UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E COMUNICAÇÃO

LEONARDO DE OLIVEIRA ARRUDA

CATEGORIA DE BASE:

SONHOS E FRUSTRAÇÕES NO ESPORTE

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP

2018

LEONARDO DE OLIVEIRA ARRUDA

Categoria de Base: Sonhos e Frustrações no Esporte

Trabalho Final de Curso apresentado à disciplina de Projetos, como requisito parcial do Curso de Jornalismo da Faculdade de Ciências Sociais e Aplicada e Comunicação - Univap.

Orientador: Professor Frediano Cunha

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP

2018

Leonardo de Oliveira Arruda

CATEGORIA DE BASE:

SONHOS E FRUSTRAÇÕES NO ESPORTE

Relatório apresentado à Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Comunicação – FCSAC, da Universidade do Vale do Paraíba – Univap, como exigência da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, do curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo.

Orientação: Professor Frediano Cunha

Banca examinadora:

______Examinador (a)

______Examinador (a)

______Examinador (a)

São José dos Campos, SP 2018

AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço aos meus pais, Roberto Carlos Arruda e Carla Josiane de Oliveira Arruda, que sempre me apoiaram e me auxiliaram no que foi preciso, tanto da questão emocional e psicológica quanto financeira. Agradeço à minha namorada, Amanda Carolina Mateus Abdias, que foi um dos principais pilares em minha caminhada universitária, me incentivando, apoiando e ajudando em cada dificuldade, além de estar ao meu lado nos momentos bons. Foi fundamental em todos os momentos. Ao meu orientador, Fredy Cunha, por acreditar em mim desde o momento em que aceitou me orientar, me guiar nos momentos de dificuldade e apontar os defeitos encontrados na construção do projeto, o que foi fundamental para minha evolução pessoal e do projeto em si. Agradeço, também, ao professor Lucas Mathias, que foi de extrema importância para o desenvolvimento gráfico, tanto por suas aulas quanto pelo apoio dado durante o período de desenvolvimento da matéria. Agradeço a todos os professores que passaram por minha história acadêmica durante esses quatro anos do curso de jornalismo, pois cada um deles acrescentou para meu crescimento enquanto jornalista, em especial Vânia Braz, Elizabete Kobayashi, Celso Menguetti, Kátia Zanvettor e, novamente, Fredy Cunha e Lucas Mathias. Aos entrevistados que contribuíram de forma significativa para a qualidade do projeto, por cada minutos que reservaram para me atender e demonstrarem a paciência que tiveram comigo, se mostrando disponíveis em todos os momentos que precisei. Ademais, agradeço a todos os colegas e amigos que fiz ao longo desta trajetória que se mostra um período único na vida de qualquer pessoa, pois cada um foi fundamental para este crescimento, em especial, os jornalistas Amanda Abdias, Ana Gabriela Françoso, Diego Rosa, Douglas Cruz, Gabriel Santana, Israel Goldenstein, Julie Fernanda, Luana Victoria, Max Magno e Yasmin Duarte.

A todos, muito obrigado!

“Não é proibido sonhar, e todos devem sonhar sempre. Ao chutar uma bola de futebol com cinco anos, ali pode se iniciar o sonho de virar jogador de futebol no Brasil, viver do esporte. Isso deve ser sempre oferecido a toda criança. Junto com educação, saúde e segurança, acima de tudo.”

Gustavo Hofman

RESUMO Este trabalho acadêmico tem como objetivo, por meio de uma grande reportagem impressa, mostrar o processo das categorias de quatro esportes: futebol, futsal, vôlei e basquete, restringindo-se a atletas nascidos em São José dos Campos ou que tenham feito a base nesta cidade. Para a realização deste trabalho, foram utilizados livros com enfoque em jornalismo esportivo, além de uma grande pesquisa em sites voltados para o esporte, utilizando-se de matérias relacionadas ao tema e artigos que auxiliem no entendimento dos processos voltados às categorias de base no país. O desenvolvimento do produto final se dará a partir de entrevistas com pessoas ligadas à categoria de base, baseando-se em cinco principais perfis: atletas que fazem parte da categoria de base de um clube profissional; atletas que fizeram parte da categoria de base de um clube profissional e não se profissionalizaram ou chegaram a se profissionalizar, mas não se consolidaram na carreira e a abandonaram para seguir em outra profissão, atletas ou ex-atletas profissionais; professores de escolinhas e/ou membros de comissões técnicas de clubes profissionais; e jornalistas esportivos. A ideia é proporcionar ao leitor um olhar diferente sobre a formação do atleta profissional, tendo como principal ótica as frustrações, as dificuldades e os insucessos. Palavras-chave: categoria de base; atleta; esporte; grande reportagem.

ABSTRACT This academic project purposes, through a large printed report, show the processes of the youth teams of four sports: soccer, futsal, volleyball and basketball, restricting to athletes who was born in São José dos Campos or played for the youth teams of this city. For the research were used books about sports journalism and a deep search on sports websites, using articles on the subject and articles that help in the understanding of the processes directed to the youth teams in Brazil. The development of the final product will be done through interviews with people linked to the youth teams, based in five main profiles: athletes currently in the youth team from a professional team; former athletes who were part of a youth team from a professional team but did not become professional players or become professional players, but did not consolidated and retired to pursue other career; professional athletes or former professional athletes; sports school teachers and members of the coaching staff from professional teams; and sports journalists. The suggestion is to provide a different look of the training period of the professional athlete, having as the main look the frustrations, the difficulties and the failures. Keywords: youth teams; athlete; sport; large printed report.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Capa 42 Figura 2 – Página 3 43 Figura 3 – Página 2 44 Figura 4 – Infográfico da Placar 44 Figura 5 – Página 13 44 Figura 6 – Raio-x da Placar 44 Figura 7 – Página 14 45 Figura 8 – Capa 46 Figura 9 – Página 2 e 3 47 Figura 10 – Página 4 e 6 47 Figura 11 – Página 6 e 7 48 Figura 12 – Página 8 e 9 48 Figura 13 – Página 10 e 11 49 Figura 14 – Página 12 e 13 49 Figura 15 – Página 14 e 15 50 Figura 16 – Página 16 50

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 10 1 TEMA ...... 12 2 OBJETIVO ...... 13 2.1 Objetivo Geral ...... 13 2.2 Objetivos Específicos ...... 13 3 PROBLEMA ...... 14 4 JUSTIFICATIVA ...... 15 5 REFERENCIAL TEÓRICO ...... 21 5.1 Jornalismo Esportivo ...... 21 5.2 Jornalismo Impresso ...... 22 5.3 Jornalismo Esportivo Impresso ...... 23 5.4 Categorias de Base ...... 25 5.4.1 Olheiros ...... 25 5.4.2 Peneiras ...... 27 5.5 Regras ...... 28 5.5.1 Futebol ...... 28 5.5.2 Futsal ...... 30 5.5.3 Vôlei ...... 31 5.5.4 Basquete ...... 32 6 PRODUTO ...... 34 6.1 Pré-produção ...... 34 6.1.1 Guilherme Nogueira Nunes Viana ...... 35 6.1.2 Caio Oliveira ...... 36 6.1.3 Nelder de Freitas Oliveira Silva ...... 37 6.1.4 Vitor Baesso ...... 37 6.1.5 Alberto Luis de Oliveira ...... 38 6.1.6 Flávia de Cássia Gil Riboura ...... 38 6.1.7 Tiago Gamez Silva ...... 39 6.2 Produção ...... 39 6.2.1 Produção textual ...... 39 6.2.2 Diagramação ...... 41 6.3 Pós-produção ...... 45 7 FINANCEIRO ...... 51 8 CRONOGRAMA ...... 52

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 55 APÊNDICES ...... 64 ANEXOS ...... 108

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INTRODUÇÃO

O esporte é algo presente na vida do brasileiro. O Brasil é cinco vezes campeão da Copa do Mundo de futebol masculino, mas não é só o futebol que traz glórias para o nosso país. A seleção masculina de vôlei é tricampeã do Campeonato Mundial e três vezes medalhista de ouro no Jogos Olímpicos. A seleção feminina de vôlei possui duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos. A seleção masculina de basquete é bicampeã do Campeonato Mundial, enquanto a feminina possui um título dessa competição. A seleção brasileira de futsal masculino possui sete títulos da Copa do Mundo, sendo a maior vencedora. A seleção brasileira de futsal feminino venceu todas as seis edições do Torneio Mundial de Futsal Feminino. Esse “DNA esportista” do brasileiro faz com que o sonho de se tornar um esportista profissional seja recorrente, principalmente no futebol, no vôlei, no basquete e no futsal. Um dos motivos para isso pode ser o número de ídolos que possuímos em tais esportes, o que acarreta em bons salários, fama e outras consequências positivas decorrentes do sucesso no esporte. Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Neymar, Marta, Giba, Oscar Schmidt, Hortência, Janeth Arcain e Falcão são apenas alguns dos grandes ídolos dos esportes citados. Mas o sucesso em tais esportes não é tão recorrente quanto o sonho. São poucos os jovens que realmente alcançam seu sonho de se profissionalizar e ter uma vida financeira estável trabalhando com o que gosta, principalmente se tratando de uma cidade interiorana, que é o caso de São José dos Campos, cidade que servirá como base para este trabalho. As dificuldades enfrentadas, os diversos “nãos” recebidos por clubes profissionais, os baixos salários e a frustração ao não alcançar seus objetivos são muito mais comuns, e serão os enfoques deste trabalho. O principal objeto de estudo deste projeto são as categorias de base em São José dos Campos. Categoria de base, também conhecida como categoria inferior, é a denominação para as divisões jovens das equipes de esportes profissionais, tendo a idade limite, dependendo da modalidade em questão, variando entre 19 e 21 anos. Utilizando-se de entrevistas com pessoas relacionadas ao mundo da categoria de base em São José, o objetivo deste estudo é mostrar a realidade de tais categorias, dando enfoque às dificuldades enfrentadas durante esse período, por ser comum a

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mídia trabalhar com reportagens que lidam muito mais com o sucesso e os lados bons das categorias inferiores.

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1 TEMA

Profissionalização por meio do esporte: caminhos, sonhos e frustrações.

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2 OBJETIVO

2.1 Objetivo Geral

Produzir uma grande reportagem impressa analisando o caminho de quem sonha em se profissionalizar em quatro esportes específicos. São eles: futebol, futsal, vôlei e basquete; tendo como base a história de atletas joseenses ou que fizeram as categorias de base na cidade de São José dos Campos.

2.2 Objetivos Específicos

 Explicar as principais dificuldades enfrentadas por atletas de base a partir do relato de professores e treinadores das escolinhas esportivas;  Relatar as barreiras superadas e as que ainda virão por atletas que já integram as categorias de base de clubes profissionais de futebol, futsal, vôlei e basquete, destacando as dificuldades enfrentadas e o diferencial que os fizeram chegar onde estão;  Entrevistar pessoas que sonhavam com isso, mas não alcançaram a profissionalização, entendendo suas frustrações e o que apontam como as principais dificuldades para não realizarem o sonho;

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3 PROBLEMA

O esporte é algo já enraizado na vida do brasileiro. Segundo a Agência Brasil (2017)1, “61,3 milhões de pessoas de 15 anos ou mais de idade – o equivalente a 37,9% do total de 161,8 milhões de pessoas nessa faixa etária – praticavam algum tipo de esporte ou atividade física”. Além disso, um estudo publicado pelo Ministério do Esporte (2013)2 mostrou que o futebol, o futsal, o vôlei e o basquete estão entre os oito esportes mais praticados no país. Da prática, dentre outras influências, surge o sonho de se tornar profissional. Mas quais seriam essas influências? Por que os jovens sonham em se tornar esportistas profissionais?

Além das motivações, é importante entender os processos passados pelo atleta durante seu processo de formação, ou seja, enquanto integra a categoria de base de um clube. Por isso surge a relevância de entender a questão: quais as principais dificuldades enfrentadas pelos atletas durante todo esse processo, desde o momento em que são selecionados para a categoria de base de um clube até o momento em que se profissionalizam ou são dispensados?

É muito importante lidar com as histórias de ex-atletas que não alcançaram a profissionalização, ou alcançaram, mas não conseguiram se manter. São raros os veículos de comunicação que tomam esse enfoque quando lidam com categorias de base, por isso surgem diversos questionamentos. É necessário entender: o que faltou ou o porquê do insucesso? Além disso, como lidar com tais frustrações, após ser dispensado por um clube e ter que buscar uma profissão mais convencional?

Mas há os casos dos atletas que conseguem se tornar profissionais e ter uma carreira de sucesso, o que não significa que não tiveram que superar barreiras pelo caminho. É ideal também entender a jornada desses atletas ou ex-atletas, quais foram as principais dificuldades no período de base e como eles fizeram para superá-las. Por fim, tais personagens também geram o questionamento do lado financeiro: se ser um atleta profissional, necessariamente, é sinônimo de uma vida financeira estável?

1 Disponível em: Acesso em: 10 jun. 2018, às 18:01 2 Disponível em: Acesso em: 10 jun. 2018, às 18:14

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4 JUSTIFICATIVA

Segundo a Revista Babel, o sonho de se tornar um esportista profissional é algo comum no Brasil, principalmente em relação ao futebol.

Milhares de jovens entre 10 e 11 anos passam a perseguir esse sonho participando das chamadas peneiras, a seleção de novos jogadores realizadas pelos clubes profissionais, além de buscar o ingresso por outros meios, como indicação ou buscando visibilidade pela atuação em clubes amadores (REVISTA BABEL, 2013)3. Mas esse sonho não é restrito ao futebol. No vôlei, esporte que, segundo o site Gaúcha ZH (2015)4, é o segundo do país e foi o líder em procura de ingressos nas Olímpiadas de 2016, no Rio de Janeiro. Muitos garotos e garotas veem no esporte uma oportunidade de profissionalização. As “peneiras”, um dos processos de seleção realizados pelos clubes desportivos para encontrar novos talentos, são provas disso. O site SB 24 Horas (2016)5 relatou que uma peneira realizada pela equipe Vôlei Brasil Kirin, em Campinas, reuniu cerca de 400 jovens nascidos entre 1999 e 2006 em busca de vaga nas categorias de base da equipe campineira.

O basquete, principalmente pela influência de grandes ligas estrangeiras, como a NBA (National Basketball League, liga de basquete dos EUA), também atrai muitos jovens no Brasil. Ainda que muitos sonhem em jogar na NBA, muitas vezes os clubes brasileiros são a porta de entrada para a liga norte-americana, como foi o caso de Cristiano Felício. O site da ESPN (2017)6 conta que o pivô foi bicampeão do NBB (Novo Basquete Brasil, que é o Campeonato Brasileiro de Basquete) atuando pelo Flamengo, recebendo um convite do Chicago Bulls para disputar a pré-temporada pela equipe do estado de Illinois em 2015. O jogador assinou um contrato de dois anos e, após boas atuações, renovou, permanecendo até hoje na ex-equipe do astro Michael Jordan.

O futsal é um dos esportes mais praticados no país devido à facilidade, pois um pequeno espaço e um gol feito de chinelos é o suficiente para uma boa partida. Mas

3 Disponível em: Acesso em: 19 nov. 2017, às 16:10 4 Disponível em: Acesso em: 01 abr. 2018, às 15:10. 5 Disponível em: Acesso em: 01 abr. 2018, às 16:00. 6 Disponível em: ACESSO EM: 01 ABR. 2018, às 15:03.

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o crescimento do esporte no país se deve, principalmente, a um atleta: Falcão. Considerado por muitos como o melhor da história, inclusive vencendo uma votação pública sobre o melhor da história realizada no site do jornal espanhol Marca (2016)7, o brasileiro atrai multidões por sua qualidade técnica e lances magistrais. A influência sobre os jovens é gigantesca. As peneiras de diversos times de futsal costumam atrair entre 150 e 200 jovens em média, como a realizada pela Associação Carlos Barbosa de Futsal, em 2013, que apareceu no site do Globoesporte.com (2013)8, e contou com 180 garotos. Mas quando se trata do time do Falcão, o número é potencializado. Uma matéria produzida por Emílio Botta (2017)9 mostrou que a seletiva realizada pelo Magnus Sorocaba Futsal, equipe do jogador, reuniu mais de 1000 atletas em busca de uma oportunidade no time sorocabano.

Os motivos para esse sonho são diversos. Os jovens buscam se tornar esportistas profissionais devido a questões financeiras e, ao mesmo tempo, fazer algo que gostam. Segundo Silva (2010), “eles querem ter uma vida financeira melhor e trabalharem na profissão que gostam”. Mas as dificuldades para alcançar esse objetivo são grandes, e muitos não conseguem superá-las.

A Universidade do Futebol explica que:

A vida de um atleta é separada em 4 fases: iniciação, de 10 a 14 anos; desenvolvimento, de 15 a 19 anos; excelências, de 19 a 29 anos; e aposentadoria, entre 30 e 40 anos. O trabalho tem como objetivo relatar as dificuldades e os processos vividos entre as fases de iniciação e desenvolvimento, bem como relatos sobre o que foi passado por quem está entre as fases de desenvolvimento e excelência (UNIVERSIDADE DO FUTEBOL, 2017)10. A Universidade do Futebol explica as mudanças entre as fases da vida do atleta:

A transição entre iniciação e desenvolvimento é o momento de maior adaptação ao estilo de vida devido ao aumento na carga de treinos e maior intensidade na convivência com colegas e treinadores, o que diminui a presença familiar em sua rotina. Já a transição entre desenvolvimento e

7 Disponível em: Acesso em: 01 abr. 2018, às 15:30. 8 Disponível em: Acesso em: 01 abr. 2018, às 14:40. 9 Disponível em: Acesso em: 01 abr. 2018, às 14:20. 10 Disponível em: Acesso em: 19 nov. 2017, às 17:05.

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excelência vem a dedicação total, a especialização no treinamento e as oportunidades de profissionalização (UNIVERSIDADE DO FUTEBOL, 2017). Esses processos foram grandes motivadores na escolha do tema, principalmente por serem temas de conhecimento pessoal e de pouca exploração jornalística.

Tal estudo se mostra importante para maior entendimento da área tanto pelo grande público quanto pelas próprias crianças e jovens que sonham em serem atletas profissionais. De acordo com um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas, o futebol movimenta cerca de R$12 bilhões anuais no Brasil, 800 clubes profissionais e 11 mil atletas federados, além de mais de 5000 atletas brasileiros atuando no exterior (SEBRAE, 2012)11.

Esses dados dão dimensão da representatividade do esporte para os brasileiros, mas as dificuldades até chegar à profissionalização encurtam a carreira de muitos. O Corinthians estaria próximo de dispensar 100 atletas de sua base, todos entre 13 e 20 anos, além de acabar com o time B sub-20 (GLOBOESPORTE.COM, 2017)12. O Santos havia dispensado 15 atletas de sua equipe sub-20 (LANCE!, 2017)13. Muitos desses atletas acabam desistindo do sonho de se tornar profissional, seja por desmotivação após a dispensa ou mesmo falta de oportunidades em outros clubes. Esse é o lado pouco conhecido e que é de grande importância: mostrar a realidade do sonho da profissionalização esportiva.

Os anos de 2016 e 2017 foram quase nulos para os esportes de alto rendimento de São José dos Campos. Em 2016, o basquete, esporte em que a cidade havia sido vice-campeã o NBB na temporada 2011/2012 e campeã paulista em 2012 e 2015, a administração era da Prefeitura com recursos do FADENP (Fundo de Apoio ao Desporto Não-Profissional), que havia anunciado que deixaria de apoiar os esportes de alto rendimento na cidade devido a problemas jurídicos que vinha enfrentando (GLOBOESPORTE.COM, 2016)14. Assim, a equipe ficou de fora do campeonato

11 Disponível em: Acesso em: 19 nov. 2017, às 17:00. 12 Disponível em: Acesso em: 19 nov. 2017, às 15:45. 13 Disponível em: Acesso em: 19 nov. 2017, às 16:05. 14 Disponível em: Acesso em: 19 abr. 2018, às 15:10.

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nacional e também do estadual, voltando ao cenário posteriormente, mas sem os investimentos necessários para voltar ao patamar em que se encontrava na época.

O problema com o FADENP em São José dos Campos afetou também o vôlei. Sem o repasse por passe da Prefeitura, a equipe desistiu de disputar a Superliga Masculina, principal campeonato da modalidade no país (GLOBOESPORTE.COM, 2016)15. O apoio seria mantido apenas para as categorias de base.

Mesmo no caso do futsal, que não recebia recursos do FADENP, o período foi ruim. O São José Futsal era bancado apenas com recursos da LIF (Lei de Incentivo Fiscal), porém não conseguiu patrocinadores para bancar a disputa do time joseense na Liga Nacional de Futsal 2017, principal torneio da modalidade no país (SARDINHA, 2017)16.

Em seu site, o Estadão noticiou (VECCHIOLI, 2015)17 a dispensa de 847 atletas de alto rendimento pela Prefeitura de Barueri: “Um dos principais centros de formação de atletas do País, Barueri, na Grande São Paulo, encerrou todos os projetos de esporte de alto rendimento, prevendo a dispensa de quase 850 esportistas.” Alegando contenção de gastos, o corte afetou, dentre outros esportes, o futebol, o futsal, o basquete e o vôlei, esporte que, conforme a mesma matéria, teve quatro jogadoras convocadas para a seleção sub-19 que disputou o Mundial da categoria em 2015.

Muitos atletas, mesmo os que tiveram uma carreira de sucesso, contam que não foi fácil. O ex-jogador Cafu, pentacampeão mundial com a seleção brasileira e bicampeão mundial de clubes com o São Paulo, contou ao canal ESPN Brasil que foi mandado embora do Atlético Mineiro porque não tinha um ‘cartão. “Eu cheguei lá para fazer o meu teste, tinha mudado a diretoria e o treinador falou assim: 'Quem aqui tem cartão de referência ou quem veio através de uma referência?'. Foram 15 (meninos) para o lado de lá. 'E quem não tem referência?' O 'bestinha aqui foi pro lado de cá”

15 Disponível em: < http://globoesporte.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/volei/noticia/2016/06/por- questao-financeira-sao-jose-volei-anuncia-saida-da-superliga-20162017.html> Acesso em: 19 abr. 2018, às14:44. 16 Disponível em: < http://globoesporte.globo.com/sp/vale-do-paraiba- regiao/futsal/noticia/2017/02/por-questao-financeira-sao-jose-futsal-desiste-de-disputar-lnf-2017.html> Acesso em: 19 abr. 2018, às 15:44. 17 Disponível em: Acesso em: 02 abr. 2018, às 14:47.

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(RIBEIRO, 2017)18. Com passagens por Palmeiras, Roma-ITA e Milan-ITA, o jogador foi rejeitado em nove peneiras, antes de ser aceito no São Paulo (MAIA, 2012)19.

Além da questão de chegar ou não à profissionalização, se tornar um atleta profissional não é sinônimo de independência financeira. Segundo levantamento da CBF, 82,40% dos jogadores do Brasil ganham menos de mil reais (GAZETA ONLINE, 2017)20. Tal estudo auxilia no entendimento sobre as dificuldades enfrentadas pelo atleta profissional no país.

No vôlei, os valores tratados são bem menores do que no futebol. Em matéria divulgada em seu site, o Estadão (VOLOCH, 2017)21 apurou que o jogador de vôlei mais bem pago do mundo, até então, era o cubano naturalizado polonês Wilfredo Leon, desembolsando US$ 1,4 milhão por temporada, cerca de R$ 366 mil por mês. No Brasil, segundo Bruno Voloch em matéria ao site do Estadão, o atleta mais bem pago era o cubano Robertlandy Simón, do Sada Cruzeiro, com salário que gira em torno de R$ 250 mil mensais. Mas esses valores tratam dos atletas mais bem pagos, o que não é espelho da realidade, que lida com valores baixos e atrasos salariais. O site da Folha de São Paulo (2017)22 publicou sobre os dois meses de salários atrasados dos atletas do Maringá Vôlei, equipe que disputava a Superliga, o campeonato brasileiro de vôlei, e tinha a média salarial girando em torno de R$ 10 mil mensais.

O projeto aborda os diferentes processos e fases que envolvem o sonho de se profissionalizar no futebol, no futsal, no vôlei e no basquete, relatando casos de atletas e ex-atletas nascidos em São José dos Campos ou que tenham feito parte da categoria de base em solo joseense, mas tendo como principal enfoque as dificuldades enfrentadas e, principalmente, mostrar histórias de insucessos, contando relatos de quem chegou a passar por categorias de base de clubes profissionais, mas,

18 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018, às 13:46. 19 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018 20 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018, às 13:58. 21 Disponível em: Acesso em: 02 abr. 2018, às 15:03. 22 Disponível em: Acesso em: 02 abr. 2018, às 14:00.

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por diferentes motivos, não alcançaram a profissionalização ou mesmo alcançaram, mas não conseguiram se manter.

A escolha da grande reportagem impressa como modalidade tem como embasamento as matérias publicadas na Revista Placar. Tais matérias contavam bem histórias sobre o futebol em si e questões paralelas ao esporte, como a parte política e outras questões extracampo. Então, o projeto utilizará de estruturas semelhantes à publicação mencionada, conciliando imagens e textos para mostrar o tema escolhido. A escolha por restringir-se a atletas nascidos em São José dos Campos ou que tenham feito a base na cidade tem como propósito limitar a pesquisa, além de verificar a presença dos personagens escolhidos.

Com isso, a intenção do projeto é, além de mostrar um lado pouco conhecido pelo grande público sobre se tornar profissional do esporte, ser referência para professores de escolinhas de futebol e integrantes de comissões técnicas das categorias de base dos clubes profissionais para terem uma abordagem externa sobre o que eles vivem no dia a dia.

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5 REFERENCIAL TEÓRICO

A construção o produto final se dá a partir de três pilares: jornalismo esportivo, jornalismo impresso e as categorias de base propriamente ditas. Para a parte jornalística, foram realizadas pesquisas em livros sobre jornalismo esportivo em si, bem como artigos que se relacionam à área ou ao jornalismo impresso em geral. Para maior entendimento sobre as categorias de base, foram utilizadas matérias relacionadas à área.

5.1 Jornalismo Esportivo

O jornalismo esportivo é uma das vertentes do jornalismo especializado, contanto com linguagens específicas, conhecimentos próprios da área e profissionais dedicados exclusivamente aos esportes, sendo algumas vezes a um esporte específico. Não basta gostar do esporte. São necessários diversos conhecimentos e informações, exigindo aprofundamento e estudo sobre o que se trata. “Além de conhecer as regras e os regulamentos de cada modalidade de esporte, o jornalista precisa inteirar-se de uma série de fatos que, por serem infringidos ou esquecidos, podem construir base para um bom noticiário” (ERBOLATO, 1981, p. 13).

A forma de se fazer jornalismo é a mesma dentre as temáticas trabalhadas em um veículo. Barbeiro e Rangel explicam:

Jornalismo é jornalismo, seja ele esportivo, político, econômico, social. Pode ser propagado em televisão, rádio, jornal, revista ou internet. Não importa. A essência não muda porque sua natureza é única e está intimamente ligada às regras da ética e ao interesse público. (BARBEIRO, H; RANGEL, P, 2006, p. 13). De forma simples, o jornalismo esportivo é a coberturas de todos eventos esportivos realizadas pelos veículos de imprensa, abrangendo notícias, transmissões ao vivo, programas especializados e diversas outras mídias. Os esportes de maior apelo, como futebol, vôlei e basquete, são os que estão mais presentes nos veículos, mas o jornalismo esportivo abrange todos os esportes, individuais, coletivos, de inverno, eletrônicos etc.

Essa área do jornalismo, porém, passou por grandes evoluções ao longo dos tempos. Paulo Vinícius Coelho (2003) conta que o jornalismo esportivo no Brasil se

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inicia na década de 1910, com algumas páginas de divulgação esportiva no jornal Fanfulla, um periódico paulistano que atingia os italianos, público que estava em crescimento na capital paulista durante a época citada.

Um aviso não muito pretencioso em uma das edições chamava-os a funda um clube de futebol. Foi assim que nasceu o Palestra Itália, que se tornaria Palmeiras décadas mais tarde, no meio da Segunda Guerra Mundial. Nesse tempo, as poucas páginas dedicadas a esporte nos diários paulistanos falavam sobre outra guerra. A travada entre os são-paulinos, que sonhavam tomar à força o estádio Parque Antártica dos palestrinos. (COELHO, 2003, p. 8). Como o jornalismo em geral, o jornalismo esportivo mudou e, mais do que isso: cresceu. Em 2017, o SporTV, canal pago pertencente ao Grupo Globo, foi o canal mais assistido da TV paga por dez meses seguidos (CARVALHO, 2017)23. A audiência das TVs exclusivamente esportivas e seu engajamento nas redes sociais demonstram que essa forma de fazer jornalismo já não é mais uma incerteza.

5.2 Jornalismo Impresso

O jornalismo impresso sofre desde o surgimento da internet e com o crescimento do web-jornalismo, levando em conta que o volume em circulação é cada vez menor. Segundo o Poder 360 (2018)24, entre 2015 a 2017, a redução na circulação entre os maiores jornais impressos (Super Notícia (MG), Globo (RJ), Folha (SP), Estado (SP), Zero Hora (RS), Valor Econômico (SP), Correio Braziliense (DF), Estado de Minas (MG), A Tarde (BA) e O Povo (CE)) foi de 520 mil exemplares diários. Ainda que o crescimento de assinantes digitais no Brasil não seja tão exponencial, O New York Times ganhou 794 mil assinantes digitais só em 2017, exemplificando a mudança de perfil do leitor contemporâneo. Muito disso se deve à redução de custos, contando o gasto com a impressão dos exemplares físicos. Mas não é só a questão financeira que afeta essa questão. Ler notícias on-line é mais prático e a conexão com a internet auxilia na compreensão da notícia, partindo do princípio de você poder abrir uma aba alternativa para tirar uma dúvida sobre o que foi lido.

23 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018, às 14:50. 24 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018, às 14:38.

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Seja por saudosismo ou nostalgia, sempre haverá alguém que prefira jornais impressos. “Seja com antigas ou novas tecnologias, enquanto houver sociedade sempre haverá um “leitor”, mas ainda assim, uma razoável vantagem da multimídia são as possibilidades inesgotáveis de um espaço em construção permanente” (MELECH, 2011). Embora haja o crescimento do jornalismo digital e um volume de publicações impressas, isso não significa, necessariamente, o fim do jornalismo impresso.

As publicações impressas seguem em circulação, ainda que muitas tenham sua versão on-line. A forma de se escrever entre o on-line e o impresso talvez seja a maior diferença, sendo que o on-line conta com parágrafos curtos e se aproveita de recursos como vídeo e áudio, enquanto o impresso traz textos mais aprofundados, com parágrafos longos e utilizando-se de imagens e infográficos.

O jornalismo impresso é feito de uma forma a ser destinada ao seu leito, como se cada matéria fosse feita exclusivamente para a pessoa que está lendo. Segundo Squarisi e Salvador:

A matéria do jornal destina-se aos leitores. Quem são eles? A resposta engloba de A a Z. São pessoas de variados níveis de escolaridade. De variados interesses. De variadas profissões. De variadas faixas etárias. O desafio do repórter é se fazer entender por todos. Quem – apesar das diferenças – se aventurar a ler uma reportagem, entrevista ou comentário deve ter a impressão de que o texto foi escrito para ele. (SQUARISI; SALVADOR, 2004, p. 22).

5.3 Jornalismo Esportivo Impresso

Como dito, o jornalismo esportivo deu seus primeiros passos no país com o Fanfulla, na década de 1910. Mas, segundo Paulo Vinícius Coelho, “foi só a partir dos anos 40 que o futebol ganhou os relatos apaixonados em espaços cada dia maiores. Nos diários cariocas, especialmente. E com colunistas como Mário Filho e Nelson Rodrigues.” (COELHO, 2004, p. 15). Tais colunistas, porém, abordavam muito mais o “romance” do que o fato em si. Os impressos que traziam o esporte em suas páginas utilizavam-se das crônicas esportivas, com paixão e, por vezes, até mesmo distorcendo a realidade. Completamente diferente do jornalismo esportivo atual, rico em fatos e descrições detalhistas, mas reprimindo esse lado torcedor que ficava evidente com a presença de Nelson Rodrigues, por exemplo.

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O perfil da imprensa esportiva foi se moldando ao passar do tempo. “A imprensa esportiva – que não tinha o tamanho e nem a importância que possui hoje – só passou a se preocupar com a precisão dos fatos no início dos anos 70” (BRETONES, 2010, p. 14).

Segundo Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel, foi no início dos anos 80 que o jornalismo esportivo passou a ganhar um formato mais semelhante ao atual, aliando a emoção à informação, mas atendo-se aos fatos.

[...] dos nos 1980 ao começo dos anos 1990, a precisão ganhou espaço e tornou o esporte quase frio. O compromisso com a verdade jornalística contribui para que a linguagem se torne mais descritiva. O ideal é que se tenha um equilíbrio dessas duas vertentes: emoção e descrição dos fatos. O esporte não vive sem emoção. (BARBEIRO, H; RANGEL, P, 2006, p. 13). O jornalismo impresso como um todo precisou se remodelar devido aos portais de notícias da internet. A velocidade da informação na internet, que muitas vezes é passada em tempo real e sem custo algum para seu leitor, foi um dos grandes fatores para a queda no interesse pelo impresso, o que gerou o fim de publicações tradicionais, como a Gazeta Esportiva, que teve sua última edição veiculada em 2001, quando optou por manter apenas a edição online.

Atualmente permanecem em circulação nacional dois dos maiores periódicos esportivos impressos do país: a revista Placar e o jornal Lance!. Tais publicações possuem estilos e periodicidades diferentes. Enquanto a primeira, revista publicada pela primeira vez em 20 de março de 1970, utiliza-se de grandes reportagens e aposta em grandes entrevistas e matérias voltadas para curiosidades do mundo do futebol com edições mensais, a segunda, publicada pela primeira vez em 26 de outubro de 1997, é o legítimo jornal diário esportivo, com notícias quentes e cobrindo os esportes em geral, além de seu portal online ser um dos mais importantes do gênero no Brasil.

É importante ressaltar que alguns dos principais jornalistas esportivos do país atualmente, como Paulo Vinícius Coelho (Placar e Lance!), Mauro Cezar Pereira (Jornal dos Sports) e Mauro Beting (Lance!), começaram ou tiveram passagens de destaque no jornalismo impresso.

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5.4 Categorias de Base

A denominação “Categoria de base” é utilizada para referenciar as categorias de idades inferiores em equipes profissionais de esportes coletivos. Os atletas mais jovens são divididos de acordo com sua data de nascimento, sendo que há competições disputadas por grandes equipes a partir do sub-9 (para atletas com até 9 anos de idade). No futebol brasileiro, por exemplo, os atletas fazem parte da base até o sub-20 (para atletas com até 20 anos), enquanto no basquete isso ocorre até o sub-21 (para atletas com até 21 anos), mas isso pode mudar de acordo com o esporte e com o país. As formas de ingresso em um clube são, em geral, as mesmas para os quatro esportes abordados neste trabalho:

5.4.1 Olheiros

Todas as equipes profissionais possuem pessoas designadas para observar atletas de escolinhas ou mesmo equipes amadoras para, assim, trazer novos talentos para seu time.

O observador é o profissional responsável por descobrir novos talentos, que podem não estar introduzidos ainda no mercado da bola ― como aquelas crianças que brincam em pequenos clubes de suas cidades ― ou já serem jogadores experientes que se encaixam no perfil de atleta que algum clube está procurando naquele momento.” (Unisport Brasil, 2017)25. Basicamente falando, o olheiro é um funcionário do clube que viaja pelo país em busca de novos jogadores para a equipe, independente da idade ou da situação, pois eles observam desde garotos que atuam por escolinhas de bairro a atletas amadores, já com mais de 20 anos, atuando por equipes de bairro ou semelhantes. A Unisport ainda explica que existem também empresários que contratam olheiros para encontrar talentos para novos investimentos:

Além dos clubes de futebol, há ainda uma grande fatia de mercado interessada em encontrar jogadores talentosos: os empresários. Eles buscam investir em atletas que possuem boa qualidade e, possivelmente, trarão retornos financeiros em suas transações de compra e venda”. (Unisport Brasil, 2017).

25 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018, às 14:46.

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Segundo o site Tribuna do Paraná (2014)26, o Atlético Paranaense, uma das equipes que mais revelam jovens talentos no país, conta com seis olheiros que viajam o país em busca de jovens promissores.

O Cruzeiro era, em 2015, o clube com mais olheiros voltados para a base, contando com oito profissionais exclusivamente dedicados a essa função na equipe mineira, de acordo com matéria publicada por Venancio (2015)27.

A Copa Norte de Futebol de Base de 2017, competição que contou com mais de 40 escolinhas que dividiram seus quase 600 atletas em categorias entre sub-11 e sub-19 e foi realizada em Araguaína-TO, contou com a presença de Carlos Anunciação, observador técnico do Palmeiras (GLOBOESPORTE.COM, 2017)28.

Em 2010, a Prefeitura de São Paulo organizou um festival de vôlei que contou com mais de 180 crianças representando oito entidades. O evento em questão contou com a presença de olheiros do Corinthians, em busca de talentos para a equipe (RODRIGUES, 2010)29.

Há ainda parecerias feitas entre clubes e escolinhas de futebol, ou mesmo escolinhas vinculadas a atletas ou ex-atletas, sempre com o intuito de encontrar novos jogadores. Em São José dos Campos, a escolinha de futebol Moreira Sports, que pertence ao ex-goleiro do São José Esporte Clube Nilton de Jesus Moreira, tem parceria com o São Paulo Futebol Clube, além de enviar atletas a outras equipes. Também na cidade joseense, há uma das franquias da Ronaldo Academy, escolinha de futebol do pentacampeão mundial Ronaldo Fenômeno.

Bernardinho, técnico de vôlei, é mais um a ter uma franquia de escolinhas que levam seu nome. Além de atletas, diversos clubes do país, como São Paulo, Corinthians, Flamengo e Ponte Preta possuem escolinhas de futebol, vôlei e basquete, sempre em busca de atletas para testes ou períodos de adaptação nas respectivas equipes principais.

26 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018, às 14:27. 27 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018, às 13:59. 28 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018, às 14:35. 29 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018, às 15:09.

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5.4.2 Peneiras

A chamada “Peneira” é o método mais antigo e ainda o mais recorrente nos esportes em geral. Consiste em um teste, definido pelo organizador, com número elevados de atletas, disputando pouquíssimas vagas, quando alguém é aprovado. Basicamente, como diz o nome, “peneirar” os atletas mais promissores para leva-los às equipes profissionais. O número de atletas é realmente elevado. O São José Esporte Clube realizou uma peneira no início de 2017. “Segundo o presidente da Águia, Adilson José da Silva, mais de 350 atletas compareceram ao Campo Primeiro de Maio, no bairro Parque Industrial, para tentar uma vaga no elenco do clube” (GLOBOESPORTE.COM, 2017)30. De acordo com a matéria, o intuito seria selecionar oito atletas para a composição da equipe joseense, ou seja, no mínimo 342 reprovados. Realidade semelhante à que aconteceu em Campinas no final de 2017, quando o Vôlei Campinas realizou uma peneira para selecionar jogadores para os times sub-19 e sub-17. De 450 jovens, apenas 11 foram aprovados (GLOBOESPORTE.COM, 2017)31.

O método utilizado nas peneiras nem sempre é justo. No caso do futebol, por exemplo, na maioria acontece o chamado “coletivo”, treino que simula um jogo normal. Pela quantidade de jovens, os treinos específicos acabam sendo deixados de lado. Dessa forma, o realizador da seletiva vai colocando os jovens como achar necessário e muitos acabam, sequer, recebendo a bola.

Prova disso é que muitos jogadores que se tornaram profissionais foram reprovados em diversas peneiras, até alcançar a glória. Em matéria do site ESPN.com.br (2015)32, o meio-campista Gabriel Boschilia, revelado pelo São Paulo e atualmente no Mônaco-FRA, revelou que foram muitas decepções até conseguir ser aprovado em um clube. "Eu fiz uns oito testes até ser aprovado no Guarani! É pra você ver que não pode desistir no primeiro, não (risos)! Não pode abaixar a cabeça,

30 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018, às 15:02. 31 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018, às14:55. 32 Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2018, às 13:56.

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tem que fazer outros testes, e, se for pra acontecer, uma hora vai dar certo. Foi uma guerra!".

5.5 Regras

É necessário um entendimento básico das regras aplicadas sobre os esportes escolhidos: futebol, futsal, vôlei e basquete.

5.5.1 Futebol

Baseado no livro de regras da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o futebol é praticado em um campo de superfície de grama natural ou artificial (de acordo com o regulamento de cada competição), tendo o comprimento mínimo de 90m e máximo de 120m, e largura mínima de 45m e máxima de 90m. Para competições internacionais, o campo deve ter o comprimento mínimo de 100m e máximo de 110m e a largura mínima de 64m e máxima de 75m. O gol do futebol de campo mede 7,32m de largura e 2,44m de altura. Além disso, as traves devem, obrigatoriamente, ser da cor branca e não podem exceder 12cm de largura e espessura.

A partida é disputada com duas equipes de 11 atletas cada, sendo 10 jogadores de linha e um goleiro. O mínimo de jogadores que uma equipe deve ter em campo é sete, sendo que se uma equipe ficar com menos do que sete jogadores, independente do motivo, a partida deverá ser paralisada e o resultado da partida será definido mediante o regulamento da competição.

Cada equipe terá o direito de fazer três substituições ao longo da partida. Caso se trate de uma competição em que a partida pode ter prorrogação (dois tempos extras de 15 minutos cada), cada equipe terá o direito a fazer mais uma substituição, além das três normalmente permitidas. O número de jogadores permitidos a ficar no banco de reservas é definido pelo regulamento de cada competição, sendo o mínimo de três jogadores e máximo de 12. A substituição, após solicitada pela equipe, será realizada no momento em que a bola estiver fora de jogo.

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O jogo de futebol tem como duração dois períodos de 45 minutos iguais, além dos acréscimos, pois o tempo que ficar parado devido a substituições, comemorações de gol e outros agentes internos que retardem o tempo de bola rolando, deverão ser acrescidos pelo árbitro ao final de cada período. Entre as duas partes, há um intervalo de 15 minutos. Se o jogo fora para a prorrogação, o intervalo entre os dois períodos de 15 minutos mencionados anteriormente deverá ser rápido, sendo apenas o necessário para a hidratação dos jogadores.

As bolas que saírem de campo pela linha lateral deverão ser recolocadas em jogo pela equipe adversária à equipe do atleta que foi o último a tocar na bola. As cobranças de lateral devem ser realizadas com a mão. Se acontecer situação semelhante, mas com a bola saindo pela linha de fundo, o time que dará a saída de bola terá uma cobrança de escanteio, tiro que deve ser dado com os pés e se dá no quarto de círculo que marca o canto do campo, onde a linha lateral se encontra com a linha de fundo.

Há uma área demarcada a partir da linha de fundo pra dentro do campo que mede, em média, 40,32m de largura por 16,5m de comprimento. Esta área é chamada de área penal. Se uma equipe cometer uma falta dentro desta área, a equipe adversária cobrará um pênalti, tiro direto cobrado em uma marca a 11m de distância do gol.

No futebol de campo existem duas cores de cartões que são aplicados como punição de acordo com a gravidade da falta cometida. Para infrações leves e medianas, o jogador receberá um cartão amarelo, enquanto para infrações graves, o cartão vermelho. Se um jogador receber dois cartões amarelos, automaticamente ele receberá um vermelho. O cartão vermelho significa expulsão, ou seja, ou atleta que receber tal punição estará fora da partida permanentemente, sendo que sua equipe não poderá substituí-lo, jogando, então, com um atleta a menos.

Existe uma questão no futebol chamada de posição de impedimento, uma condição na qual o lance passa a ser ilegal, assim, o jogo é paralisado pelo árbitro. Tal condição se dá quando qualquer parte do corpo do jogador de ataque, com exceção ao braço, estiver a frente do penúltimo jogador adversário, restando apenas o goleiro entre a linha de fundo e o próprio jogador em posição de impedimento. Se o goleiro e mais um jogador, ou mesmo uma ocasião em que o goleiro não esteja no

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campo de defesa, mas que ainda tenham dois jogadores de defesa, estiverem entre o último jogador de ataque e a linha de fundo, não há posição de impedimento. Tal marcação só se dá no campo de ataque; caso o jogador venha do campo defesa, não há posição de impedimento.

5.5.2 Futsal

A partir das regras da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS), uma partida de futsal, como o futebol de salão é popularmente conhecido, é disputada por duas equipes de cinco atletas cada, sendo quatro jogadores de linha e um goleiro. De acordo com o Livro de Regras da CBFS, a quadra deverá seguir especificações de superfície e material.

Os jogos deverão ser disputados em superfícies lisas, livre de asperezas e não ser abrasiva. O seu piso será construído de madeira ou material sintético rigorosamente nivelado, sem declives ou depressões. Devem ser evitados pisos de cimento. (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE SALÃO, 2018, p. 4) Para competições nacionais, a quadra deve ter no mínimo 38m de comprimento e 18m de largura. Em competições internacionais, a quadra terá o comprimento mínimo de 38m e máximo de 42m, e a largura mínima de 20m e máxima de 25m.

O objetivo do futsal, assim como no futebol de campo, é marcar mais gols na meta adversária do que a equipe adversária em seu gol. O gol no futsal mede 8m de comprimento e 2m de altura, com a trave medindo 8cm de largura.

Cada equipe poderá relacionar para a partida até 14 atletas, contando os cinco em jogo e mais nove reservas. O número de reservas permitidos será decidido pelo regulamento da competição. As substituições poderão ser feitas a qualquer momento, mesmo com a bola em jogo, e sem número limite. A única restrição em relação às substituições é que elas devem ocorrer em uma área denominada “zona de substituição”.

A sexta falta cometida por uma equipe em cada período terá como punição um tiro livre direto para a equipe adversária, cobrado em um ponto localizado a 10m do gol adversário.

Assim como no futebol de campo, no futsal existem as advertências com cartão amarelo e vermelho, sendo o amarelo para infrações mais leves e o vermelho para

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infrações mais graves e caracterizando-se como expulsão. O jogador que receber dois cartões amarelos automaticamente receberá também o cartão vermelho, sendo expulso da partida. O atleta que for expulso da partida não poderá retornar ao jogo, porém outro atleta poderá ocupar seu lugar depois de dois minutos transcorridos a partir do momento da expulsão, assim a equipe permanece com um jogador a menos por dois minutos.

As partidas de futsal possuem 40 minutos de duração, sendo dividido em dois períodos de 20 minutos. Além disso, cada equipe terá direito a um tempo técnico de um minuto de duração. O tempo técnico será concedido quando a bola estiver fora de jogo e a reposição for a favor da equipe solicitante.

5.5.3 Vôlei

De acordo com o regulamento da Federação Internacional de Voleibol (FIVB), o vôlei é disputado em uma quadra de 18 metros x 9 metros, sendo que a divisão da área pertencente a cada equipe é feita por uma rede verticalmente localizada na linha central da quadra, sendo que sua altura é de 2,43m para o masculino e 2,24m para o feminino. Cada equipe é composta por 6 jogadores em quadra, sendo que até 12 atletas podem ser relacionados para uma partida, com exceção às competições da FIVB (Mundiais e Competições Oficiais na categoria adulta), nas quais podem ser relacionados 14 atletas. Dentre os seis jogadores em quadra, um deles deverá ser designado como o capitão, sendo este o único autorizado a dirigir-se ao árbitro da partida. Além disso, cada equipe tem o direito de designar, dentre os atletas relacionados para a partida, até dois líberos, sendo que apenas um líbero pode estar em quadra por vez. O líbero, identificado por um uniforme de cores diferentes ao restante do time, só poderá jogar na linha de trás da quadra, ou seja, apenas na linha defensiva, sendo que este não poderá efetuar jogadas de ataque, sacar e bloquear.

A equipe marca um ponto quando consegue fazer a bola tocar o solo no campo adversário, sendo que se a bola tocar o solo, mas fora da área de jogo, será marcado ponto para a equipe adversária.

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Vence a partida a equipe que vencer três sets primeiro, sendo que cada set é vencido pela equipe que alcançar 25 pontos primeiro, com exceção ao quinto set, no qual vence quem alcançar 15 pontos. Além de alcançar 25 ou 15 pontos, para vencer o set a equipe deve liderar por dois ou mais pontos de diferença.

5.5.4 Basquete

Conforme as regras da Confederação Brasileira de Basketball (CBB), a partida de basquete é disputada por duas equipes de cinco atletas cada, sendo que o objetivo principal é marcar mais pontos do que o adversário, o que acontece marcando pontos na cesta do adversário e evitando que ele marque pontos em sua cesta. A quadra de basquete possui 28m de comprimento e 15m de largura, sendo que em cada lado da quadra há um arco com raio de 6,75m partindo do fundo da quadra que demarca a área de três pontos. As cestas são fixadas em tabelas e possuem 3,05m de distância do chão, tanto para o basquete masculino quanto para o feminino. As cestas feitas dentro do arco somarão dois pontos para a equipe que marcou e as cestas feitas de fora do arco somarão três pontos. Se o atleta arremessar com o pé em cima da linha que marca a divisão das áreas de dois e três pontos, e marcar a cesta, esta valerá dois pontos, pois o atleta será considerado como dentro da área de dois pontos.

Cada equipe poderá relacionar para a partida até 12 atletas em condições de jogo, sendo cinco em quadra e sete substitutos no banco de reservas. As substituições podem ser efetuadas nas paradas de jogo, sendo em um pedido de tempo ou os intervalos de jogo.

Os jogadores tem um limite de quatro faltas para cometer, pois o atleta que comete a sua quinta falta individual na partida deverá ser substituído em até 30 segundos. Ele ainda poderá jogar após esse período de exclusão. Caso ele volte à quadra e cometa sua sexta falta, o atleta será automaticamente excluído da partida. Além disso, a equipe que cometer quatro faltas dentro de um período entrará em situação de penalidade. Todas as faltas cometidas por essa equipe dentro desse mesmo período, ou seja, a partir da quinta falta dentro do período, a equipe adversária receberá duas cobranças de lance livre. A área de lance livre é localizada há 5,80m

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da linha de fundo da quadra e o arremesso de lance livre convertido concederá um ponto à equipe.

Se um jogador arremessar a bola e sofrer uma falta no momento do arremesso, mesmo que a bola já tenha saído de sua mão, sua equipe também receberá uma oportunidade de lance livre, sendo que o mesmo atleta que sofreu a falta deverá cobrar o número determinado de lances livres. Se o atleta estiver dentro da área de dois pontos e errar o arremesso no lance da falta, ele terá dois lances livres para cobrar. Se ele estiver na área de dois pontos e acertar o arremesso e ainda assim sofrer a falta, os dois pontos de seu arremesso serão contabilizados à pontuação de sua equipe e ele ainda terá uma oportunidade de lance livre. Se ele estiver na área de três pontos e errar o arremesso quando sofrer a falta, o atleta terá três lances livres para cobrar. Caso ele esteja na área de três pontos e converter seu arremesso enquanto sofre a falta, os três pontos serão contabilizados para sua equipe e ele terá um lance livre para cobrar.

As partidas de basquete tem duração de quatro períodos de 10 minutos cada. Os intervalos entre os períodos têm duração de dois minutos, enquanto o meio tempo (intervalo entre segundo e terceiro período) tem duração de 15 minutos. Cada equipe ainda poderá pedir um número determinado de tempos debitados, paradas solicitas com duração de um minuto. Cada equipe terá dois tempos debitados na primeira metade do jogo (primeiro e segundo período) e três na segunda metade (terceiro e quarto período), sendo que na metade final, a equipe poderá solicitar o tempo debitado no máximo duas vezes por período.

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6 PRODUTO

O capítulo abordará toda a construção do produto final, desde a idealização do tema e a pesquisa bibliográfica para maior entendimento sobre o assunto, até a produção da matéria e sua diagramação em formato de revista.

6.1 Pré-produção

O assunto a ser abordado foi definido, inicialmente, a partir de experiências pessoais com escolinhas de futebol, convivendo com atletas que sonhavam em ser profissionais, independentemente de terem alcançado o objetivo ou não. Tais atletas enfrentam dificuldades pouco abordadas pela mídia, analisando desde simples dificuldades, como a necessidade de mudar de cidade sem os pais, até a frustração de não alcançar a profissionalização e não ter um plano B para seu futuro.

Para entender melhor a linguagem e metodologia jornalística, dois livros foram utilizados: A arte de escrever bem: um guia para jornalistas e profissionais do texto, de Dad Squarisi e Aríete Salvador; e Como elaborar projetos de pesquisa, de Antônio Carlos Gil. Além disso, para auxiliar diretamente na composição do jornalismo esportivo em si, foram utilizados outros três livros: Jornalismo Esportivo, de Paulo Vinícius Coelho; Manual do Jornalismo Esportivo, de Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel; e Jornalismo Especializado, de Mario L. Herbolato.

Como recorte da amostra, foi definida a utilização de atletas e ex-atletas que tenham nascido em São José dos Campos ou que tenham integrado as categorias de base dos clubes da cidades. As modalidades esportivas a serem abordadas foram escolhidas pelo fato de basquete, futebol, futsal e vôlei serem os quatro esportes coletivos mais transmitidos na TV33 (KANTAR IBOPE MEDIA, 2014), demonstrando sua popularidade. Buscando maior familiaridade com o assunto, foram entrevistados profissionais da área, como técnicos e psicólogos esportivos, auxiliando no entendimento do assunto, além dos próprios atletas ou ex-atletas, abordando suas respectivas

33 Disponível em: . Acesso em: 30 out. 2018, às 20:25

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trajetórias no esporte. Os profissionais foram escolhidos a partir do recorte da amostra do projeto, tendo como objetivo atletas joseenses. A escolha tem como fundamento o maior entendimento e familiaridade do público em relação ao problema (GIL, 2008).

A escolha da grande reportagem impressa foi feita pela familiaridade com tal mídia e por utilizar a revista Placar como referencial para o trabalho. Tendo este veículo como referência, o público alvo foi definido a partir de seu mídia kit, publicado pela editora Abril. Assim, o produto final será destinado a homens entre 20 e 29 anos de classe C. Na pesquisa encomendada pela editora para a construção do mídia kit da revista Placar, de 2.537.000 de seus leitores, 54,1% são da classe C, 26% da classe B, 14,2% das classes E e D, e 5,6% da classe A. Desse total, 90% são homens e 10% mulheres. As faixas etárias dominantes são de 20 a 29 anos e de 30 a 39 anos, representando, respectivamente, 27,3% e 26,2% do total.

Para a apuração, foi definida a técnica de entrevista aberta, mais utilizadas para finalidades exploratórias, com “o entrevistador introduz o tema e o entrevistado tem liberdade para discorrer sobre o tema sugerido. É uma forma de poder explorar mais amplamente uma questão. As perguntas são respondidas dentro de uma conversação informal” (BONI e QUARESMA, 2005, p. 74).

Em relação à escolha dos entrevistados, cinco foram escolhidos a partir do conhecimento pessoal de suas respectivas trajetórias no esporte, enquanto outros dois foram definidos a partir de pesquisas com clubes e outras fontes relacionadas ao tema. Três entrevistas foram realizadas de forma presencial, utilizando o celular como gravador, enquanto as outras quatro foram feitas via Whatsapp, com as respostas sendo enviadas por áudio.

6.1.1 Guilherme Nogueira Nunes Viana

A entrevista com Guilherme foi realizada no dia 17 de julho, pessoalmente, no condomínio Vila das Palmeiras, em São José os Campos, com, aproximadamente, 34 minutos de duração, utilizando o celular como gravador.

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Com 26 anos de idade e trabalhando como auxiliar administrativo, Guilherme é ex-jogador de futebol, iniciando sua carreira nas categorias de base do São José Esporte Clube, passou de forma marcante na base da Associação Portuguesa de Desportos, retornou ao São José, e seu último clube foi o Londrina Esporte Clube, pelo qual teve uma rápida passagem na equipe principal.

Por ter passado por diversas dificuldades que o frustraram nessa carreira, como ser dispensado pela Portuguesa, lesões que o tiraram de campeonatos pelo São José e um empresário que o enganou, sua entrevista foi focada em tais problemas enfrentados e em avaliar o que fez com que sua carreira não desse certo.

6.1.2 Caio Oliveira

A entrevista com Caio foi realizada pessoalmente, no condomínio Vila das Palmeiras, em São Joé dos Campos, no dia 19 de julho, com 27 minutos de duração, utilizando o celular como gravador.

Caio, de 21 anos, é jogador profissional de futsal, atuando como goleiro, atualmente integrando o São José Futsal. O goleiro iniciou sua carreira no Atleta Cidadão, projeto da prefeitura de São José dos Campos que visa a formação de jovens atletas em diversas modalidades, sendo utilizado como categoria de base do São José Futsal. Aos 19 anos, ele foi aprovado em uma peneira do Magnus Sorocaba, um dos maiores clubes de futsal do país, e ficou por lá por um ano. Ele então retornou e foi contratado pelo São José Futsal, sendo a terceira opção para o gol da equipe.

Sua entrevista foi focada nas dificuldades enfrentadas ao se mudar para outra cidade ainda jovem e também em seu momento atual, por receber poucas oportunidades de jogar, além de mostrar o lado financeiro, avaliando a rentabilidade de sua carreira.

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6.1.3 Nelder de Freitas Oliveira Silva

A entrevista com Nelder foi realizada pessoalmente, na Praça Papa Paulo VI, no dia 21 de julho, com aproximadamente 35 minutos de duração, utilizando o celular como gravador.

Nelder, de 33 anos, atualmente trabalha como vistoriador de carros, mas foi jogador profissional de basquete. Filho do também ex-jogador de basquete, Vanderci Silva, ele iniciou sua carreira na escolinha da Associação Esportiva São José. Ainda cedo, o ex-atleta se mudou para Lajedo, no Rio Grande do Sul, para jogar em uma escola da cidade. Retornando, ele jogou pelo Trianon, em Jacareí, e pelo Tênis Clube, em São José dos Campos, até ser contratado por uma equipe de São Carlos, sendo a última em sua carreira profissional, ainda aos 23 anos.

Sua entrevista foi focada na ilusão de que todos os esportistas profissionais são ricos e com carreiras estáveis, além das dificuldades enfrentadas em outras cidades.

6.1.4 Vitor Baesso

A entrevista com Vitor foi realizada no dia 15 de agosto, por Whatsapp, om o entrevistados respondendo às perguntas por meio de áudios, com duração total de, aproximadamente, 11 minutos.

Vitor, de 19 anos, é jogador de vôlei e está no Sesi SP Vôlei, atuando como ponta. Ele começou jogando no Atleta Cidadão, em São José dos Campos, até se mudar para São Paulo para jogar pelo Clube Pinheiros, ainda aos 13 anos. Foi emprestado ao São Bernardo Vôlei entre 2014 e 2015, e foi em definitivo para o Sesi ainda em 2015. Atualmente se divide entre a base e a equipe principal do clube. Além dos clubes, Baesso já acumula passagens pela seleção brasileira de base.

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Sua entrevista foi focada nas dificuldades em ter se mudado sozinho, ainda aos 13 anos de idade, e nos obstáculos enfrentados por um atleta de alto rendimento.

6.1.5 Alberto Luis de Oliveira

A entrevista com Alberto foi feita no dia 17 de agosto, via Whatsapp, com suas respostas sendo enviadas por áudios.

Alberto é psicólogo e coaching esportivo, com experiência na área da psicologia esportiva. Apesar de atuar com maior frequência com atletas de artes marciais, ele já realizou trabalhos com o São José Esporte Clube.

Sua entrevista é focada no entendimento da parte psicológica do atleta como um todo, com enfoque no jovem atleta e em como seus “sucessos e fracassos” podem afetar em seu desenvolvimento como pessoa.

6.1.6 Flávia de Cássia Gil Riboura

Sua entrevista foi realizada no dia 21 de agosto, via Whatsapp, com suas respostas sendo enviadas por áudio.

Flavinha, como é conhecida no futebol, tem 30 anos e é jogadora de futebol profissional, atualmente jogando na Associação Esportiva 3B da Amazônia, clube de Manaus-AM. Joseense, ela começou a jogar em escolinhas de São José dos Campos, chegando à equipe principal do São José Esporte Clube, pelo qual foi campeã da da América em 2011. Jogou por diversas equipes ao longo da sua carreira, com destaque para Flamengo-RJ e Kindermann-SC, até chegar ao 3B.

Sua entrevista foi focada nas dificuldades enfrentadas para se profissionalizar no futebol feminino e mostrar a realidade da modalidade no país.

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6.1.7 Tiago Gamez Silva

A entrevista com Tiago foi realizada no dia 11 de setembro, via Whatsapp, com suas respostas sendo enviadas por áudio.

Tiago é formado em educação física e é professor em escolinha de futebol, contando com experiências no Equador, além de, atualmente, treinar sua quinta escolinha em São José dos Campos, a TGSPORT/E.C. 1º de Maio. Sua entrevista foi focada no trabalho do professor no desenvolvimento de jovem atleta e como lidar com as diferentes questões que envolvem os jovens que sonham em se profissionalizar, desde a ansiedade para concretizar o sonho até o envolvimento dos pais.

6.2 Produção

Para a produção da matéria, foi realizada a decupagem de todas as entrevistas, facilitando a análise do material para, assim, selecionar os trechos mais importantes para a composição do produto.

6.2.1 Produção textual

A matéria utiliza-se da história de cinco personagens, sendo os atletas e ex- atletas, como base, relatando suas respectivas trajetórias separadas por subtítulos, sendo um para cada entrevistado. Ao final da matéria, são apresentados os outros dois entrevistados, técnico e psicólogo, explicando o olhar de suas profissões em relação às categorias de base. A escolha de sete entrevistados foi feita por cada um representar um esporte, com exceção ao futebol, que conta com um para o masculino e uma para o feminino, além de terem passados por problemas diferentes, que se complementam no entendimento do tema central.

Para auxiliar no entendimento geral da matéria, foi utilizada, logo no início, uma breve explicação do panorama das categorias de base e do esporte profissional no

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país. Após isso, cada entrevista foi separada em um subtítulo, por se tratarem de histórias diferentes, tanto na trajetória quanto na modalidade em si, além dos personagens que estão ligados ao esporte, mas fora dos campos (professor e psicólogo).

O primeiro subtítulo se chama “Sonho”, apresentando a história de Guilherme Nogueira Nunes Viana. Este nome poderia servir para representar a história de todos os jovens que buscam a profissionalização do esporte, mas se encaixa bem com a história de Guilherme por ser algo em que ele buscou desde muito novo, contando com o apoio de seus familiares, mas sendo abreviado por problemas fora de campo. Esta parte é mais longa do que as outras, o que é justificado pela profundidade de sua trajetória. Ele foi escolhido como primeiro personagem por ser retrato do que a maioria dos jovens enfrenta – não alcançar o sonho – além de ter uma história de muitos obstáculos em seu caminho.

O subtítulo “Desilusão” aborda a história de Nelder de Freitas Oliveira Silva. O ex-jogador de basquete chegou à tão sonhada profissionalização, mas não conquistou sua independência financeira por meio dos esportes. Ele enfrentou diversos problemas fora das quadras, o que colaboraram para que ele não alcançasse o sucesso desejado. Por isso, para ele, o esporte foi uma desilusão. Seu capítulo também é um pouco mais logo do que a maioria, mas a profundidade de sua história e o fato de já ter encerrado a carreira justificam isso.

Em “Frustração”, terceiro subtítulo, a história contada é a do goleiro de futsal, Caio Oliveira. Esse nome foi escolhido, principalmente, pelo atual momento em que o atleta enfrenta. Após ter destaque na categoria de base de um dos maiores clubes do país, Magnus Sorocaba, ele voltou a São José, jogando pela equipe da cidade, e é a terceira opção como goleiro, recebendo poucas chances. Isso demonstra a frustração em sua carreira.

“Barreiras” conta a história de Flávia de Cássia Gil RIboura, a Flavinha. Este subtítulo foi escolhido porque o futebol feminino enfrenta diversas barreiras em busca de melhorias, o que não foi diferente para Flavinha. Com problemas que vão de falta de estrutura a salários atrasados, ela ainda está em atividade, o que faz com que sua história seja mais curta.

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No subtítulo “Dificuldades”, apesar de Vitor ainda ser jovem e se destacar em seu esporte, contando com convocações para a seleção brasileira de vôlei, o entrevistado relata as principais dificuldades por ter se mudado para São Paulo com apenas 13 anos de idades, sozinho.

Por fim, os subtítulos “Ponto de vista psicológico” e “Ponto de vista técnico” abordam os problemas psicológicos que um atleta pode ter e como é tratada a parte técnica de um jovem que sonha em se profissionalizar no esporte.

6.2.2 Diagramação

A diagramação do produto final foi feita por mim, escolha tomada para a contenção de gastos, além de visar uma produção intimista. Para a edição, foram utilizados três softwares: Adobe InDesign, Adobe Photoshop e Adobe Illustrator. Também foi utilizado um site de design gráfico, o Canva34.

Inicialmente, o planejamento era de utilizar o vermelho como cor base para infográficos, quadros de legendas e contorno das imagens, o que foi desenvolvido, mas descartado ao verificar a falta de semelhanças com a revista Placar. Neste primeiro modelo, cada entrevistado contava com apenas duas imagens em suas respectivas partes, o que deixou a matéria densa, pois a quantidade de texto e falta de imagens diminuiria o interesse do leitor.

A princípio, o produto fora diagramado com o padrão de três colunas. Buscando modernidade e maior semelhança com a revista Placar, tal padrão fora abandonado, passando a diagramar com uma, duas ou três colunas, dependendo do conteúdo da página.

34 Disponível em . Acesso em: 03 nov. 2018.

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Figura 1 - Capa

Para a parte visual, foram utilizadas imagens de arquivo pessoal dos entrevistados, além de algumas fotos cedidas pela fotógrafa Juliana Kageyama. Buscando maior similaridade com a revista Placar, utilizada como referência, foram usadas fontes semelhantes. Para o corpo do texto, foi utilizada a fonte Minion Pro, com design moderno e de fácil leitura, mesma fonte da Placar. Como a revista não possui um padrão de fontes para título, subtítulo e olho, foram utilizadas fontes que se aproximavam ao máximo com o design e estilo das presentes na publicação.

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Figura 2 - Página 3

Foram testadas diferentes fontes, tanto para títulos e subtítulos quanto para as legendas em geral. Após muitos testes, em primeiro momento, fora definida a The Bold Font para títulos e subtítulos, enquanto a Code para as legendas. Após pesquisas, porém, foram encontradas fontes mais semelhantes às da publicação utilizada como referência, trocando as utilizadas. Para o título e os infográficos, foi utilizada a fonte Alfa Slab One, sendo uma fonte que dá destaque à mensagem e se assemelha à fonte utilizada pela Placar. Para o subtítulo da capa, a linha fina e as legendas, foi utilizada a fonte Cooper Hewitt em sua versão em negrito, com exceção às legendas dos olhos, nos quais o nome do entrevistado aparece em negrito, enquanto sua profissão aparece na versão light. Tanto no caso dessa fonte e da letra Teko, utilizada nos olhos da matéria, as fontes originais foram encontradas, mas de forma paga. As escolhidas para substituir se aproximam das originais, mas em versão gratuita.

Foram criados infográficos informativos para ilustrar a matéria, destacando números importantes para o entendimento. O formato garrafal da Alfa Slab One somado ao tamanho utilizado, direciona o olhar do leitor para os números. Sobre a cor, utilizou-se de diferentes tons de verde, por ser uma cor utilizada pela Placar em suas publicações.

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Figura 3 - Página 2 Figura 4 –Infográfico da Placar

Divulgação: Placar Magazine (2010)

Foi elaborado um Raio-X do atleta Vitor Baesso, com informações sobre peso, altura, times em que passou, títulos na sua trajetória e leões, o que se assemelha com artifício utilizado pela revista, que costuma produzir ‘relatórios físicos’ de seus personagens.

Figura 5 - Página 13 Figura 6 - Raio-X da Placar

Divulgação: Placar Magazine (2010)

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As páginas que destoam do padrão fundo branco possuem os relatos de especialistas. A ideia foi destacar ambas as páginas por se tratarem de personagens que estão do outro lado do esporte, os profissionais que auxiliam os esportistas. Para o destaque, utilizou-se de cores vibrantes, como o verde e amarelo, no fundo das páginas, além da cor de letra diferente. No trecho de análise psicológica, a letra está em cor branca, devido ao fundo verde. Dessa forma, a leitura fica mais clara, sem dificuldades, como aconteceria caso a cor fosse preta, padrão em toda a diagramação. O mesmo artifício foi utilizado no olho da página do especialista técnico. Outra grande diferença nas duas páginas foi a mudança na fonte do subtítulo, que conta, também, com a Alfa Slab One. O restante das fontes, em si, continuaram as mesmas.

Figura 7 – Página 14

6.3 Pós-produção

A grande reportagem “Categorias de base: sonhos e frustrações no esporte” finalizada conta com 16 páginas, contendo uma, duas ou três colunas de texto em cada, de acordo com o conteúdo. O tamanho das colunas também não segue um padrão.

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Em relação às fontes, o produto final conteve a Alfa Slab One no tamanho 72 para o título da capa, Cooper Hewitt na versão em negrito e tamanho 24 para o subtítulo da capa, Cooper Hewitt na versão Light e tamanho 11 para a linha fina, Cooper Hewitt na versão em negrito e tamanho 11 para o nome do autor, Minion Pro na versão regular e tamanho 9 para o corpo do texto, Teko na versão em semi negrito e tamanho 16 para os subtítulos, Cooper Hewitt na versão em negrito e tamanho 8 para as legendas das imagens, Teko na versão em negrito e tamanho 23 para os olhos da matéria, Cooper Hewitt na versão em negrito e tamanho 8 para o nome do entrevistado na legenda dos olhos, Cooper Hewitt na versão book e tamanho 8 para a profissão do entrevistado na legenda dos olhos e Alfa Slab One no tamanho 24 para os subtítulos ‘Ponto de vista psicológico’ e ‘Ponto de vista técnico’.

As dimensões da página foram definidas de acordo com o mídia kit da revista Placar, tendo 20,2cm de altura por 26,6cm de largura, conforme resultado abaixo:

Figura 8 - Capa

Fonte: Própria (2018)

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Figura 9 - Página 2 e 3

Fonte: Própria (2018)

Figura 10 - Página 4 e 5

Fonte: Própria (2018)

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Figura 11 - Página 6 e 7

Fonte: Própria (2018)

Figura 12 - Página 8 e 9

Fonte: Própria (2018)

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Figura 13 - Página 10 e 11

Fonte: Própria (2018)

Figura 14 - Página 12 e 13

Fonte: Própria (2018)

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Figura 15 - Página 14 e 15

Fonte: Própria (2018)

Figura 16 - Página 16

Fonte: Própria (2018)

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7 FINANCEIRO

Os gastos relacionados à pesquisa bibliográfica e pré-produção do projeto envolvem os seguintes itens:

Item Título Preço (R$) Livro Jornalismo Esportivo 21,84 Livro Manual do Jornalismo Esportivo 28,31 Livro Jornalismo Especializado 65,00 Livro Como elaborar projetos de pesquisa 35,00 A arte de escrever bem: um guia para Livro 13,90 jornalistas e profissionais do texto Gravador Samsung Galaxy On 7 699,00 Software Adobe InDesign 71,00 Software Adobe Photoshop 71,00 Software Adobe Illustrator 71,00 Trabalho Produção do texto 7.438,50 Trabalho Diagramação da matéria 2.432,64 Matéria Impressão de quatro vias 150,00 Relatório Impressão de três vias xx TOTAL 11.097,19

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8 CRONOGRAMA

2017 2018 Atividade NOV JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV Escolha do tema Início do projeto Produção da parte teórica Pesquisas bibliográficas Entrega pré- projeto Agendamento de entrevistas com personagens Pré-banca Gravação das entrevistas Decupagem das entrevistas Finalização de projeto Edição de material Revisão final Apresentação à banca

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9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto ‘Categorias de base: sonhos e frustrações no esporte’ iniciou com diversos objetivos, todos voltados para o entendimento das dificuldades enfrentadas durante o período de categorias de base a partir dos relatos de entrevistados com experiência no esporte de base. Dessa forma, o objetivo geral e os objetivos específicos foram alcançados, uma vez que o caminho enfrentado por quem sonha em se profissionalizar no esporte foi analisado, as principais dificuldades enfrentadas por jovens atletas foram explicadas, as barreiras superadas por atletas de base foram relatadas e ex-atletas que sonhavam em se tornar atletas profissionais e não alcançaram foram entrevistados, relatando suas frustrações.

Assim, entende-se que as perguntas-problema foram respondias por meio da grande reportagem construída a partir das entrevistas com sete personagens que, direta ou indiretamente, tiveram alguma relação com categorias de base de basquete, futebol, futsal ou vôlei. De maneira geral, tais perguntas buscavam o entendimento das dificuldades citadas, bem como o motivo da atração dos jovens pelo esporte profissional, além de como foi para os personagens que não alcançaram o sonho.

A base teórica construída foi de grande importância para entender a dinâmica do jornalismo esportivo, principalmente na modernidade, auxiliando na forma de entrevistar, bem como na escrita da matéria em si. As entrevistas foram facilitadas por esse embasamento, devido ao entendimento da importância de conhecer a maior parte da história do personagem em questão, buscando antecipar possíveis respostas e buscar ganchos para a criação de novas perguntas ao decorrer da conversa. O referencial teórico contribuiu, também, para o desenvolvimento do material gráfico, entendendo a necessidade de ilustrar a matéria com fotos e infográficos, produzindo um material que não seja maçante para o leitor.

Não foram encontradas grandes dificuldades na captação de entrevistados, já que cinco eram de meu conhecimento pessoal, enquanto os outros dois foram prontamente indicados por pessoas ligadas ao esporte. Três entrevistas foram feitas pessoalmente, gerando mais conteúdo, mas isso foi possibilidade pela agenda flexível de tais personagens. As outras quatro precisaram ser realizadas por Whatsapp, devido à falta de espaço na agenda e ao fato de um entrevistado morar em São Paulo, capital, e uma entrevistada em Manaus-AM.

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A produção gráfica foi o grande desafio para a produção desta matéria, verificando minha falta de prática com isso. A utilização de softwares como o Adobe InDesign e o Adobe Photoshop não foram, necessariamente, as dificuldades. O desafio maior foi a construção de um conteúdo harmonioso, buscando utilizar fontes e formas que se relacionem à revista Placar, material utilizado como referência, bem como a criação de infográficos no Adobe Illustrator. A falta de experiência com design também dificultou no posicionamento das imagens e infográficos, o que foi evidenciado pela necessidade de diagramar o produto final duas vezes, sendo que a primeira versão foi descartada de forma completa, mantendo apenas as fontes e produtos visuais utilizados.

Este projeto foi de grande importância como realização pessoal, devido ao gosto pessoal pelo jornalismo esportivo, bem como o sonho de atuar nessa área. Em relação ao conteúdo em si, o assunto demonstra a necessidade em ser abordado pela imagem que o grande público possui em relação aos atletas profissionais. Além de não conhecerem o caminho até o contrato profissional, repleto de dificuldades, o que ficou claro com a matéria ‘Categorias de base: sonhos e frustrações no esporte’, pouco se conhece sobre o altíssimo número de atletas que integram as categorias menores dos clubes profissionais, mas são dispensados antes de chegarem à profissionalização. A parte financeira também é algo que se mostra surpreendente de modo geral, analisando atletas que são profissionais, mas não conseguem ter uma vida financeira confortável.

Portanto, a temática desse projeto esclarece diversas visões relacionadas ao esporte de base e profissional, assim demonstrando sua importância para o jornalismo esportivo, além de auxiliar pais e jovens atletas a entenderem como funciona esse período e que, para se tornar profissional, não basta ser um bom atleta, mas sim enfrentar diversos problemas fora dos campos e quadras.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APÊNDICES

APÊNDICE A – Decupagem das entrevistas Guilherme Nogueira Nunes Viana R: Comecei com 8 anos de idade, comecei em uma escolinha que era paga, meu avô que pagava para mim, e ali eu já tinha um desejo de jogar futebol. Me dediquei ao máximo, aí fiz um teste no São Paulo, na época eu jogava na escolinha do São Paulo, passei na primeira etapa e, quando chegou na segunda etapa, eu já achei que estava na categoria de base do São Paulo. Eu ia uma vez por mês pra lá, mas acabou que não deu certo. Foi aí que eu comecei a treinar na base do São José, no sub 13. Depois subi para o sub 15…

P: Como foi essa questão do São Paulo e como acabou? R: Eu fiquei 5 meses indo, sempre uma vez ao mês, que era uma fase de testes que tinha. Quando chegou na quinta etapa, que foi a última que eu fui, eles me dispensaram.

P: Quantos anos você tinha? R: 13 anos.

P: E deu uma desanimada? R: Na hora eu chorei, “molequinho” ainda… Aí meu avô me abraçou, falou “esse foi só o primeiro”. Ele sempre usava a história do Cafu. “O Cafu fez mais de 10 testes, então você ainda vai conseguir, está só no primeiro ainda”.

P: Esse foi o primeiro teste que você fez? Você não tinha feito nenhuma peneira até então? R: Primeiro teste. Não tinha feito nada até então.

P: Aí depois chegou no São José… R: Aí cheguei no São José, no sub 15….

P: No campo mesmo? R: No campo. No futsal, pensamento de jogar profissional eu nunca tive. Cheguei a treinar em algumas escolinhas, inclusive no time do Corinthians mesmo, mas nunca levei pra frente. Meu foco sempre era campo. Aí cheguei no São José, joguei no sub 15 lá, e nesse meio tempo eu fiz uma outra peneira pelo Flamengo, que foi em Jacareí. Eu passei na primeira etapa, também, mas na segunda eu não consegui passar. Aí eu fiquei com aquele negócio na minha cabeça: “de novo não passei, o que será que está acontecendo?”. Aí veio de novo meu avô, com a mesma coisa do Cafu.

P: Essa peneira que você fez no Flamengo foi daquelas que tinha uma galera, muitas pessoas? R: Tinha. Tinha umas 400 pessoas, foi lá no estádio do Jacareí (Atlético Clube), lotado. No primeiro dia passaram, se não me engano, acho que 28 pessoas. Aí eu e um amigo meu passamos. No outro dia, só ficaram dois, sendo que um desses dois era o meu amigo.

P: Nesse momento você nem pensou em largar?

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R: Não porque eu tinha uma opção 2, que era o São José.

P: Como você entrou no São José? Foi teste ou indicação? R: Foi “peneirão”. Fiz o teste e passei.

P: Você entrou com 13 pra 14 anos? R: De 14 pra 15.

P: Você sentiu que tinha uma estrutura bacana pra jogar no São José? R: No primeiro instante, a gente ficava feliz porque eles davam o vale-transporte, davam uma barrinha de cereal, de lei, e só. Mas aquela barrinha de cereal e as vezes davam o suco, pra gente já era alguma coisa. Molecada tudo, porque a gente não era federado, como se diz na base, a gente não tinha carteira assinada, só treinava, tinha os campeonatos que a gente jogava em São José e as vezes jogava o Paulista. Mas era muito difícil.

P: Aí foi a primeira vez que você estava em um time. Foi difícil pra você se acostumar com uma rotina mais exigente de treinos? R: Não foi. Ali no São José não foi porque pra era diversão, tinha meus pais por trás, então não tinha falta de nada ainda. Eu ia treinar de carro, com meus pais me levando.

P: Sua família sempre te apoiou? R: Desde o começo. Minha família... um dia meu avô sentou comigo e com meu irmão, que também tinha esse foco, e falou: “o que você quer ser?”. Aí eu respondi que queria ser jogador de futebol. “Então, a partir de hoje, tudo que você precisar eu vou te ajudar”.

P: Até quando você ficou no São José e como foi? Foi legal pra você? R: Foi uma bagagem muito grande. Foi show de bola, pois foi onde joguei contra times como Corinthians, São Paulo, Palmeiras... poder jogar contra esses caras mexia com a gente. Sempre no vestiário, nos jogos contra esses times, o professor falava “olha, dá o máximo de vocês porque é um time grande, vocês podem se destacar”, e a gente sempre jogava com esse foco, por jogar mesmo contra times grandes que tinham essa estrutura, esse que era o meu foco. Por exemplo jogar e ir para um São Paulo, que tem o CT (Centro de Treinamento) de Cotia, esse era meu sonho.

P: E chegou alguém de outros times com interesse em você nesse momento? R: Nesse momento, não. Nesse momento, com 15 anos, não.

P: E você ficou até quando no São José? R: Eu fiquei até os 16, antes ainda, estava quase fazendo 16, quando surgiu um teste pra eu fazer, um peneirão geral dentro da Portuguesa.

P: Teste também, nada a ver com o São José? R: Não, foi um teste que eu me inscrevi, tive que pagar uma taxa, e fui lá. Na hora que eu me inscrevi até falei “ah, nem vai dar certo”.

P: De novo uma galera? R: Esse, vou falar pra você... tinha mais de 830 pessoas. Eu lembro até hoje: eu fui em um domingo, era tanto carro, parecia congestionamento de São Paulo, pra entrar

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dentro do CT do Parque Tecnológico. Lotado de gente. Eu ainda sou pequeno, naquela época eu era muito pequenininho, muito franzininho, magrinho. Aí meu tio olhou pra mim e falou “Guilherme, joga bem fio, porque olha o tamanho dos caras que você vai jogar junto”. Eu era 92, mas jogava com os caras 90, 91, tudo mais velho que eu.

P: Você tinha expectativa de passar? Você estava confiante? R: Quando eu olhei e meu tio falou essa frase, eu já falei “vou jogar por jogar, porque eu sei que não vou passar”.

P: E como foi essa peneira? Foi um treino? R: Foi um coletivo que eles deram. Não teve treino, aquecimento, nada, pois, como tinha muita gente e era um domingo, tinha que ser muito rápido. Se não me engano, eram 40 minutos os jogos. Você fazia o peneirão e depois esperava a resposta, depois de 15 dias. Aí eu fiz um jogo, joguei de lateral, joguei bem, mas fui embora com aquele pensamento: “eu não vou passar”.

P: Então você voltou pra cá, eles não deram resposta na hora, você não ficou sabendo de nada? R: Nada, eles não falam nada. Na hora eles já deixam bem claro: “olha, depois de 15 dias você entra no site”. Até a resposta não era uma carta. No site, tinha o desenho de um gol e um jogador chutava; se fosse gol, significava que a gente tinha passado, mas se fosse pra fora ou o goleiro defendesse, queria dizer que a gente não tinha passado.

P: E você ainda estava no São José? R: Não, nessa fase já tinha saído.

P: Por conta própria? R: É, porque não queria mais pela estrutura. Eu falei “quero morar lá em São Paulo, quero correr atrás do futebol”. Se eu ficasse ali (no São José), eu ia ficar acomodado.

P: Você estava ganhando alguma coisa quando você saiu? R: Nada. Só o vale-transporte mesmo.

P: E aí passou na Portuguesa? R: Esse acho que foi um dos testes mais difíceis que eu fiz na minha vida. Como tinha 800 pessoas, no primeiro domingo eu fui, aí depois de 15 dias deu aquela ansiedade pra ver (o resultado), e primeiro eu apertei e o cara chutou pra fora. Ai eu falei “nossa, eu não passei”, só que eu não acreditava, sabe? Aí eu desliguei o computador, liguei de novo, entrei no site, apertei pra atualizar, o cara chutou e fez o gol. Aí eu não entendi. Já liguei na secretaria. Aí a mulher perguntou o que apareceu e eu falei que primeiro ele chutou errado e o segundo foi gol. Aí ela falou que o segundo que estava valendo, que o primeiro deveria ter dado algum erro de sistema. Beleza, aí voltei no outro domingo. Aí já tinham 300 pessoas pra uma segunda etapa. Foi a mesma coisa: um jogo. Só que nesse eles já avisavam quem iria ficar e quem não ia. De 300 pessoas, ficaram 150, diminuindo pela metade. Fui embora pra casa de novo, tudo isso pago por minha conta, eles não davam nada pra mim. Aí fui na outra semana, sempre no domingo, e de 150 ficaram 32. Eu fui passando, sempre o mesmo teste, um jogo. Na outra etapa, de 32 ficaram 22, formando dois times. Fui embora de novo,

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sempre assim, um jogo e voltava pra casa. Aí chegou em uma faze que ficaram 11. Com esses 11, nós jogamos contra o time da Portuguesa da nossa categoria, sendo um coletivo também. Jogamos contra o time deles que já era federado na época. Aí, se não me engano, a gente perdeu o jogo de 4 a 0, só passaram dois e eu estava no meio desses dois. Na hora eu nem acreditei.

P: Na hora ali eles já falaram que você tinha passado? R: Foi. Eles juntaram todo mundo, conversaram, falaram que tinha muita gente de qualidade mas que ainda não estavam no potencial para fazerem parte, porque a visão que os caras tem na base é que você tem que ser melhor do que quem já está lá. Aí eles conseguiram ver isso em mim e em mais um moleque que eu não conhecia, que passou. Inclusive, falando hoje, esse moleque que passou comigo é o Jean Mota, que está no Santos. E eu tenho muito contato com ele porque a gente foi criado desde pequeno na base da Portuguesa. Ele jogou no profissional por muitos anos, n Portuguesa. Mas, pela minha linguagem, não consegui me adequar muito bem no profissional. Aí a gente passou e foi um ano de contrato. Eles fizeram contrato...

P: Não profissional ainda, contrato de base mesmo? R: É, contrato de base, mesmo. Quando é o primeiro contrato que eles fazem, qualquer clube, eles fazem de um ano, para eles fazerem uma supervisão do jogador e ver como vai ser. Fiz esse contrato de um ano, eles ficaram com a minha carteira de trabalho, tudo, como se eu estivesse trabalhando pela Portuguesa. Eu tinha uma ajuda de custo no valor de R$ 350,00 na época, só que era pouco. Eles me deram alojamento pra morar, mas o alojamento...vou falar pra você...

P: Como era? R: Perrengue. Era todo mundo junto, um quartinho muito pequeno pra mais de 30 jogadores... Era coisa de louco. E não juntava só os jogadores do sub 17; eu jogava no sub 17 nessa época... juntava com sub 18, com sub 20... Aí, vim pra São José, porque eu ficava lá em uma semana e vinha pra cá na outra, liguei para o meu avô e ele falou pra corrermos atrás de empresário. Aí eu fui na padaria Flor de Ypê. Aí eu consegui o dono de lá, eu mostrei o meu projeto, ele foi me ver jogando, gostou de mim e eu consegui o patrocínio. Nessa época ele me pagava R$ 800,00 e mais os R$ 350,00 que a Portuguesa dava. Aí eu saí do CT e comecei a morar sozinho com um amigo que jogava comigo.

P: E como foi esse período, você deixar sua família e, basicamente, morar sozinho com 16 anos? Foi complicado? R: Foi legal, foi legal porque não tinha ninguém pra encher o saco. Às vezes a mãe fica em cima, o pai também... Em um ponto foi legal, mas até hoje eu me arrependo de ter morado sozinho. São Paulo é um dos melhores lugares pra se morar, mas pra se perder também é muito fácil. Eu, como jogava na Portuguesa, tinha camiseta polo, tinha salário, achava que era o “jogadorzão”. Vivia de “Maria Chuteira” por perto. Hoje eu falo que se não sou jogador profissional, foi por conta dessa fase entre 16 e 18 anos morando sozinho em São Paulo. Eu me perdi totalmente por causa de mulher.

P: Ali eles bancavam estudo também? R: Não. Nada. Tinha só o salário, tinha academia por dentro, deles mesmo, mas estudo não tinha nada. Eles cobravam se a gente estudava e tal.

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P: Você continuou estudando? R: Continuei estudando. Estudava de noite, porque a gente treinava de manhã e à tarde.

P: Em algum momento você sentiu o peso de estar em outra cidade, sem os pais, treinando, rotina pesada, você sentiu que atrapalhou os estudos? R: Não. Não porque eu comecei a ficar maduro muito rápido. Minha vida mudou muito rápido e eu aceitei os desafios que vieram pra mim. Então isso foi muito bom para o meu crescimento. Aí eu vinha a cada 15 dias pra cá, tanto é que o dinheiro que eu recebia nem ficava comigo, ficava com meu avô, porque ele sabia que se ficasse comigo eu iria gastar com coisas que não devia. Ele me ajudava nessa parte financeira, quando precisava de dinheiro eu ligava pra ele e pedia, ele me dava, mas foi super tranquilo.

P: E na questão dos treinos lá na Portuguesa, foi difícil se adaptar com coisas mais pesadas? R: Foi mais pesado. Mudou totalmente. Você pega o São José, sem estrutura, aí vai pra uma Portuguesa, é outro estilo de vida, outro estilo de pegada, é muito mais forte, muito mais intenso, o professor já tinha outro tipo de linguagem, já xingava com todos os tipos de palavrões possíveis. Você estava jogando e o cara falava “vai tomar no seu cu”, xingava mesmo. A gente fazia muitos treinos com o profissional, a gente sub 17... E na época, na Portuguesa estava o Diogo (ex-Flamengo, Santos e Palmeiras, atualmente no Buriram United, da Tailândia), o Christian (ex-Grêmio, Internacional e São Paulo, atualmente aposentado), o Domingos (ex-Santos, atualmente no Santo André), só jogador forte, enquanto a gente tudo pequenininho jogando contra os caras. Então era outro estilo de pegada. Eu lembro que no final de dezembro, nesse período, eu tive uma caída muito grande, porque o professor falava “você não tem que matar um leão por dia, você tem que matar dois leões por dia”, porque era sim: todos os dias a gente treinava ao lado do campo que tinha os testes e tinha teste todos os dias. A gente já ficava meio preocupado, porque eu entrei pelo teste, então eu sabia o que era fazer o teste e entrar. E nesse período eu comecei a cair muito por causa de mulher. Comecei a namorar uma menina, a menina me zoou, eu fiquei chateado, aí eu queria sair de São Paulo pra vir morar em São José. Liguei para o São José pra saber se eles me aceitariam por empréstimo e eles aceitaram. Aí eu perguntei se eles poderiam fazer esse intermédio com a Portuguesa e eles disseram que sim, só que a Portuguesa não sabia que eu estava fazendo isso, foi de má fé minha. Aí o São José ligou, falou que estava precisando de mim, até porque o já tinha acabado, mas o São José disputava o campeonato da cidade, o que poderia ser um atrativo para eu conseguir me desempenhar melhor, e a Portuguesa liberou. Era pra eu ter ficado aqui por três meses, que era o que estava escrito no contrato de empréstimo, e eu fiquei uma semana. Por quê? Porque a menina que eu namorava falou que queria que eu voltasse pra lá. Aí eu falei que iria voltar. Então eu liguei pra Portuguesa, falei que a estrutura do São José estava péssima, que estava passando fome, dificuldades, e eles desfizeram o contrato e me mandaram de volta pra Portuguesa. Quando deu uma semana que eu estava lá, a menina terminou comigo porque falou que “enjoou de mim”. Nossa, fiquei sem chão. Aí o professor falou” o que está acontecendo com você? Você é titular, mas está caindo, agora a gente está com dúvidas sobre você... o que está acontecendo?”. Eu falei que precisava de uns dias e ele me deu 15 dias pra ficar em casa. Quando eu voltei, voltei forte, mas não foi o suficiente. Quando chegou dia 31 de dezembro, antes do ano novo, a gente sentou

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com a diretoria, eles vieram conversar comigo e falaram que, infelizmente, pela minha caída, não renovariam meu contrato e me dispensaram.

P: Você estava com 17 anos? R: 17 pra 18 anos.

P: Como era a rotina de treinos na Portuguesa? Era de segunda a sexta? R: De segunda a sexta e, de vez em quando, no sábado. No domingo era jogo. De segunda a sexta era de manhã e de tarde, sábado era só no período da manhã, que era só recreativo, no domingo normalmente tinha jogo e na quarta-feira, as vezes, tinha alguns jogos.

P: Durante esse período, com exceção a esse momento de queda, você era titular do time? R: Titular, sempre jogando. Eles me chamavam de “Portuga” (por ser nascido e Portugal). Todo mundo me conhecia, os caras do time profissional sempre me davam moral, foi um dos melhores ambientes que eu vivi jogando bola.

P: Então você tinha expectativa de subir? R: Tinha, até porque meu técnico sempre vinha conversar comigo, falava que eu tinha muito potencial, que eu conseguiria chegar muito longe no futebol e sempre acreditando em mim.

P: Nesse período da Portuguesa, chegou a algum outro time se interessar por você? R: Na portuguesa não. Chegaram empresários querendo me levar pra outros lugares, mas como eu já tinha a questão da Flor de Ypê, por agradecimento, eu não quis ter vínculo cm ninguém.

P: Nessa questão dos empresários, os caras prometem muita coisa, mesmo? R: Nossa, prometem até demais, mas nunca cumprem nada.

P: Eles prometem dinheiro ou sucesso? R: Prometem clube. Primeira coisa é clube. Primeira coisa que eles falam é que vão te levar pra tal lugar. Eu já treinei com um cara, um empresário, que falou que ia me levar pra jogar em Boston, nos Estados Unidos, e depois falou que ia me levar pra Paris. No final das contas, não me levou pra lugar nenhum.

P: Então chegou a ter um negócio próximo de você fechar com algum empresário? R: Chegou, mas como eu sempre falei, não queria ficar dando brecha, pois estava satisfeito com o que eu já tinha.

P: Aí dispensado da Portuguesa... R: Dispensado da Portuguesa, começou o momento difícil da minha vida, porque automaticamente fui dispensado, meu empresário soube, porque eu não tinha vínculo de contrato com ele, só de boca a boca, soube da minha caída e automaticamente ele saiu fora, fiquei sozinho. Liguei para o São José, como eu tinha contatos, falei que eu estava no mercado, que eu estava sem clube, e me chamaram pra disputar a Copa São Paulo. Aceitei o convite, comecei a treinar em janeiro, já tinha acabado o período, estava começando outro, entre 2008 e 2009, me preparei, treinei o ano inteiro bem, titular, eu era sub 18 mas toda vez que tinha jogos do Paulista do sub 20, o São José

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me chamava pra jogar pra eles; eu não era titular, ficava no banco, as vezes entrava, as vezes não. Na época, o Ríncon (Freddy Rincon, colombiano ex-jogador do Corinthians) foi técnico do São José, ele me viu jogar, a gente fez um jogo-treino contra o time profissional, ele gostou do meu desempenho, pediu que eu subisse para o profissional, mas o meu técnico não deixou porque ele queria que eu jogasse a Copa São Paulo. Quando chegou em dezembro, último dia pra terminar as inscrições pra Copa São Paulo, em novembro se não me engano, nosso técnico foi mandado embora, um ano de preparação, planejamento, e nosso técnico foi mandado embora porque ele veio conversar com a gente falando que tinha um monte de empresários que queriam levar jogadores pro São José e que ele tinha que escalar os jogadores dos empresários pela diretoria. Ele falou que no time dele ele não faria isso, que, se quisessem, mandassem ele embora, que o time dele já estava montado. Mandaram ele embora e trouxeram o Marião, já falecido. O Marião aceitou o convite da diretoria, vieram uns jogadores de empresários, nessa época eu tinha um conflito com o lateral esquerdo que disputava posição comigo, e ele veio em uma jogada muito forte comigo, de propósito, ele sabia que eu tinha acabado de voltar de uma contusão no pé direito, tinha feito tratamento, fisioterapia tudo, fiquei 3 meses parado, e quando voltei, no mesmo dia, ele foi e me machucou de novo. O mesmo cara me machucou duas vezes. Até hoje eu o vejo na rua algumas vezes e fico muito irado. Aí acabei sendo dispensado porque não ia dar pra ser utilizado durante esse período, porque no São José não tinha nem contrato, era só de boca mesmo.

P: Então o São José também não te pagava nada? R: Não, não pagava nada. Quem pagava era meu avô que me ajudava. Somente davam o vale-transporte e, as vezes, quando a gente treinava em dois períodos, davam almoço.

P: E esse período de lesão, de 3 meses, o São José te ajudou em alguma coisa? R: Nessa parte, eu falo que o São José foi uma mãe, porque até convênio médico, da Plani, toda fisioterapia, tudo que teve que fazer de tratamento eles deram toda a assessoria.

P: E foi pra onde depois disso? R: Aí peguei e fiquei chateado, aí entrou um empresário em contato comigo, não conhecia ele, chamado Douglas Lourenço, aí já estava com 19 anos. Ele entrou em contato comigo pra...querendo levar eu pra jogar lá em Londrina, jogar a segunda divisão do Paranense, no profissional. Porque ele tinha me visto jogar no São José muito tempo e ele já estava me perseguindo, mas nunca teve.

P: Ele não era daqui? R: Ele era daqui, morava aqui. Aí ele foi mostrar que ele era profissional da seleção brasileira de triatlo. Eu vi mesmo a história dele como atleta. Aceitei o convite. Daí ele quando as coisas começaram a ficarem estranhas quando eu vi que ele fez um contrato comigo, assinei com ele, mas uma multa rescisória pra mim de R$ 1 milhão, pra mim tirar. Aí eu falei "mas um milhão sendo que eu não tenho conhecido ainda, o cara já está fazendo contrato gigantesco". Aí eu fiquei na minha.

P: E era no Londrina mesmo? R: Era no Londrina. Aí foi eu e um amigo meu, que ele viu a gente, e a gente foi. Fomos em uma terça-feira de noite, ele foi em casa e aí veio um cara que conhecia

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ele, chamado Daniel Bonani e levou a gente lá pra rodoviária da Barra Funda. Chegando lá, em Londrina, ele falou que era pra gente procurar um cara chamado Eli, a gente não sabia nem a fisionomia do cara, lembro que a gente sentou na rodoviária 5h da manhã em Londrina e daqui a pouco chega um negão gigante todo de preto. "Vocês estão procurando quem?". Aí eu olhei e falei caraca, quem é esse cara. Aí eu falei que estava procurando o Eli. Ai eu falei, mano será que a gente tá na barca errada, alguma coisa está estranha, né? Aí o cara veio me seguindo. Aí fomos, aí ele falou que era o Eli, prazer, tal. Aí ele falou "O Douglas que trouxe vocês?" Aí eu falei que era isso mesmo, aí então beleza. Aí ele falou "Vou lá apresentar a estrutura do clube, vou apresentar vocês pra imprensa" e tal. Aí eu fiquei tranquilo. Aí chegamos no hotel, a gente tomou café, nesse tempo que a gente estava tomando café chegou o técnico do clube, conversou com a gente, apresentou a proposta do que a gente iria trabalhar, o campeonato que a gente iria jogar, os amistosos que a gente tinha. Aí a gente pegou a camiseta, fez a apresentação e tudo, aí ele falou "É o seguinte, aqui não é um Flamengo, aqui não é um Corinthians, mas aqui a gente tem uma estrutura, tem um alojamento, vocês vão ficar no alojamento". Cara, quando eu cheguei no alojamento, foi o pior o alojamento que já existiu na minha vida. Era em cima de uma lan-house, era uma casa com três cômodos e cada quarto tinha quatro beliches com 30 candango dentro do quarto. E aí, quando eu cheguei o moleque falou assim, o moleque já passou todo o Brasil inteiro. Já jogou o colchão no chão, do lado da chuteira dos caras, fedendo, aí ele falou "Olha, você dormir aí". Na hora eu já levantei e falei pro procurador "cara, aqui comigo eu não vou ficar aqui não. Ou eu vou embora pra minha casa que eu não vim pra passar dificuldade aqui não". Aí ele falou "Não, amanhã os caras vão ser dispensados, um monte de cara aí e vai sobrar esse quarto pra vocês". Aí beleza. Aí aconteceu no outro dia realmente um monte de jogador foi mandado embora. E aí a gente arrumou um quarto, quando a gente foi treinar no primeiro dia, o diretor do time, o presidente chegou e falou assim "quem é jogador do Eli?". Aí eu falei "acho que eu sou, né". Aí fui pro lado, o cara chegou e falou assim pra mim e pros caras que estava lá, "jogador do Eli não vai treinar enquanto ele não pagar uma taxa que ele está devendo de 10 mil reais pro Londrina". Aí pensei oloco, primeiro dia de treino e já tá assim. Aí já vi que era barca furada. Fiquei um mês treinando sozinho com uns amigos meus, sem treinar com o clube, treinando particular.

P: Mas lá mesmo? R: Lá mesmo. E nessa fase, cara, o clube estava falindo, porque eles não tinham nem café da manhã pra dar pro jogador. A mulher que tinha uma cantina, a gente ia lá e a mulher falava que eles não pagaram nem ela e nem comida pra dar. Aí de manhã o café de manhã nosso era pipoca com café. E o almoço era arroz, feijão e macarrão. Eu fiquei lá três meses e nesses três meses comendo isso.

P: Sem ganhar nada? R: Sem ganhar nada.

P: Já deu pra ver ali que tava tudo errado. R: Não. Tudo errado. 100% errado o clube, o técnico, os jogadores. Porque era assim, nos treinávamos de segunda, o time profissional, aí a gente treinava de segunda a sábado. Quando chegava no sábado de tarde, chegava um jogador de empresário em um carrão e entrava dentro do jogo coletivo e dali era pra marcar porque iam vir algum empresário pra ver ele jogar aquele jogo. Jogando contra o Cianorte, Arapongas,

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jogamos contra o time de Cambé, que era lá perto de Londrina, contra o Paraná, mas tipo assim...era só jogador de empresário.

P: E você chegou a jogar pelo menos? R: Joguei um jogo só. Por causa desse problema que o Eli teve. Aí beleza. Nesse período vieram pedir minha documentação pra eu fazer o BID da CBF. Daí eu falei " não, o meu empresário já entregou pro cara, pro Eli, não foi o envelope que eu entreguei, porque eu tive que entregar um envelope lá que estava na minha bolsa que o meu empresário pediu pra entregar o envelope pra esse Eli". Aí ele falou "Seguinte, não veio seu documento, não veio o seu documento e nem o do seu amigo, você tem que ver com o seu empresário onde tá". Aí liguei pro meu empresário e ele falou "não, eu deixei dentro de um envelope, que o Daniel Bonani que te levou pra rodoviária entregou pra você". Aí eu falei que não veio nada. Aí o cara foi e me roubou inteirinho. E nesse período que eu tive um dinheiro, meu empresário me roubou 3.800 reais. E até hoje eu estou na justiça pra pegar de volta esse dinheiro dele. Que o clube me deu na época, que era um salário que eles tinham que me dar que estava atrasado. Tipo assim...eles não me pagaram no começo, mas quando eu saí de lá, eles tiveram que me pagar uma coisa por eu ter ficado lá. Eles me pagaram, eles falaram que tinha que depositar direto pro empresário, porque o empresário entregaria pra mim. Nunca ele me entregou.

P: Você ainda tinha contato com ele, então? R: Tinha contato. Aí ele falou que tinha gastado o dinheiro, que uma emergência de coisa de família. Peguei e liguei pra minha avó, pra mandar dinheiro pra eu voltar pra São José. Quando eu voltei, ele falou "Olha, vou levar você pra jogar no Taubaté". Fui pro Taubaté, eu estava com 19 anos, ele colocou pra eu jogar no sub-18. Ai perguntei porque eu ia ficar ali, se ia ficar só treinando. Cara, eu fiquei dois meses lá, o técnico nunca perguntou o meu nome.

P: Você nem jogou? R: Nada. Só treinava separado.

P: Nem tinha contrato também? R: Nada.

P: Dois meses? R: Isso. Cheguei nessa fase. Ainda bem que eu tinha conhecido lá em Londrina o primo do Wellington Nem. Eles conversavam. Na época o Wellington Nem estava no Figueirense. Era a estrela lá do Figueirense. E conhecia o contato dele aonde ele passou também, mas eu vi que não ia dar certo, porque eu tinha que ir pro Rio.

P: E do Taubaté? R: No Taubaté, eu fiquei dois meses. Peguei e liguei pro empresário e falei que não queria mais e que não ia ficar treinando de bobeira, eu quero jogar, quero disputar campeonato. Aí ele chegou e falou "Então, volta pra São José, eu vou mandar você pra jogar no time de Poços de Caldas. Você vai jogar o Mineirão. Pode ser?".

P: Era o Caldense? R: Sim. Aí eu cheguei na rodoviária, ele me deixou a minha passagem na mão, de São José pra Paraisópolis. Aí eu estranhei, liguei pro meu avô e perguntei "Vô, essa

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passagem de São José pra Paraisópolis, passa em Poços de Caldas". Ele falou "Não, não chega nem perto". Aí liguei pro empresário e ele falou "não, é que tem uma assinatura aí atrás da sua ficha da passagem, que é pra autorização". Aí eu fui na Pássaro Marrom, perguntei pra eles e eles falaram "Não, isso aí era assinatura de que você está liberado pra viajar pra essa viagem". Aí o cara estava fazendo trambique comigo. Ele ia me mandar pra Paraisópolis de maldade. Aí eu já liguei pra ele e ele me regaçou, começou a me xingar. Falou "Ah, agora você virou hominho". Aí eu comecei a discutir com ele. E dali em diante nunca mais tive contato com ele.

P: E você tinha contrato com ele ou não? R: Tinha contrato.

P: E rompeu? R: Rompi. Fui na Justiça com advogada e desfiz o contrato e estou na Justiça com ele pelo ressarcimento e tudo aquilo que ele me roubou.

P: Dali você teve mais alguma oportunidade? R: Fiz um teste em Jundiaí, pra ir pros Estados Unidos, pra Universidade. Esse eu passei, cinco universidades ficaram satisfeitas, que quisesse que eu fosse pros EUA, mas aí eu tive que pagar a passagem de 4 mil reais na época. Não tinha. Porque era translado, mais a passagem e o visto. Eu não tinha esse dinheiro e acabou que foi a última vez que eu tentei jogar futebol na minha vida, profissionalmente.

P: Depois disso eu sei que você jogou futebol amador. Nunca chegou o interesse do São José? R: São José. Esse ano, ano passado, quando mudou a diretoria para o Ademir, entrou uns novos conselheiros e tem um cara que tem contato comigo. Aí ele veio me fazer o convite, falou que ia me pagar mil reais por mês, que eu não precisava nem fazer teste, era só eu voltar minha forma física de antigamente, que ele confiava em mim. Mas eu estou casado hoje, não pretendo mais, nunca mais, voltar a fazer parte do futebol.

P: Qual foi o pior momento desse período todo seu buscando a profissionalização? R: Foi quando eu fui pro Paraná, cara. Acho que foi um perrengue que eu nunca passei na minha vida e passei fome, passei dificuldade, morando sozinho, distante de casa, não tinha ninguém. Sendo maltratado demais pelos caras de lá. Acho que foi um dos perrengues mais...foi até onde eu parei pra pensar se realmente valia a pena continuar. Porque eu já estava namorando há mais de cinco anos. E já estava influenciando isso no meu relacionamento.

P: E qual foi o momento que você sentiu que de repetente que você estava mais perto de conseguir se tornar profissional? R: Na Portuguesa. E no São José quando eu joguei o Campeonato Paulista sub-20. Eu achei que eu ia chegar...até esqueci de falar, quando eu estava jogando no sub- 20 a gente fez um amistoso lá no CT Rei Pelé, no Santos. E foi quatro tempos esse jogo. Eu joguei o último tempo, porque eu era mais novo, então eles me colocaram no último tempo. E houve um interesse do Santos e aí o São José, eu não tinha contrato com o São José, só que o São José, eu fiquei sabendo depois pelo meu técnico que ele revelou pra mim quando saiu de lá, que a diretoria do São José não queria, falando que tinha um contrato milionário comigo pra me dispensar. E o Santos, como eu já

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estava na base, o Santos não ia pagar um valor desse absurdo, grande pra me tirar do São José. Aí eu fiquei sabendo nessa época que teve o Santos e teve o Mogi também.

P: O que você mais se arrepende desse período? R: Meu maior arrependimento foi na Portuguesa, que eu não dei valor, eu tinha toda a estrutura possível do que um menino de base, não tinja dificuldade, tinha dinheiro, tinha uma vida boa, mas acho que foi a pior coisa da minha vida assim que eu passei muita dificuldade. Até um ano atrás eu vivia com essa dor na consciência, porque imagina eu vendo o meu amigo Jean Mota, meu colega jogando na Portuguesa, o cara saiu da Portuguesa e foi pro Fortaleza, sai de lá e vai pro Santos, ganha um salário milionário. Eu falo "putz, eu poderia estar lá com ele".

P: E você tem ainda algum amigo que se deu bem também? Assim como o Jean Mota. R: Jogando hoje tem o Guilherme, que joga no Caxias do Sul, que jogou comigo também. Tem o Guilherme Rato que joga no Grêmio, hoje tá no Tubarão. Também é meu amigo. Eu tinha muito contato com o Casimiro, porque a gente jogou na mesma época, ele é da mesma idade que eu, joga no Real Madrid. Mas a gente teve muito contato, porque na época ele jogava o Moreira, eu jogava no São José, então tinha bastante jogo e a gente começou a se conhecer, mas fora isso não tenho mais nenhum amigo não. P: É claro que tem que ter confiança na gente, mas nesse período na Portuguesa, você acha que se você tivesse dado valor, você teria chegado no profissional? R: Sem dúvida. Essa é uma coisa que eu não tenho dúvida. Por isso que eu tinha receio. Eu vinha carregando isso porque eu tinha certeza que eu ia conseguir ser profissional, até um tempo atrás eu encontrei meu ex-técnico, e ele me abraçou, falou "Nossa, quanto tempo que a gente não se vê. O que você tá fazendo da vida? Aí eu falei "Agora estou trabalhando". Ele disse "Cara, era pra você ser um excelente jogador profissional. A Portuguesa estava te preparando pra você ser um jogador profissional".

P: Além dessas peneiras que você falou que fez, porque a maioria que você falou você passou, querendo ou não. Teve alguma que você fez e não passou? E te deu dor no coração? Algum teste, alguma coisa assim? R: Que eu fiz e não passei? Teve no Corinthians, que eu fiz, fiquei três dias fazendo teste. Na época tinha o Lulinha, os caras jogando...nessa vez eu achei que eu ia conseguir alguma coisa, porque eu estava na minha melhor forma de jogar futebol.

P: Que época que foi? R: Foi antes da Portuguesa, acho que foi em 2008, se eu não me engano. E nessa eu não consegui passar, mas foi por detalhes mesmo.

P: E também foi dessas peneiras cheias de gente? R: Cheia de gente. Só que daí esses...não se compara com o que tinha na outra, porque o Corinthians faz um peneirão, só que não é no CT deles, eles fazem bem indicação, eles indicam um cara. E eu fui indicado por um cara daqui de São José. Ele me levou pra lá e falou "Olha, você vai fazer o teste tal dia". E aí eu fiz, já fiz no RedBull também, não passei. Como falei, já fiz no Flamengo.

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P: E como que é você ver essa galera? De repente você vê alguém passando e não passar, é... R: É triste. Você vê cada molecada chorando, porque muitos que eu vi fazer teste era porque o pai...era o sonho de ver o filho jogar bola e botava lá, você via que moleque era ruim, ruim, mas tinha moleque que se dedicava, que era humilde, você via o moleque sair chorando, dava uma tristeza e você era o depois, você tinha que jogar depois do moleque que já tinha sido dispensado. Aí você olhava assim "putz, mano, agora é a minha vez" e já ficava com aquela mente, caraca e agora, será que eu vou passar também? Eu não vou ser aprovado de novo?

P: Sendo que a grande maioria não passa? R: Não passa, é tipo assim...vai 30 caras fazer, dois ou um passa, no máximo. Bem difícil.

Caio Oliveira P: Quando você começou a jogar futsal visando se tornar profissional? R: Cara, eu comecei a jogar bola com 9 anos na escolinha onde um vizinho me convidou pra jogar. Joguei um ano com ele e com 10 anos já fui para o Atleta Cidadão, que o projeto da cidade. Foi aí o meu primeiro contato com competição de alto rendimento. Com 11 anos foram os primeiros campeonatos, que foram o Paulista e o Metropolitano, que são os campeonatos que as categorias de base jogam.

P: Sempre jogando no gol? R: Então, até é uma história engraçada. Eu comecei na linha, aí acabou que eu tomei uma bolada onde não precisava, aí os caras falaram pra eu ir no gol, eu fui e gostei. Na primeira vez eu já fui bem, gostei e abracei a ideia. Depois disso só no gol, a vida inteira.

P: Ali você já pensava em ser profissional? R: Eu estava mais era vivendo o momento mesmo, curtindo, porque ali que estavam meus amigos. Tinha os da escola, mas eu curtia mesmo era estar com os caras jogando bola e tal. Isso até uns 15 anos. Com os 15 que caiu a ficha mesmo, que eu pensei que dava pra ser alguma coisa jogando bola. Com 15 eu comecei a me dedicar realmente, aí sim, virar profissional.

P: Até os 15 você estava no Atleta Cidadão? R: Estava no Atleta Cidadão. Joguei por nove anos lá, desde o sub 11 até o sub 19. Depois disso, tive uma passagem por Sorocaba, antes de voltar pra cá.

P: Nesse período, ainda nos 15, que é onde a coisa muda de vez, você chegou a fazer algum teste ou peneira em outro time? R: No sub 13, eu tive uma peneira no São Paulo, que na época tinha um time bom de futsal. Só que passei na primeira fase e na segunda fase, molecão, eu esqueci o RG, ai eu não pude entrar lá, porque era no estádio. Aí acabei perdendo essa oportunidade. Depois, no sub 15, eu tentei em São Bernardo, que tinha um time bom, também, mas acabou que não me davam condição, não davam estadia, não davam alimentação, nada, aí não tinha como eu ficar.

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P: Nessa você chegou a passar, então? R: Sim, essa do São Bernardo eu passei, eles me convidaram pra ficar lá, mas eles não tinham condição de me ajudar. Era um time que jogava a primeira divisão, então compensaria por isto, mas sem estadia, alimentação, ajuda nenhuma... Aí ficou difícil e fiquei em São José mesmo, jogando a prata (segunda divisão do paulista), e fiquei até o sub 19.

P: Essas peneiras e testes que vocês fez foram daquelas cheias de gente ou foram mais testes mesmo? P: A do São Paulo foi bastante gente, na primeira fase pelo menos. No São Bernardo não foi muita gente não, tinham uns 15 garotos, mais ou menos, mas nada do tamanho que foi o Sorocaba. Sorocaba, eu entrei no sub 20 com peneira também, e aí foi só por Deus.

P: Quantas pessoas mais ou menos? R: Eu tenho o número. Foram 1200 pessoas. Eu fiquei sabendo disso depois que eu já tinha entrado. Foram 216 goleiros. Depois que eu já estava lá, eles me mostraram as fichas, mostraram que foram 216 goleiros.

P: E você foi o único a passar? R: Eu fui o único. Nossa... experiência gostosa. Foram duas fases, também. na primeira fase foi bastante gente, os 216. Na segunda fase foram só os pré indicados, que já eram meio que conhecidos, e já foram direto para a segunda fase. Nessa fase que foi mais difícil, porque tinham uns goleiros de seleção paulista, goleiro que estava chegando da Itália, aí tinha uma rapaziada boa. Graças a Deus ficaram com um só e eu fui o escolhido. Acho que foi uma das melhores experiências que eu tive em termos de satisfação pessoal.

P; Quando você fez essa peneira, você imaginava que fosse passar? R: Pior que não. Eu fui desacreditado, porque eu estava parando. Cheguei no sub 19 do São José e no ano seguinte ia estourar a idade, aí eu ia parar e estudar. Aí meu treinador de goleiros aqui do São José me falou que teria uma peneira do Sorocaba para o sub 20, aí falei que ia lá pra ver como era. Não tinha que fazer inscrição, nada, era na hora mesmo, aí fui com um colega meu. Fomos lá, preenchemos a ficha e começou a lotar o lugar. Mas fui sem pretensão nenhuma. Aí passei da primeira fase, o que já me surpreendeu, Aí na segunda fase foi uma das melhores sensações. Eram 16 goleiros na segunda fase. Conforme os jogadores de linha iam jogando e sendo dispensados, os goleiros iam revezando por não ter tantos. Aí fui ficando, fui ficando... no final, o preparador de goleiros de lá, Carlão Bracali, sentou os goleiros, agradeceu a presença de todos, foi elogiando, foi falando de quem gostou, disse que se pudesse ficaria com cinco, mas só tinha alojamento pra um. Quando ele falou isso, eu já pensei "ah, da hora, não deu pra mim", porque realmente tinha um goleiro de Guarapuava que o moleque era muito bom, estava num dia muito bom; quando ele falou que só tinha vaga pra um eu pensei "beleza, valeu a tentativa, não perdi nada". Foi aí que ele falou "quero falar com você", apontando para esse menino de Guarapuava, "e com você", apontando pra mim. Eu estranhei, mas pensei "da hora né, vai ficar com o menino e me indicar pra algum lugar". Aí ele olhou pra mesa, para o Reinaldo, que eu conheci depois, e perguntou se iriam conversar com os dois e ele respondeu que não,

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que seria só comigo. Eu fui lá pra ver o que era, achando que ele talvez fosse um empresário que iria me levar pra algum time ou alguma coisa do tipo, mas aí já era a "salinha do cara", pra assinar papelada, ver se estava de acordo... Aí tudo deu certo, meu pai quase chorou, foi bom demais.

P: Você assinou contrato mesmo? R: Sim. Foi um contrato de um ano. Aí joguei lá o sub 20 e quando acabou o sub 20 eu voltei pra São José.

R: Lá você ganhava alguma coisa? R: Recebia. Lá eu estava no paraíso. Lá eu recebia tudo, salário, faculdade, morava em um apartamento que eles forneciam, transporte era por conta deles. Então o dinheiro que eu pegava não era tanto, mas era meu; não tinha gasto nenhum.

P: Quanto, mais ou menos, você ganhava de salário? R: Não chegava a R$ 1.000,00. Era menos que R$ 1.000,00, mas pra sub 20 estava bom.

P: Aqui no São José, antes de ir pro Sorocaba, você ganhava alguma coisa? R: Eu ganhava uma bolsa auxílio de R$ 400,00, mas era só. Não tinha transporte ou alimentação, só os R$ 400,00.

P: Quanto tempo você ficou fazendo esse teste no Sorocaba? R: As duas etapas foram em dois sábados. O primeiro eu fui com esse meu colega, a gente foi um dia antes, na sexta. Dormimos lá pra já estarmos descansados pra peneira e tal. No sábado teve a peneira, das 8h às 20h. Eu cheguei no ginásio eram 8h, preenchi a ficha e meu primeiro jogo foi quase 15h. Então eu já estava exausto, cansado, mas graças a Deus deu tudo certo.

P: E você não conhecia ninguém na cidade, tudo novo... R: Não conhecia ninguém. Conhecia só os caras da peneira, mesmo, porque um ou outro a gente acaba conversando.

P: Passou muita gente? R: Passaram sete.

P: Que é pouco, de 1200. R: De 1200 é bem pouco. É pior que um vestibular.

P: E como foi se mudar pra lá com quase 20 anos, mas sozinho? R: Foi uma experiência bacana. Eu gostei bastante. Eu achei que ia ser mais difícil, mas a cidade é muito boa, todo mundo me acolheu bem, ainda tinha a faculdade, então consegui fazer alguns amigos, o que facilitou bastante.

P: E lá a condição era boa de alojamento e essas coisas?

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R: Tudo perfeito, tudo tranquilo. Almoço por conta dos caras, a gente almoçava no restaurante, levava marmitex pra janta. Lá, a estrutura da base é sensacional. O mesmo tratamento que eles tem com o principal, eles tem com a base. Isso aí foi o que me ajudou bastante.

P: E aqui, a estrutura do São José, como era? R: Da base, no São José, era aquele negócio: não era às mil maravilhas, mas, para a gente que era da cidade, supria as necessidades; se viesse alguém de fora, talvez passasse um pouco de dificuldade. Como a gente tinha a casa dos pais, tranquilo, sempre foi de boa.

P: Tinha gente que jogou com você que era de fora da cidade? R: Cara, não conheci nenhum que jogou de fora da cidade, a não ser, tipo, Pindamonhangaba... tinha um menino de Pinda, mas ficou pouco tempo justamente por causa da dificuldade, aí acabou ficando por lá mesmo, que, na época, também tinha um time bom. mas foi pouco tempo que ele passou com a gente.

P: Você falou que seu pai quase chorou quando você passou no Sorocaba. Sua família sempre te apoiou no esporte? R: Eles sempre compraram a minha ideia, de apoiar, mas, se não der certo, tudo bem. Então, eles sempre correram comigo pra treino, pra jogo, mas nunca falaram "não, não vai porque você tem que estudar'. Nunca teve essa proibição.

P: Em algum momento atrapalhou os estudos, por mudar de cidade, treinamentos, rotina...? R: Acredito que ficou mais difícil, porque você treina de manhã, treina a tarde, tem que estar na faculdade a noite, cansado... Isso dificulta um pouco a aprendizagem, mas nada que, com um pouquinho de esforço, a gente não consiga reverter a situação e aproveitar da melhor forma as duas situações.

P: Quando você era mais novo ainda, não chegou a atrapalhar? R: Não. Quando eu estava na escola, a gente treinava menos, eram três vezes por semana, então nunca chegou a atrapalhar.

P: Antes de falar do Sorocaba e de hoje, você jogava rúgbi, também... R: Cara, passei um tempo jogando rúgbi, tenho saudade, acho que é um dos esportes que eu mais admiro e, infelizmente, eu não continuei no rúgbi por questão financeira mesmo. Infelizmente no Brasil o rúgbi basicamente sobrevive de bolsa e essas bolsas são disputadas. Então, não tem salário, não tem essas coisas do tipo, mas é um esporte que tá crescendo muito no Brasil e acredito que esse problema financeiro vai se resolver nos próximos anos.

P: E como você fazia? Você jogava os dois ao mesmo tempo? R: Eu conciliei os dois por um ano mais ou menos, foi em 2015.

P: Quantos anos você tinha?

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R: Era 16 pra 17 eu acho. E aí eu joguei rúgbi três anos e conciliando, porque os dois eram treinos quebrados. Por exemplo, o rúgbi duas vezes por semana, o futsal três. Então eu sempre conciliei as duas coisas. Nunca coincidiu jogo, graças a Deus, porque no rúgbi eu tinha certo que a prioridade era o futsal, por enquanto. E aí caso tivesse de coincidir jogos, a preferência seria do futsal, mas nunca tive um problema, justamente por causa dos jogos de futsal serem mais no meio da semana e os do rúgbi no final da semana, então acabou sendo tranquilo.

P: E você chegou a sentir algum cansaço, algum peso por treinar os dois esportes diferentes? As vezes a questão do rúgbi que é um esporte cansativo. Você sentiu que de repente te atrapalhou em algum dos dois em algum momento? R: Ah, principalmente pós jogo de rúgbi, eu chegava meio quebradão nos treinos de segunda e tal, no futsal. Mas isso aí a gente ia levando e é tranquilo.

P: A galera do São José, dos dois times, sabia que você jogava os dois esportes? R: Sim, as duas direções sabiam, estavam cientes e sempre apoiaram. Enquanto não estava prejudicando o um ou outro, eles sempre foram tranquilos com essa situação.

P: E do rúgbi você ganhava alguma coisa? R: Do rugi eu ganho até hoje, mas é bolsa. Ganho uma bolsa que você pega seleção paulista e seleção paulista joga o brasileiro. Aí os três primeiros lugares no campeonato brasileiro recebem a bolsa no ano seguinte. A minha bolsa, que é de 2016, que a gente foi campeão, atrasou em 2017, aí a gente começou a receber agora em 2018. Então, eu ainda recebo uma grana do rúgbi.

P: E é um valor que te ajuda? R: Ajuda muito. Principalmente, pra pagar a faculdade, que aqui em São José não tem a bolsa de estudos que eu tinha em Sorocaba. Então, essa grana do rúgbi está pagando a minha faculdade.

P: O São José, então, não te ajuda com faculdade, era só o Sorocaba mesmo? R: Não, era só o Sorocaba. Ainda tenho tentado conversar com o pessoal do Sorocaba pra ver se eles me dão uma força de, pelo menos, contribuir com a bolsa, que não sai do bolso deles, é uma parceria que eles tem, pra ver se eu consigo aí pro segundo semestre a bolsa de novo, mas acho difícil.

P: E como que foi largar o rúgbi. R: Foi doído, cara. Como eu falei é um esporte que eu gosto bastante, gostava de praticar, mas eu tive que escolher entre a grana e o prazer. E infelizmente tive que ficar com a grana.

P: Mas você tinha a oportunidade de repente de chegar longe no rúgbi, você acha que pelas oportunidades que tinha? R: Eu acho que a gente pode pensar no próprio São José que é uma das potências do Brasil...

P: Mas você não pensava em sair do país?

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R: Cara, acho que eu sempre fui ciente das minhas limitações. Então, eu sabia que eu era bom, mas não o suficiente pra sair do Brasil. Então, auge pra mim seria realmente o São José, mas é ai que entra a questão financeira, que não ia valer tanto a pena assim.

P: No rúgbi era o que? Base ou já era o time principal? R: Era a base. Lá a gente chama de M-19, que é a última categoria das menores.

P: Abaixo de 19 anos?! R: Isso. E joguei dos 16 aos 19. E fui bem, cheguei a ser artilheiro do São José no Paulista, sub-19. Mas, infelizmente, tive que escolher entre os dois.

P: Mas você chegou a ter algum contato do time profissional? R: Sim. Fiz a estreia pelo time principal, um jogo contra a Poli. Fui bem acolhido também. Passei pelos trotes e tal, mas é coisa do rúgbi.

P: Agora mais recentemente, você ficou no Sorocaba um tempo, sempre na base? Não chegou a ter contato com o time principal? R: Não, contato com o principal era muito difícil, até porque os dois goleiros dos caras era goleiro de Seleção Brasileira. Então, pra um moleque ter uma oportunidade no principal seria mais difícil. Agora a rapaziada de linha, os caras sempre tinham contato com o principal sim, porque a gente treinava junto as vezes. E aí sempre pegava um ou dois moleques pra compor o time principal. E aí eles iam fazendo esse revezamento, mas pros goleiros era mais difícil.

P: Quanto tempo você ficou lá? R: Eu fiquei 10 pra 11 meses.

P: Então, nem chegou a dar um ano de contrato que você tinha fechado? R: Não, eu fechei a temporada, né? Que era a temporada pelo sub-20. Aí o campeonato acabou em novembro, mais ou menos, aí foi esse período que eu fiquei lá.

P: E você saiu porque estava estourando o sub-20? R: Exatamente, eu estourei o sub-20, aí na hora de fechar com o principal, os caras me chamaram lá e falaram "infelizmente a gente tem o Thiago, a gente tinha acabado de fechar com o Lucas", que era um goleiro da AABB, que estava indo pro Sorocaba, e aí eu não ia jogar. Eu tinha ciência disso, porque os caras são goleiros de Seleção Brasileira. Aí eles falaram "Caio, vai pra um time menor, roda um pouco e quem sabe volta a trabalhar com a gente". Aí eu abracei a ideia.

P: Então foi uma saída boa?

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R: Não, saí com as portas abertas. Conversamos tranquilo. Não foi nada que me surpreendeu, porque eu tinha noção que lá é realmente a elite do futsal brasileiro, é lá. Eu tinha noção que seria difícil permanecer. Mas só a passagem por lá já me abriu várias portas. Depois que eu saí, que eu acabei optando pelo São José, por estar em casa. Tinha o sonho de moleque de jogar na sua cidade natal como profissional. E aí acabou pesando na hora de escolher o time que eu ia seguir depois do sub-20.

P: Até ia pergunta isso mesmo, porque você estava no Sorocaba, talvez o maior time de futsal do Brasil. Isso te ajudou, você sair da base de lá, você sentiu que fez muita diferença de surgir vários interesses? R: Sim, isso aí surge porque querendo ou não lá é referência. Então, você saindo da base lá, acaba abrindo portas. Aí dentre essas que abriram, eu escolhi o São José justamente por ser a cidade natal, por estar jogando a liga nacional, que é importante, que pesou também na escolha. E meu pai falou que era o sonho também ver o moleque jogando no time da cidade. E aí não teve outra, escolhi o São José. Estou contente. Estou correndo atrás, não estou jogando tanto, justamente por causa da idade, por ser novo e tal, mas desistir eu não vou não, vou até o fim aí e ver até onde vai me levar.

P: Como que foi você voltar a jogar no São José? Você reencontrou pessoas que estavam com você que estavam na base do São José? Ou mudou tudo? R: Cara, foi meio diferente, por não estar acostumado com o time principal. Porque a minha vida inteira aqui no São José foi na base. E aí por não ter um contato com o principal aqui em São José acabou sendo meio diferente, porque eles não costumam abrir muito as portas pra quem é da cidade. Foi até uma surpresa, que eu acredito que é fruto de Sorocaba, que os caras me contrataram, ali no São José só tem eu e mais um da cidade, mas que esse um também já rodou bastante, pra chegar aqui em São José. Então, acho que não sei se tem um preconceito com quem é da cidade e tal, mas encontrar...ninguém da base.

P: E como que foi...qual foi o acordo que vocês fecharam? De um ano? Dois anos? R: Cara, a gente não fechou acordo. A gente...porque ali é meio que uma parceria com o Manguaca, que é um time de extra, então os caras não tem contrato, não tem nada, é mais do boca a boca, da confiança mesmo, e a princípio é por temporada. Se os caras quiserem me renovar pra temporada que vem a gente vai fazer esse mesmo acordo boca a boca e vou seguindo assim por enquanto.

P: E financeiramente, aqui tá sendo bom pra você? R: Cara, financeiramente é difícil falar porque não está sendo tão lucrativo assim, devido aos benefícios que tinha na base do Sorocaba. O salário é praticamente o mesmo, menos de 1000 reais.

P: Você ganha um salário mínimo praticamente? R: Por aí. Talvez até um pouquinho menos do que um salário mínimo, mas não tenho os benefícios que eu tinha lá. Então, tem sido meio complicado, eu estou ralando um pouco, mas o que tem me ajudado mesmo é a grana do rúgbi, que me ajuda muito até hoje.

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P: E como que é estar no time principal? Você sempre que dá pra chegar lá? Porque você disse que não está tendo tantas oportunidades. Você sente que dá pra chegar? Que dá pra ter oportunidade? Ou é meio complicado? R: Cara, é muito difícil realmente estar no profissional, mas eu sei que com trabalho que eu estou desempenhando uma hora ou outra vai aparecer essa oportunidade aí, e eu espero estar pronto pra corresponder a altura e não sair mais.

P: Goleiro titular hoje é o Daniel, tem um pouco mais de idade que você. Também não é velho, mas como que é a relação assim? Te acolhem? R: A relação é muito boa. A gente resenha, a gente se ajuda, a gente conversa bastante. E ali não tem rivalidade, não tem nada. É um torcendo pelo outro, ajudando o outro, tanto nos treinos, jogos, a relação com os caras é muito boa.

P: Você falou que a estrutura do São José na época que você estava na base, por ser São José, estava boa. Hoje, no time principal, comparado a estrutura que você tinha na base do Sorocaba, como que é a estrutura do São José? R: Cara, comparando as duas é até meio difícil falar, mas a base do Sorocaba dá de 10 a 0 no principal do São José. Muito por questão financeira. Lá tá a elite, os patrocinadores estão lá em Sorocaba. Então, acaba ficando mais fácil, mais viável, por conta do dinheiro. E aí o São José por não ter lá um orçamento muito grande, acaba tendo uma defasagem ou outra.

P: A gente sabe que o esporte aqui em São José é bem complicado. Porque ele é inseguro. Em um dia você tem um time e no outro não tem. Vocês sentem isso no futsal? Vocês como time mesmo, técnico, jogadores, tudo. Vocês sentem? Tem um medo disso? R: Sim, esse medo é constante. Inclusive, agora a gente acabou vindo de uma derrota que deu uma balançada na estrutura lá. E ficou todo mundo na incerteza se tem uma continuação, se não, se acaba esse ano. Então, tá todo mundo correndo atrás de fazer o seu melhor pra justamente sair pra não ficar nessa incerteza que a gente está hoje.

P: Você falou que quando você passou no teste do Sorocaba, foi um dos melhores momentos da sua vida. Qual que foi o melhor momento desde que você virou goleiro de futsal mesmo? Um jogo, alguma coisa, um momento que você melhor sentiu? R: Acho que ganhar, né? Independente do título que você ganha, qualquer título é importante. E estar lá e poder ajudar numa final, contra o Corinthians, no Parque São Jorge, acho que foi uma das melhores sensações, mesmo o resultado não sendo positivo.

P: E qual que foi o pior momento que você passou desde que você começou a se dedicar ao futsal? De repente uma dificuldade, não sei se teve lesões. Teve algum momento que você se sentiu meio desanimado? R: O desanimo eu acho que ele está sempre presente na vida do atleta. Porque eu acredito em fase, tem fase que você está bem e tem fase que você não está bem assim. Então, é aí que começa a vir as dúvidas, que você começa a se perguntar se é isso mesmo que você quer e tal. Mas isso aí passa com o tempo, você vai se dedicando aos treinos e as coisas vão se colocando no lugar.

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P: Ao longo dessa sua trajetória, principalmente na base, você já viu muita gente desistir? R: Essa questão também é meio complicada, porque eu já vi muita gente desistir por que quer e muita gente desistir porque não quer, mas tem que ajudar os pais em casa, tem que arrumar um trabalho. Então, eu acho que a questão financeira influencia muito em continuar ou não. Acho a que a pessoa não pode nem estar numa classe social muito alta e nem numa classe social muito baixa, porque a muito alta o cara vê que não precisa daquilo, então, ele acaba não se esforçando como deveria e acaba largando. E quem está numa classe social muito baixa, acaba precisando trabalhar pra ajudar em casa. Então, acho que isso é um dos fatores que mais influência em permanecer ou não no esporte.

P: Você acha que no esporte hoje como um todo é uma carreira, não duvidosa, mas que é muito insegura? Que é complicado você se dedicar só a ela? R: Pra começar já é muito difícil chegar lá. E se dedicar só ao esporte é muito incerto também, porque a gente depende do nosso corpo, então, a gente tem um período de tempo pra fazer a nossa vida, e depois a gente vai começar a decair. Isso todo mundo tem ciência dentro do esporte. Então, se cuidar as vezes é mais difícil pro cara de alto rendimento, que está ali todo dia na mesma batida, se esforçando, as vezes a carga é maior do que o corpo suporta e as lesões vem. E aí é difícil voltar, cara, voltar em alto nível é difícil. Mesmo com toda a estrutura que a gente tem, voltar em alto nível é complicado.

P: Você já teve alguma lesão? R: Graças a Deus, grave não. Tive problema no alutor, mas foram dois, três meses tratando e já voltei a ativa.

P: E como você falou...falando pessoalmente é complicado tratar lesão? R: Cara, é chato. Eu digo nem voltar, mas ficar fora é chato demais. Você ficar vendo ali a sua equipe jogando e você tratando, é pesado pro atleta. Você quer estar ali, você quer estar participando, mas a gente sabe que é melhor recuperar e voltar 100% do que ir arrastando a lesão e podendo agravar.

P: Hoje você se arrepende de alguma escolha que você teve desportivamente? R: Me arrepender eu não digo, mas que eu estou meio frustrado com essa minha passagem pelo profissional do São José...é inegável, justamente por não estar jogando. Ter saído de uma potência, ter vindo pra cá e não estar jogando. Isso está me abalando um pouco, mas eu estou com a cabeça boa. Eu sei que uma hora a oportunidade vai aparecer e eu vou aproveitar.

P: Meu outro entrevistado falou uma questão de empresários, você já chegou a ter contato com empresário? ou alguma sede de empresário? R: Essas agências de empresário elas ajudam muito o atleta, independente do lugar e do esporte. Então, eu não tenho empresário, as vezes que eu consegui alguma coisa foi por vontade própria, como a peneira lá em Sorocaba. Lá me abriram algumas portas, mas sem o empresariado. E eu acredito que estou correndo atrás de uma agência ou de um empresário mesmo pra me ajudar a sair. Porque dentro do Brasil é

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fácil, você acaba jogando, as pessoas vão te conhecendo. Mas fora do Brasil é preciso, realmente, ter um empresário.

P: Mas já chegou aqueles empresários picaretas, assim, prometendo coisas absurdas pra você? R: Já, não digo absurdas, mas querendo uma porcentagem e tal, pra tentar me ajudar de uma forma que eu vi que não era lucrativo pra mim. Aí eu acabei dispensando.

P: E isso foi aqui ainda ou em Sorocaba? R: Foi saindo de lá, apareceu uma agência aí que eu não conhecia. Procurei saber também, ninguém conhecia. Achei melhor optar pelas portas que tinham aberto pra mim.

P: E até hoje seu pai te apoia? Sua família no geral te apoia bastante? R: Sim, me apoiam, me ajudam muito, principalmente, na questão psicológica, porque a família é realmente a base e os caras são vividos, eles têm o caminho pra te mostrar, né? Então, eu tenho escutado bastante a minha família, principalmente na questão de ter a cabeça boa e saber que a hora vai chegar. Nelder de Freitas Oliveira Silva

P: Quando você começou a jogar basquete visando se tornar profissional? R: Desde sempre, porque meu pai era profissional e eu sempre joguei basquete, desde bem pequeno, com 6 anos de idade já fazia escolinha de basquete, viajava pra jogar fora... Mas, profissionalmente, disputando campeonato forte, paulista e essas coisas, com 12 pra 13 anos já estava jogando e com 14 anos já estava morando fora pra jogar.

P: Como que aconteceu isso? R: Eu jogava na escolinha da Associação Esportiva São José, só que já era do time, já tinha um time formado. Eu entrei pra jogar quando meu pai voltou pra cá, porque a gente sempre morou fora, por vários anos mudando de cidade em cidade, e a gente voltou pra São José. Aí eu já entrei na escolinha, pois o professor era o mesmo técnico do meu pai. Já entrei pro time, começamos a jogar e, dois anos depois, eu já estava morando no Rio Grande do Sul, sozinho, com 14 anos de idade.

P: E como foi isso, saí com 14 anos de casa, sozinho, pra outro estado? R: É pesado, é pesado. Se fosse pra uma cidade próxima... Mas era uma cidade que demoraria 24 horas para o meu pai chegar lá. Então, é pesado, uma criança, cheguei lá pra morar em uma república, com jogadores de todas as idades, não conhecia ninguém... Meu pai tinha um amigo lá que aparecia às vezes pra perguntar como que eu estava e às vezes eu ia na casa da família dele, eles meio que me adotaram. Mesmo assim, chorava várias noites, chegava e casa depois de treino, escola diferente, complicado. Mas, aguentava porque eu gostava de jogar. Era tudo pra ser jogador. Então, pra mim estava ótimo. Era sofrimento.

P: Que time era?

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R: Era Lajeado. Era o Colégio e tinha o time de basquete que disputava os campeonatos de base do Rio Grande do Sul.

P: Você sentiu muita diferença da questão de treinos de quando você estava aqui na escolinha pra quando você estava lá no time de Lajeado? R: Não porque aqui já era um time mesmo. A gente jogava na escolinha, mas tinha o treino também. Então, o treino mesmo era a mesma coisa. Lé era muito mais forte porque os jogadores eram mais experientes, até porque eles disputavam há bastante tempo o gaúcho e tinha a seleção gaúcha, que tem os campeonatos brasileiros de estado, então eles eram bem mais experiente e melhores assim. Mas de técnica de treinos, não tinha muita diferença não.

P: E a estrutura lá, era legal? R: Muito melhor. A estrutura do colégio em si já era muito, parecia um campus de universidade americana, enquanto aqui eu tinha que ir lá no clube. Lá não, eu morava há um quarteirão da escola e a escola tinha um ginásio com piso de última geração, com tudo, academia, fora a qualidade da escola.

P: Em algum momento a escola atrapalhou o estudo? R: Bastante, demais. Se eu não fosse jogador de basquete, hoje eu estaria muito melhor de vida, com certeza.

R: E quanto tempo você ficou em Lajeado? R: Eu fiquei um ano. Eu disputei o Campeonato Gaúcho na minha categoria e mais duas categorias, uma acima e duas acima da minha. Eu fui pra lá no infantil, disputei o infanto e o cadete, que era sub 14, sub 15 e sub 16. Como eu disputei pelos três times, era jogo três ou quatro vezes por semana, mas quando você é moleque você não pensa nisso.

P: Você se destacava então, pra jogar em categorias superiores... R: Sim, senão eu não teria ficado. Senão eu ira pra lá bater bola e os caras me mandariam embora.

P: E o que aconteceu quando você saiu de lá? R: Eu saí de lá porque... A escola era fenomenal pra mim, melhor escola que eu estudei na minha vida, muito melhor que qualquer uma aqui em São José, e eu, que saí de escola estadual, tive muita dificuldade no começo lá. Era particular e uma das melhores de lá. O time dava bolsa pra estudar lá. Aí eu meio que desanimei no final. Tinha um pessoal que era de lá e eles davam prioridade pra quem era de lá, que pagava escola, essas coisas. Aí fui meio que desanimando, falei com meu pai, falei com o pessoal dessa família que me ajudava lá, expliquei como estava, e pedi pra ir embora. O campeonato acabou e eu pedi pra vir embora.

P: Aí você voltou pra cá? R: Aí voltei pra São José e já voltei com time pronto, porque fui pra Jacareí. Fui jogar o cadete (sub 16) em Jacareí, , no Trianon Clube, que meu pai jogou lá e eles me conheciam já fazia tempo. Nessa época eu estava com 15 pra 16 anos. Aí começou o

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campeonato no Trianon, eu já entrei no time e fiquei até o juvenil, quando eu vim para o Tênis (Clube).

P: Em Jacareí, você jogava lá mas morava aqui? R: Eu morava aqui. Eu ia e voltava todos os dias, de ônibus.

P: E sentiu muita diferença de lá pra Jacareí? R: Demais, demais. Jacareí era igual São José, tinha que ir até o clube, lá era na escola mesmo, depois da aula já ficava pra treinar, almoçar, fazer tudo. E a qualidade de vida que eu tinha no Rio Grande do Sul era muito superior, porque a gente tinha uma república muito grande, espaço, conforto, fora o tratamento que eles tinham com a gente que era de fora. Tinha eu e mais um só de São Paulo e o resto era da região próxima, ou de Santa Catarina ou do Rio Grande do Sul. E assim, o tratamento que eles tinham com a gente era de cuidar mesmo, ainda mais comigo que era o mais novo. Aí quando eu voltei, como estava em casa, só tinha o trasporte. Não tinha alimentação, não tinha nada. Só o passe mesmo.

P: No Rio Grande do Sul, alimentação, essa coisas, tudo por conta da escola? R: Tudo por conta deles e ainda pagavam um salário.

P: Quanto você recebia? R: Uns R$ 600,00, isso em 1999 mais ou menos, era dinheiro demais, pra um menino de 14 anos, era muito dinheiro. Hoje seria uns R$ 3.000,00, mais ou menos.

P: E aqui você veio pra jogar meio que de graça... R: Aqui eu vim pra jogar e ganhava o passe, mas eu queria jogar. Pra mim não importava porque eu não tinha gasto. Então, é complicado quando você está em um lugar que é muito bom e vem pra um lugar que é normal. Aqui era normal, naquela época. hoje tem bastante apoio. Mas, naquela época era normal.

P: Te desanimou essa queda? R: Me desanimou, mas não a queda de qualidade de vida, e sim a queda de nível. Lá eu disputava os campeonatos estaduais. No Trianon eu disputava um nível de campeonato abaixo. Eu não estava disputando o Paulista. Era regional. Era como comparar a Copa São Paulo com o Paulista, era mais baixo. Então, isso que desanimou um pouco, mas depois voltou ao normal porque, no ano seguinte, porque quando acabou a categoria de cadete, que era sub 16, eu fui para o juvenil, sub 17, e já voltei pra São José. Aí eu jogava com os caras mais velhos, aqui.

P: Jogando na Associação mesmo? R: No Tênis Clube. Já tinha mudado para o Tênis. Então, os caras tinham 19, e tinha 17 e estava jogando com eles.

P: E você jogava bastante? R: Jogava. Eu era reserva, porque eles eram muito mais velhos, e vinha gente de todo o país jogar aqui. Tinha de Minas, Rio Grande do Sul, de todo lugar. Mas eu tinha

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oportunidades e era o único joseense. Então, tinha reportagem minha no jornal, porque meu pais era jogador também, aí toda entrevista que tinha era eu que ia dar, e eu era o mais novo, só que eu era o "queridinho" do círculo da imprensa que cuidava do basquete de São José. Até da prefeitura.

P: Em relação a time, por você ser da cidade, você sentiu que eles te davam moral? R: O valor que é dado pra quem é da cidade aqui em São José é tipo "ele é o único joseense que tem no grupo, mas vai ganhar menos que os outros e a gente vai tê-lo pra falar que tem alguém da cidade jogando", mesmo que você jogue bem, eles vão tratar você como um escudo pra direção pra dizer que tem gente de São José, que a gente revela jogador. Mas, tipo, São José não fez nada pra "me revelar", eu fui pra fora pra poder voltar bem. Então, pra mídia, eu era o único joseense e tal, mas pra direção, eu era como um estudo pra não dizerem que trouxeram todo mundo de fora e não davam oportunidade pra quem era da cidade.

P: E aqui no Tênis você ganhava salário? R: Ganhava muito menos do que eu ganhava no Rio grande do Sul com 14 anos. Ganhava R$ 300,00, R$ 400,00. Depois foi aumentando, mas no começo era isso.

P: O time fornecia alojamento pra quem era de fora? R: Tinha uma casa que era uma república, perto do Tênis mesmo, grande. Tinha estrutura boa, com 6 quartos. Tanto que eu fui morar lá, porque pra mim era mais fácil e pra ficar perto do time também. Almoçava no clube, jantava no clube, tudo por conta deles. A estrutura em São José pra categoria de base em todo o tempo que eu fiquei aqui, foi legal, mas não se comparava a que eu tive com 14 anos no rio Grande do Sul. Era uma cidade menor, era um time privado, não tinha nada a ver com a prefeitura. Mas aqui nunca foi ruim. Eu saí daqui do time de São José porque... Todo mundo fala que foi por política, porque a prefeitura era PSDB e o meu pai estava apoiando o Carlinhos na época, porque ele mexe com política. Aí teve um desentendimento entre a Secretaria de Esportes e o meu pai, por ele apoiar o rival, e estava acabando a temporada. Eu estava tranquilo para a outra temporada e tal. Aí começou a outra temporada, trocou o técnico, trocou toda a comissão, da diretoria ficou só quem apoiava a secretaria, e quando eu cheguei pra treinar no ano seguinte, eles falaram que eu estava dispensado.

P: Você tinha contrato? R: Não, era contrato daquela temporada, só. Eu cheguei pra treinar e eles falaram como seria, que estavam me dispensando pra procurar outro time e que poderia continuar treinando com eles até conseguir outro time. Aí, até saiu no jornal depois, que eu fui dispensado porque houve um desentendimento político. É ruim, porque eu era juvenil ainda, último ano de juvenil, mais importante da minha carreira ali, e eu fui dispensado por política.

P: Até esse momento, desse período, chegou alguma sondagem de algum outro time querendo te levar? R: Não. Naquela época, juvenil, não tinha tanta sondagem, assédio. Ainda mais pra mim, eu era daqui, ninguém pensava que eu ia sair daqui, tendo lugar no time, jogando. E não tinha muito disso. A categoria de base antigamente era o pessoa que

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vinha do mirim, ia para o infantil, sub 16, sub 17, era a cria. Vai criando o cara até juvenil. Depois de juvenil o cara procura onde é melhor pra ele. Hoje não, hoje é diferente, tem bastante assédio na base.

P: E o que aconteceu quando você saiu do São José? R: Aí eu pensei "e agora, o que vou fazer da vida?". Era o último ano de juvenil, o ano mais importante, se eu não jogasse, acabou. Aí comecei a procurar time, fui fazer alguns testes, jogar em alguns lugares, até peneiras. Passei em alguns lugares, mas, nossa... Dava dó de quem ficava. A estrutura não se comparava com nada aqui em São José. Eram os piores lugares que tinham na cidade, apartamentos minúsculos pra 10 caras, 10 caras grandes, comida de má qualidade, tinha que andar uma hora pra chegar no treino porque não davam nem transporte.

P: Onde você presenciou isso? R: Fui pra Suzano, tentei Piracicaba... Piracicaba até que foi legal, a estrutura deles era até legal... mas, Suzano, horrível, a estrutura que eles tinham naquela época não tinha época. Eu nem ficava, ia embora. Falava "muito obrigado pela oportunidade, mas não vai ter como". Fui em mais algumas outras cidades. Bauru, mas Bauru era um time pesado, mas não fiquei porque o time deles era muito bom, na minha posição tinha dois ou três caras de seleção.

P: E onde você conseguiu ficar? R: Aí eu voltei pra Jacareí, fiquei lá um tempo, joguei uns campeonatos lá, eles não estavam disputando o paulista, mas eu joguei pra não ficar parado. Nisso eu já estava com 19 anos. No ano seguinte, primeiro ano de adulto, onde me dessem oportunidade de jogar no adulto eu ia jogar. Aí eu fui pra São Carlos, liguei, falei quem eu era e que queria um oportunidade e eles me chamaram pra fazer um teste. Fui pra São Carlos, a infraestrutura deles também não era legal, mas era um baita clube, o time tecnicamente era bom pra razoável, tinham uns dois ou três jogadores muito bons de bola, e é um clube gigante, extraordinário, tem todos os esportes. Futebol de campo, futsal, vôlei, tênis, tudo. E o basquete masculino. Cidade legal, só que eu morava em um apartamento de um quarto com quatro caras grandes. Eu dormia na sala e os outros três no quarto Pra mim era melhor ficar sozinho. A comida era marmitex, a gente se virava com a janta, o salário era bem pouco. Eu fui pra jogar, eu queria estar jogando o paulista, segunda divisão do paulista, mas adulto. Pra quem não jogou o juvenil, estava bom, estava aparecendo. O salário era muito pouco, não tinha como se manter. Gastava meu salário na janta, pra se ter uma ideia. Eles não forneciam alimentação. E eles me deram bolsa faculdade; eu fi dois anos do curso de fisioterapia por causa deles. Pagavam meu almoço e minha moradia, pra mim já estava bom. Joguei lá por dois anos, bons anos. Apareci na TV da região, tal. Então, dei uma aparecida assim, no ano seguinte a gente ganhou quase tudo, só não ganhamos o paulista, quando perdemos para o outro time de São Carlos, que era o time do Nenê (Hilário, pivô do Houston Rockets, da NBA, e da seleção brasileira), que ele bancava. Ganhamos os regionais por outra cidade, porque o time de São Carlos era o time do Nenê e o nosso time era da faculdade particular que tinha lá e jogou os regionais por Ibaté, que é uma cidade ao lado de São Carlos, que não tinha time e a gente conversou lá pra representar a cidade nos regionais. A gente ganhou os regionais, ganhamos umas ligas da região, foi muito bom. Ganhamos o campeonato universitário. Só que no outro ano, a faculdade não quis mais patrocinar, cortou as

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bolsas de todo mundo, aí acabou o time. Aí eu já estava com quase 23 anos, quando pensei "se eu continuar nessa vida de ir pra lá, ir pra cá, ganhando mixaria, não vou ter nada na vida". Resolvi voltar pra São José e arranjar um emprego. Eu não tinha estudado, tinha 23 anos, feito um ano e meio de fisioterapia e vi que não é o que eu queria. Ganhava pouco e não tinha como pagar faculdade, perdendo a bolsa, então. Aí, larguei mão do basquete porque, naquela época o apoio não era nem 10% do que é hoje, ganhava-se mixaria, dinheiro para sobreviver, se tivesse família já tinha largado fazia tempo. Como eu era sozinho, pra mim estava bom. Mas, teve uma hora que pensei "não vou procurar outro time pra passar aperto de novo". Nisso eu já era adulto. Se eu tivesse descoberto isso com uns 17 anos, talvez minha vida estivesse bem melhor.

P: Você se arrepende de ter se dedicado assim ao basquete? R: Não, me fez ser a pessoa que eu sou hoje. Eu sou bem melhor por causa do basquete. Eu me sinto muito bem porque o basquete me ensinou muita coisa. Não só do jogo, mas da vida mesmo. Se não fosse o basquete, eu seria totalmente diferente. me ajudou até no amadurecimento. na minha época, quando eu voltei pra São José com 16, 17 anos, eu era muito mais maduro do que o pessoal da minha idade. Os caras que jogavam no meu time tudo molecada e eu já homem, vivendo desde os 14 anos sozinho. O que o basquete me deu, eu não me arrependo nem um pouco. O que eu me arrependo é de não ter aproveitado as oportunidades que apareceram, de estudo e tal. Estudava em uma escola muito boa no Rio Grande do Sul, se eu ficasse lá talvez até o terceiro colegial, me formasse lá, dava pra ter ficado, mas eu não quis, porque estava chato ficar lá.

P;: Assim, você não tem arrependimentos do basquete, mas de escolhas que tomou. R: Sim, sim. Bastante. Assim, escolhas que eu fiz durante a minha carreira. Eu podia ter aproveitado algumas chances que eu tive e deixei passar.

P: A sua família te apoiou durante esse período todo que você se dedicou ao basquete? R: Sim, sim. Pelo meu pai ter sido atleta também, ele me apoiou desde sempre. Eu tinha 6 anos de idade e jogava basquete co pessoal de 10, 12 anos. Isso sempre foi natural, jogar basquete, pra mim, sempre foi natural. Como eles viam potencial em mim, eles sempre me apoiaram. Sem descuidar dos estudos, essas coisas, mas sempre me apoiaram em tudo. Quando eu fui para o Rio Grande do Sul, eles foram me levar na rodoviária, minha mãe chorou, mas sempre me apoiando, dizendo pra eu ir que ia dar certo.

P: Você acha que, de repente, se tivesse tido escolhas diferentes poderia ter tido uma carreira mais longa? R: Sim, sim. Se eu ficasse no Rio Grande do Sul, provavelmente tivesse seguido na carreira. A maioria do pessoal que estava no meu time lá está jogando até hoje. O Murilo (Becker, ex-São José e atualmente no Vasco da Gama) jogava comigo lá. Tem o Cristiano que jogava até um tempo atrás e agora parou, tem um pessoal que fez universidade fora e ficou por lá mesmo. Então, se eu ficasse lá, talvez eu estaria jogando até hoje.

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P: É um arrependimento que você tem até hoje? R: É um arrependimento, de não ter ficado. Com certeza.

P: E quando você largou São Carlos, você acha que teria alguma perspectiva de jogar aqui em São José? R: Não porque aqui já era outro esquema. Já era um time bem mais profissional e era um time que vinha jogando a elite do basquete há um bom tempo. Eles estava com um time muito forte, tanto que ganhou os campeonatos que disputou nesses dois anos. Era um time diferente do que eu saí daqui jogando. O time que saí daqui jogando era a formação do que estava quando eu voltei. Então, era a elite daquela categoria. Eu sou 84, os meninos que estavam jogando eram a elite do 85/86. Mesmo que quisesse voltar a jogar, aqui não seria o lugar naquela época, porque era o mesmo técnico que tinha me dispensado, a mesma prefeitura, toda aquela confusão ainda estava tudo do mesmo jeito de quando eu saí. Então, a perspectiva de jogar aqui eu nunca tive, depois disso. Até hoje, eu não vou assistir os jogos.

P: você chegou a ter algum convite, de repente lá da região mesmo ou de Jacareí pra jogar? R: Então, eu joguei alguns regionais, depois, mas tudo fazendo outra coisa. nunca foi por dinheiro, nada. Foi sempre com convite e pagando só uma ajuda de custo. Ia lá, duas semanas de treino, mas uma semana de regionais, acabou, voltei pra casa e voltei a trabalhar.

P: Isso aqui em São José mesmo? R: Aqui em São José e Jacareí. São José nunca pela cidade mesmo, sempre por outras cidades aqui da região. Por Caraguatatuba... Nesses regionais de 2018 em Ilhabela, mesmo, me chamaram, mas eu não fui porque não consegui liberação no serviço.

P: Então você ainda joga basquete, até hoje? R: Até hoje, não consigo ficar sem. Eu vou na academia, levo a bola, fico arremessando lá, depois malho, arremesso mais um pouco e volto pra casa. Se eu ficar sem, eu fico doente. E tem uns campeonatos amadores, que eu sempre jogo. Tem um um time que jogo. Mas, basquete não sai mais, sempre, toda semana tem que jogar, senão dá tremedeira. E hoje é muito mais legal jogar do que na época que eu jogava profissionalmente, até categoria de base. Não tem pressão, você jogar por amor, se diverte jogando, você não está pensando que tem que jogar aquilo ali porque tem que conseguir um contrato melhor no outro ano, só lazer mesmo.

P: E qual foi a melhor experiência, a melhor lembrança que você tem desse período de basquete? R: Jogar aqui no Tênis, com certeza. Eu adorava jogar aqui no Tênis, os times que eu participei aqui foram os melhores que eu joguei na minha vida. Joguei juvenil, um ano do adulto... Quando era juvenil já jogava no adulto. Era muito bom. Era o mesmo técnico que eu tinha desde os 14 anos, quando eu saí de São José. Desde os 12, na verdade, era o mesmo técnico, e foi meu técnico no juvenil. Depois mudou para o técnico que era de Jacareí, que era meu técnico desde os de 16. Então, eu conhecia todo mundo, todo mundo me conhecia, era conhecido na cidade. São Carlos, eu

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também era bem conhecido na cidade, todo mundo me chamava pelo nome, estava andando na rua, todo mundo vinha me cumprimentar, porque aparecia na TV, o jogo era transmitido. São Carlos e São José foram boas lembranças que eu tenho até hoje, pelo basquete. Em São Carlos mais pelo basquete, aqui pelo convívio com as pessoas que participaram da caminhada e pelo que a gente transformou o basquete de São José. Tudo que é hoje, tudo que foi, Campeão Paulista, Vice do Brasileiro, começou com a gente lá. Aqui em São José, a gente não perdeu um jogo em três anos. Era sempre muito forte. Pena que saiu do Tênis Clube, eu gostava muito do basquete no Tênis. Hoje não é mais lá. Mas a melhor lembrança que eu tenho é jogar aqui no Tênis Clube.

P: Apesar de você não jogar mais, você acompanha o basquete até hoje. Como você vê o basquete em São José hoje, num contexto geral, tanto base quanto profissional, até em vista das coisas que aconteceram nos últimos anos? R: O basquete de São José, a construção foi feita tudo certo, começando de baixo, subindo, chegou na série especial, não fez loucura de gastar um monte de dinheiro e trazer os melhores jogadores, sempre foi de degrau em degrau, e uma hora chegou no top. Foi campeão paulista. Só que era com ajuda da prefeitura. Aí a prefeitura mudou e não tinha mais ajuda da prefeitura. Caiu de novo. Então, assim, falta um pouco da iniciativa privada adotar o esporte e ter independência da prefeitura. Não só o basquete mas todos os esportes profissionais de São José dos Campos. O que eu acho: a prefeitura não tem obrigação nenhuma de ajudar o esporte profissional. Existem leis pra isso, pra iniciativa privada poder ajudar no esporte profissional e a prefeitura tem que tomar conta da categoria de base, isso eu acho que é obrigação da prefeitura. A categoria de base aqui em São José, eu falo pelo basquete, é muito boa. Tem o projeto Atleta Cidadão que revela atletas em todas as categorias, até jogando hockey, pra se ter uma ideia. No ciclismo, no basquete, no futebol, todas as categorias. A categoria de base aqui em São José é ótima. Eles dão apoio, eles vão na escola pra saber como a criança está pra poder jogar. Então, na categoria de base eu não tenho o que falar, é sensacional. No esporte profissional, falta a iniciativa privada, porque a gente chegou no topo do estado, quase no topo do Brasil, e não soube manter, porque, mesmo com o sucesso do basquete profissional aqui, as empresas, que não são poucas na cidade, não tiveram interesse nenhum em patrocinar o time pra se manter lá.

P: Você acha que falta um pouco dos times correrem atrás disso e não usarem a prefeitura de muleta? R: Falta a direção, quem cuida do basquete... A prefeitura até tentou ajudar pra ver se conseguia um patrocinador, só que não acharam nada. Tem algumas empresas que ajudam, só que não é o ideal, precisa de mais. A direção procurou, eles não deixam de procurar, não estão esperando a prefeitura voltar a apoiar. Eles estão procurando, só que não é o suficiente pra montar de novo aquele time que foi campeão paulista e vice brasileiro.

Vitor Baesso

P: Como o vôlei entrou na sua vida e quando começou a praticar?

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R: O Vôlei entrou bem cedo na minha vida. Tipo, minha mãe jogava. Então, eu sempre estive na quadra, desde quando era bebezinho, na quadra acompanhando. Não lembro disso, mas eu sempre estive no meio, sabe? Sempre cresci sabendo que a minha mãe era jogadora. E que esse esporte estava próximo de mim. Então, foi assim...ele entrou na minha vida quando eu comecei a jogar na escola, nas aulas de educação física. Comecei a jogar, o professor viu que eu tinha uma facilidade, me chamou pro time. E tô até hoje aí.

P: Como e quando começou a praticar vôlei em âmbito competitivo, sendo por alguma escolinha ou algo assim? R: A partir do volei competitivo foi nos campeonatos da escola, quando eu tinha uns 10, 11 anos. Interescolar, esses campeonatos assim. E foi isso aí.

P: Como era a estrutura de quando começou? R: A estrutura não era a das melhores. A quadra era cimentão, as bolas não eram muito boas, mas dava pra jogar. Então, não era uma estrutura muito boa, mas não tinha do que reclamar. Para aquele momento ali, não precisava de mais.

P: Quais foram e como foram os testes ou peneiras em que você participou? R: Eu participei de duas. Quando eu tinha 13 anos, eu estava jogando pelo time do São José, aí eu fui fazer peneira no Sesi, primeiro. Tinha muita gente, de todas as categorias, tanto sub-17, que era o que eu ia entrar na época, quanto do sub-19, sub- 19. Então, somando todas as categorias, devia ter uns dois mil atletas fazendo peneira. Bom, era separado por idade, né? Como tinha muita gente, a peneira era o dia inteiro, quando não dura dois dias até. O meu foi assim, separado por idade, aí eles foram pegando os melhores de cada idade. Eles vão sempre tirando poucos de cada grupo. Aí eu fui ficando, até que eu passei nessa peneira. Eu e mais 11 atletas. Montou o time daquela peneira. E a peneira do Pinheiros tinha umas duas mil pessoas também e eu passei na peneira do Pinheiros também.

P: Quais foram as principais dificuldades enfrentadas pelo vôlei? R: Acho que a distância é o que pega, pelo menos pra mim foi o que pegou, porque é tudo muito novo, ainda mais eu que saí muito cedo de casa. Essa foi a coisa mais difícil pra mim, porque os clubes que eu trabalhei, graças a Deus sempre foram muito bons, então eu nunca sofri com nada em relação a eles. O sofrimento maior mesmo foi em relação a estar longe da família, longe de casa.

P: Como foi pra você sair de casa cedo e sozinho para ir morar em uma grande cidade como São Paulo? R: Foi muito difícil sair de casa cedo, porque, bom, eu era muito novo, ainda não tinha maturidade suficiente, eu acho, pra poder sair de casa, sabe? Então, esse foi o que deu uma pegada boa, mas eu me adaptei rápido, graças a Deus, deu tudo certo, adaptação e depois eu já consegui me acostumar conviver com isso.

P: Como foi sua adaptação? Você enfrentou dificuldades por isso? R: A adaptação foi muito boa. Acho que o primeiro mês foi um pouco mais difícil, porque era realmente, eu tinha que fazer tudo por mim, era muito diferente. Então, mas eu me adaptei muito rápido, isso foi um dos pontos positivos aí pra não ter desistido naquela época. Porque muita gente não aguenta a saudade e acaba voltando pra casa, mas eu consegui seguir firme. Então, acho que os fatores pra eu

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ter conseguido foi a adaptação. Os meninos me ajudaram bastante também, que jogavam comigo na época, então, foi tudo tranquilo.

P: Como é a diferença de estrutura e condições oferecidas nos clubes aí de São Paulo com aqui em São José? R: Bom, eu não sei ao certo como era aí em São José, porque eu trabalhei aí, eu era muito novo ainda, né? Acho que o projeto era muito novo ainda, então...e tipo, como eu era muito novo ai ainda, a estrutura em si, eu não conseguia observar, porque eu era muito programado, eu ia treinar, e nada, nem fazia academia, era só bola. Era muito diferente. Mas eu acho que a estrutura aqui dos clubes de São Paulo são maiores, são melhores, pelo menos aqui no Sesi que eu estou agora, você tem todo apoio pra tudo o que você vai saber, sabe? Tanto na parte física, quanto na parte de recuperação, na parte da quadra, nunca falta material. É sempre material novo, bola nova, rede nova, a quadra boa, entendeu? Então, eu acho que os clubes daqui de São Paulo levam a vantagem.

P: O vôlei já te ajudou bastante financeiramente? R: O vôlei já me ajudou bastante sim financeiramente. Graças a Deus, alguns campeonatos que eu participei, eles têm o bolsa atleta, que é uma ajuda de custo do governo pra quando você fica campeão, fica em segundo lugar em certas competições. Então, tem bolsas que são de mil reais por mês, sabe? Por um ano você recebe isso, sem contar o salário do clube. Tem bolsa crédito nacional, que já são dois mil reais, então, pra base é...eu nunca sofri com isso, com parte financeira. Graças a Deus, eu também não preciso mais depender dos meus pais, eu consigo viver sozinho tranquilamente. Uma hora ou outra eles querem me ajudar, né? Dar uma mimada, mas eu realmente sei que eu não preciso mais da ajuda dos meus pais. Então, eu acho esse é o ponto mais importante pra mim, eu consigo viver disso. Então, a parte financeira é bem tranquila.

P: Qual o sentimento de jogar pela seleção brasileira? R: Muito bom poder jogar pela Seleção, sabe? É muito gratificante você saber que seu esforço vem te mostrando que você é um dos melhores no seu ramo, que você é escolhido pra representar o seu país nisso. Então, é muito bom poder representar jogar pela Seleção, é só felicidade sabe? Não tem outro adjetivo pra expressar, é só a melhor coisa que tem você poder representar o seu país. Então, eu era muito feliz quando eu estava lá jogando pela Seleção, sou muito feliz.

P: Você, ao longo de toda sua jornada, teve muitos colegas que tiveram de desistir do vôlei, seja por ilusão ou algum problema externo? Como foi isso? R: Já conheci alguns, a maioria dos amigos, que desistiram do vôlei, mas tem muitos caminhos. Já conheci amigos que largaram realmente o vôlei, não tem isso mais na sua vida, mas a maioria da galera usa o vôlei para outros meios. Tem muita gente que viaja pros EUA pra ganhar bolsa de estudos lá, jogando vôlei. Então, vôlei já deixou de ser a prioridade do cara, só que ele abre outras portas pra você, abre oportunidades, lá você ganha bolsas 100%. Quando eu era mais novo muita gente jogava e muitas dessas pessoas já não estão mais comigo hoje. Mas é realmente um triangulo. Quando você é mais jovem, sempre tem muita gente aqui embaixo, mas conforme você vai subindo os degraus, vai ficando mais velho, você vai ver que o número de pessoas vai diminuindo. Então, eu acho que não é por ilusão, eles vão indo até o momento que eles acham que podem ir, e até quando eles vêem que sabem que

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não vão conseguir, mas conseguir viver disso, uma boa renda lá na frente, eles acabam largando. Mas a maioria usa o vôlei para outros meios.

P: Já apareceu algum empresário querendo te agenciar? R: Já apareceram sim alguns empresários. Você começa a ficar grande quando um atleta vai se destacando, sabe? Hoje eu já tenho o meu empresário, que é o Rogério Teruo, ele assinou comigo tem uns dois anos, mas ele me acompanha desde que eu tinha os meus 15, 16 anos, ele sempre me viu lá debaixo e foi...estabeleceu uma conversa, já ficou ali. Aí esperou eu fazer os meus 18 anos pra eu poder assinar o contrato. Então, já apareceram sim e eu já sou agenciado.

P: Como você vê o esporte no Brasil? Acha que é uma carreira segura? R: Eu acho que o vôlei está crescendo aqui no Brasil muito mais do que ultimamente...se eu for comparar o vôlei de hoje com o vôlei de cinco anos atrás é outra história. Muitos atletas estrangeiros estão vindo pra cá, então o vôlei no Brasil está realmente crescendo. A Superliga está sendo um dos campeonatos mais fortes do mundo, se for fazer comparação, perde pra Itália, Polônia, mas está ali com a Rússia, sabe? É uma Liga muito competitiva e então eu acho que está crescendo sim e só tem a melhorar. Eu acho que é sim uma carreira segura, dá pra você viver disso aqui no Brasil.

P: Qual o melhor momento que o vôlei te proporcionou até hoje? R: São tantos momentos bons, mas eu acho que o melhor momento foi quando eu estava na Seleção, podendo representar, sabendo que eu estava ali por um bem maior, não estava jogando só por mim, mas por várias pessoas. Também teve os meus campeonatos brasileiros, que eu ganhei, que eu me lembro de cada um deles. Eu não sei, eu acho que o momento quando eu vi que eu estava seguindo pra um rumo diferente, saindo da minha casa, saindo do conforto pra vir jogar, são todos bons momentos da minha, sabe? Não tem um só não, tenho vários, mas esses três são os principais pra mim.

Alberto Luis de Oliveira

P: Do ponto de vista psicológico porque os esportes em geral atraem tantas pessoas? R: Existe um conceito da psicologia junguiana de Carl Gustav Jung, psicologia analítica, também conhecida, que são os arquétipos, né, conteúdo do consciente coletivo. São estruturas inatas da nossa psique. E existem tendências, então, no ser humano inatas, que nos fazem progredir em algum sentido, em alguma tarefa ou em algum projeto. Por exemplo, o esporte é um exemplo disso, né? Então, muitas pessoas se conectam ao esporte pela questão da superação, pela questão da competitividade, é uma expressão da competitividade inata do ser humano. Então, praticando esporte ou apenas como admirador ou fã do esporte, já é uma forma de você expressar essa tendência inata. Nem todos se conectam às mesmas tendências, mas os que gostam de esporte, sem dúvida nenhuma, estão conectados a essa tendência. Então, por isso que atrai muita gente, porque é uma forma do indivíduo se conectar e de certa forma se satisfazer com vitórias do seu time, do seu atleta favorito e também uma forma de expressar muitas emoções que o esporte permite...todos os esportes permite a expressão de várias emoções e inclusive as desagradáveis quando

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uma derrota de alguém que você torce ou de uma equipe. Então, concluindo, o esporte é uma possibilidade muito forte, muito profunda de todos os indivíduos que se conectam com essa tendência inata de expressar alguns arquétipos que acabam trazendo muitas vezes satisfação. E mesmo na insatisfação é uma forma de expressão, também, dessas tendências inatas. Não sei se consegui responder com clareza.

P: Sabemos que o esporte em si faz bem pra saúde, mas a exigência do esporte rendimento pode acarretar algum dano psicolóico para os jovens, em decorrência da necessidade de amadurecer antes da hora? R: Não existe um estudo que ampare uma resposta concisa sobre isso. O amadurecimento precoce ele é muitas vezes, em grandes partes dos atletas, que iniciam as suas atividades esportivas com finalidade profissionais é uma coisa muito comum, que se amadureça precocemente, por conta das várias decisões tomadas...tomadas de decisões que são necessárias ao longo do percurso desde o início, passando também pela necessidade de abrir mão de muitas coisas que são comuns e prazerosas nesse período de adolescência, juventude, como viagens com amigos, momentos de lazer, despreocupação com a alimentação. Então, não é uma tarefa nada fácil, nada simples, para nenhum atleta. Então, em contraposição a isso eu costumo até fazer uma metáfora da balança SS. De um lado satisfação, pela pratica do próprio esporte em si, torna-lo um meio de vida. Enfim, de um lado a satisfação e do outro lado da balança o sacrifício, que é isso que eu acabei de dizer, todas as abdicações que o atleta jovem tem que fazer para chegar em alto nível e competir em alto nível. Agora, danos em decorrência de um amadurecimento precoce, danos psicológicos é muito individual, cada caso é um caso, cada indivíduo, cada atleta vai ter uma estrutura psíquica, que a gente chama de estrutura de ego, que pode...que a tendência, normalmente, na minha experiência é de suportar sim. Então, acaba sendo até bom esse amadurecimento precoce. Mas o que eu acho fundamental é o acompanhamento psicológico justamente para monitorar esse desenvolvimento e para dar respaldo, para dar suporte ao desenvolvimento ainda que precoce do amadurecimento, mas quando tem um trabalho psicológico por trás, isso acaba sendo feito de maneira mais saudável, quando não, pode sim, acarretar em alguns danos, em alguns transtornos de ansiedade, isso é muito como, por exemplo, porque aí vai desenvolvendo psicopatologias ai se não tiver esse devido cuidado.

P: Alimentar o sonho pode representar, também, um perigo para a criança ou adolescente? R: Alimentar o sonho vai depender muito da estrutura e do entendimento que os pais, técnicos, dão pra criança. Acho que sonhar é uma coisa saudável para todos nós, nos motiva a trabalhar, a treinar, enfim. Agora, o sonho tem que estar muito atrelado ao dia a dia. Ele tem que estar relacionado com o passo a passo do desenvolvimento do atleta. Sonhar é bom, mas, costumo dizer, o futuro tem uma função importante na nossa vida, a gente vai nele, sonha, imagina como seria ganhar uma competição, viver de esporte, ganhar uma olimpíada, ganhar uma grande competição, enfim, mas desde que você vá lá no futuro e volte pro presente e faça tudo o que você tem que fazer no presente. A satisfação não pode estar no futuro, no fim, no resultado, a satisfação tem que estar no dia a dia, no presente, na performance. A consequência disso pode ser bons resultados e, consequentemente, um conjunto de bons resultados, o acumulo de bons resultados pode levar a realização de sonhos. Então, isso vai depender muito da

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estrutura dos pais, primeiro, não fica alimentando sonhos...assim, como se fossem fáceis de serem atingidos, somente por conta de um talento. Talento por si só não basta, tem todo um trabalho técnico, tático, físico, mental, pra que esse talento possa expressar o seu potencial máximo, mas o que é importante...sonhar é bom, mas desde que tenha uma noção de realidade também muito boa por trás disso, para percorrer atrás desse sonho de maneira saudável. O que costuma acontecer é de criar uma ilusão a partir desse sonho, né? Várias ilusões são criadas a partir disso e aí o adolescente, o jovem, já começa a criar um mundo paralelo, um mundo de fantasia, como por exemplo, chegar a um a olimpíada, ao ápice, isso é muito comum, chegar em grandes competições, ganhar então, parece que tem uma noção, uma sensação de que está tudo resolvido na vida, como se aquilo fosse resolver tudo e não é bem assim. Michael Phelps antes das olimpíadas do Rio 2016, tinha 18 medalhas de ouro no peito e isso não o livrou de uma grande depressão, problemas com álcool, com drogas, tem documentários no YouTube sobre isso, ESPN fez um bom documentário sobre isso. Isso não garante nada, realização de grandes sonhos não garante nada se você não tiver um equilíbrio emocional, uma saúde mental mínima para que você possa sempre viver mais perto possível da realidade.

P: Como a questão da profissionalização é vista entre os psicólogos? R: Essa eu fiquei na dúvida, profissionalização dos atletas?! Bom, se for a profissionalização dos atletas é isso que eu falei nas outras questões, nas outras respostas, na verdade, Leonardo. A profissionalização ela tem que obedecer alguns cuidados. Ela tem que estar principalmente amparada em um suporte psicológico que também se estende muitas vezes aos pais, aos treinadores. Profissionalização no esporte vai ocorrer via de regra muito cedo na vida do indivíduo, do atleta, então por isso que tem que ter esse respaldo todo, agora profissionalização é uma coisa positiva, não é uma coisa negativa.

P: Sair de casa com menos de 16 anos pra, muitas vezes, morar em outra cidade ou estado para praticar algum esporte, sem ter o acompanhamento dos pais e ainda ter que conciliar o esporte com a escola, pode representar um problema? R: Sim, vai girar tudo entorno do que eu já falei. Mas, vamos lá. Sair de casa com menos de 16 anos pode representar um problema, sim, principalmente no futebol, por exemplo, que muitos jovens são de família menos favorecidas economicamente, socialmente, tem poucas instruções. Então, a gente fica sabendo de várias armadilhas, promessas e muitos infelizmente no Brasil acabam passando por dificuldades, em grandes dificuldades de coisas básicas de sobrevivência. Então, é muito importante que os pais tomem todos os cuidados possíveis pra quando...antes de tomar essa decisão de liberar o filho pra viver longe de casa, isso é uma questão muito delicada. Ponto de vista psicológico volta de novo na estrutura psicológica do jovem. Existem jovens que passam por uma situação com mais tranquilidade e outros vão praticamente desistir da carreira por conta disso, porque não aguentam ficar longe da família por muito tempo, se sentem inseguros e essa insegurança fatalmente vai impactar no rendimento em treinos e sobretudo em competições desse atleta, mais uma vez a necessidade do acompanhamento psicológico, sou suspeito pra falar, mas não tem como fugir disso. Principalmente em informação também pros pais, tudo que envolve essa jornada precoce de saída de casa. Então, tem que obedecer muito, tem que se atentar muito pra essas questões, principalmente no nosso país que infelizmente existem muitos charlatões que prometem muitas coisas e acabam não

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cumprindo. Pode sim ser um problema social e pode obviamente acarretar em problemas emocionais também.

P: Jovens que não alcançam o sonho da profissionalização, sendo que muitas vezes dedicaram toda sua adolescência a isso, pode se tornar um trauma? R: Muito boa a pergunta, excelente pergunta. Quando o jovem sonha e não alcança o sonho dentro do esporte, mesmo se tornando profissional se ele acreditar, no que a maioria das pessoas acreditam, sim, vai se tornar um trauma, provavelmente. Porque pode acompanhá-lo pro resto da vida. Porque na nossa cultura o que privilegia é o resultado e não o meio, não a performance. O meu trabalho eu faço questão de dizer isso praticamente em todas as seções em todos os atletas. O mais importante é o trajeto e não o fim do trajeto, não o destino. Parece um clichê falar isso, mas isso é uma das coisas mais importantes principalmente pra conscientização dos jovens. Você tem que dar o seu máximo quando você está treinando e principalmente quando você está competindo. Dar o seu máximo deveria ser considerado em nossa cultura o sucesso em si e não necessariamente você venceu ou não venceu. Agora se você consegue expressar o máximo do seu potencial esportivo em competição isso deveria gerar uma grande satisfação, independente do resultado, independente da colocação que se alcança, a gente pode ver no futebol que vice-campeão no Brasil é menosprezado, nem cita, né? Totalmente desvalorizado, o que é um grande erro, o vice conseguiu chegar na frente, no campeonato inteiro que as vezes dura quase um ano a frente de muitos outros, de todos os outros, só perdeu pra um. E é totalmente desvalorizado, não é lembrado, enfim. É um cultura...esse tipo de crença que prejudica e pode levar a um trauma, onde se eu venço eu sou muito bem sucedido, o que é uma ilusão também, eu sou um grande herói, um ser humano extraordinário e não é verdade, é extraordinário dentro daquela atividade apenas, a gente costuma endeusar quem ganha e crucificar quem perde. Então, eu tenho sucesso se eu ganho, e sou fracassado se eu perco. Dentro dessa estrutura de crença, de pensamento cultural, sim...muitos podem se traumatizar caso não alcance os resultados almejados, simplesmente porque acreditou nessa mentira de que só é bem sucedido quem alcança resultados extremamente positivos como ser campeão...é uma coisa né? Existem, ainda bem, jovens e atletas mais estruturados psicologicamente que saem da sua carreira no anonimato, muitas vezes, não conseguiram alcançar grandes resultados, talvez nem alcancem a grande mídia, mas saem totalmente satisfeitos, porque viveram aquilo com intensidade, com disciplina, com tudo aquilo que se imagina, sem nenhum tipo de trauma. Então, tem que se trabalhar muito essa questão para que isso não ocorra.

Flávia de Cássia Gil Riboura

P: Como o futebol entrou na sua vida e quando começou a praticar? R: Comecei jogando futebol na rua com os meninos e também jogava na escola. Por volta dos 9 anos comecei a jogar com outras meninas, da minha idade, em uma quadra que tinha perto da minha casa 2x por semana.

P: Como e quando começou a praticar futebol em âmbito competitivo, sendo por alguma escolinha ou algo assim?

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R: Comecei a jogar mais “sério” aos 11 anos no time da GM, porém eu era muito nova e as outras meninas que jogavam já eram mais velhas. Com isso, era muito desproporcional minha atuação com elas. Dali eu fui indicada pra fazer parte de um time com atletas da minha idade e aos 12 anos comecei a disputar campeonatos municipais pelo Tênis Clube/SJ, que posteriormente a maioria das atletas e o treinador, foram para o time Buzzo Sports que foi onde passei a jogar “profissionalmente”.

P: Como era a estrutura de quando começou? R: Como todo começo foi bem difícil, dependíamos da ajuda dos pais das atletas, do patrocinador do time (que era o pai do treinador) e quem mais pudesse ajudar de alguma forma. Contudo, fomos conquistando títulos, ganhando respeito e reconhecimento e visando maiores objetivos. Foi depois de alguns anos e muita luta que conseguimos o apoio da prefeitura e ano a ano a estrutura foi melhorando.

P: Quais foram e como foram os testes ou peneiras em que você participou? (pode falar de como funcionaram e quantidade de pessoas) R: Não cheguei a participar de nenhum teste nem peneira.

P: Quais foram as principais dificuldades enfrentadas pelo futebol? R: O futebol feminino ainda sofre um pouco com algumas coisas básicas. A falta de estrutura, de profissionalismo, de interesse ainda é muito grande. Alguns clubes não cumprem as datas de pagamento, não cumprem o auxílio na reabilitação de atletas e isso se torna uma dificuldade para as mesmas. Acredito que a minha maior dificuldade foi quando fiquei 4 meses sem receber!

P:Como é a diferença de estrutura e condições oferecidas nos clubes de outras cidades com aqui em São José? R: Hoje em dia alguns clubes possuem bons patrocinadores e com isso melhoram sua estrutura. Isso para a modalidade é maravilhoso pois crescemos como um todo! Em contra partida ainda há alguns clubes que oferecem o básico pois não possuem recursos nem apoio, essa desigualdade é algo que temos que lutar a cada dia para que acabe e todos deem boas condições para suas atletas e comissão.

P: Como é a questão financeira? Quando você começou a receber um salário e como funciona? São bons salários oferecidos no futebol feminino? R: A parte financeira no futebol feminino não pode ser comparada ao futebol masculino porque é impossível (assim como qualquer outra profissão). São poucos os clubes brasileiros que tem condições de pagar bons salários a suas atletas. Mas a busca tem que ser continua para que a modalidade cresça, evolua e atraia mais colaboradores. Os clubes com mais estrutura, mais organização, mais patrocínios são os que conseguem oferecer melhores condições, sejam salariais ou bolsas de estudo através de parcerias. Eu comecei a receber um salário como atleta quando tinha 16 anos, jogava pela prefeitura de São José dos Campos e recebia R$80 reais.

P: Você, ao longo de toda sua jornada, teve muitas colegas que tiveram de desistir do futebol, seja por ilusão ou algum problema externo? Como foi isso? R: Durante todos os anos que joguei sempre tive companheiras que pararam e outras continuaram. Algumas não tinham o objetivo de ser atletas profissionais, outras se

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lesionaram e acabaram parando, outras decidiram estudar e procurar emprego na própria área do esporte, outras em uma área totalmente distinta. Infelizmente a falta de apoio e estrutura da modalidade acaba contribuindo para que as atletas que iniciam desistam e não se sintam seguras e optem por outras oportunidades.

P: Já apareceu algum empresário querendo te agenciar? R: Já sim e atualmente está crescendo o número de agentes que querem trabalhar com o futebol feminino. Para as futuras gerações será muito bom, pois isso criará mais oportunidades e as mesmas serão melhor assistidas em relação à contrato e toda a parte burocrática. Vejo como um avanço para a modalidade.

P: Como você vê o esporte no Brasil? Acha que é uma carreira segura? R: O esporte vem evoluindo e ganhando espaço à cada ano. Lógico que falta muita coisa ainda mas já está tendo uma divulgação e visibilidade maior. Aos poucos vamos ganhando espaço e conquistando os admiradores e torcedores do esporte e da modalidade feminina. Assim como nos anos anteriores, é importante que os jogos sejam televisionados, traz mais visibilidade e divulgação do futebol feminino, das equipes, dos patrocinadores, das atletas etc. Acredito que, como em todas as áreas, não temos uma total segurança. O que precisamos buscar é que todos os clubes façam contratos com suas atletas e que as mesmas sejam registradas como profissionais, trazendo assim benefícios como FGTS, INSS, férias, 13º salário e todos os benefícios trabalhistas, aí sim poderemos dizer que perante a todas as outras profissões também estamos asseguradas.

P: Qual o melhor momento que o futebol te proporcionou até hoje? R: Acredito que os títulos sempre nos trazem os melhores momentos dentro do esporte mas além das conquistas que obtive durante esses anos, um dos melhores momentos que tive foi conhecer outros países, foi quando disputei uma competição na Europa pela Seleção Brasileira Universitária! (Conheci a Sérvia, França e Rússia)

P: Como você vê o momento do futebol feminino no país? R: O futebol feminino vem ganhando maior visibilidade e apoio, porém a passos lentos. Ainda falta bastante das entidades responsáveis em promover ainda mais a modalidade nas plataformas de comunicação. Ainda mais hoje com as mídias sociais o acesso se torna muito mais fácil o acesso e o acompanhamento do público.

P: É difícil uma jovem que sonha com o futebol entrar na base de um clube? R: Nada na vida é fácil mas também nada é impossível para quem crê. Hoje em dia vem crescendo o número de equipes que investem, apoiam e possuem categorias de base em todo o Brasil. Há também alguns clubes que possuem escolinhas, assim como alguns projetos sociais também que buscar a formação de atletas de determinada região. Com isso, na maioria dos casos a jovem passa por um período de avaliação dentro da equipe, podendo ser aprovada pelos responsáveis e assim dar início à busca do seu sonho, ter uma carreira como atleta profissional de futebol feminino!

P: Quais clubes você jogou profissionalmente, antes do Kindermann? R: Joguei pelo São José E.C (SJC), Associação Sabesp (SP), Corinthians/Osasco (SP), A.D São Caetano (SP), Vitória de Santo Antão (PE), E.C Bahia (BA), Associação Ferroviária (Araraquara), Flamengo (RJ), Cresspom (DF) e Kindermann (SC).

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P: Você tem alguma esperança de que as coisas no futebol feminino melhorem ao longo dos anos, falando da parte financeira e também de presença de público? R: Acredito que a tendência é melhorar a cada ano! Se o interesse, o apoio e o investimento dos clubes de camisas, as prefeituras, entre outros continuar crescendo, acredito que teremos um campeonato nacional muito equilibrado e disputado. É claro que campeonatos regionais com uma organização melhor e mais equipes participando. Em relação à parte financeira, é uma consequência melhorar, basta ter o investimento certo é uma gestão correta, com isso o dinheiro será revertido de uma melhor forma para toda estrutura em si, incluindo salário, contrato, benefícios trabalhistas etc. Sendo assim, se tivermos uma boa organização das competições, mais equipes, mais divulgações, mais interação com o público, melhores condições para as atletas etc teremos consequentemente o apoio, carinho e respeito do público.

P: Quais títulos conquistou? R: Os mais importantes foram: Campeã Brasileira em 2016 pro Flamengo Campeã da Copa do Brasil e do Campeonato Paulista em 2012 pelo São José E.C Campeã da Libertadores em 2011 pelo São José E.C Campeã do Brasileiro de Seleções em 2004 pela Seleção Paulista de Futsal Campeã dos Jogos Abertos em 2008 pelo São José E.C

Tiago Gamez Silva

P: Como é pra você trabalhar com tantos jovens que sonham em ser jogadores profissionais? R: Bom, primeiramente, trabalhar com os garotos que tentam, que tem esse sonho de ser jogador, é um privilégio, é bacana. A gente, de certa forma, participa do sonho deles, correr atrás dos sonhos junto com eles, né? E isso não tem preço. Logicamente com uma coerência muito grande e nesse processo todo mostrando o que é certo, o que é errado, que não é um caminho fácil. Assim a gente vai participando da rotina, do sonho dos meninos e buscando o melhor pra eles, tanto esportivamente quanto pessoalmente.

P: Como você vê esse sonho? R: É sonho de qualquer garoto ser jogador, só que a gente que já é mais velho, já trabalha com futebol há muito tempo, a gente sabe que não é um caminho fácil. E é um sonho que, de certa forma, a gente fica até preocupado com o futuro. Porque o futebol, infelizmente, é instável, né? Se acontecer um dia desses meninos irem pra clube, pode ser que hoje eles sirvam e amanhã não mais, são mandados embora. Então, tudo isso é muito complicado e a gente, com muito pé no chão e muita seriedade, procura direcionar os meninos da melhor maneira possível.

P: Você trabalha a parte psicológica, no sentido de dar uma "freiada" nos jovens que pensão muito a frente? R: Ah sim, sempre a parte do psicológico dos meninos é muito importante. Eles sempre têm que ter a noção do que está acontecendo, o trabalho que é feito, até onde

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é o limite deles para chegar, não criar uma expectativa muito grande. Isso tudo é muito bem conversado, muito bem falado inclusive em reunião de pais. Também pros pais não alimentarem esse sonho de uma forma abusiva. Então, a gente tem esse controle, a gente procura dar esse bom senso pros meninos e pros familiares, que não é um caminho fácil. Então, o sonho todos eles têm, tem que correr atrás, tem que persistir, a gente como escola de futebol procura proporcionar a eles a chegar perto desse sonho de ser jogador e levar pra teste em clubes. Direcionar alguns meninos pra equipes de competição profissional. Só que é um caminho muito difícil e muito longo. A gente tem esse controle tanto com os meninos e com os pais, pra não ser um sonho único na vida deles. Não botar como um único objetivo, o principal.

P: Sabemos que o acompanhamento dos pais na vida sempre é importante, mas muito se fala sobre pais que alimentam uma ilusão, muitas vezes acreditando que seu filho será um jogador profissional, mas não enxergando essas dificuldades. Você já presenciou ou presencia situações assim? R: Essas situações de estar presenciando a situação exagerada do pai, da criança, a gente convive com isso dia a dia. Ali é, no caso, a gente vê pais que tem a frustração que não foram jogadores e tinham o sonho de ser jogador, não conseguiu, e transfere toda essa pressão pro filho. E a criança recebe isso, de certa forma, de forma negativa, porque acaba frustrando, acaba sobrecarregando. É uma carga muito grande, uma pressão muito grande pra já ter essa pressão de que tem que ser profissional, que tem que chegar num nível profissional e não é assim que funciona. Muitas vezes os pais acreditam ai que o filho é uma mega-sena e transfere toda essa pressão pro menino, mas futebol não é assim. Com muito pé no chão, a gente procura direcionar com as nossas orientações, com a nossa experiência para estar direcionando, dando informação certa tanto pro pai e principalmente pra criança que está praticando esporte e vai desenvolver.

P: Você já recebeu alunos que sonhavam em ser jogadores mas que, desde cedo, você via que não havia potencial ou, por outros motivos, sabia que não alcançaria o sonho? Se sim, como você lida/lidou com isso? R: Já sim, a gente em relação a esse ponto é um convívio diário que a gente tem. Por ser uma escola de futebol, a gente agrega o maior número de meninos possível, independente dele ser bom ou não, de ter o talento ou não. E todos eles, todos os meninos têm essa vontade de ser jogador. E acontece de ter casos de crianças que tem o nível muito baixo, mas a gente sempre motiva a estar participando, mas não com o objetivo de competição, como alguns outros meninos de mais qualidade. A gente procura incentivar a fazer o esporte, a praticar, a treinar para desenvolver também. E aos poucos ir dando as informações necessárias que ele ainda não está preparado para jogar. Então, isso tudo é uma conversa, até mesmo, com os pais também. A gente tem esse cuidado, a gente diariamente recebe meninos que tem uma condição a mais, condição física e tem talento pra tentar virar jogador. E também tem crianças que tem um nível muito inferior. Mas o importante pra eles é estar participando do esporte e você estar incentivando a praticar o esporte. Pode não ser um jogador de futebol, jogador profissional, mas você pode desenvolver o sonho deles, por exemplo, de futuramente estudar e ser um treinador de futebol. Então, a gente tem esse trabalho com os meninos que tem nível um pouco mais abaixo.

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P: A busca pra ser profissional no esporte começa muito cedo, por volta de 12 anos. Você acha que determinadas responsabilidades que vem com isso podem ser prejudiciais pra uma adolescência saudável? R: Na verdade esse sonho é antes dos 12 anos, por volta de 9 anos, de 8 anos o menino já tem esse sonho de ser jogador. E com certeza, se o menino não tiver uma boa orientação pedagógica do esporte, uma boa educação esportiva, você não formar uma criança com uma boa consciência esportiva, na adolescência ela vai dar trabalho sim. Será um futuro adolescente que tem uma dificuldade de perder, que não aceita escutar não, que tem ser o melhor, tem que ganhar sempre. Te ma dificuldade de perder. Isso tudo acarreta pra adolescência dele e pra vida dele em si. Então, se você não passa essa base cultural da parte esportiva desde o início, desde pequeno, ele cresce de uma forma mais rebelde futuramente.

P: Sei que você tem muitos alunos que passam por períodos de teste em clubes profissionais. Você já teve algum que sofreu assédio de empresários ou coisas semelhantes? R: Isso sempre acontece de você ver meninos jogadores, os meninos sendo assediados, isso até mesmo na nossa escolinha isso vive acontecendo. De pessoas que vende ilusão pro menino, fala "olha, vem jogar pra mim, que eu vou te levar pra clube, você vai ser jogador profissional", e o menino acaba saindo e vai pra essa outra escolinha, até o mesmo, inocentemente acredita nessas promessas. Futebol tem muitas pessoas que fazem falsas promessas. Mas a gente procura ser o mais transparente possível, principalmente, com a criança e com os pais. A transparência é a principal porta pra você ensinar o caminho certo, você poder mostrar o caminho certo. Mas o assédio é constante. Aqui a gente sempre que leva meninos pra clube, eu sempre procuro estar indo, sempre estou presente, justamente pra não correr o risco de acontecer uma ilusão, de vir alguém oferecer coisas que sejam falsas pros meninos, né? Então, eu tenho esse controle muito grande sobre esses meninos em relação a isso pra eles não terem uma frustração futuramente.

P: Pelo fato do esporte não ser uma certeza, você busca aconselhar seus alunos para não largarem o estudo e terem sempre um plano B? R: Com certeza, o estudo é sempre em primeiro lugar. Eu falo aqui pros meninos que o plano A tem que ser os estudos e plano B é o futebol. Você pega uma média aí, parece exagero, mas não é. Você pega uma média de 100 meninos, de cada 100 meninos, um vira jogador. Então, a escola com certeza é o plano A e o futebol é o plano B. O futebol se o menino lá na frente virar jogador é uma consequência do trabalho todo que ele fez desde quando ele iniciou na atividade esportiva. Escola é o principal, sem dúvida nenhuma. O menino virar um jogador é, digamos, outros quinhentos. É um acaso e se virar, ótimo, e se não virar ele terá que ser alguém na vida nos estudos. Aí vai fazer uma faculdade, aí ele tem que estar bem orientado na escola pra estar seguindo uma carreira sem ser o futebol.

P: Qual a sua melhor experiência levando um aluno para testes? E a pior? R: Quando a gente leva os meninos pra teste é sempre uma experiência muito bacana, é sempre muito bom. Você estar presenciando e estar buscando junto com o menino uma oportunidade dele buscar o sonho dele. Isso é muito importante. Eu acho que a pior parte dessa fase de testes, de levar menino pra clube é a difícil notícia que ele não vai continuar no clube, não passou em algum teste. Isso é muito complicado porque aí entra aquela parte psicológica, você conversa, você orienta, explica que

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futebol é muito difícil, que o não é constante no futebol e você mostrar, direcionar um caminho diferente pra ele continuar motivado e correr atrás do sonho dele de ser jogador. Então, a frustração é a pior experiência, mas cabe o professor junto ao pais motivar o aluno a continuar praticando esporte.

APÊNDICE B – Autorização Caio Oliveira

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APÊNDICE C – Fichas de orientação

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ANEXOS

ANEXO 1 – Autorizações de entrevista Flávia de Cássia Gil Riboura

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Tiago Gamez

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Alberto Luiz de Oliveira

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Nelder de Freitas Oliveira Silva

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Vitor Baesso

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Guilherme Nogueira Nunes Viana