MODERNO EXTRA ANO 9 #7 SÃO PAULO MAI/JUN/JUL 2017 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

O IMPRESSIONISMO E O BRASIL Ministério da Cultura e Museu de Arte Moderna de São Paulo apresentam

O IMPRESSIONISMO E O BRASIL

Curadoria Grande Sala Felipe Chaimovich 16 de maio a 27 de agosto de 2017 APRESENTAÇÃO

A mostra O impressionismo e o Brasil A curadoria de Felipe Chaimovich retoma a chegada e o desenvolvi- apresenta de maneira didática como mento da primeira arte industrial as condições para o surgimento do no país. Dentre as cerca de 100 obras movimento artístico na França se re- reunidas na Grande Sala do MAM, petiram no Brasil. A exposição retoma destacam-se os trabalhos do francês essa trajetória e resgata objetos que Pierre-Auguste Renoir, artista exem- testemunharam o comércio e o uso plar da vanguarda europeia, e dos de materiais industriais de pintura no pioneiros do estilo no , Rio de Janeiro entre 1844 e a década o alemão Georg Grimm, o italiano de 1930, como estojos portáteis, guar- Giovanni Battista Castagneto e o da-sóis, mochilas, cavaletes dobráveis brasileiro Antonio Parreiras. e uma inovadora gama de pigmentos.

O impressionismo nasceu da pintura Com textos do curador e propostas de paisagem ao ar livre executada com de atividades do setor Educativo do rapidez e das inovações na produção in- MAM, esta edição do Moderno MAM dustrial de tinta a óleo durante o século Extra é um convite ao público para XIX, e se estendeu a outros gêneros, conhecer a história da primeira arte como o retrato e a natureza-morta. industrial no Brasil. Boa leitura.

SUMÁRIO

5 O impressionismo e o Brasil: O nascimento da arte industrial Felipe Chaimovich 15 Obras selecionadas 31 Linha do tempo 38 A primeira palêta Antonio Parreiras 41 Experiências poéticas Educativo MAM 49 Patrocínio Máster Patrocínio Realização Obras expostas O IMPRESSIONISMO E O BRASIL 7

O IMPRESSIONISMO E O BRASIL: O NASCIMENTO DA ARTE INDUSTRIAL

Felipe Chaimovich

Os materiais produzidos pela indús- Picasso, Duchamp. Como o Brasil Durante esse período, no Rio de Ja- tria vêm interessando os artistas passou a integrar essa história? neiro, houve um salto de um total de desde o início da Revolução Indus- oito lojas de tintas em geral em 1844 trial. O exemplo inaugural desse Os materiais industriais usados lar- para cinquenta e duas casas especia- interesse foi o impressionismo, que gamente pelos impressionistas foram lizadas em materiais para artistas em marca o advento de um coletivo de produzidos em resposta ao crescente 1889. O grande crescimento ocorreu artistas independentes identifica- mercado de pintura amadora ao ar na década de 1880, quando a pintura dos pelo uso intenso e metódico de livre. Nos cem anos anteriores ao ao ar livre convulsionou o ensino de novos materiais industriais para a início do impressionismo surgiu uma paisagem na Academia Imperial de pintura. As obras do impressionis- modalidade de turismo que incluía Belas Artes, dando origem à primei- mo, surgido na França na década a prática do rascunho colorido da ra escola de arte do Rio de Janeiro, de 1870, integram atualmente as paisagem, tendo se expandido pela segundo o historiador Gonzaga coleções dos principais museus que Europa e pelos Estados Unidos. Essa Duque, que publicou seu livro em apresentam ao público mundial a demanda amadora crescente por 1888. Foi dessa escola da paisagem história dominante sobre a arte mo- materiais como estojos portáteis ao ar livre que surgiu, no Brasil, um derna. Os impressionistas usaram as de pintura, guarda-sóis, mochilas, impressionismo atento às peculiari- tintas a óleo e os pincéis recém-lan- cavaletes dobráveis e uma inovadora dades locais: os lugares acidentados çados no mercado para expandir o gama de pigmentos levou à oferta e irregulares como a Enseada de Bo- uso expressivo da cor, da matéria e crescente de produtos feitos em série tafogo, as luzes cambiantes das ondas da luz, deixando uma generosa he- por máquinas e operários, utilizando da Baía de Guanabara, o avanço das rança para as gerações seguintes que insumos advindos da indústria quí- cidades: Copacabana. Coincidente- hoje figuram nos livros de história mica e possibilitando um comércio mente, os mesmos locais são até hoje da arte: Van Gogh, Gaugin, Braque, globalizado de materiais de pintura. pontos turísticos identificados com a 8 O IMPRESSIONISMO E O BRASIL O NASCIMENTO DA ARTE INDUSTRIAL 9

imagem do Brasil. Foi, portanto, du- uma variedade de sensações, fonte livre seria captar a luz particular de Entretanto, o desenvolvimento da de um bocal com tampa rosqueável XVIII, segundo o modelo britânico10. rante o primeiro ciclo da globalização da rudeza planejada por jardinistas. efeitos atmosféricos momentâneos indústria química ampliou inova- ao tubo de estanho. O resultado foi o Até mesmo a produção de telas pron- do capitalismo, no século XIX, que o Mas Gilpin propõe buscar formações expressa pela combinação das cores doramente a gama de cores devido à lançamento dos tubos metálicos para tas levou a uma substituição do uso ao Brasil passou a participar da história naturais irregulares por meio de do céu, que daria a cor específica do síntese de novos pigmentos durante o tinta a óleo no mercado, que eram ar livre do óleo sobre papel pelo uso da arte industrial. viagens que incluem rascunhar de local naquele instante representado; século XIX. A produção de pigmentos vendidos vazios para os produtores do óleo sobre tela11. Assim, na primei- forma amadora as vistas pitorescas, a partir dessa primeira pintura feita interessava a diferentes ramos flo- artesanais, ou cheios com a tinta ra metade do século XIX, expandiu-se O início do turismo pitoresco foi pois tal prática permitiria registrar as ao ar livre, o quadro seria completado rescentes, como a indústria têxtil8. A pronta. Logo, a palheta da pintura a produção de quadros a óleo sobre condição para a expansão do mercado “impressões” causadas pelos objetos em ateliê, com a paisagem resultante produção de tinta a óleo para pintura ao ar livre com tinta a óleo podia ser tela ao ar livre. de materiais para a pintura ao ar livre. rudes: “desse correto conhecimento obedecendo à cor local inicial. Para o de quadros também foi beneficiada preparada no local, pois era possível Em 1782, William Gilpin publicou dos objetos [durante a viagem turís- estágio inicial, Valenciennes indica a pela industrialização de pigmentos transportar os tubos de tinta. O legado de Valenciennes na França um guia de viagem pelo País de Gales, tica] surge um outro divertimento: duração adequada da seção ao ar livre: sintéticos. Na primeira metade do foi beneficiado pela ampliação das na Inglaterra, relacionado especifi- o de representar, por meio de alguns “todo o estudo ao vivo [d’après nature] século XIX, cinco novos matizes de Os pincéis também foram modifi- possibilidades do óleo sobre tela. Dois camente com a busca pela “beleza traços, num rascunho, essas ideias deve ser feito rigorosamente no inter- verde surgiram e foram lançados no cados pela indústria. Nas primeiras dos alunos diretos de Valenciennes pitoresca”1. No livro, Gilpin descreve que causaram a maior impressão em valo máximo de duas horas: e, se é um mercado, incluindo o verde Veronese décadas do século XIX, os pincéis foram professores de Jean-Baptiste as condições de viagem para quem nós”4. A partir de então, o turismo efeito do sol nascente ou poente, não e o verde veridiano; a marca francesa europeus passaram a ser feitos com Corot quando jovem, tendo-o trei- vai em busca de lugares singulares pitoresco na Europa cresceria nas se deve levar mais de meia hora”7. Lefranc oferecia quatro desses novos virola metálica, um anel que segura nado no exercício da pintura ao ar devido à irregularidade de relevo e de décadas seguintes, chegando aos verdes em seu catálogo da década de os pelos e os une ao cabo, em substi- livre; Jean-Victor Bertin, um deles, foi vegetação. O autor acrescenta ainda Estados Unidos em 18205. O método de Valenciennes para a 1850, ao lado de um único matiz pré- tuição ao uso de parte da pena de aves quem incentivou Corot a ir praticar rascunhos desenhados por ele para prática ao ar livre limitava o efeito -industrial: terre-verte9. Os pigmentos para fixação dos pelos. O anel metáli- a pintura de paisagem na floresta de dar “uma ideia geral de um lugar, Além dos pintores amadores, pintores cromático obtido em até duas horas eram oferecidos a granel, moídos co possibilitou a fabricação de pincéis Fontainebleau. A partir de 1829, Co- ou cena, sem entrar nos detalhes do profissionais de paisagem também às cores disponíveis para uma pintura ou não, para produtores artesanais chatos, além dos redondos já feitos rot passou a pintar com regularidade retrato”2, instrumento apropriado tiveram mais demanda pelo gênero rápida. A gama de pigmentos para de tinta a óleo, ou preparados com a com a base de pena anteriormente. O em Fontainebleau, estabelecendo-se por se tratar de um guia de viagens pitoresco. Alguns turistas chegavam pintura existentes no final do sécu- mistura de óleo, cera etc. e vendidos pincel chato, se usado com tinta a óleo na cidade de Barbizon. Corot começa que buscava precisamente identificar a contratar pintores para acompa- lo XVIII pouco variara nos séculos como tinta pronta. densa, permite um efeito análogo ao então a prática da “pintura clara”, lugares que caberiam numa pintura, nhá-los em viagens, de modo a exibir anteriores, com algumas exceções, da espátula, espalhando grossas ca- caracterizada pela mistura de branco ou seja, locais pitorescos. Para Gilpin, os resultados da expedição na vol- como o aparecimento do amarelo As embalagens também foram afeta- madas de tinta, mas consegue deixar nas demais cores12. O efeito da pintura tais locais seriam identificados como ta. O fortalecimento da pintura de de Nápoles, sintetizado a partir do das pela crescente demanda de tinta também o rastro dos pelos do pincel. clara é oposto ao método do claro-es- rudes: “a rudeza forma o mais essen- paisagem pode ser identificado pela antimônio, ao redor de 1620. Assim, a óleo. Até o início do século XIX, curo, então dominante no ensino da cial ponto de diferença entre o belo e publicação de um manual inovador os matizes obtidos com a mistura de usavam-se as bexigas de porco para Em relação especificamente à prá- pintura a óleo, pois a composição não o pitoresco; assim como me parece ser sobre esse gênero6 na França, em tintas ao ar livre, num tempo restrito, esse fim. Mas, entre as décadas de tica ao ar livre, as lojas de material depende mais do fundo escuro para essa [última] qualidade particular que 1799, escrito por Pierre Henri Va- eram concentrados nos efeitos do céu. 1830 e 1840, a firma inglesa Winsor & para pintura ofereciam outros itens a obtenção dos volumes no primeiro faz os objetos especialmente agradá- lenciennes, que podia servir tanto As mesmas condições técnicas valiam Newton chegou a vender tinta a óleo prontos: cavaletes e bancos dobráveis, plano; a pintura clara, ao contrário, veis em pintura”3. A noção de rudeza a pintores amadores como a pro- para os rascunhos amadores que re- em seringas de vidro, experimentan- guarda-sóis, mochilas e caixas portá- considera o fundo tão luminoso quan- na paisagem se tornara um aspecto fessores e alunos. O autor defendia presentavam as impressões do turista do uma embalagem espremível como teis com palheta embutida constavam to o primeiro plano. Ao se aprofundar central dos jardins ingleses na segun- que os quadros de paisagem fossem pitoresco, caso fossem coloridos. a bexiga de porco, porém de material dos catálogos da Winsor & Newton e na técnica da pintura clara, Corot foi da metade do século XVIII: além de iniciados pela pintura ao ar livre, Além disso, se a pintura fosse feita inorgânico. No ano de 1840, o norte- da Lefranc desde a metade do século. estabelecendo seu estilo e, à medida áreas planas com longos gramados, embora se destinassem a ser finali- a óleo, seria provável que a palheta -americano John Rand patenteou, que outros pintores foram se juntan- os jardins deveriam conter acidentes zados em ateliê, posteriormente. O fosse preparada antes do início da em Londres, um tubo de estanho para A combinação de todas essas mudan- do a ele, a partir de 1830, o grupo de irregulares que proporcionassem principal objetivo da pintura ao ar expedição pitoresca, pois a tinta era tinta a óleo, igualmente feito de ma- ças técnicas possibilitadas pela Revo- Barbizon foi criando uma identidade então conservada em bolsas de bexiga terial inorgânico como a seringa de lução Industrial modificou a prática de porco que precisavam ser manti- vidro, porém mais resistente. No ano da pintura ao ar livre. A praticidade 1 Malcolm Andrews, The Search for the 4 William Gilpin, Three Essays: on Pictur- das mergulhadas em água, dificultan- seguinte, a Winsor & Newton que- dos tubos de tinta metálicos e a nova Picturesque: Landscape Aesthetics and esque Beauty; on Picturesque Travel; and on do seu transporte ao ar livre. brou a patente de Rand com a adição gama cromática levaram a um au- 10 Malcolm Andrews, The Search for Tourism in Britain, 1760–1800. Stanford: Sketching Landscape. Middleton: Forgot- the Picturesque: Landscape Aesthetics and Stanford Un. Press, 1990, 86. ten Books, 2015, 51. mento de pinturas a óleo em relação à Tourism in Britain, 1760–1800. Stanford: Stanford Un. Press, 1990, 36–37. 2 William Gilpin, Observations on the 5 Andrea Wulf, Founding Gardeners: The aquarela, dominante como técnica de river Wye.[ https://archive.org/details/ Revolutionary Generation, Nature, and the 8 François Delamare e Bernard Guineau, colorido ao ar livre no final do século 11 Anthea Callen The Work of Art: Plein- 7 Pierre Henri Valenciennes, Élémens de cu31924104096304] consultado em março Shaping of the American Nation. New York: Les matériaux de la couleur. Paris: Galli- air Painting and Artistic Identity in Nine- Perspective Pratique à l’usage des Artistes de 2017, vi. Vintage Books, 2011, 171 mard, 2003, 98–115. teenth-century France. Londres: Reaktion suivis De Réfléxions et Conseils à un Élève Books, 2015, 76–78. 3 William Gilpin, Three Essays: on Pictur- 6 Anthea Callen The Work of Art: Plein- sur la Peinture, et particulièrement sur le 9 Anthea Callen, The Art of Impression- esque Beauty; on Picturesque Travel; and on air Painting and Artistic Identity in Nine- genre du Paysage. [http://gallica.bnf.fr/ ism: Painting technique and the making of 12 David Bomford et al., : Sketching Landscape. Middleton: Forgot- teenth-century France. Londres: Reaktion ark:/12148/bpt6k5774181n], consultado modernity. New Haven e Londres: Yale Un. Art in the making. Londres: Yale Un. Press, ten Books, 2015, 6. Books, 2015, 34–35. em fevereiro de 2017, 407. Press, 2000, 146. 1990 (catálogo de exposição), 139. 10 O IMPRESSIONISMO E O BRASIL O NASCIMENTO DA ARTE INDUSTRIAL 11

própria. As novas cores de tinta a óleo Fontainebleau durante o verão deriam ser descartados, quis reduzir Em 1869, Renoir fez uma excursão de tentativa bastante preciosa, e nisso Monet iniciou uma paisagem ao ar possibilitavam uma pintura ao ar livre de 1862: Auguste Renoir. Ambos os preços. Mas seu sobrinho aconse- pintura ao ar livre até Bougival, com ele é diferente do trabalho ordinário livre em que retomava a velocidade feita com amplitude crescente de haviam sido pintores de porcelana lhou-me a ficar firme”15. seu colega Monet. Ambos decidem do esquisso, que é executado já com da pochade, dando-lhe o título de “im- matizes prontos que, quando mistu- que migraram para a pintura de executar pinturas ao ar livre da mais ponderação e com menos inde- pressão”, termo identificado com os rados ao branco, davam cada vez mais quadros ao ar livre. Renoir havia Renoir abandonara a pintura manu- mesma vista: o rio Sena passando por cisão”19. A pochade era praticada de rascunhos típicos do turismo pitores- luminosidade aos quadros. nascido na cidade de Limoges, em fatureira em 1861 após economizar Bougival, no ponto onde havia lazer forma suficientemente estabelecida, co: “Impressão: sol nascente”. Assim, 1841, forte centro manufatureiro dinheiro para se sustentar como turístico combinando uma platafor- como para sustentar a comercializa- o trânsito entre diferentes gêneros Dentre os vários pintores amadores e de porcelanas pintadas, indo morar estudante de pintura de quadros. Para ma para banhos e um restaurante ção regular de um modelo específico da pintura, de paisagens a retratos, profissionais que passaram a frequen- em Paris ainda criança. Aos treze tal propósito, passou a estudar com o chamado “La Grenouillère”. Ambos de caixas de pinturas portáteis para naturezas-mortas e cenas de costu- tar a floresta de Fontainebleau em anos, o pai de Renoir empregou-o pintor Charles Gleyre, que abrira uma executam pinturas rápidas ao ar livre. essa finalidade, tal como o anunciado me, mantinha o mesmo método do ar geral e Barbizon em particular, estava como pintor de porcelanas na firma escola particular onde se podia pra- Monet, acompanhado pelo experien- pela firma francesa Bourgeois Aîné, livre, com sua velocidade de execução Narcisse Díaz de la Peña. Nascido em Lévy Frères, onde era remunerado ticar com modelo-vivo. Gleyre usava te Renoir, faz uso pela primeira vez do em seu catálogo de 189620. característica. 1817, tornara-se aprendiz de pintor por peça pintada. Desde o primeiro a técnica do claro-escuro. Renoir pincel chato para depositar espessas na manufatura de porcelana Arsène emprego, Renoir trabalhou com passou a praticar o claro-escuro por pinceladas de tinta opaca em cama- Renoir e Monet vão praticando o Em 1874, Renoir, Monet e Sisley Gillet em 1822, começando a praticar uma técnica de pintura cuja remu- interesse nas vendas que um comer- das únicas, aplicadas em pequenas método da pochade nos anos se- associaram-se aos colegas Pissarro, a pintura ao ar livre em Barbizon, neração aumentava proporcional- ciante de quadros lhe prometera. áreas claramente separadas entre si17. guintes, despertando o interesse Degas, Pin e Morisot para fundar uma em 1837. Em 1849, Díaz Peña promo- mente à velocidade de execução: Na escola de Gleyre, Renoir conhe- Monet usou, nessa única tela, quin- de colegas como Bazille e Sisley. A cooperativa que os ajudasse a vender veu uma venda de seus esquissos e quanto mais peças acabadas, maior ceu , Fréderic Bazille e ze cores, a maioria das quais sendo velocidade na execução da pintura ao os próprios quadros num momento estudos ao vivo. Os esquissos eram o o ganho. Em seguida, Renoir traba- . No verão de 1862, foi novidades no mercado produzidas ar livre e a licença no uso das cores de profundas mudanças na relação estágio imediatamente anterior à pin- lhou como pintor de leques, passan- a Fontainebleau em companhia de a partir de pigmentos industriais: eram estimuladas pela variedade de entre o Estado francês e as exposi- tura do quadro final, segundo os pro- do a copiar sobretudo os quadros Sisley. Ao conhecer o veterano Díaz branco de chumbo, azul da Prússia, tintas a óleo existentes no mercado, ções anuais que haviam promovido a cedimentos da Academia francesa13; de Boucher, Lancret e Watteau; os Peña, recebeu um conselho deci- azul cobalto, verde Veronese, verde que permitiam o estabelecimento venda de obras de arte até então, cha- neles, o pintor estabelecia as cores do três haviam praticado a pintura com sivo: abandonar o claro-escuro, ou veridiano, verde de cromo, amarelo da cor local com grande amplitude madas de Salões. A França terminara quadro planejado numa escala redu- tinta opaca, dando a Renoir o treino seja, adotar a pintura clara: “um dos de cromo, amarelo “limão” (croma- de matizes prontos. O procedimento recentemente com seu último regime zida. Como o esquisso era um ins- nessa técnica, que dispensa todo principais motivos que me fez deixar to de bário), amarelo ocre, amarelo veloz também era mantido quando os monárquico e, desde 1871, era uma trumento preparatório, era pintado o trabalho de fundo de tela, pois o de pintar em ‘negro’ foi meu encontro orgânico, vermillion, ocre vermelho, quadros eram completados ao ar livre República, conferindo maior incenti- com tinta opaca e de forma rápida. A encobre no final. Renoir trabalhou com Díaz. Encontrei-o em circuns- laca vermelha, violeta de cobalto e em dias posteriores, ou retrabalhados vo à livre iniciativa privada, inclusive técnica da pintura opaca possibilitava também como pintor de cortinas de tâncias muito interessantes, num preto marfim18. A rapidez da pintura em estúdio: as marcas da velocidade entre os artistas. Nessas circunstân- maior rapidez na execução do que o enrolar e, nessa ocasião, já tinha a dia de verão em que eu estava traba- produziu um resultado que o próprio de execução se tornam um diferencial cias, ocorreu a exposição da Socieda- uso da tinta diluída até a transparên- habilidade técnica acumulada que lhando na floresta de Fontainebleau, Monet qualificou como pochade“ até mesmo quando o pintor já não de Anônima dos Pintores, Escultores cia: enquanto a tinta transparente é lhe permitia pintar com rapidez onde costumava pintar paisagens com ruim” numa nota ao colega Bazille. está ao ar livre. Monet foi pioneiro na e Gravadores, reunindo vinte e nove aplicada em camadas muito finas e única dentre seus colegas de ma- Sisley. (...) timidamente mostrei-lhe A pochade era o análogo do rascunho extensão do método veloz da pintura artistas no estúdio do fotógrafo Na- paralelas, que devem secar uma antes nufatura, como ele mesmo recorda: a tela em que estava trabalhando (...) pintado amadoristicamente pelo tu- ao ar livre a outros gêneros da arte; dar. Dentre as várias obras expostas, da aplicação da outra, com a tinta “uma única coisa preocupava meu ‘Mas por que diabos pinta com tons rista pitoresco: uma composição rápi- em 1872, ele pintou uma festa anual estava a tela “Impressão: sol nascen- opaca pode-se compor uma figura patrão. Ele gostava do meu trabalho tão negros?’ Imediatamente comecei da que não visava a se transformar em na cidade de Argenteuil, para onde te”, de Monet. A mostra recebeu uma com menos camadas; além disso, a e chegou mesmo a confessar que outra paisagem, tentando reproduzir outro quadro, no que se diferenciava havia se mudado, aplicando sua técni- crítica pejorativa do crítico de arte tinta opaca pode encobrir erros, o que nunca encontrara antes um auxiliar a luz que via nas árvores, nas sombras, do esquisso. O termo fora claramente ca iniciada com a pintura de paisagem Leroy, que identificou a maioria das permite maior licença de procedi- tão esperto. Mas conhecia bem o no solo, tais como eu as percebia. definido noTratado completo de pin- da Grenouillère a uma cena de costu- obras mostradas como “impressões”, mento e mascara inabilidades14. valor do dinheiro e ficava perturba- ‘Você ficou louco!’, exclamou Sisley tura, de Paillot de Montabert, publi- mes urbana21. No final do mesmo ano, ou seja, como se fossem rascunhos de do ao pensar que eu podia fazer as quando viu meu quadro. ‘Que ideia cado em 1829 e 1851: “esses ensaios pintura ao ar livre, dando ao artigo o Díaz Peña acolheu um jovem pintor coisas tão facilmente, pois éramos essa de fazer as árvores azuis e o chão livres (...), esse trabalho bem grossei- título: “A exposição dos impressionis- de paisagens ao ar livre que foi a pagos por peça. O meu predecessor, roxo!’”16 Nos anos seguintes, Renoir ro, todo batido, todo esboçado que 19 M. Paillot de Montabert, Traité com- tas”. Em 1876, a Sociedade Anônima plet de la peinture. [http://gallica.bnf.fr/ que era sempre mostrado como desenvolveu a combinação de des- seja, produz frequentemente uma ark:/12148/bpt6k206461q] consultado em faz uma segunda exposição coletiva exemplo perfeito aos novatos, nunca treza e rapidez, pintura clara e uso de fevereiro de 2017, 201. e, no ano seguinte, uma terceira . Em

13 Pierre Rosenberg, “Qu’entend-on pintara nada sem uma longa prepa- tinta a óleo opaca. 20 Anthea Callen The Work of Art: Plein- 1877, o grupo de artistas já estava sen- par esquisse?”, em Dominique Jacquot et ração e um esboço preliminar [mise 17 Richard Bretell, Impression: Painting air Painting and Artistic Identity in Nine- do identificado como impressionista al., L’apothéose du geste: L’esquisse peinte au carreau]. Quando o patrão me viu Quickly in France, 1869-1890. New Haven teenth-century France. Londres: Reaktion pelo público das exposições da Socie- au siècle de Boucher et Fragonard. Paris: e Londres: Yale Un. Press, 2000 (catálogo Books, 2015, 252. Hazan, 2003 (catálogo de exposição). pintando as figuras diretamente na 15 Amboise Vollard, Renoir. São Paulo: de exposição), 115. dade Anônima, frequentemente de tela nua, ficou zangado. (...) Quando Unimarco, 2002, 22. 21 Richard Bretell, Impression: Painting forma pejorativa. Diante da situação, 14 Jean-Luc Daval, Oil Painting From 18 David Bomford et al., Impressionism: Quickly in France, 1869–1890. New Haven Van Eyck to Rothko. Genebra e New York: finalmente foi forçado a admitir que 16 Amboise Vollard, Renoir. São Paulo: Art in the making. Londres: Yale Un. Press, e Londres: Yale Un. Press, 2000 (catálogo Renoir insistiu na adoção explícita da Skira e Rizzoli, 1985, 34–40. todos os processos preliminares po- Unimarco, 2002, 25-26. 1990 (catálogo de exposição), 200. de exposição), 130. designação coletiva, como relembra: 12 O IMPRESSIONISMO E O BRASIL O NASCIMENTO DA ARTE INDUSTRIAL 13

“o nome de ‘impressionistas’ veio es- espetáculo luminoso do ar livre nas alunos: “quem quer aprender a pintar morar em Niterói, porém alguns dos partir de 188630. A peculiaridade com O modo de pintar ao ar livre de Cas- pontaneamente do público, que ficara ruas, no campo ou nos interiores”23. A arruma cavalete, vai pro mato”25. Em seus alunos o seguiram e lá alugaram que executava as marinhas logo se tagneto se apoiava na variedade de co- ao mesmo tempo divertido e furioso experiência da pintura ao ar livre e a julho de 1883, os alunos de Grimm uma república para ficar perto do tornou uma marca registrada, como res a óleo prontas de que podia dispor diante de um dos quadros da exposi- disponibilidade de materiais indus- solicitaram ao governo imperial a mestre, cerca da praia de Boa Viagem: reconheceu Gonzaga-Duque em 1888: em sua palheta peculiar: ao longo ção – uma paisagem feita por Claude triais de pintura a óleo foram, portan- concessão de passes de bonde para ir Antônio Parreiras, Domingo Garcia “arranjou uma caixa de tintas, com- de sua produção, utilizou branco de Monet e intitulada Impression. Com to, pré-condições do impressionismo. pintar ao ar livre26. Como recorda seu y Vasquez, Hipólito Caron, Joaquim prou cartões e telas, alugou um bote chumbo, branco de zinco, amarelo de esse nome, ‘impressionistas’, não se aluno Antônio Parreiras, o método do da França Júnior e Francisco Gomes e partiu para uma viagem à volta de cádmio, vermelhão francês (sulfeto tentava transmitir a ideia de novas A pintura ao ar livre foi estabelecida professor era todo baseado na pintura Ribeiro. Castagneto pode ter acompa- nossas praias. Não quis saber de leis de mercúrio), amarelo ocre, azul de pesquisas artísticas, mas sim designar no Brasil por Georg Grimm na década ao ar livre: “Grimm só lecionava nhado inicialmente o grupo de alunos nem de regras. Precisava unicamente cobalto, verde veridiano, preto de simplesmente um grupo de pintores de 1880. Ele nascera na Baviera, em d’après nature. Mestre de competên- da Academia que seguiu Grimm a da natureza (...) Para esse processo de marfim, terra de Siena, azul ultramar, que se contentavam em registrar 1846, e praticou a pintura de pai- cia rara, era justo e severo. Sujeitava Niterói, mas, se o fez, lá não permane- fazer, à la diable, possui ele o braço terre verte e vermelho de alizarina32. suas ‘impressões’. Em 1877, quando sagem pitoresca na Europa, tendo os seus discípulos ao regímen do rude ceu. Grimm ficou ainda algum tempo rápido e certo, o toque exato e a vista Com tais recursos cromáticos, era ca- expus novamente com alguns desses viajado inclusive por países ao redor trabalho sem repouso. Fazia-os subir em companhia do grupo, mas logo perspicaz. (...) Quando lhe falta tempo paz de produzir uma pintura sobre as pintores, na rua Lepeletier, fui eu que do Mediterrâneo para pintar. Ele a mais escabrosa rocha, viver em partiu para novas expedições pitores- para mudar pincéis, maneja um só, águas muito rapidamente, como nota insisti, novamente, para que se con- chegou ao Brasil provavelmente em plena floresta, contornar, mesmo com cas, ficando o grupo de alunos unido mergulhando-o em diversas tintas, ainda Gonzaga Duque: “passava uma servasse este nome, ‘impressionistas’, 1878, estabelecendo-se no Rio de risco de vida, a mais íngreme monta- até 1886. Em 1887, Grimm passa ou pinta com os dedos, com as unhas, falua de velas enfunadas; e, febril, que nos dava plena visibilidade. Era Janeiro, capital da monarquia. Em nha, atravessar brejais, trabalhar em uma última vez por Niterói antes de com a espátula, com o primeiro objeto o punho ligeiro, a vista firme, esbo- um título que servia para explicar março de 1882, Grimm participou de pântanos onde a água negra e parada embarcar para a Europa em busca que tiver à mão: um seixo resistente, çava-a num cartão, em três, quatro ao leigo a nossa atitude, e ninguém uma mostra coletiva promovida pela empestava o ambiente. E ele a esses da cura para uma doença contraída um pedaço de pau, um pedaço de cor- segundos. Uma onda corcoveava, con- precisava ser enganado com isso: ‘Eis Sociedade Propagadora das Belas perigos e trabalhos também se sujei- possivelmente em suas expedições, da, um palito, o cano do cachimbo, a torcia-se, levantava-se rugindo, vinha aqui o nosso trabalho. Nós sabemos Artes no Liceu de Artes e Ofícios do tava por sua vez, pintando à sombra falecendo na Sicília, no mesmo ano. O ponta do cigarro. A sua caixa de tintas abater-se às bordas de sua embarca- que vocês não gostam dele. Se entra- Rio de Janeiro, expondo 128 quadros do seu chapéu de campo, que rutilava impacto causado por Grimm na práti- é um caos, a sua palheta na mão de ou- ção; pois bem, durante esse tempo os rem para nos ver, azar de vocês – não dentre um total de 418 exibidos. A ao sol, abrindo no verde da folhagem ca da pintura ao ar livre pela geração tro artista seria inútil, porque a aglo- seus pincéis acompanhavam na tela o haverá devolução de ingressos’”22. participação de Grimm foi notada uma nota densa e vibrante”27. de seus alunos foi tão profundo que, meração de cores, o empastelamento seu movimento, e quando ela abatia- pelo governo imperial e, possivel- no ano seguinte a sua morte, o crítico de tintas secas fazem mal à vista. -se, os pincéis deixavam de trabalhar. A partir de então, o impressionismo mente, por D. Pedro II em pessoa, A relação entre Grimm e os acadê- de arte Gonzaga Duque publicou um Também não lhe peçam um quadro A onda morria, no mar, fundindo-se foi identificado com o método da que visitou a mostra. O fato é que se micos permaneceu conflituosa e, em livro declarando ser o pintor bávaro acabado, envernizado, escovado, es- com o grosso da água; mas, na tela, pintura rápida ao ar livre aplicado encontrava vaga a cadeira de profes- 1884, não foi renovado seu contrato o único a ter conseguido fundar uma batido. Seus estudos são feitos d’après ficava viva, tumultuosa, arqueando o a qualquer gênero, seja paisagem, sor de Paisagem, Flores e Animais da de professor. Grimm era conhecido escola artística no Rio de Janeiro29. nature, à guisa de pochades, largamen- torso, bramindo. Uma rajada de vento retrato, natureza-morta ou costumes. Academia Imperial de Belas Artes e, por seu temperamento e posições te, independentemente. Mas quanta soprava do sudoeste: nuvens rolavam Para tal, os materiais industriais de contrariamente à decisão do diretor fortes, possível motivo de uma greve Dentre os alunos de paisagem de expressão nesses empastelamentos, no céu; o mar cuspia. E quando à raja- pintura disponíveis eram decisivos, da instituição, que pretendia deixar contra ele na Academia, que teria Grimm, Castagneto logo despontou quanta individualidade nesses bor- da sucedia a quietude, o artista tinha pois possibilitavam a aceleração das o posto vacante, o Ministério de sido liderada por seu aluno Giovanni como pintor ao ar livre. Nascido em rões despretensiosos e sinceros!”31 mais uma tela pronta”33. decisões sobre composição cromática Negócios do Império expede um aviso Battista Castagneto28. O afastamen- Gênova, na Itália, em 1851, emigrou Gonzaga-Duque salienta o uso da tin- no calor da hora, artifício repetido ordenando a contratação de Grimm to da Academia Imperial de Belas para o Brasil com o pai em 1874, e em ta opaca e densa, estado possivelmen- Dentre os alunos de Grimm que o deliberadamente nas etapas posterio- no final de março, e em primeiro de Artes evidenciou a contundência da 1879 se tornou aluno de paisagem na te obtido pelo método de subtração de acompanharam a Niterói estava res de retrabalho. A adoção do ar livre maio o pintor bávaro é contratado didática de Grimm: despedido, ele foi Academia. Participando das aulas de óleo da tinta pela sua aplicação prévia Antônio Parreiras, natural daquela como método era vista como negação como professor interino para ocupar Grimm a partir de 1882, Castagneto sobre papel ou madeira absorventes, cidade fluminense. Nascido em 1860, da prática controlada do estúdio, a vaga24. Grimm adotou o método da abandonou a Academia Imperial de o que possibilitava a manipulação Parreiras abraçara a vocação de pin- tal como indica Jules Laforgue no pintura de paisagem ao ar livre para 25 Luiz Gonzaga Duque-Estrada, A arte Belas Artes dois anos depois, junto com diferentes instrumentos, ou com tor de quadros em 1878, após herdar brasileira. Campinas: Mercado de Letras, texto do catálogo para uma mostra ensinar, declarando com clareza aos 1995, 194. com o mestre. Castagneto dedicou- os próprios dedos; significativamente, do pai um pequeno capital que lhe impressionista, em 1883: “os pintores -se sobretudo à pintura de marinhas o crítico chamava suas pinturas de sustentaria como estudante da Aca- 26 Carlos Roberto Levy et al., O Grupo impressionistas conseguiram isso (...) Grimm: Paisagismo Brasileiro no Século ao ar livre, tendo experimentando pochades, termo associado à produção ao abandonar a iluminação preci- XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1980, 36. inclusive pintar dentro de um barco a de “impressões” pintadas ao ar livre. 23 Jules Laforgue, “Impressionist art”, sa [controlada] a quarenta e cinco em Richard Bretell, Impression: Painting 27 Antônio Parreiras, História de um Pin- 32 Cláudio Teixeira, “A técnica de Pin- graus do estúdio para viver e ver de Quickly in France, 1869–1890. New Haven tor contada por ele mesmo: Brasil – França, tura de Giovanni Battista Castagneto”, em modo honesto e irrestrito em meio ao e Londres: Yale Un. Press, 2000 (catálogo 1881–1936. Niterói: Niterói Livros, 1999, 3ª 30 Carlos Roberto Levy et al., Giovanni Carlos Roberto Levy et al., Giovanni Battis- de exposição), 233. ed., 21-22. Battista Castagneto (1851-1900): o pintor do ta Castagneto (1851-1900): o pintor do mar. mar. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982, 28. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982, 132. 24 Carlos Roberto Levy et al., O Grupo 28 Carlos Roberto Levy et al., Giovanni Grimm: Paisagismo Brasileiro no Século Battista Castagneto (1851-1900): o pintor 29 Luiz Gonzaga Duque-Estrada, A arte 31 Luiz Gonzaga Duque-Estrada, A arte 33 Luiz Gonzaga Duque-Estrada, A arte 22 Amboise Vollard, Renoir. São Paulo: XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1980, do mar. Rio de Janeiro: Pinakotheke, brasileira. Campinas: Mercado de Letras, brasileira. Campinas: Mercado de Letras, brasileira. Campinas: Mercado de Letras, Unimarco, 2002, 51. 21-26. 1982, 25. 1995, 193. 1995, 199. 1995, 199. 14 O IMPRESSIONISMO E O BRASIL O NASCIMENTO DA ARTE INDUSTRIAL 15

demia Imperial de Belas Artes, onde ou tintas para artistas. Quatro anos tados diretamente pelos mesmos”37. rio, belo, calmo, selvagem, alpestre, essa estadia na Europa, sendo iden- dos alunos que iam ser premiados. ingressou naquele ano como aluno depois, em 1848, já são doze as lojas, Portanto, na década de 1880, já estava que me fiz pintor. Em parte alguma tificado como impressionista já em Estávamos convencidos de que o de desenho do curso noturno. Porém, incluindo uma especificação: a loja de estabelecido o comércio de materiais aprendi mais do que ali; jamais vi 1898 no artigo “Notas sobre Arte”, primeiro prêmio seria conferido a foi somente em 1884 que começou Pedro Rambert, localizada na Rua do industrializados para a pintura a maior variedade de efeitos, de linhas publicado no Jornal do Commercio, Estevão Silva. Ele, trêmulo, comovido, a ter aulas de pintura de paisagem, Theatro, 5, pegado à Igreja de S. Fran- óleo no Rio de Janeiro, incluindo o majestosas, imponentes, cor mais no Rio de Janeiro: “as suas pochades esperava. Mas foi outro o distinguido tornando-se aluno de Grimm apenas cisco de Paula, oferecia: “um grande sortimento das novas cores de tintas forte, mais vibrante, mais harmonio- são verdadeiras notas impressionis- pela Congregação. Estevão ficou como alguns meses antes do desligamento sortimento de tudo o que pertence lançadas durante o século XIX. Se, sa”38. A identificação de Parreiras com tas, efeitos de cor e luz que o artista aniquilado. (...) íamos nos revoltar. do professor. O método da pintura ao à pintura a óleo, miniatura, aquare- por um lado, a Academia Imperial de o método da pintura ao ar livre foi, as- procurou registrar, alguns da reali- – Silêncio! eu sei o que fazer. (...) ar livre foi abraçado por Parreiras no la e fresco”35. Em 1872, o Almanak Belas Artes garantia o acesso de seus sim, levada de volta à Escola de Belas dade exata, outros talvez de harmo- Finalmente, o nome de Estevão Silva contato com o mestre: “saindo Grimm Laemmert apresenta um indício de alunos aos tubos de tinta, o comér- Artes, onde nascera com Grimm. nia quase fantástica, em procura de ecoou pela sala. Calmo, passou entre da Academia eu o acompanhei. Mo- aumento do mercado específico de cio possibilitava a livre iniciativa efeitos decorativos, a nota caracterís- nós. A passos lentos atravessou o rava então em Santa Rosa, em uma tintas para artistas, criando uma du- de pintores que se desligavam da Na época da tumultuada reformula- tica de algum movimento caprichoso salão. Aproximou-se do estrado onde casinha que ficava entre as dunas na plicidade de seções: além das “Lojas instituição para tentar uma carreira ção da Escola de Belas Artes, outro da natureza”40. Novamente o termo estava o Imperador. Depois, belo – oh! restinga. De lá saía ao romper do dia e de ferragens, tintas, vernizes, miude- independente, tal como Parreiras. pintor a se rebelar foi Eliseu Visconti. “pochade” é mencionado, associando muito belo – aquele negro ergue arro- vinha para Boa Viagem onde morava zas”, aparecem pela primeira vez as Nascido na Itália em 1866, chegara a pintura de Visconti à rapidez da gantemente a cabeça, e forte gritou: Grimm. Trabalhava sem repouso até “Lojas de tintas e vernizes de todas Além de prosseguir no processo de ao Brasil em 1873, tonando-se aluno execução, à moda de Castagneto; con- Recuso!...”41 João e Arthur Timóteo da o meio-dia. (...) A minha pobreza era as qualidades”. A expansão do ramo profissionalização na pintura ao ar da Academia Imperial de Belas Artes tudo, a menção explícita ao impres- Costa percorreram o Rio de Janeiro extrema. Olhava com tristeza infinita artístico é reconhecida definitiva- livre após seguir Grimm até Niterói, em 1885. Em 1890, Visconti alia-se sionismo no Brasil é um marco do pintando ao ar livre com a técnica da para os tubos de tinta quase vazios. mente em 1882, com o aparecimento Parreiras resolveu voltar ao sistema aos grupos de dissidentes contrá- reconhecimento desse movimento na pintura rápida a óleo, recebendo prê- Em pouco tempo não poderia mais da seção “Tintas em pó e preparadas, de ensino de pintura, agora como rios aos rumos da reforma, e juntos esteira da pintura ao ar livre iniciada mios que lhes permitiram estudar na trabalhar. (...) Os discípulos de Grimm objetos para pintores, desenhistas professor. Com o fim da monarquia, iniciam uma experiência de cursos por Grimm e por seus discípulos. Europa, onde tiveram contato direto eram pobres. (...) Quando, pois, os etc.”, na qual constam onze lojas de a Academia Imperial de Belas Artes livres de belas artes, primeiramente com a produção impressionista. últimos retalhos de tela, os últimos materiais artísticos, dentre as quais a foi transformada em Escola Nacional num barracão montado no Largo de A partir de 1900, a pintura rápida ao tubos de tinta fornecidos pela Acade- Casa De Wilde, com “grande sorti- de Belas Artes, passando por uma São Francisco, no centro do Rio, e ar livre e a adesão ao impressionismo É notável também a inclusão destaca- mia se acabaram, ficamos sem poder mento de tintas, telas, papel, pincéis profunda reforma no ano de 1890. Em posteriormente no prédio do antigo se firmam como caminho possível da de uma mulher dentre os prati- trabalhar”34. A pintura a óleo depen- e outros materiais para pintura artís- novembro daquele ano, Parreiras se Ateliê Moderno. Visconti foi um dos para os alunos da Escola Nacional de cantes do impressionismo no Brasil: dia de materiais caros para o padrão tica”36; Castagneto, aliás, exporia na tornou professor da recém-reformada primeiros alunos a se inscrever no Belas Artes e para os profissionais Georgina de Albuquerque. Nascida socioeconômico do jovem Parreiras, Casa De Wilde pela primeira vez, em instituição, permanecendo no cargo curso de pintura que ficou conhecido nela formados. Um caso exemplar é o em 1885 em Taubaté, ingressou na que se valera do fornecimento de in- 1885. Em 1889, segundo o Almanak, o até o ano seguinte; nesse período, como “Ateliê Livre”, cuja curta dura- dos irmãos João e Arthur Timóteo da Escola Nacional de Belas Artes em sumos para os alunos dentro da Aca- Rio já contava com 52 lojas de “Tin- teve embates com os reformadores da ção de quatro meses resultou numa Costa, o primeiro nascido em 1879 e 1905, viajando dois anos depois para demia; mas, ao seguir Grimm, ele se tas em pó e preparadas, objetos para instituição por acreditar incorretos exposição coletiva39. Mas Visconti se o segundo, em 1882, ambos no Rio de Paris com o marido Lucílio de Albu- desligara da instituição, arriscando-se pintores, desenhistas etc.”, dentre os rumos da reforma. Paralelamente reaproximou da Escola Nacional de Janeiro. Trabalhando como apren- querque, igualmente pintor. Praticou a não mais poder pagar pelos tubos de as quais a de Thiago & Filhos, “com à docência na Escola, Parreiras reagiu Belas Artes, e no ano seguinte venceu dizes em desenho e gravação na Casa a pintura ao ar livre, tornando-se pro- tinta e demais instrumentos. grande sortimento de tintas e verni- a ela com a criação de uma escola in- o primeiro concurso do período da Moeda do Brasil, conseguem apoio fessora da Escola Nacional de Belas zes e artigos concernentes à pintura, dependente, a Escola ao Ar Livre, em republicano na instituição, ganhando para entrar na Escola Nacional em Artes em 1927. Nesse mesmo ano foi Na década de 1880, o Rio de Janeiro por atacado e a varejo, todos impor- Niterói. A disciplina pessoal da pin- como prêmio uma viagem à Europa. 1894. Ambos eram negros, vindo a publicado um livro de entrevistas, no assistiu à ampliação do mercado de tura ao ar livre foi decisiva no amadu- Na década de 1890, ficou durante integrar uma instituição que herda- qual a pintora declarou: “o impressio- materiais de pintura para artistas. Tal recimento de Parreiras, como ele se vários períodos na França, onde o ra uma história peculiar da antiga nismo, como eu o pinto, é novo aqui e crescimento foi testemunhado pelo recordaria em seu livro de memórias: impressionismo já se estabelecera. Academia Imperial de Belas Artes, não deixou de encontrar resistências Almanak Laemmert, publicação que “Entrávamos nas matas sem abrir Embora só retornasse ao Brasil em na qual era lendária a premiação do logo que comecei a fazê-lo”42. circulou na corte carioca entre 1844 35 Eduardo Laemmert (ed.), Almanak picadas, como bandeirantes. Lá, no 1900, enviou quadros para participar pintor negro Estevão Silva, colega de Administrativo, Mercantil e Industrial da e 1889, ou seja, durante o reinado de Corte e Província do Rio de Janeiro para o mais espesso da floresta, erguíamos de salões no Rio de Janeiro durante estudos de Antônio Parreiras, num O impressionismo no Brasil firmou D. Pedro II. No primeiro ano de sua Anno Bissexto de 1848. http://objdigital. o rancho de auricana. Foi naquele concurso da instituição; como recor- seu espaço a partir da década de 1920, publicação, o anuário registrava a bn.br/acervo_digital/div_periodicos/alma- ambiente fantástico, extraordiná- da Parreiras: “depois do agradeci- nak/al1848/00000404.html, consultado existência de seis lojas de tinta, sem em fevereiro de 2017, 398. 38 Antônio Parreiras, História de um mento do Diretor ao Imperador pela especificar se eram tintas em geral Pintor contada por ele mesmo: Brasil – sua presença, começava a chamada 41 Antônio Parreiras, História de um Pin- 36 Eduardo Laemmert (ed.), Almanak França, 1881–1936. Niterói: Niterói Livros, tor contada por ele mesmo: Brasil – França, Administrativo, Mercantil e Industrial 37 Artur Sauer (ed.), Almanak Adminis- 1999, 3ª ed., 103. 1881–1936. Niterói: Niterói Livros, 1999, 3ª da Corte e Província do Rio de Janeiro trativo, Mercantil e Industrial do Império ed., 50-51. 34 Antônio Parreiras, História de um Pin- para 1882. http://objdigital.bn.br/acer- do Brasil para 1889. http://objdigital.bn.br/ 39 Miriam Seraphim, “A carreira artís- 40 Apud. Miriam Seraphim, “A carreira tor contada por ele mesmo: Brasil – França, vo_digital/div_periodicos/almanak/ acervo_digital/div_periodicos/almanak/ tica”, em Tobias Visconti (org.), Eliseu artística”, em Tobias Visconti (org.), Eliseu 42 Apud. Roberto Pontual, Dicionário 1881–1936. Niterói: Niterói Livros, 1999, 3ª al1882/00000766.html., consultado em al1889/00001068.html, consultado em Visconti: A Arte em Movimento. Rio: Hólos, Visconti: A Arte em Movimento. Rio: Hólos, das Artes Plásticas no Brasil, Rio de Janei- ed., 16, 55. fevereiro de 2017,, 683. fevereiro de 2017, 1040. 2012, 72. 2012, 83. ro: Civilização Brasileira, 1969, 9-10. 16 Pierre-Auguste Renoir O Pintor Le Couer Caçando na Floresta 17 de Fontainebleau, 1866

com a adesão crescente de pintores ao método da pintura rápida ao ar livre surgido com a pintura de paisagem e aplicado a outros gêneros como o retrato e a natureza-morta. Além de Lucílio de Albuquerque, praticaram o impressionismo também Antônio Garcia Bento (1897–1929), Mário Navarro da Costa (1883–1931) e Hen- rique Cavalleiro (1892–1975), este último aluno de Visconti na Escola Nacional de Belas Artes.

No caso brasileiro, o impressionismo manteve relação com a instituição oficial de ensino de belas artes do Rio de Janeiro desde a implantação da pintura de paisagem ao ar livre na década de 1880, apesar da conturbada transição para o período republicano. Sua gênese é indissociável da chegada de materiais industriais importados pelas casas comerciais, sobretudo as da capital do país, que garantiam um suprimento regular e crescente das novas cores de tinta a óleo, de pincéis com vitrola metálica, de telas pron- tas e de todos os apetrechos para a prática ao ar livre. O impressionismo foi, assim, o primeiro movimento artístico no Brasil alimentado pela produção industrial.

18 Pierre-Auguste Renoir Retrato de Coco (Claude Renoir) Pierre-Auguste Renoir Dama sorrindo (retrato de Alphonsine Fournaise) 19 1903-1904 1875 20 Giovanni Battista Bote a seco 21 Castagneto 1894 22 Antonio Parreiras Paisagem (Água parada) Antonio Parreiras Paisagem (Friburgo) 23 1894 1891 24 Arthur Timótheo da Costa O cais de Pharoux João Timotheo da Costa Paisagem RJ 25 1918 1921 26 Georgina de Moura Igreja dos Remédios - Praça João Mendes Lucílio de Albuquerque Arredores de Porto Alegre 27 Andrade Albuquerque s/d 1914 28 Antônio Garcia Bento Porto do Calaboço Antônio Garcia Bento Sem título 29 1921 s/d 30 Giovanni Battista Marinha 31 Castagneto 1898 O IMPRESSIONISMO E O BRASIL LINHA DO TEMPO 33

LINHA DO TEMPO

1782 Na Grã-Bretanha, Gilpin publica um guia de viagens pela Inglaterra, estimulando a busca por locais irregu- lares, que ele chama de “pitorescos”, ou seja, adequados para quadros. Ele estimula o “turista pitoresco” a desenhar, ao ar livre, rascunhos dos locais visitados, registrando suas “impressões” dos lugares irregulares. Desde então, os “turistas pitorescos” Legenda britânicos começam a colorir seus rascunhos de “impressões” com aquarela e com tinta a óleo durante a EU NA EUROPA pintura ao ar livre.

BR NO BRASIL 1789 Início da Revolução Francesa contra a IND NA INDÚSTRIA monarquia da família Bourbon.

Vauquelin isola o cromo. À esquerda: detalhe Mappa 1797 Architectural da cidade do Rio de Janeiro - Parte Comercial, 1874 34 EU BR IND O IMPRESSIONISMO E O BRASIL LINHA DO TEMPO 35

1799 Valenciennes publica na França o 1816 Os artistas e técnicos em construções 1826 D. Pedro I funda a Academia Imperial 1831 D. Pedro I retorna a Portugal, deixan- manual Reflexões e conselhos a um fugidos da perseguição dos Bourbon de Belas-Artes no Rio de Janeiro. A do seu filho e herdeiro Pedro, menor aluno sobre a pintura e particularmen- na França chegam ao Rio de Janei- disciplina de paisagem passa a ser en- de idade, sob a tutela de regentes. te sobre o gênero da paisagem, reco- ro, dentre os quais Nicolas-Antoine sinada por Nicolas-Antoine Taunay. mendando que a pintura de paisagem Taunay e família. D. João VI enfrenta ao ar livre seja feita entre meia hora e oposição na corte brasileira contra 1831 Chevallier anuncia no Anuário do duas horas no máximo, para captar as os artistas e técnicos em construções 1827 Bouvier publica o Manual dos jovens Comércio, na França, a moagem mecâ- peculiaridades dos efeitos atmosféri- franceses que haviam colaborado com artistas e pintores amadores, com uma nica de pigmentos. cos momentâneos, e que sirva apenas Napoleão, inviabilizando a fundação descrição de pincel com virola metáli- como início para quadros a serem de uma escola de artes e ofícios com ca para fixação dos pelos ao cabo, que finalizados em ateliê. os imigrantes. permite a fabricação dos primeiros 1835 Field publica Chromatography, pincéis chatos e a consequente aplica- endossando a durabilidade das novas ção de pinceladas chatas de tinta. cores industriais. O branco de zinco, 1802 Descoberta dos amarelos de cromo. 1817 Descoberta do amarelo descoberto em 1782, é lançado comer- Descoberta do azul cobalto. de cádmio. cialmente. 1828 Guimet sintetiza o azul ultramarino, até então feito com lápis-lazúli. 1804 Napoleão é coroado Imperador como 1817 A França estabelece uma categoria 1840 O norte-americano Rand patenteia o desdobramento da Revolução Francesa. do Prêmio de Roma para a pintura de tubo de tinta metálico para substituir paisagem, dando início a uma onda de 1829 O pintor Corot vai a Barbizon, na as embalagens de tinta em bexiga de popularização da pintura de paisagem floresta de Fontainebleau, para pintar porco. Amarelo e laranja de cádmio 1807 Sob ameaça da invasão eminente das ao ar livre durante o verão. Começam ao ar livre; retorna no ano seguinte e passam a ser comercializados. tropas de Napoleão, a família real a ser fundadas colônias de pintores ao conhece os pintores Rousseau, Huet, portuguesa foge de Lisboa. ar livre na costa francesa da Norman- Troyon, Millet e Daubigny. Barbi- dia. zon se torna um destino turístico de 1840 D. Pedro II é declarado imperador do pintores pitorescos que praticam a Brasil aos 14 anos de idade. 1808 A família real portuguesa chega ao Rio pintura ao ar livre. Montabert publica de Janeiro fugindo das tropas de Na- 1821 O rei D. João VI volta para Portugal, o Tratado completo da pintura, onde poleão que avançavam sobre Portugal. deixando seu filho Pedro como re- define apochade como um rascunho 1840 Nasce Monet em Paris; ele cresce na gente do Brasil. colorido pintado grosseiramente, ou cidade do Havre, na França. ensaio livre. 1814 Napoleão é derrotado, e a família Bourbon volta a governar a França. 1822 O pintor Corot tem aulas com dois 1841 A firma britânica Winsor & Newton A monarquia restaurada dos Bourbon pupilos de Valenciennes na Escola de 1830 Nicolas-Antoine Taunay volta à quebra a patente de tubos metálicos passa a perseguir os colaboradores Belas-Artes de Paris e passa a mistu- França, deixando seu filho Félix Émile de tinta de Rand, adicionando um de Napoleão. rar branco nas cores com que pinta Taunay como professor de pintura bocal com tampa rosqueável; os tubos para representar a luz ao ar livre, mé- de paisagem na Academia Imperial metálicos de tinta a óleo passam a ser todo conhecido como “pintura clara”. de Belas-Artes do Rio de Janeiro; largamente consumidos para pintura 1815 Um grupo de artistas e técnicos em Félix possui um exemplar do manual ao ar livre, sendo mais práticos que as construções que haviam colaborado Reflexões e conselhos a um aluno sobre embalagens de bexiga de porco. com Napoleão, sofrendo perseguição 1822 Von Liebig publica a descrição da sín- a pintura e particularmente sobre o da restauração da monarquia dos tese do verde Veronese a base de cobre. gênero da paisagem, de Valencien- Bourbon na França, parte para o Rio nes, cujo método para pintura de 1841 Nasce Renoir, na cidade de Limoges, de Janeiro em busca de refúgio, ofe- paisagem passa a ser adotado nessa na França, sede de importante indús- recendo-se para fundar uma escola de 1822 O Brasil se torna independente de Por- instituição de ensino. tria de porcelanas pintadas. artes e ofícios; dentre os emigrantes tugal, tendo como monarca D. Pedro I. está o pintor Nicolas-Antoine Taunay. 1844 A família de Renoir se muda para Paris. 36 EU BR IND O IMPRESSIONISMO E O BRASIL LINHA DO TEMPO 37

1844 Começa a ser publicado o Almanak 1856 Monet conhece o pintor Boudin, que 1861 Renoir abandona seu terceiro empre- 1869 Renoir e Monet vão pintar ao ar livre Laemmert com o nome e endereço lhe ensina a pintar ao ar livre. go como pintor de painéis de enrolar juntos em Bougival; ambos traba- dos estabelecimentos comerciais do após economizar dinheiro, entrando lham um tema comum: os banhos de Rio de Janeiro; dele constam seis como aprendiz na escola do pintor rio em “La Grenouillère”; Monet usa lojas de tinta. 1858 Ducrot publica o manual A pintura a Gleyre, onde podia praticar com mo- inovadoramente o pincel chato para óleo e a pastel aprendidas sem mestre, delo-vivo, aprendendo com o mestre a aplicar manchas chatas e separa- descrevendo o método de subtrair técnica da pintura de quadros. das de tinta a óleo opaca e espessa, 1848 No Almanak Laemmert, constam doze óleo da tinta aplicando-a sobre papel deixando entrever o fundo da tela, lojas de tintas no Rio de Janeiro, den- ou madeira absorventes, deixando a e chama o próprio resultado de po- tre as quais a de Pedro Rambert com tinta mais espessa. Renoir muda de 1862 Monet entra como aprendiz na chade; Renoir usa a tinta a óleo mais “um grande sortimento de tudo o que emprego, passando a pintar leques escola de Gleyre; Renoir, Monet, diluída, pintando rapidamente com pertence à pintura a óleo, miniatura, com cópias de quadros de Watteau, Sisley e Bazille se conhecem durante pinceladas curtas e curvas; Monet aquarela e fresco”. Lancret e Boucher, pintores do século o aprendizado com Gleyre; Renoir usa em seu quadro as cores: branco anterior que utilizavam a técnica vai pintar ao ar livre na floresta de de chumbo, azul da Prússia, azul da pintura a óleo opaca; o quadro Fontainebleau, em companhia de cobalto, verde veridiano, verde es- 1850 A indústria Lefranc passa a anunciar que Renoir mais copia é “Diana no Sisley, durante o verão, onde conhece meralda, verde de cromo, amarelo de amarelo de cádmio em seu catálogo, banho”, de Boucher. o pintor Diaz, que praticava a pintura cromo, amarelo limão, ocre amarelo, na França. O amarelo de zinco tam- ao ar livre em Fontainebleau desde ocre vermelho, laca vermelha, violeta bém passa a ser comercializado. 1837, de quem recebe o conselho de de cobalto e preto marfim. 1859 Lefranc começa a comercializar tinta abandonar a pintura sobre fundo a óleo em tubos de metal na França. escuro praticada por Gleyre. Renoir 1851 Nasce Castagneto em Gênova, Guignet patenteia na França o verde muda sua técnica, buscando pintar o 1871 Monet se muda para Argenteuil. na Itália. veridiano, composto de cromo, des- que via ao ar livre, tal como lhe indi- coberto em 1838. O violeta de cobalto cara Diaz, e Sisley o reprova: “Você passa a ser comercializado. ficou louco! Que ideia essa de fazer as 1872 Monet usa a técnica da pintura rápida 1854 Em Paris, Renoir começa a trabalhar, árvores azuis e o chão roxo!” ao ar livre, desenvolvida com Renoir a aos treze anos, na firma Lévy Frè- partir de 1869, para uma cena de cos- res como pintor de porcelanas que 1859 Monet vai para Paris estudar pintura tumes da festa anual de Argenteuil; imitavam as fabricadas na cidade de de quadros. 1863 Monet, Renoir e Sisley vão pintar ao ele adquire um barco-ateliê para pin- Sèvres,; Renoir pintava xícaras e pra- ar livre na floresta de Fontainebleau; tar ao ar livre sobre as águas, artifício tos com imagens de buquês de flores, retornam a ela dois anos depois. já usado pelo pintor Daubigny desde recebendo cinco centavos por dúzia e, 1860 Lançamento do azul cerúleo, compos- 1852. Monet pinta a tela “Impressão: posteriormente, com retratos, rece- to de cobalto e estanho, no mercado. sol nascente” na cidade do Havre. bendo seis tostões por cada retrato de 1866 Monet trabalha no quadro “Mu- Maria Antonieta. lheres no jardim”, abandonando 1860 Renoir vai diariamente ao Louvre esboços e estudos preparatórios para 1872 O Almanak Laemmert apresenta uma copiar quadros na hora do almoço, re- pintar imediatamente sobre a tela duplicidade de categorias: “Lojas de 1856 Perkin sintetiza a mauveína, origem gistrando-se no museu como copista. final. Nasce Visconti em Giffoni Valle ferragens, tintas, vernizes, miudezas” e do pigmento roxo mauve. Piana, na Itália. “Lojas de tintas e vernizes de todas as qualidades”, indicando uma especiali- 1860 Nasce Parreiras em Niterói. zação no comércio de tintas no Rio de 1868 Graebe e Liberman sintetizam o Janeiro. Visconti chega ao Brasil. vermelho alizarina, até então pro- duzido com o inseto cochonilha. O violeta de Nuremberg é sintetizado a partir do manganês. 38 EU BR IND O IMPRESSIONISMO E O BRASIL LINHA DO TEMPO 39

1874 Renoir, Monet, Sisley, Pissarro, Degas, 1878 Grimm, pintor de paisagens pitores- 1884 Parreiras se torna aluno de paisagem 1890 Parreiras se torna professor de pintura Prin e Morisot fundam a cooperati- cas nascido na Baviera em 1846, chega de Grimm. O contrato de Grimm com a de paisagem da Escola Nacional de va “Sociedade anônima dos artistas ao Rio de Janeiro. Academia Imperial de Belas-Artes não Belas-Artes, que ocupa a posição da pintores, escultores e gravadores”, é renovado; ele então parte para Niterói antiga Academia Imperial de Belas- realizando uma exposição coletiva com seis alunos, dentre os quais Parrei- -Artes; ele dá aulas ao ar livre, levando de 29 artistas no estúdio do fotógra- 1882 O Almanak Laemmert ganha a seção ras, passando a residir perto da praia de seus alunos a Niterói; resiste à reforma fo , em Paris; a mostra inclui “Tintas em pó e preparadas, objetos Boa Viagem; seus alunos compartilham da instituição de ensino de artes no pinturas feitas ao ar livre, como o para pintores, desenhistas etc.”, reco- uma república em Niterói para ficar início da República, deixando de ser quadro “Impressão: sol nascente”, de nhecendo a especialização do comércio perto do mestre. Castagneto abandona professor; funda a Escola do Ar Livre Monet, além de vários outros quadros de materiais artísticos no Rio de Janeiro a Academia Imperial de Belas-Artes. em Niterói em oposição ao sistema a óleo com tinta opaca pintados com o e sua expansão; constam onze lojas de de ensino oficial. Outros professores, método da pintura rápida; o crítico de materiais artísticos, dentre as quais igualmente contrários ao rumo das re- arte Leroy publica um artigo pejo- a Casa De Wilde com “grande sorti- 1885 Visconti entra como aluno na Acade- formas da instituição, fundam o Ateliê rativo, destacando a quantidade de mento de tintas, telas, papel, pincéis e mia Imperial de Belas-Artes. Livre, no Rio de Janeiro, e Visconti se quadros de “impressão” e chamando outros materiais para pintura artística”. torna aluno de pintura. o grupo de “impressionistas”. Grimm participa de uma exposição co- letiva no Liceu de Artes e Ofícios do Rio 1886 Castagneto passa a pintar paisagens de Janeiro, apresentando 128 trabalhos, marinhas dentro de um barco. 1898 Num artigo do Jornal do Commercio, 1874 Castagneto chega ao Brasil. dos quais se destacam paisagens pito- Visconti é identificado ao impressio- rescas pintadas durante suas viagens; nismo: “As suas pochades são verda- possivelmente por intervenção de D. Pe- 1887 Grimm adoece e parte para a Europa, deiras notas impressionistas”. 1876 A cooperativa “Sociedade anônima dro II, o Ministério de Negócios do Im- falecendo na Sicília. dos artistas pintores, escultores e pério ordena a contratação de Grimm gravadores” realiza sua segunda como professor interino de paisagem na 1900 Castagneto falece no Rio de Janeiro; exposição em Paris. Academia Imperial de Belas-Artes, con- 1888 Gonzaga Duque publica o livro A arte as cores usadas em suas pinturas a tra a vontade dos acadêmicos; Grimm brasileira, reconhecendo que Grimm óleo eram: branco de chumbo, branco adota o método da pintura de paisagem fora o único a fundar uma escola de de zinco, amarelo de cádmio, verme- 1877 A cooperativa “Sociedade anônima ao ar livre na Academia, declarando: pintura no Rio de Janeiro; a respeito da lhão francês (sulfeto de mercúrio), dos artistas pintores, escultores e “Quem quer aprender a pintar, arrume pintura rápida com tinta a óleo opaca de amarelo ocre, azul de cobalto, verde gravadores” realiza sua terceira expo- cavalete e vá pro mato”; dentre seus Castagneto, escreve: “Não lhe peçam um esmeralda ou veridiano, preto de sição em Paris; Renoir insiste no em- alunos estava Castagneto. quadro acabado, envernizado, escovado, marfim, azul ultramarino e vermelho prego do título Impressionistas para a esbatido. Seus estudos são feitos d’après de alizarina. exposição, para explicitar ao público o nature [ao vivo], à guisa de pochades, tipo de obra que encontrariam, ciente 1883 Parreiras entra como aluno na Acade- largamente, independentemente. Mas da polêmica gerada pelas mostras mia Imperial de Belas-Artes. Grimm quanta expressão nesses empastela- 1937 Parreiras falece em Niterói; as cores anteriores da cooperativa: “Eis aqui solicita ao governo imperial passes de mentos, quanta individualidade nesses usadas em suas pinturas a óleo eram: o nosso trabalho. Nós sabemos que bonde para seus alunos irem pintar borrões despretensiosos e sinceros!” branco de zinco, branco de chumbo, vocês não gostam dele. Se entrarem ao ar livre nos arredores do Rio de Ja- ocre amarelo, amarelo de cádmio, para ver, azar de vocês. Não haverá neiro. As cores usadas por seus alunos vermelho de cádmio, vermelho de devolução de ingressos”. de pintura a óleo eram: preto, branco, 1889 Último ano de publicação do Almanak Veneza, terra de Siena queimada, laca amarelo, ocre, terra de Siena, verde, Laemmert durante o Império, constan- rosa, verde esmeralda ou veridiano, azul e vermelho. do 52 lojas de “Tintas em pó e prepara- azul ultramarino e preto de marfim. 1877 Zeferino da Costa se torna professor das, objetos para pintores, desenhistas de paisagem na Academia Imperial etc.”, dentre as quais a de Thiago & de Belas-Artes do Rio de Janeiro; ele 1883 Laforgue publica A Arte Impressionis- Filhos “com grande sortimento de reclamaria posteriormente da falta de ta por ocasião de uma exposição em tintas e vernizes e artigos concernentes verbas para o deslocamento dos alu- Berlim, defendendo que os impressio- à pintura, por atacado e a varejo, todos nos para praticar a pintura ao ar livre. nistas haviam expandido a técnica da importados diretamente pelos mes- Castagneto é admitido como aluno na pintura rápida de paisagens ao ar livre mos”, comprovando a forte expansão Academia Imperial de Belas-Artes. com tinta a óleo opaca para os demais do mercado de materiais artísticos no gêneros de pintura, como os retratos e Rio de Janeiro durante a década de as cenas de interior. 1880. Proclamação da República. 40 O IMPRESSIONISMO E O BRASIL CARTA DE ANTONIO PARREIRAS 41

nou a barra. Cortou espêssa, uma por pouco. Voltou a ser empenhada, Supunha, que jamais te sairiam da grande palêta. Poli-a com esmero. e tantas vezes foi que afinal quasi lembrança aquelas caminhadas Gravou no centro as minhas iniciais que já ia sozinha... E assim durante por montes e vales, ao romper do A PRIMEIRA e as entrelaçou em louros. A palêta muitos anos a caixa foi minha inse- dia levando-me dentro da caixinha, era tão grande quasi como o tam- paravel companheira por montes e pendurada ao teu hombro. Depois no po da caixa! Brilhava de um modo vales, por florestas e praias. As vezes, recanto de um bosque sombrio, ou ofuscante. No dia seguinte, logo ao já mortos quasi todos os discipulos de nas margens de um regato de águas alvorecer, parti para o Rio de Janeiro Grimm, muitos anos depois, con- transparentes, tu unias-me a teu bra- PALÊTA ostensivamente fazendo ver a todos templando-a aberta a destacar-se na ço prêsa á tua mão para eu te dar os a minha caixa de tintas. Cheguei lá areia ofuscante das praias, ou sôbre o tons. Depois, enquanto contemplavas em cima, no morro de Santo Antô- aveludado musgo das pedras húmidas a “Naturesa”, tu me deixavas repousar nio, onde pouco depois apareciam os das florestas, todo o passado pare- sôbre o musgo macio ao abrigo do colegas e o professor. A minha caixa cia dela surgir em diáfanas visões. sol. Eras todo doçura, meiguice. Não fez sucesso. Os colegas, agachados Eram, porém, palidamente coloridas. tiravas os olhos de mim. Prêsa á tua em redor dela riam. Faziam uma Um dia a caixa, já muito velhinha, mão, eu te ajudava a colorir os teus Lido na Academia Fluminense de troça de todos os diabos. toda carcomida, cheia de cicatrizes, sonhos... E assim, a cantares, traba- Letras por Antonio Parreiras, na despolida, não poude mais com o lhavas todo o santo dia, cheio de en- sessão solene realizada em homena- Não me deixaram tranquilo durante peso das tintas, desconjuntou-se. tusiasmo, de alegria, de esperanças no gem ao seu jubileu artístico. todo o tempo que durou a aula. Amparei-a com suportes de madeira provir... Depois, na hora mixta, felizes, nova. Qual, nem mesmo assim, poude voltavamos. Cuidadosamente tu tra- — Olhem, olhem a caixa dêle, tão acompanhar-me. Arriscava-se a ficar tavas de mim. Punhas-me dentro do bonitinha com palêta de prata... no caminho, em pedaços. Cuidadosa- estojo para repousar. Ao romper do mente, como uma relíquia, guardei-a dia vinhas me buscar, enfeitavas-me — Êle já começa ganhando louros, já numa prateleira do meu “atelier”, com um rosário de gemas multicôres, estão no tampo da caixa. cobrindo-a com um pedaço de veludo rutilantes. Não eram muitas, apenas velho. Deixei o Brasil. Anos passei oito, mas verdadeiras de inalteravel Até o professor, deixando o seu traba- no estrangeiro. Tive outras, muitas vigor e irradiação. Não esmaeciam lho veio troçar. outras mais belas, mais amplas, mais com o tempo, não se apagavam com Grimm fôra enfim nomeado professor nela estava era-me extranho, des- barrenta, fortemente colorida, cheia aperfeiçoadas, mas jamais me deixava a ação da luz. Despresavas as que da aula de paisagem na Academia de conhecido, não me podia interessar. de casebres e lindas árvores, na base — Praia Grande, era assim que êle me de lembrar, da velha caixa que tinha tinham efêmera durabilidade embora Belas Artes. Impuzeram-me porém copia-la, tal do morro de Santo Antônio. chamava, vôcê dá a mim esta caixinha ficado no “atelier”, abandonada. Vol- produzindo aparente encanto. E lá qual, até aquilo que estava errado:... tão bonitinha?... tando ao Brasil tive que fazer reparos iamos. Levando-me com cuidado para Até então vivia-se na rotina a copiar Adquiri todo o material inclusive no “atelier”. Confesso, já não me lem- que o meu rosário não se desatasse... estampas, representando cousas “Faz uma cousa assim. A Academia uma belíssima caixa de tintas. Que Embora envergonhado da minha brava da caixinha. Longe dos olhos, Como eu ficava bonita quando, fóra velhas e estrangeiras. Serviam de quer. Depois vem comigo para o campo alegria! Em casa, á noite, puz-me a infantilidade não respondia. longe do coração... De mais não tinha da caixa, a luz do sol triunfante, fazia modelo litografias de “vieux chenes”, se você quer ser um dia um paisagista.” examinar tubo por tubo. Aspirava-os eu outras melhores!?... Afinal, por brilhar as minhas coloridas contas! “peupliers”, “saules”, “fusains” de como se contivessem deliciosos per- Sempre tive a felicidade de jamais me acaso, a vi... Encontrei-a em fragmen- Mas tudo acabou-se para mim. Fiquei Allongé ou de Appian. Quando não Imaginem-se o meu contentamento fumes. Experimentava os pinceis, de deixar governar. Conservei a minha tos. Quasi toda devorada pelo cupim. velha e tu, achando-me talvez redícu- era isto, eram gravuras representando quando ouvi estas palavras de Grimm. cabo envernizado, em cuja extremi- caixa de tinta com a sua palêta de Ia atira-la ao chão quando vi da la, não quizestes mais me enfeitar e ruinas romanas, ou velhos castelos da Trabalhei como um louco dias, sema- dade se adatava num anel prateado prata durante longos anos. O tempo, palêta a parte superior onde por longo me abandonaste. Alemanha, milhares e milhares de ve- nas, copiando traço por traço a grande a seda vegetal. Dava com ele “toques o uso, apezar do cuidado que sempre tempo haviam permanecido as tintas, zes reproduzidas, já privadas de certo estampa e como tudo dependia no espaço”, como se já estivesse a tive com o meu material de trabalho, tornando-a invulneravel á destruição Arrependi-me do que havia feito. das duvidosas qualidade artísticas que sómente de paciência a minha copia pintar ao “natural”. Tendo caixa tão foi aos poucos esmaecendo-a, tornan- do cupim. Tirando-lhe o pó, descobri por ventura, há dezenas e dezenas de nenhuma diferença fazia do original. bonita, toda envernizada por fóra, do-a menos evidente. Afinal oxidada, ainda os vestígios das côres. Pareceu Reunia os fragmentos da caixa, quan- anos tiveram os originais. Estudava- Mas, levei mais de um mês a fazer o toda prateada por dentro, tive uma confundiu-se com o tom envelhe- então ouvir uma queixa sair daquêle do surgiu a palêta de prata que ornava -se paisagens dentro de uma sala:... que uma máquina fotográfica teria idéia... Se eu colocasse, no tempo, cido da madeira. Um dia, dia triste fragmento da palêta. outrora o seu tampo, que tanto fizera feito em dois segundos. O professor mesmo no centro, uma grande palêta como tiveram muitos os discipulos rir os discípulos de Grimm, naquela Logo ao matricular-me na Academia, ficou satisfeito. Apresentou á congre- de prata, com as minhas iniciais en- de Grimm, a palêta foi retirada da — Até que afinal, ingrato, apareces. manhã clara, lá no morro de Santo deram-me para copiar uma grande gação o meu trabalho, conseguindo a trelaçadas em ramos de louros!? Ha- caixinha e foi parar no “monte de so- Como de tudo tu te esqueceste? Antônio. O passado surgia daquela estampa, onde se via uma limosa minha passagem para a aula e pintura, via em casa um velho castiçal. Meu corro”. Só muito tempo depois, voltou denegrida palêta e o passado traz “Chaumiére” normanda. Tudo que que já então funcionava numa ladeira irmão era ourives. Fundiu-o. Lami- a ocupar o antigo lugar. Foi porém — É incrivel! sempre saudades. O IMPRESSIONISMO E O BRASIL EXPERIÊNCIAS POÉTICAS 43

Experiências poéticas

Aqui no MAM nós chamamos de experiências poéticas os momentos em que propomos atividades que À esquerda: detalhe Mappa Architectural da cidade do Rio de estimulam a criação de um museu — e Janeiro - Parte Comercial, 1874 um mundo — com outras percepções. 44 O IMPRESSIONISMO E O BRASIL EXPERIÊNCIAS POÉTICAS 45

Exercício de Paisagem atenção em uma pincelada

Uma pintura impressionista nos claro, ora mais escuro ou esverdea- Procure um lugar confortável com Materiais: convida a abrir os olhos para a riqueza do. O mesmo acontece com toda a uma paisagem que você ache interes- de cores e luzes que o mundo apre- realidade que nos cerca. Quando sante. Vale lembrar que as paisagens • Papel canson; senta. Ao olhar para uma obra de arte olhamos com calma para uma pa- podem estar em todos os lugares, • Pincel; impressionista, devemos estar aten- rede branca, por exemplo, veremos inclusive na janela da nossa casa. • Tinta guache ou tos para todas as variações de cores a grande variedade de cores e luzes acrílica; e luminosidade que uma superfície que a própria cor branca tem. Ou, Leve um cronômetro, alguns pincéis e • Cronômetro. pode ter. então, se atentarmos para a grande tintas de cores variadas; quanto mais quantidade de tons e para a riqueza tons diferentes e vivos você encon- Para um impressionista, uma cor cromática presentes na escuridão trar, mais impressionante pode ser a não é algo imutável que permanece de sombra, entenderemos o que os experiência. sempre da mesma forma, mas que impressionistas queriam mostrar: a se apresenta de diferentes formas realidade das cores e das luzes como Respire fundo e observe a paisagem à dependendo das condições de lu- elas aparecem aos nossos olhos, e sua frente. Tente perceber os pon- minosidade em que foi feita, ou da não como estão em nossas ideias tos onde há luz, onde há escuridão e relação de contraste ou complemen- pré-concebidas do que deve ser a cor quantas sombras se escondem. taridade que as cores mantêm entre branca ou uma sombra. A pintura si. Por exemplo, a roupa azul vestida impressionista instiga um olhar De onde você está dá para perceber o pela modelo no quadro de Renoir atento da realidade, o que exige vento? Se for um dia com chuva, como (Dama sorrindo), não é simplesmen- atenção e pausa para podermos en- você consegue percebê-la caindo? te azul. Se olharmos atentamente, xergar exatamente como a realidade Por toda a paisagem há impressões de vemos uma multiplicidade de tons em que vivemos se manifesta aos cores e luzes diferentes. e cores dentro desse azul, ora mais nossos olhos e à nossa percepção. Você fará três pinturas dessa paisa- gem, mas cada uma delas terá um tempo limite para você terminar. Na primeira você terá 5 minutos, na segunda, 3 minutos e, na última, 1 minuto!

Proposição: Você poderá pensar que não é possível fazer uma pintura inteira em tão pou- Ao visitar a exposição O impres- co tempo, mas essa é a experiência: sionismo e o Brasil permita-se esse manusear o pincel tão rápido e fazer tempo para contemplar cada trabalho as cores aparecerem no papel antes e observe como essa variedade de mesmo de o sol mudar de lugar. cores chega aos seus olhos. Observe também a si mesmo, e quais são as Agora respire fundo mais uma vez e sensações e os sentimentos que lhe mergulhe na sua paisagem. ocorrem enquanto você trata de com- preender o que está vendo. 46 O IMPRESSIONISMO E O BRASIL EXPERIÊNCIAS POÉTICAS 47

Como fazer Pintando sua tinta a óleo fotos

Misturar o pó ao óleo até obter uma Para lavar o pincel ou diluir* a tinta Calma, ninguém vai pintar as fotos pasta homogênea com a consistên- para a pintura: solvente aguarrás ou antigas da família. A ideia é pintar so- Materiais: cia de uma pasta de dente. Não pode terebintina (aguarrás vegetal). bre as fotos usando um papel vegetal ter pó demais e nem óleo sobrando. ou transparente. • Óleo de linhaça; Essa mistura pode ser feita com uma *Quanto mais diluída a tinta no • Pigmento em pó espátula, que também poderá servir solvente, mais transparente a cor fica. Pegue uma foto colorida e coloque (como o da marca de ferramenta para a pintura no lugar Assim, podemos utilizá-la como uma sobre ela um papel vegetal. Certifi- Xadrez, ou outra que do pincel. No caso do pincel, o de pelo camada sobreposta na camada de que-se de que ela esteja totalmente se encontre em lojas de chato é o mais indicado para uso com tinta anterior já seca, obtendo, assim, coberta por ele. Observe bem as cores materiais artísticos). essa tinta. as veladuras. que conseguimos enxergar. Separe algumas tintas guache e vá pintando o papel com as cores que você per- cebe. Misture as tintas até conseguir chegar no tom que lhe pareça melhor. Não desenhe nenhuma linha, apenas vá pintando o papel até terminar de cobrir todas as cores. Retire o papel e Quer coloque-o ao lado da sua foto. O que você achou? continuar?

Você também pode produzir sua própria tela.

Materiais: Materiais:

• Tecido de lona de al- Corte a lona no tamanho que dê para fixá-las com uma pistola de grampos. • Foto colorida; godão (com tramas mais esticá-la no chassi, contornando-o. Dilua um pouco de tinta látex branca • Papel vegetal ou fechada, encontrada em Umedeça-a e então a estique, pren- com água, aplicando-a com rolinho transparente; lojas de tecido); dendo-a na parte posterior do chassi na lona esticada. Deixe secar e, se ne- • Tinta guache de • Tinta látex branca; com a lona puxada pelas laterais ex- cessário, aplique mais uma camada de diversas cores; • Chassi de madeira. ternas. Puxe bem cada lateral antes de tinta. Após seca, sua tela está pronta! • Pincel. 48 O IMPRESSIONISMO E O BRASIL EXPERIÊNCIAS POÉTICAS 49

Experimentando a luz

Exercício 2 Dificuldade: média Você sabia que fotografia quer dizer Exercício 1 desenho da luz? Em grego, o termo Dificuldade: fácil Depois de explorar bastante a foto é luz e grafia quer dizer desenho. câmera, podemos ir um passo Procure uma câmera fotográfica ou adiante. A câmera tem uma Provavelmente você já deve ter tirado um programa de celular que tenha função que se chama balanço uma foto, e no momento de conferi-la a função Manual (M). Selecione-a e de branco (WB). Essa função percebeu que ela não saiu exatamente tire uma foto. Como ficou? Se ficar brinca como a câmera percebe a do jeito que você pensou. Ficou mais muito claro ou muito escuro, mexa temperatura da luz. Quanto mais claro, mais escura, meio alaranja- na câmera até encontrar o ponto azul, mais quente; quanto mais da, e nem sabemos direito por quê. que desejar. Há três parâmetros que vermelha, mais fria. Estranho, Tiramos mais fotos até chegarmos podemos mexer: diafragma (f), obtu- né? Mas é isso mesmo. em uma que nos agrade. Mas, o que rador (T) e ISO. aconteceu com as outras? Será que é Existem vários símbolos para problema da câmera? Na verdade, a Quando você encontrar uma com- cada temperatura diferente. culpa é da luz e de como tanto a má- binação que lhe agrade, anote. Por Podemos brincar com esses sím- quina quanto nós a percebemos. exemplo: f=5,6 / T=1/100 e ISO=200. bolos e tirar várias fotos de um mesmo lugar, no mesmo horário, Toda câmera fotográfica é uma Agora, vá para um lugar comum, pode mudando somente eles. Pode- imitação dos nossos olhos (lentes) e ser a janela de sua casa. Tire uma foto mos começar com o símbolo luz nosso cérebro (filme ou sensores). Em da paisagem. Faça isso três vezes, uma do dia e ir trocando para os ou- algumas câmeras tudo é automático, de manhã, uma ao meio-dia e outra no tros. Como as cores estão saindo mas em outras podemos manipular final da tarde. Utilize a mesma combi- de acordo com cada símbolo? a forma como ela entende a luz, e é aí nação de parâmetros na câmera. E aí, que começa nossa brincadeira: o que aconteceu em cada foto? O IMPRESSIONISMO E O BRASIL OBRAS EXPOSTAS 51

OBRAS EXPOSTAS

Antônio Garcia Bento Paisagem (Água parada), 1894 Foi naquele ambiente Campos dos Goytacazes, RJ, 1897 – fantástico..., 1925 Rio de Janeiro, RJ, 1929 Óleo sobre madeira 14 x 19 cm Carvão sobre papel Coleção Pinacoteca do Estado de São Paulo, 34,8 x 52,9 cm Porto do Calaboço, 1921 compra do Governo do Estado de São Paulo, Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / 1944 Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Óleo sobre madeira Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de 24 x 35,5 cm Crepúsculo, 1895 Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Coleção Orandi Momesso Óleo sobre madeira Outras vezes nos píncaros dos Sem título, s.d. 24,5 x 32,5 cm rochedos..., c. 1925 Coleção particular Óleo sobre madeira Carvão sobre papel 35 x 27 cm Marinha, c. 1905 45,2 x 30,1 cm Coleção Orandi Momesso Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Óleo sobre tela Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Sem título, s.d. 45,2 x 64,5 cm Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Óleo sobre cartão Secretaria de Estado de Cultura / Fundação 20 x 29 cm Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Um deles armou sua tenda..., Coleção Orandi Momesso Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras c. 1925

Navios na baía do Rio de Carvão sobre papel Janeiro, 1912 30 x 45,1 cm Antonio Parreiras Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Niterói, RJ, 1860 – 1937 Óleo sobre tela Secretaria de Estado de Cultura / Fundação 41,5 x 53,0 cm Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Coleção particular Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Paisagem (Friburgo), 1891 Contentava-me naqueles tempos..., Era dela que ao romper da Óleo sobre tela 1925 aurora, eu saía..., 1927 60 x 73,5 cm Coleção Pinacoteca do Estado de São Paulo, Carvão sobre papel Carvão sobre papel doação da Família Silveira Cintra, 1956 39,7 x 48,3 cm 43 x 58,5 cm Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Detalhe Mappa Architectural da cidade do Rio de Janeiro - Parte Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Comercial, 1874 Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras 52 O IMPRESSIONISMO E O BRASIL OBRAS EXPOSTAS 53

Caminho de Itaipu, 1932 Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Quinta da Boa Vista, 1919 Rua Santa Clara, Copacabana, Três meninas no jardim, s.d. Porto de Natal, s.d. Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras c. 1924 Óleo sobre tela Óleo sobre tela Óleo sobre tela Óleo sobre madeira 40,5 x 73,4 cm Marinha, s.d. 44 x 44 cm Óleo sobre tela 156 x 104 cm 18,5 x 24 cm Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Coleção particular 28 x 58 cm Coleção Museu Nacional de Belas Artes / Coleção Orandi Momesso Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Óleo sobre tela Coleção particular Ibram / MinC Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de 45,2 x 65,5 cm Sem título, 1919 Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Alto do Morro Santo Antônio, Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Óleo sobre madeira c. 1925 Giovanni Battista Amanhecer no litoral, c. 1933-34 Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de 63 x 48 cm Georg Grimm Castagneto Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Coleção Museu Afro Brasil Óleo sobre tela colada em madeira Kempten, Alemanha, 1846 – Palermo, Gênova, Itália, 1851 – Rio de Janeiro, RJ, 1900 Óleo sobre tela 26 x 35 cm Itália, 1887 70,6 x 105,5 cm Panorama da Baixada, s.d. Coleção Ricardo Barradas - RJ Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Barco, 1848 Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Óleo sobre tela Eliseu D’Angelo Encosta do Morro de Santo Rochedo de Boa Viagem, 1887 Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de 49 x 72 cm Visconti Antônio, c. 1925 Óleo sobre madeira Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Óleo sobre tela 10,5 x 24 cm Salerno, Itália, 1866 – Rio de Janeiro, RJ, 1944 Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Óleo sobre madeira 79,9 x 61 cm Coleção particular Tempo sombrio, 1936 Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de 26 x 35 cm Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Vista da Gamboa, 1889 Coleção Ricardo Barradas - RJ Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Óleo sobre tela Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Vista da baía do Rio de Janeiro 67,5 x 90,7 cm Óleo sobre tela Serra dos Órgãos, c. 1928 Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras tomada de Niterói, 1885 Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / 24,5 x 41 cm Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Arthur Timótheo Coleção Cristina e Jorge Roberto Silveira Óleo sobre madeira Óleo sobre tela Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de da Costa 25 x 34 cm 44,5 x 90 cm Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Copacabana, 1915 Coleção particular Coleção particular Rio de Janeiro, RJ, 1882–1922 Georgina de Moura Andrade Albuquerque Pintando do natural, 1937 Óleo sobre tela Descanso em meu jardim, Vista da baía do Rio de Janeiro Taubaté, SP, 1885 – Rio de Janeiro, RJ, 1962 Paisagem com Igreja da 23 x 33 cm c. 1938 (Pedra de Itapuca, Niterói), 1886 Óleo sobre tela Penha, 1915 Coleção Maria Clara Visconti Luz 77,5 x 96,5 cm Óleo sobre tela Raio de sol, c.1920 Óleo sobre tela Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Óleo sobre tela Morro com casario, 1917 81 x 60 cm 45 x 91 cm Secretaria de Estado de Cultura / Fundação 42,5 x 63 cm Coleção particular Óleo sobre tela Coleção particular Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Coleção particular Óleo sobre madeira 98,5 x 77,5 cm Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras 13,5 x 22 cm Igreja de Santa Teresa, s.d. Coleção Museu Nacional de Belas Artes / Bote a seco, 1894 Mercado velho, 1918 Coleção particular Ibram / MinC Crepúsculo, s.d. Óleo sobre tela Óleo sobre tela Óleo sobre madeira Copacabana, c. 1920 65 x 81 cm Canto do Rio, c. 1926 21 x 46 cm Óleo sobre tela 21 x 29 cm Coleção Museu Nacional de Belas Artes / Coleção particular 60,5 x 90,8 cm Coleção Orandi Momesso Óleo sobre tela sobre cartão Ibram / MinC Óleo sobre tela Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / 25 x 33 cm 76,5 x 105 cm Marinha com barcos, 1894 Secretaria de Estado de Cultura / Fundação O cais de Pharoux, 1918 Coleção Ricardo Barradas - RJ Paisagem de Teresópolis, s.d Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Óleo sobre madeira Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Óleo sobre madeira Baixada de Villa-Rica, 1924 Óleo sobre tela Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de 25 x 50 cm 21 x 29 cm 60,6 x 46 cm Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Coleção Luiz Carlos Ritter, Rio de Janeiro Dois panoramas da baía do Coleção Orandi Momesso Óleo sobre tela Coleção Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, s.d. 73,5 x 142,4 cm Rio de Janeiro / Fundação Anita Mantuano de Igreja dos Remédios - Praia do Leme, 1895 Morro da favela, 1919 Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Artes do Rio de Janeiro / Museu de História e Praça João Mendes, s.d. Óleo sobre tela Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Arte do Rio de Janeiro – Museu Ingá Óleo sobre tela 30,4 x 68,2 cm Óleo sobre tela Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Óleo sobre cartão 25 x 33 cm Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / 40 x 34 cm Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras 24,5 x 35 cm Coleção particular Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Coleção particular Coleção Orandi Momesso 54 O IMPRESSIONISMO E O BRASIL OBRAS EXPOSTAS 55

Embarcações na baia do Rio Barcos no horizonte, 1899 Paisagem, 1925 Vista de São José de Itapemirim, Igreja de Boa Viagem, s.d. Pierre-Auguste Renoir de Janeiro, 1898 1914 Limoges, França, 1841 – Óleo sobre madeira Óleo sobre tela sobre madeira Óleo sobre tela Cagnes-sur-Mer, França, 1919 Óleo sobre madeira 12 x 24 cm 43,5 x 47 cm Óleo sobre tela 34,5 x 35,5 cm 5 x 13 cm Coleção Luiz Carlos Ritter, Rio de Janeiro Coleção Museu Afro Brasil 26,3 x 35,6 cm Coleção Secretaria de Estado de Cultura do Rio Coleção particular Coleção Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro / Fundação Anita Mantuano de O pintor Le Couer caçando na Paisagem, 1899 Paisagem, 1926 de Janeiro / Fundação Anita Mantuano de Artes do Rio de Janeiro / Museu de História e Floresta de Fontainebleau, 1866 Encouraçado na baia do Rio Artes do Rio de Janeiro / Museu de História e Arte do Rio de Janeiro – Museu Ingá de Janeiro, c. 1898 Óleo sobre madeira Óleo sobre madeira Arte do Rio de Janeiro – Museu Ingá Óleo sobre tela 15 x 28 cm 37,7 x 47,5 cm Lagoa Rodrigo de Freitas 112 x 90 cm Óleo sobre madeira Coleção particular Coleção Museu Afro Brasil Rio Soberbo – Teresópolis, 1927 ou Gávea, s.d. Coleção Museu de Arte de São Paulo Assis 14 x 25 cm Chateaubriand Coleção Luiz Carlos Ritter, Rio de Janeiro Paisagem com córrego, c. 1900 Paisagem, 1926 Óleo sobre tela Óleo sobre tela 99 x 107,5 cm 37,3 x 45,6 cm Dama sorrindo (retrato de Enseada com pedras e canoas, Óleo sobre madeira Óleo sobre tela Coleção Secretaria de Estado de Cultura do Coleção Secretaria de Estado de Cultura do Rio Alphonsine Fournaise), 1875 c. 1898 41 x 21 cm 94 x 163 cm Rio de Janeiro / Fundação Anita Mantuano de de Janeiro / Fundação Anita Mantuano de Coleção particular Coleção / Collection Museu Nacional de Artes do Rio de Janeiro / Museu de História e Artes do Rio de Janeiro / Museu de História e Óleo sobre tela / Oil on canvas Óleo sobre madeira Belas Artes / Ibram / MinC Arte do Rio de Janeiro – Museu Ingá Arte do Rio de Janeiro – Museu Ingá 42 x 34 cm 24,5 x 32,5 cm Marinha (Paquetá), s.d. Coleção / Collection Museu de Arte de São Pau- Coleção particular Paisagem, s.d. Trecho do Rio de Janeiro, 1927 Paisagem – Corcovado, s.d. lo Assis Chateaubriand Óleo sobre tela Marinha, 1898 30 x 50 cm Óleo sobre cartão Óleo sobre tela Óleo sobre tela Retrato da Condessa de Pourtalès, Coleção Pinacoteca do Estado de São Paulo, 34 x 30 cm 133 x 160,5 cm 28,2 x 30,2 cm 1877 Óleo sobre madeira doação de Julieta de Andrada Noronha, 1965 Coleção Museu Afro Brasil Coleção Secretaria de Estado de Cultura do Coleção Secretaria de Estado de Cultura do Rio 12 x 23,5 cm Rio de Janeiro / Fundação Anita Mantuano de de Janeiro / Fundação Anita Mantuano de Óleo sobre tela Coleção Luiz Carlos Ritter, Rio de Janeiro Artes do Rio de Janeiro / Museu de História e Artes do Rio de Janeiro / Museu de História e 95 x 72 cm Arte do Rio de Janeiro – Museu Ingá Arte do Rio de Janeiro – Museu Ingá Coleção Museu de Arte de São Paulo Assis Paquetá, 1898 João Timótheo Joaquim Rocha Chateaubriand da Costa Fragoso Paisagem do Rio Grande, c. 1929 Óleo sobre madeira Retrato de Coco (Claude Renoir), Rio de Janeiro, RJ, 1879 – 1932 Rio de Janeiro, RJ, 18--? – Roma, Itália, 1893 14,4 x 21,9 cm Óleo sobre madeira 1903-04 Coleção Pinacoteca do Estado de São Paulo, 27 x 35,5 cm Mário Navarro doação da Família Silveira Cintra, 1956 Paisagem, 1910 Mappa Architectural da cidade do Rio Coleção Secretaria de Estado de Cultura do Rio da Costa Óleo sobre tela de Janeiro - Parte Comercial, 1874 de Janeiro / Fundação Anita Mantuano de 28,5 x 24 cm Rio de Janeiro, RJ, 1883 – Florença, Itália, 1931 Praia com pedras em Paquetá, Óleo sobre tela Artes do Rio de Janeiro / Museu de História e Coleção Museu de Arte de São Paulo Assis 1898 67,5 x 82,5 cm Litogravura Arte do Rio de Janeiro – Museu Ingá Chateaubriand Coleção Museu Afro Brasil 299 x 245 cm Marinha, 1911 Óleo sobre madeira Coleção Banco Itaú Pedra da Gávea (atrib.), 1935 Quatro cabeças (Jean Renoir), 23 x 38 cm Rio, 1915 Óleo sobre madeira 1905-06 Coleção particular Óleo sobre tela 33 x 40 cm Óleo sobre tela sobre madeira 26 x 34,7 cm Coleção Museu Nacional de Belas Artes / Óleo sobre tela Trecho da Praia de São Roque 39,5 x 46,8 x 3 cm Lucílio Coleção Secretaria de Estado de Cultura do Rio Ibram / MinC 32,5 x 27 cm em Paquetá, RJ, c. 1898 Coleção particular de Albuquerque de Janeiro / Fundação Anita Mantuano de Coleção Museu de Arte de São Paulo Artes do Rio de Janeiro / Museu de História e Marinha com barcos, s.d. Assis Chateaubriand Óleo sobre tela Paisagem RJ, 1921 Barras, PI, 1877 – Rio de Janeiro, RJ, 1939 Arte do Rio de Janeiro – Museu Ingá 32 x 40 cm Óleo sobre madeira Retrato de Claude Renoir, c. 1908 Coleção Museu Nacional de Belas Artes / Óleo sobre tela Paisagem, 1949 20 x 30,5 cm Ibram / MinC 40 x 60 cm Arredores de Porto Alegre, 1914 Coleção particular Óleo sobre tela Coleção Pinacoteca do Estado de São Paulo, Óleo sobre tela 56 x 47 cm doação de Emerson Jamil Osternack Curi, 1995 Óleo sobre madeira 35,5 x 50,7 cm Coleção Museu de Arte de São Paulo Assis 25 x 33 cm Coleção Pinacoteca do Estado de São Paulo, Chateaubriand Coleção Orandi Momesso doação da Família Azevedo Marques, 1949 56 OBRAS EXPOSTAS CRÉDITOS 57

Natureza-morta com limões Carta de Antonio Parreiras Paletas, s.d. e xícara, 1910 intitulada A primeira paleta, 1932 O IMPRESSIONISMO Madeira Óleo sobre tela Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / 26,9 x 42,3 cm 32,3 x 43 x 6 cm Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / E O BRASIL Coleção Fundação Ema Klabin Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Banhista enxugando o braço direito Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras (Grande nu sentado), 1912 Antonio Parreiras na floresta, s.d. Porta-sombrinha, s.d. Óleo sobre tela Fotografia sobre papel 93 x 74 cm 12,7 x 17,7 cm Madeira e metal Coleção Museu de Arte de São Paulo Assis Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / 124,5 x 10,5 x 4,5 cm Chateaubriand Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / REALIZAÇÃO AGRADECIMENTOS PARCEIROS DO Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Museu de Arte Moderna MUSEU DE ARTE MODERNA Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de de São Paulo Alfredo Turbay Neto Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Carlos Nader MANTENEDORES Banco, s.d. CURADORIA Casa do Artista Felipe Chaimovich David Misan Madeira e couro Emanoel Araujo OBJETOS DE 54 x 41 x 36,5 cm PRODUÇÃO Fundação Biblioteca Nacional Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Curadoria MAM Fundação Ema Klabin ANTONIO PARREIRAS Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Instituto São Fernando Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de PROJETO EXPOGRÁFICO Itaú Cultural Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras E ILUMINAÇÃO Jorge Roberto Silveira Pincéis, c. 1860 Felipe Tassara Luis Antonio de Almeida Braga Caderno de anotações de Antonio Iara Ito Luiz Carlos Ritter Madeira, metal e pelo animal Parreiras, s.d. Tania Mara Menecucci Luiz Sôlha 34,5 x 0,8 cm Maria Clara Luz Visconti Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / 23,4 x 16,5 cm DESIGN VISUAL Max Perlingero Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Estúdio Campo Museu de Arte de São Paulo Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Museu Nacional de Belas Artes Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de EXECUÇÃO DO PROJETO Museu Afro Brasil Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras EXPOGRÁFICO Museu Antonio Parreiras Recibos de material de pintura, déc. Metro Museu do Ingá 1910-30 Caixa, s.d. Pedro Moreira Salles CONSEVAÇÃO Pinacoteca de São Paulo SÊNIOR PLUS Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Madeira e metal Acervo MAM Pinakotheke Cultural Levy & Salomão Advogados Secretaria de Estado de Cultura / Fundação 8 x 44,7 x 30 cm Projeto Eliseu Visconti Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / MONTAGEM Ricardo Viana Barradas SÊNIOR Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Manuseio Romulo Dertinati Apis3 Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Ronald Visconti BNP Paribas Amigos de Antonio Parreiras Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras TRANSPORTE Simone Hölfling Canal Curta! em acampamento nas cataratas ArtQuality Tobias Visconti DPZ do Iguaçu, 1919 Cavalete para pintura, s.d. Yole Maria Versiani EMS TRADUÇÃO PARA O INGLÊS Estadão Fotografia sobre papel Madeira Anthony Doyle Folha de S.Paulo 12,7 x 17,7 cm 75,3 x 10,3 cm Instituto Votorantim Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / Coleção Governo do Estado do Rio de Janeiro / ASSESSORIA DE IMPRENSA PwC Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Secretaria de Estado de Cultura / Fundação Conteúdo Comunicação Rádio Eldorado Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Revista Arte!Brasileiros Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Janeiro - Funarj / Museu Antonio Parreiras Trip Editora 58 CRÉDITOS

PLENO AGRADECIMENTOS O MAM fica no parque Ibirapuera, ArtLoad portão 3 Artikin Instituto do Patrimônio Histórico e + 55 11 5085 -1300 Bolsa de Arte Artístico Nacional, Secretaria da Cul- www.mam.org.br Caixa Belas Artes tura do Estado de São Paulo, Secre- Credit Suisse taria da Educação do Estado de São Horários Klabin Paulo, Secretaria Municipal do Verde Terça a domingo e feriados, KPMG Auditores Independentes e do Meio Ambiente de São Paulo das 10h às 18h Montana Química Bilheteria até 17h30 Pirelli Power Segurança e Vigilância Ltda ENTRADA R$ 6,00 Reserva Cultural Meia-entrada para estudantes, me- Revista Adega EXPEDIENTE diante apresentação de carteirinha. Saint Paul Escola de Negócios Gratuidade para menores de 10 e maiores de 60 anos, sócios e alunos MÁSTER REALIZAÇÃO do MAM, funcionários das empresas Bloomberg Philanthropies Museu de Arte Moderna parceiras e museus, membros do Casa da Chris de São Paulo ICOM, AICA e ABCA com identifi- FIAP cação, agentes ambientais, da CET, Gusmão & Labrunie – Prop. DESIGN GRÁFICO GCM, PM, Metrô e linha amarela do Intelectual Estúdio Campo Metrô, CPTM, policiais civis, cobra- Revista Piauí dores e motoristas de ônibus, moto- Sanofi COORDENAÇÃO EDITORIAL ristas de ônibus fretados, funcioná- Renato Schreiner Salem rios SPTuris, vendedores ambulantes APOIADOR do parque Ibirapuera, frentistas e Cultura e Mercado PRODUÇÃO EDITORIAL taxistas com identificação e até 4 FESP Fundação Escola de Sociologia e Rafael Itsuo acompanhantes. Política de São Paulo Goethe-Institut REVISÃO E PREPARAÇÃO Entrada gratuita aos sábados. ICIB Instituto Cultural Ítalo- Paulo Futagawa Brasileiro ICTS Protiviti TRADUÇÃO PARA O INGLÊS Agendamento de grupos IFESP Instituto de Estudos Franceses Anthony Doyle +55 11 5085 -1313 e Europeus de São Paulo [email protected] Instituto Filantropia TEXTOS IPEN Felipe Chaimovich e O Beijo Educativo MAM ACESSÍVEL A TODOS OS Paulista S.A. Empreendimentos PÚBLICOS Pernilongo Filmes FOTOS ESTACIONAMENTO Revista ‘CAUSE MAGAZINE Educativo MAM (p. 43-47) COM ZONA AZUL Revista FFWMAG Iara Bartoletto (capa, p. 30, 40, 48) Senac Isabella Matheus (p. 20, 21, 23) Seven English – Español Jaime Acioli (p. 18, 28) ACOMPANHE O MAM ONLINE / Top Clip Monitoramento & João Musa (p. 15-17) mamoficial Informação Luciano Momesso (p. 22, 24-27)

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