PAULO SÉRGIO DOS ANJOS CUNHA

BRASIL E :

Uma análise histórica da estratégia de cada país para desenvolver sua Base Industrial de Defesa

Trabalho de Conclusão de Curso – monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.

Orientador: Cel Rfm Antônio Celente Videira

Rio de Janeiro 2020

C2020 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). Ë permitida a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG.

Paulo Sérgio dos Anjos Cunha

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C972b Cunha, Paulo Sérgio dos Anjos

Brasil e Israel: uma análise histórica da estratégia de cada país para desenvolver sua Base Industrial de Defesa / Paulo Sérgio dos Anjos Cunha. – Rio de Janeiro: ESG, 2020.

67 f.

Orientador: Coronel (Rfm) Antônio Celente Videira.

Trabalho de conclusão de curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2020.

1. Base Industrial de Defesa. 2. Tecnologia. 3. Estratégia de defesa - Israel . 4. Elaborada Indústria por de Patricia defesa Imbroizi – Brasil. Ajus I.– CRBTítulo.-7/3716

CDD - 355.45

Elaborada por Patricia Imbroizi Ajus - CRB-7/3716

Dedico este trabalho aos meus pais (in memorian) que sempre me apoiaram e, de onde estão, com certeza acompanham as minhas vitórias, sendo os responsáveis por muitas das minhas conquistas e pela realização dos meus sonhos.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por ter me dado saúde e sabedoria. Ao corpo permanente da ESG pela paciência, ensinamentos, apoio e orientações que ajudaram a superar as dificuldades e a refletir o Brasil sobre todos os seus aspectos. A amizade e a solidariedade dos amigos da Turma CAEPE 2020: Antártica – Novos horizontes, que juntos superamos os arcabouços de um ano diferente e muito difícil. A minha família amada, minha esposa Paula e meus filhos Luciano e Adriano, que sem a compreensão e o apoio incondicional não teria atingido o objetivo deste trabalho. Muito Obrigado pelo amor e confiança. Ao meu orientador, Coronel Celente, pela amizade, compreensão, simplicidade, orientações seguras e confiança na elaboração desse trabalho.

RESUMO Este trabalho de pesquisa teve como objetivo fazer uma análise comparativa entre a trajetória de desenvolvimento das Indústrias de Defesa do Brasil e Israel, visando identificar as estratégias empregadas por Israel que possam ser implementadas pelo Brasil. Para tanto, inicialmente foram elencados os documentos teóricos que embasaram o desenvolvimento da indústria bélica de Israel, como o modelo da Tríplice Hélice e a Tecnologia dual, fazendo um paralelo com a Política e a Estratégia Nacional de Defesa implementadas pelo Brasil. Na sequência foi realizada uma contextualização histórica da evolução da Base Industrial de Defesa dos dois países, onde foram identificados alguns fatores que influenciaram seus avanços tecnológicos, principalmente de Israel, que hoje tem 03 (três) de suas principais empresas, entre as 100 maiores exportadoras de produtos de defesa do mundo. A seguir, foi realizada uma análise dos investimentos públicos empregados em Defesa e em Ciência, Tecnologia e Inovação (PD&I), em relação aos países que mais investem nesse setor e, no caso do Brasil, em relação aos BRICS e países que compõem o seu entorno estratégico. Também, foram analisadas as estruturas organizacionais e as estratégias, atualmente, implementadas, que visam o fortalecimento e o desenvolvimento da área de defesa. Nestas etapas, foram levantados os valores percentuais, em relação aos seus respectivos Produto Interno Bruto e orçamentos públicos, que são empregados em defesa, onde foi possível mensurar a importância que cada país deu ao setor de Defesa e de PD&I e, também, o papel, as responsabilidades e as estratégias utilizadas por cada governo, com o intuito de incentivar o desenvolvimento e a industrialização de cada País, fechando com uma análise de todo o processo evolutivo implementado, identificando, assim, os principais pontos que influenciaram o crescimento industrial de Israel e a desindustrialização do Brasil. Por fim, foi possível concluir que a indústria de defesa tem um papel fundamental na melhoria da industrialização e do crescimento de um País. No entanto, a falta de uma política pública de estado, com investimentos contínuos ao longo dos anos é imperioso para que o Brasil possa voltar a ser um dos protagonistas do setor de defesa no cenário mundial. Palavras-chave: Base Industrial de Defesa. Tecnologia. Estratégia de defesa – Israel. Indústria de defesa - Brasil.

ABSTRACT This research work aimed to make a comparative analysis between the development trajectory of the Defense Industries of Brazil and Israel, aiming to identify the strategies employed by Israel that can be implemented by Brazil. To that end, initially were listed the theoretical documents that supported the development of Israel's war industry, such as the Triple Helix model and dual Technology, making a parallel with the National Defense Policy and Strategy implemented by Brazil. Then, a historical contextualization of the evolution of the Industrial Defense Base of the two countries was carried out, where some factors were identified that influenced their technological advances, mainly from Israel, which today has 03 (three) of its main companies, among the 100 largest exporters of defense products in the world. Next, an analysis was made of the public investments employed in Defense and in Science, Technology and Innovation (RD&I), in relation to the countries that invest the most in this sector and, in the case of Brazil, in relation to the BRICS and countries that are in their strategic environment. Also, organizational structures and strategies, currently implemented, aimed at strengthening and developing the defense area were analyzed. In these stages, the percentage values were raised, in relation to their respective Gross Domestic Product and public budgets, which are used in defense, where it was possible to measure the importance that each country gave to the Defense and RD&I sector and, also, the role , responsibilities and strategies used by each government, in order to encourage the development and industrialization of each country, closing with an analysis of the entire evolutionary process implemented, thus identifying the main points that influenced Israel's industrial growth and the deindustrialization of Brazil. Finally, it was possible to conclude that the defense industry has a fundamental role in improving industrialization and the growth of a country. However, the lack of a state public policy, with continuous investments over the years, is imperative for the Brazil may once again be one of the protagonists of the defense sector on the world scenario. Keywords: Defense industrial base. Technology. Defense strategy - Israel. Defense industry – Brazil.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – O Modelo Estadista...... 19

Figura 2 – O modelo laissez-faire ...... 20

Figura 3 – Estrutura Social da Tríplice Hélice ...... 21

Figura 4 – Submetralhadora Uzi ...... 29

Figura 5 – Aeronave Fouga CM.170 Magister. Nome Israelense Tsuki ...... 30

Figura 6 – Aeronave de transporte leve, IAI Arava 101...... 30

Figura 7 – Sistema de defesa antimísseis “Iron Dome” ...... 31

Figura 8 – Tanque Merkava ...... 32

Figura 9 – Ranking dos países com mais gastos em defesa...... 38

Figura 10 – Organograma do Ministério da Defesa de Israel (IMOD) ...... 47

Figura 11 – Organograma da Diretoria International de Cooperação em Defesa (SIBAT) ...... 48

Figura 12 – Organograma do Ministério da Defesa Brasileiro (MD) ...... 52

Figura 13 – Organograma do Ministério da Defesa Brasileiro (MD) ...... 53

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Exportações Brasileiras de produtos de defesa (1950 – 2019) ...... 24

Gráfico 2 – Comparação das Exportações Brasileiras de Produtos de Defesa ...... 26

Gráfico 3 – Exportações Israelenses de produtos de defesa (1950 – 2019) ...... 33

Gráfico 4 – Comparação das Exportações Israelense de Produtos de Defesa ...... 34

Gráfico 5 – Evolução do Ranking dos 15 maiores PIB Mundiais ...... 37

Gráfico 6 – Investimentos em Defesa - Percentual do PIB (Brasil x Israel)...... 38

Gráfico 7 – Quantidade de Empresas X País que aparecem na lista das 100 empresas que mais venderam armamento no mundo no período de 2002 a 2019 ...... 39

Gráfico 8 – Porcentagem das Despesas Governamentais em Defesa (América do Sul)...... 40

Gráfico 9 – Porcentagem das Despesas Governamentais em Defesa (BRICS)...... 40

Gráfico 10 – Média percentual por área de aplicação dos recursos do governo brasileiro...... 41

Gráfico 11 – Média percentual por área de aplicação dos recursos do governo israelense...... 42

Gráfico 12 – Evolução dos gastos em PD&I de Brasil e Israel em relação ao PIB ... 43

Gráfico 13 – Comparação das Tendências do Volume de Exportações de Produtos de Defesa ...... 59

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABIMDE – Associação Brasileira das Indústrias de Defesa BID – Base Industrial de Defesa CBC – Companhia Brasileira de Cartuchos CMID – Comissão Mista da Industria de Defesa CSN – Companhia Siderúrgica Nacional CTA – Centro Técnico Aeroespacial CTEx – Centro Tecnológico do Exército DDR&D (Directorate of Defense Research and Development) – Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento em Defesa

ED – Empresa de Defesa EED – Empresa Estratégica de Defesa EMBRAER – Empresa Brasileira de Aeronáutica END - Estratégia Nacional de Defesa ENGESA – Engenheiros Especializados S.A. ESG - Escola Superior de Guerra ESG – Escola Superior de Guerra EUA – Estados Unidos da América IAI (Israel Aerospace Industry) – Indústria Aeroespacial de Israel IDF (Israel Defense Forces) – Forças de Defesa de Israel Imbel – Indústria de Material Bélico do Brasil IME – Instituto Militar de Engenharia IMI (Israel Military Industry) – Indústrias Militares de Israel IMOD (Israel Ministry of Defense) – Ministério da Defesa de Israel IPqM – Instituto de Pesquisa da Marinha ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica LBDN – Livro Branco da Defesa Nacional LLC – Limited Liability Company MCTI – Ministério da Ciência, tecnologia e Inovação MD – Ministério da Defesa OND – Objetivo Nacional de Defesa ONU – Organizações das Nações Unidas P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PAED – Plano de Articulação e Equipamento de Defesa PD&I – Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação PED – Produto Estratégico de Defesa PIB – Produto Interno Bruto PND – Política Nacional de Defesa SEPROD – Secretaria de Produtos de Defesa SIBAT (International Defense Cooperation Directorate) – Diretoria de Cooperação Internacional em Defesa

UAV – Veículos Aéreos Não-Tripulados

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 11 2 REFERÊNCIAL TEÓRICO ...... 15 3 HISTÓRICO DAS INDÚSTRIAS DE DEFESA DO BRASIL E DE ISRAEL ...... 22 3.1 BRASIL ...... 22 3.2 ISRAEL ...... 27 4 OS INVESTIMENTOS EM DESFESA DO BRASIL E ISRAEL ...... 36 5 AS ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE DEFESA E SUAS ESTRATÉGIAS 46 5.1 ISRAEL ...... 46 5.2 BRASIL ...... 51 6 ANÁLISE COMPARATIVA ...... 57 7 CONCLUSÃO...... 61 REFERÊNCIAS ...... 64

11

1 INTRODUÇÃO

Na maioria dos países mais desenvolvidos tecnologicamente é fato que a Indústria de Defesa teve um papel fundamental para alavancar suas economias. Países como EUA e Rússia começaram a focar seus investimentos em produtos de defesa durante a Segunda Guerra Mundial, e permaneceram mantendo essa estratégia até os dias atuais, mesmo após o fim da Guerra Fria. Em Israel, um país jovem, que inicialmente teve sua economia baseada na agricultura, mineração e alguns setores secundários, no final da década de 60, após sofrido alguns embargos da França, antes da Guerra dos Seis Dias, percebeu a importância de direcionar e ampliar seus investimentos nas Indústrias de Defesa e Aeroespaciais, gerando altas tecnologias e inovações que levaram o país a autossuficiência, tornando-o um dos maiores exportadores mundiais de produtos de defesa. No Brasil, o período militar foi o momento onde ocorreu o maior ápice do desenvolvimento de sua Base Industrial de Defesa, sendo basicamente deixada de lado após a redemocratização ocorrida em 1985. A diplomacia brasileira, historicamente, sempre buscou a paz e o convívio harmônico, defendendo o diálogo e as negociações pacíficas para a solução de impasses entre as nações. Entretanto, esta postura não exime o País de ter uma atenção especial à defesa da Pátria, em virtude das instabilidades e ameaças que podem surgir do cenário internacional (BRASIL, 2016c). De acordo com Sun Tzu, “a doutrina da guerra nos ensina a não confiar na probabilidade do inimigo não vir, mas na nossa presteza de recebê-lo; não na chance de que não venha a nos atacar, mas no fato de que tornamos a nossa posição praticamente invulnerável” (MICHAELSON, 2004, p.130). Nesse sentido, inferimos que uma nação, por mais pacífica que seja, deve estar sempre preparada para se defender das ameaças e interesses que possam surgir em função das instabilidades políticas do seu entorno estratégico.

A Constituição Federal de 1988, no seu artigo 3, inciso II, prescreve como um dos Objetivos Fundamentais, a garantia do desenvolvimento nacional e, de acordo com a Estratégia Nacional de Defesa (END), “o crescente desenvolvimento do País deve ser acompanhado pelo adequado preparo de sua defesa”. Com esse 12

direcionamento, ela define as estratégias e ações que devem ser adotadas pela sociedade visando a defesa da Pátria (BRASIL, 2016a, p.16). Ainda segundo a END, com vista a atingir os objetivos fundamentais, o setor de defesa deve estimular o desenvolvimento das potencialidades industriais do País, tornando-se defesa e desenvolvimento atores interdependentes, na medida em que um depende do outro para construir os meios, humanos e de infraestrutura, necessários para suportar um eventual emprego militar. A defesa do País exige o fortalecimento científico e tecnológico de sua Base Industrial, formada por todas as organizações estatais ou privadas, fomentando as iniciativas, as inovações e o desenvolvimento de produtos de defesa que atendam não somente a necessidade das Forças Armadas, mas, também, as atividades civis, ou seja, com aplicabilidade dual, afastando, desta forma, a possibilidade de um desincentivo as indústrias, devido a baixa demanda do governo para produtos exclusivos de defesa. Com esse propósito, ao longo do tempo as Forças Armadas Brasileira vêm tentando aprimorar a sua estrutura de defesa, implementando uma estratégia que busca o desenvolvimento das suas potencialidades em todas os seus segmentos, modernizando seus equipamentos, adquirindo e desenvolvendo novas tecnologias, juntamente com a iniciativa privada, e qualificando seus recursos humanos. Como ocorreu em países como EUA, Rússia, China, Israel, dentre outros, que possuem uma indústria de defesa desenvolvida, vemos que, a partir das necessidades de suas Forças Armadas, surgiram inovações e tecnologias que alavancaram a Base Industrial de Defesa desses países, desenvolvendo projetos com tecnologias inovadores que acabaram por atender, também, as necessidades de outras áreas da sociedade (Tecnologia Dual). Ao longo do tempo, podemos citar vários exemplos dessas tecnologias que foram implementadas em atividades civis, como a internet, o motor com refrigeração a ar, medicamentos, o transistor, as fibras óticas, a energia nuclear, o flash drive e o computador. Pelo exposto, os incentivos ao desenvolvimento de Tecnologia Dual (militar x civis) e a Pesquisa e Inovação podem ser um dos caminhos a ser explorado pelo governo brasileiro, através de suas Forças Armadas, para impulsionar a sua Base Industrial de Defesa. 13

Desta forma, em que medida as necessidades das Forças Armadas podem alavancar o crescimento da Indústria de Defesa no Brasil, desenvolvendo projetos que podem ser aplicados no meio civil, através da iniciativa pública ou privada? Baseado neste questionamento, utilizando de exemplo um país como Israel, a ideia deste trabalho é mostrar, de que forma os projetos das Forças Armadas podem influenciar no crescimento da Indústria de Defesa Brasileira, através do desenvolvimento de projetos que possam ser aplicados não só no meio militar, como também, nas atividades civis, levando em consideração que as demandas das Forças Armadas estão aquém das necessidades mínimas de produção, para que o investimento aplicado em um novo projeto ou o desenvolvimento de uma nova tecnologia possa ser vantajoso para as empresas. Para tanto, inicialmente será apresentado um histórico das Indústrias de Defesa do Brasil e de Israel, como elas surgiram e quais foram os aspectos determinantes que levaram ao seu desenvolvimento. Em um segundo momento, serão mostradas a evolução dos investimentos em defesa de cada País, a geração de empregos e os impactos em suas economias. Esses dados apresentados têm como objetivo ressaltar a importância da Industria de Defesa para o desenvolvimento do País. A seguir será apresentado suas estruturas de defesa e as estratégias utilizadas por Israel, para alavancar sua Base Industrial e a importância do incentivo governamental para o desenvolvimento desse setor. Finalmente, será realizada uma análise comparativa dessas estratégias, identificando os principais pontos possíveis de serem aplicados no Brasil, visando aprimorar nossa Indústria, através do fomento da ciência, tecnologia e inovação dos produtos de defesa. A metodologia empregada para a realização desse trabalho foi de uma pesquisa e análise exploratória de informações e dados disponíveis em literaturas bibliográficas e trabalhos científicos, através de sites disponíveis na internet. Além disso, foi considerada a experiência vivenciada, durante os dois anos que estive na função de Adido Aeronáutico em Israel, onde tive a oportunidade de visitar empresas e universidades daquele País. Para a análise conclusiva, será utilizado um raciocínio indutivo científico, que é definido como “o processo que generaliza a relação de causalidade descoberta entre 14

dois fatos ou fenômenos e a relação causal que conclui a lei.” (CERVO; BERVIAN; DA SILVA, 2007) Além disso, o trabalho será fundamentado através de uma análise documental da Política Nacional de Defesa, Estratégia Nacional de Defesa, Livro Branco de Defesa Nacional e, também, de uma pesquisa bibliográfica sobre a Base Industrial de Defesa do Brasil e Israel, que estão acessíveis em documentos ostensivos e publicados em diversos meios de informação. Em decorrência da abrangência do tema, do tempo limitado para realização da pesquisa e da grande quantidade de fatores envolvidos no desenvolvimento de uma Base Industrial de Defesa, não se poderá identificar, com exatidão, todas as condições que podem afetar o crescimento da indústria de defesa, limitando a pesquisa ao grau de investimento, a estratégia aplicada e a característica do produto a ser desenvolvido, considerando sua aplicabilidade dual, que pode incrementar as oportunidades de negócios, principalmente, para as empresas privadas. O trabalho não se restringiu a nenhuma área específica das Forças Armadas, focando na Indústria de Defesa como um todo. Para uma melhor contextualização, foram verificados os dados estatísticos do mercado mundial de defesa, dando mais enfoque as informações referentes ao Brasil e a Israel. O período temporal utilizado durante a pesquisa levou em consideração os dados da evolução da Indústria de Defesa, a partir da Segunda Guerra Mundial até os dias atuais, considerando que o Estado de Israel foi criado em 1948. A limitação da abrangência, também, se restringiu aos dois países, considerando a experiência e os conhecimentos adquiridos pelo autor. A pesquisa pretende atender o que está preconizado na Estratégia Nacional de Defesa (BRASIL, 2016a), como uma das Estratégias de Defesa (ED), que é fortalecer a área de ciência e tecnologia de defesa, que são preponderantes para atingir o principal objetivo, que é o desenvolvimento da nossa Base Industrial de Defesa, através do aprimoramento do modelo de integração da tríade Governo / Academia / Empresa, focando os investimentos no desenvolvimento de tecnologias duais (civil e militar). Dessa forma, considerando a importância da fundamentação conceitual e a pesquisa realizada, no próximo capítulo, será apresentado o referencial teórico que serviu de base para o desenvolvimento da pesquisa. 15

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

O Brasil ao longo de décadas vem tentando alavancar sua Base Industrial de Defesa (BID), visando não só a Defesa Nacional, mas, também, como meio de incrementar o desenvolvimento de tecnologias modernas que podem impulsionar a volta da industrialização do País, que foi enfraquecida, a partir de 1985, após o fim dos Governos Militares. Atualmente é consenso em algumas esferas do governo e, principalmente, no meio militar, que para podermos desenvolver uma Base Industrial Forte é necessário termos políticas públicas de longo prazo que constituem uma política de estado em prol da Defesa Nacional. Conforme definido por Celina Souza (2016), as Políticas Públicas são “o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação”. Já para Maria das Graças Rua (1997), “compreendem o conjunto de decisões e ações relativas à alocação imperativa de valores.” Ainda para ela, “uma política pública geralmente envolve mais do que uma decisão e requer diversas ações estrategicamente selecionadas para implementar as decisões tomadas (RUA,1997).” Para tal, há de se considerar que, incorporada as políticas públicas, estão as políticas de estado que, conforme conceituado pela Escola Superior de Guerra (2019), “é o conjunto de leis e planos de ação destinados a orientar o emprego do Poder Estatal para a conquista e a manutenção dos Objetivos de Estado, atuando em consonância com os relevantes interesses nacionais.” A Defesa Nacional como sendo uma atividade típica de Estado, previsto inclusive na Constituição, demanda uma política de defesa que deve constituir uma política pública permanente, pois sem a intervenção da força do estado, como ator fundamental para o desenvolvimento da defesa, torna-se inviável ao setor privado atuar como ator coadjuvante nesse processo, principalmente, porque, historicamente, as Forças Armadas não proveem uma demanda suficiente de produtos que possa impulsionar a Base Industrial de Defesa. Para tal, inicialmente, são necessários investimentos públicos nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação, como forma de incentivo ao meio acadêmico e o setor privado, que devem ser utilizados como ferramentas para o desenvolvimento nacional. 16

A Constituição Federal promulgada em 1988, no seu artigo 3, inciso II, insere, como um dos Objetivos Fundamentais, a garantia do desenvolvimento nacional e, ainda expressa, no artigo 218 e seus parágrafos, que o Estado deve promover e incentivar o desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação. Assim, conduz para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional, facultando aos Estados e ao Distrito Federal a vinculação de parte de suas receitas orçamentárias a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa e tecnologia. Deve apoiar a formação de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa, tecnologia e inovação, ajudar e estimular as empresas que invistam em pesquisa, incentivando e articulando parcerias entre entidades públicas e privadas nas diversas esferas de governo. Nessa direção, a Política Nacional de Defesa, contempla que: A defesa do País é indissociável de seu desenvolvimento, na medida em que depende das capacidades instaladas, ao mesmo tempo em que contribui para o incremento das potencialidades nacionais e para o aprimoramento de todos os recursos de que dispõe o Estado Brasileiro (BRASIL, 2016c).

Ainda, com esse enfoque, a PND define como alguns de seus Objetivos Nacionais de Defesa (OND), assegurar a capacidade de Defesa, para que as Forças Armadas possam cumprir suas missões constitucionais, dotando-as com as capacidades necessárias para cumprir suas atividades de vigilância, controle e defesa do território, das águas jurisdicionais e do espaço aéreo brasileiros. Além disso, adequa o aparelhamento das Forças Armadas, empregando tecnologias modernas e equipamentos eficientes e em quantidade compatível com a magnitude das atribuições cometidas, e promove a autonomia produtiva e tecnológica na área de defesa. Isto é, mantém e estimula a pesquisa e busca o desenvolvimento de tecnologias nacionais, sobretudo no que se refere a tecnologias críticas, bem como o intercâmbio com outras Nações detentoras de conhecimentos de interesse do País. Neste caso, foca a qualificação do capital humano, assim como ao desenvolvimento da Base Industrial de Defesa e de produtos de emprego dual (BRASIL, 2016c). Com o intuito de definir o caminho a ser seguido para alcançar os OND, a Estratégia Nacional de Defesa, propõe que a “defesa e o desenvolvimento do País são naturalmente interdependentes, na medida em que este se configura como fator preponderante para construir os meios, humanos e de infraestrutura, de que a Nação necessita para suportar um eventual emprego da expressão militar” (BRASIL, 2016a). 17

Com isso, o setor de Defesa deve incentivar o desenvolvimento das potencialidades industriais do País, através da implementação de projetos avançados das Forças Armadas, com alta tecnologia, requerendo um conhecimento científico e tecnológico de alta capacidade (BRASIL, 2016a). Ainda, de acordo com a END: A defesa do Brasil exige o permanente fortalecimento de sua Base Industrial de Defesa (BID), formada pelo conjunto de organizações estatais e privadas, civis e militares, que realizem ou conduzam pesquisas, projetos, desenvolvimento, industrialização, produção, reparo, conservação, revisão, conversão, modernização ou manutenção de produtos de defesa, no País (BRASIL, 2016a).

Esse fortalecimento deve dar à BID condições de incrementar sua competitividade, não só no âmbito interno como também no exterior. Para tal, deve aumentar sua escala de produção, através do desenvolvimento não só de tecnologias exclusivas de defesa, tendo em vista a baixa demanda das nossas Forças Armadas, mas de tecnologias duais, ou seja, aplicadas tanto no ambiente militar, quanto no civil (BRASIL, 2016a). Uma vez conhecida que uma das Estratégias definidas na END para o incremento da Indústria de Defesa é a utilização da Tecnologia Dual, cabe entendermos o significado desse termo. De acordo com o Dicionário, a palavra Tecnologia é definida como “conjunto de conhecimentos científicos que se aplicam a um determinado ramo de atividade”, podendo ser entendida, também, como “aplicação dos conhecimentos e princípios científicos à produção em geral” (MICHAELIS, 2001). Para Wladimir Pirró Longo (1984, p.10), "tecnologia é o conjunto de conhecimentos científicos ou empíricos empregados na produção e comercialização de bens e serviços". Pare ele, é através de um sistemático encadeamento de atividades de pesquisa, de desenvolvimento experimental e de engenharia, que a tecnologia é produzida e levada a sua plena utilização pelo setor produtivo (LONGO, 2007, p.3). Ainda, segundo Longo, a Tecnologia Militar (TM) pode ser definida como: O agregado organizado de todos os conhecimentos – científicos, empíricos, intuitivos –além de habilidades, experiências e organização, requeridos para produzir, disponibilizar e empregar bens e serviços para fins bélicos, incluindo tanto conhecimentos teóricos como práticos, meios físicos, técnicas, métodos e procedimentos produtivos, gerenciais e organizacionais, entre outros” (LONGO, 2007, p.4).

18

Longo também afirma que, no decorrer da história, a maioria das tecnologias desenvolvidas são para atender a segurança e defesa, individuais ou coletivas, e que inúmeros desses produtos, processos ou serviços que eram para atender necessidades militares, acabaram sendo utilizados para produção de bens e serviços que atenderam plenamente o uso civil, sendo muito bem sucedidos (LONGO, 2007). Segundo Brustolin (2014), a definição de Tecnologia Dual é muito semelhante em várias literaturas acadêmicas, sendo as existentes muito próximas da utilizada por Molas-Gallart (1999), que define uma tecnologia como de uso dual quando tem aplicações militares e civis, atuais ou potenciais. Já, de acordo com Wladimir Pirró Longo (2007), assim como tecnologias militares são aproveitadas no meio civil: Numerosas tecnologias de uso civil são incorporadas ou dão origem a produtos bélicos. Para tais tecnologias, os norte-americanos cunharam o nome de dual use technologies. Pode-se definir tecnologia de uso dual (ou duplo) como aquela tecnologia possível de ser utilizada para produzir ou melhorar bens ou serviços de uso civil ou militar. Na realidade, é difícil rotular o que é civil e o que é militar na produção de conhecimentos científicos ou tecnológicos (LONGO, 2007)”.

Ou seja, para ele, esse spin-off, derivação da tecnologia de uso militar para o civil, ou vice-versa, é o que também podemos chamar de Tecnologia Dual (LONGO,

2007). Outra estratégia utilizada pelo Brasil, conforme mencionado na END, é estimular iniciativas conjuntas entre as organizações de pesquisa das Forças Armadas, instituições acadêmicas nacionais e empresas privadas brasileiras, resguardando os interesses de segurança do Estado quanto ao acesso a informação. O modelo implementado por Vannevar Bush (1945), nos EUA, durante a Segunda Guerra Mundial, e seguido por outros países como Coreia do Sul e Israel, até os dias de hoje, é definido pelo complexo militar-industrial-acadêmico, que gerou inovações científico-tecnológicas, que foram impulsionadas pela esfera militar, possibilitando o transbordamento do conhecimento humano e da produção de tecnologias que revolucionaram, também, o mercado civil. (BRUSTOLIN, 2014) Segundo Etzkowitz e Zhou (2017), podemos dizer que esse modelo, chamado por alguns autores de Hélice Tríplice, que inspirou políticas e programas para o desenvolvimento econômico e social, baseado no conhecimento, na Europa, Ásia e América Latina, começa com dois propósitos opostos que serão mostrados a seguir:

19

a) Modelo estadista Esse modelo, representado na figura 1, enfatiza o papel do governo como coordenador/controlador da academia e da indústria, ou seja, normalmente eles são partes subordinadas do Estado. É esperado que o governo assuma o papel principal no desenvolvimento de tecnologias, além de ser o financiador desse processo. A Rússia, França e países da América Latina têm exemplos desse modelo até hoje. Além disso, em momentos que afetam a Defesa Nacional, até países mais liberais, como os EUA, já adotaram esse modelo, durante os conflitos das duas grandes guerras mundiais. O Brasil, durante as décadas de 70 e 80, também aplicou esse modelo, financiando projetos e programas para melhorar o nível de pesquisa acadêmica e no apoio a criação de indústrias tecnológicas, como a indústria aeronáutico.

Figura 1 – O Modelo Estadista

Fonte: ETZKOWITZ; ZHOU, 2017.

Com boa liderança, fiscalização e controle, o modelo estatista pode produzir bons resultados, com a implementação de um objetivo claro e o um fundamental investimento de recursos. b) Modelo laissez-faire Nesse modelo, o papel do governo é limitado, interferindo somente quando os recursos econômicos não levam a uma plena atividade, exercendo um papel de 20

regulação e fazendo aquisições, mesmo que não militares, quando há deficiência no mercado, para impulsionar o desenvolvimento tecnológico. A indústria, a academia e o governo são separados uns dos outros, porém interagem apenas através de fronteiras firmes (Figura 2). Sendo as universidades quem promovem as pesquisas básicas, fornecendo os conhecimentos para as indústrias que devem descobrir esses conhecimentos úteis para aplicarem em suas atividades. Também é esperado que as indústrias operem entre si e com outras empresas através do mercado, gerando uma competitividade, sendo que o governo deve fiscalizar para evitar monopólios.

Figura 2 – O modelo laissez-faire

Fonte: ETZKOWITZ; ZHOU, 2017.

Outro fator importante nesse modelo é que, no relacionamento entre universidade e empresa, deve haver um agente intermediário para manter uma separação, pois, para esse modelo, não é apropriado que essas instituições tivessem contato direto entre si, ou seja, mesmo que houvesse um relacionamento entre indústria e universidade, elas devem manter uma certa distância. A partir dos modelos apresentados, surge o Modelo Social da Hélice Tríplice (Figura 3), formado a partir da interseção entre as instituições governo/universidade/ empresa, que através de muitas combinações desempenham papéis tradicionais e conjuntos tornando um estímulo à criatividade organizacional e às inovações tecnológicas (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). 21

Apresentando características diferentes, esse modelo promove uma liderança que é atribuída a cada instituição, dependendo de cada momento.

Figura 3 – Estrutura Social da Tríplice Hélice

Fonte: ETZKOWITZ; ZHOU, 2017.

De acordo com o tipo de Tríplice Hélice, por exemplo, algumas universidades empreendedoras podem dar início a inovação tecnológica naquilo que são predominantes, enquanto nos modelos liderados pelos governos, empresas podem ser criadas ou ajudadas pelas universidades. Já quando liderado por empresas, essas universidades normalmente colaboram com inovação de produtos e processos (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). Pelo Exposto, cabe ressaltar que esses modelos implementados por Bush nos EUA e detalhados por Etzkowitz e Ezhou é bem similar ao aplicado por Israel que, atualmente, é um dos maiores exportadores de produtos de defesa de alta tecnologia do Mundo e possui, também, características similares da estrutura implementada pelo Brasil, que leva em consideração a indústria, os centros de pesquisa e a defesa como pilares de uma cadeia de produção de novas tecnologias de uso Dual. Dessa forma, parece possível estabelecer uma relação entre a implementação de Tecnologia Dual, através do incentivo à pesquisa e desenvolvimento de produtos de defesa de alta tecnologia de interesse das Forças Armadas, no meio acadêmico, visando o incremento da Base Industrial de Defesa. Para tanto, iremos apresentar um breve histórico das indústrias de defesa do Brasil e de Israel, ressaltando pontos importantes da política de defesa de cada país. 22

3 HISTÓRICO DAS INDÚSTRIAS DE DEFESA DO BRASIL E DE ISRAEL

3.1 BRASIL

Uma Nação continental, que chegou a estar entre os 10 (dez) países maiores exportadores de produtos de defesa do mundo, tem sua história ligada a indústria de defesa, desde a época da chegada da Família Real Portuguesa, quando foram criadas pelo menos três instituições, sendo uma delas a Fábrica Real de Pólvora da Lagoa Rodrigo de Freitas. Em 1824, essa fábrica foi transferida para Magé, no Rio de Janeiro, quando passou a ser denominada Real Fábrica de Pólvora da Estrela, onde funciona até os dias de hoje, como Fábrica da Estrela, sendo integrada, em 1975, à empresa estatal Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) (DELLAGNEZZE, 2008). Segundo Dellagnezze, após sofrer algumas reestruturações e evoluções, atualmente, a Imbel atua de forma dual, com a produção de vários artefatos bélicos e explosivos para as atividades militares, bem como, cordel detonantes, dinamites, pólvora, dentre outros, para atividades civis. Antes disso, na segunda metade do século XVIII, foi criado o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, com o intuito de fortalecer o Brasil, ainda colônia, mas tinha como principal função realizar os reparos e manutenção de navios da esquadra real (ANDRADE, 2016), e que está em atuação até os dias de hoje, como uma empresa estatal ligada a Marinha do Brasil, com o objetivo de construir e realizar reparos em embarcações militares. Após a proclamação da república até o início da segunda grande guerra, o país passou a importar materiais de defesa e foram criados centros de montagem e manutenção desses equipamentos, destacando nesse período a criação da Fábrica de Piquete, que permitiu ao Exército uma independência para a aquisição de pólvora, não necessitando mais fazer isso do exterior (DELLAGNEZZE, 2008). Depois da criação das empresas estatais, que eram ligadas as Forças Armadas, outras foram surgindo durante esse período, como as marcas Boito, Rossi e Fábrica Nacional de Cartuchos, hoje chamada de Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) (PIM, 2007). Já, a partir da década de 30, com o incentivo à industrialização do país, do então Presidente Getúlio Vargas, podemos, também, destacar a criação, em 1939, da empresa Taurus que, atualmente, é uma das maiores companhia de produção de armas curtas do mundo (TAURUS, [2020?]). Entretanto, o Parque industrial criado 23

nesse período ainda não tinha a capacidade de produzir armamentos militares pesados, algo que somente foi possível após a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 1945 (ANDRADE, 2016). Durante o período da Segunda Guerra Mundial até o início do Governo militar em 1964, ainda, segundo Andrade (2016), a indústria de defesa sofreu uma desaceleração, devido a importação de equipamentos a baixo custo e ao aumento da cooperação internacional. Porém foi neste período que os militares deram maior importância às atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), quando foram criados os primeiros centros de tecnologias das Forças Armadas, como: o Centro tecnológico do Exército (CTEx), em 1946; o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), em 1953; e o Instituto de Pesquisa da Marinha (IPqM), em 1959. Nessa época, foram criadas, também, as principais instituições de ensino superior das Forças Armadas, dentre elas destacamos o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em 1950, e o Instituto Militar de Engenharia (IME), em 1959, com o intuito de formar engenheiros para as principais áreas de atuação das três forças e fomentar a industrialização do País, tanto no meio militar, quanto no civil (KELLER, 1991 apud PIM, 2007). Outro fator importante, foi a criação da Escola Superior de Guerra (ESG), em 1949, que já tinha uma visão de atribuir uma importância especial à industrialização da economia e a criação de uma Base Industrial de Defesa (BID), que fosse capaz de tornar o Brasil autônomo na produção dos equipamentos necessários a Defesa Nacional (ANDRADE, 2016). Nesse contexto, a ESG tinha como missão: Desenvolver e consolidar os conhecimentos necessários ao exercício de funções de direção e assessoramento ao planejamento do mais alto nível governamental. Nela reunidos, militares e civis estudariam e planejariam o futuro do Brasil, nos domínios do desenvolvimento e da segurança nacional” (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 2019).

Desta forma, o binômio “segurança e desenvolvimento” estaria fundido e servindo de direcionamento para decisões, principalmente, dos militares e civis que passavam pela instituição. Com início dos governos militares, a partir de 1964, alinhados às ideias difundidas pela ESG, os futuros Presidentes da República passam a incentivar e desenvolver iniciativas ligadas à criação de um complexo industrial de defesa no Brasil (ANDRADE, 2016). 24

Durante as três próximas décadas, o Brasil passou a desenvolver tecnologias militares, fazendo com que a indústria de defesa atingisse seu ponto mais alto em vendas de produtos de defesa, conforme apresentado no gráfico 1, tornando-se um dos 10 (dez) principais países exportadores de produtos de defesa do mundo.

Gráfico 1 – Exportações Brasileiras de produtos de defesa (1950 – 2019)

300

250

200

150

100

50

0

1953 1956 1959 1962 1965 1968 1971 1974 1977 1980 1983 1986 1989 1992 1995 1998 2001 2004 2007 2010 2013 2016 2019 1950 Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE, 2020a.

Vale ressaltar que, durante esse período, foram fundadas as três principais empresas que deram impulso a produção e comercialização de produtos de defesa de alta tecnologia, a Engenheiros Especializados S.A. (ENGESA), especializada na produção de veículos blindados, a Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), voltada para produção de aeronaves civil e militar e a Avibras Indústria Aeroespacial, que produzia foguetes e misseis (PIM, 2007) Com o fim do período militar em 1985, a assunção ao poder de presidentes civis e as transformações políticas e sociais das décadas de 1990 e 2000, a indústria de defesa foi quase que aniquilada nesse período, com baixos investimentos e uma redução das atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), que constituem a base científica e tecnológica daquela indústria (AMARANTE, 2004 Apud BRUSTOLIN, 2014). Além disso houve pouca, ou quase nenhuma, conscientização dos futuros governantes, em relação à importância desse setor, para o desenvolvimento da indústria nacional e do País. A partir da década de 90, vários motivos podem ter levado a decadência da Industria de Defesa no Brasil, dentre eles, internacionalmente, podemos citar o fim da 25

guerra fria e do conflito entre o Irã e Iraque, diminuindo à aquisição de material por parte dos países do Oriente Médio e, internamente, a redução drástica do orçamento militar, a dependência em relação ao mercado externo da indústria bélica brasileira e a falta de políticas de incentivo, do governo brasileiro, que garantissem o sustento econômico das empresas (MORAES, 2012, Apud ANDRADE, 2016). Em 1996, o então Presidente Fernando Henrique Cardoso criou a Política de Defesa Nacional, documento que deu início a uma série de outros que passou a dar um novo rumo à política de defesa do país. Com a criação do Ministério da Defesa, em 1999, os militares perderam sua força política, e com isso, ocorreu uma grande transformação no meio militar. Diante das reformas neoliberais implementadas à época, “as Forças Armadas foi um dos setores que mais sofreu com a realidade dos cortes no orçamento da união, para garantir o pagamento da dívida pública do país” (LINS, [2016?]), o que culminou com o grande declínio das exportações do setor de defesa, atingindo o “fundo do poço” no ano de 2000, conforme já apresentado no gráfico 1. Ainda segundo Lins, essa situação começou a mudar no segundo mantado do governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, quando foram publicadas as primeiras versões da Política Nacional de Defesa e da Estratégia Nacional de Defesa. Onde a PND propõe como um dos objetivos nacionais, a promoção da autonomia e tecnologia na área de defesa e, dentre outras coisas, do estimulo a pesquisa de tecnologia nacional, visando o desenvolvimento de produtos de emprego dual (civil/militar) (BRASIL, 2016c) e, a END define como uma de suas estratégias o fortalecimento da área de ciência e tecnologia de defesa, promovendo o desenvolvimento de tecnologias críticas para a defesa e aprimorando o modelo de integração da tríade Governo / Academia / Empresa, além de priorizar os investimentos em ciência, tecnologia e inovação relativos a produto de defesa de aplicação dual, com o intuito de se alcançar uma autonomia tecnológica do País (BRASIL, 2016a). Esses documentos, que realmente passaram a nortear a política de defesa nacional até os dias de hoje, definiram uma nova política nacional para a indústria de defesa, que tem ajudado o setor a apresentar alguns resultados, porém, ainda, em um nível muito abaixo do que aconteceu durante as décadas de 70 e 80, conforme mostrado no gráfico 2.

26

Gráfico 2 Gráfico 2 – ComparaçãoComparaç ãdaso das ExportaçõesExportações Brasile iBrasileirasra de Produto de de Def eProdutossa de Defesa (1974 a 1996) x(1 9(199774 a 199 6a) X2019) (1997 a 2-0 1Valores9) em US$ Valor em US$

300

267

250

197 196 200 191 179 183

156 145 150 126

122 114 104 96 100 70 90 62 143 111 100 59 47 92 54

50 46 53 32 44 43 41 42 37 33 19 33 23 31 31 36 23 0 16 0 0 0 1 10 0 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE, 2020a.

A partir de 2006, houve uma virada na retomada do crescimento do país, que foi influenciada por um cenário internacional favorável e um aumento da demanda do mercado interno, ampliando a possibilidade de investimentos em diversas áreas, inclusive, no setor de defesa (AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, 2011). O que conforme, ainda, observado no gráfico 2, demonstra uma tendência de subida nas exportações de produtos defesa. Além dos documentos já citados, outros foram criados com o objetivo de fortalecer e impulsionar a indústria de defesa, como o Livro Branco da Defesa Nacional (LBDN), que tem em anexo, o Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PAED), que define os projetos prioritários para cada força (BRASIL, 2016b); e a Lei 12.598, de 2012, que estabelece normas especiais para as compras, contratações e o desenvolvimento de produtos e de sistema de defesa, dispondo ainda sobre as regras de incentivo à área estratégica de defesa (BRASIL, 2012). Entretanto, durante o governo de Dilma Rousseff, cortes significados foram realizados no orçamento da defesa, tornando a impactar novamente este setor industrial. Somente a partir de 2016, mesmo considerando a possibilidade de algumas restrições orçamentárias, alguns dos principais projetos estratégicos das Forças 27

Armadas foram retomados, impulsionando os investimentos na Base Industrial de Defesa.

3.2 ISRAEL

Um país que possui uma história milenar começando há mais de 4.000 anos atrás, desde os tempos bíblicos de Abraão, patriarca das religiões monoteístas que, algum tempo depois, levou a unificação dos povos judeus através do Rei David. Na sequência, ocorreu a passagem de Jesus e, a partir daí, sofreu uma sequência de invasões, que resultaram em grandes batalhas dos Assírios, Babilônios, Romanos, Muçulmanos, Cruzados e Otomanos. Até a chegada do século XX, quando o território Palestino passou ao domínio Britânico. Depois de tantos conflitos e idas e vindas para a terra prometida, em 1948, após a Segunda Guerra Mundial, depois do povo judeu ter sofrido as mais perversas perseguições pelo Nazismo, o Estado de Israel foi criado, com o voto final, do diplomata brasileiro Osvaldo Aranha, na Assembleia Geral da ONU. Um dia após a sua criação, Israel teve seu território invadido pelos exércitos do Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque e as recém-criadas Forças de Defesa de Israel (IDF) tiveram seu primeiro conflito, defendendo a soberania de seu território. Porém, segundo o Dr. Uzi Rubin (2018), a história da Indústria de Defesa de Israel começa duas décadas antes da criação do Estado de Israel. A partir de 1917, após a Declaração de Balfour, ocorreu um aumento da imigração judaica para a Palestina, que encontrava uma crescente resistência da população árabe, culminando com a morte de muitos judeus e a criação da organização de autodefesa Haganah. Essa organização que, primeiramente, utilizou armas compradas no mercado local ou contrabandeadas no exterior, com o aumento da escalada, precisou aumentar seu estoque, criando, em 1933, suas primeiras oficinas clandestinas que, inicialmente, forneciam armas e explosivos e depois passou a produzir submetralhadoras (RUBIN, 2018). Preparando-se para uma guerra iminente contra os árabes, com a saída dos britânicos da região da Palestina, as oficinas de Haganah foram expandindo-se para produzir minas, morteiros de médio alcance e até torpedos navais rudimentares. Após conflitos internos entre partidos de esquerda e direita da comunidade judaica, a organização foi dividida e duas outras fábricas de armas. Foram criadas a Etzel, que organizou uma rede de oficinas para produzir cópias da submetralhadora Sten e da 28

granada de mão Miles, e a Lechi, que em pouco tempo já tinham a mesma capacidade de Haganah (RUBIN, 2018). Também, nesse mesmo período, várias instituições acadêmicas surgiram junto à comunidade judaica na Palestina. A primeira delas, criada em 1924, foi o Instituto de Tecnologia Technion. Já no ano seguinte, é criada a Universidade Hebraica de Jerusalém e, em 1934, o Instituto Sieff, hoje conhecido como Instituto Weizmann. A formação dessas instituições acadêmicas e científicas e a integração com as necessidades existentes na área militar e agrícola, setores esses críticos para a sobrevivência do Estado de Israel, resultou em uma sinergia que deu início ao seu desenvolvimento. A partir de 1948, com a criação do Estado de Israel, as fábricas de armas Etzel e Lechi foram fundidas novamente à indústria de armas Haganah, que passaram a fornecer armas para as recém-criadas Israel Defense Forces (IDF), durante o conflito judeu-árabe que durou até 1949 (RUBIN, 2018). Durante as próximas duas décadas, até 1967, com um governo de maioria socialista e uma economia estatal, a grande imigração de judeus da Europa e do Oriente médio para o Estado Novo teve como consequência a necessidade de geração de empregos e moradia. Tal fato, fez com que fosse implementado um programa de industrialização, visando a otimização da criação de empregos, em vez de lucratividade. A partir dessas fábricas de armas já existentes, foi criada a Israel Military Industry (IMI), como um departamento do Ministério da Defesa de Israel (IMOD) (RUBIN, 2018). Com a expansão de seu portfólio, a IMI passou da produção de cópias, para o desenvolvimento e fabricação de produtos de defesa de alta tecnologia. A empresa tornou-se mundialmente conhecida devido ao desenvolvimento e produção da submetralhadora Uzi (figura 4), uma arma compacta e extremamente confiável. Atualmente ela deixou de ser uma empresa estatal e foi adquirida pela Empresa Privada Elbit Systems, também, Israelense.

29

Figura 4 – Submetralhadora Uzi

Fonte: UZI, 2019.

Na década de 50, também com a aprovação e o incentivo do governo, a Universidade Technion abriu seu departamento de engenharia aeronáutica, visando fornecer uma base científica para o desenvolvimento da indústria de defesa de Israel (SINGER, 2006). Em 1953, ainda de acordo com Rubin (2018), o então Primeiro Ministro de Israel, David Ben-Gurion, que sonhava em ter uma indústria de aviação no recém- criado Estado de Israel, convence o judeu Al Schwimmer, proprietário de uma empresa de revisão de aeronaves na Flórida, a transferi-la para Israel, sendo estabelecida ao lado do, hoje, Aeroporto Internacional Ben-Gurion, com o nome de Bedek Aviation, especializada em manutenção, reparo e revisão geral de aeronaves civil e militares. A empresa, que inicialmente, também, passou a ser um departamento do IMOD, após receber uma licença do governo francês, começou a produzir a aeronave a jato de treinamento militar Fougar Magister, com o nome israelense Tsukit (figura 5). A primeira aeronave foi entregue a (IAF) em 1960 e, em 1963, a empresa foi reestruturada, passando a ser totalmente estatal e chamada de Israel Aircraft Industries, que diferente da IMI, visava além da geração de empregos, também, a lucratividade.

30

Figura 5 – Aeronave Fouga CM.170 Magister. Nome Israelense Tsuki

Fonte: FOUGA, 2020.

Em 1969, a IAI desenvolveu sua primeira aeronave, chamada Arava (figura 6), um avião de transporte leve, multiuso, que foi vendido para várias Forças Aéreas, principalmente, da América Latina.

Figura 6 – Aeronave de transporte leve, IAI Arava 101.

Fonte: IAI ARAVA, 2019.

Atualmente, a IAI, agora chamada de Israel Aerospace Industries, além de produzir uma variável gama de produtos de defesa, é a principal empresa de Israel em desenvolvimento de produtos aeroespaciais. Sua subsidiária ELTA Systems, é líder no mercado mundial no desenvolvimento e produção de radares terrestres e aéreos, militares e civis. Em 1958, dez anos após a criação do Estado de Israel, foi criada, também, a empresa The Weapons Development Authority, hoje conhecida como Rafael 31

Advanced Defense Systems. Essa nova organização tinha a missão de desenvolver mísseis, considerado à época uma tecnologia de ponta (RUBIN, 2018). Em 2002, a empresa foi reestruturada passando a ser uma empresa Limited Liability Company (LLC), ainda de propriedade do governo de Israel. Já em 2007, a empresa desenvolveu um dos seus principais sistemas de armas de defesa contra mísseis de curto alcance, chamado Iron Dome (figura 7), que trabalhando em conjunto com os radares da ELTA, criam um verdadeiro escudo contra ataques de foguetes e mísseis lançados atualmente da Faixa de Gaza, da Síria e do Líbano, contra o Estado de Israel. Figura 7 – Sistema de defesa antimísseis “Iron Dome”

Fonte: MITCHELL, 2014.

Durante as décadas de 60 e 70, na medida em que as empresas iam crescendo, a Forças de Defesa de Israel (IDF) continuavam a adquirir seus principais sistemas de armas do exterior, enfrentando grandes obstáculos, principalmente dos países árabes. Ainda em 1960, autoridades do IMOD tiveram a ideia de promover a capacidade interna de desenvolver e fabricar produtos de defesa para a IDF. Entretanto, houve uma resistência das próprias Forças, devido a possível demora para se alcançar uma autossuficiência (RUBIN, 2018). Ainda segundo Rubin (2018), essa política sofreu uma grande mudança, quando em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel sofreu um grande embargo de armas por parte da França, a época presidida por Charles de Gaulle, cortando toda 32

a linha de suprimentos de armas necessárias para a IDF. Isso fez com que essa política fosse reavaliada, e estabelecida uma nova política chamada de Munitions Independence que deveria prover às Forças de Defesa de Israel autossuficiência em armamentos modernos nos três teatros de guerra – terra, mar e ar. Esse embargo, também, ocorreu pela Grã-Bretanha em relação aos tanques MBT, que foram essenciais nas batalhas ocorridas nos campos do Sinai (Egito). Tal fato, levou ao desenvolvimento do tanque Merkava (figura 8), que iniciou sua operação em 1979 e até hoje, já na sua quarta versão, é considerado um dos melhores tanques de guerra do mundo (RUBIN,2018). Figura 8 – Tanque Merkava

Fonte: MERKAVA, 2019

Aliado a este contexto, com o intuito de incentivar a pesquisa e o desenvolvimento nas indústrias através da ciência, em 1968, o Governo decide criar um escritório, chefiado por um cientista, nos Ministérios da agricultura, Comunicações, Defesa, Energia, Saúde e indústria e Comércio, onde cada cientista deveria atuar como consultor de P&D industrial dos ministros, implementando decisões do governo nessas áreas, inclusive através de financiamento (ISRAEL, 2018d). Foi nesse período que as Indústrias de Defesa de Israel começaram a tomar impulso, conforme observado no gráfico 3. Entretanto, em meados dos anos 80 e início dos anos 90, o País entrou em uma crise financeira que levou o governo a realizar cortes orçamentários, inclusive na área militar, afetando a indústria de defesa.

33

Gráfico 3 – Exportações Israelenses de produtos de defesa (1950 – 2019)

1600

1400

1200

1000

800

600

400

200

0

1971 1986 2001 2016 1953 1956 1959 1962 1965 1968 1974 1977 1980 1983 1989 1992 1995 1998 2004 2007 2010 2013 2019 1950 Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE, 2020a.

Em 1986, a IAI já havia finalizado o desenvolvimento de uma nova aeronave de combate, o Lavi, porém por ser um projeto ambicioso, de alto custo, e com as dificuldades financeiras do Governo, além de controvérsias junto ao governo dos EUA, devido a possíveis concorrências com a exportação de jatos americanos, o projeto foi suspenso (ISRAEL, 2018e). Tal situação deu início a uma crise na empresa, que a obrigou a dar uma guinada na sua produção, passando a desenvolver uma variada gama de produtos de uso militar e civil (dual), como sistemas avançados de radar, sistemas de armas de precisão, veículos aéreos não tripulados (UAV), sistemas de satélites, além de conversão de aeronaves comerciais, em militares, com a implementação de sistemas reabastecimento em voo, sendo que alguns desses projetos foram baseados na tecnologia adquirida durante o desenvolvimento do projeto Lavi (ISRAEL, 2018e). Após cinco grandes guerras enfrentadas por Israel, durante seus primeiros quarenta anos de criação, o governo passou, também, a incentivar a criação de empresas privadas para atender as demandas das Forças de Defesa. Ainda na década de 60, com a crescente oportunidade de negócios na área de defesa, foi criada outra empresa, a Elbit, inicialmente com uma combinação de capital privado e do estado. Alguns anos depois o IMOD saiu da parceria, tornando a 34

empresa totalmente privada. Com um portfólio inicial voltado para o mercado de equipamentos médicos, o rápido crescimento levou a empresa a se dividir, sendo criada a Elbit Systems (RUBIN, 2018). Possuindo maior flexibilidade de investimentos, por ser uma empresa privada, expandiu-se com uma política de fusão e aquisição de outras empresas especializadas em alta tecnologia de defesa. Atualmente, a empresa desenvolve e produz UAV’s, sistemas de guerra eletrônica, sistemas veiculares e artilharia leve. No ano de 2018, adquiriu a empresa IMI e está aumentando seu portfólio de produtos de defesa (RUBIN, 2018).

Gráfico 4 – Comparação das Exportações Israelense de Produtos de Defesa (1974 a 1996) x (1997 a 2019), valores em US$

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE, 2020a.

A partir do fim da Guerra Fria, com a queda nas exportações de produtos de defesa, as empresas passaram a empregar seus esforços não só na criação de produtos militares, mas, também, em produtos aplicados ao meio civil, que levaram ao nascimento das empresas hi-tech de Israel, adaptando suas tecnologias já empregadas no meio militar, ao civil, especialmente em relação a dispositivos eletrônicos, software, hardware e no campo das telecomunicações. Isso fez com que a partir dos anos 2000 suas exportações voltassem a crescer, atingindo seu ápice no ano de 2016, conforme apresentado no gráfico 4. 35

Na última década, as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento ( P&D ) de Israel cresceram rapidamente ultrapassando o campo militar, as universidades e as organizações de pesquisa, onde inicialmente estavam concentrados, criando o que hoje é conhecido como economia de alta tecnologia. Os investimentos e incentivos fizeram com que Israel se tornasse um dos países onde mais surgem novas empresas de alta-tecnologia no mundo, com produtos inovadores focado no mercado.

36

4 OS INVESTIMENTOS EM DESFESA DO BRASIL E ISRAEL

Ao analisarmos a importância dos investimentos públicos na área de defesa de países como Brasil e Israel, devemos levar em consideração seus acontecimentos históricos e motivações que, com certeza, tiveram um viés bastante diferente. Entretanto, é importante salientar, também, a grandeza econômica de cada país no cenário mundial e suas implicações na defesa, destacando pontos que podem ter influenciado no desenvolvimento de suas bases industriais, por meio da aplicação mais eficiente dos recursos. Conforme ficou caracterizado no panorama histórico de cada país, os investimentos governamentais na área de defesa foram fundamentais para alavancar o processo industrial dos dois países. De acordo com Waldimir Pirró e Longo (1984), a indústria bélica não atrai tanto os investimentos privados, considerando que os principais compradores são os governos nacionais. Para países que não estão em conflito, suas demandas geralmente são baixas, por dependerem de orçamentos do governo que tem o objetivo de manter o preparo e o treinamento das Forças Armadas e a operação de polícias. Desta forma, o consumo além de ser pequeno, não possui uma continuidade, atendendo somente a reposição de alguns equipamentos, devido a obsolescência. Nesse contexto, o Brasil, diferentemente de Israel, que durante toda a sua história esteve em guerra com os países do Oriente Médio e, até os dias de hoje, sofre ameaças constantes, não participa de um conflito armado desde a Segunda Grande Guerra. Diante disso, ao longo dos anos, o governo brasileiro sofre constantemente questionamentos sobre a real necessidade de investir nas Forças Armadas, tendo em vista que, na visão de alguns analistas, o País não tem nenhuma possibilidade de entrar em uma guerra a curto ou médio prazo. No entanto, no atual cenário geopolítico, para o Brasil conseguir assumir uma posição de destaque e deixar de ser um país subdesenvolvido, é preciso investir em sua base industrial, tornando-a competitiva e inovadora. Para tal, é fundamental a aplicação de recursos governamentais, em ciência, tecnologia e inovação, principalmente, em tecnologias de uso dual, que vise atender a área militar como, também, serem aplicadas no meio civil, conforme preconizado na Política e na Estratégia Nacional de Defesa. 37

Diante do exposto, cabe destacar a posição do Brasil e de Israel na parte orçamentária em relação a outros países, levando-se em consideração alguns fatores específicos como o PIB (Produto Interno Bruto), os gastos com defesa e suas aplicações em ciência, tecnologia e inovação. Além disso, serão analisados dados de países da América do Sul, que compõem o entorno estratégico brasileiro, e dos “BRICS” (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), grupo de países que, atualmente, possuem uma crescente importância e influência no cenário geopolítico mundial. Nos últimos 20 anos, o Brasil tem se mantido entre as 10 maiores economias do mundo, chegando a atingir o 7° lugar entre os anos de 2010 e 2014.

Gráfico 5 – Evolução do Ranking dos 15 maiores PIB Mundiais Período 2000 a 2019

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site THE WORLD BANK, 2020a.

No ano de 2019, com um PIB de US$ 1,84 trilhões, passou a ocupar a 9° posição, sendo ultrapassado por Índia e Itália em 2015, de acordo com os dados do Banco Mundial, conforme mostrado no gráfico 5. Já Israel, atualmente, ocupa a 30° posição, com um PIB de US$ 395 bilhões. Em relação aos gastos com defesa, o Brasil investiu, no ano de 2019, cerca de US$ 26,9 bilhões, aparecendo em 11° lugar, enquanto Israel, com um PIB quase 5 vezes menor, investiu cerca de US$ 20,5 bilhões ocupando a 15° posição, de acordo 38

com os dados do site da SIPRI (International Peace Research Institute) apresentado na figura 9.

Figura 9 – Ranking dos países com mais gastos em defesa. (Período 2000 a 2019) (US$ bilhões)

Países 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Posição USA 320,1 331,8 378,5 440,5 493,0 533,2 558,3 589,6 656,8 705,9 738,0 752,3 725,2 679,2 647,8 633,8 639,9 646,8 682,5 731,8 1° China 22,9 27,9 32,1 35,1 40,4 45,9 55,3 68,0 86,4 105,6 115,7 138,0 157,4 179,9 200,8 214,5 216,4 228,5 253,5 261,1 2° India 14,3 14,6 14,7 16,3 20,2 23,1 24,0 28,3 33,0 38,7 46,1 49,6 47,2 47,4 50,9 51,3 56,6 64,6 66,3 71,1 3° Rússia 9,2 11,7 13,9 17,0 21,0 27,3 34,5 43,5 56,2 51,5 58,7 70,2 81,5 88,4 84,7 66,4 69,2 66,5 61,4 65,1 4° Arábia Saudita 20,0 21,0 18,5 18,7 20,9 25,4 29,6 35,5 38,2 41,3 45,2 48,5 56,5 67,0 80,8 87,2 63,7 70,4 74,4 61,9 5° França 28,4 28,0 30,6 38,6 44,5 44,4 45,8 50,7 55,4 56,4 52,0 54,1 50,2 52,0 53,1 45,6 47,4 49,2 51,4 50,1 6° Alemanha 26,9 26,2 28,1 33,5 36,4 36,4 36,4 41,1 46,5 46,1 44,9 46,8 44,5 44,9 44,2 37,0 39,7 42,4 46,5 49,3 7° Reino Unido 35,3 35,3 39,7 46,9 54,0 55,2 57,5 66,0 65,6 57,9 58,1 60,3 58,5 56,9 59,2 53,9 48,1 46,4 49,9 48,7 8° Japão 45,5 40,8 39,3 42,5 45,3 44,3 41,6 40,5 46,4 51,5 54,7 60,8 60,0 49,0 46,9 42,1 46,5 45,4 46,6 47,6 9° Coreia de Sul 13,8 12,9 14,1 15,8 17,8 22,2 25,2 27,7 26,1 24,6 28,2 31,0 32,0 34,3 37,6 36,6 36,9 39,2 43,1 43,9 10° Brasil 11,3 10,9 9,7 8,4 9,8 13,6 16,4 20,5 24,5 25,6 34,0 36,9 34,0 32,9 32,7 24,6 24,2 29,3 28,2 26,9 11° Itália 19,9 19,5 21,6 26,8 30,3 29,7 29,6 32,0 36,8 34,1 32,0 33,8 29,8 30,0 27,7 22,2 25,0 26,4 27,8 26,8 12° Austrália 7,3 7,0 7,9 9,9 12,0 13,2 14,2 17,2 18,6 19,0 23,2 26,6 26,2 24,8 25,8 24,0 26,4 27,7 26,8 25,9 13° Canadá 8,3 8,4 8,5 10,0 11,3 13,0 14,8 17,4 19,3 18,9 19,3 21,4 20,5 18,5 17,9 17,9 17,8 22,3 22,7 22,2 14° Israel 8,3 8,5 8,0 8,2 8,6 8,9 9,3 11,4 13,8 12,8 13,9 15,2 14,6 16,3 17,8 16,5 17,5 19,4 19,8 20,5 15° Turquia 10,0 7,2 9,1 10,3 10,9 12,1 13,0 15,0 16,8 16,0 17,7 17,0 17,7 18,4 17,6 15,7 17,8 17,8 19,6 20,4 16° Espanha 10,3 10,2 10,3 12,9 15,3 16,0 17,3 20,1 22,2 20,2 19,7 19,7 18,9 17,2 17,2 15,2 14,0 16,0 17,8 17,2 17° Irã 8,3 10,4 3,2 3,7 5,2 6,8 8,8 9,3 11,1 12,6 13,6 14,3 16,5 12,0 9,9 10,6 12,3 13,9 11,2 12,6 18° Holanda 6,0 6,2 6,7 8,4 9,4 9,6 10,2 11,5 12,4 12,1 11,2 11,6 10,4 10,2 10,3 8,7 9,1 9,6 11,1 12,1 19° Polônia 3,1 3,6 3,8 4,2 4,8 5,9 6,6 8,6 9,3 7,9 8,8 9,5 9,0 9,3 10,3 10,2 9,2 9,9 12,0 11,9 20° Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site do STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE, 2020b Analisando os recursos empregados na área de defesa em relação ao PIB, podemos observar que Israel chegou aplicar cerca de 30% do PIB em defesa, no período compreendido entre a década de 60 até início dos anos 90, onde ocorreram as principais guerras de sua história, como as guerras dos seis dias, yom kippur e as duas guerras contra o Líbano. A partir da assinatura do tratado de paz com o Egito e Jordânia e o fim da Segunda Guerra do Líbano, esse índice vem diminuindo, estando, atualmente, em 5,3%, conforme destacado no gráfico 6. Gráfico 6 – Investimentos em Defesa - Percentual do PIB (Brasil x Israel). (Período 1960 a 2019)

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE, 2020b. 39

Nesse período surgiram as principais empresas de defesa de Israel, como a IAI, a Rafael e a Elbit Systems, essas que, nos últimos 20 anos, se encontram na lista das 100 principais empresas de defesa que mais vendem armamento no mundo, conforme apresentado no gráfico 7. Isso muito influenciado pelo incentivo contínuo que receberam do governo ao longo dos anos.

Gráfico 7 – Quantidade de Empresas X País que aparecem na lista das 100 empresas que mais venderam armamento no mundo no período de 2002 a 2019

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE, 2020c.

Já no Brasil, entre as décadas de 60 e 80, período dos governos militares, foi o momento onde mais se investiu em defesa, chegando a 3,4% do PIB. Nesse período foram criadas as principais empresa de defesa do Brasil. Entretanto, diferentemente de Israel que deixava um período de guerras, os investimentos na área de defesa vieram decrescendo gradativamente com o tempo, chegando aos atuais 1,5% do PIB, conforme verificado no Gráfico 6. Tal fato, pode justificar que a falta de incentivo do governo brasileiro às indústrias de defesa, podem ter levado a extinção de algumas de suas principais empresas, como, por exemplo, o caso da ENGESA. Nesse contexto, podemos observar no gráfico 7 que, somente a partir de 2011, uma empresa brasileira, a EMBRAER, passa a aparecer no ranking das 100 empresas que mais vendem armamento no mundo. 40

Diante disso, é importante destacar, também, em relação aos investimentos governamentais no setor de defesa, como o Brasil se apresenta perante o seu entorno estratégico, entre os principais países da América do Sul, e diante dos BRICS, países considerados de economias emergentes, que tem destaque no cenário Mundial.

Gráfico 8 – Porcentagem das Despesas Governamentais em Defesa (América do Sul). (Período 2000 a 2019)

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE, 2020b.

Gráfico 9 – Porcentagem das Despesas Governamentais em Defesa (BRICS). (Período 2000 a 2019)

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE, 2020b.

41

De acordo com o gráfico 8, dentre os principais países da América do Sul, os gastos governamentais do Brasil na área de defesa, que é o 5° maior país do mundo em dimensões territoriais e possui a 9° economia mundial, superam somente a , que encontrar-se em uma crise econômica bastante expressiva. Já, em comparação com os países que compõem os BRICS, o Brasil supera somente a África do Sul, estando bem abaixo da média dos recursos aplicados em defesa dos últimos 20 anos por Rússia, China e Índia, conforme apresentado no gráfico 9. Após contextualizado e dimensionado o orçamento do Brasil no cenário mundial e no seu entorno estratégico, cabe agora entendermos como Brasil e Israel aplicam seus recursos no âmbito interno e de que forma eles impulsionam o desenvolvimento da indústria de defesa dos dois países.

Gráfico 10 – Média percentual por área de aplicação dos recursos do governo brasileiro. (Período 2014 a 2019)

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do Portal da Transparência. BRASIL, 2020c.

Conforme destacado no gráfico 10, com dados do portal da transparência, dos recursos do governo federal, o Brasil destinou, na média dos últimos 5 anos, somente 2,31% para defesa nacional e segurança pública. 42

Já Israel destinou, nos últimos 5 anos, segundo os dados do site da Central Bureau of Statistics de Israel, gráfico 11, cerca de 18,60% dos recursos governamentais à defesa e segurança púbica.

Gráfico 11 – Média percentual por área de aplicação dos recursos do governo israelense. (Período 2013 a 2018)

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site da CENTRAL BUREAU OF STATISTICS, 2020.

Além dos recursos destinados à defesa, é importante destacar o volume de gastos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) pelos dois países, tendo em vista que o nível de industrialização de qualquer nação está intimamente ligada ao seu nível tecnológico. O gráfico 12 mostra a evolução dos gastos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), em relação em relação ao PIB, de alguns dos países mais desenvolvidos tecnologicamente, como Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos e China. Como pode ser observado, nos últimos 20 anos, Israel se destaca com investimentos acima 4% do PIB, estando acima dos países que mais investem, atualmente, nessa área. Além disso, sua trajetória está em ascensão, ou seja, com uma tendência de aumento ao longo dos próximos anos. Esse processo, que engloba, também, o modelo da tríplice hélice, governo, empresas e universidade ou instituições científicas, voltados para a pesquisa básica, é bem aplicado por Israel. Da média de 4% do seu PIB investido em PD&I, segundo dados das empresas locais, cerca de 40% a 60% desses investimentos estão ligados ao desenvolvimento de produtos e serviços de defesa ou de emprego dual. Desta 43

forma, podemos inferir que cerca de 2% a 2,5% desses gastos, servem de incremento aos investimentos que beneficiam direta e indiretamente o orçamento militar.

Gráfico 12 – Evolução dos gastos em PD&I de Brasil e Israel em relação ao PIB (Período 2000 a 2017)

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site THE WORLD BANK, 2020b.

É importante destacar, também, que os gastos em Defesa de Israel estão intimamente ligados ao desenvolvimento da Indústria civil e bélica do país. Uma vez que as exportações desse setor correspondem a 3% do PIB nacional, índice que coloca Israel entre os 10 (dez) países maiores exportadores mundiais de armamento, isso garante, de certo modo, uma pressão e um lobby interno pela manutenção dos valores do orçamento para a defesa. Já o Brasil está bem abaixo desses países, contabilizando investimentos de 1,26% do PIB, inclusive estando abaixo da média mundial, segundo o site do Banco Mundial. Tal fato, pode mostrar, o quão deficiente está o País em investimento em PD&I, que representa uma das medidas mais eficientes para estimular o desenvolvimento industrial. A Base Industrial de Defesa é uma geradora de novas tecnologias e seu crescimento se dá através das necessidades das Forças Armadas. Atendendo a demanda da área militar, com investimentos contínuos em desenvolvimento e produção de equipamentos de defesa, podemos gerar inovações caracterizadas pelo uso dual. De acordo com Waldimir Pirró e Longo (2007):

44

Ao longo da história da humanidade, é difícil encontrar algum desenvolvimento tecnológico relevante que não esteja estreitamente relacionado com as questões relativas à segurança e defesa, individuais ou coletivas. Inúmeras tecnologias de produtos, de processos ou de serviços desenvolvidas especificamente para atender necessidades militares de defesa, acabam sendo utilizadas na produção de bens e serviços bem sucedido para uso civil. Quando isso ocorre diz-se que houve um spin off da tecnologia militar.

Da análise dos gráficos e tabelas dos orçamentos de Brasil e Israel apresentados até aqui, podemos observar que existe uma grande diferença em suas economias, tanto em volume de recursos, quanto a prioridade dada pelos dois países à defesa. É notório, que Israel pela sua história e ameaças frequentes de conflito com os países de seu entorno estratégico, demanda uma necessidade maior de aplicação de recursos na área de defesa, mas é importante destacar que os recursos públicos aplicados em ciência e tecnologia militar, junto as industrias e universidades foram essenciais ao desenvolvimento e industrialização do País. Por outro lado, vemos que o Brasil tem plenas condições de se juntar aos países protagonistas na área de defesa, aplicando políticas públicas que visem impulsionar a industrialização do País. No ambito do Ministério da Defesa, essas politicas já tem sido implementada com as publicações da Política Nacional de Defesa, da Estratégia Nacional de Defesa, do Livro Brando de Defesa Nacional e do Plano de Articulação e Equipamento de Defesa que dão as diretrizes para realização de ações que visam ampliar a sua capacidade tecnológica, através dos projetos de modernização e atualização dos equipamentos das Forças Armadas. Ratificando a importânia da BID para a segurança e o desenvolvimento do País, a PND é clara quando menciona que: A defesa do País é indissociável de seu desenvolvimento, na medida em que depende das capacidades instaladas, ao mesmo tempo em que contribui para o incremento das potencialidades nacionais e para o aprimoramento de todos os recursos de que dispões o Estado brasileiro (BRASIL, 2016c).

Nesse contexto, a PND, diz que o Brasil carece de maiores investimentos em ciência, tecnologia e inovação e em qualificação do capital humano, ou seja, na integração indústria, governo e academia, e ainda vai mais longe, mencionando que a falta de regularidade nas aquisições de produtos de defesa e a não alocação de recursos do Estado tem estimulado o desinvestimento por parte das empresas de 45

defesa, não permitindo que o País elimine ou reduza a dependência externa em áreas de fundamental importância estratégica nos próximos 20 anos (BRASIL, 2016c). Fato esse que, quando comparado com Israel, observamos que o fluxo orçamentário contínuo por parte do governo, em PD&I e em desenvolvimento de produtos de defesa, permitiu que, ao longo dos anos, o País se tornasse um dos maiores exportadores de equipamentos militares de alta tecnologia. Conhecido como Brasil e Israel se apresentam no cenário mundial em relação ao Produto Inteno Bruto e orçamentos públicos aplicados em defesa, cabe agora apresentarmos a estrutura organizacional de cada país, voltada para a geração e o desenvolvimento de produtos de defesa.

46

5 AS ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE DEFESA E SUAS ESTRATÉGIAS

5.1 ISRAEL

As indústrias de defesa de Israel são mundialmente reconhecidas pela sua capacidade de inovação e desenvolvimento de produtos de defesa, testados operacionalmente nos mais variados conflitos e que, devido as constantes, crescentes e sofisticadas ameças que surgem atualmente nesse segmento, tem a necessidade frequente de aprimorar sua capacidade operacional. Dentro de sua estrutura governamental, assim como no Brasil, está o Ministério da Defesa de Israel (IMOD), que tem a responsibilidade de proteger e garantir o Estado de Israel e sua população, através de meios políticos, militares e sociais, fornecendo soluções para o enfrentamento dos desafios da segurança de Israel, fortalecendo as Forças de Defesa de Israel (IDF), promovendo a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologia avançada, incentivando as exportações de defesa, apoiando as indústrias locais e promovendo o envolvimento social (ISRAEL, 2018a). A missão principal do IMOD é definir e atualizar os objetivos de segurança nacional sob sua responsabilidade, apoiar o fortalecimento e operações das Forças de Defesa de Israel e contribuir com outras áreas da sociedade, tecnologia, indústria e as relações de parcerias com as forças de defesa estrangeiras. (ISRAEL, 2018a). O trabalho realizado pelo Ministério da Defesa de Israel tem como principal beneficiário a IDF. O relacionamento entre ambos é construído em cima de uma cooperação produtiva que abrange todos os níveis. O trabalho é dividido entre a atribuição de responsabilidades operacionais e técnicas às Forças de Defesa, bem como a alocação do orçamento, a realização dos requisitos e requerimentos de compras, comerciais, políticas e indústriais (ISRAEL, 2018a). Dentre os vários departamentos civis e militares que compõem sua estrutura podemos destacar dois que são essencialmente ligados ao desenvolvimento das industrias de defesa de Israel que são: a Diretoria de Cooperação Internacional em Defesa (SIBAT) e a Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento de Defesa (DDR&D). Essas são diretamente ligadas ao Diretor Geral do Ministério da Defesa, conforme destacados na figura 10.

47

Figura 10 – Organograma do Ministério da Defesa de Israel (IMOD)

Fonte: ISRAEL, 2018a.

A DDR&D é um departamento do IMOD responsável pelo gerenciamento e acompanhamento do desenvolvimento de tecnologia militar, sendo um centro de conhecimento e experiências com reconhecimento mundial nesse campo. Ele contribui para o desenvolvimento, produção e manutenção dos sistemas e equipamentos de alta tecnologia usados pela IDF, que permitem uma vantagem militar qualitativa perante os países do seu entorno estratégico, garantindo, assim, a soberania do Estado. A estratégia de cooperação com os institutos de pesquisa, academia, empresas e indústrias de alta tecnologia militares e civis, permitem que o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento encontre e desenvolva soluções que atendam as necessidades operacionais (ISRAEL, 2018b). Sua principal função é promover a cooperação e a integração entre a IDF e o Ministério da Defesa, com a finalidade de produzir resultados excepcionais na área de pesquisa e desenvolvimento de projetos militares. Além disso, tem como responsabilidade desenvolver conceitos inovadores para a tecnologia de defesa; gerenciar os projetos de desenvolvimento de curto a longo prazos, fazendo o acompanhamento e o controle do desempenho do projeto; servir como corpo técnico 48

e profissional para pesquisa e desenvolvimento de tecnologia militar; manter e promover relações com instituições acadêmicas de P&D em Israel; e cooperar com parceiros internacionais no campo de P&D (ISRAEL, 2018b). Outro departamento do IMOD de suma importância para a Base Industrial de Defesa de Israel é a Diretoria Internacional de Cooperação em Defesa (SIBAT), figura

11.

Figura 11 – Organograma da Diretoria International de Cooperação em Defesa (SIBAT)

Fonte: ISRAEL, 2018c. Esse orgão mantém um estreito relacionamento com as empresas de defesa, sendo o responsável por promover e ajudar a expansão da cooperação internacional; planejar e implementar a estratégia de exportações de produtos de defesa; atuar como principal fonte de informação detalhada sobre a indústria de defesa de Israel; e participar da formulação da política de exportação de produtos de defesa, coordenando todas as atividades relacionadas e promovendo as tecnologias de defesa de Israel no exterior (ISRAEL, 2018c). Dentre suas atribuições podemos destacar a realização de acordos de governo para governo (G2G); a coordenação de visitas de delegações estrangeiras oficiais; a identificação de oportunidades de cooperação com as indústrias de defesa 49

israelense; o estabelecimento de joint venturas; o gerenciamento do marketing de vendas dos produtos de defesa; a confecção de catálogo bianual com informações detalhadas das industrias e seus produtos; e organizar e participar de exposições internacionais de defesa (ISRAEL, 2018c). Conforme observado no organograma da figura 11, sua estrutura organizacional, é dividida por áreas de atuação regionais, Europa / América do Norte, Ásia / África e Pacífico e América Latina. Além disso, os Adidos Militares estrangeiros em Israel tem ligação direta com os diretores de sua respectiva área, com quem é coordenado as agendas de todas as visitas de delegações estrangeiras que chegam a Israel, onde sempre é inserida uma passagem pelas empresas de defesa e pelas unidades operacionais que operam os equipamentos produzidos por elas, para que sejam promovidos e demonstradas as capacidades reais de seus produtos. Além do suporte as grandes indústrias, o SIBAT promove, também, o apoio as pequenas e médias empresas de alta tecnologia, incluindo a alocação de recursos financeiros, com a finalidade de adquirirem conhecimento e experiência, fornecendo soluções tecnológicas inovadoras. Esse incentivo dado a essas start-up incluem, também, a vinculação dessas empresas a parceiros globias. Conhecido parte da estrutura governamental de Israel voltado para desenvolvimento e incentivo à sua industria de defesa, cabe agora conhecermos um pouco mais da estratégia utilizada para o seu crescimento e reconhecimento a nível mundial. Conforme já apresentado, o conceito que permeou toda a dinâmica do desenvolvimento industrial de Israel e que permanece até os dias atuais, com alguns aperfeiçoamentos a sua realidade, tem como base o modelo da tríplice hélice, ou seja, o alinhamento entre o governo, indústria e universidade. Entretanto, de acordo com Drori et al (2013), outros atores foram incorporados a esse conceito ao longo de sua história, que estão sendo fundamentais para manutenção e crescimento das empresas até os dias de hoje. Um desses atores são os militares, que apesar de fazerem parte do governo, são tratados por eles como um ator independente, e mesmo entendendo que parte da pesquisa e desenvolvimento que são relacionadas a defesa tem caráter sigiloso, essa área tem um grande impacto no setor de ciência, tecnologia e inovação de Israel. Grande parte das inovação tecnológicas que surgiram, foram patrocinados pelas Forças de Defesa de Israel e impulsionados por projetos desenvolvidos pelas 50

Indústrias de defesa. Além disso, boa parte das start-up israelenses surgiram do spin- off de conhecimento adquiridos durante o serviço militar obrigatório, que forma uma grande rede de negócios voltados para a pesquisa e desenvolvimento. Essa cultura por ciência não é apenas em função da preocupação com a segurança, mas também é baseada no espírito de ciência proporcionado pela obra de Vannevar Bush de 1945 (DRORI et al, 2013). Outro ator importante levantado por Drori et al (2013) é o Setor Financeiro, que inicialmente foi predominantemente público até os anos 80, com grande parte do financiamento para educação, ciência, pesquisa e desenvolvimento vindo de fontes do governo. Mesmo após a privatização de muitas empresas ocorrida na década de 80, os investimentos governamentais em P&D ainda eram vultosos, entretanto, nesse mesmo período algumas empresa começaram a buscar financiamentos privados, lançando ativos na bolsa de valores americana e, em 2012, Israel ficou atrás apenas da China no número de empresas listadas na Nasdaq. Atualmente, ao comparar as empresas israelenses de capital aberto listadas no mercado americano com aquelas dependentes de financiamento do governo e bancos israelenses, as listadas na bolsa tem um crescimento e uma lucratividade mais acelerada, gerando um maior impulso aos investimentos PD&I. Nesse contexto, outro fator que influenciou não só a industria de defesa, mas todo o desenvolvimento industrial do País em alta tecnologia e inovação, foi a criação de parques industriais de base científica perto dos principais campos universitários, que fornecem serviços e instalações para indústrias de base inseridas nesse processo. O governo geralmente oferece incentivos ao investimento, empréstimos, subsídios e benefícios fiscais para as indústrias que tem o interesse de migrar para esses parques. O envolvimento das universidades beneficia essas empresas com a experiência do seu corpo acadêmico e das vantagens dos investimentos conjuntos em matéria-prima. Por outro lado, as indústrias que fazem parte do parque, geralmente oferecem empregos e subcontratos suplementares para professores e graduandos da universidade. (ISRAEL, 2018d). Além desses parques, incubadoras tecnológicas foram surgindo a partir de 1991 para incentivar o desenvolvimento de ideias inovadoras por empreendedores individuais, cujas empresas eram muito pequenas ou cujas ideias eram arriscadas demais para se encaixar no programa regular de pesquisa e desenvolvimento do Ministério da Indústria e Comércio. A criação dessas incubadoras coincidiu com a 51

imigração em massa da antiga União Soviética, que trouxe cerca de 65.000 engenheiros para Israel, muitos deles especialistas em vários campos da ciência (ISRAEL, 2018d). A missão dessas incubadoras, que são entidades independentes e sem fins lucrativos, é de apoiar os empreendedores a finalizarem seus projetos e transformá- los em empreendimentos comercialmente viáveis. Além disso, promove a assistência necessária ao recrutamento de equipes de P&D, realiza estudos de marketing e viabilidade econômica e fornece instalações físicas, orientação profissional, gerencial e assistência no processo de captação de investimento (ISRAEL, 2018d). Praticamente todos os produtos desenvolvidos por essas empresas, que fazem parte dessas incubadoras, são orientados para a exportação, pois o objetivo final é aumentar as exportações de mercadorias de Israel, hoje girando em torno de US$ 20 bilhões por ano (ISRAEL, 2018d). Outra caracteristica marcante foi a implementação da tecnologia de emprego dual. Com um mercado cada vez mais escasso de equipamentos militares nas duas últimas décadas, fez com que a área de defesa israelense fizessem um esforço para empregar suas equipes de pesquisa e desenvolvimento na criação de produtos não essencialmente militar e, mais especificamente, na adaptação da tecnolgia de defesa para uso civil e, como consequência, muitos produtos inovadores produzidos pela indústria civil de alta tecnologia de Israel, principalmente no campo das telecomunicações, são oriundos da tecnologia militar.

5.2 BRASIL

Assim como Israel, dentro da estrutura organizacional do Ministério da Defesa Brasileiro, está a Secretaria Geral, ligada diretamente ao Ministro, que tem como responsabilidade assessorá-lo no direcionamento, coordenação e supervisão da atuação dos departamentos e secretarias que lhe são subordinados (BRASIL, 2020a).

52

Figura 12 – Organograma do Ministério da Defesa Brasileiro (MD)

Fonte: Elaborado pelo Autor, dados do site do Ministério da Defesa (BRASIL, 2020a).

Levando em consideração seus orgãos subordinados, podemos destacar duas das principais linhas de atuação da Secretaria Geral que estão diretamente relacionadas a BID, que são: - o Fortalecimento da Industria de Defesa; e - o estímulo ao desenvolvimento de ciência e tecnologia de interesse da defesa; Dentre as secretarias subordinadas a Secretaria Geral, destacamos, na figura 12, a Secretaria de Produtos de Defesa (SEPROD), que está direcionada ao suporte e desenvolvimento da Base Industrial de Defesa.

53

Figura 13 – Organograma do Ministério da Defesa Brasileiro (MD)

Secretaria de Produtos de Defesa (SEPROD)

Departamento de Produtos de Defesa (DEPROD)

Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação (DECIT)

Departamento de Promoção Comercial (DEPCOM)

Departamento de Financiamentos e Economia de Defesa (DEPFIN)

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site do Ministério da Defesa (BRASIL, 2020b).

Sua estrutura é composta de 4 (quatro) departamentos, conforme apresentado na figura 13, que tem entre algumas de suas competências, propor os fundamentos para a formulação, atualização e acompanhamento da industria de defesa; da execução das políticas nacionais de ciência, tecnologia e inovação de defesa; de compensação tecnológica, industrial e comercial de defesa; e de exportação e importação de produtos de defesa. Além de conduzir programas e projetos de promoção comercial dos produtos de defesa nacionais; formular e atualizar as diretrizes relacionadas aos processos de investimento, financiamentos, garantias, concessões, parcerias público-privadas e reestruturação de Empresas de Defesa ou Empresas Estratégicas de Defesa; acompanhar os programas e projetos do PAED; participar das discussões de assuntos de interesse da defesa, junto a outros ministérios e forúns nacionais e internacionais, que envolvam empresas e produtos de defesa, bem como, assuntos ligados a ciência, tecnologia e inovação de interesse de defesa; e apresentar diagnósticos para subsidiar investimentos públicos e privados na Base Industrial de Defesa (BRASIL, 2020b). Passando para a esfera privada as principais empresas que compõem a BID, estão vinculadas a Associação Brasileira das Industrias de Defesa (ABIMDE), uma entidade criada para reunir as empresas ligadas ao setor de defesa, com a finalidade de apresentar os objetivos comuns e valorizar as empresas nacionais no Brasil e no 54

Exterior, participando ativamente do ciclo de vida dos produtos e serviços gerados pelas empresas vinculadas. Além disso, atua junto as esferas governamentais em todos os níveis, com o intuito de disseminar os anseios e desafios das indústrias, contribuindo para implementação de políticas públicas, visando apoiar projetos que fomentam as exportações dos produtos nacionais de defesa, impulsionando a economia do País e gerando empregos de nível especializado (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE MATERIAIS DE DEFESA E SEGURANÇA, 2018). A ABIMDE tem hoje mais de 200 associados entre empresas privadas, centros de pesquisa, e entidades governamentias, além de parcerias com Universidsdes, Forças Armadas e entidades de fomento a pesquisa e desenvolvimento. Grande Parte dessas empresas são certificadas, junto ao MD, através da Comissão Mista da Indústria de Defesa (CMID), como Empresas Estratégicas de Defesa (EED) ou Empresa de Defesa (ED), o que faz com que elas contem com regimes diferenciados de tributação e prioridade na contratação pelas Forças Armadas. A CMID, criada em 2013, tem por finalidade assessorar o Ministro nos processos decisórios e em proposição de atos relacionados à Indústria de Nacional de Defesa. A comissão tem entre suas atribuições realizar a integração entre o Ministério da Defesa e órgãos e entidades públicos e privados relacionados a BID; classificar os bens, serviços obras ou informações como Produto de Defesa (PRODE), assim como definí-los como sendo um Produto Estratégico de Defesa (PED); credenciar empresas como (EED); e propor políticas e orientações sobre processo de aquisição, de importação e de financiamento de PRODE (BRASIL, 2014). Com o intuito de incentivar e alavancar o desenvolvimento da BID, nos últimos anos, o Ministério da Defesa tem implementado políticas e estratégias, que visam materializar um cenário que ficou cerca de duas décadas estagnado, sendo negligenciado e influenciado por um processo de desindustrialização do País, que podemos dizer que iniciou no final dos governos militares. Nesse periodo, a situação política e econômica do País levou a uma grande redução do orçamento das Forças Armadas, eliminando a possibilidade de uma continuidade de investimentos do Estado na área de defesa, gerando cancelamentos e atrasos consideráveis na implementação de alguns programas militares e, com isso, a diminuição da demanda interna. Com a escassez de recursos, as Forças Armadas 55

passaram a realizar aquisições de outros países de produtos já sucateados e superados tecnologicamente, visando manter o mínimo de capacidade operacional. Com as atualizações e elaborações da PND, END e LBDN, realizadas em 2008, 2012 e 2016, a política em relação a necessidade de capacitação das Forças Armadas e ao desenvolvimento da Indústria de Defesa no Brasil começou a mudar, ainda que lentamente, pois foram esses os principais instrumentos que serviram de divulgação e esclarecimento a sociedade e a comunidade internacional do papel desempenhado pelo setor de defesa no Brasil. Nesse contexto, esses documentos que passaram a ser obrigatoriamente elaborados a cada 4 anos, com implementação da Lei Complementar 97/199, alterada pela Lei complementar 136/2010, tem entre algumas de suas definições a busca da regularidade orçamentária para o Setor de Defesa, a priorização dos investimentos em ciência, tecnologia e inovação relacionados a produtos de defesa com emprego dual. Além disso, o Ministério da Defesa elaborou o Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PAED), que detalha a recomposição da capacidade operacional das Forças Armadas, visando à autonomia tecnológica e o fortalecimento da Industria Nacional de Defesa (BRASIL, 2020c). Outra medida importante para impulsionar a BID foi a aprovação da Lei 12.598, de 2012, que “estabelece normas especiais para as compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa e dispõe regras de incentivo à área estratégica de defesa.” Esta lei caracteríza-se por ser um divisor de águas para industria de defesa, ajustando os arcabouços jurídicos e tributários que favoreciam a importação de produtos de defesa, estimulando e incentivando a pesquisa, o desenvolvimento e a transferência de tecnologia, visando a recuperação e a independência da produção nacional (BRASIL, 2012). Com o intuito de mitigar a problemática da demanda insuficiente das Forças Armadas, que estimule as empresas nacionais a investirem na área de defesa, aumentando seu campo de atuação no âmbito interno e, também, no internacional, uma das ações estratégicas apresentadas por muitos países e que está prevista na END (BRASIL, 2016a), é “estimular projetos de interesse da defesa que empreguem produtos e tecnologias de uso dual”, ou seja, que também possam ser utilizadas nas diversas áreas de aplicação civil. Tal fato, foi muito bem caracterizado nos programas estratégicos espaciais, nucleares e cibernéticos, de responsabilidade de cada Força. 56

Nesse sentido, o fortalecimento do setor de ciência, tecnologia e inovação através de polítcas públicas de incentivo a produção nacional, que promovam a absorção do conhecimento gerado pelo modelo da tríplice hélice, que também se apresenta como uma das acões estratégicas definidas na END, tem caráter essencial para redução da dependência tecnológica que, atualmente, a área de defesa se encontra. Desta forma, o Ministério da Defesa, junto com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e outros setores governamentais, acadêmicos e privados tem tentado implementar ações que visam realizar atividades voltadas para a pesquisa e o desenvolvimento de produtos de defesa de forma integrada, que visem atender os anseios das Forças Armadas e, ao mesmo tempo, as expectivas de crescimento socioeconômico, com geração de empregos diretos e indiretos. Conhecida a evolução histórica das indústrias de defesa do Brasil e de Israel, a posição dos dois países no contexto mundial, em relação aos investimentos na área militar, e como estão moldadas suas estruturas e parte de suas estratégias voltadas ao seu desenvolvimento. Cabe agora, através de uma análise comparativa, identificarmos alguns pontos que poderiam ser implementados na estrutura brasileira, logicamente considerando as especificidades e o histórico de cada País.

57

6 ANÁLISE COMPARATIVA

Historicamente Brasil e Israel apresentam uma evolução completamente diferente. Enquanto Israel, a partir da criação do seu estado em 1948, se deparou até os dias atuais com frequentes conflitos, uns de grandes proporções como as Guerras dos Seis Dias, Yom Kippur e as duas contra o Líbano, e outros considerados pequenos conflitos com a Palestina e o Grupo Hezbollah do Líbano, tem há todo momento colocado a prova suas Forças Armadas e, consequentemente, os produtos de defesa desenvolvidos e produzidos por suas indústrias. Já a última atuação das Forças Armadas Brasileiras em guerras, foi durante a Segunda Grande Guerra, sendo que, grande parte dos produtos militares utilizados eram importados de outros países, pois até aquela época sua indústria de defesa praticamente inexistia. Apesar da distinção de suas histórias, os dois países criaram suas primeiras industrias bélicas na década de 30, a Taurus no Brasil e a Oficina de Haganah em Israel, ou seja, no periodo em que no Brasil, o então Presidente Getúlio Vargas, começava a incentivar a industrialização do país, enquanto Israel era forçada a essa situação em função da necessidade de proteger sua soberania contra a resistência da população árabe, onde uma guerra seria iminete após a saida dos británicos das terras Palestinas. Entretanto, após a Segunda Guerra Mundial até meados da década de 60, os dois países tomam caminhos opostos em relação ao desenvolvimento de sua Base Industrial de Defesa. No Brasil, em função da facilidade de importação de equipamentos de baixo custo e ao aumento da cooperação internacional, principalmente com os Estados Unidos, gerou uma desaceleração das indústrias de defesa. Diferentemente, com a criação do Estado de Israel e a necessidade de geração de empregos, em função da grande imigração de judeus da Europa e Oriente Médio, fez com que o governo continuasse o seu processo de industrialização, criando outras empresas estatais ligadas ao Ministério da Defesa, ou seja, as estratégias de aplicação de investimentos públicos começava e ser implementada visando o desenvolvimento industrial do País. Nesse mesmo período, tanto no Brasil, quanto em Israel começaram a surgir várias instituições acadêmicas e científicas que, principalmente em Israel, estavam diretamente ligadas a área militar já de forma integrada com o governo e empresas 58

que começaram a impulsionar o seu desenvolvimento. Enquanto isso, no Brasil, o desenvolvimento do setor militar ficou estagnado por quase 20 anos e, somente a partir de 1964, com os governos militares, passou-se a dar uma importância maior à criação de um complexo industrial de defesa. Durante esse período, até o início dos anos 90, com a mudança polítca de incentivo a Base Industrial de Defesa, onde surgiram a principais empresas de defesa nacionais, como a EMBRAER, ENGESA, AVIBRAS, dentre outras, o País chegou ao ápice de exportações de materiais bélicos. Nessa mesma época, Israel ainda tinha uma grande dependência externa e mantinha uma política modesta de incentivo ao setor de defesa. Entretanto, no final dos anos 60, com o embargo sofrido por parte da França durante Guerra dos Seis Dias, viu-se quase que obrigada a mudar sua estratégia, ampliando o incentivo e os investimentos nas industrias nacionais, a fim de atingir uma independência no fornecimento de material bélico às suas forças de defesa. A partir do início da década de 90 até o inicio dos anos 2000, Israel é afetado o por uma crise financeira que fez com que os investimentos em defesa fossem reduzidos, gerando uma pequena redução nas exportações, entretando, adotando mudança em suas estratégias, as empresas passaram a criar e transformar os produtos que eram aplicados ao meio militar, para serem usados, também, no meio civil, ampliando com isso seu portifólio de produtos e negócios, fazendo com que a partir dos anos 2000 até os dias de hoje, sua industria de defesa aumentasse as exportações e atingisse os níveis dos ultimos anos. No Brasil, com a “redemocratização” e a mudança radical do ambiente político e social do País, os recursos voltados para o setor de defesa foram extremamente reduzidos, afetando inclusive as pesquisas e o desenvolvimento de novas tecnologias. Somente a partir de 2008, com a elaboração da PND, END e o LBDN, o Brasil tem retomada, ainda que de forma lenta, a promoção de uma política e estratégia voltada para o desenvolvimento da BID.

59

Gráfico 13 – Comparação das Tendências do Volume de Exportações de Produtos de Defesa (Período 1950 a 2019) (US$ Milhões)

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do site do STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE, 2020a.

Podemos observar no gráfico 13, que apresenta as tendências dos volumes das exportações dos dois países por década, que em função das constantes políticas de incentivo e investimentos governamentais, Israel mantém uma evolução contínua de crescimento de suas exportações, enquanto o Brasil, na medida em que ocorreram suas alternâncias políticas e oscilações bruscas nos investimentos estatais, a Indústria de Defesa acompanha essa mesma trajetória, com altos e baixos no volume de exportações. Quanto aos investimentos, podemos verificar que, no decorrer de suas histórias, o início do desenvolvimento da indústria de defesa de Brasil e Israel foram com investimentos públicos. De acordo com a análise dos investimentos apresentado no capítulo 4, os dois países possuem em valores absolutos, um volume bem próximo de recursos aplicados em defesa, em relação ao seu respectivo PIB. Porém, Israel, desconsiderando os períodos de guerra, manteve uma regularidade e continuidade de seus investimentos em defesa em torno de 6% do PIB e numa trajetória crescente em pesquisa, tecnologia e inovação, atingindo os atuais 4,8%, o que, com certeza, influenciou o crescimento de sua industria de defesa. Diferente do Brasil que, em meados da década de 60, teve seu pico de investimento em defesa de 3,4% e, ao longo do tempo, foi decrescendo, chegando aos atuais 1,5%. Da mesma forma ocorrendo com os gastos em PD&I, que se mantiveram numa média de 1,1% do PIB. 60

Nesse sentido, para que o Brasil possa alcançar o objetivo de promover a autonomia produtiva e tecnológica na área de defesa, assim como no exempo de Israel, é preciso implementar políticas públicas que possam garantir uma previsibilidade e continuidade orçamentária para a Defesa, pois, conforme tratado na Política Nacional de Defesa (2016c), “o Brasil logrou integrar-se à comunidade de países industrializados, carecendo, no entanto, de maiores investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação e em qualificação do capital humano.” E ainda complementa, alertando que a falta de uma regularidade de aquisições de produtos de defesa e da colocação de recursos orçamentários do governo, tem causado um desestímulo de investimentos por parte da BID, fazendo com que o País continue dependente de tecnologia externa (BRASIL, 2016c). Na mesma direção, assim como fez Israel no período pós Guerra fria, as empresas brasileiras devem buscar uma estratégia para captar, também, investimentos privados que, somados aos recursos públicos, possam incentivar e impulsionar a pesquisa e a inovação, tanto na área de defesa, quanto no meio civil, desenvolvendo tecnologias intercambiáveis e aplicáveis aos dois segmentos, gerarando assim o aumento da demanda, necessária para sustentabilidade financeira das empresas e diminuindo os riscos e os gargalos das incertezas políticas. Quanto as suas estruturas organizacionais, atualmente, os dois países são bastante semelhantes, com orgãos em seus Ministérios da Defesa, voltados para a coordenação, incentivo e acompanhamento do desenvolvimento de suas Bases Industriais. Suas estratégias, também, se assemelham e estão pautados no modelo do complexo empresa / academia / governo, com fomento ao desenvolvimento de tecnologias duais. Entretanto, percebe-se que este modelo já está muito bem implementado em Israel, e tem gerado frutos importantes para a economia do País, enquanto no Brasil, ainda falta muito o que ser feito, principalmente, em relação a elaboração de polítcas públicas de incentivo ao desenvolvimento de tecnologias militares nas universidades que possam ser, também, transformadas e aplicadas para atender as necessidades da sociedade nos mais diversos setores.

61

7 CONCLUSÃO

É fato que a Base Industrial de Defesa representa um agente importante e expressivo no avanço tecnológico das principais economias do mundo, sendo um dos principais influenciadores desse processo, gerando emprego e crescimento econômico. Juntamente com as universidades e o incentivo governamental, não só através de investimentos públicos, como, também, em função da necessidade de suas Forças Armadas na busca da defesa de suas soberanias, esses países direcionaram suas ações estratégicas para a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação de produtos de defesa, sendo um marco inicial para que os tornassem desenvolvidos tecnologicamente. Desta forma, a busca de exemplos e possíveis soluções que visem uma retomada da industrialização do Brasil e sua inserção no mercado de alta tecnologias, são fundamentais para o aumento de sua capacidade produtiva e, consequentemente, a melhoria de sua econômica. Nesse sentido, este trabalho, inicialmente, buscou o alinhamento dos conceitos e estratégias adotadas na Política Nacional de Defesa (PND) e Estratégia Nacional de Defesa (END), quando dão ênfase a importância da BID para o desenvolvimento do País, e definem as ações a serem adotados para impulsionar o desenvolvimento e a produção de produtos de defesa, mitigando a dependência tecnológica ora existente do exterior. Ainda nessa linha, foi apresentado o conceito de tecnologia dual e o modelo da Tríplice Hélice, adotado por países como EUA, Correa do Sul, Japão e Israel que colocaram a parceria entre academia, governo e indústria como fator essencial para o desenvolvimento de produtos de uso não só militar, como também, que possam atender aos interesses de vários setores civis. O passo seguinte, foi analisar os antecedentes de Brasil e Israel, a fim de identificar, no caminho percorrido por cada um, as estratégias adotadas para o surgimento e o desenvolvimento de suas Industrias de Defesa, considerando as características e a realidade de cada nação. Em Israel, mesmo antes da criação do seu estado em 1948 e intensificado, após esse período até a decada de 80, em função dos conflitos existentes com os países árabes e a necessidade de manter a soberania e a segurança do povo judeu, tornou-se evidente os incentivos e investimentos governamentais que levaram a 62

criação das principais empresas de defesa do País, como a IAI, a RAFAEL e a ELBIT e, simultaneamente, levou ao surgimento das instituições acadêmicas e científicas que se integraram as necessidades existentes na área militar. Observa-se que o Brasil já havia tido essa visão entre as décadas de 60 e 80, durante os governos militares, quando a sua BID atingiu o mais alto nível de exportações. Entretanto, é notório que os problemas econômicos e a falta de uma política pública, voltada para o desenvolvimento industrial do País, a partir da década de 90, levou o Brasil a uma desindustrialização sem precedentes. Em um segundo momento, foi realizada uma análise da inserção do Brasil e de Israel no cenário mundial, em relação aos investimetos estatais aplicados no setor de defesa e, nesse cenário, vimos que a constância desses recursos, em torno de 6% do PIB, realizados por Israel, foi fundamental para a alavancagem inicial de sua BID, e hoje, parte dela, está apoiada em investimentos públicos e, principalmente, privados. No Brasil, os altos e baixos em sua política econômica e a queda crescente no orçamento das Forças Armadas e em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação ao longo dos anos, levaram o País a uma, praticamente, paralização de suas indústrias de defesa, fato que começou a mudar, ainda que lentamente, nas últimas duas décadas com a implementação de políticas de incentivos a Base Industrial de Defesa, através da necessidade de renovação dos equipamentos das Forças Armadas e da definição dos projetos estratégicos nuclear, aeroespacial e cibernético. Após entendermos a evolução dos investimentos, foi analisada a estrutura organizacional e as estratégias implementadas. Nesse enfoque, verificamos que, atualmente, os dois países apresentam na estrutura de seus Ministerios da Defesa, setores bem parecidos, voltadas para o fortalecimento, o aprimoramento das empresas de defesa e a divulgação de seus produtos. Nesse caminhar, Israel possui linhas de ação já consolidadas, baseadas no conceito da Tríplice Hélice, que estimula a aproximação e o alinhamento das empresas de alta tecnologia com as universidades, motivando a criação de start-ups próximo aos campos acadêmicos, visando o desenvolvimento de novas tecnologias militares de uso dual, de forma a superar a baixa demanda do mercado atual. Além disso, incentiva e implementa, também, parcerias com instituições e empresas internacionais de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. Já, o Brasil, somente nos últimos anos, através do Ministério da Defesa, voltou a implementar políticas de incentivo e ações estratégicas que visam a retomada do 63

crescimento das Industrias de Defesa, através da busca de uma regularidade orçamentária para as Forças Armadas e prorizando os investimentos em ciência, tecnologia e inovação, promovendo, também, a aproximação das empresas de defesa aos institutos acadêmicos. Outro fator importante foi a elaboração de legislações que trouxeram uma segurança jurídica e promoveram incentivos tributários ao desenvolvimento de produtos de defesa. Após analisado alguns dos aspectos que foram fundamentais para desenvolvimento da Base Industrial de Defesa de Israel, foi observado, como resultado desse estudo, que a manutenção de uma regularidade orçamentária na área de defesa e o incentivo do estado, através de iniciativas voltadas para a pesquisa e o desenvolvimento, com investimentos em inovação de produtos de defesa de uso dual, impulsionado pela necessidade de manter uma capacitação das Forças Armadas é um caminho importante a ser seguido pelo Brasil para alavancar seus projetos estratégicos, gerando empregos e, ao mesmo tempo, estimular o crescimento econômico. Mediante a complexidade do assunto, entendemos que outros estudos podem e devem ser realizados, buscando soluções a serem usadas pelas empresas do setor de defesa que visam ampliar seus negócios e desenvolver novas tecnologias com parcerias e inovações que possam promover o crescimento do Pais. Por fim, é notório que, para melhorar o processo de industrialização de um País, as Indústrias de Defesa tem um papel fundamental com as inovações, o desenvolvimento de tecnologias de ponta e, consequentemente, a geração de riquezas. Para tanto, torna-se imperioso que os nossos governantes tenham em mente que Políticas Públicas de Estado, e não de Governo, devem ser implementadas e seguidas rigorosamente, para que o Brasil possa novamente retornar a uma posição de protagonismo no cenário mundial de produtos de defesa.

64

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Diagnóstico: Base Industrial de Defesa Brasileira. Campinas: ABDI, 2011. Disponível em: https://livroaberto.ibict.br/handle/1/550. Acesso em: 19 maio 2020.

ANDRADE, Israel de Oliveira. Base Industrial de Defesa: contextualização histórica, conjuntura atual e perspectivas futuras. Rio de Janeiro: Ipea, 2016. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/9629. Acesso em: 16 maio 2020.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE MATERIAIS DE DEFESA E SEGURANÇA. Quem somos. São Paulo: ABIMDE, 2018. Disponível em: http://www.abimde.org.br/abimde-sobre. Acesso em: 15 jul. 2020.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 31 mar. 2020.

BRASIL. Lei n° 12.598, de 21 de março de 2012. Estabelece normas para as compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa. Brasília, DF, 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ _Ato2011-2014/2012/Lei/L12598.htm#:~:text=Estabelece%20normas%20especiais %20para%20as,2010%3B%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em: 29 abr. 2020.

BRASIL. Ministério da Defesa. Comissão Mista da Industria de Defesa. Brasília, DF: MD, 2014. Disponível em: https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/industria-de- defesa/comissao-mista-da-industria-de-defesa-cmid. Acesso em: 15 jul. 2020.

BRASIL. Ministério da Defesa. Estratégia Nacional de Defesa. Brasília, DF: MD, 2016a. Aprovada em 14 dez. 2018 pelo Decreto Legislativo do Congresso Nacional nº 179, de 2018. Disponível em: http://www.defesa.gov.br/arquivos/2017/mes03/pnd_end.pdf. Acesso em: 15 abr. 2020.

BRASIL. Ministério da Defesa. Livro Branco de Defesa Nacional. Brasília, DF: MD, 2016b. Aprovada em 14 dez. 2018 pelo Decreto Legislativo do Congresso Nacional nº 179, de 2018. Disponível em: http://www.defesa.gov.br/arquivos/2017/mes03/livro- branco-de-defesa-nacional-consulta-publica-12122017.pdf. Acesso em: 15 abr. 2020.

BRASIL. Ministério da Defesa. Plano de Articulação e Equipamento de Defesa. Brasília, DF: MD, 2020c. Disponível em: https://www.gov.br/defesa/pt- br/assuntos/industria-de-defesa/paed/plano-de-articulacao-e-equipamento-de- defesa-paed. Acesso em: 15 jul. 2020.

BRASIL. Ministério da Defesa. Política Nacional de Defesa. Brasília, DF: MD, 2016c. Aprovada em 14 dez. 2018 pelo Decreto Legislativo do Congresso Nacional 65

nº 179, de 2018. Disponível em: http://www.defesa.gov.br/arquivos/ 2017/mes03 /pnd_end.pdf. Acesso em: 15 abr. 2020.

BRASIL. Ministério da Defesa. Secretaria Geral. Brasília, DF: MD, 2020a. Disponível em: https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/secretaria-geral/a- secretaria-geral. Acesso em: 15 jul. 2020.

BRASIL. Ministério da Defesa. Secretaria de Produtos de Defesa. Brasília, DF: MD, 2020b. Disponível em: https://www.gov.br/defesa/pt-br/composicao/secretaria- geral/secretaria-de-produtos-de-defesa-seprod. Acesso em: 15 jul. 2020.

BRASIL. Controladoria Geral da União. Orçamento da Despesa Pública. Portal da Transparência, Brasília, DF, 2020c. Disponível em: http://www.portaltransparencia.gov.br/orcamento/despesas?paginacaoSimples=true &tamanhoPagina=&offset=&direcaoOrdenacao=asc&de=2007&ate=2007&colunasSe lecionadas=ano%2Cfuncao%2CorcamentoInicial. Acesso em: 12 jul. 2020.

BRUSTOLIN, Vitélio Marcos. Inovação e Desenvolvimento Via Defesa Nacional nos EUA e no Brasil. 169 f. 2014. Tese (Doutorado em Economia) Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: http://www. ie. ufrj. br/mwginternal/de5fs23hu73ds/progress. Acesso em: 10 abr. 2020.

BUSH, Vannevar. Science The Endless Frontier: A Report to the President by Vannevar Bush, Director of the Office of Scientific Research and Development. Washington, DC: Government Printing Office, 1945.

CENTRAL BUREAU OF STATISTICS. General Government Sector Accounts. Israel: CBS, 2019. Disponível em: https://www.cbs.gov.il/en/subjects/Pages/General- Government-Sector.aspx. Acesso em: 10 jul. 2020.

CERVO, A. L.; BERVIAN, P.A.; DA SILVA, R. Metodologia Científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall. 2007.

DELLAGNEZZE, René. 200 anos da indústria de defesa no Brasil. Cabral Editora e Livraria Universitária, 2008.

DRORI, G. et al. The helix model of innovation in Israel. [S.l.: s.n.], 2013

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Manual de Fundamentos do Poder Nacional. Rio de Janeiro: ESG, 2019.

ETZKOWITZ, Henry; ZHOU, Chunyan. Hélice Tríplice: inovação e empreendedorismo universidade-indústria-governo. Estudos avançados, São Paulo, v. 31, n. 90, p. 23-48, 2017.

FOUGA. Fouga CM.170 Magister. In: WIKIPEDIA, The Free Encyclopedia. Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em: https://en.wikipedia.org/w/index.php?title= Fouga_CM.170_Magister&oldid=939540488. Acesso em: 10 maio 2020. 66

IAI ARAVA. In: WIKIPEDIA, The Free Encyclopedia. Flórida: Wikimedia Foundation, 2019. Disponível em: https://es.wikipedia.org/w/index.php? title=IAI_Arava&oldid= 118785828. Acesso em: 10 maio 2020.

ISRAEL. Ministry of Defense. About Us. Tel Aviv: MOD, 2018a. Disponível em: https://english.mod.gov.il /About/Pages/Ministry_of_Defense.aspx. Acesso em: 10 jul. 2020

ISRAEL. Ministry of Defense. DDR&D-Directorate of Defense Research & Development. Tel Aviv: MOD, 2018b. Disponível em: https://english.mod.gov.il/About/Innovative_Strength/Pages/Directorate- _of_Defense_Research_Development.aspx. Acesso em 10 jul 2020

ISRAEL. Ministry of Defense. International Defense Cooperation. Organization Structure. [Tel Aviv]: SIBAT, 2018c. Disponível em: http://www.sibat.mod.gov.il/Sibat/Pages/Organization-Structure.aspx. Acesoo em: 10 jul. 2020.

ISRAEL science & tecnology: history & overview. Jewish Virtual Library, Chevy Chase, 2018d. Disponível em: https://www.jewishvirtuallibrary.org/history-and- overview-of-science-and-technology-in-israel. Acesso em: 25 maio 2020.

ISRAEL science & tecnology: defense industry. Jewish Virtual Library, Chevy Chase, 2018e. Disponível em: https://jewishvirtuallibrary.org/israeli-defense-industry. Acesso em: 25 maio 2020.

LINS, João Vicente Nascimento. A indústria de defesa como um projeto de desenvolvimento nacional. Marília: UNESP, [2016?]. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/Eventos/2015/iseminariointernacionalpos- graduacaoemcienciassociais/04.-joao-vicente-lins.pdf. Acesso em: 22 maio 2020.

LONGO, Waldimir Pirró. P. Tecnologia e soberania nacional. São Paulo: Ed. Nobel, 1984.

LONGO, Waldimir Pirró. Tecnologia militar: conceituação, importância e cerceamento. Tensões Mundiais, Fortaleza, v. 3, n. 5, p. 111-143, 2007.

MERKAVA. In: WIKIPEDIA, The Free Encyclopedia. Flórida: Wikimedia Foundation, 2019. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Merkava&oldid =55400133. Acesso em: 30 maio 2019.

MICHAELIS. Dicionário Prático da Língua Portuguesa. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 2001.

MICHAELSON, Gerald A. Sun Tzu: a arte da guerra para gerentes. Tradução Heitor Pitombo. 7. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.

MITCHELL, Oliver. Iron Dome – A True War Hero. Robot Rabbi. 2014. Disponível em: https://robotrabbi.com/2014/07/11/iron-dome-a-true-war-hero/. Acesso em: 30 maio 2020. 67

MOLAS-GALLART, Jordi. Measuring defense R&D: a note on problems and shortcomings. Scientometrics, [Berlim], v. 45, n. 1, p. 3-16, 1999.

PIM, Joám Evans. Evolución del complejo industrial de defensa en Brasil: breves apuntes para una revisión necesaria. Strategic Evaluation, v. 1, p. 321-352, 2007.

RUBIN, Uzi. Israel’s Defense Industries: from clandestine workshops to global giants. Jerusalem: JISS, 2018. Disponível em: https://jiss.org.il/en/rubin-israel- defense-industries-from-clandestine-workshops-to-global-giants/. Acesso em: 18 maio 2020.

RUA, Maria das Graças. Análise de políticas públicas: conceitos básicos. [S.l.]: Banco Interamericano de Desarrollo, 1997.

SINGER, J. History. Faculty of Aerospace Engineering, Haifa, Dec. 2006. Disponível em: https://aerospace.technion.ac.il/department/ history/. Acesso em: 25 maio 2020.

SOUZA, Celina. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, n. 16, p. 20-45, 2006.

STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE. SIPRI Arms Transfers Database. Stockholm: SIPRI, 2020a. Disponível em: https://www.sipri.org/databases/armstransfers. Acesso em: 18 maio 2020.

STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE. SIPRI Military Expenditure Database. Stockholm: SIPRI, 2020b. Disponível em: https://www.sipri.org/databases/milex. Acesso em: 18 maio 2020.

STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE. SIPRI Arms Industry Database. Stockholm: SIPRI, 2020c. Disponível em: https://www.sipri.org/databases/armsindustry. Acesso em: 18 maio 2020.

TAURUS: sobre nós: histórico. Taurus, São Leopoldo, [2020?]. Disponível em: https://www.taurusarmas.com.br/pt/institucional/sobre-nos. Acesso em: 18 de maio de 2020.

UZI. In: WIKIPEDIA, The Free Encyclopedia. Flórida: Wikimedia Foundation, 2019. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Uzi. Acesso em:19 maio 2020.

THE WORLD BANK. GDP (current US$). [S.l.]: World Bank Group, 2020a. Disponível em: https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD. Acesso em: 20 jun. 2020.

THE WORLD BANK. Research and development expenditure (% of GDP). [S.l.]: World Bank Group, 2020b. Disponível em: https://data.worldbank.org/indicator/GB. XPD.RSDV.GD.ZS?contextual=default&end=2018&locations=BR-IL-1W&start=2000. Acesso em: 7 jul. 2020.