OS 100 ANOS DE HELENO DE FREITAS Professor Tiago Bastos de Souza Esse trabalho foi pensado, como uma forma de homenagear o centenário de um dos maiores jogadores do futebol brasileiro na década de 40, Heleno de Freitas que completaria 100 anos, nesse ano vigente. O ex-jogador, nasceu em São João Nepomuceno, Minas Gerais no dia 12 de fevereiro de 1920. Heleno nasceu em uma família rica e se tornou jogador de futebol o que na época, não era comum para uma pessoa rica que poderia ser, médico, advogado ou médico, profissões para poucos na época e que tinham poderio financeiro. Heleno nasceu em berço de ouro, numa família abastada de São João Nepomuceno, município pertencente a Zona da Mata mineira, e que faz parte da microrregião de Juiz de Fora. Heleno nasce, quando o século XX, completa seu um quinto de vida, ou seja, 1920. Epitácio Pessoa dirigia a nação de um pouco mais de 30 milhões de pessoas, enquanto as duas paixões nacionais floresciam, o futebol e o Carnaval. No dia 12 de fevereiro, Maria Rita de Freitas, chamada por todos de Dona Miquita, devota de Santa Helena e muito religiosa, dava à luz um novo rebento, ao nascer decidiu homenagear a Santa e por nascer menino, decidiu que se chamaria Heleno. Heleno cresceria ao lado dos cinco irmãos, Rômulo, Marina, Heraldo, Oscar e Vera Maria, já que os gêmeos Lúcio e José Lúcio morreram ainda crianças. Seu pai, Oscar de Freitas era dono de uma refinaria de açúcar e negociante de café, com isso, desde pequeno teve tudo de bom e do melhor, sempre foi o mais querido por ser o último dos filhos. O sonho de Dona Miquita era que Heleno fosse médico ou advogado, mas a relação com o futebol, começa com seus irmãos desde criança no time da cidade, Mangueira Futebol Clube e em tese, Heleno seguiria o seu sonho na época que era ser advogado apoiado pela mãe e seguindo os passos do irmão mais velho, Rômulo que se formaria advogado antes do que ele. Mas, em 11 de novembro 1931, Oscar, pai de Heleno é levado por pneumonia que, à época, era praticamente fatal. Esse ocorrido, faz com que a família mude de rumo completamente, quase dois anos depois Maria Rita, mãe de Heleno, decide se mudar para capital federal, o da era Vargas. Foi importante a mudança, para Heleno começar o laço com o time que se tornou seu de coração, o Botafogo Football Club que, em 1933 se tornará bicampeão carioca, contagiado com a festa da torcida, Heleno acaba se tornando torcedor do Botafogo e com 15

anos vira sócio do clube, quando o clube conquista o único tetracampeonato carioca seguido no campo em 1935. Também o que sempre lhe chamará atenção foram as mulheres, pois foi matriculado no São Bento, colégio religioso que só estudam pessoas de mesmo gênero, no caso dele, o masculino. Além desse motivo Heleno se encantará pelas mulheres em seus passeios pela capital federal. Voltando para o âmbito do futebol, Heleno começa a jogar, ainda jovem, na praia, pelo posto 4, em Copacabana, seu treinador era Neném Prancha, figura importante na praia de Copacabana, pois descobria vários talentos para atuar no futebol de campo. Heleno jogava de half-esquerdo (lateral-esquerdo) no Mangueira, mas no futebol de areia, começou jogando de zagueiro e sempre foi destaque até chegar no juvenil do Botafogo e voltar para sua posição de origem, sendo campeão juvenil em 1935 pelo Botafogo. No próximo ano, por problemas financeiros, o time juvenil do Botafogo é desfeito e ele acerta com o Fluminense, no juvenil do Fluminense seu técnico o passa para o ataque, pois era muito problemático. Essa mudança foi muito importante para a vida de Heleno, se tornando o homem gol e mais uma vez campeão juvenil. Heleno sempre problemático dentro de campo, mas um cavalheiro e galã fora dele, se desentende com a diretoria do Fluminense pelo seu jeito explosivo em campo e em 1939 volta para o Botafogo, jogando no time de amadores, no próximo ano, assina seu primeiro contrato com uma clausula para que ele estude inglês ou francês junto ao curso superior. Em 1940 ele estreia pelo Botafogo, substituindo seu ídolo de juventude, , Heleno de Freitas substitui muito bem o antigo ídolo do Botafogo não deixando saudades para torcida gloriosa. Heleno em sua trajetória pelo Botafogo nunca conquistou o que na época era muito importante, mas se tornou o maior artilheiro do clássico da rivalidade com 22 gols (clássico Botafogo x Flamengo), quarto maior artilheiro da história do Botafogo com 204 gols em 234 jogos, (na época de sua saída do Botafogo, era o segundo, atrás do Carvalho Leite). Outros elementos marcantes em sua trajetória pelo Botafogo foram, ele estava no “jogo do senta” em 1942 e conseguinte viveu a transformação do Botafogo Football Club, para Botafogo de Futebol e Regatas no mesmo ano e em dezembro de 1946 se formou-se bacharel de Ciências Jurídicas pela Faculdade

Nacional de Niterói (Universidade Federal Fluminense, hoje em dia), se tornando advogado, mas nunca exerceu a profissão. Durante seu período no Botafogo, se destacou o seu jeito fora dos gramados, pois andava com João Saldanha que fazia parte do partido Comunista e era bem ativo na causa do partido e depois se adentra ao Clube dos Cafajestes, clube formado por rapazes jovens de classe média alta e que não tinham medo de ser feliz nas noites cariocas. Em 1948, Heleno casou-se com Ilma Lisboa tendo um relacionamento conturbado que durou quase três anos e seu único filho com ela, Luiz Eduardo de Freitas em 1950. Nesse mesmo ano, Heleno deixará o Botafogo, sendo a maior transferência sul- americana da época, indo para o , poucas semanas de seu casamento. No Boca tivera uma estreia estrondosa com dois gols, vitória e foi muito saudado pela torcida, porque o time não vinha bem, mas, logo isso ficou para trás, pois não se ambientou ao clima e com problemas de indisciplina no campo, fazendo 17 jogos e 7 gols. Além disso, tiveram rumores da sua época na , não muito boa no campo, mas fora dele os rumores diziam que ele tivera um caso com a primeira-dama, Eva Perón. Em 1949 volta para jogar no “Expresso da Vitória” alcunha do Vasco na época, pois formava a base da seleção e nesse time Heleno ganha seu primeiro e único carioca, sendo muito importante, tendo 24 jogos e 19 gols. Voltando para o tempo de Botafogo, Heleno era o destaque da seleção tendo ganho a copa Roca (torneio entre Brasil e Argentina) e a copa Rio Branco (torneio entre Brasil e Uruguai). Também foi porta bandeira do Sul-americano em 1945, o que mostrava a sua importância em que o Brasil foi vice campeão e Heleno se sagrou artilheiro. Nessa época Heleno estava no auge, mas infelizmente, não tiveram as copas do mundo devido a segunda guerra mundial, pela seleção brasileira foram 18 jogos e 14 gols. Então a expectativa ficaria para 1950, mas Heleno tivera desgaste com o técnico Flávio Costa do Vasco que também era o da seleção brasileira e acaba se frustrando pela sua não convocação, mudando de rumo, saindo do Vasco e indo jogar na liga pirata da Colômbia. Heleno vai para liga colombiana jogar no Junior de Barranquilla não querendo ser mais destaque da mídia nem pela torcida, se mostrando mais cabisbaixo com a vida, começa muito mal e mais explosivo, sua passagem na Colômbia é acompanhada pelo jovem

repórter Gabriel García Márquez que se tornou um grande literato e ganhador de prêmio Nobel em 1972. Heleno, no fim de sua passagem mostra o seu futebol encantando o jovem repórter, jogando até contra o Di Stéfano, mas não se torna o apogeu que foi no Botafogo, pois fica insatisfeito com a forma tratada de muita atenção. Depois disso, ocorre uma passagem breve no Santos, mas sem jogar uma partida oficial, pois Heleno estava incontrolável devido o uso de éter e lança-perfume, durante os anos no relvado, principalmente com o Clube dos Cafajestes, Heleno se torna só mais um jogador em final de carreira e provavelmente com problemas causado pelas drogas. Mas, em 1951 o América Futebol Clube decide dar uma chance para Heleno que logo em seu primeiro treino passa dos limites, mas, mesmo assim continua no clube, até o seu primeiro e único jogo no Maracanã no dia 04 de novembro 1951 aonde em menos de 30 minutos Heleno sai do limite em campo e o juiz o expulsa, sendo assim, o triste fim de Heleno nos gramados. Depois de pendurar as chuteiras Heleno aumenta seu comportamento temperamental para a sua vida, mas sempre acompanhado pela sua família, sendo diagnosticado com sífilis em 1954, num estado avançado sua família decide interná-lo no hospital de Barbacena, sendo custeado pelos seus irmãos o tratamento até o fim de sua vida no dia 8 de novembro de 1959. Heleno também foi apelidado de uma forma que ele não gostava em 1947, sendo chamado de Gilda por um componente do Clube dos Cafajestes, filme famoso da época, Gilda foi interpretada no cinema pela atriz Rita Hayworth, o filme conta a história de uma mulher temperamental, vaidosa e que fazia qualquer homem correr atrás dela, mesmo não gostando, Heleno de Freitas se resume uma parte a isso, sendo que também um grande jogador. O legado de Heleno ficou para suas sobrinhas e primo, Herilene de Freitas foi uma grande nadadora, Helenize e de Freitas foram campeões e destaque no voleibol brasileiro. Heleno de Freitas volta a se notabilizar no século XXI, pelo livro biográfico lançado em 2006, “Nunca houve um homem como Heleno”, escrito por Marcos Eduardo Neves e a filmografia inspirada na vida de Heleno de Freitas, “Heleno” com direção de José Henrique Fonseca. Essas obras foram importantes para revitalizar a imagem de Heleno, perante a torcida brasileira e especificamente a torcida gloriosa que hoje o detêm, mesmo sem ter o visto, com muitas saudades.

Para finalizar, Heleno de Freitas foi o primeiro jogador “problema” do futebol brasileiro, mas foi um gênio dentro de campo e decisivo, sua vida foi vivida de forma intensa, se tornando meteórica, poderia ter se cuidado durante sua passagem de jogador ou virado político como era comum para pessoas de classe média alta da época, mas pelo seu ego e personalidade decidiu ser jogador de futebol e aproveitar a sua vida fora de campo intensamente, no final das contas, nunca houve ou haverá um homem como Heleno de Freitas.

REFERÊNCIAS GOMES, Marcelo. Livre, lindo e louco: As histórias de Heleno de Freitas e os 100 anos do primeiro jogador-problema do Brasil. Espn,2020. Disponível em: https://www.espn.com.br/futebol/artigo/_/id/6629668/livre-lindo-e-louco- as-historias-de-heleno-de-freitas-e-os-100-anos-do-primeiro-jogador- problema-do-brasil. Acesso em: 15 set. 2020

NEVES, Marcos Eduardo. Nunca houve um homem como Heleno. 2.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 2012.