REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 1
Prospecção pesqueira de espécies demersais com rede de arrasto-de-fundo na Região Sudeste-Sul do Brasil
Manuel Haimovici Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski Roberto Ávila Bernardes Luciano Gomes Fischer Carolus Maria Vooren Roberta Aguiar dos Santos Amanda Ricci Rodrigues Silvio dos Santos SÉRIE DOCUMENTOS REVIZEESÉRIE DOCUMENTOS – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 2
Comitê Executivo do Programa REVIZEE Comissão Interministerial para os Recursos do Mar – CIRM Ministério do Meio Ambiente – MMA Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq Ministério de Minas e Energia - MME Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT Marinha do Brasil – MB Ministério da Educação – MEC Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca – SEAP Ministério das Relações Exteriores – MRE
Programa REVIZEE – Score Sul Coordenador: Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski - IOUSP Vice Coordenador: Lauro Saint Pastous Madureira – FURG
Série Documentos REVIZEE – Score Sul Responsável – Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski
Comissão Editorial Jorge Pablo Castello – FURG Paulo de Tarso Cunha Chaves – UFPR Sílvio Jablonski – UERJ
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Prospecção pesqueira de espécies demersais com rede de arrasto-de- fundo na Região Sudeste-Sul do Brasil. — São Paulo : Instituto Oceanográfico - USP, 2008. — (Série documentos Revizee : Score Sul / responsável Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski)
Vários autores Bibliografia. ISBN 85-98729-23-7
1. Peixes demersais 2. Prospecção pesqueira 3. Recursos pesqueiros 4. Rede de arrasto-de-fundo 5. Zona Econômica Exclusiva (Direito do mar) – Brasil I. Haimovici, Manuel. II. Série.
08-00062 CDD-551.460709162
Índices para catálogo sistemático: 1. Prospecção pesqueira de recursos demersais : Uso de rede de arrasto-de-fundo : Região Sudeste-Sul : Zona Econômica Exclusiva : Direito do mar : Brasil 551.460709162 2. Redes de arrasto-de-fundo : Uso na prospecção pesqueira de recursos demersais : Região Sudeste-Sul : Zona Econômica Exclusiva : Direito do mar : Brasil 551.460709162
Impresso no Brasil – Printed in Brazil 2008
SÉRIE REVIZEE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 3
SUMÁRIO
Apresentação do Programa REVIZEE ...... 5
Prefácio ...... 9
Resumo, abstract e palavras-chave ...... 11
1. Introdução ...... 15
2. Materiais e métodos ...... 21
3. Hidrografia ...... 29
4. Composição de espécies ...... 33
5. Distribuição das densidades e biomassas por grandes grupos ...... 43
6. Distribuição e abundância por espécie ...... 49
7. Potencial pesqueiro ...... 153
8. Conclusões ...... 159
9. Referências bibliográficas ...... 161
10. Anexos ...... 169
Agradecimentos ...... 181
SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 4
4 SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 5
APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA REVIZEE
Rudolf de Noronha Diretor do Programa de Gerenciamento Ambiental Territorial – SQA/MMA
Os ambientes costeiros e oceânicos contêm a maior parte da biodiversidade dispo- nível no planeta. Não obstante, grande parte desses sistemas vem passando por algum ti- po de pressão antrópica, levando populações de importantes recursos pesqueiros, antes numerosas, a níveis reduzidos de abundância e, em alguns casos, à ameaça de extinção. Observam-se, em conseqüência, ecossistemas em desequilíbrio, com a dominância de es- pécies de menor valor comercial,ocupando os nichos liberados pelas espécies sobreexplo- tadas, o que representa uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável. Tal situação levou a comunidade internacional a efetuar esforços e a pactuar nor- mas para a conservação e exploração racional das regiões costeiras, mares e oceanos, plataformas continentais e grandes fundos marinhos, destacando-se a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e o Capítulo 17 da Agenda 21 (Proteção dos Oceanos, de Todos os Tipos de Mares e das Zonas Costeiras, e Proteção, Uso Racional e Desenvolvimento de seus Recursos Vivos), além da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica. O Brasil é parte desses instrumentos, tendo participado ativamente da elabo- ração de todos eles, revelando seu grande interesse e preocupação na matéria. A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar – CNUDM, ratificada por mais de 100 países, é um dos maiores empreendimentos da história normativa das rela- ções internacionais, dispondo sobre todos os usos, de todos os espaços marítimos e oceâ- nicos, que ocupam mais de 70% da superfície da Terra. O Brasil assinou a CNUDM em 1982 e a ratificou em 1988, além de ter incorporado seus conceitos sobre os espaços marítimos à Constituição Federal de 1988 (art. 20, incisos V e VI), os quais foram internalizados na le- gislação ordinária pela Lei Nº 8.617, de 4 de janeiro de 1993. A Convenção encontra-se em vigor desde 16 de novembro de 1994. A Zona Econômica Exclusiva (ZEE) constitui um novo conceito de espaço marítimo introduzido pela Convenção, sendo definida como uma área que se estende desde o limi- te exterior do Mar Territorial, de 12 milhas de largura, até 200 milhas náuticas da costa, no caso do nosso país.O Brasil tem,na sua ZEE de cerca de 3,5 milhões de km2,direitos exclusi- vos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos re- cursos naturais, vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito e seu subsolo,bem como para a produção de energia a partir da água,marés,correntes e ventos. Ao lado dos direitos concedidos, a CNUDM também demanda compromissos aos Estados-partes. No caso dos recursos vivos (englobando os estoques pesqueiros e os de- mais recursos vivos marinhos, incluindo os biotecnológicos), a Convenção (artigos 61 e 62) estabelece que deve ser avaliado o potencial sustentável desses recursos, tendo em conta os melhores dados científicos disponíveis,de modo que fique assegurado,por meio de me-
SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL 5 REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 6
didas apropriadas de conservação e gestão, que tais recursos não sejam ameaçados por um excesso de captura ou coleta. Essas medidas devem ter, também, a finalidade de resta- belecer os estoques das espécies ameaçadas por sobreexploração e promover a otimiza- ção do esforço de captura,de modo que se produza o rendimento máximo sustentável dos recursos vivos marinhos, sob os pontos de vista econômico, social e ecológico. Para atender a esses dispositivos da CNUDM e a uma forte motivação interna, a Co- missão Interministerial para os Recursos do Mar – CIRM aprovou, em 1994, o Programa RE- VIZEE (Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva), destinado a fornecer dados técnico-científicos consistentes e atualizados, essenciais para subsidiar o ordenamento do setor pesqueiro nacional. Iniciado em 1995, o Programa adotou como estratégia básica o envolvimento da comunidade científica nacional, especializada em pesquisa oceanográfica e pesqueira, atuando de forma multidisciplinar e integrada, por meio de Subcomitês Regionais de Pes- quisa (SCOREs).Em razão dessas características,o REVIZEE pode ser visto como um dos pro- gramas mais amplos e com objetivos mais complexos já desenvolvidos no País,entre aque- les voltados para as ciências do mar, determinando um esforço sem precedentes, em ter- mos da provisão de recursos materiais e da contribuição de pessoal especializado. Essa estratégia está alicerçada na subdivisão da ZEE em quatro grandes regiões, de acordo com suas características oceanográficas, biológicas e tipo de substrato dominante: 1. Região Norte – da foz do rio Oiapoque à foz do rio Parnaíba; 2. Região Nordeste – da foz do rio Parnaíba até Salvador, incluindo o arquipélago de Fernando de Noronha, o atol das Rocas e o arquipélago de São Pedro e São Paulo; 3. Região Central – de Salvador ao cabo de São Tomé, incluindo as ilhas de Trindade e Martin Vaz; 4. Região Sul – do cabo de São Tomé ao Chuí. Em cada uma dessas regiões, a responsabilidade pela coordenação e execução do Programa ficou a cargo de um SCORE, formado por representantes das instituições de pes- quisa locais e contando, ainda, com a participação de membros do setor pesqueiro regional. O processo de supervisão do REVIZEE está orientado para a garantia,em âmbito na- cional, da unidade e coerência do Programa e para a alavancagem de meios e recursos, em conformidade com os princípios cooperativos (formação de parcerias) da CIRM, por meio da Subcomissão para o Plano Setorial para os Recursos do Mar – PSRM e do Comitê Execu- tivo para o Programa. Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, esse fórum é com- posto pelos seguintes representantes: Ministério das Relações Exteriores (MRE), Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP),Ministério da Educação (MEC),Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Marinha do Brasil (MB/MD), Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Bahia Pesca S.A. (empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, coordenador operacional do REVIZEE. A presente edição integra uma série que traduz, de forma sistematizada, os resul- tados do Programa REVIZEE para as suas diversas áreas temáticas e regiões, obedecendo às seguintes grandes linhas:caracterização ambiental (climatologia,circulação e massas d’água, produtividade, geologia e biodiversidade); estoques pesqueiros (abundância, sazonalidade, biologia e dinâmica); avaliação de estoques e análise das pescarias comerciais; relatórios regionais, com a síntese do conhecimento sobre os recursos vivos; e, finalmente, o Sumário Executivo Nacional,com a avaliação integrada do potencial sustentável de recursos vivos na Zona Econômica Exclusiva.
6 SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 7
A série, contudo, não esgota o conjunto de contribuições do Programa para o co- nhecimento dos recursos vivos da ZEE e das suas condições de ocorrência. Com base no esforço de pesquisa realizado, foram, e ainda vêm sendo produzidos, um número significa- tivo de teses,trabalhos científicos,relatórios,apresentações em congressos e contribuições em reuniões técnicas voltadas para a gestão da atividade pesqueira no país, comprovando a relevância do Programa na produção e difusão de conhecimento essencial para a ocupa- ção ordenada e o aproveitamento sustentável dos recursos vivos da ZEE brasileira.
SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL 7 REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 8
8 SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 9
PREFÁCIO
Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski Coordenadora do Score Sul – IOUSP Manuel Haimovici Fundação Universidade do Rio Grande – FURG
O Programa REVIZEE, “Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva”incluiu atividades de pesca com diversos métodos, procurando abranger a maior parte dos recursos pelágicos, demersais e bentônicos, incluindo princi- palmente peixes, mas também cefalópodes, crustáceos e outros invertebrados. Os objetivos das prospecções pesqueiras foram de inventariar os recursos vivos, suas áreas de distribuição,relacionar suas ocorrências às características ambientais,estimar suas biomassas e avaliar seus potenciais de captura. Para alcançar tais objetivos,foram efetuados cruzeiros hidroacústicos e de pesca com redes de meia-água para a captura de pequenos peixes pelágicos; cruzeiros de pesca ex- perimental com espinhel-de-superfície para cações pelágicos, atuns e espécies afins; e, para a captura de recursos demersais, prospecções com pargueiras e armadilhas, com redes de arrasto-de-fundo e com espinhel-de-fundo. Em conjunto, as pesquisas procu- raram fornecer informações sobre a composição, distribuição e abundância das espécies que habitam sobre os diferentes tipos de fundo e sua relação com o ambiente. A proposta de trabalho para a prospecção pesqueira com rede de arrasto-de-fundo do Subcomitê Regional Sul (SCORE SUL), do Programa REVIZEE, incluiu a realização de dois levantamentos sazonais, abrangendo a região da costa brasileira compreendida entre os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, na faixa de 100 e 600 m de profundidade. Os levantamentos foram realizados com os navios de pesquisa “Atlântico Sul” da FURG e “Soloncy Moura” do CEPSUL/IBAMA, totalizando 95 dias no mar, 68 de pesca, 224 lances efetivos e 268 estações com CTD, contando com a participação de pesquisadores, alunos, estagiários e bolsistas da FURG, IOUSP, Instituto de Pesca de São Paulo, UNIVALI e CEPSUL/IBAMA. Os resultados apresentados neste volume da Série Documentos REVIZEE – Score Sul, mostram que as biomassas dos recursos existentes em fundos arrastáveis são relativa- mente pequenas e o potencial pesqueiro é uma ordem de magnitude inferior ao da plataforma interna da Região Sudeste-Sul. Acreditamos que este estudo seja mais uma importante contribuição do Programa REVIZEE para a gestão da pesca no Brasil, possibilitando a implementação de políticas e ações adequadas para a explotação dos estoques de profundidade.
SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL 9 REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 10
10 SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 11
RESUMO, ABSTRACT E PALAVRAS-CHAVE
RESUMO
A prospecção realizada, no contexto dos trabalhos do Sub-Comitê Regional Sul do Programa REVIZEE, teve como principal meta a avaliação do potencial pesqueiro vulnerável ao arrasto-de-fundo presente na plataforma externa e talude superior da Região Sudeste- Sul abrangendo uma área total próxima aos 135 000 km2. Embora anteriormente tenham sido realizados levantamentos com o mesmo petrecho de pesca abrangendo partes da área do estudo, esta foi a primeira tentativa de avaliar a biomassa e analisar a distribuição, densi- dades e biomassas de tais recursos em toda a região e em duas épocas do ano. Os trabalhos envolveram pesquisadores de várias instituições, totalizando 95 dias de mar, tendo sido utilizados os navios de pesquisa “Atlântico Sul”, da Universidade Federal do Rio Grande e “Soloncy Moura”, do IBAMA, em dois levantamentos realizados entre agos- to-outubro de 2001 (inverno e início de primavera), e fevereiro-junho de 2002 (final de verão e outono),abrangendo a área entre Chuí - RS (34° 40’S) e o Cabo Frio - RJ (23° S),entre 100 e 600 m de profundidade. As temperaturas nas águas próximas ao fundo se mantiveram entre 5,2°C e 18,5°C, e as salinidades entre 34,2 e 36,0 ups. As temperaturas junto ao fundo foram em geral superiores a 12°C em profundidades inferiores a 250 m, estiveram entre 8°C e 14°C entre 250 e 400m e foram inferiores a 10°C nas profundidades maiores que 400 m. Na maioria das estações realizadas em profundidades menores do que 400 m a água próxima ao fundo apresentava características de Água Central do Atlântico Sul, e em profundidades superiores a 400 m, de mistura com teores crescentes de Água Intermediária Antártica. As temperaturas de fundo nas mesmas profundidades foram, em geral, pouco afetadas por mudanças sazonais. Ao todo,as duas embarcações realizaram 224 lances efetivos de pesca.A captura total de peixes e cefalópodes foi de 32.481 kg, 352 968 exemplares de 227 espécies, que corres- pondem a médias de 145 kg/lance, 1575,7 exemplares/lance e 22,1 espécies por lance. Os teleósteos estiveram representados por 167 espécies de 80 famílias e tiveram um peso médio de 89,0 g; as espécies mais capturadas em peso foram: Polymixia lowei, o peixe galo-de-profundidade, Zenopsis conchifera, a merluza Merluccius hubbsi, o espada Trichiurus lepturus, a abrótea-de-profundidade, Urophycis mystacea, Antigonia capros, o peixe-sapo Lophius gastrophysus e o cara-de-rato Caelorinchus marinii. Os elasmobrânquios totalizaram 37 espécies de 15 famílias e pesaram, em média, 1086,5 g, sendo as espécies mais abundantes em peso: Atlantoraja cyclophora, Atlantoraja platana, Squalus mitsukurii, Squalus megalops,Squatina guggenheim,Squatina argentina,Mustelus schmitti e Atlantoraja castelnaui. De cefalópodes foram capturadas 23 espécies de 11 famílias, com um peso médio de 64,1 g, com o calamar-argentino Illex argentinus e a lula Loligo plei, representan- do, em conjunto, 99,2% da captura total em peso deste grupo. Crustáceos e outros inverte- brados constituíram uma pequena parte da captura ( 1%) sendo que as capturas em número e peso da maior parte das espécies não foi registrada de forma sistemática. A maior riqueza de espécies foi observada na região entre Solidão (31°S) e Cabo de Santa Marta Grande (28°S), diminuindo para o norte e o sul, o que pode ser conseqüência da maior presença de espécies tanto de origem temperada como tropical na região. Em relação à profundidade, a maior riqueza foi obtida nas faixas de 400 a 600m, onde espécies
SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL 11 REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 12
bentopelágicas e mesopelágicas mais oceânicas ficam próximas ao fundo durante o dia, e entre 150-200m, na quebra de plataforma, onde ocorre uma superposição de faunas costeira e de talude. A densidade média e a biomassa total vulneráveis ao arrasto, estimadas nos levan- tamentos de inverno-primavera foram de 2,61 kg/km2 e 349 710 t, aumentando para 3,24 kg/km2 e 436 630 t no verão-outono. A biomassa de teleósteos representou 80% do total estimado em ambos os levantamentos, a de elasmobrânquios foi 15% do total no inverno-primavera e 8% no verão-outono e a de cefalópodes 4% e 12% respectivamente. Em termos absolutos, a biomassa de teleósteos e cefalópodes foi maior no verão-outono, e a de elasmobrânquios no inverno-primavera. Os teleósteos, como um todo, tiveram dis- tribuição mais equilibrada em relação às latitudes e profundidades em ambas as épocas do ano. Os elasmobrânquios predominaram na parte sul, nas águas mais rasas e no inver- no-primavera, devido a imigração de espécies que acompanham o deslocamento sul- norte da convergência subtropical. Os cefalópodes foram mais abundantes em águas mais profundas e no verão-outono, quando Illex argentinus foi a espécie mais abundante nas capturas. Cabe ressaltar que estas estimativas devem ser interpretadas com cautela, devido à amplitude dos intervalos de confiança, e pelos vícios inerentes ao método da área varrida, que decorrem tanto da variação horizontal como vertical da abertura das redes e do efeito das portas e malhetas do petrecho sobre o comportamento das dife- rentes espécies frente à rede. A biomassa aproveitável pela pesca comercial de arrasto-de-fundo, calculada com as ressalvas citadas, foi da ordem de 150 mil toneladas, das quais metade na plataforma externa, onde a densidades seriam inferiores a 1 kg/km2 e a outra no talude superior onde seriam próximas aos 2 kg/km2. O potencial pesqueiro deste ambiente é relativamente pequeno. Além da biomassa relativamente baixa dos recursos pesqueiros, apenas a me- tade é composta por espécies de interesse para os padrões atuais de comercialização, como a merluza,a abrótea-de-profundidade,o peixe-sapo e o calamar-argentino.Em torno de um quarto da biomassa é composta por elasmobrânquios, de baixo potencial reprodu- tivo e crescimento lento, e que inclui algumas espécies cuja pesca e comercialização estão proibidas a nível nacional, como as do gênero Squatina. Outras duas espécies somaram o quarto restante da biomassa aproveitável: Polymixia lowei e Zenopsis conchifera,que não têm um mercado consistente no Brasil. Constatou-se que os principais recursos pesqueiros demersais da região estudada já vinham sendo explotados na época do levantamento: a merluza e o peixe-sapo pela frota de arrasteiros do Rio de Janeiro e, ocasionalmente, pela de Rio Grande, e a abrótea- de-profundidade, como parte da fauna acompanhante da pesca de espinhel-de-fundo. As três já haviam sido impactadas pela pesca de barcos processadores arrendados, de médio e grande porte, que começaram a atuar em 1999. A estas espécies pode ser adicionado o calamar-argentino que, entretanto, apresenta grandes flutuações interanuais e uma curta temporada de pesca. O levantamento realizado não levou ao descobrimento de novos recursos pes- queiros relevantes vulneráveis ao arrasto-de-fundo, mas evidenciou que as biomassas explotáveis são relativamente pequenas, e que o potencial pesqueiro é uma ordem de magnitude inferior ao da plataforma interna da região Sudeste-Sul.
ABSTRACT This document reports the results of the bottom trawl surveys performed along the outer shelf and upper slope of Southeastern and Southern Brazil covering a total area of 135 000 km2, during cold and warm seasons as part of the wider scope REVIZEE Program (Living Resources of the Exclusive Economic Zone).The surveys were from Chuí - RS (34° 40’S) to Cabo Frio - RJ (23° S), between the 100m and 600 m isobaths with the research vessels
12 SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 13
“Atlântico Sul”, of the Federal University of Rio Grande and “Soloncy Moura”, of the IBAMA reaching the total of 95 days at sea in August-October of 2001 (winter to early spring) and February-June (late summer and autumn) of 2002 and 224 effective fishing hauls. The water temperatures close to the bottom were over 12°C at depth under 250 m, between 8°C and 14°C between 250 and 400m and under 10°C at over 400 m depth. Overall, temperatures ranged from 5.2°C to 18.5°C, and salinities between 34.2 and 36.0 ups and differed little between the same points along both surveys.In most of the stations, at depth up to 400 m bottom waters presented characteristics of South Atlantic Central Water and at higher depths mixed with increasing rates of Antarctic Intermediate Waters. Total catch of fish and cephalopods was 32,481 kg, 352.968 specimens and 227 species, corresponding to a mean catch of 145 kg, 1575.7 specimens and 22.1 different species per haul. The catch of bony fishes included 167 species of 80 families and had a mean weight of 89.0 g. The main species in weight were Polymixia lowei, Zenopsis conchifera, hake Merluccius hubbsi, Trichiurus lepturus, gulf hake Urophycis mystacea, Antigonia capros, monkfish Lophius gastrophysus and Caelorinchus marinii. Cartilaginous fishes catch included 37 species of 15 families, and presented a mean weight of 1086.5 g; the most abundant species were Atlantoraja cyclophora, Atlantoraja platana, Squalus mitsukurii, Squalus megalops, Squatina guggenheim, Squatina argentina, Mustelus schmitti and Atlantoraja castelnaui. Cephalopods attainded 23 species of 11 families and specimens had a mean weight of 64.1g.The argentinean shortfin Illex argentinus and Loligo plei amounted 99.2% of the total weight of cephalopods. Crustaceans and other invertebrates represented less than 1% of total catch. Species richness was higher between Solidão (31°S) and Santa Marta Grande cape (28°S),decreasing both northward and southward probably due to the presence of species of both temperate and tropical origin; regarding depth, the maximum was in the deepest strata (400-600m), where bentopelagic and more oceanic mesopelagic species remain close to the bottom during the daytime, followed by the shelf break (150-200m), where coastal and slope faunas overlap. The mean density and total biomass vulnerable to the bottom trawls were of 2.61 kg/km2 and 349.710 t in the winter-spring survey, increasing to 3.24 kg/km2 and 436.630 t in the summer-autumn survey. Bony fish biomass was higher in summer-autumn, but in relative terms amounted 80% and had a similar distribution between latitudes and depth ranges in both surveys. Cartilaginous fishes biomass was 15% in winter-spring and concentrated southward and in shallower waters due to immigration associated to the south-north displacement of the subtropical convergence and 8% in the summer-autumn. Cephalopods amount 4% of total biomass in winter-spring and 12% in summer-autumn when a strong cohort of Illex argentinus occurred in the deeper strata. These reported estimates should be interpreted with caution,due to the width of the confidence intervals, and the biases inherent of the swept area method, due to the variation of both horizontal as vertical opening of the nets, the hearding effect of the doors and bridles and the behavior of different species in front of the net. The biomass of fishing resources with potential commercial value, calculated with the mentioned safeguards, was around 150 thousand tons, half of these in the outer shelf, where the mean density was under 1 kg/km2, and the other half in the upper slope, where mean density was close to 2 kg/km2.The fishing potential in the area is relatively small, and only half of it is marketable as hakes Merluccius hubbsi, Urophycis mystacea, monkfish gastrophysus and the Argentinean shortfin squid, that presents large inter-annual abundance fluctuations. Around one quarter is of cartilaginous fishes of slow growth and low reproductive potential, most of which overfished and protected by conservation laws, and the last quarter mostly of Polymixia lowei and Zenopsis conchifera, both without value for the current patterns of commercialization in Brazil.
SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL 13 REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 14
All mentioned commercially valuable demersal stocks in the study area were already fished by the local bottom trawl, gillnet and bottom longline industrial fishing boats and had also been fished by foreign large on-board processing fishing boats that were allowed to fish in Brazilian waters since 1999. The surveys did not find any new important fishery resource but showed that,along southeastern and southern Brazil,the fishing potential of the outer shelf and upper slope is one order of magnitude lower than that one present on the inner shelf.
Palavras-chave Pesca, arrasto-de-fundo, avaliação, biodiversidade, potencial pesqueiro, dis- tribuição, peixes, cefalópodes
Fishery, otter trawl, biodiversity, fish potential, distribution, fish, cephalopods
14 SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 15
1. INTRODUÇÃO
Proposta de trabalho e objetivos A prospecção com redes de arrasto-de-fundo na Região Sudeste-Sul, sobre a platafor- ma externa e o talude continental superior em profundidades de 100 a 600 m, entre Chuí e Cabo Frio, teve como objetivo principal avaliar o potencial pesqueiro dos recursos demersais que habitam fundos de areia e lama na região. Lances na região entre Cabo Frio e São Tomé foram evitados devido ao predomínio de fundos rochosos e à presença de plataformas e dutos de petróleo. A prospecção com redes de arrasto-de-fundo, embora com certas limitações, per- mite obter estimativas de densidades e abundâncias das espécies vulneráveis a este petre- cho, bem como informações sobre a diversidade de espécies e a distribuição das mesmas em relação à profundidade, latitude e época do ano, além da coleta de dados e de material biológico para estudos posteriores sobre crescimento, reprodução e alimentação. Os objetivos específicos propostos foram os de: • Determinar a composição de espécies da fauna nectônica vulnerável às redes de arras- to-de-fundo na Região Sudeste-Sul; • Estimar a densidade e abundância em número e peso das espécies, com ênfase naque- las de interesse comercial, por áreas de pesca, faixas de profundidade e épocas do ano; • Identificar padrões de distribuição, riqueza e diversidade das espécies mais abundantes e relacionar sua ocorrência aos fatores abióticos monitorados; • Analisar as variações espaciais e sazonais na distribuição e estrutura populacional das espécies capturadas (composições por sexos e comprimentos) e em relação às variáveis ambientais; • Obter dados biométricos e material biológico,como gônadas,estômagos e estruturas de aposição, para estudos sobre maturação sexual, ciclo reprodutivo, relações comprimen- to-peso, determinação de idade e crescimento.
Área do estudo A prospecção abrangeu a área entre Cabo Frio e Chuí (23°05’S a 34°34’S) entre 100 e 600 m de profundidade, ao longo de aproximadamente 2000 km de costa. A superfície total da área prospectada foi de aproximadamente 134 724 km2, dos quais 92 555 km2 se situam entre as isóbatas de 100 e 200 m, e 42.168 km2, entre as isóbatas de 200 e 600m (Figura 1). A linha da costa e a topografia de fundo da plataforma da Região Sudeste-Sul do Brasil são relativamente regulares. Na Região Sudeste, entre Cabo Frio e Cabo de Santa Marta Grande (28°40’S) se observa um embaiamento,com a plataforma mais larga na parte central (230 km) e mais estreita nas proximidades de Cabo Frio (50 km) e o Cabo de Santa Marta Grande (110 km).Na Região Sul,a plataforma se alarga para o máximo de 140 km em Tramandaí, 170 km na barra de Rio Grande e 140 km em frente ao Arroio Chuí (33°48’S). As isóbatas, aproximadamente paralelas à costa e à quebra de plataforma, geralmente entre 160 e 190 m, estabelecem uma passagem suave entre a plataforma com uma declividade sempre inferior a 2 m/km, ou 0°08’,e o talude superior com gradiente pouco acentuado, de cerca de 20m/km ou 1° (Zenbruscki et al., 1972). As exceções ocorrem nos extremos da região estudada:em Cabo Frio o talude apresenta uma inclinação de 100 m/km com a que- bra de plataforma em 100 m de profundidade, e entre Rio Grande e Chuí a inclinação na região do talude é de 80 a 130 m/km.
SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL 15 REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 16
20˚ S
Cabo Frio
25˚ S
30˚ S
Chuí
35˚ S
Figura 1.1 – Área do estudo.
O levantamento de dados geológicos do Programa REVIZEE, indicou que as areias predominam na plataforma interna de toda a região e as lamas, na plataforma externa e talude; ao norte do Rio de Janeiro, ocorrem sedimentos com maior granulometria. Em relação à composição dos sedimentos em profundidades superiores a 100 m, os litoclásti- cos ( 30% de carbono) predominam ao sul do estado de São Paulo e os bioclásticos ( 30% de carbono) ao norte; os litoclásticos estão em águas mais rasas, enquanto os bio- clásticos, em águas mais profundas. Fundos duros são mais comuns no litoral do Rio de Janeiro, e nas áreas restritas do talude superior mais ao sul. Os bioclásticos estão represen- tados por “concheiros” mais esparsos e isolados na plataforma interna no sul e principal- mente por algas calcárias do tipo rodolitos ao norte, onde ocorrem em faixas maiores e mais contínuas (Figueiredo & Madureira, 2004). Em relação à hidrografia, na superfície oceânica sobre o talude da Região Sudeste- Sul, flui em direção ao sul a Água Tropical da Corrente do Brasil (AT, temperatura 20°C, salinidade 36,4 ups). Sob esta massa de água está a Água Central do Atlântico Sul (ACAS, cujo limite inferior de temperatura se encontra entre 6°C e 10°C e o superior em 20°C,e que tem salinidade de 34,6 a 36,0 ups),e que,desde o sul do Cabo São Tomé,circula em direção sul até profundidades maiores que 500 m. Além dessa profundidade, circula, em direção norte, a Água Intermediária Antártica (AIA, temperatura de 3°C a 6°C, salinidade de 34,2 a 34,6) (Sverdup et al., 1942; Thomsen, 1962; Stramma & England, 1999; Silveira et al., 2000). Segundo Piola et al.,(2000) a plataforma, entre 20°S e 40°S é ocupada por duas mas- sas de água originárias da diluição de águas de origens oceânicas por descargas continen- tais.Estas são a Água Subtropical de Plataforma (ASTP,temperaturas 18°C e salinidade de 33,5 a 35,9 ups),formada pela mistura da ACAS com a água costeira,e a Água Subantárctica de Plataforma (ASAP,salinidade de 33,5 a 34,1 ups e temperaturas de 10°C a 14°C no inver-
16 SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 17
no, e de 12°C a 20°C no verão), formada pela mistura de águas oriundas da plataforma con- tinental argentina, a chamada Corrente Patagônica, descrita por Brandhorst & Castello (1971) com águas de origem continental. Na Região Sudeste sobre a plataforma estão presentes a Água Costeira (AC) com alta temperatura e salinidade variável, a ASTP que está em contato com os meandramen- tos da Corrente do Brasil na camada superficial e a ACAS próxima ao fundo na plataforma externa (Figura 1.2).
Cabo Frio
Santos ACAS
Itajaí AC ASTP
Cabo de Corrente do Brasil Santa Marta Grande ASTP 100 AT 200
300
400 ACAS profundidade (m) profundidade
500
Figura 1.2 – Corte ilustrando as massas de água presentes na Região Sudeste entre os Cabos de Santa Marta Grande e São Tomé (modificada de Matsuura, 1995). Abreviaturas: ASTP: Água Subtropical de Plataforma; AT: Água Tropical; ACAS: Água Central do Atlântico Sul; AIA: Água Antártica Intermediária. Setas indicam direção das correntes.
A característica oceanográfica mais marcante é a presença sazonal,durante o verão, da ACAS sobre a plataforma continental interna (10 a 50 m de profundidade) separada por uma forte termoclina da camada superficial de mistura da AT. Já durante o inverno, a ACAS se retrai e a coluna de água na plataforma interna e média adquire características quase homogêneas, com o desaparecimento da termoclina (Figura 1.3). A penetração estival da ACAS na região costeira determina um aumento da produção primária (Matsuura, 1995; Castro & Miranda, 1998). A alta produção primária e a estabilidade na coluna de água favorecem a sobrevivência de larvas planctônicas, de modo que a grande maioria da megafauna bentônica e dos peixes tem sua reprodução concentrada nessa época do ano (Pires-Vanin & Matsuura, 1993; Vazzoler et al., 1999). Na plataforma externa ocorre, durante todo o ano, estratificação vertical devido à presença da ACAS. Sobre o talude, os meandra- mentos da Corrente do Brasil, causados pela mudança na direção da linha de costa, próxi- mo a região de Cabo Frio, forçam a subida da ACAS, constituindo os chamados vórtices, ca- racterizados por alta produtividade (Silveira et al., 2000; Campos et al., 2000; Gaeta & Brandini, 2006). Em períodos de ventos de NE, notadamente no verão e na primavera, surgem condições favoráveis para que a ACAS atinja a zona eufótica, o que contribui para um aumento considerável da biomassa de fitoplâncton na camada de mistura. No Sudeste,a produção pesqueira é principalmente composta por peixes pelágicos como sardinha, bonito-listrado e atuns (Matsuura, 1995) e, em menor proporção, de recur- sos demersais pescados com arrasto na plataforma interna e com anzol na plataforma externa e talude superior (Carneiro et al., 2000).
SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL 17 REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 18
Inverno ressuspensão de sedimentos vórtice frontal água tropical
primavera 50 outono
ACAS luz 1% 100 profundidade (m) profundidade termoclina
150
Região costeira Região nerítica Região oceânica Verão água costeira
Região água tropical nerítica 50
100 luz 1% profundidade (m) profundidade luz 1% termoclina
150 clorofila ACAS
Figura 1.3 – Esquema ilustrando a variação sazonal na penetração da ACAS, estratificação e produtividade na plataforma da Região Sudeste (Pires-Vanin et al., 1993).
Na plataforma da região ao sul do Cabo de Santa Marta Grande, a característica mais marcante é a variação sazonal da temperatura da água e da estratificação da temper- atura, que é forte no verão, e fraca ou inexistente no inverno (Castro & Miranda, 1998). No inverno, próximo à costa, existe a presença marcante de águas costeiras de baixa salini- dade, resultantes da descarga continental do Rio da Prata e da Lagoa dos Patos. Também ocorre a Frente Subtropical de Plataforma (FSTP), perpendicular à linha de costa e que se- para a Água Subantártica de Plataforma (ASAP) da Água Subtropical de Plataforma (Piola et al., 2000). Sobre o talude, ao norte da posição da FSTP,está presente a Corrente do Brasil e sob esta, deslocando-se para o sul, a ACAS, cujo meandramento pode provocar sua intrusão sobre a plataforma continental (Castro & Miranda, 1998). Ao sul da FSTP,um forte gradiente de temperatura e salinidade, paralelo à costa, define uma frente que marca a separação entre Águas Subantárticas de Plataforma com a ACAS. Nesta região, sobre o talude superior, entre o final do outono e meados da primavera, se observa também a margem oeste da frente de convergência entre as correntes do Brasil e das Malvinas que oscila sazonalmente (Piola et al., 2000; Soares & Moller, 2001) (Figura 1.4a). Nos meses quentes,a FSTP se desloca para o sul (Uruguai e Argentina),enquanto na plataforma sul do Brasil as águas costeiras abrangem uma faixa estreita, e a plataforma interna pode ser tomada por ASTP com intrusões da Corrrente do Brasil (Figura 1.4b). Este quadro é variável de ano a ano, podendo em alguns a Corrente do Brasil cobrir toda a plataforma (Castello & Odebrecht, 2001), ou a plataforma interna ser tomada por águas de baixa salinidade sob a influência do Rio da Prata (Piola et al., 2005).
18 SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 19
InvernoCabo de Verão Cabo de Santa Marta Grande Santa Marta Grande
ACAS Mostardas ASTP Mostardas
Rio Rio Frente AT Grande subtropical de Grande plataforma AT AC AC ASTP A ACAS B ACAS Chuí Chuí ASAP
ASA AT AT 100 100 ACAS 200 200 ACAS 300 300 ACAS 400 400
profundidade (m) profundidade 500 (m) profundidade 500
Figura 1.4 – Cortes ilustrando as massas de água presentes na Região Sul entre o Cabo de Santa Marta Grande e Chuí no inverno e verão (baseado em Castro & Miranda, 1998 e Piola et al., 2000). Abreviaturas: ASA: Água Subantártica originária da Corrente Patagônica; ASAP: Água Subantártica de Plataforma; ASTP: Água Subtropical de Plataforma; AT: Água Tropical; ACAS: Água Central do Atlântico Sul; AIA: Água Antártica Intermediária. Setas indicam direção das correntes; linhas tracejadas indicam fortes gradientes de salinidade e/ou temperatura.
A produtividade da plataforma da Região Sul é relativamente alta no inverno e na primavera, devido ao aporte de nutrientes de origem terrígena e do deslocamento para o norte da ASAP (Castello & Odebrecht, 2001). Outros mecanismos de fertilização são as ressurgências costeiras, originadas pela forte ação dos ventos de NE na primavera e no verão, que provocam a divergência de águas superficiais e causam advecção da ACAS sobre a plataforma entre 28°S e 32°S (Figura 1.4b). Somam-se a isso as ressurgências no talude, mais comuns no inverno e primavera, quando a ACAS, a Corrente do Brasil e o ramo costeiro da Corrente de Malvinas formam vórtices de circulação ciclônica (Garcia,1997). Em relação à ictiofauna, na plataforma predominam espécies demersais, particular- mente cienídeos, sendo que a plataforma e o talude superior são áreas de criação de peixes demersais de importância comercial (Haimovici et al., 1994; Haimovici et al., 1996). Atuns e espécies afins ocorrem ao longo do talude da Região Sul no inverno. Várias das espécies demersais mais abundantes na plataforma e talude superior migram sazonalmente durante o inverno, acompanhando o deslocamento para o norte da Convergência Subtropical (Haimovici et al., 1998). Sobre o talude superior ocorrem pescarias de linha-de-mão e espi- nhel-de-fundo e, mais recentemente, de arrasto-de-fundo dirigido principalmente à mer- luza,abrótea-de-profundidade,peixe-sapo e calamar-argentino (Haimovici et al.,2003;Perez et al., 2003). Uma pescaria de bonito-listrado no sul, realizada nos meses de verão ao longo da isóbata de 200 m, reforça a hipótese da existência de uma ressurgência de borda da pla- taforma no extremo sul do Brasil (Andrade & Garcia, 1999).
Antecendentes Os antecedentes e prospecções pesqueiras marinhas ao longo do litoral brasileiro foram levantados e descritos por Haimovici (2007). A partir da década de 1950, várias embarcações investigaram o potencial pesqueiro das Regiões Sudeste e Sul com redes de arrasto-de-fundo em profundidades superiores a 100 m. O navio de pesca “Presidente Vargas”(1955) e os navios de pesquisa Toko Maru (1956/57) e Walter Herwig (1968) efetua- ram um número reduzido de lances em profundidades superiores a 100 m (Yesaki, 1973). O N/Pq “Professor Besnard”, do Instituto Oceanográfico de Universidade de São Paulo, rea- lizou duas séries de cruzeiros (1968/69 e 1971/72) na Região Sul e na Sudeste (1974/75) em
SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL 19 REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 20
profundidades de até 200 m (Vazzoler & Iwai, 1971; Vazzoler, 1973), Na década de 1970, a SUDEPE,com apoio do Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUD),reali- zou várias séries de cruzeiros de pesca exploratória de arrasto-de-fundo na plataforma externa e talude superior da região ao sul do Cabo de Santa Marta Grande, com o N/Pq. “Diadorim” (Yesaki et al., 1976). Entre 1986 e 1987, o N/Pq “Atlântico Sul”, da Fundação Universidade Federal de Rio Grande, realizou uma série de cruzeiros entre 100 e 500 m de profundidade ao sul de Santa Marta Grande (Vooren et al., 1989; Haimovici et al., 1994). Da análise das publicações produzidas com base nas informações colhidas nesses levantamentos, pode-se concluir que representaram uma contribuição importante sobre a composição da fauna nectônica e sobre as abundâncias relativas das principais espécies e permitiram algumas estimativas de abundância, principalmente ao sul de Santa Marta Grande (Haimovici, 2007). Nesse sentido, os resultados das pesquisas desenvolvidas no âmbito do Programa REVIZEE,por abrangerem toda a plataforma externa e talude superior da Região Sudeste-Sul, seguindo um protocolo amostral padronizado, e utilizando redes de pesca comercial, com roletes, constituem o primeiro levantamento que permite com- parações sazonais, batimétricas e latitudinais sobre a composição de espécies e as abundâncias de recursos pesqueiros vulneráveis ao arrasto-de-fundo.
20 SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 21
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Embarcações O N/Pq “Atlântico Sul” é um arrasteiro de popa com 295 toneladas de arqueação, 35,9 m de comprimento e motor principal MWM de 860 HP (Figura 2.1). Os equipamentos de navegação disponíveis incluíram: piloto automático FURUNO FAP-330, navegador (GPS), FURUNO GP-3000 Mark 2, radares FURUNO FE 3300 (72 milhas) e RV 3770 (48 milhas) e sonar SIMRAD. As profundidades das estações e os lances de pesca foram acompanhados com uma ecossonda SIMRAD E-700 (70kHz). Os guinchos hidráulicos de pesca estavam providos de 2000 m de cabo de aço de 3/4 de polegada de diâmetro.
Figura 2.1 – N/Pq “Atlântico Sul” (a esquerda) da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG); N/Pq. “Soloncy Moura” do CEPSUL/IBAMA (a direita).
O N/Pq “Soloncy Moura”é um arrasteiro de popa com 216 toneladas de arqueação, 26 m de comprimento e motor principal Caterpillar de 600 HP (Figura 2.1). Os equipamen- tos de navegação disponíveis incluíram: piloto automático FURUNO FAP-330, navegadores (GPS) FURUNO GP-3100 MK-2 e GP-1810,receptor DGPS GR80,radares FURUNO FR-701 (48 milhas) e FE-3300 (72 milhas), sonar FURUNO CHS-5 MK-2, Doppler FURUNO DS-70 e ecos- sondas FURUNO FCV-582 (50/200Khz), FCV-1000 (28/200Khz) e FE-881 MK (28Khz). Os guinchos hidráulicos de pesca estavam providos de 2100 m de cabo de aço de 3/4 de pole- gada de diâmetro.
Petrecho de pesca Para as operações de pesca foram utilizadas redes adquiridas da Herman Engel & Co, cujas plantas originais fornecidas pelo fabricante são apresentadas nas Figuras 2.2 a 2.5. As redes eram do modelo “Engel Star Balloom Trawl”, com 439 malhas de 160 mm na boca, diminuindo até 70 mm no ensacador. A tralha inferior era do tipo “rockhopper”, estando a parte central, de 20,8 m de comprimento, provida de discos de borracha de 300, 200 e 130 mm de diâmetro, e duas extensões laterais de 9,8 m, com discos de borracha de 75 mm de diâmetro, totalizando 40,4 m. Foram utilizadas portas retangulares tipo “hydro”,
SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL 21 REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 22
com 550 kg de peso cada.Em todos os lances foram usados brincos de 50 m e malhetas de 5 m de comprimento. Nos arrastos, o ensacador foi forrado com duas panagens, uma inter- mediária de fio duplo de aproximadamente 32 mm de distância entre nós opostos e, outra interna de fio simples, com aproximadamente 27 mm entre nós opostos. Uma foto da rede sendo recolhida é apresentada na Figura 2.6.
General Arrangement of Star Balloon Trawl 417 meshes circ. by 160 mm
70 pcs. deep sea floats stainless steel flex swivel top bridle 50 m 200 mm dia A16SSF steel wire rope 14 mm dia
groundrope bridle 15,20 m bottom bridle 50 m rubber disc groundrope 24,70 m steel wire rope 22 mm dia “hydro” trawl doors 2,50 1,50 m each door approx. 700 kg
Figura 2.2 – Planta da “Herman Engel & Co” mostrando o arranjo geral da rede de arrasto-de-fundo modelo “Engel Star Balloon Trawl” utilizada nos levantamentos de prospecção demersal do Programa REVIZEE – Score Sul. Malhetas = bridles; portas = trawl doors; tralha inferior= groundrope.
Comb. rope diam. Comb. mm 18
Groundrope gridle 15,20 m Bottom Panel Top Panel Comb. rope 20 mm diam.
200 mm headline 48,80 m Comb. rope 20 mm diam. with steel core
62# 62# Groundrope gridle 15,20 m
200 mm Braided PE 200 mm 45# 45# 4 mm Dia. Braided PE 4 mm Dia. Rubber disc 104#Combination rope 18 104#mm diam. 200 mm Braided PE 200 mm 255# 4 mm Dia. 27,40 m Braided PE groundrope 4 mm Dia. 45# Comb.45# rope 20 mm dia. 230# 160 mm 187# 160 mm Braided PE Braided PE 3 mm Dia.
3 mm Dia. 50,0 m Approx. 204# 204# 120 mm Braided PE 3 mm Dia.
90 mm 204# Cover Bag 204# Braided PE 3 mm Dia. Top or bottom panel
230# 153# 230# 60 mm 90 mm Twisted nylon 210/66 Braided PE 3 mm Dia.
30 mm 324# 324# Twisted nylon 210/48 Engels Star Balloon Trawl 224# 70# 417 meshes circ. by 160 mm 224#
94 mm 30 mm Braided Twisted nylon 210/48 PE 5 mm
Dia. 16,0 m Approx.
70# 224# 224# cooline
Figura 2.3 – Planta da “Herman Engel & Co” mostrando o arranjo esquemático da rede de arrasto-de-fundo modelo “Engel Star Balloon Trawl”, utilizada nos levantamentos de prospecção em fundos arrastáveis do Programa REVIZEE – Score Sul.
22 SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 23
Hook-up arrangement for Engel star balloon trawl 417 meshes circ. by 160 mm
“hydro” trawl door 2,50 1,50 m each door approx. 700 kg
lengthenning bridle 5 m Viking recessed Viking G-Hook nº 5 steel wire rope 22 mm dia. Viking G-Hook nº 8 link nº 20 Hammerlock TL19
Viking recessed Hammerlock link nº 16 TL16
pennant 7,50 m steel wire rope 18 mm dia.
block type mangamese steel shoes
Figura 2.4 – Planta da “Herman Engel & Co”, mostrando as portas e arranjo dos brincos (lenghening bridles) da rede de arrasto-de-fundo modelo “Engel Star Balloon Trawl” utilizada nos levantamentos de prospecção em fundos arrastáveis do Programa REVIZEE – Score Sul.
Rubber disc groundrope for Engel star balloon trawl 417 meshes circ. by 160 mm
1 middle section rubber disc toggle with chain rubber discs 75 mm dia. 300 mm dia. swivel 7/8” stainless steel
Distance between the discs approx. 30 cm steel wire rope
10,60 m
2 wing sections traler chain rubber disc toggle with chain rubber discs 75 mm dia. 16 mm dia. 300 mm dia.
connector TL16 Distance between the discs approx. 50 cm swivel 7/8” stainless steel
8,40 m
2 groundrope bridles steel tringle swivel TLSW16 rubber discs 400 mm dia. trawler chain 16 mm M10 link
connector TL16 steel washer 15,20 m
Figura 2.5 – Arranjo da tralha inferior mostrando a porção central (middle section) provida de discos de bor- racha (rubber discs), as extensões laterais (wing sections) e armação das malhetas da tralha (groudrope bridles).
SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL 23 REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 24
Figura 2.6 – Convés do N/Pq “Atlântico Sul” mostrando o momento do recolhimento da rede “Balloon Trawl”, a tralha superior com bóias e a tralha inferior com rolos de borracha. Observam-se também as portas “Hydro” utilizadas.
Planejamento amostral A escolha do padrão de dis- tribuição dos lances em cruzeiros de prospecção, com arrasto-de- fundo, depende dos objetivos propostos (Gunderson, 1993). Assim, quando o objetivo é a esti- mativa da abundância de uma espécie da qual se tem informa- ção sobre sua distribuição com alguma precisão, é aconselhável estabelecer estratos mais homogêneos, alocando números de lances proporcionais à abundância prevista em cada estrato em posições escolhidas ao acaso. Como no caso deste estudo os objetivos eram múltiplos, como estudar a composição da fauna e a distribuição e abundância de várias espécies sobre as quais as informações prévias eram escassas, a obtenção das informações foi otimizada, adotando-se uma distribuição mais uniforme dos lances. Em geral, a profundidade e a latitude são fatores importantes na composição de espécies (Moyle & Cech, 1988; Bianchi, 1991) e, por isto, optou-se por distribuir os lances uniformemente em faixas latitudinais e de profundidade. A área de estudo foi então divi- dida em subáreas de pesca de aproximadamente 55 milhas de largura sendo programa- dos, para cada uma delas, entre 5 e 7 lances de pesca e procurando ter representadas as faixas de 100-149 m, 150-199 m, 200-299 m, 300-399 m e 400-600 m de profundidade (Figura 2.7). Nas regiões com forte declive, os lances de algumas faixas foram suprimidos e naquelas com pequeno declive lances adicionais foram incluídos, visando uma represen- tação proporcional as suas extensões. A exata posição dos lances não foi preestabelecida, procurando-se otimizar a utilização do navio, aproveitar a experiência do mestre, mini- mizar o tempo de procura de fundos e maximizar o número de lances realizados a cada dia. Dentro do esquema mencionado, os locais para os lances de pesca foram escolhi- dos pelo mestre das embarcações, após a realização de uma linha de sondagem para veri- ficar a ausência de obstáculos. Os lances, em sua maioria, tiveram 30 minutos de duração, contados entre o momento em que o tambor do guincho foi travado até o começo do recolhimento. Cinco minutos antes do final de cada lance, a velocidade de arrasto foi aumentada para forçar o deslocamento dos peixes do túnel para o saco. Informações sobre a salinidade e a temperatura da coluna de água foram obtidas com um perfilador de condutividade, temperatura e profundidade (CTD SB19), lançado entre a superfície e o fundo do mar, simultaneamente aos lances de pesca. Para comple- mentar a caracterização ambiental, foram realizadas coletas adicionais de dados de tem- peratura e salinidade com CTD entre a superfície e o fundo em transectos perpendiculares à costa, entre as isóbatas de 50 e 600 m. Foram registrados: os horários, posições e profun- didades de início e fim de cada lance e dos lançamentos de CTD, além de dados comple- mentares dos lances como velocidade e rumo do barco, distância percorrida, comprimento do cabo lançado,e informações meteorológicas como estado do mar,direção e velocidade do vento e cobertura de nuvens.
24 SÉRIE REVIZEE – SCORE SUL REVIZEE_ARRASTO_P3 2/28/08 11:02 AM Page 25
De cada lance foi registrado o peso total das espécies ou táxons capturados. Como a captura, em geral, esteve formada por organismos grandes e pequenos, às vezes da mesma espécie, o procedimento de amostragem, sempre que necessário, foi dividido em duas etapas. Na primeira foram separados, contados e pesados, por espécie, os exemplares maiores, incluindo todos os elasmobrânquios, caranguejos-vermelhos, teleósteos e cala- mar-argentino acima do tamanho mínimo de interesse comercial. O resto da captura, for- mada por pequenos peixes,crustáceos e cefalópodes,foi colocada em caixas e o peso total registrado. Uma amostra de uma ou duas caixas (30 ou 60 kg aproximadamente) foi triada por espécie ou táxons, sendo registrados o número e peso total de cada espécie ou cate- goria. A captura total de cada espécie foi calculada como a soma da fração dos exemplares grandes e da fração estimada a partir da amostragem de organismos pequenos. A captura total de cada espécie, ou uma subamostra aleatória pesada, foi utilizada para determinar a composição em comprimentos representativa de cada espécie. Para algumas espécies foram realizadas amostragens a bordo mais detalhadas,com observação de sexos, estágios de maturação e grau de repleção estomacal, além da preservação de gônadas, conteúdos estomacais e estruturas de aposição. Foram também congeladas amostras para serem posteriormente processadas em laboratório.
Análise da diversidade e riqueza de espécies A diversidade das espécies nectônicas foi analisada a partir dos conjuntos de espé- cies de teleósteos, elasmobrânquios e cefalópodes capturados por lance. A diversidade foi analisada nas suas duas componentes, equitatividade e riqueza de espécies, sendo a riqueza pela técnica de rarefação (Sanders,1968;Hurlbert,1971) e a equitatividade utilizan- do o indice de Pielou (Pielou, 1966; 1969). A técnica de rarefação permite a comparação do número de espécies entre amostras com diferentes números de indivíduos coletados.O número de espécies esperado para uma amostra de n indivíduos tomados aleatoriamente da comunidade E(Sn) é calculado como: