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revista da área metropolitana de lisboa 1º Semestre 2013

ENTREVISTA fernando Seara A REGIÃO DE LISBOA Presidente da câmara municipal É MUITO DINÂMICA de DESTAQUE E O PRINCIPAL MOTOR Preparação do Quadro DE INOVAÇÃO Comunitário E COMPETITIVIDADE 2014-2020 PATRIMÓNIO NO PAÍS embarcações Johannes Hahn, Comissário Europeu da Política Regional tradicionais do tejo CULTURA aquilino ribeiro em lisboa

alcochete . . . barreiro. . lisboa . . mafra . MOITA. montijo . . oeiras . palmela . seixal . sesimbra . setúbal . sintra . Municípios editorial que constituem a Área Metropolitana de Lisboa

Reflexão e responsabilidade Alcochete Loures Palmela Largo S.João Baptista Praça da Liberdade, 4 Largo do Município Carlos Humberto de Carvalho 2894-001 ALCOCHETE 2674-501 Loures 2954-001 PALMELA Presidente da JML Tel.21 234 86 00 . Fax 21 234 86 90 Tel. 21 982 98 00 . Fax 21 982 00 84 Tel. 21 233 66 00 . Fax 21 233 66 59 www.cm-alcochete.pt www.cm-loures.pt www.cm-palmela.pt

Almada Mafra Seixal Largo Luis de Camões Praça do Município Alameda dos Bombeiros Voluntários, n.º 45 2800-158 ALMADA 2644-001 MAFRA 2844-001 SEIXAL Tel. 21 272 40 00 . Fax 21 272 45 55 Tel. 261 810 100 . Fax 261 810 130 Tel.: 212 276 700 . Fax: 212 276 701 www.cm-almada.pt www.cm-mafra.pt www.cm-seixal.pt

Amadora Moita Sesimbra Av.Movimento das Forças Armadas Praça da República Rua da República, 3 A poucas semanas do final de mais um mandato autárquico, e a poucos a que podem ser atribuídos, o efeito multiplicador que desejamos para 2700-595 AMADORA 2840-422 MOITA 2970-741 SESIMBRA Tel. 21 436 90 00 . Fax 21 492 20 82 Tel. 21 280 67 00 . Fax 21 280 10 08 Tel. 21 228 85 00 . Fax 21 228 85 26 meses do início de um novo período de programação financeira com eles, a capacidade de influência que podemos exercer sobre o seu des- www. cm-amadora.pt www.cm-moita.pt www.cm-sesimbra.pt fundos do quadro comunitário de apoio, é tempo de fazermos uma re- tino exato. A importância do tema justifica que lhe tenhamos dedicado flexão séria sobre o ponto em que nos encontramos. o Destaque desta edição. Montijo Setúbal Barreiro Estamos naquele lugar de decisão em que somos constrangidos, tanto As orientações comunitárias que os condicionam apontam para um Rua Miguel Bombarda Rua Manuel N. Nunes Almeida Praça do Bocage 2830-355 BARREIRO 2870-352 MONTIJO 2900-276 SETÚBAL pelo passado recente como pelo futuro imediato. Os dez anos da Re- desenvolvimento mais inteligente, mais inclusivo e mais sustentável. Tel. 265 541 500 . Fax 265 541 621 Tel. 21 206 80 00 . Fax 21 206 80 01 Tel. 21 232 76 00 . Fax 21 232 76 08 vista Metrópoles, que celebramos neste momento, contam-nos uma Não podemos deixar de reconhecer a justeza destes propósitos. Como www.cm-barreiro.pt www.mun-montijo.pt www.mun-setubal.pt história de algumas vitórias e realizações importantes, conquistadas autarcas ao serviço das populações que nos legitimaram nas funções Cascais Odivelas Sintra a pulso pelos autarcas da Área Metropolitana de Lisboa, ao serviço das que temos exercido, eles identificam-se com os nossos desejos. Mas Praça 5 de outubro Rua Guilherme Gomes Fernandes Largo Dr. Virgílio Horta populações que representam - mas também uma narrativa de bas- cabe aqui perguntar se foi sempre isto o que nos chegou das instâncias 2754-501 CASCAIS 2675-372 ODIVELAS 2714-501 SINTRA Tel. 21 482 50 00 . Fax 21 482 50 30 Tel. 21 932 00 00 . Fax 21 934 43 93 Tel. 21 923 85 00 . Fax 21 923 86 57 tantes incompreensões, expectativas frustradas e promessas não diretivas comunitárias, e até que ponto elas não funcionaram, em al- www.cm-cascais.pt www.cm-odivelas.pt www.cm-sintra.pt cumpridas. guns casos, como retransmissoras de uma crise financeira começada A própria natureza dos problemas que tivemos de resolver, no exercício noutro local e alimentada pela irresponsabilidade especulativa. Lisboa Vila Franca de Xira Oeiras das nossas funções, encarregou-se de desenvolver, entre todos, um A proximidade das eleições autárquicas é um apelo à nossa responsabi- Praça do Município Largo Marquês de Pombal Praça Afonso de Albuquerque, 2 1100-365 LISBOA 2784-501 OEIRAS 2600-093 V.FRANCA de XIRA consenso notável (que a nível da Junta Metropolitana chega a ser uma lidade de cidadãos, seja qual for o nosso lugar no mundo do trabalho ou Tel. 21 322 70 00 . Fax 21 322 70 08 Tel. 21 440 83 00 Fax 21 440 87 12 Tel. 263 280 480 . Fax 263 276 002 unanimidade) sobre a necessidade de um órgão metropolitano com no mapa administrativo, seja qual for a preferência partidária motivada www.cm-lisboa.pt www.cm-oeiras.pt www.cm-vfxira.pt competências próprias, meios adequados e legitimidade democrática pela consciência política de cada um. direta, assente e responsabilizada perante os eleitores. Compete-nos fazer esta reflexão ao mesmo tempo que assumimos A proximidade do novo período de programação financeira 2014-2020, esta responsabilidade, norteados pela visão de uma grande Região me- em que a Região de Lisboa vai ainda poder usufruir de fundos comuni- tropolitana em que Lisboa redescubra, e veja reconhecido, o seu verda- tários de apoio, impõe-nos essa reflexão muito séria sobre os projetos deiro lugar no País, na Europa e no mundo global que todos habitamos. SUMÁRIO

Editorial 3

Breves 6

Papel Press, Press, Papel e Gráfica Notícias dos concelhos da AML

Entrevista 12 Presidente da Câmara Municipal de Sintra

AML Semestre 16 Revista Metrópoles 12 42 comemora 10 anos - restrospetiva Destaque 22 Os municípios da AML e a preparação do quadro comunitário 2014/2020 Editorial Produção Coelho Mariana Editorial Coordenação PME’S INOVAÇÃO 40 NBC Medical - Tudo para exportar

Património 42 Embarcações tradicionais da Área Metropolitana de Lisboa

FUNDOS COMUNITÁRIOS 50 A sustentabilidade económica 16 58 da administração autárquica também passa pelas TIC

IMAGENS METROPOLITANAS 54 Rui Telmo Romão

Cultura 58 Aquilino Ribeiro - Vida e obra na região de Lisboa

Aromas 62 Os grandes vinhos do termo de Lisboa 2ª parte - Setúbal

Aconteceu 66 Conferências: Assembleia - Educação; Transportes e Mobilidade António Valdemar (cultura), João João (cultura), Valdemar António Permanentes Colaboradores Europeia Comissão Leya, AML, Bertrand, da Municípios Romão, Telmo Rui Flores, Luísa Fotografia Oliveira de e Silas Dentinho Miguel José 22 62 Área Metropolitana de Lisboa, Rua Carlos Mayer, nº2, r/c, 1700-102 LISBOA Tel.: 218 428 570 - Fax: 218 428 428 218 - Fax: 570 428 218 Tel.: LISBOA 1700-102 nº2, r/c, Mayer, Carlos Rua Lisboa, de Metropolitana Área e Propriedade Redação Beato Luís Criativo Diretor (cartonista) Pimentel Rui (aromas), Martins Paulo exemplares.Semestral 5000 Tiragem: nº195580/03 legal Depósito - 7021 ISSN:1645 Gratuita Distribuição [email protected] E-mail: 577 Redação METRÓPOLES 1º SEMESTRE 2013 Cid Executiva Sofia Diretora Santos do Ministro Teixeira, Carlos Carvalho, de Humberto Carlos TÉCNICA FICHA . Diretores

4.5 MTPAML BREVES

JUNTA alcochete Samouco, uma adjudicação no incentivar a profissionalização nicipal na área da segurança e exposição retrospetiva da obra escolares do 1º, 2º e 3º ciclo e e pela Parceria A. M. Pereira, no valor de 18.234,47 euros. A pa- artística, inserindo-se numa prevenção rodoviárias, median- do pintor barreirense Américo secundário a partir de 2009. passado dia 9 de junho, era há . Frente Ribeirinha METROPOLITANA vimentação do espaço central estratégia virada para o desen- te a elaboração de um Plano Marinho, no âmbito do cente- No ano de 2012 foram doados muito aguardado. DE LISBOA com calçada de calcário vai per- volvimento de novas atividades Municipal de Segurança Rodo- nário do nascimento do artista. 4.556 livros a 531 famílias. mitir o estacionamento ordena- económicas no concelho. Este viária. Neste âmbito a Câmara O trabalho expositivo abrange . Casa Henrique Sommer do e a realização de eventos ao empreendimento da autarquia Municipal tem desenvolvido um dezenas de obras entre dese- A Câmara Municipal de Cas- ar livre numa área de 138 m2. contou com um investimento conjunto de projetos tendentes nhos e pinturas (a óleo e agua- CASCAIS cais apresentou recentemente Comissão Europeia destaca Esta intervenção incluirá pos- municipal na ordem dos 700 mil à redução da sinistralidade nas rela) segmentadas pelas áreas: o projeto de recuperação da projeto “Orquestra Geração” . Empreendedorismo teriormente o alargamento dos euros. estradas e à diminuição dos retratos, música, família, Ca- Casa Sommer, cujo início es- passeios na área envolvente. impactos negativos do tráfego mões e as Tágides. Em 1990, teve atrasado vários anos por . Biblioteca municipal no ambiente rodoviário, desta- o autor doou 139 desenhos ao diversas vicissitudes. Obtido o Abriu ao público a Biblioteca cando-se as “operações stop”, o Barreiro, materializando a re- visto do Tribunal de Contas, os alMADA Municipal Maria Lamas, um pro- “Projeto Patrulheiros” e a Escola lação afetiva com a terra onde trabalhos arrancaram dia 22 . Estacionamento nas praias jeto da autoria do arquiteto João Fixa de Trânsito. nasceu. de julho para durar cerca de Iniciaram-se em março as obras Entrou em vigor o Regulamento Santa-Rita, localizada no Centro 315 dias e permitir criar o Cen- de regeneração da Frente Ribei- Específico de Estacionamento e Cívico da Caparica que, junta- . Parque temático . Campo arqueológico tro de História Local, onde será rinha de Alcochete, que abran- Circulação para a Costa da Ca- mente com outros equipamen- Abriu ao público o Centro de Inter- instalado o Arquivo Histórico ge a Rua do Norte, o Largo da parica – Praias, com o objetivo tos municipais veio dotar de pretação do Campo Arqueológico Municipal de Cascais. Segundo Misericórdia e a Av. D. Manuel I. de promover o correto estacio- uma nova centralidade a fregue- da Mata da Machada (CICAMM), projeto da autoria da arquiteta Esta intervenção foi objeto de namento nesta , no- sia da Caparica. O investimento no âmbito da Rota do Trabalho Mais 22 novas empresas cria- Paula Santos, a requalificação uma candidatura ao abrigo do meadamente na frente urbana municipal na nova biblioteca e da Indústria promovida pela das com o apoio da Câmara deste imóvel de estilo neoclás- PORLisboa do QREN, aprova- de praias. As novas regras pro- ascende a quase um milhão e Câmara Municipal do Barreiro. sico representa um investi- da em 2009, em parceria com Municipal de Cascais, através curam melhorar e aumentar a 300 mil euros, incluindo a cons- O núcleo expositivo integra um da agência municipal de em- mento municipal global de 1,5 O projeto “Orquestra Geração” um conjunto de entidades. A capacidade de estacionamento trução do edifício, os fundos antigo forno cerâmico dos sécu- milhões de euros. surge em destaque no site da preendedorismo DNA Cascais, Regeneração da Frente Ribeiri- documentais e o equipamento. Comissão Europeia, na área da destinado a residentes e dissu- los XV-XVI, onde eram produzidas foram apresentadas recente- nha representa um custo total Política Regional. adir o estacionamento de longa as várias peças de barro, entre mente à comunidade local. Re- 2.060.512,68 euros, assumin- duração. A gestão do disposi- as quais as formas de biscoito LISBOA Este projeto, iniciado em 2007, presentando um investimento do a autarquia um investimento tivo está a cargo da ECALMA - aMADORA No ano em que se celebra o e as de pão de açúcar. O CICAMM . FAB LAB centrado na ação e desenvolvi- privado inicial de 1,6 milhões mento social através da música, de 1.057.836,99 euros para a Empresa de Estacionamento e . Matinha da Venda Nova 50º aniversário da Mônica, dispõe de um programa de visi- de euros, as 22 empresas, inspirado no Sistema de Orques- execução das intervenções da Circulação de Almada, EM. O concelho da Amadora vai ficar, personagem incontornável da tas guiadas sujeitas a marcação distribuídas pelas áreas da tras Infantiles e Juveniles de sua responsabilidade. em breve, dotado de um novo história da Banda Desenhada, no Posto de Turismo no Mercado Saúde, Tecnologias de Informa- Venezuela, foi implementado na . Quarteirão das artes espaço de lazer e bem-estar, a Câmara Municipal da Amado- Municipal 1º de Maio. região pela Área Metropolitana . Alto do Castelo após a intervenção urbanística ra vai construir um parque na ção e Comunicação, Turismo, de Lisboa e sete dos Municípios A Câmara Municipal concluiu na Matinha da Venda Nova com cidade em homenagem ao seu . Troca de manuais escolares Eventos, Beleza e Bem-Estar, que a integram (Amadora, Lis- Comércio, Desporto, Indústria boa, Loures, Oeiras, Sesimbra, no passado mês de junho a pa- o objetivo de corrigir situações criador, Maurício de Sousa. O Sintra e Vila Franca de Xira), vimentação dos arruamentos decorrentes das obras da CRIL. parque com uma área de cerca e Ambiente, vão permitir criar com a supervisão e coordena- na Urbanização do Ribeirinho, A obra, adjudicada pela Valorsul de 4.000 m2, será construído mais de 100 novos postos de ção pedagógica da Associação situada no Alto do Castelo, em à empresa Vibeiras – Sociedade no espaço onde se situa a Fá- trabalho no concelho no prazo de Amigos da Escola de Música Alcochete, incluindo a execu- Comercial de Plantas, pelo valor brica da Cultura, na freguesia da de três anos. do Conservatório Nacional, no ção de sinalização horizontal, de 275.637,01 euros, contempla Falagueira, no local onde decor- Está já a funcionar, no Mercado âmbito de candidaturas apre- uma intervenção no valor de três grandes intervenções, no- reram várias edições do Festi- . Memórias da Linha do Forno do Tijolo, o primeiro sentadas ao PORLisboa – QREN. 44.596,80 euros. Esta emprei- Com sabor a crónica de viagens Tem por objetivo o desenvolvi- meadamente a correção da via val Internacional de BD. A obra, Fab Lab da cidade de Lisboa, mento de orquestras infantis e tada de obras públicas abran- rodoviária, com estacionamen- financiada na totalidade pela Va- “Memórias da Linha de Cas- um laboratório de fabricação juvenis em escolas do 1º, 2º e ge a Rua dos Freixos, Rua das O Quarteirão das Artes, um es- tos adjacentes, a implementa- lorsul, custará cerca de 670 mil cais”, de Maria Archer e Branca digital que se destina à pro- 3º ciclo, contribuindo para um Olaias, Rua das Tipuanas e Rua paço destinado às indústrias ção de um parque infantil e um euros, deverá estar concluída Gonta Colaço, é uma obra de totipagem rápida, fabrico per- crescimento mais harmonioso do Alto do Castelo, numa área culturais e criativas, nascido em circuito de manutenção. em setembro. Até 31 de outubro decorre o pro- referência sobre a história dos sonalizado e experimentação das crianças e jovens em situ- pavimentada de 3.365 m2. abril da recuperação e reconver- jeto “Dar de Volta”, na Biblioteca concelhos de Cascais e Oeiras. industrial, tendo como matéria- ação de maior vulnerabilidade são de antigas oficinas e arma- . Segurança Rodoviária Municipal do Barreiro, pelo ter- Editada pela primeira vez em -prima principal a cortiça. Além educativa e social. . Samouco zéns do Município na Rua Conde Foi apresentado no dia 7 de BARREIRO ceiro ano consecutivo. Em co- da reabilitação da atividade Atualmente conta com 16 or- 1943, ainda hoje continua a questras no ativo a nível nacio- A autarquia deu início às obras Ferreira, entretanto desativa- maio, o Observatório Municipal . Américo Marinho operação com as famílias e as cativar quem a lê pelo que o re- económica original deste equi- nal, envolvendo mais de 800 de remodelação do Largo de São das, dispõe de 11 espaços in- de Segurança Rodoviária, que Está patente ao público até 29 escolas, este projeto visa enco- gresso às livrarias, assegurado pamento municipal, a autar- jovens a frequentar atividades Brás, um espaço público situa- dividualizados e equipamentos coadjuvará o município na im- de setembro, no Auditório Mu- rajar e proporcionar aos muníci- formalmente pelas Câmaras quia dotou-o agora com uma de formação musical. do junto à Igreja de São Brás em coletivos destinados a apoiar e plementação da estratégia mu- nicipal Augusto Cabrita, uma pes a reutilização dos manuais Municipais de Cascais e Oeiras nova vocação contando com

6.7 MTPAML BREVES BREVES

a colaboração de empresas e recurso a uma nova tecnologia prestado aos cerca de sete mil . Praias com qualidade de Reabilitação Urbana Moi- . Ruas limpas Águas de Caneças, no âmbito do Desde o seu lançamento, em instituições como a Amorim, de construção, desenvolvida utentes que a empresa trans- Foz do Lizandro, São Lourenço ta 2025. Com este programa, programa “Reabilitar para Arren- maio de 2009, este transporte Ibermoldes, Etic, ESBAL, Ydre- por uma empresa portuguesa. A porta mensalmente para aquela e Calada, foram as zonas bal- pretende-se enfrentar, de forma dar” para equipamentos de uso público municipal já transportou ams e AIP. eliminação definitiva do núcleo unidade hospitalar, oriundos de neares com mais de cinco anos sistemática, num horizonte de público, do Instituto da Habita- mais de 720 mil passageiros. de barracas da Quinta da Vitória Moscavide, Sacavém, Apelação, de observação reconhecidas curto e médio prazo, um conjun- ção e da Reabilitação Urbana. . Reabilitação urbana está prevista para os próximos Frielas e Loures. pela Quercus como “praias com to de problemas urbanos já iden- Este programa visa o financia- Realizou-se recentemente o lei- meses com o realojamento das qualidade ouro”. A Associação tificados nas áreas centrais dos mento sob a forma de emprés- OEIRAS lão de 27 prédios municipais, no restantes famílias noutras habi- Bandeira Azul da Europa distin- núcleos urbanos do concelho timo a 30 anos. O investimento . Habitação jovem âmbito do programa “Reabilita tações camarárias. MAFRA guiu, também, com o galardão Alhos-Vedros, Baixa da Banheira, total das intervenções é supe- primeiro, paga depois”. Foram . Empreendedorismo de qualidade as praias de Porto Moita, Gaio-Rosário, Sarilhos Pe- rior a 1.500.000,00 euros. recebidas 68 candidaturas, de . Bibliotecas escolares da Calada, São Lourenço, Ribeira quenos e Vale da Amoreira, tendo empresas e singulares, tendo d`Ilhas, Algodio, Ribeira ou dos como horizonte o ano de 2025. Por iniciativa da Câmara Muni- . Mais saúde o total arrecadado pela câmara Pescadores, Baleia ou Sul, Foz cipal, através da Casa do Am- Estão já de portas abertas as atingido os 2 milhões, 968 mil do Lizandro-Mar. . Obras no IC32 biente, está a decorrer uma Unidades de Saúde da Ramada e 500 euros, soma que ultrapas- O presidente da Câmara, João campanha de sensibilização e da Póvoa de Santo Adrião, um sa em cerca de 39% o valor base Lobo, reuniu recentemente com dos munícipes com o objetivo investimento de mais de seis inicialmente definido. Este foi o MOITA a subconcessionária Auto-Es- de contribuir para uma cidade milhões de euros que vem ga- terceiro leilão realizado no âmbi- . Fonte da Prata tradas do Baixo Tejo, SA, com o mais limpa. No âmbito da cam- rantir aos munícipes das duas panha, uma equipa constituída to deste programa, e tal como os Teve início a recuperação do objetivo de conhecer o plano de melhores condições por cerca de dez elementos, en- A Câmara Municipal de Oeiras, anteriores, resultou num enorme Parque Urbano da Quinta da conservação e investimento no no acesso à saúde. O edifício da tre trabalhadores da autarquia e no âmbito do plano estratégico êxito. Fonte da Prata, em Alhos Vedros, IC32, designadamente no lanço Ramada contempla 17 gabine- membros da comunidade, for- “Habitar Oeiras”, celebrou um Com o objetivo de potenciar o incidindo na construção, repa- que abrange o concelho da Moi- tes para um total de 15.690 ins- maram a “Brigada Ruas Limpas” auto de consignação de emprei- . Ponte ciclável Três novas bibliotecas escola- sucesso das boas ideias ao ser- ração e limpeza de pavimentos, ta. Esta reunião enquadra-se critos. Já o de Odivelas A, consti- que percorre a cidade do Monti- tada com a empresa adjudica- O projeto arquitetónico da pon- res (EB1/JI da Bobadela, EB1/JI viço do mundo dos negócios, o mobiliário urbano, equipamen- no conjunto de contactos que a tuído também por 17 gabinetes, jo uma vez por mês, em data e tária, a “Cobeng Construtora, te ciclável e pedonal sobre a 2ª de São Julião do Tojal e EB1 nº Gabinete de Apoio ao Empreen- tos, plantações, rede de rega e autarquia tem desenvolvido jun- tem 22.858 utentes. zona aleatória. Lda”, para a requalificação do circular, em construção, pode 1 de São João da Talha) abriram dedorismo, criado em fevereiro rede de iluminação pública em to da Estradas de , no edifício sito na Rua Costa Pin- ser visto na exposição online pa- portas no segundo trimestre de 2013, destina-se, prioritaria- todo o parque, numa área total sentido de corrigir deficiências . “Voltas” sobre rodas . Memórias do Montijo to, nº 196, em Paço de Arcos, tente no site da Fundação Galp deste ano, alargando para 47 o mente, aos futuros empresá- de 3,2 ha. Após sucessivos in- na rede rodoviária, bem como O Museu Municipal do Montijo dotado com dez fogos e dois Energia. O projeto selecionado número total de unidades insta- rios de mini ou microempresas. cumprimentos dos promotores perspetivar novas ações que tem patente a exposição “Mon- espaços comerciais, pelo valor na sequência do concurso inter- ladas nas escolas do concelho Para além do aconselhamento da urbanização, a Câmara da melhorem a mobilidade das po- tijo: memórias, identidade e de 692.785,33 euros, sendo o nacional “Pontes para um futuro no âmbito da Rede de Biblio- empresarial, pretende a autar- Moita acionou a garantia bancá- pulações. futuro”, dedicada à história do prazo de execução de 540 dias. mais positivo”, lançado em 2009 tecas Escolares (RBE). O valor quia, também, facultar apoio no ria e decidiu avançar com a em- concelho e demonstrativa da Trata-se de mais um imóvel ad- pela referida fundação em cola- global direto despendido pela desenvolvimento ou na requali- preitada, avaliada em 680.000 vivência sociocultural das di- quirido pela autarquia nos cen- boração com a ExperimentaDe- autarquia neste projeto, incluin- ficação de negócios já existen- euros e com um prazo de execu- MONTIJO versas ocupações na área do tros históricos para a sua recu- sign, da autoria de Telmo Cruz e do os apoios do programa RBE tes. A reserva de atendimento ção de seis meses. . Férias ativas 2013 município. O percurso expositi- peração e revitalização. Maximina Almeida, prevê-se que e do Plano Nacional de Leitura, é feita pelo telefone 261810125. Encontra-se a decorrer, até 31 vo integra os momentos mais esteja concluído em outubro ascende a mais de um milhão . Reabilitação urbana de agosto, o programa Férias marcantes da vida no território, . Oeiras wi-fi zone deste ano. de euros. . Novas funcionalidades Ativas 2013, dirigido a crian- desde a pré-história até ao sé- Os Jardins do Palácio do Mar- A Câmara Municipal de Mafra ças e jovens entre os 6 e os O “Voltas”, um transporte urbano culo XX, relevantes para a pre- quês de Pombal são o primeiro . Mobilidade nos transportes apresentou recentemente um 18 anos, numa parceria entre coletivo de iniciativa municipal, servação da identidade local. local do concelho onde é pos- LOURES O Hospital Beatriz Ângelo em novo site e o Balcão Único Di- a Câmara Municipal do Monti- celebrou o quarto ano de ativi- A mostra pode ser visitada de sível ligar-se à internet gratui- . Habitação social Loures passou a ser servido gital. Novos e mais conteúdos, jo e o movimento associativo segunda a sexta-feira. dade com total aceitação pelos tamente, usufruindo da Oeiras A Câmara Municipal de Loures pela carreira 301 da Rodoviária acessibilidade facilitada, ima- do concelho com o objetivo de utentes do serviço. Tendo como Wi-Fi Zone. Durante o verão o deu início, no dia 7 de junho, no de Lisboa, que liga a zona co- gem moderna e uma nova área contribuir para a melhoria da objetivo facilitar a mobilidade município de Oeiras vai dispo- bairro CAR de , à cons- mercial de Loures à Estação do “Quero” de interação com os qualidade de vida e de forma- ODIVELAS e o acesso a instituições e a nibilizar outros hotspots, no trução das casas que irão alojar Oriente, com a introdução de munícipes, são os atributos do ção pessoal, desportiva, edu- . Reabilitação urbana serviços públicos localizados Porto de Recreio, na praia da seis das últimas famílias que duas paragens no interior da renovado sítio da autarquia, que cativa e social dos mais jovens. A Câmara Municipal de Odive- no concelho, o “Voltas” tem um Torre e na Fábrica da Pólvora residem nas barracas da Quinta unidade hospitalar. Esta nova al- estão associados ao Balcão Úni- A Câmara Municipal da Moita Mais informações podem ser las apresentou candidaturas de preço convidativo - 60 cêntimos de Barcarena, alargando-se até da Vitória, freguesia da Portela. teração do percurso rodoviário co Digital, onde é possível tratar apresentou publicamente na Bi- obtidas na Divisão de Cultura, reabilitação da Quinta Espírito - e funciona de segunda a sexta- ao final do ano estas facilidades Trata-se de habitações modula- original vai ao encontro da sa- da relação entre a autarquia e blioteca Bento de Jesus Caraça, Biblioteca, Juventude e Des- Santo, Quinta das Águas Férre- -feira, das 8h00 às 20h00, com informáticas a outros locais do tisfação da qualidade do serviço os cidadãos sem sair de casa. res de tipologia TO, feitas com na Moita, o Programa Municipal porto da autarquia. as e Centro Interpretativo das uma frequência de 20 minutos. concelho.

8.9 MTPAML BREVES BREVES

. Ribeira de Outurela decorreu recentemente em Cas- cessos no município do Seixal so solar, a geologia da Lagoa de . Brejos de Azeitão to, o projeto “Praia Acessível a . Mais saúde SETÚBAL A autarquia inaugurou uma in- telfranco Veneto, Itália. O Municí- dispõe já de novas facilidades Albufeira, a flora da Arrábida ou A eficácia e a qualidade do abas- Todos”, na Praia da Adraga e na . Bela Vista tervenção no Corredor Verde da pio recebeu 11 medalhas (três de que permitem proceder online, o Farol do Cabo Espichel são al- tecimento de água em Brejos Praia das Maçãs, que possibi- Ribeira de Outurela, na freguesia Ouro e oito de Prata), num total de obrigatoriamente, à submissão gumas das atividades propostas de Azeitão é o objetivo principal lita aos cidadãos com mobili- de Carnaxide, que consistiu na 19 prémios para a Península de dos requerimentos e respetivos pelo programa no concelho, cuja da reabilitação e ampliação das dade reduzida a fruição plena requalificação e arranjo paisa- Setúbal. A Casa Ermelinda Freitas elementos instrutórios em for- frequência é gratuita, bastando a infraestruturas de distribuição da praia, contribuindo para a gístico daquela zona, com uma foi a adega mais premiada, com mato digital relativo a pedidos inscrição no site da entidade. a executar num conjunto de melhoria da sua qualidade de área total de 5.844 m2, a que cinco medalhas, seguida da Ade- de informação prévia e comuni- arruamentos daquela área ha- vida. Desde 2002, já usufruí- corresponde um investimento ga Cooperativa de Palmela, Sivipa cação prévia de obras de edifi- . Moagem de Sampaio bitacional do concelho. A inter- ram desta iniciativa municipal total de cerca de 100 mil euros. e Venâncio da Costa Lima. cação; licenciamento de obras Foi inaugurado em abril o Nú- venção municipal, orçada em desenvolvida em parceria com Esta intervenção incluiu a cria- de edificação e autorização de cleo Museológico da Moagem 54.785,27 euros, abrange uma as Associações de Bombeiros ção de 15 hortas comunitárias . Mexa-se em Palmela utilização. de Sampaio, um repositório de extensão total de aproximada- Voluntários de Almoçageme e Durante os meses de julho e memórias sobre o património mente 900 metros. Colares, cerca de 1048 pessoas. Depois da entrada em funciona- no local com cerca de 25 m2 A criação de espaços de lazer Agosto, a Câmara Municipal de . Navegar pelo Tejo moageiro, constituindo, ao mes- mento do novo hospital, em abril, cada, cuja disponibilização aos para uma ocupação coletiva Palmela e os parceiros do pro- mo tempo, um espaço de valori- . Desporto na Agualva foi a vez do Centro de Saúde de utilizadores foi objeto de prévia e multifuncional (iluminação, grama “Mexa-se em Palmela” zação dos produtos tradicionais SINTRA Estão em curso desde maio os Alhandra abrir as portas à popu- concertação. repavimentação, drenagem de propõem um conjunto de ativida- locais. O investimento rondou os . Cabo da Roca trabalhos de requalificação do lação. O novel equipamento de águas pluviais e arborização), des físicas junto dos munícipes 160 mil euros, comparticipados Complexo Desportivo Municipal saúde, com três pisos, foi edifi- que asseguram a fácil circulação PALMELA para que se sintam bem e em em 60% pelo Programa de De- de Agualva, visando dotar esta cado num terreno com 1000 m2 entre os blocos de edifícios, é o forma. De participação gratuita e senvolvimento Rural, ao abrigo instalação de condições para e vai servir um total de 14.671 . Rede viária principal objetivo da reabilitação sem limite de idades, o programa de uma candidatura apresentada a prática de diversas modalida- utentes, implicando, por parte da dos 19 pátios do bairro da Bela aposta nas atividades ao ar livre, pela Câmara Municipal. des desportivas e disciplinas Câmara Municipal, um investi- Vista, em Setúbal, recentemente que dão a conhecer o património técnicas do atletismo. O projeto mento orçado em 1.220.000,00 inaugurados. O projeto integrado natural do concelho e, em parti- . Estacionamento desta obra municipal foi articu- euros. A autarquia protocolou, cular, a Arrábida. no programa RUBE - Regenera- lada com a Federação Portugue- ção Urbana da Bela Vista e Zona entretanto, com a Administração Estão abertas as inscrições atra- sa de Atletismo e tem um prazo Regional de Saúde de Lisboa e vés dos Serviços Online para os Envolvente, teve um investimen- de conclusão estimado de 18 SEIXAL to de 1 milhão e 285 mil euros, Vale do Tejo, o ressarcimento do circuitos turísticos “A Navegar meses. valor da empreitada. . Protocolo desportivo pelo Tejo”, um conjunto de visitas comparticipado em 65% através Reabriu ao público o Posto de A Câmara Municipal do Seixal e guiadas pela baía e núcleo urbano do PORLisboa. Turismo do Cabo da Roca, alvo VILA FRANCA DE XIRA . Eco-bairro da Póvoa A Câmara de Palmela tem em o Sport Lisboa e Benfica SAD as- antigo do Seixal. Os passeios são de obras de remodelação no . Nova biblioteca municipal A Câmara Municipal está a de- curso uma empreitada de sina- sinaram um protocolo para criar feitos em embarcação tradicional âmbito da promoção da marca . Homenagem ao campino Concebido pelo ateliê “Jordana senvolver um projeto ecológico lização horizontal em estradas um estádio municipal e ampliar o varino “Amoroso” e fragata “Baía Sintra, Capital do Romantismo. Abriu ao público no Celeiro da Tomé, Vitor Quaresma, Filipe Oli- com o objetivo de tornar a zona municipais, no valor global de Centro de Estágio - Caixa Futebol do Seixal” - acompanhados por A identidade mítica do local e Patriarcal a mostra denominada: veira”, com coordenação do ar- central da Póvoa de Santa Iria 28.423,90 euros, que abrange Campus. Com a concretização um técnico municipal, e decor- a grandeza, mistério e simbo- “O campino, imaginários de uma quiteto Joaquim Duque Duarte, o na primeira eco-comunidade do as cinco freguesias do conce- deste protocolo, o clube lisboe- rem até outubro ao preço de 7 eu- A partir de 29 de julho, parte dos lismo que o mar tem para os identidade, representações nas projeto de conceção das futuras concelho. A Requalificação do lho. Os trabalhos prolongam-se ta irá entregar à autarquia, após ros por pessoa, sendo gratuitos estacionamentos na zona central portugueses foram as fontes artes visuais portuguesas”. A instalações da nova biblioteca Mercado do Levante, a implanta- até ao final do ano, e abrangem obras de recuperação, o antigo para crianças até aos 12 anos. da vila de Sesimbra passaram a de inspiração para a autora do génese deste projeto baseou- pública, foi selecionado entre ção de hortas urbanas e a nova a marcação e pintura de lugares Estádio do Bravo e as respetivas ser pagos, com o objetivo de dis- projeto, Margarida Bugarim, -se num olhar transversal sobre 127 candidaturas, das quais 28 sede do Clube Académico de de estacionamento, a pintura da infraestruturas, enquanto a edi- ciplinar a oferta de parqueamento que conferiu ao espaço uma as coleções do Museu Munici- SESIMBRA eram estrangeiras, apresen- Desportos, são os novos proje- ciclovia e de passadeiras sobre- lidade do Seixal disponibilizará em espaço público. A exploração visão contemporânea, minima- pal de Vila Franca de Xira, onde destes lugares ficará a cargo de tadas no âmbito do concurso lista, funcional, mas ao mes- tos que fazem parte do designa- -elevadas e repintura de bandas um terreno com 35.500 m2 para . Ciência viva a presença do campino, com uma empresa privada concessio- público aberto pela autarquia. A mo tempo acolhedora. Como do “Eco-Bairro” para a freguesia. cromáticas. a construção de três campos de Até 15 de setembro, Sesimbra especial enfoque na área das treino, dois para o clube e um volta a estar no roteiro da Ciência nada pela autarquia, que receberá proposta vencedora, premiada cartão de visita do Posto de artes visuais, tem uma profu- Estas intervenções, no total de para o município. uma percentagem do valor co- com 12 mil euros, representa Turismo, foi escolhida a céle- sa e recorrente representação. 2.800.000,00 euros, inserem- . Vinhos medalhados Viva. A iniciativa, em colaboração brado. Residentes, profissionais um investimento limite de 3,2 bre estrofe dos Lusíadas onde Distribuída por seis áreas temá- -se na candidatura apresentada À semelhança de 2012, Palmela com a Agência Nacional para a . Desmaterialização e comerciantes em atividade nas milhões de euros. As instalações Camões evoca o “ponto mais ticas: o Trabalho, o Descanso, as pela autarquia ao programa de voltou a ser o município portu- Cultura Científica e Tecnológica, de processos zonas abrangidas, deverão solici- serão edificadas na zona sul do ocidental da Europa”. Festividades, a Religiosidade, o ação “Póvoa Central, uma Eco guês mais premiado no XII Con- vai permitir aos mais peque- Em regime experimental durante tar a emissão de cartões, livres Largo José Afonso, junto da Ave- Retrato e o Reconhecimento, a Comunidade”, no âmbito do Pro- curso Internacional de Vinhos nos descobrir os mistérios do os primeiros quatro meses do de pagamento, no Departamento nida Luísa Todi e próximo da fren- . Praia acessível a todos exposição está patente até 13 grama “Polis XXI”, com 65% de “La Selezione del Sindaco”, que mundo da ciência em tempo de ano, a desmaterialização de pro- férias. Conhecer melhor o univer- de Obras Municipais. te ribeirinha de Setúbal. Está a decorrer até 31 de agos- de outubro. comparticipação comunitária.

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Fernando Seara, presidente da Câmara de Sintra defende que as Juntas Metropolitanas de Lisboa e Porto passem a arrecadar os impostos locais para evitar mecanismos de sobreposição. “Estes significam custos a duplicar, ou seja, despesa inútil, o que é um desperdício das taxas e impostos a que as pessoas estão sujeitas”, afirma. O autarca de- fende que só pode haver áreas metropolitanas se houver delegação de competências mútuas dos municípios e da administração central nelas, de maneira que possam ser exercidas de forma exclusiva.

Metrópoles - Este ano decorrem eleições autárquicas. Como vê o futuro do poder local espartilhado como está nas contas do défice “Temos de ter a noção que vivemos público? um tempo de mudanças e temos

Fernando Seara - O poder local é uma realidade no Portugal democrá- experiência suficiente para sabermos tico. Mas tem necessidade de se adaptar em relação aos paradigmas que a história é cíclica” existentes, neste conjunto de 10 mandatos autárquicos decorridos desde as primeiras eleições. E vejo isso com o entusiasmo da racio- nalidade contemporânea. Tenho aprendido bastante em relação a este tema porque, nos últi- mos meses, tenho recebido vários representantes de cidades do ex- tremo oriente, particularmente da China, em Sintra. Vêm estudar os paradigmas do poder local em Portugal. digo pressupõe algum calculismo e experiência de casos. E o que Quando refiro que sou o segundo município de Portugal e digo qual é lhes falta é a experiência de casos, de situações concretas. a nossa população, os representantes dessas cidades sorriem. Basta Fui crítico em relação à Lei dos Compromissos. Mas é óbvio que me pensar que Cantão passou de 1,5 milhões de habitantes há 45 anos escutaram, pois todos os mecanismos da sua aplicabilidade e sua para os 13 milhões atuais. São realidades diferentes. concretização foram alterados e retificados, e adaptados às circuns- Os constrangimentos são reais. São do Estado, das empresas, das tâncias das autarquias. autarquias e das famílias. Mas temos de ter a noção que vivemos um A Lei dos Compromissos é virtuosa ao nível da contabilidade contem- tempo de mudanças e temos experiência suficiente para sabermos porânea. Acabei de receber um relatório, porque fui objeto de inspe- que a história é cíclica. Quem acredita em crescimentos contínuos, nunca estudou nada da ção por parte da Inspeção Geral de Finanças no cumprimento da Lei história do capitalismo. E quem acredita que não há momentos da dos Compromissos, e constatei que Sintra está a trabalhar bem e que história onde a liberdade e a expressão da democracia representativa a nossa metodologia até devia ser objeto de análise por parte de ou- são mais importantes que certos tipos de populismos, são falsamen- tros municípios. É evidente que fico contente, porque ajudei a retificar te democratas e distinguem-se dos verdadeiros democratas. aquilo que estava mal. Há 10 meses que passei a ser dinossauro. Ainda por cima isso foi dito Metrópoles - Algumas propostas polémicas do governo, como as Leis por algumas pessoas que dependem e estão em dedicação exclusiva do Arrendamento Urbano, dos Compromissos Financeiros e do IMI, à política há 15, 18, 30 anos, o que é bom. Isso significa que o termo suscitaram uma posição muito crítica da sua parte. Quer explanar o dinossauro tem, por detrás, uma realidade subjetiva. seu pensamento? No que respeita ao IMI, escutei que iria haver um aumento substancial Competências da receita. Na minha simplicidade e ignorância, disse, em reuniões Fernando Seara - Critiquei a Lei do Arrendamento Urbano em razão da Junta Metropolitana de Lisboa e da Associação Nacional de Muni- dos mecanismos que tinha e têm de existir de explicação da lei e de cípios que, em alguns municípios, isso não iria acontecer. E salientei das áreas metropolitanas ajuda e apoio a todos aqueles que estão em situação de debilidade. que um deles era Sintra. Nós vivemos na sociedade da informática, mas temos de ter cons- Na altura fui muito questionado, mesmo por altas figuras do Estado. ciência que 40% daqueles que são atingidos pela lei do arrendamen- Mas acabei de constatar que aquilo que o simplório presidente da Câ- devem ser exercidas to são infoexcluídos. E como isso acontece, temos de lhes arranjar mara de Sintra tinha afirmado há seis meses é verdade. mecanismos de apoio. E estes têm de estar previstos no momento em que se faz a lei. Não podem ser formulados depois das suas con- Metrópoles - No quadro da Reforma da Administração Local, algu- em exclusividade sequências. mas freguesias de Sintra vão ser extintas ou fundidas com outras. O Quando dava aulas, eu ensinava, aos meus alunos, que a política “é Tribunal Constitucional declarou, entretanto, a inconstitucionalida- Fernando Seara, presidente da Câmara de Sintra prever para prover”. E o que faltou aqui foi prever. de da criação das Comunidades Intermunicipais. Acha que a filosofia Nós vivemos um tempo em que certo tipo de estruturas do Estado deste diploma contempla uma verdadeira reforma administrativa do são demasiado jovens para perceberem a realidade. Eu sei que o que território?

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Metrópoles - Com vê o futuro das Áreas Metropolitanas, numa altura postos locais. Nós, em Portugal, temos soberania fiscal local, o que “Nós vivemos na sociedade da em que parece não haver grande entusiasmo político pela sua legiti- significa que temos a receita do IMI, do IMT como receitas exclusiva- informática, mas temos de ter mação pelo voto direto? mente municipais, mesmo que ande, para aí, agora, a proposta de eliminação do IMT na Lei das Finanças Locais. consciência que 40% daqueles Fernando Seara - O problema das áreas metropolitanas, a par da le- Independentemente de tudo, uma parte da receita, de 2,5% do IMI, que são atingidos pela lei do gitimidade direta, é a definição e atribuição concreta e exclusiva de fica retida na administração central para pagamento das despesas competências. Se criamos uma entidade jurídica e administrativa inerentes à cobrança deste imposto. Foi, no caso de Sintra, nos úl- arrendamento são infoexcluídos” e não lhe atribuímos competências, ela não tem meios, formas e timos anos, de 9 milhões de euros, o que significa que a autarquia estímulos. Se criarmos uma empresa e não lhe dermos nada, esta é deve pagar, por ano, a totalidade das despesas de funcionamento apenas uma atividade lúdica para o seu criador. do conjunto dos funcionários das repartições de finanças de Sintra, Em alguns casos, as Juntas Metropolitanas tiveram alguma ativi- Odivelas, Cascais, Oeiras e Amadora. Já não falo em Lisboa, para dade, porque foram meios de gestão de fundos comunitários. Mas, É isso que falta concretizar rapidamente, seja antes das eleições au- não perturbar nenhuma lógica existencial. hoje em dia, só pode haver áreas metropolitanas se houver delega- tárquicas, seja até ao final do ano, para que não haja, a partir de dia Ou seja, temos de pensar na distribuição concreta de atribuições, 1 de janeiro de 2014, duas realidades na administração local portu- ção de competências mútuas dos municípios e da administração para não haver mecanismos de sobreposição. Estes significam guesa. Um conjunto de autarquias do município de Lisboa com um central nelas, de maneira que possam ser exercidas de forma ex- custos a duplicar, ou seja, despesa inútil, que é um desperdício das conjunto de competências, inclusive responsabilidades financeiras, clusiva. taxas e impostos a que as pessoas estão sujeitas. enquanto as restantes freguesias, objeto, ou não, de agregação, es- A grande questão é saber se essas competências e atribuições re- tão sob as leis em vigor desde 1999. sultarão por via da lei ou através de contratualização assumida. É evidente, para quem quiser ver e perceber, que há outros impostos Uma das atribuições que defendo, a nível experimental a Lisboa e que podem ser reduzidos, através da diminuição de encargos para os Metrópoles - Fala-se muito na possibilidade das infraestruturas Porto, por exemplo, é ao nível da arrecadação dos chamados im- cidadãos, mesmo em relação a rendas de empresas monopolistas ou aeroportuárias do concelho poderem acolher um aeroporto comple- oligopolistas. mentar ao de Lisboa. Há alguma novidade sobre o assunto? Hoje em dia, estas são as mais importantes, porque usam, para quem Não há nenhuma novidade. o quiser ver, lógicas de cartelização de preços em termos de taxas de prestação de serviços essenciais à sociedade. É evidente que são Fernando Seara - Sintra tem-se afirmado como um espaço que inte- empresas, mas se funcionarem em cartel, os preços que praticam gra, essencialmente, natureza, história, cultura e turismo. São estes atingem os cidadãos e as outras empresas. os nichos temáticos da sua identidade própria? É essa a questão fundamental dos próximos tempos. Se o Estado não Sintra concelho é feita de múltiplas Sintras. A Sintra histórico-cultural, tem capacidade de diminuir os encargos sobre as famílias e as em- património da humanidade, com crescimentos ao nível do número de presas, quem é que tem? Ao nível da sua soberania fiscal, só podem visitantes e, de turistas, de dois dígitos nos últimos cinco anos, o que ser as autarquias. Mas para fazer o quê? Para criar condições de di- Fernando Seara - O Tribunal Constitucional pronunciou-se, e bem, pela é significativo. Depois temos a Sintra urbana, com algumas das fre- minuição dos encargos administrativos e, assim, libertar verbas para inconstitucionalidade, desde logo porque os constitucionalistas emé- guesias com maior densidade populacional de Portugal, como a ago- os cidadãos e empresas, que passarão a pagar menos taxas e impos- ra União das Freguesias Monte Abraão/Massamá, que está a par da ritos e outros bem simples, onde estou incluído, consideraram que a tos. Quem quiser pensar isso pensa na reforma do Estado. Quem não Amadora. Depois temos a Sintra Saloia, cada vez mais a transformar- lei tinha normas inconstitucionais. Acompanhei, desde o princípio, a quiser... -se na zona abastecedora de produtos hortícolas e frutas de alguma sua formulação, e disse-o. parte de Lisboa, onde houve uma redescoberta da agricultura antes Com isto e perante as dúvidas que o Presidente da República susci- de alguns falarem sobre agricultura. E temos também a Sintra indus- tou, apoiadas pelo Professor Doutor José Joaquim Gomes Canotilho, trial, com os mármores hoje em dificuldade devido à concorrência aquilo que o governo tem de fazer é uma alteração em conformidade internacional e a Sintra das plataformas logísticas, onde se incluem com a Constituição e a enumeração concreta da norma respeitante as das farmacêuticas. às autarquias locais para constituição dessas atividades. O concelho é uma mescla de múltiplas Sintras. Mas temos tido resul- E tem de o fazer com rapidez, para não suscitar outro problema, de tados notáveis com a Sintra património da humanidade, em articula- desigualdade administrativa. Porquê? Porque na ordem administrati- ção com a empresa Parques Sintra Monte da Lua. Já fizemos as rea- “Temos de pensar na distribuição va local portuguesa temos duas realidades diferentes. Temos uma lei bilitações do Chalé da Condessa e do Palácio de Monserrate. Quando específica para o município de Lisboa, que consagra um conjunto de cheguei a Sintra, este era uma peça da pré-história. Hoje, é uma da concreta de atribuições, atribuições, competências, às suas freguesias, o que não acontece história verdadeira. para não haver mecanismos com nenhum dos outros concelhos de Portugal. Tudo isto quer salientar que o património histórico e cultural tem sido Ou seja, temos uma lei que foi declarada inconstitucional em três das uma riqueza para Sintra. Dou, como exemplo que, quando cá chegá- de sobreposição, que significam suas normas e o governo entendeu, e bem, revê-las. Mas, ao mesmo mos, a Quinta da Regaleira tinha 30 mil visitantes. Em 2012 teve cer- custos a duplicar, ou seja despesa tempo, temos, na ordem jurídica vigente, uma lei específica para Lis- ca de 300 mil. boa, com competências para as suas novas freguesias, às quais já Mas temos a obrigação, hoje em dia, de não massificar o turismo para inútil, que apenas é desperdício foram atribuídas verbas para 2014 sem ter sido aprovado, por parte que os nossos bisnetos e os bisnetos destes continuem a usufruir das taxas e impostos do Município de Lisboa, o orçamento para o mesmo ano. Temos, as- do Castelo dos Mouros, do Palácio da Pena, de Monserrate, do poço sim, uma “trapalhada” jurídica na administração local. iniciático da Regaleira. a que as pessoas estão sujeitas”

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A Revista Metrópoles, órgão de comunicação institucional da Área Me- que defende o Programa do Governo e a ideia de que o reforço de legi- tropolitana de Lisboa, veio a público no primeiro trimestre de 2003, timidade “não significa eleição direta da Junta ou da Assembleia”, que sendo sua Diretora Maria da Luz Rosinha, Presidente da Câmara de Vila seria “matar a Regionalização”. Franca de Xira (e também da JML), e Diretora Executiva Dalila Araújo, Apesar da “recusa unânime e liminar” expressa pela JML, as leis 45 e 10 anos de revista então Secretária Geral da AML, a quem se deve o essencial do esforço 46/2008 passaram, sendo promulgadas pelo Presidente Cavaco Silva. de planeamento e realização deste projeto. A Metrópoles do primeiro semestre de 2011 recorda os vinte anos das Os dez anos da sua existência documentam um período decisivo no Áreas Metropolitanas com mais um Destaque onde recolhe o depoi- metrópoles desenvolvimento do Poder Local Democrático, com os debates em tor- mento de onze personalidades diretamente envolvidas neste processo, no das diversas escolhas que foram sendo assumidas. Representando de diversas orientações políticas, incluindo alguns dos protagonistas os Municípios da AML, foram eles o nosso principal objeto de atenção, mais “antigos”, como José Manuel Nunes Liberato (Secretário de Es- mas sempre com o cuidado explícito de ouvir todas as vozes políticas tado em 1991), Daniel Branco (Presidente da JML de 1992 a 1998) e presentes no espaço das respetivas estruturas democráticas. Hélder Nobre Madeira (Presidente da Assembleia Metropolitana de Lis- Isto torna a coleção da Metrópoles, que vai na sua 35ª edição (a par- boa de 1992 a 1993). tir de 2010 houve necessidade de reduzir a frequência trimestral para Entretanto, no início de 2008 Dalila Araújo fora chamada para o cargo apenas duas edições por ano), uma espécie de arquivo documental do de Governadora Civil de Lisboa, tomando posse a 8 de fevereiro; deixou que sucedeu na AML - e, até certo ponto, no País, em termos do regime assim as funções de Secretária Geral da AML e Diretora Executiva da instituído para os diversos níveis de governo no seu território. Metrópoles, que foram assumidas por Sofia Cid. A edição do terceiro trimestre de 2003 dedica a sua maior atenção ao As eleições autárquicas de 2009 mantiveram o mapa político da AML novo regime legal das Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, Comuni- sem mudanças em termos de Presidências de Câmaras, contando que dades Urbanas e Intermunicipais, definido em maio pelas leis 10/2003 António Costa já substituíra Carmona Rodrigues, na cidade de Lisboa, e 11/2003. O editorial, a entrevista de Ana Teresa Vicente, Presidente nas intercalares de julho de 2007. Manteve-se também a mesma dire- da Câmara de Palmela (e Vice-Presidente da JML), e textos de outras ção da JML, com Carlos Humberto de Carvalho e os Vice-Presidentes personalidades ouvidas no Destaque (como António Fonseca Ferreira, Carlos Teixeira e Ministro dos Santos. Presidente da CCDR-LVT), desenvolvem a crítica às ambiguidades do Para além das grandes questões institucionais, a Metrópoles é um modelo aprovado. A defesa do mesmo é feita pelo então Secretário de acervo de reportagem sobre uma diversidade de temas, tendo dedicado Estado da Administração Local, Miguel Relvas. várias edições à arquitetura urbana e ordenamento do território (duas Na terceira edição de 2005, o Destaque fez um sumário histórico de em 2007, outra no final de 2008). Fez o mesmo quanto às questões toda esta matéria - os “equívocos do debate” e as “questões de fundo”, próprias das cidades portuárias e respetivas zonas ribeirinhas, nome- a nossa tradição centralista, o que dela disseram Almeida Garrett e Ale- adamente as de mobilidade e transportes; a instituição da Autoridade xandre Herculano, as promessas da Constituição de 1976, as discus- Metropolitana de Transportes foi tratada várias vezes, bem como a das sões sobre o Poder Local e a regionalização, a contradição entre o que quatro grandes infraestruturas anunciadas para a AML em 2008 - o se promete na oposição e o que se faz quando se chega ao Governo. novo aeroporto em Alcochete, a nova ponte Chelas-Barreiro, a rede de Após as eleições autárquicas de outubro de 2005, em que a coligação alta velocidade e a plataforma logística do Poceirão, de que a nossa edi- CDU ganhou a maioria das presidências de Câmara, trocando de lugar ção nº 22 faz relato desenvolvido. com o Partido Socialista, é eleito Presidente da Junta Metropolitana de A utilização dos fundos comunitários é tema especial em várias edi- Lisboa Carlos Humberto de Carvalho, Presidente da Câmara Municipal ções, nomeadamente do primeiro trimestre de 2005, sobre o Fórum do Barreiro. “Lisboa 2015 – Inovação, Conhecimento e Competitividade”, organi- A primeira edição da Metrópoles em 2006 retoma este debate com uma zado pela CCDR-LVT. A edição do segundo trimestre de 2009 trata do entrevista de início de mandato em que o novo Presidente da JML (por QREN destinado ao período 2007-2013, fazendo um levantamento dos inerência o novo Diretor desta publicação) relata que, em reunião havida projetos apresentados pelas Câmaras da AML incluindo o apoio destes com a Junta, o Secretário de Estado Adjunto e da Administração Local, fundos. As questões da imigração, com reportagem sobre exemplos de Eduardo Nascimento Cabrita, admitira a possibilidade de, nas autárquicas acolhimento e integração proporcionados por estruturas de diversas de 2009, haver já eleição direta dos órgãos dirigentes da AML. A surpresa Câmaras, foram objeto de reportagem na segunda edição do mesmo chega em abril de 2007, quando o mesmo Governo (o XVII Constitucional, ano de 2005. de José Sócrates) apresenta dois projetos de lei para o regime jurídico A Metrópoles manteve sempre, desde o início, secções especiais, re- das Áreas Metropolitanas e das Associações de Municípios, ao arrepio do alizadas pela sua redação ou assinadas por colaboradores regulares, que era previsto e, de certo modo, parecia já assente. sobre história e património dos vários Municípios da AML, figuras da A Metrópoles reúne textos fundamentais para o esclarecimento deste Cultura que marcaram o seu espaço, produtos da sua gastronomia e debate, publicando, na edição do segundo trimestre, além do editorial vinicultura, noticiário de realizações populares tradicionais. Perdemos, e de uma entrevista com o seu Diretor, outra com o Vice-Presidente da em abril de 2011, um dos mais notáveis desses colaboradores - David JML Carlos Teixeira, dois textos de reflexão histórica e política de Dalila Lopes Ramos, que assinava a crónica de gastronomia. Araújo e uma entrevista com o Secretário de Estado Eduardo Cabrita - A Revista Metrópoles pode ser consultada online em www.aml.pt

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Esta é uma primeira dificuldade. E é unâni- me, entre os dezoito Presidentes de Câma- O Governo ra, que devíamos caminhar para um órgão que tivesse competências e meios de cará- ter regional e que fosse eleito diretamente e a Assembleia da República pela população. Esta posição não é só con- sensual, eu diria que é unânime entre os dezoito Presidentes de Câmara. deviam ter a coragem política Acho que o mal foi não termos conseguido que o Governo percebesse que o caminho atual não resulta, não ajuda a resolver os de ouvir os eleitos autárquicos grandes problemas de caráter metropoli- tano e que a solução passa por assumir a Área Metropolitana de Lisboa com funções, com meios e com eleição direta. Este é, sem dúvida, o caminho certo. E mais: não o tínhamos previsto, a entrevis- ta não se faz por isso, mas por estes dias o Carlos Humberto de Carvalho Tribunal Constitucional, perante a solução Presidente da Junta Metropolitana de Lisboa que o Governo aprovou e que a Assembleia da República maioritariamente votou (com a oposição de toda a oposição), acabou por considerar inconstitucional essa solução que estava a ser proposta. E de fato tem razão: para uma situação como aquela que nós vivemos, é indispen- Metrópoles - Os dez anos da “Metrópoles” sável, do meu ponto de vista, a eleição di- contam uma história de expectativas e de reta. desilusão no que se refere ao regime legal Portanto, o que é que falhou? Eu diria que, das Áreas Metropolitanas. O que é que cor- no fundamental, e apesar do esforço feito reu mal? pelos serviços, pelos eleitos autárquicos, independentemente dos passos que fo- Carlos Humberto de Carvalho - Eu acho que ram dados e dos avanços que se fizeram, os Presidentes dos nossos dezoito Municí- esta é uma situação impossível de resolver pios têm vindo, ao longo destes sucessivos enquanto não se constituir um órgão com mandatos da Área Metropolitana, a fazer caráter metropolitano, com capacidade de um esforço significativo para articularem intervir e de refletir a região. a sua posição de eleitos autárquicos locais com a sua posição de caráter regional. É Metrópoles - Mas não estava previsto, e extraordinariamente difícil, eu diria quase até mesmo prometido pelo Governo da impossível, que cada um de nós deixe de altura, desde 2006, que se iria caminhar ser aquilo para que foi eleito, ou seja, Pre- nesse sentido, portanto de uma represen- sidente de Câmara de um concelho em con- tatividade democrática direta dos órgãos um, se o secretário de Estado é outro, têm Metrópoles - Mesmo do PSD? creto, para ser membro de uma entidade dirigentes da AML? umas opiniões, têm umas ideias, mas de- quase regional. É praticamente impossível. pois, quando se chega à concretização, por Carlos Humberto de Carvalho - Mesmo do Nenhum de nós tem essa capacidade de Carlos Humberto de Carvalho - Indepen- esta razão ou aquela, falta-lhes coragem PSD. E na Assembleia Metropolitana, já não esquecer um posicionamento institucional dentemente da sua coloração política - e política, ou condições para concretizar. direi que há unanimidade, mas pelo menos para assumir outro. Estamos ali na dupla temos tido, nos últimos anos, governos do Promessas temos tido muitas. Até é inte- há consenso das forças representadas, so- condição de Presidentes de uma Câmara e PS e governos do PSD, tendo ou não o CDS, ressante, porque os eleitos do Partido So- bre esta solução. de membros de um órgão com funções de mas em que a força maioritária é o PS ou é cialista, ou os eleitos do PSD (os Presiden- Mas depois, os membros dos partidos que, caráter supramunicipal, de um órgão que o PSD - em vários momentos têm eles pró- tes de Câmara, pelo menos), todos defen- na Junta ou na Assembleia Metropolitana, tem funções quase regionais. prios tido avanços e recuos. Se o ministro é dem esta solução... defendem esta solução, quando estão no

18.19 MTPAML AML SEMESTRE AML SEMESTRE

Metropolitanas e Municípios, a ter que fazer Carlos Humberto de Carvalho - Temos que ras trazem na fase de construção, mas de- Carlos Humberto de Carvalho - Eu penso demos ao nível da mobilidade, o trabalho igualmente. Este é um aspeto muito negati- analisar o seguinte: os projetos, de per si, pois, também, o que elas potencializam no que o Governo e a Assembleia da República conjunto que temos ao nível da Educação, vo que a todos nos afetou. têm o valor que têm; mas os projetos su- desenvolvimento económico, estas duas deviam ter a coragem política de ouvir os os novos esforços que fizemos para irmos Mas, repito, é preciso dar o salto. A ficarmos portam uma estratégia. E a questão que se razões levam-me a dizer que são indispen- eleitos autárquicos. E deviam ter a coragem articulando posições sobre as questões do por aqui, eu não diria que não continuare- tem de ponderar é: qual é a estratégia para sáveis e que a vida vai provar que elas têm política de assumir a necessidade da cria- Ordenamento do Território, e irmo-nos apro- mos a evoluir no sentido positivo, mas não a Área Metropolitana de Lisboa? E se estes que se fazer. De uma maneira ou de outra, ção da Área Metropolitana de Lisboa com ximando daquilo que é a visão de desenvol- daremos o salto no sentido de fazermos projetos sustentam, ajudam ao desenvolvi- acabarão por ter de ser concretizadas. os tais poderes e competências, com os vimento que queremos para a região. Por- aquilo que é indispensável fazer - que é ser- mento dessa estratégia. meios e com a eleição direta. Estou mesmo tanto, apesar de tudo, eu diria que demos mos uma mais-valia para os cidadãos, para E eu responderia: sim. Porque a estratégia Metrópoles - Quer dizer que não era inevi- convicto de que essa era uma boa solução, passos significativos, muito interessantes, a população, sermos uma mais-valia para que temos para a Área Metropolitana de tável a sua travagem, nem eram irrealis- e que era um princípio de inversão deste muito positivos. as pessoas que habitam, ou que frequen- Lisboa corresponde à visão de uma grande tas. Qual foi então, nessa travagem, o peso caminho, era um princípio de potencializar Também fomos afetados pela crise, pelos tam com regularidade a própria região me- região metropolitana, uma cidade-região, a relativo das causas políticas internas e o a Grande Região Metropolitana de Lisboa, cortes financeiros que o País foi obrigado tropolitana, a Área Metropolitana de Lisboa. cidade das duas margens ou, dito de outra das causas financeiras externas? como disse, que pode ter um papel impor- a fazer e que nos obrigaram a nós, Áreas maneira, a cidade das cidades, uma cidade tante no desenvolvimento do País. polinucleada. Carlos Humberto de Carvalho - Eu acho Portanto, do meu ponto de vista, este é que Isto é indispensável para a região, em que que algumas das medidas que estão a ser é o caminho. o Tejo seja entendido como a grande praça, tomadas não foram suficientemente pon- Quanto ao balanço, nós temos sempre - e o grande ponto de encontro da região, mas deradas. E acho também, infelizmente, que particularmente em momentos tão difíceis é também importante e indispensável para o percurso e os resultados das medidas to- como aquele que nós vivemos - de ser re- o País. madas comprovam como é justa a afirma- alistas, de não deixar de fazer um correto O País precisa que Lisboa-região assuma o ção que eu fiz. diagnóstico. Mas, paralelamente a isto, é papel de desenvolvimento de que necessi- Tomaram-se medidas para o equilíbrio preciso potencializarmos aquilo que te- ta, de máquina que puxa, que vai à frente, das contas públicas, mas elas continuam mos de bom, aquilo que foi positivo, e até que dinamiza, e que se posicione, conjun- desequilibradas; e há problemas novos, puxarmos por isso: dar força, dar garra, dar tamente com outras cidades europeias, do aprofundaram-se até problemas já existen- ânimo, permitir o sonho, se quisermos, até ponto de vista do desenvolvimento cultural, tes, que têm agora uma dimensão maior nesta perspetiva, mas não só nessa. científico, tecnológico, económico, ambien- - o caso do desemprego, da pobreza, dos Falando pelo menos destes quase oito anos tal e outros. Isto é fundamental para o País. problemas sociais, a redução da atividade em que assumi a Presidência da Junta Me- Mas para que isso aconteça nós precisa- económica, etc. Se o próprio equilíbrio das tropolitana, eu diria que, com todos estes mos de grandes infraestruturas de mobili- contas públicas não foi alcançado, se os condicionalismos, assumindo que ficámos dade, de transportes, que ajudem a conso- objetivos não estão a ser alcançados e as muito aquém daquilo que o povo da região Governo não a concretizam. E eu não per- lidar esta visão de cidade-região e que aju- metas, pelo contrário, estão a ser revistas precisa e que a própria região precisa, eu cebi ainda porquê. De qualquer forma: sim, dem a ligá-la ao resto da Europa. E se asso- permanentemente, isto prova que não fo- não desvalorizo os passos que apesar de tem sido prometido, tem havido avanços e ciarmos esta ideia de cidade-região a uma ram ajustadas as medidas que se tomaram. tudo se deram. recuos, tem havido soluções gizadas que outra ideia, defendida pelo Governo, que é a Portanto, estou convencido, apesar da Foram passos que contam pouco, e isso vão mais próximas destas, que acabam por de Portugal porta atlântica da Europa, ainda justificação ser económica, que ela não reconheço, na vida das pessoas, na vida não se concretizar. Mas eu mantenho-me mais se consolida este argumento de que foi apenas económica. Deste ponto de vis- dos cidadãos. Mas apesar de tudo, o que naquilo que é o consenso e a unanimidade precisamos de ter ligações rápidas, efica- ta, parece-me que se pode dizer que este se fez ao nível da reflexão, da articulação da Junta Metropolitana: nós precisamos de zes, à Europa. conjunto de medidas que travaram tudo, de posições, do consenso muito alargado e um órgão metropolitano com competên- Portanto, essas infraestruturas não são que reduziram tudo, cortaram quase tudo, das unanimidades muito frequentes - qua- cias, com meios e com eleição direta. apenas necessárias, são indispensáveis não deram resultados; e do ponto de vista se permanente, diria, que se conseguiu na para concretizar esta estratégia. político, também não me parece quais são Junta Metropolitana - sobre grandes proje- Metrópoles - As novas infraestruturas de Se se abandonar a estratégia, então discu- os objetivos que se querem alcançar. Então tos regionais, sobre as grandes soluções transportes aprovadas para a AML a partir ta-se se são necessárias ou não. Agora, eu não sou capaz de dizer se foi um peso mais que é preciso construir, eu diria que isso é de 2008, como o Aeroporto em Alcochete e penso que elas são indispensáveis para a económico se político, eu diria que foram um passo positivo. a ponte Chelas-Barreiro, o TGV (com o de- concretização da estratégia, e são impor- opções erradas. Erradas e mal ponderadas. Além de um conjunto de reflexões e traba- senho que na altura existia), tudo isto para tantes para a dinamização da atividade lho em comum, de ações em conjunto que apoiar as plataformas logísticas, todas es- económica, porque precisamos de investir, Metrópoles - Qual é o balanço possível e a própria Junta Metropolitana foi fomentan- tas coisas parece que foram travadas. Isto de criar riqueza, de ter novos postos de tra- quais são os caminhos aconselháveis no do e que os Municípios foram efetivando. A era inevitável? Estes grandes projetos balho e de criar desenvolvimento. futuro próximo, para sairmos desta situa- Central de Compras Eletrónicas, por exem- eram de fato irrealistas? Não só a ocupação que estas infraestrutu- ção? plo, tudo o que diz respeito à formação dos técnicos das autarquias, os passos que

20.21 MTPAML Investir os fundos do próximo quadro comunitário de apoio num crescimento inteligente, sustentável e inclusivo

A política de coesão 2014-2020 tem vindo a que o apoio a estes investimentos será con- conhecimento e na inovação; possuem um estatuto especial consagrado Humberto de Carvalho, participou com uma Por estes motivos, o espaço do Destaque ser pensada e planeada, nas instâncias co- dição prévia para ter acesso ao FEDER, no b) – Crescimento sustentável com uma eco- no Tratado. O QFP deve refletir estas dispo- intervenção sobre “Capacitação Regional da temático da presente edição da Metrópoles munitárias, à luz da necessidade de recupe- período 2014-2020. nomia mais eficiente, mais ecológica e mais sições.” Área Metropolitana de Lisboa”. é valorizado, precisamente, por entrevistas rar da recessão económica. Procedem des- Nesta linha de pensamento, foram aprova- competitiva; A nível da Área Metropolitana de Lisboa, es- No seguimento de uma decisão tomada desenvolvidas com estas duas personalida- te objetivo as primeiras referências a uma das, em 23 de novembro do ano passado, c) – Crescimento inclusivo, contribuindo tas matérias já tinham sido examinadas, em também em fevereiro, pela JML, no sentido des, Prof. Doutor Eduardo Brito Henriques e “trilogia” que se tornou agora frequente no duas Resoluções da Assembleia da Repúbli- para uma economia com níveis mais eleva- 18 de outubro, numa reunião da JML que da constituição de um grupo político e téc- Prof. Doutor Augusto Mateus, cuja pronta dis- discurso e em todos os textos orientadores, ca, com orientações a serem seguidas por dos de emprego e coesão social. As políticas teve a presença do Presidente da Comissão nico, coordenado pelo seu Presidente, com ponibilidade muito agradecemos. apontando para um crescimento inteligente, Portugal nas reuniões do Conselho Europeu, europeias devem contribuir para a criação de Coordenação e Desenvolvimento Regio- o apoio da secretária-geral da AML e dos A nível das instâncias comunitárias, a Metró- sustentável e inclusivo. nesta negociação do Quadro Financeiro de emprego, designadamente no combate nal de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT), Prof. serviços, foi contratada uma equipa técnica poles obteve uma entrevista com Johannes No documento “União da Inovação”, publi- Plurianual 2014-2020 (QFP). O artigo 5º da ao desemprego jovem.” Doutor Eduardo Brito Henriques, que fez o para ajudar a JML na definição da estraté- Hahn, o Comissário Europeu para a Política cado em outubro de 2010, estas ideias são segunda destas resoluções, 145/2012, reco- São estes, precisamente, os três primeiros ponto de situação sobre o que se encontra- gia para o próximo quadro comunitário de Regional, cuja disponibilidade e colaboração desdobradas numa expressão mais elabora- menda textualmente que o processo nego- pontos de uma lista de dezasseis - onde por va já consensualizado no Conselho da União apoio. A escolha recaiu sobre a Sociedade de igualmente agradecemos. da, que fala de estratégias de investigação e cial, assumindo como prioridades a recupe- exemplo, entre outras coisas, se recomenda Europeia, e prestou outras informações mui- Consultores Augusto Mateus e Associados, Os três textos referidos constituem um acer- inovação para a especialização inteligente. A ração económica do País e a transformação “evitar reduções excessivas de verbas para to úteis sobre o processo previsto. com a qual a JML celebrou, em 18 de abril, vo de documentação e informação atualiza- proposta da Comissão Europeia é que os in- estrutural da economia, tenha em conside- as regiões ultraperiféricas, que devem ser No final de fevereiro deste ano, a CCDR-LVT um contrato de prestação de serviços para da e muito útil sobre o que é possível saber vestimentos nas áreas da investigação e da ração os seguintes princípios orientadores: entendidas como territórios com desafios promoveu uma sessão pública intitulada elaboração de um Programa Territorial Inte- da preparação do próximo quadro comunitá- inovação sejam verdadeiramente eficazes e “ a) – Crescimento inteligente, baseado no estruturais permanentes e, por esta razão, “Plano de Ação Regional de Lisboa 2014- grado para a Área Metropolitana de Lisboa rio de apoio e das suas implicações na Área 2020”, na qual o Presidente da JML, Carlos (2014-2020). Metropolitana de Lisboa.

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rão objetivos pré-acordados e indicadores que permitam, ao público, verificar e avaliar “Os países que estão sob um programa de Concentração o que está a ser feito com o seu dinheiro, e assistência financeira poderão beneficiar de níveis condições que têm de ser satisfeitas antes de os fundos serem concedidos, para asse- mais elevados de cofinanciamento da UE” no emprego e crescimento gurar que os investimentos são realizados com base em fatores de sucesso reconhe- cidos. Os investimentos que faremos em conjunto O Comissário Europeu da Política Regional, Johannes Hahn, disse, à Metrópoles que, no futuro, os fundos no próximo período de financiamento irão serão concentrados de forma mais rigorosa na criação de emprego e no crescimento. E que a sua concessão apoiar a investigação e a inovação, a agenda digital, os pequenos negócios e a economia dependerá de objetivos pré-acordados e indicadores que permitam, ao público, verificar e avaliar o que está de baixo carbono. a ser feito com o seu dinheiro. ito com o seu dinheiro. Ao apoiarmos prioridades em linha com a Agenda de Crescimento 2020 da Europa, estamos a promover um clima onde novas empresas podem desenvolver raízes. É um ambiente onde podem ser criados novos empregos, duradouros, e o problema do de- Metrópoles - Em termos de política regional, semprego pode ser combatido. qual é a estratégia europeia para os pró- Mas é também importante salientar que, no ximos anos? Quais são os seus principais âmbito desta estratégia global, cada país objetivos? terá de definir os seus pontos fortes. O acor- do de parceria resultante será, por isso, feito Johannes Hahn - A nossa política destina- sob medida para cada Estado-Membro. -se a impulsionar a economia e estimular o No caso de Portugal, a Comissão identificou, crescimento. Nos últimos três anos mudá- no seu documento de posicionamento envia- mos, com sucesso, a orientação da Política do às autoridades nacionais no ano passado, de Coesão, que estava direcionada para as três áreas específicas que consideramos se- infraestruturas, para uma política de inves- rem os seus principais desafios em termos timento que estimule a economia como um de prioridades de financiamento da UE. todo. O primeiro deles é a melhoria da competiti- Estamos na fase final de negociação das re- vidade da economia portuguesa. Outro é o formas que irão completar a modernização combate ao desemprego, em particular en- da nossa política. tre os jovens, em conjunto com a melhoria A nova Política Regional da União Europeia da qualidade da educação e formação e a destina-se a incentivar a oferta e a procura integração das pessoas em risco de pobreza no mercado de trabalho. Combinará o foco e exclusão social. Por fim, há que promover nas prioridades para o crescimento com a uma economia amiga do ambiente e a uti- ênfase nos resultados e, fundamentalmen- lização eficiente dos recursos, incluindo o te, sublinhará a ideia da qualidade dos gas- uso adequado dos recursos marinhos. tos. Metrópoles - Quais as implicações, para Metrópoles - Quais serão as áreas privile- Portugal, do próximo quadro comunitário, giadas no próximo quadro comunitário? dado que o país se encontra sob um pro- grama de assistência financeira? Será que Johannes Hahn - Os fundos serão concen- haverá alguns benefícios extra? trados de forma mais rigorosa nas priorida- des estratégicas para impulsionar o empre- Johannes Hahn - Como o país está a passar go e o crescimento e as novas medidas irão por uma crise económica e sob restrições assegurar que os nossos esforços estarão orçamentais graves, deve usar os fundos mais orientados para os resultados. Inclui- comunitários de forma a obter o efeito má-

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“Atualmente estão a decorrer conversações para tornar ainda mais flexível o uso de fundos regionais a Portugal”

ximo deles em termos de promoção do cres- cimento económico e do emprego, poten- ciando esses recursos com os dos setores privado e público. Os regimes de financiamento da UE destina- dos a apoiar os programas nacionais de in- vestimento deverão de ser concebidos ten- do em conta as dificuldades financeiras dos promotores públicos e privados. Por isso, a Comissão está a incentivar um uso muito mais amplo dos instrumentos de engenha- ria financeira. Prevê-se igualmente que, para o período 2014-2020, os países que estão sob um programa de assistência financeira poderão beneficiar de níveis mais elevados de cofi- nanciamento da UE, através dos chamados ainda que de forma menos intensa que as Infelizmente, a crise económica contribuiu Lisboa, que é também uma região muito mecanismos de top-up, que já estão dispo- regiões de convergência portuguesas (Aço- para o crescimento do desemprego de for- criativa e vibrante, se está a destacar. São níveis para Portugal. res, Norte, Centro e Alentejo). ma significativa, em particular entre os jo- aspetos que, tenho a certeza, serão enfa- Atualmente estão a decorrer conversações vens. Este é um aspeto que deve constituir tizados durante o próximo período de pro- para tornar ainda mais flexível o uso de fun- Metrópoles - Qual pensa que poderá ser o a base de qualquer estratégia para o próxi- gramação, e estamos muito ansiosos para dos regionais a Portugal, que também têm papel futuro da Região de Lisboa para o mo período. trabalhar com as autoridades nacionais e em conta a pressão sobre o erário público, crescimento de Portugal? E da Europa? Numa base mais pessoal, deixe-me salien- regionais para garantir que isso acontece. para o país poder concretizar investimentos Quais são os passos que têm de ser dados tar-lhe que o potencial turístico da zona de chave. para que isso aconteça? No seu âmbito de intervenção, os fundos da UE também deveriam servir para apoiar as Johannes Hahn - A região de Lisboa é muito reformas estruturais que estão a ser imple- dinâmica e o principal motor de inovação e mentadas em Portugal e, assim, contribuir competitividade no país. Tem ativos valio- para a retoma económica. sos em termos das empresas, incluindo as de alta tecnologia, universidades e ins- Metrópoles - O que é que a Região de Lisboa titutos de investigação, e excelente conec- pode esperar do próximo quadro de apoio? tividade com as outras regiões do país, a Europa e muitas partes do mundo. Nós es- “Deixe-me salientar-lhe que o potencial turístico Johannes Hahn - A Região de Lisboa vai con- peramos que essas vantagens continuem da zona de Lisboa, que é também uma região muito tinuar a beneficiar de apoio financeiro da UE, a ser integralmente usadas, com benefícios claros para a própria região e todo o país. criativa e vibrante se está a destacar”

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tas relativamente àquelas que podem ser as prioridades de investimento das regiões Apoiar mais a Região de Lisboa mais desenvolvidas. Quer dizer, as regiões ficarão agora obrigadas, em função do seu grau de desenvolvimento, a cumprir obriga- pode ter efeitos multiplicadores ções e a escolher de entre um conjunto de prioridades que foram previamente defini- no conjunto da economia das e que estão expressas nos regulamen- tos comunitários. Portanto, não poderão fazer em total liberdade as escolhas que nacional entenderem, é-lhes dado um leque de prio- ridades de investimento alinhadas com a Estratégia Europa 2020 para, dentro desse, Prof. Doutor Eduardo Brito Henriques fazerem as suas escolhas. Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo Metrópoles - Que prioridades foram esta- belecidas e que áreas de intervenção se encontram já definidas?

Eduardo Brito Henriques - Os trabalhos de preparação do PO Regional estão a decor- rer, pressupõem auscultações e interações Metrópoles - Sendo Lisboa considerada, com os atores regionais que não estão segundo as atuais normas de atribuição concluídas e, portanto, seria prematuro eu de fundos do quadro comunitário de apoio, estar aqui já a identificar aquilo que de- uma das regiões mais desenvolvidas, com vem ser as prioridades para o próximo pe- que alterações podemos contar, em com- ríodo de programação financeira. Em todo paração com os quadros anteriores? o caso, tendo em conta o que lhe disse anteriormente, o tal leque de opções que Eduardo Brito Henriques - A Região de Lis- nos é oferecido, há coisas que podemos boa, como é sabido, já integrou no presente antecipar desde já. Por exemplo: sabemos período de programação financeira o grupo que, nas regiões mais desenvolvidas, os das regiões do Objetivo Competitividade e Estados Membros vão ser obrigados a afe- Emprego, a que pertencem as regiões mais tar entre 45 a 50% dos fundos estruturais ricas da Europa. Em termos práticos, signi- à promoção do emprego e da mobilidade fica que dispôs de um envelope financeiro laboral, ao combate à pobreza e ao inves- substancialmente inferior ao das outras timento no ensino e na aprendizagem ao regiões portuguesas. Também em termos longo da vida. Por outro lado, sabemos que de elegibilidades e de taxas de compartici- pelo menos 80% do FEDER terá de ser re- pação esteve sujeita a condicionantes que partido entre o apoio ao desenvolvimento outras regiões portuguesas não conhece- tecnológico e inovação, o acesso às TIC, a ram. Portanto, o facto de no período 2014- competitividade das PME e a descaborniza- 20 ficar classificada entre as regiões mais ção da economia e da sociedade, objetivo desenvolvidas não constitui grande novida- este que só por si, de acordo com as regras, de relativamente a 2007-2013. deverá receber pelo menos 20% do FEDER. Talvez a grande diferença com que vamos Ora, se pensarmos que estas são as balizas ser confrontados resida no fato da Comis- em que nos movemos, não é preciso muita são Europeia ter estabelecido para este imaginação para perceber quais poderão próximo ciclo plurianual regras mais estri- vir a ser as prioridades.

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Metrópoles - O agravamento da situação compreensível que, atendendo às circuns- missão orientações mais claras, diretrizes Eduardo Brito Henriques - ... Podem não se económica no País, decorrente dos com- tâncias, se sinta necessidade de priorizar as mais definidas em relação ao que devem ser aplicar diretamente em alguns casos, ou po- promissos assumidos com a troika, e a questões relacionadas com a competitivida- as opções das regiões em função do seu ní- dem deixar de fora algumas preocupações. consequente instabilidade política, podem de e a internacionalização, o estímulo à eco- vel de desenvolvimento, é vantajoso. Tem de ter efeitos sobre a atribuição dos fundos de nomia, a necessidade de gerar crescimento haver um alinhamento claro das opções das Metrópoles - Podemos fazer alguma coisa coesão? económico e criar emprego. regiões com as prioridades da Europa 2020. quanto a isso? Que medidas deveriam ser O desemprego chegou a níveis nunca an- Esse alinhamento só é possível se houver tomadas, em Portugal, de modo a maximi- Eduardo Brito Henriques - Qualquer mudan- tes conhecidos e isso é um problema muito essa orientação bem definida da parte da zar o proveito dos fundos ainda disponí- ça política, basta uma alteração na lei orgâni- grave, no País e na Região de Lisboa, para o Comissão. Como lhe estava a dizer, conside- veis? ca do Governo, produz sempre uma fase de qual temos de encontrar uma resposta de ro que isso é vantajoso. indefinição que pode ser perturbadora do an- emergência. É inevitável que o combate ao A outra face da moeda é que isso pode signi- Eduardo Brito Henriques - Eu creio que a damento dos trabalhos. Mas eu diria que nes- desemprego e que a promoção do cresci- ficar que algumas das necessidades especí- solução não vai passar tanto pela definição te particular, naquilo que tem que ver com a mento económico (embora não nos moldes ficas da região de Lisboa ... das prioridades, mas vai passar mais pela preparação do próximo período de programa- em que se fez no passado, tem de ser um seleção dos projetos. Em relação a isso, ção financeira, com o trabalho que as CCDR’s crescimento económico muito sustentado Metrópoles - ... Que as opções propostas seria conveniente repensarmos séria e pon- estão a desenvolver (e nomeadamente a na inovação, nos setores que podem produ- não se aplicam ao nosso caso? deradamente algumas das opções que fize- CCDR de Lisboa e Vale do Tejo), não há riscos zir maior valor acrescentado) sejam priorida- que se antevejam. Há um trabalho que está a des no próximo período. ser feito já há muitos meses, está em curso, Outras questões que deviam merecer a nos- e é um trabalho que tem imperiosamente de sa atenção são as que se prendem com a prosseguir, uma vez que estamos obrigados a inclusão social, porque a Região de Lisboa prazos bastante apertados acordados entre o vive um paradoxo muito particular: está no Governo Português e a Comissão. conjunto das regiões mais desenvolvidas da UE, mas é uma região desenvolvida num Metrópoles - Isso foi falado na reunião da país pobre. Isto cria uma situação de gran- Junta Metropolitana, de outubro do ano pas- de contradição, que acaba por ter reflexos sado, com o Presidente da CCDR-LVT. Do lado na própria polarização social que se vive de vários Municípios da AML há essa preo- no seio da Região de Lisboa: nós temos um cupação: ainda vamos a tempo? segmento da população que vive confortá- vel, não o podemos negar, que tem emprego, Eduardo Brito Henriques - Vamos comple- acesso ao consumo e boas condições de tamente a tempo. Não há nenhum motivo vida; mas temos também uma larga percen- para preocupação, os trabalhos estão a tagem da população em situações de pobre- decorrer dentro do cronograma previsto. Os za e precariedade, sem níveis de instrução programas operacionais regionais deviam compatíveis com uma integração no merca- estar prontos no final deste ano de 2013 e do de emprego, sem acesso a alguns bens e não vejo razões para que o prazo não seja serviços, mesmo bens e serviços básicos, e cumprido. isso devia merecer da nossa parte também Agora, a sua questão tem implícita uma ou- uma atenção especial. tra nuance que se prende com o seguinte: saber até que ponto as circunstâncias par- Metrópoles - Dito por outras palavras, nem ticulares em que o País vive presentemente, tudo aquilo que nos oferece o programa co- estando sob um pedido de ajuda financeira munitário de apoio será exatamente aquilo e num contexto de crise económica severa, de que nós podíamos dizer que estamos podem condicionar o período 2014-2020. mais carecidos... Alguma consequência isso terá certamente: se não estivéssemos a viver a situação difí- Eduardo Brito Henriques - De certo modo. cil em que nos encontramos, talvez as prio- Parece-me que, na preparação do próximo ridades pudessem ser diferentes... É muito ciclo plurianual, ter havido da parte da Co-

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mos nos períodos de programação anterio- mente mais sustentável, a outra é a de per- os envelopes financeiros de que vamos portuguesa passa muito pelo apoio que se res, em particular no atual, no QREN. mitir que se desonere, na balança de paga- dispor no próximo período. Neste momen- der a este sistema produtivo regional, na No QREN apoiámos projetos num estádio mentos, uma das variáveis que mais pesa to, tudo o que dissermos sobre o papel que sua relação com o sistema científico e tec- de maturidade demasiado incipiente. Apoi- em nosso desfavor e que diminua a nossa a Área Metropolitana de Lisboa vai jogar na nológico. Por essa razão, estou convencido ámos numerosas operações ainda em fase dependência dos combustíveis fósseis. gestão dos fundos comunitários, e sobre os que apoiar mais decididamente a Região de de programação estratégica, que nem se- A obrigação de implementarmos medidas tipos, modalidades, e formas de contratua- Lisboa trará efeitos multiplicadores para o quer tinham um projeto desenhado. A con- que nos levem no sentido da descarboniza- lização que a Administração Central, e em conjunto da economia nacional. Espero que sequência foi que a implementação no ter- ção da economia pode ter essa vantagem, particular a CCDR, vai fazer com a Área Me- o Governo tenha isso em conta no rateio reno dessas operações acabou por ser mui- ajudar-nos a tomar como prioridade algo tropolitana, seria especular. Essa é uma ma- dos fundos pelas diversas regiões. to mais demorada do que seria desejável. que, politicamente, talvez tivéssemos ten- téria que vamos ter que discutir, nós – CCDR A Região de Lisboa tem ainda carências sig- Julgo que seria benéfico se soubéssemos tação para deixar para segundo plano. – e Área Metropolitana de Lisboa. nificativas no domínio da regeneração ur- tirar partido mais rapidamente dos fundos Não escondo que tem havido algumas con- bana. Fez-se nos últimos anos um grande comunitários. Em 2014-2020, devíamos Metrópoles - Qual será o impacto da re- versas, de natureza informal, entre estas investimento na qualificação do espaço pú- procurar apoiar projetos que já estivessem organização das NUT ao nível do financia- duas entidades, e que há uma forte conver- blico. Realizaram-se coisas muito interes- praticamente em condições de ser imple- mento, neste próximo quadro comunitário gência de pontos de vista em relação àque- santes na Região de Lisboa. O espaço pú- mentados, de ser colocados no terreno. de apoio, sobretudo no que respeita aos les que são, por princípio, os setores ou as blico melhorou bastante. As operações nas Não mencionei há pouco, mas há outra Municípios da margem sul (Península de áreas de intervenção em que a AML estaria frentes ribeirinhas são muito expressivas coisa relacionada com a sua pergunta an- Setúbal)? melhor capacitada para exercer uma gestão desse esforço mas, como sabe, os fundos terior que gostava de referir. Não é total- mais direta dos fundos comunitários. Mas comunitários não preveem o investimento mente negativo que a Comissão Europeia Eduardo Brito Henriques - Bem sei que há tudo isso está ainda em aberto. na habitação; e hoje, onde se identificam nos proponha um leque de hipóteses como preocupações com essa matéria por parte Depois, como sabe, os regulamentos comu- mais claramente áreas de carência, é pre- prioridades de investimento, mesmo que de alguns Municípios. Nos outros agentes nitários preveem para o próximo período cisamente na requalificação dos espaços essas opções, à primeira vista, possam regionais, não sei se há uma preocupação de programação financeira um conjunto de domésticos, dos imóveis, das habitações. E não parecer totalmente ajustadas à nossa tão forte com o risco da Península de Setú- novos instrumentos que vai permitir aos não estou a pensar só nos centros históri- realidade. Acho que também pode haver um bal, cujo PIB per capita é bastante inferior ao níveis subregionais atuarem mais direta- cos: mesmo em algumas áreas periféricas lado positivo nisso: as propostas que são da , poder vir a ser prejudicada mente na gestão dos fundos comunitários. de classe média, que foram vendidas no feitas podem estimular as regiões a identi- pela hipotética criação de uma única NUT Da parte da CCDR, há vontade de encontrar mercado há 30, 40, ou 50 anos, começa a ficarem como prioridades coisas que mani- III coincidente com a Área Metropolitana de uma plataforma de entendimento com a haver necessidades de requalificação para festamente são importantes, que poderão Lisboa. Contudo, devo dizer que esse risco é Área Metropolitana nesse sentido. as quais não há dinheiro. até ser vitais, mas que de outra forma não infundado. A possível integração, ou a possí- Outro ponto que gostaria de destacar tem constituiriam as prioridades políticas mais vel fusão das duas NUT III atuais numa única Metrópoles - O que lhe parece que falta que ver com a necessidade de construir previsíveis. NUT III, coincidente com a NUT II - proposta aqui? Há alguma questão que deveria ain- sociedades e cidades mais resilientes. A Vou dar um exemplo: penso que, na situa- que o INE apresentou ao Eurostat, mas que da ter sido posta, algo que deva ser acres- Região de Lisboa é muito vulnerável a um ção económica em que nos encontramos, não sabemos se vai ser aprovada – não tem centado neste ponto? grande conjunto de riscos, desde os movi- em face dos níveis de desemprego e da efeitos no volume dos fundos comunitários mentos de massa e as cheias rápidas aos necessidade de crescimento económico nem nas elegibilidades. Por outro lado, que Eduardo Brito Henriques - O QREN não foi riscos de erosão do litoral, que vão ser que temos, talvez fosse difícil identificar a vantagens é que isso pode trazer? Eventu- particularmente generoso com a Região de agravados com as alterações climáticas, transição para a economia de baixo carbo- almente, poderá fortalecer a identidade ge- Lisboa. Em 2007-13, a região beneficiou de para já não falar do risco sísmico. Diminuir no como uma prioridade. O fato de estarmos ográfica e política da Área Metropolitana de um volume de fundos bastante inferior ao essa vulnerabilidade é caríssimo, implica obrigados a alocar pelo menos 20% do FE- Lisboa. que teve em períodos de programação fi- investimentos muito vultuosos; não é se- DER para essa finalidade é uma oportunida- nanceira anteriores. Eu sei que as outras re- quer expectável que os fundos comunitá- de para que alguma coisa se faça. Metrópoles - Qual o papel que deve ser (ou giões não gostam que isto se recorde, mas rios possam suprir essas necessidades. E eu diria que isso é indispensável. Porque pode ser) atribuído à Área Metropolitana de é na Região de Lisboa que se concentram Portanto, o que quero dizer com isto é que, se quisermos pensar de forma verdadeira- Lisboa neste quadro de apoio? Será feita as empresas e os setores mais produtivos mesmo que o envelope financeiro em 2014- mente estratégica, somos levados a con- contratualização com a AML? do país, os bens e serviços de maior valor 20 seja mais generoso do que foi em 2007- cluir que apoiar medidas que tenham em acrescentado, os profissionais com qualifi- 13, haverá sempre áreas onde os fundos vista uma descarbonização da economia Eduardo Brito Henriques - Acho que ainda cações mais elevadas e a maior parte dos comunitários ficarão aquém das necessi- tem duas virtudes: a primeira é a de contri- é cedo para falarmos disso. Não sabemos recursos do sistema científico e tecnológi- dades da região. buir para um desenvolvimento ambiental- como vão ser geridos os fundos nem sequer co nacional. A competitividade da economia

32.33 MTPAML DESTAQUE | ENTREVISTA DESTAQUE | ENTREVISTA

horizonte temporal da decisão mais longo. Aquilo que alguns consideram fazer estudos As capacidades existentes que não valem nada (uma das patetices do presente) é, no fundo, pensar as realidades a prazos mais longos. na Região de Lisboa Mudar o nosso modelo educativo, encontrar um sentido útil para o envelhecimento da população, transformar a sustentabilidade do devem estar ao serviço planeta numa oportunidade para gerar em- prego e riqueza, todas estas coisas não se fa- zem numa hora, fazem-se ao longo de várias do resto do País gerações. Vamos ter que mudar, ao encontro do que disse o poeta, de modo mais suave: quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Prof. Doutor Augusto Mateus Para essa mudança, temos um balanço de experiência nacional e regional e orientações Presidente da Sociedade de Consultores Augusto Mateus e Associados comunitárias com uma agenda perfeitamente aceitável: crescimento mais inteligente, mais Metrópoles - Quais as áreas de intervenção inclusivo, mais sustentável. que vão ser privilegiadas (e quais deveriam Na prática, é a ideia de que os fundos devem ser), no próximo quadro comunitário de ser usados para um melhor relacionamento apoio para a Região de Lisboa, referente ao entre a sociedade, a economia e o ambiente, período 2014-2020? para que aquilo que nós fazemos dure mais - sustentável. Inclusivo, que seja um progresso Augusto Mateus - Temos dois pontos de par- económico e social que não deixe pessoas de tida fundamentais. Há um em que a popula- fora. E inteligente é escolher um caminho que ção portuguesa e as pessoas que exercem produza mais resultados e menos dificulda- responsabilidades democráticas, ou que es- des, e com coisas que a Europa já foi colocan- tudam e pensam a nossa realidade, podem do sobre a mesa, como a economia baseada ter uma grande convergência, que é a ideia de no conhecimento e a aprendizagem ao longo que necessitamos de mudança. Não vivemos da vida. um tempo de continuidade, mas de profun- E a Área Metropolitana de Lisboa? Talvez pu- déssemos convergir na ideia de que os nos- das transformações e desafios, e penso que temos, em Portugal ou na Espanha, ou mes- senão não se faz nada. Temos um défice no sos insucessos correspondem a uma desva- todos podemos partilhar esta ideia de que mo na França. plano da organização administrativa, nos mo- lorização do papel europeu e internacional de precisamos de fazer coisas diferentes, de fa- Nós precisamos de mudar para que pelo me- delos de governo, que seria útil combater e eli- Lisboa, da grande Região de Lisboa e da AML zer melhor, cometer menos erros. nos seja possível que em Portugal tenhamos minar, mas não podemos dizer que sem isso e, por outro lado, a uma errada visão do de- Talvez haja menos convergência na ideia de uma capital, uma região, mais internacional, não se pode avançar. Temos que avançar, na senvolvimento territorial em Portugal. Em vez ter um guião mais longo para a ação. Um dos mais forte do ponto de vista europeu e mun- perspetiva de que esse avanço também tem de acentuarmos a identidade e a diversidade, problemas da Europa e de Portugal foi que a dial, menos gerida e olhada na estrita compa- que chegar a um novo modelo de autarquia acentuámos a polarização com Lisboa; e mui- ação se tornou de prazo muito curto. No mo- ração com as outras realidades portuguesas. para as duas grandes Áreas Metropolitanas tas regiões e cidades portuguesas viram o mento em que o mundo se tornou maior, em Mudar numa lógica em que se olha para fora. do País. Provavelmente, vamos ter de cons- seu futuro como uma reprodução do modelo que descobrimos que grande parte dos nos- E ao mesmo tempo se vê a função desta Re- truir um novo modelo de governo para estes de Lisboa. sos recursos e desafios são do planeta (não gião capital como um motor leve, ou como territórios, sob pena de não podermos levar Cada país tem uma única região capital, com de uma região ou de um país), em que a eco- um dinamizador inteligente, um catalisador até ao fim esta mudança. uma longa história. Uma grande cidade em nomia se tornou verdadeiramente mundial e eficaz do resto do País. As capacidades exis- torno do Tejo é uma, não há vinte. Uma grande há muito maior mobilidade, esse horizonte tentes nela devem ser postas ao serviço do Metrópoles - Que novidades são dignas cidade em torno do que foi sempre uma zona territorial mais vasto foi gerido com um hori- resto do País, para que possa beneficiar da de registo, no novo quadro comunitário de europeia de passagem é o Randstad, onde zonte temporal curtíssimo, quase de decisão afirmação internacional da Região de Lisboa. apoio, em comparação com os anteriores? estão Roterdão, Amsterdão, Utreque, Haia e dia a dia. A grande mudança é esta, e pode ser um guia outras cidades holandesas, que criaram uma Ora, é quando as coisas se tornam mais com- para se fazer um conjunto de alterações ins- Augusto Mateus - Há uma novidade mais área metropolitana de grande valor, de mode- plexas e mais vastas que precisamos de um titucionais que são necessárias, mas não instrumental, que é: vamos voltar a ter o que lo completamente diferente daquele que nós devem ser vistas como uma pré-condição, se chama uma programação pluri-fundos.

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num único fundo. Agora os fundos podem ser mas está a 60 quilómetros de Lisboa, com institucional e empresarial, precisam de ser fazendo o seu caminho e Portugal, e Lisboa, articulados, e esse é um desafio muito inte- uma polarização completa com o que se pas- projetadas no mundo. Estiveram mantidas assistem um pouco a isso. Nós temos muito ressante. sa em Lisboa, e que, em tudo o que é mundo numa lógica muito portuguesa, de comparar a ganhar em não assistir, mas em participar. Claro, a Região de Lisboa é a única com um ní- rural, agroalimentar, num sentido mais vas- os indicadores de Lisboa com Bragança, ou Obviamente, em participar sabendo que a vel de vida acima da média europeia, portanto to daquilo que se pode fazer na terra e com com Castelo Branco, quando nós temos de globalização, como tudo na vida, tem coisas não vai dispor de muitos fundos, tem que ser a terra, há uma função que essa cidade pode comparar os nossos indicadores com os de muito boas e coisas muito más, coisas que capaz de contar mais consigo própria e não desempenhar com muito mais força. Roma, de Paris, Londres, Barcelona, Madrid, é preciso desenvolver e coisas que é preci- lamentar-se de não ter fundos estruturais. Se pensarmos em Setúbal, há uma função Estocolmo e das novas cidades e Áreas Me- so evitar. Mas os países e as cidades que se que é uma dimensão industrial significativa, tropolitanas que estão a nascer na Europa. têm posto à margem da globalização têm Metrópoles - Na presente conjuntura, e dada oferecida ainda pela capacidade que teve o Por razões históricas, a capital da Áustria sofrido imenso com isso. Talvez o país mais a situação de dependência do País, em que processo histórico de construir na Península fica a nascente e a capital da Eslováquia fica exemplar seja a França, que está hoje numa pontos concretos pode a Região de Lisboa de Setúbal um conjunto de unidades empre- a poente, e entre as duas há uma distância crise muito forte, e é de todos os países eu- exercer alguma influência em seu favor? sariais que não eram geridas aí, mas tinham menor que do Parque das Nações a Cascais; ropeus o único que regrediu em matéria de aí os seus estabelecimentos, e que acolhiam está a nascer aí uma grande Área Metro- internacionalização e globalização, nos últi- Augusto Mateus - Aí temos que interrogar- imigrantes; o processo de construção do politana, uma grande cidade europeia que mos quinze anos. -nos sobre onde está a força de Lisboa, o que foi a zona industrial do Barreiro é um é Viena-Bratislava, tal como está a nascer que vale do ponto de vista europeu e mun- bom exemplo disso. uma grande cidade europeia entre dois paí- Metrópoles - A ideia que temos, quando fa- dial. É uma grande cidade europeia e mun- Se por base ecológica não estivermos ape- ses, entre Copenhaga, capital da Dinamarca, lamos de globalização, é que somos sempre dial? Tem capacidade de atrair gente, inves- nas a pensar em ambiente, mas em civili- e Malmo, na Suécia. derrotados por incapacidade de competir timento, funções? zação, em património, em cultura, há um Todas as regiões capitais sofrem muito com com os “gigantes” que estão a nascer nos Creio que temos de valorizar fundamental- imenso arco patrimonial em torno da cidade o centralismo. O centralismo, ao contrário outros sítios. mente duas coisas: a primeira é que a Região de Lisboa, que merece ser desenvolvido e do que se pensa, é mais virulento nas regi- de Lisboa tem uma base ecológica decisiva e valorizado. ões que acolhem o Governo central, porque, Augusto Mateus - A globalização é, curio- de grande valor. Por base ecológica estou a As pessoas podiam interrogar-se: mas afi- quando há um modelo muito centralista, es- samente, um fenómeno que não favorece entender as pessoas, empresas, instituições nal, por que é que a capital de Portugal é travase para a ideia de que o Governo central todos os grandes e favorece de forma relati- que, povoando um território, se servem dele em Lisboa? E a resposta principal é: por- deve tomar decisões que são estritamente vamente equilibrada grandes e pequenos. A para criar riqueza de uma forma sustentável, que aqui, historicamente, encontraram-se do governo da região, do governo da cidade. globalização produz duas tendências: uma, usam essa vantagem ambiental para criarem condições absolutamente excecionais; Por isso, há uma luta da cidade e da Região o que faz é uma segunda fragmentação (em um espaço atrativo, para gerarem riqueza não porque alguém decidiu que tinha de de Lisboa para ser mais autónoma, para po- inglês diz-se unbungling) das atividades - não é um espaço de contemplação, exclu- ser aqui, não é uma construção artificial. der mandar mais sobre si própria, não para económicas. sivamente, mas é um espaço de fruição, de Lisboa é uma cidade que se ergueu como fazer coisas pequeninas, mas exatamente No princípio do séc. XX produziu-se uma utilização, de preservação e valorização - de cidade portuária, cidade do mar, com uma para fazer as coisas de horizonte mais vasto, fragmentação entre o local de produção e o uma forma que tem futuro. posição geo-estratégica absolutamente mais europeias, mais internacionais. local de consumo. Conseguimos inovações A própria configuração da Região de Lisboa decisiva num mundo onde o Mediterrâneo É necessário encontrar uma nova fórmula radicais nos modos de transporte, baixámos confere a esta grande cidade europeia uma se alargou para o Atlântico, e o Atlântico foi de colaboração. E a diversidade política e os custos de transporte e passou a haver base ecológica que outras não têm, com re- durante muito tempo o espaço central do ideológica que caracteriza a AML podia ser uma diferenciação clara entre onde se pro- alidades muito interessantes, como seja um desenvolvimento económico mundial. aqui um trunfo muito importante, porque, duzia e onde se consumia, que originou um Em Portugal, cometemos bastantes erros paração. Há muitas outras coisas, tecnologias mundo rural relativamente moderno e em de- O segundo aspeto é a base organizacional em torno de agigantar Lisboa no contexto comércio internacional muito significativo. na articulação entre capital físico e huma- de informação, milhentas formas de existên- senvolvimento às portas de uma cidade onde e empresarial. Em Lisboa encontramos um europeu e mundial, ninguém se colocaria de Hoje estamos a assistir a uma nova frag- no, investimento e manutenção, economia cia do capital físico que são fundamentais o artificial foi mais longe em Portugal. potencial científico e tecnológico muitíssi- fora: todas as forças políticas e sociais te- mentação dentro das cadeias de valor, as e cultura, ser e ter. Houve dificuldade em para criar riqueza, e as pessoas, que também Há zonas que ficam fora da Área Metropoli- mo forte, uma cidade de pujança universi- riam uma base interessante de colaborarem cadeias de abastecimento. Onde se concebe, encontrar uma dimensão humana e social são muito diferentes, são pessoas portadoras tana, numa lógica de contínuo urbano, mas tária significativa, em acelerada internacio- entre si e até de afirmarem as suas diferen- onde se transforma, onde se vende e onde global para as ações e iniciativas, que foram de competências. que estão nas NUTS III da Grande Lisboa e nalização, e algo que é hoje essencial no ças, se verificarem que são assim tão fortes, se distribui, são realidades diferentes: qual- sempre muito espartilhadas. Esta mistura de pessoas com competências da Península de Setúbal, e cidades como mundo: uma vez desenvolvido o “terciário” porque há diferenças que, quando começa- quer produto chega ao mercado envolvendo Uma programação pluri-fundos significa que e de formas diferenciadas de equipamentos, Santarém ou Setúbal - que não fazem parte para as famílias, os serviços associados ao mos a construir, se apagam um pouco. milhares de empresas, em centenas de pa- temos um incentivo a fazer projetos mais de instalações, que nos ajudam a resolver da Área Metropolitana, se formos rigorosos, consumo, a grande distribuição, desenvol- Há muito para fazer do ponto de vista institu- íses. Isso já está construído, nem Portugal completos, pensando na articulação entre problemas e a criar riqueza, tudo isso pode mas estão às portas dessa Área, polarizada ve-se agora um outro, de serviços especia- cional, não é preciso dinheiro; é preciso é tra- nem Lisboa se podem pôr na posição de que ambiente, pessoas, economia, capacidade de ser agora organizado na forma de projetos por uma Região e por uma cidade capital - lizados para as empresas, sem os quais balhar bem, organizar as coisas seriamente não deveria ser assim. Agora é assim. fazer e meios para fazer. Não se trata, como integrados, porque os financiamentos po- com a sua própria independência e as suas elas não criam riqueza, não são competiti- e ter ideias firmes sobre a possibilidade de E curiosamente, no nosso dia a dia, até gos- naquela expressão (simplificada e até induto- dem convergir no mesmo projeto em vez do funções de intermediação. vas, não inovam nem diferenciam suficien- beneficiar de uma participação ativa na glo- tamos de algumas dessas coisas, porque ra de muitos erros) de escolher entre o betão modelo anterior, em que tinham de ser objeto Vê-se perfeitamente que Santarém, que não temente os seus produtos. balização. Temos estado numa posição de elas permitiram baixar os preços de muitos e as pessoas, como se fosse possível esta se- de projetos específicos para poderem caber pertence à AML, pertence à Lezíria do Tejo, Estas duas bases, uma ecológica e uma expectativa ou ausência; a globalização vai produtos e uma disponibilidade nova de ser-

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viços, de que os consumidores gostam. Esse boas, mas que tenha um balanço positivo. E Os diagnósticos são sempre um confronto para juntar estas três coisas. Em Lisboa tro- processo, obviamente que gera desequilí- temos todas as condições para isso. Porquê? dos decisores com a realidade, um confronto peçamos em património, em cultura, temos brios e alimenta uma vantagem para quem Porque a globalização, mais do que premiar a das populações com os seus pontos fortes gente nova muito criativa, temos condições sabe explorar economias de escala, mas abre dimensão, premeia a identidade e a mistura e fracos. para promover muitíssimo mais essa criati- imensas novas possibilidades para o que é de inovação e diferenciação. Premeia o que é Exatamente porque os recursos são escas- vidade, e temos conhecimento. Temos mais pequeno, desde que seja bom. A lógica nunca diferente para melhor, o que é diferente atrati- sos, do ponto de vista dos fundos estrutu- de cem mil estudantes universitários, mui- é entre o grande e o pequeno, mas entre o que vo. Pode um país com a história de Portugal e rais, estamos a tentar que se tomem deci- tos deles estrangeiros. é atrativo e o que não é. uma cidade e Região com as caraterísticas de sões focalizadas. O nosso entendimento é É uma realidade com potencial económico Lisboa achar que o mundo não vai premiar, se que este Programa Territorial não deve ser e social colossal. Precisa de ser organizada, Metrópoles - Aquilo a que chamamos procu- fizer as coisas bem feitas? de banda larga, deve ser de banda estreita, incentivada, e nós vemos muito um Progra- rar nichos de mercado? Esse desenvolvimento económico e social deve concentrar-se naquilo que é verdadei- ma focalizado naquilo em que é possível só se alcança neste reconhecimento de que ramente essencial. construir uma unidade de ação entre os Augusto Mateus - Dez milhões de habitantes Lisboa é uma das doze grandes metrópoles De uma forma um bocado crítica, nós acha- vários Municípios que estão na AML, e não é sempre nichos. Um país de dez milhões de europeias. Claro, se nada fizermos, daqui a mos que o modo como isto tudo funciona faz um Programa de governo em que está tudo. habitantes é um país de nichos. 30 anos podemos ser uma das 24, e daqui a com que a Área Metropolitana seja menos do A nossa função é técnica, é colocar à dis- 50 uma das 36... Mas por enquanto estamos que a soma das partes. Porque não há uma posição dos decisores, neste caso a Junta Metrópoles - A Dinamarca tem cinco... muitíssimo bem posicionados. Vamos per- dinâmica global, porque a Área Metropolita- Metropolitana, a AML, as condições para se der isso? Se não prestarmos atenção, claro na é mais vasta do que aquilo que lá está, definir uma base em que todos estes Muni- Augusto Mateus - Também a Finlândia. E que perderemos. E perderemos seguramen- porque as funções autárquicas não estão cípios podem convergir, em coisas que fa- não é um problema, sequer, de território. A te se não participarmos na globalização. bem definidas, estão “puxadas” para baixo, zem para dentro e em coisas que fazem para Bélgica e a Holanda cabem dentro de Por- Agora: podemos participar com o que so- ao nível estritamente concelhio. fora, com outros. tugal; têm quase 30 milhões de habitantes. mos, a partir de dentro, e não geridos por A dimensão desta Área Metropolitana, desta Ou seja, não é um Programa em que tenho Nunca se atrapalharam com a globalização. fora. Participar na globalização não é ficar cidade e desta Região, exigiria um governo a fronteira da Área Metropolitana e trabalho As exportações de bens e serviços na Bélgi- à espera que nos deem ordens. É aproveitar mais vasto. Não custa nada criar autarquias do lado de dentro; é um Programa em que ca e na Holanda aproximam-se dos 80%. Em um novo jogo, em que podemos pôr à prova para as Áreas Metropolitanas, como as que reconheço que essa fronteira não existe, Portugal não passam dos 32%, 33%; agora a nossa iniciativa e capacidade, que é aquilo temos para o mundo das cidades pequenas que há um conjunto de coisas em que a Re- com a crise subiram um pouco mas, estrutu- que fizemos em momentos históricos e te- e médias, à escala europeia, e depois autar- gião de Lisboa é muito maior do que a Área ralmente, andam abaixo de um terço. mos todas as condições para voltar a fazer quias para o mundo rural, onde é preciso fa- Metropolitana, portanto devo trabalhar com Para satisfazermos as nossas expectativas, neste momento particular. zer o contrário do que estamos a fazer nas empresas, pessoas, instituições, que estão temos de nos integrar mais no mundo glo- Áreas Metropolitanas, que é reduzir o nú- nessa Região, fora da AML. E que segura- bal. A Suíça faz muito bem poucas coisas; Metrópoles - Quer falar-nos do projeto, do mero de freguesias, e bem. No mundo rural mente a ideia da Área Metropolitana é uma mas faz tão bem, que importa as outras com trabalho que tem estado a fazer para a AML, nós temos que dotar os polos rurais dos ser- ideia de charneira, de articulação entre as total capacidade. Um país pequeno, como no chamado Programa Territorial Integrado? viços necessários, não é para juntar, é para duas realidades: para dentro, em direção à Portugal, pode ser grande. Veja: Lisboa é a garantir que as pessoas desempenham aí as grande cidade central que não é toda a Área capital de um país pequeno, mas está em Augusto Mateus - O que estamos a fazer é suas funções insubstituíveis de produção Metropolitana, e para fora. Nisto está a pró- 10º lugar na realização de eventos e con- tentar ajudar a Área Metropolitana de Lisboa de serviços ambientais, que são fundamen- pria qualificação da Área Metropolitana. gressos à escala mundial, e só por si, se a construir um programa de ação para 2014- tais para todos. Este Programa, em vez de se concentrar no fosse um país, ficava entre o 20º e o 30º. 2020, com as regras comunitárias, sabendo Se tivermos um único modelo, é como al- porque não, deve concentrar-se no porque Significa que a maior parte dos países fazem que ele tem que ser mais ambicioso do que guém, não muito alto, ir a um pronto-a-ves- sim, e em vez de se concentrar no passado menos congressos e eventos que Lisboa. aquilo que vai ser financiado. tir, e tudo lhe fica grande. Não podemos ter deve concentrar-se no futuro - até porque, É um bom exemplo para não termos medo A ideia é a de agarrar bem esta base ecológi- modelos de governo democrático em que se tiver sucesso, resolve os problemas do da globalização. A Região de Lisboa não ca e económica, sem perder muito tempo a há uma mesma solução para núcleos de passado. gostou das realizações recentes, como as discutir fronteiras de atividades, sem andar sessenta famílias e núcleos de um milhão A requalificação da Área Metropolitana de- dos Rotários e Congressos médicos de gran- a discutir agricultura, indústria, serviços, de famílias. Tudo isto parece tonto, quando pende muito das novas funções, e não de des dimensões, que animaram o comércio mas numa base empresarial alargada, di- falamos calmamente, no entanto é o que perdermos essas novas funções que po- e ajudaram a fazer a sua notoriedade? E versificada, suscetível de criar os empregos está na Lei. demos ter, internacionais, europeias, para depois temos dúvidas da globalização? Só suficientes para satisfazer as necessidades Aqui a realidade é seguramente que a Área resolvermos coisas que não estão bem do queremos uma parte? Estas coisas não são de povoamento da Região. Metropolitana é menos do que a soma das ponto de vista nacional. É ao fazermos es- assim... O que estamos a fazer é o diagnóstico da partes. Pensamos que com estes objetivos, sas novas funções que vamos ser capazes Temos é que ser capazes de nos organizar posição de Lisboa no mundo, na Europa e sobretudo na base económica, devemos ir de responder aos problemas sociais e eco- para que a globalização, para nós, tenha um e em Portugal, quais são os indicadores, muito pelo lado do conhecimento, da cultura, nómicos, alguns deles gritantes, que ainda balanço positivo. Não é que só tenha coisas olharmo-nos ao espelho e não mentirmos. da criatividade. Lisboa tem condições únicas existem nesta Área Metropolitana.

38.39 MTPAML PME’S INOVAÇÃO

dispositivos médicos e equipamentos hospitalares ou fardamentos especializados. A empresa possui também alvará de medicamentos, Nuno Belmar da Costa, e produtos controlados como psicotrópicos e estupefacientes. da NBC Medical A sua estratégia de internacionalização e crescimento originou a criação da NBC Angola, empresa controlada na totalidade pela NBC Medical, que representa, neste país, marcas, fabricantes e produtos. Adicionalmente, a aposta no mercado angolano passou por encontrar um parceiro local para criar a Farmalog, empresa inovadora na qual detém 50% do capital. O projeto da Farmalog foi idealizado em 2010 e desenvolvido em 2011, com a construção de uma unidade de logística de importação e distribuição de medicamentos em Angola. Recebeu licença de funcionamento em novembro de 2011, pela Direção Nacional de Medicamentos e Equipamentos de Angola, equivalente ao Infarmed português. Tudo para exportar A sua atividade arrancou em abril de 2012, com um plano estratégico centrado inicialmente no setor privado – clínicas e farmácias. Mas a A NBC Medical, sediada em Sintra, baseia o seu crescimento na experiência e inovação e dedica-se à exportação empresa começou recentemente a participar em concursos públicos de medicamentos, 95% dos quais produzidos em Portugal para hospitais, governos provinciais e ministérios. A sua atividade não se restringe apenas a Luanda, capital deste país africano, estendendo-se também a outras zonas do território. Para apoiar o desenvolvimento da sua atividade no mercado angolano, a Farmalog participou em várias feiras locais para apresentar a sua atividade e os produtos que representa neste país. Trata-se de uma empresa 100% exportadora, que aposta forte no faturou 10 milhões de euros. Em 2010 as vendas ultrapassaram os A empresa construiu, de raiz, instalações próprias na província mercado africano e europeu. Mas também atua no Médio Oriente 11 milhões de euros e, em 2011, chegaram aos 19 milhões de euros, do Bengo, vizinha de Luanda, que foram projetadas em Lisboa e e América Central e do Sul, mercados onde desenvolve várias um crescimento de 72% em apenas um ano. Em 2012, a faturação operações. baixou um pouco, ultrapassando, no entanto, os 18 milhões de euros. construídas por empreiteiros angolanos. Hoje, num armazém com Fundada em 2008, a NBC Medical dedica-se ao comércio internacional De um grupo inicial de oito colaboradores, a empresa cresceu para cerca de 1000 metros quadrados de área, organizam-se áreas de medicamentos e outros produtos na área da saúde. Licenciada pelo uma equipa de 30 pessoas. A seleção dos colaboradores obedece distintas para armazenamento de medicamentos a temperaturas e Infarmed para o exercício dessa atividade, trabalha maioritariamente somente a critérios rigorosos de competência, experiência, humidade controladas e diferenciadas segundo a exigência de cada com produtos nacionais – 95% – e tem uma estratégia de crescimento criatividade e caráter. Por isso, a empresa tem uma equipa com várias produto. O edifício é monitorizado e controlado a partir de Lisboa centrada nas exportações. valências, que junta a experiência de colaboradores seniores, alguns através da internet. O transporte de medicamentos é feito seguindo Não sendo fabricante, a NBC Medical identifica as oportunidades vindos de projetos anteriores, ao conhecimento de jovens em início todas as regras estabelecidas, para garantir as melhores condições de negócio nos vários mercados em que se move. Por isso, os seus de carreira. de acondicionamento do produto até ao momento da entrega. serviços são solicitados muitas vezes por empresas vocacionadas Constituída em 2008 por Nuno Belmar da Costa, gestor de empresas Seguindo uma política de atenção às necessidades dos colaboradores, a concorreram a programas internacionais financiados pelo Banco há 25 anos com larga experiência no setor da saúde e por Mariana Mundial ou pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento. Exemplos Belmar da Costa, mestre em gestão, antiga consultora do Loyds a empresa criou casas de apoio social, fornece duas refeições dessa atividade são o envio recente de embalagens de sangue para o Bank e administradora na área empresarial da construção civil, gratuitas por dia e disponibiliza um balneário. As questões de Uganda ou medicamentos anticancerígenos para a Ucrânia. a NBC Medical trabalha todos os produtos relacionados, direta ou segurança estão garantidas por uma equipa local e por um sistema No primeiro ano de atividade, a NBC Medical, sediada em Sintra, indiretamente, com o setor da saúde, tais como medicamentos, de videovigilância e deteção de intrusos e prevenção de incêndios.

40.41 MTPAML Património património

Embarcações tradicionais do Tejo A variedade e riqueza das embarcações tradicionais do grande rio português, quase um mar no seu estuário, fizeram delas um património cultural a preservar

O estuário do Tejo, com as suas margens recortadas e seus esteiros, Segundo o estudo “Barcos do Tejo”, de António Nabais, publicado no disso em textos de escritores portugueses e estrangeiros, e em capital. Faluas, fragatas e varinos afluíram durante séculos, geran- proporciona boas condições para a navegabilidade fluvial. Por isso, jornal online Panorama, as embarcações do Tejo, que “recebiam a muitas representações, incluindo fotografias, postais e pinturas do um intenso movimento de embarcações que transportavam, por é natural o seu contributo para a fixação de gentes e a criação de designação genérica de barca, começaram-se a diferenciar devido entre outros. exemplo, em 1916, para Lisboa, batatas, cebolas, alhos, ervilhas, inúmeras povoações ao longo das suas margens e estuário. não só às funções a que se destinavam, como também aos per- O pescador local utilizava, na sua atividade piscatória, embarcações favas, feijões, castanhas, figos, melancias, uvas, cereais, farinha, O rio cedo se transformou no meio de comunicação por excelência cursos de navegação que utilizavam. Subir o Tejo ou percorrer os comuns a todo o estuário do Tejo: o bote, o batel, a canoa e a lanchi- carne de porco e de vaca, banha, toucinho, gado muar, cavalar, bo- entre as duas margens, quer dos que rumavam ao Sul ou mesmo braços pouco profundos do rio impunha o uso de embarcações de nha. O candeio, o tresmalho, o arrasto, as redes singeleiras e, prin- vino, suíno, sal, madeira, sulfato, enxofre, azeite, carvão de pedra, a Espanha, quer dos que viajavam para a capital ou Norte do país. pequeno calado, sem quilha ou de meia quilha, que foram criadas, cipalmente, a armação, eram as artes da pesca usadas. Os pesca- telha de Marselha, tijolo furado e tijolo burro, aduelas, purgueira, Da mesma forma, assumiu-se como via de circulação para o trans- sabiamente, pelos operários da construção naval que se instalaram dores, organizados em campanha, normalmente de quatro homens, guano, palha, cortiça, serradura e betume. Até ao dobrar do século porte de bens e mercadorias e proporcionou uma intensa atividade nas povoações ribeirinhas do Tejo, nomeadamente, na margem sul levavam um bote-mãe, botes-enviada (que transportavam o pesca- XX, a indústria da cortiça e da chacinaria alimentaram o constante piscatória, fatores determinantes para o progresso económico das do estuário: Porto Brandão, Margueira, Mutela, Amora, Arrentela, do, diariamente, para os mercados de Lisboa, Montijo, Alcochete e fluxo e refluxo de embarcações, apoiadas pelos armazéns da frente suas localidades e territórios. Seixal, Barreiro, Gaio, Sarilhos Pequenos, Montijo e Alcochete. Exis- Barreiro), canoas das redes e caçadeiras (lanchas de transporte). ribeirinha Ao longo dos séculos, as embarcações permitiram cruzar as suas tiram estaleiros navais noutros portos do Tejo, como em Valada, Pu- A variedade e riqueza náutica das embarcações do Tejo, desde Vila águas. A sua evolução e aperfeiçoamento, de acordo com a técnica, nhete (Constância), Rossio ao Sul do Tejo (Abrantes).” O cais da Aldeia da Galega Velha de Ródão até à sua foz, são abundantes há vários séculos. Por os materiais disponíveis e as necessidades deram origem a dife- O texto revela que ragatas, varinos, faluas, botes, canoas e catraios, Ao cais de cantaria de Aldeia Galega, hoje Montijo, – que já em 1709 isso, é natural que existam muitas representações de várias zonas rentes tipologias: barcas, faluas, botes, batéis, varinos, lanchinhas, com suas velas enfunadas, pinturas e tripulação davam cor e vida era considerado um dos melhores do Riba-Tejo – atracavam inúme- do seu percurso e estuário, enxameadas de velas de embarcações canoas, fragatas, vapores e ferryboats. inconfundível a toda a zona ribeirinha do rio Tejo. Há testemunhos ras embarcações que asseguravam o comércio de produtos para a de muitos tipos, dedicadas ao tráfego fluvial, marítimo e pesca.

42.43 MTPAML Património património

Porém, o Tejo foi perdendo a vida que todo este colorido proporcio- Dia da Marinha do Tejo nava, à medida que este património náutico tradicional ia sendo Num fim de semana marcado pela intensa atividade náutica no rio Tejo, substituído por embarcações mais modernas, a vela e a motor, e o Cais das Colunas acolheu recentemente o Dia da Marinha do Tejo. aumentando o calado dos navios de transporte e carga que nele Numa cerimónia que, desde 2011, se integra nas “Festas de Lisboa”, circulam. sessenta e uma embarcações registaram a sua presença no Livro de Muletas, bateiras, enviadas, faluas, fragatas, barcos de água aci- Registos da “Marinha do Tejo”, uma instituição apostada na defesa da ma, barcos dos moinhos, barcos dos moios, canoas, botes, botes história náutica, preservação da forma de navegar e divulgação das de fragata, fragatas e varinos, embarcações que, noutros tempos, embarcações tradicionais que ainda navegam no Tejo. Canoas, varinos, enchiam a superfície das águas do Tejo, cruzando as suas águas faluas, catraios, construídos exclusivamente em madeira nacional, em todas as direções, quase se perderam. Felizmente, um grupo de incluindo a falua “Esperança”, produzida em 2006 e propriedade da pessoas conhecedoras e apaixonadas por este património, ajudam autarquia, recuperaram a memória das origens de Lisboa. Num espa- a manter alguns dos seus exemplares, e todos os anos, os mostram ço recentemente devolvido à cidade, integrado numa frente ribeirinha em desfiles comemorativos, como acontece no dia da Marinha. Ne- de 19 quilómetros, o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, les também podem ser vistos alguns exemplares que vários mu- presente, também, na qualidade de Fragateiro Honorário, manifestou nicípios ribeirinhos preservaram e souberam reutilizar para fins a importância da frente ribeirinha na redescoberta dos “usos que se culturais e turísticos, como acontece, por exemplo, com Vila Franca foram perdendo”, vestígios de uma Lisboa “desde as origens, ligada ao de Xira e . mar através do Tejo”.

Numa cerimónia repetida anualmente, Carvalho Rodrigues, homem do Durante as Festas do Barrete Verde e das Salinas, a Alcatejo é enfei- mar e cientista indissociavelmente ligado ao primeiro satélite portu- tada a rigor e participa num dos seus momentos altos: a Procissão guês, reforçou a importância do mar na história da cidade, lembrando, por Mar e Terra em Honra de Nossa Senhora da Vida. No entanto, a às autoridades presentes, que “o alcaide de terra e o alcaide do mar fo- embarcação marca presença noutras festividades de caráter religio- ram criados por Dom Afonso Henriques em Lisboa, no mesmo dia. so, como as Festas de São Pedro, no Montijo, e as Festas em honra Saldanha Lopes, Chefe do Estado-maior da Armada, presente na ceri- de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Moita, e em regatas no Tejo ou mónia realizada “perto do local onde tudo começou há mais de 500 passeios de embarcações tradicionais. anos”, apelou à união e coesão das duas margens do rio, de forma a “manter viva a memória dos que fizeram do Tejo a sua vida”. O Varino Pestarola As povoações ribeirinhas do Concelho do Barreiro desenvolveram- A embarcação Alcatejo -se e progrediram através da sua forte ligação com o Rio Tejo e Desde a Idade Média que as embarcações tradicionais constituíam Lisboa. Em toda a região do estuário do Tejo surgiram e evoluíram, um dos principais meios de transporte de Alcochete, levando para desde a Idade Média, embarcações que procuraram responder às Lisboa mercadorias como o sal. A atividade tem desempenhado, ao necessidades de transporte de pessoas e mercadorias. Entre elas longo dos séculos, um papel económico importante em toda a região. destacam-se o barco dos moios (transporte de sal), o bote de pinho Pertença do Município de Alcochete, a Alcatejo é uma das mais belas (transporte de lenha), a muleta (pesca), a fragata, o batel, a falua embarcações que navega no rio. Proporciona, ao longo do ano, a mu- e a canoa. nícipes e turistas, particularmente no Verão, passeios agradáveis ao A partir da segunda metade do séc. XIX surge o varino, embarcação longo da zona ribeirinha de Alcochete. Desta forma tem outro sabor, essencial de carga. Enverga um pano latino quadrangular num só quer nos seus percursos em direção à Reserva Natural do Estuário mastro e, à proa, uma pequena vela triangular, o estai. Assegurava do Tejo, quer em direção à Ponte Vasco da Gama, os passeios revelam a circulação de bens (carvão, areia, cortiça, madeira, cereais, etc.) pormenores que só podem ser apreciados a partir do rio. em toda a zona estuarina.

44.45 MTPAML PATRIMÓNIO PATRIMÓNIO

Semelhante à fragata, distingue-se desta pela roda da proa bastante pronunciada, o fundo liso e sem quilha, o que lhe possibilitava nave- gar em águas pouco profundas. Embarcação leve e airosa, apresenta uma decoração muito exuberante e de raiz popular. A proa é consti- tuída, geralmente, por um painel de cores garridas, em que contras- tam o amarelo, o azul, o branco ou vermelho, sobre um fundo negro. Destacam-se os grandes ramalhetes e cercaduras de flores, onde sobressai a denominação da embarcação, executada com esmero. O seu interior é igualmente decorado, à volta da amurada, na escotilha do porão ou nas molduras e bandeiras das portas. O Varino Pestaro- la é, atualmente, um exemplar “vivo” das embarcações tradicionais, hoje ao serviço da população do Barreiro. Adquirido em 1999 pela sua Câmara Municipal, realiza viagens na orla marítima do concelho me- diante marcações no seu Posto de Turismo.

O Boa Viagem Com uma frente ribeirinha de 20km, é ao rio que o Município deve, em parte, o seu crescimento e desenvolvimento, e também a sua cul- tura, identidade e tradições. Hoje, o Tejo oferece, às gentes da Moita, uma vertente de lazer muito acentuada, devido à aposta da Câmara Municipal na recuperação e valorização de toda a sua zona ribeirinha. As embarcações típicas do Tejo marcam a história deste concelho e foram o sustento de muitas famílias. Talvez por isso, não seja de A arte xávega é praticada há muitas décadas na baía de Sesimbra. estranhar que este seja o município com mais embarcações típicas do Tejo recuperadas, um trabalho que muito se deve à Câmara Muni- cipal, mas também ao movimento associativo náutico do concelho: Associação Naval Alhosvedrense “Amigos do Mar”, Associação Naval Sarilhense e Centro Náutico Moitense. O varino é uma embarcação de fundo chato, para navegar nos estei- ros do rio, com águas de pouca profundidade. Exibe uma proa redon- da, encimada pelo caneco ou capelo também recurvo para dentro. Ostenta as caraterísticas pinturas decorativas no painel da proa, na antepara e nos barbados, conferindo-lhe um colorido inconfundível. Tem cerca de vinte metros de comprimento por cinco de largura, po- dendo transportar até duzentas toneladas. A Câmara Municipal da Moita foi pioneira na aquisição e recuperação de uma embarcação tradicional, precisamente um varino. Em 1980, comprou-o com o ob- jetivo de preservar e valorizar este património histórico e cultural do Estuário do Tejo. A sua recuperação foi efetuada no estaleiro naval do Gaio, pelo Mestre José Lopes (já falecido), onde foram utilizadas as técnicas tradicionais de carpintaria, calafeto e pinturas navais. Em setembro de 1981, por ocasião das Festas da Moita, foi apresentado à população do concelho, com uma nova designação, “O Boa Viagem”,

46.47 MTPAML PATRIMÓNIO

Rio acima no Varino Liberdade O Varino Liberdade, uma da muitas embarcações que faziam parte de um intenso tráfego fluvial de transporte de mercadorias, é hoje uma referência do Museu Municipal de Vila Franca de Xira. De maio a outubro, segue os contornos do rio ao encontro das pai- sagens e das histórias que fizeram as gentes da zona ribeirinha do concelho. Dezoito metros, quarenta toneladas, duas velas, proa alta e fundo chato permitem a esta embarcação típica navegar pelos bai- xios e tirar partido da beleza natural e das condições de exceção da Reserva Natural do Estuário do Tejo. Ao longo do percurso, o visitante pode deliciar-se a ouvir e observar belos exemplares de aves aquáticas, que encontram aqui um local ideal para repousar e se alimentarem nos seus percursos de migra- ção da Europa para a África Ocidental. É comum observar nos mou- chões, flamingos, garças, patos, alfaiates, maçaricos e pilritos, a alimentarem-se nas lamas e a descansarem nos principais habitats e povoamentos vegetais que integram a Reserva. Disponível para passeios durante a semana ou aos fins de semana, para grupos organizados, o barco varino “Liberdade” sai do cais em horários dependentes das marés.

nome que lhe foi atribuído pela autarquia, tendo em consideração a devoção religiosa local à Nossa Senhora da Boa Viagem. Entre 2010 e 2011, o Boa Viagem foi de novo submetido a uma in- tervenção no estaleiro naval de Sarilhos Pequenos, do Mestre Jaime Costa. Atualmente, esta embarcação tem funções culturais e didá- ticas, enquadrando-se na missão de serviço público através de um programa anual de passeios fluviais.

Bote de Fragata Baía do Seixal e Varino Amoroso As embarcações tradicionais do Seixal já começaram a época de pas- seios no Tejo. Os dias maiores e ensolarados convidam a um passeio pelo rio e são uma boa oportunidade de conhecer mais de perto as tradições marítimas e fluviais do concelho. A época de navegação das embarcações tradicionais decorre até ou- tubro e, ao longo destes meses, realizam-se vários ateliês, visitas e passeios temáticos a bordo. Um deles inclui um percurso pela Baía do Seixal, para observação e interpretação dos moinhos de maré exis- tentes no concelho, com desembarque e visita ao Moinho de Maré de Corroios à moda antiga, como os cereais e a farinha que preenchiam o dia a dia dos moleiros, pela porta do rio da sala de moagem. Mas há outras opções até setembro que vale a pena experimentar.

48.49 MTPAML fundos comunitários

Os municípios da Área Metropolitana de Lisboa concretizaram inves- nistração Pública e a simplificação, reengenharia e desmateriali- A sustentabilidade timento na modernização administrativa autárquica, na ordem dos zação de processos; 7.920.052,76€, dos quais 2.809.477,47€ foram financiados pelos • O desenvolvimento de uma Administração Pública em rede, com fundos comunitários FEDER, da tipologia Sistema de Apoio à Moder- recurso ao uso intensivo das tecnologias da infraestrutura de su- económica nização Administrativa (SAMA) - PORLisboa - QREN. porte ao processo de modernização administrativa; Nesta tipologia de projetos foram aprovadas trinta e uma operações, • A promoção de iniciativas integradas de modernização, assegu- da Administração tendo como beneficiários os Municípios, a Associação de Municípios rando a articulação entre três principais dimensões de interven- do Distrito de Setúbal e Juntas de Freguesias da Área Metropolitana ção (pessoas, organização e tecnologia), promovendo uma gera- de Lisboa. Estas operações visaram criar condições estruturantes, ção da massa crítica e das competências transversais necessá- autárquica também orientadas para a redução dos denominados “custos públicos de con- rias à continuidade e sustentabilidade deste tipo de processos, texto” no relacionamento da administração pública pocal quer com os para além do horizonte definido para o respetivo financiamento. passa pelas TIC cidadãos (munícipes), quer com as empresas. No âmbito da Modernização Administrativa autárquica foi impresso Com efeito, as operações aprovadas preconizam objetivos de eficiên- um grau de inovação ou de utilização de “boas práticas” de governan- cia e eficácia, designadamente: ça, como: • A qualificação do atendimento dos serviços da administração pú- • Implementação do Balcão Único de Atendimento enquadrado na blica local, conjugando uma lógica de proximidade com critérios perspetiva da prestação de serviços num único local (físico ou de racionalização de estruturas; virtual), que se constituiu como uma plataforma única de supor- • A racionalização dos modelos de organização e gestão da Admi- te ao atendimento ao cidadão e às empresas;

50.51 MTPAML FUNDOS COMUNITÁRIOS FUNDOS COMUNITÁRIOS

mas únicas de suporte ao atendimento ao cidadão e às empresas portfólio digital do aluno; promover a utilização pedagógica de TIC; au- (balcão virtual), criando assim as condições para que o acesso ao mentar a oferta de conteúdos e aplicações TIC para Educação; promo- mercado das compras públicas seja facilitado e transparente. ver a acessibilidade às TIC por parte de cidadãos com necessidades Ainda, no âmbito do financiamento FEDER pelo POR Lisboa, a AML especiais; aumentar a velocidade de acesso das escolas à Internet; com os municípios associados concluiu a implementação do Plano permitir que alunos e professores tenham acesso à Internet com e Tecnológico da Educação do 1.º Ciclo, que visou essencialmente in- sem fios em todas as salas de aula e restantes espaços escolares; tegrar as TIC nos processos de ensino e aprendizagem no 1.º ciclo do aumentar a segurança nas escolas; contribuir para a segurança dos ensino básico. equipamentos, dissuadir intrusões, furtos e roubos nas escolas. O Plano Tecnológico de Edução assentou em objetivos de moderniza- A Área Metropolitana de Lisboa continuará junto dos seus Municípios, ção do ensino e da aprendizagem: aumentar a produção, distribuição a concertar estratégias e sinergias para encontrar mais soluções de e utilização de conteúdos pedagógicos em suporte informático (e.g. modernização administrativa, que tragam melhores resultados na exercícios, manuais escolares, sebentas eletrónicas, etc.); desenvol- otimização da prestação do serviço público, quer aos cidadãos, quer ver práticas de ensino e de aprendizagem interativas, generalizar o às empresas.

• Implementação da solução multicanal, potenciando o uso do Bal- os municípios da Área Metropolitana de Lisboa beneficiam de um cão Único a disponibilizar ao cidadão; conjunto de acordos quadro que pretendem racionalizar a despesa • Promoção de uma cultura de contiguidade com os munícipes, e normalizar a aquisição de bens e serviços transversais, para além sejam eles empresas ou cidadãos, através da prestação de um de promover a eficiência operacional através de um forte contribu- serviço de atendimento, que permite ao munícipe iniciar e acom- to para a simplificação dos processos aquisitivos, racionalizados e panhar qualquer tipo de interação estabelecida com a autarquia, suportados por soluções tecnológicas. O modelo de governance da através de diferentes canais, segundo as suas possibilidades e CCE-AML deve-se exclusivamente à atitude dos municípios, que sou- necessidades; beram captar as mais-valias do suporte tecnológico que foi colocado • Implementação de reengenharia e desmaterialização nos proces- à sua disposição. sos de interação entre os municípios e os cidadãos e empresas, e A Central de Compras Eletrónicas da Área Metropolitana de Lisboa cor- nos processos internos dos municípios, segundo uma perspetiva poriza a sua atuação com o recurso às TIC, designadamente, dispo- de integração transversal. nibilizando aos Municípios uma plataforma de compras eletrónicas, Ora, este esforço financeiro e humano traduziu-se no aumento da uma plataforma de agregação das necessidades, e ainda, um site do eficiência da governação, privilegiando intervenções transversais projeto www.cce.aml.pt, como ferramenta de gestão colaborativa que entre o município e os munícipes, nomeadamente apostando na va- permite a realização de diversas interações entre as várias entidades lorização da capacitação de todos os intervenientes, numa lógica de do projeto. economia de rede, com vista à redução de custos de contexto. Neste contexto, a CCE-AML procura preconizar junto dos municípios No caso da Área Metropolitana de Lisboa (AML) foi implementada melhores práticas, quer ao nível da eficiência e eficácia dos proces- uma Central de Compras Eletrónicas (CCE-AML), que visa atuar trans- sos aquisitivos de bens e serviços, quer ao nível da transferência de versalmente em todos os Municípios aderentes, de forma a promover conhecimento, de forma a implementar a gestão de mudança relati- maior eficácia e eficiência, transparência e potenciar economias de vamente às compras públicas. escala no domínio da aquisição de bens e serviços. Em suma, a AML desenvolve junto dos municípios todas as iniciativas Os compromissos assumidos pela CCE-AML, em novembro de 2008, necessárias à sua mobilização, quer na promoção e adoção de novas com a sua constituição formal foram amplamente atingidos. Hoje, práticas de comércio eletrónico, quer na implementação de platafor-

52.53 MTPAML IMAGENS METROPOLITANAS IMAGENS METROPOLITANAS

Rui Telmo Romão

Licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes derico Serra e Gonçalo Waddington, para clientes como a Caixa Geral da Universidade de Lisboa, bolseiro da Universidade de Lisboa no pro- de Depósitos, Compal, Jornal i, MotelX e Vodafone. grama Erasmus no departamento de animação da Norwich School of Em 2005 e 2006 foi selecionado pelo Clube Português de Artes e Art and Design em Inglaterra e mestre em Direção de Fotografia de Ideias para o concurso Jovens Criadores na categoria de Design Gráfi- Cinema pela Escola Superior de Cinema e Audiovisual da Catalunha, co e de Vídeo, respetivamente. Em 2009 colaborou com o coletivo de em Espanha, Rui Telmo Romão trabalha, desde 2006, em produções design Vivóeusébio, na criação da exposição site specific “SuperCha- cinematográficas (longas e curtas metragens, documentários, video- se” no âmbito da bienal Experimenta Design. clips e filmes publicitários) em Portugal, Espanha e Inglaterra. O seu projeto artístico “Em Casa” foi selecionado para a shortlist do Entre 2008 e 2011 fez parte da equipa criativa da produtora Take It prémio “Fotolibro Iberoamericano 2012” pela Editorial RM e, em 2013, Pausa para lanchar Pasteis de Belém durante um passeio de bicicleta pela cidade, Bicicleta descansa à chegada da alleycat “Pão por deus” - Praça do Intendente, Lisboa - novembro 2012 Easy, na qual desenvolveu projetos autorais com Tiago Guedes, Fre- recebeu o apoio às Artes Visuais da Fundação Calouste Gulbenkian. Jardim de Belém, Lisboa - agosto 2012

Passeio de bicicleta pela cidade, Praça do Comércio, Lisboa - agosto 2012 Caminhada de aproximação à via de escalada “Noiva”, Praia da Ursa, Sintra - agosto 2012

54.55 MTPAML IMAGENS METROPOLITANAS IMAGENS METROPOLITANAS

Caminhante na Serra do Risco, Parque Natural da Arrábida - janeiro 2013 Escalador na “Noiva”, Praia da Ursa, Sintra - agosto 2012 Cultura

A obra e a vida de Aquilino Ribeiro também se encontram ligadas à re- Estabeleceu-se, em Lisboa, em 1906. Tomou parte na ação revolu- gião metropolitana de Lisboa, aos concelhos de Lisboa, de Oeiras e de cionária para a queda da Monarquia e a proclamação da República. Sintra. É um percurso que – ao contrário de Eça de Queiroz – decorreu Entretanto, foi preso e teve de recorrer ao exílio. Permaneceu vários da serra para a cidade, mantendo sempre um vínculo com as raízes anos em Paris, vindo a radicar-se em Lisboa a partir de 1914. telúricas e humanas. Foi professor do Liceu Camões (evoca esses período na novela Do- Residiu em Lisboa e tinha, no Chiado, um dos seus lugares diários mingo de Lázaro) e funcionário do quadro da Biblioteca Nacional, de de convívio. Morou em Santo Amaro de Oeiras e na Cruz Quebrada e, onde foi demitido em consequência da intervenção, em 1927, nas por último, na rua António Ferreira, no bairro de São Miguel, em En- primeiras revoluções contra a ditadura. Esta relação com Lisboa nun- trecampos. ca o separou da memória das origens, que constituiu o cerne da sua Todos os dias recorria aos transportes públicos, ao comboio, aos elé- produção literária. tricos e aos autocarros. Passou férias no concelho de Sintra. Escre- A geografia física e a geografia humana da Beira Alta fundidas naGe - veu, na Idanha- Belas, o Romance da Raposa, para crianças, jovens e ografia Sentimental – um dos seus títulos emblemáticos – foram re- para adultos. Concluiu e datou, também da Idanha, a Estrada de San- cuperadas por Aquilino na sua obra extensa e intensa. tiago que incluiu, pela primeira vez, o Malhadinhas. Ainda a propósito O Malhadinhas costuma ser a grande referência. Mas há muitos do concelho de Sintra refira-se o livro, da sua autoria, dedicado ao ar- outros livros de Aquilino que nos retratam o casticismo visceral da tista Leal da Câmara, que passou os últimos anos de vida na Rinchoa, região. Entre os romances e novelas destacam-se, Terras do Demo, onde tem uma Casa-Museu. Estrada de Santiago, Quando os Lobos Uivam e a reconstituição au- Nasceu Aquilino Ribeiro a 13 de setembro de 1885. Passou a infância tobiográfica emCinco Reis de Gente, Uma Luz ao Longe e Via Sinuo- na Soutosa, em Moimenta da Beira e estudou em Lamego e em Viseu. sa. O inventário beirão de Aquilino ficaria incompleto sem mencionar

AQUILINO RIBEIRO VIDA E OBRA NA REGIÃO DE LISBOA

António Valdemar Presidente da Academia Nacional de Belas Artes Cultura Cultura

os ensaios ocasionais reunidos em Aldeia, escritor e do seu estatuto profissional. Avós dos Nossos Avós, Arcas Encoiradas, Pertenceu à comissão organizadora da Homem da Nave. Sociedade Portuguesa de Escritores e foi Há vários livros de Aquilino que retratam eleito primeiro presidente da direção. Lisboa: Um Escritor Confessa-se, primeiro Figura dominante da vida cultural e polí- tomo das memórias que não concluiu; Lá- tica das tertúlias do Chiado, Aquilino co- pides Partidas, Mónica e Arcanjo Negro. nhecia Portugal palmo a palmo. Através Estamos, em 2013, perante o centenário de cerca de uma centena de títulos que da publicação do primeiro livro de Aquilino, abrangem o romance, a novela, o conto, o Jardim das Tormentas, que logo o projetou ensaio, as biografias, as reconstituições numa dimensão nacional e os 50 anos da históricas prodigalizou-se em “semear morte do escritor, em plena apoteose do ju- palavras ao vento e contra o vento e em bileu literário, comemorado desde a Acade- todas as marés”. mia das Ciências, a Sociedade Portuguesa Enriqueceu a língua na sua diversidade, de Escritores, o Ateneu Comercial do Porto, harmonia e opulência, tal como Camões, até e associações operárias, a cooperati- Vieira, Bernardes, Camilo, prosseguindo va de Almada e coletividades recreativas as lições e ensinamentos dos mestres como o Sport de Algés e Dafundo, onde recebeu a última homenagem, vernáculos. Introduziu milhares de palavras novas ao cruzar a tra- falecendo dois dias depois. dição erudita com a fala popular. Consolidou um estilo. Pessoal e in- Aquilino fez da literatura – caso muito raro entre nós – um ofício em transmissível. tempo inteiro e empenhou-se na dignificação social da condição do “De pena na mão - é melhor citá-lo - procuro ser independente, origi- nal, inteiriço como um bárbaro”. Auscultava o que havia em cada vo- cábulo, a matriz etimológica, a carga emotiva, as virtualidades meló- dicas e cromáticas para descrever a paisagem e a ocupação humana, os ciclos da natureza, a variedade dos sentimentos (o amor, a raiva, o opinião. No livro Quando os Lobos Uivam tinha denunciado os meca- obedecia à sua consciência e aos seus ideais. Rompeu, sempre, com ódio, a saudade, a inveja, a compaixão e o desprezo), emoções, ges- nismos de repressão salazarista: a censura, as purgas universitárias, o servilismo, a hipocrisia, os interesses instalados, a unanimidade de tos, atitudes que marcam os comportamentos individuais e coletivos. os tribunais plenários, a cumplicidade de magistrados com a polícia opinião. Contemporâneo do modernismo, mas sem relações com o Orpheu e política, a distorção da Justiça. Ao chegar ao fim de uma vida intensa e extensa não se considerava outras bandeiras do movimento de vanguarda, Fernando Pessoa, pe- A determinação de Aquilino era indisfarçável. Os que não tiveram o satisfeito. A missão do homem e do escritor não as julgava cumpri- rante os primeiros livros de Aquilino, não hesitou em classificá-lo de privilégio do seu convívio deparam, nos seus livros, com a intimidade das. Poucos dias antes de falecer, na homenagem que lhe prestaram “grande prosador” e de o recomendar para o estrangeiro como leitura do homem: a coragem de enfrentar o poder. A recusa em ficar calado e na Sociedade Portuguesa de Escritores, afirmou: “Morro insatisfeito. A de referência. Desde os primórdios, era um clássico entre os moder- patuar com a indiferença e a apatia que, durante meio século, carac- minha obra é imperfeita e bem o sinto”. (...) “Sei que estou a aproxi- nos e um moderno entre os clássicos terizaram o Portugal obediente, o Portugal ferido na sua integridade mar-me do ocaso. Mas como os trabalhadores da minha serra, hei-de Resistente à ditadura, às várias ditaduras que suportou em Portugal cívica e amputado na sua dimensão cultural. morrer com a enxada na mão”. (...) “Olhem sempre em frente, olhem o – a de João Franco, na Monarquia; a de Sidónio Pais, na Iª República; Escrever, para Aquilino, não era compatível com regras de cartilhas sol, não tenham medo de errar, sendo originais, iconoclastas e anti, o a de Salazar, no Estado Novo – lutou pela restituição da Democracia e estéticas e diretrizes de escolas literárias. Cada escritor – assim o mais anti que puderem, e verdadeiros, fugindo aos velhos caminhos contra todas as formas de sujeição. recomendava – pode e deve fazer tudo o que quiser, “desde que não trilhados de pé posto e a todas as conjuras dos velhos do Restelo. O combate frontal à opressão política e às desigualdades sociais arme em fariseu e não esteja nunca contra os simples, de braço dado Cultivem a inquietação como fonte de renovamento”. valeram-lhe a prisão, o exílio, a demissão da função pública, enxova- com os trafulhas, nem contra os fracos, de braço dado com os pode- Esta mensagem de Aquilino resumiu a lição de uma vida e o exemplo lhos parlamentares, vexames em jornais, sem que pudesse exercer o rosos”. para o futuro: a fidelidade à palavra, a fidelidade à terra, a fidelidade direito de resposta. Na vida e na literatura, Aquilino manifestou integral coerência entre ao seu tempo e à liberdade, a fidelidade à insatisfação. Assim fez da Já depois dos 70 anos e quase até às portas da morte (faleceu a 27 as palavras e os atos. Nunca teve medo de pensar alto, discordar em escrita uma arma de luta, um magistério intelectual e um testemu- de maio de 1963) debateu-se com um processo-crime por delito de público, agir onde entendesse e quando fosse necessário. Apenas nho moral.

60.61 MTPAML AROMAS

Neste segundo texto sobre os vinhos do termo de Lisboa vamos falar “regulares mas não excecionais” que a região produzia. Relembro que, sobre as grandes marcas da região de Setúbal. Do Tejo até ao Sado es- ainda nos anos 60 e 70 do século passado, nos concursos de vinhos tamos em zona de planície, confrontada depois pela barreira da serra da na produção que o IVV levava a efeito todos os anos, os prémios eram Arrábida, verdadeira “” que condiciona, sem impedir, a influência invariavelmente entregues a lavradores desta região, com especial marítima nas zonas de Azeitão, onde floresce o melhor moscatel. Dois destaque para Palmela. O passo seguinte é que se revelava fatal: eram temas são verdadeiramente obrigatórios quando se fala nesta zona a sul vinhos que, vendidos a granel, iam engrossar as marcas dos armaze- de Lisboa: o Castelão, a casta que molda os tintos da região e o Moscatel nistas da zona ou até das grandes casas. Xavier Santana, Emídio de (da variedade moscatel de Alexandria), que elevou esta zona ao altar tri- Oliveira, Sivipa, Venâncio da Costa Lima, Coop. de Palmela e Coop. de partido dos grandes generosos portugueses, onde já estão o Porto e o Madeira. Da história do Castelão já quase tudo foi dito e redito; o grande impulsionador foi José Maria da Fonseca (JMF), que por aqui se instalou em meados do séc. XIX e aqui deixou marca. Os seus herdeiros continuam a “tocar para a frente” a difícil guerra onde o vinho está hoje envolvido a nível mundial. Dos tempos do senhor Fonseca ficou a marca indelével da casta Castelão, que não só se espalhou por toda a região, como mostrou que era aqui que ela melhor se dava (ao que a história conta, poderá ter sido “importada” do Ribatejo). Era também a casta mais plantada na enor- me vinha do Poceirão, que já reivindicava, no séc. XIX, o título da maior vinha do mundo. A herdade do Rio Frio chegou a ser um verdadeiro mar de vinhas com dezenas de adegas a funcionar em simultâneo e cerca de 600 famílias a morar e trabalhar na terra. Os grandes vinhos de Castelão estiveram, durante décadas e décadas, confinados à casa JMF. Em boa verdade, até aos anos 80 do séc. XX esta era a única grande casa que colocava regularmente vinhos no mercado e ia muito além dos vinhos

Os grandes vinhos do termo de Lisboa 2.ª parte - SETÚBAL Dos tempos do senhor Fonseca, ficou a marca indelével da casta Castelão, que não só se espalhou por toda a região, como mostrou que era aqui que ela melhor se dava

João Paulo Martins Jornalista

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Portocarro, Herdade do Cebolal ou a Herdade das Soberanas. Com uma vinhos desta zona a sul de Lisboa, e que a colocam em terceiro lu- área de vinha de cerca de 10 000 ha, que se tem mantido estável nos gar nas preferências do consumo, a seguir ao Alentejo e aos Vinhos últimos anos, dos quais cerca de 330 se destinam a D.O.C. Moscatel de Verdes, esse apreço mostra que a região soube adaptar-se ao gosto Setúbal, a região é hoje um mosaico de castas. Ao antigo monopólio do do consumidor e dar resposta aos seus apetites vínicos. Os grandes Castelão sucedeu-se a proliferação de variedades, muitas nacionais vinhos continuam na Bacalhôa e na JMF. Pode, no entanto, ficar a que chegaram de outras zonas, como a Touriga Nacional ou o Aragonês, pergunta: será que é possível ainda hoje fazer um grande Castelão a Trincadeira ou o Alicante Bouschet, até às estrangeiras que parece que faça ombrear esta casta com as recém-chegadas, tão aprecia- que vieram para ficar, como o Syrah, o Chardonnay ou o Viognier. das pelos consumidores? Creio que sim e acho mesmo que qualquer A transformação da JP Vinhos em Bacalhôa Vinhos de Portugal e o produtor da zona que tenha uma vinha velha e saudável de Castelão, crescimento para uma empresa de grandes dimensões da Casa Er- deveria ter no seu portefólio um vinho – mesmo que em quantidade melinda Freitas vieram criar um triângulo, cujo outro vértice é natu- “garagista” – que homenageasse a casta que deu fama às terras de ralmente ocupado pela JMF. São as três grandes casas que dominam Palmela. Será de terrenos de areia? Porque não? Será das encostas o negócio da região. E se hoje não é fácil reconhecer o estilo antigo da serra? É capaz de ser verdade. Muitos dos operadores daqui têm dos vinhos regionais, tal não deve ser entendido como um fator ne- ainda vinhedos para cumprir este desiderato mas não fazem muito gativo. De fato, o apreço que os consumidores mostram hoje pelos por isso. E é pena.

Pegões funcionavam como os “grandes” da região, por vezes com bons vinhos, raramente com vinhos memoráveis. Restavam então, como vi- nhos de topo, os tintos da JMF, alguns deles escondidos atrás de miste- riosas siglas que só há pouco anos foram reveladas – TE, CO e algumas delas referindo-se a vinhos de outras regiões, como o Alentejo ou o Dão – AP, DA, DP, entre muitas outras. Foram vinhos que marcaram uma épo- ca e alguns ainda dão uma prova muito boa atualmente. A novidade que veio mexer de fato com a região e a levou a um grande salto em frente foi trazida pelos vinhos criados por António Francisco Avillez na firma João Pires, depois batizada como JP Vinhos. Verdadeiro visionário que estava à frente do seu tempo, empreendedor e inquieto teve, em Peter Bright, então jovem enólogo australiano recém-chegado ao país, o apoio técnico indispensável para criar novos vinhos e alargar horizontes. Nasceram, assim, em finais de 80, algumas das marcas mais emblemáticas da região. Tinham uma particularidade: rompiam com a tradição, apostavam em castas novas, muitas delas estrangei- ras, inovavam na apresentação e colocavam os vinhos da terra num patamar de preço que até então era desconhecido: Quinta da Bacalhôa, Má Partilha, Cova da Ursa, Catarina e o famosíssimo João Pires branco (feito apenas de moscatel), trouxeram o nome da JP Vinhos para a ribal- ta e os prémios internacionais não se fizeram esperar. Com os anos 90 começaram a surgir – como aconteceu no resto do país – um conjunto de produtores-engarrafadores que vieram, ainda que muitas vezes em pequena escala, dar um novo impulso à região. Alguns chegaram a ser importantes mas não sobreviveram por muito tempo, como as marcas Hero do Castanheiro e Pegos Claros; outros foram surgindo, apostando em vinhos diferentes, como a Herdade do

64.65 MTPAML AconteceU AML promoveu iniciativas públicas sobre Educação e Transportes João Paulo Martins Jornalista A Área Metropolitana de Lisboa, através da Comissão Permanente de Educação, Cultura, Desporto, Juventude, Ciência e Tecnologia da As- sembleia Metropolitana de Lisboa, promoveu, no passado dia 10 de maio, o Seminário “A Educação na Área Metropolitana de Lisboa: res- ponsabilidades, desafios e perspetivas”, que teve lugar na Escola Supe- rior de Educação de Lisboa. Este Seminário, que reuniu mais de uma centena de participantes, teve por objetivo a caracterização do estado da Educação na AML, bem como promover a reflexão sobre as atuais políticas educativas, proporcionan- do o encontro entre os diferentes atores educativos. Contou com intervenções de vários especialistas nacionais e respon- sáveis políticos da área da Educação. A abertura dos trabalhos ficou a cargo de João Serrano, Presidente da Assembleia Metropolitana de Lisboa, e de Cristina Loureiro, Presidente da Escola Superior de Educação de Lisboa (ESELx) do Instituto Politéc- Em 3 de junho, através da Comissão Permanente de Transportes e Mo- nico de Lisboa e o seu encerramento coube a Patrícia Ferreira, Presi- bilidade da Assembleia Metropolitana de Lisboa, promoveu no Auditório dente da Comissão organizadora, e a Carlos Humberto de Carvalho, da estação de metropolitano do Alto dos Moinhos, a Conferência “A re- Presidente da Junta Metropolitana de Lisboa. gião metropolitana, a mobilidade e a logística”. Esta Conferência, por sua vez, teve como principal objetivo debater o Plano Estratégico de Transportes no âmbito da AML, no atual contexto, e acolheu mais de centena e meia de participantes. Contou com a participação de especialistas da área, operadores e deci- sores políticos, que abordaram diversas temáticas no contexto da área metropolitana de Lisboa. A abertura dos trabalhos coube ao Secretário de Estado das Obras Pú- blicas, Transportes e Comunicações, Sérgio Silva Monteiro; a Luís Barro- so, Administrador da Carris Metro Transportes de Lisboa; e a Joaquim dos Reis Marques, Presidente da Comissão Permanente de Transportes e Mobilidade, e o seu encerramento ficou a cargo também de Joaquim dos Reis Marques e de Joaquim Santos, Coordenador do Grupo de Vere- adores da Mobilidade e dos Transportes dos municípios da AML.

66.67 MTPAML Área Metropolitana de Lisboa

Alcochete Almada Amadora Barreiro Cascais Lisboa Loures Mafra Moita PORTUGAL Montijo Odivelas Oeiras Palmela Seixal Sesimbra Setúbal Sintra Vila Franca de Xira

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