Uma viagem imaginária na companhia de uma GRANDE mulher: Angela Davis Atravessamos um momento histórico em que a livre circulação de pessoas está limitada por uma crise pandémica provocada pelo SARS-CoV-2. Aproveitemos a mudança forçada nos hábitos daí resultantes, para potenciar outras experiências e testar os limites à nossa imaginação. O homem nasceu para ser livre e como dizia Manuel Freire, “Nada apaga a luz que vive num amor num pensamento, porque é livre como o vento, porque é livre”. Fazendo uso da minha liberdade decido fazer uma viagem imaginária aos Estados Unidos para conhecer uma grande e fascinante mulher, uma lenda viva da politica e da vida. Uma musa negra cujo pensamento e ação politica influenciou e inspirou gerações. Relembro de memória as palavras do quadrinista norte-americano Winsor McCay que a propósito do “Pequeno Nemo”, escreveu que “as pessoas que sonham durante o dia, são mais conhecedoras do que aquelas que só sonham à noite”. Eu decidi sonhar e viajar durante o dia, para mais conhecer e assim lanço-me à estrada ao encontro de Angela Davis. O meu velho Cadillac estava sempre musicalmente bem apetrechado para a viagem. Ao som dos The Clash (https://www.youtube.com/watch?v=eg3fgcStlLo) inicio a viagem rumo ao estado do Alabama, para me encontrar com Angela. Esta mulher tem agora 76 anos e continua a ser um exemplo para mulheres e homens de todo o mundo. É uma ativista dos direitos das mulheres e dos negros, professora aposentada e filósofa de profissão, lecionou durante 17 anos no Departamento de História da Consciência na prestigiada Universidade da Califórnia-Santa Cruz. Em toda a sua vida se destacou pelo combate politico e ela era o rosto que congregava os ideais de liberdade, de justiça, associados a movimentos de luta pelos Direitos Civis, das mulheres e dos negros, uma “radical” que militava no Partido Comunista, que fez parte dos Black Panthers e esteve ligada ao Black Power. Tornou-se muito popular quando em 1970 protagonizou uma das mais mediáticas fugas à justiça. Angela Davis, então membro dos Panteras Negras, apoiava a defesa dos Soledad Brothers, num movimento que incluía também pessoas imensas e intensas como Marlon Brando, Jane Fonda, Noam Chomsky, Allen Ginsberg ou Lawrence Ferlinghetti. Pensar estes nomes, recordar a sua obra, fazem-me vibrar, sentir o espirito da liberdade e desejar uma revolução. Angela Davis foi uma mulher importante para muita gente. Até um gigante da música como Mick Jagger (The Rolling Stones) lhe prestou homenagem com a linda canção “Sweet Black Angel” (https://www.youtube.com/watch?v=JXyU32v2M-Q). Não foi o único, também John Lennon e Yoko Ono lhe renderam uma homenagem com a canção “Angela" (https://www.youtube.com/watch?v=Yp9StQhWGdc). A minha viagem segue veloz e na ansia de chegar, perco-me no caminho, na linguagem, no tempo, nas lutas, na extensão do texto, nos carateres com espaços incluídos…ainda tenho espaço pela frente e relembro Mia Couto: “"O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro”. Perdido nos pensamentos e pensando no que lhe vou dizer quando encontrar Angela, instintivamente mudo de registo sonoro e aumento o volume da música, sim! esta música é mais que música, é um grito, é mulher e as mulheres são vida e liberdade! A luta de Angela é pela dignidade, pela igualdade, pela justiça social e como tal a sua geografia é o mundo e no Cancioneiro Internacional encontro “Canzone per Angela Davis” (https://www.youtube.com/watch?v=l0Sp1K3MYgY). O sol esbate-se no horizonte e o Jazz instala-se… ao virar da rua está o hotel onde vou pernoitar e sonhar. No Lobby do hotel encontro com Ronnie Montrose que me oferecem um disco “” e segredam: por hoje a viagem está a chegar ao fim, mas ainda tens tempo de ouvir Ostinato - Suite For Angela! sabemos que vais gostar (https://www.youtube.com/watch?v=hO_x3yUVgRM). Ao retirar o vinil da capa, cai um papel que diz: “A música e a cultura ajudam a uma consciencialização mais profunda dos problemas da sociedade. Se as canções com o meu nome fizeram ou ainda fazem isso, fico feliz” Angela Davies || Eduardo Marques. Professor na Universidade dos Açores 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres Publicado, 10 dezembro 2020, no Diário dos Açores