efeito do extrato metanólico no crescimento fúngico foi avaliado através da interação de 106 leveduras com diferentes concentrações do extrato (10, 25, 50 e 100µg/ml) por 18 e 24h. A inibição do crescimento foi mensurada através da contagem de unidades formadoras de colônias (UFC). Subsequentemente, as leveduras tratadas com o extrato metanólico (10, 25, 50 e 100µg/ml) foram submetidas à interação com o vidro por 2h. A avaliação do crescimento fúngico demonstrou que C. albicans apresentou crescimento significativo após 24h de incubação em meio BHI. O extrato metanólico inibiu o crescimento de C. albicans nas concentrações de 50 e 100 µg/ml, após 18 (58,71% e 99,39%) e 24h de tratamento (84,9 e 85,8%). O extrato metanólico de C. urens foi capaz de diminuir a interação de C. albicans com o substrato vidro em todas as concentrações testadas (média: 116; 33,11; 52,01; 41,8 e 24,96 respectivamente) após 18h de tratamento. Após 24h de tratamento somente as concentrações de 25, 50 e 100µg/ml diminuíram de maneira significativa a interação de C. albicans com o substrato vidro (média: 21,9; 22,7 e 9,2 respectivamente). Ainda não existe na literatura dados relevantes referentes aos efeitos fitoterápicos de extratos de C. urens, embora o gênero Cnidoscolus apresente diferentes estudos nessa área. Nossos dados são promissores e apresentam grande importância pois podem contribuir na busca de novos alvos terapêuticos para o tratamento de infecções por C. albicans.

Palavras-chave: Cnidoscolus urens, Candida albicans, crescimento, adesão.

Suporte financeiro: UFPI, Suporte logístico: CAFS-UFPI

327 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA CATEGORY: ETNOPHARMACOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE DO EXTRATO ETANOLICO DE Turnera ulmifolia L. ATRAVÉS DO BIOENSAIO DE LETALIDADE FRENTE À Artemia salina Leach.

Orianna dos Santos1*, Gabriele de Sousa Meneses¹, Fabelina Karollyne Silva dos Santos¹, Manuella Feitosa Leal¹, Ana Carolina Landim Pacheco², Marcia Maria Mendes Marques²

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Senador Helvídeo Nunes de Barros (CSHB), Picos – PI; 2Professora adjunta III do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí- UFPI, Campus Senador Helvídeo Nunes de Barros (CSHB). *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Turnera ulmifolia L. (Turneraceae), conhecida popularmente como chanana, é uma planta utilizada na medicina tradicional no combate a leucorréia, dores em geral, febre, asma, má digestão, reumatismo, hemorragias, úlceras gástricas e duodenais, no tratamento do câncer, e no tratamento de doenças resultantes do baixo sistema imunológico. O chá da raiz é utilizado pelos índios Tapebas do Ceará para processos inflamatórios. Estudos anteriores mostraram que extratos aquosos e hidroalcoolicos da chanana apresentam toxicidade e potencial antiespasmódicos, leishmanicida, antitumoral e anti-inflamatório. Neste trabalho, avaliou-se a toxicidade preliminar do extrato etanólico das raízes e parte aérea de T. ulmifolia L. utilizando o bioensaio de letalidade frente ao microcrustáceo Artemia salina Leach. Larvas de A. salina foram expostas durante 24 horas a 6 concentrações (1000, 500, 250, 125, 62, 32 μg ml-1 ) dos extratos etanólicos da raiz e parte aérea da chanana, coletada do município de Picos, Piauí. Após esse período, foi realizada a contagem de vivos e mortos. A CL50 foi determinada a partir da reta regressão linear obtida da correlação entre a porcentagem de indivíduos mortos e a concentração dos extratos. A CL 50 permite atribuir a cada extrato categorias de altamente tóxico, moderadamente tóxico e não tóxico. Os resultados mostraram que os extratos etanólicos de T. ulmifolia apresentaram toxicidade moderada, o extrato das 1 1 raízes apresentou Cl50 igual a 229,7 μg ml- e o da parte aérea CL50 igual a 253 μg ml- sugerindo dessa forma a presença de constituintes biologicamente ativos nos mesmos. Portanto, ambos extratos etanólicos apresentam atividade biologicamente ativa frente a A. salina. Estudos posteriores serão realizados para analise fitoquímica e avaliação da atividade moluscicidas dos extratos etanólicos da chanana.

Palavras-chave: Plantas medicinais, Turnera ulmifolia L., Artemia salina Leach, Picos-PI, toxicidade

328 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA E ETNOMEDICINA CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY AND LÍNGUA: Português ETHNOMEDICINE LANGUAGE: Portuguese

ETNOCONHECIMENTO SOBRE O PARIRI (Arrabidaea chica): USOS TERAPÊUTICOS E EFEITOS INDESEJÁVEIS

Roseane Bittencourt Tavares1*, Ariana Kelly Leandra Silva da Silva2, Hilton Pereira Silva3

1Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Sociedade na Amazônia, Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus Guamá, Belém – PA; 2Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPA; 3Professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Sociedade na Amazônia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPA, Coordenador da Casa Brasil-África. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O uso de plantas como medicamento é prática milenar da humanidade. Porém, para muitas espécies, os estudos sobre os efeitos terapêuticos ainda são incipientes. A Arrabidaea chica é uma trepadeira, com flores róseas ou violáceas, da família bignoniaceae. Esta planta é popularmente conhecida como Pariri, Puçá panga, Cipó cruz, Paripari, Carajurú, Piranga, Crajiru e Cipó-pau e é muito utilizada com propósitos medicinais. O objetivo deste trabalho é identificar os principais tipos de uso da A. chica e comparar com dados que mostram ocasiões onde ela não deve ser utilizada. Fez-se o levantamento de publicações sobre o uso terapêutico desta espécie e comparou-se com os dados de uma pesquisa com pacientes do Hemocentro de Belém, PA, uma vez que a planta é considerada parte do arsenal terapêutico tradicional por portadores de Anemia Falciforme (AF). A bibliografia encontrada relata que a A. chica é utilizada popularmente como antiinflamatório, antihemorrágico, cicatrizante, adstringente, contra males no sistema digestivo, conjuntivite, ataque de insetos e doenças no sistema sanguíneo, como leucemia, icterícia e anemias. Estudos mostram também que o chá dessa planta apresenta uma concentração de 40 a 61 mg/L de ferro. A pesquisa no Hemocentro identificou que o uso do chá de A. chica pelos portadores de AF é muito frequente (46% entre os 50% que responderam que utilizam alguma terapia complementar), já que ela teria propriedades antianêmicas. No entanto, como esses pacientes já possuem um excesso de ferro em seu organismo, que é um efeito adverso das frequentes transfusões a que são submetidos, a ingestão do chá acaba sobrecarregando o organismo podendo agravar o quadro da doença. É preciso então esclarecer aos pacientes que a AF não é uma anemia ferropriva, decorrente da escassez do mineral no organismo, que pode ser corrigida com alimentação e medicação a base de ferro; ela é uma doença genética, que precisa de tratamento específico, seguindo a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, e o chá não deve ser consumido. Embora a utilização de plantas medicinais seja comum na Amazônia, é preciso que seu uso seja feito de forma adequada e com o acompanhamento de profissionais treinados.

Palavras-chave: Anemia falciforme, Pariri, Propriedades terapêuticas, Amazônia.

329 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

AVALIAÇÃO HEMOLÍTICA DOS EXTRATOS DE FOLHAS DE CAESALPINIA PYRAMIDALIS TUL.

Siomara Elis da Silva Lima¹*; Wêndeo Kennedy Costa²; Ana Paula Sant’Anna da Silva³; Alexandre Gomes da Silva 4; Márcia Vanusa da Silva3; Vera Lúcia de Menezes Lima3

1Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas com ênfase em Ciências Ambientais, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); 2Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); 3,4 Departamento de Bioquímica – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).*Autor para correspondência, e-mail: [email protected].

RESUMO

As plantas por serem fontes de compostos bioativos são utilizadas para tratamento e cura de diversas doenças, desde o início da humanidade. A Caatinga, domínio fitogeográfico exclusivamente brasileiro, é uma das maiores e mais distintas formações vegetacional. Devido à alta diversidade, suas espécies aparecem como potencial para descoberta de novas substâncias ativas. A Caesalpinia pyramidalis Tul, conhecida como “catingueira”, tem suas flores, cascas e folhas usadas na medicina popular como digestivo e sedativo. Diante deste contexto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a atividade hemolítica dos extratos de C. pyramidalis. A obtenção dos extratos das folhas C. pyramidalis foi realizada por esgotamento a quente, em aparelho Soxhlet, seguindo-se a série eluotrópica, usando solvente ciclohexano (CH), clorofórmio (CL), acetato de etila (AE), metanol (Me), após extração foi evaporado todo o solvente e os extratos ciclohexano folha (ChF), clorofórmio folha (CLF), acetato de etila folha (AEF), metanol folha (MEF) foram armazenados para posterior utilização nos bioensaios. A atividade hemolítica dos extratos foi testado sob condições in vitro. Após coleta do sangue (5-10 ml) os eritrócitos humanos foram imediatamente isolados por centrifugação a 1500 RPM durante 10 min a 4 °C, após remoção do plasma e do revestimento leucocitário, os eritrócitos foram lavados três vezes com solução salina tamponada com fosfato (PBS, pH 7,4) e depois resuspensos utilizando a mesma solução e uma suspensão de eritrócitos a 1% foi preparada. O valor médio foi calculado a partir de ensaios em triplicata. A atividade hemolítica relativa foi expressa em relação ao Triton X-100. Ao final do experimento os extratos CHF, CLF, AEF e MEF apresentaram baixa citotoxicidade, mesmo na maior concentração testada (1000 μg/ml) induziram baixos níveis de hemólise (1,18; 4,54; 4,78 e 11,13%, respectivamente). Os extratos de C. pyramidalis apresentaram resultados promissores, o que instiga seguir com os estudos na busca da identificação das substâncias presentes nos extratos e suas atividades biológicas, contribuindo na descoberta de novos fármacos.

Palavras- chave: Etnobotânica, Etnofarmacologia, Plantas medicinais

330 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOFARMACOLOGIA CATEGORY: ETHNOPHARMACOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

TRIAGEM FITOQUÍMICA DO EXTRATO METANÓLICO DAS FOLHAS DE CAESALPINIA PY- RAMIDALIS Tul.

Siomara Elis da Silva Lima¹*; Wêndeo Kennedy Costa²; Ana Paula Sant’Anna da Silva³; Alexandre Gomes da 4 3 3 Silva ; Márcia Vanusa da Silva ; Vera Lúcia de Menezes Lima

1Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas com ênfase em Ciências Ambientais, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); 2Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); 3,4 Departamento de Bioquímica – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).4 *Autor para correspondência, e-mail: [email protected].

RESUMO

Estudos científicos demonstram a descoberta de substâncias químicas presentes nas plantas visando obter compostos naturais com propriedades terapêuticas. Diante de toda biodiversidade, o domínio fitogeográfico exclusivamente brasileiro, a Caatinga, apresentam espécies vegetal que podem sintetizar diversos compostos, denominados compostos secundários com elevado potencial farmacológico. A Caesalpinia pyramidalis Tul, conhecida popularmente como catingueira, tem suas flores, cascas e folhas usadas na medicina popular como: anti-inflamatório, sedativo, e infecções gastrointestinais. Dentro dessa perspectiva, este trabalho avaliou a presença de metabólitos secundários dos extratos de C. pyramidalis. A obtenção dos extratos das folhas C. pyramidalis foi realizada por esgotamento a quente, em aparelho Soxhlet, seguindo- se a série eluotrópica, usando solvente ciclohexano (CH), clorofórmio (CL), acetato de etila (AE), metanol (ME), após extração foi evaporado todo o solvente e os extratos ciclohexano folha (CHF), clorofórmio folha (CLF), acetato de etila folha (AEF), metanol folha (MEF) submetidos à análise fitoquímica qualitativa. Utilizado um volume de 10 μL de cada extrato (3 mg/mL em metanol). Para verificar a presença de metabólitos secundários tais como: cumarinas, flavonoides, monoterpenos, sesquiterpenos, diterpenos, taninos, triterpenos, e açucares redutores. Os compostos foram visualizados através de cromatografia em camada fina de ajuda (TLC) sobre gel de sílica 60 F254 (Merck, Alemanha), foram utilizados sistemas de desenvolvimento diferentes e técnicas de visualização de acordo com classe do metabólito. Observou-se a presença de metabólitos secundários, nos extratos avaliados. Tais como: cumarinas, flavonoides, compostos cinâmicos, taninos condensados, saponinas, açucares redutores, terpenos e esteroides, na constituição do extrato avaliado. A presença de compostos fenólicos, nos extratos da folha C. pyramidalis com ação antimicrobiana, e antioxidante, pode estar relacionado ao uso da folha C. pyramidalis na medicina popular. Novos estudos são necessários para a descoberta dessas substâncias de importância biológica.

Palavras-chave: Metabolitos secundários; Etnobotânica; Produtos naturais.

331 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOMEDICINA CATEGORY: ETHNOMEDICINE LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

O IMPACTO DA VIDA ACADÊMICA NO JOVEM UNIVERSITÁRIO E O USO DA ETNOMEDICINA NA POSSÍVEL CURA DA DEPRESSÃO E ANSIEDADE

Joanna Rayelle Pereira de Lima¹*, Carlos Augusto Tenório Cândido¹, Antônio Marques Carneiro¹, José Valberto de Oliveira2

¹Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campus I Campina Grande, Paraíba – PB, 2Professor do Departamento de Biologia da UEPB. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O ingresso à universidade pode apresentar-se como uma situação ameaçadora, posto que trata-se de uma fase adaptativa, na qual o discente vê-se com elevada responsabilidade, isto em razão da transição entre escola e ensino superior, que constantemente representa a estes jovens, a conquista da própria independência. Tal período é considerado crítico no que tange a integração ao novo ambiente e às novas exigências, refletindo diretamente na saúde, resultando na alta prevalência de sintomas depressivos, ansiedade e de estresse nos estudantes, problemática considerada alarmante, onde a morbidade psicológica não implica apenas em prejuízos à saúde, mas também, pode trazer consequências no bem estar social. Com o estudo da etnomedicina, área especializada da etnologia, a qual não se restringe somente a descrever práticas de cura "exóticas", mas em também oferecer ajuda prática na medicina clínica diária e, por diversas vezes, incluir sua prática na antropologia médica que lida com o estudo das medicinas tradicionais, este estudo tem por escopo, avaliar se as intervenções das medicinas tradicionais, como a ayurvédica e a Ayahuasca “santo-daime”, podem contribuir, de forma comprovada cientificamente, no tratamento da depressão e ansiedade, doenças que afetam de forma significante os jovens universitários. A metodologia desta pesquisa tratou-se da revisão bibliográfica do artigo “Antidepressant effects of a single dose of ayahuasca in patients with recurrent depression: a preliminary report”, escolhido por tratar-se de um estudo recente com base metodológica clínica, onde aborda-se a reincidência do quadro clínico de depressão nos voluntários do estudo, os quais, foram submetidos a ingestão do chá “santo-daime” e apresentaram resultados eficazes contra os sintomas da patologia. Ademais, a fim de ampliar a quantidade de informações sobre o tema, realizou-se articulação teórica, do artigo já mencionado, com outro estudo: “Diagnóstico e tratamento ayurvédico das doenças psicossomáticas”, pesquisado em plataformas digitais, e aborda os artifícios utilizados pela medicina ayurvédica, no tratamento dessas doenças, este expõe que mudanças de hábitos alimentares e yoga são eficazes contra os sintomas da depressão e ansiedade. Neste ínterim, pôde-se constatar que as práticas de cura ditas "exóticas" podem, de fato, ser trabalhadas em consonância com a medicina clínica, trazendo melhorias para a população.

Palavras-chave (Keywords, if english; Palabras-clave, si español): Depressão, ansiedade, medicina tradicional, etnomedicina.

332 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOMEDICINA CATEGORY: ETHNOMEDICINE LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

USO DE PRODUTOS EXÓTICOS NO ASSENTAMENTO DOM HÉLDER CÂMARA EM ALAGOAS

Alycia Kayla da Silva Pinheiro 1,2, Marianny de Souza 2,3,*, Henrique Costa Hermenegildo da Silva2

1Curso de Bacharelado em Zootecnia, 2Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Campus Arapiraca, Arapiraca - AL; 2 Núcleo de Estudos Etnobiológios e Ecológicos (NEETEC), UFAL; 3Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, UFAL. 1Bolsista ProCCaExt - UFAL. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O conhecimento local, quando visto com um olhar mais atento, mostra toda sua riqueza e diversidade dentro da sociedade. Conhecimento este que muitas vezes é produto da experimentação vinda de um saber tradicional e consolidado há mais tempo com outros saberes adquiridos ao longo da vida. Este trabalho teve por objetivo inventariar os produtos e materiais exóticos que são utilizados no tratamento de doenças em animais. O presente projeto foi realizado no Assentamento Dom Hélder Câmara, Girau do Ponciano – AL no período de Setembro de 2016 a Fevereiro de 2017. O referido assentamento, também conhecido como Assentamento Rendeiras, é considerado o maior assentamento de Alagoas com 287 famílias distribuídas em seis agrovilas. Os dados foram obtidos através de questionários semi-estruturados e de entrevistas informais com os moradores para saber quais animais são criados; as doenças que afetam seus animais e a forma de tratamento utilizada. Foram entrevistados 154 moradores e os grupos de animais mais frequentes foram equinos e cães. Quantificaram-se seis tipos de produtos exóticos para tratamentos de doenças em animais: vinagre, enxofre, gasolina, coca-cola, óleo queimado e piçarra. Destes, alguns são preparados de maneira complementar com uso de plantas medicinais – Ex: (Aloe vera (L.) Burm.f.); (Coutarea hexandra (Jacq.) K.Schum.) e (Vigna unguiculata (L.) Walp.) – ou utilizados direta e isoladamente. O uso tópico do óleo queimado é destinado aos cães para tratar a sarna. Para o tratamento de sintomas de dores de barriga e cólicas em equinos, mistura-se coca-cola e vinagre com a babosa (Aloe vera), com descanso de 24 horas; ou com enxofre, piçarra e quina-quina (Coutarea hexandra), ambas, através de chás e garrafadas; e o feijão-de-corda (Vigna unguiculata) é fornecido isoladamente, macerado, através do sumo. Com base nessas informações foi possível observar que tais conhecimentos apresentam, em alguns casos, resultados positivos, no entanto, o uso desses produtos é tido como impróprio para tratar animais, causando receio aos profissionais da Ciência Animal. Então, pesquisas devem ser iniciadas com intuito de acompanhar as propriedades dos produtos administrados e os possíveis danos à saúde dos animais.

Palavras-chave (Keywords, if english; Palabras-clave, si español): Conhecimento local, Etnoveterinária, Ciência Animal, Etnozoologia.

333 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazillian Portuguese

COMÉRCIO ILEGAL DE AVES SILVESTRES NA REGIÃO DO CARIRI

Ana Letícia Lima da silva1,*, Isaac Feitosa Araujo1, Whandenson Machado do Nascimento2, Denis Bezerra Correia1, Jennifer Katia Rodrigues3.

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Regional do Cariri (URCA), Crato – CE; 2Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, URCA, 3Professor do Curso de Ciências Biológicas, URCAI, *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O tráfico de animais silvestres movimenta entre US$ 10 e 20 bilhões ao ano em todo o mundo, sendo que no Brasil são movimentados aproximadamente US$ 1 bilhão ao ano. No Brasil são retirados das matas de 12 a 38 milhões de espécimes silvestres ao ano, sendo que 82,71% deste total é representado por aves das regiões Norte e Nordeste. Esses números são, infelizmente, um reflexo da rica avifauna brasileira, uma das mais ricas do mundo, que é representada por cerca de 1690 espécies, o que infelizmente a torna foco do tráfico de animais silvestres. No Nordeste brasileiro o alto índice de tráfico de aves silvestres sendo comercializadas em feiras livres é notório. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo analisar as práticas do tráfico de aves silvestres em feiras livres da região do Cariri. Os dados atuais foram obtidos a partir de visitas à feira localizada no Bairro Franciscanos no município de Juazeiro do Norte, com visitas futuras pretendemos também abranger o reconhecimento para as cidades de Crato e Barbalha. Durante o período de pesquisa foi identificado total de 15 espécies sendo comercializadas Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758); Cyanoloxia brissonii (Lichtenstein, 1823); Sporophila lineola Cabanis, 1847; Sporophila albogularis (Spix, 1825); Sporophila bouvreuil (Statius Muller, 1776); Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776); Lanio pileatus (Wied, 1821); Sicalis luteola (Sparrman, 1789); Forpus xanthopterygius (Spix, 1824); Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819); Icterus jamacaii (Gmelin, 1788); Cacicus cela (Linnaeus, 1758); Sporagra yarrellii (Audubon, 1839); Icterus pyrrhopterus (Vieillot, 1819); Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821), das quais, podemos destacar o “pintassilgo”, espécie antes abundante, hoje está ameaçada de extinção. Desta forma constatamos que a avifauna local sofre com o comércio ativo das espécies locais, indicando que ainda são necessários estudos mais abrangentes de tal forma que possam ser traçadas metas para barrar o comércio e desta forma conservar a avifauna local.

Palavras-chave: Avifauna, fiscalização, tráfico de animais silvestres.

334 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ETNOCONHECIMENTO DO POVO INDÍGENA TEMBÉ: OS VERTEBRADOS DA TERRA INDÍGENA ALTO RIO GUAMÁ

Antônia Silvana de Moura Romão1; Claudio Emidio-Silva2*; Susane Rabelo de Souza Vieira3

1Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará – UEPA, Belém - PA; 2Docente do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará – UEPA, Belém – PA, Biólogo, Mestre em Ciências Biológicas e Doutor em Educação; 3Docente do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará – UEPA, Belém – PA, Geóloga e Mestre em Geologia. *Autor para correspondência, e- mail: [email protected]

RESUMO

O presente estudo é um relato de experiência sobre um projeto aplicado na aldeia frasqueira, Terra Indígena Alto Rio Guamá, sobre a sistematização dos vertebrados existentes na região onde vive o povo Tembé Tenetehar. A questão principal do nosso trabalho foi a falta de materiais didáticos específicos para a escola indígena Tembé e a desvalorização do conhecimento local diante do conhecimento escolar estabelecido. O projeto foi dividido em três etapas: 1) a primeira etapa foi o levantamento das espécies de vertebrados existentes, suas histórias relacionadas e relatadas pelos mais velhos como também as registradas em livros; 2) a segunda etapa foi a construção de materiais didáticos onde organizamos os dados da pesquisa em um livro para ser utilizado na escola e também um jogo de dominó com os respectivos vertebrados escolhidos; 3) na terceira etapa houve a aplicação do livro e do dominó para as crianças do quinto ano da EEIFM Anexo Ita Putyr. Com este projeto conseguimos sistematizar 41 vertebrados nas categorias de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. No desenvolvimento do projeto houve a participação dos membros da comunidade indígena Tembé da aldeia Frasqueira, especialmente durante a fase da pesquisa e posteriormente durante as atividades da aplicação do livro. Percebemos que algumas espécies estão em extinção local, o que pode prejudicar os Tembé uma vez que muitas são utilizadas para a alimentação: anta (Tapirus terrestris), guariba (Alouatta sp.), jabuti (Chelonoidis carbonaria), mutum (Crax fasciolata) e jacu (Penelope superciliaris). Os objetivos do projeto foram alcançados e os alunos tiveram um ótimo aproveitamento com o material organizado e a união dos saberes tradicionais com o conhecimento escolar sistematizado.

PALAVRAS-CHAVE: Etnobiologia; Etnozoologia; Vertebrados, Material didático; Povo Tembé- Tenetehar.

Suporte financeiro: Universidade do Estado do Pará - UEPA; Núcleo de Formação Indígena - NUFI.

335 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ASPECTOS GERAIS DA CAÇA NO MUNICÍPIO DE NAZARÉ, ESTADO DO PIAUÍ.

Breno Fernando Cunha de Freitas Sousa1,2*, Maria Nazaré de Sousa Pereira1,2, Rogério Nora Lima5, Wedson de Medeiros Silva Souto2,3,4

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano – PI. 2Laboratório de Etnobiologia e Conservação (LECON), UFPI, CAFS; 3Laboratório de Zoologia, Uso e Conservação da Fauna Ecotonal da América do Sul (ZUCON), UFPI, CMPP; 4Professor do Departamento de Biologia da UFPI, Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 5Professor do Curso de Ciências Biológicas, UFPI, CAFS; *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

A caça é uma atividade culturalmente, socialmente e economicamente disseminada no Nordeste brasileiro, com implicações ecológicas sobre a biodiversidade. Estudos sobre o tema são concentrados, no entanto, na porção semiárida (bioma Caatinga) dessa região. O presente estudo foi o primeiro a ser realizado sobre atividades cinegéticas de animais silvestres no município de Nazaré (PI), região ecotonal de cerrados marginais distais e caatinga. O trabalho objetivou identificar os motivos e razões que induzem as pessoas a praticarem atividades de caça e registrar as técnicas e estratégias utilizadas pelos caçadores. A coleta de dados ocorreu entre os meses de novembro de 2016 até abril de 2017, na área urbana do município de Nazaré (PI). Os dados foram coletados utilizando a técnica de bola-de-neve. Os indivíduos que informaram capturar animais silvestres foram entrevistados por meio de questionário semiestruturado complementados com entrevistas livres e conversas informais. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CMPP (CAAE 47887015.9.0000.5214). De um total de 50 entrevistados, 62% reportaram que caçam por esporte, cuja maior parte afirmou caçar uma vez por mês (38%), preferencialmente no período noturno (80%), deslocando-se de motocicleta até os locais onde caçam (52%). Quando interrogados sobre as técnicas de captura utilizadas, 98% citaram o uso de faro de cachorro. Outras técnicas de caça frequentemente utilizadas por caçadores compreendem o uso de armas de fogo (70%), armadilhas (jequi, rede) (36%) e instrumentos de trabalho (pá, enxada) (6%). Em relação a forma como principiaram nas atividades de caça, 46% afirmaram ter aprendido as técnicas com amigos e 68% alegaram ter começado a caçar por esporte. Os resultados demonstraram que a prática da caça de animais silvestres ainda persiste dentre a população, principalmente das pequenas cidades, motivados mais por razões de entretenimento do que por razões de subsistência, evidenciando que existem fatores sociais e culturais que estimulam essa atividade pelo simples prazer de caçar. Nesse contexto, torna-se necessário utilizar os princípios da Educação ambiental para estimular o desenvolvimento de consciência ecológica na população, visando obter mudanças de atitude que levem a redução dessa prática ilegal e nociva à natureza.

Palavras-chave (Keywords): Fauna cinegética, caçadores, caça no cerrado, biodiversidade, crime ambiental.

336 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

PERCEPÇÃO DA FAUNA NATIVA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DA REDE ESTADUAL DE SÃO PEDRO DO PIAUÍ

Francisca Adriana Ferreira de Andrade1, Kelliane Costa Pereira 2, Aníbal da Silva Cantalice3, Mirna Andrade Bezerra4, Wedson de Medeiros Silva Souto3, Clarissa Gomes Reis Lopes3

¹Professora da Secretaria de Estado da Educação do Piauí em São Pedro do Piauí; ²Professora da Prefeitura de Floriano- PI; 3 Universidade Federal do Piauí – Campus Ministro Petrônio Portella – Teresina –PI; 4 Bióloga autônoma; *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O Brasil é destaque mundial em riqueza e diversidade da fauna, porém as espécies nativas são pouco conhecidas pelos brasileiros. Desta forma, objetivou-se avaliar se a modalidade de ensino e a série influenciam no conhecimento dos alunos do ensino médio de São Pedro do Piauí (PI). Os alunos do 1ª e 3º ano da Unidade Escolar Manuel Soares Teixeira (EJA - Educação de Jovens e Adultos) e Escola Família Agrícola de São Pedro (EFA) observaram uma prancha com 24 mamíferos (nativos e exóticos) e responderam um questionário para avaliar o conhecimento sobre estes animais. Os dados foram submetidos aos testes de Kruskal-Wallis e Mann Whitney. Na avaliação das indicações de conhecimento, houve diferença no número de espécies entre os alunos dos 1º anos da EJA (20) e da EFA (22,5), e entre os do 1º e do 3º ano da EFA (20). Ao analisar o número de espécies realmente conhecidas, os alunos do 1º ano da EJA (17) acertaram mais animais que o 1º ano da EFA (18,5) e os do 1º ano mais que o 3º ano da EFA (16). Em relação ao número de espécies nativas conhecidas, houve diferença entre o 1º (9) e 3º (7) ano da EFA. Constatou-se que os alunos do 3º ano do EJA que caçavam (8) conheciam mais animais nativos que aqueles que não caçavam (5), porém não houve diferença para as demais séries e escola. Os resultados obtidos demostram que a modalidade de ensino influenciou no conhecimento da fauna nativa, pois os alunos com maior conhecimento são da EFA, que apresentam maior contato com as matas, pois a maioria é do meio rural e de assentamentos. E por isso, a prática da caça influenciou apenas os alunos do EJA. O menor conhecimento dos alunos do 3º ano sugere que a fauna nativa é pouco abordada em sala de aula. A importância da fauna silvestre para a manutenção do meio ambiente é indiscutível. Então, despertar a percepção de um público-alvo para sua preservação é uma medida eficiente e eficaz para combater as perdas pela exploração desenfreada desses animais. Palavra-chave:

Palavras-chave: Mamíferos. Educação de Jovens e Adultos. Escola agrícola.

337 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

HERPETOFAUNA: CONHECER PARA CONSERVAR – UMA CAMPANHA PARA CONSTRUÇÃO CIVIL

Geovania Figueiredo da Silva1*, Gisele do Lago Santana2, Janderson Maia de Andrade3, Juliana de Sousa Silva4, Keila Figueiredo da Silva3, Raimundo Nonato Piedade Júnior1

1Instituto Federal do Maranhão, Campus Presidente Dutra, Maranhão, Brasil.2Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí, Campus Professora Cinobelina Elvas, Bom Jesus - PI, Brasil. 3Professor de Biologia da Secretaria de Educação e Cultura do Piauí - Seduc -PI 14ª GRE. 4 Bióloga do Laboratório Central de Saúde Pública do Piauí-LACEN. *Autor para correspondência: e-mail: [email protected]

RESUMO

O termo herpetofauna é utilizado para denominar a composição dos répteis e anfíbios de um local. Organis- mos que são bioindicadores da qualidade ambiental, devido sua sensibilidade às alterações no ambiente, principalmente aquelas decorrente de ações antrópicas. A construção civil é um elemento que causa impac- to local, tendo em vista que durante seu processo são alteradas a biodiversidade do ambiente. O objetivo do trabalho foi verificar a percepção dos trabalhadores da empresa de construção civil que concluem obras no Campus de Presidente Dutra - Instituto Federal do Maranhão (IFMA), sobre a importância da conservação da herpetofauna do ambiente a ser construído, bem como a desmistificação de conceitos sobre anfíbios e répteis. A escolha do público-alvo se deu porque estes mantém contato direto com esta fauna na rotina de trabalho. A coleta de dados ocorreu em maio de 2017 por meio da aplicação de questionário semiestrutura- do composto por dez questões norteadoras sobre conceitos, identificação de anfíbios e répteis e a percep- ção ambiental. Informações foram complementadas com entrevistas-livres e palestra informativa. Dez traba- lhadores participaram da pesquisa e, destes, 90% já se depararam com algum tipo de anfíbio ou réptil. Quando entrevistados encontram estes animais, o comportamento é de matar (serpentes) ou torturar (jogar sal em anfíbios). Isso reflete a falta de conhecimento a respeito dessa fauna que em consequência estabe- lece uma variedade de crenças que fortalece ainda mais essa relação antagônica. Foi esclarecido que nem todas as serpentes são peçonhentas, e o reconhecimento se deu por meio de características e fotos, por nomes populares das espécies, mobilizando para o rompimento da prática de matar, mas também para o cuidado com acidentes ofídicos. Quanto aos anfíbios foi enfatizado a importância destes para o equilíbrio ambiental, bem como a orientação quanto ao rompimento de práticas místicas e torturas. Foram sanadas muitas dúvidas dos trabalhadores a respeito dessa fauna temida e desprezada por muitos. Essa aversão pode estar relacionada a falta de informações sobre a importância destes grupos para o equilíbrio do ecos- sistema aliado a questões culturais alimentada pelo imaginário popular.

Palavras-chave: Educação ambiental, biodiversidade, etnobiologia.

338 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

O USO MEDICINAL E MISTICO-RELIGIOSO DE RÉPTEIS NO ESTADO DO CEARÁ: UMA REVISÃO

Heitor Tavares de Sousa Machado1, Leonides Azevedo Cavalcante2,*, Ana Letícia Lima da Silva2, Ricardo Gomes dos Santos Nunes2, Dennis Bezerra Correia2,3, Whandenson Machado do Nascimento1,3

1Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Regional do Cariri (URCA), 2Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Regional do Cariri (URCA), 3Laboratório de Crustáceos do Semiárido (LACRUSE), Universidade Regional do Cariri (URCA). *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O uso de animais em manifestações culturais é uma herança milenar, perpassando gerações, e sendo difundida globalmente. No Ceará, estudos iniciais envolvendo a relação entre homem e fauna tiveram um crescimento devido aos conhecimentos tradicionais que povos indígenas passaram de geração a geração. Devido o aumento desordenado de comunidades em contatos com vários animais, os estudos etnobiológicos começaram a ganhar mais atenção. Assim, este estudo teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica integrativa sobre publicações científicas relacionadas ao uso da herpetofauna na medicina popular e místico-religiosa no Estado do Ceará, no período entre 1966 e 2017. Foi identificado um total de 10 espécies, 09 répteis: Bothrops jararaca, (wagler, 1830), (Víbora), Boa constrictor (Linnaeus, 1758), (Jibóia), Crotalus durissus (Linnaeus, 1758), (Cobra cascavel), Iguana iguana (Linnaeus, 1758), (Camaleão), Micrurus ibioboca (Merrem, 1820), (Cobra-coral), Paleosuchus spalpebrosus (Cuvier, 1807), (Jacaré), Spilotes pullatus (Linnaeus, 1758), (Caninana), Pseudoboa nigra (Dumeril, 1854), (Cobra-preta), Salvator merianae (Duméril, 1839), (Téiu ou Tiú), e 01 anfíbio: Rhinella jimi (Stevaux, 2002), (Sapo-cururu). Utilizados em práticas populares e culturais. Esse é o primeiro estudo bibliográfico sobre o uso de répteis e anfíbios para fins místico-religiosos e medicinais para o estado do Ceará. Verificou-se que a herpetofauna é o grupo bastante utilizado nas histórias místicas como fator de grande importância na medicina. Apesar das espécies citadas neste trabalho não estarem em risco de extinção, o uso indiscriminado e incipiente fiscalização podem ocasionar um desequilíbrio ambiental local. No Brasil ainda são poucos trabalhos de etnoherpetologia, o que dificulta um acompanhamento sistemático das espécies retiradas do seu meio natural para fins zooterápicos e práticas místico-religiosas. Portanto, destacamos a importância da proteção faunística da fitofisionomia Caatinga e a prática contínua da educação ambiental.

Palavras-chave: Herpetofauna, educação ambiental, revisão bibliográfica.

339 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portugues

ETNOBIOLOGIA DE ARACNÍDEOS (ARACHNIDA; ARANEAE) NO MUNICÍPIO DE ILHA GRANDE, DELTA DO RIO PARNAÍBA, PIAUÍ, NORDESTE DO BRASIL

José Alex da Silva Cunha1 *, Roseli Farias Melo de Barros2

1Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Teresina – PI. 2Professora da Universidade Federal do Piauí, UFPI, departamento de Biologia, Teresina-PI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

As espécies de aranhas raramente transmitem doenças ou desempenham papel crítico no ecossistema, pelo contrário são excelentes bioindicadores ecológicos. Considerando a expressividade em números de espécies já conhecidas 46.778 incluídas em 4.056 gêneros e 112 famílias, as aranhas ainda são um grupo pouco estudado dentro do contexto etnozoológico. Levantar informações sobre etnobiologia destes animais é de fundamental importância, haja vista a escassez de estudos que foquem o grupo em questão. O presente trabalho tem como objetivo compreender como os moradores da Ilha Grande - PI interagem com as aranhas, dando ênfase aos aspectos cognitivos. A amostragem ocorreu entre maio e julho de 2017, utilizando questionários semiestruturados e conversas informais junto aos moradores. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CEP (CAAE 70052017.1.0000.5214). Setenta e quatro moradores maiores de 18 anos participaram da pesquisa indicando um total de 20 etnoespécies de aranhas. Considerando as características citadas pelos moradores, foram descritas (n = 6) família/pista taxonômica com características de aranhas Mygalomorphae e (n = 14) arranhas com características de Araneomorphae. Durante as entrevistas, aspectos negativos prevaleceram, dando ênfase ao medo que os entrevistados têm destes animais (41%), ou a vontade de matá-los (34%), seguido pelo sentimento de arrepio e coceira ao avistá-los, ambos com (1%). Apenas 23% dos entrevistados não apresentam sentimento algum ao encontrar uma aranha. Quando analisado os aspectos ecológicos das aranhas, quanto a moradia, os participantes ressaltam as paredes (34%), telhados (20%), cômodos (15%) das casas, entulhos (15%), quintal (4%), mata (4%), plantas (3%), igarapés (2%) palha, casca de pau e areia, ambos com (1%) cada. Já em relação a alimentação, 46% dos entrevistados apontaram isentos como presas preferidas pelas aranhas, seguidas citações de moscas (12%), mosquito (9%), formiga (3%), besouros (3%), sujeira (2%), gafanhoto, barata, folhas e resto de madeira, ambos com (1%). 21% dos entrevistados não souberam opinar. Assim, percebe- se que o sistema de classificação etnobiológico adotado reflete os saberes relacionados a aspectos biológico e ecológico. Este saber pode ser considerado valioso para futuros estudos visando manejo e conservação destes animais, principalmente pelo fato da comunidade estar em uma Unidade de Conservação.

Palavras-chave: Etnozoologia, etnoaracnologia, conservação.

340 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

CARACTERIZAÇÃO DO CONHECIMENTO ETNOBIOLÓGICO DE ARANHAS NO MUNICÍPIO DE ILHA GRANDE, PIAUÍ, NORDESTE DO BRASIL

José Alex da Silva Cunha1 *, Roseli Farias Melo de Barros2

1Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Teresina – PI. 2Professora da Universidade Federal do Piauí, UFPI, departamento de Biologia, Teresina-PI. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

O uso de animais faz parte do conhecimento tradicional cada vez mais relevante em biologia da conservação, entretanto poucos são os trabalhos que foquem aranhas dentro do contexto etnobiológico. O objetivo deste estudo foi compreender a relação comportamental dos moradores da Ilha Grande - PI sobre as aranhas. A amostragem ocorreu entre maio e julho de 2017 utilizando questionários semiestruturados. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CEP (CAAE 70052017.1.0000.5214). Foram entrevistados 74 moradores, destes 92% reconhecem aranhas como animais perigosos, resultando em um total de 11 etnoespécies citadas. Mais da metade das etnoespécies (n = 7; 64%) foram citadas por mais de um morador, as demais (n = 4; 36%) tiveram apenas uma citação. A etnoespécie com maior número de citação foi a caranguejeira (Theraphosidea) com 68%. Quanto a expressividade de citações ao perigo que estes animais podem causar, caso ocorra contato, 62% dos entrevistados afirmaram procurar atendimento médico, 16% passam álcool, 11% sabão, seguidos do uso do sal (3%), dipirona (3%), iodo, gelo, fumo, pomada e o consumo de água com cobra e cachaça, ambos com (1%). Quando perguntados se as aranhas além de picar poderiam fazer outra coisa, 47% afirmaram que sim, sendo a alergia a causa mais comum devido ao pelo da aranha (60%), seguidas da produção de teia para alimentação (17%), o veneno que pode matar (14%), as doenças que causam (6%) a dor caso seja picado (3%). Quanto a utilidade destes animais, apenas (n = 6; 8%) apontaram alguma forma de uso, sendo uma citação para bruxaria e cinco para uso medicinal, ambas usando todo o copo do animal. Em rituais de bruxaria a aranha é torrada, macerada e o sumo é aplicado sob o nome da pessoa em papel, como recurso medicinal, a aranha é colocada dentro do álcool para passar no local da picada ou o uso do veneno para beber e passar em cima do ferimento. A percepção negativa das aranhas pelos entrevistados fortalece ações agressivas a estes animais, fazendo-se necessário estudos que enfoquem a importância deste grupo e valorize as espécies que são tidas como perigosas.

Palavras-chave: Etnoaracnologia, aracnoterapia, conhecimento tradicional.

341 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS NO MUNICÍPIO DE IGUATU/CE

Juan Carlos Ferreira Paulino1,2,*, Marlos Dellan de Souza Almeida1,4, Fernanda Fernandes da Silva1,3, Anna Ythyara Candido de Araújo1,3,,Monica da Costa Vidal1,3, Iris Pereira Leandro1,3, Ricardo Rodrigues da Silva5

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), campus da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Iguatu – CE; 2Bolsista de Monitoria Acadêmica, UECE, PROMAC; 3Bolsista de Extensão Universitária UECE PROEX; 4Bolsista PIBIC-CNPq, UECE; 5Prof. Me. do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), campus da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Iguatu – CE. *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Animais peçonhentos são aqueles que produzem algum veneno e possuem mecanismos para injetá-lo, seja em uma presa ou em um predador. Os acidentes por animais peçonhentos foram incluídos, pela Organização Mundial da Saúde, na lista das doenças tropicais negligenciadas que acometem, na maioria dos casos, populações pobres que vivem em áreas rurais. Sabe-se que a ocupação humana tem trazido sérios impactos para o meio ambiente. O município de Iguatu, localizado na região Centro-Sul do Estado do Ceará, tem população de 96.495 habitantes, sendo 77% na zona urbana e 23% na zona rural. Para prevenir casos de acidentes com animais peçonhentos, é importante conhecer o perfil epidemiológico das localidades, de modo que tais informações possam servir de base para ações adequadas da rede de saúde básica. Diante dessa problemática, o objetivo deste trabalho foi investigar os acidentes por animais peçonhentos no município de Iguatu/CE, entre os anos de 2014 e 2017. A pesquisa foi realizada a partir de dados catalogados pela Vigilância Epidemiológica do município. Com base na análise dos dados coletados, verificou-se que, no período considerado, foram registrados 74 acidentes por animais peçonhentos. Em 2014 e 2015, foram assinalados apenas acidentes ofídicos e escorpiônicos, dos quais 16 ocorreram em 2014 e 15, em 2015. No ano de 2016, registraram-se casos de acidentes ofídicos, escorpiônicos e araneídicos, totalizando 27 ocorrências. Em 2017, até o momento da escrita deste trabalho, foram anotados acidentes escorpiônicos, araneídicos e causados por himenópteros (abelhas), com um total parcial de 16 casos. Esses dados, apesar de não serem alarmantes, mostram que o município de Iguatu/CE necessita de um esforço mais consistente sobre a identificação dos períodos sazonais da ocorrência dos acidentes, das espécies envolvidas e dos locais de maior incidência de casos. Além disso, a promoção de iniciativas voltadas para o esclarecimento da população em geral acerca dos animais peçonhentos pode contribuir não apenas para que os índices mantenham-se dentro das margens esperadas, mas para que também incentivem ações para preservação e conservação dessas espécies em seus ambientes naturais.

Palavras-chave: Saúde, Vigilância, Acidentes ofídicos.

342 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

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ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ABELHAS SEM FERRÃO: COLETA E USO DO MEL NA COMUNIDADE JOSÉ GOMES, CABECEIRAS DO PIAUÍ/PI

Márcio Luciano Pereira Batista1*, Paulo Roberto Ramalho Silva2, Roseli Farias Melo de Barros3, Eraldo Medeiros Costa Neto4

1*Aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, E-mail: [email protected], 2Orientador, professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente/ Universidade Federal do Piauí, E-mail: [email protected] 3Co-orientadora, Professora do Departamento.de Biologia/Universidade Federal do Piauí, E-mail: [email protected], 4Co-orientador, Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, Email: [email protected]

RESUMO

As abelhas produtoras de mel são insetos que vivem em sociedade, podendo ser encontradas em ocos de árvores ou outros locais em que fiquem protegidas. No Brasil, o mel é produzido tanto por Apis mellifera scutellata Lepeletier, 1836 quanto por abelhas sem ferrão, ou meliponíneos. Os méis dos meliponíneos são mais saborosos, além do teor de açúcar ser inferior ao de Apis, fator influenciado em consequência de as abelhas sem ferrão visitarem inúmeros tipos de plantas diferentes concomitantemente, além da composição do solo e do clima. Objetivou-se analisar a coleta e utilização do mel das abelhas sem ferrão pelos moradores da comunidade José Gomes/PI. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), parecer nº 1.895.391. Antes de cada entrevista foi solicitada a permissão do informante por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), preconizado pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Como método de rapport, nos primeiros meses, foram estabelecidos contatos prévios com os moradores da comunidade e, posteriormente, a proposta de pesquisa foi apresentada em reunião. Para a coleta das informações foram realizadas entrevistas com auxílio de formulários padronizados semiestruturados a 43 pessoas, sendo uma por residência, que detinham o maior conhecimento sobre o tema. Os resultados mostram que, para a obtenção do mel, os moradores utilizam o fogo na queima das colmeias. Quanto ao uso, 25,4% dos entrevistados obtêm o mel por meio da compra e utilizam como remédio e alimento; 20,9% compram e utilizam somente para remédio, 16,9% coletam e usam como remédio e alimento, 11,3% coletam e usam exclusivamente como remédio e 25,5% não coletam e nem usam. Considerando que a coleta de forma errônea é uma prática comum entre os moradores, os dados obtidos neste estudo poderão ser utilizados para subsidiar políticas de conservação da fauna apícola por meio de educação ambiental.

Palavras-chave: Etnoentomologia, ecologia, etnoconhecimento, etnobiologia.

Suporte financeiro: Capes

343 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

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ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ASPECTOS DO COMÉRCIO DE ANIMAIS SILVESTRES NO MUNICÍPIO DE NAZARÉ, ESTADO DO PIAUÍ.

Maria Nazaré de Sousa Pereira1,2*, Breno Fernando Cunha de Freitas Sousa1,2, Rogério Nora Lima5, Wedson de Medeiros Silva Souto2,3,4

1Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), Floriano – PI. 2Laboratório de Etnobiologia e Conservação (LECON), UFPI, CAFS; 3Laboratório de Zoologia, Uso e Conservação da Fauna Ecotonal da América do Sul (ZUCON), UFPI, CMPP; 4Professor do Departamento de Biologia da UFPI, Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP), Teresina – PI; 5Professor do Curso de Ciências Biológicas, UFPI, CAFS; *Autor para correspondência: [email protected]

RESUMO

A captura e comércio de animais silvestres é atualmente uma das maiores ameaças a biodiversidade. As razões para captura são variadas, desde a utilização de animais como fontes de alimentos e remédios (zooterapia), até como animais de estimação. O presente estudo foi o primeiro a ser conduzido sobre a cadeia de comércio de animais caçados no município de Nazaré (PI). O trabalho objetivou determinar os motivos que levam à prática da atividade de caça, identificar as espécies comercializadas, e investigar a dinâmica de mercado e comercialização baseado em informações de caçadores, no atual contexto de exploração da fauna no estado do Piauí. A coleta de dados ocorreu entre os meses de novembro de 2016 a abril de 2017 na área urbana do município de Nazaré (PI) por meio de questionários semiestruturados complementados com entrevistas livres e conversas informais aplicados a caçadores. Antes da execução, a pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da UFPI-CMPP (CAAE 47887015.9.0000.5214). Um total de 50 entrevistados reportaram a captura de 31 espécies, dentre o esse total, 28 foram citadas para uso alimentício e 13 para fins medicinais. De acordo com os resultados somente 04% dos entrevistados revelaram comercializar carne de caça e 100% afirmaram preferir consumir do que vender. A maioria dos entrevistados (96%) relataram que caçam para própria subsistência, não participando do comércio da fauna silvestre ou subprodutos, porém souberam informar os preços e detalhes importantes acerca do comércio da carne de caça na região. Tal contradição desse resultado possivelmente está associado com o caráter ilegal das atividades da caça no Brasil. As espécies com maiores preços de carne foram Dasypus novemcinctus, Dasypus septemcinctus e Mazama gouazoubira. Já os produtos zooterápicos com maior valor comercial foram a banha de Cerdocyon thous e Tamandua tetradactyla. Poucas espécies foram reportadas no estudo, porém ainda não se pode afirmar que a exploração local não acarrete consequências para a fauna silvestre, uma vez que caçadores indicaram a redução das populações de espécies-alvo, assim como indicativo de aumento dos preços dos produtos da fauna nos últimos 5 anos.

Palavras-chave (Keywords): Fauna cinegética, caça, venda, biodiversidade, crime ambiental.

344 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

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ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

ASPECTOS ACERCA DAS PUBLICAÇÕES ETNOZOOLÓGICAS NO NORDESTE DO BRASIL

Thatiany de Sousa Pereira1,4*, Talita Kelly Pinheiro Lucena1,2, Adeilma Fernandes de Souza1,2 , Géssica Virgínia dos Santos Tavares1,2, Thatiany Louise Carlos de Carvalho Maurício1, Maria Franco Trindade Medeiros1,2,3

1Curso de Pós-Graduação em Ciências Naturais e Biotecnologia, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campus Cuité, Cuité – PB; 2Professora do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, UFCG; 3Professora do Curso de Pós-Graduação em Ciências Naturais e Biotecnologia, UFCG; 4Bolsista FAPESq. *Autor para correspondência, e- mail: [email protected]

RESUMO

A Etnozoologia busca perceber a interação do homem com os recursos faunísticos por meio dos fatores socioculturais. Algumas atividades simbolizam um conjunto de saberes tradicionais refletindo sua importância para o conhecimento científico. A análise desse conjunto de saberes, pode indicar o contexto atual dos estudos Etnozoológicos e suas perspectivas. Para a elaboração desta pesquisa de revisão, foi realizado um levantamento bibliográfico, objetivando compilar publicações em periódicos referentes aos estudos de caráter Etnozoológico no Nordeste do Brasil. Para tanto, foram elencados trabalhos por meio das palavras-chave :Etnoictiologia; Etnoherpetologia; Etnoornitologia; Etnoentomologia; Etnotaxonomia; Etnocarcinologia; Etnomastozoologia; Etnomalacologia; Atividades cinegéticas e Zooterapia, todas acrescidas a palavra Nordeste, em oito bases de dados (uma nacional e sete internacionais), sem limite de datas. A partir desse levantamento e classificação, foi realizada a listagem e organização dos títulos em banco de dados, seguindo o critério de abordagem por subáreas, evidenciando atividades, interação e o manejo da fauna ao decorrer dos anos. Os resultados apontaram uma somatória de 233 trabalhos, sendo estes pertencentes às subáreas: Etnoictiologia (18%; n = 42), Etnoherpetologia (12%; n = 29), Etnoornitologia (11%; n = 24), Etnoentomologia (10%; n = 23), Etnotaxonomia (6%; n = 14 publicações), Etnocarcinologia (5%; n = 12), Etnomastozoologia (4%; n = 9); e Etnomalacologia (0,4%; n = 1). O temário principal concentrou-se em atividades cinegéticas (17%; n = 40 publicações) e zooterapia (15%; n = 35). Pode-se observar um aumento das publicações, cujos maiores índices foram obtidos entre os anos de 2012 e 2016, representando 58% dos dados analisados (n = 130 publicações). A produção científica em torno da etnozoologia indica a consolidação e o aprofundamento dos estudos baseados no intercruzamento da sociedade humana e a sua relação com os animais, produzindo e influenciando diferentes percepções sobre a fauna presente no meio em que convivem. O cenário atual das pesquisas Etnozoológicas expressa a inserção de valores empregados pelo uso da fauna como uma prática bem disseminada e recorrente na região Nordeste. Espera-se que através deste trabalho futuras pesquisas possam explorar e discutir aspectos ainda não abordados na literatura científica, levando a uma maior valorização desta área de pesquisa, dos povos locais e à conservação de seus ambientes de sobrevivência.

Palavras-chave: produção científica, etnozoologia, revisão sistemática.

345 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

ÁREA: ETNOZOOLOGIA CATEGORY: ETHNOZOOLOGY LÍNGUA: Português LANGUAGE: Brazilian Portuguese

A IMPORTÂNCIA DE ESPÉCIES DO GÊNERO Macrobrachium BATE, 1868 PARA AS COMUNIDADES RIBEIRINHAS E INDÍGENAS DO BRASIL

Whandenson Machado do Nascimento1,3*, Ana Letícia Lima da Silva2, Dennis Bezerra Correia2,3, Heitor Tavares de Sousa Machado1, Leonides Azevedo Cavalcante2, Allysson Pontes Pinheiro4

1Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Regional do Cariri (URCA), 2Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Regional do Cariri (URCA), 3Laboratório de Crustáceos do Semiárido (LACRUSE), Universidade Regional do Cariri (URCA), 4Coordenador do Laboratório de Crustáceos do Semiárido (LACRUSE), Universidade Regional do Cariri (URCA). *Autor para correspondência, e-mail: [email protected]

RESUMO

Camarões do gênero Macrobrachium são amplamente utilizados na alimentação humana em todo o mundo. Tal fato está diretamente relacionado ao tamanho que algumas espécies do gênero podem alcançar, como o M. rosenbergii camarão conhecido mundialmente pelo seu valor comercial e sua utilização na alimentação humana. No Brasil, temos espécies que atingem grandes tamanhos, como o M. carcinus, tais espécies são popularmente conhecidas como pitú, que ainda são pouco utilizadas no cultivo, se comparadas com o M. rosenbergii, ou espécies marinhas. No entanto, em comunidades ribeirinhas e indígenas, a presença destas espécies na culinária é frequentemente evidenciada, indicando relevante importância para estas populações. Assim, o presente estudo teve como objetivo realizar um levantamento bibliográfico, visando identificar quais as espécies de Macrobrachium utilizadas por comunidades ribeirinhas e indígenas no Brasil, identificando a utilização de cada espécie. Uma extensa revisão bibliográfica foi realizada, consultando publicações científicas entre o período de 1950 a 2015, buscando identificar quais as espécies do gênero Macrobrachium mais citadas em estudos realizados com comunidades ribeirinhas e indígenas no Brasil. As espécies de grande porte do gênero: M. carcinus, M.amazonicum, M. brasiliense, e M. acanthurus, denominadas popularmente de pitú, foram citadas como espécies utilizadas na alimentação, sendo M. amazonicum a espécie com mais registros. No entanto, a espécie M. jelskii apresentou relevantes informações, uma vez que a espécie não apresenta grande porte, muitas vezes não é indicada como espécie de importância comercial. Mas, estudos relatam a utilização da mesma como isca para a pesca artesanal e a apontam como uma rica fonte nutricional. Já o M. rosenbergii, espécie que apresenta risco eminente a biota aquática brasileira, por ter sido introduzida em nossos ecossistemas, também foi citada como fonte de alimentação por parte das comunidades. Assim, foi possível verificar que as espécies de Macrobrachium apresentam ampla importância social para as comunidades ribeirinhas, como também das indígenas do Brasil.

Palavras-chave: Etnoconhecimento, carcinofauna, pitú.

346 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

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Memórias visuais

IX ENEE: Um evento vivo, um evento de integração

347 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Cerimônia de Abertura Espaço Noé Mendes, UFPI, 1 de novembro de 2017

MESA DE ABERTURA: Prof. Dr. Wedson de Medeiros Silva Souto (em fala) (presidente da Comissão Organizadora do IX ENEE/ I E3PI. Na Mesa, da Esquerda para direita: Prof. Dr. Gustavo Taboada Soldati (presidente da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia), Sr. Devaldino da Silva Portelada (Artista – pintor - homenageado, cujas obras inspiraram e serviram de base a para construção da identidade visual), Prof. Dr. João Xavier da Cruz Neto (Pró-Reitor de pesquisa da UFPI, representando o Magnífco Reitor Prof. Dr. José de Arimatéia Dantas Lopes), Prof. Dr. Edmilson Miranda de Moura (diretor do Centro de Ciências da Natureza da UFPI), Prof. Dr. João Batista Lopes (coordenador geral de pesquisa da UFPI), Prof. Me. Francisco Guedes Alcoforado Filho (diretor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Piauí – FAPEPI). Tribuna de honra: Prof.a. Dra. Josiene Maria Falcão Fraga dos Santos (UNEAL), Prof. Dr. Washington Soares Ferreira Júnior (UPE), Prof. Dr. Hugo Fernandes-Ferreira (UECE), Prof. Dr. Ernani Machado de Freitas Lins Neto (UNIVASF), Prof. Dr. Thiago Antônio de Sousa Araújo (UNINASSAU), Prof.a. Dra. Edna Maria Ferreira Chaves (IFPI), Prof. Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque (UFPE) (primeira fla), prof. Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto (UEFS), Prof. Dr. Felipe Silva Ferreira (UNIVASF), Prof. Dr. José da Silva Mourão (UEPB), Prof.a. Dr.a Kallyne Machado Bonifácio (PRODEMA- UFPB), Prof. Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves (UEPB), Prof. Reinaldo Farias Paiva de Lucena (UFPB).

348 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Atividade cultural Abertura – Bumba-meu-boi

Palestra de Abertura – Prof. Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque

349 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Auditórios lotados

350 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Palestrantes entusiasmados e de excelente nível

PALESTRA Por que ser Etnobiólogo?

Dr. Hugo Fernandes-Ferreira (UECE)

MESA-REDONDA “Uso e Conservação da Fauna Neotropical no Nordeste do Brasil” Da esquerda para direita: Prof. Dr. Rômulo Nóbrega Alves (UEPB), Prof.a. Dra. Kallyne Bonifácio (UFPB-PRODEMA), mediadora Prof.a. Dra. Patrícia Napólis (UFPI)

351 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

PALESTRA Etnobiologia e Conservação

Dr. José Ribamar de Sousa Júnior (UFPI)

352 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Prof. Dr. Reinaldo Lucena (UFPB), Prof. Dr. Hugo Fernandes-Freitas (UECE), Prof. Dr. Rômulo Alves (UEPB), Prof. Dr. Felipe Silva Ferreira, (UNIVASF), Prof. Dr. José da Silva Mourão (UEPB), Prof. Dr. Ernani Lins (UNIVASF), Prof. Dr. Washington Soares (UPE)

Prof. Dr. Wedson Medeiros (UFPI, presidente da CO-IX ENEE/I E3PI), prof. Dr. Ângelo Giuseppe Chaves (UFRPE) e prof. Dr. Nélson Leal Alencar (UFPI, Tesoureiro do IX ENEE/I E3PI)

353 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Palestrante (Prof. Dr. Ernani Lins, UNIVASF) em diálogo científco com a professora Shirliane Araújo (UECE)

Exposição de painéis durante o terceiro dia do IX ENEE e I E3PI

354 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Palestrante Professor Dr, Ângelo Giuseppe (UFRPE, ao centro) recebe dos professores Wedson Medeiros (presidente da comissão organizadora do IX ENEE), Edna Maria (represenante da SBEE no Nordeste) e Nelson Alencar (tesoureiro do IX ENEE) uma lembrança regional

Prof. Dr. Fábio Vieira (UESPI), representando a prof.a. Dra. Roseli Prof. Rômulo Alves (direita) entrega o prêmio do IX Barros (UFPI), entrega o prêmio do I ENEE (prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida) ao autor de E3PI a autoras de um dos trabalho um dos trabalhos laureados laureados

355 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

PARTE DA NOSSA EQUIPE NA CONFRATERNIZAÇÃO DA COMISSÃO ORGANIZADORA DO IX ENEE E I E3PI.

Obrigado a todos que acreditaram nesse importante evento e realizaram na UFPI a maior edição do ENEE.

356 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

O Artista do IX ENEE e I E3PI

O Sr. Devaldino da Silva Portelada (Mestre Portelada) é um renomado pintor no Piauí com mais de 50 anos de carreira. Possui várias obras assinadas no Brasil e no exterior. Portelada é um destaque nacional no estilo cubista de desenho e pintura. Toda a padronização visual do IX ENEE foi inspirada na obra do Mestre Portelada, o qual representa em cores vibrantes o cotidiano regional do Meio-Norte do Brasil.

357 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

A Carta de Teresina

A Etnobiologia no Brasil tem avançou rapidamente nas últimas décadas e o país se tornou polo mundial em pesquisas etnobiológicas. Nesse contexto, o Nordeste do Brasil tem se afrmado como principal região do país em termos de produção científca em Etnobiologia e Etnoecologia. Outras regiões também possuem produção científca relevante nessas áreas. De um modo geral, a Etnobiologia tem sido inserida como uma linha de pesquisa essencial em diversos programas de pós-graduação no país, sobretudo nas áreas de Botânica, Ecologia e Zoologia. Nesse contexto, o primeiro programa de pós-graduação stricto sensu em Etnobiologia da América Latina surgiu no Brasil em 2012: O Programa de Pós-Graduação em Etnobiologia e Conservação (PPGEtno), uma rede da Universidade Federal Rural de Pernambucano, da Universidade Estadual da Paraíba e da Universidade Regional do Cariri. O PPGEtno reforçou a importância do Brasil e do Nordeste como polos internacionais de pesquisas etnobiológicas Preocupados com a necessidade de uma maior inserção da Etnobiologia em currículos em nível de graduação, diversos pesquisadores vinculados ou parceiros da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, por ocasião do IX ENEE e I E3PI, elaboraram a Carta de Teresina, como documento-base para que pesquisadores em todo o Brasil requisitem as unidades acadêmicas e pró-reitorias de Instituições de Ensino Superior públicas e privadas, a inserção da disciplina Etnobiologia nos Projetos Pedagógicos-Curriculares (PPCs) dos cursos de Ciências Biológicas e afns. A carta pode ser baixada no link: https://goo.gl/3REeCf Em caso de indisponibilidade do link, por favor contate a Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (etnobiologia.org) ou o professor Dr. Wedson Medeiros (UFPI – e-mail [email protected]). A carta de Teresina foi um marco em edições do ENEE, uma vez que pela primeira vez em um encontro regional da SBEE fora elaborado um documento subscrito de alcance e aplicação nacional para a Etnobiologia.

358 IX ENCONTRO NORDESTINO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA & I ENCONTRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA DO PIAUÍ

Teresina, 1 a 4 de novembro de 2017

Encaminhamentos e a sede do X ENEE

Por ocasião da plenária de encerramento do IX ENEE e do I E3PI, realizada ao final da tarde de 4 de novembro de 2017, foi sugerido pelo prof. Wedson Medeiros (presidente da comissão organizadora do evento) ao professor Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto (primeiro tesoureiro da atual gestão da SBEE e representando o presidente da SBEE, prof. Dr. Gustavo Taboada Soldati) que o ENEE tivesse o nome alterado para Congresso Nordestino de Etnobiologia e Etnoecologia, dado a dimensão alcançada pelo evento e a consolidação do mesmo de praticamente 20 anos. O encaminhamento foi acatado pela SBEE para análise e votação durante o XII Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia (XII SBEE) a ser realizado de 7 a 10 de agosto de 2018 em Belém-PA. Na plenária fnal a candidatura de João Pessoa-Paraíba foi lançada pelo professor Dr. Reinaldo Farias Paiva de Lucena (UFPB) (representado pelos professores Dr. José da Silva Mourão e Dr. Rômulo Alves, ambos da UEPB) para sediar o X ENEE (provável CNEE) em 2019. A candidatura única foi aclamada por unanimidade pelos presentes. Deste modo, convidamos todos os etnobiológos a se fazerem presentes na capital da Paraíba, terra dos Tabajaras, em 2019. A comissão organizadora do IX ENEE tem a confança de que será um excelente evento.

359 FIM