urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana ISSN: 2175-3369 [email protected] Pontifícia Universidade Católica do Paraná Brasil

Filla Rosaneli, Alessandro; Stangarlin Fróes, Ana Claudia; Schumacher Furlan, Débora Luiza; Timmermann Gonçalves, Felipe; Senger, Sacha Apropriação do espaço livre público na metrópole contemporânea: o caso da Praça Tiradentes em /PR urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, vol. 8, núm. 3, 2016 Pontifícia Universidade Católica do Paraná Paraná, Brasil

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The appropriation of open public space in the contemporary metropolis: Tiradentes Square in Curitiba City

Alessandro Filla Rosaneli, Ana Claudia Stangarlin Fróes, Débora Luiza Schumacher Furlan, Felipe Timmermann Gonçalves, Sacha Senger Licenciado sob uma Licença Creative Commons DOI: 10.1590/2175-3369.008.003.AO06 ISSN 2175-3369

Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil

Resumo O estudo acerca da importância dos espaços livres públicos para o desenvolvimento da vida pública nas cidades

é uma preocupação recorrente nos diversos campos que permeiam os estudos urbanos. Especificamente lazer, etc. No entanto, as áreas centrais de polos metropolitanos passam por processos socioespaciais que as em áreas centrais, tais espaços servem para a amenização climática, articulação de fluxos, atividades de fazem ser frequentemente consideradas “degradadas” e que as tornam alvo dos mais diversos projetos de “revitalização”, os quais visam mitigar os ditos efeitos indesejáveis. Nesse sentido, as praças centrais também

reverter esse quadro. Essas ações são constantes em Curitiba, no Paraná, cidade onde a área central tem sido sofrem com esse processo e, por isso, é muito comum que passem por variadas transformações a fim de objeto de diversos projetos de “renovação”. Considerando essa dinâmica, o presente artigo tem como objetivo compreender a importância da Praça Tiradentes, localizada no centro de Curitiba, para o desenvolvimento da vida pública por meio do estudo do seu uso e apropriação. Baseando-se na compreensão de sua evolução

histórica, na leitura físico-espacial e na apreensão dos próprios usuários, após breve revisão bibliográfica, o consumo desse espaço público. artigo busca identificar as características e as particularidades vinculadas aos processos de produção e de Palavras-chave: Espaços livres. Espaços públicos. Esfera pública. Praça Tiradentes. Curitiba. Abstract The study about the importance of open public spaces for the development of social life in cities is a recurrent concern in the various fields of urban spaces study. Especially in central areas of dense cities, these spaces mitigate the climate, articulate traffic, leisure activities, among others. On the other hand, the central areas of

AFR é doutor em Arquitetura pela FAUUSP e pós-doutor em Geografia pela Universidade Federal do Paraná, e-mail: [email protected] ACSF é arquiteta e urbanista, especialista em Direito à Cidade e Gestão Urbana, e-mail: [email protected] DLSF é arquiteta e urbanista, especialista em Direito à Cidade e Gestão Urbana, e-mail: [email protected] FTG é geógrafo, bacharel em Geografia, e-mail: [email protected] SS é arquiteta e urbanista, especialista em Direito à Cidade e Gestão Urbana,urbe. Revista e-mail: Brasileira [email protected] de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management) 2 Rosaneli, A. F., Fróes, A. C. S., Furlan, D. L. S., Gonçalves, F. T., & Senger, S.

metropolitan centers undergo sociospatial processes that make them be considered “degraded” and become the target of several “revitalization” actions intended to alleviate said undesirable effects. In this sense, the central squares also experience this process and it is very common to go through various transformations in order to change this situation. These actions are frequent in Curitiba, which the central area has been the subject of several “renewal” actions. Given this dynamic, this paper aims to understand the importance of Tiradentes Square, located in downtown Curitiba, for the development of public life through the study of its use and appropriation. This article seeks to identify the characteristics and particularities linked to the production and consumption processes of this public space, based on the understanding of its historical evolution, physical‑spatial observation and apprehension of its users, inspirate by a brief literature review.

Keywords: Open spaces. Public spaces. Public sphere. Tiradentes Square. Curitiba.

Introdução A motivação para a pesquisa partiu do pressuposto de que, mesmo em se tratando de espaço livre público na área central de uma metrópole brasileira, a Praça contribuem para a promoção da vida nas cidades é Tiradentes manteve a intensidade de seu uso. A segurança, umaDefinir preocupação até que queponto tem os sido espaços posta livres em discussão públicos a prostituição, os diversos usos, o comércio do entorno no campo dos estudos urbanos. Quando entendida e a religiosidade são temas que surgem na medida em que se aprofunda a análise sobre a apropriação desse indicador de como a cidade opera, de suas glórias e de espaço e que, assim, foram abordados ao longo deste suascomo mazelas. produto Em social, áreas a sua centrais configuração de metrópoles, se torna que, um de modo geral, passam por processos de mudança cotidiana nos dias de hoje. estudo, indicando a complexidade da vida urbana de público, de uso e de desatenção dos serviços municipais, é frequente a inclusão das praças em projetos de “revitalização”1, que visam mitigar os Metodologia ditos efeitos indesejáveis. Curitiba, capital do Estado do Paraná, não é A metodologia utilizada para o presente estudo pautou-se na teoria de produção do espaço, proposta comumente é imaginado às suas praças centrais, a por Lefebvre (2006), ressaltando que os autores pontoexceção. de carregaremNão são poucas certa conotaçãoas críticas de ao abandono uso que e de degradação; basta observar os recentes projetos obra, cuja dialética se funda em três dimensões (entendemSchmid, 2012 o desafio) e que, de porse adentrar isso, tem em levado tão complexa a vários de “revitalização” na área central e nas suas praças, mal-entendidos. De acordo com essa teoria, o espaço é fundamentalmente atado à realidade social, ou seja, Francisco, Riachuelo e Barão do Rio Branco. A proposta é um produto social. Sendo assim, tal entidade só dapor presente exemplo, análise as recentes é compreender intervenções as relações nas Ruas entre São

a Praça Tiradentes, escolhida como estudo de caso pode ser entendida no contexto de uma sociedade o espaço físico e os grupos sociais que frequentam há três processos da produção social do espaço, que por representar o espaço livre público mais antigo da específica. Além disso, o referido autor defende que cidade, incrustado de modo patente no centro, e por se entre si: o espaço percebido, o espaço concebido e o tratar de um “lugar”, no sentido de estar consolidado espaçoexistem vivido, em interação, quando se em estabelece conflito umaou em ponte aliança com no imaginário popular. a fenomenologia.

e que pode ser apreendido por meio dos sentidos, 1 Os termos “revitalização” e “renovação” foram utilizados constituindoO espaço percebido um componente refere-se ao aspectointegral perceptível de toda relação ao seu uso, que possui uma carga de imprecisão ao prática social. Essa dimensão compreende tudo que entre aspas, pois os autores reconhecem as críticas em se apresenta aos sentidos; não somente a visão, mas vida antes da nova proposta. a audição, o olfato, o tato e o paladar. Esse aspecto deixar subentendido que o local objeto da ação não teria urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management) Apropriação do espaço livre público na metrópole contemporânea 3 relaciona-se diretamente com a materialidade dos De acordo com Macedo et al. (2012, p. 13), “[...] formam elementos que constituem o espaço (Schmid, 2012). um sistema, apresentando, sobretudo, relações de O espaço concebido refere-se ao entendimento conectividade e complementaridade”. Dessa forma, podem do espaço por meio de sua representação, ou seja, ser considerados como o “[...] elemento estruturador o espaço só pode ser entendido quando assim for da paisagem urbana” (Macedo et al., 2009). concebido e representado por alguém. Portanto tem Sitte (1992) apud Loboda & De Angelis (2005) ligação com seu objetivo original, do qual resultam destaca a importância dos espaços livres, pois “[...] suas formas de representação, seja em discurso, são essenciais para o bem-estar de seus usuários”. Os espaços integrantes do sistema de espaços livres definições e teorias. Por fim, o espaço vivido significa o mundo aosde uma seus cidade entornos. exercem, Essas em áreas função proporcionam do seu volume, a experimentado pelos seres humanos em sua vida melhoriadistribuição, da densidadequalidade e de tamanho, vida, pois inúmeros garantem, benefícios além aocotidiana. pesquisador Para Lefebvre, a vivência a experiência do espaço prática para que não se da circulação, espaços destinados ao lazer, à interação possadeixa exaurir compreender pela análise sua teórica; produção assim, e apropriação é necessária social, à contemplação da paisagem e à preservação (Schmid, 2012). ambiental. Desse modo, o estudo foi baseado em revisão Kohlsdorf (1996) considera o espaço livre público webgráfica de campos disciplinares que uma porção territorial em que se desenvolvem diversas práticas sociais manifestadas de forma diferenciada bibliográfica e conforme o local e o momento da história. permeiam a arquitetura, o urbanismo e a geografia Para Guimarães & Cunha (2004), os espaços livres docultural, “espaço associada concebido”. à pesquisa As iconográfica análises referentes e à análise deàs dimensõesdocumentos do históricos, “espaço vivido” para avaliar e do “espaço as características percebido” contaram com uma colaboração entre a análise técnica, urbanopúblicos traduz são de extremaa cultura importância e os costumes para das a população pessoas de uma cidade, pois sua evolução dentro do contexto o levantamento in loco e a aplicação de questionários e mapas mentais, desenvolvidos em visitas à praça. de seu povo, de sua natureza e de sua história, são necessáriasque nela habitam. a preservação, Já que a paisagem a restauração urbana e a inovaçãoé reflexo dos espaços que a compõem. Os levantamentos foram executados em vários dias Macedo (1995) defende ainda que a vida útil de eda situações semana (dias climáticas úteis, diferentes.fins de semana e feriados), no um determinado espaço livre urbano está diretamente períodoO recorte de março espacial a novembro adotado de 2012,pelos emautores horários foi vinculada à possibilidade constante de apropriação que faculta ao seu público usuário. Quanto mais e melhor (ou Rua do Rosário) e Ruas Cruz Machado, Cândido possa ser apropriado, desde que convenientemente Lopesdelimitado e Monsenhor pela Avenida Celso Marechal(Figura 1), Floriano que conformam Peixoto mantido, maior será a aceitação social desse espaço a Praça Tiradentes. e por mais tempo será preservada sua identidade morfológica. Entende-se, portanto, que o espaço livre público Espaços livres públicos cultura e costume de seus usuários e cuja vitalidade estáé aquele ligada que à abriga possibilidade diversas depráticas apropriação. socais, reflete Dentro a e urbanistas, espaços livres públicos são aqueles desses conceitos, a Praça Tiradentes se constitui como formadosEm sua peladefinição ausência mais difundidade construção entre arquitetos(Magnoli, espaço livre público essencial para a vida urbana e o 2006), permitindo uma grande abrangência de objetos, bem-estar dos usuários do centro da cidade de Curitiba, limita a conceituação. Os espaços livres podem ser de social e à contemplação da paisagem. propriedadenos quais a presença privada deou vegetação,pública, legais por ouexemplo, informais, não fornecendoA praça umtambém lócus éde palco lazer de propício diversas à interação práticas projetados ou não, e formam um todo que permeia sociais, que serão discutidas nos tópicos seguintes, o espaço urbano sem o qual não se pode conceber a Kostof, 1991). com o momento histórico. com atividades e usos que se diversificaram de acordo existência das cidades pós-industriais ( urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management) 4 Rosaneli, A. F., Fróes, A. C. S., Furlan, D. L. S., Gonçalves, F. T., & Senger, S.

Figura 1 - Localização da Praça Tiradentes, em Curitiba, Paraná Fonte: Adaptado pelos autores a partir do Google Earth, com imagem de 2015.

O uso e a apropriação dos espaços livres ambiental e estética, e sua própria identidade e públicos na cidade contemporânea propostos. De acordo com Mussi Vaz & Santiago (2004), a significaçãoCom base variam em Pereira conforme Leite (1997) o tempo apud e novos Loboda usos & questão relativa ao uso e/ou à obsolescência dos De Angelis (2005) espaços livres diz respeito à sua adequação funcional, do espaço público na cidade contemporânea se , pode-se afirmar que a obsolescência urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management) Apropriação do espaço livre público na metrópole contemporânea 5 caracteriza por procedimentos distintos, quais sejam: em quatro partes, englobando aspectos históricos, (i) pela sensação de desconforto e de insegurança de usos e apropriações, condicionantes e paisagem. generalizada da população quando no espaço público; São elas: a praça estruturada historicamente, a praça (ii) nas classes de maior poder aquisitivo, pelo desenvolvimento privado de atividades culturais e a praça percebida socialmente. de lazer, o que leva essa população a abandonar os percebida fisicamente, a praça vivida socialmente e aquisitivo, pelo desconforto que sua presença nos A praça estruturada historicamente espaços públicospúblicos; gera (iii) para nas oclasses restante de da baixo população. poder Localizada naquele que é reconhecido como marco fragmentada,A cidade responde demarcada à rejeição por espaços recíproca privados entre usuários e o espaço público, exibindo uma paisagem possui área de 9.206 m2 e está inserida no centro do fortemente defendidos e espaços públicos carentes de zero da colonização do município, a Praça Tiradentes melhorias estruturais. Assim, tornam-se banalizados ou relegados ao esquecimento, recebendo uma e o Setor Histórico da cidade, conhecido como Largo município de Curitiba, entre a Rua XV de Novembro função totalmente diversa daquela planejada, como estacionamentos, terminais de transporte público, foi inaugurada em 5 de junho de 1880. da Ordem. Uma das praças mais antigas do município, pontos de comércio ambulante etc. Gabardo (2004) ressalta a importância de Para Mendonça (2007), é importante salientar que compreender a evolução histórica de um lugar para se obter informações sobre os momentos lá vividos não implicam, necessariamente, em inadequação ou as apropriações, mesmo quando intuídas e adaptadas, ocorridas no intervalo de tempo analisado. Com o passar criatividade e capacidade de melhor aproveitamento e, assim, reconhecer as transformações paisagísticas indícios de marginalidade. Podem, ao contrário, indicar por quem o utiliza e passa a compor a memória e a alimentem o projeto e a futura construção de ambientes identidadedo tempo, o urbana. espaço vai sendo dotado de significados dedas natureza infraestruturas semelhante. públicas Outro e fornecer ponto defendido subsídios quepor essa autora é o de que as apropriações dos espaços hoje está a Praça Tiradentes passou a ser a região Logo no início do povoamento, a região em que para poder ir ao encontro do que foi previamente central: ponto de encontro e de comércio. A população planejadopúblicos refletem para o local. o empoderamento da população, originária dos campos tinha a praça, cujo maior Para Ferrara (1993) apud Gabardo (2004), a movimento era aos sábados e domingos, como destino manifestação mais concreta do espaço é o lugar, ou em função das missas e do comércio que vinha se seja, espaço consolidado pelos usos e hábitos de estabelecendo na região. seus usuários. Para entender a totalidade do espaço De acordo com Robba & Macedo (2003), as praças desejado, é importante conhecer como as partes se religioso preponderante, apesar de servirem para o aparecimento de hábitos e costumes que dão imagem construídas no Brasil Colônia possuíam um aspecto identificam e se articulam de maneira a permitir o lugar, pode-se encontrar a sua identidade, conhecendo presençaexercício dadas Catedral, funções de comerciais. acordo com Além os autores, da observação a Praça cadacaracterística uma de suas ao parteslugar. atéA partir compreender da caracterização sua estrutura do desse aspecto de maneira nítida na praça devido à como um todo. A interpretação do lugar requer uma leitura de informações que, analisadas, vão delinear centralidadeTiradentes podia bem ser marcada classificada e desenhos como uma de canteiros praça de geométricos,característica que eclética delimitam com inspiração caminhos, comoclássica, se pode com sua fisionomia e sua personalidade. observar na Figura 2. A Praça Tiradentes importância do comércio e da Catedral, fez do Largo A centralidade geográfica da praça, somada à Com base na teoria da produção do espaço de da Matriz, e posterior Praça Tiradentes, o principal Lefebvre (2006), o levantamento e a caracterização da Praça Tiradentes foram divididas metodologicamente manifestações populares. espaço utilizado em cerimônias, festividades e urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management) 6 Rosaneli, A. F., Fróes, A. C. S., Furlan, D. L. S., Gonçalves, F. T., & Senger, S.

Figura 2 - Desenho da Praça Tiradentes, em Curitiba, Paraná, em 1934 Fonte: Berberi & Sutil (1997).

A praça – até esse momento chamada de largo, A praça sofreu várias intervenções, tanto devido a terreiro e rossio – era o espaço de interação de todos os elementos da sociedade, abarcando os relativas a transporte, com a inserção da estação de vários estratos sociais. Era ali que a população da medidas sanitaristas, com execução de valas, quanto cidade colonial manifestava sua territorialidade, estações-tubo nas décadas de 1980 e 1990. Ainda, em meadosbondes dosna década anos 1970, de 1940 foi facilitada e dos pontos sua interligação de ônibus ao e poder, e os pobres, sua pobreza. Era um espaço Largo da Ordem por meio de uma galeria subterrânea. polivalente,os fiéis demonstravam palco de suamuitas fé, os manifestações poderosos, seu Segundo reportagem do Paraná em Páginas, dentre dos costumes e hábitos da população, lugar as praças centrais de Curitiba, a Praça Tiradentes foi de articulação entre os diversos estratos da a que mais sofreu alterações dispensáveis ao longo sociedade colonial (Robba & Macedo, 2003, da sua história. p. 22). Algumas das muitas “situações” da Praça Tiradentes, aparece em destaque a velha estação de bondes, de tanta utilidade na década de 1940. Ivo Arzua abriu únicoCom espaço o crescimento destinado do a município manifestações e o surgimento populares de e festividades.novos espaços A livres partir públicos, da década a praça de 1960, deixou esses de serusos o a Cruz Machado, obra necessária, influenciando na praça. Lerner colocou ônibus de praça de lá tiveram como principais palcos o Centro Cívico e o pra cá, daqui pra lá, construiu muretas. Maurício calçadãourbe. Revista Brasileira da Rua de Gestão XV. Urbana (Brazilian Journal of Urban Management) Fruet mexeu nas intermediações da Catedral, pois Apropriação do espaço livre público na metrópole contemporânea 7

O comércio pujante do entorno da praça tem como tudo, outra vez. Uma sequência de gastos que o povoinovou não no entende trânsito (daParaná região. em E Páginas,Greca mexeu 1996 em). decaracterística passagem, pelo principal embarque a venda e desembarque de produtos constante de baixo Sua última grande intervenção ocorreu em 2008, devalor pedestres agregado e pela e pode intensa ser explicado circulação pelo de automóveisseu caráter quando teve seu traçado reformulado, de modo a restaurar o desenho original e garantir acesso aos Figura 3, as ruas perimetraisentre o Setor à praçaHistórico possuem e o Centro tipos deCívico. tráfego distintos calçamentos regulares, além da colocação de iluminação Como é possível observar na especialdeficientes e piso. por Durante meio de as rampas obras, foram e do empregoencontrados de trechos de um calçamento central datado da segunda e algumas vias ficam restritas à circulação de ônibus. De maneira geral, o fluxo de veículos ao redor da praça visibilidade destes, foram empregados pisos de vidro é caracterizado por veículos de pequeno porte, pontos emetade iluminação do século própria. XIX. Com o objetivo de manter a atendimento do transporte público metropolitano. de Emtáxi razão e pela de circulação sua importância e paradas histórica de paraônibus Curitiba para

A praça percebida fisicamente muito tempo abrigou os carros-chefes da economia paranaense,e pela dinâmica a Praça econômica Tiradentes do município, recebeu diversasque por A Praça Tiradentes está inserida em uma região que construções e intervenções pioneiras que se tornaram pode ser apontada como um importante polo de atração importantes legados à população curitibana. Dentre que atende à população de toda Região Metropolitana de Curitiba devido à localização central e ao grande Stellfeld,elas, destacam-se caracterizada a Catedral pela Basílicapresença Menor de um de relógio Nossa comerciais e de prestadores de serviços. solarSenhora em dasua Luz fachada. e a edificação da antiga Farmácia número de linhas de ônibus, de estabelecimentos

Figura 3 - Circulação de veículos nas vias perimetrais à Praça Tiradentes, em Curitiba, Paraná Fonte: Adaptado pelos autores do IPPUC (2006).

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Em consequência da sua mais recente reforma, A praça vivida socialmente na qual os caminhos foram elevados em relação ao

asolo planimetria para evitar das o calçadas corte das apresenta árvores preexistentesforma bastante e A praça apresentou uma dinâmica típica dos regular,não danificar permitindo os vestígios acessibilidade de calçamentos universal. históricos, A praça espaços livres centrais de Curitiba, com expressivo é bem servida de infraestrutura, possuindo postes de quefluxo as de atividades pedestres predominantese veículos, abrigando na praça usuários eram deas deperfil permanência bastante diversificado. e de circulação, Em que geral, se desenvolviam constatou-se com maior intensidade durante o dia. Fora do horário monumentosiluminação artificial com iluminação distribuídos cênica ao longo noturna. dos caminhos Bancos comercial, das 9h às 18h, a dinâmica da praça mudava estãoe refletores dispostos posicionados, ao longo dos caminhos de modo que a ressaltarpermeiam os bruscamente devido ao esvaziamento da área central.

às esquinas e entre as estações-tubo, locais em que a e no interior da praça, efetuado no mês de abril circulaçãocanteiros. Existem de pedestres ainda bancas é mais posicionadas intensa. O mobiliário próximas entreO levantamento 17h e 19h, demonstrou do fluxo de pedestres que a grande nas esquinas maioria urbano foi mapeado e pode ser observado na Figura 4. dos transeuntes se utilizava da praça como meio de

Figura 4 - Infraestrutura existente na Praça Tiradentes, em Curitiba, Paraná Fonte: Adaptado pelos autores do IPPUC (2006).

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Vale ressaltar as relações estabelecidas entre o espaço da praça e ciclistas, cadeirantes, patinadores ligação entre a Rua XV de Novembro e o Largo da por cruzar a praça diagonalmente, de modo a se Ordem. Foi perceptível a preferência dos pedestres aproveitar do “respiro” que ela proporcionava, em devidoe skatistas. à presença Foi possível de perceberbicicletas sua estacionadas ampla utilização nos paracicloscomo local e de amarradas passagem aos ou postes. ponto Ainda,final dos durante ciclistas as vias perimetrais. As Figuras 5 e 6 ilustram os dados vez de realizar o percurso pelas calçadas próximas às visitas, constatou-se que a totalidade dos ciclistas e dos adquiridos no levantamento. cadeirantes optava por cruzar a praça, e não apenas

Figura 5 - Fluxos de pedestres nos acessos Fonte: Adaptado pelos autores a partir do Google Earth, com imagem de 2012.

Figura 6 - Fluxos de pedestres nos caminhos Fonte: Adaptado pelos autores a partir do Google Earth, com imagem de 2012.

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da praça. Em dias ensolarados e quentes, a praça era ao fato, os ciclistas e os skatistas responderam que ocupada em sua totalidade, com utilização, inclusive, acircundar atitude ose seu devia perímetro. à menor Quando movimentação questionados e melhor quanto qualidade do calçamento no interior da praça em para permanência e descanso de usuários. Nesses dias, osdos bancos monumentos mais cobiçados e desníveis eram entre aqueles canteiros sombreados. e pisos Já nos dias mais frios, embora com menor quantidade relação ao seu perímetro. (Figura 7) permitiu averiguar que as ruas com maior de usuários, os bancos e os monumentos se mantinham Por sua vez, a contagem do fluxo de veículos ocupados por pelo menos uma pessoa, e os mais fluxo de veículos eram a Avenida Marechal Floriano procurados eram os bancos ensolarados, localizados e a Rua Cândido Lopes, que contribuíam com 92% do fluxo de veículos existente nas vias perimetrais à observar também pessoas deitadas nos canteiros e nas escadarias e nos pontos de táxi. Foi comum praça. O tráfego de veículos nas Ruas José Bonifácio e nos bancos durante as tardes de sol. Cruz Machado resumia-se aos ônibus e táxis, e ocorria De maneira geral, os usuários eram trabalhadores, empregados de estabelecimentos comerciais localizados apenasO levantamento devido ao demonstrouponto de táxi ainda e àsque estações-tubo os automóveis no entorno, que utilizavam a praça em seu horário individuaisexistentes nessas e motocicletas ruas. representavam cerca de

serviços e comércios da área central de Curitiba ou de intervalo, ou pessoas de passagem, atraídas pelos 90% do total de veículos que transitavam nas vias em vias de utilizar o serviço de transporte público. usuáriospróximas e/ou à Praça transeuntes Tiradentes. para Tal a tipologia praça, visto de veículo, que, de Embora a utilização maciça fosse de trabalhadores mododiferente geral, dos apenas táxis eutilizavam-se dos ônibus, dasnão vias contribuía perimetrais com como percurso. do entorno, a praça era bastante utilizada nos fins Embora a praça fosse bastante ocupada, tanto estabelecimentos comerciais e de serviços, a praça de semana. No domingo, dia sem expediente nos durante as altas temperaturas do verão quanto nas era ocupada por moradores da área central, que se utilizavam do espaço para passear com animais a forma de ocupação e a temperatura e insolação – o domésticos e para lazer contemplativo e passivo. quebaixas é interessante, do inverno, foi pois possível o sombreamento traçar um paralelo e a densidade entre Havia ainda os frequentadores da missa dominical da Catedral e os da Feira do Largo da Ordem, que usavam a

de arborização são duas das principais características

Figura 7 - Fluxo de veículos nas vias perimetrais à Praça Tiradentes, em Curitiba, Paraná Fonte: Adaptado pelos autores a partir do Google Earth, com imagem de 2012.

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Figura 8 - Missa na praça Tiradentes, em Curitiba, Paraná, em 1953, comemorando o centenário de emancipação do Estado Fonte: Guinski (2002). praça como espaço de repouso e de encontro. Nos dois Solene em comemoração ao centenário da emancipação casos, a ocupação da praça se ligava aos espaços de do Paraná em 1953 (Figura 8); a Guerra do Pente em permanência projetados com sombra e acomodação,

1959. No contexto atual, embora tenha perdido boa originalmente concebido. aproximando a sua apropriação à noção de espaço parte desse caráter de centro de ação/passeata cívica Ainda nessa concepção, pode-se considerar que a circulação de automóveis conhecido como “Rua das para a Rua XV de Novembro (no trecho fechado para Flores”) e Avenida Cândido de Abreu, ainda hoje ela abriga manifestações, tais como Marcha das Vadias2, o uso da praça esteja vinculado ao seu contexto quando os espaços para reunião e convivência pública socioespacial. No início da sua formação, por exemplo, 2 de tamanha amplitude ainda eram escassos na cidade A Marcha das Vadias é um movimento que surgiu a partir de um protesto realizado em 2011 em Toronto, no Canadá, de Curitiba, a praça foi palco de diversas manifestações, e, desde então, é realizado em diversas partes do mundo em dentre elas podemos citar como destaques: a Festa de resposta à culpabilização da mulher em casos de agressão Recepção aos Voluntários da Pátria em 1880; a Missa

sexual.urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management) 12 Rosaneli, A. F., Fróes, A. C. S., Furlan, D. L. S., Gonçalves, F. T., & Senger, S.

bicicletadas3 se encontrar nas praças e ruas de Curitiba foi o de eventos culturais. pipoca. Na Praça Tiradentes, esse tipo de adaptação De acordo, commanifestações Robba & Macedo políticas, (2003 comícios, p. 39), e do objetivo da praça de lazer contemplativo e passivo “[...] tais usos de integração e articulação com as ao lazer ativo era comum, principalmente, entre as atividades da comunidade deram às praças um caráter 17h e 19h dos dias úteis, quando havia aglomerações de espaço centralizador muito forte e aumentaram no entorno desses pontos. sua visibilidade”, elevando a valorização do espaço Vale ressaltar ainda a apropriação do espaço da livre urbano e criando novas maneiras de apropriação praça para prática de comércio ilegal, como a troca pela população. e a negociação de mercadorias e de narcóticos, Para Zeisel (2006, p. 173), “[...] as pessoas mudam realizadas abertamente e camufladas pelo fato de seus atividades, podendo remover ou acrescentar coisas”. sempre presentes na praça, conhecidos pelos demais as configurações dos espaços a fim de facilitar suas usuáriospraticantes como serem “rolistas”. um grupo específico de senhores fazem adaptações do uso original dos espaços livres Além disso, a Tiradentes, assim como diversos No modo de vida e no sistema econômico atual, pessoas outros espaços públicos na área central, era conhecida produtos com agilidade nas ruas e, com essa venda, por ser ponto de prostituição. Segundo usuários tirampúblicos seu apróprio fim de sustento. atender Tala quem observação, busca decomprar que os entrevistados, as prostitutas tinham seus apartamentos

imediato como ponto de encontro com seus clientes. para atender às necessidades de quem a frequenta, nasOs proximidades moradores eem utilizavam situação a praçade rua e seutambém entorno se atestausos da a praça concepção podem do ser espaço modificados como e/ouproduto adaptados social apropriavam da praça, utilizando-se do abrigo fornecido e enquadra a Praça Tiradentes dentro dessa lógica, pelas árvores, canteiros e marquises (Figura 9). Em entrevista com duas pessoas nessa situação, foi vivido; ou seja, ao mesmo tempo em que a praça constatado que eles não passavam a noite no local atendeaproximando-a à lógica do do conceito espaço lefebvrianoconcebido, deconforme espaço devido a restrições municipais. Como os abrigos da atestado nas observações anteriores, sua apropriação prefeitura são disponibilizados somente durante a

as variadas demandas de seus usuários, o que pode é adaptada de acordo com a experiência prática e ou descansando nas praças, e a Praça Tiradentes era umnoite, desses eles ficavamdestinos. durante o dia andando pelas ruas para além daqueles originalmente concebidos, dando margemdiversificar a uma seus maior usos variedade e maneiras de interações de apropriação sociais e vivências. Essa propriedade da praça central do porte A praça percebida socialmente

e configuração da Tiradentes, de adaptabilidade e mais importantes e pode ser parcialmente considerada elaborado com base nas respostas mais recorrentes flexibilidade de usos, é uma das suas características como responsável por sua ampla apropriação. dasO entrevistas perfil do usuário-padrão aos seus frequentadores, da Praça Tiradentes, realizadas no mês de outubro, foi: homem, empregado e com estimulada pelo comércio ambulante de alimentos. O melhor exemplo dessa apropriação é aquela Segundo , o principal atributo de se de casa para o serviço, e era objetivo, isto é, passava trazer comida para dentro do espaço público livre é idade entre 20 e 60 anos, que chegava de ônibus, Whyte (2001) o de atrair movimento: o vendedor de rua, além de rapidamente ao seu destino. Quando tomava assento suprir uma necessidade que não está sendo atendida nosempre banco pelo da melhorpraça era caminho para observar a fim de aschegar pessoas mais e pelo mercado, atrai comércio, o que estimula a aproveitar as sombras das árvores – seus elementos preferidos. Apesar de achá-la confortável, considerava-a e, consequentemente, convida mais público. O tipo insegura. O que mais lhe incomodava era a presença deaproximação comércio deambulante outro vendedor, de alimento que atrai mais mais comum comércio de de “insolventes4” moradores. Contudo, era bastante

3 “Bicicletada” é um termo utilizado para denominar as 4 O termo “insolventes” é utilizado por Vainer (2000) para manifestações organizadas por cicloativistas em prol do caracterizar usuários de espaços públicos urbanos indesejáveis, uso de bicicletas como modo de transporte massivo.

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management) que podem vir a influenciar as propostas do projeto. Apropriação do espaço livre público na metrópole contemporânea 13

Figura 9 - Morador em situação de rua abrigado sob um dos canteiros da Praça Tiradentes, em Curitiba, Paraná Fonte: Elaborado pelos autores (2012). satisfeito com a praça e tinha a Catedral como seu de mais locais sombreados para sentar, visto que a principal ponto de referência. das 12h às 14h, sentava-se nos pisos elevados devido as entrevistas foram setorizadas em quatro pontos da maior parte dos usuários, principalmente no período Com finalidade de se apreender o espaço percebido, Foram apontados como seguros o espaço em a pontuar as principais percepções quanto a destinos, ao número insuficiente de bancos. frequênciapraça, de modo de uso, a identificaracesso e conforto. o perfil Foram de seus entrevistados usuários e 40 usuários, 10 em cada esquina. Algumas respostas frente à Catedral, os pontos de ônibus e o centro da não era considerado, pela maioria dos usuários, praça. Isso se justifica porque seu entorno imediato como parte integrante dela. Além disso, os pontos de registrados nas observações in loco, como a utilização dadas praça entrevistas como melhor confirmaram caminho fatos para que a circulação já tinham entre sido áreas de interesse comercial, o acesso por meio de ônibus e a área em frente à Catedral foram os pontos de passagem, o que contribuiu para a sensação de transporte público e o principal ponto de referência em que se concentravam os fluxos mais intensos ser a Catedral. segurança percebida naquele local. O local apontado como mais seguro foi o centro da praça, estruturado citadas a limpeza, seu conforto para prática de lazer para permanência. Os acessos e as esquinas foram Como melhores características da praça, foram considerados inseguros pela maior parte dos usuários tornar o espaço agradável à permanência. No entanto, váriospassivo dos e a entrevistados vegetação em apontaram quantidade para suficiente a necessidade para em função dos usos como observação e descanso. por serem locais menos perceptíveis e frequentados urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management) 14 Rosaneli, A. F., Fróes, A. C. S., Furlan, D. L. S., Gonçalves, F. T., & Senger, S.

Figura 10 - Mapas mentais da Praça Tiradentes, em Curitiba, Paraná, desenhados pelos usuários da área central Fonte: Entrevistados pelos autores (2012).

Também, a presença de moradores em situação de comércios no entorno da praça, os pisos históricos, as estações-tubo e a arborização da praça. Vale ressaltar Estes foram apontados como a maior contribuição que, em alguns dos mapas, foram representados sons pararua influenciou o mal-estar dosas percepções frequentadores de insegurança. da praça. Contudo, foram os únicos usuários que a avaliaram como Figura 10 confortável e segura, apesar de serem constantes característicosapresenta alguns da dos praça, mapas tais mentaiscomo os elaborados. barulhos dos ônibus e o badalar do sino da Catedral. A

suas reclamações quanto a policiamento, alto fluxo Considerações finais Aindade veículos assim, e tráficoa sensação de drogas. de segurança que se tinha na Opraça tráfico foi demaior drogas durante também o dia foi doalvo que de àcríticas. noite, apesar de a iluminação implantada na última reforma contemporânea, os espaços livres públicos possuem (2008) ter sido bem-aceita pelo público. Isso se devia Dentro do contexto de transformação da metrópole à dinâmica da área central de Curitiba, caracterizada da circulação e também como opções de lazer. por seu esvaziamento em horários não comerciais. Asgrande áreas significância centrais, como como é o elementos caso da Praça de acomodação Tiradentes, Complementarmente às entrevistas, foram solicitados constituem-se como os poucos espaços de abertura mapas mentais da praça para usuários da área central da malha urbana, da permeabilidade do solo e de de Curitiba, totalizando 15 mapas elaborados. Comum articulação da circulação.

seu lugar no imaginário popular como principal ponto pedestres no centro de Curitiba – o calçadão da Rua dea todos referência. estava Outrasa presença imagens da Catedral, recorrentes confirmando foram os Localizada entre dois polos de grande fluxo de

urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management) XV de Novembro e o Largo da Ordem –, a praça integra Apropriação do espaço livre público na metrópole contemporânea 15

pontosum complexo importantes sistema e consolidadosde espaços livres no imaginário públicos, de espaço flexível e, portanto, menos propenso à referenteconstituindo ao centro a principal da cidade. conexão Dentro entre de umaesses escala dois obsolescência. As apropriações identificadas por meio mais abrangente de análise, pode-se considerar a de tal uso flexível, além disso, não geram inadequações, emas nos ressignificam hábitos de quem o espaço a frequenta. da praça conforme a estratégica entre as malhas históricas do Largo da Ordem experiência do usuário, mantendo-a ativa na memória Praça Tiradentes e seu conjunto como uma conexão (1997) apud Loboda & De Angelis (2005) cita como causasEmbora do abandono possua característicasdos espaços públicos que Pereira – a presença Leite e aquela proveniente das Ruas XV de Novembro e Barão históricado Rio Branco. confere A influênciaà praça uma desse apropriação sistema de constante: espaços de alta renda –, o espaço apresenta apropriação por livres de importância paisagística, socioeconômica e partedos excluídos de outras socialmente classes sociais e o afastamento de Curitiba e da região classe e acesso às atividades noturnas e dominicais do Largo também por turistas. darecebe Ordem. o fluxo Além diurno disso, do vale calçadão lembrar da Rua que XV a circulaçãoe constitui De fato, a Praça Tiradentes é um espaço culturalmente de pedestres decorre ainda da disposição de diversos as administrações municipais, as quais, a cada gestão, A importância histórica da Praça Tiradentes valorizado e que beneficia tanto seus usuários quanto pontos de ônibus em seu entorno imediato. e em evidência da cidade. Tal situação ocorre tanto mantê-la renovada e atraente como no apego e no parabuscam adaptar deixar essas suas áreas marcas à dinâmica em espaços da cidadeconsagrados como respeitoreflete tanto que osna usuários preocupação demonstram do poder ter público pelo local. em para reaver usuários e trazer novos usos. Tais atitudes contribuem para tornar a praça um Estendendo-se sobre a hipótese de que a praça, espaço livre público especial quando comparado a por estar localizada na região central da cidade, vista outros do centro da cidade. pela administração municipal como área degradada, A praça torna-se também simbolicamente importante pode ser entendida como tal, conclui-se que isso não por ser um objeto de referência cênica na paisagem se constatou em relação à Praça Tiradentes. Embora

vários de seus usos originalmente concebidos e possui do centro, pois a característica de respiro a conforma apropriaçãoela se configure condizente como um com espaço a de um que espaço conservou livre secomo lembrou um oásis da em massa meio arborizada ao espaço edificado. na praça Isso como se público central, no imaginário popular a Tiradentes está elementoratifica na medidade referencial em que quaseurbano um e terçoque potencializados usuários quase sempre associada à Catedral ou aos pontos de a apropriação do local por quem transita na região. lugar degradado relacionadas não apenas à praça, ônibus, conforme demonstrado pelosGuimarães mapas & mentais, Cunha masAcrescidas à área central, a esse tendem contexto, a se asminimizar características aos olhos de (2004)mesmo para os usuários mais assíduos. de quem a utiliza. Isso se torna ainda mais evidente Salientando o exposto por , é perceptível a presença de elementos da praça, com seus pisos elevados em relação às vias comohistoricidade marco da do identidade município culturalde Curitiba é destacada inseridos pela em circundantes,quando consideramos que permitem a configuração a maior visibilidade espacial doda sua configuração no centro da cidade. Sua importância todo espacial ao transeunte. Pinhais, referência não só para os usuários da praça comoexistência: para (i)a centralidade da Catedral Nossana qual Senhora ela está da inserida; Luz dos multifacetada da praça quanto às suas apropriações Vale lembrar que a característica diversa e a reanimação desses espaços como úteis aos usuários da(ii) praça; dos edifícios (iii) do históricos, seu caráter cujos como novos ponto usos de abrangem encontro desdetambém a sua se concepção, deve à sua como estrutura um conjunto física. Conformada de pequenos espaçoscomo um públicos espaço setorizado, livres de caráter a Tiradentes diferenciado, configura-se, o que metrópole. lhe permite a formação de diversas territorialidades. e sedeEm outrasde manifestações palavras, a memória políticas da dos praça habitantes se mostrou da Desse modo, tanto o projeto original quanto as intervenções posteriores podem ser consideradas do espaço vivido. Considera-se, portanto, que a Praça Tiradentesvinculada a usos,se constitui à sua centralidade como um lugar, e à experiência pois está bem-sucedidas, pois mantiveram a característica urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management) 16 Rosaneli, A. F., Fróes, A. C. S., Furlan, D. L. S., Gonçalves, F. T., & Senger, S.

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