O Contexto brasileiro da chegada do mangá e as particularidades 1. Este trabalho se apoia no pro- cesso 2011/02714-5, financiado de sua publicação no pela Fundação de Amparo à 1 Pesquisa do Estado de São Paulo Brasil (FAPESP).

Valdemir Miotello Doutor – PPGL - UFSCar  Felipe Mussarelli Doutorando – PPGCTS - UFSCar

Resumo: O trabalho em questão buscará entender o contexto brasileiro da chegada dos mangás bem como entender as peculiaridades encontradas nas publicações nacionais de títulos japoneses que procuram mediar e facilitar o contato de novos leitores com uma narrativa repleta de elementos culturais distintos. Foram analisadas características como: formato original, onomatopeias, tradução e adaptação, escrita romaji, notas de rodapé, glossários e página final. Como resultado pôde-se observar que a passagem dos mangás pelo Brasil pode ser dividida em quatro fases que vão desde a introdução do mangá através dos primeiros imigrantes japoneses no Brasil até a republicação em melhor qualidade de títulos bem aceitos no mercado brasileiro.

Palavras-chave: Mangá; Mangá no Brasil; Características do Mangá no Brasil.

Abstract: This work aims to understand the Brazilian context of the arrival of and understand the peculiarities found in national publications of Japanese comic books titles seeking to mediate and facilitate contact of new readers to a narrative with elements of different culture. The characteristics analyzed were: original format, onomatopoeia, translation and adaptation, romaji written, footnotes, glossaries and final page. As a result it was observed that the passage of manga in Brazil can be divided into four stages ranging from the introduction of the manga through the first japanese immigrants in Brazil to republication in better quality of tittles that were well accepted in the brazilian market

Keywords: Manga; Manga in Brazil; Characteristics of manga in Brasil

Introdução mundo. Uma série de fatores como as baixas vendas das histórias em quadrinhos norte- A partir da década de 80 trinta americanas e o sucesso das animações os países ocidentais presenciaram uma japonesas na televisão aberta brasileira invasão cultural vinda do outro lado do possibilitaram ao mercado nacional

9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 45 apostar em outro gênero quadrinístico, dos 781 imigrantes pioneiros os mangás. Naturais do Japão, os mangás que desembarcaram no dia 18 de diferem das comics norte-americanas não junho de 1908, do navio Kasato- só na estrutura, mas também na forma de Maru. Com eles vieram vários narrativa. sonhos: trabalhar, enriquecer e, As histórias em quadrinhos depois, voltar ao Japão. A ideia alcançaram no Japão um patamar do retorno fazia parte dos planos privilegiado. Mesmo na Europa, onde dos que saíam, imaginando os quadrinhos são vendidos lado a lado melhores perspectivas de vida, aos clássicos da literatura ou nos Estados com a volta ao Japão. (LUYTEN, Unidos, berço dos maiores super-heróis 2012, p. 124). Terra, não há aproximação com o feito alçado no Japão. As primeiras famílias imigrantes Campos (2006, p. 11) destaca no japonesas chegavam ao Brasil para prefácio da edição brasileira da obra Mangá: trabalhar principalmente em lavouras como o Japão reinventou os quadrinhos, de Paul na zona rural. Temendo a chamada Gravett, que os números são espetaculares caboclização ou acaboclamento de seus e muito já foi dito acerca das tiragens de filhos, tais imigrantes tomaram a iniciativa até 7 milhões semanais da Shonen Jump de construir escolas japonesas cuja ou dos 2,6 milhões de exemplares para principal finalidade era a manutenção da a tiragem inicial de um dos volumes de língua natal. O idioma também era falado One Piece atentando que, se a indústria de nas residências resultando em crianças quadrinhos do Japão dava seus primeiros sem conhecimento algum do português passos em 1954, hoje caminha sozinha e é brasileiro, o que causava empecilhos várias vezes maior que a norte-americana. quando estes chegavam às escolas Para Luyten (2005, p. 8), no Japão de brasileiras. hoje a cultura pop surge sob várias formas: Luyten (2012, p. 151) explica aspectos da música popular (como enka), que além da escola japonesa, as crianças karaokê, videogames, desenhos animados dispunham de outros elementos para (animês), filmes, novelas de TV, entre um contato permanente com a língua, outras. Todavia, a forma que mais reflete tais como livros e revistas de histórias em a tradição cultural intensamente visual quadrinhos, com destaque para aqueles de japonesa são as histórias em quadrinhos cunho didático – shogaku – que abrangem japonesas, ou seja, os mangás. a faixa etária dos 2 aos 12 anos. Além do papel educacional o O contexto brasileiro da chegada do mangá mangá funcionava como um dispositivo Ao longo da história, muitos “atualizador” do idioma japonês, tanto japoneses, de acordo com Winterstein para as crianças como para o mais velhos, (2011, p. 144), emigraram do arquipélago no sentido de que os mangás mantinham em direção a lugares longínquos e o Brasil uma narrativa mais coloquial contendo foi o principal destino dos japoneses gírias e outras terminologias mais culturais recebendo 250 mil pessoas entre 1908 reforçando e renovando o idioma dos mais e o fim dos anos 1970. Ainda segundo velhos, cuja língua materna acabava por a autora, apesar de o Brasil ter sido um distanciar-se da terra natal. dos primeiros países a ler mangás fora Winterstein (2011, p. 150) do Japão, essas leituras eram restritas, a complementa que a leitura dos mangás princípio, aos descendentes nipônicos, pelos filhos dos imigrantes talvez fosse uma colecionadores e a alguns pesquisadores. das maneiras de agenciar alguns aspectos O ponto de partida foi à chegada da cultura dos ancestrais e incorporá-los

46 9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 ao seu cotidiano brasileiro, auxiliando no anteriormente, também chegaram ao Brasil processo de construção de uma relação Crying Freeman de Kazuo Koike e Ryoichi mais próxima com o Japão. Ikegami, Cobra, de Buichi Terasawa e Mai - Este período configura-se então, a garota sensitiva, de Kazuya Kudo e Ryoichi como a primeira onda de mangás no Ikegami, sendo esta última a única obra a Brasil, ou seja, aqueles vindos direto do ser publicado na íntegra. , de acordo Japão junto de imigrantes, mantendo seus com Nagado (2007, p. 14), levou anos para formato e leitura originais sem qualquer ser concluído, por conta dos sucessivos tratamento editorial brasileiro. atrasos e cancelamentos devido às baixas Chama a atenção na década de 60 vendas. Ainda que concluído, o ultimo a obra de alguns quadrinistas brasileiros volume de Akira no Brasil foi na verdade descendentes de japoneses que mostravam um compilado de partes selecionadas extrema habilidade ao produzir no de volumes anteriores não publicados, Brasil quadrinhos com temáticas e editados para parecerem um volume final. estilos característicos dos mangás. Julio “Custou para os quadrinhos Shinamoto com suas clássicas histórias japoneses se firmarem no Brasil”, afirma de terror, Paulo Fukue e Claudio Seto Barbosa (2005, p. 103). Havia uma cuja obra Samurai possuía traços realistas e espécie de barreira invisível, segundo o narrativa repleta de violência. pesquisador, que afugentava os leitores A partir do final dos anos 80, brasileiros. Caminho bem diferente das segundo Moliné (2004, p. 62), editoras animações orientais, que faziam sucesso no como Cedibra, Nova Sampa, Abril e Brasil e arrebanhavam muitos fãs de várias Globo começaram a traduzir as primeiras gerações. coleções de mangás no Brasil, apresentadas Ramos (2012, p. 39) conta que em formato diferente do original as publicações orientais só caíram no japonês. Mais precisamente com páginas gosto do leitor daqui com a entrada da espelhadas para facilitar a adaptação a editora Conrad no segmento no fim de leitura ocidental. 2000. Ramos (ibid.) explica que as duas A segunda onda de mangás no Brasil revistas de estreia, Dragon Ball e Cavaleiros veio com Lobo Solitário, de Kazuo do Zodíaco, repetiram nas bancas o sucesso Koike e Goseki Kojima, sendo o primeiro que tinham nas versões animadas exibidas mangá japonês editado em terras nacionais. pela televisão aberta e pautaram outros O mangá foi editado pela editora Cedibra lançamentos, tanto da editora Conrad no ano de 1988. Segundo Nagado (2007, quanto da JBC, que também entrou no p. 14), era a tradução da edição americana, mercado. com introdução e capa do mega-astro dos “O mercado brasileiro começou quadrinhos americanos Frank Miller, que então a ser invadido pelos mais variados foi o grande responsável pela entrada do títulos de mangá, como One Piece, Vagabond, mangá nos EUA. Ainda de acordo com Inu-Yasha, , Dark Angel e tantos Nagado, Akira, de Katsuhiro Otomo e Izô outros”. (NAGADO, 2007, p. 15). E essa Hashimoto lançado pela editora Globo é o que chamamos de terceira onda do causou grande repercussão na mídia, em mangás no Brasil. parte por conta do lançamento, na mesma Em terras nacionais o mercado de época, do aclamado longa-metragem quadrinhos oscila bastante, todavia, a homônimo. situação hoje nos parece diferente. Baixas Infelizmente, apesar dos elogios vendas antes representavam cancelamento da crítica especializada, as baixas vendas quase que imediato, e foi assim com alguns impediam que os títulos fossem publicados títulos de mangás como Peach Girl e Eden, na íntegra. Além das obras citadas ambos publicados pela editora Panini,

9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 47 no entanto, há hoje algumas publicações padrão atual de publicação de mangás. voltadas para nichos minúsculos, com Além das republicações, a quarta tiragens baixas, algo inimaginável anos onda de mangás no Brasil inclui também atrás, explica Gusman (2005, p. 82). mangás criados no Brasil, ou seja, mangás Outras editoras entraram no criados por brasileiros, muitas vezes de mercado do mangás, em especial a editora forma independente utilizando-se de redes Panini, que preencheu o espaço deixado sociais e da publicação em meio digitais. pela editora Conrad, que interrompeu suas Alguns títulos alcançam relativo sucesso publicações deixando-as inacabadas. possibilitando que os autores publiquem Ramos completa que suas obras em formato encadernado os anos finais da década viram graças à ajuda de seus leitores através de outras editoras apostarem no plataformas de financiamento coletivo segmento, uma delas com bons como o Catarse. Esta quarta onda, resultados, caso da NewPOP. O constituída por republicações em formato nome mangá se tornou atraente. de luxo e mangás nacionais merece Algumas revistas passaram a bastante atenção, em especial pelo meio usar a palavra como estratégia de independente em que essas publicações vendas, mesmo que o conteúdo circulam e tomam forma. de mangá fosse outro. A década Vale ressaltar que o movimento terminava com bancas cheias de publicação em redes sociais e através de mangás. Alguns jornaleiros de financiamento coletivo é utilizado por tiveram de redimensionar diversos nichos, artísticos ou não, e vêm as prateleiras para abrigar as criando um novo paradigma na sociedade. publicações. Os quadrinhos Desde 2000 a publicação de mangás japoneses tiveram um forte no Brasil passou por fases, modificações e, impacto nos dez primeiros anos a sua maneira, constituiu uma publicação deste século, tanto no mercado com elementos exclusivos. Essas nacional quanto na cultura de exclusividades ou particularidades da parte dos jovens brasileiros. Já a publicação brasileira dos mangás japoneses mais de uma geração que cresceu serão discutidas a seguir. lendo mangás. (2012, p. 39). Particularidades do mangá publicado Títulos deixados para trás pela no Brasil editora Conrad foram divididos entre Os títulos japoneses de mangás as editoras Panini e JBC, que iniciaram publicado no Brasil recebem um reedições dos mesmos, em edições tratamento diferenciado dos demais diferenciadas. quadrinhos estrangeiros. Por ser Atualmente as publicações de originalmente uma publicação japonesa mangás parecem ter entrado em uma muito de seu conteúdo, por conta não quarta fase, indicado pela republicação somente das diferenças culturais, mas de títulos consagrados em sua primeira também da questão vocabular, não seria passagem pelo Brasil. Títulos como Sakura de fácil entendimento para o leitor que não Card Captors, Yu Yu Hakusho e Samurai estivesse familiarizado nesse universo. (publicado agora com seu título original, Em uma segunda passagem, ), todos publicados algumas obras clássicas do mangá como pela editora JBC retornaram as bancas, Akira (Katsuhiro Otomo) e Lobo Solitário entretanto, em formatos de luxo, com (Kazuo Koike e Goseki Kojima), já papel de melhor qualidade e em edições haviam passado por aqui, em meados de com maior número de páginas, seguindo o 1988, no formato ocidental de leitura e

48 9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 publicação. Mais tarde o mangá Lobo passagem dos mangás pelo país na Solitário voltaria a ser publicado no Brasil, década de 80, houve uma preocupação mais precisamente em dezembro de 2004, do mercado editorial na aceitação dos em 28 edições com leitura e onomatopeias quadrinhos japoneses por conta das orientais, pelo selo Planet Mangá, da editora diferenças da publicação original. Destaca- Panini. se a isso o fato da leitura oriental ser feita [...] a partir de 2000 [...] quando inversamente a ocidental, ou seja, da direita a Conrad Editora trouxe ao para a esquerda. Brasil os títulos Dragon Ball e Pensando nesse possível problema Cavaleiros do Zodiáco, os fãs de aceitação os editores decidiram ficaram exultantes: a leitura era aproximar a leitura do mangá à leitura que feita no sentido oriental e as o ocidente fazia, espelhando suas páginas, onomatopéias eram mantidas ou seja, invertendo a leitura tradicional na em japonês, pois faziam parte qual a obra foi desenvolvida. Complementa do desenho, dando início a uma Gusman (2005, p. 79) que, nova era no mercado nacional de na década de 1980, teve início a quadrinhos. (GUSMAN apud importação de algumas obras, FARIA, 2007, p. 20). sempre usando o mercado norte- americano como intermediário. Com a crescente popularização Isso trazia um inconveniente para dos mangás, algumas editoras, segundo os fãs das HQs japonesas: para Vergueiro (2003), praticamente se adaptar para à leitura ocidental, especializaram em sua publicação, o que os editores norte-americanos possibilitou explorar o mercado de forma invertiam os fotolitos. Assim mais ampla, lançando títulos inéditos no era comum ver pessoas usando país em seu formato original (impressão relógio no braço direito e se japonesa), ou seja, de trás para frente e da cumprimentando com a mão direita para a esquerda. esquerda. Hoje o gibi Turma da Monica Jovem (ou Turma da Monica Mangá, devido Na passagem seguinte dos ao fato de sua arte e narrativa basearem- quadrinhos japoneses no Brasil, 2. Fonte: http://www.bemparana. se nos quadrinhos japoneses), criado preocupou-se em manter a forma de leitura com.br/noticia/96080/turma-da- por Maurício de Souza bate recordes de da maneira como é feita no Japão, que para monica-jovem-bate-recorde-de- vendas Acesso em 15/11/2012. vendagem, chegando às quatro primeiras Oka (2005, p. 88), deixa a edição nacional edições juntas à marca 1,5 milhões de ainda mais fiel à original japonesa, sem exemplares vendidos2. tornar os personagens “canhotos”. Além Todavia, alguns itens fazem da desse aspecto formal, existe um aspecto publicação nacional do mangá diferenciar- prático que pesa para a editora, pois se da versão japonesa. São eles: dispensa o trabalho de ‘desinversão’ das I. Formato original letras e das onomatopeias, economizando II. Onomatopeias tempo e custos. III. Tradução e adaptação O tamanho e o formato dos mangás IV. Escrita romaji publicados no Brasil são similares aos V. Notas de rodapé dos livros encadernados (tankohons VI. Glossários ou tankobons) japoneses, com algumas VII. Página final pequenas exceções quanto ao número de páginas das primeiras publicações da I. Formato original terceira passagem. As primeiras edições Como visto acima, na segunda tinham em média metade do número de

9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 49 Figura 1 - Diferentes edições do mangá Sakura Card Captors, do grupo . Fonte: Acervo Pessoal

páginas da edição original japonesa, sendo o motivo principal desse formato a adequação à condição econômica dos leitores nacionais. Na verdade a divisão pela metade no número de páginas aumentava a vida útil da obra no mercado, dobrando seu período de publicação e aumentando os lucros da venda, uma vez que o preço de duas edições nacionais não era equivalente ao preço de uma edição no formato japonês. Isso ficou claro mais recentemente quando se aboliu do mercado a venda dos chamados meio- Figura 2 - Três edições da obra Dragon Ball, de Akira Toryama. Fonte: Acervo Pessoal. tanko, com exceção daquelas que ainda se encontravam em publicação, evitando assim que a publicação sofresse alterações em seu formato ao longo dos volumes. As edições vistas anteriormente na figura 1 são as versões meio-tanko, formato pelo qual os mangás eram publicados no ano 2001 pela editora JBC e a versão tankohon de luxo, publicada no ano de 2012, também pela editora JBC, da obra Sakura Card Captors, do Grupo Clamp. Enquanto a edição publicada em 2001 tem dimensões de 11,5 x 17,5 cm, possuindo aproximadamente 100 páginas em preto em branco, a edição especial publicada em 2012 tem dimensões de 13,5 x 20,5 cm com 200 páginas das quais 16 são coloridas. O mesmo acontece com a obra Dragon Ball (figura 2), publicada inicialmente no Figura 3 - Edição Definitiva Dragon Ball, de Akira Toryama, publicado pela edi- formato meio-tanko em 2000 (na figura tora Conrad. Fonte: http://mlb-s2-p.mlstatic.com/dragon-ball-edico-definitiva- 2 as duas primeiras edições de cima para -vol-1-451211-MLB20494415741_112015-F.jpg. baixo) pela editora Conrad, posteriormente

50 9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 em 2005 em uma versão de luxo (figura 3) acompanham a direção delineada pela arte com páginas coloridas no capítulo principal das capas originais. Quando há necessidade e mais recentemente no ano de 2012 em de criar uma capa diferente da original, uma reedição, agora em formato tankohon como no caso das publicações com a metade publicado pela editora Panini (na figura 2 a de páginas, que acabavam por dobrar o terceira edição de cima para baixo). número de volumes (nesse caso havia um Embora a segunda edição de Dragon X/2 número de páginas prontas, cabendo Ball publicada pela editora Conrad em 2005 à editora nacional criar a outra metade), a fosse nomeada como definitiva, sinônimo editora brasileira necessitava da aprovação para edições de luxo, a qualidade era dos donos dos direitos da obra no Japão. inferior a edição kanzenban3 japonesa que Com exceção de alguns detalhes, servia como modelo e mesmo com edição as capas (figuras 4 e 5) são bastante definitivas do mesmo título publicadas em semelhantes, procurando manter a 3. O kanzenban, edição de luxo, outros países, como a espanhola (na figura publicação brasileira o mais próximo é um formato normalmente com mais páginas que o tankoubon, 2 a última edição de cima para baixo). O possível daquela encontrada no Japão. maior qualidade e páginas colo- que diferencia a edição brasileira da edição Além dos encadernados tankohons, ridas, mais completo. A palavra japonesa e da espanhola é a presença de uma foram publicados no Brasil algumas Kanzen significa completo ou perfeito. Fonte: http://www.jbox. capa especial removível sobre a capa original, edições de luxo, contendo capas melhor com.br/ característica conhecida dos kanzenbans e trabalhadas e impressas em materiais de também de alguns quadrinhos de luxo em melhor durabilidade e qualidade, algumas geral. A edição definitiva publicada pela contendo páginas coloridas. Podemos Conrad teria 34 edições, entretanto sua citar como exemplo a edições definitivas publicação foi cancelada na edição 16 em de Dragon Ball e a edição de Gourmet, de 2009. Jiro Taniguchi, publicada em 2009, ambas As capas das edições nacionais pela editora Conrad.

II. Onomatopeias

Figura 4 - Capa da edição japonesa do mangá . Figura 5 -Capa da edição nacional do mangá Bakuman. Fonte: http://www.actusf.com/. Fonte: http://www.comix.com

Outro ponto importante da edição características do gênero, as onomatopeias nacional do mangá é a questão das são um recurso essencial dos quadrinhos e onomatopeias. Como visto anteriormente recebem uma importância ainda maior no no capítulo que define as principais contexto do mangá.

9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 51 As onomatopeias, nos , (SHUBO). Nos últimos anos ocupam boa parte do quadro e fazem os artistas tem criado os milagres parte da estética do mangá. Elas são a do paradoxo: o uso do som para representação escrita do som, e hoje são representar atividades e emoções constituintes da narrativa quadrinística. silenciosas. Quando um guerreiro Uma particularidade das onomatopeias é ninja some em pleno ar o som é que cada cultura tem suas próprias maneiras FU; quando uma folha cai de de representar o som graficamente. uma árvore o som é HIRA Comics americanas possuem HIRA (…) quando o rosto de uma longa tradição de utilizar alguém se enrubesce de vergonha palavras para representar o som é PO; e o som de nenhum sons, mas eles normalmente ruído sequer é um contundente limitam-se a descrever explosões SHIIIN. (SCHODT, 1997) (BAROOM!), punhos (tradução nossa). batendo em mandíbulas (POW!), e metralhadoras Para Oka (2005, p. 88), a atirando em comunas manutenção das onomatopeias originais (BUDABUDABUDA!). Os torna a arte do mangá ainda mais fiel Japoneses ganharam a guerra ao japonês. Mas, para compensar o das palavras. Eles têm sons que problema da legibilidade, uma vez que as representam o macarrão sendo mesmas são escritas no idioma japonês, sorvido (SURU SURU), dezenas adicionam-se pequenas legendas em de tipos de chuva (ZAAA…, português para ajudar na compreensão BOTSUN BOTSUN, PARA sem prejudicar a arte, como pode ser PARA), e o repentino acender observado na figura 6 onde o texto da chama de um isqueiro “KABRUUUM” é adicionado abaixo da

Figura 6 - Onomatopeia encontrada em D. Gray Man representando um som de impacto equivalente a “KABRUUUM”. Fonte: D. Gray Man, de Katsura Hoshino, publicado pela editora Panini, vol. 21, p. 111.

onomatopeia original. trás das mesmas, contudo, como citado Dispomos hoje de tecnologias acima, a onomatopeia faz parte da arte e digitais capazes de apagar as onomatopeias apagá-las para a introdução de algo mais originais sem deformar o conteúdo por próximo da cultura brasileira prejudicaria

52 9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 a obra em questão. sendo traduzidas de forma literal e explicadas pelos editores em uma nota de III. Tradução e adaptação rodapé. A questão da tradução e adaptação Oka também cita o problema da encontra alguns problemas com relação gramática japonesa, aonde a posição do às diferenças entre a gramática japonesa e verbo e do objeto é invertida em relação brasileira e a necessidade de transliterações. ao português. Exemplificando, no Brasil Arnaldo Massato Oka, cuja se diz “Fulano faz tal coisa” enquanto no experiência como tradutor profissional Japão “Fulano tal coisa faz”, o que gera de mangás nos ajuda na compreensão das problemas atrapalhando a adaptação. peculiaridades das versões nacionais das Quando uma frase longa é obras, faz um apanhado das principais dividida em diversos quadrinhos características da tradução pra o português. (e consequentemente em diversos Para Oka (2005, p. 88), o tradutor tem balões), de vez em quando a fala a preocupação e a responsabilidade de enfática fica separada do desenho recontar a história de forma atraente para de destaque, o que desfoca a os leitores brasileiros, o que não é uma narrativa. É preciso alterar a frase tarefa fácil. Além da dificuldade, o trabalho do personagem para que o desenho de tradução torna-se um pouco ingrato, e fala fiquem sincronizados. sendo valorizado pelo anonimato, em (OKA, 2005, p. 89). outras palavras, quanto menos os leitores reparem no trabalho do tradutor melhor. Com relação à tradução das É impossível existir tradução sem onomatopeias, Oka salienta que é preciso um mínimo de adaptação, havendo, inventar um grande número delas, pois no portanto, confusão entre estes dois termos. Japão existem onomatopeias que servem Oka prefere, ainda sim, separar os dois apenas para descrever a situação, como termos, justificando-se com um exemplo por exemplo, a ausência de som e outra ocorrido em sua adolescência. Enquanto para indicar uma pessoa ficando vermelha assistia um episódio do anime Zillion de vergonha, sendo o tradutor obrigado a (1987) dirigido por Akira Watanabe, uma escrever literalmente “silêncio” e “vermelho”, cena lhe chamou a atenção. O protagonista uma vez que a língua portuguesa não possui da série JJ conversava com seu parceiro de equivalentes para essas onomatopeias. equipe, Champ, para decidir o próximo Sendo assim, a tradução e adaptação passo de sua missão. Champ cita um do mangá publicado no Brasil mostram provérbio chinês para expor sua opinião. sinais de dialogia, uma vez que a voz do Em japonês o provérbio é “koketsu editor ou editores permeia por toda a ni hairaneba koji wo ezu”, que na versão obra, mesmo que a princípio não se tenha brasileira foi traduzido como “Se você não consciência disso durante a leitura. entrar na caverna do tigre, não conseguirá o filhote do tigre”. Para Oka, a tradução IV. Escrita romaji encontra-se correta, todavia, o espectador Por tratar-se de uma publicação de brasileiro desconhece o significado do origem japonesa, a tradução e adaptação provérbio encontrando dificuldade em para o português encontram termos sem entender seu significado, sendo sugerida par na língua portuguesa, ou seja, sem uma adaptação possível e de compreensão possibilidade de tradução. Algumas vezes é mais imediata “Quem não arrisca não necessário manter a palavra em sua língua petisca”. materna para manter a imersão do leitor. Nos mangás publicados no Brasil, A escrita romaji nada mais é do que a algumas expressões não recebem adaptação, transcrição da língua japonesa escrita para

9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 53 o alfabeto ocidental. Dessa forma torna- do Japão. O sistema Hepburne, se possível ler os ideogramas japoneses de por sua vez, é o mais utilizado e acordo com o alfabeto ocidental. comum em quase todo o mundo. Explica Oka (2005, p. 90) que, naturalmente sempre aparecem Embora Oka ressalte o uso do nomes e termos japoneses que sistema Hepburne, Nagae, em notas da não são traduzíveis, havendo tradução do livro Trajetória em noite necessidade de se fazer uma escura (2011), salienta a não adequação transliteração (ou ‘romanização’), completa do sistema em função da das palavras japonesas. Ou seja, a dificuldade da aproximação da fonética do substituição das letras japonesas Hepburn à do português. por letras latinas. Existem dois Veremos a seguir, um exemplo sistemas de transliteração: o encontrado do processo de romanização japonês e o Hepburne. Não é nos mangás publicados no Brasil. comum ver o sistema japonês fora No trecho acima, a personagem em

Figura 6 - Trecho do vol. 56 do mangá Negima Fonte: Negima! de Ken Akamatsu, publicado no Brasil pela editora JBC. Vol. 56

cena usa durante sua fala o termo “riajû”, V. Notas de rodapé ou do editor causando estranheza nas personagens Um recurso gráfico frequentemente que dividem as próximas cenas com utilizado nas edições brasileiras dos ela. Posteriormente, outra personagem quadrinhos japoneses é a nota de rodapé. explica a origem do termo, sendo este uma Nela são descritas traduções de termos, gíria da internet comum aos internautas contextualizações da trama quando esta japoneses. Riajû é uma abreviação de “real trata de elementos específicos da história jûjitsu” (realizada na vida real), referindo-se ou cultura japonesa. Este recurso não a uma pessoa plenamente satisfeita com a é exclusivo dos mangás publicados no realidade. Brasil, aparecendo com frequência nos Não há no português brasileiro quadrinhos de origem norte-americana. um termo equivalente para aquele usado Bem como as onomatopeias que pela personagem, havendo, portanto, fazem parte da arte do mangá, muitos uma romanização do mesmo. Esse hábito elementos da construção pictórica são editorial tornou-se necessário sendo ideogramas japoneses, e da mesma forma encontrado praticamente em todas as seu apagamento e tradução prejudicariam edições publicadas no Brasil. o resultado final.

54 9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 Na figura 8 podemos observar um exemplo de nota do editor. Na imagem, retirada do mangá Afro Samurai de Takashi Okasaki, publicado no Brasil pela editora Panini, podemos ver um “papel vermelho” cuja nota do editor indica ser uma carta de recompensa. A nota do editor ou de rodapé torna-se de suma importância para a consolidação do mangá no Brasil, uma vez que rompe, de certa forma, a barreira cultural existente entre os dois países, facilitando a compreensão de passagens desconhecidas ao leitor brasileiro.

VI. Glossário Figura 8 - Nota do editor em Afro Samurai Talvez o item mais importante Fonte: Afro Samurai, de Takashi Okasaki, vol. 1, p. 45. desta lista de peculiaridades dos mangás publicados no Brasil seja o glossário. No início das publicações no ano de 2000, os mangás não recebiam o glossário, limitando-se no máximo a editar notas de rodapé com algumas compreensões mais sucintas, ainda que de grande ajuda. Foi com a editora Panini que o glossário foi introduzido aos mangás. Um número maior em suas edições permitiu a introdução de um glossário ao fim de cada volume, inicialmente mais simples, sendo atribuídas melhorias ao longo dos anos de publicação. Ao lado, veremos alguns exemplos de glossários encontrados nos mangás publicados atualmente no Brasil. A figura 9 foi retirada dos extras do volume 29 do mangá Bleach de Tite Kubo, Figura 9 - Brincadeira típica do Japão em Bleach Fonte: Bleach, de Tite Kubo, Vol. 29, p. 194. também publicado no Brasil pela editora Panini. Na cena, uma das personagens sugere uma brincadeira conhecida no Japão como Suikawari. Para saber do que se trata tal brincadeira, basta olhar no fim da edição para encontrar um glossário contendo a tradução dos termos encontrados no mangá. Já a figura 10 ilustra um trecho do glossário onde consta a tradução do termo encontrado na primeira imagem. Esse glossário é fornecido pela editora brasileira, sendo, portanto, integrante Figura 10 - Trecho do glossário da edição nacional de Bleach apenas da edição nacional. Nem todos Fonte: Bleach, de Tite Kubo, Vol. 29, p. 202.

9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 55 os mangás publicados no Brasil possuem errado antes que inicie uma leitura errônea um glossário – a editora Panini fornece e comprometa a experiência da leitura. A glossários em todos ao mangás -, mas as página final ainda indica a ordem de leitura notas de rodapé são constantes em todas dos balões de fala, facilitando ainda mais as publicações. o contato e o início da leitura do material.

VII. Página final Conclusão Outra diferença da versão nacional Buscamos, ainda que de forma dos mangás em relação à sua contraparte sucinta, indicar as principais passagens do japonesa é a ultima página da publicação mangá pelo Brasil, desde sua chegada inicial brasileira. Por ser um produto cuja leitura com os primeiros imigrantes japoneses até inicia-se onde geralmente costuma ser o os dias atuais com as republicações em fim, o mangá publicado no Brasil recebe em formato de luxo de títulos conhecidos sua última página (primeira se adotarmos bem como dos mangás nacionais a leitura ocidental) um aviso dizendo ao criados por brasileiros, publicados de leitor que ali não é o início da obra, mas forma independente em meios digitais o fim. Podemos observar um exemplo de e impressos através de financiamento página final de mangá publicado no Brasil coletivo em plataformas como o Catarse. abaixo, na figura 11. Este artigo procurou observar as principais Assim, o leitor desavisado percebe características encontradas nas publicações que está começando a leitura pelo lado nacionais de títulos orientais de mangás que permitem uma maior aproximação cultural de temas, utilizando de traduções, adaptações e mesmo elementos visuais que facilitem essa aproximação, tanto com o leitor iniciante como com leitor mais experiente. Esses elementos facilitam não só o entendimento dos temas retratados nas narrativas dos mangás, mas também de todo um sistema cultural estrangeiro que muitas vezes só encontramos quando em contato com estas narrativas. Muitos fatores podem explicar o tamanho sucesso de um tipo específico de publicação estrangeira como esta. Fatores como o sucesso dos animes da televisão brasileiro, a baixa venda dos quadrinhos de super-heróis no momento da reintrodução dos mangás no mercado brasileiro, bem como o grande número de descendentes de japoneses no Brasil, todavia, preocupamo- nos neste trabalho, não em buscar os fatores do sucesso do mangá, mas sim elementos incorporados a publicação que

Figura 10 - Página final Samurai X, agora intitulado de Rouroni Kenshin. facilitassem seu contato com o publico Fonte: Vol. 02 da segunda edição nacional de Rorouni Kenshin, publicado pela editora JBC. brasileiro. Dessa maneira, os sete itens (formato original, onomatopeias, tradução e

56 9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 adaptação, escrita romaji, notas de rodapé, dos quadrinhos no Brasil. 1. ed. São Paulo: glossários e página final) descritos nesse Devir, 2012. trabalho exprimem a condição dialógica do SCHODOT, F. Manga! Manga! The mangá no sentido de aproximar as culturas, world of Japanese comics. Tokyo, Kodansha construindo uma pequena, porém eficiente International, 1997. ponte entre os dois mundos, fornecendo VERGUEIRO, W. C. S. O mercado informações e contextualizações capazes produtor e consumidor de histórias em de nos transportar em uma viagem quadrinhos: alguns subsídios para o atemporal até a terra do sol nascente. trabalho do profissional de informação. Parte 2. 2003. Referências WINTERSTEIN, C. O centenário da BARBOSA, A. Quadrinhos japoneses: imigração japonesa na mídia “étnica””: uma perspectiva histórica e ficcional. a evidência da japonesidade. In: In. LUYTEN, S. B. (org.). Cultura pop MACHADO, I. J. de R. Japonesidades japonesa, São Paulo, Hedra, 2005. multiplicadas: novos estudos sobre a FARIA, M. L. de. Comunicação pós- presença japonesa no Brasil. São Carlos: moderna nas imagens dos mangás. Edufscar, 2011. p. 143-160. Dissertação (Mestrado), Faculdade de Nonsequos sint elique sument pa cone pa meio de comunicação social. Porto Alegre venti doloruntiate et doluptatur? : Pontifícia Universidade Católica do Rio Ro bernati rae eum essitam rerecab oreptati Grande do Sul, 2007. arum quaestiur ma dolorendandi de et GRAVETT, P. Mangá: como o Japão dollaccabo. Dellaccatur simil in consequ reinventou os quadrinhos. São Paulo: iataerit, qui bla pre aut re se eliciet quat Conrad, 2006. 183 p. apienem earumquam ut molecto es vel GUSMAN, S. Mangás: hoje, o único incipsanis antibuscidit idundae si odit rate formador de leitores do mercado brasileiro doluptatur, quuntem porrovi tatio. Da de quadrinhos. In: LUYTEN, S. B. Cultura vellibus dolorro cus molor autam que cone pop japonesa. São Paulo: Hedra, 2005. sit iliquas ulparis sit, ullaborestem asi vendit Cap. 7, p. 79-84. laccus es et quidunt abor sequam estempor LUYTEN, S. B. (Org.). Cultura pop alitasperum eosti ommoloremped magnam japonesa, São Paulo, Hedra, 2005. soloribus et ium ide nihicipienis explam LUYTEN, Sonia M. Bibe Luyten. Mangá, utas sedicate dolorrumquo eum re explab o poder dos quadrinhos japonesesSão int. Paulo: Ed. Hedra, 2012. Edipsumquunt am autatis dolo ius sequiaeri MOLINÉ, A. O grande livro dos mangás. ipsandu ntintium aut rectiis explaturi São Paulo: Jbc, 2004. 225 p. occume eosa voluptate et fugit mil mo NAGADO, A. Almanaque da cultura volenis vellectem. Da quam, consentiunt pop japonesa. São Paulo: Via Lettera, eniminctem. Nonsed magnim dolorpo 2007. 224 p. reptibe arumet venihil maioribuscit vent NAGADO, A. O mangá no contexto pore sequia por sincto quodi ad untionsecae da cultura pop japonesa e universal. In: porro tem facerum accae moluptis volorem LUYTEN, S. B. Cultura pop japonesa. São porpora nosae. Ut precusa ndaepedis Paulo: Hedra, 2005. Cap. 4, p. 49-58. nossim a nobit offic to et ari tem quiae. OKA, A. M. Mangás traduzidos no Brasil. Omnis dolum derum simporp orepudis In: LUYTEN, S. B. Cultura pop japonesa. eum faccuptaest, untibusanim doles as São Paulo: Hedra, 2005. Cap. 8, p. 85-94. maximagnis est, cus, comnis volest am RAMOS, P. A leitura dos quadrinhos. São volenim volorerum necus nostota dolutat Paulo: Editora Contexto, 2010. ______. Revolução do gibi: a nova cara

9ª Arte  São Paulo, vol. 5, n. 1, 1º semestre/2016 57