César Versus Conde e a Nova Política Carioca: A Disputa Eleitoral no , 2000. [01ST0311]

Marcus Figueiredo* Luciana Fernandes Veiga* Alessanda Aldé*

Trabalho [01ST0311] apresentado no Seminário Temático ST03 “Ciências Sociais e Comunicação: diálogos conceituais e avanços na pesquisa”, 1a Sessão “Eleições 2000: avanços conceituais na explicação do fenômeno do voto”. XXV Encontro Anual da ANPOCS, 16 a 20 de outubro de 2001, Caxambu.

(*) Marcus Figueiredo, Prof. Dr. IUPERJ; Luciana Fernandes Veiga, Doutoranda, IUPERJ; Alessandra Aldé, Doutoranda, IUPERJ; Pesquisadores do DOXA – Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública, IUPERJ, http//doxa.iuperj.Br .Agradecemos ao CNPq, CAPES e FAPERJ pelo apoio. 2 Conteúdo

Introdução 1. A Cidade e Contexto da Disputa Eleitoral. A Disputa Eleitoral A Cobertura da Mídia Impressa Carioca e a Consolidação das Candidaturas 2. O Novo Ciclo Político no Rio e as suas Bases Sociais e Políticas 3. Estratégias Discursivas dos Candidatos A gestão Conde: o discurso construtivo da situação versus o discurso destrutivo da oposição. O Criador versus a Criatura, 2 Turno. 4. Conclusão 5. Bibliografia de Referência 6. Anexos 3 INTRODUÇÃO

A campanha para prefeitura do Rio de Janeiro em 2000 foi marcada pela disputa entre um criador e a sua criatura. O criador, César Maia (então PTB), prefeito do Rio de Janeiro no período de 1992 a 1996, ano em que apadrinhou o seu secretário de urbanismo (então PFL) na candidatura para o Palácio da Cidade. Conde, a criatura, venceu a disputa e administrou a prefeitura do Rio de Janeiro entre 1996 e 2000. Na eleição de 1996, César e Conde buscavam convencer o eleitorado carioca que Conde era César e que César era Conde, parafraseando a vinheta utilizada pelo candidato naquele pleito. Já em 2000, depois de um rompimento entre eles, o objetivo de ambos era convencer o eleitorado carioca que César não era Conde e que Conde não era César. Mas as gestões de Conde e de César pareciam indissociáveis para o eleitor. As duas administrações dividiam os méritos e os deméritos dos programas -bairro, Rio-Cidade, Linha Amarela e Guarda Municipal, e outros. César chamava para si a autoria dos projetos que, como argumentava, haviam sido implantados durante a sua gestão. Conde discordava e dizia que César havia apenas dado início aos projetos, que ganharam dimensão em seu governo. A disputa era justificada pelo alto índice de aprovação da gestão que ambos desfrutavam. Assim, particularmente no segundo turno, os políticos buscavam clarear para os eleitores qual projeto era da gestão César e qual projeto era da gestão Conde, quem era César e quem era Conde. A disputa entre eles foi acirrada durante os dois turnos e ganhou contornos políticos mais claros no segundo turno. A vitória de César sobre Conde no segundo turno foi apertada e definida praticamente na última semana: Conde obteve 49% e César 51% dos votos válidos. Entretanto, o contexto da disputa eleitoral no Rio não ficou restrita a Conde e César. Na verdade o cenário eleitoral no Rio, como veremos, teve, no primeiro turno, duas disputas simultâneas. De um lado César versus Conde e de outro lado César versus Benedita (PT). No início da campanha Conde assumiu a dianteira das intenções de voto, chegando ao patamar de 35% e assim permaneceu até o final do primeiro turno. César e Benedita disputaram o segundo lugar palma a palma, no patamar de 18%, e ficaram durante todo o primeiro turno num “empate técnico” e terminaram esta disputa com 23% e 22,6% respectivamente. O empate político entre Conde, César e Benedita no primeiro turno deixou como saldo a prevalência do discurso da eficiência programática em detrimento do confronto ideológico programático. Tendo como referência o cenário eleitoral nacional nas eleições municipais de 2000 vemos que foi apenas no Rio de Janeiro que o PT não foi para o segundo turno, especialmente se comparado com Recife, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre. Este fato chama a atenção para o desempenho do PT na cidade do Rio de Janeiro o qual desde 1992 disputa o segundo lugar como força eleitoral, mas não consegue superar esta barreira. Este fato merece um estudo próprio. 4 O nosso objetivo neste artigo é descrever e analisar a eleição municipal de 2000 no Rio de Janeiro. Para dar suporte às análises foram utilizadas as coleções de pesquisas quantitativas e qualitativas realizadas pelos institutos Datauff, Vox Populi e Retrato, realizadas no período eleitoral, cujos dados foram gentilmente cedidos pelos seus patrocinadores, Campanha Ronaldo César Coelho, Campanha Luiz Paulo Conde e Jornal do Brasil. Contamos ainda com o acervo do Banco de Imagem do DOXA – Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública, IUPERJ e com os dados da pesquisa “Eleições 2000 – Cobertura da Mídia Impressa” realizada pelo DOXA A análise está estruturada em três partes. A primeira parte do texto traz o contexto da disputa, a percepção dos cariocas sobre a sua cidade, o quadro da disputa, abordando as candidaturas, as coligações e alianças realizadas e a cobertura da mídia do jogo eleitoral. Na segunda parte mostramos a história das bases sociais e políticas do voto no Rio de Janeiro e sua mudança no tempo e o desempenho dos candidatos ao longo do período estudado, de março a novembro de 2000 e significado político do novo ciclo eleitoral no Rio de Janeiro. Na terceira parte analisamos os discursos que predominaram no pleito e o seu efeito na decisão do voto. 5

1. A CIDADE E O CONTEXTO DA DISPUTA ELEITORAL.

O eleitor carioca na ocasião do pleito parecia satisfeito com a situação da cidade, ainda que apontasse sérias carências. A avaliação predominante era a de que a cidade do Rio já fora melhor na medida em que a imagem da “Cidade Maravilhosa” aparecia ofuscada em relação a um passado nostálgico. O Rio já não era mais visto como a melhor cidade para se viver. As suas principais qualidades – a beleza e o jeito de ser do carioca – já não mais lhe asseguravam a qualidade de vida que o passado projeta na memória do carioca. Apesar disto o carioca se sente satisfeito com o Rio e reconhece o esforço dos dois últimos prefeitos (César Maia e Luiz Paulo Conde) em tornar a vida carioca melhor, especialmente através dos amplos programas urbanísticos desenvolvidos nos últimos oito anos, sob a s gestões de César Maia e Luiz Paulo Conde. Em agosto, no início da campanha eleitoral, o eleitorado carioca via a sua cidade melhorando, perguntados como via o Rio nos últimos cinco anos eles declaram que o Rio estava progredindo (44%), parada (33%) e regredindo (23%). (pesquisa DataUff, 30/31 de agosto). As carências da cidade se referiam basicamente aos serviços públicos tradicionalmente deficientes. Em março daquele ano eleitoral (pesquisas VoxPopuli), os cariocas apontavam como principais problemas do Rio o policiamento e a criminalidade (32%) e o atendimento nos hospitais e postos de saúde (23%) e na área social a pobreza e a mendicância (13%). A deficiência no serviço de segurança pública é o calcanhar de Aquiles desta cidade e está bem retratada nos depoimentos de eleitores: De madrugada é isso que acontece, onde você estiver é um perigo que você corre. Você não pode ficar sozinho, não pode andar sozinho. Para vir aqui, o meu filho de 19 anos veio comigo, porque para voltar para o Méier, eu tenho medo. (Classe C, Zona Norte, março de 2000, Vox Populi).

Os altos índices de criminalidade na cidade eram justificados parcialmente pelo desemprego, os baixos salários, a má distribuição de renda e a miséria, fatores creditados ao Governo Federal e a sua política econômica: O Rio está piorando, mas de modo nacional, porque quem gera, digamos assim, emprego, política monetária, é o presidente, de um âmbito nacional, e acaba refletindo nos estados.(Classe C, Zona Norte, março de 2000, Vox Populi)

A violência tem uma motivação sócio-econômica, mas também pode ser explicada pelo “descaso e despreocupação” de governantes locais. Os eleitores apontaram na pesquisa realizada pela Vox Populi, em março, que as áreas de policiamento, criminalidade e hospitais e postos de saúde eram aquelas que o Prefeito Conde estava deixando a desejar: 6 Eu acho que eles se preocupam com a segurança quando tem uma festa na cidade. Por exemplo, o carnaval. No carnaval, a cidade vai ter não sei quantos mil policiais na rua, tudo fica aceso, tudo fica bonito. (Classe B, Zona Norte, março de 2000, Vox populi)

O descaso e a despreocupação variam de acordo com o tempo e também com o espaço. A Zona Sul é considerada como sendo mais bem policiada que a Zona Norte e demais áreas, estas muito mais vulneráveis à criminalidade. A Zona Sul, a Barra da Tijuca e áreas centrais são vistas como regiões que recebem melhor atendimento de serviços públicos em detrimento da periferia. O survey realizado pelo instituto Vox Populi, em março, apontava que 54% dos eleitores acreditavam que o então Prefeito Conde dera mais atenção e cuidou mais da Zona Sul: Eu já trouxe os meus filhos para assistir esse campeonato de vôlei de praia em Copacabana. Então, na Zona Sul, eu chegava lá na fila três horas da manhã, tem a segurança que fica lá, a madrugada toda, garantindo a segurança do público. Quer dizer, por que em outros lugares não pode haver isso? (Classe B, Zona Norte, março de 2000, Vox Populi)

Finalmente, o problema da segurança pública era agravado pela descrença na eficiência e na seriedade da polícia. No entanto, a Guarda Municipal despertava confiança e até simpatia em parte dos eleitores, que apostavam no investimento da Guarda Municipal como uma maneira de diminuir a criminalidade: Porque se a gente quer eles, a Guarda, como amigos, se botar arma, a violência aumenta. Porque se vier polícia eu corro; agora, da Guarda Municipal ninguém corre; o pessoal pára e ainda olha eles pegarem. Porque sabem que não tem tiro. A violência é bem menor do que se fosse com a polícia.(Classe B, Zona Norte, março de 2000, Vox Populi)

A criação da Guarda Municipal associada à realização dos projetos Rio-Cidade, Favela- bairro e Linha Amarela havia dado um novo alento à população do Rio de Janeiro. Para os cariocas, tais projetos iniciados com a gestão de César Maia, e que tiveram continuidade na gestão de Conde, estavam tornando o Rio uma cidade melhor. Desta maneira, embora se reconhecessem os problemas da cidade, a gestão Conde era bem avaliada naquele momento pré-eleitoral. De acordo com a pesquisa realizada pelo Vox Populi, em março, 40% dos entrevistados que conheciam o Prefeito tinham uma imagem muito positiva ou positiva do mesmo, 41% tinham uma imagem regular e apenas 18% tinham uma imagem negativa ou muito negativa . Ma pesquisa qualitativa eram recorrentes depoimentos nesta direção:

7 (Melhorou) em relação a muita coisa. Muitos bairros estão bem asfaltados, muita coisa teve melhora de anos para cá que não tinha. Hoje em dia, eu acho que se continuar assim dá para ir chegando devagarinho. Não adianta falar que vai fazer e não fazer. Então, melhor é continuar.(Classe B, Zona Norte, março de 2000, Vox Populi)

A partir da avaliação positiva do desempenho da Administração Municipal e a possibilidade de reeleição do então Prefeito Luiz Paulo Conde, uma questão passava a ser preponderante na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro: continuidade ou mudança. A opção pela continuidade seria votar em Luiz Paulo Conde ou em César Maia de modo a dar prosseguimento aos projetos iniciados nas administrações desses candidatos, que estariam promovendo o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida na cidade. Os eleitores desejosos da continuidade eram a maioria absoluta. Perguntados sobre o que seria melhor para a cidade do Rio de Janeiro o eleitor declarou: manter o prefeito e o que vem fazendo (43%), mudar o prefeito mas continuar o que a prefeitura vem fazendo (29%) e mudar os dois, o prefeito e suas políticas (28%). (pesquisa DataUff, 30/31 de agosto). Os eleitores insatisfeitos com o atual prefeito e as políticas da prefeitura gostariam de eleger um candidato menos preocupado com obras de infra-estrutura e mais voltado para as questões sociais, como saúde e educação e segurança. Os eleitores que demandavam um prefeito que viesse a mudar a feição das gestões César e Conde, dando prioridade às áreas sociais, em detrimento das obras de infraestrutura, tinham várias opções. O grupo de oposição era vasto, consistia de todos os demais candidatos. Dentre eles , do PT, e , PDT. O resultado eleitoral do primeiro turno indicou que os eleitores optaram pela continuidade em dose dupla. Os eleitores avaliaram o cenário e então decidiram pela permanência de Conde e de seu antecessor César Maia, ou seja, pela continuidade do projeto iniciado a oito anos. Assim, quando tiveram que decidir seu voto no segundo turno os eleitores não conseguiram distinguir as diferenças nas propostas de governo apresentadas. Desta forma, a definição de voto em Conde ou em César teve uma alta motivação personalista. Conde aparecia muito vinculado ao seu predecessor e padrinho político, César Maia. Conde era, na visão do eleitorado, a continuação de César Maia. Esta vinculação teve grande conseqüência para a avaliação final dos dois candidatos. A eleição no Rio de Janeiro foi, em grande medida, a eleição do criador contra sua criatura.

A DISPUTA ELEITORAL

O eleitor carioca não demonstrou grandes motivações para o pleito. Dois fatores gerais explicam parcialmente a falta de envolvimento do eleitor na disputa municipal. A primeira refere-se a rotinização das eleições ao longo dos anos de democracia. A eleição teria entrado na rotina dos brasileiros, não sendo capaz de despertar maiores motivações. Uma segunda explicação está na falta 8 de engajamento do eleitor com a política de maneira mais geral justificada pela falta de percepção de uma forte ligação entre o exercício do voto e a implementação de políticas públicas geradoras de bem estar. Na véspera do primeiro turno, em 27 de outubro, perguntado se votaria ou não se o voto não fosse obrigatório o carioca respondeu: sim, votaria (42%) e não votaria (58%). (pesquisa DataUff). No entanto, uma terceira razão para a falta de envolvimento do eleitor ganhou relevância neste pleito. Os eleitores apontavam para a primazia do discurso da eficiência administrativa em detrimento do debate ideológico. Os rompimentos entre políticos partidários, os ataques em campanhas eleitorais passadas e as alianças estabelecidas entre eles nesta eleição aumentaram o descrédito em relação à política, tendo sido percebidos como “falta de seriedade” e falta de respeito dos políticos: Eles se atacam durante a campanha. Na próxima, um está apoiando o outro, como o Sérgio Cabral está agora com o Conde. Em 96, ele falava barbaridades dele! Não dá para acreditar...(eleitor da Zona Sul, classe B, 18 de setembro, Datauff)

E outro eleitor acrescenta: Alguns candidatos estão se elegendo em nome do pai, do filho e até do Espírito Santo! O César Maia já foi secretário do Brizola, depois brigou e saiu. Se elegeu prefeito e elegeu Conde, que era secretário dele. E agora estão os três disputando a mesma eleição.(eleitor da Zona Sul, classe B, 18 de setembro, Datauff)

A eleição municipal no Rio de Janeiro em 2000 foi marcada por realizações de alianças de caráter individualista em detrimento de alianças partidárias sérias. A conseqüência foi uma série de grupos partidários e de partidos rachados, levando o eleitor a uma maior desmotivação. Luiz Paulo Conde conseguiu o apoio do Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB), e do Governador do Estado, (então PDT). O apoio de Sérgio Cabral Filho teve grande influência na disputa. No momento em que desistiu de sua candidatura para apoiar o candidato Conde (então PFL), Sérgio Cabral tinha 24% das intenções de voto (pesquisas DataFolha). Gozava ainda de simpatia junto ao eleitorado e era visto como o político que moralizou a Assembléia Legislativa, atuando contra uma série de irregularidades que estavam sendo cometidas. Sérgio Cabral Filho tinha ainda maior respaldo junto aos eleitores mais velhos, uma vez que era conhecido pelo seu empenho na defesa dos direitos dos idosos. Em um programa eleitoral de Conde, Sérgio Cabral aparece acompanhando Conde em uma festa de apoio à candidatura deste que reuniu um grupo grande de idosas no bairro de Copacabana. A manifestação do apoio de Sérgio Cabral Filho coincide com o momento em que Conde sobe significativamente nas intenções de voto. 9 O apoio de Sérgio Cabral a Conde causou estranheza junto a alguns eleitores na medida em que se recordavam que na disputa municipal de 1996, quando Sérgio Cabral, então candidato a prefeito pelo PSDB, e Conde trocaram mútuas acusações. A incongruência do apoio estava ainda no fato de que o PMDB fluminense encontrava-se dividido no apoio ao candidato do PFL. No momento em que Sérgio Cabral apresentava-se como avalista da aliança com o PFL, pedindo votos no Horário Eleitoral para Conde, este atacava Eliseu Padilha (PMDB), Ministro dos Transportes, e o ex-governador (PMDB). Em resposta às acusações, Moreira Franco, então Presidente do Diretório Nacional do Rio de Janeiro, declarava à imprensa que não estranhava o comportamento do prefeito candidato em relação ao PMDB, pois “quem fez com César Maia, a quem devia tudo, pode fazer com o PMDB”. (O Globo, 16 de agosto, O País, pág. 4) O apoio do governador Anthony Garotinho teve efeito similar na candidatura Conde, mas teve conseqüências mais sérias dentro do PDT. Anthony Garotinho era um governador bem avaliado e estava apoiando o prefeito Conde, com o qual assinava uma série de projetos futuros mostrando claramente a existência de uma aliança tácita. César Maia ao avaliar o crescimento de Conde nas intenções de voto aponta que o apoio de Sérgio Cabral teria sido determinante para o candidato do PFL chegar ao primeiro lugar e, a partir desta conquista, Conde passara a ser o candidato do governador Garotinho. Creditar aos padrinhos a alavancada inicial de Conde faz sentido. Contudo, a partir do momento em que Conde tomou a dianteira na disputa pelo voto, foi possível detectar o fenômeno descrito pela teoria da espiral do silêncio (Noelle-Neuman, 1995): na medida em que Conde apresentava uma campanha vitoriosa na televisão, ancorada nos resultados das pesquisas eleitorais, criou-se um clima do tipo Conde vitorioso Este clima não foi, no entanto, forte o bastante para garantir sua vitória no primeiro turno, como sua campanha esperava: O Conde está mais bem votado, principalmente onde eu moro, Vila da Penha. Ele é mais falado, tem mais propaganda a respeito dele. A mídia ajuda muito.(Zona Norte, classe c/d, 16 de agosto, Datauff)

A movimentação política do governador Garotinho influenciou a candidatura de Conde e também as dos candidatos da esquerda. A esquerda apresentou-se dividida naquele pleito para Prefeito do Rio. Brizola rompeu a aliança entre o PDT e o PT que funcionara em 1998 para eleger Anthony Garotinho governador, com Benedita da Silva como vice. O ex-governador recusou-se a apoiar Benedita da Silva e lançou-se candidato. O governador Garotinho, por sua vez, já havia rompido com o PT e deu vários sinais políticos que não apoiaria sua vice-governadora na disputa pela prefeitura do Rio. Neste jogo de interesses eleitorais o resultado foi o enfraquecimento dos dois maiores partidos de esquerda do Rio. O PDT dividiu-se entre os seguidores de Brizola e do Governador Garotinho, envolvendo uma acirrada disputa pelo controle do partido. O conflito entre eles se agravou com o aparecimento 10 de Garotinho no programa eleitoral do PFL e terminou com o rompimento do partido com o Governador depois que o programa de televisão da campanha de reeleição do prefeito Conde exibiu a imagem do governador Garotinho assinando um convênio com o Prefeito. Apesar de não contar com o apoio formal de Garotinho, a equipe de Conde já havia transformado o mesmo em um cabo eleitoral do prefeito. O partido justificou a postura de excluir politicamente o Governador do partido, por sua “flagrante infidelidade às decisões do partido, por sua traição ao candidato pedetista Brizola e pelo indisfarçável apoio a Conde” ( O Globo, dia , página). O apoio de Garotinho a Conde afetou ainda a candidatura de Benedita da Silva. Benedita buscava aproximar-se de Garotinho. A expectativa de Benedita de uma aproximação com o Governador criava e incentivava divergências internas ao partido. Este componente era apenas mais uma entre as dificuldades enfrentadas pela candidata na campanha. Benedita sofria uma grande resistência do eleitorado do PT. O público eleitor da candidata possui um perfil muito mais popular, enquanto os eleitores petistas estão em geral na classe média e estão mais concentrados nos bairros da Zona Sul, os votos de Benedita aparecia mais nos subúrbios e Zona Oeste. Os seus eleitores acreditavam que, dada a sua história de vida, no plano político, Benedita, uma vez eleita, poderia trazer melhorias para os mais pobres: Fechei com Benedita porque é a que está próxima da classe inferior. (eleitor Zona Oeste, classe c/d, 16 de agosto). Eu gosto da Benedita, me simpatizo com ela pela raça, por ter vindo de baixo. (eleitor da Zona Oeste, classe c/d, em 28 de agosto).

Em contrapartida, os eleitores do PT moradores da Zona Sul não conseguiam se identificar com a candidatura Benedita da Silva: Por ideologia, eu me identifico com o PT. Eu gosto do PT, mas não gosto de Benedita. (eleitor Zona Sul, classe b, 15 de setembro)

Na segunda semana de setembro, em busca da unidade partidária, Benedita da Silva passou a enfatizar as críticas a Conde e a Fernando Henrique. O deputado federal Jorge Bittar, que era então coordenador da campanha de Benedita, em sua avaliação, e também na percepção da candidata, reconheceu que o ajuste do discurso político foi fundamental para a adesão dos partidários e da militância. Este momento coincide com a ocasião em que Benedita passa a competir acirradamente com César Maia à vaga para o segundo turno. Além de César Maia (PTB), Luiz Paulo Conde (PFL) , Benedita da Silva (PT) e Leonel Brizola (PDT) o primeiro turno foi disputado ainda por: Gilberto Ramos (PPB), Ronaldo Cezar Coelho (PSDB), Alexandre Cardoso (PSB), Alfredo Sirkis (PV), Domingos Brazão (PT do B), Marcos Coimbra (PRONA), Cyro Garcia (PSTU), Oswaldo Souza (PRP), Alexandre Cobbett 11 (PSDC) e Paulo Sérgio (PCO). O resultado final desta disputa está na Tabela 3 – Resultados Finais, no anexo. Em meio a tantos rompimentos partidários e a atitudes personalistas, chamou a atenção à candidatura de Ronaldo Cezar Coelho. O candidato do PSDB seguiu a orientação da cúpula do seu partido e se empenhou em defender e divulgar o Governo Fernando Henrique em sua campanha. Em meio aos debates de televisão, em que os candidatos Leonel Brizola e Benedita da Silva faziam severas críticas ao Governo Federal, Ronaldo assumia a defesa do Presidente. Tarefa difícil exerceu o candidato, ao defender o presidente no Rio de Janeiro. Naquele momento o presidente era muito mal avaliado na cidade. Para a imprensa e no debate na TV Bandeirantes, instigado por Brizola, Ronaldo Cezar Coelho chegou a justificar sua postura, argumentando que defender Fernando Henrique seria uma questão de caráter e lealdade política. Foi neste contexto político que o cenário eleitoral se formou. Definidas as candidaturas e suas alianças e posicionamentos políticos o eleitorado tomou suas decisões e logo ficou claro o cenário eleitoral da disputa segundo a evolução das intenções de voto. O eleitorado dividiu-se entre a continuidade e a mudança, sendo majoritário pela continuidade. Segundo a opinião do eleitorado a continuidade estava com César e Conde e a mudança com Benedita e Brizola. Com este cenário na cabeça o eleitorado estabeleceu dois blocos de candidatos. De um lado estavam Conde, César, Benedita e Brizola e do outro lado todos os demais candidatos. O primeiro bloco carreou cerca de 80% das intenções de voto ao logo de todo o primeiro turno, e os restantes 20% divididos entre os demais candidatos e os indecisos, como pode ser visto nos Gráficos 1 e 2 — Evolução Das Candidaturas, Rio 2000, em anexo.

A COBERTURA DA MÍDIA IMPRESSA CARIOCA E A CONSOLIDAÇÃO DAS CANDIDATURAS

O cenário eleitoral no Rio começou a constituir-se no início de 2000, no período pré- eleitoral, de março a julho. È neste momento que as candidaturas e alianças se formam e se estabelecem no mês de julho, quando as convenções partidárias se realizam. No período pré-eleitoral os políticos e a mídia começam a mobilizar o eleitorado e as primeiras pesquisas de opinião eleitoral começam a ampliar seu público. Neste momento os políticos, com base nas pesquisas de opinião, começam a medir suas forças estabelecendo os seus patamares de viabilidade eleitoral, ou os respectivos cacifes na formação de alianças, quer políticas, quer simplesmente eleitoreiras. Toda esta movimentação é difundida através da mídia e a maior ou menor amplitude dada a este fato interfere diretamente no maior ou menor envolvimento do eleitorado. È sabido que o envolvimento do eleitorado cresce ao longo do processo eleitoral. Entretanto, a velocidade da formação do cenário eleitoral depende da amplitude e da natureza da cobertura que a mídia dá ao processo eleitoral. Isto se dá desta forma porque no período pré- eleitoral a propaganda política eleitoral ainda está proibida, restando aos políticos e ao eleitorado a 12 difusão que a mídia promove dos acontecimentos. Para os políticos é o momento de aparecer e para o eleitorado este é o momento para começar a formar uma opinião sobre os candidatos e sobre a disputa que se avizinha. A importância da introdução da análise da cobertura da mídia de processos eleitorais reside no fato de que nas sociedades de massa, como a nossa, a mídia assumi o importante papel de meio informativo. É através da mídia que os políticos e os eleitores dialogam entre si. Aqueles se mostrando e difundindo suas idéias e estes dizendo o que querem, suas demandas, e avaliando as ofertas apresentadas. (Manin, 1995; Figueiredo, 2000a). A mídia é portanto uma variável importante na formação dos cenários eleitorais e na formação da vontade eleitoral. O efeito da mídia torna-se maior quando há uma conjugação entre a propaganda política e amplitude e natureza da cobertura que a mídia faz do processo eleitoral. (Ansolabehere e Iyengar, 1994; Dias, 1995). Para a análise da cobertura da mídia na eleição carioca de 2000 tomamos os comportamentos dos jornais cariocas Jornal do Brasil e o Globo, e para neste trabalho destacamos as dimensões visibilidade das candidaturas e suas respectivas valências. (ver, pesquisa Doxa “Eleição 2000)”. A análise da visibilidade das candidaturas e de suas valências nos ajuda a entender a formação do cenário eleitoral.

VISIBILIDADE DAS CANDIDATURAS

A visibilidade está associada à relevância ou saliência que a mídia atribui a determinado assunto ou personalidade no conjunto de fatos que ocorrem diariamente. A eleição é um assunto relevante e sua saliência varia em função do calendário eleitoral. Neste assunto os candidatos ou postulantes e políticos proeminentes são personagens chaves. Suas movimentações e declarações são relevantes porque compõe o cenário político, o processo eleitoral. Os jornais cariocas pesquisados concentraram suas coberturas em quatro candidaturas: Luiz Paulo Conde, César Maia, Benedita da Silva e Leonel Brizola, em um total de 14 candidaturas. A rigor todos ganharam algum espaço, entretanto os quatros “grandes” tiveram tratamento diferenciado. Há uma lógica própria, jornalística, que explica a concentração nesses quatro e alguns picos de cobertura em alguns dos demais candidatos em algum momento da campanha. Identificamos dois critérios que justificam a distribuição da visibilidade das candidaturas: a proporcionalidade e a atualidade. O critério da proporcionalidade tem estreita relação com a posição do candidato na distribuição proporcional deles nas pesquisas de intenção de voto. O critério da atualidade tem a ver com a importância relativa do fato na competição entre os jornais, na concorrência entre eles para atender os leitores, no caso eleitores também. Quando a mídia opera na lógica da proporcionalidade, que é o caso mais comum, cria-se círculo que se auto-alimenta indefinidamente: a mídia dá mais espaço para aqueles que estão na 13 frente na corrida eleitoral porque eles estão na frente, que por sua vez estão na frente porque o público os colocou na frente nas pesquisas, que por sua vez estão na frente nas pesquisas porque eram personagens noticiáveis, e etc. Esta lógica forma e reforça um círculo conservador funcionando como um bloqueio para a entrada de alguém na corrida que não pertença ao círculo dos noticiáveis, quer pela regra da proporcionalidade, quer pela regra da atualidade. O resultado político eleitoral deste processo é a formação do fenômeno da espiral do silêncio, favorecendo eleitoralmente os candidatos que estão na frente. (NOELLE-NEUMAN, 1995). Do ponto de vista analítico é extremamente difícil identificar a origem dessa cadeia de causalidade capaz de explicar quem influência quem neste processo. Na eleição do Rio, desde seu início no período pré-eleitoral, Conde foi beneficiado por esta lógica jornalística. Estando na eleição com dupla entrada, como Prefeito e como candidato, era de se esperar que a sua visibilidade fosse maior. Entretanto, a origem da sua visibilidade variou significativamente entre o período pré-eleitoral e eleitoral e neste entre o primeiro e o segundo turno. No início a condição de prefeito lhe garantia presença na mídia, à qual era acrescida pela condição de candidato. Descontada a condição de prefeito de Conde vemos que a visibilidade dos quatro maiores candidatos seguia as respectivas posições na corrida pela intenção de voto. Este fenômeno foi também observado nas eleições nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Salvador. (ver, pesquisa Doxa “Eleição 2000”). Como pode ser visto na Tabela 2, abaixo.

14

Tabela 1 Distribuição da Visibilidade dos Principais Candidatos Jornal do Brasil e O Globo Rio de Janeiro, 2000

Jornal do Brasil Pré-Eleitoral 1 Turno 2 Turno Conde – Prefeito 20% 11% 6% Conde – Candidato 16 23 47 César Maia 22 22 47 Benedita 18 22 Brizola 23 22 Total 646 1408 460

O Globo Pré-Eleitoral 1 Turno 2 Turno Conde – Prefeito 25% 4% 10% Conde – Candidato 18 27 44 César Maia 16 24 46 Benedita 18 24 Brizola 23 21 Total 621 1478 550

Fonte: Pesquisa “Eleição 2000. Cobertura da Mídia Impressa, Rio de Janeiro”. DOXA – Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública. IUPERJ, http//doxa.iuper.br .

Dentre os quatros maiores candidatos Brizola manteve visibilidade maior do que a sua posição na corrida eleitoral. A razão para este desvio está na intensa disputa política entre Brizola e o Governador Garotinho em função do fato deste não apoiar Brizola mas sim Conde. Este fato tornou-se uma crise permanente durante a campanha rendendo-lhe espaço na mídia, pelo critério de noticiabilidade. Dentre os demais candidatos Ronaldo César Coelho também teve visibilidade maior do que sua intenção de voto. Isto ocorreu porque Ronaldo, sendo do PSDB, apresentava-se como candidato do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Este fato tornou a sua candidatura passível de receber tratamento diferenciado em função do critério de atualidade, na medida em que o governo FHC era um tema no confronto político. Além de Ronaldo o candidato Gilberto Ramos, PPB, ganhou notoriedade durante o primeiro turno mas em razão do seu crescimento na corrida pela intenção de voto. De uma maneira geral observamos que a visibilidade dada aos candidatos seguiu o critério da proporcionalidade com as conseqüências políticas que isso acarreta.

15 VALÊNCIA DAS CANDIDATURAS

A análise da participação da mídia no processo eleitoral se completa com o exame do conteúdo das matérias veiculadas. A análise da visibilidade dos candidatos nos diz quais e porque um ou vários candidatos receberam tratamento diferenciado. A análise da valência nos diz qual sentido o tratamento dado, se neutro, positivo ou negativo. È analisando o efeito conjunto da visibilidade e da valência que podemos perceber o efeito da participação da mídia no processo eleitoral. A qualificação da notícia em neutra, negativa ou positiva é dada pelo conteúdo do seu enquadramento. Uma notícia é neutra se conteúdo restringe-se em reportar acontecimentos sem qualquer conotação. Uma notícia deixa de ser neutra quando o seu enquadramento transmite ao leitor um sentido ou positivo, que favorece o candidato, ou negativo, que desfavorece o candidato. Cabe ressaltar que o simples relato, por mais fiel que seja aos acontecimentos, pode ser negativo ou positivo em função do próprio conteúdo do acontecimento. Portanto, um enquadramento fiel não é para garantir a neutralidade do noticiário. A razão disto repousa no fato de que a própria decisão de noticiar notícias positivas ou negativas por si só já representa um tratamento diferenciado, dado que sobre um mesmo personagem sempre há notícias neutras, boas e ruins que podem ser escolhidas. Como vemos na Tabela 4, em anexo, os dois jornais cariocas estudados tiveram comportamentos semelhantes. Em todo o período o volume de notícias neutras sempre foi maior, reduzindo-se apenas no segundo turno. Nos períodos pré-eleitoral e primeiro turno Brizola e Benedita da Silva tiveram proporcionalmente mais notícias negativas do que positivas. Os tratamentos recebidos por Conde e César Maia, em ambos jornais, foram em geral mais positivos do que negativos, nos três momentos eleitorais considerados. O exame da visibilidade e da valência das candidaturas no Rio deixa clara a opção dos jornais estudados. Distribuíram os seus espaços pelo critério da proporcionalidade e conjugaram este com enquadramentos favorecendo Conde e César Maia. Esta análise ainda é preliminar não nos permitindo inferir qual o efeito da cobertura destes dois jornais no resultado final de cada uma das candidaturas. Entretanto, podemos dizer que a cobertura realizada reflete o círculo vicioso indicado acima contribuindo para o cenário eleitoral que acabou prevalecendo: uma disputa entre Conde e César Maia pelo discurso da eficiência, tendo como adversários políticos Benedita da Silva e Brizola. Diante desta disputa o eleitorado carioca se posicionou e a análise do seu comportamento nos mostra as razões da votação final que cada candidato acabou obtendo, como veremos a seguir. (ver ainda, em anexo, a Tabela 3 com o resultado oficial da eleição).

16

2. O NOVO CICLO POLÍTICO NO RIO E AS SUAS BASES SOCIAIS E POLÍTICAS.

A cidade do Rio de Janeiro tem uma longa história eleitoral marcada por claras divisões sociais e políticas. Dos anos 50 até os anos 70 a distribuição do voto carioca dividia-se entre a esquerda trabalhista, majoritariamente concentrado nos subúrbios da Leopoldina e da Central do Brasil e na Zona Oeste, liderada pelo velho PTB, e uma direita liberal e conservadora, concentrada nas Zonas Sul e Norte, liderada pela antiga UDN. (Couto, 1966; Guanabara, 1999; Pitaluga, 1980; Soares, 1965). Após o golpe de 64 e a cassação das lideranças de esquerda (Figueiredo, 1978) a política carioca ficou nas mãos do populismo de Chagas Freitas, herdeiro dos votos trabalhista, que dominou o MDB, até a democratização em 1982. (Diniz, 1982). Com a vitória de Leonel Brizola para o governo do Estado do Rio, em 1982, a política carioca volta a ser dividida novamente entre a tradição trabalhista, agora sob a liderança do PDT, dominando as mesmas áreas da cidade do período pré-golpe, e a tradição liberal conservadora agora sob a liderança do PMDB e do PDS, herdando as áreas dominadas pela antiga UDN, as Zonas Sul e Norte. (Figueiredo, Souza e Lima Jr, 1987; Soares e Silva, 1985). De 1982 até 1992 o trabalhismo brizolista foi um movimento de esquerda que dominou eleitoralmente a cidade, vencendo todas as eleições, tendo como base eleitoral às mesmas bases eleitorais do antigo trabalhismo do PTB e consegui estabelecer um novo discurso. (Sento-Sé, 1999). As áreas mais nobres da cidade, as Zonas Sul e Norte e agora acrescida da Barra da Tijuca, manteve-se mais conservadora concentrando seu voto no PMDB, no PDS/PPB e no PFL. (Reis, 1996; Figueiredo, 1996) Foram nas eleições de 1992 e de 1994 que a clássica divisão eleitoral do Rio se subdividiu, abrindo caminho para novas lideranças e com elas vieram novos discursos. Pela esquerda surge o PT, cujos votos vinham inicialmente da Zona Sul e que hoje se espalham por toda a cidade, especialmente sob a liderança de Benedita da Silva. Pelo centro surge César Maia, eleito prefeito em 1992, pelo PMDB, vencendo Benedita da Silva no segundo turno, com apoio não formal do prefeito (então PDT). Esta foi a primeira derrota do trabalhismo brizolista, da qual não se recuperou mais até hoje. Com a ascensão de César Maia e de Benedita da Silva em 1992 inicia-se um novo ciclo político eleitoral na cidade, e com eles novos discursos. Benedita da Silva com o PT, coloca na agenda o discurso de esquerda clássico, pela justiça social e classista, incorporando a condição de “mulher negra favelada”, como ela própria se apresentava, na campanha de 1992. César Maia ganha a eleição com o discurso da eficiência, desenvolvimentista, e pela ordem urbana: reconstrução da cidade e segurança pública (Dias, 1995). Ambos discursos são universalistas, sem endereço, portanto capazes de atingir todas as áreas da cidade. Hoje, a cidade do Rio de Janeiro continua 17 sendo, socialmente, uma “cidade partida”, entretanto a distribuição das intenções de voto está dispersa sem ter mais a clássica divisão Zona Sul e Norte versus os Subúrbios e Zona Oeste. O novo ciclo político eleitoral da cidade do Rio de Janeiro consolida-se na primeira gestão do prefeito César Maia (1992-1996). Seu desempenho, sem dúvida, foi facilitado pela gestão do prefeito Marcello Alencar, o qual, a rigor foi o iniciador dos programas de recuperação urbana da cidade, tanto na Zona Sul, quanto na Zona Oeste. César Maia implanta seu programa de recuperação da cidade, através de programas como o Rio-Cidade, Favela Bairro e abertura da Linha Amarela, com intervenções urbanísticas nas várias regiões da cidade. Nas áreas sociais e de segurança César Maia dá continuidade na recuperação dos hospitais municipais, iniciadas por Marcello Alencar, e implanta, na segurança, a Guarda Municipal. Sua gestão termina bem avaliada. Na eleição de 1996 César Maia lança como seu candidato Luiz Paulo Conde, seu Secretário de Urbanismo, que de ilustre desconhecido vai ao segundo turno e vence as eleições, derrotando Sergio Cabral Filho (então PSDB). A vitória de Conde em 1996 representou, mais uma vez, a vitória da eficiência e da ordem, tendo como estratégia à continuidade e a municipalização do debate político. (Figueiredo et. alli., 2000). Na eleição de 2000 o debate foi essencialmente pautado pelo discurso da eficiência, municipalizado, e centrado em torno da gestão Conde, em disputa, como já assinalamos anteriormente e veremos com detalhe a seguir. Tomando-se os principais indicadores sociais e políticos como preditores do voto vemos que, na eleição de 2000 no Rio de Janeiro, o principal preditor do voto foi a avaliação da Administração Conde, seguido, pela ordem, pelos indicadores social Educação, Renda Familiar e Religião seguidos pelo indicador político Preferência Partidária dos cariocas, o que pode ser visto na Tabela 1, a seguir.

18

Tabela 2 Intenção de Voto Estimulado e Indicadores Sociais e Políticos Rio de Janeiro, Eleição 2000

30/31 21/22 19 27 Agosto Setembro Outubro Outubro Sexo 28,152** 18,328* 10,062* 1,250 Idade 49,647** 39,491 24,766* 14,550 Educação 67,532** 53,213** 30,561** 35,306** Religião 45,116** 45,761** 10,877 32,156** Etnia 34,789* 36,325* SI SI Moradia: Asfalto 35,256** 16,004* SI SI ou Favela Renda Familiar 56,480** 47,441* 15,355 46,321** Ocupação 46,479 47,714 14,135 15,452 Avaliação da Administração 160,096** 193,993** 187,537** 290,422** Conde Preferência por 109,914** 145,382** 33,311** 27,956** Partido Zona da Cidade 51,031** 18,257 38,528** 12,901 Voto 1 Turno SI SI 409,872** 618,401**

Fonte: Pesquisas DataUFF, Banco de Pesquisas de Opinião, DOXA / IUPERJ. Números são valores do 2 , sendo (**) para p < 1% e (*) para [1%  p  5%]. SI, pergunta não foi realizada.

Os indicadores Educação e Renda Familiar, como é sabido, mantém entre si alta correlação, portanto a descrição de um engloba a da outro e podem ser tomados como indicadores de classe social. Ao longo de toda a campanha a sociedade carioca dividiu-se entre Conde e os demais, ficando as classes C e D com Conde e as classes B e A com César e Benedita. Detalhando, a curva de intenção de voto por classe social decresce da classe E para a classe A pró Conde e inverti-se em relação a César Maia. A intenção de voto para Benedita da Silva é bi-modal, concentrando-se nas classes D e B. O voto para Brizola concentrou-se na classe D. Dentre os demais candidatos, os de centro-esquerda tiveram seus votos nas classes altas e os de centro-direita nas classes baixas. O indicador social Religião tem uma relação direta com o discurso dos candidatos. Os votos de Conde vieram indistintamente entre católicos, evangélicos e ateus. César Maia teve o apoio de católicos e de eleitores com outras religiões que não evangélicas. Benedita da Silva teve apoio concentrado entre os evangélicos e ateus e Brizola entre católicos e ateus. Os indicadores Sexo, Idade, Local de Moradia e etnia tiveram se comportamento de preditores do voto diluídos ao longo da campanha.

19 O preditor Zona da Cidade apresentou comportamento flutuante e ademais perde sua força preditiva ao longo da campanha. Os preditores políticos Avaliação de Conde, Preferência Partidária e Voto no primeiro Turno são fortes e consistentes ao longo da campanha. A preferência partidária, embora seja um preditor do voto forte e consistente, perde drasticamente parte do seu efeito na passagem do primeiro para o sendo turno. Ao longo do primeiro turno a distribuição da preferência partidária entre os cariocas manteve estreita relação com a imagem e o discurso dos candidatos. Conde e César Maia tiveram apoio concentrado nos eleitores simpáticos aos partidos de Centro e de Direita e entre os Sem Preferência. Conde conseguiu ainda obter apoios entre simpáticos ao PDT e ao PT, da ordem de 28%. César Maia conseguiu obter apoio da ordem de 10% entre estes eleitores simpáticos a estes dois partidos. Benedita da Silva e Brizola, como era de se esperar, eram os candidatos preferidos entre os simpáticos aos seus respectivos partidos. No segundo turno os eleitores simpáticos ao PDT e ao PT fizeram a opção por César Maia. Esta opção foi mais clara entre os pedetistas do que entre os petistas: na véspera da eleição do segundo turno 55% dos eleitores simpáticos ao PDT optaram por César Maia, enquanto que 47% dos petistas declaravam intenção de votar em César Maia, 27% em Conde e 26% diziam-se indecisos ou dispostos a votar Branco ou Nulo. (pesquisa Datauff, 27 de outubro). Os eleitores sem preferências partidárias distribuíram-se entre os candidatos na mesma ordem da preferência eleitoral geral. Finalmente, o principal preditor de voto desta campanha, a Avaliação da Administração Conde, distribuiu-se, em ambos os turnos, inteiramente de acordo com a agenda da eleição: os eleitores que avaliavam de Regular a Ótima a gestão Conde votaram nele e os que avaliavam Conde de Regular a Péssimo votam nos candidatos de oposição, dentre estes majoritariamente em César Maia. O comportamento do eleitor carioca nesta eleição foi inteiramente condizente com a agenda e o discurso político desse novo ciclo político eleitoral que vive o Rio de Janeiro. De um lado o discurso da eficiência administrativa e da ordem e de outro lado o discurso da justiça social. Entretanto, estes discursos estavam consubstanciados e moldados pela agenda da campanha, imposta, principalmente, pelo confronto entre César Maia e Conde, na disputa entre o “criador” e a “criatura”, como veremos com detalhe a seguir.

20

3. ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS DOS CANDIDATOS

A estratégia de municipalização predominou nos discursos dos candidatos para prefeitura do Rio de Janeiro. Embora os candidatos da esquerda tenham apostado, em determinados momentos, nos ataques ao governo federal, o discurso foi eminentemente pautado pelos temas locais. Podemos dizer que o discurso sobre a eficiência da gestão municipal de Conde centralizou o debate, dificultando as tentativas de federalização da campanha. Dadas as rupturas e alianças partidárias ocorridas na disputa o debate ideológico também ficou enfraquecido. Vale ressaltar que embora a estratégia da federalização não tenha predominado a mesma teve importante função junto à candidatura do PT. Os ataques a Fernando Henrique serviram para unir a militância do PT e mobilizá-la, o que em última instância deu força à candidatura de Benedita da Silva. Os ataques referiam-se à política econômica adotada pelo Presidente, como já ressaltamos anteriormente. Desemprego, injusta distribuição de renda e miséria eram tratados como conseqüências das ações do Governo Federal. Embora os eleitores concordassem com os argumentos, não priorizaram os mesmos no momento de decidir o voto. No primeiro turno da eleição, os candidatos apresentaram distintas avaliações sobre a administração de Conde. Todas as versões estavam ancoradas em percepções já encontradas no eleitorado no momento pré-eleitoral. As campanhas praticamente cumpriram a função de garantir seus seguidores sem terem conseguido ir muito além na busca de novos eleitores (Veiga, 1996).

A GESTÃO CONDE: O DISCURSO CONSTRUTIVO DA SITUAÇÃO VERSUS O DISCURSO DESTRUTIVO DA

OPOSIÇÃO.

A estratégia de Conde era exortar os projetos realizados em sua gestão. Conde apresentava a sua administração como estando muito voltada e empenhada em resolver os problemas dos moradores da cidade. Demonstrava ser um prefeito competente e atento às reivindicações dos cariocas. A sua determinação havia resultado em uma gestão de sucesso que precisava de continuidade. A idéia que permeava todo o discurso do candidato prefeito era que o mundo de Conde estava muito bom. A gestão de Conde aparecia como aquela que havia urbanizado a cidade, resolvido os problemas e deixado um rastro de alegria por onde passara. Assim como o Super-Conde, personagem de desenho animado utilizado por Conde na campanha de 1996. (Figueiredo et. alli., 2000b). A imagem de gestor competente era apresentada pelos comerciais em meio a um clima festivo, típico de inauguração de obras, com direito a muitos sorrisos dos moradores. A retórica era marcadamente de sedução na medida em que se pretendia prender o telespectador através de apelos 21 emocionais. Os depoimentos de moradores apresentados apontavam para a satisfação, a alegria da população que havia visto o seu bairro sair de uma situação pior para melhor. A idéia predominante era que o Rio estava melhorando e era preciso continuar. Conde aproveitando a boa avaliação que tinha seguiu fielmente o roteiro de uma campanha situacionista vitoriosa. (Figueiredo et. alli., 2000). A satisfação desta parcela do eleitorado fica clara nos grupos de discussão realizados: Pelo menos lá onde eu moro (Madureira), o Conde fez. Está tudo bonitinho. Lá não tinha sinalização nenhuma, agora já tem, botaram quebra-molas, está tudo direitinho, a gente se orienta para onde vai. Antes não tinha nada, não tinha placa nenhuma, nem de velocidade, não tinha quebra-molas, agora já tem. (eleitor do subúrbio de Madureira, classe c/d, 28 de agosto,DataUff)

A manutenção da alta taxa de aprovação da gestão Conde serviu como um grande obstáculo para o sucesso dos partidos de oposição no Rio de Janeiro. Conde enfrentou ataques distintos. Havia os ataques de César Maia e os ataques dos demais adversários. O discurso de César Maia não visava destruir a gestão de Conde porque esta era muito identificada como sendo uma continuidade da sua própria administração. Desta forma, buscava valer-se também da boa avaliação do eleitor sobre a gestão Conde. De fato, entre os que avaliavam de maneira positiva a gestão Conde estavam os eleitores de Conde e os eleitores de César. O discurso de César visava mostrar que a sua gestão fora ainda melhor, mais eficiente que a administração Conde. Para isso, César utilizava-se de duas estratégias. A primeira consistia em tomar para si a paternidade das obras que havia iniciado em seu governo e que tiveram continuidade na gestão Conde. Eram basicamente os projetos Favela-bairro, Linha Amarela e a criação da Guarda Municipal. A segunda estratégia consistia em dizer que era um gestor mais competente que Conde. Assim como Conde, César adotava uma postura de mandatário buscando exortar os projetos iniciados em sua gestão. Os eleitores de César Maia aceitavam o discurso do candidato e não tinham dúvidas sobre a paternidade dos projetos. César Maia fora de fato o mentor e Conde apenas deu continuidade. César foi melhor que Conde: Foi ele que começou tudo isso. Antes de o Conde entrar ele começou a Linha Amarela, estava fazendo e modificando as escolas.O Favela-bairro foi por parte dele também. Isso o Conde está pegando tudo para ele. A guarda municipal também foi o César que criou, que gerou mais emprego.(Subúrbio Central e Leopoldina, classe c/d, 21 de agosto, Datauff)

Meu irmão estuda em colégio público e na época de César Maia não era assim como hoje – as escolas tinham professoras, tinha aula. Hoje ele chega a passar um mês sem aula. (Zona Oeste, classe c/d, 21 de agosto, Datauff).

22 César adotou também a retórica de sedução. César aparecia em visitas a bairros, sempre muito próximo do eleitor. Subia morros, dava atenção e recebia carinho dos moradores. Os depoimentos de moradores apresentados apontavam para a satisfação e a alegria da população com o ex-prefeito. A idéia predominante era que César fora um prefeito mais competente e mais próximo da população do que Conde. A oposição dos demais adversários era diferente. Ela visava desconstruir o estilo César e Conde de administrar. Os candidatos propunham renovação, em seus programas de governo priorizavam os projetos voltados para a área social e deixavam para segundo plano as obras de infraestrutura. Quatro candidatos investiram neste discurso, encontrando eco no eleitorado: Eles , César Maia e Conde, isso aí para mim é tudo repetido, tem que inovar. (Subúrbios Central e Leopoldina, classe c/d, 18 de agosto, Datauff)

O que ele fez? Maquiou a cidade, embelezou. Ninguém quer mais obras, quer ver o social, escola, educação , alimentação, saúde, tem que ver isso. (Subúrbios Central e Leopoldina, classe c/d, 18 de agosto, Datauff)

Alexandre Cardoso, Ronaldo Cezar Coelho e Benedita da Silva dividiram o discurso da critica direta à gestão Conde, empenhados na destruição da imagem da administração Conde. A estratégia dos três candidatos de oposição consistiu em mostrar uma cidade dividida, sendo uma parte privilegiada e outra abandonada no que se refere à distribuição dos serviços públicos, especialmente no atendimento de demandas sociais. Estratégia muito afinada com a imagem que o carioca possui da sua cidade. Enquanto a propaganda de Conde mostrava praças restauradas, crianças alegres brincando e moradores dos Favela-bairros felizes, Alexandre Cardoso e Benedita mostravam brinquedos quebrados, praças mal cuidadas e abandonadas, crianças na rua sem qualquer diversão e não urbanizadas ou ainda favelas que só foram atendidas no seu limite com o asfalto. Ronaldo Cezar Coelho centrou seu discurso na falta ou distribuição injusta na qualidade do atendimento público em áreas sensíveis como emprego, saúde, educação e atendimento da criança e jovens carentes. Este discurso de oposição mostrava o Rio como uma cidade partida e injusta, como já havia sido definida por Zuenir Ventura. Montava assim um cenário caracterizado pela injustiça social e despertava ressentimento entre os eleitores:

Eu observei que o Conde não mostrou colégios, hospitais e pobreza. Só mostrou o que está fazendo para embelezar o Rio para quem vem de fora. (Zona Oeste, classe c/d, 21 de agosto, Datauff)

23 O Conde beneficia a Zona Sul e só vai até a Barra Ele não chega a Realengo. (Zona Oeste, classe c/d, 21 de agosto, Datauff)

Ele (Conde) enfeita sempre os mesmos lugares. Mas e Bangu? Em Deodoro, foi preciso morrer muita gente para que ele mandasse construir um viaduto.(Zona Oeste, classe c/d, 25 de agosto, Datauff)

A Taquara ficou bonita. Fizeram e refizeram aquela obra. Mas parou no Taquara. E o lado de lá, o resto da Zona Oeste. Eu moro na Gardênia Azul, em Jacarepaguá, e ele não chegou lá. (Zona Oeste, classe c/d, 25 de agosto, Datauff)

Contra estes ataques Conde apontava para a realização do programa Favela-Bairro como uma prova de que o atual prefeito preocupava-se sim com as questões sociais. O projeto Favela- bairro aparece como um verdadeiro escudo às críticas referentes à falta de prioridade na área social e à falta de investimentos nos subúrbios. Contudo, a contrapropaganda e os eleitores insatisfeitos insistiam. Argumentavam que Conde teria privilegiado a realização de obras na Zona Sul da cidade e que o projeto Favela-bairro teria atendido a um número reduzido de comunidades carentes. A partir da segunda semana de setembro os ataques a Conde ganharam prioridade no discurso de Benedita da Silva. A candidata do PT criou um quadro em seu programa de televisão que mostrava o que “Conde esconde”. Na mesma linha de Alexandre Cardoso, a candidata visitava regiões da Zona Oeste carente de serviços públicos e mostrava a pobreza e o abandono das famílias. Nesta altura da disputa, a Zona Oeste era o alvo de todos os candidatos. A Zona Oeste possui 20% do eleitorado carioca e recebe o pior atendimento público. Coincide com este momento o crescimento de Benedita na região: Eu gostei da Benedita porque ela mostrou a realidade das favelas. As pessoas dizem que o Conde é o homem das favelas e Benedita mostrou que ele não fez nada.(Subúrbio Marechal Hermes, classe c/d, 1 de setembro, Datauff)

Ao apresentar favelas em péssimas condições, Benedita desconstrói a imagem de Conde e paralelamente reforça a sua própria imagem de candidata dos pobres. Brizola também fez diversos ataques a Conde. Dizia que fazer pracinhas aqui e outra ali, pintar pedaços de rua ou colocar um asfalto não acabaria com a violência (O Globo, 12 de setembro) . Em meados de setembro, Brizola começa a veicular em seu programa de televisão algumas promessas de Conde nas eleições municipais de 1996 a fim de desmascarar o candidato.As acusações de Brizola extrapolavam as críticas à administração e focavam também o candidato 24 prefeito. Brizola atacava Conde de traidor, assim como fazia com Garotinho.(conferir, o globo setembro): Ele mostrou que Conde prometeu e não fez.(Subúrbio Marechal Hermes, classe c/d, 1 de setembro, Datauff)

Ronaldo Cezar Coelho também atacava a gestão Conde, classificando a mesma como incompetente e má intencionada. Incompetente porque o prefeito apolítico, como Conde gostava de se apresentar, não soubera administrar e negociar a dívida da cidade com a União. A dívida que Ronaldo se referia era de R$ 4,1 bilhões contraídos pela Prefeitura, uma das grandes polêmicas da campanha. O acordo de renegociação da dívida, assinado por Conde, previa o pagamento da dívida nos próximos 30 anos, a juros de 6% ao ano. Para obter essa condição, a Prefeitura havia se comprometido com o Governo Federal a quitar 20% do total da dívida renegociada até março de 2001. O problema era que não havia qualquer previsão orçamentária naquela ocasião para este pagamento. Ronaldo bateu enfaticamente neste ponto no primeiro debate entre os candidatos, na TV Bandeirantes. Entre os eleitores, no entanto, a reação foi adversa. Em um grupo de discussão formado por eleitores do subúrbio a questão não chegou a despertar preocupação na medida em que não considerou um problema o município deficitário. O status de devedor é totalmente naturalizado pelos integrantes do grupo. Dívidas sempre existiram e sempre existirão, assim como também são sempre solucionáveis: Isso é normal para o povo. O Brasil deve, todo mundo deve. (Subúrbio, classe c/d, 23 de agosto, Datauff)

Acho que qualquer pessoa que entrar lá vai tentar resolver esta dívida. . (Subúrbio, classe c/d, 23 de agosto, Datauff)

Ronaldo ainda atacava a administração Conde e seu aspecto apolítico ao denunciar o caso apart-hotéis. No jornal O Globo, em 2 de setembro, denunciou que Conde de fato não era um político, mas um homem do mercado financeiro. A acusação em específico se referia à aprovação da lei complementar que voltava a permitir a construção de apart-hotéis com área mínima de 30 m2. Desde 1984, estava proibida a construção de apart-hotéis na cidade. Ronaldo chamava a atenção para o fato de a lei ter sido aprovada pela Câmara de Vereadores e sancionada pelo Prefeito a partir de propinas. Este discurso destrutivo teve resultado entre os moradores da Zona Sul da cidade que se preocupavam com uma copacabanização de toda a Zona Sul, repercutindo diretamente na qualidade de vida desses bairros. Conde contra argumentava dizendo que se tratar de um discurso elitista, que visava não dar a oportunidade de moradores da Zona Norte virem a morar na Zona Sul. 25 A campanha do primeiro turno teve como centro a gestão Conde. A partir da mesma os candidatos se posicionaram. A eficácia e a ineficácia da administração de então pautou os discursos no primeiro turno. O resultado do primeiro turno aponta para a aprovação da gestão Conde e César, tendo sido os dois escolhidos para o segundo turno. O discurso da oposição a Conde, como já ressaltamos, não rendeu votos diretos a esses candidatos, mas foi suficiente para segurar a trajetória de vitória de Conde no primeiro turno. Na segunda etapa, os políticos buscaram clarear as diferenças entre um e outro de modo a facilitar a tomada de decisão do voto. Para atingirem seus objetivos, os candidatos não se ativeram em apresentar diferenças programáticas, políticas ou administrativas. Pelo contrário, centraram os discursos apontando defeitos pessoais e fazendo acusações. César Maia pautou mais o debate e colocou o seu adversário na defensiva. Conde que ao longo de todo o primeiro turno havia investido em uma imagem de político pacífico, acima da briga, se viu na necessidade de reagir, demonstrando uma agressividade que contradizia o Conde do primeiro turno. Analisar o discurso criador versus a criatura que foi determinante no segundo turno é fazer um estudo das imagens criadas pelos candidatos.

O CRIADOR VERSUS A CRIATURA, 2 TURNO.

César enfatizava a sua imagem de criador da criatura Conde. Certa vez, disse que seu ectoplasma podia ser encontrado nos projetos de Conde (O Globo, 17 de agosto de 2000). Assim insinuava sobre a falta de personalidade do adversário. Em contra partida, César Maia apresentava- se como um político forte e autêntico. Mostrava-se seguro, determinado, ousado, um verdadeiro líder para assumir a prefeitura do Rio de Janeiro. Em sua campanha, assumia a autoria dos projetos iniciados em sua gestão e que gozavam de grande aceitação pública: Favela-bairro, Rio-cidade, Guarda Municipal e Linha Amarela. A estratégia discursiva de César colocava Luiz Paulo Conde na defensiva. O candidato então do PFL buscava se livrar do estigma de criatura de César, para isso, se apresentava como um administrador competente e preparado, um gestor de sucesso e de iniciativa. A estratégia era ressaltar a identidade do político. Depois de buscar reafirmar sua competência e poder de iniciativa, de modo a colocá-lo lado a lado com César Maia, a campanha de Conde buscava diferencia-lo de seu antecessor, superando-o em qualidades. Assim, o discurso de Conde visava afastá-lo do perfil de um político profissional, argumentando que o mesmo não gostava das disputas e brigas típicas do mundo da política e que ele não possuía qualquer ambição política. Dizia sempre que não pensava em ser governador, queria apenas ser prefeito do Rio, “por amor ao Rio”. Diante do debate travado entre César e Conde, o eleitorado adotou posturas diversas. Os eleitores de Conde viam em seu candidato um homem simples, com coragem e competência porque dera continuidade aos trabalhos iniciados na gestão anterior. 26 Estes eleitores ao justificarem sua preferência utilizavam algumas percepções já vastamente difundidas na sociedade, elevando-as à condição de premissa. “Político não faz nada” e Conde fez. “Todo político interrompe o trabalho da gestão anterior ao assumir o cargo, gerando grande desperdício do dinheiro público” e Conde deu continuidade. Desta forma, concluíam que Conde não era um político profissional, mas sim um técnico, um prefeito posicionado acima das divergências políticas, estando o seu interesse voltado exclusivamente para a satisfação da população. E seus eleitores reproduziam assim o discurso do candidato: Foi o único que não comprou briga com ninguém e não fala mal de ninguém. (eleitor da Zona Oeste, classe c/d, 8 de setembro)

Se os eleitores de Conde aprovavam a atitude do prefeito de se negar a participar da “sujeira” da política, lhe dando inclusive maior credibilidade, os eleitores adversários, ainda que concordassem com o caráter negativo vinculado à política, acreditavam que um prefeito não deveria negar a prática da política. Ao contrário, ele deveria participar do jogo político de maneira estratégica para angariar recursos em benefício da cidade. Sendo apolítico, Conde estaria ainda sujeito às manobras dos políticos, tal avaliação despertava insegurança entre os eleitores: O Conde, apesar de ter continuado o que o César Maia começou, não me passa essa coisa de fazer por ele. Acho que ele caminha porque os outros dão um suporte para ele. Quando ele dá entrevista no jornal, não me passa certeza de que as decisões, idéias e atitudes partem dele. (eleitor do subúrbio, classe c/d, em 28 de agosto, Datauff).

Para os eleitores de César, o fato de Conde ter dado continuidade ao trabalho iniciado na sua gestão, “sem impor uma maneira pessoal de administrar”, significava que o prefeito possuía pouca segurança e limitada capacidade. Acreditavam ainda que lhe faltavam experiência e liderança administrativa. Esta facção adotava o discurso de César. Para estes, César é um político empreendedor, determinado e ousado. Esta imagem de César Maia já estava consolidada no eleitorado: avaliando as suas qualidades, 57% dos eleitores acreditam que César Maia tenha dinamismo, 56% acreditam que ele tenha liderança e poder de decisão, 57% acreditam que ele tenha garra. (pesquisa VoxPopuli, março, 2000). Para eles, César Maia deu nova vida à cidade com a sua gestão. Trata-se de uma pessoa realizadora. Neste contexto, sua gestão era vista como tendo alavancado a prefeitura em termos de recursos econômicos e de qualidade de vida para os cidadãos, propiciando as condições para a eleição de Conde, por quem estaria sendo traído: Eu não tenho candidato. Se tivesse que apoiar, apoiava César Maia. Ele lançou o Conde e fez coisas boas. Não sei o que houve, mas eles brigaram. (Eleitor do subúrbio de Madureira, classe c/d, em 06 de setembro)

27 Prefiro o César ao Conde porque alguma coisa não bateu muito bem. O Conde não retribuiu o que o César fez por ele. (eleitor da Zona Oeste, classe c/d, 28 de agosto)

O voto em César Maia não era um veto aos projetos desenvolvidos por Conde – que não se diferenciavam daqueles desenvolvidos na gestão anterior – ele possuía um caráter personalista: perguntados aos não eleitores de Conde estes apontavam os seguintes principais motivos da rejeição: 20% dos eleitores entrevistados argumentavam que votavam em César porque o consideravam melhor que Conde e 31,9% dos participantes justificavam o não voto em Conde devido às suas características pessoais. Apenas 13,2% creditavam a uma administração ruim a rejeição a Conde. (pesquisa DataUff, 28 de outubro, JB). As pesquisas de opinião - qualitativas e quantitativas - apontavam para a relevância do caráter personalista na decisão do voto, particularmente, no segundo turno. No segundo turno, César Maia e Luiz Paulo Conde buscavam conservar os votos adquiridos no primeiro turno e angariar novas adesões junto aos eleitores indecisos e adversários e para isso afinaram ainda mais os seus discursos. Entre os eleitores indecisos, o desafio estava na mobilização dos mesmos para as candidaturas de Conde e de César. Para os eleitores indecisos pertencentes às classes sociais mais baixas, tais políticos pareciam distantes dos graves problemas sociais como criminalidade, desemprego e miséria.Em suas gestões, teriam adotado apenas medidas paliativas. Projetos como o Favela-bairro não haviam sido suficientes para resolver os problemas cotidianos: Eu moro numa favela asfaltada. É polícia armada, bandido armado, criança com granada. A escola de lá é boa, mas têm poucas vagas, além de ser na linha de tiro de polícia e traficantes.. (Classe C/D, outubro de 2000, Retrato).

Os eleitores que adotavam tal argumento eram aqueles que haviam votado em Benedita e em Brizola e que se mostravam descrentes em relação a uma futura gestão seja de Conde ou de César. Para estes eleitores, César e Conde não seriam capazes de promover as mudanças necessárias na política: Eu levava muita fé na parte de política, no Brizola. Eu votei nele no primeiro turno. Desses dois, nenhum me agrada, para mim o Favela Bairro é só enganação.(classe c/d, 20 de outubro, Retrato)

A gente vive a falta de emprego, a gente não consegue mais se manter. Eles não estão cuidando dos nossos verdadeiros problemas.(classe c/d, 20 de outubro, Retrato)

O discurso da continuidade versus renovação, que havia sido central no primeiro turno, perdeu relevância no segundo turno. Para os eleitores, para o bem ou para o mal, César e Conde 28 dariam continuidade às gestões passadas. Diante desta certeza a dicotomia criador e criatura monopolizou a estratégia discursiva dos dois candidatos. Restava a cada um se apresentar melhor que o outro. Assim, diante das semelhanças dos candidatos no que se refere às realizações, os objetivos e os estilos de governo, os discursos de campanha no segundo turno se voltaram ainda mais para os aspectos pessoais: Eles são extremamente parecidos, é difícil decidir. E eles agora estão brigando o tempo todo. Quero ver quem tem mais credibilidade ou menos.(A/B, outubro, Retrato)

A credibilidade identificada nos candidatos ganhou grande importância na formação da preferência. Os eleitores buscavam identificar nos candidatos elementos que assegurassem a credibilidade, como confiança e seriedade. A fim de desconstruir a imagem do candidato adversário, César Maia investiu em uma estratégia ofensiva contra Conde. Criticava a idoneidade administrativa do candidato adversário assim como a sua divulgada lisura na política. Foi possível perceber a importância dos ataques na avaliação da imagem dos candidatos diante de um cenário marcado por muitas incertezas: Eu assisti ao debate. A gente vê muito o César Maia atacando o Conde. Fica difícil saber quem está na diretriz certa...(classe c/d, 20 de outubro, Retrato)

O meu candidato não ganhou, era a Benedita. Eu não vou anular. Até segunda eu ia votar no César Maia, porque ele fez boas coisas no meu bairro. Mas no debate o Conde foi lá e matou ele.(classe c/d, outubro, Retrato)

A postura ofensiva de César Maia em muitos momentos atingiu o seu objetivo e em outros chegava a um resultado adverso. No entanto, cabe chamar a atenção para o seu efeito destrutivo acumulado sobre a imagem de Conde. Diante dos ataques de César, Conde sentiu grande dificuldade em sustentar a sua postura apolítica e de candidato acima da briga, que sustentou ao longo do primeiro turno. Diante do discurso de seu adversário, Conde se viu coagido a reagir. Foi neste momento que Conde começou a perder a liderança eleitoral. O comportamento agressivo do então prefeito ao responder às críticas e às acusações do adversário se opôs à imagem de administrador sereno, acima das desavenças políticas e preocupado exclusivamente com o bem estar do Rio. Ao se ver obrigado a adotar uma postura mais agressiva diante de César, Conde se rebaixava à categoria dos políticos comuns, que tanto negava. A credibilidade do então prefeito foi afetada na medida em que a confiança em Conde estava vinculada à idéia de um administrador (não político) mais estável em suas atitudes e com um grande envolvimento pela cidade. 29 A perda do perfil apolítico de Conde e o descredenciamento de candidato isento e distante das questões políticas trouxeram conseqüências para a análise do eleitor em relação ao candidato: O Conde sempre me passou a idéia de ser mais apaixonado pela cidade do Rio, de ser mais distante da política, mas agora mudou... (grupo A/B, outubro, Retrato.)

O eleitor passou a reavaliar o quadro da disputa de maneira mais abrangente. Se até o momento, a ligação de Conde a Garotinho era vista como um ponto positivo na medida em que apontava para a possibilidade de maior investimentos no município, a partir daquele momento, começa a ganhar relevância a sensação de que a aliança refere-se a uma conjugação de interesses pessoais e políticos: Ele está entrando na política. Fez uma aliança com Garotinho e Sérgio Cabral, a gente já sabe o que eles vão querer em troca: cargos e mais poder. (grupo A/B, outubro, Retrato)

Por outro lado, César Maia não teve a sua imagem denegrida por suas ofensivas. O debate entre os dois candidatos, a fragilidade identificada no candidato adversário e a desenvoltura de César Maia contribuíram para reforçar a imagem de político seguro e determinado do candidato. A confiança em César Maia se referia à imagem de um administrador mais arrojado, empreendedor e de um político mais firme e hábil em suas colocações, correspondendo à postura de um líder. Desta forma, César Maia pautou e coordenou todo o debate no segundo turno. Se a reação de Conde levou o mesmo a um processo de desconstrução de sua própria imagem, deixando o eleitor em dúvidas sobre a sua real identidade e, em última instância, criando um clima muito negativo na campanha do PFL, o discurso agressivo de César Maia serviu para consolidar a imagem de político arrojado e de líder.

30

4. CONCLUSÃO

A campanha eleitoral de 2000 no Rio de Janeiro serviu para consolidar um ciclo político eleitoral. O eleitorado carioca mostrou-se mais favorável ao discurso da eficiência e do desenvolvimentismo urbano. Embora preocupado e demandante de avanços sociais estas questões não são mais atraídas pelo discurso clássico da esquerda. O que se espera é tratamento mais igual, porém este ganho é visto como possível através da eficiência administrativa e não pela inversão da pauta de prioridades, como preconizada pelos discursos da esquerda. Esta nova forma de ver a política diluiu a clássica e histórica divisão política e espacial da cidade. Não se trata mais de um confronto entre o trabalhismo de esquerda e o liberalismo conservador. Trata-se agora da eficiência na resolução dos problemas da cidade, tanto urbanos, quanto sociais. 31 5. BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA

ANSOLABEHERE, S. e IYENGAR, S. “Riding the wave and claiming ownership over issues: the joint effects of advertising and news coverage in campaigns”. Public Opinion Quarterly, Vol. 58, No. 3, 1994.

COUTO, Francisco Pedro do. O Voto e o Povo. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1966.

DIAS, Heloisa. “Mídia e Política: a cobertura de O Globo e a eleição municipal no Rio de Janeiro em 1992”. Dissertação de Mestrado. IUPERJ, Rio de Janeiro, 1995.

DINIZ, Eli. Voto e Máquina política. Patronagem e Clientelismo no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

FIGUEIREDO, Marcus, SOUZA, Amaury e LIMA JR, Olavo Brasil. “Brizola y las eleciones de 1982 em Río de Janeiro”, Revista Mexicana de Sociologia, Ano XLIX, Vol XLIX, No 2, abril-junio, 1987.

FIGUEIREDO, Marcus. “A Política de Coação no Brasil pós- 64”. In Lucia Klein e Marcus Figueiredo Legitimidade e Coação no Brasil pós 64. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 1978.

FIGUEIREDO, Marcus "Banco de Dados sobre a História Eleitoral do Estado do Rio de Janeiro, 1982-1994". Série Estudos, n° 92, IUPERJ, Rio de Janeiro, julho, 1996.

FIGUEIREDO, Marcus et. alli. “Estratégias de Persuasão em Eleições Majoritárias”. In Rubens Figueiredo, Org., Marketing Político e Persuasão Eleitoral. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000b.

FIGUEIREDO, Marcus. “Mídia, mercado de informação e opinião pública”. In César Guimarães e Chico Júnior (Org.) Informação e Democracia. Rio de Janeiro: Editora UERJ, 2000a.

GUANABARA, Ricardo. "Voto e Lealdade: A Trajetória do Trabalhismo na Zona Oeste Carioca". Tese de Doutorado em Ciência Política, IUPERJ, Rio de Janeiro, 1999.

Jornal O Globo, coleção de março a novembro de 2000, pesquisa “Eleição 2000. Cobertura da Mídia Impressa, Rio de Janeiro” , acervo Banco de Mídia, DOXA/IUPERJ.

MANIN, Bernard. “As metamorfoses do governo representativo”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, No. 29, Ano 10, outubro de 1995.

NOELLE-NEUMAN, Elizabeth. “Espiral do silêncio e clima de opinião”. Opinião Pública, Cesop, Campinas.

Pesquisa “Eleição 2000. Cobertura da Mídia Impressa, Rio de Janeiro”. DOXA – Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública. IUPERJ, http//doxa.iuper.br

Pesquisas DataUff, quantitativas, 30-31, agosto, 21-22, setembro, 19, outubro, e 27, outubro de 2000 e Grupo de Discussão, agosto e setembro de 2000, acervo Banco de Pesquisa de Opinião, DOXA/IUPERJ.

Pesquisas Vox Populi, quantitativa e Grupo de Discussão, março de 2000, acervo Banco de Pesquisa de Opinião, DOXA/IUPERJ.

Pesquisas instituto Retrato, Grupo de Discussão, outubro de 2000, acervo Banco de Pesquisa de Opinião, DOXA/IUPERJ. 32

Pesquisas Datafolha, quantitativas, várias datas, Folha de São Paulo, resultados copilados, acervo Banco de Pesquisa de Opinião, DOXA/IUPERJ.

PITALUGA, Isabel Fontenelle. Partidos Políticos e Classes Sociais: a UDN na Guanabara. Petrópolis: Editora Vozes, 1980.

REIS, Antônio Carlos Alkimin dos. “Voto e Segmentação Socioespacial no Estado do Rio de Janeiro, 1980-1994”. Tese de Doutorado em Ciência Política, IUPERJ, Rio de Janeiro, 1996.

SENTO-SÉ, João Trajano. Brizolino. Editora Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1999.

SOARES, Gláucio Ary Dillon. “As bases Ideológicas do Lacerdismo”. Revista Civilização Brasileira, Ano I, No. 4, Rio de Janeiro, setembro, 1965.

Soares, Ary Dillon e Silva, Nelson do Valle. “O discreto charme do socialismo moreno”. Dados, 28(3), 1985.

VEIGA, Luciana Fernandes. “Propaganda Política e Voto: Estudo do Efeito de Persuasão do Horário Eleitoral - Estado do Rio de Janeiro, 1994, 2 Turno”... Dissertação de Mestrado, IUPERJ, Rio de Janeiro, 1996. 33 Anexo 1

Tabela 3 Eleição para Prefeito Rio de Janeiro, 2000 Resultados Finais TER-RJ

1 Turno 2 Turno Votos apurados 4.239.216 100% 4.239.216 100% *Conde (PFL) 1.124.915 34,7% 1.543.327 48,9 *César Maia (PTB) 747.132 23,0% 1.610.176 51,1 Benedita (PT) 733.693 22,6% Brizola (PDT) 295.123 9,1% Gilberto Ramos (PPB) 140.601 4,3% Ronaldo Cezar Coelho (PSDB) 59.058 1,8% Alfredo Sirkis (PV) 38.239 1,2% Domingos Brazão(PT do B) 36.858 1,1% Alexandre Cardoso (PSB) 29.801 0,9% Marcos Coimbra (PRONA) 22.844 0,7% Cyro Garcia (PSTU) 10.166 0,3% Alexandre Cobbett (PSDC) 2.325 0,1% Oswaldo Souza (PRP) 1.398 0,0% Paulo Sérgio (PCO) 555 0,0% Votos em branco 42.627 3,0% 80.858 2,3 Votos nulos 75.299 5,4% 214.119 6,2 Abstenção 696.566 16,4% 790.736 18,7

Anexo 2

Gráfico 1

29/jun 26/jul 09/ago 24/ago 05/set 15/set 22/set 26/set 29/set Conde 18 26 28 35 35 34 35 37 36 Cesar 32 26 24 21 19 19 18 19 18 Benedita 13 13 12 13 15 16 18 17 17 Brizola 12 10 9 9 9 9 9 8 8 Outros 8 8 7 7 6 6 6 8 8 B/N/N 11 11 11 9 8 7 7 5 6 NS/NR 6 6 9 6 8 9 7 6 7 Fonte: Pesquisas Datafolha, Folha de São Paulo, vários datas.

Anexo 3

Gráfico 2

06/out 11/out 18/out 20/out 24/out 28/out 30/out Conde 51 50 48 48 49 45 50 César 32 34 37 37 37 40 50 B/N/N 10 8 8 8 7 8 NS/NR 8 8 8 7 7 8 Fonte: Pesquisas Datafolha, Folha de São Paulo, vários datas; 30/0ut boca de urna.

Anexo 4

Tabela 4 Distribuição das Valências das Aparições dos Principais Candidatos, Jornal do Brasil e O Globo Rio de Janeiro, 2000

Jornal do Brasil Pré-Eleitoral 1 Turno 2 Turno N Positiva Negativa Neutra N Positiva Negativa Neutra N Positiva Negativa Neutra Conde - Prefeito (PFL) 131 12% 12 76 160 30 15 55 28 25 4 71 Conde – Candidato (PFL) 105 24% 4 72 326 13 6 80 218 32 21 48 César Maia (PTB) 139 21% 12 67 306 7 7 86 214 29 19 51 Benedita (PT) 118 5% 17 78 305 13 9 78 Brizola (PDT) 153 12% 16 72 311 5 20 75

O Globo Pré-eleitoral 1 Turno 2 Turno N Positiva Negativa Neutra N Positiva Negativa Neutra N Positiva Negativa Neutra Conde - Prefeito (PFL) 157 19% 4 77 57 7 5 88 57 16 19 65 Conde – Candidato (PFL) 109 21% 1 78 401 6 4 90 243 20 20 60 César Maia (PTB) 99 18% 4 78 352 1 6 93 250 20 16 65 Benedita (PT) 112 4% 6 89 352 2 4 94 Brizola (PDT) 144 5% 13 83 316 2 7 91

Fonte: Pesquisa “Eleição 2000. Cobertura da Mídia Impressa, Rio de Janeiro”. DOXA – Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública. IUPERJ, http//doxa.iuper.br