GEOTECNOLOGIAS APLICADAS À ANÁLISE DA ATIVIDADE MINERADORA NA REGIÃO DO ALTO PARANAÍBA-MG

João Paulo Soares de Cortes(a), Joecy Martinez Santos(b)

(a)Instituto de Ciência e Tecnologia das Águas, Universidade Federal do Oeste do Pará, [email protected]

(b) Instituto de Educação, Letras, Artes, Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, [email protected]

Eixo: Territorialidades, conflitos e planejamento ambiental

Resumo

A atividade mineradora é caracterizada por seu alto potencial de impacto socioambiental, se configurando em um elemento estruturante na organização do espaço devido à mobilização de capital social e econômico necessário para viabilização de empreendimentos de médio e grande porte. Este trabalho busca, através da análise de dados oficiais, identificar o panorama e as perspectivas da atividade mineradora na região do Alto Paranaíba (MG). Dados referentes à poligonais de extração com informações sobre localidade, substância, titularidade e a fase que se encontra o processo foram analisados no software ARCGIS 10.1. Estas informações foram cruzadas com dados sobre a arrecadação dos impostos minerários a nível municipal, para verificação das principais tendências da indústria minerária na região. Os resultados mostram a tendência a abertura de novas áreas exploração de novas substâncias e expansão de atividades já consolidadas. A necessidade de que tais atividades sejam precedidas de um planejamento territorial e ambiental adequado é discutida.

Palavras chave: Mineração; Sistema de Informação Geográfica; Planejamento Ambiental; Nióbio; Vale

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1. Introdução

O estado de é o maior estado minerador do país extraindo mais de 160 milhões de toneladas ao ano de minério de ferro, incluindo diversas outras substâncias como ouro, manganês, alumínio, quartzo, caulim, diamante, calcário, nióbio, fosfato, entre outros (IBRAM, 2016). No ano de 2015, a arrecadação no estado da Minas Gerais da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), imposto também conhecido como os “royalties da mineração” atingiu a marca de R$ 675.494.752, representando 45,17% da arrecadação nacional. Com um total de 853 municípios no estado, a atividade de mineração está presente em mais de 25, onde dos dez maiores municípios mineradores no país, sete estão em Minas Gerais, que também contém o maior município minerador do país, (IBRAM, 2016). A região do Alto Paranaíba, situada na porção sudoeste do estado de Minas Gerais é constituída por trinta e um municípios, os quais segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), possuem 711 empresas mineradoras atuando na extração e beneficiamento de substâncias importantes para a balança comercial brasileira, como nióbio, fosfato e potássio e para o fornecimento de matéria prima para atividades de construção civil, agricultura e indústria de transformação. Apesar de ser considerada por alguns uma atividade propulsora do desenvolvimento econômico, por estar associada com a instalação de infraestrutura de energia, transporte e logística, e aumento da qualificação de parte da mão de obra (IBRAM, 2016), os custos sócioambientais de longo prazo da mineração são bem documentados, e envolvem impactos irreversíveis ao meio ambiente e à saúde humana (Enríquez, 2007). Desastres oriundos de negligências por parte de empresas mineradoras, como o rompimento da barragem de Fundão em Mariana (Fernandes et al, 2016) e mais recentemente do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão (), ambos no estado de Minas Gerais, demonstram ainda a necessidade de que os controles deste tipo de atividade sejam mais rígidos e eficientes, em função do potencial destrutivo associado à práticas irresponsáveis advindas do setor de extração mineral. Este trabalho propõe, através da análise de dados oficiais sobre a atividade mineradora, traçar um panorama desta atividade na mesorregião do Alto Paranaíba, identificando as principais substâncias

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exploradas, os arranjos locais constituídos e as perspectivas de evolução desta atividade em áreas já constituídas e em novas frentes de exploração.

2. Materiais e Métodos

Para o desenvolvimento do presente trabalho foram analisados os dados da plataforma SIGMINE que é mantida e atualizada pelo DNPM com o registro dos polígonos minerários a nível nacional, com informações que incluem a titularidade, a localidade do polígono, a substância e a fase que se encontra o processo junto ao órgão. Para sistematização dos dados relativos à fase do processo foi adotada uma classificação que permitisse identificar os polígonos em disponíveis, em processo documental (Requerimento de pesquisa, Autorização de pesquisa, Requerimento de licenciamento e Licenciamento), em processo documental avançado (Requerimento de registro de extração, Requerimento de lavra garimpeira e Requerimento de lavra) e extração autorizada (Registro de Extração, Lavra Garimpeira e Concessão de Lavra). As diversas substâncias constantes nos polígonos, como alvos de exploração foram classificadas ainda segundo seu uso potencial, de acordo com DNPM (2009). As classes atribuídas nesta análise foram Metais Ferrosos, Metais Não-Ferrosos, Metais e Pedras Preciosas, Minerais Industriais, Minerais para o Agronegócio, Mineração para a Construção Civil e Indústria da Água Mineral. Os dados foram analisados com o auxílio do software ARCGIS 10.1, onde também foram confeccionados os mapas. Os dados analisados foram confrontados com a arrecadação por município da região da CFEM disponibilizados pelo DNPM através do endereço https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/arrecadacao_cfem.aspx.

3. Resultados e Discussão

A análise dos tipos de substãncias (Figura 1A) e da fase do processo de requerimento de extração junto ao DNPM (Figura 1B) permite que seja observado o seguinte cenário. A porção noroeste do Alto Paranaíba, é a porção que possui a maior diversidade dos tipos de substâncias, contendo as 7 categorias de mineração. Referente a mineração para a Construção Civil, os municípios de Douradoquara e se destacam pelo grande número de polígonos em seus territórios, com as substâncias areia e cascalho. Vale ressaltar que o município de Monte Carmelo, é um polo de

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produção de materiais para construção civil a nível nacional, especialmente da chamada cerâmica estrutural, que inclui telhas, tijolos, lages e blocos de vedação (BUSTAMANTE & BRESSIANI, 2000). Outra atividade de destaque na região, inclusive em seu processo de ocupação é o setor de Metais e Pedras Preciosas, com grande importância na exploração garimpeira de diamante e, em menor escala, ouro. Os municípios com maior número de polígonos para estas substâncias são Coromandel, seguido de Estrela do Sul e Monte Carmelo. É interessante notar a importância da atividade garimpeira na região, explicitada pelo nome de localidades como “Cascalho Rico”, “Grupiara” e “Água Suja”, nome da antiga vila que deu origem ao município de Romaria.

Figura 1 – Polígonos de Extração Mineral na região do Alto Paranaíba classificados de acordo com A- Categoria da substância mineral e B- Fase do processo de requerimento de extração junto ao DNPM.

Na porção nordeste, há um predomínio de substâncias voltadas para o agronegócio, com grande quantidade de polígonos de extração de fosfato e potássio, minerais muito importantes para o equilíbrio da balança comercial brasileira. Com relação aos Minerais Industriais, polígonos de titânio, diamante industrial, hematita e talco são encontrados nos municípios de Tiros, Matutina, São Gotardo,

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Lagoa Formosa e Carmo do Paranaíba. Há ainda ocorrência de Metais Não-Ferrosos, como minério de cobre e zinco, em , Lagoa Formosa, Carmo do Paranaíba e na divisa entre os municípios de Arapuá, Tiros e Matutina. A porção Central pode ser caracterizada por uma grande quantidade de polígonos para uso industrial, como titânio, cassiterita, diamante industrial, pirocloro e vermiculita, nos municípios de Patrocínio, Guimarânia, Cruzeiro da Fortaleza e Serra do Salitre. Nos mesmos municípios, há minerais para a Construção Civil, polígonos de argila, cascalho, granito, areia e quartzito. Dos minerais para o agronegócio, há polígonos nas 4 cidades da região Central, com substâncias de fosfato e minério de cério (ETR). Já minérios de pedras preciosas, ouro e diamante, encontram-se em Patrocínio e Serra do Salitre. A porção Sul se destaca por possuir grande quantidade de polígonos de Metais Ferrosos, concentrados principalmente entre Araxá, Ibiá e Tapira, com minério de ferro, manganês e nióbio. Estes municípios possuem polígonos de outras substâncias como pirocloro e ETRs (cério) que suportam uma cadeia produtiva que inclui mineradoras de grande porte como a Vale e CBMM. Em relação aos minérios para a Construção Civil, a maior concentração está nos municípios de Nova Ponte, Santa Juliana, Sacramento, suportando um modelo extrativista de menor porte. Com relação às fases do processo de requerimento de extração junto ao DNPM (Figura 1B) dos 2.924 polígonos registrados no DNPM para a extração mineral, 4,41% do total (129 polígonos) estão na fase de Mineração Autorizada, 25,96% estão classificados como Disponíveis, 60,91% em Processo Documental e 8,72% na fase de Processo Documental Avançado. Em termos espaciais, pode-se notar que os polígonos que estão em Processo Documental Avançado, estão próximos a locais que já estão com a Extração Autorizada, como é o caso dos municípios de Patrocínio e Serra do Salitre. No Sul este padrão é verificado nos municípios de Tapira, Araxá e Sacramento. Este padrão indica um fortalecimento da atividade mineradora em municípios em que a mesma já se encontra instalada, favorecido pela presença de cadeias produtivas e redes de infraestrutura. Na porção nordeste, entre os municípios de Tiros, Matutina e São Gotardo, há uma concentração de polígonos em Processo Documental Avançado, relacionados a substâncias de rocha potássica e de fosfato, indicando a abertura de uma nova frente minerária na região. Na porção noroeste, polígonos que estão nessa fase encontram-se em maior número em Romaria, Monte Carmelo, Abadia dos Dourados e em Coromandel.

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Em termos de polígonos que estão com a Extração Autorizada pelo DNPM, tem-se em destaque a porção Central, com os municípios de Patrocínio, Araxá, Tapira, Sacramento e Nova Ponte em evidência. Ao Noroeste, Romaria e Coromandel possuem polígonos nessa fase. A Figura 2A ilustra a distribuição por categoria dos polígonos em fase de extração autorizada e a Figura 2B os polígonos com processo documental avançado, representando as perspectivas de expansão da atividade minerária na região.

Figura 2 – Mapa de Distribuição dos Polígonos por categoria de mineração nas fases de A- extração autorizada, indicando o panorama da atividade na região e B- processo documental avançado, indicando as perspectivas de expansão.

Pela análise da figura 2A, que indica os polígonos em fase de extração autorizada e dos dados associados, a atividade minerária na região do Alto Paranaíba possui as seguintes características. Um

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dos minerais de maior importância em termos estratégicos é o pirocloro, localizado em Araxá, e explorado pela empresa CBMM na produção de nióbio. Outra empresa que tem atuação marcante na região é a Vale Fertilizantes S.A, requerente da exploração dos minerais de titânio e fosfato em Tapira, Patrocínio e Patos de Minas. A região como um todo se configura em um polo importante de produção de minerais utilizados na agricultura como fosfato e potássio, além de estar bem localizada em termos logísticos para escoamento desta produção altamente demandada pela forte agricultura praticada na região e suas adjacências. Os municípios de Araxá e Tapira, merecem destaque uma vez que juntos no ano de 2010 representaram 98,25% da CFEM arrecadada na região, tendo esta arrecadação dobrado no ano de 2015 em relação a 2010. O crescimento de outras atividades minerárias em todo Alto Paranaíba, no entanto, fez com que a participação relativa destes dois municípios no total global de arrecabação sofressem uma ligeira queda, representando 94,65% da arrecadação total do imposto na região no cenário de 2015. A substância responsável pela atividade de grande vulto nestes muncípios é o nióbio, por sua posição estratégica para o Brasil, por seu alto valor de mercado e pela diversidade de mercados que atinge, sendo exportado para países como China, Japão, EUA e Países Baixos. A figura 3 ilustra a participação relativa de cada classe de substâncias no total explorado (A) e a perspectiva de crescimento das atividades (B). A análise associada destes gráficos com os mapas da figura 2 permite identificar em termos de panorama uma grande importância de polígonos para mineração para construção civil espalhados em toda região, porém com maior expressividade nas porções noroeste e sudoeste, com especial menção aos municípios de Monte Carmelo, Sacramento e Nova Ponte. Esta indústria tende a manter um crescimento devido à demanda constante por estes materiais e aos métodos relativamente simples de exploração. Outra característica importante é a presença marcante da mineração de nióbio e minerais associados na região de Tapira e Araxá, que tendem a expandir a partir da infraestrutura já constituída. A exploração de corpos de rochas intrusivas nos municípios de Patrocínio e Patos de Minas tendem a mudar dinâmica produtiva da porção central da região, agregando elementos importantes para a cadeia do agronegócio. Uma segunda frente de exploração de substâncias associadas a esta cadeia é observada nos arredores de São Gotardo, Matutina e Tiros. A indústria de metais e pedras preciosas, que possui historicamente importância na região tende a aumentar expressivamente sua participação com o avanço de novas áreas especialmente na porção leste da região, além da habilitação de novos polígonos para extração nas áreas já consolidadas.

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Figura 3 – Contribuição de cada categoria de mineração para o cenário atual (A) e perspectiva de extração de novos polígonos (B).

Em um cenário em que todos os polígonos que estão em Processo Documental Avançado sejam aprovados e entrem em processo de extração quatro substâncias importantes passariam a ser exploradas na região, rocha potássica, minério de cério, manganês e caulim.

4. Considerações Finais

As análises realizadas permitiram que fosse compreendida a espacialidade da atividade minerária na mesorregião do Alto Paranaíba (MG). Através da sistematização e filtro dos dados disponibilizados pelo DNPM em formato shapefile, foi possível ainda traçar a tendência de crescimento desta atividade, com a identificação dos polígonos que se encontram em processo mais avançado junto ao órgão com relação ao requerimento de extração mineral. O reconhecimento destas tendências é importante para que se possa executar políticas de planejamento territorial, de modo a se evitar a exploração irracional dos recursos da atividade minerária, favorecendo a concentração dos lucros e os riscos de socialização de impactos negativos. Esta lógica de planejamento pode ser aplicada tanto a

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casos em que os locais possuem pouca tradição e infraestrutura de suporte à atividade minerária, como nos municípios de Tiros e Matutina, quanto em locais de expansão, como nos municípios de Araxá e Tapira, em que já existe uma rede instalada. Em ambos os casos é fundamental que a instalação ou expansão da atividade mineradora seja acompanhada de investimentos em outros setores da economia, como meio de diminuir a dependência econômica comumente gerada nestes cenários. Por fim, é fortemente recomendado que os órgãos reguladores e agências e organizações que estão envolvidas com o licenciamento e a fiscalização destas atividades sejam fortalecidas, de modo a se evitar episódios trágicos como os vivenciados no passado recente do país.

5. Referências Bibliográficas

BUSTAMANTE, G.M.; BRESSIANI, J.C.; A indústria cerâmica brasileira, Cerâmica Industrial, v.5, n.3, p.31-6, 2000. DNPM. Departamento Nacional de Produção Mineral. Economia mineral do Brasil. Brasília. Cidade Gráfica e Editora Ltda, 2009. DNPM. Departamento Nacional de Produção Mineral. Diretoria de Procedimentos Arrecadatórios. Arrecadação CFEM. Disponível em https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/arrecadacao_cfem.aspx. 2018.

ENRÍQUEZ, M. A. R. S. Maldição ou dádiva? Os dilemas do desenvolvimento sustentável a partir de uma base mineira. 2007. 449 f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável) – Centro de Desenvolvimento da Universidade de Brasília – CDS/UnB, 2007. FERNANDES, G. W., GOULART, F. F., RANIERI, B. D., COELHO, M. S., DALES, K., BOESCHE, N., & FERNANDES, S. Deep into the mud: ecological and socio-economic impacts of the dam breach in Mariana, Brazil. Natureza & Conservação, 14(2), 35-45, 2016. IBRAM, Instituto brasileiro de mineração. Informações sobre a economia mineral brasileira. Brasil, 2016.

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