Cia. Stravaganza
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES CÊNICAS Cia. Stravaganza Um olhar sobre os processos criativos no teatro de grupo ADRIANE CECILIA PINTO MOTTOLA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Orientação: Prof. Dra. Mirna Spritzer Porto Alegre – Novembro de 2009 AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Profa. Dra. Mirna Spritzer, pelo acompanhamento, apoio e paciência. Aos companheiros da Cia. Stravaganza, que compreenderam minhas ausências em momentos-chave de nossas criações e, em especial, a Sofia Salvatori. Aos “stravagantes” que enriqueceram esta dissertação com seus depoimentos sobre nossos processos de criação: Cacá Corrêa, Gustavo Curti, Sofia Salvatori, Fernando Kike Barbosa, Lauro Ramalho, Janaina Pelizzon, Marcelo Fagundes, Rodrigo Mello, Roberto Oliveira e Ricardo Severo. A Tânia Farias e ao pessoal do Oi Nóis , pelos livros e inspiração. Aos colegas de curso, em especial a Jezebel de Carli e Humberto Vieira, companheiros e amigos eternos. À Capes, pela bolsa de estudos, que me permitiu maior dedicação. A meus pais, Lya e Caetano Mottola, os “melhores do mundo”. À memória de Luiz Henrique Palese, que comigo construiu o sonho. RESUMO Esta dissertação estuda os processos criativos da Cia. Teatro di Stravaganza em seus 21 anos de existência, a partir da ótica do teatro de grupo: uma unidade de trabalho consistente, que propõe um teatro que tenha um caráter de pesquisa, de busca de novos referentes e uma organização colaborativa, com responsabilidade coletiva na concepção do projeto estético e ideológico. Resgatamos a memória dos processos de criação das principais peças que compuseram o repertório da Companhia, dedicando atenção especial ao espetáculo DECAMERON , propulsor de possibilidades numa trilha de inovação e inspiração poética. Este trabalho dialoga com as idéias de Vsevolod Meyerhold, Jacques Copeau, Jacques Lecoq e Philippe Gaulier, entre outros. Buscamos destacar os principais diferenciais do trabalho desta companhia, destacando como pontos fortes de suas montagens o jogo dos atores e a visualidade da cena. RÉSUMÉ Cette dissertation étudie les processus de création de la Cie. Teatro di Stravaganza pendant ses 21 ans d’activités, du point de vu du théâtre fait en groupe: une unité de travail cohérente, qui propose un téâthre qui a un caractère de recherche, qui cherche de nouvelles reférences et une organisation de colaboration, avec une responsabilité collective dans l’élaboration de la conception esthétique et idéologique. Nous reprenons ici la mémoire des processus de création des principaux spectacles qui ont fait partie du répertoire de la Compagnie, et nous consacrons une attention spéciale au spectacle DECAMERON, propulseur de possibilités vers un chemin d’innovation et d’inspiration poétique. Ce travail dialogue avec les idées de Vsevolod Meyerhold, Jacques Copeau, Jacques Lecoq et Philippe Gaulier, entre autres. Nous prétendons mettre en évidence le principal différentiel du travail de cette compagnie, cet à dire, les points forts de ces productions: le jeux entre les acteurs et la visualité de la scène. SUMÁRIO O MUNDO NUMA CAIXA DE FÓSFOROS ............................................... 1 1 TEATRO DE GRUPO ....................................................................................... 6 1.1 Teatro de Grupo em Porto Alegre ............................................................... 6 1.2 Uma noção contemporânea de Teatro de Grupo ..................................... 31 2 CIA. STRAVAGANZA ..................................................................................... 35 2.1 Porto Alegre, 1988 – primórdios ................................................................ 35 2.2 Algumas jornadas ....................................................................................... 38 2.2.1 Primeira jornada - 1988/1992 ..................................................................... 38 2.2.2 Segunda jornada - 1993/1998 .................................................................... 61 2.2.3 Terceira jornada - 1998/2002 ..................................................................... 79 2.2.4 Quarta jornada - 2003/2009 ...................................................................... 89 3 O DECAMERON, pela Cia. Stravaganza ..................................................... 110 3.1 Idear ............................................................................................................ 110 3.2 Por que o Decameron? ............................................................................. 111 3.3 Dramaturgia da cena no Teatro de Grupo .............................................. 113 3.3.1 O texto, da apropriação à recriação ......................................................... 115 3.3.2 A cenografia ............................................................................................. 131 3.3.3 O figurino ................................................................................................. 135 3.3.4 A música .................................................................................................. 136 3.3.5 O jogo dos atores .................................................................................... 138 3.4 Fragmento inicial do Decameron ............................................................ 152 3.4.1. O jogo antes da cena ............................................................................... 152 3.4.2 O jogo da cena ......................................................................................... 153 3.4.3 Últimos depoimentos ................................................................................ 157 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 159 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 161 ANEXOS ............................................................................................................ 170 1 O MUNDO NUMA CAIXA DE FÓSFOROS Uma história que não esqueço. O ator francês Jean-Paul Belmondo, ainda um iniciante na carreira, estava sentado à mesa de um café, em Paris, quando um desconhecido se aproxima e desata a falar sobre um filme que desejava fazer. Convida-o a protagonizar o filme, mostrando-lhe o argumento – escrito numa caixa de fósforos! Jean-Paul aceitou. O cineasta era Jean-Luc Godard e o filme, 1 ACOSSADO . História esta que me permite vislumbrar a possibilidade de sintetizar o projeto de uma vida em cento e poucas páginas. 21 anos numa caixa de fósforos. Como penetrar na lógica do próprio caminho intelectual, quando é uma multiplicidade de desejos que direciona nossa prática? Artistas que somos, buscamos construir um objeto artístico e, na maioria das vezes, é na distância desse objeto que melhor refletimos sobre ele. Para Robert Lepage (apud CHAREST , 1998, p.28), criador canadense, no processo de criação aparecem primeiro as descobertas, depois o seu sentido: Através do processo criativo, você está lutando e procurando e, num certo momento, você abre a porta, inventa uma cena, um movimento, uma imagem. Algumas vezes é bonito, mas então isso permanece na superfície, uma bela invenção, nada mais. Algumas vezes, sem se dar conta, você encontra algo que toca a platéia, e ainda uma coisa que pode transformar a platéia. Mas a gente não tem controle sobre isso. Picasso dizia que a tarefa de um artista é descobrir coisas e então decifrar o que elas são. O que é absolutamente verdadeiro. Pode haver uma grande abertura entre intenção e resultado. Muitas vezes os poetas escreverão uma rima, uma frase bonita, ou uma nova expressão, e somente posteriormente vão encontrar o que está escondido atrás delas. Nós temos que aprender a aceitar que o sentido vem a nós depois do fato. 1 O cinema moderno começa em 1959, com Acossado , um dos filmes-chave da Nouvelle Vague , movimento que rejeitava o cinema tradicional e abraçava um estilo mais pessoal e experimental. 2 Neste momento de relacionar, compor, montar, colar cacos, recortar fragmentos, vou descobrindo novos sentidos nos fatos passados, nas descobertas, na trajetória. Ao refletir sobre a minha prática, revejo que os meus desejos artísticos estiveram sempre direcionados para uma forma de fazer teatro que, segundo Maria Lúcia Pupo (apud DESGRANGES , 2006, p 12), reúne os princípios mais caros ao teatro contemporâneo: “a consciência do processo de criação, a ênfase no trabalho coletivo, a importância atribuída à pesquisa e a busca de novas relações com os espectadores”. É portanto no coletivo, e mais especialmente no teatro de grupo, que encontrei o campo fértil para a expressão das minhas potências. O teatro de grupo é o território do encontro e também o da fricção necessária para as idéias avançarem. É onde vejo acontecer com maior fluidez o compartilhamento de pensamentos, processos e práticas e a continuidade de um projeto poético comum. Para Sylvia Fernandes (2006, p 8), no estudo do processo criativo de um artista, há princípios éticos e estéticos que são norteadores, que direcionam o fazer do artista. Esses princípios constituem o projeto poético do artista. O projeto poético é construído ao longo do processo. Aponta as questões que o mobilizam e o que este quer produzir com sua arte. É a marca singular daquele criador. Cada peça pode ter um sentido próprio, mas não é um projeto isolado, se encaixa no processo criativo geral daquele criador.