A Industrialização Da Região De Ourinhos: a Dinâmica Territorial Das Aglomerações Produtivas
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A industrialização da região de Ourinhos: a dinâmica territorial das aglomerações produtivas Jean Carlos IZZO Universidade Estadual Paulista – Júlio de Mesquita Filho Campus de Ourinhos Email: [email protected] Lucas Labigalini FUINI Universidade Estadual Paulista – Júlio de Mesquita Filho Campus de Ourinhos Email: [email protected] Introdução A presente pesquisa buscará desenvolver análises das atividades industriais através de uma abordagem introdutória sobre o ponto de vista histórico-geográfico relacionado ao território do município de Ourinhos, localizado na porção Sudoeste do estado de São Paulo. Neste município um dos principais pilares do desenvolvimento econômico e expansão urbana é a base logística ferroviária. Objetivo O objetivo deste trabalho é tentar entender o uso do território (SANTOS; SILVEIRA, 2010), e suas relações de poder, atrelados à produção industrial, para então colocar em pauta o processo de territorialização-desterritorialização-reterritorialização do desenvolvimento do ponto de vista das atividades econômicas industriais no município, considerando uma leitura dialética e crítica da realidade socioespacial. Portanto, cabe aqui apontar uma breve apresentação sobre a gênese do município em perspectiva de um processo histórico, no qual, segundo Silveira (2011a, p.11): É sob a égide dessa espacialidade de nó de sistemas de transportes que o espaço urbano de Ourinhos cresceu, margeando trilhos e estradas, preenchendo seus recortes e indo além desses. Respeitando a um sistema de normas voltadas ao bom desempenho dos escoamentos de produtos extraídos e produzidos na região como: madeira, café, gado, cana-de-açúcar e outros. Metodologia Em termos metodológicos, este trabalho usa dos recursos da revisão histórico- geográfica e bibliográfica para definir o processo de formação urbano-estrutural da industrialização e sua territorialização em Ourinhos, considerando algumas das influências econômicas, políticas e sociais desse processo de reestruturação espacial. Industrialização e território em Ourinhos O espaço da cidade de Ourinhos teve como fonte de desenvolvimento o fluxo de passageiros e mercadorias no período cafeeiro pela instalação da estação ferroviária Sorocabana. A partir de então a instalação de grupos sociais que contornavam a estação iria apontar para uma determinada estrutura, tanto do ponto de vista de habitar os melhores espaços como o de ter o melhor acesso ao centro comercial da cidade. Segundo Silveira (2011a, p. 56) “ao norte do traçado ferroviário se situavam os trabalhadores menos qualificados, enquanto que a diretoria e os trabalhadores especializados se situavam nas áreas sul e oeste”. Concomitantemente, os espaços que eram ocupados pelos ditos trabalhadores menos qualificados eram os mesmos espaços onde as indústrias começariam a se instalar, ao norte da estação ferroviária. Mas, tomando um sentido contrário, em uma área no sul em relação à estação ferroviária, distante do centro da cidade e próxima ao Rio Paranapanema, formava-se em 1933 um núcleo de povoamento isolado e relativamente independente, a Vila Odilon. Segundo Silveira (2011a, p.57) “este pequeno núcleo de povoamento era alimentado pelo trabalho proporcionado pela produção oleira, que se utilizava da argila encontrada no leito do Rio Paranapanema”. Segundo Massei (2001, p.13) “a periodização estabelecida é 1950 a 1990. Ao término da década de 40 e início da de 50 teve início a mecanização das olarias e isso provocou modificações importantes na produção da telha e do tijolo”. Em decorrência dos avanços tecnológicos, passou a se concretizar de certo modo a partir de 1950, período em que o município se aprimorava especificamente para a produção cerâmica, se tornando um dos primeiros e principais setores industriais que se pôde encontrar. Em uma pesquisa de campo sobre as cerâmicas de Ourinhos elaborada em conjunto com o Prof. Dr. Lucas Labigalini Fuini, da UNESP, campus de Ourinhos, no ano de 2013, foram extraídas informações de que até o início da década de 1990 o município contava com o total de 87 indústrias cerâmicas funcionando, atualmente pode-se contar apenas com 12 delas (Na figura 1 é possível ver marcado apenas 10 delas), sendo que, 4 são grandes produtoras, chegando a produzir cerca de 25 a 30 mil telhas por dia. No mapa a seguir é possível notar que a Vila Odilon está localizada ao sul do traçado ferroviário em uma área um pouco mais distante do centro. Pode-se notar também que o principal aglomerado cerâmico está também nesta área (marcada pelo ponto em vermelho). Figura 1 – Mapa da área urbana de Ourinhos, com destaque para as Cerâmicas e os Parques Industriais Fonte: https://www.google.com.br/maps/. Formou-se um pouco mais distante da estação ferroviária, e possuía um núcleo de povoamento voltado para uma atividade em especial, portanto, um território especificamente atrelado a indústria cerâmica. O território, considerando a apropriação e controle sobre determinados espaços, pode ser analisado com base em diferentes vertentes da Geografia, mas, cabe aqui apontar, o território do ponto de vista econômico. Mesmo a vila Odilon tendo um caráter extremamente cultural com base no processo histórico no qual ela está inserida, foi o seu fator econômico que deu origem a essa especificidade territorial. O território econômico pode ser entendido de diferentes maneiras, segundo Haesbaert (2004, p.40) “... enfatiza a dimensão espacial das relações econômicas, o território como fonte de recursos e/ou incorporado no embate entre classes sociais e na relação capital-trabalho, como produto da divisão “territorial” do trabalho, por exemplo”. O território, do ponto de vista do processo e dos agentes da industrialização de Ourinhos, é fruto de um movimento de territorialização simultaneamente influenciado por fatores econômicos e políticos, com interesses voltados mais para obtenção de fonte de recursos no território. Todavia, essa foi à ponte para o desenvolvimento de alguns setores ligados a agricultura, e essa leitura do território está associada a fatores de dimensão naturais, econômicas e político-normativas, sendo entendido através de seu uso. Segundo Santos (2004, p.21), “o uso do território pode ser definido pela implantação de infra-estruturas para quais estamos igualmente utilizando a denominação sistemas de engenharia, mas também pelo dinamismo da economia e da sociedade”. Godelier (1984, apud Haesbaert, 2004, p. 112) trata do território como uma forma de controle e usufruto dos recursos: Designa-se por território uma porção da natureza e, portanto, do espaço sobre o qual uma determinada sociedade reivindica e garante a todos ou a parte de seus membros direitos estáveis de acesso, de controle e de uso com respeito à totalidade ou parte dos recursos que aí se encontram e que ela deseja e é capaz de explorar (p.56). Já Gottman (2012, p.523) diz: O território consiste, é claro, de componentes materiais ordenados no espaço geográfico de acordo com certas leis da natureza. Entretanto, seria ilusório considerar o território como uma dádiva divina e como um fenômeno puramente físico. Os componentes naturais de qualquer território dado foram delimitados pela ação humana e são usados por um certo número de pessoas por razões específicas, sendo tais usos e intenções determinados por e pertencentes a um processo político. Território é um conceito gerado por indivíduos organizando o espaço segundo seus próprios objetivos. Desconcentração e novo desenho do território industrial em Ourinhos Tais fatores recorrentes à dinâmica do território no que diz respeito especificamente à territorialização industrial em Ourinhos requerem uma análise um pouco mais detalhada. E, nessa análise, não se pode deixar de tratar do processo que faz parte tanto da história como do desenvolvimento de espaços propriamente ditos como “distritos industriais”, que, grosso modo, são parques industriais ou zonas industriais, que funcionam como espaços territoriais nos quais se agrupam uma série de atividades industriais ou empresariais que podem ou não estar relacionadas entre si. O surgimento desses parques especializados para atender as demandas da instalação de industrias requer uma análise do processo de desconcentração produtiva da metrópole paulista. Segundo Cano (1997, p.101): (...) desde meados da década de 30, o estado de São Paulo passou a ser o mais populoso do país (17% do total nacional), situação que conserva até hoje (21%), em grande medida diante do enorme afluxo de imigrantes (primeiro estrangeiros, e depois nacionais) que para ali se dirigia, dadas as maiores e melhores oportunidades de trabalho geradas pela sua economia. Como se sabe, a concentração, especificamente da metrópole paulista, foi uma das causas, no que tange ao âmbito político, de reivindicações por equilíbrio regional, “as quais foram mais bem organizadas e institucionalizadas a partir do final da década de 50, do que resultaria, na década seguinte, a implantação permanente de políticas de desenvolvimento regional” (CANO, 1997, p. 102). A tentativa aqui é de chegar ao ponto em que a desconcentração industrial acabaria que por atingir outras regiões do estado, sendo que, dentro de um total de 42 Regiões de Governo segundo a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) a de Ourinhos também faria parte. Portanto, segundo Cano (1997, p.106), “assim, embora a dinâmica de acumulação fosse concentradora, em seus resultados concretos, articulava, entretanto, também o crescimento regional”. Uma nova fisionomia fora constituída no interior paulista a partir do processo